Prévia do material em texto
8 1. Introdução Quando falamos sobre a origem da vida, um leque de opções com diferentes ideias, hipóteses e teorias abre-se diante de nós convergindo para um único objetivo, a sua explicação. A curiosidade pelo saber de onde viemos, como surgimos e quando surgimos, desperta interesse de forma grandiosa em muitos estudiosos desde tempos remotos até os dias atuais. Com isso, muitas teorias e hipóteses que buscam remontar a história deste acontecimento, já foram formuladas abrangendo desde o criacionismo, até as teorias evolucionistas propostas pelas diferentes linhas de pensamento no campo científico (FONSECA,2009). Falar sobre a origem da vida torna-se difícil e complicado, devido à complexidade que este assunto apresenta e as divergências que existem entre as linhas de pensamento que tentam explicar este surgimento. Mediante a isso, se torna imprescindível cautela e prudência, no momento de transpor o conhecimento cientifico, sobre este tema, em sala de aula. É importante que instrumentos capazes de auxiliar na aprendizagem de conteúdos difíceis, como a origem da vida, estejam presentes no cotidiano escolar e forneçam o aparato necessário para que a construção do conhecimento correto possa acontecer. Um objeto simples e extremamente importante para o ensino são os livros didáticos. Estes com toda certeza, não só podem, como devem ser utilizados, como instrumentos auxiliadores no processo de aprendizagem. Os livros didáticos são ferramentas de extrema relevância para o ensino, são elementos úteis e necessários capazes de conferir grande assistência aos alunos ao longo da sua formação. É fundamental que os livros apresentem uma boa estruturação, permitindo que conteúdos de difícil entendimento sejam expostos de forma mais clara, objetiva e coerente contribuindo para que uma compreensão mais fácil e apropriada possa ocorrer. Estes livros ainda devem permitir o acesso a informações adequadas e importantes para o crescimento pessoal, intelectual e social dos indivíduos envolvidos no processo educativo. A Biologia é a ciência que estuda a vida e, por mais paradoxal que possa parecer, ainda não há um conceito definido para o tema dentro desta área do conhecimento (CALDAS, 2008). Muitos cientistas tentam achar uma explicação plausível que defina o que é vida, e com isso formulam hipóteses e teorias na tentativa de responder a esta questão. Para o físico Erwin Schrodinger, a vida se define “por um sistema vivo que se autoconstrói contra a tendência da Natureza na direção da desordem, ou da entropia” (RICARDO; SZOSTAK, 2009 p. 40), já para o químico Geral Joyce, vida é “um sistema químico autossustentável 9 capaz de evolução darwiniana” (Ibden). Enfim, como já dito anteriormente muitas são as teorias postuladas que buscam responder a grande questão sobre o que é vida, assim como muitas são as teorias e hipóteses que buscam remontar a história do surgimento dela. Por isso diante da enormidade de informações diferentes que existem, sobre o que é vida e a origem dela, torna-se crucial o cuidado com o que será exposto durante o processo educativo nas escolas. E por isso, mais uma vez ressalta-se a importância de existirem instrumentos, como os livros didáticos, capazes de auxiliar de forma significativa e esclarecedora no processo de aprendizagem. No Brasil os livros didáticos de biologia são um dos principais meios de transposição de conteúdos do conhecimento científico para o conhecimento escolar (KAWASAKI; ELHANI, 2002). Diante disso, este trabalho tem como intuito realizar uma análise no conteúdo, “a origem da vida”, em obras didáticas voltadas para o ensino médio. Tendo em vista a importância deste conteúdo dentro da biologia, relatar sobre a origem da vida requer não só um olhar minucioso para os dados que serão apresentados, mas também para o mecanismo de abordagem utilizado na exposição de tal conteúdo. Por isso neste trabalho será analisado a exposição deste assunto nessas obras didáticas, investigando se as informações apresentam-se de forma coerente, clara e objetiva contribuindo para que os indivíduos em formação consigam construir o conhecimento de forma mais fácil, correta e adequada com base nas teorias científicas apresentadas sobre o surgimento da vida. 10 2. A Origem da Vida A origem da vida é hoje um dos assuntos mais discutidos e estudados na sociedade contemporânea. Porém o interesse em encontrar uma explicação plausível para o surgimento da vida iniciou-se há tempos atrás com filósofos como Tales Mileto. Foi ele que, 600 anos antes de Cristo, postulou a primeira tese sobre as origens de todas as coisas, afirmando ser a água o elemento essencial da matéria que compõem o mundo (TURNER, 2009). Desde então a busca por respostas que expliquem este grande enigma que é a vida, tem impulsionado a ciência a buscar conhecimentos capazes de solucionar esta questão. A origem do universo, dos planetas e de tudo o que mais existe compõem um dos capítulos mais importantes da história da humanidade. Juntos com a origem da vida, esses acontecimentos constituem uma enorme incógnita para a ciência e o conhecimento adquirido sobre estes assuntos podem contribuir de forma significativa, para o esclarecimento do grande mistério que é a vida e o seu início. A ciência busca incessavelmente o conhecimento na tentativa de encontrar as respostas que expliquem de forma cabível esse grande mistério. Muitas são as hipóteses e teorias que propõem modelos na tentativa de restituir a história destes acontecimentos. E as descobertas atuais têm contribuído de forma relevante para o avanço no conhecimento adquirido sobre as origens ao longo do tempo. Voltando os nossos olhos para a formação do universo, as evidências científicas mostram que ele iniciou-se a partir de uma grande explosão denominada Big Bang há cerca de 13,7 bilhões de anos. Desde então, apresenta um contínuo processo de expansão e resfriamento. “Ele teria evoluído de uma sopa disforme de partículas elementares para o Cosmos ricamente estruturado de hoje” (TURNER, 2009, p. 22). O universo de um século atrás era considerado eterno, imutável, formado por uma única galáxia. Hoje, se sabe que ele é muito mais rico do que aparentava. Descobertas recentes como a da energia escura, o alvorecer de ideias, como a inflação cósmica e o multiverso, contribuíram ao longo dos últimos 20 anos para a evolução na história do universo. (Ibden). O planeta Terra por sua vez, teria se formado há aproximadamente 4,6 milhões de anos (MARTINS, 2009), a partir da aglomeração de poeira, rochas e gases presentes no disco de matéria que girava ao redor do sol em formação. No início de sua existência o planeta Terra era um ambiente inóspito, que não apresentava condições hábeis para o desenvolvimento da vida. Alta temperatura e pressão, constantes erupções vulcânicas e bombardeamento por asteróides provindos do espaço constituíam o ambiente apresentado pela 11 Terra naquela época (BARRIGA, 2002). Porém com o passar do tempo as condições foram se modificando, o que teria permitido que o planeta adquirisse de forma gradativa estruturações diferentes, propiciando assim a formação da vida. Para muitos cientistas a vida não teria começado na Terra, mas sim teria sido trazida por cometas e meteoros que atingiram a Terra constantemente no início da sua existência (FRAIBERG, 2008). A concepção de que a vida teria começado pela dispersão de esporos resistentes trazidos por meteoritos de qualquer ponto do universo, iniciou-se em 1908 com químico sueco Svante Arrhenius. Desde então esta ideia passou a ser alimentada por outros cientistas como Fred Hoyle e Nalin Chandra Wickramasinghe, culminando assim, na formulação da teoria panspérmica que conhecemos hoje. Para outros cientistas, adeptos do criacionismo, a vida teria sido criada por um fenômenosobrenatural, para eles um ser superior teria dado origem a todas as coisas. Outros ainda defendem a hipótese de que a vida teria surgido na Terra por processos de evolução molecular (DAMINELI; SANTA CRUZ, 2007), este que teria permitido que moléculas orgânicas simples originassem moléculas mais complexas caracterizando os primeiros seres vivos. Como já ressaltado anteriormente, muitas são as teorias e hipóteses que tentam remontar a história do surgimento da vida. Desvendar esta questão não é algo fácil, já que “a verdadeira natureza dos primeiros organismos e as circunstâncias exatas da origem da vida podem estar perdidas para a ciência para sempre...” (RICARDO; SZOSTAK, 2009, p. 40). Porém o esforço de cientistas em buscar resposta através das pesquisas, pode ao menos nos ajudar a entender o que é possível. Auxiliando-nos, assim, a trilhar este longo caminho atrás da explicação definitiva para esta questão. 2.1 Aspectos que possivelmente propiciaram a Origem da Vida Para falar sobre a origem da vida é necessário levar em consideração as diferentes teorias e hipóteses que procuram reconstituir a história deste acontecimento. É importante analisar o conhecimento que dá sustentação às concepções que compõem essas teorias e 12 hipóteses. Desta forma será apresentado a seguir, um breve resumo sobre o que se encontra descrito, a respeito das correntes de pensamento mais citadas na literatura. 2.1.1 Abiogênese versus Biogênese 2.1.2 Evolução Química 2.1.3 O Mundo do RNA 2.1.4 Hipótese heterotrófica e Hipótese autotrófica 2.1.5 Panspermia Cósmica 2.1.6 Criacionismo 2.1.1 Abiogênese versus Biogênese Uma concepção muito difundida entre os povos de cultura judaico-cristã-islâmica é que a vida foi insuflada na matéria por Deus, e seria portanto,uma espécie de milagre e não uma decorrência de leis naturais (DAMINELI; SANTA CRUZ, 2007). É difícil imaginar como isso teria acontecido, mas escritos de Aristóteles (384-322 a.C.), falam da pneuma, que seria uma espécie de matéria divina e que constituiria a vida animal: A pneuma seria um estágio intermediário de perfeição logo abaixo do da alma humana. A dualidade matéria/vida nos animais (ou corpo/alma nos seres humanos) já aparecia na escola socrática, da qual Aristóteles era membro, embora de modo um pouco diferente. Entre os animais superiores, o sopro vital passaria para os descendentes por meio da reprodução. Entretanto, Aristóteles acreditava que alguns seres (insetos, enguias, ostras) apareciam de forma espontânea, sem serem frutos da “semente” de outro ser vivo. Essa concepção é conhecida como geração espontânea e parece ter sido derivada dos pré-socráticos, que imaginavam que a vida, assim como toda a diversidade do mundo, era formada por poucos elementos básicos. (DAMINELI; SANTA CRUZ 2007, p. 263) Também conhecida como geração espontânea, a teoria da abiogênese foi a primeira ideia proposta para explicar os surgimento da vida. Nesta teoria, era defendida a proposta de 13 que a vida poderia surgir a partir da matéria inanimada. O médico Jan Baptista van Helmont (1580-1644), um dos adeptos desta teoria, afirmava que ratos poderiam ser originados por geração espontânea. Ele chegou a propor uma “receita” para a fabricação de ratos, que consistia em colocar grãos de trigo sobre algumas camisas sujas em um local pouco iluminado e esperar cerca de alguns dias para o surgimento desses indivíduos (SANTOS, 2008). Esta teoria perdurou ainda por algum tempo e encontra-se presente em escritos antigos na China, Índia, Babilônia, Egito e em outros escritos ao longo de vinte séculos seguintes, como em W. Harvey, Bacon, Descartes e Buffon (DAMINELI; SANTA CRUZ, 2007). Porém, devido à expansão do conhecimento científico e aos experimentos realizados por Redi, Spallanzani, Pasteur e tantos outros cientistas, a crença na teoria da abiogênese não resistiu. Os experimentos realizados por estes cientistas confirmaram a inviabilidade de tal teoria e reforçaram a ideia de que vida só poderia origina-se de outra vida preexistente, introduzindo assim a teoria da biogênese. Um dos primeiros a refutar a teoria da geração espontânea foi o médico italiano Francesco Redi (1629-1697). Em um dos seus experimentos, no qual utilizou cadáveres de animais e alimentos podres, Redi observou que vermes não brotavam espontaneamente dos cadáveres e dos alimentos e sim dos ovos que eram depositados pelas moscas sobre estes detritos. Mais especificamente neste experimento, Redi utilizou frascos que continham cadáveres de animais e pedaços de carne, uns frascos foram vedados com gaze e outros não. Nos frascos vedados não ocorreram formação de larvas, porém nos frascos em que o conteúdo ficou exposto ao ar, muitas larvas se desenvolveram já que as mosca entravam e saíam ativamente (SANTOS, 2008). A experiência de Redi serviu então para favorecer a biogênese. Contudo a teoria da geração espontânea voltou a ser usada para explicar a origem de seres microscópicos. Antonie van Leeuwenhoek (1623-1723), usando um microscópio de sua própria fabricação, observou pela primeira vez, a existência de organismos pequenos demais para serem vistos a olho nu, os microorganismos. Ele acreditava que esses seres tão pequenos não poderiam surgir por meio da reprodução, o que favorecia a teoria abiogênica. Porém para muitos cientistas, nem estes seres microscópicos poderiam surgir por geração espontânea. O francês Louis Joblot (1645-1723) era um dos que insistiam que a vida só poderia ser originada por meio da biogênese. Em 1711 Joblot realizou um experimento, no qual ferveu um caldo nutritivo preparado à base de carne em duas séries de frascos. Os fracos da primeira série ficaram abertos e o da segunda fechados, após alguns dias ele observou o conteúdo dos frascos ao microscópio. Os frascos destampados apresentavam grande 14 quantidade de microorganismos, enquanto que nos frascos tampados o líquido permanecia “puro”, com ausência de microorganismos. Diante disto, Joblot acreditava ter resolvido o problema sobre a origem dos seres microscópicos, ele concluiu que os microorganismos originavam-se de “sementes” provenientes do ar e não pela transformação espontânea da matéria inanimada do caldo nutritivo. Contudo a hipótese de geração espontânea não estava derrotada, o inglês John Needham (1713-1781) em 1745, realizou um experimento para tentar comprovar que a teoria da abiogênese tinha fundamento. Ele colocou caldos nutritivos em diferentes frascos, ferveu-os por 30 minutos e logo após vedou-os com rolhas de cortiça. Depois de alguns dias, Needham observou que o caldo estava repleto de microorganismos. Argumentado que a fervura eliminaria todos os microorganismos presentes no caldo original e que nenhum ser vivo poderia penetrar através da rolha, Needham concluiu que a presença dos microorganismos encontrados no caldo era decorrência da geração espontânea (SANTOS, 2008). Mais tarde o italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799), refez o experimento e concluiu que a vedação e o tempo de fervura utilizado no experimento de Needham, eram insuficientes para impedir a contaminação do caldo e matar os microorganismos presentes no caldo original. Needham, no entanto, defende-se dizendo que a fervura prolongada realizada por Spallanzani havia destruído a força vital do caldo, força esta que ele acreditava ser essencial para que a vida surgisse. Spallanzani então quebrou os gargalos de vidro fundidos de alguns frascos, que ainda se mantinham estéreis e expôs o seu conteúdo ao ar. Em pouco tempo os microorganismos surgiram e através disto ele pode comprovar que o caldo não havia perdido a sua força vital em decorrência da fervura prolongada. Porém Needham, argumentou dizendo que o princípio ativo deteriorado pelo longo tempo de fervura, havia sido restaurado com a entrada de ar fresco, devidoa isso os microorganismos puderam surgir espontaneamente (SANTOS, 2008). Somente o francês Louis Pasteur (1822-1895), conseguiu por fim a esta discussão. Através dos seus experimentos, Pasteur conseguiu provar que esta força vital não existia e demonstrou definitivamente que os microorganismos só poderiam surgir em caldos nutritivos pela contaminação de germes provindos do ambiente externo. Em 1860, Pasteur realizou um experimento utilizando vidros que possuíam gargalho semelhante a pescoços de cisnes. Dentro havia caldos nutritivos que foram fervidos e deixados em repouso durante alguns dias. Em nenhum dos frascos desenvolveram-se microorganismos, apesar do caldo estar em contato direto com o ar. A explicação para que este fato ocorresse, era a de que os microorganismos presentes no ar ficavam retidos nas curvas dos gargalos e por isso eles não conseguiam atingir 15 o líquido presente nos frascos. Quando Pasteur quebrou o gargalo de alguns vidros, verificou que em poucos dias seus conteúdos tornaram-se repletos de microorganismos (SANTOS, 2008). Esta experiência então, serviu para colocar um ponto final definitivo na teoria da abiogênese. 2.1.2 Evolução Química A ideia de que os seres vivos surgiram na superfície da Terra através de reações que ocorreram em uma sopa orgânica, e que sofreram transformações lentas e graduais com o passar do tempo, é mais antiga que a teoria de Charles Darwin. Filósofos gregos tais como Tales, Anaximandro, Empédocles, Epícuro e Lucrécio, já defendiam idéias evolucionistas, naturalmente não formuladas de maneira científica (FRAIBERG, 2008). A teoria da evolução química, também conhecida como a teoria da evolução molecular, é hoje uma das teorias mais aceitas no campo científico para explicar a origem da vida. Esta teoria foi proposta inicialmente pelo inglês Thomas Huxley (1825-1895), sendo retomada e aprofundada na década de 1920 pelo inglês John Burdon S. Haldene e pelo russo Aleksander I. Oparin. De acordo com esta teoria a vida teria surgido a partir de processos de evolução química em compostos inorgânicos, que teriam originado moléculas orgânicas simples. Estas posteriormente originaram moléculas mais complexas como as proteínas, que por sua vez, originaram estruturas ainda mais complexas caracterizando o que seria o primeiro ser vivo (DAMINELI; SANTA CRUZ, 2007). Segundo Sena (2006), Oparin e Haldene, em separado, desenvolveram trabalhos relacionados e publicaram a mesma hipótese, à exceção de alguns pormenores, sobre a origem da vida. Segundo estes cientistas, a atmosfera da Terra primitiva era formada essencialmente por quatro gases: metano, amônia, hidrogênio e vapor de água. Eles acreditavam que este ambiente era bastante redutor em consequência da inexistência ou da baixíssima concentração do gás oxigênio. A Terra primitiva apresentava constantes erupções vulcânicas, temperaturas muito altas e ainda constantes bombardeamentos por asteróides vindos do espaço sideral. A água trazida por estes corpos celestes evaporava em decorrência do impacto e se acumulava como vapor na atmosfera da Terra em formação. Ao atingir as camadas superiores e frias da atmosfera, o vapor de água condensava-se, formando nuvens carregadas que se precipitavam em forma de chuva. Após as constantes oscilações térmicas a Terra passou por um estágio de resfriamento, o suficiente para que água no estado líquido se acumulasse nas regiões mais 16 baixas da crosta, formando áreas alagadas denominadas de “mares primitivos”. A Terra ainda, era atingida frequentemente por descargas elétricas e radiações, o que teria fornecido energia para que algumas moléculas presentes na atmosfera se unissem, dando origem a moléculas maiores e mais complexas, constituindo estas as primeiras moléculas orgânicas. Estas moléculas eram arrastadas pelas águas das chuvas, que eram constantes naquela época, e se acumulavam nos mares primitivos. Esse processo, que se repetiu ao longo do tempo, teria transformado os mares primitivos em sopas ricas em matéria orgânica, propiciando assim a formação dos sistemas isolados precursores da vida, os coacervados. Estes eram moléculas grandes, tipos proteinóides, que se agregavam na água formando estruturas mais complexas e maiores (UZUNIAN; PINSETA; SASSON, 2007). Stanley Miller em 1953, demonstrou que a teoria de Oparin sobre os organismos, estava certa. Miller construiu um aparelho no qual colocou hidrogênio, amoníaco e metano e submeteu essa mistura a fortes descargas elétricas, ao mesmo tempo em que fornecia vapor de água. Após uma semana de funcionamento, constatou no líquido formado a presença de compostos orgânicos, até mesmo de aminoácidos (ARIAS, 2005). Essa experiência não chegou a provar que foi exatamente assim que ocorreu a formação dos compostos orgânicos, mas apóia a hipótese apresentada. O norte-americano Sidney Fox, em 1957, realizou outra experiência, onde tentou testar parte das ideias de Oparin, utilizando como ponto de partida o experimento de Miller. Fox aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e verificou que aconteciam ligações peptídicas, que formavam moléculas semelhantes às proteínas. Ao analisar a solução no microscópio, ele observou que estas proteínas encontravam-se delimitadas por membranas. Fox então, as denominou de microsferas, estas que podiam aumentar de tamanho e se partir em esferas menores. Os resultados de Fox reforçam a ideia de que se, de fato, aminoácidos caíssem sobre as rochas quentes, trazidos pela água da chuva, eles poderiam ter sofrido combinações formando moléculas maiores, os proteinóides, que acabariam sendo carregadas aos mares em formação e originariam moléculas mais complexas, estas que poderiam ter sido importantes para o processo de formação dos primeiros seres vivos. (UZUNIAN; PINSETA; SASSON, 2007). 17 2.1.3 O mundo do RNA Através do experimento de Miller, foi possível comprovar que em condições adequadas os aminoácidos, unidades formadoras de proteínas, surgiam facilmente de substâncias químicas mais simples. Porém a transformação dessas substâncias em proteínas é outra questão. O processo de fabricação de proteínas inclui a participação de enzimas complexas que separam as fitas da dupla hélice de DNA para extrair as informações contidas nos genes (as receitas para fazer as proteínas) e traduzi-las no produto final. Assim, explicar como a vida começou implica um paradoxo sério: parece que precisamos de proteínas – bem como das informações armazenadas hoje em dia no DNA – para fazer proteínas. Por outro lado, o paradoxo desapareceria se o primeiro organismo não precisasse de proteínas. (RICARDO; SZOSTAK, 2009, p. 38). Diante disso, há algumas décadas atrás, surgiu a ideia de que uma outra substância presente nos seres vivos poderia ter sido o material genético primordial,o RNA. Na década de 1980, o bioquímico Thomas R. Cech e seus colaboradores descobriram que moléculas de RNA podem atuar diretamente no controle de reações químicas. Diversos tipos de reações importantes que ocorreram nas células, como a união dos aminoácidos na produção de proteínas, são diretamente controladas por moléculas de RNA denominadas ribozimas. Analisando o papel que o RNA desempenha nas células modernas não parece impossível imaginar que ele tenha surgido antes do DNA. Várias são as evidências adquiridas, através das pesquisas recentes que apóiam esta proposta: Quando as células modernas fazem proteínas, em primeiro lugar, elas fazem cópias em RNA dos genes de DNA e usam esse RNA como molde. Esse último estágio pode ter sido, no início independente. Mais tarde, o DNA pode ter aparecido como um modo mais permanente de armazenamento, graças a sua estabilidade química superior [...] As versões em RNA das enzimas, chamadas de ribozimas, também têm papel fundamental nas células modernas. As estruturas que traduzemo RNA em proteínas são máquinas híbridas RNA – proteínas, e é o RNA nelas que faz o trabalho catalítico. Assim, cada uma das nossas células parece carregar nos seus ribossomos evidência “fóssil” de um mundo primordial denominado pelo RNA. (RICARDO; SZOSTAK, 2009, p. 40) Muitos cientistas, defensores da ideia do RNA como material genético primordial, continuam a dedicar seus esforços em pesquisas que possam cada vez mais fortalecer esta hipótese. Estudos recentes propuseram um caminho que provavelmente, pode explicar a jornada realizada que levaram da primeira protocélula para as células baseadas em DNA, 18 como as bactérias. Mostrando como o mundo do RNA poderia ter se tornado o mundo do DNA, dando origem a vida que conhecemos hoje: 1- A evolução começa: A primeira protocélula é apenas um saco de água de RNA e precisa de um estímulo externo (como ciclos de calor e frio) para se reproduzir. Mas ela já vai receber novas propriedades. 2- Catalisadores de RNA: Ribozimas – moléculas de RNA análogas às enzimas baseadas em proteínas surgem e assumem a tarefa de acelerar a reprodução e reforça a membrana da protocélula. Em conseqüência, as protocélulas começam a se reproduzir sozinhas 3- O metabolismo começa: Outras ribozimas catalisam o metabolismo – cadeias de reações químicas que permitem que as protocélulas recebam os nutrientes do ambiente. 4- Aparecem as proteínas: Os sistemas complexos de RNA catalisadores começam a traduzir sequências de letras de RNA (genes) em cadeias de aminoácidos (proteínas). As proteínas, mais tarde, provaram ser catalisadores mais eficientes e serem capazes de realizar uma variedade de tarefas. 5- As proteínas tomam conta: As proteínas assumem uma grande quantidade de tarefas dentro da célula. Catalisadores baseados em proteínas ou enzimas gradualmente substituem a maior parte das ribozimas. 6- O nascimento do DNA: Outras enzimas começam a fazer DNA. Graças à sua estabilidade superior, o DNA assume o papel de molécula genética primária. O papel principal do RNA agora é agir como uma ponte entre o DNA e as proteínas. 7- O mundo das bactérias: Organismos parecidos com as bactérias atuais se adaptam a viver virtualmente em todos os ambientes da Terra e reinam, sem opositores, por bilhões de anos, até que algumas delas começam a evoluir para organismos mais complexos. (RICARDO; SZOSTAK, 2009, p. 46). 2.1.4 Hipótese heterotrófica e Hipótese autotrófica A ideia que prevalecia até algumas décadas atrás era a de que os primeiros seres vivos teriam nutrição heterotrófica. Muitos cientistas acreditavam, e até hoje alguns ainda defendem a ideia de que os primeiros seres vivos, por serem muito simples, não teriam a capacidade de produzir substâncias alimentares, utilizando as substâncias orgânicas disponíveis no meio para se alimentarem. Com isso, a sua fonte de alimento, seria constituída pelas moléculas orgânicas produzidas de forma abiogênica, que se acumulavam nos mares primitivos. 19 Acredita-se que esses organismos primitivos retiravam a energia dos alimentos através de mecanismos simples como a fermentação. Porém em determinado momento, à velocidade de consumo das moléculas orgânicas disponíveis nos mares primitivos aumentou em decorrência do aumento dos organismos consumidores. A quantidade de moléculas orgânicas disponíveis no meio, não era suficiente para sustentar a multiplicação dos primeiros seres vivos até o aparecimento da fotossíntese. Isso então teria proporcionado o surgimento dos primeiros seres autotróficos fotossintetizantes (UZUNIAN; PINSETA; SASSON, 2007). Para outros cientistas a hipótese mais provável e mais aceita na atualidade, é a de que os seres vivos primordiais seriam autótrofos, ou seja, seriam eles capazes de produzir suas próprias substâncias alimentares. Os primeiros seres vivos seriam os quimiolitoautotróficos, estes que produziam seu alimento a partir da energia liberada por reações químicas entre componentes inorgânicos presentes na crosta terrestre. Estes organismos provavelmente utilizavam como reagentes compostos de ferro e enxofre que eram abundantes na Terra primitiva. Esta ideia tem ganhado força devido à existência de microrganismo, como as arqueobacterias, que vivem em ambientes inóspitos como fontes de águas quentes e vulcões submarinos. Acredita-se que os seres vivos primordiais poderiam viver como as bactérias quimiolitoautotróficas atuais, já que o mecanismo de obtenção de energia utilizado por essas bactérias são mais simples que dos demais seres vivos e por elas ainda viverem ao redor de fendas vulcânicas submersas onde ocorre constante liberação de gás sulfídrico. Segundo a hipótese autotrófica, foi a partir destes organismos que surgiram seres com capacidade de realizar fermentação, fotossíntese e finalmente, organismos capazes de realizar a respiração aeróbia (SANTOS, 2008). Existem ainda outras possibilidades defendidas por outros cientistas a respeito da origem da vida. Para estes, a vida teria se originado na Terra em condições diferentes das apresentadas por Oparin e Haldene. A vida teria surgido em ambientes mais hostis, como por exemplo, em fontes termais e sulforosas ou em um ambiente extremamente gelado. Nestas fontes hidrotermais submarinas, um ambiente aparentemente hostil à vida, pesquisas demonstraram a existência de ecossistemas ligados à química do enxofre, de grande riqueza biológica, contendo na base da cadeia alimentar bactérias de características primitivas (CACHÃO, 2007). A descoberta de formas de vida alternativas em ambientes extremamente gelados, reforça também a ideia, defendida por alguns cientistas, de que a vida poderia ter se iniciado em condições completamente diferente do proposto por Oparin e Haldene. Contudo a primeira evidência de vida é caracterizada por fósseis morfológicos conhecidos como os 20 Estromatólitos. Estes que surgiram a cerca de 3,5 bilhões de anos atrás e são resultados da interação entre microorganismos e o seu ambiente sedimentar, formando estruturas rochosas com padrão interno estratificado. As primeiras evidências fossilizadas de estruturas celulares indicam que eles não continham núcleo organizado, sendo por isso células procariotas (Ibden). Os primeiros seres vivos por serem muito simples, provavelmente, apresentavam uma organização celular procariótica. Esse tipo de célula não apresenta compartimentos membranares no seu interior ficando seu material genético, disperso no citoplasma. Para os cientistas as arqueobactérias são os seres atuais mais semelhantes aos seres vivos primordiais. Ao longo de milhões de anos, esses seres procariontes habitaram ambientes aquáticos e foram se diversificando, principalmente no que se refere ao seu metabolismo. O surgimento do oxigênio na atmosfera da Terra provocou um grande impacto na vida desses seres unicelulares, a maioria desses seres que ainda não haviam desenvolvido processos celulares que protegessem a célula contra os efeitos nocivos do gás oxigênio acabaram por se extinguir. Contudo, alguns conseguiram sobreviver em ambientes que permaneciam anaeróbios e entre esses organismos alguns conseguiram desenvolver a capacidade de resistir ao gás oxigênio. Esses seres passaram a aproveitar o poder oxidante deste gás para oxidar os compostos orgânicos utilizados como alimento, garantindo alta eficiência na obtenção de energia; este processo caracterizou o surgimento da respiração aeróbia. Apesar destas capacidades, a simplicidade dos organismos procariontes limitava os processos metabólicos que podiam ser realizados simultaneamente. Assim, grupos de procariontes evoluíram e aumentaram a sua complexidade, tendo muito provavelmente participado na origem dos organismos eucariotos (LOPES, 2005). Porvolta de 2 bilhões de anos atrás, ocorreu uma inovação na estrutura dos seres vivos que caracterizou o surgimento das células eucarióticas. Atualmente todos os seres vivos apresentam células eucarióticas, com exceção das bactérias e da arqueobactérias. Nestas células o material genético fica contido dentro de um núcleo e o citoplasma é formado por túbulos e bolsas membranosas. Existe ainda um sistema celular interno de tubos e filamentos de proteínas, o citoesqueleto. Duas hipóteses procuram explicar a origem dos seres eucariotos a partir dos procariotos: A Hipótese Autogénica e a Hipótese Endossimbiótica. 21 Segundo a hipótese autogénica, os seres eucariontes são o resultado da evolução gradual dos seres procariontes. Inicialmente as células desenvolveram sistemas endomembranares resultantes de invaginações da membrana plasmática, algumas dessas invaginações armazenavam o DNA, formando o núcleo. Outras membranas evoluíram no sentido de delimitar organelas semelhantes ao reticulo endoplasmático. Posteriormente, algumas porções do material genético abandonaram o núcleo e evoluíram sozinhas no interior de estruturas membranares. Dando origem assim as mitocôndrias e os cloroplastos. Esta hipótese pressupõe que o material genético do núcleo e das organelas, principalmente das mitocôndrias e dos cloroplastos, tenha uma estrutura idêntica. Porém tal afirmação não se verifica, já que o material genético destas organelas apresenta uma maior semelhança com o das bactérias do que com o material genético presente no núcleo. Já a hipótese endossimbiótica, a mais aceita dentro da comunidade científica, defende que os seres eucariontes teriam se originado como resultado da evolução conjunta de vários organismos procariontes, os quais foram estabelecendo associações simbióticas entre si. O termo endossimbiótica resulta do fato de algumas células viverem no interior de outras, numa relação de simbiose. A íntima cooperação entre estas células conduziu ao estabelecimento de uma relação simbiótica estável e permanente. Assim, as primeiras relações endossimbióticas teriam sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias. Estes seriam organismos que teriam desenvolvido a capacidade de produzir energia, de forma muito rentável, utilizando o oxigênio no processo de degradação dos compostos orgânicos. Por outro lado, outro grupo de procariontes, semelhantes com as cianobactérias atuais, teriam desenvolvido a capacidade de produzir compostos orgânicos utilizando a energia luminosa. A associação das células procarióticas de maiores dimensões como estes seres, ancestrais dos cloroplastos, conferiam- lhe vantagens evidentes. Este fato deve-se ao estabelecimento de relações simbióticas de forma seqüencial. As primeiras relações endossimbióticas teriam sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias e só então algumas dessas células teriam estabelecido relações de simbiose com os ancestrais dos cloroplastos (LOPES, 2005). 2.1.5 Panspermia Cósmica A evolução química defende que os primeiros constituintes orgânicos terrestres, teriam se formado nos oceanos primitivos do nosso planeta. Porém, diversas evidências apontam para que uma síntese exógena dessas moléculas possam ter ocorrido juntamente à formação do 22 sistema solar. E este processo teria continuado a ocorrer em regiões especificas da nossa galáxia, até atingir o nosso planeta (NASCIMENTO, 2001). A Panspermia Cósmica propõe que, num tempo altamente remoto, “esporos de vida” teriam viajado e caído na Terra, trazidos por cometas ou meteoros, originando, por evolução, todos os seres vivos. A postulação desta teoria começou com o sueco Svante August Arrhenius (1859-1927) e continuou com outros cientistas como: Fred Hoyle (1915-2001) e Nalin Chandra Wickramasinghe (1939). Ao estudar a poeira galáctica, Hoyle encontrou evidências de que nuvens de bactérias poderiam estar viajando pelo universo. Ao analisar o espectro de luz que reflete da poeira espacial percebeu que ela é formada por água e alguns compostos de carbono. Quando propôs isso em 1979, uma parte considerável do grupo de cientistas não acreditou, mas Hoyle mostrou que as bactérias, por exemplo, refletem a luz num espectro idêntico ao das partículas de poeira do espaço, algo que até hoje ninguém conseguiu explicar de outra maneira. Outras descobertas reforçam este pensamento panspérmico para muitos cientistas adeptos desta teoria, como a análise da poeira interestelar onde foram descobertas moléculas orgânicas complexas, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos com anéis de benzeno, que são indispensáveis à constituição de qualquer ser vivo (FRAIBERG, 2008). As descobertas de aminoácidos em meteoritos como o de Orgueil (França, 1864), de Murchison (Austrália, 1969), de Allende (México, 1969), contribuíram também para reafirmar o pensamento panspérmico. Com base nesta descoberta foi possível considerar que muito dos aminoácidos presentes nos oceanos primitivos tivessem sido liberados por um processo de hidrólise efetuado através do choque entre os meteoritos ou cometas com a água dos oceanos. Isto reforçou ainda mais a ideia, de que os primeiros constituintes orgânicos da Terra não teriam sido formados nos mares primitivos do nosso planeta, mas sim teriam sido provindos do cosmos (NASCIMENTO, 2001). A panspermia ainda não pode ser considerada como a teoria capaz de comprovar a origem da vida na Terra. Cientistas, adeptos desta teoria, dedicam seus esforços em pesquisas científicas, visando descobrir respostas que possam comprovar com eficiência a validade desta teoria. 23 2.1.6 Criacionismo O Criacionismo, assim como todas as outras correntes de pensamento, também procura remontar a história da origem da vida na Terra. Porém, a sua explicação não se perpetua pelas linhas evolucionistas e sim por um caminho pelo qual a ciência não é capaz de explicar. Durante séculos, as idéias criacionistas e as evolucionistas conviveram e desenvolveram- se lado a lado, na mente de filósofos e cientistas que procuravam elaborar seus argumentos da melhor maneira possível. Um grande defensor do criacionismo foi Platão (428-378 a.C.), ele acreditava que o criador havia constituído os seres da mesma forma que eles se encontram atualmente. Aristóteles (384-322 a.C.), também acreditava que tudo seria resultado de um desígnio pré-estabelecido por uma força superior. Porém aceitava a existência da transformação dos seres vivos de formas mais simples para formas mais complexas, diferentemente de Platão. A história do criacionismo está intimamente ligada à história das religiões e encontra-se disseminado de diferentes formas em diversas culturas. O cristianismo, por exemplo, tem sua teoria fundamentada na Bíblia, sendo esta considerada como seu livro sagrado. Para os adeptos desta religião, Deus é o ser responsável, por criar todas as coisas como as plantas e os animais. Estes deveriam ser capazes de mudar com o tempo, porém todas as mudanças deveriam ocorrer dentro de limites estabelecidos pelo criador (FRAIBERG, 2008). Entre os egípcios a vida, o céu e a terra teriam sido originados pela “água primordial”, desta água teria surgido o deus Atum, que teria sido responsável por toda criação. Para a mitologia grega o homem originou-se pelos efeitos de Epimeteu e Prometeu, estes que teriam criado o homem a partir de um molde de barro. Já para a mitologia chinesa a criação da vida deve-se a solidão da deusa Nu Wa, que ao perceber sua sombra sob as ondas de um rio, resolveu criar seres a sua imagem e semelhança (SOUSA, 2009). Os criacionistas, de um modo geral, opõem-se às teorias darwinistas sobre os fenômenos relacionados à origem do universo, da vida e da evolução das espécies. Existem dois grupos bastante difundidos e conhecidos entre os diversos grupos criacionistas existentes no mundo. O Neocriacionismoe o Criacionismo Clássico. O Neocriacionismo, também conhecido como Design inteligente, surgiu por volta de 1920 nos Estados Unidos, esta corrente defende a ideia que a criação da vida teria sofrido a influência de uma entidade inteligente. O Criacionismo Clássico envolve a crença em um criador. Para os adeptos desta corrente o responsável pela criação da vida foi um ser supremo. Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup veiculada pela 24 folha de São Paulo, 90% dos norte-americanos acreditam em um Deus criador, sendo que 45% acham que a criação ocorreu exatamente como o livro dos Gêneses descreve e cerca de 10% dos membros da Academia Nacional de Ciências americana, expressam a crença em um Deus, o que não significa que necessariamente estes sejam criacionistas (MARTINEZ, 2007). 2.2 Outro aspecto capaz de auxiliar na compreensão da Origem da Vida. Apesar das enormes diferenças existentes em relação à forma dos seres vivos, quimicamente falando, eles são extremamente parecidos. Todos possuem moléculas simples que se combinam para forma moléculas mais complexas, como os nucleotídeos e os aminoácidos. As junções destas moléculas em grandes cadeias formam o que conhecemos como: ácidos nucléicos (DNA e RNA) e proteínas. Este que estão por trás da grande diversidade biológica que observamos. Nos seres vivos atuais, o DNA é responsável por carregar o código de montagem das proteínas que são responsáveis pelas mais diversas funções. Além da composição material, a forma de processamento de energia (metabolismo) também é muito parecida em organismos vivos, ocorrendo por um pequeno número de processo intimamente relacionados [...] Uma forma poderosa de diagnosticar o parentesco dos seres vivos é pela análise genômica do RNA ribossômico 16s, que não pode ser aplicada a fósseis, pois esses perderam seu conteúdo celular [...] Organismos que fazem parte de um grupo biológico que compartilha uma história recente têm RNA ribossômico (RNAr) semelhante, e quanto mais afastado for o parentesco, mais esse se diferencia. A comparação do RNAr 16s entre dois grupos que se originaram de um mesmo ramo evolutivo permite avaliar quantas mudanças ocorreram desde a separação. Isso possibilita a construção de uma árvore em que o comprimento do ramo é proporcional ao número de mudanças sofridas, chamada de árvore filogenética universal. (DAMINELI; SANTA CRUZ, 2007, p. 269) Todos os organismos conhecidos pertencem a um dos três domínios que teriam derivado de um hipotético ancestral comum de todas as células. Sendo eles: bactéria (ou eubactéria), archea (ou arqueobactérias) e eucarya (ou eucariotos). Todos os ramos se unem a um único ramo numa região entre bactéria e archea, este ramo teria sido o do último ancestral em comum (denominado progenota). 25 Árvore filogenética universal da vida baseada no RNA ribossômico 16s, mostrando a existência de um ancestral em comum a todas as formas de vida. Fonte: Damineli e Santa Cruz, 2007 pg: 270 Como já ressaltado por Damineli e Santa Cruz (2007), a formação da árvore filogenética não parece ter sido tão simples como a descrita no quadro acima. Organismos primitivos podem ter se associado de diferentes formas, como já sugere a hipótese endossimbiótica. Dessa maneira supõe-se que ao invés da árvore filogenética ter se originado de um único tronco, ela pode ter se originado de diversos troncos separados, que acabaram se unindo em três grandes ramos, que se subdividiram em ramos secundários. Apesar de todas as hipóteses e especulações que existem a respeito da origem da árvore filogenética, a ideia de um ancestral comum continua sendo a mais aceita para explicar a sua formação, independentemente, de ele ter aparecido como um único tipo de organismo ou de ter sido o resultado de uma aglutinação de linhagens diferentes. Ela ajuda esclarecer um pouco mais sobre a origem dos seres vivos e, consequentemente, pode ser mais um caminho que auxilie na compreensão do mistério sobre o surgimento da vida. 26 3. Os Livros Didáticos Os livros didáticos são instrumentos pedagógicos importantes para o ensino (MACEDO, 2004) e presentes na maioria das escolas, oferecem o suporte necessário para o processo de formação dos cidadãos (VASCONCELOS e SOUTO, 2003). Sabemos que o livro didático é uma ferramenta valiosa dentro do contexto educacional contemporâneo e que ainda apresenta papel relevante para o desenvolvimento da arte que é ensinar. Segundo Xavier, Freire e Moraes (2006), estudos demonstram que tal ferramenta exerce papel determinante na organização curricular e que ainda proporciona, para a grande maioria dos professores, subsídios em suas práticas pedagógicas. Estes livros são elementos fornecedores de conhecimento e funcionam como pontes entre o processo de ensino-aprendizagem, daí a importância de destinar-se uma atenção maior para a confecção de tais instrumentos de ensino. Esses precisam ser uma “fonte viva de sabedoria” (NÚÑES et al apud XAVIER, FREIRE; MORAES, 2006, p. 276) capaz de oferecer o conhecimento tido como necessário para a formação dos indivíduos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (LDB nº 9.394/96 BRASIL, 1996) destaca como princípios básicos do ensino: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber”, o “pluralismo de idéias e concepções pedagógicas”, o “respeito à liberdade e o apreço à tolerância”, “a garantia do padrão de qualidade”, a “valorização da experiência extra-escolar” e a “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (LDB nº 9.394/96) Por isso a obra didática deve ainda preocupar-se em não só fornecer alicerce para o aprendizado, mas também propiciar aos professores liberdade de escolha e espaço, para que assim o ensino possa se perpetuar de forma mais produtiva e eficaz. Como já dito anteriormente, os livros didáticos são ferramentas básicas para auxiliar na educação. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é responsável pela execução de três programas voltados ao livro didático: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA) e o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM). Um dos seus principais objetivos é oferecer obras didáticas de qualidade para toda rede de ensino brasileira. O PNLD é o mais antigo dos programas voltados à distribuição de obras 27 didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira e iniciou-se em 1929. O PNLA foi criado para distribuição, a título de doação, de obras didáticas às entidades parceiras, com vistas à alfabetização e à escolarização de pessoas com idade de 15 anos ou mais. O PNLEM foi implantado em 2004, pela Resolução nº 38 do FNDE (BRASIL, 2003), este programa propõe a universalização de livros didáticos para os alunos do ensino médio de todo o país, principalmente para os da rede pública de ensino. Tendo em vista a importância deste elemento como um recurso básico para o aluno no processo de ensino-aprendizagem, este programa tem como intuito apresentar livros didáticos que possam realmente auxiliar, oferecendo base para a construção do conhecimento. Este programa ainda destina seus esforços, na busca de proporcionar obras didáticas que apresentem o conjunto de elementos necessários capazes de possibilitar o conhecimento adequado e relevante para os indivíduos em formação. 3.1 Os livros didáticos no ensino médio O atual Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), implantado em 2004, estabelece que, de acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), os livros didáticos devem seguir os seguintes pressupostos: adequação a sua proposta didático-pedagógica em a relação à situação de ensino-aprendizageme aos objetivos visados; correção das informações; conceitos e procedimentos que integram e dão forma a essa proposta; sintonia com a legislação e os demais instrumentos oficiais que regulamentam e orientam a educação (XAVIER, FREIRE, MORAES, 2006). O PNLEM ainda visa atender todos os objetivos gerais estabelecidos pelo Artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB nº 9.394/96 (BRASIL, 1996). Sendo estes: I. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos; II. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (LDB nº 9.394/96) 28 É fundamental, que esses livros didáticos obedeçam a esses preceitos. Para que assim, eles possam auxiliar de forma efetiva no contexto educacional. Estes livros devem estar “inseridos no contexto escolar por inteiro, perpassando os âmbitos científicos, social, cultural e tecendo relações entre os conhecimentos e saberes e os novos parâmetros curriculares” (XAVIER, FREIRE, MORAES, 2006, p. 277). Dentro da Biologia alguns conteúdos são complexos e de difícil compreensão, como é o caso da origem da vida. A origem da vida é um assunto fundamental dentro da biologia, além de ajudar a entender sobre a grande questão que é a vida, auxilia ainda para o esclarecimento e conhecimento de algo muito importante que faz parte da vida dos seres vivos, a evolução. Elucidar esta questão através de seus conceitos e informações requer não só um olhar minucioso para os dados apresentados, como também para o mecanismo de abordagem utilizado na exposição de tal conteúdo para os educandos. Tendo em vista, que a existência de diferentes linhas de pensamento que buscam remontar a história do surgimento da vida e a dificuldade em encontrar uma teoria capaz de responder a todos os questionamentos pertinentes a este assunto, aumentam ainda mais a dificuldade em transpor o conhecimento científico sobre este conteúdo em sala de aula. Mediante a isso a utilização de ferramentas como os livros didáticos no contexto educacional torna-se indispensável, já que estes instrumentos podem fornecer o suporte necessário para que a compreensão de conteúdos complexos torne-se mais fácil e rápida. 29 4. A Metodologia Os livros didáticos escolhidos para análise foram selecionados com base nas indicações do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio - PNLEM/2007, tendo em vista que a realização da escolha geral dos livros de diversas disciplinas, inclusive o de Biologia, só ocorrerá em 2011 para respectiva implantação no PNLEM/2012. A escolha dos livros ainda contou com o auxílio do Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio – PNLEM/2009, este que foi reeditado constando as obras avaliadas do PNLEM/2007. Este Catálogo contou com uma equipe formada por especialistas das mais variadas áreas das Ciências Biológicas e da pesquisa em ensino de Biologia, provenientes de universidades públicas de várias regiões do Brasil. Foram eles os responsáveis pelas avaliações realizadas nas obras didáticas e pelos respectivos comentários produzidos para cada uma delas. Inclusive, a escolha dos livros foi baseada nos comentários e nas indicações atribuídas por este grupo de especialistas responsáveis pela análise das respectivas obras didáticas. Dos nove títulos recomendados no PNLEM/2007, três foram escolhidos para análise neste trabalho, com base nas críticas positivas que receberam da equipe examinadora. Biologia – Linhares, S.V. Gewandsznajder, F. Editora: Ática, 2007; Biologia – Laurence, J. (Fernandes, M.P.) Editora: Nova Geração, 2007; Biologia – Martho, G.R., Amabis, J.M. Editora: Moderna, 2007; No primeiro momento foram estabelecidos os critérios destinados para classificação. Logo após foi realizado um levantamento de dados relativos ao objeto de análise, o conteúdo origem da vida, em cada obra didática. Em seguida procedeu-se a análise e avaliações desses dados com posterior classificação dessas informações de acordo com os critérios determinados. Coerência, Clareza e Objetividade serão os objetos de análise deste trabalho. 30 5. Critérios de Análise Critérios de análise dos livros didáticos Tabela 1 Critérios Questionamentos 5.1- Coerência 5.1.1- O vocabulário utilizado apresenta incoerência gramatical? 5.1.2 - As frases encontram-se estruturadas de forma a permitir que o sentido das informações expressas seja compreendido de forma correta? 5.1.3 – As teorias e conceitos são pertinentes e corretos? 5.2 - Clareza 5.2.1 – A linguagem aplicada é pertinente ao público destinado? 5.2.2 – As informações são apresentadas de forma que possam distorcer ou gerar outras possibilidades de entendimento? 5.3 - Objetividade 5.3.1 – Os conceitos e teorias encontram-se estruturados de forma objetiva (direta)? 5.3.2 – O conteúdo é apresentado com informações desnecessárias dificultando o seu entendimento? 31 5.1 Coerência Para que possamos aprender algo é necessário dispormos de um aparato de meios, mecanismos e ferramentas que contribuam para ocorrência deste procedimento. Dentre estas ferramentas uma das mais importantes e essencial é a coerência. No ato do processo de ensino – aprendizagem a coerência não pode ser apenas de responsabilidade do educador, mas sim estar presente em todas as fontes responsáveis por transmitir tal conhecimento. A coerência é um processo global responsável pela formação do sentido que garante a compreensibilidade de um texto. Se o sentido não mantém uma continuidade, o texto se torna incompreensível, ou seja, incoerente (MARCUSCHI apud GALVÃO; ARAGÃO, 1997). Assim como Marcuschi (1983), muitos outros autores concordam que a coerência está intimamente ligada ao sentido do texto, sendo um princípio de interpretabilidade que confere ao texto uma unidade e relação entre seus elementos. O texto é, portanto, muito mais que uma seqüência de enunciados e o que faz com que ele possa ser definido como coerente são os princípios de coesão e de constituição responsáveis pela promoção da coerência textual. 5.1.1- O vocabulário utilizado apresenta incoerência gramatical? Para que os educandos possam construir um conhecimento adequado, é de total importância que o conteúdo exposto apresente coerência em todas as informações descritas. Para isso é necessário que o vocabulário utilizado esteja precavido de erros gramaticais que possam vir a prejudicar o entendimento das informações e consequentemente o processo de aprendizagem. 5.1.2- As frases encontram-se estruturadas de forma a permitir que o sentido das informações expressas sejam compreendidas de forma correta? É de total relevância esse aspecto para o processo de ensino-aprendizagem. Frases bem estruturadas facilitam a compreensão e a absorção das informações, contribuindo para que a construção do conhecimento ocorra de forma correta e adequada. 32 5.1.3- As teorias e conceitos são pertinentes e corretos? Um dos grandes cuidados em que deve se preocupar um autor de um livro didático é em transpor o conhecimento existente com veracidade. As obras didáticas sãoconsideradas como a base para o ensino. Diante disso torna-se clara a importância dessas obras apresentarem coerência nos seus dados. Por isso conceitos e teorias devem ser expostos com cautela, para que erros prejudiciais a aprendizagem dos alunos não venham ocorrer. 5.2 Clareza Muitos conteúdos dentro de diversos livros didáticos voltados para o ensino fundamental e ensino médio, não apresentam uma abordagem respectivamente clara como deveria apresentar. Um texto é claro quando as informações contidas nele conseguem ser compreendidas pelo leitor de maneira concisa e objetiva. (VILARINHO, 2009). A clareza é instrumento fundamental para se adquirir conhecimento, um conteúdo que é exposto de forma clara propicia um entendimento correto e consequentemente mais rápido. A forma com que a informação é transposta através das palavras e a maneira como estas encontram- se organizadas dentro de um contexto é fundamental para a transmissão do conhecimento. Muitas das vezes nos deparamos com palavras complicadas ou ainda com frases elaboradas de forma inadequada, com palavras desnecessárias que ao invés de transmitir a informação de forma precisa, acaba por confundir a cabeça dos educandos. Mediante a isso se torna imprescindível um olhar minucioso para esta questão, principalmente nos livros didáticos voltados para o ensino médio, fase esta que finaliza toda uma etapa do processo educativo. 5.2.1- A linguagem aplicada é pertinente ao público destinado? Um conhecimento exposto de forma clara é essencial para que uma boa compreensão do assunto em questão se perpetue. A clareza nas informações é um instrumento que deve ser utilizado na exposição de todos os conteúdos, principalmente, para aqueles que são complexos. Os alunos que se deparam com informações claras são capazes de compreender o 33 conteúdo de forma mais rápida e fácil. Por isso a necessidade da linguagem ser mais pertinente ao público destinado, utilizando-se palavras que possam facilitar a compreensão. 5.2.2- As informações são apresentadas de forma que possam distorcer ou gerar outras possibilidades de entendimento? As informações devem sempre estar expostas de forma esclarecedora para os alunos, não permitindo que dúvidas infundadas possam surgir em detrimento da exposição de dados mal formulados. Todo conteúdo deve ser exposto através de frases bem formuladas, para evitar distorções ou outras possibilidades de entendimento que não a ideal para o conteúdo abordado. 5.3 Objetividade A objetividade, além de ser um instrumento importante para o ensino, é um mecanismo excelente e que pode ser utilizado para transpor o conhecimento de forma eficiente, facilitando e permitindo a absorção de informações e conceitos de forma muito mais rápida. Como já ressaltado anteriormente neste trabalho, dentro da Biologia muitos conceitos apresentam certa dificuldade para serem compreendidos, devido tamanha complexidade. Diante disso, tentar expor o conhecimento de forma mais objetiva é um meio que permite aos educandos compreender tais informações de forma mais ligeira e hábil. No entanto esta ferramenta na maioria das vezes não é bem utilizada. Em muitos livros didáticos de Biologia os conceitos encontram-se dispostos em textos muito longos e com informações, alguma das vezes, desnecessárias tornando sua leitura cansativa. Outras vezes, nos deparamos com frases estruturadas de forma complicada, o que permite aos educandos adquirirem diversas interpretações além da correta, dificultando assim a compressão e, consequentemente, o processo de aprendizagem. Os livros didáticos considerados como elementos base para o ensino são também instrumentos valiosos de consulta para os educandos e diante disso estes elementos devem repassar as informações de forma esclarecedora, tendo em vista que muitos alunos preferem 34 estudar mais pelos livros a prestar atenção nas aulas. Assim, a objetividade nas informações é algo indispensável para a construção do conhecimento adequado. 5.3.1- Os conceitos e teorias encontram-se estruturados de forma objetiva (direta)? Outro elemento fundamental para a o processo de ensino-aprendizagem é a objetividade. Informações apresentadas de forma objetiva contribuem significativamente para que o aprendizado ocorra de forma mais fácil. Assuntos complicados quando expostos de forma objetiva auxiliam na compreensão, permitindo que absorção do conhecimento necessário ocorra de forma mais leve não saturando os agentes envolvidos neste processo, os alunos. 5.3.2- O conteúdo é apresentado com informações desnecessárias dificultando o seu entendimento? O conteúdo que é expresso de forma objetiva contribui para um aprendizado essencial, ou seja, apenas as informações relevantes serão absorvidas. Um grande problema que encontramos, na maioria das vezes em muitos livros, são os excessos de informações que ao invés de facilitar a compreensão do conhecimento só atrapalham e dificultam a aprendizagem de determinados conteúdos. Por isso devemos estar atentos a este fato e evitar que esse tipo problema ocorra, para que assim o processo de aprendizagem dos alunos não fique prejudicado. 35 6. Análise dos livros Descrição dos livros Tabela 2 Livro 1 Fonte: Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Biologia Sérgio Linhares e Fernando Gewandsznajder Volume único 1ª edição – 2007 Editora Ática – Obra: 102414 Livro 2 Fonte: Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Biologia J. Laurence Volume único 1ª edição – 2007 Editora Nova Direção – Obra: 102511 Livro 3 Fonte: Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Biologia José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues Martho Volume 1 2ª edição – 2007 Editora Moderna – Obra: 15056 36 Os três livros apresentaram a maioria das teorias e hipóteses que foram citadas ao longo deste trabalho de forma positiva. Porém deve-se ressaltar que algumas teorias foram apresentadas de forma muito sucinta e outras não foram mencionadas nos livros. O livro 2: Biologia – Laurence, J. (Fernandes, M.P.), deixou de citar correntes de pensamentos bastante conhecidas e discutidas em nossa sociedade, como o Mundo do RNA e a Panspermia Cósmica. A teoria sobre o Criacionismo também não foi observada nos três livros analisados, apesar de ser uma corrente de pensamento defendida por muitos indivíduos, ela não é aceita dentro do campo científico, o que provavelmente explica a falta de exposição desta corrente nos livros analisados. Já as teorias da Abiogênese, Biogênese, Evolução Química, a hipótese Heterotrófica e Autotrófica foram observadas nos três livros, porém os livros 1: Biologia – Linhares, S.V. Gewandsznajder, F., e o livro 2: Biologia – Laurence, J. (Fernandes, M.P.), em alguns momentos foram muito sucintos na exposição das informações. Isto acabou por deixar o conteúdo um tanto quanto incompleto, já que a explicação mais detalhada sobre estas correntes de pensamento poderia contribuir para um conhecimento mais rico e eficaz. Teorias apresentadas nos livros Tabela 3 Abiogênese versus Biogênese Evolução Química O Mundo do RNA Hipótese heterotrófica e Hipótese autotrófica Panspermia Cósmica Criacionismo Livro 1 Presente Presente Presente Presente Presente Ausente Livro 2 Presente Presente Ausente Presente Ausente Ausente Livro 3 Presente Presente Presente Presente Presente Ausente 37 Coerência No critériocoerência os três livros analisados corresponderam de forma significativa. Todas as teorias e hipóteses aboradadas apresentaram coerência gramatical e organização no contexto, contribuindo assim para que a compreensão adequada do conteúdo pudesse ocorrer. Tomando como exemplo a teoria da geração espontânea ou abiogênese, foi possível observar que nos três livros esta teoria é iniciada de forma parecida. Os autores introduzem o conceito da abiogênese de maneira bastante objetiva, porém, neste ponto, a objetividade não atrapalha a compreensão, já que as informações básicas para o entendimento desta teoria encontram-se presentes no texto. As palavras e frases encontram-se bem estruturadas e organizadas no contexto, o que facilita a compreensão das informações e não permite que outras possibilidades de interpretação, além da correta, possam ocorrer. Livro 1: Biologia – Linhares, S.V. Gewandsznajder, F. Editora: Ática, 2007 Uma das primeiras hipóteses acerca da origem da vida foi a da geração espontânea ou abiogênese (a = sem; bío = vida; gene = origem), segundo a qual a vida poderia surgir de matéria sem vida. Essa hipótese era supostamente comprovada pelo surgimento de moscas na carne em decomposição, de ratos em trapos sujos, etc. (LINHARAES e GEWANDSZNAJDER, 2007 pg: 434) Livro 2: Biologia – Laurence, J. (Fernandes, M.P.) Editora: Nova Geração, 2007 De acordo coma teoria da geração espontânea, também conhecida por abiogênese, os seres vivos se formariam de material orgânico em decomposição, do lodo ou de outros materiais não vivos: a vida brotava espontaneamente em determinadas condições! (LAURENCE. J, 2007 pg: 95) Livro 3: Biologia – Martho, G.R., Amabis, J.M. Editora: Moderna, 2007 A ideia de que os seres vivos podiam surgir por outros mecanismos além da reprodução foi muito difundida na antiguidade e ficou conhecida por teoria da geração espontânea ou teoria da abiogênese. Essa teoria admitia, por exemplo, que cobras, rãs e crocodilos podiam se formar a partir da lama de lagos e rios, e que 38 gansos podiam surgir pela transformação de crustáceos marinhos. (AMABIS e MARTHO, 2007 pg: 25) Cada autor utiliza uma maneira particular para explicar a teoria da geração espontânea, e apesar de explicarem de formas diferentes, todos conseguem introduzir o conceito da abiogênese sem dificuldades. Os autores utilizam um vocabulário simples e coerente, que facilita a compreensão. No livro 1, os autores iniciam explicando o significado da palavra abiogênese e logo em seguida complementam a explicação afirmando que a vida, segundo esta teoria, surgiria da matéria sem vida. No livro 2, o autor utiliza-se de alguns exemplos como o material orgânico em decomposição, o lodo e materiais não vivos para explicar esta teoria. Ele sugere que, segundo esta teoria, a vida brotaria em determinadas condições, espontaneamente desses materiais inanimados. Assim como o livro 2, o livro 3 também utiliza-se de exemplos para explicar esta teoria. Ele introduz o conceito ressaltando que a vida poderia surgir por outros meios que não a reprodução, e enfatiza esta afirmação com exemplos que confirmam que os seres vivos poderiam surgir da matéria sem vida. Apesar de utilizarem maneiras diferentes para expor o conhecimento científico, todos os três livros conseguiram transmitir as informações de forma coerente. Assim como a teoria da geração espontânea, a teoria da evolução química, do mundo do RNA, a hipótese heterotrófica e autotrófica e a teoria da panspermia cósmica também foram expostas de maneira simples, coerente e organizada. Isto contribuiu para que o sentido correto das informações pudesse ser compreendido de forma mais fácil e adequada. Clareza Neste critério os livros 2 e 3 corresponderam de forma positiva. A teoria da abiogênese, biogênese, evolução química, a concepção sobre o mundo do RNA, a hipótese heterotrófica e autotrófica e a teoria da panspermia cósmica foram expostas de maneira correta e suficientemente clara, permitindo uma compreensão mais rápida e fácil do conteúdo. A clareza nas informações apresentadas evitou ainda que ocorressem outras possibilidades de interpretação, que não a correta. A linguagem utilizada nestes livros demonstrou-se adequada ao ensino médio, não sendo observados palavras ou termos científicos que pudessem dificultar a compreensão do conteúdo e consequentemente o processo de aprendizagem. 39 Já no livro 1, a teoria da evolução química, em algumas partes do conteúdo, não foi apresentada de forma tão clara como, por exemplo, quando o autor se refere aos coacervados. A explicação sobre a formação destes sistemas isolados apresenta-se um pouco confusa. O autor não explica de forma clara a constituição destes sistemas, ele caracteriza os coacervados como, simplesmente, um aglomerado de proteínas visíveis ao microscópio. Esquecendo de falar sobre o papel importante das moléculas de água na formação destes sistemas e ainda das condições necessárias para que isso aconteça. Diferentemente dos livros 2 e 3 como podemos ver a seguir: Livro 1: Outro tipo de aglomerado de moléculas orgânicas foi obtido por Oparin ao misturar ácido a uma solução de proteínas em água: as proteínas se aproximam e formam aglomerados visíveis ao microscópio óptico, os coacervados. (LINHARAES e GEWANDSZNAJDER, 2007 pg: 437) Livro 2: Nos mares primitivos devem ter se desenvolvido sistemas coloidais, que passaram por um processo muito comum nos colóides: em determinadas condições, as moléculas de proteína, que estão envoltas, por moléculas de água, aproximaram-se umas das outras, formando numerosos aglomerados, envoltos por moléculas de água. Esses aglomerados ficaram conhecidos por coacervados, nome que se deve a Oparin. (LAURENCE. J, 2007 pg: 98) Livro 3: Coacervados são aglomerados de proteínas que se formam espontaneamente em soluções aquosas com certo grau de acidez e de salinidade. No processo de formação de um coacervado, moléculas de água, que passa a separar o conteúdo do coacervado do ambiente ao redor. (AMABIS e MARTHO, 2007 pg: 33) 40 Objetividade No critério objetividade, os livros 2 e 3 também corresponderam de forma significante. Todas as teorias e hipóteses apresentaram-se de forma direta contribuindo para uma compreensão mais rápida do assunto. Não foi observada a exposição de informações desnecessárias, todos os dados expostos, além do básico, foram fundamentais para a construção do conhecimento. Porém, mais uma vez o livro 1 apresentou algumas falhas. As informações encontravam-se expostas de forma muito objetiva, fazendo com que determinadas partes do conteúdo não fossem exploradas como deveriam. Na página 437, no segundo parágrafo, o autor faz menção às moléculas orgânicas complexas. A sua explicação sobre microsferas é exposta de forma muito direta, quando poderia ser mais aprofundada e consequentemente permitir uma maior compreensão dos educandos. Diferentemente é observado no livro 3, neste os autores propiciam uma explicação um pouco mais aprofundada sobre este elemento, permitindo assim um conhecimento mais completo. Livro1: [...] Sabe-se que proteínas aquecidas e misturadas à água fria podem agrupar-se e formar pequenas gotas, chamadas de microsferas [...] (LINHARAES e GEWANDSZNAJDER, 2007 p.437) Livro 3: Em 1957, o pesquisador norte-americano Sidney Fox (1912-1998) aqueceu aminoácidos em uma superfície seca e, em seguida, adicionou água levemente salgada. Ao analisar a solução no microscópio, ele observou a presença de pequenas esferas que podiam aumentar de tamanho e se partir em esferas menores. Essas esferas eram bolsas delimitadas por membranas constituídas por moléculas de proteínas, as quais tinham se formado pela união dos aminoácidosdurante o aquecimento a seco. Fox chamou-as de microsferas e passou a defender a ideia de que elas podem ter sido importantes no processo de formação dos primeiros seres vivos. (AMABIS e MARTHO, 2007 p.34) Outro ponto que poderia ter sido mais explorado no livro 1, é a hipótese heterotrófica. Além de estar descrito de forma muito direta, a explicação deixa de abordar alguns pontos que poderiam não só aprofundar o conhecimento, como facilitar o processo de compreensão. 41 Durante a explicação desta hipótese, no 1º parágrafo da página 438, os autores citam a fermentação como um dos mecanismos utilizados pelos seres primitivos, porém não explica como este mecanismo auxiliava no processo de obtenção de energia, ao contrário do livro 3, como podemos ver a seguir: Livro 1: [...] os primeiros seres vivos deveriam apresentar nutrição sapróbia (conseguiam alimento pela absorção de moléculas orgânicas simples dos mares primitivos). A respiração aeróbia, utilizada hoje pela maioria dos seres vivos, exige a participação de oxigênio livre, para extrair energia da glicose, e de uma coleção enzimática muito ampla, pois o número de reações químicas é muito maior que na fermentação. Nos mares e na atmosfera primitiva não existia oxigênio livre e a coleção enzimática dos seres pioneiros era pequena. Logo, é mais provável que os primeiros seres vivos conseguissem energia por meio de um processo anaeróbico, como a fermentação. (LINHARAES e GEWANDSZNAJDER, 2007 p. 438) Livro 3: [...] os primeiros seres vivos, por serem muito simples, ainda não teriam desenvolvido a capacidade de produzir substâncias orgânicas disponíveis no meio. Esses seres primitivos deviam extrair energia das moléculas de alimento por meio de mecanismos mais simples que a fermentação realizada atualmente por algumas bactérias e fungos. Na fermentação, moléculas orgânicas são quebradas, originando compostos orgânicos mais simples e gerando energia, que é utilizada no metabolismo. (AMABIS e MARTHO, 2007 p. 35) Deve-se ressaltar ainda que tanto o livro 1 quanto o livro 2, pecam em não explicar mais detalhadamente sobre a célula procariótica e eucariótica, explicação esta que poderia contribuir, significativamente, para um conhecimento mais rico sobre a origem dos seres vivos. Nesses dois livros, esses tipos celulares, são apenas citados, diferentemente do livro 3, que explica não só a origem dessas células como também a sua importância para a origem dos seres vivos. 42 7. Resultados e Discussão De acordo com a análise realizada nos livros, os resultados obtidos sugerem a seguinte classificação: Análise dos livros didáticos de Biologia Tabela 4 Os livros foram analisados e, de um modo geral, todos os critérios foram observados de forma positiva, porém algumas ressalvas serão feitas aqui. Os três livros abordaram as principais teorias e hipóteses conhecidas no mundo científico a respeito da origem da vida. Todo conteúdo que foi apresentado pelos livros é pertinente ao referencial teórico exposto no início deste trabalho. As teorias sobre abiogênese e biogênese, evolução química, a hipótese heterotrófica e autotrófica, a concepção sobre o mundo do RNA e a teoria sobre a panspermia cósmica são abordadas nos três livros de forma conexa ao que é aceito, atualmente, dentro do mundo científico. Porém, um assunto importante e que poderia funcionar como um complemento e contribuir não só para um conhecimento mais rico, como também auxiliar para desvendar um dos maiores mistérios da humanidade, que é o início da vida, não é citado nos livros. A Árvore Filogenética da Vida é um assunto capaz de auxiliar significativamente na compreensão das origens. Estudar sobre os três domínios (bactéria, archea e eucarya) e sobre o hipotético ancestral comum do qual esses domínios teriam derivado, é essencial. Tendo em vista, que todos os organismos conhecidos pertencem a um desses três domínios e que o conhecimento mais detalhado sobre o progenota poderia contribuir não só para o esclarecimento da origem dos seres vivos, como também auxiliar na descoberta de como a vida teria surgido. Assim como a Árvore Filogenética da Vida, a teoria do Criacionismo também não é citada nos livros, como já dito anteriormente, esta teoria não é muito aceita no campo científico, já que remonta à história do surgimento da vida por caminhos pelos quais a ciência não é capaz de explicar. A história do Criacionismo não se perpetua pelas linhas Coerência Clareza Objetividade Livro 1 Bom Regular Regular Livro 2 Bom Bom Bom Livro 3 Bom Bom Bom 43 evolucionistas e sim perpassa pelo caminho do sobrenatural. Isso provavelmente explica a falta de exposição desta corrente nos livros analisados. Como já observado na análise e já ressaltado anteriormente, no critério coerência todos os três livros analisados corresponderam positivamente às expectativas. Os livros não apresentaram incoerências nos dados expostos e nem erros gramaticais nos vocabulários utilizados. Teorias e hipóteses apresentaram-se expressas de maneira pertinente, evitando o entendimento inadequado do conteúdo. Deve-se apenas ressaltar que o livro 2 não cita duas correntes de pensamento de grande importância e que é amplamente discutida no mundo científico, a concepção sobre o Mundo do RNA e a teoria sobre a Panspermia Cósmica . A falta destas informações acaba por deixar o conteúdo incompleto, não permitindo que os alunos adquiram o conhecimento mais enriquecido sobre as origens. Já no critério clareza, os livros 2 e 3 apresentaram uma melhor estruturação. As informações foram expostas de forma suficientemente clara, o que permitiu uma compressão mais rápida e fácil do assunto. A clareza nas informações ainda, não permitiu que outras possibilidades de interpretações ou distorções do conteúdo pudessem ocorrer. Já o livro 1, neste critério, não correspondeu da mesma forma que os outros livros. Em alguns pontos do conteúdo as informações necessitavam ser mais explicadas. Pois elas apresentavam-se de forma confusa, dificultando a compreensão do assunto. A clareza é uma ferramenta fundamental para transmissão do conhecimento, e sua utilização na exposição das informações, permite que o conhecimento seja adquirido de forma muito mais rápida e fácil. No livro 1 o autor deveria ter organizado melhor as palavras dentro do texto, evitando com isso, que informações relevantes para o ensino fossem entendidas de maneira inadequada. No critério objetividade, mais uma vez, os livros 2 e 3 corresponderam de forma positiva. Porém, o livro 1 novamente apresentou alguma falhas. Como pode ser observado na análise, o autor em determinados momentos da explicação expõem o conteúdo de forma muito objetiva, não permitindo que partes importantes fossem exploradas da maneira que deveriam. Quando o autor refere-se às microsferas, por exemplo, a sua abordagem para tal elemento é muito simplificada. Ele apenas preocupa-se em mostrar, de maneira simples e objetiva, como esses sistemas são originados. Esquecendo de ressaltar informações importantes, que poderiam contribuir para um conhecimento mais completo. Ao invés de apenas falar que as microsferas seriam formadas pela junção de proteínas aquecidas e misturadas à água, o autor poderia ter aprofundado mais a explicação, como por exemplo, falando sobre Sidney Fox que foi o responsável por realizar o experimento que comprovou a existências destes sistemas, 44 explicando detalhadamente os processos responsáveis pela formação destes elementos e ainda falando sobre a provável importância destes sistemas na formação dos primeiros seres vivos. Os exercícios observados nos livros, em sua grande maioria, correspondem a questões retiradas do vestibular. Contudo o livro 3, apresenta um “Guia de Estudo” com cerca de 56 questõesdesenvolvidas pelos próprios autores. As questões apresentam-se bem estruturadas e coerentes ao conteúdo abordado. De um modo geral todos os livros, como já mencionado anteriormente, utilizam questões de vestibular em seus exercícios. Fato este que serve para reforçar a complexidade deste assunto e ressaltar ainda a dificuldade que existe em tratar sobre a origem da vida, até mesmo pelos autores dos livros didáticos. Apesar de algumas diferenças, os três livros apresentaram os critérios analisados de forma significante. É importante ressaltar que apesar do livro 1 ter apresentado algumas falhas, estas não tornaram o livro inadequado para o ensino. Num todo, as informações apresentadas foram de grande relevância, apenas poderiam ter sido um pouco mais exploradas e, em alguns pontos, explicadas de forma mais clara. O intuito de demonstrar estas falhas aqui foi o de apenas auxiliar, para que problemas como estes, que podem influenciar no processo de aprendizagem do aluno, não continuem se perpetuando nos livros didáticos e nem influenciando na metodologia de ensino dos professores. Pois o sentido de utilizar a objetividade e a clareza no ensino é contribuir para o processo de compreensão sem, no entanto, limitar o conhecimento necessário. 45 8. Considerações Finais Com base em todas as observações que foram feitas, podemos chegar à conclusão que os três livros apresentam um bom desenvolvimento dos critérios analisados. O grande intuito deste trabalho foi analisar três elementos necessários para o processo de aquisição de um conhecimento extremamente importante para a humanidade, o surgimento da vida. Uma das maiores preocupações estava em saber como este conteúdo encontrava-se ministrado nos livros didáticos voltados para o ensino médio, fase esta onde nos deparamos com indivíduos suscetíveis a questionamentos e dúvidas prestes a terminar um longo ciclo de ensino. A importância de se apresentar conhecimentos fundamentados e capazes de proporcionar o aprendizado eficaz é essencial. Diante disso a análise dos livros foi baseada em três critérios específicos: coerência, clareza e objetividade, elementos básicos, porém de grande valia para estruturar-se um conhecimento adequado. Como já dito anteriormente, os livros analisados corresponderam de forma significativa às expectativas do trabalho. Contudo, quanto aos critérios clareza e objetividade, foi possível notar a importância de organizar as informações para que o conteúdo possa ser compreendido de forma mais rápida e fácil. E de ter-se cautela no ato de explicitar as informações de forma tão objetiva. É fundamental que os conteúdos sejam expostos de forma correta e que os autores utilizem a clareza e objetividade na exposição das informações, porém este processo deve ser feito com cuidado para que o intuito do trabalho, que é transpor o conhecimento de forma adequada, não se perca, evitando com isso, que informações relevantes ao conhecimento sejam excluídas da aprendizagem. Esta preocupação deve ser aplicada também aos professores. Estes devem se responsabilizar por transpor o conhecimento de forma adequada, não baseando a sua metodologia de ensino apenas nas informações dispostas nos livros didáticos ou na forma com que elas encontram-se expostas. Isso contribuiria, significativamente, para que um ensino com maior qualidade e produtividade ocorresse. 46 9. Referências Bibliográficas AMABIS, J. M; MARTHO, G.R. Biologia das Células. São Paulo, Moderna, 2007. 464 p. ARIAS, G. A geração espontânea – Parte II. Pode surgir vida de matéria inerte? Disponível em: <http//www.zooneus.com.br/noticiax.php?idnoticia...>. Acesso em: agosto de 2009. BARRIGA, F. As escalas da evolução do planeta e a Terra primitiva. Gazeta da Física, v. 25, p. 34-37, 2002. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº: 9.394, 20 de dezembro de 1996. D.O.U de 23 de dezembro de 1996. BRASIL. PNLEM – Programa nacional do Livro didático para o Ensino Médio, MEC/BRASIL. Catálogo do programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009. Disponível em: <http//portal.mec.gov.br/índex.plnp?option = com...>. Acesso em: junho de 2009. BRASIL. RESOLUÇÃO/ FNDE Nº 038 de 15 de outubro de 2003. Disponível em: <FTP//FTP.fnde.gov.br/web/resoluções_2003/res038_15102003...pdf >. CALDAS, C. O que é vida? . Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, p. 1-3, 2008. Disponível em: < http// www.comciencia.br/comciencia/?section = 8&edição>. Acesso em: outubro de 2008. DAMINELI, A; DAMINELI, D.S.C. Origens da vida. Estudos Avançados 21(59), 2007. FONSECA, K. A Origem dos Seres vivos. 2009. Disponível em: <http//www.brasilescola.com/biologia/origem-dos-seres-vivos.htm>. Acesso em: junho de 2009. FRAIBERG, M. Análise dos conceitos sobre a Origem da Vida nos livros didáticos do ensino médio, na disciplina de biologia, de escolas públicas gaúchas. Porto Alegre, 2008. GALVÃO, A; ARAGÃO, R. Uma análise da produção de histórias coerentes por crianças. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 10, n. 2, Porto Alegre, 1997. KAWASAKI,C. S; ELHANI,C. N. Uma análise das definições de vida encontradas em livros didáticos do ensino médio. In: VIII Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia, 2002, São Paulo. São Paulo, 2002; (novembro/2008). LAURENCE, J. Biologia. São Paulo, Nova Geração, 2007. 689 p. LINHARES, S; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia. São Paulo, Ática, 2007. 530 p. LIVRO DIDÁTICO – Programa de Livros Didáticos, MEC/ BRASIL. Disponível em: <http//www.fnde.gov.br/home/índex.jsp>. Acesso em junho de 2009. LOPES, M. Dos Procariontes aos Eucariontes. 2005. Disponível em: <http://www.esplanhoso.net/biogeo11/texto7-procariontesaoseucariontes.htm>. Acesso em: outubro de 2009. http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edição http://www.esplanhoso.net/biogeo11/texto7-procariontesaoseucariontes.htm 47 MACEDO, E. Imagem e pesquisa em educação: currículo e cotidiano escolar: O livro como dispositivo curricular. Rev. Educação e Sociedade, v. 25, p. 15-16, 2004. MARCUSCHI, L. A. Lingüística de Texto: Como é e Como se Faz. Séries Debates 1, 1983. MÁRIO, C. A Origem da vida: A Perspectiva geológica. [S.I.: s.n.,2007?], Disponível em: < http://www.oal.ul.pt/download/res_pal_0702.pdf> acesso em: outubro de 2009 MARTINS, C.F. A Origem da Vida na Terra. [2008?] data provável. Disponível em: <http://www.cosmobrain.com.br/artigos/cosmobrain_et1.php>. Acesso em: setembro de 2009. MARTINEZ, J.F. Criacionismo Bíblico. 2007. Disponível em: <http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PTBR&article=853&menu=12&subm enu=4>. Acesso em: novembro de 2009. NASCIMENTO, F. A origem da vida e a sua evolução. Uma questão central no âmbito da exobiologia. Anomalia, v. 5, p. 25-32, 2001. NÚÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L.; SILVA, I. K. P.; CAMPOS, A. P. N. A seleção dos livros didáticos: um saber necessário ao professor. O caso do ensino de Ciências. Revista Iberoamericana de Educación, p. 1-12, 2003. Disponível em: <http://www.rieoei.org/deloslectores/427Beltran.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2005. RICARDO, A; SZOSTAK, J. Vida na Terra. Revista Scientific American Brasil. Ano 8, n. 89, São Paulo, Duetto, 2009. 82 p. SANTOS, F. Abiogênese x Biogênese. 2008. Disponível em: <http://www.infoescola.com/evolucao/abiogenese-biogenese/>. Acesso em: novembro de 2009. SANTOS, F. Hipótese Autotrófica. 2008. Disponível em: <http://www.infoescola.com/evolucao/hipotese-autotrofica/>. Acesso em: novembro de 2009. SENA, T. Origem da vida: Hipótese de Oparin-Haldane. 2006. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/exact-sciences/biology/276224-origem-da-vida-hip%C3%B3tese- oparin/>. Acesso em: outubro de 2009. SOUSA, R. A História do Criacionismo. 2009. Disponível em: <http//www.brasilescola.com/historiag/criacionismo.htm>. Acesso em: setembro 2009. TURNER,M. Universo. Revista Scientific American Brasil. Ano 8, n. 89, São Paulo, Duetto, 2009. 82 p. UZUNIAN, A; PINSETA, D.E; SASSON, S. A Origem da Vida – I. 2007. Disponível em: <http://hilltop.my1blog.com/a-origem-da-vida-i/>. Acesso em: novembro de 2009 VASCONCELOS, S. D. ; SOUTO, E. O livro didático de Ciências no Ensino Fundamental- proposta de critérios para análise do conteúdo zoológico. Ciências e Educação, v. 9, n. 1, p. 93-104, 2003. http://www.oal.ul.pt/download/res_pal_0702.pdf http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PTBR&article=853&menu=12&submenu=4 http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PTBR&article=853&menu=12&submenu=4 http://www.infoescola.com/evolucao/hipotese-autotrofica/ 48 VILARINHO, S. A Clareza de um Texto. 2009. Disponível em: <http//www.brasiescola.com/.../a.clareza-um-texto.htm>. Acesso em: agosto de 2009. XAVIER, M. C. F.; FREIRE, A. S.; MORAES, M. O. A nova (moderna) biologia e a genética nos livros didáticos de biologia no ensino médio. Ciências e Educação, v. 12, n. 3, p. 275- 289, 2006. 49 Anexos Anexo A: Resolução Nº 038 do FNDE, BRASIL 2003: 50 Anexo B: Lista dos livros didáticos de Biologia aprovados 51 Anexo C: Livros escolhidos para o processo de análise Fonte: Catálogo do Programa Nacional do livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Fonte: Catálogo do Programa Nacional do livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Fonte: Catálogo do Programa Nacional do livro para o Ensino Médio PNLEM/2009 Biologia – Linhares, S.V. Gewandsznajder, F. Editora: Ática, 2007. Biologia – Laurence, J. (Fernandes, M.P.) Editora: Nova Geração, 2007. Biologia – Martho, G.R., Amabis, J.M. Editora: Moderna, 2007. 52 Anexo D : Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio PNLEM/2009