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KISSINGER, Henry. Diplomacia: 5. São Paulo: Saraiva, 2017. Cap. 16: “Três modelos da paz: Roosevelt, Stalin e Churchill na Segunda Guerra Mundial”, 353 - 379 p. Resumo Após a invasão de Hitler a União Soviética, Hitler declarou guerra aos Estados Unidos e transformou a batalha europeia em guerra mundial. No inverno de 1942-43, as tropas de Hitler foram derrotadas na batalha de Stalingrado e Hitler perdeu sua principal base, o VI Exército. Assim, os líderes dos aliados – Churchill, Roosevelt e Stálin – passam a pensar na vitória e na organização do mundo no pós-guerra. Cada um desses líderes tomou suas decisões baseadas nas experiências de sua própria nação. Churchill buscava retomar o equilíbrio de poder na Europa, Roosevelt via o pós-guerra com uma ordem dos três vencedores e, talvez, a China, na qual esses manteriam a paz do mundo contra um vilão em potencial – essa visão se chamava “dos Quatro Guardiões”. A visão de Stalin refletia seus ideais comunistas e também as antigas políticas externas russas buscando ampliar as influências soviéticas na Europa Central transformando os territórios conquistados em áreas de proteção russa contra uma futura agressão alemã. Roosevelt não compartilhava das visões isolacionistas do povo americano mas concordou com eles na rejeição da tradicional diplomacia europeia. O presidente americano insistia que a vitória nazista ameaçava os EUA e não pretendia mobilizar a civilização americana para buscar a restauração do equilíbrio de poder europeu, assim, o objetivo da guerra era derrotar Hitler já que, para Roosevelt, este não representava a quebra do equilíbrio. Roosevelt rejeitava a ideia de que a derrota total da Alemanha criaria um vácuo que a vitoriosa União Soviética substituiria, recusou a hipótese de que possíveis rivalidades entre os vencedores poderiam surgir no pós-guerra. Segundo ele, a paz seria mantida por uma segurança coletiva dos aliados durante a guerra sustentada pela boa-fé mútua. Uma vez que não estariam em busca de um equilíbrio e sim da paz universal, o presidente norte-americano conclui que após a derrota da Alemanha, os EUA deveriam levar suas forças militares de volta para casa não deixando nenhuma força para contrabalancear os soviéticos, o que, segundo ele, nunca teria o apoio do povo americano. Desse modo, a Inglaterra teria que defender a Europa sem a ajuda norte-americana e a Europa teria que se reconstruir economicamente sem o apoio dos Estados Unidos. Dado os fatos, é possível observar que Roosevelt superestimou a capacidade da Inglaterra no pós-guerra, uma vez que lhes atribuiu a defesa e a reconstrução da Europa sem o apoio americano. Durante a Conferência de Yalta, em 1945, Roosevelt mostrou seu desdém pela França quando “censurou” Churchill por classificar o país como uma potência e justificou a ação do inglês como uma maneira de ter uma linha de defesa na fronteira oriental da França para se opor ao expansionismo soviético. O presidente norte-americano queria que os aliados vitoriosos controlassem o desarmamento e a partição da Alemanha e sujeitasse vários outros países a esse controle, inclusive a França. Roosevelt estava decidido a acabar com os impérios coloniais da França e da Inglaterra, ele era uma mistura do excepcionalismo americano tradicional e, ao mesmo tempo, estava ligado às causas universais. Na Inglaterra, Churchill conseguiu alimentar a ilusão de grande potência fazendo o país ser capaz de resistir sozinha ao expansionismo da URSS e isso explica o porquê de Roosevelt defender a volta das tropas americanas, a Alemanha enfraquecida e desarmada, a redução da França ao status secundário e a URSS com seu plano expansionista e um grande vácuo disponível na Europa. Assim, o pós-guerra torna-se um exercício de mostrar aos americanos que eles eram essenciais para a construção de um novo equilíbrio de poder. A proposta dos Quatro Guardiões de Roosevelt era o meio termo entre o equilíbrio de poder proposto por Churchill e o wilsonismo dos auxiliares do presidente norte-americano. Com essa proposta, Roosevelt buscava evitar os erros cometidos pela Liga das Nações e o sistema de pós Primeira Guerra Mundial. O conceito dos Quatro Guardiões era semelhante ao sistema de Metternich, porém, o abismo ideológico entre os vencedores e a ousadia de Stálin de projetar seus interesses ideológicos e políticos, mesmo com um confronto a seus antigos aliados, levam a proposta de Roosevelt ao fracasso. Roosevelt não previu a recusa dos “guardiões” em cumprirem o papel que fora proposto a eles – especialmente a URSS. Assim, o equilíbrio de poder surgiria como solução. Roosevelt e Stalin eram líderes completamente diferentes, o americano tentava implantar as ideias wilsonianas de harmonia internacional pelo mundo enquanto Stalin adotava a Realpolitk do velho mundo europeu. O líder comunista não via distinção entre as democracias e os fascistas embora considerasse que as primeiras fossem menos perversas e difíceis. Stalin não podia abrir mão de territórios em nome da boa vontade, assim, propunha aos aliados democráticos o mesmo que propôs a Hitler um ano antes. Suas alianças com Hitler e com os países democráticos não o tornavam próximo desses regimes, tratava-os como sócios temporários sendo o interesse nacional soviético, através do comunismo, seu principal objetivo. O líder soviético tenta, então, negociar metas no pós-guerra durante a visita de Eden a Moscou em 1941 e depois quando Molotov visita Washington e Londres em 1942, porém, após falhanço de suas negociações, Stalin confia a estrutura do mundo pós-guerra a ao alcance de seus exércitos. Se a Inglaterra fosse mais poderosa, Churchill certamente teria negociado a ordem europeia do pós-guerra com Stalin e teria tentado extrair do líder soviético acordos práticos. O inglês estava em guerra a mais tempo que qualquer um de seus parceiros e passara pela fase de auto sobrevivência da Inglaterra que absorvia energia e o desfecho seria incerto e mesmo com o apoio americano, a Inglaterra não tinha esperanças de vencer. Se os EUA ou a URSS tivessem se mantido fora da guerra a Inglaterra seria levada ao acordo ou a derrota. O ataque japonês a Pearl Harbor, a declaração de guerra de Hitler aos EUA e a invasão nazista na União Soviética deram aos ingleses um lugar ao lado dos vencedores, desse momento em diante Churchill adotou a visão realista em relação às metas da guerra fazendo-a em um contexto inédito na Inglaterra de modo que, na medida com que a guerra prosseguia, era cada vez mais óbvio a posição em favor do equilíbrio de poder na Europa da Inglaterra e torna-se inevitável que a URSS terminaria como a nação dominante se os EUA retirasse suas forças. Assim, a diplomacia de Churchill consistia em manobrar forças que ameaçavam a posição da Inglaterra, embora em direções opostas. O caráter defensivo da autodeterminação mundial de Roosevelt colocava em perigo o Império Britânico e a projeção soviética para a Europa central por Stalin ameaçava a segurança inglesa. Churchill balanceava ambos os lados com relativa fraqueza, mas mesmo assim anda seguia a antiga política de seu país – a paz devia descansar em um tipo de equilíbrio. A Inglaterra não podia mais defender seus interesses sozinha e Churchill sabia que essa seria a última vez que o país exerceria seu papel como potência global independente. Assim, era importante criar laços de amizade, principalmente com os EUA, porque ele sempre tendia a ceder às vontades norte-americanas mesmo que muitas vezes Churchill convencesse os americanos de que os interesses estratégicos de Washington coincidiam com os de Londres. Roosevelt desconfiava dos motivos de Churchill e de seus interesses observando que o inglês queria promover os interesses nacionais já que preferia o equilíbrio de poder as propostas americanas. Os americanos interpretaram as ações inglesas dessa maneira por três maneiras: a tradição anti colonial americana, a estratégia de guerra e a estrutura europeia no pós-guerra. Mesmo que Roosevelt tenha sido muito próximode Churchill durante a guerra, porém, em certos momentos, o presidente americano era mais ríspido com Churchill do que com Stalin. Roosevelt via em Churchill um companheiro em armar e Stalin um amigo para depois da guerra na tarefa da paz. No encontro de Roosevelt com Churchill para a composição da Carta do Atlântico que a Carta não se aplicasse não só à Europa incluindo também as áreas coloniais, porém o gabinete de guerra inglês rejeitou a premissa e, para conter Londres e mostrar uma certa hipocrisia americana, cita as Filipinas, antiga colônia americana. Entretanto, os Estados Unidos concederam independência as Filipinas no final da guerra. No discurso do Memorial Day de 1942, o subsecretário de estado norte americano ainda mostra a postura anticolonialista dizendo que, se a guerra fosse realmente pela libertação dos povos, então teria que garantir também a igualdade soberana dos povos em todo o mundo encerrando o imperialismo. Roosevelt informa a Inglaterra que a declaração era oficial, o presidente norte-americano queria que os EUA liderassem a libertação das colônias temendo que a autodeterminação virasse luta racial uma vez que a Ásia possuía um bilhão e cem milhões de não brancos que estavam sendo colonizados por brancos. Para os americanos, os diplomatas ficavam de fora da estratégia e os militares terminavam sua parte quando a diplomacia começava, assim a política externa era apenas um compartimento sucessivo da política nacional, enquanto para os ingleses a estratégia militar e a política externa eram estreitamente ligadas de modo que estes tendiam a olhar tanto para os meios quanto para os fins, mas os ingleses estavam determinados a evitar outro massacre então preferiam uma estratégia que minimizasse as perdas. Quando os EUA entraram na guerra Churchill propôs um ataque ao "baixo-ventre macio" do Eixo, no sul da Europa. Na fase final da guerra ele, em vão, instou Eisenhower a tomar Berlim, Praga e Viena antes dos soviéticos. Para Churchill a atração desses objetivos vinham do efeito de limitar a influência soviética depois da guerra. Os comandantes americanos não queriam seguir as ordens pois viam nelas interesses ingleses, sendo assim não queriam arriscar suas vidas por objetivos de outros. O plano dos americanos era abrir uma segunda frente na França, mas houve resistência por parte da Inglaterra, criando conflitos com o exército americano e seu general George Marshall chegando a ameaçar o que tinha sido estabelecido no Plano American-British-Canadian, que dava prioridade em manter no Pacífico o esforço principal americano. Roosevelt foi muito firme e lembrou aos generais que a prioridade da guerra era derrotar a Alemanha e esse objetivo era de interesse comum e não somente da Inglaterra. Seguiu o plano de Churchill e somente recusou o desembarque nos Balcãs, apoiou o desembarque no norte da África, em novembro de 1942 e depois na Itália na primavera de 1943, tirando ela da guerra. A segunda frente na Normandia veio acontecer em junho de 1944, com a Alemanha bem enfraquecida e uma vitória já visível para os aliados. Stalin era um grande defensor da “segunda frente” por motivos geopolíticos, pois em 1941 ele estava ansioso para remover as forças alemãs da frente russa e chegou a convidar a Inglaterra a enviar uma força expedicionária ao Cáucaso. Essa súplica pela segunda frente continuou até mesmo depois da batalha de Stalingrado, no final de 1942, que avançou contra a Alemanha. Stalin considerava atraente na segunda frente a sua distância com a Europa Central e Oriental dos Bálcãs, onde interesses soviéticos e ocidentais provavelmente iriam colidir, isso garantiria que os capitalistas não saíssem ilesos da guerra. Ele, mesmo quando insistia em ter voz no planejamento aliado no Ocidente, negava às democracias acesso aos planos soviéticos, não dava mais que o mínimo de conhecimento dos seus planos militares. Os aliados, no final, atraíram para a Itália o número de divisões alemãs, que era o que Stalin queria ao exigir uma segunda frente na França, entretanto ele aumentou seus protestos contra a estratégia do sul, pois para ele esse plano tinha uma imensa falha que era a proximidade geográfica dos países que eram visionados pelos soviéticos. Assim, ele pediu em 1942 e 1943 uma segunda frente, que acabaria afastando os aliados das áreas politicamentes disputadas. Alguns críticos, no debate sobre a origem da Guerra Fria, disseram que ao não se abrir a segunda frente mais cedo provocou a intolerância de Stalin na Europa Oriental, isso despertou a ira dos soviéticos mais do que qualquer outro fator. Os chefes de estado-maior refletiam a posição dos políticos americanos, de adiar discussões sobre o mundo pós-guerra para depois da vitória, essa decisão deu forma ao mundo depois da guerra, tornando a Guerra Fria inevitável. Geralmente os países que prezam pelo equilíbrio devem fazer o possível para alcançar os termos de paz ainda em guerra, pois com o inimigo no campo sua força favorece o lado pacífico, mas se este princípio for rejeitado e as questões não apresentam solução até a conferência de paz a potência mais agressiva acaba com o prêmio e somente tendo um grande conflito poderia ser contestada. Uma discussão entre os aliados sobre os objetivos pós-guerra era preciso durante a Segunda Guerra Mundial devido à linha de rendição incondicional anunciada por Roosevelt e Churchill, em Casablanca em janeiro de 1943. Roosevelt a propôs pois temia que a discussão de termos de paz com a Alemanha fosse dividir os aliados e, também, queria que Stalin ficasse tranquilo, que não haveria paz em separado. Mas, principalmente, Roosevelt queria evitar outra era de reivindicações revisionistas alemãs dizendo que a Alemanha fora induzida a terminar a guerra com promessas não cumpridas. A recusa de Roosevelt em discutir durante a guerra a estrutura do mundo depois dela fez com que os americanos possuissem uma vasta influência e Roosevelt teve o papel principal na estruturação desse mundo. Sob sua proteção foram feitas uma série de conferências internacionais que esboçaram os projetos dos componentes cooperativos da ordem mundial pós-guerra. Para o que se tornou a Organização das Nações Unidas (ONU) em Dumbarton Oaks, para as finanças mundiais em Bretton Woods, para alimentação e agricultura em Hot Springs, para amparo e reabilitação em Washington e para aviação civil em Chicago. Inicialmente Stalin tratou a recusa de Roosevelt sobre discutir o pós-guerra no nível geopolítico como um jeito de explorar suas dificuldades militares, para ele a guerra era para criar um novo equilíbrio de poder melhorado, já que tinha um vácuo deixado pela desintegração do Eixo. Stalin tentou, então, envolver Robert Anthony Eden num acordo de pós-guerra, em dezembro de 1941, enquanto as tropas alemãs avançavam para os subúrbios de Moscou. A conversa de Stalin naquela ocasião deixou claro que a Carta do Atlântico não era com ele, Stalin não queria perder tempo com abstrações, preferia negociar concessões recíprocas, preferencialmente em forma de territórios. O que Stalin pensava era claramente a Realpolitik. Para ele a Alemanha devia ser desmembrada e a Polônia movida para oeste assim tendo a União Soviética com as antigas fronteiras de 1941 e a retenção dos estados bálticos. Em troca, a União Soviética apoiaria a Inglaterra em quaisquer exigências. Stalin, por outro lado, ainda não fazia exigências sobre o futuro político dos países ocidentais e mostrou uma certa flexibilidade quanto à fronteira com Polônia. Porém certas pretensão ainda iam claramente contra a Carta do Atlântico que a Inglaterra não poderia aceitar, depois de três meses após sua proclamação, e os líderes americanos nem sequer consideravam um certo retorno de acordo secretos, tão prejudiciais a diplomacia da 1° guerra mundial. Apesar disto, os termos oferecidos por Stalin por mais ofensivos que fossem eram melhores que aquilo que surgiu da guerra, e até poderiam ser melhorados por negociações. Eden então evitou um beco sem saída ao prometerrelatar a Churchill e Roosevelt sua conversa com Stalin e então prosseguir mais tarde com o diálogo. Stalin voltou com o assunto na primavera de 1942, talvez até por sua situação militar extrema. Churchill estava bem preparada para ‘tomar uma coisa por outra’ pelo reconhecimento das fronteiras de 1941 porém Roosevelt rejeitaram a discussão de assuntos pós-guerra para evitar qualquer semelhança ao equilíbrio de poder. Em seguida Stalin tentou resolver essas questões enviando Molotov a Londres em maio de 1942. Nas discussões antes dessa visita, em abril de 1942, o embaixador soviético repetiu as condições de Stalin e agora a União Soviética exigia pactos de assistência mútua com a Romênia e a Finlândia para o período pós-guerra. Tal exigência, tendo em conta que os exércitos alemães ainda no fundo da União Soviética, mostrou as metas de longo prazo de Stalin. Churchill ao prosseguir com tais conversas enfrentou forte oposição de Washington. Hull descreveu as conversas anglo-soviéticas como contrárias à Carta do Atlântico, provocativas à histórica oposição americana às trocas de territórios pela força e como a regresso à política de poder de um passado. No princípio da guerra Stalin deseja por um acordo nas fronteiras de 1941. O que Salin pagaria por isso jamais será conhecido pois Roosevelt interrompe o diálogo anglo-soviético ao convidar Molotov a Washington. Por ocasião da visita de Eden a Moscou, em dezembro de 1941, Stalin havia mostrado sua flexibilidade quanto às fronteiras da Polônia. A partir de uma visão do passado histórico podemos pensar que Stalin talvez tivesse disposto a trocar as fronteiras de 1941 pela aceitação dos governos no exílio dos países da Europa Oriental. Mas então todas as perspectivas desapareceram assim que Molotov chegou a Washington, no final de maio de 1942, e percebeu que a América estava a pedir a União Soviética não um acordo político, mas sim a concordância com uma nova abordagem da ordem mundial. Roosevelt mostrou a Molotov a alternativa americana para às ideias de Stalin (e de Churchill) sobre esferas de influência. O acordo, em que voltariam ao conceito de Wilson de segurança coletiva com modificações introduzidas pela ideia de Quatro Guardiões, daria à União Soviética mais segurança que o tradicional equilíbrio de poder. Não se sabe claramente o porquê de Roosevelt acreditar que Stalin iria considerar atraente um governo mundial. A questão colonial foi algo mais específico de Roosevelt que propôs a tutela internacional para as todas as ex-colônias e convidou a União Soviética para membro fundador do Conselho de Tutela. Se Molotov tivesse tendência filosóficas teria pensado sobre a circularidade da história em que, em um espaço de 18 meses, recebeu duas propostas de alianças diferentes e antitéticas: uma por Hitler e Ribbentrop e outra por Roosevelt. Em ambas propostas foi proposto para Molotov, como uma maneira de seduzi-lo, a perspectiva de terras exóticas a sul. Em nenhum dos casos Molotov permitiu-se ser desviado dos principais objetivos soviéticos. Molotov também não via qualquer necessidade de ajustar as táticas ao seu interlocutor. Em Washington quanto em Berlim, Molotov foi inflexível em relação às fronteiras de 1941, quanto à influência soviética dominante na Bulgária, Romênia e Finlândia, e quanto a direitos especiais nos Estreitos. Com toda probabilidade, Stalin mal pôde acreditar na sorte, quando Molotov informou que Washington se recusava em discutir um acordo político enquanto a guerra não terminasse. Isso significava não ter que fazer concessões enquanto a Alemanha não fosse derrotada. Ao perceber que os Estados Unidos adiavam o acordo político para depois da guerra Stalin abandonou sua habitual imagem forte e não insistiu mais no assunto. Com sua posição negocial a melhorar a cada passo da vitória aliada, Stalin decidiu lucrar o mais atrasando discussões políticas e saqueando tudo o que podia, mesmo que fosse só pela usar como meio de troca na conferência de paz. A resistência de Roosevelt às negociações do cenário pós guerra pode ter se dado pela consciência do expansionismo soviético e ao receio de ir contra as convicções da população dos Estados Unidos. De acordo com Arthur Schlesinger, “Roosevelt estava preparando uma posição de recurso no caso de as relações entre Soviéticos e Americanos azedarem: Um exército extraordinário, uma rede de bases militares além-mar, planos para manobras militares em todo o mundo em tempo de paz e o monopólio anglo-americano da bomba atômica”. Entretanto, Kissinger o rebate afirmando que Roosevelt possuía tais meios mas o objetivo era diferente, pois a prioridade era aprimorar o esforço de guerra. Mais especificamente, Kissinger explica que as bases tinham a finalidade de facilitar a transferência dos contratorpedeiros para a Grã-Bretanha, a bomba atômica era destinada a Alemanha e ao Japão. Ao longo da guerra Roosevelt mantinha uma postura amistosa com Stalin pretendendo usar de sua relação pessoal para fazer acordos ao final da Guerra. Prova disso é que assim que entrou na guerra ele marcou uma reunião com Stalin no Estreito de Bering com a exclusão de Churchill. O encontro não aconteceu, mas aconteceram outros em em Teerão e em Ialta. Stalin, contudo, mantinha uma posição de superioridade perante Churchill e Roosevelt. No encontro em Ialta, Stalin ofereceu instalações à Roosevelt em uma vila soviética, sob o argumento de que Roosevelt estava sob ameaça do Eixo. Nessa conferência, Stalin conseguiu a aprovação de uma segunda linha de frente na França em 1944. Assim como também foi acordado a desmilitarização total da Alemanha e sobre as respectivas zonas de ocupação. Roosevelt concordou com o plano de Stalin de deslocar as fronteiras da Polônia para o ocidente e não iria insistir na questão do Báltico. Roosevelt relutava em discutir o mundo pós-guerra. O presidente apresentava seus objetivos políticos de maneira tão desprendida por razão de ter como objetivo principal em Teerão o estabelecimento da ideia dos quatro polícias. Ganhando a confiança de Stalin se desvinculando de Churchill. O povo acreditava mais na bondade inerente ao homem do que na análise geopolítica, preferindo ver em Stalin um líder amigo e não um ditador. Em 1943, Stalin desfez o Komintern, instrumento formal do partido comunista para a revolução mundial, e a revolução mundial não podia ser uma prioridade soviética, sendo elogiado até mesmo por capitalistas. Em 1944, a situação militar estava a favor de Stalin e o destino da Alemanha traçado, impondo o marechal suas condições. Churchill percebeu o que estava se passando. A grã Bretanha sozinha não conseguia impedir Stalin na Europa oriental. Em 1941, Churchill propôs a organização da Europa para Stalin. baseado em porcentagens de territórios, Stalin aceita. Já na Conferência de Ialta, o acordo já não existia mais, o exército soviético já ocupava todos territórios em paut, interferindo fortemente no âmbito interno de todos esses países. As táticas dos participantes contudo não se alteraram. Churchill ansiava discutir o mundo pós guerra, assim como Stalin. Churchill estava preocupado com o equilíbrio europeu. Queria restaurar o estatuto da França como potência, resistir ao desmantelamento da Alemanha e reduzir exigências de indenizações soviéticas, tendo êxito em todas essas questões. Churchill e Roosevelt reconhecem as fronteiras da Rússia e Polônia em 1941. A conceção de Stalin aos seus aliados foi uma declaração conjunta da europa oriental que prometia eleições livres e governos democráticos. Stalin almejava a versão soviética de eleições livres, especialmente porque o exército vermelho já havia ocupados os países em pauta. A resistência ao expansionismo soviético foi embasada na falta de palavra de Stalin, tal como fora dada em Ialta e como os governantes e público americano a tinham compreendido. Stalin não se sentiu nem um pouco tímido quanto ao apelo de Roosevelt para se juntar à guerra contra o Japão. Insistiu em benefícios especiais durante a guerrae em ser recompensado em moeda estratégica devido tal aliança. Exigiu a parte sul da ilha Saquelina e das ilhas Curilhas que tinham relação com a segurança e história soviética. Mas também exigiu portos livres em Disco e Port Arthur e o direito sobre os caminhos-de-ferro da Manchúria, o que não faziam muito sentido. Roosevelt garantiu essas exigências em um acordo secreto. Depois da conferência Ialta, Roosevelt disse que o acordo tinha conseguido chegar às Nações Unidas mas não à decisão respeitante ao futuro político da Europa e da Ásia. Mas ainda sim, garantiu a Stalin influência sobre o Norte da China para encorajá-lo a participar de uma ordem Mundial que no futuro, se tornaria irrelevante. Quando a conferência de Ialta acabou, só se celebrava a unidade da aliança do tempo de guerra. A importância das relações pessoais entre governantes continuou a ser reafirmada na América após o fim da guerra. Roosevelt, em um de seus discursos, deixou claro a boa imagem que tinha de Stalin mesmo ele sendo um revolucionário, e atribuía suas qualidades ao catecismo. Enquanto isso, Stalin e o exército soviético só avançava. As regras de Stalin foram demonstradas no final da guerra. Em abril de 1945, Churchill pressionou Eisenhower que comandava as tropas americanas à ocupar Berlim, Viena e Praga antes do exército soviético, mas os americanos não aceitaram o pedido e usaram-no como uma forma de demonstrarem aos britânicos que planejamento militar sem interferência de considerações políticas era necessário. Eisenhower escreveu à Stalin, em março do mesmo ano avisando que não avançaria sobre Berlim e propondo um encontro das tropas soviéticas e americanas perto de Dresden. Stalin em 1 de abril respondeu a Eisenhower que concordava com a proposta, dizendo que Berlim era apenas um plano secundário e que mandaria uma tropa pequena apenas para capturá-la, e concordou com o encontro. Porém, contrariando as palavras ditas à Eisenhower, ordenou que a melhor reserva da infantaria fosse em direção a Berlim. Já em abril de 1945, as violações de Stalin sobre a declaração de Ialta eram enormes e flagrantes, principalmente do que diz respeito às Polônia. Após conquistar a Polônia, Stalin dizia que para um futuro governo da Polônia dure e seja bom, apenas os países amigáveis à União Soviética e que cooperassem com a mesma poderiam ser consultados. Algumas mudanças poderiam ter vindo de uma política ocidental mais dinâmica, mas só teria sido em 1941 ou 1942, quando a URSS oscilava à beira da catástrofe. Após a batalha de Stalingrado, a questão do futuro da Europa Ocidental podia ter sido suscitada, sem pôr em risco a segurança soviética e sem a ameaça de um tratado de um tratado de paz separado com Hitler. Alguns episódios indicam que Stalin faria sim um tratado de paz em separado com ele, embora nunca tenha feito essa ameaça. Stalin, Molotov e Kaganovich queriam negociar com Hitler, via o embaixador Búlgaro, o Báltico, a Bessarábia e partes da Bielorrússia e da Ucrânia (fundamentalmente as fronteiras soviéticas em 1938). Hitler claramente recusaria um acordo desta natureza, uma vez que os exércitos alemães já avançavam para Moscou, Kiev e Leningrado, já ultrapassando largamente a “proposta de paz” entre Alemanha e URSS, os nazistas tinham em mente despovoar a URSS, muito além de Moscou, e reduzir à escravidão a parte da população que restasse. Oito meses depois de Stalingrado e dois meses após a batalha de Kursk, que destruiu quase todo o exército ofensivo alemão, Hitler ainda afirmava que, mesmo se em 1941 tivesse chegado à um acordo com a Rússia, atacá-la-ia novamente. Em 1944 Hitler ainda acreditava que, depois de repelir a segunda frente, seria capaz de conquistar a Rússia. Acima de tudo, uma paz em separado, mesmo com as fronteiras de 1941, não seria uma solução para Stalin ou Hitler. O conceito de Roosevelt dos Quatro Guardas simplesmente não viam suas metas globais da mesma forma. A combinação fatal, em Stalin, de paranóia, ideologia comunista e imperialismo russo, traduzia a noção de Quadro Guardas imparciais, a imporem a paz mundial, com base em valores universalmente comuns, ou em uma oportunidade soviética, ou em uma armadilha capitalista. Os EUA também não estava preparados para as consequências da idéia dos Quatro Guardas do presidente, a contradição na posição americana, uma vez que para o conceito funcionar, os EUA deviam estar dispostos a intervir em qualquer lugar onde houvesse ameaça à paz. Enquanto as idéias americanas não mudassem a respeito de se recusar a defender a Europa, a resistência ao expansionismo soviético seria impossível. Roosevelt tinha incluído a China nos Quatro Grandes, mas no entanto, o país era ainda menos capaz que a Inglaterra de cumprir a missão. No fim da guerra, China era um país subdesenvolvido, em guerra civil. A recusa de Roosevelt em ver o mundo em termos geopolíticos era outra parte do mesmo idealismo que levou os EUA à guerra e lhe permitiu salvar a causa da liberdade. A concepção dele após a guerra provavelmente tenha sido excessivamente otimista, no final, conseguiu conduzir a sociedade em duas das mais tremendas crises de sua história. A guerra acabou em um vazio geopolítico, o mundo dividiu-se em campos ideológicos, um período pós-guerra que iria se transformar numa longa e dolorosa luta para se conseguir o acordo que tinha escapado aos líderes antes do fim da guerra. Perguntas Porque Stalin não tentou convencer os aliados a fazer os acordos de paz antes do fim da guerra? Um erro fundamental pra ter acontecido a guerra fria foi a postergação, por parte dos países, das discussões ao longo da guerra. Entretanto como seriam essas discussões ao longo da guerra com a posição ideológica que a URSS possuía? Comentários Kissinger mais uma vez, tratou no capítulo 16 as diferentes opiniões e modos das abordagens políticas de cada líder de forma compreensível e detalhada, mostrando as reais intenções de cada um deles e o que essas intenções resultariam na política internacional de taís países, e consequentemente do mundo. Kissinger ainda explicou o por quê de cada líder pensar daquele modo e quais fatos na história de suas nações os fizeram tomar tais decisões durante e pós segunda Guerra Mundial.