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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE COORDENAÇÃO GERAL DE GRADUAÇÃO ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL BRUNO HIPÓLITO RECIFE, 2019 Apresentação Capítulo 1 - Ética e Responsabilidade Social Capítulo 2 - Conceito e contextualização de responsabilidade social Capítulo 3 - Responsabilidade Social Corporativa (RSC) Capítulo 4 - O papel das empresas na sociedade Capítulo 5 - Impacto Social Total: uma nova abordagem para a Responsabilidade Social Corporativa SUMÁRIO Apresentação Olá, caro(a) estudante! Este bloco é dedicado ao estudo de questões éticas e da Responsabilidade Social. Essas são questões importantes, pois estão relacionadas ao esforço urgente em encontrar mecanismos para o enfrentamento dos desafios globais na atualidade. A exigência de uma empresa socialmente responsável levanta questões sérias, tais como: Qual é a função principal da empresa e qual responsabilidade ela, realmente, assume? Que formas de regulação e governança são adequadas à economia mundial globalizada de hoje? Vamos descobrir juntos as respostas para essas questões? BLOCO 3 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Capítulo 1 - Ética e Responsabilidade Social Talvez, hoje, seja difícil encontrar uma palavra mais elegante no mundo dos negócios do que "ética empresarial" e, recentemente, foi acrescentada a palavra "responsabilidade social”. Neste capítulo, vamos entender o significado e a diferença entre elas. Como vimos no Bloco II, existe uma ética universal que funciona como um sistema de normas para o comportamento moral das pessoas, sua relação entre si e com a sociedade como um todo. Mas, junto com isso, em algumas esferas da atividade profissional, uma ética específica foi desenvolvida. Para começar, vamos definir o próprio conceito de ética empresarial. Para Tenório, o conceito se traduz da seguinte forma: “A ética empresarial, em um sentido amplo, é um conjunto de princípios e normas éticas que devem orientar as atividades das organizações e de seus membros no campo da gestão e do empreendedorismo. Abrange os fenômenos de várias ordens: a avaliação ética da política interna e externa da organização como um todo; os princípios morais dos membros da organização, ou seja, moralidade profissional; clima moral na organização; padrões de comportamento moral; padrões de etiqueta comercial - normas externas de comportamento ritualizadas ". Assim, nos negócios, a ética é um tipo de ética profissional, esta, é também, a ética das pessoas que trabalham no campo do empreendedorismo. Assim, cultura empresarial significa tradições e rituais dentro da empresa; valores compartilhados por seus funcionários; sistema de comunicação, incluindo relações informais; práticas comerciais estabelecidas e organização do trabalho. A cultura de uma empresa está intimamente relacionada aos princípios éticos dos negócios e são elementos inseparáveis. Portanto, podemos concluir que a ética nos negócios é um sistema de princípios gerais e regras de comportamento das entidades empresariais, sua comunicação e estilo de trabalho, que se manifestam nos níveis micro e macro das relações de mercado. Na base da ética empresarial, encontra-se os ensinamentos sobre o papel da moralidade nas relações de negócios que refletem as condições de vida da sociedade. A ética nos negócios também é um sistema de conhecimento sobre o trabalho e a moralidade profissional, sua história e prática. É um sistema de conhecimento sobre como as pessoas estão acostumadas a tratar seu trabalho, que significado dão a ele, que lugar ocupa em suas vidas, como as relações entre as pessoas se desenvolvem no processo de trabalho e, por sua vez, como lida com a questão de quais normas ou ideais morais podem ser relevantes para os empreendedores em uma economia moderna. Vivemos em uma era de inovação, economia global e crescimento de livres mercados. À luz das novas tecnologias, mudanças no papel do Estado e o surgimento de novos atores no cenário mundial, novas oportunidades, exigências e restrições aparecem em cena. É por isso que, sob a influência do mercado e da sociedade, o papel e a responsabilidade das empresas crescem cada vez mais. Embora o objetivo de obtenção de lucros de uma empresa seja compreensível e claro, as pessoas não a aceitam como uma justificativa para desrespeitar as normas, valores e normas de conduta. Espera-se que as empresas modernas assumam a responsabilidade pelo uso responsável dos recursos públicos, atuando não apenas pelo bem de suas empresas, mas da sociedade como um todo. Ao conduzir seus negócios com responsabilidade, as empresas estão criando o capital social necessário de confiança e justiça. Nas últimas décadas, governos, instituições internacionais, organizações multinacionais, sindicatos e sociedade civil se engajaram no diálogo sobre responsabilidade empresarial. Novos padrões e procedimentos estão sendo formados em todo o mundo e expectativas estão surgindo em relação aos negócios. As empresas e os mercados que não estão familiarizados com eles, ou não podem construir seu futuro com base neles, não serão capazes de participar em pé de igualdade no diálogo global e correm o risco de ficar para trás à medida que a economia de mercado mundial se desenvolve. Em todo o mundo, as empresas criam e implementam programas de ética empresarial para resolver questões ambientais, problemas legais e éticos. Essas empresas não apenas satisfazem às necessidades de seus funcionários, acionistas, comunidades, mas também contribuem para o bem-estar econômico de seus países. Nesse sentido, nos últimos vinte anos, os problemas da ética empresarial atraíram cada vez mais a atenção de pesquisadores, gestores e figuras públicas. Cursos de ética obrigatórios são lidos em todas as principais escolas de negócios. Atualmente, a avaliação ética e a reputação desempenham um papel importante na conclusão de transações, na escolha de parceiros de negócios, na aplicação de sanções regulatórias etc. Um princípio relativamente novo da ética empresarial moderna é o princípio da responsabilidade social. A responsabilidade social das empresas começa a ser ativamente e implementada com sucesso em todo o mundo. As corporações não resolvem os problemas da sociedade apenas investindo no desenvolvimento da educação, medicina, ciência, produção, apoiando grupos socialmente desprotegidos e cuidando de questões ambientais, mas recebem certos benefícios por estas atividades. Em geral, a ética nos negócios pode ser entendida como uma disciplina científica que estuda a aplicação de princípios éticos às situações de negócios. A questão mais relevante da ética nos negócios é a questão da relação entre ética corporativa e universal, a responsabilidade social, a aplicação de princípios éticos comuns a situações específicas. Portanto, os conceitos de “ética empresarial” e “responsabilidade social” se relacionam como como fundamento ético comum com princípio de negócio privado. Capítulo 2 - Conceito e contextualização de responsabilidade social Vamos começar dizendo que o significado da responsabilidade como categoria social e filosófica foi determinado relativamente tarde. Hans Jonas explica que a medida de responsabilidade está relacionada à medida do poder e do conhecimento, e foram limitados na era pré-industrial. Do ponto de vista da filosofia clássica, a responsabilidade foi estudada, principalmente, através de categorias éticas como moralidade, dever, bem e mal, liberdade e necessidade. Aristóteles é o autor do conceito de responsabilidade, segundo o qual as consequências são pagas tanto ao benevolente quanto ao hostil. Uma pessoa tem o poder de realizar ações boas e vergonhosas, depende dele, que tipo de ações irá realizar de sua própria vontade, uma pessoaé justa ou injusta, de acordo com suas ações ele é honrado ou punido. A responsabilidade, portanto, implica que a pessoa seja informada sobre as condições das ações e exigências que lhe são impostas. Immanuel Kant foi um dos primeiros pensadores que utilizou as categorias “responsável” e “responsabilidade” no século XIV, cujo significado definiu como seguindo o imperativo categórico e a lei moral absoluta, como vimos no Bloco II. Nos séculos XIX – XX, a responsabilidade era considerada diretamente como uma ação de acusação. Aqui podemos nos voltar para as conceituações de responsabilidade de Weber e Nietzsche, esses são os pensadores que formularam as ideias mais importantes sobre a origem da responsabilidade e seus princípios. Suas abordagens para entender a responsabilidade variam em grau de subjetividade. Ao contrário de Nietzsche, Weber não considerou a responsabilidade como um construto subjetivo. Ele enfatizou a transformação histórica da responsabilidade de uma pessoa perante Deus em uma forma secular, justificada por suas próprias decisões e por sua consciência individual. Sartre afirmou que “nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, já que se aplica a toda a humanidade". Além disso, o sentimento de responsabilidade plena e profunda, de acordo com Sartre, é o resultado da percepção do homem de que, fazendo uma escolha, ele escolhe toda a humanidade com ele. Segundo Jonas, em conexão com a possibilidade de futuros desastres provocados pelo homem, a ética tradicional se exauriu e uma nova ética é necessária, baseada no princípio da responsabilidade. Todos os conceitos éticos devem ser substituídos por uma ética moderna que tem a responsabilidade como centralidade. Jonas identifica dois tipos de responsabilidade: • natural (vocação), é a responsabilidade integral, irrevogável, que não depende de aprovação prévia; • contratual (obrigação), ou seja, instituída a partir da atribuição e aceitação de um cargo, é delimitada pela tarefa, quanto ao conteúdo e quanto ao tempo. Segundo Jonas, é necessário rever o conceito de “responsabilidade”. Ele propõe a ideia de expandir, a partir de considerações morais, o conceito de responsabilidade através da transição: • Do conceito de responsabilidade baseada na culpa pela “ética do cuidado”; • Da responsabilidade do “depois” ao cuidado responsável da precaução; • Da responsabilidade orientada ao passado para o compromisso com ações autorresponsáveis orientadas para o futuro e definidas pela capacidade de controle e de poder. Ainda no século XX, a compreensão da responsabilidade como princípio fundamental da ação humana leva ao entendimento de que não apenas um indivíduo, mas um grupo social, uma comunidade ou uma classe podem ser “responsáveis”. Uma nova categoria está surgindo: “a responsabilidade social”, que é realizada tanto pelas formas de controle social quanto pela compreensão de seu papel social. A responsabilidade social não é atribuída a um único indivíduo, mas a um indivíduo como representante de uma comunidade social. A abordagem, que não se baseia na prioridade dos interesses não privados, mas no todo, reflete-se no conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Baseia-se no fato de que a contradição entre o interesse privado de uma empresa (lucro) e os interesses da sociedade (estabilidade, desenvolvimento bem-sucedido para a maioria) deve ser resolvida pela empresa em favor da sociedade como o sistema do qual ela faz parte. Níveis de responsabilidade social corporativa: Nível básico (“legalidade”): conformidade com leis e normas, pagamento de impostos, pagamento de salários, garantia de segurança do trabalho e, se possível, criação de novos postos de trabalho. O segundo nível é proporcionar aos trabalhadores condições adequadas não só para o trabalho, mas também para a vida: elevando o nível de qualificação dos colaboradores, o tratamento preventivo, a construção de moradias, o desenvolvimento da esfera social etc. (criação de capital social). O terceiro, o mais alto nível de responsabilidade social corporativa, é o trabalho de caridade, programas de marketing social, patrocínios, filantropia etc. Além de programas socialmente significativos. Capítulo 3 - Responsabilidade Social Corporativa (RSC) É muito importante que o conceito de “ética nos negócios” se aplique tanto a um gestor individual, a um empresário, quanto à empresa como um todo. Os principais princípios da ética nos negócios incluem, em primeiro lugar, valores tradicionais, desenvolvidos ao longo da longa história de empreendedorismo global, como respeito à lei, honestidade, lealdade à palavra e contrato celebrado, confiabilidade e confiança mútua. Como já mencionamos anteriormente, um princípio relativamente novo da ética empresarial moderna é o da responsabilidade social. Para que o comportamento de uma empresa seja reconhecido como socialmente responsável, ou seja, Ética no sentido moderno, não basta apenas cumprir as leis ou ser honesto com os consumidores ou com os parceiros de negócios. Se a responsabilidade legal são as normas e regras de conduta definidas por lei, então, a responsabilidade social, também chamada de Responsabilidade Social Corporativa, significa não apenas cumprir leis e normas, mas ir além dos requisitos da legislação e pensar nos benefícios da sociedade como um todo. Em resumo, podemos dizer que a Responsabilidade Social Corporativa é o impacto dos negócios na sociedade, a responsabilidade daqueles que tomam decisões do negócio diante daqueles a quem, direta ou indiretamente, são afetados por tais decisões. Desse modo, a RSC não é uma regra, mas um princípio ético que deve estar envolvido no processo de tomada de decisão. Como já mencionamos, a RSC é um conceito pelo qual as organizações levam em consideração os interesses da sociedade, assumindo a responsabilidade pelo impacto de suas atividades nos clientes, fornecedores, funcionários, acionistas, comunidades locais e outras partes interessadas e no meio ambiente. Essa obrigação vai além da obrigação legal de cumprir a lei e pressupõe que as organizações tomem medidas adicionais, voluntariamente, para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e suas famílias, bem como a comunidade local e a sociedade como um todo. A globalização do mercado, sua transformação do nacional para o global, determina, para uma entidade econômica, a necessidade de introduzir inovações no campo da tecnologia, organização e gestão do trabalho, com base no uso e aplicação de pesquisas científicas e melhores práticas. No centro de todos esses fenômenos, está o capital intelectual, a qualidade do trabalho e a motivação dos trabalhadores. Os princípios de Responsabilidade Social Corporativa definem as disposições básicas que expressam a natureza e a essência da organização e das atividades para a implementação da RSC na empresa. Princípios de RSC são formados em detrimento das expectativas dos cidadãos. Recentemente, as expectativas da população, relacionadas às empresas, mudaram significativamente. Hoje em dia, a sociedade não fica indiferente ao modo como uma empresa conduz seus negócios, nem como direciona suas ações e gerencia suas receitas. Vejamos alguns princípios de Responsabilidade Social Corporativa: 1. Abertura Os princípios de transparência da política social da empresa, seus programas sociais e mecanismos para a sua implementação devem ser claros e compreensíveis. Publicidade - Qualquer informação sobre RSC, exceto as confidenciais, deve estar publicamente disponível. Credibilidade - Ocultação ou falsificação de dados de Responsabilidade Social Corporativa é inaceitável. Diálogo - A política social é baseada em um diálogo com todas as partes interessadas, é necessário ter feedback com os destinatários dos programas sociais.2. Sistêmico Foco - Disponibilidade de áreas prioritárias para a implementação de programas sociais Tempo (sequência) – Responsabilidade de longo prazo, não apenas pelas atividades atuais, mas pelas passadas e futuras, bem como seu impacto nas atividades da empresa no mundo externo. Unidade – Aplicação dos princípios universais de Responsabilidade Social Corporativa para todas as áreas da empresa. Regularidade - Rejeição de ações esporádicas e fragmentadas em favor de programas sustentáveis e projetos no âmbito das áreas prioritárias da empresa. Integração - Adoção dos princípios de RSC em todos os processos de tomada de decisão, em todos os níveis hierárquicos. 3. Importância Relevância - Os programas de RSC implementados devem ser oportunos e relevantes. Escala - Os programas de Responsabilidade Social Corporativa devem atingir um público significativo e ser visíveis à sociedade como um todo. Eficiência - Os fundos gastos na implementação de programas devem ajudar significativamente na solução de problemas e os resultados devem ser regularmente avaliados e registrados. É especialmente importante que os programas sociais sejam executados nas áreas em que a sociedade mais necessita no momento. Isso significa que há um conjunto de princípios que determinam a relevância dos programas que estão sendo implementados, sua eficácia e escala. Diante de tudo que falamos até o momento, você tem ideia dos benefícios da implantação da RSC? Lembrando que esse princípio não é exclusivo para grandes empresas, uma vez que independe de tamanho. Assim, tanto as grandes como as pequenas empresas podem ser responsáveis socialmente e sentir seus benefícios, que são: • O lucro aumenta e as taxas de crescimento do negócio aumentam. • As empresas passam a realizar investimentos socialmente responsáveis, cuja distribuição leva em consideração os indicadores que caracterizam as atividades da empresa nas esferas ambiental, social e ética. • As despesas operacionais podem ser reduzidas, como a produção de resíduos ou a reciclagem, aumentando a eficiência do uso de eletricidade ou da venda de materiais reciclados. Assim, marca e reputação melhoram, o que ajuda a desenvolver e abrir novos mercados e linhas de negócios. • As vendas crescem, a fidelidade do cliente aumenta. Os consumidores querem saber se os produtos são fabricados com um senso de responsabilidade ambiental, além de outros aspectos sociais. Alguns consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos "responsáveis". • Maior produtividade e qualidade do produto (serviço). • Há mais oportunidades para atrair e reter funcionários: as pessoas preferem trabalhar em empresas cujos valores coincidem com os seus. • Redução de reclamações de órgãos reguladores. • Melhora a gestão de risco. • Aumenta a competitividade. Muita coisa até agora, não é mesmo? Que tal fazermos uma pausa de 2 minutos e depois exercitarmos um pouco resolvendo um dilema ético? Em seguida, sugerimos que você discuta com seus colegas no fórum do bloco 3. Dilema ético Quando o pai de Fernando conseguiu um emprego para ele em um restaurante popular perto de sua vizinhança, ele percebeu que as férias estavam para chegar. Como o dono do restaurante era um grande amigo do seu pai e o deixava trabalhar quatro vezes por semana com a escolha de turnos. Ele podia dormir e ganhar dinheiro suficiente para ir à praia e sair com seus amigos o resto do tempo. Fernando é muito sociável e fazia amigos facilmente, em pouco tempo sabia o nome de todos no restaurante antes do final de sua primeira semana no trabalho. Um dos membros da equipe da cozinha estava trabalhando no restaurante há quatro anos, cortando legumes para o buffet de saladas e foi especialmente gentil com Fernando enquanto ele estava aprendendo as coisas, o nome dela era Rosa. Certo dia, Rosa apresentou Fernando ao seu marido e filhos, e depois de seu primeiro mês no trabalho, ele se sentiu como um verdadeiro membro da “família” do restaurante . Uma certa noite, durante uma pausa na restaurante, tudo mudou para Fernando. Rosa casualmente mencionou seu salário no meio de uma conversa entre os dois. Rosa estava falando sobre o custo dos cuidados com os filhos e como era difícil para ela e seu marido administrar tudo enquanto ambos trabalhavam. Quando Fernando ouviu quanto Rosa ganhava de salário, sentiu-se bastante constrangido, pois era metade do que ele recebia. Ela estava lá há quatro anos e ele estava lá há menos de três meses! Ele se sentiu culpado, envergonhado e bastante chateado. E pensou: como isso poderia acontecer? Quando ele tentou falar com Rosa sobre como seus salários eram diferentes, ela ficou desconfortável e parecia nervosa. “Por favor, não diga nada ao nosso chefe. Quem reclama geralmente é demitido. Eu não posso perder este emprego. Fernando foi para casa naquela noite com dois pensamentos. Ele sabia que esse era um caso claro de injustiça, mas nunca havia se deparado com uma situação parecida. Ao tomar uma posição e reivindicar, poderia tornar as coisas mais difíceis e mais injustas para Rosa e o resto da equipe da equipe. Mas, permanecendo em silêncio, ele permitia que a injustiça continuasse. Ele pensou: se alguém como eu (jovem, branco, classe média) não fizesse nada, como as coisas mudariam? Fernando desejou que as coisas fossem fáceis e planejadas como era na sala de aula. Mas isso não era um problema de livro e não havia uma resposta simples. Em sua opinião, o que Fernando deveria fazer? Capítulo 4 - O papel das empresas na sociedade A imagem de uma empresa socialmente responsável é um investimento em sua reputação comercial. Isso pode permitir que ela esteja um passo à frente das concorrentes que seguem apenas o exigido pela lei e não vai além para atender às necessidades da sociedade como um todo. Assim, quando a legislação muda para adotar padrões de qualidade mais rigorosos para produtos e serviços ou novas normas para questões ambientais, ou regras de publicidade, as empresas socialmente responsáveis estão mais preparadas para introduzi-las do que suas concorrentes, o que lhes confere vantagens absolutas. As pessoas estão mais dispostas a trabalhar em uma empresa com responsabilidade social, bem como comprar seus produtos e serviços. Os fornecedores e parceiros comerciais também estarão mais interessados em trabalhar com uma empresa com alta reputação comercial. Assim, a longo prazo, quando diferentes grupos de partes interessadas estiverem convencidos do comportamento correto da empresa, é provável que suas receitas aumentem. Naturalmente, sabemos que um dos objetivos da organização é maximizar os lucros. Mas a principal missão da organização não pode ser a obtenção e maximização do lucro, isso devido ao fato de que hoje as organizações assumem um papel diferente na sociedade e seu funcionamento é construído sobre outros princípios, e não como era antes. Desse modo, a organização, como um participante direto na vida da sociedade em que atua, deve assumir uma postura proativa na resolução dos problemas mais relevantes no momento. No entanto, para resolver problemas sociais, é exigido um investimento da organização, isso significa maior redução nos lucros. Nesse caso, viola um princípio básico da organização, que é maximizar os lucros. Por outro lado, como resultado do investimento na solução de problemas sociais, temos a promoção de uma imagem positiva da organização e uma boa relação com seus consumidores, que, por sua vez, também é considerado um investimento indireto em recursos humanos. A essência desse argumento é que, direcionar parte do lucro para projetos sociais, reduz o volume dos lucros de negócio, mas, a longo prazo, aumenta a credibilidade perante os consumidores, fornecedores e funcionários, gera um debate sobre o papel das empresasna sociedade, dando origem a argumentos prós e contras sobre Responsabilidade Social Corporativa. 1. Favorável para perspectivas de longo prazo. Ações sociais de empresas que melhorem a vida da comunidade local podem ser de interesse de todos, devido aos benefícios proporcionados por essas ações. Em uma sociedade mais próspera do ponto de vista social, as condições também são mais favoráveis para as atividades empresariais. Como já mencionamos, mesmo que os custos a curto prazo da ação social sejam altos, no longo prazo, podem estimular os lucros, uma vez que consumidores, fornecedores e a comunidade local têm uma imagem mais positiva da empresa. 2. Mudar as necessidades e expectativas do público em geral As expectativas da sociedade perante às empresas mudaram significativamente ao longo dos anos. Para atender às novas expectativas, a resposta real das empresas deve ser seu envolvimento na resolução de problemas sociais a partir das necessidades da própria sociedade. 3 Disponibilidade de recursos para auxiliar na solução de problemas sociais. Como o negócio possui recursos humanos e financeiros significativos, ele deve transferir parte desses recursos para os projetos sociais. 4. A obrigação moral de se comportar socialmente responsável. Uma empresa, como parte integrante da sociedade, deve agir de maneira socialmente responsável e contribuir para o fortalecimento dos fundamentos morais da mesma. 1. Violação do princípio da maximização do lucro. A direção dos recursos para as necessidades sociais reduzirá o efeito do princípio da maximização do lucro. 2. Custos de inclusão social. Fundos alocados para projetos sociais são custos para a empresa. Em última análise, esses custos são transferidos para os consumidores na forma de aumentos de preços. No entanto, devemos entender que, para ser socialmente responsável em nosso tempo, não é apenas moda, mas também necessário para construir um modelo de negócios eficaz não por uma hora ou um ano, mas por um longo tempo. Vamos ver um exemplo que mostra a relação entre comportamento ético e socialmente responsável. Johnson & Johnson Company. Em 30 de setembro de 1982, três pessoas na área de Chicago (EUA) morreram através de cianeto contido nas cápsulas de Tylenol. A conexão entre a morte dessas pessoas e o uso das cápsulas foi estabelecida muito rapidamente e as autoridades notificaram a Johnson & Johnson, fabricante do Tylenol, sobre o caso. À medida que o número de mortes aumentava, chegando a sete, a empresa enfrentou uma crise e a perspectiva de um colapso foi total. O Tylenol, o anestésico mais utilizado, foi o único grande produto novo da Johnson & Johnson, representando mais ou menos 18% do faturamento da empresa. Vários executivos da empresa não sabiam como responder a esse caso. Não sabiam se o cianeto foi introduzido nos frascos de Tylenol durante o processo de fabricação ou depois, se as mortes relacionadas ao caso eram fatos isolados ou em decorrência da longa cadeia de fabricação e distribuição do produto. A Food and Drug Administration dos EUA emitiu um alerta sobre os perigos do uso do Tylenol, mas o governo não obrigou a empresa a tomar nenhuma medida especial. Talvez as mortes fossem de natureza local e o seu número não fosse além dos sete já notificados. Talvez apenas uma suspensão temporária nas vendas fosse suficiente até que a verdadeira causa para as mortes fosse revelada. Muitas questões estavam envolvidas na tomada de decisão. A retirada do medicamento dos postos de venda significaria uma perda de até 100 milhões de dólares para a empresa, montante que o seguro não cobria. A notícia da retirada do medicamento causaria um dano à sua reputação que os líderes da empresa não teriam mais a certeza de que o Tylenol conseguiria novamente conquistar a confiança dos consumidores e devolver a participação de mercado de 37% já conquistado. Em suma, a notícia da retirada do medicamento e a perda da empresa, inevitavelmente, levariam a uma queda acentuada no preço de suas ações (na verdade, na primeira semana de outubro já diminuiu em 15%). A concorrência no mercado de analgésicos é muito forte e os concorrentes da Johnson & Johnson aproveitariam o episódio em benefício próprio. Esses eram os dilemas dos gestores. No entanto, sabe-se que, quando a empresa Johnson & Johnson se deparou com o fato de sete mortes e a possibilidade de novos casos, ela, imediatamente, ordenou interrupção na venda do produto. A empresa colocou, em primeiro lugar, a segurança dos consumidores, ou seja, agiu em conformidade com seus valores. O dano inevitável à empresa, embora muito tangível e indesejável, ficou em segundo lugar. Esse incidente ficou mundialmente conhecido e se tornou um exemplo que demonstra como responder a uma tragédia. A questão não é apenas que a decisão da empresa estava correta do ponto de vista moral, mas também como lidou habilmente com as consequências da tragédia. Ela forneceu, ao público em geral, informações completas sobre o incidente de forma transparente e, em 18 meses, recuperou 96% da participação de mercado anterior. James Burke, presidente do conselho de administração e diretor executivo da Johnson & Johnson na época, que mais tarde foi elogiado por sua decisão, comentou a questão da seguinte forma: em primeiro lugar, foi, na verdade, a única posição possível a partir dos valores da empresa; as pessoas não poderiam ter uma solução diferente. No entanto, ele estava plenamente ciente de que nem todas as empresas teriam agido como a Johnson & Johnson, embora sua decisão fosse moralmente correta. Assim, nesse exemplo, esforços máximos foram feitos não para esconder a má qualidade de seus produtos, mas para desmobilizar o que aconteceu completamente e o mais rápido possível. Apesar dos prejuízos sofridos, a empresa conseguiu preservar o que havia de mais importante, a reputação de seus negócios e a confiança dos clientes, que apreciavam a responsabilidade social da empresa. Guiado pela regra "é melhor perder um pouco do que perder tudo", a empresa não apenas retinha clientes antigos, mas também atraía novos. A propósito, um exame médico independente, após a apreensão de mercadorias, revelou que a morte dos consumidores não era culpa da empresa. Neste bloco, vimos que a responsabilidade social em prol do desenvolvimento da sociedade civil tem grande importância. Em suas ações, a Organização deve aderir aos interesses da sociedade em que estão inseridas, deve assumir uma postura proativa na resolução dos problemas mais relevantes da própria sociedade. Assim, podemos constatar que, para uma empresa tornar claro e compreensível o seu plano de desenvolvimento sustentável, combinando fatores econômicos, sociais e ambientais, ela pode minimizar os riscos do negócio, reforçar a competitividade, aumentar a eficiência da equipe e fidelizar os clientes, melhorar a reputação da empresa, criar uma contribuição positiva para a comunidade empresarial e social. Dessa forma, temos a criação de condições favoráveis para as estratégias de desenvolvimento de negócios de longo prazo sobre a base do equilíbrio dos interesses das partes interessadas. Essa é, de fato, uma prática social responsável, com base para o desenvolvimento sustentável da empresa. Agora, assista ao vídeo abaixo e veja alguns exemplos de projetos sociais aplicados na prática. https://www.youtube.com/watch?v=dQwVftySkdM E muito legal vermos projetos sociais sendo aplicados na prática, não é? E, quando são realizados pela instituição da qual fazemos parte, nos dá um grande orgulho, não é mesmo? https://www.youtube.com/watch?v=dQwVftySkdM Capítulo 5 - Impacto Social Total: uma nova abordagem para a Responsabilidade Social Corporativa É indiscutível a importância da Responsabilidade Social Corporativanos dias atuais. Mas, de acordo com o Boston Consulting Group, o RSC trata o impacto social apenas como uma meta para ser cumprida pela empresa e para dar retorno aos acionistas. Diante disso, surge uma nova abordagem chamada de Impacto Social Total (IST). Essa visão é mais ampla e está diretamente relacionada ao benefício total para a sociedade dos produtos, serviços, operações, capacidades essenciais e atividades de uma empresa. Para entender um pouco mais sobre essa nova perspectiva, assista ao vídeo da Wendy Woods, sócia sênior e diretora do The Boston Consulting Group (BCG) e líder Global da BCG nas práticas de impacto sociais. https://www.ted.com/talks/wendy_woods_the_business_benefits_of_doing_goo d?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare Vamos refletir! Após assistir ao vídeo, surge a seguinte pergunta: o que uma empresa deve fazer ao encontrar qualquer necessidade social? https://www.ted.com/talks/wendy_woods_the_business_benefits_of_doing_good?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare https://www.ted.com/talks/wendy_woods_the_business_benefits_of_doing_good?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare REFERÊNCIAS QUEIROZ, ADELE et al. Ética e responsabilidade social nos negócios. Editora Saraiva, 2017. RODRIGUEZ, MARTIUS VICENTE RODRIGUEZ Y. Ética e responsabilidade social nas empresas. Elsevier Brasil, 2005. 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