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LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I Semestre 5 Prof.ª Maria Emilia Sardelich UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I� UNIMES VIRTUAL L782c LOBO, Maurício Nunes Curso de Pedagogia: Atividades Curriculares Acadêmicas Adicionais (por) Prof. Maurício Nunes Lobo. Semestre 2. Santos: UNIMES VIRTUAL. UNIMES. 2006. 22p. 1. Pedagogia 2. Atividades Curriculares Acadêmicas Adicionais. CDD 371 Universidade Metropolitana de Santos Campus II – UNIMES VIRTUAL Av. Conselheiro Nébias, 536 - Bairro Encruzilhada, Santos - São Paulo Tel: (13) 3228-3400 Fax: (13) 3228-3410 www.unimesvirtual.com.br Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. www.unimesvirtual.com.br FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I � UNIMES VIRTUAL UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos - Campus I e III Rua da Constituição, 374 e Rua Conselheiro Saraiva, 31 Bairro Vila Nova, Santos - São Paulo - Tel.: (13) 3226-3400 E-mail: infounimes@unimes.br Site: www.unimes.br Prof.ª Renata Garcia de Siqueira Viegas da Cruz Reitora da UNIMES Prof. Rubens Flávio de Siqueira Viegas Júnior Pró-Reitor Administrativo Prof.ª Rosinha Garcia de Siqueira Viegas Pró-Reitora Comunitária Prof.ª Vera Aparecida Taboada de Carvalho Raphaelli Pró-Reitora Acadêmica Prof.ª Carmem Lúcia Taboada de Carvalho Secretária Geral mailto:infounimes@unimes.br www.unimes.br FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I� UNIMES VIRTUAL EQUIPE UNIMES VIRTUAL Diretor Executivo Prof. Eduardo Lobo Supervisão de Projetos Prof.ª Deborah Guimarães Prof.ª Doroti Macedo Prof.ª Maria Emilia Sardelich Prof. Sérgio Leite Grupo de Apoio Pedagógico - GAP Prof.ª Elisabeth dos Santos Tavares - Supervisão Prof.ª Denise Mattos Marino Prof.ª Joice Firmino da Silva Prof.ª Márcia Cristina Ferrete Rodriguez Prof.ª Maria Luiza Miguel Prof. Maurício Nunes Lobo Prof.ª Neuza Maria de Souza Feitoza Prof.ª Rita de Cássia Morais de Oliveira Prof. Thiago Simão Gomes Angélica Ramacciotti Leandro César Martins Baron Grupo de Tecnologia - GTEC Luiz Felipe Silva dos Reis - Supervisão André Luiz Velosco Martinho Carlos Eduardo Lopes Clécio Almeida Ribeiro Grupo de Comunicação - GCOM Ana Beatriz Tostes Carolina Ferreira Flávio Celino Gabriele Pontes Joice Siqueira Leonardo Andrade Lílian Queirós Marcos Paulo da Silva Nildo Ferreira Ronaldo Andrade Stênio Elias Losada Tiago Macena William Souza Grupo de Design Multimídia - GDM Alexandre Amparo Lopes da Silva - Supervisão Francisco de Borja Cruz - Supervisão Alexandre Luiz Salgado Prado Lucas Thadeu Rios de Oliveira Marcelo da Silva Franco Secretaria e Apoio Administrativo Camila Souto Carolina Faulin de Souza Dalva Maria de Freitas Pereira Danúsia da Silva Souza Raphael Tavares Sílvia Becinere da Silva Paiva Solange Helena de Abreu Roque Viviane Ferreira FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I � UNIMES VIRTUAL AULA INAUGURAL Bem-vindo (a) ao curso de Fundamentos de Expressão e Linguagem em Multimeios I! É um grande prazer poder contar com a sua presença para podermos falar sobre o processo de configuração da fotografia e do vídeo como sistemas de expressão. Juntos, vamos falar a respeito das conquistas da tecnologia visual. Desde sempre, a humanidade vem utilizando a tecnologia disponível de seus con- textos históricos para plasmar a vida em imagens. As projeções ópticas utilizadas pelos artistas do século XV possibilitaram um novo modo de representação. Como nosso curso refere-se à fotografia e ao vídeo, nos- so olhar retrospectivo focalizará, apenas, alguns momentos-chave para a consolidação dessas tecnologias. Vamos falar do trabalho de homens e mulheres que pesquisaram formas de utilizar suas máquinas fotográficas e videográficas a fim de ampliarem os limites impostos por elas; que ultrapassaram o uso desses dispositivos como ferramentas de registro ou de documentação para construírem um discurso de si e do mundo. Espero que, juntos, possamos compartilhar nossos saberes, construir no- vas experiências e colaborar para a nossa formação quanto a esses siste- mas de expressão que ainda estão em processo de elaboração. Também nos cabe uma boa parte de ação nesse work in progress. Vamos começar? Bom Estudo! Maria Emilia Sardelich FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I� UNIMES VIRTUAL FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I � UNIMES VIRTUAL Índice Unidade I - Tecnologia visual: formação histórica da imagem técnica e seus modos de relação no mundo contemporâneo ................................................... 11 Aula: 01 - Tecnologia visual e imagens técnicas ......................................................... 12 Aula: 02 - Imagens técnicas e visualidade .................................................................. 15 Aula: 03 - A invenção da fotografia: o processo óptico ............................................... 18 Aula: 04 - A invenção da fotografia: o processo químico ............................................ 21 Aula: 05 - A invenção da fotografia no Brasil: as pesquisas de Hércules Florence ...... 24 Aula: 06 - Imagens de movimento aparente e eletrônicas ........................................... 28 Aula: 07 - A consolidação da imagem eletrônica ........................................................ 29 Aula: 08 - Modos de relação imagem/mundo: simbólico, epistêmico e estético ......... 32 Aula: 09 - Modos de relação imagem/mundo: vigilância e manipulação ..................... 35 Resumo - Unidade I ..................................................................................................... 38 Unidade II - A linguagem fotográfica e videográfica .......................................... 43 Aula: 10 - A linguagem fotográfica .............................................................................. 44 Aula: 11 - A abordagem de Roland Barthes ................................................................. 47 Aula: 12 - A abordagem de Phillipe Dubois ................................................................. 50 Aula: 13 - Elementos formais da linguagem fotográfica: o plano, o foco, a forma e a textura ... 53 Aula: 14 - Elementos formais da linguagem fotográfica: o ângulo, a iluminação, as cores ... 56 Aula: 15 - Elementos formais da linguagem fotográfica: o contraste, o movimento, o ritmo, o equilíbrio e a relação espacial imagem/intérprete ...................................... 59 Aula: 16 - Elementos formais da linguagem videográfica: os planos, os movimentos de câmera, as cores ......................................................................................... 62 Aula: 17 - Elementos da linguagem videográfica: a iluminação, a tonalidade, o som, a edição - a transparência e a opacidade dos meios ...................................... 65 Aula: 18 - Projetos com imagens fotográficas e videográficas .................................... 68 Resumo - Unidade II .................................................................................................... 71 Unidade III - A produção fotográfica nos séculos XIX e XX ............................... 79 Aula: 19 - A fotografia e os meios de comunicação no século XIX .............................. 80 Aula: 20 - A fotografia no Brasil do século XIX: a construção de uma imagem ........... 83 Aula: 21 - Carte-de-visite: a elaboração da crônica familiar ........................................ 86 Aula: 22 - O movimento do Pictorialismo .................................................................... 89 Aula: 23 - A fotografia moderna .................................................................................. 92 Aula: 24 - A fotografiadocumentária ........................................................................... 94 Aula: 25 - A fotografia documentária social entre guerras........................................... 97 Aula: 26 - A fotografia documentária social do pós-guerra........................................ 100 Aula: 27 - A fotografia documentária no Brasil .......................................................... 102 Resumo - Unidade III ................................................................................................. 105 FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I10 UNIMES VIRTUAL Unidade IV - A produção videográfica no século XX ........................................ 111 Aula: 28 - A imagem videográfica e a configuração da videoarte .............................. 112 Aula: 29 - A videoarte e as ações performáticas ....................................................... 115 Aula: 30 - A videoinstalação ...................................................................................... 118 Aula: 31 - O videoclipe .............................................................................................. 121 Aula: 32 - Videoarte: narrativas pessoais .................................................................. 124 Resumo - Unidade IV ................................................................................................. 127 FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 11 UNIMES VIRTUAL Unidade I Tecnologia visual: formação histórica da imagem técnica e seus modos de relação no mundo contemporâneo Objetivos Contextualizar o processo histórico da formação técnica da imagem e seus modos de relação no mundo contemporâneo. Caracterizar as diferenças exis- tentes entre a consecução da imagem fotográfica e videográfica. Apresentar os modos: simbólico, epistêmico e estético de relação imagem/mundo e seus possíveis usos para a vigilância e manipulação. Plano de Estudo Esta unidade conta com as seguintes aulas: Aula: 01 - Tecnologia visual e imagens técnicas Aula: 02 - Imagens técnicas e visualidade Aula: 03 - A invenção da fotografia: o processo óptico Aula: 0� - A invenção da fotografia: o processo químico Aula: 0� - A invenção da fotografia no Brasil: as pesquisas de Hércules Florence Aula: 0� - Imagens de movimento aparente e eletrônicas Aula: 0� - A consolidação da imagem eletrônica Aula: 0� - Modos de relação imagem/mundo: simbólico, epistêmico e estético Aula: 0� - Modos de relação imagem/mundo: vigilância e manipulação FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I12 UNIMES VIRTUAL Aula: 01 Temática: Tecnologia visual e imagens técnicas Em nossa primeira aula abordaremos a compreensão dos conceitos de Tecnologia Visual e Imagem Técnica, pois es- ses conceitos são centrais para a compreensão dos funda- mentos de expressão e linguagem dos multimeios. Vamos iniciar nossa exposição sugerindo que você olhe ao seu redor. O que você vê? Revistas, cartões-postais, anúncios de produtos, exposições de Fotografia, Videografia, Vídeo-performances, Instalações Multimídia etc. Milhares de imagens fazem parte do universo visual e ambiental do cidadão comum do século XXI. Estamos imersos em um mundo de imagens técnicas e seduzi- dos pelas cores dos anúncios publicitários e das sutilezas do preto e bran- co. Seja na televisão, revistas ou outdoors, a mídia, em sua multiplicidade de formatos, penetra em nossas casas e nos conduz à inúmeras viagens sem sairmos do lugar. Somos tomados pela informação visual e fazemos parte desse cenário, pois não somos, apenas, meros espectadores. Quase tudo do pouco que conhecemos, em relação ao conhecimento pro- duzido, chega até nós via Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) que, por sua vez, constroem imagens do mundo. Nômades em nossas pró- prias casas, capturamos imagens, muitas vezes, sem modelo, sem fundo, cópias de cópias, no cruzamento de inúmeras significações. São imagens para deleitar, entreter e vender que nos dizem sobre o que vestir, comer, aparentar ou pensar. Homens e mulheres, jovens e crianças, ocidentais e orientais, todos são integrados por uma avalanche de informações visuais que criam expecta- tivas em cada um de nós. A experiência do homem contemporâneo não pode ser compreendida fora de suas relações com a imagem técnica. As imagens não são gratuitas. Elas são feitas para serem vistas por pesso- as que, além da capacidade perceptiva, possuem seus diversos saberes, afetos e crenças configuradas pelo grupo sociocultural ao qual pertencem. A supremacia da comunicação visual no século XX levou Debord (1997) a conceber a sociedade pós-industrial como sendo uma “sociedade do es- petáculo”. A constatação de Debord (1997, p. 15) é a de que o espetáculo e as imagens tecnicamente produzidas interferem na capacidade de a hu- manidade “ver e interpretar” criticamente o mundo. Esta é a base da alie- nação da sociedade contemporânea. Desse modo, o excesso de imagens FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 13 UNIMES VIRTUAL obstruiria o processo de elaboração do pensamento humano e estimularia os sentidos a tal ponto que o sujeito dessa sociedade, o consumidor de espetáculos, preferiria a representação à realidade por considerar sagra- da a ilusão imagética e por considerar a verdade profana. Isso quer dizer que aquilo que não é mostrado em imagens torna-se estranho ao conhe- cimento e à sensibilidade do homem contemporâneo. As TIC apresentam os acontecimentos em formato de espetáculo, do mesmo modo que os próprios acontecimentos são encenados como espetáculos. Mirzoeff (2003) é outro estudioso da contemporaneidade que identifica a visualização, ou seja, o ato de plasmar a vida em imagens ou visualizar a existência, como sendo a grande característica do nosso tempo. Tal como Debord (1997), Mirzoeff (2003) também entende que pouco conhecemos sobre as imagens e seu poder. Os estudos de Mirzoeff (2003) dão prioridade à experiência cotidia- na do visual, aos acontecimentos visuais nos quais o consumidor busca informação, significado e/ou prazer conectados à “tecnologia visual”. O autor define a “tecnologia visual como qualquer forma de dispositivo dese- nhado para ser observado e/ou para aumentar a visão natural, abarcando da pintura a óleo até a televisão e a Internet”. (MIRZOEFF, 2003, p. 19) A humanidade tem desenvolvido a tecnologia visual para ampliar seus li- mites e contar sua História com imagens por meio de diversos suportes, tais como pedra, argila, osso, couro, madeira, metais, papéis, acetatos, suportes digitais; e técnicas, como desenho, pintura, escultura, fotografia, cinema, vídeo, web. É tão instigante a obstinação da humanidade para eternizar os momentos de sua vida como a sua capacidade de criar solu- ções técnicas para a perenização desses momentos. O desejo de reproduzir e guardar imagens fiéis de uma paisagem, pessoa, animal ou objeto foi perseguido incansavelmente pela humanidade ao lon- go dos séculos. No panorama gráfico da Pré-História ao Renascimento, a imagem sem réplica foi, praticamente, hegemônica. Durante muitos sé- culos, um número reduzidíssimo de pessoas pôde possuir determinadas imagens, usufruir da sua contemplação e, eventualmente, permitir fazer cópias delas. Ao longo da História do mundo ocidental, podemos perce- ber um adensamento progressivo das imagens. Esse aden- samento tem acontecido nos planos quantitativo e qualita- tivo. Os procedimentos para reprodução de imagens, como a xilogravura, tornaram possível realizar cada vez mais cópias de uma mesma imagem. Com a xilogravura, o desenho tornou-se, pela primeira vez, tecnicamente FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I1� UNIMES VIRTUAL reprodutível, muito antes que a imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita (BENJAMIN, 1986). Vamos utilizar o conceito de Flusser (1985) de “imagem técnica”, como sendo a imagem realizada por aparelhos. Esse tipo de imagem foi uma busca constante de investigadoresda arte e da ciência, de todas as épo- cas, que atingiu seu objetivo com o advento da fotografia. O processo fotográfico permitiu não só captar e exibir uma imagem, mas, também, reproduzi-la tecnicamente. A fotografia é uma palavra composta por duas expressões da língua grega (photo + graphos), que significa “escrever/desenhar com a luz”. A foto- grafia permitiu a produção de incontáveis cópias de uma imagem original. Aumentou, também, a circulação social das imagens confinadas durante séculos às igrejas, palácios e museus. Desde o século XIX, as imagens aparecem nas ruas, em jornais diários, revistas, televisão ou Internet. Como define Kossoy (1989, p. 40), “a fotografia é uma representação plás- tica (forma de expressão visual) indivisivelmente incorporada ao seu su- porte e resultante dos procedimentos tecnológicos que a materializam”. A fotografia reproduz signos, imagens, e também formas de memória extra-somática que alteram e ampliam nossas noções sobre o que e como olhar, que nos provocam a sen- sação de podermos abarcar o mundo inteiro em uma outra memória, que não a corporal, e nos compelem a guardar imagens que já não são as ex- perienciadas. A fotografia tem alterado, ao mesmo tempo em que também tem configurado, a visualidade humana. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 1� UNIMES VIRTUAL Aula: 02 Temática: Imagens técnicas e visualidade Em nossa aula anterior, conceituamos a Tecnologia Visual como qualquer forma de dispositivo desenhado para ser ob- servado e/ou para aumentar a visão natural. Foi possível per- ceber que a tecnologia, que permitiu não só captar e exibir uma imagem, mas também reproduzi-la tecnicamente, foi a Fotografia. Afirmamos que essa tec- nologia tem alterado e configurado a visualidade humana. Passemos agora a diferenciar o processo fisiológico da visão no fenômeno da visualidade. A máquina fotográfica é considerada uma máquina sensória, pois imita os aparelhos receptores dos humanos e registra, fixa em um suporte, aquilo que os sentidos captam, ao mesmo tempo em que amplia a capacidade humana de ver, instaurando novas perspectivas que, sem ela, o mundo não teria. De que modo a máquina fotográfica altera a visualidade humana? Walker e Chaplin (2002) nos auxiliam a responder a esta questão ao defi- nirem a visão como sendo o processo fisiológico em que a luz impressiona os olhos e a visualidade como o olhar socializado. Podemos afirmar que a visualidade é o olhar que aprendeu a olhar o mundo com as próprias ima- gens que tem criado sobre o mundo. Isso quer dizer que o sistema ótico de um brasileiro, um africano ou um europeu não são diferentes, mas sim o modo de descrever e representar o mundo de cada um deles, já que eles possuem diferentes maneiras de olhar para o mundo, o que, conseqüente- mente, dá lugar aos diferentes sistemas de representação. A “representação” é um conceito que vem sendo estudado pela filosofia desde a escolástica medieval para referir-se a signos, símbolos, imagens e outras formas de substituição. De um modo geral, é compreendida como o processo de apresentação de alguma coisa por meio de signos. Atual- mente, o conceito de representação se encontra no centro da teoria das ciências cognitivas, entendido como o próprio conteúdo do pensamento. Neste curso, compreendemos a representação como a ca- pacidade de evocar mediante um signo (uma imagem), um objeto ausente ou uma ação não consumada. Nossa noção de signo está inspirada no modelo semiótico de Charles Peirce. Nesse mo- delo um signo é algo que está no lugar de alguma coisa para alguém, em alguma relação ou alguma qualidade. (SANTAELLA, 1994). FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I1� UNIMES VIRTUAL Potencialmente, os signos são capazes de produzir efeitos de sentido, de real, de verdade, no intérprete dos signos. Quando usamos os signos, eles podem produzir no intérprete a idéia da verdade acontecida. Todo discurso é uma simulação da realidade, pois é feito de signos que, por sua vez, são representantes da realidade. Um texto discursivo, portanto, pode produzir efeitos no intérprete da mensagem. A fotografia como imagem, como representação, também é um discurso e, portanto, uma ferramenta de expressão e de comunicação. Seja ela ex- pressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre irá constituir uma mensagem para o Outro. A Fotografia como imagem, e como tecnologia visual, abre espaço para um “discurso sincrético como um meio eficien- te de persuadir” (JOLY, 1996,13). Todas as potencialidades da linguagem corporal, sonora e visual são exploradas no discurso sincré- tico e podem levar o sujeito a dar resposta a esse discurso, agindo muito mais com a emoção e não somente com a razão. Como quem constrói o discurso tem à sua disposição uma série de possi- bilidades para construir sua idéia, todo produto discursivo é feito de uma seleção de elementos escolhidos para transmitir uma idéia dentro de uma série de possibilidades existentes a partir de um modelo qualquer. Quando combinados dentro de um espaço textual, esses elementos começam a agir entre si, produzindo a significação do texto. Pelo momento histórico em que a Fotografia configurou-se (meados do século XIX), ela também respondeu às características próprias do sistema de produção de sua época, isto é, o sistema industrial. O processo fotográ- fico não se constitui em uma única etapa de trabalho, como ocorre com as técnicas artesanais do desenho e da pintura, também denominadas quirográficas por alguns autores, para definir a feitura à mão. No processo fotográfico, feita a exposição da chapa à luz, há uma divisão de tarefas e etapas que finalizam a cópia fotográfica. Laurentiz (1988) observa que a fotografia incluiu a meca- nização no sistema de expressão do homem ocidental. A cópia fotográfica, como produto mecânico, carrega consigo as qualidades do sistema industrial, ou seja, a representação ganha veloci- dade na sua produção; despersonifica-se a autoria por meio da interação entre homem e máquina; produzem-se objetos similares entre si, eliminan- do-se as diferenças individuais comuns às técnicas artesanais. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 1� UNIMES VIRTUAL Contemporaneamente, a Fotografia está presente nas manifestações ar- tísticas e cientificas, em suas diversas modalidades, seja na Medicina, Biologia, Astronomia, Agronomia, na Propaganda e na área da Comuni- cação, de um modo geral, incluindo-se, então, a área editorial que tem contado com enormes possibilidades de interferência ou manipulação, em virtude da tecnologia digital. A conquista da “imagem técnica” deve-se a investigadores que estavam realizando pesquisas em vários países ao mesmo tempo. Na França, na In- glaterra e também no Brasil do século XIX, os investigadores trabalhavam com materiais diversos, porém perseguiam o mesmo objetivo: fixar uma imagem, guardar uma memória “objetiva” de pessoas e de suas coisas. Não é fácil precisar as datas e etapas do processo que leva- ram à “invenção da Fotografia”, já que esta invenção deve- se a um sem número de investigadores nas mais diversas épocas e lugares. Entretanto, é possível apontar alguns destes fatos e descobertas como sendo relevantes para a sua configuração atual, como poderemos acompanhar na nossa próxima aula. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I1� UNIMES VIRTUAL Aula: 03 Temática: A invenção da fotografia: o processo óptico Nas aulas anteriores foi possível perceber como a “invenção da fotografia” instaura uma nova forma de a humanidade se relacionar com o mundo e agrega um instrumento que serve para ver o próprio mundo e interpretá-lo. Deste modo, a Fotografia é um instrumento de conhecimento ao fornecer informações sobre os objetos, os lugares ou as pessoas, em formas visuais tão diversas, além de preser- vá-los no tempo. O mundo tornou-se de certa forma ‘familiar’ após o advento da fotografia;o homem passou a ter um co- nhecimento mais preciso e amplo de outras realida- des que lhe eram, até aquele momento, transmitidas unicamente pela tradição escrita, verbal e pictórica. Com o advento da fotografia e, mais tarde, com o de- senvolvimento da indústria gráfica, que possibilitou a multiplicação da imagem fotográfica em quantidades cada vez maiores através da via impressa, iniciou-se um novo processo de conhecimento do mundo, porém de um mundo em detalhe, posto que fragmentário em termos visuais e, portanto, contextuais. Era o início de um novo método de aprendizagem do real, em função da acessibilidade do homem dos diferentes estratos sociais à informação visual direta dos hábitos e fatos dos povos distantes. Micro aspectos do mundo pas- saram a ser cada vez mais conhecidos através de sua cópia ou representação. O mundo, a partir da alvorada do século XX, se viu, aos poucos, substituído por sua imagem fotográfica. O mundo tornou-se, assim, por- tátil e ilustrado. (KOSSOY, 1989, p.15) Tecnicamente, a Fotografia constitui-se por dois processos distintos: um físico e outro químico. O processo físico refere-se às leis da Óptica (as ob- jetivas e a caixa escura que permitem a formação e captura da imagem). Esse processo já estava bastante avançado no final do Século XVIII. Nesse período, o processo químico, o que permite o registro latente da imagem em algum tipo de suporte sensibilizado, começava a amadurecer. Vamos indicar alguns momentos-chaves no desenvolvimento histórico desses dois processos. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 1� UNIMES VIRTUAL O processo físico da Fotografia origina-se na “Câmara Escura”. Trata-se de um quarto escuro, cujas salas são pequenas, onde era projetada na parede oposta, ou sobre uma tela, uma imagem invertida da vista exterior. Alguns historiadores afirmam que a primeira descrição sobre o funcio- namento de uma câmara escura data do Século V antes de Cristo. Essa descrição teria sido feita pelo sábio chinês Mo Tzu (479-438 a.C.). Dois séculos mais tarde, seria a vez do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) referir-se à possibilidade de conservar a configuração do Sol e da Lua se observados através de um buraco sem forma determinada em qualquer lugar de penumbra que recebesse, de modo propício, um facho luminoso. Posteriormente, o sábio árabe que vivia em Constantinopla, Abu al-Hasan Ibn al-Haytham (965-1038, d.C.), conhecido no Ocidente como Alhazen, demonstrou a constatação de Aristóteles. Atribui-se a Leonardo da Vinci (1452-15l8) a comprovação da tese de Aristóteles, porém Leonardo conhecia a obra do árabe Alhazen. A proeza de Leonardo da Vinci foi aplicar o manejo da câmara escura para além da observação natural dos fenôme- nos astronômicos. Em suas anotações sobre “Como as imagens dos ob- jetos percebidos pelo olho se encontram no humor cristalino”, por volta de 1515, Leonardo demonstrou um paralelismo entre o funcionamento da câmara escura e o olho humano, sendo, neste caso, o primeiro a estabe- lecer tal comparação: Uma experiência que mostra como os objetos trans- mitem imagens ou simulacros que se cruzam dentro do olho no humor cristalino. Isso fica demonstrado quando por um pequeno orifício circular penetram em uma sala muito escura imagens de objetos muito iluminados Se recebes essas imagens em um papel branco situado dentro da sala e muito perto do tal ori- fício, verás no papel esses objetos com suas formas e cores íntegras, apesar de, por culpa do cruzamento, em menor tamanho e de cabeça para baixo. Se essas imagens procedem de um lugar iluminado pelo sol, pa- recerão como sendo pintadas no papel que deverá ser muito fino e apreciado ao contrário. (VINCI, [s.d.]). Depois de Leonardo, Gerolamo Cardano (1501-1576) adicionou uma lente de cristal biconvexo ao experimento da câmara escura para obter uma imagem mais brilhante e melhorar, assim, a visão do objeto. Seu discí- pulo Giambattista Della Porta (1535-1605) aperfeiçoou a lente introduzida por Cardano, adicionando ao mecanismo uma combinação de espelhos côncavos e convexos que, ao receber as imagens ao contrário, rebate as FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I20 UNIMES VIRTUAL imagens no sentido correto. Em sua obra Magiae Naturalis, aparecida em Nápoles por volta de 1589, Della Porta afirma: Se não sabeis pintar, com esse procedimento pode- reis desenhar o contorno das imagens com um lápis. Então não tereis mais que aplicar as cores. (...) Qual- quer pessoa, mesmo que ignore a arte do pintor, po- derá desenhar a imagem de qualquer objeto com um lápis ou uma pena. Um professor da Universidade de Pádua, Daniello Bárbaro (1513-1570), em sua obra “A prática da Perspectiva” advertiu quanto à possibilidade de diminuir as aberrações esféricas produzidas nas imagens pela câmara escura empregando um diafragma. Johannes Kepler (1571-1630) estudou a câmara escura em sua obra “Dióptrica” e construiu uma câmara trans- portável que levou em suas viagens para realizar desenhos topográficos e paisagens. A forma da câmara escura transportável de Kepler assemelha- va-se a uma barraca de acampar, de formato cônico e tecido negro, com um dispositivo giratório, a modo de periscópio em seu vértice, com um tubo com lente biconvexa e um espelho inclinado para projetar as imagens sobre um cavalete de desenho dentro da barraca. Em sua obra “Magiae Optica”, de 1657, Kaspar Schott co- menta que uma câmara escura, suficientemente pequena para ser levada embaixo do braço, trazida por um viajante vindo da Espanha lhe inspirara a construir uma câmara com duas caixas de madeira. As duas caixas de madeira da câmara de Schott deslizavam uma no interior da outra e permitiam graduar o enfoque da imagem proporcio- nada pelo tubo regulável formado por lentes biconvexas. Em 1686, Johann Zahn ilustrou sua obra “Oculis artificialis teledioptricus” com vários tipos de câmaras ópticas portáteis de tamanhos reduzidos e dispositivos de visores diferenciados com lentes que se moviam no in- terior para enfocar melhor a imagem, além de aberturas reguláveis para controlar a entrada de luz na câmara. No século XVIII, a câmara escura já era de uso e conheci- mento de vários estudiosos e alguns nobres curiosos. Os tratados de óptica e pintura da época oferecem detalhadas descrições sobre a variedade de modelos e tamanhos disponíveis naquele período. Era, porém, um objeto precioso presente na classe privilegiada e um instrumento de trabalho indispensável para os pintores. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 21 UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: A invenção da fotografia: o processo químico No decorrer de nossas aulas temos acompanhado o modo como a humanidade encontrou uma das formas mais práti- cas para gravar e reproduzir suas manifestações culturais. Baseados no princípio da “câmara escura”, os artistas e cientistas foram simplificando o trabalho de copiar objetos e cenas, utilizando “câmaras” dos mais diversos formatos e tamanhos. Ao princípio era necessário en- fiar-se dentro da própria “câmara” para conseguir uma imagem refletida em uma tela ou pergaminho preso na parede oposta ao orifício da caixa. Posteriormente, uma lente colocada no orifício da câmara melhorou o aproveitamento da luz; conjuntos de espelhos foram adaptados para reba- ter a imagem na tela; outros mecanismos foram adaptados para facilitar o enquadramento do assunto. Com esses e outros aperfeiçoamentos, a “câmara escura” foi se tornando cada vez menor. Assim, os produtores de imagens já podiam trabalhar do lado de fora da câmara, tracejando a imagem, protegidos por um pano escuro. Para o processo tornar-se mais automático, faltava substituir o pergami- nho por um material sensível à ação da luz capaz de registrar, “fixar” a ima- gem ao ser atingida pela luz refletida de um objeto. Vejamos quais foram os momentos-chaves na conquista desse processo químico. Em 1602, o cientista italiano Ângelo Saladescobriu que alguns compo- nentes de prata (nitrato de prata) escureciam quando expostos à luz. Sala chegou a reproduzir algumas imagens com o nitrato. As imagens desapa- reciam assim que a reação química tornava a prata negra. Sala e os de- mais investigadores que lhe sucederam nessa pesquisa, não haviam con- seguido encontrar um meio de interromper o processo de enegrecimento da prata. Em linguagem técnica, eles não conseguiram “fixar” a imagem antes que ela se tornasse um borrão totalmente negro. No final do Século XVIII e início do Século XIX, foi a vez do inglês Thomas Wedgwood repetir os mesmos experimentos com derivados de prata. Fi- lho de um produtor de cerâmicas, Wedgwood reproduzia silhuetas de fo- lhas e asas de insetos sobre placas de vidro tratadas com nitrato de prata. Wedgwood podia ver as imagens formando-se e desaparecendo gradual- mente, mesmo quando o processo era feito em um quarto escuro, onde a única luz provinha de uma vela. Suas inúteis tentativas para interromper FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I22 UNIMES VIRTUAL o processo de revelação consistiam em lavar com sabão e envernizar as placas. Ele foi um dos primeiros pesquisadores que tentaram reproduzir uma imagem externa ao colocar uma placa sensibilizada com prata dentro de uma câmara escura. Se ele já conhecesse as experiências comprova- das pelo sueco Carl Scheele, teria usado a amônia para fixar a imagem, tal como propusera Scheele. Nas primeiras décadas do século XIX, pesquisadores de di- versos países e das mais variadas profissões ajudaram a desenvolver a emulsão à base de sais de prata que tornaria possível o desenvolvimento da fotografia a partir de 1839. Os historiado- res são unânimes em afirmar que a primeira imagem reproduzida mecani- camente pela técnica, que seria denominada anos mais tarde de fotogra- fia, foi obtida entre 1824 e 1827 pelo inventor e tipógrafo francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833). A família de Niépce possuía uma gráfica, e seus experimentos com a reprodução mecânica de imagens tinham como objetivo a impressão direta de originais no papel. A tecnologia de então permitia apenas a impressão de desenhos e gravuras. Apesar de a capacidade de reação à luz do sol dos sais de prata ser um fato já conhecido entre pesquisadores desde o início do Século XVII, Niépce não obteve bons resultados durante o período em que os utilizou em suas expe- riências, pois as imagens que conseguia surgiam em negativo. O francês decidiu provar certo tipo de asfalto como emulsão fotográfica, conhecido por betume da Judéia, que proporcionava imagens já positivadas dos ob- jetos. A maior contribuição de Niépce surgiu em 1826, quando ele teve a idéia de colocar uma das placas revestidas com betume dentro de uma “câmara escura”. Após oito horas de exposição à luz, a placa foi retirada da câmara e banhada em óleo de lavanda. O resultado final da experiência produziu uma enfumaçada e pálida imagem das chaminés e telhados que podiam ser vistos da janela do seu laboratório. Esta vista é considerada a primeira “fotografia” da História, pois foi a primeira imagem a ser reprodu- zida mecanicamente sobre uma emulsão sensível à luz do sol. Paradoxalmente, a História, não atribui a Niépce a invenção da fotografia. Esta coube a outro francês, Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Informado das pesquisas de Niépce, Daguerre propôs sociedade à Niép- ce, em 1829. A sociedade não chegou a produzir frutos, pois Niépce não conseguiu fazer com que sua técnica baseada em uma “emulsão” à base de asfalto betuminoso, progredisse. Daguerre se concentrou em estudar maneiras de controlar as reações químicas provocadas pelo contato dos haletos de prata com a luz. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 23 UNIMES VIRTUAL Em 1837, Daguerre conseguiu, de forma acidental, reproduzir com fidelida- de uma vista de seu estúdio parisiense. Uma placa de metal, sensibilizada com iodeto de prata, que já havia sido exposta à luz numa câmara escura, foi guardada em um armário onde havia um termômetro quebrado. No dia seguinte, ao abrir o armário, Daguerre descobriu que os vapores de mer- cúrio que haviam vazado do termômetro, tinham revelado a imagem que havia sido gravada na chapa fotográfica. Nos dois anos que se seguiram, o artista parisiense iria aprimorar a técnica que possibilitaria a reprodução de imagens pela luz com uma qualidade até então nunca vista. A experiência de Daguerre foi o primeiro passo prático para a fotografia em toda a Europa, possibilitando combinar a chapa foto- sensível e a câmera escura. A partir daí, o aperfeiçoamento da técnica fotográfica teve muitas colaborações. Em uma reunião oficial da Academia de Ciências da França, em 19 de agosto de 1839, em Paris, relatou-se formalmente a descoberta do pro- cesso que permitira, com relativa facilidade e extraordinária qualidade, a fixação e a preservação de imagens captadas com as então rudimentares câmeras fotográficas. Nas semanas que se seguiram ao anúncio da inven- ção da fotografia, Paris foi tomada por fotógrafos amadores que, munidos de um vasto e pesado equipamento, invadiam as praças e ruas da cidade para experimentar a febre da daguerreotipia. A fotografia tornou-se domínio público em 1839, quando alguns deputados franceses, liderados por François Arago, propuseram à Câmara dos Deputados que o Estado francês comprasse a invenção de Daguerre, através do pagamento de uma pensão vitalícia ao inventor e ao filho e herdeiro de Joseph Niépce, para que o in- vento pudesse ser utilizado sem ônus de patente por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. (FREUND,1995) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I2� UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: A invenção da fotografia no Brasil: as pesquisas de Hércules Florence A fotografia não foi inventada por uma única pessoa em uma época determinada da História. Ela é fruto de um tra- balho contínuo de pesquisas que vêm acontecendo desde o século V a.C. até os nossos dias. Muitos mecanismos e processos di- ferentes surgiram e desapareceram para guardar uma imagem “objetiva” das pessoas, lugares e coisas. Dedicaremos esta aula ao processo de in- vestigação de Hércules Florence (Nice, 1804 - Campinas, 1879) no Brasil do século XIX. O processo fotográfico do Daguerreótipo foi apresentado na Academia de Ciências de Paris em agosto de 1839. Seis meses depois, um jovem bra- sileiro de 14 anos, seduzido pelo novo invento, adquiria seu equipamento de daguerreotipia. O jovem em questão era dom Pedro II, com uma “visão” prospectiva sobre o papel que a fotografia poderia vir a desempenhar em vários setores culturais. Dom Pedro II foi responsável pela primeira grande coleção de Fotografia do Brasil. Até então havia poucas vistas do território brasileiro, pois, durante o período colonial, os portugueses proibiam a representação do Brasil para não atiçar a cobiça dos invasores. Muito se pode saber sobre o país no século XIX, analisando essa coleção de mais de 20 mil imagens guardadas pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Várias dessas imagens são de autoria do próprio dom Pedro II. As primeiras demonstrações da prática fotográfica no Brasil aconteceram no dia 17 de janeiro de 1840, quando o abade francês Louis Compte, re- gistrou o Passo da Cidade do Rio de Janeiro e o Mosteiro de São Bento, entre outras vistas tomadas. Dos daguereótipos feitos por Compte, só se conservam três deles que são considerados os mais antigos feitos nas Américas. Apesar de os norte-americanos terem sido os primeiros a rea- lizar um daguerreótipo na América, na cidade de Nova York, em 1836, não se conserva nenhum desses registros. Quando as primeiras experiências com o daguerreótipo começaram a ser comentadas na incipiente imprensa brasileira, os jornais do Rio de Janeiro e São Paulo receberam cartas e artigos de um francês chamado Hércules Florence, radicado na Vila de São Carlos, atualcidade de Campinas, estado de São Paulo, que reivindicava o descobrimento de um método capaz de FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 2� UNIMES VIRTUAL reproduzir imagens mecanicamente, criado por ele seis anos antes, em 1833. Florence afirmava que havia desenvolvido uma técnica que permitia a impressão, direta no papel, de gravuras e desenhos originais, por meio de placas de vidro e cópias em papéis tratados com sais de prata sensibi- lizados pela luz do sol. Em 1825, o francês Antoine Hércules Romuald Florence chegou ao Brasil para participar, como desenhista, de uma expedição científica ao interior do Brasil. Ao final da expedição, em 1829, Florence decidiu fixar residência em Campinas, onde realizou as suas primeiras “experiências fotográficas”. A partir de 1830, para suprir a ausência de uma gráfica em sua cidade, Flo- rence, que já havia trabalhado numa tipografia, começou a pesquisar uma forma de reproduzir os desenhos originais coloridos depois de testes com vários sais de prata e de outros metais, como o ouro. O francês conseguir imprimir rótulos para frascos de farmácia e diplomas em papéis tratados com nitrato de prata. Ele descobriu uma forma de preparar uma emulsão fotográfica eficiente: misturar nitrato de prata com sal de cozinha e hidró- xido de potássio, que podia ser fixada com amônia. Ao tomar conhecimento que um compatriota seu, Daguerre, havia descoberto um processo mais eficaz que o seu para “desenhar com a luz”, abandonou a sua investigação, mas não sem antes reivindicar, em vão, a paternidade do termo “Fotografia” e dos processos que desenvolvera no Brasil. As descobertas de Florence e sua luta por reconhecimento internacional caíram no esquecimento até que, em meados da década de 1970, o pesquisador paulista BORIS KOS- SOY (1980) conseguiu resgatar os originais dos trabalhos fotográficos e os registros dos procedimentos que o francês anotou meticulosamente em diários, em poder de descendentes do inventor. Hercules Florence morreu no ano de 1879 sem que a imprensa, cientis- tas e historiadores lhe dessem o devido crédito por sua invenção, apesar de ter enviado correspondências relatando seus experimentos até para a Academia de Ciências da França (KOSSOY, 1980). A data da invenção de Florence surpreende se a comparar- mos com o processo heliográfico de Niepce, em 1826 e a Daguerreotipia em 1839. É importante ressaltar que destes inventos, o processo de Hercules Florence era baseado no princípio da re- produtibilidade, tal como conhecemos o processo negativo/positivo. Dada a simultaneidade nas descobertas tecnológicas, torna-se difícil identificar um único inventor da Fotografia. Os avanços tecnológicos são provocados por uma necessidade emergente da sociedade como um todo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I2� UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: Imagens de movimento aparente e eletrônicas Tacca (2005) observa que, entre o final do século XVIII e começo do século XIX, muitos aparelhos foram inventados para produzir imagens em movimento, desenhos principal- mente, e aparelhos que catalisaram o uso da perspectiva renascentista em um único ponto de fuga. Essa forma de representação foi homogeneizada por padrões de representação dos quais fomos herdeiros até a consolida- ção da tecnologia do vídeo. Vamos apresentar alguns momentos-chave na configuração dessa tecnologia. No final do século XIX, com cinco décadas de História do processo fotográ- fico, a grande expectativa nas investigações com a imagem era a conquis- ta do movimento. As pesquisas sobre a fisiologia do movimento humano e animal foram lideradas por Edweard Muybridge (1830-1904) e Etienne- Jules Marey. Muybridge (1830-1904) produziu uma obra memorável com seqüências de imagens de movimento humano linear, foto a foto. Essas experiências foram posteriormente apropriadas por artistas, como Marcel Duchamp (1887-1948) na pintura com seu Nu descendo a escada. Partindo de outro princípio, que não o quadro a quadro, Marey foi se apare- lhando para produzir imagens baseadas nas estruturas físicas do corpo hu- mano. Marey criou um modelo de roupa preta com pontos escolhidos em branco nas articulações, conseguindo imagens que mostram esses pontos de movimento no tempo. A diferença entre os dois reside na ordenação técnica. Muybridge produziu imagens em seqüências foto a foto e atingiu seu ápice quando o mesmo movimento foi fotografado de três ângulos diferentes em simultaneidade. Marey realizava suas imagens em um único negativo; o tempo do movimento era apreendido de modo contínuo sem as interrupções do quadro-a-quadro. As fotografias de imagens do movimento, obtidas por volta de 1878 por Muybridge e Marey, os pioneiros da “cronofotografia”, tiveram como re- sultado a invenção do cinematógrafo, pelos irmãos Auguste (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948), na França, e nos laboratórios do inventor norte-americano Thomas Edison (1847-1931). Edison designou seu assis- tente William Kennedy Laurie Dickson (1960-1935) para usar o fonógrafo como modelo para fazer imagens animadas que pudessem ser observadas por meio de um visor. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 2� UNIMES VIRTUAL Na época, o artista George Méliès (1861-1938), considerado o primeiro artista da tela técnica, decidiu experimentar introduzir fusões, fotografias com intervalo de tempo e iluminação artística ao cinematógrafo. Em sua obra de 1902, A Trip to the Moon (Viagem à Lua), Méliès mostra um “fogue- te” pousando no olho do homem da Lua. A arte da filmagem atraiu inúme- ros artistas, como: o norte-americano D.W. Griffith (1875-1948) com seu épico O Nascimento de uma Nação; o francês Abel Gance (1889-1981); os alemães Murnau (1888-1931) e Fritz Lang (1890-1976); o britânico Charles Chaplin (1889-1977); o russo Sergei Eisenstein (1898-1948). Todos foram dando forma ao que hoje conhecemos como cinema. No cinema temos um fenômeno denominado “movimento aparente”. Dois pontos luminosos pouco afastados no es- paço criam variações da distância temporal entre eles. Na medida em que o intervalo entre esses dois flashes for pequeno, eles são percebidos como contínuos. Caso contrário, se o intervalo for grande, os dois flashes serão vistos como dois acontecimentos distintos e sucessi- vos. É na zona intermediária, de 30 a 200 milisegundos entre cada flash, que surge o movimento aparente. Ao movimento aparente foram relacio- nadas diversas fórmulas denominadas a partir de letras do alfabeto grego, tais como o movimento alfa, com dois flashes situados no mesmo lugar, mas com tamanhos diferentes; o movimento beta corresponde à experi- ência do movimento de um ponto a outro. O conjunto desses fenômenos, muito diferentes entre si, porém aparentados, costuma ser chamado de efeito phi. Foi graças ao efeito phi que se desenvolveu a tecnologia do cinematógrafo. (AUMONT, 1995) O cinema faz uso de imagens fixas que, a partir de uma cadência regular (na passagem de um fotograma ao outro), resulta na chamada ilusão de realidade, ou melhor, ilusão de movimento. Desse modo, é possível afirmar que o espectador de cinema desfruta de um movimento aparente, constru- ído pelo estímulo luminoso descontínuo, que dá uma impressão de conti- nuidade e, além disso, uma impressão de movimento interno à imagem. As investigações com a imagem não pararam ao longo de todo século XX. Na década de 1920, em Nova York, nos estúdios da Radio Corporation of America (RCA), pesquisava-se intensamente para sincronizar o som às imagens do cinematógrafo. Ao mesmo tempo, as experiências realizadas com a eletricidade geravam os primeiros aparelhos que iriam transformar a captação e distribuição de imagens. A idéia de poder gravar um sinal elétrico através da magnetização de uma fita e, em seguida, reproduzi-la sem qualquer processamento já estava sendo desenvolvida para o som. O próximo passo seria adaptar essa tecnologia do áudiopara gravar o sinal elétrico contínuo produzido por uma câmera. A maior amplitude e a quan- FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I2� UNIMES VIRTUAL tidade de informação contida em uma imagem dificultava o processo em relação à tecnologia de áudio. Por volta de 1923, foram patenteados os primeiros ins- trumentos de varredura, baseados em tubos de raios ca- tódicos, que transformavam em freqüência eletrônica as imagens em movimento. A mutação desses aparelhos levou à obtenção da imagem eletrônica e à evolução da televisão. Uma imagem eletrônica é composta por cerca de 200 mil pontos de luz que preenchem a tela, compondo 525 linhas, segundo o padrão americano e em sua adaptação brasileira, ou 625 linhas, segundo o padrão europeu, em uma velocidade média de 50 ou 60 campos por segundo. Essa velocidade depende da tensão da rede elétrica. A imagem eletrônica é a tradução de um campo visual para sinais de energia elétrica. Obtém-se esse processo retalhando a imagem em uma série de linhas que são, por sua vez, varridas por um feixe de elétrons. As imagens que as lentes refratam são projetadas em uma superfície fotossensível reticulada chamada target. A capacidade do target para conduzir eletricidade varia de acordo com a quantidade de luz que incide sobre cada um dos seus pontos. A tecnologia da imagem eletrônica é complexa, porém as idéias básicas que a tornam possível podem ser facilmente compreensíveis. Vídeo é luz. A câmera eletrônica capta a luz, que a “enxerga” por meio de varredura com feixe de elétrons da mes- ma forma que seus olhos lêem este texto, da esquerda para a direita e de cima para baixo. Imagine que cada quadro pode ser compreendido como cada página deste texto que teria, no caso, 525 ou 625 linhas. A informa- ção destas linhas pode ser retransmitida por ondas eletromagnéticas. O televisor capta essas ondas e faz a mesma coisa que a câmera, porém ao contrário. Ele recebe o sinal codificado e o retransmite para os pontos da sua tela. Estes pontos brilham quando são varridos pelo feixe proveniente dos canhões eletrônicos do televisor. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 2� UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: A consolidação da imagem eletrônica A tecnologia da imagem eletrônica e todas as demais tec- nologias dela derivadas não surgiram por acaso, como o daguerreótipo. Ela resultou de uma acumulação de capital na área de entretenimento de massa. A tecnologia do período industrial foi voltada para a produção de bens públicos, como as estradas de ferro, a iluminação elétrica e o cinema. A tecnologia do início do século XX dirige- se aos bens de consumo individual e doméstico, dos indivíduos isolados em sua privacidade. O termo vídeo abrange o conjunto de todos esses fe- nômenos significantes que se deixam estruturar na forma simbólica da imagem eletrônica, ou seja, como imagem codificada em linhas sucessivas de retículas luminosas. Nesse sentido, abrange também isso que convencionalmente nós chamamos de televisão, ou seja, o modelo de broadcasting de difusão da imagem eletrônica”. (MACHADO, 1995, p. 7) O modelo broadcasting refere-se ao modelo de radiodifusão, o da emissão de ondas hertzianas. A partir da década de 1940, vultosos financiamentos permi- tiram florescer uma estrutura de transmissão televisual massiva nos Estados Unidos. O ritmo desse desenvolvimento caiu um pouco no período da Segunda Guerra Mundial. Na Europa, ele ganhou impulso com o fim da Segunda Guerra. Desde sua origem, o sistema televisual utilizou as ondas eletromagnéticas para a sua distribuição. Os diferentes Estados declararam a necessidade técnica de distribuir faixas de onda, de modo a evitar o congestionamento do espectro e a interferência mútua das emissoras. A maioria dos gover- nos nacionais instituiu sistemas de controle das emissões, sendo a única autoridade com poderes para emitir sinais de tevê, como foi a opção euro- péia, ou para conceder licenças de emissão, como o modelo americano. Trazida ao Brasil pela mão de Assis Chateaubriand, em 1950, a transmissão televisual no Brasil é uma concessão do Estado que pode ser suspensa a depender de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. Na década de 1970, viveu um de seus momentos de maior expansão, fomentada pelo regime militar instalado com o golpe de Estado de 1964, assim como, 40 anos antes, foi promovida a difusão do rádio pelo Estado Novo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I30 UNIMES VIRTUAL A estrutura de transmissão eletromagnética, que parte de um pólo irra- diador aos receptores individuais distribuídos por uma grande extensão geográfica, potencializa a homogeneização política e a pasteurização cul- tural. Milhões de aparelhos receptores distribuídos por um território rece- bem diariamente a mesma informação autorizada pela mesma instituição governamental. Esse fato tem levado muitos estudiosos, como Theodor Adorno (1903-1969), Jerry Mander, Gunther Anders (1902-1992), a criti- carem severamente o meio televisivo por compreendê-lo como fonte de comportamentos passivos que gera a autocracia e os regimes totalitários. A discussão acerca dos possíveis efeitos da transmissão televisual sobre as pessoas tem sido polarizada entre a veneração pelo progresso técnico e a rejeição a esse meio, que enfatiza os efeitos semi-hipnóticos e criadores de “teledependência”. Apesar das enfáticas críticas que têm sido feitas ao sistema televisual, os aparelhos receptores estão distribuídos pelo mundo. Com a configuração das tecnologias do videoteipe, entre 1952 e 1956, do portapack, em 1965, e do videocassete, em 1970, as possibilidades do sis- tema televisual começam a ser exploradas enquanto sistema expressivo. Assim surgiu uma produção artística conhecida como videoarte, a qual se inseriu no debate cultural do sistema televisual a partir da década de 1960. Vários artistas trataram de navegar contra a corrente dos meios de comunicação de massa e a teledependência que esses meios poderiam, potencialmente, criar nos visualiza- dores. Essa corrente pretendia uma intervenção anárquica no mundo dos dispositivos eletrônicos a partir da desconstrução dos princípios formativos da imagem técnica. Salientava as tecnologias utilizadas pelo poder institu- cional para o controle e disciplina do cidadão, como, por exemplo, os circui- tos internos de televisão, a escuta telefônica ou o detector de mentira. A videoarte ou arte do vídeo nasceu nos estúdios de emissoras de tele- visão, em São Francisco, Nova York e em laboratórios experimentais de universidades européias. O sistema televisual de retransmissão tem, em geral, ignorado essa produção que, paradoxalmente, utiliza adequadamen- te o código videográfico. Vamos nos referir ao código videográfico, compreendendo o conceito de código como um conjunto de regras reconhe- cível tanto pelo produtor quanto pelo intérprete por meio do qual as mensagens são construídas ou convertidas de um sistema de re- presentação à outro. Desse modo, o sistema televisual de retransmissão ignora a produção de videoarte que utiliza adequadamente o código vide- ográfico e retransmite produções criadas para outros meios como podem ser os filmes para o cinema. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 31 UNIMES VIRTUAL Assistimos a produtos desfigurados na tela da tevê, filmes cinematográficos comprimidos e dublados, enquanto a produção videográfica propriamente dita teve de encontrar outro espaço para fazer circular sua produção. A produção de videoarte, ou arte do vídeo, teve de encontrar um outro espaço para fazer circular sua produção. Um espaço menos comprometido com a centralização de interesses e com o alto custo do modelo broadcasting: O vídeo stricto sensu, ou seja, aquele produzido e difundido fora do circuito televisual, pode investir no aprofundamento da função cultural da televisão, avan- çando, de um lado, na experimentação das possibili- dadesda linguagem eletrônica, e buscando exprimir, de outro, as inquietações mais agudas dos homens de nosso tempo. Ele executa, no domínio da televi- são, uma função cultural de vanguarda, no sentido produtivo do termo: ampliar os horizontes, explorar novos caminhos, experimentar outras possibilidades de utilização, reverter a relação de autoridade entre produtor e consumidor. de modo a forçar um progres- so da instituição convencional da tevê, demasiada- mente inibida pelo peso dos interesses que nela são colocados em jogo. (MACHADO, 1995:10) Os avanços alcançados nas câmeras de vídeo e nos supor- tes de gravação magnéticos estão cada vez mais afetados pela tecnologia digital. O crescente uso da tecnologia da in- formática em vídeo está levando à substituição dos suportes de gravação magnéticos pelas memórias de estado sólido (chips), utilizadas nos com- putadores. Esse fato está levando a um barateamento dos custos desses equipamentos, o que os torna cada vez mais acessíveis à população de um modo geral, e, potencialmente, pode transformar a condição geral da população de intérpretes de imagens em produtores de imagens. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I32 UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: Modos de relação imagem/mundo: simbólico, epistêmico e estético Por meio da fotografia, algo ou alguém situado em um dado momento diante do objetivo de uma câmera é registrado em um suporte que permitirá sua difusão, coleção e exibição. O que aparece em uma fotografia esteve diante do objetivo da câmera. A fotografia é o que foi, isto é, o que existiu em um momento dado. Tal como a fotografia, o vídeo também tem sido utilizado como uma ferramenta de registro documental. Essa característica agrega à fotografia um status de “cópia da realidade”, porém a fotografia não é uma cópia fiel da realidade, nem somente uma re- produção de algo que existe ou existiu em um momento dado. A fotografia é uma representação muito mais codificada do que habitualmente se admite. A imagem fotográfica se separa da realidade e até mesmo da percepção humana da realidade. Ela elimina as informações sonoras, táteis e olfativas que não são suscetíveis de serem reproduzidas pelos meios ópticos. Re- duz a tridimensionalidade característica da realidade à bidimensionalidade própria do plano, enfatizada em um quadro escolhido pelo fotógrafo como limite, em uma evidente alteração da escala de representação. A foto- grafia não reproduz o movimento, mesmo que seja capaz de captar esse movimento mediante recursos convencionais da linguagem visual, como estudaremos na Unidade 2. No plano testemunhal, em sua dimensão histórica, trata-se a fotografia como um documento, integrado por suporte e informação, transmissor de uma mensagem codificada que exige um esforço de decodificação por par- te do destinatário. Quando um documentalista analisa uma fotografia, ele não analisa a realidade, mas sim uma representação da realidade que tem sido percebida pela humanidade como muito fiel, apesar dos seus códigos de representação. Este fato confere à fotografia uma função de memória individual e coletiva. Gastaminza (2002) indica que a fotografia pode estabelecer três modos de relação com o mundo: Modo simbólico: presente desde as origens da humanidade na utilização da imagem como símbolo mágico ou religioso, desde os bisontes de Altamira. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 33 UNIMES VIRTUAL Modo epistêmico: a imagem aporta informações de caráter visual sobre o mundo. Tem uma função geral de conhecimento. A imagem fotográfica cumpre essa função mediadora; o fotógrafo representa o lugar do fato e incorporamos o que não foi vivido por nós à nossa memória. Esta função de conhecimento e mediação é especialmente significativa na fotografia documental, científica e de imprensa. Modo estético: a imagem fotográfica está destinada a proporcionar sen- sações específicas. A partir desses três modos de relação imagem/mundo, têm surgido classificações, cujo objetivo é estabelecer uma tipologia para a prática fotográfica. Barthes (1984) indica que a fotografia se esquiva de qualquer classificação. As divisões às quais ela é submetida são de fato ou empíricas (Profissionais/Amadores), ou retóricas (Pai- sagens/Objetos/Retratos/Nus) ou estéticas (Realismo/ Pictorialismo), de qualquer modo exteriores ao objeto, sem relação com a sua essência, que só pode ser (caso exista) o Novo de que ela foi o advento, pois essas classificações poderiam muito bem aplicar-se a outras formas, antigas, de representação. Diríamos que a Fo- tografia é inclassificável. (BARTHES, 1984, p. 13) Apoiando-nos em Barthes (1984), a respeito da inclassificação da Fotografia, vamos estabelecer um eixo organizador da nossa exposição a partir da rela- ção mais “declarada” pelo produtor da imagem. Nesse sentido, entendemos que alguns fotógrafos buscariam uma relação mais estética com o mundo por meio das imagens produzidas. Desse modo, apresentaremos a produção fotográfica que se identifica sob o movimento do pictorialismo, fotografia artística, foto-arte. Outros fotógrafos estabelecem uma relação mais epistê- mica com as imagens, que seria a produção documentária e para imprensa. Lembramos que fazemos esta divisão a fim de apresentar a produção foto- gráfica ao longo da História na Unidade 3, pois consideramos que todas as imagens podem estabelecer uma relação multimodal com o mundo. Gastaminza (2002) exemplifica esse aspecto multimodal da Fotografia com a imagem produzida por Robert Capa, do Soldado Republicano morto na Guerra Civil da Espanha. Essa fotografia foi produzida para um contexto jornalístico para informar sobre a Guerra Civil Espanhola, ou seja, estabele- cer uma relação epistêmica. Porém, ao mesmo tempo, essa imagem tam- bém apresenta um forte apelo estético. Na época, essa imagem transfor- mou-se em um símbolo para os republicanos espanhóis e todos os demais FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I3� UNIMES VIRTUAL cidadãos do mundo que se identificavam e para aqueles que continuam se identificando com a causa da liberdade e da democracia. As fronteiras entre esses modos de relação de uma imagem com o mundo são difusas. Na aula 2 afirmamos que, potencialmente, os signos podem produzir efeitos de sentido de verdade no intérprete do sig- no. Esse efeito de verdade tem acompanhado a Fotografia desde seus inícios, sobretudo por sua reprodução técnica e sua suposta neutralidade. O discurso da fotografia como um espelho do real, repro- duzido pelo aparelho técnico, sem influência da mão humana é, também, um discurso ideológico. Esse discurso ideológico tem sido explorado para reforçar a posição de grupos sociais hegemônicos em diversos períodos históricos através da vigilância e manipulação, como poderemos constatar na próxima aula. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 3� UNIMES VIRTUAL Aula: 0� Temática: Modos de relação imagem/mundo: vigilância e manipulação Em nossa primeira aula conceituamos a tecnologia visual como qualquer forma de dispositivo desenhado para ser ob- servado e/ou para aumentar o processo fisiológico da visão humana, como a câmera fotográfica. Na aula 8 afirmamos que as imagens técnicas podem estabelecer um modo simbólico, epistêmico e estético com o mundo. O modo epistêmico enfatiza as informações de caráter vi- sual sobre o mundo, o que pode estar acontecendo em algum lugar, em algum momento e “fixar” essa informação. Esta função também têm sido explorada para espionar, para “provar”, tanto como para “vigiar” e mani- pular determinados fatos. Benjamin (1986) observa que a Fotografia, desde o início, também tem sido utilizada para espionar. Um dos primeiros fotógrafos e retratistas do século XIX, Nadar (nome adotado por Gaspard-Félix Tournachon,1820-1910) uti- lizou a câmera fotográfica e as imagens que produziu com uma finalidade militar, acompanhandoos movimentos das tropas prussianas, durante a Guerra Franco-Prussiana. Também no século XIX, os “Comuneros” de Pa- ris deixaram-se, ingenuamente, fotografar e representar seu júbilo para o mundo. Essas mesmas imagens foram utilizadas para identificar cada um dos participantes no levante e puni-los por sua participação. Essa possibilidade da imagem técnica, fixa ou em movimento, tem sido amplamente utilizada ao longo de todo o século XX. O regime militar instau- rado no Brasil de 1964-1986, por exemplo, utilizou a fotografia para identi- ficar e punir os participantes das manifestações estudantis e operárias da época. O exército americano utilizou as imagens produzidas por soldados na guerra do Iraque, como prova da conduta desumana desses soldados com os prisioneiros de guerra, na prisão de Abu Ghraib, em 2006. A força do discurso sincrético que a tecnologia visual, potencialmente, pro- picia cria novos modelos de vigilância e manipulação, tanto em regimes to- talitários como em regimes democráticos, ou supostamente democráticos. Principalmente os regimes autoritários usaram do re- toque químico na fotografia para criar um imaginário social e uma convenção reducionista da realidade, fa- zendo desaparecer da representação os opositores ou algo que fosse contrário à ideologia dominante, além FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I3� UNIMES VIRTUAL do culto à personalidade. As imagens de Mao, na Chi- na, de Guevara, em Cuba, de Stálin, na União Sovié- tica, e o culto à personalidade no nazismo são exem- plos do ícone na esfera do simbólico, assim como o são as imagens de Elvis, Marilyn e os novos ídolos da comunicação de massa. (TACCA, 1995, p.15) No Brasil, durante o regime do Estado-Novo (1937-1945), o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão da Presidência da República, atuou como peça-chave para a manutenção desse projeto político-ideológico. As imagens e documentários produzidos por essa máquina de comuni- cação promoveram o culto personalista de Getúlio Vargas, como o “Pai dos Pobres”. A produção cultural do DIP englobava o Cinejornal Brasileiro, documentário de curta metragem, de exibição obrigatória, que antecedia a programação dos cinemas. O documentário traduzia a crônica política nacional na voz e figura de Getúlio Vargas e seus ministros nas diversas inaugurações de obras públicas e cerimônias oficiais. A força das ima- gens assegurava à população a credibilidade das realizações do regime, porém muitas dessas imagens recebiam tratamento especial no processo de montagem. Henrique Pongetti, responsável pela produção e edição de grande número desses documentários, trucou imagens para aumentar a estatura de Getúlio Vargas e transformá-lo em um exímio jogador de golfe, apesar das desastrosas tacadas do presidente. Podemos fazer uma exer- cício de imaginação sobre o poder dessas imagens na população do Brasil que, em 1940, contava com 56,4% de não-letrados (GOULART,1990). As imagens produzidas por Leni Reifhensthal (1912-2003) também podem ser utilizadas como outro exemplo do uso da fotografia, e do cinema, para “impor uma única visão da sociedade, um único olhar social construído sobre a realidade na qual ‘você só pode ver com meus olhos’. Uma rea- lidade construída ilusoriamente, mas reconhecida como uma convenção pela sociedade oprimida e sem alternativas para outros olhares críticos e distanciados do jugo totalitário” (TACCA, 1995, p. 15) O jornalista francês Alain Joubert organizou, em 1986, uma exposição, que também ganhou formato de livro, intitulada As fotos que falsificam a história. Nessa coleção Joubert expôs documentos históricos fotográficos que sofreram todo tipo de manipulação a mando de governos totalitários. Muitas imagens dessa coleção foram produzidas para monumentalizar de- terminados acontecimentos a partir dos próprios recursos da linguagem formal, como a angulação, que será abordada na Unidade 2. Outras ima- gens foram “trucadas” para fazer desaparecer personagens incômodos a determinados regimes. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 3� UNIMES VIRTUAL A coleção As fotos que falsificam a história, de Joubert, constata como as imagens também podem ser utilizadas com a intenção de falsificar a História. Essa constatação reforça o posicionamento de artista e educadores que enfatizam o modo de relação epistêmico da imagem na Pedagogia Cultural. Nesse enten- dimento, a Cultura (e seus modos de produção) refere-se ao espaço em que se estabelecem e, ao mesmo tempo, podem ser contestadas as di- ferenças culturais. A esfera cultural é o espaço no qual se trava a disputa dos significados. Os grupos culturais com maior poder tentam fixar certos significados e os grupos subordinados procuram fazer frente à imposição de significados que sustentam os interesses dos grupos culturais mais poderosos. Nesse sentido, as imagens fotográficas e videográficas, como textos culturais, também oferecem um espaço no qual o significado pode ser fixado e negociado. Uma das alternativas de resistência à fixação de significa- dos das imagens é conhecer os elementos formais da lin- guagem visual, atividade que desenvolveremos em nossa próxima Unidade. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I3� UNIMES VIRTUAL Resumo - Unidade I Nesta Unidade focalizamos a sociedade contemporânea, pós-industrial, que tem sido compreendida por alguns au- tores a partir da metáfora da “sociedade do espetáculo”. Trata-se de uma sociedade imersa nas imagens tecnicamente produzidas que interferem na capacidade de a humanidade “ver e interpretar” critica- mente o mundo, sendo o “espetáculo” a base da alienação da sociedade. A Tecnologia Visual, toda e qualquer forma de dispositivo desenhado para ser observado e ou para aumentar a visão natural, produz a ”imagem téc- nica”, aquela realizada por aparelhos. A fotografia é um modo de expressão visual, isto é, uma representação plástica resultante de procedimentos tecnológicos. Incluiu a mecanização no sistema de expressão do Homem ocidental. Pelo momento histórico em que a fotografia configurou-se, meados do século XIX, ela também res- pondeu às características próprias do sistema de produção de sua época: o sistema industrial. A máquina fotográfica é considerada um dispositivo sensório que imita os aparelhos receptores humanos, altera a visualidade humana e produz formas de memória extra-sensória. A visão refere-se ao processo fisiológico em que a luz impressiona os olhos e a visualidade como a construção do olhar socializado. A conquista da “imagem técnica” deve-se a investigadores que estavam realizando pesquisas em vários países ao mesmo tempo. Os investiga- dores trabalhavam com materiais diversos, porém perseguiam o mesmo objetivo: fixar uma imagem, guardar uma memória “objetiva” de pessoas, coisas. A História Ocidental atribui a Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) a invenção da Fotografia por ter relatado seu processo de captação da imagem na Academia de Ciências da França, em 19 de agos- to de 1839. A fotografia tornou-se domínio público em 1839, quando o Estado francês comprou a invenção de Daguerre. No Brasil do século XIX, o francês Hércules Florence conseguiu reprodução de imagens em papéis tratados com sais de prata e sensibilizados pela luz do sol, em 1833. As fotografias de imagens do movimento, obtidas por volta de 1878 por Muybridge e Marey, pioneiros da “cronofotografia”, resultaram na inven- ção do cinematógrafo, pelos irmãos Lumière, na França, e nos laboratórios do inventor norte-americano Thomas Edison. No cinema temos um fenô- meno denominado “movimento aparente”. Dois pontos luminosos pouco FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 3� UNIMES VIRTUAL afastados no espaço criam variações da distância temporal entre eles. O conjunto desses fenômenos é denominado efeito phi. Foi graças ao efeito phi que se desenvolveu a tecnologia do cinematógrafo. As experiências realizadascom a eletricidade geraram os primeiros aparelhos que iriam transformar a captação e distribuição de imagens. A idéia de poder gravar um sinal elétrico por meio da magnetização de uma fita e, em seguida, reproduzi-la sem qualquer processamento levou à obtenção da imagem eletrônica. Uma imagem eletrônica é composta por cerca de 200 mil pontos de luz que preenchem a tela compondo 525 linhas, no padrão americano e na sua adaptação brasileira, ou 625 linhas no padrão europeu, em uma velo- cidade média de 50 ou 60 campos por segundo. Essa velocidade depende da tensão da rede elétrica. Obtém-se esse processo retalhando a imagem em uma série de linhas que são, por sua vez, varridas por um feixe de elé- trons. As imagens que as lentes refratam são projetadas em uma superfí- cie fotossensível reticulada, chamada target. A capacidade do target para conduzir eletricidade varia de acordo com a quantidade de luz que incide sobre cada um dos seus pontos. A tecnologia da imagem eletrônica, e todas as demais tecnologias dela derivada, não surgiu por acaso, como o daguerreótipo. Ela resultou de uma acumulação de capital na área de entretenimento de massa. A estrutura de transmissão eletromagnética, que parte de um pólo irradiador aos recep- tores individuais distribuídos por uma grande extensão geográfica, poten- cializa a homogeneização política e a pasteurização cultural. A discussão acerca dos possíveis efeitos da transmissão televisual sobre as pessoas tem sido polarizada entre a veneração do progresso técnico e a rejeição a esse meio que enfatiza os efeitos semi-hipnóticos e criadores de “telede- pendência”. Apesar das enfáticas críticas que têm sido feitas ao sistema televisual, os aparelhos receptores estão distribuídos pelo mundo. Com a consolidação da tecnologia videográfica entre as décadas de 1960 e 1970, elas começaram a ser exploradas enquanto sistema expressivo. Assim surgiu uma produção artística conhecida como videoarte. As imagens podem estabelecer três modos de relação com o mundo: simbólico, epistêmico e estético. O modo epistêmico fixa determinadas informações, produz uma “ilusão especular”, um discurso ideológico das imagens técnicas como cópia fiel da realidade que também pode ser ex- plorada para espionar, para “provar”, bem como para “vigiar” e manipular determinados fatos. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL Referências Bibliográficas ABADIA, J.M. Introducion a la tecnologia audiovisual. Barcelona: Edi- ciones Paidos, 1993. AUMONT, Jacques. A imagem. 2. ed. Campinas: Papirus, 1995. BARTHES, R. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. in: Magia e técnica, arte e política. 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A máquina fotográfica incorpora, em seu mecanismo, dispositivos químicos que permitem a transmissão das imagens por ondas hertzianas. A máquina fotográfica é um dispositivo sensório que imita os aparelhos receptores humanos. A máquina fotográfica é um tipo de dispositivo mecânico que retalha as imagens em 525 linhas varridas por um feixe de elétrons. 4) Sobre o conceito “visualidade”, pode-se afirmar que: Refere-se ao processo fisiológico da visão. Refere-se ao processo tecnológico da vigilância. Refere-se ao processo de construção do olhar socializado. Refere-se ao processo técnico de manipulação das imagens. 5) Das alternativas a seguir, identifique a alternativa falsa: O processo fotográfico permite captar, exibir e reproduzir tecnicamente uma imagem. O processo fotográfico diminuiu o fenômeno de circulação das imagens desde o século XIX. O processo fotográfico alterou e também tem configurado a visualidade humana. O processo fotográfico permite a reprodução de signos e formas de memória extra-somática. a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL Unidade II A linguagem fotográfica e videográfica Objetivos Contextualizar a questão da linguagem nas Artes Visuais. Abordar as propostas interpretativas da imagem fotográfica de Roland Barthes e Phillipe Dubois. Apre- sentar os elementos formais dos códigos fotográficos e videográficos, indicando suas diferenças e aproximações. Plano de Estudo Esta unidade conta com as seguintes aulas: Aula: 10 - A linguagem fotográfica Aula: 11 - A abordagem de Roland Barthes Aula: 12 - A abordagem de Phillipe Dubois Aula: 13 - Elementos formais da linguagem fotográfica: o plano, o foco, a forma e a textura Aula: 1� - Elementos formais da linguagem fotográfica: o ângulo, a iluminação, as cores Aula: 1� - Elementos formais da linguagem fotográfica: o contraste, o movimento, o ritmo, o equilíbrio e a relação espacial imagem/intérprete Aula: 1� - Elementos formais da linguagem videográfica: os planos, os movimentos de câmera, as cores Aula: 1� - Elementos da linguagem videográfica: a iluminação, a tonalidade, o som, a edição - a transparência e a opacidade dos meios Aula: 1� - Projetos com imagensfotográficas e videográficas FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Aula: 10 Temática: A linguagem fotográfica Na unidade anterior contextualizamos o processo histórico da produção das tecnologias visuais da fotografia e do ví- deo. Nesta unidade vamos tratar da imagem como meio de manifestação humana, enquanto linguagem. A compreensão das práticas artísticas como linguagem tem sido uma discussão constante da Estética. Em nosso curso vamos compreender a Linguagem de modo abrangente, como capacidade de expressão dos seres humanos. Embora se faça uso do termo “linguagem”, de inspiração lingüística, lembramos que as regras para a criação nas Artes Visuais e, conseqüentemente, em fotografia e vídeo, não são exatas e sistemáticas, como nas línguas naturais, pois a lin- guagem nas expressões visuais não tem o caráter normativo da gramática das mensagens verbais. Desse modo, não é possível apontar se determi- nado recurso foi usado de forma correta ou incorreta, pois não existe uma gramática normativa que estabeleça o que pode ou não pode ser feito em fotografia e vídeo. No campo dos meios audiovisuais, a “linguagem” não é um fenômeno natural, pois ela decorre de certo estágio de desenvolvimen- to técnico do próprio meio, das pressões socioeconômicas e também do debate estético do período histórico. Para a nossa aproximação com a fotografia enquanto linguagem, va- mos percorrer os caminhos indicados pela Semiótica. Nessa aborda- gem, não somos, na maior parte das vezes, conscientes de que o nosso estar-no-mundo é (...) mediado por uma rede intrincada e plural de lingua- gem, nos comunicamos através da leitura, da produ- ção de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos, somos também leitores e/ou produtores de dimensões e direções de linhas, traços e cores. Enfim, também nos comunicamos e nos orientamos através de imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes. Através de objetos, sons musicais, gestos, ex- pressões. Somos uma espécie animal tão complexa quanto são complexas e plurais as linguagens que nos constituem como seres simbólicos, isto é, como seres de linguagem. (SANTAELLA, 1998, p. 10) Se compreendermos a fotografia como expressão humana, como lingua- gem, as imagens técnicas podem ser “lidas”. A expressão “leitura de ima- FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL gem” também não é consenso entre artistas, filósofos e outros estudiosos. Para vários pesquisadores desses campos não é possível “ler” uma ima- gem, pois a mensagem icônica é completamente distinta da mensagem lingüística, via de regra não-analógica, arbitrária e convencional. É comum vir à baila a discussão sobre a natureza hierárquica de uma em relação à outra. Em nossa abordagem também vamos nos afastar da polêmica da leitura icônica, caminhando por uma vertente interacionista e significativa da leitura. Vamos fundamentar nossa compreensão em Smith (1999), que sugere evitarmos intermináveis discussões semânticas sobre definições de leitura e pensarmos no processo da leitura. Para Smith (1999), os bens simbólicos produzidos pela hu- manidade codificam-se de diversas formas que mantêm uma estreita relação entre si e se expressam por meio do que se convencionou chamar de “semiose cultural”, essa ampla rede de significações. A recepção desses bens simbólicos pode ser compreendida como leitura, na medida em que todo recorte na rede de significações é considerado um texto. Nesse sentido, pode-se ler uma imagem, o traçado de uma cidade, um filme ou uma coreografia. A faceta semiótica introduziu no modelo de leitura da imagem as noções de denotação e conotação. A denotação refere-se ao significado enten- dido “objetivamente”, o que “objetivamente” se vê na imagem, como a descrição das situações, figuras, pessoas e/ou ações em espaço e tem- po determinados. Fala-se, com freqüência, sobre a função referencial da fotografia, da sua capacidade de remissão a um referente real ou a um objeto referente. Nesse caso, a fotografia figurativa veicula uma mensa- gem denotativa. Por assemelhar-se ao objeto, diz-se que ela é de nature- za analógica e a sua mensagem é icônica. Atribuir à fotografia apenas a função denotativa é algo duvidoso, pois, em princípio, parece muito fácil descrever “o que” se vê em uma fotografia, mas o que pode ser “válido para todos, e não apenas para um indivíduo”? Desse modo, além da função denotativa, a leitura semiótica considera a função conotativa da imagem. A conotação re- fere-se às apreciações do intérprete, aquilo que a imagem sugere e/ou faz pensar o leitor. A leitura de uma Fotografia a partir da abor- dagem semiótica também tem de levar em conta o contexto de cada ima- gem, ou seja, em que condições ou situações a imagem foi produzida. Freund (1995) relata o caso do uso de uma imagem de Robert Doisneau fora de seu contexto. Robert Doisneau fotografou um casal, composto por uma mulher jovem junto de um homem maduro no balcão de um bar, com FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL dois copos de vinho em frente a eles. Essa foto apareceu em uma revista de grande circulação na França em uma reportagem sobre os Bares de Paris. Essa imagem passou a formar parte do fundo documental de certa agência fotográfica. Tempos depois, essa mesma fotografia apareceu em um jornal francês para ilustrar uma campanha contra o alcoolismo. Em um outro momento, a mesma imagem também foi publicada em uma revista sensacionalista para ilustrar a prática da prostituição no bairro Champs Elisées, em Paris. Esse fato indignou os personagens fotografados que se manifestaram contra a sua publicação, já que a imagem havia sido utiliza- da em outros contextos que não o de sua produção inicial, e denunciaram juridicamente a revista, a agência e o fotógrafo. O exemplo dado por Freund (1995) indica que a fotografia re- mete sempre a um contexto, já que fotografar não é um ato neutro. Essa constatação nos leva a refletir sobre a respon- sabilidade que temos frente às imagens, seja em nosso papel de intérprete ou produtor. Essa responsabilidade também é um desafio para artistas e educadores que se empenham em construir uma sociedade inclusiva com a participação de sujeitos capazes de interpretar os diversos discursos que se entrecruzam nas imagens técnicas. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Aula: 11 Temática: A abordagem de Roland Barthes Na aula 9 da primeira unidade deste curso tratamos do fascínio humano pela imagem técnica e como a fotografia tem sido, ilusoriamente, interpretada como um produto in- dependente da ação humana. Constatamos que a “ilusão especular” é, também, um discurso ideológico. Esse posicionamento realista também tem influenciado algumas abordagens interpretativas da fotografia, como a de Barthes (1984,1990). Roland Barthes é um dos autores mais conhecidos da semiologia francesa e que, ligado ao estruturalismo da linha de Ferdinand Saussure, foi um dos que mais se envolveu nas discussões sobre a fotografia, produzindo textos que se tornaram clássicos. Em sua obra A Câmara Clara apresenta sua abordagem ontológica. “Em relação à Fotografia, eu era tomado de um desejo ‘ontológico’: eu queria saber a qualquer preço o que ela era ‘em si’, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade de imagens” (BARTHES, 1984, p. 12) O autor considera que a fotografia sempre traz consigo seu referente. Chamo de ‘referente fotográfico’ não a coisa facultati- vamente real a que remete uma imagem ou um signo, mas a coisa necessariamente real que foi colocada diante da objetiva, sem o qual não haveria fotografia”. A pintura pode simular a realidade sem tê-la visto. O discurso combina signos que certamente têm referen- tes, mas esses referentes podem ser e na maioria das vezes são ‘quimeras’. Ao contrário dessas imitações, na Fotografia jamais posso negar que a coisa estevelá. Há dupla posição conjunta: de realidade e passa- do. E já que essa coerção só existe para ela, devemos tê-la, por redução, como a própria essência, o noema da Fotografia. (BARTHES, 1984, pp.114-115) Barthes elabora um esquema interpretativo da produção fotográfica a par- tir dos conceitos de “studium” e “punctum”. Para explicar esses conceitos o autor indica que: FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Eu não via, em francês, palavra que exprimisse sim- plesmente essa espécie de interesse humano; mas em latim, acho que essa palavra existe: é o studium, que não quer dizer, pelo menos de imediato, ‘estudo’, mas a aplicação a uma coisa, o gosto por alguém, uma espécie de investimento geral, ardoroso, é ver- dade, mas sem acuidade particular. É pelo studium que me interesso por muitas fotografias, quer as re- ceba como testemunhos políticos, quer as aprecie como bons quadros históricos: pois é culturalmente (essa conotação está presente no studium) que parti- cipo das figuras, das caras, dos gestos, dos cenários, das ações. (BARTHES, 1984, pp. 45-46) Podemos concluir que o interesse de Barthes pela fotografia diz respeito a toda a informação cultural, social e históri- ca que uma fotografia transmite e que reconhecemos nela por meio de nossa cultura e das informações que recolhemos em nossa história de vida. O autor especifica que: “Quando William Klein fotografa ‘Primeiro de Maio de 1959’ em Moscou, ensina-me como se vestem os russos (o que no fim das contas não sei): noto o grosso boné de um garoto, a gravata do outro, o pano da cabeça da velha, o corte de cabelo de um adolescente etc. (...) Isso a fotografia pode me dizer, muito melhor que os quadros pintados. Ela me permite ter acesso a um infra-saber.” (BARTHES, 1984, pp. 49-51) Podemos considerar o studium como o aspecto de interesse histórico- social da fotografia, enquanto o punctum, uma espécie de “extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além do que ela dá a ver” (BARTHES, 1984, p. 89). O autor se refere às sensações que a fotografia desperta na subjetividade de cada um. O punctum “parte da cena, como uma flecha, e vem me transpassar (...) A esse segundo elemento que vem contrariar o studium chamarei então de punctum (...) O punctum de uma foto é esse acaso que, nela, me punge.” (BARTHES, 1984, p. 46) Podemos perceber que os conceitos-chave para o esquema interpretativo de Barthes (1984) estão impregnados de subjetivismo pessoal na leitura da imagem. O studium é o espetáculo cultural, um inventário cultural do qual nos aproximamos pela descrição dos elementos da imagem. O punc- tum é o elemento que apunhala o studium: “(...) o punctum é um ‘detalhe’, ou seja, um objeto parcial. Assim, dar exemplos de punctum é, de certo modo, entregar-me”. (BARTHES, 1984, p. 69) Barthes julga que a fotografia é inclassificável principalmente pelo fato de não se distinguir de seu referente, por trazer sempre colado consigo o seu referente. Para Barthes (1990), o código de conotação não é natural, nem FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL artificial, mas sim histórico e cultural. Desse modo, uma imagem fotográfi- ca está repleta de códigos que se vinculam à cultura, tal como as imagens presentes em nossa memória relacionam-se a fatores sociais, históricos, culturais e psicológicos. O código de conotação está em contínua mudança, porque os leitores des- se código, o “spectator” como escreve Barthes, também se transformam continuamente por meio de suas experiências. O operator é o fotógrafo. O spectator somos todos nós (...). E aquele ou aquela que é fotografado é o alvo, o referente, espécie de pequeno simulacro, (...) de bom grado eu chamaria de spectrum da fotografia, porque essa palavra mantém, através de sua raiz, uma rela- ção com o ‘espetáculo’. (BARTHES, 1984, p. 20) O esquema interpretativo de Barthes baseia-se na explora- ção subjetiva e pessoal da fotografia e não em uma metodo- logia de análise da imagem. Este fato, porém, não impede que outros autores inspirem-se em seu esquema interpretativo para abor- darem a prática fotográfica. Assim o faz Manguel (2001) quando afirma que nenhuma narrativa suscitada por uma imagem é definitiva, exclusiva, pois o que vemos é, sempre, a imagem traduzida nos termos da nossa pró- pria experiência. Esse autor propõe uma abordagem que parta das emo- ções do leitor, ou seja, como as emoções do leitor afetam e são afetadas pela leitura das imagens. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL Aula: 12 Temática: A abordagem de Phillipe Dubois Destacamos na aula anterior a abordagem subjetiva de ca- ráter realista proposta por Barthes para a interpretação da fotografia. Apesar de os textos de Barthes (1984,1990) se- rem considerados clássicos na bibliografia sobre a prática fotográfica, seu esquema interpretativo tem sido contestado por vários autores. Beceyro (1980) é um dos autores que criticam a abordagem de Barthes, argumentando que este não se defronta com a imagem em si mesma ao pro- curar conotações fora dos elementos propriamente constitutivos do código fotográfico, o enquadramento, o ângulo de tomada, a profundidade de cam- po, o foco. Beceyro (1980) afirma que a imagem fotográfica produz conota- ção “nela mesma”, “somente nela mesma” e Barthes procura conotações tomando como referência fatores externos à própria estrutura da fotografia. O posicionamento de Beceyro (1980) aponta para uma análise da imagem a partir dos elementos formais da linguagem visual. Nessa concepção, a ima- gem passa a ser compreendida como signo que incorpora diversos códigos e sua leitura demanda o conhecimento e compreensão desses códigos. Essa abordagem de “ensinar a ver e ler” os dados visuais foi influenciada pelo trabalho de Arnheim (1980), Art and Visual Perception, de 1957, dedicado a determinar as categorias visuais básicas mediante as quais a percepção deduz estruturas e o produtor de imagens elabora suas configurações. Arnheim (1980) catalogou dez categorias visuais: equilíbrio, figura, forma, desenvolvimento, espaço, luz, cor, movimento, dinâmica e expressão. Nesse modelo o espectador desvela nas imagens os esquemas básicos e explora a imagem em uma integração das várias categorias visuais até descobrir a configuração que, por si mesma, possui qualidades expressi- vas. No Brasil, Fayga Ostrower foi uma das divulgadoras dos trabalhos de Rudolf Arnheim. As abordagens desenvolvidas por Ostrower (1983, 1987, 1990) em cursos e encontros com professores enfatizavam as relações entre os aspectos formais e expressivos das imagens. Outra obra que fundamentou essa abordagem formalista das imagens técnicas foi a da desenhista Donis Dondis, A pri- mer of visual literacy publicada em 1973 pelo Masschusetts Institute of Technology. Dondis (1997) introduziu o conceito de alfabetismo FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �1 UNIMES VIRTUAL visual. Compreende-se a alfabetização visual como sendo a habilidade de as pessoas realizarem um sistema de representação visual associado à capacidade de expressar-se por meio dele. Dondis (1997) propõe um sistema básico para a aprendizagem, identifica- ção, criação e a compreensão de mensagens visuais acessíveis a todas as pessoas, e não somente àquelas especialmente formadas como pro- jetistas, artistas e estetas. Apoiando-se no sistema proposto por Dondis (1997) para uma “alfabetização visual”, alguns professores começaram a aplicar um esquema de leitura de imagens técnicas fundamentado na sin- taxe visual, que destaca a disposição dos elementos básicos, como ponto, linha, forma, cor e luz em direção à composição. Beceyro (1980) opõe-se à abordagem subjetiva de caráter realista pro- posta por Barthes para a interpretação da imagem técnica enfatizando a codificação formal da fotografia. Podemos perceber que na abordagem de Beceyro (1980), a intencionalidade doprodutor da imagem passa pe- las condições técnicas de produção da imagem, pelas convenções que produzem uma interpretação imagética da mesma, sendo, dessa forma, um discurso ideológico. Consideramos que Phillipe Dubois amplia o posi- cionamento de Beceyro introduzindo uma noção mais complexa, a do “ato fotográfico”. Phillipe Dubois apoiou seu esquema interpretativo sobre a fotografia nos estudos do norte-americano Charles Sanders Peirce (1839- 1894). Dubois (1994) compreende o “ato fotográfico” como um ato inse- parável de sua enunciação e de sua recepção. Dessa forma, o fotógrafo, o dispositivo técnico, a cena e seus atores e, também o intérprete, fazem parte do processo de significação da Fotografia. Para Dubois (1994) o “ato fotográfico” só adquire sentido na sua recepção e difusão. Este autor baseia-se nas três categorias básicas de Pierce que são: o índice, o ícone e o símbolo, na tentativa de superar o posicionamen- to realista frente à Fotografia. Vamos acompanhar o raciocínio de Dubois a respeito da fotografia compreendendo as seguintes categorias: Índice: quando o signo mantém uma relação direta com o seu referente ou a coisa que produz o signo. Exemplos: chão molhado, indício de que choveu; pegadas, indício da passagem de uma pessoa. Nesse caso, a fotografia é índice como representação pela proximidade física com aquilo que indica. Ícone: quando possui alguma semelhança ou analogia com o seu referen- te (objeto real). A fotografia é ícone como representação por semelhança. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�2 UNIMES VIRTUAL Símbolo: quando a relação com o referente é arbitrária, convencional, por exemplo, pomba = paz; cor vermelha no semáforo = parar. A fotografia é símbolo como representação por convenção geral. Nesse sentido, Dubois (1994) identifica que a primeira con- dição das imagens fotográficas é ser, na sua gênese, um índice, podendo assemelhar-se e tornar-se um ícone para, finalmente, adquirir sentido e ser um símbolo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL Aula: 13 Temática: Elementos formais da linguagem fotográfica: o plano, o foco, a forma e a textura Na aula anterior destacamos como a abordagem subjeti- va de caráter realista de Barthes (1984) frente à fotografia tem sido contestada por autores como Beceyro (1980) e Dubois (1994). Estes autores indicam a necessidade de considerarmos os elementos formais propriamente constitutivos do código fotográfico na interpretação das imagens técnicas. Nas próximas aulas vamos focalizar esses elementos enfatizando que o “ato fotográfico” não se fundamenta, apenas, nesses elementos, pois está associado à formação sociotécnica do fotógrafo, aliado à tecnologia visual e ao circuito no qual se inserem as imagens produzidas. Os principais elementos da linguagem fotográfica são: plano, foco, ângulo, forma, iluminação, cor, textura, contraste, ritmo, equilíbrio, movimento. Vejamos características de cada um desses elementos. O Plano Na linguagem fotográfica, o plano corresponde ao que vai ser a própria foto, ou seja, relaciona-se com o enquadramento. Pelo visor da câmera, o fotógrafo enquadra, ou seja, posiciona o assunto que pretende registrar. O ponto de vista de uma imagem, que relaciona o olho do produtor ao do espectador, estabelece a “encarnação de um olhar no enquadramento” (AUMONT, 1995, p. 156). Esse ponto de vista designa um local a partir do qual a imagem será observada. O enquadramento recorta a cena e separa o mundo em duas partes: a que foi selecionada pelo autor e o resto. O criador inclui dentro da imagem a parte escolhida e nos apresenta fora de seu contexto real o que produz novas dimensões da realidade. Nesse recorte alguns elementos ganharão um destaque, um realce, en- quanto outros serão ignorados. Nisso consiste o processo de ênfase, que são os elementos selecionados para aparecerem na imagem; e o proces- so de exclusão, ou seja, aqueles elementos que ficarão fora da imagem. O exercício de moldura pode ser muito instrutivo e esclarecedor para a compreensão dos planos fotográficos. Recorte dois pedaços de uma car- tolina ou papelão resistente em forma de L, com 15 cm de altura e 10 cm FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL de comprimento, para construir uma moldura. Com os dois pedaços em mãos, coloque um sobre o outro para formar um retângulo. Você também pode substituir a moldura de cartolina por seus dedos indicadores e po- legar de cada uma das mãos. Abertos em ângulo reto formam um “ele”. Atenção com a posição de suas mãos! Deslize uma das partes para baixo, para cima, à direita, à esquerda e você poderá testar diferentes enquadramentos. Obtém-se o enquadramento pelo distanciamento da câmera em relação ao objeto a ser fotografado. Os planos são variáveis e definidos muito mais pelo equilíbrio dos elementos da imagem do que por medidas formais exatas. Os planos dividem-se em: Grandes Planos Gerais (GPG), Planos Gerais (PG), Planos Médios (PM), Primeiro Plano (PP) e Plano de Detalhe (PD). Vejamos a característica de cada um dos planos. Grande Plano Geral (GPG): é o enquadramento em que o ambiente é o ele- mento primordial. Neste plano o elemento humano é apenas um elemento na paisagem. O GPG reforça a importância da localização geográfica do sujeito, aludindo ao envolvimento ou domínio do sujeito pelo ambiente. Plano Geral (PG): é o enquadramento em que o ambiente ocupa uma me- nor parte do quadro, dividindo o espaço com o sujeito. Situa a ação e o ho- mem no ambiente em que ocorre a ação. O PG é necessário para localizar o espaço da ação. Plano Médio (PM): é o enquadramento em que o sujeito preenche a su- perfície, ou seja, seus pés estão sobre a linha inferior e a cabeça encosta na superior da fotografia. Outro exemplo de PM é o enquadramento em que a linha inferior corta o sujeito na cintura. Primeiro Plano (PP): é o enquadramento do sujeito destacando seu sem- blante. O PP enfatiza a emoção da fisionomia. Plano de Detalhe (PD): é o enquadramento que isola uma parte do sujeito. Propicia visão ampliada de um detalhe que, geralmente, não percebemos com minúcia, podendo criar formas quase abstratas. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL O Foco O foco refere-se à nitidez. Dentro dos limites técnicos das câmeras fotográ- ficas, temos possibilidades de controlar não só a localização do foco, mas também a quantidade de elementos que poderão, ou não, ficarem nítidos. Através destes controles podemos destacar esta ou aquela área dentro de um assunto fotografado. É o foco que vai ressaltar um objeto em detrimento de outros objetos presentes na imagem. Dentre as estratégias visuais que utilizam o foco, temos a do diferencial, desfoque e profundidade de campo. Diferencial: quando diferenciamos um elemento da fotografia sobre os demais, selecionando-o como ponto de maior nitidez dentro da imagem. Desfoque: é a falta de foco, que pode produzir a sensação de falta de interesse. Profundidade de campo: diferença entre os pontos próximos e distantes presente num foco aceitadamente nítido na fotografia. A profundidade de campo varia com a distância focal e a distância entre a câmera e o objeto. A Forma A maioria dos objetos de uso diário pode ser identificada apenas pelo seu contorno. A silhueta de um vaso, colocado contra a janela, será reconhe- cida de imediato, porque todos nós já vimos muitos vasos antes. Contudo, o espectador pode apenas tentar adivinhar se ele é liso ou desenhado, ficando com a incerteza até que consiga divisar com clareza sua forma. A clareza da forma depende diretamente da iluminação. A Textura A textura e a forma espacial estão intimamente relacionadas, entendendo- se como textura a forma espacial de uma superfície. É através da textura que, muitas vezes, podemos reconhecer o material com o qual foi feito um objeto que aparece na fotografia.Em termos visuais, confere uma quali- dade palpável à forma plana. Através da iluminação podemos acentuar ou eliminar texturas a ponto de tornar irreconhecíveis objetos do cotidiano. Uma fonte luminosa mais dura, forte e lateral, irá privilegiar a textura, en- quanto uma luz mais difusa, indireta, suave, poderá fazer desaparecer uma textura ou diminuir sua intensidade. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Aula: 1� Temática: Elementos formais da linguagem fotográfica: o ângulo, a iluminação, as cores Nesta aula vamos concentrar nossa atenção no ângulo, na iluminação e nas cores. O ângulo O ângulo da fotografia resulta da posição da máquina em relação ao objeto a ser fotografado. A angulação é a relação que se estabelece entre a câmera e a imagem fotografada. Os manuais de fotografia recomendam enquadrar o tema corretamente, observando o ajuste das linhas horizontais e verticais da câmera, em uma angulação frontal, isto é, focalizar o objeto a ser fotografa- do de frente. Na angulação frontal, horizontal, a câmera enfoca na altura de nossos olhos e descreve as coisas como estamos habituados a vê-las. Apesar de a angulação frontal, horizontal, ser a maneira mais recomenda- da pelos manuais de Fotografia para a disposição dos elementos que que- remos enfatizar na imagem, esta angulação não é a única possível para o arranjo do espaço fotográfico. Olhe à sua volta. Você vê apenas o que está na altura dos seus olhos? O mundo existe acima e abaixo dos nossos olhos e há muito mais ao longe do que nossa vista pode alcançar. Uma foto tomada de cima para baixo, em mergulho (plongée), produz a sen- sação de domínio. A estratégia contrária (contre-plongée) pode monumen- talizar o objeto. Desse modo, a fotografia obtida a partir do olho posicionado acima ou abaixo do fotografado pode criar significados hierárquicos de su- perioridade/inferioridade, dominador/dominado. A ênfase dada a um objeto ou pessoa pode resultar de uma posição visualmente privilegiada, de uma dimensão ampliada desse objeto em relação ao conjunto compositivo. Lembre-se de que, além de pensarmos nos elementos formais da linguagem visual, também estamos procurando refletir sobre o que a imagem pode vir a representar. Assim sendo, as angulações são recursos expressivos que poderemos utilizar a depender da mensagem que pretendemos transmitir. A angulação também poderá ser considerada a partir da posição que o objeto tem em relação à câmera, o que configura uma angulação lateral. A angulação lateral, ou de perfil, aumenta as características estéticas do objeto e produz a sensação de continuidade. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL A iluminação A luz é indispensável para a fotografia, pois ela cria sombras e altas-luzes, e é isso que revela a forma espacial, a textura e as cores. Uma imagem fotográfica depende da qualidade e da direção da luz. Qualidade é o termo aplicado para definir a natureza da fonte emissora de luz. Ela pode ser su- ave e produzir sombras tênues com bordas pouco marcadas, como a luz natural em um dia nublado. A luz pode ser dura e produzir sombras densas, com bordas bem definidas, como a luz do meio-dia. A altura e direção da luz também influenciam o resultado final da fotografia. Dependendo da posição da luz da fonte luminosa, o objeto fotografado apresentará uma ou outra de suas faces iluminada ou sombreada. A seleção cuidadosa da direção da iluminação permite destacar objetos importantes ou esconder entre as sombras aqueles que não pretendemos enfatizar. A luz lateral é a luz que incide lateralmente sobre o objeto ou o assunto fotogra- fado e se caracteriza por destacar a textura e a profundidade ao mesmo tempo em que determina uma perda de detalhes ao aumentar consideravelmente a longitude das sombras, o que cria, muitas vezes, imagens confusas. A luz frontal, ou direta, vem por trás do fotógrafo. Nessa direção, as sombras se escondem sob o assunto fotografado. Este tipo de luz reproduz a maior quanti- dade de detalhes, porém anula a textura e achata o volume da imagem. A contraluz acontece quando a luz vem por trás do objeto a ser fotografa- do, convertendo-o em silhueta. Nesse caso, o objeto perde a textura por completo e praticamente todos os seus detalhes. As variações da iluminação também são fontes de informações sobre a profundidade, mesmo que, em algumas vezes, possa ser enganosa. Elas envolvem uma quantidade de fenômenos, tais como variações mais ou menos contínuas da luminosidade e das cores, sombras definidas e som- bras projetadas, além de outras variáveis. Por exemplo, um objeto bem iluminado aparenta estar mais próximo, enquanto um objeto pouco ilumi- nado aparenta estar mais distante. Os objetos com sombras bem definidas parecem ser mais sólidos. A própria perspectiva atmosférica é uma variável da iluminação, uma vez que os objetos vistos de muito longe têm pouca nitidez em função da in- terposição de uma maior espessura da camada atmosférica às vezes um pouco brumosa e mais azulada. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL As Cores A cor é um elemento muito emotivo na comunicação visual. É uma força poderosa que pode fazer um objeto avançar ou recuar. A cor tem sido ex- plorada para diversas finalidades funcionais, como o semáforo. No caso do semáforo, a cor ganha uma interpretação precisa: o verde indica avançar e o vermelho indica que é preciso parar. A civilização atribui esse significado arbitrário para organizar a vida em comum. Outras convenções podem depender do grupo cultural. Por exemplo, na cultura ocidental a cor branca simboliza a pureza, mas para os orientais simboliza a morte. No dia-a-dia fala-se de cores que tranqüilizam, enlevam, alegram ou entristecem as pessoas. Nesse caso faz-se a re- ferência aos efeitos psicológicos das cores, como o provo- cador vermelho, que seria passional, ativo e transmitiria calor e excitação; o azul seria suave e passivo; o amarelo atua como referência de claridade, esportividade. Cada cor pode ter sua interpretação e produzir diferentes sensações contextualizadas na própria imagem, principalmente na inten- ção persuasiva. Uma cor clara perto de uma escura acaba parecendo mais clara do que é de fato e vice-versa. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Aula 1� Temática: Elementos formais da linguagem fotográfica: o contraste, o movimento, o ritmo, o equilíbrio e a relação espacial imagem/intérprete Destacamos, na aula anterior, a importância fundamental da iluminação na fotografia e como pode favorecer as co- res. Dedicaremos esta aula ao contraste, movimento, ritmo, equilíbrio e à relação espacial imagem/intérprete. O contraste O contraste é uma oposição intencionada entre diversos elementos de um conjunto. Essa oposição faz com que um, dentre outros elementos, sobressaia. O contraste é a expressão da diferença, isto é, uma estratégia visual muito utilizada para aguçar o significado. Um dos contrastes mais explorados é o da oposição entre claro e escuro. O significado essencial dessa estratégia visual é “estar contra”, logo o produtor da imagem, além do claro-escuro, branco e preto, pode fazer um uso proposital do contraste entre cores e formas. Em uma fotografia em que se perceba apenas a silhueta de um objeto recor- tada contra um fundo branco e não existindo, portanto, tons de cinza, será uma fotografia em alto-contraste. Uma fotografia que tenha, apenas, alguns tons de cinza, predominando o preto e o branco, será considerada uma fo- tografia bem contrastada. Já uma imagem em que predominem os tons de cinza poderá ser considerada uma fotografia suave, pouco contrastada. Existe uma “escala de cinzas” medida em progressão logarítmica, que vai do branco ao preto. Esta escala é de grande utilidade, podendo-se através dela interferir no resultado final da fotografia. O contraste explora a instabilidade,a desigualdade. Por exemplo, uma forte e marcante oposição entre linhas atrai nossa atenção de maneira especial. Nesse caso, o fotógrafo pode confrontar, deliberadamente, o movimento de curvas e retas em várias direções. Outro efeito desejado pode ser o de fazer uma coisa parecer claramente grande ao associar uma outra coisa pequena perto desta. A estratégia visual do contraste facilita a compreensão do claro quando contraposto ao escuro, do liso ao áspero, do curvo ao retilíneo, do grande ao pequeno, do rural ao urbano. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL O movimento Sempre que um objeto se move em frente à câmera fotográfica, sua ima- gem projetada sobre o filme também se move. Se o movimento do objeto é rápido e a câmera fica aberta, por um tempo relativamente longo, esse movimento será registrado como um borrão, um tremor ou uma forma confusa. Se o tempo de exposição for reduzido, o borrão também será reduzido ou até mesmo eliminado. Um tempo de exposição à luz curto, ou seja, uma velocidade alta, pode “congelar” o movimento de um objeto, mostrando sua posição num dado momento. Por outro lado, um tempo de exposição longo, ou seja, uma velocidade baixa, pode ser usado delibera- damente para acentuar o borrão ou tremor, o que sugere uma sensação de movimento. O ritmo O ritmo está relacionado à repetição regular de certos eventos. A regula- ridade é uma busca da humanidade. Temos a necessidade de organizar, encontrar uma periodicidade entre os eventos. Queremos saber o que vai ocorrer com certo grau de certeza. A repetição em intervalos iguais con- forta a angústia humana. A regularidade é uma estratégia bastante utilizada na linguagem visual, mas a repetição de determinados elementos pode tornar-se redundante. Qualquer estratégia visual explorada exageradamente pode pôr em perigo as intenções do criador. A repetição por excesso de elementos iguais, às vezes supérfluos e que se justificam pela atração visual sobre determinado aspecto que se deseja enfatizar, pode neutralizar o efeito esperado. O equilíbrio O equilíbrio relaciona-se com a distribuição dos elementos constitutivos de um conjunto. Podemos dividir as imagens ao meio em um eixo vertical em relação a sua linha de base horizontal. Os elementos deverão estar bem dispostos nas duas metades da imagem. Desse modo, o olhar poderá oscilar entre um ponto provocante à esquerda e à direita em um diálogo bem equilibrado. O equilíbrio trata da disposição dos elementos de forma que se obtenha uma distribuição agradável em toda a superfície da imagem. Também está relacionado à condução do olhar do intérprete. Em geral, considera-se que a tendência ocidental remete o início de uma leitura ao ângulo superior esquerdo que se dirige em diagonal para o ângulo inferior da direita. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �1 UNIMES VIRTUAL A relação espacial imagem/intérprete A relação espacial entre a imagem e o intérprete resulta da distância ima- ginária típica que regula a relação entre os objetos da representação, por um lado, e a relação entre o objeto da representação e o intérprete, por outro. Para que se estabeleça essa relação, deve-se levar em conta o ta- manho da imagem. As imagens são produzidas para que sejam vistas em um determinado meio e seu tamanho em relação ao meio irá, também, determinar a visua- lização da mesma. O tamanho é um elemento importante para determinar a relação que o espectador poderá estabelecer entre si e uma imagem. Aumont (1995) observa que a pequena dimensão de certas fotografias é o que permite estabelecer uma relação de proximidade com a imagem, uma relação de posse e até mesmo de fetichização. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�2 UNIMES VIRTUAL Aula: 1� Temática: Elementos formais da linguagem videográ- fica: os planos, os movimentos de câmera, as cores Apesar de “parecer” semelhante à linguagem fotográfica do cinema, o código videográfico tem suas especificidades. Ambos são captados por lentes, mas a imagem fílmica é gravada em um quadro fixo, na sua totalidade de uma só vez, e a imagem videográfica é gravada seqüencialmente por meio de linhas de varredura, durante um intervalo de tempo. No filme a imagem é fixada em fotogramas separados. Isso quer dizer que entre um quadro e outro o obturador se fecha impedindo a entrada de luz, e uma nova porção de película é empur- rada para a abertura. Nesse caso é um movimento fragmentário de base fotográfica dissimulado por um dispositivo técnico que recompõe a ilusão de movimento. Não existe obturador na câmera de vídeo. Isso quer dizer que o mecanismo de varredura é contínuo. Podemos considerar o fotogra- ma como a imagem, célula elementar do filme. No vídeo, uma imagem elementar está composta pelas 525 ou 625 linhas e compõe um quadro, ou frame. Um quadro difere do fotograma porque no quadro já está inscrito o movimento, a mudança, a alteração, o deslocamento de formas, cores e intensidade luminosa. Uma figura em movimento pode começar a ser inscrita no vídeo no ponto A da primeira linha, estar no ponto D, na centésima linha, e Y na linha du- zentos. Isso denuncia o deslocamento do motivo no interior de um único quadro. Na aula 15 desta Unidade indicamos como o movimento pode ser tratado na imagem fotográfica. Qualquer deslocamento durante a abertura do obturador produz um borrão. O vídeo, por sua própria constituição, é a primeira mídia a trabalhar com o movimento. No vídeo, o movimento da câmera é seguido sincronizadamente por outro movimento, que é o da varredura do suporte fotocondutor. Como explica Bambozzi, (...) definitivamente não há cânones de uma sintaxe estabelecida a ponto de se reclamar nostalgicamente por uma economia da linguagem audiovisual. Algumas propostas de uma sintaxe própria ao cinema se torna- ram datadas e falhas em termos de possibilidades. A tecnologia tem atuado como incrementadora e compli- cadora desse processo. (BAMBOZZI, 1994, p. 11) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL O vídeo pulveriza a imagem em pontos de luz. Podemos encontrar um pa- ralelo da imagem do vídeo na pintura pontilhista de Georges Seurat. Este artista substituía as pinceladas tradicionais por pequenos retângulos ou pontos coloridos. Ao longo de suas experimentações, Seurat trabalhava com pontos de cor, não misturava as tintas na paleta, mas as empregava puras e nas suas formas elementares, justapondo-as umas ao lado das outras. A imagem eletrônica do vídeo automatiza a técnica constitutiva da pintura de Seurat. Ela também dissolve a figura numa combinação de retículas que depois é recomposta pelo intérprete desses pontos em um todo inteligível. Para essa recomposição da imagem, o intérprete necessita de certo afas- tamento físico da imagem para que esses pontos possam se fundir e resul- tar inteligíveis. Esse processo também acontece com a imagem do vídeo. Se o intérprete da imagem se aproximar muito de um aparelho receptor, os pontos constituintes da imagem eletrônica irá se impor, e ele não será capaz de reconhecer nenhuma figura. Um receptor de poucas polegadas, um receptor pequeno, deve ser visto de perto pelo intérprete das imagens enquanto um receptor de muitas polegadas, um receptor grande, exigirá maior distância para ser “visto” pelo interprete. Os planos A tela do vídeo é pequena, o que significa que não é aconselhável colocar muita informação nessa tela, já que existe o perigo de que uma imagem muito detalhada se dissolva nas linhas de varredura. Os grandes planos perdem-se na varredura da imagem eletrônica. Quadros muito abertos, planos muito gerais, dissolvem a figura. Desse modo, a imagem eletrônica do vídeo, por sua própria natureza, uti- liza uma linguagem metonímica. Isso quer dizer que a parte, o detalhe e o fragmento são articulados para sugerir o todo. Por sua vez, esse todo quase nunca é revelado de uma só vez. Essa característicada imagem ele- trônica impõe o Primeiro Plano (PP) como o quadro que melhor se adequa a essa tecnologia, enquanto na fotografia cinematográfica o primeiro plano mutila a cena. O campo visual extremamente fechado do PP suprime a profundidade de campo e desintegra a homogeneidade e a continuidade da cena fundada na perspectiva clássica do Renascimento. Na imagem do vídeo a precarie- dade da profundidade de campo impede o aproveitamento de grandes pla- nos. Isso não quer dizer que não encontremos grandes planos na imagem de vídeo, mas que a linguagem fotográfica apresenta uma tendência para a fragmentação da figura, em planos fechados, em primeiro plano. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Essa precariedade de informação da imagem de vídeo car- rega consigo uma composição de quadro mais despojada. Nesse sentido, os cenários tendem a ser esquemáticos e sintéticos, com pouca minúcia. Sob o aspecto físico, um plano é um segmento contínuo de imagem com- preendido entre dois cortes. Um conjunto de planos constitui uma cena, e um conjunto de cenas é denominado de seqüência. Os movimentos de câmera Os movimentos de câmera são: panorâmica e travelling; os da objetiva são: zoom-in e zoom-out. A panorâmica é o movimento no qual a câmera gira ao redor de um eixo imaginário qualquer sem deslocar-se, mostrando, por exemplo, uma paisagem ou um cenário que não podem ser exibidos em sua totalidade em um único enquadramento. Referindo-se ao discurso cinematográfico, Martin (1999) indicou uma série de significados que, potencialmente, podem ser dados a uma cena a partir dos planos e movimentos de câmera: um travelling significaria descrição do ambiente; um zoom, a aproximação na intimidade do personagem; o contra-plongée, o enaltecimento; o plongée (mergulho) implica em espe- zinhamento. As possibilidades de criação com a linguagem do vídeo são muitas, e os jogos que podem se estabelecer entre a mobilidade e a rigidez, o rápido e o lento, o ir e o vir, o alargar e o comprimir constituem a passagem do olhar eletrônico ao olhar poético, o uso de um recurso a partir de um conceito. As Cores As cores em vídeo podem ser tratadas de forma naturalista e anti-natura- lista. A primeira refere-se à imagem realista e é a que mais se aproxima da percepção natural. A segunda ocorre quando a cor dá à cena um tra- tamento anti-naturalista, assumindo outras funções, como psicológica ou crítica, deixando de ser simplesmente uma cor natural para ser uma cor significativa, expressando coisas que somente podem ser ditas através da sua intervenção. A ausência intencional da cor também pode ser entendi- da como um valor expressivo. Quando a cor exerce a função de signo poético, ela ganha autonomia, o que quer dizer que, ao invés de aproximar-se da realidade, ela atribui sentido a essa realidade, materializa conceitos e reflete um ponto de vista autoral. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Aula: 1� Temática: Elementos da linguagem videográfica: a iluminação, a tonalidade, o som, a edição - a trans- parência e a opacidade dos meios Seguindo com as especificidades da linguagem videográ- fica em relação à linguagem fotográfica, vamos tratar da iluminação, da tonalidade e do processo de edição. A iluminação Imagens são luz. Câmeras de vídeo são meios de captar a luz e os apare- lhos de televisão são um meio de reproduzir a luz. Assim, como produtor de imagens videográficas, você precisa estar consciente a respeito da luz, já que esta é a matéria-prima com a qual vai lidar. Na aula 7, da primeira unidade, estudamos que a câmera de vídeo tem apenas um único suporte, o target, em que o quadro é preenchido. Essa característica torna o quadro vulnerável às condições de iluminação. Áre- as muito iluminadas ficarão retidas por mais tempo no target, produzindo o efeito da persistência, chamado lag, semelhante a uma película quei- mada por excesso de luz. Durante o movimento da câmera, se em algum momento a captação de luz for excessiva, ela permanecerá visível mesmo quando a câmera já tenha abandonado a zona intensamente iluminada. Esse fenômeno é conhecido como rabo de cometa, comet tail, pois faz referência ao rastro deixado pelo foco de luz intensa quando a câmera está em movimento. Muitos artistas aproveitam essa característica do meio que, para o denominado vídeo comercial, é considerado um “defeito”, e o tratam de forma plástica. Os “rabos de cometa” estão presentes no poema visual de Alfredo Nagib Eletroagentes, de 1982, e na vídeo-instalação de Mary Lucier, Dawn Burn (1975). Nagib explora o efeito das lanternas de automóveis em uma noite escura, enquanto Lucier registra o lag deixado pelo movimento do sol ao amanhecer. A maior parte da iluminação de interiores foi projetada para um olho hu- mano e não para uma câmera de vídeo. Para a maioria das locações em interiores será necessário modificar a luz existente, já que a luz artificial é amarelada. Uma tomada de cena em interiores que contenha luz do dia com luz artificial, as cores serão distorcidas. Para corrigi-las será necessá- rio utilizar filtros azuis nas lâmpadas para que a luz artificial se pareça com a luz azulada do dia. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL A tonalidade A tela do receptor de vídeo é banhada por luz e não por luz projetada como no cinema. Por esse motivo, uma imagem de vídeo não atinge um tom inteiramente preto, já que as retículas não são pretas. Tampouco atinge o branco puro, pois o intervalo entre os pixels está preenchido por uma faixa preta. O vídeo traduz o que denominamos de branco e preto para iluminado e não iluminado, claro e escuro. A imagem eletrônica distingue entre 20 e 30 tons de cinza, enquanto a imagem fotográfica de cinema alcança cerca de cem tons. Essa característica imprime uma tendência para o alto con- traste nas imagens de vídeo. Em imagem técnica a latitude de exposição da imagem vídeo é pequena. A gama de tonalidades da imagem vídeo é pequena e vale lembrar que o intérprete tem a possibilidade de alterar em seu próprio aparelho receptor, os controles de matiz, saturação, brilho e contraste. É por essas razões que imagens produzidas originalmente para o meio cinematográfico perdem grande parte de informação quando exibi- dos em vídeo. O som O vídeo trata a imagem e o som eletronicamente de forma sincronizada e no mesmo suporte físico em todas as etapas da produção. No cinema basta um pequeno descuido do responsável pela projeção para que o loop, uma folga da película cinematográfica entre a engrenagem de leitura da imagem e a leitura do som, estreite ou alongue, enquanto no vídeo, depois que a o suporte físico foi editado, não é possível alterar o sincronismo das pistas de som e de imagem. No vídeo, a imagem e o som são uma unidade indecomponível enquanto realidade técnica. A edição A passagem de um plano a outro na montagem cinematográfica é conhe- cido como corte. Isso quer dizer que se secciona a película com um instru- mento apropriado para permitir a colagem desse fragmento em sucessão a outro. O vídeo, porém, não aceita o corte. A edição é feita por transferência do sinal de uma fita à outra, pelo procedimento de colagem. Tecnicamente é possível cortar e emendar uma fita de vídeo, porém, quando isso ocor- re, a imagem sofre desarranjos. O filme cinematográfico é composto por fotogramas, e, por isso, o corte é efetuado na linha de separação entre dois fotogramas. A imagem eletrônica é composta por linhas de varredura, o que explica a dificuldade de fazer coincidir exatamente as 525 ou 625 linhas de um quadro. Para isso existe uma solução química, o revelador de fita magnética, que permite tornar visíveis os impulsos de controle dos campos no suporte físico. Esse revelador só costuma ser utilizado em ca- sos extremos, quando a fita matriz se rompe e precisa ser reparada. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOSI �� UNIMES VIRTUAL A edição em vídeo deve ser essencialmente eletrônica e realizada median- te sofisticados aparelhos, como as ilhas de edição (switchers) que anali- sam os impulsos de controle e permitem fazer o corte no ponto correto. Atualmente, os recursos de edição por computador multi- plicam ao infinito as possibilidades de corte, pois já é pos- sível codificar, imagem por imagem, todas as seqüências pré-gravadas, e, a partir de então, realizar uma maquete de montagem. O desenvolvimento das técnicas de captura e edição de imagens permite uma série de efeitos visuais para transição entre as cenas, tais como o fade e a sobreposição, entre outros. O fade é o aparecimento e desapareci- mento gradual da imagem e do som, e indica longas passagens do tempo ou mudanças bruscas de cenário. A sobreposição é um efeito visual em que a imagem vai desaparecendo aos poucos, ao mesmo tempo em que uma outra vai surgindo. De modo rápido ou lento, ela indica pequenas alterações de tempo, mas também pode ser apenas um efeito visual utilizado com fins poéticos para interligar suavemente diferentes planos de uma mesma cena. A sobreposição é o procedimento de justapor diferentes acontecimentos visuais, criando, as- sim, um espaço híbrido recorrente na linguagem do vídeo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Aula: 1� Temática: Projetos com imagens fotográficas e videográficas No contexto da Arte Contemporânea, a palavra projeto tem sido utilizada para designar tanto as práticas artísticas como a dos curadores. A crítica e curadora inglesa Claire Doherty utilizou a expressão “arte situada” para descrever o modelo contemporâneo de prática artística. De acordo com Doherty (2004), a arte situada inclui as práticas artísticas em que a situação ou o contexto são normalmente o ponto de partida do produtor. O contexto oferece o ponto de partida para os projetos de produtores e curadores de Arte. Desse modo, esta aula vai indicar alguns pontos orientativos para Projetos de Interpretação e/ou Pro- dução de Imagens Fotográficas e de Vídeo a partir dos elementos formais desses meios - lembrando, sempre, que o ponto de partida do Projeto será o interesse de quem realiza o Projeto. Todos os criadores enfrentam-se com os limites e potencialidades de seu meio. O trabalho de visualização e análise da produção de outros criadores é uma atividade importante de aprendizagem da linguagem fotográfica e videográfica. Desse modo, sugerimos que você se exercite em Projetos de Curadoria. Um curador se encontra com a responsabilidade de organizar uma coleção, uma mostra, um acervo. Um bom exercício para desenvolver a capacidade de análise e avaliação da produção visual é o de organizar coleções temáticas de fotografias e de vídeo. Para organizar uma coleção temática, o primeiro passo é definir o tema e pesquisar os criadores que se debruçaram sobre o mesmo tema. Por exemplo, a italiana Tina Modotti (1897-1942), o francês Pierre Verger (1902-1996), e o brasileiro Sebastião Salgado (1944) têm, enfaticamente, plasmado em suas imagens uma preocupação com os trabalhadores e suas condições de trabalho, porém olham para o tema de modo diferencia- do e em épocas distintas. A partir da definição do tema de interesse, sugerimos um roteiro de análise das imagens a serem organizadas, como: Abordagem: figurativa ou abstrata? Se a abordagem foi figurativa trata-se de uma figuração estilizada? Crítica? Construtiva? Que objetos e ou per- sonagens estão representados? Que ação está representada? Há alguma FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL referência espacial? Em que lugar objetos e ou personagens estão situa- dos? A referência espacial permite o reconhecimento de algum local? Há alguma referência temporal na imagem?A referência temporal possibilita identificar o período histórico? O tema é facilmente percebido? As imagens possuem um título? Você concorda com o título? Daria outro título? Qual seria o seu título? Por que razão você daria esse título? Enquadramento: o que foi enfatizado no enquadramento? O que é visto em primeiro lugar? Qual o detalhe que mais prende sua atenção? Há mais de um elemento chamativo? Por que esse, em sua opinião, é o detalhe mais importante? Seus olhos passeiam pela imagem? Que parte da foto atrai o seu olhar? É por essa parte que inicia o movimento dos seus olhos? Seu olhar se fixa em algum outro ponto? Angulação: qual a angulação escolhida? Que sensação produz essa angu- lação? É uma angulação comum? Surpreendente? Inusitada? Foco: como foi trabalhada a questão do foco? Diferencial? Desfoque? Textura: o elemento da textura foi explorado? Em caso de mais de uma textura, elas se complementam ou se anulam? A textura prevalece sobre os outros elementos? Iluminação: que tipo de iluminação foi utilizada: natural, artificial? Qual a direção das fontes de luz? Cores: há uma cor predominante? As cores se influenciam, interpenetram ou se anulam? O fotógrafo fez uso das cores primárias? Cores secundá- rias? A cor prevalece aos outros elementos? O uso da cor é poético? Equilíbrio: como se dá o equilíbrio e/ou desequilíbrio provocados pelos elementos da composição? Como estão dispostos os elementos em rela- ção ao eixo vertical e horizontal? Há alguma divisão diagonal do espaço? Composição: Como os pontos estão dispersos pela imagem? Como esses pontos se comunicam? É possível visualizar uma figura geométrica unindo esses pontos com uma linha imaginária? Estratégia visual: que tipo de estratégia visual foi utilizada? Há concor- dância ou oposição entre cores e linhas? Cores e texturas? Linhas e textu- ras? Cores, linhas e texturas? As linhas estabelecem algum diálogo entre si? Sugerem mais de um movimento? Que sentimento produz o arranjo formal como um todo? FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL A partir da análise dos elementos constitutivos da imagem, poderemos falar sobre o objeto visual com mais propriedade, o que amplia nossas pos- sibilidades de comunicação simbólica, sem perder o prazer que o encontro afetivo com a imagem proporciona. Um olhar crítico avalia aspectos téc- nicos do objeto, percebe as estratégias intencionais do criador e desfruta ao transmitir seu julgamento para compartilhá-lo com os demais intérpre- tes, pois nessa interação amplia sua própria percepção. Desenvolver esse olhar crítico também altera e alarga os limites da produção própria. Um projeto de produção de imagens é um pouco mais com- plexo, porém também responde a um roteiro básico de ques- tões: o que pretende produzir? Por que pretende produzi-lo? Para que produzir essas imagens? Como produzir as imagens? Quando? Como? Com quem? Que recursos serão necessários? Um projeto de produção videográfica demanda um processo de pré-produ- ção que abarca o projeto e o roteiro de gravação. Gerar as idéias e o modo de apresentá-las é a parte criativa do trabalho do produtor de imagens. A idéia subjacente da produção precisa ser o guia, e os recursos técnicos devem ser os meios de plasmá-la. O produtor de vídeo necessita encadear seu pensamento para montar seu discurso visual. O roteiro da gravação relaciona a seqüência de gravação sem esquecer que está lidando com um meio audiovisual, ou seja, todos os aspectos de imagem e som deverão ser previstos pelo realizador. A seqüência de imagens deverá estar indicada, bem como as tomadas de cena de cada seqüência, o enquadramento de cada cena, a angulação, a iluminação, a duração e os cortes previstos. Se o realizador prevê trabalhar com tomadas de cenas em locais públicos e com pessoas, deverá tomar o cuidado de explorar previamente a locação, avaliar as condições de iluminação e sua paisagem sonora. Se forem gravados sons diretos, e o visualizador não puder identificar a fonte sonora na imagem, esses sons causarão a sensação de serem muito mais altos, o que pode provocar umasensação desagradável. Outro detalhe a considerar em locações naturais é o de tentar prever possíveis sons acidentais que possam interferir na sua gravação e nos resultados que pretende conseguir, como o ruído de um avião em uma cena bucólica quando a intenção do realizador for produzir descanso e relaxamento. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �1 UNIMES VIRTUAL Resumo - Unidade II As imagens fotográficas e videográficas também são um meio de manifestação humana, isto é, uma linguagem. A compreensão das práticas artísticas como linguagem tem sido uma discussão constante da Estética. Embora se faça uso do termo linguagem, de inspiração lingüística, as regras para a criação em foto- grafia e vídeo não são exatas e sistemáticas, como nas línguas naturais, pois a linguagem nas expressões visuais não tem o caráter normativo da gramática das mensagens verbais. A faceta semiótica introduziu no modelo de leitura da imagem as noções de denotação e conotação. A denotação refere-se ao significado entendi- do “objetivamente”. A conotação refere-se às apreciações do intérprete, àquilo que a imagem sugere e ou faz pensar o leitor. A leitura de uma fotografia, a partir da abordagem semiótica, também tem de levar em con- ta o contexto de cada imagem, ou seja, em que condições ou situação a imagem foi produzida. Roland Barthes elaborou um esquema interpretativo da produção fotográfi- ca a partir dos conceitos-chave de studium e punctum. Podemos conside- rar o studium como o aspecto de interesse histórico-social da fotografia, enquanto o punctum refere-se às sensações que a fotografia desperta na subjetividade de cada um. Barthes julga que a fotografia é inclassificável principalmente pelo fato de não se distinguir de seu referente, por trazer sempre colado consigo o seu referente. O código de conotação não é natu- ral, nem artificial, mas sim histórico e cultural. Desse modo, uma imagem fotográfica está repleta de códigos que se vinculam à cultura, tal como as imagens presentes em nossa memória relacionam-se a fatores sociais, históricos, culturais e psicológicos. Phillipe Dubois, compreende o “ato fotográfico” como um ato inseparável de sua enunciação e de sua recepção. Dessa forma, o fotógrafo, o dispo- sitivo técnico, a cena e seus atores e também o intérprete fazem parte do processo de significação da fotografia. Para Dubois, o “ato fotográfico” só adquire sentido na sua recepção e difusão. Na tentativa de superar o posicionamento realista frente à fotografia, Dubois identifica que a primei- ra condição das imagens fotográficas é ser, na sua gênese, um índice, podendo assemelhar-se e tornar-se um ícone para, finalmente, adquirir sentido e ser um símbolo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�2 UNIMES VIRTUAL Os principais elementos da linguagem fotográfica são: plano, foco, ângu- lo, forma, iluminação, cor, textura, contraste, ritmo, equilíbrio. Os planos dividem-se em Grande Plano Geral (GPG), que é o enquadramento em que o ambiente é o elemento primordial; Plano Geral (PG), que é o enquadra- mento em que o ambiente ocupa uma menor parte do quadro, dividindo o espaço com o sujeito. O Plano Médio (PM) é o enquadramento em que o sujeito preenche a superfície, ou seja, seus pés estão sobre a linha inferior e a cabeça encosta na linha superior da fotografia; o Primeiro Plano (PP), que é o enquadramento do sujeito destacando seu semblante; o Plano de Detalhe (PD), que é o enquadramento que isola uma parte do sujeito. O foco refere-se à nitidez. Dentro dos limites técnicos das câmeras fo- tográficas, temos possibilidades de controlar não só a localização do foco, mas também a quantidade de elementos que poderão, ou não, ficar nítidos. O Foco Diferencial diferencia um elemento da fotografia sobre os demais, selecionando-o como ponto de maior nitidez dentro da imagem. O Desfoque é a falta de foco, que pode produzir a sensação de falta de interesse. A profundidade de campo é diferença entre os pontos próxi- mos e distantes presente num foco aceitadamente nítido na fotografia. A profundidade de campo varia com a distância focal e a distância entre a câmera e o objeto. A clareza da forma depende diretamente da iluminação. A textura e a for- ma espacial estão intimamente relacionadas, entendendo-se como textura a forma espacial de uma superfície. Por intermédio da iluminação podemos acentuar ou eliminar texturas a ponto de tornar irreconhecíveis objetos do cotidiano. Uma fonte luminosa mais dura, forte e lateral, irá privilegiar a textura enquanto uma luz mais difusa, indireta e suave poderá fazer desa- parecer uma textura ou diminuir sua intensidade. O ângulo da fotografia resulta da posição da máquina em relação ao ob- jeto a ser fotografado. A angulação é a relação que se estabelece entre a câmera e a imagem fotografada. Os manuais de fotografia recomendam enquadrar o tema corretamente, observando o ajuste das linhas horizontais e verticais da câmera em uma angulação frontal, isto é, focalizar o objeto a ser fotografado de frente. Na angulação frontal, horizontal, a câmera enfoca na altura de nossos olhos e descreve as coisas como estamos habituados a vê-las. Uma foto tomada de cima para baixo, em mergulho (plongée) nos produz a sensação de domínio. A estratégia contrária (contre-plongée) pode monumentalizar o objeto. A angulação lateral, ou de perfil, aumenta as características estéticas do objeto e produz a sensação de continuidade. A luz é indispensável à fotografia, pois ela cria sombras e altas-luzes, e é isso que revela a forma espacial, a textura e as cores. Uma imagem fotográfica depende da qualidade e da direção da luz. Qualidade é o termo FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL aplicado para definir a natureza da fonte emissora de luz. Ela pode ser suave e produzir sombras tênues, com bordas pouco marcadas, como a luz natural em um dia nublado. A luz pode ser dura e produzir sombras densas, com bordas bem definidas, como a luz do meio-dia. A luz lateral é a luz que incide lateralmente sobre o objeto ou o assunto fotografado e se caracteriza por destacar a textura e a profundidade ao mesmo tempo em que determina uma perda de detalhes ao aumentar consideravelmente a longitude das sombras, criando, muitas vezes, imagens confusas. A luz frontal, ou direta, vem por trás do fotógrafo. Nessa direção, as som- bras se escondem sob o assunto fotografado. Este tipo de luz reproduz a maior quantidade de detalhes, porém anula a textura e achata o volume da imagem. A contraluz acontece quando a luz vem por trás do objeto a ser fotografado, convertendo-o em silhueta. Neste caso, o objeto perde a textura por completo e praticamente todos os seus detalhes. A cor é um elemento muito emotivo na comunicação visual. É uma força poderosa que pode fazer um objeto avançar ou recuar. O contraste é uma oposição intencionada entre diversos elementos de um conjunto. Essa oposição faz com que um, dentre outros elementos, sobressaia. O con- traste é a expressão da diferença, ou seja, uma estratégia visual muito utilizada para aguçar o significado. Um dos contrastes mais explorados é o da oposição entre claro e escuro. O ritmo tem a ver com a repetição regular de certos eventos. A regu- laridade é uma estratégia bastante utilizada na linguagem visual, mas a repetição de determinados elementos pode tornar-se redundante. O equi- líbrio relaciona-se com a distribuição dos elementos constitutivos de um conjunto. O equilíbrio trata da disposição dos elementos de forma que se obtenha uma distribuição agradável em toda a superfície da imagem. As imagens são produzidas para que sejam vistas em um determinado meio e seu tamanho em relação ao meio irá, também, determinar a visua- lização da mesma. O tamanho é um elemento importante para determinar a relação que o espectador poderá estabelecer entre si e uma imagem. A pequena dimensão de certas fotografias é o que permiteestabelecer uma relação de proximidade com a imagem, uma relação de posse e até mesmo de fetichização. Apesar de “parecer” semelhante à linguagem fotográfica do cinema, a lin- guagem videográfica tem suas especificidades. Ambas são captadas por lentes, mas a imagem fílmica é gravada em um quadro fixo, na sua totali- dade de uma só vez, e a imagem videográfica é gravada seqüencialmente por meio de linhas de varredura, durante um intervalo de tempo. No filme a imagem é fixada em fotogramas separados. Isso quer dizer que entre um FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL quadro e outro o obturador se fecha, a fim de impedir a entrada de luz, e uma nova porção de película é empurrada para a abertura. Nesse caso é um movimento fragmentário de base fotográfica dissimulado por um dis- positivo técnico que recompõe a ilusão de movimento. Não existe obtura- dor na câmera de vídeo, o que quer dizer que o mecanismo de varredura é contínuo. No vídeo, uma imagem elementar está composta pelas 525 ou 625 linhas e compõe um quadro, ou frame. Um quadro difere do fotograma porque no quadro já há movimento, mudança, alteração, deslocamento de formas, cores e intensidade luminosa. O vídeo, por sua própria constituição, é a primeira mídia a trabalhar com o movimento. No vídeo movimento da câmera é seguido sincronizadamente por outro movimento, que é o da varredura do suporte fotocondutor. O in- térprete necessita de certo afastamento físico da imagem para que os pon- tos de luz da imagem fotográfica possam se fundir e resultar inteligíveis. Se o intérprete da imagem se aproximar muito de um aparelho receptor, os pontos constituintes da imagem eletrônica irá se impor e ele não será ca- paz de reconhecer nenhuma figura. Um receptor de poucas polegadas, um receptor pequeno, deve ser visto de perto enquanto um receptor de muitas polegadas, um receptor grande, exigirá maior distância para ser “visto”. A tela do vídeo é pequena, o que significa que não é aconselhável colo- car muita informação nessa tela, já que há o perigo de que uma imagem muito detalhada se dissolva nas linhas de varredura. Os grandes planos perdem-se na varredura da imagem eletrônica. Quadros muito abertos, planos muito gerais, dissolvem a figura. Desse modo, a imagem eletrôni- ca do vídeo, por sua própria natureza, utiliza uma linguagem metonímica. Isso quer dizer que a parte, o detalhe ou o fragmento são articulados para sugerir o todo. Por sua vez, esse todo quase nunca é revelado de uma só vez. Essa característica da imagem eletrônica impõe o Primeiro Plano (PP) como o quadro mais adequado a essa tecnologia.. Por sua prórpia natureza, a imagem de vídeo carrega consigo uma composição de quadro mais despojada. Nesse sentido, os cenários tendem a ser esquemá- ticos e sintéticos, com pouca minúcia. Sob o aspecto físico, um plano é um seg- mento contínuo de imagem compreendido entre dois cortes. Um conjunto de planos constitui uma cena, e um conjunto de cenas é denominado seqüência. Os movimentos de câmera de vídeo são: panorâmica e travelling; e os da objetiva são: zoom-in e zoom-out. A panorâmica é o movimento no qual a câmera gira ao redor de um eixo imaginário qualquer sem deslocar-se. Potencialmente, podem-se atribuir significados a uma cena a partir dos planos e movimentos de câmera: um zoom, a aproximação na intimidade do personagem, o contra-plongée o enaltecimento, o plongée (mergulho) implica em espezinhamento. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL A câmera de vídeo tem apenas um único suporte de gravação, o target, em que o quadro é preenchido. Essa característica torna o quadro vulnerá- vel às condições de iluminação. Áreas muito iluminadas ficarão retidas por mais tempo no target, produzindo o efeito da persistência, chamado lag, semelhante a uma película queimada por excesso de luz. Durante o movi- mento da câmera, se em algum momento a captação de luz for excessiva, ela permanecerá visível mesmo quando a câmera já tenha abandonado a zona intensamente iluminada. Esse fenômeno é conhecido como rabo de cometa, comet tail, pois faz referência ao rastro deixado pelo foco de luz intensa quando a câmera está em movimento. O vídeo trata a imagem e o som, eletronicamente, de forma sincronizada e no mesmo suporte físico em todas as etapas da produção. Atualmente, os recursos de edição por computador multiplicam ao infinito as possibili- dades, pois permitem codificar, imagem por imagem, todas as seqüências pré-gravadas e, a partir de então, realizar uma maquete de montagem. O desenvolvimento das técnicas de captura e edição de imagens permite uma série de efeitos visuais para transição entre as cenas, tais como o fade e a sobreposição, entre outros. O fade é o aparecimento e desapare- cimento gradual da imagem e do som e indica longas passagens do tempo ou mudanças bruscas de cenário. A sobreposição é um efeito visual, no qual a imagem vai desaparecendo aos poucos, ao mesmo tempo em que uma outra vai surgindo. De modo rápido ou lento, ela indica pequenas alterações de tempo, mas também pode ser apenas um efeito visual utilizado com fins poéticos para interligar suavemente diferentes planos de uma mesma cena. A sobreposição é o procedimento de justapor diferentes acontecimentos visuais, criando, as- sim, um espaço híbrido recorrente na linguagem do vídeo. Referências Bibliográficas ABADIA, J. M. Introducion a la tecnologia audiovisual. Barcelona: Edi- ciones Paidos, 1993. ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. 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A Linguagem Cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 1990. OSTROWER, F. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Campus, 1990. OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, 1987. OSTROWER, F. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campus, 1983. SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1998. SMITH, F. Leitura significativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Exercício de auto-avaliação II 1) Das alternativas a seguir sobre o esquema interpretativo de Roland Barthes frente à Fotografia, identifique a alternativa incorreta: Trata-se de uma abordagem essencialista, pois busca diferenciar o traço essencial da fotografia em relação a outras imagens. Trata-se de uma abordagem de caráter realista por identificar que a imagem fotográfica sempre remete a um referente. Trata-se de um esquema interpretativo baseado nas três categorias de Pierce: índice, ícone e símbolo. Trata-se de um esquema interpretativo baseado em dois conceitos chave: studium e punctum. 2) A respeito da linguagem videográfica, pode-se afirmar que: Compartilha dos mesmos códigos formais que a linguagem fotográfica do cinema. Enfatiza os cânones fixos e arbitrários das imagens em perspectiva do Renascimento. Baseia-se no princípio do movimento aparente construído pelo estímulo luminosodis- contínuo. Todas as alternativas são falsas. 3) Obtém-se a imagem eletrônica do vídeo: Por meio de um processo mecânico de rebater a imagem na tela através de lentes biconvexas. Por meio do retalhamento da imagem em uma série de linhas que são varridas por um feixe de elétrons. Por meio de um processo de colódio úmido para a fixação da imagem no lag. Por meio de uma difusão de pontos que desloca a abertura do obturador. 4) Dentre as alternativas a seguir sobre linguagem fotográfica, identifique a alternativa correta: A angulação frontal é a menos recomendada pelos manuais de fotografia por alterar a profundidade de campo da imagem. A angulação de cima para baixo, em mergulho, pode produzir a sensação de domínio. A angulação de baixo para cima apequena os objetos e pode produzir a sensação de continuidade. A angulação lateral diminui as características do objeto e pode produzir a sensação de inferioridade. a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL 5) A respeito dos planos, em linguagem fotográfica, pode-se afirmar que: Eles são variáveis e definidos pelo equilíbrio dos elementos da imagem. O plano de detalhe pode chegar a criar formas quase abstratas. O plano geral divide o espaço entre o ambiente e o sujeito. Todas as alternativas são verdadeiras. a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Unidade III A produção fotográfica nos séculos XIX e XX Objetivos Abordar questões de estética, significação e representação social da fotografia nos séculos XIX e XX. Indicar os principais movimentos e trabalho de fotógrafos, dos séculos XIX e XX, que contribuíram para o desenvolvimento da expressão fotográfica na imprensa e no circuito artístico. Plano de Estudo Esta unidade conta com as seguintes aulas: Aula: 1� - A fotografia e os meios de comunicação no século XIX Aula: 20 - A fotografia no Brasil do século XIX: a construção de uma imagem Aula: 21 - Carte-de-visite: a elaboração da crônica familiar Aula: 22 - O movimento do Pictorialismo Aula: 23 - A fotografia moderna Aula: 2� - A fotografia documentária Aula: 2� - A fotografia documentária social entre guerras Aula: 2� - A fotografia documentária social do pós-guerra Aula: 2� - A fotografia documentária no Brasil FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL Aula: 1� Temática: A fotografia e os meios de comunicação no século XIX O processo criado por Louis Daguerre para “fixar” as ima- gens foi inovador, porém, nasceu obsoleto. O esforço exigi- do para preparar as chapas metálicas, o tempo de exposição necessário para gravar a imagem, o perigo da contaminação do fotógrafo pelos produtos químicos, em especial o mercúrio, usados na preparação e revelação das chapas e, principalmente e o fato de não ser possível fa- zer cópias das imagens foram responsáveis pelo breve ciclo destinado à daguerreotipia. Concomitante às experiências de Daguerre, William Henry Fox Talbot (1800-1877) desenvolveu na Inglaterra, por volta de 1839, um processo denominado de Calotipia. Esse processo usava papel em vez de chapa metálica como suporte para a emulsão fotográfica. O processo de calotipia é muito próximo do desenvolvido por Hércules Florence no Brasil, visto na aula 5 da primeira Unidade. Sistematicamente, foram sendo desenvolvidos processos físico-químicos que alteraram a daguerreotipia e configuraram a tecnologia fotográfica, como a substituição das chapas metálicas por vidro, a técnica do colódio úmido (nitrato de celulose dissolvido em éter e álcool) para a fixação dos sais de prata na chapa de vidro. A técnica do colódio úmido, desenvolvida por Frederik Archer por volta de 1851, reduziu o tempo médio de exposição para captar uma foto para apenas 30 segundos. A publicação de fotografias por jornais e revistas encontrava com a difi- culdade técnica da impressão de toda a gama de tons diferentes de cinza, entre o branco e o preto absolutos, que formam uma imagem fotográfica em preto-e-branco. As impressoras utilizadas pela imprensa até as duas últimas décadas do século XIX só conseguiam fazer impressões do tipo a traço, ou seja, funcionavam como um carimbo e não reconheciam nada que não fosse apenas branco ou preto. As imagens produzidas pelos fotógrafos pioneiros eram copiadas em cli- chês de madeira por hábeis artesãos e impressas em formato desenho nas páginas dos jornais da época. Para dar credibilidade ao desenho, os jornais usavam sempre uma legenda para avisar aos leitores que aquela “ilustra- ção” havia sido copiada diretamente de uma fotografia (FREUND, 1995). FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �1 UNIMES VIRTUAL A partir da década de 1870, as fotografias começaram a ser impressas diretamente no papel graças à técnica de autotipia, mais conhecida no Brasil como técnica de retícula de meio-tom. Essa técnica passou a ser utilizada por algumas Revistas Ilustradas, apesar da resistência de uma grande maioria de jornais e revistas da época por entenderem que os de- senhos e gravuras na madeira eram uma arte superior à da fotografia. Essa resistência também era reforçada pelo alto custo para adaptar as oficinas gráficas à nova tecnologia. A primeira fotografia publicada por um jornal norte-americano através da técnica da autotipia surgiu na edição do dia 4 de março de 1880 do jornal The New York Daily Graphic. A fotografia documentava a cena de um bair- ro pobre de Nova York, de autoria do fotógrafo Stephan Horgan. Apesar das resistências iniciais, a técnica da autotipia foi introduzida pau- latinamente, o que permitiu o lançamento de muitas revistas ilustradas a preços mais acessíveis à população e, conseqüentemente, fazer circular a produção fotográfica. Paralelo à evolução técnica da autotipia, em 1888, o norte-americano George Eastman (1854-1932) lançava no mercado a primeira câmera fotográfica que já saía de fábrica carregada com um filme para 100 fotos, cujo processamento se dava no laboratório da empresa, conhecida atualmente por Kodak. A câmera de Eastman liberava o fotógra- fo de todo o trabalho de preparação das chapas e de seu processamento. A Kodak nº 1, um caixote de madeira que media 9,5 centímetros de altura, 8,2 cm de largura e 16,5 cm de comprimento não possuía visor, mas trazia incorporado um botão disparador e alavanca para avanço do filme. Feitas as exposições, o fotógrafo enviava a câmera de volta à Kodak, para a revelação do filme copiado em papel. Completada a operação, o fotógrafo recebia, pelo correio, as fotos e a câmera carregada com um novo filme de 100 poses. O trabalho do fotógrafo era fotografar. O processamento ficava a cargo da fabricante do equipamento. A popularização da fotografia, através das câmeras a preço mais acessível, o processamento dos filmes em laboratórios industriais e a consolidação do processo de impressão pela autotipia criaram demanda para utilização da fotografia por praticamente todas as publicações destinadas ao grande público. Mesmo assim, na maioria dos casos, as fotos empregadas pelos meios de comunicação impressos daquela época visavam apenas “ilus- trar” o texto da reportagem. A seleção dos profissionais acontecia mais em fun- ção da força física – necessária para segurar e operar as pesadas câmaras e acessórios da época - que do talento do fotógrafo. Para obter imagens nítidas de cenas de interiores, eles usavam um flash acionado FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�2 UNIMES VIRTUAL por magnésio em pó, que produzia uma luz ofuscan- te, fumaça ácida e odor nauseabundo. Surpreendidos pelo flash, os personagens das fotos quase sempre apareciam em poses ridículas: boca aberta, olhos re- virados, etc. O objetivo destes fotógrafos era, antes de tudo, conseguir uma foto, coisa que então signifi- cava que a imagem tinha que ser clara e fácil de re- produzir. O aspecto dos fotografados não preocupavanem o fotógrafo, muito menos o redator das notícias. Os políticos e pessoas da alta sociedade, que foram as suas primeiras vítimas, não tardaram a tratar com desprezo estes profissionais. Nenhuma de suas fotos recebia crédito de autoria. O estatuto do fotógrafo de imprensa recebeu durante quase meio século uma consideração inferior, comparável a de um simples criado a quem se dá ordens, sem poder de iniciativa. (FREUND,1995, p. 109) A partir do momento em que a fotografia passa a vincular-se aos meios de comunicação, a partir do desenvolvimento das técnicas de impressão gráfica, a imagem publicada ganha um co-autor. A co-autoria das imagens publicadas nos meios de comunica- ção recai na figura do editor das imagens. O editor das imagens escolhe a fotografia que, de acordo com a sua visão, tenha maior relação com o texto, com a informação. Esse trabalho de pós-produção da fotografia pode alterar a imagem, através de recortes, por exemplo, excluindo personagens origi- nalmente presentes no “ato fotográfico”, que desaparecem para reforçar o discurso do meio de comunicação, e não necessariamente do fotógrafo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL Aula: 20 Temática: A fotografia no Brasil do século XIX: a construção de uma imagem Na aula 5 da primeira Unidade focalizamos as investigações de Hércules Florence com o processo fotográfico em terri- tório brasileiro. Apontamos como o seu processo avançava tecnicamente em relação ao de Daguerre, por utilizar papéis tratados com nitrato de prata, aproximando-se das investigações de Henry Fox Talbot. Apesar de ser uma iniciativa inovadora em território brasileiro, Florence morreu sem que a imprensa, artistas e cientistas dessem o devido crédito por sua invenção. Também comentamos a “visão” prospectiva de Dom Pe- dro II sobre o papel que a fotografia poderia vir a desempenhar em vários setores culturais. Nesta aula vamos focalizar esse papel. Os meios culturais podem ser utilizados como estratégias para criar uma memória e uma imagem de um grupo social ou mesmo um povo. No recém criado Estado brasileiro, principalmente a partir da década de 1850, não foi diferente. Nesse momento, a fotografia serviu como um instrumento de formulação de uma “imagem oficial” ligada ao Imperador, que, no regime republicano, acabou sendo apropriada pela elite cafeeira. A fotografia no Brasil colaborou para a construção da auto-imagem do Im- perador Dom Pedro II como defensor das Artes e da Ciência, um monarca esclarecido, empenhado no avanço científico e nas conquistas técnicas modernas, como a própria fotografia, o telégrafo e a ferrovia. A fotografia consolidava a imagem de um Brasil que se constituía como uma nação moderna e civilizada, mas também permitia a existência de tipos exóticos, nem que fosse para serem “fotografados” (PERSICHETTI, 1997). O centro da fotografia no Brasil do século XIX foi a cidade do Rio de Ja- neiro. A prática fotográfica dessa época está marcada pela produção de paisagens naturais e urbanas. Muitos fotógrafos estrangeiros visitaram e viveram algum tempo no país em busca de imagens exóticas, o que explica o fato de retratarem paisagens e personagens típicos da região, sobretudo índios e escravos (VAZQUEZ, 1990). Entre os fotógrafos pioneiros em terras brasileiras, podemos mencionar: Buvelot & Prat (1840) Hippolyte Lavenue (1842), Charles de Forest Fredericks (1844), Francisco Napoleão Bautz (1846), Victor Frond (1857-1862), George Leuzinger (Suíça, 1813 FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL – Brasil, 1892), Marc Ferrez (Rio de Janeiro, 1843 - 1923). A dupla Buvelot & Prat recebeu o título de Photographos da Casa Imperial”, em 1851. Dentre os trabalhos pioneiros, o do naturalista suiço-americano Louis Agassiz e de sua esposa Elizabeth Cary Agassiz ficou registrado no livro Viagem ao Brasil, 1865-1866. Neste livro aparece retratado o universo de fotógrafos estrangeiros que produziram as primeiras imagens técnicas so- bre o País. O trabalho de Victor Frond registrou as primeiras fotografias dos escravos negros no Brasil, as quais foram publicadas em formato livro, sob o titulo Brazil Pittoresco. O material foi impresso em Paris pela editora Lemercier. Marc Ferrez foi nomeado “Fotógrafo da Marinha Imperial Brasileira”, em 1886. Seus trabalhos chegaram a ser premiados nos concursos fotográfi- cos internacionais da época. Vale lembrar que na segunda metade do século XIX, época coincidente com o desenvolvimento da Fotografia, o Brasil encontrava-se em acelerado desenvolvimento econômico e necessitava de uma imagem que atraísse a imigração européia, tanto para investimentos tecnológicos na produção quanto mão-de-obra especializa- da. Desse modo, a presença dos fotógrafos estrangeiros foi fundamental para a produção dessa imagem. Mauad afirma que, numa sociedade em que a maioria da população era analfabeta, tal experiência possibilita um novo tipo de conhecimento, mais imediato, mais generalizado, ao mesmo tempo em que habilita os grupos sociais a formas de auto-representação até então reservadas à pequena parte da elite que encomendava a pintura de seu retrato. Mauad (1997, p. 328) Apesar de o Rio de Janeiro ser o foco principal da fotografia no século XIX, São Paulo também contava com seus fotógrafos. O Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo, produzido entre 1862 e 1886, por Militão Augusto de Azevedo (1840-1905), apresenta com detalhes a transformação urbana de São Paulo. Excelente retratista, Militão Augusto de Azevedo realizou mais de 12.500 retratos que abrangem todos os tipos de personalidades: do Imperador D. Pedro II a escravos anônimos. Outro fotógrafo estrangeiro fundamental para o desenvolvi- mento da Fotografia no Brasil foi Conrado Wessel (1891- 1993). O trabalho de Wessel ganhou uma relevância espe- FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL cial não só pela documentação que produziu sobre São Paulo, mas também por dedicar-se à produção de papel fotográfico. A produção de papel foto- gráfico, em São Paulo, diminuiu os custos da prática fotográfica no Brasil e colaborou para a expansão dessa prática. As fotografias de Guilherme Gaensly (1843-1928) acompanharam o vertiginoso processo que transfor- mou a cidade de São Paulo do final do século XIX na grande metrópole das primeiras décadas do século XX. O fotógrafo iniciou sua documentação sobre a cidade em 1892 e trabalhou intensamente até 1921. Gaensly pro- duziu milhares de imagens que se tornaram os ícones de representação da cidade de São Paulo do início do século XX. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Aula: 21 Temática: Carte-de-visite: a elaboração da crônica familiar Na aula 19 desta Unidade destacamos como a fotografia, e o trabalho dos fotógrafos, foi inicialmente menosprezado nos meios de comunicação do século XIX e considerado in- ferior em relação às imagens produzidas com as técnicas do desenho e gravura em madeira. Em 1859, o reconhecido escritor francês e analista da modernidade, Charles Baudelaire (1821-1867), criticava a fotografia por sua dimensão documental, identificando-a como servente das ciências e das artes, já que sua finalidade seria enriquecer o álbum do viajante e ofe- recer a precisão que faltaria a sua memória para salvar do esquecimento os monumentos e manuscritos devorados pelo tempo. Apesar de desconsiderada na imprensa da época, a fotografia do século XIX ganhou espaço na representação da família burguesa. A prática do retrato familiar, restrita às famílias de poder aquisitivo suficiente para o pagamento de desenhistas e pintores antes do advento da Fotografia, po- pularizou-se com a conquista da máquina fotográfica. Toda a prática do álbum de família vai no mesmo sen- tido: para lá das poses, dos estereótipos, dos clichês, dos códigos datados, para lá dos rituais de ordenaçãocronológica e da inevitável escansão dos aconteci- mentos familiares (nascimento, batismo, comunhão, casamento, férias etc.) o álbum de família não deixa de ser um objeto de veneração, cuidado e cultivado [...] abre-se com emoção, numa espécie de cerimo- nial vagamente religiosos, como se tratasse de con- vocar os espíritos. Seguramente, o que confere um tal valor a esses álbuns não são nem os conteúdos repre- sentados, nem as qualidades plásticas e estéticas da composição, nem tampouco o grau de semelhança e realismo das fotografias, mas a sua dimensão prag- mática, o seu estatuto de índice, o irredutível peso referencial, o fato de se tratar de verdadeiros vestí- gios físicos de pessoas singulares que estiveram ali e têm relações particulares com os que guardam as fotografias. Só isso explica o culto de que são objetos as fotos de família. (DUBOIS, 1994, p. 77) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL O formato carte-de-visite, desenvolvido pelo fotógrafo francês Eugène Disdéri (1819-1889/90), tornou-se ideal para a prática do Álbum de Fa- mília. O carte-de-visite era um retrato de proporções reduzidas, de 6 por 10 cm, que poderia ser copiado às dúzias, trocado, guardado e presen- teado. Em geral, esses retratos eram acompanhados de uma dedicatória que remetia a imagem a alguma forma de relação entre quem dava e recebia a Fotografia. O sucesso da carte-de-visite, do retrato, deve-se justamente a capacidade de adaptar o cliente à certos moldes pré-estabelecidos e de escolher sua fotografia através de um catálogo de objetos e situações. Fotógrafo e foto- grafado negociavam a “imagem” a ser produzida. Desse modo, o estúdio do fotógrafo contava com uma série de objetos que pudessem caracteri- zar, representar, diferentes papéis sociais. A mise-en-scène, a encenação, para os retratos do século XIX variou ao longo do tempo. Cada década no período da carte-de-viste e, mais tarde, do cabinet-size teve seus acessó- rios especialmente característicos: Década de 1860: a balaustrada, a coluna e a cortina. Década de 1870: a ponte rústica e o degrau. Década de 1880: a rede, o balanço e o vagão. Década de 1890: palmeiras, cacatuas e bicicletas. Início do século XX: o automóvel. Desse modo, o fotógrafo do século XIX era capaz de produzir uma imagem, implantar uma memória de personagens vivos e mortos. Como a fotogra- fia era, todavia, uma prática muito recente, muitas pessoas não tinham retratos de seus familiares, e, para perpetuar uma lembrança, (...) solicitavam o trabalho de um fotógrafo que espe- rava a musculatura relaxar depois de horas e, assim, colocava o cadáver em posição normal, em uma mesa escrevendo ou outra situação, e aquela imagem per- petuava uma memória construída e cultuada de um morto vivo presente depois em um álbum de família. (TACCA, 2005, p. 10) Para manter o morto na pose negociada com os familiares, os fotógrafos desenvolveram uma série de artefatos para sustentar um corpo morto e, também, manter imóveis os corpos vivos, dada a exigência de exposições longas para impressionar a chapa no início dessa tecnologia. O fotógrafo Nadar realizou em Paris FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL o retrato póstumo de dom Pedro II, em 1891. Nadar utilizou uma câmara mortuária improvisada no hotel em que dom Pedro vivia para retratá-lo na pose com um livro na mão. Em termos estéticos, a carte-de-visite, o retrato fotográfico oitocentista, relaciona-se estreitamente com os princípios pictóricos e agrega à lingua- gem fotográfica as noções de cenário e pose. Disdéri publicou, em 1862, seu livro Estética da Fotografia no qual determinava os seis princípios bá- sicos de uma boa fotografia: 1. Fisionomia agradável. 2. Nitidez geral. 3. As sombras, os meios-tons e os claros bem pronunciados e brilhantes. 4. Proporções naturais. 5. Detalhes nos negros. 6. Beleza. Dominada a técnica do registro, a dimensão estética pas- sa a ser o ideal a ser conquistado por esses fotógrafos e a exigência do fotografado. Para o fotografado, a pose orna- mentada com acessórios, na maioria das vezes ausente de seu cotidiano, reveste-o dos emblemas de classe com a qual quer “se ver” reconhecido. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Aula: 22 Temática: O movimento do Pictorialismo Quando Daguerre apresentou na Academia de Ciências da França, em 1839, o procedimento que permitia “desenhar com a luz”, os pintores da época também buscavam plas- mar as variações da luz nas imagens que produziam. No campo das artes, a fotografia foi devedora da tradi- ção pictórica, primeira tentativa de sua consolidação como arte, com o trabalho dos pictorialistas, mas, ao mesmo tempo, permitiu, junto a vários outros fatores, um deslocamento da tradição do realismo por parte da pintura. Não é a toa que a famosa primeira ex- posição dos pintores impressionistas rejeitados pelo salão acadêmico de artes em Paris encontrou abrigo em um estúdio fotográfico, o atelier de Félix Nadar. (TACCA, 2005, p. 11) A pintura e a fotografia são duas linguagens visuais distintas, mas têm se influenciado mutuamente. Desde sua criação, nos meados do século XIX, a fotografia tem se relacionado estreitamente com a pintura, pois muitos dos primeiros fotógrafos também trabalhavam com a pintura e transporta- vam para outro meio o modelo pictórico da época. Santaella (1998) observa que a Semiótica, a ciência dos signos, habilita- nos a perceber as inter-influências e intercâmbios de recursos que um sistema de signos pode estabelecer com outros e que são chamados de processos intersemióticos. Nesse entendimento, torna-se perceptível por que e como uma linguagem pode fecundar a outra. Vamos tratar de perce- ber como a pintura pode fecundar a fotografia e vice-versa. A primeira evidência desse processo intersemiótico entre pintura e foto- grafia foi o movimento do pictorialismo. O pictorialismo manifestou-se na segunda metade do século XIX na Europa. Alguns fotógrafos trataram de disfarçar o processo técnico de produção da fotografia dando um acaba- mento pictórico a essas imagens. Utilizando bromóleo, goma arábica e, principalmente, tinta a óleo davam à fotografia um aspecto próximo às técnicas da pintura a óleo, aquarelas ou gravuras. Para Barthes (1984, p. 12), “o pictorialismo é apenas um exagero do que a Foto pensa de si mesma”. Alfred Stieglitz (1864-1946) liderou nos Estados Unidos esse movimento pelo reconhecimento da fotografia como prática FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�0 UNIMES VIRTUAL artística. Fundou o grupo Photo Secession, com a finalidade de fazer a fo- tografia evoluir para uma expressão pictórica, e organizou a exposição A fotografia pictórica americana. Editou a revista CameraWork, na que publi- cava trabalhos de fotógrafos como Clarence White (1871-1925), Gertrude Käsebier (1852-1934), Alvin Langdon Coburn (1882-1966), Edward Steichen (1879-1973), entre outros fotógrafos implicados no movimento pictorialista. Stieglitz justificava o uso de todos os recursos possíveis, tanto sobre o negativo quanto sobre o papel, para conseguir um fim determinado. Para- doxalmente, este fotógrafo não retocava seus clichês nem suas provas. Steiglitz também abriu uma galeria, a 291, freqüentada por fotógrafos e pintores europeus. No Brasil, a partir de 1880, foram encontrados registros de saraus literários realizados no Rio de Janeiro nos quais a fo- tografia era o tema da reunião. A Revista Kosmos, de 1904, foi uma das publicações importantes que agrupou os fotógrafos do Rio de Janeiro e publicou um conjunto de sua produção sob o título Photo-club Ex- posição 1904. Esse fato contribuiu para que surgisse a primeira publicação dedicada à prática fotográfica no Brasil, que foi a Revista Photographica. O fenômeno do associacionismo fotográfico configurou-se no Brasil com o pictorialismo entre a nascente classe média urbana no séculoXX. Em 1910, o Photo Club do Rio de Janeiro foi o primeiro, porém encerrou suas atividades logo depois. O Photo Club Brasileiro, fundado em 1923, foi du- rante as duas décadas seguintes, o espaço de discussão sobre a teoria e a prática fotográfica e, conseqüentemente, responsável pela divulgação das obras produzidas nesse período. Essa associação organizou os primeiros salões fotográficos do país e es- tabeleceu um intercâmbio com os foto clubes internacionais, o que permi- tia a divulgação de fotógrafos brasileiros em centros difusores da prática, como Paris, Nova York, Londres e Buenos Aires. O foto clube Bandeirante, de São Paulo, foi inaugurado em 1939. Apesar de iniciar sob os princí- pios do associacionismo, do pictorialismo, esse núcleo fotográfico será o responsável pelo trânsito desse movimento para a fotografia moderna no Brasil. Destacam-se os trabalhos de José Yalenti, Thomas Farkas (1924), Geraldo Barros (1923-1998) e German Lorca (1922). Se os fotógrafos buscaram uma aproximação da fotografia com a prática pictórica, os pintores, munidos com uma câmera fotográfica, também per- ceberam outra forma de olhar o entorno com o jogo de focar e desfocar os objetos, manipular planos por meio da abertura do diafragma, e trataram de transportar esses conceitos para o seu meio de expressão. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �1 UNIMES VIRTUAL A câmera fotográfica oferecia outros pontos de vista e uma percepção cambiante dos objetos. A lógica da perspectiva, utilizada pelos pintores ao longo de quatro séculos, começava a ser deslocada pela aparição de planos em um jogo de angulações quase impossíveis. Volumes e pers- pectivas, antes conseguidos pelo uso de luzes e sombras ou mediante a justaposição das breves e matizadas pinceladas impressionistas, desa- pareciam, dando lugar a planos únicos que só o cérebro humano poderia recompor e interpretar. A fotografia também influenciou os pintores da época que trataram de reelaborar as convenções nos modos de fazer e ler as interrogações sobre a linguagem utilizada. No Cubismo a figura desfazia-se em quase abstrações, coladas nas telas junto a peda- ços de jornal, rótulos de garrafas e bilhetes esquecidos para exprimir uma atitude perante a vida mediante a deformação deliberada dos objetos. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�2 UNIMES VIRTUAL Aula: 23 Temática: A fotografia moderna Na aula anterior apontamos o modo como alguns fotógrafos buscaram o reconhecimento artístico da fotografia tentando aproximar essa técnica da pintura. Nesta aula, vamos apre- sentar alguns fotógrafos que trabalharam as questões estéticas funda- mentando-se nos recursos expressivos que a prática fotográfica oferecia, configurando a Fotografia Moderna. No início do século XX, três artistas destacaram-se nessa busca: Christian Schad (1894-1982), Man Ray (1890-1976) e László Moholy-Nagy (1895- 1946). A radicalização das pesquisas e o gosto pelas imagens técnicas levaram esses artistas a utilizarem o fotograma, uma técnica que circula na fronteira entre a fotografia e as artes plásticas. Chamados de impressões ou imagens fotogramáticas, por Dubois (1994) e Schaeffer (1996) os fotogramas são, numa definição genérica, imagens reali- zadas sem a utilização da câmera fotográfica, por contato direto de um obje- to ou material com uma superfície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Geralmente atribui-se a “invenção” do fotograma a William Henry Fox Talbot, quando começou a realizar, em 1834, os photogenic drawing. Estes “desenhos fotogênicos” eram imagens negativas de folhas de árvores e plantas feitas para os botânicos, pois a nova técnica ainda estava muito ligada às pesquisas científicas, especialmente as relacionadas à botânica. (MONFORTE, 1997) Christian Schad, artista suíço ligado aos grupos dadaístas, foi um dos pri- meiros artistas modernos a utilizar os fotogramas. A execução dos foto- gramas é “automática”, pois não requer câmera fotográfica para a sua realização - apenas uma fonte qualquer de luz sobre formas e objetos. A sua realização é instantânea e cada fotograma é único, pois é impresso diretamente em papel fotográfico, não possuindo por isso película negati- va. Em 1918, Schad realizou uma série de fotogramas. Essa série chegou às mãos de Tristan Tzara (1896-1963) para ser publicada na revista Dada. Tzara batizou essa técnica de “schadografias”, em referência a Schad. Man Ray foi outro artista múltiplo que iniciou suas experiências fotográfi- cas em 1915 a partir do contato com a vanguarda de Nova York, o grupo Photo Secession e a galeria 2�1. Man Ray manipulava a luz criadora dos seus fotogramas a partir da intensidade, da direção e da duração. A mani- pulação da luz produz formas inesperadas, inclusive com efeitos inéditos FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �3 UNIMES VIRTUAL de volume e densidade. Os fotogramas de Man Ray produzem a impres- são de tridimensionalidade. Por esse motivo Tristan Tzara considerou os fotogramas de Ray mais dadaístas que os de Christian Schad, e foram intitulados “rayogramas”. As experimentações de Ray não se detiveram apenas aos seus “rayogramas”. Em sua primeira exposição em Paris, em 1921, Ray fotografou as obras expostas e depois uti- lizou as fotografias num contexto diferente. Vale lembrar que, nesse mo- mento, Ray mantinha estreita amizade com Marcel Duchamp. Nessas experimentações, Man Ray transformava a fotografia de um objeto em objeto mesmo, substituindo a presença pela representação. É o caso de um fotograma incluído no portfólio Les champs delicieux, criado a partir do objeto Compass, de 1920. Les champs délicieux foi a primeira publicação consistente dos fotogramas de Man Ray, em dezembro de 1922, e teve grande repercussão. Outro trabalho importante de Ray foi Eletricité, no qual usou fotografias e fotogramas de objetos elétricos, como ferro, venti- lador, forno e lâmpadas. Man Ray também desenvolveu um grande trabalho de laboratório, aprofun- dando e desenvolvendo técnicas fotográficas como a solarização, efeito Sa- batier e exposição múltipla. Seu trabalho causava sensação pelo modo como usava a luz em contrastes bem definidos e poses informais em um momento em que o estilo pictórico ainda predominava dentro da fotografia européia. László Moholy-Nagy, pintor, escultor e fotógrafo, foi uma espécie de artista multimídia da década de 1920. As pesquisas de Moholy-Nagy foram diferen- tes de Man Ray. Para Moholy-Nagy, as composições fotogramáticas serviam a uma reflexão sobre a ação da luz. Cada efeito alcançado corresponderia a um cálculo preciso para obter determinadas tonalidades entre o branco e o preto. Para este artista, o fotograma era a própria essência da fotografia, uma “escritura luminosa” que resultava numa utilização mais completa do aparelho fotográfico e da própria pintura. (FREUND, 1986, p. 173) Brea (2002) observa que uma prática artística não nasce pela mera exigência de uma novidade técnica, nem sequer pelo descobrimento de um vocabulário formal sobre ela, mas sim quando começa o seu exercício de autocrítica imanente. Para esse autor a inscrição social de uma prática acontece quando esta já co- meçou a desenvolver sua linguagem, seus dispositivos de reconhecimento e, sobretudo, começou a questionar-se criticamente, explorar, demarcar e transgredir seus próprios limites lingüísticos e formais, sua própria especi- ficidade e sua própria forma de socialização efetiva. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: A fotografia documentária Desde a sua conquista, a imagem fotográfica desempenha um papel importante na transmissão, conservação e visu- alização das atividades políticas, sociais, científicas e cul- turais da humanidade, de tal forma que tem sido identificada como um documento social. Em princípio, qualquer fotografia pode ser considerada um documento de sua época, mas nem toda fotografiapossui um caráter documentário, pois esse caráter depende da sua mensagem. O modo predominante da relação imagem/mundo da fotografia documen- tária é o modo epistêmico, pois a ênfase dada pelo produtor da imagem é o de conhecer o mundo. Alguns autores apresentam uma classificação da fotografia documentária. Nesse sentido, Lima (1988) aponta para a foto- grafia científica como sendo a preocupação documental com flora, fauna, condições climáticas e a fotografia social, ou seja, que focaliza o aspecto humano e social. Este autor compreende a fotografia social como aquela que pretende produzir uma imagem deliberadamente crítica que a socieda- de oferece a si mesma sobre seus próprios assuntos. A fotografia social tem por objetivo registrar algo importante sobre o mun- do ou a sociedade e propor uma reflexão sobre essa sociedade sob deter- minado ponto de vista. A fotografia social nos ajuda a perceber a “desuma- nidade” do mundo por meio do seu conteúdo humano. Paradoxalmente, é a suposta “objetividade” da câmera fotográfica, a confiança que transmite essa tecnologia visual como reflexo da realidade, que outorga à fotografia social sua maior força psicológica. A fotografia social descreve o cotidiano por meio da imagem, e o fotógrafo comenta esse mundo que o rodeia. Esse “comentário” é pessoal e caracte- riza o fotógrafo que expressa sua “visão” pelo modo como aborda o tema, o enquadramento que faz, os ângulos que toma, a escolha pelo preto e branco ou a cor. O primeiro atributo da fotografia social é a sua capacidade para transmi- tir a “verdade do mundo” e o segundo sua capacidade para comunicar a percepção do fotógrafo sobre essa verdade. Lembrando que o modo de relação da imagem/mundo é multimodal, Kossoy (1991) indica que a “ba- gagem cultural, ideológica” do fotógrafo, interfere na estética da imagem que produz. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Newhall (1983) também percebe o caráter multimodal das imagens indicando que apesar do fotógrafo com preocupações de documen- tar o social não seja um mero reprodutor, nem um artista com propósitos artísticos, suas reportagens são, sempre, tecnicamente e altamente artísticos. Isso ocorre porque as imagens documentárias unem imaginação e arte quando o fazem com sentimento. (NEWHALL,1983, p. 5) Lemagny e Rouillé (1988, p. 255) observam que a fotografia social e a artística se entrelaçam à medida que a imagem fotográfica deixa de ser considerada uma cópia da realidade para ser compreendida como uma metáfora da realidade. Podemos identificar algumas vertentes na fotogra- fia social, como o interesse antropológico e folclórico de produzir uma do- cumentação fotográfica sistemática de determinadas condições sociais de vida antes que estas possam extinguir-se. Na vertente antropológica e folclórica da fotografia social, a pretensão política, a intenção de interferir na realidade, costuma estar ausente da imagem. Esse tipo de fotografia ganha valor com o passar do tempo por testemunhar as características de um ambiente em um determinado momento. É um estilo fotográfico que capta o presente pensando no futuro. Dentre os pioneiros desta ver- tente, destacam-se: John Thomson (1837-1921), que se preocupava com populações e lugares exóticos; Jean Eugène August Atget (1856-1927), preocupado com a crônica social urbana, o espaço público, também no apagar das luzes da Paris oitocentista. Uma segunda vertente da fotografia social enfatiza o aspecto político e so- cial da imagem. Essa vertente ganhou espaço nos meios de comunicação, com a pretensão de captar, com naturalidade, as condições de vida das pessoas. Nessa tendência, a herança estética do século XIX, o posar de modo rígido e estereotipado, foi transformando-se em imagens espontâne- as, francas, fazendo uso da iluminação natural do ambiente. Kossoy (1991) observa que, para compreendermos as mudanças estéticas na fotografia documentária social, como a idéia de “flagrante” (surpresa) e “instante de- cisivo” é necessário não perder de vista o aperfeiçoamento das câmeras fotográficas e o empenho em trazer para a fotografia um debate estético específico do seu fazer técnico. Dentre os pioneiros dessa vertente destacam-se Jacob August Riis e Lewis Wickes Hine nos Estados Unidos. Jacob August Riis (Dinamarca, 1849- Estados Unidos, 1914), era repórter policial do New York Herald Tribune, o FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL que o levou a introduzir-se nos bairros mais pobres de Nova York, no final do século XIX. Por sua condição de emigrante, Riis solidarizou-se com a dor e agonia dos moradores do Lower East Side, de Nova York, na época um dos bairros mais periféricos e abandonados da cidade. Sua obra, publicada em formato livro, sob o título How the Other Half Lives: Studies Among the Tenements of New York, tornou-se um marco para a fotografia social. Lewis Wickers Hine (Wisconsin, 1874 - Nova York, 1940) estudou Sociologia na Universidade de Chicago e encontrou na câmera fotográfica um instrumento para as suas inves- tigações. Hine é um dos precursores a defender a fotografia como instru- mento para o conhecimento do mundo. Apesar da preocupação social, Hine enfatizava o aspecto estético das imagens, afirmando que uma boa fotografia é sempre uma questão de Arte. Hine documentou a chegada dos emigrantes, em Ellis Island, Nova York, e suas condições de vida em moradias insalubres. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: A fotografia documentária social entre guerras Na aula 19 destacamos que os primeiros fotógrafos que produziam imagens para os meios de comunicação no sé- culo XIX não reconheciam a autoria de suas imagens e eram desconsiderados pelos editores da imprensa. O uso cotidiano da fotografia pela imprensa só iria amadurecer nas primeiras décadas do século XX. O aperfeiçoamento de técnicas de impressão de imagens fotográficas, o desenvolvimento de novas câmeras e filmes fotográficos aliados ao surgi- mento de um público ávido para ver fotografias de outros povos e lugares, além de personagens ricos e poderosos, produziram a base para uma outra condição da fotografia, e dos fotógrafos, na imprensa. Um dos centros difusores dessa transformação da fotografia para a im- prensa foi a Alemanha. Desde 1918, a Alemanha experimentava a liber- dade e a efervescência política e cultural proporcionada pelo instável go- verno social-democrata da República de Weimar. Nos quinze anos em que durou a primeira experiência republicana dos alemães, surgiu um grupo de criadores ímpar, apesar do caos econômico e da hiperinflação vividos naquele período histórico (FREUND, 1995). As Revistas Ilustradas alemãs buscavam profissionais de talento na lite- ratura e na fotografia e foram as responsáveis por um período fértil da fotografia de imprensa e de sua fórmula moderna. Essas revistas, que “ex- plicavam” lugares e povos distantes com muitas imagens e pouco texto, passaram a ser modelo para as revistas ilustradas de todo o mundo oci- dental (FREUND, 1995). Ao contrário da geração que os antecedeu, os fotógrafos que agora de- dicavam-se aos meios de comunicação passaram a assinar suas produ- ções, e alguns também faziam questão de se encarregar, eles próprios, de escrever os textos e as legendas de suas reportagens. Destacamos, na aula 24 desta Unidade, o trabalho de Jacob Riis (1849-1914) e Lewis Hine (1879-1940) como pioneiro da Fotografia de caráter social nos Estados Unidos. Além do trabalho de Riis e Hine, outros fatores que impulsionaram a fotografia social na América do Norte foram a grande depressão econô- mica ocasionada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, e o surgimento das revistas ilustradas Life e Look. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I�� UNIMES VIRTUAL O Departamento de Estado norte-americano, Farm Security Administration (FSA),pretendia documentar os efeitos da depressão econômica no meio rural do país e encomendou essa tarefa aos fotógrafos Arthur Rothstein (1915-1985), Theodor Jung (1906-1996), Ben Shahn (1898-1969), Walker Evans (1903-1975), Dorothea Lange (1895-1965), Carl Mydans (1907), Russell Lee (1903-1986), Marion Post Wolcott (1910-1990), Jack Delano (1914-1997), John Vachon (1914-1975) e John Collier Jr (1913-1992). O conjunto dessa obra de grande impacto estético abriga cerca de 270 mil imagens catalogadas nos arquivos da Biblioteca do Congresso dos Esta- dos Unidos, em Washington. Muitos dos fotógrafos e editores da Revistas Ilustradas alemãs, que impulsionaram o desenvolvimento da forma moderna de se usar a fotografia na imprensa em todo o mundo, tiveram de fugir da Alemanha a partir de 1933, quando Adolf Hitler assumiu o poder. Editores e fotógrafos foram perseguidos, presos e até mortos nas câmeras de gás dos campos de concentração, como Erich Salomon (1886-1944). Outros emigraram para Paris, Inglaterra ou Américas do Norte e Sul. Dentre os fotógrafos que se dedicaram à fotografia social nesse período incluímos os nomes de André Kertész (1894-1985), Paul Strand (1890- 1976), Henri Cartier-Bresson (1908-2004), Eugene Smith (1918-1978), Alfred Eisenstaedt (1898-1995), Robert Capa (1913-1954), Umbo (Otto Umbehr, 1902-1980), Félix H. Man (nome pelo qual Hans Baumann, 1893- 1985, gostava de assinar suas fotos), Walter Bosshard (1892-1975), Kurt Hübschmann (1893-1960, que adotou o nome K. Hutton, na Inglaterra), Martin Munkacsi (1896-1963), Wolfgang Weber (1944). As imagens des- ses fotógrafos possuem um grande apelo estético. Frente ao insolúvel dilema entre Arte e Política, esses fotógrafos posicio- naram-se pela humanidade em um momento histórico hostil ao desenvol- vimento dos valores humanos. Comentavam, com suas imagens, os even- tos que os chocavam. Desse modo, agiam sobre o mundo com o seu saber sobre o mundo. Ao fazerem parte do mundo, tomavam partido do mesmo. Esses fotógrafos não estavam ausentes do debate estético do período. O discurso sobre a Arte socialmente útil servia, naquele momento, tanto às forças progressistas quanto às reacionárias. Para os condutores dos regimes autoritários, a prática artística deveria potenciar a alma coletiva mediante a exaltação da virtude cívica. Para as forças progressistas, o caráter social da Arte emanava da própria humanidade. Os fotógrafos que se dedicaram à fotografia social estavam vinculados ao debate cultural do período em que atuaram. Esses fotógrafos não evadiram dos problemas FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I �� UNIMES VIRTUAL do seu momento histórico, comprometidos com a condição humana, po- rém distantes dos aspectos de manipulação das imagens explorados pe- los diferentes regimes totalitários, como apontamos na aula 9 da primeira Unidade. Vale lembrar que na década de 1940 também florescia o movimento de Educação Através da Arte. Este movimento, que se espalhou rapidamente pela Europa e pela América, pretendia recuperar um modelo mais livre de educação, assim como da própria convivência humana. Empenhava-se em demonstrar que a Arte estava ideologicamente comprometida com o esforço de preservação da liberdade e da democracia, da verdadeira liberdade, que permitia a auto- expressão artística. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I100 UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: Fotografia documentária social do pós-guerra No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, a Fo- tografia Documentária Social viu-se duplamente reforçada com a criação de várias agências fotográficas especializa- das na fotografia de autor. Nesse momento, o centro difusor de imagens era Paris, sede de muitas Agências Fotográficas. A mais influente delas foi a Magnum, criada em 1947 por um grupo de fotógrafos liderados por Henri Cartier-Bresson e Robert Capa. Liberdade para escolher os temas e uma rígida política sobre direitos autorais, além de publicar as fotos sem cortes e apenas com a legenda original feita pelo próprio autor, era uma obrigação prevista em cláusula do contrato da Magnum com os veículos de comunicação que abriram novas perspectivas para o trabalho de fotó- grafos independentes no mundo todo. O documentário é um enfoque, e não uma técnica; é uma afirmação e não uma negação. A atitude do- cumentária não rejeita os elementos plásticos, que devem seguir sendo critérios essenciais em toda a obra. Somente dá a esses elementos sua limitação e sua direção. Assim, a composição se transforma em uma ênfase, e a precisão da linha, do foco, o filtro, a atmosfera, todos esses componentes que se incluem na sonhada penumbra da qualidade, são postos a ser- viço de um fim: falar, com tanta eloqüência como seja possível, daquilo que deve ser dito na linguagem das imagens. (NEWHALL, 1983, p. 245) Como aponta Newhall (1983) na citação anterior, os fotógrafos buscavam “falar daquilo que deve ser dito na linguagem das imagens”. Sem dúvida, a noção sobre “o que deve ser dito” relaciona-se diretamente com a épo- ca e a visão de cada fotógrafo. A continuidade das atrocidades humanas em uma Guerra interminável em diferentes pontos do planeta, levou os fotógrafos da temática social a adotarem outro ponto de vista no final da década de 1950, menos otimista em relação à humanidade. A publicação do livro Os americanos, de Robert Franck (1924), em 1958, marca o olhar para o mundo interior da hu- manidade e seus problemas existenciais. Nesse momento, comunicar a realidade psicológica passou a ser mais importante que trans- FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 101 UNIMES VIRTUAL mitir a realidade social. As emoções do fotógrafo, sua própria experiência, passaram a ser tão valorizadas como sua visão de mundo. Nesse mo- mento, destacam-se os trabalhos de Robert Frank, Lee Friedlander(1934), Garry Winogrand (1928-1984) e Diane Arbus (1923-1971). Nas décadas de 1960 e 1970, com a explosão dos sistemas audiovisuais, as revistas ilustradas perderam espaço para a televisão que ganhava prioridade na cobertura de notícias. No debate estético daquele momento o que era importante saber era se os novos meios técnicos possibilitariam uma nova revolução cultural. Na época, as opiniões polarizavam-se em torno de posições apologéticas, que pressupunham uma democratização da produção cultural com a generali- zação dos meios de comunicação e posições de resistência que se viam acossadas pelo colapso das formas tradicionais de cultura. Na simplificação das análises das possibilidades que as imagens técni- cas propiciavam, chegava-se a afirmar que a evolução técnica reduziria progressivamente o campo da criatividade estética e que a liberdade de criação estaria submetida ao arbítrio da máquina e dos seus construtores. Naquele momento, nenhuma das posições considerava que o que mudava era o tipo de aptidão necessário para criar a partir de máquinas de produ- ção simbólica nem que a questão principal não se restringia à maior ou menor liberdade e criatividade do artista, mas se este seria capaz de dis- cutir a liberdade e a criatividade em uma sociedade cada vez mais imersa nas redes de telecomunicações e muito mais determinada pelas repre- sentações que é capaz de fazer de si mesma através da indústria cultural (MACHADO,1993) Dentre os fotógrafos das décadas de 1960 e 1970, destaca-se o trabalho de Tom Zimmerman e Arthur Freed, que trataram de plasmar as relações interpessoais da vida privada em suas imagens, tema também explorado utilizado por Jacques Henri Lartigue (1894-1986). Outros nomes importan- tes do período são Marc Riboud (1923), Larry Burrows (1926-1971) e Phi- lip Jones Griffiths (1936), com seus registros sobre a guerra do Vietnam. A fotografia documentária social contemporânea ganhou um novo impulso no final do século XX, com a Guerra do Golfo de 1991, quando se colocou, uma vez mais, a questão sobre o“direito de ver” da cidadania. A associação dos Repórteres Sem Fronteira (RSF) deu um novo impulso à fotografia documentária. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I102 UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: A fotografia documentária no Brasil Com as aulas anteriores, foi possível perceber a trajetória da Fotografia Documentária Social no século XX. Nesta aula focalizaremos os caminhos que essa modalidade fotográfica tem tomado no Brasil. A fotografia no Brasil do século XX apresenta uma grande variedade de te- mas e conceitos que configuram uma produção complexa. Costa e Rodri- gues (1995) observam que a produção fotográfica predominante no Brasil tem sido a fotografia para a Imprensa, que atua como uma espécie de guia da produção fotográfica no país. O início da década de 1920 trouxe consigo a exigência de “modernização”, tanto nas Artes quanto na Política. A República não havia realizado o ideal de uma sociedade nova para os brasileiros. Em São Paulo, reagia-se contra o mau gosto e a má política, contra um País exportador de matérias-primas e importador de “ismos” passadistas, em palavras de Mário de Andrade (1893-1945). Era necessário elaborar-se uma nova estética e novas estra- tégias políticas adequadas à vida moderna de uma cidade que se queria alimentada pela eletricidade, pela velocidade do automóvel e pelo glamour do cinema. Paradoxalmente, a fotografia está ausente das manifestações artísticas da Semana de Arte Moderna de 1922. Na aula 25 desta Unidade comentamos que editores e fotógrafos alemães que modernizaram a fotografia da imprensa emigraram para outros países para fugir do nazi-fascismo. Alguns deles chegaram ao Brasil como Alice Brill (Colônia, Alemanha, 1920), Hildegard Rosenthal (Frankfurt, Alemanha, 1913 – São Paulo, 1990), Madalena Schwartz (Budapest, Hungria, 1921 – São Paulo, 1993) e Hans Günther Flieg (1923). Outros fotógrafos estran- geiros, como os franceses Pierre Verger (1902-1996) e Marcel Gautherot (Paris, França, 1910 - Rio de Janeiro, 1996) visitaram o Brasil a trabalho e decidiram fixar residência no país. Boni (1994, p. 10) observa que para os fotógrafos estrangeiros que chega- vam ao nosso país com interesse em expandir os limites da profissão, en- contravam-se com escassos exemplos que pudessem servir de inspiração e, até mesmo, de aprendizagem. É bem provável que esse encontro de es- trangeiros perseguidos por questões étnicas, com a diversidade étnica do Brasil, fizesse florescer um dos temas marcantes da fotografia no Brasil, o FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 103 UNIMES VIRTUAL das relações étnicas de integração e conflito. O discurso fotográfico étnico do índio e do negro é bastante significativo na produção desse período e destaca-se em Pierre Verger, José Medeiros (1921-1990), Januário Garcia e Jesco von Puttkamer. Na década de 1950, com a promessa do desenvolvimento de “50 anos em 5”, a indústria brasileira soltou suas amarras e surgiram as revistas ilustradas O Cruzeiro e Manchete. Essas publicações liberaram a fotografia de imprensa do perfil retratista, dominante até então nas revistas brasileiras. As revis- tas especializadas em fotografia, como a Íris (1947) e Novidades Fotóptica (1953), também abriram espaço para a circulação das imagens técnicas. A década de 1960 é a década do reconhecimento da foto- grafia como prática artística. A Bienal Internacional de São Paulo aceita a fotografia em sua oitava edição. Surgiram os departamentos de fotografia dos Museus que promoveram maior número de exposições e atividades relacionadas à produção e interpretação da fotografia. Se por um lado a fotografia passava a possuir seu status de prática ar- tística reconhecida, o regime militar que se instalou no país entre 1964 e 1986 cerceou a expressão dos artistas de um modo geral. Fotógrafos, como Francisco Albuquerque (1917-2000), Otto Stupakoff (1935), Lenita y Olivier Perroy, Cláudia Andujar (1931), Maureen Bisilliat (1931) e Antônio Carlos Rodrigues (1944), são alguns dos que resistiram a esse período. Os gritantes contrastes sociais do Brasil, em um período ainda marca- do pela repressão do regime militar, emergem no trabalho de Miguel Rio Branco (1946) e Sebastião Salgado (1944), que ganha projeção interna- cional. Produzindo imagens de caráter mais lírico, Anna Mariani fotografou o modo de viver das gentes do Recôncavo Baiano. Parte da obra de Anna Mariani (1935) foi publicada, em formato livro, sob o titulo Pinturas e Platimbandas. Em seus dois anos de existência, entre 1973 e 1975, o Photogaleria, se- diado no Rio de Janeiro, propunha um movimento de caráter nacional que tentava reunir, em forma de cooperativa, fotógrafos profissionais e amadores, para apresentarem sua produção. A finalidade do Photogaleria era que a prática fotográfica conseguisse sobreviver de forma autônoma, sem o subsídio de instituições governamentais e museísticas. Apesar de a fotografia social ser predominante no período, também encontramos fo- tógrafos que buscavam um caráter mais poético em retratos e paisagens, como Dulce Carneiro e Mario Cravo Neto (1947). FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I10� UNIMES VIRTUAL A década de 1980 iniciou com a I Trienal de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), que agrupou mais de 71 participantes e premiou a obra do fotógrafo Miguel Rio Branco. Com o fim do regime mili- tar, a fotografia também encontra espaço para crítica social, nas imagens de Luis Humberto (1934), João Bittar e Helio Campos Mello. Bardi (1980) referiu-se à sociofotografia para classificar as imagens que registram as transformações da vida dos brasileiros, e aponta para o trabalho de Ste- fania Bril (1920), Boris Kossoy (1941), Cristiano Mascaro (1944), Antonio Sagesse, Pedro Martinelli, Claudio Kubrusly. Para Bardi (1980), a fotografia documentária é um trabalho interdisciplinar no qual se cruzam áreas do conhecimento, como sociologia, etnologia, antropologia e psicologia, per- passadas pelos princípios estéticos da prática artística. Na década de 1990, a temática social passou a abarcar a questão do meio ambiente por meio das imagens de Pedro Martinelli, Elza Lima (1952), Rosa Gauditano, Paula Sampaio (1965), Cláudia Leão, Odires Mlászho, Paulo D’Alessandro e Sinvall Garcia. O aniversário do quinto centenário do início da colonização portuguesa no país trouxe à tona a questão da identidade. Projetos fotográficos, como o Brasil 500 anos, organizado por Orlando Azevedo e Fabiano Camargo recorreram o território nacional para traçar o perfil da gente brasileira. O Cariri, um grupo de fotógrafos do Ceará, desenvolveu o projeto Intermagens 96, que distribuía entre os trabalhadores câmeras fotográficas para documentar o ambiente social a partir da própria “visão” dos trabalhadores. Esse projeto procurava dar visibilidade a essa população e o reconhecimento de suas condições de vida. O projeto O Homem e a Terra, de Lalo de Almeida, documentou a co- munidade negra de Barra, na Bahia, que conserva tradições ancestrais. A identidade também é o tema de Tiago Santana e Celso Oliveira, no projeto Quem somos nós? com a finalidade de descobrir as diferenças e singulari- dades da gente nordestina. De cunho mais urbano, os projetos de Guilherme Werle re- gistram os personagens da cidade de Porto Alegre; Ed Vig- giani focaliza os sem-teto da cidade de São Paulo; Fabiana Figueiredo registra personagens da noite paulistana. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 10� UNIMES VIRTUAL Resumo - Unidade III A partir da década de 1870, as fotografias começam a ser impressas diretamente no papel graças à técnica de auto- tipia, mais conhecida no Brasil como técnica de retícula de meio-tom. Paralelo à técnica da autotipia, em 1888, o norte-americano George Eastman lançava no mercado a primeira câmera fotográfica que já saía de fábrica carregada com um filme para 100 fotos, cujo processamen- to sedava no laboratório da empresa, conhecida atualmente como Kodak. A partir do momento em que a fotografia passa a vincular-se aos meios de comunicação com o desenvolvimento das técnicas de impressão gráfica, a imagem publicada ganha um co-autor. A co-autoria das imagens publi- cadas nos meios de comunicação recai sobre a figura do editor das ima- gens. O editor das imagens escolhe a fotografia que, de acordo com a sua visão, tenha maior relação com o texto, ou seja, com a informação. Esse trabalho de pós-produção da fotografia pode alterar a imagem, através de recortes, por exemplo, excluindo personagens originalmente presentes no “ato fotográfico” que desaparecem para reforçar o discurso do meio de comunicação e não, necessariamente, do fotógrafo. Apesar de desconsiderada na imprensa da época, a fotografia do século XIX ganhou espaço na representação da família burguesa. A prática do retrato familiar, restrita às famílias de poder aquisitivo suficiente para o pagamento de desenhistas e pintores, popularizou-se com a fotografia. O formato carte-de-visite, o retrato fotográfico oitocentista desenvolvido pelo fotógrafo francês Eugène Disdéri, tornou-se ideal para a prática do Álbum de Família. A fotografia no Brasil colaborou para a construção da auto-imagem do Imperador Dom Pedro II como defensor das Artes e da Ciência, um monar- ca esclarecido, empenhado no avanço científico e as conquistas técnicas modernas, como a própria fotografia, o telégrafo e a ferrovia. O centro da fotografia no Brasil do século XIX foi a cidade do Rio de Janeiro. A prática fotográfica dessa época está marcada pela produção de paisagens natu- rais e urbanas. Muitos fotógrafos estrangeiros visitaram e viveram algum tempo no país em busca de imagens exóticas, o que explica o fato de retratarem paisagens e personagens típicos da região, sobretudo índios e escravos. Apesar de o Rio de Janeiro ser o foco principal da Fotografia no século XIX, São Paulo também atraiu fotógrafos e contou com a produção ímpar do fotógrafo brasileiro Militão Augusto de Azevedo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I10� UNIMES VIRTUAL A pintura e a fotografia são duas linguagens visuais distin- tas, mas têm se influenciado mutuamente. Desde sua cria- ção, nos meados do século XIX, a fotografia tem se relacio- nado estreitamente com a pintura, pois muitos dos primeiros fotógrafos também trabalhavam com a pintura e transportavam para o outro meio o modelo pictórico da época. A primeira evidência desse processo interse- miótico entre pintura e fotografia foi o movimento do pictorialismo, que se manifestou na segunda metade do século XIX na Europa. Alguns fotógra- fos trataram de disfarçar o processo técnico de produção da fotografia, dando um acabamento pictórico a essas imagens. Utilizando bromóleo, goma arábica e principalmente tinta a óleo davam à fotografia um aspecto próximo às técnicas da pintura a óleo, aquarelas ou gravuras. No Brasil, a partir de 1880, encontram-se registros de saraus literários realizados no Rio de Janeiro nos quais a fotografia era o tema da reunião, porém o fenômeno do associacionismo fotográfico configurou-se no Brasil, com o pictorialismo, entre a nascente classe média urbana somente nas primei- ras décadas do século XX. No século XX, alguns fotógrafos trabalharam as questões estéticas fun- damentando-se nos recursos expressivos que a prática fotográfica ofere- cia, configurando a fotografia moderna. Christian Schad, Man Ray e László Moholy-Nagy são os fotógrafos que impulsionaram a fotografia moderna e utilizaram os fotogramas. Fotogramas são imagens realizadas sem a utili- zação da câmera fotográfica, por contato direto de um objeto ou material com uma superfície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Atribui-se a “invenção” do fotograma a William Henry Fox Talbot, quando começou a realizar, em 1834, os photogenic drawing, imagens negativas de folhas de árvores e plantas feitas para os botânicos. Uma prática artística não nasce pela mera exigência de uma novidade téc- nica, nem sequer pelo descobrimento de um vocabulário formal sobre ela, mas sim quando começa o seu exercício de autocrítica imanente. A inscri- ção social de uma prática acontece quando esta já começou a desenvolver sua linguagem, seus dispositivos de reconhecimento e, sobretudo, come- çou a questionar-se criticamente, a explorar, demarcar e transgredir seus próprios limites formais, sua própria especificidade e sua própria forma de socialização efetiva. No Brasil, os nomes de José Yalenti, Thomas Farkas, Geraldo Barros e German Lorca estão ligados à fotografia moderna. A imagem fotográfica desempenha um papel importante na transmissão, conservação e visualização das atividades políticas, sociais, científicas e culturais da humanidade, de tal forma que tem sido identificada como um documento social. Em princípio, qualquer fotografia pode ser considerada um documento de sua época, mas nem toda fotografia possui um caráter documentário, pois esse caráter depende da sua mensagem. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 10� UNIMES VIRTUAL O modo predominante da relação imagem/mundo da fotografia documen- tária é o modo epistêmico, pois a ênfase dada pelo produtor da imagem é o de conhecer o mundo. Fotografia científica: preocupação documental com a flora, fauna, condições climáticas. Fotografia social: focaliza o aspecto humano e social, aquela que pretende produzir uma imagem deliberada- mente crítica que a sociedade oferece a si mesma sobre seus próprios assuntos. A fotografia social nos ajuda a perceber a “desumanidade” do mundo por meio do seu conteúdo humano. Paradoxal- mente, é a suposta “objetividade” da câmera fotográfica, a confiança que transmite essa tecnologia visual como reflexo da realidade, que outorga à fotografia social sua maior força psicológica. Vertentes diferentes na fotografia social: o interesse antropológico e fol- clórico de produzir uma documentação fotográfica sistemática de deter- minadas condições sociais de vida antes que estas possam extinguir-se, como nos trabalhos de John Thomson, Jaques-Henri Lartigue, Jean Eugène August Atget. A vertente política da fotografia social enfatiza o aspecto po- lítico e social. Essa vertente ganhou espaço nos meios de comunicação, no século XX, com a pretensão de captar, com naturalidade, as condições de vida das pessoas, como nos trabalhos de André Kertész, Paul Strand, Henri Cartier-Bresson, Eugene Smith, Alfred Eisenstaedt, Robert Capa, Umbo, Fé- lix H. Man (nome pelo qual Hans Baumann gostava de assinar suas fotos), Walter Bosshard, Kurt Hübschmann (que adotou o nome K. Hutton na In- glaterra), Martin Munkacsi, Neudin, Wolfgang Weber. No Brasil destacam- se os trabalhos de Pierre Verger, José Medeiros, Januário Garcia, Cláudia Andujar, Miguel Rio Branco, Sebastião Salgado, Pedro Martinelli, Elza Lima, Rosa Gauditano. Referências Bibliográficas BARDI, Pietro Maria. Em torno da fotografia no Brasil. Banco Sudameris de Brasil, São Paulo, 1987. BARTHES, R. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BONI, J. Verdes Lentes. São Paulo: Empresa das Artes, 1994. BREA, J. L. La era postmedia. Salamanca: Consorico Salamanca, 2002. CHIARELLI, Tadeu. Arte Internacional Brasileira. Fotografia no Brasil: anos 90. São Paulo: MASP, 2002. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I10� UNIMES VIRTUAL COSTA, H.; RODRIGUES, R. A Fotografia Moderna no Brasil. Rio de Ja- neiro: UFRJ/Funarte,1995. DUBOIS, P. 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Foi uma técnica utilizada por Christian Schad, Man Ray e László Moholy Nagy. Todas as alternativas são verdadeiras. 3) Dentre as alternativas a seguir, assinale a alternativa incorreta: O uso da fotografia social na segunda metade do século XIX foi explorado em sua verten- te antropológica e folclórica. O uso da fotografia pelos meios de comunicação na segunda metade do século XIX foi muito cobiçado, disputando a contratação de fotógrafos pelo seu talento reconhecido e qualidade das imagens. O uso da fotografia na segunda metade do século XIX caracteriza-se pela popularização no âmbito privado e pela elaboração da crônica familiar. O uso da fotografia artística na segunda metade do século XIX caracteriza-se por disfarçar o processo técnico da imagem, dando um acabamento pictórico à mesma. 4) Dentre os artistas mencionados a seguir, qual deles não está associado à Fotografia Moderna? Christian Schad Man Ray László Moholy-Nagy Militão Augusto de Azevedo a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I110 UNIMES VIRTUAL �) Dentre as alternativas a seguir, assinale a alternativa incorreta: A produção fotográfica na segunda metade do século XIX no Brasil colaborou para a cons- trução da imagem do Imperador Dom Pedro II como defensor das Artes e da Ciência. Os fotógrafos brasileiros da segunda metade do século XIX reuniam-se em torno de mui- tas associações que defendiam o reconhecimento da fotografia como prática artística. A prática fotográfica no Brasil do século XIX está marcada pela produção de paisagens naturais e urbanas. O Brasil recebeu muitos fotógrafos estrangeiros na segunda metade do século XIX em busca de imagens exóticas. a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 111 UNIMES VIRTUAL Unidade IV A produção videográfica no século XX Objetivos Abordar questões da estética, significação e representação social do vídeo no século XX. Apresentar o trabalho dos principais videoartistas que contribuíram para o desenvolvimento da expressão videográfica em interações com as ações performáticas, artes de instalação e música. Plano de Estudo Esta unidade conta com as seguintes aulas: Aula: 2� - A imagem videográfica e a configuração da videoarte Aula: 2� - A videoarte e as ações performáticas Aula: 30 - A videoinstalação Aula: 31 - O videoclipe Aula: 32 - Videoarte: narrativas pessoais FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I112 UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: A imagem videográfica e a configuração da videoarte Apesar de a imagem televisiva penetrar diariamente em grande parte dos lares das classes abastadas da década de 1960, a noção de Arte ainda estava distante da televisão e de toda a tecnologia a ela relacionada. Assim como o século XIX esta- beleceu uma hierarquia para as Belas Artes, dividida em Artes Maiores e Menores, o século XX transpôs essa noção hierárquica para a tecnologia dos meios de comunicação de massa. O cinema estava no topo dessa hierarquia e havia ganhado o reconhecimento de processo artístico recen- temente, tal como a fotografia. Com o advento da imagem informatizada, na década de 1980, a imagem videográfica sobe na escala hierárquica das tecnologias de comunicação e informação à medida que se questiona o processo artístico das imagens produzidas com a tecnologia digital. A década de 1960 foi a década da comercialização da tevê. Consolida- va-se um modelo de sociedade de consumo gerada por uma oligarquia comercial. Marshal McLuhan (1911-1980) ajudava uma geração inteira a compreender o enorme impacto dos meios de comunicação de massa no cotidiano. A primeira geração de vídeoartistas partia da idéia fundamental de que só seria possível estabelecer uma relação crítica com a sociedade “televisual” por meio de uma “forma televisual”. Entre os estudiosos da videoarte encontramos controvérsias a respeito da sua origem exata. Podem-se perceber dois tipos de práticas em seus iní- cios: os videógrafos guerrilheiros e os vídeoartistas. O grupo dos videógrafos guerrilheiros portava as câmaras de vídeo de meia polegada, lançadas ao mercado por volta de 1965, e forçavam a entrada em eventos de caráter po- lítico significante sem a credencial de jornalistas e, simplesmente, gravavam. Como eram geralmente barrados pelas forças de segurança dos eventos, a atitude dos videógrafos guerrilheiros desafiava - provocava o establishment. No grupo dos videógrafos guerrilheiros destacam-se os trabalhos de Les Levine (1935) e Frank Gillette (1941). Além dessas incursões audaciosas, Levine gravou a vida dos indigentes do Lower East Side, de Nova York, en- quanto Gillette concentrou sua atenção nos grupos hippies que se reuniam no mesmo bairro. Os trabalhos de Levine e Gillete fazem uma alusão direta, uma citação, ao trabalho dos fotógrafos Riis e Hine no mesmo bairro de Nova York no início do século XX, comentados na aula 24, da Unidade 3. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 113 UNIMES VIRTUAL O trabalho dos videógrafos guerrilheiros acabou sendo absorvido pela te- levisão comercial, já que, ao final da década de 1970, as redes comerciais de televisão, incorporaram essa atitude contestatária em forma de paródia e deboche em sua programação habitual. A prática de vídeo que ganhou o reconhecimento de “artística” tem dia e hora exata de nascimento. Consta que o coreano Nam June Paik (1932- 2006), ligado ao grupo artístico Fluxus, havia acabado de comprar uma das primeiras videocâmeras Portapak e, preso em um congestionamento de trânsito devido à visita do Papa a Nova York, apontou sua câmera de vídeo para a comitiva do Papa que passava pela Quinta Avenida. Naquela mesma noite mostrou seus resultados em uma reunião de artistas no Café a Go Go, produzindo a certidão de nascimento da videoarte. Por que essa gravação é considerada a primeira produção de videoarte? O que diferencia essa gravação daquela realiza- da pelos jornalistas sobre o mesmo evento naquele mesmo dia? Para o crítico de arte Rush (2006), considera-se que essa gravação de Paik seja artística, dada a sua intenção. Segundo o próprio Paik, ele estava captando uma imagem de valor cultural artístico, e não estava gravando um produto para a venda nem para o consumo de massa. Na opinião de artistas e críticos de arte, o vídeo, como Arte, deve ser diferenciado dos usos de vídeo. Nesse sentido, Rush (2006) diferencia os termos Arte e artístico. As técnicas artísticas podem darvida à televisão comercial e à propaganda, porém a Arte está na intenção do artista, ou seja, fazer ou conceber algo sem a limitação de algum outro objetivo, criar um momento de expressão pessoal. O vídeo deixa de ser utilizado como uma ferramenta de registro ou de documentação e passa a ser compreen- dido como um sistema de expressão com linguagem e discurso próprios. Uma atitude crítica em relação à televisão dominou a videoarte desde sua origem até a década de 1980. Em tom irônico, os primeiros videoartis- tas encarregaram-se de comentar e posicionar-se no debate cultural em torno da televisão. Os supostos efeitos entorpecentes dos comerciais de televisão são entremeados com imagens de guerra perturbadoras em Das Sotfiband (O teip Leve), do artista alemão Klaus vom Bruch (1952). Tala Ii- mura (1937) trabalhou com a natureza ilusória da linguagem e da imagem eletrônica em Double Portrait (Retrato Duplo), de 1973. Nessa produção, Iimura retarda a reprodução de áudio e inverte a da imagem a fim de expor a realidade questionável das imagens eletrônicas. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I11� UNIMES VIRTUAL Na mesma linha de crítica à função de vigilância que pode ser dada aos meios de comunicação de massa, o videoar- tista japonês Mako Idemitsu (1940) aborda a questão no ambiente familiar. Na trilogia Great Mother (Grande Mãe), realizada entre 1983 e 1984, Idemitsu expressa a natureza rígida e hierárquica da vida japonesa em uma família cujos membros são torturados e nunca conse- guem escapar ao olho vigilante da mãe, já que ela está sempre espreitando por meio de um monitor de televisão. Alguns estudiosos do vídeo reconhecem gêneros, estruturas diferentes nas composições realizadas com as imagens eletrônicas, como vídeoarte, videoclipe, videopesia, videoescultura, videoinstalação, videoteatro, entre outras. As diversas classificações são muito difusas e impróprias para este meio que tem dialogado com os diversos formatos artísticos e produzido híbridos. Desse modo, vamos concentrar nossa atenção nas interações do vídeo com as artes performáticas, incluindo expressões como teatro, dança, teatro-dança, performance; as artes de instalação, com as intera- ções do vídeo em possíveis formatos próximos da escultura e instalação; o videoclipe, nas interações com a música. Lembramos que esse recorte se realiza por questões didáticas para apresentarmos a produção vide- ográfica a partir do critério estabelecido, porém uma videoperformance também pode acontecer em uma instalação, o que dificulta a classificação de muitas produções. Outros formatos que fazem uso de processos técnicos mais digitais serão tratados na segunda parte deste curso, em Fundamentos de Expressão e Linguagem em Multimeios II. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 11� UNIMES VIRTUAL Aula: 2� Temática: A videoarte e as ações performáticas Ao longo de toda a terceira Unidade foi possível perceber como a fotografia associa-se ao fato consumado, à recor- dação, algo que aconteceu, ao passado. Ao contrário da fotografia, a videografia permite operar em tempo real. Com os avanços tecnológicos das câmaras de vídeo, uma imagem pode ser visualizada ao mesmo tempo em que está sendo gravada. Isso significa que a imagem pode ser corrigida no seu ato de tomada. O próprio modelo, enquadrado pela câmara, pode corrigir sua postura, arrumar seu cabelo e posiciona- mento em relação ao quadro que vê em plena duração do registro, graças à visualização simultânea da imagem. Enquanto a fotografia e o cinema congelam frações de tempo, a imagem do vídeo apresenta o tempo como presente. “Só o tempo se mostra em sua integridade natural (daí chamar de ‘real’ o tempo da emissão direta) enquanto o espaço é fragmentado em pontos de vista múltiplos que geram descontinuidade na seqüência.” (MACHADO, 1995, p. 107) A simultaneidade do tempo, ou seja, o tempo de emissão com o tempo de recepção é exclusivo das emissões de tevê e dos circuitos fechados de ví- deo. Essa característica abriu a possibilidade da imagem vídeo contracenar com pessoas ao vivo. Esse recurso tem sido explorado em performances e instalações de vídeo, como também no teatro e dança contemporâne- os. O “videoteatro” de Otávio Donasci, no Brasil, explora artisticamente a simultaneidade própria da imagem eletrônica. Nas performances de vídeo em tempo real, o ensaio, a tentativa, confunde-se com o resultado, com o produto final. Grande parte da videoarte inicial pode ser compreendida como a gravação de uma performance ou o que passou a ser denominado ações performá- ticas. John Baldessari (1931), um artista norte-americano, realizou uma videoperformance intitulada I am making art (Eu estou fazendo Arte), em 1971. Baldessari grava a si mesmo, vestido de branco, de pé a frente de uma parede branca. Realizando movimentos pequenos, discreta e nitida- mente não coreografados, Baldessari repete diversas vezes as palavras que intitulam o vídeo. Durante quase vinte minutos, o artista deixa que um gesto leve a outro enquanto, sistematicamente, ridiculariza todas as pretensões do sistema da Arte. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I11� UNIMES VIRTUAL No mesmo processo formal de Baldessari, a artista suíça Pipilotti Rist (1962) também faz uso de videoperformance. Em sua produção de 1986, I’m not the Girl who Misses Much (Não sou a Garota que sente falta de muita coisa), Rist dança freneticamente diante da câmara enquanto repete as palavras do título, que se transformam em melodia pop. A videoarte tem explorado as possibilidades dessa característica de simul- taneidade da imagem eletrônica. Em eventos de gravação realizados em ambientes de circuito fechado de vídeo, em geral, várias câmeras estão ligadas a monitores espalhados pelo ambiente. No momento em que o intérprete adentra no ambiente, ele percebe sua imagem se multiplicar em uma variedade de ângulos e campos visuais simultâneos. De forma quase intuitiva, o intérprete põe-se em movimento no espaço a fim de explorar as possibilidades de construir sua própria imagem. O que realmente importa em uma performance de videoarte é o processo de enunciação do evento vivido conjuntamente por realizadores e intérpretes. A enunciação refere-se ao conjunto de atos e fatores que desempenham um papel para a produção de um enunciado. Ela abarca o trabalho do sujeito que constrói a mensagem, a implicação do narrador, a mediação dos dispositivos técnicos destinados a codificar automaticamente a mensagem, até a influência do interprete. Como a imagem de vídeo altera a percepção humana da realidade, al- guns videoartistas exploram essa questão. A norte-americana Joan Jonas (1936) percebe o vídeo como algo “mágico” e, como videoartista, iden- tifica-se como uma “feiticeira eletrônica conjurando imagens”. A partir dessas emoções Jonas criou um alter ego e o nomeou Organic Honey. Em Left Side, Right Side (Lado Esquerdo, Lado direito), de 1972, Jonas utiliza a videocâmera para confundir a percepção do intérprete enquanto olha uma imagem invertida. A artista exagera este dilema repetindo para a câmera, o tempo todo: “Este é o meu lado direito, este é o meu lado esquerdo”, até que o intérprete não consegue mais distinguir qual é o seu lado: se é esquerdo ou direito. Além da simultaneidade, a videoarte trata de explorar diferentes experiên- cias com a sensação de tempo. As imagens de vídeo comercial são corta- das constantemente pelos spots publicitários, o que produz a sensação de rapidez. Na área de videoarte os videoartistas exploram um fluir de tempo diferente. O Raio de Luz (1978), do brasileiro José Roberto Aguilar, propõe o fluir do tempo em sua naturalidade. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 11� UNIMES VIRTUAL O intérprete habituado às expectativas criadas pelas imagens do vídeo comercial necessita compreender que certos trabalhos de videoarte de- mandam uma relação diferente com as imagens.Não necessariamente os trabalhos de videoarte exigem a presença do intérprete do início ao fim, a partir de um nexo narrativo de continuidade. Em geral, os videoartistas ex- ploram essa atitude dispersiva e autônoma, pois não é necessário apreciar suas produções por inteiro, já que apresentam estruturas circulares e rei- terativas não determinadas pelo corte da duração. Podemos dizer que se assemelha à experiência estética de apreciar uma pintura. O quadro está ali e cada intérprete detém-se no mesmo de acordo com o seu interesse. Enquanto o mundo da arte nesse fim de século [XX] procura saídas frente à estagnação e desconfia das inúmeras correntes que assolam a chamada grande Arte - eterno retorno à pintura, multiculturalismos, es- tética do desagradável, ambientes conceituais, etc. - os meios eletrônicos parecem ainda procurar por “entradas” nesse círculo (...) assolado por correntes multiculturalistas, que, apesar dos inúmeros aspec- tos positivos (principalmente os políticos), muitas ve- zes se expressa de forma maniqueísta em sectarismo racial, militância gay e outras frentes, que misturam discursos de minoria historicamente oprimida à apo- logia de novas estéticas, atribuindo para si méritos de renovação. (BAMBOZZI, 1994, p. 12) O estudo da videoarte em suas diversas manifestações re- quer o reconhecimento dos elementos audiovisuais que lhe qualificam como “discurso”, ou seja, o entendimento do ví- deo como um texto do ponto de vista técnico, estético, cultural. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I11� UNIMES VIRTUAL Aula: 30 Temática: A videoinstalação Podemos encontrar os antecedentes históricos da arte da instalação nos trípticos pintados em igrejas reanscentistas e à fundação dos museus no Ocidente no século XVIII. A medida que a Arte começou a ser entendidia como algo para ser visto por um públcio fora dos lares da nobreza abastada, desenvolveram-se espaços para a exposição de obras de arte. Na arte de instalação o contexto é da maior importância e os artistas de instalação desejam exercer controle sobre esse contexto ao criar, explici- tamente, um meio que em sua totalidade constitui a Arte. A arte de ins- talação do século XX tem raízes na atitude antimuseu que caracterizou a década de 1960 e início dos anos 1970. Assim como a arte de instalação expande o processo criativo para além do estúdio do produtor até o espaço social, a interação videoarte e instalação é o reconhecimento do espaço externo ao monitor. Nesse casamento, a instalação aprimora o conceito central para a videoarte, que é o conceito do tempo. Se o tempo pode ser manipulado de várias formas na imagem do vídeo, as possibilidades aumentam consideravelmente em videoinsta- lações que utilizam monitores ou outras superfícies de projeção, aumen- tando em grande número e quantidade de imagens. A primeira instalação do canadense Les Levine, a Spilcover (1966), em To- ronto, mostrava aos intérpretes imagens filmadas de si mesmos em uma série de monitores. A experiência foi, conseqüentemente, multiplicadora. Bruce Nauman utilizou circuito fechado de televisão em Video Corridor (Corredor de vídeo), de 1968. Um recinto claustrofóbico formado por duas paredes paralelas do teto ao chão produz um túnel, com dois monitores, um sobre o outro, ocupando uma das extremidades do espaço. O espec- tador caminha pelo corredor para ver os vídeos que, na verdade, passam a ser cenas simultâneas de vigilância exercida sobre ele mesmo. Nauman é um videoartista que explora o tema da vigilância em suas produções. Corridor Installation (Instalação no corredor), de 1970, dividiu a Galeria onde foi exibida em seis corredores. Desses corredores, apenas três eram transitáveis. Os participantes, tentando desvendar o labirinto dos corredo- res, eram gravados, sempre de costas, por câmeras montadas na parede superior das paredes, e as imagens eram projetadas em monitores acomo- dados em todas as passagens. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 11� UNIMES VIRTUAL O tema da vigilância é muito recorrente nas videoinstalações. Ele surge não só de revelações públicas na imprensa sobre práticas reais de policia- mento, mas também pela própria natureza da televisão. De certo modo, a tela do televisor também está observando o visualizador, mesmo quando este a visualiza. Muitas videoinstalações tratam de explorar essa qualida- de de reflexo da televisão. O alemão Dieter Froese (1937) em Not a Model for Big Brother’s Spy Cycle (Não é um modelo para o ciclo de espionagem do Big Brother), de 1987, combina o circuito fechado de televisão com um vídeo pré-gravado em dois canais. Os participantes eram filmados quando entravam na instalação. Seus corpos eram projetados em monitores en- quanto outros eram entrevistados sobre atividades políticas. As videoinstalações assumiram o papel de energizar o espectador para que reagisse ao objeto visto. Ao mostrar os próprios espectadores, os artistas engaja- vam-nos intencionalmente de forma bastante direta, às vezes até o ponto de fúria ou choque. Ainda mais importante, o espectador tornava-se um artista per- fprmático, uma maneira totalmente nova de assistir à televisão. Ao contrário das estratégias para perfor- mances em Happenings, em que os espectadores iam ao evento esperando tornar-se parte dele, o especta- dor de uma obra instalada em um museu não suscita essa expectativa. A privacidade de ver é invadida e, voluntariamente ou não, o espectador passa a ser ob- servado não apenas por si mesmo, mas também por outros. (RUSCH, 2006, p. 116-118) Outras questões, como a função pública da Arte e dos meios de comuni- cação, emergem nas instalações da artista norte-americana Judith Barry (1954). Ligada ao movimento feminista, Barry, em seus vídeos da década de 1970, discutia a identidade feminina, como Kaleidoscope (Caleidoscó- pio), de 1979, no qual personagens da família debatiam a teoria feminista. Em Hard Cell, de 1994, Barry utilizou monitores de vídeo, projetores, com- putadores, e outros detritos da era contemporânea amontoados em um caixote corroído. O italiano Fabrizio Plessi (1940) também questiona o lixo contemporâneo criado por aparelhos eletrônicos em Bronx, instalação de 1986. Nesta ins- talação, o artista utilizou 26 aparelhos de televisão de cabeça para baixo em contêineres de metal enferrujado. Nas telas dos aparelhos de tevê, Plessi cravou pás que eram refletidas em uma projeção de água azul em cada um dos aparelhos. Em uma instalação produzida em 1994, Eine Faust in der Tasche Machen (Punho cerrado dentro do bolso) o alemão Marcel Odenbach (1953) utilizou FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I120 UNIMES VIRTUAL sete monitores enfileirados um ao lado do outro. Os sete monitores mos- travam como sete países mantiveram a ordem durante as contestações estudantis e juvenis de 1968. Cada um dos monitores mostrava clips de notícias da época, em cada país, intercalados com imagens de arquivos da queima de livros realizada pelo regime nazista da Alemanha nas décadas de 1930 e 1940. A belga Chantal Ackerman (1950) utilizou essa mesma es- tratégia de enfileirar monitores em uma desconstrução de vídeo em D’Est, de 1993. Ackerman arranjou 24 monitores agrupados em conjuntos de três e projetou fragmentos de seu “videodiá- rio”, realizado ao longo de uma viagem pela Europa Oriental, terra de ori- gem de sua família. Ela registrou detalhes do cotidiano das populações, desses países, em situações prosaicas, como esperar um ônibus, comprar um pão, caminhar por uma calçada. Reminiscences (Reminiscências), uma instalação da artista turca Sukran Aziz, de 1998, aborda a questão da emigração. A artista mesclou entrevis- tas com pessoas gravadas em vídeo nas cidades de Istambul, Nova York, Paris e outras cidades. Essas entrevistas são projetadas nas paredes, e, do teto da instalação, pendem centenas de minúsculos alto-falantes, disfar- çados em recipientes metálicos, que revelam conversassobre lembranças e mudanças. Abordagens mais líricas também se fazem presentes nas videoinstalações, como Orka (Força), de 1977, da artista islandesa Steina Vasulka (1940). Nessa instalação realizada para a Bienal de Veneza, Vasulka utilizou três telas duplas e espelhos cuidadosamente posicionados, nos quais projetou grandes imagens do mar em movimento de rebentação, lava incandescen- te e todo tipo de pássaros voando, com uma trilha sonora mesclada aos sons da gravação em direto. No Brasil a videoinstalação de Lucas Bambozzi (1965), Ima- gens Histéricas, trata de apreender as alterações da face humnana. Eder Santos propõe a Máquina de Reflexão 6.8, uma parte do seu trabalho intitulado Quatro Maneiras de Playtear a Eterni- dade. Nessa vídeoinstalação, o intérprete é aprisionado pela Máquina de Reflexão 6.8, frente ao seu espelho, sua projeção/reflexão. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 121 UNIMES VIRTUAL Aula: 31 Temática: O videoclipe Machado (1995) observa que o pouco material publicado até hoje sobre o videoclipe enfatiza o seu aspecto narrativo, pois é possível aproximá-lo facilmente da “prosa cinema- tográfica”. O autor indica que essa aproximação forçada resulta da res- sonância que alguns trabalhos realizados por personalidades do mundo do cinema, como é o caso de John Landis, autor do clássico Thriller, com Michael Jackson na década de 1980, ou o Jazzin with Blue Jeans, de Ju- lian Temple, com David Bowie. Apesar da ênfase em seu caráter narrativo, o videoclipe pode dispensar inteiramente o suporte narrativo, pois os visualizadores do gênero já es- tão preparados para aceitar imagens sem nenhuma seqüência narrativa identificável, sem qualquer denotação direta, desde que o movimento seja compatível com a música à qual faz referência. Salles Jr. (1985) observa que o videoclipe é uma forma não narrativa, não linear, denominada nos Estados Unidos como non associative imagery, que poderia ser aproxi- madamente traduzido como imagens dissociadas. Essa denominação em português não parece adequada ao autor, que ratifica o caráter não narra- tivo da produção muito mais ligada ao “desejo de se passar uma overdose de sensações, através de informações não relacionadas, acompanhando sons, o ritmo das imagens.” (SALLES Jr. 1985, p. 48) Machado (1995) observa que o videoclipe pode ser considerado como a versão popular, diluída, da videoarte, pois muitos videoartistas estão fazendo clipes. Uma retransmissão considerada clássica na produção de videoarte, a Good Morning, Mr. Orwell, assinada por Naum Paik, retrans- mitida na passagem para o ano de 1984, entre Paris e Nova York, mostrou uma coleção de videoclipes com músicas de Laurie Anderson e cenários sintéticos produzidos com imagens digitalizadas, convivendo com figuras distorcidas. Dessa coleção destaca-se o Excellent Birds. O videoclipe pode ser considerado uma continuidade direta da linha de videoarte no sentido de que busca solucionar um problema que atormenta outros sistemas de expressão, como o cinema. O videoclipe tenta respon- der como unir, de forma mais orgânica possível, a faixa de som à faixa de imagem. Esse é o problema por excelência que os trabalhos de videoclipe se propõem a resolver. Para Machado (1995), a produção de Nam June FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I122 UNIMES VIRTUAL Paik, o Global Groove, de 1974, pode ser considerado o nascimento do clipe, dadas as suas imagens pulsantes e eletrificadas no ritmo do clássico rock’n roll de Bill Halley. O videoclipe busca uma fusão perfeita de imagem/som, de modo que não seja possível pensar em uma coisa sem a outra. A produção de videoclipe tem alterado a produção do próprio sistema musical. Podemos perceber um processo intersemiótico, visto na aula 22 da Unidade 3, nessa busca de fusão perfeita entre esses dois sistemas de expressão. “Uma composição de música POP deve ser pensada hoje em função do seu rendimento visual; na sua produção não entram apenas os compositores, os músicos e técnicos de estúdio, mas também o pessoal da área de vídeo”. (MACHADO, 1995, p. 172) O videoclipe torna sensível um fenômeno ao qual não prestamos muita atenção, que é a unidade indecomponível do som/imagem, o que é pro- priamente um meio audiovisual. O cinema nasceu mudo e teve de esperar trinta anos para ganhar o som sincronizado, enquanto a televisão e o vídeo nasceram sonoros. O grosso da produção de videoclipes é lixo industrial, banalidade em forma de conteúdo, empacotada para o consumo rápido. Mas é assim também com o cinema, com a música popular, com a imprensa e com a televi- são como um todo: o videoclipe não pode senão inte- grar-se à estratégia da indústria cultural. Como em qual- quer meio, a qualidade é um atributo raro no universo do clipe e deve ser buscada a partir da filtragem rigoroso do entulho da diluição. (MACHADO, 1995, p. 174) A observação de Machado (1995) enfatiza a responsabilidade de produto- res e intérpretes de videoclipes conhecerem a linguagem videográfica para ampliar os limites da mesma, explorar suas potencialidades, experimentar outras possibilidades de utilização, reverter a relação de autoridade entre produtor e intérprete dessa produção audiovisual, comportar-se como um “artista da era das máquinas”. Machado (1993) define o “artista da era das máquinas” como o homem da ciência, um inventor de formas e procedimen- tos que recoloca permanentemente em causa as formas fixas, as finalidades programadas, a utilização rotineira dos dispositivos tecnológicos, para que o padrão esteja sempre em questionamento e as finalidades sob suspeita. O código estético da imagem eletrônica ainda está em processo, cons- truindo-se à medida que seus produtores experimentam as possibilida- des e limitações do próprio meio. Grande parte das produções de vídeo utiliza os seus instrumentos de enunciação, ou seja, as câmaras, cabos, FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 123 UNIMES VIRTUAL equipamentos de iluminação, ilhas de edição, como elementos causais em cena. A imagem eletrônica costuma apresentar como produto o seu próprio processo de criação. Esse procedimento trata de desmistificar o realismo ingênuo, mostrando para o intérprete a manipulação que afeta toda produção de sentidos. Por tratar-se de uma linguagem ainda em construção, Ma- chado (1995) observa que o melhor tratamento formal para a imagem eletrônica é aquele que permite um isomorfismo como meio de expressão. Isso quer dizer que o vídeo aceita melhor um ensaio de uma orquestra do que um concerto do início ao fim. Ao ensaiar a sua orquestra, um regente interrompe a execução, volta a um determinado trecho, fal e, gesticula de um modo informal. A imagem videográfica traba- lha como um work in progress, o processo vivo do fazer - depende do que cada produtor e intérprete das imagens videográficas aporte ao processo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I12� UNIMES VIRTUAL Aula: 32 Temática: Videoarte: narrativas pessoais As produções realizadas com imagem eletrônica costumam ser depreciadas sob a alegação de que confundem o intér- prete, já que este pode chegar a não distinguir a fabulação da informação. Podemos afirmar que não é a cabeça do intérprete que a imagem eletrônica confunde, mas as próprias categorias narrativas (fabu- lação) e não narrativas (informação). No sistema figurativo considera-se que quem olha direto para a câmara está representando-se a si próprio e pressupõe a mediação de um dispositivo técnico entre ele e o intérprete da imagem eletrônica. Quem fala e age sem olhar para a câmara está representando, “fazendo- de-conta” que não existe uma câmara diante dele, finge que o que está acontecendo aconteceria mesmo sem a câmara. Quem olha para a câmara enfatiza o dispositivo e seu discurso passa a existir exatamente por que a câmara está ali. A videoarte tem sido considerada como um meio para os artistas falarem de si mesmose também abrir essa possibilidade aos intérpretes discutirem a sua própria identidade. Quais seriam as características próprias e exclusivas de uma pessoa? O nome? A idade? A origem? A impressão digital? Para Hall (1997) a identidade não é fixa nem estável, as identidades es- tão fragmentadas e fraturadas, se constroem com o outro, de uma forma múltipla em relação às práticas e aos discursos, que muitas vezes são contraditórios. Gênero, raça, presença, ausência são abordados pelos vi- deoartistas inseridos no debate político, artístico e cultural vivido por eles. Nesse sentido, o vídeo tem sido compreendido como um meio de expres- são intensamente pessoal. Um dos primeiros videoartistas a usarem o meio de expressão em formato de “videodiário”, foi Andy Warhol. Entre 1970 e 1976 o artista registrou horas de atividades em seu estúdio, sob o título de Factory Diaries (Diários de Fábrica). O chileno Downey (1940) abordou a questão da identidade do artista em meio à uma descontinuidade cultural. Em 1974 produziu Moving (Mudar) no qual registrou sua viagem pelos Estados Unidos até o Chile em busca da sua identidade cultural. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 12� UNIMES VIRTUAL Bill Viola (1951) usou um erro técnico, um sinal de interrupção, para explo- rar as possibilidades de tratar a questão do “eu e o não eu”, em imagens videográficas. Em A Non-Diary Creamer, de 1975, Violla trabalha com a própria imagem refletida em uma xícara de café, que desaparecia enquan- to ele bebia o conteúdo da xícara. O reflexo do artista, captado no olho de uma coruja, tornou-se sua marca registrada com o vídeo de 1986, I Do Not Know What It Is I Am Like (Não sei como eu pareço). Com Slowly Turning Narrative (Narrativa giratória lenta), de 1992, Viola utilizou uma espécie de projeção espelhada, giratória, para sugerir a mente de uma pessoa absorvida em si mesma em constante movimento. A pro- posta de Viola era a de que todos as pessoas em contato com a produção se tornassem uma tela de projeção continuamente mutável, e fossem vis- tas pela “mente” representada na parede giratória. Em Stations (Estações), uma interpretação de Viola sobre as Estações da Via Sacra, de 1994, o artista produziu uma videoinstalação computadorizada, com cinco canais. Nessa instalação as imagens são projetadas em lajes ver- ticais de granito que, por sua vez, refletem-se em lajes espelhadas colocadas no piso, perpendiculares às de granito. Com a projeção das imagens grava- das no vídeo, os corpos humanos parecem cair no ar ou tombar na água, Tony Oursler (1957) também discute a questão da identidade do intérprete das imagens em sua instalação Mansheshe(1997), na qual várias cabeças falantes híbridas são projetadas sobre objetos ovais suspensos em mas- tros. As cabeças olhando diretamente para a câmara, ou seja, dirigem-se intencionalmente ao intérprete, lançam aforismos sobre identidade sexual, crenças religiosas e relacionamentos inter-pessoais. A norte americana Adrian Piper (1948) interpela diretamente o intérprete em sua instalação de 1997, Out of Corner. Nesta instalação, 17 monito- res, várias fotografias e cadeiras viradas confundem as associações dos espectadores com todo o tipo de estereótipo étnico e racial, ao fazer com que as cabeças falantes nos monitores dirijam perguntas desafiadoras di- retamente ao intérprete. Com uma proposta mais radical, a palestina Mona Hatoum (1952) inseriu uma pequena câmara em seu corpo e projetou o vídeo de seus órgãos internos em uma estrutura circular, semelhante a um globo ocular, que foi colocado no piso de uma instalação, suficientemente grande para se entrar. Os intérpretes vivenciam uma es- pécie de viagem simulada ao aparelho reprodutor da artista. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I12� UNIMES VIRTUAL Seja por meio de narrativas, experimentações for- mais, teipes humorísticos curtos ou mediações em grande escala, a videoarte, no final do século XX, as- sumiu uma posição de legitimidade, até mesmo de proeminência, no mundo da arte, que pouquíssimos consideravam possível mesmo nos anos 80. Suas possibilidades aparentemente infinitas e sua relativa acessibilidade tornaram-na cada vez mais atraente para jovens artistas que cresceram em uma era de saturação dos meios de comunicação de massa. O vídeo é uma maneira de participar de, e de reagir ao excesso dos meios de comunicação de massa; além disso, é um meio acessível para a transmissão de mensagens pessoais. (RUSH:2006:107) Em termos econômicos, grande parte da população pode aceder mais facilmente às tecnologias visuais. Como intér- pretes e potenciais produtores de imagens, cabe a reflexão sobre a sociedade que pretendemos construir com as imagens que cria- mos no/do/para o mundo. FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 12� UNIMES VIRTUAL Resumo - Unidade IV Assim como o século XIX estabeleceu uma hierarquia para as Belas Artes, dividida em Artes Maiores e Menores, o sé- culo XX transpôs essa noção hierárquica para a tecnologia dos meios de comunicação de massa. O cinema estava no topo dessa hierarquia e havia ganhado o reconhecimento de processo artístico recen- temente, tal como a fotografia. Com o advento da imagem informatizada, na década de 1980, a imagem videográfica sobe na escala hierárquica das tecnologias de comunicação e informação à medida que se questiona o processo artístico das imagens digitais. Entre os estudiosos da videoarte, encontramos controvérsias a respeito da sua origem exata. Pode-se perceber dois tipos de práticas em seus inícios: os videógrafos guerrilheiros e os videoartistas. O grupo dos videógrafos guerri- lheiros portava as câmeras de vídeo de meia polegada, lançadas ao mercado por volta de 1965, e forçavam a entrada em eventos de caráter político signi- ficante sem a credencial de jornalistas e, simplesmente, gravavam. Atribui-se ao coreano Nam June Paik o reconhecimento de “artística” à determinada prática de vídeo, as primeiras produções de videoarte. As técnicas artísticas podem dar vida à televisão comercial e à propaganda, porém a Arte está na intenção do artista, ou seja, fazer ou conceber algo sem a limitação de algum outro objetivo, criar um momento de expressão pessoal. O vídeo deixa de ser utilizado como uma ferramenta de registro ou de documentação e passa a ser compreendido como um sistema de expressão com linguagem e discurso próprios. Uma atitude crítica em relação à televisão dominou a videoarte desde sua origem até a década de 1980. Em tom irônico, os primeiros videoartistas encarregaram-se de comentar e posicionar-se no debate cultural em torno da televisão. Com os avanços tecnológicos das câmeras de vídeo, uma imagem pode ser visualizada ao mesmo tempo em que está sendo grava- da. Isso significa que a imagem pode ser corrigida no seu ato de tomada. Enquanto a fotografia e o Cinema congelam frações de tempo, a imagem do vídeo apresenta o tempo como presente. A simultaneidade do tempo, ou seja, o tempo de emissão com o tempo de recepção,é exclusivo das emissões de tevê e dos circuitos fechados de vídeo. Essa característica abriu a possibilidade da imagem vídeo contracenar com pessoas ao vivo. Esse recurso tem sido explorado em performances FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I12� UNIMES VIRTUAL e instalações de vídeo, como também no teatro e dança contemporâneos Grande parte da videoarte inicial pode ser compreendida como a gravação de uma performance, ou o que passou a ser denominado ações “performá- ticas”. A videoarte tem explorado as possibilidades dessa característica de simultaneidade da imagem eletrônica e demanda a participação do in- térprete das imagens em suas realizações. Além da simultaneidade, a videoarte trata de explorar diferentes experi- ências com a sensação de tempo. Não necessariamente os trabalhos de videoarte exigem a presença do intérprete das imagens do início ao fim, a partir de um nexo narrativode continuidade. Em geral, os videoartistas exploram essa atitude dispersiva e autônoma, pois não é necessário apre- ciar suas produções por inteiro, já que apresentam estruturas circulares e reiterativas não determinadas pelo corte da duração. O estudo da videoarte em suas diversas manifestações, requer o reconhe- cimento dos elementos audiovisuais que lhe qualificam como “discurso”, ou seja, o entendimento do vídeo como um texto do ponto de vista técnico, estético, cultural. O conceito central para a videoarte, que é o conceito do tempo. Se o tempo pode ser manipulado de várias formas na imagem do vídeo, as possibilidades aumentam consideravelmente em videoinstala- ções que utilizam monitores ou outras superfícies de projeção, aumentan- do em grande número e quantidade de imagens. O tema da vigilância é muito recorrente nas videoinstalações. Ele surge não só de revelações públicas na imprensa sobre práticas reais de policia- mento, mas também pela própria natureza da televisão. De certo modo, a tela do televisor também está observando o visualizador, mesmo quando este a visualiza. O videoclipe pode dispensar inteiramente o suporte narrativo, pois os visualizadores do gênero já estão preparados para aceitar imagens sem nenhuma seqüência narrativa identificável, sem qualquer denotação dire- ta, desde que o movimento seja compatível com a música. O videoclipe busca uma fusão perfeita de imagem/som, de modo que não seja possível pensar em uma coisa sem a outra. A produção de videoclipe tem alterado a produção do próprio sistema musical. Podemos perceber um processo intersemiótico entre videoarte e música. O código estético da imagem eletrônica ainda está em processo, cons- truindo-se à medida que seus produtores experimentam as possibilidades e limitações do próprio meio. Grande parte das produções de vídeo utiliza os seus instrumentos de enunciação, ou seja, as câmeras, cabos, equipa- mentos de iluminação, ilhas de edição, como elementos causais em cena. A imagem eletrônica costuma apresentar como produto o seu próprio FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 12� UNIMES VIRTUAL processo de criação. Esse procedimento trata de desmistificar o realismo ingênuo, mostrando para o intérprete a manipulação que afeta toda produ- ção de sentidos. O melhor tratamento formal para a imagem eletrônica é aquele que permite um isomorfismo como meio de expressão. A videoarte tem sido considerada um meio para os artistas falarem sobre si e também para abrir essa possibilidade aos intérpretes de discutirem a sua própria identidade. Artistas internacionais ligados ao circuito da videoarte: Nam June Paik, Bill Viola, Pipilotti Rist, Adrian Piper, Steina Vasulka, Tony Oursler. No Brasil: José Roberto Aguilar, Lucas Bambozzi, Eder Santos. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Candido José Mendes de. O que é vídeo. São Paulo: Brasilien- se, 1984. ARMES, Roy. On video: o significado do vídeo nos meios de comunica- ção. São Paulo: [s.n.], 1999. AUMONT, Jacques. A imagem. 2. ed. Campinas: Papirus, 1995. BAMBOZZI, Lucas. O vídeo em questão: a perspectiva de uma arte do vídeo como referência-chave para a representação. Revista Imagens. Campinas, n. 1. abr. 1994. CARVALHEIRO, Manuel. As mutações do cinema: no tempo do vídeo. Lisboa: Livros Horizonte, 1989. MACHADO, Arlindo. Pré-cinema e pós-cinema. São Paulo: Papirus ,1995. MACHADO, Arlindo. Máquinas de vigiar. Revista USP, n. 7. Dossiê Tec- nologias, 1990. MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário: o desafio das políticas tec- nológicas. São Paulo: Editora da USP, 1993. MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense. 1990. PARENTE, André (Org.). 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Uma atitude complacente em relação à televisão dominou a vídeoarte desde sua origem até a década de 1980. 2) Dentre os artistas a seguir, qual deles não está associado à videoarte: Lucas Bambozzi Nam June Paik Bill Viola Sebastião Salgado 3) Dentre as afirmações a seguir sobre a videoarte, identifique a alternativa incorreta: A característica da simultaneidade da imagem eletrônica possibilita que as pessoas con- tracenem com imagens de vídeo. Parte da produção inicial de videoarte abarca a gravação de ações performáticas. Uma performance de videoarte segue um roteiro rígido e não permite a participação do espectador. O processo vivido conjuntamente por realizadores e intérpretes é o fundamento da per- formance de videoarte. �) Por sua própria natureza, a imagem eletrônica do vídeo utiliza a parte, o detalhe, o fragmento, para sugerir o todo. Esse procedimento é considerado uma linguagem: natural tecnológica metonímica quirográfica a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) a) b) c) d) FUNDAMENTOS DE EXPRESSÃO E LINGUAGEM EM MULTIMEIOS I 131 UNIMES VIRTUAL 5) Sobre o videoclipe pode-se afirmar que: Dispensa uma estrutura narrativa de início, meio e fim. Busca uma fusão perfeita de imagem e som Tem alterado a produção do próprio sistema musical. Todas as alternativas são verdadeiras. a) b) c) d)