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Regras da imputação do pagamento Para que uma obrigação seja extinta é preciso que haja pagamento. Pagamento, portanto, é o oferecimento de uma prestação, por meio do qual o devedor se libera do débito no momento em que paga a dívida, dissolvendo, assim, o vínculo obrigacional. O pagamento, quando obedecidas as suas regras, é considerado o meio direto de extinção de uma obrigação. Todavia, diante da alteração de qualquer dessas regras ou delas em conjunto, não podemos falar em pagamento. Por vezes, e não incomum, é possível que o mesmo credor e o mesmo devedor estejam vinculados em obrigações distintas. Para essas situações é necessário compreender o instituto da imputação do pagamento. Em primeiro lugar, para entender as regras da imputação do pagamento é preciso estabelecer algumas premissas. Vejamos. Por imputação do pagamento se presume a existência de mais de uma obrigação que o devedor tenha com o mesmo credor. Nesses casos, sendo as prestações i. Da mesma natureza, ii. Líquidas e iii. Vencidas; o devedor poderá imputar qual delas está quitando com a entrega da coisa ou do valor devido. Para tanto, são requisitos: 1. Multiplicidade de débitos; 2. Identidade de partes; 3. Igual da natureza das dívidas; e 4. Possibilidade de o pagamento resgatar mais de um débito. Passados os requisitos básicos, mostra-se, outrossim, importante a análise das espécies de imputação do pagamento, sendo que este instituto comporta em si, três modalidades, também chamadas de fases (porque está atrelada ao momento em que o pagamento é imputado), equivale-se dizer que são sucessivas e excludentes. São elas: 1. Imputação subjetiva: é aquela que está na esfera de controle das partes. a) Imputação subjetiva passiva (feita pelo devedor) A imputação é um direito do devedor, o qual poderá indicar a qual das partes oferece o pagamento, desde que líquidas e vencidas. Pois assim preceitua o art. 352 do Código Civil: A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. b) Imputação subjetiva ativa (feito pelo credor) Nas situações em que o devedor, podendo, não exercer seu direito, o credor, de forma subsidiária, assume essa prerrogativa, podendo, no ato de quitação imputar o pagamento. Conforme o art. 353 do CC/02: Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provado haver ele cometido violência ou dolo. c) Imputação subjetiva convencional (feito pelo devedor e credor) Feito o documento de quitação, se nele não contiver a imputação do que foi pago, poderá as partes realizar acordo para, em conjunto, decidirem o que foi pago. 2. Imputação objetiva ou legal É a prevista na lei para os casos em que o devedor não realizar a indicação e a quitação for omissa quanto à imputação. Segundo o art. 354 do CC/02: Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Perceba-se que caberia, ainda, às partes, a possibilidade de estabelecer previamente que, na hipótese de imputação legal, esta recairia primeiro no principal e depois nos juros. Mais a frente, o art. 355 do CC/02 complementa tal situação ao dispor que “se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa”. (FIGUEIREDO. 2011, p. 197). Desse modo, é de concluir que, não havendo imputação do devedor ou do credor, a imputação legal dar-se-á da seguinte maneira: - Primeiro os juros, depois o capital; - Na dívida vencida, de preferência a não vencida; - Na dívida líquida, em concorrência com a ilíquida; - Sendo todas líquidas, na mais onerosa; - Em igualdade de ônus, na mais antiga; - Na dívida em nome único, do próprio devedor, em concorrência com a dívida em que ele é codevedor solidário; - Nas comerciais, em relação às civis. 3. Imputação jurisprudencial Por fim, a última regra se aplica quando não for possível a imputação pelas partes. Ou seja, para os casos em que o pagamento se tornar objeto de litígio. Desse modo, não havendo imputação subjetiva e não sendo possível a imputação legal, o valor entregue pelo devedor será igualmente dividido entre as dívidas existentes e imputado para pagar. Denomina-se imputação jurisprudencial, pois estava prevista na primeira parte do Código Comercial(revogado pelo Código Civil), mas continuou a ser aplicada pela jurisprudência. Uma análise da imputação do pagamento em face do Código Civil e da jurisprudência Resumo: A imputação do pagamento consiste numa importante forma de adimplemento das obrigações que pode ensejar poucas controvérsias, principalmente, quando se entende a classificação das suas situações. Palavras-chave: Obrigações; pagamento; crédito; direito. Sumário. 1. Uma comparação dos conceitos legais. 2. A interpretação pelo Poder Judiciário. 1. Uma comparação dos conceitos legais. Tendo em vista a vigência do atual Código Civil brasileiro, de 1º de janeiro de 2003, dentre o estudo de diversos assuntos obrigacionais, figura a imputação do pagamento como um de grande importância para as relações entre credor e devedor. Assim, importante a verificação comparativa da atual situação da imputação do pagamento e da antiga disposta pelo revogado Código Civil. Segue o anterior texto normativo: “Art. 991. A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Sem consentimento do credor, não se fará imputação do pagamento na dívida ilíquida, ou não vencida. Art. 992. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência, ou dolo. Art. 993. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e, depois, no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Art. 994. Se o devedor não fizer a indicação do art. 991, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.” E, por conseguinte, apesar da diversa localização e numeração dos artigos e, em face da nova sistemática de codificação, o conteúdo normativo deste instituto obrigacional não sofreu relevante alteração. Verifica-se que a imputação do pagamento situa-se no Capítulo IV, do Título III, que trata do adimplemento e extinção das obrigações, adiante a nova regulamentação proposta pelo Novo Código Civil: “Art. 352. A pessoa obrigada, por 2 (dois) ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação dos art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-ána mais onerosa.” A imputação do pagamento incide sobre a constituição de vários débitos entre um mesmo devedor e um mesmo credor; por exemplo: “A” deve a “B” dinheiro por empréstimo, “A” deve a “B” alugueres de um imóvel e “A” deve a “B” quantia referente à compra de um carro. Esta situação entre o credor “B” e o devedor “A”, que envolve distintos negócios jurídicos, comporta três obrigações, estando todas elas vencidas e sendo líquidas e não tendo “A” dinheiro disponível para saldar todas, mas, desejando adimplir parcialmente, paga a “B” uma determinada quantia. Exatamente, a imputação consiste em indicar qual das dívidas será considerada quitada, possibilitando determinar a seqüência das parciais quitações, até que esteja satisfeito integralmente o credor. 2. A interpretação pelo Poder Judiciário. A extinção da obrigação pela imputação do pagamento ocorre na existência de várias obrigações líquidas e vencidas, não sendo o pagamento suficiente para extingui-las, o devedor (art. 991 CC/revogado e art. 352 do Novo Código), ou o credor (art. 992 CC/revogado e art. 353 do Novo Código), ou por ordem de vencimento ou de valor (art. 994 CC/revogado e art. 355 do Novo Código), fica determinado qual obrigação o pagamento extinguirá. E, se alguma das dívidas for de juros e não houver pacto em contrário, esta será imputada em primeiro lugar (art. 993 CC/revogado e art. 354 do Novo Código). 205000 - EMBARGOS À EXECUÇÃO - JUROS DE MORA - ATUALIZAÇÃO DE PRECATÓRIO - Incidem juros de mora enquanto não pago integralmente o valor do principal, devendo-se observar, em relação ao pagamento por conta, a regra de imputação prevista no art. 993 do Código Civil. (TRF 4ª R - AC 96.04.64224-3 - RS - 2ª T. - Rel. Juiz Teori Albino Zavascki - DJU 16.04.97) 700581 - LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA - CÁLCULO DE ATUALIZAÇÃO - PAGAMENTO POR CONTA - MODO DE IMPUTAÇÃO - INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS E COMPENSATÓRIOS ATÉ A DATA DO EFETIVO PAGAMENTO DO CAPITAL - PROIBIÇÃO DE ANATOCISMO - CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS - O cálculo de atualização de débito fixado em liquidação de sentença deve observar as seguintes premissas necessárias: a) a atualização do cálculo não pode impor modificação dos critérios adotados pela sentença que, homologando a respectiva conta, decidiu a ação de liquidação de sentença originalmente, eis que sobre tal matéria há a eficácia do trânsito em julgado; b) conseqüentemente, na atualização da conta o campo de cognição sobre indexadores limita-se aos indexadores a serem adotados para a correção monetária relativa ao período de tempo não incluído na conta original; c) quanto a juros, a atualização da conta deve ter presente que, por força da sentença proferida na ação de conhecimento, os juros moratórios e compensatórios têm como termo final de incidência a data do pagamento da prestação devida; porém, não está autorizado o cômputo de juros sobre juros (anatocismo); e d) o pagamento por conta está sujeito à regra de imputação prevista no artigo 993 do Código Civil, ou seja, havendo capital e juros, imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e, depois, no capital. (TRF 4ª R - AI 93.04.02056-5-PR - 5ª T - Rel. Juiz Teori A. Zavascki - DJU 20.03.96) A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos, da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos, sem prejuízo do direito que assiste ao credor de exigir, pelos meios apropriados, a prestação sobre a qual não recaiu a imputação. Por outro lado, é direito do devedor fazer imputações de pagamento e obter a respectiva quitação, sem prejuízo, naturalmente, do direito que assiste ao credor de exigir do devedor, pela via apropriada, o pagamento da divida sobre a qual não recaiu a imputação. Existem dois problemas sérios: a segunda parte do art. 991 CC/revogado dispunha que “sem consentimento do credor, não se fará imputação do pagamento na dívida ilíquida, ou não vencida”, foi suprimida pelo art. 352 do Novo Código Civil, tal supressão, a princípio, indica que não mais será possível à imputação do pagamento em dívida ilíquida ou não vencida. A outra questão é saber se prevalecem opiniões sobre a interpretação da expressão do Código, “a um só credor”, que incluem os credores solidários de diversos débitos se forem os mesmos. Ora, em relação ao primeiro problema, se um devedor de várias prestações não vencidas ou ilíquidas que pretender oferecer em pagamento uma determinada quantia ao credor, não havendo outra dívida vencida ou líquida, não se poderá mais falar em imputação do pagamento, restando à relação jurídica dependente do termo de vencimento ou da liquidez da dívida? A resposta parece ser definitiva no sentido de que a autonomia da vontade tanto do credor quanto do devedor não pode ultrapassar os limites estabelecidos na lei, nesse sentido, a supressão legal referida não impede que haja dação em pagamento, novação, ou, até mesmo o pagamento do art. 304 do Novo Código Civil –art. 930, caput, CC revogado -, no entanto, a imputação do pagamento somente será utilizada em hipótese de dívida líquida e vencida, conforme art. 352 do Novo Código Civil, não comportando mais a autonomia da vontade do credor em aceitar a imputação do pagamento sobre dívidas não vencidas ou ilíquidas. Sobre a segunda questão, não parece que seja correto admitirem-se os preceitos dos arts. 896 a 903 do antigo CC, que foram revogados, à imputação do pagamento. Dessa maneira pronuncia-se a doutrina. Como não há referência expressa das normas da imputação do pagamento à solidariedade, esta que não se presume, apenas e, se a reconhecendo pela lei ou pela vontade se pode admiti-la, ademais, se pelo contrato são solidários os credores e os devedores, isto pouco importa, então, para a sistemática da imputação do pagamento, tendo em vista que a norma do art. 991 CC/revogado e do correspondente art. 352 do Novo Código Civil, menciona “a pessoa obrigada” e “um só credor”, ficando nítida a intenção de se estabelecer uma limitação da imputação do pagamento a relação jurídica decorrente de dois ou mais débitos entre o devedor e o credor, não podendo ser entendido como “um só credor” o conjunto de credores solidários, bem como acontecendo o mesmo com “a pessoa obrigada”. Finalizando, a imputação do pagamento consiste numa importante forma de adimplemento das obrigações que pode ensejar poucas controvérsias, principalmente, quando se entende a classificação das situações aqui explanadas em três espécies, a imputação do devedor (art. 352 do Novo Código Civil), a imputação do credor (art. 353 do Novo Código Civil) e a imputação legal (arts. 354 e 355 do Novo Código Civil). Imputação do pagamento Imputar significa atribuir algo a alguém. Para o direito obrigacional, a imputação do pagamento consiste na atribuição ou indicação da dívida a ser paga na sua totalidade. Isto ocorre quando uma pessoa deve duas ou mais contas da mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento não suficiente para saldar todas as dívidas. Para Maria Helena Diniz (2004:273), a imputação do pagamento é operação pela qual o devedor de dois ou mais débitos da mesma natureza a um só credor, o próprio credor em seu lugar ou a lei indicam qual deles o pagamento extinguirá, por ser este insuficiente para solver a todos. Como exemplo, admitamos que alguém é devedor de várias importâncias em dinheiro ao mesmo credor, nos valores, respectivamente, de R$200.000,00, R$300.000,00 e R$500.000,00, e o devedor remete R$200.000,00 ao credor, a imputação poderá ser feita em qualquer delas, se este concordar com o recebimento parcelado da segunda ou da terceira. Caso contrário, será considerada integralmente quitada a primeira dívida. Originariamente a atribuição do débito a ser quitado pertence ao devedor. Legalmente estabelece o Código Civil que a pessoa obrigada, por 2 (dois) ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos (CC, art.352). A imputação pressupõe a identidade de credor e de devedor e a existência de dois ou mais débitos, exceto quando a dívida única vence juros. Neste caso, imputa-se o pagamento primeiro nos juros vencidos e, depois, no capital (CC, art. 354). Exige, também, que as dívidas sejam da mesma natureza. Se uma delas for de dinheiro, e a outra consistir na entrega de algum bem, havendo o pagamento de certa quantia não haverá necessidade de imputação do pagamento. Determina o Código Civil que havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital(CC, art. 354.). Destaque-se que a imputação não se aplica a qualquer dívida. Devem ser necessariamente líquidas e vencidas. Como, entretanto, em geral o prazo para pagamento é estipulado em favor do devedor (CC, art. 133), poderá este imputar o pagamento em divida não vencida, se houver o consentimento do credor. Pelo Código Civil, nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes(CC, art. 133.). Considerando que o credor não podendo ser obrigado a fracionar o recebimento, é indispensável que a importância entregue ao credor a título de pagamento seja suficiente para extinguir ao menos uma das diversas dívidas. Isto está previsto na legislação civil quando estabelece que ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou(CC, art. 314.). No que se refere as modalidades, existem três espécies de imputação de pagamento: do devedor, do credor e a imputação legal. A imputação por vontade ou indicação do devedor é assegurada a este no art. 352 já mencionado, pelo qual a pessoa obrigada tem o direito de escolher qual débito deseja saldar. Ensina Carlos Roberto Gonçalves sobre as Limitações do direito de imputação do devedor: a) O devedor não pode imputar pagamento em dívida ainda não vencida se o prazo se estabeleceu a benefício do credor (CC, art. 133). Como, em geral, é convencionado em favor do devedor, pode este, em princípio, renunciá-lo. Mas a imputação em dívida não vencida não se farão sem consentimento do credor (art. 352, in fine); b) O devedor não pode, também, imputar o pagamento em dívida cujo montante seja superior ao valor ofertado, salvo acordo entre as partes, pois pagamento parcelado do débito só é permitido quando convencionado (CC, art. 314); c) O devedor não pode, ainda, pretender que o pagamento seja imputado no capital, quando há juros vencidos, “salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital” (CC, art. 354). A imputação por indicação do credor ocorre quando o devedor não declara qual das dívidas quer pagar. O direito é exercido na própria quitação. Assim pelo Código Civil no tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo (CC, art. 353). Já a imputação por determinação legal ocorre se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto imputação. Pelo Código se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa (CC, art. 355). Observe-se que o credor que não fez a imputação no momento de fornecer a quitação não poderá fazê-lo posteriormente, verificando-se, então, a imputação legal. Os critérios desta são os seguintes: a) havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos (CC, art. 354); b) entre dívidas, vencidas e não vencidas, a imputação far-se-á nas primeiras; c) se algumas forem líquidas e outras ilíquidas, a preferência recairá sobre as primeiras, segundo a ordem de vencimento (CC, art. 355); d) se todas forem líquidas e vencidas ao mesmo tempo, considerar-se-á paga a mais onerosa, conforme estatui o mesmo dispositivo legal. Mais onerosa é, por exemplo, a que rende juros, comparativamente à que não os produz; a cujos juros são mais elevados, em relação de juros módicos; a sobre a qual pesa algum gravame, como hipoteca ou outro direito real, relativamente à que não contém tais ônus; a que pode ser cobrada pelo rito executivo, comparada à que enseja somente ação ordinária; a garantida por cláusula penal, em relação que não prevê nenhuma sanção etc. Não prevê o Código Civil nenhuma solução para a hipótese de todas as dívidas serem líquidas vencidas ao mesmo tempo e igualmente onerosas. Não tem a jurisprudência, nestes casos, determinado a imputação na mais antiga, como pretendem alguns, mas aplicado, por analogia, a regra do art. 433, inciso IV, do Código Comercial, pelo qual, “sendo as dividas da mesma data e de igual natureza, entende-se feito o pagamento por conta de todas em devida proporção”.