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Ética, Política e
Sociedade
2013
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
UNIDADE I
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
UNIDADE II
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
UNIDADE III
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Isabella Maria Nunes Ferreirinha.
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
172
T231e Tavares, Fábio Roberto
Ética, política e sociedade / Fábio Roberto Tavares (Org.). 
Indaial : Uniasselvi, 2013.
233 p. : il 
 
ISBN 978-85-7830-727-1
1. Ética política.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
III
aPreSentação
A vida vem nos apresentando situações em que as condutas morais vêm se 
transformando constantemente. Mas em meio às transformações das condu-
tas morais, dos costumes que a sociedade vem sofrendo, os valores vão se 
transformando em outros e em outros mais.
A ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de uma sociedade 
mais humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que subsidia as 
condições para as condutas morais, para a manutenção de valores que coadu-
nam com o interesse coletivo. Estas temáticas estarão presentes na Unidade 1 
do nosso Caderno de Estudos, além de conceitos que nos farão compreender 
melhor a ética, a moral, o sujeito e a sociedade.
Na Unidade 2, você irá perceber que a nossa vida é norteada por política, 
porque ela faz parte dela até a morte. Somos sujeitos sociais e vivemos em 
conjunto, em uma organização social. Nós nascemos, vivemos e morremos 
em uma organização. Essas organizações são geridas por uma política. Quan-
do nascemos dependemos de um hospital e, portanto, uma política de saúde 
pública; se vamos para uma creche ou escola de educação infantil, depende-
mos de uma política educacional. 
Você vai acompanhar o movimento do pensamento que construiu as teorias 
filosóficas a partir das concepções dos filósofos. De forma linear e gradativa, 
começamos com a ideia de política na Grécia antiga, até o modelo adotado 
pelo Estado brasileiro. Em alguns momentos vamos apresentar dicas de lei-
turas e filmes para que você possa se utilizar de outros instrumentos que lhe 
servirão de aprendizado. 
Quando o assunto é política podemos nos calar e apenas ouvir, ou nos infla-
mar com discussões que orbitam entre o senso comum e a paixão cega por 
um candidato ou partido político. Essas posturas, no entanto, não traduzem 
o verdadeiro sentido de discussão ou pensamento político, mas de discussão 
partidária e individualista. É o que veremos na segunda unidade deste nosso 
caderno.
Passamos a maior parte de nossa vida trabalhando e pagando contas dos mais 
diferentes tipos. Por isso, o modelo político de nossos pais é muito da nossa 
conta, da nossa responsabilidade. É assim que vivemos em sociedade.
E sociedade é o tema central da nossa terceira unidade. Como a sociedade 
se apresenta a nós, como ela vai se transformando, evoluindo. A sociedade é 
global. Vivemos em um mundo global. Para isso, devemos entender o proces-
so histórico da globalização e seus impactos econômicos, políticos, culturais e 
IV
sociais. Vamos falar dos processos de mudança em nossa sociedade, discutir 
que cidadão se desenvolve nessa realidade, que homem, com que direitos e 
com que deveres acontece essa evolução da sociedade com esse cidadão em 
seu seio. Vamos também estudar nessa unidade o que grandes pensadores 
contribuem neste pensar uma sociedade com suas principais características.
É pouco? Acredito que não. Tudo isso foi desenvolvido para que você possa, 
no exercício da leitura, do estudo, do aprofundamento, compreender e fixar 
o aprendizado de forma autônoma, que é a intenção desse modelo de ensino 
– EaD.
Portanto, vamos à leitura, ao estudo e à reflexão deste caderno.
Bons estudos!
Prof. Fábio Roberto Tavares
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades 
em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o 
material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato 
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação 
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
UNI
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 – A ÉTICA E A MORAL ................................................................................................. 1
TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL ...................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 A ÉTICA ................................................................................................................................................. 3
 2.1 CONCEITO ...................................................................................................................................... 3
 2.2 O CAMPO DA ÉTICA .................................................................................................................... 6
 2.3 O VALOR DA ÉTICA ..................................................................................................................... 7
 2.4 ÉTICA E JUSTIÇA ........................................................................................................................... 9
 2.5 ÉTICA E FILOSOFIA ..................................................................................................................... 10
3 A MORAL .............................................................................................................................................. 11
 3.1 CONCEITO DE MORAL ............................................................................................................... 12
 3.2 CAMPO DA MORAL .....................................................................................................................14
 3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL ................................................................................................... 16
4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA ANTIGA À CONTEMPORANEIDADE ....... 17
 4.1 IDADE ANTIGA ............................................................................................................................. 17
 4.2 IDADE MÉDIA ................................................................................................................................ 20
 4.3 IDADE MODERNA ........................................................................................................................ 21
 4.4 IDADE CONTEMPORÂNEA ....................................................................................................... 26
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 27
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 34
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 35
TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS ......................................................... 37
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37
2 EXISTEM DIFERENÇAS? .................................................................................................................. 37
3 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS .................................................................................................. 41
4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O ERRADO .......................................... 43
5 O SUJEITO ÉTICO-MORAL ............................................................................................................. 44
6 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: A NECESSIDADE DO
 DESENVOLVIMENTO HUMANO ................................................................................................. 46
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 48
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 55
TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE ................................................................... 57
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 57
2 VALORES .............................................................................................................................................. 57
3 ÉTICA E LIBERDADE: LIBERDADE COMO CAPACIDADE HUMANA .............................. 64
4 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS ÉTICOS PARA A
 VIDA COTIDIANA ............................................................................................................................. 67
5 RELAÇÕES HUMANAS SOCIAIS .................................................................................................. 68
6 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES .......................................................................................... 72
 6.1 O BEM COMUM ............................................................................................................................. 72
Sumário
VIII
 6.2 O INTERESSE INDIVIDUAL ........................................................................................................ 73
 6.3 O INTERESSE COLETIVO ............................................................................................................ 73
 6.4 O INTERESSE PÚBLICO ............................................................................................................... 74
 6.5 O INTERESSE PROFISSIONAL .................................................................................................... 74
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 75
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 78
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 79
UNIDADE 2 – A POLÍTICA ................................................................................................................. 81
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL .................................................................. 83
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 83
2 O PENSAMENTO POLÍTICO NA IDADE MÉDIA ..................................................................... 83
3 ÉTICA CRISTÃ .................................................................................................................................... 85
 3.1 AGOSTINHO DE HIPONA .......................................................................................................... 90
 3.2 TOMÁS DE AQUINO .................................................................................................................... 93
4 A POLÍTICA NA MODERNIDADE ................................................................................................ 95
5 A CONTEMPORANEIDADE - NOVOS DESAFIOS E QUESTIONAMENTOS ................... 99
6 A SOLIDARIEDADE TEM VEZ? ..................................................................................................... 103
7 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS DA ATUALIDADE ....................................................... 105
 7.1 FAMÍLIA .......................................................................................................................................... 106
 7.2 SOCIEDADE CIVIL ........................................................................................................................ 107
 7.3 ESTADO ........................................................................................................................................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 112
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 116
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA POLÍTICA .............................................................................................. 117
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 117
2 POLÍTICA PARA TODOS ................................................................................................................. 117
3 ASPECTOS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA ................................................................................... 121
4 POLÍTICA E ÉTICA ............................................................................................................................ 124
 4.1 DILEMAS ÉTICOS .......................................................................................................................... 128
 4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI ................................................................... 1294.3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE GESTÃO E LIDERANÇA ......................... 130
5 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE ......................................................................... 132
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 136
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 138
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 139
TÓPICO 3 – A POLÍTICA E O BRASIL .............................................................................................. 141
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 141
2 FAMÍLIA REAL NO BRASIL ............................................................................................................ 141
3 A DEMOCRACIA ................................................................................................................................ 143
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 146
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 149
UNIDADE 3 – A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO .............................................. 151
TÓPICO 1 – VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO ...................................................................... 153
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 153
2 A GLOBALIZAÇÃO ............................................................................................................................ 153
IX
3 A SOCIEDADE CAPITALISTA ........................................................................................................ 160
 3.1 BREVE HISTÓRICO ....................................................................................................................... 160
 3.2 CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................... 165
4 A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA ....................................................... 167
 4.1 O QUE É TRABALHO? .................................................................................................................. 168
 4.2 A ÉTICA DO TRABALHO ............................................................................................................ 169
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 171
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 174
AUTOATIVDADE .................................................................................................................................. 175
TÓPICO 2 – PENSANDO A SOCIEDADE ........................................................................................ 177
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 177
2 GRANDES PENSADORES ................................................................................................................. 177
 2.1 AUGUSTE COMTE ......................................................................................................................... 177
 2.2 ÉMILE DURKHEIM ....................................................................................................................... 178
 2.3 DURKHEIM E A EDUCAÇÃO ..................................................................................................... 181
 2.4 MARX E ENGELS ........................................................................................................................... 182
 2.5 MARX E A EDUCAÇÃO ............................................................................................................... 186
 2.6 MAX WEBER ................................................................................................................................... 188
 2.7 WEBER E A EDUCAÇÃO ............................................................................................................. 193
 2.8 ZYGMUNT BAUMAN ................................................................................................................... 194
 2.9 JÜRGEN HABERMAS .................................................................................................................... 196
 2.10 HANS JONAS ................................................................................................................................ 198
3 SOCIEDADE DO CONTROLE ......................................................................................................... 201
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 205
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 206
TÓPICO 3 – SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO ..................................................................... 207
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 207
2 NOVOS CIDADÃOS .......................................................................................................................... 207
 2.1 CONCEITO DE CIDADANIA ...................................................................................................... 208
3 UM NOVO HOMEM .......................................................................................................................... 213
 3.1 HOMEM OPERACIONAL ............................................................................................................ 213
 3.2 HOMEM REATIVO ........................................................................................................................ 214
 3.3 HOMEM PARENTÉTICO .............................................................................................................. 214
4 UMA NOVA SOCIEDADE COM RESPONSABILIDADE ......................................................... 215
 4.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL ............................................................................................... 215
 4.2 DIREITOS COM JUSTIÇA SOCIAL ............................................................................................. 219
 4.3 RESPEITO À DIVERSIDADE E AO PLURALISMO .................................................................. 221
5 A SOCIEDADE EM CONSTRUÇÃO .............................................................................................. 223
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 226
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 227
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 228
X
1
UNIDADE 1
A ÉTICA E A MORAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DEESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender o conceito de ética e o conceito de moral;
• verificar a evolução da conduta moral ao longo dos anos;
• identificar a importância da ética e da moral para o desenvolvimento da 
sociedade.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você 
encontrará um resumo e atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Assista ao vídeo 
desta unidade.
2
3
TÓPICO 1UNIDADE 1
ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
1 INTRODUÇÃO
Vamos iniciar este tópico buscando a compreensão dos conceitos de ética 
e moral, assim como sua contribuição para a valorização das relações humanas.
Não podemos falar de ética sem vislumbrar a filosofia como fundamento 
da própria ética e da moral. A filosofia foi campo fértil, ao longo da história da 
humanidade, para o desenvolvimento da moral e da ética como parte integrante 
de uma sociedade que queremos sempre melhor. Enquanto a filosofia nos lança 
nos questionamentos acerca do que é certo e do que é errado, a ética nos conduz 
no caminho daquilo que acreditamos ser o melhor para nós mesmos e para os 
outros. Com esta unidade você terá oportunidade de aprender a construção 
histórica e social da moral, bem como os conceitos de valor e da ética. Também 
terá oportunidade de perceber que a moral está fundamentada (como a fundação 
de uma construção) a um ethos que foi constituído durante a modernidade pelo 
modelo epistemológico inaugurado naquele período. Você poderá analisar e 
refletir sobre os valores que norteiam o nosso agir nos dias atuais e como esse agir 
foi se modificando na história da cultura ocidental.
2 A ÉTICA
Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomentam 
reflexões acerca da ética, até porque a humanidade necessita de acordos para que 
a sua interação e convivência se tornem sustentáveis. Por isso vamos também 
estudar as concepções doutrinais da Grécia até a contemporaneidade.
É nessa perspectiva, da convivência, do entendimento, que queremos 
trabalhar os conceitos a seguir.
2.1 CONCEITO
Quando falamos de ética, não podemos limitar a uma realidade somente 
conceitual, em que as práticas encontram-se distanciadas do nosso dia a dia, mas, 
na verdade, ao estudarmos a ética poderemos observar que a mesma se encontra 
implícita nas ações humanas.
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
4
No nosso dia a dia, a ética tem presença garantida, porque ela faz parte do 
ser humano em todas as suas atividades, funções, espaço, ou seja, na família, no 
trabalho, no lazer, enfim, onde o ser humano interage com outro, a ética aí se faz 
presente.
Uma boa percepção de ética vem de Solomon (2006, p. 12), segundo o 
qual “estudar ética não é escolher entre o bem e o mal, mas é se sentir confortável 
diante da complexidade moral”. Nesse sentido, estudar, refletir e entender ética, a 
sua mais-valia, se faz ao pensarmos no contexto da nossa sociedade, nas atitudes 
humanas.
FIGURA 1 – ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br/2011/04/o-termo-
etica-deriva-do-grego-ethos.html>. Acesso em: 8 maio 2012.
Caro(a) acadêmico(a)! Você sabe a diferença entre ética e moral?
Diversas questões éticas e morais são facilmente confundidas, como coloca 
Valls (1994, p. 7): “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas 
que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”.
Vejamos então algumas definições sobre ética dentre as referências 
bibliográficas pesquisadas, para nos auxiliar na formação do conceito de ética:
ATENCAO
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
5
Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, 
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes 
ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria 
vida, quando conforme aos costumes, e pode ser a própria realização de 
um tipo de comportamento. (VALLS, 1994, p. 7).
“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em 
sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano.” 
(VÁZQUEZ, 2003, p. 23).
Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas 
à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o ponto 
de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata a Ética, 
da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e felicidade, 
na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência teórica ou 
especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que se preocupa 
com a ação, com o ato humano. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2006, 
p. 3).
Etimologicamente falando, ética é derivada do grego ethos, que significa 
costume, hábitos e valores de determinada coletividade. A palavra moral deriva 
do latim mos – ou mores no plural – que também significa costume ou as normas 
adquiridas como hábito. Segundo o Houaiss (2009, p. 324), ética é: “1) Estudo dos 
juízos de apreciação que se referem à conduta humana, do ponto de vista do bem 
e do mal; 2) Conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser 
humano”.
A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências 
Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de 
conhecimentos que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que 
são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao 
mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas sobre 
o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda 
coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém. 
(SROUR, 2003, p. 7-8).
Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma 
coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar 
à medida que vamos nos aprofundando no assunto. Veja então, resumidamente: 
“A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou 
forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado, porém, na sua 
totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, p. 21). A moral é o estudo 
dos costumes de uma determinada sociedade numa determinada época e lugar.
O que Srour (2003) quer observar é que a ética será sempre o estudo dos 
valores morais, e esses se relativizam conforme a história da humanidade. 
Vários exemplos de práticas da coletividade mundial poderiam se perfilar 
aqui. E chegaríamos à conclusão de que as condutas morais, independente de 
serem aceitáveis ou não do nosso ponto de vista, são práticas de uma sociedade. 
Vamos citar alguns exemplos que você poderá aprofundar:
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
6
Infanticídio significa assassínio de recém-nascido ou de criança; o ato 
de matar o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante 
o parto ou logo depois. O infanticídio feminino é prática que ainda 
acontece na China, em função da política do único filho. (FERREIRA, 
2001, p. 417). 
Outro exemplo de prática é a excisão feminina ou circuncisão feminina. É 
a mutilação genital feminina, prática realizada em meninas adolescentes para que 
não tenham prazer no ato sexual.
• Excisão feminina ou circuncisão feminina: WARIS, Dirie; 
MILLER, Cathleen. Flor no deserto. São Paulo: Editora Hedra, 2001.
Esse livro é um relato de Waris Dirie, modelo internacional e 
embaixadora das Organizações das Nações Unidas – ONU, em que 
luta pela erradicação da mutilação genital feminina. Nascida no 
deserto da Somália, Waris Dirie foi mutilada igualmente a muitas outras 
meninas. Ela foge de seu país e chega a Londres, onde desenvolveu 
trabalhos domésticos atése projetar mundialmente como modelo e 
porta-voz da luta contra a circuncisão feminina. Você pode encontrar 
com o mesmo título em DVD.
2.2 O CAMPO DA ÉTICA
Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de 
atuação e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide 
em vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito, economia e 
outros.
A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor comportamento 
do ponto de vista moral, mas como toda teoria não se distancia da prática, porque é a 
prática do comportamento humano que a sustenta e tem como função fundamental 
“explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos 
correspondentes”. (VÁZQUEZ, 2003. p. 20).
Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos:
1) os problemas gerais e fundamentais: liberdade, consciência, bem, valor, lei e 
outros;
2) os problemas específicos: aplicação concreta, ou seja, ética profissional, ética 
política, entre outros.
FONTE: Adaptado de: Valls (1994, p. 8)
UNI
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
7
Srour (2011) aborda as acepções e confusões que a ética provoca. Ele 
considera que existem três tipos de acepções que podem causar confusões, porque 
ampliam demais as concepções da ética: 
1 - A ética é descritiva – que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem tem boa 
conduta pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja, uma pessoa 
virtuosa e íntegra. Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode 
ser considerado ‘sem ética’. Nesse sentido, Srour (2011) considera que a ética 
assume uma ideia simplista reduzida a um valor social, ou apenas um adjetivo.
2 - A ética é prescritiva – a ética como “sistema de normas morais ou a um código de 
deveres” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões morais que deveriam conduzir 
categorias sociais ou organizações passam a se chamar de código de ética; nesse 
sentido de prescrição a ética e moral tornam-se sinônimo indistinguível.
3 - A ética é reflexiva – que corresponde à teoria de um estudo sistemático 
como objeto de investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser 
considerada como:
• Ética filosófica – que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais morais).
• Ética científica – que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a 
moralidade como fenômeno).
A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver.
A ética científica quer observar e descrever a maneira de viver.
Visto tudo isso, você pode pensar: então estudar ética é muito complicado? 
Claro que não, a ética dá a oportunidade para refletir a maneira de viver e entender 
os costumes do nosso tempo.
2.3 O VALOR DA ÉTICA
Qual seria mesmo o valor da ética para a sociedade? A ética é o discernimento 
de que, embora existam práticas que poderiam ser consideradas ‘morais’, por se 
tratarem de recorrentes na sociedade, ainda assim são práticas que não se suportam 
do ponto de vista ético. A corrupção, por exemplo, tem sido ato recorrente no 
cenário político nacional e nem por isso tornou-se moral e eticamente aceitável.
Então podemos dizer que tudo que é legal é moral? Ou se é moral é legal? 
Todos nós conhecemos algumas práticas que com o passar do tempo tornaram-se 
ATENCAO
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
8
costumes e hábitos. Mas não quer dizer que práticas como a corrupção passarão a 
ser aceitas, pela sua recorrência ou porque a sociedade já se acostumou.
Práticas que prejudicam a maioria, que não preservam o bem comum, que 
não beneficiam a sociedade, que não preservam a felicidade apontam ao valor 
da ética, porque é através da ética que é possível fundamentar a moralidade e a 
legalidade.
Então é por isso que a ética tem enorme valor para a sociedade como um 
todo, porque seu papel é fazer reflexões acerca do comportamento humano e a 
preservação do bem comum e da felicidade da ‘cidade’.
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal.
As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade, 
apresentadas por Srour (2003), são muito importantes para que se possa observar 
na prática o que há de legal e moral nas ações do nosso cotidiano.
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. Vejamos 
algumas situações apresentadas por Srour (2003, p. 59), de acordo com o quadro 
que segue:
QUADRO 1 – LEGALIDADE E MORALIDADE
Quanto à legalidade? Quanto à moral? Exemplo:
LEGAL MORAL
Treinamento de funcionários 
patrocinado por uma empresa.
LEGAL IMORAL
Falta de correção da tabela do 
Imposto de Renda por longos anos, 
sob a alegação de que fazê-lo seria 
introduzir o instituto de correção 
monetária.
ILEGAL MORAL
Desrespeito aos sinais vermelhos 
de madrugada nas grandes cidades 
pelo receio de assaltos.
ILEGAL IMORAL As fraudes em licitações públicas.
FONTE: Adaptado de: Srour (2003, p. 59)
ATENCAO
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
9
Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda 
a dimensão da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar um 
manual de condutas, nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e erradas.
2.4 ÉTICA E JUSTIÇA
O trabalho em sociedade implica tomar decisões. A todo tempo se decide 
sobre questões gerais e específicas, internas e externas de uma organização.
De acordo com Alonso, Lopes e Castrucci (2010, p. 110), existem três tipos 
de características na tomada de decisões:
1) decisão pessoal – é o ato humano, livre e de inteira responsabilidade 
de quem toma a decisão; 
2) decisão ética – é o ato do homem, em que a moralidade norteia; 
3) decisão que afeta outrem – é a decisão que considera princípios éticos 
e toma conhecimento dos direitos e limita-se a tais aspectos.
O que os autores querem esclarecer é que as decisões envolvem essas três 
características: o aspecto pessoal da decisão, a moralidade e a ética do quanto a 
decisão pode interferir no outro.
A ética influencia o processo de tomada de decisão para determinar quais 
são os principais valores. A tomada de decisão envolve momentos de escolha entre 
o bem e o mal e entre o bem e o bem. É nesse momento que a alteridade e a justiça 
tomam parte.
A tomada de decisão envolve a alteridade, que é o senso de justiça, porque 
diz respeito aos outros. Dessa forma, existem tipos de justiça a conhecer que não se 
esgotam por si só, mas organizam a sociedade e dão as prioridades.
● Justiça social – a justiça social apresenta duas vertentes: a) justiça legal – que 
são as obrigações dos cidadãos para com o Estado; b) justiça distributiva – que 
são as obrigações do Estado para com seus cidadãos.
● Justiça legal – “compreende as obrigações dos cidadãos para a sociedade 
politicamente organizada, tais como pagamento de impostos, prestação de 
serviços públicos (serviço militar, serviços emergenciais) etc.” (ALONSO; 
LOPES; CASTRUCCI, 2010, p. 111).
● Justiça distributiva – leva em consideração o mérito, ou seja, procura respostas 
às desigualdades e regula as relações entre a comunidade, tais como o imposto 
de renda: quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos ou 
não paga.
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
10
● Justiça comutativa – vem do direito positivo, também conhecida como corretiva, 
é a justiça que intercede entre as pessoas físicas ou jurídicas, em virtude de 
contratos em que são fixadas as obrigações das partes.
● Justiça equitativa – é aquela que parte do pressuposto de que todos são iguais.
A justiça, junto à moral e à ética, conduz o ser humano a práticas mais 
eficientes. Nesse caso, não estamos falando da justiça como entidade jurídica, mas 
da justiça de realizar ações que sejam de consciência ética e moral e, é claro, legal.
2.5 ÉTICA E FILOSOFIA
A ética tornou-se um campo vasto nas diversasáreas científicas. Na área 
médica, por exemplo, existe uma grande preocupação quanto ao que é ético ou 
não nas pesquisas de campo, por se tratarem de pesquisas que lidam com o ser 
humano. Existe um código de moral, na verdade chamado de código de ética, que 
limita e/ou exige que a integridade do ser humano seja respeitada.
Apesar de hoje a ética ser uma disciplina adotada em quase a totalidade 
de áreas existentes, seja nas ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais, entre 
outras, ainda assim, para que se possa entender a complexidade de seu dinamismo 
e, por que não, a simplicidade de sua reflexão, não se pode fugir da sua origem 
filosófica.
A filosofia é o arcabouço para os desdobramentos da ética, por isso 
que existem algumas correntes que argumentam contra o caráter científico e 
independente da ética. A respeito disso, Vázquez (2003, p. 25) observa:
Mas, já como assinalamos, isso se aplica a um tipo determinado de 
ética – a normativa –, que se atribui a função fundamental de fazer 
recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais; 
mas esta objeção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a 
natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com as 
necessidades sociais do homem.
Nesse sentido, a apropriação da ética, seja no sentido filosófico ou científico, 
busca na fonte filosófica a doutrina para melhor entender a ética, seja em qual área 
for. 
Vamos então para o próximo passo. Já vimos alguns conceitos que 
aproximam a ética da moral. No próximo ponto vamos então entender a moral, 
sem deixar de recorrer à ética, pois você deve ter percebido que não é possível falar 
de ética sem falar da moral e vice-versa.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
11
3 A MORAL
Caro acadêmico! Conversamos no primeiro ponto sobre a ética e você pode 
perceber que já apareceram alguns aspectos da moral, ou seja, existe uma interface 
entre moral e ética que é indissociável. O importante desse ponto é dar destaque 
ao conceito de moral e você compreender o comportamento humano em relação ao 
que é moral. Vamos seguir praticamente o caminho do conhecimento dos pontos 
desenvolvidos em relação ao estudo da ética.
3.1 CONCEITO DE MORAL
De acordo com Srour (2003), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia de 
ética é que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o campo 
da moral. Para melhor compreendermos, no Brasil, temos a história da mulher 
como um bom exemplo de mudança de costumes e, por conseguinte, mudança de 
valores morais.
• História da mulher no Brasil: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das 
mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997.
Essa obra conta a trajetória das mulheres, desde o Brasil colonial. O 
livro narra a história da mulher, os principais aspectos de seu tempo e 
interseções, como: família, trabalho, mídia, literatura, violência, entre outros.
Até a década de 30, a mulher não podia votar e nem ser votada, portanto o 
sufrágio feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e torná-la 
um membro da sociedade como qualquer um, ou seja, uma pessoa participativa 
aos desígnios políticos do país.
No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada 
federal foi em 1933, e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em 2011 o 
país elegeu pela primeira vez uma mulher como Presidente da República. Se você 
observar os anos – 1933, 1979 e 2011 –, verá o quanto demora para que os valores se 
transformem e, ao mesmo tempo, depois de estabelecida a mudança, esses valores 
tornam-se tão familiares que nem mais pensamos nessa trajetória de conquista e 
transformação.
UNI
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
12
No mundo do trabalho, a mulher conquistou espaço tardiamente, e por 
esse motivo, várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem no 
mundo do trabalho. Existem diversas pesquisas que apontam mulheres e homens 
com mesmo nível de escolaridade e mesma função e que têm salários diferentes.
FIGURA 2 – A CONQUISTA DA MULHER
FONTE: Disponível em: <http://paduacampos.com.br/2012/2012/07/27/
charge-elas-estao-ocupadas-mesmo/>. Acesso em: 27 maio 2013.
Não se pretende aqui fazer algum tipo de apologia à mulher, muito pelo 
contrário, a mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o quanto 
ela se transformou perante a sociedade. Antes ela não votava e nem era votada, 
antes ela não trabalhava fora de casa, antes a sua vida limitava-se a cuidar de filhos 
e marido e da casa. E hoje?
FIGURA 3 – CONQUISTA DA MULHER
FONTE: Disponível em: <http://andorinharosa.blogspot.com.br/2009/03/
um-poema-em-homenagem-ao-dia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
13
A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade.
Portanto, a moral são os costumes, são as práticas do comportamento humano 
e as práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses costumes, práticas e 
culturas mudam? Mudam quando a própria sociedade clama por mudanças ou 
quando, a partir de um movimento de um grupo, procura-se conscientizar o resto da 
sociedade da importância de pensar e agir diferente. Foi dado o exemplo da mulher, 
mas muitos são os outros exemplos que se enquadrariam nesse momento para ilustrar 
essa transformação de valor e costume, a exemplo do homossexualismo, doenças 
que carregavam preconceitos e hoje não mais, entre outros grandes exemplos.
Então se pode dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos – “o 
tempora, o mores” – ou seja, os costumes mudam com o tempo. 
Srour (2003, p. 56) elenca alguns itens para a compreensão do que vem a 
ser moral:
● É um sistema de normas culturais que pauta as condutas dos agentes sociais 
de uma determinada coletividade e lhes diz o que é certo ou não fazer.
● Depende da adesão de seus praticantes aos pressupostos e valores que lhe 
servem de fundamentos.
● Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou sensíveis 
e constitui um discurso que justifica interesses coletivos.
● Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a 
serem observadas.
● Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones 
variam à medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam.
Srour (2003, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética:
Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos 
imaginários sociais, as peças de resistência que armam as identidades 
organizacionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas 
pelas coletividades. Assim sendo, enquanto as morais correspondem às 
representações mentais que dizem aos agentes sociais o que se espera 
deles, quais comportamentos são recomendados e quais não o são, a 
ética diz respeito à disciplina teórica e ao estudo sistemático dessas 
morais e de suas práticas efetivas.
Portanto, o quadro que segue auxilia na formulação de um comparativo 
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
14
entre ética e moral, para que essas palavras-chave possam ajudar na diferenciação 
de uma e outra.
QUADRO 2 – COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL
ÉTICA MORAL
Perene Temporal
Universal Cultural
Regra Conduta da regra
Teoria Prática
FONTE: A autora
A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno, 
sempre haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque de acordo com 
o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se modificam.
A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura, 
sociedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em 
qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral é cultural 
porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores serão diferentes.
A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas 
reflexões é que podemser realizadas perante as mudanças. A moral é conduta de 
regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral possa instituir a sua 
conduta.
A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto a 
moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus hábitos 
e seus valores.
Essas as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar 
na compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos.
3.2 CAMPO DA MORAL
O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em 
que se possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda das 
ações e interações humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas escolas, nas 
igrejas, nos hospitais, nas organizações privadas e públicas.
É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para que 
as pessoas se comportem adequadamente e também para que haja harmonia na 
interação humana e da instituição.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
15
Do ponto de vista dessas ações humanas existem dois universos que se 
constroem perante o fim de suas ações: universal e particular.
Na administração pública, por exemplo, os atos administrativos devem 
estar voltados ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar o 
interesse coletivo, portanto no meio da administração pública não cabem atos 
administrativos voltados ao interesse particular.
O campo da moral é vasto, a moral é o alicerce para que a sociedade 
possa estipular as suas regras de convivência. Portanto, condutas morais não são 
exclusividade da administração pública, as condutas morais estão presentes a todo 
tempo e em qualquer lugar.
Se você for um servidor público, legislador, ou quem sabe um responsável 
na elaboração de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se 
perguntar: Quem são as pessoas que irão se beneficiar com a minha ação? Quais 
são as atitudes mais apropriadas para que um maior número de pessoas possam 
se beneficiar com as minhas atitudes? A minha ação é de interesse próprio ou de 
interesse coletivo?
Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da moral 
se encaminham as nossas ações.
Segundo Srour (2011), existem dois universos que se podem tomar como o 
início para melhor compreensão da prática moral: particularismo e universalismo.
FIGURA 4 – UNIVERSALISMO E PARTICULARISMO
FONTE: Srour (2011, p. 9)
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
16
O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o 
consenso para que o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo quando 
existem ações voltadas ao interesse de uma minoria ou de um grupo específico, 
ainda assim esses interesses não vão se confrontar com o interesse dos demais. 
Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, a satisfação dos interesses se 
dá de forma consensual.
No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem 
em detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não 
há um consenso de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo 
sejam realizadas de forma consensual e em preservação do bem comum. Pelo 
contrário, existe uma rivalidade de interesses para que a vontade de uns se 
realize independente da necessidade de um ou de outro ser maior.
A administração pública, com certeza, está na esfera do universalismo, e 
é por isso que ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos. Mas 
o servidor público, que é o condutor da prática do serviço público, poderá se 
encontrar na polaridade da escolha entre universalismo e o particularismo, em 
pequenas atitudes do seu cotidiano.
3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL
No item anterior foi possível diferenciar fatos morais de fatos sociais, e 
dissemos ainda que um fato moral pudesse afetar positivamente ou negativamente 
outrem. Então fato moral se divide em moral, quando positivo, e imoral quando 
negativo. E fato social seria o que alguns autores chamam amoral.
Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou o 
que é uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem resumida 
pode-se dizer que:
● Moral – é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem 
prejudicar os outros.
● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma organização 
ou sociedade e que prejudica os outros.
● Amoral – quando uma atitude não influi nem positiva e nem negativamente, 
ou seja, é uma ação neutra.
Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude 
imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma, 
o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática, enquanto que o 
âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas implicações na felicidade humana.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
17
4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA ANTIGA À 
CONTEMPORANEIDADE
O conceito de ética visto anteriormente, bem como sua relação com a 
filosofia, com a moral, nos mostrou a grande contribuição e importância da corrente 
filosófica ao mundo da ética e da moral. Neste ponto sobre concepções doutrinais 
da Grécia antiga à contemporaneidade, vamos apresentar as principais doutrinas 
éticas de acordo com o seu tempo.
4.1 IDADE ANTIGA
A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, 
e é nessa época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se preocupavam 
com o ser no mundo físico, voltados aos problemas sociais e morais. Embora não 
haja propriamente coesão no pensamento e doutrina dos três, ainda assim suas 
ideias tornam-se próximas no sentido da reflexão acerca do homem e da cidade. 
O estudo da Ética, se pode dizer, teve início com os filósofos Sócrates, 
Platão e Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referência, em que a 
ética vai determinar que a finalidade suprema é a felicidade (eudaimonia).
Eudaimonia quer dizer felicidade para a filosofia. “Em geral, estado de satisfação de 
alguém com sua situação no mundo”. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 455-505)
NOTA
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
18
Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de 
acordo com Passos (2004, p. 32), “não devia consistir em ter a sorte ou ser rico, por 
exemplo, e sim em proceder e ter uma alma boa”.
Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter bondade 
para ser bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude, porque pensava 
que com o conhecimento o homem conseguia ser bom e ter a felicidade. Por esse 
motivo é que há um entrelaçamento entre bondade, conhecimento e felicidade.
Para Platão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores 
éticos e morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são reais, 
mas sim imagens reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava que a moral 
é a arte de preparar o indivíduo para a felicidade que não se encontra na vida 
terrena.
Em Aristóteles, a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode ser 
alcançada se o homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles preocupou-
se com a forma como as pessoas viviam na sociedade e contribuiu muito para o 
entendimento da ética e a busca da felicidade individual e coletiva. De acordo com 
Passos (2004, p. 34), Aristóteles propunha uma ética finalista:
no sentido de visar um fim, no caso, que o ser humano pudesse alcançar 
a felicidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que 
definia a forma de viver e de conviver das pessoas, uma espécie de 
segunda natureza que guiaria o homem para a felicidade, considerada 
a aspiração da vida humana.
Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os 
filósofos que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por pré-
socráticos. Os pré-socráticos também eram conhecidos como naturalistas,ou 
filósofos da natureza. Esses filósofos preocupavam-se mais em entender as coisas, 
em dar explicação para a natureza e para o mundo.
FIGURA 5 – SER UM FILÓSOFO
FONTE: Disponível em: <http://www.umsabadoqualquer.com/category/socrates/>. Acesso em: 
27 maio 2013.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
19
Sócrates (469-399 a. C.) – é responsável pelo método da indagação, o que se 
restringe ao homem, sem interesse na natureza. “Identificação entre ciência e virtude, no 
sentido de que só é possível ensinar e aprender a virtude, e não é possível praticar o bem sem 
conhecê-lo”. (ABBAGNANO, 2007, p. 1085).
Platão (427-347 a. C.) – responsável pela doutrina das ideias, sabedoria e dialética. (ABBAGNANO, 
2007, p. 892).
Aristóteles (394-322 a. C.) – responsável pelo conceito da metafísica, da lógica, inspirou várias 
outras tendências do mundo medieval e moderno. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 90)
A ideia da polis (cidade) é muito importante, porque é referência na 
organização social da sociedade em prol do bem comum. É que os homens se 
reuniam e decidiam o melhor para todos, assim como aborda Passos (2004, p. 32):
O surgimento da polis fez com que o centro da cidade passasse a ser a 
praça pública, a ágora. Nela aconteciam as discussões e era permitida 
a participação de todos os cidadãos, quais sejam: os homens adultos, 
excetuando-se os escravos e os estrangeiros. Nessa nova forma de 
organização social e política, a democracia, o logos, ou seja, a razão, a 
palavra e o discurso tornaram-se mais importantes do que a condição 
social e econômica do indivíduo. Isso porque se entendia que os 
assuntos públicos dependiam do poder de argumentação.
Outro autor importante a que podemos recorrer é Passos (2004), que em 
seu livro “Ética nas organizações”, discorre e elucida resumidamente sobre as 
principais doutrinas éticas, apresentando como principais filósofos:
● Sócrates (469-399 a. C.):
dedicou-se à busca da verdade, que deveria ser uma forma de juízo 
universal, capaz de dirigir a vida das pessoas, no plano pessoal e 
político”. Para Sócrates, “as questões morais não são puramente 
convenções influenciadas pelas circunstâncias, mas problemas que 
devem ser resolvidos à luz da razão”. (PASSOS, 2004, p. 32-33).
● Platão (427-347 a. C.): sua teoria ética relaciona-se com a política e a razão 
(prudência), sua maior contribuição foi vislumbrar a cidade perfeita guiada 
pelos princípios morais.
● Aristóteles (384-322 a. C): “O bem moral consistia em agir de forma equilibrada 
e sob a orientação da razão. O ‘meio-termo’, o ponto justo, levaria à felicidade, a 
uma vida ‘boa e bela’, não como privilégio individual e sim coletivo”. (PASSOS, 
2004, p. 35).
● Epicuro (341-270 a. C): teve sua filosofia dividida em três partes: canônica, física 
e ética; “uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a justiça, 
NOTA
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
20
e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz”. (CARBISIER apud 
PASSOS, 2004, p. 35).
● Zenão (324-263 a. C.): doutrina do estoicismo, que é uma ética, uma forma de 
viver em que a natureza consistia na orientação central, que significava viver 
conforme a virtude.
Vistos os principais nomes da filosofia da Idade Antiga, é interessante o 
seu estudo e sua contribuição à ética, na medida em que o pensamento filosófico, 
também como os costumes, se embebe de novas fontes, contudo sem perder o 
fio condutor em relação à sua reflexão quanto aos aspectos morais e às virtudes. 
Vamos para o próximo período, a Idade Média.
4.2 IDADE MÉDIA
A Idade Média é identificada muito fortemente pelo Renascimento, que 
foi considerado um movimento literário, artístico e filosófico que teve duração 
entre o fim do século XIV ao fim do século XVI. Suas características principais 
foram o humanismo, a renovação religiosa, a renovação das concepções políticas e 
o naturalismo (novo interesse pela investigação da natureza).
Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse motivo 
não se podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos (2004, 
p. 37), “também por questões ideológicas houve o predomínio da teoria sobre a 
prática”, e o cristianismo tornou-se a religião oficial, o que influenciou as condutas 
morais.
As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os principais 
filósofos deste período, foram:
● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para compreender’. 
Para Agostinho, o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de seus 
pecados. Nesse sentido, a ética estava ligada aos valores da moral cristã.
● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a ordem 
natural, o homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem uma 
capacidade de captar, pela intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita o mal’.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
21
Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã. Veremos mais detalhadamente 
esta questão e os dois grandes expoentes – Agostinho e Tomás de Aquino na próxima unidade.
De acordo com Passos (2004, p. 39), a Idade Média inaugura uma novidade 
na questão da moral:
ao deslocar o eixo fim último da vida humana, de um valor bom em 
si mesmo para um bem que está em Deus. Se, para as concepções 
anteriores, a felicidade era atingida no próprio ser, agora ele se encontra 
no plano transcendental, e atingi-la requer apreender o fim último que 
se encontra em Deus.
A ética na Idade Média, portanto, foi considerada a fase da era cristã, em que 
os desígnios morais do cristianismo tornavam-se os ditames do comportamento 
moral. Na Idade Média, portanto, o conceito de felicidade não pode ser atingido 
nem pela razão, nem pela filosofia, mas pela fé cristã.
4.3 IDADE MODERNA
Como estudamos a ética, na Idade Antiga, era explicada pela perspectiva 
da natureza. Vamos ainda estudar de modo mais demorado no Tópico 1 da 
Unidade 2, a perspectiva cristã da ética com Agostinho e Tomás de Aquino, em 
que tudo vinha da natureza ou de Deus. Na Idade Moderna essa perspectiva 
muda e traz o homem como responsável pelas suas ações.
Nesta perspectiva, nossa primeira dificuldade está na demarcação temporal 
daquilo que nomeamos de modernidade. Partindo de uma visão histórica, pautada 
numa lógica linear, podemos estabelecer as fronteiras temporais da modernidade do 
século XVI ao século XX, mas tendo presente que estas datações têm um significativo 
caráter de arbitrariedade em relação aos acontecimentos culturais, políticos, 
econômicos. Porém, se buscarmos estabelecer uma demarcação dos primórdios 
da modernidade a partir de ideias norteadoras, também encontraremos algumas 
dificuldades, na medida em que a modernidade assume prerrogativas medievais 
em sua constituição, perpassando o pensamento de filósofos e influenciando nossa 
forma de ser e estar no mundo até a contemporaneidade.
Portanto, tendo em vista os limites históricos e conceituais da modernidade, 
nosso esforço será o de destacar alguns pressupostos que consideramos 
fundamentais para a discussão das propostas éticas que se constituirão no 
desenvolvimento do mundo moderno.
DICAS
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
22
Um dos primeiros pressupostos é o clássico conceito de “antropocentrismo”. 
O homem assume a centralidade do cosmo, ou seja, através do desenvolvimento 
da razão assume a existência em suas próprias mãos (“Cogito, ergo sum” – “Penso, 
logo existo”, de René Descartes), e a explicar os fenômenos, dominar a natureza 
(Conhecer é poder, de Francis Bacon), a construir seu mundo segundo sua vontade 
e representação (Schopenhauer), afastando-se assim da perspectiva teocêntrica 
medieval que o submetia a uma perspectiva heterônoma diante de si, dos outros, 
do mundo. Portanto, o ser humano moderno passa a ser senhor de si, a afirmar em 
alto ebom tom “eu sou”, sou livre e igual aos outros homens por meio da razão, da 
capacidade de pensar, de refletir e intervir no mundo e modificá-lo, modificando-
se a si próprio.
Outro pressuposto decorrente dos princípios anteriormente expostos é 
a ideia de verdade presente na modernidade. A verdade já não é mais revelada 
pelo transcendente ao homem, mas o resultado do esforço racional subjetivo de 
representação que o ser humano realiza sobre o mundo, a partir das relações que 
estabelece em sociedade. Portanto, algo passa a ser verdadeiro na medida em que 
pode ser racionalmente objetivado e universalizado entre os seres humanos.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
23
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
FIGURA 6 – IDADE MODERNA INDUSTRIAL
FONTE: Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/
imagens/idademoderna_industrial1.gif>. Acesso em: 15 dez. 2007.
A Imagem acima marca uma das maiores revoluções que a Modernidade trouxe: A 
Revolução Industrial. Aliada à técnica, fábricas se espalham na Europa primeiramente e depois 
no restante do mundo. O modelo fabril torna-se dominante. O trabalho assumiu função 
central. Produção, distribuição e consumo em larga escala. Ao mesmo tempo, impactos 
civilizacionais e ambientais sem precedentes. Ideais de progresso, felicidade e modernização 
fundamentam a perspectiva industrializante. O cenário acima denuncia essa irreversível 
transformação natural.
Os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia marcam de forma 
significativa a modernidade. Com o desenvolvimento do método científico o 
homem moderno aguça seu olhar investigador, objetiva o mundo, as coisas, 
a natureza e a si próprio. A relação sujeito- objeto passa a ser determinante nas 
relações científicas do homem. Os avanços da ciência são materializados na 
tecnologia, que contribui significativamente para tornar a vida do homem menos 
rude e precária frente às forças inóspitas do mundo natural. O trabalho é outro 
dos pressupostos fundamentais da modernidade. No mundo antigo o trabalho era 
visto pelo cidadão grego como humilhação e, portanto, era atividade própria de 
escravos e estrangeiros. O ideal do cidadão era a atividade política nas ágoras 
públicas. No mundo medieval, o trabalho era apenas condição da subsistência, 
castigo infringido ao homem em função do pecado original. Na modernidade passa 
NOTA
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
24
a ser atividade criadora do mundo e do próprio homem. O trabalho é elevado à 
condição definidora da subjetividade, “sou aquilo que faço”. Mas também é pelo 
trabalho que o homem modifica a natureza e, ao modificá-la, modifica a si próprio, 
assumindo assim uma ação autocriadora.
A política também é um dos pressupostos definidores da modernidade. 
A modernidade estabelece a política como um mal necessário. Separa a ética da 
política (Maquiavel) na medida em que deixa claro que é inerente à ação política 
certo grau de imoralidade, em que está pressuposta a vontade de domínio e poder 
sobre os outros. Porém, a política é condição e garantia da vida em sociedade. 
Vamos aprofundar este tema da política na próxima unidade.
E, por último, a ideia de história ganha na Modernidade um sentido 
totalmente diferente que em outras épocas de nossa civilização. Para os gregos 
antigos, não havia a noção de história, uma vez que estavam submetidos ao eterno 
retorno do mesmo na dinâmica da physis.
Para o mundo medieval a ideia de história está presa à perspectiva 
teleológica de um início, pela obra da criação, e um fim necessário que é Deus. 
Para a Modernidade, a história é processo que teve início com o homem, o que lhe 
permite avaliar seu progresso, seus avanços ao longo de seu caminhar sobre a face 
da mãe-terra.
Assim, a Idade Moderna, que ocorreu entre os séculos XVI e XIX, difere 
das anteriores, porque passa a existir uma complexidade ainda maior referente 
aos aspectos econômico, político, social e espiritual, principalmente em virtude do 
capitalismo, desenvolvimento científico e estados centralizados.
Na Idade Moderna, a ética passa a ter uma perspectiva diferente, rompe 
com essa ideia suprema de felicidade e traz para a ação humana a responsabilidade 
de suas ações, e não como explicação divina e abstrata, assim como aprofunda 
Passos (2004, p. 40):
A ética que surge e vigora nesse período é de tendência antropocêntrica, 
em que o ser humano é o seu fim e fundamento, apesar de ainda 
consistir na ideia de um ser universal e possuidor de uma natureza 
instável. Assim mesmo, ele aparece como o centro de tudo: da ciência, 
da política, da arte e da moral.
Na verdade, o período da Idade Moderna é rico em teorias sobre a ética, 
mas segundo Passos (2004), o grande pensador a destacar é Kant.
Immanuel Kant foi um dos primeiros pensadores responsáveis por esse 
rompimento. De acordo com Guariglia e Vidiella (2011, p. 97), “Kant estabelece de 
maneira categórica a concepção do dever como o centro neurológico da moralidade 
e imprimindo assim a ética, ou seja, a ética torna-se o fim do ser humano, que é a 
felicidade (ideal de perfeição)”.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
25
Immanuel Kant (1724-1804) – nasceu e morreu na Alemanha. Foi o grande 
responsável pela escola do criticismo e dentre a filosofia moderna e contemporânea.
Kant nos apresentou dois imperativos em que a ética pode ser 
compreendida: o hipotético e o categórico. No imperativo hipotético as condições 
são subordinadas. Dessa forma, a ética não se explica, porque as ações humanas 
são consequências de um interesse.
Já no imperativo categórico, em Kant, é o axioma básico para o 
comportamento moral, em que se pode explicar ética. Para Kant, a moralidade, 
o comportamento moral, vem da razão, vem do rigor do raciocínio, é uma lei 
inflexível, ou seja, as suas ações não são subordinadas a condições, são desprovidas 
de interesse, e, portanto, são de interesses gerais, podem tornar-se leis universais.
“Imperativo categórico, em analogia ao termo mandamento, indica a norma da 
razão”. (ABBAGNANO, 2007, p. 628).
Na Idade Moderna, então, se pode perceber que a razão ao cumprimento 
das leis, da moral, torna-se por efeito o dever do cidadão. Assim como destaca 
Passos (2004, p. 41):
Enquanto as doutrinas éticas anteriores tinham por objetivo atingir 
uma felicidade ou um bem, esta é uma moral da pura razão e do puro 
dever. A prática moral devia basear-se apenas nas orientações da razão, 
deixando totalmente de lado o mundo empírico. Assim, ele construiu 
uma moral desinteressada, desprovida de qualquer finalidade e de 
qualquer motivação, que não fosse o ‘cumprimento do dever pelo dever’, 
pois, para ele (Kant), a única coisa verdadeiramente boa seria, como 
dissemos, ‘uma boa vontade’, a disposição em seguir a lei moral em 
detrimento de vantagens que ela pudesse proporcionar ao indivíduo. 
Assim, a lei moral seria incondicional e absoluta.
Então, para Kant, a felicidade só seria possível se o dever se submetesse 
à moralidade. Dessa forma, a ética e a moral nesse tempo estão relacionadas ao 
cumprimento do dever.
NOTA
NOTA
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
26
4.4 IDADE CONTEMPORÂNEA
Chegamos à Idade Contemporânea. Este período é marcado pelo progresso 
científico e pela valorização do ser humano concreto. Essa época não busca a 
humanidade perfeita, ou seja, a ideia de cidade (polis) perfeita ou da suprema 
felicidade, nem tampouco a moral cristã dá conta de responder aos novos anseios.
É a época da igualdade e liberdade, marcada pelos direitos fundamentais, 
“não pela imposição ou obrigação, com códigos a serem estabelecidos”. (PASSOS, 
2004, p. 42). Destacam-se três grandes concepções: marxismo, pragmatismo e 
existencialismo, que brevemente podemos entender.
O marxismo se refere às ideias filosóficas, políticas e sociais elaboradas por 
Karl Marx e Friedrich Engels. O marxismo entende o homem comoser social e 
histórico e, também, aborda a questão da sociedade produtiva e as lutas de classes.
O pragmatismo é uma doutrina filosófica que adota a utilidade prática. O 
pragmatismo está ligado ao senso prático, em que a verdade está relacionada à 
utilidade.
O existencialismo tem como ponto de partida o ser humano. O indivíduo, 
pelas suas ações, sentimentos, então essa doutrina se preocupa com o ser humano 
em relação ao mundo.
Os principais pensadores destacados por Passos (2004) são:
● Karl Marx (1818-1883):
Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo social e histórico, 
objetivo e subjetivo, capaz de criar e de interferir na realidade e 
transformá-la à sua medida. Nesse processo, ele não só contribuía a 
seu mundo concreto, como também à sua fundamentação valorativa. 
(PASSOS, 2004, p. 42).
● Friedrich Nietzsche (1844-1900): procurou estudar a origem dos valores 
e entender o porquê da valorização de uns atos e não de outros, ou seja, a 
dicotomia entre o bem e o mal.
● Charles Sanders Peirce (1854-1914): apresentou o pragmatismo como um 
método e não como teoria. A moral é algo quando o fim é bom; nesse sentido, 
quanto aos valores, são absolutos. “O que é bom ou mau é relativo, variando 
de situação para situação. Depende de sua utilidade para a atividade prática”. 
(PASSOS, 2004, p. 45).
● Habermas (1929): as argumentações morais servem para que os conflitos sejam 
desfeitos pelo consenso. O processo reflexivo, intersubjetivo, argumentativo, 
leva os participantes ao comum acordo.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
27
Alguns desses pensadores voltarão a ser lembrados em nosso caderno. 
Fique atento.Até o próximo tópico, quando vamos falar do caminhar próximo 
entre ética e moral.
ÉTICA E MORAL
UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE 
OCIDENTAL
Israel Alexandria
1 A MORALIDADE ENQUANTO OBJETO DA ÉTICA
Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se quer 
estabelecer a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora, 
a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o 
fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de que a 
complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar o que se 
aprendeu. SUBJETIVIDADE não combina com IMUTABILIDADE, logo a frase em 
questão é contraditória.
Diz-se também que PERSONALIDADE vem da natureza. Quando 
atribuímos à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo 
que esta coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de 
aprender o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada personalidade 
é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma palavra: persona. 
Ninguém nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como “aquela pessoa”, pois 
se sabe que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos definido de 
gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo.
Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam 
tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o 
princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural 
de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato 
morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o 
gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom crescer em direção 
ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar 
sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que 
muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor que, 
por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o fato dos 
sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o que lhes 
parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética.
A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das relações 
entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência da qual 
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
28
não podemos nos esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado impregnam 
nossa conduta prática. Embora a maioria não pense no assunto, o comportamento 
humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse ponto que nasce a 
distinção entre ética e moral.
O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que 
MORAL é “atinente à conduta” (1982: 652), enquanto a ÉTICA é “a ciência com 
vistas a dirigir e disciplinar a mesma conduta” (1982: 360). A moral seriam as regras 
práticas, e a ética, o fundamento teórico da moral. Diz-se moral aristotélica, moral 
kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; ética aristotélica, ética 
kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos. Alguns autores, 
entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais: moral cristã, 
moral judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma só. É que, 
sendo esta uma ciência, trabalha apenas com conceitos universais. Basicamente, 
são três os modelos de moralidade: aristocrático, utilitarista e kantiano.
2 A MORAL ARISTOCRÁTICA
A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime, cada vez 
mais, de um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais aristocráticas 
a moral judaica, baseada no modelo de homem de fé (Abraão), a moral cristã, no 
amor ao próximo (Jesus), a moral platônica, no ascetismo (filósofo-rei), a moral 
budista, na eliminação dos desejos (Buda). Mas, na maioria das vezes, esses modelos 
ideais são apenas descrições sem referências a nomes de personagens históricos. A 
moral aristocrática propõe que cada indivíduo seja dotado das virtudes adequadas 
(a palavra virtude vem de virtu, que significa força) para imitar o modelo ou um 
ideal de vida proposto. A felicidade plena é obtida quando o indivíduo realiza 
o ideal proposto. Quanto mais virtuoso for o indivíduo, maior o seu grau de 
felicidade.
Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de canino), 
cuja principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às convenções 
sociais, enfim a tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade natural de que 
dão exemplo os animais (no caso o cão). Cínico é aquele que vive o descaramento 
da vida canina. Relata-se que Sócrates caminhava nos mercados apenas para saber 
do que ele não precisava. Outros curiosos relatos envolvendo Diógenes, tais como 
o da “visita do imperador”, “a mão e a cuia”, “a lanterna” etc., indicam que este 
teria sido o maior cínico da história.
Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste 
em viver na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo 
o que é corpóreo. “É evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar 
mais particularmente que os demais homens em afastar sua alma do contato com 
o corpo” (Platão: Fédon, 65, a). O sábio educa-se para a morte, ou seja, para o dia 
em que sua alma se separará definitivamente do corpo, migrando para o outro 
mundo.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
29
FONTE: <http://www.espiritualismo.info/filosofias.html>.
Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele que consegue 
pôr em prática tanto a sua animalidade natural como a sua sociabilidade natural, 
pois o homem é um animal social por natureza. "Mesmo quando não precisam 
da ajuda dos outros, os homens continuam desejando viver em sociedade." 
(Aristóteles. Política: III, 6). Reprimir a animalidade ou a sociabilidade distancia o 
homem da felicidade. Para encontrar um termo médio entre essas duas naturezas, 
o homem vale-se da razão.
Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No séc. IV a.C. 
Acredita-se que o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de Cício 
(335-263a.C.) ensinava: os pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir a razão 
do surgimento dessa doutrina ao fato da cidade de Atenas haver perdido sua 
independência para os macedônicos, prolongada depois pelo Império Romano. O 
estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via filosófica para se conseguir 
a independência em nível individual. Não obstante, o estoicismo atravessou 
séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo imperador romano Marco Aurélio 
(121-180 d.C.). Segundo os estoicos, nenhum evento acontece por acaso (teoria 
da necessidade). Até mesmo o trajeto de uma folha que se desprende da árvore 
já foi milimetricamente traçado pelo Logos, princípio inteligente do cosmos. O 
ideal de sabedoria estoica é a completa apatia: indiferença-acomodação diante dos 
acontecimentos da vida, é o que revela Sêneca (4 a.C. 65 d.C.), um dos expoentes 
do estoicismo.
Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, 
queixando-se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que 
ela possa oferecer: nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não 
encontre qualquer coisa para consolo. Vê-se frequentemente um terreno diminuto 
prestar-se, graças ao talento do arquiteto, às mais diversas e incríveis aplicações, e 
um arranjo hábil torna habitável o menor canto. Para vencer os obstáculos, apela 
à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que era apertado e os fardos 
tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá-los. (1973: 216)
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
30
Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na 
vida política até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos 
parecem estar em franco acordo com a doutrina estoica, pois regularmente repetem 
a expressão maktub (estava escrito), particípio passado do verbo catab (escrever). 
A virtude do sábio é o controle absoluto de suas emoções. Segundo sua parenética 
(termo que diz respeito aos aconselhamentos práticos), quando as circunstâncias 
tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável a prática do suicídio.
Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o 
homem que pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência 
de aborrecimentos, de dores ou medos). 
Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção 
de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-
na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se 
mantenha nos limites impostos pela natureza.
FONTE: Disponível em: <http://a-educologia.blogspot.com.br/2012/10/a-
sabedoria-do-epicurismo-1.html>. Acesso em: 15 dez. 2007.
A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno, o 
gozo e a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando dizemos, 
então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes 
ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos ignorantes, que se 
encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos 
acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma. (Epicuro,1993: 
25).
Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo 
é falsa. Eles praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima 
muito do famoso "jogo do contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas 
em relação aos mitos sobre morte, religião e política. Isolados em jardins afastados 
das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade (a prática de viver em 
seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental na vida do sábio 
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
31
epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi chamado de aurea 
mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio.
3 A MORAL UTILITARISTA
A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de 
modelos a priori a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem 
maior para o maior número. Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis 
Hutcheson (1694-1746) assim se expressa: "a melhor ação é aquela que produz 
a maior felicidade ao maior número de pessoas." O utilitarismo é a moral dos 
números.
Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de 
haver defendido que os fins justificam os meios, embora, segundo o Dicionário de 
Filosofia de Abbagnano (1962: 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça 
que recai sobre Maquiavel vem da dificuldade que se tem de separar o mero 
descrever e o opinar. Ele tinha horror a governos de ocasiões, golpes sucessivos, 
casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto permeava a agitada vida nos 
bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma descrição em forma 
de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da conduta do 
governante que pretende permanecer no poder por um tempo relativamente longo, 
mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal seria que 
as coisas não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não obstante, a 
tradição nos legou o termo maquiavélico como designativo de um modelo que 
se firmou como um dos marcantes exemplos de moral utilitarista: a que visa um 
maior número de dias no poder.
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que 
quanto menor for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos 
mútuos, mais feliz será a espécie humana. Esta condição só pode ser arranjada 
com a existência de um contrato social e de um Leviatã. Vamos explicar melhor: 
Para Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do homem (homo homini lupus), 
ou seja, não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está naturalmente 
aparelhado para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência 
está em jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que 
é impossível ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos." (Hobbes, 1651: 
43). Relegados ao estado de natureza, os homens promovem uma guerra de todos 
contra todos (bellum omnium contra omnes), guerra inútil porque põe em risco 
a própria conservação humana. Os homens, portanto, perceberam e admitiram 
entre si a vantagem em cada um reprimir sua animalidade natural em prol de 
uma mútua convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e segura. 
A civilização nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode 
ser mantida com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que 
se expressa preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único 
que gera em todos o sentimento generalizado de medo da punição, garantindo 
assim a continuidade do Estado civil.
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
32
A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a principal 
partiu de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via na animalidade 
humana não lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres, os homens, no 
estado de natureza, vivem em plena felicidade. Foi a civilização que fez com que 
muitos cordeiros se tornassem violentos e pensassem ser lobos. A soberania do 
Leviatã não é desejável porque, além de retirar do homem a sua liberdade natural, 
impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é possível quando a 
vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria na reeducação 
por meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com que os cordeiros 
reconhecessem que são cordeiros.
FONTE: Disponível em: <http://informarepropagar.blogspot.com.
br/2013/02/lobo-em-pele-de-cordeiro-prefiro-viver.html>. Acesso em: 
15 dez. 2007.
Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro há outras observações curiosas. 
Para Frederich Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza produz homens-
lobos e homens-cordeirose não podemos ignorar que lobos estão aparelhados 
para devorar cordeiros. Quando só restarem lobos, as forças naturais produzirão 
superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão infinita de vidas cada vez 
mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância da força e do vitalismo das 
potências naturais ou super-humanas. É uma moral que pretende ir além do bem e 
do mal (se é que isso é possível). Nietzsche afirma que dicotomia entre bem e mal 
não passa de invencionice resultante do ressentimento e da fraqueza dos cordeiros. 
"Toda moral é [...] uma espécie de tirania contra a 'natureza' e também contra a 
'razão'". (Nietzsche, 1886: 110).
Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada um 
de nós e ambos teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que tornariam 
extremamente complexa a luta entre os dois, uma complexidade tal que o cordeiro, 
em determinados momentos, poderia estar sob a condição de ataque. Nesse caso 
a questão moral só poderia ser definida dentro de um contexto muito específico, 
onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos, suas estratégias, suas relações 
de poder... Foucault é o criador da microética.
TÓPICO 1 | ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
33
4 A MORAL KANTIANA
A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo 
prussiano. Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir 
"não em virtude de qualquer outro motivo prático ou de qualquer vantagem 
futura, mas em virtude da ideia de dignidade de um ser racional que não obedece 
a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente se dá" (Kant, 1785: 16). 
A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer a si mesmo 
ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece a ordem do 
outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia, 
pois a ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral 
aristocrática e a utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo 
exterior: a primeira, de ideais transcendentes e a segunda, de ideais imanentes.
Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao imperativo 
categórico: o bom senso interior que todos nós temos de perceber que não somos 
instrumentos e sim agentes. Nunca instrumentalizar o homem é a exigência maior 
do imperativo categórico. Kant fornece uma regra para saber se uma decisão nossa 
obedece ou não ao imperativo categórico: indague a si mesmo se a razão que te 
faz agir de determinada maneira pode ser convertida em lei universal, válida para 
todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna de um ser racional, 
não é eticamente boa porque te falta a autonomia, estás agindo premido por 
circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo.
Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a 
questão da liberdade ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção 
entre ação reflexa e ação deliberada. A ação deliberada é aquela que resulta de 
uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação autônoma. A ação reflexa é 
"instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações deliberadas podem 
ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato que morde 
o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe era um mal, mas 
não podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo, não se pode dizer 
que o gato agiu de forma imoral ou antiética. A questão da liberdade ética pode 
ser assim resumida: Levando-se em conta que somos animais e ocasionalmente 
agimos de forma reflexa, em que condições nossa ação pode ser considerada uma 
ação deliberada?
Henri Bergson (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a 
essa pergunta de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define 
o homem. A própria condição humana exige que todo ato humano seja um ato de 
escolha, seja uma ação deliberada. O homem está condenado à liberdade porque 
nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência de que nos vemos forçados 
a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade de escolher entre 
entregar-se à ação ou ir de encontro a ela.
FONTE: ALEXANDRIA, Israel. Ética e moral: uma reflexão sobre a ética e os padrões de 
moralidade ocidental. 2001. Disponível em: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_
textos/etica_e_moral.htm>. Acesso em: 20 set. 2011.
34
Neste tópico vimos que:
• As principais distinções entre ética e moral as aproximam e as caracterizam.
• As esferas da aplicabilidade da moral: universalismo e particularismo.
• Os aspectos de moral, imoral e amoral têm suas características próprias.
• A Idade Antiga foi a época do surgimento da ética.
• A Idade Média determina a ética pelos princípios da moral cristã.
• A Idade Moderna, através de Kant, traz ao homem a responsabilidade de seus 
atos.
• A Idade Contemporânea reflete sobre as novas formas de interação humana 
dentre a sua complexidade e novas relações, para assim descobrir novas formas 
consensuais e conceituais.
RESUMO DO TÓPICO 1
35
1 Apresente a distinção entre marxismo, pragmatismo e existencialismo.
2 Como podemos diferenciar moral, imoral e amoral?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 1
36
37
TÓPICO 2
A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! Nesse tópico apresentaremos, em linhas gerais, 
quando há a diferença entre ética e moral que, muitas vezes, causa confusão entre 
as pessoas. Apresentaremos também a gênese da consciência moral, tão importante 
para o desenvolvimento humano.
2 EXISTEM DIFERENÇAS?
Com relação à ética e à moral, podemos afirmar que a ética estuda e 
investiga o comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída 
pelos diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada 
por suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos 
tempos.
Nesta perspectiva, apresentamos as suas principais diferenças, a seguir:
QUADRO 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
ÉTICA MORAL
• É a ciência que estuda a moral.
• É a reflexão sistemática sobre o 
comportamento moral.
• É a parte da filosofia que trata da 
reflexão dos princípios universais da 
humanidade.
• São os valores humanos universais e 
fundamentais.
• É a teoria do comportamento moral.
• É a compreensão subjetiva do ato 
moral.
• É o modo de viver e agir de cada 
povo, em cada cultura.
• É o conjunto de normas, prescrições 
e valores reguladores da ação 
cotidiana.
• Varia no tempo e no espaço.
• São os valores concernentes ao bem e 
ao mal, permitindo ou proibindo.
• Conjunto de normas e regras 
reguladoras da relação entre os 
homens de uma determinada 
comunidade.
• Nasce da necessidade de ajudar cada 
membro aos interesses coletivos do 
grupo.
FONTE: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
38
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Hoje em dia, o avanço na compreensão e vivência dos direitos humanos 
confirma que as diferenças são essenciais para uma sociedade que prima pela 
justiça, pela equidade. Cabe ao ser humano, constantemente, decidir pela verdade 
que se lhe impõe no cotidiano da sua existência. Vivemos continuamente tomando 
decisões que se nos apresentam justamente porque não vivemos sozinhos. A ética 
e a moral estão aí para nos auxiliar nessas decisões. 
Vázquez (2003, p. 15), no princípio de seu livro “Ética”, propõe diversas 
questões práticas para a decisão do ser humano, tais como: “Devemos sempre dizer 
a verdade ou há ocasiões em que devo mentir? Com respeito aos crimes cometidos 
na Segunda Guerra Mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens 
militares, podem ser moralmente condenados?”
O que o autor quer alertar é que todos esses problemas são práticos e reais 
e se apresentamnas relações afetivas dos seres humanos. As decisões práticas 
humanas podem afetar um pequeno ou um grande grupo.
Em várias das situações que se apresentam ao ser humano, o que está em 
jogo são os problemas morais que ele deve decidir. Os valores e as normas que 
são reconhecidos numa sociedade como os mais corretos, são os juízos que se 
formulam diante das ações humanas. Os problemas éticos se diferenciam, como 
elucida Vázquez (2003, p. 17):
À diferença dos problemas prático-morais, os éticos são caracterizados 
pela sua generalidade. Se na vida real um indivíduo concreto enfrenta 
uma determinada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda 
de uma norma que reconhece e aceita internamente, o problema de 
como agir de maneira que a sua ação possa ser boa, isto é, moralmente 
valiosa. Será inútil recorrer à ética com a esperança de encontrar nela 
uma norma de ação para cada situação concreta.
Daí surgem, então, os problemas morais e éticos a respeito da legalidade 
também, porque o ideal é que nossas ações sejam éticas, morais e legais. Mas é 
possível agirmos de forma moral, mas ilegal? Por exemplo, se estamos num 
grande centro, às 4 horas da manhã, dirigindo um carro, o sinal fica vermelho, 
você respeita e para, ou, de forma consciente, verificando se é possível avançar, 
você avança o sinal. Você se vê no dilema interessante: ou respeita a lei e para, ou 
se previne de um suposto assalto e avança o sinal.
Mesmo que você considere a atitude avançar o sinal moral, porque é 
melhor pagar uma multa do que ser assaltado, ainda assim ela não é legal. O 
ideal é que seja legal, ético e moral.
O exemplo dado é de referência a uma decisão pessoal e que pode gerar 
consequências, uma multa de trânsito, portanto essa ação é bem particular e de 
consequência particular.
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
39
FIGURA 7 – MORAL E ÉTICA
FONTE: Adaptado de: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
Assim, podemos expor que a moral vem se constituindo historicamente, 
mudando no decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que 
seus hábitos e costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência 
humana é pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o 
ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente regular e 
analisar estes preceitos morais.
A ética é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos 
sistemas ou estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças 
sociais, tais como:
• Capitalismo.
• Socialismo.
Então, podemos dizer que quando é constituída uma nova estrutura social, 
a ética, os vilões e princípios morais são modificados para constituir assim esta 
nova concepção de sociedade. Em outros termos, o sistema de valores morais se 
transforma no processo de constituição de um novo padrão sócio-histórico.
Mas, nos diversos processos e projetos de transformações sociais devem 
permear os valores da solidariedade, igualdade e fraternidade, para assim poder 
constituir uma sociedade mais justa e democrática.
Quando nos remetemos a apontar a crise da ética na contemporaneidade, nos 
desafiamos a apresentar os fundamentos epistemológicos nos quais se fundamenta 
esta perspectiva de análise. Afinal, o caminho seguro seria atribuir as mais diversas 
situações a uma genérica e obscura crise da ética, desresponsabilizando-nos de 
defini-la e situá-la adequadamente no contexto civilizatório ocidental.
40
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Uma das possibilidades de nos apercebermos que estamos envoltos numa 
crise é quando temos dificuldade de definir adequadamente situações existenciais. 
Quando nossas referências a partir das quais nos posicionamos diante do mundo, 
da vida, das pessoas em nosso entorno não nos fornecem mais explicações 
adequadas, ou minimamente satisfatórias.
Esta dificuldade de reconhecer e estabelecer referenciais atinge todas as 
dimensões de nossa vida, perpassando necessariamente o discurso (o logos), as 
palavras, os conceitos através dos quais expressamos em ideias o mundo construído 
por nossas representações.
Caro(a) acadêmico(a)! É um erro muito comum que normalmente as pessoas 
confundam os conceitos de ética e moral e sua especificidade. Ainda que estejam ligadas ao 
mesmo campo, como estamos vendo nesse texto, elas têm atribuições diferenciadas. Portanto, 
sempre que você for emitir um juízo de valor sobre determinado assunto, tenha em mente a 
maneira correta de expressar. Lembre-se: a moral está ligada ao campo das normas e leis; a 
ética é a reflexão sobre essas normas e leis, como o texto aponta.
Nesta perspectiva, nos damos conta da crise da ética quando constatamos 
que o conceito de ética de que as pessoas fazem uso cotidianamente é caracterizado 
pela ambiguidade, pela confusão conceitual em relação à moral. Tornou-se lugar 
comum as pessoas se referirem à ética como sinônimo de moral, ou achar que 
moral é a mesma coisa que ética, ou seja, duas palavras que podem ser utilizadas 
para “avaliar e julgar” comportamentos, formas de agir e ser das pessoas. Neste 
caudal indiscernível, a ética pode ser utilizada para tudo, mesmo que se tenha o 
sentimento de que não resolve nada, ou muito pouco pode fazer.
FIGURA 8 – ÉTICA, MORAL E CARÁTER
FONTE: Disponível em: <http://padrescasadosceara.blogspot.com.
br/2012/11/blog-post.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
ATENCAO
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
41
Esta dificuldade de definir a ética pode ser explicada primariamente 
(outras variáveis explicativas são possíveis) através da própria etimologia das 
palavras. A origem da palavra ética vem do grego “ethos”, que quer dizer o modo 
de ser, caráter, ou abrigo, a morada de animais. Abrigo, morada, tem relação com 
a proteção da vida. Portanto, a ética relaciona-se com as manifestações da vida 
humana, da forma como os seres humanos se relacionam com o mundo, com a 
natureza e consigo mesmos na manutenção da vida. Por sua vez, os romanos 
traduziram o “ethos” grego para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer 
dizer costume, de onde vem a palavra moral. Portanto, há uma nítida distinção 
entre os dois conceitos. A moral é definida como o conjunto de normas, princípios, 
preceitos, costumes, valores que advêm de uma tradição, de uma determinada 
cultura e que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social.
A moral caracteriza-se por especificidades culturais e apresenta-se de 
forma normativa, ou seja, estabelece normas de conduta que orientam as ações 
cotidianas. Desta forma, a moral tem incidência direta no âmbito da vida privada, 
ou seja, é norteadora dos comportamentos individuais, da forma como as pessoas 
agem cotidianamente diante das mais variadas situações.
A ética é definida como a teoria, o conhecimento, ou a capacidade racional 
de discernimento em relação aos comportamentos morais. Busca explicar, 
compreender, justificar e criticar a moral, ou as morais de uma sociedade. Nesta 
perspectiva, a ética tem incidência no âmbito da vida pública, como reflexão em 
torno das questões morais que envolvem a vida em sociedade. Portanto, a ética 
assume uma dimensão ontológica imprescindível, na medida em que somos 
convidados a pensar a nossa forma de ser e estar no mundo, a qualidade de nossas 
relações conosco mesmos e com os outros seres humanos. Pela sua dimensão 
ontológica, a ética diz respeito à esfera política do ser humano, na medida em 
que nos remete a pensar o bem comum, o bem viver, a vida em sociedade como 
condição da felicidade individual e social.
3 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS
Com relação aos problemas éticos e morais do comportamento humano, 
observamos que a ética não é facilmente explicável, ao sermos indagados, mas 
todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada aos nossos costumes 
e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento,ao nosso modo de vida 
e de convivência com os outros integrantes da sociedade.
Observa-se que todos nós possuímos princípios e valores que foram e são 
constituídos por nossa sociedade. E com relação a estes valores, cada um de nós 
possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal. 
Contudo, esta consciência moral é determinada por um consenso coletivo 
e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de 
42
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal e outras 
regras e normas da sociedade.
Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundar os seus conteúdos sobre os princípios e 
valores, sugerimos a leitura dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da República Federativa do 
Brasil, promulgada em 1988. Eles estão disponíveis no seguinte site: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.
Didaticamente, segundo Valls (2003, p. 8),
 
costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: 
num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, 
bem, valor, lei e outros); e no segundo os problemas específicos, de 
aplicação concreta, como os problemas da ética profissional, de ética 
política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc. 
FIGURA 9 – O BEM E O MAL
FONTE: Disponível em: <www.dialogosuniverstarios.com.br>. 
Acesso em: 25 fev. 2009.
Contudo, como saber: o que é certo e errado, se estamos fazendo o bem ou o 
mal? Olhe atentamente para a imagem acima e reflita o que ela representa para você.
IMPORTANT
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TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
43
Finalizando este item, podemos observar que
os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica 
genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da 
vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar 
sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz 
pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida 
presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências 
grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar 
fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar o 
comportamento moral. (TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 90).
4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O 
ERRADO
Com relação ao comportamento moral dos homens, chegamos numa 
encruzilhada que é a nossa própria consciência moral, pois como saber o que 
devemos fazer? O que é certo ou errado perante a sociedade? O que é o bem e 
como evitar o mal?
De acordo com Valls (2003, p. 67-68),
agir eticamente é agir de acordo com o bem. A maneira de como se 
definirá o que seja este bem é um segundo problema, mas a opção 
entre o bem e o mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece 
continuar válida. [...] Neste sentido, poderíamos continuar dizendo que 
uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem 
ou mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento por uma 
tal opção, uma tal disjunção. E quem não vive dessa maneira, optando 
sempre, não vive eticamente.
Pois bem, para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma situação 
da vida em sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos éticos 
daquela sociedade em si, ou seja, seus princípios morais e seus costumes. Entretanto, 
sem esquecer que o que todo ser humano busca em suas ações cotidianas na 
sociedade é fazer sempre e somente o bem, pois é por causa e em nome deste bem 
maior que eles realizam tudo.
 
Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este fim 
somente é alcançado quando os homens realizam uma atividade para alcançá-los, 
vão à busca de seus objetivos e metas. Portanto, se realmente existe um motivo que 
visa tudo o que fazemos, este fim só poderá ser realizado se nós, seres humanos, o 
realizarmos através de ações/atividades. Elas, por sua vez, sempre estão na busca 
constante da realização do bem e da verdade e procurando a felicidade e o prazer.
44
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
5 O SUJEITO ÉTICO-MORAL
Todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social, 
portanto, podemos dizer que os homens em sociedade convivem em grupo. 
Cada grupo social possui diferentes características culturais e morais, como, por 
exemplo: os povos indígenas, os orientais, os africanos, os alemães, os franceses, 
os italianos, os americanos, os brasileiros, entre muitos outros. Cada sociedade 
possui suas normas de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, 
cada grupo social constituiu o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o 
seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para outro 
grupo social e vice-versa.
Podemos pegar como exemplo a cultura do nascimento de crianças. 
Existem algumas sociedades indígenas em que a mãe, ao dar à luz, se embrenha 
na mata sozinha e se o filho não for perfeito, segundo os seus princípios morais, ela 
o abandona à sua própria sorte. À luz de nossos princípios morais, esta ação seria 
considerada um crime de abandono.
Como você pode observar na seguinte figura, cada povo possui sua 
tradição, hábitos, costumes e cultura, desencadeando valores e princípios morais 
diferentes, que conduzem o seu comportamento social e moral.
FIGURA 10 – DIFERENTES CULTURAS
FONTE: Os autores
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
45
Se você quiser saber mais sobre o comportamento moral destes grupos sociais/
povos, pesquise, na internet, sobre a CULTURA de cada povo. Assim, você poderá observar as 
diferenças culturais de cada um e identificar seus princípios morais.
Afinal, o que é ética?
De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 89), “a palavra ética provém 
do grego ethos e significa hábitos, costumes e se refere à morada de um povo ou 
sociedade. A palavra moral provém do latim moralis e significa costume, conduta”.
A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que 
cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, 
o que é bom ou mau. Porém, este comportamento sempre partirá do ponto de vista 
dos princípios morais de cada sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia 
no esclarecimento e na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando 
sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente de 
cada grupo social.
“O ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento 
moral dos indivíduos ou da comunidade.” (VÁZQUEZ, 2005, p. 20)
Complementando, Vazquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria, 
investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de 
comportamento dos homens [...]”, ou seja, o valor de ética está naquilo que ela 
explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação 
ou uma atitude moral.
Como todos sabem, existem grandes transformações históricas no decorrer 
dos tempos em nossa sociedade. E com estas mudanças, o nosso comportamento 
também muda e, consequentemente, os nossos princípios morais também. Está 
indeciso? Normal.
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UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
 FIGURA 11 – INDECISÃO
FONTE: Disponível em: <www.dificilescolher.blogspot.com>. Acesso em 25 
fev. 2009.
Outro fator que não podemos esquecer é a questão de julgar o 
comportamento dos outros grupos sociais, pois a realidade cotidiana destes foi 
formada por outro conjunto de normas e princípios morais, diferente dos nossos. 
Mesmo que em alguns aspectos estes princípios se pareçam com os nossos.
6 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: A NECESSIDADE 
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Neste item trabalharemos algumas questões que apresentam as origens ou 
bases fundamentais da existência humana, ou seja, a gênese da consciência moral,aquilo que possibilita os seres humanos a serem considerados homens.
Lembre-se, o ditado popular cita que “O HOMEM É HOMEM PORQUE É UM 
SER RACIONAL!” A questão não é tão simples assim, pois não podemos dizer que a ética só 
depende da razão e que a racionalidade é o seu fator constituinte.
Entretanto, antes de tudo, precisamos compreender o significado das ações 
ético-morais na vida dos seres humanos, indagando se o simples fato de pensar 
e estabelecer normas de conduta da realidade cotidiana pode ser compreendido 
como a realização de uma atividade prática em sua vida, ou seria possível que 
a vida dos homens fosse estabelecida apenas por sua racionalidade ou pela 
composição de regras, normas e valores sociais?
ATENCAO
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
47
Partindo desta indagação, podemos afirmar que o homem vive num mundo 
real, estabelecendo diversas relações com a natureza, transformando-a segundo as 
suas necessidades reais, sobrevivendo, ao longo de sua história, a partir dessas 
relações. 
Como sugestão, inicialmente, leia o seguinte livro:
FURNARI, Eva. Lolo Barnabé. São Paulo: Moderna, 2000.
Os seres humanos estão ligados à natureza e dela dependem para se 
constituírem como seres sociais, pois, à medida que utilizam sua consciência sobre 
a natureza, desenvolvem necessidades práticas de sobrevivência, ou seja, não 
basta apenas pensar e observar. Faz-se necessário que os homens ajam sobre sua 
realidade cotidiana, realizem seus desejos e vontades e transformem a sua vida 
conforme suas necessidades e as necessidades de sua sociedade.
Marx e Engels (1987, p. 22) colocam-nos que
[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de 
toda história, é que os homens devem estar em condições de viver para 
poder fazer história. Mas, para viver, antes de tudo comer, beber, ter 
habitação, vestir-se e algumas coisas a mais. O primeiro ato histórico 
é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas 
necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um 
ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda 
hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprida todos os dias e todas 
as horas, simplesmente para manter os homens vivos.
Assim, podemos observar que a realização de nossas necessidades é 
compreendida como um fato social e histórico, primordial para compreendermos 
a própria existência humana. E estas necessidades, conforme a história do “Lolo 
Barnabé” (FURNARI, 2000), são criadas e recriadas constantemente, fazendo parte 
da constituição histórica dos seres humanos. Por consequência, determinando o 
modo de vida, os princípios, hábitos e valores sociais.
DICAS
48
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
LEITURA COMPLEMENTAR
ÉTICA E MORAL
Sandro Dennis
Existe alguma confusão entre o conceito de Moral e o conceito de Ética. 
A etimologia destes termos ajuda a distingui-los, sendo que Ética vem do grego 
“ethos”, que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de 
“mores”, significando costumes.
Esta confusão pode ser resolvida com o estudo em paralelo dos dois temas, 
sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do 
homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição 
e pelo cotidiano. É a “ciência dos costumes”. A Moral tem caráter normativo e 
obrigatório.
Já a ÉTICA é “conjunto de valores que orientam o comportamento do 
homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, 
assim, o bem-estar social”, ou seja, ÉTICA É A FORMA COMO O HOMEM 
DEVE SE COMPORTAR NO SEU MEIO SOCIAL.
A MORAL sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência 
moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo 
realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu 
nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, 
pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois 
leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente 
por convicção e inteligência. Ou seja, enquanto a Ética é teórica e reflexiva, a Moral 
é eminentemente prática. Uma completa a outra.
Este desenvolvimento humano, pela busca da realização das suas 
necessidades, é feito primordialmente por meio do trabalho, no qual o homem, 
além de se adaptar à natureza, começa a agir sobre ela, transformando-a de acordo 
com seus propósitos e necessidades.
Então, podemos concluir que é por meio do trabalho que os seres humanos 
colocam em prática suas capacidades humanas. Assim, o trabalho é a base 
fundamental na formação da consciência moral de todos os seres humanos, 
pois, segundo Barroco (2000, p. 45), “[...] o trabalho é uma atividade social, cuja 
realização cria valores e costumes, desenvolve habilidades e sentimentos, formas 
de comunicação, de intercâmbio e de conhecimento; em outras palavras, cria a 
cultura e sua própria história.” É por meio do trabalho que os homens desenvolvem 
seus princípios e sua cultura, consequentemente, seus valores sociais e éticos.
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
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Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um 
traidor? Em situações como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade de 
organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou 
mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e desta 
forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. 
Porém, o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, 
então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E a 
diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim ÉTICA 
É UMA ESPÉCIE DE LEGISLAÇÃO DO COMPORTAMENTO MORAL DAS 
PESSOAS.
Ainda podemos dizer que a ética é um conjunto de regras, princípios ou 
maneiras de pensar que guiam, ou chamam para si a autoridade de guiar, as ações 
de um grupo em particular, ou, também, o estudo da argumentação sobre como 
nós devemos agir.
Também a simples existência da moral não significa a presença explícita de 
uma ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que discuta, 
problematize e interprete o significado dos valores morais.
50
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Podemos dizer, a partir dos textos de PLATÃO e ARISTÓTELES, que no 
Ocidente a ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates.
Para SÓCRATES, o conceito de ética iria além do senso comum da sua 
época, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bem 
em si” próprio da sabedoria da alma e que pode ser rememorado pelo aprendizado. 
Esta bondade absoluta do homem tem relação a uma ética anterior à experiência, 
pertencente à alma e que o corpo, para reconhecê-la, terá que ser purificado.
ARISTÓTELES subordina sua ética à política, acreditando que na 
monarquia e na aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um privilégio 
de poucos indivíduos. Também diz que, na prática ética, nós somos o que fazemos, 
ou seja, o Homem é moldado na medida em que faz escolhas éticas e sofre as 
influências dessas escolhas.
O Mundo Essencialista é o mundo da contemplação, ideia compartilhada 
pelo filósofo grego antigo Aristóteles. No pensamento filosófico dos antigos, os 
seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela 
conduta virtuosa. Para a ética essencialista o homem era visto como um ser livre, 
sempre em busca da perfeição. Esta, por sua vez, seria equivalente aos valores 
morais que estariam inscritos na essência do homem. Dessa forma – para ser ético 
–, o homem deveria entrar em contato com a própria essência, a fim de alcançar a 
perfeição.
Costuma-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista,em três 
aspectos: 1) o agir em conformidade com a razão; 2) o agir em conformidade com 
a natureza e com o caráter natural de cada indivíduo; 3) a união permanente entre 
ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética era uma 
maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia 
entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.
Com o cristianismo romano, através de S. 
TOMÁS DE AQUINO e SANTO AGOSTINHO, 
incorpora-se a ideia de que a virtude se define a 
partir da relação com Deus e não com a cidade ou 
com os outros. Deus, nesse momento, é considerado 
o único mediador entre os indivíduos. As duas 
principais virtudes são a fé e a caridade.
Através deste cristianismo, se afirma na ética 
o livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso da 
liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem 
passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o 
mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina. 
A ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a 
ética passa a estabelecer três tipos de conduta; a moral 
ou ética (baseada no dever), a imoral ou antiética e a 
indiferente à moral.Descartes
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
51
As profundas transformações que o mundo sofre partir do século XVII 
com as revoluções religiosas, por meio de LUTERO; científica, com COPÉRNICO, 
e filosófica, com DESCARTES, oprimem um novo pensamento na era Moderna, 
caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano – agora a razão é o caminho para a 
verdade, e para chegar a ela é preciso um discernimento, um método.
Em oposição à fé surge agora o poder exclusivo da razão de discernir, 
distinguir e comparar. Este é um marco na história da humanidade, que a partir 
daí acolhe um novo caminho para se chegar ao saber: o saber científico, que se 
baseia num método, e o saber sem método é mítico ou empírico.
A ética moderna traz à tona o conceito de 
que os seres humanos devem ser tratados sempre 
como fim da ação e nunca como meio para alcançar 
seus interesses. Essa ideia foi contundentemente 
defendida por Emmanuel Kant. Ele afirmava que: 
“Não existe bondade natural. Por natureza somos 
egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, 
ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos 
quais matamos, mentimos, roubamos”.
De acordo com esse pensamento, para 
nos tornarmos seres morais era necessário nos 
submetermos ao dever. Essa ideia é herdada da 
Idade Média, na qual os cristãos difundiram a 
ideologia de que o homem era incapaz de realizar 
o bem por si próprio. Por isso, ele deve obedecer 
aos princípios divinos, cristalizando assim a ideia 
de dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar por 
nossos impulsos, apetites, desejos e paixões, não teremos autonomia ética, pois 
a Natureza nos conduz pelos interesses de tal modo que usamos as pessoas e as 
coisas como instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser escravos do 
desejo.
No século XIX, FRIEDRICH HEGEL traz uma nova perspectiva 
complementar e não abordada pelos filósofos da Modernidade. Ele apresenta a 
perspectiva Homem – Cultura e História, sendo que a ética deve ser determinada 
pelas relações sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjetiva 
deve ser submetida à vontade social, das instituições da sociedade. Desta forma, a 
vida ética deve ser “determinada pela harmonia entre vontade subjetiva individual 
e a vontade objetiva cultural”.
Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira 
que passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não ocorrer 
é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa realidade e por 
isso devem ser modificados. Nesta situação podem ocorrer crises internas entre os 
valores vigentes e a transgressão deles.
Kant
52
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Já na atualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de 
pensamento:
A ÉTICA PRAXISTA, em cuja visão o homem tem a capacidade de 
julgar, ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma 
consciência totalmente livre. O homem tem uma corresponsabilidade frente às 
suas ações.
A ÉTICA PRAGMÁTICA, com raízes na apropriação de coisas e espaços, 
na propriedade, tem como desafio a alteridade (misericórdia, responsabilização, 
solidariedade), para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para 
a solidariedade, contribuindo para a igualdade entre os homens: “distribuição 
equitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.
O homem é visto como sujeito histórico-
social e, como tal, sua ação não pode mais ser 
analisada fora da coletividade. Por isso, a ética ganha 
novamente um dimensionamento político: uma 
ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui 
para o aumento da justiça, distribuição igualitária 
do poder entre os homens. Na ética pragmática o 
homem é politicamente ético, – “todos os aspectos 
da condição humana têm alguma relação com a 
política” – há uma corresponsabilidade em prol de 
uma finalidade social: a igualdade e a justiça entre 
os homens.
Na Contemporaneidade, NIETZSCHE 
atribui a origem dos valores éticos não à razão, mas 
à emoção. Para ele, o homem forte é aquele que 
não reprime seus impulsos e desejos, que não se 
submete à moral demagógica e repressora. E para coroar essa mudança radical 
de conceitos, surge FREUD com a descoberta do inconsciente, instância psíquica 
que controla o homem, burlando sua consciência para trazer à tona a sexualidade 
represada e que o neurotiza. Porém, FREUD, em momento algum afirma dever o 
homem viver de acordo com suas paixões, apenas buscar equilibrar e conciliar o 
id com o superego, ou seja, o ser humano deve tentar equilibrar a paixão e a razão.
Hoje, em uma era em que cada vez mais se fala de globalização, da qual 
somos todos funcionários e insumos de produção, o conhecimento de nossa cultura 
passa inevitavelmente pelo conhecimento de outras culturas. Entretanto, essa 
tarefa antropológica não é suficiente para o homem comum superar a crise da ética 
atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar à sua convivência 
harmônica. Ao contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico e científico, ser 
feliz é ter. Não há mais espaço para uma ética voltada para uma comunidade. Hoje 
se aposta no individualismo, no consumo, na rapidez de produção.
No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político 
Hegel
TÓPICO 2 | A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
53
grave. Forças de dominação têm se consolidado nas estruturas sociais e econômicas, 
mas através da crítica e no esclarecimento da sociedade seria possível desvelar 
a dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana; 
sabendo disso, essas mesmas forças têm procurado controlar a mídia.
Em lugar da felicidade pura e simples há a obrigação do dever e a ética 
fundamenta-se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”. Que impede 
o Homem de pensar e descobrir uma nova maneira de se ver, e assim encontrar 
uma saída em relação ao conformismo de massa que está na origem da banalidade 
do mal, do mecanismo infernal em que estão ausentes o pensamento e a liberdade 
do agir.
Pois assim determina Vasquez (1998) ao 
citar Moral como um “sistema de normas, princípios 
e valores, segundo os quais são regulamentadas 
as relações mútuas entre os indivíduos ou entre 
estes e a comunidade, de tal maneira que estas 
normas, dotadas de um caráter histórico e social, 
sejam acatadas livre e conscientemente, por uma 
convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, 
externa ou impessoal”.
Enfim, Ética e Moral são os maiores valores 
do homem livre. O homem, com seu livre-arbítrio, 
vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, 
ou ele apoia a natureza e suas criaturas, ou ele 
subjuga tudo o que pode dominar,e assim ele 
mesmo se forma no bem ou no mal neste planeta.
FONTE: DENIS, Sandro. ÉTICA E MORAL. CÍRCULO CÚBICO. Disponível em: <http://
circulocubico.wordpress.com/2008/04/04/tica-e-moral/>. Acesso em: 9 set. 2011.
Freud
54
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:
• Existem diferenças entre ética e moral e também que elas se complementam.
• O ser humano, assim como a sociedade, necessita da ética e da moral para 
distinguir o que é o melhor para todos.
• Ética e moral podem ser considerados valores intrínsecos ao ser humano.
55
1 Apresente pelo menos três características para ética e moral.
2 Qual é a principal função da ética?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 2
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 1
56
57
TÓPICO 3
A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O terceiro e último tópico da Unidade 1 vem apresentar as relações humanas, 
no sentido de dar conta da visão multidimensional do ser humano em relação às suas 
possibilidades de se relacionar. Vamos identificar a importância dos valores necessários 
para a boa convivência social, do nosso cotidiano, a importância da compreensão do 
bem comum com algumas variantes a destacar.
2 VALORES
O que entendemos por valores? Os valores são imutáveis? Como escolher 
valores? Vamos aprender e refletir neste ponto sobre os valores que estão no centro 
de nossas escolhas e também como esses valores se constituem. Queremos aqui 
refletir da urgência desse tema que está presente em nosso cotidiano e é fundamental 
para nossa convivência social: os valores. Vamos aprender o que são esses valores, 
como são constituídos, mantidos ou abandonados e – importante – porque com isso 
saberemos como e por que lemos o mundo da forma que o fazemos e como os outros 
nos interpretam. Trata-se, portanto, de buscar os fundamentos de nossa identidade.
FIGURA 12 – IDENTIDADE
FONTE: Disponível em: <http://cotidianonaperiferia.files.wordpress.com/2011/08/
banner-post-lid.jpg>. Acesso em: 25 fev. 2012.
58
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
A palavra VALOR tem sua raiz no latim, valere, e significa coragem, bravura, o 
caráter do homem; daí por extensão significa aquilo que dá a algo um caráter.
1. A noção filosófica de valor está relacionada por um lado àquilo que é bom, útil, positivo; e, 
por outro lado, à prescrição, ou seja, a algo que deve ser realizado.
2. Do ponto de vista ético, os valores são os fundamentos da moral, das normas e regras que 
prescrevem a conduta correta (JAPIASSU; MARCONDES, 2001, p. 268).
O valor é a relação que se estabelece entre o sujeito que valora e o objeto 
valorado. Não existe um objeto com determinado valor. Os objetos têm o valor que 
o sujeito lhes atribui, ou seja, não há valor em si, mas o valor para alguém. A ação 
de valorar está restrita à esfera humana e está no centro de nossa vida. Quando 
fazemos nossas escolhas, escolhemos o nosso trajeto diário para o trabalho, a 
roupa que vestimos, o alimento que comemos, estamos colocando em escala de 
valor essas escolhas. Aranha e Martins (2005, p. 198) ensinam:
O objetivo de qualquer valoração é, sem dúvida, orientar ação prática. 
Se o ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar a poluição, que 
comprometa a qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é 
um valor, não podemos mentir o tempo todo; caso contrário, as relações 
humanas se corrompem. Portanto, diante daquilo que é, a valoração nos 
orienta para o que deve ser.
O que a citação está nos ensinando é que valoramos a todo o momento e 
que eles se constituem na ordem da afetividade, isto é, nunca ficamos indiferentes 
às coisas: de uma forma ou de outra, elas nos afetam. Se gostamos da árvore, de sua 
sombra e de suas flores, significa que ela nos afetou de forma positiva. A mesma 
árvore pode afetar de forma negativa se nos incomodam as folhas e flores que dela 
caem na calçada limpa.
Primeiramente, faz-se necessário compreender o significado de valor, 
pois, ao refletir sobre ética, também falamos sobre os nossos valores e virtudes 
e, consequentemente, no comportamento dos homens. Portanto, conclui-se que 
a ética é formada pelo estudo e investigação do comportamento e dos juízos de 
valores, estabelecendo ponderações de valor para o que está de acordo ou não 
com as normas e regras de convivência dos homens em sociedade, pontuando o 
que é certo e errado em cada postura social, observando sempre as normas de 
convivência social de cada sociedade ou povo.
O que são os valores sociais?
IMPORTANT
E
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
59
Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto de 
coisas como dos seres humanos. Por exemplo, “Aquela flor tem muitos espinhos, 
pode me machucar”. “Este sabonete é ruim para mim, pois me dá alergia”. “Este 
chocolate é ruim, pois derrete fácil”. “Gosto muito daquele chocolate, porque é 
muito gostoso”. “Acho que a Samanta agiu bem ao ajudar você no trabalho de 
aula”. “Aquele profissional é competente”. Essas afirmações se referem ao juízo 
de valor da realidade em que estamos inseridos, pois quando partimos do fato 
de que a flor, o sabonete, o chocolate, a moça e o profissional existem realmente, 
atribuímos algumas qualidades a eles, que podem nos atrair ou repelir.
Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, 
afetividade, do bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos.
Os valores são, num primeiro momento, herdados por nós. Ao 
nascermos, o mundo cultural é um sistema de significados já estabelecido, de tal 
modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante 
de estranhos, como, quando e quanto falar em determinadas circunstâncias; 
como andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual 
o padrão de beleza; que direito e deveres temos. Conforme atendemos ou 
transgredimos os padrões, os comportamentos são avaliados como bons ou 
maus.
A partir da valoração, as pessoas podem achar bonito ou feio o desenho 
que acabamos de fazer, ou criticar-nos por não termos cedido lugar à pessoa 
mais velha no metrô; ou acham bom o preço que pagamos pela bicicleta; ou 
nos elogiam por termos mantido a palavra dada; ou nos criticam por termos 
faltado com a verdade.
Nós próprios nos alegramos ou nos arrependemos de nossas ações 
ou até sentimos remorsos dependendo do que praticamos. Isso quer dizer 
que o resultado de nossos atos está sujeito à sanção, ou seja, ao elogio ou à 
reprimenda, à recompensa ou à punição, nas mais diversas intensidades: a 
crítica de um amigo, “aquele” olhar da mãe, a indignação ou até a coerção 
física (isto é, a repressão pelo uso da força, por exemplo, quando alguém é 
preso por assassinato).
FONTE: Aranha e Martins (2005, p. 300-301)
Alguns exemplos dos valores e virtudes humanas: 
QUADRO 4 – ALGUNS VALORES E VIRTUDES HUMANAS
AMIZADE JUSTIÇA OBEDIÊNCIA RESPEITO SIMPLICIDADE
LEALDADE COMPREENSÃO SINCERIDADE PUDOR GENEROSIDADE
PACIÊNCIA ORDEM HUMILDADE AUTOESTIMA LIBERDADE
FONTE: Os autores
60
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Os valores que residem no centro de nossas vidas e de nosso cotidiano são 
muitas vezes herdados de uma cultura ou de um costume. Assim, essa experiência 
valorativa pode passar (e passa) por mudanças conforme a época, a cultura e o 
lugar. É muito importante saber que as regras são modificadas e nunca são extintas, 
porque o sujeito tem necessidade de regras formalizadas, modelos para seguir em 
todos os setores.
[...] a coragem é melhor que a covardia e a amizade é um valor desejável 
para os membros de um grupo. No entanto, a coragem e a amizade 
têm apenas um valor formal cujo conteúdo pode variar. A coragem 
do guerreiro da tribo é diferente da coragem do executivo dos centros 
urbanos. [...] a amizade é um valor universal,mas a sua expressão varia 
conforme os costumes. (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 199).
Aqui no Brasil somos muito afetivos e expansivos. Demonstramos nossa 
afeição a todo o momento com abraços e beijos. No Oriente não é bem assim. 
As pessoas são um pouco mais reservadas. No Brasil, quando dizemos que uma 
determinada mulher é “guerreira”, estamos afirmando que ela é uma lutadora 
pela manutenção da vida, do lar, de seus filhos e de si mesma. Em uma sociedade 
tribal, uma mulher “guerreira” significa que vai à guerra em seu sentido literal.
Os valores são transmitidos pela cultura e, nesse ponto, a educação tem 
papel fundamental. É ela uma das responsáveis por ensinar os valores de nossa 
cultura, mas não é a única. A família também assume esse papel assim que a 
criança nasce. No entanto, esses valores são modificados com o tempo, porque faz 
parte da capacidade humana criticar novos e modificados valores e ansiar por eles.
Quando se trata de uma sociedade mais rígida e com pouca flexibilidade, 
esses valores são mantidos por mais tempo. É comum conhecermos — pessoalmente 
e através de programas de televisão — famílias que ainda mantêm costumes já 
superados, como educar mulheres para o casamento e para a maternidade. Na 
atualidade, as mulheres têm suas carreiras profissionais, casam e descasam, têm 
filhos ou não. São escolhas totalmente aceitas socialmente. Mas ainda existem 
famílias que mantêm os costumes antigos. São os valores tradicionais mantidos 
por um grupo.
As mudanças de costumes (como é o caso da mulher ocidental) não 
são substituídas de uma hora para outra. Existe um processo de crise em que a 
sociedade promove alguns movimentos, em princípio de forma isolada e, depois, 
vai se expandindo e tomando corpo e lugares. O século passado foi palco de 
grandes crises e mudanças em muitos segmentos sociais: família, arte, política e 
educação. A família diminuiu, a mulher saiu de casa para trabalhar e sustentar a 
família, a televisão mudou os hábitos familiares e agora todos se reúnem em torno 
do aparelho de TV.
A Semana de Arte Moderna de 1922 marcou a mudança conceitual de 
gênero das artes e modificou o gosto. Mas será que o gosto pode ser modificado? 
Pode. O que é feio ou bonito irá depender do movimento artístico predominante e, 
principalmente, pela indústria cultural que determina as expressões e manifestações 
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
61
de arte. Da mesma forma acontece com os valores morais, já que não nascemos 
morais e sim, nos tornamos sujeitos morais. Aprendemos a ser morais.
A construção de nossa personalidade moral supõe uma descentração 
– em que superamos nosso egoísmo, em direção ao reconhecimento 
do outro como o outro eu. Por isso, o processo de educação moral não 
deveria ser de inculcação das normas, mas também o de estimulação da 
passagem da heteronomia para a autonomia. (ARANHA; MARTINS, 
2005, p. 200).
Se o sujeito aprende de forma automática e sem reflexão, terá dificuldades 
de promover a sua autonomia e terá suas escolhas sempre determinadas por outras 
pessoas. A reflexão e discussão sobre os valores nos ajudam a buscar as razões de 
nossas escolhas. Escolhemos e sabemos por que o escolhemos.
Outra questão importante do núcleo dos valores é a condição da cidadania. 
Primeiro é preciso aprender: CIDADANIA É O DIREITO DE TODOS TEREM 
DIREITOS! No entanto, não nascemos cidadãos. A cidadania é conquistada 
pela educação, que promove o comportamento cidadão no sujeito para o efetivo 
exercício democrático. “Não é fácil desenvolver a política da igualdade – que 
estimula a solidariedade, o pluralismo e o respeito pelos direitos humanos” 
(ARANHA; MARTINS, 2005, p. 200).
Em nossa mente ainda permanece a ideia de uma sociedade hierarquizada 
marcada pelo preconceito racial. Essa forma de pensamento está refletida em nossa 
linguagem, nas manifestações artísticas, na organização urbana e na distribuição 
de renda.
Você aprendeu, no início desta seção, o significado de valor em latim, 
mas existe, também, o significado em grego. Por que muitas palavras aparecem 
com significados nos dois idiomas? Porque a nossa cultura ocidental é herdeira 
dessas duas culturas. Aliás, pensando bem, são três culturas que fizeram parte de 
nossa formação: os gregos, os romanos (por isso o latim, que era a língua oficial 
dos romanos) e a judaico-cristã. Essas três culturas se juntaram, se influenciaram 
e formaram juntas a cultura ocidental. Não nos esqueçamos de que fomos 
“descobertos” pelos portugueses, que já tinham essa formação.
Filmes: Forall: o trampolim da vitória (Brasil, 1997). Luiz Carlos Lacerda e Buza 
Ferraz. Gaijin: caminhos da liberdade (Brasil, 1980). Tizuka Yamazaki. Sonhos (Estados Unidos/
Japão, 1990). Akira Kurosawa.
DICAS
62
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Já que estamos neste momento de análise histórica, vamos aprender aqui 
a contribuição dos filósofos antigos para esta questão de compreensão dos valores 
a partir de diferentes pontos de vista, como, por exemplo, como encontrar valor 
no bem, no belo, no verdadeiro, enfim, como se dá sua relação com o ser. Vamos 
começar com Platão.
Para Platão, existe o mundo das ideias do bem supremo, do verdadeiramente 
belo, do verdadeiramente bom. Aqui, no mundo sensível, não há espaço para 
o bem supremo porque no mundo corpóreo (das sensações, dos sentidos) tudo 
está em transição e, por isso, não há possibilidade da manutenção do verdadeiro 
conhecimento, que é eterno e imutável.
Para Aristóteles, tudo está em processo de atualização e, portanto, o ser 
humano precisa, no exercício da atualização (aprendizado), buscar aquilo que está 
em sua natureza de forma escondida: a virtude. Essa virtude se encontra no pleno 
uso da razão. Somente o ser humano é dotado de razão e é preciso colocá-la a seu 
serviço e viver de acordo com ela (não de acordo com as pulsões e paixões).
No período Iluminista (século XVIII), o filósofo Immanuel Kant afirma que 
não podemos conhecer o ser profundo das coisas (a essência que define as coisas) 
porque a razão não é capaz de te alcançar, de ter acesso pleno à metafísica (às 
primeiras coisas que estão fora do mundo físico). Então, é de responsabilidade do 
sujeito a atribuição dos valores em suas escolhas. “[...] Kant não se referia a um 
sujeito individual, mas ao sujeito transcendental, capaz de autonomia, de julgar 
por si próprio ao fazer juízos estéticos e morais” (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 
203). Kant influenciou o pensamento filosófico subsequente e, até hoje, influencia 
os estudiosos da Ética.
FIGURA 13 – ESTUDIOSOS DA ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://rachelsnunes.blogspot.com.br/2011/04/retorno-
da-filosofia.html#!/2011/04/retorno-da-filosofia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
63
Mas foi Nietzsche quem promoveu uma verdadeira revolução no 
pensamento sobre os valores morais. Com sua obra “A genealogia da moral”, ele 
propõe a “transvaloração da moral”. Ou seja, ele propõe a rediscussão sobre o valor 
dos valores. Para ele, os valores são aceitos pelo hábito e não de forma consciente e, 
ainda, imposta pela tradição cristã. O sujeito não pensa no que faz e faz por medo 
ou por comodismo!
[...] a humildade, a caridade, a resignação, a piedade são valores dos 
fracos e vencidos, próprios de uma moral de escravos, intimamente 
ligada às necessidades dos que vivem em rebanho. Diferentemente, 
a moral dos senhores é positiva, porque baseada no sai à vida, e 
se configura sob o signo da plenitude, do acréscimo. (ARANHA; 
MARTINS, 2005, p. 203).
Nietzsche contesta os valores da tradição afirmando que foram criados por 
humanos para serem exercidos por outros humanos. Daí a necessidade de uma 
“demolição” desses valores e uma mudança, uma “transvaloração da moral”. Isto 
é, uma superação dos valores vigentes.
Na atualidade vivemos um processo derelativização dos valores. Tudo é 
relativo, inclusive o gosto. O que é belo? O que é feio? É uma questão de gosto. 
Aliás, você já deve ter ouvido a expressão: gosto não se discute. Será que é assim 
mesmo? Bem, se estamos nos referindo ao gosto gustativo, se gostamos de 
chocolate ou não, aí sim podemos discutir. Mas quando estamos falando de arte, 
não podemos deixar que esses valores sejam especulados e deixados ao bel-prazer 
de forma arbitrária. O que Leonardo da Vinci pretendia com a sua Monalisa era 
demonstrar que o belo está nas proporções das formas definidas e distribuídas na 
pessoa e, nesse caso, o retrato (imaginário ou não) contemplava essa ideia. A ideia 
de gosto estético pode e deve ser aprimorada a partir de uma educação de nossa 
sensibilidade.
Nietzsche foi um filósofo que marcou o pensamento ocidental de forma 
contundente porque fez crítica à tradição filosófica que, até então, ninguém ousou fazer. 
Mas ele o fez! Por isso, marcou seu nome na história. Você concorda com esse filósofo que 
devemos “demolir” nossos valores e crenças para a reconstrução de outros valores? Justifique.
Outras questões do nosso cotidiano estão nas esferas religiosas, políticas 
e de postura de comportamento. Somos estimulados pelo senso comum a não 
discutir e sempre respeitar a opinião dos outros. Mas será que precisamos ficar 
calados diante de tudo? Lembremo-nos de que questões como a legitimidade da 
escravidão, das torturas, da separação étnica em muitos países (como o apartheid 
na África) e da negação do direito ao voto feminino ainda eram defendidas em 
pleno século XX.
NOTA
64
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
As mulheres conquistaram o direito de voto em 1883, na Nova Zelândia; em 1906, 
na Finlândia; em 1913, na Noruega; em 1917, na então União Soviética; em 1918, no Canadá 
(sendo que na cidade de Quebec apenas em 1940); em 1920, nos Estados Unidos; em 1928, 
no Reino Unido e na Alemanha; em 1932, no Brasil; em 1971, na Suíça, e em 1976, em Portugal 
(ARANHA; MARTINS, 2005, p. 205).
O exercício reflexivo e dialógico nos leva ao esclarecimento dos nossos juízos 
de valor. Escolher e saber o porquê de nossas escolhas nos liberta dos limites de uma 
razão tutelada. Aí aparece a opção da liberdade. O nosso próximo tema de estudo.
3 ÉTICA E LIBERDADE: LIBERDADE COMO CAPACIDADE 
HUMANA
De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 29), “a ética é a arte de 
administrar a própria liberdade, de administrar os chamados atos humanos”. Por 
essa concepção pode-se dizer que exista uma discricionariedade ou livre-arbítrio 
no uso da liberdade. Parece que não. A liberdade é restrita se a analisarmos ao pé 
da letra, a liberdade de administrar cabe aqui como deferência à felicidade coletiva.
Na verdade, o que os autores querem dizer é que por trás de toda liberdade 
existe uma condição moral e um fim no bem comum, como afirmam: “Uma primeira 
afirmação da ética consiste em que a liberdade não está para fazer qualquer coisa, 
ou a serviço do agir sem rumo ou irresponsável, mas deve estar a serviço do bem”. 
(ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2010, p. 29).
De acordo com Chiavenato (2004, p. 82), que trata da natureza humana 
diante das teorias das organizações, “o homem diante do seu contexto histórico 
sofre mudanças que explicam e justificam o seu comportamento humano”. O autor 
perpassa pelas diversas concepções ao longo da história da administração que 
sustentam o comportamento e/ou demanda comportamental que em cada época 
se exige ou se configura.
De que maneira podemos entender que a liberdade possa ser compreendida 
como uma capacidade humana nos diferentes grupos sociais existentes nos dias atuais?
Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras, normas e 
responsabilidades, mas também não podemos esquecer que a ética é um espaço de 
reflexão sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida que está pautada nos alicerces da 
moral humana em sociedade deve, também, supor que todos os homens sejam livres.
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
65
A partir disso tudo, o que é liberdade?
Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja, não tendo 
liberdade para fazer aquilo que realmente desejamos; ou simplesmente poder 
escolher entre uma ou mais opções; ou ainda sentir-se livre para querer realizar as 
nossas mais subjetivas necessidades, tais como: escolher uma boa comida, comprar 
aquela roupa desejada, fazer aquele curso desejado e não imposto pela família ou 
sociedade, andar de bicicleta, fazer um esporte etc?
Sabemos que todos os homens necessitam de liberdade. Os animais também 
precisam dela. A liberdade pode ser entendida como um processo de poder fazer 
escolhas. Estas escolhas devem ser sempre pautadas sobre os nossos princípios 
morais e éticos, para que, assim, não possamos prejudicar os outros.
De acordo com Barroco (2000, p. 54),
A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de 
ética. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir 
com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas, 
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua 
importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo 
que valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de cada 
momento histórico. Por tudo isso, podemos perceber que a liberdade 
é também uma questão ética das mais importantes, pois nem todos 
os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar novas 
alternativas de escolha.
O formato da vida em que estamos inseridos demonstra a situação de que os 
homens estão sempre tomando decisões sobre onde, como, para onde, o que estão 
fazendo ou vão realizar. A nossa própria existência pode ser considerada instável 
e incerta, porque mudamos de opinião o tempo todo. O mundo está em constante 
transformação e, por consequência, os nossos hábitos e costumes também, devido 
ao fato de que os seres humanos estão o tempo todo em movimento.
Não sabemos se choverá amanhã ou se fará sol, não sabemos realmente o que 
pode acontecer no dia seguinte e nem o caminho que vamos tomar daqui para frente. 
De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 128), “nosso existir se constitui a cada 
dia, pois o homem não é algo pronto e acabado, é um ser em movimento e que tem 
possibilidades de escolha. O nosso existir revela uma escolha. Uma escolha de nossos 
pais, ao terem um filho, e uma escolha nossa, de optarmos todos os dias pela vida”.
Então, podemos compreender que somos livres, temos o poder de escolha 
entre as inúmeras possibilidades que o universo nos proporciona. Só que não 
podemos esquecer que toda escolha denota uma responsabilidade, não vivemos 
isolados, mas numa sociedade e, perante ela, podemos, de certa maneira, influenciar 
os outros conforme as nossas próprias escolhas.
Lembre-se de que toda escolha que fazemos determinará a nossa própria 
existência.
66
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens em 
sociedade, por meio de suas atividades humanas. Podemos considerar que o ser 
humano é um ser livre e tem o poder de escolha, desde que seja sempre consciente. 
Portanto, por meio do trabalho, o ser humano se constitui um homem consciente 
e livre.
FIGURA 14 – LIBERDADE ENTRE HOMEM E SOCIEDADE
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-SY5LjKN5RN0/TbnyzSy2ItI/
AAAAAAAAAPM/-dUboZCakJk/s1600/cameras755.jpg>. Acesso em: 25 fev. 2012.
“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém 
que explique, e ninguém que a entenda.” (Cecília Meireles)
Contudo, o que é liberdade? No que tange à questão de liberdade, vejamos 
o que predizem Tomelin e Tomelin (2002, p. 127), quando tratam desta questão em 
seu livro “Do mito para a razão: uma dialética do saber”.
Você, por muitas vezes, deve ter se sentido preso, sem liberdade parasair de casa ou fazer o que quer. Ou que, muitas vezes, ao ser livre para querer, 
acaba querendo o que os outros querem que se queira. [...] A liberdade sempre 
foi uma questão fundamental na história da humanidade. Todos nós queremos 
ser livres. Através da história, percebemos que muitas pessoas tiveram que 
pagar um preço alto pela sua liberdade. Muitos queimados em fogueiras, 
outros presos, perseguidos e torturados. Todos necessitam de liberdade. Até 
os animais. Você já reparou como o cachorro fica feliz quando o soltamos para 
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
67
correr? Podemos assim compreender que a liberdade é um poder de escolhas.
Nesta perspectiva, observamos que a existência do ser humano, nas suas 
relações cotidianas, acaba revelando escolhas, ou seja, todos os dias escolhemos 
entre inúmeras possibilidades postas pela sociedade, o que é bom ou mal para 
nós e para os outros. Assim, podemos considerar que todo homem é livre para 
escolher, por si só, uma determinada possibilidade e renunciar outras.
Não podemos esquecer que vivemos em sociedade, portanto, todas as 
nossas escolhas, direta ou indiretamente, influenciarão os demais membros da 
comunidade em que estamos inseridos. As nossas decisões refletem também 
diretamente sobre nós, ou seja, se porventura eu decidir não mais estudar e 
trabalhar, isso influenciará diretamente a minha vida e a da minha família e 
dos amigos. 
Nesta perspectiva, Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) expõem que “[...] 
quando escolho, torno-me humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda 
humanidade. Nossas escolhas é que determinarão o nosso existir”.
4 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS ÉTICOS 
PARA A VIDA COTIDIANA
Partimos do entendimento de que todo homem pode ser considerado 
um ser ético e que nossas raízes éticas advêm da nossa própria história por meio 
do trabalho. Podemos questionar a sua forma de ser, ou seja, qual a natureza da 
moral? Por que a moral é necessária? E como ela é?
Pois sabemos que “a (re)produção da vida social coloca necessidades de 
interação entre os homens, modos de ser constitutivos da cultura, produtos do 
trabalho, tais como a linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, 
religiosas, artísticas e políticas.” (BARROCO, 2000, p. 25). 
A partir disso, podemos destacar alguns exemplos: 
● Na questão da linguagem, hábitos e costumes: pode-se observar que toda 
região do Brasil forma grupos ligados por seus costumes sociais, tais como: 
o nosso tipo de comida, o estilo de vida, as atitudes, determinando o nosso 
convívio social.
● Na questão das atividades simbólicas: a aplicação de histórias de contos de 
fadas serve para o desenvolvimento emocional de crianças.
● Na questão artística: a dança, a pintura, o teatro possibilitam a liberação da 
imaginação e criatividade dos homens, além de ser utilizada no tratamento 
68
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
de algumas questões de recuperação social e moral, como no tratamento de 
dependentes químicos e terapias ocupacionais.
Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria 
seus valores sociais e individuais, os classifica em certos ou errados, bons ou maus, 
de acordo com o conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.
Contudo, quais são as formas de ser da moral?
Como nos mostra Barroco (2000, p. 25-26),
o campo da moral é um espaço de criação e realização de normas e 
deveres, de atitudes, desejos e sentimentos de valor. Na vida cotidiana, 
julgamos as ações práticas como corretas ou incorretas; fazemos juízo 
de valor sobre nosso comportamento e dos outros; nos deparamos com 
situações em que ficamos em dúvida sobre a melhor escolha; projetamos 
nossa vida a partir de valores que julgamos positivos e negamos as 
ações que se orientam por valores que consideramos negativos.
Podemos observar, no nosso dia a dia, a existência de pessoas que não 
respeitam as normas de conduta da sociedade em que vivem, por isso elas possuem 
um comportamento imoral ou antiético, ou seja, negam as normas e diretrizes 
morais constituídas e legitimadas pela própria sociedade.
5 RELAÇÕES HUMANAS SOCIAIS
Ninguém vive sozinho, o sentido de interdependência já se adquire 
desde o nascimento. Somos afetados todo tempo por relações humanas, seja no 
nosso condomínio, na universidade, igreja, ou em quaisquer dos lugares que 
frequentamos ou que intercedemos. Então, relações humanas é toda e qualquer 
interação humana.
FIGURA 15 – GENTILEZA
FONTE: Disponível em: <http://oimpressionista.files.wordpress.
com/2006/04/gentileza.JPG?w=395&h=294>. Acesso em: 15 jan. 2012.
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
69
O profeta Gentileza foi uma pessoa que viveu nas ruas da cidade do Rio de 
Janeiro, em que escrevia mensagens de paz, amor e gentileza. Ele passou a viver na rua após 
ter perdido toda a família no incêndio em Niterói-RJ.
Gentileza é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar 
o mundo. Ser gentil, portanto, é um atributo muito mais sofisticado e 
profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta, 
porque, embora possamos (e devamos) ser educados, a gentileza é 
uma característica diretamente relacionada com caráter, valores e ética; 
sobretudo, tem a ver com o desejo de contribuir para um mundo mais 
humano e eficiente para todos. Ou seja, para se tornar uma pessoa 
mais gentil, é preciso que cada um reflita sobre o modo como tem se 
relacionado consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo. (BRAGA, 
2011).
Rosana Braga (2011) dá dicas práticas para que a gentileza seja exercitada 
no dia a dia das pessoas. É uma relação de atitudes básicas para que as pessoas 
possam se harmonizar. Vejamos as dez ações de gentileza:
1 Tente se colocar no lugar do outro – isso o ajuda a entender melhor as 
pessoas, seu modo de pensar e agir.
2 Aprenda a escutar – ouvir é muito importante para solucionar qualquer 
desavença ou problema.
3 Pratique a arte da paciência – evite julgamentos e ações precipitadas.
4 Peça desculpas – isso pode prevenir a violência e salvar relacionamentos.
5 Pense positivo – procure valorizar o que a situação e o outro têm de bom e 
perceba que este hábito pode promover verdadeiros milagres.
6 Respeite as pessoas – quando elas pensarem e agirem de modo diferente de 
você. As diferenças são uma verdadeira riqueza para todos.
7 Seja solidário e companheiro – demonstre interesse pelo outro, por seus 
sentimentos e por sua realidade de vida.
8 Analise a situação. Alcançar soluções pacíficas depende de se descobrir a 
raiz do problema.
9 Faça justiça. Esforce-se para compreender as diferenças e não para ganhar, 
como se as eventuais desavenças fossem jogos ou guerras.
10 Mude a sua maneira de ver os conflitos. A gentileza nos mostra que o conflito 
pode ter resultados positivos e ainda tornar a convivência mais íntima e 
confiável.
Toda sociedade é composta por pessoas, toda organização é movida e 
depende de pessoas, que se chamam recursos humanos. Por esse motivo é muito 
NOTA
70
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
importante que as organizações estejam atentas e se preparem para gerir seus 
recursos humanos. O campo de estudo de recursos humanos é muito vasto, desde 
o recrutamento e seleção até os mecanismos motivacionais e de permanência na 
organização.
As pessoas por si só carregam em si uma diversidade e pluralidade que 
podem ajudar a organização, e ao mesmo tempo a unidade da organização exige 
que o comportamento humano seja voltado aos princípios dessa organização. A 
pessoa, portanto, passa a desenvolver dois papéis fundamentais quando inserida 
na organização: o papel de pessoa e o papel de recurso, como se observa na figura 
a seguir:
FIGURA 16 – PESSOAS COMO PESSOAS E COMO RECURSOS
FONTE: Chiavenato (2004, p. 59)
O ser cidadão é compreendido comoum fenômeno multidimensional, 
porque se relaciona com a família, em grupos religiosos, no trabalho, na escola 
ou universidade, em clubes etc. As relações sociais nada mais são que todas essas 
relações isoladas e ao mesmo tempo em intersecção.
Cada pessoa possui uma personalidade própria e diferenciada e influi 
no comportamento e nas atitudes das outras com quem mantém 
contatos e é, por outro lado, igualmente influenciada pelas outras. 
As pessoas procuram ajustar-se às demais pessoas e grupos: querem 
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
71
ser compreendidas, aceitas e participar, no intuito de atender a seus 
interesses e aspirações pessoais. (CHIAVENATO, 2003, p. 107).
A pessoa, portanto, diante dessas múltiplas relações humanas e sociais, se 
apresenta a uma organização como pessoa com suas demandas pessoais e como 
recurso também, com suas habilidades e competências:
O comportamento humano é influenciado pelas atitudes normais 
e informais existentes nos grupos dos quais participa. É dentro da 
organização que surgem novas oportunidades de relações humanas, 
devido ao grande número de grupos e interações resultantes. 
(CHIAVENATO, 2003, p. 107).
O diagrama que segue permite visualizar e compreender melhor essa dupla 
via da pessoa inserida numa organização diante das variáveis intervenientes, 
com seus anseios enquanto pessoas (objetivos pessoais) e como servidora de uma 
organização (objetivos coletivos).
FIGURA 17 – VARIÁVEIS INTERVENIENTES
FONTE: Chiavenato (2004, p. 61)
As relações sociais são importantes, porque favorecem a diversidade de 
vidas que, aliadas, podem favorecer em recursos criativos e dinâmicos para a 
organização; em contrapartida, podem apresentar conflitos de valores e pessoais.
Mas, dentro de uma organização as relações sociais devem ser entendidas 
no limite da política da organização, respeitando o seu código de moral. É por 
esse motivo que o campo de estudo dos Recursos Humanos é enorme, porque 
além de ter que dar conta da complexidade do ser humano, ainda se encarrega de 
motivar e se adequar às transformações da sociedade, no que diz respeito às leis, à 
moralidade, aos valores e aos costumes.
De acordo com Chiavenato (2004, p. 123-124), os recursos humanos devem 
seguir uma política que irá beneficiá-los, mas em contrapartida os exigirá na 
otimização de seus deveres e trabalho para que a organização se desempenhe 
melhor, como o autor coloca:
72
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
Em função da racionalidade organizacional, da filosofia e da cultura 
organizacional, surgem políticas. Políticas são regras estabelecidas para 
governar funções e assegurar que elas sejam desempenhadas de acordo 
com os objetivos desejados. Constituem uma orientação administrativa 
para impedir que as pessoas desempenhem funções indesejáveis ou 
ponham em risco o sucesso de suas funções específicas. Assim, políticas 
são guias para a ação. Servem para prover respostas às questões ou aos 
problemas que podem ocorrer com frequência [...].
6 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES
Entre pessoas que se relacionam, seja na família, em grupos sociais, em 
organizações, cada pessoa tem um interesse diferente. Esse hibridismo de interesses 
forma a sociedade em uma imensidão sectária. É o que queremos identificar, os 
diferentes tipos de interesses, começando pelo bem comum, o interesse individual, 
o coletivo, o público e o profissional.
6.1 O BEM COMUM
De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 90), o bem comum “é o 
conjunto de condições sociais que permite e favorece aos membros da sociedade o 
seu desenvolvimento pessoal e integral”.
O bem comum, de forma bem simples, é a felicidade de todos. Pelo ponto 
de vista da administração pública, é buscar ações que favoreçam que a sociedade 
seja cada vez melhor, visto que os princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência (artigo 37 da Constituição Federal de 1988 
(BRASIL, 1988)) sejam elementos fundamentais.
Alonso, López e Castrucci (2010, p. 92) abordam três aspectos essenciais do 
bem comum:
1 O bem comum tem composição análoga à do bem da pessoa.
2 É próprio da sociedade.
3 Deve ser compatível com o bem comum das outras sociedades.
Esses aspectos essenciais apontam para que o bem comum só seja possível 
se houver o bem-estar das pessoas com elas mesmas (individual e coletivo), e 
também em qualquer espaço, seja a sua própria comunidade ou com a sociedade 
em geral.
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
73
FIGURA 18 – INDIVIDUAL E COLETIVO
FONTE: Disponível em: <http://pitacovirtual.blogspot.com.br/2010/11/proclamacao-
da-republica-garantia-de.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
6.2 O INTERESSE INDIVIDUAL
De acordo com Abbagnano (2007, p. 665), interesse é a “participação 
pessoal numa situação qualquer e a dependência que dela resulta para a pessoa 
interessada”. Interesse individual é quando a pessoa deseja algo para si mesma.
O interesse individual, quando a pessoa é investida de servidor público, 
deve ficar aquém do interesse público. Mas há algum mal na pessoa desejar fazer 
carreira pública? Claro que não! Seja como representante do povo pelos cargos de 
voto direto (prefeito, vereador, deputado, senador, entre outros), seja também pela 
investidura de algum cargo público pelo processo seletivo legal, qualquer cidadão 
pode almejar fazer uma carreira profissional na esfera pública.
O que não pode são as pessoas, ao se investirem em algum cargo público, 
visarem única e exclusivamente o seu interesse individual e particular.
6.3 O INTERESSE COLETIVO
O interesse coletivo é o bem de todos e para todos. Na verdade, tanto as 
organizações públicas quanto as privadas, entre outras organizações, visam ao 
interesse coletivo. O interesse coletivo é, portanto, a reunião da vontade de pessoas.
74
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, 
interesses coletivos são um tipo de interesse transindividual ou metaindividual, 
isto é, pertencem a um grupo, classe ou categoria de pessoas determinadas, 
que são reunidas entre si pela mesma relação jurídica básica. 
FONTE: Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Interesses_coletivos>. Acesso em: 30 mar. 
2012.
Os interesses coletivos são de natureza indivisível, são compartilhados 
em igual medida por todos os integrantes do grupo, por esse motivo devem 
representar a vontade e interesse de um todo.
6.4 O INTERESSE PÚBLICO
O interesse público também é conhecido como princípio da supremacia do 
interesse público ou da finalidade pública. Segundo Meirelles (2006, p. 103):
O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. 
A primazia do interesse público sobre o privado é inerente à atuação estatal e 
domina-a, na medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do 
interesse geral. Em razão dessa inerência, deve ser observado mesmo quando as 
atividades ou serviços públicos forem delegados aos particulares.
Nesse sentido, mesmo que o Estado repasse a terceiros a incumbência 
de serviços, ainda assim haverá supremacia do interesse público, ou seja, essa 
organização que prestará serviço deverá colocar o interesse público acima do seu 
interesse particular.
6.5 O INTERESSE PROFISSIONAL
As pessoas, no geral, ao ocuparem um cargo e função, seja numa 
organização pública ou privada, levam consigo seus interesses individuais, 
pessoais e profissionais. Essa motivação faz com que as pessoas vislumbrem uma 
carreira bem-sucedida. Entretanto, a respeito da ética profissional, Camargo (1999, 
p. 31-32) apresenta: “A ética profissional e a aplicação da ética geram no campo 
das atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos princípios 
e valores próprios do ser humano para vivê-los nas suas atividades de trabalho”.
Os valores e desejos que aspessoas carregam devem estar numa escala 
menor aos interesses públicos ou coletivos, e quanto mais valor humano a pessoa 
levar para a organização, melhor para a organização e ao bem comum.
Encerramos a primeira unidade. Este tópico iniciou com o tema valor, e 
terminamos também com este tema. Na próxima unidade vamos tratar de política. 
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
75
A verdadeira, sem deixar, é claro, de identificar outras realidades que caminham 
juntas. Até lá.
Roberto Romano é filósofo, com doutorado na École des Hautes Études en 
Sciences Sociales, Paris, professor adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Estadual 
de Campinas – Unicamp, onde exerce o cargo de vice-diretor. Com inúmeras publicações na 
área de Ciências Sociais, é figura incontestável no cenário intelectual brasileiro, por expressar 
posicionamentos críticos sobre temas extremamente complexos e de grande relevância atual.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-32832002000100012>. Acesso em: 28 mar. 2012.
A leitura complementar é muito importante, porque além de dar maiores referências 
sobre os temas discutidos, permite um aprofundamento do tema principal e suas ramificações. 
Nesse sentido, a proposta da leitura complementar é indicar um estudo que proporcionará o 
enriquecimento do conteúdo e também o descobrimento de novos conhecimentos.
Esse texto é resultado de uma entrevista realizada pela professora Maria Lúcia Toralles-Pereira 
(Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista/UNESP), com colaboração de 
Adriana Ribeiro (assistente editorial da Revista Interface, Fundação Uni) ao Doutor Roberto Romano.
LEITURA COMPLEMENTAR
SOBRE ÉTICA E MORAL
Roberto Romano
Procuro sempre, no interior da vida intelectual brasileira, discutir 
criticamente o conceito imperante de ética, porque vejo nele um grande perigo. 
No Brasil de hoje, quando se fala no assunto, o termo recebe quase imediatamente 
a conotação de algo positivo, desejável e bom. A ética definiria as regras de ação 
recomendáveis para o coletivo e os indivíduos. Semelhante identificação do ético 
com o bom é problemática. O conceito de ética é mais abrangente do que as noções 
de bem e de mal, pois significa o conjunto de hábitos introduzidos e reiterados num 
determinado tempo e sociedade, tornando-se quase automáticos nas consciências 
humanas, como se fossem uma segunda natureza. Qualquer ato nosso, reflexivo 
ou ativo, pode ter conotação boa ou má. Muitos hábitos coletivos, introduzidos no 
UNI
NOTA
76
UNIDADE 1 | A ÉTICA E A MORAL
transcurso da história, sobretudo no Ocidente, na Europa e Américas, são nocivos 
à vida espiritual. Há o campo enorme de representações coletivas que a Filosofia 
do século XVII ou XVIII definia como “preconceitos”. Que um valor seja aceito por 
sociedades nacionais ou transnacionais como inquestionável é um ponto. Que ele 
seja inquestionável é algo muito diferente.
Por exemplo, temos o antissemitismo. Trata-se de uma forma de 
comportamento presa ao conjunto de valores surgidos na Idade Média, a partir 
de equívocos doutrinários, históricos e religiosos. Ao longo da Idade Média e no 
início do Estado Moderno, ele foi ampliado por problemas de ordem econômica 
e política, sendo reiterado por juízos equivocados, emitidos por grandes homens 
e líderes religiosos, como é o caso de Lutero. Na História Moderna ele foi 
repetido pelos seguidores de Lutero e também do catolicismo. No século XIX o 
antissemitismo uniu-se às doutrinas supostamente científicas, de cunho racista. 
Tais doutrinas foram espalhadas por meio da imprensa, das cátedras universitárias, 
dos livros, e tornaram-se uma forma “espontânea” de pensar entre largas camadas 
da população. Na Alemanha, quando surgiu o nazismo, ele já encontrou um solo 
fértil de atitudes diante do judeu, do árabe etc. O nazismo vem coroar um costume 
plenamente ético, mas hediondo e imoral, já que sapa a consciência moral que 
exige a unidade do ser humano: judeus, árabes ou negros, todos integram o ser 
humano. O ético, assim entendido, tem um atrativo muito grande, porque nele se 
descreve o “concreto”, a vida do povo.
O moral é mais abstrato, porque apela para a consciência invisível. Mas 
o moral é importante para verificarmos a veracidade, a bondade do ético. Este 
último é necessariamente coletivo: não existe ética individual. Já o moral apresenta-
se coletivamente, mas tem sua vigência na individualidade. O juízo moral exige 
que se suspenda temporariamente o juízo ético, pois ele é mais exigente que o 
ético. Quem defende uma linha puramente ética da cultura, critica o chamado 
“moralismo” - o moralismo abstrato - porque ele seria uma afirmação de valores 
que não se corporifica imediatamente, enquanto o contrário ocorre com o ético.
O ético, pois, é muito mais atraente. A “opinião pública” quase sempre é 
ética (o que não quer dizer que é exata!). Há casos horrendos de costumes éticos, 
como, por exemplo, no caso brasileiro, a falta de respeito pelas leis de trânsito. Esta 
atitude coletiva entre nós pode ser vista, pelos estudiosos do fato ético, como um 
costume sancionado. Mas trata-se de algo plenamente imoral, porque nele tem-se 
em mente a prioridade do material sobre o espiritual. Se alguém possui condições 
econômicas para adquirir um veículo importado da marca Audi, consegue o 
direito de matar. Na consciência dos atores sociais existe esse direito, o que é 
profundamente imoral e antiético, no sentido correto da palavra. Não há dono de 
carro Audi (a não ser que ele seja um sujeito moral extremamente elevado), que 
não acredite: sua posse de um Audi goza do privilégio de andar a 170 quilômetros 
por hora numa estrada pública. A própria propaganda da Audi incentiva isso: 
“quando você enxergar esse logotipo, passe para a direita”. Atribui-se aos donos 
de veículos o estatuto de semideuses, acima do bem e do mal. 
TÓPICO 3 | A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
77
Por tudo isso eu me preocupo muito com a veiculação sem prudência da 
“ética” como se ela fosse um corretivo para a sociedade brasileira. Acho que a nossa 
vida social, inclusive a universidade e a pesquisa brasileiras, estão profundamente 
marcadas por traços éticos indesejáveis.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-32832002000100012>. Acesso em: 28 mar. 2012.
Existem algumas referências técnicas que poderão 
ajudá-lo(a) no aprofundamento do conceito de ética e 
moral, como também existem obras literárias e filmes que ajudarão 
você a ampliar o seu conhecimento, principalmente no que se 
refere às condutas morais. Vejamos:
• Ética: BOFF, Leonardo. Ética e Moral: a busca dos fundamentos. 2. 
ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
• Ética profissional: SÁ, Antônio L. de. Ética profissional. São Paulo. 
Atlas, 1996.
• Política: ARISTÓTELES. Política. Tradução Mário da Gama Kury, 
Brasília: UnB, 1989.
• Infanticídio: XINRAN, Sue. Mensagem de uma mãe chinesa 
desconhecida. Tradução Caroline Chang. São Paulo. Companhia 
das Letras, 2011.
Xinran é jornalista e nesse livro conta as histórias verídicas de mulheres chinesas em relação 
à cultura machista do único filho homem. São dez histórias que contam a interrupção da 
relação mãe e filha.
• Poligamia: CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2004.
Esse livro é um romance que aborda a questão da poligamia. Rami, a personagem do 
livro, é casada com Tony por 20 anos, até que ela descobre que o marido possui várias 
outras mulheres e filhos. Esse livro retrata a cultura de Moçambique em relação à prática e 
costume da poligamia.
Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã. Veremos mais detalhadamente esta 
questão e os dois grandes expoentes – Agostinho e Tomás de Aquino na próxima unidade.
UNI
78RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
• A moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver em 
sociedade, que foi ou está sendo perpetuada num espaço de tempo.
• Todo ser humano pode ser considerado um ser ético.
• As nossas raízes éticas advêm da nossa própria história, por meio do trabalho. 
• Em cada sociedade existem diferentes modos constitutivos da cultura, tais como: 
a linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, as religiosas, as 
artísticas e as políticas.
• Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria seus 
valores sociais e individuais, os classifica como certos ou errados, bons ou maus, 
de acordo com o conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.
• No nosso dia a dia existem pessoas que não respeitam as normas de conduta da 
sociedade em que vivem, estas pessoas possuem um comportamento imoral ou 
antiético.
• A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos 
comportamentos em sociedade.
• A construção da moral, seus hábitos, princípios e costumes é baseada e construída 
no dia a dia das relações sociais.
• Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, afetividade, 
do bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos.
• A liberdade pode ser entendida como um processo de poder fazer escolhas. 
• Temos a liberdade de escolha, pois, muitas vezes, nos indagamos se realmente 
devemos obedecer ou não a estas regras, pois cabe a cada um de nós decidir o 
que é certo ou errado, o que é fazer o bem ou o mal.
79
1 Identifique três aspectos essenciais do bem comum, segundo Alonso, López 
e Castrucci.
2 Como podemos identificar pessoas como pessoas e pessoas como recursos?
AUTOATIVIDADE
80
81
UNIDADE 2
A POLÍTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• estabelecer uma relação da política com a ética e a moral;
• conhecer os princípios filosóficos da política;
• promover o pensamento crítico para as coisas públicas, das quais e pelas 
quais nós nascemos, vivemos e morremos.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você 
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA POLÍTICA
TÓPICO 3 – A POLÍTICA E O BRASIL
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Assista ao vídeo 
desta unidade.
82
83
TÓPICO 1
A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Depois de aprender um pouco sobre ética e sobre a moral, queremos 
conversar com você sobre política. Você não acha que esse assunto está bem 
(ou mal) relacionado com a ética e a moral? Por isso, nesta unidade você irá 
conhecer os princípios filosóficos e éticos da política. Pretendemos estimular a sua 
curiosidade e promover o seu pensamento crítico também e – por que não? – para 
as coisas públicas, das quais e pelas quais nós nascemos, vivemos e morremos. 
Vamos então estudar o pensamento político na Idade Média, a importância da 
ética cristã com seus dois grandes expoentes e finalizar este tópico com a política 
que se desenvolve na Modernidade e alguns desafios e questionamentos presentes 
na Contemporaneidade.
2 O PENSAMENTO POLÍTICO NA IDADE MÉDIA
Neste ponto vamos aprender um pouco da ideia de política para os cristãos. 
Logo, daremos um salto da Antiguidade para a Idade Média e aqui apelaremos 
para o conhecimento dos historiadores que buscaram nas fontes a origem da nossa 
cultura ocidental. Em breves linhas, nossa cultura é resultado de uma junção entre 
a cultura judaico-cristã e a grega. Portanto, a ideia de política para os medievais 
tem inspiração dos dois lados – grego e judaico (hebreus) e mais o cristianismo.
Para os hebreus, todo e qualquer governo, seja ele qual for, precisaria ter 
a característica de teocrático, porque para eles o governo pertence a Deus. Além 
disso, os hebreus são conhecidos como o povo para quem Deus se revelou e deixou 
a Torá: o livro das leis (ditadas pelo próprio Deus a Moises, quando este passou 40 
dias em Sua presença no monte Sião, recebendo todas as orientações sob a forma 
de lei que os homens deveriam obedecer). Os hebreus eram, assim, legalistas, ou 
seja, o povo conduzido pela lei divina.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
84
FIGURA 19 – TEOCRACIA X DEMOCRACIA
FONTE: Disponível em: <http://artigosdehistoria.blogspot.com.br/2011/02/teocracia-x-
democracia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Quando o cristianismo se constituiu como religião (antes era apenas 
um movimento, cujo líder foi Jesus Cristo, e só muito depois de sua morte esse 
movimento de transformou em religião), buscava seus fundamentos na Antiga Lei 
e na Nova Lei (Antigo e Novo Testamentos).
No primeiro, Deus faz uma aliança com Noé, Abraão e Moisés. No segundo, 
Deus renova a aliança de forma messiânica, através do messias Jesus. Do lado 
romano, que conquistou a Grécia – portanto, a Grécia foi “romana” por muito 
tempo, no período em que o cristianismo se expandiu*e depois se torna a religião 
oficial do Império Romano:
[...] o príncipe já se encontra investido de novos poderes. Sendo Roma 
senhora do Universo, o imperador romano tenderá a ser visto como 
senhor do Universo, ocupando o topo da hierarquia do mundo, em cujo 
centro está Roma, a Cidade Eterna. [...] ao imperador – ao César – cabe 
manter a harmonia e a concórdia no mundo, a pax romana, garantida 
pela força das armas. (CHAUI, 2002, p. 387).
O formato político-cristão recebe influência desses dois modelos de 
organização política. Para isso, os filósofos cristãos buscam a fundamentação da 
teoria política na Bíblia latina (romanos), nos códigos dos imperadores romanos 
(Direito Romano) e em algumas obras de Platão e Aristóteles.
De Platão, se apropriaram da ideia de uma comunidade organizada de 
forma hierárquica (lembre-se da ideia de corpo) e governada por sábios, pelos 
filósofos. De Aristóteles, absorveram a ideia de que a finalidade do poder era a 
justiça. As teorias de poder teológico-político, com muitas reformulações durante 
a Idade Média, tinham princípios comuns: o poder e de Deus (teocrático), e um 
favor divino; o rei traz a lei em seu peito e o que agrada ao rei é lei; o príncipe 
cristão deve ter as virtudes cristãs – fé, esperança e caridade; a comunidade e o rei 
formam o corpo político (aqui temos o pensamento platônico), conforme explica 
Chauí:
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
85
[...] a cabeça e a coroa ou o rei, o peito e a legislação do rei, os membros 
superiores são os senhores ou barões que formam os exércitos do rei e 
a ele estão ligados por juramento de fidelidade ou de vassalagem, e os 
membros inferiores são o povo que trabalha para o sustento do corpo 
político. A Polis platônica é assim interpretada pelo cristianismo: corpo 
político do rei. (CHAUÍ, 2002, p. 390).
Tem mais: essa hierarquia se justificava pela ideia de vontade divina, 
ordenada por Deus e, portanto, natural. É a ideia do Direito Natural. Esse universo 
constituído de forma hierárquica é justificado na ideia de uma ordem fixa de 
lugares e funções de cada um (olha o Platão aqui outra vez). No universo, cada 
um ocupa seu lugar a que foi destinado naturalmente (por Deus): cada animal, 
vegetal, mineral, homens etc. Esses seres ocupam um lugar que foi distribuído 
(por Deus) em grau de inferioridade e superioridade.
Essa concepção de mundo dissemina a ideia de que cada qual deve ficar 
em seu devido lugar a que foi destinado ao nascer e com isso as teorias políticas 
conseguem o seguinte: mantêm o poder imperial e eclesiástico. No topo dessa 
hierarquia encontram-se o papa e o imperador.
Esse modelo de teoria política perdurou por toda a Idade Média, ora dando 
maispoder ao imperador, ora mais ao papa. Essa polarização de poder gerou 
conflitos, guerras e corrupção por parte de um e de outro. Para entender melhor 
isso, vamos, no próximo ponto, estudar sobre a ética cristã.
3 ÉTICA CRISTÃ
Não se pode imaginar a política sem a influência da Igreja e de seu 
pensamento e até de sua influência na história, principalmente para o Ocidente. 
A partir da ética cristã e do pensamento de Agostinho e de Tomás de Aquino, 
veremos que a ética cristã contribui para a evolução do pensamento político.
O cristianismo introduz o conceito de dever. Isto acontece porque, 
diferentemente dos antigos, que concebem a vontade como a capacidade de guiar 
os impulsos e os desejos pela razão, o cristianismo considera a vontade pervertida 
pelo pecado e prega que precisamos do auxílio de Deus para nos tornar morais. 
A vida ética cristã é definida pela sua relação espiritual e individual com Deus. 
De acordo com Chauí (2002, p. 441), o cristianismo introduz duas diferenças com 
relação à concepção da ética antiga:
A ideia de virtude se define por nossa relação com Deus;
A afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou livre-arbítrio – 
e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para 
o pecado. Somos fracos e pecadores, divididos entre o bem (obediência 
a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca).
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
86
Para o cristianismo a lei divina revelada é que norteia as ações do indivíduo 
para a vida ética. O indivíduo, por si mesmo, é incapaz de realizar o bem e, por 
isso, precisa de auxílio divino. Daí surge a ideia de dever.
É oportuno apresentar ao leitor as críticas que o filósofo do final da 
modernidade – Nietzsche – faz ao modelo ético inaugurado por Sócrates e 
consolidado pelo cristianismo. Para Nietzsche, Sócrates criou a ideia de bem e de 
mal e o cristianismo consolidou essa ideia.
FIGURA 20 – NIETZSCHE – CRÍTICAS DO FILÓSOFO DO FINAL DA MODERNIDADE 
FONTE: Disponível em: <http://friedrichnietzsche1.wordpress.com/>. Acesso em: 27 maio 2013.
O bom cristão obedece às leis de Deus e submete sua vontade à vontade 
divina. Como o homem nasce do pecado e tem introjetada em si, pela vontade, 
a condição do mal – porque o homem nasce com o pecado original, o pecado 
adâmico*–, é preciso que ele se submeta e cumpra a vontade de Deus para alcançar 
o perdão divino e a salvação post-mortem. Obedecer às leis de Deus por atos do 
dever é a única condição para que o homem seja agraciado pelo perdão.
Você sabia que pecado original ou adâmico se refere à transgressão de Adão no 
paraíso? Como somos “filhos” de Adão, já nascemos na condição de pecadores.
A filosofia moral cristã passou a distinguir três tipos fundamentais de 
conduta:
• Conduta moral ou ética, que se realiza de acordo com as normas e as regras 
impostas pelo dever.
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
87
• A conduta imoral ou antiética, que se realiza contrariando as normas e as regras 
fixadas pelo dever.
• A conduta indiferente à moral, em situações nas quais não se impõem as 
normas e as regras do dever.
Além do dever, o cristianismo introduziu a ideia de intenção que habita 
no sujeito de forma imperceptível. A intenção é invisível, mas para que o sujeito 
alcance uma conduta virtuosa é preciso que ele a demonstre em ações e atitudes. 
Para o cristianismo, a vontade e a lei divina estão inscritas no coração dos seres 
humanos.
“A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do 
indivíduo e Deus, entre a alma invisível e a divindade”. (CHAUÍ, 2002, p. 344). 
O dever, portanto, não fica restrito à condição visível, mas às intenções e ações 
invisíveis, porque Deus o vigia e julga todas as ações.
A ideia de dever, introduzida pelo cristianismo, tem a finalidade de oferecer 
um caminho seguro à vontade, que, sendo fraca e incapaz, se divide entre o bem 
e o mal, deve ter princípios a obedecer que o conduza ao alcance da virtude, que, 
posteriormente, promoverá a salvação da alma.
Essa configuração da ética cristã nos parece impositiva e até coercitiva, 
porque é determinada pelo dever. O homem é bom e age bem pelo dever, por uma 
norma invisível exterior. Deus o conhece, o vigia e o julga. Nesse caso, o homem 
não é autônomo – como na ética dos antigos –, mas heterônomo, porque a vontade 
e a consciência estão condicionadas à obediência por um poder externo e estranho 
ao homem.
De acordo com Chauí (2002), no século XVIII o filósofo Rousseau tentou 
resolver esse problema afirmando que o homem nasce bom, ou seja, a consciência 
moral e o sentimento do dever são inatos no homem, é “o dedo de Deus” em 
nossos corações.
Já nascemos puros e dotados de generosidade e benevolência para com os 
outros. Mas o homem é “estragado”, corrompido pela sociedade quando criou a 
propriedade, a privação e a servidão humana. Por isso, o cumprimento ao dever 
nos força a recordar nossa natureza originária, e assim, a imposição externa e 
aparente.
Contrário ao pensamento de Rousseau, Kant formula sua crítica dizendo 
que não existe a bondade natural e, por natureza, o homem é egoísta, ambicioso, 
destrutivo, agressivo, orgulhoso, cruel, ávido por prazeres, pelos quais nos 
matamos, mentimos e roubamos.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
88
FIGURA 21 – ORGULHO
FONTE: Disponível em: <http://aderivaldo23.files.wordpress.com/2013/0
4/555069_458903654180225_1526752612_n.jpg>. Acesso em: 27 maio 
2013.
Para Kant, o homem é tudo de ruim! Por isso é preciso instituir o dever 
para controlar e dar à vida um ordenamento social.
O cristianismo também definiu as virtudes que devem ser alcançadas, em 
modelo similar ao de Aristóteles.
No quadro a seguir estão definidas as virtudes cristãs:
QUADRO 5 – VIRTUDES CRISTÃS
VIRTUDES TEOLOGAIS PECADOS CAPITAIS VIRTUDES MORAIS
CORAGEM GULA SOBRIEDADE
JUSTIÇA AVAREZA PRODIGALIDADE
TEMPERANÇA PREGUIÇA TRABALHO
PRUDÊNCIA LUXÚRIA CASTIDADE
FÉ CÓLERA MANSIDÃO
ESPERANÇA INVEJA GENEROSIDADE
CARIDADE ORGULHO MODÉSTIA
FONTE: Chauí (2002, p. 349)
Com relação ao quadro aristotélico, as virtudes teologais são acrescidas 
na ética cristã por conta da relação entre o homem e Deus, a justiça se constitui de 
forma individual, a amizade para o cristão é a caridade, os vícios são os pecados.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
89
A modéstia em Aristóteles é um vício, e no cristianismo é uma virtude 
moral. Além disso, o filósofo da Antiguidade não falou sobre humildade, castidade 
e mansidão. Não iremos afirmar, mas podemos pensar que essas condições são 
resultados da prudência.
Queremos chamar a atenção para um atributo importante para o 
cristianismo: o trabalho. Para o homem grego e romano, o trabalho não fazia parte 
dos valores do homem livre. “O ócio, considerado pela sociedade greco-romana 
como condição para o exercício da política, torna-se, agora, vício da preguiça. 
Lutero dirá: ‘Mente desocupada, oficina do diabo’” (CHAUÍ, 2002, p. 348-349, grifo 
do autor).
A palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino tripalium – denominação 
de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (palus). Desse modo, originalmente, 
“trabalhar” significa ser torturado no tripaliu. Quem eram os torturados? Os escravos e os pobres 
que não podiam pagar os impostos. Assim, quem “trabalhava”, naquele tempo, eram as pessoas 
destituídas de posses.
Aqui vale uma provocação. O pensamento apresentado sobre a ética cristã 
nesse parágrafo, pela filósofa Marilena Chauí, está reduzido por uma questão 
de espaço (é o que acreditamos, sinceramente). Acompanhe nosso pensamento. 
Lutero promoveu a Reforma protestante no ano de 1517, início da Idade Moderna.
O cristianismo, de tradição judaica com muita influência da tradição 
greco-romana (Jesus era judeu, não esqueçamos), já existia há quase 16 séculos, e 
dessa forma foise configurando. Na tradição judaico-cristã, o trabalho tem uma 
conotação de castigo. No livro de Gênesis (3:19) está registrada a ira de Deus sobre 
o primeiro homem, Adão, que, desobedecendo a Deus, pecou comendo do fruto 
da árvore que representava o bem e o mal.
Fazendo isso, ele liberou a sua consciência, a sua vontade, que para o 
cristianismo é fonte de vícios e pecados. Por essa desobediência, o homem, por 
castigo de Deus, deveria retirar o seu alimento “com o suor de seu rosto”. Ou seja, 
com o trabalho o homem deveria buscar o seu sustento fora do paraíso, porque de 
lá foi expulso.
Com o passar do tempo e a história se modificando, o conceito de trabalho 
também foi mudando. Quando Lutero afirma que “a mente desocupada é oficina 
do diabo”, a sociedade está passando por profundas modificações, a burguesia 
está começando o projeto de implantação do capitalismo e o ideal burguês começa 
a ser disseminado em todos os segmentos, e a Reforma protestante começa a ser 
influenciada por essa ideologia.
NOTA
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
90
FIGURA 22 – AFIRMAÇÕES
FONTE: Disponível em: <http://jackelian-jack.blogspot.com.br/2010/08/mente-
vazia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Com a ascensão dos burgueses (ainda sem o poder político, que só 
aconteceria com a Revolução Francesa em 1789), o conceito de trabalho também 
começou a mudar, chegando até os dias atuais com o sentido disseminado pelo 
cristianismo como uma virtude moral. Podemos pensar que, nesse sentido, a Igreja 
já estava assumindo o ideal burguês, que compreende a formação da riqueza pelo 
trabalho. Resumindo: sem trabalho não há riqueza e, assim, o ócio (bem visto pelos 
gregos) tornou-se um vício ou pecado.
3.1 AGOSTINHO DE HIPONA
Com a desintegração do mundo antigo, cujo marco histórico é a queda 
do Império Romano do Ocidente, tem-se a ascensão do mundo medieval, 
que se caracteriza de forma mais contundente em torno do debate que nos 
propomos a desenvolver, pela ascensão do cristianismo institucionalizado na 
Igreja Católica Apostólica Romana, a partir da qual podemos falar de uma ética 
cristã que se estabelece no contexto civilizatório medieval.
Numa perspectiva didática, adotaremos a divisão do mundo medieval 
em Alta Idade Média, séculos V ao X, e Baixa Idade Média, séculos XI ao XV, 
estabelecendo possíveis diferenças na abordagem da ética cristã nos respectivos 
períodos.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
91
Neste primeiro momento do mundo medieval, considerado como Alta 
Idade Média, surge o movimento filosófico cristão denominado “Patrística”, 
que se caracteriza pelo pensamento dos Santos Padres da Igreja Católica (entre 
eles podemos citar Santo Ambrósio, São Jerônimo, São Gregório de Nissa, Santo 
Agostinho), cujos pressupostos filosóficos procuram fundamentar a doutrina 
das verdades da fé do cristianismo, como contraponto às perspectivas pagãs 
e de interpretação herética que se distanciavam da interpretação oficial que a 
Igreja propunha como verdadeira.
 A “Patrística” vai buscar na filosofia grega, mais especificamente em 
Platão (428/27 - 347 a.C.), suas bases conceituais, ou seja, o estabelecimento da 
verdade cristã apoia-se nos pressupostos da filosofia platônica como condição 
do alcance da verdade. É importante que se esclareça que a filosofia cristã 
medieval (que se caracteriza pelo estabelecimento das verdades da fé) parte do 
princípio de que a finalidade da filosofia é colocar-se a serviço da fé, ou seja, a 
verdade filosófica somente tem sentido na medida em que justifica as verdades 
reveladas da fé cristã.
SANTO AGOSTINHO FIGURA 23 – SANTO AGOSTINHO
Aurelius Augustinus, que passaria para a história como 
Santo Agostinho, nasceu em 354, em Tagaste (hoje Souk 
Ahras, Argélia, norte da África), sob o domínio romano. 
Embora sua mãe, Mônica (que seria canonizada), fosse 
cristã, Agostinho não se interessou, quando jovem, por 
religião. Sentia-se atraído pela filosofia romana. Antes 
dos 20 anos já tinha um filho, nascido de uma relação 
não formalizada. Pouco tempo depois, abriu uma escola 
na sua cidade natal. Tornou-se professor de retórica, 
lecionando depois em Cartago, Roma e Milão. Nesta 
cidade tomou contato com o neoplatonismo e, aos 32 
anos, converteu-se ao cristianismo. De volta a Tagaste, 
decidido a observar a castidade e a austeridade, vendeu 
as propriedades que herdara dos pais e fundou uma 
comunidade monástica, onde pretendia se isolar. Mas, 
sem que planejasse, foi nomeado sacerdote da igreja de 
Hipona (hoje Annaba, Argélia), início da carreira religiosa 
que durou até sua morte, na mesma cidade, em 430. 
Suas obras principais são: Confissões, Cidade de Deus 
e Da Trindade.
FONTE: Disponível em: <http: // 
www.consciencia.org>. Acesso 
em: 8 jan. 2008.
NOTA
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
92
Entre os principais representantes da Patrística encontra-se Santo 
Agostinho. Aurélio Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em 
Tagaste, pequena cidade da atual Argélia, país que se localiza no norte da 
África. Morreu a 28 de agosto de 430 d.C. aos 76 anos de idade. Teve uma 
sólida formação filosófica, além de uma vida intensa antes de entrar para a 
Igreja. Por volta de 396 d.C., torna-se bispo de Hipona, cidade provavelmente 
fundada pelos fenícios no norte da África e importante centro comercial na 
época. Em função deste fato também é conhecido como Agostinho de Hipona, 
ou o Santo Pastor de Hipona, entre outras referências.
Agostinho propõe uma ética cristã fundada no “Amor a Deus”. A 
exigência primeira e fundamental do Amor a Deus é que ele seja autêntico, 
verdadeiro e fiel. Partindo destes pressupostos, o autêntico amor ao Criador é 
demonstrado pela criatura no amor a si mesmo e ao próximo, na vivência da 
máxima sabedoria deixada por Jesus Cristo: “Não fazer aos outros o que não 
queremos que seja feito a nós mesmos” (Mt 7:12 e Lc 6:31). Nesta perspectiva, 
os princípios que fundamentam a ética cristã agostiniana desdobram-se 
num sentido antropológico e político. Pode-se perceber o esforço do bispo 
de Hipona em refletir, questionar seu tempo e as condições de possibilidade 
da vida humana na “Cidade dos Homens”, de alcançar o bem e a paz, como 
ensaio terrestre da verdadeira felicidade na “Cidade de Deus”.
Verifique as obras de Agostinho para poder compreender melhor seu pensamento.
Agostinho reconhece o valor da pessoa humana, obra do Criador. Criatura 
criada à imagem e semelhança de Deus, o que lhe torna merecedora de admiração 
e dignidade incomparável em relação às outras criaturas. O homem, para o bispo 
de Hipona, participa do plano da criação como um ser transcendente, destinado 
à vida eterna junto ao Criador.
Nesta direção, o plano político assume importância significativa para 
Santo Agostinho, na medida em que a política é uma prerrogativa da “Cidade dos 
Homens” e deve ser exercida pelos homens públicos tendo como escopo de suas 
ações os interesses da coletividade, a promover a dignidade humana, a salvaguardar 
valores inerentes à preservação da vida humana como obra por excelência do plano 
da criação. Desta forma, a política realiza sua verdadeira função na medida em que 
o homem público se deixa conduzir pela bondade divina. 
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
93
Portanto, a ética agostiniana funda-se numa hierarquia do amor, num 
primeiro momento amar a si mesmo e, num segundo, no amor ao próximo, 
desdobrando-se na forma como se conduz a vida em sociedade, na “Cidade dos 
Homens”. Nesta economia do amor como fundamento da ética, as ações humanas 
devem ser realizadas com vista ao alcance da eternidade, a “Cidade de Deus”, 
onde se encontra a verdadeira felicidade, finalidade última da vida humana no 
plano individual, ou social. 
Porém, aqui é necessário levar em consideração o fato de que a ética 
agostiniana está assentada em última instânciano livre-arbítrio humano, ou seja, 
não é pela sua “natureza” divina que o homem alcança “naturalmente” a “Cidade 
de Deus”, ou que o homem estaria propenso a fazer o bem em função de sua 
participação no plano da criação, mas é a partir das escolhas que o homem faz, 
diante da possibilidade de fazer o bem ou o mal, que se estabelece sua liberdade 
de opção e, consequentemente, a responsabilidade de suas ações na “Cidade dos 
Homens”.
FONTE: BAZZANELLA, S. L.; BAZZANELLA, A. Ética VI. Disponível em: <http://migre.me/eLT9R>. 
Acesso em: 28 maio 2013. 
3.2 TOMÁS DE AQUINO
A cosmovisão medieval foi profundamente marcada pela influência 
cultural e política da Igreja Católica, que se articulou nos fundamentos da 
teologia cristã e da filosofia grega. Desta forma, na Alta Idade Média (século 
II d.C. até século IX, aproximadamente), Platão foi amplamente utilizado para 
fundamentar as verdades reveladas da fé cristã. Santo Agostinho (354-430 d.C.), 
partindo de uma perspectiva platônica, divide o mundo entre cidade de Deus e 
cidade dos homens, como vimos no ponto anterior.
Na Baixa Idade Média (séculos XI a XV) ocorre no Ocidente, por inúmeros 
fatores econômicos, políticos, sociais e filosóficos, uma espécie de “renascimento” 
cultural, na medida em que se foi tomando conhecimento, pelo movimento 
de traduções do árabe, de obras de filosofia, entre elas as de Aristóteles, de 
matemática, medicina, entre outras. É necessário levar em consideração que 
determinadas obras ocidentais tornaram-se desconhecidas da primeira Idade 
Média e um autor da importância de Aristóteles somente “volta” ao Ocidente 
por meio de traduções do árabe nesse último período.
Desta forma, a obra de Aristóteles vai ter uma influência extraordinária 
na Baixa Idade Média, na medida em que filósofos árabes como Avicena (Abu 
Ali al-Hussayn ibn Abd-Allah Ibn Sina – 980 a 1037) e Averróes (Abul Walid 
Muhammad Ibn Achmed – 1125 a 1198) constroem seus sistemas filosóficos sobre 
as bases aristotélicas, apresentando-as ao Ocidente.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, discorda da dualidade de 
mundos de seu mestre e funda sua filosofia que se pode denominar como realismo 
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
94
filosófico. Muitos o consideram o precursor da ciência, na medida em que busca, 
por meio da razão e da experiência, explicar através de categorias as causas 
materiais e formais dos fenômenos. Através da concepção de “ato e potência”, 
procura explicar a dinâmica do devir, daquilo que definimos como realidade. 
Aristóteles escreveu uma vasta obra sobre diversas áreas do conhecimento: política, 
lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, 
física, antropologia, psicologia e biologia. É neste contexto de “renascimento”, 
marcado por significativas transformações sociais, políticas e culturais, entre elas 
o nascimento das primeiras universidades no Ocidente, que surge a “Escolástica” 
como movimento filosófico cristão. Este período do pensamento cristão caracteriza-
se pela filosofia ensinada nas escolas pelos mestres, chamados, por isso, escolásticos. 
As matérias ensinadas nas escolas medievais eram representadas pelas chamadas 
artes liberais, divididas em trívio – gramática, retórica, dialética – e quadrívio – 
aritmética, geometria, astronomia, música.
SÃO TOMÁS DE AQUINO
Tomás de Aquino nasceu em 1224 ou 1225 no 
castelo de Roccaseca, perto da cidade de Aquino, 
no reino da Sicília (hoje parte da Itália). Diante 
dele, contemplamos um dos maiores pensadores 
que o mundo medieval viu. E também um dos 
maiores pensadores da história da filosofia. A 
Suma Teológica, sua obra principal, é um denso 
e rico compêndio da cultura cristã, da influência 
aristotélica sobre seu pensamento e da história da 
filosofia. Foi doutor que leu, escreveu e polemizou 
com outros pensadores medievais, mas sempre 
levando adiante sua densa obra de influência 
aristotélica. Tomás de Aquino morreu em 1274, na 
abadia de Fossanova (hoje centro da Itália).
FIGURA 24 – SÃO TOMÁS DE AQUINO
FONTE: Disponível em: <http://www.
consciencia.org>. Acesso em: 11 jan. 2008
Tomás de Aquino (1225-1274) surge neste contexto. Reconhecidamente 
foi um dos maiores teólogos da Igreja Católica. Seu mérito está no fato de 
articular a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, de forma 
a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo 
de Aristóteles. Em suas duas “Summa”, sistematizou o conhecimento teológico 
e filosófico de sua época: são elas a “Summa Theologiae”, e a “Summa Contra 
Gentiles”.
A partir dele a Igreja passou a ter uma teologia fundada na revelação 
e uma filosofia baseada no exercício da razão humana, que se fundem numa 
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
95
FONTE: BAZZANELLA, S. L.; BAZZANELLA, A. Ética VII. Disponível em: <http://migre.me/eLThr>. 
Acesso em: 28 maio 2013. 
4 A POLÍTICA NA MODERNIDADE
Você pode perceber que até a Idade Média, ética e política estavam juntas. 
Na Antiguidade, o governante tinha que ser justo e para isso teria que ter suas 
ações baseadas no exercício ético sediado pela razão. Para os medievais é a ética 
cristã que irá nortear o exercício político.
síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. 
Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não 
se opõem. Em seu pensamento, filosofia e teologia se complementam e não cabe 
à filosofia o papel de serva da teologia, como nos congêneres séculos filosóficos. 
Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. Portanto, fé e razão 
são complementares e não contraditórias.
A partir destes pressupostos, a ética proposta por Tomás de Aquino 
consiste no homem agir de acordo com sua natureza racional. Dotado de livre-
arbítrio, todo homem tem capacidade de discernimento entre o bem e o mal, 
enfim de captar, abstrair ou apreender a ordem moral; e o primeiro postulado 
da ordem moral é: “Faze o bem e evita o mal”. Neste contexto, para Tomás 
de Aquino, há uma lei divina revelada por Deus aos homens e que consiste 
nos Dez Mandamentos, mas há também uma lei eterna que se apresenta no 
plano racional de Deus e que ordena todo o universo como obra de sua criação. 
Mais ainda, uma lei natural que é articulada por meio da lei eterna no homem, 
criatura racional que, desta forma, é convocado a participar do plano da criação. 
A participação no plano da criação exige do homem a elaboração da lei positiva, 
que é o que lhe permite a vida em sociedade.
Porém, esta se subordina à lei natural e não pode contrariá-la, sob pena 
de se tornar lei injusta e, sendo assim, não há a obrigação de obedecer à lei 
injusta. Assim se estabelece o fundamento objetivo e racional da verdadeira 
consciência.
Desta forma, a ética aquiniana confere ao homem a responsabilidade 
e a capacidade de discernimento diante das decisões a serem tomadas. Na 
perspectiva aristotélica que funda o pensamento de Tomás, o critério supremo 
da vida ética é o justo meio-termo, preconizado por Aristóteles: nada de 
excessivo, ou seja, o alcance da felicidade, finalidade última da existência 
humana teologicamente concebida na contemplação da realidade na perfeita 
bondade, na visão de Deus. Portanto, uma ética fundamentada na fé cristã e 
fundamentada na consciência racional do homem que reconhece o pressuposto 
da fé. 
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
96
O que acontece na modernidade? Um pouco antes, temos uma figura 
muito conhecida: trata-se do filósofo Maquiavel. Seu nome é bem conhecido; de 
sua obra, o livro mais conhecido é O príncipe. Foi escrito às pressas com a intenção 
de recuperar o emprego perdido do autor (de secretário de Estado na Itália) e, 
principalmente, de fazê-lo deixar o exílio. Mas O príncipe não retrata exatamente 
o pensamento de Maquiavel; interpretá-losomente a partir dessa obra é o mesmo 
que querer entender um livro somente pela capa ou por suas orelhas.
As orelhas de um livro são aquelas páginas viradas para dentro dele, apresentando 
de forma resumida o seu conteúdo).
O que Maquiavel fez foi desvincular o poder político do poder da Igreja. 
Enquanto os teólogos partiam da Bíblia e do Direito Romano para legislar, ele 
parte da experiência real, do que está acontecendo no tempo presente e precisa de 
soluções imediatas, mas que mantenham uma organização duradoura. Sua leitura 
política dos clássicos o fez ter uma noção de humanidade, ou seja, para ele o ser 
humano conserva algumas características imutáveis: “[...] são ingratos, volúveis, 
simuladores, covardes ante os perigos e ávidos por lucro”. (MAQUIAVEL,1982, p. 
19). Por isso, não adianta buscar um governante virtuoso, porque não existe. Mas 
o governante poderá, se for esperto, desenvolver a virtude e alcançar a fortuna que 
é a manutenção do poder.
Maquiavel foi secretário e conselheiro dos governantes de Florença. Nesse 
período (século XV), a Itália estava totalmente dividida como uma colcha de 
retalhos e o caos instalado. A França invadia seus territórios sistematicamente e o 
governo papal estava totalmente sem prestígio, resultado da corrupção instalada 
nos bastidores da Igreja Romana. Por isso, Maquiavel ofereceu um pensamento 
novo para substituir as práticas políticas fundamentadas em teorias que não mais 
atendiam às necessidades de um novo tempo. Seus contemporâneos tentavam 
resolver as questões políticas buscando orientações nos antigos, e deixavam 
escapar os acontecimentos do momento.
Maquiavel rompeu com o modelo passado da seguinte forma: Não 
admitindo um fundamento político divino. A cidade está dividida por dois 
desejos: daqueles que querem oprimir e o desejo do povo de não ser oprimido. 
Se a sociedade está polarizada entre dois desejos antagônicos, não pode ser vista 
como uma comunidade e, portanto, a finalidade da política não é o bem comum e 
a justiça. A lógica política não é a lógica racional da justiça e da ética, mas a lógica 
da força transformada em lógica do poder e da lei. O príncipe precisa ter virtude 
para tomar e manter o poder, nem que seja pela força, mentira, astúcia e violência.
NOTA
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
97
Quando o regime político esmaga o povo, é ilegítimo. A legitimidade e 
a ilegitimidade são delimitadas pela liberdade. O que Maquiavel faz é virar de 
cabeça para baixo e romper com todas as concepções de política, ética e justiça 
construídas desde a Antiguidade. Para ele, no lugar de virtudes que devem fazer 
parte do governante para bem governar, deve ser a virtude a característica principal 
do bom governante. A virtude não tem o mesmo conceito de virtude dos antigos e 
dos cristãos, mas uma capacidade para gerir com eficiência os negócios públicos. 
A virtude é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando 
com elas para agarrar e dominar a fortuna (o poder). Em outras palavras, um 
príncipe que agir sempre da mesma forma e de acordo com os mesmos princípios 
em todas as circunstâncias, fracassará.
Aprendendo agora sobre isso, você pode ler O Príncipe, de Maquiavel, com 
outros olhos e aplicar alguns ensinamentos para a sua vida profissional. É claro 
que você não irá sair por aí pisando em todas as pessoas, batendo e coagindo para 
manter uma situação de poder, ou até mesmo, de manutenção do seu emprego.
O que Maquiavel nos ensina é que devemos saber ler e interpretar o 
momento. É preciso ser flexível e atualizado para se manter “em pé”. Se você é um 
professor, precisa compreender a linguagem dos alunos para proporcionar um 
ensino que os alcance. Se você é uma secretária, precisa estar sempre atualizada 
e aprender que na atualidade é preciso trabalhar em equipe e não ser “muro”, 
mas “ponte”. Assim como um bom administrador de empresas precisa ouvir e 
interpretar o contexto da sociedade, a linguagem da equipe é conectar tudo 
(sociedade, equipe, fornecedores e clientes) com a empresa e a diretoria. Para isso, 
é preciso ter virtude.
Mas se você escolheu uma profissão que esteja diretamente ligada às 
questões sociais ou ambientais, como engenharia ambiental, serviço social e 
outros, é preciso ter muita virtude e entender o mundo, o sujeito contemporâneo 
e as políticas sociais, ambientais, da saúde, que são geridas pelo Estado. No atual 
contexto fala-se muito em flexibilidade atrelada à tendência pós-moderna. Mas 
essa ideia já existia com Maquiavel, antes da Modernidade.
Para ele, a lógica política deve estar totalmente separada da vida privada 
do governante. Uma coisa são as virtudes éticas construídas e cultivadas pelo 
sujeito em sua vida privada, particular. Outra coisa é a lógica da virtude na ação 
política. Os valores políticos devem ser medidos pela eficácia social. Ele separa o 
ethos político do ethos moral. O falso moralismo que impera na política não confere 
eficácia ao governante, mas sim, o fracasso.
Maquiavel separa a política da religião e por isso foi criticado tanto por 
católicos como por protestantes. Sua obra foi considerada satânica e permaneceu 
no índex por vários séculos. Depois disso, Maquiavel foi perdoado e sua obra 
é traduzida e muito lida até hoje. Alguém deve ter lido (escondido) sua obra e 
percebeu que os tempos mudaram e era preciso ter virtude para se manter no 
poder! 
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
98
FIGURA 25 – POR NICCOLÓ MACHIAVELLI
FONTE: Disponível em: <http://euvivonomundodalu.blogspot.com.br/2011/05/maquiavel.html>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
Vale lembrar que, mesmo sendo um Estado laico, no Brasil a Igreja ainda 
interfere em algumas importantes questões de ordem social, que precisam de 
urgente regularização. Você é capaz de identificar essas questões?
A Idade Moderna apresenta muitas características que promoveram a 
mudança de pensamento político, assim como nas questões epistemológicas. 
Vamos ver agora de outra forma. Na passagem do século XIV para o século XV, o 
feudalismo estava decadente e a nova classe que vivia nos burgos (os burgueses) 
começou uma trajetória meteórica. Por que isso estava acontecendo? As cruzadas 
– guerra contra os árabes – consumiram muitas fortunas de famílias aristocráticas 
e muitas terras ficaram ao abandono. Uma grande peste (negra) matou muitas 
pessoas e as terras não tinham braços suficientes para plantar e colher. A vida 
urbana crescia muito com as atividades artesanais e o comércio com o Oriente 
virou rotina, originando uma nova fonte de riqueza: o lucro da exploração do 
trabalho dos pobres, e na exploração do trabalho escravo de índios e negros na 
América.
Desses fatos emergem: o burguês e o trabalhador e o conflito entre os 
indivíduos pela posse da riqueza, já que não existia mais o direito de sangue, 
de família. Agora, a riqueza tem que ser conquistada... pelo trabalho? Ou pela 
exploração dos mais fortes sobre os fracos? Sobre essa questão os teóricos se 
debruçaram e nós precisamos compreender essa ideia. Porque é nesse ideal que 
estamos vivendo. Ou seja, é o modelo liberal (revisitado) que norteia as políticas 
econômicas, sociais e legais.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
99
5 A CONTEMPORANEIDADE – NOVOS DESAFIOS E 
QUESTIONAMENTOS
É diante destes paradoxos, destas contradições que alcançamos a 
contemporaneidade, os dias que correm e nos quais somos desafiados a colocar em 
jogo perspectivas éticas como condição de dar um sentido, uma forma à existência, 
à vida.
Estabelecer “princípios éticos” que nos deem condições de nos situarmos 
no mundo, de fazer nossas apostas na realização de uma vida, de milhares de 
vidas, enfim, de ter um sentido, uma finalidade, por mais humana e imanente que 
possa ser, é nossa condição existencial contemporânea, imersa num conjunto de 
prerrogativas nas quais somos convocadosa nos posicionar.
Afirmar que necessitamos estabelecer perspectivas éticas contemporâneas 
significa, acima de tudo, reconhecer que estamos num contexto civilizatório que se 
caracteriza pelo questionamento da forma de ser e estar do ser humano no mundo, 
como resultado do processo civilizatório ocidental que chegou até o presente 
momento. 
Estes questionamentos característicos de nossos tempos podem assim ser 
apresentados:
a) Crítica à razão: a razão, que teve destaque com os gregos, alcançou na 
modernidade o auge de sua condição, na matematização das leis universais que 
regem o cosmo, na quantificação, mensuração e classificação do mundo natural, 
numa relação objetiva com o mundo, com as coisas, entre seres humanos. A 
racionalização do mundo, potencializada na modernidade, transformou a razão 
em razão instrumental, hábil executora dos ambiciosos projetos de planificação, 
estruturação e higienização de toda ambivalência, própria do mundo natural 
e humano. Os custos da otimização da razão instrumental foram pagos com a 
dura moeda do sofrimento humano nos campos de concentração na 2ª Guerra 
Mundial, com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, com a guerra do Vietnã, 
com a morte de milhões de mulheres e crianças vitimadas pela fome na África, 
com as alterações no equilíbrio da biosfera em função do aquecimento global. 
Enfim, por violências e crimes de toda espécie, que tornariam este relato 
excessivamente extenso, e de forma alguma é nossa intenção violentar mais 
uma vez a condição humana, fazendo inventário, contabilidade ou estatística 
de corpos humanos devorados nos bárbaros acontecimentos dos séculos XX e 
XXI.
b) O fim da História: outra característica da contemporaneidade é a descrença, 
a frustração em relação às promessas modernas em torno de projetos 
societários que garantissem aos seres humanos a felicidade, a segurança, 
o progresso e o bem-estar. Ao cabo de séculos de experiências socialistas, 
capitalistas, anarquistas e outras, nos damos conta de que a terra prometida, 
o reino da felicidade e da fartura e das benesses humanas não existe e que 
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
100
cabe aos seres humanos continuarem caminhando pelo deserto das paixões e 
desejos humanos, desprovidos de suas ilusões. Desta forma, esvaziam-se as 
grandes tarefas históricas impostas pela modernidade aos sujeitos históricos, 
condenados a entregar suas vidas em torno de causas, na sua maioria, inócuas, 
vazias e/ou esvaziadas no decorrer do tempo histórico.
c) O fim da política: para os gregos antigos, a política era condição da existência 
humana, da zoe, da garantia da felicidade, da materialização da cidade como 
espaço público, do bem viver. A participação na polis, no confronto entre 
pluralidades no espaço público, era a condição de ser cidadão. Porém, a 
modernidade eleva à condição primeira da existência humana a vida em 
sua dimensão meramente biológica. O que está em jogo na modernidade 
é o cuidado e o controle dos corpos, da vida e da morte dos indivíduos. A 
política é reduzida como o meio de se garantir as satisfações biológicas dos 
corpos que compõem o povo, a nação. A contemporaneidade potencializa este 
reducionismo político, condensando-o em torno de estratégias de biopoder na 
administração dos corpos de indivíduos atomizados pela lógica do consumo. O 
consumo foi elevado à condição da existência humana. Consumo, logo existo. 
Consome-se a tudo e a todos, ao mesmo tempo em que, inerente à lógica do 
consumo, tudo tem que ser necessariamente descartável.
d) Efemeridade e liquidez: se Kant havia definido as categorias de tempo e espaço 
como o lócus da realização da existência humana, por excelência, é preciso 
reconhecer que, na contemporaneidade, tempo e espaço foram comprimidos, 
diminuídos como condição vital pelas novas tecnologias que fazem parte 
de nosso cotidiano. Estamos submetidos constantemente a avalanches de 
informações que não conseguimos acompanhar, analisar, nos posicionar 
adequadamente. Tudo transcorre num fluxo contínuo e ininterrupto, efêmero 
e líquido, que escapa às possibilidades da experiência humana com o mundo, 
com as coisas, entre seres humanos. A compreensão das categorias de tempo 
e espaço a que estamos submetidos subtrai aos seres humanos a experiência 
vital de sentir, apreciar, saborear a vida nas pequenas coisas, nos gestos mais 
singelos, de reconhecer o outro como um ser em si mesmo e não reduzido à 
condição de meio para a festa do consumo, da descartabilidade.
e) A supremacia da técnica: se na modernidade tivemos a potencialização da razão 
em razão instrumental, na contemporaneidade convivemos com a hegemonia 
da racionalidade técnica. Segundo o filósofo italiano Umberto Galimberti 
(1999), “[...] a técnica se tornou o ambiente que nos envolve segundo as regras 
de racionalidade apoiadas em critérios de funcionalidade e eficiência”. Nosso 
tempo assume como verdadeira a máxima: “Se tecnicamente algo é factível, 
não há necessidade de justificativas éticas”. Portanto, “deve-se fazer tudo o que 
se puder fazer”, mesmo que isto implique diretamente a manipulação da vida, 
ou das formas de vida assumidas pelos seres humanos contemporaneamente. 
A relação do homem com a técnica remonta a nossos ancestrais mais primevos 
em sua aventura existencial sobre a face da mãe-terra, porém, o fato novo 
inaugurado pela modernidade/contemporaneidade é ter transformado a técnica 
num fim em si mesma. É o fato de ter esquecido de que a técnica, como todo e 
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
101
qualquer fazer humano, não tem sentido em si mesma, mas sua finalidade deve 
estar a serviço da centralidade da condição humana. 
f) A morte do homem: se a modernidade mata Deus, ou seja, procura livrar-se 
do peso da perspectiva teocêntrica na interpretação do mundo, da existência, a 
contemporaneidade mata o homem. Damo-nos conta de que o homem, como 
fundamento da consciência, como sujeito histórico, é o resultado de categorias 
discursivamente constituídas numa sociedade estruturada e permeada por 
instituições sociais que disciplinam corpos e controlam mentes, impondo 
ao homem o desempenho de papéis sociais, o que levou Lacan a lapidar a 
expressão: “Penso o que não sou e sou o que não penso”. Decretar a morte do 
homem significa reposicionar a tensão entre indivíduo e sociedade, retirando 
o peso excessivo da sociedade na determinação da forma de ser e estar dos 
indivíduos, ao mesmo tempo em que deposita maior responsabilidade nos 
ombros dos indivíduos diante das exigências existenciais contemporâneas.
g) A sobrevivência planetária: a contemporaneidade é chamada a responder a um 
desafio imediato e que tem relação direta com as condições de possibilidade de 
continuidade da vida no planeta Terra. O planeta começa a dar sinais de que 
algo não está bem, de que séculos de uma postura agressiva em relação ao 
meio ambiente, de uma relação que transformou o conjunto da vida que se 
manifesta em algo objetivo, passível de domínio, necessita ser urgentemente 
revisto e alterado. Desta forma, o desafio contemporâneo, para além de pensar 
a continuidade da vida para os que fazem parte do planeta neste momento, 
envolve responsabilidades com as gerações futuras e, portanto, em última 
instância, com a continuidade da espécie humana e sua aventura no cosmo.
FIGURA 26 – CERTO-ERRADO
FONTE: Disponível em: <http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/certo-e-
errado.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Apontamos alguns desafios próprios do mundo em que estamos inseridos, 
sonhando, planejando e vivendo nossas vidas. Tais desafios, além de abrirem um 
universo de possibilidades, nos exigem o constante exercício do pensamento, da 
reflexão, do questionamento sobre as condições de possibilidade de que dispomos 
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
102
para responder aos desafios apresentados. De nos perguntarmos se ainda hácondições de estabelecer um princípio ético universal que funcione como parâmetro 
à existência humana. E, se isto fosse possível, qual seu fundamento, que princípio 
poderia garantir sua efetividade na orientação das ações humanas? Por outro lado, 
se não há mais condição de falarmos de princípios éticos universais, estaríamos à 
mercê de um relativismo ético? É possível pensarmos as ações humanas para além 
de um princípio ético universal? Estamos preparados para assumir formas de vida 
desprovidas de sentido e finalidade predeterminados? Estamos sendo pessimistas 
ou alarmistas?
Você, acadêmico(a), olhe à sua volta, procure entender a dinâmica do mundo 
que você vive – família, trabalho, lazer, amigos – e faça uma análise da civilidade, 
da compreensão, da cidadania, ou não, neste seu pequeno universo. Para fechar esse 
ponto sem muita aspereza na seriedade do conteúdo, vamos refletir um pouco sobre 
a urbanidade, o espaço em que a maioria de nós vivemos hoje, também vamos refletir 
sobre a solidariedade na atualidade e alguns temas polêmicos. 
Uma grande parte da humanidade vive hoje no meio urbano. Alguns países 
asiáticos defendem os aglomerados urbanos, justamente pela proximidade de tudo 
a todos: serviço, lazer, trabalho, moradia. Compreender a sociedade hoje passa 
pela compreensão da urbanidade, que automaticamente vai nos conduzir para a 
civilidade, para a solidariedade, partindo do pressuposto de que acreditamos no 
ser humano de bem.
O que a palavra urbanidade significa para você? Com certeza logo 
associamos a urbano, ou seja, à cidade; e esquecemos ou desconhecemos o outro 
significado, que é cortesia. Em algumas das leis que discorrem pelos deveres dos 
servidores, é comum encontrarmos: “tratar com urbanidade”.
De acordo com o Dicionário Ferreira (2001, p. 736), “urbanidade é qualidade 
de urbano; cortesia; civilidade, e ainda aponta urbanidade: antônimo de grosseria”.
Urbanidade é cortesia.
Um dos sinônimos, portanto, de urbanidade, dado pelo dicionário, é 
civilidade. Então, urbanidade e civilidade são a mesma coisa? Vejamos novamente 
o que o dicionário diz sobre civilidade: “Conjunto de formalidades observadas 
pelos cidadãos entre si, em sinal de respeito mútuo”. (FERREIRA, 2001, p. 166).
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
103
FIGURA 27 – CIVILIDADE
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-FcrAfQWH0ZM/
T081HpjhVlI/AAAAAAAALLU/ngy-ALo51do/s640/Civilidade-transito.jpg>. 
Acesso em: 15 jan. 2012.
Civilidade é o respeito das normas de convívio da sociedade. É a civilidade 
que permite que as pessoas convivam dentro das organizações e façam interações, 
mas tendo os valores morais como norteadores. No fim, é isso que nos interessa.
6 A SOLIDARIEDADE TEM VEZ?
Depois de tantas interpretações que vimos no decorrer deste tópico sobre 
eticidade, moral, efemeridade, vamos tratar de um tema não menos importante, 
mas com suas peculiaridades e que por isso merece ser destacado, porque é através 
dela que o ser humano pode dispor de seu objetivo pessoal em prol do objetivo 
coletivo.
FIGURA 28 – SOLIDARIEDADE
FONTE: Disponível em: <http://www.perguntascretinas.com.br/wp-content/
uploads/2008/01/mafalda.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2012.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
104
De acordo com Srour (2011, p. 45), existem dois tipos de interesses 
pessoais: egoísta, “quando beneficia exclusivamente o indivíduo à custa dos 
outros e, portanto, assume feições abusivas e particularistas; e autointeresse, 
“quando beneficia o indivíduo sem prejudicar outrem, e, portanto, assume feições 
consensuais e universalistas, pois salvaguarda a individualidade e interessa a 
todos”. Tal como pode ser observado no esquema que segue:
FIGURA 29 – O AUTOINTERESSE E O EGOÍSMO
FONTE: Srour (2011, p. 45)
Nesse pensamento, Srour (2011) aborda a questão do altruísmo, que de acordo 
com o senso comum o tem colocado no sentido de abnegação, filantropia, amor ao 
próximo, entre outros. De acordo com o dicionário, altruísmo é um sentimento de 
quem põe o interesse alheio acima do seu próprio. É exatamente sobre esse aspecto 
que o autor quer considerar, longe do senso comum, de que altruísmo é sacrificar-se, 
mas sim valorizar o outro, valorizar os interesses dos outros.
Srour (2011) classifica estágios de altruísmo, o interesse é continuar a tese 
de que a solidariedade está ao lado do altruísmo e, portanto, é prática da esfera do 
universalismo, enquanto que pensar somente em seus interesses é uma prática do 
universo do particularismo.
O interessante nas questões sobre altruísmo é que não é uma atitude 
apenas de instituições de caridade ou similares, pode ser uma ação prática do dia 
a dia. É um sentimento como dita o dicionário, um sentimento a ser interiorizado 
e praticado, como observa:
Agir de forma altruísta, por conseguinte, não exige necessariamente 
uma atitude de franco desprendimento, pois basta adotar uma postura 
cooperativa e solidária, ou basta exercitar o senso de interdependência. 
Equivale a levar em conta os interesses dos outros para não prejudicá-
los; procurar beneficiá-los; procurar beneficiá-los na medida do possível; 
cuidar de si e dos demais para induzi-los à reciprocidade. (SROUR, 
2011, p. 29).
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
105
A solidariedade, o altruísmo, é a máxima do cristianismo, é fazer ao próximo 
o que gostaria que fizesse com você. E todas essas virtudes da solidariedade estão 
imbuídas do bem comum que é o fim em si mesmo.
7 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS DA ATUALIDADE
A Idade Contemporânea marca então uma nova forma de comunicação 
entre a sociedade, com base na premissa de que o homem é um ser concreto, real e 
histórico. E é pelo diálogo, num processo de argumentação mútuo, que pode haver 
o consenso entre os homens e, assim, as definições morais de conduta. Mas mesmo 
assim surgem questionamentos, polêmicas, perguntas que exigem respostas, e a 
ética não pode se eximir.
De acordo com Valls (2003, p. 70),
[...] a ética foi reduzida a algo de privado. [...] Ora, nos tempos da 
grande filosofia, a justiça e todas as demais virtudes éticas referiam-
se ao universal (no caso, ao povo ou à polis), eram virtudes políticas, 
sociais. Numa formulação de grande filosofia, poderíamos dizer que o 
lema máximo de ética é o bem comum. E se hoje a ética ficou reduzida 
ao particular, ao privado, isto é um mal sinal.
Porém, não se pode esquecer que os valores, os hábitos e os princípios 
formam a consciência moral dos seres humanos, e esta consciência moral torna-
se um fator preocupante nos dias de hoje, pois os indivíduos possuem suas 
responsabilidades individuais e coletivas perante a sociedade em que vivem; 
contudo, muitas vezes o dever ético respalda muito mais no indivíduo do que na 
coletividade, mesmo que os valores éticos sejam constituídos pela sociedade como 
um todo.
Entretanto, o que é ter uma vida ética?
FIGURA 30 – QUESTÕES ATUAIS
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-OuKtfYuOCl4/ToCaJ0vPfzI/
AAAAAAAABq0/_uT5giyhJgI/s1600/AUTO_ivan.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
106
Nesta esfera, segundo Valls (2003, p. 71) “a liberdade se realiza eticamente 
dentro das instituições históricas e sociais, tais como a família, a sociedade civil e o 
Estado”. Vejamos mais detalhadamente estas três instituições.
7.1 FAMÍLIA
Dez entre dez pessoas consideram a família um porto seguro, o lugar ideal 
e real para se sentir acolhido, de acolher, de estar bem e de fazer o bem, de viver 
autenticamente o amor.
Segundo Valls (2003, p. 71),
Em relação à família, hoje se colocam de maneira muito aguda as 
questões das exigências éticas do amor. O amor não tem de ser livre? 
O que dizer então da noção tradicional do amor livre? Ele é realmente 
livre? E como definir, hoje, o que seja a verdadeira fidelidade, sem 
identificá-lacomo formas criticáveis de possessividade masculina ou 
feminina? Como fundamentar, a partir dos progressos das ciências 
humanas, os compromissos do amor, como se expressam na resolução 
(no sim) matrimonial? E como desenvolver uma nova ética para as novas 
formas de relacionamento heterossexual? E como fundamentar hoje as 
preferências por formas de vida celibatária, casta ou homossexual?
Pois bem, verificamos que estamos em constantes transformações sociais e 
estas mudanças refletem diretamente na relação entre pais e filhos.
Podemos observar estas transformações, quando Valls (2003, p. 72) expõe 
que:
As transformações histórico-sociais exigem hoje igualmente 
reformulações nas doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento dos 
pais com os filhos. Novos problemas surgiram com a presença maior da escola 
e dos meios de comunicação na vida diária dos filhos. As figuras tradicionais, 
paterna e materna, não exigem hoje uma nova reflexão sobre os direitos e os 
deveres dos pais e dos filhos?
Em especial, a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais 
chamou a atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento 
dentro do próprio casal. O feminismo, ou a luta pela libertação da mulher, traz 
em si exigências éticas, que até agora não encontraram talvez as formulações 
adequadas, justas e fortes. A libertação da mulher, a libertação de todos os 
grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais atuais. E, como lembraria 
Paulo Freire, em seu Pedagogia do Oprimido, a libertação não se dá pela simples 
troca de papéis: a libertação da mulher liberta igualmente o homem.
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
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FIGURA 31 – LIBERTAÇÃO DA MULHER COM IGUALDADE AO HOMEM
FONTE: Disponível em: <http://cienciaycomunicacion.blogspot.com.br/2011/03/
poder-femenino-y-patriarcado-en-espana.html>. Acesso em: 26 maio 2013.
Entendida a instituição ‘família’, vamos para o segundo grupo, a sociedade 
civil.
7.2 SOCIEDADE CIVIL
No que tange às questões da sociedade civil, podemos verificar que, 
atualmente, os principais problemas enfrentados estão correlacionados ao mundo 
do trabalho e à propriedade, pois, de acordo com Valls (2003, p. 72),
Como falar de ética num país onde a propriedade é um privilégio 
tão exclusivo de poucos? E não é um problema ético a própria falta 
de trabalho, o desemprego, para não falar das formas escravizadoras 
de trabalho, com salários de fome, nem da dificuldade de uma 
autorrealização no trabalho, quando a maioria não recebe as condições 
mínimas de preparação para ele, e depois não encontram, no sistema 
capitalista, as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e 
gratificante? Num país de analfabetos, falar de ética é sempre pensar 
em revolucionar toda a situação vigente.
Nesta perspectiva, observamos que se fazem necessárias algumas reformas 
políticas e éticas, no que tange às regras de conduta referente ao modo de aquisição 
da propriedade e do trabalho. Esta reforma deve partir da reformulação dos nossos 
princípios morais e éticos e através da vontade política de nossos governantes.
Valls (2003, p. 73) expõe ainda que
A crítica atual insiste muito mais, agora, sobre a injustiça que reside no 
fato de só alguns possuírem os meios da riqueza, e a crítica à propriedade 
se reduz sempre mais apenas aos meios de produção. [...] A propriedade 
particular aparece agora, nas doutrinas éticas, principalmente como 
uma forma de extensão da personalidade humana, como extensão do 
seu corpo, como forma de aumentar sua segurança pessoal, e de afirmar 
a sua autodeterminação sobre as coisas do mundo.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
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Podemos aqui recorrer a três grandes pensadores que, entre tantas 
contribuições, eles vão nos ajudar a entender como o ser humano deve se organizar 
dentro de uma sociedade civil com todas suas nuances. São eles: Thomas Hobbes, 
John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Quando Hobbes disse: “[...] que todo homem é opaco diante do outro”, ele estava 
dizendo que não olhamos com nitidez o outro e nós também não somos vistos com nitidez 
diante do outro. Sempre um se considera melhor que o outro. Você concorda com essa 
afirmação? Pense sobre a afirmação hobbesiana e justifique sua resposta.
Estes três filósofos pensaram muito sobre as razões da existência de uma 
sociedade civil organizada, ou seja, as razões que levaram o homem a se organizar 
politicamente. (Os mesmos problemas dos filósofos antigos). A filosofia é assim 
mesmo: para um objeto (no caso a política) temos vários olhares, ou várias 
interpretações.
Vamos começar com Hobbes. Você deve conhecer uma frase célebre dele: 
“O homem é o lobo do homem”. Por que será que ele disse e escreveu isso? Vamos 
aprender! A frase clássica de Hobbes nos remete à ideia de que ele investiga, em 
primeiro lugar, o homem em estado natural, antes de existir uma sociedade civil 
organizada.
A organização advém de um contrato e, por isso, ele figura entre os filósofos 
contratualistas. O pensamento desses contratualistas nos remete ao período entre 
os séculos XVI e XVIII.
Da mesma forma que Maquiavel pensava sobre a natureza humana, também 
Hobbes pensava. Ou seja, o homem não muda em algumas particularidades da 
natureza. Todos esses filósofos do período moderno foram buscar inspiração nos 
filósofos clássicos e Hobbes também concluiu que a natureza humana não foi capaz 
de “melhorar” com o passar dos séculos. Hobbes afirma que os homens são iguais:
[...] A natureza dos homens os fez tão iguais, quanto às faculdades do 
corpo quanto a do espírito [...] não há diferença entre eles [...] quanto 
à força corporal, o mais fraco tem força suficiente para matar o mais 
fraco, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se 
encontrem ameaçados pelo mesmo perigo.
[...] quanto às faculdades do espírito [...] o que talvez possa tornar 
inaceitável essa igualdade é simplesmente a concepção vaidosa da 
própria sabedoria, a qual quase todos os homens supõem possuir em 
maior ou menor grau. Em maior grau do que o outro. (HOBBES, 2008, 
p. 74).
UNI
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
109
Segundo o filósofo Renato Janine, o que Hobbes ensina é que “[...] todo 
homem é opaco aos olhos do outro” (RIBEIRO, 2009, p. 59). Como não se sabe o 
que o outro pretende, o melhor para a defesa é o ataque antecipado. A ideia do 
“homem lobo do homem” não é uma ação animalesca, mas racional e pensada. 
Dessa forma, instala-se uma guerra generalizada. Por isso, é necessário um Estado 
forte para controlá-los. Mas por que existe essa disputa eterna? Para Hobbes, há 
três motivações intrínsecas no ser humano: a competição, a desconfiança e a glória 
(a vaidade). O estado natural de guerra é porque todos se imaginam poderosos, 
perseguidos e traídos.
Como pôr um fim nesse conflito? O pensamento de Hobbes define o que é 
a Lei de natureza e para entendermos, iremos recorrer ao filósofo Ribeiro:
Uma lei da natureza consiste em um preceito ou regra geral, estabelecido 
pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que 
possa para destruir sua vida ou privá-la dos meios necessários para 
preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir melhor para 
preservá-la. Porque embora os que têm tratado desse assunto costumem 
confundir justiça e lei, o direito é a lei. O Direito consiste na liberdade de 
fazer ou de omitir, ao passo que a lei determina ou obriga a uma dessas 
duas coisas (HOBBES, apud RIBEIRO, 2009, p. 60).
Na concepção moderna hobbesiana, direito e justiça estão separados. 
Por isso é preciso um Estado forte para dar um ordenamento à sociedade. Uma 
organização para a manutenção do próprio ser humano. Para que isso aconteça, 
Hobbes nos remete à ideia do Leviatã, uma figura marinha da mitologia que 
“ampara e cuida” dos mais fracos.
A passagem do Estado de Natureza para a sociedade civilacontece pelo 
contrato social. Os homens, por medo, renunciam à liberdade para eleger um 
soberano absoluto com poderes ou autoridade política de legislar e executar as 
leis. Portanto, Hobbes parte do conceito do Direito natural (Jus naturalismo), 
cujo preceito ensina que todo homem tem direito à vida e ao que é necessário 
para mantê-la, também (principalmente) à liberdade. Todos são livres, ainda que 
uns sejam fracos e outros fortes. Um contrato social, conforme o Direito Romano, 
só tem validade se ambas as partes forem livres e iguais e, por vontade própria 
consentem ao que está contratado, pactuado.
Outro filósofo marcante dos contratualistas foi Rousseau, também 
considerado o filósofo romântico. Para ele, o homem nasce bom – tese do bom 
selvagem inocente - e vive feliz em estado de natureza. Mas a propriedade privada 
o corrompeu. Para ele, essa divisão do que é meu e do que é seu gera o egoísmo e 
a servidão humana. 
No entanto, esta visão tem como princípio a mesma visão de Hobbes. 
Ambos entendem que há uma luta entre fortes e fracos e, por isso, há necessidade 
do Estado para garantir a paz. Se em Hobbes o governante é soberano e absoluto, 
para Rousseau a soberania é do povo, que representa a vontade geral.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
110
Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmos como povo e é a 
este que transferem os direitos naturais para que sejam transformados 
em direitos civis. Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o 
representante da soberania popular. (CHAUÍ, 2002, p. 401).
Depois de Hobbes e Rousseau, vamos conhecer um pouco de J. Locke, 
considerado o pai do liberalismo clássico. O liberalismo é a teoria política que 
legitima o modo de produção capitalista. Funciona mais ou menos assim: imagine 
uma casa: o telhado é o modo de produção (em nosso caso é o capitalismo), mas 
para segurar esse telhado são necessários dois fortes pilares, uma teoria política 
e uma teoria econômica. Sem essas duas teorias, ou pilares, o modo de produção 
não se sustenta e fracassa. Mas os pilares precisam de uma boa fundação: é o 
projeto epistemológico e o ethos formado pelo projeto epistemológico. O modelo 
de conhecimento é que irá direcionar, por meio das ideias (ideologias), o nosso 
modo de transitar dentro dessa casa: que é a moral. Os nossos costumes foram, 
aos poucos, mudando para assumir o projeto de vida burguês. Caso contrário, 
o capitalismo não teria se consolidado. Portanto, a modernidade e o capitalismo 
nasceram no mesmo berço (a Europa).
O apogeu no novo modelo acontece no século XVIII, palco da Revolução 
Industrial e considerado o século das luzes. Mas antes disso, Locke já estava 
pensando e elaborando a teoria que iria dar sustentação ao modelo burguês 
de vida, ao modo de produção capitalista. A teoria política e econômica liberal 
legitima a propriedade privada. 
Locke também parte do direito natural como direito à vida, à liberdade 
e aos bens necessários para a manutenção de ambas. Até a Idade Média, cujo 
modo de produção foi o feudalismo, a teoria política tinha sua fundamentação no 
projeto divino do poder mantido por hereditariedade, uma conotação de castigo 
(Deus castigou o homem, por seu pecado original, ao trabalho pesado para a 
sua sobrevivência). Mas, agora, a coisa mudou. Como, então, tornar o trabalho o 
legítimo meio para garantir a propriedade privada como direito natural? Locke 
responde:
Deus é um artífice, um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez uma 
obra: o mundo. Este lhe pertence. É seu domínio e propriedade. Deus 
criou o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe o mundo para que 
nele reinasse e, ao expulsá‑lo do paraíso, não lhe retirou o domínio do 
mundo, mas lhe disse que o teria com o suor de seu rosto [...] Deus 
instituiu, no momento da criação do mundo e do homem, o direito à 
propriedade privada como fruto legítimo do trabalho. (CHAUÍ, 2002, 
p. 401).
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
111
FIGURA 32 – CRIAÇÕES DE DEUS
FONTE: Disponível em: <http://www.umsabadoqualquer.com/>. Acesso em: 27 maio 2013.
Dessa forma, Locke reinterpreta a Bíblia em favor do novo projeto 
econômico. Para os medievais, o trabalho era indigno, por ser resultado do pecado 
original. Mas, olhando assim, com os olhos de Locke ficou diferente. Assim, a 
burguesia em ascensão ficou definitivamente legitimada perante a nobreza. Mais 
ainda: o burguês se vê como superior perante a nobreza e perante os pobres. 
No ideário burguês, Deus fez todos os homens iguais e com direito, pelo 
trabalho, à propriedade privada. Se os pobres não a tem é porque são culpados por 
sua condição de pobreza e inferioridade.
Qual será o papel do Estado para esta nova situação? É o que veremos no 
próximo ponto.
7.3 ESTADO
O papel do Estado é garantir a propriedade privada. De acordo com a teoria 
liberal de Locke, realizada posteriormente pela Independência norte‑americana 
(1776), mais tarde pela Revolução Francesa (1789) e, por fim, com Max Weber, a 
função do Estado é:
• Garantir a propriedade privada por meio das leis e pelo uso da violência 
(exército e polícia).
• O Estado é o árbitro nos conflitos existentes na sociedade civil (por meio da lei 
e da força).
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
112
• O Estado tem o dever de garantir a liberdade de consciência e deve exercer 
censura no caso das manifestações que coloquem em risco o próprio Estado.
No que tange aos problemas éticos do Estado, os mesmos denotam ser 
muito mais complexos, pois os ideais políticos são um tanto mais complicados 
de se compreender. Principalmente, quando tratamos da questão liberdade. De 
acordo com Valls (2003, p. 74):
A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de 
um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações de 
direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar 
abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como 
questões éticas fundamentais. Ninguém é livre, numa ditadura [...]. 
Contudo, qual é a função do Estado?
Complementando, Valls (2003, p. 75) expõe que “os Estados que existem 
de fato são as instâncias do interesse comum universal, acima das classes e dos 
interesses egoístas privados e de pequenos grupos. [...] Em outras palavras, o 
Estado real resolve o problema das classes, ou serve a um dos lados, na luta de 
classes?”
LEITURA COMPLEMENTAR
PRINCÍPIOS, VALORES E VIRTUDES
Jerônimo Mendes
Existe uma grande diferença entre princípios, valores e virtudes, embora 
sua efetividade seja válida apenas quando os conceitos estão alinhados. No mundo 
corporativo em geral, noto que muitos profissionais são equivocados com relação 
aos conceitos e, apesar de defenderem o significado de um ou outro, a prática se 
revela diferente.
Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados universais 
que definem as regras pela qual uma sociedade civilizada deve se orientar. Em 
qualquer lugar do mundo, princípios são incontestáveis, pois, quando adotados 
não oferecem resistência alguma. Entende-se que a adoção desses princípios está 
em consonância com o pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração da 
constituição de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou estatutos 
de condomínio. Vale no âmbito pessoal e profissional.
Amor, felicidade, liberdade, paz e plenitude são exemplos de princípios 
considerados universais. Como cidadãos – pessoas e profissionais –, esses princípios 
fazem parte da nossa existência e durante uma vida estaremos lutando para torná-
los inabaláveis. Temos direito a todos eles, contudo, por razões diversas, eles não 
TÓPICO 1 | A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
113
surgem de graça. A base dos nossos princípios é construída no seio da família e, 
em muitos casos, eles se perdem no meio do caminho.
De maneira geral, os princípios regem a nossa existênciae são comuns a 
todos os povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou não. Quem age diferente 
ou em desacordo com os princípios universais acaba sendo punido pela sociedade 
e sofre todas as consequências. São as escolhas que fazemos com base em valores 
equivocados, não em princípios.
Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou mantidos 
por determinado indivíduo, classe ou sociedade, portanto, em geral, dependem 
basicamente da cultura relacionada com o ambiente onde estamos inseridos. É 
comum existir certa confusão entre valores e princípios, todavia, os conceitos e as 
aplicações são diferentes.
Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e, acima de 
tudo, contestáveis. O que vale para você não vale necessariamente para os demais 
colegas de trabalho. Sua aplicação pode ou não ser ética e depende muito do caráter 
ou da personalidade da pessoa que os adota.
Pessoas de origem humilde definem valores de maneira diferente das 
pessoas de origem mais abastada. De um lado, a escassez pode gerar a ideia de 
que dinheiro não traz felicidade, portanto, mesmo sem dinheiro é possível ser feliz 
utilizando-se valores como amizade, por exemplo. Do outro, o apego ao dinheiro e 
a convivência harmoniosa com o conforto podem gerar a ideia de que sem dinheiro 
não é possível ser feliz, ou seja, o dinheiro traz felicidade, amizade, conforto e, se 
houver mais dinheiro do que o necessário, valores como filantropia e voluntariado 
podem ser praticados.
Essa comparação não define o certo e o errado. Ela apenas levanta uma 
questão interessante sobre o conceito de valores e depende do ponto de vista de 
cada cultura ou de cada pessoa, em particular. Na prática, é muito mais simples 
ater-se aos valores do que aos princípios, pois este último exige muito de nós. Os 
valores completamente equivocados da nossa sociedade – dinheiro, sucesso, luxo 
e riqueza – estão na ordem do dia, infelizmente. Todos os dias somos convidados 
a negligenciar os princípios e adotar os valores ditados pela sociedade. 
Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do espírito, as 
quais, por um esforço da vontade, inclinam à prática do bem. Aristóteles afirmava 
que há duas espécies de virtude: a intelectual e a moral. A primeira deve, em 
grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e 
tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida com o resultado do hábito.
Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em nós por 
natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser alterado pela força do 
hábito, portanto, virtudes nada mais são do que hábitos profundamente arraigados 
que se originam do meio onde somos criados e condicionados através de exemplos 
e comportamentos semelhantes.
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
114
Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por exemplo, 
conhecia os princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar valores como a supremacia 
da raça ariana, a aniquilação da oposição e a dominação pela força. Significa que 
também não dispunha de virtudes, pois as virtudes são decorrentes dos princípios 
e o seu legado foi um dos mais nefastos da história. Sua ambição desmedida o 
tornou obcecado por valores que contrastam com os princípios universais.
Diferente de Hitler, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Mahatma 
Gandhi tinham princípios, valores e virtudes integralmente alinhados com a sua 
concepção de vida. Todos lutavam por causas nobres e tinham um ponto comum: 
a dignidade humana. Enquanto Hitler, Milosevic e Karadzic entraram para o rol 
das figuras mais odiadas da humanidade, Madre Teresa, Irmã Dulce da Bahia e 
Gandhi são personalidades singulares que inspiram exemplos para a humanidade.
Existem pessoas que nunca seguiram princípio algum e, apesar de tudo, 
continuam enriquecendo, fazendo sucesso na televisão, conquistando cargos 
importantes nas empresas e assumindo papéis relevantes na sociedade. Entretanto, 
riqueza material não é a única medida de sucesso. Avalie, por si mesmo, quais os 
exemplos deixados por elas, a sua contribuição para o mundo e o seu triste legado 
para os descendentes.
No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência seja, por 
vezes, insuportável, deparamo-nos com profissionais que atropelam os princípios, 
como se isso fosse algo natural, um meio de sobrevivência, e adotam valores que 
nada têm a ver com duas grandes necessidades corporativas: a convivência pacífica 
e o espírito de equipe. Nesse caso, virtude é uma palavra que não faz parte do seu 
vocabulário e, apesar da falta de escrúpulos, leva tempo para destituí-los do poder.
Valores e virtudes baseados em princípios universais são inegociáveis e, 
assim como a ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. Entretanto, conceitos 
como liberdade, felicidade ou riqueza não podem ser definidos com exatidão. 
Cada pessoa tem recordações, experiências, imagens internas e sentimentos que 
dão um sentido especial e particular a esses conceitos.
O importante é que você não perca de vista esses conceitos e tenha em 
mente que a sua contribuição, no universo pessoal e profissional, depende da 
aplicação mais próxima possível do senso de justiça. E a justiça é uma virtude tão 
difícil, e tão negligenciada, que a própria justiça sente dificuldades em aplicá-la, 
portanto, lute pelos princípios que os valores e as virtudes fluirão naturalmente. 
O que vale em casa vale no trabalho. Não existe paz de espírito nem crescimento 
interior sem o triunfo dos princípios. Pense nisso e seja feliz!
FONTE: MENDES, Jerônimo. Princípios, valores e virtudes. Gestão de Carreira, 17 de agosto de 
2008. Disponível em: <http://www.gestaodecarreira.com.br/coaching/reflexao/principios-valores-
e-virtudes.html>. Acesso em: 9 set. 2011.
115
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu:
• Os princípios filosóficos e éticos da política desde a Idade Média, passando pela 
modernidade, até a contemporaneidade.
• A importância da ética cristã com seus dois grandes expoentes, Agostinho e 
Tomás de Aquino.
• As características pertinentes da contemporaneidade, seus desafios e 
questionamentos, assim como questões a respeito da família, sociedade civil e 
Estado.
• Importância da solidariedade para o indivíduo e para a coletividade.
116
AUTOATIVIDADE
1 Apresente os três tipos fundamentais de cultura apontados pela filosofia 
moral cristã.
2 Para Max Weber, qual é a função do Estado?
117
TÓPICO 2
A FILOSOFIA POLÍTICA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Estamos estudando, nesta unidade, as principais teorias políticas 
construídas na história. Até aqui, o objetivo foi o de estudar ou, pelo menos, 
provocar um entendimento para o que nos é tão próximo e, ao mesmo tempo, tão 
distante: a política. E próximo porque tudo o que está à nossa volta – as nossas 
ações cotidianas – está envolto em um projeto político. Fazemos política mesmo 
quando a recusamos. A recusa é uma política pessoal, mas que também envolve 
o coletivo. Quando nos calamos, damos voz a outros. Quando nos paralisamos, 
damos espaço para outro se movimentar. Quando cruzamos os braços, permitimos 
que outros se apropriem do que é nosso por direito.
Queremos, neste tópico, aprender como tudo começou e quem começou 
com a ideia de política no sentido de organização social. Vamos também apresentar 
a distinção necessária entre Governo e Estado, sobre a prática moral na nossa 
sociedade.
2 POLÍTICA PARA TODOS
Diz o ditado popular que não devemos discutir política nem futebol. Talvez 
consigamos não falar de política, mas de futebol é impossível para nós brasileiros 
fazer “ouvidos moucos”, ou seja, “fingir que não ouvimos”.
Mesmo para aqueles que não têm time, não entendem de futebol e, aliás, 
nem gostam do esporte. Mas, como somos sociáveis, sempre partilhamos de uma 
conversa, seja dentro do ônibus, no trabalhoou nas filas infindáveis de nossa vida 
cotidiana. Também ficamos por “dentro” da vida dos jogadores que se tornaram 
ídolos, verdadeiras celebridades em todo o mundo. Agora, sobre política, 
conseguimos escapar!
Mas, sabe de uma coisa? Mesmo quando ficamos “ouvindo” uma conversa 
acalorada sobre futebol, saiba que ali está implícita uma política. Os governos, não 
só o brasileiro, promovem políticas para o esporte. É claro que esta política deve 
atingir todas as modalidades de esporte e não só a ‘paixão nacional’, o futebol.
Vamos pensar em uma copa do mundo ou em uma olimpíada. Quanto 
dinheiro é investido para sediar esses campeonatos? Será que vale a pena, ou seja, 
118
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
penalizar a saúde pública, a educação, as políticas de ação social, para fazer a 
megarrecepção ao mundo? Todos falam sobre isso: do cientista político e esportista, 
inclusive a dona de casa. Mas, veja bem, estamos falando de qualquer país, porque 
os investimentos são os mesmos em qualquer lugar. Os recursos disponibilizados 
é que são diferentes, em países ricos e em países pobres.
Mas o nosso assunto é política. Então vamos jogar essa bola e fazer gol 
com o nosso tema. Apenas nesses parágrafos que deram início à nossa conversa 
você já pode perceber que a política está em nossa vida quase que na mesma 
proporção que o ar que respiramos. Da mesma forma que não vemos o ar, também 
não percebemos a presença desse fenômeno em nosso cotidiano. Mas ele está lá: 
quando pagamos a conta de água, de luz e de telefone, estamos fazendo política, 
porque ali na fatura está incluído um imposto. Você já olhou para conferir? Para 
onde vai esse dinheiro? Deveria ser revertido para a população em forma de 
melhorias, mas isso nem sempre acontece. Por isso, quando nos faltam a água, a 
luz, a comunicação, a saúde, aí sim, nos lembramos de que passamos a maior parte 
da nossa vida pagando e não recebendo na mesma proporção. Esse tema se refere 
à política de distribuição de renda adotada por um governo.
 
Mas o que é política? O que significa fazer política? Quem faz política? Usamos 
a palavra política para designar a gestão de vários segmentos que tanto podem ser 
relacionados à nossa vida privada quanto à nossa vida pública. Olha aí, duas instâncias 
de nossa vida: a privada e a pública. A privada é aquela que diz respeito apenas à 
nossa pessoa, e a pública envolve uma questão coletiva.
FIGURA 33 – POLÍTICA
FONTE: Disponível em: <http://dellafterreading.blogspot.com.br/2011/03/para-politica-o-bem-
comum-e-ordem.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Sabendo disso é preciso fazer outra distinção: Governo e Estado. O governo 
se refere aos programas e projetos para atender à sociedade. Esses programas e 
projetos são, geralmente, propostos pela sociedade através de seus representantes. 
São programas sociais, de saúde, de educação, entre outros. O Estado é formado 
por instituições que permitem a ação dos governos: a polícia, o exército (forcas 
armadas), os órgãos de arrecadação (Receita Federal), secretarias de Saúde, de 
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
119
FIGURA 34 – DEMOCRACIA GREGA
FONTE: Disponível em: <http://cpalexandria.files.wordpress.com/2012/04/democracia-grega.
jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
Para o grego, política se refere aos negócios públicos ou tudo o que se 
refere à vida em uma sociedade politicamente organizada: as leis, a distribuição 
do erário (dinheiro dos impostos), a defesa do território (exército), os costumes, as 
construções públicas.
Os romanos tinham também uma palavra para designar o sentido de 
polis. Para eles era Civitas, que é a tradução de polis para o latim. O vocabulário 
era diferente, mas o conceito não. Para os romanos, quem poderia governar ou 
expor suas opiniões sobre como administrar a cidade eram os populos romanus, os 
cidadãos livres e iguais, nascidos em Roma e oriundos da aristocracia.
Educação etc. Estes representam a ideia de Estado. Ou seja, são “partes” do Estado 
que têm autoridade legitimada para gerir o erário (dinheiro) para atender aos 
governos – projetos – em benefício do cidadão, da sociedade.
Nesse sentido, podemos entender que política é a ação dos governantes 
para dirigir a coletividade que está organizada em Estado e representada 
pelas instituições. Sabendo disso, vamos entender a palavra POLÍTICA em sua 
etimologia, ou seja, o que a palavra significa. Política é uma palavra grega: ta 
poltika, vinda da polis, que, por sua vez, significa cidade. Logo, política originada 
na Grécia Antiga, significa: o que vem da cidade. Polis é a cidade, no sentido de 
uma comunidade organizada pelos cidadãos. Ocorre que o sentido de cidadão, 
para os gregos antigos, tem uma peculiaridade: eram homens nascidos naquele 
espaço geográfico, livres e donos de terras. Não eram todas as pessoas que tinham 
o direito de cidadania. Ficavam de fora as mulheres, as crianças, os escravos e os 
estrangeiros (mesmo que fossem ricos, donos de terras ou comerciantes). Esses 
cidadãos tinham também dois direitos muito importantes: a isonomia e a isegoria. 
Isonomia é a igualdade perante a lei, e a isegoria, o direito de falar em público 
sobre as questões da administração da cidade.
120
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
Mas não foram os gregos e os romanos que “inventaram” a política. A 
proeza deles foi “inventar” o poder e a autoridade política. Vamos aprender um 
pouco mais com Chauí:
Nas realezas existentes, antes dos gregos, nos territórios que viriam a 
formar a Grécia – realezas micênicas e cretenses –, bem como as que 
existiam nos territórios que viriam a formar Roma – realezas etruscas 
–, assim como nos grandes impérios orientais – Pérsia, Egito, Babilônia, 
Índia, China – vigorava o poder despótico ou patriarcal. (CHAUÍ, 2002, 
p. 372).
Nesses modelos de sociedade, o poder patriarcal era absoluto. A vontade de 
um rei ou de uma família da nobreza era lei inquestionável, absoluta. Os gregos e 
romanos romperam com o modelo acima descrito e organizaram um novo modelo 
de organização econômica e social e elegeram algumas pessoas para legislar. Mas 
não se confunda: essas pessoas faziam parte de um seleto grupo, já registrado nesta 
unidade, ou seja, eram os iguais e não todas as pessoas que viviam naquele solo.
Tanto os gregos quanto os romanos se empenharam em construir um 
modelo de política que, naquela época, atenderia às necessidades essenciais de 
uma cidade, um Estado. Segundo Chauí (2002), foram apenas em três aspectos 
comuns entre eles: a propriedade da terra, a urbanização e a divisão territorial.
Como a propriedade da terra não pertencia à aldeia nem ao rei, mas 
às famílias independentes, e como as guerras ampliavam o contingente 
de escravos, formou-se na Grécia e Roma uma camada pobre de 
camponeses que migraram para as aldeias, ali se estabeleceram como 
artesãos e comerciantes, prosperaram, fizeram das aldeias, cidades, 
passaram a disputar o direito ao poder com as grandes famílias agrárias. 
(CHAUÍ, 2002, p. 375).
Podemos ver por essa citação que ali já se delineia uma luta de classes que 
irá perpassar, de uma forma ou de outra, por toda a história da humanidade. Com 
o fenômeno urbano, as relações também vão se alterando de forma significativa e 
outros segmentos, que não o agrário, vão surgindo – os artesãos, os comerciantes e 
a massa dos despossuídos. Esse povo formava o grupo de pessoas que trabalhavam 
para aqueles que detinham o comércio, a fabricação de artefatos (artesão), como 
empregados domésticos (homens, mulheres e crianças) que “serviam” para toda 
sorte de trabalho considerado indigno para os “ricos”. Portanto, já havia a ideia de 
pobre e rico e a luta entre as duas classes.
Essas lutas também eram decorrentes das guerras, que, segundo Chauí 
(2002), envolviam todos em guerras para a expansão territorial e, por isso, todos 
se sentiam no “direito” de intervir nas decisõesda cidade. Por esse motivo, havia 
necessidade urgente para colocar ordem naquela confusão.
A alternativa encontrada pelos legisladores da Grécia e de Roma foi dividir 
as cidades, estabelecendo limites entre uma e outra e, dessa forma, enfraquecia o 
poder das famílias ricas e, também, atenderia às necessidades dos camponeses e 
da massa assalariada que vivia nos centros urbanos. Atenas fez mais: a polis foi 
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
121
“[...] subdividida em unidades sociopolíticas denominadas demos [...] e em Roma, 
essa mesma divisão ganhou o nome de tribus”. (CHAUÍ, 2002, p. 375).
Na Grécia antiga nasceu o modelo democrático (governo do povo), e em 
Roma o modelo era oligárquico (oligarquia), governo de um grupo.
Gregos e romanos romperam com o poder despótico das famílias ricas 
que mandavam e desmandavam, para criar o poder político. As características de 
modelo de poder político se configuram pela separação: autoridade pessoal da 
autoridade impessoal (privado e público); autoridade militar da autoridade civil; 
autoridade religiosa da autoridade laica (desvinculada da religião).
Uma vez feitas as separações devidas, criaram a ideia do exercício da lei 
como expressão da vontade coletiva, as instituições públicas para aplicação das 
leis; a administração pública para recolher os impostos e designá-los para os fins 
públicos, e criaram o espaço público onde as pessoas pudessem falar.
Na Grécia, esse espaço ficou conhecido como a Ágora (onde se reuniam 
formando uma assembleia), e em Roma, o Senado. Em ambos os espaços somente 
aqueles que possuíssem direitos iguais poderiam se manifestar, eleger e ser eleitos.
No próximo ponto vamos conhecer os aspectos filosóficos da política. Mas 
política é um tema filosófico? Por quê? Porque a política trata da “coisa” pública, 
e são pensadas e decididas a partir de uma concepção de sujeito, de sociedade, de 
economia.
Vamos a ela.
3 ASPECTOS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA
A Filosofia nasceu com as mudanças que ocorriam na Grécia, originadas 
pelo apogeu econômico promovido pelas transações comerciais. Era comum, entre 
os primeiros filósofos, o exercício político como chefes e legisladores. Os primeiros 
filósofos, no entanto, separaram de forma conceitual a ideia de poder despótico e 
poder político. O primeiro atenderia àquele ou àqueles que estivessem no exercício 
político, e o segundo atenderia a toda a cidade, tornando-a justa.
Muito se pensou e se discutiu sobre política: como iniciou? Para que 
serve? Quem deve ocupar a posição de chefe ou legislador? Essas questões foram 
pensadas e registradas por Platão e Aristóteles (entre outros), mas, representando 
a antiguidade, elegeremos esses dois gigantes da Filosofia. Vamos conhecer como 
os gregos respondiam à primeira questão: como foi o início da política? Como 
o mito explicava a realidade antes da Filosofia e como ela conviveu por muitos 
séculos, para dar a resposta à pergunta. Os gregos recorriam ao mito mais comum: 
as Idades do homem. Diz o mito que o homem passou por vários estágios, sendo 
o primeiro representado pelo ouro.
122
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
Nesse período, os homens viviam junto aos deuses, nasciam diretamente da 
terra já adultos, eram felizes e imortais e não necessitavam de leis e, muito menos, 
de governo. Mas, também nesse mito, o homem sofre uma queda e é expulso da 
presença dos deuses, tornando-se mortal, jogado nas florestas e vivendo de forma 
isolada e desprovida de roupas e alimentos e ameaçado pelos animais predadores, 
maiores que ele.
Com o tempo, descobriram o fogo e passaram a utilizá-lo para sua proteção 
pessoal, aquecimento, afugentar as feras que lhes ameaçavam e a cozinhar seus 
alimentos. Fizeram, também, artefatos que eram utilizados nas caçadas. Dessa 
forma, o homem foi se transformando, inclusive fisicamente. O alimento cozido 
tornou suas feições mais leves, porque os dentes, antes afiados e pontudos, agora 
diminuem pela comida cozida e macia. O fogo aqueceu e, aos poucos, os fartos 
pelos caíram do corpo e as “armas”, ou ferramentas, utilizadas para a casa, também 
os deixou, digamos, com mais poder.
Depois da Idade do Fogo, o último estágio, a do ferro, quando começaram 
a fazer guerra entre si. Em situação de guerra permanente, os deuses precisaram 
intervir e fizeram nascer um homem para legislar sobre os outros. Um homem 
enviado pelos deuses. Um legislador. Essa foi a explicação mitológica contada na 
Grécia e, com alguma variação, em Roma. 
Platão utilizou desse mito para explicar que a política, embora com 
a intervenção dos deuses, nasceu para colocar harmonia entre os homens, ou 
melhor, as leis e o legislador garantem essa harmonia.
Vamos entender mais: à pergunta sobre a origem e a razão da existência 
política foi oferecida resposta que se constituiu no movimento político de toda a 
história.
Uma resposta que nos parece coerente, e de que os homens viviam muito 
bem, mas começaram, por alguma razão, uma guerra interminável, transformando 
o mundo, que antes gozava de paz e felicidade, em um verdadeiro sofrimento sem 
fim. Por isso, houve a necessidade de se criar uma organização para manter a paz.
Para os sofistas, a política é uma convenção, porque quando começam a 
viver em comunidade percebem que a vida em comum possui muitos problemas 
para os quais eles não conseguem encontrar uma solução. Por isso, apelam aos 
deuses, que, solidários aos problemas humanos, criam as leis e organizam a cidade, 
ou seja, criam a política.
 
Para Platão, a política é artificial e negativa, porque surge para dirimir 
problemas criados pelos homens. Aristóteles, por sua vez, defende a ideia de que a 
política surge de forma natural, já que o homem é, naturalmente, um ser político, 
ou, nas palavras dele, “um animal político”, e para encontrar a causa da política é 
preciso conhecer a natureza humana.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
123
Portanto, os gregos tinham três concepções ou teorias políticas, como ensina 
Chauí (2002): como remédio para a perda da felicidade da comunidade originária; 
o resultado de desenvolvimento das técnicas e costumes e, por último, a cidade e 
uma constituição natural.
Vamos retomar, mais uma vez, o pensamento desses filósofos para entender 
o porquê das divergências sobre as teorias políticas. Comecemos com os sofistas, 
que diziam ser a política uma convenção entre os homens. Atenção para a ideia 
de CONVENÇÃO. Isso quer dizer que é mais conveniente aos homens viverem 
agrupados em comunidade e por isso criam as regras que se transformam em 
leis, cuja finalidade é promover a justiça. Pensado assim é ótimo, porque se as leis 
surgiram a partir da convenção entre os homens, significa que podem mudar de 
acordo com as circunstâncias.
Por esse motivo, os sofistas se apresentavam como professores da 
arte da discussão e da persuasão pela palavra (retórica). Mediante 
remuneração, ensinavam os jovens a discutir em público, a defender 
e combater opiniões, ensinando-lhes argumentos persuasivos para os 
prós e os contras em todas as questões. (CHAUÍ, 2002, p. 381).
Agora, podemos entender melhor a rejeição que os sofistas receberam por 
parte de Platão e Aristóteles. Os sofistas, afinal, ensinavam a arte de escamotear, 
ou seja, pela argumentação modificavam o verdadeiro sentido da verdade. Nesse 
caso, a finalidade da política era a justiça alcançada pela disputa de argumentos 
contrários levando à vitória aquele que apresentasse um argumento melhor 
estruturado e convincente.
Platão pensa totalmente diferente dos sofistas e de Aristóteles. Ele vê o 
Estado como um organismo humano, ou um corpo humano. Para ele, tanto os 
homens quanto a cidade são dotados de três almas: a alma racional (cabeça); a 
alma irascível (o peito) e a alma concupiscente (o ventre). Essas três almas que 
se constituem como a essência do homem têm o seguinte significado:a razão se 
dedica ao conhecimento; a irascível defende o organismo contra todos os tipos de 
agressão; e a última, a alma concupiscente, é a responsável pelos apetites do corpo, 
tanto os necessários para a sobrevivência quanto aqueles que causam prazer.
Da mesma forma que o corpo está dividido, a polis também tem uma 
estrutura tripartite, formada por três classes: a dos proprietários de terras, dos 
comerciantes e dos artesãos – que garantem a sobrevivência material da cidade; 
a classe militar, responsável pela defesa da cidade; e, por fim, os magistrados, 
os sábios que estão prontos para governar a polis. Portanto, só poderá governar 
aquele que desenvolver a razão. Os que desenvolvem as outras almas não estão 
qualificados para o governo.
Para Platão, o governo bom é a sofocracia: o governo do homem sábio, o rei 
filósofo. Para Aristóteles, em primeiro lugar é preciso conceituar a ideia de justiça. 
O que é a justiça? Para ele, antes de tudo, é preciso distinguir dois tipos de bens: os 
partilháveis e os participáveis.
124
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
Um bem é partilhável quando é uma quantidade que pode ser 
dividida e distribuída – a riqueza é um bem partilhável quando é uma 
quantidade que pode ser dividida e distribuída. Um bem é participável 
quando é uma qualidade indivisível, que não pode ser repartida nem 
distribuída, podendo apenas ser participada – o poder público é um 
bem participável. (CHAUÍ, 2002, p. 382).
Logo, para o filósofo há dois tipos de justiça: a distributiva e a participativa, 
e a cidade justa saberá fazer a distinção e realizar as duas. Como pode ser isso? O 
próprio Aristóteles explica dessa forma, mas não com essas palavras: a distributiva 
pode ser efetivada, por exemplo, se a cidade passar por uma situação de emergência, 
como uma enchente, um terremoto, um desabamento, e que adquire alimentos, 
roupas e remédios para ser distribuídos a todos. Para ser justa, a cidade não pode 
distribuir essas doações de modo igual para todos. Para ser justa, a cidade deve 
doar aos pobres e vendê-las aos ricos para conseguir dinheiro para comprar novos 
alimentos, roupas, remédios etc. Se doar ou vender para todos, a cidade será 
injusta. Será injusta, também, se doar em quantidades iguais para todos, porque há 
famílias mais numerosas que outras. A justiça participativa se define pelo respeito 
ao modo pelo qual a cidade definiu a sua participação no poder.
Aristóteles também considera que a ética não se desvincula da política. Aliás, 
não só ele, mas todo o pensamento grego antigo vincula ética e política. Vejamos um 
trecho da Ética a Nicômaco:
Se, em nossas ações, há algum fim, desejamos por ele mesmo e os outros 
são desejados só por causa dele, e se não escolhemos indefinidamente 
alguma coisa em vista de uma outra (pois, nesse caso, iríamos ao infinito 
e nosso desejo seria fútil e vão), é evidente que tal fim só pode ser o bem, 
o Sumo Bem e dizer de qual saber ele provém. [...] o fim da política é o 
bem propriamente humano. (ARISTÓTELES, 1985, p. 29). 
Portanto, o exercício ético se faz no exercício político, porque o bem do 
indivíduo depende do bem supremo da polis.
4 POLÍTICA E ÉTICA
Queremos aqui tratar da coisa pública que, sabemos, deve primar pela 
ética. Vamos tratar de situações que vivenciamos, presenciamos no nosso dia a 
dia, às vezes muito próximas, às vezes que nos atingem direta ou indiretamente. 
Vamos lá.
De acordo com Aristóteles (1989, p. 30), “a política é um desdobramento 
natural da ética”. A ética preocupa-se com a felicidade do homem, que é a doutrina 
moral individual. Enquanto que a política se preocupa com a felicidade da cidade, 
que é a doutrina moral social.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
125
A ética se preocupa com a felicidade individual do homem e a doutrina moral 
individual.
A política se preocupa com a felicidade coletiva da cidade (polis) e a doutrina moral e social.
Portanto, é a soma dessa felicidade individual e coletiva que nos interessa e 
que podemos chamar de bem comum, assim como aponta Aristóteles (1985, p. 12):
Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda 
comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de 
todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; 
se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais 
importante de todas elas, e que inclui todas as outras, tem mais que 
todas. Este objetivo visa ao mais importante de todos os bens; ela se 
chama cidade e é a comunidade política.
Hoje, quando se fala em política, logo vem à mente a ideia do Estado, dos 
políticos, das questões eleitorais, partidos políticos etc. De acordo com o Dicionário 
da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2001, p. 579), verificam-se cinco explicações 
para a palavra política:
1 Conjunto de fenômenos e das práticas relativos ao Estado ou a uma 
sociedade.
2 Arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos.
3 Qualquer modalidade de exercício de política.
4 Habilidade no trato das relações humanas.
5 Modo acertado de conduzir uma negociação, estratégia.
Então, do ponto de vista dos sinônimos apresentados, a política abrange 
uma gama enorme de competências, mas se preferirmos o modo simplório 
de Aristóteles, que é cuidar de todos, cuidar do bem comum, parece resumir a 
verdadeira preocupação das reflexões éticas.
Veja, caro(a) acadêmico(a), que temos também aqueles que, com plena 
convicção, afirmam não se envolver com política, porque justamente “a política não 
preza pela ética, pela moral.” É preciso diferenciar política de política partidária ou 
até mesmo de “politicagem”. Resumindo, não há porque alienar-se, visto que toda 
relação humana, seja de qual tipo for, aí está a política. Até no trabalho exercemos 
a política, seja por convivência, seja por exigência de direitos, execução de deveres. 
Trabalho, ética e política também caminham juntos. Então, por que ou para que 
alienar-se?
ATENCAO
126
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
FIGURA 35 – ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://uziel-carneiro.
blogspot.com.br/2010/06/politicagem-o-cancer-do-
estado.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Compreendemos que é por meio do trabalho que se forma a consciência 
moral dos homens, denotando a sua sobrevivência social. Porém, como esta 
atividade laboral pode ser considerada uma alienação de sua própria constituição 
moral?
Podemos considerar que a alienação proporciona uma diminuição da 
capacidade do agir consciente dos seres humanos, ou seja, os homens, muitas 
vezes, não conseguem assimilar o seu próprio comportamento e suas atitudes 
perante sua própria produção e reprodução social, no qual acabam bloqueando 
sua autonomia de agir.
No que tange à alienação social, podemos citar que muitas vezes os seres 
humanos não se dão conta de que são eles que produzem as riquezas de sua 
sociedade, por meio de suas atividades laborativas. Diante disto, apresentam duas 
posturas, tais como: veem este processo de produção de riquezas como uma ação 
natural e espontânea ou rejeitam esta situação, verificando que nós possuímos 
muito mais capacidades de julgamento, do que simplesmente acatar tudo o que 
vem dos donos do capital (os patrões).
FIGURA 36 – A ALIENAÇÃO DO TRABALHO
FONTE: Disponível em: <http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/04/charge-
sobre-alienacao-do-trabalho-e.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
127
Nos dois casos, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 69), “a sociedade é o 
outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total 
ou nenhum poder sobre nós”.
Heller (apud BRITES; SALES, 2000, p. 69) expõe seu pensamento da 
seguinte forma:
quanto maior é a importância da moralidade, do compromisso pessoal, 
da individualidade e do risco (que vão sempre juntos) na decisão acerca 
de uma alternativa dada, tanto mais facilmenteessa decisão se eleva 
acima da cotidianidade e tanto menos se pode falar de uma decisão 
cotidiana.
Então, pode-se observar que não existe um divisor entre o comportamento 
cotidiano e do não cotidiano, pois o desenvolvimento da práxis profissional está 
interligado com a convivência do dia a dia do grupo social em que estamos inseridos, 
ou seja, o trabalho profissional do assistente social se dá sobre as questões sociais 
advindas deste convívio em sociedade. Contudo, não podemos confundir que a 
prática profissional seja também as atividades cotidianas que realizamos, pois estas 
se transformam na práxis profissional só quando nós tomamos consciência deste 
fato.
Nesta perspectiva, a questão a que somos chamados individualmente e 
socialmente a responder apresenta-se da seguinte forma: quais são as condições 
de possibilidade de a ética contribuir na materialização de uma forma de ser e 
estar no mundo que nos permita um mínimo de realização e alcance da felicidade 
pessoal e social? Ou dito de outra forma: há possibilidade de um universalismo 
ético, ou estamos condenados ao relativismo ético?
É ao tentar responder a estas questões que nos damos conta da 
multiplicidade de discursos em torno da ética, revelando a extensão da crise que 
vivenciamos na atualidade. Ou seja, de que a especificidade de nossa condição 
humana contemporânea apresenta-se no fato de termos que reconhecer o caráter 
ambivalente, paradoxal de nossos esforços cosmológicos, de conferir ordem e 
sentido à existência. De que nossas arquiteturas societárias são transitórias e de 
que é muito tênue a linha que separa a civilização da barbárie, a democracia do 
totalitarismo, a justa medida dos excessos. A extensão da crise revela-se também 
no fato de não termos mais garantias transcendentes – Deus? O Estado? O Partido? 
A Família? – que amparem nossas decisões, caso elas não apresentem os resultados 
desejados. Desliza na liquidez contemporânea qualquer garantia de durabilidade 
e veracidade nas relações que se estabelecem, impedindo-nos de ter certezas, ou 
garantias de que a decisão tomada, ou o caminho escolhido, sejam os melhores.
Nesta perspectiva, colocar-se diante da multiplicidade de discursos em 
torno da ética é condição necessária para que possamos nos questionar enquanto 
indivíduos se nossas estratégias existenciais são realmente definidas por nós: 
"se sou aquilo que sou", ou, "sou aquilo que os outros querem que eu seja". E 
por extensão, na medida em que nos constituímos na tensão entre indivíduo e 
sociedade, questionando as estratégias societárias das quais participamos e sua 
128
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
obsessão pelo espetáculo, pelo desejo de ser controlado, pela busca desenfreada 
por segurança, mesmo que isto represente um claro limite à liberdade.
Portanto, a ética nos impulsiona ao exercício do pensamento, "à prática 
refletida da liberdade", na proposta de Michel Foucault (1979), ou dito de outra 
forma, a um resgate de nossa dimensão ontológica e política, num contexto 
marcado pela hegemonia da economia e da técnica.
4.1 DILEMAS ÉTICOS
Os dilemas éticos podem ser considerados numa situação, por exemplo, 
em que o gestor público só pode privilegiar uma ação dentre várias. No exemplo 
dado sobre a vacina contra a Influenza A, pode-se supor que não haveria condições 
do governo conceder a toda a população a vacina gratuitamente. Então, qual 
segmento escolher?
Não se pretende aprofundar no mérito aqui, mas sim buscar o exemplo 
como situação hipotética. Se não havia condições de distribuir a vacina para toda 
a população, passa então a existir um dilema ético. Determinar os segmentos que 
receberão a dose torna-se, então, uma decisão motivada pelas maiores necessidades, 
e o critério final foi distribuir vacina às faixas etárias com maior fragilidade à 
doença (crianças e terceira idade), um grupo com acesso direto à iminência da 
doença (profissionais da saúde) e também a um grupo com grande risco da doença 
provocar complicações de saúde (grávidas e pessoas com doenças crônicas).
A capacidade de destruição do mundo é outro dilema, quando vemos o 
avanço tecnológico desvirtuado para o controle de uma nação sobre a outra, de um 
povo sobre o outro, de um grupo econômico ou político sobre o outro.
FIGURA 37 – BOMBA ATÔMICA
FONTE: Disponível em: <http://www.aldeaeducativa.com/IMAGES/
BOMBA%20ATOMICA.JPG>. Acesso em: 8 jan. 2012.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
129
A bomba atômica foi talvez uma das mais assustadoras criações humanas 
na contemporaneidade. O século XX foi o século da finitude: quando o homem 
moderno e contemporâneo começa a se perguntar sobre os efeitos daquilo que a 
ciência e o seu uso fizeram e fazem sobre a realidade. Todo o otimismo na ciência 
e a confiança no progresso se tornaram desconfiança na contemporaneidade. A 
crise ética e a urgência do debate ético se fazem cada vez mais necessários diante 
do complexo cenário em que vivemos nesse início de século.
Relembre, acadêmico(a), a seca no Nordeste, quando há transposição de rios, 
dinheiro público, desviado. As enchentes e ocupações de encostas, com seus deslizamentos 
premeditados.
4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI
Já foi abordada a consciência como algo do ser humano individualmente. 
De acordo com Camargo (1999, p. 86), “a consciência é a resposta da pessoa 
para si mesma”. O autor ainda diferencia consciência da lei, assim completando: 
“enquanto a lei é a resposta da sociedade para pessoa”.
Contudo, nem sempre a consciência concorda com a lei. Muitas vezes, 
as pessoas gostariam que as leis fossem diferentes, ou porque são licenciadas de 
alguma coisa, ou, muitas vezes, porque discorrem por pura crença, haja vista as 
manifestações religiosas em muitas das decisões governamentais, entre outros 
exemplos.
FIGURA 38 – GREVE
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-zFIgxavfimI/Tx4TkFvByLI/
AAAAAAAADLg/SR6dmKdECxo/s1600/greve-onibus.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2012.
IMPORTANT
E
130
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
Dessa forma, os conflitos entre consciência e lei podem surgir, como alguns 
exemplos apresentados na obra de Camargo (1999):
● Greves: existem duas situações: 1) se a greve for da sua categoria, você se 
encontrará no dilema de querer ou não participar, muito embora, nem sempre a 
situação lhe dará escolha; 2) se a greve não for da sua categoria, você poderá ser 
afetado diretamente e assim ser licenciado de um serviço, mesmo que você não 
concorde com a motivação do movimento, como na greve dos trabalhadores de 
transporte público.
● Segurança nacional: impedem a liberdade de associação e toda população pode 
sentir-se privada do seu direito de ir e vir livremente sem sentir-se vigiada.
● Taxas e impostos: arrecadação proposta para melhoria do bem comum, embora, 
por vezes, pode qualquer cidadão colocar em dúvida se essa aplicação é feita 
adequadamente.
Esses conflitos apresentados por Camargo (1999) representam situações 
que podem levar à desordem da sociedade, uma vez que ela pode perder a 
credibilidade no Estado e nas leis.
Entretanto, para cada tomada de decisão, seja em aderir à greve ou licenciar-
se do direito de ir e vir por uma causa maior ou contestar a aplicação dos recursos 
financeiros do Estado, toda manifestação e movimentação deve ter a consciência 
ética como condutora ou refreadora da ação escolhida.
4.3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE GESTÃO E 
LIDERANÇA
No livro de Robert Henry Srour (2011, p. 29), capítulo 3, o autor coloca uma 
grande questão como epígrafe para início de conversa: “Por que se importar com 
a ética”?
Como bem abordado pelo autor, muitos podem pensar que ética não tem 
nada a ver! Vejamos o que Srour (2011, p. 29) coloca:
Ética! Nada a ver! Ninguém ‘se comporta direito’ com impostos insanos, 
bandalheira na máquina pública, lerdeza da Justiça, desperdício de 
recursos,obras superfaturadas, infraestrutura em petição de miséria, 
descalabro da educação pública, subsídios obscenos ao grande capital, 
esperteza em todas as transações, precariedade dos serviços públicos, 
incúria das autoridades, sanhas fiscais que achacam... Quer mais?
Parece bastante! Mas diante de tanta negatividade, deve-se desistir de 
todos os preceitos morais e éticos? Parece que não, e é a isso que cada vez mais as 
organizações têm demonstrado que ética pode ser um instrumento de gestão.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
131
Muitos têm sido os exemplos em empresas privadas em que seus clientes 
perdem a fidelidade quando se deparam com ações antiéticas.
A liderança é a influência exercida para modificar o comportamento dos 
indivíduos. A influência que esses indivíduos recebem vai além da concordância 
mecânica de instruções rotineiras, ou melhor, é através de uma boa liderança que 
bons valores podem ser propagados e o desenvolvimento de uma sociedade mais 
justa e equitativa pode ser garantido.
Comunicando visão dos fatos, esclarecendo propósitos, tornando o 
comportamento compatível com as crenças e alinhando procedimentos 
com princípios, funções e objetivos. As pessoas poderão, então, alcançar 
um elevado sentido de compromisso com os objetivos da organização. 
(COVEY, 1994, p. 47).
E assim como cita Covey (1994), gestão e liderança podem criar uma nova 
fórmula para que as suas ações sejam voltadas ao bem coletivo, e não somente aos 
interesses particulares dos indivíduos e/ou de interesse direto e tão somente da 
organização.
FIGURA 39 – LIDERANÇA
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_mt1Wcocj5iY/TBgSsAJq2KI/AAAAAAAAAR8/
soWWYCi1G0M/s1600/ChargeLideranca1.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2012.
Chiavenato (2003) apresenta três tipos diferentes de liderança:
QUADRO 6 – MODELOS DE LIDERANÇA
132
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
FONTE: Chiavenato (2003, p. 213)
No nosso dia a dia, em várias organizações que frequentamos, podemos 
observar os diferentes tipos de liderança.
O quadro anterior apresenta os modelos de liderança em relação ao 
trabalho, mas se pararmos para pensar, na escola onde estudamos, numa equipe 
desportiva, nas organizações religiosas, podemos observar que já passamos por 
diferentes tipos de liderança, cabendo aqui destacar três (CHIAVENATO, 2003):
• Na liderança autocrática, o líder é pessoa dominadora, que determina as tarefas 
e não permite o diálogo, é uma pessoa dominadora.
• Na liderança liberal, a sua participação é limitada e os trabalhadores têm grande 
liberdade de participação nas tomadas de decisões.
• Na liderança democrática, o grau de participação do grupo em conjunto é bem 
maior que nos outros exemplos, o que configura o comprometimento de todos 
em relação ao trabalho e às tomadas de decisões.
5 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE
A variedade de relações do ser humano diante da sociedade é imensa, ou 
seja, o ser humano se relaciona com a família, no trabalho, na igreja, no clube, com 
seus amigos, e para cada relação existem as práticas morais estabelecidas em cada 
um desses grupos sociais. Assim como destaca Vázquez (2003, p. 88):
Todas estas diversas formas de comportamento – tanto com o mundo 
exterior quanto entre os próprios homens – supõem um mesmo sujeito: 
o homem real, que diversifica assim o seu comportamento de acordo 
com o objeto com o qual entra em contato (a natureza, as obras de 
arte, Deus, os outros homens etc.) e de acordo também com o tipo 
de necessidade humana que procura satisfazer (produzir, conhecer, 
expressar-se e comunicar-se, transformar ou manter uma ordem social 
determinada etc.).
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
133
Vejamos dois exemplos de práticas brasileiras em relação à conduta moral, 
apresentadas no livro de Srour (2011, p. 107):
Em junho de 2005, a direção da Schincariol, segunda maior cervejaria 
brasileira, foi presa e autuada por sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem 
de dinheiro, corrupção de funcionários públicos e formação de quadrilha. Foram 
expedidos 77 mandados de prisão.
Os principais indícios encontrados pela Polícia Federal foram: empresas 
de fachada que emitiam notas fiscais frias; pagamentos de propinas para fiscais 
da Receita Federal; emissão de notas fiscais com ICMS menor do que o real; uso 
da mesma nota fiscal mais de uma vez; vendas subfaturadas ou sem emissão da 
respectiva nota fiscal; exportações fictícias e importações com declarações falsas 
de conteúdo.
O que podemos observar nesse caso? Que tudo o que a empresa fez está 
completamente errado e que as suas ações estão no universo do particularismo. 
Contudo, Srour (2011, p. 106-107) aprofunda um pouco mais no que ele chama 
de “moral da parcialidade”, ou seja, “existem pessoas e organizações que pensam 
que existem erros na sociedade, tais como impostos muito caros e que se acham no 
direito de transgredir a lei por não concordarem com as normas”.
Sobre a moral da parcialidade, Srour (2011, p. 107) discorre sobre algumas 
“práticas justificadas” de atitudes antiéticas e imorais, entre várias se destacam:
● adota normas mistas de condutas ao exigir estrita lealdade dos que fazem parte 
da empresa (“os de dentro”), ao mesmo tempo em que advoga a malícia nas 
relações com os demais (“os de fora”);
● parte do pressuposto de que um pouco de desonestidade faz as coisas 
acontecerem;
● confere à venalidade o estatuto de “lubrificante do mundo dos negócios”, à 
semelhança da famosa fórmula populista “rouba, mas faz” que, implicitamente, 
absolve o político salafrário enquanto generaliza a falta de caráter das 
autoridades.
134
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
FIGURA 40 – CARAMINHOLAS
FONTE: Disponível em: <http://kdimagens.com/imagem/ele-rouba-mas-faz-845>. Acesso em: 27 
maio 2013.
O segundo exemplo apresentado por Srour (2011, p. 116), também de uma 
empresa privada brasileira, já adota um sistema de parceria com a sociedade, a fim 
de ver seu negócio crescer dentro dos parâmetros éticos e morais.
Em 2000, a Natura, fabricante de cosméticos, tinha 60 atendentes em sua 
central de atendimento ao cliente e gastava R$ 8 milhões por ano com o serviço. 
Recebia uma média mensal de 100 mil ligações.
Em agosto desse mesmo ano, um cliente ligou dizendo que o desodorante 
que usara havia manchado a sua camisa. O que fez o atendente? Perguntou 
na hora o preço da roupa – uns 70 reais – e se prontificou a enviar um cheque 
ao cliente com o valor correspondente. A camisa manchada foi recolhida e 
encaminhada imediatamente ao departamento de pesquisa da Natura. Em uma 
semana, descobriu-se o componente do desodorante responsável pela mancha. Em 
consequência, a fórmula do produto foi alterada!
Srour (2011, p. 116) aponta como moral da história: “O serviço de 
atendimento não se restringiu a agradar o consumidor: foi capaz de acionar 
mudanças nos produtos e nos processos da empresa, dando corpo a uma relação 
de parceria”.
Isso que o autor chama de parceria é o que se espera da sociedade, é a 
moral da boa convivência e de práticas éticas. Com certeza, algumas pessoas, 
ao saberem dessa história, podem pensar: também vou ligar e dizer que minha 
camisa estragou e ganhar dinheiro! Isso é má-fé, são atitudes imorais, isso é um 
universo particularista. Além de faltar com a verdade, não contribui em nada para 
o crescimento da sociedade.
É assim que se dão as práticas morais, conforme as necessidades humanas. 
E essas novas necessidades humanas vão transformando o ser humano, as suas 
relações e, também, as práticas morais. Alguns dizem que a ética e a moral são a 
encruzilhada entre o bem e o mal. Se você optar pelo bem, trilhará o caminho da 
ética e da moral, caso contrário, não existe meia ética e ‘moral da parcialidade’. 
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
135
Você pode afirmar que tem necessidades de autorrealização, de segurançade 
afetividade, enfim, que elas legitimam um comportamento e que afetam os outros. 
Vejamos a hierarquia explanada pela ‘pirâmide’ de Maslow para melhor entender 
essa realidade.
FIGURA 41 – HIERARQUIA DE NECESSIDADES EM MASLOW
FONTE: Disponível em: <http://www.conexaorh.com.br/images/piramide.gif>. Acesso em: 
25 fev. 2012.
Fatos sociais – são ações neutras. Fatos morais – são ações positivas ou negativas. 
O que o autor chama de fato social é qualquer ação neutra, por exemplo, 
cumprir com as minhas obrigações no trabalho. Fato moral já implica uma atitude 
positiva ou negativa, ser conivente ou agente de práticas ilícitas no trabalho 
(negativa), denunciar práticas negativas no trabalho (positiva). Então:
● Fatos sociais - são aqueles que não afetam os outros, nem para o bem e nem 
para o mal, portanto, são eticamente neutros.
● Fatos morais - podem ter efeito positivo, numa visão universalista (causam 
benefícios aos outros) ou particularista (não causam benefícios aos outros).
IMPORTANT
E
136
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
Nesse sentido, muitas vezes, principalmente na administração pública, não 
se pode efetuar somente fatos sociais, muito pelo contrário, é preciso que os fatos 
morais universalistas e positivos se tornem recorrentes para que se evitem práticas 
irregulares ou ilícitas, do próprio cidadão e, por conseguinte, da sociedade.
LEITURA COMPLEMENTAR
FILOSOFIA POLÍTICA
Filipe Rangel Celeti
Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar 
sobre como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a 
palavra política, que vem do grego, será compreendido que política se refere aos 
assuntos da cidade (polis). É neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se 
sobre a natureza das leis, a natureza do governo, a origem da organização social e 
sobre qual seria a melhor forma de convívio entre os indivíduos. Todos estes temas 
nos levam a pensar sobre o espaço público, que é o espaço da política.
 
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-427-348-
7 a.C.). Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e 
As leis. Nestes livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é 
aquela onde cada indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os 
hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os 
sábios devem governá-la. Platão pensa também sobre como deve ser a educação 
nesta cidade ideal, para conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a 
fim de que possa executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre 
enquanto estiver cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a 
cidade. 
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384-322 a.C.) vai discordar de Platão. 
Em Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade 
daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. 
Para ele, as pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que 
pertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade 
perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando 
as leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma 
de organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e 
aristocracia, chamado política, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos 
e pobres. É dele também a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que 
faz parte da natureza humana se organizar politicamente.
 
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. 
XVII. Thomas Hobbes (1588-1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia 
de que a sociedade se organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois 
é possível imaginar uma hipótese sobre o convívio humano antes da formação das 
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA POLÍTICA
137
sociedades. Hobbes via esse momento como uma guerra de todos contra todos, 
onde, em liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em sua conservação. Deste 
momento, no qual o homem é o lobo do homem, a racionalidade faz o homem 
perceber que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo um pouco de 
liberdade. É neste instante que os homens assinam um contrato fictício de convívio 
social. A partir desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para 
evitar o retorno para um estado de natureza caótico. Com isto, vê a garantia da 
vida como função vital do Estado, que deve defendê-la mesmo que use de seu 
poder para coagir a liberdade dos cidadãos. 
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632-1704), em 
seus dois tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os 
indivíduos não viviam em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para 
ele, é natural a garantia da vida e os homens racionais respeitariam esta lei. A 
formação das sociedades ocorre pela necessidade da garantia da propriedade. O 
melhor governo, para Locke, é aquele que garanta os direitos à vida, liberdade, 
propriedade e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas. 
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) via o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem 
otimista. Para Rousseau, havia terra e alimento para todos e não haveria motivos 
para que guerreassem entre si. Via no surgimento da propriedade o surgimento 
da desigualdade, de onde resultam diversos males sociais, como os roubos e os 
assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar a um estado de natureza, o 
melhor governo é aquele que esteja de acordo com a vontade da maioria.
 
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi 
retomada no século XX por John Rawls (1921-2002). Para ele, a sociedade deve 
basear-se em princípios de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em 
igualdade, ele pensa, os indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de 
liberdades iguais para todos e o de que as desigualdades devem trazer maior 
benefício para os menos favorecidos e serem acessíveis a todos por igualdade de 
oportunidade.
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/filosofia/filosofia-politica.htm>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
138
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos:
• A importância da política em todos os segmentos da vida, seja na família, na 
escola, na sociedade, e ela afeta a todos.
• A filosofia contribui para o entendimento da política e também da ética na 
política.
• Os dilemas éticos não devem ser empecilhos para o avanço daqueles aspectos 
que tornam melhores o ser humano e a sociedade.
139
AUTOATIVIDADE
1 Comente sobre a liderança autocrática, a liderança liberal e a liderança 
democrática.
140
141
TÓPICO 3
A POLÍTICA E O BRASIL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Se fizermos um rápido exercício de memória no sentido de identificar 
algumas das palavras mais faladas cotidianamente, sem sombra de dúvidas, nós 
encontraremos entre elas a “Ética”.
Diariamente, ao conversar com as pessoas, ao ligar a TV, o rádio, ao 
participar de uma reunião, no ambiente de trabalho, em casa, na caminhada, 
você está sujeito a ouvir alguém falar de ética, ou clamar por ética diante de um 
fato, de uma situação. Assim, proliferam os discursos em torno da falta de ética 
no trabalho, nas relações entre seres humanos, na política e nas mais variadas 
situações de nossa vida. A ética apresenta-se em nosso cotidiano como condição 
última de denúncia, ou mesmo como resolução de nossos problemas.
Porém, dificilmente ouvimos alguém se referir à falta de ética na economia. 
Talvez isto se deva em função de vivermos num mundo onde a hegemonia da 
economia faz com que suspendamos nossa “capacidade ética”. Assim “admiramos” 
aqueles que se dão bemfinanceiramente na vida, toleramos, em alguns casos, até 
mesmo os métodos escusos que, às vezes, são utilizados para alcançar tal fim. 
Afinal, vale a “Lei de Gérson: Temos que levar vantagem em tudo”.
Esta polifonia de discursos em torno da ética que presenciamos na 
sociedade contemporânea revela, acima de tudo, que algo não vai bem, algo nos 
desacomoda, nos inquieta, não condiz com aquilo que julgamos ser adequado no 
plano de nossas existências.
Entre elas o fato de que necessariamente não é por falar excessivamente de 
ética que nos tornamos mais éticos. E ética, política, são temas recorrentes no Brasil, 
quando vários temas importantes estão sendo tratados na esfera do Executivo, do 
Legislativo e do Judiciário, com respingos em toda a sociedade. Vamos entender 
um pouco a política no nosso país, utilizando como ponto de partida principal 
a presença da família real no Brasil, até chegar à vigência da democracia como 
sistema apto e maduro para reger a nação a partir da vontade popular.
2 FAMÍLIA REAL NO BRASIL
Sabemos que fomos “descobertos” no ano de 1500 (início do século XVI) 
por Pedro Álvares Cabral, portanto, somos herdeiros de uma cultura portuguesa, 
142
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
de uma mentalidade europeia exploradora. Os portugueses não nos colonizaram, 
mas nos exploraram. Essa é a grande diferença entre os modelos de colonizações 
implantados, por exemplo, nos Estados Unidos e o nosso e de outros países da 
América, em especial os países da América Latina.
Mas, verdade seja dita: Pedro Álvares Cabral atracou na costa brasileira, se 
deslumbrou com as belezas naturais e pensou ter chegado ao paraíso registrado 
na Bíblia; em seguida, solicitou a Pero Vaz de Caminha que enviasse ao Rei a carta 
de confirmação da “descoberta” para “registrar” o território em nome de Portugal.
Vejam só: no início do século XVI está acontecendo uma grande mudança 
epistemológica, econômica e social. O mundo ocidental europeu está vivenciando 
grandes mudanças, mas aqui no Brasil ainda moram os nativos e alguns poucos 
estrangeiros que vieram para ficar e, assim, aquelas mudanças e “luzes” demoraram 
muito para chegar até nós. Enquanto as máquinas estavam a todo vapor na Europa 
dos séculos XVII e XVIII, por aqui ainda se “caçavam bruxas” pela mentalidade 
portuguesa e espanhola ainda tutelada pela religião.
Demorou 308 anos para a família real se mudar para cá. Mas não foi por 
gosto nem opção. Eles vieram fugidos na “calada da noite”. De que ou de quem 
fugiam? Fugiram de medo de Napoleão Bonaparte, que rumava com seu exército 
para depor a família real e subtrair-lhe o trono e o reino. Saíram tão às pressas que 
esqueceram uma criada no porto. Quem os ajudou financeiramente na fuga? A 
Inglaterra. Portanto, nossa dívida externa já data daquela época.
Muitas coisas aconteceram aqui. D. João VI, que ainda não era o rei, fundou 
o Banco do Brasil e começou a implantar uma política econômica e um modelo 
social burguês. Conforme nos ensina Olivien:
Em 1808, a família real portuguesa, fugindo do cerco napoleônico, 
transferiu-se para o Brasil que, de colônia, tornou-se sede da monarquia 
e vice-reino. Os treze anos durante os quais a corte permaneceu no Rio 
de Janeiro tiveram grande importância política e econômica e foram 
seguidos pela declaração de independência do Brasil, em 1822. A 
abertura dos portos brasileiros ao comércio exterior acarretou um fluxo 
de comerciantes e viajantes estrangeiros para o país (OLIVEN, 2001, p. 
3).
Mas foi a partir da Independência, em 1822, que o Brasil foi adquirindo 
corpo político, porém com projeto europeu e sem uma identidade definida. O 
Brasil foi constituído, politicamente, a partir de um ecletismo. Não obstante, o 
Positivismo influenciou o modelo político assumido pela primeira república e, é 
claro, a própria democracia que já vai se vislumbrando.
TÓPICO 3 | A POLÍTICA E O BRASIL
143
3 A DEMOCRACIA
Damos um pulo na história e chegamos aos anos 90, do século XX. Estes 
anos se configuraram a partir do modelo político fundamentado no chamado 
Estado de Direito Democrático. A instalação desse modelo não teve visibilidade 
real para a “massa”, ou seja, ele foi sentido, mas não foi compreendido pelo povo. 
O povo ficou de fora da discussão que envolveu o processo de mudança.
E isso não foi nada democrático por parte dos ideólogos, legisladores e 
executores do modelo político que hoje norteia todas as ações do Estado e do 
cidadão.
O Estado de Direito Democrático instalou-se não apenas no Brasil, mas 
na América do Sul, com exceção para o Peru e o Paraguai. Segundo Vieira, esse 
modelo se delineia a partir do modelo democrático liberal e os países que o adoram 
são pouco ou nada democráticos, no significado real da palavra DEMOCRACIA 
(governo do povo).
Além do significado etimológico da palavra democracia, é preciso também 
destacar alguns princípios, algumas práticas para poder evidenciar e distinguir o 
governo democrático de outras formas de governo.
Vejamos.
Democracia é o governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são 
exercidos por todos os cidadãos, diretamente ou através dos seus representantes 
livremente eleitos.
Democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a 
liberdade humana; é a institucionalização da liberdade.
A democracia baseia-se nos princípios do governo da maioria 
associados aos direitos individuais e das minorias. Todas as democracias, 
embora respeitem a vontade da maioria, protegem escrupulosamente os 
direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.
As democracias protegem de governos centrais muito poderosos e 
fazem a descentralização do governo a nível regional e local, entendendo que 
o governo local deve ser tão acessível e receptivo às pessoas quanto possível.
As democracias entendem que uma das suas principais funções é 
proteger direitos humanos fundamentais, como a liberdade de expressão e 
de religião; o direito a proteção legal igual; e a oportunidade de organizar e 
participar plenamente na vida política, econômica e cultural da sociedade.
144
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
As democracias conduzem regularmente eleições livres e justas, abertas 
a todos os cidadãos. As eleições numa democracia não podem ser fachadas 
atrás das quais se escondem ditadores ou um partido único, mas verdadeiras 
competições pelo apoio do povo.
A democracia sujeita os governos ao Estado de Direito e assegura que 
todos os cidadãos recebam a mesma proteção legal e que os seus direitos sejam 
protegidos pelo sistema judiciário.
As democracias são diversificadas, refletindo a vida política, social e 
cultural de cada país. As democracias baseiam-se em princípios fundamentais 
e não em práticas uniformes.
Os cidadãos numa democracia não têm apenas direitos, têm o dever de 
participar no sistema político que, por seu lado, protege os seus direitos e as 
suas liberdades.
As sociedades democráticas estão empenhadas nos valores da tolerância, 
da cooperação e do compromisso. As democracias reconhecem que chegar a 
um consenso requer compromisso e que isto nem sempre é realizável. Nas 
palavras de Mahatma Gandhi, “a intolerância é em si uma forma de violência e 
um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático”. 
FONTE: Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/what.htm>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
É preciso compreender o sentido da palavra políticas (social, econômica, 
fiscal, tributária, previdenciária, educacional etc.). Segundo Vieira (2001), as 
políticas são estratégias do governo para intervir nas relações de produção ou 
dos serviços sociais. Mas o mesmo autor ainda nos chama a atenção, de forma 
pertinente, para a não distinção entre políticas sociais e políticas econômicas. Uma 
sempre está vinculada à outra, porque:
[...] nós podemos dizer que a política social se relaciona coma educação 
pública, com a saúde pública, com a habitação pública, com a previdência 
social, com a assistência social, com o lazer, com as condições de trabalho, 
mas evidentemente as questões relacionadas com financiamento têm 
diretamente vínculo com a política social, embora esteja no campo da 
política econômica. Elas se colocam em uma totalidade e a destinação 
visa apenas esclarecimentos. (VIEIRA, 2001, p. 18).
Nesse caso, é preciso destacar a distinção existente entre governo e Estado. 
O governo constitui a direção do Estado e não no Estado no todo. A governabilidade 
do Estado depende das estratégias governamentais adotadas pelas políticas, e 
estas serão estáveis ou instáveis dependendo do grau de hegemonia garantida pelo 
modelo político/econômico. Afirmando que no Brasil não existe política social, 
Vieira denuncia: considerar que a democracia nada mais é do que um sistema 
de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. Este sistema de 
TÓPICO 3 | A POLÍTICA E O BRASIL
145
governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois 
em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da 
constituição dos princípios ético-morais de cada localidade.
Então, podemos dizer que num governo democrático, o povo determina 
suas relações de poder sobre os demais integrantes, mas, mesmo assim, podemos 
distinguir a democracia em duas formas distintas:
• Democracia direta: na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/
plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas 
de sua localidade, estado ou país.
• Democracia indireta: nesta, o povo participa democraticamente, por meio do 
voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que os represente 
nas diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis, em nome 
do povo que os elegeu.
No Brasil e na América do Sul se têm empregado políticas econômicas 
discutíveis, praticamente sem formulações de política social. Às vezes 
aparecem programas e diretrizes, relacionados com a política social; 
tais programas e diretrizes em si revelam somente pretensões de 
uma política social. Quase sempre eles não se concretizam, apenas se 
transformam em quimera, em sonho, em programas e diretrizes para 
serem exibidos à sociedade, sem intervenção nela, porque não têm 
função de intervir. (VIEIRA, 2001, p. 19).
É como se a sociedade estivesse sendo mantida fora e longe do alcance 
do Estado de direito democrático. Não há uma intervenção efetiva na sociedade 
por parte das políticas ou das estratégias do governo. O interessante é que isso, 
muitas vezes, é denunciado por alguns movimentos sociais, mas não têm, de 
fato, o alcance que deveria ter. O Estado de Direito Democrático não mobiliza 
a sociedade em função dos serviços sociais por não existir, de fato, o exercício 
democrático da sociedade. Mas por que isso acontece? Porque não há, de fato, uma 
consciência cidadã por parte do todo da sociedade. E o que está impedindo essa 
conscientização? Uma reformulação das políticas educacionais. Vamos entender 
um pouco o modelo econômico implementado pelo Estado de direito democrático: 
o neoliberalismo.
A palavra NEO significa novo e podemos entender que, ao pé da letra, 
o Neoliberalismo significa um novo liberalismo. Mas esse modelo tem sua 
fundamentação na raiz do Liberalismo inglês, ou seja, um liberalismo radical 
formado por um conjunto de ideias formuladas pelo economista austríaco Frederich 
von Hayek, para o desenvolvimento da Teoria da Desigualdade Produtiva, “pela 
qual, não haveria nada mais improdutivo do que a igualdade”. (VIEIRA, 2001, p. 
21). Para ele é a desigualdade que gera riqueza pela competição (onde ganham os 
mais fortes).
Mas Vieira nos ensina que o Neoliberalismo em sua forma pura não foi 
implantado em nenhum país. Aqui no Brasil, o que temos é um conjunto de 
146
UNIDADE 2 | A POLÍTICA
diretrizes elaboradas por organismos internacionais que formularam o que autor 
chama de “Neoliberalismo Tardio”.
É nesse quadro que queremos chamar a atenção do leitor. A política social 
(que é uma estratégia do governo) atende aos indigentes. Atende àqueles que não 
têm condições de gerar a mínima renda, fazendo assistencialismo – distribuindo 
sopa, leite, roupa –, mas política social não é isso. Política social é estratégia 
governamental de intervenção.
Os serviços sociais vêm se transformando em mercadorias, eles devem 
ser vendidos: assim deve ser vendida a saúde, a educação etc. Os serviços 
sociais são desmontados e vendidos. Aí precisam ser analisados muitos 
processos internos que igualmente justificam essas medidas. (VIEIRA, 
2001, p. 24).
Não se pode, entretanto, atribuir responsabilidade pela mercantilização das 
políticas sociais apenas ao projeto neoliberal, mas também a vários componentes 
que formam o arcabouço econômico do país.
LEITURA COMPLEMENTAR
Responsabilidade do Governo
Responsabilidade do governo significa que as autoridades públicas – eleitas 
e não eleitas – têm a obrigação de explicar as suas decisões e ações aos cidadãos. 
A responsabilidade do governo é alcançada através do uso de uma variedade de 
mecanismos – políticos, legais e administrativos – com o objetivo de impedir a 
corrupção e de assegurar que as autoridades públicas continuem responsáveis e 
acessíveis às pessoas a quem servem. Na ausência desses mecanismos, a corrupção 
pode florescer. 
O principal mecanismo de responsabilidade política é eleições livres 
e justas. Mandatos por período determinado e eleições obrigam as autoridades 
eleitas a responder pelo seu desempenho e a dar oportunidades aos opositores 
de oferecerem aos cidadãos escolhas políticas alternativas. Se os eleitores não 
estiverem satisfeitos com o desempenho de uma autoridade pública, podem não 
votar nela quando o seu mandato chegar ao fim.
O grau em que as autoridades públicas são politicamente responsáveis 
depende de ocuparem uma posição para a qual foram eleitas ou para a qual foram 
nomeadas, de quantas vezes podem ser reeleitas e de quantos mandatos podem 
ter. 
Os mecanismos de responsabilidade legal incluem constituições, medidas 
legislativas, decretos, regras, códigos e outros instrumentos legais que proíbem os 
atos que as autoridades públicas podem ou não realizar e como é que os cidadãos 
podem agir contra essas autoridades cuja conduta é considerada insatisfatória.
TÓPICO 3 | A POLÍTICA E O BRASIL
147
Um poder judicial independente é um requisito essencial para o sucesso 
da responsabilidade legal, servindo como um fórum onde os cidadãos levam as 
queixas contra o governo. 
Os mecanismos de responsabilidade legal incluem:
• Estatutos de ética e códigos de conduta para as autoridades públicas, 
descrevendo práticas inaceitáveis. 
• Leis sobre conflitos de interesses e divulgação financeira, exigindo que as 
autoridades públicas revelem as suas fontes de rendimento e os seus bens 
para que os cidadãos possam avaliar se as ações dessas autoridades podem ser 
erradamente influenciadas por interesses financeiros.
• Leis que dão à imprensa e ao público acesso às atas e reuniões do governo. 
• Requisitos de participação dos cidadãos que dizem que certas decisões do 
governo devem ter em conta a opinião pública. 
• Revisão judicial, dando aos tribunais o poder de rever decisões e ações das 
autoridades e agências públicas. 
• Os mecanismos de responsabilidade administrativa incluem gabinetes dentro 
das agências ou dos ministérios e práticas nos processos administrativos que 
têm como objetivo assegurar que as decisões e ações das autoridades públicas 
defendem os interesses dos cidadãos. 
Os mecanismos de responsabilidade administrativa incluem: 
• Agências encarregadas de ouvir e responder às queixas dos cidadãos.
• Auditores independentes que verificam o uso dosfundos públicos para detectar 
sinais de uso incorreto.
• Tribunais administrativos, que ouvem as queixas dos cidadãos sobre as decisões 
da agência.
• Regras de ética protegendo os chamados informantes – aqueles dentro 
do governo que falam de corrupção ou de abuso da autoridade oficial – de 
represálias.
FONTE: Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/government.
htm>. Acesso em: 27 maio 2013.
148
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
• Os avanços do Brasil como nação reconhecida tiveram grande impulso a partir 
da presença da família real no país.
• Não há como desvincular ética de política e essas duas da democracia.
• A democracia, por ser um modo de governo voltado para a maioria, deve ter seus 
olhos preferencialmente voltados para os mais necessitados, para aqueles que só 
têm o governo a quem recorrer.
149
1 Identifique três características para democracia.
2 Como podemos distinguir democracia indireta da direta?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 2
Assista ao vídeo de 
resolução da questão 1
150
151
UNIDADE 3
A SOCIEDADE EM CONTÍNUA 
CONSTRUÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• analisar criticamente como o modo de produção capitalista contribui para 
a evolução da sociedade;
• estudar a contribuição de grandes pensadores para uma melhor compre-
ensão da sociedade;
• entender a relação entre trabalho, ser social e ética.
Esta unidade está dividida em três tópicos e, no final de cada um deles, você 
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
TÓPICO 2 – PENSANDO A SOCIEDADE
TÓPICO 3 – SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Isabella Maria Nunes Ferreirinha
Assista ao vídeo 
desta unidade.
152
153
TÓPICO 1
VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Pensar nas relações existentes de nossa sociedade, muitas vezes, nos deixa 
perplexos, visto que nos deparamos com um emaranhado de fenômenos que nos 
coloca em xeque: como é possível existir uma enormidade de padrões em uma 
mesma sociedade? Como sujeitos de grupos distintos podem viver de forma 
coletiva num mundo cada vez mais globalizado, mas que têm que respeitar as 
diferenças? Neste momento, a única certeza que realmente temos é que somos 
frutos da sociedade globalizada e por vivermos no Ocidente do mundo, com suas 
características e peculiaridades próprias. É o que queremos estudar neste tópico, 
entendendo o que é e como se desenvolve a globalização e como é a dinâmica do 
modo capitalista do qual fazemos parte.
2 A GLOBALIZAÇÃO
A sociedade é global. Vivemos em um mundo global. Para isso, devemos 
entender o processo histórico da globalização e seus impactos econômicos, 
políticos, culturais e sociais. Hoje, em nossa sociedade, existem diversas formas de 
comunicação, como o rádio, a televisão, os jornais e a internet. Fala-se que vivemos 
em uma sociedade digital, ou seja, uma sociedade tecnológica.
Como vimos no início do nosso texto, a sociedade é fruto das ações entre 
os homens, sendo que essas ações modificam o social no decorrer da história. 
Antigamente, para nos comunicarmos utilizávamos cartas, existiam as conversas 
de rodas nas ruas, nem todos tinham telefone e aparelho de televisão em casa. Com 
o desenvolvimento da sociedade capitalista, os meios de comunicação passaram a 
ser a principal forma de produzir e reproduzir notícias e informações. Agora tudo 
acontece em tempo real. Isso só foi possível com o desenvolvimento do capitalismo.
Nas Ciências Sociais, essa generalização dos meios de comunicação de 
massa, depois da consolidação do modo de produção capitalista, é designada 
por “cultura de massa” ou “indústria cultural”. Segundo Crespo (2000), podemos 
trabalhar a concepção de indústria cultural a partir do século XVIII, pela 
multiplicação dos jornais na Europa. Calma! Vamos explicar. Até a Idade Média, 
a leitura e a escrita eram privilégios do clero e da nobreza, mas isso se transforma 
com o capitalismo por causa da urbanização, da industrialização e pela ampliação 
do mercado consumidor. Com todas essas questões, as cidades passam a se tornar 
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
154
centros de referência nas questões políticas, econômicas e culturais. O processo 
de migração para a cidade, o aumento da população urbana, o trabalho fabril, 
maior produção, preços mais baixos... enfim, uma cadeia de relações que coloca a 
burguesia como classe revolucionária, sendo que esta passa a conquistar não só o 
mercado em geral, mas também o mercado cultural.
Existe um aumento pela busca de informações e o jornal passa a ser um meio 
importantíssimo de divulgação de todos os tipos de informação: emprego, notícias 
das cidades, economia, cultura, crônicas políticas e os folhetins (precursores dos 
romances e das novelas de televisão atual). Segundo Crespo (2000, p. 194), “[...] as 
estórias que os jornais publicavam no rodapé de suas páginas vinham em capítulos, 
obrigando o leitor a comprar o próximo exemplar para saber a continuação da 
trama”.
A partir do final do século XIX, o processo de industrialização em 
larga escala, oriundo das transformações tecnológicas, coloca como essencial 
uma “nova leitura” de cultura. O maior desenvolvimento dessa tecnologia 
deve ser entendido, nesse nosso recorte, como maior acesso às informações, 
principalmente pelos meios de comunicação de massa (televisão, internet, rádio, 
jornal, rádio, revistas...). Essa cultura, segundo Brandão e Duarte (2004), não 
está ligada a nenhum grupo social específico, apesar de a burguesia utilizá-la 
em seu proveito para obter lucro, com a sua comercialização, sendo transmitida 
de maneira industrializada (daqui se pode tirar a ideia massificada) para um 
público generalizado, de diferentes camadas socioeconômicas.
Mas por que denominar cultura de massa ou indústria cultural?
O primeiro termo faz com que vejamos a sociedade moderna como 
uma sociedade de massa, de multidões padronizadas e homogêneas. 
[...] O segundo termo remete às ideias de produção em série, de 
comercialização e de lucratividade, características do sistema capitalista. 
Podemos imaginar, então, o estabelecimento de uma indústria 
produtora e distribuidora de jornais, livros, peças, filmes, em resumo, 
de mercadorias culturais. (CRESPO, 2000, p. 205).
O termo “indústria cultural” foi criado por Theodor Adorno e Max 
Horkheimer, membros de um grupo de filósofos conhecidos como Escola de 
Frankfurt. Esses autores buscaram analisar criticamente o funcionamento dos 
meios de comunicação de massa, chegando à conclusão de que eles funcionam 
como um instrumento da indústria cultural, que produz produtos culturais, 
visando exclusivamente ao consumo.
Para Adorno e Horkheimer (apud CRESPO, 2000), a indústria cultural 
produz e vende mercadorias, utilizando ideologicamente os meios de comunicação 
de massa para vender imagens do capitalismo, sendo que, muitas vezes, essas 
imagens são fetichizadas, buscando reproduzir o status quo vigente. Essa indústria 
cultural e a cultura de massa produzem “bens culturais” – música, filmes, novelas, 
propagandas, centrados em dois pontos: o lucro e a manutenção da sociedade 
capitalista. O modo de produção capitalista produz mercadorias (carros, aparelhos 
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
155
domésticos, roupas) e a indústria cultural também estaria mais preocupada com 
o lucro de suas “mercadorias”, por exemplo, um programa que tem bastante 
audiência vende muito, ao passo que uma novela que não dá ibope logo é tirada 
do ar. Dentro desse contexto não está em jogo a qualidade dos programas, e sim, 
o lucro que eles viabilizam. Já no que dizrespeito à manutenção da sociedade 
capitalista, são transmitidas, pelos programas, propagandas, imagens buscando 
um estímulo à imutabilidade das condições de sobrevivência das pessoas. Assim, 
os produtos culturais devem “produzir” e mostrar (distribuir) aos indivíduos 
imagens falsas, irreais, imaginárias, ilusórias da realidade, fazendo com que os 
indivíduos permaneçam passivos e obedientes.
Para Adorno (2007), esses produtos culturais ajudam a manter no “devido 
lugar” aqueles que têm baixo poder aquisitivo. Isso acontece porque os conteúdos 
da formação dos sujeitos passam a ser ajustados pelos mecanismos de mercado e 
reprodução dos valores da sociedade capitalista.
Sarlo (apud LIMA, 2008, p. 36) coloca que essa sociedade de consumo 
está pautada pela estética do mercado em que a “[...] constância das marcas 
internacionais e das mercadorias se soma à uniformidade de um espaço sem 
qualidades”. Construímos nossa identidade pautada nos ícones do mercado, 
sonhamos com os objetos e imagens que estão expostos nas vitrines. Há um jogo da 
sociedade capitalista para transformar em consumidores eternamente insatisfeitos, 
em busca de ícones que possam trazer algum tipo de prazer imediato, instituindo 
valores que mudam conforme a vontade do capital.
Adorno (apud LIMA, 2008, p. 38) reforça o papel da televisão como 
instrumento da indústria cultural, sendo que ela é vista como uma ideologia 
que tenta “[...] incutir nas pessoas uma falsa consciência e um ocultamento 
da realidade”, impondo um conjunto de valores que atuarão na formação dos 
telespectadores, com o objetivo de modificar a consciência das pessoas, pois os 
processos de formação se dão mais de fora para dentro do que o inverso. Olhem a 
questão da alienação e da ideologia presente novamente em nossa realidade!
Nesse contexto, podemos destacar alguns pontos negativos dos meios 
de comunicação de massa e da indústria cultural, dentre eles: a padronização 
do gosto do consumidor buscando uma padronização dos indivíduos, tirando o 
senso crítico das pessoas, eliminando sua capacidade de julgar e decidir sobre suas 
próprias vidas; o incentivo do consumo exagerado, que tem como agente central 
a propaganda, que divulga um único padrão de vida para as pessoas, fazendo 
com que os indivíduos fiquem submetidos ao consumo, transformando-os em 
consumidores potenciais. Um exemplo para ilustrar a ideia de indústria cultural 
e cultura de massa que estamos discutindo é o poema “Eu etiqueta”, de Carlos 
Drummond de Andrade (1902-1987).
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
156
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar a minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
[...] (ANDRADE, 2009).
Para ler o poema na íntegra, vá ao site <www.radarcultura.com.br/ node/12065>.
Apesar de todas as críticas, existem autores que destacam os pontos 
positivos dos meios de comunicação de massa, como Marshall McLuhan (1911-
1980). Segundo Tomazi (2000), esse autor levanta que os meios de comunicação de 
massa são grandes fontes de informação, pois muitas pessoas têm acesso às mais 
variadas notícias por meio da televisão, do rádio e da internet. Nesse sentido, com 
os meios de comunicação de massa, haveria uma democratização das informações e 
do saber na sociedade capitalista, contribuindo também para a formação intelectual 
NOTA
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
157
dos indivíduos (leitores, telespectadores, internautas), o que seria essencial para a 
nossa sociedade, pois atualmente vivemos os acontecimentos em tempo real, ou 
seja, nossa sociedade está globalizada.
Crespo (2000) coloca uma abordagem pautada na leitura crítica de Umberto 
Eco que acredito ser bem interessante de reproduzir aqui. Segundo a autora, Eco 
faz uma distinção polêmica entre os autores dedicados ao estudo da indústria 
cultural, dividindo esses autores entre os “apocalípticos” (aqueles que criticam 
os meios de comunicação de massa) e os “integrados” (aqueles que elogiam), 
elencando alguns motivos de crítica e elogio aos meios de comunicação de massa.
Para a leitura crítica, alguns motivos seriam: a veiculação que eles realizam 
de uma cultura homogênea (que desconsidera diferenças culturais e padroniza 
o público), o desestímulo à sensibilidade, o estímulo publicitário (criando para 
o público novas necessidades de consumo), a sua definição como simples lazer 
e entretenimento, desestimulando o público a pensar, tornando-o passivo e 
conformista; já para a leitura do elogio abordam que os meios de comunicação de 
massa, muitas vezes, são a única fonte de informação possível a uma parcela da 
população que sempre esteve distante das informações, as informações veiculadas 
podem contribuir para a formação intelectual do público e a padronização do gosto 
gerada por eles pode funcionar como um elemento unificador das sensibilidades 
dos diferentes grupos.
E por falar em globalização, esse fenômeno tem provocado muitas 
transformações em nossa sociedade. A globalização teve seu início com a expansão 
econômica europeia, mas foi a partir da segunda metade do século XX que tem se 
manifestado com mais intensidade, extrapolando os limites da esfera econômica, 
resultando em mudanças também na cultura, na política e em todos os outros 
aspectos da vida.
Podemos dizer que o termo globalização é uma nova expressão do capital, 
que desencadeia um complexo processo de produção e circulação de mercadorias, 
que tem início nos anos 1970 e concretiza-se com o final da Guerra Fria, em 
1989. Segundo Ianni (1999, p. 48-49), esse processo representa, para além de um 
novo ciclo de expansão do capitalismo, um modo de produção e modificação da 
civilização em escala mundial, que engloba nações, regimes políticos, culturas e 
economias. De acordo com o autor:
Os fatores da produção ou as forças produtivas, tais como o capital, 
a tecnologia, a força de trabalho e a divisão do trabalho social, entre 
outras, passam a ser organizados e dinamizados em escala bem mais 
acentuada que antes, pela sua reprodução em âmbito mundial. Também 
o aparelho estatal [...] é levado a reorganizar-se ou “modernizar-se” 
segundo as exigências do funcionamento mundial dos mercados, 
dos fluxos dos fatores de produção, das alianças estratégicas entre 
corporações.
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
158
Essas exigências são fundamentadas na liberalização dos mercados e na 
desregulamentação financeira mundial. Assim:
É preciso que a sociedade se adapte (esta é a palavra-chave, que hoje vale 
como palavra de ordem) às novas exigências e obrigações, e, sobretudo, 
que descarte qualquer ideia de procurar orientar, dominar, controlar, 
canalizar esse novo processo. A necessária adaptação pressupõe que 
a liberalização e a desregulamentação sejam levadas a cabo, que as 
empresas tenham absoluta liberdade de movimentos e que todos os 
campos da vida social, sem exceção, sejam submetidos à valorização do 
capital privado. (CHESNAIS,1996, p. 25). 
Globalização é o termo utilizado para o processo de transformações econômicas 
e políticas que vêm acontecendo nas últimas décadas. A principal característica é a integração 
dos mercados mundiais com a exploração de grandes empresas multinacionais.
Uma questão levantada por Giddens (2001, p. 61) é importante: 
“inicialmente a leitura da globalização estava vinculada aos padrões econômicos e 
políticos, mas devemos ter claro que esse termo significa muito mais, ou seja, que 
estamos vivendo “num único mundo”, em que os indivíduos, os grupos e as nações 
tornaram-se mais interdependentes. A globalização é criada pela convergência de 
fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. Foi colocada como importante, 
sobretudo pelo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação 
que intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas em todo 
o mundo”.
Enfim, tudo está globalizado. As particularidades e especificidades dos 
países – a cultura, a música, os hábitos e costumes - estão presentes em todos os 
cantos do mundo. Parecem estar desenraizadas por diferentes tempos e espaços, 
que não são os seus de origem. Isso quer dizer que a estrutura social responsável 
pela existência e difusão da cultura em um país vai se enfraquecendo, e, como 
consequência, vai sendo substituída por diferentes práticas, diferentes formas de 
pensar, agir, de trabalhar, que não são suas originalmente. Sendo assim, a cultura 
de um país vai se “desenraizando” e passa a “flutuar” mundo afora, perdida, sem 
sentido, sem povo, sem nação, totalmente descontextualizada. Todo esse processo 
alterou os padrões tradicionais aceitos de indivíduos, cidadania, de cultura etc. 
Ianni (1999) expressa as preocupações em torno das questões ligadas à cidadania 
e à liberdade do indivíduo, ou seja, a formação de um “cidadão do mundo” que é 
fruto dessa nova configuração de mundo globalizado.
NOTA
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
159
As referências habituais na constituição do indivíduo, compreendendo 
língua, dialeto, religião, seita, história, tradições, heróis, santos, 
monumentos, ruínas, hinos, bandeiras e outros elementos culturais, 
são completadas, impregnadas ou redescobertas por padrões, valores, 
ideais, signos e símbolos em circulação mundial. O inglês como língua 
franca, a música pop como elemento da cultura internacional-popular, 
o turismo de todos os lados, as mercadorias de muitos países, as 
pessoas migrando por diferentes nações e mercados, as ideias flutuando 
por todos os ares, são muitos os elementos que entram na formação 
da individualidade e cidadania, subalternidade e autoconsciência, de 
habitantes de campos e cidades, países e continentes. (IANNI, 1999, p. 
113).
Mas devemos ter clara a perspectiva da contradição, como em todos os 
itens discutidos em nosso texto, pois a globalização deve ser vista como uma 
questão aberta e contraditória. Uma questão interessante a ser discutida é que 
esse processo se estabelece de forma desigual e está aumentando a desigualdade 
social entre os países, aprofundando o abismo entre os países mais ricos e mais 
pobres. A riqueza, a renda, os recursos e o consumo estão concentrados nas 
sociedades desenvolvidas, enquanto muitos países em desenvolvimento lutam 
contra a pobreza, a desnutrição, a doença... sendo que muitos desses países, que 
estão inclusos no processo de globalização, estão excluídos, ou seja, é uma inclusão 
excludente (KUENZER, 2009).
Enfim, a globalização produz riscos, desafios, desigualdades, positividades 
que atravessam as fronteiras nacionais e escapam ao alcance das estruturas 
sociais vigentes. Por isso, torna-se importante discutirmos formas de governo 
que busquem pensar de forma global, visto que, segundo Giddens (2001), 
existem governos individuais despreparados para controlar essas questões, sendo 
necessário enfrentar os problemas globais de uma forma global.
Por outro lado, devemos pensar que todo esse processo abre espaço para 
novas possibilidades e perspectivas. É importante considerarmos a globalização 
como um processo que promove o contato intenso entre as diferentes culturas e as 
trocas culturais abrem sempre possibilidades de crescimento, de amadurecimento, 
de ganho para os lados envolvidos.
O processo de globalização é também um processo cultural, civilizatório. 
Ao mesmo tempo em que há muitas perdas, há muitos ganhos. É como 
se os indivíduos, as coletividades, etnias e minorias, grupos e classes, 
se humanizassem também por intermédio dos vastos e intrincados 
processos de globalização. Acontece que as culturas são expressões 
de modos de vida e trabalho, tradições e esperanças, forma de ser, 
sentir, agir, pensar e sonhar. O intercâmbio das culturas [...] é também 
necessariamente um intercâmbio de indivíduo, coletividades, povos, 
nações, nacionalidades. (IANNI, 1999, p. 159).
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
160
3 A SOCIEDADE CAPITALISTA
Para o entendimento da sociedade, a capitalista, devemos conhecer os 
acontecimentos históricos que modificaram as bases da economia e da política do 
modo de produção feudal. Vamos também estudar outros grandes acontecimentos, 
como a Revolução Industrial, a Revolução Francesa, a Reforma Protestante e sua 
influência e contribuição na conjuntura do capitalismo. Onde queremos chegar? A 
partir desse conhecimento, podemos compreender a função do homem no modo 
da produção capitalista.
3.1 BREVE HISTÓRICO
Um momento muito interessante de ser analisado dentro da história 
da nossa sociedade é o surgimento de que alguns autores chamam de pré-
capitalismo, que vai do século XV – as Grandes Navegações (século XV), o 
Renascimento (século XVI) e a Reforma Protestante (século XVI) – até o final 
do século XVIII – com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Esses 
acontecimentos são fundamentais para entendermos as condições históricas 
que permitiram o surgimento da sociologia como ciência. Assim podemos 
perceber que a história e a sociologia andam em conjunto no que diz respeito à 
interpretação das transformações sociais.
Em um primeiro momento devemos pensar a sociedade estruturada 
sobre o modo de produção feudal. A Europa, nesse momento, fundamentava-se 
principalmente em torno da terra e da propriedade privada da terra, sendo que 
sua organização era ligada ao trabalho rural, sua principal fonte de organização 
social.
Nessa sociedade de base agrária, o modo de viver das pessoas era 
completamente diferente de hoje, com pouco comércio, cujas cidades não passavam 
de pequenas aldeias e o pensamento religioso moldava a vida das pessoas. Segundo 
Meksenas (1994, p. 38), “a partir do século XIV esse mundo começará a mudar 
rapidamente, passando de um mundo agrário para o mundo urbano industrial. 
Mas essa mudança não ocorreu em pouco tempo, sendo necessários muitos 
séculos (no mínimo três) para se concretizar efetivamente. No entanto, como foi 
uma mudança social radical, muitos chamam de revolução”.
A necessidade de expansão de novas terras e a busca por novas mercadorias 
fez com que o povo europeu desbravasse novas terras e, com base na expansão das 
fronteiras, em virtude do processo embrionário do capital, que necessita de novos 
mercados para atender à chamada acumulação primitiva de capital. Nesse contexto, 
as Grandes Navegações (século XV) são as responsáveis pelo “descobrimento do 
novo mundo”.
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
161
O Renascimento (século XVI) trouxe uma nova visão de mundo, pautado 
na ciência e na razão. A visão teocêntrica (Deus como centro do Universo) que 
predominava na sociedade feudal é suplantada pelo antropocentrismo, que 
coloca o homem como o responsável pela construção das relações sociais; a partir 
desse momento o homem encontra seu lugar de produtor da realidade social. A 
ciência passa a ser responsável pelaexplicação dos acontecimentos em sociedade, 
despertando nos indivíduos uma nova leitura sobre sua própria existência. Nesse 
período, a realidade social começa a se tornar mais complexa: o homem, agora 
racional, torna-se questionador, reflexivo sobre a realidade existente.
Nesse momento, Galileu Galilei, Leonardo da Vinci e Copérnico 
desenvolveram novas formas de compreender a realidade social, utilizando-se da 
experiência para comprovar os fenômenos da sociedade e da natureza. É o início 
do conhecimento científico que, mais tarde, com Francis Bacon e René Descartes, 
ficará conhecido como o único responsável pelas explicações dos fenômenos 
naturais e sociais.
A Reforma Protestante (século XVI) traz uma nova forma de se relacionar 
com o sagrado, colocando o homem como mediador das questões divinas, 
redirecionando a questão da hegemonia da Igreja Católica no que diz respeito às 
explicações religiosas.
As transformações ocorridas a partir do século XV estão todas vinculadas 
entre si e não podem ser entendidas de forma isolada. Desse modo, a 
expansão marítima, as reformas protestantes, a formação dos Estados 
nacionais, as grandes navegações e o comércio ultramarino, bem como 
o desenvolvimento científico e tecnológico, são o pano de fundo para 
uma visão melhor desse movimento intelectual de grande envergadura 
que irá alterar profundamente as formas de explicar a natureza e a 
sociedade daí para frente. (TOMAZI, 2000, p. 1).
Dentro desse processo de mudança da estrutura social, devemos também 
compreender a importância da Revolução Industrial e da Revolução Francesa 
como pontos culminantes para o surgimento do modo de produção capitalista, 
pois essas revoluções concretizaram mudanças no âmbito produtivo e político que 
haviam sido iniciadas no século XVII.
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
162
FIGURA 42 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
FONTE: Disponível em: <http://ericsiq.blogspot.com.br/2010/03/aula-revolucao-industrial-
efetivacao-do.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra a partir de 1750, consolida 
novas formas de produção, onde o trabalho manufatureiro (trabalho manual, com 
auxílio de alguns instrumentos rudimentares de produção) passa a ser um trabalho 
baseado na maquinofatura (máquinas dentro do processo produtivo), reforçando 
o papel da classe burguesa como detentora dos meios de produção (máquinas, 
matéria-prima, fábricas) e a classe trabalhadora com sua força de trabalho, que é 
vendida nas relações de mercado. Esse contexto possibilitou uma nova visão de 
produção: a produção industrial, em alta escala, o crescimento do mercado, entre 
outros.
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
163
A compra de matérias-primas e a organização da produção, [...] levavam 
ao desenvolvimento de um novo processo produtivo em contraposição 
ao das corporações de ofício. Ao se desenvolver a manufatura, os 
organizadores da produção passaram a se interessar cada vez mais 
pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção, visando produzir 
mais com menos gente, aumentando significativamente os lucros. Para 
tanto, procuravam investir nos “inventos”, isto é, financiar a criação 
de máquinas que pudessem ter aplicação no processo produtivo. 
(TOMAZI, 2000, p. 3).
Com o poder econômico e produtivo nas mãos, a burguesia alia-se ao 
chamado Terceiro Estado (camponeses, trabalhadores e burgueses) para afirmar-
se, também, enquanto classe política dominante. O processo de mobilização 
do Terceiro Estado busca acabar com os privilégios da nobreza feudal. Essa 
nobreza (uma minoria da população) era sustentada pelo trabalho e impostos dos 
camponeses, trabalhadores e burgueses, aumentando a desigualdade social.
A Revolução Francesa é fruto da luta entre o Terceiro Estado e a nobreza, 
sendo que em 1789, com a queda da Bastilha, inicia-se o processo de reformulação 
política e ideológica, consolidando a figura de um novo Estado que, entre outros 
aspectos, defende os interesses da maioria da população, fundado no lema 
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
FIGURA 43 – REVOLUÇÃO FRANCESA
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-8XIeLEtuFw/Th5CeZSPpoI/AAAAAAAADCI/
qgbuWVKGpdE/s1600/french_revolution_portugues-jpg1.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
164
Podemos perceber que tanto a Revolução Industrial quanto a Revolução 
Francesa estabelecem novos paradigmas para a sociedade, novas formas de 
compreender a realidade social.
Esse contexto, no final do século XVIII, faz com que a sociedade passe 
por grandes mudanças nos âmbitos econômico, produtivo, cultural e político, 
desembocando em novos problemas sociais até então inexistentes para a população 
europeia. É a derrocada do feudalismo e o surgimento do modo de produção 
capitalista, ou seja, a sociedade capitalista, a nossa sociedade. Vejam que estamos 
falando de mudanças que aconteceram no final do século XVIII e que ainda hoje, 
em pleno século XXI, estabelecem as estruturas sociais, econômicas, políticas e 
ideológicas. Nesse sentido, temos a instituição de novas formas de viver, a troca 
de ideias passa a ser maior, desembocando em novas formas de organizar a 
vida, sendo necessário o estabelecimento de novas normas, leis que fixam novos 
costumes, tradições e maneiras de agir, que passam a ser convenientes aos grupos 
sociais. Em síntese, nasce uma nova formação social, juntamente com ‘novos’ 
problemas sociais, oriundos dessas novas relações de trabalho, do ‘inchamento’ 
das cidades, desemprego, falta de infraestrutura e saneamento básico, doenças etc.
Outro filme interessante que demonstra o processo de mudança social através da 
Revolução Industrial é Tempos Modernos (Modern Times, EUA, 1936). Direção: Charles Chaplin. 
Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard. 87 min., preto e branco, Continental.
São esses novos problemas sociais que levam alguns pensadores a refletir 
sobre a realidade. Nesse contexto, surge a sociologia como ciência, com o objetivo 
de buscar compreender essa estrutura social. Assim, a sociologia nasce no século 
XIX, juntamente com a consolidação da sociedade capitalista.
Historicamente a sociologia baseia-se em teorias e autores, cada um com 
uma leitura específica da sociedade capitalista. Essas teorias são chamadas de 
clássicas, visto que são a base do pensamento sociológico, sendo elas a sociologia 
positiva (Positivismo de Émile Durkheim), a sociologia crítica (Materialismo 
Histórico Dialético de Karl Marx e Friedrich Engels) e a sociologia compreensiva 
(Max Weber).
Mas um ponto importante a ser esclarecido é que essas teorias fizeram 
uma leitura de um determinado momento da sociedade. Historicamente podemos 
compreender como foram constituídas as novas relações sociais, como os homens 
construíram novas formas de viver em sociedade, novas formas de trabalho, novas 
formas de poder.
NOTA
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
165
Nesse sentido, as teorias sociológicas e a história não nos apresentam 
receitas prontas para o entendimento da sociedade. Elas nos apontam direções 
para que nós possamos refletir, criticar ou até transformar a realidade em que 
vivemos.
[...] A profundidade das transformações em curso colocava a sociedade 
num plano de análise, ou seja, esta passava a se constituir em 
“problema”, em “objeto”, que deveria ser investigado. Os pensadores 
da época [...] não desejavam produzir um mero conhecimento sobre 
as novas condições de vida geradas pela Revolução Industrial, mas 
procuravam extrair dele orientações para a ação, tanto para manter, 
como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu 
tempo (MARTINS, 2005, p. 15).
Assim, torna-se essencial estudarmos a sociologia não como uma 
disciplina datada na história, com uma visão linear, mas entendê-la como 
uma ciência que nos ajuda a compreendera realidade, sendo essa realidade 
dialética, ou seja, uma realidade passível de mudanças, e essas mudanças sendo 
efetivadas pelo homem, como vimos no início do nosso texto.
Antes de entrarmos propriamente na discussão das correntes sociológicas, 
devemos nos ater às principais características da sociedade capitalista, já que é 
através da sua implantação que se iniciam as discussões de caráter sociológico da 
realidade social.
Há um filme interessante chamado Germinal, que aborda as novas relações sociais. 
(França, 1993). Direção: Claude Berri. Elenco: Gérard Depardieu, Miou-Miou, Jean Carmet, 
Renaud, Jean-Roger Milo. 158 min., drama. Baseado no romance homônimo de Émile Zola.
3.2 CARACTERÍSTICAS
Como vimos, o processo de transformação da sociedade instituiu um 
novo modelo produtivo, político e ideológico, que denominamos de modo de 
produção capitalista, ou seja, uma forma de organizar a produção, definindo suas 
relações (como vão ser produzidas, quanto produzir, quem vai produzir, quem vai 
gerenciar, por quanto vender etc.).
NOTA
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
166
FIGURA 44 – MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
FONTE: Disponível em: <http://www.filosofia.com.br/figuras/
charge/138.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
Esse modo de produção baseia-se em alguns pontos que podem ser 
observados até hoje: propriedade privada dos meios de produção, existência de 
duas classes sociais (capitalistas e proletários), trabalho assalariado, a busca pelo 
lucro e a transformação de todas as relações em mercadorias.
A propriedade privada dos meios de produção é, talvez, a mais importante 
das características do capitalismo, uma vez que é através dela que existe a 
separação entre os que possuem os meios de produção (fábricas, matéria-prima...) 
e os que são expropriados da propriedade; assim, todo produto produzido está e 
será diretamente ligado aos proprietários dos meios de produção.
Essa relação fundamenta-se na diferença entre as duas classes sociais 
existentes no capitalismo: os capitalistas que detêm a propriedade privada dos 
meios de produção (fábrica, matéria-prima...) e os proletários que vendem a sua 
força de trabalho para o capital, em uma relação de compra e venda de produtos. 
Essa distinção de classe extrapola o universo da produção, instituindo-se também 
dentro das relações de poder em nossa sociedade.
Pensar as relações descritas acima é compreender o objetivo central do 
modo de produção capitalista – o lucro – e essa preocupação generalizou-se em 
nossa sociedade. Todos objetivam lucrar com algo, seja vendendo algum produto, 
seja consumindo algo: todos querem saber o que vão lucrar com suas ações.
Nesse sentido, podemos analisar outra característica do capitalismo: a 
transformação de todas as relações sociais em mercadorias. As relações sociais 
passam a ser relações de troca de mercadorias. Trocamos trabalho por salário 
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
167
(vendemos nossa mercadoria – trabalho – para que outras mercadorias sejam 
produzidas), trocamos nosso salário por roupas, comida, casa... reproduzindo 
uma relação ideológica em nosso cotidiano.
Imaginem, historicamente, como essas mudanças influenciaram a 
sociedade europeia do século XIX. Essas transformações trouxeram inúmeros 
impactos sociais, tornando necessária uma ciência que possibilitasse o estudo e a 
compreensão do rebatimento/reflexão, sendo esta ciência a sociologia.
Seguindo a linha de pensamento de Meksenas (1994, p. 39), essa revolução 
teve três momentos importantes: “uma revolução econômica, uma revolução 
política e uma revolução ideológica e científica”.
A Revolução Econômica – em primeira instância, pois o processo de 
desenvolvimento da tecnologia, baseado na Revolução Industrial – mudou a 
concepção de trabalho/produção e economia, instituindo novas relações sociais, 
agora pautadas na divisão de classes sociais (burguesia e proletariado) e na 
divisão social do trabalho, na qual cada trabalhador realiza uma função específica 
no processo produtivo. Com isso, o aumento do número de máquinas de trabalho 
potencializa um mercado consumidor, fundamentado no surgimento de novas 
mercadorias em escala produtiva, fundamentando a sociedade na relação 
econômica versus produção versus trabalho.
A Revolução Política ocorreu quando a antiga nobreza feudal perdeu o 
seu domínio para a classe burguesa, que detém o poder econômico e produtivo 
da sociedade. No modo de produção feudal, a política representava o interesse 
dos senhores feudais; no capitalismo, teremos o surgimento do Estado Moderno, 
que se fundamenta por formas de governo eleitas pelo voto e regidas por uma 
constituição. Dessa forma, o poder do Estado passa a ser dividido em três 
dimensões: Executivo, Judiciário e Legislativo. Para Meksenas (1994, p. 39), “essas 
novas dimensões do Estado burguês, oriundo da Revolução Francesa, instituem 
a aparência de que o Estado, acima dos interesses de classes, vem organizar 
democraticamente a sociedade”.
E, por último, a Revolução ideológica e científica, pois toda essa estrutura 
social estabelece a ideia de que o progresso e o enriquecimento da sociedade estão 
atrelados ao trabalho e à economia. Essas revoluções instituíram uma nova visão 
de mundo e, como já dissemos no início desta unidade, novos problemas sociais.
4 A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA
O sistema capitalista, presente em boa parte do mundo ocidental, possibilita 
a relação entre o trabalho, a ética e o novo ser social que aí se desenvolve. É o que 
queremos estudar neste ponto e você, acadêmico, vai acompanhar, fazendo um 
paralelo do que você conhece e vivencia na sua própria realidade.
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
168
O processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores 
de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas; 
é condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a 
natureza; é condição natural e eterna da vida humana, sem depender, 
portanto, de qualquer forma dessa vida, sendo antes comum a todas as 
suas formas sociais. (MARX, 2009, p. 24).
Verificamos que a ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão 
do exercício profissional, que denota uma ação real, concreta, transformadora 
da realidade da sociedade em que estamos inseridos. A ética e o trabalho vêm 
se transformando historicamente, pois nossos costumes, princípios e hábitos se 
transformam no decorrer dos tempos. 
Neste contexto, abordaremos vários aspectos das relações entre o trabalho, 
a ética e o ser social.
4.1 O QUE É TRABALHO?
Pode-se compreender que é por meio do trabalho dos homens que a 
sociedade se forma, se organiza tanto política, econômica e socialmente. É o 
trabalho que estrutura as nossas relações sociais. O trabalho se torna fundamental 
para o desenvolvimento dos princípios ético-morais de uma sociedade, pois é 
ele que medeia todas as nossas relações. Em outras palavras, o trabalho é a mola 
propulsora da vida em comunidade.
De acordo com Gonçalves e Wyse (1997, p. 61-62),
O trabalho pode ser visto como lugar de autorrealização do homem, 
extensão de sua personalidade, espaço de criatividade, onde ele fala de 
si, mostra-se diante do seu grupo social, expressa sua identidade, presta 
um serviço social e contribui para o bem comum. Mas também pode 
ser encarado como uma maldição, lugar de tortura, suportado pela 
necessidade do salário ao final do mês.
Por meio do trabalho desenvolvemos vínculos tanto sociais como 
comunitários com as outras pessoas. Estas relações sociais podem ser consideradas 
a base fundamental à própria vida dos seres humanos.
Segundo Tomelin e Tomelin (2002, p. 118), “através do trabalho, o homem 
se diferenciou dos outros animais, produzindo bens e transformando a natureza. 
Pelo trabalho o homem fundamentou a sua vida cultural ea civilização. Para os 
outros animais, o trabalho visa satisfação imediata e instintiva, sem acúmulo de 
saberes”.
Complementando, Aranha e Martins (2005, p. 24) colocam-nos que
O trabalho humano é uma ação transformadora da realidade, dirigida 
por finalidades conscientes. Ao reproduzir técnicas já usadas e ao 
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
169
inventar outras novas, a ação humana se torna fonte de ideias e, portanto, 
experiência propriamente dita. Por isso dizemos que o animal não 
trabalha – mesmo quando cria resultados materiais com essa atividade 
–, pois sua ação não é deliberada, intencional. Dessa forma, o animal 
não produz propriamente sua existência, apenas a conserva agindo 
instintivamente ou, quando se trata de animal de maior complexidade 
orgânica, resolvendo problemas por meio da inteligência concreta. [...] 
Esses atos visam à defesa, à procura de alimentos e de abrigo. Assim, 
não devemos pensar que o castor, ao construir o dique, e o joão-de-
barro, a sua casinha, estejam “trabalhando”.
Portanto, pode-se observar que quando o homem transforma a natureza 
por meio do trabalho, ele próprio está se transformando.
4.2 A ÉTICA DO TRABALHO
Com a evolução humana e, em consequência, com a evolução da própria 
sociedade, observamos que, por intermédio do trabalho, começou a surgir uma 
nova concepção de classe social, denominada burguesia, que desenvolve novos 
hábitos, princípios e valores morais perante a sociedade, mediando, diretamente, 
as relações sociais entre todos os seres humanos.
Estes novos interesses, que dependem diretamente do trabalho e do 
desenvolvimento de uma produção que garanta a expansão do comércio, 
na produção incondicional de novas riquezas, acabaram exigindo, dos seres 
humanos, uma dedicação exclusiva ao trabalho, no intuito de angariar 
maior produtividade e prosperidade dos detentores do capital. De acordo 
com Gonçalves e Wyse (1997, p. 23), “a nova classe em ascensão tem como 
característica as virtudes de laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à 
pátria e à liberdade, em contraposição aos vícios da aristocracia – desprezo ao 
trabalho, ociosidade, libertinagem”.
Portanto, o trabalho, hoje em dia, se tornou um fato social que determina a 
própria existência do homem em sociedade, legitimando-o como um ser humano.
Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 23-24),
Antes, o trabalho sempre foi visto de forma negativa. Na sua origem, a 
palavra trabalho vem do latim tripalium, que significa um instrumento 
de tortura. Mesmo na Bíblia o trabalho é proposto como castigo pela 
culpa de Adão e Eva (nos termos bíblicos, o homem é condenado a 
trabalhar e a ganhar o pão com o suor do seu rosto, ficando a mulher 
condenada ao trabalho de parto). Na Grécia antiga e na Idade Média, [o 
trabalho] é desvalorizado por estar reservado aos escravos e aos servos. 
A sociedade moderna declara o trabalho uma expressão de liberdade, 
uma vez que, por meio dele (seja pela força física, pela ciência, pelas 
artes) o homem modifica a natureza, inventa a técnica, cria nova 
realidade, enfim, altera o curso das coisas, alterando a si próprio e a 
sociedade onde ele vive.
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
170
Outro fator relevante nesta discussão é a questão de que, por meio do 
trabalho, os homens constituem seus laços sociais, pois começam a pertencer a um 
determinado grupo social, acontecendo de acordo com o poder aquisitivo, status 
que o trabalhador obtém por meio de seu trabalho, ou seja, conforme o seu salário 
e sua formação do capital, este trabalhador estabelece determinados vínculos 
sociais, que determinam a que classe social ele pertence.
Por meio do comportamento humano nas relações de trabalho, e seu papel 
em sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.
A ÉTICA DO TRABALHO consiste em entender essa atividade – o trabalho – como 
fator fundamental à construção da identidade e da realização pessoal e ao estabelecimento 
de uma ordem social, onde prevaleçam relações fundadas na dignidade, na liberdade e na 
igualdade entre os homens. (GONÇALVES E WYSE, 1997, p. 24).
Verificamos que o trabalho denota alguns valores morais que são 
constituídos pela própria sociedade (capitalista) em que estamos inseridos, tais 
como: disciplina, obediência, atenção e segurança pessoal. 
Porém, como fica a questão da liberdade, igualdade e autonomia do 
trabalhador?
Observamos que, na modernidade, a questão da autonomia, liberdade e 
igualdade entre os seres humanos é tida como uma condição da própria natureza 
humana. E que este valor é considerado como um fator necessário para o 
desenvolvimento da ética do trabalho.
Entretanto, será que, por natureza, os homens são realmente iguais entre 
si? 
Historicamente, podemos observar que todos os homens apresentam 
muitas diferenças, pois cada um possui um modo de vida, uma etnia e visão de 
mundo diferente, como: opção sexual, etnia, religião, força física, sonhos, desejos, 
objetivos de vida, entre muitas outras diferenças, que são resguardadas como 
direito de igualdade em nossa sociedade. É só observar o que prediz a nossa 
Constituição Federal.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
171
Caro(a) acadêmico(a)! Para compreender melhor esta questão, sugerimos a releitura 
dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. 
Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 25-26), “na defesa desses interesses, 
o homem moderno lança mão de uma teoria – a teoria liberal – que utiliza os 
conceitos de igualdade e de liberdade natural para justificar sua prática social, sua 
ordem econômica e, inclusive, a forma de organização do Estado moderno”.
Finalizando, podemos entender que esta teoria liberal, por sua vez, formula 
e regula suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na qual estas 
leis e normas preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de compra e 
venda.
LEITURA COMPLEMENTAR
Ética no trabalho
Segundo o Aurélio, ética é o conjunto de regras e valores ao qual se 
submetem os fatos e as ações humanas, para apreciá-los e distingui-los. Em relação 
ao trabalho, vamos associá-la, apreciá-la quando for o caso e, principalmente, 
distingui-la. Outros dicionários afirmam que a ética é parte da filosofia que estuda 
os deveres do homem para com Deus e a sociedade.
Permita-me simplificar esse conceito, à luz da experiência pessoal e 
profissional ao longo de mais de quarenta anos. Ética é a ciência aplicada pelos 
seres humanos que procuram ser justos e razoáveis com todo mundo, da melhor 
forma possível, além de não pensarem exclusivamente em si mesmos.
Por essa razão, ética não é um conceito facilmente aplicável nas grandes 
corporações, até mesmo porque o capital não consegue se multiplicar na velocidade 
que precisa se adotá-la como bandeira. Se assim o fizesse, a distribuição de renda 
seria diferente, as relações desumanas no trabalho teriam outra conotação e os 
profissionais de valor seriam mais do que um simples número no quadro de 
empregados da organização.
Você conhece algum profissional que consiga “cumprir os deveres com 
Deus e a sociedade” em alguma empresa? Se o fizer ao pé da letra, ele simplesmente 
é excluído do meio, a empresa vai à falência, e o líder entra em descrédito perante o 
acionista ou superior imediato, num mundo repleto de valores equivocados.
NOTA
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
172
Apesar de todas as recomendações dos especialistas com as mais variadas 
teorias sobre o assunto, as empresas continuam falhando abruptamente na condução 
dos negócios. O capital humano nunca foi páreo para a ambição desmedida do 
lucro e quando a ambição ultrapassa os limites do razoável, a ética e o respeito aos 
indivíduos são literalmenteatropelados pelo poder que não conhece limites.
Muito se fala na necessidade de modificar as relações entre capital e 
trabalho com intuito de proporcionar ambientes mais justos e fraternos, porém o 
abismo entre o discurso e a prática é imenso.
A sobrecarga de trabalho é um exemplo típico da imposição do poder. 
A opção pela redução da força de trabalho e a avidez do capital pelo lucro em 
progressão geométrica elevam o custo social, sem pudor.
Antes de prosseguir, lembro que as empresas são feitas de pessoas e as 
pessoas erram, porém, numa sociedade extremamente competitiva, o mínimo 
erro torna-se imperdoável. Erros fazem parte do crescimento, mas no mundo 
corporativo atual, o erro será parte do crescimento numa outra empresa, nunca 
onde se comete.
Não existe espaço para a redenção. O erro é a chance que as organizações 
esperam para descartar os indivíduos a fim de elevar a produtividade e o lucro por 
empregado, importantes na divulgação dos resultados.
As relações entre capital e trabalho são absolutamente frias e, por 
consequência, as relações entre chefes e subordinados também. É mais cômodo 
exercer a pressão do que a liderança efetiva para se obter resultados.
As incertezas do mundo atual não permitem questionamentos nem espaço 
para diversidade, aliás, são poucos os líderes que conseguem conviver com 
diferenças, em princípio, salutares para o crescimento das organizações. O mundo 
foi construído com base nas diferenças étnicas, religiosas e culturais. Nelson 
Rodrigues afirmava que toda unanimidade é burra, mas poucos entendem essa 
máxima.
Por questão de sobrevivência, muitos profissionais se sujeitam a trabalhar 
em empresas de valores duvidosos, contrários às necessidades pessoais de cada 
um, onde o discurso vale apenas para a sociedade e a ética restringe-se aos manuais 
da organização.
Infelizmente não existe emprego ideal, mas existe trabalho ideal, caso 
contrário, o mundo seria cruel. O que nos move para frente é a certeza de que 
existem pessoas de bem, apesar da nossa tendência inequívoca de pensar diferente.
Parafraseando um dos executivos mais sensatos que conheci no mundo 
profissional, “a ética é o freio da ambição”. Os seres humanos são capazes de coisas 
incríveis por dinheiro e poder e, na maioria das vezes, a ambição será mais forte 
que a ética, para desespero dos menos favorecidos politicamente.
TÓPICO 1 | VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
173
Todavia, não se deve perder a esperança, nunca. As relações na vida 
pessoal e profissional são difíceis, mas o mundo evolui rapidamente. Existem 
líderes e também organizações sensatas que conseguem conciliar os interesses, 
pois transcendem a ambição e o lucro em nome daquilo que se convém chamar de 
ética, aliada ao respeito aos indivíduos.
Em razão de tudo que penso, escrevo e desejo para os que convivem 
comigo, confio sempre na justiça divina, a despeito de toda falta de bom senso 
e intolerância na face da Terra. Deitar a cabeça no travesseiro com a sensação do 
dever cumprido, desprovido de culpas e mágoas, não é para homens comuns.
Como diria Otto Lara Resende, devemos almejar firmemente a utopia, 
afinal, o mundo não precisa seguir permanentemente infeliz. Pense nisso e seja 
feliz!
FONTE: Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/etica-no-
trabalho/62871/>. Acesso em: 27 maio 2013.
174
Vimos neste tópico que:
• A sociedade é global, vivemos em um mundo global.
• O processo histórico da globalização traz impactos econômicos, políticos, 
culturais e sociais.
 
• A sociedade capitalista foi determinante no Ocidente para o desenvolvimento 
da democracia, do trabalho, que propiciou o avanço da humanidade em vários 
aspectos.
• A relação entre ética e trabalho é fundamental para o desenvolvimento da 
sociedade e do indivíduo.
RESUMO DO TÓPICO 1
175
1 Como podemos caracterizar trabalho?
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de 
resolução desta questão 
176
177
TÓPICO 2
PENSANDO A SOCIEDADE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Pensar nas relações existentes de nossa sociedade, muitas vezes, nos deixa 
perplexos, visto que nos deparamos com um emaranhado de fenômenos que nos 
coloca em xeque: como é possível existir uma enormidade de padrões em uma 
mesma sociedade? Como sujeitos de grupos distintos podem viver de forma 
coletiva? Neste momento, a única certeza que realmente temos é que somos frutos 
da sociedade. E, para percorrer esse caminho, convidamos vocês a seguirem por 
essa estrada fascinante construída pelo homem, que ao transformar a natureza a 
seu favor criou elementos sociais que nos auxiliam a viver nos dias de hoje.
2 GRANDES PENSADORES
Augusto Comte e Émile Durkheim são os expoentes do positivismo, 
sendo que esses autores realizam uma leitura da sociedade capitalista buscando 
estabelecer a necessidade da ordem e do progresso.
Karl Marx e Friedrich Engels, por sua vez, realizam uma leitura do modo 
de produção capitalista baseada na crítica ao modelo de produção. Para os autores, 
torna-se necessária a transformação da sociedade por parte dos trabalhadores, por 
meio da superação da desigualdade social.
A função do indivíduo é essencial para Weber. Essa teoria busca 
compreender o papel do indivíduo dentro da sociedade, sendo que o autor estuda a 
ação social que o indivíduo realiza em sociedade. Weber também estuda a questão 
do Estado moderno e seu processo de burocratização.
2.1 AUGUSTO COMTE
Augusto Comte (1798-1857) definiu a sociologia como “física social”, 
considerando que ela deveria localizar e estabelecer as leis imutáveis da vida social, 
identificando quais seriam as irregularidades, ou qual deveria ser o funcionamento 
normal da sociedade. Para Comte, a sociedade estava em crise, em desordem, e o 
conhecimento a ser construído deveria, necessariamente, criar condições para que 
a ordem fosse novamente restaurada.
178
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
Os positivistas tinham como influência o pensamento conservador, que 
afirmava que as transformações sociais ocorridas é que seriam responsáveis pelo 
estado de desordem da sociedade. Nesse processo de transição para a sociedade 
capitalista, os indivíduos perderam a moral e os costumes, não seguindo mais uma 
hierarquia social, sendo que a preocupação central dos positivistas era o resgate da 
ordem social para o desenvolvimento do progresso. 
No Brasil, tivemos uma forte influência do pensamento positivista, basta 
olhar o lema da nossa bandeira: Ordem e Progresso.
2.2 ÉMILE DURKHEIM
O Positivismo deu início à chamada sociologia clássica, que tem como 
base os conceitos elaborados por Émile Durkheim, Karl Marx e Friedrich Engels e 
Max Weber. O pensamento de cada um desses autores possui características bem 
específicas e distintas umas das outras.
Apesar disso, são reconhecidamente importantes, na medida em que 
formam a estrutura a partir da qual a Sociologia se desenvolveu e hoje engloba 
diferentes perspectivas contemporâneas. Émile Durkheim (1858-1917) sofreu fortes 
influências do trabalho de Comte. Durkheim foi responsável pelo caráter científico 
da sociologia, sendo ele o responsável pela criação de um rigoroso método para 
análise dos problemas sociais, uma vez que para ele a sociologia seria a ciência 
responsável pelo resgate da ordem social.
Durkheim, baseado no pensamento de Comte, considerava que todos os 
problemas da sociedade capitalista eram de natureza moral, e que os problemas 
sociais não estariam ligados ao desenvolvimento da economia, ao desemprego 
gerado pela automatização do processo produtivo, e sim à falta de moral desses 
indivíduos a se inserirem nas relações sociais.
Durkheim tenta buscar compreender como esses problemas se efetivam em 
sociedade, e o que poderia ser feito para que esses problemas fossem amenizados e 
a sociedade voltasse a se desenvolver,restabelecendo a ordem social. Era necessário 
compreender a sociedade, as instituições que a constituem e suas funções e o papel 
do indivíduo dentro da sociedade.
Nesse sentido, ele faz uma analogia da sociedade como uma espécie 
de “organismo vivo”. Para Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um 
organismo humano, uma vez composta por várias partes, onde cada parte teria uma 
função específica a desempenhar, sendo que essas funções são obrigatoriamente 
interdependentes.
Para ficar mais claro: vamos pensar em nosso corpo, onde todos os órgãos 
– coração, rins, pulmão etc. – devem viver em consonância, pois se algum órgão 
TÓPICO 2 | PENSANDO A SOCIEDADE
179
estiver com problema ficamos doentes, e que para melhorarmos precisamos tomar 
uma medicação para voltarmos ao nosso estado normal, com saúde.
Durkheim faz uma analogia do corpo humano com a sociedade, por isso 
ele considera a sociologia uma espécie de biologia social. A sociedade seria um 
organismo onde as instituições (Estado, escola, política, família) seriam os órgãos, 
e cada uma dessas instituições deveria exercer sua função em consonância para 
que a sociedade mantivesse a harmonia e buscasse o progresso. Segundo Meksenas 
(1994, p. 70): “Se a sociedade é o corpo, o Estado é o seu cérebro, e por isso tem 
a função de organizar essa sociedade, reelaborando aspectos da consciência 
coletiva“.
Com o desenvolvimento do capitalismo, essas instituições não conseguem 
dar conta das mudanças econômicas, políticas e culturais, não funcionando 
adequadamente, o que compromete o andamento da sociedade. Sempre que os 
problemas ultrapassam os limites tolerados, a sociedade entra em estado de caos, 
o que prejudica a ordem social. Durkheim estabelece que esse estado de “doença 
social” é chamado estado de anomia. 
Nesse sentido, o cientista social deveria estudar esses problemas sociais 
buscando elaborar novas regras sociais. Mas esses problemas, na leitura de 
Durkheim, deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o pesquisador deveria 
analisá-los de uma forma neutra, não se posicionando a favor ou contra, sendo 
que seu objetivo seria o de buscar compreender o funcionamento “normal” da 
sociedade, identificando os “sintomas” que estão levando a sociedade a ficar em 
estado de anomia, “indicando” um tratamento para a sociedade.
Para analisar os problemas sociais, além de compreendê-los como coisas, 
Durkheim coloca que a sociologia deveria estudar os fatos sociais que acontecem 
em nossa sociedade. Contudo, para compreendermos esses fatos sociais, 
deveríamos nos ater a três características essenciais: coercitividade, exterioridade 
e generalidade.
Durkheim afirma que os fatos sociais, ou seja, o objeto de estudo da 
sociologia, são justamente essas regras e normas coletivas que orientam 
a vida dos indivíduos em sociedade. Tais fatos sociais são diferentes dos 
fatos estudados por outras ciências por terem origem na sociedade, e 
não na natureza (como nas ciências naturais) ou no indivíduo (como na 
psicologia). (TOMAZI, 2000, p. 17).
A primeira característica que se refere ao fato social é a coercitividade. 
Durkheim coloca que todo fato social é coercitivo, ou seja, exerce uma determinada 
força sobre o indivíduo, obrigando-o a se adaptar às regras da sociedade em que 
vive, deixando os indivíduos em segundo plano. Essa coerção pode ser uma 
coerção física (a polícia muitas vezes usa da coerção física para valer uma regra) ou 
uma coerção psicológica (sabemos que se não cumprirmos as regras estabelecidas 
pela sociedade, poderemos ser punidos). Um ponto interessante dessa questão é 
que se começarmos a refletir sobre a nossa sociedade, muitas ações do nosso dia 
180
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
a dia, que pensamos ser fruto da nossa vontade, das nossas escolhas enquanto 
indivíduo, são socialmente constituídas.
A segunda característica do fato social é a exterioridade. Muitos dos 
fenômenos que acontecem em nossa sociedade são colocados como exteriores ao 
indivíduo, existem e atuam independente da sua vontade, sendo impostos por 
mecanismos sociais. Quando o indivíduo nasce, a sociedade já está estruturada, 
com suas leis, seu padrão econômico, político e cultural, cabendo ao indivíduo agir 
conforme os padrões instituídos socialmente. “As regras sociais, os costumes, as leis, 
já existem antes do nascimento das pessoas, são a elas impostas por mecanismos 
de coerção social, como a educação, por exemplo”. (COSTA, 2002, p. 60).
A última característica do fato social é a generalidade. É social todo o fato 
que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. 
Podemos chegar à conclusão de que só é fato social aquilo que se refere a um 
grupo de pessoas, aquilo que atinge uma coletividade (COSTA, 2002).
Até aqui vimos que a sociedade é que estabelece regras e normas para que os 
indivíduos as sigam, e que os problemas devem ser estudados como fatos sociais. 
Apesar de todos os problemas existentes, Durkheim tinha uma visão otimista da 
sociedade capitalista emergente, principalmente porque ela, segundo o autor, 
desenvolveu novas relações que permitiram maior integração dos indivíduos com 
a sociedade, gerando novos laços de solidariedade. Para ele, o capitalismo trazia 
em seu interior um processo de crescente especialização do trabalho: as pessoas 
eram levadas a especializar-se numa área ou num assunto, não sendo possível 
que elas dominassem plenamente todos os assuntos, ou soubessem desempenhar 
todas as profissões na sociedade.
Assim, essa especialização do trabalho acabava provocando uma relação de 
interdependência entre os indivíduos, que deveriam cada vez mais se relacionar 
de forma complementar. Esse tipo de solidariedade Durkheim chamou de 
solidariedade orgânica.
[...] aquela típica das sociedades capitalistas, onde, pela acelerada 
divisão do trabalho social, os indivíduos se tornam interdependentes 
[...] que garante a união social, em lugar dos costumes, das tradições ou 
das relações sociais estreitas. Nas sociedades capitalistas, a consciência 
coletiva se afrouxa. Assim, ao mesmo tempo em que os indivíduos são 
mutuamente dependentes, cada qual se especializa numa atividade e 
tende a desenvolver maior autonomia pessoal. (COSTA, 2002, p. 64).
A solidariedade orgânica substitui a solidariedade mecânica, onde existe 
pouca divisão do trabalho, onde os indivíduos são mais autônomos, sendo os 
laços de solidariedade estabelecidos pela tradição, pelos costumes, pelos hábitos 
arraigados.
[...] aquela que predominava nas sociedades pré-capitalistas, onde os 
indivíduos se identificavam por meio da família, da religião, da tradição 
e dos costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos 
em relação à divisão do trabalho social. (COSTA, 2002, p. 64).
TÓPICO 2 | PENSANDO A SOCIEDADE
181
O interessante é perceber que mesmo com o capitalismo avançado, ainda 
existem pessoas que se relacionam através da solidariedade mecânica. Basta você 
olhar como as pessoas se relacionam em cidades pequenas, sendo a tradição e os 
costumes que estabelecem os laços de solidariedade entre os indivíduos.
Como vimos até aqui, na teoria positivista de Durkheim, a sociedade é 
que estabelece o modo de ser e de viver dos indivíduos. Para que isso aconteça é 
necessário o estabelecimento de uma consciência coletiva, o que garantiria a coesão 
social, principalmente através de sanções e punições estabelecidas pela sociedade. 
Independentemente da consciência de cada indivíduo, existe a consciência coletiva 
(superior a todos) que é responsável pela criação, execução e fiscalização de um 
conjunto de normas, valores que seriam defendidos por todos em sociedade.
A consciência coletiva é objetiva, isto é, não vem de uma só pessoa ou 
grupo, mas está difusa (espalhada) em toda a sociedade e, por isso, ela é 
exterior aoindivíduo, quer dizer, a consciência coletiva não é o que um 
indivíduo pensa, mas é o que a sociedade pensa. Por isso a consciência 
coletiva age sobre o indivíduo de forma coercitiva, isto é, exerce uma 
autoridade sobre o modo de como o indivíduo deve agir no seu meio 
social. (MEKSENAS, 1994, p. 65).
Durkheim acredita que a sociedade estabelece os caminhos que cada 
indivíduo deve trilhar, no sentido de tentar manter a ordem e buscar o progresso. 
Nesse contexto, a educação e a escola têm o papel de socializar os indivíduos para 
que eles se desenvolvam (socialmente, profissionalmente...) dentro dos padrões 
preestabelecidos a seu grupo social, ou seja: socializar-se é aprender a ser membro 
da sociedade, e aprender a ser membro da sociedade é aprender o seu devido 
lugar nela. Só assim é possível preservar a sociedade (RODRIGUES, 2000).
2.3 DURKHEIM E A EDUCAÇÃO
Como na concepção durkheiminiana a educação é um forte instrumento de 
coesão social, cabe ao Estado ofertá-la e supervisioná-la, instituindo os princípios 
básicos para a concretização da moral da sociedade, que através da escola 
seriam transmitidos às crianças e aos jovens. Podemos dizer que é na escola que 
aprendemos a nos tornar membros da sociedade, e é dentro dela que passamos 
grande parte de nossas vidas nos socializando com outros indivíduos. Nesse 
sentido, podemos perceber que a visão de Durkheim da sociedade e da função que 
a educação exerce sobre ela é formar indivíduos que se adaptem à estrutura social 
vigente, instituindo os caminhos e normas que cada um deve seguir, tendo sempre 
como horizonte a instituição e manutenção da ordem social.
Durkheim, o positivismo e seus conceitos têm uma leitura de que a 
sociedade capitalista está em primeiro plano, e o indivíduo deve a todo o momento 
adaptar-se e cumprir as regras estabelecidas, visto que um indivíduo só tem valor 
se estiver inserido no contexto social, pois é a sociedade que confere sentido à sua 
existência.
182
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
2.4 MARX E ENGELS
Marx e Engels são pensadores importantíssimos para a realidade social, 
pois suas abordagens perpassam por questões econômicas, políticas, sociais, 
ideológicas e culturais. É importante discutir que toda sua leitura está pautada 
na transformação da realidade social, instituindo uma nova sociedade, ou seja, o 
socialismo.
Essa nova sociedade é chamada socialista, pois propunha uma sociedade 
sem classes sociais e desigualdade social. Socialismo é um regime político e 
econômico em que não existe a propriedade privada nem as classes sociais.
Todos os bens seriam de todas as pessoas e não poderia haver diferenças 
econômicas entre os indivíduos. Existiria um governo (ditadura do proletariado) 
que instituiria determinadas leis sociais para a totalidade dos indivíduos. Hoje, 
contamos com a existência do Estado para defender os interesses dos trabalhadores, 
pois o pensamento nos padrões do capital ainda se faz presente, sendo necessário 
um período de transição e formação do sujeito dentro de novos padrões econômicos, 
políticos, ideológicos e culturais.
O socialismo é um processo de transição para o comunismo, no qual todos 
os processos de divisão, inclusive do poder na figura do Estado, deixariam de 
existir, pois todas as decisões seriam tomadas pela totalidade dos sujeitos. O 
processo de transição da sociedade se daria, segundo Marx e Engels, por meio da 
classe trabalhadora.
É nesse sentido que eles realizaram a leitura da sociedade capitalista tendo 
como pano de fundo a divisão das classes sociais e a permanente luta entre elas, 
denominada luta de classes.
Existem muitas obras de primeira mão (escritas pelo próprio Marx) e de segunda 
mão (interpretação do pensamento marxiano) sobre a teoria de Karl Marx. As mais significativas 
escritas por Marx são: A ideologia alemã, O capital, Os manuscritos econômicos e filosóficos, 
além do Manifesto do Partido Comunista. Antonio Gramsci (Os intelectuais e a organização da 
cultura), Vladimir Illitch Ulianov – Lênin (Estado e a revolução) são pensadores contemporâneos 
que utilizam as bases marxianas para a interpretação da sociedade capitalista moderna.
Consideravam que o conhecimento poderia ser um instrumento na luta dos 
trabalhadores por mudanças na estrutura econômica capitalista, que era injusta 
e desigual. Nesse contexto, enfatizaram o papel dos trabalhadores no processo 
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 | PENSANDO A SOCIEDADE
183
de superação do modo de produção capitalista e na implantação de uma nova 
sociedade – inicialmente socialista e em seguida comunista.
Torna-se essencial compreendermos alguns dos principais conceitos da 
teoria marxista, visto que eles nos ajudam a compreender o pensamento e a leitura 
que Marx realizou da sociedade. Vamos abordar aqui somente alguns conceitos (os 
básicos), pois a teoria de Marx e Engels é muito vasta. Iremos discutir os conceitos 
de classes sociais, luta de classes, trabalho e alienação, fetiche da mercadoria, mais-
valia e Estado.
FIGURA 45 – BURGUESES E OPERÁRIOS
FONTE: Disponível em: <http://filohumanas1ano.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
Para Marx, a sociedade capitalista já nasce dividida em duas classes sociais: 
os burgueses (capitalistas) e os proletários (trabalhadores), e são essas classes que 
materializam as relações sociais. Isso quer dizer que, dentro do capitalismo, as 
relações sociais são construídas pelo processo de venda da força de trabalho dos 
proletários e compra dessa força pelos capitalistas (donos dos meios de produção) 
que a exploram dentro da produção. Essa divisão de classes é que sustenta a nossa 
sociedade, nascendo dessa relação todas as mercadorias que nós utilizamos em 
nosso dia a dia. Olhe ao seu lado. Veja este livro, o seu caderno, a sua roupa. Tudo 
isso é fruto de trabalho humano, trabalho assalariado.
Na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem dois 
grandes grupos dentro da sociedade: de um lado os capitalistas, que 
são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, 
ferramentas, capital etc.) necessários para transformar a natureza e 
produzir mercadorias; do outro, os trabalhadores, também chamados, 
em seu conjunto, de proletários, aqueles que nada possuem, a não ser 
o seu corpo e sua disposição para trabalhar. A produção na sociedade 
capitalista só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em 
relação. (TOMAZI, 2000, p. 21).
184
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
Essa divisão de classes aparentemente é uma divisão natural. Marx 
conseguiu desvendar a aparência dessas relações, buscando compreender 
a essência dos fenômenos, demonstrando que na sociedade essa divisão se 
apresenta de forma ‘oculta’, pois não observamos em nosso cotidiano o constante 
conflito entre elas. Esse conflito não é necessariamente armado, e na leitura de 
Marx não é passível de solução dentro do modelo capitalista de produção, pois 
essa desigualdade entre classes é intrínseca à sociedade. Esse conflito é simbólico 
e ideológico, daí a denominação de luta de classes. As duas classes sociais 
(proprietários e trabalhadores) vivem em constante embate de caráter ideológico 
e político.
Nesse contexto podemos perceber que a desigualdade entre as classes 
sociais aumenta dentro do processo produtivo, pois a produção de mercadorias 
é realizada de forma coletiva, sendo a apropriação das riquezas geradas pela 
produção privada; é desse processo que advém a desigualdade social.
Um ponto essencial na teoria marxista é a questão do trabalho. Na leitura 
de Marx, o trabalho é essencial para o homem, visto que é através dele que o 
homem transforma a natureza e, ao mesmo tempo, se transforma em ser social. O 
trabalho aqui é a mediação entre a natureza e o homem, pois ele é responsável pela 
construção da nossasociedade.
Partimos do pressuposto de que é por meio do trabalho, no sentido 
marxiano, que realizamos transformações intencionais, planejadas, que têm como 
resultado um produto real e concreto que antes só existia na mente humana. Marx 
(1985, p. 149) argumenta que é precisamente o trabalho que diferencia os homens 
dos outros animais, quando afirma que:
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha 
envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos 
de sua colmeia. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto 
da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de 
construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um 
resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador e, 
portanto, idealmente.
É através do trabalho humano que as realizações objetivam e exteriorizam 
os sujeitos que fazem parte do mundo. Esse trabalho é atividade humana que 
transforma o mundo ao mesmo tempo em que transforma o sujeito. “Ao atuar, 
por meio deste movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la, ele 
modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza”. (MARX, 1985, p. 149). É assim 
que o homem se reconhece em seu trabalho e se orgulha daquilo que constrói, 
dando-lhe significados.
Na sociedade capitalista, esse trabalho não é visto como trabalho criador, e 
sim como trabalho assalariado. No capitalismo, o trabalhador perde a autonomia 
do processo produtivo, ficando sujeito às decisões tomadas pelos administradores, 
principalmente a partir da introdução de modernas máquinas e mudanças na 
esfera produtiva que visa ao aumento da produção e do lucro. Assim, o trabalhador 
TÓPICO 2 | PENSANDO A SOCIEDADE
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controla muito pouco da produção: ele deve submeter-se às normas e deliberações 
de outras pessoas. Mais do que isso: quase sempre o trabalhador desconhece todo 
o processo produtivo, o que o impossibilita de saber qual é o produto que ajuda 
a produzir e para que finalidade é utilizado. A este processo de separação do 
trabalhador do fruto de seu trabalho, Marx e Engels chamaram de alienação.
Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que a 
industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam 
o trabalhador dos “meios de produção” – ferramentas, matéria-prima, 
terra e máquina –, que se tornaram propriedade privada do “capitalista”. 
Separava também, ou alienava, o trabalhador do fruto do seu trabalho, 
que também é apropriado pelo capitalista. Essa é a base da alienação 
econômica do homem sob o capital. (COSTA, 2002, p. 84-85).
Aprofundando essa relação de trabalho alienado, Marx desenvolve o 
conceito de fetiche da mercadoria, o que aumenta mais a desigualdade entre os 
homens. O fetiche da mercadoria ‘esconde’ a principal característica da mercadoria, 
que é ser fruto de trabalho humano, passando uma ideia de que o produto 
adquire vida própria. Nesse sentido, percebemos que todas as relações sociais são 
transformadas em mercadorias, ocultando o ponto central da sociedade capitalista: 
a busca pelo lucro. Faça uma experiência: pare na frente de uma vitrine e escolha 
um produto. Será que a gente consegue verificar que ele é fruto de múltiplos tipos 
de trabalho? Trabalho essencialmente humano? Não parece que, ao olharmos o 
produto, só vemos a marca, a propaganda? Isso é fetiche da mercadoria.
Somos levados a pensar que as mercadorias têm qualidades próprias, 
que o dinheiro possui um poder de compra que é mágico. [...] Esse 
fetiche faz com que as relações de exploração entre patrão e empregado 
fiquem encobertas, favorecendo a própria continuação do capitalismo. 
(MEKSENAS, 1994, p. 79).
Dentro da discussão, Marx analisa que no momento em que o capitalista 
compra a força de trabalho de seu empregado é que nasce o processo de exploração 
capitalista. Como assim? O capitalista, ao pagar o salário aos trabalhadores, nunca 
paga o que eles realmente produziram, ou seja, é o trabalho não pago, o trabalho 
excedente, pelo qual o trabalhador deixa de ser remunerado e que permite ao 
capitalista acumular capital.
O capitalista, ao pagar o salário aos trabalhadores, nunca paga o que eles 
realmente produziram. O excedente de valor produzido, que não é devolvido para 
o trabalhador, é apropriado pelo capitalista. Isso é o que Marx define como mais-
valia. (MEKSENAS, 1994, p. 79).
Mas como essas classes vivem em estado de luta, Marx coloca como ponto 
central a necessidade dos trabalhadores orientar-se, inicialmente, na organização 
de todos os trabalhadores em sindicatos. Em seguida, essa organização deveria 
provocar a formação de um partido específico para a defesa dos interesses dos 
trabalhadores.
186
UNIDADE 3 | A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO
Este partido, por sua vez, deveria fazer oposição ao Estado capitalista, 
considerado por Marx o “comitê da classe burguesa”, ou seja, mero instrumento 
para a defesa dos interesses da burguesia.
Sendo o Estado no capitalismo um organismo da burguesia – que financia a 
acumulação privada de capital, favorecendo determinadas empresas, que mantêm 
e defendem o capitalismo e que representam diferenciadamente as classes sociais, 
privilegiando a classe burguesa – seria imprescindível acabar com este Estado para, 
em seu lugar, implantar uma nova sociedade, baseada na igualdade de condições, 
e não na desigualdade e divisão de classes.
2.5 MARX E A EDUCAÇÃO
Como estamos em um curso superior e seremos mediadores do 
conhecimento, acredito ser interessante analisarmos também a leitura do processo 
educativo na vertente marxista, que se distingue bastante do pensamento 
durkheiminiano que vimos em pontos anteriores. Marx vai dar ênfase à educação 
politécnica, tão premente nos dias atuais. Vejamos.
Na leitura marxista, a educação deve ser vista como um instrumento de 
transformação social e não uma educação reprodutora dos valores do capital. 
Dentro dessa concepção, ele aborda a necessidade de uma educação politécnica, 
estabelecendo três pontos principais:
1. O ensino geral, que compreenderia línguas e literatura materna e 
estrangeira, juntamente com o ensino de ciências, pois isso elevaria 
o nível cultural da classe trabalhadora e lhe propiciaria uma visão 
universalista.
2. A educação física, compreendendo os exercícios físicos que visavam 
salvaguardar a condição física dos meninos e futuros adultos.
3. Os estudos tecnológicos, que deveriam incluir os princípios gerais 
e científicos de todos os processos de produção, a utilização dos 
instrumentos de todos os ramos industriais.
Isso permitiria um saber fazer, que, de um lado, exigia conhecimentos 
científicos e, de outro, o aprendizado da manipulação dos instrumentos, 
o que possibilitaria aos trabalhadores conhecimento e a apropriação das 
condições de produção. (TOMAZI, 2000, p. 7).
Esse sistema educacional caracterizava-se na criação de escolas em tempo 
integral, divididas em dois períodos, que possibilitaria combinar, na formação 
da criança, educação escolar e trabalho na fábrica. No primeiro período a criança 
aprenderia questões pedagógicas (línguas, matemática, ciência, literatura...) e 
no outro, se desenvolveria a concepção de produção: como funciona o processo 
produtivo, quais os instrumentos utilizados, como planejar e executar.
Podemos perceber que dentro desse “sistema educacional” não existe a 
separação entre trabalho manual e intelectual, ou seja, o trabalho explorado, onde 
um grupo de pessoas manda e outro obedece, diferenciando os homens. A escola 
TÓPICO 2 | PENSANDO A SOCIEDADE
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politécnica possibilita a formação integral do homem, não repassando conteúdos 
fragmentados, mas ensinando, ao mesmo tempo, conteúdos pedagógicos e 
produtivos. E como é em nossa sociedade? Quem pensa não executa e quem 
executa não pensa.
Essa educação politécnica desenvolveria o que Marx denomina de 
ominilateralidade,

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