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2013 Instrumentos e Processo de trabalho em servIço socIal Prof.ª Gisele de Cássia Galvão Ruaro Prof.ª Juliana Maria Lazzarini Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Prof.ª Gisele de Cássia Galvão Ruaro Prof.ª Juliana Maria Lazzarini Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 361.0023 R894iRuaro, Gisele de Cássia Galvão Instrumentos e processo de trabalho em serviço social/ Gisele de Cássia Galvão Ruaro, Juliana Maria Lazzarini. Indaial : Uniasselvi, 2013. 132 p. : il ISBN 978-85-7830-813-1 1. Serviço social como profissão. 2. Serviço social. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III aPresentação Caro(a) acadêmico(a)! Iniciamos os estudos de Instrumentos e Processo de Trabalho em Serviço Social. Entraremos no mundo intrínseco da atuação profissional do assistente social e seus princípios norteadores, sua origem e evolução, e trabalharemos a questão dos diferentes instrumentos de competência do profissional de Serviço Social na sua atuação cotidiana. Esta disciplina aborda a importância da utilização e aplicação dos instrumentos técnicos operativos do Serviço Social, além de propiciar um primeiro contato com a Política de Assistência Social e promover uma reflexão e uma discussão sobre esta política como direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Também trabalhar-se-ão neste caderno as diferenças entre Assistência Social como política, assistente social como profissional, Assistencialismo como ações caritativas e Serviço Social como profissão, correlacionando os diversos termos quanto à terminologia. Para que você possa compreender estes conceitos de Instrumentos e Processo de Trabalho em Serviço Social, e os assuntos pertinentes às questões do fazer profissional, proporcionaremos uma reflexão acerca da Assistência Social, na perspectiva do Sistema Único de Assistência Social, e o Projeto Político-Pedagógico do Serviço Social, de modo que você possa trabalhar estes conceitos e correlacioná-los com a atuação prática do profissional. Na primeira unidade, você discutirá inicialmente questões em torno do processo de trabalho do assistente social, no intuito de conhecer um pouco de sua atuação prática, também conhecendo a Lei Orgânica de Assistência Social e o projeto ético-político do Serviço Social, além de conhecer e refletir sobre a Política Pública de Assistência Social. Na segunda unidade, você conhecerá alguns instrumentos técnicos operativos do Serviço Social, promovendo a reflexão e a discussão sobre os instrumentos ligados à apreensão da realidade e os instrumentos ligados à intervenção da realidade, contribuindo, assim, com o fazer profissional em ações práticas. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Na terceira unidade deste Caderno de Estudos, você compreenderá os métodos interventivos do Serviço Social. Além disso, estudaremos o instrumento perícia social e desmembramentos: laudo social, parecer social e estudo social. Também nos possibilitará a compreensão do instrumento de estudo socioeconômico, trabalhando sua aplicação e formas de utilização no campo profissional. Você está pronto(a) para conhecer e compreender o significado de algumas das ações da prática profissional do assistente social, na sua atuação cotidiana? Este Caderno de Estudos de Instrumentos e Processo de Trabalho em Serviço Social possibilitará essa compreensão e análise. Bons estudos! Prof.ª Gisele de Cássia Galvão Ruaro Prof.ª Juliana Maria Lazzarini NOTA V VI VII UNIDADE 1 – PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL ........................................... 1 TÓPICO 1 – O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ................................ 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3 2 BREVES CONSIDERAÇÕES REFERENTES À TRAJETÓRIA DA PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL ...................................................................................................................... 3 2.1 QUESTÃO SOCIAL ....................................................................................................................... 4 3 AS DIVERSAS INTERPRETAÇÕES DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ............................................................................................................... 5 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................................... 6 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................... 7 TÓPICO 2 – LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) .......................................... 9 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 9 2 ASSISTÊNCIA SOCIAL .................................................................................................................... 9 3 LEI Nº 1.605, DE 25 DE AGOSTO DE 1993, INSTITUI A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS .................................................................................................... 15 RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 26 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 27 TÓPICO 3 – POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL .................................................................... 29 3 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS .......................................................... 30 3.1 PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA ................................................................................................... 30 3.1.1 Centro de Referência da Assistência Social – CRAS ....................................................... 32 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................33 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 3.2 PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL ............................................................................................... 37 3.2.1 Proteção social especial de média complexidade ........................................................... 39 3.2.2 Proteção social especial de alta complexidade ................................................................ 39 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 40 RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 43 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 44 TÓPICO 4 – PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL ......................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 PROJETOS SOCIETÁRIOS ............................................................................................................. 45 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 46 2.1 PROJETOS PROFISSIONAIS ...................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 47 3 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL .............................................................. 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 48 RESUMO DO TÓPICO 4 ..................................................................................................................... 50 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 51 sumárIo VIII UNIDADE 2 – INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL ...... 53 TÓPICO 1 – APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL .................................. 55 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 55 2 INSTRUMENTAL TEÓRICO OPERATIVO DO SERVIÇO SOCIAL ................................... 56 2.1 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DA AÇÃO PROFISSIONAL ............................................. 58 3 TÉCNICAS UTILIZADAS PELO SERVIÇO SOCIAL .............................................................. 60 3.1 TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO ................................................................................................... 60 3.2 TÉCNICA DE INTERVENÇÃO ................................................................................................. 62 3.3 TÉCNICA DE ENCAMINHAMENTO ..................................................................................... 63 3.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES .................................................................................................... 63 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 66 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 67 TÓPICO 2 – RECONHECENDO A REALIDADE ......................................................................... 69 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 69 2 VISITA DOMICILIAR ..................................................................................................................... 69 3 ENTREVISTA .................................................................................................................................... 72 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 78 TÓPICO 3 – A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO) E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) ............. 79 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 79 2 RELATÓRIO ...................................................................................................................................... 79 3 DINÂMICAS DE GRUPO E VIVÊNCIAS .................................................................................. 80 4 ENCAMINHAMENTO .................................................................................................................... 81 5 REUNIÕES ......................................................................................................................................... 82 6 ASSEMBLEIAS .................................................................................................................................. 84 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 86 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 90 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 91 UNIDADE 3 – MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL ................................. 93 TÓPICO 1 – A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL ........................................................................... 95 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 95 2 A PERÍCIA SOCIAL ......................................................................................................................... 95 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 98 3 O ESTUDO SOCIAL ........................................................................................................................ 99 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 100 RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 104 TÓPICO 2 – O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL ........................................................... 105 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 105 2 PARECER SOCIAL ............................................................................................................................ 105 3 LAUDO SOCIAL ............................................................................................................................... 107 IX LEITURA COMPLEMENTAR ..........................................................................................................109 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOECONÔMICO .............................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 UTILIZAÇÃO DO INSTRUMENTO ESTUDO SOCIOECONÔMICO ............................... 119 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 123 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 126 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 127 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 129 X 1 UNIDADE 1 PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender algumas estratégias e instrumentos técnicos operativos que o assistente social utiliza cotidianamente na sua atuação; • conhecer as leis e diretrizes do foco de atuação do assistente social; • identificar possibilidades de práticas operativas da profissão; • refletir sobre a atuação do assistente social; • identificar a diversidade dos espaços de atuação do aGssistente social. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que contribuirão para sua reflexão e análise dos conteúdos explorados. TÓPICO 1 – O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL TÓPICO 2 – LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) TÓPICO 3 – POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL TÓPICO 4 – PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL 1 INTRODUÇÃO 2 BREVES CONSIDERAÇÕES REFERENTES À TRAJETÓRIA DA PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL Para compreender o processo de trabalho do assistente social, precisamos conhecer ou relembrar a história da profissão. Caro(a) acadêmico(a), isso pode ser retomado através do Caderno de Estudos Fundamentos e História do Serviço Social, já estudado anteriormente. Neste sentido, iniciaremos apresentando brevemente a trajetória do Serviço Social enquanto profissão regulamentada, fazendo uma ligação com as expressões da questão social objeto da prática profissional do assistente social. Também contextualizaremos as formas equivocadas de interpretação ligadas à profissão. O Serviço Social enquanto profissão tem sua trajetória voltada para ações de caridade e filantropia, com perspectiva assistencialista, de favor e troca. Em meados da década de 30, surge o processo de urbanização e industrialização, ficando o Estado com o papel regulador das questões sociais. Porém, o Estado atuava com ações emergenciais que atendiam a população somente em situações momentâneas e de necessidades sociais básicas. Ficaram responsáveis, por atuar junto às demandas sociais, entidades caritativas que desenvolviam o trabalho voluntariamente para a população menos favorecida. O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que atua nos segmentos da esfera pública, privada e terceiro setor, nas mais variadas áreas de atuação (criança e adolescente, idoso, saúde, educação, habitação, assistência social, forense). Tem sua prática profissional pautada pelos princípios e direitos firmados pela Constituição Federal de 1988. Como profissional, o assistente social tem a “função de planejar, gerenciar, administrar, executar e assessorar políticas, programas e serviços sociais, o assistente social efetiva sua intervenção nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, por meio de uma ação global de cunho socioeducativo e de prestação de serviços”. (CRESS, 2009). UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 4 Este profissional para uma eficaz atuação tem que compreender todo o contexto, obrigatoriamente tem que estar informado sobre a realidade econômica e social do país, além de ter clareza das políticas públicas existentes e se, de fato, elas têm eficiência para a população usuária dos serviços. Com as transformações do mundo do trabalho, advindas da sociedade capitalista, começam a surgir conflitos entre capital e trabalho, bem como as desigualdades sociais, emergindo assim a questão social. 2.1 QUESTÃO SOCIAL A questão social é uma categoria, compreendida e pensada, que expressa as divergências do modo capitalista de produção, ou seja, os trabalhadores constroem a riqueza com sua mão de obra e os capitalistas tomam posse desta riqueza, apoderando-se do capital. Segundo Iamamoto e Carvalho (1983, p. 77): A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão. Sendo assim, a questão social é um conjunto de problemáticas vivenciadas pela classe operária, pouco assistida pelas políticas públicas e menos favorecida, seja em âmbito político, social e econômico. Portanto, a questão social é o objeto da prática profissional do assistente social. Na trajetória histórica, a questão social se delineia tomando outras faces, denominadas expressões da questão social. Podemos considerar expressões da questão social necessidades cotidianas apresentadas na sociedade, como exemplo citamos: desemprego; dificuldade de acesso a direitos básicos como saúde, educação e habitação; desigualdades sociais; saneamento básico, entre outras expressões que podemos observar cotidianamente. Contudo, o Serviço Social enquanto profissão em sua trajetória teve conquistas, avanços e reconhecimento como profissão, porém ainda muito tem que alcançar principalmente no que diz respeito à importância do profissional nas diversas áreas de atuação e a clareza nas interpretações das nomenclaturas ligadas à profissão, como veremos a seguir. TÓPICO 1 | O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL 5 3 AS DIVERSAS INTERPRETAÇÕES DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL O Serviço Social tem sua história vinculada com ações de caridade e benevolência, por isso ainda nos dias de hoje passa pelo desafio de esclarecer as interpretações equivocadas feitas pela sociedade, que não tem clareza do real significado da terminologia ligada à profissão. Sendo assim, confundem-se muito os termos: Serviço Social, Serviços Sociais, assistente social, Assistência Social e Assistencialismo, conforme veremos a seguir no demonstrativo do quadro. Serviço Social É uma profissão reconhecida de nível superior. Assistente social Profissional com formação em curso superior, devidamente habilitado e registrado no Conselho Regional de Serviço Social. Serviços Sociais São serviços disponibilizados à população, com a finalidade de garantir os direitos mínimos de acesso à saúde, educação, habitação, saneamento básico, entre outros. Assistencialismo É a prática oposta da política de Assistência Social. Ações assistencialistas são caracterizadas como doações, caridade ou ajuda. Também configura assistencialismo a troca de favores, como, por exemplo, a entrega de cestas básicas em campanhas eleitorais visando ao voto. Assistência Social Política Pública de DIREITO de todo o cidadão e de dever do Estado. FONTE: As autoras QUADRO 1 – CONCEITOSBÁSICOS De acordo com este quadro, podemos citar como exemplo uma expressão muito comum utilizada por leigos: “o assistente social é formado em Assistência Social”. Acadêmico(a), no decorrer da sua atuação como profissional você certamente se deparará com falas como a do exemplo citado. Por esta questão, temos que ter muita clareza em relação ao significado da terminologia ligada à profissão, para assim poder fazer a defesa da interpretação correta. Também devemos abolir a ideia de que o assistente social é um profissional que atua somente com a preocupação de ajudar as pessoas nas situações mais vulneráveis, ou ainda que só atua junto à população menos favorecida. Enfim, o assistente social é formado e é profissional de Serviço Social, atua no campo da Assistência Social prestando serviços sociais e desenvolvendo ações que designam o combate ao assistencialismo, através do fortalecimento e acesso aos direitos sociais para todo cidadão. 6 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você estudou: • A trajetória do Serviço Social enquanto profissão. • O Serviço Social enquanto profissão reconhecida. • A questão social como objeto da prática do assistente social. • A questão social e suas expressões. • A equivocada interpretação existente da terminologia ligada à profissão. • Serviço Social como profissão. • Assistência social como política pública. • Assistente social como profissional de Serviço Social. • Assistencialismo como uma prática de caridade, ajuda e dominação do usuário. • Serviços sociais como serviços de acesso à população. 7 AUTOATIVIDADE 1 Descreva uma ação assistencialista que você pode observar em seu município. Depois, realize um debate com seus colegas sobre essa temática. 2 Reflita sobre a atuação do profissional de Serviço Social e elabore um texto. 8 9 TÓPICO 2 LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO 2 ASSISTÊNCIA SOCIAL A Lei Orgânica de Assistência Social brasileira define que a assistência social é de direito de todo cidadão e é dever do Estado garantir mínimos sociais de sobrevivência. Mas, o que se pode compreender por assistência social? Neste tópico abordaremos uma breve compreensão do significado da assistência social e apresentaremos na íntegra a Lei Orgânica de Assistência Social. Popularmente podemos dizer que a assistência social é aquela política pública que promove os direitos sociais dos cidadãos de uma determinada sociedade. Observamos que a Constituição Federal do Brasil, de 1988, inseriu em seu contexto pela primeira vez a questão da assistência social, como podemos ver no seu artigo a seguir: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. FONTE: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/.../constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em: 19 out. 2009. A partir daí consolida-se a Lei Orgânica da Assistência Social, na qual se busca definir novas colocações e diretrizes no que diz respeito aos direitos sociais, propiciando e incentivando que todas as estruturas de gestão e serviços sejam praticadas de forma mais participativa, democrática e descentralizada. Neste momento, faz-se necessário percorrermos um pouco a história da assistência social no Brasil para assim compreendermos um pouco mais do significado e importância da assistência social. Para isto, sugiro a leitura do texto a seguir: UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 10 UM POUCO DA HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL As primeiras iniciativas de atendimento aos necessitados ocorreram no seio das igrejas, especialmente da Igreja Católica. As ações sociais das ordens religiosas assumiam seu compromisso com os pobres com base na caridade e generosidade cristã desenvolvendo ações de benemerência que ocorriam de forma individualizada – na concessão de esmolas ou auxílio material, ou em atividades regulamentadas e organizadas. A partir do século XVIII a igreja criou as estruturas de coleta de doações, estabeleceu a oferta de serviços e construiu inúmeras “obras pias”, localizadas ao lado das igrejas e dos conventos religiosos. As Santas Casas de Misericórdia se tornaram as instituições mais conhecidas da igreja ao longo dos séculos XVIII e XIX e a partir delas as diversas necessidades emergenciais da população eram atendidas. O aumento das demandas sociais levou as diretorias a organizar instituições regulares de atendimento coletivo: na área da saúde foram criados hospitais especializados, como aqueles que atendiam exclusivamente os doentes de hanseníase ou tuberculose; para o atendimento aos desamparados surgiram as “rodas dos expostos” ou “roda dos enjeitados” – um recurso para manter em sigilo a identidade dos pais que abandonavam seus filhos aos cuidados de amas e irmãs de caridade. NOTA A Roda dos Expostos era uma porta cilíndrica que continha um compartimento onde eram depositadas as crianças abandonadas pelos pais. Permitia que, ao se girar o equipamento, a criança passasse para o lado de dentro do cilindro, sem que se soubesse a identidade de quem a deixara. O recurso foi utilizado para se evitar o abandono de crianças em locais inadequados em que ficavam ao relento e sem cuidados. A Roda dos Expostos de São Paulo foi desativada em 1927. A partir de 1822, com a população das cidades aumentando, cresceu também o número de crianças abandonadas e perambulantes o que levou as Santas Casas à criação de inúmeras instituições sociais para órfãos, abandonados e outros necessitados. Surgiam assim as grandes instituições de cuidados que se baseavam na internação e no isolamento social como os asilos, hospitais de insanos ou doentes crônicos, orfanatos e educandários. Os recursos para este atendimento deveriam ser providos pelas Câmaras Municipais ou Assembleias Provinciais. TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 11 A superlotação das obras sociais obrigava as instituições a inúmeras adequações e à construção de novas unidades. No final do século XIX, o aumento do êxodo rural, a introdução do trabalho assalariado e o fim da escravatura fizeram surgir o movimento higienista – uma associação entre a assistência e a medicina social para proteger as cidades do grande número de inválidos, órfãos e delinquentes. Médicos higienistas e juristas sob influência das ideias iluministas tentaram introduzir conceitos e técnicas “científicas” nos serviços sociais existentes cujas práticas consideravam ultrapassadas. (BAPTISTA, 2006). No período da gênese do Serviço Social como profissão e sua entrada na universidade como área acadêmica de formação, a questão social esteve fortemente vinculada à doutrina social da Igreja inspirada nas encíclicas papais Rerum Novarum de 1891 e Quadragésimo Ano de 1931 (MESTRINER, 2005). Num contexto político de surgimento e consolidação dos ideais socialistas na Europa, a Igreja se coloca ao lado dos pobres e explorados, mas adota uma posição humanista, aceitando o capitalismo como modelo. (MANRIQUE, 2006). Em São Paulo, no início do século XIX e início do século XX, a chegada de inúmeros imigrantes levou ao desamparo algumas famílias ou pessoas estrangeiras que não conseguiam sua manutenção econômica num novo país. Isto estimulou alguns grupos étnicos como os japoneses, portugueses, italianos, libaneses, judeus, entre outros, a criarem as sociedades de auxílio mútuo para ajudar seus compatriotas. Por volta dos anos 20, quando a assistência social começou a ser assumida legalmente pelo Estado, esta manteve ainda uma relação orgânica com a filantropia embora já se prenunciasse uma crescente laicização e profissionalização da área. Num processo contraditório, a assistência se instala como política social de responsabilidade pública, mas se realiza sempre mediada pela ação das organizaçõessem fins lucrativos, muitas delas inspiradas nos ideais de benemerência ou filantropia dos primeiros momentos da assistência social. A ordem social estabelecida no governo Vargas deu nova interpretação aos problemas sociais introduzindo na Constituição de 1934 o dever do Estado de prover condições à preservação física e moral da infância e da juventude e de garantir o auxílio do Estado aos pais miseráveis que não conseguissem garantir a subsistência de seus filhos (BAPTISTA, 2006). Este período, segundo Mestriner (2006), se caracterizou pela filantropia disciplinadora que respondia à exigência de se preparar, amparar e educar o trabalhador para ser produtivo adaptando-se ao novo mercado de trabalho. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 12 O modo de atuação da assistência social nas primeiras décadas do século XX mantinha ainda um caráter paternalista: ofertava o auxílio ou a ajuda material, mas mantinha o beneficiado na condição de pobreza e subalternidade. A crítica aos trabalhos de cunho assistencialista marcou o discurso das ciências sociais nos anos 70 e 80; nele defendia-se a ideia de que era preciso não apenas “dar o peixe”, mas “ensinar a pescar”, sugerindo uma atuação que promovesse alterações mais diretas na qualidade de vida dos assistidos e que não apenas atendesse às suas necessidades imediatas. NOTA Segundo Sposati, o assistencialismo [...] é o acesso a um bem através de uma benesse, de doação, isto é, supõe sempre um doador e um receptor. Este é transformado em um dependente, um apadrinhado, um devedor [...]. Num contexto histórico, econômico e social bastante heterogêneo e contraditório, os políticos logo descobriram as vantagens da ajuda aos pobres como moeda eleitoral. A assistência social nesta perspectiva foi usada como um recurso clientelista que mantinha os usuários como devedores dependentes e manobrados pelo poder político do “doador”. Complementarmente, em muitos estados e municípios a assistência social pública era (e continua sendo) exercida pelas primeiras-damas institucionalizando o assistencialismo e conservando um caráter de “favor” transfigurado em benevolência, que mantém os usuários como “carentes” ou “assistidos” e não como beneficiários de um direito social. A assistência assim conduzida instalava-se na periferia da política pública, embora carregasse uma aura de importância pela proximidade com o poder na figura da mulher do governante. Em plena vigência da ditadura, a luta pela melhoria das condições objetivas de vida do povo, embora mantivesse um discurso crítico, se dava por um pacto associativo com o Estado buscando ampliar a oferta de serviços e programas sociais nas comunidades. Isto levou as organizações de trabalho social a criarem serviços que processavam demandas não atendidas por outras políticas sociais como, por exemplo, os programas de habitação popular, cursos profissionalizantes, creches e programas educativos complementares à escola, entre outros. A criação de unidades de atendimento com características de instituição total continuou durante a maior parte do século XX, mas já no final dos anos 40 se denunciavam as precárias condições e a inadequação das formas institucionais de atendimento às crianças abandonadas e aos “menores delinquentes”. Tais questionamentos foram reiterados em muitos fóruns e seminários sociais e, TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 13 nos anos seguintes, a pressão por soluções para a “questão social” resultou em iniciativas diretas ou indiretas do governo, que tentava incorporar uma dimensão técnica e científica aos programas. Buscou-se organizar e estruturar os serviços voluntários e incorporar ao serviço público os profissionais das ciências sociais, especialmente assistentes sociais, mas também psicólogos, pedagogos e psiquiatras visando substituir o padrão assistencialista e repressor pelo padrão técnico então difundido pelas ciências. O ESTADO SOCIAL BRASILEIRO Enquanto nos países centrais se forjava o chamado Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State, como alternativa de regulação da economia capitalista, no Brasil “o Welfare State surge a partir de decisões autárquicas e com caráter predominantemente político”, normatizando as condições de trabalho e a venda da força de trabalho (MEDEIROS, 2001). O empobrecimento da população é novamente suavizado pelas ações assistenciais e pela criação de grandes organismos nacionais de política social. Por esta razão muitos autores recusam a ideia de que exista ou tenha existido no Brasil um Estado de Bem-Estar Social considerando que algumas políticas de seguridade social focalizadas e descontínuas não são em nada similares em cobertura e natureza aos processos que ocorreram na Europa. (GOMES, 2006). Apesar do avanço político com o retorno à democracia e do aumento da participação popular, no final da década de 80 as políticas sociais ficaram estagnadas ou se retraíram; e o resgate da “dívida social” não passou de retórica frente ao avanço das medidas de ajuste macroeconômico. A desativação das estruturas públicas no campo social desarticulou serviços e deu espaço ao retorno das ações assistencialistas e clientelísticas. O desmantelamento das agências públicas de nível nacional e suas regionais – Legião Brasileira de Assistência – LBA e Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência – CBIA –, justificado pela necessidade de descentralização, apontou para o município como “lócus” privilegiado da ação social. Entretanto, os municípios e os agentes municipais ainda estavam despreparados e sem recursos para atender às demandas não incorporadas “à cultura burocrática e política local. Isto provocou a descontinuidade e a baixa qualidade na oferta de serviços. A desarticulação entre os diferentes níveis de governo nesta fase tornou confusas as ações de assistência social. Até mesmo entre órgãos do mesmo governo prevalecia a irracionalidade administrativa com a superposição de programas e projetos. Essa descoordenação provocava o desperdício de recursos públicos, principalmente aqueles destinados ao financiamento de serviços assistenciais prestados pela rede de entidades sociais não governamentais. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 14 O marco importante em termos legais se deu com a Constituição Federal de 1988 quando a assistência social ganhou o estatuto de política social, compondo o tripé da seguridade social com a política de saúde e a previdência social. Entretanto, as mudanças legais não se objetivam imediatamente, pois encontram estruturas e culturas moldadas pela forma de atuação fragmentada, pela resistência, explícita ou implícita, dos “feudos” de poder dos políticos e dos agentes sociais públicos ou privados e pelo despreparo dos funcionários. A partir da Constituição ocorreram outras regulamentações como a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Mais recentemente a aprovação do Sistema Único da Assistência Social – SUAS e da NOB – Norma Operacional Básica da Assistência Social, conferem um novo status e um desafio maior à política pública de assistência social. Essas normas legais evidenciam que este é um campo ainda em construção que transita do antigo modelo para um novo estatuto em que a assistência se coloca como direito social, mesmo que ainda esteja muito longe sua efetiva concretização. Os ventos favoráveis à descentralização e à municipalização das políticas sociais deram maior autonomia aos programas locais e garantiram maior proximidade com a população. Além disso, foram ampliados os canais de participação social, através dos Conselhos Municipais, e houve maior estímulo à articulação das políticas setoriais. Se, historicamente, foi no plano organizacional e burocrático que se enraizaram as mais fortes contradições da área de assistência social é também neste campo que vem se desenvolvendo a reestruturação atual da política de assistência,que tem como diretrizes a participação da sociedade, a integração dos programas e a descentralização político- administrativa. Uma nova regulação impõe hoje um novo modelo de atuação, mas ela não se faz sem a superação de atitudes e culturas enraizadas na tradição social brasileira. FONTE: GUARÁ, Isa Maria F. Rosa; JESUS, Neusa Francisca de. Assistência social e proteção social: uma nova história. Fundação João Mangabeira: Escola de Formação Política Miguel Arraes, jun. 1991. p. 4-9. Disponível em: <www.tvjoaomangabeira.com.br/.../Texto_Ref_Modulo_ II_Aula-04.doc>. Acesso em: 30 jul. 2009. NOTA E aí, conseguiu entender um pouco mais a respeito da assistência social no Brasil? Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos, sugerimos a leitura do texto completo de GUARÁ, Isa Maria F. Rosa; JESUS, Neusa Francisca de. Assistência social e proteção social: uma nova história. TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 15 LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993 LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL CAPÍTULO I Das Definições e dos Objetivos Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Art. 2º A assistência social tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Art. 3º Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas que prestam, sem fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de seus direitos. CAPÍTULO II Dos Princípios e das Diretrizes SEÇÃO I Dos Princípios Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; 3 LEI Nº 1.605, DE 25 DE AGOSTO DE 1993, INSTITUI A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS Apresentaremos neste tópico a Lei nº 1.605, de 25 de agosto de 1993, que institui a Lei Orgânica de Assistência Social, nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 16 IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. SEÇÃO II Das Diretrizes Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo. CAPÍTULO II Da Organização e da Gestão Art. 6º As ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área. Parágrafo único. A instância coordenadora da Política Nacional de Assistência Social é o Ministério do Bem-Estar Social. Art. 7º As ações de assistência social, no âmbito das entidades e organizações de assistência social, observarão as normas expedidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), de que trata o art. 17 desta lei. Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, observados os princípios e diretrizes estabelecidos nesta lei, fixarão suas respectivas Políticas de Assistência Social. Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência social depende de prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho de Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso. § 1º A regulamentação desta lei definirá os critérios de inscrição e funcionamento das entidades com atuação em mais de um município no mesmo Estado, ou em mais de um Estado ou Distrito Federal. § 2º Cabe ao Conselho Municipal de Assistência Social e ao Conselho de Assistência Social do Distrito Federal a fiscalização das entidades referidas no caput na forma prevista em lei ou regulamento. § 3o A inscrição da entidade no Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho de Assistência Social do Distrito Federal, é condição essencial para o encaminhamento de pedido de registro e de certificado de entidade beneficente de assistência social junto ao Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.187-13, de 2001.) TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 17 § 4º As entidades e organizações de assistência social podem, para defesa de seus direitos referentes à inscrição e ao funcionamento, recorrer aos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal. Art. 10. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal podem celebrar convênios com entidades e organizações de assistência social, em conformidade com os Planos aprovados pelos respectivos Conselhos. Art. 11. As ações das três esferas de governo na área de assistência social realizam-se de forma articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos programas, em suas respectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Art. 12. Compete à União: I - responder pela concessão e manutenção dos benefícios de prestação continuada definidos no art. 203 da Constituição Federal; II - apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito nacional; III - atender, em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, às ações assistenciais de caráter de emergência. Art. 13. Compete aos Estados: I - destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência Social; II - apoiar técnica e financeiramente os serviços, os programas e os projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito regional ou local; III - atender, em conjunto com os Municípios, às ações assistenciais de caráter de emergência; IV - estimular e apoiar técnica e financeiramente as associações e consórcios municipais na prestação de serviços de assistência social; V - prestar os serviços assistenciais cujos custos ouausência de demanda municipal justifiquem uma rede regional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado. Art. 14. Compete ao Distrito Federal: I - destinar recursos financeiros para o custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelo Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; II - efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral; III - executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo a parceria com organizações da sociedade civil; IV - atender às ações assistenciais de caráter de emergência; V - prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23 desta lei. Art. 15. Compete aos Municípios: I - destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência Social; II - efetuar o pagamento dos auxílios natalidade e funeral; III - executar os projetos de enfrentamento da pobreza, incluindo a parceria com organizações da sociedade civil; UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 18 IV - atender às ações assistenciais de caráter de emergência; V - prestar os serviços assistenciais de que trata o art. 23 desta lei. Art. 16. As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assistência social, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são: I - o Conselho Nacional de Assistência Social; II - os Conselhos Estaduais de Assistência Social; III - o Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; IV - os Conselhos Municipais de Assistência Social. Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados pelo Presidente da República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período. § 1º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são indicados ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes: I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante dos Estados e 1 (um) dos Municípios; II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal. § 2º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato de 1 (um) ano, permitida uma única recondução por igual período. § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) contará com uma Secretaria Executiva, a qual terá sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo. § 4º Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16 deverão ser instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, mediante lei específica. Art. 18. Compete ao Conselho Nacional de Assistência Social: I - aprovar a Política Nacional de Assistência Social; II - normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da assistência social; III - observado o disposto em regulamento, estabelecer procedimentos para concessão de registro e certificado de entidade beneficente de assistência social às instituições privadas prestadoras de serviços e assessoramento de assistência social que prestem serviços relacionados com seus objetivos institucionais (Redação dada pela Medida Provisória n. 2.187-13, de 2001); IV - conceder registro e certificado de entidade beneficente de assistência social (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.187-13, de 2001); V - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de assistência social; TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 19 VI - a partir da realização da II Conferência Nacional de Assistência Social em 1997, convocar ordinariamente a cada quatro anos a Conferência Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição de avaliar a situação da assistência social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do sistema (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 26.4.1991); VII - (Vetado) VIII - apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social; IX - aprovar critérios de transferência de recursos para os Estados, Municípios e Distrito Federal, considerando, para tanto, indicadores que informem sua regionalização mais equitativa, tais como: população, renda per capita, mortalidade infantil e concentração de renda, além de disciplinar os procedimentos de repasse de recursos para as entidades e organizações de assistência social, sem prejuízo das disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias; X - acompanhar e avaliar a gestão dos recursos, bem como os ganhos sociais e o desempenho dos programas e projetos aprovados; XI - estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os programas anuais e plurianuais do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS); XII - indicar o representante do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) junto ao Conselho Nacional da Seguridade Social; XIII - elaborar e aprovar seu regimento interno; XIV - divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos. Parágrafo único. Das decisões finais do Conselho Nacional de Assistência Social, vinculado ao Ministério da Assistência e Promoção Social, relativas à concessão ou renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, caberá recurso ao Ministro de Estado da Previdência Social, no prazo de trinta dias, contados da data da publicação do ato no Diário Oficial da União, por parte da entidade interessada, do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ou da Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda (Incluído pela Lei nº 10.684, de 30.5.2003); Art. 19. Compete ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social: I - coordenar e articular as ações no campo da assistência social; II - propor ao Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) a Política Nacional de Assistência Social, suas normas gerais, bem como os critérios de prioridade e de elegibilidade, além de padrões de qualidade na prestação de benefícios, serviços, programas e projetos; III - prover recursos para o pagamento dos benefícios de prestação continuada definidos nesta lei; IV - elaborar e encaminhar a proposta orçamentária da assistência social, em conjunto com as demais da Seguridade Social; V - propor os critérios de transferência dos recursos de que trata esta lei; UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 20 VI - proceder à transferência dos recursos destinados à assistência social, na forma prevista nesta lei; VII - encaminhar à apreciação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) relatórios trimestrais e anuais de atividades e de realização financeira dos recursos; VIII - prestar assessoramento técnico aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades e organizações de assistência social; IX - formular política para a qualificação sistemática e continuada de recursos humanos no campo da assistência social; X - desenvolver estudos e pesquisas para fundamentar as análises de necessidades e formulação de proposições para a área; XI - coordenar e manter atualizado o sistema de cadastro de entidades e organizações de assistência social, emarticulação com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; XII - articular-se com os órgãos responsáveis pelas políticas de saúde e previdência social, bem como com os demais responsáveis pelas políticas socioeconômicas setoriais, visando à elevação do patamar mínimo de atendimento às necessidades básicas; XIII - expedir os atos normativos necessários à gestão do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS); XIV - elaborar e submeter ao Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) os programas anuais e plurianuais de aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). CAPÍTULO IV Dos Benefícios, dos Serviços, dos Programas e dos Projetos de Assistência Social SEÇÃO I Do Benefício de Prestação Continuada Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salário-mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família. § 1o Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o conjunto de pessoas elencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. § 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica. § 5º A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do portador de deficiência ao benefício. TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 21 § 6o A concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 7o Na hipótese de não existirem serviços no município de residência do beneficiário, fica assegurado, na forma prevista em regulamento, o seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com tal estrutura (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). § 8o A renda familiar mensal a que se refere o § 3o deverá ser declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando-se aos demais procedimentos previstos no regulamento para o deferimento do pedido (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem. § 1º O pagamento do benefício cessa no momento em que forem superadas as condições referidas no caput, ou em caso de morte do beneficiário. § 2º O benefício será cancelado quando se constatar irregularidade na sua concessão ou utilização. SEÇÃO II Dos Benefícios Eventuais Art. 22. Entendem-se por benefícios eventuais aqueles que visam ao pagamento de auxílio por natalidade ou morte às famílias cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. § 1º A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão regulamentados pelos Conselhos de Assistência Social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante critérios e prazos definidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). § 2º Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades advindas de situações de vulnerabilidade temporária, com prioridade para a criança, a família, o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pública. § 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), ouvidas as respectivas representações de Estados e Municípios dele participantes, poderá propor, na medida das disponibilidades orçamentárias das três esferas de governo, a instituição de benefícios subsidiários no valor de até 25% (vinte e cinco por cento) do salário-mínimo para cada criança de até 6 (seis) anos de idade, nos termos da renda mensal familiar estabelecida no caput. SEÇÃO III Dos Serviços Art. 23. Entendem-se por serviços assistenciais as atividades continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidas nesta lei. Parágrafo único. Na organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo: (Redação dada pela Lei nº 11.258, de 2005). UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 22 I - às crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, em cumprimento ao disposto no art. 227 da Constituição Federal e na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990; (Incluído pela Lei nº 11.258, de 2005); II - às pessoas que vivem em situação de rua. (Incluído pela Lei nº 11.258, de 2005). SEÇÃO IV Dos Programas de Assistência Social Art. 24. Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. § 1º Os programas de que trata este artigo serão definidos pelos respectivos Conselhos de Assistência Social, obedecidos os objetivos e princípios que regem esta lei, com prioridade para a inserção profissional e social. § 2º Os programas voltados ao idoso e à integração da pessoa portadora de deficiência serão devidamente articulados com o benefício de prestação continuada estabelecido no art. 20 desta lei. SEÇÃO V Dos Projetos de Enfrentamento da Pobreza Art. 25. Os projetos de enfrentamento da pobreza compreendem a instituição de investimento econômico-social nos grupos populares, buscando subsidiar, financeira e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam meios, capacidade produtiva e de gestão para melhoria das condições gerais de subsistência, elevação do padrão da qualidade de vida, a preservação do meio ambiente e sua organização social. Art. 26. O incentivo a projetos de enfrentamento da pobreza assentar- se-á em mecanismos de articulação e de participação de diferentes áreas governamentais e em sistema de cooperação entre organismos governamentais, não governamentais e da sociedade civil. CAPÍTULO V Do Financiamento da Assistência Social Art. 27. Fica o Fundo Nacional de Ação Comunitária (FUNAC), instituído pelo Decreto nº 91.970, de 22 de novembro de 1985, ratificado pelo Decreto Legislativo nº 66, de 18 de dezembro de 1990, transformado no Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Art. 28. O financiamento dos benefícios, serviços, programas e projetos estabelecidos nesta lei far-se-á com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, das demais contribuições sociais previstas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). § 1º Cabe ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social gerir o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) sob a orientação e controle do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 23 § 2º O Poder Executivo disporá, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de publicação desta lei, sobre o regulamento e funcionamento do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Art. 28-A. Constitui receita do Fundo Nacional de Assistência Social, o produto da alienação dos bens imóveis da extinta Fundação Legião Brasileira de Assistência (Incluído pela Medida Provisória nº 2.187-13, de 2001). Art. 29. Os recursos de responsabilidadeda União destinados à assistência social serão automaticamente repassados ao Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), à medida que se forem realizando as receitas. Parágrafo único. Os recursos de responsabilidade da União destinados ao financiamento dos benefícios de prestação continuada, previstos no art. 20, poderão ser repassados pelo Ministério da Previdência e Assistência Social diretamente ao INSS, órgão responsável pela sua execução e manutenção (Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). Art. 30. É condição para os repasses, aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal, dos recursos de que trata esta lei, a efetiva instituição e funcionamento de: I - Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo e sociedade civil; II - Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social; III - Plano de Assistência Social. Parágrafo único. É, ainda, condição para transferência de recursos do FNAS aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a comprovação orçamentária dos recursos próprios destinados à Assistência Social, alocados em seus respectivos Fundos de Assistência Social, a partir do exercício de 1999 (Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). CAPÍTULO VI Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 31. Cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos estabelecidos nesta lei. Art. 32. O Poder Executivo terá o prazo de 60 (sessenta) dias, a partir da publicação desta lei, obedecidas as normas por ela instituídas, para elaborar e encaminhar projeto de lei dispondo sobre a extinção e reordenamento dos órgãos de assistência social do Ministério do Bem-Estar Social. § 1º O projeto de que trata este artigo definirá formas de transferências de benefícios, serviços, programas, projetos, pessoal, bens móveis e imóveis para a esfera municipal. § 2º O Ministro de Estado do Bem-Estar Social indicará Comissão encarregada de elaborar o projeto de lei de que trata este artigo, que contará com a participação das organizações dos usuários, de trabalhadores do setor e de entidades e organizações de assistência social. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 24 Art. 33. Decorrido o prazo de 120 (cento e vinte) dias da promulgação desta lei, fica extinto o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), revogando- se, em consequência, os Decretos-Lei nº 525, de 1º de julho de 1938, e nº 657, de 22 de julho de 1943. § 1º O Poder Executivo tomará as providências necessárias para a instalação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e a transferência das atividades que passarão à sua competência dentro do prazo estabelecido no caput, de forma a assegurar não haja solução de continuidade. § 2º O acervo do órgão de que trata o caput será transferido, no prazo de 60 (sessenta) dias, para o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), que promoverá, mediante critérios e prazos a serem fixados, a revisão dos processos de registro e certificado de entidade de fins filantrópicos das entidades e organização de assistência social, observado o disposto no art. 3º desta lei. Art. 34. A União continuará exercendo papel supletivo nas ações de assistência social, por ela atualmente executadas diretamente no âmbito dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, visando à implementação do disposto nesta lei, por prazo máximo de 12 (doze) meses, contados a partir da data da publicação desta lei. Art. 35. Cabe ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social operar os benefícios de prestação continuada de que trata esta lei, podendo, para tanto, contar com o concurso de outros órgãos do Governo Federal, na forma a ser estabelecida em regulamento. Parágrafo único. O regulamento de que trata o caput definirá as formas de comprovação do direito ao benefício, as condições de sua suspensão, os procedimentos em casos de curatela e tutela e o órgão de credenciamento, de pagamento e de fiscalização, dentre outros aspectos. Art. 36. As entidades e organizações de assistência social que incorrerem em irregularidades na aplicação dos recursos que lhes forem repassados pelos poderes públicos terão cancelado seu registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), sem prejuízo de ações cíveis e penais. Art. 37. O benefício de prestação continuada será devido após o cumprimento, pelo requerente, de todos os requisitos legais e regulamentares exigidos para a sua concessão, inclusive apresentação da documentação necessária, devendo o seu pagamento ser efetuado em até quarenta e cinco dias após cumpridas as exigências de que trata este artigo (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). Parágrafo único. No caso de o primeiro pagamento ser feito após o prazo previsto no caput, aplicar-se-á na sua atualização o mesmo critério adotado pelo INSS na atualização do primeiro pagamento de benefício previdenciário em atraso (Incluído pela Lei n. 9.720, de 30.11.1998). Art. 38. A idade prevista no art. 20 desta Lei reduzir-se-á para sessenta e sete anos a partir de 1o de janeiro de 1998 (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998). TÓPICO 2 | LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 25 Art. 39. O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), por decisão da maioria absoluta de seus membros, respeitados o orçamento da seguridade social e a disponibilidade do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), poderá propor ao Poder Executivo a alteração dos limites de renda mensal per capita definidos no § 3º do art. 20 e caput do art. 22. Art. 40. Com a implantação dos benefícios previstos nos artigos 20 e 22 desta lei, extinguem-se a renda mensal vitalícia, o auxílio-natalidade e o auxílio- funeral existentes no âmbito da Previdência Social, conforme o disposto na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. § 1º A transferência dos benefíciários do sistema previdenciário para a assistência social deve ser estabelecida de forma que o atendimento à população não sofra solução de continuidade (Redação dada pela Lei nº 9.711, de 20.11.1998). § 2º É assegurado ao maior de setenta anos e ao inválido o direito de requerer a renda mensal vitalícia junto ao INSS até 31 de dezembro de 1995, desde que atenda, alternativamente, aos requisitos estabelecidos nos incisos I, II ou III do § 1º do art. 139 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 (Redação dada pela Lei nº 9.711, de 20.11.1998). Art. 41. Esta lei entra em vigor na data da sua publicação. Art. 42. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 7 de dezembro de 1993, 172º da Independência e 105º da República. ITAMAR FRANCO Jutahy Magalhães Júnior FONTE: BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da Assistência Social. Brasilia: DF, 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm>. Acesso em: 16 jun. 2009. 26 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou: • Um pouco da história da Assistência Social no Brasil. • A Lei Orgânica de Assistência Social está dividida nos seguintes capítulos: • Capítulo I – Das Definições e dos Objetivos. • Capítulo II – Dos Princípios e das Diretrizes. • Capítulo III – Da Organização e da Gestão. • Capítulo IV – Dos Benefícios, dos Serviços, dos Programas e dos Projetos de Assistência Social. • Capítulo V – Do Financiamento da Assistência Social. • Capítulo VI – Das Disposições Gerais e Transitórias. 27 AUTOATIVIDADE 1 Faça um texto de compreensão, relacionando-o com os termos descritos na Lei Orgânica de Assistência Social, destacando os principais tópicos que, para você, tiveram maior relevância. 28 29 TÓPICO 3 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO 2 POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A partir da Constituição Federal de 1988, a Assistência Social passa a ter novas concepções e se constitui como uma ferramenta de gestão da Política Nacional de Assistência Social, inclusa nosistema de Seguridade Social. Porém, foi regulamentada como política social pública com a aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social em 1993. Neste tópico, pretendemos discutir de forma bem objetiva a Assistência Social como política pública, a divisão dos dois níveis de proteção e como gestão desta política o Sistema Único de Assistência Social, na compreensão do cidadão como possuidor de direitos, dos programas, serviços e projetos de responsabilização estatal. O princípio organizativo da assistência social baseado num modelo sistêmico aponta para a ruptura do assistencialismo, da benemerência, de ações fragmentadas, ao sabor dos interesses coronelistas e eleitoreiros. Afirma a assistência social como uma política pública, dever do Estado e direito de todos os cidadãos, com a afirmação do controle social por parte da sociedade civil. Conforme estabelece o artigo 1º da LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social, estudada no tópico anterior, “[...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”. A partir da LOAS, a assistência social torna-se uma política social pública, desenvolvendo ações com visibilidade nos direitos, universalização do acesso a serviços, programas e projetos e também responsabilizando o Estado como órgão gestor e financiador. Nesta direção, a política de assistência social passa a fazer parte da configuração de um tripé conjunto com outras políticas: saúde e previdência social. Com a tentativa de unificar a Assistência Social em todo o território nacional e garantir política pública, surge o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, conforme veremos a seguir. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 30 NOTA A Política Nacional de Assistência Social poderá ser lida na íntegra, através do site <www.mds.gov.br/servicos/pss-2008/processo.../pnas_final.pdf>. 3 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS Na tentativa de consolidar a Assistência Social como política pública gerida pelo Estado, foi criado em 2005 o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, com o intuito de unificar a gestão, estabelecendo níveis diferenciados para os municípios, o financiamento e as ações de Assistência Social. Contudo: [...] o SUAS é modelo de gestão descentralizado e participativo, constitui-se na regularização e organização em todo território nacional das ações sócio-assistenciais. Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade, pressupõe ainda, gestão compartilhada, cofinanciamento da política pelas três esferas de governo e definição clara das competências técnico-políticas da União, Estados e Distrito Federal e Municípios, com a participação e mobilização da sociedade civil, e estes têm o papel efetivo na sua implantação e implementação (BRASIL, PNAS, 2004). Nesta concepção, o SUAS é a organização de uma rede de serviços, ações e benefícios tendo sua centralidade pautada na família e na comunidade, com perspectiva na emancipação dos sujeitos sociais. Tem proposta de dois diferentes níveis de complexidade para as ações da Assistência Social, que passa a ser dividida em: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, como veremos a seguir. 3.1 PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a proteção social básica tem como objetivos prevenir as situações que apresentam risco através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, além do fortalecimento da convivência e vínculos familiares e comunitários de forma saudável. Destina-se à população em situação de vulnerabilidade social e econômica decorrente da privação de renda, precário acesso aos serviços públicos (habitação, saúde, educação), além da fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento social por discriminação etária, gênero, étnica e também por alguma classificação de deficiência. TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 31 Os serviços, programas, projetos e benefícios de Proteção Social Básica devem ter articulação com políticas públicas existentes no município, cuja responsabilização de execução é das três esferas do governo (União, Estado e Município), além de obrigatoriamente ter articulação com o Sistema Único de Assistência Social. Dentre os previstos, destaca-se o Programa de Atenção Integrada à Família e o Benefício de Prestação Continuada. O Programa de Atenção Integrada à Família – PAIF –, tem como principal objetivo a promoção e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, e desenvolve suas ações centradas na família, contando com equipe multiprofissional, incluindo o assistente social, que deve informar, orientar e encaminhar a família atendida, na perspectiva da garantia de direitos e de serviços sócio-assistenciais existentes na rede de proteção social básica. Já o Benefício de Prestação Continuada está previsto na Constituição Federal e regulamentado na Lei Orgânica de Assistência Social, garantindo o repasse de um salário-mínimo às pessoas idosas com idade superior a 65 anos, obedecendo aos critérios de renda estabelecidos na lei e para pessoas com algum tipo de deficiência cuja renda per capita familiar mensal seja igual ou inferior a ¼ do salário-mínimo vigente. Com a aprovação do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003), o Benefício de Prestação Continuada ganhou maior intensidade de fortalecimento como garantia, fazendo parte da política de proteção social básica. Estes programas são de competência direta do Governo Federal, com a garantia de existência em todos os municípios do território nacional. A proposta dos serviços de proteção social básica é buscar a garantia e a sustentabilidade das ações e o protagonismo da população atendida, de forma a suprir as condições de vulnerabilidade, além da proteção e prevenção de risco social (BRASIL. PNAS, 2004). DICAS Os serviços desenvolvidos pelas ONGs – Organizações Não Governamentais, ligadas à Assistência Social, também seguem este segmento estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social. Caro(a) acadêmico(a), se você tiver interesse nesta discussão, sugiro que faça a leitura do artigo: <http://www.rededobem.org/arquivospdf/1383.pdf>. Contudo, os serviços, programas, projetos e benefícios de Proteção Social Básica propostos na Política Nacional de Assistência Social podem ser desenvolvidos nos espaços dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, previstos nesta Política, conforme veremos na discussão seguinte. UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 32 3.1.1 Centro de Referência da Assistência Social – CRAS O Centro de Referência da Assistência Social constitui-se em um espaço público com base territorial, localizado em áreas comunitárias que apresentam alto índice de vulnerabilidade social e econômica, com presença de violação de direitos e negligência. Este espaço pode abranger até 1.000 (um mil) famílias atendidas em cada ano (BRASIL, PNAS, 2004). Os serviços disponibilizados nos CRAS seguem o nível de Proteção Social Básica, desenvolvendo ações onde atuam com a população usuária em um contexto comunitário, visando à orientação e ao convívio familiar e comunitário de forma saudável. Busca integrar esta população em outros serviços sócio- assistenciais do município, garantindo assim o acesso da população em toda a esfera da família, mantendo em execução o serviço da inclusão social. Segundo a Política Nacional de Assistência Social, nos espaços dos CRAS, estão previstas as seguintes ações oferecidas para a comunidade de abrangência do CRAS: - Programade Atenção Integral às Famílias. - Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza. - Centro de Convivência para Idosos. - Serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares, ao direito de brincar, ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das crianças. - Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando à sua proteção, socialização e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. - Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. - Centro de informação e de educação para o trabalho, voltado para jovens e adultos. FONTE: Brasil, PNAS (2004) TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 33 ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLÍTICA PÚBLICA Marlova Jovchlovitch O período pós-constitucional está marcado por uma série de modificações profundas no campo social e da cidadania. Conhecida como Constituição Cidadã, a Constituição Federal de 1988 inova em aspectos essenciais, especialmente no que concerne à descentralização político-administrativa, alterando as normas e regras centralizadoras e distribuindo melhor as competências entre o Poder Central (União) e os poderes regionais (Estados) e locais (Municípios). Também como a descentralização, aumenta o estímulo à maior participação das coletividades locais – sociedade civil organizada – e, portanto, ao processo de controle social. No que tange à questão social especificamente, a Constituição Federal de 1988 introduziu um conceito novo: o conceito de seguridade social, incluindo aí o tripé saúde, previdência e assistência social. Hoje, a assistência social conta com sua Lei Orgânica específica (Lei 8.742 de 07/12/93), a LOAS. Trata-se, mais do que um texto legal, de um conjunto de ideias, de concepção e de direitos. A LOAS introduz uma nova forma de discutir a questão da Assistência Social, substituindo a visão centrada na caridade e no favor. Historicamente, a assistência social tem sido vista como uma ação tradicionalmente paternalista e clientelista do poder público, associada às primeiras-damas, com um caráter de “benesse”, transformando o usuário na condição de “assistido”, “favorecido” e nunca como cidadão, usuário de um serviço a que tem direito. Da mesma forma confundia-se a assistência social com a caridade da igreja, com a ajuda aos pobres e necessitados. Assim, tradicionalmente a assistência social era vista como assistencialista. É preciso diferenciar os conceitos de assistência social e assistencialismo. O Assistencialismo reproduzido nas políticas governamentais de corte social, ao contrário de caminhar na direção da consolidação de um direito, reforça os mecanismos seletivos como forma de ingresso das demandas sociais e acentua o caráter eventual e fragmentado das respostas dadas à problemática social. LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL 34 As políticas sociais governamentais são entendidas como um movimento multidirecional resultante do confronto de interesses contraditórios e também enquanto mecanismos de enfrentamento da questão social, resultantes do agravamento da crise socioeconômica, das desigualdades sociais, da concentração de renda e da agudização da pauperização da população. Assim, a assistência social era vista de forma dicotomizada, com caráter residual, próxima das práticas filantrópicas, um espaço de reprodução da exclusão e privilégios e não como mecanismo possível de universalização de direitos sociais. A Assistência sempre se apresentou aos segmentos progressistas da sociedade como uma prática e não como uma política. Era vista até como necessária, mas vazia de “consequências transformadoras”. Sua operação era revestida de um sentido de provisoriedade, mantendo-se isolada e desarticulada de outras práticas sociais. É essencial tornar claro que a prestação de serviços assistenciais não é o elemento revelador da prática assistencialista. A assistência social é orgânica às demais políticas sociais e públicas. Ela é um mecanismo de distribuição de todas as políticas. Mais do que isso, é um mecanismo de deselitização e consequente democratização das políticas sociais. A assistência social tem um corte horizontal, isto é, atua a nível de todas as necessidades de reprodução social dos cidadãos excluídos, enquanto as demais políticas sociais têm um corte setorial (educação, saúde,...). Em outras palavras, é possível dizer que à assistência social compete processar a distribuição das demais políticas sociais e também avançar no reconhecimento dos direitos sociais dos excluídos brasileiros. Assim, a LOAS inova ao conferir à assistência social o status de política pública, direito do cidadão e dever do Estado. Inova também pela garantia da universalização dos direitos sociais e por introduzir o conceito dos mínimos sociais. É um novo posicionamento. É discutir, sobretudo, eticamente, o que precisamos fazer no campo dos direitos sociais e da cidadania. Ultrapassar a discussão de que a Lei Orgânica da Assistência Social é uma lei dos pobres ou que propõe um conjunto de benefícios que envolve a organização do Estado e medidas administrativas. Até porque, a pobreza e a miséria não se resolvem com um conjunto de benefícios. A situação da pobreza somente poderá ser alterada quando houver vontade política efetiva do governo e da sociedade no sentido de melhor trabalho, salário, condições de vida e, efetivamente, na distribuição da renda. É preciso, então, construir uma ética de defesa dos mínimos sociais necessários à vida digna de cada cidadão brasileiro. TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 35 A política de assistência social, para ganhar níveis de efetividade desejáveis e urgentes, precisa ser descentralizada. E é assim que está prevista na LOAS. A descentralização consiste em uma efetiva partilha de poder entre o governo e as coletividades locais. Implica a autogestão local. A descentralização está intimamente conectada com a reforma do Estado, ou seja, novas formas de relação povo-governo dentro do qual a autonomia das organizações locais proporciona o exercício de controle das coletividades locais e a possibilidade de influir nas decisões das várias instâncias de poder. Nesse sentido, a descentralização, considerando o papel do Estado e a conjuntura política, carrega como conteúdo intrínseco a ideia de avanço democrático. A municipalização deve ser entendida como processo de levar os serviços mais próximos da população e não apenas repassar encargos para as prefeituras. Municipalização é a passagem de serviços e encargos que possam ser desenvolvidos mais satisfatoriamente pelos municípios. É a descentralização das ações político-administrativas com a adequada distribuição de poderes político e financeiro. É desburocratizante, participativa, não autoritária, democrática e desconcentradora do poder. Essa conceituação vem no esteio de uma ideia maior que norteia a reforma do Estado: a instauração de um processo de flexibilizador e negociador da gestão da coisa pública frente às demandas da sociedade civil e o patente déficit público. A descentralização e a municipalização, como consolidação democrática, estão sempre ligadas à participação e mostram que a força da cidadania está no município. É no município que as situações, de fato, acontecem. É no município que o cidadão nasce, vive e constrói sua história. É aí que o cidadão fiscaliza e exercita o controle social. A municipalização constitui ainda uma fórmula de organizar o trabalho do Estado que é gigantesco. Assim, a descentralização permite também maior racionalidade, agilidade e eficiência. Entretanto, precisamos estar alertas para não mascarar as contradições: 1. a descentralização não pode mais ser a centralização camuflada que, na verdade, só reparte o poder entre o chefe do executivo e seus assessores;2. a municipalização não poder ser confundida com prefeiturização. A municipalização é muito mais ampla e democrática e envolve mais do que a figura do prefeito e seus assessores; envolve o coletivo local. Condições para que haja municipalização: 36 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL - política tributária condizente; - fim da legislação centralizadora; - maior racionalização nas ações; - fim para administração convenial; - programas efetivos de apoio técnico aos municípios; - existência de recursos humanos habilitados em nível local; - capacidade de gestão; - planejamento participativo em nível local; - participação popular/efetiva e não apenas formal, com o cidadão tomando parte na produção, gestão e usufruto dos bens que produz; - aproximar o Estado do “locus cotidiano” de sua população; - garantir maior racionalidade e economia de recursos, assegurando maior articulação e ação interinstitucional no que se refere aos níveis federal, estadual e municipal; - reduzir e simplificar o aparelho do Estado; - reaproximar o Estado da sociedade civil pela via municipalizante, espaço priviligiado da ação conjunta. PRINCÍPIOS - descentralização - fortalecimento administrativo - participação comunitária - enfoque integrador da administração local Cabe ainda enfatizar a importância da participação real da sociedade civil e do governo (em seus três níveis) na discussão da política pública de assistência social. Por participação real entendemos aquela que dá origem ao novo, que leva às rupturas da ordem social vigente e é o oposto da participação formal. A participação real precisa ser feita envolvendo todos os atores sociais e retirando da cena o Estado – poder central – como tutelador, como forte “protetor” do município neste processo. Basta da cultura do favor da benesse. É hora de dividir o palco com a sociedade civil e os governos municipais. Vamos explicar a política pública de assistência social sob a lógica do direito e da ética. Municipalização, entretanto, não pode ser vista como uma panaceia que resolveria todos os males. Também o poder local apresenta problemas. O que garante uma certa isenção ao poder local é justamente o fato de ser o poder onde a população está mais próxima e, portanto, tem ação fiscalizadora mais efetiva. É essencial reter que a municipalização e a consolidação do poder local ainda são um desafio. É processo e deverá caminhar gradualmente implementando estratégias que garantam o seu êxito, dadas as peculiaridades locais, e as dificuldades e resistências do poder central (União e Estados). Entretanto, temos de pensar neste processo, conhecer suas possibilidades e limites, pois o fortalecimento do poder local representa, sem dúvida, uma real contribuição para a retomada da democracia e da cidadania em nosso país. FONTE: JOVCHLOVITCH, Marlova. Assistência social como política pública. Disponível em: <http://www.rebidia.org.br/noticias/social/assispol.html>. Acesso em: 30 jul. 2009. TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 37 Procure em sua cidade se existe CRAS. Conheça o trabalho desenvolvido neste espaço e verifique se está ocorrendo conforme estabelecido na Política Nacional de Assistência Social. Esta ação possibilitará uma maior fixação do conteúdo apresentado. AUTOATIVIDADE 3.2 PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL A Política Nacional de Assistência Social define a Proteção Social Especial como uma modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. Os serviços garantidos pelo sistema de Proteção Social Especial necessitam de acompanhamento sistemático individual ou familiar (coletivo), com maior ênfase e agilidade nos encaminhamentos e ações realizadas, conforme situação exposta pelo usuário. A ação realizada neste nível de proteção deve ter articulação com as demais Políticas Públicas e instituições (ONGs, Escolas, Associações e Fundações) que compõem o Sistema de Garantia de Direitos, repassando as informações já coletadas. Frisamos que estes encaminhamentos devem ser monitorados e avaliados, assegurando proteção e garantia dos direitos dos usuários. NOTA ATENDIMENTO SISTEMÁTICO: consiste em atendimento contínuo, com avaliações periódicas da realidade apresentada para o profissional que está acompanhando o caso. Pode ser realizado por equipe multiprofissional ou por apenas um profissional. No nível de Proteção Social Especial, ressaltamos a existência de programas federais, que surgiram com o intuito de atuar nesta modalidade de atendimento, dentre eles destacamos o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Programa SENTINELA). 38 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI – tem como objetivo a retirada de crianças e adolescentes entre 07 e 15 anos, da situação de trabalho, principalmente quando a atividade desenvolvida é perigosa e insalubre, colocando em risco a vida e a saúde de crianças e adolescentes. Como exemplo, podemos citar a coleta e separação de material reciclável, flanelinhas, construção civil, comercialização de drogas, plantação de fumo, prostituição. Este é um programa do governo federal que, além de retirar crianças e adolescentes de situação de trabalho infantil, tem suas ações voltadas para a família, desenvolvendo ações socioeducativas, e atendimentos com profissionais específicos do programa. Também tem por objetivo inserir as famílias atendidas em programas e projetos de geração de trabalho (existentes no município), buscando a inclusão social e o direito à cidadania. NOTA O trabalho socioeducativo com famílias baseia-se no tripé sujeito, família e rede e se constitui de ações que oferecem oportunidade de desenvolvimento social, humano e econômico, visando à socialização, à ampliação do campo de conhecimentos, dos vínculos relacionais e da convivência comunitária. (CARTILHA DO PETI, p. 9). O programa tem como critério a permanência e a frequência na escola, atuando contra a evasão escolar e incluindo crianças e adolescentes no Programa de Jornada Ampliada. Este programa, em contraturno escolar, tem ações educativas complementares às oferecidas nas escolas, que devem acontecer todos os dias da semana (segunda a sexta-feira) com carga horária de 4 horas diárias em horário oposto ao da escola. O programa não substitui o processo ensino-aprendizagem oferecido nas escolas, sendo a frequência na escola obrigatoriedade monitorada por profissionais do programa. O programa disponibiliza uma bolsa em dinheiro para cada criança e adolescente inserido, respeitando todos os critérios estabelecidos na Cartilha do PETI. NOTA Para conhecer o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil na íntegra, leia a Cartilha do PETI, disponível em: <http://www.mds.gov.br/suas/guia_creas/mediacomplexidade/peti/manual_peti.zip/view>. Acesso em: 20 out. 2009. TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 39 Outro programa de nível de Proteção Social Especial é o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Este tem por objeto propiciar atendimento de crianças e adolescentes vítimas de alguma forma de violência, seja violência física, psicológica, sexual ou negligência. Os atendimentos são realizados por equipe interdisciplinar, em âmbito psicossocial e pedagógico, assistindo as vítimas de violência e sua família. Este programa é de âmbito federal e surgiu com a proposta de garantir os direitos previstos na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica de Assistência Social e faz parte do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes.3.2.1 Proteção social especial de média complexidade Os serviços de proteção social especial de média complexidade têm atendimento direcionado a famílias e pessoas que se encontram com seus direitos violados, porém com vínculos familiares e comunitários sem rompimento. Por este motivo, requerem ampla estruturação técnico-operacional, com equipes multiprofissionais com atenção especializada e individualizada direcionada ao usuário. Também necessitam de acompanhamento sistemático, com avaliação e monitoramento periódico. Os serviços previstos na Política Nacional de Assistência Social, neste nível de atendimento, são: • serviço de orientação e apoio sociofamiliar; • plantão social; • abordagem de rua; • cuidado no domicílio; • serviço de habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; • medidas socioeducativas em meio aberto (PSC – Prestação de Serviços à Comunidade e LA – Liberdade Assistida). A proteção especial de média complexidade também tem seus princípios pautados na convivência familiar e comunitária de forma saudável. Mas, difere da proteção social básica por se tratar de um atendimento dirigido às situações de violação de direitos. 3.2.2 Proteção social especial de alta complexidade Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são direcionados a usuários em situação emergencial e de risco, necessitando de proteção integral. Estes usuários encontram-se sem referência ou em situação de ameaça, necessitando de intervenção imediata, sendo retirados de seu núcleo familiar ou comunitário, que é seu espaço de convivência. 40 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL De acordo com a Política Nacional de Assistência Social, os serviços oferecidos na proteção social especial de alta complexidade são: • atendimento integral institucional; • casa lar; • república; • casa de passagem; • albergue; • família substituta; • família acolhedora; • medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação provisória e sentenciada); • trabalho protegido. ASSISTÊNCIA SOCIAL E DEMOCRACIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Potyara A. P. Pereira Falar de assistência social no Brasil não é tarefa fácil porque vários são os preconceitos e ideias equivocadas que ainda cercam essa matéria. Em decorrência, ela quase não é vista como fruto de conquistas sociais, que resultaram das lutas democráticas pela ampliação da cidadania, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Pelo contrário, a assistência social é geralmente identificada com um ato mecânico e emergencial de mera provisão, desvinculada da linguagem dos direitos e de projetos coletivos de mudança social. Isso tem contribuído para desqualificar um acontecimento histórico, sem equivalência nas sociedades contemporâneas, que faz do Brasil um país inovador, qual seja: em meio à onda neoliberal que se espalhou pelo mundo, a partir dos anos 1980, a nação brasileira concebeu um sistema de seguridade social que elevou a assistência a um status de cidadania que nem o inglês Beveridge, com o seu emblemático sistema de seguridade, do segundo pós-guerra, ousou arquitetar. Isso naturalmente contrariou concepções e interesses pautados no novo liberalismo, para quem o Estado deveria ser mínimo na proteção aos pobres e facilitador do livre funcionamento do mercado, que não tem vocação social. Hoje se pode afirmar que, se a assistência social vem ganhando espaço em várias partes do globo, inclusive no chamado Primeiro Mundo, não é com a conotação que ela assumiu no Brasil dos últimos anos. Nesses países, a assistência social vem se configurando uma alternativa aos direitos sociais desmantelados pelo neoliberalismo, enquanto no Brasil ela vem se constituindo um direito social que rompe com um passado de clientelismos LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 | POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 41 e barganhas populistas. É claro que isso não tem ocorrido sem dificuldades e sem esbarrar em várias limitações de ordem econômica, política e cultural. Afinal, a ascensão do pobre à condição de titular de direitos sociais, a serem concretizados por política pública, não é uma tradição brasileira. Porém, o fato insofismável é que, a partir de 1988, a assistência social no Brasil deu um salto de qualidade. Não só saiu da abominável condição de antidireito, mas revolucionou o pensamento juspolítico (jurídico e político) a seu respeito. Além disso, exigiu redefinições teóricas e filosóficas que redundaram na fundação de um paradigma próprio, antes inexistente, e na ampliação do catálogo de direitos no País. Redefinida a partir do regime autoritário, a assistência social lavrou tentos não desprezíveis: ressignificou-se, assumindo nova identidade; introduziu-se nos ordenamentos jurídicos, nos currículos das Universidades, na consciência e nos discursos de intelectuais e formadores de opinião e na agenda dos governos. Transformou-se também em objeto de estudos e pesquisas; em matéria suscitadora de polêmica; em bandeira de luta de grupos simpatizantes (e até militantes) e, como não poderia deixar de ser, em espinha atravessada na garganta de setores conservadores que a negam como direito devido. Enfim, contrariando previsões pessimistas e preconceitos arraigados, e remando contra a corrente neoliberal hegemônica, a assistência social brasileira vem ironicamente se constituindo em espaço privilegiado para a construção de projetos contra-hegemônicos. Em suma, regida por lei federal (LOAS – Lei nº 8742, de 7 de dezembro de 1993), que regulamenta os artigos 203 e 204 da Constituição, e serve de referência mestra à Política Nacional de Assistência Social (PNAS), de 2004, e ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS), previsto nesta política, a assistência social passou a ser concebida como: a) política pública que, associada às demais políticas sociais e econômicas, deve concretizar direitos historicamente negados a uma ampla parcela da população. Como política pública, ela possui uma complexidade que requer conhecimento particular, gestão qualificada e ação competente. Por isso, ela não pode ser encarada apenas como distribuição de benefícios e serviços, mas como uma unidade de processos diversos, interligados entre si, que vão desde a compreensão e o estudo da realidade, o planejamento, a definição de opções, a decisão coletiva (geralmente conflituosa), até a implementação, o acompanhamento e a avaliação das ações. E isso exige aparato legal e institucional, recursos materiais, financeiros e pessoal qualificado – tendo como referência o interesse público e o cultivo da cidadania; b) política cuja realização é de competência primaz do Estado, com o aval e o controle da sociedade. Essa primazia não se resume à garantia legal de direitos – já que só o Estado tem essa prerrogativa –, mas também inclui: obrigação governamental de atender necessidades sociais básicas e prontidão estatal para remover obstáculos ao exercício das liberdades democráticas (no Brasil, um dos principais obstáculos a ser removido é a pobreza absoluta). 42 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL Tal concepção não implica, como muitos pensam, paternalismo ou autoritarismo. Implica, sim, obrigar o Estado a arcar com responsabilidades que são de sua competência – e que lhe foram delegadas pela sociedade no curso da redemocratização do País. Está se falando, portanto, de um Estado Social de Direito, e não de um Estado Liberal omisso e mercantilizador, que não encampa as causas sociais. Ou, mais precisamente, está se falando de um Estado que é fruto das lutas sociais por maior liberdade e justiça distributiva, que deverá ter como uma de suas principais funções a redução das incertezas sociais mediante políticas públicas. Trata-se, em resumo, de um Estado em ação, que sob o controle ou mesmo pressão da sociedade, presta serviços ao mesmo tempo em que procura saldar dívidas sociais seculares contraídascom a maioria da população. Tem-se, assim, de forma breve, os traços definidores do paradigma da assistência social instituído em 1988, que deverá ser defendido e preservado pela sociedade, já que desta depende, sobremaneira, a sua concretização. FONTE: PEREIRA, Potyara A.P. Assistência Social e Democracia no Brasil Contemporâneo. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/sites/conferencias-1/artigos/assistencia-social-e- democracia-no-brasil-comtemporaneo-potyara-a-p-pereira/>. Acesso em: 20 out. 2009. 43 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou: • A Política de Assistência Social como uma política pública de direito a todo o cidadão e dever do Estado. • A partir da LOAS, a assistência social torna-se uma política social pública, desenvolvendo ações com visibilidade nos direitos, universalização do acesso a serviços, programas e projetos e também responsabilizando o Estado como órgão gestor e financiador. • O SUAS é a organização de uma rede de serviços, ações e benefícios, tendo sua centralidade pautada na família e na comunidade, com perspectiva na emancipação dos sujeitos sociais. • A proteção social básica tem como objetivo prevenir as situações que apresentam risco, através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições. • O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS – constitui-se em um espaço público com base territorial, localizado em áreas comunitárias que apresentam alto índice de vulnerabilidade social e econômica, com presença de violação de direitos e negligência. • Proteção social especial como uma modalidade de atendimento assistencial, destinada a famílias e indivíduos, que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. • Proteção social especial de média complexidade tem atendimento direcionado a famílias e pessoas que se encontram com seus direitos violados, porém com vínculos familiares e comunitários sem rompimento. • Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são direcionados a usuários em situação emergencial e de risco, necessitando de proteção integral. 44 AUTOATIVIDADE 1 Destaque as principais diferenças entre o nível de proteção social básica e nível de proteção social especial. 2 Descreva a proposta do SUAS frente às ações de Assistência Social. 45 TÓPICO 4 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO 2 PROJETOS SOCIETÁRIOS No Brasil, a construção do Projeto Ético-Político do assistente social deu- se em meados da década de 70 e início da década de 80, momento este marcado pela história da profissão. Neste tópico abordaremos aspectos do Projeto Ético- Político do Serviço Social, com ênfase na sua construção, desempenho e atuação do assistente social. Para melhor compreensão do Projeto Ético-Político, traremos inicialmente os conceitos de projetos societários e projetos profissionais. Os projetos societários são ações propostas coletivamente, em outras palavras, é um projeto coletivo que busca e faz propostas para a sociedade como um todo. Conforme Netto (2009): [...] os projetos societários tratam daqueles projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-los. [...] os projetos societários são projetos coletivos, mas seu traço peculiar reside no ato de se constituírem como projetos macroscópicos, como proposta para o conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica – os outros projetos coletivos (por exemplo, os projetos profissionais) não possuem este nível de amplitude e inclusividade, como veremos a seguir. NOTA Projetos macroscópicos: consistem em projetos com visão e perspectivas amplas e abrangentes da sociedade. 46 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL Portanto, os projetos societários consistem em projetos de classe, em que evidentemente existe uma dimensão política, envolvendo relações de poder. Reis (2009) ressalta ainda que: [...] os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conservadores. Entre os transformadores há várias posições que têm a ver com as formas (as táticas e as estratégias) de transformação social. Assim, temos um pressuposto fundante do projeto ético- político: a sua relação ineliminável com os projetos de transformação ou de conservação da ordem social. (Grifo nosso). Desta forma ressaltamos que o projeto ético-político do Serviço Social compõe um projeto de sociedade. AUTOATIVIDADE Qual é a função e a importância de um projeto societário para a sociedade onde vivemos? 2.1 PROJETOS PROFISSIONAIS Em complemento aos projetos societários, surgiram no marco dos projetos coletivos aqueles ligados às profissões denominados projetos profissionais. Para Netto (2009): [...] os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores, que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). Os projetos profissionais são constituídos de forma coletiva e devem ser pensados, elaborados e colocados em prática por um conjunto de pessoas, ou seja, por uma categoria de profissionais, como, por exemplo, a categoria dos profissionais de Serviço Social, denominados assistentes Sociais. Contudo, segundo Netto (2009): [...] os projetos profissionais também são estruturas dinâmicas, respondendo às alterações no sistema de necessidades sociais sobre o qual a profissão opera, as transformações econômicas, históricas e culturais, ao desenvolvimento teórico e prático da própria profissão, e as mudanças na composição social do corpo profissional. TÓPICO 4 | PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 47 Neste contexto, se faz necessário ressaltar que, para que os projetos profissionais atinjam resultados positivos, é necessária a participação ativa, com responsabilidades e compromissos pautados em uma missão única e propósitos coletivos da profissão. AUTOATIVIDADE Identifique a diferença entre projetos societários e projetos profissionais. 3 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social brasileiro, a partir da década de 70, através de um Projeto Ético-Político constituído de forma coletiva e hegemônica, expressa o compromisso da categoria com a elaboração de nova ordem societária, com justiça, igualdade e garantia de direitos universais. Também neste contexto surge, na década de 60, o Movimento de Reconceituação que, na América Latina, fez com que o Serviço Social tivesse algumas mudanças radicais, uma delas foi o início de denúncias do conservadorismo do Serviço Social. Sobre o Movimento de Reconceituação, Reis (2009) nos esclarece que: A chegada entre nós dos princípios e ideias do Movimento de Reconceituação deflagrado nos diversos países latino-americanos somado à voga do processo de redemocratização da sociedade brasileira formaram o chão histórico para a transição para um Serviço Social renovado, através de um processo de ruptura teórica, política (inicialmente mais político-ideológica do que teórico-filosófica) com os quadrantes do tradicionalismo que imperavam entre nós. Diante disto, segundo Netto (2009): [...] a luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo profissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço Social: no processo da derrotada ditadura se inscreveu a primeira condição – sendo esta a condição política – para a constituição de um novo projeto profissional (Grifo nosso). É importante lembrar que a constituição do Serviço Social instaurou: [...] uma forma de intervenção ideológica que se baseia no assistencialismo como suporte de uma atuação cujos efeitos são essencialmente políticos: o enquadramento das populações pobres e carentes, o que engloba o conjunto das classes exploradas. Não 48 UNIDADE 1 | PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL pode também ser desligado do contexto mais amplo em que se situa a posição política assumida e desenvolvida pelo conjunto do bloco católico: a estreita aliança com o ‘fascismo nacional’, o constituir- se num polarizador da opinião de direita através da defesa de um programa profundamente conservador, a luta constante e encarniçada contra o socialismo, a defesa intransigente das relações sociais vigentes (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 221-222). As primeiras discussões para a construção de um Projeto Ético-Político dos profissionais de Serviço Social, baseado em um projeto societário, com visão coletiva e enfoque na classe trabalhadora, ocorreu no ano de 1979, no III Congresso Brasileiro de assistentes Sociais. Este Congresso foi denominado e é popularmente conhecido como “Congresso da Virada”, pelo fato de que os profissionais presentes destituíram os militares de sua composição, alterada para nomes reconhecidos pelos movimentos dos trabalhadores. Além disto, os profissionais de Serviço Social lutavam pela democracia no País, fazendo a ligação com novos projetos da profissão. O texto a seguir é parte do artigo “A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social”, de José Paulo Netto. Ao lê-lo você identificará como foi construído o Projeto Ético-Político da profissão, demandas apresentadas a esses profissionais, bem como aspectos relevantes deste Projeto. Se você tiver interesse em aprofundar esta discussão, leia o texto na íntegra no site indicado na fonte. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL José Paulo Netto O Projeto Ético-Político do assistente social, no Brasil [...] tem uma história que não é tão recente, iniciada na transição da década de 1970 à de 1980. Este período marca um momento importante no desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denúncia do conservadorismo profissional. É neste processo de recusa e crítica do conservadorismo que se encontram as raízes de um projeto profissional novo, precisamente as bases do que se está denominando projeto ético-político. Se considerarmos o Serviço Social no Brasil, tal organização compreende o sistema CFESS/CRESS, a ABEPSS, a ENESSO, os sindicatos e as demais associações de assistentes sociais. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 4 | PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 49 Serviço Social é uma profissão – uma especialização do trabalho coletivo, no marco da divisão sociotécnica do trabalho –, com estatuto jurídico reconhecido (Lei 8.669, de 17 de junho de 1993); enquanto profissão, não é uma ciência nem dispõe de teoria própria; mas o fato de ser uma profissão não impede que seus agentes realizem estudos, investigações, pesquisas etc. e que produzam conhecimentos de natureza teórica, incorporáveis pelas ciências sociais e humanas. Assim, enquanto profissão, o Serviço Social pode se constituir, e se constituiu nos últimos anos, como uma área de produção de conhecimentos, apoiada inclusive por agências públicas de fomento à pesquisa (como, por exemplo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq). Em poucas palavras, entrou na agenda do Serviço Social a questão de redimensionar o ensino com vistas à formação de um profissional capaz de responder, com eficácia e competência, às demandas tradicionais e às demandas emergentes na sociedade brasileira – em suma, a construção de um novo perfil profissional. O Projeto Ético-Político da profissão tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir destas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício profissional. A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático – considerada a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida. Enfim, o projeto assinala claramente que o desempenho ético-político dos assistentes sociais só se potencializará se o corpo profissional articular-se com os segmentos de outras categorias profissionais que compartilham de propostas similares e, notadamente, com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores. FONTE: Adaptado de: NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do serviço social. Disponível em: <http://www.cpihts.com/PDF03/jose%20paulo%20netto.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2009. 50 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico você viu: • Projetos societários: constituem-se de um projeto coletivo, que busca e faz propostas para a sociedade como um todo. Estes projetos consistem em projetos de classe e possuem uma dimensão política, envolvendo relações de poder. • Projetos profissionais: são constituídos de forma coletiva e devem ser pensados, elaborados e colocados em prática por um conjunto de pessoas, ou seja, por uma categoria de profissionais. • Movimento de Reconceituação: fez algumas alterações no Serviço Social na América Latina, contribuindo para o início de denúncias do conservadorismo do Serviço Social. • O conservadorismo do Serviço Social brasileiro teve ligação com o processo de derrota da ditadura, que inscreveu a condição política. • Projeto Ético-Político do Serviço Social: as primeiras discussões ocorreram no III Congresso Brasileiro de assistentes Sociais, que ficou conhecido como Congresso da Virada. • O Projeto Ético-Político foi constituído de forma coletiva e hegemônica. 51 AUTOATIVIDADE 1 Em poucas palavras descreva qual a sua interpretação do Projeto Ético-Político do Serviço Social, focando na importância deste projeto para a profissão. 2 Como sugestão de Leitura Complementar para fixação do conteúdo, leia a Revista Serviço Social e Sociedade, nº 79, que trata especificamente da formação e do projeto político do Serviço Social. 3 Para uma melhor compreensão sobre o Projeto Ético- Político do Serviço Social, acesse o site do CRESS de sua região e pesquise mais sobre este projeto da profissão. 52 53 UNIDADE 2 INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer os instrumentos de intervenção em Serviço Social; • utilizar os instrumentos de reconhecimento de uma realidade em Serviço Social – a visita domiciliar e a entrevista; • compreender os mecanismos de transcrição de dados e informações, con- tidos em relatórios. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas. TÓPICO 1 – APREENSÃO E INTERVENÇÃOEM SERVIÇO SOCIAL TÓPICO 2 – RECONHECENDO A REALIDADE TÓPICO 3 – A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO) E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DI- NÂMICA DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 54 55 TÓPICO 1 APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Além das disciplinas teóricas do Serviço Social, é preciso estudar também como é a pratica do Serviço Social, sobretudo quais os instrumentos que possibilitam a efetivação do trabalho do assistente social. Para que o profissional do Serviço Social esteja realmente preparado para o cotidiano da profissão, é preciso, pois, que este profissional saiba aplicar seu conhecimento teórico na construção de soluções para problemas sociais realmente existentes. É neste diapasão – teoria e prática – que surgem os instrumentos teóricos metodológicos que auxiliam o profissional a praticar seu ofício. Estes instrumentos podem ser classificados em duas categorias: instrumentos relativos à apreensão da realidade e instrumentos relativos à intervenção na realidade. Os instrumentos ligados à apreensão da realidade são: visita domiciliar, entrevistas, observações e perícia social. Os instrumentos ligados à intervenção da realidade são os encaminhamentos, reuniões e assembleias, dentre outros. Deve-se, entretanto, tomar cuidado com esta classificação, pois muitas vezes um instrumento classificado como de apreensão da realidade, de alguma maneira pode já estar interferindo nela, assim como o de intervenção pode servir também como instrumento de apreensão da realidade, conforme veremos adiante. Neste capítulo se discutirão minuciosamente estes instrumentos para que o(a) acadêmico(a) tenha uma visão panorâmica sobre o tema. No primeiro tópico é apresentada a discussão em torno da natureza dos instrumentos operativos do Serviço Social. Após discutir a natureza dos instrumentos operativos do Serviço Social, passa-se a discutir instrumento por instrumento, começando pela visita domiciliar, entrevistas individuais e coletivas e todos os outros utilizados pelo Serviço Social. Para completar o processo de aprendizagem, cada tópico será complementado com sugestões de leituras, exercícios e textos auxiliares. UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 56 2 INSTRUMENTAL TEÓRICO OPERATIVO DO SERVIÇO SOCIAL É inegável que o ofício do Serviço Social está demasiadamente interessado nos problemas das sociedades. Sobretudo nos problemas mais delicados do corpo social, como a marginalidade resultante de problemas sociais derivados de ordem econômica, os problemas relacionados às famílias, como guarda, adoção, violência doméstica, outros problemas eventuais, como desabrigados por catástrofes naturais e inúmeros outros problemas sociais. Diante desta situação, o Serviço Social coloca-se como uma possibilidade para construção de políticas públicas que amenizem os problemas das mais diversas ordens. FIGURA 1 – IMAGEM FONTE: Disponível em:<http://nos media.wordpress.com/2007/07/10/ os-nossos-mundos>. Acesso em: 27 ago. 2009. Aqui reside, pois, uma grande característica do Serviço Social. Ele é, antes de tudo, instrumental. Por algum tempo e em alguns ambientes, pensadores do Serviço Social negaram essa característica por entenderem que, além de esta ideia ser uma herança norte-americana, entendiam também que não contemplava a totalidade de tal ofício. Evidentemente que havia alguma porcentagem de razão nesta negação, sobretudo com relação a não representar a totalidade do Serviço Social. Entretanto, hoje é praticamente unânime que a instrumentalidade do Serviço Social é sua característica primeira, tratando-se, pois, de um saber fazer. Essa natureza instrumental do Serviço Social implica dizer que o cotidiano da profissão é uma atividade de intervenção, e é especificamente da necessidade interventiva que emerge a necessidade de um domínio teórico também. Além da necessidade de um domínio de diversas teorias que são produzidas por outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, teorias da sociologia e da ciência política, foi e é preciso também que o Serviço Social produza teorias metodológicas instrumentais, objetivando uma maior efetividade de suas intervenções. Na América Latina, o Serviço Social teve significativos avanços em relação à sistematização de práticas, conduzindo a uma importante reflexão sobre a metodologia de intervenção, o que, evidentemente, também contribui para o amadurecimento do Serviço Social enquanto profissão no País, conforme escreve Teixeira de Almeida: TÓPICO 1 | APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 57 A “sistematização da prática” para o Serviço Social encerra, contudo, diversos significados. Tomando por base as produções do Centro Latino-Americano de Trabalho Social (CELATS, 1983), percebemos que ela engloba não só os procedimentos investigativos que demarcam a ação profissional como objeto de reflexão. A sistematização da prática foi entendida pelo CELATS como todo o processo de organização teórico-metodológico e técnico-instrumental da ação profissional em Serviço Social. Neste sentido, a preocupação com a sistematização se inicia com a própria delimitação dos referenciais que orientarão a eleição dos aportes teóricos, da condução metodológica, da definição das estratégias de ação, do reconhecimento do objeto da intervenção profissional, assim como de seus objetivos e da avaliação dos resultados alcançados. (ALMEIDA, 2009. p. 3). Evidentemente não se pode apenas falar em intervenção. É preciso também falar em apreensão da realidade. A possibilidade de intervir em uma determinada realidade pressupõe que, primeiro, o profissional a compreenda. Trata-se da apreensão da realidade. Isso ocorre porque a escolha de uma estratégia ou outra para a intervenção em Serviço Social necessita que a estratégia escolhida esteja em diapasão com o meio em que ela vai ser aplicada. Em outras palavras, antes de tentar solucionar ou amenizar determinados problemas sociais, é preciso compreendê- los, sobretudo em relação ao contexto social em que eles se manifestam. Essa reflexão acerca da instrumentalidade do Serviço Social possibilitou a formação de um corpo teórico relacionado às questões metodológicas de abordagem, tanto em relação à compreensão do contexto social como em relação à intervenção propriamente dita. Aguçou também o debate intelectual, conforme escreve Teixeira de Almeida: É inegável o avanço intelectual deste debate no Brasil, principalmente no que diz respeito: ao enfrentamento do significado social da profissão (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982), à sua inscrição na divisão social e técnica do trabalho na sociedade capitalista (IAMAMOTO, 1994 e NETTO, 1992), à sua atuação no âmbito das políticas sociais (FALEIROS, 1980 e SPOSATI et al., 1985) e à questão teórico-metodológica (FALEIROS, 1985 e ABESS, 1989) (ALMEIDA, 2009. p. 2). Nesse sentido, a ação profissional do assistente social é baseada nos instrumentos e nas técnicas, pois estes possibilitam o desenvolvimento das ações. Segundo Thiollent (apud SOUZA, 1991, p. 165), a técnica “[...] é uma teoria em atos. Quando se fala em instrumentos e técnicas, portanto, não se está referindo a uma simples engrenagem material ou mecânica para condução de ações determinadas”. Com o fim de oferecer subsídios a você, acadêmico(a), para a compreensão da técnica ou dessa “teoria em atos”, veremos a seguir a complexidade destes instrumentos bem como sua descrição e considerações relevantes para seu emprego no Serviço Social. UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 58 2.1 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DA AÇÃO PROFISSIONAL Para poder fazer uma leitura da realidade é necessário um conhecimento teórico operativo. A técnica possibilita o conhecimento e a mudança da realidade e a conquista dos direitos sociais básicos. Lembramos que é preciso conhecer e refletir sobre a técnica antes de utilizá-la. Já os instrumentosdenotam ser todo e qualquer recurso empregado na condução do processo de conhecimento da realidade social em estudo. É a tática utilizada para realizar a ação; como o Serviço Social não tem teoria própria, ele se apropria de instrumentos de outras áreas do saber como a entrevista, a visita domiciliar, as reuniões e os grupos. A todos estes elementos podemos chamar de instrumentos para a efetivação da teoria e prática do Serviço Social. De acordo com Santos (2005, p. 6), “[...] os instrumentos são entendidos como um caminho para se alcançar determinado fim, de forma linear e evolutiva. São tratados como elementos que têm fim em si mesmos, portanto, neutros, abstratos, a-históricos e não como produto dos homens na satisfação de suas necessidades.” Assim, segundo o MPAS (1995, p. 17), “[...] a metodologia do Serviço Social, ou seja, o seu fazer profissional exige uma coerência com a concepção teórica adotada, uma vez que a teoria não só se nutre da prática e da leitura de realidade como também indica os caminhos a serem percorridos”. Também podemos observar que os instrumentos e técnicas da ação profissional do assistente social possuem as: [...] ações centradas numa abordagem individual, em que as sequelas da “questão social” são consideradas como problemas dos indivíduos, cabendo, portanto, uma ação que objetive mudanças de atitudes e de comportamento dos indivíduos que estão em “disfunção”. Os instrumentos e técnicas são utilizados com o objetivo único de favorecer essas mudanças, tendo em vista o controle social. (SANTOS, 2005, p. 6). Nesta perspectiva, o MPAS (1995, p. 17) complementa, expondo que: O procedimento metodológico supõe o uso de instrumentos e técnicas vinculados a uma concepção teórica que lhes dá direção, intencionalidade (contrário à neutralidade), constituindo-se como fundamentais à viabilização das estratégias propostas. Assim sendo, as entrevistas, as visitas domiciliares, a abordagem junto às populações, as dinâmicas de grupo, palestras, seminários, bem como o parecer social, pesquisa e recursos materiais estão direcionados neste documento pelo método histórico-dialético. TÓPICO 1 | APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 59 Já Santos (2005, p. 4) diz que: [...] concebe instrumentos e técnicas como partes constitutivas do instrumental de intervenção, entendendo por instrumental um conjunto articulado entre instrumentos e técnicas que formam uma unidade orgânica indissociável e que articulados a outros elementos efetivam a ação profissional. A técnica é vista como criação, correspondendo a um conjunto próprio de determinada cultura e formação sociopolítico- econômica. Ela é utilizada para a criação e construção do instrumento, para seu manejo e para o desenvolvimento da ação, ou seja, relaciona- se às maneiras pelas quais conduzimos nossas ações ou objetivamos nossas intencionalidades. Já os instrumentos são considerados como os potencializadores das intencionalidades teórico-políticas para a efetivação da ação. São recursos utilizados para a viabilização das técnicas. Outro elemento destacado por Santos (2005, p. 5) refere-se “[...] à consideração dos instrumentos e técnicas como ‘mediação’ da prática profissional”. E estas considerações dos instrumentos e técnicas da ação profissional do assistente social concentram-se em três posições: • Mediação como categoria instrumental, ou seja, através dela constrói-se alguma coisa operada pelo assistente social, ocorrendo sua materialização. O próprio Serviço Social passa a ser considerado como mediação. • Mediação como correlação entre instrumentais técnico-operativos e o método em Marx. Corre-se aqui o risco de este ser considerado um modelo a ser seguido. Os níveis de abrangência da realidade – singular, particular, universal –, tendem a transformar-se em etapas a serem atingidas de forma evolutiva e linear. • Mediação como uma categoria ontológica e reflexiva que permite à razão construir categorias para auxiliar a compreensão e ações profissionais, portanto já existente na realidade, necessitando de ser apreendida pelo sujeito cognoscente (SANTOS, 2005, p. 5, grifo nosso). Ainda, Santos (2005, p. 6) coloca-nos que: [...] há uma preocupação unilateral com a eficácia e a eficiência das ações. Para tanto, o uso adequado dos instrumentos e técnicas faz- se necessário. Instrumentos e técnicas são abordados, apenas, como um conjunto de procedimentos e habilidades. A preocupação com a cientificidade da técnica na obtenção da qualidade das informações é enfatizada, de forma imediatista, ou seja, sem reconhecer as mediações constitutivas da intervenção profissional. Santos (2005, p. 7) complementa ainda que: a dimensão técnico-operativa é reduzida a instrumentos e técnicas e é descolada das demais dimensões da intervenção profissional do Serviço Social. Essa fragmentação vem ao encontro da concepção de “neutralidade” no trato dos instrumentos e técnicas. UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 60 Assim, podemos observar que as técnicas e instrumentos utilizados pelos profissionais do Serviço Social devem ser coerentes com a realidade cotidiana daquela determinada questão social. Segundo Souza (1991, p. 165): A técnica, enquanto técnica, caracteriza-se por um conjunto de atos articulados dentro de uma sistemática dada. Esta sistemática, implícita ou explicitamente, revela a existência de uma teoria subjacente. Claro que nem toda teoria é elaborada com base na dinâmica da prática. Algumas são elaboradas para justificar a prática social e não como meio de explicação e conhecimento real da mesma; outras, ainda, são elaboradas a partir das motivações subjetivas dos seus agentes. Assim um trabalho com pretensões à objetividade vai requerer que as suas bases teóricas sejam devidamente explicitadas. Daí concluímos que a utilização dessas técnicas demandam do operador um profundo conhecimento teórico e prático, exigindo um domínio pleno da teoria que embasa sua prática, bem como da técnica empregada nessa prática. Considerando que a aplicação dessas técnicas é dinâmica, inclusive com a possibilidade de reavaliação dos objetivos e das teorias utilizadas, o operador deve, sempre que necessário, a partir do contato com a realidade, rever e ajustar a técnica visando a uma prática social mais eficaz. 3 TÉCNICAS UTILIZADAS PELO SERVIÇO SOCIAL As técnicas empregadas pelo Serviço Social atuam como instrumentos para a sua operacionalização. Devemos pressupor que haja uma consciência clara da escolha da técnica a ser empregada, com sua real significância social. O emprego da técnica inadequada, enquanto intervenção no meio, pode, além da perda de tempo, gerar “ruído” no meio em estudo estabelecendo um clima desfavorável à aplicação de outras técnicas. À luz desta reflexão apresentamos as técnicas mais empregadas no Serviço Social com suas particularidades. Neste tópico abordaremos as técnicas de observação, intervenção, autoavaliação e encaminhamento. As outras técnicas serão vistas adiante em tópicos específicos de nosso estudo. 3.1 TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO Como diretrizes fundamentais da técnica de observação temos: ouvir com atenção, não julgar e não discriminar. Segundo Souza (1991, p. 184): TÓPICO 1 | APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 61 A observação consiste na ação de perceber, tomar conhecimento de um fato ou acontecimento que ajude a explicar a compreensão da realidade objeto do trabalho e, como tal, encontrar os caminhos necessários aos objetivos a serem alcançados. É um processo mental e, ao mesmo tempo, técnico. Ainda segundo Souza (1991, p. 184, grifo nosso), a observação como processo técnico, instrumento do Serviço Social, deve atender algumas exigências: [...] especificação: o que vamos observar; quantificação: que tipo de mensuração é possível detectar nos fenômenos observados; objetividade: qual a significação dos fenômenos observados; embora sejam observados em sua aparência,a sua objetividade, no entanto, está além dela. Resulta desta análise que a observação não pode ser procedida de forma empírica ou parcial. Deve ser objetiva e isenta de prejulgamentos ou opiniões já formadas. O que parece em primeiro plano simples torna-se complexo à medida que queremos dar um contexto científico à observação. Exige-se para tanto um bom conhecimento da técnica, bem como controle emocional e discernimento para não interferir nem se deixar levar por aparências (o que parece ser, mas nem sempre é). Concluindo, o profissional do Serviço Social deve ter clareza e segurança na aplicação do instrumento técnico da observação quanto aos objetivos que quer alcançar com tal prática e ter pleno domínio do instrumento. Para complementar o estudo deste tópico, sugerimos a leitura do texto a seguir. SABER OUVIR Cláudia Deitos Giongo Ouvir significa direcionar a atenção a quem se fala, manter a mente aberta e interessada no que se ouve, podendo compreender o que está sendo dito. Significa estar de corpo e alma presente, concentrando-se em toda a conversa, não somente naquilo que se entende necessário. É através da audição que se obtêm conhecimentos para o desvendamento de novos horizontes. Quando se ouve com atenção, se compreende o que está sendo dito, assim não se corre o risco de distorcer instruções, mensagens e causar desentendimentos desnecessários. UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 62 Ouvir é algo que se faz durante todo o tempo, desde muito pequenos, e por isso corre-se o risco de perder a sensibilidade para perceber outros detalhes da fala: voz, ritmo, linguagem corporal, pois confunde-se ouvir com escutar. Ouvir é muito mais do que apenas deixar que os sons entrem por um ouvido e saiam por outro. Ouvindo demonstra-se respeito às outras pessoas, pois torna- se importante aquilo que dizem. [...] ouvir não se trata de um passatempo fácil e descompromissado; exige esforço positivo do indivíduo que pretende se tornar um ouvinte efetivo. Esse esforço, no entanto, será amplamente recompensado, uma vez que esse mesmo indivíduo estará dando a si próprio oportunidade total para desenvolver-se como pessoa. Estará demonstrando seu próprio valor e seu respeito pelo próximo, seus pontos de vista, conhecimentos e experiência. (MACKAY, p. 36). Existem, para o autor, vários motivos que fazem as pessoas perder a habilidade de ouvir com eficiência: audição seletiva, ritmo da fala e o ritmo do pensamento, falta de interesse, crenças e atitudes, reações possíveis à pessoa que fala, palavras ouvidas, distrações físicas etc. São armadilhas às quais tem- se que estar atentos. Quando um desses fatores desvia a atenção do ouvinte, este precisa ser franco consigo mesmo e perguntar o que está desviando sua atenção e então ater-se novamente em quem fala. Existem diferentes motivos que interferem na capacidade de ouvir com atenção e compreensão. Da mesma forma existem alternativas que ajudam a desenvolver habilidades de ouvinte: consciência do que pode atrapalhar é a primeira delas, capacidade de compreensão, atenção e interesse voltados a quem está sendo ouvido. Procurar manter a mente aberta, tendo consciência que as pessoas têm valores e crenças diferentes. Faz-se necessário buscar a lógica da pessoa que fala e não simplesmente deixar-se conduzir pela linha de raciocínio pessoal. FONTE: GIONGO, Cláudia Deitos. Processos de trabalho de Serviço Social III. Porto Alegre: Editora ULBRA, 2003. p. 25-26. 3.2 TÉCNICA DE INTERVENÇÃO Como princípios básicos da intervenção temos: incentivar o grupo a falar sobre si e sobre os demais envolvidos, questionar, problematizar, relacionar o indivíduo com o coletivo aplicando os instrumentos relativos à apreensão da realidade. Somente a partir dessa base de conhecimento é possível desenvolver e aplicar os instrumentos da intervenção da realidade. Segundo Vieira (1985, p. 125): TÓPICO 1 | APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 63 Intervenção pode ser considerada como: 1) ação de participação voluntária, de caráter mediador; 2) fruto de uma vontade regida por valores que vão influenciar a ação, e 3) atuação de um agente externo para provocar mudanças psicológicas ou sociais desejáveis no indivíduo, no grupo ou na comunidade. A noção de “mudança” está no âmago da intervenção do Serviço Social. O Serviço Social intervém, entra na situação para ajudar ou capacitar para essa mudança. A intervenção baseia-se na constatação por parte do(a) assistente social de que o grupo não consegue encontrar sozinho a solução para suas dúvidas e seus conflitos ou superar suas dificuldades. A intervenção não se caracteriza como uma técnica, mas como a associação de algumas técnicas que se somam. Dentre elas podemos exemplificar as dinâmicas de grupo, os encaminhamentos, as reuniões e assembleias etc., que se caracterizam como instrumentos ligados à intervenção da realidade e, por consequência, de sua transformação. 3.3 TÉCNICA DE ENCAMINHAMENTO 3.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES O(A) assistente social deve utilizar-se do instrumento de encaminhamento, como em todos os seus atos, com respeito ao seu código de ética e à questão do respeito aos direitos e cidadania, pois é fundamental que o operador zele pelos direitos já conquistados pela pessoa ou grupo que está atendendo e continue colaborando na conquista de novos direitos para os mesmos. A técnica do encaminhamento configura-se como uma ponte de ligação entre outras ações do Serviço Social. Pressupõe o conhecimento das políticas públicas da problematização para os devidos encaminhamentos, bem como um levantamento prévio das condições e características do contexto em estudo, com o detalhamento e a documentação dos fenômenos observados, a fim de buscar a sua resolução. A conceituação e significação da técnica de encaminhamento são abordadas de modo mais específico no item 4 do Tópico 3 desta unidade. Faça a “ligação” dos dois conteúdos para melhor compreensão do tema. Durante a aplicação destas técnicas é necessário o assistente social ter claro que o usuário do serviço é um portador de direitos e tem todo o direito de lutar por sua cidadania. É imprescindível que o profissional tenha embasamento teórico do assunto apresentado para a intervenção e os encaminhamentos necessários. Feitas estas considerações, podemos elencar como principais instrumentos teóricos do Serviço Social: UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 64 • Visitas domiciliares • Entrevista individual • Entrevista coletiva • Observações • Relatório • Parecer social • Perícia social • Encaminhamentos Além dos instrumentos já vistos, ao longo do nosso estudo veremos detalhadamente aqueles ainda não abordados, bem como outros que complementam esse rol de técnicas do Serviço Social. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NOS PROGRAMAS DO GOVERNO Cecília Contete O assistente social está inserido nas mais diversas áreas da política pública social. O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) é um programa do Governo Federal, ligado diretamente ao Ministério de Desenvolvimento Social e às Secretarias Estaduais e Municipais de Assistência Social, ou similares. O principal objetivo é retirar crianças e adolescentes entre sete e quinze anos do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante. Rodrigo de Oliveira Ribeiro, que atualmente está coordenando os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) atuou como assistente social do PETI. Ele reconhece que o programa tem limitações, já que em sua opinião toda forma de trabalho coloca em risco a saúde e a segurança das crianças e adolescentes. Mas acredita que todas as ações voltadas para garantir o direito desse público são importantes para diminuir as desigualdades sociais. O assistente social explica que, para a entrada no PETI, é necessário que a criança esteja frequentando a escola e que a família tenha renda per capita até meio salário- mínimo,mas ressalta que este último critério é uma orientação para prioridade, o que significa a possibilidade de entrada de famílias que tenham renda superior. Relata que a família inserida no programa recebe uma bolsa mensal no valor de R$ 40,00 (quem mora em áreas urbanas) e R$ 25,00 (áreas rurais). Acrescenta que estes valores são para cada criança ou adolescente inserido e que não há limite de vagas por família. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | APREENSÃO E INTERVENÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 65 A criança ou adolescente passa a comparecer em jornada ampliada, isto porque em um período eles frequentam as aulas escolares e, no outro, atividades desenvolvidas pelo PETI ligadas às áreas esportivas, culturais, artísticas, de lazer e reforço escolar. O trabalho se dá em três frentes: a escolar, onde é necessária uma articulação com a secretaria de educação para acompanhamento e elevação do desempenho nesta área; a jornada ampliada, que pretende aumentar e possibilitar o desenvolvimento integral da criança com sua inserção na rede de serviços e bens e a família, onde são trabalhados fundamentalmente aspectos quanto à socialização e à questão da geração de trabalho e renda. Segundo Rodrigo, o assistente social que atua nesse programa é responsável, dentre outras funções, pelo processo seletivo e o planejamento das atividades junto à equipe multidisciplinar, composta pelo gerente do PETI, uma psicóloga, uma pedagoga, uma funcionária administrativa e pelos monitores que executam a jornada ampliada. Os monitores, em sua maioria, são professores. São chamados monitores volantes aqueles que desenvolvem atividades diferenciadas em mais de um polo, por exemplo, atividade circense. Ele destacou que o profissional de Serviço Social também desenvolve um trabalho socioeducativo e de atendimento social junto às famílias, que pode desdobrar em encaminhamentos para outros programas e/ou Conselhos Tutelares a fim de resguardar o direito da criança e do adolescente. De acordo com Rodrigo, o PETI atualmente atende cerca de 960 crianças, nos trinta e seis polos onde são desenvolvidas as jornadas ampliadas. O espaço escolar é priorizado para a realização dos trabalhos, mas nem todos funcionam em escolas. Lembra que o programa prevê o desenvolvimento de atividades socioeducativas e geração de trabalho e renda, porém estas ainda serão desenvolvidas, posto que a prioridade atual é realizar cadastros para que se possa atingir a meta de 1036 crianças. Além disso, uma articulação com a Secretaria Municipal de Educação está sendo feita a fim de qualificar as ações da jornada ampliada e assim garantir o direito da criança e do adolescente. Mensalmente é realizado o monitoramento da frequência daqueles inseridos no PETI, afirma o assistente social. No planejamento, está prevista a criação de instrumentos para, em articulação com a rede de educação, fazer o acompanhamento do desempenho escolar. Mas este ainda é um grande desafio que a equipe decidiu assumir para que se tenha clareza da qualidade desempenhada pelo programa. É importante ressaltar que os monitores são fundamentais nesses processos e que mensalmente são realizados relatórios de acompanhamento de cada polo a fim de avaliar a realidade local, tendo em vista a dimensão geográfica e diferenças existentes no município. FONTE: CONTETE, Cecília. O trabalho do assistente social nos programas do governo. Práxis (Revista do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, jun. 2009, p. 7-8. 66 Neste tópico você estudou: Principal característica d o S e r v i ç o S o c i a l contemporâneo A instrumentalidade do Serviço Social enquanto profissão que objetiva intervir na realidade, tendo em vista melhorar as condições daquelas pessoas que vivem em situação de risco. Como fazer a escolha do melhor instrumento para efetivar o trabalho do assistente social Para poder escolher o melhor instrumento para prestar o Serviço Social às pessoas, é necessário que o assistente social faça uma análise de cada caso concreto, tendo em vista que é o contexto do problema em questão que determinará qual o melhor método a ser utilizado. Instrumentos teóricos m e t o d o l ó g i c o s d o Serviço Social Visitas domiciliares, entrevista individual, entrevista coletiva, observações, relatório, parecer social, perícia social, encaminhamentos. RESUMO DO TÓPICO 1 67 AUTOATIVIDADE Caro(a) acadêmico(a): após a leitura deste Tópico, desenvolva a atividade a seguir para aumentar sua compreensão sobre os temas apresentados. 1 De acordo com o texto, quais são os instrumentos de apreensão da realidade e quais são os instrumentos de intervenção na realidade? 2 A divisão em instrumentos de apreensão da realidade e de intervenção da realidade é observada rigorosamente pelos assistentes sociais? 68 69 TÓPICO 2 RECONHECENDO A REALIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO 2 VISITA DOMICILIAR Os instrumentos utilizados no Serviço Social para se reconhecer uma realidade são as visitas domiciliares e as entrevistas. No cotidiano da profissão, quase diariamente é necessário fazer uso destes instrumentos. Por isso, dedica-se este tópico a estas duas importantes ferramentas do Serviço Social. Como o próprio nome sugere, a visita domiciliar é a ida do profissional do Serviço Social na residência do usuário. Esse “ir” do assistente social evidentemente não é despreocupado, sem objetivo, não. Trata-se de uma busca, uma busca in loco com um objetivo predeterminado, em que o profissional do Serviço Social se dirige até o lar do usuário para alcançar o objetivo traçado, que geralmente é conhecer melhor a realidade do usuário. FONTE: Disponível em: <http://www.macae.rj.gov.br/noticias/fotos/Visita%20 Juventude% 20Assistida%20%20-%20Foto%20Jo%C3%A3o%20Barreto_6096.jpg>. Acesso em: 25 out. 2009. FIGURA 2 – VISITA DOMICILIAR UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 70 A visita domiciliar é um instrumento muito utilizado pelo profissional do Serviço Social, além de ser um modo específico para o conhecimento e entendimento da realidade. A visita domiciliar, conforme Mioto (2001, p. 148), “tem como objetivo conhecer as condições (residência, bairro) em que vivem tais sujeitos e apreender aspectos do cotidiano das relações, aspectos esses que geralmente escapam à entrevista de gabinete”. O assistente social deve fazer um mapa dos serviços disponíveis no local onde vive essa família, para conhecer as situações sociais a serem abordadas. Por exemplo, escola que atenda, qual a faixa etária, creche e qual o horário de atendimento, disponibilidade de atividades, programas para crianças quando os pais estão trabalhando. Para os idosos, atividades comunitárias, intelectuais. Postos de saúde ou estratégias de saúde da família. O profissional deve conhecer os horários e locais de ônibus, entre outros, para poder construir com essa família a consolidação da cidadania e a busca das mudanças sociais com maior qualidade de vida para essa comunidade. No dia a dia as pessoas envolvidas numa situação que necessita da intervenção do assistente social se comunicam e criam relações que não ficam visíveis e nem verbalizadas quando atendidas dentro das instituições de trabalho. Essa ação faz com que o profissional tenha habilidade para perceber o que está por trás do que não é dito, mas expresso por gestos, olhares e posturas. E principalmente esse profissional não pode realizar a visita com olhar preconceituoso, discriminatório e nem impositivo, conforme Resolução n. 273, do CFESS (1993, p. 3), “[...] defesa intransigente dos direitos humanos [...]; ampliação e consolidação da cidadania [...]; posicionamento em favor da equidade, de justiça social [...]; eliminação de todas as formas de preconceitos”. Nesta resolução, quando se fala em todas as formas de preconceitos, são todas realmente, como gênero, etnia, religião, deficiências, classe social, racial, opção sexual, entre outras, que podemexistir. O assistente social tem que ter claro que sua intervenção profissional cria com as pessoas envolvidas um processo de mudança de hábitos, olhares e opiniões. “O resultado desse processo é sempre uma transformação na natureza e no próprio homem, uma vez que, ao final, ele já não é mais o mesmo homem”. (GUERRA, 2002, p. 8). Não é difícil argumentar que, nem sempre, entre as quatro paredes nas quais, diariamente, o profissional do Serviço Social labora, onde esse profissional recebe seus usuários e ali procede as entrevistas, não pode, aquele profissional neste momento e espaço, compreender a realidade vivida pelo usuário, e sobretudo utilizando apenas as palavras do usuário. Sair do ambiente institucional e buscar a realidade onde ele realmente vive é fundamental em muitos casos. É no contexto no qual o usuário reside que a realidade está disponível. Desta forma, deve o assistente social considerar todas as informações relevantes alcançadas pela visita domiciliar. Ressalta-se que não é apenas no local em que reside o usuário que deve recair a atenção do profissional, ou seja, não é só TÓPICO 2 | RECONHECENDO A REALIDADE 71 dentro da residência do usuário que o profissional deve observar, não. Quando o profissional está se deslocando para a residência do usuário, já deve ele observar os aspectos da região em que reside o usuário. Como é, efetivamente, o bairro em que reside o usuário. Quais são as relações de vizinhança, não só do usuário com seus vizinhos, mas também destes com eles mesmos. Note-se que se deve levar em conta, na observação, as mais variadas formas de relações, desde familiares, profissionais, trocas simbólicas, religiosas etc. da região e bairro onde reside o usuário. É preciso igualmente que o profissional do Serviço Social esteja atento às relações existente no lar do usuário também. Relações do usuário com os outros membros da família que habitam o mesmo espaço ou até mesmo com pessoas que moram com o usuário, mas não pertencem ao grupo familiar. Alguns cuidados devem ser tomados na utilização da visita domiciliar como instrumento do Serviço Social. Cuidados simples, mas que podem fazer bastante diferença na efetividade da visita. Em primeiro lugar, deve o profissional do Serviço Social evitar fazer visitas durante o horário de refeições. É possível que o usuário se sinta constrangido com a presença do assistente social, inclusive pode o usuário se sentir na obrigação de convidar o profissional a compartilhar dos alimentos, o que, em ambos os casos – negar ou aceitar o convite – pode criar uma situação constrangedora. Para evitar estes inconvenientes, recomenda-se que o profissional tenha muita atenção para o horário da visita domiciliar. Não se pode, contudo, confundir a cortesia de um ‘cafezinho’ com o sentar-se à mesa para o almoço. Cortesias de costumes são recomendáveis que o profissional aceite, inclusive para que o usuário se sinta mais à vontade na presença do profissional. Questão de grande importância é o conhecimento prévio da visita e também o conhecimento do objetivo e da motivação da visita. O objetivo da visita é aquilo que se busca verificar com a visita. É o caso, por exemplo, da visita domiciliar para verificar qual o tipo de interação entre a pessoa que tem a guarda de um adolescente e este, fundamentalmente com o que pretende a adoção. O objetivo é, pois, verificar como é esta interação. A motivação, para o mesmo exemplo é que o objetivo funcione como um embasamento para que a autoridade decida sobre a adoção. Observa-se que, tanto o quando, o para quê e o porquê da visita domiciliar devem ser previamente informados ao usuário. UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 72 DICAS Leia o texto: O SIGNIFICADO DE VISITA DOMICILIAR PARA USUÁRIOS DE UM PROGRAMA DE DIÁLISE PERITONEAL AMBULATORIAL CONTÍNUA (CAPD) EM GOIÂNIA, de Elisete Regina Rubin De Bortoli Sant’Ana , Lúcia Taia, Marcelo Medeiros, disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/article/viewArticle/727/787>. 3 ENTREVISTA Que se entende, pois, por entrevista? A entrevista é um ato, do qual devem participar no mínimo duas pessoas (entrevista individual) ou mais (entrevista coletiva), onde se busca compreender, identificar ou constatar uma determinada situação. Não se limita, entretanto, a compreender, identificar ou constatar tão somente. Poderá sim a entrevista ter outros fins, como é o caso, por exemplo, da entrevista de ajuda. De qualquer forma, o conceito anterior pode ser considerado básico e, embora algumas entrevistas possam ter maiores finalidades, todas devem necessariamente querer compreender, identificar ou constatar uma determinada situação, tratando-se, é claro, de entrevistas no Serviço Social. Para o Serviço Social, a entrevista é antes de tudo um espaço de escuta. Neste ato, o profissional do Serviço Social deve se colocar a ouvir o usuário, lembrando que ouvir é uma atividade ativa, e não passiva, como pensam muitos. Ativa no sentido de que não se trata apenas de receber as informações do usuário, mas, sim, concentrar-se nelas, refletir sobre elas, indagá-las. FONTE: Disponível em: <www.adj.org.br/site/internas. asp?area=9924&id=512>. Acesso em: 25 out. 2009. FIGURA 3 – ENTREVISTA TÓPICO 2 | RECONHECENDO A REALIDADE 73 Também deve o assistente social se colocar na posição de condutor da entrevista. Embora seja demasiadamente importante o assistente social saber ouvir o usuário, não se trata de ouvir qualquer coisa que o usuário queira dizer, não. O entrevistador deve estar atento para poder interromper quando as palavras do usuário não fazem sentido para o objetivo do trabalho do assistente social. Ressalta-se que é preciso ter muito cuidado com esta situação por dois motivos. Primeiro, o profissional deve distinguir bem, no momento da entrevista, o que é pertinente e o que não é pertinente para o objetivo do trabalho do Serviço Social, porque pode ele ou interromper o que era fundamental para os objetivos da entrevista ou não interromper o que não tinha nenhum sentido para os objetivos da entrevista, tornando-a muito longa e cansativa. Em segundo lugar, deve o profissional saber interromper o usuário, com delicadeza, elegância, astúcia, de tal modo que o usuário sinta-se conduzido e não interrompido, fundamentalmente porque pode este se sentir desinteressado para continuar a entrevista. A entrevista é o meio por excelência que integra o usuário e o profissional. É este o momento no qual o assistente social pode e deve estabelecer uma relação de confiança com o usuário de tal forma que este não esconda informações do profissional. Por isso mesmo, deve dar especial atenção à entrevista, fazendo-a com zelo, consciente dos objetivos. Conforme escreve Cláudia D. Giongo, citando Veloso e Silva, a entrevista precisa ir muito além de um mero ‘bate-papo’: Textos atuais como o de Veloso (1995) e Silva (1995), enfatizam o que não se configuraria como uma entrevista em Serviço Social, como que ao definir o que seja entrevista, recorrem à sua negação. Daí dizer que a entrevista não é um jogo de “pingue-pongue”, como um questionário de perguntas e respostas que inibem e empobrecem uma relação que se quer rica e competente. A entrevista precisa ir além de um mero “bate-papo”, ou de uma conversa informal entre duas ou mais pessoas, sem traçarem objetivos definidos. Ainda que ocorra busca de dados durante a entrevista, ela não se reduz a isso, e estes dados devem estar implicados no porquê e a quem serve esta entrevista, num processo que envolve e conclama a real participação do usuário, acompanhado de esclarecimentos e objetivos a serem traçados num processo interventivo, que pode vir a ser desencadeado. Não se pode esquecer que o objetivo de uma primeira entrevista pode ser o conhecimento da situação usuário para o prosseguimento do processo e construção interventiva que envolve posteriores entrevistas, ou pelo menos a possibilidadede ser deixada uma porta aberta para o usuário retornar em busca de auxílio profissional (GIONGO, 2003, p. 13). Diante deste texto de Cláudia D. Giongo, podemos compreender o quanto é importante a entrevista. Este é, pois, o momento em que o usuário estabelece relações de confiança com o profissional, bem como vê este como um possível auxílio para resolver o problema que lhe aflige. Para melhor compreender a natureza e o significado da entrevista como instrumento do Serviço Social, observe as classificações a seguir: UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 74 a) Quanto ao modelo: • estruturada: busca a coleta de dados do tipo quantitativo. O entrevistar não pode alterar o conteúdo dos questionamentos preestabelecidos. Exemplo clássico é da entrevista socioeconômica; • não estruturada ou aberta: é uma entrevista qualitativa, oferecendo flexibilidade ao entrevistador em relação ao conteúdo. Possibilita a conscientização, capacitação, orientação, informação, participação, valorização da autoestima do usuário. Um exemplo deste tipo de entrevista é a reflexiva; • entrevista dialogada: é fundamental, na entrevista dialogada, que tanto o usuário quanto o profissional se coloquem em posições iguais, de tal forma que entrevistado e entrevistador sejam agentes deste processo e ambos o desenvolvam. b) Quanto ao tipo de entrevista: • entrevista de triagem: este tipo de entrevista serve para verificar determinados critérios em relação às condições do usuário (econômica, social, cultural, empregatícia, alimentar etc.) para que o mesmo seja inserido em algum tipo de atividade ou programa; • entrevista de avaliação socioeconômica: também utilizada para participação em programas sociais, de empresas ou em plantões sociais. Serve para qualificar o usuário economicamente em relação às classes sociais (baixa inferior, baixa superior, média inferior, média, média superior e classe alta, conforme escala social de Graffar); • entrevista de ajuda: a entrevista de ajuda pressupõe que o usuário sente a necessidade de resolver uma situação social determinada e, nesse sentido, a entrevista de ajuda busca capacitar o usuário ao enfrentamento do problema. Estas são as classificações encontradas na literatura do Serviço Social. Evidentemente que uma entrevista pode assumir, simultaneamente, uma característica ou outra, como é o caso da entrevista de triagem, que funciona também como entrevista de avaliação socioeconômica. As entrevistas em Serviço Social devem constituir um ato estruturadamente pensado, do começo ao fim, buscando, pois, alcançar a maior efetividade possível ao trabalho do assistente social. Nesse sentido, é preciso ter o domínio e o controle da entrevista, desde seu início até o encerramento, de tal forma que o profissional consiga maximizar a equação tempo e objetivos. Só assim é possível uma razoável utilização do tempo da entrevista, que não pode ser curta nem longa, e essa relação só é possível determinar depois de desvelado qual o problema a ser enfrentado. Notadamente, a entrevista se divide em três fases, a saber: o acolhimento, o desenvolvimento e o encerramento. TÓPICO 2 | RECONHECENDO A REALIDADE 75 A etapa da entrevista chamada de acolhimento é a etapa inicial, o primeiro momento, onde há uma primeira aproximação. Neste momento o profissional deve se preocupar em conhecer o usuário, e tão somente o usuário, desconsiderando, pois, o problema que traz o usuário ali ou o que leva o profissional ao usuário. É durante o acolhimento que o profissional cumprimenta firmemente o usuário e inicia o diálogo. Sempre que possível, deve o profissional iniciar a conversa falando de qualquer outro assunto que possivelmente despertará algum interesse do usuário. Futebol, novela, tempo. Sempre que possível porque, em alguns casos, o usuário está tão aflito que não consegue pensar em outra coisa senão o problema que o levou ao profissional ou que trouxe o profissional até ele. Passada esta fase de acolhimento, é preciso começar a desenvolver a entrevista propriamente dita. Esta fase inicia-se com o questionamento acerca do problema que motivou o encontro entre usuário e profissional. No desenvolvimento deve o profissional desvelar não só o problema, mas também em qual contexto ele se desenvolveu. Para o melhor desenrolar da entrevista, pode o entrevistador se valer dos seguintes quesitos norteadores: • exploração: aprofundar-se nos diversos aspectos da vida do usuário, inclusive aspectos de foro íntimo, como gostar ou não de alguém, desejar ou repudiar etc.; • questionamento: é sempre utilizado pelo entrevistador como principal ferramenta que possibilita a orientação da entrevista. Normalmente quando a entrevista está perdendo o sentido em relação ao trabalho que deve ser feito, o entrevistador questiona acerca de algo que é bastante fecundo para o trabalho o que, evidentemente, trará novamente a entrevista para o rumo desejado; • acareação das ideias contraditórias: sempre que o entrevistador notar que existem ideias que, de alguma forma, se contradizem, deve ele demonstrar a contradição e pedir que o usuário se manifeste; • socialização de conhecimento: sempre que o profissional perceber que o usuário se questiona acerca de conhecimentos que o profissional tem, deve este socializar este conhecimento, esclarecendo para o usuário suas dúvidas; • reflexão: reconhecer uma questão dentro do contexto e concentrar-se enfaticamente nela, possibilitando, assim, uma ação pensada; • silêncio: é bem-vindo na entrevista em duas ocasiões. Primeiro, quando o usuário precisa de alguns instantes para associar, internalizar, repensar etc. as ideias, sugestões, possibilidades etc. ocorridas na entrevista. Em segundo lugar, é preciso silêncio após as ocasiões em que o usuário se emociona – o que ocorre não raras vezes – tendo, pois, tempo para recompor seus sentimentos; UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 76 • reexposição: trata-se de parafrasear o que foi dito, tanto pelo usuário como pelo profissional. A reexposição possibilita uma outra forma de compreender o que até então não havia sido. A partir destes instrumentos, pode o profissional do Serviço Social conduzir bem uma entrevista, seja ela individual ou coletiva. Após o desenvolvimento da entrevista, o assistente social deve preocupar- se com o encerramento. É salutar que nesta fase o profissional recapitule brevemente o que foi discutido e se alguma providência foi sugerida. Caso, na fase de encerramento da entrevista, o usuário aborde algum assunto que é pertinente, mas não há mais tempo para discuti-lo, deve o entrevistador deixar claro que o assunto é importante e que será retomado apenas na próxima entrevista. É sempre preciso que o entrevistador, durante toda a entrevista e em todas elas, tome muito cuidado com a orientação da entrevista. Isso porque só tem legitimidade ética na entrevista os assuntos de interesse no problema e não as curiosidades pessoais do entrevistador. Nesse sentido, a entrevista nunca pode ser tomada como um instrumento de satisfação dos interesses pessoais do entrevistador, o que, evidentemente, tornaria a entrevista ilegítima, desvirtuando os reais objetivos da entrevista e também da própria profissão. DICAS Para um aprofundamento do instrumento técnico da entrevista, sugerimos que você leia o artigo seguinte: LEWGOY, Alzira Maria Baptista; SILVEIRA, Esalba Carvalho. A entrevista nos processos de trabalho do assistente social. Revista Virtual Textos & Contextos, n. 8, dez. 2007. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/2315/3245>. Acesso em: 17 out. 2009. 77 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou: Visita domiciliar Trata-se do assistente social ir até a residência do usuário, com um objetivo predeterminado, motivado, com horário e data ajustados com o usuário. Entrevista É o ato pelo qual duas ou mais pessoas procuramcompreender, identificar ou constatar uma determinada situação. Quesitos norteadores das entrevistas Reexposição, silêncio, reflexão, socialização de conhecimento, acareação das ideias contraditórias, questionamento e exploração. 78 Caro(a) acadêmico(a), após a leitura deste tópico, desenvolva a atividade a seguir para aumentar sua compreensão sobre os temas apresentados. 1 Segundo Mioto, quais são os objetivos da visita domiciliar? 2 Descreva os diferentes tipos de entrevistas. 3 Acompanhe, em duplas, a visita domiciliar de um assistente social e faça um breve relatório dos aspectos destacados desta atividade. AUTOATIVIDADE 79 TÓPICO 3 A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO 2 RELATÓRIO No Serviço Social, tudo que foi e é pesquisado deve ser apresentado em forma de dados, pois a informação sem ser traduzida de nada adianta, não passa de um emaranhado de informações sem nexo. Para solucionar tal questão, faz-se necessária a realização de relatórios, que representam a transcrição dos dados e informações da realidade e do contexto social para o papel. Este documento – o relatório – é o responsável pelas análises sociais desenvolvidas em pesquisas, projetos, reuniões, assembleias, entrevistas, visitas domiciliares, encaminhamentos etc. E os dados do relatório, quando são transcritos, possuem muita relevância, pois apresentam as informações decodificadas e organizadas, de forma a serem compreendidas e passíveis de análise. Serão a seguir mais aprofundados os conhecimentos acerca do relatório, assim como de alguns mecanismos que auxiliam na efetividade e na socialização em grupo, além de uma explanação sobre reuniões e seus procedimentos. O relatório é o documento produzido pelo profissional do Serviço Social, no qual constarão todos os aspectos relevantes de um determinado ato praticado por este profissional. Os atos que são passíveis de relatórios são os mais diversos, como, por exemplo, visitas domiciliares, entrevistas, observações etc. Passa-se a tratar agora especificamente do relatório da visita domiciliar e tudo o que for dito sobre este relatório cabe também para os outros atos do assistente social. O relatório da visita domiciliar é o documento onde são registrados os aspectos relevantes da abordagem domiciliar feita pelo profissional do Serviço Social. Neste relatório devem estar presentes os elementos que possibilitem uma interpretação do contexto do usuário, tanto por aquele profissional que visitou o domicílio do usuário ou por qualquer outro profissional que necessite 80 UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL daquele conhecimento, inclusive de outras áreas, como Promotores de Justiça, Juízes de Direito etc. Para alcançar este objetivo – qual seja, proporcionar uma interpretação do contexto do usuário –, é necessário que o relatório contenha os seguintes elementos: • um resumo dos acontecimentos, ordenados cronologicamente; • uma breve descrição de cada membro; • a família como grupo, as pautas da interação e a conduta nos papéis; • o ambiente de vizinhança, físico e humano; • o resultado prático, face ao objetivo da entrevista. Presentes todos esses elementos no relatório, possível será a interpretação do contexto do usuário que recebeu uma visita domiciliar do profissional do Serviço Social, de tal forma que esta interpretação será possível pelo mesmo profissional que efetuou a visita assim como por outro profissional, de outra área, inclusive. 3 DINÂMICAS DE GRUPO E VIVÊNCIAS As dinâmicas de grupo servem ao Serviço Social como ferramentas de aproximação, exploração dos potenciais, desenvolvimento de habilidades, capacitação, reflexão, entre muitas outras possibilidades. Configuram-se, como práticas catalisadoras das qualidades, potencialidades, dificuldades e conflitos dos grupos. De acordo com Schmitt et al. (1999, p. 29-30): Um dos melhores meios para uma pessoa se desenvolver, aprender coisas novas e perder a vergonha de falar, é participar de um grupo e de suas atividades. Nestes grupos, uma das formas de ajudar as pessoas a expor suas ideias é usando dinâmicas, que são instrumentos para facilitar a comunicação e a interação do grupo. [...] A dinâmica provoca abertura no relacionamento entre o EU e o OUTRO, isto é, facilita a vivência no grupo, no sentido de percebermos as diferenças de cada um. É necessário percebermos que cada pessoa pensa, sente e age de diferentes maneiras e de formas diversas, em relação a uma mesma situação. Perceber essas diferenças facilita a superação de alguns problemas que existem na vida comunitária. Ainda de acordo, com Schmitt et al. (1999, p. 30), as dinâmicas possuem algumas finalidades: TÓPICO 3 | A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 81 • [...] dão abertura para a comunicação: muitas pessoas são inibidas e temem falar por se sentirem inseguras. A dinâmica serve para derrubar essas barreiras que impedem a comunicação. Também ajuda na eliminação de preconceitos e desconfianças; • despertam a solidariedade, colaboração e ajuda mútua: trata-se de libertar-se do individualismo, vencer o egoísmo e organizar-se de forma coletiva, comprometendo-se com a realidade de todos; • possibilitam conhecer-se e assumir-se a si mesmo: com as dinâmicas percebemos nossas limitações, dificuldades e medos e vamos, aos poucos, superando essas dificuldades; • desenvolvem a maturidade no grupo: as dinâmicas provocam abertura, sinceridade, confiança, colaboração e compromisso, fazendo com que o grupo cresça; • dinamizam o grupo, isto é, as dinâmicas facilitam o trabalho em equipe, o crescimento individual e coletivo, melhoram a percepção da realidade grupal e social, provocando participação e mudanças. Diante das possibilidades e do potencial que as dinâmicas de grupo encerram, elas servem ao Serviço Social como excelentes ferramentas para execução de seu ofício, ressalvando o fato de que sua variedade e complexidade deve ser muito bem compreendida pelo(a) profissional do Serviço Social. O domínio pleno das técnicas é fundamental para se alcançar o resultado esperado, o insucesso ou até a superação das expectativas. 4 ENCAMINHAMENTO A prática do encaminhamento se dá como resultado das ações antecedentes de análise situacional no contexto do indivíduo ou grupo e objetiva a eficácia social com a resolução do problema identificado, ou de parte dele, visto que podem ser necessárias outras ações para resolução e equalização dos problemas levantados. Em geral as ações com foco no coletivo se sobrepõem às ações com foco no contexto individual. O encaminhamento não se caracteriza propriamente como ação principal, mas como ação acessória que estabelece uma ponte entre duas ou mais ações orientadas no sentido da resolução de um problema identificado no contexto do grupo. O encaminhamento pressupõe condições ao grupo, coleta de dados, cadastramento e identificação clara dos problemas ou necessidades do grupo, cabendo aos operadores do Serviço Social o desenvolvimento dessas atividades. A seguir veremos um exemplo negativo de encaminhamento que conflita com o código de ética do Serviço Social. Em setores de Perícia Médica dos Institutos de Previdência, o maior objetivo é obter o menor número de pessoas afastado acima de quinze dias, desta forma o segurado contribui sempre e só receberá o benefício na aposentadoria. Na visão administrativa não são vistos os motivos que levaram a pessoa à doença, a falta de médicos especialistas e de exames, por exemplo; vê-se somente que a pessoa deve estar trabalhando. 82 UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL Nesta situação o assistente social tem o papel fundamental de encaminhar os usuários para os programas adequadosde saúde e envolvê-los em programas de alimentação, atividades físicas de qualidade de vida e outros mais, além de fazer, se necessário, o enfrentamento na direção da equidade e da justiça social. 5 REUNIÕES São encontros realizados por duas ou mais pessoas, onde se discutem e se encaminham questões relativas a um determinado objeto. No caso das reuniões relativas ao Serviço Social, este objeto vai ser sempre social. Segundo Souza (1991, p. 188), “[...] a reunião é instrumento coletivo de reflexão sobre as necessidades, preocupações e interesses comunitários, assim como de organização e ação.” De acordo com Schmitt et al. (1999, p. 35), a reunião é “[...] um encontro de pessoas que têm como objetivo discutir e propor soluções para uma ou várias situações”. Todos nós fazemos reuniões, como, por exemplo: as associações de moradores, as APPs das escolas, os clubes em geral, os grupos de idosos, as pastorais, as empresas etc. No planejamento de uma reunião é interessante fazer um check list de tudo que é necessário para a realização da reunião: data, local, horário, material de apoio (canetas, cartolina, pincel atômico, disposição das cadeiras, programação da reunião, lista de presença, avaliação). Para que uma reunião possa acontecer, devem-se levar em consideração alguns procedimentos. Conforme Schmitt et al. (1999, p. 35-36), entre estes procedimentos destacamos: A) preparação antecipada do local onde será realizada a reunião (sala, auditório, campo); B) organização e preparação do material necessário (cartazes, vídeo, panfletos, transparências, papéis diversos, enfim, o que se fizer necessário); C) preparação de um ambiente agradável pelo coordenador da reunião; D) recomenda-se, quando o grupo não se conhece, iniciar com a apresentação das pessoas, ou dos novos participantes e dos visitantes, quando for o caso. Para isso podemos utilizar dinâmicas variadas. O papel do assistente social durante a reunião é de coordenar a reunião, focar no objetivo, controlar o tempo, proporcionar a participação dos participantes, motivar a discussão, proporcionar a socialização e as análises. TÓPICO 3 | A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 83 FONTE: Disponível em: <http//populo.weblog.com.pt/arquivo/reuniao.gif>. Acesso em: 25 out. 2009. FIGURA 4 – REUNIÃO A avaliação da reunião é necessária para verificar se as metas e objetivos foram alcançados, além de obter fundamentos para preparar a próxima reunião. É importante avaliar a participação individual de cada um, duração da reunião, se existe troca entre os participantes. Ainda de acordo com Schmitt et al. (1999, p. 36): [...] a reunião poderá ter vários aspectos e características. Isto é, dependendo do motivo por que nos reunimos, ela poderá ser simplesmente de integração entre os indivíduos do grupo, ou para estudos de um determinado assunto, como, por exemplo, discutir as reivindicações da comunidade e os procedimentos necessários para encaminhá-las; ou discussão de uma polêmica que estamos vivendo que influencia a vida da comunidade e da sociedade. Mas, como se planeja uma reunião? De acordo com Souza (1991, p. 188), enquanto instrumento técnico, a reunião supõe algumas condições: [...] 1. que tenha objetivos claros; 2. que se adote agenda sugestiva; 3. que seja oportuna; 4. que se adote uma coordenação democrática e participativa. De acordo com Schmitt et al. (1999, p. 37), para que uma reunião aconteça de forma participativa e alcance os objetivos propostos, enumeramos algumas dicas: 84 UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL • planejar a reunião com antecedência, elaborando uma pauta, e, se possível, informando-a no convite para as pessoas; • ler a ata da reunião anterior, lembrando o que aconteceu e o que foi deliberado [para os casos em que já houve reuniões anteriores]; • estipular um tempo para a reunião, de acordo com a disponiblidade dos integrantes. É importante estipular um tempo de fala para cada um, de modo que todos tenham oportunidade de falar; • subdividir o grupo, para incentivar e estimular a participação de todos nas tarefas concretas. Isto pode servir para dinamizar o grupo; • avaliar a reunião; • utilizar-se, sempre que possível, de dinâmicas, dependendo do assunto a ser tratado. Em síntese, a utilização desta técnica e seu sucesso dependem, além de todos os elementos sugeridos anteriormente, da escolha da técnica mais adequada para se alcançar os objetivos propostos, da definição clara desses objetivos e fundamentalmente de uma coordenação democrática, que permita e estimule a participação efetiva de todos os envolvidos. Lembre que objetivos claros, agenda sugestiva, que seja oportuna e coordenação democrática e participativa são elementos fundamentais para o sucesso da técnica reunião. E ainda, não basta decidir junto, é preciso, sim, o comprometimento de todos no processo de tomada de decisão, ou seja, participar ativamente. ATENCAO 6 ASSEMBLEIAS Trata-se de uma reunião qualificada pela possibilidade de deliberação. É através de uma assembleia que um grupo de pessoas legitima uma decisão que se torna um encaminhamento (é o caso, por exemplo, de assembleias sindicais que decidem pela greve). Mas, o que é uma assembleia? De acordo com Schmitt et al. (1999, p. 39): Uma assembleia é uma grande reunião aberta a todos os cidadãos. Normalmente é realizada quando uma comunidade quer discutir alguma questão específica, como, por exemplo, decidir sobre a construção de um posto de saúde ou, ainda, para uma prestação de contas. As assembleias também são usadas para que um determinado grupo comunitário possa ouvir a opinião da população em geral, permitindo que ela própria tome a decisão sobre questões que lhe dizem respeito. TÓPICO 3 | A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 85 FONTE: Disponível em: <http://agal-gz.org/blogues/index.php/ gent/2008/09/08/assembleia-geral-sabado-dia-13>. Acesso em: 25 out. 2009. FIGURA 5 – ASSEMBLEIA A importância da assembleia consiste em manter um segmento da população informado e envolvido na decisão. É o caso, por exemplo, do início de um Congresso Nacional de Serviço Social em que se reúnem os participantes em assembleia para aprovar a pauta da reunião. O papel do assistente social ou do organizador de uma assembleia é organizá-la. Para organizar uma assembleia, é interessante fazer um check list de tudo que é necessário para a realização da assembleia: data, local, horário, programação, divulgação, material de apoio (canetas, cartolina, pincel atômico); organização da mesa diretora (coordenar os trabalhos, apresentar o material para o grupo, receber os questionamentos, propostas, encaminhar a votação e anotar as alterações). Aspectos que podem dificultar a eficiência da assembleia: • quando não ocorre a troca entre os membros da mesa e o público-alvo; • quando os membros da mesa desprezam as informações e questionamentos da plateia; • quando os membros da mesa induzem as propostas e resultados; • quando os participantes da plateia não participam com questionamentos. Aspectos que podem facilitar a eficiência da assembleia: • distribuição de folhas na plateia para encaminhar os questionamentos; • equipe de apoio na plateia, com microfone, lanterna, folhas para perguntas e canetas; • esclarecer no início o procedimento dos trabalhos, início e término das atividades, forma de encaminhar as perguntas. 86 UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL DINÂMICAS Equipe da Casa da Juventude Pe. Burnier Introdução Dinâmicas de Grupo As dinâmicas são instrumentos, ferramentas que estão dentro de um processo de formação e organização, que possibilitam a criação e recriação do conhecimento. Para que servem: - Para levantar a prática:o que pensam as pessoas, o que sentem, o que vivem e sofrem. - Para desenvolver um caminho de teorização sobre esta prática como processo sistemático, ordenado e progressivo. - Para retornar à prática, transformá-la, redimensioná-la. - Para incluir novos elementos que permitem explicar e entender os processos vividos. As técnicas participativas geram um processo de aprendizagem libertador porque permitem: 1. Desenvolver um processo coletivo de discussão e reflexão. 2. Ampliar o conhecimento individual, coletivo, enriquecendo seu potencial e conhecimento. 3. Possibilitar criação, formação, transformação e conhecimento, onde os participantes são sujeitos de sua elaboração e execução. Uma técnica por si mesma não é formativa, nem tem um caráter pedagógico. Para que uma técnica sirva como ferramenta educativa libertadora deve ser utilizada em função de temas específicos, com objetivos concretos e aplicados de acordo com os participantes com os quais esteja trabalhando. Os elementos de uma dinâmica Objetivos: Quem vai aplicar a dinâmica deve ter claro o que se quer alcançar. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 | A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 87 Materiais-recursos: Que ajudem na execução e na aplicação da dinâmica (TV, vídeo, som, papel, tinta, mapas...). Outros recursos, que podem ser utilizados em grupos grandes, são o retroprojetor, exposições dialogadas, além de técnicas de teatro, tarjetas e cartazes. Ambiente-clima: O local deve ser preparado de acordo, para que possibilite a aplicação da dinâmica (amplo, fechado, escuro, claro, forrado, coberto...), onde as pessoas consigam entrar no que está sendo proposto. Tempo determinado: Deve ter um tempo aproximado, com início, meio e fim. Passos: Deve-se ter clareza dos momentos necessários, para o seu desenvolvimento, que permitam chegar ao final de maneira gradual e clara. Número de participantes: Ajudará a ter uma previsão do material e do tempo para o desenvolvimento da dinâmica. Perguntas e conclusões: Que permita resgatar a experiência, avaliando: o que foi visto; os sentimentos; o que aprendeu. O momento da síntese final, dos encaminhamentos, permite atitudes avaliativas e de encaminhamentos. Técnica quebra-gelo - Ajuda a tirar as tensões do grupo, desinibindo as pessoas para o encontro. - Pode ser uma brincadeira onde as pessoas se movimentam e se descontraem. - Resgata e trabalha as experiências de criança. - São recursos que quebram a seriedade do grupo e aproximam as pessoas. Técnica de apresentação - Ajuda a apresentação de uns aos outros, possibilitando descobrir: quem sou, de onde venho, o que faço, como e onde vivo, o que gosto, sonho, sinto e penso... Sem máscaras e subterfúgios, mas com autenticidade e sem violentar a vontade das pessoas. - Exige diálogo verdadeiro, onde partilho o que posso e quero ao novo grupo. - São as primeiras informações da minha pessoa. - Precisa ser desenvolvida num clima de confiança e descontração. - O momento para a apresentação, motivação e integração. É aconselhável que sejam utilizadas dinâmicas rápidas, de curta duração. Técnica de integração - Permite analisar o comportamento pessoal e grupal, a partir de exercícios bem específicos, que possibilitam partilhar aspectos mais profundos das relações interpessoais do grupo. - Trabalha a interação, comunicação, encontros e desencontros do grupo. 88 UNIDADE 2 | INSTRUMENTOS TEÓRICOS OPERATIVOS DO SERVIÇO SOCIAL - Ajuda a sermos vistos pelos outros na interação grupal e como nos vemos a nós mesmos. O diálogo profundo no lugar da indiferença, discriminação, desprezo, vividos pelos participantes em suas relações. - Os exercícios interpelam as pessoas a pensar suas atitudes e seu ser em relação. Técnicas de animação e relaxamento - Têm como objetivo eliminar as tensões, soltar o corpo, voltar-se para si e dar-se conta da situação em que se encontra, focalizando cansaço, ansiedade, fadigas etc., elaborando tudo isso para um encontro mais ativo e produtivo. - Estas técnicas facilitam um encontro entre pessoas que se conhecem pouco e quando o clima grupal é muito frio e impessoal. - Devem ser usadas quando necessitam romper o ambiente frio e impessoal ou quando se está cansado e é necessário retomar uma atividade, não para preencher algum vazio no encontro ou tempo que sobra. Técnica de capacitação - Deve ser usada para trabalhar com pessoas que já possuem alguma prática de animação grupal. - Possibilita a revisão, a comunicação e a percepção do que fazem os destinatários, a realidade que os rodeia. - Amplia a capacidade de escutar e observar. - Facilita e clareia as atitudes dos animadores para que orientem melhor seu trabalho grupal, de forma mais clara e livre com os grupos. - Quando é proposto o tema/conteúdo principal da atividade, devem ser utilizadas dinâmicas que facilitem a reflexão e o aprofundamento; são, geralmente, mais demoradas. Litúrgicas - Possibilitam aos participantes uma vivência e uma experiência da mística, do sagrado. - Facilitam o diálogo com as leituras bíblicas, com os participantes e com Deus. - Ajudam a entrar no clima da verdadeira experiência e não somente a racionalização. Observação: Outros autores ou organizações usam outra nomenclatura para definir os tipos de dinâmicas. Por exemplo, no livro “Aprendendo a ser e a conviver”, de Margarida Serrão e Maria C. Boleeiro, Editora FTD, 1999, as técnicas são divididas em Identidade, Integração, Comunicação, Grupo, Sexualidade, Cidadania, Projeto de Vida e Jogos para formação de subgrupos. FONTE: Informativo Casa da Juventude Pe. Burnier, CAJU, Goiânia, GO. Artigo publicado na edição 313, fev. 2001, p. 20. Disponível em: <http://www.mundojovem. pucrs.br/subsidios- dinamicas-01.php>. Acesso em: 17 out. 2009. TÓPICO 3 | A TRANSCRIÇÃO DA REALIDADE (O RELATÓRIO)E AS PREOCUPAÇÕES RELACIONADAS À EFETIVIDADE (DINÂMICAS DE GRUPO, ENCAMINHAMENTO, REUNIÕES E ASSEMBLEIAS) 89 DICAS Para um aprofundamento do instrumento técnico da dinâmica de grupos, sugerimos a leitura das obras de Minicucci, em quatro volumes, e da obra de Yozo: MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de grupo: manual de técnicas. São Paulo: Atlas, 1974. YOZO, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para empresas, escolas e clínicas. 3. ed. São Paulo: Ágora, 1996. 90 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você estudou: Relatório Documento no qual o profissional do Serviço Social transcreve os aspectos mais relevantes de uma situação social. Dinâmica de grupos Técnicas de grupo em que se objetiva: integração, desinibição, relaxamento, capacitação, formação, criação e recriação do conhecimento etc. Encaminhamentos Técnica expressa na ação destinada a dar continuidade, sequência a um processo do Serviço Social. Reunião Encontros realizados por duas ou mais pessoas, objetivando discutir questões e encaminhar ações práticas. Assembleia Deliberação coletiva sobre alguma questão. 91 AUTOATIVIDADE Caro(a) acadêmico(a): após a leitura do Tópico 4, desenvolva a atividade a seguir, para aumentar sua compreensão dos temas apresentados. 1 Acompanhe uma reunião organizada por um assistente social e relate minuciosamente o procedimento e também os fatos mais relevantes. 2 Quais são os elementos que devem constar em um relatório de visita domiciliar? 92 93 UNIDADE 3 MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • oferecer elementos teóricos referentes aos métodos interventivos do assis- tente social; • identificar os diversos métodos de intervenção profissional do assistente social, tais como: a perícia e o estudo social; o parecer social e o laudo so- cial; e por fim o estudo socioeconômico; • compreender o significado e a importância da perícia e do estudo social, na atuação profissional do assistentesocial; • verificar como o parecer social e o laudo social são desenvolvidos na inter- venção profissional dos assistentes sociais; • compreender que o estudo socioeconômico é um instrumento de pesquisa, também utilizado pelo assistente social na sua prática interventiva. A Unidade 3 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas. TÓPICO 1 – A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL TÓPICO 2 – O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOECONÔMICO 94 95 TÓPICO 1 A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico serão abordados diferentes tipos de instrumentos utilizados pelo assistente social no decorrer de sua prática interventiva, sendo assim, no primeiro momento abordaremos os instrumentos Perícia Social e Estudo Social. Iniciaremos com a perícia social, conceituando-a e abordaremos os seus desdobramentos, quais sejam: estudo, parecer e laudo social, discorrendo sobre cada um para que você, acadêmico(a), possa ter clareza destes conceitos e de sua prática. 2 A PERÍCIA SOCIAL Perícia é uma análise detalhada de um determinado objeto, fato ou realidade. Existem, pois, diversas modalidades ou tipos de perícia. Pode-se, então, falar de perícia contábil (que analisa questões referentes a receitas e despesas de determinadas pessoas físicas ou jurídicas), a perícia médica (que analisa questões relacionadas à saúde física das pessoas), a perícia geológica, mecânica etc. Dentre os vários tipos de perícia, elenca-se também a perícia social. Acerca da perícia, escrevem Karine e Douglas Freitas: A perícia latu sensu é todo procedimento de averiguação de uma dada situação conflituosa, que necessita de um especialista para atuar na solução do problema respectivo de sua área. No sentido estrito, ou seja, a perícia social como ramo da perícia, é aquela responsável para dirimir as situações flagrantes ocorridas no seio familiar, envolvendo crianças e adolescentes. (FREITAS; FREITAS, 2003, p. 56). A etimologia da palavra perícia vem do latim peritia, que significa “conhecimento adquirido pela experiência”. A perícia social constitui-se, como dito antes, de um “processo pelo qual um especialista [...] realiza o exame de situações sociais que envolvam interesses de crianças e adolescentes, com a finalidade de emitir um parecer, buscando solução do caso periciado” (FREITAS; FREITAS, 2003, p. 55). O conceito de perícia social foi usado pelos autores para “crianças e adolescentes”, mas se aplica a todos os outros casos que demandem uma perícia social. Esta conceituação de perícia proposta por Freitas e Freitas apresenta os elementos fundamentais de tal instituto, quais sejam: • uma situação social; • tal situação é caracterizada por uma problemática; • a necessidade de resolver o problema; UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 96 • a aplicação dos conhecimentos técnicos do Serviço Social para esclarecer e propor a solução à situação. Fica claro que a finalidade da perícia social é conhecer melhor e propor soluções a determinadas situações sociais consideradas problemáticas. A problemática das situações pode ser de várias ordens, como familiar – muito comum – econômica etc. De acordo com Galvão, Costa e Marques (2009, p. 3) “a Perícia Social é entendida como um processo por meio do qual um especialista, no caso, o assistente social, realiza exame de situações sociais com a finalidade de emitir um parecer sobre as mesmas.” Considerando que a perícia social é tão amplamente utilizada nos ambientes judiciais que os especialistas do assunto dizem existir dois tipos de perícia social: a perícia social judicial e a perícia social extrajudicial. A diferença básica existente entre ambas reside na instituição para a qual e pela qual a perícia é realizada. A primeira é sempre feita pelo Poder Judiciário, o qual, em seus quadros de pessoal, geralmente tem a presença de um profissional do Serviço Social, chamado de assistente social forense. É o assistente social forense que realiza as perícias sociais judiciais. Outras instituições, entretanto, também podem ter em seus quadros o profissional do Serviço Social. É o caso, por exemplo, do Ministério Público, que cada vez mais contrata assistentes sociais para auxiliá-lo em seus deveres funcionais. Poderia citar aqui outros exemplos de perícia social extrajudicial, como aquelas realizadas por organizações não governamentais, hospitais etc. Nesta perspectiva, segundo Galvão, Costa e Marques (2009, p. 3): [...] no âmbito do MP [...] a perícia social tem a finalidade de conhecer, analisar e emitir pareceres sobre situações vistas como conflituosas ou problemáticas, visando assessorar os Promotores de Justiça em suas decisões, ou seja, instruir procedimentos em trâmite nas Promotorias de Justiça e nos Centros de Apoio Operacional. Como se depreende do conceito de perícia, esta tem um objetivo. No caso da perícia social o objetivo é esclarecer uma situação social. Evidentemente esta necessidade de esclarecer uma situação social não é à toa, está ligada a um motivo. O motivo pelo qual é necessário esclarecer uma situação social pode ter várias razões e, geralmente, está ligado a um problema judicial, comumente de família ou criminal. IMPORTANT E A PERÍCIA SOCIAL pode ser compreendida como área de trabalho especializada e atuação profissional do assistente social, em aspectos de preservação individual e social, na garantia e conquista dos direitos individuais, políticos e sociais e a busca constante da Justiça. TÓPICO 1 | A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL 97 O instrumento de ação Perícia Social é especificidade do Serviço Social, sendo que este poderá ser executado em um espaço sócio-ocupacional. No entanto, este instrumento acarretará uma ação ligada à Justiça que fará a intervenção em situações de violação de direitos. Então, se o profissional de Serviço Social atua junto ao setor educacional em uma escola e identifica uma situação de violência de um aluno, por exemplo, utilizará o instrumento Perícia Social para avaliar a situação e realizará o registro através do Estudo Social. Depois encaminha o fato para o Conselho Tutelar ou Promotoria da Infância e Juventude, órgãos que atuam amplamente na proteção da criança e do adolescente, cujos instrumentos contribuirão para a intervenção do poder judiciário nesta situação de violação de direitos. Leia agora um texto bastante informativo sobre o assunto. PERÍCIA SOCIAL: O ELO DE LIGAÇÃO ENTRE O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL E OS OPERADORES DO DIREITO NO JUIZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE. SILVA, Dadieza de Jesus da SILVA, Jaqueline Resende da PROSENEWICZ, Ivânia HEINECK, Dulce Teresinha O Poder Judiciário possui papel de destaque na sociedade como objeto mantenedor da harmonia nas relações sociais existentes. O Serviço Social no âmbito do judiciário encontra-se totalmente subordinado ao administrador do fórum na comarca [...]. Há mais de 16 anos que o Serviço Social atua no judiciário. Já no âmbito da Justiça da Infância o Serviço Social encontra-se desde 1940. Um dos principais instrumentos de trabalho utilizados pelos profissionais de Serviço Social é a perícia, atividade esta concernente a exame realizado por profissional especialista, legalmente habilitado, destinada a verificar ou esclarecer determinado fato. Sendo assim objetivou-se pesquisar os limites e De acordo com Galvão, Costa e Marques (2009, p. 4): Por meio do exercício da mediação, a Perícia em Serviço Social do MP/GO busca, a partir das demandas oriundas dos Centros de Apoio Operacionais, analisar os fatos sociais, caracterizados pela sua singularidade, relacionando-os com as leis tendenciais universais, que permitem compreendê-los, controlá-los e extrapolá-los para visões mais amplas e complexas do real. E é nessa relação entre o singular e o universal que se encontra a particularidade, que é, justamente, o campo das mediaçõesda intervenção profissional.(PONTES, 2000). Assim, fecha-se a tríade singularidade/universalidade/particularidade, que vai orientar a intervenção profissional, possibilitando que a mediação perpasse os eixos da perícia social e da articulação política aqui mencionados. (grifo no original). UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 98 possibilidades do profissional do Serviço Social na condição de Perito da Vara de Infância e Juventude no âmbito do Poder Judiciário. Optou-se pelo estudo de caso como método de procedimento e a coleta de dados pela fonte documental e bibliográfica; utilizou-se também a técnica da entrevista e observação, como método de análise, a dialética, que nos permite uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Cresce cada dia mais o número de crianças e adolescentes autores de atos infracionários, representantes do lar sem autonomia para com seus filhos, passam assim a existir crianças e adolescentes cada vez mais indisciplinados, irresponsáveis, delinquentes. A falta de pulso firme por parte dos pais não pode ser caracterizada como o fator principal que leva esses adolescentes a realizar atos ilegais. Estes cometem atos infracionais como uma forma de reagir contra os maus tratos familiares, miséria, pobreza, ausência dos genitores, condições de higiene e sobrevivência subumanas. A insignificância com que o Estado trata famílias carentes e a desorganização social também são fatores contribuintes para a crescente criminalidade infantojuvenil. Estes fatores fazem com que as famílias ou as autoridades tenham que tomar precauções ou decisões quanto à vida de adolescentes autores de atos infracionais, automaticamente elevando a demanda dos profissionais da área jurídica, especificamente os assistentes sociais. A perícia social remete ao profissional de Serviço Social o direito de analisar alguma situação em questão com base nos seus conhecimentos teóricos, éticos, técnicos, através da mesma podem emitir um laudo ou parecer social. A partir desse estudo percebe-se que a instituição pode vir a trabalhar de outra maneira, ou seja, que tudo o que lhes [sic] rodeia merece uma investigação profunda, ter visão do todo e fazer mediação entre a teoria e a realidade vivida por eles e se chegue a soluções adequadas dos problemas. FONTE: SILVA, Dadieza de Jesus da et al. Perícia social: o elo de ligação entre o profissional de serviço social e os operadores do direito no juizado da infância e juventude. Disponível em: <www.revista.ulbrajp.edu.br/seer/inicia/ojs/.../getdoc.php?id.>. Acesso em: 15 out. 2009. 1 Quais os requisitos básicos que deve conter uma perícia social? 2 Dirija-se até uma instituição que é servida por profissional do serviço social e peça para fazer a leitura de, pelo menos, duas perícias sociais, relatando brevemente os aspectos destacados. AUTOATIVIDADE TÓPICO 1 | A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL 99 3 O ESTUDO SOCIAL O instrumento estudo social é um procedimento metodológico de atribuição do profissional de Serviço Social que busca conhecer detalhadamente, e de forma crítica, demandas específicas ou expressões da questão social, levando em consideração na análise aspectos culturais, econômicos e sociais. Este instrumento refere-se ao estudo in loco que consiste em coletar dados, de acordo com cada situação, onde o profissional deverá elaborar um instrumental modelo específico. O estudo social é o momento em que o profissional do Serviço Social se coloca a pesquisar o problema a ser enfrentado. Esta pesquisa – estudo – pode ser feita de várias formas, dependendo, é claro, do tipo de problema. Comumente o estudo social é feito através de visitas domiciliares (forma mais comum), entrevistas, reuniões etc. É no estudo social que o profissional vai buscar compreender a situação social que deve ser analisada. Para a aplicação do instrumento estudo social, busca-se identificar, analisar e compreender as particularidades deste instrumental, pois este é competência e atribuição do assistente social, estabelecido na Lei de Regulamentação da Profissão e do Código de Ética Profissional. É de suma importância a avaliação dos procedimentos metodológicos utilizados pelo assistente social periodicamente, pois a elaboração deste instrumento pode influenciar a decisão final de um processo judicial, determinado pelo juiz ou pelo promotor. Este instrumento na sua aplicação passa por algumas etapas, conforme veremos a seguir: • elaboração de instrumental específico para a coleta dos dados, realizado pela assistente social; • análise dos dados e fundamentação teórica, que dará subsídios para as informações coletadas; • elaborar relatório ou opinião profissional sobre a situação trabalhada no momento. Nesta perspectiva, o assistente social busca atingir alguns objetivos como: • identificar as condições de vulnerabilidade social e econômica do indivíduo, conhecendo sua realidade e sua história de vida, apontando onde deve haver intervenção do poder judiciário; • conhecer e ressaltar se existe alguma situação de risco; UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 100 • aprofundar de forma crítica e fundamentada teoricamente e metodologicamente, uma determinada situação, fazendo com que a realidade investigada seja melhor analisada. Para o profissional de Serviço Social, que pode ou não estar inserido no campo de atuação do judiciário, tem que haver precisão nas suas informações e ações, pois os indivíduos estão sujeitos aos protagonismos da sociedade. Ressaltamos ainda que o instrumento estudo social teve mais legitimidade a partir da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, com a destituição do Código de Menores, permitindo que este instrumento fosse suporte para a aplicação de medidas judiciais e facilitador na análise dos processos. ANÁLISE/DESCRIÇÃO DA ELABORAÇÃO DO ESTUDO SOCIAL Elisabeth Francisca da Costa e outros O estudo social refere-se ao estudo in loco que consiste em coletar dados, a partir de um instrumental específico e definido pelo assistente social, para cada caso particular, e interpretar estes dados a partir de um referencial teórico, elaborando assim um posicionamento profissional sobre a situação. Dentro de uma visão de globalidade, visto ser a interpretação da situação, ele é construído através da realização de estudo dos documentos contidos nos autos do processo, entrevistas, visita domiciliar e, quando necessário, coleta de informes na comunidade na qual reside a parte autora ou réu. Segundo Regina Célia Tamaso Miotto: “O estudo social é o instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação, vivida por determinados sujeitos ou grupo de sujeitos sociais, sobre a qual fomos chamados a opinar”. (MIOTO, 2001). A visita domiciliar, como instrumental de busca de materialidade das relações sociais, assim como a coleta de informes na comunidade consiste na coleta de dados observados no próprio local de vida da família e propicia uma observação dinâmica do indivíduo na relação com seu meio social: padrões culturais (usos e costumes) e atendimento da necessidade básica de abrigo e segurança. Deverá seguir procedimentos científicos próprios, para facilitar a sua confecção e, após, a emissão de um parecer justo e centrado. Não existe “receita” ou “modelo” metodológico sobre o estudo social, nem precisa apontar quais são todos os dados que esse estudo precisa revelar sobre as pessoas envolvidas nas ações, mas, sim, pensar que é necessária uma atitude profissional que implique a busca de se conhecer de forma mais ampla e ter maior interação com o real que se apresenta no cotidiano da prática. Esse movimento poderá dar indicações sobre a forma e o conteúdo dos estudos e de seu registro. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | A PERÍCIA E O ESTUDO SOCIAL 101 Contemporaneamente, o estudo social apresenta-se como suporte fundamental para a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Não deve ser elaborado com base emquestões preestabelecidas, por exemplo, em roteiro ou formulário, mas, sim, em diretrizes que permitam levar em conta as semelhanças e diferenças de cada situação. É composto por um conjunto de informações sobre os sujeitos e os acontecimentos nos quais estão envolvidos, acontecimentos que culminam na situação pesquisada, com ações que se processam no âmbito da Justiça. O assistente social, nessa área de intervenção, trabalha com técnicas de história de vida. Uma história que contemple a origem dos sujeitos, sua trajetória e suas condições no presente, destacando-se seu processo de socialização, o âmbito de suas relações familiares (vínculos com o núcleo original ou a família extensa, existência de laços a serem resgatados, relacionamento com a criança/ adolescente envolvida na ação), relações de vizinhança, inserção em grupos sociais, formação educacional e profissional, inserção nas relações de trabalho (formal e informal), nível de renda, meio ambiente, situação de moradia, situação de saúde, vínculo com seguridade social, dependência e inserção (ou não) na rede de atendimento social, o que desencadeou a situação vivida (objeto da ação judicial), como vê ou qual o significado que atribui a esta questão, como a vivência, suas pretensões, interesses e condições para lidar com ela, quais seus sonhos, desejos, ou projetos de vida. Enfim, uma história que explore a complexidade da vida dos sujeitos, tendo claro que muitas vezes é com base nessas informações que a decisão judicial é tomada. Pizzol (2003) ressalta que “o estudo social é totalmente adequado para demonstrar toda situação que demande acompanhamento e cujas informações sejam importantes em qualquer tipo de processo”. Também se considera que: “Este tipo de trabalho, realizado em processos judiciais, funciona como documento a ser apreciado pelas partes, pelo promotor de justiça e, principalmente, pela autoridade judiciária”. (PIZZOL, 2003). É importante lembrar que o estudo/intervenção profissional do assistente social não se apresenta como suficiente para o conhecimento global dos sujeitos. É preciso não ignorar a ausência do Estado na proposta e na implementação de políticas e programas sociais o que, geralmente, dificulta, sobrecarrega e limita o cotidiano de trabalho nessas áreas. FONTE: COSTA, Elisabeth Francisca da et al. Análise/descrição da elaboração do estudo social. Disponível em: <http://www.tjpe.gov.br/SERVSOCJEC/TEXTOS/ARQUIVOS/AN% C1LISE- DESCRI%C7%C3O%20ESTUDO%20SOCIAL-%20MONO%20ELIZABETH.DOC>. Acesso em: 16 out. 2009. UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 102 DICAS O aperfeiçoamento do Estudo Social que fundamenta Perícias, Pareceres e Laudos Técnicos tem sido preocupação frequente dos(as) assistentes sociais que trabalham no Poder Judiciário, na Previdência Social e no Sistema Penitenciário. Sensível a essa demanda, o CFESS, em parceria com a Cortez Editora, traz ao público a contribuição de experientes profissionais dessas áreas de atuação. 103 Neste tópico, você estudou que: • Perícia social, segundo Freitas, é “[...] processo pelo qual um especialista realiza o exame de situações sociais que envolvam interesses de crianças e adolescentes, com a finalidade de emitir um parecer, buscando solução do caso periciado”. (FREITAS, 2003, p. 47). • A perícia social está dividida em três partes: estudo social, parecer social e laudo social (este será visto a seguir, no tópico 2). • O instrumento perícia social e estudo social é especificidade do Serviço Social, que pode ser utilizado não somente na área jurídica. • O estudo social busca conhecer detalhadamente e de forma crítica demandas específicas ou expressões da questão social, levando em consideração na análise aspectos culturais, econômicos e sociais. • O estudo social teve ampliação com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente. RESUMO DO TÓPICO 1 104 AUTOATIVIDADE 1 Escreva um texto sobre os instrumentos perícia social e estudo social, estudados neste tópico, fazendo uma comparação entre os dois e apontando suas diferenças. 105 TÓPICO 2 O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO 2 PARECER SOCIAL A prática do assistente social precisa ser constantemente repensada, exigindo uma postura crítica do profissional e argumentações frente aos desafios e limites da profissão. Para isso, temos que ter clareza dos instrumentos da ação profissional. Neste tópico pretendemos pontuar os instrumentos Parecer Social e Laudo Social, conceituando-os e apontando a importância no fazer cotidiano do profissional. O parecer social é uma segunda etapa na qual o assistente social propõe a solução do problema enfrentado. Observe que o parecer social, nesse sentido, é comprometido com um resultado, qual seja, resolver um problema. É por isso que no parecer social deve o profissional demonstrar, de acordo com o caso concreto e fundado em base teórica, qual a melhor solução possível do caso. O parecer social é um instrumento que possibilita ao assistente social organizar as informações como um relatório. Porém é uma avaliação teórica e técnica realizada pelo profissional, em que este também emite opinião e sugere encaminhamentos sobre as informações existentes. O parecer social diferencia-se do relatório por apresentar profunda análise dos fatos, não somente a sua descrição. Então, este instrumento é a conclusão de uma determinada ação realizada pelo profissional. Com este instrumental, o assistente social terá condições de apontar percepções sobre possíveis causas ou consequências da situação. Também constam, no parecer social, sugestões de ampliação ou melhoria das ações a serem desenvolvidas junto à situação. Estas ações poderão ser desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social ou por outros profissionais técnicos ou membros de equipes multiprofissionais. De acordo com o MPAS (1995, p. 17), o parecer social é entendido como a “[...] opinião profissional do assistente social, com base na observação e estudo de uma dada situação, fornecendo elementos para a concessão de um benefício, 106 UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL recurso material e decisão médico-pericial”. Ou seja, o assistente social possui por competência realizar e conceder um parecer social. Depois de escolhido um instrumento, observada e estudada uma determinada situação, elaborará um diagnóstico, ou um parecer social sobre aquela determinada realidade. Para tanto, segundo o MPAS (1995, p. 18) o parecer social: [...] poderá valer-se de entrevistas e/ou visitas domiciliares. A visita domiciliar deve ser utilizada para o aprofundamento ou complementação de dados, com vistas à instrumentalização do parecer social, não podendo se constituir num instrumento de comprovação de informações prestadas pelo usuário. Ainda segundo o MPAS (1995, p. 18), os elementos básicos constitutivos do Parecer Social são: [...] a) dependência econômica - entendida pela existência de um vínculo parcial/ total com outrem se revela numa relação de dependência, geralmente pelo baixo padrão salarial da população brasileira, obrigando as famílias ou agrupamento de pessoas a proverem suas necessidades mínimas básicas de forma coletiva; b) satisfação das necessidades básicas X pobreza - as necessidades básicas são aquelas indispensáveis à manutenção digna de vida, ou seja, materiais, psicológicas e culturais, determinadas historicamente em cada sociedade, de acordo com o grau de satisfação de cada grupo social. A pobreza, então, se define pela ausência ou precariedade no cumprimento dessas necessidades. A aferição destes elementos implica a análise da renda sob múltiplos aspectos: a) regularidade de inserção do indivíduo no mercado de trabalho ou a substituição por um benefício temporário ou permanente; b) posição do indivíduo no grupo familiar, a partir da interdependência do vínculo econômico-social; c) capacidade que possa ter o usuário no suprimento das necessidadesbásicas de bens e serviços. Isto significa que ela deve se relacionar com as condições e localização de custos de moradia, condições de saúde dos indivíduos, da disponibilidade de certos bens e serviços, alimentação, educação, lazer, transporte e outros. c) implicações sociais da doença - as causas e agravamento de muitos quadros nosológicos guardam estreita relação com as condições de vida e trabalho. A identificação das mesmas pode ser importante para subsidiar a decisão médico-pericial nas seguintes situações: a) usuários portadores de patologia cuja origem e evolução tenham agravantes/determinantes sociais; b) usuários em fase de exames médico-periciais de revisão analítica bem como em outras situações necessárias; c) usuários com intercorrência social significativa identificada pelo assistente social. TÓPICO 2 | O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL 107 E estes elementos básicos do parecer social, por sua vez, demonstram que neste documento deve haver um cuidado especial com a análise do caráter econômico da população envolvida, além de permear as necessidades básicas, a pobreza do público usuário e suas implicações sociais e de saúde. O MPAS (1995, p. 18) expõe ainda que: [...] o parecer social deve ser conclusivo quanto à opinião do profissional sobre a situação analisada: dependência, situação econômico-social e implicação social da doença. A definição da concessão do benefício ou da incapacidade laborativa é de competência exclusiva dos setores responsáveis pelas respectivas linhas. Complementando, o MPAS (1995, p. 18) coloca-nos que “[...] o relato do estudo social deve constar sigilosamente em prontuários do Serviço Social, devendo o parecer social emitido aos setores evidenciar apenas a conclusão, fazendo referência aos elementos analíticos indispensáveis e aos instrumentos utilizados.” DICAS Maiores informações acessem o site da MPAS: <www.mpas.gov.br>. 3 LAUDO SOCIAL O laudo é o documento pelo qual se veicula a perícia social. Na elaboração deste documento o profissional deve ter cuidado de demonstrar alguns elementos fundamentais relativos à situação social objeto da perícia, bem como transcrever no laudo o parecer sobre a situação, ou seja, mencionar a melhor situação possível. Este é o produto final da perícia social. Este faz parte da metodologia de atuação do profissional de Serviço Social. Na sua elaboração deve ser apresentada uma breve contextualização do estudo realizado pelo profissional. Sendo assim, neste instrumento o profissional deve cuidar para preservar o sigilo e a identidade dos sujeitos envolvidos, evitando a vitimização ou a culpabilização da demanda apresentada pelo indivíduo por suas práticas, ações ou situação de vida. O laudo social requer do profissional um conhecimento teórico-prático da realidade social para determinar conflitos sociais vivenciados pelos indivíduos que necessitam da intervenção do assistente social. Na utilização dos instrumentos ligados à pericia social, como é o caso do laudo social, o profissional de Serviço Social tem três principais competências: teórico-metodológica, ético-politica e técnico-operativa. 108 UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL O laudo social possui alguns requisitos básicos que devem ser destacados: • o nome ou cargo da autoridade a que é dirigida; • identificação do procedimento ou processo no qual foi solicitado o parecer; • preliminares; • relatório minucioso da situação social; • questões técnicas; • parecer técnico sobre o caso; • respostas aos quesitos; • conclusões; • formalidades de encerramento. Observe o modelo de laudo: Autoridade a qual é dirigida a perícia social (juízes de direito, membros do ministério público etc.). (deixar 4 linhas em branco) Dados do procedimento ou processo (todos os procedimentos em órgãos públicos ou particulares têm algum tipo de identificação, geralmente dispõem de número e tipo de procedimento). (deixar 4 linhas em branco) Preliminares (pequeno texto introdutório no qual o profissional faz os cumprimentos de costume e demonstra do que se trata o documento). Relatório: (descrição do procedimento utilizado pelo profissional para fazer o estudo social). Parecer: (sugestão do profissional em relação à melhor solução possível ao problema). Resposta aos quesitos (quando existirem quesitos, o profissional deve responder um a um, detalhadamente). QUADRO 2 – MODELO DE LAUDO SOCIAL TÓPICO 2 | O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL 109 Conclusão: (reforça o parecer, formaliza o final do laudo, dizendo que são verdades as afirmações feitas, pede o arbitramento dos honorários, quando for o caso, dizendo também o número de páginas que tem o texto. Cidade e data. Nome do profissional e inscrição no Conselho FONTE: As autoras Então, o instrumento laudo social é um documento resultante do processo de perícia social, sendo que esse só poderá ser elaborado a partir da perícia social. Além disto, registra todos os aspectos e ações de mais relevância do estudo social e do parecer social. Este documento é muito importante para a tomada de decisão do setor judicial, pois é conhecido como um dos elementos de prova pelo meio judiciário. LEITURA COMPLEMENTAR REFLEXÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DOS LAUDOS SOCIAIS Selma Marques Magalhães Este texto fundamenta-se em um dos capítulos da dissertação de mestrado “Laudos Sociais na Comunicação Forense: Caminhos e Descaminhos”, apresentada em out/2000, na PUC/SP, sob a orientação da Prof. Dra. Myrian Veras Baptista. Aproveito para agradecer aos assistentes sociais dos fóruns da capital e do interior que colaboraram com a realização da pesquisa. As relações sociais no espaço institucional são, notadamente, reflexo da sociedade - por si só contraditória. Num TJ, essas relações permeiam-se com as contradições das linguagens utilizadas no processo de comunicação forense, onde a escrita assume relevante papel. No caso do assistente social (AS), esse tipo de comunicação é efetivado sob a forma de laudos, frutos de um estudo social. Tais contradições ganham visibilidade nas interações comunicativas entre técnicos, usuários e profissionais do direito. Nos atendimentos, a interação entre o principal locutor (usuário) e interlocutor (AS) é direta, face a face; a linguagem é oral, coloquial. A participação de ambos é ativa, o que facilita dirimir falhas de comunicação. Contudo, ao interpretar profissionalmente a fala do usuário e escrever sua avaliação nos autos, o técnico passa a ser o principal locutor da mensagem e esta será, literalmente, lida por seus interlocutores (promotores, advogados, juízes etc.). A nova linguagem, indireta e formal, passa a assumir conotação de metalinguagem, interpretada e reinterpretada por diferentes profissionais. 110 UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL A partir do momento em que se anexa o laudo ao processo, a comunicação fica distante e torna-se difícil esclarecer dúvidas. Seu texto poderá sofrer diferentes interpretações e, como seus leitores, num TJ, têm objetivos profissionais específicos, o técnico poderá ter seu laudo elogiado, criticado. Poderá, também, surpreender- se, caso seu interlocutor mais imediato - o juiz - não acatar seu parecer. Ao atender, o AS realiza o contato face a face e faz intervenção imediata no caso. E o próprio laudo social, nessa instituição, também é intervenção. Quantas vezes não é ele a única forma de comunicação entre o assistente social e o juiz? Sendo assim, a mensagem emitida nos laudos deve ser clara, precisa, coerente e identificadora da área de competência do serviço social. Pressupõe a não utilização de linguagem coloquial, pois trata-se de texto elaborado por profissional graduado numa área do conhecimento. Seu saber está implicitamente reconhecido, a partir do momento em que consta, nos autos, a determinação de realizar um estudo social. Mesmo que nomes não sejam declinados, está claro que ele deverá ser realizado pelo assistente social - enão por profissionais de outras áreas. O Laudo Social é o texto final de análises e avaliações feitas durante o estudo. Por essa razão, não pode ser um apanhado de informações, ou uma longa história, com detalhes que fogem aos objetivos da avaliação. Como o AS lida com a linguagem manifesta e com histórias de vida, nada mais natural que registrá-las no laudo. Cautela, todavia, para não fazer da descrição pura e simples a essência do trabalho, pois este não deve se ater apenas à coleta de dados, mas à intervenção e à avaliação cuidadosa do caso - comumente problemático. O laudo precisa situar e analisar as relações sociais num determinado contexto sociocultural e econômico, para que as particularidades do segmento de classe envolvido possam ser melhor compreendidas. As relações sociais são, portanto, o ponto inicial para a análise e avaliação social e devem estar explícitas nos autos, para dar visibilidade ao trabalho profissional e fundamentar o parecer. Ao se redigir o texto, os aspectos éticos não podem ser esquecidos. No entanto, dados relevantes da análise, que deem indícios do que seria melhor para a criança ou adolescente podem ser sinalizados, desde que fiquem claros os aspectos técnicos da questão. A leitura do laudo não pode dar margem a interpretações equívocas, no sentido de julgamentos ou preconceitos pessoais. A ação competente do assistente social num fórum cristaliza-se na elaboração dos laudos sociais, através dos quais vai construindo e afirmando sua identidade profissional na instituição. Assim, mesmo que o AS busque o referencial hegemônico da profissão, ou norteie sua atuação em outros paradigmas teórico- metodológicos, é importante o enfoque na especificidade de sua área de formação. Sendo ciência aplicada, o serviço social apropria-se de outras áreas do conhecimento e atua em vários campos de trabalho, o que contribui para a imagem difusa da ação profissional. Sua trajetória, caracterizada pela atuação em situações-limite, pelo trabalho em instituições e pela dicotomia teoria- TÓPICO 2 | O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL 111 prática, configurou, reflexo das próprias contradições da sociedade, uma práxis contraditória - e o AS ganhou uma imagem profissional muito mais relacionada à ação, do que ao saber... No TJ/SP não foi diferente. A urgência típica da instituição, o trabalho solitário, a falta de troca e a especificidade dos problemas levaram o AS a construir um conhecimento do trabalho forense na própria ação - sem divulgá-lo ou sistematizá-lo. Há mais de cinquenta anos no Judiciário paulista, por vezes o AS ainda vê sua imagem confundida com a de “tarefeiro”. A hora, porém é de mudanças: pensar coletivamente, socializar conhecimentos, reunir para discutir casos, estudar. Principalmente, modificar posturas. A profissão do social admite a dinâmica da ação, sim, mas não se resume nisso. O assistente social possui um conhecimento acumulado na própria experiência e, também, nas produções da área do serviço social. Por que, então, deixar que a imagem equivocada se perpetue? Identidades profissionais são construídas e reconstruídas. Num TJ, essa construção passa pelos laudos, os quais, queiramos ou não, também constituem ação. Importantes instrumentos de comunicação no universo forense devem identificar a área de competência do profissional que os elaborou. A partir de minha experiência enquanto psicóloga judiciária em Vara de Infância e Juventude, trabalhando nos casos de adoção internacional, em São Paulo, foi possível observar tratar-se de uma atuação que abrange várias questões, o que provocou em mim o desejo de fazer uma reflexão sobre o tema. Primeiramente, cabe esclarecer que os pretendentes à adoção internacional, antes de vir ao Brasil, passam por uma seleção prévia através dos autos que encaminham à CEJAI - Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional. Os casais pré-aprovados em seu país de origem para adoção internacional enviam relatórios da avaliação psico-social, que incluem dados sobre a criança pretendida. No Brasil, estes autos passam pela equipe técnica de Vara de Infância, que verifica se os relatórios estão claros e com dados suficientes, se são recentes e, em caso de dúvida, é solicitada complementação de dados. Só após ter havido este processo e ter existido um cruzamento entre o cadastro de crianças disponíveis para adoção e o de pretendentes para adoção, é que o casal estrangeiro é notificado de que poderá vir ao Brasil buscar uma criança, ficando o psicólogo, a partir daí incumbido de fazer a aproximação da criança aos pretendentes, bem como trabalhar a adaptação entre as partes. Só esta tarefa, em si, não é nada fácil. Cabe lembrar que o ECA - Estatuto da Criança e Adolescente, em seu artigo 46, inciso 2 reza que: “Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do país, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze dias para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo 30 dias quando se tratar de adotando acima de dois anos de idade.” Isto nos cria um problema. Há um estágio de convivência muito curto para avaliar uma adaptação, que se malsucedida poderá trazer sequelas graves para aquela adoção. 112 UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL De outra parte, não nos podemos furtar a pensar na dificuldade que representa para um estrangeiro deixar seu país de origem, em geral bastante longínquo do Brasil, para vir adotar aqui. Acaba sendo necessário tirar férias do trabalho para vir em busca do filho adotivo, e, portanto, é quase impossível para os requerentes dispor de um período maior de permanência no Brasil. Com frequência o casal acaba de descer no aeroporto cansado do voo e já vai para a Instituição onde se encontra acolhida a criança pretendida, vindo em seguida ao Fórum para dar andamento ao processo. O psicólogo que atende este casal depara-se, sem sombra de dúvida, com um casal esgotado fisicamente, havendo poucas condições para uma boa entrevista. Ademais, há que se levar em conta que os casais sentem-se, ao chegar no Brasil, extremamente sem referências, as quais ficaram, obviamente, em seu país de origem. Em função disto os requerentes que deveriam poder fornecer à criança um asseguramento, sentem-se perdidos, e a criança também perdeu sua referência que era a Instituição. Fica aí marcada a necessidade de uma dupla orientação, feita pelo psicólogo judiciário à criança e à sua nova família. Ressalte- se que a criança está na iminência de perder o seu país, o que certamente é fator gerador de muita ansiedade. Outro aspecto que não pode ser desprezado, é que os pretendentes chegam de seus países com vários sonhos e fantasias com relação à adoção, os quais foram a base de sua reivindicação de adotar. Chegam aqui plenos de idealizações que por vezes escamoteiam temores. Como será a criança? Ela os aceitará? De fato, as primeiras experiências serão marcantes na relação crianças-pretendentes que se inicia. Daí a importância do trabalho do psicólogo judiciário, a quem compete avisar a entidade onde está a criança da chegada da família, preparar a criança para a adoção e acompanhar o estágio de convivência desde o início, como maneira de efetuar a prevenção de problemas futuros. No exíguo período do estágio de convivência, em média de vinte dias, frente à quantidade de questões a tratar com os pretendentes, fica-se sem saber a resposta a muitas perguntas. Há que ressaltar que após a primeira entrevista, costuma-se marcar a segunda para após uma semana, desde que não se sintam graves dificuldades iniciais, para deixar a família mais à vontade para ir se adaptando, para possibilitar o máximo de espontaneidade no relacionamento. No entanto, é um contrassenso deixar o relacionamento caminhar da forma mais natural, havendo um prazo de tempo curtíssimo para isto. Em geral, durante o estágio de convivência há em média quatro entrevistas, sendo que a primeira e a últimadão-se em conjunto com o serviço social. Previamente à primeira entrevista, o que se tem dos pretendentes são apenas os dados constantes nos autos. Obviamente é muito diferente ler sobre alguém, a ter contato com esta mesma pessoa. Destarte a primeira entrevista, é também o primeiro momento de sentir os requerentes, em verdade é aí que se trava um conhecimento, que em termos dos autos já está avançado a ponto de os pretendentes já terem sido aprovados e estarem no Brasil com uma criança. Sem sombra de dúvida este TÓPICO 2 | O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL 113 descompasso é um entrave a mais na ação do psicólogo, que, repito mais uma vez, dispõe de um tempo brevíssimo para trabalhar as mais variadas questões atinentes à adoção. O estágio de convivência é a oportunidade que o psicólogo judiciário tem de fazer o casamento entre a criança e seus pretendentes. Na verdade, há que se fazer uma aproximação e adaptação entre verdadeiros estranhos. Este trabalho pode ser facilitado sobremaneira quando a agência internacional de adoção executa um bom trabalho na preparação dos pretendentes em seu país de origem, e acompanha adequadamente a família no Brasil e os encaminha de pronto às Varas. O psicólogo ao trabalhar a adaptação tem de levar os requerentes a compreender o que era a vida que a criança levava numa Instituição, que em geral a criança desconhecia a vida extramuros, que o infante costuma não possuir a mínima noção do que seja uma família, da diferença que existe entre viver no meio de muitas crianças como ela e num lar. Compete ao psicólogo apontar que haverá primeiramente um período de lua de mel com os requerentes, onde a criança tudo fará para agradar, mas que assim que começar a se sentir um pouco mais segura passará a desafiar as regras, testando os futuros pais adotivos para se certificar de se realmente estes a suportam, se a aceitam, se gostam dela mesmo fazendo coisas erradas. Outro tópico importante é passar para os futuros adotantes todos os dados que constam nos autos sobre o histórico da criança, trabalhando a importância de a criança poder conhecê-los de modo a se apropriar de sua história, sentindo-se mais cidadã de si; além de fornecer elementos para que detectem eventuais comportamentos ou sintomas das crianças. Também se trabalham as questões da motivação, da revelação e da esterilidade, todas de suma relevância e que sempre estarão permeando a relação adotantes-adotado. Um elemento complicador, no entanto, reside no fato de estas problemáticas estarem sendo trabalhadas num momento em que está havendo uma lua de mel adotantes-adotado. Como é sabido, nesse período de um casamento, o que impera é a idealização, sendo difícil haver espaço psíquico para problemáticas que desfazem a tão agradável vivência de um apaixonamento. A impressão que tenho, muitas vezes, é de que o casal escuta as orientações apenas racionalmente, não havendo brecha para emoção, que está dirigida para o pseudo enlace matrimonial. Os casais tendem a ouvir alegremente tudo que lhes é dito, acreditando, naquele momento, serem de fácil resolução os problemas que poderão surgir e duvidando destas possibilidades menos róseas, ocultando uma onipotência própria da posição esquizo-paranoide, quando impera a idealização. Neste sentido o tempo legal, do direito, e o tempo psicológico estão na contramão, um do outro, o que embute uma séria questão quanto à validade do trabalho feito em ambas as áreas. Paralelamente há mais uma interferência, a da língua. Normalmente, os pretendentes estrangeiros não falam português, se fazendo necessária a presença de um tradutor. Isto certamente dificulta o estabelecimento do rapport. O tradutor 114 UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL fica colocado no lugar de um terceiro, entre o psicólogo e os requerentes. Além disto, não existe a figura de um tradutor juramentado, sendo o profissional incumbido da tarefa, com frequência, o representante da agência de adoção encarregada do caso, o que pode colocar em dúvida a neutralidade de seu trabalho. Para piorar, a Psicanálise se baseia na escuta da palavra, que quando traduzida não é mais a mesma, até porque correntemente uma expressão existe numa língua e não em outra e isto interfere na nossa avaliação, criando ruídos de comunicação que podem chegar a invalidar uma leitura do caso. Neste sentido, talvez tenhamos que nos preocupar em criar outros instrumentos de avaliação, mais condizentes com a realidade que se nos apresenta. Como proposta vejo a necessidade de uma maior interação entre as agências internacionais de adoção e o judiciário. É imperioso conhecer como cada agência trabalha, para ter uma noção mais clara do “ponto de cozimento” dos requerentes quando chegam ao Brasil. Isto possibilita ao psicólogo responsável pelo caso uma visão do que realmente necessita ser trabalhado, podendo planejar a sua ação, o que é muito diferente de ter apenas os dados de relatório sobre o casal. Seria necessário gerar um espaço de encontros entre as diversas agências e o Judiciário destinado à troca de experiências, havendo não só um enriquecimento, mas uma padronização da maneira de se trabalhar. Afora isto vejo como necessidade que, após o retorno ao país de origem, haja um acompanhamento periódico para auxiliar a nova família, no momento em que aflora o tema da adoção em sua dinâmica. Pelo que consta várias agências fazem este tipo de trabalho, porém de forma muito heterogênea e, como não recebemos relatórios sobre este trabalho, ficamos sem saber com que tipo de suporte podemos efetivamente contar. É claro que, para isto acontecer, há que existir uma regulamentação deste processo em lei, ou seja há que se fazer uma sensibilização dos profissionais do Direito para compreender a extensão e a importância disto, buscando uma certa uniformidade de procedimento nos casos. Outra dúvida que existe com relação à preparação de requerentes em seus países de origem é de se as agências internacionais sensibilizam adequadamente seus clientes para a adoção ou se os treinam de modo a responder assertivamente as perguntas feitas pelo psicólogo judiciário. As agências trabalham as angústias dos requerentes, ou apenas maquiam as defesas destes, possibilitando que o cliente se apresente da forma como o profissional de psicologia espera deste. Para responder a estas questões teríamos que dispor de estatística de cada agência para saber a porcentagem de devolução de crianças por agência de adoção, o que certamente seria um bom indicador da eficácia do trabalho executado, estatística esta da qual não dispomos. Voltando ao CEJAI, há também um sério problema quanto à heterogeneidade dos dados constantes nos autos, conforme o país de origem. Mais uma vez seria necessária a interseção Direito-Psicologia, de modo a possibilitar uma maior uniformidade dos autos. TÓPICO 2 | O PARECER SOCIAL E O LAUDO SOCIAL 115 Todos os apontamentos feitos até agora, nesta breve reflexão, corroboram a importância e amplitude da temática da adoção internacional, cujo trabalho ainda apenas engatinha, havendo um longo caminho a percorrer no aprimoramento deste tipo de trabalho, que envolve diferentes tipos de profissionais e de culturas. Referências Bibliográficas: Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8069 de 13/7/90 FONTE: MAGALHÃES, Selma Marques. Reflexões sobre a elaboração dos laudos sociais. 21 maio 2009 . Disponível em: <http://www.aasptjsp.org.br/index.php?option=com_content&view=a rticle&id=839:reflexoes-sobre-a-elaboracao-dos-laudos-sociais&catid=66:artigos&Itemid=1>. Acesso em: 15 out. 2009. 116 Neste tópico, você estudou que: • O parecer social é comprometido com um resultado da investigação de um determinado problema social. • O parecer social é um instrumento de intervenção profissional, que possibilita ao assistente social organizar as informações como um relatório, só que com maior profundidade de análise. • Constam no parecersocial sugestões de ampliação ou melhoria das ações a serem desenvolvidas junto à situação analisada. • O parecer social é entendido como a opinião profissional do assistente social, com base na observação e estudo de uma determinada situação, que fornece elementos para a concessão de um benefício, recurso material e decisão médico- pericial. • O parecer social deve ser conclusivo quanto à opinião do profissional sobre a situação analisada. • Na elaboração de um laudo social, o assistente social deve demonstrar alguns elementos fundamentais relativos à situação social investigada, bem como transcrever no laudo o parecer sobre a situação, ou seja, mencionar a melhor situação possível. • Na elaboração de um laudo social, deve ser apresentada uma breve contextualização do estudo realizado. • O laudo social requer do profissional que o está elaborando um conhecimento teórico-prático da realidade social do indivíduo, exigindo uma análise aprofundada da vida social. • Na utilização dos instrumentos ligados à pericia social, como é o caso do laudo social, o profissional de Serviço Social tem três principais competências: teórico- metodológica, ético--política e técnico-operativa. RESUMO DO TÓPICO 2 117 AUTOATIVIDADE 1 O que você identifica no instrumento laudo social que o diferencia dos demais instrumentos estudados neste Caderno de Estudos, ou seja, parecer social e estudo social? 2 Qual a contribuição do profissional de Serviço Social em seus processos com a utilização do instrumento parecer social? 118 119 TÓPICO 3 ESTUDO SOCIOECONÔMICO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO 2 UTILIZAÇÃO DO INSTRUMENTO ESTUDO SOCIOECONÔMICO A atuação prática cotidiana do assistente social está constantemente exigindo análises críticas e completas sobre o contexto onde o usuário está inserido. O profissional fica incapacitado de desenvolver alguma ação ou encaminhamento sem ter prévios conhecimentos da história de vida do usuário, como a comunidade onde vive, grupo familiar e acesso às políticas públicas. Então, neste tópico estudaremos o instrumento Estudo Socioeconômico utilizado pelo profissional de Serviço Social. O estudo socioeconômico tem como objetivo apresentar as características sociais e econômicas de uma determinada população que será analisada. Este método de pesquisa é geralmente realizado através de entrevistas estruturadas, onde o formulário aplicado aponta variáveis conjunturais que contribuem para identificação da realidade em estudo. A pesquisa pode ser quantitativa ou qualitativa, sendo, pelo Serviço Social, a qualitativa a mais utilizada. Esta pode ser aplicada com todos os envolvidos, atingindo 100% da amostra, ou realizarmos uma amostragem do número de entrevistados, utilizando o mesmo critério para toda a amostragem. UNI Utilizamos como exemplo as pesquisas socioeconômicas familiares, em que se aplica um questionário para apenas um representante da família, porém, ao coletar os dados e fazer a análise, o perfil de todos os integrantes é considerado. UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 120 Escolha do público entrevistado Dar-se-á mediante o objetivo do estudo, podendo ser realizado por amostragem. Coleta de dados Deverão ser coletados mediante questionários ou entrevistas aplicadas ao público selecionado. Em pesquisas do Serviço Social, geralmente o profissional vai a campo realizar a coleta dos dados, ou conforme estabelecido no objetivo do estudo. Tabulação dos dados coletados Após a coleta de dados, estes deverão ser tabulados e disponibilizados em um banco de dados que facilitará a visualização e armazenagem das informações. Análise Esta também deverá seguir o estabelecido nos objetivos do estudo, e deverão ser aproveitados todos os dados coletados, após realizar gráficos ou tabelas comparativos de todas as informações coletadas. FONTE: As autoras QUADRO 3 – PASSOS DO ESTUDO SOCIOECONÔMICO Os dados da pesquisa socioeconômica permitem que o profissional, além de conhecer a realidade social e econômica do entrevistado, compreenda as dificuldades e necessidades do indivíduo e sua família, dificuldade de acesso às Políticas Públicas. Na análise pode-se sugerir ampliação ou implementação de novos serviços que contribuirão para o acesso aos direitos dos usuários atendidos pelos profissionais de Serviço Social. Caso forem insuficientes os dados coletados e fornecidos pelo entrevistado, o assistente social pode aplicar outros instrumentos profissionais de sua competência para atingir os objetivos propostos, como visita domiciliar (instrumento que vimos no tópico anterior), com a finalidade de acompanhar a realidade do usuário na entrevista já iniciada. O estudo socioeconômico é um instrumento de pesquisa também utilizado pelo assistente social na sua prática interventiva. Este estudo tem como objetivo conhecer o perfil socioeconômico de famílias e ou indivíduos, facilitando o atendimento realizado pelo profissional, e traçar o perfil de usuários atendidos, podendo ser comparados dados de outras pesquisas realizadas com o mesmo público, com o mesmo foco de análise. Sendo assim, tem por finalidade o conhecimento crítico de uma determinada situação, como, por exemplo, problemas relacionados com habitação e saneamento básico. O estudo socioeconômico segue alguns passos que podem ser comparados com as etapas de alguns tipos de pesquisas, como veremos a seguir: TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOECONÔMICO 121 Nome Idade Parentesco Escolaridade Ocupação Renda mensal 1. Identificação Nome: ___________________________________________________ Data de Nascimento: ___/___/___ Idade: ____ Sexo: Feminino Masculino Naturalidade:_____________________ Profissão: _____________________ Endereço:__________________________________________________________ Bairro:__________________ Cidade: ________________________ Estado: ____ CEP: _____________________ Telefone: ________________ 2. Situação Familiar Quadro de composição familiar incluindo você: Caro(a) acadêmico(a), para melhor compreensão do instrumento estudo socioeconômico, disponibilizamos, a seguir, um modelo de questionário para coleta de dados deste instrumento da ação profissional. UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 122 FONTE: As autoras QUADRO 4 – MODELO DE QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO Situação de moradia: ( ) Própria ( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Financiada Se alugada ou financiada qual o valor: R$ ______________ A água de sua residência: ( ) Bica ( ) Poço ( ) Paga mensalmente/Valor: R$____________ Possui energia elétrica: ( ) Não ( ) Sim/Valor pago mensalmente: R$ ____________ A rua em que você mora: ( ) Calçada ( ) Asfaltada ( ) Estrada de barro Recebe algum benefício do Governo Federal: ( ) Não ( ) Sim/Valor: R$ _____________ Tem alguma outra fonte de renda (pensão, aluguéis) ( ) Não ( ) Sim/Valor: R$ ____________ 3. Na sua família tem algum membro que possui algum tipo de deficiência: ( ) Não ( ) Sim/Qual doença: __________________________ Algum integrante familiar faz uso de medicação contínua: ( ) Não ( ) Sim Consegue acessar o SUS – Sistema Único de Saúde: ( ) Não ( ) Sim Qual o valor mensal gasto com medicação na sua residência: R$ _______________ Qual o valor mensal gasto com alimentação: R$ ________________ 4. Use este espaço para alguma observação que julgue necessária: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Declaro serem verdadeiras as informações aqui prestadas. Assinatura do Responsável: ____________________________________ Assinatura do Técnico Responsável: ______________________________ Data _____/_____/________ TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOECONÔMICO123 LEITURA COMPLEMENTAR ESTUDO SOCIOECONÔMICO SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA PARCERIA AGRÍCOLA NA REGIÃO CACAUEIRA Joselito Albano dos Santos Aline Conceição Souza INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é analisar o início do sistema de parceria rural na região cacaueira, enquanto alternativa para a relação entre capital e trabalho. A monocultura do cacau durante décadas foi o principal sustentáculo da economia baiana e caracterizou-se por períodos de apogeu e crises; a mais recente crise começou em meados dos anos 80, resultante da confluência de fatos negativos, como: o aumento da produção dos países concorrentes, queda nas cotações no mercado mundial, clima desfavorável e o grave “aparecimento” da vassoura-de- bruxa no Sul da Bahia. Segundo Couto (2000, p. 39), “Retrai-se o agronegócio em decorrência da queda dos preços pagos ao produtor e da produtividade da lavoura cuja principal repercussão é a diminuição imediata da renda e do emprego na região cacaueira”, resultando na migração, no subemprego, no desemprego e na opção agrícola pela pecuária extensiva com baixos índices de ocupação (CANUTO, 2004). Diante da descapitalização do cacauicultor, do contingente de trabalhadores desempregados e da necessidade de combater a vassoura-de- bruxa, o sistema de parceria expandiu-se como uma alternativa para minimizar os efeitos da crise da lavoura cacaueira. Embora a parceria tenha sido institucionalizada pelo Código Civil de 1916, conforme cita Silva (2004), atualmente, é regido pelo que dispõe o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) e regulado pelo Decreto Federal n. 59.566/66, salientando-se também, que o parceiro agrícola é amparado quanto a seus direitos previdenciários baseado no que dispõe as leis n. 8.212/91 e 8.213/91, na categoria de “segurado especial” (BRASIL, 2002, p. 32-80). MATÉRIAS E MÉTODOS Pesquisa realizada através de estudos de caso, seleção não probabilística por tipicidade, está em curso desde 05/04/2006, em propriedades agrícolas localizadas nos municípios de Almadina, Coaraci, Itajuípe, Uruçuca e Ilhéus, que fazem parte da bacia do Rio Almada, na microrregião cacaueira, no sul do estado, uma das mais tradicionais subregiões onde a cultura do cacau foi implantada na Bahia; sendo assim, os dados e informações aqui trabalhados são preliminares. UNIDADE 3 | MÉTODOS INTERVENTIVOS DO SERVIÇO SOCIAL 124 Inicialmente, realizou-se a busca de informações através de pesquisas bibliográficas, para configuração do embasamento teórico e conhecimento das características da parceria agrícola. Posteriormente, buscou-se analisar o contexto das parcerias na região cacaueira, através de dados secundários, observações e informações colhidas em contatos com os sujeitos da pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO A parceria agrícola familiar surgiu na região cacaueira, portanto, no vácuo da descapitalização financeira e do desemprego que se abateu sobre a cultura agrícola regional, tornando-se uma alternativa para equacionar as condições sociais adversas. Mesmo ainda pairando a suspeita de que o sistema seria uma forma disfarçada de expropriar direitos dos trabalhadores, prejudicando-os economicamente e favorecendo apenas o outorgante. Cabe ressaltar que o trabalhador, ao tornar-se um participante ativo e corresponsável, através do sistema de parceria familiar, trabalha com mais interesse, objetivando uma parcela cada vez maior do produto, conforme expõe Santos (1997), proporcionando uma maior produtividade da mão de obra e satisfação aos seus integrantes. Sendo assim, o processo de transformação do cenário de crise passa necessariamente pela transformação da mentalidade do cacauicultor, deixando de ser o “Coronel do Cacau” para se transformar no empresário rural na alternativa estrutural da parceria. Cabe ressaltar que o enfrentamento da crise passa pela reestruturação de toda cadeia produtiva do cacau, principalmente no que se refere às inovações tecnológicas apropriadas à realidade local. Neste sentido, a atividade produtiva necessita de empreendedores, de indivíduos aptos e capacitados, que impulsionem o desenvolvimento econômico, principalmente na área rural. As relações de trabalho devem ser repensadas para se adequar às necessidades do sistema produtivo e dos direitos e deveres de seus participantes. Mas, o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida na região cacaueira, não dependem única e exclusivamente da parceria agrícola, mas de um conjunto de fatores como a renovação genética, o novo manejo agronômico, via sincronização da produção e a diversificação através de SAFs, otimizando a utilização dos recursos naturais e políticas públicas adequadas. TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOECONÔMICO 125 CONCLUSÕES Considera-se ao final que a expansão dos sistemas de parceiras agrícolas aconteceu em função do problema socioeconômico que se agravou com as crises da lavoura cacaueira, pois, com o desemprego de uma grande parcela da população que só sabia “lidar” com a cultura do cacau, esta foi uma forma encontrada por alguns para continuar trabalhando com o que mais sabia. Essa relação de produção entre proprietário e funcionários com base nas parcerias traz uma nova perspectiva, pois se conseguir articular os aspectos dessa nova relação, com a eficiência econômica e preocupações ambientais trará uma nova dinâmica para as demandas sociais existentes. Sendo assim, a eficiência e eficácia do sistema de parcerias condicionam-se a uma mudança de mentalidade do cacauicultor e à presença de um trabalhador participante ativo e corresponsável, objetivando uma parcela cada vez maior do produto, proporcionando uma maior produtividade da mão de obra e satisfação aos seus integrantes. FONTE: SANTOS, Joselito Albano dos; SOUZA, Aline Conceição. Estudo socioeconômico sobre a implantação da parceria agrícola na região cacaueira. Disponível em: <http://www.uesc.br/ seminarioic/sistema/resumos/2007258.pdf>. Acesso em: 20 out. 2009. 126 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você viu que: • O estudo socioeconômico é um instrumento de pesquisa também utilizado pelo assistente social na sua prática interventiva. • O estudo socioeconômico segue alguns passos: escolha do público entrevistado; coleta de dados; tabulação dos dados; análise dos dados. • A pesquisa socioeconômica permite que o profissional, além de conhecer a realidade social e econômica do entrevistado, compreenda as dificuldades e necessidades do indivíduo e sua família. 127 AUTOATIVIDADE 1 Qual a importância que você percebe no instrumento da ação profissional do estudo socioeconômico? E de que forma este instrumento pode contribuir no fazer profissional do assistente social? 2 Você já preencheu um questionário ou entrevista socioeconômica? Relate sua experiência com este instrumento que pode ser utilizado pelo profissional de Serviço Social. 128 129 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira de. Retomando a temática da “sistematização da prática” em serviço social. Disponível em: <http://www.peepss.org/documentos/ ney_pub2.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2009. BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Institui o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br/.../LEIS/2003/ L10.741.htm>. Acesso em: 17 out. 2009. ______. Ministério da Previdência e Assistência Social. Paradigma do serviço social no Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Brasília: Ministério da Previdência Social, 1995. Disponível em: <http://www.cress-sp.org.br/link_site/ matriz_INSS.pdf>. Acesso em: 17 out. 2009. ______. Política sacional de assistência social – PNAS/2004. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005. Disponível em: <www. mds.gov.br/arquivos/pnas_final.pdf>. Acesso em: 18 out. 2009. CARVALHO, Valéria Cabral; GERBER, Luiza Maria Lorenzini. O SUAS – Sistema Único da Assistência Social em perspectiva. 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Florianópolis: OAB/SC, 2003. 130 GALVÃO, Cristiane Bastos; COSTA, Gelva Maristane Martins; MARQUES, Janete Barbosa Guerra. O serviço social no ministério público do Estado de Goiás perícia em serviço social. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/areas/ ceaf/arquivos/enssmp/Textos%20Completos%20PDF/o_ss_mp_estado_goias. pdf>. Acesso em: 20 out. 2009. GIONGO, Cláudia Deitos. Processos de trabalho de serviço social III. Porto Alegre: Editora ULBRA, 2003. GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do serviço social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002. IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2001. ______. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 1983. IAMAMOTO, Marilda V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 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Retomando a temática da “sistematização da prática” em serviço social. Disponível em: <http://www.peepss.org/ documentos/ney_pub2.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2009. 131 SANTOS, Claudia Monica dos. A prática profissional no âmbito da formação profissional: um enfoque nos instrumentos e técnicas. 2º Seminário Nacional - Estado e Políticas Sociais no Brasil: UNIOESTE, 2005. Disponível em: <http:// cac-php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/servico_social/ MSS06.pdf >. Acesso em: 17 out. 2009. SCHMITT, Erica Lidia et al. Programa permanente de capacitação comunitária. Blumenau: Editora da FURB, 1999. SOUZA, Maria Luiza de. Desenvolvimento de comunidade e participação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1991. VIEIRA, Balbina Ottoni. Metodologia do serviço social: contribuição para sua elaboração. 3. ed. 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