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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO 
DA FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP 
 
 
 
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SUMÁRIO 
1 O ESTUDO DA FILOSOFIA .................................................................................... 3 
1.1 A Filosofia ............................................................................................................. 4 
1.2 O que é Filosofia ................................................................................................... 6 
1.3 Surgimento ............................................................................................................ 7 
1.4 A Filosofia para alguns filósofos ........................................................................... 9 
2 NASCIMENTO DA FILOSOFIA ............................................................................. 10 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA.................................................................................... 16 
3.1 A Filosofia Antiga ................................................................................................ 22 
3.2 As principais características da Filosofia ............................................................ 23 
3.3 A importância de ensinar Filosofia ...................................................................... 25 
4 FILOSOFIA DA CIÊNCIA ...................................................................................... 26 
4.1 Questões de estudo da Filosofia ......................................................................... 29 
5 FILOSOFIA NO BRASIL ....................................................................................... 31 
5.1 História da Filosofia no Brasil .............................................................................. 33 
6 O ENSINO DA FILOSOFIA ................................................................................... 34 
6.1 Não se ensina filosofia, mas a filosofar ............................................................... 38 
6.2 Histórico da Filosofia como disciplina no Brasil .................................................. 41 
6.3 Rumos do Ensino da Filosofia ............................................................................ 48 
7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL..................................................................................... 52 
7.1 O que é educação ambiental .............................................................................. 53 
7.2 Ensino da Filosofia e educação ambiental .......................................................... 54 
8 A FILOSOFIA COMO INSTRUMENTALIZAÇÃO REFLEXIVA NA FORMAÇÃO DO 
EDUCANDO .............................................................................................................. 59 
8.1 A importância da filosofia na formação do educador .......................................... 61 
8.2 A Educação a partir da experiência .................................................................... 62 
8.3 A Educação que conduz à reflexão .................................................................... 64 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67 
 
 
 
 
 
 
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1 O ESTUDO DA FILOSOFIA 
 
"A Filosofia contribui para o estudo da Ética e Moral, demanda social 
negligenciada na formação do cidadão brasileiro" - Arthur Meucci. 
Para muitos, perda de tempo, pois exige maturidade intelectual que a maioria 
dos alunos não tem. Mas há defensores fervorosos de sua inclusão no currículo, caso 
do filósofo e psicanalista Arthur Meucci. "É a única disciplina da grade escolar que faz 
a ponte entre o português, a sociologia, a história e a matemática, além de contribuir 
para o estudo da Ética e Moral, demanda social negligenciada na formação do cidadão 
brasileiro", destaca. 
Filosofia é uma palavra grega que significa “amor à sabedoria” e consiste no 
estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à 
verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem. 
Filósofo é um indivíduo que busca o conhecimento de si mesmo, sem uma visão 
pragmática, movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da realidade. Além do 
desenvolvimento da filosofia como uma disciplina, a filosofia é intrínseca à condição 
humana, não é um conhecimento, mas uma atitude natural do homem em relação ao 
universo e seu próprio ser. 
 
 
Fonte: filosofiacienciaevida.com.br 
 
 
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A filosofia foca questões da existência humana, mas diferentemente da religião, 
não é baseada na revelação divina ou na fé, e sim na razão. Desta forma, a filosofia 
pode ser definida como a análise racional do significado da existência humana, 
individual e coletivamente, com base na compreensão do ser. 
Apesar de ter algumas semelhanças com a ciência, muitas das perguntas da 
filosofia não podem ser respondidas pelo empirismo experimental. 
A filosofia pode ser dividida em vários ramos. A “filosofia do ser”, por exemplo, 
inclui a metafísica, ontologia e cosmologia, entre outras disciplinas. A filosofia do 
conhecimento inclui a lógica e a epistemologia, enquanto filosofia do trabalho está 
relacionada a questões da ética. 
Diversos filósofos deixaram seu nome gravado na história mundial, com suas 
teorias que são debatidas, aceitas e condenadas até os dias de hoje. Alguns desses 
filósofos são Aristóteles, Pitágoras, Platão, Sócrates, Descartes, Locke, Kant, 
Freud, Habermas e muitos outros. Cada um desses filósofos fez suas teorias 
baseadas nas diversas disciplinas da filosofia, lógica, metafísica, ética, filosofia 
política, estética e outras. 
De acordo com Platão, um filósofo tenta chegar ao conhecimento das ideias, 
do verdadeiro conhecimento caracterizado como episteme, que se opõe à doxa, que 
é baseado somente na aparência. 
Segundo Aristóteles, o conhecimento pode ser divido em três categorias, de 
acordo com a conduta do ser humano: conhecimento teórico (matemática, 
metafísica, psicologia), conhecimento prático (política e ética) e 
conhecimento poético (poética e economia). 
Nos dias de hoje a palavra "filosofia" é muitas vezes usada para descrever um 
conjunto de ideias ou atitudes, como por exemplo: "filosofia de vida", "filosofia política", 
"filosofia da educação", "filosofia do reggae" e etc.1. 
 
1.1 A Filosofia 
 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, 
fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura 
diante do mundo. Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que 
 
1 Texto extraído de: www.significados.com.br 
 
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procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar 
para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode 
pensar sobre a religião, a arte; o seu cotidiano, o próprio homem em sua cultura e 
imagem. 
A filosofia em síntese não é tão somente uma interpretação do já vivido, daquilo 
que você possa estar objetivando, mais também a interpretação das aspirações e 
desejos do que ainda está por vir e do que está para chegar. Para iniciar o exercício 
de filosofa, a primeira coisa a fazer é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que 
é preciso saber quais são eles. Filosofia é inventariar os valores que explicam e 
orientam nossa vida e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da 
prática humana. O segundo momento é o momento da crítica que é um modo de 
penetrar dentro desses valores, descobrindo -lhe a sua existência. A filosofia e 
educação estão vinculadas no tempo e no espaço. A pedagogia inclui mais elementos 
do que o pressuposto filosófico da educação, tais como os processos socioculturais, 
a concepção psicológica do educando e a forma do processo educacional. 
Para que possamos compreender ainda mais essa filosofiae como ela é parte 
de uma educação inteiramente possuída pela realidade e construção cultural, 
segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve possuir as 
seguintes características: 
 
 
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1.2 O que é Filosofia 
 
A pergunta pelo que é a Filosofia é, em si, uma investigação filosófica cujas 
tentativas de resposta ocorrem desde Pitágoras, que cunhou o termo. O que é isto: a 
Filosofia? Se essa pergunta continua a ser feita é porque é um desafio a tentativa de 
respondê-la. Não há uma definição simples que consiga resolver a questão, pela 
própria extensão do conteúdo produzido que se convencionou chamar de “filosofia” e 
pelas diferentes respostas que os filósofos deram a ela no decorrer da história, muitas 
vezes refutando as interpretações de outros. Ou seja, a própria questão “O que é 
Filosofia” é aquilo que chamamos de “problema filosófico”: problemas que só podem 
ser resolvidos por meio da investigação racional, pois não podem ser constatados por 
meio de uma experimentação, como faz a Matemática, através de cálculos, ou de 
análise de documentos, como faz a História, por exemplo. 
Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo método histórico, nós 
podemos fazer uma investigação de quando essa noção aparece, em qual contexto, 
quais foram seus antecedentes, qual o sentido essa palavra teve em determinada 
época. Se dois sócios querem dividir os lucros da empresa de forma justa, ou seja, 
dividindo igualmente o lucro e os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de 
 
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cálculos. No entanto, se tentarmos responder “O que é a justiça?” ou: “Faz parte da 
condição humana a noção de justiça?”, o único recurso que teremos será a nossa 
razão, a nossa capacidade de pensar. 
Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, temos diversos 
problemas filosóficos e diversas respostas a cada um deles. Para os pré-
socráticos: a physis; para a Filosofia Antiga: a atividade política, técnicas e ética do 
homem; para a Filosofia Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a 
existência de Deus, a conciliação entre Presciência divina e Livre-arbítrio; para 
a Filosofia Moderna, o empirismo e o racionalismo, para 
a Filosofia Contemporânea,diversos problemas a respeito da existência, da 
linguagem, da arte, da ciência, entre outros. 
Temos também uma diversidade de formas literárias da filosofia: 
Parmênides escreveu em forma de poema; Platão escreveu 
diálogos; Epicuro escreveu cartas; Tomás de Aquinodesenvolveu o método “questio 
disputatio” em suas aulas que foram transcritas por seus alunos;Nietzsche escreveu 
em forma de aforismos. Por esses exemplos, que não esgotam a pluralidade da escrita 
e da atividade filosófica, podemos compreender que as formas de se fazer filosofia 
vão muito além dos tratados e das dissertações. 
A compreensão que temos por vezes da Filosofia como uma atividade 
reservada a gênios e que, portanto, não precisa se preocupar em se fazer entendida 
aos demais humanos é baseada em uma compreensão da atividade do pensamento 
sendo superior à atividade da linguagem, como se elas estivessem dissociadas. Ora, 
não podemos ainda, por mais desenvolvidas que estejam as nossas tecnologias, 
expressar o pensamento sem linguagem e nem exercitar a linguagem sem que ela 
seja, antes, elaborada pelo pensamento. 
 
1.3 Surgimento 
 
A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de um conhecimento 
racional e sistemático, foi uma atividade que, segundo se defende na história da 
filosofia, iniciou na Grécia Antiga formada por um conjunto de cidades-Estado 
(pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega reunia características 
 
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favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional. Essas 
características eram: poesia, religião e condições sociopolíticas. 
A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais 
com uma explicação mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a 
partir de uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O 
mito não necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos 
indivíduos e não há espaço para questionamentos ou críticas. 
É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que 
nasce Tales que, para a Aristóteles é o iniciador do pensamento filosófico que se 
distingue do mito. No entanto, o pensamento mítico, embora sem a função de explicar 
a realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão, dos neoplatônicos e 
dos pitagóricos. 
A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a Pitágoras. As duas 
principais fontes sobre isso são Cícero e Diógenes Laércio. Vejamos o que escreve 
Cícero: 
“O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico, narra que levaram a 
Fliunte alguém que discorreu douta e extensamente com Leonte, príncipe dos 
fliúncios. 
Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados por Leonte, este lhe 
perguntou que arte professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma 
arte especial, mas que era filósofo. 
Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de 
pessoas eram os filósofos e o que os distinguia dos outros homens. 
(...) 
[Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…) comparam-se com os que 
vão da cidade a uma festa popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros 
de ganho, restando, todavia, alguns poucos que desconsiderando completamente as 
outras atividades, investigam com afinco a natureza das coisas: estes se dizem 
investigadores da sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser 
espectador desinteressado, também na vida a investigação e o conhecimento da 
natureza das coisas estão acima de qualquer outra atividade”. 
 
Percebe-se que por meio desse fragmento de Cícero que: 
 
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1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre Pitágoras é Heráclides 
Pontico, discípulo de Platão, mas que era também influenciado pelos pitagóricos. No 
entanto, não se sabe da veracidade a respeito dessa informação, como nota Ferrater 
Mora que também observa que não é possível saber se “filósofo” para Pitágoras 
significa o mesmo que significaria para Platão ou Aristóteles. 
2) Pitágoras em vez de se denominar como “sábio”, prefere se denominar 
“filósofo”, ou seja, aquele que tem amor pela sabedoria. Também percebemos que 
aparece nome “filósofo” e não “Filosofia” que, como atividade, tem origem posterior. 
Como se pode ver no fragmento, não havia na época uma “arte especial”. 
 
1.4 A Filosofia para alguns filósofos 
 
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, 
a causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com 
as dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar 
fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o curso do sol e dos astros 
e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é 
reconhecer-se ignorante." 
Epicuro (341 a . C. - 270 a . C.): "Nunca se protele o filosofar quando se é 
jovem, nem o canse fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco 
maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a 
hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda 
não chegou ou já passou a hora de ser feliz." 
Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o título de filosofia, como 
fim e campo de minhas elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual 
o pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?" 
Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, 
vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é 
atingido pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de 
baixo, como por uma espéciede acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser 
alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem 
 
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fatal, em torno do qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas 
inquietantes”. (Para além do bem e do mal, p. 207) 
Kant (1724-1804): “Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar”. 
Ludwig Wittgenstein (1889-1951): "Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar 
à mosca a saída do vidro." 
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira filosofia é reaprender a ver 
o mundo." 
Gilles Deleuze (1925-1996) e Félix Guattari (1930-1993): "A filosofia é a arte de 
formar, de inventar, de fabricar conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é 
conceito em potência... Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia." 
Karl Jaspers (1883-1969): “As perguntas em filosofia são mais essenciais que 
as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta” (Introdução ao 
pensamento filosófico, p. 140). 
García Morente (1886-1942): “Para abordar a filosofia, para entrar no território 
da filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É 
absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar 
seu estudo com uma disposição infantil. (…) Aquele para quem tudo resulta muito 
natural, para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta muito 
óbvio, nunca poderá ser filósofo”. (Fundamentos de filosofia, p. 33-34). 
 
 
Fonte: clinicasaobento.com 
 
2 NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
 
 
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Os historiadores da Filosofia situam o seu nascimento no final do século VII e 
início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de 
Mileto. E aquele a quem primeiro atribuiu-se esse título foi Tales de Mileto. Em seu 
nascimento a filosofia caracteriza-se como uma cosmologia. A palavra cosmologia é 
composta de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, 
e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso 
racional, conhecimento. Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da 
ordem do mundo ou da Natureza, de onde: cosmologia. Ainda dentro deste contexto 
podemos dizer que a Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre 
os mitos gregos, embora alguns autores defendam uma ruptura radical com os mitos. 
[...] o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e 
o começo de um saber de tipo racional [...] homens como Tales, Anaximandro, 
Anaxímenes inauguram um novo modelo de reflexão concernente à natureza [...] da 
origem do mundo, de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos metereológicos, 
propõem explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e 
cosmogonias antigas (VERNANT, 2006, p. 109). 
O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de algo, como a 
origem dos deuses, dos astros, da Terra, dos homens, da água, do bem e do mal etc. 
e se opõe ao logos que é um tipo de raciocínio que “[...] procura convencer, 
acarretando no ouvinte a necessidade de julgar” (BRANDÃO, 1986, p. 13). A 
palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do 
verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do 
verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é 
um discurso diferente do logos pois é pronunciado ou proferido para ouvintes que 
recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra: “Acredita-
se nele ou não, à vontade, por um ato de fé, se o mesmo parece "belo" ou verossímil, 
ou simplesmente porque se deseja dar-lhe crédito” (BRANDÃO, 1986, p. 14). As 
narrativas míticas gregas nos foram relatadas sobretudo por Homero e Hesíodo, o 
primeiro, segundo a tradição, é autor de a Ilíada e a Odisséia, enquanto que o 
segundo é autor de Teogonia e Os trabalhos e os dias. 
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? 
Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhes mostram os 
acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de 
 
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todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é 
sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e 
inquestionável. Como exemplo dessas narrativas temos o titã Prometeu, que roubou 
uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado 
(amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu 
fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens? Os deuses fizeram uma 
mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas 
maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, 
cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram 
todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, 
assim, a origem dos males no mundo. 
Já foi há muito tempo observado que o antecedente da cosmologia filosófica é 
constituído pelas teogonias e cosmogonias mítico-poéticas, das quais é muito rica a 
literatura grega, e cujo protótipo paradigmático é a Teogonia de Hesíodo, a qual, 
explorando o patrimônio da precedente tradição mitológica, traça uma imponente 
síntese de todo o material, reelaborando-o e sistematizando-o organicamente. 
A Teogonia de Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns 
deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmo, além de 
teogonia ela se torna também cosmogonia, ou seja, explicação da gênese do universo 
e dos fenômenos cósmicos. 
Hesíodo imagina ter tido, aos pés do Hélicon, na Beócia, uma visão das Musas, 
e ter recebido delas a revelação da verdade. Em primeiro lugar, diz ele, gerou-se o 
Caos, em seguida gerou-se Gaia (a Terra), em cujo seio amplo estão todas as coisas, 
e das profundidades da Terra gerou-se o Tártaro escuro, e, por fim, Eros (o Amor) 
que, depois, deu origem a todas as outras coisas. Do Caos nasceram Erebo e Noite, 
dos quais se geraram o Eter (o Céu superior) e Emera (o Dia). E da Terra sozinha se 
geraram Urano (o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois, juntando-
se com o Céu, a Terra gerou Oceano e os rios (cf. REALE, G. História da Filosofia, 
vol. I.) 
O mito narra, assim, a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações 
entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os 
mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que 
são cosmogonias e teogonias. 
 
13 
 
Considera-se, portanto, que a Filosofia, percebendo as contradições e 
limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, 
transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. 
O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais: 
 Tendência à racionalidade: a razão é o critério de explicação da realidade; 
 A Natureza: que opera obedecendo leis e princípios racionais e, portanto, 
pode ser conhecida pelo nosso pensamento e pela nossa razão; 
 O Cosmo: entendido como ordem, é uma ordem racional; é a racionalidade 
deste mundo que o torna compreensível ao entendimento humano; daí, Cosmologia. 
 A Filosofia: entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e 
sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas 
transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é 
um fato tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que 
outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os 
japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América 
não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que 
todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de 
conhecimento da Natureza e dos seres humanos, poisdesenvolveram e 
desenvolvem. 
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela 
possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir o 
pensamento, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o 
pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das 
características desenvolvidas por outros povos e outras culturas. 
 Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir o pensamento 
que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, 
tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada 
cultura europeia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do 
Brasil, nós também participamos. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o 
Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, 
racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. 
Portanto, a Filosofia surge quando alguns pensadores gregos, admirados e 
espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, 
 
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começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o 
mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os 
acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e 
que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma. A filosofia, enfim: 
 
[...] vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus 
métodos, em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações 
dos mistérios e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo 
próprio das seitas e a publicidade do debate contraditório que caracterizava 
a atividade política [...] O filósofo não deixará de oscilar entre duas atitudes, 
de hesitar entre duas tentações contrárias. Ora afirmará ser o único 
qualificado para dirigir o Estado, e, tomando orgulhosamente a posição do 
rei-divino, pretenderá, em nome desse ‘saber’ que o eleva acima dos homens, 
reformar toda a vida social e ordenar soberanamente a cidade. Ora ele se 
retirará do mundo para recolher-se numa sabedoria puramente privada; 
agrupando em torno de si alguns discípulos, desejará com eles instaurar, na 
cidade, uma cidade diferente, à margem da primeira e, renunciando à vida 
pública, buscará sua salvação no conhecimento e na contemplação” 
(VERNANT, 2006, p. 64) 
 
Mas a cosmologia não é a única característica principal da filosofia grega. Se 
num primeiro momento a filosofia surge como compreensão racional do cosmos, não 
é menos exato dizer que com a emergência da polis grega (as cidades-Estado), a 
filosofia irá mudar a sua ênfase de pesquisa, no sentido de que a problemática agora 
será o próprio homem, enquanto ser individual, ético e cidadão da polis. 
Nesse momento, diz Jean Pierre Vernant, a Grécia está centralizada na ágora, 
espaço comum, espaço público, onde são debatidos os problemas de interesse geral. 
“Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental; descobre um novo 
horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no sentido 
pleno do termo, uma polis” (2006, p. 51) E mais adiante: 
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um 
acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das 
instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a polis conhecerá 
etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar 
entre os séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a 
vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade 
será plenamente sentida pelos gregos (id., ibidem, p. 53). 
Nesse novo contexto, Sócrates e os Sofistas inauguram um novo momento na 
filosofia grega. O pensamento de Sócrates é um marco na constituição da tradição 
filosófica ocidental. E pode-se dizer que inaugura a filosofia clássica dando maior 
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
 
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ênfase a problemática ético-política e existencial, ao invés de uma maior preocupação 
centrada sobre a realidade natural, tal como encontramos nos filósofos pré-socráticos 
do período cosmológico. Essa mesma denominação, “pré-socráticos”, já reflete a 
importância da filosofia de Sócrates como um divisor de águas. Neste período da 
filosofia grega (séc. V e IV a.C.), o interesse dos filósofos gira não tanto em torno da 
natureza, como nos pré-socráticos, mas em torno do homem e do espírito; da 
cosmologia passa-se para a antropologia, a política e a moral. Daí ser dado a esse 
segundo período do pensamento grego também o nome de antropológico, pela 
importância e o lugar central destinado ao homem e ao espírito no sistema do mundo, 
até então limitado à natureza exterior. Por outro lado, os Sofistas, contemporâneos 
de Sócrates, embora com visões diferentes, compartilham o interesse pela 
problemática ético-política, pela questão do homem enquanto cidadão da polis, que 
passa a se organizar politicamente no sistema que conhecemos como democracia. 
Os Sofistas surgem no contexto da democracia grega e do apogeu das cidades-
estados, onde as deliberações serão tomadas em reunião de cidadãos: as 
assembleias. Tais decisões devem ser tomadas por consenso, o que significa explicar, 
justificar, discutir, convencer, persuadir, além disso, o uso da linguagem, o modo de 
falar, do discurso, deve ser racional. Na medida em que a palavra passa a ser livre, 
ela se torna instrumento através do qual os indivíduos podem defender seus 
interesses, seus direitos e suas propostas. “O filósofo é alguém que usa a palavra. 
Então, o indivíduo que não se interessa pela palavra, que a utiliza de um modo apenas 
pragmático, do tipo ‘me passe o sal’, que se pode fazer com ele?” (CHÂTELET, 1994, 
p. 29). Surge a arte do discurso, a retórica e a oratória, e os Sofistas são, 
precisamente, os mestres de retórica e oratória. “O que implica o sistema da polis é 
primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros 
instrumentos de poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de 
toda autoridade no Estado, o meio de comento e de domínio sobre outrem” 
(VERNANT, 2006, p. 53). E mais adiante: “Doravante, a discussão, a argumentação, 
a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como do jogo político” (id., 
ibidem, p. 56). Na democracia ateniense, a função pública dos oradores torna-se 
fundamental e a palavra um instrumento utilizado não mais apenas por pensadores, 
mas também por políticos. É necessário preparar os indivíduos para a vida pública, 
torná-los capacitados para a virtude (aretê) política e para tal, é preciso adestrá-los na 
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
 
16 
 
arte da persuasão através da palavra. “Na democracia, a palavra vai impor-se, e quem 
dominar a palavra dominará a cidade” (CHÂTELET, 1994, p. 16). 
 Nesse período o pensamento filosófico terá como traços principais: 
 As práticas humanas, a moral, a política, dependem da vontade livre e da 
escolha racional segundo valores estabelecidos pelos próprios seres humanos e não 
por imposição divina ou sobrenatural; 
 A ideia de lei como expressão da vontade humana ordenada pela razão; “A 
lei da polis [...] já não se impõe pela força de um prestígio pessoal ou religioso; devem 
mostrar sua retidão por processos de ordem dialética [do diálogo, em sentido amplo]” 
(VERNANT, 2006, p. 56), e, mesmo que ainda concebida como sagrada, a lei se torna 
uma ordem racional, sujeita à discussão e modificável por decreto 
 O discurso político – a vida política grega –, ao valorizar o pensamentoracional, cria condições para valorizar o discurso filosófico, enquanto arte retórica, 
oratória e objeto de debate público – um combate de argumentos cuja arena é a ágora, 
praça pública, lugar de reunião entre os cidadãos. 
 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
Sob vários aspectos pode a história da filosofia suscitar interesse. Quem quiser 
descortinar o ponto central, deve buscá-lo no nexo essencial que liga os tempos 
aparentemente passados com o grau atualmente alcançado pela filosofia. Tal nexo 
não é um fato exterior suscetível de ser descurado na história desta ciência; exprime, 
pelo contrário, o caráter íntimo da filosofia; e as vicissitudes desta história, 
perpetuando-se nos seus efeitos, como qualquer outro acontecimento, são produtivas 
de maneira que lhes é peculiar: outra coisa não pretendemos senão ilustrar isto 
mesmo o mais claramente que nos seja possível. 
A história da filosofia representa a série dos espíritos nobres, a galeria dos 
heróis da razão pensante, os quais, graças a essa razão, lograram penetrar na 
essência das coisas, da natureza e do espírito, na essência de Deus, conquistando 
assim com o próprio trabalho o mais precioso tesouro: o do conhecimento racional. 
Na história política, o indivíduo, na singularidade da sua índole, do seu gênio, 
das suas paixões, da energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que 
caracteriza a sua individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. 
 
17 
 
Na história da filosofia, estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm 
o cunho da personalidade nem do caráter individual; deste modo, as obras são tanto 
mais insignes quanto menos a responsabilidade e o mérito recaem no indivíduo 
singular, quanto mais este pensamento liberto de peculiaridade individual é, ele 
próprio, o sujeito criador. Primeiramente, estes atos do pensamento, enquanto 
pertencentes à história, surgem como fatos do passado e para além da nossa 
existência real. Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo por obra da história; 
ou, para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história do pensamento o 
passado é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de modo 
permanente está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. O 
patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, 
nem cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, 
mais propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do 
gênero humano. 
Como as artes da vida externa, o complexo de meios, de habilidades, de insti-
tuições e de hábitos no convívio social e na vida política são o resultado da meditação 
e da invenção, das privações, ou de acidentes da sorte, da necessidade e da perícia, 
do querer e do poder da história na sua evolução até o presente atual. Se alguma 
coisa somos no domínio da ciência e da filosofia, devemo-lo à tradição, a qual, através 
do que é caduco, e por isso mesmo passado, forma, segundo a expressão de Herder, 
uma corrente sagrada que conserva e transmite tudo quanto o mundo produziu antes 
de nós. 
Mas esta tradição não é apenas uma ama que conserva fielmente o patrimônio 
recebido para o manter e transmitir invariável aos vindouros, como o curso da natureza 
que, através de infinitas variações e atividades de formas e funções, sempre se 
conserva fiel às suas leis originais sem progredir; não é estátua de pedra, mas é viva, 
e continuamente se vai enriquecendo com novas contribuições, à maneira de rio que 
engrossa o caudal à medida que se afasta da nascente. 
O conteúdo desta tradição é formado por tudo quanto o mundo espiritual 
produziu, e o espírito universal nunca permanece estacionário. Ora, é do espírito 
universal que nos devemos ocupar aqui. É possível que em determinada nação se dê 
uma pausa na cultura, na arte, na ciência, nas capacidades intelectuaisem geral. 
Pareceter sido o que sucedeu com os chineses que, vai para dois mil anos, teriam 
 
18 
 
estacionado no atual grau de desenvolvimento. Mas o espírito do mundo não pode 
cair neste repouso indiferente, como se deduz do simples conceito essencial do 
espírito, pois que o seu viver é o seu agir. Ora, a ação pressupõe uma matéria 
preexistente sobre a qual se exerça, não só a fim de a aumentar com o acréscimo de 
novos materiais, senão principalmente para a elevar e transformar. Deste modo, 
aquilo que todas as gerações produziram como ciência, como patrimônio espiritual, 
constitui uma herança acumulada pelo trabalho de todos os homens que nos 
precederam, um templo onde todas as gerações humanas, gratas e alegres, depuse-
ram o que as ajudou a viver e o que elas conseguiram extrair da profundidade da 
natureza e do espírito. 
A recepção desta herança equivale ao exercício da posse dela. Ela forma a 
alma das sucessivas gerações, a sua substância espiritual e como que um hábito 
transmitido, os seus princípios, prejuízos e riquezas; e, ao mesmo tempo, tal herança 
degradou-se ao ponto de servir de matéria para ser transformada e elaborada pelo 
espírito. Desta maneira se vai modificando o patrimônio herdado, e simultaneamente 
se enriquece e conserva o material elaborado. 
É esta, precisamente, a posição e a função da nossa idade, como aliás de todas 
as idades: compreender a ciência existente, modelar por ela a nossa inteligência, e 
desse modo desenvolvê-la, elevá-la a um grau superior; no ato de a convertermos em 
propriedade nossa e individual, juntamos-lhe algo de que até então carecera. Desta 
característica da produção espiritual, que supõe um mundo espiritual preexistente e o 
transforma no ato de se apossar dele, segue-se que a nossa filosofia só pode existir 
enquanto ligada à precedente, da qual é necessário produto; e o curso da história 
mostra, não o devir de coisas a nós estranhas, mas sim o nosso devir, o devir do 
nosso saber. 
Da natureza da relação que expusemos dependem as ideias e os problemas 
que podemos propor, relativos ao âmbito da história da filosofia. Compreender 
devidamente esta relação permite alcançar como pelo estudo da história desta ciência 
somos iniciados no conhecimento da própria ciência. As indicações que demos acerca 
do processo de tratar esta história são tomadas de tal relação, e a elucidação delas 
constitui uma das finalidades desta Introdução. Nesta altura, intervém o conceito do 
fim da filosofia, que deveria ser estabelecido como fundamento. Mas, visto não 
podermos fazer aqui uma exposição científica deste conceito, em vez de provar e 
 
19 
 
fazer compreender a natureza do devir da filosofia, contentamo-nos com dar dele uma 
ideia preliminar. Este devir não é simplesmente um movimento passivo como 
imaginamos que seja o nascer do sol e da lua, movimento que se efetua sem 
contrariedade no espaço e no tempo. O que devemos representar ao espírito é a 
atividade do pensamento livre; devemos representar a história do mundo no 
pensamento, o processo do seu nascimento e produção. Segundo uma antiga opinião, 
a faculdade de pensar é o que separa os homens dos brutos. Aceitamo-la como 
verdadeira. O que o homem possui de mais nobre do que o animal, possui-o graças 
ao pensamento: tudo quanto é humano, de qualquer forma que se manifeste, é-o na 
medida em que o pensamento age ou agiu. Mas sendo o pensamento o essencial, o 
substancial, o efeitual, dirige-se a objetos muito variados; pelo que importa considerar 
como mais perfeito o pensamento voltado sobre si mesmo, ou seja, sobre o objeto 
mais nobre que pode buscar e encontrar. 
A história que nos propomos fazer é a história do pensamento que a si próprio 
se encontra; e por meio do pensamento acontece que ele se encontra na medida em 
que se produz; por isso só existe e é real na medida em que se encontra. As 
manifestações deste processo são as filosofias, e as séries das descobertas, de que 
o pensamento se vale para se descobrir, constituem o trabalhode dois mil e 
quinhentos anos. 
Se o pensamento, enquanto essencialmente pensamento, é em si e por si 
estante e eterno, e se o vero está contido só no pensamento — como é que este 
mundo intelectual consegue ter uma história? Na história apresenta-se o que é 
mutável, o que mergulha na noite do passado, o que já não existe; pelo contrário, o 
pensamento vero e necessário — e, aqui, só deste nos ocuparemos — não é 
suscetível de mudança. A questão, que surge aqui, é uma das primeiras sobre que 
deve incidir a nossa atenção. Em segundo lugar, apresentam-se à mente, além da 
filosofia, muitos outros objetos de importância, os quais, sejam embora produto do 
pensamento, ficam excluídos da nossa investigação, tais como a religião, a história 
política, as constituições dos Estados, as artes e as ciências. Ocorre perguntar: como 
distinguir estes produtos daqueles que formam o objeto do nosso estudo? Mais. Que 
relação medeia entre eles e a história? Sobre estas duas questões precisamos dizer 
alguma coisa, o bastante para elucidar a maneira como entendemos tratar a história 
da filosofia. 
 
20 
 
Além disso, em terceiro lugar, é oportuno, antes de baixar aos pormenores, 
abarcar num relance o conjunto, sob risco de deixar o todo pelos pormenores, a 
floresta pelas árvores, a filosofia pelas filosofias. O espírito exige a posse de uma 
representação geral do escopo e da finalidade do conjunto para saber a que deva 
consagrar-se. Do mesmo modo que se abarca num relance uma paisagem que se vai 
estreitando à medida que demoramos o olhar em cada uma das partes que a 
constituem, assim também o espírito deseja compreender a relação entre as filosofias 
particulares e a filosofia geral, porque o valor das partes singulares deriva 
principalmente da relação entre elas e o todo. Isto obtém-se, acima de tudo, por meio 
da filosofia e da história da filosofia. A necessidade desta visão de conjunto pode, com 
rigor, parecer menor para a história do que para uma ciência própria e verdadeira. De 
fato, à primeira vista, a história parece ser uma sucessão de fenômenos contingentes, 
isolados, e que só do tempo recebem o nexo que os prende. Todavia, já na história 
política não nos contentamos com esta maneira de ver: compreendemos, ou pelo 
menos pressentimos, uma conexão necessária que marca, a cada um dos fatos, a 
sua posição especial e a relação com uma finalidade, e com isso lhes marca também 
um significado. Tudo, na história, tem significado só pela sua relação com algum fato 
geral e em virtude da sua ligação com ele; descobrir este fato geral chama-se 
compreender o seu significado. 
Restam ainda os seguintes pontos que me proponho esclarecer nesta Introdu-
ção. Primeiramente, a que se destina a história da filosofia? Qual o seu significado, o 
seu conceito, o seu escopo? Da resposta a estas perguntas se deduzirá o modo de 
tratar o assunto. Resultará daí, como particularidade mais interessante, a relação 
entre a história da filosofia e a própria ciência da filosofia; ver-se-á que a história da 
filosofia não se limita a expor os fatos externos, os acontecimentos acidentais que 
formam o seu conteúdo, mas procura demonstrar como este mesmo conteúdo, 
embora pareça desenvolver-se historicamente, na realidade pertence à ciência da 
filosofia: a história da filosofia é, também ela, científica, e converte-se, pelo que lhe é 
essencial, em ciência da filosofia. 
Em segundo lugar, precisamos fixar com maior exatidão o conceito da filosofia, 
a fim de determinar, sobre a base de tal conceito, tudo quanto do infinito material e 
dos múltiplos aspectos oferecidos pela cultura espiritual dos povos se deva excluir da 
história da filosofia. A religião e as ideias nela e acerca dela expressas, especialmente 
 
21 
 
sob forma de mitologia, apresentam-se, pelo seu conteúdo, tão aparentadas com a 
filosofia, que os confins de uma e de outra se confundem. Outro tanto se pode afirmar 
das demais ciências: as ideias de cada uma delas sobre o Estado, sobre os deveres 
e sobre as leis, são tão parentes da filosofia pela forma, como a religião o é pela 
substância. Poder-se-ia supor que se deveriam tomar em consideração todas estas 
ideias na história da filosofia. Que coisa há que se não tenha chamado filosofia e 
filosofar? Por um lado, convirá considerar atentamente a íntima ligação da filosofia 
com as disciplinas afins, religião, arte, com as demais ciências, como também com a 
história política. Por outro lado, depois de bem delimitado o campo da filosofia, 
mediante a determinação do que é a filosofia e do que lhe pertence, teremos obtido 
um princípio para a sua história muito distinto dos inícios de ideias religiosas e de 
conjecturas mais ou menos ricas em ideias. 
Do conceito do âmbito e da finalidade, como resulta destes primeiros pontos de 
vista, importará passar à consideração de um terceiro ponto, isto é, ao exame geral e 
à divisão do curso da história da filosofia em momentos necessários. Esta divisão 
permitirá mostrar essa história como um todo orgânico em via de progresso, como um 
nexo racional. Só deste modo alcançará a dignidade de ciência. 
Não me demorarei noutras reflexões sobre a utilidade da história da filosofia e 
dos vários modos de a tratar: a utilidade é por si evidente. Por último, para me não 
afastar do costume tradicional, tratarei também das fontes da história da filosofia. 
 
 
Fonte: resumoescolar.com.br 
 
22 
 
 
3.1 A Filosofia Antiga 
 
A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um conjunto de cidades-Estados (Pólis) 
que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Por ser seu relevo 
montanhoso, permitiu que grupos de pessoas (Demos) fossem formados 
isoladamente no interior do qual cada Pólis desenvolveu sua autonomia. 
Constituída de uma porção de terras continental e outra de várias ilhas, bem 
como também em virtude da pouca fertilidade dos seus solos, a Grécia teve de 
desenvolver o comércio como principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-
se do seu litoral bastante recortado e com portos naturais, desenvolveu também 
a navegação para expandir os negócios, bem como mais tarde sua influência política 
nas chamadas colônias. 
A sociedade grega era organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, 
baseado nos mitos(narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do universo), em que 
a filiação à terra natal (proprietários) determinava o poder (rei). 
Esse modo de estruturar a sociedade e pensar o mundo é comumente 
classificado como período Homérico (devido a Homero, poeta que narra o surgimento 
da Grécia a partir da guerra de Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram 
sendo percebidas e exigiram novas explicações. Surge, então, a Filosofia. Eis os 
principais fatores que contribuíram para o seu aparecimento: 
 As viagens marítimas, pois o impulso expansionista obrigou os comerciantes 
a enfrentarem as lendas e daí constatarem a fantasia do discurso mítico, 
proporcionando a desmitificação do mundo (como exemplo, os monstros que os 
poetas contavam existir em determinados lugares onde, visitados pelos navegadores, 
nada ali encontravam); 
 A construção do calendário que permitiu a medição do tempo segundo as 
estações do ano e da alternância entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos 
gregos de abstrair o tempo naturalmente e não como potência divina; 
 O uso da moeda para as trocas comerciais que antes eram realizadas entre 
produtos. Isso também favoreceu o pensamento abstrato, já que o valor agregado aos 
produtos dependia de uma certa análise sobre a valoração; 
 
23 
 
 A invenção do alfabeto e o uso da palavra é também um acontecimento 
peculiar. Numa sociedade acostumada à oralidade dos poetas, aos poucos cai em 
desuso o recurso às imagens para representar o real e surge, como substituto, a 
escrita alfabética/fonética, propiciando, como os itens acima, um maior poder de 
abstração. 
 A palavra nãomais é usada como nos rituais esotéricos (fechados para os 
iniciados nos mistérios sagrados e que desvendavam os oráculos dos deuses), nem 
pelos poetas inspirados pelos deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto 
cotidiano entre os cidadãos; 
 O crescimento urbano é também registrado em virtude de todo esse 
movimento, assim como o fomento das técnicas artesanais e o comércio interno, as 
artes e outros serviços, características típicas das cidades; 
 A criação da Política que faz uso da palavra para as deliberações do povo 
(Demo) em cada Pólis (por isso, Democracia ou o governo do povo), bem como exige 
que sejam publicadas as leis para o conhecimento de todos, para que reflitam, 
critiquem e a modifiquem segundo os seus interesses. 
As discussões em assembleias (que era onde o povo se reunia para votar) 
estimulava o pensamento crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva e 
evidencia a capacidade do homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e 
a organização do mundo a partir da sua própria racionalidade e não mais nas palavras 
mágico-religiosas baseadas na autoridade dos poeta inspirados. Com isso, foi 
possível, a partir da investigação sistemática, das contradições, da exigência de rigor 
lógico, surgir a Filosofia. 
 
3.2 As principais características da Filosofia 
 
A reflexão filosófica surge no século VI a. C., na Grécia, em contraposição à 
narrativa mítica. Um novo conceito de verdade sobre a realidade substitui, assim, o 
modelo baseado na tradição oral dos poetas, autoridades portadoras da vontade dos 
deuses. 
A Filosofia surge como espanto diante da possibilidade de estranhar o mundo 
e concebê-lo de forma racional. Esse espanto impulsiona a busca da compreensão 
do ser enquanto algo natural e capaz de ser apreendido pelo Lógos (razão, discurso, 
 
24 
 
palavra) humano. Após esse primeiro passo, a Filosofia também nos aparece 
como admiração, isto é, a contemplação da verdade de modo absoluto e universal, 
válida para todos, independente de raça, nação, cultura, mito, etc. Assim, a Filosofia 
liberta o homem da insegurança e do temor proporcionados pelo Mito de que o destino 
dos homens era um joguete dos deuses. 
 
 
Fone: image.slidesharecdn.com 
Para conhecer essa verdade, os filósofos se esforçaram para conhecer as 
causas e os princípios (arqué) de toda a realidade, descobrindo na multiplicidade de 
coisas e opiniões um princípio único. Vejamos quais são as principais características 
deste processo de compreensão: 
 Tendência racional, em que somente a Razão é o critério de explicação 
sobre o mundo, segundo seus próprios princípios; 
 Submissão dos problemas à análise, à crítica, à discussão, à demonstração, 
procurando oferecer respostas seguras e definitivas; 
 O pensamento é a fonte do conhecimento e deve apresentar as regras de 
seu funcionamento para justificar suas bases lógicas (por exemplo: os princípios de 
Identidade, da Não Contradição e do Terceiro Excluído); 
 Não aceitar as noções pré-concebidas, as opiniões já pré-estabelecidas, os 
pré-conceitos imediatos, mas investigar o real com o rigor exigido pelo pensamento e 
suas leis, não sendo passivo, mas sim ativo no processo do conhecer; 
 
25 
 
 Descobrir, a partir da análise das semelhanças e dessemelhanças entre as 
coisas, o princípio que promove a generalização, isto é, o que permite agrupar os 
vários casos particulares em uma classe geral de objetos. 
 
3.3 A importância de ensinar Filosofia 
 
A Filosofia em especial, leva o aluno à oportunidade de desenvolver um 
pensamento independente e crítico, ou seja, permite a ele experimentar um pensar 
individual. Sabe-se que cada disciplina apresenta suas próprias características, bem 
como auxilia a desenvolver habilidades específicas do pensamento que é abordado. 
No caso da Filosofia, essa permite e dá oportunidade de realizar o pensamento 
de maneira bastante pessoal. 
O Ensino Médio é geralmente considerado pelos educadores como uma fase 
de consolidação do aluno jovem, de sua personalidade e seus desejos, a Filosofia 
apresenta um papel importante e fundamental no sentido de colaboração. 
A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina, é necessário que os 
educadores se conscientizem de que o ensino não deve ser considerado como uma 
disciplina a mais a ser ensinada. O ideal é que o professor que tem a responsabilidade 
de aplicar tal disciplina tenha em mente o quanto é necessário fazer com que seus 
alunos não fiquem dependentes de livros didáticos, não desmerecendo, mas no 
sentido de não tender para os tão famosos “decorebas” de ideias e autores. 
Aos educadores que se preocupam com a melhor forma de aplicar a Filosofia, 
não existe receita pronta. Recomenda-se a priorização de práticas que favoreça a 
formação de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento e crítica, 
formando cidadãos capacitados para enfrentar as diversas situações que poderão 
surgir em suas vidas. 
A Filosofia é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a 
prática de análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do 
mundo e do homem. 
 
2Em abril de 2018, o MEC entregou a nova versão da Base Nacional Curricular 
(BNCC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE). A base funciona como uma 
 
2 Extraído de https://www.gazetadopovo.com.br/ 
https://www.gazetadopovo.com.br/
 
26 
 
“referência nacional comum e obrigatória para a elaboração dos currículos e 
propostas pedagógicas” das escolas. Na nova BNCC, apenas Matemática e Língua 
Portuguesa permanecem como disciplinas obrigatórias nos três anos de ensino 
médio. 
Filosofia, Sociologia, História e Geografia terão os conteúdos aplicados diretamente 
em Ciências Humanas, não separadamente como antes. 
 
4 FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
 
Filosofia da ciência é a área da filosofia que pergunta sobre a ciência, de quais 
ideias parte, qual método usa, sobre qual fundamento e acerca de suas implicações. 
Apesar destes problemas gerais, muitos filósofos escreveram sobre algumas ciências 
particulares, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a filosofia para pensar 
sobre a ciência, como se utiliza resultados científicos para pensar a filosofia. 
Não existe determinada ciência que faça parte dos estudos da filosofia da 
ciência. As ciências naturais (ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemática, 
lógica e teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociologia, antropologia e economia) e 
aplicadas (agronomia, arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos 
filosóficos. 
Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava sobre a ciência. Aristóteles 
(384 a.C.-322 a.C.), por exemplo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a 
possibilidade de existir vida a partir de algo inanimado. A teoria da abiogênese 
(geração espontânea) que ele defendia perdurou por diversos séculos. Além da 
origem da vida, Aristóteles também se preocupou em elaborar um meio de estudar as 
espécies, sendo ele o primeiro a propor uma divisão do reino animal em categorias. 
No decorrer da história, a figura mais importante para a filosofia da ciência é 
Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês responsável pela base da ciência moderna, 
o método indutivo. A indução, método de a partir de fatos particulares chegar a 
conclusões universais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu aprimoramento 
e divulgação. 
Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a ciência, especialmente 
devido aos avanços e descobertas dos séculos seguintes. René Descartes 
desenvolveu seu método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, 
 
27 
 
Isaac Newton, Gottfried Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores 
que detiveram tempo acerca do campo da filosofia da ciência pode-se escolher alguns 
para comentar suas importantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Popper. 
DavidHume (1711-1776), filósofo escocês, criticou fortemente as bases da 
ciência e da filosofia. A partir do pensamento de John Locke (1632-1704), Hume levou 
o empirismo, isto é, a ideia de que todo o nosso conhecimento tem origem na 
experiência (nos cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele, se nosso 
conhecimento ocorre após a experiência significa que não podemos deduzir eventos 
futuros. Significa dizer que não há nada no mundo que garanta que as leis que regem 
o universo hoje serão as mesmas amanhã. Por mais que o homem observe há 
milênios o sol aparecer todos os dias, nada garante o seu aparecimento amanhã, e 
por isso a ciência não pode tomar suas conclusões como verdades absolutas. 
No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper (1902-1994) criticou a forma de 
fazer ciência a partir da indução, o método defendido por Bacon. Para Popper, o 
método indutivo não garante a validade de suas conclusões. Afirmou isso, pois não é 
possível ter acesso a todos os fatos particulares para ser possível chegar a 
conclusões. Um cientista pode observar cisnes durante 20 anos e perceber que todos 
os cisnes observados são brancos, mas ele não pode concluir que “todos” os cisnes 
são brancos. Se ele concluir isto, bastará a existência de apenas um cisne negro para 
invalidar sua tese. Com isto, Popper defenderá que o papel da ciência é falsear as 
suas conclusões a partir do método dedutivo, partindo de conclusões universais para 
a verificação particular. O papel da ciência é verificar se suas conclusões são 
verdadeiras, tentando falseá-las com a experimentação. 
Aproximando questões de metafísica, epistemologia e ontologia, quando estas 
tratam da relação entre ciência e verdade, a filosofia da ciência é o ramo da filosofia 
que trata das questões relativas a confiabilidade, previsibilidade e métodos da ciência. 
Questões acerca da ciência sempre estiveram presentes em filosofia, por muito 
tempo não houve distinção entre questões da filosofia e da ciência. No entanto, uma 
área da filosofia dedicada exclusivamente a compreensão das ciências só veio a surgir 
na metade do século XX, particularmente sob influência do positivismo lógico, que 
buscava desenvolver critérios para garantir o significado de afirmações filosóficas, 
mas também pela obra de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, de 
 
28 
 
1962, na qual o autor procurou apresentar uma nova visão de como se dá o progresso 
científico. 
Atualmente, existem ramos dentro da filosofia da ciência para todas as ciências 
existentes, desde a filosofia da física, que irá analisar, entre outros tópicos, questões 
relativas a natureza do espaço-tempo, até a filosofia da psicologia e ciência cognitiva. 
A filosofia da ciência, como área ampla, neste contexto, analisará ainda questões 
relativas a possibilidade de se reduzir uma ciência a outra (reducionismo), a validade 
do raciocínio científico e mesmo questões próximas a ética, como a morte na filosofia 
da medicina. 
Os principais tópicos de investigação para a filosofia da ciência são três: 
 
1. O que se qualifica como ciência? 
2. Qual o propósito da ciência? 
3. A confiabilidade das teorias científicas. 
 
O primeiro tópico, que trata do que se qualifica como ciência, é conhecido como 
"problema da demarcação". De acordo com Karl Popper, a qualidade fundamental da 
ciência é a falseabilidade. Sabemos que estamos diante de uma pseudo-ciência 
quando esta não comporta mecanismos para mostrar que suas teses podem ser 
falsas. Ainda segundo Popper, esta seria a questão primordial da filosofia da ciência. 
Embora muitos filósofos concordem com Popper, um consenso ainda não foi 
estabelecido, chegando alguns filósofos a afirmar que devemos usar o padrão Potter 
Stewart, segundo o qual "eu sei o que é quando vejo". 
Quanto ao propósito da ciência, existem duas correntes mais proeminentes, 
realistas e instrumentalistas. Realistas irão defender que o mundo descrito pelas 
ciências é o mundo real, que o objetivo último da ciência é a verdade, e defenderão 
que entidades inobserváveis possuem o mesmo status ontológico que as entidades 
observáveis. Nesta corrente encontramos nomes como Ernan McMullin e Richard 
Boyd. Instrumentalistas, por outro lado, defenderão que as teorias científicas são 
ferramentas para identificar relações entre meio e finalidade úteis e confiáveis na 
experiência, mas sem afirmar a revelação de entidades para além da experiência. 
Entre os instrumentalistas os principais nomes são Karl Popper e John Dewey. 
https://www.infoescola.com/filosofia/reducionismo/
 
29 
 
Quanto à questão da confiabilidade das teorias científicas, trata-se de investigar 
como e por qual razão devemos confiar em uma teoria científica. Entre as possíveis 
respostas encontramos a tese do poder de predição de fenômenos, segundo a qual 
uma teoria é confiável quando ela é eficaz em prever fenômenos que se dispõe a 
prever. Outra abordagem, intimamente ligada a primeira, é a de que a teoria confiável 
oferece uma boa explicação para os eventos que ocorrem com regularidade, ou que 
já ocorreram. O critério pelo qual se poderia dizer que uma teoria explicou bem um 
evento, assim como o que significa dizer que uma teoria tem poder explicatório, ainda 
permanece sob discussão. 
Entre as questões importantes para a filosofia da ciência encontramos ainda, o 
reducionismo, que trata não apenas da possibilidade de se reduzir uma ciência a 
outra, mas também da possibilidade de reduzir todos os campos de estudo a 
explicações científicas; e a neutralidade política e social da ciência. 
 
4.1 Questões de estudo da Filosofia 
 
Apesar do seu nome simples, o campo é complexo e continua a ser uma área 
de investigação atual. Filósofos da ciência estudam ativamente questões como: 
 O que é uma lei da natureza? Há alguma em ciências não-físicas, como a 
biologia e a psicologia? 
 Que tipo de dados pode ser usado para distinguir entre as verdadeiras 
causas e regularidades acidentais? 
 Quanta evidência e que tipos de evidência precisamos ter antes de 
aceitar hipóteses? 
 Por que é que os cientistas continuam a confiar em modelos e teorias que 
sabem ser pelo menos parcialmente incorretos (como a física de Newton)? 
 
Embora possam parecer elementares, estas questões são na realidade muito 
difíceis de responder de forma satisfatória. As opiniões variam muito dentro do campo 
(e, ocasionalmente, vão contra as opiniões dos próprios cientistas — que usam o seu 
tempo mais a fazer ciência do que a analisá-la abstratamente). Apesar dessa 
diversidade de opinião, os filósofos da ciência em grande parte concordam num 
ponto: não há uma maneira única e simples de definir a ciência! 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-lei.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-dados.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-evidencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-hipotese.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-modelo.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teoria.php
 
30 
 
 
 
Fonte: saberciencia.tecnico.ulisboa.pt 
 
Embora o campo seja altamente especializado, algumas ideias chave 
generalizaram-se. Aqui temos uma explicação curta de apenas alguns conceitos 
associados à filosofia da ciência, que você pode (ou não) já ter ouvido. 
 Epistemologia — ramo da filosofia que lida com o que é o conhecimento, 
como aceitamos algumas coisas como verdadeiras, e como podemos justificar essa 
aceitação. 
 Empiricismo — conjunto de abordagens filosóficas para a construção do 
conhecimento que enfatizam a importância da evidência observável provinda 
do mundo natural. 
 Indução — método de raciocínio em que uma generalização é defendida 
como verdadeira com base em exemplos individuais que parecem estar conformes à 
generalização. Por exemplo, depois de observarque as árvores, bactérias, anémonas 
do mar, moscas, e os seres humanos possuem células, pode-se inferir por 
indução que todos os organismos possuem células. 
 Dedução — método de raciocínio em que a conclusão é alcançada 
logicamente a partir de dadas premissas. Por exemplo, se conhecemos as posições 
relativas atuais da lua, do sol e da Terra, e se sabemos exatamente como se movem 
uns em relação aos outros, podemos deduzira data e o local do próximo eclipse solar. 
 Parcimónia/ navalha de Occam — ideia de que, sendo todas as outras 
condições iguais, devemos preferir uma explicação mais simples a uma mais 
complexa. 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-aceitar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-observar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-mundo-natural.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-inferencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-deduzir.php
 
31 
 
 Problema da demarcação — o problema de distinguir com segurança a 
ciência da não-ciência. Filósofos modernos da ciência concordam em termos gerais 
que não existe um critério único e simples que possa ser usado para demarcar as 
fronteiras da ciência. 
 Falsificação — o ponto de vista, associado com o filósofo Karl Popper, que 
a evidência só pode ser usada para descartar ideias, e não para as apoiar. Popper 
propôs que as ideias científicas só podem ser testadas através de falsificação, nunca 
através da procura de evidência corroborante. 
 Mudanças de paradigma e revoluções científicas — uma visão da ciência, 
associada com o filósofo Thomas Kuhn, que sugere que a história da ciência pode 
ser dividida em períodos de ciência normal (quando os cientistas incrementam, 
elaboram e trabalham com uma teoria científica central, geralmente aceite) e breves 
períodos de ciência revolucionária. Kuhn afirmou que durante os períodos de ciência 
revolucionária, anomalias refutando a teoria aceite acumularam-se a tal ponto que a 
teoria anterior é rejeitada e uma nova é construída para tomar o seu lugar, numa 
assim chamada "mudança de paradigma". 
 
5 FILOSOFIA NO BRASIL 
 
Após um primeiro contato com o universo filosófico é inevitável perguntar se 
existe ou existiu algum filósofo brasileiro. Fala-se muito dos pensadores gregos 
antigos, do eixo europeu Alemanha-França-Inglaterra e, recentemente, de 
pensadores da América do Norte, mas há a visão de que nada novo e original é 
produzido por aqui. 
É certo que a história da filosofia não está finalizada. A todo instante, novas 
ideias surgem e no Brasil não poderia ser diferente. A existência de intelectuais no 
Brasil não é algo recente. Dentre as diversas mentes brasileiras é possível destacar 
alguns nomes. 
Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), paulista, tem uma grande obra 
publicada em mais de cem volumes. Em seu pensamento, formado pela pluralidade 
de influências, destaca-se o que chamou de Filosofia Concreta, em um livro com o 
mesmo nome. Para ele, é preciso superar a abstração filosófica que resultou da 
fragmentação do conhecimento. Após a análise dos diversos pedaços do 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teste.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-falsificar.php
 
32 
 
conhecimento, como matemática, ética, política, economia, ciência, metafísica, 
existência, etc. era preciso reunir este conhecimento num conjunto. Assim, é preciso 
através do método dialético concreto observar os objetos de perto e depois se afastar 
para chegar a uma ideia do todo concreto. 
Miguel Reale (1910-2006), paulista, inovou o pensamento acerca da Filosofia 
do Direito com a Teoria tridimensional do direito. Após séculos de discussões no 
campo do Direito, com argumentos retóricos e pouca profundidade na discussão, a 
obra de Reale delimita a discussão e apresenta uma nova forma de pensar. Para ele, 
é preciso pensar o direito a partir de três dimensões: a do fato, a do valor e a da norma. 
Com isso, o fato visa pensar a partir do aspecto histórico e social, o valor se relaciona 
com o que se pretende defender e a norma é o que faz a relação entre fato e valor. 
Para construir um plano organizacional, precisa-se de estar em sintonia com o 
seguinte diagrama da equipe transdisciplinar: Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-
2002), padre mineiro, pensou sobre questões humanistas. Influenciado por Tomás de 
Aquino (1225-1274) e Hegel (1770-1831), Lima Vaz pensa a antropologia moderna 
como uma síntese da visão cosmocêntrica grega e teocêntrica medieval, isto é, deixa-
se de pensar a partir da ideia de que o universo (kósmos) é o centro, como também 
Deus (theos) deixa de ser o centro, para um novo momento de colocar o homem 
(anthropos) no centro, pensar o mundo a partir do homem. 
Gerd Bornheim (1929-2002), gaúcho, foi um dos que ajudaram na introdução e 
disseminação da filosofia de Martin Heidegger (1889-1976) no Brasil. Escreveu sobre 
diversos temas e entre eles acerca do que é filosofar, defendendo que filosofar é algo 
que pertence ao interior do sujeito e não a estar presente em determinado meio ou 
cultura. Sobre uma “filosofia à brasileira”, era crítico com relação à ideia de uma 
filosofia nacional. 
No livro A filosofia contemporânea no Brasil (1997), de Antônio Joaquim 
Severino, outros nomes recebem destaque como: Fernando de Arruda Campos 
(1930-atual), José Arthur Giannotti (1930-atual), Rubem Alves (1933-atual), Sérgio 
Paulo Rouanet (1934-atual) e Hilton Ferreira Japiassu (1934-atual). 
Outros nomes da filosofia brasileira podem ser lembrados, como: Marilena 
Chauí (1941-atual), Roberto Romano, Olavo de Carvalho (1947-atual) e Paulo 
Ghiraldelli Jr. (1957-atual). 
 
33 
 
A filosofia conheceu certa popularização no Brasil, pois canais de televisão 
veicularam programas de filosofia, como o quadro Ser ou Não Ser, com Viviane Mosé, 
no Fantástico, da Rede Globo. O canal GNT manteve a filósofa Márcia Tiburi (1970-
atual) por cinco anos em seu programa Saia Justa. 
 
5.1 História da Filosofia no Brasil 
 
A Filosofia no Brasil não é um assunto muito falado fora dos círculos 
acadêmicos (e muitas vezes nem dentro). Quando se fala em Filosofia se lembra 
de Sócrates, Kant, Nietzsche e Sartre, mas nunca de nenhum filósofo brasileiro. Não 
creio que isso se dê por conta de algum preconceito ou por que filósofos Brasileiros 
não possuem trabalhos relevantes. Acho, sim, que o que acontece é que a Filosofia 
sempre foi predominantemente europeia e, salvo exemplo dos EUA, raros foram os 
países do Ocidente que tiveram Filósofos que ficaram para a posteridade. Isso não 
significa que os filósofos brasileiros ou a história da Filosofia no Brasil seja 
desprezada; o que acontece é que, quando se fala de Filosofia, existem inúmeros 
Filósofos, e é preciso estabelecer prioridades, ou seria impossível ensinar e aprender 
Filosofia. 
Eu não posso me considerar um nacionalista; acho que reconhecimento deve 
ser dado a quem merece, sem distinção geográfica. Não fico perdendo tempo para 
analisar se um pensador é francês, alemão, americano, português ou brasileiro, se 
não para efeitos didáticos. Mas acredito que escrever, ainda que um pouco, sobre a 
trajetória da Filosofia no país é um bom serviço para aqueles que se interessam por 
Filosofia, por História ou simplesmente são curiosos a respeito do Brasil. Então achei 
que seria uma boa ideia discorrer um pouco sobre isso, até por que estudar Filosofia 
é sempre, de certa forma estudar história: E estudar a história da Filosofia no Brasil 
abre caminho para muitas percepções que nos permitem entender os rumos que país 
tomou, da época do descobrimento até os dias de hoje (e até por que não se fala tanto 
em Filosofia no Brasil). 
Antes de mais nada, eu preciso deixar bem claro que não sou profundo 
conhecedor da história da Filosofia no Brasil e de seus pensadores, eminha pesquisa 
sobre o assunto foi relativamente superficial. No entanto, creio que para efeitos de 
conhecimento geral, o que estará nesta matéria poderá servir pelo menos para 
despertar o interesse ou saciar a curiosidade. 
 
34 
 
 
6 O ENSINO DA FILOSOFIA34 
 
O primeiro questionamento feito pelos estudantes quando se deparam com a 
novidade da disciplina de filosofia ao ingressarem no ensino médio brasileiro é “para 
que serve a filosofia? ” Essa pergunta não é exclusividade dos estudantes, mas de 
qualquer pessoa que se disponha a fazer esse caminho. Os Parâmetros Curriculares 
Nacionais procuram oferecer uma resposta para a pergunta acerca da importância da 
filosofia no Ensino Médio ao afirmar que: 
 
Há com certeza, uma contribuição decisiva da Filosofia para o alcance dessas 
finalidades: ela nasceu com a declarada intenção de buscar o Verdadeiro, o 
Belo, o Bom. A despeito de uma transformação histórica no âmbito de sua 
competência explicativa – em parte devida a sua enorme fertilidade em gerar 
novos saberes – o pensamento filosófico resiste precisamente porque não 
abandona seu motivo originário (MEC, 1999 p.45) 
 
Disso se desprende a fertilidade da filosofia, que podemos verificar 
especificamente ao observarmos as suas principais características de acordo com 
Aspis e Gallo (2009): 
 
 O caráter dialógico – ou seja, a capacidade de provocar o diálogo com as 
mais diversas áreas do conhecimento e mesmo com a realidade que nos cerca. 
 O desenvolvimento de uma crítica radical - ou seja, uma leitura crítica dos 
elementos que estejam por trás da realidade, a busca por meio de uma crítica racional 
e radical dos elementos que compõem a realidade mesma. 
 E a característica exclusiva da filosofia – que é o pensamento conceitual, 
aquilo mesmo que justifica a presença da filosofia na escola, que é a estruturação do 
pensamento a partir da produção racional de conceitos da própria realidade. 
Desses elementos, a única característica que é exclusividade da filosofia é o 
pensamento conceitual à medida que podemos encontrar nas ciências e mesmo nas 
outras disciplinas escolares a presença da necessidade de diálogo entre as ciências 
e com a realidade para a produção de conhecimento, já o elemento do pensamento 
 
3 Extraído do artigo http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/download/13709/10438 
4 Extraído do artigo https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-
%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/download/13709/10438
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y
 
35 
 
crítico pode e deve ser desenvolvido não só pela filosofia no ambiente escolar, mas 
por todas as disciplinas, seja na leitura de textos de literatura e ciências, seja por meio 
do elemento de contextualização do processo de produção destes textos, objetivando 
o desenvolvimento do educando como ser humano e para que seja capaz de continuar 
aprendendo de forma autônoma e se adaptando com flexibilidade as novas condições 
de trabalho e de vida em sociedade. 
Porém a característica essencial da filosofia é a produção conceitual que gira 
em torno da releitura dos conceitos da tradição para atualização de acordo com a 
própria realidade que vivenciamos em nosso tempo e pela produção mesma de novos 
conceitos de forma autônoma, este sim, que sem a filosofia, o estudante não terá 
acesso por meio de outra disciplina escolar. 
 
 
Fonte: sfdkrecords.es 
As habilidades que devem ser desenvolvidas no ensino de filosofia estão 
divididas em três blocos de competências, estes que por sua vez se subdividem em 
diversas habilidades especificas: 
1. Representação e comunicação: Ler textos filosóficos de modo significativo; 
ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros; elaborar por escrito 
o que foi apropriado de modo reflexivo; debater, tomando uma posição, defendendo-
a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes. 
2. Investigação e Compreensão: Articular conhecimentos filosóficos e 
diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas 
Artes e em outras produções culturais. 
 
36 
 
3. Contextualização Sociocultural: Contextualizar conhecimentos filosóficos, 
tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-
biográfico; o entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da sociedade 
científico-tecnológica. 
Diante da primeira das competências, ao observarmos cuidadosamente as 
habilidades a ela referidas, temos a atitude de leitura de textos de origem filosófica ou 
não com uma atitude filosófica, subtenda-se ai como atitude filosófica, aquela atitude 
que não se contenta em apenas realizar uma leitura descomprometida dos textos, 
mas uma leitura que passe por uma reflexão crítica dos próprios conteúdos expressos 
nos textos, nesse sentido é importante ressaltar que não se pode falar em habilidade 
de desenvolvimento da leitura com textos “simplificados” e curtos, embora no contexto 
atual grande parte de nossos estudantes sejam atingidos pela “síndrome do twitter”, 
mas passar por um conjunto de conteúdos e textos que sejam capazes de desafiar os 
estudantes a desenvolverem as respectivas habilidades. 
Se tivermos um indivíduo que tem dificuldade de alcançar os textos filosófico 
com sua linguagem um tanto quanto distante da realidade de muitos de nossos 
estudantes, teremos obviamente um indivíduo que não construirá uma argumentação 
ampla própria apoiando-se de forma clara em textos da tradição filosófica. O que 
temos é na verdade um fio novelo de problemas que se desenrolam um após outro, 
pois alguém que lê pouco, argumenta menos e escreve menos, portanto o que se 
aponta como caminho para o ensino de filosofia na competência de representação e 
comunicação é a necessidade de uma passagem desafiadora pela história da filosofia, 
e mais que isso por autores que possibilitem, muito mais que repetição de suas 
teorias, reflexões que procurem responder aos problemas da atualidade exatamente 
como observamos no princípio deste trabalho, pois devemos nos apoiar nos ombros 
dos mestres para olhar mais longe o horizonte. 
A investigação na competência surge como o elemento chave, e cabe destacar 
que não podemos falar de modo algum em investigação sem falarmos em curiosidade 
humana, curiosidade filosófica essa que pode ser pensada sob diversos ângulos. 
Schujman (2007.p.14) observa que muitos professores defendem posturas diversas 
quanto ao ensino de filosofia: 
 
Para alguns docentes, na escola secundaria a filosofia tem que se pôr a 
serviço dos alunos, relacionando-a com seus interesses, vivencias e 
 
37 
 
necessidades [...] deve se aproveitar do fato de que a filosofia tem suficiente 
flexibilidade para adaptar-se aos mais variados temas[...] os mais 
consequentes afirmam que o programa não pode ser prévio ao encontro com 
cada grupo de estudantes, senão que deva surgir de um revelamento de seus 
interesses e problemáticas. 
 
Para esse grupo de professores a filosofia não é pensada como uma disciplina 
necessariamente, mas apenas como uma forma de construção de conhecimentos que 
parte do pressuposto de que não há a necessidade de um planejamento prévio para 
seu ensino, mas partir exclusivamente das necessidades dos estudantes, 
aproveitando-se para tanto de todas as possibilidades que somente a filosofia oferece 
para a escola, à medida que não há um grupo exclusivo de conhecimentos 
considerados imprescindíveis para seu ensino-aprendizagem. 
Contudo há também grupos que defendem o ensino defilosofia como disciplina 
e levantam críticas a postura anteriormente apresentada à medida que esta corre o 
risco de depreciar os conteúdos filosóficos e ser pautada por uma excessiva 
superficialidade. Para estes: “não se trata, na escola secundaria de formar futuros 
filósofos. Porem isso não é razão para se inventar uma filosofia para adolescentes. 
Seria impensável que essa mesma discussão se desse em outras áreas como história 
e matemática. ” (SCHUJMAN, 2007.p.14), ou seja, embora a escola média não vise a 
formação de futuros filósofos ou pesquisadores em filosofia, isso não quer dizer que 
por isso os adolescentes não podem ter acesso aos textos filosóficos de forma direta. 
Aqueles que defendem a filosofia como disciplina tendem a levantar um 
questionamento: Será que esse respeito pelos interesses, as necessidades e 
vivencias dos jovens não se esconde na verdade uma subestimação de suas reais 
capacidades? Será que um adolescente do século XXI não teria condições de 
compreender um texto filosófico que é desafiado a ler, enquanto muitos deles têm 
condições não só de jogar diversos jogos eletrônicos com altos níveis de dificuldades, 
como até mesmo produzi-los. Acreditamos na possibilidade de que o desafio seja um 
caminho possível para se trabalhar com textos no ensino-aprendizagem de filosofia. 
Esses desafios que se mostram na realidade do estudante servem para contribuir que 
o estudante se adapte as situações novas que possam surgir relacionando os 
conhecimentos adquiridos na escola com suas vivencias cotidianas, para tanto 
relacionando os conhecimentos de diversas áreas do conhecimento. 
No que concerne a contextualização sócio cultural nos parece que não é difícil 
entender que a modalidade de ensino de filosofia que se aponta seja o ensino 
 
38 
 
enciclopédico da filosofia, enfocando além das teorias filosóficas, sua 
contextualização política, econômica, histórico e cultural. Contudo requer-se cuidado 
ao pensarmos acerca dessa competência, a medida que conhecer o contexto social, 
cultural, político e econômico em que uma teoria filosófica foi produzida não implica 
em conhecê-la somente de forma descomprometida, mas para não incorrer em erros 
quanto a utilização na reflexão de situações problemas da atualidade 
 
6.1 Não se ensina filosofia, mas a filosofar 
 
A afirmativa de Kant “Não se ensina Filosofia, mas a filosofar”, enseja uma série 
de questionamentos acerca do ensino de filosofia. A assertiva coloca uma questão 
importante, ou seja, se não se ensina filosofia, mas a filosofar, como se ensina a 
filosofar? Nesse sentido, há um ponto de partida importante que, por analogia, pode 
conduzir o raciocínio a partir da ideia de que em educação só se aprende “fazendo”. 
O ato de aprender está vinculado ao ato de fazer, ou seja, de inserir os conteúdos 
teóricos nas práticas em torno do objeto que se deseja conhecer. O raciocínio pode 
ser transportado analogicamente para o ensino de filosofia para concluir, pelo menos 
provisoriamente, de que se ensina a filosofia “filosofando”, daí poder-se inferir, por 
extensão de raciocínio, que “não se ensina a filosofia, mas a filosofar”. 
O problema que se apresenta, a princípio, é o fato de que a filosofia não se 
define por um objeto e método próprios como na ciência. A ideia de que a filosofia 
abarca conhecimentos difusos e que também se ressente de um método próprio faz 
que alguns pensem que o filosofar não é seguro. A ideia difusa do conhecimento 
filosófico faz surgir um outro questionamento: em que consiste, então, essa ação que 
o filosofar aponta? O que deve caracterizar o filosofar? 
A ação que o filosofar aponta é a exigência de um método na forma de um 
exercício, além de uma atitude que deve ser filosófica LUCKESI (1992). A atitude 
filosófica requer o afastamento de diversos preconceitos, entre eles, aquele que leva 
as pessoas a pensarem que o filosofar é inútil, difícil e complicado, como se fosse 
tarefa para gente ultra-especializada. No entanto, a atitude filosófica requer uma 
postura diferenciada, mesmo diante da constatação do alto grau de saber de alguns 
filósofos, deve-se entender que o filosofar não está fechado somente aos filósofos 
consagrados ou com formação acadêmica relevante. 
 
39 
 
 
 
Fonte: cidadaocultura.com.br 
 
A filosofia não se restringe ao campo limitado da ciência, embora possa ser 
uma reflexão sobre a ciência. A filosofia é um corpo de entendimentos que 
compreende e dá significado ao mundo e à existência. Nesse sentido, importa saber 
como é que se constitui a filosofia, como é que se constrói esse corpo de 
entendimentos, que se pode assumir criticamente como aquele que se quer para o 
direcionamento da própria experiência e das questões fundamentais que envolver o 
ser, os valores, a realidade e as práticas. 
O exercício do filosofar proposto por LUCKESI (1992), no capítulo denominado 
“o exercício do filosofar”, demanda a execução de três passos didaticamente 
sequenciais, num processo dialético. O primeiro passo do filosofar é inventariar 
valores que explicam e orientam a própria vida e a vida da sociedade, e que 
dimensionam as finalidades da prática humana. Deve-se, portanto, perguntar quais 
são os valores que dão sentido e orientam à vida familiar; se se está analisando a 
família, quais valores compreendem e orientam a vida econômica, se se estiver 
questionando a economia; quais valores compreendem e orientam a educação, se se 
estiver questionando a educação, ou seja, se esta for o objeto de estudos e assim por 
diante. O objetivo de questionamentos dessa natureza é levar o sujeito a tomar 
consciência das ações, do lugar para onde se está e da direção que toma a vida. 
Direção que nasce tanto da consciência popular como da sedimentação do 
 
40 
 
pensamento filosófico e político que se formulou e se divulgou na sociedade com o 
passar do tempo. 
O segundo passo do filosofar é o momento da crítica. Depois de realizado o 
inventário de valores é preciso submetê-los à crítica, questioná-los por todos os 
ângulos possíveis para verificar se são significativos, e se compõem o sentido que se 
quer dar à existência. 
O terceiro passo do filosofar é o momento da construção crítica de valores que 
sejam significativos para compreender e orientar as vidas individuais e dentro da 
sociedade como guia da ação na direção mais correta. 
Destarte, LUCKESI (1992), sintetiza três passos do filosofar: (i) inventariar os 
valores vigentes; (ii) criticá-los; (iii) reconstrui-los. É um processo dialético que vai de 
uma determinada posição para a sua superação teórico-prática. 
Na medida em que se está inventariando os valores vigentes, está-se, ao 
mesmo tempo, criticando-os e reconstruindo-os. Os momentos descritos como passos 
do filosofar são apropriados para uma exposição didática, contudo esses momentos 
não são seccionados, pois um nasce dentro do outro. 
O exercício do filosofar exige, pois, inventariar conceitos e valores; estudar e 
criticar valores; estudar e reconstruir conceitos e valores, e para que isso ocorra, é 
preciso olhar não só o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros 
pensadores, os outros filósofos. Eles poderão auxiliar para que se atinja níveis 
superiores de entendimento, enfim, outras categorias de compreensão. 
O exercício do filosofar pode ser o fio condutor para que se aprenda filosofia, 
sem, contudo, que a filosofia seja propriamente ensinada. A sua apreensão deverá 
decorrer mais de uma relação que tenha no aluno o ponto de partida dos 
questionamentos infinitos que a filosofia proporciona, mediado pelo professor, 
auxiliado pelos pensadores, suas ideias, enfim pelas principais correntes de 
pensamento de um passado distante no tempo, mas próximo na história. Eles têm 
uma contribuição a oferecer. É o auxílio no trabalho de construir o entendimento 
filosófico do mundo e da ação. 
A consciência do professor determinaque, precipuamente, sua tarefa é ensinar 
filosofia, essa é a meta, no entanto, didaticamente, a filosofia deverá ser utilizada 
como meio no exercício do filosofar, para, então, de forma oblíqua e indireta o 
 
41 
 
professor realize os fins do seu labor: ensinar filosofia, por mais paradoxal que seja 
essa assertiva em face da expressão kantiana, sob análise. 
 
A frase de Kant “Não se ensina filosofia, mas a filosofar” inserida nos 
processos de aprendizagem revela uma verdade da filosofia como corpo de 
entendimentos, mas se distancia de uma verdade absoluta nos confins da 
terminalidade genérica, que exige apreensão de conteúdos expressos nas 
ideias filosóficas e nas principais correntes de pensamento, e permita ao 
aluno, ao final, dizer que aprendeu filosofia 
 
6.2 Histórico da Filosofia como disciplina no Brasil 
 
O ensino de Filosofia no Brasil teve início quando aqui chegaram os primeiros 
padres da Companhia de Jesus no século XVI (1553), conhecidos como padres 
jesuítas. Estes religiosos chegaram com a missão de catequizar os índios 
convertendo-os à fé católica e também com a responsabilidade da educação dos 
moradores da colônia. Um relato do Pe. José de Anchieta mostra o trabalho realizado 
por esses missionários: 
 
[…] mas, embora o nosso principal cuidado fosse ensinar e inculcar a eles os 
rudimentos da fé, também lhes ensinavam as letras; pois eram de tal modo 
aficionados a aprender a doutrina, que na mesma ocasião eram levados a 
aprender a doutrina da salvação; davam conta daquilo que pertencia à fé, 
instruídos segundo algumas fórmulas de interrogações (catecismo), alguns 
até sem elas... (LUKÁCS apud SCHMITZ,1994, p.48). 
 
Os jesuítas tinham na educação um interesse especial como forma de 
arrebanhar mais fiéis a seu credo. Isso tem a ver com o contexto renascentista da 
Europa do século XV que motivou por parte da Igreja católica um movimento de 
contrarreforma em que a expansão da fé católica era uma das prioridades. Assim, a 
filosofia foi usada para propagar a fé católica. 
 
Procurar o proveito das almas, na vida e na doutrina cristã, propagar a fé, 
pela pública pregação e ministério da palavra de Deus, pelos exercícios 
espirituais e obras de caridade, e, nomeadamente, ensinar aos meninos e 
rudes as verdades do cristianismo, e consolar espiritualmente os fiéis no 
tribunal da confissão; e trate de ter sempre diante dos olhos primeiro a Deus, 
depois o modo deste seu instituto 
 
A partir daí, “a cultura filosófica passa a ser mero comentário teológico, fundado 
principalmente na renovação da escolástica aristotélica” (CARTOLANO, 1985, p.20). 
 
42 
 
O militar espanhol Inácio de Loyola fundou em 1534 a Companhia de Jesus. 
Ela passa a controlar a Universidade de Coimbra, de Lisboa e Évora. Um os principais 
divulgadores do saber em Portugal. A visão de mundo então difundida baseava-se 
nos preceitos católicos. Isso chegou até o Brasil e marcou o início da educação. O 
ensino consolidou-se livresco, formal, baseado nas humanidades clássicas e 
desenraizado do mundo concreto. 
A filosofia fazia parte do curso de artes, oferecido pelos jesuítas aos estudantes 
que concluíram o primeiro nível de letras humanas. Era um curso não destinados à 
toda população, mas sim à elite do Brasil colonial. Dessa maneira, percebemos o 
caráter excludente que a educação trazia em seu bojo. Filosofia era para os 
destinados ao controle da colônia, apesar de ser pautada na escolástica com forte 
controle do que estudar. 
 
A burocracia desse aparelho ideológico era constituída pelo clero secular e 
pelos religiosos de diversas ordens, destacando-se dentre estas, pelo seu 
número, organização e relevância, a Companhia de Jesus. Sua atividade 
educacional principal era a catequese dos índios, enquanto que os padres 
seculares dedicavam-se quase que exclusivamente, aos serviços religiosos 
nos latifúndios, como capelães residentes, e nos centros urbanos como 
párocos. Na retaguarda da atividade missionária, os jesuítas mantinham, nos 
centros urbanos mais importantes da faixa litorânea, colégios para ensino das 
primeiras letras, para o ensino secundário e superior. Eles se destinavam a 
cumprir tripla função: de um lado, formar padres para a atividade missionária; 
de outro, formar quadros para o aparelho repressivo (oficiais de justiça, da 
fazenda e da administração); de outro, ainda, ilustrar as classes dominantes 
no local, fossem os filhos dos proprietários de terra e de minas, fossem os 
filhos dos mercadores metropolitanos aqui residentes (CUNHA, 1980, p.23). 
 
Assim com a fundação de colégios destinados aos filhos dos senhores e à 
catequização dos filhos dos pobres, escravos e dos índios, distingue-se o que ensinar 
a cada grupo, garantindo desta maneira uma visão de mundo da classe dominante. 
Os 12 primeiros colégios tanto em Portugal quanto no Brasil eram subsidiados pelo 
estado, uma vez que desempenhavam um bom papel na perpetuação do status quo. 
Os jesuítas estiveram à frente do ensino no Brasil por aproximadamente 210 
anos. Para eles, a filosofia deveria estar na base da formação do homem. Devemos 
considerar que a filosofia em questão é tida como serva da teologia e desvinculada 
da realidade do educando. 
Com a ascensão política de Sebastião de Carvalho e Melo, o Marquês de 
Pombal (primeiro ministro de Portugal de 1750-1777), realizaram-se diversas reformas 
em Portugal que por consequência atingiram também as colônias. Uma das 
 
43 
 
consequências para o Brasil foi a expulsão dos jesuítas por motivos políticos, deixando 
o processo educativo dentro da colônia órfão. Foi a destruição do único sistema de 
ensino existente no país. Uma justificativa para a expulsão era que o ensino deveria 
preparar o cidadão para servir ao estado civil e não à igreja. Assim, ele tira o comando 
da educação das mãos dos jesuítas e passa para as mãos do Estado. 
Demorou muito na colônia para que o governo conseguisse estruturar a 
educação depois da expulsão dos jesuítas. Foi por meio do Alvará Régio de 28 de 
junho de 1759 que Marquês de Pombal criava as aulas régias (ou avulsas) de Latim, 
Grego, Filosofia e Retórica as quais deveriam suprir as disciplinas antes oferecidas 
nos extintos colégios jesuítas. Estas aulas eram fragmentadas, ministradas por 
professores leigos e mal preparados. Colégios de outras ordens religiosas 
continuaram a atuar no Brasil, baseados na pedagogia jesuítica. As reformas 
propostas na educação não atravessaram o oceano. 
 
O Brasil não é contemplado com as novas propostas que objetivavam a 
modernização do ensino pela introdução da filosofia moderna e das ciências 
da natureza, com a finalidade de acompanhar os progressos do século. 
Restam no Brasil, na educação, as aulas régias para a formação mínima dos 
que iriam ser educados na Europa (Zotti, 2004, p. 32) 
 
Mesmo com as reformas acontecendo em Portugal e a expulsão dos jesuítas 
no Brasil, isso não se configurou em um avanço, mas um retrocesso. As ideias 
iluministas ditadas pelo movimento encabeçado principalmente pela França não se 
configuram em uma realidade brasileira. 
Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil motivada pela invasão francesa 
de Portugal, houve mudanças também na questão educativa. Foi transferido para o 
Brasil a Biblioteca Real e aberta a todo público. Em uma região onde os livros eram 
escassos, essa medida com certeza trouxe benefícios aos que desejavam o saber, 
mas sem condições de acesso a livros. A abertura dos portos para outras nações e o 
desejo de melhorar culturalmente o Brasil fizeram com que muitos intelectuais aqui 
chegassem. A ideia era formar uma classe para administrar a colônia e para isso foram 
criados novos colégios nos quais a filosofia servia para a formação profissional. Havia 
a preocupação por parte da Corte portuguesa, agora instalada no Brasil, de trazer 
mais conforto à elite. Assim em 1834 foram criadas e estruturadas algumas escolasde ensino superior, como a de formação de oficiais do exército e da marinha, cursos 
 
44 
 
de medicina, agronomia, economia política, desenho técnico e outras. O secundário 
passa a ser preparatório para o ingresso nesses cursos. 
 
Os cursos que inauguram o ensino superior no Brasil: Academia Real da 
Marinha (1808) e Academia Real Militar (1810). Inaugurando os cursos 
médicos, foram criados em 1808, o curso de cirurgia na Bahia e o curso de 
anatomia e cirurgia no Rio de Janeiro. Atendendo à necessidade de formação 
de técnicos em economia, agricultura e indústria fundaram-se, na Bahia, os 
cursos de economia em 1808, agricultura em 1812, química em 1817, e o de 
desenho técnico em 1818, no Rio de Janeiro, o laboratório de química em 
1812 e o curso de agricultura em 1814 (AZEVEDO, 1976, p.71). 
 
A intenção era formar uma elite que garantisse a segurança e a governabilidade 
da colônia, agora elevada à condição de Reino Unido de Algarves. Essas escolas se 
restringiam a região próxima ao Rio de Janeiro. Em 1838, a filosofia passa a ser 
obrigatória mas continua a ser retórica e enciclopédica, desvinculada da realidade. O 
restante do país continuava no abandono educacional. Mesmo a maioria da população 
da capital continuava sem acesso a uma escola de qualidade. Com a influência das 
correntes francesas na educação brasileira, passamos a ter de forma mais presente 
o pensamento positivista que mais tarde irá influenciar as atitudes tomadas pelas elites 
dirigentes. 
Com a Republica, a influência de intelectuais europeus e o surgimento de 
pensadores brasileiros, o ensino de filosofia começa a aparecer nas salas de aula, 
mesmo que não obrigatório a todos os cursos. Em 1891, foi decretada a gratuidade 
do ensino primário e essa deveria ser dentro dos moldes de liberdade e laicidade. 
Benjamin Constant, quando Ministro da Instrução Pública, pregava que o ensino 
deveria tornar-se formador e não apenas preparador de alunos para os cursos 
superiores. “Mas o que ocorreu verdadeiramente, em vez de uma reforma, em toda a 
extensão do termo, foi apenas um acréscimo de disciplinas científicas às tradicionais, 
propiciando assim, um ensino mais enciclopédico” (MAZAI; RIBAS, 2001, p.7). 
Em 1908, fundava-se a Faculdade Livre de Filosofia e Letras pelos monges 
beneditinos a qual possuía uma orientação neotomista. A reforma educacional de 
1915, com o decreto nº 11.530, transformou a filosofia em uma disciplina facultativa. 
Em 1931, outra reforma determinava “a formação do homem para todos os setores da 
vida, isto é, uma formação integral que lhe possibilitasse tomar decisões claras e 
seguras em qualquer situação de sua existência” (MAZAI; RIBAS, 2001, p. 9). No ano 
de 1942, mais uma reforma dividiu o ensino secundário em ginásio que compreendia 
 
45 
 
quatro anos, colegial de três anos. Esse por sua vez subdividia-se em científico e 
clássico. A filosofia era disciplina obrigatória em um ano do cientifico e dois do 
clássico, distribuída em uma 15 carga horária de quatro aulas semanais. “A filosofia 
era disciplina comum aos cursos clássico e científico e deveria ser ensinada de acordo 
com um mesmo programa para ambos os cursos, apenas com maior amplitude no 
curso clássico” (CARTOLANO, 1985, p.59). Com o tempo, várias portarias foram 
reduzindo o número de horas-aula e de séries da filosofia, chegando a ser ministrada 
apenas para o último ano. 
Promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 
1961, a filosofia é reduzida a um caráter de disciplina complementar e incorporada 
mediante indicação de cada Conselho Estadual de Educação, perdendo assim sua 
obrigatoriedade. 
 
 
Fonte: apusm.com.br 
 
Foi com certeza um golpe muito duro contra o ensino de filosofia e contra a 
educação em geral. A educação passou a ser uma questão de segurança nacional. 
Uma estratégia ideológica, valendo como instrumento de defesa das classes 
hegemônicas no poder, contra os inimigos internos. Os professores de filosofia das 
universidades acabam por sofrer perseguições. Segundo Pegoraro, 
 
Quando um professor enveredar para a análise das causas próximas, dos 
problemas que nos circundam; quando se interroga sobre a justiça, a 
eticidade do regime, o absurdo, a miséria, da doença e da fome produzidos 
pelos sistemas; quando um professor tratar destas causas próximas, cai na 
desgraça oficial e na mira dos chefes de departamentos. (PEGORARO, 1979, 
p.13) 
 
 
46 
 
 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. 5692/1972 substituiu a 
filosofia por disciplinas doutrinárias como a Educação Moral e Cívica (EMC) e a 
Organização Social e Política do Brasil (OSPB). O conjunto de medidas adotadas para 
a educação brasileira acabaram por levar a ensino à uma crise de identidade devido 
aos muitos métodos importados. Não conseguimos dar uma boa formação profissional 
aos alunos, nem prepará-los adequadamente para o ingresso na universidade. A 
educação continuou separada da realidade. 
Com isso percebe-se que a intenção desse governo militar no tocante à política 
educacional era ser um mecanismo social para assegurar a dominação necessária 
para a continuidade de uma política de subordinação. Não havia o interesse de 
oportunizar aos estudantes uma educação emancipatória que os apontasse caminhos 
da criticidade em relação à realidade na qual estavam inseridos. 
 
A filosofia, como não atendia aos objetivos tecnicistas e burocráticos da nova 
concepção de ensino, deveria ser expurgada, bem como a Psicologia e a 
Sociologia. Uma disciplina cumpriria melhor esses desígnios – a Educação 
Moral e Cívica –, regulamentada em decreto-lei de 1969. Em 1971, a lei 5692 
constitui-se no golpe derradeiro contra o ensino de Filosofia no 2º grau, não 
apenas por torná-la disciplina da parte diversificada dos currículos, voltada 
ao atendimento de peculiaridades regionais, pois ela já tinha caráter 
semelhante a partir da lei 4024/61, mas pela direção imprimida à 
escolarização de 1º e 2º graus. A introdução do ensino profissionalizante e a 
ênfase dada às disciplinas da parte de formação especial reduzem 
drasticamente o espaço da Filosofia. Ela permanece, então, por longos anos, 
pelo menos até o início da década de 80, presente em alguns redutos de 
defesa da educação humanística (COSTA, 1992, p. 52-53). 
 
Essa aridez do ensino brasileiro em relação a formação mais humana só 
começará a ser superada – e ainda não o foi totalmente – a partir da 
redemocratização. Neste momento que teremos um movimento mais forte para que a 
filosofia e sociologia voltem a fazer parte do cotidiano do aluno. Em 1982, no último 
governo militar, representado por João Batista de Oliveira Figueiredo, pela lei 
educacional n. 7044/1982 a expressão “qualificação para o trabalho” foi substituída 
por “preparação para o trabalho”. O fracasso do modelo educacional estabelecido no 
regime militar começa a forçar mudanças que irão mais tarde trazer novas medidas 
das quais a filosofia ressurgirá como disciplina nas escolas de ensino médio. 
 
A lei 7044/82 do General Figueiredo, que revogou o ensino profissionalizante 
obrigatório do 2º grau, foi o reconhecimento público da falência da política 
educacional da ditadura e a demonstração de que as atitudes e planos 
 
47 
 
tecnocráticos haviam de fato colocado o governo numa situação de 
distanciamento para com a maior parte da sociedade, até mesmo as classes 
dominantes (CHIRALDELLI, 1991, p. 185). 
 
No mesmo ano, temos o parecer n. 342/1982 do Conselho Federal de 
Educação, sugerindo que a filosofia poderá fazer parte do quadro de disciplinas que 
compõe o currículo do Ensino Médio. Com a entrada de um governo civil em 1985, 
aumentou-se o debate em torno da obrigatoriedade da filosofia, pela carência na 
formação dos alunos principalmente no tocante à percepção da realidade, como 
comenta Ávila (1986, p. 48). Quando a partir de 1971, com a saída progressiva da 
filosofiado currículo das escolas, houve um empobrecimento da formação cultural da 
juventude, diminuindo a sua capacidade de ver os problemas de uma forma mais 
ampla o que se tornou uma das maiores limitações de nosso sistema educacional. 
Em 1996, com a LDB6 n. 9394/1996, a situação se mantém. O artigo 36, 
parágrafo 1º, recomenda o “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia 
necessários ao exercício da cidadania”. Foi um avanço em relação ao período 
ditatorial vivido pelo Brasil, mas não suficiente para colocar a filosofia como disciplina. 
Com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução CEB / CNE 
n. 3/1998), aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação em 1998, e os PCNEM 
(de 1999), apenas recomendam que a disciplina de Filosofia complemente os Temas 
Transversais dos PCNs7. A Filosofia é recomendada, nos PCNs, como conteúdo e 
não como uma disciplina. Assim, todas as disciplinas deveriam trabalhar dentro de 
seus conteúdos a filosofia. Esse tipo de medida não é garantia de que ela - a filosofia 
- fosse trabalhada. Também não sendo professores licenciados em filosofia, a 
abordagem filosófica acreditamos nós, sairia prejudicada em sua qualidade. 
Essa situação só foi de fato alterada quando, em 2008, a lei n. 11.684/2008 
revê o artigo 36 da LDB e estabelece a obrigatoriedade da inserção da filosofia e da 
sociologia nos currículos do Ensino Médio. O projeto após três anos tramitando foi 
aprovado pela Câmara e pelo Senado Federal, sendo vetado pelo então Presidente 
Fernando Henrique Cardoso sob alegação de que o Brasil não possuía mão de obra 
qualificada suficiente para a demanda que as disciplinas exigiriam e os estados e 
municípios não conseguiriam arcar com o incremento orçamentário que estas duas 
disciplinas trariam. Com certeza argumentos falaciosos uma vez que existem muitos 
cursos de licenciatura em filosofia espalhados pelo pais e depois a demanda 
 
48 
 
despertaria o interesse na busca pelo curso. Sobre o orçamento, não haveria um 
aumento de carga, mas uma adequação, o que traria um insignificante gasto a mais. 
Em 2018, o MEC entregou a nova versão da Base Nacional Curricular (BNCC). 
Filosofia passa a ter conteúdos aplicados diretamente em Ciências Humanas. 
 
6.3 Rumos do Ensino da Filosofia 
 
Temos novos questionamentos sobre seu processo de ensino. Precisamos 
saber o que ensinar e como ensinar aos alunos. Somos sabedores da sua importância 
como disciplina para a formação de uma sociedade mais crítica, que saiba se 
posicionar diante das circunstâncias e situações problemas frequentes em nosso 
Brasil. A filosofia é essencial para a permanência e sucesso das democracias. Se 
tratando de um instrumento de reflexão, liberta-nos das amarras da ignorância, 
permitindo-nos sair da “caverna”. Esta tomada de consciência, impulsiona a uma 
participação política mais efetiva na qual as pessoas sentem-se autoras da história, 
levando a um reconhecimento de direitos e deveres. Gramsci (1989), aponta que a 
escola possui poder para formar ou deformar a sociedade, na medida em que ela é a 
promotora de uma interação ampliada com os homens. 
Precisamos urgente de pessoas com olhar filosófico. Segundo Arroyo (1991), 
na escola é que deve prevalecer o princípio da educação, uma vez que é na escola 
que as pessoas vão em busca do saber. Para que isso aconteça precisamos de 
professores dispostos e capacitados a fazer esse trabalho a fim de formar uma classe 
de pessoas capazes desse olhar. Aqui vale chamar a atenção das instituições de 
cursos de licenciatura em filosofia para que promovam a discussão em torno do ensino 
de filosofia. Uma formação filosófica propicia ao indivíduo condições de uma 
participação política mais efetiva, dando-lhe oportunidade de pensar, ampliando a 
visão e o pensamento. 
A sala de aula em si já é um desafio filosófico no que se refere ao professor, 
suas práticas pedagógicas e os conteúdos trabalhados. A atividade pedagógica da 
filosofia deve ser antes de tudo uma atividade Filosófica. A Filosofia possui uma 
especificidade que só ela tem. É um exercício de pensamento que se articula em torno 
de problemas que não se resolvem de forma direta, imediata e definitiva. A própria 
Filosofia se torna um problema filosófico e é alvo da análise e reflexão. Cabe à filosofia 
 
49 
 
a capacidade de análise e reconstrução racional e crítica. Para isso ela necessita 
recorrer a sua história. 
Segundo Kant (1992, p.174), os alunos devem aprender a pensar por si só, ou 
seja, filosofar. Primeiro, deve ser um homem de entendimento, depois um homem de 
razão e por último um homem de instrução. Ele argumenta que seguindo esse método, 
mesmo que o aluno não consiga chegar ao final de seus estudos, terá se tornado mais 
inteligente e que será proveitoso em sua vida. A instrução pela instrução gera uma 
ilusão de sabedoria. As instituições educativas geralmente estão centradas na 
instrução, o que gera formandos com pouca sabedoria e consequentemente menos 
autônomos em seus pensamentos. Estão baseados na passividade de quem aprende, 
no repasse e introjeção de informações e só depois mais maduros estão “prontos” 
para filosofar, ou seja, refletir sobre o que aprendera. Isto não traz resultados positivos 
pois a filosofia é investigativa. Segundo Freire: 
 
A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a 
libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres 
“vazios” a quem o mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa 
consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos 
homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência 
intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da 
problematização dos homens em suas relações com o mundo (FREIRE, 
1983, p.38). 
 
A vinculação do estudo da filosofia ao conhecimento da história da filosofia, 
segundo Hegel (2004, p.327), parte da realidade que tudo o que somos é fruto da 
história. O que possuímos de modo permanente está inseparavelmente ligado com o 
fato da nossa existência histórica. O saber é acumulado no decorrer da história, cada 
geração a seu tempo dá a sua contribuição. O mundo espiritual preexistente, produto 
de outros homens, nossos ancestrais, será sempre a base da qual partiremos e 
desenvolveremos nossa filosofia, futuro produto. 
Ser fruto da história não significa de modo algum uma visão determinista. Por 
meio do pensar filosófico temos condições de interferir (o quê?) Na história e fazer 
novos conhecimentos conforme a realidade que estamos inseridos. Cada momento 
histórico traz seus questionamentos e cria caminhos para resolvê-los. Conforme 
Perine: 
 
Aprender filosofia dessa maneira é entrar numa tradição viva, não de 
pensamentos confiados a livros guardados em bibliotecas, mas de homens e 
 
50 
 
mulheres que escolheram e escolhem compreender a realidade e a si 
mesmos num discurso que responda às exigências de racionalidade e 
universalidade. […] transformará os seres humanos que, pela compreensão 
da realidade, poderão mudar o curso da história. Afinal de contas, a realidade 
compreendida não será mais a mesma de antes da compreensão (PERINE, 
2013, p.153) 
 
A essência do homem está nas condições concretas que fazem parte do seu 
momento histórico, porém deve aprender a refletir e conhecer a realidade para 
encontrar sua identidade e assim ser autônomo. Por isso, é necessário desenvolver 
nos educandos as habilidades e competências necessárias para esta tarefa. Desse 
modo, o ensino de filosofia estará cumprindo seu papel. 
 
Conhecer o humano é antes de mais nada, situá-lo no universo e, não separá-
lo dele. Nesse sentido, o que ensinar, deve estar ligado ao contexto onde o 
mesmo deve ser desmistificado rompendo os entraves de seu fundamento e 
trazendo a experiência intelectual. Desse modo, a filosofia pode ser 
trabalhada a partir de seus próprios fundamentos,uma vez que, traz em sua 
gênese a necessidade de trabalhar o momento vivido pelos homens, porque 
a sua finalidade frente ao homem e ao mundo perpassa os séculos (MORIN, 
2001, p.47). 
 
A forma como trabalhar as aulas de filosofia hoje se mostra um desafio. A 
grande pergunta é como ensinar de maneira significativa Filosofia para os jovens 
brasileiros de nosso dia. É fazer que os alunos encontrem sentido no conteúdo 
filosófico a eles proposto, pois dessa construção depende o sucesso da 
aprendizagem. Um ensino enciclopédico demais pode trazer o desinteresse dos 
alunos. Conforme Maria E. R. de Souza: 
 
Após o retorno formal da disciplina de Filosofia ao Ensino Médio, estamos 
forçosamente transitando por um momento que nos obriga a rever 
concepções didáticas, metodologias, conteúdos, recursos pedagógicos, 
formas de avaliação, entre outras questões que envolvem o ensino e a 
aprendizagem. Talvez a diretriz mais importante neste momento seja aquela 
que discute o lugar da História da Filosofia no ensino. Compreendendo que o 
ensino da Filosofia não pode resumir-se às extensas interpretações e 
exegeses a que, costumeiramente, tem se reduzido. Impõe-se, é claro, 
entender o lugar da História da Filosofia na construção do pensamento, mas 
é preciso entender também que a Filosofia é um exercício de 
questionamentos, de indagação de dúvidas acerca da realidade. (SOUZA, 
2014, p.10-11). 
 
Outra tendência do ensino de filosofia é tornar a sala de aula em um fórum de 
debates sobre problemas polêmicos ou que fazem parte do cotidiano dos alunos. Em 
entrevista, Celso Favaretto dá sua opinião sobre o assunto: 
 
51 
 
[…] Se ela veio para o nível médio é porque tem – como as outras disciplinas 
– que contribuir especificamente, e não apenas com discussões, com 
debates, com discussões acaloradas de problemas emergentes da vida 
social, da vida política, problemas como as drogas, a violência, a sexualidade 
etc. Esses problemas são todos interessantes e podem ser discutidos 
inclusive em aulas de filosofia, desde que trabalhados a partir da construção 
de referências, de sistemas de referências, de modo que a discussão seja 
aquela que exercite um sistema de referência contra outro sistema de 
referência. (CARVALHO, 2013, p.25). 
 
Existe um grande desafio para a disciplina de Filosofia enfrentar. Primeiro, o de 
não se tornar enciclopédico (conteudistas demais) e nem tematizar demais com a 
realidade alicerçando-se em demasia na tradição filosófica. O desafio se agrava 
quando temos professores de outras áreas de formação ministrando aulas de filosofia 
para preencher carga horária ou porque não existe profissional qualificado na escola. 
Outro agravante é o excesso de horas trabalhadas devido aos baixos salários 
recebidos pela categoria, o que traz dificuldades para esses profissionais encontrarem 
tempo para o seu estudo e preparo das aulas. 
Cabe ao professor de filosofia promover uma reflexão filosófica que afirme a 
liberdade eticamente exercida. Não cabe a ele tornar-se baluarte da defesa de 
sistemas ideológicos e políticos, querendo com isso enquadrar o aluno nas suas ideias 
ou impor sua concepção de vida, pois não se deve ensinar filosofia ou filosofias mas 
sim ensinar a filosofar por meio da reflexão, análise e outras competências que são 
próprias da disciplina. Segundo Sílvio Gallo: 
 
Aula de filosofia deve funcionar como uma oficina de conceitos, um local onde 
os conceitos historicamente criados são experimentados, testados, 
desmontados, remontados, sempre frente aos nossos problemas vividos. E 
também um local onde se arrisque a criação de novos conceitos, por mais 
circunscritos e limitados que eles possam ser. (GALLO, 2003, p.4) 
 
Assim, as aulas de filosofia têm a incumbência de produzir conceitos que 
permitam às pessoas viverem com sabedoria, ampliando e fortalecendo o exercício 
das liberdades públicas e privadas. Só desta maneira a filosofia estará cumprindo com 
seu papel de construir uma sociedade composta por cidadãos críticos e 
comprometidos com o bem-estar social. 
 
 
52 
 
 
Fonte: revistabula.com 
 
7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL5 
 
A Educação Ambiental vem com uma missão de conciliar o ser humano ao 
ambiente onde vive. As constantes transformações que passa o planeta têm afetado 
significativamente o meio físico, biológico, político e social. O que traz um 
comprometimento no ambiente e na qualidade de vida, colocando em risco o futuro 
da humanidade neste planeta. A respeito da parcela de culpa do homem nessas 
mudanças negativas, os especialistas no assunto divergem no tocante aos efeitos, se 
são causados por ação antrópica ou ciclo natural que, independente da ação humana, 
irá acontecer. 
Segundo Leff (2002, p.59), a crise ambiental se explica a partir de uma 
diversidade de perspectivas ideológicas. Por um lado, ela é percebida como resultado 
da pressão exercida pelo crescimento da população sobre os limitados recursos do 
planeta, por outro, é interpretada como o efeito da acumulação de capital e da 
maximização da taxa de lucro em curto prazo. De qualquer modo, é a maneira que o 
ser humano criou seu modo de vida que está interferindo na sua relação com o meio 
físico e com seu semelhante. 
 
5 Extraído do artigo https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-
%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/50865/R%20-%20E%20-%20JOSE%20FRANCISCO%20WOEHL.pdf?sequence=1&isAllowed=y
 
53 
 
Em toda sua história o ser humano causa um impacto sobre o meio biofísico. 
Por meio do trabalho, ele se apropria de recursos que a natureza dá para transformá-
los em bens de consumo, satisfazendo assim as suas necessidades. Nessa dinâmica 
ele transforma o meio, mas também sofre alterações. Surge assim a necessidade de 
educar o ser humano para a convivência com o meio a fim de minimizar os impactos. 
A educação ambiental vem exatamente mostrar que o ser humano é também capaz 
de gerar mudanças significativas ao trilhar caminhos que levam a um mundo 
socialmente mais justo e ecologicamente mais sustentável. 
Nesse sentido, a Educação Ambiental tem sido abordada como forma de 
questionar os padrões antigos e atuais de comportamento dos seres humanos em 
relação as formas de utilização dos recursos naturais e as relações sociais que 
permeiam toda a humanidade. 
Conforme Leff (2003, p. 19), “a crise ecológica atual, pela primeira vez não é 
uma mudança natural; é transformação da natureza induzida pela concepção 
metafísica, filosófica, ética, científica e tecnológica do mundo”. A lógica do lucro 
alimenta o sistema capitalista e gera pobreza de milhões de pessoas enquanto uma 
minoria usufrui de toda riqueza gerada. Essa relação se torna uma forma de 
exploração tanto do meio físico quanto do ser humano. 
 
7.1 O que é educação ambiental 
 
São vários os conceitos para definir a Educação Ambiental. Segundo a Política 
Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º: 
 
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o 
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, 
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio 
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida 
e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999). 
 
O artigo 2º coloca que a educação ambiental é essencial e deverá ser 
permanente, atingindo todos os níveis e modalidades da educação formal ou não. 
Esse conceito está muito ligado ao conceito de sustentabilidade porque prevê a 
conservação do meio ambiente. Acreditamos que a educação ambiental deve 
promover as mudanças necessárias em vista de novas formas de se construir a 
sociedade e não apenas conservar. Carvalhoressalta: 
 
54 
 
 
Cabe reconhecer que gerar comportamentos individuais ordeiros, 
preocupados com a limpeza de uma área ou com a economia de recursos 
ambientais como a água ou a energia elétrica, pode ser socialmente 
desejável e útil, mas não significa necessariamente que tais comportamentos 
sejam integrados na formação de uma atitude ecológica e cidadã 
(CARVALHO, 2006, p. 181). 
 
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 
2°, 
 
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional 
da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter 
social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, 
visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la 
plena de prática social e de ética ambiental. (BRASIL/MEC, 2012, p.2) 
 
A educação ambiental nas escolas contribui para a formação de cidadãos 
conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo 
comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade. As escolas 
precisam estar preparadas para trabalhar esse tema. Além de conceitos e 
informações ela precisa trabalhar com atitudes, com formação de valores. Com 
certeza, trabalhar educação ambiental é um grande desafio a qualquer escola. 
 
 
Fonte: eliteled.com.br 
 
7.2 Ensino da Filosofia e educação ambiental 
 
55 
 
A sociedade na qual estamos inseridos tem por base o antropocentrismo, 
corrente de pensamento que faz do homem o centro do universo, que intensifica-se 
na filosofia clássica e no pensamento judaico-cristão, fundamento da cultura ocidental. 
A Bíblia, formadora da maioria das religiões ocidentais, no livro do Gênesis, capítulo 
1, versículos 26 a 29 e capítulo 9, versículos 1 a 3, se lê que o criador dá ao homem 
e á mulher o direito de dominar os peixes do mar, as aves do céu, os animais 
domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra e entrega 
também todas as ervas e as árvores que estão sobre a terra. Somado a essa matriz 
conceitual, na modernidade, linhas do pensamento filosófico passaram a empenhar-
se para justificar o domínio do homem sobre a natureza. O conhecimento científico, 
por meio da razão, apresentou-se como saber apto a justificar a apropriação 
desenfreada da natureza. Descartes, Kant, Galileu Galilei, Newton e muitos outros 
buscaram maneiras da razão, pelas observação e experimentação, alcançar o 
conhecimento para submeter e dominar a natureza. Segundo Singer: 
 
As atitudes ocidentais ante a natureza são uma mistura daquelas defendidas 
pelos hebreus, como encontraremos nos primeiros livros da Bíblia, e pela 
filosofia da Grécia antiga, principalmente a de Aristóteles. Ao contrário de 
outras tradições da Antiguidade, como, por exemplo, a da Índia, as tradições 
hebraicas e gregas fizeram do homem o centro do universo moral: na 
verdade, não apenas o centro, mas, quase sempre, a totalidade das 
características moralmente significativas deste mundo (SINGER, 2012, 
p.178). 
 
Esta apropriação dos recursos naturais intensificou-se com o processo 
industrial que provocou em um ritmo acelerado o crescimento das cidades e da 
população, aumentando assim a utilização dos recursos naturais não-renováveis e a 
quantidade de resíduos descartados. Isso trouxe grandes mudanças nas sociedades 
e no modo de vida. Foram criados novos estilos de vida, novos valores, e modificam-
se também as formas de perceber a natureza. 
Junto com estas mudanças surgem também inúmeros problemas ambientais, 
deflagrando assim uma crise de tal proporção que ameaçava a própria sobrevivência 
do homem, como já tratamos anteriormente neste trabalho. Dessa maneira a filosofia 
enquanto disciplina do currículo do ensino médio não pode se furtar a discutir tais 
problemas. Iluminado por pensadores que se propuseram a discutir essa complicada 
relação do homem com a natureza, é possível por meio das aulas de filosofia formar 
 
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conceitos que ajudem a construir uma sociedade melhor, composta por pessoas 
conscientes da responsabilidade em relação ao meio circundante. Assim, a 
 
A aula de filosofia deve funcionar como uma oficina de conceitos, um local 
onde os conceitos historicamente criados são experimentados, testados, 
desmontados, remontados, sempre frente aos nossos problemas vividos. E 
também um local onde se arrisque a criação de novos conceitos, por mais 
circunscritos e limitados que eles possam ser (GALLO, 2003, p.4). 
 
Para trabalhar a crise ambiental com os alunos, é bom refletir que esta relação 
dissociada do homem com meio nem sempre foi assim. Basta verificar que na própria 
Grécia Antiga, época dos filósofos naturalistas, acreditava-se na dinâmica das coisas, 
na evolução das espécies e na origem animal do homem. Segundo as concepções da 
Escola de Mileto, a vida é uma contínua transformação, uma luta entre contrários e 
sujeita às vicissitudes do tempo e do espaço. Tal corrente de pensamento, surgida 
cinco séculos 34 antes da era cristã e bastante elevada do ponto de vista espiritual, 
inseria o ambiente em uma perspectiva cósmica. 
Sobre essa perspectiva da visão mais espiritual do cosmo, temos vários 
filósofos atuais que podem ajudar-nos a refletir como Arne Naess, fundador da 
chamada ecologia profunda que concebe o ser humano como parte do seu entorno. 
Propõe mudanças culturais, políticas, sociais e econômicas, a fim de se conseguir 
uma convivência harmônica entre o ser humano e as demais formas de vida. A 
ecologia profunda parte da visão de que a natureza tem um valor intrínseco a ela 
mesma. Ela vem em oposição a ecologia rasa que possui uma visão convencional 
segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua 
importância para o ser humano. 
Após discutir e definir as concepções de antropocentrismo e holismo, é possível 
conduzir os alunos à reflexão sobre a sociedade de consumo, levando em conta que 
a produção e consumo desenfreados de produtos ditos da “moda” ferem a natureza 
de duas formas diferentes. Seja pelo uso dos recursos naturais que são empregados 
para produzi-los, seja pela quantidade de resíduos sólidos que estes produtos geram 
no ambiente ao serem descartados ou ainda porque não se enquadram mais à moda, 
uma outra tendência diferente já está povoando o imaginário do consumidor. Assim, 
“uma ética ambiental rejeita os ideais de uma sociedade materialista na qual o sucesso 
é medido pelo número de bens de consumo que alguém é capaz de acumular” 
(SINGER, 2012, p. 302). 
 
57 
 
Uma boa maneira de trabalhar este tema dentro da filosofia é através da 
Odisseia de Homero, que trata da ilha de Ogigia, local onde Ulisses ficou sete anos 
preso pela ninfa Calipso que lhe prometera juventude e prazeres eternos se ele ficasse 
com ela. É uma proposta de reflexão da sociedade de consumo e suas promessas, 
pois, assim como a ilha causa esquecimento e alienação, “a memória, o tempo e a 
lembrança são liquidados pela própria sociedade burguesa em seu desenvolvimento, 
como se fossem uma espécie de resto irracional (…) ” (ADORNO, 1995, p.33). 
Vivemos no reino do esquecimento, buscando prazeres contínuos e ininterruptos. 
Estamos sempre rodeados por infinitas possibilidades de satisfação, sempre à procura 
de novos prazeres e objetos que nos satisfaçam. 
A filosofia enquanto disciplina pode contribuir imensamente com a reflexão 
ambiental tornando-se uma referência para as outras disciplinas do currículo do 
ensino médio. Conforme Morin (1999, p. 63), “é preciso que compreendam tanto a 
condição humana no mundo como a condição do mundo humano, que, ao longo da 
história moderna tornou-se condição da era planetária. ” Isso significa que é preciso 
parar e refletir acerca das ações ou das maneiras como vivemos e como elas deixam 
registros no meio ambiente. 
Desde sua origem, o homem apropria-se da natureza a fim de transformá-la e 
adaptá-laàs suas necessidades. Essas transformações, que caracterizam o mundo, 
obrigam o homem a uma constante avaliação de suas relações com o meio ambiente. 
A filosofia necessita colaborar com essas reflexões, pois, no que se refere à questão 
ambiental, nota-se a dificuldade do aluno em perceber a relação que ele estabelece 
com o meio ambiente. Isso se dá pelo fato de que, muitas vezes, o meio ambiente é 
trabalhado puramente em seus aspectos naturais, ficando sob a responsabilidade dos 
professores de Biologia e Geografia, ou resumidas a datas comemorativas como, por 
exemplo, o dia da água, o dia do meio ambiente, o dia da árvore, entre outros. A 
realidade nos mostra que na educação formal, muitas vezes, a proposta curricular 
está mais voltada para conteúdos específicos, os quais são trabalhados dissociados 
da realidade, dificultando a compreensão por parte dos educandos como também o 
trabalho dos professores. Educação Ambiental visa o desenvolvimento da consciência 
crítica, motivando os educandos para a mudança de valores, posturas e atitudes, seu 
trabalho deve ser contínuo e relacionado com os conteúdos de sala de aula. 
 
58 
 
Em decorrência das práticas fragmentadas da educação ambiental, o educando 
se sente observador de sua realidade e não um ser atuante e transformador desta. O 
aluno precisa enxergar sentido no que está realizando e o professor tem que ser o 
mediador no processo de ensino-aprendizagem. Somente dessa forma pode-se fazer 
com que seja percebida a verdadeira relação que deve ser estabelecida com a 
natureza, caso contrário ela vai continuar a ser vista como uma mercadoria à 
disposição, para ser utilizada indiscriminadamente. 
Cabe ao educador estimular o aluno a refletir sobre a realidade na qual vive, 
levando-o à compreensão de que é um ser ativo no contexto social e histórico, 
proporcionando a construção de um cidadão consciente de suas ações. Como diz 
Paulo Freire (1996, p.30): “Por que não estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes 
curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como 
indivíduo? ” É necessário partir dessa questão, se pretendemos formar cidadãos 
críticos, responsáveis, solidários e preparados para lutar pelos seus direitos, 
estabelecendo uma relação de valorização e respeito pela natureza. 
A mudança da visão sobre os recursos ambientais como algo finito tem relação 
com a ideia de que estamos ligados com todos os indivíduos do mundo, de que as 
ações praticadas em um dado contexto podem interferir em outros muito distantes, de 
que a poluição ou devastação ambiental de dado continente ameaça a vida de todo 
planeta. A filosofia como ciência contribui no pensar e pode iluminar nosso agir em 
busca de um meio ambiente mais sadio. 
 
 
Fonte: plantaoenfoco.com.br/ 
 
59 
 
8 A FILOSOFIA COMO INSTRUMENTALIZAÇÃO REFLEXIVA NA FORMAÇÃO 
DO EDUCANDO 
 
Para Dewey, o aluno é o ator principal no cenário do processo educativo. Para 
explicitar isso, ele lança mão da metáfora do barco, onde o professor é um guia, o que 
direciona. É o timoneiro do barco. A energia propulsora, no entanto, deriva dos alunos. 
A partir da experiência trazida por cada um, o professor dirigirá seus empreendimentos 
em direção à formação de hábitos reflexivos. 
“O professor exercerá o papel difícil de alguém que oferece a mão ao aluno, 
mostra-lhe o mundo ao redor e ao mesmo tempo deixa que ele caminhe sozinho e 
busque a construção de seu próprio ser” (LINS, 2015, p. 33). E ainda, de acordo com 
Lins (2015), a responsabilidade pela ação educativa é do professor, muito embora o 
aluno seja sempre seu agente principal. 
As condições para o professor exercer a função de líder intelectual de um grupo 
social são essenciais: a primeira delas refere-se à preparação intelectual acerca do 
assunto a ser abordado, pois o professor deve ter conhecimento abundante, chegando 
a transbordar, de forma a extrapolar as informações livrescas, textuais, de apostila, 
ou qualquer outro instrumento; em segundo lugar, deve estar preparado para o 
inesperado, para questionamentos, de modo que possa tirar proveito de indagações 
inesperadas, além de estar sempre motivado por um entusiasmo autêntico pelo 
conteúdo, de forma a contagiar os alunos. 
Para tanto, os docentes busquem a formação contínua, “porque a prática 
docente, (...) me coloca a possibilidade que devo estimular de perguntas várias, 
preciso me preparar ao máximo para, de outro, continuar sem mentir aos alunos, de 
outro, não ter de afirmar seguidamente que não sei” (FREIRE, 2007, p. 97). 
Para inculcar nos discentes a necessidade da reflexão frente ao que lhes for 
apresentado, o professor, primeiramente o professor precisa ser sujeito reflexivo e 
buscar frequentemente atualizar seus conhecimentos, daí a importância da formação 
continuada. 
 
A formação permanente, aponta para o modelo de docente como investigador 
na prática, como ser reflexivo, que constantemente tem que tomar decisões, 
em contraposição ao modelo em que o professor/a é visto como mero 
executor/a das ideias de outros, dos especialistas, isto é, como técnico que 
implementa um produto já criado pelos agentes externos. (REINA, 
2012/2013, p. 192). 
 
60 
 
O interesse autêntico pela atividade mental própria, pessoal, um amor pelo 
conhecimento são características essenciais do professor, pois, sendo ranzinza, 
aborrecido, rotineiro, indiferente à experiência de outrem, fará com que qualquer 
conteúdo a ser trabalhado se torne insuportável. 
De acordo com Alarcão (2009), a ideia de professor reflexivo é baseada em sua 
consciência de que cada ser humano é capaz de pensar e refletir, e essa reflexão é o 
que caracteriza o ser humano como criativo e inovador, e não simplesmente como 
mero reprodutor de ideias e práticas que lhe são alheias. Portanto, é papel do 
professor fazer com que os discentes sejam incentivados e tenham entusiasmo em 
sempre buscar, ir além, aprofundar o conhecimento que vai sendo adquirido. 
É evidente que o domínio do conteúdo possibilita ao professor transmitir 
segurança, o que não significa que ele deve portar-se como único detentor do 
conhecimento e da verdade, submetendo os alunos à sua subjetividade sem dar 
importância ao conhecimento trazidos por eles. É importante que o professor estimule 
os discentes à pesquisa, pois só assim eles poderão fazer a passagem do 
conhecimento superficial para o conhecimento mais profundo e complexo. 
A investigação e o método são essenciais para o exercício do magistério. 
Nesse sentido os professores deverão ser os primeiros a pesquisar e atualizar seus 
conhecimentos para dar suporte aos alunos. Por outro lado, Dewey destaca que o 
processo educativo correlacione os conteúdos à prática e à experiência como forma 
de incentivo à reflexão. 
 
 
Fonte: www.geledes.org.br 
 
61 
 
 
8.1 A importância da filosofia na formação do educador6 
 
O ato de ensinar exige que o educador acredite na mudança, devendo escolher 
metodologias que proporcionem ao educando o interesse e a curiosidade pelo 
conhecimento, formando os educandos para atuar e intervir ativamente na realidade. 
O ponto de partida para refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem no contexto 
educacional inclui a ideia de inacabamento do ser que toma consciência dos seus atos 
e assimila a capacidade de aprender, não apenas para se adaptar à realidade, mas 
com o anseio de reconstruí-la. 
A ação pedagógica tem se acentuado no senso comum ideológico dominante, 
que se expressa na prática educacional, seja por uma não compreensão filosófica do 
mundo, seja pela não compreensão de uma teoria filosófica do conhecimento 
norteadora da prática educativa. O que se deve elucidar é que se deve estar atento 
ao “como fazer” e “o que fazer na sala de aula”; para isso, há necessidade de definição 
de pressupostos filosóficos, haja vista que a prática educacional jamais é neutra, e 
quesempre estamos servindo determinados grupos e classes, motivo pelo qual há 
que se tomar partido: ou trabalhamos para atender os interesses e necessidades das 
classes dominantes ou lutamos em defesa das classes oprimidas. Assim, pode-se 
considerar que a filosofia impede o dogmatismo na ação pedagógica, por isso deve 
propor um modelo de educação que vise à formação política do educador, a 
compreensão da existência do homem como um ser capaz de pensar e de agir para 
melhorar sua própria realidade, as suas condições materiais de existência. 
Considerando que a educação é norteada por conceitos, valores e finalidades, 
cabe então refletir sobre o real sentido e valor que a educação tem na e para a 
sociedade. Para que possamos compreender a educação e seu direcionamento 
filosófico é muito importante considerarmos as três tendências filosóficas e políticas 
que se constituíram ao longo da prática educacional, na visão de Luckesi (1994). Para 
o autor: “esses três grupos de entendimento do sentido da educação na sociedade 
podem ser expressos, respectivamente, pelos conceitos seguintes: educação como 
redenção; educação como reprodução; e educação como meio de transformação da 
sociedade” (p.37). A compreensão dessas perspectivas da educação pode 
 
6 Extraído do artigo 
http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/c215b446bcdf956d848a8419c1b5a920.pdf 
http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/c215b446bcdf956d848a8419c1b5a920.pdf
 
62 
 
proporcionar uma prática pedagógica com nível significativo de consciência, 
possibilitando ao educador atuar visando uma construção mais política e filosófica do 
seu papel social. Tais tendências filosóficas se apresentam pela explicação do sentido 
da educação na e para a sociedade. A primeira é conhecida como a “tendência 
redentora” e concebe a educação como instancia quase que exterior à sociedade e 
dotada de poderes quase que absolutos. 
 
 
Fonte: www.cnbsp.org.br 
 
8.2 A Educação a partir da experiência 
 
Um dos pontos centrais da teoria da educação de John Dewey é o referencial 
prático, pois o conhecimento deve estar ligado à realidade do sujeito. “É inconcebível 
pensar vida, experiência e aprendizagem separadas, uma vez que se vive, 
experimenta e aprende simultaneamente” (LEITE, 2010, p. 25). O conhecimento só 
tem sentido, se tiver utilidade, ou seja, se estiver a serviço da existência humana. 
Ao estudar temas muito distantes de sua experiência, os alunos não despertam 
a curiosidade ativa, nem superam a capacidade de compreensão, mas, por outro lado, 
passam a lidar com temas escolares uma escala de valores e realidades distante da 
das questões práticas e que lhes interessam de verdade. No que concerne à 
experiência, de acordo com Souza (2012), a filosofia deweyana foi elaborada com o 
intuito de possibilitar interligar o pensamento reflexivo e os eventos da experiência 
cotidiana. 
 
63 
 
O método empírico exige que a filosofia submeta seus procedimentos à 
experiência primária, ou seja, aquelas relacionadas às emoções e às primeiras 
impressões, enfim, aos sentidos. A verificação das conclusões se dá mediante 
investigação. Enquanto as hipóteses não são testadas de forma prática, constituem 
apenas opinião, especulação. 
Segundo Dewey, a única forma de obtenção de conhecimento é através da 
ação, da prática. De acordo com Lorieri (2000), a gênese do processo de conhecer é 
a ação, na ação e para a ação. Este ponto de partida deve proporcionar uma 
experiência reflexiva que, para Fávero (2009) consiste em um esforço intencional 
(pensar) para estabelecer relações entre o que se faz e as consequências resultantes 
da ação, de modo que haja correlação entre elas. 
De acordo com Dewey (1998), a experiência se dá pela combinação de dois 
elementos, um ativo e outro passivo combinados respectivamente. Pelo lado ativo, a 
experiência é um ensaiar porque proporciona um sentido que se manifesta no termo 
“experimento”. No lado passivo é sofrer ou padecer, ou seja, através do agir, o objeto 
em relação ao qual se age exerce uma ação sobre o agente. Quando se experimenta 
alguma coisa, atua sobre ela, mas, posteriormente, se sofre ou padece as 
consequências. 
Desta forma, a junção destas duas fases da experiência mede a fecundidade 
ou o valor dela. A mera atividade não constitui uma experiência, pois é dispersiva, 
afasta-se do centro de atenção. A experiência como ensaio supõe uma mudança, que 
pode ser sem sentido, a menos que esteja conscientemente interligada com a onda 
de retorno das consequências que fluem dela. 
O conhecimento é sempre “ressignificação”, ou seja, reinterpretação, 
reorganização, cujo ponto de partida são as informações adquiridas preteritamente 
com acréscimo de dados provenientes de novas descobertas, através da 
investigação, transformando os saberes. O conhecimento não é algo estático, está 
sempre em movimento, não é algo pronto e acabado, está sempre fluindo. A busca 
incessante pelo aprimoramento e atualização de informações é o que movimenta o 
mundo. A educação deve motivar essa constante busca pelo saber. 
Partindo do pressuposto que o conhecimento está em constante 
transformação, o objetivo da educação consiste em fazer com que os discentes 
cultivem o gosto pela investigação e pela pesquisa. Nisto consiste o processo 
 
64 
 
emancipatório do raciocínio autônomo na busca de soluções para os problemas e 
superação das dúvidas. 
 
8.3 A Educação que conduz à reflexão7 
 
A educação objetiva o crescimento e a condução do discente ao pensar 
reflexivo. Porque assim ele estará preparado para encarar as dúvidas e 
questionamentos de forma consciente, pois, segundo Dewey (2007), o pensamento 
capacita para se guiar as atividades com previsibilidade, servindo para realizar 
planejamento de acordo com objetivos ou fins que se tem em vista. Ela capacita para 
atuar de forma deliberada e intencional, para vislumbrar objetivos futuros e alcançar o 
domínio de realidades ainda ausentes. 
O pensamento reflexivo proporciona o prolongamento do estado de dúvida, ou 
seja, a educação leva a mais conhecimento, objetiva à continuidade. O aprendizado 
faz com que o sujeito aja com autonomia, seja protagonista através de sua própria 
construção de saberes. 
De acordo com Ali (2015) nós não nascemos sabendo a prática de aprender. 
O aprendizado ocorre quando se permite que o indivíduo seja capaz de aprender, 
quando se oportuniza diferentes maneiras de usar uma mesma experiência, pois isso 
o leva a realizar diversas associações e combinações de ideias, de acordo com as 
circunstâncias a que lhe são apresentadas. E segundo Dorigon (2008) a resolução de 
situações problemáticas pode resultar na transformação do investigador, do meio e 
de ambos. A ênfase principal é a transformação. 
Dewey, em seu livro Como pensamos, apresenta algumas possibilidades do 
pensamento ser conduzido de forma errônea. Para tanto, se baseia no filósofo John 
Locke, que argumenta que é possível educar o pensamento, para que se extraia dele 
as melhores possibilidades. É preciso estar atento ao comportamento que conduz às 
formas errôneas de pensamento. 
Alguns fatores contribuem para se pensar de forma errônea, como por exemplo, 
os indivíduos que raramente raciocinam, pois quase sempre seguem o pensamento 
de outros, como os pais, os sacerdotes, ou outro modelo que julguem ser digno de 
 
7 Extraído do artigo 
http://periodico.abavaresco.com.br/index.php/opiniaofilosofica/article/download/637/582/#targetText=Resu
mo%3A%20A%20presente%20pesquisa%20tem,tornar%20o%20objetivo%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o. 
http://periodico.abavaresco.com.br/index.php/opiniaofilosofica/article/download/637/582/#targetText=Resumo%3A%20A%20presente%20pesquisa%20tem,tornar%20o%20objetivo%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o
http://periodico.abavaresco.com.br/index.php/opiniaofilosofica/article/download/637/582/#targetText=Resumo%3A%20A%20presente%20pesquisa%20tem,tornar%20o%20objetivo%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o65 
 
confiança, assim não tem que pensar por si mesmos. Depois, existem os que colocam 
a paixão no lugar da razão e deixam que ela governe suas ações e argumentos, não 
utilizam razão própria nem escutam opiniões que são diferentes de seus interesses. 
Por fim, existem os que estão dispostos a seguir a razão, porém lhe falta uma visão 
ampla do assunto, possuem apenas um ponto de vista, pois buscam conhecer e até 
se aprofundam em um só aspecto da questão. 
Na mesma obra Dewey expõe as ideias do filósofo Francis Bacon (1561-1626), 
que consiste nos ídolos ou fantasmas e atrapalham a construção do pensamento: a 
tribo refere-se aos métodos errôneos cujas raízes se encontram na natureza humana, 
o intelecto humano pode deturpar ou deformar as coisas pois é proveniente dos 
sentidos e falível; o mercado são os que provém da troca de conhecimento e do uso 
da linguagem, que podem levar a erros de interpretação e transmissão; a caverna são 
os que tem causas estritamente individuais, pois cada um possui uma visão diversa, 
e às vezes deformada por uma visão unilateral; o teatro trata-se dos que se originam 
da moda ou opinião geral de uma época. 
De acordo com Souza (2009), Dewey afirma a necessidade de se educar o 
pensamento como forma de superar a superficialidade rudimentar e promover a 
transição para pensamento reflexivo, mais aprofundado e elaborado. Porém, o 
desenvolvimento da prática reflexiva, só pode acontecer a partir da necessidade de 
solução de algum problema, que pode surgir através da experiência. 
A educação deve mostrar as possibilidades de engano do pensamento, que, 
para Costa (2013), esse engano pode ser causado pelo impulso, impaciência, soberba 
e escolha das coisas que levam em conta apenas o interesse próprio. A educação 
deve ensinar a pensar bem, mostrando a importância do pensamento, do 
questionamento e da reflexão, que deve mover cada um de nós. 
Entendemos que a Filosofia pode ser útil para estimular o aluno a pensar os 
problemas da contemporaneidade, recorrendo a leituras de pensadores que já o 
fizeram em tempos passados, tentando sugerir saídas para problemas semelhantes 
aos de hoje. 
Diferentemente de outras disciplinas, cujo valor para a formação dos sujeitos é 
inquestionável e que, portanto, estiveram sempre presentes no currículo da Educação 
Básica, o valor da disciplina de Filosofia foi muitas vezes questionado, o que a fez 
oscilar como componente curricular desse nível de ensino. A presença da Filosofia na 
 
66 
 
escola só era defendida pelos órgãos oficiais quando considerada capaz de contribuir 
de alguma forma com as exigências de formação que se gestava no interior do modo 
de produção econômico. 
A Filosofia tem que ganhar vida, instigar os alunos a reflexão a partir de temas 
e problemas que façam parte do seu cotidiano. A inserção da filosofia como disciplina 
no ensino médio compreende a necessidade da formação crítica e autônoma do 
cidadão no final da educação básica, pois esse saber fornece condições para o pensar 
e o agir através da ação reflexiva, respondendo e indagando as sociedades 
contemporâneas. 
A filosofia é importante para o desenvolvimento de uma sociedade melhor onde 
predomine o diálogo, a discussão filosófica, numa reflexão sobre comportamentos 
morais e éticos com parâmetros em nossas ações e vivências sem autoritarismos e 
com liberdade e autonomia. O ensino de filosofia é fundamental para a consolidação 
da democracia, para a discussão de temas pertinentes e para o desenvolvimento do 
pensamento social e político da nossa sociedade. Ela se faz necessária para a 
ampliação da consciência ecológica, melhorando a relação entre o ser humano e os 
seres não humanos a fim de construir uma atitude de respeito por eles. Embora sejam 
muitos os “modismos ecológicos” que acabam por não se tornar em práxis efetivas 
em busca de resultados reais, o trabalho da filosofia se torna essencial para iluminar 
essas armadilhas da sociedade. 
Sendo assim, a filosofia é de vital importância para a educação em todos os 
seus níveis de ensino. Ela obedece a um esforço no sentido de questionar e debater 
os problemas referentes à existência humana, isto é, desenvolver um espírito crítico, 
suscitando a liberdade para o exercício da democracia. 
 
 
67 
 
 
Fonte: pensaraeducacaoblog.wordpress.com 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
MENDSES, A. A. P. Didática e Metodologia do Ensino de Filosofia no Ensino 
Médio. Ctba: InterSaberes, 2017 (no prelo). (BV) 
 
TRIGO, L. G. G. Pensamento Filosófico: um enfoque educacional. Curitiba: 
InterSaberes, 2013. 
 
VASCONCELOS, J. A. Fundamentos Filosóficos da Educação. Curitiba: 
InterSaberes, 2012.