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<p>SILVICULTURA, MANEJO E</p><p>PRODUÇÃO FLORESTAL</p><p>AULA 6</p><p>Prof. Thiago Cardoso Silva</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Estamos chegando ao final deste estudo. Nesta etapa, iremos abordar</p><p>temáticas relacionadas à conservação de florestas a partir de instrumentos da</p><p>legislação florestal e ambiental.</p><p>Como objetivo desta etapa, visamos o estudo da aplicação de</p><p>instrumentos legislativos para conservação de florestas naturais e a</p><p>normatização da produtividade de florestas plantadas. Busca-se, portanto,</p><p>correlacionar a influências destes atos legislativos na Silvicultura, Manejo e</p><p>Produção Florestal.</p><p>Os temas principais desta etapa serão os seguintes:</p><p>• Legislação e conservação de florestas: introdução e conceitos;</p><p>• Gestão de Florestas Públicas;</p><p>• Código Florestal;</p><p>• Política de Florestas Plantadas;</p><p>• Certificação Florestal.</p><p>Vamos reiniciar o estudo, pois daremos início a novos conceitos</p><p>importantes para produção florestal.</p><p>TEMA 1 – LEGISLAÇÃO E GESTÃO DE FLORESTAS: CONCEITOS</p><p>IMPORTANTES</p><p>A legislação e a gestão de florestas compreendem um conjunto de leis,</p><p>regulamentos, políticas e práticas destinadas a administrar, conservar e regular</p><p>o uso sustentável dos recursos florestais. Essas normas foram desenvolvidas</p><p>para equilibrar a exploração dos recursos naturais com a preservação do meio</p><p>ambiente, promovendo a conservação da biodiversidade, proteção dos</p><p>ecossistemas florestais e o desenvolvimento socioeconômico.</p><p>A legislação ambiental é um conjunto de instrumentos jurídicos voltados</p><p>para regulação das atividades que eventualmente podem impactar a qualidade</p><p>do meio ambiente. Especificamente para florestas, foram desenvolvidas as</p><p>ações de Legislação Florestal.</p><p>A legislação florestal está diretamente relacionada com a Política</p><p>Florestal. Essa política influencia diretamente na gestão das florestas. As</p><p>3</p><p>atividades mais importantes afetadas pelas políticas florestais são divididas em</p><p>três categorias (Husch, 1987; Hoeflich et al., 2007):</p><p>I. Conservação, proteção, administração, manejo e utilização de florestas;</p><p>II. Proteção ambiental;</p><p>III. Atividades industriais e comercialização de produtos florestais.</p><p>Essas leis podem abordar uma variedade de aspectos, como:</p><p>• Criação e manejo de áreas protegidas;</p><p>• Licenciamento ambiental para atividades florestais;</p><p>• Manejo sustentável da madeira;</p><p>• Controle do desmatamento ilegal;</p><p>• Incentivos para práticas de conservação;</p><p>• Proteção de espécies ameaçadas.</p><p>A gestão de florestas, por sua vez, envolve a implementação dessas leis</p><p>e políticas, além de práticas e estratégias de manejo que promovam a</p><p>conservação dos recursos naturais, a manutenção dos ecossistemas florestais</p><p>saudáveis e a utilização sustentável dos recursos florestais. Isso pode incluir o</p><p>planejamento do uso da terra, ações de reflorestamento, controle de incêndios,</p><p>monitoramento da biodiversidade, entre outras atividades.</p><p>Segundo Valverde (2023), o uso dos recursos naturais no Brasil passou</p><p>por três fases:</p><p>I. Fase de usos desordenados e indiscriminados: houve uma exploração</p><p>exaustiva das florestas nativas, sobretudo da Mata Atlântica com a</p><p>exploração de pau-brasil e outras madeiras de lei. Além disso, ocorreu a</p><p>expansão agrícola no período colonial, difundindo as culturas de cana-de-</p><p>açúcar, café e pecuária na zona litorânea;</p><p>II. Fase de uso por controle excessivo: período em que houve grandes</p><p>conflitos entre a preservação e o uso dos recursos nas propriedades</p><p>rurais. Surgiram grandes projetos de expansão agrícola, industrial e de</p><p>infraestrutura, sobretudo em áreas do Cerrado;</p><p>III. Fase de busca pela sustentabilidade: integração dos conceitos de</p><p>sustentabilidade dos recursos florestais, hídricos, minerais e de fauna.</p><p>Esse é o período em que se encontra da Legislação Florestal brasileira.</p><p>4</p><p>1.1 Conceitos para compreensão da legislação ambiental e florestal</p><p>Antes de serem iniciados os estudos da legislação florestal, é preciso</p><p>descrever a existência de algumas definições e conceitos. Os mais importantes</p><p>estão apresentados no Quadro 1.</p><p>Quadro 1 – Principais conceitos da legislação florestal relacionados com</p><p>Silvicultura, Manejo e Produção Florestal</p><p>Itens Conceitos</p><p>Conservação</p><p>da natureza</p><p>Manejo do uso humano da natureza, compreendendo a</p><p>preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração</p><p>e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o</p><p>maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações,</p><p>mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações</p><p>das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos</p><p>em geral</p><p>Extrativismo</p><p>Sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo</p><p>sustentável, de recursos naturais renováveis</p><p>Manejo</p><p>Todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação</p><p>da diversidade biológica e dos ecossistemas</p><p>Recurso</p><p>ambiental</p><p>A atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os</p><p>estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da</p><p>biosfera, a fauna e a flora</p><p>Recursos</p><p>florestais</p><p>Elementos ou características de determinada floresta, potencial ou</p><p>efetivamente geradores de produtos ou serviços florestais</p><p>Serviços</p><p>florestais</p><p>Turismo e outras ações ou benefícios decorrentes do manejo e</p><p>conservação da floresta, não caracterizados como produtos</p><p>florestais</p><p>Uso alternativa</p><p>do solo</p><p>Substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por</p><p>outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias,</p><p>industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de</p><p>transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação</p><p>humana</p><p>Uso</p><p>sustentável</p><p>Exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos</p><p>recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,</p><p>mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de</p><p>forma socialmente justa e economicamente viável</p><p>Fontes: Brasil, 2000; Brasil, 2006; Brasil, 2012.</p><p>Conforme a legislação vigente, as florestas são consideradas bens</p><p>públicos de direito e propriedade, sendo consideradas produtivas as florestas</p><p>naturais e as plantadas. Para abordar essas temáticas, a seguir serão discutidos</p><p>os seguintes instrumentos legislativos:</p><p>• Gestão de Florestas Públicas;</p><p>5</p><p>• Código Florestal;</p><p>• Política Agrícola de Florestas Plantadas;</p><p>• Certificação Florestal.</p><p>TEMA 2 – GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS</p><p>A gestão de florestas públicas foi um conceito que se iniciou a partir da</p><p>necessidade de observar a proteção de áreas naturais visando a conservação</p><p>da natureza. Para isso, surgiram ferramentas para a conservação de biomas,</p><p>ecossistemas e espécies de fauna de flora a nível mundial. As principais</p><p>envolvem a formação de unidades de conservação da natureza.</p><p>Nesses locais, surgiram a regulamentação do uso e a ocupação do</p><p>território. As características socioambientais locais e os objetivos de manejo e</p><p>gestão foram definidos conforme o nível de proteção desejado para cada área.</p><p>Assim, foram criadas as categorias de áreas protegidas:</p><p>• Áreas de Preservação Permanente;</p><p>• Reserva Legal;</p><p>• Reservas da Biosfera;</p><p>• Terras Indígenas;</p><p>• Terras Quilombolas;</p><p>• Unidades de Conservação.</p><p>Focaremos aqui nas Unidades de Conservação e suas características</p><p>visando o Manejo e a Produção Florestal. Sobre as Áreas de Preservação</p><p>Permanente e Reserva Legal, estas serão detalhadas mais adiante.</p><p>2.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)</p><p>O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)</p><p>foi criado a partir da Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000 (Brasil, 2000). O SNUC</p><p>define uma Unidade de Conservação como</p><p>Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas</p><p>jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente</p><p>instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites</p><p>definidos, sob regime</p><p>especial de administração, ao qual se aplicam</p><p>garantias adequadas de proteção. (Brasil, 2000)</p><p>6</p><p>Devido à complexidade dos ecossistemas naturais em todo o território</p><p>nacional, além da alta biodiversidade e da disponibilidade de recursos</p><p>ambientais. As categorias de Unidades de Conservação brasileiras definidas</p><p>pelo SNUC estão descritas no Quadro 2.</p><p>Quadro 2 – Categorias de Unidades de Conservação definidas pelo SNUC</p><p>Grupo Categoria</p><p>Posse e</p><p>Domínio</p><p>Objetivos</p><p>Proteção</p><p>Integral</p><p>Estação Ecológica</p><p>(EE)</p><p>Público</p><p>Preservar a natureza e realizar</p><p>pesquisas científicas</p><p>Reserva Biológica</p><p>(REBIO)</p><p>Público</p><p>Preservar integralmente a biota, com</p><p>ações de manejo para recuperar e</p><p>preservar o equilíbrio ambiental</p><p>Parque Nacional</p><p>(PARNA)</p><p>Público</p><p>Preservar ecossistemas naturais de</p><p>grande relevância ecológica e beleza</p><p>cênica, com pesquisa científica e</p><p>atividade de educação e recreação</p><p>Monumento</p><p>Natural (MN)</p><p>Público/</p><p>Privado</p><p>Preservar sítios naturais raros,</p><p>singulares ou de grande beleza cênica</p><p>Refúgio de Vida</p><p>Silvestre (RVS)</p><p>Público/</p><p>Privado</p><p>Proteger ambientes naturais onde há</p><p>existência ou reprodução de espécies</p><p>ou comunidades da flora local e da</p><p>fauna residente ou migratória</p><p>Uso</p><p>Sustentável</p><p>Área de Proteção</p><p>Ambiental (APA)</p><p>Público/</p><p>Privado</p><p>Proteger a biodiversidade, disciplinar a</p><p>ocupação do território e assegurar a</p><p>sustentabilidade do uso dos recursos</p><p>naturais</p><p>Área de Relevante</p><p>Interesse</p><p>Ecológico (ARIE)</p><p>Público/</p><p>Privado</p><p>Manter os ecossistemas naturais de</p><p>importância regional ou local e regular</p><p>o uso dessas áreas</p><p>Floresta Nacional</p><p>(FLONA)</p><p>Público</p><p>Utilizar os recursos florestais a partir</p><p>do manejo sustentável de uso múltiplo</p><p>e realizar pesquisa científica</p><p>Reserva</p><p>Extrativista</p><p>(RESEX)</p><p>Público</p><p>Proteger os meios de vida e a cultura</p><p>de populações extrativistas e</p><p>assegurar o uso sustentável dos</p><p>recursos naturais</p><p>Reserva de Fauna</p><p>(REFAU)</p><p>Público</p><p>Realizar estudos técnico-científicos</p><p>sobre o manejo econômico</p><p>sustentável da fauna</p><p>Reserva de</p><p>Desenvolvimento</p><p>Sustentável (RDS)</p><p>Público</p><p>Preservar a natureza e assegurar o</p><p>manejo sustentável dos recursos</p><p>naturais por populações tradicionais</p><p>Reserva Particular</p><p>do Patrimônio</p><p>Natural (RPPN)</p><p>Privado</p><p>Conservar a biodiversidade em áreas</p><p>privadas</p><p>Fonte: Brasil, 2000.</p><p>As Unidades do grupo Proteção Integral não permitem o manejo florestal.</p><p>Como o principal objetivo delas é preservar os recursos naturais, é admitido</p><p>7</p><p>apenas o uso indireto dos recursos, pois manejo aqui é estritamente para</p><p>finalidades ecológicas e científicas. Dessa forma, são fornecidos os serviços</p><p>ecossistêmicos por essas áreas naturais. As áreas privadas presentes nas</p><p>Unidades das Categorias Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre devem</p><p>compatibilizar os objetivos da Unidade com o uso da terra e dos recursos</p><p>naturais na propriedade.</p><p>Já as do grupo Uso Sustentável têm como objetivo combinar a</p><p>conservação com o manejo sustentável de parte dos recursos naturais que essas</p><p>áreas disponibilizam. Por isso, é possível utilizar essas categorias como áreas</p><p>de Produção Florestal, explorando madeira e os produtos florestais não</p><p>madeireiros, incluindo também os serviços ecossistêmicos.</p><p>O uso dos recursos pode ser feito de duas formas (Brasil, 2000):</p><p>I – Uso direto: envolve a coleta e o uso dos recursos naturais, sendo eles</p><p>para fins comerciais ou não;</p><p>II – Uso indireto: não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos</p><p>recursos naturais.</p><p>Nas Reservas Extrativistas é proibido caçar e explorar recursos minerais.</p><p>Para comercialização de madeira, é preciso realizar Plano de Manejo</p><p>Sustentável, em que deve conter situações especiais e complementares às</p><p>atividades que já são desenvolvidas na Unidade de Conservação.</p><p>O manejo dessas áreas será concedido por contrato (que será melhor</p><p>detalhado quando for falado sobre a Lei de Gestão de Florestas Públicas, no</p><p>ponto 2.2). Este contrato é destinado a populações extrativistas em Reservas</p><p>Extrativistas ou a populações tradicionais em Reservas do Desenvolvimento</p><p>Sustentável. São obrigações associadas a esse uso dos recursos: preservação,</p><p>recuperação, defesa e manutenção da Unidade de Conservação, obedecendo</p><p>aos critérios (Brasil, 2000):</p><p>• Proibir uso de espécies ameaçadas;</p><p>• Proibir práticas danosas ao ambiente ou que impeçam a</p><p>recuperação/regeneração natural dos ecossistemas;</p><p>• Satisfazer as normas descritas na legislação vigente, no Plano de Manejo</p><p>e no contrato de concessão de uso.</p><p>Na Reserva de Fauna é proibida a caça, apenas permitindo a</p><p>comercialização dos recursos obtidos a partir de pesquisas realizadas na</p><p>8</p><p>Unidade, obedecendo normas pré-estabelecidas. Na Reserva Particular do</p><p>Patrimônio Natural só poderá ser realizada pesquisa científica e visitação.</p><p>O SNUC também detalha sobre o Plano de Manejo das Unidades de</p><p>Conservação. Este é um documento técnico obrigatório que toda Unidade</p><p>precisa possuir, pois ele “estabelece o seu zoneamento e as normas que devem</p><p>presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação</p><p>das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade” (Brasil, 2000).</p><p>Para criação do Plano de Manejo, é necessário realizar um estudo técnico,</p><p>consulta pública e indicar a localização, a dimensão e os limites mais adequados</p><p>da Unidade. As áreas que contemplam a Unidade são: a própria área da</p><p>Unidade, sua zona de amortecimento e corredores ecológicos. Muitas atividades</p><p>produtivas podem ser realizadas na zona de amortecimento, respeitando</p><p>condições que não impliquem impactos ambientais significativos, sendo</p><p>necessário licenciamento.</p><p>2.2 Lei de Gestão de Florestas Públicas</p><p>Nesta parte, iremos falar exclusivamente sobre Florestas Públicas, que</p><p>são aquelas “localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens sob o domínio</p><p>da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da</p><p>administração indireta” (Brasil, 2006). A Gestão de Florestas Públicas está</p><p>baseada na Lei n. 11.284, de 2 de março de 2006 (Brasil, 2006), com</p><p>atualizações da Lei n. 14.590, de 24 de maio de 2023 (Brasil, 2023).</p><p>Os princípios que essas leis possuem que têm relação com o manejo e</p><p>produção florestal são:</p><p>• Estabelecimento de atividades florestais sustentáveis;</p><p>• Incentivo para agregação de valor aos produtos e serviços da floresta em</p><p>relação às atividades locais;</p><p>• Garantia de condições estáveis e seguras para estimular o manejo, a</p><p>conservação e a recuperação das florestas a longo prazo.</p><p>A definição do manejo nas florestas públicas está baseada no manejo</p><p>florestal sustentável, tema debatido na etapa anterior. A gestão dessas florestas</p><p>para produção sustentável compreende as seguintes atividades (Brasil, 2006):</p><p>9</p><p>I. Gestão direta: criação e gestão de Unidades de Conservação das</p><p>categorias Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais. É realizada pelo</p><p>Poder Público;</p><p>II. Destinação às comunidades locais: envolve duas atividades:</p><p>• Criação de Unidades de categorias Reserva Extrativista e Reserva do</p><p>Desenvolvimento Sustentável;</p><p>• O manejo das florestas públicas nessas Unidades será formado pela</p><p>concessão a partir de projetos, formando assentamentos florestal, do</p><p>desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares.</p><p>Essa característica faz parte do Programa Nacional de Reforma</p><p>Agrária.</p><p>III – Concessão Florestal: legalização do direito de praticar o manejo</p><p>florestal sustentável para empresas explorarem produtos e serviços em</p><p>florestas públicas. Essas empresas em concessão podem extrair produtos</p><p>madeireiros e não madeireiros, além de oferecer serviços de turismo. As</p><p>principais características das concessões florestais são:</p><p>• A concessão dá apenas direito a praticar o manejo sustentável:</p><p>o Exploração de produtos e serviços florestais;</p><p>o Proibido: explorar patrimônio genético, recursos minerais e fauna,</p><p>além da comercialização de créditos de carbono.</p><p>• As florestas serão separadas de unidades de manejo, que serão</p><p>previstas no Plano Plurianual de Outorga Florestal (mecanismo de</p><p>transparência que permite à sociedade ter conhecimento, com</p><p>antecedência, das Florestas Públicas Federais que serão elegíveis</p><p>para concessão no ano em que estiverem em vigor);</p><p>• Podem ser aplicados apenas em Unidades de Conservação de Uso</p><p>Sustentável nas categorias Floresta Nacional, Área de Proteção</p><p>Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, as duas últimas</p><p>podendo ter posse e domínio privado.</p><p>TEMA 3 – CÓDIGO FLORESTAL</p><p>O principal instrumento legislativo do setor florestal atualmente é o Código</p><p>Florestal, devidamente atualizado na Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012</p><p>10</p><p>(Brasil, 2012). Esta lei é uma evolução dos seguintes instrumentos que</p><p>ocorreram ao longo do tempo:</p><p>• 1514: Ordenações Manuelinas, primeiro marco legislativo, que envolveu</p><p>leis ambientais;</p><p>• 1603: Ordenações Filipinas, atualizações dessas legislações;</p><p>• 1797: Carta Régia, que fez proibições sobre exploração de pau-brasil e</p><p>outras madeiras de lei;</p><p>• 1934: Primeiro Código Florestal, no qual foram desenvolvidos os</p><p>conceitos de florestas protetoras, tendo um caráter conservacionista;</p><p>• 1965: Antigo Código Florestal, no qual foi instituído o conceito de Área de</p><p>Preservação Permanente (APP), porém de acordo com a ineficácia desta</p><p>lei, houve a atualização para o Novo Código Florestal.</p><p>O Código Florestal de 2012 conceitua a separação de áreas dentro de</p><p>uma propriedade rural. As principais são: APP, Reserva Legal (RL) e áreas de</p><p>uso restrito. Não necessariamente estão ligadas com a Silvicultura, Manejo e</p><p>Produção Florestal, mas são conceitos importantes a serem debatidos para</p><p>entendimento do setor florestal.</p><p>3.1 Áreas de Preservação Permanente (APP)</p><p>APPs são áreas (não apenas florestais) que podem ou não ter cobertura</p><p>vegetal (em caso de degradação, necessário recompor a vegetação), podendo</p><p>estar na Zona Rural ou Urbana, cujas funções ambientais são (Brasil, 2012):</p><p>• Preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a</p><p>biodiversidade;</p><p>• Facilitar a movimentação de material genético de fauna e flora;</p><p>• Proteger o solo; e</p><p>• Assegurar o bem-estar das populações humanas.</p><p>A vegetação da APP deve ser mantida e preservada, porém caso for</p><p>cortada ou estiver morta, é necessário recompor. Os principais tipos de APP</p><p>estão ilustrados na Figura 1, sendo todos (Brasil, 2012):</p><p>I. Faixas marginais de qualquer curso d’água (mata ciliar);</p><p>II. Áreas no entorno de lagos e lagos naturais;</p><p>III. Entornos de reservatórios artificiais;</p><p>11</p><p>IV. Entorno de nascentes ou de olho d’água;</p><p>V. Encostas com declividade maior que 45º;</p><p>VI. Restingas;</p><p>VII. Manguezais;</p><p>VIII. Bordas de tabuleiros ou chapadas;</p><p>IX. Topo de morros, montes, montanhas e serras;</p><p>X. Áreas em altitude maior que 1.800m;</p><p>XI. Veredas com largura mínima de 50 m.</p><p>Figura 1 – Tipos de APP</p><p>Fonte: Áreas..., S.d.</p><p>As APPs são áreas de uso restrito, por isso a sua função principal é</p><p>conservação ambiental. Em regra, não podem sofrer intervenções, ao menos</p><p>que sejam atividades de (Brasil, 2012):</p><p>I. Utilidade pública: como obras de infraestrutura destinadas às concessões</p><p>e aos serviços públicos;</p><p>II. Interesse social: como exploração agroflorestal sustentável praticada em</p><p>pequenas propriedades ou posse rural familiar ou por povos e</p><p>comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura</p><p>vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área;</p><p>12</p><p>III. Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental: envolvem</p><p>diversas ações, como:</p><p>• Abertura de vias de acesso para obtenção de água ou retirada de</p><p>produtos oriundos de manejo agroflorestal sustentável;</p><p>• Implantação de trilhas para ecoturismo;</p><p>• Construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de</p><p>comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e</p><p>tradicionais em áreas rurais;</p><p>• Coleta de produtos não madeireiros para subsistência e produção de</p><p>mudas;</p><p>• Exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e</p><p>familiar.</p><p>Outras condições são detalhadas na Lei, porém estes são os destaques</p><p>em relação à gestão da produção e manejo de florestas em APP. Em resumo,</p><p>estas são as atividades que são autorizadas nessas áreas. Porém existe uma</p><p>particularidade para algumas propriedades, que são chamadas áreas</p><p>consolidadas.</p><p>As áreas consolidadas são todas aquelas que foram ocupadas com</p><p>atividades agropecuárias e florestais, casas e benfeitorias, antes da data 22 de</p><p>julho de 2008. Para as áreas consolidadas é autorizada a continuidade de</p><p>atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural.</p><p>3.2 Reserva Legal (RL)</p><p>RL é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse</p><p>exclusivamente rural, logo não ocorre na zona urbana. As funções da RL são as</p><p>seguintes (Brasil, 2012):</p><p>• Assegurar a exploração econômica de modo sustentável dos recursos</p><p>naturais;</p><p>• Auxiliar a conservação e recuperação ambiental, protegendo a vegetação</p><p>e abrigando a fauna silvestre.</p><p>A RL pode ter vários tamanhos (Figura 2), sendo eles diferindo de acordo</p><p>com a localização (Brasil, 2012):</p><p>13</p><p>I – Amazônia Legal: envolve os estados do Norte do Brasil, pequenas áreas</p><p>do Mato Grosso, Goiás e Maranhão, com as seguintes composições:</p><p>• Área de florestas: 80% da área da propriedade deve ser RL;</p><p>• Área de cerrado: 35%;</p><p>• Área de campos gerais: 20%;</p><p>II – Demais regiões do Brasil: 20%.</p><p>Figura 2 – Porcentagem de Reserva Legal de propriedades rurais por bioma</p><p>Fonte: Brasil, 2012.</p><p>Admite-se a exploração econômica da RL aplicando as técnicas de</p><p>manejo sustentável. Para isso, precisa aplicar práticas de exploração seletiva,</p><p>principalmente de duas formas (Brasil, 2012):</p><p>I. Manejo sustentável sem propósito comercial, para consumo na</p><p>propriedade:</p><p>a. Permitido em pequenas propriedades, com os limites:</p><p>• 2 m³ de madeira por hectare para cada unidade familiar;</p><p>• Uso energético: menor que 15 m³ de lenha para uso doméstico,</p><p>não comprometendo mais de 15% da vegetação.</p><p>b. Permitido em médias e grandes propriedades, com limite de volume</p><p>explorado de no máximo 20 m³ por hectare, ao ano.</p><p>II. Manejo sustentável para exploração florestal com propósito</p><p>comercial: depende de elaboração, análise e aprovação do plano de</p><p>manejo.</p><p>14</p><p>Da mesma forma que para APP, para RL também podem ocorrer em</p><p>áreas consolidadas. É necessário recompor a vegetação em muitos casos,</p><p>devidamente descritos na Lei.</p><p>3.3 Áreas de uso restrito</p><p>Áreas de uso restrito são locais que possuem restrições ou limitações</p><p>específicas para seu uso, de acordo com questões ambientais, de conservação,</p><p>preservação de ecossistemas frágeis, proteção de recursos naturais ou por</p><p>legislações que visam a proteção de áreas sensíveis. As áreas de uso restrito</p><p>constantes no Código Florestal são as seguintes (Brasil, 2012):</p><p>I. Pantanais e planícies pantanosas: permitida a exploração</p><p>ecologicamente sustentável, considerando recomendações de órgãos</p><p>técnicos, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso</p><p>alternativo do solo condicionadas à necessidade de autorização por</p><p>órgãos ambientais;</p><p>II. Áreas de inclinação entre 25º e 45º: permitido o manejo florestal</p><p>sustentável e atividades agrossilvipastoris, observando boas práticas</p><p>agronômicas, não sendo autorizada a conversão de novas áreas.</p><p>TEMA 4 – POLÍTICA AGRÍCOLA DE FLORESTAS PLANTADAS</p><p>Com base no Código Florestal de 2012, ficou instituído que algumas áreas</p><p>seriam administradas para uso alternativo do solo. Esse uso pode ser destinado</p><p>ao cultivo de florestas, sendo um dos principais instrumentos legislativos do</p><p>Decreto n. 8.375, de 11 de dezembro de 2014 (Brasil, 2014). Este decreto define</p><p>como floresta plantada aquela na qual as árvores</p><p>foram introduzidas na área a</p><p>partir de semeadura ou plantio de mudas, cuja finalidade é a exploração</p><p>econômica com fins comerciais. Como vimos durante nosso estudo, as principais</p><p>florestas plantadas são aquelas utilizadas para produção de madeira.</p><p>Os princípios da Política Agrícola de Florestas Plantadas envolvem “a</p><p>produção de bens e serviços florestais para o desenvolvimento social e</p><p>econômico do país; e [...] a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”</p><p>(Mapa, 2018, p. 3). Visando cumprir estes princípios, os objetivos traçados para</p><p>esta política são (Brasil, 2014):</p><p>• Incrementar produção e produtividade dessas florestas;</p><p>15</p><p>• Reduzir pressão sobre exploração de florestas naturais;</p><p>• Promover o uso dos bens e serviços econômicos dessas florestas;</p><p>• Auxiliar economicamente as pequenas e médias propriedades rurais,</p><p>melhorando a renda e a qualidade de vida dessas populações;</p><p>• Estimular a comunicação entre os produtores de madeira e as indústrias</p><p>que utilizam essa matéria-prima.</p><p>Quem coordena as atividades dessa política é o Ministério de Agricultura,</p><p>Pecuária e Abastecimento (MAPA). O destaque dessa política é a</p><p>implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas,</p><p>que é responsável por realizar o diagnóstico do setor, propor cenários</p><p>econômicos e metas de produção florestal. Os objetivos gerais e específicos</p><p>estão descritos no Quadro 3.</p><p>Quadro 3 – Objetivos Nacionais Florestais ligados com a produção</p><p>Objetivo geral Objetivos específicos ligados com a produção florestal</p><p>Fortalecer</p><p>institucionalmente o</p><p>setor de florestas</p><p>plantadas</p><p>Fortalecer a governança institucional do setor de florestas plantadas</p><p>no governo federal e nos estados brasileiros</p><p>Incluir o setor florestal em programas do governo e fortalecer a</p><p>coordenação entre os diversos planos setoriais de mudança do clima</p><p>Desburocratizar,</p><p>aprimorar e fortalecer</p><p>o sistema de defesa</p><p>sanitária florestal</p><p>Fortalecer o sistema de defesa sanitária florestal</p><p>Acelerar análises de risco de pragas florestais e elaborar plano de</p><p>contingência para principais pragas quarentenárias</p><p>Atualizar e revisar a lista de pragas quarentenárias florestais</p><p>Apoiar a importação, a produção e a liberação de inimigos naturais</p><p>para controle de novas pragas introduzidas</p><p>Incluir produtos para controle de pragas florestais nas listas de</p><p>prioridades de registro do governo</p><p>Ampliar a base de</p><p>dados e informações</p><p>sobre florestas</p><p>plantadas</p><p>Realizar o inventário florestal nacional de florestas plantadas,</p><p>conectando-o à iniciativa do inventário nacional de florestas nativas</p><p>e de emissões e remoções de gases de efeito estufa</p><p>Realizar o mapeamento de consumidores florestais grandes e</p><p>médios, quanto à matéria-prima consumida</p><p>Ampliar a capacitação</p><p>da mão de obra, a</p><p>difusão do</p><p>conhecimento e a</p><p>extensão rural em</p><p>florestas plantadas</p><p>Fortalecer a extensão rural pública e a assistência técnica privada</p><p>nas áreas de silvicultura, manejo, planejamento da produção,</p><p>colheita e logística</p><p>Implantar unidades demonstrativas de produção florestal, de</p><p>maneira que a ação de promoção de mudanças do uso da terra</p><p>associada a produção industrial de produtos da floresta,</p><p>principalmente a conversão de áreas de baixa aptidão agrícola para</p><p>florestas, se torne um programa de Estado, com escala nacional e</p><p>com mecanismos claros para acesso a recurso por beneficiários</p><p>Atrair mais</p><p>investimentos privados</p><p>e adequar as políticas</p><p>de crédito e gestão de</p><p>risco rural ao setor de</p><p>florestas plantadas</p><p>Incluir o material lenhoso de espécies florestais provenientes de</p><p>plantios florestais (para produção de carvão) como produto</p><p>amparado por financiamento especial para estocagem de produtos</p><p>agropecuários não integrantes da PGPM (FEE) e financiamento para</p><p>garantia de preços ao produtor (FGPP)</p><p>Assegurar que as remoções de CO2 da atmosfera por florestas</p><p>plantadas sejam contempladas nos mecanismos de valorização e</p><p>comércio de carbono em nível nacional e internacional</p><p>16</p><p>Aumentar a demanda</p><p>por produtos florestais</p><p>Incentivar a utilização de madeira e produtos de base florestal nos</p><p>programas de governo e na economia nacional</p><p>Fomentar o uso de madeira de árvores plantadas na construção civil</p><p>Promover iniciativas de precificação de carbono e criar mecanismos</p><p>de valorização dos créditos de carbono</p><p>Reduzir o desmatamento ilegal</p><p>Construir um mecanismo de pagamento por serviços ecossistêmicos</p><p>Desburocratizar</p><p>concessão de licenças</p><p>ambientais</p><p>Promover a certificação florestal, de reconhecimento internacional e</p><p>auditoria de terceira parte, como uma alternativa de facilitação dos</p><p>processos de licenciamento</p><p>Simplificar o sistema</p><p>tributário, reduzir</p><p>impostos e encargos</p><p>Reduzir os custos de produção e impostos</p><p>Diagnosticar a incidência de impostos nas cadeias produtivas de</p><p>base florestal</p><p>Aumentar a</p><p>participação da</p><p>biomassa de madeira</p><p>na matriz energética</p><p>Consolidar o uso da biomassa de madeira na geração de energia</p><p>elétrica, enquadrando essa fonte na modalidade de contratação por</p><p>quantidade e alterando regras e sistemática dos leilões a fim de</p><p>torná-la competitiva com outras fontes</p><p>Incentivar a instalação de usinas termelétricas baseadas em</p><p>biomassa madeireira</p><p>Fonte: Mapa, 2017.</p><p>Como destacado, a Política não fala sobre o plantio em áreas de</p><p>preservação permanente e reservas legais, descritas no Código Florestal.</p><p>Envolve apenas as parcelas das produtividades para uso múltiplo do solo. As</p><p>atividades institucionalizadas estão descritas na Figura 3, representando as</p><p>seguintes áreas de atuação (Mapa, 2017):</p><p>• Avaliação da eficiência de químicos agrícolas, incluindo registro de</p><p>defensivos agrícolas (agrotóxicos);</p><p>• Certificação e registro de mudas florestais;</p><p>• Fomento florestal baseado em desenvolvimento sustentável;</p><p>• Seguro rural, avaliando o Mercado, o Crédito e o Seguro Florestal;</p><p>• Floresta energética;</p><p>• Setor florestal nacional e internacional; e</p><p>• Realização de pesquisas para melhoria da produção e produtividade</p><p>florestal.</p><p>17</p><p>Figura 3 – Institucionalização do setor de florestas de produção florestal, de</p><p>acordo com a Política Agrícola de Florestas Plantadas</p><p>Fonte: Mapa, 2017.</p><p>Percebe-se que o objetivo principal dessa política é estimular o</p><p>crescimento econômico por meio da expansão da produção de madeira e</p><p>produtos florestais, ao mesmo tempo em que se promove a conservação</p><p>ambiental, a geração de empregos e o desenvolvimento sustentável das áreas</p><p>florestais. Portanto, busca equilibrar as necessidades socioeconômicas com a</p><p>preservação dos recursos naturais, garantindo a viabilidade econômica da</p><p>atividade florestal a longo prazo.</p><p>TEMA 5 – CERTIFICAÇÃO FLORESTAL</p><p>Chegamos à última temática deste estudo. Ao abordar as questões da</p><p>legislação, é preciso destacar a importância do processo de Certificação. Como</p><p>a legislação florestal faz parte da ambiental, destaca-se o processo de</p><p>Certificação Ambiental, que</p><p>é a garantia por escrito dada por uma terceira parte credenciada, de</p><p>que um produto, processo ou serviço, está em conformidade com os</p><p>requisitos ambientais especificados, podendo ser direcionada para a</p><p>empresa, certificando seu sistema de gestão ambiental, ou direcionada</p><p>para o produto, conferindo selos ambientais. (Pires et al., 2018, p. 23)</p><p>Derivando da Certificação Ambiental, surgem os padrões para a</p><p>Certificação Florestal. Certificação Florestal consiste num processo no qual</p><p>18</p><p>empresas do ramo florestal se voluntariam para comprovarem que os seus</p><p>produtos e seus processos de produção seguem padrões de qualidade e</p><p>sustentabilidade determinados pelos sistemas certificadores nacionais e</p><p>internacionais (Pires et al., 2018).</p><p>Podem ser certificados todos os manejadores de floresta que geram</p><p>algum produto, sendo madeira ou não madeireiro. Esse cenário pode envolver</p><p>empresas, comunidades e produtores de pequeno, médio e grande</p><p>porte (Mayla</p><p>et al., 2021). Esses certificados costumam ter validade por cinco anos, podendo</p><p>ser renovado a partir de um novo ciclo de avaliações que irão gerar um novo</p><p>certificado.</p><p>Portanto, compreende-se que a certificação florestal é uma decisão</p><p>voluntária que aborda as ações de empresas, produtores rurais e comunidades,</p><p>cuja grande vantagem, quando se compara com os planos de manejo florestal,</p><p>está na adição das questões sociais como preocupação do processo produtivo</p><p>da empresa, não levando em conta apenas as questões econômicas e</p><p>ambientais (Silva, 2005). Dessa forma, as principais vantagens estão descritas</p><p>no Quadro 4.</p><p>Quadro 4 – Vantagens da Certificação Florestal</p><p>Âmbito Vantagens</p><p>Econômico</p><p>Aumenta a produtividade e rendimento da floresta</p><p>Gera vantagem competitiva no mercado</p><p>Facilita o acesso a novos mercados, desenvolvendo e melhorando a imagem</p><p>pública da empresa</p><p>Possibilita a introdução de novas espécies e materiais genéticos</p><p>Consegue preços melhores para a venda dos produtos</p><p>Ambiental</p><p>Contribui para a conservação da biodiversidade e seus valores associados,</p><p>como recursos hídricos, solos, paisagens e ecossistemas únicos e frágeis</p><p>Mantém as funções ecológicas e a integridade das florestas, sobretudo das</p><p>naturais</p><p>Protege as espécies ameaçadas ou em perigo de extinção e seus habitats</p><p>Social</p><p>Promove a legalidade da atividade</p><p>Promove o respeito aos direitos dos trabalhadores, povos indígenas e</p><p>comunidades locais</p><p>Contribui para a redução de acidentes de trabalho</p><p>Aumenta a arrecadação de impostos e outras contribuições legais</p><p>Melhora as condições de trabalho</p><p>Cria um novo espaço de participação para os trabalhadores e povos da</p><p>floresta na definição dos padrões e no monitoramento das operações do</p><p>manejo florestal</p><p>Elimina o trabalho forçado análogo à escravidão e a mão de obra infantil</p><p>Promove a qualificação da mão de obra gerando a estabilidade</p><p>Fonte: Silva, 2005.</p><p>19</p><p>Existem alguns tipos de certificação para o setor florestal. Os principais</p><p>são (Mayla et al., 2021):</p><p>I. Certificação de manejo florestal individual: atesta a sustentabilidade da</p><p>gestão de uma floresta por proprietários ou empresas;</p><p>II. Certificação de manejo florestal em grupo: reunião de vários</p><p>produtores, comunidades e/ou empresas para obtenção de um mesmo</p><p>certificado;</p><p>III. Certificação de Cadeia de Custódia: verifica e assegura que a madeira</p><p>ou produtos de origem florestal são provenientes de fontes certificadas de</p><p>manejo florestal sustentável. Esse processo rastreia o caminho do</p><p>material desde sua origem até o produto final, garantindo que haja um</p><p>controle eficaz sobre a procedência dos recursos florestais utilizados na</p><p>fabricação de determinado item. Logo, abrange toda a cadeia produtiva,</p><p>incluindo processos de transformação, fabricação, distribuição e</p><p>comercialização.</p><p>IV. Certificação de madeira controlada: aplicada quando há a garantia de</p><p>que a madeira utilizada não provém de fontes ilegais ou de áreas</p><p>desmatadas de forma não autorizada.</p><p>Para essas certificações foram lançados sistemas que visam controlar a</p><p>qualidade da produção florestal por meio de exigências básicas de</p><p>regulamentação (Quadro 5). Esses sistemas podem ser internacionais ou</p><p>nacionais (Silva, 2005; Mayla et al., 2021):</p><p>• Canadian Standard Association (CSA) – Canadá;</p><p>• Sustainable Forestry Initiative (SFI) – Estados Unidos;</p><p>• American Tree Farm System – Estados Unidos;</p><p>• Pan Earth Forest Certification (PEFC);</p><p>• Program for the Endorsement of Forest Certification (PEFC);</p><p>• Forest Stewardship Council (FSC);</p><p>• Programa de Certificação Florestal (CEFLOR).</p><p>Os dois últimos são os mais utilizados no Brasil. Portanto iremos destacar</p><p>as principais características de cada um a seguir.</p><p>20</p><p>Quadro 5 – Passo a passo da certificação florestal</p><p>Passos Característica</p><p>Contatar um organismo</p><p>certificador</p><p>Este organismo deve estar devidamente credenciado para</p><p>realizar o processo de certificação</p><p>Plano de manejo e</p><p>procedimento operacional</p><p>Devem ser elaborados para descrever o manejo adotado pelo</p><p>empreendimento, seguindo os Princípios e Critérios descritos</p><p>em normas pelo organismo certificador</p><p>Pré-avaliação É uma etapa opcional, pois caso seu empreendimento já esteja</p><p>pronto para ser certificado, pode pular essa avaliação,</p><p>reduzindo custos de auditoria</p><p>Relatório de avaliação Contém os resultados da pré-avaliação, incluindo pontos de</p><p>melhoria antes da avaliação da certificação</p><p>Avaliação da certificação Realizada para verificar a conformidade do manejo da floresta,</p><p>em acordo com as exigências do selo. Após a avaliação, o</p><p>relatório final com os resultados da auditoria é emitido, sendo</p><p>submetido ao organismo certificador</p><p>Emissão de certificado Havendo aprovação por parte do organismo certificador, o</p><p>certificado é emitido, tendo validade de cinco anos. Caso o</p><p>organismo certificador não aprove, serão necessárias ações e</p><p>mudanças para assegurar a certificação no futuro</p><p>Recertificação Serão realizadas avaliações anuais do 2º ao 5º ano da</p><p>certificação. Após o 5º ano, o organismo certificador fará uma</p><p>reavaliação completa, que se compara com a avaliação</p><p>principal. O resultado sendo positivo, você será recertificado por</p><p>mais 5 anos</p><p>Fonte: Mayla et al., 2021.</p><p>5.1 Sistema FSC</p><p>O sistema FSC provem de uma organização não governamental de</p><p>âmbito internacional. É uma organização sem fins lucrativos e independente que</p><p>integra “representantes de organizações sociais, ambientalistas, do setor</p><p>madeireiro e de produtos florestais, de povos indígenas, organizações</p><p>comunitárias e certificadoras de produtos florestais de todo o mundo” (Silva,</p><p>2005, p. 6). É o principal sistema credenciador aplicado no Brasil, indicando os</p><p>empreendimentos para os órgãos certificadores.</p><p>Para atender aos objetivos da certificação, foram gerados alguns</p><p>princípios para conformidade com as diretrizes do FSC. Os princípios do FSC</p><p>aplicados ao manejo florestal são (Moura, 2016):</p><p>• Conformidade com as normas descritas pelo sistema FSC;</p><p>• Posse e diretos e responsabilidades de uso;</p><p>• Relações comunitários e direitos dos trabalhadores;</p><p>• Benefícios da floresta;</p><p>• Impacto ambiental;</p><p>• Plano de manejo;</p><p>21</p><p>• Monitoramento e avaliação;</p><p>• Manutenção de florestas de algo valor de conservação;</p><p>• Plantações.</p><p>Dessa forma, o sistema FSC atesta a sustentabilidade do manejo florestal</p><p>a partir de seus selos (Figura 4). Estes selos contêm informações importantes</p><p>para comprovação da responsabilidade ambiental dos empreendimentos.</p><p>Figura 4 – Selos FSC</p><p>Fonte: Selo..., 2022.</p><p>5.2 Sistema CERFLOR</p><p>O Cerflor foi desenvolvido pelo Sistema Nacional de Metrologia,</p><p>Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro), especificamente no Instituto</p><p>Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). As</p><p>diretrizes desse sistema estão de acordo com a PEFC. As principais</p><p>características do Ceflor são (Lopes, 2021):</p><p>• Promove a sustentabilidade do manejo florestal;</p><p>• Objetivo principal de sensibilizar responsáveis por empreendimentos</p><p>florestais sobre a importância da certificação;</p><p>• O principal foco é a certificação de cadeia de custódia para pequenos e</p><p>médios produtores florestais.</p><p>A metodologia aplicada pelo Ceflor é semelhante ao descrito pelo FSC,</p><p>pois não é o Inmetro que certifica os empreendimentos florestais, mas promove</p><p>o credenciamento de atestado de sustentabilidade das atividades (Silva, 2005).</p><p>https://posigraf.com.br/dicas/selo-fsc-marca/</p><p>22</p><p>É necessário que as empresas, os produtores rurais e as comunidades</p><p>manifestem interesses em ter o selo Cerflor (Figura 5).</p><p>Figura 5 – Selos Cerflor/Inmetro</p><p>Fonte: Inmetro, 2010.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta etapa, pudemos observar a importância da legislação para a</p><p>conservação ambiental. Nesse sentido, foram abordadas temáticas sobre a</p><p>Legislação Florestal para regulamentação das atividades de Silvicultura,</p><p>Manejo</p><p>e Produção Florestal.</p><p>Foram estudados os seguintes instrumentos legislativos:</p><p>• Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e</p><p>Lei de Gestão de Florestas Públicas, abordando as condições de uso</p><p>desses ecossistemas para produção florestal;</p><p>• Código Florestal, abordando as peculiaridades da Lei sobre a produção</p><p>florestal em áreas de preservação permanente, reservas legais e áreas</p><p>de uso alternativo em áreas particulares;</p><p>• Política Agrícola de Florestas Plantadas, regulamentando a produção</p><p>florestal a partir das culturas de espécies arbóreas;</p><p>• Certificação Florestal, destacando a importância desse instrumento para</p><p>atestar a qualidade da produção florestal a partir do manejo sustentável</p><p>das florestas.</p><p>Encerramos aqui este estudo e esperamos que tenham assimilado o</p><p>assunto discutido.</p><p>23</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ÁREAS de Preservação Permanente – APP. Florestativa, S.d. Disponível em:</p><p><https://www.florestativa.com.br/areas-preservacao-permanente-app>. Acesso</p><p>em: 23 jan. 2024.</p><p>BRASIL. Decreto n. 8.375, de 11 de dezembro de 2014. Diário Oficial da União,</p><p>Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 dez. 2014.</p><p>_____. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Legislativo, Brasília, DF, 19 jul. 2000.</p><p>_____. Lei n. 11.284, de 2 de março de 2006. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Legislativo, Brasília, DF, 3 nar. 2006.</p><p>_____. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Legislativo, Brasília, DF, 28 maio 2012.</p><p>_____. Lei n. 14.590, de 24 de maio de 2023. Diário Oficial da União, Poder</p><p>Legislativo, Brasília, DF, 25 maio 2023.</p><p>HOEFLICH, V. A. et al. Política Florestal: conceitos e princípios para a sua</p><p>formulação e implementação. Documentos, 160. Colombo: Embrapa Florestal,</p><p>2007.</p><p>HUSCH. B. Guidelines for forest policy formulation. Forestry Paper, n. 81.</p><p>Roma: FAO, 1987.</p><p>INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e. Qualidade</p><p>Industrial – Portaria n. 297, de 27 de julho de 2010.</p><p>LOPES, M. S. Certificação florestal no Brasil. Mata Nativa Blog, 19 fev. 2021.</p><p>Disponível em: <https://matanativa.com.br/certificacao-florestal/>. Acesso em:</p><p>23 jan. 2024.</p><p>MAYLA, A. et al. Certificação Florestal. [s.l.]: Diálogo Florestal, 2021.</p><p>MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano Nacional</p><p>de Desenvolvimento de Florestas Plantadas (PlantarFlorestas). Brasília:</p><p>MAPA, 2018.</p><p>_____. Política Agrícola para Florestas Plantadas. n. 26. Mapa, 2017. Disponível</p><p>em: <https://encurtador.com.br/ezR36>. Acesso em 06 dez. 2023.</p><p>24</p><p>MOURA, A. M. M. Contribuição da certificação de florestas para o cumprimento</p><p>da legislação florestal no Brasil. In: SILVA, A. P. M. et al. (org.) Mudanças no</p><p>Código Florestal Brasileiro: desafios para a implementação da nova lei. Rio de</p><p>Janeiro: Ipea, 2016. p. 327-345.</p><p>PIRES, P. T. L. et al. Dicionário de termos florestais. 1. ed. rev. e ampl.</p><p>Curitiba: FUPEF, 2018.</p><p>SELO FSC®: como agregar valor à sua marca? Posigraf, 5 jul. 2022. Disponível</p><p>em: <https://posigraf.com.br/dicas/selo-fsc-marca/>. Acesso em: 23 jan. 2024.</p><p>SILVA, L. A. G. C. Certificação florestal. Brasília: Consultoria Legislativa, 2005.</p><p>VALVERDE, S. R. Política e legislação florestal. Brasília: SENAR, 2023.</p>