Text Material Preview
<p>1</p><p>A NATUREZA PEDAGÓGICA DO SALÁRIO-FAMÍLIA E SUAS</p><p>IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA O SUS, SEGURADO,</p><p>EMPREGADOR E INSS</p><p>Iris Soier do Nascimento de Andrade</p><p>Pós-graduada em Direito Material e Processual do Trabalho na Faculdade de Direito Milton Campos.</p><p>Pós-graduada em Advocacia Cível pela Escola Superior de Advocacia (ESA – OAB/MG). Graduada</p><p>em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos (2015). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e</p><p>Estudos em Direito do Trabalho RED - Retrabalhando o Direito, da Pontifícia Universidade Católica de</p><p>Minas Gerais. Integrante da Oficina de Estudos Avançados: As interfaces entre o Processo Civil e o</p><p>Processo do Trabalho - IPCPT. Advogada.</p><p>irissoier@hotmail.com</p><p>Isabela Árabe Figueiró de Lourdes</p><p>Pós-Graduada em Direito Material e Processual do Trabalho na Faculdade de Direito Milton Campos.</p><p>Graduada em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos (2017). Advogada.</p><p>isabelaarabe@hotmail.com</p><p>Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar o instituto do Salário-Famíla,</p><p>benefício previdenciário pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ao</p><p>segurado de baixa renda, expondo seu conceito, natureza, características e</p><p>requisitos para manutenção. Ainda, tratará da sua natureza pedagógica e</p><p>implicações para o INSS, SUS, segurado e empregador, bem como a forma como se</p><p>manifesta no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, tratará ainda da legislação</p><p>referente ao benefício, sua forma de aplicação e efetividade.</p><p>Palavras-chave: Salário-família. Benefício Previdenciário. Art. 7º, XII, CF. Art. 201,</p><p>IV, CF. Súmula 344, TST.</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>A Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, estabelece que “todo</p><p>homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe</p><p>assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade</p><p>humana e a que acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social”.</p><p>Corroborando com esse entendimento, o ordenamento jurídico brasileiro busca</p><p>formas de representar mecanismos para efetivação da Justiça Social, por meio da</p><p>concessão de Direitos Fundamentais que propiciarão o acesso a uma vida digna</p><p>para as pessoas.</p><p>Nesse cenário, seguridade social se mostra como peça fundamental para a</p><p>preservação de direitos humanos, com a consequente proteção da dignidade</p><p>humana.</p><p>Dentre os direitos contemplados tem-se o benefício previdenciário do salário-</p><p>família, pago pelo INSS ao trabalhador de baixa renda, em razão de seus</p><p>dependentes.</p><p>mailto:irissoier@hotmail.com</p><p>mailto:isabelaarabe@hotmail.com</p><p>2</p><p>Dessa forma, analisar-se-á no presente trabalho o instituto do salário-família,</p><p>seu conceito, natureza jurídica, requisitos para sua concessão, sua cessação e a</p><p>forma de pagamento. Ainda, será feita uma breve reflexão acerca da natureza</p><p>pedagógica do benefício e suas implicações para o INSS, o Sistema Único de Saúde</p><p>– SUS, o segurado e o empregador.</p><p>2. OBJETIVOS</p><p>O objetivo do presente estudo é analisar o instituto do salário-família, seu</p><p>conceito, natureza jurídica, requisitos para sua concessão, sua cessação e a forma</p><p>de pagamento. Ainda, será feita uma breve reflexão acerca da natureza pedagógica</p><p>do benefício e suas implicações para o INSS, o Sistema Único de Saúde – SUS, o</p><p>segurado e o empregador, trazendo dados oficiais acerca do tema.</p><p>3. MÉTODOS</p><p>A metodologia utilizada no presente artigo será a pesquisa bibliográfica,</p><p>utilizando-se como método de abordagem o dedutivo, na medida em que da leitura</p><p>dos livros e artigos selecionados pode-se extrair conceitos que auxiliam na melhor</p><p>compreensão dos institutos estudados.</p><p>Os autores selecionados, a legislação consultada, bem como os artigos lidos,</p><p>são facilmente encontrados nas bibliotecas jurídicas, tanto físicas, quanto virtuais e</p><p>na rede mundial de computadores, o que facilita a interação do leitor com o tema,</p><p>caso deseje.</p><p>Para se alcançar o objetivo proposto foi realizada ampla pesquisa bibliográfica,</p><p>por meio da consulta de livros, periódicos, artigos em sítios eletrônicos, bem como a</p><p>legislação correspondente ao tema selecionado.</p><p>Como método de procedimento, adotou-se inicialmente o histórico, posto que</p><p>foi realizado um estudo do aparecimento dos métodos alternativos no ordenamento</p><p>brasileiro. Após, aplicou-se o método comparativo, a fim de avaliar se os autores</p><p>selecionados estavam em consonância de ideias, sendo possível o amplo</p><p>aproveitamento de seu conteúdo.</p><p>Após a leitura de todo o material de forma geral, foi realizada uma leitura mais</p><p>seletiva, seccionando itens essenciais para o desenvolvimento do estudo. Logo, foi</p><p>conferida a confiabilidade das fontes mencionada nos artigos constante em</p><p>periódicos e sites da rede mundial de computadores, a fim de conferir maior</p><p>confiabilidade ao trabalho.</p><p>Em conjunto com o passo anterior, realizada uma pesquisa na legislação, a fim</p><p>de extrair as regras, princípios e requisitos do instituto objeto do presente estudo,</p><p>bem como regras e princípios estabelecidos pelo próprio INSS.</p><p>3</p><p>4. DESENVOLVIMENTO</p><p>4.1 Salário-Família</p><p>4.1.1 Histórico</p><p>O salário-família foi instituído no Brasil pela Lei nº 4.266, de 3 de outubro de</p><p>1963, e regulamentado pelo Decreto nº 53.153, de 12 de dezembro de 1963,</p><p>visando dar cumprimento ao preceituado no Artigo 1571, I da Constituição Federal de</p><p>1946.</p><p>O benefício surgiu com a finalidade de assegurar aos trabalhadores, por ela</p><p>abrangidos, quotas pecuniárias destinadas a auxiliá-los no sustento e educação dos</p><p>filhos, observadas as condições e limites estabelecidos nos termos do regulamento.</p><p>O benefício seria devido a todo empregado que regido pela Consolidação das</p><p>Leis do Trabalho (CLT), qualquer que fosse a sua remuneração, e pago sob a forma</p><p>de uma quota percentual, calculada sobre o valor do salário-mínimo local, por filho</p><p>menor de qualquer condição, até 14 anos de idade. O decreto estabelecia também,</p><p>que se consideram filhos de qualquer condição os legítimos, legitimados, ilegítimos e</p><p>adotivos, nos termos da legislação civil vigente, sendo o benefício estendido aos</p><p>dependentes do trabalhador pelo art. 158, II2, da Constituição de 1967.</p><p>A Lei nº 5.559 de 11 de dezembro de 1968, por sua vez, estendeu o salário</p><p>família aos filhos inválidos de qualquer idade, informando que os aposentados por</p><p>invalidez e velhice também teriam direito ao benefício.</p><p>Posteriormente, a Constituição de 1988 concede o salário família não só ao</p><p>trabalhador urbano, mas também ao rural para os seus dependentes, conforme</p><p>disposto no artigo 7º, XII3. Além disso, observou-se no artigo 201, IV da CF/88 outra</p><p>alteração que especificava a ajuda aos dependentes dos segurados de baixa renda.</p><p>A Emenda constitucional nº 20/98 deu nova redação ao inciso XII do artigo 7º,</p><p>e VI do artigo 2014 da Constituição, que passaram a estabelecer que o salário</p><p>família é pago apenas em razão do dependente do trabalhador de baixa renda,</p><p>criando então mais um requisito para a concessão do benefício.</p><p>A Lei nº 8.213 de 24 de junho de 1991, revogou tacitamente a lei n° 4.266/63, e</p><p>passou a regular inteiramente a matéria de salário-família em seus artigos 65 a 70. A</p><p>nova lei dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras</p><p>providências, regulando, assim, todos os benefícios previdenciários.</p><p>1</p><p>Art. 157. A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão aos seguintes preceitos,</p><p>além de outros que visem à melhoria da condição dos trabalhadores:</p><p>I – salário-mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades</p><p>normais do trabalhador e de sua família;</p><p>2</p><p>Art. 158. A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos</p><p>termos da lei, visem à melhoria de sua condição social:</p><p>II – salário-família aos dependentes do trabalhador;</p><p>3</p><p>Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem</p><p>à melhoria de sua</p><p>condição social:</p><p>XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;</p><p>4</p><p>Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e</p><p>de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e</p><p>atenderá, nos termos da lei, a:</p><p>IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;</p><p>4</p><p>Por fim, o Decreto nº 3.048 de maio de 1999, que aprova o Regulamento da</p><p>Previdência Social (RPS), complementa as determinações da Lei nº 8.213/91, em</p><p>seus artigos 81 a 92.</p><p>Desta forma, hoje, o salário-família encontra-se regulamentado em três</p><p>dispositivos legais, quais sejam: Artigo 7º, XII CF/88, artigos 65 ao 70 da lei nº</p><p>8.213/91, e artigos 81 a 92 do decreto nº 3.048/99.</p><p>4.1.2 Conceito</p><p>Partindo da análise histórica do salário-família, passamos a entender o seu</p><p>conceito e seu propósito. O salário-família é um benefício previdenciário pago pelo</p><p>INSS, ao empregado de baixa renda em razão de seus dependentes, conforme</p><p>estabelecido em lei.</p><p>O INSS define o salário-família5 como: “Valor pago ao empregado de baixa</p><p>renda, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso, de acordo com o número de</p><p>filhos. ”</p><p>Observa-se, contudo, que não é apenas o número de filhos que determina o</p><p>pagamento do benefício, uma vez que os equiparados também devem ser</p><p>analisados para a concessão do benefício.</p><p>Para Sergio Pinto Martins, a definição de Salário família é um pouco mais</p><p>ampla, conceituando o benefício da seguinte forma: “Salário-Família é o benefício</p><p>previdenciário pago pelo INSS em razão do dependente do trabalhador de baixa</p><p>renda, na forma da lei.(2016, p. 552)”</p><p>Passada a análise conceitual passamos ao exame das condições que</p><p>englobam este conceito.</p><p>4.1.3 Beneficiários</p><p>Atualmente os beneficiários do salário-família são os trabalhadores urbano,</p><p>rural, avulso e doméstico.</p><p>O trabalhador urbano é contemplado pelo salário-família desde o surgimento</p><p>do benefício com a lei nº 4.266/63, visto que só era concedido ao empregado regido</p><p>pela CLT.</p><p>Ao trabalhador rural, o salário-família passou a ser devido após a entrada em</p><p>vigor da Lei nº 8.213/91, uma vez que com a Constituição Federal de 1988</p><p>trabalhadores urbanos e rurais passaram a ter seus direitos dispostos no artigo 7º do</p><p>referido diploma. Desta forma, a Súmula 344 do TST reviu, a já existente Súmula</p><p>277 do TST, entendendo que a partir da edição da lei o benefício seria devido</p><p>também ao trabalhador rural. Veja-se o que dispõem as Súmulas:</p><p>“Súmula 227 - O salário-família somente é devido aos trabalhadores</p><p>urbanos, não alcançando os rurais, ainda que prestem serviços, no campo,</p><p>à empresa agroindustrial.”</p><p>5</p><p>Disponível em: < https://www.inss.gov.br/beneficios/salario-familia/></p><p>5</p><p>“Súmula 344 - O salário-família é devido aos trabalhadores rurais, somente</p><p>após a vigência da Lei 8.213/91.”</p><p>Ainda, no que concerne ao trabalhador avulso, a Constituição Federal de 1988</p><p>garante em seu artigo 7º, XXXIV6, igualdade de direitos entre o trabalhador com</p><p>vínculo de empregatício permanente e o trabalhador avulso. Assim ele também faz</p><p>jus ao salário-família, percebendo o valor integral do benefício independentemente</p><p>do número de dias trabalhados no mês.</p><p>Por fim, ao trabalhador doméstico é devido o salário-família, uma vez que o</p><p>parágrafo único7 do artigo 7º da Constituição Federal, faz remissão ao inciso XII do</p><p>mesmo artigo, garantindo assim o salário família aos domésticos.</p><p>4.1.4 Situação de baixa renda e valor do benefício</p><p>Outro ponto que deve ser analisado é a situação de baixa renda do</p><p>beneficiário. A restrição do benefício aos segurados de baixa renda foi</p><p>implementada pela Emenda Constitucional nº 20/98, ocorre que, a definição deste</p><p>segurado deveria ter sido feita por lei, o que não ocorreu.</p><p>Hoje, para que o trabalhador tenha direito a cota por dependentes, a sua</p><p>remuneração mensal deverá estar dentro dos limites estabelecidos por Portaria</p><p>Ministerial. Esta Portaria, além de estabelecer os limites da remuneração para o</p><p>recebimento do benefício, também estabelece o valor da cota do correspondente</p><p>ao salário de contribuição.</p><p>Cabe ressaltar que se considera remuneração mensal do segurado o valor do</p><p>respectivo salário de contribuição, ainda que resultante da soma dos salários de</p><p>contribuição correspondentes a atividades simultâneas. Caso o valor da</p><p>remuneração mensal ultrapasse a faixa máxima, o trabalhador não terá direito ao</p><p>benefício.</p><p>Com o fim meramente exemplificativo, colaciona-se abaixo a tabela extraída do</p><p>site do INSS, com os valores das faixas de remuneração e valor do benefício nos</p><p>últimos 10 (dez) anos:</p><p>6</p><p>XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o</p><p>trabalhador avulso</p><p>7</p><p>Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos</p><p>nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e</p><p>XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento</p><p>das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas</p><p>peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à</p><p>previdência social.</p><p>6</p><p>Figura 1</p><p>Fonte: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS</p><p>Destaca-se, também, quanto ao pagamento, que caso ambos os pais</p><p>satisfaçam os requisitos para o benefício, ambos terão direito ao benefício.</p><p>Entretanto, no que concerne ao pagamento para ambos os pais, a lei prevê</p><p>hipóteses em que o pagamento seria indevido, conforme disposto no artigo 87 do</p><p>Decreto 3048/99:</p><p>“Art.87. Tendo havido divórcio, separação judicial ou de fato dos pais, ou em</p><p>caso de abandono legalmente caracterizado ou perda do pátrio-poder, o</p><p>salário-família passará a ser pago diretamente àquele a cujo cargo ficar o</p><p>sustento do menor, ou a outra pessoa, se houver determinação judicial</p><p>nesse sentido. ”</p><p>7</p><p>Cumpre ressaltar, que nos casos de divórcio, separação judicial ou de fato dos</p><p>pais, o pagamento do benefício permanece, porém, é destinado diretamente ao</p><p>responsável legal pelo dependente.</p><p>Havendo guarda compartilhada, o salário família deve ser pago a ambos os</p><p>pais, pois o sustento do menor incumbe a eles.</p><p>4.1.5 Dependentes</p><p>Cabe analisar ainda, os dependentes, a quem os beneficiários estão</p><p>vinculados, devendo-se observar dois fatores principais: o grau de parentesco e a</p><p>idade.</p><p>Consideram-se dependentes os filhos do segurado, os filhos adotivos (por força</p><p>do artigo 227, § 6º8 da CF/88), o enteado e o menor que estejam sob a tutela deste,</p><p>desde que comprovada a dependência econômica.</p><p>Não há número limite de dependentes para a concessão do salário-família,</p><p>contudo, o mesmo deve possuir até 14 (quatorze) anos de idade, ou se inválido,</p><p>qualquer idade.</p><p>É necessária a apresentação da certidão de nascimento de cada dependente e</p><p>caderneta de vacinação ou equivalente para aqueles com até 6 (seis) anos de idade</p><p>e comprovação de frequência escolar daqueles de 7 (sete) a 14 (quatorze) anos.</p><p>Para a renovação do benefício, a carteira de vacinação deve ser apresentada</p><p>anualmente, e a frequência escolar deve ser comprovada a cada seis meses,</p><p>conforme idade da criança.</p><p>Em uma breve análise dos documentos requeridos, podemos observar um</p><p>interesse de bem-estar e cuidado para com o menor uma vez que a concessão do</p><p>benefício está diretamente ligada à manutenção da saúde, por meio da manutenção</p><p>dos cartões de vacinação em dia, e da educação, visto que para manutenção do</p><p>benefício o segurado deverá comprovar a frequência escolar do menor.</p><p>Quanto ao filho ou equiparado inválido, a invalidez deverá ser</p><p>verificada por</p><p>exame médico pericial, nos termos do art. 859 do Decreto nº 3.048/99.</p><p>Em caso de invalidez, caso o filho ou equiparado recupere a capacidade, os</p><p>pais são responsáveis de comunicar ao INSS.</p><p>4.1.6 Início e Cessação do Pagamento</p><p>8</p><p>Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao</p><p>jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à</p><p>profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e</p><p>comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,</p><p>violência, crueldade e opressão.</p><p>(...)</p><p>§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e</p><p>qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.</p><p>9</p><p>Art. 85. A invalidez do filho ou equiparado maior de quatorze anos de idade deve ser verificada em</p><p>exame médico-pericial a cargo da previdência social.</p><p>8</p><p>O salário-família deve ser requerido pelo segurado ao INSS. Para a concessão</p><p>do benefício, o cidadão deve apresentar documento de identificação com foto e o</p><p>número do CPF, termo de responsabilidade disponibilizado pelo próprio INSS,</p><p>certidão de nascimento de cada dependente, caderneta de vacinação ou</p><p>equivalente, dos dependentes de até 6 anos de idade, comprovação de frequência</p><p>escolar dos dependentes de 7 a 14 anos de idade, requerimento10 de salário-família</p><p>disponibilizado pelo INSS.</p><p>Após deferida a concessão do salário-família, o benefício terá início a partir do</p><p>momento em que o empregado apresentar a certidão de nascimento de seus filhos</p><p>ou da documentação concernente ao equiparado e ao inválido.</p><p>Ainda, conforme já exposto, para a manutenção do benefício será necessário a</p><p>apresentação do atestado de vacinação, para crianças até seis anos, bem como da</p><p>comprovação semestral de frequência escolar, para as crianças a partir de sete</p><p>anos.</p><p>O empregado doméstico, para concessão do benefício, deverá apresentar</p><p>apenas a certidão de nascimento, nos termos do parágrafo único do artigo 6711, da</p><p>Lei 8.213/91.</p><p>O direito ao benefício do salário família cessará nas hipóteses estabelecidas</p><p>pelo artigo 88 da mesma lei, conforme observa-se:</p><p>Art.88. O direito ao salário-família cessa automaticamente:</p><p>I - por morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte ao do óbito;</p><p>II - quando o filho ou equiparado completar quatorze anos de idade, salvo</p><p>se inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário;</p><p>III - pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido, a</p><p>contar do mês seguinte ao da cessação da incapacidade; ou</p><p>IV - pelo desemprego do segurado.</p><p>Veja-se que o supramencionado artigo traz um rol de hipóteses para a</p><p>cessação do pagamento do benefício. Entretanto, caso o segurado beneficiário</p><p>deixe de apresentar a carteira de vacinação dos dependentes de até 6 (seis) anos</p><p>de idade ou a comprovação de frequência escolar dos dependentes entre 7 (sete) a</p><p>14 (quatorze) anos, o benefício será suspenso, voltando a ser fornecido quando a</p><p>situação for regularizada.</p><p>4.1.7 Natureza Jurídica do Salário-Família</p><p>Não obstante à denominação do benefício, a natureza jurídica do salário família</p><p>não é de salário, visto que não guarda relação direta com a figura trabalhista da</p><p>10</p><p>Requisito exigido apenas para processos de aposentadoria ou quando não solicitado no</p><p>requerimento de benefício por incapacidade</p><p>11</p><p>Art. 67. O pagamento do salário-família é condicionado à apresentação da certidão de nascimento</p><p>do filho ou da documentação relativa ao equiparado ou ao inválido, e à apresentação anual de</p><p>atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de freqüência à escola do filho ou equiparado,</p><p>nos termos do regulamento.</p><p>Parágrafo único. O empregado doméstico deve apresentar apenas a certidão de nascimento referida</p><p>no caput.</p><p>9</p><p>contraprestação paga ao empregado pelo empregador, em virtude de serviço</p><p>prestado.</p><p>O salário-família trata-se de benefício previdenciário pago, mensalmente, pelo</p><p>regime geral de Previdência Social ao trabalhador de baixa renda, não integrando o</p><p>salário do empregado para nenhum fim.</p><p>4.2 Natureza pedagógica do salário-família e suas implicações para o INSS, o</p><p>sus, segurado e empregador</p><p>Conforme sabe-se, o Ordenamento Jurídico instituído pela Constituição Federal</p><p>de 1988 busca a proteção da dignidade da pessoa humana, com o reconhecimento</p><p>e proteção de direitos fundamentais, dentre eles a seguridade social.</p><p>Conforme bem pontua Dimitri Brandi de abreu (2016, p. 184), “apesar de todas</p><p>as deficiências conhecidas, o sistema previdenciário brasileiro consegue ser um</p><p>mecanismo eficaz de proteção social dos idosos, tendo sido efetivo na redução da</p><p>pobreza das camadas mais velhas da população”.</p><p>Entretanto, não obstante a criação ao longo dos anos de institutos assistenciais</p><p>como o extinto bolsa escola e o bolsa família, o sistema de seguridade social ainda é</p><p>carente de soluções quando o assunto é a proteção das crianças provenientes de</p><p>famílias de baixa renda.</p><p>Ocorre que, a instituição do salário-família, em alguma medida, pode aparecer</p><p>como um dos fatores para dar início a solução dessa questão, na medida em que</p><p>pode auxiliar na vacinação e manutenção das crianças menores de 14 (quatorze)</p><p>anos na escola, podendo vir a gerar impactos diretos para o próprio INSS e para o</p><p>SUS.</p><p>A natureza pedagógica do instituto é clara, na medida em que o Estado, por</p><p>meio da exigência da carteira de vacinação e do comprovante de frequência escolar</p><p>para renovação do benefício, garante que as crianças estarão vacinadas e</p><p>frequentes na escola.</p><p>Analisando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,</p><p>observa-se que o número de crianças maiores de 4 anos nas escolas vem</p><p>crescendo ao longo dos anos, podendo o benefício, em conjunto com outros fatores</p><p>envolvidos, ter tido uma influência positiva para esses resultados.</p><p>Em 2012, o número total de crianças matriculadas nas escolas, entre 4 e 14</p><p>anos eram de aproximadamente 59.146, permanecendo essa média estável também</p><p>nos anos de 2013, 2014 e 2015, conforme se observa das figuras abaixo.</p><p>10</p><p>Figura 2</p><p>Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por</p><p>Amostra de Domicílios 2012-2013.</p><p>Figura 3</p><p>Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por</p><p>Amostra de Domicílios 2012-2013.</p><p>Figura 4</p><p>Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por</p><p>Amostra de Domicílios 2013-2014.</p><p>11</p><p>Figura 5</p><p>Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por</p><p>Amostra de Domicílios 2014-2015.</p><p>A manutenção dessas crianças na escola, além de impactar na taxa de</p><p>alfabetização nacional, pode vir acompanhada de outros consectários indiretos como</p><p>o afastamento das crianças da violência e das drogas, bem como o acesso à</p><p>alimentação adequada, pelo menos uma vez no dia.</p><p>Ainda, a exigência do cartão de vacinação traz efeitos tanto para a saúde das</p><p>crianças, dependentes do segurado beneficiário do salário-família, quanto para o</p><p>empregador e para o SUS, visto que a vacinação é a forma mais segura de</p><p>prevenção de doenças graves que podem até levar à morte.</p><p>Em nosso país, por exemplo, a poliomielite e a varíola foram erradicadas com a</p><p>utilização de vacinas. Em 2016, o Brasil havia conseguido erradicar o sarampo, mas</p><p>os surtos recentes preocupam o Ministério da Saúde12.</p><p>Para a saúde dos menores de 14 (quatorze) anos, o impacto é claro, visto que</p><p>os programas de vacinação oferecidos pelo SUS podem evitar doenças como</p><p>Hepatite A, sarampo, caxumba, rubéola, HPV, dentre várias outras, garantindo</p><p>mais</p><p>saúde à nova geração.</p><p>A promoção da saúde por meio da vacinação adequada pode vir a desonerar o</p><p>próprio Sistema Único de Saúde, posto que não haverá necessidade de tratar</p><p>doenças para as quais se tenha oferta de vacina, gerando menos gastos com</p><p>médicos e medicamentos, bem como reduzindo o fluxo de pessoas nas Unidades de</p><p>Pronto Atendimento - UPA.</p><p>Não bastasse isso, pode vir a gerar uma redução de gastos para o próprio</p><p>INSS, posto que a vacinação adequada pode vir a reduzir o número de cidadãos</p><p>contemplados com benefícios previdenciários em razão doenças graves e até</p><p>mesmo por invalidez13.</p><p>Ainda, para aumentar e garantir uma maior proteção aos brasileiros, os</p><p>Ministérios da Saúde e da Educação firmaram uma parceria com o objetivo de</p><p>ampliar a vacinação em crianças e adolescentes, informando que as escolas vão</p><p>12</p><p>Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2018/07/responsabilidade-social-vacinacao-</p><p>previne-epidemias-de-doencas-graves></p><p>13</p><p>A poliomielite, por exemplo, pode trazer sequelas irreversíveis, podendo vir a deixar o cidadão</p><p>inapto para o trabalho.</p><p>12</p><p>atuar junto com as equipes de atenção básica para atualizar a caderneta dos</p><p>estudantes14. Ou seja, criança frequente na escola é criança vacinada.</p><p>Além disso, a manutenção das crianças vacinadas e frequentes na escola gera</p><p>impactos para o empregador, na medida em que os pais precisam se ausentar cada</p><p>vez menos para cuidar de seus filhos ou levá-los ao médico.</p><p>Por outro lado, no que diz respeito ao pagamento do salário-família, embora</p><p>seja um benefício pago pelo INSS, é repassado ao empregado por seu empregador,</p><p>quando do recebimento do salário.</p><p>A logística estabelecida para pagamento do benefício, bem como os requisitos</p><p>para sua concessão e manutenção, quais sejam apresentação anual do atestado de</p><p>vacinação obrigatória e da apresentação de comprovação semestral de frequência à</p><p>escola do filho ou equiparado, integra a empresa na sistemática constitucional de</p><p>proteção dos direitos humanos.</p><p>Assim, tem-se que o Estado, em conjunto com o INSS, garante a preservação</p><p>dos direitos humanos, visando uma vida mais digna aos trabalhadores.</p><p>5 CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Conforme exposto no presente trabalho, o salário-família trata-se de benefício</p><p>previdenciário pago ao empregado de baixa renda, inclusive o doméstico e o avulso,</p><p>em razão de seus dependentes, sendo regulamentado em três dispositivos legais,</p><p>quais sejam: o artigo 7º, XII CF/88, artigos 65 ao 70 da lei nº 8.213/91, e artigos 81 a</p><p>92 do decreto nº 3.048/99.</p><p>Para a concessão do benefício, o cidadão deve apresentar documento de</p><p>identificação com foto e o número do CPF, termo de responsabilidade</p><p>disponibilizado pelo próprio INSS, certidão de nascimento de cada dependente,</p><p>caderneta de vacinação ou equivalente, dos dependentes de até 6 anos de idade,</p><p>comprovação de frequência escolar dos dependentes de 7 a 14 anos de idade,</p><p>requerimento de salário-família disponibilizado pelo INSS, com exceção do</p><p>empregado doméstico, que deverá apresentar apenas a certidão de nascimento, nos</p><p>termos do parágrafo único do artigo 67 , da Lei 8.213/91.</p><p>Embora o benefício seja concedido em valor monetário relativamente baixo,</p><p>tem importante papel na satisfação de um dos objetivos da República, que é a</p><p>garantia de uma vida digna, justa e solidária.</p><p>Isso porque, na medida em que o INSS estabelece como requisito para</p><p>manutenção do benefício a comprovação de vacinação e de frequência escolar dos</p><p>dependentes do segurado, garante não só o subsídio de caráter alimentar, mas</p><p>também o acesso à saúde e à educação.</p><p>Ainda, ao transferir a responsabilidade de repasse do benefício para o</p><p>empregador, no caso de segurado empregado, integra a empresa na sistemática de</p><p>proteção dos direitos humanos.</p><p>14</p><p>Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/52477-saiba-mais-</p><p>sobre-a-importancia-da-vacinacao-oferecida-pelo-sus</p><p>13</p><p>6 REFERÊNCIAS</p><p>ABREU, Dimitri Brandi de. A previdência social como instrumento de</p><p>intervenção do Estado brasileiro na economia. Luís Fernando Massonetto:</p><p>Orientador. São Paulo, 2016. Tese (doutorado). Universidade de São Paulo, 2016.</p><p>ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. O Salário Família e a Proteção Social ao</p><p>Trabalhador. Disponível em: <http://investidura.com.br/biblioteca-</p><p>juridica/artigos/previdenciario/3520-o-salario-familia-e-a-protecao-social-ao-</p><p>trabalhador>. Acesso em: 18 nov. 2018.</p><p>BRASIL. Constituição (1946). Constituição da República Federativa do Brasil, 1946.</p><p>BRASIL. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, 1967.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.</p><p>BRASIL. Lei .º 4.266, de 3 de outubro de 1963. Institui o salário família do</p><p>trabalhador. Disponível em:> http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4266.htm>.</p><p>BRASIL, Decreto nº 53.153 de 12 de dezembro de 1963. Aprova o Regulamento</p><p>do Salário-Família do Trabalhador.</p><p>BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de junho de 1991. Dispõe sobre os Planos de</p><p>Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm.</p><p>BRASIL, Lei nº 5.559 de 11 de dezembro de 1968. Estende o direito ao salário-</p><p>família instituído pela Lei nº 4.266, de 3 de outubro de 1963, e dá outras</p><p>providências.</p><p>BRASIL, Decreto nº 3.048 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência</p><p>Social, e dá outras providências.</p><p>FERREIRA, Lauro Cesar Mazetto. Seguridade Social e Direitos Humanos. São</p><p>Paulo: LTr, 2008</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm</p><p>14</p><p>IBRAHIM, Fabio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. Editora Impetrus. 19ª</p><p>ed. 2014. Rio de Janeiro.</p><p>MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. Saraiva. 36ª ed. 2016. São</p><p>Paulo.</p><p>NEVES. Gustavo Bregalda. Manual de direito previdenciário. São Paulo. Saraiva.</p><p>2012SILVA. Corsíndio Monteiro. Salário-Família (Benefício a funcionário em razão</p><p>de seu dependente). Departamento de Imprensa Nacional. 1968</p>