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SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil. www.esab.edu.br Diretor Geral: Nildo Ferreira Secretário Geral: Aleçandro Moreth Diagramadores Felipe Silva Lopes Caliman Rayron Rickson Cutis Tavares Produção do Material Didático-Pedagógico Escola Superior Aberta do Brasil www.esab.edu.br 3 Sumário 1. Apresentação ...................................................................... 10 2. Introdução à Pesquisa Científica ............................................11 3. Dificuldades e obstáculos na conceptualização da pesquisa 23 4. O processo da pesquisa e sua produção............................. . 33 5. Como se processa o conhecimento da realidade? .............. 42 6. A descrição, explicação e argumentação............................. . 53 7. Resumo ................................................................................. 74 8. Apresentação 1 ..................................................................... 76 9. Os tipos de pesquisa e os processos de coleta de informações e dados científicos ................................................................. 77 10. Focalizando as construções inicias ....................................... 90 11. Os componentes de um plano de pesquisa ........................ 101 12. A organização e delimitação da investigação científica .......116 13. A execução da coleta e análise de dados ........................... 130 14. Resumo 2 ............................................................................ 150 15. Apresentação 2 .................................................................. 152 16. O discurso científico e suas normas.....................................154 17. Considerações sobre a organização e escrita do trabalho...170 18. A produção de um texto científico na ESAB.........................183 19. Apresentação e divulgação dos resultados ......................... 198 20. A integridade acadêmica e sua importância para a produção científica ...............................................................................211 21. Resumo 3.............................................................................222 22. GLOSSÁRIO ....................................................................... 224 23. BIBLIOGRAFIA .................................................................... 229 www.esab.edu.br 4 PALAVRAS DO TUTOR Caro estudante, Seja bem vindo à ESAB. A Escola Superior Aberta do Brasil funda- -se no princípio básico de atuar com educação a distância, utili- zando como meio, tão somente, a internet. Em 2004, foi especial- mente credenciada para ofertar cursos de pós- graduação a dis- tância, via e-learning, utilizando-se de software próprio denomina- do Campus Online. Em 2009 foi credenciada como Instituição de Ensino Superior – IES, através da portaria MEC nº 1242/2009, de 30 de dezembro de 2009, ocasião em que também foi autorizada a ofertar o curso de Pedagogia – licenciatura, na modalidade presencial, conforme portaria MEC nº 14/2010, de 9 de janeiro de 2010. Em outubro de 2012 recebeu o Prêmio Top Educação 2012, da Editora Segmento, sendo reconhecida como a Melhor Instituição de Ensino EAD para Docentes. Em 2013 é aprovada para a oferta dos cursos de graduação: Ad- ministração (Bacharelado); Pedagogia (Licenciatura) e Sistemas de Informação (Bacharelado), todos na modalidade EAD, com avaliação máxima das comissões avaliadoras. Os textos recomendados e os autores citados no módulo repre- sentam o material publicado no Brasil sobre metodologia da pes- quisa. Autores e livros textos considerados “clássicos”, muitos www.esab.edu.br 5 traduzidos, foram publicados a partir dos anos 80. Publicações mais recentes de autores brasileiros também são representadas aqui. O material utilizado no módulo foi selecionado com o intuito de apresentar conceitos e procedimentos científicos consistentes com o “estado da arte” atual da metodologia da pesquisa científica moderna. Apesar da maioria dos cursos de graduação oferecer aos estu- dantes disciplina e/ou atividades ligadas à pesquisa científica, para alguns alunos, um bom tempo se passou sem que os mesmos tivessem oportunidades de utilizar os conteúdos dessas matérias. . Tampouco muitas vezes tivemos boas experiências com esta disciplina ou produzimos um projeto de pesquisa ou texto científi- co. Portanto, em um curso de pós-graduação o estudo da metodo- logia de pesquisa torna-se um dos requisitos indispensável uma vez que busca reforçar os conceitos científicos da pesquisa e dos trabalhos acadêmicos, e ultrapassa a barreira da simples memori- zação de conteúdos ou a mera aplicação de métodos. A intenção do módulo é atender a todos no sentido de apresentar informações, procedimentos e conteúdos básicos sem detalhar. Muitos sentirão falta de maiores definições conceituais e de exem- plos práticos. Devido à complexidade do conteúdo e especificida- des de diversas áreas de conhecimento, são recomendados estu- dos complementares como sugerido nas unidades. A INTERNET também é um rico recurso de informações e exemplos de pesqui- sa científica. Todos os métodos e técnicas estão disponíveis para um aprofundamento de conceitos e abordagens. O estudo da metodologia da pesquisa científica também pode ser algo novo para os que se formam em uma ciência tecnológica, www.esab.edu.br 6 aplicada ou exata. Nesse sentido, é difícil conciliar as necessida- des de alunos oriundos de realidades tão ecléticas através de um módulo único. Textos sobre metodologia científica para as ciências da computação e tecnologia da informação são poucos em portu- guês. Alguns alunos podem achar esse módulo “fácil demais” e outros serão confrontados com as incertezas geradas por conceitos não estudados e novas dúvidas teóricas apresentadas pelas perplexi- dades que a pesquisa provoca (CHIZZOTTI, 2006). É preciso ainda considerar a insegurança do pesquisador, natural a todos que aceitam o desafio de ir além da mera reprodução de conheci- mento. Com o propósito de motivar o aluno a aceitar esse desafio em conjunto sugere-se, portanto, uma verdadeira ruptura com o estilo passivo de aprendizagem. Para tanto, propõe-se além da leitura deste módulo, que você consulte INTERNET, os livros didáticos sobre pesquisa e a bibliografia sugerida aqui. Antes de buscar respostas para definições básicas com o tutor (que estará sempre disponível para suas dúvidas acadêmicas) lembre-se da possibi- lidade de construir sua aprendizagem de forma ativa, supe- rando lacunas da graduação e retomando o caminho da autonomia e da autodependência. O bom pesquisador é alguém que levanta seus próprios questionamentos, procura informação para formular e organizar seus pensamentos e chega a conclusões críticas pró- prias sobre estes questionamentos. O módulo pretende incentivar você nesse caminho. www.esab.edu.br 7 Ao (re) estudar metodologia científica, métodos e técnicas de pesquisa, muitas vezes estamos pensando em como podemos aplicar esses co- nhecimentos em termos práticos, já que alguns serão pesquisadores ou autores de uma produção científica pela primeira vez. Responda as perguntas abaixo, pensando nesse módulo de estudo e guarde suas respostas para uma reflexão final. Obs.: as respostas a essas reflexões formam parte de sua aprendizagem e são individuais, não precisando ser comunicadas à ESAB ou ao tutor. 1. Nesse momento não estou me sentindo muito preparado para executar uma pesquisa científica. [ ] Concordo muito [ ] Concordo [ ] Nem concordo ou discordo [ ] Discordo [ ] Discordo muito 2. Na graduação não estudei metodologia de pesquisa científica. [ ] Concordo muito [ ] Concordo [ ] Nem concordo ou discordo [ ] Discordo [ ] Discordo muito 3. O conteúdo de metodologia de pesquisa me interessa muito. [ ] Concordo muito [ ] Concordo [ ] Nem concordo ou discordo [ ] Discordo [ ] Discordo muito 4. Me sinto-me preparado(a) para ser um(a)aprendiz autônomo(a) num curso a distância. [ ] Concordo muito [ ] Concordo [ ] Nem concordo ou discordo [ ] Discordo [ ] Discordo muito 5. Aprender fazer pesquisa é muito importante para o meu desen- volvimento profissional. [ ] Concordo muito [ ] Concordo [ ] Nem concordo ou discordo [ ] Discordo [ ] Discordo muito Bom estudo! Equipe Acadêmica da ESAB www.esab.edu.br 8 O módulo não exige que definas agora um projeto ou plano de TCC! Você receberá orientação da ESAB para a organização de um texto científico no final dos módulos de seu curso. Mas, você pode começar desde agora registrando suas ideias, fichando livros e, sobretudo, lendo material em suas áreas de interesse. Antes de iniciar a primeira unidade, responda a seguinte atividade em que é uma espécie de autoavaliação de como você se posicio- na hoje enquanto futuro pesquisador e aprendiz de metodologia da pesquisa científica. Objetivo O nosso objetivo é de introduzir a metodologia de pesquisa en- quanto processo de aprendizagem referente à produção de co- nhecimento e a comunicação científica e ética de resultados. Competências e habilidades Compreender a importância de uma reflexão crítica sobre a pes- quisa científica, seus pressupostos, métodos e procedimentos de coleta de informações sobre os fenômenos e sua realidade. Aplicar as ferramentas conceituais proporcionadas pela metodolo- gia científica para o planejamento e execução de um plano de pesquisa. Empregar procedimentos metodológicos adequados para a cons- trução de um problema de pesquisa, o desenvolvimento de um quadro teórico e identificação dos meios de coleta de dados, infor- mações. Elaborar os diversos tipos de trabalhos acadêmico-científicos, apli- cando as normas da ABNT. www.esab.edu.br 9 Reconhecer os conceitos da integridade e conduta acadêmica ética e sua importância para a produção científica do conhecimen- to. Ementa Os pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa científica. Epistemologia da ciência. Fundamentação teórica e sua organiza- ção. Pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Pesquisa quan- titativa, qualitativa e mista. Diretrizes técnicas para elaboração de um trabalho científico-acadêmico-ético. www.esab.edu.br 10 EIXO 1 - PESQUISA CIENTÍFICA: CONCEITOS E FUNDAMEN- TOS O eixo 01 é um conjunto de cinco unidades onde você vai encontrar introduções à pesquisa científica, dentro das perspectivas da ciência, o método científico e algumas dificuldades e obstáculos na conceptualização da pesquisa. Exploramos com você algumas perguntas básicas: para que e como se faz pesquisa? A metodologia da pesquisa é examinada como uma forma de processar e conhecer a realidade?. Analisamos também algumas formas utilizadas na construção dos conhecimentos científicos através da descrição, explicação e argumentação. Aqui insistimos que a prática da pesquisa científica está associada à capacidade de leitura e de escrita, particularmente da capacidade de fazer ver, fazer compreender e fazer contemplar novos pontos de vista sobre os fenômenos sob estudo. Desafiamos você a aprender como se caracteriza, de um ponto de vista estrutural e funcional, a descrição, a explicação e a argumentação. www.esab.edu.br 11 Batten (1971) faz uma analogia interessante entre a atividade cientifica e a atividade de jogar um jogo ou resolver um quebra- cabeça. Como em qualquer jogo, há vários motivos para participar, metas a serem alcançadas, critérios para avaliar o nível de alcance das metas, regras para os movimentos admissíveis e a seqüência desses movimentos (p. 3). Segundo esse autor, o jogo da ciência é utilizado para compreender o mundo ou algum aspecto dele. O quebra-cabeça é difícil. Precisa dar conta da ocorrência e de mudanças nos eventos do mundo observável (p.3). Qualquer disciplina da ciência escolhe aspectos do mundo como sua versão do quebra-cabeça a ser resolvido. A resolução do quebra-cabeça supõe levantar hipóteses/ pressupostos explicativos de por que os eventos ocorrem e mudam (ou não), verificando-os para assegurar seu valor cientifico. Batten sugere que o cientista precisa, em alguns momentos, de descrições dos fenômenos que ocorrem para construir explicações satisfatórias sabre suas causas. Então, precisa também de observações. No jogo da ciência os cientistas tentam colocar os pressupostos explanatórios num conjunto mais amplo, consistente e logicamente possível. A peças a serem montadas são portanto: observações, descrições e explicações. Todos nós sabemos que para montar um quebra-cabeça, as peças precisam estar presentes na caixa. A foto ou o desenho na capa da caixa ajudam muito a montar as áreas mais difíceis - e um modelo que nos guia. As peças são fixas, não se alteram na caixa www.esab.edu.br 12 ou em nossa mão quando as pegamos. No entanto, no jogo das Ciências as nossas expectativas nem sempre são suficientes para garantir sucesso no jogo, na medida em que a realidade não é fixa, em constante movimento, alterando formas, tamanhos etc. Raramente ternos uma foto completa para representar o que está sendo montado como resultado. Batten nos recomenda uma certa atitude céptica em relação ao jogo da ciência. Precisamos lembrar que o jogo é complexo e desafiador e que jogar bem requer certos tipos de comportamento: receptividade as ideias novas, reserva de julgamento sobre essas ideias até construir respostas ao questionamento fundamental na ciência - qual a extensão e qualidade da evidência que construímos? Por outro lado, a conduta científica deve ser cooperativa, honesta e democrática. 0 progresso de cada pesquisador/a é dependente das atividades de outros cientistas. O que ainda não sabemos está vinculado ao que construímos como conhecimento - cada resultado ou tentativa de descoberta precisa ser comunicado livremente aos outros. Batten sustenta que se a atividade científica pretende produzir conhecimento cumulativo e autocorrigido, ou seja, se vamos ter progresso no jogo da ciência, os resultados deste jogo devem ser apresentados honestamente: Os descobrimentos, mesmo improváveis (preliminares ou inconclusivos), têm que ser aceitos, como algo a ser adicionado ao acúmulo de itens que precisam ser explicados. Podem provar ser ilusórios, mas a ilusão deve vir da teoria ou técnica que precisa de revisão, mas não de um jogo (ou conduta) desonesto. E o progresso deve ser julgado somente pela qualidade do jogo.... (p. 5). www.esab.edu.br 13 Aprender a pesquisar significa aprender a jogar o jogo da ciência de forma correta, bem como aprender a comunicar os resultados de nossas investigações de maneira transparente em termos de propostas originais, dos métodos usados, dos resultados e suas significações possíveis para as Ciências. Mesmo assim, entender como se planeja, como se faz pesquisa e se interpreta estudos científicos são ferramentas importantes para todo o profissional em qualquer área do conhecimento humano. 1.1 A pesquisa científica Quando falamos em pesquisa científi- ca, vários elementos vêm à nossa mente: pensamos nos laboratórios bem equipados, nos experimentos com ratos, na manipulação de plantas, nos microscópios, nos engenheiros criando as parafernálias tecnológicas etc., ou seja, a ideia que o termo pesquisa científica traduz, para nós estar muito ligado às áreas de saúde e de tecnologia. No entanto, é possível também estudar os fenômenos sociais e as aplicações das novas tecnolo- gias, tarefas que ficam a cargo das Ciências Humanas, da Educa- ção, e das Ciências da Informática, quando têm no homem seu objeto de estudo. Assim, a pesquisa científica abarca as ciências naturais, exatas e sociais. E como em todas essas áreas, homens e mulheres insti- gados por enigmas que precisam ser decifrados. E embrenharem- -se na busca de respostas. Essa busca acontece desde que o mundo é mundo, pois o ser humano traz consigo a curiosidade e a necessidade de transfor- mar o ambiente em que vive. Por isso mesmo,se olharmos para trás, veremos que nossos antepassados sempre estiveram em www.esab.edu.br 14 busca de respostas para seus problemas, tentando entender como os fenômenos aconteciam, movimentando o fazer científico. A ciência, portanto, busca respostas, [...] a investigação metódica, organizada, da realidade, para descobrir a essência dos seres e dos fenômenos e as leis que os regem com o fim de aproveitar as propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem (PINTO apud RICHARDSON, 1999, p. 21). As respostas, por sua vez resultam em novos conhecimentos, pois respondem a muitas de nossas várias indagações. Para che- gar a essa etapa, no entanto, o cientista precisa passar por outras duas: refletir sobre o fenômeno estudado e saber como ele acon- tece, para, finalmente, explicar como ele acontece (RICHARD- SON, 1999, p. 20). A pesquisa científica ocorre em todas as áreas do conhecimento humano. A classificação tipo- lógica desses conhecimentos em hierarquias e “ordens” pode ser utilizada para categorizar a pesquisa. Magalhães (2005) sugere dois gru- pos: ciências formais: ocupam-se da lógica da matemática (es- tudo das ideias); ciências fatuais (ou empíricas): cuidam dos objetos fatuais. Estas por sua vez, se subdividem em naturais e culturais. São ciências da natureza e do homem. www.esab.edu.br 15 Segundo Máttar Neto (2011), há três eixos que são úteis na clas- sificação das ciências. O autor afirma que essa divisão afeta a organização educacional no Brasil: Uma perspectiva que teve repercussões decisi- vas na política educacional brasileira divide as ciências em três grandes grupos: exatas, bioló- gicas e humanas. As ciências exatas seriam todas aquelas que tivessem a Matemática como seu pilar básico. Assim, tanto a Matemática, a Física, a Astrono- mia, as Ciências da Computação e Estatística estariam aqui classificadas, quanto as diversas engenharias e (para alguns) a Geologia e a Meteorologia. As ciências biológicas teriam como seu objetivo principal de estudo a natureza e o ser humano, em seus aspectos biológicos. Assim, estariam agrupados a Biologia, a Medicina, a Odontolo- gia, a Educação Física e Fisioterapia, a Nutri- ção, a Veterinária e a Agronomia. As ciências humanas teriam o ser humano como o seu objeto de estudo, da ótica socioló- gica. Estariam aqui agrupados: a Filosofia, as ciências sociais (História, Geografia, Sociologia, Economia, além de outras), as Letras (línguas e literaturas), as ciências administrativas e contá- veis, o Direito e o Turismo (p 30). Como demonstramos aqui no módulo, a área de conhecimento é um determinante da metodologia científica a ser utilizada na pro- dução acadêmica. As diversas áreas do conhecimento, porém, têm como pontos de convergência: as noções da abordagem científica, os métodos e técnicas de coleta e análise de informa- ções, a normatização da comunicação dos resultados e os pro- cessos éticos inerentes na metodologia da pesquisa. www.esab.edu.br 16 1.2 O que é ciência? A história do desenvolvimento da ciência está bem documentada na maioria dos textos sobre Metodologia Científica e Filosofia das Ciências. Aqui tentamos resumir algumas definições básicas da ciência e do saber científico. Para Mattar Neto: Definir ciência é uma das missões mais ingratas a que se propõem muitos trabalhos sobre meto- dologia científica, e, em geral, essa definição é incrivelmente breve. Trata-se do exercício de definição de um conceito que acaba variando consideravelmente, dependendo da formação daquele que o realiza, de sua visão de mundo, das intenções do texto e de seu público-alvo (2011, p 1). Mas o que é ciência? Eis aí uma noção complexa de ser defi- nida, no entanto, sua definição é necessária na medida em que estamos justamente trabalhando com uma disciplina de pós- -graduação que tem por objetivo os modos de construção de conhecimento científico. Vejamos o que dizem os dicionários. O dicionário Aurélio (1983) e extremamente vago: conheci- mento, saber que adquire pela leitura e pela meditação; conjunto de conhecimentos coordenados re/ ativamente a determinado objeto (p. 280). Já o dicionário da língua francesa Le Petit Robert (1996) dá varias definições. A primeira também é bastante vaga: Co- nhecimento geral e aprofundado. Depois indica duas defini- ções mais precisas, uma datando do século XIII, Todo corpo de conhecimentos tendo um objeto determinado e reconhe- cido, e um método próprio, e outra do século XIX: Conjun- to de conhecimentos, de estudos, de um valor universal, caracterizados por um objeto e um método determinados, e fundados sob relações objetivas e verificáveis (p. 2051). www.esab.edu.br 17 O Vocabulário da Filosofia e das Ciências Humanas de Morfaux (1999, p.324) define a ciência da seguinte forma: Todo conhecimento racional obtido seja pela demonstração, seja pela observação e verificação experimental. Como se pode ver a ciência é um termo muito vago, que designa diferentes objetos. Ele pode designar um conjunto de conheci- mentos que se encontram expostos em artigos, em livros, e que fazem o objeto do processo de ensino-aprendizagem. Mas ele pode ser também compreendido como métodos, um modo de pensamento, ou uma atitude geral frente ao mundo. Enfim, pode ser considerada como uma atividade, a dos/as pes- quisadores pertencendo a comunidades, atividade que se desen- volve em instituições especializadas, tendo seus próprios modos de organização, suas normas e seus usos. Quando se fala da “ciência”, é necessário então tornar preciso qual desses diferentes aspectos está se colocando em evidência. Não nos aventuraremos a propor uma nova definição da ciência. Gostaríamos apenas de indicar alguns requisitos que fazem una- nimidade na comunidade científica quanto ao que é considerado como científico, apoiando-nos em Eco (1977): Um estudo e científico quando se debruça sobre um objeto reco- nhecível e definido de tal maneira que seja reconhecível igual- mente pelos outros (p. 21-25). www.esab.edu.br 18 1.3 O método científico Ciência não é algo que se faça de qualquer maneira. Quando um cientista realiza uma pesquisa, deve seguir métodos. Método é a junção dos termos gregos meta (além de, após de) e ódos (cami- nho), sendo definido como “o caminho ou maneira para chegar a determinado fim ou objetivo” (RICHARDSON, 1999, p. 22). Na Grécia antiga, pensadores como Platão e Aristóteles já tenta- vam organizar um método para a produção do conhecimento. No século XVI, Galileu defendia a elaboração e a testagem de hipó- teses, etapas que fazem parte do método usado pela ciência moderna, que se consolidou com Francis Bacon e René Descar- tes. Para Descartes, o conhecimento verdadeiro deveria ser pro- duzido com rigores, por meio de demonstração, seguindo os princípios da Matemática. Aristóteles Platão O método científico clássico, segundo Richardson (1999), sempre é caracte- rizado pela observação da realidade que leva à: www.esab.edu.br 19 “Fazer ciência” ou produzir conhecimento não se reduz a mera organização de teorias, textos ou projetos. Envolve mais do que reproduzir informações existentes sem análise crítica da realidade sempre em transição. A atividade básica da ciência é a pesquisa que emerge de um problema delimitado, escolha de métodos e procedimentos que buscam evidências analisando as significa- ções dos resultados encontrados. Mattar Neto (2011) afirma que o conhecimento científico: […] assim como a filosofia, é racional, mas tem a pretensão de ser sistemático e de revelar as- pectos da realidade. As noções de experiência e verificação são essenciais nas ciências; o conhecimento científico deve ser justificado e é sempre passível de revisão, desde que se possa provar sua inexatidão. Entretanto, não devemos esquecer que a Matemática, por exemplo, é considerado por muitosuma ciência, apesar de grande parte de seus conhecimentos não se referirem diretamente à realidade e não poderem ser por ela provados ou refutados (p. 3).O mesmo autor destaca que o ciclo do co- nhecimento científico (especialmente o das ciências empíricas): www.esab.edu.br 20 ... inclui a observação, a produção de teorias para explicar essa observação, o teste dessas teorias e seu aperfeiçoamento. Há nas ciências, pois, um movimento circular, que parte da ob- servação da realidade para a abstração teórica, retorna à realidade, direcionando-se novamente à abstração, num fluxo constante entre a expe- riência e a teoria (p 4-5). Em resumo, podemos pensar no método científico como uma síntese tríplice (PHILLIPS, 1971). Essa síntese envolve a integra- ção da experiência por meio de um processo simbólico de ideias, conceitos e teorias. A síntese integra “novos conceitos e ideias com outros conceitos e ideias, de ideias com experiência, e de experiência com experiência” (p. 23). Cada disciplina (área de conhecimento) tem seu próprio arranjo de símbolos e proposições para a melhor forma de investigar os fenômenos. www.esab.edu.br 21 1.2. A finalidade da ciência Qual a finalidade da ciência? Para muitos, a ciência quer explicar o mundo (aí inserido o ser humano para quem seria necessário encontrar um lugar). Segundo os defensores desta posição, a maior parte das inovações conceituais não tem, pelo menos em um primeiro momento uma aplicação prática. Neste sentido, Jacquard (2000, p. 19) lembra que a descoberta de Galileu, no século XVII, da proporção entre a força e a aceleração (e não como se acreditava desde os Gregos entre a força e a velocidade) fez renunciar a um erro de 20 séculos, mas não mudou de imediato a vida dos humanos. A hipótese proposta por Darwin, no século XIX, de uma origem comum de todos os seres vivos, assim como a descoberta, no século XX, pelo astrônomo Hubble, da expansão do universo não mudaram em nada nossa vida na Terra. Os partidários desta posição sustentam que o que as renovações conceituais fazem é transformar o nosso olhar sobre o mundo e sobre nós mesmos, elas orientam nossa reflexão em direções inéditas e, às vezes (só às vezes) e a longo prazo, elas poderiam ter consequências concretas imediatas, sem que as/os pesquisadores/as que as propõem tenham tido por objetivo primeiro aumentar uma eficácia qualquer. Por outro lado, há quem sustente que o dever da ciência não é somente de explicar o mundo, mas também de agir sabre ele. Esta dupla função de explicação e de ação é encontrada em diversos graus em saberes anteriores a Ciência Moderna, no- tadamente na técnica, no mito e na magia1 e em saberes a 1 As técnicas da Antiguidade (assim -como a de sociedades ditas primi- tivas atuais) não são apenas saberes práticos “neutros”; a maior parte dentre elas tem sua origem na magia ou são realizadas com certos ritos que as www.esab.edu.br 22 conhecimentos diversos que se encontram dispersos no coti- diano, qualificados como saberes/conhecimentos do senso- -comum. PARA SUA REFLEXÃO conectam a ordem do universo. Essas técnicas são teorizadas e explicitadas por princípios diversos, frequentemente analógicos; e essas explicações se integram em uma visa o mais vasta do mundo, com o estabelecimento de relações entre diversos deu- ses, espíritos e demônios www.esab.edu.br 23 Essa unidade pretende aprofundar nossa reflexão sobre a episte- mologia da ciência, mais exatamente sobre as condições de produção dos conhecimentos científicos sua validade e seus limi- tes. Para isso, convocaremos a ideia de obstáculo epistemológico e de ruptura epistemológica como duas noções chave. Em seguida nossa reflexão será centrada sobre a pesquisa na pós-graduação, enfatizando particular- mente a necessidade de desenvolver nos/nas pes- quisadores debutantes a observação, a crítica e a curiosidade científica. Pensando que a constituição de pesquisadores/as não se faz de um dia para o outro, fecharemos a unidade convidando-o/a a de- senvolver em seus/as alunos/as essas mesmas capacidades (considerando que a pós-graduação é título que qualifica profes- sores para o ensino superior), que são essenciais para a formação de cidadãos/cidadãs competentes e mestres/as de seu destino. Antes de iniciarmos nossa reflexão, tente explicitar sua compreen- são atual do que vem a ser epistemologia. 2.1 Epistemologia da ciência 2.1.1. A construção da ciência e os obstáculos epistemológicos Epistemologia é um termo derivado do grego - episteme - que quer dizer ciência. Enquanto disciplina filosófica fundada na segunda www.esab.edu.br 24 metade do século XIX, ela tem por objeto o exame crítico dos princí- pios, das hipóteses e dos resultados de disciplinas científicas, com vistas a determinar sua origem lógica e o seu valor objetivo. A episte- mologia também pode ser definida como a avaliação crítica que o/a pesquisador/a deve aplicar aos procedimentos de sua própria disci- plina. Apoiando-nos no ponto de vista epistemológico do filóso- fo francês Gaston Bachelard, compreendemos a ciência como sendo um programa de resolução de problemas, entendido aqui como a expressão de um núcleo de difi- culdades conceituais, ou seja, o/a pesquisador/a é aque- le que examinando o entorno elabora programas para resolvê-los ou dissolvê-los. Neste sentido o problema não é nem o decalque de um fragmento da realidade física ou social independente, nem é o produto do espírito de um estudioso genial: ele emerge sempre sobre um fundo do estado de saberes e de técnicas e em referência a esse mesmo estado. Se, no plano teórico, um problema se coloca é porque as teorias em vigor não dão conta de explicá-lo ou de produzir uma compreensão sobre ele. Nesse sentido o problema é a explicitação mesma – às vezes confusa ou hesitante – de razões pelas quais os conhecimen- tos atuais se mostram rebeldes à absorção de novos elementos – resultados experimentais ou consequências teóricas recentemente colocadas em evidência. Os esforços da comunidade científica para resolver os problemas desembocam, de tempos em tempos, em profundas mutações teóricas. As sínteses novas, justamente porque funcionam como roteiros de leitura do mundo, promovem novas pesquisas, suge- rem pistas até então não perseguidas, definem operações www.esab.edu.br 25 possíveis anteriormente insuspeitadas, delimitam projetos teórico- -experimentais inéditos, geram novos fenômenos (que por sua vez devem ser integrados) e conduzem a colocar novos proble- mas. As ciências são, portanto, produção e programa, processo dinâmi- co de transformação correlata da razão e do mundo. O progresso científico é, no entanto, frequentemente obstaculizado. Bachelar- d(1996)1, em seu livro A formação do espírito científico, utiliza a noção de obstáculo epistemológico para se referir àquilo que entrava o acesso a um outro conhecimento. Segundo ele as “teo- rias” em vigor ao mesmo tempo em que favorecem certos pensa- mentos tornam outros quase impossíveis. O termo “teoria” é empregado aqui num sentido extremamente amplo: afirmações supostamente verdadeiras a respeito do mun- do; sistemas usuais de conceitos mobilizados para formular tais afirmações; tipos recorrentes de raciocínios; imagens e analogias impregnadoras além de uma nebulosa de pressupostos e valores implícitos que acompanham sempre as críticas explícitas. Um exemplo de obstáculo epistemológico na história da ciência podemos tomar de Jacquard acerca da noção de procriação. À pergunta como são feitos os bebês? Aristóteles propõe a metáfora do “pequeno grão”: a criança é como uma planta que se desenvolve a partir de um grão; este grão é 1 Neste livro extraordinário cuja leitura nós aconselhamos vivamente, Bachelard introduz o conceito de obstáculo epistemológico e abre uma nova direção do questionamento sobre a ciência, instaurando o erro, e não mais a verdade, a imaginação e não mais a razão, no centro da reflexão epistemo-lógica. www.esab.edu.br 26 depositado pelo pai no ventre da mãe. Tal ideia permanece prati- camente inalterada em sua essência até no final do século XIX. No séc. XVI o médico Ambroise Pare explica que a semente é uma substância espessa plena de espírito vivificante, plena de espíritos. No século XVII (1673) – utilizando um microscópio, Marcello Mal- pigli descobriu os óvulos e emitiu a hipótese de que o embrião é formado aí, o grão imaginado está no óvulo. A criança é então produzida pela mãe, o pai só desencadeia o processo de fabrica- ção. Quatro anos mais tarde (1677), utilizando lentes mais pos- santes (que reproduziam os seres observados 300 vezes mais do que o microscópio de Marcello Malpigli), Leewenhoek descobre no esperma objetos, que ele denomina de “hormunculus”, que conteriam um embrião pronto a se desenvolver; o grão, cuja exis- tência fora preconizada por Aristóteles ainda na Antiguidade, esta- ria, portanto incluído no espermatozoide. O problema que se coloca naquele momento é determinar se a origem da criança está situada no óvulo materno ou no espermatozoide, já que duas teorias se impõem como explicação do fenômeno. Em 1900 – depois das descobertas de Mendel – verifica-se que as duas teorias eram falsas. Nem o óvulo nem o espermato- zoide sozinhos são a origem primeira da procriação humana. Eles são, cada um deles, a metade do grão. É a fusão deles que dá realidade ao equivalente de um grão, e esta fusão é o resultado de seu próprio comportamento (mãe-pai, gametas). www.esab.edu.br 27 O mesmo fenômeno da procriação é explicado de outra maneira entre os índios Bari da Venezuela, segundo os quais uma criança pode ter vários pais naturais. Para eles, quando a gravidez começa o feto tem necessi- dade de matéria prima para crescer, matéria prima fornecida pelas ejacu- lações masculinas. É, portanto imperativo que relações sexuais conti- nuem durante toda a gravidez para alimentar o pequeno ser em formação. Se seu marido não pode realizar a contento a tarefa, a mulher Bari pode ter um ou vários amantes que fornecerão a semente necessária ao bebê e tornar-se-ão consequentemente também seus pais biológicos já que eles contribuíram para a constituição de sua carne. O primeiro ato sexual, que deve sempre ser realizado entre marido e mulher permite semear o grão, ao qual é necessário em seguida fornecer suficientemente adubo para ter uma criança forte e com saúde. A mulher não está de nenhuma maneira implicada na concepção do pequeno, servindo apenas de “recipiente” para seu crescimento. A prova disso é que a mulher engorda durante a gestação; ela não dá nada de si à crian- ça. Mesmo se essas paternidades múltiplas não são sistemáticas, as mulheres preferem frequentemente ter amantes para não cansar seus esposos, que, observam, emagrecem durante a gravidez por causa de seu trabalho incansável.O antropólogo Stephen Beckerman, da Universi- dade do estado da Pensilvânia é um dos etnólogos que estudaram os Bari. Ele constatou que as gravidezes alimentadas por vários pais têm mais chances de dar à luz uma criança que atingirá ao menos 15 anos em comparação com as gravidezes de um único pai. É que o papel de um pai secundário não se reduz simplesmente àquele de um visitante noturno: ele deve também homenagear sua parceira momentaneamente com frutos de sua caça ou de sua pesca, o que representa um aporte substancial em nutrimentos, reduzindo assim os riscos de aborto. Ele também se engaja a oferecer ajuda e proteção suplementares durante toda a vida da criança, o que faz uma grande diferença nesse povo onde o índice de mortalidade infantil é de 33%. Oferecer um segundo ou um terceiro pai a uma criança é aumentar suas chances de atingir a idade adulta. Como os índios BARI, profissionais em todas as áreas de conheci- mento também constroem explicações/compreensões diferenciadas acerca dos inúmeros fenômenos naturais e sociais, que às vezes se constituem em obstáculos para a compreensão de certos conheci- mentos científicos e avanços tecnológicos. Como podemos lidar com isso enquanto profissionais? PARA SUA REFLEXÃO www.esab.edu.br 28 O obstáculo epistemológico se manifesta tanto na história das ciências exatas quanto nas ciências biológicas e humanas.. Em todos os casos ele cria dificuldades à invenção pelo estudioso de novas teorias e também à apropriação de teorias ou conceitos estudos pela primeira vez. Ele é então um obstáculo ao progresso – progresso da ciência ou progresso de conhecimentos científicos dos cientistas - pesquisadores novos ou experientes. O que se constitui como obstáculo? Bachelard faz o inventário desses obstáculos: a opinião (“prénoções”), a experiência primei- ra, o substancialismo, o animismo etc. Tomemos apenas o caso dos dois primeiros (a opinião e a experiência imediata). Para se constituir, a ciência deve vencer o tecido de crenças mais ou me- nos implícitas que se forjaram a partir da experiência ordinária e que, inevitavelmente, veiculam afetos na medida em que nossas relações cotidianas com os objetos familiares são sempre estabe- lecidas em termos de utilidade, de sensações (agradáveis ou de- sagradáveis) etc. Vejamos um exemplo. Do ponto de vista da opinião o fogo é perigoso porque queima, agradável porque aquece, útil porque cozinha os alimentos etc. Pela opinião, o fogo não é apreendido de maneira científi- ca, ou seja, longe de ser caracterizado em si mesmo objetivamente, ele apa- rece em referência a necessidades, a desejos e a sentimentos humanos; nenhuma questão, nenhum problema são colocados a seu respeito. Segundo Bachelard, por direito a opinião não tem razão, pois ao invés de justificar racionalmente, ela funciona por decreto na medida em que ela é animada pelo desejo de sentir o gosto mais do que de provar racionalmente. A passagem da opinião ou das pré-noções à ciência introduz uma “ruptura epistemológica”: o pensamento passa por uma verdadeira www.esab.edu.br 29 mutação, ele se alarga segundo formas completamente novas. Todo conhecimento científico é o resultado de uma retificação, a qual supõe uma “problematização” de evidências. Mais uma vez consumida esta primeira ruptura, a ciência não se encontra livre de obstáculos epistemológicos, ela encontra obstá- culos internos, pois o pensamento científico pode ele mesmo se fechar em certos hábitos e passar a repetir mecanicamente certas soluções valorizadas (confira o exemplo da noção de procriação dado acima). Ele se torna assim um lugar de uma rotina com a qual é necessário romper de novo. Os hábitos intelectuais e os símbolos in- conscientes são, pois outros obstáculos que devem ser superados pelo espírito científico. Nosso espírito (...) tem uma ir- resistível tendência a considerar como mais clara a ideia que lhe serve mais frequentemente, escreve Bachelard (ibid, p. 14). Em uma configuração “teórica” dada à força de utilizar certos ra- ciocínios ou certas imagens – que eventualmente foram fecundos em seu tempo – eles passam a ser considerados evidentes e alta- mente explicativos, a conferir-lhes um valor todo especial, a se agarrar a eles, e por isso mesmo, a re-invocá-los a qualquer preço, a aplicá-los quase automaticamente aos objetos mais diversos. Chega um momento em que o espírito gosta mais (...) das respos- tas do que das perguntas. Então o crescimento espiritual cessa. Da mesma maneira que o simples hábito, certas ideias ou imagens funcionam como espécie de símbolos coletivos inconscientes, e cativam o espírito de maneira tal que não deixam nenhum espaço www.esab.edu.br 30 possível a um procedimento do tipo científico. Bachelard toma a explosão como exemplo de obstáculo à apropriação pelos alunos de teorias científicas preexistentes da explosão. A explosão, afir- ma Bachelard (p.39), sugere no adolescente a vaga intenção de destruição: ela funciona como um símbolo da “vontade de potên- cia”. A apreensão autenticamente científica, racional, do fenômeno da explosão(por exemplo, a caracterização de reações químicas, pode ser entravada pela força do símbolo associado à explosão). A explosão, porque ela desperta o imaginário e o desejo incons- ciente de dominar o outro, fascina demasiado para poder ser olhada por outro ângulo que não o essencialmente afetivo. Esse estado de coisa é, segundo Bachelard, evi- dente no ensino de ciências naturais. O professor de química que, pelo veio de trabalhos práticos, faz intervir uma explosão, na tentativa de ilustrar a teoria química dos radicais, pode assim constatar que seus alunos são surpreendentemente atentos, quase que fascinados. Só que seu interesse, neste caso, é “impu- ro”, ou seja, não está dirigido para as reações químicas que o professor tenta colocar em evidência através da experiência; ele se dá pelo fato de que a facilidade com a qual a matéria explosiva pode ser obtida ativa os fantasma da superpotência. Os objetos de estudo explorados pelas ciências não são naturais, mas artificialmente criados para fins de conhecimento. E os instru- mentos científicos devem ser considerados não como ferramentas aperfeiçoadas, mas como teorias materializadas, cujo grau de precisão deve ser ajustado ao objetivo da pesquisa. Vê-se a tem- peratura em um termômetro, não se a sente. Sem teoria, não se saberia jamais se o que se vê e se o que se sente correspondem ao mesmo fenômeno (BACHELARD,1940,p.10). www.esab.edu.br 31 2.2. O papel da crítica na construção dos conhecimentos científicos O termo crítica, de origem grega kritikè – arte de julgar – refere-se a essa tendência ou atitude do espírito humano que não admite nenhuma afirmação sem ter antes reconhecido sua legitimidade racional. A exigência crítica é fundamental nas ciências. O papel do espírito crítico, como mostra Bachelard (1996, p.23), é dissolver os obstáculos que se opõem ao trabalho científico, no primeiro dos quais se encontra a experiência primeira. Na formação do espírito científico, escreve ele, o primei- ro obstáculo, é a experiência primeira, é a experiência colocada antes e acima da crítica que ela é necessaria- mente um elemento integrante do espírito científico. Já que a crítica não operou explicitamente, a experiência primeira não pode, em nenhum caso, ser um apoio cer- to. Se tomarmos o exemplo do sistema astronômico de Ptolomeu logo vamos compreender que ele funcionava de acordo com a experiência, ou seja, com a observação dos astros a olho nu. A partir da observação por meio de uma luneta astronômica, os sa- télites de Júpiter e as manchas solares, o espírito crítico concluiu à falsidade do geocentrismo. www.esab.edu.br 32 Uma crítica comum dos estudantes de graduação e pós-gradua- ção brasileira é que suas aulas são demasiado teóricas. Essa crítica pressupõe que a educação deve ser prática, útil com apli- cações diretas para a profissão e o trabalho. Seguindo a mesma lógica, esse módulo sobre a Metodologia da Pesquisa Científica deve ser voltado exclusivamente para a produção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da ESAB. Embora concordemos que o módulo deve contribuir para essa tarefa, acreditamos também que a pós-graduação é um momento importante para irmos além da reprodução do conhecimento em busca dos princípios e processos de construção do conhecimento. Isso propõe a aquisição de noções sobre as ferramentas concei- tuais proporcionadas pela metodologia científica para o planeja- mento e execução de um plano de pesquisa. Requer também a compreensão de uma reflexão crítica sobre a pesquisa científica, seus pressupostos, métodos e procedimentos de coleta de infor- mações sobre os fenômenos e sua realidade. 3.1 Por que estudar Metodologia da Pesquisa Científica? Mesmo assim é possível que você já tenha se pergun- tado algumas vezes: por que tenho que desenvolver um trabalho científico ao final desse curso? Um dos objetivos da educação é desenvolver nas pessoas o senso crítico, estimulando nelas o desejo da descober- ta. Em outras palavras, é preciso formar profissionais que possam www.esab.edu.br 33 procurar respostas para os desafios que lhes são impostos coti- dianamente. O trabalho científico final é também uma mostra da aprendizagem adquirida pelo aluno. A produção coletiva do curso ou instituição é um possível indicador de sua qualidade, muito empregado pelo Ministério de Educação. Além disso, a pesquisa ou a produção científica tem sido um dos índices para medir o grau de desenvolvimento de um país. Infeliz- mente, o Brasil ocupa posição bem distante da ideal. O último re- latório da Organização das Nações Unidas mostra o Brasil no 43º lugar entre 72 países no Índice de Desenvolvimento Tecnológico. O mesmo órgão apontava duas patentes por milhão de habitantes no Brasil, enquanto a Argentina tinha oito e a Coréia do Sul, 799. Isso faz com que o Brasil tenha que fazer altos investimentos no licenciamento de uso de invenções tecnológicas desenvolvidas por outros países. Essa posição não se alterou na década atual. O desenvolvimento tecnológico e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – estão diretamente associados. Segundo Selz (2005): Em países desenvolvidos, quando a tecnologia é altamente desenvolvida, o IDH é alto. Em países em desenvolvimento, o IDH é baixo, e o desenvolvimento tecnológico é baixo. Já em países subdesenvolvidos, o IDH não tem rela- ção com o desenvolvimento tecnológico. A perspectiva para anos vindouros é de grande crescimento tecnológico, mas sem o conheci- mento científico, será geração da grande po- breza e miséria.1 O fato de que a disciplina Metodologia da Pesquisa Científica faz parte dos currículos dos cursos de graduação e de pós-graduação representa um incentivo aos aprendizes a se desenvolverem como profissionais da ciência. A disciplina é requisito curricular básico 1 Seltz, R. Euroscience (Organização governamental para avanço da ciência na Eu- ropa) Desenvolvimento tecnológico e pobreza. Disponível em http://www.universia.com.br /mate- ria/materia.jsp?materia=7835. Acesso em 16 nov 2010. www.esab.edu.br 34 recomendado pelo MEC. No caso dos cursos de pós-graduação da ESAB, a inclusão como um dos primeiros módulos de estudo procura garantir uma atenção maior da natureza científica desse nível da pós-graduação. A preparação de um trabalho científico precisa ser visualizada então como uma oportunidade de pôr em prática seu lado e poten- cial de pesquisador, podendo, assim, contribuir para a construção do saber científico, não apenas para obter uma nota e/ou alcançar um título. 3.2 Por que e para que pesquisar? Podemos concordar que estudos empíricos ou teóricos possam contribuir para o desenvolvimento humano, mas é muito comum que a realização de pesquisas seja para o benefício do próprio pesquisador ou para o prestígio acadêmico de uma instituição. Para Richardson (1999) a pesquisa deve contribuir na direção do desenvolvimento humano com seu objetivo imediato da aquisição do conhecimento: “como ferramenta para adquirir conhecimento, a pesquisa pode ter os seguintes objetivos: resolver problemas específicos, gerar teorias ou avaliar teorias existentes” (p.16). As pesquisas para resolver problemas, geralmente tentam abor- dar problemas práticos. Richardson considera que a maioria des- sas pesquisas não formulam ou testam teorias sendo que o pes- quisador está mais interessado em descobrir a resposta para um problema específico ou descrever melhor um fenômeno (p.17). Wazlawich, em seu livro Metodologia de pesquisa para ciência da computação (2008), critica as pesquisas produzidas nas áreas emergentes da Computação pela falta de comprovação de teorias ou a apresentação de resultados estatisticamente aceitos (p.14). Para este autor estudos de caso e pesquisas exploratórias apre- sentam meras argumentações como principal ferramenta do pes- quisador. www.esab.edu.br 35 Pesquisa nas Ciências Sociais e Humanas, em particular, a pes- quisa social crítica tem como fundamento a procura desolução de problemas práticos. A maioria dessas pesquisas tampouco formu- la ou testa teorias ou hipóteses. Como veremos adiante a definição da finalidade de uma pesquisa científica, tanto nas ciências exatas ou sociais, é parte da responsabilidade do pesquisador. Pesquisadores em todas as áreas de conhecimento lidam com a questão da autonomia do cientista - até que ponto pode determinar a finalidade do trabalho, suas metodologias e a significação dos resultados. SAIBA MAIS Assista o vídeo de uma aula do Professor Wazlawich da Universidade Federal da Santa Catarina, disponível em https://youtu.be/SZDB-zMckno. Nessa aula o professor apresenta considerações sobre Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico. www.esab.edu.br 36 3.4 Autonomia do pesquisador Algumas escolas de pensamento delimitaram estri- tamente os procedimentos científicos (especificação do problema, do método e das técnicas de coleta de dados). Departamentos acadêmicos e institutos de pesquisa porém podem seguir diretrizes mais estrei- tos ou rígidos nas áreas consideradas prioridades nos seus cursos. A seleção de candidatos para muitos programas de pós-graduação depende da filosofia do curso e de seus professores pesquisado- res. Hoje, há mais flexibilidade na organização da pesquisa científica. Em muitos cursos de pós-graduação, especialmente a distancia, como é o caso dos cursos da ESAB, não é requisito estabelecer uma ‘linha’ única de pensamento no Trabalho de Conclusão do Curso ou uma ‘técnica’ única de coleta de dados. Aprendizes na ESAB são estimulados pela administração acadê- mica, pela organização dos módulos, e pelos tutores e orientado- res para escolher um tema para investigação dentro da linha dos conteúdos do curso e a: www.esab.edu.br 37 3.5 Classificação dos trabalhos científicos O produto da Ciência é o conhecimento, o mesmo se constrói pela realização de trabalhos científicos. A produção de trabalhos científicos está concen- trada nos centros acadêmicos do ensino superior na maioria dos países. Também organizações pri- vadas e públicas incorporam departamentos, centros e institutos para o desenvolvimento de tecnologia e a produção de novos co- nhecimentos. Pesquisa governamental em armamentos, biologia, novas tecno- logias, agricultura e comportamento humano etc., envolvam in- vestimentos substanciais em dinheiro e recursos humanos. A produção científico/tecnológica dos complexos petroquímicos, in- dustriais e militares nem sempre recebe a mesma transparência dos novos conhecimentos da academia. Há vários tipos de trabalhos científicos ou de trabalhos de conclu- são de curso que são os requisitos específicos para cada qualifi- cação ou nível acadêmico. Os mais comuns são os textos, artigos, monografias, dissertações, teses ou resenhas críticas. Cada uma dessas produções está associada a um nível educacio- nal, com exceção do artigo científico, também chamado de “paper”, que pode ser produzido por estudantes de vários níveis de ensino ou por pesquisadores independentes, sem vínculos institucionais. Revistas científicas publicadas em várias línguas e áreas mistu- ram produções acadêmicas e tecnológicas. A era eletrônica per- mite a comercialização dessas revistas e seus conteúdos. www.esab.edu.br 38 3.5.1 A monografia //Ao nível da graduação no Brasil o TCC e a monografia são ter- mos usados como sinônimos. TCC é a denominação mais fre- quentemente dada aos trabalhos realizados por alunos que estão concluindo a graduação. Pode ser uma monografia ou não. A monografia também é elaborada como um pré-requisito para a obtenção do título em alguns cursos de pós-graduação “lato sen- su” e de especialização. Já a dissertação e a tese são elaboradas por alunos de mestrado e doutorado, respectivamente. A monografia é então um tipo de Trabalho de Conclusão de Cur- so. É uma produção científica comum em alguns cursos de gra- duação, dependendo da instituição e do colegiado do curso. Alguns cursos “lato sensu” ou de especialização exigem trabalhos escritos mais simples, tipo proposta de intervenção institucional, um pro- duto específico ou apenas o esboço de um projeto de pesquisa. A monografia focaliza um único assunto, uma discussão sucinta, restrita. A discussão é resultado de um referencial de conceitos e teorias e, muitas vezes, envolve a coleta de dados empíricos. A monografia pode ser um levantamento bibliográfico, um ensaio teórico, discursivo, sobre o seu tema. Pode também ser o resulta- do de uma pesquisa de campo com a coleta de dados primários, dependendo do tempo, dos recursos e da intenção do investigador. O formato de apresentação dos trabalhos científicos é estabeleci- do pela Norma NBR 14724, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que apresenta a definição de cada um deles: 1. Monografia: o conceito está ligado à origem etimológica do termo: mónos (um só) e graphein (escrever). Assim, significa que nela o pesquisador aborda um só assunto, ou seja, escreve a respeito de um assunto único. Por isso, a monografia relaciona-se www.esab.edu.br 39 mais à assimilação de conteúdos, servindo como um ponto de partida para a prática em pesquisa. A monografia nem sempre requer uma pesquisa de campo, o desenvolvimento e avaliação de um protótipo de sistema ou programa de computação. 2. Dissertação: estudo no qual o pesquisador reúne, analisa e interpreta informações a respeito de um fenômeno, mostrando domínio de conhecimento a respeito do que já foi dito sobre ele. Definição ABNT NBR 14724: 3.8 Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimita- do em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e inter- pretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de lite- ratura existente sobre o assunto e a capacidade de sistemati- zação do candidato. É feito sob a coordenação de um orienta- dor (doutor), visando a obtenção do título de mestre. 3. Tese: a principal característica deste tipo de trabalho científico é a originalidade na investigação. Por isso mesmo, constitui-se em real contribuição para o conhecimento da Ciência, com relação ao fenômeno estudado. Definição ABNT NBR 14724: 3.27 Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo- -se em real contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar. Às vezes um curso requer um artigo científico como requisito de produção acadêmica. O artigo pode ser conceituado como um estudo realizado de maneira resumida sobre uma questão que se fundamenta em alguma natureza científica. Devido à sua dimen- são, assim como conteúdo, visa a representação de um resultado de estudos efetuados. Formalmente pode ser definido como um relatório escrito e publicado que descreve resultados originais de uma pesquisa. A finalidade primordial de um artigo científico www.esab.edu.br 40 seria trazer a público resultados de pesquisas realizadas ou estu- dos efetuados, sendo estes de cunho exercido na quase totalidade dos cursos de graduação ou pós-graduação.2 O artigo científico desenvolve um discurso distinto de uma mo- nografia convencional, devido a maior concisão e natureza das informações e dos dados tratados. O requisito da ESAB é para a produção de texto científico rotulado artigo científico. A re- visão da literatura e discussão teórica são mais resumidas. A monografia é mais detalhada, mas não é a quantidade de páginas que a difere do artigo. O artigo científico não deve ser qualificado como melhor ou mais significativo do que uma monografia. Em resumo, os mais diferentes tipos de produção científica servem funções diferentes e requerem formatos e esforços diferenciados. É importante reconhecer que toda a produção acadêmicavisa aumentar o conhecimento. Fórum Olá, qual é sua opinião sobre a atual produção científica n Brasil? É apenas a falta de recursos para pesquisa básica e aplicada que é responsável pelo baixo índice de produção científica e o péssimo desempenho nacional no desenvolvimento humano? E as universidades? Cumprem seu papel com suas políticas de pesquisa e seus cursos de pós-graduação? Abra uma discussão no Fórum 1 sobre esses questionamentos. 2 Monografia – AC. Disponível em http://www.monografiaac.com.br/artigocientifico. html. Acesso em 16 nov 2010. www.esab.edu.br 41 Textos da metodologia de pesquisa utilizam muitos conceitos de formas confusas para os leitores. As preferências por definições distintas deixam pesquisadores com o dilema de escolher entre uma variedade de termos e abordagens diferentes. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o Fórum Nacional de Normalização. A normatização da ABNT “especifica os princípios gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos (teses, disser- tações e outros), visando sua apresentação à instituição (banca, comissão examinadora de professores, especialistas designados e/ou outros)” (NORMA BRASILEIRA ABNT NBR 14732, p. iv, 2006). Essa normatização auxilia muito na padronização do ensino da formatação da produção científica embora pouco regula a conceituação básica das metodologias abordadas pelos pesquisadores. O nosso módulo zela pela simplificação dos conceitos, métodos e definições essenciais para compreender o planejamento e condução da investigação científica, usando sempre quando possível as normas da ABNT. 4.1 A necessidade para uma visão sistêmica Ao risco de complicar mais ainda a natureza complexa da investigação científica, sugerimos um quadro sistêmico de alguns vínculos filosófico- -metodológicos para compreender o processo da aquisição do conheci- mento científico. O quadro seguinte reuni uma cadeia lógica que guia a Metodologia Científica. A primeira coluna do Quadro 4.1 especifica os níveis distintos do proces- so da produção. A coluna seguinte destaca a significação de cada nível diferenciando seu papel no processo. Coluna 3 sugere a inter-relação www.esab.edu.br 42 entre os níveis à luz da especificidade de cada instância. O conceito de paradigma ilustra essa inter-relação. Três aspectos do paradigma são considerados importantes: O aspecto ontológico diz respeito à natureza da realidade; o epistemológico trata da natureza do conhecimento e da relação entre o investi- gador e o objeto da investigação, e a metodo- logia diz respeito ao modo pelo qual o pesqui- sador obtém conhecimento. Assim, o paradigma seria o caminho lógico que guia os demais níveis rumo ao conhecimento científico (GUBA e LIN- COLN, 1994, p. 18). www.esab.edu.br 43 INSTÂNCIAS/ NÍVEL SIGNIFICAÇÃO INTER-RELAÇÃO Ontologia Se ocupa da natureza do ser, da realidade onde se movem os entes. Pressu- põe uma natureza exter- na, habitada por entes, seres, coisas, minerais, vegetais, animais, pes- soas, fatos, fenômenos (p. 16). A ontologia tenta desvelar a essência do ser (p. 17). Nos pesquisadores fazemos parte da natureza - o real externo só é aces- sível através de re- presentações (p.16). Ontologias espe- ciais são as ciên- cias que recortam a realidade e esco- lham os entes para compor o objeto de estudo (p. 16). Epistemologia Na prática, procura co- nhecer o modo mais efi- ciente de controlar o real, tratando do conhecimen- to e/ou os métodos em prol da utilidade (p. 17). Precisa ser flexível, flutuando de acordo com o foco do obje- to de estudo (p.17). Se envolve pesqui- sa, necessita de metodologia, méto- dos, caminhos, passos, meios (p. 18). Paradigma Paradigma significa mo- delo do mundo; conjunto de teorias explicativas dos fenômenos que pas- sa nortear atividades das pessoas determinando as questões importantes da comunidade científica (p.18). Guia os demais ní- veis rumo ao co- nhecimento científi- co (p. 18). Metodologia Não é suficiente para êxito, mas imprescindível para dar uma direção. Depende dos ou- tros níveis para es- colher métodos e rotas a seguir. Quadro 4.1 - Uma visão sistêmica do processo de produção científica www.esab.edu.br 44 Fonte: Adaptação do texto de Prado, F. L. Metodologia de Proje- tos (2011). Em resumo, os conceitos examinados não são separáveis man- tendo entre si “fortes vínculos filosófico-metodológicos, todos convergindo para a aquisição do conhecimento científico” (PRA- DO, 2011, p. 18). 4.1 Metodologia, métodos e técnicas Cada um desses termos tem procedimentos metodológicos próprios. Método é o mesmo que metodologia? Não! Metodologia “engloba”, inclui o método, os procedimentos e as técnicas. Enquanto método é o caminho percorrido pelo pesquisador - como pretende abordar o fenô- meno a ser estudado - com o intuito de alcançar os objetivos do estudo - metodologia é o conjunto das abordagens, procedimentos e técnicas utilizados pela ciência para formular e resolver problemas. PARA SUA REFLEXÃO PARADIGMA -----> ONTOLOGIA (CIÊNCIA) -----> EPISTEMOLOGIA -----> METODOLOGIA -----> PESQUISA ----->CONHECIMENTO O esquema acima ajuda você pensar de forma diferente sobre pesquisa cientí- fica e a produção do conhecimento? Você se sente preparado(a) para continuar avançando nas próximas unidades ou precisa um tempo de maior leitura sobre os conceitos apresentados? Torna-se pesquisador quem começa a investigar suas próprias dúvidas. Estudar a distância é oportunidade de praticar autonomia, buscando respostas em fon- tes alternativas e com recursos disponíveis na INTERNET. Também nos módu- los da ESAB, há um tutor para trocar ideias e levantar dúvidas sobre os conteúdos, mas primeiro, experimenta sua autonomia! www.esab.edu.br 45 Chauí define método como “uma investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixo.” 1 Laville e Dionne (1999) apresentam três definições importantes para compreender melhor a terminologia. Metodologia: Estudo dos princípios e dos métodos de pes- quisa (p. 335); Método: Conjunto dos princípios e dos procedimentos apli- cados pela mente para construir, de modo ordenado e segu- ro, saberes válidos (ibid); Técnica de pesquisa: Procedimento empregado para reco- lher dados de pesquisa ou para analisá-los. Tem técnicas de coleta, bem como técnicas para análise de informações co- letadas (ibid). Portanto, a entrevista, o questionário, a análise de conteúdo, a história de vida e a história oral são procedimentos técnicos. Não são métodos. Como essa diferenciação gera confusão, mesmo para autores de textos sobre pesquisa, é interessante notar a opinião de Pedro Demo (1981, p. 7): Metodologia significa, etimologicamente, o es- tudo dos caminhos, dos instrumentos usados para fazer a ciência. É uma disciplina instru- mental, a serviço da pesquisa. Esse cientista entende que pesquisa é: [...] a construção de conhecimento original, de 1 CHAUÍ, M. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasilense, 1994, p. 354. www.esab.edu.br 46 acordo com certas exigências científicas. Não precisa ser também empírica, embora normal- mente se suponha esta como a mais comum e importante.... Metodologia será, então, defini- da como o estudo dos instrumentos de monta- gem de uma teoria, o estudo dos arcabouços teóricos. Atribuímos à Metodologia um interesse tendencialmente voltado à teoria, ou à parte teórica da produção científica, deixando a ques- tão empírica para outra disciplina, muitas vezes chamada de Métodos e Técnicas, dedicada às técnicas de coleta (dados) e mensuração (va- riáveis) (DEMO, 1981, p. 7-8). Como o pesquisador define os métodos que vai utilizar no estudo que se propõe a realizar? Essa escolha deve depender, principal- mente, do fenômeno que será investigado e não do método prefe- rido ou mais conhecido do pesquisadorou do seu orientador. O método científico deve ser seguido em estudos em qualquer âmbito, mas os procedimentos por ele utilizados devem ser com- patíveis com o objeto de estudo. Seria complicado medir o com- portamento humano da mesma maneira que se mede o compor- tamento da matéria em estudos físicos. Isso porque os fenômenos sociais envolvem pessoas e os seres humanos estão em constan- te mudança, pois são dotadas de consciência e de subjetividade. Assim, nem sempre é possível submeter o comportamento huma- no a situações de experiência e controle, por exemplo. No entanto, apesar da diferença nada básica entre pessoas e plantas ou pessoas e trovões, até poucas décadas atrás, as Ciên- cias Sociais usavam métodos com os mesmos procedimentos do método científico concebido por Descartes, ou seja, seguindo os rigores da Matemática. www.esab.edu.br 47 Quando perceberam a inadequação, os cientistas enxergaram a necessidade de estudar os fenômenos sociais com métodos cujos procedimentos fossem mais adequados a esse tipo de análise. No caso das Ciências Humanas, as principais abordagens consti- tuem-se em “quadros de referência, subordinando outras teorias e sugerindo normas de procedimentos científicos”, chegando, se- gundo Gil (1999), a serem designadas como métodos (p. 36). Os principais referenciais citados por Gil são funcionalismo, estrutu- ralismo, materialismo histórico e etnometodologia. Podemos também rotular esses referenciais como perspectivas ou abordagens. Ao mesmo tempo em que são importantes para diferenciar entre as posturas e correntes de pensamento, não é essencial construir os nossos projetos de pesquisa unicamente em função delas. 4.1.1 Metodologia É importante ficar claro que a metodologia da pesquisa científica estuda os métodos e as técnicas de pesquisa. Muitos autores nos confundem atribuindo o significado da palavra metodologia à palavra método. A metodologia é entendida como disciplina que se relaciona com a epistemologia ou a filosofia da ciência. Seu objetivo consiste em analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização. Em nível mais aplicado a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pesquisa e com a geração ou a experimentação de novos mé- todos que remetem aos modos efetivos de captar e processar in- formações e resolver diversas categorias de problemas técnicos e práticas da investigação. www.esab.edu.br 48 Além de ser uma disciplina que estuda os métodos, a metodologia é também considerada como modo de conduzir a pesquisa. Neste sentido, a metodologia pode ser vista como conhecimento geral e habilidade que são necessários ao pesquisador para se orientar no processo de investigação, tomar decisões oportunas, selecio- nar conceitos, hipóteses, técnicas e dados adequados. 0 estudo da metodologia auxilia o pesquisador na aquisição desta capaci- dade. Associado à pratica da pesquisa, o estudo da metodologia exerce uma importante função de ordem pedagógica, isto é, a formação do estado de espírito e dos hábitos correspondentes ao ideal da pesquisa científica (THIOLLENT, 1988, p. 25). 4.1.2 O método Um método pode ser definido como uma série de regras para tentar resolver um problema (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZ- NAJDER, 1998, p. 3). O método é uma abordagem repleta de pressupostos sobre o mundo e o fenômeno a ser estudado. O método científico nem sempre é definido da mesma forma pelos cientistas diferentes, independente de sua área de conhecimento ou suas ideologias. Estudar métodos de pesquisa demanda mais tempo do que muitos aprendizes gostariam de desperdiçar. Há vários métodos científicos: indutivo, dedutivo, experimental, fenomenológico, entre outros. De acordo com Gil (1999), os méto- dos proporcionam as bases lógicas da investigação científica. Os diversos métodos são vinculados às correntes filosóficas “que se propõem a explicar como se processa o conhecimento da realida- de” (p. 27). Neste módulo introdutório, não é possível uma revisão de todas as correntes filosóficas (os métodos), mas espera oferecer uma visão que facilita a sua compreensão. Em cursos de pós-gradua- ção mais extensos, como os de mestrado, as correntes são www.esab.edu.br 49 normalmente apresentadas em disciplinas específicas sobre me- todologia científica, que abordam a filosofia e a epistemologia do trabalho científico2. A seguir, encontram-se algumas definições básicas das principais correntes em textos didáticos sobre métodos: • Indutivo: ... um processo pelo qual, partindo de dados ou observações constatadas, podemos chegar a proposições ge- rais... Fundamentam-se em premissas (fatos observados), que servem de base para um raciocínio. O método indutivo parte de premissas dos fatos observados para chegar a uma conclusão que contenha informações sobre fatos ou situações não observa- das (RICHARDSON, 1999, p. 35-36). • Dedutivo: Popper criticou o método indutivo afirmando que só o método dedutivo poderia testar uma teoria. Argumentou que a inferência universal, a partir de “singulares”, por mais frequente que fosse o número de observações, não comprovaria sua refuta- bilidade empírica.3 Para Laville e Dione, a dedução é a “forma de raciocínio que parte de uma proposição geral para verificar seu valor por meio de dados particulares. Em pesquisa, essa proposi- ção é, em geral, uma hipótese, e fala-se então em raciocínio hipo- tético-dedutivo” (1999, p. 332). • Experimental: É importante dizer que, tanto o método indu- tivo quanto o dedutivo segue esse método - um procedimento central de pesquisa, com dados criados, pelo qual o pesquisador atua sobre um ou vários fatores ou variáveis da situação em estu- do com o objetivo de observar e, eventualmente, medir as mudan- ças que daí resultam (1999, p. 334). (Ver CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1998, para 2 Para uma discussão da epistemologia do trabalho científico, veja o Capítulo 3 de Richardson (1999) onde apresenta as prinicipais correntes das Ciências Sociais: o positivismo lógico, o estruturalismo e o materialismo dialético. 3 Popper, K. A lógica da investigação científica. São Paulo: Abril, 1980. (Os Pensadores). p. 5. www.esab.edu.br 50 um detalhamento do método experimental com excelente biblio- grafia.). • Fenomenológico: Esse método enfoca o fenômeno enten- dido em suas diferentes formas de manifestação. O fenômeno é examinado em sua totalidade, de maneira direta, sem a interven- ção de conceitos prévios que o definam e sem basear-se em um quadro teórico prévio que enquadre as explicações sobre o visto. O pesquisador fenomenológico dirige-se para o fenômeno da ex- periência; para o dado; e procurando vê-lo da forma em que é percebido. O sujeito e o objeto não são separados, pois são onto- logicamente unidos, uma vez que o ser é sempre ser-no-mundo. Entendemos que quem pretende desenvolver um projeto de pes- quisa e um texto terá que buscar muitos subsídios para essa tare- fa. Essa preparação envolve leitura tanto sobre o tema a ser in- vestigado, quanto sobre o método de pesquisa a ser utilizado. Para uma leitura mais aprofundada em métodos de pesquisa, consulte as referências que se encontram junto a esse módulo. Se as definições das correntes acima não são claras para você, explore maiores informações sobre cada método na INTERNET, usando como palavras chave “método indutivo“, “método deduti- vo“, “fenomenologia“, “método experimental“, “método dialético” etc. 4.1.3 Técnicas e instrumentos As pesquisas, quantitativas e qualitativas, modernas usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados. Há para cada procedimento vantagens e desvantagens. Todas as técnicas podem ser complementadas por outras. “As pesquisas qualitativas são caracteristicamente multimetodológi- cas...” (ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F.,1998, p. 163). Isso não quer dizer que um estudo quantitativo não pode www.esab.edu.br 51 usar mais do que uma forma de coletar os seus dados nem que há diferenças substanciais nos procedimentos utilizados. As técnicas mais utilizadas são: observações, entrevista, análise documental, questionário etc. Alguns procedimentos de coleta de dados exigem um domínio de abordagens complexas, como por exemplo, o “estudo de caso”. Vários autores classificam o estudo de caso como método de pesquisa, pois o mesmo requer pressu- postos teóricos e metodológicos. ESTUDO COMPLEMENTAR Você pode ler mais sobre metodologia, método, correntes filosóficas, paradigmas da ciência e a tecnologia na IN- TERNET. Sabemos que os conceitos nem sempre são utilizados da mesma forma por todos os autores. Lembra que a metodologia científica e a metodologia de uma pes- quisa INCLUI, ABRANGE o método, as técnicas e os pro- cedimentos de um estudo. www.esab.edu.br 52 O desenvolvimento recente das ciências tem dado a conhecer e a compreender o que significa o ser humano. Morin (1999) faz um balanço desses conhecimentos no âmbito de várias disciplinas, o qual nos parece interessante retomar aqui em guisa de introdução da presente unidade: [...] a cosmologia contemporânea, que ressus- citou e renovou o conhecimento do mundo permite conhecer nosso minúsculo lugar no terceiro planeta de um sol do subúrbio de uma galáxia periférica de um gigantesco universo, e ao mesmo tempo nos permite saber que cada um de nós tem em si as partículas que se for- maram desde o nascimento do universo, os átomos que forjaram os sois anteriores ao nos- so, as moléculas que se compuseram sobre a Terra antes de qualquer vida. As ciências da Terra permitem nos inscrever em nosso planeta e no seio da biosfera. As ciências biológicas permitem nos situar na evolução da vida. A nova pré-história nos mostra doravante a longa mar- cha da hominização1 que faz emergir a lingua- gem humana e a cultura sem que cessemos de ser animais que se tornam humanos (p.11). www.esab.edu.br 53 Como as ciências chegaram a esses conhecimentos fabulosos sobre nós mesmos e sobre o universo? Pensamos que uma das vias foi o desenvolvimento de certas capacidades cognitivas e linguísticas que por nossa conta trataremos no âmbito da descri- ção, da explicação e da argumentação. Nesta unidade gostaríamos de insistir que a prática da pesquisa científica não pode ser dissociada da capacidade mais geral de leitura e de escrita, e em particular da capacidade de fazer ver (através da descrição), fazer compreender (através da explica- ção) e fazer aceitar novos pontos de vista sobre fenômenos diversos (através da argumentação). Tendo em vista que o sistema educacional brasileiro nem sempre desenvolve essas capacida- des nos alunos é que apresentamos o estudo detalhado desses três modos de construção do discurso, enfatizando sua organiza- ção interna e as unidades linguísticas que os tornam possíveis. Assim é que desafiamos você nes- sa unidade a aprender como se caracteriza, de um ponto de vista estrutural e funcional, a descrição, a explicação e a argumentação. Tal aprendizagem pode fazer você compreender mais e melhor certos textos teóricos utilizados no mun- do acadêmico assim como a produzir com mais eficácia seus tra- balhos, seja no espaço universitário, seja na esfera profissional. 5.1. A descrição Descrever é tomado do latim describere (traçar, desenhar, expor) e descrição provém do latim descriptio: reprodução, cópia, desenho, pintura, delimitação. Portanto etimologicamente descrever significa dizer o que se mostra; ou seja, restituir fielmente, www.esab.edu.br 54 sem desnaturar, os fenômenos observados. A descrição tem, pois a finalidade de FAZER VER de uma certa maneira, de construir uma imagem de um objeto, de um ser, de uma situação ou de um fenômeno de maneira que o leitor/ouvinte tenha a impressão de poder se representar, conhecer ou reconhecer o objeto descrito. Observe, no entanto, que na vida cotidiana, a palavra VER é utilizada sempre para designar um contato imediato com o mundo que não necessita nenhuma preparação, nenhum treino, nenhuma escolarização. Na linguagem de todos os dias, ver significa simplesmente receber imagens. Na construção do conhecimento científico o termo ver significa muito mais que isso, significa olhar o visível (aparente) e o invisível (essência), ou seja, indicar como os eventos se encadeiam efetivamente uns aos outros ou ainda propor uma compreensão acerca da natureza dos elos que entrelaçam os fenômenos. A maneira de FAZER VER pode ser mais ou menos neutra, mais ou menos subjetiva, mais ou menos positiva ou negativa etc., segundo o lugar social a partir do qual o produtor do texto se encontra, segundo o interlocutor, ou a finalidade do texto/ sequência. Como todo modo de representação2, trata-se de uma escolha dentre outras possíveis, da construção de um ponto de vista sobre o objeto descrito e de finalidades estruturando sua colocação em cena: a escolha do objeto, a seleção de suas partes, sua designação. Assim, a descrição do estado de uma vítima em um processo participa da busca de emoções nos jurados, suscetíveis de levá-los ao veredito visado; a descrição de crianças 2 Representação (derivado do latim repraesentatio, ação de colocar sob os olhos). www.esab.edu.br 55 sofrendo de desnutrição ou de espancamentos serve para suscitar a empatia ou a piedade para obter doações. Contrariamente à descrição literária que pode sugerir mais do que designar, utilizar os caminhos oblíquos da metáfora, engajar o leitor nas vias do implícito e do alusivo, as descrições presentes nos textos científicos buscam suspender as emoções, assinalando a intenção de obter um conhecimento isento de carga valorativa ou de tomada de posição. No caso, por exemplo, da física, descrever significa enunciar as leis do encadeamento de fenômenos (exemplo: o volume de um gás diminui quando sua pressão aumenta). No caso da pesquisa etnográfica, descrever significa, sobretudo estabelecer relações. A este respeito Laplatine (1996) sustenta que o objeto construído pela descrição é dotado de uma importância estratégica: Ora a escrita descritiva, em particular na pesqui- sa etnográfica, não consiste a “comunicar infor- mações” já detidas por outros, a expressar um conteúdo já lá e já dito, mas a fazer advir o que ainda não foi dito, em resumo a fazer surgir o inédito (p. 35). PARA SUA REFLEXÃO Especialmente nessa Unidade 5 apresentamos alguns exemplos de textos que são explicados no texto. Consultecada texto se tiver interesse em aprofundar seu conhecimento da estrutura e da função de cada tipo de texto. E quem sabe se essa leitura não ajuda você a continuar desenvolvendo sua capacidade para se expressar por escrito! Veja Texto 01. www.esab.edu.br 56 Certas atividades bem como certas disciplinas são principalmente ou quase exclusivamente descritivas: descrever o sistema gráfico de uma língua, a composição de uma população, a vegetação de um país; a astronomia, a anatomia, a botânica, a zoologia etc. Laplatine (1996) mostra que a primeira forma de observação e de descrição científica foi a observação e a descrição da natureza. Renunciando conhecer pelo ouvir dizer, as ciên- cias naturais (...) abrem o espaço de um saber quase exclusivamente visual. (...) Estamos na presença de uma forma de conhecimento que encontra seu impulso em uma curiosidade pela extrema diversidade e incrível particularidade de espécies que vão ser distinguidas e aproximadas a partir de suas superfícies visíveis. Essas es- pécies (...) se impõem ao olhar decompondo-se em grupos, em gêneros e em famílias: os répteis, os peixes, os pássaros e os mamíferos para os animais, as gramíneas, as compostas, as legu- minosas para as plantas, formadas elas próprias em cinco partes: as raízes, os galhos, as folhas, as flores, os frutos que formam séries descritas por sua vez elementopor elemento. Nessas condições, nenhuma folha, nenhum tronco, nen- hum galho, nenhuma pena de pássaro pode se confundir com a de uma espécie diferente (p. 67). PARA SUA REFLEXÃO Veja Texto 02 para um exemplo de texto de descrição no âmbito das ciências naturais À pergunta “o quê a descrição faz ver?” podemos imediatamente responder que ela faz ver um objeto visível ou, em alguns casos, www.esab.edu.br 57 ela torna presente o que fisicamente se encontra ausente (sobretudo em certas disciplinas como a história ou a geografia). Assim, a operação de descrição constitui uma etapa indispensável de toda pesquisa: antes de explicar um fenômeno, de construir uma teoria a seu respeito, é necessário saber o que ele é. Não há descrição em si mesma, na medida em que ela dependerá sempre ao mesmo tempo dos objetivos visados, da idéia que se faz do que é pertinente para atingi-los, e das categorias de que se dispõe. É necessário então ter pressupostos para escolher o que se observará, o que será retido, o que será confrontado, e como serão classificados os aspectos de um fenômeno, de um acontecimento ou de uma situação dada. Fazer ver como? O produtor de um texto ou de uma sequência descritiva deve trazer para o plano da linguagem o que ele vê ou observa, ou seja, a descrição consiste em construir, com as palavras, com nomes e estabelecer uma série de relações entre o que é olhado e aquele que olha, o ouvido que escuta, a boca que pronuncia uma palavra de uma série de nomes e a mão que em seguida escreve. O domínio da linguagem é essencial nesse processo! Em guisa de conclusão de nosso estudo sobre a descrição gostaríamos de apresentar algumas razões que justificam a aprendizagem da descrição, enquanto estratégia discursiva indispensável para a produção de trabalhos acadêmicos. Em um trabalho científico, a descrição pode assegurar uma função informativa ou explicativa (construção do saber), na medida em que ela dá forma aos objetos do discurso, constrói o universo, ela objetiva os objetos de www.esab.edu.br 58 referência, ela facilita a compreensão e torna credível o discurso. No entanto, é importante lembrar que em muitos casos, a simples descrição pode não ser suficiente, se ela não vem acompanhada de um trabalho de estabelecimento de relações. Nas ciências sócias e humanas, a descrição pertinente não pode se contentar em coletar e enunciar os termos de uma observação, ela deve consistir em uma atividade de transformação do visível, fazer ver as conexões. PARA SUA REFLEXÃO Veja Texto 03 para um exemplo de uma descrição no âmbito de uma pesquisa antropológica 5.2. Explicação O termo explicação é originário do latim explicatio que significa desenvolvimento destinado a fazer compreender alguma coisa. Em sua utilização atual trata-se de um termo vago e ao mesmo tempo extremamente polissêmico. Grize (1997, p. 104-105) reper- toria seis possibilidades de sua significação: comunicar Eu vou explicar minha ideia; desenvolver Explique esta máxima de La Rochefoucauld; ensinar Ele me explicou as regras do jogo; interpretar Esse livro explica muito bem a obra de Kafka; motivar Explique-me seu abandono; dar conta O mau tempo explica o atraso do ônibus. www.esab.edu.br 59 É justamente esta relação causal formulada em termos de por que (pergunta) que suscita um porque (resposta) que é tomada pela ciência. Em outras palavras, de um ponto de vista episte- mológico, explicar é responder à questão “por que as cadeias de acontecimentos se apresentam como tais?”, ou seja, é procurar as causas que as produziram. Explicar o aparecimento de um fenômeno é conseguir para um exemplo de uma descrição no âmbito de uma pesquisa antropológica linguisticamente seu desenvolvimento, fazendo aparecer o mecanismo teórico que o rege. Tomemos o exemplo da física. Explicar consiste buscar as causas subjacentes às regularidades observadas nos fenômenos. Exemplo: a pressão de um gás aumenta quando seu volume diminui, porque o gás é constituído de minúsculas partículas observáveis em movimento que, de repente reunidas em um espaço mais reduzido, entram mais freqüentemente em colisão entre elas e com as paredes do espaço que as contêm. Em Mugrabi (2001) encontramos a configuração de uma seqüência explicativa em três fases: fase de problematização, a qual assegura a articulação do texto à situação de comunicação; ela consiste na exposição de um problema ou na apresentação de um fenômeno, e pode se realizar segundo três variações possíveis: a) constatação e questão; b) histórico e questão; c) concepção inadequada e questão. fase explicativa, a qual resolve o problema, propondo uma explicação, isto é, uma representação geral do fenômeno constatado, válida em qualquer circunstância. Esta fase pode ser composta por diferentes partes: a) exposição do desenrolar cronológico do fenômeno, explicitando as diversas etapas; b) exposição de uma interpretação globalizante do fenômeno, incluindo afirmação geral, www.esab.edu.br 60 definição, apresentação de causas, modos de desenvolvimento do fenômeno, diversos casos possíveis de realização, exemplos. fase conclusiva, a qual é constituída seja de um comentário avaliativo da explicação, seja de considerações outras. Na fase de problematização há sempre um PORQUÊ, seja explícito ou implícito. Em um relatório de pesquisa tal fase aparece geralmente no momento da construção da problemática e da construção do referencial teórico. Ela consiste na exposição de um problema e pode se realizar segundo três variações possíveis: constatação e questão; histórico e questão; concepção inadequada e questão. No caso da constatação, o/a pesquisador/a expõe a existência de um fenômeno e coloca uma ou várias questões em relação com sua origem, as causas, as razões de seu funcionamento subjacente. No caso do histórico, o/a pesquisador/a pode tomar um fenômeno/acontecimento particular (um incidente, um aciden- te, sua própria história de vida etc.) que funciona como suscitador de uma interrogação. Nesse momento, o texto pode começar com uma data e ser construído com verbos no passado. No caso da concepção inadequada, o/a pesquisador, apresenta uma concepção ou representação inadequada do problema que deseja estudar, colocando em evidência que se trata de uma visão já ultrapassada (tradicional, antiga) incompleta ou incompatível com a realidade dos fatos. A partir daí sua questão de investigação é colocada. www.esab.edu.br 61 Quanto à questão, essa primeira fase de problematização em geral termina pela formulação de uma das três questões seguintes: - Por que? Qual é a causa? - Como? Como isso acontece? Como isso funciona? - Isso é possível? (específica à concepção inadequada). Em um relatório de pesquisa ou em um artigo que divulga os re- sultados de uma pesquisa, a fase explicativa geralmente aparece durante a apresentação dos resultados de análise e de interpreta- ção dos dados, momento em que o/a pesquisador/a propõe uma explicação, isto é, uma representação geral do fenômeno consta- tado. Esta fase pode ser composta por diferentes partes, cuja descrição retomamos de Mugrabi (2001): Se a questão é do tipo COMO, a fase explicativa expõe o desenrolar cronológico do fenômeno, explicitando as diversas etapas. A apresentação de cada uma das etapas do fenômeno corresponde a sub-partes da fase explicativa (mecanismo de um aparelho, etapas de formação de um animal ou de um vegetal, processos físico-químicos). Se a questão é do tipo POR QUE, a fase explicativa expõe uma interpretação global do fenômeno, incluindo afirmação geral, definição, apresentação de causas, modos de desenvolvimento do fenômeno, diversos casos possíveis de realização, exemplos. Esses diversos componentes se encadeiam aproximadamente na ordem descrita abaixo: a fase explicativa começa geralmente por um enunciado colocando uma afirmação geral; a definição da concepção geraldo fenômeno cujo elemento constatado na fase de problematização representa apenas um caso particular. Dessa maneira, www.esab.edu.br 62 são apresentadas definições (condensação, fermentação, magnetismo, gravitação, flutuação, migração, ciclo da água, evasão escolar etc.); a apresentação das causas do fenômeno aparece em geral no início da fase explicativa, depois da afirmação geral; a apresentação de diversas etapas constitutivas do desenrolar do fenômeno são expostas de acordo com sua ordem de sucessão. Assim, por exemplo, as três etapas do ciclo da água são explicitadas: evaporação, condensação, precipitações; a apresentação de diversos casos possíveis consiste na evocação de algumas realizações possíveis do fenômeno; os exemplos constituem ilustrações precisas do fenômeno geral explicado. Como não podia deixar de ser, a fase conclusiva da sequência explicativa aparece na parte final do projeto/relatório/artigo de pesquisa. Ela é constituída de comentários avaliativos da explicação ou de considerações diversas. PARA SUA REFLEXÃO Texto 04 é um exemplo de um texto de sequência explicativa sobre a origem da vida. A concepção da explicação largamente aceita, sobretudo nas ciências da natureza, consiste em mostrar que se pode deduzir o fenômeno a explicar de leis gerais que o regem e de condições particulares nos quais ele aparece, condições que dão os valores de parâmetros dessas leis. Assim considera-se que um fenômeno foi explicado quando se mostrou que ele pode ser deduzido de uma ou de várias leis gerais e de condições particulares nas quais essas leis agiram. Em outras palavras, quando ele pode ser www.esab.edu.br 63 deduzido da composição de dois conjuntos de dados: primeira- mente, as leis gerais que regem o fenômeno a explicar, em segun- do lugar, as condições particulares nas quais o fenômeno aparece. Esta mesma concepção dedutiva da explicação pode ser transposta para as ciências sociais/humanas? Como conceber a explicação de fenômenos humanos e sociais? Para explicar certos fenômenos as ciências sociais podem adotar dois tipos de procedimentos científicos. O primeiro, ao qual já nos referimos acima, corresponde à imagem usual da ciência – hipotético-dedutivo - , parte de teorias ou de leis gerais, das quais tira previsões que são confrontadas com a experiência; ou então parte de uma hipótese mais restrita, mais local e busca verificá-la empiricamente. O segundo procedimento, parte do que é, do que se observa, e se interroga sobre os seus determinantes: trata-se de partir do fato para se chegar às causas. PARA SUA REFLEXÃO Observe a explicação construída por Vygotsky acerca do desenvolvimento da linguagem oral na criança. Veja o Texto 05 www.esab.edu.br 64 Não só nas ciências sociais como também na microfísica e em tantas outras disciplinas, as noções de totalidade, de complexidade e de acaso vão dar à explicação causal um aspecto particular. Ao invés de procurar um fato gerador buscam-se fatores interdependentes. Isso porque quando se trata de um mundo complexo no qual a intervenção dos seres vivos torna a repetição imprevisível, quanto mais o intervalo entre causa e efeito for acentuado, mais as noções de e de lei serão difíceis de conceber e de explicar. 5.3. Argumentação O termo argumentar é de origem latina argumentari, significando apresentar argumentos, provar por argumentos; já o termo argumento, também proveniente do latim argumentum, significa raciocínio destinado a provar ou a refutar uma proposição, ou prova em apoio a uma proposição. Nessa acepção corrente argumentar remete à idéia de justificar, explicar, apoiar. É possível também conceber a argumentação como um procedimento visando a intervir sobre a opinião, a atitude, o comportamento de alguém. A argumentação marca geralmente uma posição frente a um tema controvertido, o que exige do locutor expor uma opinião, defendê- la e convencer um ou vários interlocutores, apresentando argumentos e contra-argumentos. Tomada sob o ângulo do destinatário, a argumentação busca reduzir um desacordo ou produzir uma mudança no comportamento ou na opinião deste ultimo. Para convencer o destinatário sobre a pertinência de um ponto de vista, a pessoa que assume o papel de argumentador www.esab.edu.br 65 necessita apresentar razões que o justifiquem. Nesse sentido, um argumento é algo que pode ajudar a apoiar ou a refutar uma opinião com vistas a fazer aceitar uma conclusão. A ciência, como um campo privilegiado de produção de saberes, é um sistema de posições e de agentes, estruturado por relações de solidariedade e por relações de força, e regido por interesses sócio-ideológicos diversos que estão em permanente disputa entre si. Esse sistema organiza a produção de bens cognitivos em esferas de produção, que podem ser de tamanho e de importância diversas. Esses bens são consequentemente caracterizados por um valor simbólico que é geralmente tanto mais forte quanto a esfera de produção é restrita e que pode entrar em contradição com os valores dominantes da sociedade em seu conjunto. Esse valor simbólico é designado e construído pelos discursos por meio de avaliações sociais cujos critérios se modificam historicamente em função da evolução do contexto e dos desafios dos campos de produção. Assim, em função do contexto sócio- histórico um saber pode ser confirmado em sua legitimidade ou então desvalorizado, e talvez mesmo, mais tarde, revalorizado. Nesse sentido, ao propor sua explicação ou compreensão de um determinado fenômeno, o/a pesquisador deve argumentar, apresentar contra-argumentos, fazer concessões, justificar suas tomadas de posição tanto em nível epistemológico quanto em nível metodológico. Tendo em vista, pois que a ciência é uma arena de combate permanente de ideias, a argumentação desempenha um papel de extremada importância. Produzir um relatório ou um artigo de www.esab.edu.br 66 pesquisa implica dominar a situação de produção da argumentação, ou seja, argumentar implica dialogar com o pensamento do outro. Assim, o/a pesquisador/a que deseja verdadeiramente atingir seus objetivos, deve estudar, antecipar e levar em conta as respostas possíveis, ou a posição geral da comunidade científica com a qual ele/ela se confronta. Para os/as pesquisadores/as iniciantes isso nem sempre é fácil fazer, sobretudo porque a situação de produção escrita exclui a presença física dos interlocutores. Assim ele/ela terá que gerir sozinho/a o discurso, sendo, portanto, absolutamente necessário: - antecipar globalmente a posição do(s) destinatário(s); - justificar e apoiar o próprio ponto de vista com um conjunto de argumentos; - refutar eventuais argumentos contrários; - planejar a sucessão de argumentos e sua articulação. Não existe um modo único para organizar o conteúdo argumentativo que se quer expressar. Nos trabalhos científicos, a argumentação aparece diluída ao longo do texto, podendo também aparecer localmente sob a forma de uma sequência, dividida em três partes: 1. uma introdução na qual se indica o problema ou a questão controvertida sobre o/a autor/a vai tratar; 2. um conjunto de argumentos e/ou contra-argumentos que justificam a conclusão do autor; os quais são colocados na ordem que parece a mais eficaz para ser convincentes; (argumentos considerados fracos - argumentos considerados fortes; argumentos fortes – argumentos fracos – argumentos fortes); 3. elementos de conclusão, que sintetizam o ponto de vista do/a pesquisador/a sobre determinada questão. Além de planejar a sucessão de argumentos e sua articulação, o/a pesquisador/a deve realizar escolhas linguísticas para orientar a compreensão do destinatário, consequentemente conduzi-lo a uma www.esab.edu.br 67 mudança de comportamento e/ou opinião. A argumentação exige a utilização de um conjunto de procedimentos linguísticos apropriados para sustentar uma afirmação, obter uma adesão, ou justificaruma tomada de posição. Exemplos desses marcadores podem ser observados nos quadros abaixo Organizadores textuais Discurso Fórmulas introdutórias comecemos por, a primeira observação recai sobre, inicialmente, é preciso lembrar que, a primeira observação importante a ser feita é que.... Unidades para encadear as razões ou marcar as transições de um argumento a outro já que... e..., porque... porque..., tendo em vista que..., e que, além disso..., supondo-se que..., supondo-se igualmente que..., passemos então a, voltemos então a, mais tarde voltaremos a, antes de passar a ... é preciso observar que..., sublinhado isto. Enumeração ou o ordenamento dos argumentos de um lado ..., de outro lado..., pri- meiro... segundo... terceiro... final- mente, em primeiro lugar ... em seguida ... enfim..., inicialmente, e em seguida, além do mais, além disso, além de que, aliás, a / / se acrescenta, por outro lado, en- fim, se acrescentarmos por fim Inserção de um exemplo ou ilustração a esse propósito, citaremos um exemplo, por exemplo..., consideremos o caso de, tal é o caso de, este caso apenas ilustra, o exemplo de ... confirma, a título de exemplo, exemplificando, por exemplo Fórmulas conclusivas então..., por conseguinte..., é por isso que..., portanto..., logo, consequentemente, afinal, em suma, pode-se concluir afirmando que www.esab.edu.br 68 Fórmulas concessivas é certo que, é verdade que, evidentemente, seguramente, naturalmente, incontestavelmente, sem dúvida alguma, pode ser que, reconhecemos que..., podemos admitir que..., a este respeito concordamos com o ponto de vista do construtivismo.... mas..., não se trata de...., mas simplesmente..., não se pode falar verdadeiramente de ... mas simplesmente... Expressões de reserva todavia, no entanto, entretanto, mas, porém, contudo Fórmulas de insistência não apenas ... mas, mesmo, com muito mais razão, tanto mais que Estruturas para fazer valer argumentos favoráveis Meu estudo se justifica por várias razões, Tentarei explicar que... Quadro 5.1 Organizadores textuais que marcam a estrutura do texto, orientando o discurso para uma tomada de posição por parte do autor. Fonte: Adaptado de MUGRABI, 2000. Procedimentos Tomada de posição do autor expressões de probabilidade (expressões que se utiliza quando não se está muito certo das conclusões emitidas e que se busca matizar com certas expressões para evitar enganar-se) parece que, é provável que, talvez. Ex.: Esta opinião parece / pode parecer falsa. expressões de certeza (expressões que se utiliza quando se está certo de seu julgamento ou quando se quer expressar uma opinião com força) é claro que..., é necessário absolutamente..., é certo que..., é evidente/incontestável que..., não há dúvida de que..., é unanimemente reconhecido que..., todos admitem que... www.esab.edu.br 69 verbo no futuro do presente ou do pretérito (estes tempos verbais permitem a tomada de distância com relação à opinião formulada, distância que pode ir até à rejeição implícita) Ex.: Segundo certas pessoas a violência seria um fenômeno recente... frases interrogativas ou interrogativo-negativas Ex: Pode-se afirmar que...? Não se poderia pensar que...? aspas (podem denotar uma reserva ou ironia, ou ainda o oposto do que se enuncia) Ex. Sua paixão pela “heróica luta dos agricultores” tem alguma coisa de suspeito. Quadro 5.2 Procedimentos variados que marcam os movimentos de tomada de posição do autor (a favor ou contra uma opinião) Fonte: Adaptado de MUGRABI, 2000. PARA SUA REFLEXÃO Observe como Bakhtin (2002) organiza sua argumentação no Texto 06 Em guisa de conclusão da presente unidade, gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que os textos científicos (relatórios, projetos de pesquisa, artigos teóricos, monografias etc.) geralmente combinam os três tipos de sequência – descritiva, explicativa e argumentativa. Aqui nós as separamos para fins didáticos. www.esab.edu.br 70 ATIVIDADE COMPLEMENTAR Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades de 1 a 5. Para isso, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 71 www.esab.edu.br 72 www.esab.edu.br 73 Nestas cinco unidades, vimos que a pesquisa científica, sua me- todologia e produção têm origens históricas no desenvolvimento da ciência. As primeiras duas unidades introduziram a pesquisa científica, suas perspectivas e seus métodos. Unidade 1 definiu os conceitos básicos importantes para pesquisa. A ciência foi considerada uma investigação metódica, organizada para descobrir a essência dos seres e dos fenômenos e as leis que os regem com o fim de apro- veitar as propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem. Unidade 2 aprofundou uma reflexão sobre a epistemologia da ciência, mais exatamente sobre as condições de produção dos conhecimentos científicos sua validade e seus limi- tes. A ideia de obstáculo epistemológico e de ruptura epistemoló- gica foram as duas noções chave analisadas. Também examina- mos a pesquisa na pós-graduação, enfatizando particularmente a necessidade de desenvolver a observação, a crítica e a curiosida- de científica. Na Unidade 3 discutimos o objetivo e a tipologia da produção científica acadêmica brasileira, examinando o papel da produção científica na educação superior. Os vários tipos de trabalhos cien- tíficos ou de trabalhos de conclusão de curso, requisitos específi- cos para cada qualificação ou nível acadêmico. Sugerimos uma visão sistêmica de vínculos filosófico-metodológi- cos para compreender o processo da aquisição do conhecimento científico, para guiar a Metodologia Científica: o aspecto ontológico diz respeito à natureza da realidade; o epistemológico trata da natureza do conhecimento e da relação entre o investigador e o www.esab.edu.br 74 objeto da investigação, e a metodologia diz respeito ao modo pelo qual o pesquisador obtém conhecimento. O paradigma de um estudo é o caminho lógico que guia os demais aspectos rumo ao conhecimento científico. A metodologia foi definida como o conjunto das abordagens (métodos), procedimentos e técnicas utilizados pela ciência para formular e resolver problemas. Afirmamos que a prática da pesquisa científica não deve ser dis- sociada da capacidade mais geral de leitura e de escrita, e em particular da capacidade de fazer ver (através da descrição), fazer compreender (através da explicação) e fazer aceitar novos pontos de vista sobre fenômenos diversos (através da argumentação). Foram apresentados os três modos de construção do discurso importantes na comunicação científica dos resultados de um tra- balho, enfatizando sua organização interna e as unidades linguís- ticas que os tornam possíveis. Finalmente, chamamos a atenção para o fato de que os textos científicos (relatórios, projetos de pesquisa, artigos teóricos, monografias etc.), geralmente combi- nam os três tipos de sequência – descritiva, explicativa e argu- mentativa. Compete ao pesquisador/autor desenvolver um texto adequado para comunicação final de seu trabalho de pesquisa. www.esab.edu.br 75 TIPOS DE PESQUISA E PLANOS DE PESQUISA O foco do Eixo 02 é a apresentação dos tipos de pesquisa que pretendem conhecer melhor a realidade, examinando os diferentes processos de coleta de informações e dados. Em pesquisa precisamos estimular respostas, questionar e observar para produzir nossos dados. Os dados são organizados e examinados para atribuir significados. Se estamos trabalhando com informações de outros autores e pesquisadores, nos compete coletar e construir uma reflexão sobre os significados dessas informações. A partir da análise, interpretação e crítica das informações coletadas que vamos discernir padrões nas respostas, contrastar opiniões, identificandotendências e as associações existentes. Vamos explorar a preparação necessária para estabelecer um plano de pesquisa - escrever um projeto, destacando a busca de foco no objeto e problema da pesquisa. Esclarecemos também os requisitos e as normas para Trabalho de Conclusão de Curso na ESAB. A Unidade 08 descreve a importância dos objetivos, a justificativa e o embasamento teórico no planejamento. Aprofundamos também na organização da investigação 1) delimitando aspectos relevantes do problema escolhido; e 2) mostrando a importância de um quadro teórico inicial, sugerindo caminhos para a determinação das estratégias de investigação. Na Unidade 10 examinamos procedimentos básicos para a coleta e análise de dados quantitativos e qualitativos www.esab.edu.br 76 Pesquisar é conhecer a realidade. É levantar infor- mações significativas e representativas existentes nesta realidade, chamados de “dados”. Às vezes, esses dados (atributos e características das pes- soas e dos fenômenos que elegemos para estudar) podem ser observados, contados, medidos direta- mente. Nesse caso, são informações tangíveis. Outras vezes muitos fenômenos que interessam ao cientista não podem ser medidos ou observados diretamente. Nas Ciências Humanas, precisamos estimular respostas, questio- nar e observar para produzir os nossos dados. Esses dados, então, serão examinados para que possamos lhes atribuir significados. E a partir da análise e interpretação das informações coletadas ire- mos discernir padrões de respostas, tendências e associações. É necessário, então, utilizar ferramentas que nos permitam chegar a coletar, organizar e analisar os dados. Os instrumentos são os mecanismos pelos quais organizamos e sistematizamos a coleta de informações. Para ser considerado um mecanismo adequado e confiável, o formato do instrumento precisa facilitar o registro eficiente das informações procuradas. Na coleta de dados é também necessário garantir a uniformidade de aplicação do instrumento de unidade de análise para outra, ou seja, de uma pessoa, de um grupo, de uma situação, para outra (Ver RICHARDSON, Capítulo 11 – Confiabilidade e validade, p. 174.). www.esab.edu.br 77 Isso significa que, o instrumento de coleta (questionário, ficha de observação, roteiro de entrevista etc.) deve ser organizado de tal maneira que a forma de sua aplicação não altere a natureza dos dados registrados. Já os itens e perguntas, são padronizados em termos de seu formato. É importante construir instrumentos que coletem informações que correspondam à realidade pesquisada, ou seja, que os instrumentos sejam válidos, que produzam informações verdadeiras e válidas para o objetivo do estudo. Para Richardson (1999), um instrumento é valido quando mede o que deseja. 6.1 Classificação das pesquisas Santos (2000) classifica pesquisas em dois níveis ) a pesquisa acadêmica conduzida no âmbito da academia - universidades, faculdades ou outra instituição de ensino superior 2) a pesquisa de ponta desenvolvida por pesquisadores experientes que reali- zam pesquisa direcionada a lidar com soluções não respondidas. Pesquisa pode ser classificada também em função da técnica empregada. A documentação indireta é um processo de coleta de dados através de pesquisa documental (fontes primárias) ou pesquisa bibliográfica (fontes secundários): Fonte primária é um documento ou qualquer fonte cuja origem remonta, de forma geral, à época que se está pesquisando, frequentemen- te produzida pelas próprias pessoas estudadas. Fonte secundária consiste em todo trabalho que se baseia em outro, este sendo a fonte original ou primária. Tem como característica o fato de não produzir uma informação original, mas sobre ela trabalhar, procedendo a análise, ampliação comparação, etc. (LAKATOS, 2003, apud OTANI, 2011, p. 34). www.esab.edu.br 78 Otani e Fialho (2011, p. 35) visa a documentação direta como caracterizada pela coleta de dados no próprio local onde os fenô- menos ocorrem, obtidos de pesquisa em campo (contato direto com a realidade) ou em laboratório (controle de variáveis e foco). A pesquisa também pode ser classificada de acordo com sua fina- lidade, seu objetivo principal. Severino (2007) destaca três possi- bilidades com relação aos objetivos de um estudo: exploratória: quando levanta informações acerca de um objeto, mapeando as condições e a natureza desse objeto; descritiva: visa descrever as características principais de algo, apresentando possíveis relações e condições presen- tes; explicativa: registra e analisa o fenômeno buscando a iden- tificação de suas causas e a razão desse fenômeno. 6.2 Resumir o que já foi dito ou ir a campo? Ao se preparar uma pesquisa devem ser incluídos e especificados os procedimentos metodológicos pla- nejados para realizar o estudo. Dentre as informa- ções que devem constar deste item está a classifica- ção da pesquisa quanto à coleta de dados. A confusão mais frequente entre os pesquisadores está relacio- nada justamente a isso. Muitos informam que vão realizar uma pesquisa do tipo bibliográ- fica. Se este for o tipo de pesquisa a ser realizado, significa que você vai produzir um ensaio teórico; vai ler algumas obras e, a partir disso, fazer uma síntese do pensamento dos autores con- sultados. A pesquisa bibliográfica utiliza, exclusivamente, a coleta de informações secundárias, conceitos e dados em livros, revistas científicas, publicações eletrônicas e outros documentos escritos (publicados ou não). www.esab.edu.br 79 Toda pesquisa tem algum tipo de referencial, que é uma revisão sistemática da literatura existente. O que é preciso ter claro é o seguinte: não se deve confundir a construção do quadro teórico ou referencial teórico com a pesquisa do tipo bibliográfica. Todo pesquisador precisa consultar livros, mas essa consulta aos livros, apenas, não caracteriza a pesquisa como bibliográfica. Veremos em outra unidade como escolher fontes e construir um quadro ou referencial teórico Mais uma vez: uma pesquisa bibliográfica é aquela em que os dados apresentados provêm apenas de livros, revistas cientí- ficas, publicações eletrônicas e outros documentos escritos. No entanto, você pode escolher um outro caminho para coletar os dados: a pesquisa de campo. Nela, segundo a definição de Gil (2002), “(...) o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pes- soalmente, pois é enfatizada a importância do pesquisador ter tido, ele mesmo, uma experiência direta com a situação de estudo” (p. 53). Este “outro caminho” trata-se de um estudo empírico, no qual o pesquisador sai a campo para conhecer determinada realidade, no interior da qual, usando os instrumentos e técnicas já especifi- cadas, coleta dados para sua pesquisa. A escolha de um método específico depende principalmente do objeto do estudo, mas o fator tempo e a necessidade para usar um ou vários métodos em conjunto influenciam a seleção. Pesqui- sadores iniciantes não precisam ter domínio ou conhecimento de todos os métodos apresentados no quadro, mas é importante sa- ber da abrangência de possibilidades disponíveis. O quadro a seguir mostra a complexidade de métodos de coleta de dados. Alguns tipos de estudo usam mais do que um método ou técnica de coleta de dados. O bom estudo de caso exige a utilização de documentos, de observação e da coleta de informações www.esab.edu.br 80 diretamente com os principais atores envolvidos no problema. No entanto, por exemplo: a observação participante. O pesquisador pode optar por um método único para explorar um problema me- nos pesquisado. Em resumo, há conexões lógicas e metodológicas entre o tipo de pesquisa, os métodos e procedimentos selecionados e os próprios objetivos. Em geral, para quem está iniciando, saber que o elenco de métodos é grande, raramente tranquiliza ou resolve o problema da escolha. Para alguns autores o método utilizado define o tipo de pesquisa. Richardson, por exemplo, sugere uma tipologiabastante simples (p. 326): • Pesquisas históricas; • Pesquisas exploratórias; • Pesquisas descritivas; • Pesquisas explicativas: enquetes, survey (levantamentos de opinião); experimentos; quase experimentos; estudos de caso • Pesquisa-ação. Como se pode ver, o tipo de pesquisa, então, é apenas um rótulo que se usa para diferenciar entre métodos e as técnicas principais. Na figura a seguir, são enumerados alguns tipos de pesquisa com suas respectivas características e principais formas de coleta de dados. www.esab.edu.br 81 Figura 6.1: Forma de coleta de dados Fonte: Adaptação da Figura 6.1 Contandropoulos (et. al.), 1997, p.73. www.esab.edu.br 82 A informação no quadro abaixo é mais detalhada comparando características segundo diversos parâmetros de análise. PARÂMETROS DE CLASSIFI- CAÇÃO TIPO DE PESQUISA OBJETIVOS COLETA DE DADOS CLASSIFICA- ÇÃO Pesquisa acadêmica Aquisição de conheci- mento e métodos de estudo Coleta depende dos objetivos e natureza da pesquisa Pesquisa de ponta Superação científica de problemas e neces- sidades não resolvidos TÉCNICA EM- PREGADA Documenta- ção indireta Utilizar fontes primarias ou secundários para analise, interpretação Documenta- ção direta Coletar dados direta- mente NATUREZA Pesquisa bá- sica Gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência. Pesquisa aplicada Geral conhecimento para aplicação prática e solucionar problemas específicos www.esab.edu.br 83 OBJETIVOS Pesquisa histórica Reconstruir, sistemati- zar acontecimentos para explicar fatos e tendências atuais. Análise docu- mental Pesquisa ex- ploratória Conhecer melhor as características e pa- drões existentes em um fenômeno, para postular associações e explicar as condições, causas e consequên- cias. Observação Informação dos atores Pesquisa descritiva Descrever de forma holística, detalhada e sistemática os elemen- tos, atributos, contexto, condições, tendências de um fenômeno ou área de interesse. Observação, in- formação dos atores ABORDAGEM DO PROBLE- MA1 Pesquisa quantitativa Traduz informações em números usando técnicas estatísticas Instrumentos, dados secundá- rios Pesquisa qualitativa Estudo descritivo com análise intuitivo de da- dos e seu significado Observação; roteiros de en- trevista FONTES DE INFORMAÇÃO Campo Coleta de informações no local natural onde os fatos/fenômenos acontecem Observação, instrumentos Laboratório Reprodução artificial e controlada do fenôme- no estudado Observação, instrumentos Bibliografia Coleta de informações a partir de material im- presso, publicado ou não, disponível em di- versos formatos da mídia Documentos, li- vros, leitura de mídia Quadro 6.1: Especificação de parâmetros de classificação, tipo de pesquisa, objetivos e principais formas de coleta de dados.Fonte: Quadro adaptado de Richardson (1999, p. 326-327) e Otani e Fialho (2011, p. 35). www.esab.edu.br 84 PARÂMETROS DE CLASSIFICAÇÃO TIPO DE PESQUISA OBJETIVOS COLETA DE DADOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS Bibliográfica Obtenção de dados e informações de fontes secundárias Análise de materiais disponíveis Documental Fundamenta-se na utilização de materiais sem tratamento analítico Análise de materiais disponíveis Levantamento/ Enquete Levantamento e registro de comportamento verbal para investigar relações de causa-efeito e associações entre fenômenos, geralmente em amostras de sujeitos selecionados do universo maior da população. Exemplo: pesquisa de opinião. Informação dos atores Experimental Investigação das possíveis relações de causa-efeito, submetendo grupo experimental a tratamento, intervenção, e comparando com outro(s) grupo(s) que não sofreram a intervenção (grupo de controle). www.esab.edu.br 85 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS Quase experi- mental Investigação de relações de causa-efeito com grupo sob intervenção, sem grupo de controle, ou comparando fatores; no mesmo grupo antes e após tratamento ou experiência; ou em grupos semelhantes. Observação Informação dos atores Ex-pós facto Pesquisa conduzida após a ocorrência do fato/fenômeno Análise documental Observação Informação dos atores Estudo de caso Exploração intensiva que investiga fenômeno atual (individual ou coletivo) detalhadamente e holisticamente dentro de seu contexto de realidade. Análise documental Observação Informação dos atores Pesquisa-ação Estudo participativo dos sujeitos da pesquisa em todas as etapas, com engajamento pleno do pesquisador em clarificar métodos e uso prático dos resultados. Análise documental Observação Informação dos atores www.esab.edu.br 86 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS Pesquisa participante Estudo caracterizado pela interação entre pesquisador e componentes/ atores da situação investigada Observação Informação dos atores Quadro 6.1: Especificação de parâmetros de classificação, tipo de pesquisa, objetivos e principais formas de coleta de dados. (conti- nuação) Fonte: Quadro adaptado de Richardson (1999, p. 326-327) e Ota- ni e Fialho (2011, p. 35). Sabemos que o quadro acima pode assustar qualquer pesquisa- dor perante as diferentes possibilidades de escolha de tipos e procedimentos técnicos. Precisa lembrar que a metodologia cien- tífica é um conjunto de abordagens e processos utilizados para formular e resolver problemas. A escolha dos métodos e procedi- mentos depende do problema identificado e a finalidade do estudo em relação desse problema. 6.3 Fazendo a sua escolha Diante dessas opções, você precisa decidir por um destes dois caminhos: se seu trabalho será exclusivamente uma análise de pensamentos e ideias já apresentadas (tipo de pesqui- sa bibliográfica) ou se é no campo que você vai investigar a res- posta para o seu problema de pesquisa. www.esab.edu.br 87 Nessa escolha, é importante ressaltar que seu TCC, para a maior parte dos aprendizes na pós-graduação, é a primeira oportunidade de fazer ciência. Os níveis escolares pelos quais passaram até então quase sempre exigiam que seus estudos se baseassem em ideias, pensamentos e teorias defendidos por outras pessoas. Era sempre assim: “alguém disse isso”, “fulano defendeu aquilo” e “beltrano argumentou aquilo outro...” Quantas vezes você mesmo pôde defender suas ideias, na sala de aula? Preparar seu TCC utilizando a pesquisa de campo dá a você essa possibilidade! E mais: é a oportunidade para você usar as suas ideias na constru- ção de um discurso científico! Mesmo assim, talvez o tema de um estudo requer apenas um le- vantamento bibliográfico. Há problemas de pesquisa com bastan- te informação disponível. Um aluno de pós-graduação pode optar por concentrar-se na organização de material já disponível. A pesquisa bibliográfica que produz uma boa síntese crítica de infor- mações disponíveis é um ótimo projeto de TCC na pós-graduação da ESAB. www.esab.edu.br 88 ATIVIDADE COMPLEMENTAR Essa unidade apresentou muitos caminhos e opções. E ainda não iniciamos reflexões sobre a organização específica de um projeto, as normas para a comunicação científica, bem como outras considerações importantes no planejamento e organização de uma pesquisa? O que você precisa fazer a partir desse ponto para sentir mais confiança e segurança em produzir um texto científico? www.esab.edu.br 89 A elaboração de um trabalho científico requer uma preparação por parte do pesquisador. Estamos falando, portanto, do planejamento da pesquisa. Toda pesquisa precisa ser pla- nejada. Esse planejamento é mostrado em um documento chamado projeto de pesquisa. Mesmo que as normas para um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na ESAB não requerem um projeto ou pré-projeto de pesquisa, é importante entender como planejar uma pesquisa e o formato correto de um projeto. 7.1 Planejamento da pesquisa: escrevendo o projeto Em geral, na pós-graduação, antes de executar uma pesquisa,o pesquisador elabora um projeto ou plano de estudos, que é entre- gue ao orientador, para que, em conjunto, possam discutir a melhor forma de executar a pesquisa, fase em que os dados são coletados para, posteriormente, serem analisados. Esse entregue não ocor- re na ESAB. No projeto, o pesquisador informa o que vai estudar; o que preten- de alcançar com seu estudo, as razões que o levaram a querer desenvolvê-lo; o que já foi dito sobre o tema que ele pretende estudar (as referências e a bibliografia disponível) e de que ma- neira o estudo será desenvolvido. Nessa unidade pretendemos mostrar alguns pontos importantes para garantir um foco maior no planejamento e execução de um projeto. www.esab.edu.br 90 Saiba mais O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) constitui-se em um momento de potencialização e sistematização de habilidades e conhecimentos adquiridos, na forma de pesquisa acadêmico-científica. Trata-se de uma experiência fundamental uma vez que proporciona a oportunidade de resolver de forma rigorosa e criativa problemas teóricos e empíricos relativos à formação1. Como trabalho que se submete aos padrões da produção científica, o artigo deve respeitar seus parâmetros. Na ESAB, ela envolve três etapas: 1. Etapa 1. Produção e qualificação de TCC 2. Etapa 2. Preenchimento/atualização de formulário para agendamento da defesa 3. Etapa 3. Defesa e conceito do TCC O artigo científico é, portanto, um trabalho de síntese que articula o conhecimento global do aluno no interior de sua área de formação. Desta forma, deve ser concebido e executado como uma atividade científica. O trabalho deve obedecer às orientações do Manual de Produção de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): Artigo Científico, bem como os padrões existentes para a produção científica. Do ponto de vista do discente, a defesa diante de uma Banca Examinadora significa a possibilidade de testar sua competência discursiva, de exercitar sua capacidade argumentativa e de defender sua perspectiva frente a outras diferentes ou concorrentes. Ao mesmo tempo, permitir-lhe-á esclarecer elementos de seu trabalho que possam ter ficado obscuros ou frágeis do ponto de vista de sua consistência ou pertinência científica. Neste sentido, a defesa do TCC exercitará a capacidade lógico-dedutiva, de análise e de síntese do aluno, bem como sua fluência em resposta diante de argumentos distintos daqueles que desenvolveu. A necessidade de defesa diante de uma Banca justifica-se pela imposição da previsão legal.2 www.esab.edu.br 91 7.2 Em busca de convergência de foco no objeto da pesqui- sa Uma dificuldade comum a todo/a pesquisador/a é estabelecer um ponto focal na sua pesquisa, já que foco pode significar tanto um ponto de convergência quanto um ponto de divergência. Durante a elaboração de um projeto de pesquisa algumas vezes temos a sensação de estar detalhando demais, outras vezes o objeto da investigação parece demasiado “vago”. Sabemos também que as partes de um projeto devem estar necessariamente relacionadas com o todo. A definição do problema de pesquisa supõe conhecimento prelimi- nar do fenômeno escolhido para estudo (Richardson, 1999: p. 58). Mas o/a pesquisador/a pode definir o problema de múltiplas formas distintas. Em muitos casos o/a pesquisador/a supõe-se em condi- ções de definir seu problema de pesquisa sem a participação da população em estudo... (p. 58). Em outras palavras, o problema a ser investigado é levantado a priori pelo/a pesquisador. Em alguns casos, como afirma Richardson, o/a pesquisador pode inserir-se na população alvo e juntamente com ela tentar definir os problemas a serem pesquisados. Nesse caso particular, o pesqui- sador acredita que a população que pretende estudar é a única que tem condições de levantar seus problemas prioritários de pesquisa (ibid.). www.esab.edu.br 92 Neste caso, o projeto de pesquisa deve necessariamente detalhar os processos pelos quais se pretende definir os problemas da pesquisa. Os sujeitos/ par- ticipantes do estudo devem ser também descritos, bem como as condições e contex- to sob análise. O foco neste caso emerge da interação sujeito-sujeito. Uma visão mais tradicional da ciência às vezes nos impede de encarar pesquisa en- quanto processo em definição, onde a re- lação sujeito-sujeito pode alterar profunda- mente os meandros da investigação em curso. Somos também exigidos/as pela academia a nos conformar com procedimentos estáticos, determinados a priori, que preveem quase todo o processo de pesquisa, fechando prematuramente nossas ideias em uma estruturação formal de teorias e métodos. Esse dilema está presente em nosso pensamento e às vezes difi- culta a definição e o foco do problema da pesquisa. Em síntese, aparece como controvérsia entre dois polos – uma visão de pes- quisa aberta versus outra de pesquisa fechada. O modelo da pesquisa fechada muitas vezes nos induz a definir, reduzir e fragmentar a problemática da pesquisa a um aspecto menor do problema maior que gostaríamos de investigar. Por outro lado, um modelo mais aberto ou participativo pode protelar decisões impor- tantes para especificar claramente os propósitos básicos da pes- quisa. O/a pesquisador que busca clareza em projetar uma investigação científica de sua prática e da realidade cotidiana da sua escola precisa delimitar seu objeto e seus métodos. O quadro a seguir examina outros aspectos de nossos problemas em alcançar maior foco. www.esab.edu.br 93 Um efeito negativo de nossa formação em pesquisa (...) é o con- ceito de “tema” - tema de pesquisa, tema da dissertação, tema do projeto etc. Essa palavra não contribui, especialmente para quem se inicia em projetos de pesquisa, para o esclarecimento ou a delimitação do que se pretende estudar. O tema não vincula, orga- nicamente, o pesquisador com o objeto de pesquisa. Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra tema é definida de cinco maneiras: “1. Proposição que vai ser tratada ou demonstrada; assunto: O tema da palestra é a arte grega. 2. Exercício escolar para retroversão ou análise. (...) 3. Texto em que se baseia um sermão. (...) 5. (Mús) Motivo que é o germe do qual procede e no qual se desenvolve a composição.- (Observe que nenhuma dessas definições estabelece relação com a construção do conhecimento científico. Serve apenas para confundir. Mais um conceito mal utilizado nas ciências so- ciais. O que significa a palavra fenômeno? Segundo o mesmo Dicionário “Aurélio”, fenômeno é: “1. Qualquer modificação operada nos corpos pela ação dos agentes físicos ou químicos. 2. Tudo o que é percebido pelos sentidos ou pela cons- ciência. 3. Fato de natureza moral ou social. (...) 10. (Filos.) Tudo o que é objeto de experiência possível, i. e., que se pode manifes- tar no tempo e no espaço segundo as leis do entendimento.” Observe que nessas tentativas de definição, o fenômeno é apresentado como tendo características próprias e ocupando um lugar no tempo e no espaço. Assim, o fenômeno existe, tem essência e pode ser delimitado enquanto objeto do conhecimento científico. Se o pesquisador pensa em termos de fenômeno, sabe que, por definição, deve estudar os elementos que compõem o fenômeno (não precisa analisar todos, pode escolher alguns), suas características no tempo e no espaço (lugar). Tomemos a problemática da evasão escolar: 1. Se optamos por encará-la enquanto tema (evasão escolar), nada indica que temos que considerar elementos, tempo, ou lugar onde ela acontece. 2. Se optamos por considerá-la enquanto fenômeno (evasão escolar), por definição, temos que considerar seus www.esab.edu.br 94 elementos, características, localizá-la no tempo e em algum lugar. Exemplo: A evasão escolar no Brasil na década de 60. Quadro 7.1 - Fenômeno versus tema Fonte original com modificações em negrito: Richardson, 1999: p. 57-58, 7.3 Definindo o problema de pesquisa O primeiro passo é definir o que vai pesquisar. Isso significaencontrar o que chamamos pro- blema de pesquisa. No caso da pesquisa cien- tífica, o problema não está ligado a coisas ne- gativas, pelo contrário, se o pesquisador tem um problema para analisar, já esta com meio caminho andado. Assim, todo pesquisador precisa ter um problema de pesquisa. E, é justamente o problema que o torna um pesquisador. Sem pro- blema não há pesquisa. Problema está relacionado a dúvida. E se não temos dúvidas, para que pesquisar? Em geral, os pesquisadores iniciantes confundem alguns pontos ao definir o problema de pesquisa. Quando se pergunta a um deles sobre o que trata seu trabalho, em geral, a resposta que se recebe está mais relacionada a área ou ao tema, não se constituindo, portanto, um problema. Para clarear isso, vamos a alguns exem- plos: Uma aluna de pós-graduação “lato sensu” em Comunicação Em- presarial diz que sua pesquisa será sobre a comunicação no setor de mármore e granito em determinado local. O que temos aqui é o assunto que ela vai tratar, não é o problema. O problema de pesquisa é a pergunta a que o pesquisador busca responder durante a execução da pesquisa. E, é a partir do assun- to ou tema, que ele define essa pergunta. No exemplo que www.esab.edu.br 95 acabamos de ver, a pesquisadora pode ter algumas dúvidas, que podem ser problemas de pesquisa. Por exemplo: Qual a percepção dos empresários do setor de mármore sobre o uso das ferramentas de comunicação e divulgação? Quais as informações recebidas pela população local sobre o setor de mármore e de que forma são recebidas? Qual a opinião da sociedade local sobre os impactos da ex- tração de mármore sobre o meio ambiente e a zona rural? Cada pergunta pode ser considerada um problema de pesquisa. É porque ao buscar respondê-las que a pesquisadora realiza uma pesquisa e, ao final, espera, de fato, encontrar a resposta. É em função do problema que o pesquisador define como vai executar cada uma das etapas da pesquisa. Mas, como definir o que se quer pesquisar? Pelo exemplo dado, podemos observar que a definição de um problema de pesquisa parte do macro (fenômeno, assunto, tema) para o micro. Portanto, para chegar ao problema de pesquisa, é preciso analisar detalhadamente de forma esmiuçada. www.esab.edu.br 96 Booth et al (2000, p. 57) mostra um esquema que pode ser útil na hora de definir o problema de pesquisa que você pretende responder em seu trabalho. 1) Especifique seu tema ou tópico ou área de interesse: Gostaria estudar, pesquisar _____________________________ _______. 2) Formule sua pergunta: A pergunta deve comunicar exatamente o que você quer descobrir. 3) Estabeleça a fundamentação lógica para a pergunta e o projeto: Esta fundamentação deve ser uma espécie de justificativa da pergunta. Para entender - como? / por que? / o que ? _____________________________ É um esquema que você pode e deve exercitar, pois vai ajudá-lo a encontrar seu problema de pesquisa. Os autores sugerem que o pesquisador continue utilizando-o também durante a realização da pesquisa, para que tenha clareza do ponto em que se encontra, o que facilita que se mantenha no rumo que traçou para si. PARA SUA REFLEXÃO www.esab.edu.br 97 Pensando bem, o esquema acima não representa novidade para você, que, inconscientemente, já deve tê-lo usado várias vezes ao tentar resolver problemas no seu dia a dia. Booth et al (2000) afirmam que os problemas do dia a dia podem suscitar problemas de pesquisa, porque nos fazem questionar algo que ainda não sabemos e que poderia solucioná-lo. Quando não sabemos algo, temos um problema de pesquisa, que precisa ser investigado, ajudando, dessa forma, a resolver os problemas do nosso cotidiano. A pesquisa, portanto, faz parte da nossa vida, o tempo todo. Quando falamos de teoria e de conhecimento, estamos nos refe- rindo a algo que não conhecemos e, por isso mesmo, estamos alienados em relação a esse fenômeno desconhecido. Não pense que a pesquisa que você deverá desenvolver está num âmbito externo, bem distante de você. Na verdade, os procedimentos que executamos ao longo da pesquisa têm mais a ver conosco do que imaginamos. O esquema de aprendizagem vivencial a seguir mostra isso. É importante ressaltar que esse ciclo não ocorre da mesma maneira com todas as pessoas. Isso quer dizer que, para alguns, o desejo de pesquisar pode se iniciar, por exemplo, durante a re- flexão sobre determinado assunto ou quando se está executando determinada ação. Para muitos alunos a necessidade é conse- quência de um pré-requisito de um curso: Escrever uma monogra- fia ou artigo científico. O que importa é que o pesquisador se reconheça nesse ciclo que, saiba em que posição se encontra. Outro ponto interessante de se destacar é que, pela nossa capacidade de discernimento, pode- mos retornar a alguma etapa, se percebermos que algo na execu- ção da pesquisa não nos levará onde pretendemos chegar. www.esab.edu.br 98 Figura 7.1: Ciclo de aprendizagem vivencial Fonte: Autoria própria Antes de formatar um projeto ou plano de pesquisa precisamos vivenciar aspectos do ciclo acima, definir os nossos interesses e tentar expressar isso como pergunta ou problema. Pesquisa que produzir conhecimento (saber) é um processo de aprendizagem interna que se expressa um resultado comunicável. Está relacionada às escolhas que fazemos na definição dos processos www.esab.edu.br 99 de planejamento e execução. Vamos continuar analisando outros componentes importantes para nosso planejamento (Footnotes) 1 Assim, é que a ESAB define a experiência final de seus cursos Lato Sensu e MBA. 2 Resolução CNE/CES nº 1 de 2007. www.esab.edu.br 100 Essa unidade apresenta alguns esboços para um plano ou projeto de pesquisa. Ressaltamos que apesar da normatização da ABNT para projetos de pesquisa, há diversas outras possibilidades dependendo da área do estudo, as noções do/a pesquisador/a bem como os possíveis requisitos dos cursos de pós-graduação. Antes de procurar um roteiro formal para seu plano de pesquisa, recomendamos um formato para resumir pontos importantes que possam facilitar esse plano. Recomendamos um roteiro simples para alunos que preparam um plano de pesquisa para os cursos da ESAB. Resumindo o que foi levantado até agora: o projeto é um planejamento que detalha o que o pesquisador pretende estudar, porque e como será realiza- do o trabalho. 8.1 Um guia com um mínimo de pontos para um projeto de pesquisa O guia a seguir apresenta um número mínimo de tópicos e pode orientar a elaboração de um projeto ou plano de pesquisa, inde- pendente da área de estudo. Lembre-se de que uma qualidade essencial de um bom cientista é sua capacidade de autocrítica, que supõe um trabalho de revisão constante de seu trabalho e de seus planos. Você não deve hesitar em alterar qualquer elemento já produzido num projeto de acordo com a sua concepção atual da proposta, que está sempre em transformação. Os itens sugeridos no guia podem ser respondidos e, mais tarde, www.esab.edu.br 101 transformados em um formato oficial ou padronizado de projeto. Nem sempre há uma maneira mais ‘certa’ ou cientificamente ‘cor- reta’. Isso explica por que há tantos livros de metodologia de pesquisa com receitas diferentes para a elaboração de projetos. O pesquisador precisa tomar decisões durante a elaboração do projeto à medida que delimita seu estudo. O guia é uma ferramenta importante, pois, como dissemos ante- riormente, ele contém os principais elementos de um projeto de pesquisa e sua sequência ajuda a organizar uma proposta de trabalho. 1. Título: Simplifique usando conceitos e expressões claras. Sem- pre pode ser mudado ao longo do trabalho. Um bom título é sempre conciso; não entra em detalhes; o titulo, provoca e atrai, por meio da síntese de ideias. (Sugestão: 15 palavras ou menos.) 2. Subtítulo: Utilize apenas para clarificar. Subtítulo não é neces- sário. Títulos grandes podem gerar confusão. 3. Autor(es): Identifique osprincipais pesquisadores/as respon- sáveis, incluindo todos os nomes no caso de pesquisa em grupo. 4. Instituição: Instituição / unidade de vínculo / origem dos auto- res. 5. Mês e ano: Identifique a data inicial da proposta. 6. Apresentação do problema a ser investigado: Trata-se de um resumo da problemática. 7. Enumeração das questões que devem ser respondidas ou hipóteses a serem analisadas: Lembre-se de que a hipótese é uma proposição de resposta provisória à questão colocada e ela guia o trabalho de coleta e análise de dados. Em pesquisas des- www.esab.edu.br 102 critivas ou exploratórias hipóteses não são necessárias. 8. Justificativa: Especifique a importância do trabalho proposto, sua relevância para seu campo de estudo e para os atores a serem pesquisados, de um ponto de vista teórico (avanço do conheci- mento) e prático (impacto sobre alguma realidade atual). Use ar- gumentos convincentes, não apenas justificando o seu interesse pessoal no estudo. 9. Contextualização do problema: Qual o contexto atual do pro- blema que você pretende pesquisar? Por que este problema se manifesta assim? Sempre foi assim? Quais os fatores que contri- buem para a existência deste problema? Quais dimensões/auto- res/processos fora do contexto imediato do problema exercem algum tipo de influência nos fenômenos sob análise? 10. Objetivo geral: Define com precisão o foco do estudo com frases curtas e diretas, que comunicam claramente o objetivo principal da pesquisa – aquilo que é principal. Cuidado com os verbos! Não use “compreender”, “descrever”, “identificar” ou “ela- borar” se conseguir escolher um verbo mais especifico. Procure uma frase que declare o objetivo em termos dos principais fenô- menos a serem investigados. 11. Objetivos específicos: Os objetivos específicos são eficien- tes quando delimitam os passos, as etapas e sua sequência no decorrer da investigação. Quantos objetivos? O suficiente para focalizar as etapas do trabalho! 12. Quadro ou referencial teórico: Conceitos, teorias, hipóteses e preposições. O quadro contextualiza seu objeto no debate teóri- co atual. A partir de que autor ou qual teoria/conceito você preten- de trabalhar? Indique os recursos bibliográficos inicialmente www.esab.edu.br 103 levantados. Não precisa ser exaustivo. Especifique a abrangência do levantamento a ser sistematizado. Cuidado para não se restrin- gir ao argumento de que “pouco existe sobre o tema”. Pesquisa- dores/as iniciantes necessitam de subsídios bibliográficos, princi- palmente conceituais para sustentar suas produções científicas iniciais. 13. Recursos metodológicos: Especifique o tipo da pesquisa, os métodos e principais técnicas de coleta e de análise dos dados. Quais as estratégias de coleta de dados? Quais os instrumentos previstos? Como pretende analisar os dados? Quais as categorias de respostas prováveis? Há possibilidade para a emergência de outras categorias? 14. Unidade(s) de análise: Qual a principal fonte das informa- ções? Quais os sujeitos do estudo? Quem? Onde? A unidade de análise pode ser o indivíduo, a turma, a sala de aula, uma série, uma escola, um município; um trabalhador, um departamento, uma fábrica, um setor econômico. Em que nível você pretende trabalhar? No nível individual ou coletivo? Qual será objeto de in- vestigação a sala de aula ou os alunos individuais que a frequen- tam? Será feito comparações de instituições, unidades, pessoas ou grupos? Se precisar, indique mais de uma unidade de análise no seu planejamento. 15. Cronograma: Determine a data final da sua produção e orga- nize um calendário de atividades para realizar sua pesquisa. Cada fase ou etapa deve ser programada em função do tempo neces- sário para executar as tarefas indicadas. A coleta de dados pode exigir bastante tempo, mas a análise das informações coletadas e a produção do artigo/monografia é a mais trabalhosa e também demorada. Deixe tempo suficiente para cada atividade. Lembre-se de que muitas tarefas são simultâneas e independem da www.esab.edu.br 104 finalização de outras. O melhor prazo é o tempo que você estabe- lece para você mesmo/a! 16. Referências: Organize sua bibliografia, referências e citações na formatação correta para evitar a perda de tempo. 17. Estrutura e formato de seu trabalho: Um bom projeto plane- ja com antecipação o formato final do relatório de pesquisa. Quais os itens e subitens que são essenciais para cada setor ou capítulo? Quais os títulos que você gostaria de adotar para os capítulos ou divisões principais do documento? Qual o conteúdo relevante para sua inclusão em anexo ou como apêndice? Quais as normas de apresentação que você pretende seguir? Como vai ser a formata- ção final, a capa, a reprodução em papel ou outra mídia? Quadro 8.1: Guia de um projeto de pesquisa Fonte: Doxsey, 2004; Goldenberg, 2000; Pádua, 2000. 8.2 A norma oficial e padronizada de um projeto de pesquisa Segundo a NBR 15287: 2011, a apresentação do Projeto de Pesquisa deverá ser realizada levando-se em conta a seguinte estrutura: 1. Introdução 2. Problema 3. Hipótese 4. Objetivo Geral 5. Objetivos Específicos 6. Justificativa 7. Revisão da Literatura 8. Metodologia da Pesquisa 9. Tipo de Abordagem 9.1 Tipo de Pesquisa 9.2 Tipo de Delineamento 9.3 Coleta de Dados 9.4 Tratamento dos Dados www.esab.edu.br 105 10. Recursos 11. Cronograma 12. Referencias 13. Glossário (opcional) 14. Apêndice (opcional) 15. Anexo (opcional) Quadro 8.1 Estrutura do Projeto Fonte: NBR 15287: 2011 A seguir, serão discutidos alguns componentes do projeto de pes- quisa para ilustrar sua importância e função no planejamento. 8.3 Definindo o objetivo da pesquisa Uma vez definido o problema de pesquisa, você já sabe qual é o objeto da sua pesquisa. Se o problema de pesquisa é “qual a percepção dos empresários do setor de rochas e granitos sobre a utilidade das ferramentas de comuni- cação (TI) na divulgação de suas empresas?”, o objetivo do pes- quisador é “conhecer a percepção dos empresários do setor de Para entender melhor a normatização sugerida pela ABNT, explora o texto “Padrão PUC Minas de normalização: normas da ABNT para apresentação de Projetos de pesquisa” disponível no link: CUNHA, H. R. DOS SANTOS. Padrão PUC Minas de normalização: normas da ABNT para apresentação de Projetos de pesquisa. Belo Horizonte: PUC Minas, ago. 2010. Disponível em: <http://www. pucminas.br/documentos/normalizacao _projetos.pdf>. Acesso em 07 fev. 2017. ESTUDO COMPLEMENTAR http://www.pucminas.br/documentos/normalizacao _projetos.pdf http://www.pucminas.br/documentos/normalizacao _projetos.pdf www.esab.edu.br 106 rochas e granitos sobre a utilidade das ferramentas de comunica- ção na divulgação de suas empresas”. Quase a mesma coisa, não é? Quase! A mudança principal é a palavra conhecer, um verbo. Enquanto o problema de pesquisa é apresentado em forma de pergunta, o objetivo é normalmente re- digido em uma frase completa utilizando o verbo no infinitivo. Exemplos: 1. Problema da pesquisa: Quais os efeitos da urbanização da orla da Poligonal 11 – Projeto Terra – Vitória, ES na percepção ambiental da população residente? Objetivo geral da pesquisa: Examinar a percepção e atitudes da população residente em relação aos processos de urbanização do Projeto Terra, a recuperação e a preservação do manguezal e dos ecossistemas adjacentes à comunidade. 2. Problema de pesquisa: Qual a contribuição de software na administração de microempresas de confecção no polo da Glória, ES? Objetivo geral da pesquisa: Avaliar o impacto do uso de sof- tware na administração de microempresas de confecção no polo da Glória, ES. Para facilitar a execução de seu trabalho, o pesquisador define também objetivos específicos para a pesquisa. Os objetivos específicos dizem o que o pesquisador terá de fazer para alcançar o objetivo geral da pesquisa. Definem os vários pontos a serem abordados e se colocados em sequência se tornam “subtarefas”na organização do estudo. Os verbos dos objetivos específicos também devem ser utilizados no infinitivo. Vejamos um exemplo de objetivos específicos Objetivo geral: Identificar a percepção dos empresários do setor de rochas ornamentais capixaba sobre a importância do uso das ferramentas de comunicação na divulgação da imagem institucio- nal Objetivos específicos: www.esab.edu.br 107 Levantar as ferramentas de comunicação já utilizadas pelo setor; Analisar a influência do modelo de gestão utilizado nessas empre- sas no nível de valorização das ferramentas de comunicação. Em outras palavras, para identificar a percepção dos empresários em relação ao uso das ferramentas de comunicação, o primeiro passo do pesquisador é identificar quais as ferramentas usadas atualmente pelas empresas do setor. Em geral, as empresas que utilizam um modelo moderno de gestão reconhecem a importância da comunicação. Se o pesquisador tem informações sobre o mo- delo de gestão adotado pelas empresas do setor investigado, será possível fazer uma análise de como esse modelo influencia o nível de valorização das ferramentas de comunicação. Veja que, quanto mais informações o pesquisador tem a respeito do assunto, mais fácil encontrará a resposta para o problema da pesquisa, por isso, a leitura é um hábito fundamental para apro- fundar na temática do trabalho. 8.4 O objetivo determina o caráter da pesquisa O objetivo geral da pesquisa, como foi dito, esclarece o que se pretende alcançar com a investigação. Como mostrado anterior- mente, o objetivo geral explicita, também, o caráter ou especifici- dade da pesquisa: exploratório, descritivo ou explicativo. Vejamos de novo as características de cada uma delas. Pesquisas exploratórias: buscam uma aproximação com o fenômeno, pelo levantamento de informações que poderão levar o pesquisador a conhecer mais a seu respeito. Pesquisas descritivas: realizadas com o intuito de descre- ver as características do fenômeno. Pesquisas explicativas: ao realizar um estudo dessa natu- reza, o pesquisador procura explicar causas e consequên- cias da ocorrência do fenômeno. www.esab.edu.br 108 O caráter da pesquisa influencia todo o seu desenvolvimento, a começar pela maneira como o pesquisador determina os objetivos de sua investigação. Você já sabe que inicia-se a escrita de um objetivo com um verbo no infinitivo. Porém, que verbo usar? Richardson dá a seguinte orientação: Usualmente, em uma pesquisa exploratória o objetivo geral começa pelos verbos: conhecer, identificar, examinar, levantar e descobrir; uma pesquisa descritiva, inicia-se com os verbos caracterizar, descrever e traçar; e uma pesquisa explicativa, começa pelos verbos analisar, ava- liar, verificar, explicar etc.(1999, p. 63). 8.5 O pesquisador iniciante mais explora do que explica Pesquisadores iniciantes, como é o caso dos estudantes de gra- duação e de pós-graduação geralmente realizam pesquisas de caráter exploratório. Isso não é uma afirmação negativa. Gil (1994) esclarece que a exploração do fenômeno tem como objetivos de- senvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias. A pesquisa exploratória é tão importante quanto os outros tipos de estudo. Esse tipo de pesquisa é realizado, especialmente, quando há poucas informações disponíveis sobre o tema a que se relaciona o objeto de estudo. Justamente pelo escasso conhecimento do assunto, o planejamento é flexível, de forma que os vários aspec- tos relativos ao fato possam ser considerados. A escassez de in- formações torna difícil a formulação de hipóteses, como requerem as pesquisas descritivas e explicativas. Na verdade, é sobre as pesquisas científicas que descrevem e explicam os fenômenos que você mais ouve falar. Elas são execu- tadas com muita frequência por pesquisadores da área de saúde. Eles realizam experimentos, acompanham pacientes por anos, medindo taxas para que, ao final do estudo, possam encontrar as respostas e relações que procuram. www.esab.edu.br 109 Bons trabalhos científicos muitas vezes são trabalhos simples. Pesquisadores iniciantes não precisam confeccionar projetos complicados ou ficar imobilizados pela mistificação desnecessária da pesquisa. É importante ter foco no problema a ser estudado, construir objetivos claros, traçar um plano executável com os re- cursos e tempo disponível e usar procedimentos adequados para a proposta. Nesse Estudo Complementar indicamos algumas fontes e recur- sos para aprofundar seus conhecimentos. Muitas informações sobre o planejamento e especificação dos objetivos de uma pes- quisa estão disponíveis: ALVES, G. Dicas de pesquisa sociológica. Disponível em http:// pesquisasociologica.blogspot.com/ Acesso em 17 nov 2010. ane- xado em formato doc GÜNTHER, H. (Org.) Planejamento de Pesquisa para as Ciências Sociais. Disponível em http://www.unb.br/ip/lpa/pdf/02Sugestoes. pdf. Acesso em 04 jul 2007. Ver MIDIATECA para cópia em forma- to pdf. PINHEIRO, I. A. Dicas para escrever um trabalho acadêmico. Disponível em http://www.inf.ufsc.br/~rcampiol/downloads/dicas_ escrever_texto_cientifico.ppt. Acesso em 04 jul 2007. Ver MIDIA- TECA para copia em formato Powerpoint. SOSSAI, J. A. Determinação de objetivos educativos Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0034-89101974000400009&lng=en&nrm=. Acesso em 04 jul 2007. Ver MIDIATECA para copia em formato pdf. WAZLAWICK, R. S. Como fazer uma dissertação de mestrado em informática na educação: uma análise reflexiva sobre a ironia do processo. Disponível em http://zamorim.com/textos/tesedemes- trado.html. Acesso em 08 fev 2017. anexado em formato doc. ESTUDO COMPLEMENTAR www.esab.edu.br 110 8.6 Justificando a importância da pesquisa Nenhum pesquisador acorda pela manhã e diz “Ah, vou pesquisar sobre tal problema!”, assim, sem mais nem menos. A pesquisa científica gira em tor- no de uma dúvida, em torno de questões que nos inquietam e que, por isso mesmo, gostaríamos de ter respostas para elas. Assim, se um pesquisador procura respostas para determinado problema, esse problema surge em decorrência de uma motivação, um interesse, um dese- jo pessoal. Pesquisamos apenas aquilo que consideramos impor- tante para nós, para a humanidade ou para a nossa área de co- nhecimento. Os pesquisadores que se dedicam a entender o fenômeno da evasão escolar, por exemplo, o fazem porque as respostas que pretendem encontrar poderão auxiliar na definição de programas que contribuam para manter o aluno na escola. O índice de de- senvolvimento de um país se mede também pela escolaridade de sua população. Daí, a importância de se ter um maior número que esteja matriculado e frequentando a escola. Ao organizar o seu projeto, você deverá explicitar os motivos pes- soais que o levaram a trabalhar com o problema de pesquisa que definiu para si. Em seguida, você apresentará o problema de pesquisa, apontando a importância da realização de tal estudo, mas não apenas para você. O que realmente constrói uma jus- tificativa são os argumentos que substanciam o esforço para compreender melhor os fenômenos e suas interações. Neste sentido, estamos contribuindo para a construção do saber e o avanço do conhecimento. www.esab.edu.br 111 8.7 Fundamentação teórica e sua organização Uma vez definida a problemática da pesquisa e os motivos que o levam a pesquisá-la, o pesquisador levanta informações a respei- to de tal problema e como ele pode ser explicado. Procuramos as explicações já existentes e as tentativas de buscar um entendi- mento mais sistematizado sobre o problema, suas possíveis cau- sas e seus efeitos nas pessoas, nas instituições e na sociedade. Deve-se perguntar em que contexto o problema surgiu e como se encontra inserido, levantando o seu contexto, suas características sociais, culturais e ambientais. É importante perguntar-se, ainda, quais as ideias, os conceitos, construtos, hipóteses e teorias que contribuem para entender esse problema. Estamos falandosobre a fundamentação, quadro ou referencial teórico de uma pesquisa! Na fundamentação teórica, o pesquisador dá informações sobre o que já foi produzido sobre o fenômeno que ele pretende estudar. Quando você apresenta ideias e teorias, é preciso deixar claro por que elas estão sendo citadas, no que contribuem e/ou de que forma se relacionam com o fenômeno que será investigado. Dessa forma, é preciso identificar materiais existentes como livros, documentos, artigos, monografias, dissertações, teses. Portanto, a leitura e exploração de múltiplas fontes são hábitos que devem ser cultivados pelo pesquisador. Ao analisar o material consultado, o pesquisador pode, também, apresentar questões alternativas que podem ser estudadas dentro desse referencial. Richardson (1999) sugere uma sequência para elaborar a fundamentação teórica de uma pesquisa científica: Definir o fenômeno, apresentando algumas interpretações dadas a ele e deixando clara a conceituação que se preten- de adotar ao longo da pesquisa (isso é necessário, pois, nas Ciências Humanas, alguns fenômenos são interpretados de diversas maneiras, como por exemplo, a intimidade, a auto- nomia, a paixão); www.esab.edu.br 112 Caracterizar o fenômeno, explicitando os elementos que o compõem e o que já foi dito sobre eles, apresentando, tam- bém, as relações do fenômeno a ser estudado com outros fenômenos; Na conclusão, o pesquisador torna a fazer referências à conceituação do fenômeno e a sua caracterização e reapre- senta os objetivos de sua pesquisa. É importante registrar e organizar o material identificado no levantamento bibliográfico. Tempo precioso é perdido e há risco de confusão mental quando não criamos mecanismos para ordenar o nosso trabalho. Muitos pesquisadores nem acham material es- sencial previamente consultado se não se organizam. Você pode examinar os referenciais de estudos publicados em revistas eletrônicas em seu campo de estudo, bem como buscar teses e dissertações defendidas na maioria das universidades brasileiras. A biblioteca dos programas de pós-graduação muitas vezes tem acervos disponíveis de sua produção científica. Vários cursos da pós-gradua- ção oferecem revistas eletrônicas com artigos de professo- res e alunos. Artigos publicados em revistas científicas também contêm seus referenciais teóricos destacados no início do artigo, onde citam as obras mais recentes relacio- nadas à temática do trabalho. Explora a INTERNET! SAIBA MAIS www.esab.edu.br 113 8.9 Elaborando resumos e fichamentos A pesquisa ou levantamento bibliográfico é um importante estágio na elaboração do quadro inicial. Se o pesquisador utiliza teorias e conceitos para estudar fenôme- nos, a leitura é um hábito que deve ser cultivado. Pela leitura, o pesquisador fica conhecendo o que outros pesquisadores e autores já disseram a respeito do fenômeno que pretende estudar. Para que você possa otimizar seu tempo, é bom que, ao ler um livro, um documento ou qualquer outro material você faça um re- gistro das informações que poderão ser úteis. Além de comentar resumidamente as ideias apresentadas, você pode, por exemplo, destacar o que o próprio autor diz sobre a obra ao apresentá-la. Pode, também, escrever, destacando trechos para serem usados em futuras citações. É preciso não se esquecer de anotar as referências da obra, que devem constar do item referências bibliográficas, caso a obra venha a fazer parte do quadro teórico da pesquisa ou ser citada no texto. Mais adiante serão abordados os tipos de material que o pesquisador pode consultar, bem como a maneira correta de citar as referências das fontes consultadas. www.esab.edu.br 114 Quando se sente sem vontade ou sem muita criatividade para escrever o seu trabalho, organize as suas referências em formato de bibliografia. Mantenha esta lista bibliográfica em ordem alfabética e atualizada. Isso pode lhe salvar muito tempo durante a elaboração de seu texto científico, ou outro trabalho escrito. Converse com outros sobre suas ideias e dúvi- das, sempre consultando a INTERNET com novas palavras-chave, con- ceitos e nomes de autores. Pesquisar e escrever tendem a ser tarefas solitárias, mas depois você vai descobrir várias “recompensas” para todo o seu esforço! Já arranjou um espaço especial para você pensar, escrever, organizar e guardar o material de seu trabalho? Já replanejou seus horários para dar conta dessa tarefa de pesquisar e escrever? PARA SUA REFLEXÃO www.esab.edu.br 115 Na Unidade 9 aprofundamos na organização da investigação 1) delimitando aspectos relevantes do problema escolhido; e 2) mostrando a importância de um quadro teórico inicial. Também apontamos caminhos para a determinação das estratégias de investigação. 9.1 Organizando um quadro teórico inicial Ajuda bastante pensar em algumas definições básicas. Se qua- dro, significa uma forma que limita algo externamente e teoria, é um conjunto de princípios fundamentais que sustentam uma expli- cação de um dado fenômeno, o quadro teórico de uma pesquisa é iniciado pela identificação do que sabemos sobre o problema a ser estudado. É necessário que confirmemos se o problema já foi estudado, quando e por quem. Na fase de revisão do que já foi escrito identificamos os conhecimentos disponíveis sobre o assunto a ser investigado. Também identificamos conceitos e teorias que ajudam a explicar o fenômeno. Assim, ao construir um quadro teórico ou referencial teórico de um estudo científico, realizamos três tarefas simultaneamente: Sistematizamos as representações (conhecimentos) que temos acerca do problema, até então dispersos; Organizamos os fatos apresentados ou já verificados por outros estudos; Apresentamos as teorias e os conceitos que ajudam a expli- car os fatos (DOXSEY e MUGRABI, 2003, p. 37). www.esab.edu.br 116 Em outras palavras, o quadro teórico é um mapa que nos guia durante toda a pesquisa. No início do estudo, antes do levanta- mento bibliográfico, é um quadro simples. O desafio do(a) pesqui- sador(a) é melhorar e detalhar seu quadro ao longo do estudo, acrescentando novos fatos e informações. Na conclusão do traba- lho, voltamos a discutir o problema, as informações (dados) que coletamos à luz do quadro (mapa) que nos guiou. O quadro se- guinte é um desenho que simboliza a organização teórica inicial. É nosso referencial para a pesquisa! Quadro 9.1: O quadro teórico inicial Fonte: Autoria própria Quando escolhemos um problema a estudar, certamente sabemos algo sobre a situação ou contexto do problema. Esse é nosso ponto de partida. Suponha que você vai explorar o tema da evasão escolar brasileira. www.esab.edu.br 117 O que você já sabe sobre evasão escolar? Da escola de sua co- munidade, da sua faculdade, do seu município, do seu Estado de residência ou da evasão escolar do Brasil? Que documentos ou livros existem sobre evasão? Você já leu algum trabalho, artigo científico, livros sobre a evasão? Onde pode procurar mais refe- rências? Que recursos humanos ou autoridades podem ser con- sultados sobre isso? Abaixo apresentamos um esquema simples de um quadro teórico sobre a evasão numa escola específica, localizada em uma estra- da federal, a BR 101, no Espírito Santo. As informações ‘conheci- das’ estão no lado esquerdo. No lado direito, alguns possíveis conceitos, definições, hipóteses e teorias importantes para tentar explicar a evasão dessa escola estão listados. Observe que o quadro é um referencial inicial do conhecimento atual existente sobre o problema. A pesquisa vai ser uma tentativa de documentar ou explicar melhor os fatos. www.esab.edu.br 118 Quadro 9.2: Exemplo de um quadro teórico inicial Fonte: Autoria própria Mesmo configurando informações superficiais, o quadro permite a elaboração de um mapa mais detalhado. Que outros conceitos seriam importantes para esclarecer o problema? Quais as outras www.esab.edu.br 119 teorias ou hipóteses que existem sobre evasão? É óbvioque há necessidade de trabalhar com conceitos claros e coletar dados sobre os fatos, contexto e histórico do fenômeno sob investigação. Em áreas de conhecimento técnico nem sempre há muito material disponível. O pesquisador não deve se desanimar por isso. Neste caso é necessário buscar subsídios em projetos, sistemas, em outras áreas de conhecimento ou em tecnologias semelhantes. À medida que organizamos informações e fontes diversas em nossa produção científica estamos contribuindo para a construção do saber. 9.2 Delimitando a pesquisa Uma tarefa difícil para todo pesquisador é estabelecer limitações às suas expectativas de cobrir todos os aspectos relevantes de um problema. No processo de delimitação de um estudo, o pes- quisador necessariamente reduz a extensão da investigação para focalizar melhor o seu problema. Isso não quer dizer que perde o contexto de seu problema ou deixa de analisar algo importante. Mas, considerações, muitas vezes pragmáticas, podem “forçar” uma especificação mais precisa do trabalho a ser realizado. Nesse sentido, um bom pesquisador logo aprende a “escolher” um cami- nho mais específico, mais delimitado e focalizado. 9.2.1 A unidade de análise e os sujeitos da pesquisa Um detalhe muitas vezes omitido sobre metodologia de pesquisa é a lembrança sobre a delimitação do foco do estudo. Foco é uma questão de escolha e especificação de limites. É essencial deter- minar qual será a principal fonte das informações a serem coleta- das. A unidade de análise pode ser uma pessoa, um grupo, uma empresa, uma sala de aula, um município. Pode ser configurado em outro âmbito, num âmbito mais macro: um setor econômico, uma divisão de uma instituição ou uma escola. www.esab.edu.br 120 Independentemente do âmbito da análise é necessário saber quais os sujeitos da pesquisa. A escolha de quem vai ser estu- dado mantém uma relação estreita com dois aspectos principais: 1) até que ponto queremos generalizar ou concluir algo para um pequeno grupo ou para uma população maior; 2) quantos casos, indivíduos, unidades de observação precisam ser estudados para que os resultados sejam considerados ‘científicos’ (DOXSEY E MUGRABI, 2005). As técnicas de amostragem permitem reduzir o número de sujei- tos numa pesquisa, sem risco de invalidar resultados ou de impos- sibilitar a generalização para a população como um todo. Nos trabalhos quantitativos, a generalização está determinada pela amostragem aleatória e pela estatística inferencial, mas essas técnicas não são relevantes para a pesquisa qualitativa (RICHARDSON, 1999, p. 101). Apresentamos a seguir um resumo da discussão de Lavado e Castro (2001) sobre amostragem - algumas definições de popula- ção e amostra: Na elaboração de um projeto de pesquisa, de- ve-se ter clara a definição dos termos “popula- ção” e “amostra”. A população diz respeito a um conjunto de elementos onde, cada um deles, apresenta uma ou mais características em co- mum. Quando se extrai um conjunto de www.esab.edu.br 121 observações da população, ou seja, toma-se parte desta para a realização do estudo, tem-se a chamada amostra. Na prática, a partir de uma amostra, pode-se fazer inferências para a população. O termo amostragem refere-se ao processo pelo qual se obtém uma amostra e deve ser realizada com técnicas adequadas para garantir a representa- tividade da população em estudo. Cabe ainda ressaltar que, sempre que possível, cada ele- mento da população deve ter igual chance de participar da amostra, evitando assim, o cha- mado viés de seleção. O levantamento por amostragem provê algumas vantagens na rea- lização do estudo como: menor custo, resulta- dos em menor tempo, objetivos mais amplos e dados fidedignos (p. 1). Mas, se o seu estudo não utiliza técnicas de amostragem, uma abordagem quantitativa, quantos sujeitos ou unidades de obser- vação são necessários? Infelizmente, não existem ‘regras’ para responder a pergunta. Para a pesquisa qualitativa o pesquisador seleciona os sujeitos de acordo com o problema da pesquisa. Quem sabe mais sobre o problema? Quem pode validar tal infor- mação com outro ponto de vista ou uma visão mais crítica dessa situação problemática? O iniciante em pesquisa científica muitas vezes pensa que a pes- quisa qualitativa é o caminho mais indicado para se exercitar na pesquisa porque exige um número menor de entrevistas, questio- nários ou observações etc. A pesquisa quantitativa é percebida como mais complicada e demorada com um maior número de observações necessárias. Nem sempre essa percepção é verda- deira! www.esab.edu.br 122 Vários fatores influenciam as decisões tomadas pelo pesquisador no planejamento de um projeto. O tamanho e a complexidade da população são os principais determinantes no tamanho e no tipo de amostra contemplado. As pesquisas qualitativas permitem maior liberdade na composição dos casos e/ou unidades a serem escolhidas. Ao mesmo tempo em que observamos questões prag- máticas no desenho do estudo, o pesquisador deve evitar que preferências, valores pessoais ou fatores de conveniência afetem suas decisões sobre a população a ser estudada. O bom senso não é suficiente para determinar o tamanho da amostra em pes- quisas quantitativas. É necessário utilizar as fórmulas estatísticas, evitando regras simplistas pelas quais o pesquisador aplica uma porcentagem X ao número total da população (universo) para calcular a amostra. Via de regra, evita-se estudos quantitativos (exploratórios ou descritivos) com menos de 30 casos. Dependendo do estudo, muitas vezes, apenas um grupo será insuficiente para a pesquisa quantitativa ou qualitativa. Por outro lado, um bom estudo de caso pode envolver “apenas” uma família, uma pequena escola ou instituição. No final das con- tas, você, pesquisador(a), é quem determina a abrangência e es- pecificação de seu estudo. É de suma importância, portanto, um planejamento e justificativa adequados para as estratégias adota- das em sua proposta. 9.2.2 Estratégias de investigação Para Creswell (2010, p. 35), “o pesquisador não apenas seleciona um estudo qualitativo, quantitativo ou de métodos mistos, também decide sobre o tipo de estudo destas três escolhas. As estratégias de investigação são os tipos de projetos ou modelos de métodos qualitativos, quantitativos ou mistos que proporcionam uma dire- ção específica aos procedimentos em um projeto de pesquisa.” www.esab.edu.br 123 ESTRATÉGIA DEFINIÇÃO PESQUISA QUALITATIVA Meio para examinar e entender o significado que indivíduos ou grupos atribuem a um fenô- meno. O processo de pesquisa envolve ques- tões emergentes com dados coletados no ambiente do participante, a análise de dados construída a partir das particularidades para os temas gerais e as interpretações feitas pelo pesquisador acerca do significado dos dados. PESQUISA QUANTITATIVA Escolha de procedimentos sistêmicos para descrição e explicação de fenômenos. Em- prega a quantificação na coleta de informa- ções e no tratamento delas por meio de técni- cas estatísticas, com a intenção de garantir a precisão dos resultados, testar teorias, gene- ralizar e para replicar os achados da investi- gação. PESQUISA DE ESTRATÉGIAS MISTAS Abordagem que combina ou associa as for- mas qualitativas e quantitativas. Envolve su- posições filosóficas específicas. A mistura de estratégias usando as duas formas em con- junto significa que o esforço do estudo seja maior do que o uso de apenas uma estratégia isolada. Quadro 9.3: Definições dos termos fundamentais de estratégias de investigação1 Fonte: Creswell, 2010, p. 35. A escolha de uma estratégia de investigação não é fácil. Depende em parte das concepções, crenças ou suposições moldadas pela área de estudo do pesquisador, pelos seus professores e pelas experiências prévias em pesquisa (ou não). As definições, porém pressupõem uma compreensão ampla de diferentes métodos e técnicas de pesquisa. A quantidade de opções também assusta owww.esab.edu.br 124 pesquisador. Algumas opções foram apresentadas na Unidade 14. Abaixo estão organizadas algumas opções citadas por Creswell: PESQUISA QUA- LITATIVA PESQUISA DE ESTRA- TÉGIAS MISTAS PESQUISA QUANTITATIVA Pesquisa nar- rativa Fenomenologia Etnografias Estudos de teo- ria fundamenta- da Estudo de caso Sequencial (inicia com uma estratégia e segue com a outra) Concomitante (con- verge ou mistura da- dos) Transformativa (utili- za enfoque teórico para estruturar tópi- cos de interesses e a coleta de dados) Projetos experi- mentais Levantamentos de dados (enquetes) Diagnósticos Quadro 9.4: Alternativas de pesquisa associadas às estratégias de investigação2 Fonte: Creswell, 2010, p. 36. O mapeamento de algumas dimensões pode ajudar a entender as diferenças entre essas estratégias. Lembra que são polos teorica- mente “opostos” que a grande maioria dos pesquisadores hoje em dia as descarta como “verdades absolutas”. www.esab.edu.br 125 PESQUISA QUALI- TATIVA PESQUISA DE ES- TRATÉGIAS MIS- TAS PESQUISA QUAN- TITATIVA Procedimentos emergentes Tanto predetermi- nantes como emer- gentes Procedimentos predeterminados Perguntas abertas Tanto questões aber- tas quanto fechadas Questões fecha- das no instru- mento Dados primários Formas múltiplas de dados Dados de regis- tro, censo, dados observacionais. Análise de texto e imagem Múltiplas formas de análise Análise estatísti- ca Interpretações de padrões e temas Interpretação múlti- pla Interpretação es- tatística Relatório informal, conclusões abertas para interpretação do leitor Relatórios diferen- ciados para grupos e publicação Relatórios for- mais com conclu- sões e generali- zações Quadro 9.5: Características diferenciadas entre estratégias de investigação e procedimentos de estudo Fonte: Adaptado de Creswell, 2010, Capítulo 01. O planejamento de uma pesquisa então requer uma série de defi- nições, escolhas e decisões com foco no problema a ser estudado. As escolhas e decisões serão influenciadas pelas experiências e pelas concepções moldadas pela área de conhecimento de cada pesquisador. A responsabilidade do pesquisador para conduzir este planejamento é um desafio metodológico e filosófico! www.esab.edu.br 126 9.3 Cronograma de execução da pesquisa Depois de definir os procedimentos metodológicos que serão usados na realização da pesquisa, você pode pensar em elaborar um cronograma, informando as etapas de execução e os períodos em que cada uma delas será realizada. Procure dimensionar o tempo de que você dispõe, de forma a não delimitar tempo a mais, nem a menos, para cada tarefa. O crono- grama é organizado em forma de tabela, como mostra o exemplo a seguir: Se precisar entender melhor a diferença entre “quantitativo” e “qualitativo”, você deve consultar os livros na bibliografia do módulo ou buscar as definições e exemplos disponíveis na INTERNET. O livro de Creswell é a mais completa dis- cussão destas estratégias. Não há caminho fácil para aprofundar os seus conhecimentos. Boa leitura! PARA SUA REFLEXÃO www.esab.edu.br 127 ATIVIDADES MÊS Mai Jun Jul Ago Set Out Escolher tema Planejar o projeto Coletar dados Analisar e interpretar dados Redigir e revisar trabalho Solicitar agendamento da defesa Defender o trabaho Tente seguir os prazos que você estabeleceu para cada tarefa. Lembre-se de que tens um prazo para terminar seu curso e o tra- balho escrito. Por isso, administre o tempo de que dispõe, prefe- rencialmente, dedicando-se todos os dias à elaboração da sua pesquisa. O exemplo de cronograma acima tem finalidade de ilustrar o conceito de planejamento essencial para o pesquisador. Os prazos das etapas da produção do TCC da ESAB são bem menores. Prepare-se durante o período dos módulos para iniciar seu plano de trabalho. www.esab.edu.br 128 Utilizando as palavras-chave “cronograma de projeto” leia mais sobre os vários tipos de cronograma para projetos de estudo, planos de pesquisa etc. Um cronograma físico de- talha mais ainda os produtos esperados de um projeto. Ex- plore o conceito de cronograma. Achei 3.160.000 resultados em 0,27 segundos numa busca usando GOOGLE para “cronograma de projeto”! ESTUDO COMPLEMENTAR www.esab.edu.br 129 Aqui examinamos vários procedimentos para a coleta e análise de dados quantitativos e qualitativos. Como vi- mos na Unidade 6, o pesquisador usa os instrumentos e técnicas para a co- leta de dados que selecionou no plano de pesquisa. Neste fascículo enfatizamos a cole- ta de dados com pessoas, sua expressão escrita ou oral e seu comportamento em geral. Evidentemente há outras fontes de dados para pesquisa, como mostrado no quadro 6.1 da Unidade 6. Por exemplo, para maiores informações sobre pesquisas com base documental, veja Laville e Dionne, Capítulo 7 (Em busca de informações, p. 165-196) e Richardson, Capítulo 15 (Pesquisa histórica, p. 245-258). 10.1 Técnicas e alguns instrumentos de coleta de dados Não podendo nos estender demasiado na apresentação da varie- dade de instrumentos, abordaremos aqui algumas técnicas que são frequentemente utilizadas no campo das ciências sociais e humanas, lembrando que a escolha de técnicas já desenvolvidas ou a necessidade de criar novas depende essencialmente do ob- jeto de investigação. 10.1.1 A Observação A técnica mais antiga e certamente a mais utilizada é a observa- ção. Ela pode ser parte de uma série de procedimentos, utilizada geralmente no início do trabalho de campo ou empregada enquan- to método exclusivo. Algumas vezes utilizamos a observação www.esab.edu.br 130 como fase anterior à elaboração do projeto de pesquisa, como forma de aproximação e de melhor conhecimento acerca da pro- blemática a ser investigada. As observações têm sido muito empregadas em pesquisas edu- cacionais. Muitas investigações envolvem diversas técnicas de registro da sala de aula – para observar a conduta de professores/ as e alunos/as. Na sua grande maioria, tais observações procuram focalizar um aspecto específico do processo educacional ou des- crever o clima estabelecido no cotidiano da sala de aula ou da escola como um todo. A observação científica, porém, deve respeitar certos critérios, satisfazer certas exigências: não deve ser uma busca ocasional, mas posta a serviço de um objeto de pesquisa, questão ou hipótese, claramente explicitada (LAVILLE e DIONNE, p. 176). A observação não é um processo passivo e pode envolver o/a pesquisado/a numa abordagem de participação direta ou indireta. A pesquisa participante engaja o cientista ativamente no “campo”, na realidade da problemática sob o estudo. A observação participante pressupõe que o pesquisador interfira nos processos que busca investigar e nos resultados que estiverem sendo registrados. Para Laville e Dionne, a riqueza da integração do/a pesquisador/a ao meio promove o acesso a informações inacessíveis de outra for- ma, a informações que os sujeitos não forneceriam voluntaria- mente, ou que às vezes nem têm consciência plena delas, já que seus comportamentos reais são “frequentemente” distantes dos comportamentos verbalizados (p. 154), registrados em entrevis- tas, análise documental ou num questionário. A observação engloba uma variedade muito grande de abordagens; as mais comuns são a observação assistemática (não estruturada) ou sistemática (estruturada). (Para maiores detalhes, veja LAVILLE e DIONNE, p. 176- 183, ou RICHARDSON, p. 259-264). www.esab.edu.br 131 Não se trata de abordagens mais objetivas ou menos objetivas. A diferença entre o grau de estruturação da observação está no pressuposto que o/a pesquisador/a faz em relação ao nível de exploração necessária na fase do estudo sendo realizada ou no reconhecimento da falta de saberes sobre os fenômenos sob análise. A observação científica pode ser descritiva ou analítica. O/a pesquisador/a interpreta e seleciona o que registra indepen- dentemente do grau deestruturação da observação. 10.1.2 A entrevista A entrevista é outra técnica bastante frequente na pesquisa edu- cacional. Ela também pode ser realizada sob múltiplas formas, podendo ser utilizada para clarificar comportamentos, fases críti- cas etc., da vida das pessoas. Ela se impõe todas as vezes que as outras técnicas de investigação (observação, testes, questionários etc.) não podem fornecer as informações necessárias e adequa- das para determinada pesquisa. Haugette (1987, p. 86) define entrevista como um processo de interação social com quatro componentes-chave: o entrevistador, o entrevistado, a situação da entrevista e o instrumento de capta- ção de dados (roteiro de entrevista). Para Gil (1999, p.117), a inte- ração é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de infor- mação. A entrevista como técnica de investigação é considerada adequa- da para obter informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca de suas explicações ou razões a res- peito das coisas (SELLTIZ, et. al., 1967, p. 273). Laville e Dionne classificam a entrevista enquanto recurso destinado a explorar e colher depoimentos de pessoas que detêm certas informações ou conhecimentos acerca de algo; ela também serve para coletar www.esab.edu.br 132 suas representações, crenças, valores, opiniões, sentimentos... projetos (p. 183). Neste sentido, através da entrevista, o sujeito se torna testemunho, informante e fonte de si mesmo. A amplitude de técnicas e instrumentos que têm a função de inter- rogar as pessoas varia de um roteiro normatizado até à entrevista não diretiva. Como no caso da observação, o grau de estruturação do instrumento da entrevista depende dos objetivos da pesquisa. Na entrevista com roteiro normatizado (padronizado), o/a entre- vistador/a aplica o instrumento com questões formuladas da mes- ma maneira, na mesma ordem com as mesmas opções de res- posta (Ibid, p. 184). Essa técnica facilita a comparação rápida de informações com um grande número de informantes. As entrevistas parcialmente ou “semiestruturadas” utilizam rotei- ros de perguntas, geralmente com uma ordem prevista. Os/as entrevistadores/as seguem o roteiro, mas também podem acres- centar perguntas de esclarecimento ou aprofundar a discussão em função das respostas obtidas (Ibid, p. 188). A entrevista não diretiva adota uma postura de escuta ativa com o/a entrevistado/a fim de estimular uma reflexão mais profunda sobre a temática da entrevista. Além de anotar certas observações e/ou preencher um instrumen- to escrito para registrar cada resposta durante a entrevista, o/a pesquisador/a pode gravar o áudio ou filmar a sessão. Esses procedimentos envolvem considerações éticas para obter con- sentimento para que a gravação seja feita. Também apresentam outras dificuldades relacionadas à transcrição das fitas, o uso / guarda deste material, inclusive por terceiros, e os direitos huma- nos e legais dos sujeitos da entrevista. Muitas vezes é necessária uma preparação especial para apren- der a ser entrevistador/a. Cada tipo de entrevista requer procedi- mentos diferenciados. Entrevistas mais abertas ou clínicas www.esab.edu.br 133 requerem um aprendizado específico. Estudos que usam equipes de entrevistadores/as, mesmo com roteiros uniformizados, tam- bém os habilitam em como selecionar e abordar o/a entrevistado/a, como aplicar e preencher o questionário no trabalho de campo. Entrevistas individuais podem ser conduzidas por telefone. O uso do telefone é mais comum na área de marketing e de opinião pú- blica em áreas urbanas. Emergem hoje, no Brasil (em áreas me- tropolitanas), empresas especializadas em levantamentos por te- lefone. Essa técnica se expande nos países onde amostragens populacionais são alcançáveis devido à expansão do aparelho telefônico em todos os estratos socioeconômicos. Técnicas de entrevistas em grupo são utilizadas também na área de marketing de produtos e de candidatos políticos. Essa aborda- gem de grupos-alvo (grupos focais) é (...) uma técnica especial de entrevista dirigida a mais de que uma pessoa ao mesmo tempo. (Tenta recriar)... uma forma de contexto ou de ambiente social onde o indivíduo pode interagir com vizinhos, deve às vezes defender suas opiniões, pode contestar as dos outros. Essa abordagem possibilita também ao pesquisador aprofundar sua compreensão das respostas obtidas (Laville e Dionne, p. 194). A maioria dos livros sobre técnicas e métodos de pesquisa apro- funda discussões sobre a entrevista humana. (Consulte GIL, 1999, Capítulo 11; LAVILLE e DIONNE, p. 186-190; RICHARDSON, p. 115-138; HAGUETTE, 1992, p. 87-100; e LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33-44.) 10.1.3 O questionário Essa técnica é largamente utilizada nas ciências humanas desde o século XIX quando teve o objetivo de levantar as condições de vida da população mais pobre. Seu campo de aplicação é vasto, www.esab.edu.br 134 possibilitando ao/à pesquisador/a apreender fenômenos muito di- versos de certos comportamentos sociais (opiniões diversas, inte- resses, intenções, representações, concepções ideológicas etc.) e de comportamentos privados e íntimos (sexualidade, consumo, modo de vida, método de trabalho, etc.). No entanto o questionário tem por objetivo principal de apreender o presente do qual ele pretende fornecer uma imagem. O questionário pode ser aplicado por meio de entrevista individual, ou seja, com o/a entrevistador/a registrando as respostas. Tam- bém, pode ser autopreenchido, acompanhado com instruções escritas para cada item ou bateria de perguntas. O questionário escrito pode ser distribuído em grupos por pessoas treinadas para aplicação múltipla. É frequente a distribuição de questionários em instituições, empresas, repartições públicas, assim como o seu envio pelos Correios. O principal problema dessas abordagens é a baixa taxa de retorno de questionários autopreenchidos bem como o aumento de erro e omissão nas respostas. A distribuição de questionários por e-mail e através de páginas eletrônicas na WEB mostram melhores resultados, porém não podemos esquecer que a exclusão eletrônica é uma realidade no Brasil. O instrumento para aplicação e tabulação imediata dos dados, inclusive com retorno imediato dos resultados para o/a participante, abre um novo campo de coleta de informações. Com efeito, a coleta de dados e avaliações on-line têm utilidade espe- cial para programas de educação a distância. Laville e Dionne classificam os questionários em três categorias: instrumentos com perguntas fechadas, com perguntas abertas e os que combinam os dois tipos de perguntas. (Ver páginas 190- 191 para exemplos dessas perguntas, bem como uma discussão das vantagens e desvantagens de cada tipo.) www.esab.edu.br 135 Tradicionalmente o questionário é organizado em blocos de itens ou perguntas. Os blocos ou eixos temáticos correspondem aos principais focos do projeto de pesquisa: o problema ou as hipóte- ses. Para Laville e Dionne (1999, p.198) cada item deve ter senti- do preciso e responder a uma necessidade relacionada com os objetivos da pesquisa. Para organizar o instrumento é importante lembrar que a sequên- cia dos blocos e seus itens devem aparecer numa forma lógica e simples. É comum encontrar itens de identificação do sujeito no início, embora certas perguntas sobre nível sócio-econômico, fontes de renda, composição familiar, posse de bens possam inti- midar o/a respondente a ponto de dificultar a aplicação do ques- tionário. Perguntas sobre o perfil do/a entrevistado/a, então, podem ser uma forma de terminar o questionário. Como instrumento de pesquisa o questionário tem limitações, vantagens e desvantagens. Compete a nós pesquisador/as cons- truir os melhores meios de coletar os dados. A formulação de um questionário é complexa. Tanto a sua construção quanto a sua aplicação requeremcautela. A qualidade das informações recolhi- das por este instrumento está diretamente associada a sua quali- dade técnica enquanto ferramenta de pesquisa. Por ser um meio muito usado, há bons textos metodológicos dis- poníveis para nos ajudar. Vamos explorar mais a formulação de questionários no Fascículo 02. Para os interessados, Richardson reúne um excelente resumo de considerações sobre a construção dos questionários (p. 197-204). Também os autores Laville e Dion- ne (p. 183-186) discutem os principais problemas encontrados com questionários abertos e fechados. www.esab.edu.br 136 10.2 A análise de dados O cerne de uma pesquisa é o problema. E durante a realização do estudo o pesquisador se move no sentido de buscar respondê-lo. No projeto, o pesqui- sador definiu como vai realizar o estudo. Depois de aprovar o projeto junto a um orientador, caso seja orientado no seu pro- grama de pós no planejamento de um proje- to, o pesquisador começa a coletar dados, indo a campo buscar informações que possam dar essa resposta.1 Coletados os dados é hora de fazer a análise do que se tem em mãos. Na fase de análise, o pesquisador vai verificar, entre os dados que obteve informações tais como: Quais as informações que aparecem com mais frequência? Quais as possíveis razões para serem mais frequentes? Quais as informações que aparecem com menos frequên- cia? Quais as possíveis razões para serem menos frequentes? Quando faz um mapeamento dos dados obtidos durante a coleta, o pesquisador tem condições de fazer uma síntese do que possui, apresentando as tendências que percebe. Essa análise dos dados deve ser feita à luz do referencial teórico sempre em relação aos objetivos do estudo. Após ter coletado seu material com todo o rigor necessário, o/a pesquisador/a vai efetuar uma nova tarefa que conduzirá seu tra- balho ao nível da cientificidade. Trata-se nesse momento de bus- car compreender e explicar as atividades humanas e os motivos que as desencadearam, ou então produzir uma explicação das 1 Como informamos previamente, na ESAB não há projeto de trabalho a ser elaborado. O pesquisador planeja e executa seu artigo científico na primeira etapa do TCC. Consulte o Manual para maiores detalhes. www.esab.edu.br 137 representações dos atores em relação com as estruturas objetivas do espaço social nos quais essas representações são construídas. Qualquer que seja seu objeto, a fase de análise dos dados é ex- tremamente exigente. Ela necessita de uma reflexão crítica inten- sa e uma atitude lógica e racional que determinarão a qualidade final do estudo. Apoiado em uma leitura teórica plural e consisten- te, o trabalho do/a pesquisador/a consiste nesse momento em transformar a matéria primeira recolhida seja pela leitura de docu- mentos, seja pela observação, seja pela informação fornecida pelos indivíduos em conhecimentos cientificamente válidos. 10.2.1 O tratamento e análise estatística (pesquisa quantitati- va) Os procedimentos quantitativos infelizmente são mistificados como difíceis e complicados. Associa-se o método quantitativo com a análise estatística sofisticada, quando na maioria das vezes precisamos apenas de noções básicas de matemática e álgebra para quantificar e interpretar certos dados. A análise estatística é aquela que, circunscrevendo o campo da estatística, baseia-se em técnicas quantitativas e/ou gráficas. Ela convém a todas as pesquisas cuja correlação entre os fenômenos pode ser expressa em variáveis quantitativas. Quantificamos quando contamos indivíduos, atributos desses in- divíduos, ocorrências ou frequências de ocorrências de fatos. Para cada fenômeno ou fator a ser quantificado, atribuímos um conjun- to de valores numéricos para representá-lo. O valor atribuído pode ser real ou simbólico. Ela se impõe em casos onde os dados recolhidos sob forma de enquete por questionário são examinados e apresentados de for- ma sintética. Planilhas eletrônicas como Excel facilitam o registro e a organização de bancos de dados. Operações matemáticas simples realizadas nessas planilhas evidenciam certas tendências www.esab.edu.br 138 nas informações. Programas específicos de análise de dados (por exemplo, SPSS, Pacote Estatístico para as Ciências Sociais) produzem tabelas, gráficos e examinam associações entre variá- veis. A análise estatística é realizada em dois tempos: 1. na descrição dos dados com o auxílio de algumas medidas (as medidas de tendência central, as medidas de dispersão e a frequência relativa expressa em porcentagem de cada estado da variável) que os resumem e os caracterizam ao mesmo tempo; 2. no estudo dos nexos entre os dados e de suas diferenças, o que permite fazer inferências. Na fase de análise, se a opção do pesquisador foi pelo método quantitativo para tratar os dados, tabelas e gráficos serão recursos amplamente utilizados para apresentar a distribuição dos dados. Quantificamos quando contamos indivíduos, ocorrências ou fre- quências de ocorrências de fatos. Cabe ao pesquisador escolher os tipos de análise estatística e apresentação dos resultados no trabalho final. (Ver LAVILLE e DIONNE, Apêndice B – Elementos de Análise Estatística, p. 299-329, para mais exemplos e detalhes sobre quantificação.) Em geral, o resultado da análise quantitativa pode ser apresentado sob forma visual, através de quadros/tabelas e dos gráficos. Essa apresentação constitui uma maneira eloquente de exibir os dados de modo condensado. 10.2.2 A pesquisa qualitativa Se a escolha foi por analisar os dados com técnicas qualitativas, o tratamento dos dados será feito com o uso de técnicas como análise documental, análise de conteúdo ou análise histórica. www.esab.edu.br 139 A análise dita qualitativa é aquela em que os dados são apresen- tados de forma verbal ou escritos. Em geral, ela compreende três etapas essenciais: 1. a preparação do material bruto: quando as entrevistas termi- narem ou os questionários forem recolhidos, transcreve-se as in- formações obtidas, de modo a criar um banco de dados e facilitar o manuseio do material disponível; 2. a condensação ou redução dos dados: trata-se de reduzir e estruturar o conjunto de dados e informações organizadas na pri- meira etapa; isso pode ser feito de múltiplas maneiras, e segundo o principio adotado de recorte dos enunciados, distingue-se vários tipos de análise de conteúdo. 3. a produção de resultados: a partir da seleção de certos temas vinculados diretamente com o problema de pesquisa, identifica-se variações no interior do corpus e propõe-se elementos que expli- cam tal variação, ou ainda apresenta-se tipologias mais recorren- tes. Cada técnica de análise requer procedimentos particulares, a se- rem utilizados. Vários manuais de Metodologia de Pesquisa trazem informações detalhadas sobre essas técnicas. Como sugestão, você pode consultar Pesquisa Social: Métodos e Técnicas (RI- CHARDSON, 1999) ou livros sobre pesquisa qualitativa apresen- tados nas referências desse módulo. A seguir apresentamos uma ilustração de uma análise de dados realizada numa pesquisa qualitativa de pós-graduação na Univer- sidade Federal do Espírito Santo. Um exemplo de análise temática (pesquisa qualitativa) Um exemplo de análise temática pode ser encontrado na disser- tação de Jeanine Maria Dagostini Valentim (2002). Desejando in- vestigar os processos psicossociais de grupos acadêmicos, a pesquisadora realizou uma série de entrevistas com vários grupos de alunos/as. Depois de ter lido várias vezes as transcrições do www.esab.edu.br 140 conjunto das entrevistas, ela identificou sete temas. Veja como esse processo aparece descrito em sua dissertação. (...) após várias leituras das transcrições das entrevistas de cada grupo, escuta constante das gravações, por meio das quais podia sentir e perceber vivos todos os movimentos do pro- cesso, como risos, silêncios, choros, esbravejar de alguns, (...) percebi ser necessário refletir sobre isso,a fim de enunciar o significado que havia captado intuitivamente. Após isso feito, procurei unir os elementos que fossem comuns à vivência de todos os grupos (p. 33). Disso surgiram elementos que foram guias para facilitar a com- preensão dos dados coletados. Grupos Acadêmicos: grupo de pessoas em interação/comu- nicação, que em comum compartilham experiências e aprendizagem. Percepção do Grupo: Consciência relativa aos processos do fenômeno grupal. Corporações: subgrupos, “panelinhas”, dentro dos Grupos Acadêmicos. Zona de conforto: dimensão interativa que evidencia a “an- gústia da procura” ou iniciativa na resolução de problemas. Envolve tarefas-emoção. Energia: dimensão que engloba características comporta- mentais que envolvem padrões de julgamento, emoções, influência e ações. Territórios: dimensão que envolve o movimento de abertura e resistência a mudanças e manutenção das pequenas cor- porações. Espaço/Tempo: dimensão que envolve o desafio de compar- tilhar os diferentes processos internos de ritmo de produção (p. 40). O passo seguinte dado pela pesquisadora foi o de descrever os grupos e as fases pelas quais eles passaram, procurando elemen- tos de conexão entre os diferentes temas. Tendo unido alguns www.esab.edu.br 141 elementos do processo, as análises e descrições de resultados seguiram os seguintes movimentos: Descrevi os grupos, guiada pelo mapa conceitual e pela questão norteadora: os processos interativos/comunicativos no grupo acadêmico, turma de sala de aula formal de ensino superior; Descrevi sobre os processos e fases; transcrevi extratos dos relatos dos grupos a respeito dos processos que me falaram desse sentido; Delineei elementos dos processos e, através disso, pude ter mais clareza de determinados conceitos; Envolvi-me novamente com os relatos dos grupos e identifi- quei as dimensões mais detalhadamente; Enunciei alguns resultados inerentes às interconexões das dimensões (p.41). Esse trabalho de busca de conexão entre os temas, tentando aprender elementos de regularidade, culmina com a definição de quatro categorias (zona de conforto, energia, territórios, espa- ço-tempo), a partir das quais a pesquisadora interpreta as atitudes significativas dos pesquisados/as para o processo comunicativo dos grupos. Vejamos como a própria autora tenta compreender os dados de que dispõe e propõe sua interpretação do fenômeno em questão, tomando como exemplo a maneira como ela explora a categoria que ela designou zona de conforto. Exemplo da construção do conceito: Zona de Conforto A zona de conforto, termo utilizado por um dos próprios participan- tes das entrevistas, põe em jogo a “angústia da procura” (Estu- dante 2). Diante de uma situação problema, em que não se têm padrões estabelecidos de procedimentos, envolvendo incertezas e tensão, as interações nos grupos solicitam dos indivíduos respostas em duas áreas básicas que se entrelaçam: na resolução da tarefa, neutra, voltada para o conteúdo e sócio-emocionais que pode tomar várias direções: Dependência, quando se procura um líder www.esab.edu.br 142 ou algo ou alguém externo para proteção ou orientação; Luta, quando se pode atacar e agredir a que, ou a quem, se percebe como responsável pela situação; Fuga, quando se pode deixar o grupo, física ou psicologicamente, e não lidar com o conflito; União, quando se pode estabelecer uma relação mais próxima, estabele- cer um clima de maior autenticidade, compartilhando sentimentos, diminuindo o conflito e trabalhando juntos. Nos grupos acadêmicos, percebe-se que quanto maior é o grupo, mais se amplia a zona de conforto, quer dizer que, mais pessoas se encontram no limiar da espera, da acomodação. Assim, o grupo é percebido e associado à segurança e proteção, pois sozi- nho “pouco se faz” (E4) e “muito se expõe” (E4) às críticas e po- de-se... ”Levar na cara e doer muito...” (E4) e nem todos estão a fim ou preparados para serem observados, julgados e até rejeita- dos, caso isso venha a acontecer. Os extratos a seguir retratam bem essa zona de conforto: [...] eu gosto sempre de trabalhar em grupo... porque... eu acho me traz mais segurança do que fazer sozinha. (E4) Teve uma vez, aqui na turma, teve uma pessoa em espe- cial,... e colocou a cara para bater e falou: olha professora, estou tomando posição..., aí, foi depois do depoimento da colega que, muito aos poucos e com constrangimento, ou- tras pessoas foram colocando seus depoimentos. (E4) Muitas pessoas recorrem à zona de conforto e esperam que falem para elas: olha, você vai ter que fazer isso. Mas, essa é a parte mais fácil, o mais difícil é iniciar o processo, desco- brir como cada um pode contribuir. (E2) [...] a, como você (essa é a pessoa considerada o represen- tante do grupo) não estava aqui, o trabalho ficou parado, ninguém decidia, ninguém fazia nada e ficava um esperando pelo outro. Então, como ficava um esperando pelo outro, cada um foi procurar o que é melhor para ele, entrar num grupo que as coisas já estavam caminhando. Ninguém to- mou a iniciativa: vamos fazer isso! Então tem esse fator de acomodação... (E3). Assim, Zona de Conforto pode ir desde o cumprimento de tarefas acadêmicas mais simples até confrontos com professores e com www.esab.edu.br 143 outros grupos. Significa que no grupo acadêmico, as interações são polarizadas na dependência, nomeada como “comodismo” (E2, 3), momento de “espera” (E2). Os sentidos dessa dimensão percebidos por mim podem ser as- sim descritos: Olho para um lado, olho para o outro, sem saber o que e como fazer, espero pelo outro para me guiar, dar iniciativa; dependo de alguém para mostrar-me o caminho, se não obtenho esse cuidado, agrido e culpo aquele que não me conduziu, não consigo entender qual minha função neste grupo, preciso de al- guém, de um outro para dar o primeiro passo em direção à solução da situação problema. O outro é considerado como uma espécie de representante, aque- le a quem lhe é confiado a tarefa de arquitetar e planejar o anda- mento da corporação. Ele é tão importante para o grupo, que na sua ausência muitos subgrupos se dissolvem, desintegram, pois seus membros não dispõem de autonomia e iniciativa bastantes para dar prosseguimento às tarefas. Preferem se ajustar a um outro grupo que já esteja com suas atividades em andamento, a partir para uma iniciativa própria. A angústia da procura encontra- -se neste limiar de tomar a iniciativa, dar o primeiro passo, iniciar o processo (p. 86-88). Outros aspectos da análise de conteúdo Em geral, as entrevistas ou as respostas abertas de um questio- nário são constituídas por respostas muito variadas, às vezes heteróclitas, a uma mesma questão. O trabalho de análise consis- te em descobrir, para além desse material verbal, certas atitudes, certos traços pessoais ou uma maneira de pensar. Esse trabalho é delicado e meticuloso, pois é necessário fazer falar os fatos, encontrar indícios, interrogar-se a propósito da mí- nima frase, confrontar testemunhos, recolher provas. São as hipó- teses e os conceitos continuamente revistos e afinados que per- mitem avançar na compreensão do fenômeno. É necessário um vai e vem permanente entre a teoria e o material coletado no campo. www.esab.edu.br 144 Como já dissemos existem várias maneiras de analisar o conteú- do. Em geral, uma análise de conteúdo deve obedecer aos se- guintes princípios: Princípio de extensão: a análise deve dar conta da totalidade do corpus; Princípio de fidelidade: toda e qualquer conclusão tirada deve decorrer efetivamente dos dados coletados; Princípio de autossuficiência: os resultados da análise de- vem ser exaustivos com relação ao problema, de maneira que não seja necessário retornar ao corpus. A classificação das respostas, a criação de categorias e o número de categorias Começa-se a classificar o que é indiscutível, deixando-se de lado os casos duvidosos. As respostas ambíguas obrigam, às vezes, aum retorno ao conjunto da entrevista, para recolocar a resposta em seu contexto. Quando isso não é suficiente, toma-se outra decisão, sabendo que um certo número de respostas é sempre marginal com respeito às categorias criadas. Nesse estágio pode- -se julgar útil criar uma subcategoria suplementar ou mesmo uma categoria nova pode aparecer como uma necessidade. O corpus de uma pesquisa refere-se ao conjunto de enun- ciados produzidos pelos/as entrevistados/as ou responden- tes, re-transcritos de maneira literal. Na transcrição das en- trevistas, utilizam-se os sinais convencionais de pontuação para traduzir a palavra oral em texto escrito. DICA www.esab.edu.br 145 Depois de ter lido atentamente e várias vezes todas as respostas, é necessário classificar em categorias as diversas posições ou atitudes que refletem as respostas. Segundo o domínio da pesqui- sa, essa operação de categorização pode ser feita no processo de construção do projeto, quando se define as técnicas de análise que serão utilizadas. As categorias previamente definidas têm, evidentemente, relação direta com as questões de investigação, e/ou com os objetivos da pesquisa, segundo os tipos de respostas que se espera encontrar. As categorias favorável, desfavorável e indiferente são frequentemente utilizadas em pesquisas de opinião. Em outras pesquisas, só se pode estabelecer categorias depois de ter realizado a coleta de dados; neste caso, é necessário ler detidamente e, várias vezes, todas as respostas para melhor se impregnar delas, antes de estabelecer categorias essenciais. Evidentemente, essas categorias têm a ver com os objetivos/ questões de investigação. Em nosso exemplo, veja a relação entre as categorias e os objeti- vos específicos fixados pela pesquisadora. Alguns objetivos espe- cíficos foram traçados no sentido de se responder ao que é pre- tendido e as metas a serem alcançadas: Identificar os processos que ocorrem nos grupos; Identificar as dimensões interativas na comunicação dos grupos; Ressaltar os pontos comuns nos grupos e em que momento eles surgem nas interações; Identificar e perceber, na dimensão interativa, as manifesta- ções corporativas; Identificar os comportamentos e atitudes que facilitam/difi- cultam a comunicação do grupo acadêmico. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos. A www.esab.edu.br 146 categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e em seguida por reagrupamentos, segundo critérios previamente definidos. Tendo em vista a variedade de respostas possíveis coloca-se o problema do número de categorias. É essencialmente o objeto de investigação e o material coletado que vão determinar o número de categorias a serem criadas. Mais frequentemente, certos tipos de opiniões são agrupadas em torno de pontos precisos, com matizes que podem ser retidas em subcategorias. Uma categori- zação adequada deve obedecer aos seguintes critérios: a exclusão mútua: um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado aleatoriamente em duas categorias diferentes; a homogeneidade: um único princípio de classificação deve governar a sua organização; a pertinência: adaptação da categoria ao material de análi- se escolhido; a objetividade e a fidelidade: as diferentes partes de um mesmo material devem ser classificadas da mesma manei- ra, mesmo quando submetidas a várias análises; a produtividade: deve fornecer resultados férteis (em índi- ces de inferências, em hipóteses novas e em dados exatos). A interpretação dos resultados da análise qualitativa Na interpretação dos resultados, o/a pesquisador/a deve, neces- sariamente, retomar suas hipóteses, suas questões de investiga- ção e/ou os objetivos da pesquisa para verificar se são validadas, invalidadas, parcialmente validadas, ou se os objetivos da pesqui- sa foram alcançados. Isso exige por parte do/a pesquisador/a in- teligência, experiência, imaginação e intuição. É necessário saber captar dados surpreendentes, reveladores de fenômenos. Não se trata de verificar apenas os fatores previstos no início, mas de utilizar maneira inteligente o que se encontra. Frequentemente, os www.esab.edu.br 147 resultados desembocam em novas questões e/ou novas hipóte- ses. Assim, uma análise de conteúdos e temas pode produzir novos pressupostos sobre a sala de aula, a importância das relações entre aprendizes bem como apontar a necessidade de diferentes abordagens na sala de aula universitária que levam mais em con- ta a realidade e dinâmica do clima de relações estabelecidas e emergentes. 10.3 A interpretação e síntese dos resultados A etapa da organização e interpretação dos dados é um momento de síntese. É necessário transformar as informações, às vezes agrupando-as, enumerando-as ou reduzindo-as de modo a facili- tar a sua análise sintética. Na transformação quantitativa ou qualitativa dos dados, emprega-se símbolos sob forma de catego- rias, ou seja, reagrupam-se dados ou casos, atribuindo novos significados à informação original. Compete ao pesquisador/a or- denar, interpretar e fazer sentido desses símbolos. A produção do conhecimento segue processos científicos específicos do momen- to da concepção da proposta de pesquisa até a apresentação dos resultados. Essa fase exige inteligência, experiência, imaginação e intuição. É necessário captar dados surpreendentes, reveladores de fenôme- nos. Não se trata de verificar apenas os fatores previstos no início, mas de utilizar de maneira inteligente o que se encontra. Vamos nessa? www.esab.edu.br 148 Até aqui no módulo vimos que a organização de um trabalho cien- tífico envolve um processo de criação, delimitação e articulação de um problema de pesquisa. Redija um texto dissertativo de 30 a 50 linhas a respeito de um possível temático de seu interesse as- sociado a seu curso da ESAB. Apresenta de forma breve no texto, entre outras considerações, pelo menos alguns dos os seguintes pontos: a) área de interesse (um parágrafo) b) problema do estudo - em formato de pergunta (um parágra- fo) c) objeto de análise (uma ou duas palavras) d) possíveis obstáculos (epistemológicos) e) breve justificativa do estudo (uma frase) f) tipo de pesquisa (uma frase curta) g) fonte de informações (campo, documental, bibliográfica - escolhe um) h) metodologia (um parágrafo) www.esab.edu.br 149 Nas Unidades 6 a 10 os passos básicos da organização, planejamento e execução de uma investigação científica. Iniciamos com uma descrição dos tipos de pesquisa destacando os processos de coleta de informações e dados científicos. Alerta- mos que às vezes, os atributos e características das pessoas e dos fenômenos que elegemos para estudar podem ser observa- dos, contados, medidos diretamente como informações tangíveis. Outras vezes muitos fenômenos que interessam ao cientista não podem ser medidos ou observados diretamente. Utilizar ferramen- tas que nos permitam chegar a coletar, organizar e analisar os dados. Os instrumentos - os mecanismos pelos quais organizamos e sistematizamos a coleta de informações. Para ser considerado um mecanismo adequado e confiável, o formato do instrumento precisa facilitar o registro eficiente das informações procuradas. Na Unidade 7 descrevemos as etapas necessárias para buscar foco no projeto e objeto da pesquisa. Mostramos que o problema de pesquisa é a pergunta a que o pesquisador busca responder durante a execução da pesquisa. E é a partir do assunto ou tema que ele define essa pergunta. Foi enfatizado que antes de formatar um projeto ou plano de pesquisa precisamos vivenciar aspectos de um ciclo vivencial de aprendizagem, definir os nossos interes- ses e tentar expressar isso como pergunta ou problema. Pesquisa produzir conhecimento (saber)é um processo de aprendizagem interna que se expressa um resultado comunicável. A unidade também introduziu os requisitos do TCC da ESAB. Em seguida exploramos vários componentes de um plano de pesquisa - a importância dos objetivos, da justificativa e www.esab.edu.br 150 embasamento teórico do planejamento. A fundamentação teórica foi descrita como o momento que o pesquisador oganiza informa- ções sobre o que já foi produzido sobre o fenômeno que ele pre- tende estudar. Assim o pesquisador deixa claro por que essas ideias e teorias estão sendo citadas, no que contribuem e/ou de que forma se relacionam com o fenômeno que será investigado. Esse quadro teórico resultante é um mapa que nos guia durante toda a pesquisa. Unidade 10 apresentou os procedimentos básicos da coleta e análise de dados, com exemplos dos processos de observação, entrevista e a utilização do questionário. Após da coleta do mate- rial com todo o rigor, o/a pesquisador/a efetua uma nova tarefa de análise que conduzirá seu trabalho ao nível da cientificidade. É o momento que buscamos compreender e explicar as atividades humanas e os motivos que as desencadearam, ou então produzir uma explicação das representações dos atores em relação com as estruturas objetivas do espaço social no qual essas represen- tações foram construídas. A fase de análise dos dados foi visto como extremamente exigen- te, necessitando de uma reflexão crítica intensa e uma atitude ló- gica e racional que determinarão a qualidade final do estudo. O trabalho do/a pesquisador/a consiste nesse momento em transfor- mar a matéria primeira recolhida seja pela leitura de documentos, pela observação ou pela informação fornecida pelos indivíduos em conhecimentos cientificamente válidos. www.esab.edu.br 151 NORMAS ABNT E PRÁTICAS O Eixo 03 se inicia examinando o discurso científico como comunicação dialógica submetida às normas técnicas padronizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. As normas ABNT, bem como as normas apresentadas para ESAB estão referenciadas no texto da Unidade 11: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação – trabalhos acadêmicos - apresentação: NBR 14724. Rio de Janeiro, 2011. Manual de produção de trabalho de conclusão de curso (TCC): Artigo científico. Vila Velha, ES: Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB), 2016. A Unidade 12 reune dicas e exemplos de como redigir o trabalho cientifico, como estruturar tópicos num texto e apresentar as referencias. Em seguida a Unidade 13 reproduz informações importantes do Manual da ESAB para a produção e a qualificação do TCC - ESAB, comentando assuntos relacionados a linguagem e a estetica a ser utilizada no texto do TCC. Na Unidade 14 exploramos oportunidades para a comunicação dos resultados de um trabalho científico, inclusive as dificuldades modernas para publicação. Na segunda parte dessa unidade são apresentadas outras opções para a comunicação e debate de resultados científicos. Os conceitos de conduta acadêmica ética para a produção cientí- fica e para o ensino a distância completam o Eixo 3 na Unidade 15. Aqui refletimos sobre a conduta ética examinando as nossas responsabilidades mútuas na construção de uma educação à distância (EAD) com integridade acadêmica. Afirmamos que uma www.esab.edu.br 152 forma de prevenir atos antiéticos é clarificar nossos valores e pressupostos sobre condutas (in)desejáveis na produção do co- nhecimento. Quatro condutas indesejáveis na pesquisa e na pro- dução acadêmica - o plágio, a fraude, a colaboração imprópria e fabricação de informações - são detalhadas. Esperamos que o Eixo 03 complete uma parte de sua preparação para produzir um texto científico e que serve de estímulo para uma carreira profissional, acadêmica ou não. www.esab.edu.br 153 Nesta unidade queremos mostrar de um lado que o discurso científico segue o mesmo princípio dialógico de qualquer outra forma de comunicação verbal, ou seja, trata-se de um diálogo com outros, no qual a voz do/a pesquisador/a está sempre em relação com outras vozes (outros pesquisadores, outros textos), e de outro lado, que esse discurso é fortemente submetido a normas técnicas. Para tanto abordaremos primeiro alguns mecanismos de polifonia, ou seja, mecanismos de inserção de outras vozes enunciativas no interior de um texto de cunho científico, seja através do chamado discurso relatado, no qual a citação aparece de maneira privilegiada, seja através de outros procedimentos que tentaremos analisar aqui. Nos estudos linguísticos, o termo polifonia foi criado pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) e representa a pluralidade ou multiplicidade de vozes presentes nos textos os quais estão fundamentados em outros. Em seguida, trataremos de certas normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT para legitimar o diálogo do/a pesquisador/a com outros/as pesquisadores/as. São as chamadas referências bibliográficas cujo aprendizado se impõe formação de pesquisadores/as. www.esab.edu.br 154 A abordagem desses dois aspectos coloca em evidência que o discurso científico é sempre social e esse caráter de sociabilidade tem uma origem dupla: 1) o discurso é dirigido a uma comunidade científica que compartilha ou não de um mesmo campo de reflexão-ação do/a pesquisador/a; 2) o/a pesquisador/a é um ser social, portanto, sua produção científica não pode deixar de observar as normas criadas no bojo de sua esfera discursiva. Esperamos que você tire proveito do estudo desta unidade, aplicando os conhecimentos e informações aqui expostas em seus trabalhos acadêmicos e orientando futuramente seus alunos em suas produções escritas. Pensamos que conhecendo algumas particularidades técnicas do discurso científico você possa de um lado compreender melhor a leitura de certos textos teóricos que circulam no meio acadêmico, e de outro, ser mais eficaz na produção escrita de tais textos. 11.1 Polifonia no discurso científico - diferentes instâncias enunciativas nos textos científicos A noção de polifonia é emprestada do maior teórico da literatura do século XX - Mikhail Bakhtin - e recobre os fenômenos da pluralidade de vozes nos enunciados de todo sujeito falante. Tal noção se opõe à ideia de que o sujeito falante é a única fonte de seu discurso, fazendo aparecer em consequência à ideia de que a palavra do sujeito falante é de alguma maneira “ocupada” pelo discurso do outro. Em outras palavras, a noção de polifonia aborda fenômenos linguísticos diversos nos quais o discurso de uma pessoa deixa www.esab.edu.br 155 escutar várias vozes: a voz do autor, as vozes sociais (aqui consideradas como as vozes de outras pessoas ou de instituições externas ao conteúdo temático do texto) ou as vozes de personagens (ou seja, pessoas ou instituições que são diretamente implicadas na unidade temática). Essas vozes nem sempre são traduzidas por marcas linguísticas específicas, às vezes elas são inferidas da leitura do texto, e só em alguns casos elas são explicitadas por pronomes (pessoais de 1ª e de 2ª pessoas, ou indeterminados ninguém, alguém etc.) ou por formas nominais (segundo fulano...; para sicrano...) ou ainda por certas construções (dizem que...; há rumores de que...). De tal modo, podemos considerar o conceito de polifonia muito próximo da intertextualidade, na medida em que a intertextualidade se trata de um recurso linguístico utilizado entre os textos. Na intertextualidade, quando um texto cita outro, dizemos que entre eles existe intertextualidade e é possível observar o diálogo estabelecido entre os textos, ou seja, a referência entre eles. Como qualquer outro texto, as produções verbais realizadas na esfera da ciência são, portanto, o resultado de um trabalho intenso sobre o intertexto, o interdiscurso - discursos de terceiros que, inseridos nos nossos, constituem o intercurso, atuando na nossa interpretação. Ou seja, interdiscursoé um discurso em relação a outro já existente. Os fenômenos mais evidentes de polifonia são os diversos modos de inserção em um discurso de propósitos atribuídos a fontes distintas de seu enunciador, como é o caso do discurso direto, do discurso indireto, e, especificamente no caso de textos escritos, de certos elementos tipográficos como as aspas e o itálico. https://pt.wikipedia.org/wiki/Discurso www.esab.edu.br 156 11.1.1 A inserção direta: o discurso direto A inserção direta, também conhecida como discurso direto, constitui aparentemente a forma mais literal da reprodução do discurso de ou- trem. Ela é atribuída explicitamente a um locutor outro, e é introduzida tal qual. A citação, frequente nos trabalhos acadêmicos, é um caso de inserção direta. O discurso direto é inserido em um outro discurso, com marcas explícitas da mudança de nível enunciativo: ele é enquadrado por aspas, ou no caso de um diálogo, inserido em um relato, cada réplica é introduzida por um hífen. O discurso direto é geralmente assinalado por uma frase introdutória (utilizando verbos específicos tais como dizer, declarar, afirmar...), que explicita o enunciador e fornece eventualmente indicações sobre as condições de seu discurso (lugar e tempo, atitudes, sentimentos, etc.). Esta frase pode ocupar três posições: 1. Antes da passagem ao discurso direto: ela é acompanhada de dois pontos, os quais abrem o discurso relatado. Vygotsky (1996) disse: “O domínio da linguagem escrita significa para a criança apropriar-se de um sistema de signos extremamente complexo” (p.184). Para definir a grandeza paradoxal do homem, Pascal disse: “O homem é um caniço pensante”. 2. No interior de um fragmento do discurso direto: o discurso relatado é cindido para dar lugar à frase que marca a fonte do enunciado. “O domínio da linguagem escrita - disse Vygotsky - significa para a criança apropriar-se de um sistema de signos extremamente complexo”. 3. Depois do discurso direto: a frase marcando a fonte do enun- ciado é inserida logo depois das aspas que fecham o discurso relatado. “O domínio da linguagem escrita significa para a criança apropriar-se de um sistema de signos extremamente complexo”, afirma Vygotsky. www.esab.edu.br 157 A citação pode ser integrada no próprio texto por procedimentos mais leves, sem recorrer a uma frase introdutória. O nome do autor citado pode ser então remetido entre parênteses, depois da ci- tação, ou aparecer no contexto. Pode-se escrever: A fórmula de Pascal “O homem é um caniço pensante» define bem a grandeza paradoxal da condição humana”. Não se pode negar a grandeza da condição humana, definida em uma fórmula paradoxal por Pascal: “O homem é um caniço pensante”. A grandeza paradoxal de sua condição faz com que se possa ver no homem um “caniço pensante” (Pascal). As normas para citação nos textos acadêmicos são estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. A versão mais recente dessas normas data de 2002: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação – apresentação de citações em documentos: NBR 10520. Rio de Janeiro, 2002. Uma segunda fonte importante para a padronização de textos de caráter científicos é também da ABNT: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação – trabalhos acadêmicos - apresentação: NBR 14724. Rio de Janeiro, 2011. A NBR 10520:2002 prevê que se a indicação de autoria ou de título nas citações decorrer da frase deve ter apenas a inicial em letras maiúsculas. No caso de indicar entre parênteses esses ele- mentos devem ser todos em letras maiúsculas. O trabalho científico apresentado para ESAB deve seguir as nor- mas apresentadas no: Manual de produção de trabalho de conclusão de curso (TCC): Artigo científico. Vila Velha, ES: Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB), 2016. www.esab.edu.br 158 Regras para as citações das fontes de pesquisa Conforme a NBR 10520 (2002, p. 1) uma citação é uma “Menção de uma informação extraída de outra fonte”. Nas citações o autor poderá ser referenciado dentro e fora dos parênteses. Quando referenciado fora dos parênteses, deve ser grafado com a primeira letra em maiúsculo. Porém, quando referenciado entre os parênteses, deve ser grafado com todas as letras em maiúsculo (NBR 1520, 2002). Exemplos: O marketing pode ser aplicado a bens, serviços, lugares, eventos, ex- periências e pessoas (KOTLER; KELLER, 2012). Kotler e Keller (2012) citam a necessidade e o desejo como um dos conceitos centrais do marketing. As citações das fontes de pesquisa podem ser de três tipos de acordo com NBR (10520, 2002): citação direta, citação indireta e citação de citação. A citação direta ocorre quando é feita a transcrição literal de pa- lavras ou trechos dos autores (cópia fiel em redação, ortografia e pontuação). A citação de até 3 linhas deve vir inserida no texto, entre aspas. E quando se tratar de citação direta longa (com mais de 3 linhas), o trecho transcrito deverá aparecer como um pará- grafo isolado, destacado com um recuo de 4 cm da margem es- querda, com letra tamanho 10, com espaçamento simples entreli- nhas e sem aspas. www.esab.edu.br 159 Exemplo citação direta com até 3 linhas: Paviani (2011, p. 13) explica que o signo é “apenas uma disposição, uma moldura vazada, capaz de configurar uma diversidade de possibilidades”. O signo é “apenas uma disposição, uma moldura vazada, capaz de configurar uma diversidade de possibilidades” (PA- VIANI, 2011, p. 13). Exemplo citação direta com mais 3 linhas: A técnica de análise de conteúdo é definida por Bardin (2008, p.42) como: Um conjunto de técnicas de análise das comunica- ções, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a interferência de conhecimentos relativos às condi- ções de produção / recepção das mensagens. A técnica de análise de conteúdo é definida como: 11.1.2 A inserção indireta: o discurso indireto Sem marca tipográfica, o discurso indireto consiste em retomar o propósito de outrem sob forma de proposição subordinada, que é complemento de um verbo principal significando “dizer” ou “pensar”. O relator faz uso de suas próprias palavras para citar outrem, ele reformula os propósitos do outro («Ele me disse para retornar amanhã»). Esse procedimento é também conhecido Um conjunto de técnicas de análise das comunica- ções, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a in- terferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção das mensagens (BARDIN, 2008, p.42). www.esab.edu.br 160 como paráfrase. (Veja as paginas 22 a 24 para exemplos da citação indireta no Manual da ESAB.) O discurso indireto é geralmente bem integrado ao discurso no qual ele se insere: não é assinalado por uma ruptura enunciativa, nem marcado, na comunicação escrita, pela pontuação, mas ele é indicado por uma palavra subordinante (que, se...). A fonte do enunciado é geralmente o sujeito do verbo introdutor. Vygotsky afirma que o domínio da linguagem escrita significa para a criança apropriar-se de um sistema de signos simbólicos extremamente complexos. A inserção indireta geralmente provoca modificações sintáticas e lexicais importantes: Exemplo: Modificação de pessoas: todos os pronomes passam a terceira pessoa, quando o locutor transpõe a fala de uma terceira pessoa; Ele disse que voltaria. Exemplo: Modificações de referências espaço- temporais: os dêiticos* devem ser substituídos por referências neutras, ou seja, sem referência imediata à situação de enunciação (ontem passa a ser véspera; aqui passa a ser ali, etc.); Exemplo: Modificações de formas verbais: Discurso direto Discurso indireto Pretérito perfeito Imperfeito ou presente Futuro do presente Modo imperativo Pretérito mais que perfeito ImperfeitoFuturo do pretérito Modo subjuntivo Exemplo: Quando o acidente aconteceu, houve uma grande deflagração. Ele disse que, quando o acidente acontecera, houvera uma grande deflagração. Exemplo: Assim que a roupa estiver seca, será necessário retirá-la do varal, pois um temporal ameaça cair daqui a pouco. www.esab.edu.br 161 Ele dizia que, assim que a roupa secara, seria necessário retirá-la do varal, pois um temporal ameaçava cair em pouco tempo. ATENCAO: As regras de transposição verbal não podem ser utilizadas mecanicamen- te. Assim, pois: - uma frase construída no presente de definição ou de verdade geral, típica nos textos teóricos, pode manter tal verbo no discurso indireto. Ela pensava que todas as verdades não são boas de di- zer. - um futuro pode ser conservado tal qual se ele marca também o futuro com relação ao momento em que o discurso é relatado: Eu disse que viria amanhã (o ato de vir é posterior tanto no momento em que o discurso é pronunciado como no momento em que ele é relatado); - um presente pode também ser mantido pelo locutor quando este quer marcar que assume as palavras relatadas. Ele disse que você é um imbecil (a transposição ao imperfeito permite ao contrá- rio ao locutor de se distanciar do discurso relatado, sem assumi-lo: ele disse que você era um imbecil = foi ele que disse, e não eu, eu apenas relato suas palavras); - uma frase injuntiva é mais difícil de ser transposta; emprega-se um verbo como ordenar, na frase principal e a subordinada pode colocar no infinitivo: (Saia!) Pedro ordena à Suzane para sair. www.esab.edu.br 162 A modificação na entonação - uma frase interrogativa direta (Antonio voltará?) - perde sua entonação quando ela é subordinada no discurso indireto: Sophia queria saber se Antonio voltaria. 11.1.3 Aspas, itálico As aspas e o itálico servem frequentemente para isolar uma palavra (ou um grupo de palavras) que o locutor toma de outrem e introduz em seu discurso, mas com a qual ele não se solidariza. Sua paixão pela “heróica luta dos agricultores” tem alguma coisa de suspeito. Observe que o locutor comenta obliquamente a expressão linguística entre aspas “heroica luta dos agricultores”, da qual ele se distancia remetendo-a a uma outra fonte enunciativa. 11.2 Normalização de documentos científicos Como dissemos na introdução deste capítulo, os trabalhos aca- dêmicos são fortemente submetidos a normas em seu processo de escritura. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é reconhecida como a principal autoridade em normalização de documentos científicos. Em nível internacional a International Organization for Standardization (ISO), sediada em Genebra, é a autoridade máxima da padronização de medidas e normalização. Vários textos e manuais que tentam orientar a produção científica e a organização de referências biblio- gráficas costumam dar exemplos para citação, alinhamento e formatação de referências sugerindo padrões diferen- tes uns dos outros. Tais diferenças confundem o leitor e geram conflitos de www.esab.edu.br 163 interpretação sobre o formato “correto” da nossa produção acadê- mica, seja de projeto / relatório de pesquisa, artigo científico ou trabalho escolar. Para orientá-lo/la melhor no processo de normalização de seus trabalhos, registramos a seguir algumas dicas, sugestões e cautelas. Indicamos também algumas normas mais recentes sobre certos tipos de citações nem sempre disponíveis nas fontes indicadas. 11.2.1 Para que serve uma referência bibliográfica? De acordo com a NBR 6023:2002, uma referência é definida como [... um] conjunto padronizado de elementos descritivos de um documento, que permite sua identificação individual” (ABNT, 2002a). Segundo Moura (2004), a referência tem, pelo menos, três finalidades: 1. Dar o devido crédito ao autor do texto original ao qual se faz referência. É uma questão de honestidade intelectual. Diferenciamos assim quais as nossas ideias e interpretações do texto onde formos estimulados a pensar ou analisar um fenômeno. 2. Possibilitar ao leitor a localização da fonte de onde foi extraída a informação. Ele pode querer ir até lá buscar mais detalhes sobre o tema. Assim incentivamos os/ as leitores mais interessados/as a procurar informações adicionais sobre um tema que lhe despertou interesse e que não lhe parece suficientemente desenvolvido no trabalho onde a citação aparece. 3. Dotar o autor de uma ‘memória auxiliar’. Permite o/a autor/a voltar e revisar a fonte. Às vezes é necessário reler um texto que foi citado ou transpor certas ideias para outro contexto. A referência bibliográfica completa nos auxiliará a localizar as nossas fontes com mais facilidade. Em um relatório de pesquisa, em um projeto ou artigo a www.esab.edu.br 164 apresentação do quadro teórico muitas vezes é o lugar privilegiado do diálogo do pesquisador/a com outros autores, é talvez aí que mais encontremos referências bibliográficas de diversas sortes e estas devem ser formatadas de acordo com as normas em vigor. Aprender a utilizar convenientemente essas normas é parte de nossa formação de pesquisador/a. 11.2.2 Regras básicas da normatização Não há espaço no presente para reproduzir as informações com- pletas das publicações da normatização Tais publicações podem ser consultadas on-line. Destacamos a seguir algumas regras cuja observação nos parece essenciais nas produções científicas e acadêmicas de seu curso. 1. As referências devem ter uma forma consis- tente de pontuação, alinhamento e o uso de recursos tipográficos. 2. A lista de referências pode ser ordenada numérica e/ou alfabeticamente. 3. As referências podem ser organizadas em a) notas de rodapé; b) no fim dos textos, c) no fim de capítulo; e d) encabeçando resumos, quadros explicativos etc. 4. A identificação do autor (pessoa física ou pessoa jurídica) segue normas específicas. (Deve ser evitado o uso de siglas das institui- ções no caso de autoria de pessoa jurídica). 5. Autoria de obras com mais de três autores, mais de uma pessoa jurídica, eventos ou obras autônomos devem observar as reco- mendações padronizadas. 6. Referências aos títulos e subtítulos são destacadas em negrito, itálico ou grifadas. O uso de letras maiúsculas é limitado ao início do título e em nomes próprios. www.esab.edu.br 165 Os elementos essenciais e complementares variam de acordo com o tipo de documento produzido: O Guia para normalização de referências (2002b) sistematiza as normas para a) livro; b) teses, dissertações e trabalhos acadêmicos originais; c) capítulos ou volumes de uma obra; d) publicações em meios eletrônicos; e) partes de publicações ou periódicos, inclusive jornais, revistas; f) eventos; g) multimeios; h) fotografias e originais de arte; e i) dis- cos, fita cassete. As normas técnicas para outros tipos de docu- mentos são encontradas nas paginas 25 a 28 do Manual da ESAB. Fonte básica: Guia para normalização de referências: NBR 6023:2002. 11.2.3 Como referenciar documentos eletrônicos? Um documento eletrônico é considerado qualquer elemento ou modalidade de apresentação disponível ou capaz de ser acessada via rede eletrônica. Para Mouro (2004), os protocolos mais fre- quentes são 1) http:: HyperText Transfer Protocol usado na World Wide Web; 2) MailTo: Correio Eletrônico; 3) FTP: File Transfer Protocol; e 4) Telnet. As mensagens do correio eletrônico podem ser: 1. enviada para uma lista de discussão; 2. reenviadas para lista de discussão, contendo anotações ou comentários efetuados por terceiros; e 3. mensagens pessoais (ibid). 4. Há também, na Internet, periódicos eletrônicos, artigos de jornal, resenhas, ensaios, fotografias, tabelas e gráficos disponíveis para consulta e download através da Web. Segundo o ISO 690-2 (item 5.1.1) quando referenciamos um documento eletrônico as seguintes informações são indispensáveis: www.esab.edu.br 166 Título da obra; Identificação da responsabilidadeou da autoria; URL (lugar onde o documento encontra-se armazenado); Data. Um exemplo de Moura mostra a citação correta da fonte do parágrafo anterior: ISO - International Standard Organization. Excerpts from International Standard ISO 690-2 Information and documentation - Bibliographic references - Part 2: Electronic documents or parts thereof. [online] Disponível na Internet via WWW. URL:http://www.nlc- bnc.ca/iso/tc46sc9/standard/690-2e.htm. Última atualização em 10 de fevereiro de 1999. A publicação da UFES/BC (2002b) recomenda os seguintes elementos essenciais na referência de documentos eletrônicos: autor(es), denominação ou título, data, endereço eletrônico (URL) e data de acesso (p. 45). De acordo com essa orientação a citação da fonte acima seria: ISO - International Standard Organization. Excerpts from International Standard ISO 690-2 Information and documentation - Bibliographic references - Part 2. Disponível em: <www.nlc-bnc.ca/iso/tc46sc9/ standard/690-2e.htm>. Acesso em 27 fev 2004. Já sugere outro formato para tais referências. A seguir apresentamos alguns exemplos baseados nesses formatos para a referência de documentos eletrônicos consultados e mais citados. WWW. URL:http://www.nlc-bnc.ca/iso/tc46sc9/standard/690-2e.htm. WWW. URL:http://www.nlc-bnc.ca/iso/tc46sc9/standard/690-2e.htm. http://www.nlc-bnc.ca/iso/tc46sc9/standard/690-2e.htm http://www.nlc-bnc.ca/iso/tc46sc9/standard/690-2e.htm www.esab.edu.br 167 Documentos Consultados Online (CHAVE): AUTORIA. Título. Fonte (se for publicado). Disponível em: <endereço eletrônico> Acesso em: data (dia, mês, ano). : MOURA, G. A. C. de M. Citação de referências e documentos eletrônicos. Disponível em: <http:// www.elogica.com.br/users/gmoura/refere.html> Acesso em: 09 out. 1996. : UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Núcleo de Educação Aberta e à Distância. Projeto Integrado de Pesquisa. Disponível em: <www.neaad.ufes.br> Acesso em 24 fev. 2004. Publicações Periódicos Online Artigos de periódicos : AUTORIA. Título. Fonte (se for publicado). Disponível em: <endereço eletrônico> Acesso em: data (dia, mês, ano). : SIMMEL, G. Fidelidade: Uma tentativa de análise sócio-psicológica. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção. Disponivel em: <http://planeta.terra.com. br/educacao/RBSE/>. Acesso em 23 fev. 2004. Artigos de jornal : ALBERNAZ, F. Uma só ética. GAZETA On Line. Vitória, 23 fev. 2004. Disponível em: <http:// gazetaonline.globo.com/cbn/>. Acesso em 23 fev. 2004. : CAVERSAN, L. Depressão e carnaval. FOLHA ONLINE; Pensata. São Paulo, 23 fev. 2004. Disponível em: <www1.folha.uol.com.Br/folha/pensata/ ult513u138.shtml>. Acesso em 23 fev. 2004. Eventos científicos : SILVA, R. N.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na http://www.elogica.com.br/users/gmoura/refere.html http://www.elogica.com.br/users/gmoura/refere.html http://planeta.terra.com.br/educacao/RBSE/ http://planeta.terra.com.br/educacao/RBSE/ http://gazetaonline.globo.com/cbn/ http://gazetaonline.globo.com/cbn/ http://www1.folha.uol.com.Br/folha/pensata/ult513u138.shtml http://www1.folha.uol.com.Br/folha/pensata/ult513u138.shtml www.esab.edu.br 168 educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENT[FICA DA UFPE, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Disponível em: <http://www.propesq. ufpe.br/anais/anais.htm> Acesso em: 21 jan. 1997. (Exemplo de UFPR/Sistemas de Biblioteca, 2001: p. 63). e-mail (comunicação pessoal) : AUTORIA. Título da mensagem (quando houver) ou Título atribuído. [tipo de mensagem]. Mensagem recebida por: <endereço eletrônico> em: data (dia, mês, ano). : MUGRABI, E. Fascículo. [mensagem de trabalho]. Mensagem recebida por: <jaime@npd.ufes.br> em 9 set. 2003. As diferenças verificadas nas padronizações propostas pela ISO e outras fontes mostram que documentos e fontes on-line só recentemente começaram a ser padronizados. Recomendamos- lhe consultar a Internet através dos serviços de busca eletrônica e seu Manual (ESAB) para informações adicionais. Pensamos que seus alunos também devam ser incentivados a buscar novidades na Internet na medida em que levantem perguntas sobre referências eletrônicas. http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm http://jaime@npd.ufes.br www.esab.edu.br 169 Falar na necessidade de ter de escrever algo é, não raro, tocar em um ponto fraco da maioria das pessoas, quer sejam elas estudan- tes ou não. A qualidade da escrita está diretamente relacionada à frequência de leitura. Se o pesquisador está bem informado sobre o contexto em que se encontra o problema que buscou responder e se tem claro o referencial que apoia seu estudo, terá menos di- ficuldades para redigir sua monografia ou artigo. 12.1 Redigindo o trabalho científico Você pode estar se perguntando: devo começar a escrever so- mente depois de coletar os dados ou posso ir escrevendo antes de terminar a coleta? A resposta é muito pessoal, porque sendo diferentes uns dos outros, os pesquisadores também têm manei- ras diferentes de se organizar. Há aqueles que estabelecem um cronograma para a execução da pesquisa e o seguem rigorosamente, dedicando-se diariamente à escrita de trechos. Outros são totalmente diferentes e parece que depois de longos períodos sem sentar-se diante do computador, acordam cheios de ideias, tendo períodos extremamente produti- vos. Não sabemos qual é a maneira com a qual você mais se identifica. De qualquer forma, a elaboração de um trabalho escrito é algo que exige dedicação de tempo, para que os prazos sejam respeitados. www.esab.edu.br 170 12.1.1 Estruturando tópicos Embora a coleta e a análise de dados sejam os procedimentos por meio dos quais você vai dar resposta ao problema de sua pesqui- sa, um artigo ou uma monografia não se resume à apresentação dos dados coletados e das conclusões a que o pesquisador che- gou. Um artigo ou monografia é também um relatório de pesquisa. Portanto, o pesquisador deve informar tudo o que fez do momento em que se decidiu pela escolha do problema até as conclusões a que chegou. Sendo assim o texto deve ser escrito de forma a deixar claras as seguintes informações: O problema que o pesquisador estava buscando responder e o contexto em que ele se encontra; As ideias e argumentos que a literatura traz a respeito do problema; O método e os procedimentos metodológicos usados na coleta e análise de dados, em que lugar esses dados, ou com quem, as informações foram coletadas; Apresentação dos dados obtidos; A análise dos dados à luz do referencial; Apresentação das conclusões. Esses pontos acima são as informações que devem constar de um relatório de pesquisa que, no seu caso é um artigo científico (TCC). Observe que tópicos estão dispostas em uma sequência lógica. Em geral, cada um desses tópicos compõe um capítulo do texto, mas podem ser organizadas de forma diferente. O ideal é que você a estruture em capítulos e escreva o que será abordado em cada um deles. Veja como fez um estudante de pós-graduação em informática: www.esab.edu.br 171 INFORMÁTICA Assistente para integração e organização de interações Capítulo 1 – Introdução Este capítulo contextualiza o assunto apresentando um contexto histórico da comunicação, da sua evolução junto à sociedade e de sua aplicação atual nas comunidades virtuais, sobretudo para a aprendizagem cooperativa. Os objetivos do trabalho, a metodologia empregada e a forma como a dissertação está organizada também serão expostos neste tópico. Capítulo 2 – Aspectos Teóricos da Comunicação e da Aprendi- zagem Esta parte apresenta o estado da arte da comunicação e das ferra- mentas de comunicação mediada por computador (CMC – Compu- ter Mediated Computer), bem como de sua aplicação em ambientes de aprendizagem cooperativa. Este capítulo será estruturado nos seguinte subtópicos: Contexto histórico das pesquisas: Apresenta simplificada- mente como as pesquisas sobre o assuntosurgiram e evoluíram. Principais teorias atuais: Apresenta o estado da arte com as principais teorias relacionadas ao assunto. A relação entre comunicação e tecnologia: Estabelece uma relação com as teorias discutidas anteriormente e a forma como a tecnologia foi empregada e realimenta as mudanças no processo de comunicação. O papel na comunicação na aprendizagem: Relaciona al- gumas teorias pedagógicas que enfatizam o papel da cooperação no processo ensino-aprendizagem. Capítulo 3 – Proposta de Ontologia Esta parte estrutura em uma Ontologia o conteúdo apresentado no capítulo anterior e o conhecimento incorporado pelas reflexões e revisões bibliográficas realizadas durante o desenvolvimento do mestrado. www.esab.edu.br 172 Esta ontologia pretende consolidar o conhecimento do assunto e, sobretudo, fornecer base para a classificação das tecnologias e ferramentas e para a concepção da ferramenta proposta neste trabalho. Uma breve apresentação do assunto ontologias será apresentada e, na sequência, a ontologia em si será estruturada nas seguintes partes: questões de competência, mapa conceitual, axiomas e glossário. Capítulo 4 – Avaliação de Ferramentas de Comunicação Com base na ontologia anterior, esta parte apresenta um “fra- mework” que permite classificar as tecnologias e as ferramentas de comunicação e de cooperação. Esta classificação permite mapear o estado de prática e posicionar o cenário em que o ambiente proposto neste trabalho está locali- zado. Capítulo 5 – Protótipo Esta parte apresenta o ambiente proposto, organizado nos se- guintes subtópicos: Visão Funcional: relaciona as funções do ambiente por meio dos Casos de Uso. O projeto de interface ilustra as principais funções do sistema. Estrutura das Informações: apresenta o diagrama das classes de negócio do ambiente. Arquitetura: apresenta a forma como o projeto do sistema está estruturado, por exemplo, quais as camadas e quais os recursos de integração que estão presentes no projeto arquitetônico do ambiente. Outras Características: trata qualquer outra peculiaridade do projeto do ambiente que seja interessante no contexto da pesquisa. Capítulo 6 – Perspectivas Futuras: traça os rumos que a pes- quisa e o ambiente podem seguir conforme as tendências do es- tado da arte e do estado de prática. Capítulo 7 – Conclusões: conclui o trabalho estabelecendo as relações entre os aspectos teóricos e a avaliação da ferramenta. Os questionamentos e os resultados são discutidos. www.esab.edu.br 173 Observando esses exemplos você pode concluir que é possível sim adiantar a redação de parte do texto mesmo antes de iniciar a coleta de dados. Na maioria das vezes você aproveita as informa- ções apresentadas no seu projeto (se fez), incluindo-as no texto. Por exemplo: no projeto você já delimitou o problema já o situou em um contexto já disse por que pretende estudá-lo. Todas essas informações são relevantes para o texto final. Sendo assim, você pode e deve aproveitá-las. Se você elabora um esquema como esse que acabou de ver, fica mais fácil escrever, porque sabe o que deverá incluir em cada capítulo ou setor do trabalho. Para que seus leitores tenham uma ideia mais clara sobre o que vão ler é importante que na introdução de seu texto, você apresente um parágrafo para cada capítulo, resumindo o que será abordado. Também com o intuito de situar o leitor, ao iniciar cada capítulo de seu trabalho, reserve o primeiro parágrafo para informar o que este irá encontrar naquele capítulo. Para ter uma ideia de como fazer isso, acesse o link http:// www.geteq.ufsc.br/dissertacoes/DGilberto.pdf, que dispo- nibiliza a dissertação “Integração vertical e terceirização: uma abordagem crítica focada nas questões estratégicas para a competitividade da manufatura”. No item 1.3, o au- tor apresenta a estrutura de sua dissertação. ESTUDO COMPLEMENTAR www.esab.edu.br 174 Os títulos dos capítulos farão parte do sumário do trabalho, geral- mente organizados após o término da redação. A seguir estão dois exemplos de sumários. O primeiro é um estudo realizado por um aluno de pós-graduação em Ciências Contábeis, enquanto o se- gundo foi desenvolvido por uma aluna de pós-graduação em Educação. Ciências Contábeis Uma alternativa de balanço social no Grupo Águia Branca 1 Introdução 2 Revisão da literatura 2.1 Dimensão externa da responsabilidade social 2.1.1 Comunidades locais 2.1.2 Parceiros comerciais, fornecedores e consumidores. 2.2 Dimensão interna da responsabilidade social 2.2.1 Gestão dos recursos humanos 2.2.2 Saúde e segurança no trabalho 2.2.3 Gestão do impacto ambiental e dos recursos naturais 2.3 Áreas de atuação da responsabilidade social 2.4 Por que as empresas devem ter responsabilidade social? 2.5 O balanço social 2.5.1 Origens das ideias 2.5.2 Evolução no Brasil 2.5.3 Os beneficiários 2.5.4 Balanço social x sociedade 2.5.5 A transparência www.esab.edu.br 175 2.5.6 Importância da metodologia 3 O Grupo Águia Branca 3.1 Tempos pioneiros 3.2 Águia Branca: um negócio de família 3.3 A diversificação do negócio 3.4 As unidades de negócio 4 Águia Branca: responsabilidade social x balanço social 5 Elaborando a estratégia do balanço social 5.1 Escolha da metodologia para a construção do modelo 5.2 Probabilidades sugestivas e sua importância no processo de- cisório 6 Alternativa de proposta do balanço social 7 Um modelo probabilístico para o Grupo Águia Branca 8 Conclusões e sugestões Educação Grupos acadêmicos: um mergulho em águas turbulentas 1. Introdução 2. Percurso metodológico 2.1 Caracterizando os grupos 3. O ser humano em interação/comunicação 3.1 Recorrendo a autores que dissertam sobre o tema 3.2 Algumas considerações acerca da abordagem humanista- -existencial 3.3 Um olhar humanístico sobre o homem e sobre a educação 3.4 Situando a comunicação num contexto mais amplo: sua im- portância para a educação www.esab.edu.br 176 3.5 Alguns conceitos importantes 3.6 Interação e atitudes pessoais 4. Processos grupais: um mergulho em águas turbulentas 4.1 Processos no fluir dos grupos 4.2 Correntes, movimentos/forças avassaladoras. 4.3 Os vórtices: redemoinhos de desencontro 4.4 Mergulhando novamente: revendo dimensões 4.5 Algumas aprendizagens 5 Considerações finais 12.1.1 Que tipo de material consultar? Se o pesquisador utiliza teorias e conceitos para estudar fenôme- nos, a leitura é um hábito que deve ser cultivado. E não é apenas nos livros que você poderá conhecer o que outros pesquisadores e autores disseram a respeito do fenômeno que você pretende estudar. Além dos livros, há ainda jornais e revistas que podem apresentar material interessante sobre o seu problema de pesquisa. A IN- TERNET também tem sido uma fonte importante para os pesqui- sadores, reunindo uma quantidade considerável de informações. É preciso ressaltar, no entanto, que pela liberdade que oferece para publicar conteúdos, a Web exige que o pesquisador seja criterioso em suas pesquisas. Uma das vantagens trazidas pela INTERNET é a possibilidade de se discutir virtualmente determinados temas. Provedores como Google, Yahoo e Hotmail permitem aos usuários criar listas ou grupos de discussão. Nesses fóruns, “no ciberespaço”, www.esab.edu.br 177 organizados por temas e áreas, você pode encontrar pessoas, pesquisadores experientes, inclusive, discutindo sobre o fenôme- no que pretende abordar em seu texto. Sendo assim, esses grupos podem ser fontes de informação para sua pesquisa. Por último, até mesmo informações e conceitos apresentados em CD-ROM, AULAS, palestras, encontros científicos e obras audio- visuais (filmes, vídeos, DVDs) podem ser usados em seu texto desde que devidamente citados. O quadro seguinte apresenta algumas sugestões de base de da- dos on-line que podem ser consultados para a elaboração de arti- gos científicos: Revista de Administração - RAUSP http://www.rausp.usp.br Revista de Administração Pú- blica - RAP http://ebape.fgv.br/publicacoes/rap Revista de Administração de Empresas – ERA http://rae.fgv.br/rae Revista Eletrônica de Admi- nistração – REAd http://seer.ufrgs.br/read Revista Educação e Pesqui- sa http://www.educacaoepesqui- sa.fe.usp.br/ Revista Educação & Reali- dade http://www.ufrgs.br/edu_reali- dade/ Revista Eletrônica de Edu- cação http://www.reveduc.ufscar.br/ index.php/reveduc Revista Brasileira de Educa- ção - RBE http://www.scielo.br/revistas/ rbedu/paboutj.htm Revista Computação Brasil (CB) http://www.sbc.org.br/ Revista Brasileira de Compu- tação Aplicada http://www.upf.br Revista de Computação e Tecnologia http://revistas.pucsp.br/index. php/ReCET Portal de periódicos CAPES http://www.periodicos.capes. gov.br/ Scientific Electronic Library Online http://www.scielo.br/ Há várias Revistas na Base da SPELL http://ww.spell.org.br Quadro 12.1: Sugestões de base de dados. Fonte: Manual de TCC (ESAB), p. 25. http://www.rausp.usp.br/ http://ebape.fgv.br/publicacoes/rap http://ebape.fgv.br/publicacoes/rap http://rae.fgv.br/rae http://seer.ufrgs.br/read http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/ http://www.educacaoepesquisa.fe.usp.br/ http://www.ufrgs.br/edu_realidade/ http://www.ufrgs.br/edu_realidade/ http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc http://www.scielo.br/revistas/rbedu/paboutj.htm http://www.scielo.br/revistas/rbedu/paboutj.htm http://www.sbc.org.br/ http://www.upf.br/ http://www.upf.br/ http://revistas.pucsp.br/index.php/ReCET http://revistas.pucsp.br/index.php/ReCET http://www.periodicos.capes.gov.br/ http://www.periodicos.capes.gov.br/ http://www.scielo.br/ http://ww.spell.org.br/ www.esab.edu.br 178 12.2 Como apresentar as referências a) Livros De acordo com a ABNT, as referências variam conforme o tipo de documento. No caso de livros, por exemplo, além de nome e so- brenome do autor e nome da obra é preciso informar o local, o número e o ano de edição e também o nome da editora. b) Jornais No caso de usar material coletado de jornais, a maneira de refe- renciar muda. O que vem em negrito não é o título da reporta- gem, mas o nome do jornal. c) Revistas Para referenciar material coletado de revistas, outras informa- ções são necessárias como o ano, o volume e o número do exemplar consultado. d) E-mail Se você está fazendo citação com base em mensagens recebi- das por e-mail, deverá incluir na referência os seguintes dados: PHILLIPS, B.S. Pesquisa social: estratégias e táticas. Rio de Janeiro: Agir, 1974. BAPTISTA, J. Mais de 8 mil motoristas aguardam decisão sobre recursos de mul- tas. A Gazeta, Vitória, p. 4, 14 mai. 2005. FORNAZIER, A. Navios maiores no Porto de Vitória. Pedras do Brasil, Vitória, ano 4, v. 1, n. 35, p. 48-49. FASSARELA, R. C. O amor [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <jojo- deriz@yahoo.com.br> em 17 mar. 2004. www.esab.edu.br 179 e) Eventos científicos Se você participou de um congresso, fórum, seminário ou simpó- sio e gostaria de citar algo que foi dito durante uma sessão de apresentação de trabalhos, a referência sobre esse material deve incluir o nome do evento, a edição, o ano e a cidade em que foi realizado, além do título do evento: f) Informações verbais Se você obteve uma informação importante para o seu trabalho durante um evento (congresso, fórum, palestra, aula) e se essa informação não foi apresentada/publicada como trabalho científico ou nos anais do evento, sendo apenas parte de uma conversa, uma discussão, não há formato para apresentar as referências desse material. Nesse caso, você pode informar em nota de roda- pé quem deu a informação (se não tiver feito isso no texto), onde (tipo e nome do evento, cidade em que foi realizado) e quando. Veja a seguir dois exemplos. Discussão realizada durante o II Fórum Estadual de Meio Ambien- te, realizado em Vitória-ES, em 5 de junho de 2004. Conceito apresentado pelo Prof. Jaime Roy Doxsey, em UNIDADE 2 da disciplina Antropologia Cultural para alunos de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, em 14 de outubro de 2010. SEGENREICH, S. C. D. Avaliando a aprendizagem colaborativa “on-line” na educação superior: novas contribuições do Fórum de Discussão e da Autoavalia- ção do Aluno. Trabalho apresentado durante o ENCONTRO VIRTUAL EDUCA BRASIL DE ESPECIALISTAS EM NOVAS TECNOLOGIAS, EAD E FORMAÇÃO CONTINUADA, São José dos Campos, 2005. www.esab.edu.br 180 g) Referências de documentos jurídicos A referência de documentos jurídicos inclui legislação, jurispru- dência e doutrina. Deve-se indicar a JURISDIÇÃO (ou cabeçalho da entidade no caso de se tratar de normas), o título, a edição, o local, a editora e o ano. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. BRASIL. Lei nº 7.766, de 11 de maio de 1989. Dispõe sobre o ouro, ativo financeiro e sobre seu tratamento tributário. Lex: legislação federal e marginalia, São Paulo, v. 53, p. 304-306, 2. trim. 1989. BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. Medida provisória n.º 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Estabelece multa em operações de importações, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Fede- rativa do Brasil, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p. 29514. SÃO PAULO (Estado). Lei n.º 10.241, de 17 de março de 1999. Dispõe sobre os direitos dos usuários dos serviços e das ações de saúde no Estado e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado de São Paulo, São Paulo, 18 mar. 1999. Seção 1, p. 1. h) Materiais Disponíveis na INTERNET As referências devem obedecer aos padrões indicados para ma- teriais impressos. Entretanto, nas obras consultadas on-line, também são essenciais as informações sobre o endereço eletrôni- co, apresentado entre os sinais < >, precedido da expressão Dis- ponível em: e a data de acesso ao documento, precedida da ex- pressão Acesso em:, opcionalmente acrescida dos dados referen- tes a hora, minutos e segundos. BOBSIN, D.; HOPPEN, N. Estruturação de redes sociais virtuais em organizações: um estudo de caso. Revista de Administra- ção, São Paulo, v.49, n.2, p.339-352, abr./maio/jun. 2014. www.esab.edu.br 181 Disponível em: <http://www.rausp.usp.br/>. Acesso em: 25 jul. 2015. WOOD JR.; T.; TONELLI, M. J.; COOKE, B.. Colonização e neocolonização da gestão de recursos humanos no Brasil (1950-2010). Revista de administração de empresas, v. 51, n.3, p.232-243 maio/jun. 2011. Disponível em: <http://rae.fgv.br/ sites/rae.fgv.br/ files/artigos/10.1590_S0034- 75902011000300003.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2015. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA – IBGE. Indicadores da agropecuária. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/ agropecuaria/ lspa/lspa_201107comenta rios.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2015. Para ver um exemplo de livros disponíveis através da INTERNET, procura ALVES, C. Navio negreiro. [S.l.]: Virtual Books, 2000. Disponível em: < http://www.virtualbooks.com. br/v2/ebooks/?idioma=Portugues&id=00065 >. Acesso em 15 fev 2017. Há outros livros e material disponível nas homepages de livrarias nacionais e estrangeiras. Explora em sua área de interesse e conhecimento. ESTUDO COMPLEMENTAR http://www.rausp.usp.br/ http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/lspa_201107comenta http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/lspa_201107comenta http://www.virtualbooks.com.br/v2/ebooks/?idioma=Portugues&id=00065 http://www.virtualbooks.com.br/v2/ebooks/?idioma=Portugues&id=00065 www.esab.edu.br 182 O roteiro e itens abaixo estabelecem parâmetros mínimos para o tipo de produção científica exigida nos cursos de pós-graduação da ESAB observando as normas da ABNT. Apresentamos a se- guir trechos do Manual de Produção (ESAB) para auxiliar na compreensão da natureza e formato do artigo científico requerido nos cursos. 13.1 Informações importantes para a produçãoe a qualifica- ção do TCC - ESAB Finalizando o último módulo on-line você terá o prazo de até 60 dias para desenvolver o TCC e postá-lo na página da Etapa 1 para avaliação do Examinador, que deverá emitir a qualificação corres- pondente. Há 3 qualificações possíveis nesta etapa: a) apto para a defesa; b) reformulação; c) não apto para a defesa. A qualificação de não apto para a defesa será emitida aos traba- lhos que não apresentarem as condições mínimas de aprovação. A escolha da linha de pesquisa deverá estar diretamente relacio- nada ao curso de pós- graduação no qual o aluno estiver matricu- lado. Você pode selecionar a linha no formulário da Etapa 1, que se encontra no “Campus On-line” (Minhas etapas / Etapa 1), uma das opções disponibilizadas. (Veja p. 11 do Manual.) O tema é o assunto escolhido pelo aluno para desenvolver o Trabalho de Conclusão de Curso e deverá ser detalhado a partir www.esab.edu.br 183 da linha de pesquisa escolhida. O Manual destaca a importância da delimitação do tema. A delimitação de um tema de acordo com Gil (2010) implica em apresentar o local onde o fenômeno estudado ocorre (espacial), período em que o fenômeno será cir- cunscrito (temporal) e a população a ser estudada (objeto da pes- quisa). O envio do TCC deverá ocorrer no Ambiente “Campus On-line”, por meio do link “Minhas etapas/Etapa 1”. O trabalho finalizado deve ser postado em arquivo único com a extensão: pdf e com tamanho máximo de 5 MB. O trabalho completo será analisado pelo Examinador, que dará seu parecer no prazo máximo de até 45 dias. Caso seja indicada a qualificação de reformulação, você terá novo prazo máximo de até 30 dias para proceder aos ajustes, adequando o trabalho em conformidade com as disposições técni- co-estruturais previstas pelo Manual, bem como a explicitação das fontes de pesquisa no decorrer do trabalho e articulação entre autores, apresentando a versão corrigida para análise final do Examinador. O Examinador terá novo prazo máximo de até 45 dias para emitir a qualificação definitiva (apto para a defesa ou não apto para a defesa). O desenvolvimento do TCC consiste na fundamentação lógica de um tema original cuja finalidade é expor, explicar e demonstrar as suas principais ideias, com objetividade, clareza e impessoalidade. O texto do TCC deverá ter no mínimo 10 páginas e no máximo 15 páginas, na formatação estipulada no presente Manual. Para efeito da contagem de páginas, se- rão considerados apenas os elementos textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão). 13.2 Roteiro para a produção científica nos cursos da ESAB Os textos científicos dos cursos de pós-graduação deverão ser produzidos conforme exigência das versões mais recentes das www.esab.edu.br 184 normas em vigor da ABNT e o Manual de produção de traba- lho de conclusão de curso (TCC): artigo científico. O Regu- lamento ABNT afirma [...] que não existe uma divisão única para todo tipo de trabalho. A divisão mais própria e adequada para cada trabalho deve surgir de sua própria natureza, sua maior ou menor complexidade. Sugere-se dividir o assunto no menor número possível de partes e subdividir cada parte no menor número de elementos (p.11). A estrutura de tese, dissertação ou de um trabalho acadêmico compreende: elementos pré-textuais, elementos textuais e ele- mentos pós-textuais sugeridos pela ABNT NBR 14724 (2011) é dada na tabela 13.1: ESTRUTURA ELEMENTO Capa (obrigatório) Lombada (opcional) Folha de rosto (obrigatório) Errata (opcional) Folha de aprovação (obrigatório) Dedicatória(s) (opcional) Agradecimento(s) (opcional) PRÉ-TEXTU- AIS Epígrafe (opcional) Resumo na língua vernácula (obrigatório) Resumo em língua estrangeira (obrigatório) Lista de ilustrações (opcional) Lista de tabelas (opcional) Lista de abreviaturas e siglas (opcional) Lista de símbolos (opcional) Sumário (obrigatório) Introdução www.esab.edu.br 185 TEXTUAIS Desenvolvimento Conclusão Referências (obrigatório) Glossário (opcional) PÓS-TEXTU- AIS Apêndice(s) (opcional) Anexo(s) (opcional) Índice(s) (opcional) Tabela 13.1: Disposição de elementos Fonte: ABNT NBR 14724, p. 3. a) Elementos pré-textuais Capa Elemento obrigatório, onde as informações são transcritas na seguinte ordem: a) nome da instituição (opcional); b) nome do autor; c) título; d) subtítulo, se houver; e) número de volumes (se houver mais de um, deve constar em cada capa a especificação do respectivo volume); f) local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado; g) ano de depósito (da entrega). Lombada Elemento opcional, onde as informações devem ser impressas, conforme a ABNT NBR 12225: a) nome do autor, impresso longitudinalmente e legível do alto para o pé da lombada. Esta forma possibilita a leitura quando o trabalho está no sentido horizontal, com a face voltada para cima; b) título do trabalho, impresso da mesma forma que o nome do autor; c) elementos alfanuméricos de identificação, por exemplo: v. 2. Folha de rosto Elemento obrigatório, devendo estar conforme 4.1.3.1 e 4.1.3.2. www.esab.edu.br 186 Anverso da folha de rosto Os elementos devem figurar na seguinte ordem: nome do autor: responsável intelectual do trabalho; título principal do trabalho: deve ser claro e preciso, identificando o seu conteúdo e possibilitando a indexação e recuperação da informação; subtítulo: se houver, deve ser evidenciada a sua subordinação ao título principal, precedido de dois-pontos; número de volumes (se houver mais de um, deve constar em cada folha de rosto a especificação do respectivo volume); natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso e outros) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros); nome da instituição a que é submetido; área de concentração; nome do orientador e, se houver, do co-orientador; local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado; ano de depósito (da entrega). Verso da folha de rosto Deve conter a ficha catalográfica, conforme o Código de Catalo- gação Anglo-Americano vigente. Errata Elemento opcional que deve ser inserido logo após a folha de rosto, constituído pela referência do trabalho e pelo texto da erra- ta e disposto da seguinte maneira: EXEMPLO ERRATA Folha Linha Onde se lê Leia-se 32 3 Publiacao Publicação www.esab.edu.br 187 Folha de aprovação Elemento obrigatório, colocado logo após a folha de rosto, cons- tituído pelo nome do autor do trabalho, título do trabalho e subtí- tulo (se houver), natureza, objetivo, nome da instituição a que é submetido, área de concentração, data de aprovação, nome, ti- tulação e assinatura dos componentes da banca examinadora e instituições a que pertencem. A data de aprovação e assinaturas dos membros componentes da banca examinadora é colocada após a aprovação do trabalho. Dedicatória(s) Elemento opcional, colocado após a folha de aprovação. Agradecimento(s) Elemento opcional, colocado após a dedicatória. Epígrafe Elemento opcional, colocado após os agradecimentos. Podem também constar epígrafes nas folhas de abertura das seções primárias (ver 5.5). Resumo na língua vernácula Elemento obrigatório, constituído de uma sequência de frases concisas e objetivas e não de uma simples enumeração de tópi- cos, não ultrapassando 500 palavras, seguido, logo abaixo, das palavras representativas do conteúdo do trabalho, isto é, pala- vras-chave e/ou descritores, conforme a ABNT NBR 6028. Resumo em língua estrangeira Elemento obrigatório, com as mesmas características do resumo em língua vernácula, digitado ou datilografado em folha separa- da (em inglês Abstract, em espanhol Resumen, em francês Résumé, por exemplo). Deve ser seguido das palavras repre- sentativas do conteúdo do trabalho, isto é, palavras-chave e/ou descritores, na língua. Lista de ilustrações Elemento opcional, que deve ser elaborado de acordo com a ordem apresentada no texto, com cada item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da pági- na.Quando necessário, recomenda-se a elaboração de lista própria para cada tipo de ilustração (desenhos, esquemas, flu- xogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outros). www.esab.edu.br 188 Lista de tabelas Elemento opcional, elaborado de acordo com a ordem apresen- tada no texto, com cada item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da página. Lista de abreviaturas e siglas Elemento opcional que consiste na relação alfabética das abre- viaturas e siglas utilizadas no texto, seguidas das palavras ou expressões correspondentes grafadas por extenso. Recomen- da-se a elaboração de lista própria para cada tipo. Lista de símbolos Elemento opcional, que deve ser elaborado de acordo com a ordem apresentada no texto, com o devido significado. Sumário Elemento obrigatório, cujas partes são acompanhadas do(s) respectivo(s) número(s) da(s) página(s). Havendo mais de um volume, em cada um deve constar o sumário completo do traba- lho, conforme a ABNT NBR 6027. b) Elementos textuais É a parte central do texto. O texto consta de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Abaixo são algumas orientações sobre a estrutura de seu texto. (Veja o Manual da ESAB para su- gestões adicionais, p 14 a 18.) Introdução ▪ Exposição do assunto: descrição do tema tratado com a sua contextualização. ▪ Problema de pesquisa: descrição do problema de pesquisa Justificativa para escolha do tema: explicar as razões de ordem teórica e os motivos de ordem prática que levaram o autor do tra- balho a estudar tal tema específico e não outro qualquer, ou que tornaram importante a realização do mesmo. Portanto, deve-se mostrar a importância e a relevância do estudo deste tema para a ciência e para o próprio autor do trabalho, com criatividade e ca- pacidade de convencer sobre a importância do mesmo no campo www.esab.edu.br 189 da teoria existente. Deve-se mostrar também qual a contribuição que tal estudo pretende proporcionar para o problema abordado. ▪ Objetivos gerais e específicos: descrição dos objetivos do traba- lho. “A formulação do objetivo geral significa definir com precisão o que o aluno pretende pesquisar; o que propõe fazer e quais as- pectos pretende analisar no desenvolvimento do assunto. O obje- tivo geral é um resultado a alcançar e deverá ser formulado ini- ciando-se com verbos de ação no infinitivo, como por exemplo: desenvolver, avaliar, investigar, construir, aplicar, analisar, sinteti- zar, compreender, dentre outros. Além disso, deve responder às perguntas: Por quê? Para quê? Para quem?” (MARCONI; LAKA- TOS, 2010). ▪ Delimitação do trabalho: citar de modo claro, objetivo e preciso o tema do trabalho, indicando o ponto de vista sob o qual será enfo- cado no desenvolvimento do mesmo. Na escolha do tema é ne- cessário eleger uma parcela delimitada de um assunto, estabele- cendo limites para o desenvolvimento da pesquisa pretendida. Ele deve ser suficientemente limitado para que seja realizável com os recursos disponíveis. ▪ Metodologia de Pesquisa - deve fornecer detalhamento da pes- quisa; esclarecer sobre os caminhos que foram tomados para se chegar aos resultados propostos; como foi selecionada a amostra, o percentual em relação à população estudada; instrumentos de pesquisa utilizados (questionários, entrevistas, observações dire- tas etc.); como os dados foram tratados e analisados. Fundamentação teórica ou quadro teórico Parte do trabalho que descreve e discute a literatura existente sobre a temática pesquisada. Com base na leitura levantada mos- tra o estágio de desenvolvimento do tema na atualidade. Estabe- lece o referencial teórico que dá suporte ao desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Estabelece as ligações entre a bibliografia e a situação problema que se pretende solucionar. Devem-se fazer citações e transcrições. Utilize o material do módulo de www.esab.edu.br 190 Metodologia da Pesquisa Científica da ESAB aplicando as normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Resultados da pesquisa de campo (se for o caso) Seção do trabalho que descreve a pesquisa empírica. Caso o trabalho envolva o estudo de uma realidade específica (uma orga- nização, uma escola, uma cidade, um programa, pessoas, protó- tipos de tecnologias etc.) deve-se, nesta parte, descrever analiti- camente os dados levantados analisando o que foi observado na pesquisa. Pode-se ter o apoio de recursos estatísticos e utilizar tabelas e gráficos baseados na tabulação dos dados. É importan- te estabelecer relações entre os dados obtidos, o problema da pesquisa e a fundamentação teórica. O item pode ser dividido em subitens, os quais facilitam a apresentação e leitura. Conclusão ou Considerações Finais Apresenta de forma sintetizada os resultados obtidos com a pes- quisa, se os objetivos estabelecidos foram atingidos. Deve ressal- tar a contribuição da pesquisa para o meio acadêmico ou para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia. Apresenta as reco- mendações e sugestões dos pesquisadores. c) Elementos pós-textuais Elementos inseridos após as considerações finais. Incluem as Referências Bibliográficas e os Anexos (elemento opcional). Referências Bibliográficas Elemento obrigatório. Consiste em uma lista das obras efetiva- mente citadas na elaboração do trabalho. Deve ser em ordem al- fabética, sem numeração, letra Arial 12, e com o espaçamento simples entre as linhas. Todas as referências devem ser alinhadas à esquerda da página. Nos casos de repetição de autor, este deve ser substituído por um traço sublinhar equivalente a seis caracte- res. www.esab.edu.br 191 As referências devem obedecer as normas para cada fonte de consulta (livros, teses, periódicos, em parte, ou no todo etc.). As informações sobre como relacionar as diversas referências cons- tam da NBR 6023. Elementos essenciais nas referências: SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título. Edição. Local: Edi- tora, ano. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Pau- lo: Atlas, 1996. Anexos Os anexos são elementos opcionais de informação e material considerados importantes para a compreensão do trabalho. Inclui a inserção de documentos e materiais interessantes e pertinentes à temática; cópia do questionário, roteiros de entrevistas utilizados para o levantamento dos dados, detalhamento da análise dos dados, tabelas ou listagens grandes demais para o texto etc. 13.3 Linguagem a ser utilizada Quanto à linguagem, embora o discurso científico te- nha suas próprias características, cada pesquisador tem seu estilo de escrever. Assim, dependendo da área de conhecimento em que esteja inserido o estu- do, os pesquisadores têm usado das mais diversas estratégias para ‘contar’ o que, por que e como estu- daram e a que conclusões chegaram com seu estudo. Nas Ciências Humanas, alguns pesquisadores têm feito a opção por escrever seus relatórios usando o estilo literário, o que não acontece nas Ciências Exatas, em que é comum o www.esab.edu.br 192 desenvolvimento de estudos abordando a construção de ferra- mentas e produtos ou de métodos para elaboração de determina- da atividade. A ESAB orienta os pesquisadores/autores para utilizar uma lin- guagem formal independentemente da área do conhecimento do estudo. O Manual da ESAB (2016, p. 34) afirma que a linguagem científica: [...] “deve ser a mais didática possível, ser obje- tiva e deve ter caráter impessoal. Para conse- guir uma boa redação em trabalhos científicos devem-se observar as seguintes normas: saber o que vai escrever, para quê ou quem; escrever sobre o que conhece; concatenar as ideias e informar de maneira lógica; respeitar as regras gramaticais; evitar argumentação demasiada- mente abstrata; usar vocabulário técnico quan- do estritamente necessário; evitar a repetição de detalhes supérfluos; manter a unidade e o equilíbrio das partes; e rever o que escreveu (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 252). A maioria dos orientadores em programas de pós-graduaçãore- comendam que o pesquisador utilize sempre o discurso na voz passiva, no qual os verbos são sempre acompanhados da partícu- la apassivadora se (“nesta pesquisa, entende-se que...”; “Assim, conclui-se que...”). A exceção é a pesquisa qualitativa onde a autor procura expressar suas opiniões e conclusões através de discur- sos mais informais. Preferências ou normas à parte, um ponto não pode ser esqueci- do: ao escrever, procure ser coeso e coerente, características que o levarão a construir uma boa argumentação. Outra coisa: não passe por cima das regras da língua portuguesa. Se você concluir que não tem conhecimento suficiente sobre isso, peça a alguém para revisar seu texto, o que deve ser feito quando seu trabalho já tiver sido totalmente concluído. www.esab.edu.br 193 13.4 Estética do texto Assim que começar a escrever a monografia ou artigo, configure logo o arquivo, definindo as margens, a fonte e o tamanho que irá utilizar tanto no corpo do texto quanto nos títulos. As normas recomendadas pela equipe da ESAB é que você utilize a seguinte configuração: Tipo do papel: Formato A4 (21,0 X 29,7 cm). Margens: 3 cm para superior e esquerda e 2 cm para inferior e direita. Cabe lembrar que ao digitar o texto deve-se respei- tar o alinhamento justificado; Espaçamento: deve ser 1,5 cm em todo o texto, exceto o resumo, notas de rodapé, notas explicativas, tabelas, quadros e referências, citações diretas com mais de três linhas: utilizar recuo de 4 cm a partir da margem esquerda, parágrafos: utilizar recuo de 1,25 cm na primeira linha do parágrafo, títulos das seções: separadas do texto por 1 enter. Tipo e tamanho das fontes: Times New Roman em tama- nho 12 para todo o trabalho, exceto citações com mais de três linhas, notas de rodapé, paginação, fontes das ilustra- ções e das tabelas, que devem ser em tamanho menor (ta- manho 10); Paginação: Todas as folhas do trabalho, a partir da folha de rosto, devem ser contadas sequencialmente. A numeração é inserida em algarismos arábicos, no canto superior direito da folha a partir da primeira folha. Numeração Progressiva dos Capítulos e Divisões: Deve- -se usar a numeração progressiva com a finalidade de evi- denciar a sistematização do conteúdo do trabalho, hierarqui- zando-o, conforme segue: • Título de 1º nível (capítulo): a primeira letra deve ser em maiúscula e as demais letras minúsculas, em negrito, www.esab.edu.br 194 • título de 2º nível: a primeira letra deve ser em maiúscula e as demais letras minúsculas, sem negrito, • título de 3º nível: a primeira letra deve ser em maiúscula e as demais letras minúsculas e itálico. A numeração progressiva dos títulos será de acordo com o nível da seção e precede o título, alinhado à margem es- querda, conforme o exemplo: A numeração progressiva dos títulos será de acordo com o nível da seção e precede o título, alinhado à margem esquerda, con- forme o exemplo: notas de rodapé: são usadas para complementar ou esclarecer informações que não foram incluídas no texto principal, evitando a interrupção em sua sequência lógica. Por este motivo, o uso destas notas deve ser reduzido ao mínimo e seu tamanho pouco extenso. Devem ser observadas as seguintes normas para seu uso: chamada numérica acima da linha do texto (número alto sobrescrito) em sequência contínua de notas, localizar na margem inferior da mesma folha onde ocorre a chamada numérica, separar do texto por um traço contínuo de 3 cm, digitar em espaço simples entrelinhas e fonte Times New Roman 10. ilustrações: são consideradas ilustrações: gráficos, figuras, fluxogramas, fórmulas, quadros (apresentam informações textuais) e tabelas (apresentam dados numéricos). As ilustrações devem ser apresentadas de 1 Formatação e estrutura do Artigo Científico 1.1 Formatação geral 1.1.1 Normas para elaboração www.esab.edu.br 195 forma clara e legível. Os títulos e legendas que acompanham as ilustrações devem ser nítidos e indicados por um algarismo arábico. Por exemplo, Tabela 1, Figura 1 e Quadro 1. Toda ilustração deve ser mencionada no texto e sua identificação e a fonte de pesquisa aparecem na parte inferior. No caso de elaboração própria, a fonte será: Elaboração própria (ano de criação). E em caso das informações serem oriundas da pesquisa de campo, a fonte deverá ser: Dados da pesquisa (ano de realização da pesquisa). Nota: as ilustrações somente devem ser apresentadas se forem imprescindíveis para compreensão do texto. (Veja o Manual da ESAB para exemplos de quadros, figuras e tabelas, p 20 a 21.) 13.5 As competências do aluno/a-pesquisador/a Os requisitos institucionais de qualquer programa ou curso de pós-graduação determinam os procedimentos, normas e padrões da produção científica. Compete ao pesquisador tomar conhecimento da política de elaboração e defesa de sua produção. Na ESAB isso é facilitado pelo Manual de produção de trabalho de conclusão de curso (TCC): artigo científico. As informações sobre a defesa e avaliação (Conceito do TCC) são encontradas no Manual, junto com um exemplo em Apêndice (p.33). Leia seu Manual! www.esab.edu.br 196 Se você está usando o processador de textos Microsoft Word, a ferramenta ‘Estilos’ será de grande importância para você obter um resultado estético uniforme no texto. Essa ferramenta pode ser acessada a partir do menu ‘For- matar’. No tópico ‘Ajuda’, você encontra todas as informa- ções sobre como utilizá-la. Lembre-se, a formatação do trabalho é da responsabilidade do autor – você! Não espere terminar o texto para seguir os padrões científicos da formatação. Organize o seu texto corretamente desde os primeiros minutos da sua produção. PARA REFLETIR www.esab.edu.br 197 Essa unidade visa examinar caminhos alternativos para a comunicação dos resultados de seu trabalho, inclusive o caminho da publicação. Muitos estudantes procuram cursos de pós- graduação lato senso com intenções de continuar seus estudos em outros níveis. Mas há interesse considerável também na possibilidade de uma publicação eventual do TCC. Uma publicação é percebida como importante para enriquecer o currículo para seleção em outra pós e para avançar profissionalmente na carreira. ESAB atualmente tem uma política de aprovação com mérito e louvor dos trabalhos que se distinguem por sua agudez e argúcia em sua profundidade conceitual, devendo compor nosso acervo digital, conforme aceitação, pelo aluno, do Termo de Autorização para divulgação. Na segunda parte da unidade são apresentadas outras opções para a comunicação e debate de resultados científicos. O/a leitor/a está convidado/a a ponderar essas alternativas a tão valorizada publicação. Lembramos também que no campo científico e aca- dêmico há muitos gêneros de texto, como aponta Bursztyn (2010): (Textos escritos como) artigos, livros, capítulos de livros, ensaios, resenhas, monografias, teses, dissertações, papers apresentados em congressos e eventos, resumos, fichamentos, roteiros de aulas e de exposições orais, trabalhos de fim de disciplina, avaliações diversas, projetos e relatórios de pesquisa, notas de campo, textos para obras de referência (verbetes de enciclopédias, de dicionários etc.), textos de opinião, notas de aula, apostilas, www.esab.edu.br 198 pareceres, avaliações, materiais didáticos diversos... (p.10). Esses gêneros às vezes acabam publicados, impressos em papel - revistas, livros etc. - ou incorporados nas diversas formas da mídia eletrônica. Muitas associações profissionais e programas de pós- graduação mantêm revistas científicas on-line, substituindo as revistas clássicas impressas em papel e distribuídas em bibliotecas para consulta. A venda de subscrições a essas revistas permite acesso limitado aos conteúdos, artigos, comunicações científicas, editais e convites para eventos profissionais e submissão de textos. Tão importante quanto o planejamento e a realização de uma pesquisa é o momentode divulgação dos resultados obtidos. A redação do texto pode ajudar na seleção de seu trabalho na medida em que um texto bem estruturado e bem escrito tem mais chance de ser publicado e, sobretudo, de ser lido e compreendido pelos leitores. Para que o trabalho seja publicado e divulgado, necessita passar por um olhar criterioso (seu olhar como autor/a) a fim de garantir que ele possa representar uma fonte segura e fidedigna de consulta de informação. Finalizamos a unidade com algumas dicas para a produção, divulgação e publicação de resultados, oferecendo também sugestões para a sobrevivência acadêmica no meio de responsabilidades profissionais e pessoais. 14.1 A busca e competição para a publicação científica Perante a sua expectativa de publicar seus resultados é importante refletir sobre a crescente produção científica brasileira e de algumas dificuldades que novos autores encontram. Segundo a base de dados do Institute for Scientific Information (ISI), em 2005, Brasil gerou 2% da produção científica mundial comparado com o 0,5% em 1980 (BURSZTYN, 2010, p. 10-11). www.esab.edu.br 199 Vários fatores contribuírem para esse crescimento, segundo Bursztyn, por exemplo: 1) 4.298 programas de pós-gradação no Brasil; em 2009, 2) 30 mil mestres e 10 mil doutores diplomados por ano; 3) o número de cientistas em atividade atestado pela cifra de mais de um milhão de currículos na Plataforma Lattes do CNPq, 4) a cobrança por produtividade científica nas carreiras docentes e 5) a formação de redes de pesquisa (p. 11).1 Dados mais recentes (2017) mostram mais do que 90.000 doutores no ensino público superior brasileiro2. Isso é um indicador do crescente número de pesquisadores no sistema universitário público, tradicionalmente voltado para a pesquisa científica. Bursztyn também cita que o crescente número de artigos indexados em revistas foi multiplicado por sete entre 1980 e 2005 (15.777 artigos) (p. 12). Trzesniak (2014) estima que o número atual de revistas hoje é cerca de 110 mil: considerando, em média, cinco fascículos ao ano, oito artigos publicados por fascículo e uma rejeição de 30%, é então necessário que sejam produzidos aproximadamente 17.200 manuscritos por dia, incluindo sábado, domingo e feriados! Ou seja, a competição é brutal!... Como levar as pessoas a descobrir preferir, dentre tantos, o seu? (p. 22). Apesar de seu pessimismo, Trzesniak oferece sugestões, além de selecionar algumas revistas e encaminhar o seu trabalho. Sugere a criação de um perfil em sites científicos como: ... Academia.edu (http://wvvw.academia.edu), o ResearchGate (http:// www.researchgate.net/) e o Google Scholar (https://accounts.google. com/SignUp), e neles inserir sua produção - na 1 Esses dados correspondem ao ano 2009. Plataforma Lattes. Disponí- vel em <http://lattes.cnpq.br/conteudo/estatisticas.htm.>. Acesso em 07 dez 2009. 2 <http://estatico.cnpq.br/painelLattes/comparacao/>. Acesso em 15 fev 2017. http://wvvw.academia.edu http:// www.researchgate.net/ https://accounts.google.com/SignUp https://accounts.google.com/SignUp http://lattes.cnpq.br/conteudo/estatisticas.htm http://estatico.cnpq.br/painelLattes/comparacao/ www.esab.edu.br 200 extensão que os direitos o permitirem - sempre com o cuidado de incluir os tags mais pertinentes e descritivos (tag e um equivalente não tão formal do metadado palavra -chave) (p. 22). Para “atrair” leitores e editores o resumo e o abstract são determinantes, segundo o mesmo autor: Uma recomendação muito eficaz nesse sentido - não apenas para resumos, mas para qualquer tipo de comunicação - é: escreva seu texto pensando como um(a) leitor(a) em busca de alga, e atenda a essa necessidade. Não escreva de você e de seu trabalho, escreva para os leitores, objetivando contribuir para o trabalho e o crescimento deles. A construção para que as meus artigos sejam encontrados na web, uso títulos bem descritivos e seleciono cuidadosamente as palavras-chave (p. 22). Você pode ler mais sobre como publicar um trabalho consultando os seguintes autores. Os dois livros dão ótimas dicas para pesquisadores/autores: BURSZTYN, M; DRUMMOND, J.A; NASCIMENTO, E.P. Como escrever (e publicar) um trabalho científico: dicas para pesquisadores e jovens cientistas. Rio: Garamond, 2010. TRZESNIAK , P. Hoje vou escrever um artigo científico: a construção e a transmissão do conhecimento. In H. KOLLER; M. C. PAULA COUTO; J. VON HOHENDORFF,. (Org) Ma- nual de produção científica. Porto Alegre: Penso, 2014. SAIBA MAIS www.esab.edu.br 201 14.2 A disseminação dos resultados3 Os resultados de uma pesquisa podem ser disseminados em diversos formatos: oralmente (em palestras, cursos, encontros, seminários, congressos, jornadas, simpósios, workshops etc.), através de posters (cartazes com fotos, figuras, esquemas, textos concisos apresentados em eventos científicos), através de páginas e meios eletrônicos na INTERNET e impressos (em relatórios, artigos, rnonografias, dissertações, livros publicados, anais de congressos etc.) (Mattar Neto, 2011). Há um amplo rol de possibilidades para a divulgação dos estudos realizados e é preciso escolher a mídia mais apropriada para cada caso. Um autor pode optar, por exemplo, pela publicação como artigo em periódicos científicos, como um capítulo num livro ou por uma exposição oral em eventos de sua área de conhecimento. A partir dessa escolha, o formato de texto pode ser alterado para torná-lo apropriado a transmitir o conteúdo e resultados de forma adequada ao formato escolhido. Pode ser necessário reduzir ou aumentar o texto, a fim de ressaltar a abordagem metodológica e os resultados; em outros, torná-lo mais adequado a linguagem oral, ou ainda formatá-lo conforme as exigências e normas de determinado periódico. Divulgação e discussão de trabalhos científicos são importantes meios para avançar os conhecimentos coletivos em todas as áreas do saber: É fundamental destacar que essa divulgação do conhecimento produzido confere ao meio acadêmico e científico uma maneira de ex- pandir os saberes estudados individualmente, 3 Texto adaptado do módulo ESCOLA SUPERIOR ABERTO DO BRA- SIL (ESAB). Metodologia do trabalho científico, 2013. www.esab.edu.br 202 pois inclui pesquisa, discussão e debate. E isso pode gerar enriquecimento para o estudo e novas competências para o pesquisador, na medida em que propicia novos desafios de defesa de um ponto de vista e articulação das ideias (ESAB, p. 117). O uso dos recursos audiovisuais tem alterado a organização dos eventos científicos. Softwares e inovações nos programas de redação de texto facilitam a criação de apresentações visuais de alta qualidade, produzindo slides que tornam a apresentação mais completa e rica. A seguir listamos as principais finalidades e objetivos dos meios de divulgação da pesquisa científica4: Seminário: Trata-se de uma técnica de aprendizagem mui- to eficiente quando bem elaborado e apresentado. Organi- za-se como uma reunião mais restrita do que uma palestra, como se fosse um grupo de estudos, em que se discute um tema a partir das contribuições dos participantes. Consiste na apresentação de pesquisas realizadas, seguidas de dis- cussão e debate, cuja principal finalidade é desenvolver a capacidade de pesquisa, de análise dos fatos, por meio da reflexão do tema apresentado. Simpósio: a palavra simpósio significa diálogo e conversas intelectuais. O simpósio pode seguir um formato abertamen- te discursivo ou formato tradicional de uma ou mais palestras com perguntas e respostas. O debate é presidido por um coordenador, e a reunião destina-se apenas a especialistas que se reúnem para discutir tema previamente determinado. Congresso: caracteriza-se pela reunião formal e periódica de um número considerável de pessoas, pertencentes a grupos de estudantes e profissionais e/ou um público com 4 ESAB (2013, p 117 a 119). www.esab.edu.br 203 os mesmos interesses.Normalmente é promovido por enti- dades associativas, universidades ou institutos com o obje- tivo de disseminar e debater as teses que expressam a evolução do conhecimento dessas áreas. Jornada: um encontro que faz referência há certo tempo em termo de dias. Trata-se de um evento de menor porte que um Congresso e mais amplo que uma reunião. Mesa redonda: visa a apresentação de pontos de vista dife- rentes sobre uma mesma questão, mas a partir da exposição de um dos participantes; os demais participantes tomam conhecimento prévio do texto do expositor, a fim de preparar seus comentários críticos. Painel: apresentação de trabalhos sobre um mesmo tema, abordando pontos de vista diferentes, todos expostos livre- mente. Oficinas e Workshops: trata-se de reuniões mais restritas no que se refere ao número de expositores e de participan- tes, destinados a apresentação de trabalhos, de pesquisas, possibilitando oportunidade de divulgação e debate; pos- suem um caráter de realização participativa e produtiva, com o propósito de levar os participantes a vivenciarem ex- periências, projetos etc. Revistas científicas: Os periódicos têm caráter estritamen- te acadêmico. São utilizadas como fonte de pesquisa para trabalhos científicos e caracterizadas como “jornalismo científico” Geralmente se especializam em áreas específicas e se caracterizam pelas inovações tecnológicas. Podem ser impressas ou digitais. Sua periodicidade varia de um ou mais volumes (fascículos) por semestre ou ano. www.esab.edu.br 204 Livros: de acordo com a NBR 6029 (ABNT, 2002), a publi- cação não periódica que contiver um mínimo de cinco pági- nas e o máximo de 49 páginas, excluídas as capas, caracte- riza-se por folheto. E a publicação não periódica que contém acima de 49 páginas, excluídas as capas, caracteriza-se por livro. É comum que os pesquisadores publiquem livros ou ainda capítulos de livros, reunindo trabalhos de diversos autores. Esses eventos e produtos caracterizam as práticas mais comuns em nosso meio acadêmico. Severino (2007) escla- rece que no âmbito desses eventos, os trabalhos científi- cos dos participantes são apresentados e debatidos sob diversas condições: de forma, de tempo e de aprofunda- mento. Em geral, em todos os eventos, abre-se um espa- ço de tempo para que os ouvintes possam também se manifestar e participar do debate. Por fim, lembramos que em encontros acadêmicos de gran- de porte são realizadas as sessões de comunicações desti- nadas a apresentação, por parte dos participantes inscritos, de suas pesquisas, de forma abreviada e sintética. A co- municação, nesse sentido, relata estudos, resultados de pesquisas e experiências de iniciativa pessoal. 14.3 Dicas e sugestões para o pesquisador/a Há muitos textos publicados sobre metodologia de pesquisa cien- tífica, projetos de pesquisa e manuais de “como fazer um TCC, uma monografia, um artigo etc.”. Embora os enfoques e aborda- gens apresentadas sejam confusos e contraditórios é importante frisar o fato de que não existem receitas fáceis que garantam uma produção científica bem-sucedida. Recomendamos o investimento do/a pesquisador/a na aquisição de pelo menos um livro sobre metodologia e a seleção de um texto, artigo ou dissertação de sua área de conhecimento como referência de estilo e organização do trabalho. Há bons livros www.esab.edu.br 205 on-line indicados nesse módulo e na sua lista de referências. Abaixo em Estudo Complementar indicamos leitura de textos e publicações que representam apoios excelentes para a produção e divulgação de seu texto científico. ESTUDO COMPLEMENTAR OS LIVROS E CAPÍTULOS SELECIONADOS AQUI SÃO MOSTRAS DE MATERIAL DISPONÍVEL. LOGICAMENTE VOCÊ NÃO VAI LER OU CONSULTAR TODOS. ESCOLHA O QUE MAIS LHE INTERESSAR, DE ACORDO COM SUAS NECESSIDADES. PARA TRATAR ESPECIFICAMENTE DE UMA PESQUISA QUALITATIVA, RECOMENDAMOS: SILVERMAN, D. Um livro bom, pequeno e acessível sobre pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2010. [Vejam na Introdução - por que os métodos de pesquisa são importantes para mim, como estudante, empregado, cidadão?] PARA CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESCRITO E DIVULGAÇÃO: BURSZTYN, M; DRUMMOND, J. A; NASCIMENTO, E. P. Como escrever (e publicar) um trabalho científico: dicas para pesquisadores e jovens cientistas. Rio: Garamond, 2010. [Vejam no primeiro capítulo - “Dez dicas para escrever artigos científicos” e “Dez instruções para tornar o seu artigo publicavel....”] CAPÍTULOS EXCELENTES NO LIVRO DE KOLLER, ET. EL. PODEM SER CONSULTADOS INDIVIDUALMENTE: KOLLER, H.; PAULA COUTO, M. C.; VON HOHENDORFF, J. (Org) Manual de produção científica. Porto Alegre: Penso, 2014. ESCREVENDO ARTIGOS DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, PESQUISA DE CAMPO: ˃ HOHERZDORFF , J. V. Como escrever um artigo de revisão de literatura, p. 39-54. ˃ BRANDELLI COSTA, A.; ZOLTOWSKI, A. P. Como escrever um artigo de revisão sistemática, p. 55-70. ˃ ZIEBELL DE OLIVEIRA, M. Como escrever um artigo empírico, p. 71-90. ORGANIZANDO SEU RESUMO: ˃ ARAUJO DE MORAIS, N. Como escrever um resumo, p. 91- 98. PARA DIVULGAÇÃO E APRESENTAÇÃO: ˃ RODRIGUEZ, S. N. Como preparar um poster cientifico, p. 141-156. ˃ HABIIGZANG, L. F. Como preparar e realizar apresentações orais, p. 157-164. www.esab.edu.br 206 O que os manuais de metodologia científica não abordam é a questão crítica de TEMPO. Um dos maiores problemas encontra- do na sociedade contemporânea enfrentado por todos é a organi- zação pessoal de tempo para desempenhar papéis diferentes no emprego, na vida pessoal e na vida acadêmica. Todas as tarefas de um profissional têm prazos e múltiplos requi- sitos, sendo difícil atribuir prioridades e escolher estratégias para cumpri-las. Estudar a distância pode resolver algumas dificuldades associadas com cursos presenciais, mas ao nível de pós-gradua- ção estudar e produzir eventualmente um texto científico pode aumentar a ansiedade. Os prazos da vida acadêmica tendem a interferir com a organização cotidiana de muitas pessoas. Como lidar com isso? Além de reconhecer a necessidade para organizar seu tempo e estabelecer prioridades, Couto (2014) observa que o adequado manejo de tempo passa por saber reconhecer que fatores no seu dia a dia roubam o seu tempo. Alguns “ladrões de tempo” de Ma- ckenzie foram selecionados e adaptados no quadro abaixo: • Administração do tempo baseada em crise: Evite deixar tarefas para a última hora. Tarefas organizadas sem tempo adequado tendem a ser incompletas com pouca qua- lidade. • Deixar tarefas incompletas: Uma vez iniciada uma tarefa, evite deixá-la incompleta: De modo geral, o tempo necessário para retomá-la e concluí-la pode ser maior do que o tempo necessário para finalizá-la uma vez que a tenha iniciado. • Socialização: Conversar e interagir com colegas e amigos é bom, mas pode lhe tomar mais tempo do que você dispõe considerando as tarefas que tem para fazer. Tente equilibrar os momentos de socialização com os de trabalho para que não seja gasto demasiado tempo no primeiro. Desabafar sobre a tarefa acadêmica não resolve o problema www.esab.edu.br 207 da produção. • Controle inadequado de seu progresso: Mantenha arquivos organizados daquilo que deve ser incluído no trabalho, lista de referências, fichas de livros e artigos etc. Seu cronograma de objetivos e tarefas deve servir para analisar seu progresso. Reserve tempo para trabalhar neste tipo de reflexão; não deixe tarefas estabelecidas no seu cronograma fora de seus prazos. • Viagens: Viagens a congressos, reuniões de outros projetos, reuniões de trabalho, entre outras, são aspectos inerentes à rotina acadêmica e profissional. Lembre, no entanto, que se afastar da sua rotina e do local de trabalho implica dispender algum tempo para adaptação e para retornar tarefas do ponto em que você as deixou. Assim, tente equilibrar o tempo investido em viagens e trabalhos. • Trabalhos burocráticos: Investir tempo em tarefas burocráticas às vezes é necessário.Esse tipo de tarefa costuma tomar bastante tempo sem, no entanto, representar as tarefas mais relevantes que você terá para fazer em seu projeto. Por isso, reserve um tempo limitado para os trabalhos burocráticos no período do seu dia em que você se sente menos motivado para tarefas intelectuais. • Interrupções pelo telefone e pela INTERNET: Atender ao telefone no meio de seu trabalho acadêmico de ler, escrever e pesquisar pode tirar a atenção que estava sendo concentrada nesse trabalho, implicando, assim, mais tempo para finalizá-lo. Uma maneira de lidar com a demanda natural das ligações telefônicas é reservar um período diário para atendê-las durante um período específico do dia. E-mails e as redes sociais são detratores, ajudando desorganizar agendas e nos tirando das tarefas prioritárias. Desligue os sons de notificação, inclusive dos telefones celulares e fixas durante o período de leitura e produção do texto. • Planejamento inadequado: Planejar-se de forma inadequada pode resultar na não obtenção dos resultados desejados no prazo determinado. Logo, é importante fazer um planejamento preciso e viável (p. ex., Vou conseguir fazer sozinho(a) ou precisarei de auxílio?, Quantas horas de trabalho por dia serão necessárias?) considerando os prazos que você dispõe para finalizar as tarefas que possui. • Querer fazer demais: Não assuma mais trabalhos do que o tempo que você tem para realizá-los. Se você já assumiu tarefas além de suas tarefas acadêmicas, não assuma novos trabalhos até concluir as que você se comprometeu em fazer. www.esab.edu.br 208 • Visitantes: Receber visitantes de modo desregrado pode representar o investimento de um tempo que precisaria ser investido em outras tarefas. Estabeleça horários para receber visitas de familiares, de colegas, assim como atender ao telefone e ler e-mails. • Desorganização pessoal: Quanto tempo você vai gastar se, a cada vez que for trabalhar no seu projeto, precisar encontrar aquele artigo ou livro importante?, é necessário parar ou suspender suas atividades acadêmicas para cumprir outra obrigação? Mantenha-se organizado/a para poupar o tempo precioso. • Falta de autodisciplina: Seja o seu(sua) chefe mais exigente. Não atrase a entrega de trabalho, não deixe as tarefas incompletas, não deixe materiais / arquivos desorganizados no seu espaço de trabalho ou no seu computador. Para lhe auxiliar, você pode manter uma lista de metas que precisa alcançar semanalmente. Ao fim da semana, verifique se conseguiu cumprir o que planejou. Verifique e modifique seu cronograma. • Incapacidade de dizer não: Dizer “não” não é igual a ser rude. Não tome uma resposta negativa como algo pessoal. Se você sabe que não poderá responder a uma demanda, seja claro(a) e diga que, infelizmente, não poderá ajudar. Se você não poderá auxiliar, será melhor para seus colegas, amigos e familiares e alunos estarem cientes de que não poderão contar com a sua ajuda em vez de contar com ela parcialmente. • Procrastinação: Evite postergar o que tem para fazer. Fazer isso pode contribuir bastante para que você acabe administrando seu tempo baseado em crise. Isso contribui para uma qualidade inferior da produção de um texto. Quadro 14.1: Potenciais ladrões de tempo Fonte: Mackenzi, A. The time trap - the classic book on time management. New York: AMACOM, 1997. Couto (2014) faz uma série de dicas para criar estratégias e melhorar o manejo de tempo acadêmico. Suas recomendações, aparentemente óbvios, podem somar para melhorar o nosso uso do tempo nos processos de produção de um trabalho científico. Planeja o seu dia: Planeja suas tarefas de acordo como o seu ciclo de energia, trabalhando tarefas menos importantes em períodos que sente menos energia. (Exemplo: organizando referências nos padrões ABNT). Agenda seus compromissos: Use agenda ou calendário para registrar compromissos. Reserve um tempo para pensar num ambiente tranquilo. www.esab.edu.br 209 Programa-se para o dia seguinte: Deixe seu dia seguinte organizado antes de deixar seu trabalho. Organize sua mesa deixando material a ser usado retirando o que já foi usado. Liste as atividades que quer realizar no dia seguinte. Mantenha uma lista de tarefas prioritárias: A ordem das tarefas deve diferenciar entre 1) tarefas importantes com prazo, 2) tarefas menos importantes com prazo definido, 3) tarefas importantes sem prazo e 4) tarefas menos importantes sem prazo. Mantenha a lista de tarefas cumpridas: Essa lista funciona bem para nos motivar. É gratificante perceber que cumprimos o que planejamos. Backup dos trabalhos: É essencial fazer backups diários e semanais em mais de um formato - pen drives, DVDs e discos rígidos com cópias em mais de um computador, se tiver acesso. Não se deve confiar na segurança de um trabalho acadêmico num laptop ou único formato de armazenamento. Todo o material produzido deve ser copiado e guardado (p. 175-177). O manejo de tempo é uma questão importante para todos envolvidos na Academia. É essencial que o pesquisador/a organize seu tempo e seu trabalho para evitar o estresse da produção de um trabalho científico escrito. Esperamos ter influenciado você a repensar sua organização e esforço pessoal através dessa unidade. PARA REFLETIR Na sua vida cotidiana repleto de responsabilidades e tarefas, quais são seus maiores ladrões de tempo e organização pessoal? Que estratégias seriam importantes para um melhor manejo de seu tempo acadêmico como pesquisador/a estudando a distância? www.esab.edu.br 210 Este módulo não estaria completo sem uma reflexão sobre a con- duta acadêmica ética e sem explorar as nossas responsabilidades mútuas na construção de uma educação à distância (EAD) com integridade acadêmica. 15.1 A integridade acadêmica na produção científica À medida em que a educação e a pós-graduação a distância crescem no ensino superior brasileiro, instituições públicas e particulares buscam defender a educação presencial, já que são comuns questionamentos sobre a qualidade dos cursos que estão sendo oferecidos a distância, a viabilidade de uma aprendizagem academicamente responsável entre outras críticas dirigidas ao sistema de avaliação on-line. O ônus de “provar” e “defender” cursos de EAD, infelizmente, forma parte do cenário moderno e constitui um desafio para o ensino a distância. Ao mesmo tempo, a educação presencial em todos os níveis sofre uma crise de credibilidade quanto à sua relevância e eficácia. Poucas instituições superiores enfrentam diretamente a polêmica sobre a falta de ética dos alunos e professores na produção cien- tífica, nas provas e tarefas acadêmicas utilizadas na avaliação da aprendizagem. Inclusive as provas nacionais de desempenho e vestibular são alvos de conduta antiética e fraude. Em algumas instituições não são mais aceitáveis os trabalhos escritos fora da sala de aula devido ao mercado de pesquisas bibliográficas, mo- nografias e plágios descarados sendo praticados. A reprodução de textos originais sem autorização dos autores ou a omissão do autor infringe a Lei 9.610/98, a debatida Lei sobre www.esab.edu.br 211 Direitos Autorais (Veja a Lei no site do Ministério da Ciência e Tecnologia, disponível em <http://www.mct.gov.br>). A equipe ESAB está comprometida em promover a integridade acadêmica em todas as ações educacionais de seus cursos. O material e links oferecidos “on-line” são constituídos por conteúdos de autoria de nossos professores e consultores, sempre buscando respeitar as citações bibliográficas e os direitos autorais de tercei- ros. Esse módulo embute em suas unidades algumas estratégias para incentivar a construção de autoria. Prati (2014) opina que é “ne- cessária uma revisão da proposta de ensino permitindo que os estudantes aprendam a acreditar em suas ideias e e a apresentá- -las de forma ética e responsável.... Esse é o maior desafio para os cientistas de hoje: construir novas ideiase assumir responsabi- lidade pela autoria delas” (p. 122). Temos responsabilidades mútuas para identificar, prevenir e corri- gir os possíveis erros detectados nos sistemas “on-line” e do ma- terial didático, atualmente em uso. A reflexão que fazemos aqui envolve diretamente todos/todas os/as participantes de uma mo- dalidade de ensino-aprendizagem que utilizam novas tecnologias, facilitando o fluxo de conteúdos, de ideias e de uma produção acadêmica cuja apropriação deve observar as normas de proprie- dade e autoria intelectual. As questões éticas também são importantes facetas de qualquer produção ou processo de investigação científica, mais ainda quando se trata de pesquisa com seres humanos. Pensar a ética “on-line” e em pesquisa implica ter uma preocupação tanto com o uso do conhecimento produzido quanto com o respeito pelos su- jeitos sob investigação. Qual a pertinência desse debate para a educação “on-line” e para a pesquisa em geral? Em primeiro lugar, ele é importante porque www.esab.edu.br 212 afeta cada nível de ensino, cada sala de aula e cada projeto de monografia ou outra produção científica. Qual ética deve prevale- cer no ensino a distância, na condução da pesquisa com seres humanos e na produção acadêmica? Como podemos promover maior entendimento sobre certas normas que devem ser observa- das nas práticas de produção de módulos, textos, nos levanta- mentos bibliográficos e nos trabalhos de monografia? 15.2 Condutas indesejáveis na produção do conhecimento Pensamos que uma forma de prevenir atos antiéticos é clarificar nossos valores e pressupostos sobre condutas (in)desejáveis na produção do conhecimento. Quatro condutas indesejáveis na pesquisa e na produção acadêmica são: o plágio, a fraude, a colaboração imprópria e fabricação de informações. 15.2.1 Plágio É considerado plágio: 1) qualquer ato ou tentativa de utilização, obtenção, cessão ou transmissão de informações, opiniões ou dados, pelo próprio, por intermediário de, ou com a cumplicidade de ou- trem, através de livros, “colas” e outras fontes, realizada por meios escritos, orais ou gestuais antes e durante a realiza- ção de provas de avaliação; 2) qualquer ato ou tentativa de usar o trabalho intelectual, ideias, representações conceituais ou materiais de outro (fotografias, imagens, vídeos, gráficos, programas ou pági- nas de computação) como se fosse produção própria. www.esab.edu.br 213 Os tutores, administradores e orientadores acadêmicos da equipe ESAB vêm confrontando alunos que insistem em condutas consideradas como plágio de material escrito. Alunos/as que apresentam trabalhos comprados no mercado de venda de monografias ou incluem trechos de texto que não são de sua autoria podem perder seu curso. Não vale a pena correr riscos na montagem de uma produção acadêmica plagiada ou adquirida de terceiros. Para Prati (2014, p.112), plágio pode ser definido “como o uso de ideias (publicadas ou não) de outros sem a devida referência. Inclui o envio de projetos para editais de pesquisa e submissões de artigos completos somente com alteração do nome do autor”. Editoras, comitês e conselhos nacionais, bem como organizadores de congressos e seminários nas diferentes áreas das ciências estão cada vez mais preocupados com a autoria, coautoria e produção científica em grupos. A questão de plágio e autoria exige novas leis e regulamentação para lidar com um problema crescente que afeta a credibilidade da ciência. O Conselho Nacional de Desenvolvimento e Tecnologia está alertado para a grave questão de plágio no meio científico. O CNPq identifica várias modalidades de fraude ou má conduta em publicações. Suas definições aplicam também a produção científica não publicada em cursos de graduação e pós-graduação, presencial ou a distancia: a) Fabricação ou invenção de dados: consiste na apresentação de dados ou resultados inverídi- cos - não coletados ou alterados. b} Falsificação: consiste na manipulação fraudu- lenta de resultados obtidos de forma a alterar-lhes o significado, sua interpretação ou mesmo sua confiabilidade. Cabe também nessa definição a apresentação de resultados reais como se www.esab.edu.br 214 tivessem sido obtidos em condições diversas da- quelas efetivamente utilizadas. c} Plágio: consiste na apresentação, como se fosse de sua autoria, de resultados ou conclu- sões anteriormente obtidos por outros autores, bem como de textos integrais ou de parte subs- tancial de textos alheios sem os cuidados deta- lhados nas normas técnicas. Comete igualmente plágio quem se utiliza de ideias ou dados obtidos em análises de projetos ou manuscritos não pu- blicados, aos quais teve acesso como consul- tor(a), revisor(a), editor(a) ou assemelhado. d) Auto-plágio: consiste na apresentação total ou parcial de textos já publicados pelo mesmo autor(a), sem as devidas referências aos traba- lhos anteriores (p 212). ESTUDO COMPLEMENTAR Veja uma excelente apresentação de plágio de Prati, L. E. Plágio acadêmico. In S. H. KOLLER; M. C PAULA COUTO; J. VON HOHENDORFF. (Org) Manual de produção científica. Porto Alegre: Penso, 2014, p 109-124. Wazlawick comenta a Lei Brasileira em relação à área de computação, direitos autorais de programas de computação, entre outros assuntos. Consulte WAZLAWICK, R. S. Meto- dologia de pesquisa para ciência da computação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p.144-149. www.esab.edu.br 215 15.2.2.Fraude Considera-se como sendo fraude ou falsificação deliberada de dados qualquer distorção de informações, conteúdos ou resulta- dos. A falsificação de documentos, de datas ou de imagens, bem como a entrada sem autorização em computadores e/ou redes para alterar qualquer tipo de informação também pode ser fraude. A falsificação ou fabricação de dados (itens a e b das definições do CNPq são difíceis de detectar). Nas ciências exatas, medicina e biologia é necessário registrar os dados coletados em cadernos, arquivos ou outras formas de “bancos de dados”. Cientistas cos- tumam solicitar dados de laboratório para complementar pesquisa em projetos semelhantes. Entidades nos Estados Unidos e Europa regulamentam a guarda e utilização de dados científicos que rece- bem financiamento. Há legislação nacional e institucional sobre o tempo da resguarda de dados científicos. 15.2.3 Colaboração imprópria A colaboração imprópria consiste na utilização de terceiros, sem a devida menção de sua participação ou possível contribuição no desenvolvimento, organização ou revisão de um trabalho, projeto, proposta, apresentação oral, escrita, ou numa pesquisa de campo. Qualquer apoio recebido, mesmo não remunerado, deve constar na página dos créditos. A colaboração ou apoio que resulta num produto ou trabalho cien- tífico é pouco discutido em cursos de metodologia científica. É considerada colaboração indevida à medida que a autoria do tra- balho não reconhece formalmente o apoio recebido. É conduta indesejável assumir responsabilidade total para uma produção quando de fato houve outros colaboradores envolvidos. O reco- nhecimento de apoio e de colaboração em qualquer fase ou pro- cedimento da produção evita esse problema. www.esab.edu.br 216 15.2.4 Fabricação A fabricação é uma conduta parecida com fraude. É qualquer ato de inventar dados ou resultados, o registro de dados falsos e sua eventual reportagem como fato ou resultado. A fabricação de da- dos é um dos mais frequentes problemas atualmente enfrentados pelas autoridades norte-americanas responsáveis pela promoção da integridade de pesquisa. O relatório anual do ORT, Departa- ment of Health and Human Services, Washington, DC - Office of Research Integrity Annual Report 2006 – cita fabricação e falsi- ficação dos dados como alegação mais comum nos casos de in- vestigação e processos em 2006. 15.3 A desonestidade acadêmica De uma maneira mais geral, pode ser considerada desonestida- de acadêmica a apresentação de trabalhos, próprios ou não, com ou sem alterações,como requisito para obtenção de crédito em uma disciplina ou curso, em mais de uma circunstância acadêmi- ca. Este problema é de difícil verificação e depende muito da inte- gridade dos aprendizes, principalmente a distância. O ato de pesquisar requer ir além do que já se sabe, do que já foi escrito ou produzido por outro. A qualidade da aprendizagem usando os módulos, nos cursos da ESAB e em qualquer produção de conhecimento, depende da compreensão de todos de que o levantamento de fontes e dados não é um ato de mera reprodu- ção, nem de resumo ou fabricação de textos ou montagem de colagens dos pensamentos dos outros. A tentativa de atribuir à INTERNET a responsabilidade de condu- tas acadêmicas indevidas às facilidades modernas da informática não resolve o problema. A nossa postura como educador/a e/ou pesquisador/a ético/a nos envolve necessariamente no reconheci- mento da importância de trabalhos preventivos e num diálogo so- bre as aprendizagens desejáveis. www.esab.edu.br 217 ESTUDO COMPLEMENTAR Para maiores informações sobre plágio e a compra de produ- tos acadêmicos em todos os níveis educacionais, veja as pá- ginas e links de Augusto C. B: <http://www.microbiologia.vet. br/Plagio.htm>. Ou digite a palavra-chave “plágio” em qualquer site de busca da WEB. Para uma leitura mais detalhada, veja a definição do plágio no Wikipédia. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%- C3%A1gio#Softwares_de_detec.C3.A7.C3.A3o_de_pl.C3. A1gio>. Acesso em 18 nov 2010. A página refere-se aos sof- twares para detecção de plágio: 15.4 Responsabilidades e direitos dos professores-tutores e dos alunos on-line Existe uma necessidade crescente que instituições educacionais de todos os níveis examinem melhor a atual conduta de seus/suas professores/as e alunos/as com relação às praticas e políticas pedagógicas. Certamente, há uma falta de diálogo na comunidade científica sobre o suposto aumento de fraude e conduta antiética nas diferentes instituições de ensino superior, públicas ou não. Para muitos/as educadores/as a responsabilidade principal da proliferação de material plagiado é da Internet. Com efeito, o acesso livre aos documentos e à informação eletrônica em geral cria as condições para uma apropriação indevida do conhecimen- to, que é apresentado frequentemente como sendo de autoria própria. No entanto, precisamos nos perguntar até que ponto certas atividades não contribuem ao uso indiscriminado de mate- rial da Internet, à duplicação de textos sem citação correta de fontes e a outras práticas de plágio. http://www.microbiologia.vet.br/Plagio.htm http://www.microbiologia.vet.br/Plagio.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1gio#Softwares_de_detec.C3.A7.C3.A3o_de_pl.C3.A1gio http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1gio#Softwares_de_detec.C3.A7.C3.A3o_de_pl.C3.A1gio http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%A1gio#Softwares_de_detec.C3.A7.C3.A3o_de_pl.C3.A1gio www.esab.edu.br 218 Além das responsabilidades “normais” do professor do ensino superior, o professor tutor da ESAB tem uma responsabilidade especial em auxiliar os aprendizes e o corpo acadêmico como um todo, para zelar pela conduta ética do ensino a distância. Isso abrange todas as fases e as interações entre os atores participan- do no sistema. O(a) aluno(a) aprendiz compartilha com seus tutores essa responsabilidade. Sua conduta ética valida os conceitos da aprendizagem “on-line”, garantindo, assim a integridade acadêmi- ca da proposta da EAD da ESAB. A utilização ética do sistema do seu curso e do material didático recebido é primordial. Seu acesso e apropriação são restritos aos alunos matriculados e aos tutores contratados pela ESAB. Apresentação de material didático por professores autores; prepa- ração de artigos, links ou sites; comentários assinados pelos par- ticipantes do sistema ou monografias de final de curso devem seguir os padrões para produção acadêmica e a legislação sobre direitos autorais em vigor. Todos nós temos direitos relacionados às questões éticas levanta- das aqui. Temos o direito de investir o nosso tempo e os nossos recursos intelectuais num sistema de aprendizagem de qualidade. Temos o direito de participar coletivamente num empreendimento de EAD que esteja construindo oportunidades democráticas para um acesso mais aberto possível de uma educação continuada. Os nossos direitos serão protegidos à medida que a nossa comunida- de acadêmica cuidar preventivamente da integridade e conduta ética da nossa produção do conhecimento. www.esab.edu.br 219 15.5 Desenvolvimento do compromisso da ética online nas atividades da ESAB Para finalizar, alguns pressupostos básicos sobre a importância da integridade acadêmica e conduta ética científica no ensino su- perior à distância são apresentados no quadro a seguir. Uma educação superior de pós-graduação a distância de qualidade respeita os padrões de excelência que se estabelece e mantém nos cursos, nas disciplinas/módulos e nas atividades cotidianas de todos os autores da instituição. O compromisso com suas atividades afins – ensino, pesqui- sa e extensão – é revelado pela participação efetiva de seus docentes e discentes nessas atividades, de acordo com as suas possibilidades. A qualidade do ensino superior a distância reflete-se nos pro- cessos de produção do conhecimento, os quais envolvem um senso crítico e ético na cientificidade e valorização desse co- nhecimento. A sala de aula virtual, bem como as atividades/tarefas de en- sino-aprendizagem exigem padrões de excelência e relações interativas on-line caracterizadas pela integridade acadêmica. A conduta ética do/a professor/a tutor em suas relações peda- gógicas e acadêmicas constitui uma parte essencial de uma educação superior a distância de qualidade. A conduta ética do/a aluno/a-aprendiz como coaprendiz ati- vo/a na construção; produção do conhecimento é essencial para garantir a qualidade educacional a distância. A integridade acadêmica é definida por condutas, atitudes e práticas éticas reconhecidas e respeitadas pelo conjunto da comunidade acadêmica. Quadro 15.1: Pressupostos básicos sobre um ensino superior ético e de qualidade www.esab.edu.br 220 ESTUDO COMPLEMENTAR Para você continuar aprofundando sobre o tema desta unida- de, sugerimos as seguintes referências: CATÃO, F. A pedagogia ética. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. DINES, A. A moda da ética e a ética sem dor. In: Folha de São Paulo. 2 de agosto, 1997, p. 9. DOXSEY, J. R. A educação enquanto intervenção humana: reflexões sobre a prática ética. Trabalho apresentado no Semi- nário Regional de América Latina, Instituto para Desenvolvi- mento e Educação de Adultos - IDEA, Port-de-Prince, Haiti, 3 a 12 de setembro de 1997. (Disponível on-line) FLORES, M. A ética e a vida humana. Ciência & Ética. Jornal do Federal - Informativo do Conselho Federal de Psicologia. Ano XII (nº. 48) julho, 1997, p. 6. www.esab.edu.br 221 As Unidades 11 a 14 focaram o discurso científico, principalmente sua organização e reprodução no texto, a divulgação e apresentação dos resultados em diversos formatos. A unidade 15 examinou a integridade acadêmica numa perspectiva ética e sua importância para a produção científica. A Unidade 11 especificamente apresentou o discurso científico como uma comunicação dialógica submetida às normas técnicas padronizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e observadas pela ESAB em seu Manual de Produção do TCC. O texto desenvolveu noções das diferentes instâncias enunciativas nos textos científicos - as citações diretas e indiretas. Em seguida a próxima unidade (12) introduziu considerações sobre a redação e organização do texto escrito, com sugestões do material que pode ser consultado e os formatos de organização as referências de várias fontes e materiais. A Unidade 13 abordou as normas, formato natureza e os procedimentos básicos para a produção científica e qualificação de artigo (TCC) na ESAB. O roteirobásico detalhou os elementos obrigatórios nessa produção de acordo com os regulamentos da ABNT. O foco da Unidade 14 foi a exploração de oportunidades para a comunicação dos resultados de um trabalho científico - outras opções para a comunicação e debate de resultados científicos. O/a leitor/a foi convidado/a a ponderar essas alternativas à tão valorizada publicação perante as dificuldades e competição acadêmica num cenário da crescente produção científica brasileira. Várias dicas foram oferecidas para os/as pesquisadores/as relativos à leitura adicional para aprimorar a escrita, sobre os www.esab.edu.br 222 “ladrões de tempo” para nossa produção, bem como sugestões estratégicas para melhorar o manejo de nosso tempo acadêmico. A Unidade 15 fechou o módulo com uma reflexão sobre a conduta acadêmica ética e as nossas responsabilidades mútuas na cons- trução de uma educação a distância (EAD) com integridade aca- dêmica. Foram abordadas condutas indesejáveis na produção do conhecimento com o intuito prevenir certos atos antiéticos. Os quatro condutas indesejáveis na pesquisa e na produção acadê- mica foram destacadas: o plágio, a fraude, a colaboração imprópria e fabricação de informações. www.esab.edu.br 223 Os termos apresentados neste glossário são definições breves de alguns conceitos comuns em pesquisa nas ciências humanas in- clusive, da educação. Foram incluídos também alguns nomes de autores classicos pouco citados no Brasil. Os termos foram adap- tados de livros consultados e listados no final do glossário. Quan- to ao livro A Construção do Saber (LAVILLE E DIONNE, 1999) trabalhamos com um glossário maior nas páginas 331 a 337. ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Normas para produção científica e citações. Disponível em <http://www.abnt. org.br/>. R ABSTRACT (RESUMO). Apresentação concisa de um texto, destacando os elementos principais, o que permite ao leitor tomar conhecimento do conteúdo e procedimentos utilizados na produção da obra. Dispensado em trabalhos da graduação; obrigatório nos trabalhos da pós-graduação. R AMOSTRA. Subconjunto dos elementos de uma população (universo) a partir do qual os dados são recolhidos. Para a amostra ser representativa deste universo, as características principais da população precisam estar presentes proporcionalmente na amostra selecionada. R AMOSTRAGEM. Processo ou conjunto das operações para determinar uma amostra representativa. R ATRIBUTO. A propriedade ou característica de algo. Enquanto variável, não pode ser alterada pelo/a pesquisador/a sendo propriedade do fenômeno sob estudo. Os atributos diferem de sujeito para sujeito e são importantes características para compreender tendências e relações entre as variáveis analisadas. R BOURDIEU, P. (1930). Sociólogo francês. Muito conhecido no Brasil a partir da obra A reprodução (1970), escrita em colaboração com Passeron. R www.esab.edu.br 224 CAUSALIDADE. Um princípio ou conceito segundo o qual alguns fenômenos podem causar outros fenômenos. Em sua perspectiva elementar, pressupõe que todo efeito procede de uma causa e toda causa, nas mesmas condições, pode produzir o mesmo efeito. Em sua versão moderna, um efeito pode ter causas múltiplas (multicausalidade) e peso diferente, em situações diferentes. Prefere-se mais falar em fatores que contribuem para produzir um efeito do que em “causas”. R CIÊNCIA. Investigação metódica, organizada, da realidade, para descobrir a essência dos seres e dos fenômenos e as leis que os regem com o fim de aproveitar as propriedades das coisas e dos processos naturais em benefício do homem. (PINTO apud RICHARDSON, 1999, p. 20). R CONCEITO. Representação mental de um conjunto de realidades em função de suas características comuns essenciais. O conceito é uma categoria que estabelece um caso geral a partir de um conjunto de casos particulares afins, devido a suas características essenciais. R DARWIN Charles (1809-1882) - Naturalista britânico. Fundador e precursor da ciência da evolução das espécies (em colaboração com Wallace Al). Evolução pela seleção natural (1842-1858). A origem das espécies (1859). R DESCARTES René (1596-1650) – Físico, matemático e filosofo francês, conhecido como fundador da filosofia moderna. Discurso do método (1637), Meditações metafísicas (1641). R DEDUÇÃO. Forma de raciocínio que parte de uma proposição geral para verificar seu valor por meio de dados particulares. Em pesquisa, essa proposição é, em geral, uma hipótese. Fala-se então em raciocínio hipotético-dedutivo. R DURKHEIM, Emile (1858-1917). Sociólogo francês, um dos criadores da sociologia moderna. As regras do método sociológico (1894). O suicídio (1897). R ENQUETE. Método de estudar as características de um grupo grande de pessoas ou unidades por meio do exame de variáveis medidas de todo o universo (censo) ou por uma amostra do universo por diversos meios (questionário, entrevista, observação, exame de documentos, etc.) R www.esab.edu.br 225 ENTREVISTA. Técnica de coleta de informação pela qual o/a pesquisador/a recolhe oralmente o testemunho dos/as participantes e aplica um instrumento que organiza as informações que estão sendo colhidas. R EPISTEMOLOGIA. Estudo da natureza e dos fundamentos do saber, particularmente de sua validade, de seus limites, de suas condições de produção. R ESTUDO DE CASO. Uma análise e explicação de uma situação ou caso singular onde na maioria das vezes utiliza-se métodos qualitativos. O caso pode ser um grupo, uma instituição ou envolver mais de um caso na tentativa de comparar situações ou circunstâncias específicas. R ETNOGRAFIA: É uma estratégia qualitativa em que o pesquisador estuda um grupo cultural intacto em um ambiente natural durante um período de tempo prolongado. R GALILEU (1564-1642): Físico e astrônomo italiano, fundador da ciência moderna. Diálogo sobre os dois sistemas do mundo (1632). Condenado à morte pela Inquisição se vê obrigado a renegar sua teoria do universo. R HIPÓTESE. Proposição de resposta a uma questão. A hipótese ela tende a formular uma relação entre fatos significativos e ajuda a selecionar os fatos observados, permitindo interpretá-los, dar- lhes uma significação que, verificada, constituirá um elemento possível do início de uma teoria. Explicação plausível, mas provisória, de um problema de pesquisa. Essa explicação deve ser verificada nos fatos. R HISTÓRIA DE VIDA. Estratégia de pesquisa pela qual o/a pesquisador/a conduz uma testemunha a contar, ao seu modo, sua vida ou um aspecto de sua vida. R OBJETIVIDADE. Atitude intelectual que visa a considerar a reali- dade do objeto, controlando ao máximo, pela operação nomeada objetivação, as prenoções do/a pesquisador/a. R www.esab.edu.br 226 OBJETO. O que é submetido ao estudo do/a pesquisador/a. Distingue-se o objeto da pesquisa do sujeito-pesquisador. Para evitar ambiguidades, quando a pesquisa trata de seres humanos, pode-se nomeá-los pessoas, autores, participantes, indivíduos, ao invés de sujeitos. R OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE. Técnica de pesquisa por meio da qual o/a pesquisador/a se integra a um grupo para estudá-lo de seu interior. Essa técnica está intimamente ligada à abordagem antropológica.R PESQUISA DE OPINIÃO. Estratégia de pesquisa de dados que visa o conhecimento da opinião de uma população sobre um determinado assunto, interrogando uma amostra, dessa população. Uma pesquisa de opinião é dita “pontual” ou “instantânea”, se a amostra é interrogada uma só vez, “de tendência; de amostras diferentes são interrogadas em momentos sucessivos, ou ”por etapas”, se a mesma amostra é questionada por várias vezes”. R PROBLEMA. Existe problema em pesquisa quando uma falta é sentida ou observada nos saberes disponíveis que a pesquisa poderia saná-la. Ponto de partida de toda pesquisa, a noção de problema é central na concepção moderna de ciência. R PROBLEMÁTICA. Conjunto dos saberes (factuais, conceituais, teóricos)e dos valores que influenciam nosso modo de abordar um problema de pesquisa e que formam seu quadro. R REFERENCIAL TEÓRICO: Texto resultante de levantamento ou revisão bibliográfica, de qualquer extensão, que indica ao leitor o tratamento cientifico atual do problema. Inclui definição de conceitos, citações de trabalhos já realizados e a teoria existente que sustenta a análise dos fenômenos abordados. R RESENHA: Síntese analítica de um livro, texto ou relatório; descrição pormenorizada, incluindo ou não uma avaliação ou comentário crítico. R REVISÃO DA LITERATURA: Exame analítico e crítico dos estudos que se relacionam a uma determinada questão de pesquisa. R SUMÁRIO: Organização sistemática (enumerada) dos conteúdos da estrutura de um trabalho. R www.esab.edu.br 227 TEORIA: Explicação geral de um conjunto de fenômenos, po- dendo ser aplicada, em princípio, a todos os fenômenos seme- lhantes. R VARIÁVEL: Atributo, elemento, propriedade ou fator que pode ter mais de um valor ou se encontrar em mais de um estado, e que pode ser medida. As medidas resultantes podem ter mais de um valor (por exemplo, o voto de uma pessoa pode depender da idade, do sexo, da profissão, do nível educacional da pessoa). Chama-se de “independente” a variável que, em uma relação de causalidade, está relacionada à causa e cujas variações influenciam os valores de uma outra variável ligada ao efeito e nomeada “variável dependente”. A variável dependente ocorre em último lugar numa sequência de tempo, portanto, depende das ações e efeitos das variáveis independentes, é afetada por elas ou por combinações dos outros fenômenos. R VERIFICAÇÃO (da hipótese). Operação pela qual, uma vez enunciada uma hipótese, o/a pesquisador/a a confrontar aos fatos reais para confirmá-la. Pode acontecer que o exame dos fatos conduza a uma modificação ou até a uma invalidação da hipótese. R PARA CONSULTAR OUTROS GLOSSÁRIOS, VEJAM: CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2010. KATZER, J.; COOK, K. H.; e CROUCH, W. W. Evaluating infor- mation: a guide for users of social science research. Nova York: McGraw-Hill, 1997. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artemed; Belo Horizonte: UFMG, 1999. MARTINS, G. A. Manual para elaboração de monografias e dissertações. São Paulo: Atlas, 1999. [Definições básicas utiliza- das na produção e comunicação cientifica.] www.esab.edu.br 228 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10520: Infor- mação e documentação - citações em documentos - apresentação. Rio de Janeiro, 2002a. ______. NBR 2063: Informação e documentação - citações em documentos - referencias -elaboração. Rio de Janeiro, 2002a ______. NBR 14724: Informação e documentação -trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2011. ______. 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