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Módulo 5 – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e Organizações Sociais. Mediação entre Comércio e Governo. As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) e as Organizações Sociais (OSs) são figuras jurídicas criadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) no âmbito do processo de reforma de Estado. Na prática, são entidades de direito privado que assumem a gestão de bens públicos como hospitais, creches e parques, entre outros. 1 - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) As organizações sociais da sociedade civil (OSCIPs) são entidades que fazem parte do Terceiro setor, e a Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999 (alterada pela MP nº 2.216-37/2002 e pela Lei nº 10.539/2002) que as regulamenta também compõe o “Marco Legal do Terceiro Setor”. Aplicam-se as disposições da Lei 13.019/2014, chamada de “Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil”, no que couber, às relações da administração pública com entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Publico. A Lei nº 9.790/99, no seu artigo 3º, dispõe que, o Ministério da Justiça poderá qualificar como organizações da sociedade civil de interesse público, pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais estatutários tenham, pelo menos, uma das seguintes finalidades, observado o princípio da universalização dos serviços (toda a população faça jus, sem distinção de espécie alguma), que atendam, no mínimo, uma das atividades abaixo: · promoção da assistência social, da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; · promoção gratuita da educação e da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata a mesma lei; · promoção da segurança alimentar e nutricional; · defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; · promoção do voluntariado, do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; · experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternaitvos de produção, comércio, emprego e crédito; · promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; · promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e outros valores universais; · estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades acima indicadas. Não se enquadram no conceito as entidades com objetivo de obter lucro ou organizadas para gerar benefícios privados. Também estão fora da classificação as instituições que, embora sem fins lucrativos, estão voltadas à representação de categorias profissionais, como sindicatos, ou à disseminação de credos religiosos, assim como, cooperativas e instituição de saúde ou educação privadas e não-gratuitas. Não são passíveis de qualificação como organizações sociais da sociedade civil de interesse público, ainda que se dediquem às atividades indicadas acima, os seguintes entes (Lei 9.790/99, art. 2º): · sociedades comerciais; · sindicatos, associações de classe ou de representação de categoria profissional; · instituição religiosas; · organizações partidárias, inclusive suas fundações; · entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; · empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados; · instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras; · escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras; · organizações sociais; · cooperativas; · fundações públicas; · fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por órgãos públicos ou por fundações públicas; · organizações creditícias vinculadas com sistema financeiro nacional. As OSCIPs são qualificadas mediante certificação dada pelo Ministério da Justiça às pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, que sejam regidas por um estatuto com regras específicas, atuando com a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência, dentre outros igualmente importantes. A qualificação da OSCIP é atividade administrativa vinculada (ato vinculado), ao contrário das organizações sociais que se dá de forma discricionária, ou seja, será concedida referida qualificação se comprovados os requisitos legais. Pela nova lei, não é mais necessário o Título de Utilidade Pública Federal; Registro de Entidade de Assistência Social; ou Certificado de Fins Filantrópicos. A pessoa jurídica de direito privado qualificada como OSCIP celebra um Termo de Parceria com o Poder Público, caso este tenha interesse na realização de seus projetos, resultando na formação de um vínculo de cooperação entre as partes, que devem se destinar ao fomento e execução de atividades de interesse público desenvolvidas pela entidade assim qualificada, podendo ainda resultar no recebimento de recursos públicos. Celebrado o Termo de Parceria entre a OSCIP e o Poder Público, ocorre uma espécie de delegação de serviço público pelo Estado, alterando-se apenas o agente prestador dos serviços do Estado para o privado, sobre o fundamento de maior eficiência e agilidade deste último. Assim, a titularidade dos serviços continua do Estado, mas o seu exercício é transferido ao privado. A manutenção da qualificação de organizações sociais da sociedade civil se faz periodicamente, pela verificação do preenchimento dos requisitos exigidos pela lei, que se não preenchidos resultará na perda da referida qualificação. A entidade perde essa qualificação a pedido ou mediante decisão proferida em processo administrativo ou judicial, de iniciativa popular ou do Ministério Público, no qual serão assegurados ampla defesa e contraditório. A escolha de novos parceiros se dá por meio de concursos de projetos. Os objetivos e metas são negociados entre as partes e o controle é feito por resultados. Havendo indícios de malversação (falta administrativa consistente no desvio ou dilapidação de bens) de bens ou recursos de origem pública, o Ministério Público ou a Advocacia-Geral da União pedirão ao juízo competente a decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o sequestro dos bens dos seus dirigentes, além de outras medidas. Para obter maior controle de gastos dos recursos públicos transferidos às Organizações Sociais e OSCIPs, por meio de contrato de gestão e termos de parceria, o Decreto Federal nº 5.504, de 05 de agosto de 2005, estabeleceu a necessidade de licitação pública, na modalidade de pregão e preferencialmente na forma eletrônica, para a realização de obras, compras, serviços e alienações. A constitucionalidade do processo licitatória vem sendo questionado por violação a dispositivos que obrigam a promoção de licitação apenas pelos órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta (CF, arts. 22, XXVII e 37, XXI). Em matéria tributária, as OSCIPs estão sujeitas aos mesmos benefícios das demais entidades de assistência social. 2 - Organizações Sociais (OSs) Como já explicado anteriormente, a qualificação de organização social é concedida pelo Poder Executivo com o objetivo de fomentar e incentivar entidades privadas sem fins lucrativos nas áreas de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente, cultura e saúde, podendo receber recursos públicos para sua atuação. As entidades que obtenham a qualificação são automaticamente consideradas com de interesse social e utilidade pública. Em linhas gerais, podem as apontadas semelhanças entre as Organizações Sociais (OS) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCP): · entidades de direito privado, sem finalidade lucrativa, instituídas para prestar serviços não privativos do Poder Público, mas por ele incentivadase fiscalizadas. · relação direta com o Estado. · a grande maioria das OSs e OSCIPs são constituídas na forma de associação, pela maior flexibilidade e menor ingerência estatal. Ao contrário, aqui são apontadas as diferenças entre as OS e OSCIP: Organizações Sociais Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público requisitos menos rígidos para sua constituição requisitos mais rígidos para sua constituição ato de qualificação é discricionário o Poder Público ato de qualificação é vinculado, em que tem direito ao título de entidade de utilidade pública, quando preencher os requisitos da Lei 9.790/99 firmam Contrato de Gestão com o Poder Público, que é o fundamento da sua existência assinam Termo de Parceria com o Poder Público, que uma opção, como substitutivo do convênio áreas de atuação: somente podem exercer atividades de interesse público no campo do ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde (trata-se de um rol taxativo) (Lei 9.637/98, art. 1º) áreas de atuação mais ampla: serviços sociais de assistência social, defesa e conservação do patrimônio público, promoção do voluntariado, combate à pobreza, promoção da paz, da cidadania e dos direitos humanos, entre outros (trata-se de um rol exemplificativo) (Lei 9.790/99, art. 3º) não há como requisito a preexistência da entidade privada para a qualificação de OS Como requisito, a preexistência da entidade privada que passará a ser qualificada como OSCIP existência de representante do Poder Público no Conselho de Administração existência de representante do Poder Público, uma vez que é formada somente pelos sócios 3 - Mediação entre Comércio e Governo O capitalismo passou por uma nova roupagem, o capitalismo associativo possuindo agora uma responsabilidade social e com o meio ambiente, dentre outras propostas. O setor governamental, de serviços públicos, dado seu extraordinário crescimento, influenciou a estagnação da capacidade do Estado em fazer frente a suas tradicionais atividades-fins, como saúde, segurança, saneamento básico, educação, transportes, entre outros. Daí iniciou o processo de interação das empresas com os órgãos governamentais, através de parcerias e convênios de organizações privadas e ONGs com órgãos governamentais, voltadas à responsabilidade social. A responsabilidade social das empresas fez surgir a chamada empresa-cidadã, que pretende a conscientização por parte do empresariado, de que a empresa pode e deve assumir dentro da sociedade um papel que transcenda sua vocação básica de geração de riqueza, passando de uma fase de empresa somente como negócio para se transformar numa empresa-cidadã, com função social. A empresa-cidadã possui compromisso ético, talentos, tempo e recursos materiais, fatores estratégicos no desenvolvimento do bem comum. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), em 2002, as empresas privadas brasileiras aplicaram cerca de R$ 4,7 bilhões em ação social, sendo que a área de educação foi a preferida pelas empresas. Como conciliar o comercial e o social pela empresa-cidadã? As empresas-cidadãs têm agregado valor aos seus produtos ou obtido ganhos com a prática da cidadania empresarial, não se desvinculando da geração de riquezas. Os ganhos para as empresas-cidadãs têm se originado do valor agregado à imagem da empresa, da nova fonte de motivação e escola de liderança para os funcionários, consciência coletiva interna, mobilização de recursos disponíveis da empresa, etc. As empresas constuma atuar em atividades de tulidade pública por meio da criação de sociedades civis, independentemente da causa de atuação (bondade ou interesse), o que vem aumentando muito o número de entidades privadas sem fins lucrativos. Atualmente no Brasil, é grande a constituição de organizações de sociedade civil para prestação de serviços comunitários, para proteção de direitos difusos ou coletivos (como “Greenpeace”), para campanhas de conscientização da população (como o Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS - GAPA), e promoção e proteção dos direitos humanos (como Anistia Internacional). Essas organizações são as chamadas Organizações Não-Governamentais (ONGs), que funcionam como intermediárias nas relações entre o Estado, sociedade civil e indivíduos, por isso sendo considerados Terceiros Setor (não se tratando nem do setor público, nem do setor privado). A grande maioria das ONGs e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs) são constituídas na forma de associação civil, também pela maior flexibilidade e menor ingerência estatal. Às associações civis não se aplicam as disposições do estatuto do empresário, uma vez que são entidades civis e não empresariais. Mesmo que a associação civil pratique atividade econômica com todas as características empresariais, não seriam aplicáveis as normas dos empresários, uma vez que estão fora do estatuto do empresário. Essa atividade econômica jamais seria para distribuição direta ou indiretamente. Em regra, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) não se aplica em relação às associações civis, mas poderá ser aplicável caso esta exerça atividade econômica fornecendo produtos e serviços a um mercado consumidor, com obtenção de lucro. As novas relações entre os sistemas societários, Estado, o mercado e o Terceiro Setor, têm sido apontados como o fato que contribuiu para o aumento do número de entidades do Terceiro Setor, uma vez que a dicotomia Estado/mercado foi alterada pela redistribuição de papéis, interesses e riquezas. O Terceiro Setor tem se constituído como uma grande força econômica, principalmente no que diz respeito ao crescimento do emprego de mão-de-obra, formação do voluntariado, geração de renda mediata a oferta de bens e serviços e gastos que vem efetuando com o passar dos tempos. O papel econômico do Terceiro Setor é desenvolver o capital social concomitantemente ao capital de mercado. Neste último, cada indivíduo maximiza seus próprios interesses no mercado, o que faz com os interesses da comunidade avancem. Já o capital social está baseado numa visão diferente, em que cada pessoa dá de si para a comunidade, otimizando o bem estar desta e, portanto, otimizando os interesses pessoais de cada indivíduo.