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Doenças Oportunistas HIV Dra Camila Ribeiro Médica Infectologista – FIOCRUZ/ INI Preceptora da disciplina de Clínica Médica – Sétimo Período e Internato Neurotoxoplasmose A toxoplasmose é uma doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii (parasita intracelular ). É a infecção oportunista mais frequente no SNC em indivíduos HIV+ Em pacientes infectados pelo HIV, a sorologia para Toxoplasma gondii é positiva em 84% dos casos O parasita tem como hospedeiros definitivos felinos domésticos e selvagens e como hospedeiros intermediários quase todas as espécies de sangue quente. As vias de contaminação são a ingestão de tecidos animais contendo cistos, a infecção transplacentária e a ingestão de alimento ou água contaminados com oocistos Causa mais comum de lesões neurológicas focais com efeito de massa em paciente com HIV CD4 < 100; Neurotoxoplasmose Quadro clínico: De acordo com a topografia das lesões cerebrais Febre; Confusão mental; Sinais focais (hemiparesia, disfasia, hemiplegia e outras) Crise convulsiva Cefaléia Diagnóstico: Clínico TC de crânio com contraste: uma ou mais lesões, hipodensas, com captação anelar pelo meio de contraste e edema perilesional; RNM de crânio com Gadolíneo: se TC de crânio normal e paciente com sinais focais. Neurotoxoplasmose Diagnóstico diferencial: Linfoma do SNC; LEMP. Tratamento: Escolha: Sulfadiazina 500mg 2 cp VO 6/6h + Pirimetamina 25mg 4 cp VO (1º dia) seguido de 3 cp/dia se peso > 60kg ou 2 cp/dia se peso < 60kg + ácido folínico 15mg VO 1x/dia – duração 4 a 6 semanas; Se alérgico a sulfa: Clindamicina 600mg EV 6/6h; Outros: Bactrim 12/12h (25mg/kg de sulfametoxazol); Corticóide – Dexametasona, se houver edema cerebral difuso ou efeito de massa Manter profilaxia secundária até CD4 > 200 TARV iniciada nas duas primeiras semanas do início do tratamento da Neurotoxoplasmose Criptococose É uma infecção fúngica, predominantemente oportunista, causada por levedura encapsulada Cryptococcus neoformans. O principal mecanismo de aquisição da levedura é através da inalação de partículas do microorganismo. A levedura pode viver endossaprofiticamente em animais, principalmente aves e pombos, atuando como reservatório. O agente pode ser isolado em fezes de pombos, frutas deterioradas árvores (Eucalyptus camaldulensis), leite bovino (em casos de mastite) e mesmo em escarro de indivíduos sadios. Afeta pacientes HIV com CD4 < 200; O fungo afeta primariamente os pulmões, e posteriormente outros órgãos – como a pele. Esta última também pode ser afetada, mas raramente, por inoculação traumática (criptococose cutânea primária). Criptococose Quadro clínico: Mais comuns: febre, cefaleia intensa, rigidez de nuca, hipoacusia; Menos da metade dos casos são encontrados sinais meníngeos; Pode haver envolvimento pulmonar (infiltrado pulmonar difuso ou nodular) ou cutâneo (lesões semelhantes ao molusco contagioso); Criptococose Diagnóstico: Punção lombar: sempre realizar TC de crânio antes para afastar hipertensão intracraniana; solicitar: látex para cripto, tinta da China (Nanquim), cultura para fungo, VDRL, celularidade, bioquímica, cultura para germes habituais e micobactéria. Tratamento: Anfotericina B desoxicolato 50mg diluído em 500mL de SG 5% EV correr em 4h por pelo menos 2 semanas; Flucitosina 100mg/kg/dia; Fase de consolidação (8 semanas): fluconazol 400 a 800mg/dia. Profilaxia secundária: pacientes assintomáticos por pelo menos 6 meses e com CD4 > 200. Pneumocistose Causada pelo Pneumocystis jirovecii CD4< 200 O fungo Pneumocystis jiroveci causa uma pneumonite intra-alveolar, decorrente da ocupação dos espaços aéreos por exsudato rico em proteínas e trofozoítos. O resultado é um shunt arteriovenoso intrapulmonar, espessamento da membrana alveolar e inflamação do parênquima, com conseqüente edema e fibrose. Quadro clínico: Febre Tosse seca Dispneia progressiva Fadiga Exame físico: Taquicardia Taquipneia Ausculta pulmonar normal ou com estertores Pneumocistose O achado radiográfico mais típico de PCP é o infiltrado intersticial peri-hilar e simétrico. Lembrando que os Raio X podem ser normais em até um quarto de PCP. Pneumatoceles e pneumotórax também podem ser observados. O achado mais característico na TC de tórax é a presença de áreas com atenuação em vidro fosco. Pode ser visto também um padrão geográfico, ou em mosaico, com lóbulos secundários normais adjacentes a outros doentes. 50% dos casos com exame físico normal; dissociação clinico-radiológica Pneumocistose Diagnóstico O diagnóstico definitivo é realizado pela identificação do agente por meio das colorações de azul de toluidina, Grocott, Giemsa ou técnica de imunofluorescência a partir de espécimes respiratórios. A pesquisa direta do agente oportunista em amostras de escarro espontâneo ou induzido geralmente é pouco sensível para PCP. Amostras biológicas obtidas por broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia pulmonar transbrônquica elevam a precisão do diagnóstico etiológico. Pneumocistose Tratamento Coletar gasometria arterial PaO2 > 70 = Bactrim 6/6h por 21 dias; Alérgicos: Clindamicina 300 mg 6/6h + Primaquina (15/30mg 1x dia) por 21 dias PaO2 <70 = iniciar prednisona 40mg VO 2x dia por 5 dias Suporte ventilatório não invasivo (CPAP, do inglês, Continuous Positive Airway Pressure) ou invasivo por meio de intubação orotraqueal pode ser necessário em casos de insuficiência respiratória. A necessidade de suporte ventilatório está associada a um pior prognóstico, com mortalidade de aproximadamente 60%. Candidíase esofágica e orofaríngea Causada principalmente pelo fungo Candida albicans A candidíase bucal ou esofágica em pacientes com AIDS caracteriza-se por um quadro clínico grave, com manifestações crônicas e recidivantes que são atribuídas à diminuição da função de células “T helper”. Comum em paciente com CD4 < 200 Quadro clínico: Placas removíveis esbranquiçadas Queilite angular ou Papulas eritematosas na mucosa Dor retroesternal difusa Disfagia e/ou odinofagia Candidíase esofágica e orofaríngea Diagnóstico clínico EDA indicada para casos persistentes após tratamento Tratamento: Orofaríngea: Fluconazol 100mg/dia por 7-14 dias Tópico: Nistatina suspensão oral 5 ml 4-5x ao dia Esofageana: Fluconazol 200-400mg/dia VO 7-14 dias; EV para casos de disfagia importante Alternativa: Voriconazol; Anfotericina B CITOMEGALOVÍRUS O citomegalovírus (CMV), assim como outros vírus da família Herpes vírus, permanece em estado latente após a infecção primária. No contexto da infecção pelo HIV, o risco de reativação da doença se eleva quando o LT-CD4+ atinge níveis inferiores a 100 células/mm3 , sendo que aproximadamente 80% dos casos são observados em pacientes com LT-CD4+ inferiores a 50 células/mm3. Os principais sítios de infecção são retina e aparelho digestivo, podendo acometer também pulmões, fígado, vias biliares e sistema nervoso central. Retinite por Citomegalovírus CD4 <100 Importante causa de morbidade ocular e cegueira em pacientes HIV Quadro clínico: Dependem da localização e do grau de comprometimento retiniano Escotomas Redução da acuidade visual Perda visual súbita Diagnóstico: Clínico Fundoscopia CMV no aparelho digestivo Sítios mais comuns: esôfago e cólon Quadro clínico inespecífico e depende da topografia da lesão – dor epigástrica, disfagia, vômitos, diarreia, dor abdominal CMV no aparelho digestivo Diagnóstico: EDA ou Colonoscopia: ulceração clássica (bem delimitada, fundo limpo)da mucosa mediante biópsia identificando células com indução intranuclear (“olhos de coruja”) Tratamento: 1ª escolha: Ganciclovir 5mg/kg de 12/12h por 14-21 dias Alternativa: Foscarnet 60mg/kg de 8/8h por 14/21 dias Terapia intraocular adjuvante Manutenção: ganciclovir 5mg/kg/dia Obs: a interrupção da profilaxia secundáriadeve ser considerada com elevação do CD4 > 100 durante pelo menos 3-6 meses, em uso regular de TARV Sarcoma de Kaposi - É a neoplasia mais comum em pacientes com Aids - Etiologia: Neoplasia vascular multissistêmica associada ao herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8) Manifestações clínicas: Lesões tipo máculas, pápulas, placas ou nódulos de coloração violácia ou acastanhada, geralmente indolores. A localização das lesões é variada, porém mais comumente em membros inferiores, face, cavidade oral e região genital. Podem estar presentes o linfedema de membros inferiores e adenomegalias. Além do acometimento cutâneo pode haver envolvimento do tubo digestivo, fígado, infiltrado pulmonar e envolvimento da árvore respiratória. Outros órgãos menos freqüentemente acometidos são: coração, cérebro, rim e glândulas supra-renais. Sarcoma de Kaposi Sarcoma de Kaposi Diagnóstico: lesões cutâneas: aspecto clínico das lesões e comprovado com exame histopatológico. Para avaliação do envolvimento visceral pode ser realizada, de acordo com o órgão envolvido, radiografia de tórax, endoscopia digestiva, broncofibroscopia da árvore respiratória, biópsia de linfonodo, ultra-som ou tomografia computadorizada. Várias lesões cutâneas, tanto inflamatórias quanto neoplásicas, devem entrar no diagnóstico diferencial: púrpura, hemangiomas, angiomatose bacilar, dermatofibroma, líquen plano, pitiríase rósea, micose fungóide, nevos, melanoma maligno, linfoma cutâneo e sífilis secundária foram relatados como simuladores de SK Sarcoma de Kaposi Tratamento: A terapia anti-retroviral é um aspecto importante da terapia do sarcoma de Kaposi, estando associada à redução das lesões, diminuição da incidência e aumento na sobrevida. A terapia específica pode ser local ou sistêmica, dependendo da localização e extensão das lesões. Tratamento local: Paclitaxel (quimioterápico)/ Vimblastina intralesional / Gel de ácido retinóico / Nitrogênio líquido / Radioterapia / Doxorrubicina e daunorrubicina lipossomal / Interferon.