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CONTABILIDADE SOCIAL Juliano Lautert Principais agregados macroeconômicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os principais agregados macroeconômicos. � Mostrar o fluxo circular da renda. � Indicar os impactos do controle sobre os agregados macroeconômicos. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre os principais agregados macroeconômi- cos e o fluxo circular da renda. Você vai ver também como os agregados surgem para que as políticas macroeconômicas tenham uma pauta para mensuração da atividade econômica, ou seja, os agregados econômicos mostram a mensuração da atividade econômica, agindo de forma simul- tânea e buscando compreender seu funcionamento. Agregados macroeconômicos Os indicadores de bem-estar social são responsáveis por trazer informações destinadas a demonstrar principalmente as estruturas econômicas e sociais dos países. Entendendo que o bem-estar social está relacionado ao desenvol- vimento das pessoas em um sistema econômico, podemos presumir que uma economia estará realmente desenvolvida quando as variáveis quantitativas (de crescimento) estiverem suportadas pela melhora nas suas variáveis qualitativas (de desenvolvimento). Com isso em mente, passamos a conhecer os principais agregados econômicos. Esses agregados surgem para que as políticas macroeconômicas tenham uma pauta para mensuração da atividade econômica de forma geral. Nesse sentido, voltamos a perceber o sistema econômico como um conjunto de relacionamentos, agindo de forma simultânea, buscando compreender seu funcionamento por meio de grandes agregados econômicos, que são: � produto; � renda; � despesa. A referência básica é a soma de todas as transações, realizadas por todos os agentes, na totalidade dos mercados, divididos em pontos de mensuração, que terão a função de gerar informações sobre o desempenho de determinado sistema econômico (BÊRNI; LAUTERT, 2011). Produto O produto é considerado no sentido de soma, ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos por um determinado grupo de agentes, de um determinado sistema econômico, em um determinado período de tempo. A esse agregado, vinculamos, então, os indicadores que dizem respeito à atividade econômica, buscando entendimento sobre uma variável: o produto. Os indicadores de atividade medem o nível de atividade da economia em um período de tempo, sobre o ponto de vista da geração de renda e riqueza, em três níveis de informação: � Produto Interno Bruto (PIB); � Produto Nacional Bruto (PNB); � Produto Nacional Líquido (PNL). Esses níveis de informação, quando analisados de forma conjunta, dão sentido ao agregado econômico produto. Contudo, o produto é mensurado em termos nominais, isto é, em termos de preços dos produtos observados no mercado. Dessa forma, os pagamentos efetuados aos agentes de produção, para a constituição daqueles bens ou serviços, constituem a renda da econo- mia, formando um ciclo em que o produto se aproxima do conceito de renda (SILVA et al., 1996). Principais agregados macroeconômicos2 Renda A renda agrega (soma) as remunerações atingidas pelos agentes, por meio de suas relações econômicas, de um determinado sistema, em um determinado período. A esse agregado, vinculamos, então, as políticas de renda, medindo a desigualdade e o bem-estar social. Exatamente tentando promover o crescimento econômico em conjunto com o desenvolvimento humano, em tese, após avaliar a atividade econômica, esse movimento conjunto depende diretamente da organização do sistema de consumo e produção entre os agentes de um sistema (MANKIW, 2006). Portanto, assim como a renda gerada, a sua distribuição está relacionada à própria divisão do trabalho e do crédito em um sistema, ou seja, relaciona-se com a forma de distribuição de juros, lucros, rendas, salários e propriedade dos fatores de produção. Dessa forma, compreendemos o agregado econômico renda como a compilação de dados relativos à remuneração dos fatores de produção, que remuneram o trabalho e o capital, vinculados às rendas e à sua distribuição (VICECONTI; NEVES, 1995). Despesa A despesa agrega (soma) os gastos efetuados pelos agentes, tanto para consumo quanto para utilização no processo de produção, de um determinado sistema, em um determinado período. Em outras palavras, para gerar o produto e a renda de um sistema econô- mico, é necessária também a geração de despesas, uma vez que essas despesas serão ponto de partida para os agentes produzirem seus bens ou serviços, gerando o agregado produto. Como o agregado econômico produto diz respeito ao valor de todos os bens e serviços produzidos em determinado período e como o agregado renda está relacionado à remuneração dos agentes respon- sáveis pela geração do produto, fecha-se uma espécie de ciclo, em que os bens e serviços geram renda, e a renda gera gastos. Em termos simplificados, o produto é igual à renda, que é igual à despesa. 3Principais agregados macroeconômicos No artigo Relação de causalidade entre agregados econômicos nas décadas de 1980 e 1990 no Brasil, Samira Aoun parte do pressuposto de que o comportamento evolutivo do PIB está associado a duas variáveis básicas: uma relativa ao setor interno, que é o emprego/desemprego, e outra relativa ao setor externo, que é o indicador de competitividade externa. Fluxo circular da renda Após ter identificado os principais agregados econômicos, entendemos a renda como a remuneração dos fatores de produção e a despesa como necessária à realização da produção como um todo. Verificamos que uma depende da outra, formando um ciclo, que chamamos de fluxo de renda. Nele, a despesa gera renda aos fornecedores, e a renda gerada aumenta o consumo, e o consumo aumenta a produção, gerando o conceito de fluxo circular da renda. Assim, verificamos as interdependências entre os diversos agentes institucionais, organizadas de maneira consistente, de modo a igualar receitas e despesas para cada um de seus componentes (FOCHEZZATTO, 2011; TAYLOR, 2004). Essa lógica mostra que as relações entre os agentes, sintetizadas pela forma dos agregados econômicos, representam um ciclo, em que: Renda = Produto = Despesa Segundo Schumpeter (1997), os agentes que atuam em um fluxo circular de renda, em um sistema econômico, agem de maneira determinada, apegando- -se a métodos econômicos habituais e somente se submeterão à pressão das circunstâncias se for necessário. Assim, o sistema econômico não se modificará arbitrariamente por iniciativa própria. Ou seja, no fluxo circular da renda, a economia é o todo e não parte de um todo, como um sistema isolado, assim, não tem entradas nem saídas (CUNHA; HASENCLEVER, 2011). A Figura 1 esquematiza o fluxo de renda. Principais agregados macroeconômicos4 Figura 1. Esquema de fluxo de renda. Produto Bens e serviços Renda Remuneração Mercado Consumidores Fornecedores Despesas Gastos Porém, esse raciocínio desconsidera uma diversidade de variáveis presentes em um cenário real, em que a alocação dos fatores de produção, a produção, a distribuição dos produtos e o consumo se dão de forma imperfeita, resultando em um crescimento econômico irregular, heterogêneo e não uniformemente distribuído. Portanto, existem pessoas menos favorecidas, sem acesso à in- formação ou sem acesso aos instrumentos de troca, que estariam à margem do processo econômico e social (SEN, 2000). Essas imperfeições, por um lado, constituem balizas para conduzir as políticas econômicas; por outro, e mais fundamentalmente, contribuem para a definição de progresso, uma vez que a escolha de um indicador, ou de um conjunto de indicadores, carrega muitos valores e visões de mundo (THIRY; CASSIERS, 2010). Nesse sentido, vinculamos os agregados econômicos, como formas de mensuração da atividade econômica, ao f luxo circular de renda, no sentido de f luxo de recursos circulando no ambiente econômico, entendendo queesse f luxo e esses agregados são afetados por políticas econômicas que atuam para tentar minimizar ou corrigir distorções no sistema. 5Principais agregados macroeconômicos No artigo O fluxo circular da renda revisitado em uma perspectiva de sustentabilidade: os intangíveis e o posicionamento das organizações, Marcos Felipe Magalhães e Lia Hasenclever trazem uma proposta de representação do sistema econômico por meio do fluxo circular da renda à luz do conceito de sustentabilidade, evidenciando a importância da troca de valores intangíveis que permita a perenidade do sistema econômico, buscando mostrar uma nova perspectiva de compreensão da realidade econômica com sustentabilidade, chamada de fluxo sustentável de valores. Impactos do controle sobre os agregados macroeconômicos Dentro de um fluxo circular de renda, teremos, então, os agentes consumidores e fornecedores atuando de forma simétrica, a partir dos agregados produto, renda e despesa. Em um contexto de equilíbrio de mercado, esses indivíduos, consumidores e fornecedores, atuariam de forma competitiva, não desejando qualquer tipo de intervenção ou regulamentação que afete suas forças produtivas e de consumo, inibindo sua criatividade e o equilíbrio natural do mercado (SMITH, 1996). Em outras palavras, é estabelecida uma forma de controle sobre os agregados econômicos por meio das políticas econômicas, em que, segundo Schumpeter (1997), devem ser tratadas as combinações de meios de produção (as funções de produção) como dados, isto é, como possibilidades naturais, admitindo pequenas variações. Assim, todo indivíduo pode adaptar-se às mudanças em seu ambiente econômico sem desviar-se materialmente das linhas habituais. Porém, em um cenário real, em que a alocação dos fatores de produção é imperfeita, existe a necessidade de estabelecer controles sobre os agregados produto, renda e despesa. Esses controles são observados na forma de políticas que atuem em função do agregado objeto do controle, considerando o efeito das políticas macroeconômicas de forma sistêmica. Em outras palavras, o impacto de uma política interfere na economia de um sistema como um todo, dessa forma, as políticas fiscal, cambial e de renda causam impactos sobre a política monetária (FORTUNA, 1998). Em um fluxo circular em que renda = produto = despesa, o montante de renda disponível, entendido como a soma das remunerações atingidas pelos agentes, será regulado pelas políticas de renda. Assim, busca-se o controle da remuneração dos fatores diretos de produção na economia, ou seja, controlando Principais agregados macroeconômicos6 a remuneração dos agentes, controla-se o consumo; controlando o consumo, afeta-se o produto, entendido como a soma de todos os bens e serviços pro- duzidos por um determinado grupo de agentes. Nesse sentido, qualquer forma de controle sobre um agregado econômico necessariamente irá gerar impacto em todos os agregados, visto que estão relacionados entre si. Assim, as políticas econômicas atuam no sentido de manter equalizado o sistema, gerando uma visão de sustentabilidade e pro- gresso enraizada em pactos sociais, garantindo uma participação equilibrada do valor produzido entre trabalho e capital (THIRY; CASSIERS, 2010). No artigo Interconexões entre estrutura produtiva, fluxo de renda e consumo na economia brasileira: uma aplicação de uma matriz de contabilidade social e financeira (MCS-F) com abertura das famílias, Débora Freire Cardoso, Edson Paulo Domingues e Gustavo Britto trazem um relato sobre o modelo de contabilidade social, relacionado a um conjunto de relações lineares, nos moldes do modelo de insumo-produto de Leontief, em sua versão fechada, isto é, considerando endógeno o consumo das famílias. Salientamos que um modelo desse tipo é constituído por equações lineares que distinguem um conjunto de variáveis endógenas e um conjunto exógeno. BÊRNI, D. A.; LAUTERT, V. (Orgs.). Mesoeconomia: lições de contabilidade social: a men- suração do esforço produtivo da sociedade. Porto Alegre: Bookman, 2011. CUNHA, S. K. ; HASENCLEVER, L. Ecoinovação e a transição para o desenvolvimento sustentável. In: NEVES, L. (Org.). Sustentabilidade: anais de textos selecionados do 5º Seminário sobre Sustentabilidade. Curitiba: Juruá, 2011. FOCHEZATTO, A. Estrutura da demanda final e distribuição de renda no Brasil: uma abordagem multissetorial utilizando uma matriz de contabilidade social. Economia (Revista da Anpec), v. 12, n. 1, p. 111-130, jan./abr. 2011. Disponível em: <http://www. anpec.org.br/revista/vol12/vol12n1p111_130.pdf>. Acesso em: 29 out. 2018. FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 11. ed. Rio de Janeiro: Quality- mark, 1998. MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Thomson Learning, 2006. 7Principais agregados macroeconômicos ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2012. SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997. SEN, A. K. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SILVA, A. B. O. et al. Produto interno bruto por unidade da federação. Rio de Janeiro: Ipea, 1996. 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