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AULA 1 – MÉTODOS DE ABORDAGEM 1.1. ABORDAGEM E TÉCNICAS DE ANÁLISE A compreensão dos fenômenos sociais pode ser feita a partir de três abordagens. Para cada uma das abordagens há técnicas de análise especí�cas, veja a seguir: 1. Observação do comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real. Análise de conteúdo. Estudo de caso. Análise de dados secundários. 2. Criação de situações arti�ciais e observação do comportamento antes das tarefas de�nidas para as situações. Avaliação de impacto (laboratório). 3. Realização de perguntas às pessoas sobre o que fazem (�zeram) e pensam (pensaram). Survey. Estudo de caso. 1.2. VANTAGENS E LIMITAÇÕES DAS TÉCNICAS DE ANÁLISE Análise de conteúdo. Estudo de caso. Análise de dados secundários. Avaliação de impacto. Survey. Análise de conteúdo Alguns tópicos de pesquisa são suscetíveis ao exame sistemático de documentos, como romances, poemas, publicações governamentais, músicas, boletins de ocorrências etc. As informações trazidas pelos documentos são sistematizadas, buscando a existência de semelhanças. As principais desvantagens desta técnica são: O tipo de documento selecionado para o exame pode não ser a medida mais apropriada da questão ou fenômeno a ser estudado. A análise dos documentos sempre envolve um espaço de arbitrariedade. Análise de dados secundários Estudo de caso COLETA DE INFORMAÇÕES javascript:void(0); A realização de pesquisas cientí�cas não envolve, necessariamente, a coleta e análise de dados originais (pesquisa de campo). Alguns tópicos de pesquisa podem ser estudados analisando dados já coletados e compilados. A análise dos dados secundários tem a grande vantagem da economia. O pesquisador não precisa arcar com os custos de amostragens, entrevistas, codi�cações, recrutamento de sujeitos experimentais etc. A principal desvantagem do método é que o pesquisador �ca limitado a dados já coletados e compilados por outros, que podem não representar adequadamente a questão que lhe interessa. Avaliação de impacto A avaliação de impacto procura determinar os resultados das ações e políticas. Para mensurar esses resultados, não basta olhar o objeto de análise e ver o que aconteceu com ele depois da aplicação da política. Para garantir que as mudanças observadas são resultantes da política empreendida, é preciso comparar o grupo em que ela foi implementada – chamado de tratado – com um grupo similar que não a experimentou – chamado de controle. Quando se está trabalhando com EXPERIMENTO ALEATÓRIO, também chamado de experimento puro, é bastante simples medir o impacto. Entretanto, na prática, é quase impossível implementar experimentos aleatórios no caso de políticas públicas, pois existe um problema ético e moral. Normalmente, as ações e políticas têm desenhos não aleatórios e as avaliações devem buscar desenhos não experimentais, denominados por avaliações de estudos observacionais ou quase-experimentais. O que é um desenho de pesquisa? TRATADO: Grupo em que foi implementada a política. CONTROLE: Grupo similar em que não foi implementada a política. Sendo o objetivo fazer uma política de prevenção à criminalidade em áreas de alta periculosidade da cidade, como escolher uma área que não vai receber essa política? Isto é justo com a população desse local? De�nição Para Re�etir COLETA DE INFORMAÇÕES javascript:void(0); Segundo os autores de um livro já clássico sobre metodologia de pesquisa, “um desenho de pesquisa é um plano que mostra, por meio de uma discussão do nosso modelo e dos nossos dados, como nós pretendemos usar nossa evidência para fazer inferências” (King; Keohane; Verba, 1994, p. 118, tradução nossa). Esta apresentação geral sugere que o desenho de pesquisa deve ser feito antes da pesquisa em si, ou se refere a uma etapa anterior, e conjuga teoria (ao falar do modelo), técnicas (ao falar dos dados) com a pretensão de se conhecer mais (ao falar da inferência) sobre o objeto de estudo (que depende de sua caracterização). Apesar dessa formulação geral, a associação entre teoria, técnica, conhecimento e caracterização do objeto não segue uma receita única e varia amplamente entre as diferentes áreas do saber. Por essa razão, a elaboração de um desenho de pesquisa e a avaliação sobre sua pertinência também variam nos diferentes campos que compõem a ciência. Essa constatação �ca clara quando se considera a seguinte observação feita por Gorard (2013) a respeito dos desenhos de pesquisa: “Desenho de pesquisa não é fundamentalmente sobre técnicas ou procedimentos. É mais a respeito de cuidado e atenção aos detalhes, motivados pela paixão pela segurança de nossas conclusões obtidas com a pesquisa. Em sua forma mais simples, o desenho de pesquisa é sobre convencer uma audiência de pessoas céticas que decisões importantes que estão por trás das conclusões da pesquisa são as mais seguras possíveis. (...) É tarefa dos cientistas sociais fazer com que estas decisões sejam as mais infalíveis possível” (Gorard, 2013, p. 4/5, tradução e grifo nossos). Se o desenho de pesquisa deve ser tal que convença uma audiência de céticos, o plano que o compõe mudará de acordo com a área do saber onde é elaborado. Isso é muito sensível, por exemplo, na área da gestão pública, uma área interdisciplinar por excelência. Cientistas políticas, sociólogas, economistas, administradoras, urbanistas, para citar apenas algumas, convivem nessa grande área da gestão pública e precisam ser convencidas sobre as conclusões obtidas por meio de uma inferência alcançada com os dados coletados, diante de um referencial teórico que as sustente. Não à toa, construir um desenho de pesquisa é uma tarefa complexa, e seu papel se torna ainda mais relevante quando se observam as diferenças e dinâmicas próprias entre os diferentes ramos das Ciências Sociais. Uma outra maneira de dizer a mesma coisa, em termos mais concretos, é que o desenho de pesquisa deve ser tal que responda satisfatoriamente a uma pergunta de pesquisa3 . Especi�camente no campo da gestão pública, há vários exemplos sobre tipos de questões de pesquisa: podem estar associadas à elaboração de diagnóstico sobre uma situação especí�ca, seja social, seja de organização da burocracia estatal, à formulação de um projeto de intervenção para atacar um problema diagnosticado, à implementação do programa já formulado ou aos impactos de uma intervenção estatal já realizada. Fonte: SILVA, Glauco Peres da. Desenho de pesquisa / Márcia Miranda Soares e José Ângelo Machado. Brasília: Enap, 2018. Pag. 7-9 - Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/3330/1/Livro_Desenho%20de%20pesquisa.pdf - Acessado em 30/03/2020 às 19h40 A implicação do desenho não experimental para a avaliação do impacto é que o “controle” não pode ser comparado diretamente com o “tratado”, pois os atributos de ambos não são, necessariamente, equivalentes. "O livro Avaliação Econômica de Projetos Sociais apresenta um conjunto de métodos que são amplamente empregados para isolar e medir o impacto de programas sociais. Esses métodos são comumente divididos em duas categorias: o método experimental e os métodos não experimentais. COLETA DE INFORMAÇÕES javascript:void(0); O primeiro é baseado na seleção aleatória dos indivíduos que farão parte do grupo que receberá o programa (grupo de tratamento) e do grupo que não o receberá (grupo de controle). Esse método faz com que a única diferença entre os grupos seja a participação no programa, uma vez que a aleatorização garante que eles sejam muito semelhantes tanto em termos das caracterísctias observadas como das não observadas pelo analista. Pelo fato de conseguir fazer com que a intervenção seja a única diferença entre os grupos de tratamento e controle, esse método tem a denominação de “padrão-ouro” na área de avaliação de impacto. Os métodos não experimentais não são baseados na seleção aleatória dos grupos de tratamento e controle, esses métodos não asseguram que os dois grupos di�ram entre si apenas pela participação no programa.Na realidade, o que eles fazem é substituir a aleatorização do método experimental por certas condições e hipóteses que visam a tornar o grupo de controle parecido com o grupo de tratamento. Cada método adota um conjunto especí�co de hipóteses para identi�car o efeito causal do programa. Essas hipóteses não são diretamente testáveis, mas algumas podem ser con�rmadas de modo indireto. A escolha do método a ser empregado depende em larga medida do programa a ser avaliado, dos arranjos institucionais existentes, dos custos envolvidos na avaliação, além da disponibilidade de dados. O aumento da importância da avaliação de impacto e da análise de custo-bene�cio entre �nanciadores, gestores e �scalizadores dos programas tem sido acompanhado pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento de um conjunto de métodos que formam hoje uma ampla “caixa de ferramentas” utilizada na área de avaliação de impacto." Acesse o conteúdo completo, disponível em: https://www.itausocial.org.br/wp- content/uploads/2018/05/avaliacao-economica-3a-ed_1513188151.pdf Fonte: Fundação Itaú Social, L. Avaliação Econômica de Projetos Sociais: Relatório de Avaliação Econômica: Programa Mais. Rio de Janeiro: CIEE Rio, 2013a. Disponível em:https://www.itausocial.org.br/wp-content/uploads/2018/05/avaliacao-economica-3a- ed_1513188151.pdf - Acessado em 30/03/2020 - 19h50 Para fazer essa comparação é necessário que se apliquem técnicas estatísticas que tornam o “controle” equivalente ao TRATADO. Survey Survey é um método de pesquisa. Também conhecida como pesquisa de mercado quantitava é um método de pesquisa social que utiliza técnicas estatíscas. Normalmente implica a construção de inquéritos por questionário. Normalmente são contactadas muitas pessoas O objetívo da pesquisa Survey é a obtenção de informações quantitavas sobre um determinado grupo de pessoas. A Survey é mais indicada quando se deseja responder questões que expressem opiniões, costumes ou caracterítiscas de um determinado público- alvo. Para isso, é comum o uso de perguntas objetivas, do tipo "o quê?", "por quê" "quando?", "onde" e "como" no processo de pesquisa. Um survey é realizado quando se pretende construir enunciados sobre uma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos, avaliar o impacto de alguma política ou ação etc. Para que seja viável, em termos técnicos e econômicos, a pesquisa é realizada em uma amostra cienti�camente selecionada da população, de forma a representá-la. Essa seleção cientí�ca da amostra permite a extrapolação dos resultados encontrados para a população, COLETA DE INFORMAÇÕES https://www.itausocial.org.br/wp-content/uploads/2018/05/avaliacao-economica-3a-ed_1513188151.pdf javascript:void(0); ou seja, se a amostra é composta por 50% de homens, pode-se extrapolar o resultado dizendo que nossa população é composta de 50% de homens. A coleta de informações envolve sempre a aplicação de um questionário, que deve priorizar a construção de questões com respostas fechadas, retirando ao máximo a possibilidade de respostas abertas em formato de texto. Assim, esses instrumentos de coleta de informação favorecem o uso de técnicas quantitativas para análise dos dados. 1.3. MÉTODOS E TÉCNICAS X APLICAÇÕES Os vários métodos de abordagem dos fenômenos sociais têm aplicações distintas quanto ao tipo de pesquisa que se pretende realizar e tipo de informações a ser coletada. Eles também podem ser utilizados de forma complementar quando necessário. Veja abaixo alguns exemplos: Quando se precisa de informações representativas da situação de grandes grupos sociais com menor gasto de recursos e maior rapidez, são utilizados surveys e informações secundárias, sistematizadas continuamente por órgãos de estatística o�cial. Essas informações se agregam no conjunto denominado de informações quantitativas e se caracterizam por buscar mensurar a questão estudada em números ou categorias. A grande limitação dos dados quantitativos na realização de pesquisas é que eles reduzem a realidade a algumas categorias, deixando de lado muita informação que seria útil para uma melhor compreensão do fenômeno estudado. Pesquisas com informações mais detalhadas: Quando se veri�ca a necessidade de trabalhar com informações mais detalhadas, partimos para outro conjunto de informações denominado por informações qualitativas. As pesquisas envolvendo a coleta dessas informações – análise de conteúdo e estudo de caso – são normalmente mais difíceis e mais caras de serem realizadas. Ao mesmo tempo em que se conhece a realidade de modo mais detalhado, perde-se capacidade de generalização dos conhecimentos produzidos. Pesquisas na área de segurança pública: Como exemplo de pesquisas na área de segurança pública, é possível citar: Pesquisas na área de segurança pública Técnicas de análise Pesquisa que analisam informações trazidas de bases de ocorrências registradas pelas polícias. Análises de dados secundários. Pesquisas de vitimização. Survey. Pesquisas que buscam avaliar de forma mais detalhada a criminalidade, envolvendo entrevistas com moradores. Estudo de caso. Pesquisa mais detalhada realizada por alguém que convive com a comunidade. Estudo de caso ou, especi�camente, pesquisa etnográ�ca. COLETA DE INFORMAÇÕES javascript:void(0);