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A Batalha das Ardenas
 
As Operações Astor e Grifon
	
Operações Astor e Grifon
O cerco de Bastogne
 
 
Duas operações, mais espetaculares do que realmente eficazes, acompanharam a ofensiva alemã nas Ardenas. A primeira foi a operação Astor, empresa temerária de que participaram, pela última vez na guerra da Europa, os pára-quedistas. Paradoxalmente, os efetivos que haviam dado à Alemanha grandes triunfos, em vitórias grandiosas, desta vez seriam literalmente varridos pelos combatentes aliados. Com efeito, os homens do exército aéreo seriam levados a um sacrifício inútil.
 
Para o comando da operação Astor foi escolhido o Tenente-Coronel von der Heydte. Da mesma forma que James Gavin, o legendário comandante dos pára-quedistas americanos, Heydte tinha trinta e sete anos e era um homem que se distinguia pela extraordinária coragem. Até novembro de 1944, von der Heydte estivera em serviço num corpo especial onde os aspirantes a pára-quedistas recebiam instruções. Este efetivo, por conseguinte, apesar da denominação de pára-quedistas, era formado por jovens soldados que conheciam apenas os rudimentos dos segredos da arma.
 
E foi nessas condições, a 8 de dezembro, quando seus homens acabavam de iniciar-se no aprendizado de suas futuras atividades, que foi decidida a operação Astor. Von der Heydte, na ocasião, chamado à presença do General Student, seu superior imediato, foi informado da missão com as seguintes palavras: "O Führer resolveu lançar uma grande contra-ofensiva em que o emprego de pára-quedistas será muito importante. Você vai ter de reunir a unidade e comandá-la." Assim, inesperadamente, von der Heydte se viu ante a difícil missão de converter seus bisonhos aspirantes em veteranos. E, sem vacilar, imediatamente se entregou à tarefa. Contava com um total de 1.200 homens, dos quais apenas 300 haviam atuado na frente e se podiam considerar veteranos. Os demais nunca tinham sido atirados num campo de batalha e seu batismo de fogo coincidiria com o primeiro lançamento.
 
A 13 de dezembro, von der Heydte avistou-se com o comandante das Forças Aéreas do Leste e, apesar de suas declarações a respeito do pouco experiência de seus homens e da inoportunidade de sua intervenção na operação, a ordem foi mantida rigidamente. Von der Heydte se dirigiu então ao Quartel-General de Model, aí chegando a 14 de dezembro. No local, o General Krebs, chefe do Estado-Maior, disse-lhe textualmente: "A operação foi marcada para depois de amanhã, 16 de dezembro. Os pára-quedistas vão receber a missão de abrir caminho para o 6o Exército Blindado, e proteger a marcha do grupo." A resposta de von der Heydte não se fez esperar: "Não temos meios suficientes e a preparação de nossos homens é nula..." Como única resposta, Krebs encolheu os ombros e, sem palavras, conduziu Heydte à presença de Model. Este disse laconicamente ao chefe pára-quedista: "Qual a probabilidade de êxito?" "Dez por cento", respondeu Heydte. "Bem, a operação se fará; outras missões com menos chance foram cumpridas..."
 
No dia seguinte, 15 de dezembro, von der Heydte reuniu seus 1.200 homens. Depois disso, toda a unidade se manteve alerta, aguardando as viaturas que a levariam aos aeródromos, onde embarcaria nos 120 Junkers destinados ao transporte dos combatentes até a zona de lançamento. As viaturas chegaram, finalmente, mas a unidade não pôde instalar-se totalmente nelas porque o combustível era pouco. Por fim, às 10 da noite, apenas quatrocentos homens estavam em condições de serem transportados. Em conseqüência, a operação foi adiada. No dia seguinte, 16, ò noite, com a chegada do combustível necessário, todos os caminhões se puseram em marcha e os 1.200 homens foram conduzidos ao local em que os aviões de transporte aguardavam. A operação Astor estava em andamento.
 
Os Junkers começaram a deslizar pelas pistas, conduzindo os primeiros grupos. Nesse ínterim, os pára-quedistas que, ainda permaneciam em terra, entoaram sua velha canção: "Quando a Alemanha está em perigo, devemos lutar e vencer ou morrer..." Efetivamente, muitos seriam os que não iam regressar daquela operação. Von der Heydte, conforme a tradição, havia embarcado no primeiro Junker. E, quando chegasse o momento, seria também o primeiro a saltar.
 
Por fim, ao amanhecer de 17 de dezembro, uma frase se ouviu em todos os aviões da esquadrilha: "Prontos para o lançamento". Minutos após, a portinhola do avião-guia se abriu e uma figura se recortou contra o vão. Era o Coronel von der Heydte, que, depois de acomodar o braço direito, imobilizado pelo gesso que o envolvia, devido a recente fratura de base, se atirou no espaço sem vacilar. Atrás, em rápida sucessão, os pára-quedistas dos demais aviões o imitaram.
 
O pára-quedas de Heydte, um modelo novo, na ocasião se revelou pior do que se esperava; oscilando e impedindo que Heydte o controlasse, foi arrastado pelo vento, provocando, finalmente, o brusco choque do pára-quedista contra o solo. Heydte permaneceu imóvel alguns instantes e logo ergueu o cabeça. No alto, os aviões haviam mudado a direção e se afastavam rumo a leste. Na meia penumbra do amanhecer, os pára-quedas de seus homens flutuavam no alto, dispersando-se perigosamente. Quando Heydte conseguiu livrar-se do arnês do pára-quedas, os motores mal se ouviam, ressoando violentamente, em troca, o crepitar das baterias antiaéreas americanas.
 
Heydte estava só. Depois de orientar-se, dirigiu-se ao lugar marcado para reunião com seus homens. Era a encruzilhada de Belle-Croix. Quando chegou, era o único. Heydte continuava só. Pouco depois, algumas sombras começaram a aproximar-se. Minutos mais tarde, cerca de vinte homens se encontravam ao seu lado, rodeando-o. Vinte, de mil e duzentos que tinham sido lançados no espaço.
 
O que teria ocorrido? Muito mais tarde, após o fim da guerra, o Coronel von der Heydte soube o que tinha acontecido. Dos cento e seis pilotos, apenas trinta e cinco tinham-se situado de maneira correta para o lançamento. Os demais haviam procedido a "semear", praticamente, seus homens por uma vasta extensão; muitos deles, inclusive, haviam caído atrás das linhas alemães, outros sofreram fraturas em braços ou pernas, por inexperiência; em suma, a maioria havia perdido as armas e errado o caminho. Finalizando, a operação não poderia ter sido um fracasso maior nessa primeira fase. Entretanto, a dispersão deveria ser atribuída a condições atmosféricas e não à negligência dos pilotos. Efetivamente, o vento que reinava na zona de lançamento tinha o dobro da intensidade prevista pelos serviços meteorológicos. O detalhe vital, era ignorado pelos aviadores alemães.
 
Von der Heydte, acompanhado de seus vinte homens, iniciou a ação ocultando-se à espera da chegada de mais pára-quedistas. Nessas condições, e achando-se escondido numa valeta ao lado da estrada, viu passar diante dele uma coluna motorizada dos americanos. Nos caminhões, os soldados dormiam ou descansavam, apoiados nos taipais. Era o efetivo da 7a Divisão americana que vinha de Eupen e se dirigia a Malmedy e St. Vith. Ocultos no fosso, os alemães observavam-nos passar, em silêncio. Atacar significava destruir algum tanque, alguns caminhões, e eliminar um pequeno grupo de soldados inimigos. Como resultado, seriam destruídos pelo restante do efetivo blindado americano. Heydte resolveu deixá-los passar.
 
Já era dia alto, quando Heydte e seus homens encontraram outro grupo de pára-quedistas, que se aproximava do lugar de reunião. Eram aproximadamente por volta de cem homens, que, todavia, reforçaram o minúsculo contingente do coronel alemão. Os recém-chegados, da mesma forma que os homens de Heydte, se encontravam sem armas e munições. Após uma extenuante busca, encontraram umas cinco ou seis caixas; em uma delas, providencialmente, havia um receptor e um transmissor. Depois das primeiras efusões de alegria pelo achado, um silêncio sombrio se abateu sobre eles. O aparelho estava inutilizado pela queda e não adiantava tentarconsertá-lo.
 
Por fim, Heydte e seus homens se viram de posse de um pequeno morteiro, sem a correspondente munição, uma metralhadora pesada, granadas de mão e algumas armas brancas. A totalidade do grupo estava reduzida a um décimo do número inicial, e sua capacidade de fogo era absolutamente insatisfatória para se tentar qualquer empresa de importância. Contudo, Heydte resolveu agir, na medida do possível. Sua primeiro empresa foi atacar uma patrulha americana, que se aproximou deles tripulando um carro blindado. Em seguida, em coluna, se internaram no zona de bosques circunvizinha.
 
Um pouco mais tarde, uma coluna se distinguiu ao longe. Após as primeiras medidos de precaução, Heydte verificou com alegria que se tratava de alguns de seus homens. Eram, com efeito, cento e cinqüenta pára-quedistas, sob as ordens de um correspondente de guerra alemão, que tinha a patente de tenente da reserva. O correspondente, na situação crítica, não havia hesitado em tomar a cargo o grupo, comandando-o. Seu nome era von Kayser.
 
O grupo, em número de duzentos e setenta homens, passou o dia internado nos bosques, enviando patrulhas de assalto. Estas, afinal, regressaram trazendo cerca de doze soldados americanos, que haviam sido capturados longe de suas unidades. Von der Heydte, em situação crítica e ciente da impossibilidade de reter prisioneiros, decidiu libertá-los, devolvendo-os às suas linhas; também enviou com eles, como prisioneiros voluntários, vários homens seus que estavam feridos ou tinham fraturas que não era possível tratar com os poucos recursos de que dispunha o grupo. Por mais de três dias, o efetivo de von der Heydte vagou pela mata cerrada, ocultando-se e evitando o choque frontal com forças muito superiores em número e potência de fogo. Ao mesmo tempo, várias patrulhas tinham sido enviadas às linhas alemãs. Todavia, nada deixava supor que tivessem chegado ao seu destino. O grupo parecia destinado a perecer em massa ou entregar-se ao inimigo. As rações individuais haviam sido consumidas. As munições escasseavam. Não dispunham de medicamentos, nem reservas de espécie alguma. Por conseguinte, os alemães evitavam encontrar o inimigo e só em situações de emergência declaradas trocavam alguns disparos com patrulhas americanas isoladas, que não era possível evitar.
 
Ao terceiro dia de espera, Heydte compreendeu que estavam perdidos. Os homens encontravam-se debilitados pelo frio e pela fome. Não tinham munições e medicamentos. As informações que conseguiam reunir não podiam ser remetidas ao Comando Alemão, por falta de meios adequados. Para que prolongar uma situação que os levaria, mais cedo ou mais tarde, ao aniquilamento total? Heydte, então, decidiu tentar a única saída possível: romper o bloqueio inimigo e passar para as linhas alemães. Por conseguinte, a 21 de dezembro, os pára-quedistas puseram-se em marcha rumo ao leste, chefiados pelo Coronel Heydte. Após cruzar as águas quase congeladas do Helle, o efetivo alemão deparou com grupos americanos. Houve troca de tiros que não provocaram baixas no grupo. Por fim, Heydte escondeu seus homens e enviou patrulhas para explorar os arredores. Uma avaliação posterior dos acontecimentos lhe permitiria compreender claramente que o grupo jamais poderia atravessar unido as linhas americanas e chegar até aos alemães. Então, reunindo seus homens, disse-lhes: "Dispersem-se... Formem, no máximo, grupos de três... Só assim temos chance de cruzar as linhas inimigas... "
 
Sem perda de tempo, os pára-quedistas começaram a afastar-se através do bosque. Quando viu o último grupo que desaparecia na mata cerrada, Heydte, por sua vez, também se afastou, avançando alguns quilômetros para oeste, na direção de Montjoie, que ainda se encontrava em poder dos alemães. Entretanto, não chegaria ao seu destino. Pouco antes de Montjoie, foi capturado por uma patrulha americana. Heydte tinha ambos os pés gelados e um princípio de pneumonia. O informe de sua captura, levado pelo General De Guingard, chefe do Estado-Maior de Montgomery, dizia textualmente: "O comandante dos pára-quedistas foi feito prisioneiro. Forneceu um relato interessante das dificuldades que teve de enfrentar para a organização da empresa em condições impróprias e desastrosas. Tem-se a impressão de um homem muito pouco satisfeito com o papel que teve de desempenhar."
 
 
 
A Brigada Skorzeny
 
O interesse suscitado pelo fracassado operação do Coronel von der Heydte foi eclipsado em poucas horas por uma nova empresa, executada pelos homens de Otto Skorzeny. Efetivamente, estes soldados, ao intervirem na luta, vestindo uniformes americanos, monopolizaram a atenção dos correspondentes de guerra estrangeiros que acompanhavam o desenrolar dos acontecimentos.
 
Tudo começou às primeiras horas do dia 26 de outubro de 1944. Na ocasião, na sala de transmissões do Quartel-General do Grupo de Exércitos B, em Fichtenheim, o operador em serviço recebeu o seguinte comunicado: "O Führer ordenou a formação de uma unidade especial, com o efetivo de dois batalhões, para ser usada em missões especiais ou de reconhecimento, na frente ocidental." 
 
Seguiam-se instruções detalhadas, em que era previsto o recrutamento dos efetivos em todas as armas, em caráter voluntário, integrado por homens de excelente constituição física e aptos para a luta corporal, que falassem inglês, especialmente com modismos americanos. Os voluntários deveriam dirigir-se a Friedenthal, nos arredores do campo de concentração de Oranienburg, para serem submetidos a um primeiro exame de capacidade. Os homens teriam de comparecer antes de 10 de novembro. Himmler em pessoa, na qualidade de comandante-chefe das SS, controlaria as manobras, devendo fornecer ao comando da Wehrmacht um relatório pormenorizado das atividades. Parece estranho que uma operação considerada secreta tivesse a publicidade que, com efeito, recebeu. O apelo aos voluntários, detalhando condições, foi tornado público, e, logicamente, chegou ao serviço da inteligência dos Aliados. Por conseguinte, nos primeiros dias de novembro, os comandos americanos já se encontravam praticamente a par de todos os detalhes da futura operação. Deve-se destacar que, do lado alemão, o Marechal von Rundstedt, tomando conhecimento da ação em preparo, que visava essencialmente a tomada das pontes do Mosa, em Liège, por soldados alemães vestidos com uniformes americanos, solicitou repetidas vezes que lhe informassem as conseqüências que haveria em relação às leis internacionais. O velho soldado compreendia que aquela manobra ia lançar sombras na tradicional fidalguia alemã em campo de batalha. Contudo, não estava em suas mãos impedir que o Führer a concretizasse. O questionário levado na ocasião por Rundstedt a Jodl continha, entre outras, as seguintes perguntas: "Os Aliados haviam, alguma vez, usado falsos uniformes no decorrer das operações? Havia-se pensado na sorte dos soldados alemães que caíssem nas mãos dos americanos, com esses falsos uniformes? Tinha-se pensado que podiam ser fuzilados?"
 
A resposta de Jodl, enviada a Rundstedt através de Westphal, dizia concretamente: "Uma vez que o marechal pediu, examinamos novamente o problema. Neste caso não se trata de um atentado ao direito, mas de manobra de guerra... Deixemos os escrúpulos de lado. De outro parte, os recrutados são voluntários. Estão perfeitamente a par do que pode esperá-los: em caso de derrota, serão tratados pelo inimigo como livre-atiradores. Eles o aceitaram. Ninguém se recusou. Já não se pode modificar ordens, ordens imutáveis como todas as outras que estiverem relacionados com a ofensiva geral." 
 
Superada a perplexidade que a comunicação de Jodl produziu em von Rundstedt, seus oficiais tomaram a si o encargo de colaborar com o plano. Elementos capturados ao inimigo facilitaram o execução das ordens. Tratava-se de dois tanques Sherman, dez viaturas blindadas providas de metralhadoras inglesas e americanas, quinze canhões e trinta jipes. Em relação aos uniformes,como von Rundstedt se negara a retirá-los dos campos de prisioneiros onde estavam os americanos, Skorzeny teria de obtê-los por seus próprios meios.
 
O chefe alemão, apesar de saber o que aconteceria a seus homens, pelo uso de uniformes inimigos, achou um engenhoso subterfúgio para justificar esse uso. Disse que, de acordo com as leis internacionais, era condenado "o uso das próprias armas" enquanto se trouxesse um uniforme americano sobre um uniforme alemão. Antes de entrar em combate, contudo, despiriam os falsos uniformes, de maneira que, quando utilizassem suas armas, o fariam com uniforme alemão. O recurso, a uma análise fria, não passava de uma justificativa a mais, sem maior propriedade. Com efeito, quantos soldados alemães estariam em condições de desfazer-se do falso uniforme no momento de entrar em combate? Quantos materialmente poderiam fazê-lo, por exigências da luta? Quantos por se encontrarem feridos? Quantos por serem aprisionados de surpresa? Posteriormente pôde-se constatar que muitos soldados alemães nem sequer levavam o uniforme alemão debaixo do americano...
 
Em linhas gerais, os voluntários haviam sido recrutados entre as minorias estrangeiras que prestavam serviço no exército alemão, e, em especial, nas SS.
 
Contrariamente às medidos adotadas no início do recrutamento, cuja publicidade fôra considerável, logo que se reuniram os homens escolhidos, foi mantido o mais estrito sigilo. Chegou-se, inclusive, o fuzilar um voluntário que, em carta dirigida a seus familiares, descrevia pormenorizadamente o treinamento a que era submetido ele e seus companheiros. A primeira e mais importante tarefa foi a de modificar a personalidade dos soldados alemães, adaptando-os à sua nova posição de "soldados americanos". Foi assim que tiveram de aprender expressões, gestos, e ainda a mastigar com naturalidade a tradicional goma de moscar, tão difundida entre os soldados americanos. Tudo se encaminhava para a transformação daqueles SS em autênticos soldados de Brooklyn ou Bronx. Uma dezena de alemães, velhos marinheiros que haviam tripulado barcos americanos e, inclusive, vivido nos Estados Unidos, tiveram a tarefa de instruir o restante dos homens. A princípio, foi selecionado um grupo de cento e cinqüenta homens, com noções de inglês e predisposição especial para aprendê-lo em pouco tempo, o qual constituiria o eixo da tropa. Ao restante dos homens foram ensinadas certas expressões e palavras isoladas, úteis principalmente para tirá-los de situações imprevistas. Foram, inclusive, enviados a campos de prisioneiros americanos, para se adaptarem melhor ao clima e ambiente americanos.
 
A totalidade do efetivo sob as ordens de Otto Skorzeny chegava a dois mil homens, agrupados na chamada 150a Brigada Blindada.
 
Conforme os planos de Skorzeny, o efetivo seria repartido por três grupos táticos; um de infantaria e dois blindados, compreendendo um total de setenta tanques disfarçados como Sherman. A missão consistiria em infiltrar-se nos arredores de St. Vith, simulando ser uma coluna americana em retirada. Entretanto, a lentidão da ofensiva, nos primeiros momentos, impediu a intervenção inicial da brigada. Skorzeny, por isso, deu ordem de iniciar os movimentos um pouco mais tarde, nos arredores de Malmedy.
 
Toda a lenda surgida em torno da operação Grifon (assim foi chamada), na prática podia circunscreve-se à atividade de uma única companhia, a que se achava sob o comando do Capitão Stielau.
 
A companhia Stielau constava de oitenta homens, entre os quais se encontravam os que falavam inglês com maior fluência. Estava equipada com os melhores veículos americanos disponíveis e se achava dividida em dois grupos, sendo que um deles utilizava oito jipes, e o outro seis camionetas. Além do armamento individual, os integrantes da companhia levavam uma cápsula de ácido prússico, para suicídio em caso de captura.
 
Entre 6 e 12 de dezembro, os membros da brigada abandonaram seus acampamentos, dirigindo-se para a frente oeste. A concentração geral efetuou-se na região de Münstereifel-Stadkyll, onde foram distribuídos aos combatentes alemães documentos "americanos". A companhia Stielau, por sua parte, acampou nos arredores de Colônia, à espera de ocasião favorável para atravessar a linha com as unidades de assalto, após o que se afastaria, simulando ser uma companhia pertencente à 5a Divisão Blindada americana. Aparentemente, e conforme as próprias declarações fornecidos mais tarde por Skorzeny, as atividades de seus homens eram perfeitamente conhecidas pelos comandos americanos. Contudo, os fatos não confirmam inteiramente esta assertiva. Com efeito, parece que alguns chefes americanos duvidaram das informações recebidas e não tomaram as devidos precauções. Porém, nada se pode afirmar com certeza, nem contra nem a favor, sobre o conhecimento ou desconhecimento da operação por porte dos americanos. As informações são extremamente confusas e só permitiriam esboçar conjeturas e não realidades devidamente comprovadas.
 
Em troca, confirmou-se que até ao alvorecer de 16 de dezembro de 1944, as viaturas da companhia Stielau cruzaram, sem maiores transtornos, as linhas americanas e marcharam em direção à sua retaguarda. Os falsos americanos indicavam sua passagem marcando com verniz as portas das casas, as estradas e as árvores. Para se reconhecerem entre eles, traziam o segundo botão da jaqueta desabotoado e, ao cruzarem com um companheiro desconhecido, identificavam-se batendo duas vezes com a palma da mão no capacete. Psicologicamente, a artimanha deu consideráveis resultados, embora estes não se tenham traduzido em conquistas materiais. Com efeito, nesses dias, dezenas de milhares de soldados americanos viveram sob o impacto de não poderem reconhecer em cada companheiro com que cruzassem um verdadeiro soldado americano. E o próprio General Bradley descreveu as três ocasiões em que foi detido por sentinelas americanas que o fizeram identificar-se devidamente. Comentou-se que os soldados americanos usavam como método para se certificarem de seus verdadeiros camaradas o de pedir o resultado de uma partida de futebol americano; porém, ainda foi utilizado outro método mais seguro: o de fazer pronunciar certas palavras ("wreath" entre outras) que só um americano poderia articular corretamente. Muitos alemães encontraram a morte na empresa. Dezoito deles foram fuzilados em Henry-Chapelle e em Huy. O último a ser fuzilado foi o cabo Otto Struller, que trazia uniforme de capitão americano e documentos que o credenciavam como Capitão Cecil Ayer. Outro a ser fuzilado, o tenente da marinho Gunter Schilz, vestia uniforme de cabo americano e passava por ser o cabo John Weller. Um terceiro, executado, foi o cabo motorista Horst Görlich, que envergava uniforme de tenente com documentos que o creditavam como Walter Verge.
 
Da brigada toda, em termos absolutos, apenas três grupos regressaram às suas próprias fileiras com o efetivo completo, ou, pelo menos, com poucas baixas. Um deles havia chegado até Huy; o segundo cruzara o Mosa nos arredores de Amay; e o terceiro tinha cumprido missão de patrulha na região de Vielsalm.
 
Em linhas gerais, as missões foram cumpridas. Haviam-se interrompido linhas telefônicas, instalado falsos sinais de campo minado, marcas falsas para desviar do caminho os comboios americanos que se retiravam da frente ou a ela se dirigiam, e tarefas semelhantes de camuflar e confundir. Nenhum destes atos, contudo, era suficiente para decidir o andamento das operações, para provocar uma reviravolta nos acontecimentos. Porém o ardil de vestir uniformes inimigos não tinha sido exclusividade alemã. Existiam precedentes, comprovados. E é evidente que em muitíssimas ocasiões, soldados dos mais diversos exércitos tenham trocado seus uniformes, para atacar com mais vantagem ou para fugir com maiores probabilidades de êxito. Um caso concreto e comprovado, semelhante ao da 150a Brigada de Skorzeny, deu-se ao alvorecer de 21 de dezembro de 1942, nafrente soviética, nas proximidades do Don. Na ocasião, enquanto os efetivos alemão e italiano se retiravam ante o irrespondível ataque das unidades russas, em meio ao nevoeiro e acossados por uma temperatura de mais de trinta graus abaixo de zero, os soldados italianos da Divisão Torino foram protagonistas de um episódio dramático. Eram sete da manhã. Em meio a grande confusão, o efetivo da Torino marchava em desordem num arremedo de coluna, a que se incorporavam incessantemente combatentes isolados que abandonavam seus refúgios nas margens do caminho. Logo, ante a vanguarda do grupo, a distância e perdidas entre o névoa e as sombras ainda não dissipadas, numerosas silhuetas se faziam cada vez mais visíveis. Os soldados italianos aprontaram as armas e muitos deles colaram o corpo à terra. Os poucos oficiais que marchavam com eles aguardaram alguns segundos antes de dar ordem de abrir fogo. Por fim, após breve minuto de tensão, vozes começaram a se fazer ouvir ao longe, dissipando dúvidas: "Camaraden! Niemiétskie!" (Companheiros! Somos alemães!) Efetivamente, eles conheciam aquelas palavras. Eram o pitoresca mistura de alemão e russo que muitos dos combatentes do Eixo haviam adotado. Por conseguinte, eram companheiros... E por isso os soldados italianos avançaram confiantes. E sua confiança cresceu quando, ao se aproximarem, divisaram os uniformes alemães do efetivo que se acercava.
 
Apenas algumas dezenas de metros separavam os dois grupos, quando as metralhadoras se fizeram ouvir e as fileiras de soldados italianos começaram a cair, ceifados pelo fogo dos russos que vestiam uniformes alemães...
 
O cerco de Bastogne
 
O assédio a Bastogne, na última fase da ofensivo alemã, foi uma página de heroísmo que os soldados americanos inscreveram em sua história.
 
O dia 20 de dezembro amanheceu frio e nublado, como que pressagiando as horas difíceis que se avizinhavam. O efetivo alemão, entretanto, estreitava, lento mas firmemente, o cerco da cidade. Por fim, no dia seguinte, 21, à noite, a tenaz se apertou por completo, isolando totalmente o efetivo que defendia a cidade e seus habitantes. A partir desse momento, a mesma sorte identificaria soldados americanos e civis belgas. Mac Auliffe, que se encontrava no comando de todas as tropas cercadas, nomeou logo Leon Jacquim para o cargo de burgomestre, com a missão de racionar ao máximo os alimentos existentes na cidade. Por conseguinte, os 7.500 kg de farinha que restavam na praça cercada foram divididos, a fim de serem entregues à guarnição americana e aos três mil habitantes que permaneciam no interior da cidade. Os animais que se encontravam nas granjas abandonadas foram requisitados e distribuídos, e a ração diária de pão foi fixada em duzentos gramas por pessoa.
 
Cada dia, às 18 em ponto, a artilharia alemã entrava em ação. O medo da população, contudo, crescia de minuto a minuto, devido aos rumores que afirmavam que dezenas, e talvez centenas, de soldados alemães haviam entrado na cidade vestidos com uniformes americanos a fim de envenenar as águas. Tal versão fez com que o desespero se espalhasse entre os três mil civis. As bandeiras belgas e americanas desapareceram das casas, e o desejo de fugir ameaçou converter a praça forte num reduto desorganizado e sem controle. Entretanto, a partir de 22 de dezembro, o efetivo de Patton atacou as tropas que, formando uma frente de 40 km, assediavam a cidade. Após marcha forçada, três corpos de exército se encontraram em plena batalha. O 12o, mais a leste, deveria bloquear os combatentes alemães de Luxemburgo; o 3o avançava entre Ettelbrück e o caminho de Bostogne-Arlon; ali, a 4a Divisão Blindada deveria tentar romper as linhas inimigas para entrar na cidade sitiada. Por último, o 8o Corpo deveria atacar diretamente em direção ao leste, através do setor St. Hubert-Libramont.
 
No campo alemão, os combatentes da Wehrmacht, sem munições nem apoio da Luftwaffe, deveriam resistir, contudo, até 26 de dezembro. Para ambos os contendores, entretanto, a jornada de 22 de dezembro seria a de maior tensão. No campo alemão, o General Heinz Kobott, comandante da 26a Divisão de Granadeiros alemães, se via ante a grave situação de manter o sítio à cidade com os poucos meios de que dispunha; no interior da praça forte, por sua parte, Mac Auliffe enfrentava o problema da falta de abastecimento e munições. Por fim, nesse dia, antes das 12h, o comandante alemão intimou os americanos a se renderem, manobra essa que tendia a solucionar rapidamente um estado de coisas que não poderia continuar por muito mais tempo. Portanto, compareceram perante as fileiras do 32o Regimento de Infantaria quatro parlamentares alemães, levando a bandeira branca e a seguinte mensagem: "A capitulação sem condições é a única forma de salvar do aniquilamento total as forças americanas sitiadas: estamos de acordo em conceder duas horas para a decisão; caso a proposta seja recusada, um corpo de artilharia e seis grupos de bateria pesada iniciarão a destruição de todas as suas forças. Rendam-se, quanto mais não seja por motivos humanitários, evitando o sofrimento da população civil." A resposta de Mac Auliffe, pouco ortodoxa, limitou-se a duas palavras em slang, que poderiam ser traduzidos pelo seguinte: Vão para o diabo! A conseqüência não se fez esperar. Os representantes alemães regressaram a suas fileiras levando aquela resposta desdenhosa, e do anunciado furacão de fogo não se viu mais que a débil labareda de dois ataques facilmente rechaçados pelos americanos. Nessa mesma noite, entretanto, a Luftwaffe fez sua última incursão, bombardeando indiscriminadamente a cidade.
 
A 23 de dezembro, ao clarear e desanuviar-se por completo o céu, sobre Bastogne, os aviões aliados começaram a deixar cair munições, combustíveis e víveres. A situação principiava, portanto, a sofrer uma reviravolta a favor dos americanos sitiados. No correr do dia, 140 toneladas de víveres e munições foram jogadas sobre a cidade por 241 aviões, com tal precisão que 95% da carga caíram sobre as linhas dos sitiados. A 24 de dezembro, 160 aviões largaram cem toneladas de material sobre Bastogne. As remessas continuaram até o dia 26 de dezembro.
 
Salienta-se o fato de que o General von Manteuffel havia feito saber ao General Kobott que Hitler desejava a queda de Bastogne como presente de Natal. Contudo, o Führer não teria esse gosto...
 
A 26 de dezembro, a 4a Divisão Blindada americana destroçava as linhas alemães e penetrava em Bastogne, libertando os efetivos cercados.
 
 
Anexo
 
Bombardeio pelo radar
Durante o último trimestre de 1944, as forças aéreas estratégicas agiram contra a Alemanha com potência considerável, equivalente à empregada no verão anterior. E o fato foi tanto mais notável quanto o tempo, logicamente, muito pior nos meses de outono e inverno. É bem possível mesmo que tenha sido o menos favorável que se verificou nesta parte do mundo, durante toda uma geração, se dermos crédito às lamentações dos chefes aliados. O fato de que, durante esses meses, se tivesse podido despejar sobre o inimigo muitas toneladas de explosivos explica-se principalmente pelo emprego de técnicas de bombardeio através do radar.
Uma série de experiências sobre Oxford, na Inglaterra em agosto e setembro, havia dado margem à crença de que o H2X, dispositivo no qual confiavam fundamentalmente os bombardeiros da RAF, podia ser empregado com certo grau de precisão sobre cidades, se bem que fosse muito difícil isolar alvos individuais em zonas edificadas. Os oficiais que se encontravam no teatro de operações clamavam por mais equipamentos H2X; daí, Washington tê-los enviado progressivamente, no curso de 1944, embora tenha deixado as remessas subordinadas à disponibilidade de operadores de radar treinados. A 8a Força Aérea adotou o mesmo dispositivo para dois bombardeiros de cada grupo, com a finalidade de serem utilizados como buscadores de alvos, e, no final do ano, 78% de seus grupos de bombardeiros pesados contavamcom essas unidades, A Força Aérea adotou atitude semelhante, dividindo seus grupos de bombardeio em forças Vermelhas e Azuis. Os Vermelhos tinham quatro caças de alvos por grupo, e lhes deram escoltas de caças para levar ataques a alvos importantes da Alemanha. Os Azuis bombardeavam, geralmente, apenas por simples visão e sem escoltas de caças, objetivos mais próximos às bases italianas. Também se recorreu ao uso do Gee-H, tipo evoluído dos dispostivos Gee que antes de 1944 não tinham dado muito resultado, o que permitia a um avião estabelecer a sua posição graças a emissões provenientes das estações Gee situadas em terra. Desta forma, determinada a sua posição sobre a Alemanha, o piloto podia traçar a rota até ao alvo e efetuar uma corrida sincronizada, de forma que o bombardeiro podia lançar suas bombas quando o mostrador assinalava o término da corrida. A 8a Força Aérea fizera uso extensivo do Gee-H em suas operações, e quando, em setembro de 1944, se pôde estabelecer estações Gee em terra do continente, os aparelhos pesados empregaram o método no transcorrer de vários bombardeios táticos e de algumas missões estratégicas efetuadas sobre a Alemanha Ocidental. O Comando de Bombardeio da RAF achou o Gee-H de particular eficácia em seus ataques noturnos.
O Micro-H, tipo mais refinado resultante da evolução posterior do Gee-H combinado com o H2X entrou em funcionamento em novembro de 1944. O bombardeiro era guiado até a menos de 55 km de seus alvos mediante o Gee-H, e, depois, os operadores captavam, através do H2X sinais transmitidos por estações especiais de Namur e Verdun, para ajudá-los a traçar a rota diretamente até ao alvo. Além disso, a 3a Divisão de Bombardeio monopolizou o Micro-H e seus aparelhos Liberators atacaram quase sempre com esse método os alvos da Alemanha Ocidental mais próximos das estações terrestres. 
("The Army Air Forces in World War II")
 
 
Antes de Montgomery
Do General Bradley, Comandante do 12o Grupo de Exércitos dos Estados Unidos, frente ao Reno e à linha Siegfried:
"A 26 de dezembro de 1944, a ofensiva das Ardenas, de von Rundstedt, que foi a última tentativa alemã no oeste, havia chegado ao momento decisivo: o ataque da Wehrmacht havia-se convertido num verdadeiro desastre. Por nossa parte, tinham sido necessários vários dias para rechaçar os alemães que se haviam. infiltrado a oriente, e para voltarmos às posições que ocupávamos antes da ofensiva. As conseqüências da última tentativa alemã tornaram-se claras: a maior parte das unidades alemães havia sofrido perdas catastróficas no curso da batalha. Com efeito, as divisões alemães não podiam apresentar senão formações esqueléticas. Assim, a 2a Divisão Blindada alemã, que havia começado as operações com 11.000 homens e 90 tanques, no momento não contava com mais de 1.500 combatentes e 5 veículos. Paralelamente, a 5a Divisão de Pára-Quedistas, que havia combatido em Bastogne, só existia no papel. Por conseguinte, nosso dispositivo de avanço sobre a Alemanha se pôs novamente em marcha. A partir deste momento tivemos perdas, embora menores que as sofridas até então. Com efeito, até o momento havíamos sofrido uma luta encarniçada em todos os setores da frente. Nos campos, por exemplo, as metralhadoras alemães, admiravelmente situadas e camufladas, nos haviam obrigado a pagar um tributo muito elevado. Nossos soldados, contudo, bateram-se com extraordinário valor.
"A partir da batalha das Ardenas, a campanha se desenvolveu toda exatamente segundo nossas previsões. Segundo meus conhecimentos, foi a primeira vez na História em que um comandante-chefe cumpriu seus planos com precisão matemática...
"Para nossos comandantes, aquilo foi um sonho: todos os planos traçados nos mapas se cumpriram com uma facilidade desconcertante. Freqüentemente, enviávamos por caminhos paralelos colunas de infantaria motorizada, que percorriam 30, 40 e até 50 km em um dia. A ocupação, a 8 de março, da ponte de Remagen, a única que continuava inteira em toda a extensão do Reno, foi, evidentemente, um golpe de sorte. Aproveitamos então para enviar várias divisões do 1o Exército do General Hodges até à margem ocidental. Esse efetivo não atravessou a ponte de Remagen, mas a posse dela permitiu-nos o estabelecimento de uma pequena cabeça-de-ponte que assegurou o controle da margem oposta. Então pudemos utilizar as pequenas embarcações que havíamos arrastado através de toda a França, com a esperança de nos servirmos delas na travessia do Reno. As quatro divisões americanas instaladas na cabeça-de-ponte ali se mantiveram até que, mais além, ao sul, o 3o Exército de Patton cruzou o rio.
"Patton tinha-se detido em Coblença, esperando poder atravessar o Mosela. Quando o fez, enviou uma coluna motorizada ao sul, com a missão de cercar as forças alemães que bloqueavam o 6o Grupo de Exércitos do General Devers, Quando a coluna alcançou o inimigo, este teve que bater em retirada; daí, o 6o Grupo de Exércitos, que constituía nosso flanco direito, reiniciou o avanço com grande velocidade... 
"Recebi uma chamada de Patton nessa mesma noite: "Brad, não diga nada, mas já estou do outro lado. Os alemães ainda não sabem, mas atravessei o rio. Uma divisão inteira conseguiu passar, com perdas mínimas..." No dia seguinte tornou a chamar-me: "Brad, agora peço que você anuncie que acabo de cruzar o Reno; os alemães acabam de descobri-lo. Derrubamos trinta e três aviões deles, que iam destruir as nossas cabeças-de-ponte. Quero que a notícia seja conhecida pelo mundo inteiro antes de Montgomery cruzar pelo setor norte... ".
General Patton
 
 
"Forte demais..."
O encontro dos Altos-Comandos americano e russo foi descrito pelo General Bradley nestes termos:
"Os primeiros elementos russos e americanos que entraram em contato foram combatentes que pertenciam a pequenas unidades de vanguarda. Depois, os comandantes de companhia fizeram visitas de cortesia, seguindo-lhes os chefes de batalhão. Mais tarde, coronéis e generais chegaram ao local. Finalmente, tive que me deslocar para ir ao encontro de meu colega russo. Na margem direita do Elba, um intérprete soviético nos esperava, para guiar-nos até ao posto de comando de Koniev. Na ocasião, tive oportunidade de ver o material russo, estranhando a construção de seus comboios de caminhões. Realmente, entre nós, os veículos eram todos do mesmo tipo, o que simplificava o problema de substituições. No entanto, entre os russos, uma mesma coluna compreendia caminhões americanos, ingleses e alemães, e ainda transportes a tração animal. Em uma das colunas vi um oficial que havia requisitado uma velha charrete puxada por dois cavalos e coberta de lonas, através das quais se viam as rédeas com que manejava o veículo. Lembrava os médicos do interior, na minha infância...
... A 5 de maio me dirigi ao posto de comando de Koniev. Depois de um longo espaço de tempo que passamos em seu escritório, dirigimo-nos a uma dependência vizinha, onde nos esperava imensa mesa coberta de alimentos e bebidas. O intérprete, então, apanhou uma garrafa de vodca e encheu meu copo. Em seguida, pousando-a e substituindo-a por uma de vinho branco, fez o mesmo com o copo de Koniev. Eu o fitei, interrogando-o mudamente. Explicou-me ele então que o marechal sofria de "pequenos distúrbios estomacais". Resolvi então usar idêntica desculpa, servindo-me, eu mesmo, de um pequeno copo de vinho. Os primeiros brindes foram discretos. Depois, tudo se precipitou. Os grupos de exércitos brindavam pelos grupos de exércitos, a artilharia pela artilharia, a aviação pela aviação, etc... Depois dirigimo-nos a outro local, onde se havia reunido um grupo de bailarinos, integrado por homens e mulheres que dançavam admiravelmente. Ante minhas congratulações, Koniev sorriu e disse: "São apenas combatentes do Exército Vermelho..."
"Mais tarde, quando Koniev chegou ao meu posto de comando, fiz participar da reunião Mickey Rooney e o violinista Jascha Heifetz. Tanto um como outro estiveram maravilhosos. Diante da admiração de Koniev,eu lhe disse através do intérprete: "São apenas simples soldados..."
"Koniev estava encantado, e tanto ele como seus homens aplaudiram entusiasticamente quando quatro moças dos serviços femininos e quatro jovens soldados dançaram um endiabrado 'jitterburg'.
"Um de meus oficiais perguntou então se ofereceríamos vodca. "Por que vodca?", perguntei; "entre nós, vão beber bebidas americanas". Restava resolver quais eram as bebidas nacionais. Uns propuseram dar-lhes uísque, outros, burbom, e outros, gim. Finalmente, concordamos com os martinis. Koniev, após um gole. disse: "Forte demais". Foram as únicas palavras em inglês que ouvi dele."
 
 
Operações aéreas
A 1o de janeiro a Luftwaffe começou as operações do novo ano com um ataque em grande escala contra um grupo de aeroportos aliados na Holanda e na Bélgica, e um na França. A partir de então, contudo, a média diária nunca ultrapassou 125 ou 150 incursões. As únicas exceções ocorreram a 6 de janeiro, dia em que se reforçou a ofensiva da Alsácia com, aproximadamente, 150/175 incursões, e a 16 de janeiro, quando o inimigo ofereceu decidida resistência às operações de bombardeio de caças na zona tática. Enquanto isso, o tempo reinante em janeiro impediu que os americanos usassem plenamente seu poder aéreo estratégico e tático. A 8a Força Aérea e o 29o TAC não agiram durante onze dias. Os caças do 9o TAC e os bombardeiros médios da 9a Divisão de Bombardeio não puderam mobilizar-se durante treze dias, enquanto que o 19o TAC teve seus caças paralisados, por doze. Nos demais dias cada força só pôde efetuar menos de 100 incursões. Entretanto, nos dias em que as condições meteorológicas permitiam realizar operações em grande escala, os aviões da 9a Força Aérea causaram imensos estragos na frente leste, onde as colunas alemães se reduziam paulatinamente, e na zona tática a oeste do Reno, ao mesmo tempo que os bombardeiros e caças da 8a Força Aérea infligiam seríssimos danos ao sistema de transporte ferroviário do inimigo na zona de interdição exterior.
As operações efetuadas em janeiro pouco ou nada variaram das realizadas em dezembro. O consenso geral que prevalecia nos círculos do 12o Grupo de Exércitos e da 9a Força Aérea era que o poder aéreo podia continuar trazendo sua maior contribuição para a derrota eventual do inimigo, mediante prosseguimento inexorável do mesmo programa de ação, uma vez que as operações que tão bom resultado haviam dado na tentativa de esmagamento da ofensiva hostil podiam redundar, com a mesma facilidade, no esgotamento progressivo de sua defesa. Daí, se combinou que os bombardeiros médios continuariam desenvolvendo seu programa de interdição mediante ataques persistentes contra as pontes situadas na periferia da zona interior de interdição e contra vários centros de comunicações situados nas vizinhanças imediatas da base do leste. Os ataques dos primeiros deteriam o fluxo de reforços e abastecimentos que tentasse penetrar na zona tática, enquanto a ação dos segundos interferiria seriamente no movimento de tropas e abastecimentos da zona de batalha, contribuindo assim para o desgaste gradual das posições avançadas do inimigo. Com relação à campanha de interdição de pontes, acreditava-se que a lista primitiva de encruzilhadas escolhidas, situadas a oeste do Reno, seria bastante para se conseguir os resultados desejados, menos na região a sudeste do rio Mosela, onde se considerava a adição da ponte de estrada de ferro de Simmern essencial para o êxito do plano. Outro plano, imensamente ampliado a oeste do Reno, suplementaria as operações dos bombardeiros médios a oeste desse rio Os bombardeiros pesados da 8a Força Aérea ampliariam seus ataques de modo a abarcar as quatro pontes do Reno compreendidas entre Colônia, Coblença e grande número de centros de comunicações ou praias de manobra a oeste, da mesma forma que a leste do rio. Os caças, por seu lado, prestariam ajuda próximo às operações das forças terrestres sempre que o tempo assim lhes permitisse, e continuariam atacando assiduamente as unidade.s blindadas e bloqueando todo movimento inimigo por trem e rodovia. De acordo com estes planos, os bombardeiros médios da 9a Divisão de Bombardeio prosseguiram em seu plano de isolar a zona de irrupção. As pontes ferroviárias foram objeto de atenção particular durante todo o mês; a 1° de janeiro foram atacadas as três pontes de Konz-Karthaus. que já haviam sofrido danos consideráveis em fins de dezembro. O efeito acumulativo dos danos infligidos nesse dia a duas das pontes eliminou a necessidade de voltar a atacá-las pelo resto de janeiro. Também a ponte de Bad-Münster, anteriormente danificada foi destruída no dia 2 desse mês. Contudo, em outros pontos não se obteve êxito com tanta facilidade. Até fins de janeiro se informou que o estado das pontes atacadas por bombardeiros médios era o seguinte: 1) Inutilizadas: Ahrweiler Bad-Münster, Bullay, Coblença-Lützel Konz-Karthaus (leste) Konz-Karthaus (sul), Simmern e Mayen. 2) Efeitos desconhecidos: Áhrweiler, Eller Aiser-Slautern e Nonnweiler. 3) Provavelmente inutilizadas: Euskirchen (entrancamento ocidental), Coblença-Gülz e Neuwied. 4) Em condições de serviço: Morscheid e Konz-Karthaus (oeste). 5) Bloqueadas: Euskirchen (leste) e 6) Provavelmente danificadas: Sinzig.
(The Army Air Forces in World War II)
 
 
Danos
Apesar das condições meteorológicas desfavoráveis que predominaram durante a maior parte do mês de janeiro, os caça-bombardeiros haviam infligido, em terra, danos pavorosos ao inimigo. As estatísticas relativas aos três comandos aéreos táticos somavam o seguinte: 7.706 transportes motorizados, 550 tanques e veículos blindados, 101 locomotivas, 3.094 vagões de estrada de ferro, 1.125 edifícios, 234 postos de artilharia, 10 pontes, 556 cortes de rodovias e 207 cortes de caminhos. As estatísticas referentes a alvos terrestres destruídos durante todo o período da contra-ofensiva (16 de dezembro de 1944 - 31 de janeiro de 1945) apresentadas por aviões da 9a Força Aérea e bombardeiros e caças da 8a Força Aérea, durante o transcurso das operações na zona aérea tática, alcançavam totais alucinantes: 11.378 transportes motorizados, 1.161 tanques e veículos blindados, 507 locomotivas, 6.266 vagões de estrada de ferro, 472 postos de artilharia, 974 cortes de rodovias, 421 cortes de caminhos e 36 pontes.
(The Army Air Forcee in World War II)
 
 
Bombardeio estratégico
Tal como as coisas se passaram, não foi necessário introduzir modificações revolucionárias, porque no inicio de 1945 a situação dos alemães era muito pior do que os Aliados pensavam. Na campanha contra o petróleo não havia real motivo de decepção, até mesmo quando aqueles que a criticavam podiam alegar que já se havia ultrapassado de muito o ponto originalmente determinado para o colapso, e que a Alemanha havia montado uma contra-ofensiva perigosa com a máquina bélica que se supunha carecer de combustível. Mas não se passou muito tempo antes que os alemães esgotassem as reservas de gasolina e lubrificantes, e a recuperação de suas castigadas refinarias e usinas sintéticas no decurso da batalha do bolsão não foi tão séria como parecera na época, principalmente graças à brilhante campanha realizada pela 15a Força Aérea, em fins de dezembro. Até o Comando de Bombardeio e a 8a Força Aérea se tinham afastado de suas operações táticas no ponto nevrálgico da batalha em terra, para atacar os principais centros produtores de petróleo da Alemanha Ocidental, e, a 8 de janeiro de 1945, o General Eisenhower achou conveniente retirar alguns bombardeiros da campanha terrestre, a fim de desviar o poder ofensivo deles para as usinas petrolíferas mais importantes, que já começavam a restabelecer-se dos bombardeios sofridos. Essa decisão foi do agrado da Comissão Reunida de Alvos Estratégicos, cujos membros estavam, por conta da própria reputação, fanatizados pelo petróleo, e daí planejaram renovar em grande escala uma ofensiva contra as cinco usinas sintéticas da Alemanha Central e as fábricasde benzeno do Ruhr. Poderiam ter escolhido algumas das usinas petrolíferas subterrâneas que os nazistas estavam construindo conforme o plano Geilenberg, cuja identificação seria praticável, mas já se evidenciava que o plano alemão estava muito atrasado, demonstrando que, na realidade, a longo prazo, seria inútil. A fé dos chefes da Aeronáutica aliados na campanha do petróleo logo se justificaria, também de forma tardia, mas inequívoca. Também havia motivos de sobra para se efetuar uma nova avaliação, menos apaixonada, da rede de transportes como sistema de alvos. Assim que as forças aéreas aliadas castigaram as estradas de ferro alemães por um período de quase dois meses, despejando sobre elas uma tonelagem várias vezes maior que a dirigida contra os alvos do petróleo, o inimigo havia empreendido uma ofensiva assombrosa. 
(The Army Air Forces in World War II)

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