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Análise vetorial do eletrocardiograma A despolarização ventricular começa no septo cardíaco, de modo que o vetor elétrico resultante segue a direção ínfero-esquerda. O vetor QRS médio é por volta de +59º, estando no primeiro quadrante dentre as derivações. Os potenciais instantâneos do coração produzem vetores que são decompostos nas derivações. No coração em despolarização ventricular, os vetores são todos positivos nas três derivações bipolares. Análise vetorial do ecg normal A despolarização atrial apresenta um sentido durante todo o processo, positiva sempre. Os vetores durante a despolarização dos ventrículos mudam bastante de sentido, uma vez que esse efeito elétrico ocorre primeiramente no septo, depois na parede inferior e por último na base do ventrículo (onda QRS). Importante lembrar que vetores positivos terão valor acima da linha de base zero, e vetores negativos, abaixo. Além dessas ondas R e S, há uma pequena deflexão negativa Q, devido à despolarização de um lado do septo primeiramente. A repolarização ventricular começa pelas áreas externas do coração, especialmente perto do ápice, para as áreas endocárdicas. O motivo disso é a alta pressão que o sangue exerce sobre as paredes do ventrículo, de modo a retardar a repolarização. Assim, a onda T é positiva no eletrocardiograma. eixo elétrico médio do qrs Em condições normais, o eixo elétrico médio dos ventrículos é de 59º. Essa medida é feita a partir do vetor resultante entre derivações 1 e 3. Desvios de 20 até 100º podem ser normais. Isso pode ocorrer quando se está em decúbito lateral, em pessoas obesas (diafragma exerce pressão contra o coração) (esquerdo), ao se levantar e em pessoas altas e longilíneas (direita). Contudo, quando um ventrículo está hipertrofiado, o eixo médio se desloca em direção a esse ventrículo. Ademais, o bloqueio de ramo (do sistema de Purkinje) também pode desviar esse eixo médio. Um bloqueio de ramo esquerdo provoca um desvio vetorial para a esquerda em virtude da demora da despolarização do VE. Já um bloqueio de ramo direito provoca um desvio vetorial para a direita pois o VD demora mais a despolarizar. Desvio a esquerda: Desvio a direita: voltagens anormais do qrs Geralmente, a derivação 2 registra a voltagem máxima e a 3, a mínima. Quando há hipertrofia do músculo cardíaco, há um aumento da voltagem do complexo QRS. Contudo, uma massa muscular diminuída, como nos casos de antigos infartos do miocárdio provoca diminuição na voltagem e alargamento do QRS (múltiplos pequenos infartos causam demora na condução). Ademais, a presença de líquido no pericárdio e o derrame pleural podem criar um curto-circuito na condução de impulsos de modo a diminuir a voltagem do complexo. O enfisema pulmonar (e consequente aumento do ar nos pulmões) provoca um isolamento elétrico diminuindo a voltagem QRS. qrs prolongado ou bizarro A condução prolongada da despolarização pelos ventrículos provoca esse prolongamento do complexo QRS. Geralmente isso ocorre quando há hipertrofia ou dilatação ventricular. O bloqueio de ramos de Purkinje provoca uma despolarização via muscular, e não por impulsos nervosos, de modo que também ocorre um prolongamento do complexo QRS. Se esse complexo dura mais de 0,12 segundos, o prolongamento é provavelmente causado por um bloqueio de ramo. O complexo QRS bizarro é causado por destruição do músculo cardíaco e substituição deste por tecido cicatricial ou múltiplos bloqueios pequenos no sistema de Purkinje. corrente de lesão A parte lesada do coração sempre se mantém negativa, enquanto o restante fica polarizado e positivo. Assim, quando a corrente passa por essas áreas, ocorre uma corrente de lesão. As causas de corrente de lesão englobam trauma mecânico (não permite que ocorra a repolarização), processos infecciosos (gerando lesão das membranas musculares) e isquemia de áreas do músculo cardíaco (em virtude de oclusões coronarianas locais, não conseguindo manter a polarização por falta de nutrientes). Quando há uma corrente de lesão, o valor inicial do ECG fica alterado. Quando todo o coração está despolarizado, a voltagem mostrada é zero (pois não há diferença entre os potenciais). O ponto em que todos os pontos do coração estão despolarizados e, portanto, o potencial é zero, representa o ponto J – a linha de base. Ocorre imediatamente após o fim do complexo QRS. O potencial de lesão em cada derivação pode ser determinado pela diferença entre o ponto J e a voltagem imediatamente antes do aparecimento da onda P. O vetor para o potencial de lesão dos ventrículos aponta, com a extremidade negativa, para o local da lesão. O infarto agudo da parede anterior (acima) caracteriza-se por um importante potencial de lesão negativo na derivação torácica V2 e D1, porém positivo em D3. Provavelmente, ocorreu trombose no ramo descendente anterior da coronária esquerda. O infarto do ápice da parede posterior caracteriza-se por um importante potencial de lesão negativo na derivação V2. Contudo, o potencial de lesão é negativo nas derivações 2 e 3. Em suma, para determinar onde ocorreu um infarto, deve-se observar que a extremidade positiva do vetor do potencial de lesão aponta para o músculo cardíaco normal, e a negativa, para o músculo lesado. Em um infarto miocárdico antigo recuperado, observa-se uma onda Q mais proeminente em algumas derivações devido à perda de massa muscular cardíaca. Quando é anterior, observa-se essa onda Q na derivação 1 e, posterior, na derivação 3. anormalidades da onda t A onda T apresenta-se inicialmente deslocada para a direita, pois a repolarização começa no ventrículo direito e no ápice (contrário da do eixo QRS). Um encurtamento do período de despolarização ventricular faz com que a repolarização comece pela base dos ventrículos, de modo que o vetor aponta na direção contrária do usual. Assim, vê-se uma onda T negativa no ECG. Isso também ocorre quando há isquemia leve no ápice dos ventrículos, por exemplo, uma vez que aumenta o fluxo pelos canais de potássio. A mudança na onda T é importante forma de detectar insuficiência coronarianas leves, pois qualquer alteração mostra que o período de despolarização de uma área está desproporcional ao restante do coração.