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DIRETORIA DA FEBRASGO 2016 / 2019 Alex Bortotto Garcia Vice-Presidente Região Centro-Oeste Flavio Lucio Pontes Ibiapina Vice-Presidente Região Nordeste Hilka Flávia Barra do E. Santo Vice-Presidente Região Norte Agnaldo Lopes da Silva Filho Vice-Presidente Região Sudeste Maria Celeste Osório Wender Vice-Presidente Região Sul César Eduardo Fernandes Presidente Corintio Mariani Neto Diretor Administrativo/Financeiro Marcos Felipe Silva de Sá Diretor Científico Juvenal Barreto B. de Andrade Diretor de Defesa e Valorização Profissional Imagem de capa e miolo: foxie/Shutterstock.com COMISSÃO NACIONAL ESPECIALIZADA EM UROGINECOLOGIA E CIRURGIA VAGINAL - 2016 / 2019 Presidente Rodrigo de Aquino Castro Vice-Presidente Luiz Gustavo Oliveira Brito Secretária Maria Augusta Tezelli Bortolini Membros Andreisa Paiva Monteiro Bilhar Cássia Raquel Teatin Juliato Daniela Siqueira Prado Emerson de Oliveira Janio Serafim de Sousa Jorge Milhem Haddad Marair Gracio Ferreira Sartori Marcelo Fonseca Monica Suzana Costa Diniz Raquel Martins Arruda Samantha Condé Rocha Thais Guimarães dos Santos Protocolo incontinência urinária de esforço Rodrigo de Aquino Castro1 Raquel Martins Arruda1 Rodrigo Cerqueira de Souza1 Descritores Incontinência urinária de esforço; Tratamento clínico; Tratamento cirúrgico Como citar? Castro RA, Arruda RM, Souza RC. Incontinência urinária de esforço. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Ginecologia, no. 4/ Comissão Nacional Especializada em Uroginecologia e Cirurgia Vaginal). Introdução A Sociedade Internacional de Continência (ICS) e a Sociedade Internacional de Uroginecologia (IUGA), em recente publicação, definem incontinência urinária (IU) como condição na qual ocor- re perda involuntária de urina. A incontinência urinária de esfor- ço (IUE), em sua forma mais comum, é definida como toda perda de urina decorrente de algum esforço físico como pular, correr e tossir e está relacionada à hipermobilidade da uretra ou à defici- ência do esfíncter uretral.(1) A classificação específica da inconti- nência urinária de esforço no Código Internacional de Doenças (CID-10) é R32. 1Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. *Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Uroginecologia e Cirurgia Vaginal e referendado pela Diretoria Executiva como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de Ginecologia nº 4, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos 4 Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 Fisiopatologia Acredita-se que a IUE seja causada pela associação de fatores de risco, sendo os mais importantes o número de gestações, a via de parto e o envelhecimento tecidual. O parto vaginal pode pro- vocar danos nas estruturas de suporte e sustentação do assoalho pélvico e da uretra, tais como a mucosa vaginal, músculos, fáscia endopélvica e ligamentos. Da mesma maneira, à medida que enve- lhecem, alterações bioquímicas e moleculares são observadas nos tecidos de mulheres com IUE, tais como a significativa redução na quantidade dos colágenos tipo I e III ao redor da uretra e na fás- cia pubocervical, diminuição na relação músculo estriado/tecido conjuntivo, bem como a redução histológica das fibras musculares estriadas. Todos esses tecidos são importantes para o sistema su- porte do assoalho pélvico da mulher.(2,3) Na tentativa de explicar a fisiopatologia da doença, diversas teorias foram propostas: Teoria da Equalização da Pressão Intra-abdominal: Enhorning,(4) em 1967, publicou a “Teoria da Equalização da Pressão Intra-abdominal”, que preconiza que a condição básica para a continência seria a topografia intrabdominal do colo vesical. Estando a junção uretrovesical abaixo da borda inferior da sínfise púbica, a pressão intra-abdominal transmitir-se-á apenas à bexiga, e não à uretra, ocasionando o aumento da pressão intravesical sem o concomitante aumento da pressão intrauretral, o que determina a saída de urina. Deficiência Esfincteriana Intrínseca (DEI): McGuire,(5) após estudos do efeito da rizotomia sacral na função vesical e ure- tral, introduziu o conceito de deficiência uretral intrínseca. O de- ficit do mecanismo intrínseco da uretra assume importância pela dificuldade inerente à sua correção; perde-se o efeito selante da co- 5 Castro RA, Arruda RM, Souza RC Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 aptação da mucosa ou alteram-se as forças de fechamento uretral, formadas pela submucosa, pelos músculos liso e estriado e pelo co- xim vascular periuretral. Teoria Integral da Incontinência (“Integral Theory”): Em 1990, Papa Petros e Ulf Ulmsten(6) publicaram a “Teoria Integral”, segundo a qual, a continência seria controlada por um complexo eixo de forças que tracionaria a uretra anteriormente e por outro eixo de forças que tracionaria a bexiga posteriormente. Lesão, principalmente no eixo de forças anterior, formado em es- pecial pelo ligamento pubouretral (PUL), levaria a mulher a per- der urina. Teoria da Rede (“Hammock Theory”): DeLancey,(7) em 1994, introduziu uma teoria para combinar perda de suporte ure- tral e disfunção esfincteriana. Baseado em estudos cadavéricos, o autor descreveu que a uretra repousa sobre uma camada de suporte de fáscia endopélvica e da parede vaginal anterior. Essa camada se- ria estabilizada por meio de suas conexões com o arco tendíneo e a musculatura do assoalho pélvico. A fáscia pubocervical forneceria um suporte ao colo vesical como uma rede (“hammock”, em inglês), e assim criaria um anteparo para compressão da uretra proximal durante aumentos da pressão intra-abdominal. A perda desse su- porte comprometeria uma transmissão igualitária das pressões intra-abdominais. Essa parte da teoria combina os conceitos insti- tuídos por Bonney e Enhörning. Diagnóstico clínico O diagnóstico inicia-se pela anamnese. Durante a anamenese é im- portante questionar o tipo de perda de urina, fatores que pioram ou desencadeiam a perda, tempo de sintomatologia, tratamentos 6 Protocolo incontinência urinária de esforço Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 prévios (e qual foi a resposta a estes) e se há ou não necessidade de uso de absorventes.(8) Os objetivos do exame físico são reproduzir e caracterizar a perda de urina, descartar alterações neurológicas e identificar distopias e outras afecções pélvicas. É realizado com a paciente em posição ginecológica e ortostática, preferencialmente, com a bexiga confortavelmente cheia. A paciente deve ser solici- tada a tossir e ou realizar manobra de Valsalva. Caso haja perda de urina, esta deve ser caracterizada.(8) Na inspeção dos órgãos genitais externos, deve-se avaliar sinais de hipoestrogenismo e de dermatite amoniacal. Na presença de distopias acentuadas, deve- se realizar a redução do prolapso para pesquisa de incontinência urinária oculta.(8) Diagnóstico laboratorial Os exames de urina tipo I e urocultura são indispensáveis para afastar infecções do trato urinário. A avaliação do resíduo pós- miccional faz parte da propedêutica básica da incontinência uri- nária.(9) O resíduo pós-miccional pode estar aumentado nas obs- truções infravesicais e nos casos de hipocontratilidade do detrusor. O teste do absorvente ou pad-test é uma forma objetiva de avaliar a incontinência urinária. Serve para documentar e quantificar a perda de urina, além de ser útil na monitorização dos efeitos do tratamento. É especialmente recomendado nos casos de inconti- nência urinária cuja perda não foi detectada no exame clínico e no estudo urodinâmico.(9) O pad-test consiste na colocação de um ab- sorvente previamente pesado junto ao meato uretral externo por um períododeterminado, durante o qual a paciente executa ativi- dades normais do seu dia a dia (longa duração) ou exercícios que as simulem (curta duração). A seguir, o absorvente é retirado e seu 7 Castro RA, Arruda RM, Souza RC Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 peso comparado ao do início do teste. A diferença de peso maior que um grama caracteriza a perda involuntária de urina.(9) A mobi- lidade uretral é realizada por meio do teste do cotonete (Q-tip test) ou por ultrassonografia.(9) Na propedêutica complementar da in- continência urinária, destaca-se o estudo urodinâmico. Esse exame permite identificar, entre outros distúrbios urinários, eventuais contrações involuntárias do detrusor e alterações no esvaziamento vesical, condições que podem comprometer o sucesso de qualquer proposta terapêutica.(9) O estudo urodinâmico não está indicado na avaliação inicial da incontinência urinária, especialmente quando indicado tratamento clínico. Em relação às indicações no pré-ope- ratório de cirurgias para correção de incontinência urinária de esforço, não há consenso na literatura.(9) Alguns estudiosos, bem como a Sociedade de Urodinâmica, realizam o exame rotineira- mente no pré-operatório, visto que ele pode indicar o tratamento específico para pacientes com defeito esfincteriano uretral.(9) Por sua vez, diferentes autores concordam que não há necessidade de realizar o estudo urodinâmico no pré-operatório de pacientes com incontinência urinária de esforço não complicada (definida como resíduo pós-miccional <150 mL; teste de esforço positivo; primeira cirurgia; ausência de prolapsos genitais que ultrapassem o introito vaginal; ausência de doença neurológica).(9) É importante ressaltar que, no Brasil, no campo da saúde suplementar, é obrigatória a re- alização do estudo urodinâmico previamente a um procedimento cirúrgico. Tratamento Tratamento fisioterápico: O tratamento não cirúrgico, conser- vador dessa afecção, vem ganhando realce nos últimos anos, em 8 Protocolo incontinência urinária de esforço Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 face da melhora dos re sultados e dos poucos efeitos colaterais que provoca. Entre as técnicas não cirúrgicas, assinalam- se os exercí- cios perineais, o biofeedback, a eletroestimulação e os cones vagi- nais. É consenso na literatura, e vale ressaltar, que, atualmente, o tratamento conservador é a primeira linha terapêutica da inconti- nência urinária de esforço.(10-12) Exercícios perineais: Os exercícios perineais apresentam as melhores evidências científicas entre as técnicas fisioterápicas. Alguns programas de tratamento para a incontinência urinária de esforço com os exercícios perineais têm a duração de três semanas, outros, quatro ou até cinco meses. O número de repetições, o tem- po de contração e de repouso entre as séries não estão definidos, porém, pode-se afirmar que a repetição de 300 a 400 contrações diárias, preconizadas por Kegel, é ineficaz para o fortalecimento muscular, além de ser impraticável nos dias atuais. As taxas de sucessos dessa técnica variam de 30% a 80%. As demais técnicas estão especialmente indicadas quando a mulher não consegue con- trair voluntariamente os músculos do assoalho pélvico, e isso pode chegar até 30%.(10-12) Tratamento farmacológico: • Estrogênios: A presença de receptores hormonais no tra- to urinário baixo e na musculatura pélvica, em especial na musculatura periuretral e bexiga, reforçam a susceptibilida- de urogenital aos hormônios sexuais.(13,14) A manutenção da pressão uretral maior do que a vesical é fator importante para a continência urinária. Os principais determinantes da pres- são intrauretral são a mucosa da uretra, a vascularização, a musculatura e o tecido conjuntivo periuretrais. Todos esses tecidos apresentam nítida influência dos estrogênios.(13,14) Em 9 Castro RA, Arruda RM, Souza RC Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 2005, foi publicado o estudo multicêntrico, prospectivo, du- plo-cego e randomizado denominado WHI (Women Health Initiative), com uma amostra de 27.347 mulheres. Nesse es- tudo, observou-se aumento na incidência de todos os tipos de incontinência urinária nas usuárias de terapia hormonal e, após um ano, em pacientes previamente continentes. O risco foi maior para incontinência urinária de esforço, seguido por incontinência urinária mista. Entre as mulheres previamente incontinentes, a terapia hormonal piorou os sintomas.(13,14) Acredita-se que, se a perda involuntária de urina se inicia no menacme, dificilmente a terapia hormonal terá impacto sobre ela. Por sua vez, mulheres com sintomas leves a moderados, que se iniciaram na pós-menopausa, sem distopia genital acen- tuada, comumente, apresentam melhora da sintomatologia. (13,14) • Oxalato de duloxetina: O mecanismo de ação refere-se à maior disponibilidade destes neurotransmissores no núcleo de Onuf. Estudos relatam que o fármaco causa aumento na pressão de resistência uretral, na pressão máxima de fecha- mento uretral e na espessura do esfíncter uretral estriado.(15,16) Estudos clínicos randomizados e prospectivos, com uso de du- loxetina na dosagem de 80 mg/dia, por 12 semanas, no trata- mento de mulheres com IUE, apontam redução em torno de 50%-60% dos episódios de perda urinária.(15,16) Tratamento cirúrgico: As técnicas mais utilizadas no tra- tamento da IUE são as colpofixações retropúbicas (Burch ou Marshall–Marchetti–Krantz) e os slings, em especial os slings de uretra média.(17,18) Apesar da alta da taxa de sucesso da colpofi- xação retropúbica, o sling de uretra média é atualmente a técni- 10 Protocolo incontinência urinária de esforço Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 ca que apresenta as melhores e maiores evidências científicas no tratamento dessa afecção.(17,18) Os novos tratamentos cirúrgicos para a IUE, além de buscar melhores resultados em longo prazo, apresentam características importantes, tais como menor tem- po cirúrgico, menor agressão tecidual e recuperação mais rápida da paciente. Em 1996, Ulmsten et al.(19) desenvolveram um novo procedimento para correção da incontinência urinária, o TVT (Tension-Free Vaginal Tape- Ethicon, Somerville, NJ, USA), que se trata de um sling de uretra média utilizando-se da via retropúbica para ancoragem, passível de realização ambulatorial. Entre as ca- racterísticas dessa cirurgia estão o fato da necessidade de mínima dissecção de parede vaginal, a aplicação de uma faixa específica de polipropileno, a ausência de tensão ao redor da uretra média, a não fixação da faixa e a possibilidade de ser realizada sob anestesia local. As taxas de cura variam de 74% a 95%, com seguimento de até 17 anos.(17,18) As complicações mais comumente encontradas no intraoperatório são perfuração vesical (0,7% a 24%), hemorragia (0,7% a 2,5%), mais raramente, lesão de nervo obturador, lesão de vasos epigástricos e lesão uretral. Retenção urinária (1,9% a 19,7%), infecção urinária (4,1% a 13%), formação de hematoma retropúbico (0,4% a 8%), e, menos comumente, infecção de in- cisão abdominal, erosão de parede vaginal, urgência miccional de novo, formação de fístula vesicovaginal são as complicações encontradas no pós-operatório.(17,18) Em 2001, Delorme(20) desen- volveu os slings de uretra média pela via transobturatória (TOT). A localização transobturadora da faixa, também de polipropileno, possibilita redução de risco de traumatismo visceral ou vasculoner- voso. A técnica proposta por Delorme,(20) pela via transobturató- ria, compreende a inserção da faixa através do forame obturador, 11 Castro RA, Arruda RM, Souza RC Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 de fora para dentro, ou seja, da raiz da coxa até a região suburetral (outside-in). Diante da ocorrência de lesões uretrais e vesicais com a aplicação dessa cirurgia, Leval(21)descreveu uma nova variação da técnica que permite a passagem da faixa através do forame ob- turador de dentro para fora (inside-out), com a utilização de ins- trumental específico. Essa técnica evitaria danos à uretra e à bexiga, tornando desnecessária a cistoscopia.(21) De uma maneira global, as taxas de cura dos slings de uretra média pela via transobturatória variam de 81% a 100% com seguimento de 6 a 90 meses.(17,18) As complicações intraoperatórias relacionadas aos slings de uretra média, pela via transobturatória, são: lesão uretral (0,02%), lesão vesical (0,04%), perfuração de parede vaginal (0,6%), lesão neu- rológica (0.04%) e hemorragia ou hematoma (0,3%). Já as com- plicações pós-operatórias incluem formação de abscesso (0,05%), erosão vaginal (0,4%), retenção urinária (7%), urgência miccional de novo (13,9%) e dor na coxa (16%).(17,18) Uma terceira geração de slings de uretra média vem sendo desenvolvida nos últimos anos, com a finalidade de reduzir as complicações e adicionar simplicida- de à técnica. São os slings de incisão única e sua inovação consiste no uso de menor quantidade de material sintético e na ausência de orifícios cutâneos, com o intuito de reduzir o trajeto cego do procedimento para minimizar taxas de infecções e traumas vis- cerais.(22) Diferentemente das técnicas já consagradas, os slings de incisão única disponíveis no mercado não são uniformes quanto à extensão da faixa, ao método de inserção, aos locais e às formas de fixação. Acrescenta-se, ainda, a não uniformidade de técnicas cirúrgicas entre diferentes autores.(22) Assim, o sling retropúbico, o primeiro sling sintético de uretra média do qual se tem maior tem- po de seguimento com altas taxas de cura e menos invasivo em re- 12 Protocolo incontinência urinária de esforço Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 lação às técnicas que o antecederam, é uma boa opção para os casos mais graves de IUE, particularmente, nas pacientes mais jovens. Por sua vez, o sling transobturador também está relacionado a altas taxas de cura, sendo o sling mais realizado em todo o mundo. Já em relação aos slings de incisão única ou minislings, faltam evidências quanto às taxas de cura e complicações em longo prazo para que tenham sua indicação definida. Na ausência dos slings de uretra média, a cirurgia de Burch e os slings de aponeurose são opções com alta taxa de sucesso.(17,18) Tratamento com agentes de preenchimento A injeção dos chamados agentes de preenchimento na submucosa é um método minimamente invasivo, disponível para tratar mu- lheres com IUE decorrente de defeito esfincteriano intrínseco e ausência de mobilidade uretral.(23,24) Está especialmente indicada em situações em que houve falha do procedimento cirúrgico ou em mulheres que apresentem comorbidades que inviabilizam a reali- zação da cirurgia.(23,24) Os agentes atualmente aprovados para uso e disponíveis no Brasil incluem colágeno bovino, gordura autóloga e vários agentes sintéticos, como o carbono pirolítico e as partículas polidimetilsiloxano.(23,24) Recomendações finais Na incontinência urinária de esforço em mulheres: 1. O diagnóstico inicia-se sempre pela anamnese e pelo exame físico (A). 2. Na dúvida diagnóstica, utilizar o pad-test e/ou o estudo urodi- nâmico (C). 3. Não há necessidade de avaliação prévia pelo estudo urodinâmi- co se o tratamento inicial for conservador (C). 13 Castro RA, Arruda RM, Souza RC Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 4. O estudo urodinâmico está sempre indicado previamente a um procedimento cirúrgico (C). 5. A terapia comportamental associada à fisioterapia constitui-se na primeira linha de tratamento (A). 6. O exercício perineal é a técnica fisioterápica com maior evidên- cia científica no seu tratamento (A). 7. O estrogênio tópico não deve ser utilizado de forma isolada no tratamento dessa afecção. Está especialmente indicado quando os sintomas se iniciam com o advento do hipoestro- genismo e em associação com as medidas comportamentais e a fisioterapia (C). 8. A duloxetina é uma opção de tratamento medicamentoso e é especialmente indicada quando a paciente não responde às medidas comportamentais e à fisioterapia, bem como naque- las que não desejam o procedimento cirúrgico. Apresenta altas taxas de abandono em função dos seus efeitos colaterais (B). 9. Os slings de uretra média por via retropúbica ou transobtura- tória são as técnicas cirúrgicas com maior evidência científica e são a primeira escolha (A). 10. Materiais como a tela de Marlex não elaborados e/ou prepa- rados com a finalidade de tratar mulheres com incontinência urinária de esforço; apesar de constituídos por polipropileno, não têm as mesmas propriedades gerais das telas específicas (macroporosas, monofilamentares e de peso leve), sendo que não há respaldo na literatura e por órgãos reguladores para en- dossar o seu uso (C). 11. Na ausência dos slings de uretra média, as colpofixações retro- púbicas e os slings de aponeurose são opções com alta taxa de sucesso (A). 14 Protocolo incontinência urinária de esforço Protocolos Febrasgo | Nº4 | 2018 12. Entre as colpofixações retropúbicas, recomenda-se a cirurgia de Burch por apresentar maior taxa de sucesso e menor taxa de complicação quando comparada com a cirurgia de Marshall– Marchetti–Krantz (A). Essa cirurgia deve ser evitada nas pa- cientes obesas, com prolapso genital e naquelas que apresen- tam defeito esfincteriano (B). 13. O agente de preenchimento é medida de exceção. Está espe- cialmente indicado a mulheres com uretra fixa e àquelas sem condição cirúrgica (B). Referências 1. Haylen BT, de Ridder D, Freeman RM, Swift SE, Berghmans B, Lee J, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report on the terminology for female pelvic floor dysfunction. 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