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Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Agente Etiológico Os agentes causadores da Leishmaniose Visceral são as espécies infantum, chagasi e donovani do protozoário Leishmania. Reino: Protista Sub-reino: Protozoa Filo: Sarcomastigophora Subfilo: Mastigophora Classe: Zoomastigophora Ordem: Kinetoplastida Subordem: Trypanosomatina Família: Trypanosomatidae Gênero: Leishmania Espécies: Leishmania infantum: É o causador da Leishmaniose Visceral tanto no velho mundo (países orientais) quanto no novo mundo (países ocidentais). No novo mundo, a espécie é conhecida como Leishmania chagasi. A leishmaniose causada por ele é uma zoonose, ou seja, necessita de um animal para que o ciclo ocorra. Leishmania donovani: É o causador da Leishmaniose Visceral no novo mundo. A leishmaniose causada por ele é uma antroponose, ou seja, uma doença exclusivamente humana. O protozoário Leishmania possui duas formas: 1. Promastigota: são encontrada nos insetos vetores. Possuem flagelo. 2. Amastigotas: são encontrada nos hospedeiros mamíferos, geralmente dentro dos macrófagos. Não possuem flagelo aparente e possuem a forma mais arredondada. Vetor No velho mundo, os principais vetores da Leishmaniose são os insetos do gênero Plebotomus. No Brasil, os principais vetores são as fêmeas do flebotomíneo Lutzomya longipalpis. Já foi relatada a transmissão da doença por flebotomíneos da espécie Lutzomya cruzi, mas os casos foram poucos. OBS.: Não podemos chamar o flebotomíneo de mosquito, pois o mosquito deposita seus ovos na água, e o flebotomíneo deposita na matéria orgânica. OBS.: Os vetores são os mesmos para a Leishmaniose Visceral e Tegumentar. Leishmaniose Visceral A Leishmaniose Visceral também é conhecida por Kala-Azar, palavra indiana que significa doença negra. Ela é uma doença crônica de alta mortalidade, que é endêmica em 88 países em desenvolvimento. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Reservatório O reservatório das espécies de Leishmania causadoras de Leishmania Visceral em ambientes urbanos, é o cão. Em áreas silvestres, os reservatórios são raposas e marsupiais. Ciclo da Leishmania O ciclo da Leishmania consiste nas seguintes etapas: OBS.: O ciclo é o mesmo para a Leishmaniose Cutânea e Tegumentar. CICLO NOS MAMÍFEROS: 1. A fêmea do flebotomíneo, ao picar o hospedeiro mamífero (homem ou cachorro), inocula formas promastigotas da Leishmania. 2. As promastigotas são fagocitadas por células do sistema imunológico, principalmente os Macrófagos. 3. Dentro dos fagolisossomos dos macrófagos, as promastigotas se diferenciam em amastigotas e se multiplicam com muita intensidade. 4. Ocorre o rompimento das células infectadas. 5. As amastigotas podem infectar novos macrófagos ou serem sugadas por um novo flebotomíneo. CICLO NOS FLEBOTOMÍNEOS: 6. As Amastigotas sugadas pelos flebotomíneos se diferenciam em Promastigotas. 7. Ocorre intensa multiplicação das Promastigotas. 8. Promastigotas evoluem para uma forma metacíclica. 9. Promastigotas metacíclicas migram para a válvula faringiana dos flebotomíneos, podendo ser transmitidas novamente para um mamífero através da picada. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Transmissão O principal mecanismo de transmissão da Leishmaniose Visceral é vetorial, pela picada da fêmea do Flebotomíneo. Porém, outras formas de transmissão já foram relatadas. Essas formas são menos comuns (mas não menos importantes): Uso de drogas injetáveis; Transfusão sanguínea: após a doação de sangue, não são realizados exames para a detecção de Leishmania. Congênita; Acidentes de laboratório. Patogenia Patogenia é a forma como a doença se inicia. A Leishmaniose Visceral se desenvolve no corpo humano da seguinte forma: 1. No local da picada do flebotomíneo ocorre uma reação inflamatória (em alguns poucos casos, pode ocorrer a formação de um nódulo, chamado de leishmanioma); 2. Essa reação inflamatória faz com que células do sistema imune migrem para o local; 3. Os glóbulos brancos que migraram para o local, principalmente os Macrófagos, fagocitam o parasito; 4. Os macrófagos (levando junto os parasitos) migram para os linfonodos; 5. Dos linfonodos, os parasitos chegam até os órgãos. A Leishmaniose Visceral pode acometer diversos órgãos, mas acomete principalmente: o baço, o fígado e a medula óssea e tecidos linfoides. A disseminação do parasito ocorre principalmente pela corrente linfática, mas pode ocorrer também pela corrente sanguínea. Indivíduos imunocomprometidos são mais susceptíveis à formas mais graves da doença. Formas Clínicas da Doença A Leishmaniose Visceral pode se apresentar de forma assintomática, aguda ou crônica. Forma assintomática: A forma assintomática acomete a maior parte da população. Nela não há manifestações clínicas. Ao realizar exames laboratoriais, não é possível detectar a presença do parasito e a presença de anticorpos contra esse parasito. Ela pode evoluir para uma cura espontânea, quando o organismo consegue conter a infecção. Mas também pode evoluir para uma forma sintomática da doença. Isso ocorre principalmente em indivíduos imunossuprimidos. Essa imunossupressão pode ser causada por: Desnutrição AIDS Uso de imunossupressores (por exemplo, após transplante de órgãos). Forma aguda: A forma aguda da Leishmaniose Visceral (LV) ocorre na fase inicial da doença. OBS.: A LV tem um período de incubação que varia de 2 à 6 meses. Os sintomas mais comuns nessa fase são: Febre alta Palidez das mucosas Hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço) de forma discreta. Durante essa fase, os sinais clínicos podem ser confundidos com outras doenças, principalmente a Malária. Forma crônica: A forma crônica também é chamada de Calazar clássico, que é o momento onde os sintomas clássicos da Leishmaniose Visceral são apresentados. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 A forma crônica tem uma evolução mais prolongada e, conforme o tempo se passa, há o agravamento dos sintomas (que ficam mais frequentes e mais intensos). Os principais sintomas da forma crônica são: Febre alta irregular. Desnutrição (emagrecimento) e perda da força. Hepatoesplenomegalia de maneira muito acentuada associada, na maioria das vezes, à ascite (aumento do abdome pelo acúmulo de líquido). Leucopenia: é a diminuição da taxa de leucócitos. Trombocitopenia: é a baixa de plaquetas no sangue. Hipergamaglobulinemia: é o aumento de anticorpos no sangue. Icterícia Tríade da Leishmaniose Visceral: febre, emagrecimento e hepatoesplenomegalia. Durante a fase crônica podem ocorrer infecções secundárias (principalmente as bacterianas), o que agrava ainda mais o quadro do paciente. LeishmanioseVisceral Canina (LVC) Os cães, principais reservatórios do protozoário Leishmania, também podem desenvolver a doença. A Leishmaniose Visceral em cães ocorre com muito mais frequência do que a Leishmaniose Visceral em humanos. As manifestações clínicas nos cães também podem acontecer de forma assintomática e sintomática. Forma assintomática: Acomete de 50% à 60% dos cães contaminados. A ausência de sintomas dificulta o controle da doença, uma vez que, sem sintomas, é mais difícil identificar que aquele animal é um possível transmissor da Leishmania. Forma sintomática: A forma sintomática pode se apresentar através de sinais bem discretos ou sinais mais evidentes. Os principais sinais apresentados pelos cães são: Comprometimento dos órgãos internos; Perda de apetite; Descamação e lesões na pele (em cães, o protozoário pode ficar alojado em macrófagos na pele); Alopecia (perda de pelo), principalmente ao redor dos olhos; Enfraquecimento; Crescimento das unhas. Diagnóstico O diagnóstico da LV pode ser clínico e laboratorial. Diagnóstico clínico: No diagnóstico clínico, o médico avalia os sinais e sintomas do paciente, levando em consideração os dados epidemiológicos (ele avalia se o paciente mora ou esteve em áreas endêmicas). Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Diagnóstico laboratorial: Para realizar o diagnóstico laboratorial, podem ser usadas técnicas diretas (quando o parasito é analisado diretamente) ou indiretas (quando observa-se outros aspectos e não o parasito). Técnicas diretas: 1. Teste parasitológico: são feitas lâminas (podem ser de aspirado de medula óssea, baço, fígado e linfonodos) para análise do parasito. 2. Inoculação em animais de laboratório: geralmente o hamster é bem susceptível à desenvolver a LV à partir da inoculação. 3. Cultivo do material: cultiva-se o parasito em meios de cultura para posterior observação. 4. Teste molecular: detecta o DNA do parasito nas células do hospedeiro. Técnicas indiretas: 1. Teste imunológico / sorológico: são detectados imunoglobulinas IgM contra o parasito. OBS.: Os IgMs não diferenciam infecções antigas das recentes. São exemplos de testes imunológicos: RIFI (teste com imunofluorescência) ELISA Teste Imunocromatográfico rápido (semelhante à um teste de gravidez) O teste imunológico é o “teste padrão ouro” para o diagnóstico de LV (padrão ouro é o teste com melhor custo-benefício, que geralmente é realizado no SUS). Tratamento No Brasil, dois medicamentos são muito utilizados para o tratamento da LV: Antimonial Pentavalente (Glucantime): Deve-se administrar por 30 dias. Em casos de recidivas da doença, deve-se administrar o Glucantime por período prolongado (até 40 dias). É a primeira escolha para o tratamento dos 2 tipos de Leishmanioses. Traz efeitos colaterais, que devem ser avaliados. É contraindicado para gestantes (o Glucantini atravessa a barreira placentária, podendo impregnar o sistema nervoso do feto) É contraindicado para pacientes HIV positivos. Antes, durante e depois da administração do Glucantime, deve-se realizar o ECG no paciente, pois o principal efeito colateral do fármaco é causar alterações cardíacas. Anfotericina-B: Deve-se administrar por 14 dias. É o medicamento utilizado para pacientes que não respondem bem ao tratamento por Glucantime. É o medicamento recomendado para gestantes e HIV positivos. Via endovenosa: Deve-se administrar os medicamentos acima através da via endovenosa em pacientes com: Desnutrição Trombocitopenia Pouca massa muscular É realizada uma infusão lenta em solução glicosada 5%. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Condutas não farmacológicas: Acompanhar de perto os pacientes com LV. Realizar ECG antes, durante e depois do tratamento com Glucantime. Em pacientes com HIV: Avaliar a recidiva por tempo indeterminado; Fazer avaliação eletrocardiográfica, hepática, pancreática e renal antes de iniciar o tratamento. Co-infecção HIV e LV Pacientes imunossuprimidos, como os portadores de HIV, tem maior risco de desenvolver as formas graves da Leishmaniose Visceral. Esses pacientes: Apresentam manifestações clínicas não usuais que podem afetar os tratos gastrointestinal, cardíaco, respiratório e cerebral; Apresentam mais recidivas da doença; Apresentam menor taxa de cura; Têm baixa resposta aos tratamentos. A Leishmaniose acelera a progressão da AIDS e a AIDS potencializa a gravidade da Leishmaniose. Controle da doença A transmissão da doença pode ser controlada por: Eliminação ou tratamento de cães contaminados; Educação em saúde; Diagnóstico e tratamento precoce; Uso de inseticidas; Destino de cadáveres. Epidemiologia A Leishmaniose Visceral é uma doença endêmica em 88 países. Estima-se que há 1,5 à 2 milhões de novos casos de LV por ano. Abaixo, estão representados (em amarelo) os países onde há maiores ocorrências da doença: O Brasil é responsável por 90% dos casos de LV no continente americano. Abaixo estão representadas as regiões do país e o número de casos de LV reportados: Urbanização da Leishmaniose Visceral: A LV era uma doença tipicamente rural, mas hoje é uma doença de caráter urbano. Essa urbanização da doença é consequência da modificação do homem nas matas, o que provocou a vinda de vetores e animais reservatórios para os centros urbanos. Os flebotomíneos, que se alimentavam de sangue de animais nas matas, passaram a se alimentar de sangue humano.