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GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO
João Mendes
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Esta obra tem como propósito instigar você, leitor, a refletir sobre os fenômenos 
populacionais e as múltiplas relações que se estabelecem entre os habitantes e 
a produção e transformação do espaço geográfico. Tais fenômenos constituem 
a base da Geografia da População, que tem como objeto de estudo diferentes 
teorias e dinâmicas complexas e contraditórias sobre população. Assim, a te-
mática aqui apresentada é reflexo desse dinamismo, pois envolve a análise dos 
fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que interferem na realidade 
das populações. 
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6306-2
9 788538 763062
CAPA_Geografia da População.indd 1 24/05/2017 10:45:54
João Mendes
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2017
Geografia da 
População
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M491g Mendes, João
Geografia da população / João Mendes. - 1. ed. - Curitiba, PR : 
IESDE Brasil, 2017. 
168 p. il. 
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-387-6306-2
1. Geografia urbana. 2. Geografia humana. I. Título.
17-41718 CDD: 304.2
CDU: 911.3
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2017 – IESDE BRASILS/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa Lucian Milasan/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao aluno | 5
1. Conceitos fundamentais sobre população | 7
2. Concepções sobre população na geografia clássica | 25
3. As teorias sobre população | 41
4. Os movimentos da população | 57
5. Os efeitos da globalização sobre a população | 77
6. Raças, etnias e povos do mundo | 93
7. População e meio ambiente | 109
8. A estrutura da população brasileira | 127
Gabarito | 145
Referências | 153 
Carta ao aluno
Esta obra tem como propósito instigar você, leitor, a refletir 
sobre os fenômenos populacionais e as múltiplas relações que se 
estabelecem entre os habitantes e a produção e transformação do 
espaço geográfico. Tais fenômenos constituem a base da Geografia 
da População, que tem como objeto de estudo, com base em dife-
rentes teorias e dinâmicas complexas e contraditórias, os conceitos 
sobre população. Assim, a temática aqui apresentada é reflexo desse 
dinamismo, pois envolve a análise dos fatores políticos, econômi-
cos, sociais e culturais que interferem na realidade das populações. 
Considera-se que a evolução do pensamento geográfico 
ocorreu a partir de diferentes cenários políticos e econômicos, sendo 
influenciada por interesses diversos. Nesse sentido, várias linhas de 
pensamento se voltaram aos estudos sobre as dinâmicas populacio-
nais com previsões, formulações e contestações sobre a relação entre 
habitantes e espaço geográfico.
– 6 –
Geografia da População
Desse modo, é fundamental que as análises dos fenômenos populacio-
nais sob o ponto de vista geográfico tenham como ponto de partida o cenário 
atual, marcado pela globalização e por avanços tecnológicos. Nessa perspec-
tiva, questões como o modo de vida, as condições econômicas e sociais, a 
distribuição e a estrutura da população dos diversos países do mundo são 
imprescindíveis para a abordagem geográfica. A essas questões somam-se 
ainda outras problemáticas, como a relação entre população, disponibilidade 
de recursos naturais e distribuição das riquezas entre os habitantes de deter-
minado território. 
Neste livro convido você a um processo reflexivo de apropriação dos 
conceitos relacionados aos fenômenos populacionais, de modo a poder apli-
cá-los a situações reais, a fim de compreender a forma como se estabelecem as 
dinâmicas entre os habitantes e o espaço geográfico.
Boas reflexões!
Conceitos fundamentais 
sobre população
Introdução
A Geografia estuda o espaço geográfico, que é resultado de 
múltiplos fenômenos que nele ocorrem. Entre estes, estão as diver-
sas relações que se estabelecem entre os habitantes de um determi-
nado espaço geográfico os motivos de nele se estabelecerem e as 
características que apresentam, pois “a população constituiu a base 
e o sujeito de toda a atividade humana” (DAMIANI, 2004, p. 8).
Assim, os estudos dessas características constituem a base da 
Geografia da População, que tem como propósito abordar os fenô-
menos relacionados às populações a partir de diferentes teorias e 
dinâmicas complexas e contraditórias, as quais serão abordadas no 
decorrer dos capítulos deste livro.
1
Geografia da População
– 8 –
1.1 Os indicadores da população
Para conhecer as características de determinada população, alguns con-
ceitos são imprescindíveis: trata-se de seus indicadores. Tendo como refe-
rência o Dicionário Online de Português, o termo indicador significa “Que 
indica; que dá a conhecer” (DICIO, 2017). Neste capítulo, explicita-se a 
importância dos indicadores e de seus significados para o entendimento das 
especificidades dos fenômenos que envolvem a população que habita uma 
localidade – considerando o espaço e o tempo em que se situam e o nível de 
criticidade que se pretende adotar na análise.
1.1.1 População absoluta
O número total de habitantes de determinado país, região, estado 
ou munícipio refere-se à população absoluta. De acordo com Andrade 
(1998), é comum as pessoas se impressionarem com o grande número de 
habitantes de países como a 
Rússia (143.456.918 hab.1), o 
Brasil (204.450.649 hab.) e os 
Estados Unidos (321.773.631 
hab.). Porém, considerando a 
extensão de territórios como 
esses, detectam-se nessas loca-
lidades vastas áreas subocu-
padas. No mapa da Figura 1, 
evidencia-se como exemplo a 
distribuição da população pelo 
território brasileiro.
Observando-se esse mapa, 
é possível constatar que a 
maior parte da população bra-
sileira se concentra na porção 
leste do país. Segundo Andrade 
(1998), países como a Bélgica, 
1 Dados atualizados de acordo com IBGE Países (2016). Disponível em: <http://paises.ibge.gov.br/>. 
Acesso em: 2 jun. 2017.
Fonte: IBGE, 2010.
Figura 1 – Distribuição da população absoluta 
sobre o território brasileiro em 2010.
– 9 –
Conceitos fundamentais sobre população
Alemanha e os Países Baixos (Holanda), apesar de possuírem números popu-
lacionais inferiores aos de população elevada, são superpovoados, devido à sua 
relativa pequena extensão territorial.
1.1.2 Densidade demográfica
A análise da distribuição da população sobre a área de determinado ter-
ritório requer considerar o conceito de densidade demográfica. Segundo 
Andrade (1998), obtém-se esse indicador a partir da divisão do número total 
de habitantes pela área do território em análise. Desse modo, é possível iden-
tificar o número de habitantes por quilômetro quadrado. Considere as infor-
mações da tabela a seguir:
Tabela 1 – Dados sobre a extensão territorial e a população brasileira em 2010.
Área total 8.515.767,049 km2
População total 190.755.799 habitantes
 Fonte: IBGE, 2017b.
Dividindo-se o número total de habitantes do território brasileiro (dados de 
2010) pela sua área total, obtém-se a densidade demográfica de 22,4 habitantes/
km². Esse conceito precisa ser usado com cautela, já que, na maioria das vezes, de 
acordo com Andrade (1998, p. 47), “países que possuem baixa densidade demo-
gráfica estão superpovoados, pois há em seu território áreas anecumênicas, isto é, 
desfavoráveis à ocupação humana”. O autor cita como exemplo o Brasil, cuja dis-
tribuição da populaçãopelo território ocorre de forma irregular, como é possível 
constatar no mapa da Figura 1, apresentado anteriormente.
1.1.3 Crescimento natural ou vegetativo
O conceito de crescimento natural ou vegetativo é resultante da diferença 
entre o número de nascimentos e de óbitos na população de um país, região, 
estado ou município. Portanto, a análise desse indicador requer comparar as 
taxas de natalidade e mortalidade locais.
A taxa de natalidade é obtida pela divisão do número de nascidos no 
período de um ano pelo número de habitantes do país, região, estado ou 
Geografia da População
– 10 –
município. Com o fim de evitar o excesso de decimais, esse número é mul-
tiplicado por 1.000. Esse indicador é expresso pelo símbolo: ‰ (lê-se “por 
mil”). Assim, tendo-se como referência, por exemplo, a taxa de natalidade do 
ano de 2013, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE), foi de 15 ‰, isso significa que para cada grupo de mil habitantes, 
houve 15 nascimentos (IBGE, 2017c).
Por sua vez, para a obtenção da taxa de mortalidade, divide-se o número 
de óbitos ocorridos no período de um ano, em determinado país, região, 
estado ou município, pelo número de habitantes, multiplicando-se, depois, o 
resultado por 1.000 (ANDRADE, 1998).
Essas taxas são obtidas por meio de levantamentos de dados realizados 
em cartórios de registro civil, que são obrigatórios na maioria dos países do 
mundo. Esses dados também são obtidos por meio de recenseamentos, que, 
no caso do Brasil, são realizados pelo IBGE.
1.1.4 Taxa de fecundidade
O número médio de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher ao final do 
seu período reprodutivo é denominado taxa de fecundidade. De forma geral, há 
uma associação entre a redução das taxas de fecundidade e a modernização das 
sociedades advindas da Revolução Industrial. Entretanto, Alves (1994) adverte 
que nos países subdesenvolvidos há um processo de modernização excludente. 
Portanto, essa associação não corresponde à realidade total desses países.
Para Vasconcelos e Gomes (2012, p. 546), no Brasil “a escolarização das 
mulheres e a inserção no mercado de trabalho, especialmente na área urbana, 
são fatores associados à rápida redução” nas taxas de fecundidade. Esse pro-
cesso, segundo Alves (1994), acentuou-se no país a partir da segunda metade 
da década de 1960, período que foi o “divisor de águas” entre a economia de 
subsistência, de base familiar, e a expansão da economia industrial.
Nessa perspectiva, a queda das taxas de fecundidade começou nas zonas 
urbanas da região Sudeste, a mais industrializada, e se expandiu para as 
demais regiões do país, atingindo também as zonas rurais. Conforme Alves 
(1994, p. 265), antes do início do “declínio, as mulheres brasileiras tinham 
em média 6,3 filhos, passando para 5,8 filhos em 1970, 4,3 filhos em 1980 
– 11 –
Conceitos fundamentais sobre população
e já apresentavam uma média de 3,6 filhos em 1984”. No gráfico a seguir, é 
possível identificar a tendência das taxas de fecundidade no Brasil.
Figura 2 – Brasil: taxa de fecundidade total – 2000 a 2015.
Fonte: IBGE, 2017c.
A análise do gráfico evidencia a tendência de redução das taxas de fecun-
didade na população brasileira. De acordo com Alves (1994), com a redução 
do tamanho das famílias, modificações significativas podem ocorrer também 
na estrutura etária da população.
1.1.5 Expectativa de vida
O número médio de anos que uma pessoa pode viver em determi-
nado país, região, estado ou município é definido como expectativa de vida. 
Consiste, portanto, numa estimativa do número de anos que se espera que 
uma pessoa possa viver.
Esse indicador está associado às condições médico-sanitárias e de bem-
-estar dos indivíduos na sociedade em que estão inseridos. Dessa forma, 
a expectativa de vida tende a ser menor entre os indivíduos submetidos a 
aspectos como poluição ambiental, elevadas taxas de criminalidade e violên-
cia, acidentes, condições econômicas insuficientes e precariedade de serviços 
Geografia da População
– 12 –
como saúde e educação. Assim, melhorias nas condições médico-sanitárias 
aumentam a expectativa de vida.
Segundo Camarano, Kanso e Mello (2004), no Brasil, sobretudo a partir 
da década de 1980, as melhorias das condições médico-sanitárias permitiram 
a redução das taxas de mortalidade infantil e óbitos provocados por doen-
ças infectocontagiosas e parasitárias. Tal redução, ainda segundo os autores, 
foi acompanhada por uma queda significativa da mortalidade de pessoas na 
idade adulta, atingindo mais intensamente, a partir dos anos 1990, a popu-
lação idosa. Esses fatores resultaram em um aumento significativo da expec-
tativa de vida.
1.2 Distribuição da população
Tendo por base os conceitos básicos sobre a população, pode-se passar a uma 
análise de fenômenos como o crescimento, a distribuição geográfica e condições 
em que se inserem as populações em escala local, regional ou mundial.
1.2.1 O crescimento da população mundial
Uma das inquietações ao se estudar o tema população, segundo Andrade 
(1998), é a problemática do atual crescimento acelerado do número de habi-
tantes no planeta. Segundo o autor, esse crescimento ocorreu de forma relativa-
mente lenta até 1850, quando a população mundial atingiu 1 bilhão de pessoas.
Em 1950, de acordo com dados das Organização das Nações Unidas 
(ONU, 2016), a população mundial chegou a 2,6 bilhões de habitantes. 
Alves (2014, p. 224) afirma que “o século XX apresentou o maior cresci-
mento demográfico de toda a história da humanidade”. A estimativa para 
2050, ainda segundo a ONU (2016), é de 9,6 bilhões de habitantes.
Para Andrade (1998, p. 49), esse crescimento “não se processa da 
mesma forma em toda a superfície da Terra; ao contrário, ele é mais lento 
nos países ricos, desenvolvidos, do que nos países pobres, subdesenvolvidos”. 
Desse modo, a tendência é de que nos países ricos predomine a população 
de pessoas mais velhas, enquanto nos países pobres a maioria dos habitantes 
seja de jovens.
– 13 –
Conceitos fundamentais sobre população
Como exemplo do crescimento populacional, Andrade (1998, p. 49), 
cita países como Brasil e México, onde “observa-se uma elevada taxa de nata-
lidade e uma baixa taxa de mortalidade, o que explica o grande crescimento 
destes dois importantes países”. Assim, embora a medicina preventiva tenha 
provocado queda considerável da taxa de mortalidade, como ocorre nos paí-
ses desenvolvidos, a taxa de natalidade mundial continua elevada.
Nessa perspectiva, mesmo admitindo uma tendência ao envelhecimento 
da população de países como Brasil e México, há um grande contingente de 
população jovem. Conforme Damiani (2004, p. 72), “essa população cres-
cente tende a diminuir o ritmo do crescimento econômico, pois parte dos 
investimentos é desviada para manter a população jovem dependente”.
Ao se referir ao acelerado crescimento da população e à elevada porcen-
tagem de jovens, Andrade (1998, p. 51) afirma que “provocam uma série de 
problemas a vários países, pois torna indispensável a ampliação constante da 
infraestrutura de assistência médica e escolar, além de outros serviços”.
Desse modo, a problemática que envolve o crescimento da população 
mundial é complexa e permeada por diferentes abordagens e teorias.
1.2.2 A distribuição da população mundial
Outra problemática que causa inquietações ao se estudar o tema popula-
ção, segundo Andrade (1998), é a distribuição dos habitantes sobre a super-
fície terrestre. A tabela a seguir apresenta algumas informações referentes à 
população mundial (dados de 2016).
Tabela 2 – Distribuição geográfica da população mundial – 2016.
Continente Superfície (km2) População
Europa 10.000.000 738.849.000
Ásia 42.000.000 4.436.224.000
América do Norte 23.000.000 489.093.000
África 29.900.000 1.216.129.000
Geografia da População
– 14 –
Continente Superfície (km2) População
América do Sul 18.000.000 422.534.000
Oceania 11.000.000 39.901.000
Antártida 8.000.000 0
Fonte:PIRÂMIDES..., 2016.
A análise da distribuição dos habitantes pela área territorial requer con-
siderar que, com exceção da Antártida, embora a população seja numerosa, a 
densidade demográfica é desigual. Nessa perspectiva, Andrade (1998) adverte 
que não se pode generalizar tal análise, já que existem áreas com elevada con-
centração populacional e áreas que se caracterizam como verdadeiros vazios 
demográficos. Como exemplo, pode-se destacar a distribuição da população 
na Ásia, que apresenta cerca de 50% dos habitantes concentrados na porção 
oriental do continente, compreendendo países como a China, cuja população 
passa de um bilhão.
No mapa a seguir, é possível identificar as áreas de elevada concentração 
populacional:
Figura 3 – Distribuição da população mundial – 2010.
Fonte: IBGE, 2010.
– 15 –
Conceitos fundamentais sobre população
Em relação à desigual distribuição da população mundial sobre a super-
fície terrestre, pode-se destacar três porções de elevada concentração: a) 
Ásia, cuja população chega a cerca de 4,6 bilhões de habitantes, com áreas 
cujas densidades demográficas chegam a mais de 7.100 hab./km2, como em 
Pequim, na China; b) Europa, cujos países como Inglaterra, França, Bélgica, 
Países Baixos (Holanda), Alemanha e Polônia apresentam densidade demo-
gráfica superior a 210 hab./km2; c) o Nordeste dos Estados Unidos, estenden-
do-se para a região dos Grandes Lagos, onde se situam cidades americanas em 
que a densidade chega a cerca de 250 hab./km2.
Ainda sobre a distribuição da população mundial, Andrade (1998) des-
taca as já citadas áreas anecumênicas (desfavoráveis à ocupação humana). 
São elas:
 2 As regiões polares ártica e antártica, onde, na primeira, a popula-
ção é incipiente e remanescente dos povos nômades e, na segunda, 
ela é formada somente por cientistas.
 2 As regiões desérticas, que ocupam cerca de 20% da superfície ter-
restre, onde, devido à falta de umidade, a cobertura vegetal é prati-
camente inexistente. Mesmo com o desenvolvimento das técnicas 
modernas e o recuo dos limites dos desertos com a irrigação, essas 
áreas apresentam baixas densidades demográficas se comparadas às 
áreas ecúmenas (favoráveis à ocupação humana).
 2 As altas montanhas, como o Himalaia, que ultrapassa os oito mil 
metros de altitude. Devido à altitude, as temperaturas permanecem 
baixas na maior parte do ano e há baixa concentração de oxigênio, 
dificultando a ação humana sobre a natureza. Por esse motivo, as mais 
elevadas habitações humanas estão abaixo de 4.500 metros de altitude.
 2 As florestas equatoriais, cujo clima quente e úmido favorece o 
desenvolvimento da vegetação, mas cujos solos são rapidamente 
desgastados, o que também desfavorece a ação humana. Por esse 
motivo, as densidades demográficas são baixas, como ocorre nas 
bacias do Amazonas e do Congo. Somente em Java, onde os solos, 
por terem origem vulcânica, são férteis, as densidades demográficas 
são elevadas.
Geografia da População
– 16 –
A distribuição da população brasileira sobre o território, conforme men-
cionado anteriormente, também ocorre de forma desigual. Evidencia-se tal 
desigualdade ao se comparar a densidade demográfica da cidade de São Paulo 
(SP), por exemplo, que era de 7.387,69 hab./km² em 2016, segundo o IBGE, 
com a densidade demográfica do município de Canutama, no Estado do 
Amazonas, com 0,43 hab./km² (IBGE, 2017b).
Referindo à distribuição da população mundial como um todo, Andrade 
(1998) destaca que as populações são mais ou menos densas, segundo uma 
série de fatores, como a maior ou menor quantidade de recursos naturais 
disponíveis e o maior ou menor nível de desenvolvimento econômico. Na 
concepção do autor, esses fatores não determinam as densidades demográfi-
cas, mas influenciam o povoamento, principalmente quando se trata da capa-
cidade de acesso aos mercados consumidores.
1.3 População e desenvolvimento
Na análise do grau de desenvolvimento de um país, região, estado ou 
município, de acordo com Andrade (1998), não se pode afirmar que esse 
processo ocorre devido ao elevado ou baixo número de habitantes. Porém, é 
possível relacionar as características da população aos condicionantes econô-
micos, tecnológicos e sociais.
1.3.1 Densidade demográfica e desenvolvimento
Na concepção de Andrade (1998), ao relacionar densidade demográfica 
e desenvolvimento, existem países com elevada população absoluta (ou popu-
losos) que são desenvolvidos e subdesenvolvidos, da mesma forma que há 
países com baixas densidades demográficas ou pouco populosos, que também 
apresentam distintos níveis de desenvolvimento.
Essa relação entre densidade demográfica e desenvolvimento se insere 
numa temática mais ampla, ou seja, no debate sobre população e desenvolvi-
mento, que, segundo Alves (2014), teve início antes dos escritos de Thomas 
Malthus (1766-1834), um dos teóricos mais otimistas sobre a tese do pro-
gresso – ou, nos termos atuais, do desenvolvimento.
– 17 –
Conceitos fundamentais sobre população
Segundo Malthus, na relação entre população e desenvolvimento, a pri-
meira seria uma variável independente, pois tendia a crescer sempre acima da 
disponibilidade de recursos de subsistência. Isso tornaria inviável historica-
mente o desenvolvimento de qualquer sociedade e, logo, de qualquer tipo de 
progresso social (ALVES, 2014).
Contrapondo-se às ideias de Malthus, ainda de acordo com Alves 
(2014), o pensamento de Karl Marx (1818-1883), ao relacionar população 
e desenvolvimento, considera que o capitalismo sempre é capaz de produzir 
bens e serviços de acordo com as demandas requeridas. Logo, o aumento da 
população não representaria prejuízos ao desenvolvimento de um país.
Ao pensar as relações em questão, Andrade (1998) esclarece que o 
desenvolvimento e o subdesenvolvimento não dependem exclusivamente 
da maior ou menor população absoluta ou densidade demográfica, mas 
das características de cada população. Assim, conforme o autor, “os países 
que possuem grande porcentagem de jovens criam uma sobrecarga para a 
população adulta, que tem de prover as suas necessidades e manter e educar 
esses jovens” (ANDRADE, 1998, p. 62).
Ainda se referindo às populações com alta porcentagem de jovens, Andrade 
(1998) afirma que, no futuro, quando esses jovens se integrarem ao mercado 
de trabalho, constituirão uma força que participará da produção, contribuindo, 
consequentemente, para a elevação do Produto Interno Bruto (PIB)2 e para o 
desenvolvimento do país. Por outro lado, “uma população de velhos terá um 
ônus a corrigir, de vez que grande número de aposentados e pensionistas se 
constituirá numa séria carga para a população ativa”, ou seja, a população que 
está inserida no mercado de trabalho (ANDRADE, 1998, p. 63).
O autor destaca que a restrição de natalidade, ou planejamento fami-
liar, recomendada por muitos cientistas sociais como estratégia de desenvol-
vimento para os países subdesenvolvidos, precisa ser vista com cautela. Isso 
porque a elevada densidade demográfica ou a superpopulação não é empeci-
lho ao desenvolvimento, devido à futura integração dos jovens ao mercado 
de trabalho.
2 Produto Interno Bruto (PIB) é o total, em valores monetários, de todos os bens e serviços 
produzidos em uma região durante um período de tempo específico.
Geografia da População
– 18 –
1.3.2 As conferências sobre 
população e desenvolvimento
Após os acertos políticos ocorridos no final da Segunda Guerra 
Mundial, segundo Alves (2014), houve uma reconfiguração do arcabouço 
da governança mundial, com a criação de instituições nas áreas: política, 
como a Organização das Nações Unidas (ONU); financeira, como o Fundo 
Monetário Internacional (FMI); econômica, como o Banco Mundial; e 
comercial, como o General Agreement on Tariffs and Trade – GATT (em 
português, Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
Nesse contexto de novas instituições e de crescimento econômico, toma-
ram impulso as inquietações sobre a população e o desenvolvimento, e, assim, 
ocorreramconferências para debater essa problemática, incluindo também 
questões sobre população e meio ambiente.
As duas primeiras conferências internacionais sobre o tema população 
aconteceram em Roma, no ano de 1954, e em Belgrado, em 1965, em cará-
ter acadêmico e extraoficial (ALVES, 2014). A primeira conferência oficial 
sobre o tema foi organizada pela ONU em 1974, em Bucareste, Romênia, 
e contou com a presença de delegações de vários países. Os embates e as 
concepções já debatidos nos encontros anteriores fizeram parte dessa confe-
rência oficial. A Conferência de 1974, segundo Alves (2014, p. 222), ficou 
dividida entre os “controlistas” e os “desenvolvimentistas”, porque ela ocor-
reu em plena Guerra Fria. Assim, os países mais ricos, tendo como líder 
os Estados Unidos, defenderam a concepção de Malthus, segundo a qual 
é necessário reduzir a fecundidade para promover o desenvolvimento e a 
erradicação da pobreza (controlistas). Já os países então subdesenvolvidos, 
como a China e a Índia, defendiam a “prioridade do fortalecimento das 
políticas de apoio ao desenvolvimento em contraposição ao controle da 
natalidade e ao planejamento familiar” (desenvolvimentistas). No embate 
dessa conferência, teve-se como ponto de vista predominante o dos “con-
trolistas”, com o bordão símbolo de Bucareste: “O desenvolvimento é o 
melhor contraceptivo” (ALVES, 2014, p. 222).
Uma nova Conferência Internacional sobre População ocorreu em 1984, 
no México, na qual se enfatizou a necessidade de estabilização da popula-
ção mundial, ou seja, o “crescimento zero” no mais curto período de tempo 
– 19 –
Conceitos fundamentais sobre população
possível (BERQUÓ, 1999). Tal estabilização, segundo a autora, tornaria 
menos difícil aos países em desenvolvimento melhorar seus padrões de vida. 
Essas conferências, segundo Alves (2014, p. 223), mostram “que a questão 
demográfica foi objeto de disputa e as posições ideológicas variaram bastante 
no espaço de dez anos, com alternância de visões: se a população seria uma 
variável dependente, independente ou neutra”.
Em 1994, ocorreu a Conferência Internacional de População e 
Desenvolvimento do Cairo (1994), que, segundo Berquó (1999, p. 74), 
“beneficiando-se da Conferência de Direitos Humanos de Viena (1993), 
reafirmou a aplicação dos direitos humanos a todos os aspectos das ques-
tões populacionais”. A conferência do Cairo, conforme Alves (2014, p. 223), 
apontou “a necessidade da estabilização do crescimento da população mun-
dial”, já que não é possível “haver crescimento infinito em um mundo finito”. 
No entanto, a conferência não criou nenhum projeto, nem criou meios para 
evitar o supercrescimento da população.
Após essas conferências, os debates sobre população e desenvolvimento 
sustentável continuaram sendo feitos em outros eventos. Tais temas são 
amplos, contraditórios e envolvem interesses diversos, como será visto nos 
próximos capítulos.
Ampliando seus conhecimentos
A evolução do índice de envelhecimento 
no Brasil, nas suas regiões e unidades 
federativas no período de 1970 a 2010
(CLOSS; SCHWANKE, 2012, p. 444-457)
A população mundial encontra-se em um processo de reestru-
turação demográfica que se caracteriza pela redução das taxas 
de fecundidade, diminuição da mortalidade e consequente 
aumento da expectativa de vida. A transição demográfica vem 
acontecendo de forma heterogênea na população mundial e 
Geografia da População
– 20 –
encontra-se em diferentes fases ao redor do mundo. Iniciou-se 
na Europa, e o primeiro fenômeno observado foi a diminui-
ção da fecundidade na Revolução Industrial, fato este anterior 
ao aparecimento da pílula anticoncepcional. Por outro lado, 
o aumento na expectativa de vida ocorreu de forma lenta, 
devido a melhores condições sociais e de saneamento, com 
o advento do uso de antibióticos e de vacinas.
Muitos países, entre eles o Brasil, vêm passando por uma 
mudança em suas estruturas etárias, que se reflete em uma dimi-
nuição relativa na proporção de crianças e jovens e um aumento 
na proporção de adultos e idosos no conjunto da população.
A população brasileira, até os anos 60, revelava-se quase 
estável e sua distribuição etária caracterizava-se por uma quase 
constância. Tratava-se de uma população jovem, sendo que, 
no censo de 1970, 42% da população tinham menos de 15 
anos e 5% tinham mais de 60 anos. Entre os anos 1940 e 
1960, o Brasil experimentou um significativo declínio da mor-
talidade, mantendo a fecundidade em níveis bastante altos, o 
que gerou uma população jovem quase estável e com rápido 
crescimento. A esperança de vida ao nascer passou de apro-
ximadamente 41 anos, na década de 30, para 55,7 anos, na 
década de 60, e a taxa de fecundidade total teria passado de 
6,2 filhos por mulher, nos anos 40, para 5,8, em 1970.
Ao final da década de 60, os níveis de fecundidade passaram 
a apresentar trajetória descendente, inicialmente nos grupos 
populacionais mais privilegiados e nos polos mais desenvolvi-
dos, estendendo-se rapidamente às demais regiões. A partici-
pação relativa do grupo etário jovem declinou de 41,8%, em 
1950, para 28,6% em 2000, tendendo depois a estabilizar-se 
numericamente. Em contraposição, a população idosa (acima 
– 21 –
Conceitos fundamentais sobre população
de 65 anos) mais do que duplicou sua importância relativa, 
passando de 2,4%, em 1950, para 5,4%, em 2000.
Assim, o grupo de idosos é, hoje, um contingente populacional 
expressivo em termos absolutos e de crescente importância rela-
tiva no conjunto da sociedade brasileira, daí decorrendo uma 
série de novas exigências e demandas em termos de políticas 
públicas de saúde e inserção ativa dos idosos na vida social. 
Este processo, denominado de envelhecimento populacional, 
vem sendo informado à sociedade, com base em pesquisas e 
estudos populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE), por meio de indicadores sociais e demo-
gráficos, ferramentas necessárias para entender a dinâmica da 
sociedade em um determinado período de tempo.
Dentre as várias alternativas para a observação do enve-
lhecimento de uma determinada população, o Índice de 
Envelhecimento (IE) apresenta vantagens por ser analitica-
mente simples, apresentar alta sensibilidade às variações na 
distribuição etária, contabilizar os dois grupos etários que defi-
nem o processo de envelhecimento populacional e ser de 
fácil interpretação.
O IE é definido como o número de pessoas de 60 e mais 
anos de idade, para cada 100 pessoas menores de 15 anos de 
idade, na população residente em determinado espaço geo-
gráfico, no ano considerado, e avalia o processo de ampliação 
do segmento idoso na população total em relação à variação 
relativa no grupo etário jovem. Quando há um aumento do 
grupo jovem maior do que o aumento dos idosos, o índice 
acusa o rejuvenescimento da população, a despeito de a 
ampliada participação dos idosos sugerir o envelhecimento 
da população. Por outro lado, se os dois grupos etários 
Geografia da População
– 22 –
observarem variações de mesmo sentido e intensidade, o IE 
não varia, apresentando estabilidade no envelhecimento, ape-
sar de a proporção de idosos indicar aumento ou redução do 
envelhecimento, conforme a direção da mudança.
[...]
As condições de saúde de determinada população podem ser 
estimadas por meio de indicadores demográficos. O conhe-
cimento de aspectos demográficos permite avaliar, além das 
necessidades, as demandas presentes e futuras de recursos de 
toda natureza. O conjunto de informações e indicadores gerado 
pelos estudos demográficos tem especial relevância para a aná-
lise das condições de vida da população, acompanhamento e 
apoio à decisão com relação às políticas públicas, investimentos 
em saúde e intervenções específicas em áreas críticas. A esco-
lha dos indicadores depende dos objetivos da avaliação, dos 
aspectos metodológicos, éticos e operacionais da questão em 
estudo. O Índice de Envelhecimento (IE) permite observar a 
evolução do ritmode envelhecimento da população, compara-
tivamente entre áreas geográficas e grupos sociais.
O processo de envelhecimento populacional é uma realidade 
no Brasil e no mundo, representando um importante fenômeno 
demográfico da atualidade e que modificou a perspectiva de 
vida dos indivíduos. Uma vez que o século XXI testemunhará 
um envelhecimento mais rápido do que o ocorrido no século 
passado, o desafio para o futuro é garantir que os indivíduos 
possam envelhecer com segurança e dignidade, mantendo sua 
participação ativa na sociedade, como cidadãos e com todos 
seus direitos assegurados, sempre compatíveis com aqueles de 
outras faixas etárias e que as relações entre as gerações sejam 
constantemente estimuladas.
– 23 –
Conceitos fundamentais sobre população
Atividades
1. No site <http://www.cidades.ibge.gov.br>, é possível ter acesso a di-
versas informações sobre cada município brasileiro. Acesse e busque 
os seguintes dados sobre o seu município:
 2 área total;
 2 população absoluta;
 2 densidade demográfica.
 Com base nas informações obtidas, elabore um texto abordando os 
fatores que explicam as características desses dados e como é a distri-
buição da população pelo território do município. Se necessário, faça 
pesquisas adicionais.
2. Analise o gráfico a seguir:
Distribuição percentual da população por grandes grupos de idade: Brasil – 1980 a 2010
Fonte: IBGE, 2017b.
Geografia da População
– 24 –
 Com base no que analisou, responda:
a. Quais as principais diferenças da distribuição da porcentagem da 
população entre 1980 e 2010?
b. Indique duas causas das mudanças representadas no gráfico.
3. No site <http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>, pode-
-se visualizar, por meio de gráficos, as projeções para a população de 
cada estado brasileiro. Acesse-o e analise os seguintes gráficos sobre o 
estado onde você mora:
 2 Taxas Brutas de Natalidade (TBN) e Mortalidade (TBM) 
2000-2030.
 2 Expectativa de Vida ao Nascer 2000-2030.
 Elabore um texto explicando as informações representadas nesses grá-
ficos e as causas das projeções para a população do seu estado.
Concepções sobre 
população na 
geografia clássica
Introdução
O conhecimento científico se caracteriza pela dinamicidade 
advinda da influência das transformações econômicas, sociais e tecno-
lógicas da sociedade e suas repercussões nas reflexões e formulações de 
pensamentos. A abordagem da população na geografia é reflexo dos 
movimentos da ciência, pois envolve a análise dos fatores políticos, 
econômicos e sociais que interferem nos fenômenos populacionais.
Assim, os estudos sobre população no contexto da geografia 
são marcados pela evolução do pensamento geográfico sobre os fenô-
menos populacionais. Nessa perspectiva, são apresentados a seguir 
os diferentes momentos da evolução da Geografia da População e as 
reflexões que os acompanham.
2
Geografia da População
– 26 –
2.1 Evolução do pensamento 
geográfico sobre população
A análise da evolução do pensamento geográfico sobre população requer 
considerar as diferentes abordagens teóricas sobre o assunto. Desse modo, 
serão abordados, na sequência, autores clássicos da geografia, destacando suas 
concepções e abordagens teórico-metodológicas sobre os conceitos popula-
cionais, bem como os autores contemporâneos e seus pressupostos sobre a 
temática em questão.
2.1.1 Os estudos sobre população na geografia clássica
Os estudos sobre população, tendo como referência as bases teóricas da 
geografia, são marcados por momentos de permanências, transformações, rup-
turas, limites e contradições (MORMUL, 2013). Para entender esse processo, 
faz-se necessário analisar aspectos da própria evolução do pensamento geográ-
fico e do estabelecimento da geografia como ciência, que traz em sua gênese a 
busca pela superação da fragmentação de seus estudos entre fenômenos físicos 
e humanos. Os estudos populacionais, se forem realizados de forma fragmen-
tada, podem se limitar a explicações generalistas (MORMUL, 2013).
Além disso, ainda conforme Mormul (2013), é necessária a abordagem 
da relação entre a geografia e o capitalismo, como forma de situá-la no con-
texto histórico da produção humana. Nessa perspectiva, os estudos popula-
cionais são intrínsecos à geografia, pois não há como analisar o espaço geo-
gráfico sem a população que a ele dá dinamismo, da mesma forma que não 
há como entender a população sem seu respectivo espaço.
Tendo como referência a evolução do pensamento geográfico e suas 
relações com a abordagem da população, Rodrigues (2008) destaca a sis-
tematização, no século XIX, de saberes acumulados, atribuindo a eles 
métodos próprios de construção de conhecimento. Esse fato deu origem a 
várias ciências, entre elas, a geografia, inicialmente considerada uma ciên-
cia social que trabalha com fenômenos naturais (clima, vegetação, relevo, 
hidrografia etc.). Conforme Rodrigues (2008, p. 13), o “estudo do con-
junto desses fenômenos causou muita discussão na história do pensamento 
geográfico, gerando uma divisão em Geografia Física e Geografia Humana”. 
– 27 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
Essa divisão, na concepção de Mormul (2013, p. 29), “colaborou para que 
as pesquisas na Geografia ocorressem de modo independente, retirando o 
homem da natureza”. Os estudos sobre população trabalhados nessa pers-
pectiva dicotômica, segundo Mormul (2013, p. 33), caracterizaram-se “ora 
dando maior ênfase aos dados empíricos1, ora se reportando aos estudos 
mais técnicos e científicos”.
Como a característica marcante dos estudos da geografia clássica é a des-
crição exaustiva dos fenômenos, os trabalhos sobre população eram marca-
dos pelas descrições, sobretudo quantitativas, desse tema. Essa perspectiva de 
trabalho, na qual, segundo Mormul (2013), os dados sobre população e suas 
variáveis são interpretados numa visão empirista, tornam os estudos isolados 
e distantes da realidade. Desse modo, a população era tomada como um ele-
mento do âmbito geográfico sistematizado e estudado isoladamente. Segundo 
Andrade (1998), essa abordagem da geografia encontra-se:
[...] ultrapassada, de vez que, em relação à produção do espaço geográ-
fico, temos de estudar a ação do homem apropriando-se dos recursos 
existentes, de acordo com as estruturas econômicas, sociais e políticas 
como estão organizadas. Daí a influência do modo de produção e das 
formações econômicas e sociais dominantes no espaço e no tempo e 
concluirmos que existe apenas uma Geografia que é chamada de uma 
ou outra maneira, conforme o enfoque que se dá à mesma nos estudos 
em realização. (ANDRADE, 1998, p. 23)
Assim, os estudos sobre a população em nossos dias consideram que 
não se trata de um conceito meramente numérico, pois requer análises que 
envolvam aspectos econômicos, sociais e ambientais.
2.1.2 Os estudos sobre população 
numa perspectiva crítica
Considera-se que os métodos, técnicas e fundamentos da geografia clás-
sica e das abordagens quantitativas da geografia teórico-quantitativa, segundo 
Rodrigues (2008), são insuficientes para apreender a complexidade do espaço 
geográfico e os fenômenos a ele inerentes. Entre esses métodos, estão aqueles 
referentes à dinâmica populacional, pois a simples descrição e elaboração de 
1 Dado empírico – Que se baseia na observação da realidade ou na experiência, sem considerar 
os métodos científicos; conhecimento adquirido na prática.
Geografia da População
– 28 –
explicações por meio de modelos, utilizando-se de elementos da matemática e 
da estatística, que marcaram os estudos geográficos na perspectiva da geogra-
fia teórico-quantitativa, não são suficientes para a análise desses fenômenos.
Tendo em vista a superação dessas abordagens, surge, na década de 1970, 
a geografia crítica. Segundo Robaina (2015), os estudiosos dessa corrente, 
baseando-se no referencial marxista, destacam as contradições entre o capital 
de trabalho e as desigualdades socioespaciais. Destaca-se, também, a geogra-fia humanista, que contribuiu “sensivelmente para a valorização das experiên-
cias, sentimentos e das percepções de determinados grupos e segmentos sociais 
frente a diferentes configurações socioespaciais” (ROBAINA, 2015, p. 53).
Numa busca por abordagens mais críticas relacionadas aos fenômenos 
populacionais, surgem trabalhos sobre população envolvendo, como cita 
Robaina (2015), as populações em situação de risco e os moradores de rua, 
como, por exemplo, na situação retratada na Figura 1.
Figura 1 – Na Bulgária, o país mais pobre da União Europeia, uma mulher 
coberta por pombos mendiga em uma rua de Sofia.
Fonte: Cylonphoto/iStockphoto.
– 29 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
No entanto, conforme Mormul (2013), ainda é possível encontrar tra-
balhos descritivos sobre a temática população de forma geral. Desse modo, 
faz-se necessária a superação de abordagens dos conceitos populacionais 
baseados no senso comum, as quais “acabam explicitando os fenômenos por 
eles mesmos, isto é, não explicam a realidade do fenômeno. Na maior parte 
das vezes descreve-os, e descrever a realidade apenas não significa produzir 
conhecimento científico” (MORMUL, 2013, p. 33). Assim, até hoje há res-
quícios das abordagens clássicas nos estudos geográficos.
Ao se referir às contribuições da geografia para os estudos populacionais 
na atualidade, Mormul (2013, p. 32) destaca que essa ciência pode “contri-
buir para que as informações sobre população na Geografia avancem para 
além dos dados quantitativos” e que isso pode melhorar a compreensão sobre 
a dinâmica populacional.
Tem-se como desafio contemporâneo em relação aos estudos sobre 
população, conforme apresenta a autora, fazer uso de diferentes metodologias 
ou, até, reescrever uma história diferente sobre a abordagem da população 
na perspectiva da geografia. Além disso, Mormul (2013) destaca a neces-
sidade de se mergulhar na essência dos fenômenos populacionais, em suas 
contradições, seus determinantes, suas implicações. Assim, pode-se, a partir 
da compreensão de tais fenômenos, buscar a superação das suas contradições 
e a sua transformação.
2.2 A demografia na análise da população
Considera-se que os estudos geográficos sobre a população vão além de 
números, estatísticas e conceitos, pois há a necessidade de interpretar e ana-
lisar os fenômenos populacionais em sua complexidade. Nesse sentido, os 
estudos populacionais recebem a contribuição da demografia.
2.2.1 O conceito de demografia
Em 1855, Achille Guillard empregou pela primeira vez o termo demo-
grafia (dêmos = população, graphein = estudo). Segundo Carvalho, Sawyer e 
Rodrigues (1998, p. 6), demografia “refere-se ao estudo das populações huma-
nas e sua evolução temporal no tocante a seu tamanho, sua distribuição espacial, 
Geografia da População
– 30 –
sua composição e suas características gerais”. Já Mormul (2013, p. 33) concei-
tua a demografia como “a ciência que estuda a dinâmica populacional, por 
meio de estatísticas que utilizam como critérios a religiosidade, educação, etnia, 
entre outros, influenciados por fatores como taxa de natalidade, mortalidade, 
fecundidade, entre outros”.
Carvalho, Sawyer e Rodrigues (2013, p. 7) afirmam que a demografia 
“trata dos aspectos estáticos de uma população num determinado momento 
– tamanho e composição –, assim como também da sua evolução no tempo e 
da inter-relação dinâmica entre as variáveis demográficas”.
Considerada um ramo das ciências sociais, sua importância se evidencia 
“no fato de a população ser um elemento político que caracteriza uma socie-
dade e, logo, tornar-se-ia necessário compreendê-la a fim de tornar possível 
o planejamento econômico, social ou político” (MORMUL, 2013, p. 33).
Referindo-se às especificidades da demografia, Carvalho, Sawyer e 
Rodrigues (1998) diferenciam a concepção do termo população para a esta-
tística e para os propósitos de estudos dos habitantes de determinado espaço 
geográfico. Assim, na estatística, população se refere a um conjunto de ele-
mentos, por exemplo, um conjunto de parafusos. Já para a demografia, o 
termo se trata de um conjunto de seres humanos com características específi-
cas inseridos num contexto dinâmico.
Ainda segundo Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998), na caracterização 
da população em demografia, questiona-se: Qual o seu tamanho? Quantas pes-
soas existem numa localidade, num determinado momento? Também se pensa 
sobre sua composição: quantas pessoas são do sexo feminino? Quantas são do 
sexo masculino? Quantas pessoas são maiores de 50 anos? Quantos indivíduos 
são economicamente ativos?
Sobretudo, além dessas informações, os autores destacam a importância 
de compreender as dinâmicas que se estabelecem com base nesses fenômenos 
populacionais. Assim, afirmam que “uma questão importante que surge seria: 
como é que as mudanças em um ou mais destes componentes poderiam afe-
tar os demais?” (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES 1998, p. 7). Como 
possíveis respostas para evidenciar a amplitude da demografia, os autores lis-
tam algumas variáveis demográficas, como: a distribuição da população por 
– 31 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
sexo, idade, estado civil; a distribuição da população pelo território; e a resi-
dência de nascimento atual ou anterior.
Evidencia-se, assim, que a demografia vai além do levantamento de 
informações estatísticas e descritivas sobre a população de determinado 
espaço geográfico, pois busca explicar as dinâmicas que influenciam seus indi-
cadores. Além disso, faz estimativas que são úteis ao planejamento econômico 
e social e que alertam para dinâmicas populacionais que podem interferir na 
qualidade de vida e bem-estar dos seus habitantes.
2.2.2 Geografia e demografia
Considera-se haver uma aproximação significativa entre geografia e 
demografia, pois ambas demonstram abordagens semelhantes que podem 
mutuamente se enriquecer.
De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2005), os geógrafos entendem 
de modo mais simbiótico a relação entre sociedade e natureza. Os demógrafos, 
por sua vez, conferem a essa relação um forte componente socioeconômico. 
Conforme Mormul (2013), os economistas, diante do progresso tecnológico, 
da produtividade crescente e da elevação do nível de vida nos países desen-
volvidos no início do século XX, passaram a ter menos preocupações com os 
problemas populacionais. Nesse contexto, a demografia, embora ganhe maior 
destaque como ciência, teve como foco os recenseamentos, incluindo técnicas 
matemáticas e estatísticas mais consistentes. Outros especialistas, como soció-
logos e antropólogos, também se envolveram nos debates de questões mais 
teóricas sobre os fenômenos populacionais (MORMUL, 2013).
Nos dias de hoje, o diálogo entre geógrafos e demógrafos têm convergido, 
segundo Marandola Jr. e Hogan (2005), para preocupações envolvendo fatores 
sociais e ambientais, como, por exemplo, as situações em que o ambiente, con-
jugado a fatores socioeconômicos, expõe as populações a riscos. Desse modo, 
conforme Mormul (2013), as análises detalhadas, considerando os dados esta-
tísticos com a estrutura teórica da geografia, são benquistas pela demografia.
Nessa perspectiva, os estudos populacionais com base no aporte da geo-
grafia e de outras ciências como a economia política e a sociologia, segundo 
Silva (2004, p. 30), podem “explicar o porquê do lugar de pessoas nas classes 
Geografia da População
– 32 –
sociais, a perda dos indivíduos na coisidade2 da força de trabalho do homem 
genérico, ao mesmo tempo submetido na sociedade, não por obra do acaso, 
mas das leis sociais dominantes”. Ou, ainda, sob o ponto de vista geográfico, 
como afirma Mormul (2013, p. 68), “entender as forças políticas, econômi-
cas e culturais que influenciaram o modo como as pessoas se organizam e 
vivem socialmente”.
Referindo-se à contribuição da demografia para as análises populacio-
nais sob o enfoque da geografia, Marandola Jr. e Hogan (2005, p. 31) des-
tacam os “estudos empíricose preocupações confluentes em um universo 
teórico distinto dos geógrafos e ainda por ser [melhor] desenhado”. Como 
uma tendência dos trabalhos relacionados a essa perspectiva, os autores cha-
mam atenção para estudos que vêm contribuindo com a ampliação de abor-
dagens mais integradas dos aspectos físicos e humanos e suas correlações com 
a dinâmica demográfica. Esses trabalhos estão relacionados à “discussão das 
desigualdades sociodemográficas, vinculadas à pobreza e à problemática da 
exclusão social” (2005, p. 41).
Conforme destaca Mormul (2013, p. 35), “na constituição da ciência 
geográfica a questão da população sempre esteve presente, contudo, não de 
modo explícito, muitas vezes subjugado nos discursos dominantes”. Tendo em 
vista a aproximação entre geografia e demografia, é imprescindível considerar a 
forma como os seres humanos se relacionam com a natureza para assegurar sua 
sobrevivência, considerando as dimensões social e ambiental. Nesse sentido, a 
aproximação entre esses campos do conhecimento passa também pela temática 
do desenvolvimento econômico desigual entre os países, que, segundo Mormul 
(2013, p. 100), envolvem “questionamentos a respeito de como as ações huma-
nas sobre o meio podem ser mitigadas. Para que possamos manter a vida e a 
sustentabilidade do planeta Terra”.
Segundo Sathler (2012), a demografia demorou a considerar a dimen-
são ambiental na análise dos fenômenos populacionais. Isso porque somente 
na década de 1990 surgiram alguns trabalhos que buscavam explicar as 
2 O termo coisidade é usado nesse contexto para sugerir que a força de trabalho coisifica o 
homem, ou seja, transforma-o em uma coisa, na medida em que não o individualiza e não faz 
com que ele se reconheça como indivíduo, mas como um mecanismo dentro de uma máquina 
social sobre a qual ele não pode interferir.
– 33 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
dificuldades dessa ciência em estabelecer uma linha sólida para debater as 
relações entre meio ambiente e população.
De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2005), a geografia caracteri-
za-se por um histórico em abordagens da dimensão ambiental, com larga 
experiência em focar simultaneamente as dinâmicas naturais e sociais. Já a 
demografia, ainda segundo esses autores (2005, p. 29), “enfrenta maiores 
dificuldades, por ter incorporado a dimensão ambiental a seu escopo cientí-
fico bem mais recentemente”.
Em relação ao diálogo entre essas duas ciências, aos geógrafos interessa 
o próprio espaço que, numa perspectiva integrada dos aspectos físicos e 
humanos, inclui a população. Para os demógrafos, o foco parte da impor-
tância do ambiente na delimitação das condições de vida da população 
(MARANDOLA JR.; HOGAN, 2005).
Nesse contexto, tem se destacado a abordagem das questões ambientais, 
buscando, conforme Sathler (2012), reflexões sobre envelhecimento popu-
lacional, estrutura etária e distribuição espacial dos habitantes, levando em 
consideração a relação existente entre homem e meio ambiente. Esse debate 
inclui também a relação entre população e disponibilidade de recursos natu-
rais, como a qualidade da água, o consumo, os habitantes em situação de risco 
ambiental e os problemas sociais em diferentes escalas.
2.3 População e produção do espaço
Considera-se que as características de determinado espaço habitado são 
influenciadas, em boa parte, pelos dinamismos populacionais que nele se 
estabelecem. Como resultado, ocorre a produção do espaço, que é marcada 
pela apropriação desigual dos recursos envolvidos nesse processo.
2.3.1 O espaço na geografia
Ao estabelecer relações entre produção do espaço e população, faz-se 
necessário ter como referência o debate sobre o conceito de espaço na geografia. 
Admite-se que a palavra espaço adquire diversos significados, de acordo com 
o contexto em que é empregada. Na geografia, o conceito de espaço tem uma 
Geografia da População
– 34 –
especificidade, sendo concebido, segundo Carlos e Rossini (1983, p. 7), como 
aquele que é “fruto das relações que se estabelecem entre a sociedade e o meio 
circundante, num determinado momento do desenvolvimento das forças pro-
dutivas”. Nessa perspectiva, a sociedade ao mesmo tempo em que produz sua 
existência, produz o espaço geográfico.
Na concepção de Andrade (1998, p. 32), “o homem transforma sempre 
o espaço em que vive e, ao transformá-lo, transforma a própria natureza, 
fazendo com que os desafios naturais à sua ação sejam diversos dos desafios 
da própria natureza não modificada”. Dessa forma, a gênese do espaço geo-
gráfico é o trabalho, que, conforme Carlos e Rossini (1983, p. 7), “nada mais 
é do que a resposta do homem a uma série de necessidade a que ele deve satis-
fazer para sobreviver”. Nesse processo, por meio de ações conscientes os seres 
humanos transformam o meio natural em espaço geográfico.
Andrade (1998, p. 33) afirma que “a ação do homem não ocorre de 
forma uniforme no espaço e no tempo. Ele faz de forma mais intensa em 
determinados momentos históricos e nas áreas onde pode empregar uma 
tecnologia mais avançada”. O entendimento da dinâmica originária desse 
processo, de acordo Carlos e Rossini (1983), requer a inclusão do papel da 
população, que é seu elemento produtor. A população “não é uma simples 
abstração, mas é sinônimo de sociedade, de uma sociedade histórica, da qual 
os elementos participam de maneira diferenciada pelo lugar que ocupam den-
tro do sistema de produção” (1983, p. 9).
Nessa relação entre espaço e população, as autoras destacam que se trata 
de um espaço humanizado, devido ao fato de a sociedade produzi-lo e dele 
se apropriar de acordo com as diferenças de acesso aos meios de existência, 
e não pelo fato de habitá-lo. Para Carlos e Rossini (1983), pode-se separar a 
população entre a parcela que constrói objetivamente o espaço, que é a força 
do trabalho social, e a parcela que não o produz diretamente.
Sendo a produção do espaço determinada pela formação econômica da 
sociedade capitalista, o acesso dos membros da população aos meios de existên-
cia é desigual. Esse fato se manifesta no próprio espaço geográfico, por exemplo, 
nos contrastes no acesso à moradia no Brasil, como demonstra a Figura 2.
– 35 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
Figura 2 – O Morro do Papagaio, em Belo Horizonte (MG), revela os 
contrastes sociais da cidade.
Fonte: fredcardoso/iStockphoto.
2.3.2 População e espaço geográfico
Conforme mencionado, ao produzir o espaço, a sociedade produz tam-
bém as desigualdades sociais, uma vez que há diferenças no acesso aos recur-
sos existentes. Isso porque, do ponto de vista da população, o processo de 
produção capitalista exige a expropriação dos meios de produção da maioria 
das pessoas. Assim, como destacam Carlos e Rossini (1983, p. 14), “essa par-
cela majoritária constitui uma classe que tem como condição única de sobre-
vivência a venda de sua força de trabalho”.
Nesse sentido, a forma de apropriação do espaço será, segundo Carlos 
e Rossini (1983, p. 14), estabelecida “pelo lugar que o indivíduo terá na 
classe social e, consequentemente, pelo lugar que esta ocupa na sociedade”. 
Conforme Maricato (2002), a produção do espaço pela população não 
somente materializa as desigualdades sociais, como também as reproduz.
Geografia da População
– 36 –
Ao se referir à relação entre população e espaço geográfico, Andrade 
(1998) enfatiza que, no atual estágio de desenvolvimento da sociedade, o ter-
ritório vem sendo organizado de forma diversificada e com uma especialização 
de porções do espaço em ramos de atividades cada vez mais dinâmicos. Essa 
especialização “provoca a concentração populacional nas áreas mais favoráveis 
e, naturalmente, desenvolve a implantação de uma infraestrutura dos servi-
ços necessários ao atendimento das necessidades da população” (ANDRADE, 
1998, p. 42). O acesso a esses serviços e essa infraestrutura é diferenciado de 
acordo com as condições sociais e financeiras de seus habitantes. Tais diferençasse manifestam no espaço geográfico na forma de contrastes entre pobreza e 
riqueza: a população, portanto, materializa no espaço as desigualdades sociais.
Ampliando seus conhecimentos
População, espaço e ambiente: rumo à 
consolidação de uma Demografia am-
biental
(MELLO; SATHLER, 2015, p. 359-361)
Atualmente, um novo campo dentro da Demografia e dos 
estudos de população, que Daniel Hogan denominou, no 
Brasil, de demografia ambiental, está dedicando mais atenção 
às relações entre população e ambiente. Paralelamente ao 
aumento significativo do consumo no planeta, os componen-
tes da dinâmica demográfica se comportaram com bastante 
dinamismo durante o último século em diversas partes do 
globo. Estas transformações demográficas foram acompanha-
das de mudanças ambientais gravíssimas e ainda existe muito 
para entender sobre as relações entre as variáveis populacio-
nais e o ambiente. A partir dos anos 1980, a difusão global 
de casos de contaminação ambiental e suas consequências 
para a saúde e a vida humana motivaram o desenvolvimento 
de estudos sobre população e ambiente (HOGAN et 
– 37 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
al., 2010). Já na década de 1990, os estudos passaram a 
incorporar, sobretudo, as preocupações ambientais com o 
crescente aumento da emissão de gases de efeito estufa e a 
poluição do ar (BONGAARTS, 1992; BIRDSALL, 1992; 
O’NEILL et al., 2001), as mudanças na cobertura e no uso 
do solo e o desmatamento (BILSBORROW; DELARGY, 
1991; BILSBORROW; STUPP, 1997) e as relações entre 
desastres ambientais e a migração (ANDERTON et al. 1994; 
HUNTER, 1998). No entanto, a Demografia demorou a 
incorporar as questões ambientais e apenas recentemente 
este campo de pesquisa tem se tornado mais abrangente. Na 
década de 1990, alguns estudos ofereceram evidências que 
buscaram explicar as dificuldades da Demografia no estabeleci-
mento de uma linha de pesquisa sólida para tratar as questões 
ambientais (DAVIS, 1991; KEYFITZ, 1992; PEBLEY, 1998).
Davis (1991) argumenta que muitos pesquisadores investiram 
elevado tempo em pesquisas voltadas para a criação de meca-
nismos para frear o crescimento populacional, visto como 
fator que exerce grande pressão sobre os recursos naturais. 
Paradoxalmente, também existe o argumento de que as cau-
sas centrais dos problemas ambientais não são demográficas, 
ressaltando a importância das instituições sociais, da eficiên-
cia dos mercados, do nível tecnológico e da distribuição de 
renda. Por outro lado, Keyfitz (1992) ressalta que o excesso 
de peso dado a estes temas pode levar muitos cientistas 
sociais à interpretação errônea de que as questões popula-
cionais têm pouco ou nenhum impacto nas transformações 
ambientais. Outro elemento que distancia a Demografia dos 
estudos ambientais é a dificuldade de diálogo dos estudio-
sos da população com outras áreas, a exemplo da Biologia, 
Bioquímica, Agronomia e Climatologia. Como ressalta Pebley 
(1998), na década de 1990, a carência de dados longitudinais 
locais para o estudo dos impactos ambientais também agravou 
esta situação. As abordagens mais recentes sobre popula-
ção e ambiente têm incorporado novos aspectos, buscando 
Geografia da População
– 38 –
refletir sobre as relações entre as transformações demográficas 
(envelhecimento populacional, estrutura etária e distribuição 
espacial) e questões como qualidade e disponibilidade de 
água, geração de lixo, biodiversidade, paisagem, desastres 
naturais, entre outras (RCEP, 2011). [...]
A comunidade científica não pode cessar os esforços em 
busca do fortalecimento dos estudos sobre população, 
espaço e ambiente, já que ainda existe muito espaço a con-
quistar. Diante disso, cabe o seguinte questionamento: quais 
são os caminhos ainda não percorridos para a consolidação 
da demografia ambiental? Existem várias possíveis respostas 
para esta pergunta, embora a maior parte delas aponte para 
a necessidade de aprofundamento e consolidação de inicia-
tivas já percebidas na comunidade científica, mesmo que de 
maneira tímida, por demógrafos e não demógrafos.
Para que a demografia ambiental se torne mais influente e 
robusta, deve-se, em primeiro lugar, garantir o seu crescimento 
dentro da própria Demografia, com a ampliação de aborda-
gens interdisciplinares que envolvam, cada vez mais, a parti-
cipação de profissionais também de outras áreas do conheci-
mento. Além disso, espera-se que a demografia ambiental se 
valorizará quando mais e mais pesquisadores não demógrafos 
identificarem na Demografia ferramentas importantes para a 
complementação de suas abordagens, devendo, portanto, ser 
estimulada dentro e fora do campo tradicional da Demografia. 
Este não é um caminho fácil de ser percorrido, embora exis-
tam algumas estratégias que mereçam ser discutidas. Cabe 
aos demógrafos e às associações (Iussp, Alap, Abep, PAA, 
entre outras) trabalhar em prol de uma maior incorporação de 
análises demográficas nos grandes relatórios sobre mudanças 
ambientais, sobretudo aqueles realizados pelo IPCC, ONU 
e Banco Mundial. Isso traria maiores possibilidades de cres-
cimento da demografia ambiental, tendo em vista que estes 
estudos, de certa forma, servem de referência para toda a 
– 39 –
Concepções sobre população na Geografia clássica
comunidade científica internacional, balizando abordagens e 
indicando campos de pesquisa promissores. Outra possibili-
dade é a ampliação do levantamento de dados e informações 
com base em recortes geográficos mais favoráveis aos estudos 
sobre população e ambiente, a exemplo de bacias hidrográ-
ficas, biomas, domínio morfoclimáticos e áreas de vulnerabili-
dade socioambiental. [...]
Se os problemas ambientais contemporâneos passam por um 
entendimento multiescalar, a demografia ambiental também 
deverá criar novas possibilidades analíticas em sintonia com 
a natureza destes problemas. Estas iniciativas devem ser multi-
plicadas em prol de uma demografia ambiental mais influente 
e participativa, que ofereça alternativas mais acuradas para a 
mitigação e adaptação aos principais problemas ambientais 
nas suas diversas escalas. Segundo Hogan et al. (2010, p. 
96), “já está na hora de assumirmos uma demografia ambien-
tal, que contribua de forma sistemática para a compreensão e 
construção de um mundo sustentável”. Segundo os autores, 
“esse é um esforço coletivo para o futuro que agrega à reflexão 
ambiental um olhar propriamente demográfico”. Nesse sen-
tido, as repercussões negativas do consumo estarão presentes 
nesse esforço constante em busca da consolidação de uma 
demografia ambiental. [...]
Atividades
1. Considerando a abordagem dos estudos populacionais numa pers-
pectiva clássica, na qual predominam a apresentação descritiva de in-
formações sobre a população de determinado espaço geográfico, e os 
estudos numa abordagem crítica, busque três reportagens de jornais 
ou revistas que abordem o tema envelhecimento da população brasi-
leira. De posse das reportagens, verifique se o enfoque dos textos se 
Geografia da População
– 40 –
alinha a uma perspectiva clássica ou crítica. Depois, elabore um texto 
de oito a dez linhas sobre as conclusões a que chegou.
2. Analise a afirmação a seguir:
 Segundo Mormul (2013), a demografia pode trazer contribuições sig-
nificativas aos estudos geográficos sobre população, permitindo que se 
vá além dos dados quantitativos e a uma melhor compreensão sobre as 
dinâmicas populacionais.
 Aponte três contribuições da demografia para os estudos geográficos 
sobre população.
3. Considere a citação a seguir:
A pobreza resulta das desigualdades sociais, agravando mais a situa-
ção desta, que por consequência ocasiona a exclusão social, e que 
para uma equidade desse sistema são necessárias as políticas públicas 
sociais. Já se foi o tempo em que a pobreza era justificada como uma 
incapacidade da classe inferior em sair desse estado. O mito da “cul-
tura da pobreza”, segundo a qual os pobres não melhoram suas con-
dições de vida porque nãoquerem, desfaz-se, sempre na dura frieza 
das evidências, empíricas e históricas. (ABRANCHES, 1998, p. 16)
 Tendo como referência o que estudou sobre população e produção 
do espaço geográfico, elabore uma síntese explicando as causas da 
pobreza na produção do espaço geográfico.
As teorias sobre 
população
Introdução
A relação entre as características da população, o espaço 
geográfico no qual ela se insere e os fatores que nela interferem já 
era motivo de debate antes mesmo das publicações das obras de 
Thomas Malthus no fim do século XIX. 
Esses debates começaram de forma otimista pelas promessas 
de progresso e desenvolvimento que atingiram a população do iní-
cio da era moderna (ALVES, 2014). No entanto, diferentes interes-
ses marcaram o cenário político e econômico do desenvolvimento 
do capitalismo. Assim, no mundo acadêmico, diferentes linhas de 
pensamento se voltaram para os estudos sobre as dinâmicas popu-
lacionais, com previsões, formulações, inquietações e contestações 
sobre o assunto.
3
Geografia da População
– 42 –
3.1 As ideias de Malthus
3.1.1 Breve biografia
O economista inglês Thomas Robert Malthus nasceu no dia 14 de feve-
reiro de 1766, nas proximidades de Guildford, no condado de Surrey, e morreu 
no dia 23 de dezembro de 1834, em Bath (Inglaterra). De família próspera, 
seu pai, um culto proprietário de terras, era amigo de importantes personagens 
da época, como o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o filó-
sofo escocês David Hume (1711-1776) e o filósofo político Willian Godwin 
(1756-1836). Malthus terminou seus estudos em Cambridge e formou-se 
pastor anglicano em 1797. Passados dois anos, viajou por longa data aperfei-
çoando seus estudos pela Europa. Aos 39 anos de idade, em 1804, Malthus 
casou-se com sua prima Harriet Eckersall e com ela teve três filhos. Em 1805, 
foi nomeado como o primeiro professor de Economia Política no East India 
College (Colégio Oriental da Índia) (GALVÊAS, 1996). 
Malthus ficou famoso como o demógrafo e economista que marcou o 
pensamento econômico a partir dos lançamentos de dois livros essencialmente 
polêmicos, conhecidos como Primeiro Ensaio – “O princípio da população na 
medida em que afeta o melhoramento do futuro da sociedade” –, em 1798, 
e Segundo Ensaio – “O princípio da população ou uma visão de seus efeitos 
passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas 
expectativas quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona”, 
em 1803 (GALVÊAS, 1996). Esses ensaios, segundo Deters e Gullo (2013), 
apresentam perspectivas pessimistas sobre o crescimento da população. 
Os ensaios estão permeados de conceitos cristãos, como o bem e o mal, 
castidade, salvação e condenação (GALVÊAS, 1996). Além deles, Malthus 
escreveu as obras Princípios de Economia Política, em 1820, e Definições de 
Economia Política, em 1827.
Ainda de acordo com Galvêas (1996), as obras de Malthus forneceram 
a chave para o evolucionismo de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace e 
influenciaram vários campos do pensamento. Na economia clássica, sobre-
tudo mediante os trabalhos de David Ricardo (século XIX), os princípios 
da população foram incorporados às teorias econômicas, defendendo que a 
– 43 –
As teorias sobre população
oferta e mão de obra eram inexauríveis e que poderiam ser limitadas apenas 
pelos fundos de salários.
As ideias de Malthus sobre população, segundo Deters e Gullo 
(2013), tornaram-se um dos pilares mais importantes da economia clássica. 
Fundamentando-se em Malthus, vários economistas posteriores esclareceram 
uma das regras fundamentais para a melhoria da condição humana: o cresci-
mento da produção em ritmo superior ao da população.
3.1.2 A polêmica de suas obras
Dois postulados podem ser elaborados adequadamente sobre a relação 
entre população e alimentos, segundo Malthus (1996, p. 246): “Primeiro: 
Que o alimento é necessário para a existência do homem. Segundo: Que a 
paixão entre os sexos é necessária e que permanecerá aproximadamente em 
seu atual estágio.” A partir desses dois postulados, Malthus afirma que:
[...] o poder de crescimento da população é indefinidamente maior 
do que o poder que tem a terra de produzir meios de subsistência 
para o homem. A população, quando não controlada, cresce numa 
progressão geométrica. Os meios de subsistência crescem apenas 
numa progressão aritmética. Um pequeno conhecimento de números 
demonstrará a enormidade do primeiro poder em comparação com 
o segundo. Por aquela lei da nossa natureza que torna o alimento 
necessário para a vida humana, os efeitos desses dois poderes desiguais 
devem ser mantidos iguais. Isso implica um obstáculo que atua de 
modo firme e constante sobre a população, a partir da dificuldade da 
subsistência. Esta dificuldade deve diminuir em algum lugar e deve, 
necessariamente, ser duramente sentida por uma grande parcela da 
humanidade. (MALTHUS, 1996, p. 246)
Nessa perspectiva, a resposta mais evidente e imediata, conforme 
Deters e Gullo (2013), foi a de que a população de qualquer território era 
limitada pela quantidade de alimentos, sendo estes a condição necessária 
para a existência dos seres humanos. Apesar de Malthus considerar que com 
maior quantidade de trabalho e melhores métodos de produção os seres 
humanos poderiam aumentar o volume de alimentos produzidos, chegaria 
um momento que, em determinados territórios, essa produção seria cada 
vez menor. 
Geografia da População
– 44 –
Para Malthus (1996 p. 251), “tomando a população do mundo como 
qualquer número, 1 bilhão, por exemplo, a espécie humana cresceria na pro-
gressão de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512 etc. e os meios de subsistência 
na progressão de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 etc.”. Nessas progressões, em 
pouco mais de dois séculos a população estaria, considerando os meios de 
subsistência, em uma proporção de 512 para 10, e, em três séculos, de 4.096 
para 13. Desse modo, para Malthus, em seu Ensaio sobre a população, de 1798 
(MALTHUS, 1996), ainda que o poder da população fosse de ordem supe-
rior, o aumento do número de habitantes do planeta só poderia ser mantido 
proporcionalmente à ampliação da produção de alimentos. 
Considerando que a produção de alimentos pudesse aumentar em pro-
gressão aritmética, Malthus quer dizer que cada geração só pode aumentar 
essa produção em quantidade aproximadamente equivalente ao aumento 
conseguido pela geração anterior (DETERS; GULLO, 2013). Nesse con-
texto, Malthus aponta dois tipos de obstáculos ao crescimento da população: 
[...] [a] previsão das dificuldades em atender ao sustento de uma famí-
lia atua como um obstáculo preventivo; e a miséria efetiva de algu-
mas das classes mais pobres, em razão da qual estas não são capazes de 
dar o alimento e os cuidados adequados para seus filhos, atua como 
um obstáculo positivo, impedindo o crescimento natural da popula-
ção. (MALTHUS, 1996, p. 263-264, grifos nossos)
Malthus admitia que a fome e a miséria que atingiria as classes mais 
pobres acabaria sendo um fator de controle de natalidade. Porém, esse seria 
o destino da maioria das pessoas, pois os futuros insucessos nas condições 
de sobrevivência atingiriam uma parte significativa da população. Na visão 
de Malthus (1996, p. 247), haveria uma lei natural que “se mostra decisiva 
contra a possível existência de uma sociedade em que todos os membros 
viveriam em tranquilidade, prosperidade e num relativo ócio, e não sen-
tiriam nenhuma angústia para providenciar os meios de subsistência para 
si e para os filhos”. Desse modo, considera inevitável e natural a diferença 
entre classes sociais. Para ele, “a pobreza dependente deve continuar sendo 
uma ignomínia [desonra], por mais duro que isso possa parecer em termos 
individuais” (p. 271).
A esses dois grandes obstáculos ao crescimento da população, ou seja, 
ao preventivo e ao positivo, Malthus (1996, p. 275) afirma que “podem ser 
– 45 –
As teorias sobre população
acrescidos os costumes corruptosem relação às mulheres, as grandes cidades, 
as manufaturas insalubres, a intemperança, a peste e a guerra”. Assim, junta-
mente com a fome, as epidemias, as catástrofes naturais e as guerras possibili-
tariam o crescimento da taxa de mortalidade. 
Como forma de reduzir as altas taxas de natalidade, o economista 
pregava suas ideias morais defendendo, sobretudo, o casamento. Segundo 
ele, “o amor à variedade é uma inclinação viciosa, corrupta e antinatural e 
não predomina, em grau maior, num estágio puro e perfeito da sociedade.” 
(MALTHUS, 1996, p. 304). Evidencia-se a defesa do controle de natalidade 
pelo casamento na seguinte afirmação:
O caráter irreversível do casamento, como ele se constitui hoje, sem 
dúvida impede muitos de chegar àquele estágio. Relações sexuais livres, 
ao contrário, seriam um poderoso incentivo a uniões prematuras, e 
como estamos admitindo não existir nenhuma angústia acerca do sus-
tento futuro dos filhos, não concebo que houvesse uma única mulher 
entre cem, de 23 anos, sem uma família”. (MALTHUS, 1996, p. 304)
Assim, se as dificuldades de prover famílias fossem totalmente elimi-
nadas, poucos(as) jovens permaneceriam solteiros(as). Então, a manutenção 
das dificuldades de sustentar uma família constituía-se numa forma de redu-
zir os casamentos e as taxas de fecundidade por meio de práticas anticon-
cepcionais que partissem dos próprios casais. Desse modo, se os homens se 
casam, de acordo com Malthus (1996, p. 271), “com pouca ou nenhuma 
possibilidade de manter com independência suas famílias, eles não somente 
são injustamente induzidos a trazer infelicidade e dependência a si próprios 
e a seus filhos, mas são levados sem o saber a prejudicar a todos da mesma 
classe que eles”. 
Malthus (1996) se posicionou contra a chamada Leis dos Pobres, uma lei 
aprovada pelo Parlamento inglês que consistia em enviar um pobre a uma “casa 
de trabalho”, onde desenvolveria atividades e receberia o indispensável para não 
morrer de fome. Também apregoava essa lei que nenhuma pessoa pobre pode-
ria ser enviada a um posto de trabalho fora da localidade onde vivia.
Em linhas gerais, os propósitos da teoria de Malthus sobre população 
visavam substituir os obstáculos positivos pelos preventivos ligados à redução 
das taxas de natalidade pelo viés moral. Isso ocorreria sobretudo por meio da 
abstinência sexual, pois os casamentos deveriam ser mais tardios, o que seria 
Geografia da População
– 46 –
garantido pelo tempo que os jovens levariam para alcançar as condições eco-
nômicas para o sustento de uma família.
Dessa forma, estaria garantida a riqueza da classe dominante da 
Inglaterra. Afinal, Malthus, como pastor da Igreja Anglicana, “representava 
os interesses dos proprietários de terra contra os interesses dos trabalhadores 
e da burguesia nascente” (ALVES, 2014, p. 220). Converge para essa afirma-
ção a citação de Abramovay (2010, p. 38), segundo o qual Malthus “defen-
dia os interesses dos latifundiários britânicos de sua época e elaborou uma 
lei científica cujo resultado apocalíptico mostrou-se felizmente errado”. Isso 
porque em nossos dias, ainda conforme Abramovay (2010), a fome é provo-
cada muito mais pela falta de recursos financeiros para adquirir alimento do 
que pela escassez absoluta na oferta. 
No entanto, como afirma Abramovay (2010), 
Malthus errou menos do que se supunha e, sobretudo, acertou em 
cheio num problema central que a ciência econômica posterior a ele 
insiste em ignorar: a elevação da produção material e da oferta de 
serviços encontra um claro limite no esgotamento da capacidade de 
os ecossistemas continuarem prestando os serviços de que depende a 
sobrevivência das sociedades humanas. (ABRAMOVAY, 2010, p. 38)
Embora controversas, as ideias de Malthus sobre população, conforme 
Galvêas (1996), são da mesma natureza daquelas que hoje impulsionam 
debates sobre as relações entre população, política, ambiente e bem-estar.
3.2 O neomalthusianismo
No período Pós-Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o cresci-
mento populacional acelerado nos países subdesenvolvidos levou os estudio-
sos a retomar as ideias de Malthus. Esses pesquisadores, conforme Deters e 
Gullo (2013), passaram a ser chamados de neomalthusianos.
3.2.1 Crescimento populacional 
como gerador de pobreza
Os neomalthusianos defendem que a pobreza e o subdesenvolvimento são 
gerados pelo elevado crescimento populacional. Nessa perspectiva, segundo 
– 47 –
As teorias sobre população
Alves (2014, p. 221), “os países de baixa renda ainda estavam atrasados no 
processo de desenvolvimento e na mudança da estrutura social, tendendo a 
prevalecer as ‘escoras culturais pró-natalistas’, que sustentam um maior tama-
nho de família”. Assim, os países pobres estariam no círculo vicioso chamado 
armadilha da pobreza e suas altas taxas de crescimento populacional explica-
riam o nível de atraso econômico. 
Esse cenário, de acordo com Deters e Gullo (2013), justificaria a adoção 
de drásticas políticas de controle de natalidade, sobretudo por meio do plane-
jamento familiar. Os adeptos do neomalthusianismo, segundo Alves (2014, 
p. 221), ao “contrário de Malthus, defendiam a estabilidade populacional 
não pelo aumento das taxas de mortalidade, mas sim pela redução das taxas 
de fecundidade”. Se para Malthus o controle de natalidade se dava por meio 
das “Leis Naturais”, para os neomalthusianos esse controle exige políticas de 
conscientização sobre a necessidade de redução da população. Pautados nes-
sas bases teóricas, vários países adotaram políticas antinatalistas (DETERS; 
GULLO, 2013).
Para os neomalthusianos, a redução do ritmo de crescimento popula-
cional representa uma decolagem do desenvolvimento, pois, de acordo com 
Alves (2014, p. 221), “não poderia haver incremento da renda per capita sem 
a redução do ritmo de crescimento do denominador da equação e sem a dimi-
nuição do ônus da razão de dependência dos jovens”.
Na Conferência Internacional sobre População, realizada na cidade de 
Bucareste, em agosto de 1974, durante o período da Guerra Fria, os países 
ricos, liderados pelos Estados Unidos, defendiam, segundo Alves (2014, p. 
222), a “concepção neomalthusiana de reduzir a fecundidade para promover 
o desenvolvimento e a erradicação da pobreza”. A China e a Índia defendiam 
o fortalecimento das políticas de apoio ao desenvolvimento com o bordão: 
“o desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. No entanto, houve uma sur-
preendente reconfiguração de forças políticas, e a China, em 1979, passou a 
adotar a política do filho único1, que, conforme Alves (2014), é uma política 
neomalthusiana. Essa política trouxe consequências sociais e demográficas 
que vêm sendo observadas com pessimismo. 
1 Em 2015, depois de mais de 30 anos da política do filho único, o Partido Comunista anuncia 
o fim dessa política, permitindo aos casais ter até dois filhos.
Geografia da População
– 48 –
A politização excessiva da problemática do crescimento demográfico, 
segundo Carvalho e Brito (2005), levou os neomalthusianos a supervalorizar 
a eficiência das políticas de controle de natalidade e os efeitos positivos da 
desaceleração do aumento da população. Ainda conforme os autores, essas 
abordagens neomalthusianas, assim como as ideias do próprio Malthus, são 
marcadas por questões ideológicas, que já foram superadas pela história. Isso 
porque as abordagens críticas e os direitos sociais possibilitam pensar estraté-
gias de distribuição de renda e de desenvolvimento dos países pobres.
Ao se referir às teorias neomalthusianas, Singer (1976) destaca que elas 
correspondem às ideologias dominantes no mundo capitalista e aos interesses 
dos países ricos. Segundo Deters e Gullo (2013), a própria denominação neo-
malthusiano se deve, principalmente, ao apoio recebido pelo Clube de Roma, 
um grupo de personalidades ilustres advindos de comunidades científicas, 
acadêmicas, políticas, empresariais e financeiras que debatem sobre temas 
políticos, econômicos e de meio ambiente.Essas comunidades estão ligadas a 
interesses, sobretudo, capitalistas.
3.2.2 Crescimento populacional e recursos naturais
Além de os neomalthusianos defenderem que a pobreza e o subdesenvol-
vimento são gerados pelo elevado crescimento populacional, também susten-
tam, segundo Deters e Gullo (2013), a ideia de que o crescimento acelerado 
da população pressiona a demanda de recursos naturais, o que geraria uma 
escassez sem precedentes.
Essa escassez, ainda conforme Deters e Gullo (2013), estaria sendo pro-
vocada pelas mudanças climáticas e pela degradação ambiental, o que, por 
consequência, representaria riscos futuros para o ambiente. Nessa perspectiva, 
os neomalthusianos defendem que o ambiente é produto das dimensões do 
aumento da população, determinando uma relação direta com a demanda de 
recursos naturais, evidenciando-se, assim, a necessidade de controle desse cres-
cimento populacional. 
Conforme Deters e Gullo (2013), é praticamente impossível negar que o 
crescimento populacional seja um problema; a questão central está na escolha 
do modelo de desenvolvimento e dos tipos de tecnologias adotadas para aten-
der às demandas por recursos naturais. Entretanto, o debate envolvendo o tema 
– 49 –
As teorias sobre população
população e ambiente, de acordo com Lima (2013, p. 576), “abriga diversos 
entendimentos e éticas, [e] o seu amplo espectro de ação ajuda a proposição de 
múltiplos enfoques, muitas vezes harmônicos e complementares, conquanto 
existam abordagens conservadoras e dissidentes”. Ainda conforme o autor, o 
principal alvo das críticas às abordagens neomalthusianas seria a simplificação 
da questão ambiental no contexto do desenvolvimento capitalista. 
Nessa perspectiva, Deters e Gullo (2013), apontam que a solução dada 
pelos neomalthusianos para o dilema ambiental se apresenta de forma sim-
ples e aparentemente eficaz, tendo como base a ideia de que, reduzindo-se 
o crescimento da população, automaticamente os impactos ambientais e 
sociais reduziriam.
Damiani (2004) afirma que Malthus não só ainda vive por meio des-
sas abordagens neomalthusianas, em pleno século XXI, mas que recuperou 
seus ensinamentos, os quais se tornaram comuns, orientando a elaboração da 
demografia e conferindo importância socioeconômica aos problemas popula-
cionais. Na concepção da autora, a demografia formal acaba por superestimar 
as técnicas quantitativas em suas abordagens. 
3.3 As teorias críticas sobre população
Considerando as polêmicas presentes nas teorias populacionais baseadas 
nas ideias de Malthus, outras abordagens procuram analisar aspectos relevan-
tes para a análise das relações entre capitalismo e população. Nesse sentido, 
destaca-se o pensamento de Karl Marx sobre as relações entre capital, traba-
lho, população e acesso aos meios de subsistência.
3.3.1 As críticas de Marx a Malthus
Karl Marx nasceu em 1818, em Trier, no sul da Alemanha, e morreu no 
ano de 1849, em Londres, onde estava exilado. Marx pertencia a uma família 
de classe média judaica. Formou-se em Direito em Berlim, num ambiente 
de elevada vivacidade cultural e política. Casou-se em 1843, com Jenny Von 
Westphalen, cujo ambiente confortável da casa dos pais foi substituído pelas 
vicissitudes na companhia de um líder revolucionário. 
Geografia da População
– 50 –
Marx se posicionou contra os postulados de Malthus (1996) de que a 
pobreza resultaria do elevado crescimento da população. Para o filósofo alemão, 
em seu O processo de produção do capital (1867) (MARX, 1996a), a pobreza é 
decorrente da exploração do trabalhador e da divisão da sociedade em classes: 
a dos proprietários dos meios de produção (a terra, as máquinas, o capital) e a 
dos não proprietários, que, por não possuírem esses meios, vendem sua força 
de trabalho. Nessa perspectiva, ao se produzir mercadorias e buscar o lucro 
máximo, ocorre a exploração da classe trabalhadora e o aumento da pobreza.
Seus escritos tiveram como base de análise, segundo Gorender (1996, 
p. 42), a “Revolução Industrial recém-concluída na Inglaterra e em curso 
nos demais países da Europa ocidental, quando, com efeito, os salários reais 
foram rebaixados”. Marx analisa os impactos da mecanização do trabalho, 
a exploração e as péssimas condições de trabalho às quais os trabalhadores, 
incluindo muitas crianças, submetiam-se. Marx faz a seguinte afirmação 
sobre essa situação:
Onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produ-
ção, produz miséria crônica nas camadas de trabalhadores que con-
correm com ela. Onde a transição é rápida, seus efeitos são maciços e 
agudos. A história mundial não oferece nenhum espetáculo mais hor-
rendo do que a progressiva extinção dos tecelões manuais de algodão 
ingleses, arrastando-se por décadas e consumando-se finalmente em 
1838. Muitos deles morreram de fome, muitos vegetaram com suas 
famílias a 2 1/2 pence por dia. (MARX, 1996b, p. 62)
Nessa perspectiva, a pobreza é consequência da busca incessante pela 
acumulação capitalista a partir da exploração intensa do trabalhador ou, 
ainda, da expropriação de sua força laboral, com a mecanização da produção. 
Contrapondo-se às ideias de Malthus, segundo o qual a pobreza seria um obs-
táculo ao crescimento econômico, Marx busca, nas contradições entre capital 
e trabalho, as explicações para os motivos da pobreza e das desigualdades no 
acesso aos meios de subsistência.
3.3.2 As ideias de Marx sobre população
Marx (1996b) destaca a necessidade de se analisar os fenômenos em sua 
totalidade histórica e concreta. Assim, para a análise da dinâmica populacio-
nal, é preciso considerar as relações sociais e produtivas na qual se insere. 
– 51 –
As teorias sobre população
Relacionando o exposto ao crescimento populacional, segundo Alves 
(2014, p. 220), Marx considera que “o excesso de população não seria nada 
mais do que uma estratégia criada (pela mudança da composição orgânica do 
capital) para produzir uma ‘superpopulação relativa’ ou um ‘exército indus-
trial de reserva’”. Ainda de acordo com o autor, esse exército de mão de obra 
consiste em manter um “estoque” de trabalhadores destituídos de seus meios 
de produção à disposição dos interesses capitalistas, o que se converte em 
diminuição de salários e no consequente aumento da pobreza.
Para Marx (1996b, p. 262), há “uma lei populacional peculiar ao modo 
de produção capitalista”. Tal lei se impõe pela acumulação do capital produ-
zido, em volume crescente, pela população trabalhadora, a favor dos proprie-
tários dos meios de produção. Assim, o acúmulo de capital permite novos 
investimentos e novas demandas de trabalho podem surgir. Desse modo, 
como afirma Marx, 
Uma lei populacional abstrata só existe para planta e animal, à medida 
que o ser humano não interfere historicamente. Mas, se uma popu-
lação trabalhadora excedente é produto necessário da acumulação ou 
do desenvolvimento da riqueza com base no capitalismo, essa super-
população torna-se, por sua vez, a alavanca da acumulação capitalista, 
até uma condição de existência do modo de produção capitalista. 
(MARX, 1996b, p. 262)
O aumento populacional, além de prover o exército de mão de obra, se 
constitui na condição de existência do capitalismo, pelo consumo das mer-
cadorias produzidas, e também passíveis de serem consumidas, pela classe 
trabalhadora. Segundo Marx (1996b, p. 246), “as circunstâncias mais ou 
menos favoráveis em que os assalariados se mantêm e se multiplicam em 
nada modificam, no entanto, o caráter básico da produção capitalista”. Esse 
caráter é o consumo de mercadorias produzidas e que precisam, para garan-
tir a acumulação de capital, serem vendidas. Isso evidencia, conforme Marx 
(1996b, p. 246), que a “acumulação do capital é, portanto, multiplicação 
do proletariado”.
Nessa perspectiva, à produção capitalista, em específico, segundo 
Damiani (2004, p. 17), “não basta a quantidade de força de trabalho disponí-
vel, fornecida pelo incremento natural da população. Para poder se desenvol-
ver livremente,a produção capitalista ultrapassa esses limites”. Evidencia-se, 
Geografia da População
– 52 –
assim, a importância da superpopulação, ou seja, do exército de mão de obra, 
que tem a seguinte utilidade para a produção capitalista: 
O trabalhador desocupado, ou semi ocupado, isto é, ocupado em 
atividades intermitentes, irregulares, de baixíssimos salários, transfor-
ma-se numa pressão viva para rebaixar ou manter baixos os salários 
daqueles efetivamente ocupados; já que, estes últimos, podem ser 
substituídos pelo primeiro. (DAMIANI, 2004, p. 18)
Nesse contexto, o trabalhador, diante da concorrência, é pressionado 
a se submeter a formas de exploração do seu trabalho intensamente mais 
lesivas e sob remuneração cada vez mais irrisória e a jornadas de trabalhos 
mais extensas. Com base em Marx (1996b), Damiani (2004, p. 19) afirma 
que “a acumulação de riqueza, nos termos em que se dá, é ao mesmo tempo 
acumulação da miséria”. 
Considerando o pensamento de Marx, não se pode desprezar a pro-
blemática do crescimento da população e as dinâmicas dele decorrentes. 
Entretanto, é preciso evitar os limites da compreensão das dinâmicas popula-
cionais com base em teorias e leis abstratas. Nessa perspectiva, faz-se necessá-
rio valorizar os condicionantes históricos e sociais e os interesses econômicos 
que interferem no acesso da população aos meios de subsistência.
Ampliando seus conhecimentos
Contexto: as políticas populacionais
(PEDRO, 2003, p. 241-243) 
[...]
No Brasil – assim como nos países do terceiro mundo –, a 
divulgação dos métodos contraceptivos modernos, entre estes 
o das pílulas anticoncepcionais, fez parte de políticas interna-
cionais voltadas para a redução da população. Isto foi muito 
diferente do que ocorreu com mulheres de países europeus, 
cujas políticas natalistas tinham adquirido muita força após as 
– 53 –
As teorias sobre população
guerras mundiais. Assim, enquanto em lugares como a França 
a pílula somente foi liberada para consumo em 1967, no Brasil 
a pílula anticoncepcional e o DIU foram comercializados sem 
entraves desde o início da década de 60. 
As notícias sobre o novo contraceptivo – considerado mais 
eficaz que os anteriores – vieram acompanhadas, no Brasil, 
de dados alarmantes sobre o perigo de superpopulação no 
mundo. Assim, em abril de 1960, a revista Seleções, num 
artigo intitulado “Gente Demais! Que Fazer?”, informava que 
dali a 40 anos, ou seja, no ano 2000, o mundo teria 8 bilhões 
de pessoas e, dessas, 70% seriam afro-asiáticas. A razão disso, 
informavam, era a redução da mortalidade infantil, bem como 
o aumento da longevidade. No mesmo artigo eram anunciadas 
as experiências dos doutores Gregory Pincus e John Rock, os 
quais desde 1956 estavam experimentando os contraceptivos 
hormonais em mulheres do Haiti e de Porto Rico, chamados 
no artigo da revista de “campos de prova”. Dizia também que 
o medicamento era muito recente para se poder assegurar 
qualquer promessa de eficácia; que ainda era muito caro e que 
se registraram, nas mulheres que o experimentaram, queixas 
de “efeitos secundários desagradáveis como náusea, dor de 
cabeça e tonturas”. Entretanto – afirmava o autor –, diante do 
perigo do crescimento demográfico, “até mesmo um recurso 
anticoncepcional que não seja infalível poderá ter virtualmente 
importância nos países que mais crescem demograficamente”. 
O Brasil foi, nesse contexto, classificado entre os que estavam 
ameaçando a superpopulação do mundo. Como explicar este 
tipo de argumento demográfico no Brasil? 
O investimento no controle da natalidade no Brasil, e em 
outros países da América Latina, teve relação direta com a 
Revolução Cubana de 1959. A partir daí, a política norte-
-americana passou a considerar a América Latina como um 
“continente explosivo”, um campo fértil para a agitação comu-
nista. Começaram a ser criadas, então, organizações de ajuda 
Geografia da População
– 54 –
aos latino-americanos. Estas ajudas traziam como exigência 
a adoção de programas e estratégias de redução do cresci-
mento populacional. Em 1961, por exemplo, a Conferência 
da OEA, que criou a Aliança para o Progresso, foi a mesma 
que expulsou Cuba daquele organismo. O entendimento era 
de que o crescimento rápido da população latino-americana, 
e sua consequente pobreza, seriam fortes aliados da revolu-
ção comunista. Deste modo, o perigo representado por uma 
questão política foi transformado no da “bomba demográfica”. 
Nas décadas de sessenta e setenta, em vez de revoluções 
comunistas, o Brasil e diversos países da América Latina tive-
ram a implantação de várias ditaduras militares. Estas impedi-
ram manifestações, definiram um percurso histórico na direção 
da sociedade capitalista, e receberam pressões de organismos 
internacionais para a adoção de políticas antinatalistas.
Entretanto a política internacional, voltada para a redução da 
população – principalmente dos países pobres –, encontrou 
no governo brasileiro durante a vigência do regime militar, além 
de ambiguidade, um debate que não conheceu consenso. 
De um lado havia os “antinatalistas”; de outro, os “anticontro-
listas”. Os primeiros reivindicavam um projeto de desenvol-
vimento para o País, dentre cujas exigências encontrava-se a 
redução da natalidade como parâmetro de país desenvolvido. 
Além disso, havia o argumento de que, com o crescimento 
demográfico então observado, a economia teria dificuldades 
em manter altas taxas de crescimento capazes de darem conta 
da demanda exigida. Por outro lado, os anticontrolistas, com 
a teoria geopolítica de “ocupação de espaços vazios”, encon-
travam entre os militares nacionalistas fortes aliados. Estes argu-
mentavam que a soberania nacional dependia da presença de 
– 55 –
As teorias sobre população
brasileiros em todas as regiões do País. Aos anticontrolistas no 
Brasil, muitas vezes aliaram-se vários setores da Igreja Católica, 
e até mesmo grupos feministas. [...]
O comércio da pílula anticoncepcional teve início no Brasil em 
1962, dois anos após ter sido aprovada nos Estados Unidos 
pelo FDA – Food and Drug Administration – a pílula cha-
mada ENOVID, produzida pelo laboratório Searle. Convém 
destacar que foi em instituições estrangeiras que os médicos 
buscaram, já na década de 50, conhecimentos sobre a con-
tracepção, a qual até a década de 60 não era ensinada nas 
faculdades de medicina brasileiras. Foi, entretanto, a partir de 
1966, que as revistas médicas brasileiras começaram a difundir, 
para os ginecologistas e obstetras, as pesquisas e estudos já rea-
lizados por médicos tanto brasileiros quanto estrangeiros. [...]
As mulheres de camadas médias brasileiras aderiram ao con-
sumo da pílula, representando um mercado em crescimento 
acelerado. Em 1970, 6,8 milhões de cartelas de pílulas anticon-
cepcionais foram vendidas e, em 1980, este número subiu para 
40,9 milhões. Muito deste consumo foi certamente de mulheres 
das camadas médias, já que as das camadas populares pode-
riam obtê-las, de forma gratuita, através de organismos como a 
BEMFAM – Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil. 
Convém lembrar que os argumentos que acompanharam a 
entrada das pílulas anticoncepcionais no mercado francês não 
foram os mesmos usados no Brasil. No Brasil, este momento 
foi vivido como expansão de “campo de prova”, como preo-
cupação com a expansão da população pobre, e também 
com o perigo subversivo que esta pobreza poderia trazer. [...]
Geografia da População
– 56 –
Atividades 
1. As reflexões de Malthus sobre população tiveram como referência a 
situação dos pobres na Inglaterra na passagem do século XVIII para o 
XIX. Malthus (1996) afirma que:
As leis dos pobres foram instituídas na Inglaterra para remediar a 
frequente miséria do povo, mas é para se recear que, embora elas 
possam ter aliviado um pouco a intensidade da miséria individual, 
provocaram um dano geral numa parcela muito maior. É um assunto 
frequentemente suscitado em conversas e mencionado sempre como 
causa degrande admiração que, não obstante a enorme quantia que é 
anualmente arrecadada para os pobres na Inglaterra, ainda exista tanta 
miséria no meio deles. (MALTHUS, 1996, p. 268)
 Analisando a citação, destaque a concepção de Malthus sobre pobreza 
e suas relações com o crescimento da população.
2. Crie dois mapas conceituais, um sobre as ideias de Malthus e outro 
sobre as ideais de Marx, referentes ao tema população. Depois, elabore 
um texto de oito a dez linhas sobre as principais diferenças de pensa-
mento entre os dois autores. 
3. Com base no que estudou sobre neomalthusianismo, cite as princi-
pais ideias dessa abordagem sobre população e explique os motivos 
das críticas lançadas a essa linha de pensamento.
Os movimentos 
da população
Introdução
Desde os primórdios da civilização, os movimentos popula-
cionais marcam a humanidade. Incialmente, eles ocorriam devido à 
necessidade de se encontrar alimentos e lugares seguros para habitar. 
Ao longo do tempo outros fatores, como a fome, as guerras e as 
epidemias, foram se somando às razões que estimulam a população 
a se movimentar de um lugar para outro.
Com o advento do capitalismo, os movimentos da população 
passaram a sofrer influência também de fatores econômicos, polí-
ticos, sociais e culturais, o que trouxe um dinamismo ainda maior 
a esse fenômeno. Tendo isso em vista, no presente capítulo serão 
abordadas as maneiras como esses diferentes fatores interferem nos 
deslocamentos realizados pelas populações.
4
Geografia da População
– 58 –
4.1 A mobilidade da população
4.1.1 Fenômeno migratório: conceitos básicos
Uma das características que marcam a espécie humana é sua capacidade 
e disposição para se deslocar pela superfície do planeta, ou seja, sua signifi-
cativa mobilidade. Esse fenômeno vem apresentando transformações signifi-
cativas na forma em que ocorre, em todo o mundo, principalmente desde as 
últimas décadas do século XX (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2011).
A análise da mobilidade da população, segundo Resstel (2015, p. 38), é 
complexa, “em razão do aumento vertiginoso das diferentes formas de mobi-
lidade e de trânsito entre uma localidade e outra, entre regiões geografica-
mente distantes, entre países, continentes e entre povos e culturas marca-
damente diferentes”. A compreensão dessa complexidade tem demandando 
um esforço de busca de explicações teóricas para esse processo, que envolve a 
dimensão interna, os deslocamentos de curta duração e distâncias menores, 
o redirecionamento dos fluxos migratórios, os movimentos pendulares e as 
estratégias de sobrevivência (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2011). No contexto 
das migrações internacionais, ela envolve, ainda, as manifestações de xenofo-
bia, isto é, aversão ou rejeição a pessoas ou coisas estrangeiras.
No estudo do fenômeno da mobilidade da população, é necessário o 
domínio de alguns conceitos, como migração, emigração e imigração. De 
acordo com Resstel (2015, p. 37), “o conceito de migração não é simples 
e tampouco existe consenso em torno dele”. Conforme a autora, de modo 
geral, migração se refere aos deslocamentos da população de um lugar para o 
outro, imbuídos do objetivo de se fixar ou residir em outro território.
Esses deslocamentos, ainda segundo Resstel (2015), dão origem a fluxos 
de trânsito de pessoas de uma região a outra. Quando esses fluxos ocorrem 
dentro do próprio país, são denominados de migrações internas, cujas caracte-
rísticas serão abordadas mais adiante. Ao ter como objetivo o deslocamento 
entre diferentes países ou continentes, esses movimentos são chamados de 
migrações internacionais, e quem os realiza são designados de imigrantes. 
Segundo Resstel (2015, p. 38), “os fluxos de partida foram nomeados ‘emi-
gração’ e os de chegada ao destino, ‘imigração’. Paralelamente, surgiram os 
– 59 –
Os movimentos da população
conceitos de ‘emissão’ e ‘recepção’ para caracterizar regiões ou países de onde 
partiam ou aonde chegavam os migrantes”. Para ilustrar esses fluxos, Andrade 
(1998, p. 56) afirma que “se um italiano se transfere para o Brasil, ele é emi-
grante em relação à Itália e imigrante em relação ao Brasil”.
A forma como esses processos vêm ocorrendo, sobretudo a partir da 
década de 1980, segundo Oliveira (2011), sofreu transformações importan-
tes, tanto nos países desenvolvidos, como nos países em desenvolvimento. 
Conforme o autor, em relação às migrações internas, os movimentos que 
tinham como característica básica a direção do fluxo para os grandes cen-
tros passaram a ter como tendência de destino as cidades médias, o que dá 
importância aos deslocamentos pendulares. Esses deslocamentos, conforme 
Moura, Branco e Firkowski (2005, p. 124), “caracterizam-se por desloca-
mentos entre o município de residência e outros municípios, com finalidade 
específica”, o que deixa de ser um fenômeno meramente metropolitano. 
Assim, cenas de “multidões” esperando o transporte público, por exemplo, 
são comuns nas grandes metrópoles em que populações residentes em cidades 
próximas deslocam-se para trabalhar nestes centros urbanos.
Em relação às migrações internacionais, Oliveira (2011) destaca que 
mudanças relevantes também são observadas. É o caso, por exemplo, de paí-
ses europeus como Itália, Espanha e Alemanha, nos quais, considerando-se 
o início e meados do século XX, predominavam as emigrações e que, atual-
mente, tornaram-se nações que atraem imigrantes. Ainda, países que, tra-
dicionalmente, recebiam imigrantes, agora criam sérias restrições quanto à 
entrada de novos habitantes, como os Estados Unidos da América e alguns 
países da Europa Ocidental.
Resstel (2015) destaca como fatores que envolvem a mobilidade da 
população no mundo atual: o aumento vertiginoso das diferentes formas de 
trânsito, que diminuem o tempo do deslocamento entre uma localidade e 
outra; e a maior comunicação entre regiões, países, continentes e povos com 
culturas notadamente diferentes. A autora aponta, ainda, que hoje, diferen-
temente de outras épocas, os intercâmbios culturais e científicos e as viagens 
turísticas com durações variáveis são comuns.
Desse modo, é possível “permanecer em um lugar longínquo por alguns 
dias ou por uma longa temporada ou, ainda, ter domicílios em diferentes 
Geografia da População
– 60 –
países” (RESSTEL, 2015, p. 38). Na concepção da autora, é frequente o imi-
grante “carregar consigo” uma imagem que o retrata como intruso, perigoso e 
como um ser inferior, mas ele pode também ser visto de forma positiva.
Considerando ainda a complexidade que envolve a problemática, vários 
pesquisadores buscam bases teóricas para analisar as causas e consequências 
da mobilidade da população.
4.1.2 Fenômeno migratório: conceitos 
e abordagens teóricas
O debate sobre o tema migração, segundo Sasaki e Assis (2000), não 
era relevante para os estudos populacionais na virada do século XIX para o 
XX. Conforme os autores, teóricos clássicos como Malthus e Marx analisa-
ram o tema como consequência do capitalismo e do processo de industriali-
zação e urbanização.
Nessa perspectiva de análise, o declínio das comunidades rurais e a 
migração dos imigrantes em busca de emprego e sobrevivência nas cidades 
deu origem a culturas heterogêneas (SASAKI; ASSIS, 2000). Como evidên-
cia, os autores citam que, para Malthus, nesse contexto a migração seria uma 
consequência inevitável, devido à superpopulação. Dessa forma, o Novo 
Mundo seria o destino dos imigrantes temporários que fugiam do ciclo de 
pobreza e miséria. Esse pensamento de Malthus (1996) deriva da ideia de 
que a população cresceria em ordem geométrica, enquanto a produção de 
alimentos, em ordem aritmética.
Marx (1996a) se posiciona contra as ideias de Malthus, defendendo que 
os problemas populacionais, sobretudo a fome e a miséria, são decorrentes 
do modo de produção capitalista que forma verdadeiros exércitos de mão 
de obra e causa baixas nos salários. Marx, ao examinar as mudanças trazi-
das pelo capitalismo na França, Irlanda e Escócia, ressaltou a cumplicidadedos governos e militares com os movimentos de cerceamentos (enclosures), 
que, segundo Gorender (1996, p. 36), “expulsaram os camponeses de suas 
terras e as converteram em campos de pastagem de ovelhas, enquanto dos 
camponeses expropriados e despossuídos emergiria o moderno proletariado”. 
Marx (1996b) destaca, também, o confisco das terras da Igreja Católica e sua 
– 61 –
Os movimentos da população
distribuição aos burgueses, o crescimento da dívida pública, que concentrou 
as riquezas nas mãos de poucos privilegiados, e o protecionismo, que garantiu 
à nascente burguesia industrial a exclusividade de produção, resultando na 
ruína dos artesãos, os quais foram obrigados a se tornar trabalhadores assala-
riados. Todos esses foram fatores causadores de migrações.
Já no início do século XX, os debates sobre o tema migração passaram a 
ocorrer de forma mais acentuada, pois, de acordo com Sasaki e Assis (2000, 
p. 3), “os sociólogos americanos foram levados a colocar a migração como um 
problema, dada a crescente mobilidade populacional da Europa para os países 
do Novo Mundo, particularmente os Estados Unidos”. Segundo os autores, 
tal mobilidade foi devida ao crescimento populacional e às crises econômicas 
nesses países, o que gerou um intenso debate político nos Estados Unidos, 
por causa da preocupação com a constituição da sociedade e a presença de 
imigrantes, problemática essa que ainda em nossos dias é polêmica.
A obra pioneira sobre essa abordagem foi publicada por Florian 
Znaniecki e William I. Thomas, em 1918, com o título O camponês polonês 
na Europa e na América. Essa obra, conforme Sasaki e Assis (2000), teve forte 
influência sobre os estudos posteriores a respeito da migração. Embora tra-
tasse de um tema específico – a chegada de cerca dois milhões de poloneses 
à América entre 1880 e 1910 –, demonstrou, também, a maneira como o 
processo de migração quebra os laços de solidariedade e as relações fami-
liares. Nessa perspectiva, as análises enfatizavam o processo de adaptação, 
assimilação e aculturação dos imigrantes na sociedade americana. Esses teó-
ricos defendiam que, embora esse processo fosse observado, não implicava 
em total abandono, por parte do imigrante, de seus valores e de seu modo 
de vida.
No entanto, críticas foram lançadas a essa abordagem, pois, segundo 
Sasaki e Assis (2000, p. 4), “não reconhecia as diferenças resultantes dos pro-
cessos de colonialismo e imperialismo, que configuravam os vários fluxos 
migratórios”. Uma das evidências da limitação da abordagem de adaptação 
está no fato de esses imigrantes se constituírem em grupos étnicos nos paí-
ses para onde se dirigiram. A Figura 1 retrata aspectos da cultura polonesa 
em Curitiba, no Estado do Paraná, fruto da imigração e formação do grupo 
étnico polonês na região.
Geografia da População
– 62 –
Figura 1 – Representação do grupo étnico polonês em Curitiba, PR.
Fonte: Marcus Bezerra/Wikimedia Commons.
Com as mudanças no cenário político e econômico no Pós-Segunda 
Guerra Mundial, houve uma reconfiguração dos fluxos migratórios inter-
nacionais, trazendo novos fatores a serem considerados no debate sobre a 
problemática. Oliveira (2011) afirma que as abordagens teóricas sobre o fenô-
meno estiveram durante tempo significativo divididas entre o aporte neo-
clássico – por exemplo, a abordagem de Everett Lee (1980), em seu clássico 
artigo “Uma teoria sobre a migração” – e o aporte estruturalista – como no 
clássico artigo de Paul Singer (1980), “Migrações internas: considerações teó-
ricas sobre seu estudo”.
A abordagem neoclássica tem como pressuposto básico o exame dos 
motivos que levam os indivíduos a migrarem. De acordo com Santos et al. 
(2010), a explicação para os fenômenos migratórios seria dada com base nas 
diferenças geográficas de oferta de trabalho, ou seja, o mercado de trabalho 
induz os movimentos migratórios. Na perspectiva de Lee (1980), há o indi-
víduo que, analisando de forma racional o custo-benefício de migrar, decide 
se realiza ou não a migração (OLIVEIRA, 2011). Ainda conforme Oliveira, 
Lee defende que a base dos deslocamentos populacionais seria o desenvolvi-
mento econômico, não se considerando, por exemplo, a natureza voluntária 
– 63 –
Os movimentos da população
ou involuntária do ato. Assim, Lee (1980) “propõe um esquema analítico 
que ele denominou de ‘fatores do ato migratório’, onde aparecem os fatores 
associados aos locais de origem e de destino, os obstáculos intervenientes e, 
por último, fatores pessoais” (OLIVEIRA, 2011).
Ainda segundo o autor, os fatores locais de origem e de destino seriam 
aqueles associados à decisão de emigrar, os quais podem ser positivos, nega-
tivos ou nulos. O saldo desses fatores, mediados pelos obstáculos entre a 
origem e o destino, determinariam o ato de migrar e o sentido do fluxo. 
Oliveira (2011) ratifica “que na raiz da questão central, norteadora da pro-
posição de Lee, encontra-se o binômio modernização-desenvolvimento 
econômico. Para o autor, esta seria uma construção de fácil compreensão e 
aceitação”. Conforme destaca Oliveira (2011), embora funcionalista, a abor-
dagem de Lee (1980) não é restrita temporalmente, ou seja, poderia aconte-
cer em qualquer tempo.
Para Singer (1980), o fenômeno migratório se caracteriza como social 
e assume a dimensão de classe social. Dessa forma, a migração seria conse-
quência de processos sociais, econômicos e políticos, já que, na perspectiva 
de Singer, a migrações internas são condicionadas historicamente e resul-
tam de um processo global de mudanças, da qual não podem ser separadas 
(OLIVEIRA, 2011).
Na visão de Singer (1980), a problemática principal estaria relacionada 
às desigualdades regionais de território, que seriam as causadoras das migra-
ções internas (OLIVEIRA, 2011). Segundo Oliveira (2011), Singer defende 
que no lugar de origem surgiriam fatores que causariam expulsão de popu-
lação, os quais se manifestam basicamente de duas formas: a introdução de 
técnicas inovadoras de produção, a qual aumenta a produtividade do traba-
lho, mas gera uma redução do nível do emprego, e, com isso, camponeses e 
pequenos proprietários, por exemplo, seriam expulsos do campo; e fatores 
de estagnação, associados à incapacidade dos agricultores, em economia de 
subsistência, de aumentar a produtividade da terra, resultando daí a migra-
ção da população.
Referindo-se às abordagens neoclássica e estruturalista, Vainer (1998, 
p. 828) diz que “neoclássicos e estruturalistas mostram-se incapazes de 
Geografia da População
– 64 –
identificar o lugar e o papel da coerção na produção e reprodução dos des-
locamentos e localizações do trabalho no movimento normal do desen-
volvimento capitalista”. Essas análises acabariam omitindo, portanto, a 
dimensão da dinâmica que determina os fluxos e localizações de popula-
ção. De acordo com Oliveira (2011), “as teorias produzidas sobre migra-
ção estiveram influenciadas pelo mundo industrial e pelo desenvolvimento 
econômico, tanto aquelas ancoradas na teoria da modernização quanto as 
baseadas no enfoque estruturalista”.
Nessa perspectiva, aponta-se, com base em Oliveira (2011), que, quanto 
às abordagens teóricas sobre os fenômenos migratórios, há a necessidade do 
aprimoramento de teorias que deem conta de explicar os fatores econômicos, 
sociais, tecnológicos e políticos que envolvem a mobilidade da população.
4.2 As migrações internacionais
Os estudos das migrações internacionais recentes exigem que se repense 
as categorias de análise dos fenômenos migratórios. Nesse contexto, faz-se 
necessário considerar os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos 
que os envolvem.
4.2.1 As migrações no cenário mundial
A crescente importância das migrações internacionais envolve uma 
diversidade de significados e implicações. Tal importância, segundo Patarra 
(2010), requer considerar, em sua análise, as transformações sociais, econô-
micas, políticas, culturais e demográficas em andamento no âmbito interna-
cional,sobretudo a partir dos anos de 1980.
Nessa perspectiva, essas mudanças são advindas do processo de reestru-
turação da produção capitalista, que traz novas modalidades de mobilidade 
do capital e da população em diferentes países do mundo (PATARRA, 2010). 
Segundo a autora, isso evidencia visões de mundo e posturas ideológicas que 
entram em confronto na tentativa de enfrentar a crise e as contradições de 
ordem capitalista na atual fase da ordem política e econômica global, que traz 
consigo grandes desigualdades sociais e exclusão, o que acaba por estimular a 
transposição de fronteiras.
– 65 –
Os movimentos da população
Para a compreensão desse processo, Martine (2005) destaca que é preciso 
entender como esses condicionantes políticos, econômicos e culturais afetam 
o deslocamento espacial da população. Nas palavras do autor, “nos dias de 
hoje, o horizonte do migrante não se restringe à cidade mais próxima, nem 
à capital do estado ou do país. Seu horizonte é o mundo – vislumbrado no 
cinema, na televisão, na comunicação entre parentes e amigos” (MARTINE, 
2005, p. 3). Ainda conforme o autor, muitos países crescem pouco ou pra-
ticamente nada, e, enquanto isso, as desigualdades aumentam e contribuem 
para o desejo, ou mesmo a necessidade, de migrar para outros países.
As migrações internacionais atuais, de acordo com Patarra (2010), vêm 
exibindo um crescimento contínuo desde a década de 1960. A maior parte 
dos fluxos ocorre em direção aos países classificados como desenvolvidos. 
Referindo-se a esse crescimento das migrações, Martine (2005) destaca a 
necessidade de formulação de políticas migratórias que consistam na revalo-
rização dos aspectos positivos da migração e na busca de redução progressiva 
dos seus efeitos negativos. No entanto, para serem eficazes, essas políticas 
precisam considerar o “deslocamento espacial como parte das estratégias de 
sobrevivência e de mobilidade social da população” (MARTINE, 2005, p. 4). 
A Figura 2 retrata vários refugiados sírios vagando em direção à Alemanha 
para pedido de asilo.
Figura 2 – Refugiados sírios.
Fonte: iStockphoto/djenkaphoto.
Geografia da População
– 66 –
Nesse contexto, destaca-se a importância de se considerar a conjuntura 
de lutas e compromissos internacionais assumidos em favor da ampliação e 
da efetivação dos direitos humanos dos migrantes (PATARRA, 2010). Patarra 
destaca como necessário, ainda, o debate sobre quais grupos sociais são con-
templados nas políticas oficiais, tendo como base os direitos humanos, pois é 
preciso reconhecer que os movimentos migratórios internacionais são marca-
dos por contradições e conflitos de classes sociais.
Assim, é preciso “considerar que os movimentos migratórios interna-
cionais constituem a contrapartida da reestruturação territorial planetária 
intrinsecamente relacionada à reestruturação econômico-produtiva em escala 
global” (PATARRA, 2006, p. 8). De acordo com a autora, as migrações inter-
nacionais refletem a desigualdade internacional entre países desenvolvidos e 
em desenvolvimento e evidenciam os interesses em conflito envolvendo a 
necessidade de mão de obra dos países desenvolvidos, com crescimento popu-
lacional zero ou negativo, e as políticas migratórias restritivas. Tais restrições 
se referem ao temor do terrorismo internacional, o que acaba por envolver 
xenofobia, desigualdade e racismo.
Em contrapartida, Martine (2005, p. 5) destaca que a migração inter-
nacional “tem o potencial de ser bastante positiva para o desenvolvimento e a 
redução da pobreza”. Partindo desse princípio, as políticas oficiais de controle 
da migração, segundo o autor, terão mais êxito do que aquelas que tentam 
se opor intransigentemente ao deslocamento populacional no espaço inter-
nacional. No entanto, dependendo da ótica, do momento e da situação, a 
maioria das consequências sociais e econômicas das migrações internacionais 
é contraditória.
4.2.2 O Brasil no contexto das migrações 
internacionais contemporâneas
Ao se referir às migrações internacionais e à forma como ela ocorre no 
Brasil, sobretudo a partir de 1980, Campos (2011) destaca que, embora esse 
seja um tema de relevância significativa, ainda existem desafios consideráveis 
quanto a seus estudos, como, por exemplo, obter o número exato de migran-
tes que deixam e que ingressam no país a cada ano.
– 67 –
Os movimentos da população
Segundo Carvalho e Campos (2006, p. 55), “parte significativa dos flu-
xos migratórios internacionais do Brasil, tanto de imigrantes quanto de emi-
grantes, é constituída pelo que se convencionou chamar de ‘ilegais’ ou ‘clan-
destinos’”. Esse fato impede registros administrativos com a apuração exata 
da informação sobre o fluxo de imigrantes e emigrantes, sendo necessário ter 
como referência os dados censitários e a realização de estimativas (CAMPOS, 
2011). Ainda segundo os autores, por esse motivo os censos vêm buscando 
aprimorar a obtenção de informações e a precisão das estimativas de migra-
ção internacional. Novos quesitos sobre o tema foram inclusos no Censo de 
2010, realizado por Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 
que é a principal fonte dos dados censitários no país.
Referindo-se aos brasileiros que emigram, Patarra (2010) destaca que, 
principalmente a partir de 1980, a imagem do Brasil como um país tradi-
cionalmente receptor de imigrantes passa a ser modificada para a de uma 
sociedade expulsória de habitantes. Segundo a autora, em meados da década 
de 1990, cerca de 1,5 milhão de brasileiros estava vivendo em outros países, 
o que evidenciou uma importante questão demográfica a ser debatida nos 
estudos sobre a população brasileira. Entre 1950 e 1980, a população bra-
sileira havia sido considerada como fechada, ou seja, seria resultado apenas 
do crescimento natural ou vegetativo. Nessa perspectiva, do ponto de vista 
quantitativo, seria irrelevante o reduzido número de estrangeiros que aden-
traram no Brasil no Pós-Segunda Guerra Mundial, bem como o número de 
brasileiros que se dirigiram a outros países (PATARRA, 2010).
A partir da década de 1980, os fluxos dos movimentos internacionais, 
tendo como destino o Brasil, passaram a ter características distintas daqueles 
que ocorriam anteriormente, quanto aos países de origem. De acordo com 
Patarra (2010), cresceu o número absoluto de imigrantes chineses, angola-
nos, bolivianos, paraguaios, coreanos, entre outras nacionalidades, sobre-
tudo os haitianos. Soma-se também a esses fluxos o retorno de brasileiros 
que emigraram.
Destaca-se, nesse contexto, a importância de se compreender a política 
migratória, segundo Siciliano (2013, p. 9), como “o conjunto de ações de 
governo para regular a entrada, a permanência e a saída de estrangeiros de 
território nacional, bem como as ações destinadas a regular a manutenção dos 
Geografia da População
– 68 –
laços entre o Estado e os seus nacionais que residam no exterior”. Em 1980, 
foi promulgada a Lei n. 6.815, que criou o Conselho Nacional de Imigração, 
com o fim de orientar as políticas migratórias. Esse conselho é presidido pelo 
Ministério do Trabalho, com representantes de outros ministérios. Segundo 
Patarra (2010), desde o início de sua vigência essa lei é alvo de críticas, prin-
cipalmente por privilegiar a imigração sob o ponto de vista da assimilação de 
tecnologias e investimentos de capital estrangeiro. A autora destaca, ainda, a 
criação do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), também vinculado 
ao Ministério do Trabalho, o qual estabelece diretrizes no que concerne à 
autorização de trabalho ao estrangeiro e define juridicamente sua situação. 
O Brasil se caracteriza como um dos países mais restritivos quanto à imigração.
Em 2015, foi lançado o Projeto de Lei n. 2.516, para a criação de uma 
nova Lei de Migração, tendo como propósito garantir ao imigrante a condi-
ção de igualdade com os nacionais, com direito à liberdade, à segurança, à 
inviolabilidade do direito à vida, à propriedade e ao acesso aos serviços públi-cos e ao exercício de funções públicas (BRASIL, 2015).
4.3 As causas e consequências da 
mobilidade da população
Fenômeno comum nas sociedades, a mobilidade da população pode 
ser influenciada por vários fatores. A análise desses fatores precisa considerar 
aqueles que são internos à determinada sociedade e também os externos, que 
influenciam as dinâmicas da população, como por exemplo os movimen-
tos populacionais. Andrade (1998), ao se referir à mobilidade da população, 
destaca dois enfoques diferentes quanto ao tempo e ao espaço: as migrações 
externas e as internas.
4.3.1 Migrações externas e internas
Praticamente toda sociedade é marcada por movimentos migratórios, 
ainda que de forma diferente, dada a intensidade e a quantidade de fluxos que 
ocorrem. Segundo Andrade (1998, p. 56), “desde a mais remota antiguidade, 
os homens transferem-se de um lugar para outro, ora para fixar residência, ora 
em caráter temporário, procurando voltar ao lugar de origem”.
– 69 –
Os movimentos da população
Nesse sentido, as migrações externas são aquelas que estimulam fluxos 
populacionais entre países. Andrade (1998) cita como exemplo desse tipo de 
migração a oferta permanente de oportunidade de emprego aos habitantes e 
às pessoas vindas de países subdesenvolvidos, com excesso de mão de obra. 
Essas oportunidades eram oferecidas pelos países desenvolvidos e industria-
lizados da Europa Ocidental e Central (França, Alemanha, Bélgica, Países 
Baixos, Luxemburgo e outros), no Pós-Segunda Guerra Mundial.
Evidencia-se assim, conforme Martins (2001), que os fatores econômi-
cos são os que geram maior número de migrações em todo o mundo, pois o 
ser humano, devido às dificuldades encontradas em determinado lugar, busca 
em outra localidade uma possível solução para garantir seu sustento e melho-
ria de vida. Na mesma perspectiva, ressalta Andrade (1998), esses fluxos estão 
sujeitos a oscilações da economia mundial, que podem levar ao desacelera-
mento da produção e à consequente diminuição dos postos de trabalho, o 
que, por sua vez, influencia novos fluxos migratórios externos.
As migrações internas, por sua vez, são aquelas realizadas dentro de um 
mesmo país. Andrade (1998) destaca que no Brasil, por exemplo, existem 
áreas superpovoadas, as quais se caracterizam por atrair migrantes, e áreas 
subpovoadas, com tendência a expulsar cada vez mais habitantes, embora 
novos fluxos migratórios sejam observados em sentidos opostos a essas situa-
ções. Conforme Andrade (1998), no século XVII o Nordeste passou a ser uma 
área de dispersão de população, naquele momento, em direção ao Estado de 
Minas Gerais, buscando encontrar a “riqueza” na extração de ouro.
Depois, a partir do século XX, essa região vem fornecendo migrantes 
que se fixam em outras áreas do país. Ainda conforme o autor, as causas desse 
tipo de migração se devem a profundas modificações na economia brasileira. 
Segundo Portela e Vesentini (1998), quando se acelerou o desenvolvimento do 
capitalismo nos países, esse processo foi acompanhado de intensa industriali-
zação e urbanização. Essa dinâmica também pode ser constatada em outras 
regiões brasileiras, sempre motivada pelo mesmo fator, ou seja, “sempre que 
em uma área qualquer do país surgia uma fase economicamente atrativa”, um 
fluxo migratório para ela era direcionado (ANDRADE, 1998, p. 57).
Como consequência desse processo, nas grandes cidades, por exem-
plo, houve crescimento acelerado e falta de infraestrutura, o que ocasionou 
Geografia da População
– 70 –
desigualdades de acesso aos bens necessários para a subsistência de parte signi-
ficativa da população.
4.3.2 Tipos de migração: êxodo rural 
e migrações temporárias
Para uma análise mais efetiva das causas e consequência da mobilidade 
da população, faz-se necessário conhecer as características de dois tipos espe-
cíficos de migração: êxodo rural e migrações temporárias.
O êxodo rural se caracteriza, segundo Andrade (1998, p. 57), pela 
“transferência do habitante do campo para a cidade – é uma das formas de 
migração interna mais importante nos dias atuais”. Esse tipo de migração 
ocorre em quase todo o mundo, pois, conforme o autor, com a industrializa-
ção, a facilidade de transportes e de comunicações, as cidades estão crescendo 
de forma extraordinária. Com isso, indivíduos de todas as classes sociais se 
deslocam, atraídos pelo desejo de melhores salários, pela necessidade, por 
exemplo, de completar sua educação. Outro fator de expulsão do homem do 
campo é a intensa mecanização, ou seja, os postos de trabalho passam a ser 
extintos devido ao uso de máquinas agrícolas.
Nos países desenvolvidos, o êxodo rural não se constitui num problema, 
dadas as estruturas capazes de absorver mão de obra e produzir no campo 
com intenso uso de tecnologia. Já nos países subdesenvolvidos, como afirma 
Andrade (1998, p. 57), “ocorrem problemas sérios: as cidades não têm condi-
ções de oferecer empregos estáveis”, o que leva parte significativa dos migran-
tes a viver de serviços eventuais ou, até mesmo, pedir esmolas e vasculhar 
restos de comida no lixo. Ainda segundo o autor, a dificuldade de acesso à 
moradia dá origem a grandes favelas.
As migrações temporárias se caracterizam por ocorrerem num dado 
período de tempo, relativamente curto. Andrade (1998) classifica esse tipo 
de migração em três grandes grupos: migrações por tempo indeterminado; 
migrações sazonais; e migrações diárias.
Migrações por tempo indeterminado “são aquelas feitas por pessoas 
que se transferem para um outro país ou região, com intenção de regres-
sar após atingir determinados objetivos” (ANDRADE, 1998, p. 57). Ainda 
– 71 –
Os movimentos da população
segundo o autor, as migrações sazonais se caracterizam quando as pessoas 
se deslocam de uma área para a outra quando há oportunidade de trabalho. 
Estão ligadas ao período das várias culturas agrícolas, que, influenciadas pelo 
regime de chuvas, não têm a mesma época de plantio e colheita. Um exemplo 
é o constante movimento de trabalhadores do Agreste brasileiro, região de 
transição entre a Zona da Mata e o Sertão no Nordeste do país. Nessa região, 
durante a estação das chuvas, ocorre o cultivo de milho, feijão e algodão, o 
que garante o trabalho de março a setembro. No período entre outubro a 
abril, entretanto, os trabalhadores migram para a Zona da Mata, para o tra-
balho nas lavouras de cana de açúcar (ANDRADE, 1998).
Nas grandes cidades, são observadas as migrações diárias ou pendula-
res, caracterizadas pelo deslocamento de trabalhadores que, de acordo com 
Andrade (1998), recebem baixos salários e conseguem acesso a moradias ape-
nas em subúrbios distantes do seu trabalho.
Ampliando seus conhecimentos
Políticas públicas e imigração
(ROSO; BERVIAN, 2013, p. 232-234)
A definição do que sejam políticas públicas ainda está em 
discussão. De modo geral, política pública pode ser definida 
como tudo aquilo que o governo (municipal, estadual ou 
federal) faz no que diz respeito às leis, medidas reguladoras, 
decisões e ações (HEILBORN; ARAUJO; BARRETO, 
2010). Por isso, Souza (2006, p. 26) afirma que as políticas 
públicas podem ser pensadas como:
 [...] o campo do conhecimento que busca, ao mesmo 
tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa 
ação (variável independente) e, quando necessário, pro-
por mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável 
dependente). A formulação de políticas públicas cons-
titui-se no estágio em que os governos democráticos 
Geografia da População
– 72 –
traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em pro-
gramas e ações que produzirão resultados ou mudanças 
no mundo real.
Nesse sentido, salientam Heilborn, Araújo e Barreto (2010, 
p. 20) que “é fundamental, em uma política pública, pensar-
mos em quem ganha o quê, por que e que diferença faz. Isso 
nos remete diretamente ao coração da formulação das políti-
cas públicas e às relações entre sociedade e governo para a 
definição das ações que serão tomadas”.
Nos últimos anos,após a entrada oficial do Brasil na rota 
dos grandes deslocamentos internacionais, as leis, os progra-
mas, os dispositivos, os decretos e outras medidas relativas à 
entrada de imigrantes no país têm sido repensados e revisa-
dos. Isso implica, segundo a Organização Internacional para 
as Migrações (OIM, 2009), tanto uma reorganização insti-
tucional, para atender às novas funções do governo frente às 
novas tendências e características do movimento migratório, 
quanto uma ampliação do papel de instituições oficiais já exis-
tentes para corroborar essa situação.
Percebe-se, especialmente nas últimas décadas, uma série 
de tentativas de posicionar o Brasil como um país aberto aos 
imigrantes. Na Constituição de 1988, encontram-se, entre os 
princípios que regem as relações internacionais do Brasil, a 
prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos 
povos, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz, a 
solução pacífica dos conflitos, o repúdio ao terrorismo e ao 
racismo, a cooperação entre os povos para o progresso da 
humanidade e a concessão do asilo político. Entende-se que 
o respeito a esses princípios pode promover relações pacíficas 
e integradoras entre os países e, ainda, contribuir para a inser-
ção de um imigrante no país (BRASIL, 1988).
Relativamente a direitos fundamentais, no art. 5º, a 
Constituição prevê que todos são iguais perante a lei, sem 
– 73 –
Os movimentos da população
distinção alguma. Assim, sendo um estrangeiro igual a um 
brasileiro perante a lei, aquele tem o direito à inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade. Já no tocante aos direitos políticos, os imi-
grantes não são tão livres assim, pois não podem se alistar 
como eleitores, por exemplo, cabendo ao Estado legislar 
sobre emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão 
de estrangeiros, conforme o art. 22º.
A Lei de Estrangeiros em vigor no Brasil é a 6.815/80, de 19 
de agosto de 1980, produzida no contexto da ditadura militar 
e marcada pela preocupação com a defesa nacional e com 
a regulamentação jurídica do estrangeiro (BRASIL, 1980). 
Essa lei criou o Conselho Nacional de Imigração (CNIg), 
que funciona junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, o 
qual coordena as políticas imigratórias no campo do trabalho.
A Lei n. 6.815/80 constitui o principal instrumento regulador 
da situação jurídica do estrangeiro no Brasil, inclusive das situa-
ções motivadas por razões de trabalho. Conforme Sant’Ana,
 [...] o ato lista os aspectos determinantes à concessão de 
vistos temporários ou permanentes, dispondo no art. 2º: 
“Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à 
segurança nacional, à organização institucional, aos inte-
resses políticos, socioeconômicos e culturais do Brasil, 
bem assim à defesa do trabalhador nacional”. E comple-
menta, no artigo subsequente: “A concessão do visto, a 
sua prorrogação ou transformação ficarão sempre condi-
cionadas aos interesses nacionais” (2001, p. 76).
Nesse contexto, acredita-se que, uma vez que essa lei diz 
mais da preocupação com a segurança nacional, característica 
típica do período ditatorial, e que a mesma continua sendo 
aplicada nos dias de hoje, é urgente ampliar os efeitos dessa 
lei a fim de redemocratizar o processo de circulação de pes-
soas, atentando especialmente para o processo de integração. 
Geografia da População
– 74 –
Se a globalização é inevitável, também deve ser inevitável 
a mudança da legislação, de modo que esta contemple as 
demandas contemporâneas.
Dessa maneira, a desatualização da Lei n. 6.815/80 levou 
o governo brasileiro a preparar uma nova proposta de lei 
de migrações, totalmente vinculada à questão dos direitos 
humanos. Enviada ao Congresso Nacional (Projeto de Lei 
5655/2009), a nova lei dispõe sobre ingresso, permanência 
e saída de estrangeiros no território nacional e transforma o 
Conselho Nacional de Imigração em Conselho Nacional de 
Migração – que passará a tratar tanto das imigrações quanto 
das emigrações –, apresentando um caráter muito mais flexível 
e expansivo (OIM, 2009).
Esse Projeto de Lei traz mecanismos que simplificam o pro-
cedimento migratório para investidores, pesquisadores, pro-
fessores, artistas e desportistas, o que atrai capital externo de 
investimento, permitindo, por exemplo, que qualquer pes-
soa que esteja como turista no Brasil também realize negó-
cios. Ao mesmo tempo, sinaliza que os imigrantes tenham 
os mesmos Direitos Humanos e Sociais protegidos no país. 
Assim, essa nova lei poderá aliar aspectos que fomentem 
o crescimento econômico do país à garantia dos direitos 
humanos dos imigrantes.
O imigrante ainda tem a possibilidade de nacionalizar-se bra-
sileiro e, assim, obter os direitos decorrentes da qualidade 
de nacional, com exceção do direito reservado aos brasileiros 
natos, disposto no art. 12, § 3º, da Constituição Federal de 
1988 (BRASIL, 1988), que é o de assumir determinados car-
gos públicos. O Brasil adota somente a naturalização como 
forma de aquisição da nacionalidade, sendo que esta é defi-
nida por Dolinger (2000) como o vínculo de ordem jurídico-
-político que conecta o indivíduo ao Estado, ou seja, o meio 
de fazer nacional o estrangeiro. [...]
– 75 –
Os movimentos da população
O Brasil tem assinado, ainda, tratados muito importantes na 
área migratória, que buscam promover, além de condições de 
trabalho justas e humanizadoras, o direito à saúde e à educa-
ção e a proteção dos direitos humanos. [...]
Atividades
1. Considerando os conceitos estudados sobre as migrações, entreviste 
uma pessoa adulta, com o fim de identificar os tipos de movimen-
tos migratórios por ela realizados atualmente ou em anos anteriores. 
Com base na entrevista, escreva uma história da pessoa e destaque as 
denominações e as características dos movimentos realizados. Abor-
de também, no seu texto, os fatores políticos, econômicos, sociais 
e culturais que estimularam os movimentos migratórios realizados 
pelo entrevistado.
2. Conforme abordou-se, em 2015 foi lançado o projeto de Lei n. 2.516, 
que cria uma nova Lei das Migrações, com o propósito de garantir 
direitos ao imigrante (BRASIL, 2015). Busque informações sobre o 
projeto, tendo como referência as seguintes questões: Foi aprovado 
no Senado? Quais direitos essa nova lei garante ao imigrante? Em que 
aspectos essa lei se diferencia da Lei n. 6.815, de 1980?
3. Considere os tipos de migrações internas abordados por Andrade 
(1998): êxodo rural, migrações temporárias, sazonais, definitivas e 
diárias. Que fatores motivaram (e continuando motivando) essas mi-
grações no Brasil?
Os efeitos da globalização 
sobre a população
Introdução
Como resultado de um processo que passou por várias fases, 
os especialistas divergem se a globalização representa ou não um 
novo fenômeno. Fato é que, na atualidade, esse processo apresenta 
características distintas das fases anteriores, devido ao grau de desen-
volvimento técnico e científico.
De forma geral, não se pode negar que a globalização traz 
mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais significativas para 
as sociedades capitalistas, as quais acabam influenciando também os 
fenômenos populacionais e suas relações com a produção e o consumo.
Nessa perspectiva, as vertentes de análise sobre o processo 
de globalização também são diversas em relação a suas consequên-
cias. No entanto, a maioria dos estudiosos sobre esse assunto destaca 
pontos de vista não otimistas sobre esses efeitos, como as contradi-
ções capitalistas e o acirramento das desigualdades sociais, aspectos 
que interferem nas dinâmicas da população.
5
Geografia da População
– 78 –
5.1 Globalização e população
Nas últimas décadas, mudanças significativas têm ocorrido no cenário 
político e econômico internacional. Essas transformações são estimuladas por 
um processo complexo, denominado globalização, que também influencia as 
dinâmicas populacionais.
5.1.1 O conceito de globalização
A análise da relação entredinâmica populacional e globalização requer 
uma reflexão sobre a complexidade que envolve esses dois conceitos. Segundo 
Martine (2005, p. 13), a “globalização é, de certa forma, o ápice do processo 
de internacionalização do mundo capitalista”. Nesse sentido, é importante 
diferenciar internacionalização e globalização. Ao se referir à internacionali-
zação, Santos (2012) afirma que:
Decerto, o que estamos vivendo agora foi longamente preparado, 
e o processo de internacionalização não data de hoje. O projeto de 
mundializar as relações econômicas, sociais e políticas começa com 
a extensão das fronteiras do comércio no princípio do século XVI, 
avança por saltos através dos séculos de expansão capitalista para final-
mente ganhar corpo no momento em que uma nova relação científica 
e técnica se impõe e em que as formas de vida no planeta sofrem 
repentina transformação. (SANTOS, 2012, p. 16)
Evidencia-se, assim, que a internacionalização se refere ao processo 
que teve início com as Grandes Navegações e que se diferencia do momento 
presente devido aos significativos avanços técnicos e científicos, os quais 
provocam transformações em diversos campos da sociedade. Uma sistema-
tização das fases anteriores que culminaram com o processo hoje denomi-
nado globalização é apresentada no Quadro 1:
Quadro 1 – Períodos da internacionalização do capital.
Período Fases Características
1450-1850 Primeira Expansionismo mercantilista
1850-1950 Segunda Industrial – imperialista – colonialista
1950-1989 Terceira Descolonização – Guerra Fria – Reestruturação produtiva
Pós-1989 Globalização Declínio do Estado-Nação – Reestruturação 
do sistema interestatal
Fonte: ALCOFORADO, 2006, p. 19. Adaptado.
– 79 –
Os efeitos da globalização sobre a população
Ao se referir à época atual, Milton Santos (2001a, p. 34) destaca que, 
“como período e como crise, a época atual mostra-se, aliás, como coisa nova. 
Como período, as suas variáveis características instalam-se em toda parte e 
a tudo influenciam, direta ou indiretamente. Daí a denominação de globa-
lização”. Sobre a crise, Santos (2001a) diz que as variáveis que constroem 
o sistema capitalista chocam-se continuamente, exigindo novos arranjos e 
definições, e isso se constitui numa situação persistente, mas que mantém 
resquícios das características anteriores.
Sobre o processo de globalização, segundo Martine (2005, p. 22), há 
“muitas interpretações da história a partir das técnicas”. Nessa perspectiva, as 
técnicas são oferecidas como um sistema e realizadas combinadamente [por 
meio] do trabalho e das formas de escolha dos momentos e dos lugares de 
seu uso. Ainda se referindo à relação entre globalização e técnicas, Martine 
afirma que
no fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um 
sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram 
a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao 
novo sistema técnico uma presença planetária. (MARTINE, 2005, p. 22)
Também destacando essa mesma relação, Santos (2001a, p. 24) diz que 
“a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é 
também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito 
global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes”. 
Ao se referir ao fator mercado no mundo global, Martine (2005, p. 4) assinala 
que a “globalização caracteriza-se por aumentos significativos no intercâmbio 
comercial e financeiro, dentro de uma economia internacional crescentemente 
aberta, integrada e sem fronteiras”.
Nesse sentido, Santos (2001a, p. 24) enfatiza que “os fatores que con-
tribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade 
da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a 
existência de um motor único na história, representado pela mais-valia glo-
balizada”. Nesse contexto, surge um mercado global que, por meio de um 
sistema de técnicas avançadas, resulta numa globalização que, nas palavras 
de Santos (2001a, p. 24), é “perversa”. O autor destaca que esse processo 
poderia ser diferente se tivesse outro uso político, ou seja, o debate central, 
Geografia da População
– 80 –
o qual traz a possibilidade de utilizar o sistema técnico contemporâneo a 
partir de outras formas de ação.
Conforme afirma Martine (2005, p. 4), “a globalização é uma força 
poderosa no novo sistema mundial, e continuará sendo determinante no 
curso da história futura da humanidade. Sem dúvida, ela nos coloca tanto 
desafios como oportunidades”. Entretanto, segundo Santos (2001a, p. 17), 
“globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição 
primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, 
reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”. Desse 
modo, a globalização que se estabelece, na visão deste autor, não estaria a 
serviço da humanidade.
Ainda destacando os aspectos sociais da globalização, Santos (2005, 
p. 19) afirma que o “mercado avassalador dito global é apresentado como 
capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são 
aprofundadas”. Outros aspectos da globalização destacados pelo autor são: o 
culto ao estímulo do consumo; uma busca de uniformidade ao serviço dos 
atores hegemônicos; e o mundo tornando-se menos unido, distanciando-se 
do sonho de uma cidadania verdadeiramente universal (SANTOS, 2001a).
Nessa perspectiva, Martine (2005, p. 4) explica que “praticamente todos os 
países foram instados a adotar as mesmas regras do jogo e a submeter-se aos fiscais 
internacionais, propiciando a expansão do mercado global”. Desse modo, ainda 
conforme o autor, a globalização continua sendo uma realidade inacabada, pois 
enquanto os países ricos levarem vantagens sobre os países pobres, haverá dificul-
dades a esses últimos para trilharem o desenvolvimento econômico.
Numa análise crítica do processo de globalização, Santos (2001a, p. 173-174) 
afirma que
Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como pos-
sibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas 
para que se imponha a desejada grande mutação, mas seu destino vai 
depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveita-
das pela política.
Para o autor, o processo de globalização não é irreversível, pois pode 
alcançar outra significação, diferente da atual que aprofunda as desigualda-
des entre países e, consequentemente, as desigualdades sociais, resultando 
– 81 –
Os efeitos da globalização sobre a população
em fluxos migratórios. Um exemplo é o êxodo rural, causado pela expan-
são das áreas monocultoras por grandes empresas multinacionais do ramo 
do agronegócio.
Santos (2001a) também considera a globalização como um processo que 
pode ser reversível e destaca que a mudança histórica em perspectiva deriva de 
um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os habitan-
tes de países subdesenvolvidos: os deserdados, os pobres, os excluídos. Sobre 
essa temática, Kaizeler e Faustino (2012, p. 22) ressaltam que
[...] não se deve generalizar a análise dos efeitos de globalização na 
repartição do rendimento, uma vez que cada país tem características 
próprias, e existem outros fatores que influenciam a desigualdade e 
que devem ser analisados, e são realidades diferentes em cada nação.
Nessa perspectiva, evidencia-se a complexidade que envolve o debate 
sobre a globalização e suas relações com as dinâmicas populacionais.
5.1.2 A relação entre globalização e população
O processo de globalização para a maior parte da humanidade, segundo 
Santos (2001a, p. 142), “acaba tendo, direta ou indiretamente, influência 
sobre todos os aspectos da existência: a vida econômica, a vida cultural, as 
relações interpessoais e a própria subjetividade”. Os efeitos da globalização 
não são homogêneos, principalmente pelo fato de esse processo ser o criador 
da escassez de recursos financeiros e ampliar as desigualdades sociais, fatoresque se relacionam diretamente com os fenômenos populacionais.
Um exemplo dessa relação se evidencia na afirmação de Martine (2005, 
p. 3), quando destaca que “o migrante vive num mundo onde a globaliza-
ção dispensa fronteiras, muda parâmetros diariamente, ostenta luxos, esbanja 
informações, estimula consumos, gera sonhos e, finalmente, cria expectativas 
de uma vida melhor”.
Também se referindo aos efeitos da globalização e suas relações com 
os fenômenos populacionais, Tânia dos Santos (2001b) destaca o aprofun-
damento da crise internacional em relação às diferenças entre países ricos 
e pobres, o que, nas últimas décadas, teve como consequência o aumento 
das desigualdades e a marginalização crescente para a maioria da população. 
Geografia da População
– 82 –
Segundo a autora, “milhares de pessoas lutam para sobreviver sob condições 
extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as legiões de 
perseguidos e de refugiados, mas também onde o capitalismo se apresenta 
como mais próspero” (SANTOS, 2001b, p. 177).
Nesse contexto, o capitalismo destaca-se como um sistema polarizador e 
contraditório, o que se configura no aumento constante de riquezas em poder 
de uma minoria, mas também expande a pobreza da maior parte da popu-
lação mundial (SANTOS, 2001b). Considera-se nessa análise que o termo 
pobreza é bastante amplo e carece de algumas reflexões sobre a complexidade 
que o envolve.
Ao abordar o conceito de pobreza, Buss (2007, p. 1.578) o aponta como 
“um conceito multidimensional e uma situação real de vida”. Ainda segundo 
a autor, antes dos trabalhos críticos de Amartya Sen (Prêmio Nobel de 
Economia de 1988), eram considerados pobres os indivíduos que viviam com 
menos de 1 dólar por dia, ajustado pelo poder aquisitivo do país ou região. 
Após os debates de Amartya Sen, esclareceu-se que não é possível estabelecer 
uma linha de pobreza e generalizá-la sem levar em conta as características 
e circunstâncias pessoais. Nessa perspectiva, para Buss (2007, p. 1.578), “a 
análise da pobreza também deve concentrar-se na capacidade da pessoa para 
aproveitar oportunidades, assim como de fatores como saúde, nutrição e edu-
cação, que refletem a capacidade básica para funcionar na sociedade”. Esses 
fatores se relacionam diretamente com a qualidade de vida de uma população.
A satisfação das necessidades básicas da população, de acordo com 
Santos (2001b, p. 195), requer a “construção de um modelo alternativo de 
sociedade, no qual formas igualitárias e solidárias possam sobrepor-se aos 
interesses particulares do capital”. Assim, é imprescindível reconhecer, ainda 
segundo a autora, que a exclusão social só poderá ser superada por meio de 
mecanismos políticos, tendo como objetivo a construção de uma sociedade 
mais justa e que atenda às necessidades básicas de toda a população.
Destaca-se, nessa análise, outro conceito fundamental, a desigualdade 
internacional, que, segundo Kaizeler e Faustino (2012, p. 16), “refere-se à 
desigualdade entre países devido a diferenças do rendimento per capita entre 
eles”. Evidencia-se também a necessidade de se considerar a dimensão política 
na análise da relação entre globalização e população. Desse modo, a principal 
– 83 –
Os efeitos da globalização sobre a população
contradição do capitalismo no contexto da globalização e que precisa ser enca-
rada é a crescente concentração de riquezas nas mãos de poucos e o empobre-
cimento cada vez mais intenso da maior parte da população mundial.
5.2 Impactos da globalização sobre 
os indicadores da população
Dadas as relações entre globalização e suas influências em vários cam-
pos da sociedade, como na economia, na política, no trabalho, na cultura e 
na educação, seus impactos atingem também os indicadores da população, 
como, por exemplo, o número de imigrantes, os índices de desemprego e os 
níveis de desigualdade na distribuição de rendas.
5.2.1 Acesso da população aos meios de subsistência
O impacto da globalização na população, segundo Kaizeler e Faustino 
(2012, p. 13), precisa “ser analisado em todas as suas vertentes, quer eco-
nômicas, sociais e políticas, utilizando indicadores que permitam abranger 
todos os componentes que consideram essenciais para medir a dimensão da 
globalização”. Essas vertentes mantêm significativas relações com os fenô-
menos populacionais, pois influenciam o acesso dos habitantes ao trabalho, 
bem-estar, saúde e educação.
As mudanças advindas do processo de globalização no campo do traba-
lho, para Kaizeler e Faustino (2012), afetam a oferta e procura de emprego, os 
regimes de trabalho, a imigração de mão de obra, os subsídios para o trabalho, 
os valores dos salários e as próprias leis trabalhistas. Esses fatores podem se 
constituir em dificuldades para encontrar e manter o trabalho, que é impres-
cindível para a subsistência dos cidadãos.
Como consequência da vertente econômica no contexto da globalização, 
Kaizeler e Faustino (2012) citam a inflação, o desenvolvimento financeiro, o 
grau de urbanização, o crescimento da população, a quantidade de população 
ativa, o grau de industrialização e a taxa de desemprego como fatores que 
interferem na distribuição de renda e determinam as diferenças no acesso aos 
meios de subsistência, o que resulta em desigualdades sociais.
Geografia da População
– 84 –
Também destacando a vertente econômica da globalização, Buss (2007, 
p. 1.576), afirma: “o que se tem observado é que as medidas de abertura 
dos mercados e as considerações de ordem financeira e econômica prevale-
cem sobre as considerações sociais”. Desse modo, por privilegiar os interesses 
econômicos de acumulação capitalista em detrimento dos fatores sociais que 
envolvem, sobretudo, o acesso da população aos meios de subsistência e aos 
serviços sociais, o processo de globalização influencia de maneira significativa 
os indicadores da população.
Considerando ainda as desigualdades internacionais, Buss (2007, p. 1.578), 
assinala que “são exatamente os pobres que vivem em piores condições sociais, 
ambientais e sanitárias, assim como têm maior dificuldade no acesso aos serviços 
públicos em geral e de saúde em particular”. Ainda de acordo com o autor, os 
países que têm as piores rendas oferecem as piores condições de acesso a políticas 
públicas, habitações adequadas, saneamento básico, água potável, alimentação, 
educação, transporte, lazer, empregos fixos e condições de segurança no trabalho. 
Esses fatores são denominados iniquidades sociais e de saúde.
5.2.2 Influência nos indicadores da população
A vertente social da globalização causa inquietações, no cenário mundial, 
desde a década de 1980, o que se expressou no debate sobre políticas públicas 
para atender as demandas advindas desse processo. Segundo Cordeiro (2001, 
p. 320), “os gastos públicos deveriam ter como meta atingir a um determi-
nado conjunto de efeitos demonstráveis por melhoria de indicadores sociais 
dos segmentos pobres das populações (mortalidade infantil, desnutrição, eva-
são escolar, qualidade da habitação, entre outros)”.
Entretanto, as análises desses indicadores na atualidade revelam que 
tais políticas não se concretizaram. Sobre essas discrepâncias nos indicado-
res, afirma Buss (2007, p. 1.578) que elas “existem entre países e regiões do 
mundo e entre ricos e pobres no interior dos países”. O autor destaca os 
significativos diferenciais que se verificam entre grupos de países reunidos 
por nível de desenvolvimento, evidenciando os prejuízos nos indicadores da 
população para as nações mais pobres e menos desenvolvidas, como apresen-
tado na Tabela 1.
– 85 –
Os efeitos da globalização sobre a população
Tabela 1 – Expectativa de vida e taxas de mortalidade, por categoria de 
desenvolvimento do país.
Categoria de 
desenvolvimento
População 
(em milhões/ 
2015)
Renda anual 
média (em 
dólares 
americanos)
Expectativa 
de vida 
ao nascer 
(anos)
Mortalidade 
infantil 
(mortes 
antes de 
1 ano de 
idade ‰)
Mortalidade 
abaixo 
de cinco(mortes 
antes de 
5 anos de 
idade ‰)
Países menos 
desenvolvidos
745 302 55 98 155
Países de renda 
média-baixa
2.095 1295 72 32 36
Países de renda 
média-alta
582 4.905 73 24 32
Países de 
renda alta
905 25.766 80 4 4
África 
subsaariana
683 550 53 95 148
Fonte: BUSS, 2007, p. 1579; PNUD, 2015. Adaptado.
A análise da tabela releva que a diferença na expectativa de vida ao 
nascer chega a 25 anos entre os países de renda alta e os menos desenvolvi-
dos. A taxa de mortalidade infantil por nascidos vivos antes de um ano de 
idade é de apenas 4‰ em países de renda alta e chega a 98‰ nos países 
menos desenvolvidos.
Quanto à diferença no índice de mortalidade de menores de 5 anos, 
ela é ainda maior entre os países de alta renda, cujo percentual é de apenas 
4‰, e os países menos desenvolvidos, cujas taxas atingiram 155‰, como 
apresentado na Tabela 1. Segundo Buss (2007), as desigualdades de condições 
médico-sanitárias e de acesso aos serviços sociais entre pessoas pobres e ricas, 
considerando-se os países pobres, também são acentuadas.
No Brasil, como em várias outras partes do mundo, a “taxa de mortali-
dade infantil está relacionada com a renda das famílias, o nível de educação 
Geografia da População
– 86 –
da mãe, as condições do domicílio, o local em que vive e a situação social da 
família da criança” (BUSS, 2007, p. 1.579).
Mesmo considerando todos os avanços tecnológicos que possibilitaram 
melhorias dos recursos de saúde, Santana e Krom (2006) destacam que há 
parte significativa da população, sobretudo nos países menos desenvolvidos, 
sem acesso a esses serviços. Desse modo, os investimentos menores e/ou res-
tritos nos setores de saúde e educação se expressam como um decréscimo na 
qualidade de vida dos cidadãos.
Outro fator destacado por Santana e Krom (2006) é a vulnerabilidade 
dos indivíduos oriunda das formas de se trabalhar e se viver num contexto de 
constantes pressões do mundo globalizado, que traz também o aumento do 
desemprego, salários reduzidos, piores condições de moradia, desinformação, 
elevação das distâncias entre a casa e o trabalho e permanência de precarie-
dade ou inexistência de saneamento básico. Nessa perspectiva, evidenciam-se 
as relações entre o processo de globalização e suas influências nos indicadores 
da população.
5.3 População, produção e consumo
Na análise das relações entre população, produção e consumo, consi-
dera-se uma diversidade de conexões que podem ser estabelecidas entre esses 
conceitos. Sob o ponto de vista geográfico, aborda-se tais relações com base 
nas influências que exercem sobre os fenômenos populacionais.
5.3.1 Relações entre população e produção
A análise das relações entre produção e população pode ser realizada 
a partir de diferentes enfoques, visto que se trata de uma abordagem que 
envolve diferentes áreas do conhecimento. Dessa forma, pode tratar, por 
exemplo, da produção de bens de consumo destinados a uma determinada 
faixa etária. Sob o ponto de vista geográfico, considera-se, sobretudo, a rela-
ção entre produção e atendimento das necessidades básicas e a produção do 
espaço geográfico.
– 87 –
Os efeitos da globalização sobre a população
Tendo como referência o exposto, destaca-se, segundo Muteia (2014), 
o fato de que a população mundial quase duplicou nos últimos 50 anos. 
Tal aumento ocorreu como consequência do advento da geração baby boom 
(explosão de bebês), expressão que denomina os que nasceram entre os anos 
de 1946 e 1964, imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Desde 
então a população não parou de crescer, chegando a cerca de 7,5 bilhões de 
pessoas em todo o planeta (dados de 2017).
Segundo Kinkartz (2012), para continuar alimentando toda essa popu-
lação serão necessários investimentos e desenvolvimento de tecnologias que 
permitam aumentar a produção de alimentos, como, por exemplo, com a 
melhoria dos solos e da eficiência de cultivo em terras agricultáveis.
Conforme o Documento Final da Conferência das Nações Unidas 
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em 2012, no Rio 
de Janeiro, não existe deficit de alimentos no mundo (ONU, 2012). Porém, 
os modelos sociais e econômicos são precários e ineficientes. Dessa forma, 
a fome de milhões de habitantes ainda permanece como resultado das desi-
gualdades na distribuição de recursos, tendo como fonte a pobreza e a falta 
de poder aquisitivo, o que impede o acesso a alimentos nutritivos. De acordo 
com o Documento da Rio+20 (ONU, 2012), a Organização das Nações 
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que as perdas globais 
de alimentos e desperdícios alcancem 1,3 bilhão de toneladas por ano.
Como solução a esse cenário, o Documento da Rio+20 aponta a necessi-
dade de uma reforma significativa do sistema de alimentação e de agricultura 
para garantir a segurança alimentar das pessoas que sofrem com a fome. Além 
de garantir a disponibilidade de alimentos, o mesmo documento (ONU, 
2012) destaca também a importância de garantir o acesso a condições de 
subsistência, como o aumento de postos de trabalho e de rendimentos.
5.3.2 População e consumo
Os bens de consumo, segundo Cortez (2009), funcionam como manifes-
tação concreta dos valores e da posição social de quem os possui. Na atividade 
de consumo desenvolvem-se identidades sociais e o sentimento de pertencer 
Geografia da População
– 88 –
a determinados grupos. Nessa perspectiva, o consumo demanda produção e 
reprodução de valores e se constitui como atividade com dimensões políticas, 
ambientais, urbanas e populacionais. Ao se referir à dimensão política do con-
sumo e destacar sua relação com a cidadania, Santos (2007) afirma que:
Quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a moradia, 
a saúde, o lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direi-
tos sociais. Até mesmo a política passa a ser uma função do consumo. 
Essa segunda natureza vai tomando lugar sempre maior em cada indi-
víduo, o lugar do cidadão vai ficando menor, e até mesmo a vontade 
de se tornar cidadão por inteiro se reduz. (SANTOS, 2007, p. 155)
Sem a dimensão política, há o risco de associar cidadão a consumidor, 
ou seja, destituído do seu caráter político. Pode-se esvaziar o sentido de cida-
dão e reduzi-lo ao de consumidor que busca cada vez mais suas conquistas e 
satisfações individuais. Considerando as significativas desigualdades sociais 
que marcam as sociedades capitalistas, essas conquistas também são desiguais 
ou até inexistentes.
Nessa perspectiva, ao lado de uma parcela de consumidores com um 
padrão de consumo dispendioso, segundo Cortez (2009), há outra parcela 
da população que anseia por garantir a sobrevivência. Desse modo, ao rela-
cionar população e consumo, fazem-se necessárias políticas que permitam
elevar o piso mínimo de consumo daqueles que vivem abaixo de um 
padrão de consumo que garanta uma vida digna. Ao mesmo tempo, é 
necessário mudar os padrões e níveis de consumo, evitando a concen-
tração de renda, e promover um novo estilo de vida mais sustentável. 
(CORTEZ, 2009, p. 46)
Evidencia-se, assim, a relação entre consumo e sustentabilidade, pois, 
de acordo com Silva, Barbieri e Monte-Mór (2012, p. 422), “alterando-se a 
quantidade e qualidade dos bens consumidos, altera-se também o padrão de 
geração de resíduos pela população em geral e por cada domicílio em particu-
lar”. Sobre essa problemática, Martine (2007, p. 182) destaca que a “maioria 
dos problemas ambientais mais críticos enfrentados pela civilização moderna 
tem suas origens nos padrões de produção e consumo; estes estão claramente 
centrados nas áreas urbanas”. Esse autor aponta ainda uma dimensão impor-
tante na relação entre consumo e população: a urbanização. Assim, “parado-
xalmente, as cidades também apresentam vantagens significativas em termos 
– 89 –
Os efeitos da globalização sobre a população
do seu potencial para conciliar as realidades econômicas e demográficas do 
século 21 com as exigências da sustentabilidade” (MARTINE, 2007,p. 182).
Considerando a dimensão populacional, quando ocorrem mudanças 
demográficas, há tendência de alterações também na quantidade e qualidade 
dos bens produzidos, como afirmam Silva, Barbieri e Monte-Mór (2012). 
Ainda de acordo com os autores, as dinâmicas demográficas podem afetar 
diversas características de uma sociedade por meio das formas pelas quais uma 
população se altera em relação à estrutura etária, distribuição espacial, estrutura 
familiar e tamanho absoluto. Desse modo, “a maior ou menor participação per-
centual de pessoas em tal ou qual grupo etário de uma população terá impacto 
sobre a curva de consumo agregado por idade” (SILVA; BARBIERI; MONTE-
-MÓR, 2012, p. 425). Destaca-se, assim, que o consumo é influenciado tam-
bém pela renda pessoal ou domiciliar, mantendo relações com a estrutura etária 
e as variáveis demográficas.
Ampliando seus conhecimentos
Globalização: as 
consequências brasileiras
(SILVA; MOURA, 2014, p. 2-5)
A sociedade brasileira vem enfrentando grandes e irreversí-
veis transformações a partir do fenômeno da globalização. 
Este processo, para alguns, representa felicidade, mas, para a 
maioria, vem sendo motivo de infelicidade, na medida em que 
produz efeitos desiguais em diversas esferas da vida.
Um efeito imediato pode ser percebido na ruptura da comu-
nicação corpo a corpo entre os globais e os locais fazendo 
com que a comunicação passe a ser basicamente realizada 
através de hardware. Outro efeito da globalização é a extin-
ção dos limites geográficos, em tempos de globalização as 
distancias não importam (BAUMAN, 1999). Por si, as 
Geografia da População
– 90 –
mudanças no padrão da comunicação associadas à extinção 
das distâncias geográficas parecem representar um avanço 
social na medida em que permite a superação de limites até 
pouco intransponíveis.
Com efeito, para as elites, que se movimentam na velocidade 
da mensagem eletrônica, os espaços e suas delimitações deixam 
de importar, a distinção entre aqui e lá não significa mais nada. 
De acordo com Bauman “o espaço tornou-se [...] emancipado 
das restrições naturais do corpo humano” (1999, p. 24). As 
informações que antes respeitavam e acompanhavam a veloci-
dade do corpo, hoje estão instantaneamente disponíveis em 
todo planeta. [...]
A desintegração da vida comunitária também é um fenômeno 
decorrente da globalização. Bauman assevera que, “as elites 
escolheram o isolamento e pagam por ele prodigamente e de 
boa vontade. O resto da população se vê afastado e forçado 
a pagar o pesado preço cultural, psicológico e político do seu 
novo isolamento” (1999, p. 29). Tal isolamento passa a exigir 
a constante prática de vigilância que se expressa no aumento 
sensível de câmeras nos grandes condomínios de luxo, que 
objetivam afastar os “vagabundos” de espaços a eles proibidos.
No caso brasileiro, fica evidente esta separação de classes 
sociais inclusive nos espaços públicos, como por exemplo, 
os horários de frequentar shopping center. Percebe-se uma 
movimentação durante o dia, em especial nos dias de semana, 
por parte da elite, já nos finais de semana fica mais restrito ao 
“resto” da população, dificilmente ambas as classes frequen-
tam os mesmos horários nos espaços públicos.
Outro exemplo são os espaços de lazer para crianças e 
jovens; a população menos favorecida financeiramente utiliza 
e explora os espaços públicos (praças e parques da comuni-
dade), já a elite, prefere utilizar clubes e áreas de lazer que os 
próprios shoppings centers disponibilizam. Esta prática, muito 
– 91 –
Os efeitos da globalização sobre a população
além de dividir as classes concede certo ar de segurança pelos 
muros e grades que separam os de dentro e os de fora. Ou 
seja, as crianças e os jovens brasileiros já vêm enfrentando, 
ou melhor, sendo moldados/formados para um modelo de 
sociedade que exclui e separa as classes sociais.
Percebe-se a precarização das relações sociais. Para Bauman 
(2009) um espaço é público na medida em que ali se apren-
dem e, sobretudo, se praticam os costumes de uma vida 
urbana satisfatória, um espaço que permita o livre acesso 
de homens e mulheres sem restrições. Somente os espaços 
públicos que reconhecem o valor criativo da diversidade e sua 
capacidade de tornar a vida mais intensa conseguem encorajar 
as pessoas a empenhar-se num diálogo significativo. [...]
O individualismo que a modernidade instaurou traz consigo a 
insegurança e a ideia de que o medo está em toda parte. Com 
a supervalorização do indivíduo, estes acabam se sentindo 
frágeis e vulneráveis, o que antes não ocorria, ou ocorria em 
proporções menores, pois eram/se sentiam mais protegidos 
pelos vínculos sociais existentes. Hoje, o que se percebe no 
Brasil, tomando conta da mente da maioria dos cidadãos, é o 
medo de ser inadequado.
Percebe-se que este medo está batendo na porta das casas 
dos cidadãos brasileiros das mais diferentes classes sociais, 
principalmente, pelo prisma de sentir-se inadequado. Em uma 
sociedade que valoriza mais o ter do que o ser, como é o 
caso da sociedade brasileira, observa-se um comércio forte-
mente relacionado à vinculação social, ao pertencimento à 
determinados grupos. Sobretudo, um comércio reforçado 
pela mídia, que faz com que muitos jovens brasileiros “exijam” 
de seus pais a aquisição de determinado produto (de marca é 
claro) porque seus colegas têm, esperando que, com a posse 
deste bem se sentirão incluídos no grupo. [...]
Geografia da População
– 92 –
Atividades
1. Considerando-se os efeitos da globalização, analise a maneira como esse 
processo pode ter se manifestado no município em que você reside. 
Para isso, busque informações tendo em mente as seguintes questões:
 2 Há indústrias ou grandes empresas nesse espaço? São nacio-
nais ou multinacionais? Qual a proporção do número de 
empregados dessas empresas no número total de trabalhadores 
no município?
 2 Há desigualdades sociais no seu município? Como elas se mani-
festam nas paisagens?
 2 Quais serviços sociais são disponibilizados no município? Eles 
são suficientes? Todos têm acesso a eles de forma satisfatória?
 De posse desses dados, elabore um texto expressando suas reflexões 
sobre o assunto, relacionando-as às questões populacionais presentes 
no seu município.
2. É comum haver uma associação entre a globalização dos dias de hoje 
e os processos similares de globalização de séculos passados. No en-
tanto, na fase atual esse processo se caracteriza de forma diferente das 
fases anteriores. Cite as características da globalização na atualidade e 
destaque o motivo de ela se diferenciar dos processos de globalização 
de períodos passados.
3. Ao se referir à dimensão política do consumo e destacar sua relação 
com a cidadania, Santos (2007) afirma que, quando se confundem os 
termos cidadão e consumidor, a moradia, a saúde e o lazer aparecem 
como conquistas pessoais e não como direitos sociais. Destaque a im-
portância da cidadania no contexto da sociedade de consumo.
Raças, etnias e 
povos do mundo
Introdução
Com a globalização ocorrem diversos contatos entre povos 
do mundo, seja por intermédio dos meios de comunicação, seja 
por viagens, pelo mercado de trabalho ou pela imigração. Nesse 
contexto, há sociedades ou grupos que apresentam peculiaridades 
quanto à identidade cultural, pontos de vista, crenças e forma de 
interação com a natureza.
O contato de um indivíduo com aspectos culturais e orga-
nizações sociais diferentes pode ser marcado por resistências e con-
flitos. Por conta disso, diferentes teorias sobre as relações interna-
cionais foram sendo lançadas. Algumas já foram superadas, outras 
suscitam intensos debates sobre raça, etnias e suas relações com os 
movimentos da população pelo mundo.
6
Geografia da População
– 94 –
6.1 Conceitos fundamentais 
sobre raça e etnias
É comum as pessoas pronunciarem o termo raça em diferentes contex-
tos no cotidiano, principalmente relacionando-o aos seres humanos. Mas, 
afinal, o que é raça? Seráque esse termo é apropriado para ser referir aos seres 
humanos? Destaca-se, com esse questionamento, a importância das reflexões 
sobre raça e etnia.
6.1.1 Raça
O conceito de raça, segundo Santos et al. (2010), engloba as caracterís-
ticas fenotípicas1, como a cor da pele, por exemplo. No entanto, devido à sua 
ampla utilização, o debate sobre o assunto tende a ser mais de cunho social 
do que científico.
A polêmica que envolve o tema se deve ao fato de que as primeiras 
teorias que tratavam do conceito de raça estavam baseadas no paradigma de 
raça superior e raça inferior. Nesse sentido, o filósofo inglês Herbert Spencer 
(1820-1903) pode ser considerado o fundador do racismo científico, pois, a 
partir de suas elaborações, denominadas de evolucionismo social, as tipologias 
e os sistemas classificatórios foram transplantados do mundo biológico para 
o mundo cultural (CHAVES, 2003). As ideias desse cientista reforçavam o 
pensamento de que determinadas características físicas e biológicas poderiam 
tornar povos e sociedades superiores, se comparadas a outras.
Essa perspectiva de Spencer categorizou os povos como superiores, cons-
tituídos sobretudo por europeus; e inferiores, cuja maior representatividade 
seriam os índios. Além disso, Spencer classificou as sociedades com base no 
domínio técnico, considerando as industriais como mais civilizadas e evoluí-
das. Dessa forma, as demais sociedades, como as agrícolas, por exemplo, eram 
tidas como primitivas e atrasadas, devido à incapacidade de seus membros 
em melhorar as condições de existência e alcançar um promissor desenvol-
vimento econômico (CHAVES, 2003). Para Spencer, no processo de evolu-
ção social ocorria uma luta pela supremacia, na qual naturalmente os povos 
1 Características morfológicas, fisiológicas e comportamentais de uma espécie ou indivíduo.
– 95 –
Raças, etnias e povos do mundo
superiores, por serem mais fortes e inteligentes, pela sua persistência domina-
vam os povos mais fracos.
Influenciado pelas ideias de Spencer, Charles Darwin (1809-1874) tam-
bém elaborou preceitos evolucionistas baseados na noção de superioridade 
cultural e racial, reforçando o paradigma de raças superiores e raças inferiores 
(CHAVES, 2003). Em seus preceitos, também defendia que as raças superio-
res naturalmente dominavam as raças inferiores, considerando-se as caracte-
rísticas biológicas e de seleção natural.
Relacionando o pensamento desses estudiosos à geografia, destaca-se que 
essa ciência se desenvolveu num contexto ideológico e político, em que a ideia 
de raças superiores e inferiores se manifestou nas teorias de produção do espaço 
pelas sociedades. Nasce, nesse contexto, a ideia de determinismo geográfico, 
tendo como seu principal representante Friedrich Ratzel (1844-1904). Nessa 
perspectiva, o homem é determinado pelo meio no qual está inserido e, na 
luta pela sobrevivência, vencem os mais capazes de se adaptar ao meio natural. 
Sendo assim, o clima europeu, por exemplo, por ser mais ameno, daria ori-
gem a populações mais valentes e dominadoras, enquanto nas zonas quentes e 
equatoriais as populações seriam mais preguiçosas e pouco dispostas – e, logo, 
deveriam ser dominadas pelas mais fortes (RODRIGUES, 2008).
Ainda sobre as teorias de supremacia das “raças superiores”, destaca-se 
o trabalho do médico e antropólogo brasileiro Raimundo Nina Rodrigues 
(1862-1906), no fim do século XIX e início do século XX, o qual defendia o 
“branqueamento” da população, que se daria devido à mistura de raças oriun-
das da imigração, a partir do pressuposto de que a raça branca era superior às 
demais. “A ideia de formar um povo mais branco fazia parte do pensamento 
da elite brasileira que acreditava, entre outras coisas, na ‘extinção’ dos elemen-
tos ‘inferiores’ por meio da mescla progressiva com imigrantes selecionados” 
(NEVES, 2008, p. 243).
Hoje essas ideias são fortemente refutadas, visto que não são as condi-
ções naturais do meio ou as características biológicas dos povos que determi-
nam superioridade ou inferioridade, e sim o domínio técnico e os interesses 
na interação entre sociedade e natureza. A ciência contemporânea se contra-
põe às classificações entre raças ou povos superiores ou inferiores e considera 
que as bases teóricas para a análise das relações sociais no contexto do debate 
Geografia da População
– 96 –
sobre a questão racial precisam ser buscadas no contexto social e histórico, 
que, como já citado, passou por transformações significativas ao longo do 
desenvolvimento das sociedades.
Referindo-se especificamente ao termo raça, Santos et al. (2010) enfati-
zam que ele apresenta uma variedade de definições e que geralmente é utilizado 
para descrever um grupo de pessoas que apresentam certas características mor-
fológicas em comum. Os autores destacam, ainda, que a maioria dos estudiosos 
sobre o assunto admite que o termo raça não é científico e só pode ter signifi-
cado biológico quando o ser se apresenta de forma homogênea e estritamente 
pura, como em algumas espécies de animais domésticos – condições essas que 
não são encontradas em seres humanos (SANTOS et al., 2010).
Sendo o genoma humano composto de cerca de 25 mil genes2, as dife-
renças mais aparentes, como cor da pele, textura dos cabelos, formato dos 
olhos e do nariz são determinadas por um grupo insignificante de genes. 
Desse modo, “as diferenças entre um negro africano e um branco nórdico 
compreendem apenas 0,005% do genoma humano” (SANTOS et al., 2010, 
p. 122). Assim, há um amplo consenso entre geneticistas e antropólogos de 
que, sob o ponto de vista biológico, raças humanas não existem.
Evidencia-se, portanto, que o conceito de raça envolve uma dimensão 
social, já que, ao longo da evolução das ciências, tentou-se desenvolver bases 
teóricas para comprovar “cientificamente” a superioridade de uma “raça” sobre 
outras. No entanto, considerando o contexto social e histórico que marca as 
sociedades, não há bases para outro debate que não seja pelo viés social e pela 
busca da superação de preconceitos, sobretudo o racial.
6.1.2 Etnia
Buscando uma conceituação de etnia a partir do significado dessa 
palavra, tem-se a acepção de “gentio”, que é proveniente do adjetivo grego 
 ethnikos, relacionado à “gente estrangeira”. O termo etnia foi concebido pelo 
antropólogo francês Georges Vacher de Lapouge (1854-1936), com base no 
paradigma de raças superiores e raças inferiores, e apontava a miscigenação 
como um fator negativo para o desenvolvimento dos povos.
2 Sequência de nucleotídeos no DNA que contém informação genética.
– 97 –
Raças, etnias e povos do mundo
O emprego do termo etnia ganhou força no início do século XIX, para 
distinguir as características culturais próprias de um grupo, como os costumes 
e as línguas. Considerando que o conceito de raça vem sendo cada vez mais 
refutado, a concepção de etnia vem ganhando espaço nas ciências sociais, ape-
sar de ser apontado como um conceito que deve ser melhor compreendido 
(SILVA; SILVA, 2006).
Etnia se refere, portanto, ao âmbito cultural de um grupo ou comu-
nidade humana ligada por afinidades linguísticas e semelhanças genéticas. 
Independentemente dos laços consanguíneos, a etnia envolve o sentimento 
de pertencer a um grupo e compartilhar aspectos culturais. Trata-se de um 
conceito “polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida 
em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, 
além da aparência física” (SANTOS et al., 2010, p. 122).
Referindo-se ao debate atual sobre o conceito de etnia, Silva e Soares 
(2011) destacam que este envolve a noção de universo cultural que cerca o 
indivíduo. O fazer parte de um grupo étnico não significa necessariamente 
possuir características físicas semelhantes, mas, mais do que isso, avança no 
sentido de compreender a dimensão sociocultural e as experiências incomuns 
que ligam indivíduos ou comunidades num mesmo grupo.
Essa mudança de abordagem do conceito de etnia que valorizaos ele-
mentos socioculturais de um grupo ou comunidade é imprescindível para a 
análise das trocas, aculturações e processos de resistências e transformações 
que podem ocorrer na interação de determinado grupo étnico com aspectos 
das demais culturas. Com os movimentos migratórios característicos das 
populações ao longo do tempo, os intercâmbios e o advento da globalização, 
um determinado grupo étnico, ainda que de forma incipiente, pode ter e 
conhecer aspectos de diferentes culturas, origens e identidades.
Destaca-se, ainda, a diferença entre etnia e grupo étnico. A etnia, segundo 
Silva e Silva (2006), caracteriza-se por abranger um número significativa-
mente extenso de pessoas, o que não permitiria uma interação direta entre 
todas elas. Já o grupo étnico se constitui num conjunto de pessoas que man-
têm interação entre todos os seus membros, além das características que dis-
tinguem uma etnia.
Geografia da População
– 98 –
A análise da evolução histórica sobre etnia revela que esse conceito não 
teve caráter estático ao longo do tempo, e diversas ideias, inclusive limitadas 
e ideológicas, como a questão da superioridade de um grupo, por exemplo, 
foram a ele atribuídas. Desse modo, a ressignificação do conceito de etnia 
considera as dimensões socioculturais, os debates científicos e os embates 
políticos e sociais entre os diversos grupos humanos.
6.2 Os conflitos étnicos
As características culturais e a identidade dão origem a diversos grupos 
étnicos. No entanto, alguns grupos encontram desafios significativos para 
mantê-las. Assim, destaca-se o papel do Estado (como organização política 
e territorial) em garantir direitos e buscar soluções para eventuais conflitos.
6.2.1 Relações entre etnia e Estado
Na análise dos conflitos étnicos, destaca-se o papel do Estado em garan-
tir as condições básicas de vida dos seus habitantes. No entanto, diversas são 
as ações e os interesses do Estado em relação aos conflitos étnicos.
Ao se referir às relações entre etnia e Estado, Vigevani, Lima e Oliveira 
(2008) destacam que o tráfico de escravos dos séculos XVI, XVII e XVIII, as 
correntes migratórias dos séculos XIX e XX, entre outros fatores, deram ori-
gem ao um mundo no qual já não existem Estados que não sejam constituí-
dos por uma mistura de povos, etnias e culturas. Em diversos desses Estados, 
embora ocorram problemas eventuais, pode-se observar uma convivência 
pacífica entre seus habitantes, como, por exemplo, no Brasil.
Há ainda os Estados nos quais a diversidade étnica é valorizada devido 
às políticas públicas que lhes dão suporte. No entanto, em outros Estados 
os conflitos étnicos estão estabelecidos há longa data com vários focos de 
tensão. Ao abordar os fatores que desencadeiam os focos de conflitos étni-
cos, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) revelam que a afirmação de que os 
conflitos ocorrem apenas em função do ódio determinado pela diversidade 
– 99 –
Raças, etnias e povos do mundo
ou pela disputa de poder pode deixar de considerar a complexidade que 
envolve essa problemática.
Nessa perspectiva, aspectos como a ideologia, a coesão de um grupo 
e o apego às identidades podem ser direcionados para diferentes interesses. 
Em relação aos interesses do Estado, esses aspectos podem ser usados para o 
estabelecimento de poder. Como exemplo, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) 
citam que nos Estados Unidos os partidos políticos buscam apoio em comuni-
dades étnicas, constituindo, portanto, a princípio, uma coalizão multiétnica. 
Desse modo, os candidatos fazem promessas nas campanhas eleitorais e 
governantes e legisladores tomam certas medidas, visando angariar votos de 
determinados grupos étnicos.
Destaca-se, ainda, a relação entre Estado e a segregação ou discrimina-
ção de grupos étnicos. Barata (2009, p. 65) afirma que alguns desses grupos 
“sofrem vários tipos de desvantagens, acumulando-se os efeitos da discrimi-
nação econômica, segregação espacial, exclusão social, destituição do poder 
político e desvalorização cultural”. A autora também salienta a restrição de 
possibilidades de acesso a oportunidades de educação e emprego e a ausência 
de mobilidade social.
No Brasil, apesar de não ter se consolidado um sistema de segregação 
étnica, segundo Barata (2009), a população negra sofre sistematicamente 
maior desvantagem social e se concentra nas regiões mais pobres do país. 
Além disso, seu nível de desenvolvimento humano (IDH) é menor que o da 
população geral, assim como seu acesso ao saneamento básico, mercado de 
trabalho e à educação.
Também se referindo à relação entre Estado e etnia, Chiriboga (2006) 
afirma que
os Estados têm obrigação de proteger e promover a diversidade cul-
tural e adotar políticas que favoreçam a inclusão e a participação de 
todos os cidadãos, para que se garanta, assim, a coesão social, a vitali-
dade da sociedade civil e a paz. (CHIRIBOGA, 2006, p. 44)
Evidencia-se, dessa forma, que a resolução dos conflitos e a garantia dos 
cidadãos à vida digna e ao bem-estar passa pelas ações do Estado na promoção 
de políticas voltadas ao respeito às diferenças e ao convívio na diversidade.
Geografia da População
– 100 –
6.2.2 Etnias e direitos humanos
No contexto dos conflitos étnicos, perseguições, disputa por territórios, 
lutas armadas, preconceitos religiosos, entre outros fatores, afetam a digni-
dade e o direito à vida e à liberdade. Nesse sentido, destaca-se a importância 
dos direitos humanos. Para uma melhor compreensão dessa temática, faz-se 
necessária uma reflexão sobre esse conceito e sua evolução.
Abordando o conceito de direitos humanos numa perspectiva histórica, 
Rabenhorst (2008) destaca que os primeiros direitos foram estabelecidos no 
século XVIII, com a denominação de direitos civis e políticos, tendo como 
sujeitos de direito os indivíduos sobre os quais versam a liberdade de ir e vir, 
de se expressar, de pensar, de manifestar suas crenças religiosas, entre outros.
No século XIX, surgiram os direitos econômicos, sociais e culturais, 
cujos sujeitos também são os indivíduos, mas considerados sob o ponto 
de vista da coletividade e no plano da distribuição dos recursos sociais. De 
acordo com Rabenhorst (2008, p. 18), “são chamados ‘direitos-prestação’, 
posto que exigem uma intervenção por parte do Estado de maneira a suprir 
as necessidades mais básicas dos indivíduos e a propiciar o próprio exercício 
das liberdades individuais” (grifo nosso).
O século XX foi o mais significativo em termos de expansão dos direi-
tos humanos. Segundo Rabenhorst (2008), foram estabelececidos os “direitos 
difusos”, os quais não têm um sujeito específico de direito, mas sim a huma-
nidade como um todo, e envolvem o direito à paz, ao desenvolvimento, às 
condições ambientais adequadas, à realização por meio do trabalho e ao acesso 
a meios dignos de subsistência. Ainda no século XX, surgem o que Rabenhorst 
(2008, p. 18) chama de “direitos mais exóticos”, “que tratam dos animais, 
da natureza e dos embriões, por exemplo”. Evidencia-se, desse modo, que os 
direitos humanos, ao longo do tempo, passaram por um processo de expansão 
e também de especialização.
Assim, o que hoje se convencionou chamar de direitos humanos, segundo 
Rabenhorst (2008), são aqueles correspondentes à dignidade dos seres humanos, 
– 101 –
Raças, etnias e povos do mundo
não porque o Estado os definiu por meio de suas leis ou por acordos da socie-
dade. São direitos que o sujeito possui pelo simples fato de ser humano.
Relacionando etnias e direitos humanos, Vigevani, Lima e Oliveira 
(2008) distinguem dois cenários. No primeiro destacam-se as sociedades 
multiétnicas, onde as relações entre indivíduos e grupos ocorrem sem maio-
res embates. Quando ocorrem, o Estado tem capacidade para equacioná-los 
e solucioná-los de maneira compatível com a perspectiva dos direitos huma-
nos. Em relação à capacidade do Estado nesse contexto, “não significa que 
não ocorram violações desses direitos, já que é improvável que exista um 
Estado no qual osdireitos humanos não sejam infringidos de algum modo” 
(VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 186). Entretanto, a sociedade, 
nesse cenário, tem certa confiança de que o Estado poderá dirimir os conflitos 
sem, necessariamente, recorrer à violação dos direitos humanos.
No segundo cenário, conforme Vigevani, Lima e Oliveira (2008), o 
Estado perde ou negligencia sua capacidade em dirimir e buscar soluções 
para os conflitos ou, simplesmente, não quer solucioná-los, o que consti-
tui uma ausência de resposta às demandas de direitos humanos da socie-
dade ou de parte dela. Assim, “indivíduos e grupos começam a ver uns nos 
outros uma ameaça à sua existência e aos seus interesses; nesse contexto, a 
eliminação dessa ameaça passa a ter caráter prioritário” (VIGEVANI; LIMA; 
OLIVEIRA, 2008, p. 188).
Essa ausência de resposta do Estado se constituiria em um retorno de 
indivíduos ou grupos sociais às formas primitivas de vida, ou seja, o “fazer jus-
tiça com as próprias mãos”. Nesse contexto, quanto mais a sociedade recorre 
à violência para atingir seus propósitos políticos, maior é o desgaste da figura 
do Estado e sua falência na capacidade de solucionar conflitos (VIGEVANI; 
LIMA; OLIVEIRA, 2008). Desse modo, ainda segundo os autores, há um 
rompimento dos valores e normas essenciais sobre os quais se fundamentam 
o regime internacional de direitos humanos que vem se consolidando desde 
1948, com a Declaração Universal do Direitos Humanos (ONU, 1998), e 
complementado pela Declaração de Viena e o Programa de Ação de 1993 
(ONU, 1993).
Geografia da População
– 102 –
Diante da “falência” do Estado, surgem atores não estatais transnacio-
nais que intervêm nesses conflitos para a busca de soluções e garantias dos 
direitos humanos. Vigevani, Lima e Oliveira (2008) citam como exemplos 
dessa intervenção internacional os episódios ocorridos na última década do 
século XX e na primeira década do século XXI, na Iugoslávia, no Afeganistão, 
no Iraque, em Ruanda, Sudão e Israel-Palestina, nos quais ocorreram ações 
internacionais de caráter humanitário como forma de garantir o bem-estar da 
população. Essas intervenções, no entanto, não estiveram isentas de interesses 
políticos e econômicos por parte das nações que as realizaram.
6.3 A xenofobia e suas causas
As migrações possibilitam o encontro de povos com culturas, pontos de 
vista, crenças e modos de se relacionar diferentes. Nesse contexto, podem sur-
gir resistências ao estabelecimento de imigrantes em determinados territórios, 
com a manifestação de preconceitos e exclusão social.
6.3.1 Xenofobia e preconceito
Para o entendimento da xenofobia é fundamental analisar o significado 
desse conceito. De acordo com o Dicionário Houaiss (2008), xenofobia refe-
re-se à repulsa ou aversão ao que é estrangeiro. Conforme Koltai (2008, 
p. 67), “xenofobia é um termo que vem do grego e que quer dizer ‘medo 
do estrangeiro’ – a palavra xenos remetendo, em grego, tanto ao estrangeiro 
como ao hóspede, aquele que se acolhe e honra”. Também na definição de 
Amaral (2016), de forma literal a xenofobia pode ser traduzida como o medo 
de estrangeiros. Num sentido mais amplo, trata-se da discriminação contra 
pessoas estrangeiras, que geralmente se manifesta em expressões de ódio.
Nesse sentido, o xenófobo assume comportamento de intolerância em 
relação a pessoas que vêm de outros países e culturas, o que desencadeia 
diversas reações. Entre elas, o preconceito, definido por Dine (1997) como 
“pré + conceito”, o seja, um julgamento antecipado sem conhecer ou ouvir 
– 103 –
Raças, etnias e povos do mundo
o outro. Trata-se, portanto, de uma posição baseada no senso comum, sem 
uma reflexão ou busca de conhecimento, uma ideia pré-concebida. Ao se 
referir ao preconceito, Silva (2010, p. 562) o destaca como um “sentimento 
de desconsideração e desmerecimento do outro ou da concepção de que esse 
outro, por algum motivo, possa ser alguém de menor valor e possuir menos 
direitos [...]”.
Entretanto, nem todas as formas de preconceito contra estrangeiros, 
minorias étnicas, diferenças culturais ou crenças podem ser consideradas 
xenofobia, pois, segundo Vaitsman (1998), em vários casos elas são atitudes 
associadas a ideologias, motivações políticas ou choque de culturas. Conforme 
destaca Amaral (2016), pertencer a uma nação geralmente é sinônimo de tra-
zer consigo uma herança étnica com uma cultura distinta das demais nações.
Nessa perspectiva, o estrangeiro é visto com herdeiro de uma cultura 
diferente e com potencial de ameaçar a integridade da própria nação, o 
que pode gerar sentimento de repulsa em alguns habitantes do país para o 
qual o migrou. Assim, atitudes discriminatórias podem ser enfrentadas pelo 
estrangeiro no seu cotidiano, como dificuldade de acesso a serviços públicos, 
emprego e condições de subsistência digna. De acordo com Amaral (2016), 
isso ocorre devido à valorização exaltada da própria nação, ou seja, de um 
nacionalismo excessivo, que acaba por fomentar a xenofobia.
Advindo da xenofobia, o preconceito se expressa em comportamen-
tos que beiram o fascismo, com discursos de ódio e repulsa ao estrangeiro. 
Conforme Santos (2016), esse preconceito dificulta a inserção e permanência 
de estrangeiros nos países e desvaloriza as ações voltadas às demandas sociais 
dessa população. Dessa forma, “obstaculizam ações que de fato reconheçam 
a liberdade associada à ampliação e consolidação da cidadania” do habitante 
estrangeiro (SANTOS, 2016, p. 8).
Desse modo, evidencia-se a importância do debate e estabelecimento de 
políticas que visem à consolidação da cidadania do estrangeiro e ao combate 
a preconceitos e todas as formas de discriminação. Nesse processo, destaca-se 
Geografia da População
– 104 –
a importância das reflexões sobre os motivos que geram o preconceito e da 
busca de sua superação.
6.3.2 Consequências da xenofobia
Um dos fatores essenciais para garantir aos imigrantes seu estabeleci-
mento e suas condições de subsistência nos países de destino é sua inserção 
no mercado de trabalho. Mas esse mesmo fator pode também se constituir 
num mecanismo de xenofobia. Conforme Santos (2016), o mercado de tra-
balho para estrangeiros é seletivo e discriminatório, principalmente para as 
pessoas provenientes dos países pobres e periféricos. Ainda segundo a autora, 
a atual fase do capitalismo, estruturado na circulação de moedas, mercadorias 
e pessoas, inibe a livre circulação da força de trabalho, pois os movimentos 
sociolaborais são definidos a cada momento, conforme as necessidades do 
mercado “de avançar ou retrair a produção nesta ou naquela região, em fun-
ção de estratégias de dominação” (SANTOS, 2016, p. 13).
Embora a entrada de imigrantes num país apresente uma vantagem sob 
o ponto de vista do mercado, já que amplia o exército de mão de obra à dispo-
sição para a exploração, os direitos trabalhistas estão sendo cerceados. Nessa 
perspectiva, “novos limites impostos à liberdade de circulação da força de 
trabalho no mundo desencadeiam, em escala global, a volta das concepções 
do pensamento conservador de que a imigração leva à ‘superpopulação’, cau-
sando problemas econômicos e sociais” (SANTOS, 2016, p. 11-12).
Ao se referir à relação entre mercado de trabalho e xenofobia, Vaitsman 
(1998) destaca o padrão fragmentário na forma como os imigrantes se inserem 
no mundo produtivo. Segundo a autora, há “uma segmentação do mercado em 
pelo menos dois setores: um protegido e outro não regulado. E a informalidade 
tem se ampliado com a implementação de políticas de ajuste recessivas que 
reduzem o nível de emprego formal” (VAITSMAN, 1998, p. 564). Tal infor-
malidade reduz as possibilidades do estabelecimento do imigrante de forma a 
garantir a ele condições financeiras mais promissoras e com qualidade de vida, 
o que pode se converter em situações de exclusão social e discriminação.
A visão do imigrante como um concorrente na busca de inserção 
no mundo do trabalho pode, conforme Santos (2016), inibir os laços de 
solidariedade.Por esse motivo, em diversos casos não “é de estranhar que 
– 105 –
Raças, etnias e povos do mundo
‘estrangeiros’ sejam abertamente hostilizados como concorrentes na disputa 
pelos minguados recursos da sociedade” (VAITSMAN, 1998, p. 567).
Evidencia-se, assim, a necessidade de amplos debates e do estabeleci-
mento de políticas que possam garantir a subsistência e a integração do imi-
grante como sujeito de direitos, com pleno exercício da cidadania.
Ampliando seus conhecimentos
Etnicidade
(VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 189-191)
[...]
Existe entre os estudiosos da etnicidade um grande debate a 
respeito de como defini-la e caracterizá-la. Examinando alguns 
autores, Szayna (2000) entende que há três grandes pers-
pectivas sobre o tema: a primordialista, a epifenomenalista 
e a construtivista.
A perspectiva primordialista baseia-se no argumento de que 
os grupos étnicos são, a priori, “unidades naturais que têm 
sua coesão derivada de inerentes traços biológicos, culturais 
ou raciais”, que se tornam elementos de diferenciação social 
especificamente pela dicotomia “nós” e “eles” (ibidem:18). De 
acordo com essa perspectiva, “os grupos étnicos funcionam 
como universos insulares”.
O pertencimento a esses grupos é definido pelo acidente do 
nascimento e, a partir dele, a percepção de que somos distin-
tos uns dos “outros” se consolida ao longo da vida. À medida 
que os indivíduos aprendem e exercitam sua cultura particular 
e passam a se relacionar socialmente, seja com os membros 
de seu próprio grupo, seja com outros grupos, essa distinção 
vai se afirmando através da comparação das diferenças que 
existem entre uns e outros.
Geografia da População
– 106 –
A perspectiva epifenomenalista, de inclinação marxista, “nega 
que a etnicidade, como fenômeno social, tenha qualquer 
base biológica inerente”. Para os epifenomenalista, “são as 
estruturas de classe e os padrões institucionalizados de poder 
na sociedade que são fundamentais para explicar eventos 
políticos, em detrimento de qualquer outra formação social 
baseada na biologia ou na cultura como a ‘etnicidade’” (ibi-
dem). Contrariamente à perspectiva primordialista, os epife-
nomenalistas entendem que as questões étnicas funcionam 
como uma neblina que encobre as lutas políticas e econô-
micas. A etnicidade sozinha é, “portanto, meramente uma 
aparência incidental, não é verdadeiramente causa geradora 
de nenhum fenômeno social”.
A terceira perspectiva, denominada construtivista, deriva do 
pensamento weberiano e baseia-se no argumento de que a 
etnicidade é real, mas construída. Os grupos étnicos são
 [...] aqueles grupos humanos que desfrutam de uma 
crença subjetiva de descendência comum por causa de 
similaridades físicas, culturais ou ambas, ou por causa de 
memórias da colonização e migração. Essa crença deve 
ser importante para a propagação da formação do grupo; 
não importa se efetivamente há ou não um relacionamento 
de sangue (tradução dos autores).
Combinada com outros fenômenos sociais, a etnicidade 
pode ser direcionada à ação social. De acordo com Horowitz 
(1998), na prática raramente se trabalha com essas perspecti-
vas de forma rígida, aplicando-se a O conceito [de etnicidade] 
vincula três componentes cruciais: características diferenciado-
ras (qualquer e/ou todas das seguintes: fé, língua, fenótipos, 
origem ou concentração populacional em uma dada região), 
um sentimento de solidariedade grupal e contato com outro 
grupo para que se estabeleça a ideia de “outro”.
A etnicidade pode ser definida como o sentimento de afini-
dade que é compartilhado pelos membros de um grupo. O 
– 107 –
Raças, etnias e povos do mundo
pertencimento a esse grupo, por sua vez, parte do “mito” da 
ascendência comum e, ao mesmo tempo, da noção de distin-
ção. O grupo étnico deve ser maior do que o familiar, embora 
o sentimento de afinidade compartilhada, que deriva do mito 
da ascendência, possa ser bastante semelhante àquele que 
caracteriza os laços de família – ainda que a ascendência não 
seja o único fator capaz de gerar sentimentos coletivos. Para 
Moore, o que caracteriza os grupos étnicos são as frontei-
ras linguísticas, culturais, raciais e/ou religiosas. Um indivíduo 
pode ser membro de um grupo étnico “[...] via autoidentifica-
ção, por ser tratado como tal por não-membros do seu grupo 
ou em ambos os casos”
Na visão de Hobsbawm, a etnicidade está ligada à origem e 
à descendência comuns, de forma que “[...] a base crucial de 
um grupo étnico, como forma de organização social, é cultural 
e não biológica”.
As várias definições e caracterizações atribuídas à etnicidade 
mostram a complexidade dos temas a ela relacionados. Para 
nossos objetivos, o que importa é captar a realidade das con-
sequências políticas que deles decorrem, seja no plano interno 
dos países, seja pelos efeitos desestabilizadores que acarretam 
nos âmbitos regionais e mundiais. A falta de consenso em 
torno das definições do termo não diminui sua importância no 
debate sobre os grandes problemas vividos pela humanidade 
ao longo do século XXI. Dessa forma, conhecer a estrutura 
do conflito étnico pode ser útil na medida em que ajuda a 
pensar sobre a perda – ou a negligência – da capacidade dos 
Estados de dirimir os conflitos internos ou sobre sua disposi-
ção de promover os direitos humanos. Constatada sua inca-
pacidade, esses Estados poderiam ser definidos como Estados 
falidos e, nessa condição, possivelmente estaria legitimada a 
ingerência internacional. [...]
Geografia da População
– 108 –
Atividades
1. De acordo com os conceitos de raça, há uma certa polêmica que en-
volve o assunto e diferentes interpretações sobre essa conceitualização. 
No entanto, existe amplo consenso entre geneticistas e antropólogos 
de que, sob o ponto de vista biológico, raças humanas não existem. 
Entreviste pelo menos três pessoas para saber o que elas definem 
como raça e se aplicam esse conceito aos seres humanos (por questões 
de ética na pesquisa, garanta o sigilo dos entrevistados; para isso, use 
somente as terminologias entrevistado a; entrevistado b; entrevistado c).
 De posse das informações e tendo como base as reflexões sobre o 
conceito de raça, registre por escrito as conclusões a que chegou.
2. Conforme Barata (2009), é comum a segregação e discriminação de de-
terminados grupos étnicos, tendo como consequência a exclusão social e 
a desvalorização cultural. Busque e apresente informações sobre grupos 
étnicos excluídos e discriminados no Brasil. Para isso, tenha como refe-
rência questões como: a) características dos grupos; b) tipo de exclusão a 
que são submetidos; c) fatores que geram a exclusão e discriminação; d) o 
papel do poder público em transpor a exclusão/discriminação.
3. Busque reportagens sobre os temas imigração e xenofobia. Analise as 
situações noticiadas tendo como referência as questões: a) De quais 
grupos partiram as ações xenofóbicas?; b) Houve intervenção de en-
tidades nacionais ou internacionais?; c) Quais as consequências da 
xenofobia para os alvos dessa prática?
 Elabore um texto expressando as conclusões a que chegou.
População e meio 
ambiente
Introdução
Desde os primórdios da humanidade, os avanços de domí-
nio técnico vêm permitindo ampliar as formas de interação entre 
sociedade e natureza. Para atender diferentes necessidades e interes-
ses, sobretudo após a Revolução Industrial, formas predatórias de 
exploração dos recursos naturais criadas pelo homem têm causado 
diversos impactos ambientais.
Considerando o aumento populacional e a crescente 
demanda por recursos naturais, vários desafios se colocam na 
busca de formas de interação com a natureza que amenizem tais 
impactos e promovam a conservação do meio ambiente. Além da 
dimensão ambiental desses impactos, sua análise exige conside-
rar também a forma como essa problemática se relaciona com os 
fenômenos populacionais.
7
Geografia da População
– 110 –
7.1 Os conceitos de meio 
ambiente e população
Ao pensar sobre meioambiente, é comum vir à mente florestas, rios, 
plantas, animais. Porém, quando se reflete sobre a relação entre o ser humano 
e o meio ambiente, este termo ganha uma conotação mais específica, o que 
envolve considerar também seus aspectos sociais.
7.1.1 O conceito de natureza
Diversos movimentos sociais ganharam impulso significativo na década 
de 1960, entre eles o movimento ecológico, que trouxe ao debate reflexões e 
ampliação dos conceitos referentes às questões ambientais. Nessa perspectiva, 
segundo Gonçalves (2006), abordagens críticas envolvendo o modo de pro-
dução capitalista, o modo de vida consumista e as ações do cotidiano passa-
ram a ser uma importante categoria de análise.
Assim, questões como desmatamento, extinção de espécies, uso de 
agrotóxicos, explosão demográfica, poluição da água e do ar, urbanização 
desenfreada, diminuição das áreas cultiváveis devido à construção de gran-
des barragens, ameaça nuclear, guerra bacteriológica, corrida armamentista e 
tecnologias que possibilitam concentração de poder ganharam destaque nos 
debates ambientais.
No que diz respeito aos conceitos associados aos problemas ambientais, 
destacam-se os debates e a ressignificação de meio ambiente e os paradigmas1 
que o sustentaram ao longo da sua evolução. Assim, meio ambiente, que 
numa concepção mais tradicional era relacionado apenas aos aspectos físicos 
e naturais, passou a ter uma conotação mais abrangente, envolvendo tam-
bém uma dimensão social. Mas o entendimento dessa evolução conceitual 
do termo meio ambiente requer reflexões também sobre a evolução de outro 
conceito, qual seja, o de natureza.
A análise dos contextos de aplicação do termo natureza revela que, na 
maioria das vezes, refere-se apenas aos aspectos de flora e fauna, como as 
1 De acordo com Kuhn (2011, p. 13), um paradigma pode ser definido, de modo simplificado, 
como “as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, for-
necem problemas e soluções modulares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.
– 111 –
População e meio ambiente
florestas, os pássaros, os animais. Trata-se, portanto, de ideias preestabele-
cidas, que retiram do debate e análise a dimensão social que envolve esse 
conceito. É como se o ser humano, como ser social, também não fizesse parte 
da natureza. Nesse sentido, faz-se necessário refletir e (des)construir esse con-
ceito a partir de discussões e reflexões que possibilitem ampliar as perspectivas 
de modo a incorporar a ele os aspectos sociais (LIMA; OLIVEIRA, 2011).
Referindo ao mesmo conceito, Gonçalves (2006, p. 23) afirma que 
“toda sociedade, toda cultura, cria, inventa uma determinada ideia do que 
seja natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo 
na verdade criado e instituído pelos homens”. Para evidenciar sua premissa, 
o autor destaca que as sociedades indígenas tradicionais são evocadas como 
modelos de uma relação harmônica entre ser humano e natureza, já que os 
indígenas retiram dela apenas o que é necessário para o seu sustento. Essa 
forma de se relacionar com o meio ambiente não provoca modificações signi-
ficativas como os impactos gerados pelas sociedades industriais.
Nessa perspectiva, explicita-se claramente os paradigmas de interação 
entre ser humano e natureza. Desse modo, na concepção indígena tradicio-
nal, o ser humano está para a natureza, que é vista como uma “progenitora”, 
aquela que provê os meios de subsistência humana, e, como tal, é respeitada 
ou reverenciada. Por outro lado, nas sociedades industriais, o conceito de 
natureza é visto a partir da concepção de que a natureza está para o homem. 
Assim, ela “é um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito 
embora saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza 
(GONÇALVES, 2006, p. 26). Gonçalves destaca que a maioria dos seres 
humanos é considerada também como objetos (no sentido de força de traba-
lho para a exploração) que podem ser descartados.
Essa separação entre ser humano e natureza, ainda de acordo com o 
autor, é uma característica marcante do pensamento do chamado mundo oci-
dental, cujas origens vêm da Grécia e Roma clássicas. Tal distinção, segundo 
Gonçalves (2006, p. 23), “constitui um dos pilares [por meio] do qual os 
homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual, 
enfim, a sua cultura”. Essa perspectiva de dominação da natureza como se o 
homem dela não fizesse parte cristalizou-se a partir da Revolução Industrial, 
evidenciando uma concepção que desconsidera a dimensão social do meio.
Geografia da População
– 112 –
Esse paradigma se manifestou de forma significativa na elaboração das 
bases científicas e do advento das ciências, sendo que as ciências da natu-
reza tiveram sua gênese separadas das ciências do homem. Analisando essa 
separação em nossos dias, Dulley (2004) destaca que não se pode dissociar o 
natural do social, pois, além da degradação do meio ambiente, outros temas, 
como a exploração intensa da força de trabalho com precárias remunerações, 
as desigualdades sociais, o trabalho infantil e o tratamento cruel aos animais, 
são considerados parte da interação com a natureza.
Deve-se admitir, portanto, que o conceito de natureza é uma construção 
social, ou seja, pensada pelo ser humano, que é capaz de acumular os conhe-
cimentos e refletir sobre eles. Dulley (2004) ilustra essa concepção por meio 
do seguinte esquema (Figura 1):
Figura 1 – Relações entre natureza e ambiente.
Natureza Ambiente
(conjunto de meios ambientes das diversas 
espécies conhecidas pelo homem)
(100% natural) (modificado)
Fonte: DULLEY, 2004, p. 20.
Conforme o autor, a natureza existe independentemente da existência e/
ou conhecimento dos seres humanos. Desse modo, “engloba não só o que o 
homem não conhece, mas também o que conhece, pode perceber/conhecer, 
inclusive quanto a sua própria espécie e às inter-relações dinâmicas que nela 
ocorrem” (DULLEY, 2004, p. 20). Nesse contexto, o entendimento sobre a 
forma como os humanos se relacionam com a natureza requer reflexões sobre 
o conceito de meio ambiente.
7.1.2 O conceito de meio ambiente
Assim como o conceito de natureza, o debate sobre o significado de meio 
ambiente suscita reflexões baseadas em sua conotação mais tradicional. Em 
linhas gerais, esse termo é entendido como a descrição do quadro natural do 
planeta, compreendendo relevo, clima, vegetação, fauna e flora dissociados do 
ser humano ou de qualquer sociedade humana (MENDONÇA, 2008).
– 113 –
População e meio ambiente
Destaca-se, assim, uma concepção fortemente naturalista, apresentando 
os seres humanos como simples elementos do ambiente. Tal compreensão, 
segundo Mendonça (2001), é observada tanto no senso comum como em 
alguns debates intra e extra-acadêmicos, como se o quadro natural fosse mais 
importante que as ações humanas que nele se estabelecem. Desse modo, dei-
xa-se de considerar “os sistemas sociais produtivos humanos, quer trabalhem 
no sentido favorável, quer desfavorável ao ambiente e natureza” (DULLEY, 
2004, p. 20).
Os debates buscando a evolução conceitual de meio ambiente tiveram 
início na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio 
Ambiente, também chamada de Eco-92 ou Rio-92. Numa perspectiva de 
ressignificação do conceito e superação de uma abordagem parcial, ou seja, 
considerando apenas a dimensão natural, o termo meio tem causado certo 
desconforto entre os estudiosos sobre o tema. Mendonça (2001), baseando-se 
em Carlos Walter Porto Gonçalves, propõe o abandono desse termo, justa-
mente por significar “metade” ou “parte”, o que denota a abordagem limitada 
dos problemas ambientais, sem considerar sua dimensão social.
Um exemplo dessa concepção pode ser identificado na definição de 
meio ambiente expressa na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe 
sobre a Política Nacional de Meio Ambiente no Brasil (PNMA) no seu Art. 
3º: “Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meioambiente, o 
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química 
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas [...]” 
(BRASIL, 1981). Isto é, o conceito definido na PNMA não aborda o aspecto 
social das interações entre o homem e as demais espécies no planeta.
Na atualidade, o debate sobre o conceito de meio ambiente vem apre-
sentando uma forte tendência à utilização do termo socioambiental, já que 
se tornou insuficiente abordar o tema somente com base no quadro natural. 
Desse modo, segundo Mendonça (2001, p. 117), “o termo ‘sócio’ aparece, 
então, atrelado ao termo ‘ambiental’ para enfatizar o necessário envolvimento 
da sociedade enquanto sujeito, elemento, parte fundamental dos processos 
relativos à problemática ambiental contemporânea”.
O termo socioambiental se aplica sobretudo aos países pobres e em 
desenvolvimento, pois neles “as condições de vida da população humana, 
Geografia da População
– 114 –
bem como sua qualidade de vida2, encontram-se completamente degradadas” 
(MENDONÇA, 2008, p. 71). Para saber sobre questões ambientais desse 
grupo de países, o autor destaca que, primeiramente, é preciso no mínimo 
garantir as condições de sobrevivência e de cidadania das populações, que, 
em sua maioria, ficam à margem de uma minoria hereditariamente no poder. 
A concepção social de meio ambiente apresentada por Mendonça (2008), 
é de importância fundamental para a análise de como esse meio vem sendo 
tratado pelas populações dos diversos países do mundo, considerando seus 
estágios de desenvolvimento econômico e político.
Outro exemplo do reflexo da evolução conceitual de meio ambiente 
numa perspectiva mais ampla pode ser identificado na Resolução n. 306 do 
Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama, de 5 de julho de 2002, 
que traz a seguinte definição: “conjunto de condições, leis, influência e inte-
rações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que 
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 2002).
Evidencia-se, assim, que no Brasil, embora com significativas diferenças 
entre as concepções teóricas e legislativas, o conceito de meio ambiente vem se 
ampliando, uma vez que a Lei n. 6.938/81 se referia apenas aos aspectos natu-
rais e, em 2002, o Conama destacou, em sua definição, os componentes social, 
cultural e urbanístico em interação com os fatores físicos, químicos e biológicos.
Nessa perspectiva, segundo Gonçalves (2006, p. 140), “a complexi-
dade da questão ambiental decorre do fato de ela se inscrever na interface da 
sociedade com [...] a natureza”. No que se refere à análise das relações entre 
2 Em relação ao conceito de qualidade de vida, Pereira, Teixeira e Santos (2012) esclarecem 
que ele pode ser definido a partir de quatro abordagens gerais: econômica; psicológica; bio-
médica; e geral ou holística. “A abordagem socioeconômica tem os indicadores sociais, como 
instrução, renda e moradia, como principal elemento [...]. A abordagem psicológica busca 
indicadores que tratam das reações subjetivas de um indivíduo às suas vivências, dependen-
do assim, primeiramente, da experiência direta da pessoa cuja qualidade de vida está sendo 
avaliada e indica como os povos percebem suas próprias vidas, felicidade, satisfação [...]. As 
abordagens médicas tratam, principalmente, da questão de oferecer melhorias nas condições 
de vida dos enfermos e condições de saúde [...]. As abordagens gerais ou holísticas baseiam-se 
na premissa segundo a qual o conceito de qualidade de vida é multidimensional, apresenta 
uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa 
de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto 
similar [...]” (PEREIRA, TEIXEIRA; SANTOS, 2012, p. 242-243).
– 115 –
População e meio ambiente
os temas população e meio ambiente, essa concepção mais abrangente, ou 
seja, que envolve os aspectos físicos e os componentes sociais em interação, 
é fundamental, uma vez que permite considerar a forma como determinada 
população humana interage com a natureza. A partir dessa análise, é possível 
destacar os diferentes processos decorrentes dessa interação, como a produ-
ção, o consumo, a distribuição dos recursos naturais disponíveis, as condições 
de subsistência e a qualidade de vida.
7.2 O consumismo e os recursos naturais
Uma das características marcantes das sociedades capitalistas é o elevado 
estímulo ao consumo, cuja condição básica de existência são os recursos finan-
ceiros. No entanto, dadas as contradições e desigualdades dessas sociedades, 
nem sempre seus habitantes encontram as condições básicas para alcançar uma 
boa qualidade de vida.
7.2.1 Consumo e qualidade de vida
A produtividade de mercadorias e seu consumo, ao longo de cerca de 
duzentos anos de industrialização do planeta, segundo Mendonça (2008), 
ocorreu de forma acelerada, porém desigual, em função do desequilíbrio na 
distribuição de renda, decorrente da intensa exploração da força de trabalho. 
Além disso, como “esse processo de industrialização desrespeitou a dinâmica 
dos elementos componentes da natureza, ocorreu uma considerável degrada-
ção do meio ambiente” (MENDONÇA, 2008, p. 10).
Esse contexto evidencia que o desenvolvimento é o principal respon-
sável pela destruição da biodiversidade e das fontes naturais, pois o capita-
lismo, conforme Alves (1994, p. 226), “não consegue ser ao mesmo tempo 
socialmente inclusivo, justo e ambientalmente sustentável”. Considera-se que 
esses fatores impactam de forma significativa nas condições que garantiriam à 
população menos favorecida a qualidade de vida.
Essa degradação, segundo Mendonça (2008), vem comprometendo a 
qualidade de vida da população por meio de impactos ambientais e sociais. 
O autor destaca que as consequências mais perceptíveis são as alterações na 
qualidade do ar e da água, os “acidentes” ecológicos ligados às queimadas, 
Geografia da População
– 116 –
o desmatamento, a extinção de espécies e as poluições marinha, fluvial e 
lacustre. Já no aspecto social, são exemplos de impactos a fome, a miséria, o 
desemprego, a falta de moradia, a falta de saneamento básico e a desigualdade 
na distribuição de renda. Essa “queda da qualidade de vida se acentua onde o 
homem se aglomera: nos centros urbano-industriais. Aqui, os rios, fundos de 
vale e bairros residenciais periféricos dividem o espaço com o lixo e a miséria” 
(MENDONÇA, 2008, p. 10). Relacionando qualidade de vida da população 
ao ambiente urbano, Martine (2007, p. 185) afirma que
Grande parte da população urbana atual é pobre e vive em condições 
que ameaçam a saúde e a própria vida. As cidades congregam a maio-
ria dos problemas ambientais gerados pelos padrões de produção e 
consumo, gastando enormes quantidades de energia para a indústria, 
transporte, calefação, iluminação e eletrodomésticos e gerando volu-
mes prodigiosos de lixo e poluição.
Sendo esse cenário estabelecido pelo capitalismo, tendo o estímulo ao 
consumo, à produção e à venda de mercadorias como principal estratégia de 
acumulação de renda, a condição básica para acesso aos bens de consumo é 
o próprio capital. Desse modo, dadas as desigualdades sociais que marcam a 
sociedade industrial, devido à exploração da força de trabalho ou às dificul-
dades de parte da população para acesso ao capital e às condições básicas de 
sobrevivência, acirra-se o comprometimento da qualidade de vida.
Nessa perspectiva, conforme Alves (1994, p. 227), o “modelo atual de 
desenvolvimento é insustentável tanto em termos ambientais quanto sociais. 
O alto crescimento econômico dos últimos 200 anos reduziu a pobreza abso-
luta, mas não foi capaz de garantir o mínimo de justiça na distribuição da 
riqueza”. Assim, o modelo de desenvolvimento baseado no consumo evi-
dencia-se como insustentável por demandar elevada quantidade de recursos 
naturais, o que causa impactos ambientais. Além disso, a industrialização e 
a mecanizaçãodo campo são fatores que estimulam o elevado crescimento 
das cidades, os quais, conforme, Martine (2007), potencializam-se pelo papel 
crucial que desenvolvem na atual estrutura de desenvolvimento. No entanto, 
as cidades concentram também significativos problemas que envolvem a 
degradação da vida humana, como a falta de moradia, alimentação, emprego 
e miséria, questões essas que não podem deixar de ser consideradas ao se 
debater a relação entre consumo e qualidade da população.
– 117 –
População e meio ambiente
7.2.2 População, urbanização e meio ambiente
A explosão demográfica é uma contingência que, segundo Mendonça 
(2008), precisa ser abordada ao se debater o caos da qualidade de vida da 
população. Porém, é preciso compreendê-la no contexto socioeconômico e 
político do fim do século XX e primeiras décadas do século XXI.
No Pós-Segunda Guerra Mundial, a teoria neomalthusiana defendeu 
o controle de natalidade como forma de desacelerar o crescimento popula-
cional, tendo em vista a disponibilidade de recursos. Nessa visão, a redução 
desse ritmo de crescimento representaria uma decolagem para o desenvolvi-
mento, já que o aumento da população levaria a uma enorme pressão sobre os 
recursos naturais, gerando um estresse sobre os recursos da Terra (DETERS; 
GULLO, 2013).
Numa perspectiva de críticas às ideias neomalthusianas, no entanto, o 
estresse referente à demanda de recursos naturais para atender as necessidades 
da população não seria proveniente do crescimento desta, e sim da intensa 
exploração desses recursos visando aos interesses capitalistas. Como conse-
quência, tem-se um intenso estímulo ao consumo e, ao mesmo tempo, a 
intensa exploração ou expropriação da mão de obra, o que se manifesta numa 
desigual distribuição de renda e no aumento da pobreza (DAMIANI, 2004). 
Ainda que a relação entre população e demanda por recursos naturais possa 
ser abordada sob diferentes pontos de vista, não se pode desprezar a proble-
mática entre população e meio ambiente.
Na análise dessa relação, é preciso considerar o desenvolvimento como 
principal determinante, tanto das atividades econômicas quanto dos padrões 
de produção e consumo. Desse modo, conforme Martine (2007, p. 184), a 
“sustentabilidade exige, então, que os esforços de desenvolvimento em deter-
minado território ou país atentem não somente para padrões de produção e 
consumo, mas também para alocação espacial da atividade econômica”. No 
que diz respeito a essa espacialização das atividades econômicas, o autor des-
taca a conexão entre população e crescimento das cidades, ou seja, o processo 
de urbanização.
Nesse sentido, considera-se urbanização o aumento da população das 
cidades (todo aglomerado permanente de atividades que não se caracterizam 
como agrícolas) em relação à população do campo (SCARLATO, 2005). Em 
Geografia da População
– 118 –
nível global, toda expansão populacional ocorrerá a partir da urbanização e, 
segundo Martine (2007), o crescimento vegetativo se tornará, cada vez mais, 
o fator dominante dessa ampliação. O autor ressalta que as cidades não serão 
as vilãs do crescimento demográfico, mas, ao contrário, vão se constituir num 
fator significativo de declínio da fecundidade.
Assim, conforme afirma Martine (2007, p. 186), a “fecundidade urbana 
é sempre mais baixa do que a rural. Além disso, os migrantes nas cidades 
acabam tendo menos filhos do que teriam se tivessem permanecido nas áreas 
rurais”. Esse fator pode ser considerado na análise da relação entre cresci-
mento populacional e demanda de recursos naturais, porém, é imprescindível 
levar em conta também os padrões de desenvolvimento, como a produção e 
o consumo insustentáveis, que influenciam o aumento da pobreza e a ameaça 
à qualidade de vida.
Desse modo, as cidades apresentam impactos ambientais significativos, 
porque, conforme Martine (2007, p. 186), “concentram tanto a população 
quanto a atividade econômica e a riqueza, mas tais efeitos estão associados 
a um determinado padrão de civilização e poderiam ser abrandados”. Nesse 
sentido, na relação entre população, urbanização e meio ambiente, faz-se 
necessário considerar a influência dos interesses capitalistas e dos modelos de 
desenvolvimento econômico.
7.3 Aspectos culturais e 
interação com o ambiente
Considerando o domínio técnico3, as sociedades apresentam diferen-
tes maneiras de interagir com o ambiente. Desse modo, quanto maior o 
domínio técnico, maior a capacidade de interação e de impactos causados 
nesse processo.
3 Capacidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento de ferramentas e técnicas que permitem 
potencializar formas de interação do ser humano com a natureza.
– 119 –
População e meio ambiente
7.3.1 Meio ambiente e cultura
Ao analisar os aspectos culturais e sua interação com o ambiente, faz-
-se necessária uma reflexão sobre o conceito de cultura. Conforme Pfeiffer 
(2012), esse conceito, surgido entre o fim do século XVIII e início do século 
XIX, sintetiza o vocábulo inglês culture e a expressão germânica kultur, 
empregados para simbolizar os aspectos espirituais de uma comunidade, e o 
termo francês civilization, que se refere às realizações materiais de um povo.
Nessa análise, Pfeiffer (2012) define a cultura como costumes, modos 
peculiares de vida, sistemas de instituições que funcionam conjuntamente, 
teias de significados sociais e o que de melhor foi pensado e produzido por 
uma sociedade. Admite-se que a palavra cultura é polissêmica, ou seja, pode 
adquirir diferentes significados. Sachs (2000) a define como todo conheci-
mento humano sobre o meio em que se vive. Ela seria, portanto, um media-
dor entre sociedade e natureza, um conjunto de valores dos usos e tudo aquilo 
que diz respeito à atividade estética no sentido amplo da palavra.
Nessa conceituação, Sachs (2000) destaca a evolução do pensamento 
sobre a forma de conceber o meio ambiente, englobando as dimensões física e 
social. No entanto, na prática ainda há muito a ser feito para garantir, à parte 
significativa da população dos diversos países do mundo, uma boa qualidade 
de vida.
Nesse sentido, analisando a mediação entre sociedade e natureza no con-
texto do capitalismo, entende-se que o crescimento econômico não é sinônimo 
de desenvolvimento. Pode haver um crescimento que comporta custos sociais 
e ambientais, entendidos por Sachs (2000) como “mau desenvolvimento”. 
Portanto, é preciso distinguir o “crescimento selvagem”, no qual existe cres-
cimento, mas maior custo ambiental e menor custo social, do “crescimento 
socialmente benigno”, que tem um custo social maior (SACHS, 2000).
O foco das preocupações com os impactos do crescimento econômico 
nas últimas décadas, segundo Foladori e Taks (2004), deslocou-se do meio 
ambiente para as pessoas. Nessa perspectiva, há um aumento da tendência 
de se pensar os incrementos positivos da dimensão ambiental e social da 
Geografia da População
– 120 –
produção para promover o desenvolvimento humano. Assim, “a relação entre 
sociedade e meio ambiente vem se afirmando como uma das principais preo-
cupações, tanto no campo das políticas públicas quanto no da produção de 
conhecimento” (FOLADORI; TAKS, 2004, p. 323).
No que diz respeito à relação entre cultura e meio ambiente, Sachs 
(2000) destaca que é preciso prestar atenção à diversidade cultural e à riqueza 
das formas de aproveitamento dos recursos naturais que diversas culturas 
humanas criaram ao longo dos séculos.
7.3.2 População, meio ambiente e planejamento
A situação do meio ambiente vem se agravando cada vez mais, o que eviden-
cia, segundo Silva e Francischett (2012), a necessidade de se buscar alternativas 
para melhorar o equilíbrio ambiental e social. Nesse sentido, destaca-se o planeja-
mento ambiental, que se caracteriza, segundo Santos (2004, p. 24), como
[...] um processo contínuo que envolve a coleta, organização e análise 
sistematizadas das informações, por meio de procedimentos e méto-
dos, para chegar a decisões ou escolhas acerca das melhoresalternativas 
para o aproveitamento dos recursos disponíveis. Sua finalidade é atingir 
metas específicas no futuro, levando à melhoria de uma determinada 
situação e ao desenvolvimento das sociedades.
Ressalta-se que esse planejamento precisa ter um caráter integrador dos 
aspectos físicos e sociais, atuais e potenciais, numa perspectiva que leve em 
conta o conjunto de elementos que compõem o meio ambiente. De acordo 
com Silva e Francischett (2012, p. 3), “o planejamento ambiental voltado ao 
interesse meramente econômico ainda precisa ser reavaliado”. Ressalta-se a 
importância do planejamento como forma de garantir à população de deter-
minado espaço geográfico a manutenção das condições básicas de subsistên-
cia e qualidade de vida.
Nesse sentido, o planejamento ambiental é imprescindível para melho-
rar os fatores que interferem nos indicadores da população, como, por exem-
plo, o acesso à assistência médico-sanitária e ao saneamento básico e serviços 
de saúde que podem se refletir nas taxas de mortalidade e expectativa de vida. 
– 121 –
População e meio ambiente
No que diz respeito à qualidade de vida, o planejamento se destaca por propi-
ciar acesso a condições ambientais satisfatórias e formas de consumo susten-
táveis. Assim, o planejamento ambiental se torna um elemento fundamental 
na promoção de estratégias de melhorias sociais e ambientais das sociedades.
Ampliando seus conhecimentos
O que é qualidade de vida? Rejeitando a 
subjetividade, relatividade e obviedade 
da questão
(HERCULANO, 1998, p. 2-5 )
[...]
O que é exatamente qualidade de vida e qual seria o grau 
de prioridade desta discussão em um país onde milhões de 
pessoas não têm suas necessidades básicas atendidas? À pri-
meira vista, parece uma discussão secundária, a ser feita ape-
nas depois de cumpridas certas etapas. Mais ou menos como, 
por exemplo, discutir a qualidade do feijão apenas depois de 
garantir que haja feijão, inda que duro ou queimado. Uma 
outra possível reticência com o tema estaria vinculada aos 
seus aspectos subjetivos e suas variações culturais. Mas seria 
a qualidade de vida algo mesmo por demais subjetivo para 
que pudesse se constituir em objeto de estudo? Seria uma 
questão puramente adjetiva, de grau, um valor meramente sub-
jetivo, fora, portanto, do campo científico?
Seria um luxo (como o faz supor a publicidade em geral, sempre 
a vincular qualidade de vida a requinte e sofisticação, ao “deta-
lhe que faz a diferença”), e, portanto, algo supérfluo diante de 
Geografia da População
– 122 –
questões mais substantivas, como garantir um “patamar mínimo 
de dignidade e de condição humana”? Mas, qual é este pata-
mar e como defini-lo? Como determinar as “necessidades bási-
cas”? E quem as determina? Pressupor que o debate sobre 
qualidade de vida excede ao debate prioritário sobre o fim 
da miséria não seria mais uma discriminação que perpetuaria 
a desigualdade e injustiça sociais? As carências habitacionais 
e alimentares da população desvalida tendem a ser pontual 
e parcialmente assistidas através de programas mais ou menos 
modestos e paliativos, a beneficiar apenas pequena parcela de 
amplíssimo contingente populacional que permanece desa-
tendido. São intervenções tidas como realistas e viáveis, que 
projetam casas populares de 16 m² para grupos familiares de 
cerca de 10 pessoas; que visam a produção e distribuição de 
leite de soja de “vacas mecânicas” que um presidente brasileiro 
considerou “intragável”; que produzem sopas industriais para 
crianças pobres subnutridas, feitas com as “xepas” (sobras) do 
mercado hortigranjeiro. São ainda decisões governamentais 
que autorizam a instalação de complexos industriais altamente 
poluentes em nome da abertura de um mercado de trabalho 
que transforma pescadores em desempregados.
A crítica a estas iniciativas pode ser vista como preciosismo 
romântico: como questionar a construção dessas “casas”, 
quando a alternativa é o barraco de papelão sob os viadu-
tos, ou simplesmente as ruas? Não será superficialismo discutir 
o leite da vaca mecânica e a xepa para as crianças pobres, 
quando a alternativa parece ser a de deixá-las à míngua? Não 
será romantismo defender florestas e águas puras, quando a 
alternativa é a de ter uma população desempregada e mise-
rável? Críticas assim são, todavia, importantes, pois abrem 
espaço para perguntas cabais: por que, exatamente, os gover-
nos não podem trabalhar com a real possibilidade de prover 
todas as crianças de leite natural, carnes e frutas frescas, prover 
os sem-teto de habitações onde realmente todos caibam e 
– 123 –
População e meio ambiente
a população, a um só tempo, possa ter emprego racional e 
ambiente ameno e equilibrado?
Mencionamos até aqui a primeira relutância em discutir e exa-
minar o que é qualidade de vida, e que se baseia em entender 
que qualidade de vida é algo adjetivo e relativo. Há outras 
críticas ao tema: a questão do entendimento sobre o que é 
qualidade de vida também pode ser vista como desnecessária, 
não por ser desimportante ou pouco palpável, mas pela sua 
obviedade. Algo que ninguém saberia definir, mas que, paro-
diando a referência da poeta Cecília Meirelles à liberdade, 
todos entendem o que é. Talvez por isto a ênfase dos estudos 
sobre qualidade de vida enfoque predominantemente a sua 
mensuração, ficando embutido na escolha sobre o que men-
surar os pressupostos do que se entende venha a compor a 
qualidade de vida.
A avaliação/mensuração sobre a qualidade de vida de uma 
população vem sendo proposta de duas formas:
1) Em primeiro lugar, examinando-se os recursos disponíveis, 
a capacidade efetiva de um grupo social para satisfazer suas 
necessidades. Por exemplo, podemos analisar as condições 
de saúde pela quantidade de leitos hospitalares e número de 
médicos disponíveis, ou o grau de instrução pelo número de 
escolas, jornais publicados, níveis de escolaridade atingidos, 
etc.; podemos avaliar as condições ambientais pela potabili-
dade da água, coliformes e partículas de substâncias nocivas 
em suspensão, pela emissão aérea de poluentes, pela quan-
tidade de domicílios conectados às redes de abastecimento 
de água e de esgotamento sanitário, pela dimensão per capita 
de áreas verdes e espaços abertos urbanos disponíveis para 
amenizar a paisagem cinza do concreto e asfalto urbanos.
2) Uma segunda forma de estimar a qualidade de vida 
é avaliar as necessidades, através dos graus de satisfação e 
dos patamares desejados. Podemos, assim, tentar mensurar a 
Geografia da População
– 124 –
qualidade de vida pela distância entre o que se deseja e o que 
se alcança, ou seja, pelos estágios de consciência a respeito 
dos graus de prazer ou felicidade experimentados (Scanlon, 
in Nusbaum & Sen, 1995: 185); ou a partir de um julgamento 
que se propõe substantivo, feito pelo próprio pesquisador, 
sobre o que tornaria a vida melhor.
No plano individual, a avaliação da qualidade de vida pela dis-
tância relativa entre o que se deseja e o que se alcança pode 
confundi-la, por um lado, com resignação (no caso da pouca 
distância entre o que se tem e o que se quer). No extremo 
oposto, a percepção queixosa sobre a baixa qualidade da pró-
pria vida poderia estar relacionada a um consumismo desen-
freado (tal foi a hipótese de Marcuse nos anos 60, no con-
texto europeu, para quem o consumismo explicaria porque nos 
sujeitamos a permanecer na infelicidade da exploração, subme-
tendo-nos a esforços de trabalho dispensáveis em um mundo 
que já teria condições tecnológicas para nos fazer viver com 
mais constância as alegrias do não-trabalho em uma praia limpa, 
nos dias ensolarados de verão). Ou seja, escravos do con-
sumo, estaríamos condenados a querer mais, a amealhar mais 
e, portanto, a não gozar a vida pela vida. Este enfoque tende a 
enxergar na publicidade aspectos simplesmente manipulatórios, 
levando-nos a querer o que normalmente não quereríamos. [...]
Atividades
1. Crie um glossário com suas próprias palavras sobre os conceitosprin-
cipais abordados no capítulo: natureza, sociedade, meio ambiente, 
cultura e planejamento ambiental.
2. Conforme Gonçalves (2006), toda sociedade, ou toda cultura, cria 
um conceito de natureza. Como exemplo, o autor cita as sociedades 
– 125 –
População e meio ambiente
indígenas tradicionais que são evocadas como modelos de uma re-
lação harmônica entre ser humano e natureza. Busque informações 
sobre uma tribo indígena brasileira, com o propósito de analisar a 
forma como esses indivíduos se relacionam com a natureza. Com os 
dados obtidos, elabore um texto analítico destacando a maneira como 
essa sociedade concebe a natureza.
3. O planejamento ambiental se destaca na busca de alternativas para 
melhorar o equilíbrio entre ambiente e sociedade. Para isso, esse pla-
nejamento necessita abordar a problemática ambiental em questão 
numa perspectiva do conjunto de elementos que a compõem. Pes-
quise na internet um projeto ambiental, com o fim de analisar os 
propósitos dele e detectar se seu desenvolvimento busca uma pers-
pectiva integradora dos aspectos ambientais e sociais. Com base em 
sua análise, registre por escrito as conclusões a que chegou.
A estrutura da 
população brasileira
Introdução
O território brasileiro foi se configurando ao longo do 
tempo, o que influenciou a distribuição da população pelo país e 
conferiu aos brasileiros uma identidade cultural. Assim, diversos 
fatores marcaram também as características da população brasileira, 
dando origem a uma estrutura populacional diversificada.
A análise dessa estrutura da população do país permite 
conhecer suas especificidades, como a distribuição por sexo, as fai-
xas etárias predominantes, as atividades econômicas que concen-
tram a população ativa, entre outras.
Essas informações são de importância significativa para o 
planejamento e o estabelecimento de políticas que envolvam inves-
timentos em setores como, por exemplo, saúde e educação. Dessa 
forma, o presente capítulo procura abordar os aspectos relacionados 
à estruturação da população brasileira.
8
Geografia da população
– 128 –
8.1 As pirâmides etárias
As informações sobre a população são representadas por meio de gráficos de 
barras denominados pirâmides etárias, as quais facilitam a visualização de cada estru-
tura populacional. Tais pirâmides se constituem num “importante instrumento de 
análise demográfica, pois permite afirmar se a população observada possui uma 
estrutura jovem ou envelhecida” (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004, p. 32).
8.1.1 Representações da estrutura da população
O estudo da estrutura da população tem como propósito analisar como os 
habitantes de determinada área estão distribuídos no território, considerando 
critérios como: idade, sexo, atividades econômicas e condições socioeconômi-
cas. A obtenção e o tratamento desses dados trazem significativas contribuições 
para se planejar o atendimento das necessidades da população em estudo, 
como, por exemplo, com a construção de creches, escolas, moradias e hospitais, 
o aumento do número de empregos e de aposentadorias.
O conceito de estrutura etária refere-se à composição dos habitantes de 
determinado espaço geográfico por idade (jovens de 0 a 19 anos, adultos de 
20 a 59 anos e idosos a partir 
de 60 anos) e a estrutura por 
sexo indica a quantidade de 
habitantes dos sexos mascu-
lino e feminino.
A Figura 1 demonstra a 
estrutura da população brasi-
leira, representada por meio 
desse tipo de gráfico.
Numa pirâmide etária, o 
total de mulheres que vivem 
no espaço geográfico repre-
sentado é indicado numa 
coluna à direta, e o número 
Figura 1 – Pirâmide etária da população absoluta 
do Brasil – 2017.
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
Homem Mulher
– 129 –
A estrutura da população brasileira
de homens, numa coluna à esquerda. A análise da disposição desses dados 
numa pirâmide pode revelar aspectos das condições de vida e importantes 
indicadores sobre a população nela representada.
A pirâmide a seguir representa a estrutura da população da Etiópia em 
2017 (Figura 2).
Figura 2 – Pirâmide etária da Etiópia – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
Tendo como referência as características dessa pirâmide etária, obser-
va-se que ela apresenta a base larga, o meio afunilado e topo estreito, uma 
representação típica da situação de países “pobres”. Assim, a base larga indica 
altas taxas de natalidade, o meio indica que as taxas de mortalidade são tam-
bém altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa (CERQUEIRA; 
GIVISIEZ, 2004).
A pirâmide etária da Figura 3, por sua vez, representa a estrutura da 
população da França em 2017.
Geografia da população
– 130 –
Figura 3 – Pirâmide etária da França – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
A pirâmide da França apresenta a base relativamente estreita, o meio é 
pouco afunilado e topo é largo, caracterizando uma situação típica de países 
“ricos”. Assim, a base estreita indica baixas taxas de natalidade, o meio indica 
que as taxas de mortalidade são também baixas e o topo indica que a expecta-
tiva de vida é alta (CASTRO, 2015).
A seguir, a pirâmide etária da Figura 4 representa a estrutura da popula-
ção da Coreia do Norte em 2017.
Figura 4 – Pirâmide etária da Coreia do Norte – 2017.
Homem Mulher
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
– 131 –
A estrutura da população brasileira
A pirâmide da Coreia do Sul apresenta algumas camadas inferiores mais 
estreitas do que as superiores, o meio é pouco afunilado e o topo começa a se 
alargar, caracterizando uma situação típica de países em fase de transição demo-
gráfica. Assim, essas camadas inferiores mais estreitas que as superiores indicam 
o início do declínio das taxas de natalidade, enquanto as camadas superiores 
indicam a redução das taxas de mortalidade e o topo indica que a expectativa de 
vida começa a aumentar (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004, p. 32).
Se a base de uma pirâmide etária é estreita, a população idosa é mais sig-
nificativa. À medida que a população envelhece, o país muda; por exemplo, 
diminui-se a necessidade de novas creches e escolas de ensino fundamen-
tal, mas aumenta a pressão por vagas nas universidades e novos empregos. 
A diferença de sexo provoca desigualdades na expectativa de vida média da 
população, nas doenças mais frequentes e nas causas de mortalidade. Isso 
porque homens e mulheres apresentam diferentes respostas a certas doenças, 
em parte por suas características biológicas e também por hábitos distintos.
8.1.2 Estrutura da população por atividade econômica
A análise da estrutura da população por atividade econômica tem como 
referência os três setores da economia: primário, secundário e terciário. Para 
melhor entender a relação entre distribuição da população e atividades eco-
nômicas, faz-se necessário refletir sobre o conceito de setores da economia.
Segundo Pereira (2012), para facilitar os estudos sobre as atividades eco-
nômicas de um determinado espaço geográfico, convencionou-se que elas 
fossem divididas em setores. Tal distinção, ainda conforme o autor, teve como 
base a crítica de economistas clássicos, das décadas de 1930 e 1940, sobre a 
distância entre a produção industrial, da qual provinham mercadorias mais 
sofisticadas, e as atividades mais primárias, como a retirada de produtos dire-
tamente da natureza. Por esse motivo, “as atividades como a agricultura rece-
bem o termo de atividades primárias, já que têm suas atividades diretamente 
relacionadas com a natureza” (PEREIRA, 2012, p. 25).
Considerando uma maior distância entre a produção e a natureza, as ati-
vidades industriais são definidas como secundárias. Como terciárias, são con-
siderados os serviços, que “correspondem à classe de trabalho mais distante 
Geografia da população
– 132 –
da natureza, na qual seria uma forma muito especial da produção social” 
(PEREIRA, 2012, p. 25). Sistematizando esses setores, tem-se:
a) Setor primário: abrange as atividades que provêmmatéria-prima, como 
a pecuária, a agricultura e o extrativismo (vegetal, animal e mineral).
b) Setor secundário: é composto pelas atividades de transformação de 
matérias-primas em bens e consumo (como as indústrias e a cons-
trução civil).
c) Setor terciário: composto pelas atividades de comércio e prestação 
de serviços; é muito amplo, já que envolve, entre outros, o trabalho 
na educação, o transporte, os serviços de saúde, os trabalhos com 
profissionais liberais etc.
Destaca-se, na análise da estrutura da população por atividades econômi-
cas, o conceito de População Economicamente Ativa (PEA), representado 
pela parcela da população que realiza atividades remuneradas (CASTRO, 
2015). Os desempregados, desde que estejam procurando emprego, 
também fazem parte dela. Destaca-se, ainda, o conceito de População 
Economicamente Inativa (PEI), que corresponde à parcela da população 
que não exerce atividades remuneradas, como, por exemplo, os aposentados, 
os estudantes e as donas de casa.
8.2 A transição demográfica 
da população brasileira
Nas últimas décadas, a população brasileira vem passando por mudan-
ças importantes, não só no que diz respeito ao número de habitantes, que 
vem aumentando, mas, principalmente em sua estrutura etária. As mudan-
ças que ocorrem num determinado espaço geográfico, relacionadas à redução 
nas taxas de natalidade, caracterizam um processo denominado de transição 
demográfica (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004).
– 133 –
A estrutura da população brasileira
8.2.1 Fatores de transição demográfica
Para os estudos sobre esse tema, foi proposta, já nas primeiras décadas 
do século XX, por Thompson W. S. (1929) e Landry A. (1934), a teoria da 
transição demográfica. Segundo Vasconcelos e Gomes (2012), essa teoria 
foi formulada considerando-se a relação entre o crescimento populacional e o 
desenvolvimento econômico.
Desse modo, tendo como referência os países europeus, o processo de 
modernização das sociedades e o desenvolvimento econômico estariam na 
origem das taxas de natalidade e mortalidade, causando mudanças no ritmo 
de crescimento da população (VASCONCELOS; GOMES, 2012). Assim, 
segundo as mesmas autoras, essa transformação constitui-se na passagem de 
uma sociedade rural e tradicional, com elevadas taxas de natalidade e mortali-
dade, para uma sociedade urbana e industrial, com baixas taxas de natalidade 
e mortalidade.
No decorrer dessa transição, primeiro as populações passariam por dese-
quilíbrios demográficos caracterizados por um descompasso entre as taxas de 
natalidade e mortalidade. A redução precoce das taxas de mortalidade, acom-
panhada pela redução das taxas de natalidade, promoveria ritmos acelerados de 
crescimento populacional. O alcance do equilíbrio populacional viria com a 
redução, em momento posterior, das taxas de natalidade e, consequentemente, 
do ritmo de crescimento da população (VASCONCELOS; GOMES, 2012).
Uma fase de crescimento acelerado da população mundial ocorreu do 
fim do século XIX até a metade do século XX, pois descobertas de novos 
recursos na área médica e o desenvolvimento da indústria farmacêutica 
influenciaram as taxas de natalidade e mortalidade em vários países, inclusive 
no Brasil. A expectativa de vida também aumentou de forma considerável.
Na atualidade, os índices de natalidade vêm caindo em todo o mundo. 
Nos países europeus, para evitar a diminuição da população e a contratação 
de mão de obra estrangeira, são realizadas campanhas para as famílias terem 
mais filhos. As taxas de natalidade nos países subdesenvolvidos também têm 
diminuído, embora de forma mais lenta. Os fatores que provocam essa queda 
Geografia da população
– 134 –
são a diminuição da mortalidade e a urbanização (CERQUEIRA; GIVISIEZ, 
2004). E provavelmente essas taxas continuarão caindo nas próximas décadas.
8.2.1.1 População brasileira e fatores de transição
Entre as décadas de 1940 e 1960, houve, no Brasil, um declínio expressivo 
nas taxas de mortalidade, com as taxas de natalidade se mantendo em níveis 
altos. Assim, a população apresentou rápido crescimento, com uma população 
majoritariamente jovem (CARVALHO; RODRÍGUEZ-WONG, 2008).
O declínio nas taxas de mortalidade da população brasileira ocorreu devido 
aos avanços da medicina a partir da década de 1940. Antes disso, o número de 
óbitos causados por doenças como febre amarela, sarampo, tuberculose, peste 
bubônica e cólera era elevado. A falta de esgoto e saneamento básico permitia que 
essas doenças se alastrassem, vitimando um número elevado de habitantes, quadro 
esse que só foi alterado décadas depois, devido ao uso de vacinas e antibióticos.
A transição demográfica da população, segundo Brito (2008), é um dos 
fenômenos populacionais mais importantes que tem marcado a economia e 
a sociedade brasileiras, desde a metade do século XX. No país, essa transição 
apresenta uma originalidade, definida pelas particularidades históricas e pelos 
fortes desequilíbrios regionais e sociais.
A partir da década de 1960, a redução das taxas de fecundidade, segundo 
Carvalho e Rodríguez-Wong (2008), iniciou-se nas regiões brasileiras mais desen-
volvidas e nos grupos mais privilegiados, porém se generalizou de forma relativa-
mente rápida, desencadeando um processo de transição etária que ainda está em 
curso. O resultado provável desse processo para as próximas décadas, de acordo 
com os mesmos autores, será uma população “quase-estável”, com perfil envelhe-
cido e com ritmo de crescimento baixíssimo ou até negativo.
Para Brito (2008), no entanto, ainda se espera um expressivo crescimento 
da população brasileira nas próximas décadas, devido aos efeitos das taxas de 
fecundidade no passado sobre a estrutura etária da população, marcada por 
expressiva proporção de mulheres em idade reprodutiva. Assim, ainda que 
baixas, as taxas de fecundidade favorecem o aumento da população do país. 
Como afirma Brito (2008, p. 7), “as projeções indicam para 2050 que o 
tamanho da população brasileira será de 253 milhões de habitantes, a quinta 
maior do planeta, inferior apenas às da Índia, China, EUA e Indonésia”. 
– 135 –
A estrutura da população brasileira
O processo de transição demográfica da população do Brasil é evidenciado 
nas seguintes pirâmides etárias (Figura 5):
Figura 5 – Estrutura da população brasileira em 1960, 2010 e projeções 
para 2020.
Fonte: IBGE, 2013.
Geografia da população
– 136 –
A análise da pirâmide etária da década de 1960 revela que o grupo etário 
de 5 a 9 anos declinou consideravelmente nas pirâmides de 2010 e 2020. 
Observando essa pirâmide, nota-se que a proporção de idosos não chegava a 
5% e que a população jovem era predominante. Já na pirâmide de 2000, veri-
fica-se uma diminuição do número de crianças e um aumento da população 
adulta e idosa. De acordo com as estimativas, a pirâmide de 2020 apresenta 
um número maior de idosos, caracterizando o envelhecimento da população. 
Esse fato tem ocorrido no mundo todo, principalmente em países desenvol-
vidos e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Considerando as três pirâmides etárias apresentadas, constata-se, conforme 
Carvalho e Rodríguez-Wong (2008), que o formato extremamente piramidal 
da década de 1960 começa a ter sua base diminuída, anunciando um processo 
de envelhecimento e uma distribuição praticamente retangular da população 
brasileira no futuro. As autoras destacam que, por se tratar de projeções, os 
pesquisadores mais céticos podem tratá-las como exercício de “futurologia”. No 
entanto, é fato comprovado que a transição das taxas de mortalidade e fecun-
didade, que estimulam as mudanças demográficas, já avançaram significativa-
mente, sendo improvável a reversão dessa tendência.
Além disso, há evidências históricas representadas por países da Europa 
Ocidental, como Itália, Portugal e Espanha, que já vivenciaram esse processo 
de transição demográfica, com o envelhecimento da população e um cres-
cimento vegetativo ou natural próximo a zero ou negativo. Nesse contexto,segundo Carvalho e Rodríguez-Wong (2008), há a necessidade de se definir 
e implantar políticas que possam aproveitar as oportunidades e os desafios 
impostos por esse processo, como investimentos na educação de crianças e 
jovens e melhorias nas áreas de saúde e previdência social, para garantir a 
qualidade de vida, sobretudo dos idosos.
Desse modo, a temática da transição demográfica precisa mobilizar não 
apenas os estudiosos sobre o assunto, mas também profissionais de diversas 
áreas relacionadas à educação, à saúde, ao trabalho e à qualidade de vida 
e todos os cidadãos que consideram importante o bem-estar coletivo e das 
futuras gerações.
– 137 –
A estrutura da população brasileira
8.3 Os movimentos da população brasileira
A configuração do espaço geográfico brasileiro é marcada por diversos 
ciclos econômicos. Assim, determinadas atividades econômicas representa-
ram fatores de atração de população, o que deu origem a movimentos migra-
tórios pelo território brasileiro.
8.3.1 Produção do espaço brasileiro 
e mobilidade da população
Considerando as migrações sob os enfoques espacial e temporal, pode-se 
afirmar que as migrações internas no território brasileiro sempre foram inten-
sas. Conforme Scarlato (2005, p. 391), “a quase totalidade dos movimentos 
migratórios ocorridos em sua história estiveram relacionados com condições 
socioeconômicas”. Assim, ao longo do tempo, áreas economicamente ativas 
começaram a atrair mais indivíduos e localidades de expressiva dinamicidade 
econômica entraram em declínio, passando a dispersar a população, enquanto 
outras áreas sempre se constituíram em verdadeiros vazios demográficos. No 
Brasil, embora inúmeros fatores contribuam para a mobilidade da população, 
a Região Nordeste acaba sendo o melhor exemplo, devido à quantidade de 
pessoas que migram dessa localidade para outras regiões do país.
Andrade (1998) destaca o Nordeste brasileiro como exemplo de uma 
área típica de dispersão da população. Os motivos dessa dispersão estão asso-
ciados, segundo Scarlato (2005), à desigualdade na distribuição de renda. 
Numa perspectiva história dessa mobilidade no Brasil, Andrade (1998) 
afirma que, no século XVII, a exploração do ouro em Minas Gerais atraiu 
uma significativa quantidade de migrantes originários da região Nordeste à 
procura de riqueza ou mesmo de melhores condições de vida e trabalho.
Nas últimas décadas do século XIX, o surto da borracha também levou à 
migração de habitantes da Região Nordeste, que, subindo os afluentes do rio 
Amazonas, povoaram áreas ricas em látex (ou caucho) em terras indígenas. A 
queda dos preços da borracha e a consequente diminuição da produção ocor-
ridas na primeira década do século XX, no entanto, dispersaram parte dessa 
população, que voltou ao Nordeste ou foi para outras áreas economicamente 
Geografia da população
– 138 –
atrativas, enquanto outra parcela permaneceu na Amazônia, povoando exten-
sos trechos de florestas (ANDRADE, 1998).
A partir de 1930, a consolidação física e política do mercado nacional, 
segundo Oliven (2010), estimulou a concentração de atividades industriais 
no Sudeste. Já São Paulo e Rio de Janeiro, com crescimento acelerado, atraí-
ram também muitos migrantes nordestinos, que acabaram trabalhando em 
sua maioria na construção civil e em serviços domésticos. De acordo com 
Andrade (1998), ainda na década de 1930, o norte do Paraná, o sul do Mato 
Grosso (atual Mato Grosso do Sul) e Goiás receberam migrantes em busca 
das oportunidades que surgiram com a ampliação das fronteiras agrícolas, 
áreas nas quais havia a influência da economia paulista.
Já na segunda metade da década de 1950, com a edificação de Brasília, 
foi significativo o número de migrantes do Nordeste que se transferiram para 
os campos de obras. Do mesmo modo ocorreu intensa migração durante a 
ampliação da estrada Transamazônica, que passou a ligar o Leste e o Oeste do 
país. Nesse período, muitos desses indivíduos foram trabalhar nessa obra e se 
fixaram às suas margens como colonos (ANDRADE, 1998).
Nos fluxos migratórios na produção do espaço geográfico brasileiro, 
também se destacou o êxodo rural. Esse processo, segundo Scarlato (2005), 
foi decorrente das influências capitalistas no campo, que desestruturaram as 
relações tradicionais de trabalho, como a parceria e o arrendamento. Desse 
modo, com a falta de terras para plantar e os postos de trabalho cada vez mais 
escassos, devido à mecanização da agricultura e a substituição das lavouras 
por pastagens, além da especulação imobiliária, foram grandes as levas de 
trabalhadores rurais que migraram, sobretudo, para as grandes cidades.
8.3.2 Tendências atuais de mobilidade 
da população brasileira
A partir da década de 1980, as dinâmicas econômicas, sociais e demográ-
ficas brasileiras passaram por transformações significativas, que envolveram 
também a redistribuição espacial da população. Destaca-se como tendência “a 
– 139 –
A estrutura da população brasileira
interrupção da concentração populacional que, durante décadas, caracterizou 
a dinâmica demográfica nacional” (CUNHA, 2003, p. 218).
Verifica-se nesse contexto uma maior interiorização da população no 
território brasileiro, decorrente, conforme Menezes (2000), da construção de 
diferentes territorialidades nacionais, ou seja, espaços que passam a conter 
cada vez mais poder em função de fatores econômicos ou valores agregados, 
como tecnologia, mão de obra qualificada e infraestrutura.
Ainda na perspectiva das tendências atuais da mobilidade da popula-
ção, Cunha (2003) chama essas territorialidades nacionais de novos espa-
ços regionais, que passam a interferir nos padrões locacionais da população 
dentro e fora dos grandes centros urbanos, o que se caracteriza com uma 
relativa desconcentração demográfica. Tal relatividade se deve ao fato de que 
a desconcentração é circunscrita ao conjunto das regiões metropolitanas, 
principalmente no Sudeste do país. Evidencia-se, assim, “a força que o fenô-
meno metropolitano ainda tem sobre a dinâmica nacional e a forma como 
as características deste tipo de assentamento humano se repetem no país” 
(CUNHA, 2003, p. 218).
Menezes (2000), por sua vez, destaca a tendência de “migrações de 
curta distância”, predominantemente inter-regionais e intermunicipais e que 
podem ser sazonais, como em áreas de modernização agrícola, e de “migra-
ções de retorno”, que estão associadas a uma gama de contextos variados, 
sendo o mais significativo o retorno ao Nordeste brasileiro.
Destacam-se, também, segundo Cunha (2005), as migrações: “entre-es-
taduais”, sobretudo entre as áreas metropolitas e o interior; “intrametropo-
litanas”, que ocorrem de forma semelhante em praticamente todas as áreas 
metropolitanas do país; e “urbano-rurais”, ligadas em boa parte à expansão 
das áreas urbanas onde o habitante, embora more no espaço rural, realize ati-
vidades, por exemplo, de trabalho. O autor distingue, ainda, como tendência 
os movimentos migratórios internacionais, que, devido à intensidade com 
que vêm ocorrendo, levaram os demógrafos a desconsiderar a tese de que o 
Brasil teria uma população “fechada”.
Geografia da população
– 140 –
Ampliando seus conhecimentos
Movimentos migratórios: um novo olhar 
para o século XXI
(BAENINGER, 2015, p. 13-14)
[...]
No início do século XXI, as migrações internas tornaram-se 
ainda mais complexas, sem a definição – que anteriormente 
poderia se visualizar – dos rumos da migração no país, con-
siderando o comportamento verificado em décadas anterio-
res. As análises recentes acerca dos processos migratórios 
permitem apontar a redefinição da relação migração-industria-
lização (Singer, 1973), migração-fronteira agrícola (Martine 
e Camargo, 1984), migração-desconcentração industrial 
(Matos, 2000; Baeninger, 1999), migração-emprego e migra-
ção-mobilidade social (Faria, 1991).
O contexto atual da economia e da reestruturação produtiva, 
em anos recentes, induz um novo dinamismo às migrações 
no Brasil,onde os fluxos mais volumosos são compostos 
de idas-e-vindas, refluxos, reemigração, outras etapas – que 
pode ser mesmo o próprio local de origem antes do próximo 
refluxo para o último destino. Assim, as migrações assumem 
um caráter mais reversível (Domenach e Picouet, 1990) do 
que nas explicações que nos pautávamos até o final do século 
XX. Essa reversibilidade diz respeito, tanto às áreas de ori-
gem, com um crescente vai-e-vem como às de destino, com o 
incremento da migração de retorno.
É nesse contexto, que a migração interestadual, para o conjunto 
do país, continuou em patamares expressivos: 9.587.459 
– 141 –
A estrutura da população brasileira
pessoas entre 1970-1980, 10.614.223 pessoas entre 1980- 
1991, 12.478.790 entre 1991-2000, e, 11.407.076 pessoas 
entre 2000-2010. Esse decréscimo da virada do século XX 
para o XXI, não significa, contudo, uma tendência à estag-
nação das migrações; ao contrário, denota outros arranjos da 
própria migração interna, bem como seus atuais desdobramen-
tos, com novas modalidades de deslocamentos populacionais 
em âmbitos locais e regionais. São Paulo passou, por exem-
plo, a ter saldo migratório negativo com diferentes estados 
do Nordeste e com demais regiões do país; o Nordeste 
apresenta intensas migrações com o Centro-Oeste; e Santa 
Catarina concentra processos migratórios regionais.
 Nesse contexto de redefinição de áreas de retenção, perdas 
e rotatividade migratórias (entram migrantes e saem migrantes), 
redesenha-se a mobilidade espacial da população no Brasil, 
com processos migratórios que resultam na expansão dos 
espaços de rotatividade migratória. A tendência de perda 
migratória do Sudeste revela a consolidação dos espaços da 
migração no país, onde a complementaridade migratória – his-
toricamente existente entre Nordeste-Sudeste – se redefine 
num cenário de rotatividade migratória.
Desse modo, o cenário migratório do século XXI apresenta 
dois grandes vetores redistributivos nacionais. O primeiro é 
caracterizado pela “dispersão migratória metropolitana”, que 
em nível nacional é marcado pelos significativos volumes de 
migrantes de retorno interestaduais, em especial que partem 
das metrópoles brasileiras para outros estados. O segundo 
vetor se verifica no âmbito intra-estadual que também sai 
das metrópoles, com a conformação de importantes fluxos 
migratórios metrópole-interior. Indica, portanto, a “interio-
rização migratória”, onde trajetórias migratórias de mais cur-
tas distâncias envolvem aglomerações urbanas e espaços 
Geografia da população
– 142 –
não-metropolitanos, expressos na maior retenção de popula-
ção migrante nos estados e nas regiões demográficas.
Pode-se caracterizar os espaços da migração no Brasil nos últimos 
anos da seguinte maneira: i) área de retenção migratória nacional 
e regional, ou seja, o novo polo das migrações, o Estado de 
Goiás, situado na região Centro-Oeste e área de expansão do 
complexo grãos-carne no país; ii) áreas de retenção migratória 
regional, estados do Mato Grosso (Região Centro-Oeste), 
Pará (Região Norte), Rio Grande do Norte (Região Nordeste), 
Espírito Santo (Região Sudeste) e Santa Catarina (Região Sul); 
iii) área de rotatividade migratória nacional: São Paulo e Rio de 
Janeiro, em especial suas metrópoles – expressões territoriais 
do fordismo nos anos 1970/1980 no Brasil.
Assim, observa-se nas migrações internas no Brasil da primeira 
década do século XXI, três vertentes: 1) localizada na faixa que 
se estende do Mato Grosso passando por Goiás, Tocantins, 
Maranhão e Piauí até o Pará, caracterizada pelas maiores 
áreas de retenção migratória; 2) o outro corredor da migração 
nacional é historicamente conformado pelos fluxos Nordeste-
Sudeste, e agora pelos seus refluxos Sudeste-Nordeste, onde 
transitam os volumes mais elevados da migração do país, com 
intensas áreas de rotatividade migratória; 3) reconfiguração de 
espacialidades migratórias em âmbito sub-regional, como são 
os casos de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Essas espacialidades sub-regionais também são observadas 
na Região Sul, com o estado de Santa Catarina como área 
de forte absorção migratória regional. Já no extremo norte 
do país, antiga área de fronteira agrícola, há baixa mobilidade 
populacional de longa distância, mas centralidade migratória 
do Amazonas na recepção dos fluxos migratórios do Pará e 
da atual retenção migratória de Roraima. [...]
– 143 –
A estrutura da população brasileira
Atividades
1. Analise as pirâmides etárias a seguir:
Fonte: UNITED STATES CENSUS BUREAU, 2017.
 Indique as principais diferenças entre as populações representadas nas 
pirâmides quanto às taxas de natalidade e mortalidade.
Geografia da população
– 144 –
2. De acordo com Brito (2008, p. 6), a “transição demográfica é um dos 
fenômenos estruturais mais importantes que tem marcado a econo-
mia e a sociedade brasileiras desde a segunda metade do século pas-
sado”. Explique os fatores que estimularam a transição demográfica 
no Brasil.
3. Busque informações sobre a história do município onde você vive, 
com a finalidade de analisar os movimentos populacionais que nele 
ocorreram ou que ainda ocorrem. Para isso, tenha como roteiro as 
seguintes questões:
 2 Quais os principais ciclos econômicos que ocorreram no 
município?
 2 De que forma esses ciclos atraíram ou dispersaram migrantes?
 Com base nas informações encontradas, elabore um texto com as 
conclusões a que chegou.
– 145 –
Gabarito
Gabarito
Geografia da População
– 146 –
1. Conceitos fundamentais sobre população
1. Você pode citar os motivos pelos quais o município onde mora se ca-
racteriza como de baixa ou elevada população absoluta e, ainda, a forma 
como ocorre a distribuição da população pelo território, destacando, por 
exemplo, os fatores que fazem com que ocorram maiores densidades de-
mográficas num determinado ponto do município.
2. Observe que, entre 1980 e 2010, a população entre 0-14 anos dimi-
nuiu e que as porcentagens da população entre 15-64 anos e da popu-
lação com mais de 65 anos aumentaram. Além disso, explique que as 
mudanças representadas nos gráficos se relacionam às melhorias nas 
condições médico-sanitárias, o que permite diminuir as taxas de nata-
lidade, mas, também, diminuir as taxas de mortalidade, traduzindo-se 
num aumento da população e no seu “envelhecimento”.
3. Identifique que as taxas de natalidade e mortalidade diminuirão no 
período projetado. A explicação deve relacionar a baixa taxa de na-
talidade à baixa taxa de fecundidade e às melhorias nas condições 
médico-sanitárias. Esses fatores permitem a prevenção de doenças e a 
diminuição das taxas de mortalidade, fatores que explicam a projeção 
da população absoluta para o estado ou para o país.
2. Concepções sobre população 
na geografia clássica
1. A abordagem sobre população apenas descreve os dados sobre o tema 
“envelhecimento dos habitantes” (abordagem clássica) ou se apresen-
ta, além da descrição, as explicações sobre os fenômenos populacionais 
retratados (abordagem crítica). Nessa perspectiva crítica, deve verificar 
se aborda, por exemplo, fatores relacionados às desigualdades de acesso 
– 147 –
Gabarito
às condições médico-sanitárias, a bens de consumo e a aspectos que 
garantem a qualidade de vida.
2. Aponte, como contribuições da demografia para os trabalhos de 
cunho geográfico sobre a população, os indicadores sociais e econô-
micos dos habitantes em questão, especificando as condições em que 
se encontram, bem como os fatores que influenciam tais indicadores. 
A partir desses indicadores, o arcabouço teórico da geografia pode 
contribuir para análises críticas dos fenômenos apresentados, como, 
exemplo, sobre as questões referentes à população e meio ambiente.
3. Faça referência à forma como ocorre a produção do espaço geográfico 
associando esse processo ao capitalismo. Nesse sentido, essa produção 
ocorre de forma desigual devido à divisão, de forma geral, em duas clas-
ses sociais: os proprietáriosdos meios de produção e aqueles que ven-
dem sua força de trabalho. Como o capitalismo exige a expropriação, 
da maioria da população, dos meios de produção, resta a essa maioria 
vender sua força de trabalho. Ocorre, nesse processo, que nem todos 
conseguem se inserir produtivamente na sociedade, logo não conse-
guem garantir as condições básicas de sobrevivência. Desse processo 
resultam as grandes desigualdades sociais que se manifestam nas paisa-
gens, como contraste entre pobreza e riqueza.
3. As teorias sobre população
1. Para Malthus, a pobreza é proveniente de uma lei natural, que seria 
decisiva contra a existência de uma sociedade que assegurasse tran-
quilidade e bem-estar, ócio e prosperidade e ausência de angústia para 
garantir os meios de subsistência a todos os seus membros. Nesse con-
texto, as diferenças entre classes sociais seria algo natural e a pobreza 
deveria ser encarada como uma estratégia para garantir a apropriação 
Geografia da População
– 148 –
de riqueza pela elite. Somam-se a essa estratégia as epidemias e as 
guerras como forma de se evitar o crescimento populacional.
2. No mapa conceitual é importante destacar os seguintes conceitos de 
Malthus: crescimento da população na proporção aritmética; produção 
de alimentos na proporção geométrica; pobreza como alvo de controle 
de natalidade; obstáculos preventivos; obstáculos positivos; lei natural 
da população; concentração de riquezas. Quanto aos conceitos de Marx 
não podem faltar: modo de produção capitalista; sociedade dividida em 
classes; proprietários dos meios de produção; venda da força de trabalho; 
desigualdades sociais; exército de mão de obra. Quanto às principais dife-
renças, é preciso abordar que, enquanto Malthus via as desigualdades so-
cais como naturais, Marx defendia que a divisão da sociedade em classes 
é produto da produção capitalista, que gera as desigualdades, sendo esse 
mecanismo mantido em favor das elites. Desse modo, com o aumento 
da produção, pode-se prover a classe trabalhadora de meios de subsistên-
cia e elevar as demandas do próprio capitalismo por meio do consumo 
de mercadorias. Para Malthus, a pobreza seria algo a ser mantido como 
forma de conter o crescimento populacional. 
3. É preciso citar, como temas principais na abordagem neomalthusia-
na, a pobreza e o subdesenvolvimento e, como decorrência, o aumen-
to da população e o esgotamento dos recursos naturais. Como crítica, 
pode-se citar que a pobreza e o subdesenvolvimento são resultados 
das grandes desigualdades sociais na distribuição das riquezas, e que 
o esgotamento dos recursos naturais não é causado pela produção de 
alimentos, mas sim pela exploração desenfreada que atende aos inte-
resses capitalistas de grandes corporações.
– 149 –
Gabarito
4. Os movimentos da população
1. Identifique alguns dos tipos de migrações abordados por Andrade 
(1998), como mudanças de um lugar para outro dentro do próprio 
país. Quanto aos fatores que as estimularam, aborde os motivos eco-
nômicos que envolvem esses movimentos. Caso o entrevistado seja 
estrangeiro, identifique as circunstâncias em que o imigrante chegou 
ao país, o que estimulou o movimento e os desafios aqui encontrados 
para se estabelecer.
2. Busque informações sobre os debates que envolvem essa lei. Quanto 
à comparação entre as leis, conclua que a Lei n. 6.815, de 1980, em-
bora traga diretrizes para o estabelecimento dos imigrantes no país, é 
limitada quanto aos direitos humanos e bem-estar destes.
3. A análise dos movimentos realizados poderá ampliar o reconhecimento 
dos fatores que os motivaram, envolvendo questões econômicas como a 
busca de melhores salários e condições de vida, bem como os impactos 
sociais que esses movimentos podem gerar. Especificamente no Brasil, 
podemos citar a exploração do ouro no século XVII, em Minas Gerais, 
que atraiu pessoas de todo o país, e os problemas da seca no sertão que 
fizeram com que milhares de nordestinos seguissem em direção ao Sul 
do país, situação que se mantém até os dias de hoje.
5. Os efeitos da globalização 
sobre a população
1. Nessa atividade você deve verificar a presença ou não de empresas 
multinacionais no município onde vive e a forma como essas organi-
zações influenciam a construção do espaço e a distribuição da renda. 
Geografia da População
– 150 –
Nesse sentido, pode evidenciar os fatores políticos e econômicos que 
influem nos indicadores sociais e na qualidade de vida da população.
2. Destacam-se como características da atual fase da expansão capitalista 
a rapidez com que ocorrem os fluxos de capitais, mercadorias e pes-
soas e a crescente influência do processo de globalização nos aspectos 
econômicos, políticos, sociais e culturais.
3. A cidadania é fundamental para a reflexão crítica sobre produção e 
consumo. Desse modo, é possível colocar em questão os efeitos do 
consumismo e as dimensões a eles relacionados, como o desafio da 
sustentabilidade, a distribuição de renda e o acesso da população aos 
bens de consumo e à qualidade de vida.
6. Raças, etnias e povos do mundo
1. Nessa questão, espera-se que você detecte nas entrevistas a relação 
que muitos fazem do conceito de raça com diversos povos, como, por 
exemplo, “raça de gente tal”. No entanto, relacionando as falas dos 
entrevistados aos conceitos trabalhados no texto, você concluirá que, 
socialmente, não faz sentido falar em raças para se referir ao contexto 
social dos grupos humanos.
2. Nessa atividade, você deve encontrar e relatar informações relaciona-
das aos grupos minoritários, por exemplo, alguns grupos indígenas 
brasileiros que encontram dificuldades em manter suas terras, seus 
direitos e seus aspectos culturais.
3. Nessa questão você deve encontrar notícias sobre diferentes grupos 
étnicos que sofrem perseguições relacionadas à xenofobia ou sobre as 
dificuldades que imigrantes encontram para se estabelecer, sobretudo, 
nos países europeus. Espera-se que você detecte as ações do Estado ou 
– 151 –
Gabarito
de instituições internacionais na busca de soluções para os conflitos 
ou a garantia dos direitos humanos.
7. População e meio ambiente
1. Em seu glossário, você pode conceituar: a natureza incluindo, além 
da dimensão natural, o ser humano que dela faz parte; o meio am-
biente numa perspectiva de conjunto dos aspectos físicos e humanos; 
a cultura como o conjunto de práticas, conhecimentos, costumes e 
formas de interação com a natureza; a sociedade como um conjunto 
de seres que mantêm entre si diversas relações sociais; e o planejamen-
to ambiental como estratégia para projetos integradores de aspectos 
físicos e humanos.
2. Para a elaboração do texto, você deve identificar a forma como a 
sociedade indígena em questão se relaciona com a natureza. Nesse 
sentido, pode-se destacar uma relação mais harmônica, em que os 
indivíduos retiram da natureza apenas o que é preciso para manter a 
própria subsistência.
3. Na análise do projeto, destaque a forma como se pretende alcançar 
soluções para melhorias dos aspectos sociais envolvidos e se há uma 
perspectiva que integra estes aos aspectos ambientais.
8. A estrutura da população brasileira
1. Espera-se que você explique que a pirâmide da Finlândia apresenta o 
meio pouco afunilado e o topo mais largo, evidenciando baixas taxas 
de natalidade e de mortalidade e uma expectativa de vida elevada. 
Em relação à pirâmide do Níger, a base larga indica elevadas taxas de 
natalidade, o meio indica que as taxas de mortalidade são também 
altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa.
Geografia da População
– 152 –
2. Espera-se que você aponte fatores como as melhorias nas condições 
médico-sanitárias que permitiram a queda nas taxas de mortalidade. 
Isso se deve principalmente ao acesso da população a vacinas, sane-
amento básico e diagnósticos de doença e tratamentos adequados. 
Esses fatores permitiram, também, a elevação da expectativa de vida e 
a diminuição das taxas de fecundidade.
3. Considerando a especificidadeda história do município do acadê-
mico, espera-se que você identifique fatores que, em determinados 
momentos, atraíram indivíduos para a localidade em questão ou os 
dispersaram, como os tipos de movimentos populacionais, como, por 
exemplo, o êxodo rural.
– 153 –
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Geografia da População
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João Mendes
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Esta obra tem como propósito instigar você, leitor, a refletir sobre os fenômenos 
populacionais e as múltiplas relações que se estabelecem entre os habitantes e 
a produção e transformação do espaço geográfico. Tais fenômenos constituem 
a base da Geografia da População, que tem como objeto de estudo diferentes 
teorias e dinâmicas complexas e contraditórias sobre população. Assim, a te-
mática aqui apresentada é reflexo desse dinamismo, pois envolve a análise dos 
fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que interferem na realidade 
das populações. 
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6306-2
9 788538 763062
CAPA_Geografia da População.indd 1 24/05/2017 10:45:54
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