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Prévia do material em texto

Montes Claros/MG - 2014
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Dayse Lúcide Silva Santos
2ª edição atualizada por 
Dayse Lúcide Silva Santos
História do Brasil 
Colônia i
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Humberto Velloso Reis
EDITORA UNIMONTES
Conselho Editorial
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.
Profª Maria Geralda Almeida. UFG.
Prof. Luis Jobim – UERJ.
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes.
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
CONSELHO EDITORIAL
Ana Cristina Santos Peixoto
Ângela Cristina Borges
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Jânio Marques Dias
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Sandra Ramos de Oliveira
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Andréa Lafetá de Melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Ângela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Antônio Maurílio Alencar Feitosa
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Francisco Oliveira Silva
Jânio Marques Dias
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Maria da Luz Alves Ferreira
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
narcio Rodrigues da Silveira
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e Doutorando em História 
Social pela Universidade de São Paulo - USP. Atualmente é professor efetivo do Departamento de 
História da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes e professor das Faculdades Santo 
Agostinho.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8343318896504129 
Dayse Lúcide Silva Santos
Mestre e Doutoranda em História Social Cultura – Universidade Federal de Minas Gerais/ UFMG. 
Atualmente é professora de História e Sociologia do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais/
IFNMG-Campus Pirapora.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2165446647770584 
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A América antes dos Portugueses: cultura nativa e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Os vestígios dos povos da América Portuguesa e sua dispersão geográfica . . . . . . .11
1.3 Distribuição primitiva dos indígenas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 Dispersão espacial dos povos brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.5 Técnicas, estrutura social e organização política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
1.6 Crenças, ritos e antropofagia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.7 Visões: o contato com o branco  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
A colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na era dos descobrimentos 29
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.2 Antecedentes: Europa e Portugal nos séculos XIII e XIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
2.3 Tempos de expansão ultramarina portuguesa entre os séculos XIV a XVI. . . . . . . . . .33
2.4 A sociedade portuguesa: dilemas do “novo” e do “velho”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
2.5 As condições técnicas para as grandes navegações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
2.6 Descobrimento? achamento? esta é a América Portuguesa! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.7 Relações coloniais entre Portugal e América Portuguesa no início da conquista . . 40
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
O início da colonização: a distribuição das terras, economia e administração . . . . . . . . .43
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
3.2 Brasil: preparando para colonizar . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
3.3 Organização administrativa da colônia e a efetiva colonização do Brasil. . . . . . . . . . 46
3.4 Organização judiciária brasileira colonial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.5 Trabalho: índios e portugueses nas relações com o pau-brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.6 A exploração econômica do açúcar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Organização social e econômica da colônia: trabalho escravo, produção colonial e 
cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.2 A escravidão negra no Brasil: teoria e prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Gilberto Freyre: cultura escrava, cultura africana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
4.4 Cotidiano escravista na colônia: o mundo rural, o mundo urbano e as atividades 
econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
4.5 Cotidiano escravista: escravos, ex-escravos e a liberdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
Modelos explicativos do sistema colonial: teoria e historiografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
5.2 O Sistema Colonial: concepções teóricas e cotidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
5.3 A lógica de funcionamento do sistema colonial: autores e abordagens clássicas. . .71
5.4 Cultura e sociedade colonial: autores e abordagens clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
5.5 A colônia em movimento: revisionistas e perspectivas atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Unidade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
Portugal, Brasil e a União Ibérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.2 A União Ibérica: motivações e consequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78
6.3 Os holandeses na colônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.4 Do fim da União Ibérica a remontagem do poder português no nordeste colonial 81
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
Referências básicas, complementares e sumplementares. . .85
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89
9
História - História do Brasil Colônia I
Apresentação
A disciplina História do Brasil Colônia I é um dos conteúdos temáticos de enorme impor-
tância para a formação do pesquisador e professor de História. A disciplina História tem as suas 
particularidades e suas subdivisões. É a partir destas que você poderá compreender a discipli-
na em sua totalidade, pois a separação da história em diversas etapas permite compreender os 
processos sociais, políticos, econômicos e culturais que caracterizam a História em seus diversos 
tempos. Todavia, deve compreender que aqui apresentaremos o conteúdo organizado didatica-
mente e que o mesmo deve compreendido de modo a relacionar-se com os demais estudados 
ao longo do curso.
Você, enquanto historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil Colônia 
I será de suma importância para a compreensão não apenas da História do Brasil, como também 
da formação de toda a era moderna. Em período posterior você terá a oportunidade de estudar a 
sequência da disciplina, analisando os séculos XVII e XVIII no sistema colonial. 
Além disso, o estudo do período colonial brasileiro é uma oportunidade temática de repen-
sar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, neste caso, do passado colonial. 
Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente enquanto his-
toriador e professor de História, já que ela norteia a teoria e a prática da sua formação acadêmica, 
conforme você observou desde o início do seu curso.
Os objetivos dessa disciplina são muito claros, e podem ser pensados a partir dos seguintes 
aspectos: 
◄ Figura 1: Clio – Deusa 
da História
Fonte: Disponível em 
http://www.imagick.org.
br/zbolemail/Bol05x05/
BE05x12.html. Acesso em 
14/10/2013.
10
UAB/Unimontes - 2º Período
•	 analisar a estrutura política, social e cultural da América antes dos portugueses, em especial 
as sociedades indígenas;
•	 compreender as formas de colonização portuguesa na América e as relações metrópole e 
colônia;
•	 estabelecer uma relação entre o início da colonização portuguesa e as práticas políticas e 
econômicas de Portugal para com o Brasil;
•	 avaliar as relações escravistas e cotidianas na dinâmica do sistema colonial;
•	 compreender os modelos explicativos do sistema colonial a partir de uma análise historio-
gráfica;
•	 analisar as relações Brasil-Portugal no contexto da União Ibérica.
Tendo isso em mente, esse material foi produzido e divido em seis grandes unidades, a 
saber:
A Primeira Unidade, intitulada “A América antes dos Portugueses: cultura nativa e socieda-
de”, procura analisar a cultura e a organização das sociedades indígenas na região, a partir do 
estudo de seus ritos, crenças e organizações. 
Na Unidade 2, “A Colonização Portuguesa na América: Portugal e o Brasil na Era dos Desco-
brimentos”, o objetivo é compreender a história de Portugal, bem como o processo de expansão 
marítima que culminou com a chegada ao Novo Mundo. Assim, as conquistas e o “descobrimen-
to” são as principais questões abordadas nessa parte.
Na Unidade 3, “O Início da Colonização: a Distribuição das Terras, Economia e Administra-
ção”, pretende-se estudar o início da colonização, bem como da organização das terras e da eco-
nomia portuguesa, no primeiro século das relações coloniais entre Brasil e Portugal.
A Unidade 4, “Organização Social e Econômica da Colônia”, tem como objetivo avaliar como 
se deu a escravidão negra ao longo do período, evidenciando as relações cotidianas, culturais e 
de trabalho na América Portuguesa.
Na Unidade 5, “Modelos Explicativos do Sistema Colonial”, a abordagem adquire um tom 
mais teórico e metodológico, pois se pretende analisar alguns dos autores que tiveramo sistema 
colonial como objeto de estudo, sobretudo aqueles que pensaram sobre o sistema colonial por-
tuguês na América.
Por fim, a última Unidade, “Portugal, Brasil e a União Ibérica”, objetiva compreender as rela-
ções coloniais em um momento específico, isto é, no momento de união das coroas de Portugal 
e Espanha, período normalmente conhecido como União Ibérica. Aqui, procuramos, também, 
analisar as relações da Holanda junto à exploração colonial no Brasil.
Você perceberá, portanto, que essa disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nas 
demais disciplinas de História do Brasil, é imprescindível que você identifique criteriosamente 
como se deu o nosso passado colonial, bem como as metodologias para o ensino da História do 
Brasil Colônia.
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-
verá perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes, e acompanham 
o texto, bem como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para 
acessar bibliotecas virtuais na web, etc. As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, 
aparecendo com os respectivos ícones. A leitura dos textos complementares indicados também 
é importante, pois indicam os possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discus-
são. São recursos que podem ser explorados de maneira eficaz, por você, pois buscam promover 
atividades de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da 
análise sociológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.
Ao planejar esta disciplina consideramos que essas questões e sugestões seriam fundamen-
tais, de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos próprios 
da disciplina.
Agora é com você! Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o ques-
tionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras complementares.
Bom estudo!
Prof. Alysson Luiz Freitas de Jesus
Profa. Dayse Lúcide Silva Santos
11
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 1
A América antes dos Portugueses: 
cultura nativa e sociedade
Dayse Lúcide Silva Santos
1.1 Introdução
Esta primeira unidade visa apresentar-lhe o universo cultural brasileiro antes da chegada 
dos portugueses na “terra brasilis”. Para tanto discutiremos subtemas pertinentes a essa unidade, 
tais como: os vestígios dos povos que ocuparam a América Portuguesa, a maneira pela qual hou-
ve a sua dispersão geográfica e distribuição/localização no território que mais tarde chamaremos 
de Brasil. 
Ainda, seremos apresentados aos instrumentos técnicos utilizados pelos indígenas, bem 
como a maneira pela qual eles estabeleceram uma estrutura social e organização política pró-
prias de suas relações socioculturais e com o meio físico no qual sobreviveram. 
Tudo isso não será estudado sem antes compreendermos as crenças, os rituais e as transfor-
mações advindas do contato com o homem branco português. Optamos, sobretudo, por eviden-
ciar um olhar sobre o indígena brasileiro que o colocou no centro de nossas preocupações, o que 
nos levou a evitar o olhar etnocêntrico, privilegiando a diferença e a compreensão do outro em 
seu fazer cotidiano.
Assinalamos para você alguns conceitos chaves visando a compreensão dessa história que, 
podemos dizer, é produzida na fronteira com outras disciplinas-irmãs da História: a Antropologia, 
a Geografia e a Arqueologia.
Por fim, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos ao longo desse 
material. Sugerimos alguns filmes e sites para que você, juntamente com seus colegas, possa 
aprofundar os temas apresentados aqui e refletir sobre as questões suscitadas. 
Não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores. 
Certamente, todos nós desejamos contribuir e ver o seu crescimento.
Desejamos boa aula!
1.2 Os vestígios dos povos 
da América Portuguesa e sua 
dispersão geográfica 
Você já se perguntou sobre quem eram os habitantes da terra que hoje ocupamos? Já se 
perguntou o porquê de chamá-los de índios ou mesmo o motivo de comemorarmos o descobri-
mento da América Portuguesa? Essas questões são fundamentais para pensarmos a história do 
nosso continente e especialmente a história brasileira antes do contato com os portugueses. 
Então vamos lá, esse é um convite para aprofundarmos um pouco mais em nossa história!
O continente americano abrigou grande quantidade de povos. Nesse item vamos observar 
a localização dos povos da América, enfatizando os indígenas brasileiros.
O povoamento da América é de difícil datação, entretanto, existem vestígios do desenvolvi-
mento de culturas americanas desde o período neolítico. Também, é preciso compreender que 
12
UAB/Unimontes - 2º Período
o desenvolvimento cultural dos povos americanos ocorreu num processo que durou séculos e 
quase sempre envolveu grupos diversos. Assim, diversas culturas se desenvolveram nessas terras, 
a saber: os Esquimós, os Sioux, os Apaches, os Astecas, os Maias, os Aruaques, os Caribes, os Gua-
ranis, os Tupis, os Jês, entre outros. 
Em momentos diferentes da nossa história, cada um desses povos construiu, à sua maneira, 
forma própria de expressão cultural, a qual sofreu diversas mudanças ao longo do tempo, esta-
belecendo diferentes maneiras de apropriação e relacionamento com a natureza. 
Para visualizar melhor a distribuição espacial dos povos americanos. Vejamos a figura 2. 
Do ponto de vista do europeu, a História brasileira foi contada e registrada a partir da che-
gada de Pedro Álvares Cabral (1467/68–1520/26) em nossas terras. Para se ter uma idéia, come-
moramos os 500 anos do descobrimento do Brasil, pois consideramos que a nossa história te-
ria iniciado após a chegada dos europeus. Podemos afirmar que essa visão é eurocêntrica. Da 
mesma maneira, se tomarmos o conceito de índio perceberemos que ele também obedece a um 
construto social. Senão, vejamos:
•	 Quando Cristóvão Colombo (1437/48–1506) “descobriu” a América ele chamou os habitan-
tes do território de “índios”, pois pensou ter chegado às Índias; 
•	 Outros termos são utilizados para designar o habitante da América pré-colombiana, qual 
seja: aborígine, ameríndio, autóctone, brasilíndio, gentio, negro da terra, bugre, silvícola, ín-
cola, entre outros. Enfim, o termo “índio” foi utilizado e pode ser compreendido à luz da afir-
mação do sociólogo Darcy Ribeiro, o qual se baseou na autoidentificação étnica das comu-
nidades, considerando que o índio é todo o indivíduo reconhecido como membro de uma 
comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é conside-
rada indígena pela população brasileira com que está em contato. (RIBEIRO, 1986).
DiCA
Teoria de Bering: 
Esta teoria procura ex-
plicar que a ocupação 
da América foi feita em 
etapas e a chegada dos 
primeiros grupos deu-
-se através do Estreito 
de Bering, daí o nome 
da teoria. Durante uma 
das glaciações, época 
em que o nível do mar 
baixava cerca de 50 
metros, nesse local se 
estabeleceu uma espé-
cie de ponte ligando 
a Sibéria Asiática e o 
Alasca americano, por 
uma faixa estreita de 
terra à vista, por onde 
teriam passado os 
grupos humanos para a 
América. 
Essa “ponte” parece 
ter existido, segundo 
a teoria, entre 50 e 40 
mil anos atrás e deu 
passagem aos mamífe-
ros; reapareceu entre 
28 e 12 mil anos atrás, 
dando passagem pos-
sivelmente aos grupos 
humanos. Essa teoria 
afirma ainda que o po-
voamento da América 
do Sul se deu após um 
período de degelo de 
grandes geleiras que 
recobriam a Baía de 
Hudson, na América 
do Norte. Esse degelo 
ocorreu aproximada-
mente entre 27 e 13 
anos atrás. 
Existem outras teorias 
que procuram expli-
caro povoamento da 
América, especialmente 
a América do Sul. 
Sugestão: pesquise 
sobre essas teorias e 
procure entender os 
motivos de hoje dizer-
mos que há questio-
namentos à teoria de 
Bering. Discuta com o 
seu professor formador. 
Figura 2: Mapa da 
América. 
Fonte: HUMBERG, 1996, 
p. 19. 
►
13
História - História do Brasil Colônia I
Esses povos ocuparam o território há muito tempo. Na busca de alimentos e melhores cli-
mas, o homem foi se espalhando por todos os continentes, até chegar ao que se convencionou 
chamar de América. Não há consenso entre os pesquisadores antropólogos e arqueólogos quan-
to a data inicial do povoamento, entretanto, vale ressaltar esse dissenso da seguinte forma: 
•	 A partir de pesquisas arqueológicas houve a fixação aproximada do homem na América do 
Sul, mais especificamente no Piauí – sítio arqueológico de Raimundo Nonato – há cerca de 
40.000 anos. Nem todos os especialistas concordam com uma data tão recuada e criticam a 
pesquisa da professora em questão.
•	 Outros pesquisadores fixam datas mais recentes para o povoamento de nosso território, cer-
ca de 12 a 15 mil anos antes de cristo, baseando-se nas datações de restos humanos encon-
trados em diversos sítios arqueológicos existentes no Brasil, como é o caso de Lagoa Santa/
MG (16.000 anos) e de Ibicuí no Rio Grande do Sul, com cerca de 12.700 anos.
É relevante ressaltar que a trajetória das nações indígenas no atual Brasil não pode ser com-
preendida de maneira homogênea, pois estes possuíam diferenças marcantes, quer sejam dife-
renças linguísticas, quer seja na sua cor de pele, altura, corpulência, etc. 
É preciso compreender que à época em que os Portugueses chegaram ao Brasil encontra-
ram diversas nações indígenas ou nativas, povos dos quais falaremos no item seguinte. 
◄ Figura 3: Índios 
Krahôs da aldeia Rio 
Vermelho, em 2004. 
Parque Nacional da 
Serra do Capivari.
Fonte: Editado em Revista 
Nossa História. Ano 2, nº 
22. Agosto/2005.
PARA SABeR MAiS
Outra teoria, defendida 
por cientistas do Museu 
do Homem em Paris e 
já recriada por arque-
ólogos, afirma que o 
homem teria migrado 
a partir da Oceania, na-
vegando em embarca-
ções primitivas, indo de 
ilha em ilha até chegar 
a América, um processo 
que teria demorado 6 
mil anos. Atualmente, 
as duas teorias são 
aceitas, sendo provável 
que os dois processos 
ocorreram simultanea-
mente, ao passo que o 
povoamento da Amé-
rica teria se dado tanto 
pelo norte como sul do 
continente. Confira no 
mapa da figura 4
◄ Figura 4: Mapa-mundi.
Fonte: Disponível em 
http://fabiopestana-
ramos.blogspot.com.
br/2011/08/o-surgimento-
-do-homem-os-primeiros.
html Acesso em 
19/08/2013.
14
UAB/Unimontes - 2º Período
1.3 Distribuição primitiva dos 
indígenas no Brasil
Podemos criar diversas maneiras de classificar os povos da América visando o seu estudo 
científico. Consideramos mais apropriado o estudo da antropóloga Betty Meggers que classifica 
os povos da América de acordo com a apropriação/alteração da natureza/espaço em que vive-
ram ao longo do tempo. Nesse caso, procurando identificar traços culturais apresentados por es-
ses povos que nos permitam aproximá-los. Assim, os dividimos em:
a) Povos caçadores e coletores (ex: Sioux, Esquimós, Tehuelches, Apaches e etc)
b) Povos agricultores de florestas tropicais (ex: Guaranis, Tupis, Jês, Aruaques e etc)
c) Civilizações agrícolas (ex: Incas, Maias e Astecas).
Essa classificação será a adotada nesse manual exclusivamente para facilitar a nossa com-
preensão geral do processo histórico vivenciado pelos indígenas na América, notadamente para 
compreender o estudo da História brasileira, pois teremos em nosso território os povos classifi-
cados como caçadores e coletores, bem como os agricultores de florestas tropicais. Ressaltamos 
que as ditas grandes civilizações agrícolas serão estudadas em momento próprio deste curso. 
Existem questionamentos quanto a essas terminologias, pois que as mesmas hierarquizam os in-
dígenas em sua experiência histórica, não sendo essa a nossa intenção.
É preciso destacar que os indígenas brasileiros não estavam na estaca zero da sua experi-
ência cultural e material, haja vista que os tupis do litoral brasileiro desenvolviam a agricultura. 
Entretanto, isso não quer dizer que eles possuíam nível cultural superior a quaisquer outros po-
vos no Brasil. Ora, o conhecimento antropológico nos sensibiliza para a seguinte questão: não 
existem culturas superiores ou inferiores, mas sim culturas diferentes entre si. 
Os estudos mais recentes ressaltam que em função do aumento populacional, a busca de 
melhores locais para adquirir alimentos, as guerras entre as tribos e as migrações constantes con-
duziram tais nativos a diferentes conformações linguísticas e culturais. 
Sendo assim, podemos agrupar as línguas indígenas faladas no Brasil em troncos linguísti-
cos e famílias. Essa classificação obedece a critérios de semelhança e de origem comum, e con-
sidera a diversificação que ocorreu ao longo do tempo, mas que manteve estrutura semelhante 
que nos permitiu aproximá-las. 
Destacamos pelo menos duas classificações: a primeira delas foi proposta pelo Prof. Aryon 
Dall’Igna Rodrigues (1986), publicada em Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas 
indígenas, e propõe a divisão dos troncos linguísticos brasileiros como mostra o quadro 1. 
QUADRO 1 
Classificação das línguas indígenas no Brasil
TROnCO 
LinGUÍSTiCO FAMÍLiA
eXeMPLO De ALGUMAS 
LÍnGUAS
Tronco
tupi
TUPI-GUARANI, ARIKÉM, AWETÍ, JURUNA, 
MAWÉ, MONDÉ, PUROBORÁ, MUNDURUKÚ, 
RAMARAMA, TUPARÍ
Família: Tupi-Guarani Línguas: 
Asuriní do Xingu, Asurini do 
Tocantins; Akwáwa; Amanayé; 
Apiaká; Anambé; Araweté
Tronco
Macro-Jê
BORÓRO, JÊ, KRENÁK, GUATÓ, MAXAKALÍ, 
OFAYÉ, KARAJÁ, IKBAKTSÁ, YATÊ.
Família: Jê 
Línguas: Akwén; Apinayé; 
Kaingáng; Kayapó; Panará 
(Kren-akore, Kren-akarore); 
Suyá; Timbira; Xokléng 
Outras não 
afiliadas 
aos troncos 
linguísticos 
acima citados
AIKANÁ, ARAWÁ, ARÚAK (Arawak, Maipure), 
GUAIKURU, IRANXE, JABUTÍ, KANOÊ, KARIB, 
KATUKíNA, KOAZÁ (KWAZÁ), MÁKU, MURA, 
NAMBIKWÁRA, PANO, TRUMÁI TIKÚNA, 
TUKANO, YANOMAMI, TXAPAKÚRA
Família: Yanomami. 
Línguas: Ninam; Sanumá; 
Yanomám; Yanomami 
Fonte: Classificação de Aryon Dall’Igna Rodrigues, divulgada na obra Línguas brasileiras : para o conhecimento das línguas 
indígenas, São Paulo: Loyola, (1986), atualizada em 1997 para o site do Instituto Socioambiental (ISA). Adaptado do site: 
http://br.geocities.com/indiosbr_nicolai/classif.htm Acesso em dez/2008. Acesso em 19/08/2013.
DiCA
Maurício Martins Alves 
escreveu uma tese de 
doutorado extrema-
mente interessante que 
vale a pena você ler. 
Título: Formas de Viver: 
formação de laços pa-
rentais entre cativos em 
Taubaté, 1680-1848 
Sob a orientação do 
professor Manolo Flo-
rentino, esse trabalho 
foi cuidadosamente 
documentado a partir 
de inventários, listas 
de habitantes e outros 
documentos inéditos, 
onde o autor esmiuçou 
a composição da popu-
lação escrava (incluin-
do índios no primeiro 
período) de Taubaté, 
cobrindo quase dois sé-
culos. Trata-se de uma 
contribuição original 
e importante para a 
história econômica co-
lonial e para a história 
dos índios, revelando a 
presença e persistência 
do trabalho indígena 
até meados do século 
XVIII. As estatísticas ar-
roladas e apresentadas 
em forma de tabelas e 
gráficos proporcionam 
uma base quantita-
tiva importante no 
dimensionamento dos 
movimentos da popu-
lação indígena. Onde 
encontrar?
Baixe do site abaixo e... 
boa leitura!
http://www.dominio-
publico.gov.br
ALVES, Maurício Mar-
tins. Formas de Viver: 
formação de laços 
parentais entre cativos 
em Taubaté, 1680-1848. 
Tese de Doutoradoem 
História, UFRJ, 2001 
(orientador Manolo 
Florentino), 416p.
15
História - História do Brasil Colônia I
A segunda proposição advém de diversos estudiosos que defendem a existência de quatro 
grandes troncos linguísticos, a saber: Tupi, Macro-Jê, Aruaque e Caraíba. Tanto na primeira clas-
sificação, quanto nesta segunda, há a identificação de diversas línguas isoladas, sem filiação a 
nenhum dos troncos ditos acima. Veja a distribuição espacial no mapa da figura 5.
1.4 Dispersão espacial dos povos 
brasileiros
Você já se perguntou quem eram e de onde vieram os homens e mulheres com quem os por-
tugueses se depararam e que posteriormente viriam a ser designados índios?
Ao longo do tempo, durante o processo de povoamento do Brasil, observamos que houve 
uma diferenciação dos povos que ocupavam a nossa terra. Há cerca de 5 mil anos se tem notícia da 
movimentação do povo do tronco macrotupi, na região do baixo Amazonas. Greg Urban, em Histó-
ria das Culturas Brasileiras segundo as línguas nativas, identifica que:
Há cerca de 2 a 3 000 anos atrás, ter-se-á verificado a primeira grande movi-
mentação expansionista da família Tupi-Guarani, que provocou a migração 
dos Cocama e dos Omágua para norte, rumo à região amazônica, dos Guaiaqui 
para sul, em direcção ao Paraguai e dos Xirionó para sudoeste, onde penetra-
ram em território actualmente pertencente à Bolívia. Seguidamente eclodiu a 
fase de separação do núcleo central, que levou os Pauserna e os Cauaib para 
oeste, os Oiampi para as Guianas, os Caiabi e os Camaiurá para o curso do Xin-
gu, os Tapirapé e os Teneteára para as imediações da foz do Amazonas e os 
Xetá para o extremo sul do Brasil. (URBAN, 1992, p. 92)
Segundo Cougo (2000), em artigo publicado na revista Camões, cujo título é A gente da ter-
ra, afirma que essa última cisão no grupo TUPI-GUARANI deveu-se ao crescimento da população 
e aos terríveis efeitos de um processo prolongado de seca que obrigou, provavelmente, os tupi-
-guaranis a buscarem lugares outros que proporcionassem condições de subsistência adequada 
a esses “horticultores da floresta tropical” e à produção de cerâmica. Dessa maneira, buscavam:
•	 zonas de mata situadas na proximidade de cursos de água navegáveis; 
•	 áreas pouco acidentadas, úmidas, pluviosas e quentes ou, no mínimo, temperadas. 
É neste sentido que as populações do Brasil vão se situar em locais próximos aos rios e seus 
vales férteis, há cerca de 1 800 anos, a saber: Paraguai, Paraná, Uruguai e Jacuí, bem como os seus 
afluentes. A partir dessa área, irradiaram, posteriormente, para leste, ocupando paulatinamente a 
orla marítima compreendida entre o Rio Grande do Sul e o Ceará. Por volta do século VIII, observa-
mos que esses povos foram se separando e constituindo dois grupos distintos, a saber:
◄ Figura 5: Brasil, 
distribuição primitiva 
dos povos indígenas
Fonte: Heber Lisboa 
citado por MICELLIN, 
2004, p.218
DiCA
Figura 6: Pinturas de 
Eckhout - Albert van 
der Eckhout (Holandês, 
1610 - 1666)
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br. Acesso em 
19/08/2013.
Visite o site Clio história 
e conheça um pouco 
mais sobre as 08 ima-
gens sobre a produção 
de Eckhout.
Discuta com seus 
colegas a maneira pela 
qual a mulher indígena 
foi representada. A 
que conclusões vocês 
poderão chegar? 
16
UAB/Unimontes - 2º Período
•	 o tupi, que quer dizer “pai supremo, tronco da geração”. Abrange as populações litorâneas 
do Brasil. Dedicavam-se à cultura da mandioca amarga; e
•	 o guarani, que quer dizer “guerra”. Abrange áreas subtropicais, como o Mato Grosso do Sul, 
região meridional do Brasil, Paraguai, Uruguai e nordeste da Argentina. Dedicavam-se espe-
cialmente à cultura do milho.
Cabral, ao desembarcar na Terra de Santa Cruz, “encontrou” os indígenas brasileiros, ou me-
lhor, os Tupis e os Guaranis, se esforçando ao máximo para completar o domínio sobre o litoral 
que naquele momento dispunha de alimentos fartos capazes de lhes assegurar a sobrevivência. 
Tal é o caso do peixe, tartarugas, moluscos, crustáceos e sal, imprescindíveis para a alimentação e 
para sustentar os guerreiros no processo de dominação do espaço e de outras tribos. Soma-se a 
essa boa alimentação a sua capacidade de organização técnica e numérica para vencer as guer-
ras intertribais. 
Segundo Cougo (2000), grosso modo, podem ser assim distribuídos espacialmente as na-
ções indígenas (tomando os devidos cuidados relacionados às fontes disponíveis):
•	 Os aruaques: habitavam o norte desde a foz do Oiapoque (Amapá) até à costa paraense, 
incluindo o delta amazônico e as respectivas ilhas, designadamente a de Marajó (território 
do grupo aruã, “pacífico”).
•	 Os Tremembés (“alagadiço”): pertencentes à família Cariri e ao tronco Macro-Jê, por seu 
lado, estavam sobretudo fixados no Meio-Norte (Maranhão-Piauí), estendendo-se a sua área 
de influência das desembocaduras dos rios Gurupi (no limite sul do Pará) ao Camocim ou ao 
Mucuripe (Ceará).
•	 Os tupis: os potiguaras (“comedor de camarão”) dominavam a zona costeira localizada en-
tre aquele rio e o Paraíba; os tabajaras (“senhor da aldeia”) viviam no litoral situado entre o 
estuário deste curso de água e Itamaracá e os caetés (“mata verdadeira”); predominavam no 
trecho de costa compreendido entre este marco geográfico e a margem norte do rio de São 
Francisco (Alagoas). 
•	 Nos sertões nordestinos (Serras da Borborema, dos Cariris Velhos e dos Cariris Novos e vales 
do Acarajú, do Jaguaribe, do Açú, do Apodi e do baixo São Francisco) refugiaram-se os cari-
ris (“silencioso”), pertencentes ao tronco Macro-Jê, após terem sido expulsos do litoral pelos 
tupis. Numa parcela do interior cearense (sobretudo na serra de Ibiapaba), do Rio Grande do 
Norte e da Paraíba imperavam os tabajaras.
•	 Os tupinambás (“descendentes dos tupis”) ocupavam a costa desde a margem direita do 
São Francisco até à zona norte de Ilhéus, depois de terem vencido os seus habitantes ante-
riores; no entanto, a sua divisão em dois grupos rivais - o primeiro abarcando a área enqua-
drada pelos rios de São Francisco e Real (Sergipe), e o segundo senhoreando o litoral desde 
aí até ao Camamu - deu origem a um estado de guerra permanente. Por outro lado, os mo-
radores da região onde veio a ser edificada a vila do Pereira e, posteriormente, a cidade do 
Salvador eram inimigos dos habitantes das ilhas de Itaparica e Tinharé e da costa norte de 
Ilhéus, situação que provocava acesos combates entre aqueles bandos.
•	 Nos sertões baianos fixaram-se os tapuia, os tupina e os amoipira (“os da outra banda do 
rio”), um ramo segregado dos tupinambás, após terem sido derrotados em sucessivas guer-
ras, quer entre si, quer com os tupinambás. Aí viviam, também, os ibirajara (“senhor do 
pau”), pertencentes ao grupo Caiapó da família Jê.
•	 Do estuário do Camamu (a norte de Ilhéus) até ao do Cricaré ou São Mateus (Espírito San-
to), as zonas litorâneas pertenciam aos tupiniquins (“colaterais dos tupis”) que, contudo, se 
debatiam com as duras investidas dos aimorés (vocábulo tupi que designa uma espécie de 
macacos), pertencentes à família Botocuda (Macro-Jê), que lhes disputavam o território. Nos 
sertões de Porto Seguro e do Espírito Santo viviam os papanás, que foram forçados a aban-
donar o litoral devido aos ataques dos tupiniquins e dos aimorés. Os goitacás (“nómadas”) 
provinham do tronco Macro-Jê e viviam no trecho de costa compreendido entre o rio Crica-
ré e o cabo de São Tomé, ocupando também o interior dessa região.
•	 A área costeira fluminense delimitada pelo cabo de São Tomé e Angra dos Reis era controla-
da pelos tamoios (“avô”) - outro ramo dos tupinambás - que dispunham, ainda, de algumas 
povoações mais ao sul: Ariró, Mambucaba, Taquaraçu-Tiba, Ticoaripe e Ubatuba. Todavia, 
ainda restavam nessa área alguns núcleos de temiminós (“netos do homem”),designada-
mente na ilha de Paranapuã ou dos Maracajás (atual ilha do Governador, na baía da Guana-
bara), que resistiam às constantes investidas dos seus implacáveis inimigos.
•	 O domínio do litoral paulista localizado entre Caraguatatuba e Iguape - ilha Comprida per-
tencia aos tupiniquins, que também viviam numa parcela do sertão. 
PARA SABeR MAiS
A principal herança que 
deles recebemos (dos 
índios) foi a parte que 
nos coube desta sabe-
doria ecológica. Princi-
palmente seu sistema 
de roças itinerantes de 
coivara, tão admira-
velmente adaptado 
à natureza tropical. 
Roças em que deles 
cultivavam dezenas de 
plantas, domesticadas 
diretamente da riquís-
sima flora brasileira, 
cujas qualidades eles 
descobriram e, ao 
longo dos milênios, 
desenvolveram. Nas 
roças e ao redor delas, 
nas capoeiras, os índios 
cultivavam dezenas 
de variedades de 
mandioca e batatas, 
carás e muitas espécies 
de milho, feijão, de 
amendoim, de abacaxi, 
de bananas, goiabas, 
graviolas, de sapotis, 
de utis, de pupunhas, 
de mamão, de caju, de 
maracujá, de cacau... 
ainda, a erva mate, o 
guaraná, as taquaras 
para fazer flechas, cipós 
para tangas, cestos 
e dezenas de outras 
plantas. Essas heranças, 
basicamente tupis, é 
que constituem a base 
de nossa adaptação à 
floresta tropical. 
Fonte: RIBEIRO & MO-
REIRA. A Fundação do 
Brasil. Rio de Janeiro: 
Vozes, 1992, p. 33.
DiCA
Pesquise em um mapa 
do Brasil a localização 
dos pontos geográfi-
cos contidos no texto, 
objetivando construir 
“setas” que apontarão 
as direções tomadas 
pelos povos indígenas 
brasileiros.
Divulgue no e-mail dos 
seus colegas de turma!
17
História - História do Brasil Colônia I
•	 Os guaianás (“gente aparentada”) predominavam na zona de matas de pinheiro, a 300 me-
tros de altitude, e na área de planalto correspondente à faixa que se estende de Angra dos 
Reis à Cananeia. Pertenciam à família Jê, devendo ser considerados antepassados dos atuais 
Caingangues.
•	 A partir da Cananeia entrava-se no espaço dos guaranis e dos autóctones por eles assimila-
dos ou “guaranizados” - conhecidos por diversas designações locais, nomeadamente carijós, 
tapes, patos e arachãs - que se estendia até à lagoa dos Patos, numa extensão de cerca de 
80 léguas de costa. Estes tinham como vizinhos e adversários populações pertencentes aos 
grupos pampianos: os charruas, no sudoeste, fixados em ambas as margens do rio Uruguai 
e respectivos afluentes, e os minuanos, no sudeste, que detinham a posse do trecho de cos-
ta que se iniciava na lagoa dos Patos e alcançava o estuário platino (nas imediações do local 
onde, no século XVIII, viria a ser edificada a cidade de Montevidéu).
Os povos tupi-guaranis se encontravam melhor organizados e bem armados, considerando 
que dispunham de técnicas que sobrevivem ainda nos dias de hoje, este é o caso da técnica uti-
lizada na agricultura denominada coivara. Conheciam também a técnica do manuseio da cerâ-
mica, de estruturas defensivas, da construção de habitações e de canoas. Os tupis denominavam 
seus inimigos de tapuias, que quer dizer o outro, ou seja, os não pertencentes à tribo tupi-guara-
ni, especialmente os indígenas do tronco Jê. Observe a figura 8 e confira a distribuição espacial 
da qual vimos falando.
◄
Figura 7: Os índios da 
Bacia Amazônica e do 
Brasil em 1500.
Fonte: HEMMINIG, citado 
por BETHELL, 1997, p.103.
PARA SABeR MAiS
Johann Moritz Rugendas 
(Augsburg, Alemanha 
1802 - Weilheim, Alema-
nha 1858) vem para o 
Brasil em 1821, integrando 
a Expedição Langsdorff 
como desenhista docu-
mentarista. 
Em 1824, viaja para Minas 
Gerais e registra paisa-
gens, cenas de costumes e 
o trabalho escravo. Na vol-
ta, abandona a expedição, 
sendo substituído pelo 
desenhista Adrien-Aimé 
Taunay. 
Passa por Mato Grosso, 
Bahia e Espírito Santo, 
retorna ao Rio de Janeiro e 
segue para a Europa, onde 
publica, em 1834, o livro 
Voyage Pittoresque dans 
le Brésil. 
De 1831 a 1833 vive no 
México, envolvendo-se po-
liticamente. Muda-se para 
o Chile, onde permanece 
por doze anos, período em 
que viaja para Argentina, 
Peru e Bolívia. Registra 
cenas da vida campesina e 
indígena. 
Em 1845, retorna ao Rio de 
Janeiro e realiza retratos 
de D. Pedro II, da Impe-
ratriz Tereza Cristina e do 
Príncipe D. Afonso. No ano 
seguinte parte definitiva-
mente para a Europa. Por 
motivos financeiros cede 
sua coleção de desenhos 
e aquarelas ao Rei Ludwig 
I, da Baviera, em troca de 
uma pensão anual.
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br . Acesso em 
14/10/2013
Nesse site você encontrará 
diversas imagens. Pesqui-
se sobre outras imagens 
que Rugendas fez sobre 
o Brasil.
18
UAB/Unimontes - 2º Período
1.5 Técnicas, estrutura social e 
organização política
Os diferentes povos indígenas do Brasil (Pindorama ou Piratininga), a exemplo dos demais 
índios da América, tinham maneiras próprias de organizar-se: diferentes modos de vida, línguas 
e culturas. Vamos compreender isso melhor? Iniciemos observando a figura feita pelo viajante 
Johann Moritz Rugendas, realizada no século XIX, e que se refere a representações de situações 
possíveis da vivência dos indígenas brasileiros. 
Figura 8: Mapa de 
distribuição espacial 
dos indígenas 
brasileiros. 
Fonte: Disponível em 
http://www.culturabrasil.
pro.br/pindorama.htm 
Acesso em 14/10/2013
►
PARA SABeR MAiS
O alemão Hans Staden 
esteve duas vezes no Brasil 
na primeira metade do 
século XVI. Na segunda, foi 
aprisionado em Bertioga 
por índios antropófagos, 
com os quais conviveu 
durante meses até ser 
resgatado por um navio 
francês. Ao retornar à sua 
terra, escreveu um livro 
contando suas experiên-
cias, publicado em 1557, 
que é um dos documentos 
mais preciosos sobre os 
anos iniciais do Brasil 
colonial.
(ver site: Clio história. 
Textos e Documentos.)
Existe lá, naquela terra, 
uma espécie de árvore, 
que chamam igá-ibira. 
Tiram-lhe a casca, de alto 
abaixo, numa só peça e 
para isso levantam em vol-
ta da árvore uma estrutura 
especial, a fim de sacá-la 
inteira. Depois trazem 
essa casca das montanhas 
ao mar. Aquecem-na 
ao fogo e recurvam-na 
para cima, diante e atrás, 
amarrando-lhe antes, ao 
meio, transversalmente, 
madeira, para que não se 
distenda. Assim fabricam 
botes nos quais podem 
ir trinta dos seus para a 
guerra. As cascas têm a 
grossura dum polegar, 
mais ou menos quatro pés 
de largura e quarenta de 
comprimento, algumas 
mais longas, outras me-
nos. Remam rápido com 
estes barcos e neles viajam 
tão distante quanto lhes 
apraz. Quando o mar está 
tormentoso, puxam as 
embarcações para a praia, 
até que se torne manso 
de novo. Não remam mais 
que duas milhas mar afora, 
mas ao longo da costa 
viajam longe.
Fonte: Extraído de Hans 
Staden, Duas viagens ao 
Brasil, trad. de Guiomar de 
Carvalho Franco, Belo Ho-
rizonte/São Paulo, Itatiaia/
Edusp, 1988. (1a ed., 1557)
Figura 9: Índios 
brasileiros – Rugendas.
 Fonte: Disponível em 
www.dominiopúblico.
gov.br Acesso em 
14/10/2013.
►
19
História - História do Brasil Colônia I
Os graus de diferenciação social nas sociedades indígenas brasileiras não são muito gran-
des, predominando uma tendência à organização comunitária e ao desenvolvimento de fortes 
laços de solidariedade. Sendo assim, vamos compreender a maneira pela qual se estruturava a 
sociedade indígena brasileira, considerando, de modo geral, como essas sociedades se caracteri-
zavam, como afirma John Hemminig:
A maioria dos índios brasileiros vivia em aldeias de curta duração. A principal 
razão disso era a ausência, nas terras baixas da América do Sul, de animais que 
pudessem ser domesticados – ao contráriodas Ilhamas e das cobaias que for-
neciam proteínas às grandes civilizações andinas. Não havia, assim, criadores 
de gado na Amazônia. Para aumentar suas safras agrícolas, suas populações 
estavam condenadas a caçar, pescar ou a coletar (...). O resultado foi o desen-
volvimento de uma sociedade em comunidades que moravam em aldeias, po-
pulações de alta mobilidade, que podiam transportar suas poucas posses ra-
pidamente para áreas mais ricas de caça ou pesca. (HEMMINING, 1997, p. 104)
a) As técnicas
Chamamos a sua atenção para a técnica utilizada no cultivo de produtos alimentícios. A 
simples tarefa de preparação da mata para ser cultivada exigia um esforço conjunto: limpavam 
a mata utilizando machados de pedra, principalmente para cortar arbustos. Na sequência, da-
vam início ao processo de queima da lenha que havia secado, construindo fogueiras em torno 
de grandes árvores, para que então fosse “furado o chão” para abrigar mudas que logo seriam 
recobertas pela terra. O cultivo assim se repetia de 03 a 04 anos, mas logo era abandonado pela 
comunidade nuclear que fixava em outros locais da floresta repetindo a mesma ação. 
Em geral, era comum o cultivo de: mandioca (os Tupis), milho (os Guaranis) e amendoim (os 
Jês). Além destes alimentos básicos, os indígenas plantavam feijão, batata-doce, cará (inhame), 
jerimum (abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares destacavam-se a purun-
ga (cabaça), o jenipapo e o urucu (corantes), o algodão e o tabaco.
As técnicas de caça para se alimentarem e vestirem eram: 
•	 o mutá: era um posto de observação construído em árvores altas (cerca de 15 metros de altu-
ra), onde os caçadores se situavam para observar a passagem de animais e assim capturá-los. 
•	 o mundéu: era uma armadilha que possuía covas escavadas recobertas de ramos e folhas ou 
numa estacada de pau a pique, com uma só entrada dotada de um dispositivo que se fecha-
va quando a presa lá entrava. 
Caçavam os seguintes animais: antas, pacas, capivaras, cutias, caititus, queixadas, veados, 
preguiças, tamanduás, tatus, além de onças, macacos, aves e répteis. Em especial, os guerreiros 
tupis dedicavam-se à ingestão de animais velozes, pois acreditavam que assim procedendo ab-
sorveriam a agilidade de tais animais. Essa é uma concepção extremamente interessante entre os 
tupis, é também a expressão de sua cosmovisão, da qual trataremos mais adiante.
As técnicas destinadas à pesca também devem ser ressaltadas, considerando que as mes-
mas tinham forte apelo coletivo: 
•	 o timbó, que era a prática de utilizar venenos vegetais para atordoar e asfixiar os peixes;
•	 as armadilhas nos perequês, que era a prática de prender os peixes na época da piracema 
no estuário dos rios, conseguindo assim pescar quantidades enormes de peixes;
•	 uso do arco e flecha e a pindaíba (vara de pescar).
ATiViDADe
Analise atentamente a 
figura 9, pesquise na in-
ternet sobre os “Indios 
Brasileiros” de Rugen-
das e discuta com os 
seus colegas no sistema 
UAB/Unimontes:
Quais as condições de 
produção dessa figura? 
Qual a intencionalidade 
do pintor ao retratar 
tais representações 
nessa imagem?
PARA SABeR MAiS
Veja figura do Parque 
Indígena do Xingu. 
Observe a organização 
atual dos indígenas do 
Brasil.
Figura 10: Vista aérea 
da aldeia Ngojwêrê 
do povo Kisêdjê. Foto 
André Villas Bôas ISA
Fonte: Disponível em http://
www.yikatuxingu.org.br/
wp-content/uploads/2011/05/
Vista-a%C3%A9rea-da-
-aldeia-Ngoiw%C3%AAr% 
C3%AA-do-povo-
-Kis%C3%AAdj%C3%A
A.-Foto-Andr%C3%A9-
Villas-B%C3%B4as-ISA2.jpg. 
Acesso 14/10/2013.
16 etnias indígenas: 
Kuikuro, Kalapalo, Matipu, 
Nahukuá, Mehinako, 
Waurá (Waujá), Aweti, Ka-
maiurá, Trumai, Yawalapiti, 
Kisêdjê (Suya), Kawaiwetê 
(Kaiabi), Ikpeng (Txicão), 
Yudja (Juruna), Naruvotu e 
Tapayuna.
14 línguas: Kamaiurá e 
Kaiabi (família Tupi-Gua-
rani, tronco Tupí); Juruna 
(família Juruna, tronco 
Tupí); Aweti (família Aweti, 
tronco Tupi); Mehinako, 
Wauja e Yawalapiti (família 
Aruák); Kalapalo, Ikpeng, 
Kuikuro, Matipu, Nahukwá 
e Naruvotu (família Karíb); 
Suyá e Tapayuna (família 
Jê, tronco Macro-Jê); Tru-
mai (língua isolada).
População: 6.152 indiví-
duos (Funasa, 2009)
Área: 2,6 milhões de 
hectares
◄ Figura 11: 
Representação de 
uma moradia indígena 
Destaque para a rede-
de-dormir. Cidade de 
Porto Seguro/BA. 
Fonte: Acervo pessoal
20
UAB/Unimontes - 2º Período
Observe a figura 11 que representa diversas matérias-primas vegetais utilizadas. Destaca-
mos o algodão para a confecção da rede-de-dormir, largamente difundido o seu uso em todas as 
regiões por onde se expandiram os povos tupi. Os utensílios resultantes do trabalho de transfor-
mação da natureza geraram produtos como: confecção de cordões, cordas, fios, espremedores 
de polpa de mandioca (tipiti), peneiras, abanadores de fogo, esteiras, diversos tipos de cestos, 
gaiolas e armadilhas de pesca. 
Os produtos advindos da manufatura da cerâmica facilitavam a vida dos indígenas, como é 
o caso da cerâmica tupi-guarani que se caracterizava pela técnica do alisado simples e pela pin-
tura policroma com linhas vermelhas e pretas sobre fundo branco, assim faziam grandes potes 
ou igaçabas. Com madeiras mais leves confeccionavam suas jangadas e canoas que eram molda-
das nos troncos das árvores. 
A aldeia era geralmente chamada de taba e abrigava de 30 a 60 famílias em média sobrevi-
vendo em 4 a 8 ocas (morada), o que totalizava cerca de 600 a 700 indivíduos. A morada era como 
uma grande casa comunitária, entretanto, a maneira de construir a habitação variava de tribo para 
tribo. Por exemplo, os Tupinambás viviam em aldeias circulares quase sempre protegidas por cer-
cas resistentes. Já os Xavantes e Xerentes construíram as aldeias em forma de ferradura. 
O corpo do indígena era lugar de especial atenção. As diversas pinturas tinham significados, 
entretanto, não eram apenas enfeites, antes pelo contrário, protegiam de raios solares, de picada 
de insetos e, sobretudo, demonstravam uma linguagem simbólica e de distinção na vida em so-
ciedade. Era como uma segunda pele que passava a fazer parte da vida do indivíduo. 
b) estrutura Social e Organização Política
A sociedade brasileira indígena realizava uma divisão de trabalho baseada na diferenciação 
sexual. A cargo das mulheres estava o trabalho agrícola, o preparo do alimento e os cuidados 
com as crianças. Já aos homens eram destinadas as tarefas de derrubada da mata, do preparo da 
terra, da pesca, da caça, do fabrico de canoas e de atividades guerreiras. A propriedade dos bens 
era coletiva e a organização das comunidades se assentava num padrão de família extensa, que 
tinha como base famílias nucleares ligadas entre si por laços de parentesco.
Praticamente todas as tribos brasileiras ignoravam o trabalho escravo, à exceção de algumas 
poucas sociedades do passado fixadas em território brasileiro, a saber os índios Kadiwéus (viviam 
do tributo e do saque sobre outros grupos indígenas) e os Terena, de acordo com Melatti (1994), 
em Índios do Brasil. 
GLOSSÁRiO
Monogamia: 
a monogamia é termo 
utilizado para desig-
nar a relação que um 
indivíduo estabelece 
somente com um 
parceiro. 
Poligamia: 
é termo usado para 
designar a relação 
estabelecida por um 
indivíduo com mais 
de um parceiro. Em 
geral, esses termos são 
utilizados quando nos 
referimos a uma dada 
sociedade. 
Poliandria: 
é a união em que uma 
só mulher é ligada a 
dois ou mais maridos 
ao mesmo tempo. É o 
contrário direto da poli-
ginia, que é uma forma 
de poligamia em que o 
homem possui duas ou 
mais esposas.
Figura 12: Na família 
indígena, os pais 
davam bastante 
atenção aos filhos. 
“Maloca dos apiacá 
no rio Jurema”, de 
Hércules Florence – 
Expedição Langsdorff. 
Fonte: PRIORE, 1999, p.11. 
►
21
História- História do Brasil Colônia I
O casamento entre os indígenas representava regras e costumes que variavam de tribo para 
tribo. Os antigos tupinambás admitiam a poligamia, apesar de apenas alguns poucos indivídu-
os (chefes, feiticeiros e grandes guerreiros) possuírem várias mulheres. Já as tribos timbiras eram 
monogâmicas, e uma variação importante a ser entendida é o que ocorria entre os xoclengues, 
mais conhecida como a poliandria e o casamento grupal. 
A estrutura social dessas sociedades foi desenvolvida com um reduzido grau de diferencia-
ção, todavia, gerou alguns tipos de hierarquias. Destacamos a existência de acentuadas tendên-
cias comunitárias e de fortes laços de solidariedade. Os Tupi-guaranis adotaram como forma de 
organização dominante o grupo local (correspondente a uma taba), que se situava numa posi-
ção intermédia entre a menor unidade (a oca) e o agrupamento territorial mais abrangente (o 
grupo tribal).
Os líderes ou chefes (morubixabas) dos tupis não conheceram poder centralizado ou coer-
citivo. Eles buscavam sempre convencer por meio da persuasão. Tinha que demonstrar valentia, 
oratória e grande aceitação entre os demais componentes da comunidade. Geralmente esse che-
fe tinha sua autoridade posta em “funcionamento” em momentos de guerra. Politicamente, sua 
instituição básica era o “conselho dos chefes”, formado pelo morubixaba, pajé, chefes das ocas e 
guerreiros prestigiados. Este órgão, frequentemente designado por “roda de fumadores”, segun-
do Cougo (2000), tomava as decisões mais importantes referentes à taba, tais como: mudança 
de local de residência, organização de expedições guerreiras, definição da rede de alianças e fixa-
ção da data para a execução ritual dos prisioneiros.
Com relação à antropofagia, o imaginário europeu foi sagaz: na figura 13, o indígena é re-
presentado como um quase monstro, um selvagem sedento de carne humana. Repare que no 
pano de fundo veremos um português sendo ameaçado por um índio com arco e flecha, e o 
panorama geral da figura retrata a morte e/ou aspectos que a lembram. Por exemplo, analise a 
mulher caída, os ossos e a caveira; obviamente que a cena principal da figura tem o seu “toque 
mortífero”.
A guerra era a instituição mais importante entre os tupi-guaranis, por exemplo. Nesse con-
texto precisamos entender bem como se deu a relação complexa da GUERRA, das CRENÇAS e 
RITUAIS e da ANTROPOFAGIA. 
PARA SABeR MAiS
Antropofagia: os 
índios acreditavam que 
comendo o prisioneiro 
de guerra adquiriam as 
qualidades do morto. 
O ritual antropofágico 
durava vários dias.
“Ao alvorecer do dia 
escolhido, o prisioneiro 
era lavado, enfeitado e 
amarrado pela cintura 
com a mussurana (cor-
da grossa de algodão), 
sendo seguidamente 
conduzido ao centro 
do terreiro, onde se 
encontravam reunidos 
os convivas. 
Chegado o executor, 
profusamente enfeita-
do, recebia cerimonial-
mente o ibirapema (ta-
cape cerimonial) com 
o qual iniciava uma 
dança junto do cativo, 
imitando as evoluções 
de uma ave de rapina. 
Terminada a gesticula-
ção, o algoz e a vítima 
travavam um curto 
diálogo, findo o qual o 
executor esmagava o 
crânio do inimigo.
Abatido o prisioneiro, 
escaldavam-no para lhe 
retirar a pele e esquar-
tejavam-no. Algumas 
partes do corpo (braços 
e pernas) eram moque-
adas, sendo as vísceras 
aproveitadas para fazer 
um cozinhado. Existiam 
regras para a distribui-
ção do corpo da vítima, 
que era integralmente 
aproveitado.
Fonte: COUGO, Jorge. A 
gente da terra. Revista 
Camões, nº8, jan/mar 
2000.
◄ Figura 13: 
Visão européia: 
antropófagos do 
Brasil devorando 
portugueses. John 
Mawe. 
Fonte: BOTELHO & REIS, 
2001, p.17.
22
UAB/Unimontes - 2º Período
1.6 Crenças, ritos e antropofagia
As crenças e os ritos fazem parte de toda e qualquer sociedade humana. Entre os indígenas 
brasileiros não seria diferente, como observamos nos destaques feitos sobre o canibalismo. As 
práticas dos nossos indígenas exprimem o seu modo de ver o mundo, de fabricar instrumentos e 
de cultivar a terra. 
Em geral, os indígenas acreditavam que os seres humanos possuíam algo semelhante à con-
cepção de alma para os cristãos, que também pode ser chamado de espírito. Os antigos acredi-
tavam que após a morte, esse espírito ia em direção ao chamado guajupiá (paraíso de grande 
beleza) onde se reuniam todos os ancestrais mortos, os quais viviam em abundância e alegria. 
Raramente esses índios creram num ser supremo que teria criado o universo. Essa crença, ao que 
parece, esteve presente entre os apapocuvas.
As atividades criadoras quase sempre estiveram ligadas a mitos, os quais podiam ter pes-
soas que eram transmissoras de técnicas, ritos e regras sociais que permitiam aos homens mo-
dificar sua existência num dado momento. Entre estes destacamos o mito do Sumé, a quem era 
atribuída a instituição da agricultura de coivara e da organização social. Outra personagem mi-
tológica importante era Tupã, associado ao raio e ao trovão. Para o caso do mito do civilizador 
Sumé, ou São Tomé, segundo descrição de Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso, este 
seria mais um mito trazido pelos europeus ao fazer menção ao apóstolo de Jesus (São Tomé), 
visando facilitar o processo civilizatório e, obviamente, facilitar também o contato com os indíge-
nas, pois esses já conheciam mitos de criação de suas sociedades que faziam menção ao retorno 
de um ser, comumente associado aos deuses.
Cabe pensar mais sobre um ritual que se tem notícia entre os índios brasileiros, que é a An-
tropofagia. Essa parece ter sido uma prática entre os Tupi-Guaranis, entretanto, sabe-se que o ca-
nibalismo não foi apenas simbólico. Ou se devoram os inimigos, como faziam os tupis do litoral 
brasileiro no século XVI, em impressionantes cerimônias coletivas, ou se praticava antropofagia 
funerária e religiosa. Daí se explica a ingestão das cinzas dos mortos em homenagem no sentido 
de ajuda à alma/espírito daquele que morreu (esse ritual faz parte, ainda hoje, dos costumes dos 
yanomami). 
Segundo Raminelli (2009), há diferença substancial entre antropófagos e canibais, pois afir-
ma que a antropofagia seria ritual, enquanto o canibalismo ocorreria motivado pela necessidade, 
pela fome. Essa diferença destaca que o consumo da carne humana como mantimento era mais 
degradante do que a ingestão segundo regras sociais. Os antropólogos discordam da variação, 
pois não há notícias de sociedade que consumiu carne humana como alimento. 
No período colonial, foram descritos dois tipos de canibalismo ou antropofagia: exocaniba-
lismo, comum entre os tupis, e endocanibalismo, praticado, segundo cronistas coloniais, pelos 
tapuias do nordeste. Como explica Raminelli (2009), entre os tupis o ritual canibal faz parte da 
guerra. Sendo assim, 
DiCA
Filmes!!!
O cinema tem produzi-
do vários filmes sobre 
a conquista da América 
pelos Portugueses. 
Sugerimos:
1492 – A conquista do 
Paraíso (Dirigido por 
Riddley Scott, cujo 
tema são as viagens de 
Colombo e o primeiro 
contato com os povos 
Ameríndios).
A Missão (filme de Ro-
land Joffé, temática as 
missões jesuíticas e os 
colonizadores ibéricos 
no Paraguai.
Divirta-se ao apren-
der!!! Não deixe de re-
lacionar o conteúdo do 
filme com as unidades I 
e II. O professor poderá 
orientar-lhe quanto às 
críticas que podemos 
fazer a tais filmes, bem 
como sobre a relação 
cinema e história.
Figura 14: Canibalismo
Fonte: Disponível em 
http://jbonline.terra.com.
br/destaques/500anos/
id2ma7.html. Acesso em 
14/10/2013
►
GLOSSARiO
escambo: Troca comer-
cial que não envolve 
diretamente paga-
mento em dinheiro ou 
meio circulante. Troca 
de uma mercadoria por 
outra, ou pagamento 
de uma prestação de 
serviço por algum 
objeto, sem utilização 
de dinheiro ou moeda. 
O escambo foi utilizadopelos portugueses, en-
tre outros negócios, na 
exploração do pau-bra-
sil, quando trocavam o 
trabalho indígena de 
extrair e transportar a 
madeira por objetos de 
metal, espelhos, contas, 
tecidos e miçangas, e 
também na África onde 
se trocava o tabaco 
e a aguardente pelo 
escravo. O escambo foi 
utilizado pelos France-
ses, em suas relações 
com os índios que lhes 
forneciam o pau-de-
-tinta.
Fonte: BOTELHO, Ânge-
la Vianna & REIS, Liana 
Maria Reis. Dicionário 
Histórico Brasil . Belo 
Horizonte: o autor, 
2001, p.66.
23
História - História do Brasil Colônia I
BOX 1 
O prisioneiro era conduzido à aldeia, onde, mais tarde, encontraria a morte em ritual mar-
cado pela vingança e coragem. Logo após a chegada, o chefe designava uma mulher para 
casar com ele, mas ela não podia afeiçoar-se ao esposo. O dia da execução era uma grande 
festa. No centro da aldeia, os índios, sobretudo as índias, se alvoroçavam. Os vizinhos também 
estavam convidados, todos provariam da carne do oponente. No ritual, homens, mulheres e 
crianças lembravam e vingavam-se dos parentes mortos. Imobilizada, a vítima não esquecia 
do ímpeto guerreiro: enfrentava com bravura os inimigos e perpetuava o sentimento de vin-
gança. Seus parentes logo o reparariam a sua morte. Essa morte era honrosa, criava elos en-
tre amigos e entre inimigos e identidade entre grupos. Depois de morto, a carne era dividida 
entre músculos e entranhas. As partes duras eram moqueadas e consumidas pelos homens; 
mulheres e crianças ingeriam as partes internas cozidas em forma de mingau. O matador, no 
entanto, não participava do banquete, entrava em resguardo e trocava de nome. Com a colo-
nização, esse rito foi paulatinamente abandonado, provocando, segundo Eduardo Viveiro de 
Castro, a perda de uma dimensão essencial da sociedade tupinambá: a identidade. O antropó-
logo ainda comenta que a repressão ao canibalismo não foi o único motivo para o abandono. 
Os europeus passaram a ocupar o lugar e as funções dos inimigos, alterando a lógica do ritual.
Fonte: Raminelli (2009). Disponível em http://radialistaediziolimaedizio.blogspot.com.br/2012/04/criminosos-canibais-
que-chocaram-o.html. Acesso em 14/10/2013
O mesmo autor explica ainda que o endocanibalismo não se pautava na vingança, “mas 
na ingestão da carne de amigos ou parentes já mortos”. Entre os tapuias, acreditava-se que o 
melhor túmulo eram as “entranhas dos companheiros”. Nesse sentido, é certo supor que este era 
um ato de amor. Logo, após a morte de um ente querido, este era retalhado, cozido e servido 
num banquete. Havia a incineração dos ossos e logo se ingeria o pó com água. Por fim, para 
encerrar o banquete, os indígenas se punham a gritar e a chorar. A figura representa cenas de 
canibalismo dos índios. Esse ritual se reveste de especial atenção para todos nós estudantes de 
história. Vejamos:
Hans Staden, viajante alemão a serviço dos portugueses deixou relato impressionante sobre 
os ritos antropofágicos dos tupinambás, potiguaras, caetés e tamoios, enfaticamente ilustrada 
por Jean de Lery em Viagem à terra do Brasil. 
O ritual antropofágico dos tupinambás, como lembrou Quintas (2008), fazia parte de um 
processo social determinado por um código de honra e de vingança ritual, praticado contra seus 
inimigos. O repertório iconográfico demonstra as várias vertentes de significações da antropofa-
gia, algumas mais fantasiosas e elaboradas, outras mais simplórias. O importante é observarmos 
PARA SABeR MAiS
Descrição do caniba-
lismo, por Staden:
[...] aquele que deve 
matar o prisioneiro 
pega na clava e diz: 
“Sim, aqui estou, quero 
te matar, porque os 
teus também mataram 
muitos dos meus ami-
gos e os devoraram”. 
Responde-lhe o outro: 
“Depois de morto, 
tenho ainda muitos 
amigos que decerto me 
hão de vingar.” Então 
desfecha-lhe o matador 
um golpe na nuca, os 
miolos saltam e logo 
as mulheres tomam o 
corpo, puxando-o para 
o fogo; esfolam-no até 
ficar bem alvo e lhe en-
fiam um pauzinho por 
de traz, para que nada 
lhes escape.
Uma vez esfolado, um 
homem o toma e lhe 
corta as pernas, acima 
dos joelhos, e também 
os braços. Vêm então 
as mulheres; pegam 
nos quatro pedaços e 
correm ao redor das 
cabanas, fazendo um 
grande vozerio.
Depois abrem-lhe as 
costas, que separam 
do lado da frente, e re-
partem entre si; mas as 
mulheres guardam os 
intestinos, fervem-nos, 
e do caldo fazem uma 
sopa que se chama 
Mingau, que elas e as 
crianças bebem. 
Comem os intestinos 
e também a carne da 
cabeça; os miolos, a 
língua e o mais que 
houver são para as 
crianças. Tudo acabado, 
volta cada qual para 
sua casa levando o seu 
quinhão.
Extraído de STADEN, 
Hans. Viagem ao Brasil. 
Rio de Janeiro: Acade-
mia Brasileira de Letras, 
1930. (Equipe Revista 
de História)
Fonte: Disponivel 
em http://www.
revistadehistoria.com.
br/secao/conteudo-
-complementar/o-
-banquete-segundo-
-hans-staden Acesso 
em: 14/10/2013.
◄ Figura 15: Antropofagia 
no Brasil em 1557, 
segundo a descrição 
de Hans Staden e 
ilustração de Jean de 
Lery. 
Fonte: DEL PRIORE, 1997.
24
UAB/Unimontes - 2º Período
o elo entre as imagens, através da estilização do ato imoral de comer seus semelhantes e dos 
procedimentos de pesquisa fornecidos pela antropologia. 
Na figura, sabemos que há uma representação desse rito. Como representação histórica, 
não é a verdade e/ou a realidade em si que estão ali demonstrados, mas é algo que opera no 
caminho da verossimilhança, passível de muitos questionamentos, assim como qualquer outro 
documento histórico.
Um dos questionamentos que podemos fazer a essa imagem é: teria o índio brasileiro esse 
perfil físico? Essa figura pode ainda suscitar outras dúvidas, como por exemplo, a maneira pela 
qual se ensinava história no Brasil! O que aprendemos sobre os indígenas e sobre esse ritual? 
Que visão está sendo veiculada nessa representação? 
Foi em meio a esse universo que os europeus estabeleceram seus primeiros contatos com 
os indígenas do Brasil, encontro esse marcado pelo escambo. Vamos entender melhor esse 
contato?
1.7 Visões: o contato com o branco 
O mapa é uma das representações que possuímos sobre o imaginário europeu no século 
XVI. Na figura 16, chamamos a atenção para os detalhes que povoam este mapa, cedendo espa-
ço para a imaginação e para alguns aspectos conhecidos no início da época moderna. Vejamos:
▲ ▲
Figura 16: O imaginário europeu à época da expansão marítima 
Fonte: BOTELHO & REIS, 2001, p.73.
Figura 17: Réplica da Vela portuguesa. Ênfase à cruz 
representativa da Ordem de Cristo. 
Fonte: Em exposição em Porto Seguro / Arquivo pessoal.
Em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, o Brasil foi batizado com a fixação, em 
terra, da primeira cruz, seguida da reza da primeira missa, proferida na ocasião pelo frei Henri-
que de Coimbra, um franciscano. Um dos principais interesses da coroa portuguesa em “buscar” 
novas terras, era o de conseguir estabelecer novas rotas comerciais. O atual Brasil, outrora conhe-
cido como Terra de Santa Cruz, Terra de Vera Cruz, carregava estes nomes no sentido de repre-
sentar as intenções portuguesas e sua representação cristã, firmada na imagem da haste de suas 
naus, como podemos bem observar na figura 17.
Uma dessas intenções era a expressão da religiosidade que esteve presente no processo de 
colonização dos portugueses na América, os quais pensaram - de imediato - que os gentios não 
possuíam “vida religiosa”. Nesse caso, podemos nos remeter ao início dessa unidade quando fa-
lamos de eurocentrismo. Podemos agora falar também de etnocentrismo. Você sabe o que isso 
significa? (Confira no glossário).
Ora, para o branco europeu do século XVI, já conhecedor de técnicas como a pólvora e a 
imprensa, encontrar um povo nas condições que dissemos, só poderia ter geradoimpressões 
incompreensíveis no que diz respeito ao universo cultural indígena. Esses portugueses de for-
mação católica consideravam o universo do gentio como sendo um retrocesso à civilização, era 
como um tanto de selvagem à solta num território, o qual deveria ser domesticado. Isso significa 
dizer que o desejo era que os indígenas fossem convertidos à fé cristã e, assim, abandonassem as 
seguintes práticas culturais: a poligamia, a antropofagia, o andar sem roupas, dentre outros. 
PARA SABeR MAiS
Elisa Fruhauf Garcia pu-
blicou na Revista Nossa 
História o texto sobre 
a escravidão indígena 
que começou logo no 
início da colonização e 
manteve-se até meados 
do século XVIII, apesar 
de ser ilegal. 
Socialize sua opinião 
com os demais colegas 
nos fóruns dessa disci-
plina.
Fonte: Disponivel em 
http://www.revista-
dehistoria.com.br/
secao/capa/solucao-
-caseira Acesso em 
14/10/2013
25
História - História do Brasil Colônia I
Na concepção do Padre Manoel da Nóbrega, os indígenas eram como um papel em branco, 
onde se poderia escrever à vontade. Mudando de idéia, à medida que o contato com os indíge-
nas ia se estreitando, os missionários perceberam que, ao contrário do que imaginavam, os indí-
genas só poderiam ser governados pelo demônio. Da visão de que haviam chegado ao paraíso, 
foi sendo criada a concepção de que esse paraíso era algo torto. 
Os índios estavam entre os que aprisionavam os seus e os padres, mas também encontra-
vam outro caminho possível: a guerra. Durante o contato entre esses povos, a guerra, a miscige-
nação e as doenças conduziram a uma diminuição e/ou transformação da população. Doenças 
que os indígenas não conheciam e eram acometidos, tais como: varíola, gripe, sarampo, tifo, tu-
berculose e malária, todas essas trazidas pelos brancos europeus.
Com relação ao trabalho indígena, vale ressaltar que, durante o contato com os brancos, os 
indígenas trabalhavam no corte e carregamento do pau-brasil e, em troca, recebiam quinquilha-
rias (esta troca chamada de escambo). Podemos, então, começar a falar não mais de encontro 
ou contato de populações, mas levantar a hipótese de choque de culturas, onde perceberemos, 
haverá uma superioridade tecnológica dos europeus (entre outros fatores) que designará o cami-
nhar das populações indígenas do Brasil para um processo de drástica diminuição. 
Segundo Garcia (2013), a escravidão indígena que começou logo no início da colonização e 
manteve-se até meados do século XVIII, apesar de ser ilegal. Optamos em destacar longo trecho 
dessa autora dada a riqueza de suas palavras para exprimir situação dos indígenas nos primeiros 
séculos de colonização brasileira. Vejamos: 
Transformá-los [os indígenas] em escravos era uma tarefa difícil e arriscada. A 
presença portuguesa no Brasil e a ocupação das novas terras dependiam do 
apoio da população nativa. Para defender tão vasto território, a Coroa precisa-
va dos índios como aliados militares contra os concorrentes europeus (no sé-
culo XVI, especialmente os franceses). Eles também eram úteis para combater 
grupos indígenas rivais que atacavam os incipientes núcleos coloniais, além de 
fornecerem informações e alimentos indispensáveis à sobrevivência em uma 
terra ainda mal conhecida.
Se a princípio chegou a existir um frágil equilíbrio entre índios e portugueses, 
ele logo se rompeu. Os nativos acharam bom negócio vender aos recém-che-
gados seus prisioneiros de guerra, antes utilizados em atividades rituais e so-
ciais (como a antropofagia). Quando, porém, o apresamento de escravos tor-
nou-se um negócio concorrido, a ânsia de obter mais cativos desfez as alianças 
iniciais. (GARCIA, 2013, p.1).
A definição de uma boa estratégia para ataque, defesa e manutenção de um tipo de vida na 
América Portuguesa era fundamental para os colonizadores. A esse respeito, vejamos:
Não agiam [os portugueses] movidos por fins humanitários, mas sim a partir de 
cálculos estratégicos: se as coisas continuassem como estavam, temiam que os 
portugueses fossem expulsos do Brasil. Para piorar, os franceses se aproximavam 
cada vez mais dos índios e entravam na disputa pelo território. A Coroa se viu en-
tão diante de um dilema: como escravizá-los e, ao mesmo tempo, manter a sua 
“amizade”? A solução encontrada foi separar os índios aliados dos índios inimi-
GLOSSÁRiO
etnocentrismo: é um 
conceito antropológico, 
segundo o qual a visão 
ou avaliação que um 
indivíduo ou grupo de 
indivíduos faz de um 
grupo social diferen-
te do seu é apenas 
baseada nos valores, 
referências e padrões 
adotados pelo grupo 
social ao qual o próprio 
indivíduo ou grupo 
fazem parte. 
É uma visão do mundo 
onde o “nosso grupo” 
é tomado como centro 
de tudo e todos os 
outros são pensados 
e sentidos através dos 
nossos próprios valores 
e nossas definições do 
que é existência. No 
plano intelectual, pode 
ser visto como a difi-
culdade de pensarmos 
a diferença; no plano 
afetivo, como senti-
mentos de estranheza, 
medo, hostilidade, etc. 
Temos então um grupo 
do “eu”, o “nosso” grupo, 
que come igual, veste 
igual, gosta de coisas 
parecidas, ou seja, um 
reflexo de nós. Depois, 
então, nos deparamos 
com um grupo diferen-
te, o grupo do “outro”, 
que às vezes, nem 
sequer faz coisas como 
as nossas ou quando 
as faz é de forma tal 
que não reconhecemos 
como possíveis.
◄
Figura 18: Base para a 
formação da economia 
colonial, a captura e a 
escravização indígena 
na litogravura de Jean 
Bastiste Debret do 
século XIX. 
Fonte: Disponível em 
http://www.revistadehis-
toria.com.br/secao/capa/
solucao-caseira acesso 
em 14/10/2013.
26
UAB/Unimontes - 2º Período
gos. (...) Coube ao primeiro governador, Tomé de Souza, regulamentar a relação 
com os índios. Para isso, contava com dois importantes recursos: um regimento 
elaborado pelo rei oferecendo garantias aos aliados e a presença dos jesuítas, 
que chegaram na mesma época e passaram a ter voz ativa nas questões indíge-
nas.
O estatuto dos índios na sociedade colonial reafirmava a liberdade dos aliados. É 
bem verdade que eles eram obrigados a trabalhar para a Coroa e para os colonos, 
mas deveriam ser remunerados e tinham uma série de outras garantias, como a 
propriedade coletiva das terras dos seus aldeamentos. (GARCIA, 2013, p.2).
Falamos anteriormente sobre a escravização dos indígenas, mas cumpre-nos aqui enfatizar 
as duas formas pelas quais ela ocorria: o resgate e a guerra justa. O resgate “fazia referência aos 
prisioneiros feitos pelos próprios índios, destinados à antropofagia (...) algum colono poderia 
resgatar o prisioneiro que, em retribuição, trabalharia algum tempo como escravo”. Já a guerra 
justa “era um recurso empregado quando os índios atacavam os portugueses, que então tinham 
o direito de defender-se e de escravizar os prisioneiros.” (GARCIA, 2013). Não foram poucos, no 
entanto, as guerras justas e os resgates que não passaram de um pretexto para a obtenção de 
escravos. 
Além disso, a medida que a economia colonial se desenvolvia a partir de um 
produto destinado ao mercado internacional (o açúcar nordestino), os colonos 
passam a importar escravos africanos. No entanto, em regiões menos prósperas, 
os índios ainda eram parte importante da mão de obra, por vezes a principal. 
Sem outra alternativa de enriquecimento, os colonos lutavam pela manuten-
ção dos “seus índios”, como então se dizia. Os paulistas alegavam que os índios 
eram “um remédio para a sua pobreza”. Uma forma de mantê-los cativos era a 
administração particular. Teoricamente, tratava-se de uma relação de troca: os 
índios eram livres, mas prestavam serviços ao seu “administrador” que, como 
pagamento, os instruía na fé católica. Na prática, muitas vezes adquiria ares de 
escravidão, como quando os índios eram deixados em testamento junto com 
as demais propriedades.(GARCIA, 2013, p.2).
Outro aspecto a ser destacado são as representações sobre o indígena. Você 
já reparou que quase sempre ele aparece triste? Observe a pintura do indígena na 
figura 19. 
Essa fotografia foi feita em 2007 e ainda guarda concepção do período co-
lonial brasileiro. O exemplo do estudo de alguns historiadores, tais como os de Henri Bergson, 
Mikhail Bakhtin e Umberto Eco, que vêm se dedicando ao significado do riso, do cômico e do 
lúdico. Diversos historiadores se ocupam do tema, entretanto vamos destacar a afirmação de Le 
Goff:
o riso é um fenômeno cultural e social, podendo ser classificado a partir de 
dois aspectos: o primeiro seria pelas atitudes em relação a ele e o segundo, pe-
las manifestações do riso expressas por outras pessoas. Estudar o riso, portan-
to, é deparar-se, quase que inevitavelmente, com a história das atitudes e dos 
valores mentais e das representações literárias e artísticas. Em linhas gerais, o 
grande desafio do historiador que trabalha com o riso é interpretar a complexi-
dade dos domínios e das estéticas que cercam a representação através do riso. 
(LE GOFF. 2000, p. 65)
No período colonial, os portugueses valorizavam determinadas condutas que não com-
portavam o riso, o humor, pois essas condutas seriam resultantes do embate entre a “barbárie 
condenável” e a “verdadeira cultura” – a civilização. Assim, nas representações dos indígenas, es-
pecialmente onde estes estão com semblante triste, como em xilogravuras, podemos nos per-
guntar: o valor de quem está sendo representado? O do europeu ou do indígena? 
Vale ainda lembrarmos que o riso e o lúdico sofreram um processo de institucionalização a 
partir da convivência dos povos, em decorrência da situação colonial e dos procedimentos de ca-
tequese adotados pelos missionários jesuítas, passando a obedecer a um tempo e um lugar fixos. 
O deboche institucionalizado – notadamente presente em vários Autos Teatrais do período - é 
muitas vezes um deboche permitido, esperado e até ordenado, e, por isso, não necessariamente 
precisa conter componentes subversivos. 
No entanto, a participação alegre e ativa dos indígenas na recepção solene, nas “danças 
acompanhadas por tambores e violas com muita graça”, será associada, no discurso jesuítico, à 
piedade e à devoção cristãs. As manifestações da “alegria de viver” dos Tupis, esvaziadas de sua 
▲
Figura 19: Pintura de 
indígena em Porto 
Seguro/BA, 2007.
Fonte: Arquivo pessoal
27
História - História do Brasil Colônia I
expressão indígena, foram apresentadas como indicativos de sua conversão. As festas, convívios 
e cantares, anteriormente associados às práticas rituais bárbaras, à licenciosidade sexual e à “in-
constância da alma selvagem” passam a ocupar, no discurso jesuítico, um novo significado que 
revela não só a consciência de sua utilidade estratégica, como também o reconhecimento das 
especificidades da nova situação, a colonial.
Referências 
ALVES, Maurício Martins. Formas de Viver: formação de laços parentais entre cativos em Tauba-
té, 1680-1848. Tese de Doutorado em História, UFRJ, 2001 (orientador Manolo Florentino), 416p.
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COUGO, Jorge. A gente da terra. Revista Camões, nº8, jan/mar 2000.
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Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/solucao-caseira Acesso em 
14/10/2013. 
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América Latina Colonial I. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília/DF: Fundação 
Alexandre Gusmão, 1997, p. 101-128.
HUMBERG, Flávia Ricca & NEVES, Ana Maria Bergamin. Os povos da América: dos primeiros ha-
bitantes às primeiras civilizações urbanas. 5. Ed. São Paulo: Atual, 1996. (História Geral em Docu-
mentos)
LE GOFF, Jacques. “O Riso na Idade Média”. In: BREMMER, J. ROODENBURG, Herman. (org.) Uma 
História Cultural do Humor. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000. 
MELATTI, J. C. Índios do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1994.
MICELLIN, Renato. História. São Paulo: IBEP, 2004.
PRIORE, Mary Del. A família no Brasil colonial. São Paulo: Contexto, 1999.
QUINTAS, Georgia. Antropofagia: as várias dimensões antropológicas. Revista de História e Es-
tudos Culturais Fênix. Vol.5, ano 5. Abril/Maio de 2008. Disponível em www.revistafenix.pro.br 
acesso em 15/10/2013.
RAMINELLI, Ronald. Canibalismo, amor e ódio. 2009. Disponível em: http://jbonline.terra.com.
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RIBEIRO & MOREIRA. A Fundação do Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1992.
RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Brasileiras. Para o Conhecimento das Línguas indíge-
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STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1930.
URBAN, Greg. A História da Cultura Brasileira segundo as Línguas Nativas. In: CUNHA, Manuela 
Carneiro da (dir). História dos índios no Brasil. São Paulo, 1992.
29
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 2
A colonização Portuguesa na 
América: Portugal e o Brasil na era 
dos descobrimentos
Dayse Lúcide Silva Santos
2.1 Introdução
O nosso objetivo nesta unidade é discutir a colonização portuguesa na América, buscando 
compreender basicamente a constituição do universo cultural português na “terra brasilis”. Para 
tanto, analisaremos subtemas pertinentes a essa unidade para discutir, inicialmente, os antece-
dentes históricos na conformação européia, notadamente a portuguesa nos tempos da expan-
são ultramarina. 
Analisaremos os dilemas vividos pela sociedade lusitana, bem como o entendimento do es-
pírito da época moderna e as condições tecnológicas que em que Portugal vai se valer e, com 
isso, lançar-se ao mar para vencer “o tenebroso mar”. Na sequência, abordaremos dois assuntos 
de igual importância que giram em torno de concepções sobre descobrimento e achamento do 
Brasil, bem como as relações coloniais que foram estabelecidas entre a metrópole e a colônia.
Concepções de cidadania, de análise teórico-metodológica e conceitos fundamentais ao 
nosso fazer cotidiano perpassarão por nosso estudo da história brasileira colonial. Nessa unida-
de, como não poderia deixar de ser, buscamos construir um texto para você também na fronteira 
de outras disciplinas afins da História. 
Por fim, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos nesse material e 
sugerimos alguns filmes e sites para que você, juntamente com seus colegas, possa aprofundar 
os temas apresentados aqui e refletir sobre as questões suscitadas. 
Não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores. 
Desejamos boa aula!
2.2 Antecedentes: Europa e 
Portugal nos séculos XIII e XIV
Na unidade anterior você estudou a sociedade brasileira antes da chegada dos portugueses. 
Agora, nós vamos nos debruçar sobre a história européia, sobretudo a portuguesa, visando com-
preender aspectos da “vida portuguesa” que permitiu a esses povos desbravarem o tenebroso 
mar. Nessa medida, vamos nos ocupar em responder a seguinte questão: qual era o contexto eu-
ropeu português do final do período designado como feudal e do início da época dita moderna? 
Iniciemos, então, observando a figura 20 que faz referência à movimentação comercial ma-
rítima no Porto de Lisboa, situação que tem suas raízes fincadas nos séculos XIV e XV. Vejamos.
PARA SABeR MAiS
Dados sobre a peste 
negra:
Na Europa, dos 73 
milhões de habitantesexistentes em 1300, 
chegou-se a pouco 
mais de 50 milhões em 
1350.
Na Inglaterra, desapa-
receriam 450 aldeias e 
muitos outros lugare-
jos entre meados do 
século XIV e princípio 
do seguinte. 
(FRAGOSO, 1998, p.8)
30
UAB/Unimontes - 2º Período
Vamos lembrar o que ocorria na Europa entre os séculos XI e XIII. Grosso modo, podemos 
afirmar que existia uma expansão do feudalismo europeu associado a um rápido crescimento 
populacional e a introdução de novas técnicas, principalmente na agricultura. Este é o caso da 
introdução da charrua, do sistema de três campos e do uso do cavalo. Essas transformações ocor-
reram num momento em que cerca de 80% da população européia vivia no campo.
Junte-se a isso outro fator importante: a debilidade do poder real e, consequentemente, a 
descentralização/pulverização do poder político real europeu. Considere, ainda que nessa época 
houve a ampliação do poder religioso e a reconquista dos territórios que estavam sob o domínio 
dos árabes. No caso específico de Portugal, vale lembrar que esta sociedade possuía também ca-
racterísticas camponesas e procurava construir diversos castelos (daí o termo reino de Castela), o 
que, com o tempo, significou - entre outras coisas - um empecilho para os novos tempos, espe-
cialmente o ressurgimento das cidades. 
Segundo o historiador Jacques Le Goff, a cidade do mundo medieval estabelecerá nova di-
nâmica com o tempo dos mercadores ou com o mundo dos negócios, em consequente decaída 
do tempo da Igreja. Vejamos.
(...) A Igreja tinha também determinado as horas do dia em função dos perí-
odos litúrgicos e das respectivas orações. A hora das matinas, primas, e Ave-
-Marias, marcava-se pelo sol e variava durante o ano. Os sinos regiam-se pelos 
quadrantes solares. Mas o mercador precisava de um quadrante racional, divi-
dido em 12 ou 24 partes iguais. Foi ele quem promoveu a descoberta dos reló-
gios de repique automático e regular (...). Doravante já não será pelo relógio da 
Igreja, mas sim pelo relógio comunal, laico, que se regulará a vida das pessoas. 
À hora clerical suceda a hora dos homens. (LE GOFF 1956, p.77-8)
Sabedores desse processo histórico dos séculos XI ao XIII poderemos entender melhor o 
século XIV, se o compreendermos como certo “colapso” do mundo medieval. Ora, até meados 
do século XIII haverá uma explosão demográfica, decorrente do fim das invasões na Europa, a 
melhoria das técnicas agrícolas e o forte ressurgimento das cidades. Há que se considerar que 
houve, no final do período medieval (além do exposto acima), o grande desenvolvimento das 
feiras de comércio, o crescimento de indústrias artesanais, o frequente uso de moedas, o direcio-
namento da produção para o atendimento aos mercados consumidores e, por fim, o surgimento 
de novos grupos sociais, especialmente os mercadores/burgueses. 
Ao final do século XIII e início do XIV, os europeus vivenciarão momentos de crise. Esse será 
então o tempo das epidemias, aumento da mendicância e carestia de alimentos. Mas, por que 
isso ocorreu? 
Figura 20: Detalhe 
de Pintura do século 
XVIII que retrata 
movimentação no 
porto de Lisboa/
Portugal.
Fonte: Jornal Estado de 
Minas, Domingo, 15 de 
maio de 2005. 
►
PARA SABeR MAiS
“ecos do passado”: 
“Pensemos num dia 
comum de uma pessoa 
comum. Tudo começa 
com algumas invenções 
medievais: ela põe sua 
roupa de baixo (que os 
romanos conheciam 
mas não usavam), veste 
calças compridas (an-
tes, gregos e romanos 
usavam túnica, peça 
inteiriça, longa, que 
cobria todo o corpo), 
passa um cinto fechado 
com fivela (antes ele 
era amarrado). A seguir, 
põe uma camisa e faz 
um gesto simples, 
automático, tocando 
pequenos objetos que 
também relembram a 
Idade Média, quando 
foram inventados, 
por volta de 1204: os 
botões. Então ela põe 
os óculos (criados em 
torno de 1285, prova-
velmente na Itália) e vai 
verificar sua aparência 
num espelho de vidro 
(concepção do século 
XIII). Por fim, antes 
de sair olha para fora 
através da janela de 
vidro (outra invenção 
medieval, de fins do sé-
culo XIV) para ver como 
está o tempo”.
Para saber mais sobre o 
texto consulte:
FRANCO JR, Hilário. 
Ecos do Passado. In: 
Revista Nossa História. 
02/06/2008. 
Disponível em: http://
www.revistadehistoria.
com.br/secao/educa-
cao/ecos-do-passado 
acesso em 14/10/2013.
Discuta com os seus 
colegas no ambiente 
virtual de aprendiza-
gem. 
31
História - História do Brasil Colônia I
Em linhas gerais podemos destacar aqui pelo menos cinco fatores que explicam o momento 
histórico dos séculos XIII ao XIV, a saber:
1º - A expansão anterior ocorreu em meio a uma sociedade que apresentava limites ao cres-
cimento. Ou seja, os camponeses deviam prover a subsistência, assim como a de seus “senhores”, 
os quais não empregavam os frutos do trabalho dos camponeses visando aumentar a área culti-
vada ou multiplicar os rendimentos da cultura;
2º - A modificação do meio ambiente pelo homem foi “eficaz”: áreas de pântano foram dre-
nadas, áreas de pastagens foram transformadas em áreas agricultáveis e florestas foram derruba-
das. Enfim, a consequência disso foi um grande desequilíbrio ambiental. Segundo o historiador 
Grimpel (1977,p.73) em a Revolução Industrial na Idade Média, “os navios eram de madeira, as-
sim como os teares.. em 1300, as florestas da França cobriam 13 milhões de hectares, ou seja, um 
milhão a menos que em nossa época (1970)”. Com isso, ocorreram chuvas torrenciais, compro-
metendo as colheitas e empobrecendo ainda mais os camponeses.
3º - Os senhores feudais tiveram sua capacidade de produtividade diminuída e, para re-
solver esse problema, superexploraram a população camponesa, a qual vivia em grande penú-
ria, quase sempre endividada, com baixa expectativa de vida e falta de terra “boa” para plantar. 
Como consequência o aumento da mendicância generalizou-se. Essa situação logicamente vai 
atingir as cidades, tornando este lugar mais caro para viver. 
4º - A população camponesa migrou, em grande parte, para as cidades, o que gerou maior 
diminuição dos rendimentos dos senhores aristocratas, bem como modificações no sistema de 
corvéia (trabalho gratuito em terras dos senhores feudais). 
5º - A Peste Negra, vinda do oriente em 1348, assolou a Europa gerando um quadro de mor-
tandade ao encontrar a população européia já debilitada biologicamente. Essa peste era uma 
doença transmitida pelas pulgas dos ratos, que em contato com o homem gerou um quadro de 
enfermidade e eliminou cerca de um terço da população européia, assim como proporcionou o 
desaparecimento de aldeias e lugarejos rurais. 
Analisaremos brevemente o quadro “triunfo da morte” e procurar responder a alguns ques-
tionamentos, os quais – acreditamos - conduzirão você a uma compreensão mais profunda das 
“pinturas ditas históricas” não como uma realidade em si, mas como um vestígio passível de es-
tudo pelo historiador para construir a sua narrativa da história, onde o historiador estudará os 
aspectos que se assemelham à sociedade européia e com ela guarda uma relação de verossimi-
lhança. Após esse cuidado teórico-metodológico, vamos refletir sobre o conteúdo da imagem e 
as pistas que ela apresenta sobre a sociedade que a produziu. 
•	 Qual sociedade e tema podem ser percebidos nessa pintura?
•	 Quais são as características de um dado lugar que se dá a conhecer através dessa pintura?
•	 O que é possível discutir ao ensinar História a partir do uso de imagens como esta? 
•	 O que está em primeiro plano? E em plano de fundo? Parece uma cena corriqueira? 
•	 Seria possível, hoje em dia, uma cena como essa?
•	 Em qual contexto histórico essa imagem foi produzida? 
Após essa reflexão fica mais fácil compreender que com o decorrer do tempo, após o se-
pultamento de boa parte da população, pelo menosum problema foi resolvido: o excesso de 
bocas para alimentar e o início do retorno a certa normalidade na Europa. Entretanto, uma nova 
◄ Figura 21: O quadro 
Triunfo da Morte (1562), 
do pintor belga Peter 
Bruegel (1525-1569), 
retrata o horror que a 
peste negra causou na 
Europa. 
Fonte: Disponível em 
http://www.sabado.pt/
getattachment/7418c8d2-
517a-4fe5-993c-
15416f8716ac/
Fotogaleria-1-(2).
aspx?width=640&height
=390. Acesso em 
14/10/2013.
PARA SABeR MAiS
Você sabia que Portu-
gal foi governado por 
três dinastias?
Desde sua origem até a 
proclamação da repu-
blica em 1910, tivemos 
as seguintes: 
Borgonha (1139 até 
1383), 
Avis (1385-1578), 
Filipina/União ibérica 
(1580-1640) e 
Bragança (1640-1910).
PARA SABeR MAiS
Dinastia de Avis (1385-
1578) 
Os reis dessa dinastia 
realizaram a aliança da 
burguesia com a mo-
narquia, fazendo nascer 
as condições políticas 
favoráveis à grande 
expansão comercial e 
marítima de Portugal 
no séc. XV. Foi então 
que Portugal decidiu 
livrar-se dos intermedi-
ários no comércio com 
o oriente.
Observe que aí teremos 
os primórdios da 
globalização, a partir 
do conhecimento da 
expansão marítima que 
atingiu Ceuta, Cabo da 
Boa Esperança, Índias e 
o Brasil. 
1º Rei: D. João i (1385-
1433)
2º Rei: D. Duarte 
(1433-1438)
3º Rei: D. Afonso V 
(1438-1481)
4º Rei: D. João ii 
(1481-1495)
5º Rei: D.Manuel i 
(1495-1521)
6º Rei: D.João iii 
(1521-1557)
7º Rei: D.Sebastião 
(1557-1578)
8º Rei: Cardeal D. 
Henrique
(1578-1580)
32
UAB/Unimontes - 2º Período
situação, pelo menos a partir de 1450, se verificou com a queda dos preços dos cereais e o au-
mento dos salários. Este é o momento da depressão agrária e é de fundamental importância para 
compreensão de nosso estudo, haja vista que será nesse contexto que a “expansão ultramarina 
européia” ocorrerá. 
Se por um lado houve a redução das receitas senhoriais e a diminuição da população provo-
cou o aumento da produção, por outro lado, a crise da depressão agrária se alojou exatamente 
no excesso de produção. Em síntese, podemos afirmar que os custos de mão-de-obra aumenta-
ram e que, ao contrário do esperado, baixaram os ganhos senhoriais com a venda de cereais. 
Paralelo a isso, ocorreram diversas revoltas camponesas em toda a Europa, notadamente 
contra os nobres e os bispos, pois o desejo maior das pessoas envolvidas com tais revoltas era 
eliminar o poder dos senhores. Exemplo disso foram as revoltas conhecidas como Jacqueries 
(França, 1358) e com Watt Tyler e John Ball (Inglaterra, 1381) Os camponeses atacaram de surpre-
sa os castelos feudais e mataram muitos de seus habitantes. 
Observe que a figura 22 demonstra exatamente um desses momentos de sublevação popu-
lar na França. Vamos refletir sobre essa imagem lançando a ela os mesmos questionamentos com 
os quais analisamos a imagem anterior? 
Prosseguindo em nosso estudo, devemos considerar o efeito dessas revoltas, mesmo sem su-
cesso em cumprir seus objetivos. Observaremos que foi posto em curso um processo que ganhou 
relevo com tais revoltas: a desagregação do feudalismo. Os historiadores analisam de diferentes 
maneiras esse processo de desintegração do feudalismo. Para Paul Sweezy, o que proporcionou 
tal processo foi o aparecimento das atividades comerciais, pois era incompatível com a lógica do 
feudalismo. Já Maurice Dobb afirma que a superexploração dos camponeses foi o elemento que 
fez desagregar o sistema feudal. É fundamental destacar que, apesar dessas diferentes posições, 
ambas contribuem para a compreensão do momento histórico em curso na Europa: ao fim e ao 
cabo, necessitavam de um governo forte e centralizador, de áreas produtoras, de novas fontes de 
minério, de uma nova Igreja e uma nova visão de homem e deus. (FRANCO Jr, 1984, p.93)
Podemos, enfim, compreender diante do exposto, a resposta que a Europa deu à crise pela 
qual passou entre os séculos XIII e XIV. Entretanto, é importante perguntar como ficou Portugal 
diante dessa crise. Como esse país saiu da crise agrária nos primeiros tempos da expansão ultra-
marina? Esse será objeto de estudo do item a seguir. 
Figura 22: Os jacques 
são massacrados em 
Meaux. Gaston Phébus, 
Conde de Foix, liberta as 
donzelas da Normandia 
e de Orleães. (9 de junho 
de 1358) (BNF , FR 2643), 
fol. 226v, Jean Froissart, 
Chroniques, Flandre, 
Bruges XVe s. (170 x 200 
mm)
Fonte : Disponível em 
http://www.sohistoria.
com.br/ef2/centralizacao-
poder/p3.php. Acesso em 
14/10/2013.
►
GLOSSÁRiO
Lei de Sesmarias:
O objetivo maior dessa 
lei era reunir esforços 
para evitar que os tra-
balhadores saíssem das 
áreas rurais. 
A lei permitia ao Estado 
português, em linhas 
gerais, obrigar os 
proprietários de terras 
a cultivarem suas pos-
sessões sob a pena de 
expropriação; proibiu 
a criação de gado que 
não fosse para o desti-
no da lavoura e, entre 
outras coisas, fixou 
o preço das rendas e 
também do gado. 
Essa lei foi promulgada 
em 1375 e não se tem 
certeza da sua real 
aplicação.
GLOSSÁRiO
Astrolábio: Instrumen-
to para medir a altura 
de um astro acima do 
horizonte. Ajudava a 
determinar a posição 
do navio no alto-mar.
Caravela: Navio do 
séc. XV. Foi utilizado 
pelos Portugueses nas 
viagens de descober-
ta ao longo da costa 
ocidental africana.
33
História - História do Brasil Colônia I
2.3 Tempos de expansão 
ultramarina portuguesa entre os 
séculos XIV a XVI
Prosseguindo em nossa discussão temos uma tarefa a realizar: a de compreender a confor-
mação desses “novos tempos” no contexto histórico português no período do século XIV ao XVI. 
Iniciaremos analisando a figura. Você consegue imaginar, a partir de seu olhar certamente 
perspicaz, qual foi a resposta portuguesa às dificuldades vividas no início do período dito mo-
derno?
A grande resposta portuguesa à crise vista na baixa Idade Média foi lançar-se ao mar! Antes, 
porém, vamos compreender as particularidades portuguesas nesse processo. 
Em Portugal houve valorização e centralização do poder real, fincando suas raízes na doa-
ção, ou melhor, os reis portugueses resistiram em abrir mão de seus direitos reais em função de 
grandes proprietários de terras, conservando valores que cultivaram em séculos anteriores.
Com relação a essa particularidade portuguesa vamos nos valer dos estudos de João Frago-
so, Manolo Florentino e Sheila de Castro Faria em A economia colonial brasileira, no qual obser-
vamos que em terras portuguesas o regime agrário, ou o sistema dominial se caracterizava 
pela divisão das terras da aristocracia em reservas (domínios) senhoriais e te-
nências. As primeiras eram diretamente exploradas pelo senhor feudal, através 
da prestação de serviços (corvéia) de seus camponeses dependentes (servos) e 
lavradores (com pouca ou nenhuma terra). Já as segundas – as tenências – es-
tavam ligadas à subsistência das famílias camponesas. Em Portugal tal divisão 
não teve grande importância. Em geral, a grande propriedade agrária era lavra-
da por famílias camponesas, que davam parte de suas colheitas à aristocracia. 
Assim, as corvéias devidas pelos lavradores nunca representaram um imposto 
comparável ao lado de outras regiões européias, e muito menos consistiam no 
principal traço da organização econômica do campo. (FRAGOSO, FLORENTINO 
E FARIA, 1998, p. 14-15)
A agricultura tinha seu lugar de importância na sociedade portuguesa, entretanto, o “forte” 
nessa sociedade foi o comércio, especialmente o marítimo. Você se lembra do comércio de espe-
ciarias, aquele que era feito entre a Europa e o Oriente? 
◄
Figura 23: Chegada 
de Vasco da Gama a 
Calicute
Fonte: Disponível 
em http://forum.g-
-sat.net/showthread.
php?t=128595. Acesso em 
14/10/2013.
ATiViDADe
Mar Português
Ó mar salgado, quanto 
do teu sal
São lágrimasde Por-
tugal! 
Por te cruzarmos, quan-
tas mães choraram, 
Quantos filhos em vão 
rezaram! 
Quantas noivas ficaram 
por casar 
Para que fosses nosso, 
ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale 
a pena 
Se a alma não é pe-
quena. 
Quem quiser passar 
além do Bojador 
Tem que passar além 
da dor. 
Deus ao mar o perigo e 
o abismo deu, 
Mas nele é que espe-
lhou o céu.
Fernando António 
Nogueira Pessoa 
(Lisboa, 13 de Junho 
de 1888 — Lisboa, 30 
de Novembro de 1935), 
mais conhecido como 
Fernando Pessoa, foi 
um poeta e escritor 
português.
no ambiente virtual 
de aprendizagem 
discuta a seguinte 
questão com os de-
mais colegas: 
Qual a visão de Fernan-
do Pessoa sobre o mar? 
Em que medida há um 
elogio aos portugues 
nessa poesia? 
34
UAB/Unimontes - 2º Período
Esse comércio tinha integração com Portugal, pois esse mantinha contato com Flandres, 
norte da Espanha e norte da África, o qual só foi se tornando mais intenso a partir do século XIII. 
Um século depois, o comércio foi se intensificando cada vez mais, à medida que os problemas 
também se multiplicavam. Exemplo disso é que em 1375, o rei Fernando I, como indica o profes-
sor João Fragoso, se viu obrigado a forçar a população portuguesa a cultivar a terra, pelo menos 
aqueles que as possuíam através da lei de sesmarias.
Entre 1383 e 1385, Portugal vivenciará uma “revolução” conhecida como Revolução de Avis. 
Em meio às revoltas camponesas, os motins urbanos dos artesãos, alguns segmentos sociais se 
aliarão (ricos-homens, a pequena nobreza e os mercadores) e colocarão a dinastia de Avis no po-
der. Uma das principais ações dos governantes dessa dinastia será estimular as atividades comer-
ciais, abrir espaço político à burguesia e realizar rígido controle sobre a nobreza.
Nesse contexto, há ainda que ressaltar a carência de metais preciosos na Europa e o avan-
ço turco-otomano sobre o mediterrâneo, que ameaçava o comércio de especiarias de que tanto 
Portugal se valia. Diante disso, os mercadores vão buscar outras rotas para manter o abasteci-
mento das especiarias na Europa, além, é claro, de buscarem ouro e prata. 
É importante ressaltar que o grande objetivo português era ampliar o comércio através da 
lucrativa carreira das Índias, assim conhecida porque era realizada anualmente uma viagem de 
Lisboa a Goa, na índia, visando buscar pimenta-do-reino, que logo se transformou no principal 
produto de exportação portuguesa para os demais países europeus.
Portugal, nos séculos XV e XVI, vivia uma burocracia mercantilizada: o Estado português as-
sumiu o caráter de empresário e os comerciantes conseguiram se transformar em fidalgos. Todas 
essas transformações, em grande parte, os portugueses devem ao ímpeto de terem lançado “ve-
las ao mar”, ou melhor, ao desenvolvimento do comércio ultramarino. 
A esse respeito, destacamos aqui um argumento defendido pelo professor Serge Gruzinski. 
Ele se pergunta: “O que significa o advento do século XVI?” Para esse autor, e aí está a novidade, 
esse episódio significou o início do processo de globalização! Mas, por quê? 
Segundo Gruzinski (2001) todo início da era moderna foi marcada por uma visão eurocêntri-
ca. Ele adverte que falamos de Renascimento, por exemplo, como se isso fosse uma prerrogativa 
unicamente européia, pois “teríamos dificuldades em sair das abordagens do quadro europeu.” 
Diante da visão eurocentrista do passado, existiu e existem abordagens mais redutoras ainda, 
por exemplo:
•	 a que opõe a história espanhola à história portuguesa, a fim de determinar quem, entre Se-
vilha e Lisboa, detém a primazia no Atlântico; ou
•	 a quem se limita a ler o nascimento do Estado Moderno na França das guerras contra a Itá-
lia, dos castelos do Loire e de Francisco I. 
Esse olhar “local” costuma ter o defeito de ignorar a história dos países vizinhos ou, na me-
lhor das hipóteses, de minimizar sua importância, assinala o professor. Sendo assim, Gruzinski 
(1999) se perguntará se bastaria sair do quadro estritamente nacional ou europeu para perceber 
“o mundo para além da Europa”. Em suas palavras:
PARA SABeR MAiS
expansão e viagens marí-
timas:
Primeiras viagens portu-
guesas e conhecimento da 
costa africana. Conquista 
de Ceuta (entreposto co-
mercial árabe, localizado ao 
norte da África), em 1415. 
De 1418-1483: etapa 
marcada pela descoberta 
e início da ocupação das 
ilhas do Atlântico: Madeira 
(1418-1419); Açores (1427-
1428); Cabo Verde (1456). 
Essa etapa também foi 
assinalada pela ocupação 
de pontos estratégicos 
no litoral Africano: Cabo 
Bojador (1434); Senegal 
(1450); Serra Leoa (1460); 
Congo (1483).
De 1487-1488: Período mar-
cado pela chegada de uma 
expedição comandada por 
Bartolomeu Dias à extre-
midade sul do continente 
africano (Cabo da Boa 
Esperança). A importância 
dessa etapa relaciona-se à 
comprovação de que a “rota 
oriental” (périplo africano), 
desenvolvida pelos portu-
gueses, era viável para se 
alcançar as Índias. Afinal, 
transposto esse obstáculo, 
estava “aberto” o caminho 
para o oriente.
1498: chegada da expe-
dição comandada por 
Vasco da Gama às Índias 
(Calicute). A partir daí 
rompeu-se o monopólio 
árabe e italiano sobre o 
comércio das especiarias 
abrindo à burguesia mer-
cantil portuguesa grandes 
possibilidades de ganhos 
financeiros da ordem de 6 
a 4 mil por cento de lucros 
nas negociações. 
1500: Expedição coman-
dada por Pedro Álvares 
Cabral, formada por cerca 
de 1500 homens, dentre 
eles cosmógrafos, frades 
franciscanos, escrivães e 
outros funcionários, cujo 
objetivo era fundar feitorias 
(entrepostos comerciais) 
nas Índias. Essa expedição 
alcançou no Atlântico Sul 
a terra que viria a chamar 
Brasil. 
1511: Os portugueses se 
estabelecem no sudeste 
asiático, conquistando 
Malaca.
1517: os portugueses 
alcançaram a China e em 
1555 fizeram acordo com 
o imperador chinês para se 
estabelecerem na ilha de 
Lampacao, rebatizada dois 
anos depois como Macau. 
Essa foi a porta de entrada 
dos portugueses no impé-
rio chinês.
1543: os portugueses 
chegaram até Tanegashina, 
no Japão.
Figura 24: Navegações 
portuguesas
Fonte: Disponível em 
http://www.minerva.
uevora.pt/aventuras/bra-
sil/biografias.htm. Acesso 
em 14/10/2013.
►
35
História - História do Brasil Colônia I
É evidente que o ingresso no século XVI marca o início da expansão européia 
pelo mundo afora. Os “descobrimentos” dos portugueses e dos espanhóis, seja 
qual for o significado que se dê a esse termo, projetam a Europa para fora de 
seu quadro continental e revolucionam os conhecimentos que os sábios eu-
ropeus acreditavam ter sobre o globo desde a antiguidade. Mas, centrar-se na 
expansão ibérica é, mais uma vez, reproduzir uma história carregada de euro-
centrismo no sentido em que a história dos outros continentes só existiria em 
relação à que é construída pelos povos da Europa. Nessa toada, o México ou 
o Brasil só emergiriam à tona da história quando descobertos e conquistados 
pelos europeus. 
É nesse sentido que se essa passagem do século tem hoje um sentido para nós, 
um sentido que talvez não tivesse nos séculos anteriores, é porque vemos que 
aí é que surgem as premissas da globalização. E essa globalização é mais que 
um processo de expansão de origem ibérica, mesmo se o papel da península 
for dominante. A globalização que se esboça entre o fim do século XV e o iní-
cio do século XVI corresponde a um fenômeno global de “desencravamento”, 
como bem mostrou Pierre Chaunu quando propôs uma “problemática nova e 
objetiva da comunicação. (GRUZINSKI, S. 1999, p. 96-98.)
Não poderíamos imaginar que nesse momento teríamos uma economia mundial, muito 
menos capitalizada e global como observamos nos dias de hoje, certo? Então, vejam que não 
é nesse sentidoque a proposta do autor se direciona. Com essa idéia, ele quer chamar a nossa 
atenção para o fato de que foi no limiar do século XVI que setores do mundo que se ignoravam 
ou não se frequentavam diretamente foram postos em contato uns com os outros. Com isso, não 
se pode negar o feito dos portugueses em estabelecerem a comunicação entre a Europa, a Áfri-
ca, e depois entre a Europa e a África e a Ásia. “É obra conjunta dos ibéricos pôr em relação à 
Europa com a América – Labrador, Caribe, Costa da América do Sul, Brasil – e a América com a 
África, decorrência do início do tráfico de escravos transatlântico.” Também, inconscientemente, 
Colombo realiza, assim, o “desencravamento” de uma América isolada do resto do mundo há mi-
lênios, ao passo que Vasco da Gama faz da “África o elo que une Portugal à Ásia.” Retornaremos a 
essa questão mais adiante. Por hora, vamos conhecer os dilemas portugueses no século XVI.
2.4 A sociedade portuguesa: 
dilemas do “novo” e do “velho”
A época moderna é marcada por dilemas. Fernando Novais lembra que entre a Idade Média 
Feudal (sociedade marcadamente sagrada) e o mundo burguês e capitalista (sociedade laica e 
racionalista) estende “uma zona incerta e por isso mesmo fascinante, não mais feudal, ainda não 
capitalista, não é por acaso denominada transição”. (NOVAIS, 1997, p.16). Vejamos.
As receitas do Estado português em sua maioria (65%), no século XVI, advinham do tráfi-
co marítimo, ou seja, a sociedade portuguesa não se sustentava como em outras monarquias da 
época, na agricultura. Entretanto, já dissemos anteriormente que o Estado português era inves-
tidor no setor mercantil (Estado-empresário), lembra-se? Considerando que a prosperidade dos 
Estados depende dos impostos sobre as atividades econômicas, como Portugal iria tributar a si 
mesmo? Ora, essa contradição era um limite ao crescimento e enriquecimento dessa monarquia 
européia, bem como limitava a atuação e a consolidação de um segmento empresarial e burguês 
no país. O historiador João Fragoso adverte que o estado português se limitou à modernização 
da sociedade naquele momento.
Esse mesmo autor acrescenta que “os gastos com os casamentos, dotes e outras despesas 
reais equivaliam, então, a cerca de 50% das finanças públicas (...) ultrapassando o gasto com a 
expansão comercial no Marrocos e ao sustento das armadas”. (FRAGOSO, et al. 1998, p.27). Nesse 
sentido, compreendemos o motivo pelo qual o Estado português inibirá investimentos privados, 
reforçará a aristocracia (principalmente o clero) a se aliar a setores mercantis, além de atuar como 
Estado empresário, entretanto, sem incentivar investimentos produtivos. Tudo isso gerou a ma-
nutenção de uma sociedade “velha” (características do antigo regime) num momento em que o 
“novo” aparece (sociedade comercial, burguesa). 
Para entender essa contradição, Fragoso lembra que houve uma mercantilização do Estado 
e da nobreza, mas não houve o seu aburguesamento, sendo assim, não prosperaram em Portu-
PARA SABeR MAiS
A Espanha, visando ga-
rantir integralmente as 
terras descobertas ou 
por descobrir, apoiou o 
Papa Alexandre VI,que 
elaborou a Bula Inter 
Coetera (1493), estabe-
lecendo como divisor 
um meridiano de 100 
léguas das Ilhas de 
Cabo Verde. As terras a 
leste desse meridiano 
pertenceriam a Portu-
gal, e as terras a Oeste 
pertenceriam Espanha.
Portugal contestou 
essa bula papal, pois 
temia que os espanhóis 
se apoderassem do 
território africano, por 
isso, na cidade espa-
nhola de Tordesilhas, 
foi assinado outro trata-
do que levou o nome 
da cidade. Esse tratado 
de Tordesilhas ampliava 
de 100 para 370 léguas 
as possessões das colô-
nias portuguesas.
Vasco da Gama, em 
1498, em seu diário de 
bordo registrou ter per-
cebido sinais seguros 
da existência de terras 
a oeste de sua rota. 
Logo em 1500, para 
consolidar nova rota 
com as Índias, Pedro 
Álvares Cabral “desco-
bre” as terras brasileiras, 
permanece nessas 
terras por cerca de 10 
dias e, então, segue 
viagem.
GLOSSARiO
Carta náutica - Por-
tulano: mapa anterior 
ao tempo das Desco-
bertas, mostrando os 
recortes das costas e 
ilhas, onde estavam 
assinalados os portos e 
as rotas marítimas.
especiarias: Produtos 
raros. Substâncias aro-
máticas para temperar 
os alimentos (exemplo: 
gengibre, noz moscada, 
pimenta, etc.)
nau: Antiga embarca-
ção à vela, de alto bor-
do, com três mastros e 
numerosos canhões.
36
UAB/Unimontes - 2º Período
gal sociedades por ações nem as companhias monopolistas de comércio (a exemplo de todo o 
restante da Europa), pois que tais organizações mercantis representavam um perigo para a no-
breza. O comércio serviu, em Portugal, para preservar valores aristocráticos. Logo, não podemos 
estranhar o fato que a própria burguesia tendia a se aristocratizar! Em outras palavras, podemos, 
então, afirmar que a expressão “subir na vida” significava adquirir terras e títulos. “Eis aí uma fi-
gura do império ultramarino: o mercador-fidalgo”. (FRAGOSO, 1998, p.28). Na realidade, Portugal 
se “dava ao luxo” de manter 1/3 de sua população sem participar diretamente da produção da 
riqueza; situação contrária podemos observar no restante da Europa, notadamente na França, 
onde 80% da população estava diretamente ligada a tal produção naquele país. 
A figura 25 representa o que Xavier e Hespanha (1993) apontaram: a nobreza continuava 
sendo entendida como essencialmente natural e humana. Entretanto, eles também indicam que 
a existência de poderes informais tendia a se misturar e coexistir com outros critérios fincados no 
parentesco, na amizade, na fidelidade, na honra, na mercê e no serviço. 
▲ ▲
Figura 25: Hierarquização social européia. 
Fonte: Disponível em:http://castelodosaprendizes.com/
album.htm. Acesso em 14/10/2013
Figura 26: Expansão ultramarina
Fonte: BOTELHO & REIS, 2001. p.58.
A expansão ultramarina retirou Portugal da depressão agrária, transformando os costumes 
sociais tradicionais para melhor conservá-los. 
Em vez de ter adotado práticas e mentalidades capitalistas ao adquirir um imenso império 
colonial, a sociedade portuguesa optou em reforçar a mentalidade aristocrática e seus símbolos 
de poder. Por isso entendemos o motivo da valorização da nobreza, a qual terá privilégios políti-
cos e sociais, bem como construirá distinção social pelo gesto, pelo vestuário e por normas jurídi-
cas (a isso chamamos de velho). 
Para se ter idéia, por um mesmo crime um fidalgo tem punição diferente de um peão. Vale 
ressaltar que os descobrimentos, ao permitirem um re-conhecimento do mundo, traziam con-
sigo uma nova leitura da existência humana. A Igreja, detentora do saber primordial sobre as 
origens da civilização ocidental, precisa redirecionar suas explicações. O microcosmo medieval 
sofre enorme abalo e, aos poucos vimos surgir um macrocosmo onde o pensamento cristão terá 
que reordenar. O novo precisava ser inserido no discurso religioso das Escrituras Sagradas como 
se fosse algo perdido que, agora, fora encontrado. 
O surgimento de outro elemento totalmente desconhecido para identidade européia (as 
Américas, os Indígenas) gerou a necessidade de introduzir um processo de transformação ou 
aproximação que significava a inserção do novo dentro do velho mundo, o qual se consolidara 
com a preponderância do modelo europeu. 
Agora, já é possível compreender o que o Brasil representou para Portugal, não é mesmo? 
As terras brasileiras eram um “novo mundo” de possibilidades e realização de sonhos de enrique-
cimento luso. Considerando que Portugal se viu ameaçada diante do avanço inglês na costa da 
África Ocidental, assim como obrigado a abandonar parte de suas praças comerciais e alguns lo-
cais no Marrocos (Norte da África), por conta do avanço dos muçulmanos, veremos que, nesse 
contexto, o Brasil terá uma importância ímpar (não imediatamente, mas numplano processual) 
para os interesses lusitanos, notadamente aos homens de negócio dos portos coloniais que cres-
ciam e se fortaleciam.
PARA SABeR MAiS
Você sabia que a dita 
escola de Sagres, pre-
sumivelmente, foi um 
centro náutico fundado 
pelo Infante D. Henri-
que, em 1418, e reunia 
os mais importantes 
cartógrafos, geógrafos 
e marinheiros à época 
das grandes navega-
ções?
Você sabia também 
que segundo alguns 
historiadores essa 
denominação sagres 
refere-se a uma téc-
nica de navegar que, 
progressivamente, foi 
conquistada pelos ma-
rinheiros do século XV, 
não tendo, portanto, 
nenhum caráter didáti-
co ou pedagógico?
A casa de Sagres 
reunia navegantes que 
dominavam técnicas 
adquiridas na própria 
experiência de navegar.
BOTELHO, Ângela Vian-
na & REIS, Liana Maria. 
Dicionário Histórico 
Brasil: Colônia e Impé-
rio. Belo Horizonte: O 
autor, 2001, p.66.
GLOSSARiO
Burguesia: Termo que 
designava o habitante 
do burgo ou cidade; 
grupo social prove-
niente do povo, e que 
enriquece devido à 
sua especialização no 
comércio e nos ofícios 
artesanais.
Cortes: Reuniões extra-
ordinárias dos repre-
sentantes dos grupos 
sociais de um reino. As 
Cortes reuniam-se por 
ordem do Rei, quando 
este tinha necessidade 
de ouvir as opiniões 
desses representantes 
(fazer a guerra ou a paz, 
lançar impostos, casar 
os príncipes...). Tinham 
apenas um carácter 
consultivo.
37
História - História do Brasil Colônia I
2.5 As condições técnicas para as 
grandes navegações
Nesse item, vamos viajar pelos conhecimentos técnicos disponíveis e utilizados pela socie-
dade portuguesa do século XV e XVI. Nossa intenção é chegar ao seguinte ponto: a ciência e a 
técnica foram fortes aliados para os europeus no processo de “lançarem velas ao mar”. Vamos co-
nhecer um pouco das técnicas de navegação desse período, pois isso contribuirá para a monta-
gem do quadro histórico da Europa e de Portugal no momento estudado.
Sabemos que a localização geográfica do Estado português e a necessidade de se buscar novas 
rotas para o comércio com o oriente foram fatores que impulsionaram o interesse português pela 
navegação. Temos que considerar, ainda, que no final do século XV poucos eram os homens que 
possuíam uma visão mais global e de noções básicas das diversas ciências. Entretanto, com a fun-
dação da Escola de Sagres (D. Henrique, 1433), Portugal terá condições de amealhar conhecimentos 
científicos diversos, o que facilitará o estudo e o aperfeiçoamento das técnicas de navegação.
Desde a antiguidade, existiram diversos instrumentos que os europeus herdaram dos ára-
bes. Esse é o caso da bússola, do astrolábio, da balestilha, da ampulheta e do quadrante. Ao se 
aventurarem por mares nunca antes navegados, os portugueses encontraram dificuldades, tais 
como: a imprecisão dos mapas e sua indeterminação na indicação da posição em alto mar. Ti-
nham ainda que vencer o tenebroso mar que, de acordo com o pensamento dominante advindo 
da medievalidade, era repleto de animais gigantes, monstros, os quais imputavam temor ao ho-
mem que desejasse ir além-mar. 
Os portugueses, assim como diversos outros europeus, venceram esses limites, pois, desde 
a Idade Média, a navegação realizada era aquela que margeava a costa litorânea da Europa, da 
África e do mar Mediterrâneo, realizando diversas paradas na costa, criando pontos de referência 
para não se perderem. 
Figura 27: 
Representação do 
temor da navegação 
em alto mar. 
Fonte: Disponível em 
http://www.culturabra-
sil.pro.br. Acesso em 
14/10/2013
◄ Figura 30: Navegação 
astronômica.
Fonte: Disponível em 
http://www.museutec.org.
br. Acesso em 14/10/2013
PARA SABeR MAiS
Figura 28: Réplica 
da nau capitânia 
pertencente à esquadra 
de Pedro Álvares Cabral 
em exposição na cidade 
de Porto Seguro/BA. 
Fonte: Acervo pessoal.
Sua construção foi conclu-
ída em 2000 e hoje integra 
o patrimônio histórico da 
cidade de Porto Seguro. 
Quer representar o 
período das grandes 
navegações e marcar o 
local próximo a “coroa 
vermelha”, onde foi 
rezada a primeira missa no 
Brasil; mas também quer 
mostrar a técnica náutica. 
Atualmente fez parte das 
comemorações brasileiras 
acerca dos 500 anos de 
“descobrimento do Brasil”.
Para construir essa réplica 
da Nau usada por Cabral, 
informações foram levan-
tadas, a saber: 
 A nau terá instalações 
para 20 tripulantes e 15 
passageiros, mas, apesar 
do seu pequeno tamanho, 
a nau original de Cabral, 
com apenas 28 metros 
de comprimento, trazia a 
bordo nada menos do que 
165 pessoas. Com 13 naus 
pequenas, Cabral chegou 
ao Brasil com cerca de 
1500 homens.
Figura 29: Detalhe da 
área interna da réplica 
da nau capitânia.
Fonte: Acervo pessoal. 
38
UAB/Unimontes - 2º Período
A figura 30 ilustra essa navegação astronômica. Tal navegação foi desenvolvida principal-
mente a partir de dois pontos fundamentais: primeiro, do avanço das viagens atlânticas e, segun-
do, da necessidade de outro método de orientação para percursos de vários dias e semanas em 
pleno oceano. 
As chamadas “grandes navegações” prolongaram-se por mais de cem anos, desde a conquis-
ta de Ceuta, em 1415. Nesse momento, ocorreu um enorme número de viagem que, aos poucos, 
foram conquistando espaços novos para os portugueses e espanhóis. Enfrentar os oceanos foi 
tarefa que exigiu muito conhecimento e dependeu de progressos anteriores na construção náu-
tica, na cartografia, na astronomia, na matemática, nos primeiros instrumentos náuticos. Depen-
deu da formação de uma mentalidade moderna, voltada para o conhecimento, a experiência e a 
valorização da técnica e da ciência, em busca de novos horizontes econômicos e culturais. Con-
forme afirmou Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso, os marinheiros e exploradores 
portugueses do período, tendo a experiência como mestra, constituíam “os olhos que enxergam 
as mãos que tateiam” o mundo os europeus. (HOLANDA, 1995, p.11).
Para tanto, era necessário desenvolver a técnica e se valer do desenvolvimento do conhe-
cimento científico da época. Analise a figura 31 e observe como essas transformações também 
foram materializadas nessa representação de uma nau.
2.6 Descobrimento? achamento? 
esta é a América Portuguesa!
As comemorações dos quinhentos anos de descobrimento da América e do Brasil, respec-
tivamente em 1992 e 2000, fizeram suscitar uma série de questionamentos. Desde questões li-
gadas ao dito perfil identitário do brasileiro até indagações relacionadas ao processo histórico 
político e econômico de nosso país. Mas, queremos aqui ressaltar a temática da discussão larga-
mente discutida: nós, brasileiros, fomos achados ou descobertos pelos portugueses? Que olhar 
possui o dono de um “discurso” que opta em usar um dos termos achamento ou descobrimento 
para narrar a nossa história?
Certamente sabemos que a história possui datas as mais diversas, que foram “produzidas” 
para marcar momentos significativos em nossa história num momento em que a historiografia 
possuía uma concepção de história que atrelava ao fato/acontecimento a história humana, arrai-
gada na ideia de verdade absoluta, ou seja, a produção da história era feita na concepção vigente 
do século XIX, dentro da perspectiva da escola metódica, dita positivista. Entretanto, devemos 
entendê-la como um processo que possui movimentos de ruptura e de continuidade. Esses mo-
vimentos são sentidos, coloridos, cheirados, experenciados por “pessoas” e não por datas que al-
guns dizem ser significativas, mas vazias de sentido/significação para muitos. 
Sendo assim, queremos chamar a sua atenção para pensarmos a história - a nossa história - 
buscando compreender as ações dos mais diversos sujeitos sociais que vivenciaram esse proces-
so fantástico em nosso caminhar. Sendoassim, vamos estudar esse momento da história do Bra-
sil atentos aos “cheiros e às cores” desse país através dos vestígios históricos a que o historiador e 
o professor de História do Brasil precisam bem compreender.
DiCA
Do outro lado do Mar 
Tenebroso
Águas fervilhantes, ares 
envenenados, animais 
fantásticos e canibais 
monstruosos espreita-
vam a imaginação dos 
que desciam o Atlânti-
co em direção ao sul.
Quando o navegador 
da Ordem de Cristo Gil 
Eanes passou o Cabo 
Bojador, um pouco ao 
sul das Ilhas Canárias, 
em 1434, mais do que 
realizar um avanço náu-
tico, estava desmon-
tando uma mitologia 
milenar. 
Acreditava-se que de-
pois do cabo, localizado 
no que é hoje o Saara 
Ocidental, começava o 
Mar Tenebroso, onde a 
água fumegaria sob o 
sol, imensas serpentes 
comeriam os desgra-
çados que caíssem no 
oceano, o ar seria en-
venenado, os brancos 
virariam pretos, havia 
cobras com rostos 
humanos, gigantes, 
dragões e canibais com 
a cabeça embutida no 
ventre. O estrondo das 
ondas nos penhascos 
do litoral, que podia 
ser ouvido a quilôme-
tros de distância, as 
correntes fortíssimas 
e as névoas de areia 
reforçavam o pânico 
dos pilotos. Quando 
finalmente reuniu cora-
gem e viu que do outro 
lado não havia nada de 
especial, Eanes abriu o 
caminho para o sul.
O site CLIO HISTORIA 
de onde foi retirado 
esse texto disponibi-
liza diversos outros. O 
material disponibiliza-
do para os interessados 
pela história versa so-
bre diversos assuntos. 
Vale a pena navegar e 
tirar dúvidas nesse site. 
Disponível em http://
www.cliohistoria.hpg.
ig.com.br/biblioteca/
brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm Acesso 
em 16/10/2013
Figura 31: 
Representação de 
uma nau portuguesa 
(croqui).
Fonte: Disponível em 
http://www.culturabrasil.
pro.br/achamento.htm. 
Acesso em 14/10/2013
►
39
História - História do Brasil Colônia I
Um dos vestígios que nos remete ao termo “achamento” está presente na Carta de Pero Vaz 
de Caminha quando ele fala em “achamento de nova terra”, em detrimento do termo “descobri-
mento” ou “casualidade”. Parece que isso é sintomático, afinal, procurava-se outra terra, no caso 
as Índias. Também, revela que esse achado foi importante, não tendo, entretanto, a mesma im-
portância que as terras descobertas pela Espanha, pelo menos em seus primeiros trinta anos. Em 
sua carta, Caminha descrevia características da terra que via:
BOX 2
Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de “ervas compridas a que os ma-
reantes dão o nome de rabo-de-asno”. Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram no 
horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos – uma espécie de gaivota – 
rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se encontrava 
próxima. Ao entardecer, silhueta dos contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-se os contor-
nos arredondados de “um grande monte”, cercado por terras planas, vestidas de um arvoredo 
denso e majestoso. 
Fonte: Carta de Pero Vaz de Caminha. Acesso em 16/10/2013.
Era 22 de abril de 1500. O Brasil aparece para os portugueses com “data e certidão de nas-
cimento” e riqueza em detalhes, como vimos anteriormente. Segundo o olhar dos europeus, 
houve um descobrimento, considerando que eles não conheciam essas terras e muito menos 
os seus habitantes, os quais lhes causaram sentimentos os mais diversos. Um desses sentimen-
tos pode ser observado no momento em que o capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e 
companheiro de Vasco da Gama, foi à terra em um batel e deparou com 18 homens pardos, 
nus, com arcos e setas nas mãos. Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho 
e um sombreiro preto. Em troca, recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O 
Brasil, batizado de Ilha de Vera Cruz, entrava, naquele instante, no curso da História.
Opa!!! No curso da História? Qual história? Então não tivemos história antes que os por-
tugueses aqui chegassem? É exatamente essa visão que nós queremos rever com você, estu-
dante de História! Vamos separar as coisas. Os ditos indígenas, nativos de nossa terra, já não 
estavam aqui há muito tempo quando esses portugueses chegaram? Ora, então esse país foi 
achado! Comemoramos o processo de achamento do Brasil! 
Todavia, comemoramos também a incursão do Brasil num mundo global, como afirmou 
Gruzinski (1999), a partir do descobrimento da terra brasilis, do ponto de vista do europeu. En-
tendeu? O que estamos discutindo então é o olhar! Queremos entender a nossa história pelo 
olhar do europeu? Ou pelo nosso olhar? Essa resposta é com você. Pense nisso!
Bom, agora podemos prosseguir. Uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que con-
duziu a armada de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria 
sido o descobrimento do Brasil um mero acaso? Ou foi algo intencional? Existem os que levan-
tam a possibilidade desta terra já ter sido avistada em tempos anteriores e o desembarque, em 
1500, teria sido mera formalidade! É provável que esta questão jamais venha a ser esclarecida. 
Entretanto, existem os que utilizam informações do Tratado de Tordesilhas de 1494, como base 
◄ Figura 32: 
Descobrimento do 
Brasil, ano 1500. 
Primeiro desembarque 
de Pedro Álvares 
Cabral. Quadro de 
Oscar Pereira da Silva 
(1865-1939), Museu 
Paulista.
Fonte: Disponível em 
www.portalsaofrancisco.
com.br/alfa/desco-
brimento. Acesso em 
14/10/2013
PARA SABeR MAiS
O tratado de Tordesilhas, 
assinado entre D. João II e 
os Reis Católicos, Fernan-
do e Isabel, contém o acor-
do final a que chegaram 
as coroas de Portugal e 
de Castela sobre as zonas 
de influência para as suas 
expansões. 
Assinado em 1494, ao 
fim de um longo conflito 
sobre as áreas a dominar 
por uns e por outros, 
determina nas suas cláu-
sulas essenciais que se 
reconheciam a Castela 
todas as ilhas e terras 
descobertas para ocidente 
do meridiano que passa a 
370 léguas a ocidente de 
Cabo Verde. 
A oriente, ficavam sal-
vaguardados os direitos 
de Portugal, o que viria a 
incluir parte do territó-
rio brasileiro, para além 
da África e das regiões 
orientais. Possivelmente, 
D. João II já teria, à data da 
assinatura do tratado, co-
nhecimento da existência 
do território brasileiro.
Mesmo depois da assina-
tura deste tratado houve 
alguns pequenos focos de 
conflito devido a dificulda-
des em determinar a qual 
das duas esferas de influ-
ência pertenciam alguns 
territórios e ilhas. Destes 
conflitos, destaca-se a 
questão do arquipélago 
das Molucas, que foi um 
dos motivos da viagem 
de Fernão de Magalhães à 
volta do Mundo.
GLOSSÁRiO
navegação astro-
nômica: Navegação 
marítima cuja orienta-
ção é feita através da 
observação dos astros.
Quadrante:- Utensílio 
usado pelos navegado-
res portugueses para 
determinar a altura do 
Sol.
Rota: Percurso conheci-
do e anotado em cartas 
ou mapas rumo a um 
certo objetivo.
Angola: nome dado 
pelos portugueses à 
região de Ndoango, 
devido ao fato de os 
chefes locais, sobas, 
possuírem o nome de 
Ngola.
40
UAB/Unimontes - 2º Período
para afirmar o conhecimento prévio pelos portugueses das terras brasileiras, pois se em 1494 
Portugal queria certa quantidade de terra que ele não conhecia. Mas além desse indicativo, 
existem outros, como a existência de mapas de 1339, onde aparece o nome Brasil. Clio Histó-
ria, site que disponibiliza para fins educativos uma série de documentos na seção Clio história 
– textos e documentos. Disponibilizou-se nesse ambiente a figura 33. Confira:
Entretanto, se faz imperioso entender que relações coloniais foram estabelecidas com a me-
trópole portuguesa a partir de então? De que maneira se processou a colonização na América 
Portuguesa, especialmente no início da conquista dessanova terra? 
2.7 Relações coloniais entre 
Portugal e América Portuguesa no 
início da conquista 
O mapa representa uma das maneiras de olhar e representar o novo território. Analise a 
imagem de acordo com as questões que já sugerimos anteriormente. Entretanto, indicamos que 
desde já observe os detalhes presentes, tais como: o que os índios fazem e qual visão do territó-
rio está disposta na figura 34. 
Feita essa operação, vamos pensar sobre as visões desse dito paraíso e suas representações. 
Isso nos permitirá compreender relacionamentos estabelecidos entre a Europa e o Novo Mundo, 
bem como entender o papel das instituições que atuaram nesse lugar. 
Uma das instituições que atuou na América Portuguesa foi a Igreja Católica que permitia um 
trânsito cultural, ao mesmo tempo em que se efetivava a transformação do continente america-
no a partir do modelo eurocêntrico cristão. É essa Igreja que descobrirá a existência de outro uni-
verso estranho aos cristãos e desde a origem o considerou inferior, pois ele não era considerado 
cristão.
Mas, quem eram esses portugueses que por aqui aportaram? Os historiadores Antônio Ma-
nuel Hespanha e Ana Cristina Nogueira da Silva escreveram um livro cujo pano de fundo foi dis-
cutir a identidade do português. Em suas palavras, os portugueses
eram católicos, que eram muito menos europeus, que eram hispânicos(...), 
vassalos de um rei ou de senhores; eclesiásticos, nobres ou plebeus (...) Sendo 
tudo isso, sem deixarem de ser portugueses, eram portugueses de uma manei-
ra muito menos nítida e unidimensional do que o hoje supomos (HESPANHA, 
2001, p.19). 
Holanda (1995) também contribuirá acerca dessa questão, afirmando que os ibéricos eram 
muito diferentes dos europeus em geral, e todos esses autores apontam que os portugueses 
Figura 33: Mapa 
de 1482, feito pelo 
cartógrafo Gracioso 
Benincasa, em 
Ancona, na Itália, 
indica (1) costa 
portuguesa; (2) costa 
africana; (3) “Isola de 
Brasil”; (4) “Antilia”.
Fonte: Disponível em 
www.cliohistoria.hpg.
ig.com.br/biblioteca/
brasil/hb_colonia/hb_co-
lonia.htm. Acesso em 
14/10/2013
►
PARA SABeR MAiS
DiViSÃO DAS CAPiTA-
niAS
Murilo Mendes
A primeira pros londri-
nos,
Pra assentarem telefo-
nes,
Bondes puxados a 
burros
Naturais deste país;
Cruzados nos empres-
taram
A cinco por cento ao 
mês.
A segunda aos holan-
deses,
Pra ensinarem a fazer 
queijo,
Lidar direito com moi-
nhos
E algumas regras de 
asseio.
A terceira pros franceses,
Que trouxeram nas 
fragatas
Muitos vidros de per-
fume,
Mulheres muito exci-
tantes,
Maneiras finas, distintas
E romances de adultério.
Quem falou francês foi 
nós.
A quarta foi para os 
turcos,
Pra vender chitas, miçan-
gas
Na porta das mamelu-
cas.
Compraram a capitania
Em diversas prestações.
A quinta aos italianos,
Ajudaram a lavrar a terra,
Engraxaram as botas da 
gente;
Nas sacolas de emi-
grante
Trouxeram discos de 
canto
Que amenizam a nossa 
vida
Na hora do inglês 
chegar.
A sexta aos americanos,
Trazem fitas de cow-boy.
Os colonos vêem a fita,
Ficam logo entusiasma-
dos,
Fazem negócio com eles.
A sétima, aos alemães
Trouxeram cerveja loura,
Fazem grande concor-
rência
À cachaça nacional.
As outras cinco fazendas,
Pra fazer conta redonda,
Entregaram aos lisboetas
Que fornecem manti-
mento
Às capitanias restantes.
41
História - História do Brasil Colônia I
não eram muito europeus no 
sentido de que eles eram di-
versos etnicamente, porém, 
católicos. 
A grande dificuldade 
desse processo é que o novo, 
pela existência autônoma que 
lhe é peculiar, possui um grau 
de dessemelhança grande em 
relação ao universo europeu. 
Por conseguinte, partindo se 
de uma visão eurocêntrica, 
os demais povos eram vistos 
em função da proximidade 
em que se encontravam do 
modelo padrão, tido como ci-
vilizado, e a não proximidade 
apontava para um estágio pri-
mitivo humano (PAIVA, 1982, 
p. 23).
Certo é afirmar que no 
tempo da chegada dos lusi-
tanos na terra que viria a ser 
o Brasil, não ocorreu o desen-
volvimento e a efetivação de 
um imediato processo de ocupação, e muito menos colonização, pois a monarquia portuguesa 
de 1500 a 1530 não propôs um planejamento concreto de aproveitamento do território desco-
berto. Junte-se a isso o fato que os portugueses não encontraram imediatamente - a exemplo do 
que ocorreu na América Espanhola - os tão desejados metais (ouro e prata). Todavia, o pau-brasil 
não passou despercebido aos olhos de nossos colonizadores, e nem aos olhos dos franceses que, 
a partir de então, passaram a intensificar relações com os nativos, ávidos pela obtenção e comer-
cialização da madeira e seus derivados na Europa. 
Portugal, visando assegurar a comercialização da madeira pau-brasil, expediu decreto ins-
tituindo o seu monopólio sobre esse vegetal, haja vista as caravelas da França frequentemente 
presentes no litoral brasileiro, ameaçando a sua hegemonia. O Estado francês só conheceria a 
posse portuguesa do Brasil se estas terras fossem efetivamente povoadas. 
Nessa medida, Portugal estava temerosa em perder a posse do território, passou a enviar 
para o Brasil as chamadas expedições guarda-costas e, também, a promover a fundação de fei-
torias. Todavia, estes projetos metropolitanos não obtiveram êxito, devido a grande extensão 
do litoral brasileiro e ao fato das feitorias serem em número reduzido e muito distante uma das 
outras.
A situação para Portugal não estava tão fácil de resolver. Vejam que o comércio de espe-
ciarias que sustentou a economia lusitana até o século XV, a partir do século XVI sofre dificul-
dades, especialmente na manutenção de viagens marítimas que visavam o abastecimento des-
te mercado e, principalmente, pelo surgimento de uma acentuada concorrência com outros 
países europeus que também se lançaram ao mar e iniciaram seu processo expansionista na 
época moderna. 
Sendo assim, o historiador Fernando Novais afirma que a colonização do Brasil se deu num 
quadro de competição e equilíbrio entre as nações européias. Desta forma, o Brasil passou a ser 
visto como a alternativa para o reerguimento econômico luso após a decadência com o comér-
cio indiano. Todavia, além desse fator, podemos identificar outros que ampliarão a nossa manei-
ra de entender os interesses portugueses na colônia brasileira: ora, os franceses permaneceram 
em nosso litoral ameaçando a posse dos portugueses, assim como o sucesso espanhol com as 
descobertas de ouro e prata em suas colônias na América reforçava esse desejo junto aos por-
tugueses. Se os espanhóis encontraram ouro e prata, nós também encontraremos! Porém, não é 
apenas esse desejo que embalou os portugueses. O mito sobre montanhas de ouro, o chamado 
El Dourado, mantinha avivada a vontade portuguesa de dominar o seu território colonial. 
PARA SABeR MAiS
Somos o povo índio. 
Somos uma personali-
dade com consciência 
de raça, herdeiros e 
executores dos valores 
culturais dos nossos 
milenares povos da 
América, independen-
temente de nossa cida-
dania em cada Estado. 
(...) Sustentamos que 
deve ensinar-se a his-
tória começando pela 
autêntica história das 
culturas nativas, para 
contribuir, assim, para a 
criação da consciência 
americana. O respeito, 
surgido do conheci-
mento maior entre os 
homens que habitam 
essas terras...
Essa é uma das con-
clusões do primeiro 
encontro de indígenas 
da América do Sul, 
realizado em San Ber-
nardino, Paraguai, em 
outubro de 1974, que 
reuniu representantes 
do Brasil, da Argenti-
na, da Colômbia, do 
Equador, do Canadá, 
dos EUA, do Paraguai e 
da Venezuela.
Ela revela a tomada de 
consciência por parte 
das nações indígenas 
de toda exploração 
e dominação, atém 
do extermínio, que o 
europeu praticou ao 
conquistar o continen-te americano.
PARLAMENTO Índio 
de San Bernardino, 
1974. O Estado de S. 
Paulo. SP, 20 out. 1974. 
Texto retirado do site 
“Clio história – área de 
“textos e documentos”. 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br/bibliote-
ca/brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm. Acesso 
em 14/10/2013
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
◄ Figura 34: Mapa do 
Descobrimento do 
Brasil
Fonte: Disponível em 
http://www.culturabrasil.
pro.br/achamento.htm. 
Acesso em 14/10/2013
42
UAB/Unimontes - 2º Período
Referências 
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Belo Horizonte: O autor, 2001.
CARTA Pero Vaz de Caminha. Disponível em http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://
www.biblio.com.br/conteudo/perovazcaminha/carta.htm Acesso em 16/10/2013.
FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo & FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasilei-
ra: séculos XVI-XIX. 4. ed. São Paulo: Atual, 1998. (Discutindo a História do Brasil). 
FRANCO Jr., Hilário. O feudalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
GRIMPEL, Jean. Revolução industrial na idade Média. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1977.
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480 – 1520: as origens da Globalização. São Paulo: 
Cia das Letras, 1999. 
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Cia das Letras, 2001.
HESPANHA, Antônio M. As Estruturas Políticas em Portugal na Época Moderna. In: TENGARRI-
NHA, José (Org.). História de Portugal. São Paulo: Universidade do Sagrado Coração – EDUSC, 
2001. 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.
HOLANDA, Sérgio. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
Jornal Estado de Minas, Ouro de Minas: 300 anos de História. Fl.16-17. Fotos: Emmanuel Pinheiro 
e Beto Novaes. Editor de Artes Gráficas: Álvaro Duarte. Domingo, 15 de maio de 2005.
LE GOFF, J. Mercadores e banqueiros na idade Média. Lisboa: Gradativa, 1956. 
NOVAIS, Fernando. Condições de privacidade na colônia. In: NOVAIS (dir.) & SOUZA (org). História 
da Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. São Paulo: Cia das 
Letras, 1997 (História da Vida Privada no Brasil; 1).
PAIVA, José Maria de. Colonização e Catequese. São Paulo, Cortez, 1982.
XAVIER, Ângela B. e HESPANHA, Antônio M. A Representação da Sociedade e do Poder. In: HES-
PANHA, Antônio M. (Org.). História de Portugal Vol. 4. Lisboa: Estampa, 1993. 
43
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 3
O início da colonização: a 
distribuição das terras, economia e 
administração
Dayse Lúcide Silva Santos
3.1 Introdução
Esta terceira unidade visa introduzir você ao início da colonização portuguesa na América. 
Para isso, construímos cinco itens que melhor o ajudarão a compreender esse momento da nos-
sa história, a saber: preparação para a colonização; sua organização administrativa e judicial; as 
relações estabelecidas entre portugueses e índios no Brasil durante o período inicial da coloniza-
ção e, por fim, o início da exploração do açúcar na América Portuguesa. 
Hans Staden publicou um texto em 1557 como resultado de duas visitas realizadas ao Brasil, 
uma em 1548 e outra em sua visita 1554. Esse relato é a visão de um europeu alemão sobre os 
indígenas e a terra brasileira. Vejamos:
A América é uma terra vasta. Lá existem muitas tribos de homens selvagens 
com muitas línguas diversas, e numerosos animais esquisitos. Tem um aspecto 
agradável. As árvores estão sempre verdes[...]. Os habitantes andam nus. No sul 
onde faz muito frio vive uma tribo de índio que se chama carijós. Servem-se 
de peles de animais selvagens, preparam-nas bem e cobrem-se com elas. Suas 
mulheres fazem tecidos de fio de algodão como sacos, abertos em cima e em-
baixo.
Existem também naquela região frutos terrestres e arbóreos dos quais se ali-
mentam homens e animais [...] o índio é gente capaz, astuta e maldosa, sempre 
pronta a perseguir os inimigos e devorá-los. (STADEN, 1974, p. 152)
Esse é um olhar sobre o Brasil. Estudaremos outros olhares ao longo dessa unidade. Para 
tanto, chamamos a sua atenção para as dicas de estudos que inserimos nesse material. Não deixe 
de esclarecer todas as suas dúvidas com seu professor formador e com os tutores. Socialize suas 
ideias e opiniões com os demais colegas por meio do ambiente virtual do seu curso.
Desejamos boa aula!
3.2 Brasil: preparando para 
colonizar 
Você se lembra de já ter estudado sobre a primeira missa no Brasil? Já falamos disso ante-
riormente. Retomamos, aqui, a figura 35 apenas para chamar a sua atenção para o fato de que 
muitos estudantes de nossa história têm como marco essa imagem da efetiva colonização do 
Brasil.
44
UAB/Unimontes - 2º Período
Por volta de 1500 a 1530, a Coroa Portuguesa não desenvolveu, de imediato, nenhum pro-
jeto sólido de colonização de suas porções de terra recém-descobertas. Você já se perguntou os 
motivos de Portugal ter agido dessa forma? 
Não é difícil imaginar que a primeira coisa a ser feita é realizar um reconhecimento do terri-
tório, correto? Foi isso que Portugal fez! 
O primeiro reconhecimento da nova terra foi feito em 1501, logo após a chegada da nau 
enviada por Cabral (ele segue viagem para as Índias) a Portugal, levando a notícia do descobri-
mento de novas terras. Esse primeiro reconhecimento se dá a partir do litoral do atual Rio Grande 
do Norte, seguindo uma rota de navegação rumo ao sul por cerca de 2.500 milhas. É interessante 
observar que muitos nomes dos lugares tal qual hoje conhecemos, nasce nesse momento, por 
exemplo: Baía de Todos os Santos, Cabo de São Tomé, Angra dos Reis e São Vicente. 
O segundo reconhecimento expedicionário ocorreu entre 1502 e 1503, contando com a 
participação de Américo Vespúcio que, nessa época, trabalhava para a Coroa Portuguesa. A in-
formação encaminhada por Américo Vespúcio será importante para os burgueses aristocratas de 
Portugal: “pode se dizer que nessas terras não encontramos nada de proveito”. Nesse momento, 
os lusos ficaram sabendo que pouco tinham a explorar, pois esperavam encontrar imediatamen-
te o mesmo que Pizzarro e Cortez encontraram na América Espanhola: ouro e prata. 
Mas, além desse motivo que explica a atitude lusitana em não iniciar a colonização imediata 
das terras brasileiras, existem outros motivos, os quais podemos enumerar:
Dissemos anteriormente que o Estado português é um estado-empresário e que a sua bur-
guesia ainda estava apegada a valores aristocráticos, lembra-se disso? Logo, era preciso encon-
trar algo que desse retorno financeiro imediato aos portugueses, pois essa sociedade possuía 
altos gastos com a “máquina do governo” e tímida capacidade de investimento. Junte-se a isso a 
informação de que as atividades mercantis com as Índias ainda apresentavam reais possibilida-
des de ganhos financeiros para os lusos. 
Os lusitanos conviverão com alta mortalidade, vítimas de epidemias diversas, especialmente 
de 1569 a 1570.
Lisboa será vítima de terremotos em momentos bem próximos, como em 1531 e outro mais 
devastador em 1575. 
Diante de todos esses motivos, como Portugal iria fazer altos investimentos na colônia bra-
sileira? Nesse momento, era praticamente impossível. Entretanto, a nova terra era farta em ma-
deira, principalmente o pau-brasil. Para isso, a Coroa portuguesa arrendou a exploração da costa 
brasileira para um grupo de comerciantes liderados por Fernão de Loronha, que entra para histó-
ria com o nome de Fernando de Noronha. Eles eram autorizados a extrair pau-brasil do litoral, a 
garantir o compromisso de pagar as taxas devidas à coroa e a garantir a defesa da costa. 
Figura 35: 
Representação da 
Primeira Missa no Brasil 
(1861). Victor Meirelles
Fonte: Disponível em 
http://www.infoescola.
com/wp-content/uplo-
ads/2010/09/primeira--missa.jpg. Acesso em 
15/10/2013.
►
ATiViDADe
Analise atentamente 
a figura 35.
No Fórum da disci-
plina discuta com os 
demais colegas e o seu 
professor:
- Quais críticas pode-
mos fazer a esse tipo 
de representação da 
realidade?
- É a verdade ali repre-
sentada? É mentira, é 
invenção? 
- Com quais cuidados 
essa fonte deve ser uti-
lizada pelo historiador?
45
História - História do Brasil Colônia I
No continente negociam o corte do pau-brasil com os índios. O árduo trabalho de cortar e car-
regar as toras até os navios era realizado pelos índios, que, em troca, recebiam machados, facas, 
facões e diversas “bugigangas”. A esse sistema de trocas deu-se o nome de escambo. Os locais onde 
eram guardadas as madeiras até aguardar o retorno do navio era denominado de feitorias. 
Para se ter uma idéia do rendimento de tal negócio, em média, os feitores conseguiam car-
regar pelo menos seis navios por ano. Em 1511, Loronha levou para Portugal 5 mil toras de pau-
-brasil, índios escravizados e animais silvestres, como papagaios, tuins e sagüis.
Essa foi a saída que os portugueses conseguiram pensar de imediato para as suas novas 
possessões coloniais. Está fundado o sistema de feitorias. Esse sistema foi responsável por contri-
buir para a formação do Império Português, que além do Brasil, possuía feitorias também na Ásia 
e na África. 
Muitas expedições serão organizadas de 1501 a 1530, tendo como objetivo explorar, coloni-
zar e defender o território, conforme se vê no quadro 2:
QUADRO 2
Expedições Brasil 1501 a 1530
expedição Ano Local
Expedição exploradora de Gaspar de 
Lemos 1501 Reconhecimento área litorânea
Expedição de Gonçalo Coelho 1503 Atuou em vários pontos do litoral
Expedição de Paulmier de Gonneville 1503 - 1504 Litoral de Santa Catarina
Expedição de Cristóvão Jacques 1516-1521-1526
Combate os franceses e lidera as 
expedições guarda-costas
Expedição Colonizadora de Martim Afon-
so 1530 São Vicente
Fonte: Disponível em http://www.suapesquisa.com/pesquisa/brasil_colonial.htm acesso em 01/12/2013. Acesso em 
15/10/2013.
Os europeus se fixam no Brasil nos primeiros anos após o “descobrimento”. Foram náufragos, 
marinheiros desertores, degredados expulsos de Portugal pelas Ordenações Manuelinas, legisla-
ção criminal portuguesa. Até a colônia chegaram também aventureiros de várias nacionalidades, 
inclusive fidalgos em missões oficiais ou em busca de fortuna. Junte-se a isso a chegada, tam-
bém, de judeus portugueses convertidos ao cristianismo, denominados de cristãos-novos. 
Um desses portugueses a aportar por aqui foi João Ramalho (1580). Há grande possibilidade de 
ele ter vindo degredado de Portugal, deixando por lá a esposa grávida. João Ramalho aportará em 
São Vicente (mas fixando morada no povoado de São Paulo do Piratininga) e por aí se estabelecerá 
e manterá relações sexuais com a índia Bartira, filha de Tibiriçá, chefe da tribo dos tupinambás, com 
a qual terá muitos filhos. João Ramalho será de grande importância para Martim Afonso de Souza 
nas entradas de reconhecimento do planalto de Piratininga e ajudará a contatar tribos indígenas da 
região. Quando fixou moradia no povoado de São Paulo de Piratininga, combateu os índios tupini-
quins ao lado dos portugueses e recebeu o título e os privilégios de capitão-mor.
PARA SABeR MAiS
O pau-brasil foi colo-
cado sob monopólio 
da Coroa portuguesa. 
A exploração foi feita 
através de contratos 
de arrendamento com 
companhias particula-
res, que devem pagar 
um quinto do valor 
obtido ao governo 
português. É extraído 
do litoral do Rio Grande 
do Norte até o do Rio 
de Janeiro. O corte e 
o transporte local são 
realizados inicialmen-
te pelos índios, sob 
controle de feitores, co-
merciantes ou colonos. 
Depois, por escravos 
negros. Até 1875, o 
“pau de tinta” aparece 
nas listas de produtos 
exportados pelo Brasil.
◄ Figura 36: Mapa 
século XVI. Giovânio 
Ramúcio. 
Fonte: BOTELHO & REIS, 
2001, p.26
PARA SABeR MAiS
Alvarás da Coroa Por-
tuguesa no século XVI 
apontam a preocu-
pação em colonizar o 
território. Observe o 
fragmento deste alvará.
“Ordenou o dito senhor 
que daí em diante as 
pessoas que, por seus 
malefícios, segundo as 
ordenações, houves-
sem de ser degredadas 
para a ilha de S. Tomé, 
pelo mesmo tempo 
fossem degredadas 
para o Brasil.” 
(Alvará de 31/05/1535)
“Ordenou o dito senhor 
que os moços vadios de 
Lisboa, que andam na 
ribeira a furtar bolsas 
e fazer outros delitos, 
a primeira vez que fos-
sem presos, se depois 
de soltos tornassem 
outra vez a ser presos 
pelos semelhantes 
casos, que qualquer 
degredo que lhe hou-
vesse de ser dado fosse 
para o Brasil.” (Alvará de 
06/05/1536)
46
UAB/Unimontes - 2º Período
3.3 Organização administrativa 
da colônia e a efetiva 
colonização do Brasil
Após 1530, o governo português atuou de modo definitivo na montagem do seu sistema de 
exploração sistemática dessas terras. Mas, por que somente trinta anos depois? Certamente você 
já sabe: houve o declínio do comércio de especiarias, temor português de perder a colônia bra-
sileira dada a incursão de europeus de outras nacionalidades no litoral brasileiro, houve a com-
preensão de que as feitorias não seriam suficientes para garantir a posse do território e, por fim, a 
descoberta de enormes minas no eixo México e Peru pelos espanhóis. 
Já que as feitorias não funcionaram a contento, o que fazer? Portugal vai instituir o sistema 
de capitanias hereditárias e o governo geral. Esses dois sistemas terão mais sucesso no processo 
de consolidar a colonização brasileira. Vamos entender melhor como esses sistemas administrati-
vos funcionaram?
a) As capitanias hereditárias
Na primeira metade do século XVI, 
os lusitanos tinham D. João III como rei, 
e este, diante do que já falamos anterior-
mente, determinou uma ocupação mais 
rápida do território, bem como a definiti-
va colonização do Brasil. 
Martim Afonso de Souza, sob ordem 
régia, organizou uma expedição (1530-
33) que daria início ao processo de co-
lonização. Esta expedição era composta 
por cinco navios e mais de 400 homens, 
que logo entraram em confronto com 
os franceses e alguns aliados indígenas 
seus. Após vencer esse confronto, Martin 
Afonso aportará na Bahia, onde encon-
trará Diogo Álvares Correia e, quando 
esteve no litoral sul, encontrará com João 
Ramalho (já citado), ambos portugueses 
que viviam entre os índios brasileiros e 
conheciam melhor o território. Isso facili-
tou a colonização. 
Entretanto, o sistema político na colônia tinha que ser descentralizado, a exemplo da expe-
riência dos portugueses em suas colônias africanas, será instituído o sistema de capitanias here-
ditárias ou donatarias. 
Sabemos até agora que esse sistema é descentralizado. Mas, como ele funciona?
O território brasileiro foi dividido em faixas de terra no litoral, as quais foram entregues a 
particulares com o objetivo de que eles a explorassem com seus próprios recursos. Em geral es-
sas pessoas eram membros de uma pequena nobreza que recebia vários direitos e privilégios, 
devendo distribuir sesmarias (lotes de terra), as quais só poderiam ser doadas aos católicos. Essa 
ação era estratégica para acelerar a colonização do Brasil. Também, era estipulado o prazo de cin-
co anos para que se desenvolvesse a terra. A prática de “sesmaria” já era conhecida dos portugue-
ses, como se observa:
Entre os poderes mais importantes dos nobres proprietários, e o principal meio 
de estimular a colonização, estava o direito de distribuir sesmarias, ou conces-
sões de terra. Em Portugal, durante a Idade Média, as terras devolutas e as cap-
turadas dos Mouros haviam sido distribuídas pela coroa por meio de sesmarias. 
A coroa costumava nomear uma pessoa para distribuir as terras, e os que as 
recebiam eram obrigadosa cultivá-las e melhorá-las. (...) Mas havia aqui um pa-
radoxo curioso. Enquanto as sesmarias em Portugal criaram uma classe de pe-
GLOSSÁRiO
Capitania: Divisões do 
território em parcelas 
que são entregues a 
capitães donatários 
que ficam responsáveis 
pelo seu povoamento e 
exploração econômica.
Carta de Foral: Docu-
mento em que o rei e 
grandes senhores con-
cedem certa autonomia 
a uma comunidade e 
onde se estabelecem os 
seus direitos e obriga-
ções.
Bolinar: Navegar utili-
zando ventos contrá-
rios. A bolina é um cabo 
que serve para colocar 
a vela numa posição 
oblíqua, de modo a que 
esta receba melhor o 
vento de lado.
Monopólio: Privilégio 
de ter, em exclusivo, 
os direitos sobre a 
comercialização de um 
produto.
PARA SABeR MAiS
Observe a figura 
demonstrativa das 
capitanias hereditárias 
no Brasil. 
Figura 37: Capitanias 
hereditárias.
Fonte: Disponível em 
http://segundofsl.wor-
dpress.com/2011/03/11/
historiaplinio-capitanias-
-hereditarias/ acesso em 
30/11/2013.
►
47
História - História do Brasil Colônia I
quenos arrendatários de terras e camponeses, no Brasil, onde a terra disponível 
era aparentemente infinita, as sesmarias costumavam ser enormes, e, a longo 
prazo, resultaram num sistema de grande propriedade. Os regulamentos que 
rezavam que só era permitido conceder a quantidade de terra que pudesse ser 
usada foram ignoradas, e no final do século XVII algumas famílias no Brasil pos-
suíam sesmarias que, juntas, eram maiores que províncias inteiras de Portugal. 
(LOCKHART, J e SCHWARTZ, S. 2002, p. 22) 
Juridicamente, as relações entre o estado, os donatários e os sesmeiros eram determinadas 
pela carta de doação e pelo foral. É válido ressaltar que os resultados satisfatórios obtidos por 
Portugal com o sistema de donatarias nas ilhas africanas não se fez presente na América portu-
guesa (com exceção de São Vicente e Pernambuco), pois diante da distância e outras dificulda-
des muitos donatários não chegaram nem a vir para o Brasil assumir suas terras. Também, deve-
mos destacar que no caso das donatarias, o donatário recebia da coroa portuguesa o usufruto 
das terras e não sua posse, mas mesmo assim muitos donatários utilizavam suas capitanias como 
propriedade particular, não se submetendo a autoridade de representante da coroa portuguesa 
nas capitanias que eram patrimônio do estado, logo o público acabava misturando-se com o pri-
vado, o que também ocorria com frequência na metrópole.
b) O governo geral (1548-1549)
O sistema de Governo Geral será instituído no Brasil a partir do regimento de 1548, consi-
derando que o sistema anterior descentralizado não deu certo no Brasil. Logo, o governo geral 
terá a centralização administrativa como marca e, esperava-se, com capacidade de resolver al-
guns problemas que preocupavam Portugal, a saber: o Brasil continuava vulnerável a invasões; 
as operações guarda-costas também não deram certo e o comércio com as índias declinava ver-
tiginosamente. Entretanto, as capitanias hereditárias não serão extintas, antes pelo contrário, o 
governo geral estaria incumbido de prover apoio e coordenação às capitanias. Segundo Celso 
Furtado, Portugal não conseguiria manter uma colônia tão grande por muito tempo protegida, 
para isso, o esforço teria que ser de monta. (FURTADO, 1961, p.56).
A capitania da Bahia de Todos os Santos será escolhida para sediar o Governo-Geral em 1549, 
fundando então a cidade de Salvador, a qual ficou sendo a primeira capitania real (administrada 
diretamente por um funcionário do Estado Real Português). À medida que essa ação foi expandin-
do para outras capitanias, observaremos que o processo de centralização do poder na colônia foi 
se estruturando cada vez mais rápido.
A estrutura do Governo-Geral era:
- GOVeRnADOR GeRAL (representante direto da coroa: Tomé de Souza, Duarte da Costa 
e Mem de Sá. Suas funções eram: efetivar uma minuciosa fiscalização nas capitanias, estimular 
a fundação de engenhos e vilas, controlar as relações com os índios e incentivar a catequese. É 
bom que se perceba a superioridade do poder dos governadores em relação aos donatários, pois 
os primeiros eram representantes diretos com a coroa em um novo contexto, apresentando as-
sim atribuições mais detalhadas). Era auxiliado pelo:
OUVIDOR-MOR 
(auxiliava o governador geral em matéria de justiça)
PROVEDOR-MOR
(responsável pela cobrança de impostos e provimento dos cargos)
CAPITÃO-MOR DAS COSTAS
(responsável pela defesa da América Portuguesa)
É preciso ressaltar aqui a atuação das Câmaras Municipais. Esses eram órgãos básicos para a 
administração colonial, pois tinham as funções de: 
•	 administração municipal, regulamentação das feiras e dos mercados;
•	 obras públicas: estradas, pontes e calçada;
•	 regulamento dos ofícios e do comércio;
•	 abastecimento de gêneros e cultura da terra.
A Câmara funcionava, ainda, como um tribunal de primeira instância, particularmente para 
o cível, com direito de apelação ao ouvidor ou ao Tribunal da Relação. Sobre o poder das câma-
ras municipais (apesar do exagero nos termos utilizados, como incontestável), ainda assim vale a 
pena ver o fragmento do texto de Caio Prado Jr. 
GLOSSÁRiO
Normas básicas que 
regem o ofício dos 
ouvidores em Portugal, 
século XV
Lex Romana Wisi-
gothorum: direito 
comum dos povos 
germânicos;
Privilégios: direitos 
assegurados aos nobres 
pelos reis;
Forais: leis particulares 
locais, asseguradas 
pelos reis.
Com a expansão do rei-
no pela reconquista do 
território da península 
ibérica aos mouros, e 
a uniformização das 
normas legais, consoli-
dadas nas Ordenações 
do Reino (Afonsinas 
de 1480, Manoelinas 
de 1520 e Filipinas de 
1603), foram surgindo 
outras figuras para 
exercerem a função 
judicante e aplicarem 
as diversas formas 
normativas:
Juízes da terra (ou juí-
zes ordinários): eleitos 
pela comunidade, não 
sendo letrados, que 
apreciavam as causas 
em que se aplicavam os 
forais, isto é, o direito 
local (2 por cidade).
Juízes de fora: (figura 
criada em 1352) nome-
ados pelo rei dentre 
bacharéis letrados, com 
a finalidade de serem 
o suporte do rei nas 
localidades, garantindo 
a aplicação das ordena-
ções gerais do Reino.
Juízes de órfãos: com 
a função de serem 
guardiões dos órfãos e 
das heranças, solucio-
nando as questões su-
cessórias a eles ligados.
Adaptado de 
Fonte: MARTINS FILHO, 
Ives Gandra da Silva. 
Evolução histórica da 
estrutura judiciária 
brasileira. In: Revista 
Jurídica. Brasília, vol. 1, 
n. 5, setembro, 1999.
48
UAB/Unimontes - 2º Período
o poder das câmaras é, pois, o dos proprietários.E seu raio de ação é grande, 
muito maior que o estabelecido nas leis. Vemos as câmaras fixarem salários e 
os preços das mercadorias; regularem o curso e o preço das moedas: proporem 
e recusarem tributos reais; organizarem expedições contra o gentio e com ele 
celebrarem pazes, tratarem da ereção de arraiais e povoações proverem sobre 
o comércio, a indústria e a administração pública em geral, chegam a suspen-
der governadores e capitães, nomeando-lhes substitutos e prender e por a 
ferro funcionários e delegados régios. Algumas câmaras mantinham até repre-
sentantes efetivos em Lisboa, tratando assim diretamente com o governo me-
tropolitano, por cima da autoridade dos seus delegados no Brasil. Por isso, não 
admira que a câmara de São Luiz do Maranhão, apenas instalada, se dirija ao rei 
pedindo ativamente que os capitães-mores, dali em diante, não dessem mais 
terras, e não se metessem em coisa alguma da competência exclusiva da auto-
ridade municipal”. Dentro das normas da administração colonial neste primei-
ro século e meio de descobrimento, nada sobrepor-se ao poder incontrastável 
das Câmaras. (PRADO JR., 1988, p. 30-1)
3.4 Organização judiciária 
brasileiracolonial
Você já se perguntou a respeito da maneira pela qual a justiça brasileira se processou no pe-
ríodo colonial? Certamente sim. Entretanto, talvez você não tivesse percebido que a organização 
judiciária brasileira ainda guarda alguns aspectos semelhantes desse período colonial. Vamos 
compreender tal processo, analisando a estrutura judiciária portuguesa no século XV e a justiça 
brasileira nos séculos XVI e XVII. Esperamos que tais informações contribuam com pesquisas re-
gionais que vocês vierem a realizar, envolvendo documentos jurídicos como fonte histórica. Op-
tamos por demonstrar para você, nesse momento, alguns dados mais estruturantes dessa orga-
nização judiciária brasileira.
Observe que a justiça é prerrogativa do Rei. Portugal se estruturou judicialmente de manei-
ra hierárquica, subordinando ao rei a Casa de Suplicação (tribunal de apelação), a qual terá duas 
mesas fundamentais, uma cível e outra criminal, respectivamente a Mesa de Consciência e Or-
dens e o Desembargo do Paço. Para as colônias, a Casa de Suplicação era a Corte Suprema em 
Portugal, nessa medida, órgão máximo de apelação e também órgão que realizava a interpreta-
ção da lei portuguesa, auxiliados pelos Tribunais de Relação.
Dissemos anteriormente que a institucionalização do governo geral na América Portuguesa 
foi marco de efetivação na colonização brasileira. Podemos afirmar o mesmo para a organização 
judiciária, pois será Tomé de Souza o responsável em estruturar nessas terras portuguesas a ad-
ministração da justiça. Segundo o estudo de Martins Filho, 
Figura 38: Justiça 
Portuguesa
Fonte: MARTINS FILHO, 
1999.
►
GLOSSÁRiO
Normas básicas que 
regem o ofício dos 
ouvidores em Portugal, 
século XV (continua-
ção)
Provedores: colocados 
acima dos juízes de 
órfãos, para o cuida-
do geral dos órfãos, 
instituições de caridade 
(hospitais e irmanda-
des) e legitimação de 
testamentos (feitos, 
naquela época, verbal-
mente, o que gerava 
muitos problemas). 
Corregedores: no-
meados pelo rei, com 
função primordialmen-
te investigatória e re-
cursal, inspecionando, 
em visitas às cidades e 
vilas que integravam 
sua comarca, como se 
dava a administração 
da Justiça, julgando as 
causas em que os pró-
prios juízes estivessem 
implicados.
Desembargadores: 
magistrados de 2ª ins-
tância que apreciavam 
as apelações e os recur-
sos de suplicação (para 
obter a clemência real). 
Recebiam tal nome 
porque despachavam 
(“desembargavam”) 
diretamente com o rei 
as petições formuladas 
pelos particulares em 
questões de graça e de 
justiça, preparando e 
executando as decisões 
régias. Aos poucos, os 
reis foram lhes confe-
rindo autoridade para 
tomar, em seu nome, 
as decisões sobre tais 
matérias, passando a 
constituir o Desembar-
go do Paço.
Adaptado de 
Fonte: MARTINS FILHO, 
Ives Gandra da Silva. 
Evolução histórica da 
estrutura judiciária 
brasileira. In: Revista 
Jurídica. Brasília, vol. 1, 
n. 5, setembro, 1999.
49
História - História do Brasil Colônia I
BOX 3
A administração da Justiça, no Brasil, fazia-se através do Ouvidor Geral, que ficava na 
Bahia, ao qual se poderia recorrer das decisões dos ouvidores das comarcas, em cada capitania, 
que cuidavam da solução das contendas jurídicas nas vilas. Como, no entanto, as funções judi-
ciais eram, nesses primórdios, confundidas com as funções administrativas e policiais, temos 
também exercendo atividades jurisdicionais nas comarcas, durante o período colonial, os chan-
celeres, contadores e vereadores que compunham os Conselhos ou Câmaras Municipais. As fi-
guras dos corregedores, provedores, juízes ordinários e juízes de fora, próprios da Justiça Por-
tuguesa, começaram a aparecer no Brasil, na medida em que a colonização foi se ampliando, 
exigindo uma estrutura burocrática e administrativa mais sofisticada (MARTINS FILHO, 1999)
Fonte: Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_05/Revista_5.htm acessado em 30/11/2013.
Interessante observar que, durante o período de 1644 a 1713, na Bahia, surgiu a figura dos 
juízes do povo, os quais eram eleitos pela população local. Outra figura com jurisdição restrita 
era a dos almotacés, que julgavam as causas relativas a obras e construções, cabendo de sua de-
cisão recurso para os ouvidores da comarca (extintos por Lei de 26 de agosto de 1830). Em cada 
comarca existia o corregedor, ouvidor e juízes. Observe o diagrama.
No século XVII estará em pleno funcionamento a Relação da Bahia, órgão criado no período 
da União Ibérica (1580 e 1640), visando congregar colegiadamente os interesses dos governa-
dores-gerais, entretanto, esses não ficaram satisfeitos com tal decisão. Aliados dos governadores 
nessa insatisfação foram os donatários de capitanias. Tudo isso porque ambos viram seus pode-
res regionais ameaçados pelos ouvidores. 
O desenvolvimento de uma noção de “viver em colônia” vai ganhando cada vez mais espa-
ço no desejo e na consciência dos homens que aqui viveram. A título de ilustração, destacamos 
apenas que outros tribunais foram criados, como o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro (1734, 
instalado apenas em 1751), a junta de Justiça do Pará (1758), entre outros. Observe o diagrama e 
busque o glossário. 
A partir da vinda da corte portuguesa para o Brasil, diversas alterações irão ocorrer. Entre-
tanto, essa é outra história a ser tratada mais adiante no curso de vocês. 
GLOSSÁRiO
A partir do século XVII, 
começam a funcionar 
no Brasil tribunais e 
juizados especializa-
dos, concedendo-se 
privilégio de foro para 
determinadas matérias 
e pessoas:
Juntas Militares e 
Conselhos de Guerra: 
para julgar os crimes 
militares e crimes 
conexos;
Juntas da Fazen-
da: para apreciar as 
questões alfandegárias, 
tributárias e fiscais;
Juntas do Comér-
cio: para apreciar as 
questões econômicas, 
envolvendo também a 
agricultura, navegação, 
indústria e comércio.
Veja a função dos 
órgãos judiciários 
brasileiros no final do 
período colonial:
Juiz de Vintena: Juiz 
de paz para os luga-
res com mais de 20 
famílias, decidindo 
verbalmente peque-
nas causas cíveis, sem 
direito a apelação ou 
agravo (nomeado por 
um ano pela Câmara 
Municipal). 
Juiz Ordinário: Eleito 
na localidade, para as 
causas comuns.
Juiz de Fora: Nomeado 
pelo rei, para garantir a 
aplicação das leis gerais 
(substituía o ouvidor da 
comarca).
Adaptado de MARTINS 
FILHO, Ives Gandra da 
Silva. Evolução histórica 
da estrutura judiciária 
brasileira. In: Revista 
Jurídica. Brasília, vol. 1, 
n. 5, setembro, 1999 
FONTE: Disponível em 
http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/revis-
ta/Rev_05/Revista_5.
htm. Acessado em 
30/11/2013.
◄ Figura 39: Justiça 
Brasileira, século XVI.
Fonte: MARTINS FILHO, 
1999.
◄ Figura 40: Justiça 
Brasileira, século XVII.
Fonte: MARTINS FILHO, 
1999.
50
UAB/Unimontes - 2º Período
3.5 Trabalho: índios e portugueses 
nas relações com o pau-brasil 
O homem branco se apresentou no imaginário dos indígenas Timbiras, do grupo Jê, que ha-
bitavam o sul do Maranhão e o Norte de Goiás de maneira interessante, a ponto de ser criada a 
lenda de Aukê. Vejamos.
Antigamente, não havia civilizados, mas apenas índios. Uma mulher indígena 
ficou grávida. Toda vez que ela ia tomar banho no ribeirão próximo da aldeia, 
seu filho, que ainda não havia nascido, saia de seu ventre e se transformava em 
animais, brincando à beira da água. Depois voltava outra vez ao ventre mater-
no. A mãe não dizia nada a ninguém. Um dia o menino nasceu. Era Aukê. Ain-
da recém-nascido, transformava-se em rapaz, em homem adulto, em velho. Os 
habitantes das aldeias temiam os poderes sobrenaturais de Aukê e, de acordo 
com seu avô materno, resolveram matá-lo. As primeiras tentativas de liquidá-lo 
não tiveram sucesso. Uma vez, por exemplo,o avô o levou ao alto de um morro 
e empurrou-o de lá no abismo. O menino, porém, virou folha seca, e foi caindo 
devagarzinho, voltando são e salvo para a aldeia até que o avô resolveu fazer 
uma grande fogueira e nela atirá-lo. Dias depois, quando foi ao local do assas-
sinato para recolher as cinzas do menino, achou lá uma casa grande de fazen-
da, com bois e outros animais domésticos: Aukê não havia morrido, mas sim 
transformara-se no primeiro homem civilizado. Aukê ordenou, então, ao avô, 
que fosse buscar os outros habitantes da aldeia. E eles vieram. Quando Aukê os 
fez escolher entre a espingarda e o arco, os índios ficaram com medo de usar a 
primeira, preferindo o segundo. Por terem preferido o arco, os índios perma-
neceram como índios. Se tivessem escolhido a espingarda, teriam se transfor-
mado em civilizados. Aukê chorou com pena dos índios não terem escolhido a 
civilização. (MELATTI, J. C., 1994, p. 27-28.)
O mito de origem do homem branco entre os Timbiras, do grupo Jê, 
aponta para uma construção mítica que revela a mundivisão desse povo 
no tocante à sua percepção quanto ao homem branco. Percebemos no 
relato do mito de Aukê que o nativo brasileiro se percebe em transforma-
ção. Obviamente que a chegada do português provocou transformações 
radicais na vida desses povos brasileiros, fato marcante na descrição mi-
tológica. Essa percepção do mito nos aponta ainda para a não tomada de posição dos índios, 
ou seja, Aukê chorou com pena dos índios não terem escolhido a civilização. 
PARA SABeR MAiS
Observe bem a imagem 
e as perguntas que são 
feitas para o estudante 
nessa época. Discuta 
com o seu professor 
formador e colegas so-
bre o ensino de História 
no início do século.
Figura 42: Contatos do 
homem branco com 
os índios no século XX 
e XXI. 
Fonte: Disponível em 
http://www.indiosonline.
net/brasil-512-anos-de-
-guerra-contra-os-indios/. 
Acesso em 30/11/2013.
►
▲
Figura 41: Perguntas de 
História para admissão 
em escolas, 1911.
Fonte: F.T.D. História 
Universal para uso dos 
Gymmnasios. Rio de 
Janeiro: Livraria Francisco 
Alves, 1911.
51
História - História do Brasil Colônia I
Você percebeu que a escolha “imaginária” da civilização pode representar um tipo de sobre-
vivência para os índios, evitando assim a morte de muitos; todavia, pode também demonstrar a 
resistência à colonização e aos hábitos portugueses. Além de dois aspectos observáveis (aceitação 
e rejeição do modo de vida dos indígenas), a narrativa comporta uma terceira via, qual seja, a do 
processo (esse que ocorreu durante anos e não somente no período colonial) de transformação 
do modo de vida indígena (em curso) a partir do contato com o branco. A constituição de uma 
sociedade híbrida onde ocorre uma circularidade cultural ao longo do tempo será inevitável.
É importante ressaltar que nos primeiros contatos com os nativos brasileiros, os índios tra-
balhavam no corte e no carregamento do pau-brasil em troca do escambo. Já falamos disso 
anteriormente, lembra-se? Nesse contato com o branco, o indígena resistiu através do estabe-
lecimento de conflitos maiores, como é o caso da Guerra dos Tamoios ou mesmo nas guerras no 
Planalto de Piratininga. No nordeste brasileiro, por exemplo, houve a guerra dos bárbaros que 
durou até meados do século XVIII, da Bahia ao Maranhão. 
Devemos, então, considerar que os índios resistiram aos portugueses, nesse contato inicial 
- especialmente no século XVII - quando os portugueses avançam mais no processo de colo-
nização do Brasil. O professor Fragoso nos informa que a escravidão indígena acabará por ser 
regulamentada em 1570, embora se considerasse ilegal o cativeiro nativo, permanecerá lícita a 
escravização de índios capturados em guerras justas (índios hostis aos portugueses) e os índios 
resgatados (prisioneiros de guerras das tribos indígenas).
Nesses contatos, as epidemias de varíola, gripe, tuberculose, tifo e malária trazidas pelos 
portugueses foram fortes aliadas nas guerras 
contra os indígenas e contribuiu para o quase 
aniquilamento dessa população, pois a essas 
doenças os mecanismos biológicos de defesa 
dos nativos não tinham “resistência”.
Visando enriquecer o universo das rela-
ções entre os portugueses e os indígenas, sa-
bemos que estratégias outras, ao que parece, 
também foram desenvolvidas pelos indígenas. 
No processo de catequização, por exemplo, 
muitos indígenas “pareciam aprender o cristia-
nismo”; entretanto, quando voltavam para sua 
tribo, viviam tal como antes. Sabemos que os 
jesuítas reuniam os indígenas em aldeias e os 
ensinava a religião católica. Já dissemos que 
o Padre Manoel da Nóbrega chegou a pensar 
que os indígenas eram um papel em branco, 
mas perceberam que ali não se podia escrever 
à vontade não! Ronaldo Vainfas é quem lembra 
bem tal situação, assim como reafirma a dita 
DiCA
Acesso o texto 
Evolução histórica 
da Estrutura Judicial 
Brasileira e veja mais 
detalhes sobre a 
constituição de nosso 
país em
Fonte: Disponível em 
http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/
revista/Rev_05/Revis-
ta_5.htm Acesso em 
30/11/2013.
GLOSSÁRiO
Aldeamentos: Local 
onde os índios eram 
compulsoriamente 
colocados após o des-
cimento dos sertões. 
Situados em áreas pró-
ximas aos portos, cida-
des e vilas, expunham 
o indígena a todo tipo 
de epidemias, que 
juntamente com a má 
alimentação e os traba-
lhos forçados causava 
grande mortandade 
entre eles. Ao aldearem 
os indígenas, os colo-
nizadores objetivavam, 
além do trabalho de 
catequese, proteger os 
moradores dos índios 
“brabos”, impedir a fuga 
de escravos negros 
para a floresta tropical 
e manter mão-de-obra 
disponível nas proxi-
midades dos povoa-
mentos. 
◄ Figura. 43: A luta entre 
índios e portugueses 
é apresentada neste 
painel em aquarela, 
atribuído a Joaquim 
José de Miranda (XVIII). 
Fonte: FRAGOSO; FLOREN-
TINO; & FARIA, 1998, p. 35.
◄ Figura 44: P. António 
Vieira pregando aos 
índios (C. Legrand, ca. 
de 1841) A legenda 
diz: “O P.e António 
Vieira // N.1608 / 
+1697 / Os Brasis, 
largando as armas, se 
curvavão a seus pés, re-
verenciavam a imagem 
de Christo crucificado e 
na sua língua indígena 
ouvirão a voz do 
Evangelho com atenção 
//”
Fonte: Disponível em 
http://www2.crb.ucp.pt/
Biblioteca/BibliotecaDi-
gital/Historia/Main_Hist-
Portugal.htm. Acesso em 
30/11/2013.
52
UAB/Unimontes - 2º Período
santidade falsa, a que o Padre Nóbrega afirmou quando viu os índios catequizados incendiarem 
engenhos e igrejas, matar portugueses e libertar escravos. Esse autor lembra ainda da história 
da santidade de Jaguaripe, ao sul do Recôncavo Baiano, movimento liderado por um índio que 
fugiu do aldeamento de Tinharé, em Ilhéus.
Esse indígena se dizia Tamandaré, que era o nome de um antigo ancestral mítico dos Tupi-
nambás. Seu nome de batismo era Antônio. Ao fugir do aldeamento, Tamandaré dizia ser o papa, 
nomeava bispos, sagrava índios com o nome de santos e, ainda, exigia que a Igreja tivesse ritos 
híbridos, por exemplo, a cerimônia de batismo com fumaça de tabaco. (VAINFAS, 2000)
Além da conversão do gentio, os jesuítas se preocuparam muito com o ensino das crianças: 
ensinava a ler e a orar. Acreditavam que 
se as crianças fossem bem doutrinadas 
e acostumadas na virtude cristã, seriam 
firmes e constantes. Ocorreria a substi-
tuição de gerações. O regozijo era geral 
quando os meninos começavam a abo-
minar os costumes de seus pais. Assim, 
conseguiam doutrinar pela fé. Na verda-
de a ideia é a de formar uma nova cris-
tandade, através da educação.
A didática jesuítica incorporava 
castigos físicos para os que fugissem da 
escola, apostavam na memorização e 
representação, por isso é que se traba-
lhou muito com teatros e diálogos (os 
diálogos foram traduzidos para o Tupi 
com o objetivo de ensinara doutrina 
cristã). Também, as músicas os ensina-
vam a cantar (orações) e a tocar instru-
mentos, como forma de aprender os 
bons costumes. 
Os missionários viam os indígenas 
como fruto de um mesmo mundo de 
origem divina, porém degenerada. Ca-
bia a eles direcioná-los para o rumo certo da evolução humana cristã. Para tanto, deveriam aban-
donar seus vis costumes, converter-se e morrer cristãos.
A ordem jesuítica, criada por Inácio de Loyola em 1537, foi extremamente militante e atuante 
no processo colonizador. Seu papel evangelizador proporcionou um contato muito próximo com 
os indígenas, a ponto de lutarem contra a escravização dos “povos da terra”, cujo grande objeti-
vo era converter o pagão, e não procurar hereges. Bosi (1992), afirma que o Padre Antônio Viei-
ra conduzia, dialeticamente, seus discursos de modo a reconceituar valores, elevando a condição 
do trabalho a alto grau, “se havemos de tornar a nascer, porque não trabalharemos muito para 
nascermos muito honradamente?”(VIEIRA, apud BOSI, 1992, p.124). Para os jesuítas, converter o 
gentio era devolver “a deus um mundo que ele mesmo criara. Viam a natureza como algo em es-
tado bruto, elemento passivo da criação à espera de ser lapidado pelos soldados de Cristo, que 
traziam, em sua mensagem, a civilização. (...) O índio se achava tão próximo de deus por se achar 
próximo da natureza”. 
(LOPEZ,1994, p.29)
PARA SABeR MAiS
Na segunda metade do 
século XVI, as guerras 
alimentavam um mer-
cado de cativos cada 
vez mais amplo. Isso 
explica, por exemplo, 
porque na Bahia, entre 
1572 e 1575 o escra-
vo indígena custava 
em média 7$000 réis, 
contra 20$000 réis do 
escravo africano (FRA-
GOSO. 1998, p.36) 
Figura 47: Detalhe do 
mapa da Comarca de 
Villa Rica. Destaque 
para a ilustração do 
indígena no mapa.
Fonte: Jornal Estado de 
Minas, Domingo, 29 de 
maio de 2005. O Estado 
que nasceu do ouro. Fl.3. 
Fotos: Emmanuel Pinhei-
ro e Beto Novaes. Editor 
de Artes Gráficas: Álvaro 
Duarte.
►
PARA SABeR MAiS
 “São tão grandes as 
riquezas deste novo 
mundo e da mesma 
maneira sua fertilidade 
e abundância, que não 
sei por qual das coisas 
comece primeiramente; 
mas [...] de todas estas 
coisas o principal nervo 
e substância da riqueza 
da terra é a lavoura dos 
açúcares. “
Ambrósio Fernandes 
Brandão (1618)
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br/bibliote-
ca/brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm. Acesso 
em 30/11/2013.
Figura 45: Desenho das 
habitações dos Guaná/
Cuiabá.
Fonte: Taunay, 1864.
Figura 46: Moinho 
colonial.
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br/bibliote-
ca/brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm. Acesso 
30/11/2013.
53
História - História do Brasil Colônia I
A prática jesuítica para a conversão dos indígenas levou esses missionários a apresentarem 
uma contradição própria do processo colonizador e da Igreja colonial: como poderia uma insti-
tuição, que vivia dentro do Estado monárquico e à custa dos excedentes deste, desenvolver um 
projeto social coeso à revelia das forças que dominavam esse mesmo sistema? Bosi se coloca 
essa pergunta e chega à seguinte conclusão: ou os jesuítas escolhiam o compromisso ou a resis-
tência, ambos desfavoráveis a eles, pois o primeiro levaria a uma exploração maior dos índios, e 
isso os jesuítas não aceitavam, a segunda opção poderia levar à sua expulsão.
Enfim, vale ressaltar que os jesuítas combateram fortemente a escravização indígena, mas 
não atuaram com a mesma eficiência contra a escravidão negra. Por um lado, isto denuncia uma 
estreita ligação dos jesuítas com o sistema colonial e, por outro, representa a própria liberação 
do indígena. No século XVIII, ocorrerá decadência do jesuitismo, até que em 1773 perde força e 
chega a ser extinta temporariamente. 
Vale ressaltar que Alencastro (2000), acredita que o caráter mercantilista da colonização e 
a lógica de evangelização não excluíam o caráter mercantilista do esforço de colonização; pelo 
contrário, justificava a compatibilidade entre escravidão e catolicismo.
3.6 A exploração econômica do 
açúcar 
O processo colonizador no Brasil passou por um momento importante, qual seja fortalecer 
os interesses comerciais dos portugueses incentivando a produção em larga escala e, é claro, cul-
tivando um produto que tivesse boa aceitação no mercado internacional. Você já se perguntou o 
que foi necessário fazer para montar esse sistema produtivo?
A montagem de uma indústria açucareira exigia, à época, um investimento de alto risco, o 
que era extremamente dispendioso tanto para a coroa quanto para os senhores que arriscaram 
tais investimentos. Mas, como se deu exatamente a montagem desse sistema? 
A base da produção era o latifúndio monocultor e agroexportador (plantation) e o traba-
lho compulsório do indígena (o qual trabalhou até meados do século XVI, sendo majoritário nas 
plantações do nordeste) e do escravo africano, através do tráfico negreiro (essa mão-de-obra, 
aliada às dificuldades de aproveitamento da mão-de-obra indígena local, impuseram a escra-
vidão africana como a relação de trabalho dominante). Em linhas bem gerais, podemos afirmar 
que as características do sistema colonial brasileiro foram:
•	 Economia complementar à européia;
•	 Organização da produção em larga escala e a baixo custo;
•	 Transferência de renda da América Portuguesa para Portugal (Estado e burguesia);
•	 Caráter monocultor;
•	 Proibição de manufaturas na América Portuguesa;
•	 Única via para compra e venda de produtos: a burguesia comercial portuguesa.
Sobre a concepção das terras, orientação sobre seu uso e aviso aos interessados em montar 
um engenho, Antonil advertiu que 
as terras boas ou más são o fundamento principal para ter um engenho real 
bom ou mau rendimento. As que chamam massapés, terras negras e fortes, são 
as mais excelentes para a planta das canas. Seguem-se, atrás destas, os salões, 
terra vermelha, capaz de poucos cortes, porque logo enfraquece. As areíscas, 
que são uma mistura de areia e salões servem para mandioca e legumes, mas 
não para cana. E o mesmo digo das terras brancas, que chamam terras de areia, 
como as do Camamu e da Sambara.
A terra que se escolhe para o pasto ao redor do engenho ‘há de ter água e há 
de ser cercada, ou com plantas vivas, como são as de pinhões, ou com estacas 
e varas do mato. (...). O pasto se há de conservar limpo, de outras ervas, que 
matam a grama, e no tempo do inverno se hão de botar fora dele os porcos, 
porque o destroem fossando.(...) 
Contudo, de ter ou não ter o senhor do engenho cabedal e gente, feitores fiéis 
e de experiência, bois e bestas, barcos e carros, depende o menear e governar 
bem ou mal o seu engenho.
E, se não tiver gente para trabalhar e beneficiar as terras a seu tempo, será o 
PARA SABeR MAiS
Expansão bandeirante
A bandeira é uma 
expedição guerreira de 
centenas e até milha-
res de homens: a de 
Manoel Preto, Raposo 
Tavares e outros (1629) 
conta 69 bandeiran-
tes, 900 mamelucos, 2 
mil índios flecheiros. 
Algumas mobilizam 
a maioria da vila, de 
crianças a velhos, 
às vezes, mulheres. 
Varam o sertão durante 
alguns meses ou anos. 
Percorrem, quase 
sempre a pé, até 12 mil 
km (Raposo Tavares, 
1648-54, chega ao Peru 
e ao Amazonas). As 
mais demoradas pa-
ram, erguem ranchos, 
plantam roças, colhem 
e seguem adiante; ou 
acampam um mês a 
margem de um rio para 
escavar canoas.
A caça ao índio (apre-
amento) é a atividade 
bandeirante típica. Vem 
dos primeiros anos da 
ocupação e predo-
mina nas bandeiras 
do século XVI-XVII. 
Embora pouco lucrativa 
(rende 1% do açúcar), 
é o modo de vida dos 
paulistas.
Teoricamente ilegal e 
pecaminosa, ela é justi-
ficada e até louvada...
Domingos Jorge Velho, 
em carta ao rei (1694)
os paulistas vão adqui-
rir o tapuiagentio-bra-
bo e comedor de carne 
humana para o reduzir 
para o conhecimento 
da urbana humanidade 
e da humana socieda-
de... (zomba dos jesu-
ítas) em vão trabalha 
quem os quer anjos 
antes de fazer homem.
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br/bibliote-
ca/brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm. Acesso 
em 30/11/2013.
54
UAB/Unimontes - 2º Período
mesmo que ter mato bravo com pouco ou nenhum rendimento, assim como 
não basta para a vida política ter dom natural, se não houver mestre que com o 
ensino trate de o aperfeiçoar, ajudando-o (ANTONIL, 2007, p. 173).
O “mundo do açúcar” em sua grande produção, característica da empresa de colonização, 
e, ainda, como base de sustento da economia brasileira, nessa medida, durou por cerca de um 
século e meio. A sociedade brasileira descrita por Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala dizia 
respeito à sociedade construída - especialmente a família - no nordeste do Brasil. Sabemos, hoje, 
que as características, principalmente da família, descritas por Freyre, não podem ser pensadas 
como a família brasileira como um todo, e sim a nordestina. 
O grande engenho era unidade produtiva privilegiada nessa sociedade. O senhor de enge-
nho compunha um segmento social dos “homens bons”, os quais tinham poder político e econô-
mico. Entretanto, por mais poderosos que fossem, os senhores estavam presos a um sistema, o 
sistema colonial; logo, à economia administrativa da metrópole portuguesa. A Holanda era país 
responsável pelo refino e distribuição do açúcar na Europa, enquanto que a Portugal cabia a pro-
dução, a qual era feita pelos senhores de engenho.
Você já deve ter percebido que Portugal aparece como uma intermediária? Os Holandeses, vi-
sando retirar essa condição de intermediários, ampliar os seus lucros, acabar com os entraves pos-
tos pela União Ibérica (1580-1640), desejosos de controlar todo o processo de produção do açúcar, 
bem como ampliar seus ganhos, invadem o nordeste brasileiro de 1630-1654. Foi nesse período 
que o Brasil passa a ser o maior produtor de açúcar no mundo e alcança grande rentabilidade. 
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
ANTONIL, Cultura e opulência do Brasil. 1711. São Paulo, Edusp, 2007.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.
BOTELHO, Ângela Vianna & REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e império. 
Belo Horizonte: o autor, 2001.
FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo & FARIA, Sheila de Castro. A economia colonial brasilei-
ra: séculos XVI-XIX. (Discutindo a História do Brasil). 4. ed. São Paulo: Atual, 1998. 
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. 
FURTADO, Junia Ferreira. Cultura e Sociedade no Brasil Colônia. São Paulo: Atual, 2000. (Discu-
tindo a História do Brasil). 
LOCKHART, James e SCHWARTZ, Stuart. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Ci-
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LOPEZ, Luiz Roberto. Cultura Brasileira: das origens a 1808. 2. ed. Porto Alegre: Editora da Uni-
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MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. evolução histórica da estrutura judiciária brasileira. In: 
Revista Jurídica. Brasília, vol. 1, n. 5, setembro, 1999. 
MELATTI, J. C. Índios do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1994.
NOVAIS, Fernando. Condições de privacidade na colônia. In: NOVAIS (dir) & SOUZA (org). História 
da Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América Portuguesa. (História da Vida 
Privada no Brasil; 1) São Paulo: Cia das Letras, 1997 
PRADO JUNIOR, Cáio. História econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. 
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
STADEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil. Belo Horizonte-São Paulo: Itatiaia-Edusp, 1974.
PARA SABeR MAiS
O gado e a expansão 
para o sertão.
(...) Para Roberto 
Simonsen, quatro 
foram os instrumentos 
econômicos que ampa-
raram a expansão para 
o interior: a criação de 
gado, como “retaguar-
da econômica das 
zonas de engenho e, 
mais tarde, em decidi-
do apoio à mineração”; 
a caça ao índio, como 
suprimento de mão-
-de-obra em face do 
comércio africano em 
declínio, em meados do 
século XVII; e a busca 
de especiarias e drogas 
do sertão.
Entretanto, o elemento 
mais importante nesta 
fase, foi o gado e sua 
expansão através de 
currais, na luta pela 
vida e morte contra 
o primeiro ocupante 
da terra, desfazendo o 
mito da boa convivên-
cia dos índios com os 
currais (...)
Francisco Carlos Teixei-
ra da Silva. Conquista e 
colonização da América 
Portuguesa
Fonte: Disponível em 
http://www.cliohistoria.
hpg.ig.com.br/bibliote-
ca/brasil/hb_colonia/
hb_colonia.htm. Acesso 
em 30/11/2013.
55
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 4
Organização social e econômica 
da colônia: trabalho escravo, 
produção colonial e cultura
Alysson Luiz Freitas de Jesus
4.1 Introdução
“As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não falar 
em causas, mas em um conjunto de fatores. A escravização do índio chocou-
-se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os fins da colonização. 
Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo e regular 
e mais ainda compulsório, como pretendido pelos europeus. Não eram vadios 
ou preguiçosos. Apenas faziam o necessário para garantir sua subsistência. Se-
ria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram à escravidão, os ne-
gros a aceitaram passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões con-
tra senhores, resistência cotidiana fizeram parte das relações entre senhores e 
escravos, desde os primeiros tempos.” (FAUSTO, 2002, p.52).
A escravidão do negro no Brasil é um dos temas de maior debate entre os historiadores. 
Você sabia que no caso brasileiro o negro foi escravizado por mais de três séculos? Você sabia da 
importância desses mesmos negros para a formação cultural e política do Brasil? E o mais impor-
tante: você sabia que boa parte das nossas atuais relações sociais e econômicas de trabalho têm 
resquícios na nossa relação escravista?
Você terá notado que as questões acima não são de simples resposta. Muitos de nós não 
conseguimos estabelecer uma relação clara entre a escravidão negra colonial e as relações raciais 
e sociais de pobreza no país. Você tem consciência dessa relação? É para isso que compreende-
remos um pouco do nosso passado escravista, por meio do estudo da cultura e das relações de 
trabalho coloniais.
▲ ▲
Figura 48: Johann Moritz Rugendas. O cotidiano escravista colonial
Fonte: Disponível em http://www.exposicaomulheresreais.com/voceSa-
bia_modos.htm Acesso em 15/07/2009
Figura 49: O cotidiano de crianças em trabalho pesado
Fonte: Disponível em http://www.estadao.com.br/fotos/carvoarias.jpg
Acesso em 15/07/2009
56
UAB/Unimontes - 2º Período
Essa unidade está dividida nos seguintes tópicos 
A Escravidão Negra no Brasil: teoria e prática
Gilberto Freyre: cultura escrava, cultura africana
Cotidiano escravista na colônia: o mundo rural, o mundo urbano e as atividades econômicas
Cotidiano escravista: escravos, ex-escravos e a liberdade
4.2 A escravidão negra no Brasil: 
teoria e prática
A maneira como foi introduzido o braço do negro na economia brasileira deve ser explicada. 
Não se trata de excluirmos uma possível utilização do indígena porque este era indomesticável, 
ou mesmo porque era preguiçoso e não se adequava ao duro trabalho praticado pelos negros. 
Esta visão é como se afirmássemos que alguns grupos estariam aptos a ser escravizados, sendo 
esse o argumento utilizado pela máquina portuguesa para colocar o negro africano em situação 
inferior aos demais homens. A Igreja forneceu grande suporte nesse contexto, afinal foi uma das 
grandesresponsáveis por classificar o negro como figura inferior e, portanto, apto a ser utilizado 
como escravo em diversas regiões do mundo, e não apenas no caso do Brasil. 
Colocando essa visão por terra, podemos notar que a maior e mais aceita justificativa para 
introduzir o trabalho negro no Brasil é a questão dos lucros com o tráfico negreiro. 
Na África os negros eram negociados em troca de aguardente de cana, rolos 
de fumo, tecidos, facões, espelhos, guizos, etc. Depois de serem marcados com 
ferro em brasa, eram acorrentados e levados até os presídios da costa africa-
na, onde aguardavam os navios negreiros. (...) Chegando ao Brasil eram vendi-
dos nos mercados da Bahia, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Maranhão, 
onde eram aproveitados na lavoura, na pecuária, na mineração ou nos traba-
lhos domésticos (PINSKY, 1981, p. 78).
Sendo assim, a escolha do braço escravo negro não foi aleatória ou negligente. Dentro da 
lógica do sistema colonial, nada mais natural que a mão-de-obra escolhida também represente 
importante acumulo de capital. A escolha do africano seria fundamental nesse processo.
A África, principal fornecedora dos escravos no mundo moderno, tinha sua organização pró-
pria antes da chegada dos europeus. A colonização levou à configuração de uma África cada vez 
mais voltada para o tráfico, como se pode ver pela crescente importância das regiões africanas 
na área ocidental, o que se convencionou chamar de “África Atlântica”.
PARA SABeR MAiS
O Brasil não foi o 
único país moderno a 
utilizar-se da escravi-
dão negra. Inglaterra, 
França, Estados Unidos 
são outros exemplos de 
enorme importância. 
Figura 50: Johann 
Moritz Rugendas. O 
tráfico negreiro
Fonte: Disponível em 
http://www.materias-
-neltonlandia.blogspot.
com/2007/03/civilizao-
-do-acar.html Acesso em 
15/07/2009
►
57
História - História do Brasil Colônia I
Inúmeros historiadores se dedicaram a estudar o tema Escravidão. Entre os vários temas 
abordados, três deles merecem destaque: a violência, a resistência e a cultura africana no Brasil. 
Nesse tópico, abordaremos os dois primeiros temas, permitindo um tópico específico para a ter-
ceira temática.
A violência foi, com certeza, uma importante característica do sistema escravista colonial. Na 
verdade, é importante ressaltar que a violência permeia praticamente todas as relações sociais 
e políticas, não sendo atributo específico da escravidão. Mesmo assim, cabe salientar como se 
deram tais relações de violência no sistema. Os castigos físicos, as relações de maus-tratos, e a 
DiCA
Pesquise um pouco da 
história de algumas das 
regiões fornecedoras 
de escravos negros 
para o Brasil. 
Destaque especialmen-
te as regiões do Congo 
e de Angola, regiões de 
enorme contato com a 
colônia entre os séculos 
XV e XIX.
◄ Figura 51: A África 
(destaque para a 
região ocidental)
Fonte: Disponível 
em http://www.
rogeliocasado.blogspot.
com/2008_08_01_archi-
ve Acesso em 15/07/2009
DiCA
Pesquise a biografia de 
alguns dos jesuítas e 
padres mais famosos 
do Brasil Colônia, como 
o padre André João An-
tonil e o padre Antônio 
Vieira. Tal atividade vai 
auxiliá-lo na compreen-
são dos religiosos que 
contribuíram com a 
estrutura administrati-
va colonial.
◄ Figura 52: Jean-
Baptiste Debret. 
A violência na 
escravidão 
Fonte: Disponível em 
http://www.materias-
-neltonlandia.blogspot.
com/2007/03/civilizao-
-do-acar.html Acesso em 
15/07/2009
58
UAB/Unimontes - 2º Período
extenuante carga de trabalho são exemplos muito conhecidos. Segundo o padre jesuíta Antonil, 
“os negros eram as mãos e os pés dos senhores”. Tal expressão demonstra um pouco da impor-
tância do negro no mundo colonial. Dessa forma, a disciplina se apresentava como regra para o 
bom funcionamento dos engenhos e, nesse sentido, a violência era tida como fundamental para 
o bom funcionamento do cotidiano escravista.
Mesmo com toda a violência comum ao sistema, a resistência se dava em praticamente 
todo tipo de relação escravista. 
A idéia de que o negro foi sempre passivo e aceitou a escravidão “calado” deve ser relegada. 
O negro resistiu, e resistiu sob diversas formas.
Os escravos fugiam constantemente das fazendas, sozinhos ou em grupos. 
Houve inúmeros casos de assassinato de senhores, de seus familiares e de ca-
pitães-do-mato. O suicídio representava para alguns cativos a única forma de 
libertação (PINSKY, 1981, p. 78).
Percebemos, então, que várias foram as formas de resistência a que se propuseram os escra-
vos no Brasil; desde fugir e formar comunidades livres (os quilombos) até a prática criminosa dire-
ta ou indireta contra a camada senhorial. No entanto, devemos ampliar essa idéia de resistência 
da escravidão no Brasil. Existem outras formas, não menos importantes e, portanto, dignas de des-
taque. A própria convivência dos cativos com outros grupos sociais, como os homens livres po-
bres, é um exemplo, pois nota-se em determinadas circunstâncias que o escravo “negociou com 
a sociedade” um cotidiano mais brando, e um espaço maior de sociabilidade. Com isso, não nega-
mos a ideia de que a escravidão foi cruel e violenta, mas acredita-se que em algumas regiões do 
Brasil ela teve características distintas, possibilitando ao escravo diferente maneiras de agir.
PARA SABeR MAiS
Um exemplo de nego-
ciação e conflito aparece 
claramente no documen-
to transcrito a seguir, 
que contém trechos de 
um tratado proposto por 
um grupo de escravos 
rebeldes ao senhor de 
engenho de Santana de 
Ilhéus, Bahia, em 1789:
Meu senhor, nós quere-
mos paz e não queremos 
guerra: se meu senhor 
também quiser nossa 
paz há de ser nessa con-
-formidade, se quiser 
estar pelo que nós 
quisermos, a saber: 
Em cada semana nos há 
de dar os dias de sexta-
-feira e de sábado para 
trabalharmos para nós 
não tirando um destes 
dias por causa de dia 
santo. 
Para podermos viver nos 
há de dar rede, tarrafas e 
canoas. 
Os atuais feitores não os 
queremos, faça eleição 
de outros com a nossa 
aprovação. 
Poderemos plantar 
nosso arroz onde qui-
sermos e em qualquer 
brejo, sem que para 
isso peçamos licença, e 
poderemos cada um tirar 
jacarandás ou qualquer 
pau sem darmos parte 
para isso. 
A estar por todos os ar-
tigos acima, e conceder-
-nos estar sempre de 
posse da ferramenta, 
estamos prontos para o 
ser-virmos como dantes, 
porque não queremos 
seguir os maus costumes 
dos mais engenhos. 
Poderemos brincar, fol-
gar, e cantar em todos os 
tempos que quisermos 
sem que nos impeça e 
nem seja preciso licença
Fonte: Disponível em 
www.dialetico.com 
Acesso em 16/10/2013. 
Figura 53: Os negros 
no dia-a-dia da colônia 
Fonte: Disponível em 
http://www.scielo.br/scie-
lo.php?script=sci_arttext 
Acesso em 15/07/2009
►
Figura 54: Johann 
Moritz Rugendas 
Negros no cotidiano 
de uma senzala
Fonte: Disponível em 
http://www.commons.
wikimedia.org/wiki/
Category:Slavery_in_Bra-
zil. Acesso em 15/07/2009
►
59
História - História do Brasil Colônia I
No Brasil foram comuns negociações e acomodamentos nas relações entre senhores e es-
cravos. Nesses casos, não apenas as relações violentas explicavam a resistência, mas também re-
lações bem mais complexas.
Discutindo sobre a violência nas relações escravistas, Sílvia Lara acentua que classificá-la 
apenas como violenta “não explica coisa alguma, ou melhor, exprime o óbvio, com a desvanta-
gem de sermos induzidos a pensar que, nas sociedades contemporâneas, as estratégias de re-
produção das relações desiguais não são violentas” (LARA, 1988, p. 38). Para a historiadora, o con-
senso existente na relação senhor/escravo era predominante, afinal, a relação pessoal entre os 
indivíduos estava permeada por um cotidiano que permitia estratégiasora de resistência, ora de 
acomodação:
Ultrapassando a simples descrição dos castigos e a denúncia veemente da vio-
lência em termos gerais para perguntarmos pela sua especificidade, mergu-
lhamos nas vivências senhoriais e escravas da escravidão, na dinâmica de seus 
confrontos cotidianos, nas relações de luta e resistência, acomodamentos e so-
lidariedades vividos e experimentados por aqueles homens e mulheres colo-
niais (LARA, 1988, p. 21). 
O historiador Alysson Luiz Freitas de Jesus, estudando a resistência escrava em Minas Gerais, 
destaca: 
Nesse sentido, “diversidade” é o termo mais adequado para se pensar a noção 
de resistência na escravidão. Ao contrário da existência de um modelo rígido, 
ou de um “sistema” perfeitamente lógico para o escravismo, acreditamos que, 
inseridos em um mundo plural e complexo, escravos libertos e livres reinventa-
ram estratégias de sobrevivência, se adaptaram, entraram em conflito, enfim, 
lançaram mão de diversas maneiras para transformar o cotidiano em que vi-
viam. Não acreditamos que foram raros os acordos e negociações no mundo 
da escravidão [...] (JESUS, 2007, p. 58). 
Por fim, chegamos à cultura africana, tema do tópico seguinte.
4.3 Gilberto Freyre: cultura escrava, 
cultura africana
Um dos maiores intelectuais sobre a escravidão africana 
no Brasil foi Gilberto Freyre. O autor pernambucano foi respon-
sável por uma série de estudos que privilegiavam a análise cul-
tural sobre o negro, e não apenas o debate anterior que privile-
giava a questão racial. 
Durante muito tempo, as teorias raciais praticamente do-
minaram os estudos sobre o negro e o escravo no Brasil. Utili-
zando-se de princípios teóricos do final do século XIX – todos 
advindo da Europa – os cientistas sociais e pesquisadores bus-
cavam entender como a raça, o negro, e a miscigenação carac-
terizavam a formação do povo brasileiro.
Freyre (2002) deslocou parte dessa análise para a questão 
da cultura, estudando aspectos fundamentais para a compre-
ensão da cultura africana no Brasil e mesmo da própria África. 
Freyre (2002) destacou vários elementos da cultura escra-
vista brasileira. Contestou a pretensa inferioridade do negro, 
debateu a sua influência na sociedade brasileira e analisou 
muito da vida cotidiana e sexual do negro no Brasil.
Sobre a tão discutida inferioridade do negro quanto ao 
homem branco e senhor de escravos, o autor pernambucano 
nos diz o seguinte: 
PARA SABeR MAiS
Você sabia que exis-
tiram escravos que 
fugiam e, depois de um 
tempo, voltavam a suas 
fazendas de origem? 
Isso poderia significar 
uma espécie de fuga 
parcial da escravidão? 
Ou seja, uma espécie 
de “férias escravistas”?...
GLOSSÁRiO
Raça: o conjunto dos 
ascendentes e descen-
dentes duma família, 
tribo ou povo, com 
origens comuns. O 
conjunto de indivíduos 
cujas características 
corporais são seme-
lhantes e transmitidas 
por hereditariedade, 
embora possam variar 
dum indivíduo para 
outro. Divisão de uma 
espécie animal pro-
vinda do cruzamento 
de indivíduos selecio-
nados para manter ou 
aprimorar determina-
dos caracteres.
Miscigenação: cruza-
mento de etnias; calde-
amento, mestiçagem, 
mestiçamento, mistura.
Cultura: o comple-
xo dos padrões de 
comportamento, das 
crenças, das institui-
ções, das manifestações 
artísticas, intelectuais, 
etc., transmitidos 
coletivamente, e típicos 
de uma sociedade. O 
conjunto dos conheci-
mentos adquiridos em 
determinado campo.
◄ Figura 55: Gilberto 
Freyre
Fonte: Disponível em 
http://www.diamang.com/
diamang/Lunda/historia/
images/Gilberto_Freyre.
jpg Acesso em 15/07/2009
◄ Figura 56 O negro, o 
escravo
Fonte: Disponível em 
http://www.diamang.
com/diamang/Lunda/
historia/images/Gilber-
to_Freyre.jpg http://
www.bigmarley.blogspot.
com/2007_06_01_ar-
chive.html Acesso em 
15/07/2009
60
UAB/Unimontes - 2º Período
Os escravos vindos das áreas de cultura negra mais adiantada foram um ele-
mento ativo, criador, e quase que se pode acrescentar nobre na colonização 
do Brasil; degradados apenas pela sua condição de escravos. Longe de terem 
sido apenas animais de tração e operários de enxada, a serviço da agricultu-
ra, desempenharam uma função civilizadora. Foram a mão direita da formação 
agrária brasileira, os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses, a mão 
esquerda. (FREYRE, 2002 p. 364).
O autor pernambucano enfatiza a enorme contribuição que os negros deram à sociedade 
colonial brasileira. Na comida, nas danças, nas músicas, nas crenças e nos rituais, o negro teria pa-
pel fundamental na formação da cultura da colônia. Suas palavras são esclarecedoras: 
Mas o grosso das crenças e práticas da magia sexual que se desenvolveram no 
Brasil foram coloridas pelo intenso misticismo do negro; algumas trazidas por 
ele da África, outras africanas apenas na técnica, servindo-se de bichos e ervas 
indígenas. Nenhuma mais característica que a feitiçaria do sapo para apressar 
a realização de casamentos demorados. O sapo tornou-se também, na magia 
sexual afrobrasileira, o protetor da mulher infiel que, para enganar o marido, 
basta tomar uma enfiada em retrós verde, fazer com ela uma cruz no rosto do 
indivíduo adormecido e coser depois os olhos do sapo. (...) Foi a perícia no pre-
paro de feitiços sexuais e afrodisíacos que deu tanto prestígio a escravos ma-
cumbeiros junto a senhores brancos já velhos e gastos ( FREYRE 2002, p. 380 -1).
▲ ▲
Figura 57: Johann Moritz Rugendas. Ambiente do Brasil-Colônia, a 
dança do lundu
Fonte: Disponível em http://www.commons.wikimedia.org/wiki/
File:Rugendas_lund Acesso em 10/07/2009
Figura 58: Johann Moritz Rugendas. O negro e a capoeira
Fonte: Disponível em http://www.centroreferenciacapoeiracarioca.net/
filosofia.php Acesso em 10/07/2009
A vida sexual do negro na colônia foi um dos temas de maior interesse de Freyre. A sua asso-
ciação entre escravidão e depravação sexual era evidente. O mais interessante é que Freyre não 
responsabilizava somente o negro pela característica das relações culturais do brasileiro. Em ou-
tros casos, analisava mais detidamente as relações de iniciação sexual entre os meninos livres e 
brancos e as “negrinhas” das fazendas. As citações abaixo são transcritas na íntegra, pois, se assim 
não fosse, empobreceriam a capacidade de escrita do autor.
Passa por ser defeito da raça africana, comunicado ao brasileiro, o erotismo, a 
luxúria, a depravação sexual. Mas o que se tem apurado entre os povos negros 
da África, como entre os primitivos em geral – já o salientamos em capítulo an-
terior – é a maior moderação do apetite sexual que entre os europeus. É uma 
sexualidade, a dos negros africanos, que para excitar-se necessita de estímulos 
picantes. Danças afrodisíacas. Culto fálico. Orgias. Enquanto que no civilizado 
o apetite sexual de ordinário se excita sem grandes provocações. Sem esfor-
ço. (...) Diz-se geralmente que a negra corrompeu a vida sexual da sociedade 
brasileira, iniciando precocemente no amor físico os filhos-família. Mas essa 
corrupção não foi pela negra que se realizou, mas pela escrava. (...) É absurdo 
responsabilizar-se o negro pelo que não foi obra sua nem do índio mas do sis-
tema social e econômico em que funcionaram passiva e mecanicamente. Não 
há escravidão sem depravação sexual. (FREYRE, 2002 p. 371-2).
DiCA
Procure pesquisar 
algumas teorias raciais 
populares entre o 
final do século XIX e 
início do século XX. São 
exemplos: a eugenia, 
o evolucionismo e o 
darwinismo social.
61
História - História do Brasil Colônia I
Figura 59: Johann Moritz Rugendas. Negro e Negra 
N’uma Fazenda, século XIX
Fonte: Disponível em http://www.pt.wikipedia.org/wiki/
Acervo_Art%C3%ADstico-C Acesso em 10/07/2009
Figura 60: Johann Moritz Rugendas. Negro e negra: 
sociabilidades
Fonte: Disponível em http://www.desafio.ufba.br/gt3-006.html Acesso em 10/07/2009
Ao analisar as relações de sexualidade na colônia entre escravos e homens livres, Freyre 
(2002) faz importantes comparações e analogias com relações atuais que, para ele, caracteriza-
riam a formação do brasileiro. A própria expressão explicitada por Freyre, “negra para trabalhar, 
branca para casar e mulata para f...” marcaria parte das preferências sexuais do brasileiro, e indica-
ria uma forma de dominação do homem branco com relação aos escravos.
◄ Figura 61: A 
sexualidade da negra 
na cultura nacional
Fonte: Disponível 
em http://terrade-
odiaxere.blogspot.
com/2008_09_01_archi. 
Acesso em 10/07/2009
PARA SABeR MAiS
Quem foi Gilberto 
Freyre? 
Um dos maiores e mais 
influentes intelectuais 
brasileiros do século 
XX cujos trabalhos são 
Reconhecidos inter-
nacionalmente até o 
presente momento. A 
sua Obra é estudada 
até hoje em importan-
tes universidades
do mundo Ocidental. 
Freyre iníciou aos seus 
estudos, em 1908, no 
Colégio Americano Ba-
tista Gilreath, instiuição 
que o seu pai ajudou 
a fundar. Perto do fim 
da segunda década do 
século XX, Freyre foi 
estudar na universida-
de do Texas (USA) onde 
concluiu a graduação 
em ciências sociais, e 
deu continuiadade aos 
seus estudos na Uni-
versidade de Columbia 
(USA) onde obteve o 
título de Masters of 
Arts. Na Universiade de 
Columbia Conheceu 
Franz Boas, a sua princi-
pal referência intelec-
tual. No ano de 1922 
publicou a sua tese de 
mestrado “Social life 
in Brazil in the middle 
of the 19th century” 
(Vida social no Brasil 
nos meados do século 
XIX — já traduzida para 
o português). Essa tese 
deu origem ao que, cer-
tamente, é o seu livro 
mais conhecido e lido, 
Casa-Grande & Senzala 
(1933), um verdadeiro 
tratado sobre a forma-
ção do Brasil, que já foi 
traduzido
para o inglês e o 
francês entre outras 
línguas. Gilberto Freyre 
costuma ser apontado,
e criticado, como 
o criador e grande 
teórico da (ideologia 
da) “democracia racial”, 
No entanto, em Casa 
Grande & Senzala, pri-
meiro livro da trilogia 
sobre a formação do 
patriarcalismo no Brasil, 
não há menção alguma 
à palavra “democracia 
racial”.
62
UAB/Unimontes - 2º Período
4.4 Cotidiano escravista na colônia: 
o mundo rural, o mundo urbano e 
as atividades econômicas 
 Os ambientes rurais foram os primeiros a absorver os negros vindos da África. Por isso mes-
mo, é importante compreender um pouco das práticas escravistas nessas regiões. 
O cotidiano escravista rural criava uma rígida disciplina e hierarquia. Os senhores de enge-
nho e os barões do café do período imperial montavam toda uma lógica de funcionamento es-
cravista em suas fazendas. A estrutura era montada para que as relações não prejudicassem o 
funcionamento da lógica colonial, ou seja, obter lucros por meio da exploração e da exportação 
de mercadorias como o açúcar e o café.
▲
Figura 63: Engenho 
Fonte: Disponível em http://www.i104.photobucket.
com/albums/m199/famedsaid/lagoa05.jpg. Acesso em 
10/07/2009
▲
Figura 64: Negros na colônia 
Fonte: Disponível em http://www.asminasgerais.com.br/.../
Escrav0001.html. Acesso em 10/07/2009
Figura 62: Engenho
Fonte: Disponível em 
http://www.tempodea-
ventura.com.br/images/
fazenda-jardim.jpg Acesso 
em 10/07/2009
►
PARA SABeRMAiS
“Casa Grande & Sen-
zala”
Manuel Bandeira (1949)
“Casa Grande & Sen-
zala”
Grande livro que fala
Desta nossa leseira
Brasileira.
Mas com aquele forte
Cheiro e sabor do Norte
— Dos engenhos de 
cana
(Massangana!)
Com fuxicos danados
E chamegos safados
De mulecas fulôs
Com sinhôs!
A mania ariana
Do Oliveira Viana
Leva aqui a sua lam-
bada
Bem puxada.
Se nos brasis abunda
Jenipapo na bunda,
Se somos todos uns
Octoruns,
Que importa? É lá 
desgraça?
Essa história de raça.
63
História - História do Brasil Colônia I
Segundo o historiador Stuart Schwartz, em seu livro “Segredos Internos”, os engenhos e o 
seu cotidiano revelavam importantes características da sociedade colonial. Nesses engenhos, a 
relação senhor-escravo assumia variadas características, marcadas pelas relações de dominação, 
de submissão e de violência. Entretanto, essas mesmas relações também vinham marcadas por 
acentuadas doses de imprevisibilidade, marcadas por negociações, tensões, acordos e conflitos, 
típicos de uma sociedade como a que foi moldada pelo encontro de colonizadores e colonizados 
(SCHWARTZ, 1988).
Contudo, a escravidão no Brasil não se deu apenas em sociedades rurais. No mundo urbano 
ela adquiriu características especiais, revelando um pouco do cotidiano do universo urbano da 
colônia. Nas cidades, os escravos tinham uma intensa mobilidade e um contato mais próximo 
com o mundo dos brancos. Isso permitia um maior dinamismo e um maior acesso a elementos 
que o mundo rural limitava. 
▲ ▲
Figura 65: Mercado da Rua do Valongo, no Rio de 
Janeiro, onde escravos eram vendidos (quadro de 
Jean-Baptiste Debret)
Fonte: Disponível em http://www.blogdopaulonunes.
com/noticias_especificas Acesso em 10/07/2009
Figura 66: Mercado de Escravos, gravura de 
Rugendas, 1834
Fonte: Disponível em http://www.polemica.uerj.br/pol16/
cimagem/p16_zeca.htm Acesso em 18/07/2009
O mundo urbano possibilitava também algumas relações de trabalho não tão comuns nas 
fazendas e engenhos. Alguns exemplos são muito comuns, como os escravos de ganho e os es-
cravos de aluguel.
Os escravos de ganho trabalhavam com relativa autonomia em relação a seu proprietário, 
em diversas funções remuneradas: transportadores de cargas e de pessoas, vendedores ambu-
lantes, barbeiros, curandeiros, prostitutas, “negras de tabuleiros” e outras atividades. Parte do 
dinheiro obtido nesses serviços era repassado aos senhores, mas os escravos conservavam uma 
parcela, utilizada em alimentação, vestuário, compra de ferramentas e, eventualmente, na alfor-
ria, a compra da liberdade.
Os escravos de aluguel, por sua vez, eram alugados a terceiros para o desempenho das mais 
variadas tarefas.
Nas zonas rurais e de mineração, o escravo era utilizado em todo tipo de atividade. Sua lon-
ga jornada de trabalho variava de acordo com a tarefa realizada. Estava sujeito a duros castigos 
e torturas: chicotadas, palmatória, placas de ferro, correntes com peso, gargalheiras e muitas ou-
tras espécies de punições.
Nesses casos, a condição da mulher escrava se tornava bem interessante. A sexualidade era 
um elemento que as negras utilizavam com enorme habilidade, mas não se deve esquecer que 
outras estratégias de sobrevivência e adaptação ao regime escravista eram intensamente explo-
radas. Negras de tabuleiro, negras quitandeiras, amas de leite e mucamas são exemplos de ofí-
cios e posições que as negras ocupavam e que, muitas vezes, lhes permitiam uma posição mais 
confortável nas, geralmente cruéis, relações escravistas.
PARA SABeR MAiS
Pai Contra Mãe
Machado de Assis.
A ESCRAVIDÃO levou con-
sigo ofícios e aparelhos, 
como terá sucedido a 
outras instituições sociais. 
Não cito alguns aparelhos 
senão por se ligarem a 
certo ofício. Um deles era 
o ferro ao pescoço, outro o 
ferro ao pé; havia também 
a máscara de folha de flan-
dres. A máscara fazia per-
der o vício da embriaguez 
aos escravos, por lhes 
tapar a boca. Tinha só três 
buracos, dous para ver, um 
para respirar, e era fechada 
atrás da cabeça por um 
cadeado [...] O ferro ao 
pescoço era aplicado aos 
escravos fujões. Imaginai 
uma coleira grossa, com 
a haste grossa também à 
direita ou à esquerda, até 
ao alto da cabeça e fecha-
da atrás com chave [...] Há 
meio século, os escravos 
fugiam com freqüência. 
Eram muitos, e nem todos 
gostavam da escravidão 
[...] Quem perdia um escra-
vo por fuga dava algum di-
nheiro a quem lho levasse. 
Punha anúncios nas folhas 
públicas, com os sinais do 
fugido, onome, a roupa, 
o defeito físico, se o tinha, 
o bairro por onde andava 
e a quantia de gratifi 
cação. Quando não vinha 
a quantia, vinha promessa: 
“gratificar-se-á genero-
samente”, ou receberá 
uma boa gratificação” [...] 
Cândido Neves perdera 
já o ofício de entalhador, 
como abrira mão de 
outros muitos, melhores 
ou piores. Pegar escra-
vos fugidos trouxe-lhe 
um encanto novo. Não 
obrigava a estar longas 
horas sentado. Só exigia 
força, olho vivo, paciência, 
coragem e um pedaço de 
corda. Cândido Neves lia 
os anúncios, copiava-os, 
metia-os no bolso e saía 
às pesquisas. Tinha boa 
memória. Fixados os sinais 
e os costumes de um 
escravo fugido, gastava 
pouco tempo em achá-lo, 
segurá-lo, amarrá-lo e 
levá-lo. 
Fonte: Disponível em 
http://www.dominiopubli-
co.gov.br/pesquisa/Deta-
lheObraForm.do?select_
action=&co_obra=1951>. 
Acesso em 25 ago.2010
64
UAB/Unimontes - 2º Período
▲ ▲
Figura 67: Jean-Baptiste Debret. A mulher escrava na colônia 
Fonte: Disponível em http://www.paulodauria.zip.net/arch2008-05-
01_2008-05-31.html. Acesso em 18/07/2009
Figura 68: Chica da Silva . Pintura de Marcial. 
Fonte: Disponível em http://www.fafich.ufmg.br/pae/img/chica.jpg. Aces-
so em 18/07/2009
4.5 Cotidiano escravista: escravos, 
ex-escravos e a liberdade
Pela manumissão tudo valia a pena, até mesmo fazer da vida uma representação. Nessa 
perspectiva tornar-se ou fazer-se passar por passivo, amável e fiel resultou em muitas cartas de 
alforria justificadas nos “bons serviços prestados”, na “lealdade e sujeição”, expressões recorren-
tes nos testamentos e empregadas mesmo quando se tratava de manumissões pagas. Nesse 
momento, as estratégias engendradas no dia-a-dia obtinham sucesso. A partir daí, nova fase de 
adaptações iniciava-se como maneira de garantir a sociabilidade e a sobrevivência dos libertos.
No dia-a-dia, é comum empregar-se a palavra “liberdade” como se fosse um termo autoevi-
dente, desligado da experiência histórica das pessoas. É como se a liberdade fosse um dado ab-
soluto, que existe ou não, de forma claramente delimitada. Todavia, basta uma observação mais 
cautelosa, para verificarmos que isso não é exato. Se não for devidamente contextualizada no 
tempo, a liberdade corre o risco de tornar-se um sonho, ou quando muito uma abstração de uma 
situação do presente, imposta sobre o passado.
ATiViDADe
Pesquise algumas 
diferenças entre a 
escravidão de duas 
regiões brasileiras 
muito estudadas pelos 
autores: Pernambuco e 
São Paulo. Poste essas 
diferenças no fórum de 
discussão.
65
História - História do Brasil Colônia I
No dia-a-dia da colônia os escravos mantinham relação direta com todos os que compu-
nham a sociedade colonial. Essas relações permitiam criar aproximações que, por sua vez, pode-
riam facilitar o acesso dos negros à liberdade. 
Outra realidade sobre a escravidão no Brasil é a liberdade. Temos um número vasto de es-
cravos que conseguem se libertar do jugo senhorial e conseguir se tornar um liberto. A aquisição 
da alforria poderia se dar sob várias formas, ou por doação dos próprios senhores ou por compra 
junto aos mesmos. Em ambos os casos, significava a tão sonhada “liberdade” que, como sabe-
mos, não era tão “livre” assim, pois vários estudos comprovam que a condição do liberto não era 
muito diferente da percebida pelos escravos. A inserção do ex-escravo na economia era sempre 
muito dificultada, o que levava o liberto a uma crescente marginalização. 
Para se obter a liberdade, portanto, as alforrias eram de enorme importância. Era mais co-
mum que mulheres tivessem maior acesso a essas cartas, mas os padrões variavam.
Deixar de ser escravo era, evidentemente, o objetivo central das motivações escravistas, já 
que o princípio da liberdade é uma condição natural do ser humano. Antes mesmo que a Lei Áu-
rea, de 1888, legalizasse definitivamente o fim da escravidão, inúmeros escravos procuraram des-
frutar dessas liberdades no cotidiano da colônia, como foi o caso de tantas Marias, Josés, Anas e 
Joaquins do Brasil.
PARA SABeR MAiS
Freyre procura escla-
recer de que maneira 
os valores do sado-
-masoquismo social se 
transmitia (se transmi-
te?) de pai para filho 
pelos mecanismos sutis 
da “educação”:
“... um dia quebrei a 
cabeça de uma escrava, 
porque me negara uma 
colher de doce de coco 
que estava fazendo, 
e, não contente com 
o malefício, deitei um 
punhado de cinza ao 
tacho, e, não satisfeito 
da travessura, fui dizer 
a minha mãe que a 
escrava é que estragara 
o doce “por pirraça”; e 
eu tinha apenas seis 
anos. Prudêncio, um 
muleque de casa, era 
meu cavalo de todos os 
dias; punha as mãos no 
chão, recebia um cordel 
nos queixos, à guisa de 
freio, eu trepava-lhe ao 
dorso, com uma vari-
nha na mão, fustigava-
-o, davalhe mil voltas a 
um e outro lado, e ele 
obedecia, – algumas 
vezes gemendo – mas 
obedecia sem dizer pa-
lavra, ou, quando mui-
to, um – “ai, nhonhô!” 
– ao que eu retorquia – 
cala a boca, besta!”- es-
conder os chapéus das 
visitas, deitar rabos de 
papel a pessoas graves, 
puxar pelo rabicho das 
cabeleiras, dar beliscão 
nos braços das matro-
nas, e outras muitas 
façanhas deste jaez, 
eram mostras de um 
gênio indócil, mas devo 
crer que eram também 
expressões de um es-
pírito robusto, porque 
meu pai tinha-me em 
grande admiração; e se 
às vezes me repreendia, 
à vista de gente, fazia-o 
por simples formalida-
de: em particular dava-
-me beijos” (FREYRE, 
2002, p. 354). 
Discuta esse trecho 
com os demais colegas 
de turma no ambiente 
virtual.
◄ Figura 69: Carta de 
alforria 
Fonte: Disponível em 
http://www.ccs.saude.
gov.br/memoria%20
da%20loucura/Mostra/
images/DocAlforria.jpg 
Acesso em 18/07/2009
66
UAB/Unimontes - 2º Período
▲ ▲
Figura 70: Sessão do Conselho de Estado em que a Princesa Isabel assina a Lei 
Áurea
Fonte: Disponível em http://www.passeiweb.com/.../segundo_reinado Acesso em 18/07/09
Figura 71: Extinta a escravidão no Brasil.
Fonte: Disponível em http://www.pindavale.com.br/
agoravale/noticias.asp Acesso em 18/07/09
Conforme a maioria dos autores, os escravos lançavam mão de inúmeras estratégias para 
conseguir a manumissão. Faziam-se passar por fiéis, amáveis, ou mesmo passivos, demonstran-
do, assim, “lealdade e sujeição”. Em outros momentos, ficava evidente essa proximidade entre o 
mundo dos negros e o mundo dos brancos. Essa proximidade foi retratada em várias imagens do 
nosso passado escravista.
Finalizamos esse capítulo com uma imagem e um texto que sintetizam bem alguns dos as-
pectos fundamentais para o bom funcionamento do sistema escravista brasileiro. A fotografia 
abaixo, reproduzida em todos os seus detalhes, 
revela um pouco das relações de dominação e 
de afeto típicas do regime escravista brasileiro. 
O texto do historiador Luiz Felipe de Alencastro 
é ainda mais interessante, pois analisa a ima-
gem a partir de todos os aspectos que privile-
giamos nesse capítulo.
... Fotografia feita no Recife por volta de 
1860. Na época era preciso esperar no mínimo 
um minuto e meio para se fazer uma foto. As-
sim, preferia-se fotografar as crianças de manhã 
cedo, quando elas estavam meio sonolentas, 
menos agitadas. O menino veio com a sua mu-
cama, enfeitada com a roupa chique, o colar e 
o broche emprestados pelos pais dele. Do ou-
tro lado, além do fotógrafo Vilela, podiam estar 
a mãe, o pai e outros parentes do menino. Tal-
vez por sugestão do fotógrafo, talvez porque 
tivesse ficado cansado na expectativa da foto, o 
menino inclinou-se e apoiou-se na ama. Segu-
rou-a com as duas mãozinhas. Conhecia bem o 
cheiro dela, sua pele, seu calor. Fora no vulto da 
ama, ao lado do berço ou colado a ele nas horas 
diurnas e noturnas da amamentação, que seus 
olhos de bebê haviam se fixado e começado a 
enxergar o mundo.Por isso ele invadiu o espa-
ço dela: ela era coisa sua, por amor e por direito 
ATiViDADe
Faça uma pesquisa 
minuciosa da biografia 
de Chica da Silva, e 
procure compreender o 
papel que as mulheres 
exerciam no cotidiano 
escravista colonial. 
Poste a bibliografia no 
fórum de discussão.
PARA SABeR MAiS
É importante salien-
tar que mulheres e 
homens viviam o 
ambiente escravista de 
formas distintas, em 
especial devido ao tipo 
de trabalho que cada 
um executava. 
Figura 72: João Ferreira 
Villela. Artur Gomes 
Leal com a ama-de-
leite Mônica (1860)
Fonte: Disponível 
em http://www.
cybelemeyer.blogspot.
com/2008_05_07_ar-
chive.html Acesso em 
05/07/2008
►
67
História - História do Brasil Colônia I
de propriedade. O olhar do menino voa no devaneio da inocência e das coisas postas em seu 
devido lugar. 
Ela, ao contrário, não se moveu. Presa à imagem que os senhores queriam fixar, aos gestos 
codificados de seu estatuto. Sua mão direita, ao lado do menino, está fechada no centro da foto, 
na altura do ventre, de onde nascera outra criança, da idade daquela. Manteve o corpo ereto, e 
do lado esquerdo, onde não se fazia sentir o peso do menino, seu colo, seu pescoço, seu braço 
escaparam da roupa que não era dela, impuseram à composição da foto a presença incontida de 
seu corpo, de sua nudez, de seu ser sozinho, da sua liberdade. 
O mistério dessa foto feita há 130 anos chega até nós. A imagem de uma união paradoxal, 
mas admitida. Uma união fundada no amor presente e na violência pregressa. Na violência que 
fendeu a alma da escrava, abrindo o espaço afetivo que está invadido pelo filho de seu senhor. 
Quase todo o Brasil cabe nessa foto (Alencastro 1997).
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Epílogo. In: SOUZA, Laura de Mello e. História da Vida Privada no 
Brasil – império. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2002.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
JESUS, Alysson Luiz Freitas de. no sertão das Minas: escravidão, violência e liberdade – 1830-
1888. São Paulo: Annablume, 2007.
LARA, Silvia Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro – 
1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PINSKY, Jaime. escravidão no Brasil. São Paulo: Global, 1981.
SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: 
Cia das Letras, 1988.
69
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 5
Modelos explicativos do sistema 
colonial: teoria e historiografia
Alysson Luiz Freitas de Jesus
5.1 Introdução
Como vimos, desde a chegada dos portugueses no Brasil as relações coloniais foram se mol-
dando às normas do império português e às formas de relações sociais presentes na colônia. Os 
portugueses não ocuparam apenas o Brasil, pois a África e a Ásia também foram alvos estratégi-
cos da sua expansão colonial.
Vários sistemas administrativos, outras tantas atividades econômicas, e os diversos discursos 
missionários foram largamente utilizados pelos lusitanos. Nesse sentido, é importante notar que 
o sistema colonial não foi pensado de forma homogênea. Isso se deu devido ao fato de que, a 
depender do momento e do local de colonização, Portugal teve que se valer de diversas estraté-
gias para submeter os colonos. 
▲ ▲
Figura 73: O contato inicial dos portugueses 
Fonte: Disponível em http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_
aula/historia/imagens/indios_brasil_1.jpg Acesso em 5/10/2013
Figura 74: A Igreja e o seu papel na colonização 
Fonte: Disponível em http://www.img225.imageshack.us/
img225/5646/jesuitascx8.png Acesso em 5/10/2013
Sendo assim, essa unidade nos possibilitará pensar um pouco sobre as teorias que busca-
ram explicar o sistema colonial. Dividimos a unidade nos seguintes tópicos: 
O Sistema Colonial: concepções teóricas e cotidiano;
A lógica de funcionamento do sistema colonial: autores e abordagens clássicas;
Cultura e sociedade colonial: autores e abordagens clássicas;
 A colônia em movimento: revisionistas e perspectivas atuais.
PARA SABeR MAiS
Você sabia que a igreja 
católica cumpriu uma 
importante função no 
processo do colonia-
lismo dos séculos XV 
e XVI? Os jesuítas e a 
relação com os índios 
são um exemplo das 
formas de atividades da 
Igreja na colônia.
70
UAB/Unimontes - 2º Período
5.2 O Sistema Colonial: 
concepções teóricas e cotidiano
BOX 4
Desde o século XIX, discute-se se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do aca-
so, sendo produzida pelas correntes marítimas, ou se já havia conhecimento anterior do Novo 
Mundo e Cabral estava incumbido de uma espécie de missão secreta que o levasse a tomar o 
rumo do ocidente. Tudo indica que a expedição de Cabral se destinasse efetivamente às Ín-
dias. Isso não elimina a probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, te-
rem freqüentado a costa do Brasil antes de 1500. De qualquer forma, trata-se de uma contro-
vérsia que hoje interessa pouco, pertencendo mais ao campo da curiosidade histórica do que 
à compreensão dos processos históricos. 
Fonte: FAUSTO, (2002)
Questões como a colocada acima parecem hoje interessar pouco aos historiadores. As prin-
cipais controvérsias e debates se dão, principalmente, sobre como funcionava o sistema colonial 
e, sobretudo, como os colonos se comportavam diante desse sistema. Alguns autores insistem 
em uma lógica central para o funcionamento das relações coloniais. Geralmente, trata-se de teó-
ricos clássicos que, discordando em alguns pontos e concordando em outros, acabam por refor-
çar a tese da existência de um sistema colonial tipicamente português.
Outros, por sua vez, procuram revisar tais posicionamentos, apresentando uma pluralidade 
de reações sociais e culturais dentro de um contestável sistema colonial. Tais autores, em uma 
perspectiva revisionista, procuram apresentar novas leituras sobre o período em questão. 
O pacto colonial era um dos elementos que comportavam o funcionamento do sistema. A 
chegada dos portugueses impôs o chamado “exclusivismo metropolitano” e fez com que o Brasil 
se adequasse à lógica do colonialismo e do início da era moderna.
Sendo assim, o Brasil seria o que se comumente chamou de colônia de exploração, ao con-
trário das conhecidas colônias de povoamento, como teria sido parte da colonização dos Estados 
Unidos. 
As relações econômicas e sociais entre Brasil e Portugal eram, portanto, estabelecidas pelo 
chamado Pacto Colonial, no qual a função da colônia era propiciar lucros para a metrópole, po-
dendo apenas negociar com esta. As atividades agrícolas são um exemplo disso.
Em linhas gerais, a economia colonial caracteri-
za-se pela mão-de-obra escrava, pelo latifúndio, pela 
cultura de produtos tropicais e pela exploração de 
metais e pedras preciosas. Outras atividades também 
desempenharam importante papel, coexistindo com 
aquelas que interessavam mais diretamente à polí-
tica mercantilista metropolitana. A agroindústria do 
açúcar foi a primeira dessas atividades estratégicas. 
Sua implantação articulou a exploração da América e 
da África – fornecedora de mão-de-obra – e ajudou a 
contornar a crise do comércio oriental, num período 
em que o monopólio português das especiarias era 
posto em xeque pelos holandeses e ingleses.
O cultivo açucareiro exigiu extensas proprieda-
des, grande número de escravos, pastos para ani-
mais de tração, transportes e áreas florestais para 
obtenção de madeira e lenha e ainda a proteção dos 
canaviais contra predadores naturais. A necessidade 
de unir a produção agrícola a uma atividade benefi-
ciadora do açúcar tornou indispensáveis as instala-
ções de alto custo e a utilização de grande quantida-
de de mão-de-obra especializada.
GLOSSÁRiO
Conceito: formula-ção duma ideia por 
palavras; definição. 
Pensamento; ideia. 
Reputação.
Historiografia: ciência 
e arte de escrever a his-
tória. Estudo histórico e 
crítico acerca da histó-
ria ou dos historiadores.
Método: procedimento 
organizado que conduz 
a certo resultado. Pro-
cesso ou técnica de en-
sino. Modo de agir, de 
proceder. Regularidade 
e coerência na ação. 
ATiViDADe
Pesquise as principais 
diferenças entre a 
colonização de explo-
ração e a colonização 
de povoamento. 
Procure, ainda, traçar 
um paralelo entre o 
sistema colonial inglês 
na América do Norte e 
o sistema colonial por-
tuguês no Brasil. Poste 
estes achados no fórum 
de discussão.
Figura 75: A produção 
do açúcar
Fonte: Disponível em 
http://www.materias-
-neltonlandia.blogspot.
com/2007/03/ci. Acesso 
em 5/10/2013
►
71
História - História do Brasil Colônia I
Como dissemos, vários autores se debruçaram na análise do sistema colonial. Dividiremos 
suas abordagens em dois grupos: aqueles que chamaremos de “clássicos”, com abordagens que 
se constituem referência para o estudo do período, e aqueles que chamaremos de “revisionistas”, 
com trabalhos e pesquisas que procuram lançar novas perspectivas sobre o estudo da História 
do Brasil Colônia.
▲ ▲
Figura 76: As atividades na economia açucareira
Fonte: Disponível em http://www.oc-cerqueira.zip.net/images/enge-
nho2.jpg. Acesso em 5/10/2013
Figura 77: As atividades econômicas na colônia 
Fonte: Disponível em http://www.historianet.com.br/imagens/econo-
mia_17.jpg. Acesso em 5/10/2013.
5.3 A lógica de funcionamento 
do sistema colonial: autores e 
abordagens clássicas
Diferentes análises sobre o poder metropolitano na colônia examinaram a natureza e as ca-
racterísticas do sistema colonial. Uma das questões mais levantadas pela historiografia clássica 
refere-se ao pretenso controle que a metrópole exercia sobre a sua colônia na América, ou seja, 
a ideia de que Portugal exercia, através do seu direito de conquista, um controle sobre todas as 
áreas de atuação cotidiana no Brasil, sufocando, assim, as possibilidades de ações independentes 
por parte dos colonos. Alguns importantes cientistas 
sociais caminharam nessa direção. 
Raimundo Faoro, em seu clássico Os Donos do 
Poder, é um exemplo. Quando trata especificamen-
te da centralização colonial, destaca que, a partir do 
século XIX, ocorre uma maior abrangência do poder 
público na colônia, constatando assim que não so-
bravam espaço para a ordem privada na América 
portuguesa. A criação do Governo Geral teria sido o 
primeiro passo para a consolidação do poder público 
(FAORO, 1975).
Outros autores procuraram dedicar sua análise 
a questões mais ligadas à economia do sistema co-
lonial. Um dos maiores expoentes dessa perspectiva 
foi Caio Prado Jr. Em suas inúmeras obras, Caio Prado 
definiu conceitos, analisou teorias, e abordou inúme-
ros aspectos das relações de exploração entre colônia 
◄ Figura 78: O livro “Os 
donos do poder”, de 
Raymundo Faoro
Fonte: Disponível em 
http://www.livrariaroteiro.
com.br/images/os%20
donos%20do%20poder.
jpg. Acesso em 5/10/2013
72
UAB/Unimontes - 2º Período
e metrópole. Uma das suas teses mais conhecidas é a do “Sentido da Coloni-
zação”. Nessa lógica, o Brasil esteve sempre atrelado economicamente à Por-
tugal no período em que era colônia deste país. E essa ligação pode ser per-
cebida com um forte vínculo de alguns produtos explorados pela metrópole 
portuguesa, que buscava retirar grandes lucros da nação colonizada, o Brasil. 
O Primeiro desses produtos foi o pau-brasil, quase que totalmente devastado 
do território brasileiro. Com a efetivação da colonização, era necessário um 
produto rentável e acessível para plantio e exploração no Brasil. A exploração 
agrícola no litoral brasileiro teve início na época em que foram criadas as capi-
tanias hereditárias. Como a costa brasileira não tinha as riquezas metálicas que 
os portugueses esperavam encontrar, o único recurso para explorar a região 
foi a atividade agrícola. A escolha: o açúcar.
Para melhor explorar o Brasil, procurou-se implementar nas capitanias o 
sistema de plantations (sistema que se constitui de latifúndio, monocultura, 
trabalho escravo e produção para exportação) que atendia os preceitos do 
pacto colonial preconizado pelo mercantilismo português. Para este empreen-
dimento, Portugal valeu-se da experiência de práticas bem sucedidas em seu 
território e em suas colônias no Atlântico, que consistiam no plantio da cana, 
produção de açúcar e a utilização do trabalho escravo negro. Assim, iniciou-se 
a produção do principal produto (não o único) da economia colonial até mea-
dos do século XVII quando entrou em decadência, mas que nunca deixou de 
ser produzido no Brasil. 
O sentido da colonização seria, portanto, que a metrópole sugaria o máximo de riquezas 
que pudesse extrair da colônia, por meio do que já analisamos como pacto colonial (PRADO JR, 
1973).
Outra questão levantada por Caio Prado é a conhecida “Tese da administração caótica”. Para 
o autor, Portugal não teria criado um sistema específico para se adequar à lógica colonial brasilei-
ra, e isto teria provocado um caos na administração lusitana, impedindo o bom funcionamento 
do sistema. Tais questões explicariam parte do atraso e da ineficácia da administração. E, mais 
ainda: explicaria boa parte do nosso atraso social, político e econômico. O nosso “sentido” foi ser 
explorado por uma metrópole que sufocava as iniciativas coloniais, impedindo quaisquer possi-
bilidades de dinamismo interno da colônia. À população restava os motins, as revoltas e as sedi-
ções (PRADO JR, 1973.)
▲ ▲
Figura 80: O cotidiano e as resistências na colônia 
Fonte: Disponível em http://www.jornallivre.com.br/images_en-
viadas/periodo-colonial-revolta-de-be.jpg Acesso em 5/10/2013
Figura 81: O cotidiano e as resistências na 
colônia
Fonte: Disponível em http://www.agenciaminas.
mg.gov.br/maisfotos.php?cod_...Acesso em 5/10/13
PARA SABeR MAiS
Faoro (1958) nega que 
a colonização brasileira 
tenha obedecido aos 
padrões feudais; ao 
contrário, sublinha a 
idéia de que a coloni-
zação do Brasil foi obra 
do rei e do estamento 
burocrático, dentro da 
lógica do capitalismo 
politicamente orien-
tado: A conquista da 
terra e a colonização 
foram obra do rei, que 
as orientou até nos 
detalhes mínimos. A 
iniciativa particular foi, 
ela própria, filha das 
vantagens e favores do 
Estado: agia sob a pro-
teção e a tutela do rei 
e seus agentes. Certo, 
a colônia de plantação 
não era empresa pú-
blica, mas de interesse 
público, amparada 
pela vigilância de uma 
vontade onipresente, 
encarnada nos capi-
tães, que cumpriam 
um mandato público 
(FAORO, 1975, p. 52).
▲
Figura 79: O livro 
“Formação do Brasil 
Contemporâneo”, de 
Caio Prado Jr.
Fonte: Disponível em 
http://www.i.s8.com.br/
images/books/cover/
img2/29872_4.jpg. Acesso 
em 5/10/2013
73
História - História do Brasil Colônia I
5.4 Cultura e sociedade colonial: 
autores e abordagens clássicas
Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre são referências fundamentais para o estudo da 
cultura colonial. Freyre, como já vimos, contribuiu decisivamente para os estudos sobre a cultura 
escravista. Livros como Casa Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos são clássicos sobre o es-
tudo da nossa cultura, em especial o primeiro, que trata mais detidamente sobre a colônia.
Sérgio Buarque, por sua vez, marcou de forma madura e rigorosa o início de uma história 
cultural sobre a colônia. Em sua obra Raízes do Brasil, o autor nos propiciou um ensaio com im-
portante análise cultural, a partir de uma metodologia rigorosa e adequada. Escrevendo em um 
momento em que muitos acreditavam na sobredeterminação do econômico, Holanda nos apre-senta temas mais cotidianos e mais sensíveis. (HOLANDA, 1976.)
Em outra obra, Visão do Paraíso, Sérgio Buarque de Holanda procura traçar, de forma pre-
cursora, a história do universo mental dos colonos portugueses da época dos descobrimentos, 
enfatizando-lhe o caráter mítico.
É, pois, a história de uma projeção imaginária – a crença lusitana no mito do 
paraíso terrestre – ou, como se diz hoje, uma história do imaginário. Não dei-
xa de ser uma história comparativa, pois há constante referência ao contexto 
espanhol: diante da riqueza mitificadora dos vizinhos – “frondosidades” –, a 
imaginação portuguesa aparece pobre e rasteira, apegada à experiência, ma-
dre de todas as coisas, em detrimento da fantasia; imaginação enfastiada “de 
portentos e prodígios”: “os olhos que enxergam, as mãos que tateiam, hão de 
mostrar-lhes constantemente a primeira e a última palavra do saber”. O espírito 
de aventura e o fascínio pelo desconhecido levam os espanhóis a aceitarem o 
maravilhoso, enquanto o predomínio da tradição amarra os portugueses à roti-
na (FREITAS, 2000, p. 26).
▲ ▲ ▲
Figura 82: O livro “Casa Grande e 
Senzala”, de Gilberto Freyre 
Fonte: Disponível em http://www.
senado.gov.br/sf/senado/ilb/img/
livrograndesenzala.jpg. 
Acesso em 5/10/2013
Figura 83: O livro “Raízes do Brasil”, 
de Sérgio Buarque de Holanda
Fonte: Disponível em http://www.
img.mercadolivre.com.br/jm/
img?s=MLB&f=70041311_165.jpg&v=P. 
Acesso em 5/10/2013
Figura 84: “Visão do Paraíso”, de 
Sérgio Buarque de Holanda 
Fonte: Disponível em http://www.
sebodomessias.com.br/loja/imagens/
produtos/produtos/72275_27785_680.
jpg. Acesso em 5/10/2013
O aspecto mental dos colonizadores, ou o seu imaginário, nunca havia sido abordado como 
elemento imprescindível para se compreender a constituição do espaço geográfico da América 
portuguesa e do processo colonizador. Em seus textos clássicos, Sérgio Buarque nos permitiu o 
acesso a essas questões, de forma brilhante e ao mesmo tempo criteriosa. (HOLANDA, 2004.)
PARA SABeR MAiS
Você sabia que Portu-
gal procurou transferir 
boa parte da sua estru-
tura administrativa para 
a América portuguesa? 
Seria possível estabele-
cer um paralelo entre a 
burocracia portuguesa 
e a atual burocracia do 
Estado brasileiro?
Socialize sua opinião 
com os demais cole-
gas.
PARA SABeR MAiS
Quem foi Caio Prado 
Júnior? 
Caio da Silva Prado Jú-
nior (1907 — 1990). Foi 
historiador, geógrafo, 
escritor, político, pro-
fessor e editor brasilei-
ro. Formou-se em Di-
reito pela Faculdade do 
Largo de São Francisco, 
em São Paulo (1928), 
onde mais tarde tour-
nouse livre-docente de 
Economia Política. Teve 
intensa vida política ao 
longo das décadas de 
30 e 40, participando 
das articulações para a 
eclosão da
Revolução de 1930. No 
ano de 1945 foi eleito 
deputado estadual, 
como terceiro suplente 
pelo PCB e, em 1948, 
deputado da Assem-
bleia Nacional Consti-
tuinte, cujo mandato 
seria cassado em 1948 
por Determinação 
do Tribunal Superior 
Eleitoral.
DiCA
Procure uma biogra-
fia do autor Gilberto 
Freyre e pesquise sobre 
algumas das suas prin-
cipais obras.
Faça seu resumo e 
discuta no ambiente 
virtual da disciplina 
os resultados de sua 
pesquisa.
74
UAB/Unimontes - 2º Período
5.5 A colônia em movimento: 
revisionistas e perspectivas atuais
Nos últimos anos uma nova perspectiva sobre antigos temas de história colo-
nial vem surgindo e se impondo no Brasil. Trata-se de romper com uma abor-
dagem que insiste em analisar o ‘Brasil Colônia’ através de suas relações econô-
micas com a Europa do mercantilismo, seja sublinhando sua posição periférica, 
seja enfatizando o caráter único e singular da sociedade escravista. No plano 
político, tende-se a ultrapassar uma visão dicotômica, centrada na ênfase da 
oposição Metrópole versus Colônia e na contradição de interesses entre colo-
nizadores e colonos. Novas questões se colocam, tais como desfazer uma in-
terpretação fundada na irredutível dualidade econômica entre a metrópole e 
a colônia? E como tecer um novo ponto de vista que, ao dar conta da lógica 
do poder no Antigo Regime, possa explicar práticas e instituições presentes na 
sociedade colonial? (FRAGOSO, GOUVEA, e BICALHO, 2000, p.1)
Um grupo importante de historiadores oriundos dos mais conhecidos programas de pós-
-graduação do país vem, nas últimas décadas, fazendo novas análises sobre o período colonial 
brasileiro. A citação acima é de alguns desses teóricos e demonstra parte das perspectivas desse 
grupo.
Inúmeras temáticas são abordadas nesses estudos, e ainda prevalecem estudos sobre escra-
vidão, família e relações de poder e administração. Entretanto, o que vem mudando é a aborda-
gem sobre esses temas, que hoje privilegiam os aspectos sociais e culturais, devido ao boom de 
publicações na área da atual História Cultural Brasileira. 
Sheila de Castro Faria, em sua obra A colônia em movimento, faz uma importante aborda-
gem teórica na linha dos atuais autores sobre o período colonial. Na sua análise sobressai o es-
tudo da economia açucareira, que permite fazer uma ampla comparação com outras regiões do 
Brasil. Para a autora, a sociedade escravista apresenta um movimento: o ir e vir de pessoas; a cir-
culação de bens; a construção das hierarquias sociais, entre outros. 
Tais questões revelam uma importante opção teórica e, ainda mais, uma análise inovadora, 
que não procura se moldar aos modelos explicativos clássicos dos estudos do período colonial 
brasileiro. Em alguns momentos de sua análise, Sheila de Castro Faria apresenta um rol enorme 
de possibilidades de pesquisa, como se nota na passagem abaixo:
No Brasil, estudos sobre família têm se pautado na análise demográfica. Por 
meio dela, foi possível identificar estruturas da população e organização de 
famílias e domicílios diversificados o bastante para questionar o padrão pa-
triarcal e escravocrata dos estudos das décadas anteriores. Chegou-se a colocar 
em questão, também, a posição da mulher, vista pelos precursores do patriar-
PARA SABeR MAiS
Caio Prado salienta a 
permanência de nosso 
passado colonial nos 
impasses e desafios his-
tóricos de seu tempo:
Se vamos à essência da 
nossa formação, vere-
mos que na realidade 
nos constituímos para 
fornecer açúcar, tabaco, 
alguns outros gêne-
ros; mais tarde ouro 
e diamantes; depois, 
algodão, e em seguida 
café, para o comércio 
europeu. Nada mais 
que isto. E com tal ob-
jetivo, objetivo exterior, 
voltado para fora do 
país e sem atenção 
a considerações que 
não fossem o interesse 
daquele Comércio, que 
se organizarão a so-
ciedade e a economia 
brasileiras. Tudo se dis-
porá naquele sentido: a 
estrutura, bem como as 
atividades do país. Virá 
o branco europeu para 
especular, realizar um 
negócio;inverterá seus 
cabedais e recrutará 
a mão-de-obra que 
precisa: indígenas ou 
negros importados. 
Com tais elementos, 
articulados numa 
organização puramente 
produtora, industrial, 
se constituirá a colônia 
brasileira. Este início, 
cujo caráter se manterá 
dominante através dos 
três séculos que vão até 
o momento em que ora 
abordamos a história 
brasileira, se gravará 
profunda e totalmente 
nas feições e na vida do 
país. Haverá resultan-
tes secundárias que 
tendem para algo mais 
elevado; mas elas ainda 
mal se fazem notar. O 
“sentido” da evolução 
brasileira, que é o que 
estamos aqui indagan-
do, ainda se afirma por 
aquele caráter inicial 
da colonização (PRADO 
JR., 1973, p. 20).
Figura 85: Jean-
Baptiste Debret. O 
Brasil na transição 
colônia-império
Fonte: Disponível em 
http://www.prefeitura.
sp.gov.br/.../index.
php?p=1102. Acesso em 
5/10/2013
►
75
História - História do Brasil Colônia I
calismo como dominada e enclausurada. A observaçãoatual pretende que se 
repense a atuação feminina no período escravista. Não só, mas principalmente, 
entre os grupos mais empobrecidos, a mulher presidia unidades domésticas e 
tinha certa liberdade de movimentos no espaço público, teoricamente reserva-
do aos homens. O que as pesquisas apontam é que havia pluralidade de mode-
los familiares e de atitudes femininas, que estavam longe dos visualizados para 
a casa-grande. (FARIA, 1998, p. 20)
Atentando-se para a passagem acima, podemos apontar algumas questões importantes. Em 
primeiro lugar, é inegável que essa atual historiografia, com a sua perspectiva revisionista, pro-
cura alimentar novas questões e, por conseguinte, torna ainda mais dinâmico o debate sobre as 
temáticas coloniais. Em segundo lugar, novas pesquisas também se tornam possível, pois permi-
tem revisar algumas visões tradicionais que não condizem quando se faz um estudo mais crite-
rioso e cuidadoso das fontes sobre a Colônia. 
É importante ainda acentuar uma relevante questão: essas análises mais atuais, que buscam 
privilegiar questionamentos novos, não excluem a importância dos textos clássicos e de autores 
como Freyre, Holanda ou Caio Prado Jr. Cada um desses autores, independente da linha de análi-
se que seguem, deve ser lido e professor de História deve se atentar para essas questões, funda-
mentais para o exercício do seu oficio e da sua ciência. 
Referências
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder. 2. ed. Porto Alegre/São Paulo/Globo/Edusp, 1975.
FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2002
PARA SABeR MAiS
Quem foi Sérgio Buar-
que de Holanda? 
Nasceu e estudou em 
diversas escolas de 
São Paulo. Em 1921, 
mUdou-se para o Rio 
de Janeiro, matriculan-
do-se na Faculdade Na-
cional de Direito, que 
hoje pertence a UFRJ, 
onde obteve o bacha-
relado em Ciências 
Jurídicas e Sociais no 
ano de 1925. Participou 
do Movimento Mo-
dernista, Escrevendo 
para as revistas Klaxon 
e Estética. Atuou em 
diferentes órgãos de 
imprensa e, entre 1929 
e 1930, foi correspon-
dente especial dos 
Diários Associados em 
Berlim. De 1953 a 1955, 
viveu na Itália e nesse 
período esteve à frente 
da cátedra de estudos 
brasileiros da Universi-
dade de Roma. De volta 
ao Brasil, em 1958, 
assumiu a cadeira de 
História da Civilização 
Brasileira, da Faculdade 
de Filosofia, Ciências e 
Letras da USP.
DiCA
Pesquise em Programas 
de Pós-Graduação do 
Brasil o que as univer-
sidades definem como 
História Cultural e os 
principais tipos de pes-
quisas que vêm sendo 
feitas na área de His-
tória do Brasil Colônia. 
Podem ser pesquisadas 
as seguintes universi-
dades: USP, UFF, UFMG, 
UFRJ, entre outras.
◄ Figura 86: A sociedade 
colonial era patriarcal
Fonte: Disponível em 
http://www2.uol.com.
br/historiaviva/reporta-
gens/img/familia04.jpg. 
Acesso em 5/10/2013
76
UAB/Unimontes - 2º Período
FRAGOSO, João. GOUVEA, Maria de F. BICALHO, Maria Fernanda. Uma leitura do Brasil colonial. 
Revista Penélope, n. 23, 2000, p. 67-88.
FREITAS, Marcos Cezar de (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 
2000.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1976.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2004.
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1973.
77
História - História do Brasil Colônia I
UniDADe 6
Portugal, Brasil e a União Ibérica
Alysson Luiz Freitas de Jesus
6.1 Introdução
Durante todo o período colonial, Portugal manteve o seu status de metrópole sobre o Brasil. 
O poder lusitano era definido por toda a engrenagem do sistema colonial, conforme estudamos 
em todo o material. Entretanto, um importante evento se deu entre o final do século XVI e a pri-
meira metade do século XVII, e marcaria parte das relações entre Brasil e Portugal. Trata-se da 
União Ibérica. 
A união das coroas ibéricas teve consequências importantes para o Brasil. Por um lado, tor-
nou sem efeito a linha divisória do Tratado de Tordesilhas, o que estimulou o avanço dos portu-
gueses em direção ao interior, no sul do Brasil e na Amazônia, em um processo que ficou conhe-
cido como “expansão territorial”.
Por outro lado, a União Ibérica trouxe problemas para os domínios portugueses, uma vez 
que Portugal herdou os inimigos dos espanhóis, acarretando nas invasões holandesas. Conforme 
o historiador Boris Fausto, 
As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito 
político-militar da Colônia. Embora concentradas no Nordeste, elas não se re-
sumiram a um simples episódio regional, ao contrário, fizeram parte do quadro 
de relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da 
luta pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos. (FAUS-
TO,2002 p. 84)
Figura 87: BROZAS 
(Espanha). Fortaleza 
de Brozas (ou 
Castillo Palacio de la 
Encomienda Mayor de 
Alcántara).
Fonte: Disponível em 
http://castillosespanyo-
les.blogspot.com.
br/2011_08_01_archi-
ve.html. Acesso em 
30/11/2013. 
►
78
UAB/Unimontes - 2º Período
A construção abarcou os períodos que vão do século XIV ao século XVII. Da primeira etapa 
resta a torre de menagem e a última fase construtiva remonta ao período da nossa guerra da 
Restauração. É curioso ver os escudos de Filipe II e do português Cristóvão de Moura, secretário 
do rei, considerado na altura um traidor pelos portugueses.
Nesse sentido, essa unidade se subdivide nos seguintes tópicos:
 A União Ibérica: motivações e conseqüências;
Os holandeses na colônia;
Do fim da União Ibérica a remontagem do poder português no nordeste colonial.
6.2 A União Ibérica: motivações e 
consequências
No ano de 1580 ocorre em Portugal um fato inusitado. As coroas de Portugal e Espanha se 
unem, formando uma administração política única, o que vai refletir na administração portugue-
sa sobre a sua colônia na América. 
A morte do rei de Portugal, Sebastião, provoca o fim da dinastia de Ávis naquele país, abrin-
do espaço para que o seu sucessor fosse o dono da coroa espanhola. Vários foram os candidatos 
à coroa sem dono. Entre eles, Dom Antônio, prior do Crato, e Filipe II, rei da Espanha. Dom Antô-
nio era o preferido pelo povo, mas o cardeal-rei, em seu leito de morte, não quis designá-lo seu 
sucessor, deixando o caminho livre para o rei espanhol. 
ATiViDADe
Fazer uma pesquisa 
sobre a história da 
formação do reino es-
panhol no início da era 
moderna, isto é, entre 
os séculos XIV e XVI. 
Poste sua pesquisa no 
fórum de discussão.
Figura 88: CORIA 
(Espanha): Castelo de 
Coria.
Fonte: Disponível em 
http://www.blogi-
magens.blogspot.
com/2008_05_01_ar-
chive.html. Acesso em 
5/10/2013
►
79
História - História do Brasil Colônia I
Com isso, o novo dono da coroa portuguesa seria o rei da Espanha, Filipe II, que agora te-
ria sob o seu domínio as duas coroas ibéricas, iniciando o período histórico que denominamos 
de União Ibérica. A União Ibérica estendeu-se até 1640 e teve consequências importantes para 
o Brasil, como as invasões do território brasileiro por ingleses e holandeses, inimigos da Espanha 
(TENGARRINHA, 2001).
No panorama histórico europeu os reinos da Espanha e da Holanda sempre foram grandes 
rivais. Havia uma forte inimizade entre os dois países. Como sabemos, a empresa açucareira no 
Brasil sempre recebeu grandes investimentos da Holanda, a maior responsável pelo refinamento 
e distribuição do nosso açúcar, afinal a Holanda sempre foi tradicionalmente uma grande parcei-
ra econômica de Portugal; na Idade Moderna o comércio dos produtos coloniais portugueses eraem grande parte feito pelos holandeses. 
Sendo o Brasil agora controlado pela coroa espanhola, acontece o esperado: a Espanha rom-
pe os laços econômicos existentes entre o Brasil Colonial e a Holanda, fazendo com que os ho-
landeses demonstrem hostilidade nas relações antes amistosas entre os dois lados. Para garantir 
seu negócio na empresa açucareira brasileira, os holandeses invadem o Nordeste. 
A primeira invasão foi feita na região da Bahia, no ano de 1624, mas os holandeses não con-
seguiram alcançar as vitórias esperadas, acabando por ser obrigados a recuar na invasão. Um dos 
motivos da derrota holandesa na Bahia seria o contingente militar holandês, que seria bastante 
inferior às forças coloniais, que ainda receberam auxílio da Espanha. 
A segunda invasão ocorre no estado de Pernambuco, e se apresenta bem mais estruturada. 
A perda sofrida pela Companhia das Índias Ocidentais, com o fracasso da invasão da Bahia, foi 
compensada quando o almirante holandês Piet Heyn aprisionou uma esquadra espanhola carre-
◄ Figura 89: Mapa 
representando a 
Europa no século XV
Fonte: Disponível em 
http://www.apm.pt/gt/
gthem/PedroNunes/eu-
ropa15.htm. Acesso em 
5/10/2013
DiCA
Pesquise sobre a evolu-
ção política e econômi-
ca da Holanda no início 
da era moderna, e o 
papel dos judeus nesse 
crescimento. 
GLOSSARiO
Península: porção de 
terra cercada de água 
por todos os lados, 
menos um.
ibérica: da Ibéria, anti-
go nome da Espanha, 
ou dos iberos.
◄ Figura 90: A Europa
Fonte: Disponível em 
http://hgp-recursos.
blogspot.com/. Acesso 
em 5/10/2013
GLOSSÁRiO
Países Baixos: (em 
neerlandês: Nederland, 
literalmente Neerlândia 
ou país baixo) são um 
país situado no noro-
este da Europa, uma 
democracia parlamen-
tar sob uma monarquia 
constitucional. Limitam 
a norte e a leste com o 
Mar do Norte, a oeste 
com a Alemanha e a 
sul com a Bélgica. Sua 
capital constitucional é 
Amsterdã, mas a Haia 
é a sede do governo, 
da maioria das embai-
xadas e a residência da 
monarquia. Os Países 
Baixos são um dos 
poucos países que não 
têm a sede do governo 
na capital.
Fonte: Disponível 
em http://www.
pt.wikipedia.org/wiki/
Países_Baixos Acesso 
em 5/10/2013 
80
UAB/Unimontes - 2º Período
gada de prata, que viajava do México para a Espanha. O enorme lucro conseguido com esse apri-
sionamento foi utilizado para financiar uma nova expedição ao Brasil. Dessa vez, os holandeses 
atacaram a capitania de Pernambuco, o maior centro açucareiro da colônia. Apesar da forte re-
sistência inicial que os colonos estabeleceram contra os invasores, esta já se mostra uma invasão 
“amadurecida”, o que levou os holandeses a consolidarem o domínio sobre a região já no ano de 
1635 (PRADO Jr., 1973).
A oeste, a Companhia das Índias Ocidentais, criada em 1621, deixava seus cor-
sários – Willekens, Piet Hein – saquear as costas do Brasil, ocupar a Guiana e 
a região de Sergipe e do Maranhão. O apogeu desse Brasil holandês situa-se 
na época em que Maurício de Nassau chega a Pernambuco em 1637 com uma 
missão de urbanistas e de cientistas; espírito tolerante, leva consigo uma co-
lônia de judeus marranos da Ibéria, que organizam o comércio do açúcar e do 
fumo (FERRO,1996, p. 112)
6.3 Os holandeses na colônia
Maurício, desde que entrou no Brasil, quis lhe fossem do agrado labores e pe-
rigos [...]. De tal forma combinou entre os estrangeiros a bravura, a prudência, 
a probidade, virtudes exímias dos generais, que aos soldados deu exemplo de 
seu denodo bélico e aos domésticos o de uma vida moderada exata [...]. Severo 
guarda do direito e da justiça, conteve, com lei igual, os mais altos e os mais hu-
mildes, os bárbaros e os cristãos, os mercadores e os cidadãos. Velou por tudo 
quanto era em proveito e glória da Companhia. [...] (BARLEUS 1627 apud INÁ-
CIO & LUCA 1993, p. 29). 
Dominada a região, os holandeses estabelecem uma administração sepa-
rada do restante da colônia, tendo como grande figura Maurício de Nassau. A 
presença de Nassau se mostra muito importante para o intento dos holandeses, 
haja vista que após o domínio da Holanda na região ainda existia uma forte resis-
tência dos colonos aos invasores.
É com a sua administração que a Holanda consegue firmar seu domínio em 
Pernambuco e estendê-lo a quase todo o Nordeste do Brasil. A partir da chegada 
de Nassau, a situação dos invasores se modificou muito: a resistência oferecida 
pelos pernambucanos foi praticamente anulada.
A política de Nassau teve como base relações de cordialidade entre os habi-
tantes da região e grandes investimentos culturais, além de tolerância às praticas 
religiosas dos colonos. Interessado nas coisas da terra, o governador holandês 
mantinha um jardim botânico e um pequeno zoológico, reunindo espécimes 
da fauna e da flora brasileira. Nassau deu liberdade de culto a católicos e judeus, 
embora restringisse, por mais de uma vez, essa garantia.
PARA SABeR MAiS
“E se tivéssemos sido 
colonizados pelos 
holandeses?” 
Eis uma pergunta que 
já passou pela cabeça 
de muita gente. No 
entanto, para a História 
não existe o “se”, mas 
apenas o que aconte-
ceu. Para os historiado-
res, não existe sentido 
em especular a respeito 
de “realidades alterna-
tivas” ou de “universos 
paralelos”, eles prefe-
rem deixar essa tarefa 
para os escritores de 
ficção científica.
Para saber mais e ver 
a discussão a respeito, 
acesse:
http://educacao.
uol.com.br/discipli-
nas/historia-brasil/
holandeses-no-brasil-
-e-se-o-brasil-tivesse-
-sido-colonizado-pela-
-holanda.htm acesso 
em 30/11/2013.
Figura 91: Engenho 
de açúcar - nordeste 
(século XVII)
Fonte: Disponível 
em http://www.
br.geocities.com/vam-
pire_of_death2000/203.
jpg. Acesso em 
5/10/2013
►
Figura 92: O conde 
Maurício de Nassau 
Fonte: Disponível em 
http://www.upload.
wikimedia.org/wikipedia/
commons/5/57/QT_-_Jo-
hann_Moritz_1937.PNG 
Acesso em 5/10/2013
▼
81
História - História do Brasil Colônia I
6.4 Do fim da União Ibérica a 
remontagem do poder português 
no nordeste colonial
No ano de 1640, ocorre o fim da União 
Ibérica, e com isso Portugal e Holanda esta-
belecem um pacto de trégua por um prazo de 
10 anos. Um dos grandes problemas que a re-
lação holandesa começa a sofrer é a tentativa 
de Nassau em ampliar seu domínio na colônia, 
sendo um dos grandes alvos do governador o 
estado do Maranhão. 
Sendo assim, os portugueses reagem con-
tra a dominação dos holandeses, criando um 
clima hostil entre os dois países. A própria rela-
ção dos colonos com os holandeses já não era 
tão amistosa como na época de prosperidade. 
Segundo o historiador Boris Fausto: 
Nessa época Nassau estava descontente com a Companhia das Índias Oci-
dentais, cujo Conselho de Administração passou a adotar uma política de ju-
ros altos e de cobrança rigorosa dos empréstimos aos senhores de engenhos. 
Nassau opunha-se a essa política, sendo por isso afastado do cargo. (...) Assim, 
pouco tempo depois do retorno de Nassau à Holanda, a reação contra o domí-
nio holandês recomeçou em Pernambuco. Durante nove anos, os brasileiros e 
os portugueses que viviam no Brasil lutaram contra os holandeses até expulsá-
-los definitivamente (FAUSTO 2002, p. 25)
Pintura do século XIX. Por isso, brasileiros e holandeses têm a aparência de heróis românti-
cos. Os holandeses resistiram, mas, em 1654, foram expulsos.
◄ Figura 93: Ponte 
Duarte Coelho, Recife 
(PE)
Fonte: Disponível 
em http://www.img.
olhares.com/data/
big/163/1637232.jpg 
Acesso em 5/10/2013
Figura 94: Batalha 
dos Guararapes em 
1645, Pernambuco. 
Confronto entre luso-
pernambucanos e 
holandeses.
Fonte: Disponível em 
http://www.mundoeduca-
cao.com/historiadobrasil/
insurreicao-pernambu-
cana.htm. Acesso em 
30/11/2013.
▼
82
UAB/Unimontes -2º Período
Transcrição de parte de um dos Sermões, pregado em 1649, chamado a Deus contra o do-
mínio holandês:
BOX 5
Sermão de Vieira:
“Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”
“Se determinais dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que não as destes 
enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito essa gente per-
vertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores, para lhe lavrar-
mos as terras, para edificarmos a cidades e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregar-
des? Assim se hão de lograr os hereges, e inimigos da fé, dos trabalhos portugueses e dos 
suores católicos?
Fonte: Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-contra-armas-holanda.pdf. Acesso 30/11/2013.
Nesse contexto de afastamento dos holandeses da empresa açucareira no Brasil ocorre a 
Insurreição Pernambucana, que culmina na expulsão dos holandeses em 1654. Como uma das 
grandes consequências desse processo histórico está a questão da decadência da produção e 
comércio do açúcar no Brasil.
Quando deixaram o Brasil, os holandeses iniciaram a produção de açúcar nas Antilhas, com 
muito sucesso, já que eram senhores dos capitais, dos meios de transporte e das redes de distri-
buição, bem como das técnicas de produção e refinamento da mercadoria. Com a concorrência 
antilhana, o açúcar brasileiro, mais caro, perdeu a primazia no mercado internacional.
Uma pergunta que sempre surge quanto ao episódio das invasões holandesas no Brasil, 
bem como da União Ibérica, é a seguinte: o destino do país seria diferente se tivesse ficado nas 
mãos da Holanda e não de Portugal? Esse questionamento nos permite avaliar e refletir sobre 
parte das questões que estudamos em quase todo esse curso. A análise do historiador Boris 
Fausto sobre esse tema é suficientemente esclarecedora e merece ser reproduzida em sua ínte-
gra, servindo-nos como uma boa conclusão: 
Não há uma reposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjec-
tura, uma possibilidade que não se tornou real. Quando se compara o gover-
no de Nassau com a rudeza lusa e a natureza muitas vezes predatória de sua 
colonização, a resposta parece ser positiva. Mas convém lembrar que Nassau 
representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais ou-
tra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial português. Vista a 
questão sob esse ângulo, e quando se constata o que aconteceu nas colônias 
holandesas da Ásia e das Antilhas, as dúvidas crescem. A colonização depen-
deu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de colonização im-
plantado. Os ingleses, por exemplo, estabeleceram colônias bem diversas nos 
Estados Unidos e na Jamaica. Nas mãos de portugueses ou holandeses, com 
matizes certamente diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colô-
nia de exploração integrada no sistema colonial. (FAUSTO, 2002, p. 39)
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Instituto Camões, 2001.
83
História - História do Brasil Colônia I
Resumo 
O presente material tem como objetivo analisar as relações coloniais do Brasil entre os sé-
culos XVI e XVII. Trata-se da primeira parte dos estudos coloniais, que privilegiam determinados 
temas, relacionando Brasil e Portugal no contexto da colonização. 
A análise se inicia na Unidade 1 a partir do estudo da América antes da chegada dos portu-
gueses, o que permite ao aluno compreender as relações sociais na região antes da própria colo-
nização, com o estudo das técnicas, ritos e crenças dos índios brasileiros.
Logo em seguida, na Unidade 2, privilegiamos os estudos da colonização em si, inserindo 
Portugal e Brasil na Era dos Descobrimentos, por meio do processo da expansão marítima. O de-
bate sobre o descobrimento do Brasil também é analisado, com a intenção de pensar sobre o 
início do processo colonial.
No tocante ao período de colonização, procuraremos avaliar a organização administrativa 
dos portugueses e dos colonos na região, por meio do estudo das capitanias hereditárias e do 
governo geral, ao longo da Unidade 3. O trabalho e o início da exploração econômica também é 
motivo de discussão.
Em seguida, na Unidade 4, o texto procura compreender as relações escravistas no Brasil 
colonial, em estudo sistemático sobre a situação do negro na colônia, bem como das relações 
entre escravos e livres durante o período. Procura-se, também, analisar alguns dos principais teó-
ricos sobre o tema, e as práticas de resistência dos negros na América Portuguesa.
Uma das partes mais importantes se refere à análise dos teóricos que pensaram sobre o sis-
tema colonial brasileiro, como Caio Prado Jr., Raymundo Faoro, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque 
de Holanda, entre outros. Esta é a Unidade 5, no qual o material procura estabelecer uma impor-
tante ligação entre as questões temáticas e teóricas. 
Por fim, a Unidade 6 do presente material didático analisa o período conhecido como 
União Ibérica, procurando compreender as relações entre Brasil, Portugal e Espanha entre 1580 e 
1640, que tiveram também como consequência a entrada dos holandeses na colônia, alterando 
significativamente o poder e a cultura no nordeste brasileiro.
Assim, é importante frisar que esse material trata apenas dos dois primeiros séculos da co-
lonização portuguesa no Brasil, não sendo responsável pela análise do período que se inicia pela 
crise do sistema colonial, típico do século XVIII. Analisamos aqui somente o funcionamento polí-
tico e econômico da colônia, bem como as relações sociais e culturais que se deram a partir do 
contato entre europeus, índios e negros.
85
História - História do Brasil Colônia I
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89
História - História do Brasil Colônia I
Atividades de 
Aprendizagem - AA
1) Analise a figura 16 que foi citada na unidade 1:
Assinale a alternativa inCORReTA quanto a existência de representações que marcam a visão 
dos europeus sobre o novo mundo. 
A) A presença da fantasia do eldorado.
B) A presença de animais no mapa.
C) A presença do navio no oceano atlântico.
D) A presença da natureza.
E) A presença dos indígenas no mapa.
2) Leia a poesia.
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!  
Por te cruzarmos,
Quantas mães choraram,  
Quantos filhos em vão rezaram!  
Quantas noivas ficaram por casar  
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena  
Se a alma não é pequena.  
Quem quiser passar além do Bojador  
Tem que passar além da dor.  
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,  
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa)
Tendo como base o contexto histórico a que a poesia se refere, marque a alternativa CORReTA:
◄ Figura 95: O imaginário 
europeu à época da 
expansão marítima 
Fonte: (BOTELHO & REIS, 
2001, p.73)
90
UAB/Unimontes - 2º Período
A) O poeta faz referência às questões, como pano de fundo, às idéias iluministas marcantes nessa 
época.
B) O poeta usa de metáfora para exprimir o significado das grandes navegações para os portu-
gueses.
C) O poeta quer frisar que sem o mar, sem o Bojador, os portugueses teriam conhecido unica-
mente as Índias.
D) O poeta usa da metáfora para dizer das facilidades encontradas por Portugal para cruzar o 
mar.
E) O poeta faz referência aos navios perdidos, possivelmente abatidos pelos ingleses.
3) Leia o texto.
A Igreja tinha também determinado as horas do dia em função dos períodos 
litúrgicos e das respectivas orações. A hora das matinas, primas, e Ave-Marias, 
marcava-se pelo sol e variava durante o ano. Os sinos regiam-se pelos qua-
drantes solares. Mas o mercador precisava de um quadrante racional, dividido 
em 12 ou 24 partes iguais. Foi ele quem promoveu a descoberta dos relógios 
de repique automático e regular (...). Doravante já não será pelo relógio da Igre-
ja, mas sim pelo relógio comunal, laico, que se regulará a vida das pessoas. À 
hora clerical suceda a hora dos homens. (LE GOFF 1956, p. 77-8)
Sobre o contexto histórico a que o autor se refere, é inCORReTO afirmar que:
A) Este momento é vivenciado por novas técnicas, especialmente na agricultura.
B) Este momento será marcado por rápido crescimento populacional.
C) Neste momento já se registram atividades mercantis que tendem a ganhar força.
D) Neste momento a sociedade ainda é marcada, preponderantemente, pelas normas clericais.
E) Este momento da sociedade portuguesa jamais apresentou limites à expansão marítima, por 
isso ter sido pioneira. 
4) Leia o texto.
No seuconjunto, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta 
empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um território 
virgem em proveito do comércio europeu. ‘É este o verdadeiro sentido da co-
lonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes, e ele explicará os ele-
mentos fundamentais, tanto no plano econômico quanto no social, da forma-
ção e evolução históricas dos trópicos americanos.
Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos consti-
tuímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e 
diamantes; depois, algodão e, em seguida, café para o comércio europeu. Nada 
mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país 
e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio 
que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.
O sentido da colonização brasileira ainda se afirma por aquele caráter inicial da 
colonização (PRADO JR,1973, p. 31-32)
A alternativa que não traduz os dizeres de Caio Prado Jr é:
A) Nossa riqueza foi construída para o povo brasileiro, assumindo um caráter comercial endógeno.
B) O Brasil, em seu nascedouro, foi exportador de matérias-primas e gêneros alimentícios para a 
Europa. 
C) O sentido da nossa colonização é a de repetir a nossa história de dominados, fato observado 
no decorrer de nossa história.
D) O comércio para os europeus foi preponderante na organização sócio-econômico da América 
Portuguesa. 
E) O Brasil teve suas riquezas, no período inicial de colonização e a posteriori, exploradas pelos 
interesses portugueses.
5) Leia o texto.
O poder das câmaras é, pois, o dos proprietários. E seu raio de ação é grande, 
muito maior que o estabelecido nas leis. Por isso, não admira que a câmara de 
São Luiz do Maranhão, apenas instalada, se dirija ao rei pedindo ativamente 
que os capitães-mores, dali em diante, não dessem mais terras, e não se me-
tessem em coisa alguma da competência exclusiva da autoridade municipal”. 
91
História - História do Brasil Colônia I
Dentro das normas da administração colonial neste primeiro século e meio de 
descobrimento, nada sobrepõe-se ao poder incontrastável das Câmaras. (PRA-
DO JR.1996, p 30-1)
A respeito da atuação das câmaras municipais, é inCORReTO afirmar que:
A) Chegavam a fixar salários e preços de mercadorias.
B) Regularam o curso e o preço das moedas.
C) Organizaram expedições para busca de negros na África.
D) Chegavam a ter representantes em Lisboa.
E) Trataram da ereção de arraiais.
6)
Sobre a figura de Padre Antônio Vieira e o contexto histórico ao qual ela nos remete, assinale a 
alternativa inCORReTA.
A) A didática jesuítica incorporava castigos físicos para os que fugissem da escola, apostavam na 
memorização e representação.
B) Os missionários viam os indígenas como fruto de um mesmo mundo de origem terrena, bem 
adversa da terra que gerou os puros, identificados como sendo os europeus. 
C) A ordem jesuítica teve seu papel evangelizador e proporcionou um contato com os indígenas 
a ponto de lutarem contra a escravização desses povos.
D) A prática jesuítica para a conversão dos indígenas levou esses missionários a apresentarem 
uma contradição própria do processo colonizador e da Igreja colonial.
E) Os diálogos utilizados nos teatros e outras representações foram traduzidos para o Tupi com o 
objetivo de ensinar a doutrina cristã.
7) “Costumam alguns senhores dar aos escravos um dia em cada semana para plantarem para 
si, mandando algumas vezes com eles o feitor para que não se descuidem. E isto serve para que 
não padeçam fome, nem cerquem cada dia a casa de seu senhor pedindo-lhes a ração de fari-
nha. Porém não lhes dar farinha nem dia para a plantarem, e querer que sirvam de sol a sol no 
partido, de dia e de noite com pouco descanso no engenho, como se admitirá no Tribunal de 
Deus sem castigo?” (ANTONIL, 1711)
◄ Figura 96: Padre 
Antonio Vieira que foi 
citado na unidade 3
Fonte: Disponível em 
http://www2.crb.ucp.pt/
Biblioteca/BibliotecaDi-
gital/Historia/Main_Hist-
Portugal.htm
92
UAB/Unimontes - 2º Período
A partir da citação acima e de seus conhecimentos sobre a sociedade colonial da América Portu-
guesa, examine as afirmativas a seguir.
I - Na sociedade colonial, o prestígio social residia em ser senhor de terras e de homens, e a possi-
bilidade de riqueza vinha da atividade comercial.
II - Os senhores de engenho permitiam que alguns de seus escravos possuíssem uma lavoura de 
subsistência, inclusive com direito à venda de excedentes.
III - Apesar da violência que marcava o cotidiano dos engenhos, os escravos conseguiram, em 
certa medida, criar e recriar laços culturais próprios, vários deles herdados de suas raízes africa-
nas.
IV - Diante do risco de punições pelos senhores - surras, aprisionamento com correntes de ferro, 
aumento do trabalho, etc. - as tentativas de fugas escravas diminuíram ao longo do período co-
lonial.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
B) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
C) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
D) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
E) Todas as afirmativas estão corretas.
8) A expressão “Círculo de ferro da opressão colonial”, do historiador Caio Prado Jr., sintetiza ad-
miravelmente a nova política adotada por Portugal com o fim da União Ibérica, em 1640. Com 
relação a essa nova política administrativa, é CORReTO afirmar que:
A) As Câmaras Municipais se tornaram soberanas e independentes expressando o poder máximo 
dos grandes senhores rurais.
B) A Intendência do Ouro, órgão especial de arrecadação tributária, passou a se subordinar dire-
tamente ao controle do governador da Capitania das Gerais.
C) Os Capitães donatários adquirem mais prestígio, principalmente, após a instalação do Vice-
-Reinado na América portuguesa.
D) Com o fim da União Ibérica aumentou o poder da Inglaterra sobre o Brasil, acabando a relação 
colonial Brasil-Portugal.
E) O Conselho Ultramarino se tornou o órgão supremo da administração responsável por todos 
os negócios das colônias portuguesas, criado em 1642, com o fim da União Ibérica.
9) No Brasil, o movimento político de 1930 trouxe perspectivas de modernização, abrindo espa-
ços para se pensar os novos rumos da cultura, cujas bases foram lançadas pelo Movimento Mo-
dernista dos anos de 1920. As obras de Sérgio Buarque, Caio Prado Júnior e Gilberto Freyre se 
destacaram na produção intelectual dos anos de 1930, reforçando polêmicas e debates políticos. 
Esses autores acima citados:
A) defenderam uma interpretação radicalmente nacionalista da vida social brasileira.
B) firmaram concepções autoritárias contra a democracia e o progresso social.
C) foram muito influenciados pelo modernismo e pelo anarquismo.
D) contribuíram com suas obras para a renovação das interpretações históricas sobre o Brasil.
E) mantiveram propostas sociais nacionalistas, mas autoritárias e centralizadoras.
10) A presença holandesa no Brasil colonial é tema que se destaca nos estudos historiográficos. 
Sobre o governo de Nassau (1637-1644) e sua época, sempre surgem comentários e debates; po-
rém, podemos afirmar que:
A) a recuperação da autonomia política de Portugal, nesse período, deu mais condições para este 
país desenvolver relações com os holandeses no Brasil.
B) Nassau não teve qualquer conflito com os nativos; apenas se desentendeu com o comando 
europeu da Companhia das Índias.
C) a atuação de Nassau em nada modificou as relações dos holandeses com os senhores de en-
genho, fracassando, porém, na expansão militar e na exportação de açúcar.
D) sua administração se restringiu a fazer benefícios à parte central do Recife, onde habitava com 
a sua família e onde construiu as obras mais importantes.
E) não houve na sua administração nenhuma preocupação com as conquistasmilitares; seus in-
teresses se voltavam sobretudo para a arte renascentista.

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