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Prática de Ensino – Introdução à Docência

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Marcos Túlio

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1 
Prática de Ensino – Introdução à Docência 
 
 
CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRÁTICA DE ENSINO 
 
1. Contextualização da Prática de Ensino no Curso 
 
De início, é importante que você entenda como se dará a articulação entre as 
atividades relacionadas à prática de ensino no curso. 
 
A prática de ensino será desenvolvida em seis semestres, com atividades distribuídas 
por estes semestres. Naturalmente deve haver uma articulação entre elas, 
perpassando todo o curso. 
 
As atividades relacionadas à prática de ensino são as seguintes: 
 
PRÁTICA DE ENSINO 
1º sem. 2º sem. 3º sem. 4º sem. 5º sem. 6º sem. 
Introdução à 
Docência 
Observação 
e Projeto 
Integração 
Escola - 
Comunidade 
Vivência no 
Ambiente 
Educativo 
Trajetória 
da Práxis 
Reflexões 
 
De modo geral, este conjunto de atividades visa levá-lo a se perceber como indivíduo 
inserido em uma sociedade que compreende, entre outros aspectos, uma educação, 
que se configura como seu futuro ambiente de trabalho. Esta educação envolve vários 
elementos que serão aqui trabalhados. Neste sentido, você deverá percorrer uma 
trajetória durante o curso que possibilite a compreensão do papel que deverá exercer 
futuramente como professor, ajudando a formar ou transformar esta sociedade. 
Vejamos, então, como estas atividades se relacionam: 
O conjunto de atividades de prática de ensino visa levá-lo a se perceber como 
indivíduo inserido em uma sociedade que compreende, entre outros aspectos, 
uma educação. 
 2 
ARTICULAÇÃO ENTRE AS ÊNFASES DA PRÁTICA DE ENSINO
 
 
Reflexões 
 
Trajetória 
da 
Práxis 
Vivência no 
 
Ambiente 
 
Educativo 
 
Integração Escola 
- Comunidade 
 
Observação 
e 
Projeto 
 
Introdução à 
Docência 
Prática 
De 
Ensino 
 3 
 
1.1 - Prática de Ensino: Introdução à Docência 
 
Neste momento, quando, de modo ideal, inicia-se a reflexão sobre a prática de ensino, 
pretende-se direcionar a sua atenção para perceber a educação (formal e informal) 
que acontece diariamente ao seu redor e, principalmente, a refletir sobre aspectos 
inerentes a ela que são de suma importância tanto para sua vida profissional, quanto 
para a prática da cidadania. Para isso, utiliza-se de textos de conhecimento popular e 
de autores renomados, e instiga-se o seu pensamento reflexivo. 
 
 
 
 
1.2 - Prática de Ensino: Observação e Projeto 
 
A seguir, você deverá observar diferentes ambientes educativos (escolares ou não) 
existentes em locais que fazem parte do seu cotidiano e fazer uma relação 
pedagógica entre um dos ambientes não escolares e a sua área de atuação, 
culminando com a elaboração de um pequeno projeto que vise possibilitar sua 
utilização e integração pedagógica. 
 
 
 
 
1.3 - Prática de Ensino: Integração Escola - Comunidade 
 
Em Prática de Ensino: Integração Escola - Comunidade, você deverá identificar uma 
escola que sirva de base para a sua pesquisa. É importante ressaltar desde já que a 
direção da escola precisa aceitar que você desenvolva as atividades necessárias 
naquele ambiente, o que pode envolver algumas conversações. Uma vez identificada 
a escola, você deverá dar início a uma caracterização, tanto dela quanto da 
Esta atividade direciona a sua atenção para perceber a educação (formal e 
informal) que acontece diariamente ao seu redor. 
Esta atividade leva você a observar diferentes ambientes educativos e 
relacionar um deles com a sua formação, possibilitando integração pedagógica. 
 4 
comunidade por ela servida, visando identificar necessidades e expectativas da 
comunidade que possam ser supridas, no todo ou em parte, com a sua participação 
na unidade escolar ali localizada. Com base nos dados de caracterização, você 
deverá propor um projeto de integração entre escola e comunidade, no sentido de dar 
maior visibilidade para a escola, na comunidade onde se insere. 
 
 
 
 
1.4 - Prática de Ensino: Vivência no Ambiente Educativo 
 
Durante o curso desta atividade, apoiado pelas experiências vivenciadas nas práticas 
anteriores, você estará apto a dar início ao seu estágio curricular supervisionado 
obrigatório, a ser realizado em escola de educação básica, em conformidade com a 
legislação em vigor. Trata-se de um momento de orientação para a necessária 
articulação entre a teoria e a prática propriamente dita, onde você passará a vivenciar 
o ambiente escolar, seu futuro ambiente de trabalho. 
 
 
 
 
1.5 - Prática de Ensino: Trajetória da Práxis 
 
Prosseguindo o desenvolvimento das atividades, você deverá completar a carga 
horária de estágio, iniciada no semestre anterior. Além disto, estão previstas 
atividades que enriqueçam sua formação e contribuam com a sua qualificação para o 
exercício da docência. 
 
 
 
 
Caracterização, tanto da escola quanto da comunidade por ela servida, 
visando identificar necessidades e expectativas que possam ser supridas, no 
todo ou em parte, por meio de um projeto de integração entre ambas. 
Início do estágio curricular supervisionado em escola de educação básica 
Complemento da carga horária de estágio curricular supervisionado 
 5 
1.6 - Prática de Ensino: Reflexões 
 
Finalmente, você deverá redigir um relatório-síntese do estágio, que incorporará todas 
as atividades vivenciadas no transcorrer da dimensão prática do curso. Você terá, 
também, a oportunidade de realizar uma atividade de micro-ensino muito interessante, 
uma avaliação crítica de aula, que lhe permitirá avaliar uma aula do ponto de vista do 
aluno e, deste modo, aprimorar a qualidade das suas aulas futuramente. 
Elaboração de relatório que incorporará todas as atividades vivenciadas no 
transcorrer de toda a prática do curso. 
 6 
Prática de Ensino – Introdução à Docência 
 
 
ASPECTOS CONCEITUAIS E LEGAIS 
 
 
2. Aspectos Conceituais e Legais 
 
A Prática de Ensino: Introdução à Docência, bem como as demais atividades da 
dimensão prática do curso, apóiam-se em documentos normativos e legais, bem como 
em conceitos neles estabelecidos. 
 
 
2.1 – Base Legal 
 
Os principais diplomas legais que dão base à prática de ensino são os seguintes: 
 
2.1.1 – Constituição da República Federativa do Brasil; 
 
2.1.2 – Lei Federal 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; 
 
2.1.3 - Lei nº 11.788/08 – Lei dos Estágios; 
 
2.1.4 - Resolução CNE/CP 001/02 – Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a 
Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de 
licenciatura, de graduação plena; 
 
2.1.5 – Resolução CNE/CP 002/02 – Institui a duração e a carga horária dos cursos 
de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica 
em nível superior. 
 
Base legal da Prática de Ensino: Constituição; LDBEN, Lei de Estágios, Res. 
CNE/CP 001/02; Res. CNE/CP 002/02. 
 7 
2.2 – Conceitos Importantes 
 
2.2.1 - Licenciatura – Licença, autorização, permissão ou concessão dada por uma 
autoridade pública competente para o exercício de uma atividade profissional, em 
conformidade com a legislação. Trata-se de um título acadêmico, obtido em curso 
superior que faculta ao seu portador o exercício do magistério na educação básica dos 
sistemas de ensino. Visa formar cidadãos preocupados em se qualificar para intervir 
de forma significativa na formação de outros cidadãos. Seu diferencial em relação aos 
outros cursos de graduação reside na duplicidade da formação pessoal e profissional 
do graduando e na simultânea instrumentalização deste para a formação de seus 
futuros alunos;2.2.2 - Prática de Ensino – Momento pelo qual se busca fazer algo, produzir alguma 
coisa e que a teoria procura conceituar, significar e com isto administrar o campo e o 
sentido desta atuação. Contempla todas as atividades desenvolvidas com alunos e 
professores na escola ou em outros ambientes educativos, sob o acompanhamento e 
supervisão da instituição formadora. Em articulação intrínseca com o estágio curricular 
supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico, ela concorre 
conjuntamente para a formação da identidade do professor como educador. 
 
 
 
 
2.2.3 - Estágio Curricular Supervisionado – tempo de aprendizagem que supõe 
uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um 
ambiente institucional de trabalho e um aluno – estagiário. Oferece ao futuro professor 
um conhecimento da realidade em situação de trabalho, ou seja, é um modo especial 
de capacitação em serviço. Em contato com o mundo do trabalho, o estágio 
Licenciatura: licença dada por uma autoridade pública competente para o 
exercício de uma atividade profissional. 
Prática de Ensino: todas as atividades desenvolvidas com alunos e 
professores na escola ou em outros ambientes educativos, sob supervisão da 
instituição formadora. 
 8 
proporciona a aquisição de habilidades e competências para o exercício da 
docência, estimulando-o a pensar e propor soluções para problemas concretos, 
inerentes ao ambiente escolar. É o momento de efetivar, sob a supervisão de um 
profissional experiente, um processo de ensino-aprendizagem que tornar-se-á 
concreto e autônomo quando da profissionalização deste estagiário. Não é uma 
atividade facultativa, e sim obrigatória, sendo uma das condições para a obtenção do 
diploma. 
 
 
 
 
2.2.4 - Competências - são associadas à conjugação dos diversos saberes 
mobilizados pelo indivíduo (saber, saber-fazer e saber-ser) na realização de uma 
atividade. Não se referem apenas aos conhecimentos formais, mas a toda a gama de 
aprendizagens interiorizadas nas experiências vividas, que constituem nossa 
subjetividade (Ramos, M., 2001). De acordo com Cruz, C.H.C., 2002, “é a prática de 
determinadas habilidades que constrói a competência”. Uma pessoa é competente 
quando tem os recursos para realizar bem uma determinada tarefa, mesmo que seja 
uma situação complexa. Este sujeito deverá ter disponíveis os recursos necessários 
para serem mobilizados (conhecimentos). 
 
2.2.5 - Habilidades - expressam competências. São representadas pelos 
componentes da competência expressos na ação. Configuram-se na dimensão mais 
explicita da competência e, assim, servem como indicadores de desempenho com 
vistas à avaliação do desenvolvimento da competência prevista (RAMOS, 2001). 
Identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar, 
sintetizar, julgar, correlacionar ou manipular são exemplos de habilidades. 
 
 
 
 
Estágio Curricular Supervisionado: tempo de aprendizagem que supõe 
uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional 
reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno – 
estagiário. 
 9 
2.3 - Comentários 
 
A prática profissional do professor-aluno desenvolve-se com a Prática de Ensino, 
numa perspectiva de gradativa problematização do trabalho educativo, que leve em 
conta a sua complexidade. As atividades previstas na dimensão prática do curso são 
planejadas com a intenção de desenvolver competências que possibilitem reflexão e 
organização do trabalho em equipes, na tentativa de abranger e, eventualmente, 
superar as condições do cotidiano das unidades escolares, muitas vezes 
caracterizadas por “mesmices” de ações pragmáticas. 
 
As atividades práticas devem criar oportunidades para que você se defronte com 
problemas concretos do processo ensino-aprendizagem e da dinâmica própria do 
espaço escolar como resultado de estudos, propostas pedagógicas e pesquisas 
desenvolvidas ao longo de cada semestre, impulsionando-o a um processo de 
reflexão sobre questões ligadas às políticas educacionais do país, ao projeto político-
pedagógico da escola e às ações político-pedagógicas desenvolvidas no cotidiano das 
salas de aula. 
 
 
 
 
A Prática de Ensino deve articular a teoria e a prática (enquanto Estágio Curricular 
Supervisionado), de maneira que, até o final do curso, você tenha aliado aos 
conhecimentos teóricos, práticas e saberes que o auxiliarão no exercício profissional 
da docência, adquirindo subsídios para questionamentos e reflexões sobre o objetivo, 
conteúdo e formas que envolvam o processo ensino-aprendizagem, bem como 
problematizações e reflexões sobre a organização administrativo-pedagógica da 
escola. 
 
O Estágio Curricular Supervisionado, por sua vez, inserido em momento adequado do 
curso, constitui a fase de treinamento que permite a você, por meio da vivência prática 
Atividades práticas devem criar oportunidade para que você se defronte 
com problemas concretos do processo ensino – aprendizagem e da dinâmica 
própria do espaço escolar. 
 10 
das atividades docentes, complementar sua formação acadêmica nos aspectos 
técnico, cultural, científico e humano. É o espaço de consolidação dos conteúdos 
teóricos das disciplinas pedagógicas e fundamentos da educação. É um período de 
permanência em ambiente real de trabalho em escolas da comunidade e em outros 
espaços educacionais, possibilitando a você vivências concretas como professor, 
preparando-o a assumir, no futuro, a liderança de uma sala de aula, assim como trocar 
experiências com outros profissionais da educação. 
 
O Estágio Curricular Supervisionado é realizado considerando-se a formação pessoal, 
vivência profissional e cidadania. É atividade de ensino-aprendizagem e não deve ser 
confundido com simples preparação para o mercado de trabalho. 
 
Quanto às competências e habilidades, Bordoni, T. (2010) afirma que “tanto o ensino 
fundamental quanto o médio têm tradição conteudista. Na hora de falar de 
competência, mais ampla, carrega no conteúdo”. Assim, a escola tende a trazer para 
os alunos respostas para perguntas que eles não fizeram e o resultado é manifestado 
pelo desinteresse. A explicação é simples: neste contexto, as perguntas são mais 
importantes do que as respostas. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, os 
alunos devem ser ensinados a exercitar habilidades e, através delas, adquirir 
competências. 
 
Você, futuro educador, deve ser formado para preparar as melhores condições para o 
desenvolvimento de competências. Não deve se restringir apenas a transmitir 
informações isoladas, mas deve apresentar conhecimentos contextualizados, usar 
estratégias para desenvolver habilidades específicas em seus futuros alunos. O 
processo de ensinar deve proporcionar a aquisição de recursos que possam ser 
mobilizados no momento em que os problemas se apresentarem. 
 
Deste modo, imprimindo significado e relevância para os conteúdos escolares, você 
estará favorecendo uma ruptura com as práticas escolares tradicionais e 
 11 
proporcionando um avanço em direção a práticas mais pluralistas e harmônicas para 
seus futuros alunos. 
 
Habilidades expressam competências, e essas se constituem na prática. 
 
2.4 - A Prática nas Resoluções CNE/CP Nº 01/2002 E 02/2002 
A Resolução CNE/CP 01/2002 afirma, em seus “considerandos”, que “os Pareceres 
CNE/CP 09/2001 e 27/2001 são peças indispensáveis do conjunto das Diretrizes 
Curriculares Nacionais”. 
Deste modo, neste item, apresenta-se uma visão do conceito de prática apresentado 
no conjunto de documentos citados, elaborados no âmbito do Conselho Pleno do 
Conselho Nacional de Educação(Resoluções e Pareceres). 
Compõe-se basicamente de trechos extraídos direta e literalmente, acompanhados 
por uma adição interpretativa sobre o seu significado. 
 
 
 
 Concepção de prática em momento anterior aos pareceres e resoluções: 
“A concepção dominante nos cursos de formação de professores, apresentava 
dois pólos isolados: 
a) Supervalorizava os conhecimentos teóricos, acadêmicos, 
desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos 
de formação – visão aplicacionista das teorias; 
b) Supervalorizava o fazer pedagógico, desprezando a dimensão 
teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção e 
análise contextual das práticas – visão ativista da prática”. 
 
O Conselho Nacional de Educação aprimorou de modo significativo a 
concepção de prática e de estágio em documentos legais e normativos 
recentes. 
 12 
Evidenciava-se, então, a necessidade de integração entre a teoria e a prática. 
 
A visão aplicacionista das teorias, ao desprezar a prática, diminuía o potencial de 
aprendizagem dos temas estudados, menosprezava o fazer em detrimento do saber. 
Ora, o saber sem uma aplicação necessária é praticamente inoperante. Não se pode 
imaginar a teoria sem a prática, pois ela (a teoria) só foi desenvolvida por necessidade 
prática, ou seja, alguém, na prática, observou a necessidade de desenvolvê-la. Este 
extremismo aplicacionista das teorias, portanto, não oferecia resposta adequada aos 
problemas da sociedade, pois se mostrava reducionista do potencial de aprendizagem 
dos temas abordados. 
 
Por outro lado, a visão ativista da prática também, ao desprezar a teoria, diminuía o 
potencial de aprendizagem dos temas estudados, pois menosprezava o saber em 
detrimento do fazer. Se há o que se fazer, que se faça direito, e fazer direito envolve a 
teoria necessariamente, o conhecimento em plena integração com a ação. A prática 
sem a teoria não oferece respostas adequadas para a evolução da sociedade. O fazer 
não pode prescindir do saber. Assim, o extremismo ativista da prática, do mesmo 
modo, se mostrava reducionista do potencial de desenvolvimento da aprendizagem, 
que visa à melhoria da sociedade. 
 
Era necessária, portanto, uma mudança de paradigma, e isto foi objeto dos pareceres 
e resoluções do Conselho Nacional de Educação ora em análise. 
 
 Concepção de Prática como Componente Curricular: “dimensão do 
conhecimento que tanto está presente, nos cursos de formação, nos momentos 
em que se trabalha na reflexão sobre a atividade profissional, como durante o 
estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional” (grifo 
nosso). 
 
 13 
Esta visão mostra uma importante evolução na concepção de prática. Aponta para o 
fato de que toda teoria apresenta uma dimensão prática e que esta dimensão está 
presente durante todo o processo de formação profissional do professor. A prática, 
portanto, não se restringe ao estágio, embora este faça parte relevante do processo 
de formação e tenha uma característica iminentemente prática. Esta prática, no 
entanto, não prescinde da teoria, pelo contrário, articula-se com ela. 
 
 Articulação do estágio com as demais disciplinas: “o planejamento e a 
execução das práticas no estágio devem estar apoiados nas reflexões 
desenvolvidas nos cursos de formação” (grifo nosso). 
 
Em outras palavras, as reflexões desenvolvidas nos cursos devem apoiar o 
planejamento e a execução das atividades práticas do estágio. Deve haver, 
necessariamente, uma inserção dessas discussões nas disciplinas teóricas que 
permeiam os cursos de formação, um melhor aproveitamento da atividade de estágio 
no âmbito das disciplinas teóricas oferecidas pelos cursos de formação de 
professores. 
 
 A avaliação do estágio: “a avaliação...constitui momento privilegiado para uma 
visão crítica da teoria e da estrutura curricular do curso. Trata-se, assim, de 
tarefa para toda a equipe de formadores, e não, apenas, para o supervisor de 
estágio” (grifo nosso). 
 
Nesta concepção, como o planejamento e a execução das atividades práticas passam 
a ser inseridas nas discussões e reflexões desenvolvidas nas demais disciplinas do 
curso, toda a equipe docente, e não apenas o supervisor de estágios, deveria 
participar do processo de avaliação dessas atividades. 
 
 14 
 Ideia a Ser Superada: “o estágio é o espaço reservado à prática, enquanto, na 
sala de aula se dá conta da teoria”. (grifo nosso) 
 
O estágio não é uma atividade exclusivamente prática, uma vez que é alimentado 
pelas reflexões teóricas desenvolvidas durante o curso de formação do professor. Do 
mesmo modo, ele (o estágio) deve estar presente no ambiente da sala de aula, nas 
discussões teóricas a respeito da formação docente. Deste modo, não há como fazer 
uma distinção tão exata entre teoria e prática no curso de formação docente, tanto nas 
atividades envolvidas diretamente com o estágio quanto nas atividades desenvolvidas 
em sala de aula, nas demais disciplinas. 
 
 Relação entre o saber e o fazer: “não basta ao profissional ter conhecimentos 
sobre o seu trabalho. É fundamental que saiba mobilizar esses conhecimentos, 
transformando-os em ação”. (grifo nosso) 
 
Particularmente no caso do professor profissional, esta discussão é muito 
interessante. É muito comum ocorrer casos em que ótimos profissionais técnicos são 
contratados para lecionar e não obtêm o êxito que deles se espera. Isto se explica de 
modo muito simples: o melhor engenheiro do país pode ser um professor medíocre. 
Por outro lado, um engenheiro medíocre pode se tornar um bom professor...são 
profissões diferentes. Para ser professor não basta conhecer, é necessário aplicar 
este conhecimento sobre o seu objeto de trabalho que, no melhor sentido da palavra, 
é o aluno. Caso a aprendizagem não ocorra, não houve êxito. Ser professor exige 
técnicas especiais de transmissão do conhecimento que são inerentes à profissão. De 
nada adiantará o conhecimento profundo do tema a ser lecionado se isto não for 
acompanhado de uma didática que permita ao professor explicar convincentemente o 
tema. 
 
 15 
 Definição de Competência: “capacidade de mobilizar múltiplos recursos numa 
mesma situação para responder às demandas das situações de trabalho”. (grifo 
nosso) 
 
A competência, segundo este raciocínio, está intimamente ligada à teoria (ao saber), 
pois a multiplicidade de conhecimentos deve ser estruturada de forma compreensível 
para os alunos. Não basta o conhecimento do problema. O ideal é o conhecimento da 
situação problemática em que ele se envolve. Isto dá maior segurança ao professor e 
é requisito fundamental para o êxito na profissão. 
 
Mas a competência está, também, ligada à prática (ao fazer), pois a capacidade de 
mobilização dos múltiplos recursos disponíveis se reflete numa prática profissional 
relevante, que não se resume em “passar o conhecimento”, mas desperta no aluno o 
interesse necessário para que ele se interesse pelo saber. Este estímulo é uma das 
tarefas básicas do bom professor. Segundo Haidt (2002) na relação entre professor e 
aluno, o professor tem, basicamente, duas funções e uma delas é a chamada “Função 
Incentivadora”, ou seja, aproveitando a curiosidade natural do aluno, o professor deve 
despertar seu interesse e mobilizar seus esquemas cognitivos para que a 
aprendizagem ocorra do modo esperado. 
 
 A necessidade da reflexão sobre a atividade prática: “O desenvolvimento 
das competências pede uma outra organização do percurso de aprendizagem, 
na qual o exercício das práticas profissionais e de reflexão sistemática sobre 
elas ocupa um lugar central”. (grifo nosso) 
 
O exercício dasatividades e a reflexão sobre as práticas deixam de ser periféricos na 
formação de professores e passam a ocupar um espaço maior e mais importante. Não 
se trata de desvalorizar a teoria, mas de valorizar a prática e coloca-la em seu devido 
lugar. O conhecimento deve ser aplicável e aplicado, materializar-se na realidade, e 
 16 
isto era negligenciado nos cursos de formação a um segundo plano, o que deve ser 
corrigido. 
 
 A prática deve permear todo o processo de formação do professor: “é 
necessário que o futuro professor experencie, como aluno, durante todo o 
processo de formação, as atitudes, modelos didáticos, capacidades e modos de 
organização que se pretendem venham a ser concretizados nas suas práticas 
pedagógicas”. (grifo nosso) 
 
A prática não se resume ao estágio. Desde o início do curso de formação ela deve 
estar presente em todos os momentos, para possibilitar ao professor em formação a 
experiência como aluno. A partir de certo momento (metade do curso) ele deve 
observar os fatos diretamente numa escola, seu futuro ambiente de trabalho, como 
estagiário e, deste modo, ao se formar terá uma visão abrangente sobre tudo o que de 
mais importante envolve o “ser professor” de uma escola de educação básica no 
Brasil, estando apto, assim, a atuar profissionalmente. 
 
 Importância das atividades coletivas dos docentes em formação: “é 
fundamental promover atividades constantes de aprendizagem colaborativa e 
de interação, de comunicação entre os professores em formação e deles com 
os formadores, uma vez que tais aprendizagens necessitam de práticas 
sistemáticas...a escola de formação deverá criar dispositivos de organização 
curricular e institucional que favoreçam sua realização, empregando, inclusive, 
recursos de tecnologia de informação que possibilitem a convivência interativa 
dentro da instituição e entre esta e o ambiente educacional”. (grifo nosso) 
 
A promoção de atividades que propiciem comunicação entre os professores em 
formação e entre estes e seus docentes é condição sine qua non para a qualificação 
 17 
do curso. A socialização deve ser promovida e os alunos devem compartilhar suas 
experiências, visando somar conhecimentos e subtrair dúvidas nesses contatos. 
 
 A aplicação do conhecimento teórico na profissão: “a formação de 
professores demanda estudos disciplinares que possibilitem a sistematização e 
o aprofundamento de conceitos e relações...no entanto é indispensável levar 
em conta que a atuação do professor não é a atuação nem do físico, nem do 
biólogo, psicólogo ou sociólogo, é a atuação de um profissional que usa os 
conhecimentos dessas disciplinas para...ensinar”. (grifo nosso) 
 
O professor é um profissional diferenciado. Não deve ser confundido com o geógrafo, 
historiador, matemático, biólogo, etc, Este profissional fez sua opção pela carreira 
docente, que tem seus métodos e objetos próprios de trabalho, que são diferenciados 
com relação aos profissionais formados em cursos de bacharelado. Neste sentido o 
conhecimento básico obtido na dimensão teórica do curso deve ser aplicado na sua 
dimensão prática. 
 
 Articulação da prática com o restante do curso: “a prática na matriz 
curricular dos cursos de formação de professores não pode ficar reduzida a um 
espaço isolado, que a reduza ao estágio...desarticulado do restante do curso”. 
(grifo nosso) 
 
Prática é um termo que possui um conceito mais amplo do que o termo “estágio”. 
Neste sentido, sua dimensão deve abranger todo o curso. 
 
 A Dimensão Prática: todas as disciplinas que constituem o currículo de 
formação e não apenas as disciplinas pedagógicas têm sua dimensão prática. 
É essa dimensão prática que deve estar sendo permanentemente trabalhada 
 18 
tanto na perspectiva da sua aplicação no mundo social e natural quanto na 
perspectiva da sua didática...em tempo e espaço curricular específico...as 
atividades deste espaço curricular de atuação coletiva e integrada dos 
formadores transcendem o estágio e têm como finalidade promover a 
articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar”. (grifo 
nosso) 
Nesta perspectiva, não existe disciplina iminentemente teórica, desarticulada 
completamente da prática. Todas as disciplinas do curso têm uma dimensão prática, 
até porque as teorias só são desenvolvidas quando, na prática, alguém descobre sua 
necessidade. 
 19 
 
Prática de Ensino – Introdução à Docência 
 
 
SUGESTÃO DE ATIVIDADES PARA AVALIAÇÃO 
 
 
3. Sugestão de Atividades para Avaliação 
As atividades sugeridas nesta disciplina são as seguintes: 
a) ATIVIDADE EM GRUPO: Leia os textos referentes aos itens 3.1 a 3.13 e reflita 
sobre as inúmeras verdades que cada um deles encerra em suas entrelinhas, 
em relação à educação. Na sequência de cada texto, já são apresentadas 
algumas questões para reflexão. Reflita sobre essas questões e procure 
apontar, para cada texto, novas reflexões. A atividade em si consiste em 
elaborar um relatório que contemple as principais reflexões que todos estes 
textos induziram no grupo de alunos, ou seja, consiste em elaborar um relatório 
mencionando o título de cada um dos textos e as principais reflexões que o 
grupo teve sobre cada um deles. 
 O grupo deverá ser composto por alunos de uma mesma turma e deverá ter, no 
máximo, 5 (cinco) alunos; 
 
b) ATIVIDADE EM GRUPO: seguindo o mesmo raciocínio da atividade acima 
mencionada, selecione um texto semelhante aos aqui apresentados e aponte 
as principais reflexões sobre a educação que o texto sugere. A atividade em si, 
portanto, consiste em elaborar um relatório que contenha um novo texto que 
guarde relações de semelhança com os que foram apontados no livro-texto e. 
sobre este texto, o grupo de alunos deve refletir e apresentar tais reflexões em 
relatório. 
 O grupo deverá ser composto por alunos de uma mesma sala e deverá 
ter, no máximo, 5 (cinco) alunos; 
 
 20 
IMPORTANTE: NÃO HAVERÁ PRÓVA. 
 
Os textos e as questões para reflexão são apresentados na sequência: 
 
 
 
 
3.1 - Educação? Educações: aprender com o índio 
 
Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: 
a coragem minha. Buriti quer todo o azul, e não se 
aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não 
é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. 
João Guimarães Rosa/Grande Sertão: Veredas 
 
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo 
ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para 
ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, 
todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: 
educação? Educações. E já que pelo menos por isso sempre achamos que temos 
alguma coisa a dizer sobre a educação que nos invade a vida, por que não começar a 
pensar sobre ela com o que uns índios uma vez escreveram? 
 
Há muitos anos nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram um tratado de paz 
com os Índios das Seis Nações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação 
sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os 
seus governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus 
jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo e recusando. A 
carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklin adotou o 
costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa: 
Você não precisa realizar nenhuma tarefa específica relativa a estas 
questões. Elas foram incluídas neste texto com o intuito exclusivo de 
estimular a sua reflexão e podem ser usadas pelo professorem aula. 
 21 
 
“... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e 
agradecemos de todo o coração. 
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções 
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que 
a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. 
... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e 
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram 
maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a 
fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e 
falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não 
serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. 
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos 
aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia 
que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e 
faremos, deles, homens.” 
 
De tudo o que se discute hoje sobre a educação, algumas das questões entre as mais 
importantes estão escritas nesta carta de índios. Não há uma forma única nem um 
único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez 
nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor 
profissional não é o seu único praticante. 
 
Em mundos diversos a educação existe diferente: em pequenas sociedades tribais de 
povos caçadores, agricultores ou pastores nômades; em sociedades camponesas, em 
países desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem classes, de classes, 
com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades e 
culturas sem Estado, com um Estado em formação ou com ele consolidado entre e 
sobre as pessoas. 
 
 22 
Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, 
ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam 
outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância. Da 
família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as 
incontáveis práticas dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem 
livros e sem professores especialistas; mais adiante com escolas, salas, professores e 
métodos pedagógicos. 
 
A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as 
pessoas criam para tornar comum, como saber, como idéia, como crença, aquilo que 
é comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por 
um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como 
armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do 
trabalho, dos direitos e dos símbolos. 
 
A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a 
criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. 
Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre 
todos os que ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os 
códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, 
do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os 
dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com 
a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a 
própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar – às vezes a ocultar, às vezes 
a inculcar – de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem. 
 
Por isso mesmo – e os índios sabiam – a educação do colonizador, que contém o 
saber de seu modo de vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade de seus atos de 
domínio, na verdade não serve para ser a educação do colonizado. Não serve e existe 
contra uma educação que ele, não obstante dominado, também possui como um dos 
seus recursos, em seu mundo, dentro de sua cultura. 
 23 
 
Assim, quando são necessários guerreiros ou burocratas, a educação é um dos meios 
de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar 
tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para 
os outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educação participa do 
processo de produção e crenças e idéias, de qualificações e especialidades que 
envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos 
de sociedades. E esta é a sua força. 
 
No entanto, pensando às vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, o 
educador imagina que serve ao saber e a quem ensina mas, na verdade, ele pode 
estar servindo a quem o constituiu professor, a fim de usá-lo, e ao seu trabalho, para 
os usos escusos que ocultam também na educação – nas suas agências, suas 
práticas e nas idéias que ela professa – interesses políticos impostos sobre ela e, 
através de seu exercício, à sociedade que habita. E esta é a sua fraqueza. 
 
Aqui e ali será preciso voltar a estas idéias, e elas podem ser como que um roteiro 
daqui para a frente. A educação existe no imaginário das pessoas e na ideologia dos 
grupos sociais e, ali, sempre se espera, de dentro, ou sempre se diz para fora, que a 
sua missão é transformar sujeitos e mundo em alguma coisa melhor, de acordo com 
as imagens que se tem de uns e outros: “... e deles faremos homens”. Mas, na prática, 
a mesma educação que ensina pode deseducar, e pode correr o risco de fazer o 
contrário do que pensa que faz, ou do que inventa que pode fazer: “... eles eram, 
portanto, totalmente inúteis”. 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? São Paulo: Brasiliense. p.7-12. 
 
 
 
 
3.1.1 - Principais Questões para Reflexão 
 
 24 
 Se é verdade que “ninguém escapa da educação”, como se explica a 
expressão “falta de educação”? 
 Os Índios das Seis Nações iniciam a sua carta com a expressão “... Nós 
estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e 
agradecemos de todo o coração.” Seria um sinal de ingenuidade? Explique seu 
ponto de vista; 
 “Diferentes nações têm concepções diferentes das coisas”. Que relação há 
entre as diferentes nações e as diferentes educações de cada povo? 
 A nação brasileira apresenta apenas uma educação? 
 “... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do 
Norte...Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram ...totalmente inúteis. 
nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos 
e faremos, deles, homens.” Como se insere a educação no processo de 
dominação de uma nação pela outra? 
 “Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o 
único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não 
é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante.” 
Considerando-se esta afirmação, qual o papel da escola no processo 
educacional de um povo? 
 “Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em 
cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que 
submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a 
mais de sua dominância.” Com base nesta afirmação, como seria possível 
definir, em poucas palavras, a educação nacional do Brasil? 
 A educação “pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que 
usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a 
desigualdade entre os homens”. Se há um controle sobre o saber, como ter 
certeza que o que se aprendenas escolas é verdade? 
 “a educação do colonizador, que contém o saber de seu modo de vida e ajuda 
a confirmar a aparente legalidade de seus atos de domínio, na verdade não 
serve para ser a educação do colonizado. Não serve e existe contra uma 
 25 
educação que ele, não obstante dominado, também possui como um dos seus 
recursos, em seu mundo, dentro de sua cultura.” Diante desta afirmação, o que 
dizer sobre o atual estágio da educação brasileira? Reflete a educação do 
vencedor ou do vencido? A educação que nós recebemos, então, não é a única 
possível? Explique seu ponto de vista; 
 “... quando são necessários guerreiros ou burocratas, a educação é um dos 
meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros ou burocratas. Ela 
ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a criá-los, através 
de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima.” Faça uma 
relação entre esta afirmação e o processo de globalização, atualmente em 
curso em nosso planeta; 
 “... pensando às vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, o 
educador imagina que serve ao saber e a quem ensina mas, na verdade, ele 
pode estar servindo a quem o constituiu professor, a fim de usá-lo, e ao seu 
trabalho, para os usos escusos que ocultam também na educação.” Qual a 
importância do professor / educador na formação ou na transformação da 
sociedade em que ele se insere? 
 A missão da educação “é transformar sujeitos e mundo em alguma coisa 
melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros: “... e deles 
faremos homens”. Mas, na prática, a mesma educação que ensina pode 
deseducar, e pode correr o risco de fazer o contrário do que pensa que faz, ou 
do que inventa que pode fazer: “... eles eram, portanto, totalmente inúteis”. 
Comente esta frase; 
 ... 
 
 
 
 
3.2 - O Fax do Nirso 
 
O gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores: 
 26 
 
“Seo Gomis, 
O criente de Beozonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa, 
Abrasso, 
Nirso”. 
 
Aproximadamente uma hora depois recebeu outro: 
“Seo Gomis, 
Os relatório di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo qui 
manda umas treis mil pessa. Amanhã to xegando. 
Abrasso, 
Nirso”. 
 
No dia seguinte: 
“Seo Gomis, 
Num xeguei pucausa de que vendi maiz deis mil em Beraba. 
To indu pra Brasilha. 
Abrasso, 
Nirso”. 
 
No outro: 
“Seo Gomis, 
Brasilha fexo 20 mil. Vo pra Froniloplis e de la pra Sum Paulo no vinhâo das cete hora. 
Abrasso, 
Nirso”. 
 
E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, 
levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente escutou 
atentamente o gerente e disse: “Deixa comigo, que eu tomarei as providências 
necessárias”. 
 
 27 
E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e o afixou no mural da empresa, 
juntamente com as mensagens de fax do vendedor: 
“A parti de oje, nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, 
mod vendê maiz. 
Acinado, O Prizidenti. 
(Autor Desconhecido) 
 
3.2.1 – Principais Questões para Reflexão 
 
 A educação escolar está perdendo espaço no mercado de trabalho? 
 Num mercado competitivo, todo profissional precisa de um diferencial para 
ocupar determinadas posições e ascender na carreira. Por vezes, este 
diferencial é representado por um ou mais diplomas. Com base no texto e nesta 
afirmação, analise o papel da educação formal no mercado de trabalho; 
 Alguns estudiosos afirmam que a educação evolui num ritmo muito lento, na 
relação com os outros elementos da sociedade. Que aspectos devem, então, 
ser ressaltados na educação, para que ela acelere sua evolução e consiga 
acompanhar o ritmo dos outros elementos sociais? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.3 - A História de Chapeuzinho Vermelho (na versão do lobo) 
Adaptação do vídeo de Celso Antunes 
 
 28 
Esta história será contada de uma maneira não tradicional. 
 
Certa manhã, estava eu passeando pela minha casa – sim, porque eu não sei se 
vocês sabem, mas a floresta é a minha casa – e, de repente, deparei com uma visão 
terrível. 
 
Vi uma menina vestida com uma roupa vermelha horrorosa, com um chapéu vermelho 
igualmente horroroso, carregando uma cesta cheia de produtos embalados com 
material plástico, que leva milhares de anos para se desintegrar na natureza. 
 
Imaginei que ela fosse fazer um piquenique ou coisa parecida e pensei: não posso 
permitir que ela deixe aquele material jogado pela mata. Ela vai sujar a minha casa e 
dos meus companheiros de floresta. Vou tentar preveni-la dos cuidados ecológicos 
fundamentais. Por outro lado, que descuidados são esses humanos: deixar uma 
menina tão pequena passear pela floresta desse jeito, correndo o perigo de ser 
apanhada por algum predador (dentre os quais eu me incluo). 
 
Como eu estava com o apetite devidamente saciado resolvi, sem segundas intenções, 
falar com a menina e induzi-la a sair da floresta pelo mesmo caminho por onde entrou. 
Isto seria melhor para todos...e assim o fiz, mas, assim que me deparei com a menina, 
ela foi logo gritando feito uma louca e me batendo com a cesta que tinha na mão; nem 
sequer me ouviu, não me deu oportunidade para falar o que eu queria e explicar o 
motivo da nossa conversa. Só repetia várias vezes que eu não iria comer o lanche que 
ela havia preparado para a sua vovozinha, que eu era horrível, que isso e aquilo. Logo 
vi que não conseguiria atingir o meu intento. Mas...ela é só uma menina...e assim 
pensando, resolvi perdoá-la. 
 
Apesar de ter ficado furioso com ela num primeiro instante, resolvi procurar por uma 
velhinha que, algum tempo antes, havia construído uma casinha de madeira perto do 
rio. Na época, todos nós aqui da floresta havíamos ficado furiosos com ela, pois 
derrubou nossas árvores e, assim, destruiu a casa de muitos de nossos companheiros 
 29 
animais para construir aquela casa horrenda, mas, devido à avançada idade, 
resolvemos relevar e deixá-la ficar. Só podia ser ela a vovozinha daquela menina tão 
mal-educada. 
 
Segui por atalhos que só nós, moradores da floresta, conhecemos e, assim, cheguei 
na casa da velhinha bem antes da sua neta. Segui um caminho muito longo para 
alertar a senhora dos males que ela e a sua neta poderiam provocar no nosso 
ecossistema, mas ela também não me deu a menor oportunidade de me pronunciar; 
foi logo me batendo e fazendo um escândalo tremendo, muito barulho, muita gritaria, 
virou-se e pegou uma velha espingarda, certamente com a intenção de matar-me. Não 
tive outra alternativa, senão comer a velha senhora. 
 
Minutos depois, a menina acabou chegando na casa da sua avó. Sabendo que ela iria 
provocar novo escândalo, resolvi me disfarçar e, assim, vesti algumas roupas da tal 
velhinha e tentei me fazer passar por ela, deitado em seu leito. 
 
Quando ela chegou, tentei dissuadi-la a ir embora o quanto antes, mas a menina 
novamente começou a me insultar dizendo: que nariz grande e horrível você tem...que 
orelhas estranhas você tem...que olhos caídos e remelentos você tem... Eu procurei 
responder a todas as perguntas com ternura, mas para tudo há um limite, e minha 
paciência já estava em ponto de se esgotar, quando tirei o disfarce. Diante dos gritos 
da menina, e temendo a aproximação de caçadores que sempre afluíam ao local, não 
tive alternativa senão comê-la também. 
 
Meu temor, no entanto, se concretizou: um caçador me encontrou e, antes mesmo que 
eu começasse a me explicar, atirou impiedosamente e me acertou... agora, cá estou 
eu,com a barriga aberta, moribundo, e vocês ainda estão vibrando com isto, 
ensinando suas crianças que o malvado dessa história sou eu...isso é muito injusto, 
muito injusto. 
Vídeo: 10 Histórias Exemplares. Celso Antunes. Coleção Grandes Autores – Atta-Mídia e Educação 
 
 
 30 
3.3.1 – Principais Questões para Reflexão 
 
Esta história tem uma peculiaridade: ela é relatada na versão do lobo. Isto nos leva à 
algumas importantes reflexões sobre a educação que estamos oferecendo em nossas 
escolas: 
 Será que não estamos negando aos nossos alunos o direito de optar, ao 
apresentar-lhes nossas opiniões sobre fatos como verdades absolutas? 
 Será que é justo negar-lhes o direito de optar, mesmo que esta opção represente a 
idéia da minoria? 
 Será que o que extraímos do conteúdo da geografia, história, literatura e mesmo 
da matemática representa uma verdade ou uma opinião? 
 Será que, quando falamos em exclusão, não estamos sendo excludentes, ao 
tirarmos a oportunidade do aluno de avaliar, fazer seu próprio julgamento e tirar 
suas conclusões? 
 Com relação ao conteúdo ensinado e aprendido nas escolas, há apenas uma 
verdade? 
 Com relação ao conteúdo ensinado e aprendido nas escolas, há apenas verdades? 
 Problematizar uma dúvida não levaria à construção de outras verdades? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
3.4 - Uma Pescaria Inesquecível 
 
Ele tinha 11 anos e, a cada oportunidade que surgia, ia pescar num cais próximo ao 
chalé da família, numa ilha que ficava em meio a um lago. 
 
 31 
A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da 
tarde para pegar apenas peixes, cuja captura estava liberada. O menino amarrou uma 
isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água. 
 
Logo, elas se tornaram prateadas, pelo efeito da lua, nascendo sobre o lago. 
 
Quando o caniço vergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha. 
 
O pai olhava com admiração, enquanto o garoto, habilmente, e com muito cuidado, 
erguia o peixe exausto da água. 
 
Era o maior que já tinha visto, porém sua pesca só era permitida na temporada. 
 
O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras volvendo para trás e para 
frente. 
 
O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio. 
 
Pouco mais de 10 horas da noite... 
 
Ainda faltavam quase duas horas para a abertura da temporada. 
 
Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo: 
 
- Você tem que devolvê-lo, filho! 
 
- Mas, papai, reclamou o menino. 
 
- Vai aparecer outro, insistiu o pai. 
 
- Não tão grande quanto este, choramingou a criança. 
 32 
 
O garoto olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista. 
 
Voltou novamente a olhar para o pai. 
 
Mesmo sem ninguém por perto, sabia, pela firmeza em sua voz, que a decisão era 
inegociável. 
 
Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura. 
 
O peixe movimentou rapidamente o corpo e desapareceu. 
 
Naquele momento, o menino teve certeza de que jamais pegaria um peixe tão grande 
quanto aquele. 
 
Isso aconteceu há 34 anos. Hoje, o garoto é um arquiteto bem sucedido. 
 
O chalé continua lá, na ilha, em meio ao lago, e ele leva seus filhos para pescar no 
mesmo cais. 
 
Sua intuição estava correta. 
 
Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como daquela noite. 
 
Porém, sempre vê o mesmo peixe todas as vezes que depara com uma questão ética. 
 
Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de CERTO e 
ERRADO. 
 
Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa. 
 
 33 
A ética, porém, está em agir corretamente quando ninguém está nos observando. 
 
Esta conduta reta só é possível quando, desde criança, aprendeu-se a devolver o 
PEIXE À AGUA. 
 
A boa educação é como uma moeda de ouro: TEM VALOR EM TODA PARTE. 
James P. Lenfestei 
 
 
3.4.1 – Principais Questões para Reflexão 
 
 Complete a frase: “ética é....”; 
 Se a ética é algo tão importante, por que não faz parte da grade curricular da 
maior parte das escolas de educação básica no Brasil? 
 Comente a frase: “gosto de levar vantagem em tudo, certo?” – a chamada Lei 
de Gerson - e faça uma relação com o texto; 
 Comente a frase: “o que é certo é certo, mesmo que ninguém o faça...e o que é 
errado é errado, mesmo que todo mundo o faça” e relacione com o texto. 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
3.5 A Folha Amassada 
 
Quando criança, por causa de meu caráter impulsivo, tinha raiva à menor provocação. 
 
 34 
Na maioria das vezes, depois de um desses incidentes me sentia envergonhado e me 
esforçava por consolar a quem tinha magoado. 
 
Um dia, meu professor me viu pedindo desculpas, depois de uma explosão de raiva, e 
entregou-me uma folha de papel lisa e me disse: Amasse-a! 
 
Com medo, obedeci e fiz com ela uma bolinha. 
 
- Agora, deixe-a como estava antes, voltou a dizer-me. 
 
Óbvio que não pude deixá-la como antes. Por mais que tentasse, o papel continuava 
cheio de pregas. 
 
O professor disse então: 
 
— O coração das pessoas é como esse papel. A impressão que nele deixamos será 
tão difícil de apagar como esses amassados. 
 
Assim, aprendi a ser mais compreensivo e mais paciente. Quando sinto vontade de 
estourar, lembro daquele papel amassado. A impressão que deixamos nas pessoas é 
impossível apagar. Quando magoamos alguém com nossas palavras, logo queremos 
consertar o erro, mas é tarde demais. 
 
Alguém já disse, certa vez: 
 
— Fale somente quando suas palavras possam ser tão suaves como o silêncio. 
 
Mas não deixe de falar, por medo da reação do outro. 
 
Acredite, principalmente em seus sentimentos! 
 
 35 
“Seremos sempre responsáveis pelos nossos atos – nunca se esqueça.” 
(Autor Desconhecido) 
 
 
3.5.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Como educador, no futuro, você terá que desempenhar várias funções que 
extrapolam o “simples” ensinar e inserem-se no contexto de educar. Você se 
considera preparado emocionalmente para exercer tais funções? 
 Como lidar com alunos explosivos como o do texto? 
 Aluno explosivo representa necessariamente um aluno problema? 
 Como desenvolver autocontrole de modo que, como professor, você não corra 
o risco de soltar bombas com suas palavras com potencial de causar estragos 
irremediáveis na vida de seus futuros alunos? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.6 A Lição dos Gansos 
 
No outono, quando se vê bandos de gansos voando ao sul, formando um grande “V” 
no céu, indaga-se o que a ciência já descobriu sobre o porquê de voarem desta forma. 
 36 
Sabe-se que quando cada ave bate as asas, move o ar para cima, ajudando a 
sustentar a ave imediatamente detrás. Ao voar em forma de “V”, o bando se beneficia 
de pelo menos 71% a mais de força de vôo do que uma ave voando sozinha. 
 
Sempre que um ganso sai do bando, sente subitamente o esforço e a resistência 
necessários para continuar voando sozinho. Rapidamente, ele entra outra vez em 
formação para aproveitar o deslocamento de ar provocado pela ave que voa 
imediatamente à sua frente. 
 
Quando o ganso líder se cansa, ele muda de posição dentro da formação e outro 
ganso assume os gansos que voam rumo ao sul. 
 
Os gansos detrás gritam, encorajando os da frente para que mantenham a velocidade. 
 
Finalmente, quando um ganso fica doente, ou ferido por um tiro e cai, dois gansos 
saem da formação e o acompanham paraajudá-lo e protegê-lo. Ficam com ele até 
que consiga voar novamente, ou até que morra. Só então levantam vôo sozinhos, ou 
em outra formação, a fim de alcançar seu bando. 
(Autor desconhecido) 
 
 
3.6.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Pessoas que se deslocam numa mesma direção e que têm o sentido de 
comunidade podem atingir seus objetivos de forma mais rápida e fácil, pois 
beneficiam-se de impulso mútuo. Numa equipe, quando um só elemento se 
esforça na direção contrária, o dispêndio de energia é muito maior e o avanço 
da equipe, menor. Será que você já aprendeu a lição dos gansos? 
 Se tivéssemos o mesmo sentido dos gansos, manter-nos-íamos em formação 
com os que lideram o caminho para onde também desejamos seguir. Na 
educação, o papel de liderança é exercido pelos pais (na família), professores 
 37 
(na sala de aula), diretores (na unidade escolar) e, gradativamente, os liderados 
vão aprendendo a ocupar posições de liderança em suas vidas ou a aceitar as 
lideranças que se lhe apresentam. Você se sente preparado para exercer, por 
exemplo, o papel de professor? 
 Que mensagem passamos quando gritamos detrás? Estímulo aos nossos 
líderes ou desestímulos? Será que nossa mensagem como liderados tem sido 
útil para promover a melhoria da qualidade de vida do grupo? Se você descobrir 
que tem errado na sua atitude, não se preocupe...isto não é o fim, mas o 
começo. 
 Se tivéssemos o sentido dos gansos, também ficaríamos um ao lado do outro 
nos momentos de dificuldade. Isto se aplica aos seus futuros alunos. Colar em 
suas testas o rótulo de indisciplinados por este ou aquele motivo é uma tarefa 
muito fácil, que qualquer um pode fazer. Estimulá-los a mudar de atitude e 
crescer como cidadãos, isso é tarefa para pessoas especiais. 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.7 Assembléia na Carpintaria 
 
Era uma vez...uma carpintaria onde aconteceu uma estranha assembléia. Foi uma 
reunião de ferramentas para acertar suas diferenças. 
 
 38 
Um martelo presidiu a reunião, mas os participantes avisaram-no que teria de 
renunciar, pois fazia muito barulho e golpeava muito. 
 
O martelo aceitou sua culpa, porém exigiu que fosse expulso o parafuso, alegando 
que dava muitas voltas para conseguir algo. 
 
Diante do ataque o parafuso concordou desde que expulsassem a lixa por ser muito 
áspera no tratamento com os demais, atritando sempre. 
 
A lixa acatou a decisão, mas exigiu a expulsão da trena por sempre medir os outros 
segundo a sua medida, como se fosse perfeita. 
 
No auge da discussão, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou seu trabalho. 
Utilizou o martelo, a lixa, a trena e o parafuso, convertendo uma rústica madeira em 
um fino móvel. 
 
Quando a carpintaria ficou novamente em silêncio com a saída do carpinteiro, a 
assembléia reiniciou. Foi então que o serrote, até então calado, falou: 
 
— Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha 
somente com as nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Vamos deixar 
nossos pontos fracos e concentremos em nossos pontos fortes. 
 
A assembléia entendeu então que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a 
lixa era especial para limar e afinar a aspereza e a trena era precisa e exato. 
Sentiram-se como uma verdadeira equipe capaz de produzir móveis de qualidade. 
Sentiram então, uma grande alegria em trabalhar juntos. 
 
O mesmo ocorre com os seres humanos. Quando se busca defeito no outro, a 
situação fica tensa e negativa. Ao contrário, quando se busca sinceramente o ponto 
forte, as qualidades dos outros, florescem as melhores conquistas humanas. 
 39 
 
É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo. Mas... encontrar qualidades... isto 
é para os sábios!!! 
(Autor desconhecido) 
 
 
3.7.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Como você se sente quando as pessoas que o cercam dão destaque aos seus 
defeitos, em detrimento das suas qualidades? 
 Como professor, como você acha que os seus alunos se sentiriam caso você 
destacasse seus defeitos, em detrimento das suas qualidades? 
 Como você acha que um professor pode obter maior êxito na sua profissão? 
Enfocando os defeitos ou as qualidades de seus alunos? 
 Você considera necessário enfocar tanto os defeitos quanto as qualidades das 
pessoas? Afinal, quando apenas as qualidades são destacadas, a pessoa 
tende a entrar numa zona de conforto e não avançar qualitativamente. Por outro 
lado, quando são destacados seus defeitos, a tendência é que ela procure 
melhorar. 
 Como tratar do assunto com sabedoria? 
 Você, sozinho, pode ser bom. Você com outros, tende a ser melhor. 
 ... 
 
 
 
3.8 Colheres de Cabo Comprido 
 
Um pastor foi convidado por Deus para conhecer o céu e o inferno. Ao abrir-se a 
porta, viram uma sala em cujo centro havia um caldeirão cheio de suculenta sopa. 
 
 40 
À sua volta estavam pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava 
uma colher de cabo tão comprido que era possível alcançar o caldeirão, mas não a 
própria boca. 
 
O sofrimento era imenso. 
 
Em seguida, Deus levou o pastor para conhecer o céu. 
 
Entraram em uma sala idêntica à primeira. 
 
Havia o mesmo caldeirão, pessoas em volta e o mesmo cabo comprido. 
 
A diferença é que todos estavam saciados. "Eu não compreendo", disse o pastor. 
 
"Por que aqui as pessoas estão tão felizes, enquanto na outra sala morrem de aflição, 
se é tudo igual?" 
 
Deus sorriu e respondeu: "Você não percebeu”? 
 
É porque aqui elas aprenderam a dar comida umas as outras". 
(Autor Desconhecido) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.8.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 O que significa, concretamente, um trabalho em equipe? 
 Uma das competências que se exige de uma pessoa que se forma em nível 
superior, é que tenha capacidade de trabalhar em equipe. Prepare-se...; 
 41 
 Espera-se que você, no exercício futuro da sua profissão como professor, ajude 
a formar cidadãos, e isto envolve desenvolver no aluno o senso de 
sociabilidade. Partindo-se da premissa que “ninguém pode dar o que não tem”, 
você se sente preparado para este desafio? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.9 Faça Parte dos 5% 
 
Certa vez, tivemos uma aula de Fisiologia na escola de Medicina, logo após a Semana 
da Pátria. Como a maioria dos alunos havia viajado aproveitando o feriado 
prolongado, todos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a 
 42 
excitação era geral. Nosso velho professor entrou na sala e imediatamente percebeu 
que iria ter trabalho para conseguir silêncio. 
 
Com grande dose de paciência tentou começar a aula, 
mas você acha que minha turma correspondeu? Que nada. Com um 
certo constrangimento, o professor tornou a pedir silêncio educadamente. 
 
Não adiantou. Ignoramos a solicitação e continuamos firmes na conversa. 
 Foi aí que o velho professor perdeu a paciência e deu a maior bronca que eu já 
presenciei. 
 
— Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez, disse, levantando a voz, 
e um silêncio carregado de culpa se instalou em toda a sala. E o professor continuou: 
 
— Desde que comecei a lecionar, isso já faz muitos anos, descobri que 
nós, professores, trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. Em todos esses 
anos observei que de cada 100 alunos, apenas 5 são realmente 
aqueles que fazem alguma diferença no futuro; apenas 5 se tornam profissionais 
brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidadede vida das 
pessoas. Os outros 95 servem apenas 
para fazer volume; são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil. 
 
O interessante é que esta porcentagem vale para quase tudo no mundo. Se vocês 
prestarem atenção, notarão que, de 100 professores, 
apenas 5 são aqueles que fazem a diferença; de 100 garçons, apenas 5 
são excelentes; de 100 motoristas de táxi, apenas 5 são verdadeiros profissionais. E 
podemos generalizar ainda mais: de 100 pessoas, 
 apenas 5 são verdadeiramente especiais. É uma pena muito grande não termos como 
separar esses 5% do resto, pois, se isso fosse possível, eu deixaria apenas esses 
alunos especiais nesta sala e colocaria os 95% restantes para fora, e então teria o 
 43 
silêncio necessário para dar uma boa aula e 
dormiria tranquilo à noite, sabendo ter investido nos melhores. 
 
Mas, infelizmente, não há como saber quais de vocês são esses 5% de 
alunos especiais. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me 
conformar e tentar dar uma aula para esses alunos especiais, apesar da confusão que 
estará sendo feita pelos 95% restantes. Claro que cada um de vocês sempre pode 
escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado pela 
atenção e vamos à aula de hoje. 
 
Nem preciso dizer o silêncio que ficou na sala e o nível de atenção que o professor 
conseguiu após esse discurso. Aliás, a bronca tocou fundo em todos nós, pois, depois 
desse dia minha turma teve um comportamento 
exemplar em todas as aulas de Fisiologia, durante todo o semestre; afinal, quem 
gostaria de espontaneamente ser classificado como fazendo parte dos 95% que o 
professor gostaria de ver longe dali? 
 
Hoje não me lembro de muita coisa das aulas de Fisiologia, mas a bronca do 
professor eu nunca mais esqueci. Para mim, aquele professor foi um dos 5% que 
fizeram a diferença em minha vida. De fato, percebi que ele 
 tinha razão e, desde então, tenho feito de tudo para ficar sempre no grupo dos 5%, 
mas, como ele disse, não há como saber se estamos indo bem ou não; só o tempo 
dirá a que grupo pertencemos. 
 
Contudo, uma coisa é certa: se não tentarmos ser especiais em tudo o que fazemos, 
se não tentarmos fazer tudo o melhor possível, seguramente faremos parte da turma 
do resto. 
(Autor Desconhecido) 
 
 44 
3.9.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Será mesmo que 5% das pessoas que existem fazem a diferença? Isto não é 
pouco? 
 Será mesmo que 5% das pessoas que existem fazem a diferença? Isto não é 
muito? 
 Será possível “trocar de grupo” com o passar do tempo? 
 O que fazer para “trocar de grupo”? 
 Este texto te estimula a continuar ou age no sentido contrário? 
 O raciocínio do velho professor, de trabalhar para os 5%, está correto? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.10 O Homem e o Mundo 
 
Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a 
encontrar meios de respostas para suas dúvidas. 
 
 45 
Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo a 
trabalhar. O cientista, nervoso pela interrupção, pediu que o filho fosse brincar em 
outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, o pai procurou algo que pudesse 
ser oferecido ao filho com o objetivo de distrair sua atenção: deparou-se com o mapa 
do mundo, o que procurava. 
 
Com o auxílio de um tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um 
rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo: 
 
— Filho, você gosta de quebra-cabeças? Então vou lhe dar o mundo para consertar. 
Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! E 
faça tudo sozinho. 
 
Então, calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. 
 
Passadas algumas horas, ouviu a voz do filho que o chamava calmamente. 
 
— Pai, pai, já fiz tudo! Consegui terminar tudinho. 
 
A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade ter 
conseguido recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou 
os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. 
Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido 
colocados nos devidos lugares. Como seria possível? 
 
Como o menino havia sido capaz? 
 
— Você não sabia como era o mundo meu filho, como conseguiu? 
 
— Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista 
para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. 
 46 
 
Tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e 
comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o 
homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo. 
(Autor desconhecido) 
 
 
3.10.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Comente a frase: “Quando o homem resolver o problema entre homens e 
homens, aí estará pronto para resolver os problemas entre homens e mundo”; 
 Você está preparado para aprender com uma criança? Afinal, isto é o inverso 
do que a educação pensa que faz, ou seja, é a geração mais nova ensinando a 
geração mais velha. 
 Você pretende dedicar tempo para que seus futuros alunos se manifestem e, 
assim, de repente, você aprenda com eles? Ou não acha isto prudente? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
3.11 Professores Reflexivos 
 
... a narrativa de como a experiência concreta de turista me fez pensar em 
como pode se sentir o aluno, o estagiário ou o professor que chega, pela primeira vez, 
a uma escola que não conhece... 
 
 47 
Cheguei ao hotel, vinda do aeroporto. Eram duas e meia da tarde. Situado no 
característico nordeste brasileiro, o hotel era o exemplo bem acabado da globalização. 
Pela ausência, quase total, de marcas da civilização local, poderia situar-se em 
qualquer parte do mundo. 
 
A primeira informação que me foi dada dizia-me que, apesar de serem duas e meia da 
tarde, eu não podia ocupar o apartamento. Não estava arrumado ainda. 
 
Podia preencher a ficha de entrada, deixar as bagagens no hall e ir almoçar. 
 
“Logo, logo” comunicariam, quando estivesse pronto. 
 
E assim tentei dirigir-me ao primeiro piso onde deveria encontrar o restaurante para 
satisfazer o meu apetite motivado pelo atraso de um vôo que, de curto, não deu direito 
a refeição nem sequer o refrigerante. 
 
À míngua de informação da recepcionista, e desconhecendo que o piso da entrada era 
o terceiro, não me foi fácil encontrar o restaurante no primeiro piso. 
 
Culpa minha, sem dúvida. O meu constructo de que, normalmente, as recepções se 
encontram no piso zero, cegou-me para a hipótese de que, para ir para o primeiro, em 
vez de subir, era preciso descer. Mas não tinha ficado mal à recepcionista uma 
informação menos exígua, ainda por cima expectável num país e numa região onde os 
autóctones são comunicativos por natureza. 
 
Nestes momentos iniciais, eu ainda não tinha percebido que já não me encontrava no 
país da comunicação, mas sim num hotel standard, igual a tantos outros por esse 
mundo além, incrustado numa cultura que não acolheu e da qual se alheou. 
 
Alheamento que não me permitiu usufruir dos sabores típicos, da arte indígena, do 
calor humano característico das gentes nordestinas. Nem deixou que me tratassem 
 48 
pelo meu nome, que me colocassem logo na mão um mapa da cidade, que me 
informassem sobre o que poderia visitar. 
 
Vinda de outros hotéis no mesmo país, onde eu era “a senhora Isabel”, onde, sem que 
eu tivesse pedido ou sequer insinuado, o restaurante abriu mais cedo para que eu 
pudesse tomar o café da manhã antes de partirpara o aeroporto, onde a 
espontaneidade do empregado o leva a dizer-me, na sua atenção à pessoa do 
hóspede: “pode levar alguma coisa para comer, pois quando se vai viajar às vezes até 
dá fome”. Ou, num outro, em que, num dia de calor, me entra pelo quarto adentro, 
logo após a chegada, uma grande jarra de suco e um magnífico prato de frutos 
tropicais. E onde as refeições cheiravam e sabiam ao Brasil. 
 
Vinha mal habituada, habituada a ser pessoa e a ter a informação de que necessitava 
para me sentir “em casa”. Tinha passado a ser um número, descaracterizada, com 
tratamento indiferenciado, dentro de um edifício e numa organização onde tudo estava 
estandardizado, em contraste com a originalidade da natureza e a pessoalidade das 
gentes e das culturas. 
 
Mas... se já estive em tantos hotéis deste tipo, porquê estranhar agora? O que me fez 
sentir um número, um no meio de tantos outros? 
 
Creio que duas ordens de razões podem explicar o meu sentimento desta vez. 
Ambas têm a ver com as experiências sofridas nos dias anteriores. Este episódio tem, 
pois, um valor experiencial sobre o qual “me deitei a refletir”, tentando, a partir dele, 
aprofundar o meu conhecimento sobre a vida. 
 
Em primeiro lugar, eu vinha de proferir duas palestras sobre educação em que tinha 
abordado o tema da reflexividade, da contextualização, da pessoalidade, da cidadania, 
da comunicação. Numa delas tinha situado o tratamento destes temas no contexto da 
sociedade da informação globalizante em que vivemos. 
 
 49 
Em segundo lugar, vinha de contextos em que se valorizava o local, o único, o 
expressivo, o pessoal culturalmente socializado. Contextos que me socializaram na 
cultura autóctone e me trouxeram o encanto de aprender com aquilo que para mim era 
novo. Trazia expectativas de continuidade. Encontrei o dejá vu. 
 
A reflexão sobre esta minha experiência concreta não me pode levar a generalizar a 
partir do que foi episódico. Eu sei. Mas suscitou em mim algumas inquietações 
enquanto cidadã do mundo e enquanto educadora. 
 
Questiono-me se será necessário aniquilar o autêntico e o local para se viver o 
conforto ditado por critérios globalizantes. Mesmo pensando em termos econômicos – 
pois são esses evidentemente os termos em que os empresários devem pensar – não 
será possível encontrar formas de harmonizar o socialmente genuíno com o 
tecnologicamente moderno? Como será possível conciliar a eficiência de gerir grandes 
hotéis com a atenção pessoalizada a dispensar ao cliente? 
 
O pensamento, que se torna bem mais alado nos momentos de férias como o que eu 
estava a viver, levou-me para outras esferas e dei comigo a pensar nos alunos quando 
transitam de uma escola para outra e sobretudo, de um ciclo de estudo para o 
subsequente (por exemplo, do 1º para o 2º grau). Foi sobre eles que passei a refletir. 
 
Como se sentirão esses alunos no primeiro dia de aulas? Quebrada a continuidade da 
familiaridade e dos afetos que os entrelaçavam na escola já familiar, como os 
receberá a nova escola: como pessoas ou como números? 
 
Fornecer-lhe-ão a informação necessária e correta para que eles possam se 
contextualizar? Aparecer-lhe-á como uma escola “com cara” ou terá dela a idéia de 
uma escola indistinta e estandardizada? Quem se preocupará com o que eles 
sentem? Quem criará o contexto que os leve a integrarem-se e a viverem a escola em 
vez de se isolarem e quererem apenas “passar pela escola o mais depressa 
possível”? 
 50 
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003. p. 7-
10. 
 
3.11.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Entende-se que as principais questões para reflexão já foram suscitadas pela 
autora, porém, isto não impede que outras reflexões surjam em sua mente a 
partir da leitura, principalmente baseadas em sua experiência pessoal. 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.12 Um Sonho Impossível? 
 
Todos os pais querem ver seus filhos formados e bem sucedidos. Esperando isso, 
matriculam a criança na escola e sonham: ela aprenderá tudo muito bem, terá ótimas 
notas, avançará sempre e depois... Depois, o diploma, o sucesso... 
 
 51 
Esse interesse dos pais, a ajuda e o apoio que dão aos filhos para que eles possam 
fazer suas tarefas, é muito importante para a boa realização da criança. A participação 
dos pais pode ser direta, com explicações detalhadas e repetidas, orientação para 
cada tarefa. Ou então pode ser indireta, com o estímulo para a realização dos 
trabalhos e lições, o elogio, o cuidado com o material escolar e a preocupação com a 
frequência às aulas. 
 
As famílias de classe média e alta, em geral, dão esse tipo de apoio às crianças. 
 
Mas o mesmo não acontece nas famílias mais pobres. 
 
Nesse último caso, é difícil para os pais darem tal apoio aos filhos. Mesmo que 
estejam interessados e queiram participar ativamente, muitas vezes não sabem como 
fazer isso, não se sentem em condições de colaborar. 
 
Frequentemente, não conhecem o conteúdo das matérias, estranham os métodos de 
ensino e as atitudes da escola. É comum ficarem inibidos, desarmados, e até 
humilhados em seus contatos com a escola. 
 
De modo geral podemos dizer que esses pais não se sentem em condições de avaliar 
o que está sendo ensinado e só julgam o desempenho dos filhos através das notas 
baixas. Além de assistirem, desarmados, à insatisfação e fracasso das crianças, não 
ficam à vontade no ambiente da escola. 
 
Diante de tudo isso é bem possível que esses pais passem a achar mais proveitoso e 
lucrativo preparar “de fato” seus filhos para a vida. 
 
Acabam tirando a criança da escola, para que comece logo a trabalhar. 
 
Esta não é, certamente, a melhor solução. 
 
 52 
O importante mesmo é fazer com que a escola se torne mais adequada às 
necessidades reais das crianças, atendendo às esperanças dos pais. 
(Da revista “Pensamento e linguagem” – Fundação Carlos Chagas) 
 
 
3.12.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 Reflita sobra a desigualdade social no Brasil. Na sequência, reflita sobre o 
papel a ser desempenhado pela educação, neste contexto; 
 Imagine-se lecionando, no período da manhã, para alunos que pertencem a 
famílias de classe alta e, à tarde, para alunos que pertencem a famílias de 
baixa renda. Sua atuação profissional como professor, deve ser diferente em 
cada contexto? 
 Qual seria uma boa estratégia para combater a evasão escolar? 
 ... 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.13 Pipocas da Vida 
 
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. 
 
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando 
passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. 
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem 
e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. 
 53 
 
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode 
ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou 
ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou 
sofrimento, cujas causas ignoramos. 
 
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo, o sofrimento diminui. Com 
isso, a possibilidade da grande transformação também. 
 
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais 
quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada 
em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginara transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina do que ela 
é capaz. Aí sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: 
BUM! E ela aparece como outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma 
nunca havia sonhado. 
 
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São 
aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas 
acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A 
presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o 
destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. 
 
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para 
ninguém. 
(Do livro “O amor que acende a lua” de Rubem Alves, também transcrito no site 
www.rubemalves.com.br, acessado em 21/10/2010) 
 
 
3.13.1 Principais Questões para Reflexão 
 
 54 
 Um grande dilema do ser humano é mudar. E isso se explica pelo simples fato 
de que, mudar, pode ser para melhor ou para pior. Assim é o ser humano. 
Neste contexto, como zelar para que a mudança pretendida seja para melhor? 
 Há quem goste de piruá...ele não é, necessariamente, ruim; 
 Cada milho de pipoca tem seu tempo certo para estourar...precisa de mais ou 
menos tempo, mais ou menos calor. Como este raciocínio pode ajudar no lidar 
com alunos? E consigo mesmo? 
 
 55 
 
 
4 – Recomendações de Leituras e Reflexões Complementares 
 
Seguindo a mesma linha de raciocínio do item anterior do livro-texto, recomendamos 
que você prossiga constantemente com a leitura de textos de alguns autores 
especialmente importantes que permitem, também, uma reflexão profunda sobre esta 
educação que permeia nossa vida e nos atinge. 
 
É recomendável que você busque se aprofundar em leituras deste tipo, que podem ser 
obtidas facilmente por via secundária na internet e em bibliotecas. Neste contexto, 
autores como Rubem Alves, Paulo Freire e Celso Antunes (que são aqui destacados 
entre outros), têm muito a contribuir com a sua formação acadêmica e profissional. 
Recomenda-se, portanto, a leitura constante dos artigos e textos desses autores que 
se enquadram perfeitamente ao raciocínio proposto nesta disciplina. Você certamente 
só tem a ganhar e, assim, estará se aprimorando continuamente para o exercício da 
sua profissão, proporcionando que o reflexo dos seus ganhos se reflita na sociedade 
e, em especial, na vida dos seus futuros alunos. 
 
 56 
BIBLIOGRAFIA 
 
BORDONI, T. Saber e Fazer: Competências e Habilidades. Disponível em: 
www.pedagogobrasil.com.br, acessado em 21/10/2010. 
 
CRUZ, C.H.C. Competências e Habilidades: da proposta à prática. Coleção Fazer e 
Transformar. 2 ed. São Paulo: Loyola. 2002. 
 
HAIDT, R.C.C. 2002. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática (7ed.). 
 
RAMOS, M.N. Da Qualificação à Competência: deslocamento conceitual na relação 
trabalho-educação. Tese apresentada ao curso de Doutorado em Educação da 
Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau de 
Doutor em Educação, Niterói, 2001. 
 
Sites: 
 
www.rubemalves.com.br. 
www.celsoantunes.com.br.

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