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Hemoptise Fonte: Slide Dra Soraia, Livro Prática Pneumológica e UpToDate Introdução  Hemoptise é a eliminação pela boca de sangue proveniente de estruturas do aparelho respiratório localizadas abaixo da glote.  A mortalidade por hemoptise aumenta conforme a intensidade do sangramento. A principal causa de morte é a asfixia por preenchimento da via respiratória e não por choque hemorrágico.  O sangue do trato respiratório superior e do trato gastrointestinal superior também pode ser expectorado e, assim, imitar o sangue proveniente do trato respiratório inferior, uma situação chamada pseudohemoptise.  A hemoptise pode ser classificada em:  Leve: < 100 mL em 24 horas;  Moderada: 100-600 mL em 24 horas;  Maciça: > 600 mL em 24 horas ou 100 mL hora.  Hemoptise maciça (90% são provenientes da artéria brônquica e 10% da artéria pulmonar):  100-200 mL em um episódio; ou  400 mL em 24 horas; ou  600 mL em 48 horas.  Geralmente, preferimos o termo “hemoptise com risco de vida”, referindo-se à hemoptise que causa obstrução das vias aéreas, trocas gasosas significativamente anormais ou instabilidade hemodinâmica. Etiologias  1,5% de todas hemoptises são maciças e as causas mais frequentes são: tuberculose, neoplasia, aspergiloma, bronquiectasia, bronquite aguda, síndrome de Behçet e fístula artério-venosa.  Outras causas: embolia pulmonar, pneumonia, corpo estranho, trauma, vasculite, adenoma brônquico, estenose mitral, leptospirose  Pneumonia: escarro ferruginoso  Embolia: sangue pisado.  Em crianças é raro, mas quando tem devemos pensar em fibrose cística e cardiopatia  O sangramento de curta duração e não recorrente possui bom prognóstico. Já o sangramento recorrente devemos investigar com todos os recursos diagnósticos.  De acordo com volume de sangue neoplasia de pulmão normalmente tem escarro hemoptoico.  Hemoptise importante: tuberculose, bronquiectasia, abscesso pulmonar e aspergilose. Fisiopatologia  O sangue que extravasa para a árvore brônquica geralmente se origina da rede vascular intrapulmonar, ou seja, do sistema arterial brônquico e do sistema arterial pulmonar.  O sangramento do sistema arterial brônquico resulta da neoformação vascular anômala arterial (sistema de alta pressão), a qual é induzida por doença inflamatóriapulmonar, ou da formação colateral secundária ao defeito no sistema arterial pulmonar. O sangue extravasa pelo ramo arterial brônquico por erosão ou rompimento da parede muscular.  A árvore arterial pulmonar é diferente (sistema de baixa pressão) da arterial brônquica. O sangramento desse sistema arterial ocorre por necrose do vaso, como na pneumonia necrosante, no câncer de pulmão e na aspergilose intracavitária. Esse tipo de sangramento não responde bem ao tratamento com soro gelado ou fármacos instilados na árvore brônquica. Dados importantes da anamnese  Episódios prévios de infecção respiratória: bronquiectasias  Pneumonias recorrentes: bronquiectasias  Febre, sudorese, perda de peso: tuberculose  Dispneia e dor pleurítica: tromboembolia pulmonar  Fator de risco para trombose venosa: tromboembolia pulmonar  Tabagismo: câncer de pulmão  Secreção purulenta associada ao sangramento: abscesso pulmonar, fibrose cística  Doença cardiovascular: estenose mitral, tromboembolia pulmonar  Uso de anticoagulante oral: diátese hemorrágica  Uso de drogas ilícitas: cocaína, crack  Concomitância com o ciclo menstrual: catamenial  Passado de tuberculose: bola fúngica  Presença de epistaxe pessoal e/ou familiar: telangiectasia hemorrágica hereditária. Fatores de pior prognóstico Alcoolismo, necessidade de ventilação mecânica e uso de fármacos vasoativos na admissão e na transfusão sanguínea no pré-operatório foram fatores independentes para pior prognóstico na hemoptise maciça. Manifestações clínicas  Tosse com sangue vivo, podendo estar associada à borbulhamento no tórax, escarro claro ou purulento e história de pneumopatia antiga ou recente.  Quando a eliminação é de sangue escuro, sua origem é no parênquima pulmonar ou é um sangramento ativo.  Quando a eliminação é de sangue vivo, sua origem é dos brônquios ou alvéolos.  Ao exame físico, podemos encontrar:  Cianose  Adenopatias periféricas  Baqueteamento digital  Desconforto respiratório  Sinal de TVP Exames complementares  Rx de tórax  TC de tórax  Pesquisa de BAAR e fungos no escarro  Broncoscopia (na urgência se usa o broncoscópio rígido)  Ecocardiograma, doppler de MMII  Pesquisa de coagulação, doenças do colágeno e pesquisa de leptospira Tratamento  Broncoscopia  Sempre que possível, respeitando a condição clínica e a estabilidade hemodinâmica do paciente, o exame deve ser antecedido por uma tomografia computorizada (TC) de tórax de alta resolução.  Quanto mais precoce a realização da broncoscopia (em até 48 horas do episódio de sangramento), maior a acurácia do exame para localizar a área de lesão.  Em pacientes com hemoptise maciça, a broncoscopia tem ainda importante papel terapêutico. Isso porque pode interferir diretamente no sangramento agudo, por meio de tamponamento por balão, injeção de solução salina gelada, administração de medicação tópica sobre a lesão ativa, eletrocauterização, terapia a laser, coagulação com plasma de argônio ou crioterapia. Broncoscopia rígida x Broncoscopia flexível o Na hemoptise maciça, o broncoscópio rígido tem melhor desempenho, pois, com um canal de trabalho mais largo, possibilita facilmente a aspiração de coágulos e sangue, além da ventilação do paciente. o O broncoscópio rígido tem, entretanto, duas grandes desvantagens: (1) pequena quantidade de profissionais capacitados para utilização deste aparelho no Brasil, e (2) necessidade de anestesia geral para a realização do procedimento. o A broncoscopia flexível, apesar de tecnicamente mais fácil de ser realizada, tem limitações importantes para o tratamento da hemoptise maciça. As principais delas são a dificuldade de manter oxigenação adequada na vigência de sangramentos importantes e a dificuldade de se aspirar sangue e coágulos por um canal de aspiração mais estreito (2,8 mm) quando comparado com o aparelho rígido (8,5 mm), o que acarreta obstrução frequente. o Tal problema pode, no entanto, ser minimizado com a intubação do paciente e a introdução do aparelho pelo tubo orotraqueal. Isso garante que, quando houver obstrução do canal de aspiração, o aparelho possa ser retirado, desobstruído e reintroduzido, sem maiores intercorrências. o O tamponamento brônquico pode ser realizado com a insuflação de um balão durante 24 a 48 horas. Após desinsuflado, deve-se observar recidiva de sangramento para que o balão seja removido com segurança. As complicações possíveis são lesão isquêmica de mucosa e a pneumonia pós-obstrutiva. o A fonte do sangramento também pode ser lavada com alíquotas de 50 mℓ de solução salina fria (4°C). Acredita-se que a lavagem com solução salina gelada promova vasoconstrição local, reduzindo o fluxo de sangue e a consequente hemostasia. o O uso de medicações tópicas, coagulantes ou vasoconstritoras (geralmente epinefrina ou vasopressina), instiladas pelo canal do broncoscópio no local do sangramento, pode também atuar na hemostasia do processo. o A terapia a laser, a eletrocauterização, a coagulação com plasma de argônio e a crioterapia são também capazes de estabilizar e cessar o sangramento, se a broncoscopia localizar uma lesão sangrante em mucosa.  Embolização da artéria brônquica (EAB)  Consiste na oclusão do vaso por partículas de polivinil álcool (PVA), microesferas de gelatina, Gelfoam®, espirais metálicas e balões de oclusão.  A técnica consiste no uso de um cateter de angiografia, inseridogeralmente pela artéria femoral para realizar uma aortografia. Durante o exame, as artérias brônquicas são contrastadas, bem como as intercostais, uma vez que, no Brasil, a principal causa de hemoptise é a sequela de tuberculose.  As complicações mais frequentes (também mais raras) deste método são: formação de hematoma no local da introdução do cateter e tetraplegia ou tetraparesia, devido à embolização inadvertida das artérias intervertebrais.  Cirurgia  A cirurgia de emergência deve ser indicada quando a embolização da artéria brônquica, em combinação com uma broncoscopia rígida, não responde nas primeiras 24 a 48 horas, o que ocorre em 10% dos casos.  O tratamento cirúrgico tem como objetivo imediato a ressecção dos segmentos ou lóbulos mais envolvidos, com a preservação ou não de áreas de sangramento não supurativas.  Os lobos médio e inferior são os mais frequentemente acometidos.  Deve-se ficar atento às complicações pósoperatórias, como: empiema, hemorragia, escape aéreo prolongado, fístula e reexpansão pulmonar inadequada (por atelectasia persistente ou supuração).  Medicamentos  Protamina: hemorragia por uso heparina.  Plasma fresco: Hemorragia por anticoagulante oral.  Ácido aminocaproico (uso duvidoso) o 4g-20 ml- 200 mg/ml, comprimido 500mg o Ampola diluído em sf0,9% 250 ml 4-6 x/d ou 1 cp 4-6 vezes por dia  Ácido tranexâmico ou etansilato (em pequenas hemorragias) o Ação inibitória do ativador do plasminogênio. o Comprimido: 250 mg. 15-25 mg/kg 2-3 comprimidos, 2-3 vezes por dia. o Ampola 5ml – 50 mg/ ml, 4 g na primeira hora e após 1-2g diluído em soro fisiológico 250 ml 3-4 vezes por dia.