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Montes Claros/MG - Maio/2015 Alysson Luiz Freitas de Jesus História do Brasil império ii REIMPRESSÃO 2015 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Antônio Alvimar Souza DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Jânio Marques Dias EDITORA UNIMONTES Conselho Consultivo Adelica Aparecida Xavier Alfredo Maurício Batista de Paula Antônio Dimas Cardoso Carlos Renato Theóphilo, Casimiro Marques Balsa Elton Dias Xavier José Geraldo de Freitas Drumond Laurindo Mékie Pereira Otávio Soares Dulci Marcos Esdras Leite Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo Regina de Cássia Ferreira Ribeiro CONSELHO EDITORIAL Ângela Cristina Borges Arlete Ribeiro Nepomuceno Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Káthia Silva Gomes Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Sanzio Mendonça Henriques Wendell Brito Mineiro CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Camila Pereira Guimarães Joeli Teixeira Antunes Magda Lima de Oliveira Zilmar Santos Cardoso diretora do centro de ciências Biológicas da Saúde - ccBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado diretora do centro de ciências Humanas - ccH/Unimontes Mariléia de Souza diretor do centro de ciências Sociais Aplicadas - ccSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa chefe do departamento de comunicação e Letras/Unimontes Maria Generosa Ferreira Souto chefe do departamento de educação/Unimontes Maria Cristina Freire Barbosa chefe do departamento de educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves chefe do departamento de Filosofi a/Unimontes Alex Fabiano Correia Jardim chefe do departamento de Geociências/Unimontes Anete Marília Pereira chefe do departamento de História/Unimontes Claudia de Jesus Maia chefe do departamento de estágios e Práticas escolares Cléa Márcia Pereira Câmara chefe do departamento de Métodos e técnicas educacionais Káthia Silva Gomes chefe do departamento de Política e ciências Sociais/Unimontes Carlos Caixeta de Queiroz Ministro da educação Renato Janine Ribeiro Presidente Geral da cAPeS Jorge Almeida Guimarães diretor de educação a distância da cAPeS Jean Marc Georges Mutzig Governador do estado de Minas Gerais Fernando Damata Pimentel Secretário de estado de ciência, tecnologia e ensino Superior Vicente Gamarano reitor da Universidade estadual de Montes claros - Unimontes João dos Reis Canela vice-reitor da Universidade estadual de Montes claros - Unimontes Antônio Alvimar Souza Pró-reitor de ensino/Unimontes João Felício Rodrigues Neto diretor do centro de educação a distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autor Alysson Luiz Freitas de Jesus Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo – USP (2011). Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2005). Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes (2003). Atualmente é professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Professor das Faculdades Santo Agostinho, bem como do Programa de Mestrado em História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – PPGH. Tem experiência na área de História, Cultura, Política, com ênfase em História do Brasil, História da África e da Escravidão. Atualmente realiza pesquisas na área de análise de imagens, mídias, iconografias, cinema e música, com ênfase em Arte e História da Arquitetura. Pesquisa e leciona também nas áreas de Direito e Ciência Política, com ênfase nos estudos sobre Direito e Diversidade e Criminologia. É autor de três livros, bem como de artigos publicados em periódicos de circulação regional e nacional, tendo como áreas de pesquisa a História, as relações entre História e Direito e as diversas formas de mídias no ensino e pesquisa das Ciências Humanas e Sociais. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 O Segundo Reinado: Transição e Consolidação Política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Dom Pedro II e o Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 A Estrutura Política do Segundo Império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 1.4 Economia, Sociedade e Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 1.5 A Consolidação da Monarquia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 O Segundo Reinado: da Guerra do Paraguai à Escravidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 Da Política Externa ao Início do Desgaste no Segundo Reinado . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.3 A Guerra do Paraguai e a Crise da Monarquia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 2.4 O Fim da Escravidão e a Intensificação da Crise da Monarquia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 A Transição do Império para a República . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.2 O Processo de Desgaste da Monarquia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.3 As “Questões” do Fim do Império. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 3.4 A Transição para a República: Diálogos do Nascente Poder Republicano . . . . . . . . . 50 Referências . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 Referências Básicas, Complementares e Suplementares . . . .57 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 9 História - História do Brasil Império II Apresentação A disciplina História do Brasil Império II é uma das mais importantes para a formação do pesquisador e professor de História. A disciplina História tem as suas particularidades e suas sub- divisões. É a partir destas que você compreenderá a disciplina em sua totalidade, pois a separa- ção em diversas etapas da história permite compreender os processos sociais, políticos, econô- micos e culturais que caracterizam a História em seus diversos tempos. Você, como historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil Império II será de suma importância para a compreensão não só da História do Brasil, mas também da for- mação de parte da Era Contemporânea, ao longo do século XIX. Além disso, o estudo do período monárquico brasileiro é uma oportunidade temática de re- pensar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, nesse caso, do passado pós -independência. No caso da referida disciplina, estudaremos, com mais afinco, o período do Se- gundo Reinado, especialmente o processo que configurou a transição para o período republicano. Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente, como historiador e professor de História, já que ela é fundamental para o trabalho do pesquisador e docente. Os objetivos dessa disciplina são muito claros e podem ser pensados a partir dos seguintes aspectos: • analisar o período conhecido como Segundo Reinado, en- quanto o poder era exercido por Dom Pedro II e eventual- mente pela Princesa Isabel, sua filha; • analisar a política, sociedade e economia do Brasil pós-1840; • avaliar os eventos que marcaram o processo inicial de des- gaste da Monarquia no Brasil; • analisar o período final do Segundo Reinado e a transição para um regime republicano. Após a definição dos objetivos, o material foi produzido e di- vidido em três grandes unidades que tratam da segunda metade do século XIX, e o processo que levou à transição para a Repúbli- ca brasileira. Na primeira unidade, denominada “O Segundo Reinado: transição e consolidação política”, procura-se compreender o iní- cio do governo de Dom Pedro II, desde as dificuldades políticas por ele enfrentadas, no início da regência, dadas as contínuas disputas políticas intra-elites, até o período de maior estabilidade do Segundo Império, sobretudo com as transformações políticas, econômicas e sociais pelas quais o Brasil passou. Na Unidade 2, a proposta é analisar os primeiros elementos que propiciaram o desgaste de Dom Pedro I no poder, representados, aqui, por dois eventos de enorme importância para o fu- turo do Segundo Reinado: a Guerra do Paraguai e o processo do fim do sistema escravista negro. Por fim, na Unidade 3, intitulada “A transição do Império para a República”, avalia-se o des- gaste definitivo do sistema monárquico no Brasil, bem como a incompatibilidade das estruturas monárquicas com o processo de transformação que o Brasil enfrentava, o que, em última instân- cia, levou à proclamação da República, no Brasil, em 1889. Dessa forma, a partir da análise de todo o material e a forma como ele foi concebido, pode- se ressaltar que o período histórico a ser compreendido, através deste estudo, é de 1840 a 1889. Ou seja, o Segundo Reinado e suas estruturas de funcionamento são o primeiro objetivo do estu- do da disciplina. Na segunda parte, a disciplina parte para a análise da desagregação do sistema que, tal como ocorria em muitas nações da época, teria que conviver com transformações e mudanças que se operavam no mundo. No caso do Brasil, o resultado dessas mudanças foi a proclamação da República, marcando o fim do Império brasileiro. Por fim, você perceberá que essa disciplina será fundamental para todo o seu curso. Em rela- ção às demais disciplinas que tratam da História do Brasil, é imprescindível que você identifique, criteriosamente, como se deu o nosso passado monárquico, em todo o seu período, e quais me- todologias são utilizadas no ensino da História do Brasil Império II. ◄ Figura 1: Clio – Deusa da História. Fonte: Disponível em <http://www.tiempo- dehistoria.com/imagenes/ mensajes/clio.jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. 10 UAB/Unimontes - 5º Período Para atender a esse propósito, o texto está estruturado a partir do desenvolvimento das uni- dades e subunidades. A finalidade é permitir que você perceba que as questões para discussão e reflexão são muito importantes e acompanham o texto, assim como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para acessar bibliotecas virtuais na web, etc. Em relação às sugestões e dicas, elas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os respectivos ícones. A leitura dos textos complementares indicados também é importante, pois aponta os possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discussão do tema pro- posto. Trata-se de recursos que podem ser explorados de maneira eficaz, por você, uma vez que promovem atividades de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da análise sociológica e o exercício da leitura e a interpretação dos fenômenos sociais e culturais. Agora é com você. Explore tudo. Abra espaços para a interação com os colegas, para o ques- tionamento, para a leitura crítica do texto, e não se esqueça das atividades e leituras comple- mentares. Bons estudos! O autor. 11 História - História do Brasil Império II UnidAde 1 O Segundo Reinado: Transição e Consolidação Política 1.1 Introdução A formação do sistema monárquico, no Brasil, teve início desde o processo da vinda da famí- lia real para a colônia, no ano de 1808. Depois do evento, singular na história de toda a América, viu-se a formação de uma Monarquia no Brasil que, de forma efetiva e oficial, aconteceu com a Constituição de 1824. O reinado de Dom Pedro I, que compreendeu 10 anos, foi marcado por grandes dificulda- des, sobretudo pelo caráter centralizador e, muitas vezes, autoritário do nosso primeiro gover- nante do período pós-independência. O Primeiro Reinado terminou com a abdicação do impe- rador. Nos 10 anos seguintes, a esse episódio, aconteceu a regência das elites brasileiras, marcada pela intensa disputa de poder intra-elites. O Período Regencial seria ainda mais agitado que o Primeiro Reinado e culminaria com o chamado Golpe da Maioridade, que colocou Dom Pedro II no poder. A partir desse fato, tem-se início o Segundo Reinado, que serviu de tema para a produ- ção de nossa análise, nesta Unidade. Assim, a primeira parte do material tratará exatamente dos primeiros passos de Dom Pedro II e de algumas das mudanças que o Segundo Reinado traria, se comparado aos períodos ante- riores da Monarquia. Com o Segundo Reinado, percebem-se não só algumas alterações na estrutura política do país, como também novas características na economia e na própria sociedade constituída por um mistura de escravos negros e imigrantes, que passaria a caracterizar a sociedade brasileira nas décadas seguintes. Esses primeiros eventos marcaram o Segundo Reinado. 1.2 Dom Pedro II e o Poder Os arranjos e desarranjos da política brasileira, durante o Período Regencial, só seriam resolvidos com muita habi- lidade. As elites brasileiras permaneciam disputando o po- der de forma cada vez mais violenta e repressiva, e as revol- tas regências demonstram claramente o ambiente político que se vivia nos anos que se seguiram à abdicaçãode Dom Pedro I. Nos últimos anos da Regência, as revoltas tornavam-se um problema cada vez maior. As elites, disputando poder internamente, não conseguiram evitar o impacto que as re- voltas trariam ao seu próprio governo. E foi o que realmente aconteceu. No final de 1839, políticos, que viriam a formar o Par- lamento Liberal, começaram a defender o projeto de ante- cipação da maioridade de D. Pedro II. Eles apresentaram a questão como uma solução para a crise de governabilidade. Na verdade, os liberais contavam com a possibilidade de ◄ Figura 2: Dom Pedro II Fonte: Disponível em <http://www.3.bp. blogspot.com/.../s400/Pe- dro_II_farda.jpg>. Acesso em 12 jan. 2010. 12 UAB/Unimontes - 5º Período derrubar o ministério conservador de Araújo Lima e assumir o controle do governo, manipulando o imperador adoles- cente. A fundação do Clube da Maioridade, em 1840, presidi- do pelo liberal Antônio Carlos de Andrada e Silva e o papel da imprensa, igualmente hostil à centralização regencial, contribuíram para o chamado Golpe da Maioridade. Em 23 de julho de 1840, o imperador, com apenas 14 anos, assumiu o Poder Executivo no Brasil, iniciando um rei- nado que se estenderia até 1889. A partir do chamado Golpe da Maioridade, Dom Pedro II se tornaria a figura política mais importante da história monárquica brasileira. O Segundo Reinado, que durou qua- se meio século, tornou-se período de maior estabilidade da Monarquia brasileira. Para Lúcia Guimarães, Dom Pedro II marcou a vida política brasileira, não apenas como im- perador, mas como grande estadista que se tornou. Desde a sua infância, Dom Pedro foi prepara- do para o ofício de imperador. Sua jornada diária era extensa e detalhada, digna de alguém que ocuparia um cargo de grande importância. Conforme a autora: Assim, começou a reinar efetivamente aos 15 anos incompletos. Muito se discu- tiu sobre esse episódio, havendo quem diga que o jovem monarca participou da trama. De todo modo, é fato que, ao ser indagado se desejava assumir o governo, respondeu com a célebre frase: ‘Quero já!’ (GUIMARÃES, 2002, p.199). Para Lúcia Guimarães, Dom Pedro II tornou-se um homem bem educado, diferenciado, com espírito político para enfrentar os inúmeros desafios que o Império brasileiro exigiu. Durante quase 50 anos, o Brasil presenciaria a atuação política de um dos mais importantes homens da História do Brasil. O Segundo Reinado seria decisivo para os rumos que a Monarquia tomaria no Brasil, bem como para a consolidação de importantes setores econômicos, como a economia cafeeira e o ainda incipiente setor industrial. A atuação de Dom Pedro II e das elites, nesse sentido, seria decisiva. Para José Murilo de Carvalho, na conclusão da sua obra “Teatro das sombras”, a Monarquia demonstrava as suas especificidades em relação a outros regimes e mesmo a outras Monarquias (CARVALHO, 2003). Assim, as elites se encontravam em um teatro, ou como o próprio autor ava- lia, em um “teatro de sombras”, em que [...] os atores perdiam a noção exata do papel de cada um. Cada um projetava sobre os outros suas expectativas de poder, criava suas imagens, seus fantasmas [...]. As distorções eram maiores quando se tratava do poder e do papel do rei. Fruto inicial de pacto político, o poder do rei passou a ser o centro do sistema. Um poder derivado, e que nunca deixara de ser, tornou-se, para efeito da realida- de política, incontrastado (CARVALHO, 2003, p. 421). 1.3 A Estrutura Política do Segundo Império Este é o período da história monárquica brasileira em que houve uma maior tranquilidade interna, diferentemente do Primeiro Reinado e do Período Regencial, como vimos no período an- terior do curso. Por essa razão, os anos de 1840 a 1889 podem ser considerados como o auge da Monarquia, fazendo de Dom Pedro II o homem que mais tempo permaneceu no poder na histó- ria política do país. Dom Pedro II governou o Brasil durante quase meio século (1840-1889). O início desse período foi marcado pelo fim do regresso conservador, articulado, na época regencial. A partir de 1850, o Império conheceu uma fase de calmaria na política interna, graças às leis centralizadoras e à estabilidade econômica proporcionada pelo desenvolvimento da eco- nomia cafeeira. O momento é caracterizado pelo grande desenvolvimento que o café alcançou na economia nacional, tornando-se o grande carro chefe da nossa economia. AtividAde Faça uma breve pes- quisa sobre a biografia de Dom Pedro II e os eventos que se ligam diretamente à sua tra- jetória política durante o Segundo Reinado. Comente sua opinião sobre o assunto no fórum de discussão. dicA Retorne ao seu Caderno anterior, de História do Brasil Império I, e pes- quise novamente sobre as elites que se configu- raram na época do Período Regencial. Você perceberá que a estru- tura política montada agora, entre liberais e conservadores, tem sua base política criada no Período Regencial. Figura 3: O menino Dom Pedro II Fonte: Disponível em <http://www.chc.cienciah- oje.uol.com.br/noticias>. Acesso em 12 jan. 2010. ► 13 História - História do Brasil Império II Outros pontos são ainda elucidativos desse período histórico. A pressão da Inglaterra para acabar com a prática da escravidão no país, o que só vai ocorrer no final do século, quando a Monarquia acaba com ela, é um deles. Após 1870, a indústria nacional vai apresentar alguns si- nais de desenvolvimento, apesar de que somente no período republicano efetivou-se o processo industrializador do Brasil. Ainda, nesse contexto, ocorre um momento em que a Monarquia funciona com o parlamen- tarismo, considerado por muitos como um “Parlamentarismo às avessas”. E, externamente, entre as várias questões ligadas à Monarquia, destaca-se a Guerra do Paraguai, um divisor de águas na vida política do Império, levando ao processo de transição para a República. Esse apanhado geral da evolução política do Segundo Reinado é importante em função de ressaltar que o governo de Dom Pedro II teve, durante todo o Segundo Reinado, pelo menos três grandes momentos, que devem ser analisados cuidadosamente. A primeira fase, que compreende o período de 1840 a 1850, foi o período de necessidade de estabilização do regime monárquico, tendo em vista as turbulências políticas que se deram entre o Primeiro Reinado e o Período Regencial. Nesses 10 primeiros anos, portanto, o nosso imperador necessitou lançar mão de estratégias políticas importantes, especialmente tendo em vista o processo de estabilidade necessária junto às elites. Nesse contexto, as disputas políticas intra-elites eram cada vez mais evidentes, e tinham marcado a evolução política de toda a Monarquia: Com a abdicação de D. Pedro I chega à revolução da Independência ao termo natural de sua evolução: A consolidação do “estado nacional”. O primeiro reinado não passara de um período de transição em que a reação portuguesa, apoiada no absolutismo precário do soberano, se conservara no poder. Situação absolu- tamente instável que se tinha de resolver ou pela vitória da reação – a recoloniza- ção do país, que várias vezes, como vimos, ameaçou o curso natural da revolução – ou pela consolidação definitiva da autonomia brasileira, noutras palavras, do “estado nacional”. É este o resultado a que chegamos com a revolta de 7 de abril (PRADO Jr., 1994, p. 64). ◄ Figura 4: A coroação de Dom Pedro II Fonte: Disponível em <http://www.imperiobra- zil.blogspot.com>. Acesso em 4 ago. 2010 ◄ Figura 5: O poder político no Império. Fonte: Disponível em <http://www.2.bp.blogs- pot.com/.../parlamento%- 2Bimpério.jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. 14 UAB/Unimontes - 5º Período A característica marcante das elites no Brasil na época era, sem sombra de dúvidas, a sua falta de homogeneidade,o que levou a disputas políticas. Essas disputas foram estudadas no pe- ríodo anterior do curso, em História do Brasil Império I. As elites apresentavam características distintas, o que revelava que, no caso do Brasil, di- ferentemente de outras nações liberais, não havia uma homogeneidade das elites (CARVALHO, 2003).Essa falta de homogeneidade já foi por nós constatada no próprio processo de indepen- dência, quando se notou que as elites apresentavam percepções distintas de Estado, logo que o Brasil se tornasse independente (CARVALHO, 2003). As elites agrárias e os profissionais liberais que compunham os partidos dominavam a vida politica nacional e controlavam o cidadão em todas as suas esferas, através do voto e das rela- ções paternalistas advindas da estrutura politica colonial brasileira. As elites sugavam o Estado, conforme se vê até hoje diante da máquina política instalada e concentrada nas mãos de grupos políticos minoritários. Existiam grandes latifundiários e coronéis que dominavam a vida política em suas regiões de atuação, seus “currais eleitorais”. Em meio ao Segundo Reinado, liberais e conservadores se confundiam, disputando poder de forma intensa e exigindo do Imperador estratégias de negociação capazes de estabilizar as relações entre império e as elites, elementos que, anteriormente, por terem sido mal conduzidos, levaram ao desgaste político do Primeiro Reinado e do Período Regencial, como vimos. Foi nesse contexto que Dom Pedro II utilizou dois importantes elementos, tendo em vista o processo de estruturação política do Segundo Reinado: a criação do Ministério da Conciliação e o início de um sistema baseado no Parlamentarismo. É interessante observar que alguns fatores no início do Segundo Reinado fizeram com que liberais e conservadores passassem a defender interesses comuns, que estavam vinculados à uni- dade territorial, a manutenção da escravidão e a estrutura do poder nas mãos da aristocracia ru- ral escravista. GLoSSário Liberalismo: 1. Conjunto de ideias e doutrinas que visam assegurar a liberdade individual no campo da política, da moral, da religião, etc., dentro da sociedade.2. Qualidade de liberal. 3. Liberali- dade. conservadorismo: Corrente político-filo- sófica que defende que as melhores instituições não são aquelas que resultam de projetos feitos a partir do nada, mas sim de uma evo- lução gradual ao longo dos séculos. A base do conservadorismo é opessimismo antropo- lógico, a ideia de que o homem é naturalmente egoísta. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. AtividAde Faça uma pesquisa sobre as disputas políticas entre as elites brasileiras, típicas da nossa vida política atual, e verifique que não eram incomuns, mesmo no período monárquico, como fica evidente nas rivalidades, já no início do Segundo Reinado, entre liberais e conser- vadores. Apresente seu ponto de vista sobre o assunto no fórum de discussões. Figura 7: O parlamentarismo na Inglaterra Fonte: Disponível em <http://www.sociales4en- tresierras.wikispaces.com/ file/view/parlamento_in- gles.jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. ► Figura 6: O poder político no Império Fonte: Disponível em <http://www.1.bp.blogs- pot.com/.../s400/juramen- to.jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. ► 15 História - História do Brasil Império II Assim, atendo-se a esses propósitos, com o término de um ministério conservador em 1853, o Primeiro Ministro conservador Honório Herme- to Carneiro Leão (Marquês do Paraná) influenciou a formação de um ministério composto tanto por conservadores quanto por liberais. A formação des- se ministério, denominado de Ministério da Conci- liação, representou uma trégua entre os membros dos dois partidos pelo fato de que ele representou – o que já era um passo importante na época – uma certa aproximação entre os grupos rivais, melhoran- do em certo sentido as relações políticas entre os grupos. Mesmo não sendo responsável por homoge- neizar os grupos políticos em questão, o Ministério da Conciliação, em um período político curto, deu a Dom Pedro II condições de governar de forma me- nos turbulenta, como nas décadas anteriores à Mo- narquia. Entretanto, após a morte do Marquês do Paraná, os conflitos voltaram a ocorrer, e o ministé- rio terminou por se esfacelar em 1858. Pode-se afirmar que Dom Pedro II também se mostrou como o centro de algumas situações e decisões políticas importantes, que marcariam a nossa estrutura monárquica de poder pós 1840. Destacamos aqui a criação do parlamentarismo. Como sabemos, no sistema parlamentar, o Poder Executivo fica sob responsabilidade do Parlamento, a exemplo do que ocorre na atual Inglaterra. Dessa forma, a Monarquia e o parla- mento se estabilizam em uma relação política que permite uma reforma do Estado, em um nível liberal, tal como aconteceu no exemplo clássico da Inglaterra, entre os séculos XVII e XVIII. A esse respeito, vejamos o exemplo da Declaração de Direitos, que criou o sistema parlamentar clássico da Inglaterra. Alguns fragmentos desse documento permitem-nos uma boa comparação com o caso do Brasil de Dom Pedro II. BOX 1 Bill of Rights Os Lords, espirituais e temporais e os membros da Câmara dos Comuns declaram, desde logo, o seguinte: 1. Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu cumprimento. 2. Que, do mesmo modo, é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para dispen- sar as leis ou o seu cumprimento, como anteriormente se tem verificado, por meio de uma usurpação notória. 3. Que tanto a Comissão para formar o último Tribunal, para as coisas eclesiásticas, como qualquer outra Comissão do Tribunal da mesma classe são ilegais ou perniciosas. 4. Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerrogativa, ou em época e modo diferentes dos designados por ele próprio. 5. Que os súditos tem direitos de apresentar petições ao Rei, sendo ilegais as prisões, vexa- ções de qualquer espécie que sofram por esta causa. 6. Que o ato de levantar e manter dentro do país um exército em tempo de paz é contrário a lei, se não proceder autorização do Parlamento. 7. Que os súditos protestantes podem Ter, para a sua defesa, as armas necessárias à sua condição e permitidas por lei. 8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento. 9. Que os discursos pronunciados nos debates do Parlamento não devem ser examinados senão por ele mesmo, e não em outro Tribunal ou sítio algum. 10. Que não se exigirão fianças exorbitantes, impostos excessivos, nem se imporão penas de- masiado deveras. GLoSSário Parlamentarismo: O sistema parlamentarista ou parlamentarismo é um sistema de gover- no no qual o poder Executivo depende do apoio direto ou indireto do parlamento para ser constituído e para governar. Esse apoio costuma ser expresso por meio de um voto de confiança. Não há, nes- se sistema de governo, uma separação nítida entre os poderes Exe- cutivo e Legislativo, ao contrário do que ocorre no presidencialismo. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. ◄ Figura 8: Imagem do Bill of Rights Fonte: Disponível em <http://www.historianet. com.br/imagens/rev_glo- riosa3.jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. 16 UAB/Unimontes - 5º Período 11. Que a lista dos jurados eleitos deverá fazer-se em devida forma e ser notificada; que os jurados que decidem sobre a sorte das pessoas nas questões de alta traição deverão ser livres proprietários de terras. 12. Que são contrárias as leis, e, portanto, nulas, todas as concessões ou promessas de dar aoutros os bens confiscados a pessoas acusadas, antes de se acharem estas convictas ou convencidas. 13. Que é indispensável convocar com freqüência os Parlamentos para satisfazer os agravos, assim como para corrigir, afirmar e conservar as leis. 14. Reclamam e pedem, com repetidas instâncias, todo o mencionado, considerando-o como um conjunto de direitos e liberdades incontestáveis, como também, que para o futuro não se firmem precedentes nem se deduza conseqüência alguma em prejuízo do povo. 15. A esta petição de seus direitos fomos estimulados, particularmente, pela declaração de S. A. o Príncipe de Orange (depois Guilherme III), que levará a termo a liberdade do país, que se acha tão adiantada, e esperamos que não permitirá sejam desconhecidos os di- reitos que acabamos de recordar, nem que se reproduzam os atentados contra a sua reli- gião, direitos e liberdades. Fonte: Disponível em <http://www2.editorapositivo.com.br/pnld/anosfinais/historia8/ehh060.html>. Acesso em 10 set. 2010. No entanto, no Brasil foi diferente. O Poder Moderador que existia desde Dom Pedro I deu novos contornos a esse sistema no país; esse sistema ficou conhecido como “Parlamentarismo às avessas”. O poder era na verdade exercido pelo próprio imperador, ou seja, era como o se o rei reinasse e também governasse. Alguns parágrafos do documento que criou o “Parlamentarismo às avessas” são um exemplo importante para se compreender essa interferência do imperador no funcionamento do parla- mento. Podemos perceber aqui uma estratégia do imperador, que pretendia se mostrar, naquele contexto, como uma figura pretensamente liberal. Começou a funcionar um sistema de governo assemelhado ao parlamentar, mas que não se confunde com o parlamentarismo no sentido próprio da expressão. Em primeiro lugar, lembremos o fato de que a Constituição de 1824 não tinha nada de parlamentarista. De acordo com seus dispositivos, o Poder Executivo era chefiado pelo imperador e exercido por ministros de Estado livremente no- meados por ele. Esse critério é diverso do parlamentarismo, pois nesse sistema o ministério – chamado de gabinete – depende essencialmente do Parlamento, de onde sai à maioria de seus membros (FAUSTO, 2002, p. 179). Figura 9: O parlamentarismo no Segundo Reinado Fonte: Disponível em <http://www.1.bp.blogs- pot.com>. Acesso em 4 ago. 2010. ► 17 História - História do Brasil Império II Nesse sentido, já no final da década de 1840, Dom Pedro II iniciava um importante proces- so de transição da Monarquia brasileira. Os anos de intensa disputa política entre as elites, bem como a eclosão de inúmeras revoltas, tiveram um interregno, e o momento passou a ser de uma relativa estabilidade, marcados especialmente pelo período que iria de 1850 a 1870, quando a economia e algumas alterações sociais marcariam o Segundo Reinado, permitindo que Dom Pe- dro II permanecesse inegavelmente mais tempo no poder, sobretudo se comparado à grande agitação política do Primeiro Reinado e do Período Regencial. Assim, a economia e as mudanças na sociedade teriam um papel importante. 1.4 Economia, Sociedade e Cultura Como explicitamos, o café seria, nesse contexto, o grande marco da nossa economia. Duran- te todo o Segundo Reinado, as exportações do café foram sempre enormes, totalizando quase 60% de todas as exportações do país. Como podemos perceber, a agricultura ainda era o grande setor desenvolvimentista do Brasil. Durante o período colonial e até meados do século XX, a agricultura foi a atividade eco- nômica predominante no Brasil. Pode-se afir- mar que as atividades agrícolas forneceram à metrópole as maiores riquezas, nem mesmo a mineração contribuiu tanto para Portugal. A implantação das fa- zendas se deu pela for- ma tradicional da planta- tion, com o emprego de força de trabalho escra- va. Não era impossível produzir café exportável em pequenas unidades, como o exemplo da Colômbia iria demonstrar. Entretan- to, nas condições brasileiras de acesso à terra e de organização e suprimento de mão-de-obra, a grande propriedade se impôs (FAUSTO, 2002, p. 186). Com o Segundo Reinado, o café adquire um caráter comercial, passando a ser um produto de extremo valor e altamente lucrativo. A plantação de café, no Brasil, vai tomar contornos dos mais amplos, sendo plantado em larga escala na região sudeste. É importante destacar que o café possibilitou uma dinâmica nova na sociedade brasileira, apesar de que não foi o único produto importante, destacando-se também outras culturas, como o próprio açúcar, o algodão, o cacau, o tabaco e a borracha. A cultura do café prevaleceu sobre as demais atividades econômicas até 1930, aproximadamente. Só a partir daí, quando o processo de industrialização conseguiu firmar-se definitivamente, é que a monocultura cafeeira deixou de constituir a base da economia brasileira. AtividAde Procure fazer uma pe- quena pesquisa sobre o processo que levou o café a se popularizar no Brasil ao longo do sécu- lo XIX. Você perceberá que o café também tem a sua própria “história”. GLoSSário Plantation: É um tipo de sistema agrícola ba- seado em uma mono- cultura de exportação mediante a utilização de latifúndios e mão de obra escrava. Foi bastante utilizado na colonização da América, principalmente no culti- vo de gêneros tropicais, e é atualmente comum em países subdesenvol- vidos. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2012. ◄ Figura 11: O café e a sua importância para a economia Fonte: Disponível em <ht- tp//:www.1.bp.blogspot. com/cafe.JPG>. Acesso em 4 ago. 2010. ◄ Figura 10: Trabalhadores no café Fonte: Disponível em <http://www.novah- istorianet.blogspot. com/2009/01/o-cafe>. Acesso em 4 ago. 2010. 18 UAB/Unimontes - 5º Período Antes, porém, despontou-se o poder dos grandes barões de café, que passaram a dirigir a nossa economia. A vida política brasileira foi influenciada pela aristocracia do café ainda por um bom tempo depois da proclamação da República. Quase todos os presidentes do Brasil até 1930 eram ligados à cafeicultura. Importante ainda destacar que o surgimento do café e o desenvolvimento que ele propi- ciou à economia nacional não alteraram a ordem social vigente, sobretudo no que se refere ao tipo de mão de obra empregada para a sua exploração. O grosso da população não viu sua situa- ção alterada, prevalecia o domínio dos grandes barões, e o braço que fazia do café o grande pro- duto do Brasil ainda era o braço do escravo, tão ou mais explorado que nos períodos anteriores. Ainda era reservado ao cativo o título de mãos e pés dos senhores e proprietários, conforme o jesuíta Antonil dizia sobre as lides no período colonial (ANTONIL, 1997). Embora o hábito de consumir café se generalizasse no Brasil, o mercado interno era insuficiente para absorver uma produção em larga escala. O destino dos ne- gócios cafeeiros dependia, e ainda hoje depende, do mercado externo. O avanço da produção caminhou lado a lado com a ampliação do hábito de consumir café entre a classe média cada vez mais numerosa nos Estados Unidos e nos países da Europa. Os Estados Unidos tornaram-se o principal país consumidor do café brasileiro, exportado também para a Alemanha, os Países Baixos e a Escandinávia (FAUSTO, 2002, p. 189). Mesmo com toda a importância que o café teve na economia do Segundo Reinado, cabe salientar outro aspecto relevante. Em relação à economia, a indústria teve, nesse momento, tam- bém um papel a ser lembrado. O século XVIII marcou a chamada “crise do sistema colonial”. A partir da segunda metade do século XVIII ocorrem as crises do Antigo Regime e, por conseguinte, a crise do Antigo Sistema Figura 13: Os escravos na produção cafeeira Fonte: Disponível em <http://www.reporterbra-sil.org.br>. Acesso em 4 ago. 2010. ► Figura 12: Os barões do café Fonte: Disponível em <http://www.paraelesee- laseducacao.blogspot. com>. Acesso em 4 ago. 2010. ► 19 História - História do Brasil Império II Colonial que sustentava o Estado Absolutista. O liberalismo, em seu caráter político e econômico, defendia práticas econômicas que se chocavam com o protecionismo do Pacto Colonial. A Revo- lução Industrial seria fruto de toda essa mudança, tendo na Inglaterra um marco desse processo. (HOBSBAWM, 1999). Para José Murilo de Carvalho, os exemplos dos EUA e mesmo da Inglaterra revelam a forma- ção de uma estrutura liberal de poder, configurando assim modelos para a organização dos Esta- dos da América, entre os quais o Brasil. Interessado em compreender a vida política brasileira no Império, Carvalho analisa o modelo das duas nações acima, relacionando a crise do sistema colo- nial com os processos liberais de nações que formaram os EUA e a Inglaterra, já que elas, para o autor, “representam revoluções burguesas de êxito” (CARVALHO, 2003, p. 28). Não obstante, mesmo com todas essas transformações que se davam na evolução do siste- ma industrial, muitos analistas que estudaram o Brasil consideram que, naquele momento, o país passaria por um “surto industrial”, o que merece, obviamente, ser discutido. A indústria brasileira efetivamente sofreu um surto e se desenvolveu em nível real somen- te no período Republicano, mais precisamente, na Era Vargas. Aceitar que a indústria brasileira apresenta um desenvolvimento a ponto de se chamar de um fenômeno de industrialização, é acreditar numa falsa concepção. De qualquer maneira, percebemos que alguns resquícios da nossa máquina industrial surgem, aqui, pelo menos com alguns investimentos, principalmente de cunho privado. Durante o período monárquico brasileiro, a nossa industrialização foi bastante prejudicada pelos Tratados de 1810, como se pode perceber no pro- cesso que culminou com a indepen- dência do país, cujo tema é recorrente na disciplina História do Brasil Império I. Buscando contrariar essa situação, foram implantados alguns mecanismos a favor da indústria nacional, como a Tarifa Alves Branco, que aumentava a taxa sobre os importados, e a extinção do tráfico negreiro, que vai ocorrer no ano de 1850, especialmente a Lei con- tra o tráfico, denominada de Lei Eusé- bio de Queiroz, tema da nossa próxima unidade. GLoSSário Liberalismo econômi- co: Doutrina que enfati- za a iniciativa individual, a concorrência entre agentes econômicos, e a ausência de interfe- rência governamental, como princípios de organização econômica. Fonte: <babylon.com/ download/dicionarioau- relioda linguaportugue- sa>. Acesso em 24 ago. 2010. AtividAde Faça uma pequena pes- quisa comparando duas tarifas muito importan- te para compreender o processo industrial no século XIX: os Tratados de 1810 e a Tarifa Alves Branco. Tal pesquisa lhe permitirá entender como as duas tarifas re- presentaram situações distintas para a nossa indústria no período monárquico. ◄ Figura 14: A Revolução Industrial. Fonte: Disponível em <http://www.- lh3.ggpht. com/.../s400/Histoblog105. jpg>. Acesso em 4 ago. 2010. ◄ Figura 15: Os trabalhadores nas fábricas Fonte: Disponível em <http://www.coljxxiii.com. br/webquest/braitrevind. gif>. Acesso em 4 ago. 2010. 20 UAB/Unimontes - 5º Período Já em 1850, o Brasil possuía 72 esta- belecimentos industriais; em 1889, esse número chegava a seiscentos. Apesar de a agricultura ainda permanecer como a ati- vidade mais importante, a economia bra- sileira começava a se diversificar (FAUSTO, 2002). Para se ter uma ideia dos investimen- tos particulares realizados na indústria bra- sileira, podemos citar a atuação do Barão de Mauá, o maior empreendedor do Segundo Reinado. Entre outras realizações do mesmo período, podemos citar a criação do Ban- co Mauá, as Companhias de Gás e Bonde e construção de estradas de ferro. No entanto, a falta de apoio do imperador leva esse em- preendedor à falência. Nesse cenário, ainda se percebia aqui uma grande dependência em relação à Inglaterra. Pode-se afirmar que boa parte do pro- cesso de crescimento industrial do Brasil ficava dependente de investimentos priva- dos, tais como os realizados pelo Barão de Mauá, o que, evidentemente, não é suficien- te para um processo dinâmico da industria- lização brasileira, como ocorreu em países como Inglaterra, França ou Estados Unidos. Essas importantes mudanças na econo- mia internacional, atreladas aos princípios liberais, atingiam cada vez mais países da América, como o Brasil, fazendo com que uma transformação importante também se operasse no nível social. Entretanto, a sociedade permanecia escravista, mesmo com todas as pressões vindas da Inglaterra para que o Brasil colo- casse fim no tráfico negreiro, fato que estu- daremos adiante. Pode-se afirmar, contudo, que a manutenção da escravidão conviveria agora com a presença cada vez maior de imigrantes. Nesse contexto, a dependência regio- nal maior ou menor da mão de obra escrava teve reflexos políticos importantes no enca- minhamento da extinção da escravatura. A solução alternativa consistiu em atrair mão de obra europeia para vir trabalhar nas fa- zendas de café. Em relação a esse fenôme- no, devemos nos perguntar, inicialmente, por que não se tentou transformar escravos em traba- lhadores livres, ou por que não se incentivou a vinda de gente das áreas pobres do Nordeste. A resposta à primeira pergunta envolve dois aspectos: de um lado, o preconceito dos gran- des fazendeiros dificultava ou mesmo impedia que eles imaginassem a hipótese de mudança de regime de trabalho da massa escrava; de outro, é duvidoso que, após anos de servidão, os escra- vos estivessem dispostos a ficar em uma situação não muito diversa da que tinham. GLoSSário imigrantes: Que, ou quem imigra; que, ou quem vem estabelecer- se num país estranho. Considera-se como imigração o movimen- to de entrada, com ânimo permanente ou temporário e com a in- tenção de trabalho e/ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/>. Acesso em 4 ago. 2010. dicA Apesar de todo o Brasil utilizar da mão de obra escrava negra, nem to- das as nossas províncias dependiam da mesma forma do trabalho es- cravo. Em seus estudos, procure identificar se essa dependência era maior em relação à pro- dução do café, que fazia da mão de obra escrava um elemento central na exploração econômica do país. Figura 16: O Barão de Mauá Fonte: Disponível em <http://www.tijolaco. com>. Acesso em 4 ago. 2010. ► Figura 17: As ferrovias Fonte: Disponível em <http://www.3.bp.blogs- pot.com>. Acesso em 4 ago. 2010. ► 21 História - História do Brasil Império II Já a resposta à segunda pergunta tem a ver com a argumentação racista que ganhou a mentalidade dos círculos dirigentes do Império, a partir de autores europeus como Buckle e Go- bineau. Eles não só desvalorizavam apenas os escravos ou ex-escravos, mas também os mes- tiços nascidos ao longo da colonização portu- guesa, considerados como seres inferiores. De acordo com essa concepção, a única salvação para o Brasil consistiria em europeizá-los o mais depressa possível. A história da imigração para as zonas ca- feeiras de São Paulo começa no Segundo Rei- nado, mas tem maior impacto nos anos poste- riores à proclamação da Republica. O incentivo à vinda de imigrantes passou por alguns en- saios e erros. Em 1847, Nicolau de Campos Ver- gueiro, antigo regente do Império e fazendeiro, cuja fortuna provinha em boa parte do comér- ciode importação de escravos, tentou uma pri- meira experiência. Com recursos do governo imperial, trouxe imigrantes alemães e suíços para trabalhar em suas fazendas do Oeste Pau- lista, pelo regime de parceria. Figura 21: Imigrantes Fonte: Disponível em <http://www.escolapanamericana. com/.../image008.jpg>. Acesso em 5 ago. 2010. Figura 22: Imigrantes Fonte: Disponível em <http://www.penapolis.sp.gov. br/.../imigrantes0003.jpg>. Acesso em 5 ago. 2010. Os parceiros dedicavam-se principalmente ao trato e à colheita do café, dividindo, com o proprietário da terra, os lucros ou prejuízos anuais. A experiência resultou em inúmeros atritos. AtividAde Faça uma pesquisa sobre as teorias raciais no mundo, sobretudo nas décadas finais do século XIX, para perce- ber como o negro era julgado inferior e como algumas nações passa- ram a utilizar pessoas brancas para “melhorar” as raças nacionais. Figura 20: Nicolau de Campos Vergueiro Fonte: Disponível em <http://www.origem.biz/ fotos/senadorvergueiro. gif>. Acesso em 5 ago. 2010. ◄ Figura 18: Os escravos no café Fonte: Disponível em <http://www.4.bp.blogs- pot.com>. Acesso em 4 ago. 2010. ◄ Figura 19: Conde Arthur de Gobineau Fonte: Disponível em <http://www.upload. wikimedia.org/.../127px- Gobineau_a.png>. Acesso em 4 ago. 2010. 22 UAB/Unimontes - 5º Período Figura 23: Imigrantes italianos Fonte: Disponível em <http://www.4.bp. blogspot.com/.../s320/immigranti_raidue.jpg>. Acesso em 5 ago. 2010. Figura 24: Imigrantes alemães Fonte: Disponível em <http://www.penapolis.com. br>. Acesso em 5 ago. 2010. Figura 25: Família de imigrantes Fonte: Disponível em <http://www.guiasjp.com/ fotos_noticias/foto_1110801599.7566.jpg>. Aces- so em 5 ago. 2010. A retomada de esforços para atrair imigrantes ocorreu a partir de 1871, coincidindo com a aprovação da Lei do Ventre Livre. A relação entre essa Lei e a crescente substituição pela mão de obra livre será por nós estudada na próxima unidade. Prosseguindo, pode-se afirmar que a atração dos imigrantes se fez através de companhias particulares, sem fins lucrativos, cujos recursos provinham do Estado. Vários fatores, de um lado e de outro do oceano, favoreceram o afluxo de imigrantes em grande número. A crise na Itália, que se abateu com mais força sobre a população pobre, resultante da unificação do país e das trans- formações capitalistas, foi um fator fundamental. Ao mesmo tempo, o pagamento de transporte e o alojamento representaram, bem ou mal, um incentivo. A maioria dos imigrantes que chegaram a São Paulo, até os primei- ros anos do século XX, era formada por trabalhadores do campo ou pe- quenos proprietários rurais do norte da Itália – das regiões de Vêneto e da Lombardia, sobretudo, – sem condições de sobreviver com o cultivo de seu pedaço de terra. Segundo Boris Fausto, nos últimos anos do império, a imigração para São Paulo, de qualquer procedência, saltou de 6.500 pessoas, em 1885, para 91.826, em 1888. Nesse último ano, os italia- nos constituíam quase 90% do total. Significativamente, a colheita do café de 1888, que se seguiu à abolição da es- cravatura, em maio daquele ano, pôde ser feita sem problemas de mão de obra disponível (FAUSTO, 2002, p. 206). Figura 26: Guerras pela unificação da Itália Fonte: Disponível em <http://www.4.bp. blogspot.com/.../s1600/ image002.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. Figura 27: Guerras pela unificação da Alemanha Fonte: Disponível em <http://www.pt.wikipedia. org>. Acesso em 9 ago. 2010. ► 23 História - História do Brasil Império II O império brasileiro, em grande parte, durante o período de governo de Dom Pedro II, tam- bém foi palco de relações culturais variadas. A “vida privada” do Brasil Império viu algumas carac- terísticas importantes sendo estruturadas, também em relação aos imigrantes. Segundo Luiz Fe- lipe Alencastro e Maria Luiza Renaux, o cotidiano passou por modificações depois da entrada de imigrantes, isso sem contar as misturas culturais dinâmicas do país, tendo em vista a herança es- cravista. Assim, com a vinda dos imigrantes, descobriu-se o proletariado europeu. Para os autores: A concentração de imigrantes pobres nas cidades confunde aqueles que conta- vam utilizar a imigração branca para “civilizar” o país. Torna-se evidente uma rea- lidade social cujos termos eram até então antinômicos: a existência de europeus pobres, nivelados ao estatuto dos escravos de ganho e do eito, exercendo ati- vidades insalubres e personificando formas de decadência social que pareciam estar reservadas aos negros (ALENCASTRO e RENAUX, In: ALENCASTRO (Org.), 1997, p. 310). 1.5 A Consolidação da Monarquia O período que vai do golpe da maiorida- de, no qual Dom Pedro II assumiu o poder, até meados da década de 1860, pode ser conside- rado como um período de consolidação do Se- gundo Reinado e, por que não dizer, da própria Monarquia brasileira. Em grande parte, as questões econômicas e políticas analisadas acima são elementos fun- damentais para essa compreensão, sobretudo, se comparado ao processo político que se dera entre o Primeiro Reinado e o Período Regencial. Dom Pedro I, mesmo sob a ideia de ter sido res- ponsável pelo processo de independência, não conseguiu permanecer muito tempo no poder, conforme já afirmamos anteriormente. Tal processo levou ao fim do Primeiro Reinado, e com a abdicação do imperador, ini- cia-se o chamado Período Regencial. Também, nessa época, várias agitações políticas marca- ram a Monarquia, especialmente as que se re- ferem às inúmeras revoltas acontecidas, algu- mas das quais estudadas por nós no curso de História do Brasil Império I. A Revolução Farroupilha, só para citarmos um exemplo, demonstrou com clareza as in- tensas disputas políticas que se davam na épo- ca, tendo a questão da autonomia provincial como motivação maior da eclosão dessas re- voltas. Mesmo com a solução encontrada para o evento, ficou clara a necessidade de uma fi- gura política mais conciliadora, mais prepara- da, como Dom Pedro II mostrou-se no período que se conheceu como Segundo Reinado. É nesse sentido que o papel de Dom Pe- dro II fez-se absolutamente central. Obviamen- te, a conjuntura política e econômica da épo- ca do Segundo Reinado era, no mínimo, mais equilibrada que a dos períodos anteriores. Dessa forma, para nos atermos ao exemplo do café, as elites políticas do Segundo Reinado viveram um grau de estabilidade maior, o que permitiu diminuir as tensões políticas. Soma-se a isso também o fato de que as disputas intra-elites normalmente retraíram, permitindo que mu- ◄ Figura 28: Dom Pedro I Fonte: Disponível em <http://www.herisalves. blog.uol.com.br/images/ indepe.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 29: A Revolução Farroupilha Fonte: Disponível em <http://www.4.bp.blogs- pot.com/.../revfarroupi- lha-bento.jpg>. Acesso em ago. 2010. 24 UAB/Unimontes - 5º Período danças políticas como o parlamentarismo diminuíssem as rusgas entre liberais e conservadores, ou seja, trata-se de um esforço maior pela conciliação política liderado por Dom Pedro II. Em relação a esse fato, o papel de Dom Pedro II foi central. O imperador, desde menino, ti- nha sido efetivamente criado para exercer o cargo, o que, inegavelmente, facilitava a sua atuação política. Dom Pedro II parecia efetivamente mais preparado para o exercício do poder monárqui- co, sobretudo se comparado ao seu pai, que governou entre 1822 e 1831. Conforme nos esclare- ce Lúcia Guimarães, Dom Pedro II marcaria a vida política brasileira, não apenas como imperador, mas como grande estadista que se tornaria. Suas palavras são novamente esclarecedoras: Assim, começou a reinar efetivamente aos 15 anos incompletos. Muito se discu- tiu sobre esse episódio, havendoquem diga que o jovem monarca participou da trama. De todo modo, é fato que, ao ser indagado se desejava assumir o governo, respondeu com a célebre frase: ‘Quero já!’ (GUIMARÃES, 2002, p. 199). Para Lúcia Guimarães e para muitos outros autores, Dom Pedro II marcaria a vida política brasileira, e seria em parte responsável pela consolidação da Monarquia brasileira, nos seus qua- se 50 anos no poder. Não obstante, Dom Pedro enfrentaria, entre as décadas de 1860 e 1870, no- vas questões políticas, militares e sociais, que marcariam os rumos do Império brasileiro. Referências ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil – império. São Paulo: Cia das Letras, 1999. ANTONIL, André João. cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte, Rio de Janeiro: Itatiaia, 1997. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem e o teatro das Sombras: a política impe- rial e a construção da ordem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Edusp, 2002. GUIMARÃES, Lúcia. Dom Pedro II. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil im- perial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 198-201. HOBSBAWM, Eric. A revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. concurdas e constitucionais: a cultura política da inde- pendência. Rio de Janeiro: Renan/Faperj, 2003. PRADO JR., Caio. evolução Política do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994. dicA Você sabia que, mesmo sendo a Revolução Farroupilha uma revolta do Período Regencial, ela só foi resolvida pela ação política de Dom Pedro II já no Segundo Reinado? Reflita se esse fato pode ser mais um elemento que explica o impor- tante papel político de Dom Pedro II e, por conseguinte, o seu pa- pel na consolidação da Monarquia brasileira. 25 História - História do Brasil Império II UnidAde 2 O Segundo Reinado: da Guerra do Paraguai à Escravidão 2.1 Introdução Os anos iniciais do Segundo Reinado, como vimos, presenciaram um processo de ajuste da estrutura política monárquica, sobretudo depois de anos de intensas disputas políticas no Pri- meiro Reinado e Período Regencial. Dom Pedro II utilizou-se de importantes alterações políticas, tendo o parlamentarismo como grande exemplo, no intento de diminuir as tensões políticas. Mesmo “às avessas”, o parla- mentarismo permitiu diminuir parte das rusgas entre liberais e conservadores. A economia, por sua vez, estabilizou parte da condição do imperador no poder, e o café passou a sustentar o Im- pério, por décadas. Entretanto, uma mudança importante seria operada a partir de meados da década de 1860, quando, após a Guerra do Paraguai e a intensificação da decadência da escravi- dão, o Império caminharia rumo ao seu fim. É dessa forma que se pode começar a analisar um novo momento no Segundo Reinado, que marcaria o início da decadência de Dom Pedro II e, anos depois, culminaria com o processo de transição da Monarquia para a República. 2.2 Da Política Externa ao Início do Desgaste no Segundo Reinado As décadas de 1850 e 1860, além de presenciarem uma efetivação do poder de Dom Pe- dro II, por razões discutidas na unidade anterior, também presenciariam algumas alterações nas relações políticas do Império. Se a política interna parecia abrandar, melhorando parte das rela- ções entre liberais e conservadores, na qual o parlamentarismo teve importante efeito, a política externa parecia levar o Segundo Reinado para novos rumos. Rumos esses que marcariam uma importante transição na Monarquia brasileira. As relações com a Inglaterra e com os países pla- tinos, nossos vizinhos da América, demonstrariam o início de uma mudança na política de Dom Pedro II, que culminaria com a entrada na Guerra do Paraguai. No momento, atentemos primeiro às relações politi- cas ediplomáticas com os britânicos. Desde o governo de Dom Pedro I, as relações diplomáticas entre Brasil e Inglaterra foram, de certo modo, deteriorando-se, em função dos desentendimentos quanto à questão es- cravista, fato que contribuiu para culminar na chamada Questão Christie. Apesar da proximidade das relações com os ingle- ses, ficava evidente que Brasil e Inglaterra matinham interesses distintos em muitos aspectos, como ficou comprovado pela questão da abolição do tráfico, que discutiremos ainda nesta unidade. dicA A Inglaterra foi, durante muito tempo, uma nação escravista, mas, já em meados do século XIX, era a grande nação que se posicionava con- tra o tráfico. Tal questão deve ser vista de acordo com os interesses eco- nômicos dos ingleses, na ânsia por mercado consumidor na América. ◄ Figura 30: Dom Pedro II. Fonte: Disponível em <http://www.franklinmar- tins.com.br>. Acesso em 9 ago. 2010. 26 UAB/Unimontes - 5º Período Em meio a esse processo, destaca-se a Questão Christie. O início da contenda ocorreu em 1861, em razão de dois acontecimentos isolados que envolviam ingleses. O primeiro relaciona-se ao naufrágio de um navio inglês próximo ao Rio Grande do Sul, cuja carga foi pilhada pela po- pulação local. Já o segundo, relaciona-se à prisão de 3 oficiais ingleses, que estando à paisana e embriagados, encontravam-se promovendo desordem pelas ruas do Rio de Janeiro. Na ocasião, Willian Christie, representante diplomático da Inglaterra no Brasil, passou a exi- gir não só uma pesada indenização pela carga pilhada (3200 libras esterlinas), como também a liberdade dos oficiais presos e a punição dos militares brasileiros que os prenderam (FAUSTO, 2002). Entendendo como afronta a punição dos militares brasileiros que atuaram legalmente, Dom Pedro II concordou apenas com o pagamento da indenização e a liberdade dos oficiais. Não sa- tisfeita, a Inglaterra aprisionou 5 navios brasileiros em uma ilha do Atlântico, fato que resultou em alguns conflitos entre brasileiros e comerciantes ingleses no Brasil. Em virtude desses incidentes e por não chegarem a um acordo, o rei Leopoldo I da Bélgi- ca, atuando como árbitro internacional, apoiou o Brasil e considerou que a Inglaterra deveria retratar-se. Como se negou a fazê-lo, em 1863, as relações diplomáticas en- tre Brasil e Inglaterra foram rompidas. Entretanto, em 1865, com o início da Guerra do Paraguai, a Inglaterra, em razão de seus interesses na região do Prata, formalizou o pedido de descul- pas ao governo brasileiro, possibili- tando reatamento das relações diplo- máticas. É interessante notar como tal rusga entre brasileiros e ingleses de- monstra que o grau de estabilidade na relação entre os dois países já nao era o mesmo. Desde a independência, a relação entre Brasil e Inglaterra pas- sava sempre por novas adaptações, com renovações de tratados e, espe- cialmente, pelos problemas ligados ao tráfico. Nesse contexto, aos poucos de- senhava-se uma alteração na política externa brasileira, que culminaria com a entrada do país na Guerra do Para- guai, que discutiremos à frente. Um outro aspecto da política ex- terna do Segundo Reinado que me- rece maior atenção são as chamadas Guerras Platinas. As lutas travadas pelo controle da região do Prata en- tre portugueses e espanhóis durante o período colonial e, posteriormente, entre brasileiros e argentinos, acaba- ram contribuindo para a formação da República do Uruguai em 1828. Entretanto, devido o conjunto de interesses envolvidos na região, a nova República acabou sendo objeto de disputas políticas entre brasileiros e argentinos. Nesse sentido, o Uruguai via-se dividido entre o Partido Colora- do vinculado aos brasileiros e o Parti- do Blanco vinculado aos argentinos. Em meio a essa disputa, em 1851, o blanco Manuel Oribe assumiuGLoSSário tráfico negreiro: Chama-se de tráfico negreiro o transporte forçado de negros como escravos para as Américas e para outras colônias de países euro- peus, durante o período colonialista. A escrava- tura foi praticada por muitos povos, em dife- rentes regiões, desde as épocas mais antigas. Eram feitos escravos, em geral, os prisioneiros de guerra. Na Idade Moderna, sobretudo a partir da descoberta da América, houve um florescimento da escra- vidão. Desenvolvendo- se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças entre a África e as Américas. A escravi- dão passou a ser justifi- cada por razões morais e religiosas e baseada na crença da suposta superioridade racial e cultural dos europeus. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download// wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. Figura 31: A região do Prata Fonte: Disponível em <http://www.geografiapa- ratodos.com.br>. Acesso em 9 ago. 2010. ► Figura 32: O Uruguai Fonte: Disponível em <http://www.guiageo -americas.com/mapas/ mapa/uruguai.jpg>. Aces- so em 9 ago. 2010. ► 27 História - História do Brasil Império II o governo uruguaio, aliou-se a Juan Manuel Rosas da Argentina (que tinha a pretensão de restabelecer o Vice-Reino do Prata) e bloqueou o porto de Montevidéu, prejudicando o co- mércio de brasileiros, ingleses e franceses na região. Diante dos acontecimentos e temendo que a Argentina passasse a controlar as duas margens do rio do Prata, o Brasil apoiado pela Inglaterra, iniciou a invasão do Uruguai. As tro- pas brasileiras (boa parte farroupilha), coman- dadas pelo futuro Duque de Caxias, contaram com o apoio do colorado Rivera (ex-presidente uruguaio) e do general argentino Urquiza (que se opunha a Rosas). No desencadear dos confli- tos, os blancos foram derrotados e o colorado Rivera assumiu o governo Uruguaio. Em segui- da, em 1852, após a batalha de Monte Caseros, Rosas foi derrotado e Urquiza assumiu o gover- no argentino. Apesar da vitória, em 1864, os blancos reassumiram o poder no Uruguai com a as- censão de Aguirre à presidência. Assim, nova- mente, o Brasil passou a se ver prejudicado e os conflitos se reiniciaram.Sem soluções por meios diplomáticos, tropas brasileiras coman- dadas pelo General Mena Barreto (apoiadas pe- los colorados) invadiram o Uruguai, enquanto a esquadra brasileira, comandada pelo Almiran- teTamandaré, postou-se diante de Montevidéu. Sem dispor de condições para resistir, Aguirre acabou renunciando, fato que descon- tentou o presidente paraguaio Solano López, que tinha boas ligações com os blancos uru- guaios. As questões explicitadas, bem como os seus detalhes, são reveladores de um aspecto ainda mais importante. À medida que avança- va o século XIX, as disputas na região pareciam cada vez mais intensas, dando contornos de uma relação tensa que marcaria a história dos países envolvidos. Brasil, Argentina e Uruguai, em especial, faziam parte de um jogo que fatal- mente levaria a conflitos e que se tornaria ain- da mais agravante quando se desse a entrada de uma nova nação em cena. O Paraguai e o seu intenso crescimento seria o elemento que transformaria a relação na região do Prata em um barril de pólvora, ocasionando uma das maiores guerras da his- tória do continente, e mudando definitivamen- te os rumos do poder monárquico no Brasil. A Guerra do Paraguai dividiria a história brasilei- ra, levando Dom Pedro II a uma crise crescente. AtividAde Faça uma breve pes- quisa sobre a história da região platina, especialmente sobre a Argentina e o Uruguai. Você perceberá como se moldou parte das riva- lidades entre os países, sobretudo devido às disputas territoriais que se deram ao longo de décadas. ◄ Figura 35: Duque de Caxias Fonte: Disponível em <http://www.jbitten.files. wordpress.com/2010/03/ dqcaxias.gif>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 34: Juan Manuel Rosas Fonte: Disponível em <http://américa.info/wp- content/uploads/2010/01/ Juan-Manuel-de-Rosas. jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 33: Manuel Oribe Fonte: Disponível em <http://www.biografiasy- vidas.com/biografia/o/ fotos/oribe.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. 28 UAB/Unimontes - 5º Período 2.3 A Guerra do Paraguai e a Crise da Monarquia Seria necessário um conflito em grandes proporções para marcar de forma decisiva a histó- ria da Monarquia brasileira. Após décadas e décadas de disputas políticas entre as elites brasileiras e portuguesas, e de diversas disputas entre poder central e poder provincial, assim como décadas de revoltas espa- lhadas por todo o país, o governo monárquico, agora sob a liderança de Dom Pedro II, teria na Guerra do Paraguai um ponto decisivo. No final, o Brasil venceria o conflito, mas a Monarquia pa- recia efetivamente derrotada, especialmente devido à crescente pressão exercida pelo exército brasileiro. No contexto político externo desse momento, não há ponto de maior destaque quanto à Guerra do Paraguai. Ocorrida entre os anos de 1865 a 1870, esse conflito foi o responsável pela destruição do Paraguai, país em ascensão antes da Guerra. Após a independência do Paraguai, em 1811, seus governantes procuraram tornar a econo- mia do país autossuficiente, incentivando o desenvolvimento da produção agrícola e manufatu- reira, além disso, estabeleceram um eficiente sistema de educação pública e modernizaram os transportes e as comunicações. O governo paraguaio controlava a economia, com êxito, conse- guindo superávits em sua balança comercial. Pode-se afirmar ainda que, depois da independên- cia, o Paraguai passaria por um processo de intenso desenvolvimento, erradicando inclusive pro- blemas sociais, como o analfabetismo. AtividAde Faça uma breve pesqui- sa sobre os grupos dos blancos e dos colorados no Uruguai, procurando notar com as suas dis- putas políticas tinham grande semelhança com as disputas entre liberais e conservadores no Brasil, ao longo do século XIX. AtividAde Faça uma pesquisa sobre a atual condição social e econômica do Paraguai, e busque comparar com as condi- ções mostradas aqui, na época da guerra. Você verá que o país, hoje, em grande parte, tem a pobreza como resultado do extermínio sofrido com a guerra. Comente sua opinião sobre o assunto no fórum de discussão. dicA Para complementar seus estudos, procu- re conhecer sobre a biografia de Solano Lopes, líder político paraguaio, e perceba como o caráter político pode ser explicativo também de algumas das atitudes expan- sionistas do Paraguai naquela época, o que, para muitos especialis- tas, justifica as grandes rivalidades existentes entre o Paraguai e os países vizinhos, como foi o caso do Brasil. Figura 36: O Paraguai no século XIX Fonte: Disponível em <http://www.200.135.34.3/ criacac/img/wiki_up/ map_par.gif>. Acesso em 9 ago. 2010. ► 29 História - História do Brasil Império II Gradativamente, o Paraguai buscou crescer, vinculando-se ao mercado externo. Aumentou então seu interesse pelo controle da navegação fluvial dos Rios Paraguai e Paraná e pelo livre trânsito através do porto de Buenos Aires. Foi nesse quadro que Solano López ascendeu ao poder em 1862, depois da morte de seu pai (FAUSTO, 2002, p. 211). O Paraguai era o único país da região que não apresentava dívida externa, pois não dependia do capital da Inglaterra para sobrevivência da sua economia. Portan- to, o Paraguai era um país nacionalista, que buscava um desenvolvimento autossufi- ciente. Logicamente, tais fatores passam a incomodar nações como a Inglaterra, que veem no Paraguai um inimigo a ser derrotado, a “ovelha negra” da América doSul. Com isso, a Inglaterra vai estimular diretamente uma guerra contra aquele país. Já no ano de 1864, Solano Lopes inicia um possível processo de expansão de fronteiras no país, com o objetivo de encontrar uma saída pelo mar, buscando, as- sim, melhorar o trânsito comercial paraguaio. No ano seguinte, Solano ocupa o Nor- te da Argentina. Decorre daí o início da guerra, com a formação da tríplice aliança contra o Paraguai: Brasil, Argentina e Uruguai (estimulados e financiados pelos ingleses). Durante a guerra, a atuação dos ingleses é fundamental, pois parte do seu apoio leva à derro- ta massacrante dos paraguaios frente aos seus adversários, no ano de 1870. O Brasil, por sua vez, teria papel decisivo no conflito, tendo em vista ter sido a nação que diretamente derrotou os para- guaios nas batalhas continentais. Terminada a guerra, o Paraguai se vê numa situação de derrota absoluta. O processo de modernização do Paraguai tornou-se coisa do passado e o país conver- teu-se em um exportador de produtos de pouca importância. Os cálculos mais confiáveis indicam que metade da população paraguaia morreu, caindo de aproximadamente 406 mil habitantes, em 1864, para 231 mil, em 1872. A maioria dos sobreviventes era de velhos, mulheres e crianças. Figura 37: Solano Lopez Fonte: Disponível em <http://www.historiabra- sileira.com/files/2009/12/ solano-lopez.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 39: O Paraguai e o contrabando atual Fonte: Disponível em <http://www.noticiaspoli- ciais.com.br>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 38: A Guerra do Paraguai Fonte: Disponível em <http://www.mnecho. com/images/riachuelo. jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. 30 UAB/Unimontes - 5º Período Para os “vitoriosos”, a Guerra também custou caro. O Brasil, por exemplo, por esse motivo, aumentou a sua dívida com os ingleses, e consequentemente, a sua dependência em relação ao mesmo. Ainda, por causa da guerra, o Brasil perdeu milhares de soldados e contraiu pesados em- préstimos no exterior para financiar as expedições contra o Paraguai. O Exército brasileiro foi consolidando-se’ no correr da Guerra do Paraguai. Até então, o Império contara com um reduzido corpo profissional de oficiais e encon- trara muitas dificuldades para ampliar os efetivos. Não havia serviço militar obri- gatório, e sim um sorteio muito restrito, para servir no Exército. Os componentes da Guarda Nacional, que eram a grande maioria da população branca, estavam isentos desse serviço. Até a Guerra do Paraguai, a milícia gaúcha dera conta das campanhas militares do Brasil no Prata, mas ela se revelou incapaz de enfrentar um exército moderno como o paraguaio (FAUSTO, 2002, p. 214). Depois de 1870, muita coisa mudaria na vida política do Segundo Reinado. A relação de de- pendência do Brasil com a Inglaterra era somente um dos efeitos que o conflito teria no país. A questão do exército, com certeza, seria a mais marcante. A guerra tornaria-se o ponto maior na consolidação do exército brasileiro, que não tinha, até aquele conflito, sido efetivamente organi- zado. Com a vitória sobre os paraguaios, uma nova situação política configurava-se, Dom Pedro II teria que ser extremamente hábil para lidar com a crescente influência política do exército, bem como com os seus interesses. Dessa forma, uma situação ligada à política externa do país, como fora o Paraguai, levaria agora a um novo problema de política interna e que, tempos depois, seria crucial nos rumos que a Monarquia brasileira tomaria. Antes, outra temática também marcaria os rumos da crise da Mo- narquia no Brasil e que parecia cada vez mais de urgente resolução por parte do Estado: a ques- tão da escravidão negra. 2.4 O Fim da Escravidão e a Intensificação da Crise da Monarquia A escravidão do negro no Brasil é um dos temas de maior debate entre os historiadores. Você sabia que, no caso brasileiro, o negro foi escravizado por mais de três séculos? Você sabe da importância desses mesmos negros para a formação cultural e política do Brasil? E o mais impor- tante: você sabia que boa parte das nossas atuais relações sociais e econômicas de trabalho têm resquícios na nossa relação escravista? dicA É importante notar que a atual situação do Pa- raguai, uma economia atrasada e dependente, tem muito a ver com os problemas advindos da Guerra de 1865 a 1870. Nesse caso, cabe pensarmos, então, no papel do Brasil como agente responsável por parte do atraso para- guaio, tendo em vista a nossa decisiva atuação no massacre imposto àquele país. AtividAde Faça uma pesquisa so- bre a escravidão negra no Brasil por meio dos livros que foram pro- duzidos sobre o tema. Você perceberá que o tema “escravidão” é um dos mais discutidos pela historiografia brasileira. dicA Você sabia que o Brasil foi um dos últimos países modernos a acabar com o regime de escravidão? Tal evento deu-se com a Lei Eusé- bio de Queiroz. Figura 40: O Paraguai e o contrabando atual Fonte: Disponível em <http://www.gaz.com. br/.../grande/87312_con- trabando1.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. ► 31 História - História do Brasil Império II Você deve ter notado que as questões acima não são de simples resposta. Muitos de nós não conseguimos estabelecer uma relação clara entre a escravidão negra bra- sileira e as relações raciais e sociais de po- breza no país. Você tem consciência dessa relação? Para isso, torna-se necessário com- preender um pouco do nosso passado es- cravista, por meio do estudo da cultura, das relações de trabalho coloniais e das formas de resistência dentro do sistema escravista. Não obstante, preocuparemo-nos aqui com a desagregação do regime escravista negro no Brasil, tendo em vista que, na pri- meira metade do século XIX, já se percebia uma forte pressão para o fim do tráfico ne- greiro no Brasil e, por conseguinte, para o fim do regime escravista. Nesse contexto, a abolição da escravidão no Brasil passaria por um longo processo político. Assim, foi durante o Segundo Reinado que o processo para a abolição acelerou, tendo em vista a criação das principais leis antiescravistas, naquela época. Ao longo do século XIX, a escravidão continuava sendo a base das relações de trabalho, no Brasil, já que a mão de obra escrava era sobremanei- ra superior à utilização do trabalho livre. Nesse sentido, o debate em torno da liberdade escrava era tão intenso e acabou se configurando como parte das rivalidades intra-elites do Império. Li- berais e conservadores confundiam-se nos discursos pró e contra escravidão, dependendo dos interesses pessoais de determinados grupos. As ideias abolicionistas existiram no Brasil mesmo antes da Independência. Entretanto, foi apenas no século XIX que, juntamente com a propagação dessas ideias, surgiram condições eco- nômicas, sociais e políticas favoráveis à abolição da escravatura. O processo de extinção do tra- balho escravo iniciou-se efetivamente em 1850, com a proibição do tráfico negreiro e terminou em 1888, com a assinatura da Lei Áurea. As possibilidades de discussão acerca da abolição da escravidão no Brasil são diversas. Vá- rios são os fatores discutidos que teriam contribuído para efetivar o fim da escravidão no Brasil. Discute-se muito o papel fundamental que a Inglaterra teria nesse contexto, e é importante dis- cutir esse ponto. Em relação a isso, podemos avaliar a Lei Eusébio de Queiroz, responsável pelo fim do tráfico negreiro internacional praticado pelos brasileiros. A historiadora Hebe Mattos avalia que muito antes da promulgação da lei, em 1850, o tráfi- co perdia legitimidade aos poucos, “até tornar-se ilegal na maioria dos países que o praticavam, nas primeiras décadas do século XIX” (MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 474). É digna de destaque que a discussão sobre o fimdo tráfico levou à promulgação de uma lei, em 1831, a famosa lei conhecia como “lei para inglês ver”. A lei não pegou apesar dos esforços de parte da oposição li- beral, especialmente nos anos 1830. Sobre essa lei, a autora Hebe Mattos destaca parte das pres- sões da Inglaterra, interessada no fim definitivo do tráfico negreiro no Brasil. Num movimento de tensão internacional crescente, desenvolveu-se, especial- mente na corte, um forte sentimento antibritânico associado à defesa do tráfico e à legitimidade da escravidão entre a população livre do país. Foi nesse contexto que um novo gabinete conservador, liderado por Euzébio de Queiroz, conseguiu aprovar no Parlamento, em 1850, a Lei n.º 581 (MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 474). GLoSSário Abolição: Ação ou efei- to de abolir. O abolicio- nismo foi um movimen- to político que visou à abolição da escravatura e do comércio de escra- vos. Teve as suas origens durante o Iluminismo no século XVIII e tornou- se uma das formas mais representativas de ati- vismo político do século XIX até a atualidade. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. dicA Tenha a Lei Áurea no seu próprio computa- dor. Faça um download da Internet e veja como uma lei tão importante não faz nenhuma men- ção à situação do negro pós-escravidão. ◄ Figura 42: O cotidiano de crianças em trabalho pesado. Fonte: Disponível em <http://www.estadao. com.br/fotos/carvoarias. jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄ Figura 41: Johann Moritz Rugendas O cotidiano escravista colonial. Fonte: Disponível em <http://www.exposi- caomulheresreais.com/ voceSabia_modos.htm>. Acesso em 9 ago. 2010. 32 UAB/Unimontes - 5º Período Dessa forma, a questão do tráfico constituiria-se em aspecto fundamental nos debates so- bre o fim da escravidão negra no Brasil. Durante décadas, esse foi o principal tema presente nos debates entre as elites e, sobretudo, nas pressões que vinham da Inglaterra sob o Brasil (RODRI- GUES, 2000). Portanto, a partir do estudo das questões que levaram ao fim o tráfico de escravos junto à África, não há como negar que a Inglaterra teve, sim, um papel de destaque nesse con- texto, pois não se pode deixar de lado que a possibilidade de abolir a escravidão traria ao merca- do mais consumidores. No entanto, é importante frisar que não seria tão fundamental essa questão, afinal o escravo livre e o imigrante, como grande braço de trabalho, não implicaria que eles gerariam um merca- do consumidor. Mesmo com o fim do tráfico negreiro, o processo que levou à abolição da escravidão con- tinuou em intenso debate e várias outras leis foram promulgadas, ao longo do século XIX, bus- cando-se, gradualmente, abolir a escravidão no país. Destaca-se aqui a Lei do Ventre Livre, talvez singular quanto à possibilidade de se analisar o papel das elites junto ao poder no Segundo Rei- nado. Promulgada em 28 de setembro, a Lei do Ventre Livre – como ficou conhecida – passou a regulamentar diversas situações relacionadas à liberdade escrava no Brasil. Algumas das suas disposições podem ser destacadas: BOX 2 Lei do ventre Livre Art. 1º Os filhos da mulher escrava, que nascerem no Império desde a data desta Lei, se- rão considerados de condição livre. # 1º Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. [...] # 2º Qualquer desses menores poderá remir-se do ônus de servir, mediante prévia inde- nização pecuniária, que por si ou por outrem ofereça ao senhor de sua mãe, procedendo-se à avaliação dos serviços pelo tempo que lhe resta preencher, se não houver acordo sobre o quantum da mesma indenização. [...] # 7º O direito conferido aos senhores no # 1º transfere-se nos casos de sucessão neces- sária, devendo o filho da escrava prestar serviços à pessoa a quem nas partilhas pertencer a mesma escrava. [...] Art. 4º É permitido ao escravo a formação de um pecúlio com o que lhe provier de doa- ções, legados e heranças, e com o que, por consentimento do senhor, obtiver do seu trabalho e economias. O governo providenciará nos regulamentos sobre a colocação e segurança do mesmo pecúlio. [...] # 2º O escravo que, por meio de seu pecúlio, obtiver meios para indenização de seu valor, tem direito à alforria. Se a indenização não for fixada por acordo, o será por arbitramento. Nas vendas judiciais ou nos inventários o preço da alforria será o da avaliação. dicA Para complementar seus estudos, procure conhecer mais sobre a Revolução Industrial e veja como a Inglaterra tinha enormes interes- ses em acabar com a escravidão nos países da América, entre os quais, o Brasil. Figura 43: Johann Moritz Rugendas O tráfico negreiro Fonte: Disponível em <http://www.materias- neltonlandia.blogspot. com/2007/03/civilizao-do -acar.html>. Acesso em 9 ago. 2010. ► 33 História - História do Brasil Império II [...] # 4º O escravo que pertencer a condôminos, e for libertado por um destes, terá direito à sua alforria, indenizando os outros senhores da quota do valor que lhes pertencer. Essa inde- nização poderá ser paga com serviços prestados por prazo não maior de sete anos, em con- formidade do parágrafo antecedente. [...] Art. 6º # 5º Em geral, os escravos libertados em virtude desta Lei ficam durante cinco anos sob a inspeção do governo. Eles serão obrigados a contratar seus serviços sob pena de serem constrangidos, se vive- rem vadios, e a trabalhar nos estabelecimentos públicos. Fonte: ALANIZ, 1997, p. 103-107. A transcrição de alguns dos artigos dessa Lei tem o ob- jetivo de mostrar o quão com- plexo era o tema, já que discutir a liberdade escrava pressupu- nha analisar várias temáticas em conjunto e não apenas pro- mover a libertação, até porque muitos interesses políticos se apresentavam. A Lei de 1871, dessa for- ma, permite-nos entender boa parte do debate que se dava naquele contexto. Para deter- minados autores, a Lei apenas refletiu uma luta anterior dos próprios escravos pela sua própria liberdade, pois, muito antes da referida Lei, os cativos já lutavam por antigos “direitos costumeiros”. Segundo Eduar- do França, esses escravos, ho- mens e mulheres, [...] construíram direitos costumeiros e que enfrentaram seus senhores tentan- do fazer valer seus direitos de escravos por meio da Justiça de uma sociedade escravista parecem querer nos advertir sobre a necessidade premente de evitarmos a separação entre elas, embora reconhecendo suas especifi- cidades. É enganoso imaginar que a dimensão da cultura prescinde da dimensão política e vice- versa. No viver cotidiano, na construção de uni- versos culturais, na elaboração de tradições e de práticas e na arte da política, os homens e mulhe- res cativos do passado foram mestres competen- tes e parecem ter muito a dizer aos pensadores de outros tempos (PAIVA, 2003, p. 29). Nesse sentido, acreditamos tratar-se de um equívoco pensar na Lei de 1871 como a resolução dos problemas relativos à liberdade escrava no Brasil. O que efetivamente parece ter mudado foi a ima- gem que a justiça fazia da situação, aumentando a importância que o Direito teve na luta contra a escravidão (CHALHOUB, 1990. MATTOS, 1998). Deve-se deixar claro que não se trata aqui de diminuir a impor- tância da referida Lei nas relações senhor-escravo, o que, fatalmente, seria um grande erro. Trata-se de redimensionar o papel da Lei e ana- lisar até que ponto ela alterou as relações no sertão. Keila Grinberg es- clarece: Figura 45: Mulheres e crianças na escravidão Fonte: Disponível em <http://www.portalven- trelivre.com>. Acesso em 9 ago. 2010. ◄Figura 44: Crianças escravas Fonte: Disponível em <http://www.marcelocoe- lho.folha.blog.uol.com. br/images/sweepers.jpg>. Acesso em 9 ago. 2010. 34 UAB/Unimontes - 5º Período De fato, promulgada em 1871, depois de intensos debates, a Lei do Ventre Livre alterou radicalmente o status do escravo no Brasil, a partir do momento em que oficializou aquilo que quase todos esperavam, mas receavam tornar público: o fim do sistema escravista neste país, ao estabelecer que todos os filhos de escra- vos nascidos a partir de então seriam considerados livres (GRINBERG, 2002, p. 317). Em livro publicado recentemente, Alys- son Luiz Freitas de Jesus analisou a referida Lei e o processo de debate entre as elites sobre o fim da escravidão no Brasil. Para o autor, a Lei acabou por moldar um novo discurso dos po- líticos que se diziam abolicionistas e, por con- seguinte, intensificou o processo de liberdade escrava, já que o tráfico negreiro já havia sido extinto (JESUS, 2007). Mesmo sendo a Lei um passo para o fim da escravidão, o autor revela que as suas prer- rogativas também beneficiaram os discursos das elites, em seu jogo entre liberalismo e es- cravidão: Dessa forma, entendemos a lei a partir de uma aná- lise thompsoniana, o que nos leva a avaliar que a Lei de 1871 – como qualquer outra – não servia apenas aos interesses de determinada classe, ou seja, as re- gras legais não serviam apenas como instrumentos dos dominadores para oprimir os dominados. Justa- mente por esse aspecto, não podemos ingenuamen- te acreditar que, inversamente, a Lei do Ventre Livre servia apenas aos cativos. [...] A Lei era um espaço de conflito, e não pode ser explicada pela premissa de que foi elaborada para atender aos interesses de uma determinada classe em detrimento de outra (JESUS, 2007, p. 180). Sidney Chalhoub, procurando avaliar o pa- pel da mesma Lei na liberdade escrava, acen- tua que a Lei de 1871 funcionaria como um es- paço da “luta de classes” entre cativos e livres, pois, se por um lado favorecia o surgimento de ações por parte dos cativos que se considera- vam no direito de efetivar juridicamente a sua liberdade, por outro, a Lei também era apro- priada pela camada senhorial, que expunha por meio das ações todo um “repertório da resistência escravocrata à Lei de 1871” (CHA- LHOUB, 2003, p. 258). A Lei de 1871, portanto, revela que muitas questões ainda precisavam ser discutidas sobre o fim da escravidão, e outras duas leis ainda se- riam decisivas no processo. Uma delas seria a Lei dos Sexagenários, de 1885. A Lei dos Sexagenários marcaria de for- ma singular o processo de discussão em torno do fim da escravidão no Brasil. Tratada muitas vezes até com ironia e sarcasmo, a Lei carrega em si importantes questões pensadas na épo- ca e que devem ser valorizadas no debate em questão. Mendonça, em texto fundamental para a análise da Lei dos Sexagenários, faz uma impor- tante análise da evolução do processo que levou à criação dessa Lei, no ano de 1885. Também conhecida como Lei Saraiva-Cotegipe, a Lei libertava os escravos com mais de 60 anos existen- tes no país. A autora demonstra que projetos anteriores foram apresentados para essa execução, Figura 47: Idosos na escravidão Fonte: Disponível em <http://www.fotosantigas. prati.com.br/>. Acesso em 10 set. 2010. ► Figura 46: Mulher e criança na escravidão Fonte: Disponível em <http://www.studium.iar. unicamp.br>. Acesso em 10 set. 2010. ► 35 História - História do Brasil Império II discutindo questões como indenização ou cui- dados dos senhores com os escravos inválidos. No entanto, projetos com esse tipo de discus- são, com preocupações de caráter mais social ou humanitário sobre os escravos idosos foram violentamente rejeitados pela maioria da Câ- mara dos Deputados (MENDONÇA, 1999). Hebe Mattos, em análise sobre a Lei, tam- bém avalia alguns dos seus pontos mais polê- micos. Em uma comparação com a própria Lei do Ventre Livre, avalia a autora: Boa parte da historio- grafia sobre o processo abolicionista destacou o pequeno impacto práti- co das leis emancipacio- nistas, tendo em vista que tanto os ingênuos nascidos após a Lei do Ventre Livre quanto os sexagenários libertos em 1885 estavam sujeitos à prestação de servi- ços aos seus antigos senhores. [...] Tais avaliações têm sido revistas por pesquisas que têm privilegiado as questões jurídicas relativas à obtenção da liberdade e seus efeitos práticos na diminuição acelerada do número de escravos, nas últi- mas décadas da escravidão (MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 473). Mesmo assim, afirma Hebe Mattos, a Lei de 1885 “pôde ser favoravelmente apropriada por escravos e seus aliados em luta pela liberdade” (MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 473). É importante salientar que, mesmo com todo o de- bate que se pode fazer em torno dessas Leis, obviamente, todas tiveram um impacto fundamental no processo que levaria o fim a escravidão. Todas, em seu conjunto, culmi- nariam com a Lei Áurea. Martha Abreu e Hebe Mattos, analisando a impor- tância da Lei Áurea em todo o processo abolicionista, demonstram como ela foi resultado de um processo que envolve as Leis anteriores, conforme avaliamos ao longo deste tópico da Unidade 2. As autoras, em sua análise, avaliam como a Lei Áurea era diferente das demais, sobre- tudo pelo fato de que ela surpreendia: [...] pelas suas simples e curtas afir- mações: extinguia-se a escravidão, sem nenhuma condição, revogadas as disposições em contrário. A rapi- dez com que o projeto foi aprovado na Câmara e no Senado, pelos mes- mos deputados e senadores que al- guns meses antes apoiavam a perseguição ao movimento abolicionista, esteve diretamente relacionada à rápida alteração da conjuntura social e politica, sobre- tudo as fugas em massa de escravos, especialmente na província de São Paulo, nos meses anteriores. Na segunda metade da década de 1880, era já significati- vo o número de cidades e regiões que, na prática, não possuíam mais escravos (ABREU e MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 464). As autoras, procurando interpretar os significados daquele dia 13 de maio, com a promulga- ção da Lei Áurea assinada pela princesa Isabel, são bem esclarecedoras: As interpretações desqualificadoras do impacto da Lei Áurea consideravam que, no momento de sua aprovação, os proprietários ainda necessitados de braços para a lavoura, sobretudo nas áreas cafeeiras novas, já vislumbravam alternativas por meio da imigração subvencionada pela província paulista. Nessa perspec- tiva, o imigrantismo explicaria a abolição, determinando também a margina- lização do negro no mercado de trabalho livre. Outra vertente historiográfica, porém, tem dado destaque aos significados sociais e políticos dos 13 de maio ◄ Figura 49: Princesa Isabel. Fonte: Disponível em <http://www.ihgs.com.br/ cadeiras/patronos/ima- gens/princesaisabel.jpg>. Acesso em 10 set. 2010. ◄ Figura 48: Sátira sobre a Lei dos Sexagenários. Fonte: Disponível em <http://www.icmc.usp.br/ ambiente/saocarlos/docs/ caricat_sexag_4.jpg>. Acesso em 10 set. 2010. 36 UAB/Unimontes - 5º Período para os contemporâneos, resgatando os múltiplos agentes que forjaram aquela solução (ABREU e MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 464-465). Nesse sentido, ao longo do Primeiro Reinado, do Período Regencial e, sobretudo, do Segun- do Reinado, percebem-se intensos debates políticos sobre a escravidão no Brasil, mesmo que seja necessário frisar que o processo de desagregação do regime escravista era lento, de forma bastante gradual. As elites brasileiras, desejosas em não perder a sua influência e poder político, viam no final do regime escravista um perigo, especialmente devido ao fato de que boa parte dessa elite era altamente dependente da escravidão negra. Mesmoassim, após um longo debate político, após avanços e recuos, sucessos e fracassos, a escravidão no Brasil chegaria ao fim, apesar de todas as dificuldades que os negros enfrentariam. Nas palavras de Martha Abreu e Hebe Mattos: Figura 51: Escravos em ambientes urbanos. Fonte: Disponível em <http://www.sabori- zante.com/wp-content/ uploads/2007/04/rugen- das_2.jpg>. Acesso em 10 set. 2010. ► Figura 50: Lei Áurea Fonte: Disponível em <http://www.api.ning. com/.../lei_aurea.jpg>. Acesso em 10 set. 2010. ► 37 História - História do Brasil Império II É preciso reconhecer, porém, que se a Lei que extinguiu a escravidão no Brasil não indenizou os ex-senhores, também não compensou os anos de cativeiro aos ex-escravos. Não concedeu terra aos libertos, como chegaram a propor muitos abolicionistas, nem lhes propiciou instrução ou direitos políticos. Mas, em 13 de maio de 1888, a igualdade civil de todos os brasileiros pela primeira vez foi re- conhecida. Pondo fim a uma ordem escravista que durara mais de 300 anos, ela garantiu nada mais que a liberdade aos últimos escravos das Américas (ABREU e MATTOS, In: VAINFAS, 2002, p. 466). O fim da escravidão, mesmo com todo o seu impacto simbólico em um país como o Brasil, não resolveu em hipótese alguma a situação do negro. Uma análise sobre a questão racial, no final do século XIX, nos permite entender melhor a condição do negro naquele período. Nesse século, especialmente, nas suas últimas décadas, assistiu à emergência de inúmeras teorias ra- ciais, muitas das quais responsáveis pelas ideias que comumente colocaram alguns grupos como inferiores, como foi o caso do negro. Autores como Hannah Arendt preocupa- ram-se com o tema, buscando compreender a relação entre os fenômenos políticos que se davam à época, como o caso do imperialismo, do nacionalismo e as teorias raciais. Hannah Arendt analisa algumas dessas teorias, pro- curando estudar, especialmente, o caso das nações como Inglaterra, França e Alemanha. Nesse sentido, o racialismo crescente naquele momento explicava como alguns grupos so- ciais seriam considerados inferiores (ARENDT, 1989). Atentando-se especificamente para o caso brasileiro, Lilia Moritz Schwartz dedicou parte das suas análises sobre a situação do ne- gro no Brasil, sobretudo na época da abolição. No seu livro Retrato em branco e negro, a au- tora procurou estudar a imagem exposta dos negros por meio dos jornais que circulavam no final do século XIX (SCHWARTZ, 1987). Nessa obra, a autora apresenta a emergência de al- gumas dessas teorias raciais, na chamada épo- ca de crescimento da “sciência”. Segundo Lilia Schwartz: Logo, enquanto a República surgia aos poucos, proclamando a igualdade e o direito de cidadania, a sciência e o jornal buscavam desmentir o que acusavam de “utopia”. Como diziam alguns artigos, “os homens não nascem iguaes”; parecia caber também à ciência e à imprensa comprová-lo (SCHWARTZ, 1987, p. 106). AtividAde Procure pesquisar algumas dessas teorias, especialmente as ideias de homens como Arthur de Gobineau, que apresentou teorias sobre a decadência das raças, tomando os mestiços, como grande exemplo, porque eles também atingiram a si- tuação interna de países como o Brasil. dicA Em estudos comple- mentares, procure conhecer mais sobre a história da escravidão negra nos EUA e Cuba. Você perceberá que esses dois países têm muita semelhança com as práticas escravistas do Brasil. GLoSSário Mestiçagem: 1. Cruzamento de espé- cies diferentes. 2. Miscigenação. 3. Conjunto de mesti- ços. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/Dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010 ◄ Figura 52: Johann Moritz Rugendas Escravos em ambientes urbanos Fonte: Disponível em <http://cafehistoria.ning. com> Acesso em 10 set. 2010. ◄ Figura 53: As questões raciais entre brancos e negros Fonte: Disponível em <http://umtironoescuro. zip.net/images/racismo. jpg>. Acesso em 10 set. 2010. 38 UAB/Unimontes - 5º Período Entretanto, é no livro O espetáculo das raças que a autora faz uma análise apurada sobre tal questão, fazendo um bom retrato sobre a situação de inferioridade racial, na qual o negro estava inserido. Estudando com afinco as teorias da época, bem como a situação do negro e do mes- tiço diante do discurso racialista, Lilia Schwartz analisa como se dera a situação dos ditos infe- riores naquele período de 1870 a 1930. Por outro lado, cientistas estrangeiros viam o fenômeno da mestiçagem brasileira com estranheza, ou mesmo desconhecimento. Enquanto isso, o tema tornava-se polêmico diante dos intelectuais locais (SCHWARTZ, 1993). Assim, concluindo parte da sua análise, esclarece a autora sobre a questão racial: “O proble- ma racial é, portanto, a linguagem pela qual se torna possível apreender as desigualdades obser- vadas, ou mesmo certa singularidade nacional” (SCHWARTZ, 1993, p. 239). Dessa forma, mesmo com a liberdade escrava efetivada com a Lei Áurea, a questão do negro não seria resolvida no ano de 1888. Para muitos, ela estava apenas começando, em grande parte, porque as questões racialistas que en- volviam o discurso na época colocaram o negro em posição difícil, sobretudo no que se refere à sua condição inferior diante de brancos e povos ditos puros. Ao Brasil, na sua busca pelo pro- gresso e desenvolvimento, talvez res- tasse uma política de branqueamento, de melhoramento de raças, e que, de- finitivamente, não incluía o negro, o ex -escravo. Mais uma vez... Com todas as questões levanta- das, cabe uma última análise. O fim da escravidão, tendo revelado um impac- to social e econômico bastante signifi- cativo na história do Brasil, também foi responsável por uma importante mu- dança na história da Monarquia brasi- leira. Conforme fica claro no próprio tí- tulo deste tópico, a crise da Monarquia parecia cada vez mais intensificada e a questão do fim da escravidão revelava ser essa crise iminente. Boa parte da elite nacional depen- dia sobremaneira da sobrevivência do regime escravista negro. Latifundiários espalhados pelo país, especialmente nas regiões centrais do Brasil, onde a dependência da grande mão de obra GLoSSário racismo: 1. Tendência do pen- samento ou modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas. 2. Qualquer teoria que afirma ou se baseia na hipótese da validade científica do conceito de raça e da pertinência deste para o estudo dos fenômenos humanos. 3. Qualquer teoria ou doutrina que considera que as características culturais humanas são determinadas heredita- riamente, pressupondo a existência de algum tipo de correlação entre as características ditas “raciais” (isto é, físicas e morfológicas) e aquelas culturais (inclusive atri- butos mentais, morais, etc.) dos indivíduos, grupos sociais ou popu- lações. 4. Qualquer doutrina que sustenta a supe- rioridade biológica, cultural e/ou moral de determinada raça, ou de determinada popu- lação, povo ou grupo social considerado como raça. 5. Qualidade ou sen- timento de indivíduo racista; atitude precon- ceituosa ou discrimi- natória em relação a indivíduo(s) considera- do(s) de outra raça. [Cf. segregacionismo.] Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/Dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. Figura 54: Escravos libertados pela Lei Áurea Fonte: Disponível em <http://www.miniweb. com.br/>. Acesso em 10 set. 2010. ► Figura 55: Negros na pobreza Fonte: Disponível em <http://www2.uol.com. br/sciam/reportagens/ img/abre_pobreza.jpg>. Acesso em 10 set. 2010. ►39 História - História do Brasil Império II era enorme, viam no escravo um braço decisivo para a sua manutenção no poder e no aumento da sua capacidade produtiva. Logo, a relação entre o fim da escravidão e o fim da Monarquia é direta, e será por nós avaliada na unidade seguinte. Referências ABREU, Martha, e MATTOS, Hebe. Lei Áurea. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. ALANIZ, Anna Gicelle García. ingênuos e libertos: estratégias de sobrevivência familiar em épo- cas de transição 1871-1895. Campinas: Unicamp, 1997. ARENDT, Hannah. origens do totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem e o teatro das Sombras: a política imperial e a construção da ordem. 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In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. _________.Lei Eusébio de Queiróz. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil im- perial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. MENDONÇA, Joseli. entre a mão e os anéis: a lei dos sexagenários e os caminhos da abolição no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. PAIVA, Eduardo França. escravidão e Universo cultural na colônia: Minas Gerais, 1716-1789. Belo Horizonte: UFMG, 2003. RODRIGUES, Jaime. o infame comércio: propostas e experiências no final do tráfico de africa- nos para o Brasil (1800-1850). Campinas: Editora da Unicamp, Cecult, 2000. SCHWARTZ, Lilia Moritz. retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo: Cia das Letras, 1987. _________. o espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870- 1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993. 41 História - História do Brasil Império II UnidAde 3 A Transição do Império para a República 3.1 Introdução A opção pelo regime monárquico conferiu ao Brasil uma característica singular na América ao longo do século XIX, sobretudo no que se refere ao regime de governo escolhido. Os anos de 1880 não foram suficientes para diminuir alguns dos atrasos do país, tendo em vista a permanência de determinadas relações de poder, baseadas em sistemas montados ainda durante o sistema colonial e tendo como herança a administração portuguesa ao longo de três séculos. O Brasil, portanto, parecia caminhar a passos lentos rumo ao progresso, à ordem, ao desen- volvimento ou mesmo à civilização. A monarquia, nesse sentido, parecia um obstáculo à trans- formação do país. É nesse sentido que se processou a transição da Monarquia brasileira para um regime republicano. Com o fim da Guerra do Paraguai, como vimos, e com o processo de deca- dência do regime escravista, parecia cada vez mais evidente que a monarquia sofreria uma gran- de pressão política, o que realmente aconteceria naqueles anos. Assim, a presente unidade tem como objetivo maior analisar esse processo, que culminou com a Proclamação da República no dia 15 de novembro de 1889. 3.2 O Processo de Desgaste da Monarquia A partir da década de 1870 começou a surgir uma série de sintomas de crise do Segundo Reinado. Entre eles, o início do movimento republicano e os atritos do governo imperial com o Exército e a Igreja. Além disso, o encaminhamento do problema da escravidão provocou des- gastes nas relações entre o Estado e suas bases sociais de apoio (FAUSTO, 2002, p. 217). O regime imperial pas- sou por diversas crises du- rante o longo tempo em que vigorou no Brasil. De- pois da Guerra do Paraguai, o país enfrentou uma série de problemas que culmi- naram na Proclamação da República. A estrutura do Império estava abalada e não havia nada que pudesse restabelecer-lhe o prestígio. Ruindo o Império, o regime republicano pôde estabele- cer-se no Brasil. GLoSSário Monarquia: 1. Estado em que o soberano é monarca. 2. Forma de governo na qual o poder supremo é exercido por um monarca. Dentro da forma de governo de- nominada Monarquia, o rei ou monarca é o chefe de Estado. Através dos princípios básicos de hereditariedade e vitaliciedade, o poder é transmitido ao longo de uma linha de sucessão. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. ◄ Figura 56: A Guerra do Paraguai Fonte: Disponível em <http://www.upload. wikimedia.org/wikipedia/ commons/1/1b/Tuyuti2. jpg>. Acesso em 10 set. 2010. 42 UAB/Unimontes - 5º Período Como fica explícito pela citação acima, du- rante o Império percebemos algumas situações que o levam a sua desagregação, culminando no início de um novo regime: a República. Vá- rios foram os fatores que contribuem para esse fato, inseridos em um contexto propício ao fi- nal do regime monárquico brasileiro. Alguns autores preocuparam-se com o tema, em análises que procuravam explicar o advento do regime republicano relacionado às crises políticas do Império. Caio Prado Jr., em sua interpretação so- bre o advento do regime republicano no Brasil, analisou os elementos que levaram à desagre- gação da monarquia. Para o autor, a principal razão da queda monárquica teria sido a inade- quação das suas próprias instituições ao pro- gresso do país (PRADO Jr., 1988). Assim, ele- mentos começaram a minar, silenciosamente, o Império, que não resistiu à desagregação que lhe era imposta. Incapaz de resolver os pro- blemas que se apresentavam naquele final de século XIX, bem como de se adequar às trans- formações do país, o Segundo Reinado não resistiria à tendência republicana que se apresentava (PRADO Jr., 1988). Nelson Werneck Sodré, em Panorama do Segundo Império, foi ainda mais claro quanto a sua análise da desagregação do regime monárquico. Para o autor, o Império era fraco, sem bases sóli- das, e, dessa forma, “vítima das suas próprias fraquezas”, o regime ruía aos poucos. A centralização de poder, elemento característico da monarquia naquelas décadas, é tão de- batida diante das inúmeras revoltas provinciais do período, que demonstrava que o apoio das elites provinciais ao regime já não era decisivo, lançando o Segundo Reinado à sua própria sorte e abrindo espaço para o evento de 15 de novembro de 1889 (SODRÉ, 1939). As análises de Caio Prado e Sodré, por se tratarem de estudiosos da trajetória política e eco- nômica do Brasil, não se enquadravam necessariamente nas imagens que se faziam sobre o tema na época da transição Império-República, ou seja, das imagens que povoavam o discurso político e intelectual dos homens que vivenciaram o evento in loco. Segundo Emilia Viotti da Costa, republicanos e monarquistas, no período em questão, ti- nham impressões diferentes sobre a república e a monarquia, o que, obviamente, era absoluta- mente natural. Já nos primeiros anos da república,portanto, surgiam duas linhas de interpreta- ção sobre os regimes, as interpretações “dos vencedores e dos vencidos”. Os primeiros, ou seja, os republicanos, [...] lembrando as revoluções e pronunciamentos que, desde a Inconfidência, tiveram por alvo instalar um regime republicano no Brasil, afirmam que a re- pública sempre foi uma aspiração nacional. Esposando uma ideia já enunciada no Manifesto Republicano de 1870, consideram a Monarquia uma anomalia na América, onde só existem Repúblicas (COSTA, 1999, p. 387). A versão dos monarquistas, por sua vez, apesar de abafada pela “euforia dos republicanos”, levava em conta o fato de que a proclamação da república não passava de um levante militar, alheio à vontade do povo. Dessa forma, a mudança operada em 15 de novembro de 1889 tinha sido um grande equívoco: O regime monárquico dera ao país setenta anos de paz interna e externa garan- tindo a unidade nacional, o progresso, à liberdade e o prestigio internacional. Uma simples parada militar substituíra esse regime por outro instável, incapaz de garantir a segurança e a ordem ou de promover o equilíbrio econômico e finan- ceiro e, que além de tudo, restringia a liberdade individual (COSTA, 1999, p. 393). Dessa forma, mais do que o próprio desgaste da Monarquia brasileira, a partir das questões religiosas, escravista e militar que estudaremos no próximo tópico, a ideia de Monarquia perdia GLoSSário república: 1. Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum. 2. Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado. Forma de governo na qual um representante, normal- mente chamado presi- dente, é escolhido pelo povo para ser o chefe de estado, podendo ou não acumular com o poder executivo. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. AtividAde Analise um pouco da trajetória política dos Estados Unidos da Amé- rica e perceba como o país utilizou apenas da república em sua evolu- ção política, diferente- mente de países como o Brasil. dicA Você sabia que, no final do século XIX, mui- tas nações já haviam mudado para o regime republicano, tendo em vista a crise do modelo absolutista ao longo do século XVIII? Figura 57: Dom Pedro já em idade avançada Fonte: Disponível em <http://www.despolui- caoideologica.blogspot. com>. Acesso em 10 set. 2010. ► 43 História - História do Brasil Império II força nos discursos políticos da época, especialmente por não se enquadrar com o progresso do período. Muitas vezes, a comparação Monarquia-República fazia-se presente como instrumento de comparação e de elogio diante da escolha da República Federativa, mas, também, quando se procurava criticar a nascente República brasileira. Nesse sentido, no âmbito da proposta comparativa entre regime monárquico e regime re- publicano, Maria Tereza Mello analisa que o pensamento que procurava um ufanismo sobre o novo regime, via-o como a chance de completar a obra liberal iniciada na França, já que o século XIX, fruto da Revolução Francesa, deveria ser visto como o século da “República Universal”. É nes- se contexto que se põe em confrontação um par antitético: Monarquia versus República. Além disso, valendo-se igualmente de uma linguagem retirada das ideias novas, que dominavam o panorama intelectual desde a década de 1870, os monarquis- tas acabaram por fragilizar sua posição, começando a perder a guerra ideológica e simbólica quando outra semântica passou a dar conta da realidade. O uso e a assimilação do léxico e da semântica do adversário levaram à superação do sím- bolo antigo (MELLO, 2007, p. 174) . Portanto, como podemos observar, a ideia de República parecia crescente em países como o Brasil, em grande parte devido ao fato de que a Monarquia parecia não se enquadrar mais aos novos tempos que se avizinhavam. Monarquia como atraso colocava-se em oposição à ideia de República como progresso. O Brasil caminhava a passos largos para o fim do regime. Dessa forma, aspectos bem próprios do país colocariam-nos nos rumos da república, tendo a questão religiosa, escravista e militar como pontos centrais dessa transição. 3.3 As “Questões” do Fim do Império Pelo menos em quatro aspectos é possivel con- centrar a análise em torno do fim da Monarquia e a transição crescente para o regime republicano. O primeiro desses aspectos é a chamada ques- tão religiosa, em que a Igreja e o Estado passam por uma relação tensa, ligada ao avanço da maçonaria nos meios intelectuais e de elite no Brasil e, em meio a isso, uma oposição crescente da Igreja sobre o tema. Por meio do regime de padroado, em um estado que manteve as suas relações políticas e administra- tivas atreladas à Igreja, como foi o caso do Brasil du- rante o século XIX, as questões sofreriam importan- tes mudanças nas últimas décadas do século XIX. Para alguns autores, como Emília Viotti da Costa, a questão religiosa chegou a dividir a nação em dois grupos: os que eram favoráveis aos bispos e os que se manifestavam de acordo com o governo. Por esse motivo, acontece o rompimento entre a Igreja e o Estado, aliado à extinção do regime de padroa- do no Brasil. Em consequência disso, Dom Pedro II perdeu apoios advindos do clero. Assim, as es- truturas básicas do Império estavam desgastadas e as crises ocorridas denunciavam o pouco in- teresse pela instituição monárquica nos setores mais importantes em que o governo se apoiava. É exagero supor que a questão religiosa que indispôs momentaneamente o Tro- no com a Igreja foi dos fatores primordiais na proclamação da República. Para que isso acontecesse era preciso que a nação fosse profundamente clerical, a Monarquia se configurasse como inimiga da Igreja e a República significasse maior força e prestígio para o clero. De duas uma, ou a nação estava a favor dos bispos e contra Dom Pedro [...] ou a nação era pouco simpática aos bispos [...] (COSTA, 1999, p. 456-457). GLoSSário Federalismo: 1. Forma de governo pela qual vários estados se reúnem numa só nação, sem perderem sua autonomia fora dos negócios de interesse comum. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/Dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. dicA Procure conhecer mais sobre a ideia de fede- ralismo na República dos Estados Unidos e perceba as diferenças entre o federalismo dos dois países, procurando evidenciar algumas das diferenças existen- tes dentro da própria República. AtividAde Pesquise na Internet so- bre a bula Syllabus, um dos motivos que expli- cam as brigas políticas entre Estado e Igreja no Brasil, levando ao fim do regime de padroado. ◄ Figura 58: O padre Diogo Feijó. Fonte: Disponível em <http://www.passado. com.br/ntc/fotos/dio- go_feijo.jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. 44 UAB/Unimontes - 5º Período Para a autora, portanto, apesar de se tratar de um elemento importante para explicar o fe- nômeno que ocorria, não se pode concentrar apenas nesse aspecto para entender a transição para a república, já que, havia no Império padres republicanos e padres monarquistas, “e a Igreja muito pouco tem a ver com a instalação da república” (COSTA, 1999, p. 456-457). Um segundo elemento importante é o crescimento da ideia republicana no Brasil. Apesar das ideias republicanas terem sido difundidas no Brasil desde o final do século XVIII, foi a partir de 1870 que elas passaram a ter maior amplitude. Nesse sentido, salienta-se a criação do primei- ro Partido Republicano no Rio de Janeiro, em 1870, e o de São Paulo, em 1873. GLoSSário Padroado: 1. Direito de protetor,adquirido por quem fundou ou dotou uma igreja. 2. Direito de conferir benefícios eclesiásticos. O padroado foi criado através de um tratado entre a Igreja Católica e os Reinos de Portugal e de Espanha. A Igreja delegava aos monarcas desses reinos ibéricos a administração e organi- zação da Igreja Católica em seus domínios. O rei mandava construir igre- jas, nomeava os padres e os bispos, sendo estes depois aprovados pelo Papa. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. AtividAde Faça uma breve pesqui- sa sobre a biografia de padres como Frei Cane- ca e Diogo Feijó, figuras políticas do Império no Brasil. Suas histórias revelam como os padres tinham importância so- cial e política na história do país, o que justifica a aliança entre Estado e Igreja no século XIX. Figura 61: Minas Gerais no final do XIX Fonte: Disponível em <http://www.petropo- lisnoseculoxx.zip.net/ images/braganca5.JPG>. Acesso em 16 ago. 2010. ► Figura 60: Rio de Janeiro no final do XIX Fonte: Disponível em <http://www.bonheur. blogger.com.br/botafogo. jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. ► Figura 59: São Paulo no final do XIX Fonte: Disponível em <http://www.leiturasdah- istoria.uol> Acesso em 16 ago. 2010. ► 45 História - História do Brasil Império II No livro Da Monarquia a República, Emília Viotti esclarece parte da ascensão dos partidos re- publicanos no Brasil. Segundo a autora: A partir de 1870, a situação se modificará, quando as novas condições sociais e econômicas que se implantavam progressivamente no país conferiram-lhe novo prestígio. Foi assim que, em 1870, no mesmo em que se instavala a Terceira Re- pública na França, criou-se o partido republicano no Brasil (COSTA, 1999, p. 479). Apesar de, em regra, os republicanos terem em comum a ideia do combate ao centralis- mo do poder imperial, eles não concebiam a implementação da República no Brasil do mesmo modo, visto as divergências de interesses. Em meio a esse quadro, é possível destacar dois grupos republicanos com pensamentos dis- tintos: os evolucionistas, que alguns autores também admitem como “republicanos históricos”, e os revolucionários ou radicais. O primeiro grupo (representado sobretudo pelos cafeicultores do oeste paulista) queria uma transição do Império para a república sem abalos e sem a participação popular, já que não lhe interessava grandes transformações sociais. Além disso, os membros desse grupo defendiam a implementação de uma República Federativa, a fim de garantirem maior representação junto ao governo central e, principalmente, o controle sobre as províncias. Já para o segundo grupo (representado sobretudo pelos setores médios urbanos), a repú- blica deveria ser implementada por meio de uma revolução popular, que terminasse por resultar em transformações sociais. Apesar da existência desses grupos, de um modo geral, os republicanos defendiam alguns pontos em comum estabelecidos pelo Manifesto Republicano de 1870, como a separação entre Estado e Igreja e o fim da escravidão, que também se prestavam aos interesses da Igreja e dos abolicionistas. Além disso, após a Guerra do Paraguai, em 1870, setores militares influenciados pelo Posi- tivismo e em conflitos com o governo imperial, passaram a defender o republicanismo. Nesse sentido, o Exército Brasileiro passou a entender que por meio do republicanismo seria possível estabelecer a ordem interna necessária para o progresso do Brasil. Segundo Emília Viotti da Costa: A propaganda que se desenvolveu a partir de 1870 contribuiu para solapar as bases do sistema monárquico e preparar a nação para aceitar tranquila a forma republicana de governo. A partir de 1885, o movimento republicano recrudesceu. Em 1888, vários jornais converteram-se ao republicanismo. As adesões multiplicaram-se (COSTA, 1999, p. 482). Assim, movidos pelo interesse comuns de proclamarem uma República no Brasil, os repu- blicanos articularam-se para esse fim, embora ela tenha ocorrido como queriam os republicanos históricos. A base social do republicanismo nas cidades era constituía principalmente de profissionais liberais e jornalistas, um grupo cuja emergência resultou do desen- volvimento urbano e da expansão do ensino. As ideias republicanas tiveram in- fluência também entre os militares, mas o caso destes, por seus traços próprios, será tratado à parte. Os republicanos do Rio de Janeiro associavam a República à maior representação política dos cidadãos, aos direitos e garantias individuais, à federação, ao fim do regime escravista (FAUSTO, 2002, p. 228). A chamada “questão escravista”, especialmente referente ao processo final da escravidão no Brasil, é um terceiro elemento importante. Em relação à essa questão, uma importante análise de Emília Viotti da Costa faz-se necessária: A Abolição não é propriamente causa da República, melhor seria dizer que am- bas, Abolição e República, são sintomas de uma mesma realidade; ambas são repercussões no nível institucional, de mudanças ocorridas na estrutura econô- mica do país que provocaram a destruição dos esquemas tradicionais (COSTA, 1999, p. 455). Na verdade, como vimos na unidade anterior, a crise da escravidão no Brasil iniciou-se em 1850, quando, pela Lei Eusébio de Queirós, decretou-se o fim tráfico negreiro no País. GLoSSário Unitarismo: Corrente de pensamento teoló- gico cristão que afirma a unidade absoluta de Deus e, por conse- quência, a natureza não divina de Jesus. Diverge do dogma da Santíssima Trindade uma vez que nesta crê-se na existência de um único Deus, mas que ao mesmo tempo é formado de três pessoas diferentes. centralismo: Princípio, tendência ou sistema de centralização, espe- cialmente no governo; centralização. Republicanismo: 1. Qualidade do que é republicano. 2. Conjunto de ideias e sentimentos do que é republicano. 3. Forma ou sistema de governo republicano. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. dicA Pesquise na Internet o Manifesto Republicano de 1870. A partir do tex- to será possível analisar algumas das ideias da República no Brasil da época. 46 UAB/Unimontes - 5º Período A partir daí, o trabalho escravo começou a declinar, visto as dificuldades para a obtenção de novos escravos, a morte gradual dos existentes e o incentivo à imigração europeia. Além disso, alguns países como a Inglaterra in- centivavam a abolição, bem como vários segmentos da sociedade civil brasileira, que passaram a encarar a escra- vidão como um motivo de vergonha e um entrave ao pro- gresso do Brasil. No mais, a participação dos negros na Guerra do Paraguai (sobretudo por meio dos Batalhões de Voluntá- rios da Pátria) levou o Exército Brasileiro a encará-los com maior dignidade e a defender a causa abolicionista. Em meio a esse quadro, a partir de 1850, o governo imperial tratou de criar algumas leis, com o intento de re- tardar o fim imediato da escravidão, já que os proprietá- rios rurais escravistas representavam a base de apoio ao Império. Assim, antes da Lei Áurea de 1888, que aboliu a es- cravidão no Brasil, foram criadas a Lei do Ventre Livre, em 1871, e a Lei dos Sexagenários em 1885. Todas essas Leis já foram, aqui, analisadas anteriormente. Em relação à primeira Lei, em teoria, ela permitia a li- berdade aos filhos dos escravos nascidos após sua criação, mas, na prática, estes continuavam como escravos até os 21 anos de idade. Já a segunda Lei, considerada uma ironia por muitos es- pecialistas e abolicionistas, estabeleceu a liberdade para os escravos com mais de 60 anos, quan- do a média de vida de muitosnem sempre atingia tal idade. Ao contrário do que pretendiam os escravistas, a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários ampliaram o sentimento abolicionista e as discussões sobre o assunto. Enquanto os abolicionistas moderados (como José do Patrocínio e Joaquim Nabuco) defen- diam o fim da escravidão por meio de leis imperiais, os abolicionistas radicais (como Raul Pom- GLoSSário Positivismo: 1. Doutrina de Auguste Comte, caracterizada, sobretudo, pela orien- tação antimetafísica e antiteológica que pretendia imprimir à filosofia, e por pre- conizar como válida unicamente a admissão de conhecimentos baseados em fatos e dados da experiência; comtismo. 2. Caráter das doutrinas inspiradas em A. Comte que fundamentam o conhecimento em da- dos empíricos, cujo teor subjetivo geralmente acaba por ser privile- giado (sensacionismo, intuicionismo, simbolis- mo, etc.), muitas vezes, levando ao agnosticis- mo, ao relativismo ou ao misticismo. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/Dicionarioaurelio- dalinguaportuguesa>. Acesso em 24 de ago. 2010. Figura 62: Tráfico negreiro Fonte: Disponível em <http://www.historianet. com.br>. Acesso em 16 ago. 2010. Figura 63: A libertação dos escravos Fonte: Disponível em <http://www.colegio- sagrado.com.br/.../07/ imperio.jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. ► 47 História - História do Brasil Império II péia e Luís da Gama) incentivavam os escravos a lutarem pela liberdade, chegando a formarem, para este fim, organizações como os Caifases em São Paulo. Figura 64: Joaquim Nabuco. Fonte: Disponível em <http://www.nordestewe b.com/joaquimnabuco.jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. Figura 65: José do Patrocínio. Fonte: Disponível em <http://www.vieirareis.blo gspot.com>. Acesso em 16 ago. 2010. Figura 66: Luis da Gama. Fonte: Disponível em <http://www.4.bp. blogspot.com/Luiz_Gama.jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. Assim, conforme já foi feita referência, diante de um processo irreversível, a escravidão no Brasil foi abolida em 1888, quando a princesa Isabel (que substituía o pai provisoriamente) as- sinou a Lei Áurea. Com o fim da escravidão, boa parte da base de apoio do Império que se viu prejudicada acabou voltando-se contra ele e passando a apoiar os republicanos. O fato é que a abolição da escravidão enfraquece boa parte das bases que sustentavam o regime imperial, devi- do ser esse sistema, e as elites que dele depen- diam, o grande sustentáculo para o governo de Dom Pedro II. Com o fim da escravidão, o imperador vai perder esse apoio tão importante para a sus- tentação do Império Brasileiro, afinal a escravi- dão ainda era importante para os cafeicultores do Vale do Paraíba, que estavam em decadên- cia e não tinham condições para mudar com- pletamente o regime de produção. No entanto, esses fazendeiros ainda eram politicamente importantes. Sem o seu apoio, a monarquia perdeu uma importante base de sustentação. Mesmo diante dessas questões, cabe avaliar um aspecto fundamental: É preciso notar ainda que a abolição afetou apenas os setores que se mantinham apega- dos ao trabalho escravo e estes, na década de 1880, constituíam a par- cela menos dinâmica do país, pois os setores mais progressistas já se preparavam para a utilização do trabalho livre. Continuavam apegados ao trabalho servil apenas os fazendeiros das áreas decadentes, roti- neiras e impossibilitadas de evoluir para as novas formas de produção (COSTA, 1999, p. 455). GLoSSário Abolicionistas: Per- tencente ou relativo à abolição ou ao abolicio- nismo. Partidário(a) do abolicionismo. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ Michaelismodernodi- cionarioodalinguapor- tuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. ◄ Figura 67: As elites cafeeiras Fonte: Disponível em <http://www.libertaria. pro.br/brasil/images2/cas- tro_lima.jpg>. Acesso em 16 ago. 2010. 48 UAB/Unimontes - 5º Período Por fim, como último desses aspectos de desagregação da Monarquia, a chamada questão militar pode ser vista como ponto decisivo. Esta também pode ser inserida nesse contexto desa- gregador. O papel do exército no período monárquico foi de grande importância, principalmen- te nas questões de sufocamento das revoltas internas. O problema surgido, nesse momento, é que após a Guerra do Paraguai percebe-se um des- contentamento desse grupo com o regime imperial brasileiro. A relação entre a ascensão do exército e a Guerra do Paraguai não escapou à maioria dos especialistas: A ideia de que aos militares cabia a salvação da pátria generalizara-se no Exército a partir da Guerra do Paraguai, à medida que o Exército se institucionalizava. É claro que os militares estiveram em todos os tempos divididos entre várias opções e seria um grande equívoco imaginá-los como um todo (COSTA, 1999, p.459). dicA Você sabia que muitos homens ilustres da po- lítica e da literatura da época foram entusistas da ideia abolicionista? Um exemplo é o escritor Machado de Assis que, em muitas das suas obras, retratou a escra- vidão negra e colocou questões importantes sobre a liberdade escrava. dicA Faça uma pesquisa em algumas obras de Machado de Assis, em sua fase realista, para perceber como o autor tratava a escravidão ne- gra e a própria questão da liberdade escrava. Exemplos: Obras como Helena, Esaú e Jacó, Memórias Póstumas de Brás Cubas, entre outras. dicA Para aprofundar seus es- tudos, pesquise sobre a estrutura de hierarquia do Exército no Brasil, para que você possa perceber como se dão as diferenças de poder e de condição social entre os militares, elemento importante para se compreender como, na história do Brasil, somente as elites do Exército tiveram ligação direta com o poder. Figura 69: A Guerra do Paraguai Fonte: Disponível em <http://www.1.bp. blogspot.com/.../Guerra+- do+Paraguai.jpg>. Acesso em 18 ago. 2010. ► Figura 68: As fazendas e suas escravarias Fonte: Disponível em <http://www.blog.zequi- nhabarreto>. Acesso em 16 ago. 2010. ► 49 História - História do Brasil Império II Como vimos, na unidade anterior, o exér- cito brasileiro consegue definitivamente se er- guer e se organizar com o fim dessa guerra. A partir dali, a estrutura do exército passa a con- vergir em um interesse republicano. Além disso, podemos inserir aqui ideais republicanos que começavam a aparecer nos setores militares, aliado à questões que pre- judicavam o setor militar, como os atrasos de pagamentos e morosidade no processo de pro- moções. Pode-se dizer que o papel do exército foi fundamental no processo que levaria à procla- mação da República, portanto, subsestimar sua atuação no processo é praticamente negar to- das as contradições que envolveram o evento, até que se fosse possível o sucesso do evento de 15 de novembro de 1889. Para Emília Viotti da Costa: A proclamação da República não é um ato fortuito, nem obra do acaso, como chegaram a insinuar os monarquistas; não é tampouco o fruto inesperado de uma parada militar. Os militares não foram meros instrumentos dos civis, nem foi um ato de indisciplina que os levou a liderar o movimento ds manhã de 15 de novembro, como tem sido dito às vezes (COSTA, 1999, p. 459). Nesse contexto, a oposição tornava-se crescente e fazia do Império um regime “vir- tualmente” derrotado. Como em praticamen- te toda a história do Brasil, percebemos, nesse movimento, uma participação popular inexis- tente, frágil incipiente, isto é, mesmo sendo a República uma discussão real, ela ainda não ha- via penetrado no seio do cotidiano popular. O povo estava descrente da Monarquia, mas não havia,na época, uma crença genera- lizada na República, como assinala o historia- dor Oliveira Vianna e tantos outros cronistas da época. Por isso, o movimento de 15 de novem- bro de 1889 não teve participação popular. O povo assistiu, sem tomar parte, à proclamação da República. Um povo bestializado? Se esse processo teve um povo ativo ou não, é uma discussão que cabe à análise sobre a república em si, ou mesmo na sua transição, como faremos apontamentos no tópico a se- guir. Mesmo assim, fica evidente que muitas alterações sociais não se processariam, pois as condições de muitos trabalhadores permace- neriam as mesmas, assim como a dependência com relação ao capital estrangeiro. Dessa forma, a proclamação da República resultaria de um processo complexo, do qual fez parte algumas das “questões” aqui analisa- das, como o republicanismo, a questão da Igre- ja, o fim da escravidão e o papel do exército. Agora era o momento de se processar a transição para a república, tanto nos meios prá- ticos que essa transição pressupunha, como no discurso. Talvez mais neste do que naquele. dicA Você sabia que a histó- ria do Brasil é recheada de eventos em que o Exército teve papel central? Observe, como exemplo, o caso da Revolução de 1930 e da própria Ditadura Militar. dicA Você sabia que apenas o Brasil, ao longo do século XIX, permanecia como um país monár- quico, em meio ao con- tinente americano que optara pela República? ◄ Figura 72: Floriano Peixoto. Fonte: Disponível em <http://www.wikiwak. com/image/Florianoviei- rapeixoto.jpg>. Acesso em 18 ago. 2010. ◄ Figura 71: Deodoro da Fonseca. Fonte: Disponível em <http://www.wpclipart. com>. Acesso em 18 ago. 2010. ◄ Figura 70: Duque de Caxias Fonte: Disponível em <http://www.2.bp.blogs- pot.com/.../S220/duque- decaxias.bmp>. Acesso em 18 ago. 2010. 50 UAB/Unimontes - 5º Período 3.4 A Transição para a República: Diálogos do Nascente Poder Republicano A proclamação da República consolidou-se como um novo marco na história política do país, sobretudo se levarmos em conta que a nossa opção pela República estava se comparando às demais nações do continente, mas no mínimo umas sete décadas atrasada. O Brasil, depois de um longo processo de construção do Estado Nacional, por meio de uma Monarquia, viveria agora uma nova transição política, marcada por mudanças e continuidades, especialmente, na forma como as elites lidariam agora com o poder. Em Minas Gerais – para citar um exemplo, entre as várias regiões do Brasil – a República se- ria recebida com entusiasmo de alguns, mas também com desconfiança de outros. Discursos e mais discursos seriam reproduzidos sobre a República. Como sabemos, a proclamação da República no Brasil suscitou inúmeros debates, em gran- de parte voltados para a discussão fundamental sobre as mudanças que o país atravessaria. Décadas de formação monárquica teriam colocado o Brasil distante da modernização, re- presentada, agora, pela formação de uma República Federativa, semelhante ao que aconteceu com os Estados Unidos da América. Não é demais lembrar que o Brasil era o único país do conti- nente americano a sustentar um regime monárquico durante os Oitocentos. Dessa forma, fez-se necessária e urgente a criação de um imaginário republicano para o Bra- sil, conforme destaca José Murilo de Carvalho. A “formação das almas” republicanas se daria a partir da manipulação de um imaginário que desse conta de criar uma “comunidade de sentido” voltada para a ideia republicana. Tiradentes, o herói republicano; a mulher, como alegoria para a República, bem como uma bandeira e um novo hino, são exemplos do esforço de se criar esse imaginário no país. Sucesso? Pelo menos não é o que se nota pelas palavras de José Murilo de Carvalho: Falharam os esforços das correntes republicanas que tentaram expandir a legiti- midade do novo regime para além das fronteiras limitadas em que a encurralara a corrente vitoriosa. Não foram capazes de criar um imaginário popular republi- cano. Nos aspectos em que tiveram algum êxito, este se deveu a compromissos com a tradição imperial ou com valores religiosos (CARVALHO, 1990, p. 141). Em livro sobre o Rio de Janeiro, no período em questão, Maria Tereza Chaves de Mello pro- cura analisar a cultura democrática, política e científica no final do Império, sob a contestação da ideia de “bestializado” construída à época do evento. Com o propósito de compreender o pen- samento sobre a República, na época, a autora avalia algumas das imagens feitas sobre os dois regimes em questão, ou nos dizeres de Emilia Viotti, as imagens “dos vencedores e dos vencidos”. Para Maria Tereza Mello, a grande vitória daqueles que procuraram fazer uma propaganda republicana, impondo uma impressão positiva sobre o novo regime, “foi assimilar à República o termo democracia”, o que trazia em seu bojo as ideias de avanço e progresso, tão caras ao regime que se instalava e ainda mais caras àqueles que elaboravam os seus discursos pós-novembro de 1889 (MELLO, 2007). A palavra ‘República’ vinha marcada com o sinal do futuro, da evolução necessá- ria, da civilização, e foi ganhando as consciências. Os monarquistas não conse- guiram impedir que essas marcas se colassem ao termo ‘República’, até porque eles mesmos estavam convertidos ao novo repertório intelectual. Mas quiseram os republicanos que também o passado lhes pertencesse. Para tanto, foram au- xiliados pela generalizada sensação de renascença liberal que os movimentos de rua traziam à memória, configurando uma tradição republicana brasileira (MEL- LO, 2007, p. 14). A análise de Mello impõe ao estabelecimento do regime republicano uma ideia de “necessi- dade histórica”, tendo em vista que o mesmo se apresentava como solução natural para as trans- formações que se apresentavam. AtividAde Faça uma pesquisa sobre as características do sistema republicano nos Estados Unidos. Perceba como existem semelhanças, mas tam- bém diferenças entre o sistema político dos 2 países. GLoSSário Progresso: 1. Ato ou efeito de pro- gredir; progredimento, progressão. 2. Movimento ou mar- cha para diante; avanço. 3. O conjunto das mudanças ocorridas no curso do tempo; evolução. 4. Desenvolvimento ou alteração em sentido favorável; avanço, melhoria. 5. Acumulação de aquisições materiais e de conhecimentos objetivos capazes de transformar a vida social e de conferir-lhe maior significação e alcance no contexto da experiência humana; civilização, desenvolvi- mento. 6. Expansão, propaga- ção. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ Dicionarioaureliooda- linguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. ordem: 1. Disposição conve- niente dos meios para se obterem os fins. 2. Disposição metódica; arranjo de coisas segun- do certas relações. 6. Tranquilidade pública resultante da conformi- dade às leis. 16. Feição especial ou característica da organi- zação política e social. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ Dicionarioaureliooda- linguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. 51 História - História do Brasil Império II É nesse sentido que a autora demonstra a associação imediata entre o novo regime e “o si- nal do futuro, da evolução necessária, da civilização”, elementos que passariam a fazer parte das “consciências” de muitos. Além disso, acentua a autora, também o passado foi utilizado pelos adeptos do republica- nismo, sobretudo quando se retomou o liberalismo das revoltas e diversas manifestações que o país tinha passado, desde o final do século XVIII e durante todo o século XIX, identificadas como manifestações já republicanas em sua essência, e por isso mesmo, configuradoras de “uma tradi-ção republicana brasileira”. Em uma análise que pode se voltar para a região de Minas Gerais, também nos é possível avaliar o processo de transição da Monarquia para a República nessa regiao. No âmbito da política mineira, o presidente da província de Minas Gerais, no ano de 1894, fazia alusão ao regime novo em comparação com o anterior, especialmente para se reforçar o fim de um “cyclo” e o início de outro. Dessa forma, procurava-se acentuar o caráter positivo da República, nunca se esquecendo de reivindicar o passado com o propósito da legitimação do presente. A instituição monarchica teve seu cyclo histórico encerrado em 15 de novembro de 1889; sua missão terminou na América. O exemplo do México ahi está para mostrar qual o destino das restaurações no território do Novo Mundo. [...]Um facto que demonstra quão profundamente está enraizado no povo mineiro o sentimento democrático e essa aptidão para o self government, é a facilidade com que vão funccionando as liberrimas institui- ções locaes, que a nossa Constituição lhe garantiu (Relatório dos Presidentes de Província de Minas Gerais, 1894). Democracia, República, Liberdade, Igualdade, Progresso... Juntam-se a esses, tantos e tantos outros elementos que faziam parte do emaranhado discursivo que se montava naqueles tempos, por todo o país, por toda a província de Minas Gerais, por todo o sertão norte-mineiro. As ideologias que circulavam na época, e que se infiltravam nos debates políticos travados, demonstram como os políticos do sertão das Minas se apropriavam dos conceitos que lhes eram apresentados, entre afirmações e ideologias variadas, muitas vezes de cunho teórico complexo, mas, nas suas exposições, de aplicação simples. GLoSSário civilização: 1. Ato, processo ou efei- to de civilizar(-se). 2. Estado ou condição do que se civilizou. 3. O conjunto de carac- terísticas próprias à vida social coletiva; cultura. 4. Processo pelo qual os elementos culturais concretos ou abstratos de uma sociedade (co- nhecimentos, técnicas, bens e realizações materiais, valores, costumes, gostos, etc.) são coletivos e/ou individualmente elabo- rados, desenvolvidos e aprimorados. 5. O estado de aprimo- ramento ou desenvolvi- mento social e cultural assim atingido. 6. Tipo de sociedade re- sultante de tal processo, ou o conjunto de suas realizações; em especial, aquele marcado por certo grau de desenvol- vimento tecnológico, econômico e inte- lectual, considerado, geralmente, segundo o modelo das sociedades ocidentais modernas, caracterizadas por dife- renciação social, divisão do trabalho, urbaniza- ção e concentração de poder político e econô- mico.A civilização é o estágio da cultura social e da civilidade de um agrupamento humano caracterizado pelo pro- gresso social, científico, político, econômico e artístico. Quanto maior a civilidade e mais evoluída uma nação, maior é o seu grau de civilização. Fonte: Disponível em <http://portugues.ba- bylon.com/download/ Dicionarioaureliooda- linguaportuguesa>. Acesso em 24 ago. 2010. ◄ Figura 73: A Revolução Francesa. Fonte: Disponível em <http://www.1.bp.blogs- pot.com>. Acesso em 18 ago. 2010. 52 UAB/Unimontes - 5º Período Para José Murilo de Carvalho, tratava-se de um grande manancial de ideologias que se es- palhavam, fornecendo a esses homens da elite, “um rico material em que se inspirou”, sobretudo nas ideias liberais que se importava da França ou dos Estados Unidos, modelos de inspiração li- beral e republicana. Os republicanos brasileiros que se voltavam para a França como seu modelo ti- nham à disposição, portanto, um rico material em que se inspirar. O uso dessa simbologia revolucionária era facilitado pela falta de competição por parte da corrente liberal, cujo modelo era os Estados Unidos (CARVALHO, 1990, p. 12). Esse manancial de ideologias, obviamente, atingia a todos os níveis do discurso político re- publicano, tal como na associação imediata entre República e Democracia, tão presente nos do- cumentos apresentados, ou mesmo nas comparações entre República e Monarquia, por meio da insistente dualidade estabelecida. Segundo Maria Tereza Mello, em livro citado anteriormente, a ideia de República no Brasil acabou por se estabelecer com a ideia de Democracia uma espécie de “sinonímia”. A associação dos termos era tão difundida que, por vezes, servia inclusive como imagem literária, como demonstra a autora. Dessa forma, Mello demonstra como se dava de forma tão comum a associação entre os dois termos: Democracia era, agora, a fatalidade da história, a realização do dístico “igualda- de” que se sucedia ou completava a “liberdade” da Revolução. Era a percepção da entrada do Terceiro Estado na política. Era a complementação necessária da obra de destruição do Antigo Regime, que, primeiro, acabara com o absolutismo para, em seguida, instalar o regime republicano, com o qual findava a sociedade de privilégios. Por acréscimo, era o regime com o qual a América brindara a civi- lização com uma originalidade histórica. [...] Democracia não mais se confundia com liberalismo. Tinha agora uma clara conotação social. Significava a extinção da sociedade de privilégios, o regime da igualdade (MELLO, 2007, p. 140-141). Segundo Renato Janine Ribeiro, é muito comum que se tome República e Democracia como termos quase que intercambiáveis. Propondo uma análise filosófica sobre os dois termos, o au- tor nos coloca diante de importantes questionamentos sobre o uso desses conceitos. Questio- namentos esses que, fatalmente, não fazia parte das dúvidas conceituais dos homens que cons- truíam os discursos entre o final do século XIX e início do século XX. Para Renato Janine, na tentativa de resumir o escopo diferencial entre os dois termos, [...] poderíamos dizer que enquanto a democracia tem no seu cerne o anseio da massa por ter mais, o seu desejo de igualar-se aos que possuem mais bens do que ela, e portanto é um regime do desejo, a República tem no seu âmago uma disposição ao sacrifício, proclamando a supremacia do bem comum sobre qual- quer desejo particular. Evidentemente, é possível criticar a República dizendo-se Figura 74: A independência dos EUA Fonte: Disponível em <http://www.elephant- journal.com>. Acesso em 18 ago. 2010. ► GLoSSário democracia: 1. Governo do povo; soberania popular; democratismo. 2. Doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distri- buição equitativa do poder, ou seja, regime de governo que se ca- racteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade, i. e., dos poderes de decisão e de execução; democratismo. 3. País cujo regime é democrático. 4. As classes populares; povo, proletariado. Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio da eleição de representantes - forma mais usual. Pode ser num sistema presiden- cialista ou parlamen- tarista, republicano ou monárquico. Fonte: Disponível em <http://portugues. babylon.com/down- load/dicionarioaurelioo- dalinguaportuguesa/ wikipedia>. Acesso em 24 ago. 2010. 53 História - História do Brasil Império II que o suposto bem comum é, na verdade, um bem de classe, e que os sacrifícios que se fazem em nome da Pátria são desigualmente repartidos e, sobretudo, ja- mais põem em xeque a dominação de um pequeno grupo sobre a maioria. Mas o que eu gostaria de enfatizar na temática republicana é a idéia de dever que nela está saliente (RIBEIRO, In: BIGNOTTO, 2000, p. 18). Agora, em meio à nova transição política brasileira, que migrava de um regime monárquico para um regimerepublicano, sob a expectativa de anos e anos de desgaste do Segundo Reinado, os homens do norte de Minas mais uma vez faziam-se ouvir, faziam-se representar, muitas vezes afinados com os discursos que se davam por todo o Império, por todos os grandes centros do país, ou pelas Minas como um todo. Não obstante, em outros momentos também faziam impres- sões particulares, por meio de tons críticos e/ou irônicos diante da nossa nova realidade política. Uma das marcas da transição política brasileira para a República era a ideia da transforma- ção, das mudanças pelas quais o Brasil necessitava passar, especialmente diante do seu atraso frente às nações liberais e ocidentais que se estabeleceram como potências durante o século XIX, como a Inglaterra, a França, os Estados Unidos e a Alemanha. Diante dessas transformações políticas absolutamente necessárias, fazia-se necessário tam- bém a conformação de um novo “povo”, de uma cidadania mais plena, tal qual a República pan- fletava em torno do seu ideal político. Dessa forma, a ordem e o progresso deveriam ser, também, sociais, preparando o Brasil e o brasileiro para as transformações que se operariam dali em diante. Referências ARENDT, Hannah. origens do totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1989. CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. São Paulo: Cia das Letras, 1990. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem e o teatro das Sombras: a política impe- rial e a construção da ordem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. COSTA, Emília Viotti da. da Monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 1999. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10. ed. São Paulo: Edusp, 2002. GUIMARÃES, Lúcia. Dom Pedro II. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil im- perial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 198-201. JESUS, Alysson Luiz Freitas de. no sertão das Minas: escravidão, violência e liberdade – 1830- 1888. São Paulo: Annablume, 2007. MELLO, Maria Thereza Chaves de. A república consentida: cultura democrática e científica no final do Império. Rio de Janeiro: FGV/UFRRJ, 2007. PRADO Jr., Caio. Historia econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1988. RIBEIRO, Renato Janine. Democracia versus República. In: BIGNOTTO, Newton. (org.) Pensar a re- pública. 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A Primeira Unidade, intitulada “O Segundo Reinado: transição e consolidação política”pro- curou compreender o início do governo de Dom Pedro II, desde as suas dificuldades políticas no início da regência, dadas as contínuas disputas políticas intra-elites, até o período de maior esta- bilidade do Segundo Império, sobretudo com as transformações políticas, econômicas e sociais que o Brasil passou. Na Unidade 2, a proposta foi analisar os primeiros elementos que levaram a um desgaste de Dom Pedro II no poder, representado aqui por dois eventos de enorme importância para o futuro do Segundo Reinado: a Guerra do Paraguai e o processo de fim do sistema escravista negro. Por fim, na Unidade 3, intitulada “A transição do Império para a República” avaliamos o des- gaste definitivo do sistema monárquico no Brasil, bem com a incompatibilidade das estruturas monárquicas com o processo de transformação que o Brasil passava, o que, em última instância, levou à proclamação da República no Brasil em 1889. Dessa forma, a partir da análise de todo o material e a maneira como o mesmo foi concebi- do, é importante ressaltar que o período histórico estudado, aqui, é o de 1840 a 1889. Nesse sen- tido, o Segundo Reinado e suas estruturas de funcionamento são o primeiro objetivo do estudo da disciplina. Na segunda parte, a disciplina parte para a análise da desagregação do sistema que, tal como ocorria em muitas nações da época, teria que conviver com transformações e mudanças que se operavam no mundo. No caso do Brasil, o resultado dessas mudanças foi a proclamação da República, marcando o fim do Império brasileiro. 57 História - História do Brasil Império II referências Básicas ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo: Cia das Le- tras, 1999. FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. A arte de curar: cirurgiões, médicos, boticários e curandeiros no século XIX em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Vício de leitura, 2002. MELLO, Maria Thereza Chaves de. A república consentida: cultura democrática e científica no final do Império. Rio de Janeiro: FGV/UFRRJ, 2007. RAEDERS, George. o inimigo cordial do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1988. SCHWARTZ, Lilia Moritz. o espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Bra- sil – 1870-1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Complementares ABREU, Martha, e MATTOS, Hebe. Lei Áurea. Verbete. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). dicionário do Brasil imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 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P. costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 2002. 61 História - História do Brasil Império II Atividades de Aprendizagem - AA 1) Conforme José Murilo de Carvalho, o povo acompanhou bestializado a criação do regime re- publicano no Brasil. Isso pode explicar nossa Proclamação da República no Brasil como: a. ( ) Um golpe militar ou quartelada que criou novo modelo político nos moldes que tivemos mais tarde em 1964. b. ( ) Afirmação de uma nova ordem social, que gerava a igualdade social com base na organiza- ção do trabalho e inserção do escravo a pouco libertado. c. ( ) Adoção das teorias sobre ordem e progresso, surgidas na revolução norte-americana do século XVIII. d. ( ) Uma separação entre os valores liberais, instituídos pelo ideário dos membros do clube militar do Rio de Janeiro. 2) Marque a alternativa corretA sobre as ideologias políticas que serviram de inspiração aos grupos que defenderam o fim da Monarquia e a implantação da República no Brasil. a. ( ) A ideologia positivista seduziu vários grupos militares que defendiam a necessidade de um poder executivo forte. b. ( ) O jacobinismo, em virtude da inspiração na Revolução Francesa, foi a ideologia básica de todos os grupos republicanos, que defendiam uma real democratização do país. Inclusive a maior marca da República brasileira foi a participação popular. c. ( ) Os grupos participantes do feito não aderiram a nenhuma forma ideológica, pois, isso era perda de tempo, enquanto seu verdadeiro interesse era a ascensão econômica. d. ( ) As Oligarquias Cafeeiras paulista se opunham a ideologia liberal que previa o federalismo e autonomia das províncias. 3) Em texto de 13 de maio de 1888, a então Princesa Izabel declara, em nome do Imperador D. Pedro II, extinta a escravidão no Brasil. Isso representa o fim de um longo processo, do qual parti- ciparam vários atores sociais. Sobre esse processo, assinale a alternativa incorretA. a. ( ) O abolicionismo contou com o apoio de fazendeiros do sudeste cafeeiro que estariam interessados na rápida substituição da mão de obra escrava pelo trabalhador livre. b. ( ) Tendo acontecido o fim do tráfico internacional em 1850, a reposição da mão-de-obra escrava no Brasil passou a depender da reprodução natural. c. ( ) A Lei do Ventre Livre estabelecia que todas as crianças, filhas de mães escravas nasceriam livres. Mas assegurava que os senhores podiam dispor de sua mão-de-obra até a idade de 21 anos. d. ( ) A abolição do trabalho escravo foi resultado de um processo gradual, perceptível pelos decretos anteriores de fim do tráfico e das leis do Ventre Livre e Sexagenários. 4) Em praticamente todo o período do Segundo Reinado, o Parlamentarismo foi mantido. Essa manutenção está relacionada: a. ( ) À concessão de amplo poder ao imperador e à rotatividade dos partidos liberal e conser- vador, no governo, promovendo com isso uma alternância entre os partidos. b. ( ) Ao apoio dos liberais, ao monarca, de maneira que o poder dos conservadores se manti- vesse restrito às áreas interioranas do país. c. ( ) À não execução de eleições para a escolha dos deputados e senadores, todos eram indica- dos pelo imperador. d. ( ) À permanência do cargo de presidente do Conselho de Estado, este era nomeado pela Câmara dos Deputados. 5) Promulgada em setembro de 1850, a Lei Eusébio de Queirós, no decorrer do Segundo Reina- do, promoveu a extinção do tráfico negreiro. Isso foi o resultado: 62 UAB/Unimontes - 5º Período a. ( ) De uma coação do governo britânico, que, depois da Revolução Industrial do século XVIII, desejava ampliar seu mercado consumidor para os produtos que manufaturavam. b. ( ) Da crescente pressão imposta pela opinião pública nacional, de não aceitaram à escravi- dão, por promover um choque com os interesses econômicos internacionais, sumariamente da Inglaterra. c. ( ) Do ultimato britânico, que exigia o fim do tráfico negreiro como cláusula para reconhecer o Brasil como independente. d. ( ) Do exemplo dos britânicos e da pressão, que, por questões religiosas, não permitiam o trabalho compulsório, apregoando e defendendo o trabalho assalariado e livre. 6) Segundo Ilmar Rohloff, em sua obra O Tempo Saquarema, era comum ouvir-se dizer, em mea- dos do século passado, não haver nada tão parecido com um saquarema como um Luzia no po- der. No período do Império brasileiro, Luzias e Saquaremas, ambos correspondiam, respectiva- mente a: a. ( ) Liberais e Conservadores. b. ( ) Republicanos e Conservadores. c. ( ) Liberais e progressistas. d. ( ) Nacionalistas e Liberais. 7) Segundo a historiadora Emília Viotti da Costa, o movimento resultou da conjugação de três forças: uma parcela do exército, fazendeiros do oeste paulista e representantes das classes mé- dias urbanas. Momentaneamente unidas, segundo a autora, conservaram profundas divergên-cias na organização do novo regime. Identifique o fato histórico que é relatado no texto. a. ( ) Proclamação da República. b. ( ) Guerra do Paraguai. c. ( ) Abdicação do imperador Pedro I. d. ( ) Revolta Praieira. 8) Entre os principais produtos de exportação agrícola do Segundo Reinado (1840-1889), o(a)_______ mantinha-se em primeiro lugar: a. ( ) Café. b. ( ) Farinha. c. ( ) Soja. d. ( ) Açúcar. 9) A chamada Guerra do Paraguai (1864-1870): a. ( ) Foi marcada pela extremada violência e aniquilou economicamente o Paraguai; o Brasil, por meio da guerra, organizou-se militarmente e expandiu sua interferência política na região do Prata. b. ( ) Colocou Argentina e Uruguai contra o Paraguai de Solano López; o Brasil sustentou o go- verno paraguaio, que conseguiu, apesar da grande perda de soldados, vencer o conflito. c. ( ) Começou logo após desentendimentos militares e diplomáticos na região do Prata; o Brasil, juntamente com a Argentina, lutou contra o Uruguai, que foi agrupado ao território brasileiro após o conflito. d. ( ) Acabou com a derrota do Paraguai para a Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai). O Brasil ajudou, após o conflito, na recuperação do Paraguai por meio da realização de obras conjuntas. 10) Em 1888, com a Lei Áurea, a abolição da escravidão sancionou uma situação inevitável e já existente, como se observa no(a): a. ( ) Substituição, cada vez mais em ascensão, dos escravos por trabalhadores livres nas novas áreas de expansão cafeeira, como o oeste paulista. b. ( ) Abolição da escravidão nas principais Províncias do Império, antes da Lei Áurea, como já havia ocorrido em Minas Gerais. c. ( ) Retomada da produção do café no Vale do Paraíba, aproveitando os resultados da imigra- ção. d. ( ) Modo de revolução social resultante da junção do abolicionismo com os movimentos de resistência negra.