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Processo Civil – Impedimentos e Suspeição 
 
● Conceitos iniciais: 
Os institutos do impedimento e da suspeição dizem respeito às situações em que 
o(a) juiz(a) pode ser considerado(a) parcial. O impedimento é entendido como 
algo mais grave, de natureza objetiva, pois decorre de circunstâncias que, por si 
mesmas, comprometem a imparcialidade. Um exemplo seria o caso em que o juiz é 
irmão do réu. Nessa hipótese, a lei presume a parcialidade de forma absoluta 
(juris et jure), não cabendo prova em contrário. Além disso, o impedimento pode 
ser arguido a qualquer momento do processo, já que a nulidade é considerada 
insanável. 
 
A suspeição, por sua vez, é vista como uma situação menos grave, de caráter 
subjetivo, ligada a elementos pessoais da relação entre o juiz e as partes. Um 
exemplo típico ocorre quando o juiz é amigo do réu. Nesse caso, a lei estabelece 
uma presunção relativa de parcialidade (juris tantum), admitindo prova em 
sentido contrário. Diferentemente do impedimento, a suspeição deve ser 
arguida dentro de um prazo legal; caso contrário, opera-se a preclusão, 
impossibilitando a posterior alegação de parcialidade. 
 
● Hipóteses de impedimento: 
As hipóteses de impedimento representam situações em que o juiz está 
proibido de atuar no processo, justamente porque sua imparcialidade estaria 
comprometida. O impedimento ocorre, por exemplo, quando o magistrado já 
participou do processo em outra função, como mandatário, perito, membro do 
Ministério Público ou testemunha. Imagine, por exemplo, um advogado que atuou 
em determinado processo e, posteriormente, foi aprovado em concurso público 
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para a magistratura. Caso esse juiz venha a se deparar novamente com o mesmo 
processo, não poderá nele atuar, uma vez que sua imparcialidade estaria 
prejudicada. 
Também há impedimento quando o juiz já conheceu do processo em outro grau 
de jurisdição, proferindo decisão anterior sobre a causa. O mesmo se aplica 
quando o magistrado possui vínculo de parentesco, até o terceiro grau, com 
advogados, membros do Ministério Público, defensores públicos ou mesmo com 
uma das partes do processo. Além disso, não é permitido criar ou forçar uma 
situação artificial para gerar impedimento. 
Outra hipótese ocorre quando o juiz é sócio, administrador ou gerente de 
pessoa jurídica que figure como parte na causa. Da mesma forma, se o 
magistrado for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de uma das 
partes, ou ainda se mantiver vínculo de emprego ou contrato com instituição 
de ensino que esteja litigando no processo, estará impedido de atuar. 
Havia ainda previsão legal de impedimento quando a parte era cliente de 
escritório de advocacia de parente do magistrado, até o terceiro grau, ainda que 
o advogado responsável não fosse o próprio parente. No entanto, o Supremo 
Tribunal Federal declarou esse dispositivo inconstitucional. Outra hipótese de 
impedimento surge quando o juiz promove ação contra uma das partes ou 
contra o advogado que a representa. 
Por fim, também é vedado criar fatos supervenientes apenas para provocar 
impedimento. No âmbito dos tribunais, quando há parentesco entre dois 
desembargadores ou juízes, o primeiro a conhecer do processo impede a 
atuação do outro, justamente para preservar a imparcialidade. 
 
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● Hipóteses de Suspeição: 
As hipóteses de suspeição dizem respeito a situações em que há uma 
relatividade quanto à imparcialidade do magistrado, ou seja, a parcialidade é 
presumida, mas admite prova em contrário. A suspeição ocorre, por exemplo, 
quando o juiz é amigo íntimo ou inimigo de alguma das partes ou de seus 
advogados. Também se configura quando o magistrado recebe presentes de 
pessoa interessada na causa, seja antes, seja depois do processo. 
Outras situações que caracterizam suspeição incluem: aconselhar as partes 
sobre o objeto da demanda, fornecer meios para custear as despesas do 
litígio ou quando o juiz, ou parente seu até o terceiro grau, figura como credor 
ou devedor de uma das partes. Além disso, há suspeição quando o magistrado 
possui interesse pessoal no julgamento favorável a uma das partes. 
Por outro lado, existe a chamada suspeição ilegítima, que ocorre quando é 
provocada por quem alega, ou quando a parte pratica atos que revelam 
aceitação da atuação do juiz, afastando, assim, a possibilidade de levantar a 
suspeição posteriormente. 
Cabe destacar ainda que o próprio juiz pode declarar-se suspeito por motivos de 
foro íntimo, ou seja, razões pessoais que não precisam ser explicitadas, mas 
que possam comprometer sua imparcialidade. 
● Procedimento: 
O procedimento de arguição do impedimento e da suspeição segue regras 
específicas. A parte que tiver conhecimento de um fato que configure qualquer 
uma dessas hipóteses dispõe de um prazo de 15 dias para alegá-lo. Para isso, 
deve apresentar uma petição própria, na qual indica os documentos e as 
testemunhas que comprovam a alegação, dirigida diretamente ao juiz. No caso do 
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impedimento, entretanto, não há preclusão: a parte pode suscitar a questão 
mesmo após o prazo de 15 dias, embora deva arcar com os custos decorrentes do 
atraso. 
Ao receber a petição, o juiz pode reconhecer a alegação e, nesse caso, remete 
imediatamente os autos ao seu substituto. Caso não reconheça, será formada 
uma autuação em apartado, e o magistrado terá o prazo de 15 dias para 
apresentar sua defesa, expondo suas razões e juntando eventuais provas. Em 
seguida, os autos são remetidos ao tribunal. 
No tribunal, o relator examinará a questão e poderá decidir de duas formas: se 
entender que não há efeito suspensivo, o processo principal continua a 
tramitar normalmente; se, ao contrário, considerar que há efeito suspensivo, o 
processo ficará suspenso até o julgamento da arguição. 
Se o tribunal acolher a alegação de impedimento ou suspeição, o juiz será 
declarado afastado, condenado ao pagamento das custas e o processo será 
encaminhado ao magistrado substituto. Além disso, o tribunal fixará a partir de 
qual momento o juiz não poderia mais ter atuado no processo, delimitando assim 
os efeitos da sua decisão. 
● Hipóteses de impedimento/suspeição para os membros do Ministério 
Público, os auxiliares de justiça e demais sujeitos imparciais do processo: 
As hipóteses de impedimento e suspeição também se aplicam aos membros do 
Ministério Público, aos auxiliares da justiça e a outros sujeitos que 
desempenham funções imparciais no processo. Nesses casos, a arguição ou 
alegação deve ser apresentada na primeira oportunidade em que a parte 
tenha chance de se manifestar nos autos. O incidente processual 
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correspondente tramita de forma separada, sem suspender o andamento do 
processo principal, e o arguido dispõe de 15 dias para apresentar sua defesa. 
No caso específico do perito, a lei exige, de forma absoluta, que ele atue com 
imparcialidade, sendo vedada qualquer atuação que comprometa sua neutralidade 
no exercício da função. 
● Resumo: 
(1) Hipóteses de Impedimento (parcialidade objetiva, mais grave): 
 
Ocorrem quando o juiz não pode atuar no processo por motivo que compromete 
sua imparcialidade de forma absoluta: 
 
– Já tenha participado do processo como mandatário, perito, membro do 
Ministério Público ou testemunha. 
– Tenha conhecido o processo em outro grau de jurisdição (proferindo decisão). 
– Seja parente até o 3º grau de advogado, membro do MP, defensor público ou 
de uma das partes. 
– Seja sócio, administrador ou gerente de pessoa jurídica parte na causa. 
– Seja herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de uma das partes. 
– Mantenha vínculo empregatício ou contratual com instituição parte do 
processo. 
– Quando a parte do processo for cliente de escritório de advogado parente até 
o 3º grau (STF declarou inconstitucional, mas ainda é relevante estudar). 
– Promova ação contra parte ou advogado. 
–Em tribunais, quando dois juízes/desembargadores foremparentes: o primeiro 
que conhecer do processo impede o outro. 
 
(2) Hipóteses de Suspeição (relatividade da parcialidade, menos grave): 
 
Ocorrem quando há indícios de parcialidade, admitindo prova em contrário: 
 
– Ser amigo íntimo ou inimigo das partes ou advogados. 
– Receber presentes de interessado na causa (antes ou depois do processo). 
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– Aconselhar as partes sobre o objeto da causa. 
– Subministrar meios para custear despesas do litígio. 
– Credor ou devedor, ou parente até o 3º grau, ser parte no processo. 
– Ter interesse pessoal no julgamento favorável a uma das partes. 
– Suspeição ilegítima: quando provocada pela parte que alega ou aceita atuação 
do juiz. 
– O juiz pode declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo. 
 
 
 
 
 
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