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TEOLOGIA SISTEMÁTICA 
[Clique em ÍNDICE] 
 
VOLUME III 
 
CHARLES HODGE, D.D. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tradutor e digitador: 
 
Carlos Biagini 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 2 
ÍNDICE 
 
 
PARTE III – SOTERIOLOGIA (continuação) 
 
CAPÍTULO XV 
REGENERAÇÃO 
 
§1. Uso do termo. 
§2. Natureza da Regeneração 
Não é uma mudança na substância da alma 
A regeneração não consiste num ato da alma 
A postura do doutor Emmons 
A doutrina do professor Finney 
A postura do Dr. Taylor 
Observações 
A regeneração não é uma mudança em nenhuma faculdade 
A regeneração não é meramente iluminação 
Não é uma mudança exclusiva dos mais elevados poderes da 
alma. 
Posturas especulativas modernas 
O corpo e a alma são um 
Deus e o homem são um 
Soteriologia destes filósofos 
Doutrina de Ebrard 
Doutrina de Delitzsch 
Doutrina da Igreja latina 
Doutrina da Igreja Anglicana 
§3. A doutrina evangélica 
Exposição da doutrina 
A regeneração é um ato de Deus 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 3 
A regeneração é ato do poder de Deus 
A regeneração não é um ato no sentido subjetivo do termo 
Não é uma mudança de substância 
É uma nova vida 
É um novo nascimento 
Um novo coração 
Toda a alma é objeto desta mudança 
§4. Objeções à doutrina evangélica 
A negação do sobrenaturalismo 
A confiança em falsas teorias psicológicas 
Objeções baseadas na perfeição divina 
 
CAPÍTULO XVI 
A FÉ 
 
§1. Observações preliminares 
§2. A natureza psicológica da fé. 
A ideia primária da fé é confiança 
O sentido mais restringido da palavra 
A fé não deve ser considerada simplesmente como uma graça 
cristã 
Definições da fé baseadas em sua natureza subjetiva 
A fé é distinguida da opinião e do conhecimento 
Objeções a esta definição 
A fé não é uma convicção voluntária 
Observações a esta definição de fé 
Definições de fé baseada nos objetos da fé 
Objeções a esta definição 
Definições baseadas sobre a classe de evidência em que repousa 
a fé 
Observações a esta definição 
A fé é convicção baseada no testemunho 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 4 
Este ponto de vista é quase universalmente mantido 
O sentido estrito da palavra “fé” 
Prova com base no uso geral do termo 
Prova da consciência 
Prova da Escritura 
§3. Diferentes classes de fé 
Fé morta, ou especulativa 
Fé temporal 
Fé salvadora 
O que significa o testemunho do Espírito 
Prova por meio de declarações expressas das Escrituras 
1 Coríntios 2:14 
Prova da maneira em que os apóstolos agiram 
Prova com base na prática na Igreja 
Prova com base na Analogia 
§4. Fé e conhecimento 
É necessária uma Revelação Sobrenatural? 
Devem as verdades da revelação ser demonstráveis pela razão? 
É possível que verdades reveladas não sejam filosoficamente 
reivindicadas? 
As tentativas para fazer isto são inúteis 
Pode o que é verdadeiro em Religião ser falso em Filosofia? 
Os Pais sobre esta questão 
Ensino Luterano neste ponto 
Sir William Hamilton 
A postura dos filósofos especulativos 
Podem os objetos da fé estar acima da razão, e entretanto, não 
contra ela? 
Os objetos da fé são consistentes com a Razão 
A fé no irracional é impossível 
O conhecimento, essencial para a fé 
O conhecimento, a medida da fé 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 5 
Prova de que o conhecimento é essencial para a fé 
A doutrina Romanista a respeito desta questão 
§5. Fé e sentimentos 
Fé religiosa mais do que simples assentimento 
A doutrina protestante 
Prova da doutrina protestante 
§6. Fé e amor 
Os Romanistas fazem com que o amor seja essencial à fé 
§7. O objeto da fé salvadora 
Fé geral 
Fé especial 
O testemunho de Cristo 
É dito que somos salvos ao receber a Cristo 
O ensino dos Apóstolos 
Cristo nosso Resgate 
Vivemos em Cristo pela fé 
Cristo não é recebido só num Papel Especial 
Requer-se do pecador crer que Deus o ama? 
Prova desta doutrina 
Gálatas 2:20 
§8. Os efeitos da fé. 
União com Cristo 
A justificação, efeito da fé 
A participação da vida de Cristo, efeito da fé 
A paz como fruto da fé 
Certeza 
A santificação é um fruto da fé 
A certeza da salvação 
O oitavo capítulo de Romanos 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 6 
CAPÍTULO XVII 
JUSTIFICAÇÃO 
 
§1. Enunciado simbólico da doutrina. 
Presidente Edwards 
Pontos incluídos nas anteriores declarações da doutrina 
§2. A justificação é um ato forense. 
Prova da doutrina recém-anunciada 
Pelo uso da Escritura 
Justificação é o oposto de Condenação 
Argumento com base em formas equivalentes de expressão 
Argumento com base no enunciado da doutrina 
O argumento do Apóstolo na Epístola aos Romanos 
Argumento derivado da base da justificação 
A justificação não é mero perdão 
Argumento com base na imutabilidade da lei 
Argumento com base na natureza de nossa união com Cristo 
Argumentos com base nos efeitos adscritos à justificação 
A doutrina de Calvino 
§3. As obras não são a base da justificação. 
A doutrina Romanista 
A doutrina Remonstrante 
A doutrina Protestante 
§4. A justiça de Cristo é a base da justificação. 
Significado dos termos 
A justiça de Cristo é a justiça de Deus 
§5. A imputação de justiça. 
§6. Prova da doutrina. 
O argumento do Apóstolo 
O paralelo entre Adão e Cristo 
Outras passagens que ensinam a mesma doutrina 
Argumento com base nos ensinos gerais da Bíblia 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 7 
§7. Consequências da imputação da justiça de Cristo 
§8. Relação da fé com a justificação. 
A doutrina Romanista 
A postura Remonstrante 
A doutrina Protestante 
§9. Objeções à doutrina Protestante da justificação 
Diz-se que conduz à libertinagem 
Inconsistente com a Graça do Evangelho 
Deus não pode declarar que o Injusto seja Justo 
A justiça de Cristo é devida a Ele mesmo 
Os crentes seguem culpados e suscetíveis de castigo 
Esta teoria refere-se unicamente à aparência externa 
§10. Afastamentos da doutrina Protestante 
Osiander 
Stancarus 
Piscator 
Doutrina Arminiana 
Comparação das diferentes doutrinas 
§11. Posturas modernas a respeito da justificação. 
Teorias racionalistas 
Teorias filosóficas 
Teólogos especulativos 
Ebrard de Erlangen 
Objeções a estas teorias 
Estas teorias são antibíblicas 
Estas teorias levam os homens a confiar em si mesmos 
 
CAPÍTULO XVIII 
SANTIFICAÇÃO 
 
§1. Sua natureza. 
É uma obra sobrenatural 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 8 
Prova de seu caráter sobrenatural 
Todos os exercícios de santidade são atribuídos ao Espírito 
como seu autor 
Somos ensinados a orar por arrependimento, fé e outras graças 
Argumento com base na união do crente com Cristo 
Argumento com base em doutrinas relacionadas 
§2. Em que consiste a santificação. 
Despojando-se do Velho Homem, e revestindo-se do Novo 
Paulo detalha sua própria experiência em Romanos 7:7-25 
O ensino de Romanos 7:7-25 
Gálatas 5:16-26 
Efésios 4:22-24 
§3. O método da santificação. 
A alma é conduzida ao exercício da fé 
O efeito da união com Cristo 
A obra interna do Espírito 
Deus chama ao exercício as graças do Seu povo 
A igreja e os Sacramentos como meios da Graça 
O ofício régio de Cristo 
§4. Os frutos da santificação, ou, as boas obras. 
Sua natureza 
A doutrina Romanista a respeito das boas obras 
As obras de supererrogação 
Preceitos e conselhos 
O sentido em que os frutos do Espírito nos crentes são 
chamados bons 
§5. A necessidade das boas obras. 
Antinomianismo 
§6. A relação das boas obras com a recompensa. 
A doutrina Romanista 
Refutação a esta doutrina Romanista 
Doutrina dos antigos teólogos protestantes 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 9 
§7. O perfeccionismo. 
A doutrina Protestante 
Argumento com base nas representações gerais da Escritura 
Passagens que descrevem oconflito entre a carne e o Espírito 
Argumento com base na Oração do Senhor 
Argumento com base na experiência dos cristãos 
§8. Teorias do perfeccionismo. 
A teoria Pelagiana 
A teoria Romanista 
A teoria Arminiana 
A Lei à qual os crentes estão sujeitos 
A teoria de Oberlin 
A relação entre as teorias de perfeição 
 
CAPÍTULO XIX 
A LEI 
 
§1. Observações preliminares. 
A personalidade de Deus está envolvida na ideia da Lei; e, 
portanto, toda moralidade está baseada na religião 
Princípios Protestantes limitando a obediência às leis humanas 
Liberdade cristã em assuntos indiferentes 
O uso escriturístico da palavra Lei 
Como a Lei é revelada 
Diferentes classes de leis 
Até onde se podem deixar de lado as leis contidas na Bíblia? 
Quando uma Lei Divina é substituída por outra. 
A perfeição da Lei 
O Decálogo 
Regras de Interpretação 
§2. A divisão do conteúdo do Decálogo. 
Argumentos em favor da disposição adotada pelos Reformados 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 10 
§3. O prefácio aos Dez Mandamentos. 
§4. O primeiro mandamento. 
Este é o principal de todos os mandamentos 
§5. A invocação dos santos e anjos. 
Mariolatria 
§6. O segundo mandamento. 
A proibição do culto às imagens 
As razões que se anexam a este mandamento 
A doutrina e prática da igreja de Roma quanto às imagens 
A doutrina Tridentina 
Belarmino 
Relíquias 
Observações 
A doutrina Protestante a respeito desta questão 
§7. O terceiro mandamento 
Significado do mandamento 
Juramentos 
A legitimidade dos juramentos 
Quando os juramentos são lícitos 
A forma de um juramento 
Normas que regem a interpretação e obrigação de um juramento 
A doutrina Romanista 
Votos 
A legitimidade dos votos 
Votos monásticos 
§8. O quarto mandamento. 
Seu desígnio 
O sábado foi instituído desde o princípio, e é de obrigação 
perpétua 
Evidência direta da instituição do Sábado antes de Moisés 
Objeções 
Como o Sábado deve ser santificado? 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 11 
As leis dominicais 
O estado da questão 
A prova de que esta é uma nação cristã e protestante 
Esta influência decisiva do cristianismo, é razoável e correta 
As demandas dos infiéis são injustas 
Conclusão 
§9. O quinto mandamento. 
Seu desígnio 
A relação filial 
A promessa 
Deveres paternos 
A obediência devida aos magistrados civis 
Obediência à Igreja 
§10. O sexto mandamento. 
Seu desígnio 
A pena capital 
O homicídio em autodefesa 
Guerra 
Suicídio 
Duelos 
§11. O sétimo mandamento. 
O celibato 
História 
O casamento, instituição divina 
O casamento como instituição civil 
A monogamia 
Conclusões 
Polígamos convertidos 
O divórcio 
O divórcio, sua natureza e efeitos 
Razões para o divórcio 
A doutrina da Igreja de Roma 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 12 
O casamento é um sacramento 
A leis dos países Protestantes a respeito do divórcio 
Inglaterra 
França 
Alemanha 
Os Estados Unidos 
O dever da Igreja e de seus oficiais 
A prostituição, o mal social 
Casamentos proibidos 
A base ou razão de tais proibições 
A teoria de Agostinho 
Segue em vigor a lei levítica do casamento? 
Como se deve interpretar a lei levítica? 
Graus proibidos 
Observações finais 
§12. O oitavo mandamento. 
A comunidade de bens 
Comunismo e socialismo 
Sociedade internacional 
Violações do Oitavo Mandamento 
§13. O nono mandamento. 
A importância da verdade 
Detrações 
Falsidade 
Classes de falsidade 
Reserva mental 
Fraudes piedosas 
Falsificações 
Falsos milagres 
Relíquias 
§14. O décimo mandamento. 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 13 
CAPÍTULO XX 
OS MEIOS DA GRAÇA 
 
§1. A Palavra. 
O testemunho da História 
A que se deve atribuir o poder da Palavra? 
O papel da Palavra como meio da graça 
A doutrina Luterana 
Observações 
§2. Os sacramentos. Sua natureza. 
O uso da palavra sacramento 
O uso teológico e definição da palavra 
A doutrina Luterana 
A doutrina Romanista 
A doutrina Remonstrante 
§3. Número dos sacramentos. 
Confirmação 
Penitência 
Ordem ou ordenação 
Casamento 
Extrema-unção 
Razões para fixar o número dos Sacramentos em Sete 
§4. A Eficácia dos sacramentos 
A doutrina Zwingliana e Remonstrante 
A doutrina da igreja Reformada 
A doutrina Luterana 
A doutrina Romanista 
Em que sentido os sacramentos contêm a graça? 
A doutrina «Ex Opere Operato» 
O Administrador 
§5. A necessidade dos sacramentos. 
§6. A validade dos sacramentos. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 14 
§7. O Batismo. 
O modo do batismo 
O uso da palavra nos clássicos 
Uso das palavras na Septuaginta e nos Apócrifos 
O uso do Novo Testamento 
O uso patrístico 
A universalidade do Evangelho 
Argumento com base no desígnio da ordenança 
§8. A fórmula do batismo 
§9. Os sujeitos do batismo 
Qualificações para o batismo de adultos 
Teoria da Igreja romana 
Teoria da Igreja puritana 
A comum teoria Protestante 
§10. O Batismo de crianças. 
1ª Proposição: A Igreja visível é uma instituição divina. 
2ª Proposição: A Igreja visível não se compõe exclusivamente 
dos regenerados. 
3ª Proposição: A Comunidade de Israel era a Igreja. 
4ª Proposição: A Igreja sob a Nova Dispensação é idêntica 
àquela sob a Antiga. 
5ª Proposição: Os requisitos para a admissão na igreja antes 
do advento são os mesmos que os requeridos para 
admissão na igreja cristã. 
6ª Proposição: As crianças eram membros da igreja sob a 
economia do Antigo Testamento. 
7ª Proposição: não há nada no Novo Testamento que justifica 
a exclusão dos filhos dos crentes da membresia na igreja. 
8ª Proposição: As crianças necessitam e podem receber os 
benefícios da redenção. 
§11. Os filhos de quem têm direito ao batismo? 
Diferença entre o uso judeu e cristão 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 15 
Doutrina da Igreja de Roma sobre o batismo de crianças 
Teorias com que muitos protestantes mantêm a conveniência 
do batismo de crianças além daquelas de pais crentes 
A doutrina puritana sobre este tema 
Doutrina e usos das Igrejas Reformadas 
§12. A eficácia do batismo 
Doutrina das igrejas Reformadas 
Prova da doutrina reformada 
O batismo é uma condição de salvação 
O batismo como um dever 
O batismo como meio de graça 
Regeneração batismal 
Argumentos diretos contra a doutrina da regeneração 
batismal 
§13. A doutrina luterana a respeito do batismo. 
Sua necessidade 
Seus efeitos 
A que se refere esta eficácia do batismo? 
A condição em que a eficácia do batismo foi suspensa 
§14. Doutrina da Igreja de Roma. 
§15. A Ceia do Senhor. 
A Ceia do Senhor é uma ordenança divina de obrigação 
perpétua. 
Os elementos a empregar-se na Ceia do Senhor 
As ações sacramentais 
O partir do pão 
A distribuição e recepção dos elementos 
O desígnio da Ceia do Senhor 
Requisitos para a Ceia do Senhor 
§16. A doutrina da Igreja Reformada sobre a Ceia do Senhor. 
Postura Zwingliana 
A doutrina de Calvino 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 16 
Confissões em que os Zwinglianos e os Calvinistas 
estão de acordo. 
O sentido em que Cristo está presente na Ceia do Senhor. 
Manducação 
O que se recebe na Ceia do Senhor 
A eficácia da Ceia do Senhor como um sacramento 
§17. Pontos de vista modernos a respeito da Ceia do Senhor. 
A aplicação destes princípios à Ceia do Senhor 
Observações 
§18. A doutrina Luterana. 
A declaração da Doutrina nos Livros Simbólicos 
Manducação 
Modo da presença 
O benefício recebido na Ceia do Senhor 
§19. A Doutrina da Igreja de Roma. 
A Transubstanciação 
Prova da Doutrina 
A negação do cálice aos leigos 
A Ceia do Senhor como sacrifício 
Observações 
§20. A Oração. 
O objeto da oração 
Os requisitos da oração aceitável 
Diferentes classes de oração 
Oração Pública 
A oração como meio da graça 
O poder da oraçãoTeologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 17 
PARTE IV: ESCATOLOGIA 
 
CAPÍTULO I 
O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE 
 
§1. A doutrina Protestante 
A doutrina de uma vida futura no Antigo Testamento 
O estado intermediário 
§2. O sono da alma. 
Refutação da doutrina do sonho da alma 
§3. Doutrina patrística do estado intermediário. 
§4. Doutrina da Igreja de Roma. 
O Limbus Patrum 
O Limbus Infantum 
O inferno 
O céu 
O purgatório 
Argumentos empregados em favor da doutrina 
Argumentos contra a doutrina 
História da doutrina 
 
CAPÍTULO II 
A RESSURREIÇÃO 
 
§1. A doutrina escriturística. 
Os corpos dos homens ressuscitarão 
A identidade de nosso corpo futuro com o presente 
Em que consiste esta identidade? 
A natureza do corpo da ressurreição 
§2. História da doutrina. 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 18 
CAPÍTULO III 
A SEGUNDA VINDA 
 
§1. Observações preliminares. 
§2. A doutrina comum da Igreja. 
§3. A vinda pessoal de Cristo. 
§4. A chamada dos Gentios. 
§5. A conversão dos judeus. 
Serão os judeus restaurados à sua própria terra? 
§6. O Anticristo. 
O Anticristo de Daniel 
O Anticristo do Apocalipse 
Doutrina Católica Romana do Anticristo 
 
CAPÍTULO IV 
OS EVENTOS CONCOMITANTES DA SEGUNDA VINDA 
 
§1. A ressurreição geral. 
O tempo desta Ressurreição Geral 
§2. O Juízo final. 
A doutrina da Igreja 
§3. O fim do mundo. 
Observações 
§4. O reino dos céus. 
A consumação 
§5. A teoria do advento premilenial. 
Aguardavam os Apóstolos a segunda vinda em seu tempo? 
§6. O castigo futuro 
A duração do castigo futuro 
Objeções 
A Bondade de Deus 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE III 
 
 
 
 
SOTERIOLOGIA 
 
 
(continuação) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 20 
 
CAPÍTULO XV 
REGENERAÇÃO 
 
§ 1. Uso do termo. 
 
A mudança subjetiva operada na alma pela graça de Deus é 
designada de várias maneiras na Escritura. É chamada um novo 
nascimento, uma ressurreição, uma nova vida, uma nova criatura, uma 
renovação da mente, um morrer para o pecado e viver para a justiça, uma 
translação das trevas à luz, etc. Em linguagem teológica chama-se 
regeneração, renovação, conversão. Estes termos se empregam 
frequentemente de maneira intercambiável. Às vezes se empregam para 
denotar todo o processo de renovação espiritual ou restauração da 
imagem de Deus, e às vezes para denotar uma etapa determinada deste 
processo. Assim, Calvino dá a este termo seu sentido mais amplo: 
«Numa palavra, afirmo que o arrependimento é uma regeneração 
espiritual, cujo fim não é outro senão restaurar em nós e voltar para sua 
antiga perfeição à imagem de Deus, que pela transgressão de Adão tinha 
ficado empanada e quase destruída. ... Mas esta restauração não se 
verifica num momento, nem num dia, nem num ano; mas Deus vai 
incessantemente destruindo em Seus escolhidos a corrupção da carne.»1 
Para os teólogos do século dezessete, a conversão e a regeneração 
eram termos sinônimos. Nos atos do Sínodo de Dort, encontramos 
expressões tais como “Status conversionis aut regenerationis,” e “effecta 
ad conversionem sive regenerationem prævia”. John Owen, em sua obra 
sobre o Espírito Santo, segue o mesmo uso. O quinto capítulo do terceiro 
livro dessa obra se intitula “A natureza da regeneração,” e um dos 
cabeçalhos debaixo dele é “A conversão não vem só pela persuasão 
moral.” “Se o Espírito Santo,” diz ele, “não age contrário aos homens na 
regeneração ou conversão,” então segue por esse diapasão. Turretino, 
 
1 Institución, libro III, cap. III, 9. Edición de FELIRE, Rijswijk, 1968, vol. I pág. 454. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 21 
 
como vimos, distingue entre o que ele chama “conversio habitualis” e 
“conversio actualis.” “Conversio habitualia seu passiva, fit per habituum 
supernaturalium infusionem a Spiritu Sancto. Actualis vero seu activa 
per bonorum istorum exercitium. . . . Per illam homo renovatur et 
convertitur a Deo. Per istam homo a Deo renovatus et convertus 
convertit se ad Deum, et actus agit. Illa melius regeneratio dicitur, quia 
se habet ad modum novæ nativitatis, qua homo reformatur ad imaginem 
Creatoris sui. Ista vero conversio, quia includit hominis ipsius 
operationem.”2 Isto é claro e preciso. Porquanto estas duas coisas são 
distintas, deveriam ser designadas com termos diferentes. As questões se 
o homem é ativo ou passivo na regeneração e se a regeneração é efetuada 
pela influência mediata ou imediata do Espírito deve ser respondida de 
uma maneira se a regeneração incluir a conversão, e de outra se é tomada 
em seu sentido restringido. Na Bíblia geralmente se preserva a distinção: 
μετάνοια (metanoia), arrependimento, mudança da mente, volta a Deus, 
isto é, conversão, é aquilo que o homem é chamado a fazer; ἀναγέννησις 
(anagénnësis), regeneração, é o ato de Deus. Deus regenera; a alma é 
regenerada. Na Igreja Romanista a justificação é fazer subjetivamente 
justo, isto é; livre de pecado e interiormente santo. O mesmo com a 
regeneração, e o mesmo com a santificação. Portanto, estes termos são, 
na teologia dessa igreja, constantemente intercambiados. 
Inclusive entre os Luteranos, na «Apologia da Confissão de 
Augsburgo», faz-se que a regeneração inclua a justificação. Quer dizer, 
faz-se para incluir todo o processo pelo qual se transfere ao pecador de 
um estado de pecado e condenação a um estado de salvação. 
Na “Fórmula de Concórdia,” diz-se: “Vocabulum regenerationis 
interdum in eo sensu accipitur, ut simul et remissionem peccatorum (quæ 
duntaxat propter Christam contingit) et subsequentem renovationem 
complectatur, quam Spiritus Sanctus in illis, qui per fidem justificati 
sunt, operatur, quandoque etiam solam remissionem peceatorum, et 
 
2 Locus xv. quæs. iv. 13, edit. Edinburgh, 1847, vol. ii. p. 460. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 22 
 
adoptionem in filios Dei significat. Et in hoc posteriore usu sæpe 
multumque id vocabulam in Apologia Confessionis ponitur. Verbi gratia, 
cum dicitur: Justificatio est regeneratio. . . . Quin etiam vivificationis 
vocabulum interdum ita accipitur, ut remissionem peccatorum notet. 
Cum enim homo per fidem (quam quidem solus Spiritus Sanctus 
operatur) justificatur, id ipsum revera est quædam regeneratio, quia ex 
filio iræ fit filius Dei, et hoc modo e morte in vitam transfertur. . . . 
Deinde etiam regeneratio sæpe pro sanctificatione et renovatione (quæ 
fidei justificationem sequitur) usurpatur. In qua significatione D. 
Lutherus hac voce, tum in libro de ecelesia et conciliis, tum alibi etiam, 
multum usus est.”3 
Embora este uso impreciso dos termos fosse inevitavelmente 
acompanhado de grande confusão, a própria «Fórmula de Concórdia», e 
os teólogos Luteranos posteriores, foram mais precisos. Em especial 
estabeleceram uma clara distinção entre a justificação e tudo o que 
significasse uma mudança subjetiva no pecador. 
Na Igreja primitiva o termo regeneração expressava frequentemente 
não uma mudança moral interior, mas uma mudança externa de estado 
ou relação. Entre os judeus, quando um pagão vinha a ser prosélito à sua 
religião, dizia-se que tinha nascido de novo. A mudança de seu estado de 
fora para dentro da teocracia era chamado regeneração. Este uso passou 
em certa medida à Igreja Cristã. Quando um homem torna-se membro da 
Igreja, dizia-se que tinha nascido de novo; e o batismo, que era o rito de 
iniciação, era chamado regeneração. Este uso da palavra não desapareceu 
totalmente. Segue-se fazendo às vezes uma distinção entre regeneração e 
renovação espiritual. A primeira é externa, a segunda interna. Alguns dos 
defensores da regeneração batismal fazem esta distinção e interpretam a 
linguagem dasfórmulas da Igreja da Inglaterra em conformidade com 
ela. A regeneração que tem lugar no batismo, para eles, não é uma 
 
3 III. 19, 20, 21; Hase, Libri Symbolici, 3d edit. p. 686. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 23 
mudança espiritual no estado da alma, mas somente um nascimento na 
Igreja visível. 
 
§ 2. Natureza da regeneração. 
 
Por consentimento quase universal, a palavra regeneração não é 
usada hoje em dia para designar toda a obra de santificação, nem as 
primeiras etapas daquela obra incluída na conversão, e muito menos a 
justificação ou nenhuma mera mudança de estado externo, mas é usada 
para mudança instantânea da morte espiritual à vida espiritual. Portanto, 
a regeneração é uma ressurreição espiritual: o começo de uma nova vida. 
Às vezes a palavra expressa o ato de Deus. Deus regenera. Às vezes 
designa o efeito subjetivo de Seu ato. O pecador é regenerado. Vem a ser 
nova criação. É nascido de novo. E isto é sua regeneração. Estas duas 
aplicações da palavra estão conectadas tão intimamente que não se 
produz confusão. A natureza da regeneração não recebe mais explicação 
na Bíblia que a que se dá de seu autor, Deus, no exercício da suprema 
grandeza de seu poder; seu sujeito, toda a alma; e seus efeitos, vida 
espiritual, e todos os seus conseguintes atos e estados em santidade. Sua 
natureza metafísica é deixada como um mistério. 
Não é a província da filosofia ou da teologia que tem que resolver 
esse mistério. É, entretanto, o dever do teólogo examinar as diversas 
teorias sobre a natureza desta mudança salvadora, e rejeitar todos os que 
sejam inconsistentes com a Palavra de Deus. 
 
Não é uma mudança na substância da alma 
A regeneração não consiste em nenhuma mudança na substância da 
alma. O único defensor da doutrina oposta entre teólogos protestantes foi 
Flacius Illyricus, chamado assim pelo lugar de seu nascimento. Foi um 
dos teólogos luteranos mais proeminentes no que se chama a segunda 
Reforma na Alemanha. Ele fez um grande serviço à causa da verdade em 
resistir à sinergia de Melâncton, e as concessões que esse eminente mas 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 24 
cedente reformador estava disposto a fazer aos papistas. Ele contribuiu 
com algumas das obras mais importantes da época em que viveu à 
reivindicação da fé protestante. Seu “Catalogus Testiam Veritatis,” 
destinado a provar que a doutrina da Reforma teve suas testemunhas em 
todas as idades, e sua “Clavis Scripturae Sacræ;” e especialmente a 
grande obra histórica “The Magdeburg Centuries” (em treze volumes, 
fólio), da qual foi o iniciador e principal autor, dão fé de sua 
aprendizagem, talentos, e a indústria incansável. Seu fervente espírito e 
sem concessões o envolveu em muitas dificuldades e dores. Morreu 
esgotado pelo sofrimento e o trabalho, diz seu biógrafo, um desses 
homens de fé dos quais o mundo não era digno. Sempre extremo em suas 
opiniões, sustentou que o pecado original era uma corrupção da 
substância da alma, e a regeneração de uma mudança dessa substância 
quanto a restaurar sua pureza normal. Todos os seus amigos que se 
tinham aliado a ele em sua controvérsia com os sinergistas e os 
partidários do interino Leipzig, agora o abandonaram, e ele ficou 
sozinho. Na “Fórmula de Concórdia,” adotada para resolver todas as 
controvérsias da época, estes pontos de vista peculiares de Flacius foram 
condenados como um renascimento virtual da heresia maniqueísta. 
Insistia-se em que se a substância da alma é pecado, Deus, por quem 
cada alma é criada, deve ser o autor do pecado; e que Cristo, quem, ao 
assumir nossa natureza, converteu-se em consubstancial conosco, deve 
ser um participante do pecado. Nenhuma Igreja cristã assumiu a 
responsabilidade pela doutrina de Flacius, ou assumiu que a regeneração 
implica uma mudança da essência da alma. 
 
A regeneração não consiste num ato da alma 
A regeneração não consiste em qualquer ato ou atos da alma. A 
palavra aqui, é óbvio, deve ser entendida não como incluindo a 
conversão, e muito menos toda a obra de santificação, mas em seu 
sentido restringido para o começo da vida espiritual. A opinião oposta, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 25 
 
que faz a regeneração, inclusive em seu sentido mais estrito, um ato da 
alma, celebrou-se por classes muito diferentes dos teólogos. 
Está, é óbvio, envolvido na doutrina de Pelágio, que nega o caráter 
moral a tudo menos aos atos da vontade. Se “todo pecado é pecado,” e 
“todo amor é amor,” então cada mudança moral no homem deve ser uma 
mudança de uma forma de atividade voluntária a outra. Como depois os 
remonstrantes mantiveram o princípio em questão fizeram a regeneração 
consistir no próprio ato do pecador na conversão a Deus. A influência 
exercida sobre ele foi uma influência a que ele poderia ceder ou resistir. 
Se ele cedeu, foi uma decisão voluntária, e nessa decisão consistiu sua 
regeneração, ou o início de sua vida religiosa. 
 
A postura do doutor Emmons 
O Dr. Emmons, sustentando que todo pecado e a santidade consiste 
em atos, que age, quer seja pecaminoso ou santo, são imediatamente 
criados por Deus, faz a regeneração consistir em dar a Deus o começo de 
uma série de atos sagrados. Em seu discurso sobre a Regeneração, a 
primeira proposição que se compromete estabelecer é, “que o Espírito de 
Deus, na regeneração, não produz nada senão o amor.” Este se mantém 
em oposição aos que dizem que o Espírito produz uma nova natureza, o 
princípio, a disposição, ou sabor. “Os que estão no estado de natureza,” 
diz ele, “não estão em nenhuma necessidade de ter um novo poder, ou 
faculdade, ou princípio de ação produzido neles, com o fim de que 
cheguem a ser santos. Eles são tão capazes de amar como de odiar a 
Deus. . . . Isto é certo para todos os pecadores, que são agentes morais, e 
os próprios objetos do governo moral, antes como depois da 
regeneração. Sempre que, portanto, o divino Espírito os renova, 
regenera, ou santifica, Ele não tem ocasião de produzir qualquer coisa 
em suas mentes, além de amor.”4 “O amor que o Espírito de Deus 
produz na regeneração é o amor de benevolência, e não o amor de 
 
4 Sermon 51, Works, edit. Boston, 1842, vol. v. p. 112. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 26 
 
complacência.”5 “Embora não haja uma conexão natural ou necessária 
entre o primeiro exercício do amor e todos os exercícios futuros da graça 
entretanto, há uma conexão constituída, que faz exercícios futuros da 
graça como certos, como se tivessem passado de uma nova natureza, ou 
um princípio sagrado, como muitos supõem.”6 
Sua primeira inferência da doutrina de seu sermão é: “Se o Espírito 
de Deus produz nada mais que amor na regeneração, então não há 
motivo para a distinção que se faz com frequência entre a regeneração, a 
conversão e a santificação. São, em natureza e tipo, precisamente os 
mesmos frutos do Espírito. Na regeneração, Ele produz santos 
exercícios, na conversão, Ele produz santos exercícios, e na santificação, 
Ele produz santos exercícios.”7 Em segundo lugar, “Se o Espírito de 
Deus na regeneração produz nada mais que amor, então os homens não 
são mais passivos na regeneração que na conversão ou na santificação. 
Aqueles que sustentam que o Espírito divino na regeneração produz algo 
antes do amor como fundamento da mesma, quer dizer, uma nova 
natureza, ou um novo princípio de santidade, sustentam que os homens 
são passivos na regeneração, mas ativos na conversão e na santificação. 
... Mas se o que se disse neste discurso é verdade, não há uma nova 
natureza, ou princípio de ação, produzido na regeneração, mas só o 
amor, que é atividade em si.”8 
 
A doutrina do professor Finney 
O Professor Finney, em suas “Conferências sobre Teologia 
Sistemática, ensina: (1.) Que a satisfação, a felicidade, a beatitude, é o 
único bem absoluto; a virtudeé só relativamente boa, quer dizer, boa 
quando tende a produzir felicidade. (2.) Que toda virtude descansa na 
intenção de promover a felicidade do ser, quer dizer, do ser universal. 
 
5 Ibid. p. 114. 
6 Sermon 51, Works, edit. Boston, 1842, vol. v. p. 116. 
7 Ibid. p. 116. 
8 Ibid. pp. 117, 118. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 27 
 
Não há virtude na emoção, sentimento ou qualquer estado da 
sensibilidade, visto que estes são involuntários. Amar a Deus embora 
não seja a complacência em sua excelência, mas antes, “o querer-lhe 
bem.” (3.) Todo pecado é o egoísmo, ou a eleição de nossa própria 
felicidade em lugar do bem do ser universal. (4.) Todo agente moral é 
sempre “como algo pecaminoso ou santo bem como com seus 
conhecimentos possam ser.” (5.) “Como a lei moral é a lei da natureza, é 
absurdo supor que completa obediência a ela não deveria ser a condição 
inalterável da salvação.”9 (6.) A regeneração é uma mudança 
“instantânea” de todo pecado à santidade completa.”10 Trata-se de uma 
simples mudança de propósito. 
O sistema do professor Finney é um produto notável da lógica 
inflexível. É valiosa como uma advertência. Isso mostra até que 
extremos a mente humana pode transportar-se, quando abandonada à sua 
própria orientação. Começa com certos axiomas, ou, como ele os chama, 
verdades da razão, e destes chega a conclusões que de fato são deduções 
lógicas, mas que abalam o sentido moral, e não provam nada, senão que 
suas premissas são falsas. Seu princípio fundamental é que a capacidade 
limita a obrigação. O livre-arbítrio se define como “o poder de escolher, 
ou negar-se a escolher, em cumprimento da obrigação moral em todos os 
casos.”11 “A consciência da afirmação da capacidade para cumprir 
qualquer requerimento, é uma condição necessária da afirmação da 
obrigação de cumprir esse requerimento.”12 “Falar da incapacidade para 
obedecer a lei moral, é falar coisas sem sentido.”13 
Entretanto, reconhece-se que a capacidade do homem se limita aos 
atos da vontade, portanto o caráter moral só pode afirmar-se de tais atos. 
 
9 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 1846, 
p. 364. 
10 Ibid. p. 500. 
11 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 
1846, p. 26. 
12 Ibid. p. 33. 
13 Ibid. p. 4. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 28 
 
Os atos da vontade são eleições ou vontades. “Por eleição tem-se por 
objeto a seleção ou eleição de um fim. Por vontade tem-se por objeto os 
esforços executivos da vontade de assegurar o final previsto.”14 Somos 
responsáveis, portanto, só por nossas eleições na seleção de um fim 
último. “Em geral se aceita que a obrigação moral respeita estritamente 
só a intenção última ou a eleição de um fim por si mesmo.”15 “Tenho 
que a obrigação moral respeita a intenção última somente. Agora estou 
preparado para dizer, ainda mais, que esta é uma primeira verdade da 
razão.”16 “O correto pode afirmar-se só de boa vontade, e o mal só de 
egoísmo. . . . É adequada para ele [para o homem] a intenção do bem 
supremo do ser como uma fim. Se honestamente fizer isto, ele não pode, 
fazendo isto, errar em seu dever, porque ao fazer isto, ele realmente 
realiza tudo de seu dever.”17 “O caráter moral pertence exclusivamente à 
intenção última da mente, ou à eleição, diferente da vontade.”18 
A finalidade de ser eleito é “o bem supremo do ser.” “O bem pode 
ser físico ou moral. O bem natural é sinônimo de valor. O bem moral é 
sinônimo de virtude.”19 Bem moral é só um bem relativo. Cumpre uma 
demanda de nosso ser, e portanto produz satisfação. Esta satisfação é o 
bem supremo do ser.”20 “Venho agora a indicar o ponto sobre o qual é o 
tema central, ou seja: Que alegria, felicidade, ou satisfação mental, é o 
único bem final.”21 “De que valor é a verdade, o direito, o justo, etc., 
além do prazer como a satisfação mental derivados dos mesmos às 
existências sensíveis.”22 
 
14 Ibid. p. 44. 
15 Ibid. p. 26. 
16 Ibid. p. 36. 
17 Ibid. p. 149. 
18 Ibid. p. 157. 
19 Ibid. p. 45. 
20 Ibid. p. 48. 
21 Ibid. p. 120. 
22 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 
1846, p. 122. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 29 
 
Segue-se destes princípios que os homens cumprem seu dever geral, 
e são perfeitos, se tiverem a intenção da felicidade do ser em geral. Não 
há moralidade em emoções, sentimentos, ou sentimentos. Estes são 
estados involuntários da sensibilidade, e são em si mesmos nem bons 
nem maus. “Se alguma ação externa ou estado de sensação existe, em 
oposição à intenção ou a eleição da mente, não pode por nenhuma 
possibilidade ter um caráter moral. O que está além do controle de um 
agente moral, ele não pode ser responsável”23 “O amor pode, e com 
frequência existe, como todos sabem, na forma de um mero sentimento 
ou emoção. . . . Esta emoção ou sentimento, como todos sabemos, é 
puramente um estado involuntário da mente. Devido ao fato de que é um 
fenômeno da sensibilidade, e é óbvio, um estado passivo da mente, que 
não tem em si mesmo caráter moral.”24 A gratidão, “como um mero 
sentimento ou fenômeno da sensibilidade. . . não tem caráter moral.”25 O 
mesmo é dito sobre a benevolência, a compaixão, a misericórdia, 
consciência, etc. A doutrina é: “Nenhum estado da sensibilidade. . . tem 
caráter moral em si mesmo.”26 O amor que tem a excelência moral, e que 
é o cumprimento da lei, não é um sentimento de complacência, mas “boa 
vontade,” desejando o bem ou a felicidade de seu objeto. Deveria um 
homem, portanto, sob o impulso de um sentimento benévolo, ou um 
sentido do dever, realizar um ato correto, ele pecaria como de fato se, 
sob o impulso da malícia e da cobiça, ele realizasse um ato mau. A 
ilustração é que, pagar uma dívida de um senso de justiça, é tão mau 
quanto roubar um cavalo de cobiça. Um homem “pode ser prevenido [de 
cometer] injustiça comercial por uma consciência constitucional ou 
frenológica ou senso de justiça. 
Mas isto é só um sentimento da sensibilidade, e se restringido só 
por isso, ele é tão absolutamente egoísta, como se tivesse roubado um 
 
23 Ibid. p. 164. 
24 Ibid. p. 213. 
25 Ibid. p. 278. 
26 Ibid. p. 521. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 30 
 
cavalo na obediência à cobiça.”27 “Se o homem egoísta fosse pregar o 
evangelho, seria só porque sobretudo era muito agradável ou gratificante 
para si mesmo, e não a todos por amor ao bem de ser como um fim. Se 
ele deve converter-se num pirata, seria exatamente pela mesma razão. ... 
Seja qual for o curso que toma, ele toma precisamente pela mesma razão; 
e com o mesmo grau de luz que deve começar com o mesmo grau de 
culpabilidade.”28 Alimentar os pobres com um sentimento de 
benevolência, e assassinar um pai com um sentimento de malícia, 
envolve o mesmo grau de culpabilidade! Tal sacrifício à lógica nunca foi 
feita antes por qualquer homem. Mas ainda mais maravilhoso, se for 
possível, é a declaração de que um homem pode “sentir-se 
profundamente maligno e sentimentos de vingança contra Deus. Mas o 
pecado não consiste nestes sentimentos, nem necessariamente os 
implica.”29 
A excelência moral não é um objeto de amor. Dizer que estamos 
obrigados a amar a Deus porque Ele é bom, diz-se que é “mais absurdo. 
O que é amar a Deus? Por que, como se tem lembrado, não é exercer 
uma mera emoção da complacência nEle. É à vontade de algo para 
Ele.”30 “Deve-se dizer que a santidade de Deus é o fundamento de nossa 
obrigação de amá-Lo, eu pergunto em que sentido pode ser assim? Qual 
é a natureza ou forma de que o amor, que sua virtude nos põe na 
obrigação exercitar? Não pode ser uma mera emoção de complacência, 
por emoções que os estados involuntáriosda mente e simples fenômenos 
da sensibilidade, aplicam-se sem a fraqueza da legislação e a 
moralidade.”31 “Estamos na obrigação infinita a amar a Deus, e querer 
Seu bem com todo nosso poder, porque o valor intrínseco de Seu bem-
estar, se Ele é santo ou pecador. A condição de que Ele é santo, estamos 
 
27 Ibid. p. 317, 318. 
28 Ibid. p. p. 355. 
29 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 
1846, p. 296. 
30 Ibid. p. 64. 
31 Ibid. p. 91. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 31 
 
na obrigação de querer Sua felicidade real, mas certamente estamos na 
obrigação de querer com não mais que todo nosso coração, e alma, e 
mente e força. Mas isto é-nos requerido fazer porque o valor intrínseco 
de Sua bem-aventurança, qualquer que seja Seu caráter.”32 Seguramente 
tal sistema é um ὑπόδειγμα τῆς ἀπειθείας. 
 
A postura do Dr. Taylor 
O sistema do Dr. Taylor, de New Haven está de acordo com a do 
professor Finney em fazer com que o livre-arbítrio inclui o poder pleno; 
em limitar a responsabilidade e o caráter moral dos atos voluntários, com 
relação à felicidade como o bem supremo; e em fazer a regeneração 
consistir num mudança de propósito. Os dois sistemas diferem, 
entretanto, no essencial quanto ao fundamento da obrigação moral ou 
natureza da virtude; e quanto à natureza dessa mudança de finalidade em 
que consiste a regeneração. O Professor Finney adota a teoria comum 
eudemonística que faz a felicidade do ser, quer dizer, do universo, o bem 
supremo; e portanto faz com que a virtude consista no propósito de 
governo promover essa felicidade, e todo pecado no propósito de buscar 
nossa própria felicidade, em vez da alegria de ser; consequentemente, a 
regeneração é uma mudança desse propósito, quer dizer, é uma mudança 
do egoísmo à benevolência. 
O Dr. Taylor, por sua vez, reconheceu o fato de que como o desejo 
da felicidade é um elemento constitutivo de nossa natureza, ou a lei de 
nosso ser, deve ser inocente, pelo que não deve confundir-se com o 
egoísmo. Ele portanto, deduziu que este desejo de felicidade é 
justamente o princípio de ação no controle de todas as criaturas sensíveis 
e racionais. O pecado consiste em buscar a felicidade na criatura; a 
santidade na busca da felicidade em Deus; a regeneração é o propósito 
ou a decisão de um pecador em busca de sua felicidade em Deus e não 
no mundo. Esta mudança de objetivo, ele às vezes chama uma “mudança 
 
32 Ibid. p. 99. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 32 
de coração,” às vezes “dar o coração a Deus,” às vezes “amar a Deus.” 
Como a regeneração é a eleição de Deus como nosso bom chefe, é um 
ato inteligente, voluntário da alma, e portanto deve efetuar-se de acordo 
com as leis estabelecidas da ação mental. Supõe os atos preliminares de 
consideração, avaliação e comparação. O pecador contempla a Deus 
como fonte de felicidade, estima que sua adequação às necessidades de 
sua natureza. Compara-O com outros objetos de eleição, e decide 
escolher a Deus como sua porção. Às vezes a palavra regeneração é 
utilizada num sentido amplo, incluindo todo o processo de exame e 
decisão; às vezes num sentido restringido, pela própria decisão. 
Sendo tal a natureza da regeneração, é certamente provocada pela 
influência da verdade. A Bíblia revela a natureza de Deus, e Sua 
capacidade e vontade para fazer felizes Suas criaturas; exibe todos os 
motivos que devem determinar a alma para tomar Deus como porção. 
Como a regeneração é um ato racional e voluntário, é inconcebível que 
esta teria lugar, salvo em vista de considerações racionais. Não se nega a 
influência do Espírito neste processo. Admite-se o fato de que todas as 
considerações que deveriam determinar o pecador para fazer a eleição de 
Deus, fique sem efeito salvador, a menos que o Espírito o faça eficaz. 
Estas opiniões se apresentam em detalhe no “Christian Spectator” 
(uma revista trimestral) ao redor de 1829. Sobre a natureza da 
modificação em questão, o Dr. Taylor diz: “A regeneração, considerada 
como uma mudança moral da qual o homem é o tema — dando a Deus o 
coração — fazendo um novo coração — amando a Deus supremamente, 
etc., são termos e frases que, em uso popular, denota um ato complexo. . 
. . Estas palavras, em todo falar e escritura comum, usa-se para designar 
um ato, e entretanto, este ato inclui um processo de atividades mentais, 
que consistem na percepção e a comparação de motivos, a estimativa de 
seu valor relativo, e a eleição ou querer da ação exterior.” “Quando 
falamos dos meios de regeneração, usaremos a palavra regeneração num 
sentido mais limitado que seu conteúdo popular comum; e o 
confinaremos, principalmente por amor da fraseologia conveniente, ao 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 33 
 
ato da vontade ou do coração, diferente de outros atos mentais 
relacionadas com ela; ou a esse ato da vontade ou do coração que 
consiste numa preferência de Deus a todos os outros objetos; ou a essa 
disposição do coração, ou que regula o afeto ou a finalidade do homem, 
que o consagra a serviço e glória de Deus.”33 
“O amor ou o desejo da felicidade, é a principal causa ou razão de 
todos os atos preferivelmente ou eleição que fixa soberanamente sobre 
qualquer objeto. Em cada ser moral que forma um caráter moral, deve 
haver um primeiro ato moral preferivelmente ou eleição. Isto deve 
respeitar um único objeto, a Deus ou ao dinheiro, como o bom chefe, ou 
como um objeto de afeto supremo. Agora de onde vem essa opção ou 
preferência? Não de uma eleição prévia ou preferência do mesmo objeto, 
pois falamos da primeira eleição do objeto. A resposta que a consciência 
humana dá, é que o ser constituído com capacidade para a felicidade 
deseja ser feliz; e sabendo que ele é capaz de obter satisfação de 
diferentes objetos, considera que a maior felicidade pode ser derivada, e 
como neste respeito ele julga ou estima seu valor relativo, então ele 
escolhe ou prefere um ou outro como seu bem supremo. Embora isto 
deva ser o processo mediante o qual um ser moral forma a sua primeira 
preferência moral, substancialmente o mesmo processo é indispensável 
para uma mudança desta preferência. A mudança consiste na preferência 
de um novo objeto como o bem supremo; uma preferência que a 
preferência anterior não tem tendência a produzir, mas uma tendência 
direta a prevenir; uma preferência, portanto, não são resultado de, ou em 
qualquer maneira por uma prévia preferência de um objeto dado, mas 
resultam dos atos de considerar e comparar as fontes de felicidade, que 
são ditadas pelo desejo da felicidade ou o amor próprio.”34 
Sendo a Regeneração uma mudança de finalidade, o modo em que 
se produz se explica assim. “Se o homem sem a graça divina é um agente 
 
33 Christian Spectator, vol. i. New Haven, 1829, pp. 16-19. 
34 Ibid. p. 21. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 34 
 
moral, então ele está qualificado a examinar, comparar e estimar os 
objetos de eleição como meio de felicidade, e capaz também de tal 
entusiasmo constitucional à vista do bem e o mal posto antes que ele, 
como poderia resultar em seu dar seu coração a Deus, sem a graça. ... O 
ato de dar a Deus o coração tem que produzir-se em perfeito acordo com 
as leis do livre-arbítrio e da ação voluntária. Se a graça que interpõe 
infringe essas leis, o efeito não pode ser a ação moral; e devem violar 
estas leis, se é que prescinde da classe de atividades intelectuais que 
agora se examina. O que quer que seja, portanto, a influência que 
assegura uma mudança de coração no pecador, a mudança em si é uma 
mudança moral, e implica o exercício de todas as faculdades e 
capacidades do agente moral, que na natureza das coisas são essenciais 
para uma ato moral.”35 Na página anterior se havia dito: “As Escrituras 
nos autorizama afirmar, em geral, que o modo de influência divina é 
consistente com a natureza moral desta mudança como um ato voluntário 
do homem; e, também, que é através da verdade, e implica a atenção à 
verdade da parte do homem.”36 “Não pode,” o Dr. Taylor pergunta: 
“Aquele que formou a mente do homem, chegar a ela com uma 
influência de seu Espírito, que concordará com todas as leis da ação 
voluntária e moral? Porque motivos, sem uma interposição divina, não 
assegurará esta mudança moral no homem pecador, e porque não têm a 
eficácia positiva em sua produção, deve Deus em sua produção dispensar 
os motivos por completo? Devem as conexões adequadas entre os 
motivos e os atos de vontade, ou entre o exercício dos afetos e a 
percepção de seus objetos, ser dissolvidas, e não têm lugar? Deve Deus, 
se por Sua graça Ele leva os pecadores a dar-Lhe seu coração em santo 
amor, obter a mudança de tal maneira que eles não terão a percepção 
prévia ou a vista do objeto de seu amor; e não sabem o que queiram ou a 
quem amam, em lugar de seus ídolos antigos? Limita assim uma teologia 
 
35 Christian Spectator, 1829, p. 223. 
36 Ibid. p. 17. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 35 
 
consistente ao Único Santo, e o obriga a obter o mais perfeito do 
impossível, na transformação do caráter moral do homem pecador?”37 
Isto pode ser uma explicação correta do processo de conversão, com a 
que este sistema confunde a regeneração. A conversão é certamente um 
voltar voluntário da alma do pecado para Deus. Pela natureza do caso 
que se produz aproximadamente por motivos adaptados, ou não seria 
nem racional nem santo. Mas isto não prova nada quanto à natureza da 
regeneração. A análise mais precisa das leis da visão não pode lançar luz 
sobre a forma em que Cristo abriu os olhos dos cegos. 
 
Observações 
É evidente que estes pontos de vista da regeneração são meras 
teorias filosóficas. O Dr. Emmons assume que é tal a dependência de 
uma criatura ao Criador, que não pode agir. Nenhuma criatura pode ser 
uma causa. Não há eficiência nas segundas causas. Logo, é óbvio, a 
primeira causa deve produzir todos os efeitos. Deus cria tudo, até 
volições. Na alma só há atos ou exercícios. A regeneração, portanto, é 
um ato ou volição criado por Deus; ou, é o nome dado à abertura de uma 
nova série de exercícios que são santos em lugar de pecaminosos. 
O professor Finney assume que a capacidade plenária é essencial 
para a atividade moral; que um homem, pelo que respeita à sua vida 
interna, tem um poder só sobre suas eleições e volições; tudo, portanto, 
ao que é responsável, tudo o que constitui o caráter moral, deve cair sob 
a categoria de eleição, a seleção de um fim último. Assumindo, além 
disso, que a felicidade é o único bem absoluto, todo pecado consiste no 
exercício indevido de nossa própria felicidade, e toda virtude na 
benevolência ou na finalidade de buscar a felicidade do ser. A 
regeneração, portanto, consiste na mudança da finalidade de buscar 
nossa própria felicidade, com o fim de buscar como nosso fim último a 
felicidade do universo. 
 
37 Ibid. p. 433. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 36 
O Dr. Taylor, está de acordo com o Professor Finney da natureza da 
atividade livre, e na doutrina de que a felicidade é o bem supremo, 
mantém com ele em que todo pecado e santidade consistem na ação 
voluntária. Mas assumindo que o amor próprio, diferente do egoísmo, é 
o motivo em toda ação moral racional, ele faz com que a regeneração 
consista na eleição de Deus como a fonte de nossa própria felicidade. 
Todas estas especulações estão fora da Bíblia. Não têm autoridade 
ou valor porque não se derivam de sua verdade inerente, e qualquer 
homem está em liberdade para controvertê-las, se não se encomendarem 
a sua própria razão e consciência. Mas além disso, o caráter puramente 
filosófico destes pontos de vista, seria fácil demonstrar, não só que não 
têm nenhuma base válida em que descansar, mas também em que são 
inconsistentes com os ensinos da Escritura e com a genuína experiência 
cristã. Isto será tratado quando o relato bíblico da regeneração for 
considerado. 
 
A regeneração não é uma mudança em nenhuma faculdade 
A regeneração não consiste numa mudança em qualquer dá 
faculdades dá alma, se na sensibilidade, ou a vontade ou ou intelecto. 
Segundo alguns teólogos, vos sentimentos ou ou coração, não sentido 
restringido dá palavra, É a sede exclusiva dou pecado original. A 
corrupção hereditária, em outras palavras, face-se consistir na aversão 
dou coração dá coisas divinas, e uma preferência corta coisas dou 
mundo. Ou fim a ser efetuado na regeneração, portanto, É simplesmente 
corrigir esta aversão. A compreensão, insiste--se, quanto À verdade 
moral e religiosa refere--se, entende corretamente e aprecia ou que se 
ama; e de igual maneira, não mesmo âmbito, cremos que ou entendemos 
como correto e bom. Portanto, se vos sentimentos forem atos ou que 
devem ser, todas ás demais operações dá mente, ou ou homem interior, 
terá razão. 
Esta teoria se baseia em parte numa visão errônea dou significado 
dá palavra “coração” usada nas Escrituras. Numa multidão de casos, e 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 37 
em todos vos casos em que se fala dá regeneração, significa a alma 
inteira; quer dizer, inclui ou intelecto, a vontade e a consciência, assim 
como todos vos afetos. Daí a Bíblia fala dois olhos, dois pensamentos, 
dois propósitos, dois projetos, assim como dois sentimentos ou afetos 
dou coração. Na linguagem dá Escrituras, portanto, um “novo coração” 
não significa simplesmente um novo estado de sentimento, mas uma 
mudança radical na estado de toda a alma ou dou homem interior. Além 
disso, esta teoria passa por alto ou que a Bíblia constantemente assume: a 
unidade de nossa vida interior. Ás Escritura não contemplam ou 
intelecto, a vontade e vos afetos, como independentes, elementos 
separáveis de um todo. Estas faculdades São só diferentes formas de 
atividade em uma e a mesma subsistência. Nenhuma execução dá afetos 
pode ocorrer Sem um exercício dou intelecto, e, se ou objeto É moral ou 
religioso, Sem incluir um exercício te correspondam de nossa natureza 
moral. 
 
A regeneração não é meramente iluminação 
Outra teoria antagônica igualmente unilateral, é que o intelecto só 
está em falta, e que a regeneração reduz-se na iluminação. Este ponto de 
vista é muito mais plausível que o anterior. A Bíblia faz a vida eterna 
consistir no conhecimento; pecado é cegueira ou escuridão; a transição 
de um estado de pecado a um estado de santidade é uma translação da 
escuridão à luz; diz-se que os homens devem ser renovados até o 
conhecimento, quer dizer, o conhecimento é o efeito da regeneração, a 
conversão diz-se que é efetuada pela revelação de Cristo; o rechaço dEle 
como o Filho de Deus e Salvador dos homens refere-se ao fato de que os 
olhos dos que não creem estão cegados pelo deus deste mundo. Estas 
representações bíblicas provam muito. Demonstram que o conhecimento 
é essencial para todos os santos exercícios; que a verdade como objeto 
de conhecimento, é de vital importância, e que o erro é sempre mau e 
com frequência fatal; e que o efeito da regeneração, à medida que se 
manifesta em nossa consciência, consiste principalmente em 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 38 
compreensão ou discernimento espiritual das coisas divinas. Estas 
representações também provam que na ordem da natureza, o 
conhecimento ou discernimento espiritual, é antecedente e causativo 
relativamente a todos os santos exercícios dos sentimentos ou afetos. É a 
compreensão da verdade espiritual que desperta o amor, a fé e alegria; e 
não o amor que produz o discernimento espiritual. Foi a visão que Paulo 
tinha da glória divina de Cristo que o fez imediatamente e para sempre 
seu adorador e servidor. As Escrituras, entretanto, não ensinam que a 
regeneraçãoconsiste exclusivamente na iluminação, ou que as 
faculdades cognitivas são exclusivamente o tema da força renovadora do 
Espírito. É a alma como tal a que está espiritualmente morta; e deve ser a 
alma um novo princípio de vida controlador de todos os seus exercícios, 
quer seja da inteligência, da sensibilidade, da consciência ou da vontade 
que se comunica. 
 
Não é uma mudança exclusiva dos mais elevados 
poderes da alma. 
Há outro ponto de vista do sujeito, que cai dentro deste cabeçalho 
do que pode chamá-la regeneração parcial. que se baseia em tricotomia, 
ou a assunção de três elementos na constituição do homem, ou seja, o 
corpo, a alma e o espírito (o σῶμα, ψυχή y πνεῦμα), o primeiro material, 
o segundo animal, o terceiro espiritual. Para o segundo, quer dizer, para 
a alma ou ψυχή, faz-se referência ao que o homem tem em comum com 
os animais inferiores, vida, sensibilidade, vontade e compreensão; para o 
espírito o que é peculiar a nós como seres racionais, morais, religiosos, 
ou seja, de consciência e razão. Este terceiro elemento, o πνεῦμα, ou 
razão, é com frequência chamada divina; às vezes em sentido literal, e às 
vezes num sentido figurado. Em qualquer caso, de acordo com a teoria 
em questão, não é a sede do pecado, e está corrompida pela Queda. 
Continua sendo, embora nublada e pervertida pela desordem nos 
departamentos mais baixos de nossa natureza, o ponto de contato e a 
conexão entre o homem e Deus. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 39 
Isto ao menos é um ponto de vista do assunto. Segundo outra 
opinião, nem o corpo nem a alma (que não sejam σῶμα nem ψυχή), tem 
um caráter moral. A sede da vida moral e divina é exclusivamente o 
πνεῦμα ou espírito. Diz-se que esta está paralisado pela Queda. É morto 
em sentido figurado, não suscetível de impressão das coisas divinas. Há 
tantas teorias sobre a natureza da regeneração entre os defensores desta 
tríplice divisão na constituição do homem, como há sistemas da 
antropologia. A ideia comum a todas, ou a uma maioria delas, é que a 
regeneração consiste na restauração do πνεῦμα ou o espírito à sua normal 
influência controladora de todo o homem. Segundo alguns, este é um 
processo natural em que um homem animal, quer dizer, um homem 
governado pela ψυχή, chega a ser razoável, ou pneumático, quer dizer, 
regido pelo πνεῦμα ou poderes superiores de sua natureza. Segundo 
outros, é um efeito sobrenatural devido à ação do Espírito (Πνεῦμα) 
divino sobre o πνεῦμα humano ou o espírito. Em qualquer caso, 
entretanto, o πνεῦματικός, ou o homem espiritual, não é alguém em 
quem habita o Espírito Santo como um princípio de uma nova vida, 
espiritual, mas que está governada por seu próprio πνεῦμα ou espírito. 
Segundo outros mais, o πνεῦμα ou razão no homem é Deus, a 
consciência de Deus, o Logos, e a regeneração é a ascendência adquirida 
gradualmente deste elemento divino de nossa natureza. 
Com referência a estes pontos de vista da regeneração é suficiente 
observar: (1.) Que a tríplice divisão de nossa natureza nos quais se 
fundou é antibíblica, como já tratamos de demonstrar. (2.) Admitindo 
que existe uma base para tal distinção, não é de classe assumida nestas 
teorias. A alma e o espírito não são distintas substâncias ou essências, 
uma das quais pode ser santa e a outra profana, ou negativa. Isto é 
incompatível com a unidade de nossa vida interior, que as Escrituras 
constantemente assumem. (3.) Subverte a doutrina escriturística da 
regeneração e a santificação para fazer o princípio que rege no novo ser 
seu próprio πνεῦμα ou espírito, e não o Espírito Santo. 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 40 
Posturas especulativas modernas 
A filosofia especulativa moderna introduziu uma mudança tão 
radical nas opiniões entretidas da natureza de Deus, de Sua relação com 
o mundo, da natureza do homem e de sua relação com Deus, da pessoa e 
obra de Cristo e da aplicação de Sua redenção para a salvação dos 
homens, para que todas as antigas, e, pode-se dizer com segurança, 
formas das Escrituras destas doutrinas foram superadas, e outras que 
foram apresentadas, que são ininteligíveis sem a luz dessa filosofia, e 
que em grande medida reduzem as verdades da Bíblia à forma de 
dogmas filosóficos. Deixamos de ouvir do Espírito Santo como a terceira 
pessoa da Trindade, aplicando aos homens a redenção comprada por 
Cristo; da regeneração por Sua onipotência, ou de Sua morada nos 
corações dos crentes. As formas desta nova teologia são muito 
diferentes. Todos elas são talvez compreendidas sob três categorias: em 
primeiro lugar, as que são abertamente panteístas, apesar de que afirma 
ser cristã; em segundo lugar, as que são teístas, mas não admitem a 
doutrina da Trindade; e em terceiro lugar, os que tratarão de acomodar a 
teologia como um a filosofia nas formas da doutrina cristã. 
Ao todo, não obstante, a antropologia, a cristologia, a soteriologia, a 
eclesiologia defendidas, são tão mudadas que se tornam impossíveis de 
reter em sua exposição os termos e fórmulas com as quais a Igreja desde 
o princípio foi familiar. A regeneração, a justificação e a santificação são 
termos quase antiquados; e o que resta das verdades desses termos se 
utilizam para expressar, combinam-se na ideia de um desenvolvimento 
de uma nova vida divina na alma. Quanto à antropologia, estas modernas 
especulativas, ou como com frequência se chamam, e são chamados por 
outros, místicas, os teólogos ensinam: (1.) Que não há dualismo no 
homem entre a alma e o corpo. não há mais que uma vida. O corpo é a 
alma projetando-se para o exterior. Sem um corpo não há alma. (2.) Que 
não há verdadeiro dualismo entre Deus e o homem. A identidade entre 
Deus e o homem é o último resultado da especulação moderna; e é a 
ideia fundamental do cristianismo. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 41 
 
O corpo e a alma são um 
Quanto ao primeiro destes pontos, Schleiermacher 38 diz: “não há 
um ser espiritual e um mundo físico, corporal e uma existência espiritual 
do homem. Estas representações não conduzem a nada, mas o 
mecanismo morto de uma harmonia restabelecida. Corpo e espírito são 
reais só em e com o outro, de modo que a ação corporal e espiritual só 
pode ser relativamente distinta.” O falecido Presidente Rauch39 diz: “Um 
dualismo admite dois princípios para um único ser, oferece muitas 
dificuldades, e a maior é que não pode dizer como os princípios podem 
unir-se num terceiro. Um rio pode ter sua origem em duas fontes, mas 
uma ciência não pode, e muito menos a vida individual.” 
“Seria um erro dizer que o homem compõe-se de duas substâncias 
essencialmente diferentes, de terra e alma; mas ele é só a alma, e não 
pode ser outra coisa. Esta alma, entretanto, desdobra-se na vida externa 
do corpo, e internamente na vida da mente.” Assim Olshausen 40 ensina 
que a alma não tem subsistência, senão no corpo. O Dr. J. W. Nevin 41 
diz: “Não temos direito de pensar no corpo de maneira nenhuma como 
uma forma de existência e por si mesmo, em que a alma como outra 
forma de existência é empurrada de uma maneira mecânica. Ambos 
formam uma vida. A alma para ser completa, para desenvolver-se 
absolutamente como uma alma, deve exteriorizar-se, lançar-se no 
espaço, e esta exteriorização é o corpo.” 
 
Deus e o homem são um 
Quanto ao segundo ponto, ou a unidade de Deus e o homem, como 
a alma se exterioriza no corpo, “dividindo a si mesmo, unicamente que 
sua unidade pode chegar a ser, portanto, mais livre e completa 
 
38 Dialektik, sect. 290-295; Works, Berlin, 1839, 3d div. vol. iv. part 2. pp. 245-255. 
39 Psychology, New York, 1840, pp. 169, 173. 
40 Commentary, 1 Cor. xv. 20. 
41 Mystical Presence, edit Philadelphia, 1846, p. 171. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 42 
 
intensamente,”42 desta maneira o próprio Deus Se exterioriza no mundo. 
Schleiermacherdiz, é em vão tratar de conceber a Deus como existente, 
quer seja antes ou fora do mundo. Podem distinguir-se no pensamento, 
mas são só “zwei Werthe pieles dieselbe Förderung, dois valores do 
mesmo postulado.” De acordo com esta filosofia, é igualmente 
verdadeiro: “não há mundo, não há Deus,” como “não há corpo, não há 
alma.” “O mundo,43 em seu ponto de vista inferior, não é simplesmente 
um teatro ou cenário em que o homem deve atuar sua parte como 
candidato para o céu. Em meio de todas as suas diferentes formas de 
existência, tudo está impregnado com o poder de uma só vida, que vem 
em última instância, a seu sentido pleno e a força só na pessoa humana.” 
O mundo, portanto, está impregnado pelo poder de uma só vida;” a 
forma mais alta dessa vida (na terra) é o homem. O que é essa vida? 
Qual é este princípio impregnante que se revela em formas múltiplas da 
existência, e culmina no homem? É, certamente, Deus. O homem, 
portanto, como Schleiermacher, diz, é “a forma existencial” de Deus na 
terra.44 Ullmann45 indica que os místicos alemães na Idade Média 
ensinaram “a unidade da Deidade e a humanidade.” Os resultados 
alcançados pelos místicos sob a guia dos sentimentos, diz ele, a filosofia 
moderna chegou pela especulação. 
Esta doutrina da unidade essencial de Deus e o homem, os teólogos 
especulativos adotam como ideia fundamental do cristianismo. Trabalhar 
essa ideia numa forma compatível com o teísmo e o Evangelho, é o 
problema que os teólogos trataram de resolver. Estes intentos deram 
lugar em alguns casos, ao panteísmo declarado cristão, como é chamado; 
em outros, em formas de doutrina tão perto de ser panteísta que 
dificilmente se distingue do próprio panteísmo; e em todos, numa 
 
42 Mystical Presence, edit. Philadelphia, 1846, p. 172. 
43 Mercersburg Review, 1850, vol. ii. p. 550. 
44 Dorner’s Christologie, 1st edit., Stuttgart, 1839, p. 488. 
45 “Charakter des Christenthums,” Studien und Kritiken, 1845, erstes Heft, p. 59. Veja-se também uma 
tradução deste artigo no princípio de The Mystical Presence, by J. W. Nevin, D. D. Philadelphia, 
1846. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 43 
modificação radical, não só da teologia da Igreja como se expressa em 
suas normas recebidas, mas também da forma bíblica das doutrinas 
cristãs, se não de sua essência. Isto é visto como verdade na antropologia 
deste sistema, que destrói a diferença essencial entre o Criador e Suas 
criaturas, entre Deus e o homem. 
A cristologia desta teologia moderna já se apresentou em seus 
aspectos essenciais. Não há dualismo em Cristo como entre a alma e o 
corpo. Os duas são uma vida. Tampouco há dualismo entre a divindade e 
a humanidade nEle. O divino e o humano em Sua pessoa são uma vida. 
Ao ser o homem ideal ou perfeito, Ele é o Deus verdadeiro. A deificação 
que a humanidade tinha chegado em Cristo, não é um ato sobrenatural da 
parte de Deus; é alcançado por um processo de desenvolvimento natural 
em Seu povo, quer dizer, a Igreja. 
 
Soteriologia destes filósofos 
A soteriologia deste sistema é simples. A alma se projeta no corpo. 
Eles são uma vida, mas o corpo pode ser muito para a alma. O 
desenvolvimento desta única vida em sua forma dupla, para dentro e 
para fora, não pode ser simétrica. Portanto a humanidade como uma vida 
genérica, uma forma da vida de Deus, tal como se projeta externamente 
no mundo de Adão em diante, não se desenvolveu corretamente. Se fosse 
deixado sem ajuda não chegaria à meta, ou se desenvolve a si mesma 
como divina. Um novo começo, portanto, deve ser dado à mesma, um 
começo novo criado. Isto se faz mediante uma intervenção sobrenatural 
que resulta na produção da pessoa de Cristo. NEle a divindade assume a 
forma de um homem, — a forma de existência de homem, — Deus faz-
se homem, e o homem é Deus. Esta entrada renovada, por assim dizer, 
de Deus ao mundo, esta forma especial de vida divino-humana, é o 
cristianismo, que é constantemente declarada “a vida de Cristo,” “uma 
nova vida teantrópica.” “Os homens fazem-se cristãos por ser partícipes 
desta vida. Convertem-se em partícipes desta vida pela união com a 
Igreja e a recepção dos sacramentos. A encarnação de Deus continua na 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 44 
 
Igreja, e este novo princípio da “vida divino-humana” desce de Cristo 
aos membros de sua Igreja, tão naturalmente e tanto por um processo de 
desenvolvimento orgânico, como a humanidade, derivada de Adão, 
desdobra em si mesmo seus descendentes. Cristo, portanto, salva-nos, 
não tanto pelo que fez, como pelo que Ele é. Ele não fez nenhuma 
satisfação à justiça divina; nenhuma expiação pelo pecado; nenhum 
cumprimento da lei. Não há, portanto, realmente nenhuma justificação, 
nem verdadeiro perdão, inclusive, no sentido comum da palavra. Há uma 
cura da alma, e com essa cura a eliminação dos males incidentes à 
doença. Os que se fazem partícipes deste novo princípio de vida, que é 
verdadeiramente humano e verdadeiramente divino, fazem-se um com 
Cristo. Todo o mérito, justiça, excelência, e o poder, inerente à vida 
“divino-humana,” é óbvio, pertencem àqueles que participam dessa vida. 
Esta justiça, excelência, etc., são nossas. Elas são subjetivos em nós, e 
formam nosso caráter, assim como a natureza derivada de Adão era a 
nossa, com todas as suas corrupções e fraquezas. 
Se for perguntado o que é a regeneração, de acordo com este 
sistema, a resposta provavelmente seria, que é um termo obsoleto. Não 
há espaço para o que geralmente era significado pela palavra, e não há 
razão para manter a própria palavra. A regeneração é uma obra do 
Espírito Santo. Mas este sistema em sua integridade não reconhece o 
Espírito Santo como uma pessoa distinta ou agente. E os que se veem 
obrigados a fazer o reconhecimento de Sua personalidade, são 
evidentemente envergonhados pela admissão. O que as Escrituras e o 
atributo da Igreja ao Espírito, operando com a liberdade de um agente 
pessoal, quando e onde lhe pareça, este sistema atribui à “a vida 
teantrópica” de Cristo, operando como uma nova força, de acordo com 
as leis naturais do desenvolvimento.46 
A impressão feita sobre os leitores dos teólogos modernos desta 
escola, é a realizada por qualquer outra forma de disquisição filosófica. 
 
46 Mystical Presence, edit. Philadelphia, 1846, pp. 225-229. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 45 
Não tem, e de sua própria natureza não pode ter nada mais que a 
autoridade humana. Este sistema pode ser adotado como uma questão de 
opinião, mas não pode ser um objeto de fé. E portanto não pode apoiar as 
esperanças de uma alma consciente da culpa. Na volta de tais escrituras à 
Palavra de Deus, a transição que estes teólogos nos querem fazer crer, é 
de culpa à fé, mas a consciência do cristão, é como a transição da 
confusão de línguas em Babel, onde ninguém entende a seus 
companheiros, à enunciação harmoniosa daqueles “que falaram sendo 
inspirados pelo Espírito Santo.” 
 
Doutrina de Ebrard 
Dos escritores que pertencem à classe geral de teólogos 
“especulativos”, alguns se aderem muito mais perto das Escrituras que 
outros. O Dr. J. H. A. Ebrard, de Erlangen, já tem sido reiteradamente 
referido como afeito à fé reformada; e em que conscientemente se aparta 
dela, ele se considera como único a cumprir seus princípios legítimos. 
Seu “Dogmatik,” de fato, tem um caráter muito mais bíblico que a 
maioria dos sistemas modernos da Alemanha. Em Ebrard, como em 
outros, encontramos um compromisso entre a doutrina da Igreja da 
regeneração e a moderna teoria da encarnação de Deus na raça humana. 
Não só é uma distinção que faz entre o arrependimento, a conversão, e a 
regeneração; mas também verdadeiro arrependimento e a conversão 
autêntica são feitos preceder à regeneração. 
Os dois anteriores tomam lugar na esfera da consciência. Em todos 
os estados e exercícios relacionados com o arrependimento e a 
conversão, a almaé ativa e cooperativa; e a única influência exercida por 
Deus ou Seu Espírito, é mediata e moral. Não é até que o pecador 
obedeceu à ordem de arrepender-se, crer em Cristo, e a voltar a Deus, 
que Deus dá à alma esse algo divino que a torna uma nova criatura, e sua 
união vital orgânica com Cristo. Neste último processo a alma é 
simplesmente passiva. Deus é o único agente. O que se diz que é 
comunicada à alma é Cristo, a pessoa de Cristo, a vida de Cristo, Sua 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 46 
 
substância, ou uma nova substância. Uma distinção, entretanto, faz-se 
entre essência e substância. Ebrard insiste47 em que o mais oculto, o 
germe substancial de nosso ser é nascer de novo na regeneração — não 
meramente mudado, mas recém-nascido. Entretanto, diz que a “essentia 
animæ humanae” não se muda, e assente à declaração de Bucan: 
“Renovatio fit non quoad essentiam ut deliravit Illyricus, sed quoad 
qualitates inhærentes.” O que ele afirma,48 com frequência em outras 
partes, quer dizer, “Que Cristo, real e substancial, nasce em nós.” Mas 
acrescenta que as palavras “real e substancial” se utilizam para proteger-
se contra a hipótese de que a regeneração consiste simplesmente num 
pouco de exercício interior, ou estado transitório da consciência. 
É, como ele ensina realmente, muito mais; algo menor que a 
consciência; uma mudança no estado da alma, que determina os atos e 
exercícios que se manifestam na consciência, e se manifestam na vida. 
Encontra sua doutrina da regeneração, não no que Calvino e alguns 
poucos dos teólogos reformados ensinaram sob esta divisão, mas no que 
eles ensinam da Ceia do Senhor, e da união mística. Calvino49 diz: “Sunt 
qui manducare Christi carnem, et sanguinem ejus bibere, uno verbo 
definiunt, nihil esse aliud, quam in Christum ipsum credere. Sed mihi 
expressius quiddam ac sublimius videtur voluisse docere Christus . . . . 
nempe vera sui participatione nos vivificari. . . .Quemadmodum enim 
non aspectus sed esus panis corpori alimentum sufficit, ita vere ac 
penitus participem Christi animam fieri convenit, ut ipsius virtute in 
vitam spiritualem vegetetur.” 
“Temos aqui sem dúvida,” diz Ebrard,50 “a doutrina de uma 
comunicação secreta, mística da substância de Cristo ao centro 
importante no homem (a ‘alma’), que se desenvolve por um lado, no 
físico, e por outro, na vida puramente intelectual.” 
 
47 Dogmatik, edit. Königsberg, 1852, vol. ii. p. 320. 
48 Ibid. p. 300. 
49 Institutio, IV. xvii. 5, edit. Berlin, 1834, vol. ii. p. 403. 
50 Dogmatik, vol. ii. p. 310. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 47 
 
Estes escritores estão corretos em negar que a regeneração é uma 
mera mudança nos propósitos, ou sentimentos, ou estados de consciência 
de alguma classe no homem; e também em afirmar que se trata da 
comunicação de um novo e permanente princípio da vida à alma. Mas se 
apartam da Escritura e da fé da Igreja universal na substituição da 
natureza teantrópica de Cristo,” “sua vida divino-humana,” “a 
humanidade genérica curada e elevada à potência de uma vida divina” 
(quer dizer, deificada), pelo Espírito Santo. Esta substituição faz-se 
abertamente na obediência à ciência moderna, à nova filosofia que tem 
descoberto uma verdadeira antropologia e revelou “a verdadeira unidade 
de Deus e o homem.” Como já se comentou, supõe-se que a transmissão 
da natureza “teantrópica de Cristo” levava consigo seus méritos, assim 
como sua bênção e poder. Tudo o que temos de Cristo, temos dentro de 
nós. E se podemos descobrir pouco de Deus, e pouco como Deus em 
nossas almas, tão pior. É tudo o que temos que esperar, até que nossa 
vida interior se desenvolva. O Cristo interior (como alguns dos Amigos 
[Quakeres] também ensinam), é, segundo este sistema, todo o Cristo que 
temos. Ebrard, portanto, segundo uma opinião identifica a regeneração e 
a justificação. “Regeneração,” diz,51 “como o ato de Cristo, é a causa 
(‘causa efficiens’) da justificação; Ele comunica Sua vida a nós, e 
desperta uma nova vida em nós. Esta é a justificação, uma mudança 
interior subjetiva, o que implica mérito, assim como a santidade. 
Este fator de confusão a obra do Espírito Santo na regeneração, com 
o ato judicial, objetivo da justificação, pertence ao sistema. Ao menos, é 
só no terreno da vida infundida que se pronunciam justos aos olhos de 
Deus. O que recebemos é “a verdadeira vida divino-humana de Cristo,” e 
“o que pode ser de mérito, virtude, eficácia ou valor moral de qualquer 
maneira, na obra mediadora de Cristo, tudo é apresentado na vida, pelo 
poder de que solo este trabalho se obteve, e na presença dos que só pode-
se ter a realidade ou a estabilidade. A imaginação de que os méritos da 
 
51 Ibid. p. 315. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 48 
 
vida de Cristo pode ser separado de sua própria vida, e transmitidos 
sobre seu povo nesta forma de resumo, no terreno de uma constituição 
jurídica meramente externa, não é bíblico e contrário a toda razão, ao 
mesmo tempo.”52 A regeneração consiste na comunicação da vida de 
Cristo, sua substância, à alma, e esta vida divino-humana 
compreendendo todo o mérito, virtude, ou eficácia que pertence a Cristo 
e sua obra, — regeneração consiste na justificação, da que é a base e a 
causa. 
 
Doutrina de Delitzsch 
Delitzsch dedica uma divisão de sua “Biblical Psychology” ao tema 
da regeneração. Começa o debate com um discurso sobre a pessoa de 
Cristo. “Quando se deseja examinar a nova vida espiritual do homem 
redimido, partimos do divino arquétipo humano, a pessoa do 
Redentor.”53 O homem foi, quanto ao seu espírito e sua alma, sua 
composição originária, a imagem de Deus, e o espírito era a “imagem de 
Sua natureza triúna e a última [a alma] de Sua sétupla ‘doxa.’ O homem 
estava em liberdade para conformar sua vida com o espírito, ou o 
princípio divino dentro dele, ou permitir o controle de sua vida a ser 
assumida pela alma. A ruína era a consequência da Queda. Isto pode ser 
corrigido e o homem redimido só por “um novo começo da intensidade 
criativa similar.”54 Este novo início foi efetuado na encarnação. O Filho 
de Deus fez-Se homem, não por assumir nossa natureza, no sentido 
comum dessas palavras, mas por deixar de ser todo-poderoso, onisciente 
e onipresente, e encolhendo para Si mesmo os limites da humanidade. 
Era uma vida humana em que Ele assim entrou, uma vida como um 
espírito, alma e corpo. Não há dualismo na pessoa de Cristo, como entre 
o corpóreo e o espiritual, ou entre o humano e o divino. É a natureza 
 
52 Mystical Presence, by J. W. Nevin, D. D., Philadelphia, 1846, p. 191. 
53 A System of Biblical Psychology, by Franz Delitzsch, D. D., translated by R. R. Wallis, Ph. D.; 
Edinburgh, 1867, p. 381. 
54 Ibid. p. 382. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 49 
 
divina em forma humana, ou esta natureza divino-humana, que é pura e 
simples, embora perfeitamente humana, que se comunica ao povo de 
Deus em sua regeneração. Para esta comunhão na vida de Cristo, a fé é 
indispensável, e portanto, diz Ebrard, os bebês não podem ser objeto de 
regeneração, conquanto Delitzsch, luterano, sustenta que os crianças são 
capazes de exercer a fé, e, portanto são suscetíveis de ser regeneradas. O 
que se recebe de Cristo, ou a de Seu povo, que são feitos partícipes, é “o 
Espírito, a alma, o corpo de Cristo”55 O novo homem, ou o segundo 
Adão, fez-se um “espírito que dá vida,” e pouco a pouco submete o 
velho homem, ou nossa natureza de Adão, e traz todo o homem (πνεῦμα, 
ψυχή y σῶμα), espírito, alma e corpo, à altura da vida de Cristo, em 
quem o divino e o humano se fundem num, ou antes, aparecem em sua 
unidade original. 
A comunicação da vida teantrópica à alma é um ato do Espírito 
divino em que não temos nem a atividadenem a consciência. Delitzsch 
deduz do que nosso Senhor disse a Nicodemos, João 3, que “A operação 
do Espírito da regeneração é, portanto, (1.) Uma operação livre, retirada 
do poder da vontade humana, da atividade humana especial. (2.) Uma 
operação misteriosa, está além da consciência humana, e só deve ser 
reconhecida por seus efeitos.56 “É próprio de todas as agências criativas 
de Deus, que a criatura que com ela foi trazida à existência, ou em que 
tal ou qual é trazido à existência, não tem consciência do que está 
ocorrendo.”57 
Diversas como são as modificações desta doutrina tal como 
apresentada por diferentes escritores desta escola em geral, a 
regeneração é por todos eles entendida ser a comunicação da vida de 
Cristo à alma. Pela vida de Cristo é significado Seu valor, Sua natureza 
humana, que era ao mesmo tempo divina, e portanto é teantrópica. Pode 
 
55 A System of Biblical Psychology, by Franz Delitzsch, D. D., translated by R. R. Wallis, Ph. D.; 
Edinburgh, 1867, p. 398. 
56 Ibid. p. 402. 
57 Ibid. p. 403. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 50 
ser chamada humana, e pode ser chamada divina, pois apesar de ser uma, 
uma vida, é verdadeiramente divina por ser perfeitamente humana. 
Todos somos partícipes da humanidade como contaminados e 
degradados pela apostasia de Adão. Cristo, ou antes, o Filho eterno de 
Deus, assumiu a natureza humana, em que Ele Se fez homem, e sendo 
Deus, a humanidade nEle se encheu dos tesouros da sabedoria e 
conhecimento e graça e poder; dessa humanidade devemos participar 
com o fim a tomar parte na salvação de Cristo. A comunicação desta 
vida a nós, que é nossa regeneração, é através da Igreja, que é Seu corpo, 
por causa de sua animada vida humana. Como derivamos nossa 
humanidade deteriorada pela descendência de Adão, somos feitos 
partícipes desta humanidade renovada, divina pela união com a Igreja, 
em que Cristo como homem, e Deus-homem, vive e habita. E como a 
comunicação da humanidade tal como existia em Adão caído a seus 
descendentes é um processo natural de desenvolvimento orgânico, de 
modo que a comunicação da humanidade renovada, tal como existe em 
Cristo, a Seu povo, e através do mundo, é também um processo natural. 
Isto não supõe nenhuma interferência ou intervenção especial da parte de 
Deus, não mais que qualquer outro desenvolvimento orgânico no mundo 
vegetal ou animal. A única coisa sobrenatural é o ponto de partida em 
Cristo. 
 
Doutrina da Igreja latina 
Na posterior Igreja latina a palavra regeneração utiliza-se como 
sinônimo de justificação, e se toma num sentido amplo que inclui tudo o 
que é relacionado na translação da alma do reino das trevas ao reino do 
amado Filho de Deus. Na regeneração o pecador converte-se num filho 
de Deus. É, por tanto, levado a incluir: (1.) A remoção da “reatus” ou 
culpa do pecado. (2.) A purificação da corrupção moral inerente. (3.) A 
infusão “de novos hábitos da graça;” e (4.) Adoção ou reconhecimento 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 51 
 
da nova como filhos de Deus. O Concílio de Trento diz:58 “Justificatio ... 
non est sola peccatorum remissio, sed et sanctificatio, et renovatio 
interioris hominis per voluntariam susceptionem gratiæ, et donorum, 
unde homo ex injusto fit justus, et ex inimico amicus, ut sit heres 
secundum spem vitæ æternæ.” 
A causa fundamental da justificação neste sentido, declara-se ser: 
“sacramentum baptismi, quod est sacramentum fidei, sine qua nulli 
umquam contigit justificatio.” Quanto ao efeito do batismo, ensina-se59 
que tira não só a culpa, mas também tudo da natureza do pecado, e se 
comunica uma nova vida. “Si quis per Jesu Christi Domini gratiam; quæ 
in baptismate confertur, reatum originalis peccati remitti negat, aut etiam 
asserit, non tolli totum id, quod veram, et propriam peccati rationem 
habet; sed illud dicit tantum radi, aut non imputari: anathema sit. In 
renatis enim nihil odit Deus, quia nihil est damnationis iis qui vere 
consepulti sunt cum Christo per baptisma in mortem: qui non secundum 
carnem ambulant, sed veterem hominem exuentes, et novum, qui 
secundum Deum creatus est, induentes, innocentes, immaculati, puri, 
innoxii, ac Deo dilecti effecti sunt, heredes quidem Dei, coheredes autem 
Christi, ita ut nihil prorsus eos ab ingressu coeli remoretur.”60 
A Regeneração, portanto, como feita no batismo, é a remoção da 
culpa e da poluição do pecado, a infusão de novos hábitos de graça, e a 
introdução na família de Deus. É no batismo que todos os benefícios da 
redenção de Cristo são encaminhados para a alma, e esta é a sua 
regeneração ou nascimento no reino de Deus. 
 
 
 
 
 
 
58 Sessio. VI. cap. 7. 
59 Ibid. v. 5. 
60 Streitwolf, Libri Symbolici, Göttingen, 1846, pp. 24, 25, 28. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 52 
Doutrina da Igreja Anglicana 
1. Sempre foi uma classe dos teólogos da Igreja Anglicana que têm 
a teologia da Igreja de Roma em suas mais importantes características. 
Eles aceitam, portanto, a definição de regeneração, ou de justificação, 
como a chamam, conforme dado pelo Concílio de Trento, e citadas 
anteriormente. 
2. Outros fazem uma distinção entre a conversão e a regeneração. A 
último é que a graça que atende o batismo, e como esse sacramento sem 
sacrilégio não se pode repetir, pelo que a regeneração pode-se 
experimentar só uma vez. A conversão é “uma mudança de coração e 
vida do pecado à santidade.” “Para os pagãos e infiéis a conversão é 
absolutamente e sempre necessária para a salvação.” Para os cristãos 
batizados a conversão nem sempre é necessária. 
“Algumas pessoas têm confundido conversão com regeneração, e 
têm ensinado que todos os homens, os batizados, e portanto, de fato, 
regenerados, devem ser regenerados depois, ou não podem ser salvos. 
Agora, isto é em muitos aspectos falso: porque a regeneração, que o 
Senhor Jesus Cristo mesmo conectou com o santo batismo, não se pode 
repetir. Além disso, nem todos os homens (embora na realidade a 
maioria dos homens) estão compreendidos em tal pecado depois do 
batismo, essa conversão, ou como eles o definem, a regeneração, é 
necessária para sua salvação; e se uma regeneração foi necessária para 
eles, só se pode obter través da repetição do batismo, que era um ato de 
sacrilégio.” “Eles que se opõem à expressão regeneração batismal, 
significam por regeneração, em sua maior parte, o primeiro influxo da 
graça irresistível e indefectível; graça que não pode ser rejeitada por seu 
objeto, e que deve emitir em sua salvação final. Agora, de tal graça nossa 
Igreja não sabe nada, e é óbvio, portanto, significa não a regeneração no 
batismo, o primeiro influxo de tal graça. Que os pecados, originais e 
atuais, dos recipientes fiéis do batismo, vão desaparecendo, ela crê; e 
também a graça que se dá a ele pelo agente imediato do Espírito Santo; 
entretanto, para que a consciência assim purificada possa ser mais uma 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 53 
 
vez contaminada, e que o batizado pode, e com frequência cai, por sua 
própria culpa, de novo no pecado, em que se ele morrer, sem dúvida 
perecerá eternamente; sua condenação não sendo evitada, mas bastante 
aumentada, por seu privilégio batismal.”61 
3. Uma terceira forma da doutrina sobre este tema, sustentada por 
alguns teólogos desta igreja, é que a regeneração corretamente expressa 
uma mudança externa da relação, e não uma mudança interna do estado 
da alma e de sua relação com Deus. Como um prosélito foi regenerado 
quando se professava um judeu, assim qualquer um iniciado na Igreja 
visível é com isso regenerado. Isto se considera totalmente diferente da 
renovação espiritual. A Regeneração, neste sentido rumo ao exterior, é 
admitida pelo batismo; a renovação é pelo Espírito. 
4. Uma grande classe de teólogos ingleses permaneceram sempre 
fiel à doutrina evangélica sobreeste tema, de acordo com as opiniões dos 
reformadores em sua Igreja, que se encontravam em plena simpatia tanto 
na doutrina e na comunhão eclesiástica e cristã com outras igrejas 
protestantes. 
 
§ 3. A doutrina evangélica. 
 
Nos símbolos da doutrina luterana da Regeneração, que se faz para 
incluir a conversão, é assim expresso: “Conversio hominis talis est 
immutatio, per operationem Spiritus Sancti, in hominis intellectu, 
voluntate et corde, qua homo (operatione videlicet Spiritus Sancti) potest 
oblatam gratiam apprehendere.”62 
“Hominis autem nondum renati intellectus et voluntas tantum sunt 
subjectum convertendum, sunt enim hominis spiritualiter mortui 
intellectus et voluntas, in quo homine Spiritus Sanctus conversionem et 
renovationem operatur, ad quod opus hominis convertendi voluntas nihil 
 
61 A Church Dictionary, by Walter Farquhar Hook, D. D., Vicar of Leeds, article, “Conversion”; 6th 
edit., Philadelphia, 1854. 
62 Form of Concord, II. 83. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 54 
 
confert, sed patitur, ut Deus in ipsa operetur, donec regeneretur. Postea 
vero in aliis sequentibus bonis operibus Spiritui Sancto cooperatur, ea 
faciens, quæ Deo grata sunt.”63 
“Sicut igitur homo, qui corporaliter mortuus est, seipsum propriis 
viribus præparare aut accommodare non potest, ut vitam externam 
recipiat: ita homo spiritualiter in peccatis mortuus, seipsum propriis 
viribus ad consequendam spiritualem et coelestem justitiam et vitam 
præparare, applicare, aut vertere non potest, nisi per Filium Dei a morte 
peccati liberetur et vivificetur.”64 
“Rejicimus errorem eorum qui fingunt, Deum in conversione et 
regeneratione hominis substantiam et essentiam veteris Adami, et 
præcipue animam rationalem penitus abolere, novamque anima 
essentiam ex nihilo, in illa conversione et regeneratione creare.”65 
Com estas declarações as doutrinas ensinadas nos símbolos e pelos 
teólogos das igrejas reformadas, estão perfeitamente de acordo. Com 
efeito, é suficiente citar as normas de nossa própria Igreja. A “Confissão 
de Westminster,” diz: «O homem, por sua queda em estado de pecado, 
perdeu totalmente toda a capacidade de querer todo bem espiritual 
acompanhando a salvação; de maneira que como homem natural 
totalmente adverso ao que é bom, e morto em pecado, não pode, por seu 
próprio poder, converter-se a si mesmo, nem preparar-se para isso.» 
«Quando Deus converte um pecador e o traslada ao estado de graça, 
liberta-o de sua escravidão natural sob pecado, e por sua única graça o 
capacita livremente para querer e fazer o que é espiritualmente bom.» 
«Deus Se agrada em chamar eficazmente, em seu tempo assinalado e 
aceito, a todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só 
àqueles, mediante Sua palavra e Espírito, fosse daquele estado de pecado 
e de morte em que por natureza estão, à graça e salvação por Jesus 
Cristo; iluminando suas mentes, espiritual e salvadoramente, para 
 
63 Ibid. 91. 
64 Ibid. 71. 
65 Ibid. 14; Hase, Libri Symbolici, 3d edit. Leipzig, 1836, pp. 679, 681, 658, 581. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 55 
 
compreender as coisas de Deus, tirando seus corações de pedra, e lhes 
dando coração de carne; renovando suas vontades, e por Seu poder 
onipotente, determinando-os para o bem, e atraindo-os eficazmente a 
Jesus Cristo; mas isso de maneira que vêm da maneira mais livre, tendo 
sido feitos bem dispostos por Sua graça». «Esta chamada eficaz é 
somente pela livre e especial graça de Deus, não por nada absolutamente 
previsto no homem, que é nisso totalmente passivo, até que, sendo 
vivificado e renovado pelo Espírito Santo, é por isso capaz de responder 
a esta chamada, e abraçar a graça oferecida e comunicada nele».66 
O Catecismo Maior 67 diz: “O que é a chamada eficaz? Chamada 
eficaz é o trabalho da graça e onipotência de Deus e, segundo o qual (de 
seu amor gratuito e especial a seus escolhidos, e do nada em que se 
movam nele) Ele o dispõe em seu tempo aceitável convidar e atraí-los a 
Jesus Cristo por meio de Sua palavra e do Espírito; salvadoramente 
iluminando suas mentes, renovando e poderosamente determinando suas 
vontades, assim como (embora em si mesmos mortos em pecado), são 
por esse meio feitos dispostos e capacitados, livremente para responder a 
sua chamada, e aceitar e abraçar a graça oferecida e transmitida no 
mesmo.” 
 
Exposição da doutrina. 
 
A regeneração é um ato de Deus. 
1. A regeneração é um ato de Deus. Não se lhe atribui simplesmente 
a Ele como doador, e, neste sentido como Seu autor, como Ele é o 
doador da fé e do arrependimento. Não é um ato que, por argumento ou 
persuasão, ou por poder moral, induz o pecador a executar. É um ato do 
qual Ele é o agente. É Deus quem regenera. Neste sentido a alma é 
regenerada. A alma é passiva na regeneração, a qual (considerada 
 
66 IX. 3, 4; x. 1, 2. 
67 Question 67. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 56 
subjetivamente) é uma mudança operada em nós, e não um ato efetuado 
por nós. A regeneração é um ato do poder de Deus. 
 
A regeneração é ato do poder de Deus 
2. A regeneração não é só um ato de Deus, mas também um ato de 
Seu poder onipotente. Segundo as declarações expressas das Escrituras, é 
assim apresentado nos Símbolos das igrejas protestantes. Como ato da 
onipotência, é certamente eficaz, porque nada pode resistir ao poder 
onipotente. Os Luteranos de fato o negam. Mas o mais ortodoxo deles 
significam simplesmente que o pecador pode manter-se à margem dos 
meios através dos quais, ou melhor dizendo, com relação ao que agrada a 
Deus para exercer Seu poder. Ele pode ausentar-se do lugar da pregação 
da Palavra, e do uso dos sacramentos. Ou pode pôr-se voluntariamente 
neste tipo de postura interior da resistência como determina Deus que 
não exercem seu poder em sua regeneração. A asserção de que a 
regeneração é um ato de onipotência é, e deve ser, uma negação de que 
seja um ato de persuasão moral. É uma afirmação de que é «físico» no 
antigo sentido daquela palavra, como oposto a moral; e que é imediato, 
em oposição a mediato, ou mediante ou pela verdade. Quando quer na 
Escritura quer nas obras teológicas se toma a palavra regeneração em seu 
sentido mais amplo, incluindo a conversão ou o retomo voluntário da 
alma a Deus, então se diz certamente que é pela Palavra. A restauração 
da vista ao cego por ordem de Cristo foi um ato de onipotência. Foi 
imediata. Nada interveio como influência instrumental ou cooperadora 
entre a volição divina e o efeito. Mas todos os exercícios da faculdade 
restaurada tiveram lugar mediante e pela luz. E sem luz é impossível a 
visão. A ressurreição de Lázaro dentre os mortos foi um ato de 
onipotência. Nada interveio entre a volição e o efeito. O ato de vivificar 
foi o ato de Deus. Nisto Lázaro foi passivo. Mas em todos os atos de sua 
restaurada vitalidade ele foi ativo e livre. Segundo o sistema evangélico, 
é neste sentido que a regeneração é o ato do poder onipotente de Deus. 
Nada intervém entre Sua volição de que a alma, espiritualmente morta, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 57 
viva, e o efeito desejado. Mas em tudo o que pertence à consciência, a 
tudo o que precede ou segue à repartição desta nova vida, a alma é ativa 
e está influenciada pela verdade que age segundo as leis de nossa 
constituição mental. 
 
A regeneração não é um ato no sentido subjetivo do termo. 
3. A regeneração, considerada subjetivamente ou vista como um 
efeito ou mudança produzida na alma, não é um ato. Não é um novo 
propósito criado por Deus (se essa linguagem for inteligível), ou 
formado pelo pecador sob sua influência. Tampouco é algum exercício 
consciente de nenhuma classe. É algo que está por baixo da consciência. 
 
Não é uma mudança de substância. 
4. Tampouco é, segundo a doutrina da Igreja, uma mudança na 
substânciada alma. Isto é rejeitado universalmente como maniqueísmo, 
e incompatível com a natureza do pecado e da santidade. Na verdade, 
frequentemente se supõe que nada há na alma mais que sua substância e 
suas ações; e por isso que se a regeneração não é uma mudança nas 
ações, deve ser uma mudança da substância da alma. Mas esta hipótese 
não só é arbitrária, mas também está oposta às íntimas convicções de 
todos os homens. Isto é, dos homens em seu estado normal, quando não 
estão especulando nem teorizando. Quer dizer, na sentença comum dos 
homens já foi provado sob as divisões da justiça original e do pecado 
original. Todos reconhecem, em primeiro lugar, que princípios 
constitucionais como o amor paterno, os afetos sociais, um sentido da 
justiça, da piedade, etc., são estados imanentes da alma que não podem 
ser separados em sua essência nem em suas ações. O mesmo sucede com 
as disposições, sejam amistosas ou inamistosas. O refinamento do gosto 
e do sentimento devido à educação e à cultura, não é uma mudança na 
essência da mente. Não se pode razoavelmente negar que um estado de 
ânimo produzido pela cultura, pode ser produzido pela vontade de Deus. 
O que é verdade em todos os outros departamentos de nossa vida 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 58 
interior, é verdade de nossa natureza moral e religiosa. Além das ações e 
estados que se revelam na consciência, há estados permanentes, ou 
disposições, princípios ou hábitos como são chamados distintamente, 
que constituem o caráter e lhe dão estabilidade, e que são a causa 
próxima e determinante de por que nossos exercícios voluntários e 
estados conscientes são o que são. Isto é o que a Bíblia chama coração, 
que tem a mesma relação com todos os nossos atos que a natureza de 
uma árvore, como boa ou má, com o caráter de seu fruto. Uma boa 
árvore é conhecida como boa se o fruto for bom. Mas a bondade do fruto 
não determina a bondade da árvore, mas o contrário. Da mesma maneira, 
não são as boas ações as que fazem bom o homem; a bondade do homem 
decide o caráter de seus atos. 
 
É uma nova vida. 
5. Os cristãos evangélicos, se bem que negam que a regeneração 
seja uma mudança na essência ou nos atos da alma, declaram que é, na 
linguagem da Escritura, «uma vivificação», uma ζωοποιεῖν (zöopoiein), 
uma comunicação de um novo princípio de vida. É difícil, talvez 
impossível, definir o que é a vida. Mas cada homem está familiarizado 
com suas manifestações. Ele vê e conhece a diferença entre morte e vida, 
entre uma planta morta e uma planta ou animal vivo. E, portanto, quando 
a Bíblia nos diz que na regeneração, Deus dá uma nova forma de vida 
para a alma, a linguagem é tão inteligível como a linguagem humana 
pode ser com relação a tal assunto. Sabemos que quando um homem está 
morto quanto a seu corpo, nem vê, nem sente, nem age. Os objetos 
suscetíveis de operar nos sentidos dos viventes não fazem impressão 
alguma nele. Não despertam nenhum sentimento correspondente, nem 
suscitam atividade alguma. Os mortos são insensíveis e impotentes. 
Quando as Escrituras afirmam que os homens estão espiritualmente 
mortos, não negam que tenham vida física, intelectual, social ou moral. 
Admitem que os objetos dos sentidos, as verdades da razão, nossas 
relações sociais e obrigações morais, são assimiladas mais ou menos 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 59 
corretamente; não deixam de despertar os sentimentos e de estimular à 
ação. Mas há uma classe mais alta de objetos que esta, e que a Bíblia 
chama «As coisas de Deus», «As coisas do Espírito», «As coisas que 
pertencem a salvação». Estas coisas, embora intelectualmente 
apreendidas tal como se apresentam a nossas faculdades cognitivas, não 
são espiritualmente discernidas pelo homem irregenerado. Um objeto 
belo na natureza na arte pode ser apropriadamente apreendido como 
objeto da visão por um homem não cultivado, que não tem percepção de 
sua excelência estética, nem sentimento correspondente de deleite em 
sua contemplação. O mesmo sucede com o homem irregenerado. Ele 
pode ter um conhecimento intelectual dos fatos e das doutrinas da Bíblia, 
mas nenhum discernimento espiritual de sua excelência, nem deleite 
nisso. O próprio Cristo, tal como é apresentado nas Escrituras, é para um 
sem beleza nem atrativo para que O desejemos; para outro Ele é 
distinguido entre dez mil e o supremamente atraente; «Deus manifestado 
em carne», a Quem é impossível não adorar, amar e obedecer. 
Assim, esta nova vida se manifesta em novas concepções de Deus, 
de Cristo, do pecado, da santidade, do mundo, do evangelho, e da vida 
vindoura; em resumo, de todas aquelas verdades que Deus revelou como 
necessárias para a salvação. Esta iluminação espiritual é tão importante e 
tão necessária e um efeito tão imediato da regeneração, que o 
conhecimento espiritual não é só exibido na Bíblia como o fim da 
regeneração (Col 3:10; 1Tim 2:4), mas toda a conversão (que é efeito da 
regeneração) é resumida em conhecimento. Paulo descreve sua 
conversão como consistente em Cristo revelar-Se a ele (Gl 1:16); e as 
Escrituras fazem com que toda religião, e inclusive a vida eterna, seja 
uma forma de conhecimento. Paulo renunciou a tudo pela excelência do 
conhecimento de Cristo (Fp 3:8), e nosso Senhor diz que o conhecimento 
de Si mesmo e do Pai é a vida eterna. (Jo 17:8). Todo o processo da 
salvação é descrito como uma translação do reino das trevas ao reino da 
luz. Por isso, não devemos nos assombrar de que os antigos chamassem 
à regeneração φωτισμός (phötismos), iluminação. Se um cego de 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 60 
nascimento fosse repentinamente restaurado à vista, sobrevir-lhe-ia tal 
inundação de conhecimento e deleite, que bem poderia pensar que a vida 
consiste em ver. Assim os escritores do Novo Testamento expõem a 
mudança conseguinte à regeneração, a abertura dos olhos à certeza, 
glória e excelência das coisas divinas, e especialmente da revelação de 
Deus na pessoa de Seu Filho, como incluindo quase tudo o que pertence 
à vida espiritual. Relacionada de maneira inseparável com este 
conhecimento e incluída no mesmo está a fé, em todas as formas e 
exercícios nos quais as verdades espirituais são seus objetos. O deleite 
nas coisas assim reveladas é a necessária consequência da iluminação 
espiritual; e com o deleite vêm a satisfação e a paz, a elevação acima do 
mundo, ou uma mentalidade espiritual, e tal senso da importância das 
coisas que não se veem e eternas, que todas as energias da alma 
renovada se dedicam (ou se sabe que deveriam dedicar-se) alcançá-las 
para si e para outros. 
Esta é uma das formas em que a Bíblia expõe a doutrina da 
regeneração. É ressuscitar a alma morta à vida espiritual. E esta vida 
espiritual se desenvolve ou manifesta justo como qualquer outra forma 
de vida, em todos os exercícios apropriados à sua natureza. 
 
É um novo nascimento. 
A mesma doutrina a respeito deste tema é ensinada em outras 
palavras quando se diz que a regeneração é um novo nascimento. Ao 
nascer, a criança entra num novo estado de existência. O nascimento não 
é seu próprio ato. É dado à luz. Vem de um estado de escuridão, na qual 
os objetos adaptados à sua própria natureza não podem agir sobre o 
mesmo ou despertar suas atividades. Logo que entra no mundo todas as 
suas faculdades despertam; vê, sente e ouve, e pouco a pouco se 
desdobra todas as suas faculdades como ser racional e moral, assim 
como ser físico. As Escrituras ensinam que é assim na regeneração. A 
alma entra num novo estado. Introduz-se num mundo novo. Uma classe 
inteira de objetos antes desconhecidos ou infravalorizados lhe são 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 61 
revelados, e exerce sobre ele sua adequada influência. As “coisas do 
Espírito” se convertem nos principais objetos de desejo e busca, e todas 
as energias da alma recém-nascida se dirigem para o espiritual, diferente 
do visível e temporal.Esta representação está de acordo com a doutrina 
evangélica sobre este tema. Não é compatível com qualquer das falsas 
teorias da regeneração, que o que se refere a regenerar-se como próprio 
ato do pecador, como uma mera mudança de objeto, ou como um 
processo gradual da cultura moral. 
 
Um novo coração. 
Outro modo em que se expõe esta doutrina encontra-se naquelas 
passagens em que se mostra a Deus dando um novo coração a Seu povo. 
Na escritura o coração é aquilo que pensa, sente, quer e age. É a alma, o 
eu. Um novo coração, portanto, é um novo eu, um novo homem. Implica 
uma mudança de todo o caráter. É uma nova natureza. Do coração 
procedem todos os exercícios conscientes, voluntários, morais. Por isso, 
uma mudança de coração é uma mudança que precede aqueles exercícios 
e determina o caráter dos mesmos. Um novo coração é o que é a bondade 
da árvore na parábola de nosso Senhor. 
Portanto, na regeneração há a comunicação de uma nova vida à 
alma; o homem é sujeito de um novo nascimento; recebe uma nova 
natureza ou um novo coração, e vem a ser nova criação. Porquanto a 
mudança não tem lugar nem na substância nem nos meros exercícios da 
alma, mas naquelas disposições, princípios, gostos ou hábitos imanentes 
que subjazem a todos os exercícios conscientes, e que determinam o 
caráter do homem e de todas as suas ações. 
 
Toda a alma é objeto desta mudança 
6. De acordo com a doutrina evangélica não é pela exclusão do 
intelecto nem é só pela vontade, quer seja em sua mais ampla mudança 
em questão. Isto é evidente: 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 62 
(1.) Porque a alma é uma unidade, e é assim reconhecida na 
Escritura. Suas faculdades não são tão dissociadas que uma pode ser boa 
e outra má, uma salva e outra perdida, uma ativa na esfera da moral e a 
religião e a outra inativa. Em todos os exercícios como a inteligência, os 
sentimentos, a vontade e a consciência, ou consciência moral, são 
necessariamente envolvidos. 
(2.) Na descrição desta obra todas as faculdades da alma se 
representam como afetadas. A mente se ilumina, os olhos do 
entendimento se abrem, o coração se renova, a vontade é vencida, ou, o 
homem é feito disposto. 
(3.) Quando Lázaro voltou à vida, não era um membro do corpo, ou 
uma faculdade que recebeu a influência vivificante. Não foi o coração 
que se pôs em marcha, o cérebro e os pulmões sendo restaurados por sua 
ação. Era o homem inteiro que se fez com vida. E é a alma inteira que é 
regenerada. 
(4.) Isto é uma questão adicional dos efeitos atribuídos à 
regeneração. Estes efeitos não se limitam a um departamento de nossa 
natureza. A regeneração assegura conhecimento correto, assim como 
sentir-se bem; e o correto sentimento não é o efeito do conhecimento 
correto, nem é correto conhecimento do efeito de sentir-se correto. Os 
dois são inseparáveis dos efeitos de uma obra que afeta a toda a alma. 
(5). Quando nosso Senhor ensina que a árvore deve ser boa para 
que a fruta seja boa, não foi uma só parte da árvore que deve ser 
mudado, mas toda a árvore. Da mesma maneira é a alma, no centro e 
unidade de sua vida, que é o objeto desse poder vivificante do Espírito 
Santo, pelo qual se converte numa nova criatura. A doutrina de que a 
regeneração é uma mudança que afeta só uma das faculdades da alma 
tem seu fundamento completamente fora das Escrituras. É simplesmente 
uma inferência a partir de uma teoria psicológica particular, e não tem 
autoridade em teologia. 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 63 
§ 4. Objeções à doutrina evangélica. 
 
As mesmas objeções que se enfatizam contra as outras doutrinas da 
graça se apressam contra a perspectiva Agostiniana da natureza da 
regeneração. Estas objeções são de três classes. 
 
A negação do sobrenaturalismo. 
1. A primeira classe de objeções se baseia na negação do Teísmo, 
ou ao menos na negação da doutrina escriturística da relação de Deus 
com o mundo. É uma hipótese comum a maior parte das formas da 
moderna filosofia que a única atividade do Ser Supremo (se a pessoal ou 
impessoal) é segundo a lei. É ordenada, uniforme, e em, com e por meio 
de segundas causas, se são admitidas tais causas. Tudo é natural e nada 
sobrenatural, seja no mundo exterior ou na esfera das coisas espirituais. 
Não pode haver criação ex-nihilo, nenhum milagre, nenhuma 
revelação imediata, nem inspiração no sentido da igreja desse termo; 
nenhuma obra sobrenatural no coração, e, portanto, não há regeneração 
no sentido de uma operação imediata de um poder onipotente na alma. 
Aqueles que se separam de seus princípios até o ponto de admitir que a 
pessoa de Cristo é sobrenatural em sua origem sustentam que o 
sobrenatural torna-se natural nEle, e que dEle em diante a difusão da 
vida espiritual é um processo regular de desenvolvimento, como uma 
simplicidade natural como o desenvolvimento da humanidade desde 
Adão através de toda sua posteridade. 
Trata-se de uma teoria filosófica. Não tem autoridade para os 
cristãos. E como é contrária ao ensino expresso das Escrituras, não pode 
ser adotada por aqueles que as reconhecem como a norma infalível de fé 
e prática. Porquanto contradiz as convicções morais e religiosas que 
surgem da constituição de nossa natureza, tem que ser de uma em todas 
suas tendências, e pode ser adotada só por aqueles que sacrificam sua 
vida interior à especulação. 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 64 
A confiança em falsas teorias psicológicas. 
2. Uma segunda classe de objeções se baseiam em certas teorias 
psicológicas do livre-arbítrio, da natureza da alma e das condições da 
obrigação moral. Nenhuma teoria a respeito desta nem de outra questão 
tem autoridade, exceto aquelas que subjazem aos fatos e doutrinas da 
Escritura e que estão necessariamente assumidas nelas. Se qualquer 
teoria ensinar que a capacidade plenária é essencial para o livre-arbítrio, 
que Deus não pode controlar com segurança os atos dos agentes livres 
sem destruir sua liberdade, ou que os atos livres não se podem prever, 
predizer, ou predestinar, então tal teoria deve ser falsa se a Escrituras 
afirmarem fatos que implicam o contrário. Se uma teoria ensina que os 
homens são responsáveis unicamente dos atos da vontade, sob seu 
próprio controle, essa teoria deve ser rejeitada se a Bíblia ensina que 
somos responsáveis pelos estados da mente sobre os quais a vontade não 
tem poder direto. 
Os fatos da doutrina evangélica da regeneração, como se tem dito, 
contradizem as teorias em que os argumentos dos Remonstrantes, 
Pelagianos, e outros contra essa doutrina repousam, e portanto as teorias 
devem compartilhar o destino de toda doutrina que se contradiz com os 
fatos estabelecidos. Isto foi demonstrado vez após vez em diferentes 
épocas da Igreja. Os princípios envolvidos em tais objeções se 
discutiram nas páginas anteriores, e não precisam ser novamente 
considerados. 
 
Objeções baseadas na perfeição divina. 
3. Uma terceira classe de objeções se baseia na suposta 
inconsistência desta doutrina com a perfeição moral de Deus. Se todos os 
homens estão mortos em pecado, carentes da capacidade de restaurar-se 
a si mesmos à vida, então não só é injusto que sejam condenados, mas 
também incompatível com a divina retidão que Deus exerça Seu poder 
onipotente na regeneração de alguns, conquanto deixa outros perecerem. 
Diz-se que a justiça demanda que todos tenham a mesma oportunidade; 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 65 
que todos tenham, por natureza ou por graça, a capacidade de obter sua 
própria salvação. É evidente que estas objeções não militam de maneira 
peculiar contra o sistema Agostiniano. São enfatizadas pelos ateus contra 
o Teísmo. Se há um Deus pessoal de poder infinito, por que permite que 
o pecado e a desgraça tenham tal supremacia sobre a terra; por que o 
bem e o mal estão tão desigualmente distribuídos, e por que é a 
distribuição tão arbitrária? 
Os deístasfazem a mesma objeção contra a autoridade da Bíblia. 
Não podem recebê-la como a Palavra de Deus, visto que representa o 
Criador e Governador do mundo como colocando homens em 
circunstâncias que garantam de algum modo a universalidade do pecado, 
e logo os castiga com severidade inexorável até por suas palavras 
ociosas. 
Também está claro que os diferentes sistemas antiagostinianos não 
oferecem um verdadeiro alívio perante estas dificuldades. Admitindo que 
a regeneração fosse a ação própria do pecador; admitindo que cada 
homem tivesse todo o conhecimento e toda a capacidade necessária para 
alcançar sua salvação, continua sendo certo que poucos se salvam, e que 
Deus não Se interpõe para impedir que a grande maioria de adultos no 
atual estado do mundo pereçam em seus pecados. 
Os Agostinianos não negam estas dificuldades. Só mantêm que não 
são peculiares de seu sistema; e repousam satisfeitos com a solução que 
lhes dá a Escritura. Esta solução concorda com todos os fatos da 
consciência e da experiência, até onde alcançam a consciência e a 
experiência. A Bíblia ensina que o homem foi criado santo; que por sua 
transgressão voluntária da lei divina ele apostatou de Deus; que como 
consequência desta apostasia todos os homens vêm ao mundo num 
estado de morte espiritual, tão culpados e contaminados; que Deus não 
exerce influência para levá-los ao pecado, mas pelo contrário, mediante 
Sua verdade, Sua providência, e por Seu Espírito exerce toda influência 
sobre eles que deve mover os seres racionais a arrepender-se e buscar a 
Sua misericórdia perdoadora e a graça santificante; que todos aqueles 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 66 
que sincera e fielmente buscam a reconciliação com Deus no caminho de 
Seu mandato Ele realmente salva; que de Sua graça soberana Ele, no 
exercício de Seu grande poder, renova e santifica uma multidão que 
nenhum homem pode contar, aqueles que de outro modo teriam seguido 
em seus pecados. Com estas representações da Escritura tudo dentro da 
esfera de nosso conhecimento está de acordo. A consciência e a 
experiência dão testemunho do fato que somos uma raça apóstata; que 
todos os homens são pecadores, e que, sendo pecadores, perdemos todo 
direito ao favor de Deus; que, ao continuar no pecado e na rejeição às 
propostas da misericórdia os homens agem voluntariamente, seguindo os 
desejos de seus corações. A consciência de cada homem, além disso, 
ensina-lhe que ele nunca procurou a salvação de sua alma com a 
sinceridade e a perseverança com que os homens procuram as coisas do 
mundo, e contudo falhou em seus esforços. Cada homem que deixa de 
alcançar a vida eterna sabe que a responsabilidade é dele. Pelo contrário, 
a experiência de cada crente é um testemunho para ele que é de Deus e 
não de si mesmo que está em Cristo (1Co 1:30); cada crente sabe que se 
Deus o tivesse deixado a si mesmo, teria permanecido em incredulidade 
e pecado. Por que Deus intervém para salvar a um, e não a outro, quando 
todos são igualmente imerecedores; por que as coisas de Deus são 
reveladas aos Filhos, e escondidas dos sábios e prudentes, só pode 
receber resposta na linguagem de nosso Senhor: «Sim, ó Pai, porque 
assim foi do teu agrado» (Mt 11:26). 
As mais populares e comuns objeções de que a doutrina agostiniana 
da regeneração leva negligenciar os meios da graça, «a esperar o tempo 
de Deus, à indiferença ou ao desespero; que é inconsequente com as 
exortações e mandamentos dirigidos aos pecadores a que se arrependam 
e creiam, e incompatível com a responsabilidade moral, já foram 
consideradas várias vezes. Será suficiente repetir mais uma vez que estas 
objeções estão baseadas sobre a hipótese de que a incapacidade, 
inclusive quando surge de nossa própria pecaminosidade, é incompatível 
com a obrigação. Além disso, a tendência natural e real da sensação de 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 67 
impotência sob uma carga de mal é a de levar a uma fervorosa e 
importuna solicitude de alívio perante Aquele que é capaz de outorgá-la, 
e cuja outorga oferece. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 68 
CAPÍTULO XVI 
A FÉ 
 
§ 1. Observações preliminares. 
 
O primeiro exercício consciente da alma renovada é a fé; assim 
como o primeiro exercício consciente de um cego de nascimento cujos 
olhos foram abertos é a visão. O exercício da visão de um homem é sem 
dúvida a participação de novas sensações e tantas emoções que ele não 
pode determinar que parte desta nova experiência vem através dos olhos, 
e a quantidade de outras fontes. Assim é com o crente. Logo que seus 
olhos são abertos pela renovação do Espírito Santo, está num mundo 
novo. As coisas velhas passaram, eis que todas são feitas novas. A 
apreensão das «coisas de Deus» como verdadeiras encontra-se na base 
de todos os exercícios da alma renovada. A discussão quanto a se a fé 
precede ao arrependimento, ou o arrependimento à fé não pode dar-se se 
está de acordo no significado das palavras. A não ser que a fé se limite a 
alguns de seus exercícios especiais, não se pode duvidar de que na ordem 
natural deve preceder ao arrependimento. O arrependimento é o voltar-se 
da alma do pecado para Deus, e a não ser que seja produzido por uma 
apreensão crente da verdade não é sequer um ato racional. Porquanto nas 
Escrituras se atribui tanta importância à fé, porquanto todas as promessas 
de Deus se dirigem aos crentes, e porquanto todos os exercícios 
conscientes da vida espiritual envolvem o exercício da fé, sem a qual são 
impossíveis, não se pode sobrevalorizar a importância desta graça. Para 
o teólogo e para o cristão prático é indispensável ter ideias claras e 
corretas sobre esta questão, de especial dificuldade. Dificuldade que 
surge em parte pela natureza da questão; em parte pelo fato de que o uso 
deu ao termo fé tantos significados diferentes; em parte pelas definições 
arbitrárias que lhe deram filósofos e teólogos; e em parte pela grande 
diversidade de aspectos sob a qual é apresentada na Palavra de Deus. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 69 
 
A pergunta O que é a Fé?, é muito ampla. Num ponto de vista é 
uma questão metafísica. Qual é o nome psicológico do ato ou estado da 
mente que designamos fé, ou crença? Neste aspecto, a discussão 
concerne ao filósofo tanto como ao teólogo. Em segundo lugar, a fé pode 
ser vista quanto ao seu exercício em todo o âmbito da religião e a 
moralidade. Em terceiro lugar, pode-se considerar como uma graça 
cristã, o fruto do Espírito, quer dizer, os exercícios da fé que são próprios 
ao regenerado povo de Deus. Isto é o que se entende pela fé salvadora. 
Em quarto lugar, pode ser visto em sua relação com a justificação, 
santificação e vida santa, ou, quanto aos exercícios especiais da fé que se 
requer como condições necessárias da aceitação do pecador para com 
Deus, ou essenciais à santidade de coração e vida. 
 
§ 2. A natureza psicológica da fé. 
 
A fé, no sentido mais amplo do termo, é assentimento à verdade, ou 
a persuasão da mente de que algo é certo. Em linguagem popular comum 
dizemos que cremos naquilo que consideramos certo. O elemento 
primário da fé é confiança. A palavra hebraica אָמַן significa sustentar, 
manter. No Nifal,* ser firme, e, num sentido moral, ser digno de 
confiança. No Hifil,* considerar como sólido, ou de confiança, depositar 
confiança ou confiar em. De igual maneira a palavra grega πιστεύω 
[pisteo] (de πίστις [pistis] e essa de πείθω [peito], persuadir), significa 
confiar, quer dizer, ser convencido de que uma pessoa ou coisa é de 
confiança. Daí o epíteto πιστός [pistos] aplica-se a todo aquele que é e 
que mostra a si mesmo ser digno de confiança. Em latim credere (de ahí 
nuestra palabra crédito) tiene el mismo significado. En asuntos 
mercantiles significa prestar, confiar en; y entonces, en general,ejercer 
confianza en. “Crede mihi,” confia em mim, confia em minha palavra. 
 
* Forma do verbo hebraico que tem sentido reflexo e, muito frequentemente, passivo. (N. do T.) 
* O Hifil em geral expressa a ação “causativa” do Qal. (N. do T.) 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 70 
Fides (de fido, e este de πείθω [peito]), é também a confiança, a 
confiança exercida com relação a qualquer pessoa ou coisa, e logo a 
disposição, ou a virtude que motiva a confiança; logo da promessa, 
declaração, ou compromisso que é a base interior da confiança. Em 
palavras afins, fidens, fidelis, fiducia, a mesma ideia é proeminente. A 
palavra alemã “Glaube” tem o mesmo significado geral. É definida por 
Heinsius (Wörterbuch): “der Zustand des Gemüthes, da man eine Sache 
für wahr hält und sich darauf verlässt,” quer dizer, “esse estado de ânimo 
em que um homem recebe e se baseia numa coisa como a verdade.” A 
palavra inglesa “faith” diz-se que é do anglo-saxão “fægan” à aliança. É 
esse estado de ânimo que requer uma aliança ou supõe, quer dizer, é a 
confiança numa pessoa ou coisa de confiança. “Crer,” é definida pelo 
latim “credere, fidem dare sive habere.” 
“Os etimologistas,” diz Richardson, “não tentam levar em conta 
esta palavra importante: é, sem dúvida, formado em Dut. Leven; Ger. 
Leben; A.-S. Lif-ian; Goth. Liban, viver ou estar vivo, habitar. Live ou 
leve, ser-o bi-live ou leve, são utilizados indistintamente pelos escritores 
antigos, quer seja para denotar vivere o credere. . . . . Crer, então, é viver 
por ou de acordo com, ficar fiel a; guiar, dirigir, regular, governar ou 
dirigir a vida por; tomar, aceitar, assumir ou adotar como regra de vida; 
e, em consequência, pensar, considerar, ou julgar correto; estar 
firmemente convencido de, dar crédito a; confiar, ou crer digno de 
confiança; ter ou dar fé ou confiança; entregar em confiança, pensar ou 
considerar fiel.” 
 
A ideia primária da fé é confiança 
De tudo isto se desprende que a ideia principal da fé é confiança. A 
ideia primária de fato é aquilo que é digno de confiança; aquilo que 
sustenta nossas expectativas, que não frustra, porque realmente é aquilo 
que se supõe ou que se declara ser. Opõe-se ao enganoso, o falso, o 
irreal, o vazio e o carente de valor. Considerar algo como verdadeiro é 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 71 
 
considerá-lo como digno de confiança, como sendo o que declara ser. 
Portanto, fé, no sentido global e legítimo da palavra, é confiança. 
De acordo com esta ideia geral da fé, Agostinho68 diz: “Credere, 
aliud est nihil, quam cogitare cum assensione.” Assim, também, Reid69 
diz: “A crença admite todos os graus, do menor indício à maior 
segurança. . . . . Há muitas operações da mente nas quais. . . . 
encontramo-nos com a crença de ser um ingrediente essencial. . . . . A 
crença é um ingrediente na consciência, na percepção, e na lembrança. . . 
. . Damos o nome da evidência a tudo o que é um motivo de crença.. . . . 
O que esta evidência é, é mais fácil sentir que descrever. . . . . As 
ocasiões comuns da vida nos levam a distinguir evidência em diferentes 
tipos. . . . tais como a evidência dos sentidos, a evidência da memória, a 
evidência da consciência, a evidência do testemunho, a evidência dos 
axiomas, a evidência do raciocínio. . . . . Parecem-me estar de acordo 
somente nisso, que estão dotadas pela natureza para produzir a crença na 
mente humana.” 
 
O sentido mais restringido da palavra. 
Há, entretanto, na maioria dos casos uma grande diferença entre o 
significado geral de uma palavra e seu significado especial e 
característico. Embora, portanto, haja um elemento de crença em todos 
os nossos conhecimentos, não há uma diferença importante entre o que é 
estrita e propriamente chamado fé, e os estados ou os atos da mente que 
designamos como vista ou percepção, intuição, opiniões, conclusões, ou 
juízos apodícticos. O que essa diferença característica é, é o ponto a ser 
determinado. Há modos de declaração sobre este tema atual entre uma 
certa classe de filósofos e teólogos, que dificilmente se pode considerar 
como a definição da fé. Tomam a palavra fora de seu significado comum 
e estabelecido, ou arbitrariamente o limitam a uma esfera especial de 
 
68 De Prædestinatioe Sanctorum [II.], 5; Works, edit. Benedictines, Paris, 1838, vol. x. p. 1849 b. 
69 On the Intellectual Powers, Essay II. ch. xx.; Works, Edinburgh, 1849, pp. 237 b, 328 a, b. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 72 
 
nossas operações mentais. Assim Morell70 diz: “A fé é a intuição de 
verdades eternas.” Mas verdades eternas, não são os únicos objetos da fé, 
nem é a intuição a única forma de compreender a verdade que é da 
natureza da crença. As mesmas objeções têm contra a afirmação de que 
“A fé é o órgão do sobrenatural e divino;” ou, como o expressa 
Eschenmayer:71 “Ein vom Denken, Fühlen und Wollen verschiedenes, 
eigenthümliches Organ für das Ewige und Heilige; a special organ for 
the eternal and the holy.” 
O sobrenatural e o divino, entretanto, não são os objetos exclusivos, 
inclusive da fé religiosa. É pela fé que sabemos que o universo foi feito 
pela palavra de Deus; foi pela fé que Noé preparou a arca, e Abraão, 
sendo chamado por Deus, saiu sem saber aonde ia. Os objetos da fé 
nestes casos não são o que se entende por “verdades eternas.” É, além 
disso, uma hipótese arbitrária que a fé é “um órgão especial,” inclusive 
quando as coisas sobrenaturais e divinas são seu objeto. Nossa natureza 
se adapta à recepção de todas as classes de verdades das quais podemos 
ter alguma ideia. Mas não é necessário assumir um órgão especial para 
as verdades históricas, um órgão especial para as verdades científicas, e 
outro para as verdades da revelação geral, e outro para “o eterno e o 
sagrado.” Deus nos constituiu capazes de crer, e o complexo estado da 
mente participar no ato de fé é, é óbvio, diferentes segundo a natureza da 
verdade crida, e a natureza das provas em que se fundamenta nossa fé. 
Mas isto não implica necessariamente a assunção de um órgão distinto 
para cada tipo de verdade. 
 
 
 
 
 
 
70 Philosophy of Religion. 
71 Die einfachste Dogmatik, Sec. 338; Tübingen, 1826, p. 376. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 73 
 
A fé não deve ser considerada simplesmente como uma 
graça cristã. 
Não menos insatisfatórias são aquelas descrições da fé que a 
consideram só em seu caráter de graça cristã e salvadora. Delitzsch, por 
exemplo,72 descreve a fé como o ato mais central de nosso ser; o retorno 
a Deus, o sair de nossa vida interior para Ele. “Este anelo de Deus é 
gratuito, misericordioso, como sua própria Palavra o declara, um anelo, 
estendendo-se, e captando-o; este anelo despido, desinteressado, sente-se 
satisfeito com nada mais que a graça prometida por Deus; este afã, 
absorvendo cada raio de luz que procede do reconciliador amor de Deus; 
esta convincente apropriação de segurança e o apego à palavra de graça; 
isto é fé. De acordo com sua natureza, é a pura e correlata receptividade 
da palavra da promessa, um meio de chegar-se mais a Deus, que, como a 
própria palavra, é estabelecida através da distância de Deus como 
consequência do pecado; porque a fé deve confiar na palavra, apesar de 
toda falta de compreensão, falta de visão, falta de experiência. Nenhum 
actus reflexi experimental pertence à natureza da fé. É, de acordo com 
sua natureza, actia directa, ou seja, fiducia supplex.” Tudo isto, sem 
dúvida, é verdade do crente. Ele faz assim muito tempo depois de Deus, 
e seu caso, o testemunho de seu amor, e se agarra a Suas promessas da 
graça; mas a fé tem um alcance mais amplo que este. Há exercícios da fé 
não incluídos nesta descrição, registrados na Escritura, e especialmente 
no décimo primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus.Erdmann73 diz que a fé religiosa, a fé em que as Escrituras fazem 
tanta insistência, é, “Bewusstseyn der Versöhnung mit Gott, a 
consciência de reconciliação com Deus”. Insiste em que a fé não se pode 
separar de seu conteúdo. Não é o homem que mantém tal ou qual como 
sendo verdade, que é um crente; mas o homem que está convencido de 
uma verdade específica, ou seja, que se reconciliou com Deus. Chamar a 
 
72 Biblical Psychology, p. 174. 
73 Vorlesungen über Glauben und Wissen, von Johann Eduard Erdmann, Berlin, 1837, p. 30. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 74 
 
fé uma consciência não é uma definição de sua natureza. E limitá-la a 
uma consciência da reconciliação com Deus é contrária ao uso da 
Escritura e a teologia. 
 
Definições da fé baseadas em sua natureza subjetiva. 
As mais comuns e geralmente recebidas definições da fé, talvez 
poderão ser reduzidas a três classes, todas com a ideia geral da persuasão 
da verdade. Entretanto, alguns buscam o caráter distintivo da fé em seu 
caráter subjetivo, outros, na natureza de seu objeto; outros, na natureza 
da evidência, ou na base sobre a qual descansa. 
 
A fé é distinguida da opinião e do conhecimento. 
À primeira destas classes pertencem as seguintes definições: A fé 
ou crença diz-se que é uma convicção da verdade mais forte que a 
opinião, e mais fraca que o conhecimento. Os metafísicos dividem os 
objetos de nossos conhecimentos em: o possível, o real e o necessário. 
Quanto ao meramente possível podemos formar só conjetura ou 
opiniões, mais ou menos plausíveis ou prováveis. Com relação às coisas 
que a mente com maior ou menos confiança considera como certas, 
embora não possa justificar que a confiança a si mesmo ou a outros, quer 
dizer, não podem demonstrar a certeza do objeto, diz-se crer. O que é 
perfeitamente seguro e pode demonstrar que é verdade com o fim de 
coagir à convicção, diz-se saber. Assim, Locke define a fé como o 
assentimento da mente às proposições que são provavelmente, mas 
certamente não é verdade. Bailey74 diz: “Proponho confinar à crença 
[ou] à fé em primeiro lugar, ao efeito sobre a mente das premissas no que 
se denomina raciocínio provável, ou o que chamei o raciocínio dos 
contingentes — numa palavra as premissas em todo raciocínio, mas o 
que é demonstrativo; e em segundo lugar, o estado de manter verdade 
quando esse estado, longe de ser o efeito de todos as premissas 
 
74 Letters on the Philosophy of the Human Mind, London, 1855, pp. 75, 76. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 75 
 
discernidas pela mente, é dissociado de todas as provas.” Crer é admitir 
uma coisa como verdade, segundo Kant, em bases suficientes 
subjetivamente, insuficientes objetivamente. Ou, como mais amplamente 
dito: “Manter como verdade, ou a validade subjetiva de um juízo com 
relação à convicção (que é, ao mesmo tempo, objetivamente válida) tem 
os três graus seguintes: opinião, crença e conhecimento. A opinião é um 
juízo consciente insuficiente, subjetivamente assim como objetivamente. 
A crença é subjetivamente suficiente, mas é reconhecido como 
objetivamente insuficiente. O conhecimento é tão subjetivo como 
objetivamente suficiente. A suficiência subjetiva chama-se convicção 
(para mim); a suficiência objetiva se denomina certeza (para todos).”75 
Erdmann76 diz: “Man versteht unter Glauben eine jede Gewissheit, die 
geringer ist als das Wissen, und etwa stärker ist als ein blesses Meinen 
oder Fürmöglichhalten (z. B. ich glaube, dass es heute regnen wird).” 
“Pela fé se entende qualquer persuasão que é mais fraca que o 
conhecimento, mas um pouco mais forte que uma simples consideração 
possível ou provável como, por exemplo, creio que vai chover hoje.” Isto 
ele dá como significado usualmente aceito da palavra, embora totalmente 
repudia como uma definição da fé religiosa. 
Insiste-se em apoio desta definição de fé que com relação a tudo o 
que não estamos absolutamente seguros, e entretanto, estamos 
persuadidos ou convencidos de sua verdade, nós dizemos que cremos. 
Assim, com relação às coisas lembradas, se a lembrança for confusa e 
incerta, dizemos o que pensamos, por exemplo, pensamos que vimos 
uma determinada pessoa num momento e lugar determinados; não 
estamos seguros, mas tal é nossa impressão. Se nossa persuasão do fato 
for mais forte, dizemos que cremos. Se tivermos, e podemos ter, sem 
dúvida, dizemos que conhecemos. De igual maneira o testemunho de 
nossos sentidos pode ser tão fraco quanto a produzir só uma 
 
75 Meiklejohn’s Translation of Critic of Pure Reason, London, 1855, p. 498. 
76 Glauben und Wissen, Berlin, 1837, p. 29. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 76 
probabilidade de que a coisa é tal como aparece; se mais clara, produz 
uma crença mais ou menos decidida; e se tão clara quanto a evitar toda 
dúvida, o efeito é conhecimento. Se vemos uma pessoa à distância, e 
estamos completamente incertos de quem é, só podemos dizer que 
pensamos que é alguém a quem conhecemos. Se essa persuasão faz-se 
mais forte, dizemos, cremos que é ele. Se perfeitamente certos, dizemos, 
o sabemos. Em todos estes casos a única diferença entre opinião, crença 
e conhecimento, é sua força relativa. Os objetos são os mesmos, sua 
relação com a mente é a mesma, e a base ou evidência em que 
separadamente descansam é da própria natureza. Diz-se que seria 
incorreto afirmar: “Cremos que dormíamos em nossa casa ontem à 
noite;” se completamente seguros disso. Se uma testemunha num 
tribunal de justiça simplesmente diz, “creio que eu estava num lugar 
determinado num momento dado,” seu testemunho não teria nenhum 
valor. Ele deve ser capaz de dizer que está seguro do fato — que ele 
sabe. 
 
Objeções a esta definição. 
Desta definição da fé, pode-se notar: 
1. Que o significado que se atribui à palavra é, sem dúvida legítimo, 
sustentado pelo uso estabelecido. A estados de ânimo expressos pelas 
palavras, creio que uma coisa é verdade; eu acredito; sei, distinguem-se 
uns de outros, simplesmente pelos distintos graus de certeza que entra 
neles, respectivamente. A base provável deste uso da palavra crer, é que 
há mais do elemento de confiança (ou um dar voluntariamente evidência 
a uma maior influência na mente que da necessidade que lhe pertence), 
que se manifesta em nossa consciência, que se expressa dizendo que 
pensamos, ou, que o sabemos. Seja como for, não se pode negar que a 
palavra crença com frequência expressa um grau de convicção maior que 
a opinião e menos que o conhecimento. 
2. Mas isto não é a característica distintiva da fé, ou sua diferença. 
Há exercícios de fé em que esta incerteza não entra. Algumas das mais 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 77 
 
fortes convicções de que a mente é capaz são crenças. Inclusive nosso 
testemunho da veracidade de consciência, o fundamento de todas as 
outras convicções, é da natureza da fé. Assim as verdades primitivas que 
são, e devem ser assumidas em todas as nossas investigações e 
argumentos, são crenças. São tomadas na confiança. Não podem ser 
provadas. Se ninguém as negar, não há nada mais que dizer. Ele não 
pode ser convencido. Sir William Hamilton 77 diz: “Santo Agostinho diz 
com precisão: ‘Sabemos o que se apoia na razão; cremos o que se baseia 
na autoridade.’ Mas a própria razão deve repousar enfim na autoridade; 
porque os dados originais da razão não descansam na razão, mas são 
necessariamente aceitas em razão da autoridade do que está além de si 
mesmo. Estes dados são, portanto, em rígida propriedade, crenças ou 
confianças. Assim é que, em última instância, devemos, forçosamente 
admitir filosoficamente, que a crença é a condição primordial da razão, e 
não a razão o fundamento último da crença. Vemo-nos obrigados a 
render o soberbo Intellige ut credas de Abelardo, que nos contentar como humilde Crede ut intelligas de Anselmo.” 
O mesmo ocorre em outras esferas. O efeito sobre a mente 
produzida pelo testemunho humano se reconhece universalmente como 
fé. Se esse testemunho for insuficiente não se opõe à dúvida; mas pode 
ser tão forte para fazer impossível toda dúvida. Nenhum homem são 
duvida da existência de cidades como Londres e Paris. Mas à maioria 
dos homens essa existência não é uma questão de conhecimento quer 
seja intuitivo ou discursivo. É algo que se dá em confiança, sobre a 
autoridade de outros; o que tomando em confiança é admitido pelos 
filósofos, teólogos, e a massa dos homens, como uma forma de fé. Mais 
uma vez, em alguns estados da mente a convicção moral de um homem 
da realidade de um estado futuro da recompensa e o castigo é tão forte 
como sua crença em sua própria existência, e muito mais forte que sua 
confiança no testemunho de seus sentidos. E entretanto, um estado futuro 
 
77 Reid’s Works; edit. Edinburgh, 1849, note A, § 5, p. 760 b. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 78 
 
de existência não é uma questão de conhecimento. É um objeto de fé, ou 
uma coisa que se crê. Encontramo-nos em consequência que as 
Escrituras ensinam que há plena certeza de fé; uma fé que se opõe à 
possibilidade da dúvida. Paulo diz: “Eu sei em quem tenho crido e estou 
certo que é poderoso para guardar meu depósito até aquele dia.” (2Tm. 
1:12). Como Jó havia dito antes das idades: “Eu sei que o meu Redentor 
vive.” O apóstolo declara, Hebreus 10:1, fé é um ὑπόστασις e ἐλεγχος, 
que nenhum termo mais forte poderia ser selecionado para expressar 
convicção assegurada. O poder, também, que a Bíblia atribui à fé como o 
princípio controlador de vida, como vencendo o mundo, submetendo 
reinos, tapando a boca de leões, atenuando a violência do fogo, pondo 
em fuga os exércitos de estrangeiros, é prova suficiente que não é fraca a 
persuasão da verdade. Esta definição, portanto, que faz a característica 
da fé como uma medida de maior confiança que a opinião, mas menos 
que o conhecimento, não pode considerar-se satisfatória. 
 
A fé não é uma convicção voluntária. 
Uma segunda definição de fé, fundada em sua natureza, é a que faz 
com que seja “uma convicção voluntária ou persuasão da verdade.” Esta 
é uma visão muito antiga da questão. Segundo Teodoreto,78 πίστις ἐστὶν 
ἑκούσιος τῆς ψυχῆς συγκατάθειτις, quer dizer, “um consentimento 
voluntário da mente.” E Tomás de Aquino diz:79 “Credere est actus 
intellectus assentientis veritati divinæ ex imperio voluntatis a Deo motæ 
per gratiam.”80 Ele distingue entre conhecimento e fé mediante a 
representação do primeiro como a convicção produzida pelo próprio 
objeto visto intuitiva ou discursivamente (“sicut patet in principiis 
primis, . . . . vel . . . . sicut patet de conclusionibus”) ser verdade; 
enquanto no segundo a mente não é o suficientemente movido a assentir 
 
78 Græcarum Affectionum Curatio, sermo. i. edit. Commelinus, Heidelberg(?) 1592, p. 16, lines 11, 
12. 
79 Summa, II. ii. quæst. ii. art. 9, edit. Cologne, 1640, p. 8 b, of third set. 
80 Ibid. quæst. i. art. 4, pp. 3 b, 4 a, of third set. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 79 
 
“ab objecto proprio, sed per quandam electionem, voluntarie declinans in 
unam partem magis quam in alteram. Et siquidem hæc sit cum 
dubitatione et formidine alterius partis, erit opinio. Si autem sit cum 
certitudine absque tali formidine, erit fides.” 
Esta definição admite distintas explicações. A palavra “voluntário,” 
se seu significado for determinado pelo amplo sentido da palavra 
“vontade,” inclui todas as operações da mente não puramente 
intelectuais. E, portanto, dizer que a fé é um consentimento voluntário 
quer dizer que a fé não é mais que um assentimento especulativo, um ato 
da sentença pronunciando uma coisa como verdade, mas inclui o 
sentimento. Nitsch, portanto, define a fé como um “gefühlsmassiges 
Erkennen.” “Die Einheit des Gefühls und der Erkenntniss;81 um 
conhecimento ou a persuasão da verdade junto com o sentimento, — a 
unidade de sentimento e conhecimento.” Mas se a palavra “vontade for 
tomada no sentido de poder de livre determinação, então nada é 
voluntário, que não impliquem o exercício desse poder. Se, neste sentido 
a fé é voluntária, então devemos ter o poder de crer ou não crer à 
vontade. Se cremos na verdade, é porque nós mesmos escolhemos ou 
determinamos recebê-la, e se a rejeitamos, é porque não queremos crer 
nela. A decisão não está determinada nem pela natureza do objeto, nem 
pela natureza ou grau da evidência. Às vezes, estes dois significados da 
palavra voluntário parecem estar combinados pelos que definem a fé 
como um consentimento voluntário da mente, ou um assentimento do 
intelecto determinado pela vontade. Isto se desprende do que Tomás de 
Aquino, por exemplo, diz quando fala da questão quanto a se a fé é uma 
virtude. Ele argumenta que se a fé é uma virtude, que ele admite que 
seja, deve incluir o amor, porque o amor é a forma ou princípio de todas 
as virtudes; e é preciso determinar por si mesmos, porque não pode haver 
virtude na fé se é o efeito inevitável da evidência ou testemunho. Se for 
 
81 System der Christlichen Lehre, Einl. II. A. § 8. 3, 5th edit. Bonn, 1844, p. 18. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 80 
uma virtude, deve incluir um ato de livre determinação; temos que 
decidir fazer o que temos não o poder para fazê-lo. 
 
Observações a esta definição de fé. 
Esta definição de fé contém muitos elementos de verdade. Em 
primeiro lugar: é verdade que fé e sentimento com frequência são 
inseparáveis. Juntos constituem esse estado de ânimo aos que a fé é 
dada. A percepção de beleza é necessariamente relacionada com a 
sensação de prazer. Consentimento à verdade moral implica o 
sentimento de aprovação moral. Da mesma maneira discernimento 
espiritual (fé como fruto do Espírito) inclui deleite nas coisas do 
Espírito, não só como verdadeiras, mas também como belas e boas. Esta 
é a diferença entre uma fé viva e fé morta. Esta é a porção da verdade 
envolvida na doutrina romana de uma fé formada e sem forma. Fé 
(assentimento à verdade) relacionados com o amor é fides formata; fé 
sem amor é fides informis. No entanto, se bem que seja verdade que a fé 
é com frequência necessariamente relacionada com o sentimento, e, 
portanto, num sentido do termo, é um assentimento voluntário, 
entretanto, isto nem sempre é o caso. Se sentimento atende e entra no 
exercício da fé, depende de seu objeto (ou a coisa que se crê) e a 
evidência em que está fundada. Quando o objeto da fé é a verdade 
especulativa, ou algum acontecimento histórico passado ou futuro; ou 
quando a evidência ou testemunho em que a fé se baseia dirige-se só à 
compreensão e não à consciência ou à nossa natureza emocional ou 
religiosa, então a fé não implica sentimento. Cremos que a grande massa 
dos fatos históricos aos quais assentimos como verdadeiros, 
simplesmente sobre o testemunho histórico, e sem nenhuma sensação de 
entrar em, ou necessariamente vinculados a ela. O mesmo é verdade com 
relação a uma grande parte do conteúdo da Bíblia. Eles, em grande 
medida, são históricos, ou as predições dos acontecimentos históricos. 
Quando cremos o que as Escrituras registram a respeito sobre a criação, 
o dilúvio, a vocação de Abraão, a derrocada das cidades da planície, a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 81 
história de José, e similares, nossa fé não inclui o sentimento. Não é um 
exercício da vontade em um ou outro sentido dessa palavra. É 
simplesmente uma convicção racional fundada em evidência suficiente. 
Pode-se dizer, como diz Tomás de Aquino, que é o amor ou reverência 
para com Deus que inclina a vontade a crer em tais atos sob a autoridade 
de Sua palavra. Mas os homens ímpios creem, e não podem deixar de 
crer neles. Um homem dificilmentepode encontrar que não crê que os 
israelitas que habitaram no Egito, escaparam da escravidão, e tomaram 
posse da terra de Canaã. 
Em segundo lugar, é certo não só que a fé é, em muitos casos, 
inseparável do sentimento, mas também que o sentimento tem muita 
influência na determinação de nossa fé. Isto é especialmente verdade 
quando as verdades morais e religiosas são os objetos da fé. A falta de 
congenialidade com a verdade produz insensibilidade à evidência pela 
qual se admite. Nosso Senhor disse aos judeus: “Vós não credes, porque 
não sois das minhas ovelhas.” (Jo 10:26). E em outro lugar: “Se alguém 
quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de 
Deus.” (Jo 7:17). E o Apóstolo diz daqueles que estão perdidos: “O deus 
deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não 
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de 
Deus.” (2Co. 4:4). A verdade estava presente, testificando dela as provas 
adequadas e abundantes, mas não havia nenhuma suscetibilidade. O 
defeito foi no órgão da visão, não na falta de luz. As Escrituras se 
referem de maneira uniforme à incredulidade daqueles que rejeitam o 
evangelho ao estado de seus corações. Não há dúvida de que todos os 
verdadeiros filhos de Deus receberam a Cristo como seu Deus e Salvador 
pela evidência que Ele deu de Seu divino caráter e missão, e que Ele foi 
rejeitado só pelos não renovados e pelos ímpios, e por causa de sua 
maldade. Daí a incredulidade é um pecado tão grande. Os homens são 
condenados porquanto não creem no unigênito Filho de Deus. (Jo 3:18). 
Tudo isto é verdade. É verdade da fé salvadora. Mas não é certo de 
todos os tipos inclusive da fé religiosa; quer dizer, da fé que tem a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 82 
verdade religiosa por seu objeto. E, portanto, não pode contribuir para a 
diferença ou critério para distinguir a fé de outras formas de 
assentimento à verdade. Há estados de ânimo não só popularmente, mas 
também corretamente chamado crença, de que não é verdade que o amor 
ou a congenialidade, é um elemento. Não há tal coisa como a fé morta, 
ou a ortodoxia. Não há tal coisa como a fé especulativa. Simão o Mago 
creu. Até os demônios creem. E se nos voltamos a outras que as verdades 
religiosas, é ainda mais evidente que a fé não é necessariamente um 
assentimento voluntário da mente. Um homem pode ouvir falar de algo 
mais repugnante a seus sentimentos, como, por exemplo, do triunfo de 
um rival. Ele pode em princípio negar-se a crê-lo, mas o testemunho 
pode ser tão forte para forçar a convicção. Esta convicção é, de comum 
acordo, a fé ou crença. Não é a vista; não é a intuição; não é uma 
dedução; é a crença, uma convicção fundada no testemunho. Este tema, 
quer dizer, a conexão entre fé e sentimento, virá novamente na 
consideração de outras definições. 
Em terceiro lugar, se tomarmos a palavra voluntário no sentido de 
que implica a volição ou a autodeterminação, é ainda mais evidente que 
a fé não se pode definir como assentimento voluntário. É, de fato, um 
refrão que um homem convencido, contra sua vontade permanece sem 
ser convencido. Mas isto é só uma forma popular de expressar a verdade 
recém-admitida, ou seja, que os sentimentos têm, em muitos casos, 
grande influência na determinação de nossa fé. Mas, como já se 
comentou, um homem pode ser obrigado a crer contra sua vontade. Ele 
pode lutar contra a convicção; ele poderá determinar que não vai crer, e 
entretanto, a convicção pode ser forçada sobre ele. Napoleão, na batalha 
de Waterloo, ouve que Grouchy está se aproximando. Ele com prazer o 
crê. Logo lhe chega o relatório de que o avanço das colunas são 
prussianos. Isto ele não vai crer. Logo, entretanto, como mensageiro 
após mensageiro confirma o fato lamentável, vê-se obrigado a crer. Não 
é certo, portanto, que na fé como fé sempre há, como diz Tomás de 
Aquino, uma eleição “voluntarie declinans in unam partem magis quam 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 83 
 
in alteram.” Há outra experiência frequente. Com frequência ouvimos os 
homens dizerem que dariam o mundo se pudessem crer. O moribundo 
Grócio disse que daria toda a sua aprendizagem pela fé simples de seu 
servo iletrado. Dizer a um homem que ele pode crer se ele quer é 
contradizer sua consciência. Ele trata de crer. Ele sinceramente ora por 
fé, mas não pode exercê-la. É verdade, quanto aos pecadores com 
relação ao evangelho, que esta incapacidade de crer surge do estado de 
sua mente. Mas este estado da mente descansa sob a vontade. Não se 
pode determinar ou mudar o exercício de qualquer poder voluntário. Por 
estas razões, a definição da fé, quer seja como genérica ou religiosa, 
como um assentimento voluntário à verdade, deve ser considerado 
insatisfatório. 
 
Definições de fé baseada nos objetos da fé. 
As definições anteriores se baseiam na natureza assumida subjetiva 
da fé. A seguinte definição é de um tipo diferente. Baseia-se na natureza 
de seu objeto. A fé diz-se que é a persuasão da verdade das coisas que 
não se veem. Esta é uma definição muito antiga e familiar. “Quid est 
fides,” pergunta Agostinho,82 “nisi credere quod non vides.” E diz 
Lombard:83 “Fides est virtus qua creduntur quæ non videntur.” Assim, a 
fé diz-se que é absorvida na visão; e uma fica em contraste com a outra, 
como quando o apóstolo diz: “Caminhamos por fé, não por vista.” E em 
Hebreus, capítulo onze, todos os objetos da fé sob o aspecto em que se 
considera nesse capítulo, incluem-se nas categorias de τὰ ἐλπιζόμενα e 
τὰ οὐ βλεπόμενα, “o que se espera, e as coisas não se veem.” Esta última 
inclui a primeira. “Esperamos,” diz o Apóstolo, “o que não vemos.” (Rm 
8:25). A palavra ver, neste sentido, pode-se tomar em três sentidos. Em 
primeiro lugar, em seu sentido literal. Não se diz que cremos no que 
vemos com nossos olhos. O que vemos sabemos que é verdade. Cremos 
 
82 In Joannis Evangelium Tractatus, XL. 9; Works, edit. Benedictines, Paris, 1837, vol. iii. p. 2088 b. 
83 Liber Sententiarum, III. xxiii. B., edit. 1472(?). 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 84 
que o planeta Saturno está rodeado por um cinturão, e que Júpiter tem 
quatro satélites, no testemunho unânime dos astrônomos. Mas se 
olharmos através de um telescópio e vemos o cinturão de um e os 
satélites do outro, nossa fé acaba em conhecimento. Cremos que há uma 
cidade como Roma, e que contém o Coliseu, o Arco de Trajano, e outros 
monumentos da antiguidade. Se visitarmos essa cidade e vemos estas 
coisas por nós mesmos, nossa fé converte-se em conhecimento. A 
convicção não é mais forte num caso que no outro. Estamos tão seguros 
de que é uma cidade antes de tê-la visto, como se tivéssemos estado ali 
centenas de vezes. Mas a convicção é de um tipo diferente. Em segundo 
lugar, a mente diz-se que vê quando percebe um objeto do pensamento 
como sendo verdade em sua própria luz, ou por seu próprio resplendor. 
Esta visão mental pode ser imediata ou mediata — quer seja 
intuitiva ou mediante um processo de prova. Uma criança pode crer que 
os ângulos de um triângulo juntos equivalem a dois ângulos retos, pela 
autoridade de seu mestre. Quando ele entende a demonstração desta tese, 
sua fé converte-se em conhecimento. Ele vê que é verdade. Os objetos da 
percepção sensorial, os objetos da intuição, e o que reconhecemos como 
verdade num processo de prova, não o são, de acordo com esta definição 
do termo, os objetos da fé. Sabemos o que vemos que é verdade; cremos 
quando reconhecemos como verdade o que não vemos. É verdade que o 
mesmo pode ser um objeto de fé e um objeto de conhecimento, mas não 
ao mesmo tempo. Podemos reconhecer como verdadeira a existência de 
Deus ou a imortalidade da alma, porque as proposições, “Deus existe,” 
“a alma é imortal,” são suscetíveis de prova. Os argumentos em apoio 
destas propostas podem satisfazer por completo nossas mentes.Mas elas 
são verdades da revelação que se crê pela autoridade de Deus. Estes 
estados de mente que chamamos conhecimento e fé, não são idênticos, 
tampouco coexistem estritamente. O efeito produzido pela demonstração 
é uma coisa. O efeito produzido pelo testemunho da Palavra de Deus, é 
outra coisa. Ambos incluem uma persuasão da verdade. Mas essa 
persuasão é, em sua natureza, diferente num caso do que em outro, visto 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 85 
 
que descansa sobre bases diferentes. Quando os argumentos estão 
perante a mente, a convicção de que produzem é o conhecimento. 
Quando o testemunho de Deus está perante a mente, a convicção que o 
produz é a fé. Neste sentido Tomás de Aquino diz:84 “Necessarium est 
homini accipere per modum fidei non solum ea, quæ sunt supra 
rationem: sed etiam ea, quæ per rationem cognosci possunt. Et hoc 
propter tria, Primo quidem, ut citius homo ad veritatis divinæ 
cognitionem perveniat. . . . . Secundo, ut cognitio Dei sit communior. 
Multi enim in studio scientiæ proficere non possunt. . . . . Tertio modo 
proptor certitudinem. Ratio enim humana in rebus divinis est multum 
deficiens.” 
Em terceiro lugar, em virtude das “coisas que não se veem,” alguns 
incluem todas as coisas que não estão presentes à mente. Faz-se uma 
distinção entre o conhecimento presentativo* e representativo. No 
primeiro caso o objeto está presente no momento; nós o percebemos, 
somos conscientes disso. No conhecimento representativo há um objeto 
presente agora, representando um objeto ausente. Assim temos a 
concepção de uma pessoa ou coisa. Esta concepção está presente, mas a 
coisa representada está ausente. Não está perante a mente. Pertence à 
categoria das coisas que não se veem. A concepção que está presente é o 
objeto do conhecimento; a coisa representada é um objeto de fé. Quer 
dizer, sabemos que temos a concepção, cremos que na coisa que isso 
representa, faz ou existia. Se visitarmos um lugar determinado, 
conquanto presente aos nossos sentidos, sabemos que existe; quando 
chegamos longe e formamos uma ideia ou concepção dela, quer dizer, 
quando a recuperamos por um esforço de memória, então cremos em sua 
existência. “Sempre que passamos além do conhecimento representativo, 
e nos asseguramos da realidade de um objeto ausente, há fé. . . . entrou 
como um elemento.”85 
 
84 Summa, II. ii. quæst. ii. art. 4, edit. Cologne, 1636, pp. 6 b, 7 a, of third set. 
* Conhecimento presentativo é o das qualidades primárias. - História da filosofia contemporânea, 149. 
85 McCosh, Intuitions of the Mind, part II. book ii. ch. 1, edit. New York, 1860, p. 197. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 86 
 
Sir William Hamilton86 diz: “Falando corretamente, conhecemos só 
o atual e o presente, e todo conhecimento verdadeiro é um conhecimento 
imediato. O que se diz ser mediatamente conhecido, é, na verdade, não 
conhecido ser, mas só se crê que é.” Isto, pode-se notar, de passagem, 
aplicar-se-ia a todas as proposições de Euclides. Porque são “conhecidas 
mediatamente,” quer dizer, que resulta ser verdadeira por meio de um 
processo de prova. Falando da memória, diz Hamilton: “Não é um 
conhecimento do passado absolutamente, mas um conhecimento do 
presente e uma crença do passado.” Segundo o Dr. McCosh: “Diz-se que 
conhecer-nos a nós mesmos, e os objetos apresentados aos sentidos e as 
representações (mas sempre como apresentações) na mente; mas crer nos 
objetos que vimos no tempo passado, mas que não estão presentes, e nos 
objetos que nunca vimos, e muito especialmente em objetos que nunca 
se pode saber, como um Deus infinito.”87 
 
Objeções a esta definição. 
De acordo com este ponto de vista, sabemos o que está presente na 
mente, e cremos no que está ausente. A primeira objeção a esta 
representação é a ambiguidade das palavras presentes e ausentes, tal 
como utilizada. Quando um objeto está presente? e quando está ausente? 
É fácil responder a esta pergunta quando o objeto é algo material ou um 
evento externo. Estes objetos estão presentes (“præsensibus”) quando 
afetam os sentidos, e ausentes quando não o fazem. Uma cidade ou um 
edifício está presente quando na realidade o vemos; ausente, quando 
deixamos o lugar onde está, e lembramos a imagem do mesmo. Mas o 
que acontece nas proposições? A Bíblia diz que todos os homens são 
pecadores. A verdade assim anunciada está presente na mente. Não o 
sabemos. Não a podemos provar. Mas cremos a partir da autoridade de 
Deus. As Escrituras ensinam que Cristo morreu como resgate por 
 
86 Lectures on Metaphysics and Logic, vol. i. “Metaphysics,” lect. xii. sub fin., edit. Boston, 1859, pp. 
152, 153. 
87 Intuitions of the Mind, p. 198. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 87 
muitos. Aqui, não só o fato histórico de que Ele morreu é anunciado, 
mas também a finalidade pela qual Ele morreu. Mais uma vez, temos 
uma verdade presente na mente, que é um objeto de fé. 
A segunda objeção está envolta na primeira. Os termos presentes e 
ausentes não só são ambíguos neste sentido, mas também não é verdade, 
como se acaba de dizer, que um objeto deve estar ausente o fim de ser 
um objeto de fé. Em outras palavras, a característica diferencial entre o 
conhecimento e a fé, não se encontra na presença ou ausência de seus 
objetos. Podemos saber o que está ausente, e podemos crer no que está 
presente. 
A terceira objeção é, que a convicção que temos da realidade ou 
verdade do que lembramos claramente é o conhecimento, e não de forma 
muito particular a fé, a menos que decidamos estabelecer uma nova e 
arbitrária definição da palavra conhecimento. Sabemos o que é recebido 
pelos sentidos; sabemos o que a mente vê, quer seja intuitiva ou 
discursivamente, é e deve ser verdade; e sabemos o que lembramos 
claramente. A convicção é em todos estes casos da própria natureza. Em 
tudo isso se transforma em confiança na veracidade da consciência. 
Somos conscientes de que percebemos os objetos sensíveis. Somos 
conscientes de que percebemos certas verdades. Somos conscientes de 
que nos lembramos de certos eventos. Em todos estes casos, essa 
consciência implica a convicção da realidade ou a verdade do que se vê, 
mentalmente compreendido ou lembrado. Esta convicção é, ou pode ser, 
tão forte num destes casos, como em qualquer dos outros; e tudo isso 
descansa em último termo na mesma base. Não existe, portanto, razão 
para chamar um, conhecimento e a outro, crença. A memória é tanto um 
conhecimento do passado, como outras formas de consciência são o 
conhecimento do presente. 
A quarta objeção é que negar que a memória nos dá o conhecimento 
do passado, é contrário ao uso estabelecido. É verdade que somos ditos 
para crer que lembramos tais e tais eventos, quando não estamos seguros 
disso. Mas isto se deve a que em um dos significados estabelecidos da 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 88 
 
palavra, a crença expressa um menor grau de certeza que o 
conhecimento. Mas os homens nunca falam de crer nos acontecimentos 
passados em sua experiência da qual eles são absolutamente certos. 
Sabemos que estávamos vivos ontem. Ninguém diz que crê que viu o seu 
pai ou mãe, ou algum amigo íntimo, a quem tinha conhecido por anos. 
As coisas lembradas claramente se conhecem, e não só se crêem. 
A definição que faz da fé a persuasão da verdade das coisas que não 
se veem, é, entretanto, correta, se pelas “coisas não se veem” se 
significam coisas que não são nem objetos dos sentidos, nem da intuição, 
nem da prova demonstrativa. Mas não parece ser correto incluir entre as 
“coisas que não se veem,” que são os objetos especiais da fé, as coisas 
lembradas e não agora presentes na mente. Esta definição da fé, embora 
correta na limitação quanto a seus objetos às coisas que não se veem, no 
sentido antes indicado,não obstante, é defeituosa em não atribuir o 
fundamento de nossa convicção de sua verdade. Por que cremos ser 
verdade coisas que nunca vimos e que não podemos provar? Dão-se 
diferentes respostas a essa pergunta; e, portanto, a definição que não dá 
resposta a ela, deve ser considerada defeituosa. 
 
Definições baseadas sobre a classe de evidência em que 
repousa a fé. 
Algumas das definições da fé, como vimos, fundamentam-se em 
seu caráter subjetivo, conquanto outras em seus objetos. Além destes há 
outros que buscam sua característica distintiva na base sobre a qual 
descansa a convicção de que o inclui. A primeira delas é a que faz a fé 
ser uma convicção ou a persuasão da verdade fundada no sentimento. 
Isto é considerado por muitos como a mais geralmente recebida. Hase88 
diz: “Toda linguagem cultivada tem uma palavra para essa forma de 
convicção que, em oposição aos autoevidentes e demonstráveis, por 
razões morais e emocionais.” Essa palavra em grego é πίστις [pistis]; em 
 
88 Dogmatik, 3d edit. Leipzig, 1842, p. 307. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 89 
 
português “fé.” Em seu “Hutterus Redivivus,”89 diz ele: “A ideia comum 
da fé é: unmittelbar Fürwahrhalten, ohne Vermittelung Schlussbeweises 
eines, durch Neigung Bedürfniss und,” quer dizer, “Uma persuasão da 
verdade, sem a intervenção da argumentação, determinada por inclinação 
e necessidade interior.” Ele cita a definição da fé de Twesten, como 
“uma persuasão ou convicção da verdade produzida pelo sentimento;” e 
a de Nitzsch, tendo em conta o anterior, “a unidade do conhecimento e 
do sentimento.” Strauss90 diz: “A forma em que um homem se apropria 
dos conteúdos de uma revelação, a escalada interior que ele cede aos 
conteúdos das Escrituras e a doutrina da Igreja, não por causa da 
investigação crítica ou filosófica, mas com frequência em oposição a elas 
dominado por um sentimento que a Igreja Evangélica pede o testemunho 
do Espírito, mas que na realidade é só a percepção da identidade de sua 
própria vida religiosa com a que retratou a Escritura e em que prevalece 
na Igreja, — o assentimento determinado por sentimento — na 
linguagem eclesiástica, chama-se Fé.” Mais uma vez,91 diz ele: “O 
homem piedoso recebe a verdade religiosa porque ele sente sua 
realidade, e porque satisfaz suas necessidades religiosas,” e, portanto, 
acrescenta, “Nenhuma religião jamais grassou por meio de argumentos 
dirigidos à compreensão, ou de provas históricas ou filosóficas, e isto é a 
verdade inegável do cristianismo.” 
Todo pregador de uma nova religião assume naqueles a quem a 
apresenta, uma necessidade religiosa insatisfeita, e tudo o que tem que 
fazer é fazê-los sentir que tal necessidade se satisfaz pela religião que ele 
propõe. Celso, diz-nos ele, convertido num motivo de recriminação 
contra os cristãos que criam cegamente, que não podiam justificar as 
doutrinas que celebraram no tribunal da razão. A isto Orígenes 
respondeu que isto era certo só do povo; que com a educação, a fé foi 
elevada em conhecimento, e o cristianismo transformado numa filosofia. 
 
89 Sixth edit. Leipzig, 1845, p. 4. 
90 Dogmatik, § 20, edit. Tübingen and Stuttgart, 1840, vol. i. p. 282. 
91 Dogmatik, edit. Tübingen and Stuttgart, 1840, vol. i. p. 298. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 90 
 
A Igreja se dividiu entre crentes e conhecedores. A relação entre fé e 
conhecimento, entre religião e filosofia, foi objeto de controvérsia desde 
aquele dia até hoje. Alguns tomaram a base de Orígenes e da escola de 
Alexandria em geral, que corresponde aos cristãos educados para 
justificar suas doutrinas no tribunal da razão, e demonstrá-las ser verdade 
pelos motivos filosóficos. Outros sustentavam que as verdades da 
revelação foram, ao menos em muitos casos, do tipo que não admite 
demonstração filosófica, embora não fossem por essa razão consideradas 
como contrárias à razão, mas só como além de sua esfera. Outros, de 
novo, ensinaram que há um conflito direto entre fé e conhecimento; que 
o que o cristão crente mantém como verdade, pode ser demonstrado pelo 
filósofo que é falso. Esta é a própria doutrina de Strauss, e, portanto, ele 
conclui sua longa discussão sobre este ponto dizendo: “O crente deve 
permitir que o conhecedor siga seu próprio caminho em paz, bem como 
o conhecedor permitir ao crente. Nós lhes deixamos sua fé, que nos 
deixem nossa filosofia. . . . . Não foram suficientes os intentos dos falsos 
irônicos. A partir de então só a separação de princípios opostos pode 
conduzir a qualquer bem.”92 Na mesma página, admite a grande verdade, 
“Essa natureza humana tem uma característica excelente: o que qualquer 
homem sente é para ele uma necessidade espiritual, que não permite a 
nenhum homem tomar dele.” 
 
Observações a esta definição. 
Quanto à definição da fé que a torna uma convicção baseada no 
sentimento, pode-se notar: 
Em primeiro lugar, que há formas de fé de que isto não é verdade. 
Como assinalado anteriormente, quando se trata da definição cognata de 
fé como um assentimento voluntário da mente, não é verdade da fé em 
geral. Com frequência cremos a contragosto, e isso é absolutamente 
repugnante aos nossos sentimentos. 
 
92 Ibid. p. 356. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 91 
Em segundo lugar, não é verdade inclusive da fé religiosa, ou a fé 
que tem a verdade religiosa como seu objeto. Porque pode haver fé sem 
amor, quer dizer, uma especulação, ou fé morta. 
Em terceiro lugar, não é verdade de muitos dos exercícios da fé em 
homens bons. Isaque creu que Jacó seria preferível a Esaú, muito contra 
sua vontade. Jacó creu que seus descendentes seriam escravos no Egito. 
Os profetas criam nos setenta anos de cativeiro de seus compatriotas. Os 
apóstolos criam que uma grande apostasia na Igreja ia ocorrer entre sua 
época e a segunda vinda do Senhor. A resposta de Tomás de Aquino a 
isto, quer dizer, que um homem vê-se limitado por sua vontade (quer 
dizer, seus sentimentos) a crer nas Escrituras, e logo ele crê o que todas 
as Escrituras contêm. De modo que sua fé, inclusive na classe de 
verdades que acabamos de nos referir, recai definitivamente sobre o 
sentimento. Mas esta resposta é insatisfatória. Porque se for feita a 
pergunta Por que os profetas creem no cativeiro, e os Apóstolos na 
apostasia?, a resposta seria, não pelo efeito destas verdades sobre seus 
sentimentos, mas a partir da autoridade de Deus. E se for perguntado Por 
que crer no testemunho de Deus?, a resposta pode ser devido ao fato de 
que o testemunho de Deus leva à convicção. Ele pode fazer ouvir sua 
voz, inclusive pelos surdos ou pelos mortos. Ou, a resposta pode ser, 
porque eram homens de bem. Mas em qualquer caso, a questão nos leva 
para além da razão de sua fé. Eles criam porque Deus lhes havia 
revelado os fatos mencionados. Sua bondade pode havê-los feito 
suscetíveis à evidência oferecida, mas não constituem tal evidência. 
Em quarto lugar, admite-se que o exercício da fé salvadora, quer 
dizer, dessa fé que é o fruto do Espírito e o produto da regeneração, é 
atendida por um sentimento adequado a seu objeto. Mas isto se refere à 
natureza do objeto. Se cremos num bom relatório, o efeito é alegria; se 
num relatório mau, o efeito é a dor. A percepção da beleza produz 
prazer; da excelência moral, um resplendor de aprovação, das coisas 
espirituais, em muitos casos, uma alegria que é inefável e cheia de glória. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 92 
 
Em quinto lugar, também é verdade que todas estas verdades, se 
não toda verdade, têm uma luz autoevidente, que não podem ser 
compreendidas sem uma convicção de que realmente é o que é 
compreendido como ser. Também se pode admitir que à medida em que 
se refere à consciência dos verdadeiros crentes, a evidência da verdade é 
a própria verdade;em outras palavras, que a base de sua fé é, em certo 
sentido, subjetiva. Eles veem a glória de Deus na face de Jesus Cristo, e 
portanto, creem que Ele é Deus manifestado na carne. Eles veem que as 
observações apresentadas pelas Escrituras sobre o pecado, a culpa e a 
impotência do homem caído, correspondem com sua própria experiência 
interna, e por isso são obrigados a receber estas representações como 
verdadeiras. Eles veem que o plano de salvação proposto na Bíblia se 
adapta a suas necessidades, seus juízos morais e as aspirações religiosas, 
portanto, abraçam-no. Tudo isto é certo, mas não prova a fé como uma 
convicção fundada no sentimento, porque há muitas formas de fé que 
confessadamente não se baseiam no sentimento; e mesmo no caso dos 
verdadeiros crentes, seus sentimentos não são o fundamento último da 
fé. 
Eles sempre recorrem à autoridade de Deus, quem é considerado 
como o autor destes sentimentos, através do qual o testemunho do 
Espírito se revela à consciência. “Podemos ser movidos e induzidos,” diz 
a “Confissão de Westminster,”93 “pelo testemunho da Igreja a uma 
grande e reverencial estima pela Sagrada Escritura; e a divindade da 
questão, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, o consentimento de 
todas as partes, o alcance da totalidade (que é dar toda a glória a Deus), a 
plena descoberta que faz do único caminho de salvação do homem, as 
muitas outras incomparáveis excelências, e a completa perfeição disso, 
são argumentos com que se faz abundante evidência a si mesmo na 
Palavra de Deus; entretanto, não obstante, nossa plena persuasão e 
garantia da verdade infalível e divina autoridade da mesma é da obra 
 
93 Chapter I. § 5. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 93 
 
interna do Espírito Santo, dando testemunho pela palavra e com ela em 
nossos corações.” O fundamento último da fé, portanto, é a testemunha 
do Espírito. 
 
A fé é uma convicção baseada no testemunho. 
A única outra definição da fé a ser considerada, é a que a faz uma 
convicção da verdade fundada no testemunho. Já vimos que Agostinho 
diz: «Conhecemos o que descansa sobre a razão; cremos o que descansa 
sobre a autoridade». Uma definição a que Sir William Hamilton dá sua 
adesão.94 Na escola de Alexandria também, a πίστις cristã, era 
Auctoritäts-Glaube, uma fé fundada na autoridade, oposta, por um lado, 
à pagã ἐπιστήμη, e por outro lado, a γνῶσις cristã, ou uma explicação 
filosófica e a prova das verdades cridas. Entre os escolásticos, esta era a 
ideia prevalecente. Quando definiram a fé como a persuasão de coisas 
que não se veem, referiam-se àquelas coisas que recebemos como certas 
com base na autoridade, e não porque podemos conhecê-las ou 
demonstrá-las. Por isso, dizia-se constantemente: a fé é humana quando 
repousa no testemunho dos homens; divina quando repousa no 
testemunho de Deus. Tomás de Aquino diz:95 «A fé de que falamos não 
assente a nada exceto porque seja revelado por Deus». Cremos com base 
na autoridade de Deus, e não porque vejamos, conheçamos ou sintamos 
que algo seja certo. Este é o sentido do ensino do grande corpo de 
teólogos escolásticos. Esta foi também a doutrina dos Reformadores e 
dos teólogos posteriores, tanto Luteranos como Reformados. 
Falando de assentimento, que considera como o segundo ato ou 
elemento da fé, Tomás de Aquino diz: “Hic actus fidei non rerum 
evidentia aut causarum et proprietatum notitia, sed Dei dicentis infallibili 
auctoritate.” Turretino96 diz: “Non quæritur, An fides sit scientia, quæ 
 
94 See page 46. 
95 Summa, II. II, quæst. I, art. 1, edición de Colonia, 1640, pág. 2, a, del tercer juego: «Non fides, de 
qua loquimur, assenti alicui, nisi quia est a Deo revelatum.» 
96 Institutio, XV. ix. 3, edit. Edinburgh, 1847, vol. ii. p. 497. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 94 
riado de fé ou de crença.» 
 
habeat evidentiam: Sic enim distinguitur a scientia, quæ habet assensum 
certum et evidentem, qui nititur ratione clara et certa, et ab opinione, quæ 
nititur ratione tantum probabili; ubi fides notat assensum certum quidem, 
sed inevidentem, qui non ratione, sed testimonio divino nititur.” De 
Moor97 diz: “Fides subjectiva est persuasio de veritate rei, alterius 
testimonio nixa, quomodo fides illa generatim descripta, scientiæ et 
conjecturæ opponitur. . . . . Dividitur . . . . in fidem divinam, quæ nititur 
testimonio divino, et humanam, quæ fundata est in testimonio humano 
fide accepto.” 
Owen:98 «Toda fé é assentimento a um testemunho; e a fé divina é 
o assentimento a um testemunho divino». John Howe 99 pergunta: «Por 
que creio que Jesus é o Cristo? Porque o Deus eterno deu Seu 
testemunho a respeito dEle que o é.» «A crença de um homem chega a 
não ser nada sem isto, que há um testemunho divino.» Mais uma vez:100 
«Creio naquilo tal como Deus o revela, porque me foi dada por 
autoridade de Deus.» O Bispo Pearson101 diz: «Quando nos é proposto 
algo que não é nem evidente aos nossos sentidos, nem ao nosso 
entendimento, em e por si mesmo, nem que possamos conseguir de 
nenhuma clara e necessária conexão com a causa da que procede, ou dos 
efeitos que naturalmente produz, nem é aceito com base em verdadeiros 
argumentos nem por referência a outras verdades reconhecidas, e 
entretanto nos aparece como verdadeiro, não por uma manifestação, mas 
por testemunho da verdade, e assim nos leva a assentimento não por si 
mesmo, mas em virtude do testemunho que se dá dele; disto se diz 
propriamente que é acreditável; e o assentimento a isto, com base em tal 
credibilidade, é o conceito aprop
 
 
97 Commentarius in Johannis Marckii Compendium, cap. xxii. § 4, Leyden, 1766, vol. iv. p. 299. 
98 Doctrine of Justification, cap. I, edición de Philadelphia, 1841, pág. 84. 
99 Works, vol. II, pág. 885, edición de Carter, New York, 1869. 
100 Ibid, pág. 1170. 
101 An Exposition of the Creed, 7a. edición, Londres, 1701, pág. 3. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 95 
 
Este ponto de vista é quase universalmente mantido. 
Esta postura a respeito da natureza da fé é recebida quase 
universalmente não só por teólogos, mas por filósofos e pela massa do 
povo cristão. A grande questão foi sempre se temos que receber a 
verdade com base na autoridade, ou com base na evidência racional. 
Leibnitz começa seu «Discours de la Conformité de la Foi avec la 
Raison» dizendo: «Suponho eu que duas verdades não se vão 
contradizer; que o objeto da fé é a verdade que Deus revelou de uma 
maneira extraordinária, e que a razão é o encadeamento de verdades, 
mais particularmente (uma vez comparadas com a fé) daquelas que o 
espírito humano pode alcançar naturalmente, sem ajuda da luz da fé».102 
Já se admitiu que o elemento essencial da fé é confiança. Fé é a 
dependência da mente em algo como verdade e digno de confiança. 
Neste amplo sentido da palavra, não importa quais possam ser os 
objetos, ou quais as bases desta confiança. A palavra, entretanto, é 
usualmente empregada com referência às verdades que recebemos em 
confiança sem ser capaz de demonstrá-las. Assim, nos é dito para crer 
em nossa própria existência, na realidade do mundo externo, e em todas 
as verdades primárias da razão. Estas, de comum acordo, chamam-se 
crenças. A razão começa com a crença, quer dizer, tomando em 
confiança o que nem compreende nem demonstra. De novo se admitiu 
que a palavra crença é com frequência e legitimamente utilizada para 
expressar um grau de certeza menos forte que o conhecimento e que a 
probabilidade; como quando dizemos, não estamos seguros, mas cremos 
que uma certa coisa sucedeu. 
 
 
 
102 Théodiceé, Works, edición de Berlín, 1840, 1839, part. III, pág. 479: «Je suppose, que deux vérités 
ne sauroient se contredire; que l’objet de la foi est la vérité que Dieu a révélée d’une manière 
extraordinaire, et que Ia raison est l’enchainmentdes vérités, mais particuli]érement (lorsqu’ele est 
comparés avec la foi) de celles où l’esperit humain peut atteindre naturellement, sans être aidé des 
lumières de la foi.» 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 96 
O sentido estrito da palavra “fé”. 
Mas no sentido estrito e especial da palavra, como distinta de 
conhecimento e opinião, a fé significa a crença de coisas não vistas, 
sobre a base de testemunho. Mas por testemunho não se significa 
meramente a afirmação de uma testemunha inteligente. Há outros 
métodos pelos quais se pode dar um testemunho além de uma afirmação. 
Um selo é uma forma de testemunho; assim como um sinal. Da mesma 
maneira é tudo aquilo que compromete a autoridade da testemunha da 
verdade a estabelecer. Quando Elias declarou que Jeová era Deus e Baal 
uma mentira, disse: «O Deus que responder por fogo esse é que é Deus» 
[1Rs 18:24]. A descida do fogo foi o testemunho de Deus em favor da 
verdade da declaração do profeta. Assim, é dito no Novo Testamento que 
Deus deu testemunho da verdade do Evangelho tanto com sinais como 
com prodígios e diversos milagres e dons distribuídos pelo Espírito 
Santo (Hb 2:4); e é dito do Espírito de Deus que dá testemunho com 
nossos espíritos de que somos filhos de Deus (Rm 8:16). A palavra, 
nestes casos, é marturo, testificar. Este não é um uso negligente ou 
inadequado da palavra testemunho, porque uma afirmação é um 
testemunho único, visto que compromete a autoridade daquele que o faz 
à verdade. E, portanto, o que promete essa autoridade, é como 
verdadeiramente da natureza do testemunho, como uma afirmação. 
Assim, quando se diz que a fé se baseia em testemunho, significa-se que 
não se baseia nos sentidos, nem na razão nem nos sentimentos, mas na 
autoridade daquele por quem é autenticada. 
 
Prova com base no uso geral do termo. 
Pode-se argumentar que esta é a base e a característica distintiva da 
fé: 
1. Com base no uso geral do termo. Diz-se que conhecemos o que 
vemos ou podemos demonstrar; e que cremos no que consideramos 
verdadeiro sobre a base da autoridade de outros. Isto se admite certo do 
que se chama fé histórica. E isto inclui o bastante; tudo o que está 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 97 
registrado a respeito do passado; tudo o que é certo de coisas atuais que 
não caem dentro da esfera de nossa observação pessoal; todos os fatos da 
ciência tal como os recebem as massas; e quase todo o conteúdo da 
Bíblia, seja do Antigo ou do Novo Testamento. As Escrituras constituem 
o registro da história da Criação, da Queda, da Redenção. O Antigo 
Testamento é a história dos passos preparatórios desta redenção. O Novo 
Testamento é uma história do cumprimento das promessas e dos tipos do 
Antigo na encarnação, vida, sofrimentos, morte e ressurreição do Filho 
de Deus. Todo aquele que crê neste registro certifica que Deus é 
verdadeiro, e é filho de Deus. 
 
Prova da consciência. 
2. Em segundo lugar, a consciência nos ensina que esta é a natureza 
da fé não só quando seus objetos são fatos históricos, mas também 
quando as coisas em que crer são proposições. Ambas as coisas são 
certamente com frequência inseparáveis. Que Deus seja o Criador do 
mundo é, ao mesmo tempo, um fato e uma doutrina. É, como diz o 
Apóstolo, questão de fé. Cremos com base na autoridade das Escrituras, 
as quais declaram que «No princípio Deus criou os céus e a terra». Que 
Deus enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados é uma 
doutrina. Repousa unicamente sobre a autoridade de Deus. Recebemo-lo 
com base em Seu testemunho. Assim é com todas as grandes doutrinas 
da graça; da regeneração; da justificação; da santificação, e de uma vida 
futura. Como sabemos que Deus aceitará a todos os que creem em 
Cristo? Quem pode conhecer as coisas de Deus, exceto o Espírito de 
Deus, e aquele a quem o Espírito as revelar? (1Co 2:10, 11). Pela 
natureza do caso, «as coisas do Espírito», os pensamentos e propósitos 
de Deus, podem ser conhecidos só por revelação, e podem ser recebidos 
só com base na autoridade de Deus. Não são objetos nem dos sentidos 
nem da razão. 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 98 
Prova da Escritura. 
3. É o uniforme ensino da Bíblia que a fé se baseia no testemunho 
ou autoridade de Deus. 
A primeira prova disso é o fato de que as Escrituras nos vêm sob a 
forma de uma revelação de coisas que não poderíamos saber de outra 
maneira. Os profetas do Antigo Testamento foram mensageiros, a boca 
de Deus, para declarar o que o povo devia crer, e o que deviam fazer. O 
Novo Testamento é chamado «O testemunho de Jesus». Cristo veio, não 
como filósofo, e sim como testemunha. Disse a Nicodemos: «Nós 
dizemos o que sabemos e testificamos do que temos visto; contudo não 
aceitais o nosso testemunho» (Jo 3:11). «Quem vem das alturas 
certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da 
terra; quem veio do céu está acima de todos e testifica o que tem visto e 
ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho. Quem, todavia, lhe 
aceita o testemunho, por sua vez, certifica que Deus é verdadeiro» (vv. 
31-33). Da mesma maneira os Apóstolos foram testemunhas. Como tais 
foram designados (Lc 24:48). Depois de Sua ressurreição e 
imediatamente depois de Sua ascensão, nosso Senhor lhes disse: 
«Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas 
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até 
aos confins da terra» (At 1:8). Quando declaravam a morte e ressurreição 
de Cristo como fatos que deviam ser cridos, diziam: «Do que todos nós 
somos testemunhas» (At 2:32; 3:15; 5:32). Nesta última passagem os 
Apóstolos dizem que foram testemunhas não só do fato da ressurreição 
de Cristo, mas também de que Deus «com a sua destra, o exaltou a 
Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a 
remissão de pecados». Veja-se Atos 10:39-43, onde se diz: «E nos 
mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por 
Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho 
de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão 
de pecados.» 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 99 
A grande queixa contra os Apóstolos, especialmente nas cidades da 
Grécia, era que não apresentavam suas doutrinas como proposições para 
serem demonstradas; nem sequer declaravam as bases filosóficas sobre 
as quais repousavam nem tratavam das sustentar perante o tribunal da 
razão. A resposta que Paulo dá a esta objeção é dupla: Primeiro, que a 
filosofia, a sabedoria dos homens, tinha demonstrado ser absolutamente 
incompetente para resolver os grandes problemas de Deus e do universo, 
do pecado e da redenção. De fato, não era nem mais nem menos 
insensatez, no concerne a todas as suas especulações a respeito das 
coisas de Deus. Segundo, que as doutrinas que ele ensinava não eram 
verdades da razão, mas assuntos de revelação; que se devia receber não 
sobre uma base racional ou filosófica, mas com base na autoridade de 
Deus; que eles, os Apóstolos, não eram filósofos, mas sim testemunhas; 
que eles não argumentavam empregando as palavras da sabedoria 
humana, mas simplesmente expunham os conselhos de Deus, e que a fé 
nas doutrinas deles não devia repousar na sabedoria dos homens, mas no 
poderoso testemunho de Deus. 
A segunda prova de que as Escrituras ensinam que a fé é a recepção 
da verdade sobre a base do testemunho ou sobre a autoridade de Deus, é 
que o que nos é ordenado fazer é receber o registro que Deus deu de Seu 
Filho. Isto é fé: receber como certo o que Deus testificou, e porque Ele o 
testificou. «Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque 
não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho.» Aqui o texto 
grego é οὑ πεπίστευκεν εἰς τὴν μαρτυρίαν ἣν μεμαρτύρηκεν ὁ Θεὸς περὶ 
τοῦ υἱοῦ αὑτοῦ (ou pepisteuken eis tën marturian hën memarturëken ho 
Theos peri tou huiou hautou), «nãocrê no testemunho que Deus deu a 
respeito de seu Filho». «E este é o testemunho (hë marturia): que Deus 
nos deu vida eterna; e esta vida está em seu Filho» (1Jo 5:10, 11). 
Dificilmente poderia haver uma declaração mais clara da doutrina 
escriturística quanto à natureza da fé. Seu objeto é o que Deus revelou. 
Sua base é o testemunho de Deus. Receber este testemunho é certificar 
que Deus é verdadeiro. Rejeitá-lo é fazer a Deus mentiroso. «Se 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 100 
recebermos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus; 
porque este é o testemunho de Deus, que testificou a respeito de seu 
Filho.» 
Este é o constante ensino da Escritura. A base sobre a qual estamos 
autorizados e ordenados a crer é não a conformidade da verdade revelada 
com nossa razão, nem seu efeito sobre nossos sentimentos, nem que 
supre às necessidades de nossa natureza e condição, mas simplesmente: 
«Assim diz o Senhor.» As verdades da revelação, sim são recomendadas 
à nossa razão; sim, poderosa e legitimamente afetam os nossos 
sentimentos; sim, elas suprem as nossas necessidades como criaturas e 
pecadores; e estas considerações podem inclinar-nos a crer, podem 
fortalecer nossa fé, levar-nos a abrigá-la e a fazê-la prazerosa e eficaz. 
Mas não constituem sua base. Cremos com base no testemunho ou 
autoridade de Deus. 
Objeta-se diante desta postura que cremos na Bíblia como a Palavra 
de Deus sobre outra base que a do testemunho. O cumprimento de 
profecias, os milagres de seus autores, seu conteúdo, e os efeitos que 
produz, são razões racionais para crer que é de Deus. A esta objeção 
podem-se dar duas respostas: Primeira, que os acontecimentos 
sobrenaturais, como as profecias e os milagres, são algumas das 
maneiras em que se dá o testemunho divino. Paulo diz que Deus deu 
«sinais, prodígios e vários milagres» (Hb 2:4). E segundo, que o fim 
imediato destas manifestações de previsão divina e poder era autenticar a 
missão divina dos mensageiros de Deus. Ficando esta missão 
estabelecida, o povo era chamado a receber sua mensagem e a crer com 
base na autoridade de Deus, por quem tinham sido enviados. 
A terceira prova de que as Escrituras ensinam que a fé é uma 
recepção da verdade sobre a base do testemunho encontra-se nos 
exemplos e ilustrações da fé que são dados nas Escrituras. 
Imediatamente depois da Queda, foi dada a promessa a nossos primeiros 
pais que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Sobre que 
outra possível base podia repousar a fé nesta promessa, exceto sobre a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 101 
autoridade de Deus? Quando Noé foi advertido por Deus a respeito do 
dilúvio que se aproximava, e foi ordenado a preparar a arca, creu, não 
porque viu sinais do dilúvio que se aproximava, nem porque seu juízo 
moral lhe assegurasse que Deus vingaria daquela maneira Sua lei 
violada; mas simplesmente com base no testemunho de Deus. 
Igualmente quando Deus prometeu a Abraão a posse da terra de Canaã, 
que ele, um ancião sem filhos, viria a ser pai de muitas nações, que por 
meio de sua semente seriam benditas todas as nações da terra, sua fé não 
pôde ter outra base que a autoridade de Deus. O mesmo sucede com cada 
ilustração de fé dada pelo Apóstolo no capítulo onze de sua Epístola aos 
Hebreus. E o mesmo temos em toda a Bíblia. Não temos base para nossa 
fé num mundo espiritual, no céu e o inferno descritos na Escritura, na 
doutrina da redenção, na segurança e triunfo definitivo da Igreja, além do 
testemunho de Deus. Se a fé não descansar no testemunho, não tem nada 
onde descansar. Paulo nos diz que todo o evangelho repousa sobre o fato 
da ressurreição de Cristo dentre os mortos. Se Cristo não ressuscitou, vã 
é nossa fé, e estamos ainda em nossos pecados. Mas nossa certeza de que 
Cristo ressuscitou ao terceiro dia repousa só sobre o testemunho que 
Deus deu de várias maneiras a este fato. 
Este é um ponto de grande importância prática. Se a fé, ou nossa 
persuasão das verdades da Bíblia, repousa sobre bases filosóficas, então 
fica aberta a porta ao racionalismo; se repousa sobre sentimentos, então 
fica aberta ao misticismo. O único fundamento seguro e satisfatório é o 
testemunho de Deus, que não pode errar, e que não enganará. 
Por isso, a fé pode ser definida como a persuasão da verdade 
baseada no testemunho. A fé do cristão é a persuasão da verdade dos 
fatos e doutrinas registrados nas Escrituras com base no testemunho de 
Deus. 
 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 102 
§ 3. Diferentes classes de fé. 
 
Embora se admita a definição anterior, deve-se admitir que há 
diferentes classes de fé. Em outras palavras, o estado mental que designa 
a palavra é muito diferente num caso do que é em outros. Esta diferença 
surge em parte da natureza de seus objetos, e em parte da natureza ou 
forma do testemunho em que se baseia. Uma coisa é fé num fato 
histórico ou numa verdade especulativa; outra coisa é fé na verdade 
estética; outra coisa é fé numa verdade moral; outra coisa é fé na verdade 
espiritual, e especialmente fé na promessa da salvação que nos é dada. 
Isto é, o estado de mente chamado fé é muito diferente em qualquer 
destes casos do que é nos demais. Também o testemunho que Deus dá da 
verdade é de diferentes classes. Numa de suas formas é dirigido 
especialmente ao entendimento; em outro à consciência; em outro à 
nossa natureza regenerada. Esta é a causa da diferença entre fé 
especulativa, fé temporal e fé salvadora. 
 
Fé morta, ou especulativa. 
Há muitos que creem que a Bíblia é a Palavra de Deus; que 
recebem tudo o que ensina; e que são perfeitamente ortodoxos em suas 
crenças doutrinais. Se lhes for perguntado por que creem, pode ser que 
não saibam o que responder. A reflexão poderia levá-los a dizer que 
creem porque outros creem. Recebem sua fé por herança. Foram 
ensinados a crer assim desde seus mais tenros anos. A Igreja a que 
pertencem inculca esta fé, e lhes é ensinada como verdadeira e 
necessária. Outros de maior cultura podem dizer que a evidência da 
origem divina da Bíblia, tanto externa como interna, dá satisfação a suas 
mentes, e lhes produz a convicção racional de que as Escrituras são uma 
revelação de Deus, e recebem seu conteúdo com base em sua autoridade. 
Esta fé, tal como ensina a experiência, é perfeitamente compatível com 
uma vida mundana ou ímpia. Isto é o que a Bíblia chama uma fé morta. 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 103 
Fé temporal. 
Por outro lado, não há nada mais comum que o fato de que o 
Evangelho produza uma impressão temporal, mais ou menos profunda e 
duradoura. Os que receberam esta impressão creem. Mas, ao não ter raiz 
em si mesmos, bem logo ou mais tarde se apartam. É também uma 
experiência comum que homens totalmente indiferentes, ou inclusive 
céticos, num tempo de perigo, ou ao aproximar-se a morte, ficam 
profundamente convencidos da certeza daquelas verdades religiosas 
previamente conhecidas, mas até agora descuidadas ou rejeitadas. Esta fé 
temporal é devido à graça comum; isto é, àquelas influências do Espírito 
comuns em maior ou menor medida a todos os homens, que operam na 
alma sem renová-la, e que revelam a verdade à consciência, e fazem com 
que produza convicção. 
 
Fé salvadora. 
A fé que assegura a vida eterna; que nos une a Cristo como 
membros vivos de Seu corpo; que nos torna filhos de Deus; que nos faz 
partícipes de todos os benefícios da redenção; que opera pelo amor, e é 
frutífera em boas obras, baseia-se não na evidência externa ou moral da 
verdade, mas no testemunho do Espírito com e mediante a verdade à 
alma renovada. 
 
O que significa o testemunho do Espírito. 
É necessário, antes de ir mais adiante, determinar o que se significa 
pelo testemunho do Espírito, do qual é dito ser a base da fé salvadora. 
Deus, ou o Espírito de Deus, dá testemunho da verdade das 
Escrituras e das doutrinas que contêm.Este testemunho, como se viu, é 
em parte externo, consistindo em profecias e milagres, e em parte na 
natureza das mesmas verdades na relação que têm com os elementos 
intelectuais e morais da alma, e em parte é específico e sobrenatural. Os 
homens irregenerados podem sentir o poder das duas primeiras classes 
de testemunho, e crer com uma fé meramente intelectual e especulativa, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 104 
ou, tal como pode ser denominada por sua base, com uma fé moral, só 
temporal. A forma espiritual do testemunho está limitada aos 
regenerados. Naturalmente, é inescrutável. As operações do Espírito não 
se revelam na consciência de outra maneira que por seus efeitos. 
Sabemos que os homens nascem pelo Espírito, que o Espírito habita no 
povo de Deus e que influencia continuamente os seus pensamentos, 
sentimentos e ações. Mas sabemos isto só pelo ensino da Bíblia, não 
porque tenhamos consciência de Suas operações. «O vento sopra onde 
quer, e ouve seu som; mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; 
assim é todo aquele que é nascido do Espírito» (Jo 3:8). 
Este testemunho do Espírito não é uma afirmação de que a Bíblia é 
a Palavra de Deus. Tampouco é produto de uma convicção cega e 
ininteligente deste feito. Não se dirige, como sucede com o testemunho 
humano, desde fora à mente, mas está dentro da própria mente. É uma 
influência destinada a produzir fé. Chama-se um testemunho porque 
recebe este nome na Escritura; e porque tem a natureza essencial de um 
testemunho, porquanto é o objeto da autoridade de Deus em apoio da 
verdade. 
Os efeitos deste testemunho interior são: (1) O que as Escrituras 
chamam «discernimento espiritual». Isto significa duas coisas: Um 
discernimento devido à influência do Espírito; e um discernimento não 
só da verdade, mas também da santidade, excelência e glória das coisas 
que se discernem. A palavra espiritual significa, neste sentido, 
conformado à natureza do Espírito. Por isto é que se diz que a lei é 
espiritual, isto é, santa, justa e boa. (2) Um segundo efeito 
necessariamente derivado do recém-mencionado é deleite e 
complacência, ou amor. (3) A apreensão do apropriado das verdades 
reveladas à nossa natureza e às nossas necessidades. (4) A firme 
convicção de que estas coisas não só são verdadeiras, mas também 
divinas. (5) Os frutos desta convicção, isto é, da fé assim produzida, são 
as boas obras: santidade de coração e de vida. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 105 
Por isso, quando se pergunta a um cristão por que crê nas Escrituras 
e nas doutrinas nela contidas, sua simples resposta é: Com base no 
testemunho ou autoridade de Deus. De que outra maneira poderia ele 
saber que o universo foi criado por Deus, que nossa raça apostatou de 
Deus, que Ele enviou o Seu Filho para nossa redenção, que a fé nEle 
obterá a salvação? A fé nestas verdades não pode ter outra base mais que 
o testemunho de Deus. Se for perguntado como testifica Deus da verdade 
da Bíblia, e a pessoa a quem se fez a pergunta, responderá: De todas as 
maneiras concebíveis: mediante sinais, maravilhas e milagres; mediante 
a exibição que faz a Bíblia de conhecimento divino, de excelência, de 
autoridade e de poder. Se for uma pessoa sem conhecimentos, pode ser 
que simplesmente diga: «Porque antes eu era cego, agora vejo.» Este 
homem, e na verdade cada cristão, passa de um estado de incredulidade a 
um de fé salvadora não por algum processo de investigação ou de 
argumentação, mas de experiência interior. A mudança pode ter lugar, e 
com frequência sucede, num momento. A fé de um cristão na Bíblia é, 
como já se observou antes, análoga à que todos os homens têm na lei 
moral, que reconhecem não só como verdade, e sim como possuindo a 
autoridade de Deus. O que o homem natural percebe com relação à lei 
moral, o homem renovado é capacitado a percebê-lo com relação «às 
coisas do Espírito», mediante o testemunho do Espírito com e mediante a 
verdade a seu coração. 
 
Prova por meio de declarações expressas das Escrituras. 
1. Que esta é a doutrina bíblica sobre o tema se desprende das 
declarações expressas das Escrituras. Nosso Senhor prometeu enviar o 
Espírito com este preciso propósito. «Ele convencerá o mundo do 
pecado», especialmente do pecado de não crer em Cristo; «da justiça», 
isto é, da justiça dEle, da justiça de Suas demandas de ser considerado e 
recebido como o Filho de Deus, Deus manifestado em carne, e o 
Salvador do mundo; «e do juízo», isto é, da demolição final do reino das 
trevas e do triunfo definitivo do reino da luz. (Jo 16:8). Assim, a fé é 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 106 
sempre exposta na Escritura como um dos frutos do Espírito, como dom 
de Deus, como produto de Sua energia (πίστις τῆς ἐνεργείας τοῦ Θεοῦ 
[pistis tës energeias tou Theou]) (Col 2:12). Diz-se que os homens creem 
em virtude do mesmo poder que operou em Cristo quando Deus O 
ressuscitou dentre os mortos (Ef 1:19, 20). O Apóstolo Paulo estabelece 
de maneira elaborada a base da fé no segundo capítulo de Primeira aos 
Coríntios. Declara que para seu apoio não se baseava nas palavras 
atrativas da sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito, a fim 
de que a fé dos ouvintes não descansasse na sabedoria dos homens, e sim 
no poder de Deus. A fé não devia repousar na argumentação; em provas 
históricas ou filosóficas, mas no testemunho do Espírito. O Espírito 
demonstra a verdade à mente, isto é, produz a convicção de sua 
veracidade, e leva a alma a abraçá-la com certeza e deleite. Já se citaram 
passagens que ensinam que a fé repousa no testemunho de Deus, e que a 
incredulidade consiste na rejeição deste testemunho. O testemunho de 
Deus é dado por meio do Espírito, cuja função é tomar as coisas de 
Cristo, e nos mostrá-las. O Apóstolo João diz a seus leitores: «E vós 
possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. ... a 
unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade 
de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito 
de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como 
também ela vos ensinou» (1Jo 2:20, 27). Esta passagem ensina: (1) Que 
os verdadeiros crentes recebem de Cristo (o Santo) uma unção. (2) Que 
esta unção é o Espírito Santo. (3) Que assegura o conhecimento e a 
convicção da verdade. (4) Que este ensino interior que as torna crentes é 
permanente, e que os assegura contra a apostasia. 
 
1 Coríntios 2:14 
Igualmente explícita é a passagem em 1 Coríntios 2:14-15: “Ora, o 
homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são 
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem 
espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 107 
mesmo não é julgado por ninguém” As coisas do Espírito, são as coisas 
que o Espírito revelou. Quanto a estas coisas, ensina-se: (1.) Que o 
homem natural ou não renovado não as recebem. (2.) Que o homem 
espiritual, quer dizer, o homem em quem habita o Espírito, sim as 
recebem. (3.) Que a razão desta diferença é que o primeiro não tem, e 
que este último tem, o discernimento espiritual. (4.) Este discernimento 
espiritual é a compreensão da verdade e da excelência das coisas 
discernidas. (5.) É espiritual, como se acaba de dizer, tanto porque 
devido à operação do Espírito, e devido à conformidade das verdades 
discernidas da natureza do Espírito, é compreendido. 
Quando Pedro confessou que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus 
vivo, nosso Senhor disse: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque 
não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos 
céus.” (Mt 16:17). Outros homens tinham a mesma evidência externa da 
divindade de Cristo que Pedro tinha. Sua fé não se deveu só às provas, 
mas ao testemunho interno de Deus. Nosso Senhor deu graças que Deus 
tinha escondido os mistérios de Seu reino dos sábios e prudentese os 
revelou às crianças. (Mt 11:25). A revelação externa foi feita a ambas as 
classes. Além desta revelação externa, os chamados crianças receberam 
um testemunho interior que os tornou crentes. Daí nosso Senhor disse: 
Ninguém pode vir a Mim a menos que seja trazido ou ensinado por 
Deus. (Jo 6:44, 45). O Apóstolo nos diz que o mesmo Evangelho, as 
mesmas verdades objetivas, com a mesma evidência externa e racional, 
que era uma ofensa para os judeus e loucura para os gregos, era chamado 
de sabedoria e poder de Deus. Por que esta diferença? Não é o 
conhecimento superior ou maior excelência da chamada, mas a interior 
influência divina, o κλῆσις, dos quais eles eram os temas. A conversão 
instantânea de Paulo não se refere a qualquer processo racional de 
argumentação; nem à sua suscetibilidade moral da verdade; nem à 
manifestação visível de Cristo, porque nenhum milagre, nenhuma luz 
exterior ou esplendor poderia mudar o coração e transformar todo o 
caráter num momento. Era, como o próprio Apóstolo diz (Gl 1:15, 16), a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 108 
revelação interior de Cristo para com ele pela graça especial de Deus. 
Foi o testemunho do Espírito, que é interior e sobrenatural, capacitou-o a 
ver a glória de Deus na face de Jesus Cristo. O salmista orou para que 
Deus lhe abrisse os olhos para que pudesse ver as maravilhas de Sua lei. 
O apóstolo orava pelos Efésios para que Deus lhes desse o Espírito 
Santo, que os olhos de suas almas pudessem ser abertos, para que 
soubessem as coisas gratuitas que Deus lhes dá. (Ef 1:17, 18). Por todas 
as partes na Bíblia, o fato de que alguém crê que não se refira ao seu 
estado subjetivo, mas à obra do Espírito em seu coração. 
 
Prova da maneira em que os apóstolos agiram 
2. Como as Escrituras ensinam assim expressamente que a base da 
verdade ou fé salvadora é o testemunho interior do Espírito, os apóstolos 
sempre agiam sobre esse princípio. Anunciaram a verdade e exigiram 
sua imediata recepção, sob a dor da morte eterna. Nosso Senhor fez o 
mesmo. “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, 
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3:18). 
Exigia-se fé imediata. Sendo exigida por Cristo, e em Sua ordem pelos 
Apóstolos, essa demanda deve ser justa e razoável. Poderia, entretanto, 
ser não menos que a evidência da verdade a que assistiram. Esta prova 
não pode ser as provas externas da divindade de Cristo e Seu Evangelho, 
porque essas provas se fizeram presentes para a mente dos relativamente 
poucos dos ouvintes do Evangelho; nem podia ser a prova racional ou 
argumentos filosóficos, porque ainda pouco se podia apreciar tais provas, 
e se pudessem seria nada recorrer à produção da fé salvadora. A 
evidência da verdade, a que o assentimento é exigido por Deus no 
momento em que se anuncia, deve estar na própria verdade. E se o 
assentimento é obrigatório e o dissentimento ou a incredulidade um 
pecado, então a evidência deve ser de natureza a que um estado corrupto 
da alma torna um homem insensível. 
Diz o Apóstolo: “Se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para 
os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 109 
cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a 
luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. … 
Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo 
resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da 
glória de Deus, na face de Cristo.” (2Co. 4:3-6). Aqui se ensinou: (1.) 
Que em qualquer lugar e sempre que se prega a Cristo, a evidência de 
Sua divindade é apresentada. A glória de Deus resplandece em Seu rosto. 
(2.) Que se alguém falha em ver, é porque o Deus deste século cegou os 
seus olhos. (3.) Que se alguém percebe e nele crê, é por causa de uma 
iluminação interior produzida por Aquele que primeiro ordenou que a 
luz resplandecesse nas trevas. 
 
Prova com base na prática na Igreja 
3. Como Cristo e os Apóstolos agiram com base neste princípio, 
também o têm feito todos os ministros fiéis e missionários daquele 
tempo até hoje. Não esperam convencer e converter os homens pela 
evidência histórica ou por argumentos filosóficos. Eles dependem da 
manifestação do Espírito. 
 
Prova com base na Analogia 
4. Esta doutrina, que a base real e imediata da fé nas coisas do 
Espírito é o testemunho do Espírito, produzindo discernimento espiritual, 
é sustentada por analogia. Se um homem não pode ver o esplendor do 
sol, é porque está cego. Se ele não pode perceber as belezas da natureza 
e da arte, é porque não tem bom gosto. Se não puder compreender “a 
harmonia dos doces sons,” é porque não tem um ouvido musical. Se não 
puder ver a beleza da virtude, ou a autoridade divina da lei moral, é 
porque seu sentido moral está entorpecido. Se ele não pode ver a glória 
de Deus em Suas obras e em Sua palavra, é porque sua natureza religiosa 
está pervertida. E de igual maneira, se ele não pode ver a glória de Deus 
na face de Jesus Cristo, é porque o deus deste mundo cegou os seus 
olhos. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 110 
Ninguém desculpa o homem que não vê a excelência na virtude, e 
que rechaça a autoridade da lei moral. A Bíblia e o juízo instintivo dos 
homens, condenam o ateu. Da mesma maneira as Escrituras pronunciam 
malditos a todos os que não creem que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus 
vivo. Esta é a negação da suprema excelência; o rechaço da manifestação 
mais clara de Deus jamais feito ao homem. O juízo solene de Deus é: 
“Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema. Maranata!” (1Co 16:22). 
Nesta sentença, o universo inteligente todo, em última instância, estará 
de acordo. 
Desta maneira, nas Escrituras a fé está baseada no testemunho de 
Deus. Como já se tem dito, por testemunho se significa atestado, tudo 
aquilo que certifica a autoridade da testemunha em favor da verdade a 
estabelecer. Como este testemunho é de distintas formas, também a fé 
que produz é diferente. Até onde o testemunho é meramente externo, a fé 
que produz é simplesmente histórica ou especulativa. Até onde o 
testemunho é moral, consistindo no poder que o Espírito dá à verdade 
sobre a consciência natural, a fé é temporal, dependendo do estado 
mental que é sua causa imediata. Além destes, temos o testemunho 
interior do Espírito, que é de tal natureza e poder que produz uma 
perfeita revolução na alma, comparado na Escritura com o efetuado pela 
abertura dos olhos de um cego à realidade, às maravilhas e às glórias da 
criação. Assim, existe entre uma fé repousando sobre este testemunho 
interior do Espírito e uma mera fé especulativa toda aquela diferença que 
existe entre a convicção que tem um cego das maravilhas da natureza 
antes e depois de que lhe sejam abertos os olhos. Porquanto este 
testemunho é informativo, capacitando a alma para ver a verdade e a 
excelência das «coisas do Espírito» até onde está envolvida a 
consciência do crente, sua fé é uma forma de conhecimento. Vê que é 
certo o que o Espírito revela e referenda. 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 111 
§ 4. Fé e conhecimento. 
 
A relação da fé com o conhecimento é um campo amplo. As 
discussões a respeito desta questão foram variadas e intermináveis. É 
pouco provável que as questões sob discussão sejam jamais resolvidas 
para satisfação de todas as partes. A base da fé é a autoridade. A base do 
conhecimento são os sentidos ou a razão. Aqui só nos corresponde a fé 
cristã, isto é, a fé que recebe as Escrituras como a Palavra de Deus e tudo 
o que ensinam como certas com base em sua autoridade. 
 
É necessária uma Revelação Sobrenatural? 
A primeira questão é: Se há alguma necessidade de uma revelação 
sobrenatural, se a razão humana não é competente para conhecer e 
autenticar toda a verdade necessária. Esta pergunta já foi examinada sob 
o racionalismo, em que se mostrou:(1.) Que a consciência de todo 
homem lhe diz que tem perguntas sobre Deus e sua própria origem e 
destino, que sua razão não pode responder. (2.) Que ele conhece a priori, 
que a razão de que nenhum outro homem pode respondê-las de maneira 
satisfatória. (3.) Que ele sabe por experiência que nunca foram 
respondidas pela sabedoria dos homens, e (4.) Que Escrituras declaram 
que o mundo pela sabedoria não conhece a Deus, que a sabedoria do 
mundo é loucura em sua estimativa, e que Deus deu a conhecer tanto a Si 
mesmo as verdades indecifráveis pela razão, para a salvação do homem. 
 
Devem as verdades da revelação ser demonstráveis pela 
razão? 
Uma segunda questão é: Se as verdades, sobrenaturalmente 
reveladas, devem ser capazes de autenticar-se no tribunal da razão antes 
de poderem ser racionalmente recebidas, de modo que se recebem, não 
sobre a base da autoridade, mas de uma prova racional. Isto também foi 
previamente discutido. Demonstrou-se que a hipótese de que Deus não 
pode revelar nada do que a razão humana não pode, quando conhecido, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 112 
demonstrar que é verdade, supõe que a razão humana é a medida de toda 
verdade; que não há inteligência no universo superior à do homem; e que 
Deus não pode ter propósitos e planos, os fundamentos ou motivos de 
que somos competentes para descobrir e apreciar. Emancipa-se da 
autoridade de Deus, negando-se a crer outra coisa exceto a autoridade da 
razão. Por que não podemos crer no testemunho de Deus que há um 
mundo espiritual, assim como crer que há uma nação como os chineses 
com base no testemunho dos homens? Nenhum homem age sobre o 
princípio de crer só o que ele pode entender e demonstrar, em qualquer 
outra área de interesse. Há multidões de verdades que todo homem são 
recebe em confiança, sem ser capaz de poder as provar ou as 
compreender. Se podemos crer só no que podemos provar no tribunal da 
razão como verdade, então o reino dos céus seria fechado para todos 
exceto para os sábios. Não poderia haver um cristão que não fosse 
também um filósofo. Na realidade ninguém age sobre este princípio. 
Assume-se no orgulho da razão, ou como uma desculpa para rejeitar as 
verdades desagradáveis, mas os homens creem em Deus, no pecado, na 
liberdade da vontade, na responsabilidade, sem a capacidade de 
compreender ou conciliar estas verdades com eles ou com outros fatos da 
consciência ou experiência. 
 
É possível que verdades reveladas não sejam 
filosoficamente reivindicadas? 
Uma terceira questão é: Se, admitindo uma revelação sobrenatural, 
e, além disso, admitindo a obrigação de receber com base na autoridade 
de Deus a revelação cujas doutrinas dá a conhecer, as doutrinas 
reveladas não podem ser filosoficamente justificadas, a fim de 
recomendá-las à aceitação dos que negam a revelação. As doutrinas das 
Escrituras a respeito de Deus, a criação, a providência, a trindade, a 
encarnação, o pecado, a redenção e o estado futuro, não podem ser 
declaradas expressamente e sustentadas filosoficamente quanto a forçar a 
conformidade para com elas como verdades da razão. Esta foi a base 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 113 
tomada na Igreja primitiva pelos teólogos da Escola de Alexandria, 
aqueles que se comprometeram a elevar a πίστις [pistis] do povo numa 
γνῶσις [gnosis] para os filósofos. Assim, os escritores sagrados se 
fizeram platônicos, e o cristianismo foi transmutado no platonismo. Uma 
grande parte da atividade mental da Escola-homem, durante a Idade 
Média, foi gasta da mesma maneira. Eles receberam a Bíblia como uma 
revelação sobrenatural de Deus. Eles receberam a interpretação da Igreja 
de seus ensinos. Eles admitiram sua obrigação de crer em suas doutrinas 
sobre a autoridade de Deus e da Igreja. Entretanto, eles mantinham que 
todas estas doutrinas podem ser filosoficamente provadas. 
Em épocas posteriores Wolf se comprometeu a demonstrar todas as 
doutrinas do cristianismo nos princípios da filosofia leibnitziana. Em 
nossos dias este princípio e os intentos se levaram mais longe que nunca. 
Sistemas de teologia, construídos sobre a filosofia de Hegel, de 
Schelling, e de Schleiermacher, quase substituíram os antigos sistemas 
bíblicos. Se algum homem de cultura e inteligência comum tomasse um 
volume do que se chama “Teologia Especulativa,” (quer dizer, a teologia 
presente nas formas da filosofia especulativa), ele não entenderia uma 
página e dificilmente poderia entender uma frase. Ele não podia dizer se 
a teologia que tinha a intenção de apresentar era cristianismo ou 
budismo. Ou, quando muito, ia encontrar umas quantas gotas da verdade 
bíblica tão diluída pelas inundações da especulação humana que os mais 
delicados testes químicos não detectariam o elemento divino. 
 
As tentativas para fazer isto são inúteis. 
Todos estes intentos são inúteis. A prova empírica disto é que 
nenhum destes intentos teve êxito. O experimento fez-se centenas de 
vezes, e sempre com o mesmo resultado. Onde estão agora as colocações 
filosóficas e reivindicações das doutrinas da Escritura pelos Pais 
platonizantes, pelos escolásticos, pelos cartesianos, pelos leibnitzianos? 
Que poder sobre a razão, a consciência, ou a vida, tem qualquer dos 
sistemas especulativos de nossos dias? Quem, além dos devotos dos 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 114 
 
sistemas que representam, compreendem ou adotam a teologia de Daub, 
de Marheinecke, de Lange, e outros? Strauss, portanto, tem razão quando 
rejeita todos estes vãos intentos para conciliar o cristianismo com a 
filosofia, ou para dar uma forma à doutrina cristã que satisfaça ao 
pensador filosófico.103 
Mas à parte deste argumento da experiência, a suposição é absurda 
de que o frágil intelecto do homem possa explicar, e com seus próprios 
recursos, reivindicar e demonstrar as coisas profundas de Deus. Um bebê 
poderia também comprometer-se a explicar o “Princípio de Newton.” Se 
há mistérios na natureza, em cada folha de erva, no inseto, no corpo e na 
alma do homem, deve haver mistérios na religião. A Bíblia e nossa 
consciência nos ensinam que Deus é incompreensível, e Seus caminhos 
inescrutáveis; que não podemos explicar nem Sua natureza ou Seus atos; 
não sabemos como Ele cria, mantém e governa sem interferir com a 
natureza de Suas criaturas, como pode haver três pessoas na Deidade; 
como na pessoa de Cristo pode haver duas inteligências e duas vontades; 
como o Espírito motiva, renova, santifica, ou consola. Pertence à classe 
“autodivinização” de filósofos o presumir conhecer tudo o que Deus 
sabe, e desterrar o incompreensível da religião que Ele revelou. 
 “Na escola de Hegel,” diz Bretschneider, “há mistérios na religião 
só para os que não se elevaram à categoria hegeliana do conhecimento. 
Neste último caso tudo está claro, tudo é conhecimento; e o cristianismo 
é a solução, e portanto a revelação de todos os mistérios.”104 Isto pode 
ser consistente nos que sustentam que o homem é Deus na forma mais 
alta de sua existência, e o filósofo o mais alto estilo de homem. Tal 
afirmação, entretanto, por quem quer que possa ser feita, é a loucura da 
presunção. 
 
 
 
103 See above, p. 58. 
104 Systematische Entwickelung, § 29, 4th edit. Leipzig, 1841, p. 163. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 115 
 
Pode o que é verdadeiro em Religião ser falso em Filosofia? 
Uma quarta questão incluída neste tema general é: Há ou pode 
haver um conflito real entre as verdades da razão e as da revelação? Ou o 
que é verdade em religião pode ser falso em filosofia? A esta pergunta 
foram dadas diferentes respostas. 
 
Os Pais sobre esta questão. 
Em primeiro lugar, conquanto os Pais gregos estavam dispostos a 
levara religião e a filosofia em harmonia, dando uma forma filosófica às 
doutrinas cristãs, os latinos estavam dispostos a representaros dois como 
irreconciliáveis. Tertuliano pergunta: “O que tem que ver Atenas com 
Jerusalém? A academia com a Igreja? O que têm hereges que ver com 
cristãos? Nossa instrução é do alpendre de Salomão, que se ensina que o 
Senhor devia buscar na simplicidade do coração. . . . . Não precisamos 
buscar a verdade depois de Cristo, nenhuma investigação depois do 
Evangelho. Quando cremos, desejamos nada além da fé, porque cremos 
que não há nada mais que devemos fazer. . . . . Conhecer nada além de 
conhecer todas as coisas.” 105 
Ele chegou inclusive a dizer: “Prorsus credibile est, quia ineptum 
est; . . . . certum est, quia impossibile est.”106 
Sem chegar a este extremo, os teólogos da Igreja latina, aqueles 
dentre eles ao menos, mais zelosos de doutrinas da Igreja, inclinavam-se 
a negar-se a raciocinar inclusive a prerrogativa de um judicium 
 
105 De Præscriptionibus adversus Hæreticos, cap. 7, 8, 14, Works, Paris, 1608, (t. III), p. 331: “Quid 
ergo Athenis et Hierosolymis? quid Academiæ et Ecelesiæ? quid hæreticis et Christianis? Nostra 
institutio de portica Solomonis est, qui et ipse tradiderat: Dominum in simplicitate cordis esse 
quærendum. Viderint qui Stoicum, et Platonicum, et Dialecticum, Christianissimum protulerunt. 
Nobis curiositate opus non est post Christum Jesum, nec inquisitione post Evangelium. Cum 
credimus, nihil desideramus ultra credere. Hoc enim prius credimus, non esse quod ultra credere 
debeamus. . . . . Cedat curiositas fidei, cedat gloria saluti. Certe aut non obstrepant, aut quiescant 
adversus regulam. Nihil ulta scire, omnia scire est.” 
106 De Carne Christi, cap. 5, Works, (t. III), p. 555: “Natus est Dei filius: non pudet quia pudendum 
est. Et mortuus est Dei filius: prorsus credibile est, quia ineptum est. Et sepultus, resurrexit: certum 
est, quia impossibile est.” 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 116 
 
contradictionis. Eles se viram obrigados a tomar este terreno porque 
foram chamados a defender doutrinas que contradizem não só a razão, 
mas também os sentidos. Quando foi objetada a doutrina de que a hóstia 
consagrada é o corpo real de Cristo, que nossos sentidos a pronunciam 
como pão, e que é impossível que um corpo humano deva estar no céu e 
em todas as partes da terra ao mesmo tempo, o que podiam dizer, senão 
que se pode confiar nos sentidos e a razão no âmbito da fé? O que é falso 
à razão e aos sentidos pode ser verdade na religião? 
 
Ensino Luterano neste ponto. 
Os luteranos estavam sob a mesma necessidade. Sua doutrina da 
pessoa de Cristo implica a negação da verdade primária, que os atributos 
não podem ser separados da substância da qual são a manifestação. Sua 
doutrina sobre a Ceia do Senhor implica a assunção da ubiquidade do 
corpo de Cristo, que parece ser uma contradição de termos. 
As declarações de Lutero sobre este tema não são muito 
consistentes. Quando argumentando contra a obrigação contínua dos 
votos monásticos, não hesitou em dizer que o que era contrário à razão é 
contrário a Deus. “Was nun der Vernunft entgegen ist, ist gewiss dass es 
Gott viehmehr entgegen ist. Denn wie sollte es nicht wider die göttliche 
Wahrheit seyn, das wider Vernunft und menschliche Wahrheit ist.”107 
Mas na controvérsia sacramental ele não permitirá que a razão seja 
ouvida. “Nas coisas de Deus,” diz, a razão ou a natureza é um estoque 
cego de estrela e pedra. “É, de fato,” acrescenta ele, “o suficientemente 
audaz afundar e tropeçar como um cavalo cego; mas tudo o que explica 
ou conclui que é, sem dúvida, falsa e errônea como Deus vive.”108 Em 
outro lugar ele diz que a razão, quando trata de especular sobre as coisas 
divinas, torna-se insensata, o que, de fato, é muito do que diz Paulo. 
(Rm. 1:22; 1Co. 1:18-31). 
 
107 Works, edit. Walch, vol. xix. p. 1940. 
108 Ibid. vol. xii. pp. 399, 400. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 117 
 
Os teólogos luteranos fizeram uma distinção entre a razão no 
abstrato, ou razão como havia no homem antes da Queda, e a razão como 
o é agora. Admitem que nenhuma verdade da revelação pode contradizer 
a razão como tal; mas pode contradizer-se a razão de todos os homens de 
cujas faculdades se nublaram e se deterioraram pelo pecado. Por isso não 
se entende simplesmente que o homem não regenerado opõe-se à 
verdade de Deus; que “as coisas do Espírito” são loucura para ele, que 
lhe parece absurdo que Deus Se encontra na condição de homem; que 
Ele deve exigir uma satisfação pelo pecado; ou salva um homem e outro 
não, segundo Sua boa vontade. Isto a Bíblia ensina claramente e todos os 
cristãos creem. Em tudo isto não há contradição entre razão e religião. O 
ser de Deus é loucura para o ateu; e a imortalidade pessoal é uma loucura 
para o panteísta. Entretanto, quem admitiria que estas doutrinas são 
contrárias à razão? Os teólogos luteranos destinados a ensinar, não só 
que os mistérios da Bíblia estão acima da razão, que não podem ser 
compreendidos nem demonstrados; e não só que “as coisas do Espírito” 
são loucura para o homem natural, mas também estão realmente em 
conflito com a compreensão humana; que por um correto processo de 
raciocínio podem demonstrar-se como falsas; de modo que no sentido 
estrito dos termos o que é verdade na religião é falso em filosofia. 
“A Sorbonne,” diz Lutero, “pronunciou uma decisão mais 
abominável ao dizer que o que é verdade em religião também é verdade 
em filosofia, e além disso condena como hereges a todos os que afirmam 
o contrário. Mediante esta doutrina horrível deu a entender claramente 
que as doutrinas da fé têm que ser submetidas ao jugo da razão 
humana.”109 
 
 
 
 
 
109 Works, edit. Walch, vol. x. p. 1399. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 118 
Sir William Hamilton. 
Em segundo lugar, a base tirada do Sir William Hamilton sobre este 
tema não é precisamente a mesma que a adotada pelos luteranos. Estão 
de acordo, de fato, nisto, que estamos obrigados a crer o que (no tribunal 
da razão) podemos demonstrar que é falso, mas diferem completamente 
quanto à causa e natureza deste conflito entre a razão e a fé. De acordo 
com os luteranos, surge da corrupção e a deterioração de nossa natureza 
pela Queda. Elimina-se, em parte, neste mundo pela regeneração, e dali 
em diante em sua totalidade pela perfeição de nossa santificação. 
Segundo Hamilton, este conflito surge da necessária limitação do 
pensamento humano. Deus nos tem feito essa razão, agindo de acordo 
com suas próprias leis, por necessidade chega a conclusões diretamente 
opostas às doutrinas da religião natural e revelada. 
Podemos demonstrar que o Ser absoluto não pode saber, não pode 
ser uma causa, não pode ser consciente. Poderá provar-se com igual 
clareza que o Infinito não pode ser uma pessoa, ou possuir atributos 
morais. Aqui, então, o que é verdade em religião, o que estamos 
obrigados a crer, e o que na realidade todos os homens, em virtude da 
constituição de sua própria natureza, creem, pode-se provar que é falso. 
Por conseguinte, existe um conflito irreconciliável entre nossa natureza 
intelectual e moral. Mas como, segundo o idealista, a razão nos obriga à 
conclusão de que o mundo exterior não existe, ao mesmo tempo, 
entretanto, é seguro e adequado agir no suposto de que o é, e é o que 
aparenta ser; assim, segundo Hamilton, é não só seguro, mas também 
obrigatório em nós agir no suposto de que Deus é uma pessoa, embora 
infinito, conquanto nossa razão demonstra que uma pessoa infinita é uma 
contradição. O conflito entre a razão e a fé é reconhecido, enquanto a 
obrigação da fé no testemunho de nossa natureza moral e religiosa e da 
Palavra de Deus afirma-se. Este ponto foi já discutido. 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 119 
A postura dos filósofos especulativos. 
Em terceiro lugar, tomamos nota da postura defendida pelos 
filósofos especulativos.Eles também sustentam que a razão demonstra 
as doutrinas da revelação e inclusive da religião natural que é falsa. Mas 
eles não reconhecem sua obrigação de recebê-las como objeto de fé. 
Sendo contrário à razão, essas doutrinas são falsas, e sendo falsas, 
devem, de ser rejeitadas por homens ilustrados. Se qualquer se apegar a 
elas como um assunto de sentimento, pode fazê-lo, mas deve renunciar a 
toda pretensão de conhecimento filosófico. 
 
Podem os objetos da fé estar acima da razão, e entretanto, 
não contra ela? 
Uma quinta questão é: Podem os objetos da fé estar acima, e 
entretanto, não ser contrários à razão? A resposta a esta pergunta deve 
ser afirmativa, porque a distinção implícita é sólida e admitida quase 
universalmente. O que está acima da razão é simplesmente 
incompreensível. O que é contra a razão é impossível. É contrário à 
razão que as contradições devam ser verdade; que uma parte deva ser 
maior que o todo; que uma coisa deva ser e não ser ao mesmo tempo; 
que o correto deva ser errado e o errado correto. É incompreensível 
como matéria atrai matéria, como a mente age sobre o corpo e o corpo 
sobre a mente. A distinção entre o incompreensível e o impossível, é 
portanto, claro e admitido. E a distinção entre o que está acima da razão, 
e o que é contra a razão, é igualmente óbvio e justo. O grande corpo de 
teólogos cristãos tomaram por base que as doutrinas da Bíblia não são 
contrárias à razão, embora acima dela. Quer dizer, são assuntos de fé a 
ser recebidos pela autoridade de Deus, e não porque pode ser 
compreendido nem demonstrado. Como não se compreende como uma 
alma e corpo podem estar unidos numa vida consciente; pelo que é 
incompreensível como uma natureza divina e humana podem-se unir 
numa só pessoa em Cristo. Tampouco é impossível, e portanto, não é 
contrário à razão. Conhecemos um fato pela consciência; cremos no 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 120 
 
outro pelo testemunho de Deus. É impossível, e portanto contrário à 
razão, que três devam ser um. 
Mas não é impossível que a mesma essência numérica devia 
subsistir em três pessoas distintas. Os realistas nos dizem que a 
humanidade, como uma só essência numérica, subsista em todos os 
milhões de seres humanos. Tomás de Aquino toma o verdadeiro 
fundamento, quando diz: “Ea quæ sunt supra naturam, sola fide tenemus. 
Quod autem credimus, auctoritati debemus. Unde in omnibus asserendis 
sequi debemus naturam rerum, præter ea, quæ auctoritate divina 
traduntur, quæ sunt supra naturam.”110 “Quæ igitur fidei sunt, non sunt 
tentanda probare nisi per auctoritates his, qui auctoritates suscipiunt. 
Apud alios vero sufficit defendere non esse impossibile quod prædicat 
fides.”111 “Quidquid in aliis scientiis invenitur veritati hujus scientiæ 
[sacræ doctrinæ] repugnans, totum condemnatur ut falsum.”112 
 
Os objetos da fé são consistentes com a Razão. 
Enquanto isso, os objetos da fé revelados na Bíblia, não são 
verdades da razão, quer dizer, que a razão humana pode descobrir ou 
compreender, ou demonstrar, são, entretanto, perfeitamente consistentes 
com a razão. Eles não implicam contradições ou absurdos; nada 
impossível, nada inconsistente com as intuições ou do intelecto ou da 
consciência; nada inconsistente com alguma verdade bem estabelecida, 
quer seja do mundo exterior ou do mundo da mente. Pelo contrário, o 
conteúdo da Bíblia, na medida em que se referem às coisas dentro do 
domínio legítimo do conhecimento humano, encontra-se consistente, e 
deve ser consistente com tudo o que sem dúvida sabemos por outras 
fontes distintas de uma revelação divina. 
Tudo o que as Escrituras ensinam a respeito do mundo exterior está 
de acordo com os fatos da experiência. Não ensinam que a terra é um 
 
110 Summa, I. quest. xcix. art 1, edit. Cologne, 1640, p. 185, a. 
111 Ibid. quæst. xxxii. art. 1, p. 64, a. 
112 Ibid. quæst. i. art. 6, p. 2, b. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 121 
plano, que está estacionada no espaço; que o sol gira ao redor dela. Por 
outro lado, ensinam que Deus fez todas as plantas e os animais, cada um 
segundo sua própria espécie; e, em consequência, toda experiência 
demonstra que as espécies são imutáveis. Todas as doutrinas 
antropológicas da Bíblia estão de acordo com o que sabemos do homem 
com base na consciência e na observação. A Bíblia ensina que Deus fez 
de um sangue todas as nações que habitam sobre a face da terra. 
Encontramos, em consequência, que todas as variedades de nossa raça 
têm a mesma estrutura anatômica; a própria natureza física; as mesmas 
faculdades racionais e morais. A Bíblia ensina que o homem é um agente 
livre, responsável; que todos os homens são pecadores; que todos 
necessitam redenção, e que nenhum homem pode redimir-se, ou 
encontrar um resgate como seu irmão. Com estes ensinos a consciência 
de todos os homens está de acordo. Tudo o que as Escrituras revelam 
sobre a natureza e atributos de Deus corresponde com nossa natureza 
religiosa, satisfazendo, elevando e santificando todas as nossas 
faculdades e cumprindo todas as nossas necessidades. Se o conteúdo da 
Bíblia não correspondesse com as verdades que Deus revelou em Suas 
obras exteriores e a constituição de nossa natureza, não podia ser 
recebida como proveniente dEle, porque Deus não pode contradizer-se. 
Nada, portanto, pode ser mais depreciativo à Bíblia que a afirmação de 
que suas doutrinas são contrárias à razão. 
 
A fé no irracional é impossível. 
A hipótese de que a razão e a fé são incompatíveis; de que temos 
que saltar à irracionalidade a fim de chegar a ser crentes, é, seja qual for 
sua intenção, a linguagem da incredulidade; porque a fé no irracional é, 
ela mesma, necessariamente irracional. É impossível crer que seja certo 
aquilo que a mente contempla como falso. Isto seria crer e descrer o 
mesmo ao mesmo tempo. Assim, se fosse certo o que afirmam os 
modernos filósofos, que é impossível que um ser infinito possa ser uma 
pessoa, então a fé na personalidade de Deus seria impossível. Então não 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 122 
poderia haver religião, nem pecado, nem responsabilidade, nem 
imortalidade. A fé não é uma convicção cega, irracional. A fim de crer 
temos que saber o que cremos, e a base sobre a qual repousa nossa fé. E 
por esta razão o refúgio que alguns buscam na fé, fugindo do cepticismo 
universal ao que, segundo eles, leva necessariamente à razão, é um 
refúgio inseguro e sem valor. 
Embora admitindo que as verdades da revelação devam ser 
recebidas com base na autoridade de Deus; que a razão humana não pode 
nem abrangê-las nem demonstrá-las; que um homem tem que ser 
transformado e convertido e como uma criança antes que possa 
verdadeiramente receber as doutrinas da Bíblia; e admitindo, além disso, 
que estas doutrinas são irreconciliáveis com qualquer dos sistemas 
filosóficos, sempre construídos por aqueles que recusam ser ensinados 
por Deus, ou que ignoravam Sua palavra, entretanto deve manter-se que 
estas doutrinas são inexpugnáveis; que nenhum intelecto criado pode 
demonstrar que são impossíveis ou irracionais. Paulo, rejeitando como 
rejeitava a sabedoria do mundo, mantinha com tudo que ele ensinava 
uma mais alta sabedoria, a sabedoria de Deus (1Co 2:6, 7). E quem 
ousará dizer que a sabedoria de Deus é irracional? 
 
O conhecimento, essencial para a fé. 
Uma sexta questão, incluída sob a divisão da relação da fé com o 
conhecimento é: É o conhecimento essencial à fé? Quer dizer, deve uma 
verdade ser conhecida para que se creia nela? Isto os Protestantes 
afirmam e os Romanistas negam. 
Os Protestantes admitem naturalmente que os mistérios, ou 
verdades que somos incapazes de compreender, podem ser, e são, 
objetos legítimos da fé. Repudiam a doutrina racionalista de que 
podemos crer só naquilo que podemos compreender e que podemos 
demonstrar, ou ao menos elucidar, de maneira que se vejacerto sob sua 
própria luz. O que os Protestantes mantêm é que o conhecimento, isto é, 
a cognição do sentido da proposição a ser crida, é essencial para a fé, e, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 123 
por conseguinte, que a fé está limitada pelo conhecimento. Só podemos 
crer naquilo que conhecemos, isto é, aquilo de que temos uma apreensão 
inteligente. Se nos for anunciada uma proposição numa língua 
desconhecida, não podemos afirmar nada a respeito da mesma. Não 
podemos nem crer nela nem descrê-la. Se a pessoa que fizer a declaração 
afirmasse que é verdadeira, se tivermos confiança em sua competência e 
integridade, podemos crer que diz a verdade, mas a proposição em si não 
faz parte de nossa fé. O Apóstolo reconhece esta verdade evidente 
quando diz: «Assim também vós, se com a língua não disserdes palavra 
bem compreensível (εὔσημον λόγον [eusëmon logon]), como se 
entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar.. ... Se eu 
ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que 
fala será bárbaro para mim ... Se tu bendisseres com o espírito, como dirá 
o que ocupa o lugar de indouto o Amém sobre a tua ação de graças, visto 
que não sabe o que dizes?» (1Co 14:9-16). Dizer Amém é assentir a 
algo, tomá-lo como próprio. Por isso, segundo o Apóstolo o 
conhecimento, ou a compreensão inteligente do significado do que se 
propõe, é essencial para a fé. Se a proposição «Deus é Espírito» se 
anuncia aos não conhecedores em hebraico ou em grego, é impossível 
que possam assentir a esta verdade. Se compreenderem a linguagem, se 
souberem qual é o significado da palavra «Deus», e o que significa a 
palavra «Espírito», então poderão receber ou rejeitar a verdade que 
afirma aquela proposição. A declaração «Jesus é o Filho de Deus» 
admite interpretações diferentes. Uns dizem que o termo Filho é um 
título oficial, e por isso que a proposição «Jesus é o Filho de Deus» 
significa que Jesus é um governante. Outros dizem que é um termo 
afetuoso, e então a proposição significa que Jesus era o especial objeto 
do amor de Deus. Outros dizem que Jesus tem a própria natureza com 
Deus; que Ele é uma pessoa divina. Se este é o significado do Espírito ao 
declarar que Jesus é o Filho de Deus, então os que não atribuem este 
sentido às palavras não creem na verdade que se quer ensinar. Quando se 
diz que Deus pôs a Cristo como propiciação pelos nossos pecados, se 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 124 
não compreendermos o que significa a palavra propiciação, a proposição 
então não significa nada para nós, e nada não pode ser um objeto de fé. 
 
O conhecimento, a medida da fé. 
Desprende-se do dito, ou antes, está incluído nisso, que sendo o 
conhecimento essencial para a fé, tem que ser a medida da mesma. O que 
se encontra além da esfera do conhecimento encontra-se além da esfera 
da fé. Do invisível e eterno podemos crer só no que Deus revelou; e do 
que Deus revelou podemos crer só no que conhecemos. Tem-se dito que 
pode-se dizer corretamente daquele que crê que a Bíblia é a Palavra de 
Deus que crê em tudo o que ensina, embora muitas de suas instruções lhe 
sejam desconhecidas. Mas esta não é uma proposição correta. Aquele 
que crê na Bíblia está disposto a crer com base em sua autoridade tudo o 
que declare certo. Mas não se pode dizer corretamente que creia mais de 
seu conteúdo que aquilo que ele conhece. Se lhe for perguntado se crê 
que alguns homens mordidos por serpentes venenosas foram jamais 
curados olhando uma serpente de metal, poderia, se ignorar o 
Pentateuco, responder com um honrado «não». Mas se chegar a ler e a 
compreender o registro da cura dos israelitas moribundos, tal como se 
encontra na Bíblia, responderia de maneira racional e sincera: «sim». 
Esta disposição a crer em tudo o que a Bíblia ensina logo que sabemos o 
que se ensina pode receber o nome de fé implícita, mas não é fé real. 
Não tem nenhuma de suas características nem nada de seu poder. 
 
Prova de que o conhecimento é essencial para a fé. 
Que conhecimento, no sentido antes dito, é essencial à fé é 
evidente: 
1. Pela própria natureza da fé. Inclui a convicção da verdade de seu 
objeto. É uma afirmação da mente que uma coisa é verdade ou confiável, 
mas a mente não pode afirmar nada daquilo do que não sabe nada. 
2. A Bíblia em todas as partes ensina que sem conhecimento não 
pode haver fé. Isto, como se acaba de dizer, é a doutrina do apóstolo 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 125 
Paulo. Ele condenou o falar numa língua desconhecida numa assembleia 
heterogênea, porque os ouvintes não podiam compreender o que se disse; 
e se não conhecerem o significado das palavras pronunciadas, poderiam 
não assentir a elas, nem se aproveitar delas. Em outro lugar (Rm 10:14) 
ele pergunta, “Como crerão naquele de quem não ouviram?” «A fé», diz 
o Apóstolo, «vem pelo ouvir». O mandamento de Cristo foi o de ensinar 
o evangelho a toda criatura; ensinar todas as nações. Os que recebessem 
as instruções dadas desta maneira, seriam salvos, assegurou Ele aos Seus 
discípulos. Os que as rejeitassem, seriam condenados. Isto dá por 
sentado que sem o conhecimento do Evangelho não pode haver fé. É 
com base neste princípio que os Apóstolos agiram em todas as partes. 
Foram por todo lugar pregando a Cristo, demonstrando pelas Escrituras 
que Ele era o Filho de Deus e o Salvador do mundo. A comunicação de 
conhecimento precedeu sempre à demanda de fé. 
3. Tal é a íntima conexão entre fé e conhecimento, que nas 
Escrituras um termo é usado, com frequência, pelo outro. Conhecer 
Cristo é crer nEle. Conhecer a verdade, é capturá-la de modo inteligente 
e crente e apropriar-se dela. A conversão tem lugar mediante 
conhecimento. Paulo diz que foi convertido em crente pela revelação de 
Cristo dentro dele. Diz-se do Espírito que abre os olhos do entendimento. 
Dos homens afirma-se que são renovados para que conheçam. Somos 
trasladados do reino das trevas ao reino da luz. Os crentes são filhos da 
luz. Do povo é dito que perece por falta de conhecimento. Nada é mais 
característico da Bíblia que a importância que se dá ao conhecimento da 
verdade. Diz-se que somos gerados por meio da verdade; que somos 
santificados pela verdade; e dos ministros e mestres afirma-se que todo o 
seu dever é manter a palavra de vida. É por esta crença dos Protestantes 
no essencial do conhecimento para a fé que insistem tão energicamente 
na circulação das Escrituras e na instrução do povo. 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 126 
 
A doutrina Romanista a respeito desta questão. 
Os Romanistas estabelecem uma distinção entre fé explícita e 
implícita. Pelo primeiro se significa fé numa verdade conhecida; pelo 
último, fé na verdades não conhecidas. Ensinam eles que só é necessário 
conhecer umas poucas verdades primárias da religião, e que a fé sem 
conhecimento quanto a todas as outras verdades é genuína e suficiente. 
A respeito disto diz Tomás de Aquino: «Quantum ad prima credibilia, 
quæ sunt articuli fidei, tenetur homo explicite credere, sed solum 
implicite, vel in præparatione animi, in quantum paratus est credere 
quidquid divina Scriptura continet».113 A fé implícita é definida como: 
«Assensus, qui omnia, quamvis ignota, quæ ab ecclesia probantur, 
amplectitur».114 Belarmino115 diz: “In eo qui credit, duo sunt, 
apprehensio et judicium, sive assensus: sed apprehensio non est fides, 
sed aliud fidem præcedens. Possunt enim infideles apprehendere 
mysteria fidei. Præterea, apprehensio non dicitur proprie notitia. . . . . 
Mysteria fidei, quæ rationem superant, credimus, non intelligimus, ac per 
hoc fides distingintur contra scientiam, et melius per ignorantiam, quam 
per notitiam definitur.” 
A fé que se demanda do povo é simplesmente «Uma intenção geral 
de crer tudo aquilo que crê a Igreja».116 A Igreja ensina que há sete 
sacramentos. De umhomem que não tenha nem ideia do que significa a 
palavra sacramento, nem que ritos são os que a Igreja considera como de 
caráter sacramental, diz-se que crê que a ordem sacerdotal, a penitência, 
o casamento e a extrema-unção são sacramentos. E o mesmo com todas 
as outras doutrinas da Igreja. Diz-se que a verdadeira fé é congruente 
com a total ignorância. Segundo esta doutrina, um homem pode ser um 
verdadeiro cristão, se ele se submete à Igreja, embora por suas 
 
113 Summa, II. II, quræt II, art. 5, edición de Colonia, 1640, pág. 7 a, del tercer juego. 
114 Hutterus Redivivus. §108, 6 . Edición, Leipzig, 1845, pág. 271. 
115 De Justificatione, lib. i. cap. 7, Disputationes, edit. Paris, 1608, vol. iv. 714, a, c. 
116 Strauss, Dogmatik, Die Christliche Glaubenslehre. Tübingen and Stuttgart, 1840, vol. i. p. 284. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 127 
 
convicções internas e modos de pensamento possa ser panteísta ou 
pagão. 
É a este grave erro a respeito da natureza da fé que se deve atribuir 
muito do caráter e das práticas da Igreja Romanista: 
1. Esta é a razão pela qual as Escrituras são negados ao povo. Se o 
conhecimento não é necessário para a fé, não há necessidade de que o 
povo conheça o que ensina a Bíblia.* 
2. Pela mesma razão os serviços de culto público são efetuados 
numa linguagem desconhecida.* 
3. Daí também o simbolismo que caracteriza o seu culto. O fim a 
conseguir é uma cega reverência e maravilha. Para este fim não é 
necessário que estes símbolos sejam compreendidos. É suficiente que 
afetem à imaginação. 
4. A este mesmo princípio deve atribuir-se a prática da reserva na 
oração. A verdade pode ser retida ou oculta. A cruz é exposta perante o 
povo, mas não é necessário ensinar a doutrina do sacrifício pelo pecado 
ofertado nela. É suficiente que o povo fique impressionado; importa 
pouco se creem que o sinal, ou o material, ou a doutrina simbolizada, é o 
que assegura a salvação. Mais ainda, quanto mais obscurecida a mente, 
quanto mais vago e misterioso for o sentimento estimulado, e tanto mais 
cega a submissão prestada, tanto mais genuíno será o exercício da fé. «A 
fé religiosa», diz Newman, «é treva intelectual.»117 
5. É sobre este mesmo princípio que sempre se efetuaram as 
missões católico-romanas. A pessoa é convertida não por meio da 
verdade, nem por meio de um curso de instrução, mas pelo batismo. São 
feitos cristãos aos milhares, não por sua inteligente adoção do 
 
* É só em época relativamente recente que a Igreja de Roma retirou a proibição da leitura da Bíblia 
pelo povo, que antes estava submetido a muito severas restrições. De toda maneira, a Igreja de Roma 
não alenta de maneira aberta e sem restrições os seus fiéis à leitura particular e estudo pessoal das 
Escrituras. (N. do T.) 
* Prática que teve lugar até o Concílio Vaticano II, a partir do qual se impôs a Missa na língua do 
povo. (N. do T.) 
117 Sermons, vol. I, pág. 124. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 128 
cristianismo como sistema de doutrina, do qual podem estar 
profundamente ignorantes, mas por sua simples submissão à igreja e a 
seus ritos prescritos. A consequência disso foi que as missões católicas, 
embora continuadas em alguns casos durante mais de cem anos, não 
impregnam no povo, mas quase uniformemente se desvanecem logo que 
se corte o fornecimento de missionários forâneos. 
 
§ 5. Fé e sentimentos. 
 
Já se viu: 
1. Que a fé, o ato de crer, não se pode definir como o assentimento 
favorável da compreensão determinado pela vontade. Sem dúvida, há 
muitos casos em que um homem crê contra a sua vontade. 
2. Também se sustentou que não é correto dizer que a fé é 
assentimento fundado no sentimento. A este respeito, admitiu-se que os 
sentimentos de um homem têm uma grande influência sobre sua fé; que 
é relativamente fácil crer no que é agradável, e difícil de crer no que é 
desagradável. Admitiu-se também que na fé salvadora, o dom de Deus, 
apoiando-se no iluminador testemunho interior do Espírito Santo, há um 
discernimento, não só da verdade, mas também da excelência divina das 
coisas do Espírito, que está inseparavelmente conectada com o 
sentimento adequado. Reconheceu-se, além disso, que, no que se refere à 
consciência do crente, ele parece receber a verdade sobre seu próprio 
testemunho, por sua excelência e poder sobre seu coração e sua 
consciência. Isto, entretanto, é análogo a outros fatos em sua experiência. 
Quando alguém se arrepende e crê, ele está consciente só de seus 
próprios exercícios e não das influências sobrenaturais do Espírito, ao 
qual os exercícios devem sua origem e natureza. Assim também no 
exercício da fé, a consciência não alcança o testemunho interior do 
Espírito em que se funda a fé. Entretanto, apesar destas admissões, ainda 
é incorreto dizer que a fé se baseia no sentimento, porque é só de certas 
formas ou exercícios de fé que isto inclusive pode dizer-se plausível; e 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 129 
 
porque há muitos exercícios de inclusive fé salvadora (quer dizer, de fé 
num verdadeiro crente,) que não são atendidos pelo sentimento. Este é o 
caso quando o objeto da fé é um fato histórico. Além disso, as Escrituras 
ensinam claramente que a base da fé é o testemunho de Deus, ou a 
demonstração do Espírito. Ele revelou certas verdades, e atende com tal 
quantidade e tipo de evidência, como produz convicção, e os recebemos 
sob sua autoridade. 
3. A fé não está necessariamente conectada com o sentimento. Às 
vezes sim, às vezes não. Que o esteja ou não depende: (a) Da natureza do 
objeto da fé. A crença em boas notícias é necessariamente acompanhada 
de alegria; em más notícias, por dor. A crença na excelência moral 
envolve um sentimento de aprovação. A crença de que um certo ato seja 
criminoso envolve um sentimento de desaprovação. (b) Da base imediata 
da fé. Se alguém crê que uma pintura é bela com base no testemunho de 
juízes competentes, não há um sentimento estético relacionado com sua 
fé. Mas se percebe pessoalmente a beleza do objeto, então o deleite é 
inseparável da convicção de que é belo. Da mesma maneira, se alguém 
crê que Jesus é Deus manifestado em carne com base no mero 
testemunho externo da Bíblia, não experimenta uma devida impressão 
desta verdade. Mas se sua fé está baseada no testemunho interno do 
Espírito; mediante o qual lhe é revelada a glória de Deus na face de Jesus 
Cristo, então fica cheio de admiração e amor reverente. 
 
Fé religiosa mais do que simples assentimento. 
4. Outra questão agitada sobre este tema é: Se a fé é um exercício 
puramente intelectual, ou se é também um exercício dos afetos. Isto é 
quase aliado à questão anterior, e deve receber substancialmente a 
mesma resposta. 
Belarmino118 diz: “Tribus in rebus ab hæreticis Catholici 
dissentiunt; Primum, in objecto fidei justificantis, quod hæretici 
 
118 De Justificatione, lib. i. cap. 4, Disputationes, edit. Paris, 1608, vol. iv. p. 706, d, e. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 130 
 
restringunt ad solam promissionem misericordiæ specialis, Catholici tam 
late patere volunt, quam late patet verbam. . . . Deinde in facultate et 
potentia animi quæ sedes est fidei. Siquidem illi fidem collocant in 
voluntate [seu in corde] cum fiduciam esse definiunt; ac per hoc eam 
cum spe confundunt. Fiducia enim nihil est aliud, nisi spes roborata. . . . 
Catholici fidem in intellectu sedem habere docent. Denique, in ipso actu 
intellectus. Ipsi enim per notitiam fidem definiunt, nos per assensum. 
Assentimur enim Deo, quamvis ea nobis credenda proponat, quæ non 
intelligimus.” 
Quanto à fé como um mero ato intelectual ou especulativo, eles 
negam consistentemente que está necessariamente relacionado com a 
salvação. De acordo com sua doutrina, um homem pode ter féverdadeira, quer dizer, a fé que as Escrituras demandam, e, entretanto 
perecer. Neste ponto, o Concílio de Trento diz: “Si quis dixerit, amissa 
per peccatum gratia, simul et fidem semper amitti, aut fidem, quæ 
remanet, non esse veram fidem, licet non sit viva; aut eum, qui fidem 
sine caritate habet, non esse Christianum; anathema sit.”119 
 
A doutrina protestante. 
Por outro lado os protestantes com uma só voz mantêm que a fé que 
se conecta com a salvação, não é um mero exercício intelectual. 
Calvino diz:120 “Verum observemus, fidei sedem non in cerebro 
esse, sed in corde: neque vero de eo contenderim, qua in parte corporis 
sita sit fides: sed quoniam cordis nomen pro serio et sincero affectu fere 
capitur, dico firmam esse et efficacem fiduciam, non nudam tantum 
notionem.” Ele também diz:121 “Quodsi expenderent illud Pauli, Corde 
creditur ad justitiam (Rm. 10:10): fingere desinerent frigidam illam 
qualitatem. Si una hæc nobis suppeteret ratio, valere deberet ad litem 
finiendam: assensionem scilicet ipsam sicuti ex parte attigi, et fusius 
 
119 Session vi., Canon 28; Streitwolf, Libri Symbolici, Göttingen, 1846, vol. i. p. 37. 
120 On Romans x. 10; Commentaries, edit. Berlin, 1831, vol. v. p. 139. 
121 Institutio, III. ii. 8; edit. Berlin, 1834, vol. i. p. 358. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 131 
 
iterum repetam, cordis esse magis quam cerebri, et affectus magis quam 
intelligentiæ.” 
A resposta no Catecismo do Heidelberg, a pergunta: O que é a Fé? 
é: “Não é simplesmente um conhecimento certo, em que eu recebo como 
verdade tudo o que Deus nos revelou em Sua palavra, mas também uma 
confiança cordial, que o Espírito Santo opera em mim pelo Evangelho, 
que não só para outros, senão para mim também, o perdão do pecado, a 
justiça e a vida eterna são dados por Deus, por pura graça, e só por meio 
dos méritos de Cristo.”122 
Que a fé salvadora não é um mero assentimento especulativo do 
entendimento, é a doutrina uniforme dos símbolos protestantes. Neste 
ponto, entretanto, pode-se notar, em primeiro lugar, que, como se 
indicou antes, as Escrituras não fazem a distinção terminante entre o 
entendimento, os sentimentos, e a vontade, que é comum em nossos dias. 
Uma grande classe de nossos atos e estados interiores são tão complexos 
quanto a ser os atos de toda a alma, e não exclusivamente de qualquer de 
suas faculdades. No arrependimento há necessariamente uma percepção 
intelectual de nós mesmos como pecadores, da santidade de Deus, de sua 
lei a que falhamos em ser conformados e de Sua misericórdia em Cristo; 
há uma desaprovação moral de nosso caráter e comportamento; um 
sentimento de dor, vergonha e remorso; e um propósito de abandonar o 
pecado e levar uma vida santa. 
Dificilmente menos complexo é o estado de mente expresso pela 
palavra fé, tal como existe num verdadeiro crente. Em segundo lugar, há 
uma distinção a ser feita entre a fé em geral e a fé salvadora. Se 
tomarmos esse elemento da fé que é comum a todo ato de crer; se 
entendermos por ela a compreensão de uma coisa como verdadeira e 
digna de confiança, se um fato da história ou da ciência, então pode-se 
dizer que a fé em sua natureza essencial é intelectual, ou assentimento 
inteligente. Mas se a questão é: O que é esse ato ou estado de mente que 
 
122 Pergunta 21. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 132 
se requer no Evangelho, quando somos ordenados a crer; a resposta é 
muito diferente. Crer que Cristo é “Deus manifestado em carne,” não é a 
mera convicção intelectual que ninguém, nem verdadeiramente divino, 
pode ser e fazer o que Cristo foi e fez, porque esta convicção declarada 
demoníaca; mas deve-se recebê-lo como nosso Deus. Isto inclui a 
detenção e convicção de sua glória divina, e a reverência em adoração, 
amor, confiança, e submissão, que se devem só a Deus. Quando somos 
ordenados a crer em Cristo como o Salvador dos homens, não estamos 
obrigados simplesmente a assentir à proposição de que Ele salva os 
pecadores, mas também a receber e descansar nEle somente para nossa 
própria salvação. O que, portanto, as Escrituras significam por fé, neste 
sentido, a fé que se requer para a salvação, é um ato de toda a alma, do 
entendimento, do coração e da vontade. 
 
Prova da doutrina protestante. 
A doutrina protestante de que a fé salvadora inclui conhecimento, 
consentimento, e confiança, e não é, como ensinam os romanistas, mero 
assentimento, numa atenção contínua por provas abundantes. 
1. Em primeiro lugar, prova-se pela natureza do objeto da fé 
salvadora. Esse objeto não é mais que a verdade geral da Escritura, não o 
fato de que o Evangelho revela o plano de Deus de salvar os pecadores; 
mas é o próprio Cristo, Sua pessoa e obra, e a oferta da salvação a nós 
pessoal e individualmente. Pela natureza do caso não podemos, como já 
se comentou, crer em Cristo pelo testemunho interior do Espírito que 
revela Sua glória e Seu amor, sem os sentimentos de reverência, amor e 
confiança misturando com o ato e constituindo o seu caráter. Tampouco 
é possível que uma alma oprimida com um sentido do pecado deve 
receber a promessa de libertação de sua culpa e poder, sem nenhum 
sentimento de gratidão e confiança. O ato de fé nessa promessa é em sua 
natureza um ato de apropriação e confiança. 
2. Encontramos, em consequência, que em muitos casos na Bíblia a 
palavra confiança utiliza-se em lugar de fé. O mesmo ato ou estado de 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 133 
mente que num lugar se expressa mediante uma palavra, em outro se 
expressa por outra. As mesmas promessas fazem-se para a confiança 
como são feitas à fé. Os mesmos efeitos se atribuem a uma, que se 
atribuem à outra. 
3. O uso de outras palavras e formas de expressão como explicação 
do ato de fé, e substituída por essa palavra, mostra que inclui a confiança 
como um elemento essencial da sua natureza. Somos ordenados olhar a 
Cristo, como os agonizantes israelitas olharam à serpente de bronze. Este 
olhar envolvia confiança; e olhar se declara crer. Os pecadores são 
exortados a fugir para Cristo como um refúgio. O assassino fugia à 
cidade de refúgio, porque ele confiou nela como um lugar seguro. Somos 
induzidos a receber a Cristo, descansar nEle, apoderar-se dEle. Todos 
estes, e outros modos de expressão que nos ensinam o que devemos fazer 
quando nos ordenados a crer, mostram que a confiança é um elemento 
essencial no ato da fé salvadora. 
4. A ordem para crer é expressa pela palavra pisteo, não só quando 
seguida pelo acusativo, mas também quando é seguida pelo dativo e 
pelas preposições, ἐπί, εἰς, ἐν. Mas o significado literal de πιστεύειν εἰς 
ou ἐπί ou ἐν, não é simplesmente crer, mas crer em, confiar em, fiar-se 
em. A fé numa promessa feita a nós mesmos, pela natureza do caso, é 
um ato de confiança naquele que faz a promessa. 
5. A incredulidade é, portanto, expressa pela dúvida, o medo, a 
desconfiança e o desespero. 
6. O crente sabe por experiência própria que quando ele crê que ele 
recebe e se apoia em Jesus Cristo para a salvação, como Ele Se oferece 
gratuitamente a nós no Evangelho. 
A controvérsia entre Romanistas e Protestantes a respeito desta 
questão gira em torno do ponto de vista tirado do plano de salvação. Se, 
como mantêm os Protestantes, cada homem, para ser salvo, deve receber 
o registro que Deus deu de Seu Filho; deve crer que Ele é Deus 
manifestado em carne, a propiciação por nossos pecados, o profeta, 
sacerdote e rei de Seu povo, então se deve admitir que a fé envolve 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 134 
confiar em Cristo como fonte de sabedoria, justiça, santificação e 
redenção. Mas se, como ensinam os Romanistas, os benefícios da 
redenção são comunicados só por meio dos sacramentos, efetivos ex 
opere operato, então a fé é o oposto à incredulidade em seu sentido 
popular. Se um homem não é crente, é incrédulo, isto é,alguém que 
rechaça o cristianismo. O objeto da fé é a revelação divina tal como está 
contida na Bíblia. É um simples assentimento ao fato de que as 
Escrituras procedem de Deus, e que a Igreja é a instituição divinamente 
constituída e sobrenaturalmente dotada para a salvação dos homens. 
Crendo nisso, o pecador vem à Igreja e recebe através de seu ministério, 
em sua medida, todos os benefícios da redenção. De acordo com este 
sistema da natureza e do papel da fé são totalmente diferentes das que 
estão de acordo com a teoria protestante do Evangelho. 
 
§ 6. Fé e amor. 
 
Quanto à relação entre a fé e o amor há três posturas diferentes: 
1. Que o amor é a base da fé. Que os homens creem na verdade 
porque a amam. A fé está baseada no sentimento. Este ponto de vista já 
foi suficientemente discutido. 
2. Que o amor é o acompanhante invariável e necessário e 
consequente à fé salvadora. Assim como ninguém pode ver nem crer 
numa coisa como moralmente boa sem um sentimento de aprovação, 
assim tampouco ninguém pode ver e crer na glória de Deus como está 
revelada nas Escrituras sem que se desperte em sua alma uma reverência 
cheia de adoração; ninguém pode crer para salvação que Cristo é o Filho 
de Deus e o Filho do Homem, que nos amou e deu-se a Si mesmo por 
nós, e que nos faz reis e sacerdotes para Deus, sem amor e adoração em 
proporção à clareza e fortaleza desta fé, enchendo o coração e 
controlando a vida. Por isto se diz que a fé opera pelo amor e purifica o 
coração. Os Romanistas, de fato, traduzem πίστις δι᾽ ἀγάπης 
ἐνεργουμένη nesta passagem (Gl. 5:6): “a fé aperfeiçoada ou completada 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 135 
 
pelo amor.” Mas isto é contrário ao uso constante da palavra ἐνεργεῖσθαι 
no Novo Testamento, que é sempre utilizada num sentido médio “vim 
suam exserere.” Segundo o ensino do Apóstolo em Rm 7:4-6, o amor, 
sem fé, ou anterior a ela, é impossível. Até que cheguemos a crer, 
estamos sob a condenação da lei. Enquanto durar a condenação, estamos 
em inimizade com Deus. 
Enquanto em inimizade com Deus, produzimos fruto para morte. Só 
quando reconciliados com Deus e unidos a Cristo, que produzimos fruto 
para Deus. Crendo que Deus nos ama, nós O amamos. Crendo que Cristo 
Se entregou por nós, nós dedicamos nossas vidas a Ele. Os que creem 
que a aparência deste mundo passa, que as coisas invisíveis são eternas, 
os que têm esta fé que é a substância do que se espera, e a evidência do 
que não se vê, põem seus afetos nas coisas de cima, onde Cristo está 
sentado à destra de Deus. Já se insistiu o suficiente nesta conexão 
necessária entre a fé e o amor. 
 
Os Romanistas fazem com que o amor seja essencial à fé. 
3. O terceiro ponto de vista doutrinal sobre este tema é o dos 
romanistas, que fazem do amor a essência da fé. Em outras palavras, o 
amor para eles é a forma (no sentido escolástico da palavra) da fé; é o 
que lhe dá a vida ou o caráter como uma virtude cristã ou graça. 
Conquanto por um lado ensinam, como vimos com o Concílio de Trento, 
que a fé é em si mesmo mero assentimento intelectual, sem qualquer 
virtude moral, e que pode ser exercida pelos não renovados ou por 
aqueles num estado de pecado mortal; por outro lado, sustentam que há 
uma graça cristã como a fé; mas nesse caso, fé é mais outro nome para 
amor. Esta não é a distinção entre uma fé viva e uma fé morta, que as 
Escrituras e todos os cristãos evangélicos reconhecem. Para os 
romanistas a fides informis é a fé verdadeira, e a fides formata é o amor. 
Sobre este ponto, Pedro Lombardo123 diz: “Fides qua dicitur [creditur?], 
 
123 Liber Sententiarum, III. xxiii. C. edit. 1472(?). 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 136 
 
si cum caritate sit, virtus est, quia caritas ut ait Ambrosius mater est 
omnium virtutum, quæ omnes informat, sine qua nulla vera virtus est.” 
Tomás de Aquino124 diz: “Actus fidei ordinatur ad objectum voluntatis, 
quod est bonum, sicut ad finem. Hoc autem bonum quod est finis fidei, 
scilicet bonum divinum, est proprium objectum charitatis: et ideo 
charitas dicitur forma fidei, in quantum per charitatem actus fidei 
perficitur et formatur.” Belarmino125 diz: “Quod si charitas est forma 
fidei, et fides non justificat formaliter, nisi ab ipsa caritate formata certe 
multo magis charitas ipsa justificat. . . . . Fides quæ agitur, ac movetur, 
formatur, et quasi animatur per dilectionem. . . . . Apostolus Paulus . . . . 
explicat dilectionem formam esse extrinsecam fidei non intrinsecam, 
quæ det illi, non ut sit, sed ut moveatur.” 
Tudo isto é inteligível e razoável, sempre e quando admitimos a 
justificação subjetiva, e o mérito das boas obras. Se a justificação for a 
santificação, então pode admitir-se que o amor tem mais que ver com a 
fabricação de homens santos, que a fé considerada como mero 
assentimento intelectual. E se for admitido que somos aceitos por Deus 
na base de nossa própria virtude, então pode considerar-se que o amor é 
mais valioso que qualquer mero exercício do intelecto. Os romanistas 
argumentam: “Maxima virtus maxime justificat. Dilectio est maxima 
virtus. Ergo maxime justificat.” 
Foi devido a esta distinção entre uma “fé formada e não formada” 
que se apresentou no interesse da justificação com base em nosso próprio 
caráter e méritos, que Lutero, com seu poder veemente habitual, diz: 
“Ipsi duplicem faciunt fidem, informem et formatam, hanc 
pestilentissimam et satanicam glossam non possum non vehementer 
detestari.” É só quando relacionada a posturas falsas de justificação que 
esta questão tem uma importância real. Porque é admitido por todos os 
protestantes que a fé salvadora e o amor estão inseparavelmente 
 
124 Summa, II. ii. quæst. iv. art. 3, edit. Cologne, 1640, p. 11, a, of third set. 
125 De Justificatione, lib. ii. cap. 4; Disputationes, edit. Paris, 1608, vol. iv. pp. 789, a, b, 790, c. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 137 
 
conectados; que a fé sem amor, quer dizer, que uma fé que não produz 
amor e boas obras, está morta. Mas os protestantes são extenuantes em 
negar que somos justificados em razão do amor, que é o verdadeiro 
significado dos romanistas quando dizem “fides non justificat formaliter, 
nisi ab ipsa caritate formata.” 
 
§ 7. O objeto da fé salvadora. 
 
Fé geral. 
Admite-se que todos os cristãos são obrigados a crer, e que todos 
creem em tudo o que se ensina na Palavra de Deus, até onde conhecem o 
conteúdo da Escritura. Por isso, é correto dizer que o objeto da fé é toda 
a revelação de Deus contida em Sua palavra. Como a Bíblia é para os 
Protestantes a única regra infalível de fé e prática, não se pode impor 
nada ao povo de Deus, como artigo de fé, nada que não se ensine de 
maneira expressa nas Escrituras, ou que não se deduza da mesma por 
inferência necessária. Esta é «a liberdade com que Cristo nos libertou», e 
na qual somos chamados a nos manter firmes. Esta é nossa proteção, por 
um lado, contra as usurpações da Igreja. Os Romanistas pretendem para 
a Igreja a prerrogativa de um ensino infalível e autoritativo. O povo está 
obrigado a crer o que a Igreja, quer dizer, seus órgãos aos bispos, declara 
ser uma parte da revelação de Deus. De fato, eles não se assumem o 
direito de “fazer” novos artigos de fé. Mas reclamam a autoridade para 
decidir, de tal maneira quanto a obrigar a consciência do povo, o que a 
Bíblia ensina; e o que por tradição a Igreja sabe que deve incluir-se no 
ensino de Cristo e Seus Apóstolos. Isto lhes dá margem suficiente para 
ensinar como doutrinas mandamentos de homens. Belarmino126 diz: 
“Omnium dogmatum firmitas pendet ab auctoritate præsentis ecclesiæ.” 
Por outro lado, entretanto, não é só contra as usurpações da Igreja, 
que o princípio acima mencionado é nossa segurança, mas também 
 
126 De Sacram. lib. ii. c. 2. (?) 
TeologiaSistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 138 
contra a tirania da opinião pública. Os homens são tão impacientes de 
contradição agora como sempre foram. Manifestam o mesmo desejo de 
ter suas próprias opiniões nas leis promulgadas e aplicadas pela 
autoridade divina. E são tão feroz em suas denúncias de todos os que se 
aventuram a opor-se a elas. Daí que se reúnem em convenções ou outras 
assembleias, eclesiásticos ou voluntários, e decidem o que é verdadeiro e 
o que é falso na doutrina, e o que está certo e o que está errado na moral. 
Contra todas as apropriações indevidas de autoridade, os verdadeiros 
Protestantes se mantêm firmes em dois grandes princípios: o direito ao 
juízo particular, e que as Escrituras são a única norma infalível de fé e 
prática. Por isso, o objeto da fé são todas as verdades reveladas na 
Palavra de Deus. Tudo o que Deus declara na Bíblia como certo estamos 
obrigados a crer. Isto é o que os teólogos chamam fides generalis. 
 
Fé especial. 
Mas além desta há uma fé especial (fides specialis) necessária para 
a salvação. No conteúdo geral da Escritura há certas doutrinas a respeito 
de Cristo e de Sua obra, e certas promessas de salvação feitas por meio 
dEle a homens pecadores, que estamos obrigados a receber e sobre as 
que temos que depositar nossa confiança. Assim, o objeto especial da fé 
é Cristo, e a promessa da salvação por meio dEle. E o ato especial e 
concreto de fé que assegura nossa salvação é o ato de recebê-Lo e de 
repousar nEle tal como Ele nos é oferecido no Evangelho. Isto é 
ensinado de maneira tão clara e diversa nas Escrituras que dificilmente 
admite dúvida alguma. 
 
O testemunho de Cristo. 
Em primeiro lugar, nosso Senhor declara em repetidas ocasiões que 
o que se demanda dos homens, e que sua condenação por não cumprir 
esta demanda, a qual é que creiam nEle. Ele foi levantado, «para que 
todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3:16). 
«Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 139 
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus» (v. 18, RC). 
«Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde 
contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus» 
(v. 36). “A vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele 
crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo. 6:40). 
“Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. 
Eu sou o pão da vida. . . . Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se 
alguém dele comer, viverá eternamente.” (vv. 47-51). Em outro lugar 
nosso Senhor diz: «A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por 
ele foi enviado» (Jo 6:29). Entretanto, as passagens nas quais se 
demanda a fé em Cristo de maneira expressa como a condição para a 
salvação são muito numerosas para podê-las citar. 
 
É dito que somos salvos ao receber a Cristo. 
Que Cristo é o objeto imediato da fé que salva se ensina também 
em todas aquelas passagens nas quais se diz que recebemos a Cristo, ou 
o testemunho de Deus a respeito de Cristo, e nas quais se diz deste ato de 
recepção que assegura nossa salvação. Por exemplo, em João 1:12: «A 
todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de 
Deus, a saber, aos que crêem no seu nome». «Eu vim em nome de meu 
Pai, e não me recebeis» (Jo 5:43). «Se admitimos o testemunho dos 
homens, o testemunho de Deus é maior; ora, este é o testemunho de 
Deus, que ele dá acerca do seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus 
tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz 
mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu 
Filho» (1Jo 5:9, 10). «Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não 
tem o Filho de Deus não tem a vida» (1Jo 5:12). «Todo aquele que crê 
que Jesus é o Cristo é nascido de Deus» (1Jo 5:1). Por isso, é a recepção 
de Cristo, a recepção do testemunho que Deus deu de Seu Filho; crer que 
Ele é o Cristo, o Filho do Deus vivo, o ato específico que nos demanda 
para a salvação. Por isso, é Cristo o objeto imediato destes exercícios da 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 140 
fé que asseguram a salvação. E por isso a fé se expressa como olhando a 
Cristo; acudindo a Cristo; lhe encomendando a ele a alma, etc. 
 
O ensino dos Apóstolos. 
Segundo o ensino apostólico, somos justificados «mediante a fé em 
Jesus Cristo» (Rm 3:22). Não se trata da fé como disposição piedosa da 
mente; nem da fé como confiança geral em Deus; nem da fé na verdade 
da revelação divina; e muito menos da fé «nas verdades eternas», nem 
nos princípios gerais de verdade e dever, e sim aquela fé da qual o objeto 
é Cristo. Romanos 3:22 [NVI]: «Justiça de Deus mediante a fé em Jesus 
Cristo para todos os que creem.» Gálatas 2:16 - «Sabendo, contudo, que 
o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em 
Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos 
justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei.» Gálatas 3:24 - «De 
maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de 
que fôssemos justificados por fé.» Gálatas 3:26 - «Pois todos vós sois 
filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus». Gálatas 2:20: «Vivo na fé 
do Filho de Deus», etc., etc. ... 
 
Cristo nosso Resgate. 
Cristo declara que Ele mesmo deu a Sua vida como resgate por 
muitos; Ele foi posto como propiciação pelos nossos pecados, Ele Se 
ofereceu como sacrifício a Deus. É pelo mérito de Sua justiça e morte 
que os homens são salvos. Todas estas representações, que impregnam 
as Escrituras necessariamente supõem que a fé que assegura a salvação 
deve ter especial referência a Ele. Se Ele é nosso Redentor, devemos 
recebê-Lo e confiar nEle como tal. Se Ele é a propiciação pelos pecados, 
é através da fé em Seu sangue que somos reconciliados com Deus. Todo 
o plano de salvação, como se indica no Evangelho, supõe que Cristo em 
Sua pessoa e obra é o objeto da fé e o fundamento da confiança. 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 141 
Vivemos em Cristo pela fé. 
O mesmo segue das descrições dadas da relação do crente com 
Cristo. Estamos nEle pela fé. Ele habita em nós. Ele é a cabeça da qual 
nós, como membros de seu corpo, derivamos nossa vida. Ele é a videira, 
nós somos os ramos. Estas e outras descrições são absolutamente 
inconsistentes com a doutrina de que uma vaga fé geral em Deus ou nas 
Escrituras nos assegura a salvação. É uma fé que tem que ver 
diretamente com Cristo, que O aceita como nosso Deus e Salvador. Deus 
enviou o seu Filho ao mundo, vestido de nossa natureza, para revelar a 
Sua vontade, morrer pelos nossos pecados e ressuscitar para nossa 
justificação. NEle habita corporalmente a plenitude da divindade, de Sua 
plenitude estamos cheios. Ele é para nós sabedoria, justiça, santificação e 
redenção. Os que recebem este Salvador como tudo o que Ele dizia ser, e 
encomendam suas almas em Suas mãos para ser utilizadas em Seu 
serviço e salvas para Sua glória, são, no sentido bíblico do termo, 
crentes. Cristo não é só o objeto de sua fé, e sim seu todo interior, a vida 
espiritual termina nEle. Nada, pois, pode ser mais alheio à doutrina 
Romanista, substancialmente avivada pela moderna filosofia, que aparta 
a mente do Cristo histórico, realmente existente, objetivo, fixando-a na 
obra dentro de nós; não nos deixando nada para amar e confiar mais que 
o que tenhamos em nossos próprios miseráveis corações. 
 
Cristo não é recebido só num Papel Especial. 
Admitindo que Cristo é o objeto especial e imediato dos atos de fé 
que assegura a salvação, pergunta-se: É Cristo em todos os Seus papéis, 
ou Cristo em Seu ofício sacerdotal, sobretudo, que é o objeto da fé 
justificadora? Isto parece uma pergunta desnecessária. Não se expõe na 
Bíblia, nem tampouco se sugere ao crente. Ele recebe a Cristo. Ele não 
se pergunta para que função especial de Sua obrasalvadora que assim O 
aceita. Ele toma como um Salvador, como um libertador da culpa e do 
poder do pecado, do domínio de Satanás, e de todos os males de sua 
apostasia de Deus. Ele toma como sua sabedoria, justiça, santificação e 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 142 
redenção. Ele toma como seu Deus e Salvador, como porção da alma 
plena, completa e satisfatória, doadora de vida. Se este ato complexo de 
compreensão e entrega foram analisados, sem dúvida, encontra-se a 
incluir a submissão a todo o Seu ensino, a confiança em Sua justiça e em 
Sua intercessão, a submissão à Sua vontade, a confiança em Sua 
proteção, e a devoção ao Seu serviço. Como Ele nos é oferecido como 
profeta, sacerdote e rei, como tal Ele é aceito. E como Ele nos é 
oferecido como fonte de vida, e glória e bem-aventurança, como o objeto 
supremo de adoração e amor, como tal Ele é prazerosamente aceito. 
 
Requer-se do pecador crer que Deus o ama? 
De novo se questiona: O objeto da fé salvadora é que Deus Se 
reconciliou conosco, que nossos pecados são perdoados, que somos os 
objetos do amor salvífico de Deus? Esta não é a pergunta antes 
considerada, ou seja, se, como dizem os romanistas, o objeto da fé é a 
completa revelação de Deus, ou, como sustentam os protestantes, Cristo 
e a promessa da redenção por meio dEle, embora muitos dos argumentos 
dos romanistas se dirigem contra a forma especial da doutrina que 
acabamos de expor. Eles argumentam que é contraditório dizer que 
somos perdoados porque cremos; e, no mesmo alento, dizer que o que se 
crê é que nossos pecados foram já perdoados. Mais uma vez, sustentam 
que o único objeto próprio da fé é uma revelação de Deus, mas não está 
em parte alguma revelado que individualmente somos reconciliados com 
Deus, ou que nossos pecados são perdoados, ou que somos objeto desse 
amor especial que Deus tem para com o Seu próprio povo. 
Em resposta à primeira destas objeções, os teólogos reformados 
costumavam dizer, que se estabelece uma distinção que se deve fazer 
entre a remissão do pecado de jure já obtido através da morte de Cristo, e 
a remissão de fato mediante a aplicação eficaz da mesma a nós. No 
primeiro sentido, “remissio peccatorum jam impetrata” é o objeto da fé. 
Neste último sentido, é “remissio impetranda,” porque a fé é a causa 
instrumental da justificação, e deve precedê-la. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 143 
 
 Turretino diz:127 “Unde ad obtinendam remissionem peccatorum, 
non debeo credere peccata mihi jam remissa, ut perperam nobis 
impingunt; sed debeo credere peccata mihi credenti et poenitenti, juxta 
promissionem factam credentibus et poenitentibus, remissum iri 
certissime, quæ postea actu secundari et reflexo ex sensu fidei credo 
mihi esse remissa.” 
A segunda objeção foi respondida por distinguir entre o ato direto e 
o ato reflexo da fé. No ato direto da fé aceitamos a Cristo como nosso 
Salvador, pelo ato reflexo, que se derivem da consciência de crer, 
cremos que Ele nos amou e morreu por nós, e que nada nos pode separar 
de Seu amor. Estes dois atos são inseparáveis, não só como causa e 
efeito, antecedente e consequente, mas não estão separados no tempo, ou 
na consciência do crente. Só são diferentes elementos do ato complexo 
de aceitar a Cristo como Ele é oferecido no Evangelho. Não podemos 
separar a alegria e a gratidão com a qual se aceita um grande favor. 
Embora uma análise psicológica poderia resolver estas emoções nos 
efeitos do ato de aceitação, pertencem, tal como se revela na consciência, 
a própria natureza do ato. Trata-se de uma aceitação cordial e agradecida 
de uma promessa feita a todos os que a abraçam. Se a promessa geral de 
perdão é feita aos delinquentes com a condição da confissão de culpa, 
cada um deles que faz a confissão sabe ou crê que a promessa é feita a 
ele. Sobre este ponto, os primeiros teólogos luteranos e reformados 
estiveram de acordo em ensinar isso quando o pecador exerce a fé 
salvadora. Ele crê que pelo amor de Cristo ele é perdoado e aceito por 
Deus. Em outras palavras, que Cristo o ama e Se entregou por ele. 
Já vimos que o “Catecismo do Heidelberg,”128 o livro simbólico de 
uma porção tão grande da Igreja Reformada, declarou a fé salvadora ser 
“Certa fiducia, a Spiritu Sancto per evangelium in corde meo accensa, 
qua in Deo acquiesco, certo statuens, non solum aliis, sed mihi quoque 
 
127 Institutio, XV. xii. 6; Works, edit. Edinburgh, 1847, vol. ii. p. 508. 
128 XXI.; Niemeyer, Collectio Confessionum, Leipzig, 1840, p. 434. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 144 
 
remissionem peccatorum æternam, justitiam et vitam donatam esse idque 
gratis, ex Dei misericordia, propter unius Christi meritum.” 
Na “Apologia da Confissão de Augsburgo da Igreja Luterana,” diz-
se:129 “Nos præter illam fidem [fidem generalem] requirimus, ut credat 
sibi quisque remitti peccata.” 
Calvino diz:130 “Gratiæ promissione opus est, qua nobis testificetur 
se propitium esse Patrem: quando nec aliter ad eum appropinquare 
possumus, et in eam solam reclinare cor hominis potest. . . . . Nunc justa 
fidei definitio nobis constabit, si dicamus esse divinæ erga nos 
benevolentiæ firmam certamque cognitionem, quæ gratuitæ in Christo 
promissionis veritate fundata, per Spiritum Sanctum et revelatur 
mentibus nostris et cordibus obsignatur.” “Hic præcipuus fidei cardo 
vertitur, ne quas Dominus offert misericordiæ promissiones, extra nos 
tantum veras esse arbitremur, in nobis minime: sed ut potius eas intus 
complectendo nostras faciamus. . . . . In summa, vere fidelis non est nisi 
qui solida persuasione Deum sibi propitium benevolumque patrem esse 
persuasus, de ejus benignitate omnia sibi pollicetur: nisi qui divinæ erga 
se benevolentiæ promissionibus fretus, indubitatam salutis 
expectationem præsumit.” 
Esta é uma linguagem forte. A doutrina, entretanto, não é que fé 
implica confiança. A pergunta refere-se à natureza do objeto visto, não a 
clareza da visão; o que é que crê a alma, não a força de sua fé. Calvino 
mesmo em outros lugares expressa maravilhosamente, dizendo: “Quando 
a menor gota de fé é inculcada em nossas mentes, começamos a ver a 
face serena e plácida de nosso Pai reconciliado; longe e no alto, pode ser, 
mas ainda é visto.” Um homem num calabouço pode ver só um raio de 
luz que entrava por uma greta. Isto é muito diferente da plena luz do dia. 
Entretanto, o que ele vê é a luz. Assim o que o pecador arrependido crê é 
que Deus pelo amor de Cristo se reconciliou com ele. Pode ser com uma 
 
129 V. 60; Hase, Libri Symbolici, Leipzig, 1846, p. 172. 
130 Institutio, lib. III. ii. 7, 16; edit. Berlin, 1834, vol. i. pp. 357, 364. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 145 
visão muito obscura e duvidosa, ele compreende essa verdade, mas essa 
é a verdade na qual sua confiança está baseada. 
 
Prova desta doutrina. 
Isto está implicado na apropriação da promessa geral do Evangelho. 
As Escrituras declaram que Deus é amor; que Ele expôs o Seu Filho 
como propiciação pelo pecado; que nEle se reconcilia, que receberá 
todos os que vêm a Ele por meio de Cristo. 
Apropriar-se destas declarações gerais, é crer que são certas, não só 
com relação aos outros, mas também com relação nós mesmos, porque 
Deus Se reconciliou conosco. Não temos direito de excluir a nós 
mesmos. Esta auto-exclusão é incredulidade. É negar-se a tirar das águas 
da vida, oferecida gratuitamente a todos. 
 
Gálatas 2:20. 
Em consequência, o Apóstolo em Gálatas 2:20, diz: “Esse viver 
que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou 
e a si mesmo se entregou por mim.” O objeto da fé do Apóstolo, 
portanto, as verdades em que ele cria, e a fé que deu vida à sua alma, 
eram: (1.) Que Cristo é o Filho de Deus, (2.) Que Ele o amava, (3.) Que 
Ele Se entregou por ele. A fé pela qual um crente vive, nãoé 
especificamente diferente em sua natureza ou objeto da fé que se requer 
de cada homem para sua salvação. A vida de fé é só a repetição contínua, 
pode ser cada vez com mais força e clareza, desses exercícios pelos quais 
podemos receber a Cristo primeiro, em toda a sua plenitude e em todos 
os suas papéis, como nosso Deus e Salvador. 
 “Qui fit ut vivamus Christi fide? Quia nos dilexit, et se ipsum 
tradidit pro nobis. Amor, inquam, quo nos complexus est Christus, fecit 
ut se nobis coadunaret. Id implevit morte sua nam se ipsum tradendo pro 
nobis, non secus atque in persona nostra passus est. . . . . Neque parum 
energiæ habet pro me: quia non satis fuerit Christum pro mundi salute 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 146 
 
mortuum reputare, nisi sibi quisque effectum ac possessionem hujus 
gratiæ privatim vindicet.”131 
Objeta-se este ponto de vista do caso pelo “amor de Deus,” ou “de 
Cristo,” na declaração anterior, não se significa a benevolência geral ou a 
filantropia de Deus, mas o Seu amor especial, eletivo e salvador. Quando 
Paulo disse que vivia pela fé de Cristo, quem o amou e Se entregou a Si 
mesmo por ele, significava algo mais que Cristo amou a todos os homens 
e, portanto, a ele entre o resto. Ele evidentemente cria ser um objeto 
especial do amor do Salvador. Foi esta convicção que deu o poder à sua 
fé. E uma tal convicção entra na fé de todo verdadeiro crente. Mas a isto 
se objeta que a fé deve ter uma revelação divina por seu objeto. Mas não 
há revelação do amor especial de Deus às pessoas, e, portanto, nenhum 
indivíduo tem base bíblica para crer que Cristo o amou e Se entregou a 
Si mesmo por ele. Seja qual for a força que pode haver nesta objeção, ela 
se apoia contra a declaração de Paulo e a experiência. Ele certamente 
creu que Cristo o amou e morreu por ele. Não vale dizer que se tratava 
de uma conclusão tirada de sua própria experiência, ou assumir que o 
Apóstolo se sustentou na convicção de que Cristo o amou. Cristo ama 
especialmente a todos os que creem nEle. Creio nEle. Por isso, Cristo me 
ama de modo especial. Mas uma conclusão alcançada por argumento não 
é um objeto de fé. A fé deve basear-se no testemunho de Deus. Deve ser, 
portanto, que Deus de algum modo testifica à alma que é o objeto de Seu 
amor. 
Isto o faz de duas maneiras. Em primeiro lugar, pelos convites 
gerais e as promessas do Evangelho. O ato de apropriação, ou da 
aceitação destas promessas, é crer que nos pertencem, assim como a 
outros. Em segundo lugar, pelo testemunho interior do Espírito. Paulo 
diz (Rm 5:5): “O amor de Deus foi derramado em nosso coração Espírito 
Santo, que nos foi outorgado.” Quer dizer, o Espírito Santo nos convence 
de que somos objetos do amor de Deus. Isto se faz, não só pelas diversas 
 
131 Calvin in loco. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 147 
manifestações de Seu amor na providência e na redenção, mas por Seu 
tratos interiores com a alma. “Aquele que me ama será amado por meu 
Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” (Jo 14:21). Esta 
manifestação não é exterior através da palavra. É interior. Deus tem 
comunhão ou relação com as almas de Seu povo. O Espírito suscita 
nosso amor a Deus, e revela Seu amor a nós. Novamente, em Romanos 
8:16, o apóstolo diz: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito 
que somos filhos de Deus.” Isto não quer dizer que o Espírito suscita em 
nós sentimentos filiais para com Deus, de onde inferimos que somos 
Seus filhos. O Apóstolo refere-se a duas fontes distintas da evidência de 
nossa adoção. Uma é que podemos chamar a Deus Pai, e a outra, o 
testemunho do Espírito. Este último une-se com o primeiro. A palavra é 
συμμαρτυρεῖ, une-se ao testificar. Daí que é dito que estamos selados, 
não só marcados e garantidos, mas assegurados pelo Espírito; e o 
Espírito é uma promessa, uma garantia, de que somos, e sempre seremos, 
o objeto do amor salvífico de Deus. (Ef 1:13, 14; 4:30; 2Co 1:22). 
Isto não quer dizer que um homem deve crer que ele é um dos 
escolhidos. A eleição é um propósito secreto de Deus. A eleição de 
qualquer pessoa em particular não se revela, e, portanto, não é um objeto 
da fé. É uma coisa a ser provada, ou feita segura, como o apóstolo Pedro 
diz, pelos frutos do Espírito. 
Tudo o que a doutrina dos reformadores sobre este tema inclui, é 
que a alma ao comprometer-se com Cristo, o faz como a quem o amou e 
morreu por sua salvação. A mulher curada ao tocar o vestido de nosso 
Salvador, creu que ela era um objeto de Seu amor compassivo, porque 
todos os que O tocaram com fé foram incluídos nesse número. A fé dela 
inclui essa convicção. 
 
 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 148 
§ 8. Os efeitos da fé. 
 
União com Cristo. 
O primeiro efeito, segundo as Escrituras, é a união com Cristo. 
Estamos nEle pela fé. Há certamente uma união federal entre Cristo e o 
Seu povo fundamentada na aliança da redenção entre o Pai e o Filho nos 
conselhos da eternidade. Por isso, diz-se de nós que estávamos nEle 
antes da fundação do mundo. É uma das promessas desta aliança que 
todos aqueles que o Pai deu ao Filho irão a Ele; que Seu povo se faria 
querer no dia de Seu poder. Cristo, pois, foi exaltado à destra de Deus, 
para dar arrependimento e o perdão de pecados. Mas também estava 
incluído nos termos da aliança, como lemos na Escritura, que Seu povo, 
pelo que respeita aos adultos, não receberiam os benefícios salvadores 
desta aliança até que se unissem a Ele mediante o ato voluntário da fé. 
São «por natureza filhos da ira, como também os demais» (Ef 2:3). 
Permanecem neste estado de condenação até que creiam. Sua união é 
consumada pela fé. Assim, estar em Cristo e crer em Cristo são, nas 
Escrituras, formas conversíveis de expressão. Eles significam 
substancialmente a mesma coisa, e, por isso, atribuem-se os mesmos 
efeitos à fé que à união com Cristo. 
 
A justificação, efeito da fé. 
O efeito imediato desta união, e por isso o segundo efeito da fé, é a 
justificação. Somos «justificados pela fé em Cristo» (Gl 2:16). “Agora 
pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 
8:1). “Aquele que crê nele não é condenado.” (Jo 3:18, RC). A fé é a 
condição sobre a qual Deus promete na aliança da redenção imputar aos 
homens a justiça de Cristo. Por isso, logo que creem não podem ser 
condenados. Ficam revestidos com uma justiça que responde a todas as 
demandas da justiça. «Quem intentará acusação contra os eleitos de 
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 149 
quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e 
também intercede por nós» (Rm 8:33, 34). 
 
A participação da vida de Cristo, efeito da fé. 
O terceiro efeito da fé, ou união com Cristo, é a participação de Sua 
vida. Aqueles que estão em união com Cristo, ensina-nos o Apóstolo 
(Rm 6:4-10), de modo que são participem de Sua morte, são partícipes 
também de Sua vida. «Porque eu vivo, vós também vivereis» (Jo 14:19). 
Cristo habita pela fé em nossos corações (Ef 3:17). Cristo está em nós 
(Rm 8:10). Já não vivemos nós, mas é Cristo que vive em nós (Gl 2:20). 
A ilustração que dá nosso Senhor desta vital união se deriva de uma 
videira e de seus ramos (Jo 15:1-6). Assim como a vida da videira se 
difunde através de seus ramos, e porquanto vivem só enquanto estão 
conectadas à videira, assim a vida de Cristo é difundida através de Seu 
povo, e eles são partícipes da vida espiritual e eterna só em virtude de 
sua união com Ele. Outra ilustração familiar deste tema se deriva do 
corpo humano. Os membros derivam sua vida da cabeça, e perecem se 
ficam separados da mesma (Ef 1:22; 1Co 12:12-27, e frequentemente). 
Em Efésios 4:15, 16 o Apóstolo dá esta ilustração de maneira detalhada: 
«A cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado 
pelo auxílio detoda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, 
efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor». 
Assim como o princípio da vida animal situado na cabeça, por meio do 
complicado mas ordenado sistema nervoso que se estende a cada 
membro, difunde vida e energia por todo o corpo, da mesma maneira o 
Espírito Santo, dado sem medida a Cristo, a cabeça da Igreja, que é Seu 
corpo, difunde vida e força a cada membro. Por isso, segundo a 
Escritura, a morada de Cristo em nós se explica como a morada do 
Espírito em nós. A morada do Espírito é a morada de Cristo. Se Deus 
estiver em vós; se Cristo estiver em vós; se o Espírito estiver em vós: 
tudo isto significa a mesma coisa. Veja-se Romanos 8:9-11. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 150 
Explicar esta união vital e mística entre Cristo e Seu povo como 
uma mera união de pensamento e sentimento é totalmente inadmissível. 
(1) Em primeiro lugar, é contrário ao claro sentido das palavras. 
Ninguém jamais fala de Platão habitando nos homens; de que ele seja a 
vida deles, de maneira que sem ele, eles não possam fazer nada; e muito 
menos de que a santidade, a felicidade e a vida eterna dependam desta 
união. (2) Esta interpretação supõe que nossa relação com Cristo é 
análoga à relação de um homem com outro. Porquanto esta é uma 
relação entre homens e uma pessoa divina, que tem vida em Si mesmo, e 
que dá vida aos que Ele quer. (3) Ignora tudo o que ensinam as 
Escrituras da obra do Espírito Santo e de Sua morada nos corações dos 
homens. (4) Passa por alto o caráter sobrenatural do cristianismo, e o 
reduziria a um mero sistema filosófico e ético. 
 
A paz como fruto da fé. 
O quarto efeito da fé é paz. «Justificados, pois, pela fé, temos paz 
com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo» (Rm 5:1). A paz brota 
de um sentimento de reconciliação. Deus promete perdoar, receber em 
Seu favor, e finalmente salvar a todos os que creem no testemunho que 
Ele deu a respeito de Seu Filho. Assim, crer é crer nesta promessa; e 
apropriar-nos desta promessa para nós é crer que Deus está reconciliado 
conosco. Esta fé pode ser fraca ou forte. E a paz que emana dela pode ser 
trêmula e intermitente, ou pode ser constante e segura. 
 
Certeza. 
Fazer da certeza da salvação pessoal algo essencial para a fé é 
contrário às Escrituras e à experiência do povo de Deus. A Bíblia refere-
se a uma fé fraca. É abundante em consolações destinadas aos dúbios e 
aos desalentados. Deus aceita àqueles que só podem dizer: «Senhor, 
creio: Ajuda a minha incredulidade!» Os que fazem da certeza a essência 
da fé em geral reduzem a fé a um mero assentimento intelectual. Às 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 151 
vezes são rigidamente severos, recusando reconhecer como irmãos os 
que não estão de acordo com eles; e às vezes são antinomianos. 
Ao mesmo tempo, a Escritura e a experiência ensinam que a certeza 
não é só algo que possa ser alcançado, mas é um privilégio e um dever. 
Certamente, pode existir certeza onde não há absolutamente verdadeira 
fé; mas onde há verdadeira fé, a carência de certeza deve ser atribuída 
quer à fraqueza da fé, quer aos conceitos errôneos do plano da salvação. 
Muitos crentes sinceros são muito introspectivos. Olham muito 
exclusivamente dentro deles, e assim a esperança dos tais é proporcional 
ao grau de evidência de regeneração que encontram em sua própria 
experiência. Isto, exceto em contadas ocasiões, não pode conduzir à 
certeza da esperança. Podemos examinar nossos corações com todo o 
cuidado microscópico prescrito pelo Presidente Edwards em sua obra 
sobre «Os Afetos Religiosos», e nunca ficar satisfeitos de que tenhamos 
eliminado toda razão para a inquietação e as dúvidas. A base da certeza 
não se encontra tanto dentro de nós como fora. São, segundo as 
Escrituras: (1) A promessa universal e incondicional de Deus que aos 
que vão a ele em Cristo não os lançará fora de maneira nenhuma; que 
todo aquele que quiser, pode tomar livremente a água da vida sem 
dinheiro e sem preço. Estamos obrigados a ter a certeza de que Deus é 
fiel, e que certamente salvará os que creem. (2) O infinito, imutável e 
gratuito amor de Deus. Nos primeiros dez versículos do quinto capítulo 
da Epístola aos Romanos, e no oitavo capítulo da mesma epístola do 
versículo 31 até o fim, o Apóstolo discorre a respeito destas 
características do amor de Deus, como dando um fundamento 
inamovível da esperança do crente. (3) O mérito infinito da satisfação de 
Cristo, e a prevalência de sua contínua intercessão. Paulo, em Romanos 
8:34, enfatiza estes pontos de maneira especial. (4) A aliança da 
redenção em que se promete que todos os que foram dados pelo Pai ao 
Filho irão a Ele, e que nenhum deles se perderá. (5) Pelo testemunho do 
Espírito, diz Paulo, «gloriamo-nos na esperança da glória de Deus», 
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 152 
Espírito Santo que foi dado. Isto é, o Espírito Santo nos assegura de que 
somos os objetos daquele amor que ele passa a descrever como infinito, 
imutável e gratuito (Rm 5:3-5). E outra vez: «O Espírito mesmo dá 
juntamente testemunho a nosso espírito, de que somos filhos de Deus». 
Portanto, se qualquer crente carecer da certeza da fé, a falta está nele 
mesmo, não no plano de salvação nem nas promessas de Deus. 
 
A santificação é um fruto da fé. 
O quinto efeito da fé é a santificação. «Os que são santificados», diz 
nosso Senhor, «pela fé em mim». Embora neste versículo (At 26:18), as 
palavras «pela fé» não qualificam somente a cláusula anterior, «são 
santificados», mas devem ser aplicadas a todos os pontos precedentes, a 
iluminação, libertação de Satanás, perdão dos pecados, e a herança 
eterna, entretanto não se deve omitir o antecedente imediato. Que somos 
santificados pela fé é claramente ensinado em outras passagens. «A fé 
que atua pelo amor e mediante a qual se purifica o coração» (Gl 5:6 e At 
15:9). 
A relação da fé com a santificação é, pois, estabelecida nas 
Escrituras: 
1. Somos justificados pela fé. Enquanto estamos debaixo da lei, 
estamos debaixo da maldição, e produzimos fruto para morte. Não há, 
nem pode haver amor a Deus, e nenhuma vida santa até que somos 
libertados de Sua ira devido a nós pelo pecado. Estamos livres da lei, 
libertados de sua condenação, pelo corpo ou a morte de Cristo. É pela fé 
nEle como o fim da lei para justiça, que pessoalmente somos libertados 
da condenação e restaurados ao favor de Deus. Veja-se tudo isto 
claramente ensinado em Romanos 6, e nos primeiros seis versículos do 
capítulo sete. Portanto, pela fé passamos da morte judicial à vida 
judicial, ou justificação. Este é o primeiro e indispensável passo de 
santificação até onde se revela na consciência do crente. 
2. É pela fé que recebemos a habitação do Espírito. Cristo (ou o 
Espírito de Cristo) habita em nossos corações pela fé. A fé é a condição 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 153 
indispensável (com referência aos adultos) desta morada do Espírito. E a 
habitação do Espírito é a fonte de toda vida espiritual. A fé é certamente 
o fruto do Espírito, e portanto o dom do Espírito deve preceder o 
exercício da fé. É, não obstante, verdade que a fé é a condição da 
habitação do Espírito, e, por conseguinte, da vida espiritual. A vida deve 
preceder a respiração, e entretanto, a respiração é a condição necessária 
da vida. 
3. A fé não é só a condição da habitação do Espírito em nós como a 
fonte da vida espiritual, mas nós vivemos pela fé. Quer dizer, a 
continuidade e o exercício da vida espiritual implica e supõe o exercício 
constante da fé. Vivemos pelo exercício da fé em Deus, em Seus 
atributos, em Sua providência, em Suas promessas, e em todas as 
verdades que Ele revelou. Sobretudo esta é vida sustentada pelos 
exercícios de fé da qual Cristo é o objeto; Sua divina e misteriosa pessoaconstituída, como Deus manifestado na carne de Sua obra terminada por 
nossa redenção; Sua constante intercessão; Sua íntima relação conosco 
não só como nosso profeta, sacerdote e rei, e sim como nossa cabeça em 
Quem nossa vida está escondida em Deus, e de Quem flui a nossas 
almas. De modo que, somos santificados pela fé, porque é pela fé que 
todos os afetos religiosos e todas as atividades da vida espiritual ficam 
em exercício. 
4. Somos santificados pela fé, visto que é a substância das coisas 
que se esperam e a evidência das coisas não se veem. “As coisas de 
Deus,” as verdades que Ele revelou sobre o mundo espiritual e eterno 
existe para nós, embora neste mundo, só como objeto de fé. Mas a fé é 
para a alma o que o olho é para o corpo. Permite-nos ver as coisas 
invisíveis e eternas. Dá-lhes substância, realidade, e portanto poder, — o 
poder em alguma medida pouco em proporção ao seu valor. Assim as 
coisas visíveis e temporais perdem seu poder dominante sobre a alma. 
Não são dignos de ser comparadas com as coisas que Deus preparou para 
os que O amam. O crente, — o ideal, e às vezes o crente real, como 
sabemos pela Escritura e pela História, levanta-se sobre as coisas do 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 154 
tempo e o sentido, vence o mundo, e converte-se em mente celestial. Ele 
vive no céu, respira sua atmosfera, está impregnado de seu espírito, e 
tem uma antecipação de suas alegrias. Isto o representa puro, espiritual, 
humilde e abnegado, laborioso, humilde, amável, perdoador, assim como 
firme e valente. Todo o décimo primeiro capítulo da Epístola aos 
Hebreus dedica-se à ilustração do poder da fé, especialmente neste 
aspecto. O Apóstolo mostra que em tempos passados, inclusive sob a 
tênue luz da dispensação anterior, capacitou-se a Noé a permanecer só 
contra o mundo, a Abraão a oferecer o seu único filho, a Moisés a 
preferir o vitupério de Cristo que os tesouros do Egito; que outros 
através da fé submeteram reinos, praticaram a justiça, taparam a boca de 
leões, apagaram a violência do fogo; que outros pela fé da fraqueza 
tiraram forças, foram valentes na luta; que outros se submeteram à prova 
de vitupérios e açoites; que outros pela fé suportaram ser apedrejados, 
serrados ao meio, ou mortos à espada; e que entretanto, outros através da 
fé consentiram a vagar em peles de ovelhas e de cabras, pobres, 
angustiados e atormentados. Todos estes, é-nos dito, através da fé 
obtiveram bom testemunho. 
5. A fé santifica porque é a condição necessária para a eficácia dos 
meios da graça. É por meio da Palavra, dos sacramentos e da oração que 
Deus comunica constantes fornecimentos de graça. São os meios de 
chamar à atividade os exercícios da vida espiritual. Mas estes meios da 
graça são inoperantes a não ser que sejam recebidos e empregados pela 
fé. E não é a fé certamente a que lhes dá seu poder, mas é a condição 
pela qual o Espírito de Deus os faz eficazes. 
O fato de que as boas obras são o efeito necessário da fé é incluído 
na doutrina de que somos santificados pela fé. Porque é impossível que 
haja santidade interior, amor, espiritualidade, amor fraternal e zelo sem 
uma manifestação externa destas graças em toda a vida exterior. 
Portanto, a fé sem obras está morta. Somos salvos pela fé. Mas a 
salvação inclui a libertação do pecado. Por isso, se nossa fé não nos 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 155 
livrar do pecado, não nos salva. O antinomianismo envolve uma 
contradição lógica. 
 
A certeza da salvação. 
Um sexto efeito atribuído à fé nas Escrituras é a segurança ou a 
certeza da salvação. «Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que 
deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas 
tenha a vida eterna» (Jo 3:16). «Em verdade, em verdade vos digo: quem 
ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não 
entra em juízo, mas passou da morte para a vida» (Jo 5:24). “Eu sou o 
pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente.” 
(Jo 6:51). «Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a 
mim, de modo nenhum o lançarei fora. ... a vontade de meu Pai é que 
todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o 
ressuscitarei no último dia» (Jo 6:37, 40). «As minhas ovelhas ouvem a 
minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; 
jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão» (Jo 10:27, 28). 
 
O oitavo capítulo de Romanos. 
Todo o oitavo capítulo da Epístola aos Romanos tem como 
propósito demonstrar a segura salvação de todos os que creem. A 
proposição a estabelecer é que «Nenhuma condenação há para os que 
estão em Cristo Jesus». Isto é, que nunca podem perecer; nunca podem 
ficar separados de tal maneira de Cristo que possam cair em condenação. 
O primeiro argumento do Apóstolo para estabelecer sua proposição é 
que os crentes são libertados da lei mediante o sacrifício de Cristo. Por 
isso, o crente não está debaixo da lei que condena, como Paulo havia dito 
antes (Rm 6:14, RC). «Não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.» 
Mas se não sob a lei, não pode ser condenado. A lei teve seu curso, e 
encontrou plena satisfação na obra de Cristo, que é o fim da lei, para 
justiça a todo aquele que crê. Ele faz a cada um justo, à vista da lei, que 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 156 
nEle crê. Esta é a primeira razão que o Apóstolo dá de por que os que 
estão em Cristo jamais serão condenados. 
Seu segundo argumento é que já têm dentro deles o princípio da 
vida eterna. Este princípio é o Espírito de Deus, “aquele que dá a vida” 
como Ele foi designado pela antiga Igreja. O ocupar-se da carne é morte; 
o ocupar do Espírito é vida e paz. O pecado é morte, a santidade é vida. 
É uma contradição dizer que aqueles em quem habita o Espírito da vida, 
devem morrer. E, portanto, diz o Apóstolo, embora o corpo morre, a 
alma vive. E se o Espírito dAquele que levantou Cristo dentre os mortos 
mora em vós, Aquele que ressuscitou a Cristo dos mortos também 
vivificará até vossos corpos mortais pelo Seu Espírito que mora em vós. 
Por isso, a morada do Espírito assegura não só a vida da alma, mas 
também a definitiva e gloriosa vida do corpo. 
O terceiro argumento para a segurança dos crentes é que são filhos 
de Deus. Aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de 
Deus. Isto é, são partícipes de Sua natureza, os objetos especiais de Seu 
amor, e com título à herança que Ele dá. Se filhos, então herdeiros, 
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Para a maneira de pensar 
do Apóstolo, é impossível que pereça algum dos filhos de Deus. Se 
filhos, então certamente serão salvos. 
O quarto argumento é com base no propósito de Deus. Aqueles que 
Ele predestinou para ser feitos conforme à imagem de Seu Filho os 
chama Ele a exercitar a fé e o arrependimento; e aqueles a quem Ele 
chama os justifica, provê para eles e lhes imputa uma justiça que dá 
satisfação às demandas da lei, e que lhes dá título em Cristo, e por causa 
dEle, à vida eterna; e aos que Ele justifica, glorifica-os. Não há sentença 
nesta cadeia. Se os homens tivessem sido predestinados à vida eterna 
com base em seu arrependimento e crer por meio de suas próprias forças, 
ou por meio de uma cooperação com a graça de Deus que outros não 
chegam a exercer, então sua continuação num estado de graça poderia 
depender deles. Mas se a fé e o arrependimento são dons de Deus, os 
resultados de Sua chamada eficaz, então a outorga destes dons é uma 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 157 
 
revelação do propósito de Deus de salvar àqueles a quem lhes são dados. 
É uma evidência de que Deus os predestinou a ser feitos conforme à 
imagem de Seu Filho, isto é, a ser como Ele em caráter, destino e glória, 
e de que Ele levará a cabo o Seu propósito de maneira indefectível. 
Ninguém os pode arrebatar de Suas mãos.O quinto argumento de Paulo é do amor de Deus. Como se indicou 
anteriormente,132 Paulo argui com base na grandeza, gratuidade e 
imutabilidade deste amor que seus objetos nunca podem perder-se. 
«Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o 
entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as 
coisas?» Se tiver feito o maior, não fará também o menor? Se deu o Seu 
próprio Filho, não nos dará fé para receber e constância para seguir até o 
fim? Um amor tão grande como o amor de Deus para com o Seu povo 
não pode deixar de alcançar o Seu objetivo. Este amor é também 
gratuito. Não se baseia no atrativo de seus objetos. Amou-nos «sendo 
nós ainda pecadores»; «quando inimigos»; «muito mais, muito mais 
agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. 
Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus 
mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, 
seremos salvos pela sua vida». O amor de Deus neste aspecto é 
comparado ao amor dos pais. Uma mãe não ama o seu filho porque seja 
atrativo. Seu amor a leva a fazer tudo o que possa para fazê-lo atrativo e 
para mantê-lo assim. Assim o amor de Deus, sendo de maneira 
semelhante misterioso, não devido a nada em Seus objetos, leva a que 
adorne os Seus filhos com as graças do Espírito, vestindo-os com toda a 
beleza da santidade. É só o lamentável erro de pensar que Deus nos ama 
por nossa própria bondade que pode levar a ninguém a supor que Seu 
amor depende de nosso atrativo auto-sustentado, quando deveríamos 
contemplar Seu amor paterno como a fonte de toda bondade e como a 
base da certeza de que Ele não permitirá a Satanás nem a nossos, 
 
132 Page 107. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 158 
próprios ímpios corações que destruam os aspectos da semelhança com 
Ele que Ele mesmo imprimiu sobre nossas almas. Tendo amado aos 
Seus, amou-os até o fim. E Cristo ora por eles para que sua fé não 
desfaleça. 
Deve-se lembrar aqui que o Apóstolo não argumenta para 
demonstrar meramente a certeza da salvação dos que creem; e sim sua 
segura perseverança na santidade. Segundo o sistema de Paulo, a 
salvação em pecado é uma contradição lógica. Esta perseverança em 
santidade é assegurada em parte mediante a secreta influência interior do 
Espírito, e em parte por todos os meios adaptados para obter este fim: 
instruções, admoestações, exortações, advertências, os meios da graça, e 
as dispensações de Sua providência. Tendo, em Seu amor, determinado a 
respeito do fim, determinou também os meios para o seu cumprimento. 
O sexto argumento do Apóstolo é que assim como o amor de Deus 
é imensamente grande e totalmente gratuito, é também imutável, e que 
por isso os crentes serão certamente salvos. Daí a conclusão: «Eu estou 
bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os 
principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, 
nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá 
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.» 
Poder-se-á ver que o Apóstolo não descansa a perseverança dos 
santos sobre a natureza indestrutível da fé, nem sobre a natureza 
imperecível do princípio da graça no coração, nem na constância da 
vontade do crente, mas unicamente no que está fora de nós mesmos. A 
perseverança, ensina-nos ele, deve-se ao propósito de Deus, à obra de 
Cristo, à morada do Espírito Santo, e à fonte primária de tudo, o infinito, 
misterioso e imutável amor de Deus. Não nos guardamos a nós mesmos: 
somos guardados pelo poder de Deus, por meio da fé, para a salvação 
(1Pe 1:5). 
 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 159 
 
CAPÍTULO XVII 
JUSTIFICAÇÃO 
 
§ 1. Enunciado simbólico da doutrina. 
 
A JUSTIFICAÇÃO é definida no Catecismo de Westminster como 
«Um ato da livre graça de Deus, pelo qual nos perdoa todos os nossos 
pecados, e nos aceita como justos diante de Seus olhos, só pela justiça de 
Cristo imputada a nós e recebida pela fé somente». 
O Catecismo de Heidelberg, como resposta à pergunta «Como te 
tornas justo diante de Deus?» responde: «Só pela verdadeira fé em Jesus 
Cristo, de tal sorte que, embora minha consciência me acuse de haver 
pecado gravemente contra todos os mandamentos de Deus, não havendo 
jamais guardado nenhum deles, e estando sempre inclinado a todo mal, 
sem merecimento algum meu, só por Sua graça, Deus me imputa e dá a 
perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo como se eu não houvesse 
tido nem cometido pecado algum, antes, como se eu mesmo tivesse 
cumprido aquela obediência que Cristo cumpriu por mim, contanto que 
eu abrace estas graças e benefícios com verdadeira fé.» E como resposta 
à pergunta: «Por que afirmas ser justo somente pela fé?», diz: «Não 
porque agrade a Deus pela dignidade de minha fé, mas porque só a 
satisfação, justiça e santidade de Cristo são minha própria justiça diante 
de Deus, pois eu não posso recebê-la y aplicá-la a mim de outro modo 
senão pela fé.» Estas são as normas mais geralmente recebidas e 
autoritativas das Igrejas Reformadas, com os quais concordam todos os 
outros símbolos Reformados. 
A Segunda Confissão Helvética,133 diz: “Justificare significat 
Apostolo in disputatione de justificatione, peccata remittere, a culpa et 
poena absolvere, in gratiam recipere, et justum pronunciare. Etenim ad 
Romanos dicit apostolus, ‘Deus est, qui justificat, quis ille, qui 
 
133 Los principales pasajes son La Confesión de Augsburgo. parte I. artículo IV, la Apología de 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 160 
 
condemnet?’ opponuntur justificare et condemnare. . . . . Etenim Christus 
peccata mundi in se recepit et sustulit, divinæque justitiæ satisfecit. Deus 
ergo propter solum Christum passum et resuscitatum, propitius est 
peccatis nostris, nec illa nobis imputat, imputat autem justitiam Christi 
pro nostra: ita ut jam simus non solum mundati a peccatis et purgati, vel 
sancti, sed etiam donati justitia Christi, adeoque absoluti a peccatis, 
morte vel condemnatione, justi denique ac hæredes vitæ æternæ. Proprie 
ergo loquendo, Deus solus nos justificat, et duntaxat propter Christum 
justificat, non imputans nobis peccata, sed imputans ejus nobis 
justitiam.”134 
Estes são as mais geralmente recebidas normas de autoridade das 
Igrejas Reformadas, com as quais todos os outros símbolos reformados 
estão de acordo. As confissões Luteranas ensinam exatamente a mesma 
doutrina a respeito desta questão.135 “Unanimi consensu, docemus et 
confitemur. . . . . quod homo peccator coram Deo justificetur, hoc est, 
absolvatur ab omnibus suis peccatis et a judicio justissimæ 
condemnationis, et adoptetur in numerum filiorum Dei atque hæres 
æternæ vitæ scribatur, sine ullis nostris meritis, aut dignitate, et absque 
ullis præcedentibus, præsentibus, aut sequentibus nostris operibus, ex 
mera gratia, tantummodo propter unicum meritum, perfectissimam 
obedientiam, passionem acerbissimam, mortem et resurrectionem 
Domini nostri, Jesu Christi, cujus obedientia nobis ad justitiam 
imputatur.”136 
Novamente: “Credimus, docemus, et confitemur, hoc ipsum 
nostram esse coram Deo justitiam, quod Dominus nobis peccata remittit, 
ex mera gratia, absque ullo respectu præcedentium, præsentium, aut 
consequentium nostrorum operum, dignitatis, aut meriti. Ille enim donat 
atque imputat nobis justitiam obedientiæ Christi; propter eam justitiam a 
 
134 See Niemeyer, Collectio Confessionum, Leipzig, 1840. 
135 As passagens principais são Confissão de Augsburgo, parte I; o artigo IV.; A Apologia para essa 
Confissão, Artigo III.; e a Fórmula de Concórdia, o artigo III. 
136 Form of Concord, III. 9. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 161 
 
Deo in gratiam recipimur et justi reputamur.”137 “Justificari significathic 
non ex impio justum effici, sed usu forensi justum pronuntiari.” And 
“Justificare hoc loco (Rom. 5.1) forensi cousuetudine significat reum 
absolvere et pronuntiare justum, sed propter alienam justitiam, videlicet 
Christi, quæ aliena justitia communicatur nobis per fidem.”138 Assim 
também “Vocabulum justificationis in hoc negotio significat justum 
pronuntiare, a peccatis et æternis peccatorum suppliciis absolvere, 
propter justitiam Christi, quæ a Deo fidei imputatur.”139 
Hase,140 afirma concisamente a doutrina luterana sobre este tema 
com estas palavras: “Justificatio est actus forensis, quo Deus, sola gratia 
ductus, peccatori, propter Christi meritum fide apprehensum, justitiam 
Christi imputat, peccata remittit, eumque sibi reconciliat.” 
A “Fórmula da Concórdia” diz: “Hic articulus, de justitia fidei, 
præcipuus est (ut Apologia loquitur) in tota doctrina Christiana, sine quo 
conscientiæ perturbatæ nullam veram et firmam consolationem habere, 
aut divitias gratiæ Christi recte agnoscere possunt. Id D. Lutherus suo 
etiam testimonio confirmavit, cum inquit: Si unicus his articulus sincerus 
permanserit, etiam Christiana Ecclesia sincera, concors et sine omnibus 
sectis permanet: sin vero corrumpitur, impossibile est, ut uni errori aut 
fanatico spiritui recte obviam iri possit.”141 Os teólogos luteranos, 
portanto, falam dela como a “ἀκρόπολις totius Christianæ religionis, ac 
nexus, quo omnia corporis doctrinæ Christianæ membra continentur, 
quoque rupto solvuntur.”142 
 
 
 
 
 
137 Ibid. Epitome, III. 4. 
138 Apology for the Augsburg Confession, Art. III. 131, 184. 
139 Form of Concord, III. 17. See Hase, Libri Symbolici, 3d edit., Leipzig, 1836. 
140 Hutterus Redivivus, § 109, 6th edit. Leipzig, 1845, p. 274. 
141 III. 6. 
142 Quenstedt. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 162 
Presidente Edwards 
Esta declaração da doutrina da justificação conservou a autoridade 
simbólica nas igrejas luteranas e reformadas, até a atualidade. O 
Presidente Edwards, quem é considerado como tendo iniciado algumas 
saídas desde alguns pontos da fé reformada, mantinha-se firme em sua 
adesão a este ponto de vista da justificação, que ele considera de vital 
importância. Em seu discurso sobre a “Justificação pela Fé Somente,” 
ele define assim a justificação: “Diz-se que uma pessoa é justificada 
quando é aprovada por Deus como livre da culpa do pecado e de seu 
castigo merecido; e como tendo essa justiça de sua propriedade que dá 
direito à recompensa da vida. Que devemos tomar a palavra em tal 
sentido e entendimento como a aceitação do juiz de uma pessoa como 
tendo uma justiça negativa e positiva de sua propriedade, e olhando a ele 
portanto como não só tirado ou livre de toda obrigação ao castigo, mas 
também como justo e reto, e assim com direito a uma recompensa 
positiva, não só é mais agradável à etimologia e a importação natural da 
palavra, que significa fazer justo, ou passar alguém como justo no juízo, 
mas também manifestamente agradável à força da palavra como utilizada 
na Escritura.” Ele então mostra como é, ou por que somente a fé 
justifica. Não é por causa de qualquer virtude ou bondade na fé, mas 
como ela nos une a Cristo, e implica a aceitação dEle como nossa justiça. 
Por isso, é que somos justificados “pela fé somente, sem nenhum tipo de 
virtude ou bondade do nossa parte.” 
A base da justificação é a justiça de Cristo imputada ao crente. “Por 
essa justiça que se imputa a nós,” diz Edwards, “quer dizer nada menos 
que isto, que esta justiça de Cristo é aceita por nós, e admitida em lugar 
dessa justiça perfeita inerente que devia estar em nós mesmos: a perfeita 
obediência de Cristo será considerada a nossa conta, de modo que vamos 
ter o benefício dela, como se tivéssemos realizado nós mesmos, e assim 
supõe-se que um título à vida eterna nos é dado como a recompensa 
desta justiça. . . . Os opositores desta doutrina supõem que é um absurdo 
nisso: dizem que supor que Deus imputa a obediência de Cristo a nós, é 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 163 
 
supor que Deus está errado, e crê que realizamos essa obediência que 
Cristo realizou. Mas por que não pode essa justiça ser computada à nossa 
conta, e ser aceito por nós, sem qualquer tipo de tal absurdo? Por que há 
mais absurdo nisso, que na transferência da dívida de um comerciante ou 
crédito da conta de um homem a outro, quando um homem paga um 
preço por outro, de modo que se aceitará, como se esse outro o tinha 
pago? Por que há mais absurdo ao supor que a obediência de Cristo é 
imputada a nós, que sua satisfação é imputada? Se Cristo sofreu o 
castigo da lei por nós e em nosso lugar, então se segue, que seu 
sofrimento, que a penalidade é imputada a nós, quer dizer, que é aceita 
por nós, e em nosso lugar, e é contado para nossa conta, como se o 
tivéssemos sofrido. Mas por que não pode Sua obediência à lei de Deus 
ser como racionalmente contada à nossa conta, como seu sofrer a 
penalidade da lei?”143 
 
Pontos incluídos nas anteriores declarações da doutrina 
 Segundo as anteriores declarações, a justificação é: 
1. Um ato, e não, como a santificação, uma obra continuada e 
progressiva. 
2. É um ato de graça para com o pecador. Nele mesmo, merece 
condenação quando Deus o justifica. 
3. Quanto à natureza do ato, não é, em primeiro lugar, um ato eficaz 
nem um ato de poder. Não produz nenhuma mudança subjetiva na 
pessoa justificada. Não efetua nenhuma mudança de caráter, fazendo 
bons os que eram maus, nem santos os que eram ímpios. Isto se faz na 
regeneração e na santificação. Em segundo lugar, não se trata de um 
mero ato executivo, como quando um soberano perdoa um criminoso, e 
o restaura com isso aos seus direitos civis, ou à sua anterior posição na 
comunidade. Em terceiro lugar, é um ato legal ou judicial, o ato de um 
juiz, não de um soberano. Isto é, no caso do pecador, ou, in foro Dei, 
 
143 Works of President Edwards, New York, 1868, vol. iv. pp. 66, 91, 92. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 164 
trata-se de um ato de Deus não em Seu caráter de Soberano, mas em Seu 
caráter de Juiz. É um ato declarativo em que Deus pronuncia justo ou 
reto o pecador, isto é, declara que as demandas da justiça estão satisfeitas 
até onde a ele lhe corresponde, de maneira que não pode ser justamente 
condenado, mas em justiça tem direito à recompensa prometida ou 
devida à perfeita justiça. 
4. A base meritória para a justificação não é a fé; não somos 
justificados em base de nossa fé, considerada como um ato ou estado 
mental santo ou virtuoso. Nem são nossas obras de nenhum tipo a base 
da justificação. Nada feito por nós nem operado em nós dá satisfação às 
demandas da justiça nem pode ser a base nem a razão da declaração de 
que a justiça é satisfeita no que respeita a nós. A base para a justificação 
é a justiça de Cristo, ativa e passiva, isto é, incluindo Sua perfeita 
obediência à lei como aliança, e que suportou a pena da lei em nosso 
lugar e em nosso favor. 
5. A justiça de Cristo é imputada ao crente na justificação. Isto é, é 
posta em sua conta, de maneira que tem direito a alegá-la perante o 
tribunal de Deus, como se fosse pessoal e inerentemente sua própria. 
6. A fé é a condição da justificação. Isto é, quanto aos adultos 
concerne, Deus não imputa a justiça de Cristo ao pecador até que e a não 
ser que ele (por meio da graça) a receba e repouse em Cristo somente 
para sua salvação. 
É indiscutível que esta é a doutrina das igrejas Reformada e 
Luterana a respeito desta importante questão. As declarações das normas 
destas igrejas são tão numerosas, explícitas e escrutinadoras que 
impedem toda dúvida razoável a respeito desta questão. E que esta é a 
doutrina da Palavra de Deus aparece das seguintes considerações. 
Não será necessário tratar todos os pontos anteriormente, visto que 
alguns são necessariamente incluídos em outros. As seguintesproposições incluem todos os pontos essenciais da doutrina. 
 
 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 165 
§ 2. A justificação é um ato forense. 
 
Com isto os Reformadores queriam, em primeiro lugar, negar a 
doutrina Romanista de justificação subjetiva. Isto é, que a justificação 
consiste num ato ou atividade de Deus fazendo o pecador subjetivamente 
santo. Os Romanistas confundem ou unem a justificação com a 
santificação. Definem a justificação como «a remissão do pecado e a 
infusão de novos hábitos de graça». Por remissão de pecado se referem 
não simplesmente ao perdão, e sim à eliminação de tudo o que seja de 
natureza de pecado da alma. Por isso, a justificação, para eles, é 
puramente subjetiva, consistindo na destruição do pecado e na infusão de 
santidade. Em oposição a esta doutrina, os Reformadores mantiveram 
que por justificação as Escrituras se referem a algo diferente da 
santificação. Que os dois dons, embora inseparáveis, são distintos, e que 
a justificação, em lugar de ser um ato eficaz mudando o caráter interior 
do pecador, é um ato declarativo, anunciando e determinando sua relação 
com a lei e com a justiça de Deus. 
Em segundo lugar, os Símbolos da Reforma ensinam de maneira 
não menos explícita que a justificação não é simplesmente o perdão e a 
restauração. Inclui o perdão, mas inclui também uma declaração de que o 
crente é justo diante da lei. Tem direito a alegar uma justiça que dá 
completa satisfação a suas demandas. 
E por isso, em terceiro lugar, de maneira afirmativa, estes Símbolos 
ensinam que a justificação é um ato judicial ou forense, isto é, um ato de 
Deus como juiz procedendo com base na lei, declarando que o pecador é 
justo, isto é, que a lei já não o condena mais, mas o absolve e o declara 
com direito à vida eterna. 
Aqui, como em tantas outras ocasiões, a ambiguidade das palavras 
pode ocasionar uma situação problemática. A palavra grega δίκαιος 
(dikaios) e a palavra em português justo têm dois sentidos distintos. Às 
vezes expressam caráter moral. Quando dizemos que Deus é justo, 
referimo-nos ao fato de que Ele é reto. Está livre de toda imperfeição 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 166 
 
moral. De maneira que quando dizemos que um homem é justo, 
geralmente nos referimos a que é reto e honesto. Que é e faz o que deve 
ser e fazer. Neste sentido, a palavra expressa a relação que uma pessoa 
sustenta perante a norma da conduta moral. Mas em outras ocasiões estas 
palavras expressam não o caráter moral, mas a relação que alguém tem 
quanto à justiça. Neste sentido, é justo aquele homem com relação a 
quem a justiça está satisfeita; ou aquele para com quem a justiça não tem 
demandas. Por isso, os léxicos nos dizem que δίκαιος (dikaios) significa 
às vezes leges observans; em outras ocasiões insons, culpa vacans (livre 
de culpa ou de pena) – judicio Dei insons. Pilatos (Mt 27:24) disse: «Sou 
inocente do sangue deste justo», isto é, desta pessoa livre de culpa; livre 
de tudo que justifique sua condenação à morte. «Também Cristo», diz o 
Apóstolo, «padeceu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos», 
isto é, o inocente pelos culpados. Veja-se Romanos 2:13; 5:19. «Porque 
assim como pela desobediência de um homem, os muitos foram 
constituídos pecadores, assim também pela obediência de um, os muitos 
serão constituídos justos». «Como afirmado de judicandus em sua 
relação com o juiz, “justiça” expressa não uma virtude positiva, mas sim 
uma carência negativa de reatus. Na presença de seu juiz é צִַרּיק 
(tsadoq) aquele que está livre de culpa e de merecimento de castigo, seja 
porque não contraiu culpa alguma (como, por ex., Cristo), ou porque 
expiou a culpa contraída da maneira exigida pelo Juiz (no Antigo 
Testamento mediante um sacrifício expiatório)».144 Por isso, se 
tomarmos a palavra justo no primeiro dos dois sentidos mencionados, 
quando expressa caráter moral, seria uma contradição dizer que Deus 
pronuncia justo o pecador. Isto seria equivalente a dizer que Deus 
declara que o pecador não é pecador, que o ímpio é bom, que o ímpio é 
santo. Mas se tomarmos a palavra no sentido em que as Escrituras o 
empregam tão frequentemente, expressando relação com a justiça, então 
 
144 2. Christliche Dogmatik, von Johannes Heinrich August Ebrard, §402. edición Königsberg. 1852, 
Vol. II. pág. 163. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 167 
quando Deus declara justo o pecador declara simplesmente que sua culpa 
está expiada, que a justiça está satisfeita, que tem a justiça que demanda 
a equidade. Isto é precisamente o que Paulo diz, quando afirma que Deus 
«justifica o ímpio» (Rm 4:5). Deus não declara pio o ímpio; mas declara 
que, apesar de sua pecaminosidade e indignidade pessoais, é aceito como 
justo sobre a base do que Cristo fez por ele. 
 
Prova da doutrina recém-anunciada. 
O fato de que justificar não significa nem perdoar nem fazer 
inerentemente justo ou bom, fica demonstrado: 
 
Pelo uso da Escritura. 
1. Pelo uso uniforme do termo justificar nas Escrituras. Nunca se 
emprega em nenhum destes dois sentidos, mas sempre de declarar ou 
pronunciar justo. É desnecessário citar passagens como prova de um uso 
que é uniforme. Os seguintes exemplos serão suficientes. Deuteronômio 
25:1 [NKJV]: «Se houver contenda entre dois homens, e vierem a juízo, 
para que os juízes os julguem, justificarão o justo e condenarão o 
culpado.» Êxodo 23:7 - «Eu não justificarei o ímpio.» Isaías 5:23 [RC]: 
«Ai dos que justificam o ímpio por presentes.» Provérbios 17:15 [RC]: 
«O que justifica o ímpio e o que condena o justo abomináveis são para o 
SENHOR, tanto um como o outro.» Lucas 10:29 - «Ele, porém, 
querendo justificar-se.» Lucas 16:15 - «Vós sois os que os justificais a 
vós mesmos diante dos homens.» Mateus 11:19 - «A sabedoria é 
justificada por suas obras.» Gálatas 2:16 [RC]: «Sabendo que o homem 
não é justificado pelas obras da lei.» Gálatas 5:4 [RC]: «Vós os que vos 
justificais pela lei; da graça tendes caído.» Também desta maneira diz-se 
dos homens que justificam a Deus. Jó 32:2 [RC]: «Porque se justificava 
a si mesmo, mais do que a Deus.» Salmo 51:4 - «De maneira que serás 
tido por justo no teu falar e puro no teu julgar» Lucas 7:29 - «Todo o 
povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus.» 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 168 
A única passagem no Novo Testamento onde a palavra δικαιόω é 
usada num sentido diferente é Apocalipse 22:11, 6, ὁ δίκαιος, 
δικαιωθήτω ἔτι, “Quem é justo faça justiça ainda.” Aqui, o primeiro 
aoristo passivo parece ser utilizado num sentido médio, ‘Deixa-o 
mostrar-se justo, ou seguir justo.’ Inclusive se a leitura desta passagem 
fosse indubitável, este único caso não teria a força contra o uso 
estabelecido da palavra. A leitura, entretanto, não é meramente duvidosa, 
mas ela, na opinião da maioria dos editores críticos, Tischendorf entre os 
restantes, é incorreta. Eles dão, como texto verdadeiro, δικαιοσύνην 
ποιησάτω ἔτι. Ainda, como Wette pensa, se esta última leitura for uma 
glosa, isso mostra que ὁ δίκαιος δικαιωθήτω ἔτι era tão intolerável para 
um ouvido grego como a expressão: ‘Aquele que é justo, deixa-o 
justificar-se ainda,’ seria para nós. 
O uso da vida comum quanto a esta palavra é igualmente uniforme 
como o da Bíblia. Seria um solecismo absoluto dizer que um criminoso 
perdoado pelo governo está justificado; ou que um bêbado ou ladrão 
reformados estão justificados. A palavra expressa sempre um juízo, seja 
da mente, como quando um homem justifica a outro por sua conduta, ou 
oficialmente de um juiz. Se este é o sentido estabelecido do termo, 
deveria resolver toda controvérsia quanto à natureza da justificação. 
Estamos obrigados a tomar as palavras da Escritura em seu verdadeiro e 
estabelecido significado. E, por isso, quando a Bíblia diz que «Deus 
justifica o que crê», não temos direitoa dizer que significa que perdoa, 
ou que o santifica. Significa, e só pode significar, que o declara justo. 
 
Justificação é o oposto de Condenação. 
2. O anterior faz-se mais evidente pela antítese entre condenação e 
justificação. A condenação não é o contrário nem do perdão nem da 
reforma. Condenar é declarar culpado; ou digno de castigo. Justificar é 
declarar não culpado; ou que a justiça não demanda castigo; ou que a 
pessoa interessada não pode ser em justiça condenada. Assim, quando o 
Apóstolo diz (Rm 8:1): «Agora, pois, já nenhuma condenação há para os 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 169 
que estão em Cristo Jesus», está declarando que estão absolvidos de 
culpa; que a pena da lei não pode lhes ser em justiça infligida. «Quem», 
pergunta ele, «intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus 
quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu» 
(vv. 33,34). Não se pode apresentar razão alguma de condenação contra 
os escolhidos de Cristo. Deus os declara justos, e por isso ninguém pode 
declará-los culpados. 
Esta passagem é certamente decisiva contra a doutrina da 
justificação subjetiva em qualquer de suas formas. Esta oposição entre a 
condenação e a justificação é familiar tanto na Escritura e na vida 
comum. Jó 9:20 [RC]: “Se eu me justificar, a minha boca me 
condenará.” Jó 34:17 - “Quererás tu condenar aquele que é justo e 
poderoso?” Se condenar não significa fazer o mal, justificar não significa 
fazer o bem. E se a condenação é uma condenação judicial, em lugar de 
um ato executivo, assim o é a justificação. Na condenação é um juiz 
quem dita sentença ao culpado. Na justificação é um juiz quem 
pronuncia ou quem declara a pessoa processada livre de culpa e com 
direito a ser tratada como justa. 
 
Argumento com base em formas equivalentes de expressão. 
3. As formas de expressão que se empregam como equivalentes da 
palavra «justificar» determinam de maneira clara a natureza do ato. 
Assim, Paulo refere-se a «bem-aventurado o homem a quem Deus 
imputa a justiça sem as obras» (Rm 4:6, RC). Imputar justiça não é 
perdoar; nem santificar. Significa justificar, isto é, atribuir justiça. A 
forma negativa em que se descreve a justificação é igualmente 
significativa: «Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são 
perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a 
quem o Senhor jamais imputará pecado» (Rm 4:7,8). Porquanto 
«imputar pecado» nunca significa nem pode significar fazer ímpio; 
tampouco a declaração negativa «não imputar nenhum pecado» pode 
significar santificar. E como «imputar pecado» significa pôr o pecado à 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 170 
conta de alguém e tratá-lo de maneira lembre, igualmente justificar 
significa pôr a justiça à conta de alguém, e tratá-lo desta maneira. «Deus 
enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo ... Quem 
crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado» (Jo 
3:17, 18, RC). 
Porque «como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os 
homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a 
graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida» (Rm 5:18). 
Foi κρῖμα (krima), uma sentença judicial, o que veio sobre os homens 
pela ofensa de Adão, e é uma sentença judicial (justificação, uma 
δικαίωσις [dikaiösis]) o que vem pela justiça de Cristo, ou, como é dito 
no v. 16 do mesmo capítulo, foi uma κρῖμα εἰς κατάκριμα (krima eis 
katakrima), uma sentença condenatória a qual veio por um uma 
transgressão; e uma χάρισμα εἰς δικαίωμα (charisma eis dikaiöma), uma 
sentença de justificação gratuita de muitas transgressões. A linguagem 
não pode ser mais clara. Se uma sentença de condenação é um ato 
judicial, então a justificação é um ato judicial. 
 
Argumento com base no enunciado da doutrina. 
4. O caráter judicial da justificação está envolvido na maneira em 
que a doutrina é apresentada na Bíblia. As Escrituras falam da lei, de 
suas demandas, de sua pena, de pecadores levados a comparecer perante 
o tribunal de Deus, do dia do juízo. A pergunta é: Como se justificará o 
homem diante de Deus? A resposta a esta pergunta determina o método 
de salvação. A pergunta não é: como pode o homem fazer-se santo, mas 
sim, como pode chegar a ser justo? Como pode dar satisfação às 
demandas da justiça contra ele? É evidente que se em Deus não existisse 
o atributo de justiça, que se o que chamamos justiça fosse apenas 
benevolência, então esta pergunta não teria base. Não se demandaria que 
o homem fosse justo para poder ser salvo. Não haveria demandas da 
justiça que satisfazer. O arrependimento seria tudo o que é necessário 
como condição para ser restaurado ao favor de Deus. Ou qualquer 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 171 
declaração ou exibição didática do desagrado de Deus com relação ao 
pecado abriria o caminho para o seguro perdão dos pecadores. Ou, se as 
exigências da justiça fossem facilmente satisfeitas; se uma obediência 
parcial e imperfeita e algumas disciplinas paternas, ou penitências 
autoinfligidas, fossem suficientes para dar satisfação a suas demandas, 
então um pecador não teria que ser justo para com Deus para poder ser 
salvo. Mas a alma humana sabe intuitivamente que estes são refúgios de 
mentiras. Sabe que existe o atributo da justiça. Sabe que as demandas da 
justiça são inexoráveis porque são retas. Sabe que não pode ser salvo a 
não ser que seja justificado, e sabe que não pode ser declarado justo a 
não ser que as demandas da justiça sejam plenamente satisfeitas. 
Perspectivas deficientes a respeito do mal do pecado e da justiça de Deus 
encontram-se na base de todas as perspectivas falsas desta grande 
doutrina. 
 
O argumento do Apóstolo na Epístola aos Romanos. 
O Apóstolo começa a discussão deste tema assumindo que a justiça 
de Deus, Seu propósito de castigar todo pecado, de demandar uma 
perfeita conformidade com a lei, é revelada do céu, isto é, revelada de tal 
maneira que ninguém – judeu ou gentio – pode negá-la (Rm 1:18). Os 
homens, inclusive o mais degradado dos pagãos, conhecem o justo juízo 
de Deus, de que os que pecam merecem a morte (v. 32). Logo demonstra 
que todos os homens são pecadores, e que, sendo pecadores, estão sob 
condenação. Todo mundo está «sob o juízo de Deus» (Rm 3:19, TB). 
Desta infere como intuitivamente certo (porque é sinceramente incluído 
nas premissas), que nenhum ser humano pode justificar-se diante de 
Deus «pelas obras da lei», isto é, sobre a base de seu próprio caráter e 
conduta. Se é culpado, não pode ser declarado não culpado, ou justo. No 
argumento de Paulo, justificar é declarar justo. Δίκαιος (Dikaios) é o 
oposto de ὑπόδικος (hupodikos, quer dizer, “reus, satisfactionem alteri 
debens”). Isto é, justo é oposto de culpado. Declarar culpado é condenar. 
Declarar justo, isto é, não culpado, é justificar. Se alguém nega a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 172 
autoridade da Escritura, ou se sente-se livre para rejeitar a forma da 
doutrina, conquanto mantém o que considera sua substância, é 
concebível que possa negar que a justificação é um ato judicial; mas 
parece impossível que alguém possa negar que assim esteja apresentada 
na Bíblia. 
Alguns homens que professam crer na Bíblia, negam que há algo 
sobrenatural na obra da regeneração e da santificação. ‘Nascer do 
Espírito;’ ‘vivificado pelo grande poder de Deus,’ ‘criado de novo em 
Cristo Jesus,’ são só, dizem eles, fortes expressões orientais para uma 
reforma autoforjada. Mediante um processo similar é fácil livrar-se não 
só da doutrina da justificação como ato judicial, mas de todas as outras 
doutrinas distintivas das Escrituras. Entretanto, isto não é interpretar, e 
sim perverter. 
O Apóstolo, tendo ensinado que Deus é justo, isto é, que Ele 
demanda a satisfação da justiça, e que os homens são pecadores e que 
não podem dar tal satisfação eles mesmos, anuncia que estajustiça é 
provida, e que está revelada no Evangelho. Não é nossa própria justiça, 
que é da lei, mas a justiça de Cristo, e por isso, a justiça de Deus, em 
virtude da qual, e sobre cuja base, Deus pode ser justo e, entretanto, 
justificar o pecador que crê em Cristo. Embora a Bíblia se mantenha, 
esta deve manter-se como uma simples declaração da qual Paulo ensina 
quanto ao método da salvação. Os homens podem disputar quanto ao que 
quer dizer, mas é isto certamente o que ele diz. 
 
Argumento derivado da base da justificação. 
5. A natureza da justificação é determinada por sua base. Esta, 
certamente, é uma antecipação de outra parte do tema, mas é oportuno 
aqui. Se a Bíblia ensina que a base da justificação, a razão pela qual 
Deus nos redime da pena da lei e nos aceita como justos diante dEle, é 
algo fora de nós, algo feito por nós, e não o que fazemos nem 
experimentamos, então, segue-se necessariamente que a justificação não 
é subjetiva. Não consiste na infusão de justiça, nem em fazer a pessoa 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 173 
justificada pessoalmente santa. Se a «causa formal» de nossa justificação 
fosse nossa bondade, então somos justificados pelo que somos. Mas a 
Bíblia ensina que nenhum ser humano pode ser justificado pelo que é. 
Está condenado pelo que é e pelo que faz. Está justificado pelo que 
Cristo fez por ele. 
 
A justificação não é mero perdão. 
Pela mesma razão, a justificação não pode ser mero perdão. O 
perdão não procede sobre a base de uma satisfação. Um detento libertado 
por um resgate não foi perdoado. Um devedor cujas obrigações foram 
canceladas por um amigo tem direito à liberdade das demandas de seu 
credor. Quando um soberano perdoa um criminoso, não é um ato de 
justiça. Não é com base na satisfação da lei. Por isso, a Bíblia, ao ensinar 
que a justificação é sobre a base de uma expiação ou satisfação; que a 
culpa do pecador é expiada; que foi redimido pelo precioso sangue de 
Cristo; e que se emitiu sobre ele a declaração judicial de que é justo, 
ensina-nos com isso que a justificação não é nem perdão nem infusão de 
justiça. 
 
Argumento com base na imutabilidade da lei. 
6. A doutrina de que a justificação consiste simplesmente no perdão 
e na conseguinte restauração pressupõe que a lei divina é imperfeita e 
mutável. Entre os governos humanos é, com frequência, conveniente e 
correto que homens justamente condenados a sofrer a pena da lei sejam 
perdoados. As leis humanas devem ser gerais. Não podem entrar em 
todas as circunstâncias de cada caso particular. Sua execução com 
frequência resultaria em dificuldades ou injustiças. Por isso, os juízos 
humanos podem ser, com frequência, deixados de lado. Não é assim com 
a lei divina. A lei do Senhor é perfeita. E nada perfeito pode ser 
descuidado. Não demanda nada que não deva ser demandado. Não 
ameaça com nada que não deva ser infligido. De fato, é seu próprio 
executor. O pagamento do pecado é a morte (Rm 8:6). A justiça de Deus 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 174 
faz o castigo tão inseparável como a vida a é da santidade. A pena da lei 
é imutável, e tão pouco suscetível de ser lançada de lado como o 
preceito. Por isso, as Escrituras ensinam em todo lugar que na 
justificação do pecador não há relaxação da pena. As demandas da lei 
não são deixadas de lado nem descuidadas. Somos libertados da lei não 
por sua ab-rogação, mas por sua execução (Gl 2:19). Somos libertados 
da lei pelo corpo de Cristo (Rm 7:4). Cristo, ao tomar nosso lugar, levou 
nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro (1Pe 2:24). O 
documento de dívida contra nós Ele o cancelou, cravando-o em Sua cruz 
(Col 2:14). Por isso é que não estamos debaixo da lei, mas debaixo da 
graça (Rm 7:14). Estas descrições são incompatíveis com a teoria que 
supõe que a lei pode ser passada por alto; que a restauração dos 
pecadores ao favor e à comunhão de Deus não demandam a satisfação de 
suas exigências, que o crente é perdoado e restaurado à comunhão com 
Deus da mesma maneira em que um ladrão ou falsificador são perdoados 
e restaurados aos seus direitos civis por um governante humano. Isto está 
contra as Escrituras. Deus é justo ao justificar o pecador. Ele age de 
acordo com a justiça. 
Observar-se-á que tudo nesta discussão gira sobre a questão quanto 
a se em Deus existe o atributo da justiça. Se a justiça fosse apenas 
«benevolência conduzida por sabedoria», então não há justificação. O 
que os cristãos evangélicos consideram como tal seria só o perdão ou a 
santificação. Mas se Deus, como nos ensinam as Escrituras e a 
consciência, é um Deus justo, tão imutável em Sua justiça como em Sua 
bondade e verdade, então não pode haver remissão da pena do pecado, 
exceto sobre a base da satisfação da justiça; e, por isso, a justificação tem 
que ser um ato judicial, e não um mero perdão ou infusão de justiça: 
estas doutrinas se sustentam umas às outras. O que a Bíblia ensina da 
justiça de Deus demonstra que a justificação é uma declaração judicial 
de que a justiça ficou satisfeita. E o que a Bíblia ensina a respeito da 
natureza da justificação demonstra que a justiça em Deus é algo mais 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 175 
que benevolência. Assim é que estão concatenadas todas as grandes 
doutrinas da Bíblia. 
 
Argumento com base na natureza de nossa união com 
Cristo. 
7. A teoria que reduz a justificação ao perdão e a suas 
consequências não é consequente com a que se revela a respeito de nossa 
união com Cristo. Esta união é mística, sobrenatural, representativa e 
vital. Estávamos nEle antes da fundação do mundo (Ef 1:4); estamos 
nEle como estivemos em Adão (Rm 5:12, 21; 1Co 15:22); estamos nEle 
como os membros do corpo estão na cabeça (Ef 1:23; 4:16; 1Co 
12:12,27; e em muitas passagens); estamos nEle como os ramos estão na 
videira (Jo 15:1-12). Estamos nEle em tal sentido que Sua morte é nossa 
morte, fomos crucificados com Ele (Gl 2:20; Rm 6:1-8); estamos unidos 
com Ele de tal maneira que ressuscitamos com Ele, e com Ele estamos 
assentados nos lugares celestiais (Ef 2:1-6). Em virtude desta união 
somos (em nossa medida) o que Ele é. Somos nEle filhos de Deus. E o 
que Ele fez, nós fizemos. Sua exaltação é nossa exaltação. Esta é a 
descrição que satura as Escrituras. Tudo isto é passado por alto pelos 
proponentes da teoria oposta. Segundo este ponto de vista, Cristo não 
está mais unido a Seu povo, exceto em sentimento, que a outros homens. 
Simplesmente tem feito aquilo que faz consistente com o caráter de Deus 
e com os interesses de Seu reino o perdoar a qualquer e todo homem que 
se arrependa e creia. Sua relação é puramente externa. Não está unido de 
tal maneira a Seu povo que Seu mérito venha a ser o mérito deles e Sua 
vida a vida deles. Cristo não é neles a esperança da glória (Col 1:27). Ele 
não foi feito por Deus para eles sabedoria, justiça, santificação e 
redenção (1Co 1:30). Não estão nEle de maneira que em virtude desta 
união, estejam cheios de toda a plenitude de Deus (Col 2:10 e Ef 3:19). 
Por outro lado, a doutrina Protestante da justificação harmoniza com 
todas estas descrições. Se estamos unidos com Cristo de tal maneira que 
somos feitos partícipes de Sua vida, somos também partícipes de Sua 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 176 
justiça. O que Ele fez ao obedecer e sofrer, Ele o fez pelo Seu povo. Um 
elemento essencial de Sua obra redentora foi satisfazer as demandas da 
justiça em favor deles, de maneira que nEle e por causa dEle têm título 
ao perdão e à vida eterna. 
 
Argumentos com base nos efeitos adscritos à justificação. 
8. As consequências atribuídas à justificação são inconsequentes 
com a pressuposição de que consista quer no perdão, quer na infusão de 
justiça. Estas consequências são a paz, a reconciliação, e o direito à vida 
eterna. «Justificados, pois, pela fé,» diz o Apóstolo, «temos paz com 
Deus» (Rm 5:1). Mas o perdãonão produz paz. Deixa a consciência 
insatisfeita. Um criminoso perdoado não é só tão criminoso como era 
antes, mas o seu sentimento de culpa e de remorso de consciência não 
ficam diminuídos em grau algum. O perdão só pode eliminar a pena 
externa e arbitrária. O aguilhão do pecado permanece. Não pode haver 
paz da mente até que a justiça seja satisfeita. A justificação obtém a paz 
não só porque inclui o perdão, mas porque este perdão é dado sobre a 
base de uma plena satisfação da justiça. O que dá satisfação à justiça de 
Deus dá satisfação à consciência do pecador. O sangue de Jesus Cristo 
purifica de todo pecado (1Jo 1:7), tirando a culpa, e produzindo assim 
uma paz que sobrepuja a todo entendimento. Quando a alma vê que 
Cristo levou seus pecados sobre a cruz, suportando a pena em que ela 
tinha incorrido; que todas as demandas da lei são plenamente satisfeitas; 
que Deus é mais honrado em Seu perdão que em Sua condenação; que 
todos os fins do castigo são consumados pela obra de Cristo num grau 
muito mais elevado que poderiam ser com a morte do pecador; e que tem 
direito a alegar o infinito mérito do Filho de Deus perante o tribunal da 
justiça divina, então é satisfeita. Então tem paz. É humilde. Não perde o 
sentimento de seu demérito pessoal, mas a consciência deixa de pedir 
satisfação. Sabe-se que, com frequência, os criminosos se entregam à 
justiça. Não podem descansar até que não recebam o castigo. A inflição 
da pena em que tinham incorrido lhes dá paz. Este é um elemento na 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 177 
experiência do cristão. O pecador sentenciado nunca pode encontrar a 
paz até que deixa sua carga de pecado sobre o Cordeiro de Deus; até que 
é consciente de que seus pecados foram castigados, como o diz o 
Apóstolo (Rm 8:3), em Cristo. 
Também é dito que somos reconciliados com Deus mediante a 
morte de Seu Filho (Rm 5:10). Mas o perdão não obtém a reconciliação. 
Um criminoso perdoado pode ser restaurado aos seus direitos civis, até 
onde a pena aplicada envolvia a perda dos mesmos, mas não é 
reconciliado com a sociedade. Não é restaurado ao favor da mesma. 
Entretanto, a justificação obtém uma restauração ao favor e à comunhão 
de Deus. Somos feitos filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo (Gl 3:26). 
Ninguém pode ler o oitavo capítulo da Epístola aos Romanos sem chegar 
à convicção de que no pensamento de Paulo um crente justificado é algo 
mais que um criminoso perdoado. É um homem cuja salvação está 
assegurada porque está livre da lei e de todas as suas demandas; porque a 
justiça da lei (isto é, todos os seus justos requerimentos) foi cumprida 
nele; porque está unido de tal maneira a Cristo que vem a ser partícipe de 
Sua vida; porque ninguém pode acusar de nada aqueles pelos quais 
Cristo morreu e aos quais Deus justificou; e porque tais crentes, ao ser 
justificados, são revelados como os objetos do misterioso, imutável e 
infinito amor de Deus. 
Também, a justificação inclui ou comunica um título à vida eterna. 
O perdão é puramente negativo. Simplesmente remove uma penalidade. 
Não confere nenhum título a benefícios não desfrutados previamente. 
Entretanto, a vida eterna suporta a condição de uma obediência perfeita. 
O pecador meramente perdoado não tem tal obediência. Está destituído 
daquilo que, pelos imutáveis princípios do governo divino, é a condição 
indispensável para a vida eterna. Não tem direito à herança prometida 
aos justos. Não é esta a condição do crente. O mérito de Cristo tem 
direito à recompensa. E o crente, ao ser partícipe deste mérito 
compartilha este título. Isto está constantemente reconhecido nas 
Escrituras. Pela fé em Cristo viemos a ser filhos de Deus. Mas a filiação 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 178 
envolve a condição de herdeiros, e a condição de herdeiros implica um 
título à herança. «Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, 
herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo» (Rm 8:17). Esta é a 
doutrina que se ensina em Romanos 5:12-21. Pela transgressão de um, 
passou o juízo sobre todos os homens para condenação. Pela justiça de 
um, passou sobre todos os veredictos de justificação de vida; isto é, de 
uma justificação que dá título à vida. Assim como o pecado de Adão foi 
a base judicial para nossa condenação (isto é, foi a base sobre a qual a 
justiça demandava condenação), assim a justiça de Cristo é a base 
judicial para a justificação. Isto é, é a base sobre a qual a vida prometida 
aos justos deve ser em justiça concedida ao crente. A Igreja, em todas as 
idades, reconheceu esta verdade. Os crentes sempre creram que tinham 
título à vida eterna. Por isso têm louvado a Deus com os cânticos mais 
sublimes. Sempre têm considerado como intuitivamente certo que o céu 
tem que ser merecido. A única questão era: Se o mérito está neles, ou em 
Cristo. Estando em Cristo, era-lhes um dom gratuito para eles; e assim a 
justiça e a paz se beijaram. A graça e a justiça se unem em pôr a coroa de 
justiça sobre a cabeça do crente. 
Não é menos certo que as consequências atribuídas à justificação 
não resultam da infusão de justiça. A quantidade de santidade possuída 
pelo crente não lhe dá paz. Nem a santidade perfeita eliminaria a culpa. 
O arrependimento não expia o crime do assassinato. Não faz calar a 
consciência do assassino. Não dá satisfação ao sentimento de justiça na 
mente do público. É o πρῶτον ψεῦδος (pröton pseudos) do Romanismo e 
de todas as teorias de justificação subjetiva o fato de que nada fazem da 
culpa ou a reduzem a um mínimo. Se não existisse a culpa, então a 
infusão da justiça seria tudo o que é necessário para a salvação. Mas se 
há justiça em Deus, então nenhuma quantidade de santidade pode expiar 
o pecado, e a justificação não pode consistir em fazer santo o pecador. 
Além disso, inclusive admitindo que se pudesse ignorar o passado, que a 
culpa que gravita sobre a alma pudesse ser passada por alto tão 
facilmente ou tão facilmente removida, a justiça subjetiva, ou a 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 179 
 
santidade, é tão imperfeita que nunca daria paz ao crente. Que o mais 
santo dos homens olhe ao seu interior, e que diga se o que vê ali dá 
satisfação à sua consciência. Se não, como pode dar satisfação a Deus? 
Ele é maior que nossos corações e conhece todas as coisas. Por isso, 
ninguém pode ter paz com Deus com base no que ele é ou do que faz. 
Os Romanistas admitem que só a perfeição da santidade justifica ou 
dá paz à alma. Em resposta ao argumento protestante fundado nessa 
admissão, Belarmino diz:145 “Hoc argumentum, si quid probat, probat 
justitiam actualem non esse perfectam: non autem probat, justitiam 
habitualem, qua formaliter justi sumus, . . . . non esse ita perfectam, ut 
absolute, simpliciter, et proprie justi nominemur, et simus. Non enim 
formaliter justi sumus opere nostro, sed opere Dei, qui simul maculas 
peccatorum tergit, et habitum fidei, spei, et caritatis infundit. Dei autem 
perfecta sunt opera. . . . . Unde parvuli baptizati, vere justi sunt, quamvis 
nihil operis fecerint.” Novamente: “Justitia enim actualis, quamvis 
aliquo modo sit imperfecta, propter admixtionem venalium delictorum, 
et egeat quotidiana remissione peccati, tamen non propterea desinit esse 
vera justitia, et suo etiam quodam modo perfecta.” 
Nenhuma provisão faz-se neste sistema para a culpa. Se a alma é 
feita santa pela infusão de hábitos ou de princípios, da graça, isso é justo 
aos olhos de Deus. Nenhuma culpa ou merecimento da pena permanece. 
Diz Belarmino:146 “Reatus est relatio,” mas se a coisa da qual uma 
relação é tirada, onde está a relação. É impossível que esse ponto de vista 
da justificação possa dar paz. Não faz nenhuma provisão para a 
satisfação da justiça, e coloca todas as nossas esperanças no que está 
dentro, que nossa consciência testifica que não pode satisfazer as justas 
exigências de Deus. 
Tampouco pode a teoria da justificaçãosubjetiva considerar a 
reconciliação com Deus, e pelas mesmas razões. O que é infundido, o 
 
145 De Justificatione, ii. 14; Disputationes, edit. Paris, 1608, vol. iv. p. 819, a, b. 
146 De Amissione Gratiæ et Statu Peccati, v. 7; Ibid. p. 287. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 180 
 
grau de santidade comunicada, não nos dão os objetos da complacência e 
amor divinos. Seu amor por nós é da natureza da graça, o amor ao 
desagradável. Somos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho. 
Isto remove o obstáculo resultante da justiça ao fluir para conosco do 
misterioso, imerecido amor de Deus. Somos aceitos no Amado. Não 
estamos em nós mesmos aptos para a comunhão com Deus. E se 
dirigidos a depender do que está dentro, em nossa justiça subjetiva, em 
lugar de paz devemos ter desespero. 
De novo, a justificação segundo as Escrituras dá um título à vida 
eterna. Porque esta nossa justiça própria é totalmente inadequada. Bem 
longe de que nada em nós seja meritório, ou com direito a recompensa, o 
estado interior e os exercícios dos mais santos dos homens chegam a 
estar tão longe da perfeição que merecem a condenação. Em nós não 
habita o bem. Quando queremos fazer o bem, o mal está presente 
conosco. Há sempre uma lei em nossos membros que guerreia contra a 
lei da mente. O pecado que habita em nós, permanece. Inclusive levou a 
Paulo a clamar: «Desventurado homem que sou! Quem me livrará do 
corpo desta morte?» (Rm 7:24.) «Jamais se achou obra nenhuma, por 
mais santo que fosse aquele que a realizou, que examinada com o rigor 
do juízo divino, não resultasse digna de condenação.»147 Ignorando esta 
clara verdade da Escritura e da experiência divina que se expressa a si 
mesma em confissão, humilhação e orações diárias e frequentes pelo 
perdão, a doutrina da justificação subjetiva supõe que não há pecado no 
crente, nem pecado que mereça a condenação de Deus, mas pelo 
contrário que nele há aquilo que merece a vida eterna. 
Os Romanistas fazem uma distinção entre uma primeira e uma 
segunda justificação. A primeira admitem que é gratuita, e que se baseia 
no mérito de Cristo, ou antes, que é outorgada gratuitamente por causa 
de Cristo. Esta consiste na infusão da graça habitual (isto é, a 
 
147 Calvino, Institución de la Religión Cristiana, Libro III, cap. XIV, 11; FELIRE, Rijswijk 1968, 
Vol.1, pág. 601. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 181 
 
regeneração). Justifica fazendo a alma subjetivamente justa ou santa. A 
segunda justificação não é assunto da graça. Está baseada no mérito das 
boas obras, os frutos da regeneração. Mas se estes frutos estão, como o 
testifica nossa consciência, contaminados pelo pecado, como podem 
merecer a vida eterna? Como podem cancelar o documento de dívida 
contra nós? Como podem ser a base da confiante provocação de Paulo: 
«Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?» A base de nossa 
confiança e nosso título à vida eterna não é o que está dentro de nós, 
senão fora; não o que somos ou fazemos, mas o que Cristo é e tem feito. 
Esta é a doutrina admitida da Reforma Protestante. «Apud theologos 
Augustanæ confessionis extra controversiam positum est», diz a 
«Fórmula de Concórdia»,148 «totam justitiam nostram extra nos, et extra 
omnium hominum merita, opera, virtutes dignitatem quærendam, 
eamque in solo Domino nostro, Jesu Christo consistere». Assim como os 
céus estão mais altos do que a terra, assim é alta a esperança baseada na 
obra de Cristo por nós, acima de uma esperança baseada no mérito de 
nada que tenha sido operado em nós. Calvino ensina a mesma doutrina 
que Lutero.149 
Ele cita Lombardo, dizendo que nossa justificação em Cristo pode 
ser interpretada de duas maneiras: “Primum, mors Christi nos justificat, 
dum per eam excitatur caritas in cordibus nostris, qua justi efficimur: 
deinde quod per eandem exstinctum est peccatum; quo nos captivos 
distinebat diabolus, ut jam non habeat unde nos damnet.” Ao que 
Calvino responde: “Scriptura autem, quem de fidei justitia loquitur, 
longe alio nos ducit: nempe ut ab intuitu operum nostrorum aversi, in 
Dei misericordiam ac Christi perfectionem, tantum respiciamus. . . . . Hic 
est fidei sensus, per quem peccator in possessionem venit suæ salutis, 
dum ex Evangeli doctrina agnoscit Deo se reconciliatum: quod 
intercedente Christi justitia, impetrata peccatorum remissione, 
 
148 Solida Declaratio, III. 55; Hase, Libri Symbolici, 3d edit. Leipzig, 1846, p. 695. 
149 Ibíd., Libro III, cap. XI, 15, 16. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 182 
justificatus sit: et quanquam Spiritu Dei regeneratus, non in bonis 
operibus, quibus incumbit, sed sola Christi justitia repositam sibi 
perpetuam justitiam cogitat.” 
O fato de que a justificação não é meramente o perdão, e que não é 
uma infusão de justiça mediante a qual o pecador seja feito 
inerentemente justo ou santo, mas um juízo que Deus emite de que as 
demandas da lei e com relação ao crente estão satisfeitas, e que tem 
título a uma justiça que lhe dá direito à vida eterna, foi argumentado: (1) 
Com base no uso uniforme do termo na Escritura tanto no Antigo como 
no Novo Testamento. (2) Com base na constante oposição entre 
justificação e condenação. (3) Com base nas equivalentes formas de 
expressão. (4) Com base em todo o desígnio e corrente do argumento do 
Apóstolo em Suas epístolas aos Romanos e aos Gálatas. (5) Com base na 
justificação, isto é, a justiça de Cristo. (6) Com base na imutabilidade da 
lei e da justiça de Deus. (7) Com base na natureza de nossa união com 
Cristo. (8) Com base no fato de que a paz, a reconciliação com Deus e o 
título à vida eterna que, segundo as Escrituras, são as consequências da 
justificação, não surgem nem do mero perdão, nem da justiça subjetiva, 
nem da santificação. E não se pode duvidar de que esta seja a doutrina 
Protestante tanto a Luterana como a Reformada. 
 
A doutrina de Calvino. 
É certamente coisa certa que da parte dos primeiros Reformadores, 
e especialmente da parte de Calvino, diz-se com frequência que a 
justificação consiste no perdão dos pecados. Mas é evidente que isto não 
tem a intenção de negar o caráter judicial da justificação, nem excluir a 
imputação da justiça de Cristo, é óbvio: 
1. Pela qual o crente é considerado justo à vista da lei, pela própria 
natureza da controvérsia na que estavam imersos estes Reformadores. A 
questão entre eles e os Romanistas era: Consiste a justificação no ato 
pelo qual Deus faz o pecador inerentemente justo ou santo? Ou expressa 
o veredicto de Deus pelo qual o crente é declarado justo? O que Calvino 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 183 
negava era que a justificação seja a santificação. O que ele afirmava era 
que era livrar o crente da condenação da lei, introduzindo-o a um estado 
de favor para com Deus. Os Romanistas expressaram sua doutrina, 
dizendo que a justificação consiste na remissão do pecado e na infusão 
da caridade ou justiça. Mas por remissão do pecado significavam a 
erradicação do pecado; o tirar o velho homem. Em outras palavras, para 
eles a justificação consistia (para empregar a linguagem escolástica então 
em voga) na remoção dos hábitos de pecado e na infusão de hábitos de 
graça. Assim, naqueles justificados não havia pecado, e, portanto, nada 
que castigar. Por isso, o perdão seguia como consequência necessária. 
Era um mero acessório. Esta perspectiva deixa a culpa em nada; deixa 
em nada as demandas da justiça. Portanto, Calvino insistiu em que além 
da renovação subjetiva conectada com a conversão do pecador, sua 
justificação tinha que ver com a remoção da culpa, a satisfação da 
justiça, que na ordem natural, embora não na temporal, tem que preceder 
à comunicação da vida de Deus à alma. O fato de que Calvino não 
diferia a respeito desta questão dos outros Reformadores e de todo o 
corpo da IgrejaReformada aparece em suas próprias e explícitas 
declarações, e nos enunciados perfeitamente precisos das Confissões às 
quais deu seu assentimento. Assim, ele diz: «E para que não tropecemos 
do primeiro passo (como sucederia se começássemos a disputar sobre 
uma coisa incerta e desconhecida) convém que primeiro declaremos o 
que querem dizer expressões como o homem é justificado diante de 
Deus; que é justificado pela fé, ou pelas obras. 
«Diz-se que é justificado diante de Deus aquele que é reputado por 
justo diante do juízo divino e aceito a sua justiça. Porque como Deus 
abomina a iniquidade, o pecador não pode achar graça em sua presença 
assim que é pecador, e enquanto é tido como tal. Por isso, onde quer que 
há pecado, ali se mostra a ira e o castigo de Deus. De modo que, chama-
se justificado aquele que não é tido por pecador, mas por justo, e com 
este título aparece diante do tribunal de Deus, perante o qual todos os 
pecadores são confundidos e não se atrevem a comparecer. Como 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 184 
 
quando um homem inocente é acusado perante um juiz justo, depois de 
ser julgado conforme a sua inocência, diz-se que o juiz o justificou; do 
mesmo modo diremos que é justificado diante de Deus o homem que 
separado do número dos pecadores, tem a Deus como testemunha de sua 
justiça e encontra nele aprovação. 
«Deste modo diremos de um homem que é justificado pelas obras, 
quando em sua vida há tal pureza e santidade que merece o título de 
justiça diante do tribunal de Deus; ou que ele com a integridade de suas 
obras pode responder e satisfazer a critério do juízo de Deus. 
«Ao contrário, será justificado pela fé aquele que, excluído das 
obras, alcança a justiça da fé, revestido com a qual, apresenta-se perante 
a majestade divina, não como pecador mas como justo. Desta maneira 
afirmamos nós em resumo, que nossa justificação é a aceitação com que 
Deus nos recebe em sua graça e nos tem por justos. E dizemos que 
consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo.»150 
Esta passagem é decisiva quanto à postura de Calvino, porque é 
expressamente uma declaração formal do estado da questão, dada com a 
maior clareza e precisão. A justificação consiste «na remissão de 
pecados e a imputação da justiça de Cristo.» «Está justificado diante de 
Deus aquele que é tirado da classe de pecadores, e que tem a Deus por 
testemunha e declarante de sua justiça.» 
 
§ 3. As obras não são a base da justificação. 
 
Com referência aos homens desde a Queda, é tão explícita e 
repetida a declaração de que a justificação não é pelas obras, que nunca 
esta proposição foi posta em tela de juízo da parte daqueles que 
professam receber as Escrituras como a Palavra de Deus. Ao ser 
expressamente declarado que todo mundo é culpado diante de Deus, que 
pelas obras da lei nenhum ser humano se justificará diante de Deus, o 
 
150 Institución de la Religión Cristiana. Libro III, cap. XI, 2; FELIRE, Rijswijk 1968, págs. 557,558. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 185 
 
único ponto que fica aberto à discussão é: O que se significa por obras da 
lei? 
A esta pergunta deram-se as seguintes respostas: Primeiro, que por 
obras da lei se significam as obras prescritas na lei judaica. Supõe-se que 
como a controvérsia de Paulo era com os que ensinavam que a não ser 
que os conversos se circuncidassem e guardassem a lei de Moisés não 
podiam ser salvos (At 15:1,24), que tudo o que ele queria ensinar era o 
inverso desta proposição. Deve-se entendê-lo como dizendo que a 
observância dos ritos e cerimônias dos judeus não são essenciais para a 
salvação; que os homens não são feitos justos ou bons mediante obras 
cerimoniais externas, mas por obras moralmente boas. Este é o terreno 
assumido pelos Pelagianos e pela maioria dos modernos Racionalistas. É 
só uma modificação deste ponto de vista que os homens não são 
justificados, quer dizer, que seu caráter diante de Deus não é 
determinado tanto por seus atos particulares ou as obras, como por sua 
disposição e pelos princípios gerais de controle. Ser justificado pela fé, 
portanto, é ser justificado sobre a base de nossa confiança, ou pela 
confiança em Deus piedoso e a verdade. 
Assim Wegscheider151 diz: “Homines non singulis quibusdam recte 
factis operibusque operatis, nec propter meritum quoddam iis 
attribuendum, sed sola vera fide, i.e., animo ad Christi exemplum 
ejusdemque præcepta composito et ad Deum et sanctissimum et 
benignissimum converso, ita, ut omnia cogitata et facta ad Deum ejusque 
voluntatem sanctissimam pie referant, Deo vere probantur et 
benevolentiæ Dei confisi spe beatitatis futuræ pro dignitate ipsorum 
morali iis concedendæ certissima imbuuntur.” 
Steudlin152 expressa a mesma posição: «Toda verdadeira reforma, 
toda boa ação», diz ele, «deve brotar da fé, sempre que por fé 
compreendamos a convicção de que algo é correto, uma convicção de 
 
151 Institiones Theologiæ, III. iii. § 155, 5th edit. Halle, 1826, p. 476. 
152 Dogmatik, 2ter Theil, §134, B, g, h; Gottingen, 1800, págs. 783, 784. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 186 
 
princípios morais generais e religiosos». Kant diz que Cristo num 
aspecto religioso é o ideal da humanidade. Quando um homem o 
considera de tal maneira e trata de conformar seu coração e vida a este 
ideal, é justificado pela fé.153 Segundo todas estas posturas, as meras 
obras cerimoniais são excluídas, e a base da justificação vem a ser nosso 
próprio caráter natural moral e nossa conduta. 
 
A doutrina Romanista. 
Segundo: A doutrina dos Romanistas a respeito deste ponto é muito 
mais elevada. O Romanismo retém o elemento sobrenatural do 
cristianismo em sua totalidade. Na verdade, é motivo de devota gratidão 
a Deus que por baixo dos numerosos, graves e destrutivos erros da Igreja 
Romanista, são preservadas as grandes verdades do Evangelho. A 
Trindade, a verdadeira divindade de Cristo, a verdadeira doutrina a 
respeito de Sua pessoa como Deus e homem em duas naturezas distintas 
e uma pessoa para sempre; a salvação por Seu sangue, a regeneração e a 
santificação por meio do onipotente poder do Espírito; a ressurreição do 
corpo, e a vida eterna, são doutrinas sob as quais vive o povo de Deus 
nesta comunhão, e que produziram homens tão santos como São 
Bernardo, Fénélon, e indubitavelmente milhares de outros que pertencem 
ao número dos escolhidos de Deus. Cada verdadeiro adorador de Deus 
deve reconhecer em seu coração como irmão em Cristo, seja onde for 
que se encontra, a qualquer que ama, adora e confia no Senhor Jesus 
Cristo como Deus manifestado em carne e o único Salvador dos homens. 
A respeito da questão da justificação, os Romanistas desfiguraram e 
deformaram a verdade como têm feito com quase todas as outras 
doutrinas que tocam à maneira em que os méritos de Cristo são postos à 
disposição para nossa salvação. Admitem, certamente, que não há bem 
algum no homem caído; que não pode merecer nada nem nada alegar 
sobre a base de nada que ele seja ou possa fazer por si mesmo. Por 
 
153 Véase Strauss, Dogmatik, Tubingen y Stuttgart, 1841, vol. II, págs. 493, 494. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 187 
natureza, está morto em pecado; e até que seja feito partícipe de uma 
nova vida pelo poder sobrenatural do Espírito Santo, não pode fazer mais 
que pecar. Por causa de Cristo, e só por Seus méritos, como questão de 
graça, esta nova vida lhe é comunicada na alma na regeneração (isto é, 
tal como ensinam os Romanistas, no batismo). Assim como a vida 
expulsa a morte; assim como a luz expulsa as trevas, assim a entrada 
desta nova vida divina na alma expulsa o pecado (isto é, os hábitos 
pecaminosos), e produz frutos de justiça. As obras feitas depois da 
regeneração têm verdadeiro mérito, «meritum condigni»,e são a base 
para a segunda justificação; a primeira justificação consiste em fazer a 
alma inerentemente justa pela infusão da justiça. Segundo este ponto de 
vista, não somos justificados por obras feitas antes da regeneração, e sim 
somos justificados para obras de graça, isto é, para obras que brotam do 
princípio da vida divina infundida no coração. Toda a base de nossa 
aceitação para com Deus, portanto, vem a ser o que somos e o que 
fazemos. 
 
A doutrina Remonstrante. 
Terceiro. Segundo os Remonstrantes ou Arminianos, as obras 
excluídas de nossa justificação são as obras da lei em distinção às obras 
do Evangelho. Na aliança feita com Adão, Deus exigiu perfeita 
obediência como condição de vida. Por causa de Cristo, no Evangelho 
Deus entrou numa nova aliança com os homens, prometendo-lhes a 
salvação sob a condição de obediência evangélica. Isto se expressa de 
diferentes maneiras. Às vezes diz-se que estamos justificados sobre a 
base da fé. A fé é aceita em lugar daquela perfeita justiça demandada 
pela lei Adâmica. Mas por fé não se significa o ato de receber a Cristo e 
de repousar só nEle para salvação. É considerada como um estado da 
mente permanente e controlador. E por isso diz-se frequentemente que 
somos justificados por uma «fides obsequiosa», uma fé obediente; uma 
fé que inclui obediência. Em outras ocasiões, diz-se que somos 
justificados pela obediência evangélica, isto é, aquela classe e medida de 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 188 
 
obediência que demanda o Evangelho, e que os homens podem dar, 
desde a Queda, mediante o emprego apropriado da «graça suficiente», 
que se admite a todos os homens. 
Limborch diz: “Sciendum, quando dicimus, nos fide justificari, nos 
non excludere opera, quæ fides exigit et tanquam foecunda mater 
producit; sed ea includere.” E novamente: “Est itaque [fides] talis actus, 
qui, licet in se spectatus perfectus nequaquam sit, sed in multis deficiens, 
tamen a Deo, gratiosa et liberrima voluntate, pro pleno et perfecto 
acceptatur, et propter quem Deus homini gratiose remissionem 
peccatoram et vitæ æternæ premium conferre vult.” 
Novamente,154 Deus, diz ele, exige “obedientiam fidei, hoc est, non 
rigidam et ab omnibus æqualem, prout exigebat lex; sed tantam, quantam 
fides, id est, certa de divinis promissionibus persuasio, in unoquoque 
efficere potest.” Portanto, justificação, diz ele:155 “Est gratiosa æstimatio, 
seu potius acceptatio justitiæ nostræ imperfectæ pro perfecta, propter 
Jesum Christum.” 
 
A doutrina Protestante. 
Quarto. Segundo a doutrina dos Luteranos e dos Reformados, as 
obras excluídas da base de nossa justificação são não só as obras rituais 
ou cerimoniais, nem tampouco meramente obras feitas antes da 
regeneração nem a obediência perfeita demandada pela lei dada a Adão, 
mas obras de todo tipo, tudo feito por nós ou operado em nós. Que esta é 
a doutrina da Bíblia é claro: 
1. Porque a linguagem da Escritura é ilimitada. A declaração é que 
não somos justificados «pelas obras». Não se designa nenhuma classe 
específica de obras com exclusão de todas as demais. Mas é «obras», o 
que nós fazemos; qualquer coisa e tudo aquilo que façamos. Por isso, é 
 
154 Theologia Christiana, VI. iv. 32, 31, 37; edit. Amsterdam, 1725, pp. 705, b, a, 706 a. 
155 Limborch, VI. iv. 18; ut supra, p. 703, a. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 189 
sem autoridade alguma que ninguém limite estas declarações gerais a 
nenhuma classe particular de obras. 
2. A palavra lei emprega-se num sentido global. Inclui todas as 
revelações da vontade de Deus como regra da obediência humana, e, por 
isso, por «obras da lei» se devem entender todo tipo de obras. Como 
νόμος (nomos) significa tudo aquilo que obriga, emprega-se da lei da 
natureza, da lei escrita no coração (Rm 2:14), do Decálogo, da Lei de 
Moisés, da totalidade das Escrituras do Antigo Testamento (Rm 3:19). 
Às vezes faz-se referência a um, às vezes a outro destes aspectos da lei 
de maneira específica. Paulo assegura aos judeus que não podiam ser 
justificados pelas obras da lei, que era especialmente obrigatória para 
eles. Assegura aos gentios que não podiam ser justificados pela lei 
escrita em seus corações. Assegura aos crentes sob o Evangelho que não 
podem ser justificados mediante obras da lei que lhes sejam obrigatórias. 
A razão que dá inclui todas as possíveis obras. Esta razão é que toda 
obediência humana é imperfeita, e que a lei exige completa obediência 
(Gl 3:10). É por isso que «pelas obras da lei nenhum ser humano será 
justificado diante dele» (Rm 3:20). 
3. A lei da qual Paulo fala é a lei que diz: «Não cobiçará» (Rm 7:7); 
a lei que é espiritual (v. 14); que é «santa, justa e boa» (v. 12); a lei cujo 
grande mandamento é: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu 
coração e a teu próximo como a ti mesmo. Além disso, as que são 
chamadas obras da lei são chamadas, em Tt 3:5, «obras de justiça». E 
não pode haver obras maiores que estas. O Apóstolo repudia toda base 
de confiança em sua «própria justiça» (Fp 3:9), isto é, em sua própria 
excelência, seja habitual, seja presente. Censura os judeus porque 
procuravam estabelecer sua própria justiça, não submetendo-se à justiça 
de Deus (Rm 10:3). Com base nesta e outras passagens similares está 
claro que não são uma ou mais classes específicas de obras as que ficam 
excluídas da base da justificação, mas todas as obras, toda a excelência 
pessoal de todo tipo. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 190 
4. Isto é ainda mais evidente com base no contraste constantemente 
apresentado entre a fé e as obras. Não somos justificados pelas obras, 
mas pela fé em Cristo Jesus (Gl 2:16, e com frequência em outras 
partes). Não se trata de uma classe de obras em oposição a outra; legais 
em oposição a obras evangélicas; naturais em oposição a obras de graça; 
morais em oposição a obras rituais; e sim obras de todo tipo em oposição 
à fé. 
5. O mesmo é evidente com base no que se ensina da natureza 
gratuita de nossa justificação. A graça e as obras são antitéticas. «Ao que 
trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida» 
(Rm 4:4). «Se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já 
não é graça» (Rm 11:6). A graça necessariamente exclui as obras de todo 
tipo, e mais especialmente as do tipo mais elevado, que pudessem ter 
alguma aparência de mérito. Mas o mérito é necessariamente excluído, 
no grau que seja, se nossa salvação é pela graça. 
6. Quando se enuncia a base positiva da justificação, sempre se 
declara que nada é feito por nós nem operado em nós, e sim o que tem 
feito por nós. Apresenta-se sempre como algo externo a nós. Somos 
justificados pelo sangue de Cristo (Rm 5 :9); por Sua obediência (Rm 
5:19); por Sua justiça (v. 18). Isto é envolvido em todo o método de 
salvação. Cristo nos salva como sacerdote; mas um sacerdote não salva 
fazendo bons àqueles que vão a ele. Não opera neles, mas por eles. 
Cristo nos salva mediante um sacrifício; mas um sacrifício é efetivo não 
devido a seu efeito subjetivo sobre o ofertante, mas sim como expiação, 
ou satisfação da justiça. Cristo é nosso Redentor; deu-Se a Si mesmo 
como resgate por muitos. Mas um resgate não infunde justiça. É o 
pagamento de um preço. É a satisfação das demandas do cativante sobre 
o cativo. Por isso, todo o plano da salvação tal como se apresenta na 
Bíblia e como é a vida da Igreja, resulta mudado se for mudada a base de 
nossa aceitação diante de Deus daquilo que Cristo fez por nós a aquilo 
que é operado em nós ou feito por nós. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 191 
ustificação. 
 
Os teólogos romanos não estão de acordo exatamente quanto a se a 
justiça habitual ou real é a base da justificação. Belarmino diz que é a 
primeira.156 Ele diz: “Solam esse habitualem justitiam, per quamformaliter justi nominamur, et sumus: justitiam vero actualem, id est, 
opera vere justa justificare quidem, ut sanctus Jacobus loquitur, cum ait 
cap. 2 ex operibus hominem justificari, sed meritorie, non formaliter.” 
Isto que ele diz é claramente a doutrina do Concílio de Trento, que 
ensina:157 “Causam formalem justificationis esse justitiam, sive 
caritatem, quam Deus unicuique propriam infundit, secundum mensuram 
dispositionum, et quæ in cordibus justificatorum innæret.” Isto segue 
também, ele argumenta, do fato de que os sacramentos justificam,158 
“per modum instrumenti ad infusionem justitiæ habitualis.” Isto, 
entretanto, consiste só na distinção, já mencionada, entre a primeira e 
segunda justificação. A infusão da justiça faz a alma intrinsecamente 
justa; então boas obras merecem a salvação. Uma é formal, a outra a 
causa meritória da justificação do pecador. Mas, segundo as Escrituras, 
tanto a justiça habitual e a atual, tanto a graça inerente e seus frutos são 
excluídos de toda participação no fundamento de nossa j
7. Isso aparece adicionalmente e ainda de maneira mais decisiva 
pela grande objeção à sua doutrina que Paulo tinha que responder vez 
após vez. Esta objeção é que se nossa bondade pessoal ou excelência 
moral não é a base de nossa aceitação para com Deus, então se nega toda 
necessidade de ser bom, e se elimina toda motivação para as boas obras. 
Podemos continuar em pecado para que a graça abunde. Esta objeção foi 
alterada mil vezes desde que foi instigada contra os Apóstolos. Parece 
tão irrazoável e desmoralizador dizer, como diz Paulo em Romanos 3:22, 
que pelo que à justificação concerne não há diferença entre judeu e 
gentio, entre um adorador do Deus verdadeiro e o adorador de demônios; 
entre o maior dos pecadores e o homem mais moral do mundo, que 
 
156 De Justificatione, II. 15; Disputationes, edit. Paris, 1608, vol. iv. p. 820, a. 
157 See Session vi. cap. 7. 
158 Bellarmin, ut supra, p. 820, b. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 192 
sempre houve os que têm sentido que faziam serviço a Deus, 
denunciando esta doutrina como uma heresia destruidora da alma. Se 
Paulo tivesse ensinado que os homens são justificados por suas boas 
obras morais, como dizem os Pelagianos e os Racionalistas; ou por sua 
obediência evangélica, como dizem os Remonstrantes; ou por sua justiça 
inerente e posteriores boas obras, como dizem os Romanistas, não teria 
havido lugar para esta formidável objeção. Ou, se por algum mal-
entendido em seu ensino se tivesse enfatizado a objeção, quão fácil teria 
sido para o Apóstolo deixá-la de lado! O quão evidente teria sido a 
resposta: “Não nego de fato que as obras realmente boas são a base de 
nossa aceitação diante de Deus. Só digo que as obras rituais não têm 
valor alguma diante de Deus, que Ele olhe para o coração; ou, que as 
obras feitas antes da regeneração não têm nenhuma verdadeira 
excelência nem mérito; ou, que Deus é mais indulgente agora que em 
Seus procedimentos com Adão; que não demanda perfeita obediência, 
mas aceita nossos imperfeitos esforços de boa vontade por guardar Seus 
santos mandamentos”. Quão razoável e satisfatória teria sido esta 
resposta! Mas Paulo não a dá. Apega-se à sua doutrina de que nossa 
própria excelência pessoal não tem, nada que ver com nossa justificação; 
que Deus justifica os ímpios, que Ele recebe o primeiro dos pecadores. 
Responde certamente à Objeção, e a responde de maneira efetiva; mas 
sua resposta supõe que está ensinando o que ensinam os Protestantes, 
que somos justificados sem obras, não por nossa própria justiça, mas 
gratuitamente sem dinheiro e sem preço, só sobre a base do que Cristo 
fez por nós. Sua resposta é que longe de ser certo que temos que ser bons 
antes de ser justificados, temos que ser justificados antes de ser bons; 
que enquanto estamos sob a maldição da lei, produzimos fruto para 
morte; que não é até que somos reconciliados com Deus mediante a 
morte de Seu Filho que podemos produzir fruto para justiça; que quando 
somos justificados pela justiça de Cristo, somos feitos partícipes de Seu 
Espírito; sendo justificados, somos santificados; esta união com Cristo 
pela fé assegura não só a imputação de Sua justiça para nossa 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 193 
 
justificação, mas também a participação de Sua vida para nossa 
santificação; de maneira que com tanta certeza que Ele vive e que vive 
para Deus, assim os que vivem nEle viverão para Deus; e que ninguém é 
partícipe dos méritos de Sua morte que chegue a ser partícipe do poder 
de Sua vida. Por isso, diz ele, não anulamos a lei de Deus. Antes, 
estabelecemos a lei. Ensinamos a única verdadeira maneira de chegar a 
ser santos; embora este caminho pareça insensatez aos sábios deste 
mundo, cuja sabedoria é estultícia diante de Deus. 
 
§ 4 A justiça de Cristo é a base da justificação. 
 
Permanece a imperativa pergunta: Como se justificará o homem 
diante de Deus? Se nossa excelência moral não é a base sobre a qual 
Deus nos declara justos, qual é? A grande razão pela qual se dão tantas 
respostas diferentes a esta pergunta é que se entende em diferentes 
sentidos. A reposta Escriturística e Protestante seria absurda se a 
pergunta significasse o que os Romanistas e outros compreendem que 
significa. Se «justo» significasse bom, isto é, se a palavra se tomar em 
seu sentido moral e não judicial, então é absurdo dizer que um homem 
pode ser bom com a bondade de outro; ou dizer que Deus pode declarar 
bom um homem que não é bom. Belarmino diz que um etíope vestido 
numa túnica branca continua sendo não branco. Curculleo, o 
Remonstrante, diz: «Um homem não pode ser mais justo com a justiça 
de outro que branco com a brancura de outro.» Moehler diz159 que é 
impossível que nada apareça perante Deus que de outra maneira em que 
realmente é; que um homem injusto aparece perante Ele ou que seja 
declarado por Ele como justo. Tudo isto é certo no sentido que estes 
escritores o dan. «O juízo de Deus é segundo verdade» (Rm 2:2). Cada 
homem a quem Ele justifica ou declara justo é verdadeiramente justo. É 
em vão discutir até que se determine claramente o «status questione». A 
 
159 Symbolik, §14. 6a. ed. Mainz. 1843. pág. 139. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 194 
palavra δίκαιος (dikaios), «justo», tem dois sentidos distintos, como já se 
tratou anteriormente. Tem um sentido moral e também um sentido legal, 
forense ou judicial. Às vezes expressa caráter moral, às vezes 
simplesmente uma relação com a lei e com a justiça. Num sentido, 
declarar justo um homem é declarar que é moralmente bom. Em outro 
sentido é declarar que as demandas da justiça contra ele estão satisfeitas, 
E que tem direito à recompensa prometida aos justos. Quando Deus 
justifica o ímpio, não está declarando que é piedoso, mas que seus 
pecados foram expiados, e que tem título baseado na justiça à vida 
eterna. Nisto não há contradição nem absurdo. Se um homem sob 
sentença de morte civil comparece perante o tribunal apropriado, e 
mostra a causa pela qual esta sentença deve ser revogada em justiça, e 
que o deve declarar com direito à sua posição, títulos e propriedades, 
uma decisão em favor dele seria uma justificação. Seria declarado justo 
aos olhos da lei, mas nada se declararia e nada se faria a respeito de seu 
caráter moral. Da mesma maneira, quando o pecado comparece perante o 
tribunal de Deus, pode mostrar boas razões pelas quais não pode ser 
condenado em justiça, e pelas quais deve ser declarado com direito à 
vida eterna. Agora, a pergunta é: «Sobre que base pode Deus declarar o 
pecador como justo neste sentido legal ou judicial?» Mostrou-se que 
justificar, segundo o uso escriturístico normal, é pronunciar justiça no 
sentido declarado, que não se trata meramente de perdoar, e que não é 
fazer inerentemente justo ou santo. Mostrou-se também que é a doutrina 
da Escritura o que na verdadeé intuitivamente certo para a consciência, 
que nossa excelência moral, habitual ou atual, não é nem pode ser a base 
de tal declaração judicial. Qual é, então, a base? A Bíblia e o povo de 
Deus respondem unanimemente: «A justiça de Cristo». A ambiguidade 
das palavras, as especulações dos teólogos, e os mal-entendidos, podem 
levar a muitos do povo de Deus a negar em palavras que tal seja a 
resposta verdadeira, mas não obstante é a resposta dada pelo coração de 
cada crente. Para sua aceitação repousa em Deus, não em si mesmo mas 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 195 
em Cristo, não no que é ou tem feito, mas no que Cristo é e tem feito por 
ele. 
 
Significado dos termos. 
Pela expressão justiça de Cristo se significa tudo o que Ele veio a 
ser, fez e sofreu para dar satisfação às demandas da justiça divina, e 
mereceu para Seu povo o perdão dos pecados e o dom da vida eterna. A 
justiça de Cristo é usualmente descrita como incluindo Sua obediência 
ativa e passiva. Esta distinção é, quanto à ideia, escriturística. A Bíblia 
ensina que Cristo obedeceu a lei em todos os seus preceitos, e que sofreu 
sua penalidade, e que isto foi feito em tal sentido pelo Seu povo que se 
diz que eles o fizeram. Eles morreram nEle. Foram crucificados 
juntamente com Ele. Foram libertados da maldição da lei ao ser feito 
maldição por eles. Ele foi feito sujeito à lei para poder redimir os que 
estavam debaixo da lei. Somos libertados da lei pelo corpo de Cristo. Ele 
foi feito pecado para que nós pudéssemos ser feitos justiça de Deus nEle. 
Ele é o fim da lei para justiça a todo aquele que crê. É por Sua 
obediência que muitos são feitos justos (Rm 5:19). Nós obedecemos 
nEle, segundo o ensino do Apóstolo, em Romanos 5:12-21, no mesmo 
sentido em que pecamos em Adão. Mas a obediência ativa e passiva de 
Cristo são só diferentes fases ou aspectos da mesma coisa. Ele obedeceu 
ao sofrer. Seus mais altos atos de obediência foram feitos no jardim, e na 
cruz. Por isso, esta distinção não se apresenta na Escritura como se a 
obediência de Cristo obedecesse a um propósito, e Seus sofrimentos a 
outro e distinto. Somos justificados por Seu sangue. Somos reconciliados 
para com Deus por meio de Sua morte, e somos libertados de todas as 
demandas da lei mediante o Seu corpo (Rm 7:4), e somos libertados da 
lei porquanto Ele foi feito debaixo ela e obedecendo-a em nosso lugar 
(Gl 4:4, 5). Assim, o mesmo efeito é adscrito à morte ou sofrimentos de 
Cristo, e a Sua obediência, porque ambas as coisas formam parte de Sua 
obediência ou justiça pela qual nós somos justificados. Em outras 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 196 
palavras, a obediência de Cristo inclui tudo o que Ele fez para dar 
satisfação às demandas da lei. 
 
A justiça de Cristo é a justiça de Deus. 
A justiça de Cristo, sobre cuja base o crente é justificado, é a justiça 
de Deus. É designada assim na Escritura não só porque foi provida é 
aceita por Ele; não é só a justiça que vale diante de Deus, e sim é a 
justiça de uma pessoa divina; de Deus manifestado em carne. Deus 
comprou a Igreja com Seu próprio sangue (At 20:28). Foi o Senhor da 
glória quem foi crucificado (1Co 2:8). Aquele que era em forma de Deus 
e que não considerou usurpação ser igual a Deus, fez-se obediente até a 
morte, e morte de cruz (Fp 2:6-8); Aquele que é o resplendor da glória 
do Pai, e a expressa imagem de Sua pessoa, que sustenta todas as coisas 
com a palavra do Seu poder; a quem os anjos adoram; que é chamado 
Deus, que no princípio pôs os fundamentos da terra, e de cujas mãos são 
obra os céus que é eterno e imutável; Aquele que destruiu mediante a 
morte, diz o Apóstolo, àquele que tinha o poder da morte, libertando 
àqueles que por temor à morte (isto é, à ira de Deus) estavam todas suas 
vidas sujeitos à servidão (Hb 2:15). Aquele a quem Tomé reconheceu e 
confessou como seu Senhor e Deus era a pessoa em cujo lado ferido pôs 
sua mão. Aquele a quem João viu, contemplou e tocou, declara-o como o 
verdadeiro Deus e a vida eterna. A alma, na qual reside a personalidade, 
não morre quando morre o homem, mas é a alma a que dá a dignidade ao 
homem, e que faz sua vida de um valor indizivelmente maior aos olhos 
de Deus e do homem, que a vida de qualquer criatura irracional. Assim 
não foi a natureza divina em Cristo na qual reside Sua personalidade, o 
Logos eterno, que morreu quando Cristo morreu. Entretanto, a união 
hipostática entre o Logos e a natureza humana de Cristo faz certo que a 
justiça de Cristo (Sua obediência e sofrimentos) era a justiça de Deus. 
Esta é a razão pela qual vale diante de Deus para a salvação de todo o 
mundo. Esta é a razão pela qual o crente, quando está revestido desta 
justiça, não tem por que temer nem a morte nem o inferno. Esta é a razão 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 197 
pela qual Paulo desafia o universo a intentar acusação aos escolhidos de 
Deus. 
 
§ 5. A imputação de justiça. 
 
A justiça de Cristo é imputada ao crente para sua justificação. A 
palavra imputar é conhecida e sem ambivalências. Imputar é atribuir a, 
considerar a, pôr a conta de alguém. Quando dizemos que lhe imputamos 
um bom ou mau motivo a alguém, ou que se lhe imputa uma boa ou má 
ação, ninguém compreende mal nosso significado. Filemom não tinha 
dúvidas de nenhum tipo a respeito do que era o que Paulo queria dizer 
quando lhe disse que imputasse a dívida de Onésimo. «Jamais impute o 
rei coisa nenhuma a seu servo» (1Sm 22:15). «Não me imputes, senhor, 
a minha culpa» (2Sm 19:19). «Aquele que a ofereceu ... nem lhe será 
atribuído» (Lv 7:18). «A tal homem será imputada a culpa do sangue; 
derramou sangue» (Lv 17:4). «Bem-aventurado o homem a quem o 
SENHOR não atribui iniquidade» (Sl 32:2). «O homem o homem a 
quem Deus atribui justiça, independentemente de obras» (Rm 4:6). Deus 
estava «em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos 
homens as suas transgressões» (2Co 5:19). 
O sentido destas passagens da Escritura e similares nunca foi 
rebatido. Todos os compreendem. Empregamos a palavra imputar em 
seu sentido admitido simples, quando dizemos que a justiça de Cristo é 
imputada ao crente para sua justificação. 
Parece desnecessário observar que isto não significa nem pode 
significar que a justiça de Cristo seja infundida no crente, nem 
comunicada de tal maneira que mude ou constitua seu caráter moral. A 
imputação nunca muda o estado interno, subjetivo da pessoa a quem se 
fez a imputação. Quando o pecado é imputado a um homem, não é feito 
pecador; quando o zelo de Fineias foi imputado, não foi feito zeloso por 
isso. Quando alguém imputa um roubo a alguém, não o faz ladrão. 
Assim, quando se imputa justiça ao crente, nem por isso ele vem a ser 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 198 
 
subjetivamente justo. Se a justiça for adequada, e se a imputação tiver 
sido feita sobre bases adequadas e por uma autoridade competente, a 
pessoa a quem se fez a imputação tem direito a ser tratada como justa. E, 
por isso, no sentido forense, embora não no sentido moral ou subjetivo, a 
imputação da justiça de Cristo faz justo o pecador. Isto é, dá-lhe direito 
ao pleno perdão de todos os seus pecados e título em justiça à vida 
eterna. 
Já foi suficientemente demonstrado, mediante extratos dos 
Símbolos Luteranos e Reformados, que esta é a simples perspectiva 
doutrinal, e universalmente aceita, tal como a mantinham todos os 
Protestantes no momento da Reforma e considerada por eles como a 
pedra angular do Evangelho e isto nunca foi discutido por nenhuma 
autoridade íntegra ou competente. Esta seguiu sendo a doutrina de ambas 
os grandes ramos da Igreja Protestante, até onde pretendem aderir-se a 
seus símbolos. 
Schmid160 demonstra-o por um conjunto de citações quanto à Igreja 
luterana refere-se. Schweizer 161 faz o mesmo com a Igreja Reformada. 
Poucas citações, portanto, deautores de reconhecido caráter 
representativo será suficiente quanto a este ponto. Turretino com sua 
precisão característica diz: “Cum dicimus Christi justitiam ad 
justificationem nobis imputari, et nos per justitiam illam imputatam 
justos esse coram Deo, et non per justitiam ullam quæ nobis inhæreat; 
Nihil aliud volumus, quam obedientiam Christi Deo Patri nomine nostro 
præstitam, ita nobis a Deo donari, ut vere nostra censeatur, eamque esse 
unicam et solam illam justitiam propter quam, et cujus merito, 
absolvamur a reatu peccatorum nostrum, et jus ad vitam obtinemus; nec 
ullam in nobis esse justitiam, aut ulla bona opera, quibus beneficia tanta 
promereamur, quæ ferre possint severum judicii divini examen, si Deus 
 
160 Die Dogmatik der evangelisch-lutherischen Kirche, dargestellt und aus den Quellen belegt, 3d 
edit. Frankfort and Erlangen, 1853. 
161 Die Glaubenslehre der evangelisch-reformirten Kirche dargestellt und aus den Quellen belegt, 
Zurich, 1844, 1847. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 199 
 
juxta legis suæ rigorem nobiscum agere vellet nihil nos illi posse 
opponere, nisi Christi meritum et satisfactionem, in qua sola, peccatorum 
conscientia territi, tutum adversus iram divinam perfugium, et animarum 
nostrarum pacem invenire possumus.”162 
Na página seguinte ele se refere a Belarmino,163 quem diz: “Si 
[Protestantes hoc] solum vellent, nobis imputari Christi merita, quia [a 
Deo] nobis donata sunt, et possumus ea [Deo] Patri offere pro peccatis 
nostris, quoniam Christus suscepit super se onus satisfaciendi pro nobis, 
nosque Deo Patri reconciliandi, recta esset eorum sententia.” Acerca 
disso Turretino observa: “Atqui nihil aliud volumus; Nam quod addit, 
nos velle ‘ita imputari nobis Christi justitiam, ut per eam formaliter justi 
nominemur et simus,’ hoc gratis et falso supponit, ex perversa et 
præpostera sua hypothesi de justificatione morali. Sed quæritur, Ad quid 
imputatio ista fiat? An ad justificationem et vitam, ut nos pertendimus, 
An vero tantum ad gratiæ internæ et justitiæ inhærentis infusionem, ut 
illi volunt; Id est, an ita imputentur et communicentur nobis merita 
Christi, ut sint causa meritoria sola nostræ justificationis, nec ulla alia 
detur justitia propter quam absolvamur in conspectu Dei; quod volumus; 
An vero ita imputentur, ut sint conditiones causæ formalis, id. justitiæ 
inhærentis, ut ea homo donari possit, vel causæ extrinsecæ, quæ 
mereantur infusionem justitiæ, per quam justificatur homo; ut ita non 
meritum Christi proprie, sed justitia inhærens per meritum Christi 
acquisita, sic causa propria et vera, propter quam homo justificatur; quod 
illi statuunt.” 
Pode observar-se de passagem que, segundo a doutrina protestante, 
não há corretamente “causa formal” da justificação. A justiça de Cristo é 
o mérito, mas não a causa formal do pecador sendo pronunciado justo. 
Uma causa formal é a que constitui a natureza inerente e subjetiva de 
uma pessoa ou coisa. A causa formal de um homem ser bom, é a 
 
162 Institutio, loc. XVI. iii. 9, edit. Edinburgh, 1847, vol. ii. p. 570. 
163 De Justificatione, ii. 7; Disputationes, Paris, 1608, p. 801, b. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 200 
 
bondade, de seu ser santo, a santidade; de seu ser ímpio, a maldade. A 
causa formal de uma rosa ser vermelha, é o vermelhidão; e de uma 
parede ser de cor branca, é a brancura. Como não somos representados 
inerentemente justos pela justiça de Cristo, não é correto dizer que Sua 
justiça é a causa formal de nosso ser justos. Owen, e outros escritores 
eminentes realmente utilizam com frequência a expressão referente, mas 
eles têm a palavra “formal” de seu sentido escolástico comum. 
Campegius Vitringa164 diz: “Tenendum est certissimum hoc 
fundamentum, quod justificare sit vocabulum forense, notetque in 
Scriptura actum judicis, quo causam alicujus in judicio justam esse 
declarat; sive eum a crimine, cujus postulatus est, absolvat (quæ est 
genuina, et maxime propria vocis significatio), sive etiam jus ad hanc, 
vel illam rem ei sententia addicat, et adjudicet.” 
“17. Per justificationem peccatoris intelligimus actum Dei Patris, ut 
judicis, quo peccatorem credentem, natura filium iræ, neque ullum jus ex 
se habentem bona coelestia petendi, declarat immunem esse ab omni 
reatu, et condemnatione, adoptat in filium, et in eum ex gratia confert jus 
ad suam communionem, cum salute æterna, bonisque omnibus cum ea 
conjunctis, postulandi.” 
“27. Teneamus nullam carnem in se posse reperire et ex se 
producere causam, et fundamentum justificationis. 29. Quærendum igitur 
id, propter quod peccator justificatur, extra peccatorem in obedientia Filli 
Dei, quam præstitit Patri in humana natura ad mortem, imo ad mortem 
crucis, et ad quam præstandam se obstrinxerat in sponsione. (Rom. v. 
19.)” “32. Hæc [obedientia] imputatur peccatori a Deo judice ex gratia 
juxta jus sponsionis, de quo ante dictum.” 
Em sua elaborada obra a respeito da justificação, Owen165 
demonstra que a palavra justificar, «tanto se o que se expressa por ela é o 
ato de Deus para com os homens, ou dos homens para com Deus, ou dos 
 
164 Doctrina Christianæ Religionis, III. xvi. 2; Leyden, 1764, vol. iii. p. 254, ff. 
165 Justification. Cap. 4, edición de Philadelphia, 1841, pág. 144. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 201 
 
homens entre eles mesmos, ou de um para com outro, sempre se 
emprega num sentido "forense", e não denota uma operação, transfusão 
ou transmutação físicas». E conclui assim a discussão: «Portanto, assim 
como a condenação não é a infusão de um hábito de maldade naquele 
que é condenado, nem fazer inerentemente ímpio a quem antes era justo, 
mas pronunciar sentença sobre alguém devido à sua maldade, tampouco 
a justificação é a mudança de uma pessoa de uma injustiça inerente a 
uma justiça inerente mediante a infusão de um princípio de graça, e sim 
uma declaração judicial de que é justo.»166 
A base desta justificação no caso do pecador crente é a imputação 
da justiça de Cristo. Isto é exposto extensamente.167 «O juízo das Igrejas 
Reformadas nisto», diz ele, «é conhecido por todos e se deve confessar, a 
não ser que queiramos mediante vãs reflexões incrementar e perpetuar as 
contendas. Especialmente a Igreja da Inglaterra é explícita em sua 
doutrina quanto à imputação da justiça de Cristo, tanto ativa como 
passiva, tal como geralmente se distingue. Isto foi ultimamente tão 
plenamente manifestado com base em seus escritos autênticos, isto é, os 
"Artigos de Religião" e "Livros de Homilias" e outros escritos 
publicamente autorizados, que é totalmente desnecessário dar alguma 
adicional demonstração da mesma.» 
O Presidente Edwards em seu sermão sobre justificação168 
estabelece a doutrina protestante em toda sua plenitude. “Supor,” diz, 
“que um homem é justificado por sua própria virtude ou obediência, 
deprecia a honra do mediador, e atribui ao homem a virtude que pertence 
unicamente à justiça de Cristo. Isto põe o homem no lugar de Cristo, e o 
faz o seu próprio salvador, num aspecto em que só Cristo é o Salvador: 
pelo que é uma doutrina contrária à natureza e o desígnio do Evangelho, 
que deve humilhar o homem, e atribuir toda a glória de nossa salvação a 
Cristo o Redentor. É inconsistente com a doutrina da imputação da 
 
166 Ibid, pág. 154. 
167 Ibid, cap. 7, pág. 187. 
168 Sermon IV. Works, edit. N. Y. 1868, vol. iv. pp. 91, 92. 
Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 202 
justiça de Cristo, que é uma doutrina do Evangelho. Aqui eu devo (1.) 
Explicar o que se entende pela imputação da justiça de Cristo. (2.) 
Demonstrar o previsto por isso como verdade. (3.) Demonstrar que esta 
doutrina é totalmente inconsistente com a doutrina de nosso ser 
justificado por nossa própria virtude ou obediência sincera. 
“Primeiro.

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