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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE BREJO SANTO, ESTADO DO CEARÁ. Processo nº 10903-37.2016.8.06.0052 Demandante: Anário de Sá Cavalcanti Demandada: Maria Estelina dos Santos MARIA ESTELINA DOS SANTOS, brasileira, convivente em união estável, do lar, telefone: (088) 99707-1824, residente e domiciliada na Rua Luiz Gonzaga (Rua da Capela), nº 70, Baixio dos Lopes, Brejo Santo-CE, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio do Núcleo de Assistência Judiciária, por intermédio de convênio municipal, por seusprocuradores in fine assinados (procuração em anexo), com fulcro no art. 335, I, do CPC/15, na Lei 8.069/90, e nos demais dispositivos aplicáveis apresentar, tempestivamente, a presente CONTESTAÇÃO à Ação de Guarda que lhe move ANÁRIO DE SÁ CAVALCANTI, , já fartamente qualificado, mediante os argumentos que passa a expor: 1 - D A GRATUIDADE DA JUSTIÇA A contestante se declara necessitada financeiramente na forma da Lei 1.060/50, vale dizer, não tem condições de arcar com as despesas do processo, uma vez que é insuficiente seus recursos financeiros para pagar todas as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais. Por oportuno, a Acionada ora formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaração de Hipossuficiência (documento em anexo), sob a égide do art. 99, caput, c/c 105, in fine, ambos do CPC/15 e na Lei 1.060/50, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório acostado. 2– D OS FATOS CONTIDOS NA INICIAL Trata-se de Ação de Guarda, cujo trâmite encontra-se na 1ª vara da Comarca de Brejo Santo-CE, onde pretende o Requerente a procedência da ação sobredita, conferindo ao mesmo a Guarda do menor RAFAEL DOS SANTOS GREGÓRIO. Afirma o Demandante que é avô do menor, tendo ficado com a Guarda e responsabilidade deste quando sua mãe faleceu, já que o pai encontra-se em local incerto e não sabido, desde o nascimento da criança. Alega ainda que, a Contestante desprovida das mínimas condições financeiras de prover a subsistência do menor, apoderou-se dele e se recusa a entregá-lo ao Demandante. Mediante todas as inverdades lançadas pelo Autor em seu petitório inicial, além de omissões que também levam as distorções dos fatos, a Acionada passa a contestá-los item por item. 3– D A OBJEÇÃO Em primeiro lugar, insta salientar que o Autor não demonstra verdade nas suas alegações, posto que, desde o nascimento do menor RAFAEL que quem exerce o poder familiar quando sua mãe ainda era viva é a Acionada. Na oportunidade, a genitora do menor morava com a Acionada juntamente com o menor desde o seu nascimento, quando veio a falecer em 24/04/2016, conforme certidão de óbito já incluso nos autos. Na época, a filha da Acionada residia na cidade de São Paulo, quando veio a engravidar, ocasião em que decidiu vir embora para Brejo Santo. Mais precisamente em 06/09/2015, a filha da Acionada chegou a Brejo Santo e passou a morar na residência da Acionada juntamente com seu filho RAFAEL. De lá pra cá, morando todos juntos a Avó é quem cuida do menor mantendo carinho, amor e nutrindo todos os cuidados necessários ao seu pleno desenvolvimento. É oportuno esclarecer que desde quando a genitora do menor viera morar em Brejo Santo o Acionante nunca a procurou para conhecer seu neto, sequer externava carinho pela criança. Assim, o Acionante não encontra-se na guarda de fato do menor e nunca esteve, não colacionando provas de que o mesmo detinha esse múnus. Na sequencia dos fatos, o Demandante afirma que a Demandada apoderou-se do menor, se recusando a entregá-lo, alegação que soa absurda, tendo em vista os argumentos acima aduzidos. Pelo prazer de argumentar, é imperioso repetir que O DEMANDANTE APÓS TOMAR CIÊNCIA QUE O NETO ESTAVA MORANDO EM BREJO SANTO NUNCA PROCUROU SABER DA SAÚDE DO NETO, ONDE O MESMO ESTAVA MORANDO, SE PRECISAVA DE ALGUM TIPO DE ASSISTÊNCIA. Assim, como a Avó se apoderou do menor se o Acionante nunca teve a companhia e guarda da criança? Sequer fazia visitas ao neto? Na mesma esteira, convém deixar as claras que o menor RAFAEL DOS SANTOS GREGÓRIO tem outro irmão, FELIPE SANTOS ALVES, com apenas 10 anos de idade, filho do Sr. JAIME DE OLIVEIRA ALVES, fruto de um relacionamento com a genitora já falecida. No caso em tela, as 02 (duas) crianças sempre cresceram juntos em companhia da Acionada e do Sr. Jaime, tudo após a chegada da genitora ao Brejo Santo. Ambos possuem vínculo de amor, afeto e carinho pelos menores, tanto é que quase sempre a Sra. Estelina precisa deixar o menor RAFAEL na casa do Sr. Jaime, o que é retratado pelo relatório do CREAS. Em recente visita realizada pelo CREAS de Brejo Santo à residência da Sra. Estelina, os técnicos colheram informações do Sr. Jaime, ex-companheiro da filha da Acionada a qual chegaram a ter um filho juntos, onde na oportunidade relatou aos profissionais que: “A Senhora Estelina costuma deixar Rafael em sua casa. Relatou que os irmãos tem um vínculo afetivo muito forte, mesmo morando em casas separadas e confessou que Felipe sempre pede para ele cuidar de Rafael.Informou o Sr. Jaime que a Sra. Estelina sempre ajudou a cuidar do Rafael, mesmo com a mãe em vida, assim como ele também. Fora dito pelo Sr. Jaime que o avô materno dos meninos, o Sr. Anário, nunca manteve o menor vínculo com os netos e nem ofertou a menor ajuda”. Os argumentos ventilados pelo Acionante de afirmar que a Acionada se apoderou do menor soa as raias do absurdo, o que será demonstrado pela oitiva da testemunha que estão insertas em rol nesta peça contestatória. As necessidades do menor, evidentemente, são bem maiores, sendo suportadas pela Acionada. Jamais a Acionada deixou de dar assistência material, moral e familiar ao seu neto. Conforme se demonstrará, todas as alegações do Acionante são eivadas de mentiras e rancores e, têm causado graves prejuízos ao menor. 4 – DO DIREITO O instituto da guarda tem como principal e primordial objetivo, proteger a criança ou o adolescente, tanto na sua qualidade física, moral e psíquica, quanto econômica. Assim, na ausência dos pais, tutores natos dos filhos menores, é necessário que alguém os represente ou lhes assista em todos os atos da vida civil, provendo-lhes as necessidades, tais como: amor, carinho, proteção, alimentação, higienização e educação. É dever dos pais a guarda de seus menores de 18 anos. O art. 22 do ECA salienta que: Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de fazer cumprir as determinações judiciais. O direito de guarda é uma prerrogativa inerente ao pátrio poder, nos termos do art. 1.634, II, do CC/02, que prevê: Art. 1.634. compete aos pais, quanto a pessoa dos filhos menores: II – tê-los em sua companhia e guarda; A guarda, portanto, configura uma obrigação dos pais em garantir as crianças e aos adolescentes o direito de assistência material, moral e educacional, nos moldes do art. 1.566, IV, do CC/02, que assim dispõe: Art. 1.566. são deveres de ambos os cônjuges: IV – sustento, guarda e educação dos filhos; Assim, no caso em tela, com o falecimento da genitora do menor RAFAEL, a obrigação de prestar alimentos, assistência material, moral, e educacional do infante recai sobre a pessoa da Acionada. Ressalta-se que, a guarda a terceiros somente será deferida, fora dos casos de adoção e tutela, para atender situações peculiares ou, suprir a falta eventual dos pais ou responsáveis, conforme o art. 33, §2º, do ECA. Ora, não se vislumbra essa hipótese, eis que a Acionada, avó do menor possui residência fixa, ocupação lícita, recebendo renda proveniente do bolsa-família no valor de R$300,00 (trezentos) reais, e da ajuda financeira de seu companheiro que vive há quase 25 anos, situação que lhe atribui de acordo com suas possibilidades, condições para educar e se responsabilizar pelo menor em tela. Ademais, a Acionada sempre esteve presente na vidade seu neto, mostrando-se uma avó presente, preocupada, externando plenas condições psicológicas para regulamentar e permanecer com a guarda do mesmo, destacando-se que, ainda sofre muito com a morte da filha. Por fim, a separação dos irmãos RAFAEL e FELIPE, se a guarda for deferida ao Acionante, trará sem sombras de dúvidas prejuízos irreversíveis as crianças, tendo em vista que são criados juntos num mesmo ambiente familiar, não possuindo nenhum vínculo o Acionante com o neto. Neste sentido destaca-se o julgado abaixo que corrobora os argumentos alhures: GUARDA. ADOLESCENTE. AVÓ MATERNA. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. I Na ação de guarda, ficou demonstrado que a avó tem melhores condições para criar, educar e preparar a menor para a vida adulta. II - A avó materna esteve presente na vida da criança desde o seu nascimento, exercendo a guarda de fato a partir do falecimento de sua mãe. Há fatos excepcionais na vida da menor que justificam a guarda à avó, em detrimento da paterna. III - Apelação desprovida. (TJ-DF - APC: 20101110059924 DF 0005659-39.2010.8.07.0011, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de Julgamento: 17/09/2014,6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 30/09/2014 . Pág.: 164). 5 – DOSPEDIDOS Destarte, em face dos argumentos deduzidos, requer a Vossa Excelência que se digne a: Conceder os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA a Demandada, com a consequente extensão as despesas cartorárias, por ser pobre na acepção jurídica do termo, conforme a Lei 1.060/50; Roga a Contestante o recebimento da presente peça, e, após a manifestação do Ilustre Representante do Ministério Público, julgarTOTALMENTE IMPROCEDENTE a presente Ação de Guarda, em razão das perfeitas condições da Acionada de permanecer com a guarda do menor RAFAEL DOS SANTOS GREGÓRIO; Seja na mesma esteira, garantido aos avós paternos o direito de visita a ser pactuado na sessão conciliatóriaaprazada por este juízo de forma a preservar o melhor interesse do menor; A expedição de ofício ao CREAS para que proceda a realização de visita domiciliar a fim deproceder o estudo eacompanhamento do caso, bem como enviar relatório social no prazo fixado por este juízo A INTIMAÇÃO do MP para acompanhar o feito até o final, ex vi dos arts. 178, II e 279 do CPC/15; Protesta provar o alegado por todas as formas de direito admissíveis, maiormente por meio do depoimento pessoal da Acionada e Acionante, das testemunhas arroladas em rol abaixo, bem como outras que V. Exa., julgue necessárias ao deslinde do presente feito (art. 369 do CPC/15). Nestes termos pede e espera DEFERIMENTO. Brejo Santo-CE, 12 de Setembro de 2016. ________________________ _____________________________ Bel. Johan Jacó de Lima Bela. Cícera Marise C. Souza Advogado-OAB/CE 29.081 Advogada-OAB/CE 27.622 ROL DE TESTEMUNHAS: JAIME DE OLIVEIRA ALVES, brasileiro, divorciado, aposentado, residente e domiciliado na RUA OLIVIO LOPES ANGELIM, Nº 46, CENTRO, BREJO SANTO; TAMYRIS SILVA JANOCA, brasileira, solteira, assistente social, podendo ser intimada na sede do CREAS-BREJO SANTO, NA RUA JOÃO OLEGÁRIO, Nº 73, CENTRO, BREJO SANTO.