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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: História do Brasil 2 - Semestre: 2021/1
Professor: Kelerson Semerene Costa
Evelyn Gonçalves da Silva Lopes / 190086904
2° Estudo Dirigido
Liberalismo e Escravidão no Império do Brasil
A Constituição Brasileira de 1824 foi elaborada após a proclamação da independência, quando o país precisava organizar sua estrutura política e administrativa. Foi produzida por um grupo reduzido devido às desavenças entre o Imperador e a Assembleia Nacional Constituinte, onde houve diversos debates parlamentares e divergências ocorreram dentro da assembleia. A constituição foi outorgada, ou seja, imposta pelo Poder Executivo ao país, ela durou 65 anos e até hoje foi a que mais tempo vigorou no Brasil. O fato de termos sido governados por um imperador autoritário, na época, fez com que nossa primeira constituição fosse conservadora em seu conteúdo e autocrática em seu funcionamento, na qual a participação política das massas e igualdade entre todos eram considerados perniciosos e inaceitáveis para as classes que detinham o poder no Brasil imperial.
A primeira constituição proibia o voto de mulheres, escravos, criados e qualquer pessoa que possuísse renda anual inferior a 100 mil-réis e era composta por 4 poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador. O poder moderador conferia ao imperador poderes quase absolutos, sua função seria a de intervir sempre que surgissem conflitos entre os demais poderes, determinando qual deles tinha razão. A discussão das ideias liberais no Brasil exerceu forte poder na Carta de 1824. A organização do pensamento liberal está dissociada da democracia e estabeleceu-se como um movimento de garantia e realização da liberdade, da propriedade e da vida. 
O liberalismo brasileiro não foi originado a partir de uma revolução burguesa. Após o Brasil se separar de Portugal, pretendeu-se transportar ideias de liberdade política europeia. Porém, elas não passavam de interesses de classe e suas conquistas, por mais que representassem um progresso, perante o atraso das leis portuguesas, somente seus iguais a aproveitavam. A combinação do liberalismo com a escravidão não foi considerada anacrônica no Brasil, visto que o trabalho escravo era um fator estrutural da economia brasileira, o direito de propriedade defendido por alguns grupos políticos brasileiros passou a incluir o domínio de pessoas, o que autorizava liberdade de tráfico, a propriedade de escravizados e possibilitava a manutenção da estrutura produtiva agrária dos senhores rurais. Seguindo esse raciocínio, o Estado passou a ser o maior protetor da propriedade rural e do seu modo de produção escravista. Logo, o liberalismo pregado nos meios intelectuais brasileiros não previa a igualdade social, a abolição da escravatura e a democracia representativa.
Em decorrência disto, as ideias liberais ganharam uma conotação diferente no Brasil, sendo considerado um “liberalismo moderado”, segundo Alfredo Bosi. Estes preceitos liberais foram inseridos na legislação se desvinculando dos costumes enraizados no Brasil, com o intuito de inserir uma justiça penal que estivesse de acordo com os avanços do país, aliados aos seus interesses de organização e manutenção do poder de punir. Os legisladores do Brasil Império previam uma construção de direitos que mantivesse o status quo e que tutelasse seus direitos de forma mais racional e efetiva. A combinação de interesses resultou em uma síntese excludente, que ignorava e submetia a existência de indígenas e negros a ser propriedades dos brancos.
Podemos então identificar a face discriminatória da Constituição que previa o direito de liberdade física, porém não dos escravizados. Africanos e descentes podiam ser considerados cidadãos, porém somente em condições de liberto. A legislação penal, a partir deste viés, apresenta-se claramente como um dos instrumentos eficazes para subjugar e discriminar pessoas de mesma sociedade, a partir do momento que tutela apenas os interesses da classe dominante e encobre atrocidades aplicáveis somente para alguns indivíduos, tornando outros inferiores e desiguais. O entendimento diminuto da cidadania brasileira na legislação imperial constituiu-se como instrumento para a manutenção de privilégios para a elite dominante, de valores patriarcais e patrimonialistas.
Referências
BOSI, Alfredo. “A escravidão entre dois liberalismos”. In: Dialética da colonização. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 194-245.
BRASIL. [Constituição de 1824]. Constituição Política do Império do Brasil: outorgada pelo Imperador D. Pedro I em 25 de março de 1824. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm acesso em 17 de agosto de 2021.
DOLHNIKOFF, Miriam. "Uma nova nação, um novo Estado". In: História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2017 (Coleção história na universidade), p. 31-48.
RODRIGUES, José Honório. A Assembleia Constituinte de 1823. Petrópolis: Vozes, 1974. Capítulo 1, “A organização da Assembleia”, p.21-47.

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