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9 7 8 8 5 7 3 3 5 1 3 0 9
ISBN 85-7335-130-6
HISTÓRIA NATURAL E 
CONSERVAÇÃO DA
ILHA DO MEL
Reitor
Carlos Augusto Moreira Júnior
Vice-Reitora
Maria Tarcisa Silva Bega
Diretor da Editora UFPR
Luís Gonçales Bueno de Camargo
Conselho editorial
Elias Karam Júnior
EnEida Kuchpil
José antonio GEdiEl
José carlos cifuEntEs
luís lopEs diniz filho
luiz ErnandEs KozicKi
marcus lEvy albino bEncostta
maria bEniGna m. dE olivEira
marilEnE WEinhardt
ricardo mEndEs Júnior
Wilson da silva spinosa
HISTÓRIA NATURAL E 
CONSERVAÇÃO DA
ILHA DO MEL
MÁRCIA C. M. MARQUES E
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ (ORGS.)
ALEXANDRE SALINO
CARINA KOZERA
CARLOS BRUNO REISSMANN
FERNANDO CÉSAR VIEIRA ZANELLA
LUCIANA A. PIRES
MÁRCIA C. M. MARQUES
MARIA CRISTINA SOUZA
PAULO EUGÊNIO A. M. OLIVEIRA
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ
RICARDO R. RODRIGUES
ROBERTO XAVIER DE LIMA
RODOLFO ÂNGULO
RODRIGO DE ANDRADE KERSTEN
SANDRO MENEZES SILVA
SERGIO NEREU PAGANO
SIMONE ATHAYDE
VALÉRIA DOS SANTOS MORAES
VINÍCIUS ANTONIO DE OLIVEIRA DITTRICH
© Organizadores
Márcia C. M. Marques & Ricardo Miranda de Britez
 
HISTÓRIA NATURAL E CONSERVAÇÃO DA ILHA DO MEL
Coordenação Editorial 
Marildes Rocio Artigas Santos
Projeto Gráfico e Capa 
Rachel Cristina Pavim
Revisão: Patrícia Domingues Ribas
Revisão Final: dos Organizadores
Editoração Eletrônica: Alquimia Estúdio de Arte-final
Ilustração da Capa: Fotografias de Zig Koch
Série Pesquisa, n. 110
Coordenação de Processos Técnicos. Sistema de Biblioteca. UFPR
ISBN 85-7335-131-4 
Ref. 407
Direitos desta edição reservados à 
Editora UFPR
Centro Politécnico – Jardim das Américas 
Tel./fax (41) 3361-3380 
Caixa Postal 19.029 
81531-980 – Curitiba – Paraná – Brasil 
editora@ufpr.br 
www.editora.ufpr.br
2005
 História Natural e conservação da Ilha do Mel / organizadores 
H 673 Márcia C. M. Marques e Ricardo Miranda de Britez; [colaboradores]
 Alexandre Salino...[et al.].—[Curitiba] : Editora UFPR, [2005].
 271p. : il.; grafs., tabs. (Pesquisa; n.110)
 
 
 Inclui bibliografia
 
1. Comunidades vegetais. 2. Ecologia vegetal. 3. Vegetação-
 Mel, Ilha do(PR) – Classificação. 4. Recursos naturais – Conservação.
 Mel, Ilha do(PR) – Descrições e viagens. I. Marques, Márcia C.M. 
II.Britez, Ricardo Miranda de. III. Salino, Alexandre. Série. 
 CDD 20.ed. 918.162
________________________________________________________ 
 Samira Elias Simões CRB-9 / 755 
aprEsEntação
A Ilha do Mel é certamente uma das mais belas paisagens do litoral 
paranaense. A geologia, o relevo, a proximidade do continente e o regime climático 
determinaram a ocorrência de ecossistemas diversificados e importantes dentro do 
Bioma Mata Atlântica, fato este que contribuiu para a inclusão da Ilha, juntamente 
com o litoral norte paranaense, dentro da Reserva da Bioesfera da Mata Atlântica 
estabelecida pela Unesco. Aliado a isso, a Ilha do Mel foi cenário de importantes 
fatos históricos regionais, que resultaram na construção da Fortaleza Nossa Senhora 
dos Prazeres, no século XVIII, e do Farol das Conchas no século XIX. Por todos 
estes motivos, desde o início da década de 1980 o fluxo de turistas tem aumentado 
vertiginosamente na Ilha, o que gerou pressão sobre os recursos naturais, com 
incremento de áreas ocupadas por construção de edificações, principalmente 
voltadas à indústria do turismo. 
A partir de reivindicações de profissionais ligados ao meio ambiente e da 
motivação política do governo estadual, nos anos de 1982 e 2002, respectivamente, 
foram criados a Estação Ecológica e o Parque Estadual da Ilha do Mel, instrumentos 
legais que propiciam a conservação da maior parte dos ecossistemas da Ilha. 
No entanto, sabe-se que, além de estabelecer as áreas de proteção, a efetiva 
conservação se alcança a partir do conhecimento dos processos que mantêm o 
ecossistema, para que se possa predizer as implicações da pressão proporcionada 
pelo homem sobre a biota. 
No início da década de 1980, a partir principalmente da iniciativa de 
pesquisadores e estudantes da Universidade Federal do Paraná, foram iniciadas 
várias pesquisas que procuraram avaliar os componentes físico, biológico e social 
da Ilha do Mel. Ao longo destes 20 anos, várias dissertações, teses e monografias 
foram realizadas, resultando num vasto volume de informações. A execução 
desta quantidade ímpar de pesquisas focadas em um só local foi possível devido 
ao apoio, em diferentes épocas, da própria Universidade Federal do Paraná, de 
financiadores de projetos (CNPq e Capes), mas principalmente de iniciativas 
dos próprios pesquisadores que na maior parte dos casos trabalharam de forma 
voluntária. Além do fantástico conjunto de dados gerados, de importância 
no contexto dos estudos sobre Floresta Atlântica, os trabalhos na Ilha do Mel 
permitiram a capacitação de profissionais que nos dias de hoje atuam em diferentes 
campos das ciências ambientais. 
História Natural e Conservação da Ilha do Mel disponibiliza grande 
parte destas informações técnicas, na maioria inéditas, resultando em trabalhos 
que abordam o meio físico, o meio biológico e a conservação da Ilha do Mel. 
Certamente as informações servirão de base tanto para comparações com outros 
trabalhos acadêmicos em áreas semelhantes no litoral brasileiro, quanto para 
direcionar os futuros procedimentos que possam de alguma forma garantir a 
conservação, com um turismo controlado na Ilha do Mel. 
Os organizadores
ColaboradorEs
ALEXANDRE SALINO
Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas 
Gerais, Caixa Postal 486 - 30123-970 Belo Horizonte, MG
salino@icb.ufmg.br
CARINA KOZERA
Av. Senador Salgado Filho, 4876, Uberaba - Curitiba, PR. 
kozera23@yahoo.com
CARLOS BRUNO REISSMANN
Departamento de Solos e Fitotecnia, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do 
Paraná
Rua dos Funcionários, 1540 - 80035-050 Curitiba, PR
reissman@ufpr.br
FERNANDO CÉSAR VIEIRA ZANELLA
Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Campina Grande, 
Caixa Postal 64 - 58700-970 Patos, PB 
fzanella@cstr.ufcg.edu.br
 
LUCIANA ANDRÉA PIRES
Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Estadual 
Paulista, Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
luapires@hotmail.com
MÁRCIA CRISTINA MENDES MARQUES
Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Botânica, Setor de Ciências Biológicas, 
Universidade Federal do Paraná
Caixa Postal 19031 - 81531-970 Curitiba, PR
MARIA CRISTINA DE SOUZA
Pós-Graduação em Geologia, Laboratório de Estudos Costeiros - LECOST, Departamento 
de Geologia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná
Caixa Postal 19001 - 81531-990 Curitiba, PR
cristinasouza@ufpr.br
PAULO EUGÊNIO A. M. DE OLIVEIRA
Departamento de Biociências, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Uberlândia
Caixa Postal 593 - 38400-902 Uberlândia, MG
poliveira@ufu.br
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental. 
Rua Gutemberg, 296, Batel - 80420-030 Curitiba, PR
cachoeira@spvs.org.br.
RICARDO RIBEIRO RODRIGUES
Departamento de Ciências Biológicas, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 
Universidade de São Paulo, Caixa Postal 9 - 13418-900 Piracicaba, SP, 
rrr@esalq.usp.br
ROBERTO XAVIER DE LIMA
Ministério do Meio Ambiente
SAS QD 05 lote 05 Bl “H”
3º andar sala 305 - 70070914 Brasília, DF 
roberto.lima@mma.gov.br
RODOLFO JOSÉ ANGULO
Laboratório de Estudos Costeiros LECOST, Departamentode Geologia, Setor de Ciências 
da Terra da Universidade Federal do Paraná UFPR, Jardim das Américas, Caixa Postal 
19001 - 81531-990 Curitiba, PR 
angulo@ufpr.br
RODRIGO DE ANDRADE KERSTEN
Rua José de Alencar 158 apto. 124 
80050-240 Curitiba, Paraná, Brasil
kersten@bol.com.br
SANDRO MENEZES SILVA
Fundação O Boticário de Proteção a Natureza
Rua Gonçalves Dias, 225 - 80240-340 Curitiba, PR
sandros@fundacaoboticario.com.br
SÉRGIO NEREU PAGANO
Departamento de Botânica, Universidade Estadual Paulista, 
Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
SIMONE FERREIRA DE ATHAYDE 
R. Amintas de Barros, 93 apto 502 
80060-200 Curitiba, PR
simone@socioambiental.org
VALÉRIA DOS SANTOS MORAES
Sociedade Paranaense de Ensino e Informática (SPEI)
R. Carlos de Carvalho, 256 - 80410-180, Curitiba, PR
Endereço atual: R. Simão Álvares, 137 - 05417-020, São Paulo, SP
valerias.moraes@uol.com.br
VINÍCIUS ANTONIO DE OLIVEIRA DITTRICH
Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Estadual 
Paulista, Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
vinarc@ig.com.br
sumário
Meio FísiCo
13
Caracterização geral
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
19
Geologia e Geomorfologia
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
35
Solos
Ricardo Miranda de Britez
Meio BiológiCo
49
A Vegetação da Planície Costeira
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
85
Flora pteridofítica
Alexandre Salino, Sandro Menezes Silva, Vinícius Antônio de 
Oliveira Dittrich & Ricardo Miranda de Britez
103
Floresta Ombrófila Densa Submontana: florística 
e estrutura do estrato inferior
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
125
Florística e estrutura de comunidades de epífitas 
vasculares da planície litorânea
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
145
Ciclagem de nutrientes na planície costeira
Ricardo Miranda de Britez, Luciana A. Pires, Carlos Bruno Reissmann, Sergio 
Nereu Pagano, Sandro Menezes Silva, 
Simone Ferreira de Athayde & Roberto Xavier de Lima
169
Características reprodutivas das espécies vegetais 
da planície costeira
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
189
Abelhas da Ilha do Mel: estrutura da comunidade, 
relações biogeográficas e variação sazonal
Fernando César Vieira Zanella
209
Aves 
Valéria dos Santos Moraes
Conservação
229
As unidades de conservação
Simone Ferreira de Athayde & Ricardo Miranda de Britez
249
Conhecimento Etnobotânico 
Roberto Xavier de Lima
mEio físico
13
Caracterização geral
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques 
Localização, dimensões, toponímia e jurisdição 
A Ilha do Mel localiza-se na entrada da baía de Paranaguá, centro do 
litoral do Estado do Paraná (Figura 1), estando separada do continente (Ponta 
Inácio Dias, em Pontal do Paraná) por aproximadamente 2.800 metros. Em sua 
porção oriental afronta o oceano Atlântico, onde encontram-se as Ilhas das Palmas 
e da Galheta. Ao norte encontram-se as Ilhas das Peças e Superagüi; a oeste é 
banhada pelo chamado Mar de Dentro e avizinha-se das Ilhas das Cobras, da 
Cotinga e Rasa da Cotinga (Figura 1). 
Tem o formato de um oito mal traçado, mais largo ao Norte que ao Sul, 
sendo essas duas porções unidas por um istmo atualmente bastante reduzido. O 
perímetro é de 35 quilômetros e a área total de 2894 hectares. Os pontos extremos 
são, ao norte, a Ponta do Hospital (25o 29’ S, 48o 21’ 18’’ W), a leste a Ponta do 
Morro do Farol das Conchas (25o 32’ 17’’ S, 48o 17’ 15’’ W), ao sul a Ponta do 
Morro das Encantadas (25o 34’ 32’’ S, 48o 18’ 21’’ W) e a oeste a Ponta Oeste ou 
da Coroazinha (25o 30’ S, 48o 23’ 16’’ W) (Figura 2). 
A maior parte da ilha encontra-se ao nível do mar, sendo poucas as 
regiões com elevações (Figura 2). As maiores são o Morro Bento Alves (também 
chamado Morro do Miguel ou da Nhá Pina) com 148 m, o Morro do Meio (ou 
Morro do Belo) com 101 m, Morro da Fortaleza (ou Baleia) com 82 m, o Morro 
das Encantadas (ou Morro Principal) com 70 m, o Morro do Joaquim com 62 
metros e o Morro do Farol das Conchas com 50 m (Figueiredo 1956). 
No perímetro da Ilha destacam-se as praias das Conchas (ou do Farol) e 
da Fortaleza, além da praia de Fora, a praia Grande, a praia do Miguel e a praia do 
Belo, na porção sul da Ilha. Ao norte e oeste destacam-se as localidades denominadas 
Ponta do Bicho e a Ponta do Cassual (onde encontra-se o rio com o mesmo nome). 
A região voltada para o continente, no sudoeste da Ilha, é conhecida como Saco do 
Limoeiro (Figura 2). 
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
14
A Ilha pertence ao município de Paranaguá e sua jurisdição está a cargo 
do Instituto Ambiental do Paraná, vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do 
Estado do Paraná. O acesso à Ilha é feito de barco a partir do terminal de embarque 
localizado no Balneário de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, ou da cidade de 
Paranaguá. 
Clima 
O Brasil caracteriza-se por duas áreas climáticas: a zona temperada na 
região sul e a zona tropical. O clima do litoral paranaense está na transição entre 
essas duas zonas, sendo considerado por Maack (1981) como de transição entre 
a região tropical e subtropical, incluindo-se, segundo a classificação Köppen, na 
zona climática Af. Este autor acrescentou a letra “t” para indicar essa transição. 
As cartas climáticas elaboradas pelo Iapar (1978) caracterizam o clima como 
mesotérmico, superúmido, sem estação seca e isento de geada.
O clima da região é fortemente influenciado pela corrente marítima 
quente do Brasil e pelos constantes avanços e recuos de massas polares e tropicais, 
resultando em modificações severas no clima nas diferentes estações do ano 
(Maack 1981). Os meses de maior precipitação equivalem ao período no qual 
Figura 1 - Localização da Ilha do Mel no Brasil, Estado do Paraná e no litoral.
Meio Físico – Caracterização Geral
15
existem descontinuidades entre a massa de ar tropical marítima proveniente do 
Atlântico Sul e a massa de ar polar proveniente da região polar sul da América do 
Sul. Nesse período, em que há grande interação entre essas duas massas polares, 
são freqüentes fortes chuvas diárias (Nimer 1977). 
A partir dos dados climáticos obtidos na Estação Meteorológica de 
Paranaguá-PR (25o31’S e 48o31’W, 4,4 m s.n.m., a cerca de 20 km da Ilha) para o 
período de 1948 a 1988, observa-se um padrão climático bem definido para esse 
período de 41 anos (Figura 3). A temperatura média anual foi de 21,09 oC, sendo 
a média mensal mais alta registrada em fevereiro (25,14 o C), e a mais baixa em 
julho (17,26o C). A precipitação anual média do período foi de 1959 mm, sendo 
que os meses de janeiro a março tiveram as maiores médias de pluviosidade (272 
mm a 286 mm), enquanto em julho e agosto registraram-se as menores (72 mm 
e 73 mm). Esses dados denotam um padrão sazonal, no qual os meses de verão 
Figura 2 - Contorno geral, esboço planialtimétrico, toponímia e localização das unidades de 
conservação.
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
16
(janeiro a março) apresentam as maiores temperaturas e pluviosidades. Nessa 
região, além da alta pluviosidade, a freqüência de chuvas também é bastante 
elevada, com uma média de dias de ocorrência de chuva por ano de 180 dias 
(média dos anos de 1985 a 1988), ou seja, em quase metade do ano ocorrem 
chuvas (Silva 1990). 
A umidade relativa do ar é alta, com médias acima de 80% durante o ano 
todo, sendo os valores mais altos registrados em agosto e setembro, indicando uma 
grande quantidade de vapor d’água trazido pelos ventos úmidos dos quadrantes 
S, SW e SE (dados de 41 anos, Silva 1990). Segundo Moraes (1993), as chuvas 
orográficas que ocorrem na costa brasileira associada à Floresta Atlântica são 
formadas pela grande quantidade de vapor d’água queos ventos alísios do sudeste, 
constantes na direção do oceano para o continente, trazem e que, ao encontrar a 
Serra do Mar, resultam em densos nevoeiros e precipitação.
Embora o clima para a região de Paranaguá seja superúmido, sem 
estação seca e normalmente haja excedente hídrico no solo (Silva 1990), em 
alguns anos é possível a ocorrência de invernos mais secos, com menores valores 
de precipitação, principalmente nos meses de julho e agosto, levando à ocorrência 
de deficiência hídrica. Tal fato foi verificado nos anos de 1989, 1991 e 1993 (Britez 
1994).
Figura 3 - Distribuição mensal das médias de precipitação (mm) e temperatura (ºC) para a região 
de Paranaguá no período de 1948-1988. Fonte: 7º Disme/Inmet - Paranaguá.
Fonte: Silva (1990).
Meio Físico – Caracterização Geral
17
Referências
BRITEZ, R.M. 1994. Ciclagem de nutrientes minerais em duas florestas da planície litorânea 
da Ilha do Mel. Dissertação de Mestrado em Agronomia, Universidade Federal do Paraná, 
Paranaguá. 
FIGUEIREDO, J.C. 1954. Contribuição à geografia da Ilha do Mel (Litoral do Paraná). Tese 
de Doutorado em Geografia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 
IAPAR. 1978. Cartas climáticas básicas do Paraná. Instituto Agronômico do Paraná.
MAACK, R. 1981. Geografia física do Estado do Paraná. 2. ed. José Olympio, Rio de Janeiro.
NIMER, E. Clima. In Geografia do Brasil - Região Sul (E. Nimer). IBGE, 1977.
SILVA, S.M. 1990. Composição florística e fitossociologia de um trecho de floresta de 
restinga na Ilha do Mel, município de Paranaguá, PR. Dissertação de Mestrado, Universidade 
Estadual de Campinas, Campinas
19
Geologia e Geomorfologia
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
A Ilha do Mel, localizada na desembocadura da Baía de Paranaguá, é 
formada principalmente por morros rochosos e planícies arenosas, semelhantes 
às que constituem a planície costeira paranaense.
Dentre os trabalhos que abordam aspectos da geologia e geomorfologia 
da Ilha do Mel destacam-se os trabalhos pioneiros de Bigarella (1946) e Figueiredo 
(1954), o mapeamento geológico da Comissão da Carta Geológica do Paraná 
(Rivereau et al. 1968), o trabalho de síntese sobre o litoral paranaense de Bigarella 
et al. (1978) e as contribuições de Martin et al. (1988), Angulo (1992a, b, 1999), 
Paranhos Filho et al. (1994), Angulo et al. (1996), Araújo (2001) e Giannini et 
al. (2004).
Os morros da Ilha do Mel concentram-se na parte sul da ilha e têm 
alturas variáveis que podem alcançar 148 metros, como no Morro Bento Alves 
(Figura 2 em Britez & Marques deste volume). 
Os morros são constituídos por rochas do embasamento cristalino, 
principalmente migmatitos estromáticos com paleossoma de biotita-hornblenda 
gnaisse, mica-quartzo xisto, ultrabasitos, metabasitos e anfibolitos do Complexo 
Gnáissico Migmático Costeiro do Proterozóico Inferior (Mineropar 1989). Essas 
rochas estão cortadas por enxames de diques basálticos, microdioritos, quartzo-
microdiorito e diorito pórfiro, do Juro-Cretáceo (Mineropar 1989), relacionados à 
abertura do Oceano Atlântico Sul. A erosão diferencial entre as rochas do Complexo 
Costeiro e dos diques gerou quebras nas vertentes dos morros e reentrâncias e 
grutas nos costões da ilha, tais como a Gruta de Encantadas (Figura 1).
As planícies têm relevo suave ondulado por causa da presença de cordões 
litorâneos (Figura 2) e altitudes predominantes entre 1 e 4 metros sobre o nível 
médio do mar, podendo alcançar 25 metros em locais onde ocorrem dunas eólicas.
As planícies são constituídas por sedimentos arenosos do Quaternário, 
principalmente areias finas bem selecionadas, com diversas estruturas sedimentares, 
tais como estratificação cruzada de baixo ângulo com laminação plano-paralela 
suborizontal; laminação cruzada de migração de marcas onduladas assimétricas, 
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
20
Figura 1 - Gruta de Encantadas, na parte sul da Ilha do Mel, originada por erosão diferencial entre 
migmatitos e pequeno dique basáltico, visível na parte superior da gruta.
Figura 2 - Foto aérea vertical de 1980 na qual se observam, ressaltados pela vegetação, os cordões 
litorâneos próximos ao Morro da Fortaleza na Ilha do Mel.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
21
às vezes acrescionais; estruturas de corte e preenchimento de canal e icnofósseis 
Ophiomorpha atribuídos a tubos de Callichirus major. Essas estruturas sugerem 
que a deposição desses sedimentos ocorreu em ambiente de face praial (beach 
face) (Angulo 1992a). Na base de afloramentos próximos ao Saco do Limoeiro 
foram observadas estratificações cruzadas de grande porte que foram atribuídas 
a dunas subaquosas em ambiente de delta de maré enchente (Araújo 2001).
Os sedimentos que formam a planície costeira freqüentemente 
apresentam um horizonte com diagênese precoce e coloração castanho-escura, 
conhecido popularmente como piçarra (Figura 3), que é originado principalmente 
por enriquecimento epigenético em matéria orgânica relacionado a processos 
pedogenéticos em Espodossolo (Angulo 1992b).
Completam a geologia da Ilha do Mel os ambientes de sedimentação 
atuais, tais como praias, planícies de maré, dunas frontais e deltas de maré.
Figura 3 - Falésia em sedimentos arenosos do Holoceno próxima à Ponta Oeste da Ilha do Mel. Na 
parte inferior da falésia os sedimentos apresentam enriquecimento epigenético em matéria orgânica, 
formando um horizonte conhecido popularmente como piçarra. A parte superior da falésia é formada 
por areias brancas com lâminas escuras devidas à concentração de minerais pesados.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
22
Evolução geológica e paleogeográfica
Para compreender as evoluções geológica e paleogeográfica das zonas 
costeiras durante o Quaternário, deve-se lembrar que estas foram comandadas 
pelas variações do nível do mar relacionadas aos ciclos glacial-interglacial ocorridos 
no período. Essas variações podem ser identificadas por meio de indicadores de 
paleoníveis marinhos a partir dos quais podem ser construídas curvas de variação 
do nível relativo do mar. Na costa paranaense foram encontrados diversos 
indicadores de paleoníveis marinhos que contribuíram para o conhecimento dessas 
variações (Angulo et al. 2002) (Figura 4). Especificamente na Ilha do Mel foram 
descritos indicadores espaciais de paleoníveis marinhos, tais como paleotômbolos 
erosivos, paleopilares marinhos (Figura 5), icnofósseis Ophiomorpha atribuídos a 
Callichirus major, locas de ouriço e limites de fácies sedimentares (Angulo 1993a, 
1994). Também foram descritos indicadores espaço-temporais correspondentes 
a restos de recifes formados por gastrópodes fixos da espécie Petaloconchus 
(Macrophragma) varians (Angulo 1993a).
A partir do conhecimento atual, a evolução geológica e paleogeográfica 
do litoral paranaense e especificamente da Ilha do Mel pode sintetizar-se como 
segue:
a) Durante o último interglacial, no Pleistoceno Tardio, o mar 
teria subido até alcançar uma elevação de 8 ± 2 m acima do nível atual 
aproximadamente 120.000 anos antes do presente (a.p.) (Martin et al. 1988). 
Durante esse máximo a costa paranaense apresentava configuração recortada, 
estando a Serra do Mar em contato com o mar. Em alguns locais podem ter 
existido ilhas barreiras associadas a lagunas e estuários. Nesse período, a Ilha do 
Mel estava reduzida a um pequeno arquipélago de ilhas rochosas correspondentes 
aos morros que atualmente fazem parte da ilha (Figura 6a). Entre os morros das 
Encantadas e Caraguatá, provavelmente existia um tômbolo erosivo (Figura 6a’).
b) Durante a fase regressiva subseqüente ao máximo, formaram-se 
na região extensas barreiras regressivas, que se estendiam em direção à plataforma, 
muito além de sua atual faixa de afloramento. Na atual localização da Ilha do Mel 
provavelmente existiam planíciesregressivas, semelhantes às existentes em outros 
setores da costa paranaense, que posteriormente foram erodidas.
c) Durante o período de mar baixo, correspondente ao último 
período glacial, que teve seu máximo entre 21.500 e 18.000 anos a.p. (Pirazzoli 
1996), o nível do mar esteve em torno de 130 metros abaixo do atual, 
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
23
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
0500100015002000250030003500400045005000550060006500
Idade (anos A.P.)
Pa
le
on
ív
el
 (m
)
(1) (2) (3)
Figura 4 - Paleoníveis marinhos holocênicos no litoral paranaense e na Ilha do Cardoso, no sul 
paulista, e curva de variação do nível relativo do mar a partir de tubos de vermetídeos (Angulo et al. 
2002). (1) paleonível com margem de erro inferida a partir de tubos de vermetídeos; (2) paleonível 
mínimo inferido a partir de conchas de moluscos com predominância de Anomalocardia brasiliana; 
(3) paleonível mínimo inferido a partir de indicadores compostos, principalmente estruturas associadas 
a fragmentos de madeira ou conchas.
Figura 5 - Paleopilar no Morro do Joaquim, na Ilha do Mel, formado provavelmente durante o último 
máximo transgressivo no Holoceno. Note-se a concentração de matacões no sopé da encosta, entre 2 
e 3 m acima do nível de preamar atual, atribuída ao retrabalhamento de colúvios pela ação das ondas 
durante nível relativo do mar superior ao atual (Angulo 1994).
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
24
estabelecendo-se na região uma rede de drenagem fluvial que dissecou a planície 
costeira e cujas evidências são freqüentes em diversos setores da costa paranaense 
e norte catarinense. Durante esse período a Ilha do Mel deixou de existir, tornando-
se parte de uma extensa planície que se estendia entre a Serra do Mar e a atual 
borda da plataforma continental.
d) Durante o último pós-glacial o mar subiu aceleradamente, até 
aproximadamente 6.000 anos a.p. para posteriormente ter relativa estabilização. 
O máximo da transgressão pós-glacial teria ocorrido no Holoceno, entre 5.000 
e 5.400 anos a.p., e alcançado altitude em torno de 3,5 ± 1,0 m acima do atual 
(Angulo & Souza 1999). Nesse período, teriam existido na região ilhas-barreira 
e amplos estuários (Lessa et al. 2000). Durante a ascensão do nível do mar, os 
terraços do Pleistoceno Superior foram erodidos e afogados e, durante o máximo 
da transgressão, poucos vestígios deles tinham restado. Poderiam ser do Pleistoceno 
Figura 6 - Evolução paleogeográfica da Ilha do Mel durante o Quaternário até o máximo da transgressão 
pós-glacial (modificado de Angulo 1992b, Araújo 2001). (a) Arquipélago do Mel durante o máximo da 
transgressão do Pleistoceno Tardio, ocorrido aproximadamente 120.000 anos a.p.; (b) Arquipélago do 
Mel durante o período de mar alto no Holoceno, cujo máximo ocorreu entre 5.400 e 5.000 anos a.p.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
25
Tardio, apenas, dois pequenos terraços existentes em Encantadas e o terraço 
subjacente às dunas entre os morros do Meio e do Miguel, mas as idades desses 
depósitos precisam ser confirmadas (Figura 6b’). Durante a subida do nível do 
mar provavelmente existiam na região campos de dunas transgressivas, cujos 
últimos remanescentes seriam as dunas existentes na Ilha do Mel entre os morros 
do Meio e do Miguel; contudo, datações dessas dunas seriam necessárias para 
confirmar essa hipótese (Figura 6b’). Durante o período de mar alto existia, na 
área correspondente à parte oeste da ilha, um delta de maré enchente (Figura 6b), 
cujos depósitos afloram na ilha e foram detectados em subsuperfície por meio de 
sondagens (Araújo 2001).
e) A partir do máximo da transgressão, ou talvez 1.000 anos antes, 
formaram-se na região extensas barreiras regressivas com cordões litorâneos. A 
descida do nível relativo do mar também propiciou a diminuição do tamanho 
dos estuários. Durante o período também formaram-se esporões arenosos que 
migravam para norte sob o efeito das correntes de deriva litorânea, deslocando 
as desembocaduras dos estuários na mesma direção. As barreiras regressivas 
constituem a maior parte da Ilha do Mel. Inicialmente, formou-se a parte mais 
ocidental, que progradou para norte-nordeste (Figura 7a); posteriormente, os 
cordões litorâneos migraram para nordeste, leste-nordeste e finalmente para leste, 
sendo provável que tenham ocorrido períodos de retrogradação, como evidenciam 
os truncamentos dos feixes de cordões litorâneos (Figuras 7b e 7c). À medida que os 
cordões progradavam para leste, a ilha formada pelo Morro da Fortaleza começou 
a funcionar como um anteparo, provocando a refração das ondas e a conseqüente 
inflexão dos cordões em direção ao morro, até formar um tômbolo (Figura 7c). 
A barreira, cujos depósitos foram identificados por sondagens, estendia-se para o 
sul, e foi erodida pelas ondas e correntes existentes no Saco do Limoeiro (Araújo 
2001). Posteriormente, formou-se a planície que liga as partes noroeste e sudeste 
da ilha (Figura 7d).
f) Nas últimas centenas de anos até o presente, num período em 
que o mar já apresentava nível semelhante ao atual, ocorreram processos de 
progradação, com a formação de cordões litorâneos aproximadamente paralelos 
à linha de costa atual, e de retrogradação, evidenciados pelas superfícies de 
truncamento entre os cordões (Figura 7e).
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
26
Figura 7 - Evolução paleo-geográfica das barreiras regressivas na Ilha do Mel durante o Holoceno 
(modificado de Angulo 1992b, Araújo 2001). (a) primeiro estágio; (b) segundo estágio; (c) terceiro 
estágio; (d) quarto estágio; (e) formação de cordões litorâneos nas últimas centenas de anos com nível 
do mar semelhante ao atual. 
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
27
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
28
Ambientes atuais de sedimentação
Na Ilha do Mel e área próxima podem ser reconhecidos cinco ambientes 
de sedimentação principais: praias, dunas frontais, planícies de maré, deltas de 
maré enchente e deltas de maré vazante.
Praias
As praias da Ilha do Mel são constituídas predominantemente por areia 
fina a média, com diâmetro médio entre 3,6 e 2,1 phi, bem selecionada, composta 
por quartzo e subsidiariamente biodetritos calcários e minerais pesados, tais como 
ilmenita, zircão, rutilo e turmalina (Paranhos Filho 1996, Giannini et al. 2004). 
As praias ocorrem ao longo de quase todo o perímetro da ilha, exceto onde as 
rochas do embasamento alcançam o mar e onde as ondas não possuem energia 
suficiente para remover os sedimentos finos.
A dinâmica das praias da Ilha do Mel é fortemente influenciada pela 
dinâmica das desembocaduras da Baía de Paranaguá, especificamente pelas 
correntes de maré e pelos deltas de maré que ocorrem associados. Segundo Angulo 
(1993c), as praias da ilha apresentam grande mobilidade, sendo comuns rápidos 
e intensos processos de erosão e sedimentação. Ainda não existem estudos sobre 
a morfodinâmica dessas praias.
Dunas frontais
As dunas frontais são freqüentes na Ilha do Mel. Elas são formadas pela 
acumulação de areia retirada pelo vento da praia e depositada junto à linha de 
costa com o auxílio da vegetação. Na Praia do Forte (Figura 2 do Capítulo 1.1) 
são freqüentes os campos de dunas dômicas de altura inferior a 1 metro (Figura 
8); nas praias de Fora, Grande, do Miguel e de Fora em Encantadas (Figura 2 
do Capítulo 1.1) são comuns cordões de dunas frontais que podem alcançar 2 a 
4 metros de altura (Angulo 1993b).
Planícies de maré
As planícies de maré da Ilha do Mel estão restritas à margem voltada 
para a baía, destacando-se a existente entre o morro do Miguel e o istmo. Elas 
incluem ecossistemas de manguezais, marismas e bancos não vegetados.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
29
Figura 8 - Dunas dômicas próximasao Morro do Farol das Conchas, na Ilha do Mel.
Figura 9 - Imagem Landsat-7 ETM+ de 1999, composição colorida RBG (processada no Laboratório 
da Oceanografia Costeira e Geoprocessamento do CEM/UFPR) da desembocadura do complexo 
estuarino de Paranaguá, na qual se observam bancos e zonas de arrebentação de ondas correspondentes 
aos deltas de maré vazante associados às desembocaduras.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
30
Figura 10 - Fotografia aérea vertical do Saco do Limoeiro ou Mar de Dentro, na Ilha do Mel, de 
1980, interpretado como delta de maré enchente e no qual se observam ondas de areia (sand waves) 
e dunas subaquosas (Angulo 1999).
Figura 11 - Vista aérea de ondas de areia (sand waves) durante a maré baixa, no Saco do Limoeiro, 
na Ilha do Mel. Estas dunas migram para oeste (seta) sob o efeito das correntes de maré enchente 
(Angulo 1999).
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
31
Deltas de maré 
Os bancos arenosos que existem associados às desembocaduras dos 
complexos estuarinos da costa paranaense foram caracterizados como deltas de 
maré por Angulo (1992a, 1999). Dois grandes deltas de vazante ocorrem associados 
às desembocaduras da Baía de Paranaguá (Figura 9). A mobilidade desses deltas 
é responsável por importantes processos de erosão e sedimentação nas costas 
da ilha. O Saco do Limoeiro foi caracterizado como um delta de maré enchente, 
no qual ocorrem campos de ondas de areia (sand waves) e dunas subaquosas 
(Angulo 1999) e cuja dinâmica foi estudada por Araújo (2001) (Figuras 10 e 11).
Variações da linha de costa e erosão costeira 
As costas da Ilha do Mel apresentam rápidas variações da linha de 
costa e intensos processos de erosão e sedimentação, que já foram identificados 
nos trabalhos pioneiros da década de 1950 (Figueiredo 1954). Nos anos 1950, o 
istmo da ilha tinha 152 metros de largura, medido entre as linhas de preamares 
(Figueiredo 1954). Nessa mesma área, na década de 1980, iniciou-se processo 
Figura 12 - Esporão arenoso ancorado no Morro do Farol das Conchas formado durante a década 
de 1990, simultaneamente ao processo de erosão no istmo. Anteriormente à formação do esporão, a 
linha de costa localizava-se aproximadamente junto à linha de vegetação arbórea.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
32
Figura 13 - Variação da linha de costa na Ilha do Mel (Angulo et al. 2004).
erosivo que se intensificou nos anos 1990. Em 2001 existia no istmo um trecho de 
300 metros de comprimento sem qualquer remanescente da planície do Holoceno, 
existindo comunicação entre as águas da baía e as do mar. A intensificação da 
erosão na década de 1990 foi simultânea à formação de um esporão arenoso 
ancorado na Ponta do Farol das Conchas, cuja velocidade de crescimento 
longitudinal média foi estimada em 100 m.ano-1 (Giannini et al. 2004) (Figura 
12). Em outros locais da ilha foram identificadas variações de dezenas de metros 
nas últimas décadas (Angulo et al. 2004) (Figura 13).
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
33
Referências
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35
Solos
Ricardo Miranda de Britez
Introdução
Os aspectos que definem as características do solo são principalmente 
o material de origem, a idade e o relevo (Vieira 1988). Com base nesses fatores, 
a distribuição dos diferentes tipos de solo no território paranaense obedece à 
conformação da sua estruturação geológica-fisiográfica, a qual pode ser definida 
com base em suas grandes zonas: litoral, serra do mar e planaltos interiores.Na zona do litoral são encontradas duas principais unidades fisiográficas, as 
serras e as planícies litorâneas (Maack 1981), com características bem distintas 
e conseqüentemente com solos bastante diferenciados. A Ilha do Mel apresenta 
essas duas conformações, sendo que a planície litorânea representa cerca de 93,8% 
(2714 ha) e os morros 6,3% (180 ha) da área total da ilha. 
Conforme o mapa do Levantamento de Reconhecimento dos Solos do 
Estado do Paraná, elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
(Embrapa) e pelo Serviço Nacional de Levantamentos e Conservação de Solos 
(SNLCS) (1984 e escala 1:600.000), os solos de maior expressão no litoral 
paranaense são: Latossolos Vermelho-amarelo Álicos; Podzóis; Solos Indiscrimi-
nados de Mangue; Cambissolos Álicos; Podzólicos Vermelho-amarelo Distróficos; 
Cambissolos Distróficos; Solos Hidromórficos Gleyzados Indiscriminados, e 
Afloramentos de Rocha. 
No presente capítulo são descritos os solos que ocorrem na Ilha do 
Mel, considerando-se as descrições regionais feitas pela Empresa Brasileira de 
Pesquisas Agropecuárias (Embrapa 1994) e principalmente os trabalhos de Sema 
(1996), Britez (1994), Britez et al. (1997) e Pires (2001) e algumas observações 
de campo.
Ricardo Miranda de Britez
36
Os solos da Ilha do Mel
São encontradas quatro ordens e dez subordens de solos na Ilha do Mel 
(Tabela 1), denominados segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos 
(Embrapa 1999).
Os Neossolos compreendem os solos constituídos por material mineral 
ou por material orgânico pouco espesso em conseqüência da baixa intensidade de 
atuação dos processos pedogenéticos, que não conduziram, ainda, a modificações 
expressivas do material de origem. Tal situação ocorre em virtude de diversos 
aspectos, como as características do próprio material, resistência ao intemperismo, 
composição química e relevo, os quais podem impedir ou limitar a evolução desses 
solos. Os Neossolos Litólicos são solos com horizonte A ou O hístico com menos de 
40 centímetros de espessura, em contato direto com a rocha, sobre um horizonte 
C ou Cr ou sobre material com predomínio de fragmentos de rocha com diâmetro 
maior que 2 milímetros (cascalhos, calhaus e matacões) e que apresentam um 
contato lítico dentro de 50 centímetros da superfície do solo. Admitem um horizonte 
B em início de formação cuja espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte 
B diagnóstico. Os Neossolos Quartzarênicos têm como seqüência de horizontes 
A-C, sem contato lítico dentro de 50 centímetros de profundidade. Apresentam 
textura areia ou areia franca nos horizontes até, no mínimo, a profundidade de 
150 centímetros a partir da superfície do solo ou até um contato lítico. O material é 
essencialmente quartzoso, tendo nas frações areia grossa e areia fina 95% ou mais 
Tabela 1 - Principais ordens e subordens de solos encontrados na Ilha do Mel, de acordo com a 
nomenclatura adotada por Embrapa (1999), e suas respectivas localizações. 
Meio Físico – Solos
37
de quartzo, calcedônia e opala e, praticamente, ausência de minerais primários 
alteráveis (menos resistentes ao intemperismo).
Os Cambissolos são constituídos por material mineral, e apresentam 
horizonte A ou hístico com espessura de 40 centímetros seguido de horizonte B 
incipiente. Têm seqüência de horizontes A ou hístico, Bi, C, com ou sem R. Por 
causa da heterogeneidade do material de origem, das formas de relevo e das 
condições climáticas, as características desses solos variam muito de um local 
para outro. Assim, a classe comporta desde solos fortemente até imperfeitamente 
drenados, de rasos a profundos, de cor bruna ou bruno-amarelada até vermelho 
escuro, e de alta a baixa saturação por bases e atividade química da fração 
coloidal. Cambissolos hísticos são solos com horizonte O hístico com menos de 
40 centímetros de espessura, ou menos de 60 centímetros quando 50% ou mais 
do material orgânico for constituído de ramos finos, raízes finas, casca de árvores 
e folhas, parcialmente decompostos. Já o Cambissolo Húmico apresenta horizonte 
A húmico e os Cambissolos Háplicos são os demais solos com características de 
Cambissolo que não se enquadram nas subordens anteriores.
Argissolos compreendem solos constituídos por material mineral, que têm 
como características diferenciais argila de atividade baixa e horizonte B textural 
(Bt), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o 
hístico. Parte dos solos desta classe apresenta um evidente incremento no teor de 
argila, do horizonte B para baixo do perfil. A transição entre os horizontes A e 
Bt é usualmente clara, abrupta ou gradual. São de profundidade variável, desde 
forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas e, mais 
raramente, brunadas ou acinzentadas. A textura varia de arenosa a argilosa no 
horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento 
de argila daquele para este. São forte a moderadamente ácidos, com saturação por 
bases alta ou baixa, predominantemente caulinítico. As subordens se distinguem 
principalmente em função da cor, e as principais são Argissolos Acinzentados 
(matiz mais amarelo que 5 YR e valor 5 ou maior e croma < 4 na maior parte 
dos primeiros 100 cm do horizonte B), Argissolos Amarelos (matiz mais amarelo 
que 5 YR na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B) e os Argissolos 
Vermelho-Amarelos (matiz 5 YR ou mais vermelho e mais amarelo que 2.5 YR 
na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B).
Os Espodossolos são solos constituídos por material mineral, 
apresentando horizonte B espódico, imediatamente abaixo de horizonte E ou 
A, dentro de 200 centímetros da superfície do solo, ou de 400 centímetros de 
Ricardo Miranda de Britez
38
profundidade, se a soma do horizonte A + E ultrapassa 200 centímetros de 
profundidade. Os Espodossolos são chamados de Cárbicos quando apresentam 
acúmulo, principalmente de carbono orgânico e alumínio, no horizonte B espódico, 
com presença só de horizonte Bh, e de Ferrocárbicos quando apresentam acúmulo, 
principalmente, de carbono orgânico e ferro. 
As Unidades Fisiográficas
Áreas de Morro
Nos morros, apesar da pequena elevação (entre 50 e 148 metros; ver 
Britez & Marques neste volume), em função de condições topográficas os solos 
estão sujeitos a forte ação erosiva. O relevo variando desde suave ondulado (nos 
topos) ao montanhoso e escarpado resulta em um material de origem associado 
ao complexo gnaissico-migmatítico costeiro (Mineropar 1989). 
Apesar de não terem sido realizados estudos sistematizados dos solos dos 
morros, com base em Sema/Iap (1996) foram identificadas as ordens, de Cambissolo 
e Argissolo. Nas porções mais dissecadas da paisagem de quase todos os morros 
da Ilha, observam-se afloramentos rochosos associados a Neo-solos Litólicos, onde 
o material orgânico é pouco espesso, por causa da dificuldade de fixar-se nas 
porções de alta declividade. Esses solos apresentam-se bastante heterogêneos, com 
variações na seqüência de horizontes (A/R ou A/C/R) e com o horizonte superficial 
(h A) em geral moderado. Também próximo aos costões sobre influência direta 
do mar é comum encontrar uma camada fina de solo sobre as rochas, em uma 
sucessão gradativa de rocha exposta para solos cada vez mais profundos, à medida 
que ocorre um desenvolvimento mais acentuado da vegetação.
Onde houve condições para um melhor desenvolvimento dos solos, 
surgem os Cambissolos, que podem apresentar variações quanto à fertilidade 
(álicos ou distróficos), estrutura e textura (em geral argilosa), podendo exibir 
pedregosidade (seixos subangulosos e cascalhos) ao longo do perfil. Além disso, há 
variações na permeabilidade interna e grau de hidromorfismo do solo. No morro 
do Joaquim, onde ocorre acúmulo de água, foi observada a presença significativade Cambissolo com caráter intermediário para solo Glei Pouco Húmico, ou seja, 
Cambissolo Gleico (Sema/Iap 1996). Segundo Embrapa (1984), também ocorre 
nos morros solo Podzólico Vermelho Amarelo latossólico.
Meio Físico – Solos
39
Áreas de Planície
Quase toda a área da planície é constituída por um sistema de diferentes 
tipos de Espodossolos. Ocorrem ainda, ocupando uma área bem menor, o Neo-
solo Quartzarênico e os Solos Indiscriminados de Mangue (Sema/Iap 1996).
Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem nas áreas onde a deposição de 
sedimentos é recente, em alguns pontos da costa da Ilha e sobre formações eólicas 
(terraços da parte sul). Nesses casos há uma descontinuidade entre o material que 
formou a planície costeira original e os sedimentos novos, com horizonte A fraco 
sobre horizonte C inconsolidado, podendo apresentar lentes de material máfico 
ao longo do perfil do solo. Destacam-se também áreas de marismas onde ocorrem 
Neossolos Quartzarênicos hidromórficos com caráter solódico e/ou tiomórfico, 
intermediárias para Solos de Mangue (Sema/Iap 1996).
Os Solos Indiscriminados de Mangue não são muito representativos na 
Ilha, e sua ocorrência está relacionada com a presença da vegetação dos mangues, 
que ocorrem no Saco do Limoeiro e na parte noroeste da Ilha (área da Estação 
Ecológica), na região da Ponta Oeste, Ponta do Hospital e rio Cassual (ver Britez & 
Marques e Silva & Britez neste volume). Estes estão sujeitos à influência direta do 
fluxo e refluxo das marés, localizando-se nas desembocaduras dos rios, reentrâncias 
da costa e margens de lagoas, onde as águas são mais calmas e o substrato é de 
aspecto lodoso. Os sedimentos da planície de maré são argilo-arenosos, com altos 
teores de matéria orgânica. A diminuição da corrente de água favorece a deposição 
de sedimentos finos argilosos ou argilo-siltosos, mas não exclui a possibilidade da 
presença de depósitos arenosos. Portanto, são solos de textura variável, dependente 
da natureza do substrato e com conteúdos variáveis de sais, principalmente de 
Na+, Mg++, Ca++, K+ e outros; a concentração desses sais no solo também é 
dependente da maior ou menor influência da água do mar. Nesses locais, há uma 
grande variação nas características definidoras das classes de solo, com gradações 
intermediárias entre os Solos de Mangue e Espodossolos. As principais variações 
observadas em campo são o tipo de horizonte A (moderado até hístico), caráter 
tiomórfico, textura (arenosa até siltosa, com diferenciações na granulometria da 
fração areia) e seqüência de horizontes/suborizontes subsuperficiais. Apesar de 
sua importância ecológica, as áreas transicionais para manguezais são pouco 
expressivas em termos geográficos (Sema/Iap 1996).
Os Espodossolos ocupam a maior área da ilha, com cerca de 80% da 
área total. De acordo com a Embrapa (1984), estes ocorrem no litoral do Estado 
do Paraná numa extensão de 855 quilômetros quadrados (0,43% da área do 
Ricardo Miranda de Britez
40
Estado). A sua característica mais marcante é a presença de um horizonte espódico, 
de acúmulo de material de natureza orgânica e mineral. 
Ao contrário dos demais tipos de solo, esses solos foram mais estudados 
na ilha. Figueiredo (1954) analisou cinco amostras de solo em diferentes locais 
na Ilha do Mel, caracterizou os solos como sendo originários de sedimentos 
quaternários recentes, constituídos de alto teor de areia grossa uniforme com pouco 
húmus e insignificante porcentagem de argila; em alguns locais eram providos de 
Ca e P, por causa da presença nas amostras de fragmentos de conchas. 
Silva (1990), ao analisar as características dos solos em uma área da 
planície arenosa da Ilha do Mel, identificou os solos da restinga como oligotróficos, 
com baixa CTC e poucos sítios para retenção de íons, alta potencialidade de 
lixiviação, distróficos, fortemente ácidos e, portanto, com limitações para o 
estabelecimento e desenvolvimento vegetal.
Pires (2001) descreveu um Espodossolo Cárbico Órtico Espessarênico, 
na Praia Grande, porção sul da Ilha, paralelamente à linha da praia, na vertente 
interna das dunas eólicas do primeiro cordão, e Britez et al. (1997), um Espodossolo 
Cárbico Órtico e um Espodossolo Cárbico hidromórficos na Estação Ecológica da 
Ilha do Mel. Cabe salientar que, embora não tenha havido um estudo específico 
sobre outros Espodossolos, foi observada a ocorrência de Ferrocárbicos órticos 
dúricos típicos e Ferrocárbicos hidromórficos, inclusive com a ocorrência de 
inclusões de Organossolos.
A situação típica da planície litorânea pode ser representada pelo estudo 
de Britez et al. (1997) no qual duas áreas florestais (Floresta não inundável e Floresta 
inundável, de acordo com Silva & Britez neste volume) com estruturas diferenciadas 
(Menezes-Silva 1998) localizadas ao nordeste da Ilha foram analisadas (Figura 
1). Nas áreas onde o relevo é mais elevado, a vegetação é mais baixa e o lençol 
freático é mais profundo. A profundidade do horizonte B iluvial também está 
relacionada com a faixa de oscilação do lençol freático. Ocorrem também dois 
compartimentos distintos de nutrientes, um no horizonte A1 e outro no B iluvial. 
Segundo os autores, a disponibilidade de água e de nutrientes do horizonte B deve 
influenciar na estrutura das duas florestas. Na Floresta inundável (mais alta), tanto o 
lençol freático como o horizonte B estão mais próximos da superfície, possibilitando 
que essa formação esteja menos sujeita ao estresse hídrico provocado pela falta 
de água no sistema radicial, que é superficial, além de poder aproveitar mais 
facilmente os nutrientes acumulados no horizonte B (Britez et al. 1997, Figura 1). 
Já na Floresta não inundável, nos períodos de seca o solo não tem capacidade 
Meio Físico – Solos
41
de reter a água por causa do seu caráter arenoso, e nesse sistema a absorção de 
nutrientes ocorre principalmente nos primeiros centímetros da superfície do solo, 
provavelmente influenciando na produtividade do sistema e conseqüentemente 
na estrutura da floresta (Britez 1994).
Na parte central da Ilha na Estação Ecológica, também na planície 
litorânea, em algumas regiões o lençol permanece sobre a superfície do solo boa 
parte do ano, propiciando o desenvolvimento de uma vegetação de maior porte 
(Menezes-Silva 1998). Com exceção de pequenas elevações no terreno, de onde 
estabelecem-se as árvores, nas depressões, o afloramento do lençol freático provoca 
a formação de pequenos canais de escorrimento de água, fazendo com que o 
microrrelevo da área seja bastante irregular. Nessas áreas ocorrem os Espodossolos 
Cárbicos hidromórficos. 
A descrição morfológica e a classificação de um perfil característico 
de Espodossolo da planície litorânea da Ilha do Mel são exemplificadas abaixo 
(Britez 1994). 
Ricardo Miranda de Britez
42
Os Espodossolos apresentam uma classe textural arenosa, com muito 
pouca quantidade de argila, e valores mais elevados de silte no horizonte A1, 
como pode ser observado na Tabela 1 referente ao perfil de solo descrito acima.
A textura arenosa confere-lhe boa aeração e drenagem e promove uma 
baixa capacidade de retenção de nutrientes e água; a alta pluviosidade da região 
tende a lixiviar a maior parte dos nutrientes (Britez et al. 1997).
Em relação às características químicas dos Espodossolos, exemplificadas 
na Tabela 2, os valores de pH em CaCl2 são muito baixos, variando de 3,4 a 4,2. 
Pires (2001) e Silva (1990) também encontraram a mesma faixa de valores para 
esse solo em outra porção da Ilha. A forte acidez do solo propicia o aparecimento 
de alumínio trocável, o que é comprovado pelas altas porcentagens de saturação 
em alumínio. Em contrapartida, os valores de V são menores que 20 %, indicando 
que apenas pequenas quantidades de bases trocáveis ocupam os sítios de carga 
negativa, e que a maior parte delas está sendosaturada pelo Al (Britez 1994).
A matéria orgânica é a principal responsável pela retenção de cátions 
nos solos estudados. Além do carbono, os elementos trocáveis, a soma de bases, 
a capacidade de troca catiônica, cálcio, magnésio, potássio e o fósforo apresentam 
valores mais elevados no horizonte A1. O acúmulo de matéria orgânica na 
superfície do solo origina-se da deposição da serapilheira, o que propicia que 
os horizontes superficiais acumulem uma quantidade maior de nutrientes. Hay 
& Lacerda (1980) e Hay et al. (1981) obtiveram correlações altas entre matéria 
orgânica e capacidade de troca catiônica em solos de restinga. Silva (1990), além 
da correlação da matéria orgânica e capacidade de troca catiônica em espodossolos 
na Ilha do Mel, obteve correlações significativas entre matéria orgânica e P, K, Mg 
e Ca. Também Pires (2001) correlacionou o conteúdo de Mg, S, Na, SB (soma 
de bases) e CTC (capacidade de troca catiônica) com a porcentagem de argila, 
Tabela 2 - Análise granulométrica de um perfil de Espodossolo na planície litorânea da Ilha 
do Mel (Britez 1994).
Meio Físico – Solos
43
que, no entanto, trata-se de partículas mais finas de matéria orgânica, o que foi 
detectado na análise granulométrica como argila. 
Também ocorre um acúmulo de matéria orgânica e outros nutrientes no 
horizonte B iluvial proveniente da translocação do horizonte E (Britez 1994). O 
Espodossolo caracteriza-se pela remoção do Fe do horizonte E, sendo transferido 
para a parte mais inferior do horizonte B, precipitando-se junto com o Al e o Mn 
(Vieira 1988).
Ocorrem algumas diferenças em termos de teores de alguns nutrientes no 
solo relativas à distância do mar. Comparando os solos localizados mais distantes 
do mar (Moraes 1993, Britez et al. 1997) com os valores de Pires (2001), todos os 
elementos trocáveis, principalmente Ca, K e P, foram mais elevados no horizonte 
A1 dos solos mais próximos do mar, provavelmente por causa da influência de 
aerossóis marinhos na deposição de nutrientes no solo. A relação direta entre 
diversos atributos da comunidade, inclusive nível de nutrientes no solo com a 
proximidade do mar, foi comentada por Henriques & Hay (1992).
Segundo Clayton (1972), os íons Ca e K não são transportados até 
muito distante do oceano, pelo fato de estarem em concentrações baixas na água 
do mar. O nível alto encontrado para o elemento Ca pode exercer um efeito 
positivo na retenção dos demais cátions, possibilitando uma maior capacidade 
de troca catiônica.
Embora a fertilidade do solo seja considerada muito baixa, vários 
autores que estudaram comunidades vegetacionais também estabelecidas em solos 
oligotróficos (Jordan 1985, Moraes 1993, Britez 1994) salientam que a eficiência 
na ciclagem de nutrientes compensa essa restrição para o desenvolvimento 
das plantas. Também existem diferenças específicas das plantas quanto às suas 
exigências nutricionais, capacidade de absorção de nutrientes e desenvolvimento 
radicial, e dos vários mecanismos de adaptação, tais como a tolerância ao alumínio, 
Tabela 3 - Análise química de um perfil de solo da planície litorânea da Ilha do Mel.
Ricardo Miranda de Britez
44
por mecanismos de exclusão das raízes, aumento do pH da rizosfera, excreção de 
mucilagens na zona apical do meristema de raízes e complexação do alumínio, 
eficiência na utilização dos nutrientes, principalmente P, Ca e Mg, pela associação 
com micorrizas (Marchner 1986, Britez 2001). 
Figura 1 - Desenho esquemático da localização dos perfis nas Floresta não inundável e Floresta 
inundável, de acordo com Britez et al. (1997). Os horizontes são definidos da seguinte maneira: A - 
horizonte superficial, E - horizonte eluvial, Bhs - horizonte com acúmulo de matéria orgânica e ferro, 
Bs - horizonte com acúmulo de ferro.
Meio Físico – Solos
45
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Ricardo Miranda de Britez
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mEio biolóGico
49
A Vegetação da Planície Costeira
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
Introdução
A vegetação ocorrente sobre as planícies costeiras brasileiras tem 
recebido um tratamento muito heterogêneo dos diferentes estudiosos que atuaram 
ou atuam na área. Essa heterogeneidade manifesta-se tanto nas abordagens dos 
estudos realizados como no maior ou menor esforço de investigação em uma 
área específica, muitas vezes de abrangência geográfica restrita. Encontram-se na 
literatura desde relatos genéricos sobre os seus principais aspectos fitofisionômicos 
até listagense descrições detalhadas de diferentes regiões do litoral, além de 
várias propostas de mapeamento e denominação dos seus diferentes tipos e/ou 
comunidades vegetacionais.
O objetivo deste capítulo é, com base nas descrições e relatos disponíveis 
na literatura e em um extenso trabalho de levantamento em campo, apresentar um 
proposta de classificação para a vegetação da planície costeira da Ilha do Mel, bem 
como uma descrição de cada tipo vegetacional ocorrente na área. Esta proposta 
de classificação tem a característica de poder ser adaptada para outros trechos 
de planície costeira no Brasil, pois tem uma abordagem hierarquizada e flexível.
A vegetação das planícies costeiras brasileiras
Na primeira tentativa de classificação fitogeográfica do Brasil, elaborada 
por Karl P. Von Martius em 1824, a região litorânea foi incluída na província 
denominada “Dryas”, representada principalmente pela conhecida “floresta 
atlântica”, sem distinção entre a vegetação das planícies costeiras e das encostas 
da serra (Martius 1951). Outros naturalistas que passaram pelo Brasil deram 
contribuições importantes para o conhecimento da vegetação litorânea, além de 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
50
aspectos geográficos da costa, principalmente porque muitas das áreas descritas 
atualmente encontram-se completamente descaracterizadas (Lacerda et al. 
1982; Araujo 1987). Alguns desses relatos foram traduzidos e lançados no Brasil, 
destacando-se os trabalhos de Avé-Lallemant (1980), Gardner (1942), Saint 
Hillaire (1935, 1936, 1941, 1974), Spix & Martius (1938), Wettstein (1970) e 
Wied-Neuwied (1958), entre outros.
Até aproximadamente meados do século passado, diversos naturalistas 
e pesquisadores mencionaram a região costeira em trabalhos sobre a vegetação 
brasileira, em geral referindo-se a esse conjunto de tipos de vegetação como 
um “complexo”, dada a sua grande heterogeneidade (Campos 1912, Sampaio 
1934, Santos 1943, Azevedo 1950, Rizzini 1963, Romariz 1964, Kuhlmann 1956, 
Andrade-Lima 1966, Veloso 1966, entre outros)
Foi a partir do trabalho clássico de Rizzini (1979) que a vegetação da 
zona costeira do Brasil passou a ter um tratamento mais detalhado, considerando 
a diversidade de tipos fisionômicos encontrados nessa região. Alguns termos que 
ficaram bastante conhecidos para referenciar tipos costeiros de vegetação foram 
inicialmente empregados por esse autor, tais como “floresta paludosa”, “floresta 
esclerófila”, “thicket” e “scrub”. 
Eiten (1983), misturando termos universalizados com outros de uso 
regional e considerando características climáticas e fisionômicas, reconheceu no 
litoral a “restinga costeira”, diferenciada em “arbórea, arbustiva fechada, arbustiva 
aberta, savânica e campestre”, e os “campos praianos”. Seguindo a tendência 
de reconhecer o solo como um fator condicionador importante na vegetação 
litorânea, e procurando adequar a classificação da vegetação brasileira a um 
sistema internacional, a equipe do projeto Radam, posteriormente Radambrasil, 
realizou diferentes tentativas de classificação fitogeográfica do espaço brasileiro, 
sumarizadas por Veloso & Góes-Filho (1982) e Veloso et al. (1991), que, embora 
passíveis de críticas, principalmente no que diz respeito à escala de trabalho, 
apresentam critérios objetivos de classificação. As planícies litorâneas brasileiras 
incluem áreas representativas de diferentes unidades fitoecológicas, como a Floresta 
Ombrófila Densa de Terras Baixas (região da Floresta Ombrófila Densa) e as 
Formações pioneiras com influência marinha, flúvio-marinha ou fluvial/lacustre 
(Sistemas Edáficos de Primeira Ocupação).
Dentro das Formações pioneiras com influência marinha, às quais 
também denominaram de “restinga”, Veloso et al. (1991) reconheceram os tipos 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
51
arbóreo, arbustivo e herbáceo de vegetação, procurando contemplar as suas 
principais variações fisionômicas. 
A denominação empregada para designar e classificar a vegetação 
litorânea e para diferenciar as suas respectivas fitofisionomias é bastante diversa, 
e em alguns casos um tanto quanto confusa. A chamada “restinga” e também os 
“manguezais”, ambos tipos vegetacionais expressivos da planície costeira, são 
reconhecidos praticamente em todos os trabalhos citados, mas a definição das 
suas diferentes “comunidades”, “fisionomias” e/ou “formações” ainda é pouco 
clara, e muitas vezes carece de critérios de classificação mais objetivos e flexíveis.
Desde os trabalhos clássicos de Löfgren (1896) para o litoral paulista, 
de Ule (1901) para a região de Cabo Frio (RJ) e de Lindman (1906) para o Rio 
Grande do Sul, algumas propostas foram feitas por outros autores, destacando-se 
Rawischter (1944), que apresentou uma proposta para o litoral brasileiro como 
um todo, e de Dansereau (1947), Hueck (1955) e Reitz (1961), para as regiões 
litorâneas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Santa Catarina, respectivamente.
Vale ainda mencionar os estudos realizados por Stellfeld (1949b), 
Romariz (1964), Klein (1980) e Roderjan & Kunyoshi (1988), além de outros com 
enfoques mais regionais, destacando-se os estudos de Araujo & Henriques (1984) 
para o Rio de Janeiro e Waechter (1985, 1990) para o Rio Grande do Sul. Várias 
publicações posteriores a estas utilizaram a classificação proposta por Araujo & 
Henriques (1984), às vezes com algumas adequações, dentre os quais destacam-
se Henriques et al. (1986), Araujo & Oliveira (1988), Pereira (1990), Sá (1992) e 
Pereira & Gomes (1994), entre outros.
Araujo (1992), baseando-se em todo o conjunto de informações 
produzidas em quase 10 anos de pesquisa nas “restingas” fluminenses, propôs 
uma primeira aproximação de classificação da vegetação das planícies costeiras 
arenosas do Brasil que, embora de grande valor, não se aplica integralmente a 
todo o litoral brasileiro em função de sua grande diversidade de ambientes.
Atualmente pode-se dizer que a vegetação ocorrente nas planícies 
costeiras arenosas do Brasil, notadamente das regiões sul e sudeste, onde essas 
feições são mais características, tem vários dos seus aspectos relativamente bem 
conhecidos, notando-se um grande incremento nos trabalhos produzidos nos 
últimos 20 anos.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
52
A vegetação da planície costeira no Paraná
A planície costeira no Paraná, conforme definida por Angulo (1992), é 
bem desenvolvida em relação aos estados vizinhos, chegando a cerca de 50 km 
de largura; sua delimitação é o Oceano Atlântico a leste e a Serra do Mar a oeste, 
incluindo sedimentos de naturezas distintas. 
Os trabalhos pioneiros abordando de forma mais definida a vegetação 
costeira paranaense, principalmente com uma abordagem fitogeográfica clássica, 
podem ser creditados a Maack (1949, 1950, 1981) e Stellfeld (1949a, 1949b), 
além de menções genéricas à cobertura vegetal da planície litorânea como 
Bigarella (1947), Fernandes (1946-47) e Figueiredo (1954), este último na 
própria Ilha do Mel.
O primeiro trabalho de caráter ecológico feito na região litorânea do 
Paraná foi efetuado por Hertel (1959), que, além de ter abordado aspectos 
conceituais acerca de fitoecologia e fitogeografia, avaliou determinadas condições 
ambientais sob as quais a vegetação desenvolve-se e apontou as espécies mais 
típicas de cada situação, embora o trabalho não tivesse o propósito de uma 
caracterização florística da região litorânea. Trata-se sem dúvida de um trabalho 
muito interessante, de consulta obrigatória aos interessados na vegetação litorânea 
paranaense, embora seja pouco conhecido e referenciado.
Outros trabalhos que preocuparam-se em descrever os diferentes tipos de 
vegetação instalados sobre a planície costeira paranaense, com ênfase e abordagens 
distintas, foram realizados por Roderjan & Kunyoshi (1988),Bòlos et al. (1991), 
Ziller (1992) e Jaster (1995), entre outros. 
Os tipos vegetacionais da planície litorânea da Ilha do Mel
Os sistemas de classificação fitogeográfica propostos para o território 
brasileiro, notadamente aqueles associados a propostas de mapeamento (Rizzini 
1963, 1979, Romariz 1964, Andrade-Lima 1966, e Veloso et al. 1991, entre outros), 
utilizaram escalas de trabalho incompatíveis com a variedade de tipos vegetacionais 
observada nas planícies costeiras, cujo conjunto é comumente designado como 
“restinga”. Essa heterogeneidade fica evidenciada pelo tratamento dado por 
alguns desses autores ao referirem-se a esta como um “complexo” ou “mosaico” 
de vegetação (Azevedo 1950, Rizzini 1963, 1979, Romariz 1964). 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
53
Estudos de abrangência regional, realizados em escalas de trabalho mais 
adequadas a este tipo de vegetação, conseguiram obter resultados mais satisfatórios, 
pois foi possível o reconhecimento de tais variações fisionômicas (v. Pfadenhauer 
& Ramos 1979, Henriques et al. 1986, Oliveira-Filho & Carvalho 1993). No 
entanto, à medida que se obtêm resultados mais detalhados, surge o problema 
de designação nomenclatural dada às diferentes fitofisionomias, muito variável 
entre as diferentes regiões estudadas. É grande a variedade de critérios, nomes 
e propostas de classificação da “restinga”, sendo muitas destas com aplicação 
eminentemente regional, como pode ser visto nos estudos de Waechter (1985, 
1990) no Rio Grande do Sul, Reitz (1961) em Santa Catarina, Hueck (1955) em 
São Paulo, Araujo & Henriques (1984) para o Rio de Janeiro, Pereira (1990) no 
Espírito Santo, Oliveira-Filho & Carvalho (1993) na Paraíba e Bastos et al. (1995) 
no Pará, para citar somente os de maior área de abrangência. 
Com base em observações em campo, estudos florísticos e estruturais 
(Silva et al. 1994, Menezes-Silva 1998), estudos descritivos de solo (Britez et al. 
1987) e análises de imagens de satélite, ao longo de mais de 18 anos (1985 a 
2003), foi possível sugerir uma proposta de classificação para a vegetação da 
planície litorânea da Ilha do Mel. Conforme já observado em outras regiões do 
litoral brasileiro, a vegetação da planície litorânea da Ilha do Mel também mostra 
muitas variações, sendo representada por formações campestres, arbustivas e 
florestais, com cobertura e altura da sinúsia dominante muito variáveis entre os 
diferentes locais. Uma síntese das formações, com as respectivas denominações 
empregadas, critérios usados para o reconhecimento e localização na planície 
litorânea da Ilha, pode ser vista na Tabela 1. 
Formações campestres 
Predominam espécies herbáceas (rizomatosas, cespitosas e reptantes), 
com pequenos arbustos e árvores de ocorrência isolada e pouco expressiva; tais 
formações foram denominadas de “campos”, termo de conotação puramente 
fisionômica, cujo uso normalmente é direcionado para formações mais extensas 
e contínuas de localização planáltica, e com predomínio fisionômico de espécies 
“graminóides”. 
As formações campestres descritas na planície costeira da Ilha do Mel 
têm variações nas suas respectivas fisionomias e composições, assim como nos 
seus graus de cobertura, além de ocorrerem em ambientes com condições bastante 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
54
Tabela 1 - Principais formações vegetais ocorrentes na planície litorânea da Ilha do Mel, Paranaguá, PR. 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
55
diferenciadas. O substrato nos locais de ocorrência dos campos variam desde areia 
quartzosa marinha exposta e praticamente desprovida de cobertura orgânica, 
passando por locais inundados por água doce ou salobra, até áreas inundáveis 
por água do salgada, afetadas pelo regime diário de marés. Foram reconhecidos 
quatro tipos de formações campestres: campo aberto não inundável, campo aberto 
inundável, campo fechado não inundável e campo fechado inundável. 
Campo aberto não inundável
Vegetação com altura inferior a 50 cm, onde espécies herbáceas reptantes 
e cespitosas constituem as formas biológicas predominantes, com cobertura 
proporcionada pela sinúsia dominante variável, desde valores em torno de 10%, 
nas partes mais próximas ao mar e sujeitas ao alcance episódico das marés, até 
mais de 50% em locais mais afastados. Arbustos baixos podem ocorrer de forma 
isolada, aumentando em densidade à medida em que se afastam da atual linha 
de maré. Sua principal região de ocorrência são as partes superiores das praias e 
as chamadas “antedunas”, em locais com substrato arenoso, de formação relativa-
mente recente (Figura 1).
As áreas de praia, em alguns casos associadas a pequenas dunas e 
faixas mais ou menos extensas de “antedunas”, são bem representadas na Ilha 
do Mel; circundam cerca de 80% de sua área, na sua maior parte delimitando 
a Estação Ecológica (Sema/Iap 1996). O processo erosivo que atinge diferencial-
mente a costa da Ilha destruiu parte das áreas de ocorrência dos campos não 
inundáveis mas, em contraposição a este fato, em locais próximos aos pontos 
intensamente erodidos, como no canto do Farol, nas praias Grande, do Cedro 
e do Bicho, observou-se nos últimos 15 anos um intenso processo deposicional, 
na primeira claramente notado pelo avanço de um banco de areia em forma 
de esporão, com cerca de 100 m, em direção ao mar (ver Angulo & Souza 
neste volume). A formação desses depósitos sedimentares é acompanhada pelo 
desenvolvimento dessa formação, e em locais próximos às desembocaduras dos 
pequenos canais de águas escuras, por formações arbustivas dominadas por 
Dalbergia ecastophylla, descritas na seqüência.
Como espécies características dos campos não inundáveis podem 
ser mencionadas Blutaparon portulacoides, Alternanthera maritima e Ipomoea 
pescaprae, além de várias poáceas (Paspalum distichum, Spartina ciliata, Sporobolus 
virginicus, Andropogon arenarius, Cenchrus echinatus e Digitaria connivens) 
e ciperáceas (Cyperus ligularis, Cyperus polystachyos e Cyperus sesquiflorus), 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
56
que nas pequenas depressões mais úmidas e afastadas do mar constituem os 
elementos dominantes na formação. Espécies herbáceas reptantes e eretas de 
outras famílias, como Asteraceae e Fabaceae, podem destacar-se em alguns locais, 
sem constituírem, no entanto, elementos importantes fisionomicamente. Dalbergia 
ecastophylla, arbusto baixo com ramos prostrados, pode ocorrer isoladamente 
nesta formação, tornando-se mais expressivo nos locais onde faz vizinhança ao 
fruticeto fechado inundável, no qual é a espécie dominante.
A distinção entre o que muitos autores denominaram de “comunidades 
halófitas” e “comunidades psamófitas” é imprecisa, não só estrutural como floris-
ticamente, sendo estas muitas vezes tratadas em conjunto, conforme pode ser 
visto em Thomaz & Monteiro (1992). O fator principal nessa diferenciação deve 
ser a suscetibilidade ao alcance das marés, e por conseqüência a(s) espécie(s) 
dominante(s), além do estado sucessional local, uma vez que áreas mais 
recentemente colonizadas pela vegetação normalmente são compostas por um 
número menor de espécies e têm menor cobertura. 
A halofitia, isto é, a afinidade ou tolerância de uma determinada planta 
a um ambiente salino, freqüentemente referida para as plantas típicas desta 
formação, deve ser vista com ressalvas. Hertel (1959) analisou a salinidade da 
água subterrânea nestas áreas e concluiu que trata-se de um “halofitismo relativo”, 
chegando mesmo a afirmar que não existe formação verdadeiramente halófita 
na costa arenosa brasileira. O que na verdade ocorre são plantas psamófitas que 
toleram temporariamente a presença da água do mar. Pfadenhauer (1978) chegou 
a conclusão semelhante, embora tenha apontado a salinidade, juntamente com o 
transporte eólico da areia, comoos principais responsáveis pela zonação observada 
em uma área de dunas e áreas alagáveis no Rio Grande do Sul. 
Uma revisão da literatura sobre a “comunidade halófila-psamófila” na 
costa brasileira foi realizada por Thomaz & Monteiro (1992), e enfatizou a falta de 
estudos florísticos e estruturais sobre essa comunidade, embora ainda seja o tipo 
vegetacional costeiro mais estudado no Brasil. Provavelmente isso deve-se ao fato 
de esta formação ocorrer praticamente ao longo de todo o litoral brasileiro e das 
facilidades de estudo conseqüentes do hábito e porte das espécies. Apesar disso, 
as pressões antrópicas no sentido de ocupação e urbanização da zona costeira 
já suprimiram muitas áreas representativas desta formação em vários pontos no 
litoral brasileiro.
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
57
Campo fechado inundável
Formação típica das áreas abertas ao longo dos pequenos cursos d’água 
próximos à costa voltada para o interior da baía de Paranaguá, onde espécies 
herbáceas cespitosas de até 2 m de altura são dominantes, e responsáveis pelo 
aspecto mais característico da vegetação. Arbustos e árvores são raros, e normalmente 
ocorrem somente em áreas transicionais para outras formações, mais comumente 
com os manguezais, aqui denominados de florestas fechadas inundáveis halófilas. 
Os locais de ocorrência mais representativos desta formação localizam-se nas 
proximidades das zonas de praia onde os pequenos riachos de águas escuras nascidos 
na planície costeira deságuam, voltados para a zona estuarina.
Os solos estão sujeitos à saturação hídrica durante praticamente todo 
o tempo, mesmo nos períodos menos chuvosos, e normalmente apresentam 
gradações tanto para áreas mais salinas, nas quais geralmente ocorrem manguezais 
e formações associadas, como para locais com substratos arenosos de melhor 
drenagem, onde predominam formações arbustivas e/ou arbóreas não inundáveis.
Como espécie mais característica desta fisionomia pode ser citada 
Cladium mariscus subsp jamaicensis, herbácea cespitosa de grande porte, 
freqüentemente associada a outras ciperáceas, como Fuirena robusta, Scirpus 
maritimus, Scirpus californicus e Rynchospora marisculus, além de espécies 
de outras famílias, como Typha domingensis e, eventualmente, Acrostichum 
danaefolium, pteridófita de folhas grandes e muito conspícuas na fisionomia 
geral da formação, e Hibiscus tiliaceus, arbusto mais comum nas transições para 
os manguezais.
Campo aberto inundável
Esta formação está associada às depressões situadas entre os cordões 
litorâneos e áreas abertas úmidas em geral, normalmente em locais mais 
interiores da planície costeira. As diferenças básicas entre este tipo campestre e o 
anteriormente descrito são a cobertura e o porte geral da vegetação, menores, e 
a expressão fisionômica de formas biológicas “não graminóides”, como herbáceas 
rizomatosas, eretas e reptantes. 
Como estas formações estão, via de regra, associadas às depressões 
intercordões, estão sujeitas a um ritmo sazonal de inundação, à semelhança do 
que ocorre em outras formações inundáveis na planície costeira da Ilha. Quando 
ocorrentes nas proximidades das desembocaduras dos pequenos rios, o período 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
58
de inundação é coincidente com as áreas intercordões, mas esse processo ocorre 
por causa da elevação do nível do rio que funciona como um “corredor” para a 
água acumulada no interior da planície. 
Espécies comuns nesta formação são Bacopa monnieri, Xyris jupicai var. 
jupicai, Fymbristylis diphylla, Cyperus ligularis, entre outras, notadamente quando 
mais próxima às zonas de praia. Eventualmente, alguns indivíduos em início de 
desenvolvimento de Laguncularia racemosa podem ocorrer nestes locais, como 
resultado da sua eficiente estratégia de dispersão hidrocórica. Nas depressões 
entre os cordões localizadas nas porções mais interiores da planície, em áreas 
mais abertas, são comuns Blechnum serrulatum, espécie dominante nestes locais, 
associada a várias ciperáceas e poáceas, além de outras, como Drosera capillaris, 
Lycopodiella caroliniana e Utricularia tricolor.
Campo aberto inundável halófilo
Sob esta denominação foi incluída a formação de fisionomia herbácea, 
comumente associada aos manguezais, conhecida habitualmente com o nome 
de “marisma” ou “salt marsh”. Está sujeita a um ritmo mais ou menos definido 
de alagamento pela água estuarina, permanecendo a maior parte do tempo 
completamente submersa. Para fins de mapeamento, normalmente esta formação é 
referenciada simplesmente como “manguezal” (Angulo 1990). Na Ilha, a ocorrência 
desta formação é restrita à porção voltada para o interior da baía de Paranaguá, 
notadamente nas proximidades das pontas Oeste e do Hospital, onde ocorrem as 
áreas mais expressivas de manguezais. 
Assim como os manguezais, esta formação tem riqueza muito baixa, 
ocorrendo quase que exclusivamente as espécies herbáceas cespitosas Spartina 
alterniflora e, menos freqüentemente, Spartina densiflora. Indivíduos jovens e 
plântulas das espécies lenhosas características das florestas halófilas (manguezais) 
podem ocorrer em meio à baixa cobertura proporcionada pelas espécies cespitosas 
típicas. Este tipo de formação tem composição florística pouco variável ao longo 
de toda sua zona de ocorrência na costa brasileira (Soriano-Serra 1990). 
Formações arbustivas 
A predominância fisionômica é de espécies de hábito arbustivo, eventual-
mente com elementos arbóreos isolados que não chegam a formar um estrato 
contínuo. Os termos “scrub”, “thicket” e “escrube” já foram empregados para 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
59
designar comunidades e/ou formações desta natureza, notadamente na região 
litorânea. Neste trabalho preferiu-se o termo “fruticeto”, conforme sugerido por 
Waechter (1990) e Carvalho (1995), nome de origem latina, a mesma de grande 
parte dos termos utilizados na fitogeografia descritiva (frútice: do latim frutice, 
qualquer planta lenhosa de pequeno porte, com caule lenhoso e ramificado desde 
a base - Ferreira 1975; planta arbustiva ou subarbustiva - Michaelis 1998). 
As principais formações arbustivas reconhecidas na planície costeira da 
Ilha do Mel foram as seguintes:
Fruticeto fechado inundável
Predominam arbustos baixos associados a espécies herbáceas cespitosas, 
eretas e reptantes, com cobertura geralmente superior a 60%, especialmente nos 
locais mais bem drenados e mais afastados da atual linha de praia. Na transição 
para o campo aberto não inundável, formação com a qual normalmente ocorre 
associado, os arbustos ocorrem de forma mais esparsa, e conseqüentemente as 
espécies herbáceas, e até mesmo áreas abertas tornam-se mais evidentes. A altura 
predominante nesta formação é variável (0,5-2 m), dependendo da distância do 
mar. As áreas onde a altura predominante é maior, comumente mais interiores, 
correspondem a locais cuja ocupação pela vegetação é mais antiga, evidenciando 
o forte caráter sucessional da formação. 
O substrato é constituído basicamente por areia, algumas vezes 
misturada a sedimentos mais finos, e está sujeito a maior umidade em função de 
sua ocorrência estar freqüentemente associada à desembocadura dos pequenos 
rios de água escura, característicos da planície costeira. Sua principal área de 
distribuição na Ilha é o esporão recentemente formado no canto do Farol da 
praia das Conchas, analisado quantitativamente em Menezes-Silva (1998), e nas 
proximidades das pontas do Bicho, do Cassual e do Hospital, em direção à parte 
norte da Estação Ecológica, em áreas transicionais entre a praia e as formações 
arbustivo-arbóreas altas da planície, ou então entre estas e os manguezais. O regime 
de inundação nestes locais é variável, pois, em função do constante deslocamento 
da desembocadura dos pequenos rios, muitos já estãomais afastados destas e 
portanto apresentam melhor drenagem superficial.
A espécie dominante nesta formação, tanto por sua alta cobertura como 
pela sua fisionomia muito característica, é Dalbergia ecastophylla, um arbusto de 
ramos prostrados a decumbentes, cujos diásporos são freqüentemente encontrados 
nas praias da Ilha, a partir de onde iniciam a constituição deste fruticeto. Outras 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
60
espécies, notadamente herbáceas cespitosas, reptantes e eretas, ocorrem associadas a 
esta, com maior desenvolvimento nas áreas onde a formação é mais baixa e aberta. 
Podem ser citadas como espécies mais comuns Andropogon arenarius, Cyperus 
ligularis, Androtrichum trigynum, Fymbristylis spathacea, Hydrocotile bonariensis, 
Polygala cyparissias, Eupatorium sp1 e Sebastiania corniculata.
Fruticeto fechado não inundável 
Formação com aspecto muito característico, na qual arbustos de alturas 
variadas, nos locais mais abertos associados a espécies herbáceas rizomatosas, 
cespitosas e eretas, formam a sinúsia dominante. Com fisionomia bastante típica, 
sua ocorrência é restrita às vertentes externa e interna do primeiro cordão, nas 
praias voltadas para o seu lado leste-sudeste-sul, como a de Fora, Grande, do 
Miguel e das Encantadas (Figura 1). Em alguns desses locais os episódios erosivos 
recentemente ocorridos suprimiram áreas consideráveis desta formação.
Normalmente, na vertente externa do primeiro cordão, o porte geral 
da formação é menor, e ainda não é possível detectar-se uma estratificação 
nítida. Nesses locais são freqüentes espécies de formas não arbustivas 
(herbáceas e trepadeiras, principalmente), e os arbustos são mais baixos. 
Muitas espécies herbáceas típicas dos campos não inundáveis ocorrem nesta 
formação, notadamente nas áreas transicionais entre ambas. Já na vertente 
interna, podendo interiorizar-se mais em alguns locais, o fruticeto assume 
aspecto bastante fechado, onde arbustos e arvoretas, com alta densidade e 
copas justapostas ou sobrepostas, constituem a sinúsia dominante, com altura 
de 3 a 5 metros. A estratificação da vegetação é mais evidente, podendo ser 
reconhecido um estrato inferior, formado principalmente por espécies herbáceas 
rosuladas e rizomatosas, menos freqüentemente reptantes e eretas, com 
cobertura média geralmente superior a 50%, e altura variável, raramente maior 
a 1,0 m; são característicos neste estrato agrupamentos extensos e fechados 
de bromeliáceas terrícolas (Figura 2).
Pode-se dizer que tratam-se de duas facies da formação, determi-
nadas basicamente pelos seus respectivos posicionamentos em relação às feições 
geomórficas predominantes. Como a principal distinção fisionômica entre estas 
é a altura predominante, foram denominadas neste trabalho de “baixa” e “alta”, 
correspondendo às vertentes externa e interna do primeiro cordão, respectivamente. 
As copas dos arbustos nesta formação têm disposição densa, e são 
evidentes os sinais da ação dos ventos predominantes, o que confere a esta 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
61
uma certa “homogeneidade fisionômica”. Hertel (1959) referiu-se a este tipo 
de vegetação como sendo típico de locais diretamente expostos aos ventos 
predominantes na região, o que na Ilha representa as praias voltadas para a sua 
porção leste-sudeste-sul. Ocorre de forma expressiva ao longo das praias Grande, 
do Miguel e das Encantadas, e também nas praias das Conchas e da Fortaleza, 
em áreas que estão sendo bastante erodidas pelo mar nos últimos anos, e esta faz 
formação vizinhança direta com a parte não vegetada da praia. 
Na facies baixa, destaca-se uma mistura de espécies com diferentes 
formas biológicas, muitas das quais constituem os chamados “elementos de 
escrube” definidos por Eiten (1968), representando justamente uma transição 
entre as formações campestres das zonas de praia e as arbustivo/arbóreas típicas 
das áreas interiores da planície costeira. Como arbustos mais comuns podem 
ser citados Psidium cattleianum (Figura 2), Ocotea pulchella, Myrsine parvifolia, 
Cordia verbenacea, Schinus terebinthifolius, além de várias espécies de Myrtaceae. 
A espécie herbácea mais abundante é Rumorha adiantiformis, destacando-se 
ainda as cespitosas Ischaemum minus e Imperata cf. contracta, além de Aechmea 
nudicaulis e Smilax campestris, que, combinadas às copas dos arbustos baixos 
densamente dispostas e às demais espécies típicas, formam um emaranhado de 
difícil transposição, conforme já destacado por outros autores (Araujo & Henriques 
1984, Fabris et al 1990, Araujo 1992, entre outros) em formações semelhantes 
em outras regiões costeiras do Brasil.
Na facies alta, com dois estratos mais definidos, as espécies arbustivas 
e arbóreas mais típicas da sinúsia dominante são, além das já citadas para a 
facies baixa, Guapira opposita, Ternstroemia brasiliensis, Pera glabrata, Tapirira 
guianensis, Maytenus robusta, Eugenia umbelliflora, Heteropteris aenea, Ilex 
theezans, Gomidesia fenzliana e Myrsine venosa. Na composição destas formações, 
as mirtáceas têm uma importância destacada, tanto florística como estruturalmente, 
representando em alguns casos metade dos indivíduos no estrato superior.
No estrato inferior são freqüentes agrupamentos mais ou menos extensos 
de bromeliáceas, notadamente Aechmea pectinata, Aechmea ornata, Bromelia 
antiacantha, Ananas bracteatus e Aechmea nudicaulis, esta última comumente 
encontrada também no ambiente epifítico desta e de outras formações da 
planície costeira. Outras espécies que podem ser importantes nesta sinúsia são 
Coccocypselum guianense, Neomarica candida, Peperomia glabela, Anthurium 
sp, Geophila repens, Pecluma paradisiae e Chioccoca alba.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
62
Como espécies trepadoras lenhosas mais comuns nesta facies podem 
ser citadas Davilla rugosa, Passiflora jilekii, Hippocratea volubilis, Paullinia trigonia, 
Gonioanthella axillaris e Oxypetalum banksii, enquanto entre as epífitas, ocorrentes 
sobre a maioria dos indivíduos lenhosos, destacaram-se Microgramma vaccinifolia, 
Codonanthe gracilis, Aechmea nudicaulis, Peperomia glabella, Peperomia cf. 
elongata e Epidendrum latilabre. 
Considerando-se que Myrtaceae constitui um grupo muito importante 
tanto florística como estruturalmente nas formações arbustivas e arbóreas da 
planície costeira do sul e sudeste brasileiro, conforme já salientado por Araujo 
& Henriques (1984), não parece muito adequado utilizá-la como um parâmetro 
denominativo para um tipo vegetacional específico, e sim como um importante 
elemento florístico descritor dessas comunidades.
Fruticeto aberto não inundável
Nas áreas mais afastadas do 1o cordão, ao menos nos locais onde este é 
bem definido e facilmente reconhecível, é comum na planície litorânea da Ilha do 
Mel a ocorrência de uma formação arbustiva aberta e com alturas que variam entre 
1,5 e 4 m, onde também foram reconhecidos dois estratos. Tanto o estrato superior, 
constituído basicamente pelas copas dos arbustos, como o inferior, formado por 
espécies com menor porte e de diferentes formas biológicas, são descontínuos. 
Normalmente estabelece limites nítidos com a facies alta do fruticeto fechado não 
inundável descrito anteriormente, e transições graduais com as áreas inundáveis. 
É comum nesta formação a ocorrência de áreas praticamente desprovidas de 
espécies vasculares, o que em muitos casos expõe diretamente o substrato arenoso. 
Algumas vezes o substrato é recoberto por uma camada de briófitas − Bryopsida 
− e/ou líquens arborescentes − Cladoniaceae.
O aspecto geral da formação é de um conjunto de “moitas” arbustivas de 
extensão e forma variadas, em meio às quais ocorrem áreas abertas, com espécies 
herbáceas rizomatosas, eretas e cespitosas. O termo“moita” aqui empregado 
segue definição dada por Ribas et al. (1994), como um “aglomerado” de plantas 
de hábito arbustivo e/ou arbóreo, com copas separadas de outras plantas por 
espécies de outras formas de vida, principalmente com hábito herbáceo, ou mesmo 
por áreas desnudas.
O estrato superior é formado principalmente pelas copas abertas e 
baixas de arbustos e pequenas árvores, como Psidium cattleianum, Ternstroemia 
brasiliensis, Ocotea pulchella, Erythroxylum amplifolium, Abarema brachystachya, 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
63
Clusia criuva e Gomidesia fenzliana. O número de espécies lenhosas componentes 
de cada aglomerado é variável, e em alguns locais foram observadas moitas 
constituídas por somente um arbusto, com diâmetros de até 3 m. O estrato 
inferior dentro das moitas é formado por muitas espécies que também ocorrem 
na facies alta do fruticeto fechado não inundável, tais como Peperomia glabela, 
Neomarica candida, Geophila repens e Oplismenus setarius. Destaca-se nesta 
sinúsia a orquídea terrícola de belas flores róseas Cleistes paranaensis, encontrada 
somente em um período relativamente curto, durante os meses mais quentes e 
chuvosos do ano. 
O epifitismo nos arbustos componentes das moitas não é muito 
acentuado, sendo mais desenvolvido nas moitas mais extensas e altas; como 
espécies mais freqüentes podem ser citadas Microgramma vaccinifolia, Peperomia 
glabela, Codonanthe gracilis e Aechmea nudicaulis. 
As áreas abertas entre as moitas têm cobertura vegetal heterogênea, 
constituída tanto por espécies herbáceas como por “tapetes” mais ou menos 
extensos de musgos − Bryopsida−, ou então de agrupamentos de líquens 
arborescentes da família Cladoniaceae. As espécies mais típicas destas áreas são 
Rumorha adiantiformis e Blechnum serrulatum, duas pteridófitas freqüentes e 
geralmente com altos valores de cobertura no estrato inferior de formações florestais 
e nas áreas mais abertas da Ilha, associadas a Smilax campestris, Epidendrum 
fulgens, Cyrtopodium polyphyllum, Chioccoca alba, Stylosanthes viscosa, Paspalum 
arenarium e Imperata cf. contracta. 
A espécie que mais chama a atenção nesta formação é sem dúvida a 
camarinha (Gaylussacia brasiliensis), tanto nas áreas mais abertas, onde forma 
adensamentos com alturas de até 1,5 m, como nas margens dos agrupamentos 
arbustivos, onde forma uma “paliçada” delimitando as moitas. Observações 
de campo realizadas em diferentes locais na Ilha detectaram que a camarinha 
apresenta uma eficiente estratégia de propagação vegetativa por estruturas 
subterrâneas, e que tais agrupamentos são, ao menos em parte, devidos a esta 
característica.
Algumas áreas de planície observadas na Ilha, anteriormente ocupadas 
por formações arbustivas fechadas ou florestais que sofreram algum tipo de 
degradação mais acentuada, atualmente apresentam fisionomia semelhante à desta 
comunidade, e podem ser observadas sobretudo nas proximidades das habitações. 
Salimon (1996) descreveu estrutural e floristicamente uma área de planície costeira 
em Santa Catarina, com vegetação secundária resultante de atividades agrícolas, 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
64
e apontou várias características comuns com esta formação, tais como algumas 
espécies dominantes (Psidium cattleianum e Ternstroemia brasiliensis, p. ex.), a 
importância do hábito arbustivo na fisionomia da vegetação, a presença de áreas 
abertas com vegetação baixa, briófitas e líquens, entre outras. Araujo & Oliveira 
(1988), em levantamento realizado na Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, 
Ilha Grande (RJ), também relacionaram a ocorrência de moitas a áreas florestais 
que sofreram alguma alteração, sendo portanto formações secundárias.
O reconhecimento de formações ou comunidades vegetais arbustivas 
com padrão de distribuição em moitas nas planícies costeiras do sul e sudeste do 
Brasil foi realizado por Araujo & Henriques (1984), ao descreverem o “scrub de 
Clusia”, o “scrub de Palmae” e o “scrub de Ericaceae” nas restingas do Rio de 
Janeiro, conforme já dito anteriormente com base no trabalho clássico de Ule 
(1901). Conforme a própria denominação empregada sugere, há dominância de 
determinadas espécies ou grupos supra-específicos na composição das “moitas”, 
embora estes autores salientem que conservaram os nomes propostos inicialmente 
e reconheceram que outras espécies podem dominar em certas situações. 
Nas áreas de fruticeto aberto não inundável observadas na Ilha do Mel 
não foi detectado nenhum agrupamento caracterizado pela dominância de somente 
uma espécie ou outro grupo taxonômico qualquer, motivo pelo qual denominações 
relacionadas à dominância destes não foram empregadas neste estudo. Ericaceae, 
apontada como um desses elementos descritores, foi repre-sentada na Ilha 
somente por Gaylussacia brasiliensis, que, embora abundante em alguns locais, 
não é adequada para caracterizar somente uma formação. Clusia, outro elemento 
taxonômico usado pelos autores citados acima como um descritor das formações 
arbustivas abertas, foi representada somente por Clusia criuva, que não chega a 
destacar-se estruturalmente nas formações arbustivas agrupadas ocorrentes na Ilha.
Hertel (1959), em estudo ecológico pioneiro no litoral paranaense, 
mencionou que a “fácies heteropsamófita”, dependendo das condições de 
desenvolvimento, pode apresentar-se com o aspecto de “moitas” intercaladas 
por “clareiras”, enfatizando que é mais comum a ocorrência desta em locais mais 
protegidos dos ventos predominantes. A tendência apontada por este autor para 
estes aglomerados, com o passar do tempo, é de unirem-se, desaparecendo as 
áreas abertas, e constituindo assim a “mata costeira”. Ele ressaltou ainda que em 
tais moitas ocorre o processo de “auto-humificação” (acúmulo de material vegetal 
na base dos arbustos bastante ramificados), importante para propiciar condições 
adequadas para o estabelecimento e desenvolvimento de espécies mais exigentes.
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
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Fruticeto aberto inundável
Em alguns locais na planície costeira da Ilha, notadamente na praia 
Grande e em alguns pontos da praia de Fora das Encantadas, é típica a ocorrência 
de formações de fisionomia predominantemente arbustiva, com alguns indivíduos 
arbóreos mais ou menos isolados praticamente de uma única espécie, Myrsine 
intermedia. Os arbustos têm alturas entre 3 e 5 m, enquanto as árvores atingem 
alturas maiores (até 7 m), destacando-se bastante fisionomicamente.
O fator ambiental mais notório nesta comunidade é o ritmo cíclico 
de inundação ao qual está sujeita durante os meses de verão, quando há 
maior incidência de chuvas na região; parte expressiva da área fica coberta por 
uma lâmina d’água, que em alguns locais, durante períodos com chuvas mais 
copiosas, pode chegar até 0,5 m de profundidade. Somente pequenas elevações 
permanecem descobertas. 
Da mesma forma que no fruticeto aberto não inundável, podem ser 
reconhecidos dois estratos descontínuos: um superior, formado pelas copas dos 
arbustos e emergentes de Rapanea intermedia, e um inferior, que, apesar de 
diferenciado entre áreas abertas e aquelas ocupadas por arbustos, é bastante 
conspícuo, principalmente por causa da ocorrência de aglomerados de briófitas 
(Sphagnaceae), em meio aos quais desenvolvem-se espécies vasculares que não 
chegam a formar uma cobertura contínua.
Como espécies mais típicas na composição dos agregados lenhosos 
destacam-se, além de Myrsine intermedia, espécies arbustivas como Ocotea pulchella, 
Ternstroemia brasiliensis, Clusia criuva e Tibouchina trichopoda, esta mais freqüente 
em locais abertos, muitas vezes de forma isolada. A caxeta (Tabebuia cassinoides), 
espécie florestal muito característica das áreas alagáveis no litoral brasileiro (Ziller 
1992), raramente ocorre nesta formação, sendoporém comum em florestas mais 
desenvolvidas da planície costeira da Ilha. Assim como no fruticeto aberto não 
inundável, o epifitismo nesta fisionomia não é muito pronunciado, sendo mais 
comum a ocorrência de Microgramma vaccinifolia e Epidendrum latilabre.
As espécies que compõem o estrato inferior, na sua maioria herbáceas 
rizomatosas e cespitosas, apresentam cobertura descontínua, sendo a mais 
freqüente Blechnum serrulatum, que, conforme observado por Behar & Viegas 
(1992) no Espírito Santo, tem grande variação morfológica na folha de acordo 
com o ambiente onde se desenvolve; são maiores e com pinas mais patentes nas 
áreas úmidas e sombreadas, enquanto nas áreas abertas e mais secas, são menores, 
com textura mais coriácea e pinas “dobradas”, quase fechadas. 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
66
Paspalum pumilum e Eleocharis nana também são espécies comuns 
nestas formações, formando em alguns locais uma cobertura contínua, de um verde 
intenso após o período em que a formação permanece inundada. Outras espécies 
cespitosas características nesta formação são Rynchospora holoschoenoides e 
Rynchospora marisculus, ambas características das áreas mais abertas e com 
ocorrência menos freqüente. 
A camarinha (Gaylussacia brasiliensis) também ocorre nestes locais, com 
menores valores de cobertura e freqüência quando comparada aos fruticetos abertos 
não inundáveis, preferencialmente nas áreas mais elevadas e conseqüentemente 
menos sujeitas ao alagamento temporário. Uma espécie interessante e típica nesta 
formação é Solanum sp, uma herbácea ereta com altura de até 1 m, que forma 
agrupamentos densos nas áreas mais abertas sujeitas ao encharcamento; em muitos 
locais, a distribuição espacial desses agrupamentos pode ser usada para definir a 
área que permanece inundada por períodos mais prolongados.
Embora algumas características referidas pelos trabalhos acima citados 
sejam semelhantes ao fruticeto aberto inundável descrito na Ilha, o termo “brejo”, 
empregado para designar tais formações, indica predomínio de espécies herbáceas, 
o que não ocorre nesta formação. É possível que se trate de um tipo vegetacional 
com ocorrência restrita nas planícies costeiras brasileiras, e ainda insuficientemente 
conhecido, dificultando assim o estabelecimento de relações com outros já descritos.
Formações florestais 
As florestas ocorrentes na planície litorânea da Ilha do Mel ocupam área 
expressiva, variando de um local para outro tanto nos seus aspectos florísticos como 
estruturais, variações supostamente atribuídas às diferentes condições de drenagem 
do substrato. O uso do termo “floresta” está associado a tipos vegetacionais com 
predomínio de plantas arbóreas, que podem apresentar-se organizadas em estratos 
mais ou menos definidos, mas com plantas de vários outros hábitos associadas, 
como trepadeiras, epífitas e herbáceas.
Embora “mata” seja uma denominação comum para designar 
formações florestais, não só na planície costeira como também no interior do 
Brasil, neste trabalho esta não é usada. Segundo Hertel (1969), a palavra tem 
origem gótica, cuja forma original é maitan, e traz em seu conceito uma idéia 
limitante quanto ao número de espécies (“... A mata, que vem a ser grande área 
de terreno ocupado mais ou menos densamente por árvores da mesma espécie ou 
poucas espécies.”). Desta forma, é inadequada para designar formações florestais 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
67
com riqueza específica mais elevada, como é o caso da maioria destas nas regiões 
litorâneas brasileiras.
Na planície costeira da Ilha do Mel, mais notadamente na área da Estação 
Ecológica, onde em alguns pontos é claramente visível o alinhamento dos cordões 
litorâneos, é típica a ocorrência de florestas fechadas baixas nas partes altas dos 
cordões, com altura média em torno dos 6 a 8 m, e florestas altas nas depressões 
entre estes, com dossel em torno dos 15 m (Figura 3), muitas vezes associadas a 
solos hidromórficos e/ou orgânicos. Em Silva et al. (1994) foi descrita uma área 
na planície da Ilha onde essas duas florestas ocorrem lado a lado, e que ilustra 
bem essa zonação. 
Nas porções mais interiores da planície costeira, em terrenos mais 
deprimidos e nas proximidades dos morros, ambos locais com solos saturados 
em água e com uma espessa camada orgânica superficial, ocorrem florestas altas 
mais desenvolvidas, semelhantes florística e estruturalmente àquelas situadas nas 
depressões entre os cordões. São áreas que permanecem com o solo encharcado o 
ano todo, mesmo durante a época menos chuvosa, quando, embora alguns locais 
aparentemente “sequem”, ao serem pisados percebe-se que a camada orgânica 
superficial continua saturada de água (Figura 4).
Os manguezais representam outro tipo florestal da planície costeira na 
Ilha do Mel; são sujeitos a uma forte influência do regime de marés e têm ocorrência 
pouco expressiva na Ilha, restritos ao Saco do Limoeiro e à porção voltada para o 
interior do estuário (Figura 5); ainda não foram devidamente estudados estrutu-
ralmente na Ilha.
 Em seguida são descritas as principais formações florestais da planície 
litorânea da Ilha do Mel, com ênfase às suas características relacionadas à área 
de ocorrência, composição florística e estrutura fisionômica.
Floresta fechada baixa halófila
Corresponde aos manguezais, que, conforme dito anteriormente, são 
pouco representativos em área ocupada na Ilha do Mel. Ocorrem de forma mais ou 
menos contínua no Saco do Limoeiro, entre o morro do Miguel e a Nova Brasília, 
e nas proximidades das desembocaduras dos pequenos rios com águas escuras 
que percorrem a planície costeira, em sua porção voltada para os quadrantes oeste 
e norte, sujeitos ao regime diário das marés (Figura 5).
Os elementos dominantes são 3 espécies arbóreas dotadas de notáveis 
adaptações ao ambiente salino, com ocorrência praticamente ao longo de todos 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
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os manguezais da costa brasileira, a saber: Laguncularia racemosa, Avicennia 
schaueriana e Rhizophora mangle. Em alguns locais, em meio aos rizóforos e 
pneumatóforos, chega a constituir-se um estrato inferior formado exclusivamente 
por Spartina alterniflora e/ou Spartina densiflora, muitas vezes associadas a plantas 
jovens das espécies arbóreas.
Espécies trepadoras e epífitas são raras nestas formações na Ilha, e são 
mais comumente encontradas nas proximidades de áreas transicionais para outros 
tipos florestais ou arbustivos da planície costeira. Entre as primeiras, destaca-se 
Stygmaphyllon ciliatum e Stygmaphyllon arenicola como as mais comuns, e entre 
as epífitas até o momento só foi registrada a ocorrência de Pleopeltis angusta e 
Bilbergia zebrina.
Esta importante formação vegetal litorânea, com ocorrência em toda a 
costa tropical brasileira, não foi alvo de maiores estudos neste trabalho, pois na Ilha 
ocupa área pouco expressiva; no litoral paranaense tem grande importância nas 
zonas estuarinas das baías de Paranaguá e Guaratuba. Quanto às denominações 
empregadas para designar esta formação, continua prevalecendo o nome genérico 
e bastante simples de “manguezal”, “manguezal arbóreo” ou ainda “mangue”, 
embora este último seja mais usado para denominar vulgarmente as suas espécies 
típicas.
Floresta fechada não inundável
Trata-se de uma formação com sinúsia dominante formada principalmente 
por árvores com copas justapostas, cujas alturas ficam, na sua maioria, entre 6 e 8 
m, sob as quais desenvolve-se um sub-bosque formado tanto por espécies típicas, 
na sua maioria arbustivas, como por indivíduos jovens das espécies do estrato 
superior. No estrato inferior, de constituição basicamente herbácea, predominam 
espécies rizomatosas, reptantes e eretas, que proporcionam cobertura descontínua 
e diversificada de um local para outro.Pode apresentar áreas transicionais tanto para os fruticetos abertos 
como para os manguezais, notáveis por mudanças graduais na fisionomia e na 
dominância das espécies lenhosas. O aumento na densidade e freqüência de 
Myrsine intermedia, pode ser um indicativo de transição para o fruticeto inundável, 
enquanto o surgimento de Erythrina speciosa e Hibiscus tiliaceus, normalmente 
em áreas mais abertas, indica transição para o manguezal.
As áreas com floresta fechada baixa ocorrem mais extensivamente nas 
partes altas dos cordões litorâneos e, conforme já mencionado, intercaladas com 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
69
florestas fechadas inundáveis (Figura 3). Como espécies arbóreas mais abundantes 
nesta formação podem ser apontadas Ocotea pulchella, Ternstroemia brasiliensis, 
Clusia criuva, Ilex pseudobuxus, Myrcia multiflora e Tapirira guianensis. No 
estrato intermediário são típicos Geonoma schottiana, Rudgea villiflora, Miconia 
hymenonervia, e em locais mais úmidos, Trichipteris atrovirens, além de muitos 
inidivíduos jovens das espécies do estrato superior.
Dentre as espécies herbáceas do estrato inferior destacam-se as 
pteridófitas, notadamente Blechnum serrulatum, Rumorha adiantiforme, 
Polypodium latipes, Pecluma paradiseae, Nephrolepis rivularis e Nephrolepis 
biserrata, associadas a várias magnoliófitas, mais freqüentemente Coccocypselum 
guianense, Anthurium sp e Psychotria barbiflora, entre outras.
As espécies trepadoras mais comuns nestas formações são Davilla rugosa, 
Smilax campestris, abundante em áreas mais abertas, Gonioanthella axillaris, 
Mikania trinervis e Paullinia trigonia. Não chegam a constituir emaranhados 
fechados de caules, como se observam nas florestas mais úmidas da planície e 
nas áreas transicionais para formações arbustivas.
O epifitismo vascular é bem desenvolvido, tanto em abundância como 
em riqueza, e nele destacam-se as Orchidaceae, Bromeliaceae e Polypodiaceae. 
As espécies mais freqüentes são Microgramma vaccinifolia, Codonanthe gracilis, 
Epidendrum latilabre, Epidendrum rigidum, Peperomia glabella, e Cattleya forbesii. 
Em recente levantamento quali-quantitativo das epífitas vasculares realizado 
numa área de floresta baixa na Estação Ecológica, Kersten (1998) encontrou 76 
espécies distribuídas em 16 famílias, sendo as mais numerosas Orchidaceae (35), 
Bromeliaceae (16) e Polypodiaceae (8). Os gêneros mais ricos foram Vriesea, 
com 11 espécies, Epidendrum e Pleurothallis, cada uma com 5, e Encyclia, com 
4 espécies. 
Floresta fechada inundável
Formação arbórea cujo dossel tem altura variando geralmente entre 15 e 
20 m, às vezes mais, com estrato intermediário constituído por arvoretas e arbustos 
de alturas variando de 4 a 10 m, e um estrato inferior, descontínuo e predomi-
nantemente herbáceo, no qual espécies herbáceas cespitosas e rizomatosas são 
mais comuns. Espécies trepadoras e epífiticas também estão bem representadas, 
notadamente nas áreas mais abertas e/ou transicionais para outras formações mais 
baixas da planície costeira.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
70
A ocorrência desta formação é marcadamente influenciada pelas feições 
topográficas do terreno, ora correspondendo às depressões entre os cordões 
litorâneos das porções mais interiores da Ilha (Figura 3), normalmente sujeitas a 
um ritmo sazonal de alagamento por ascensão do lençol freático na época mais 
chuvosa, ora em locais onde o alinhamento dos cordões não é tão evidente, e 
predominam terrenos rebaixados, saturados de água praticamente durante todo 
o ano, e com uma espessa camada orgânica superficial. Nestas geralmente a 
vegetação tem maior diversidade e porte, enquanto naquelas estes descritores 
têm valores relativamente mais baixos. 
A extensão e o período de alagamento em ambas as situações variam 
não só espacial como temporalmente, pois já foi observado que, em anos menos 
chuvosos, muitas áreas intercordões que habitualmente ficam alagadas permanecem 
com o solo não saturado hidricamente. Pode-se dizer que a distinção básica entre 
estes locais é o período durante o qual as camadas superiores do solo permanecem 
inundadas, sendo no primeiro restrito aos meses mais chuvosos do ano (dezembro-
março) e no segundo estendendo-se durante praticamente todo o ano, mesmo nos 
anos em que foram observados curtos períodos de deficiência hídrica.
As espécies de árvores mais características do dossel nas áreas cuja 
inundação é menos prolongada são Tapirira guianensis, Calophyllum brasiliense, 
Ocotea pulchella, Alchornea triplinervia, Myrcia insularis, Gomidesia schaueriana 
e Dydimopanax angustissimum, entre outras. Embora o conjunto de espécies não 
varie substancialmente de um local para o outro, algumas variações na abundância 
destas podem ser notadas entre locais mais ou menos úmidos, ou seja, que 
permanecem mais ou menos tempo inundados. Nos locais em que a inundação é 
mais prolongada, a sinúsia dominante deste tipo florestal é composta por espécies 
arbóreas representantes de um pequeno número de espécies mais abundantes, 
dentre as quais destacam-se principalmente a caxeta − Tabebuia cassinoides − e o 
guanandi − Calophyllum brasiliense −, associadas a Pouteria beaurepairei, Ocotea 
tristis e Protium kleinii, entre outras já citadas acima. 
No estrato intermediário, formado sobretudo por arvoretas de troncos 
finos e alturas de até 10 m, associadas a arbustos menores, são típicas Faramea 
marginata, espécie dominante neste estrato nas áreas inundáveis por períodos 
mais curtos, Rudgea villiflora, Alibertia concolor, Amaioua guianensis, Guarea 
macrophylla, Xylopia langsdorffiana, Guatteria australis, Myrcia racemosa e 
Geonoma schottiana. Nos locais que permanecem inundados por períodos mais 
prolongados, Marlierea tomentosa e Marlierea reitzii são características, com 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
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arbustos altos cujos galhos formam densos emaranhados, muitas vezes inclinados 
sobre as poças de água. Indivíduos jovens das espécies componentes do dossel 
também são abundantes neste estrato.
O estrato inferior, descontínuo e com baixa cobertura, é formado por 
um pequeno número de espécies dominantes, principalmente herbáceas, dentre 
as quais destacam-se espécies de Pteridophyta, notadamente Polybotria cylindrica, 
Campyloneuron wacketii, Thelypteris maxoniana, Asplenium serra, Lindsaea spp 
e Hymenophyllum caudiculatum, associadas a magnoliófitas, principalmente 
poáceas, aráceas e bromeliáceas. Dentre estas destaca-se Nidularium innocentii, 
que em alguns locais forma agregados mais ou menos extensos, e Becquerelia 
muricata, uma herbácea cespitosa que também forma agregados característicos dos 
locais mais úmidos citados anteriormente, onde Marlierea tomentosa e Marlierea 
reitzii são características. 
Dentre as espécies trepadoras, Doliocarpus schottianus é a mais 
freqüente, formando densos emaranhados em alguns locais, além de Smilax 
elastica, Gonioanthella axillaris, Dioscorea sp e Mikania trinervis. O componente 
epifítico vascular, embora ainda não estudado sistematicamente, mostra-se 
tão desenvolvido estruturalmente como nas florestas não inundáveis, sendo 
as espécies mais conspícuas Peperomia emarginella, Marcgravia polyantha, 
Polybotria cylindrica e Philodendron bipinatifidum, as duas últimas hemiepífitas, 
além de várias espécies de Orchidaceae e Bromeliaceae. A composição florística 
e estrutura destes dois importantes componentes nestas florestas ainda carecem 
de investigações mais detalhadas. 
As observações e coletas realizadas na Ilha durante os últimos anos 
evidenciaram muitas semelhanças entre essas florestas, diferenciadas basicamente 
pelas condições de drenagem do solo, sendo muitas vezes tarefa difícil distinguí-
las em campo. Existem gradações no grau e duração da inundação,dependendo, 
entre outras coisas, da maior ou menor proximidade de pequenos córregos, da 
microtopografia do terreno e da profundidade do lençol freático. Levantamentos e 
análises mais detalhadas, tanto da vegetação como das suas respectivas condições 
de desenvolvimento, poderão contribuir para a elucidação dessas questões.
Os “caxetais”, ambientes inundáveis com predomínio de caxeta (Tabebuia 
cassinoides) e com ocorrência típica em terrenos inundáveis da planície costeira, 
parecem representar, ao menos quando têm fisionomia predominantemente 
arbórea, florestas inundáveis por períodos mais prolongados. Araujo (1992) 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
72
mencionou que as florestas paludosas (swamp forest) podem variar de abertas 
a fechadas, e em ambas é típica a ocorrência dessa espécie, associada a outras, 
como Calophyllum brasiliense, ambas muito representativas na Ilha do Mel.
A delimitação florística e estrutural entre as florestas não inundáveis de 
maior porte da planície costeira, reconhecidas comumente como “formações da 
restinga”, e as florestas mais desenvolvidas e antigas estabelecidas em condições 
de solo mal drenado é imprecisa, e muitos autores, como Silva (1990), Barros 
et al. (1991) e Jaster (1995), entre outros, destacaram que estas representam 
transições entre a “restinga” propriamente dita e a “floresta atlântica” ocorrente 
sobre as planícies, denominada por Veloso et al. (1991) de “floresta ombrófila 
densa das terras baixas”. Em Negrelle (1995), essa distinção foi realizada com 
base em características geomórficas, principalmente relacionadas à idade dos 
sedimentos; as formações vegetais da “restinga” se restringiriam aos terrenos 
holocênicos, enquanto a “Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas” ocuparia os 
terrenos pleistocênicos, ao menos nos locais onde esses dois “pacotes” geológicos 
são bem definidos.
Embora muitas das características florísticas e estruturais apontadas por 
diversos autores para essas florestas em diferentes áreas do litoral brasileiro sejam 
coincidentes entre si e em relação à Ilha do Mel, alguns aspectos do conhecimento 
sobre essas formações ainda permanecem obscuros, faltando uma análise 
conjunta e mais detalhada desses trabalhos para definir melhor suas respectivas 
características composicionais, estruturais e funcionais.
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Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
79
Tabela 2 - Quadro comparativo entre a terminologia proposta neste trabalho e aquelas utilizadas em 
outros estudos de vegetação de planície costeira no Brasil.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
80
Tabela 2 - continuação.
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
81
Tabela 2 - continuação.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
82
Figura 1 - Vista aérea da Praia Grande, sudeste da Ilha do Mel, mostrando a transição entre o campo 
aberto não inundável e o fruticeto fechado não inundável. Foto: Zig Koch
Figura 2 - Vista interna do fruticeto fechado não inundável. No primeiro plano um indivíduo de 
Psidium catleianum. Foto: Zig Koch
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
83
Figura 3 - Vista aérea da região nordeste da Ilha do Mel (Estação Ecológica da Ilha do Mel), onde 
é possível observar variação na altura da vegetação em função da posição nos cordões litorâneos. A 
faixa central, com dossel mais elevado, representa a floresta fechada inundável, e as regiões de dossel 
mais baixo, a floresta fechada não inundável. Foto: Zig Koch
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
84
Figura 4 - Vista interna da floresta fechada inundável. Foto: Zig Koch
Figura 5 - Aspecto da floresta fechada baixa halófita (manguezal). Foto: Zig Koch
Flora pteridofítica
Alexandre Salino, Sandro Menezes Silva, Vinícius Antônio de 
Oliveira Dittrich & Ricardo Miranda de Britez
Introdução
As pteridófitas constituem as plantas vasculares sem sementes, sendo 
geralmente classificadas em quatro divisões – Lycopodiophyta, Equisetophyta, 
Psilotophyta e Pterophyta. Com base na literatura existente, estima-se que haja 
atualmente entre 10.500 e 11.300 espécies de pteridófitas (Ross 1996). Entretanto, 
o mesmo autor acredita que o número de espécies possa chegar a 12.000 – 
15.000, das quais 10.000 – 12.000 estariam nos trópicos do Velho e Novo Mundo. 
Aproximadamente 75% das espécies ocorrem em duas grandes regiões: uma, de 
maior riqueza, que compreende o sudeste da Ásia e a Australásia, com cerca de 
4.500 espécies, e outra que abrange as Grandes Antilhas, o sudeste do México, a 
América Central e os Andes do oeste da Venezuela ao sul da Bolívia, onde ocorrem 
cerca de 2.250 espécies (Tryon & Tryon 1982).
As pteridófitas ocorrem nos mais variados ecossistemas, em uma grande 
variedade de micro-hábitats: do nível do mar a elevadas altitudes, de regiões ártico-
alpinas ao interior de florestas tropicais úmidas, de áreas subdesérticas no interior 
dos continentes até regiões rochosas costeiras e mangues (Page 1979). No entanto, 
sua maior diversidade está nos trópicos úmidos e nas montanhas subtropicais 
(Tryon & Tryon 1982). Formam um importante componente da flora de florestas 
tropicais úmidas, compreendendo geralmente cerca de 10% do total do número 
de espécies de plantas vasculares (Grayum & Churchill 1987). Além disso, nessas 
florestas as pteridófitas apresentam-se em maior número do que qualquer família 
de angiospermas herbáceas (Foster 1990, Foster & Hubbel 1990, Hamell 1990, 
Poulsen & Pendry 1995, Poulsen 1996, Kozera 2001, Poulsen & Balslev 1991). 
Alexandre Salino et al.
86
Na América Tropical, quatro regiões de alta diversidade reúnem cerca de 
40% de espécies endêmicas: as Grandes Antilhas, com 900 espécies; o sudeste do 
México e a América Central, também com cerca de 900 espécies; a região dos Andes, 
com cerca de 1.500 espécies; e o Sudeste e Sul do Brasil, com 600 espécies, das quais 
40 % são endêmicas (Tryon & Tryon 1982, Tryon 1986) talvez uma subestimativa, 
já que somente o estado de São Paulo conta com mais de 500 espécies. Conforme 
estimativa de Moran (1995a), há na América do Sul aproximadamente 3.000 espécies 
de pteridófitas. No Brasil deve haver de 1.200 a 1.300 espécies (Prado 1998) e no 
estado do Paraná devem ocorrer entre 390 e 420 espécies.
Existem poucos levantamentos florísticos de pteridófitas no Paraná, 
destacando-se Dombrowski (1972), Cervi et al. (1987), Cislinski (1996), Dittrich 
(1999), Dittrich et al. (1999), Kozera (2001) e Kersten & Silva (2001). Com relação 
a levantamentos em áreas costeiras no Brasil, podem ser destacados alguns 
trabalhos que apresentam listagens mais abrangentes, como os de Reitz (1961), 
Pontual (1972), Lindeman et al. (1975), Araujo & Henriques (1984), Citadini-
Zanette (1984), Waechter (1986), Barros et al. (1988), Behar & Viégas (1992, 
1994), Sylvestre (1997a, 1997b), Mynssen (2000) e Prado & Labiak (2001). Para 
a Ilha do Mel há três levantamentos parciais de pteridófitas. Um com as espécies 
epífitas da planície litorânea (Kersten & Silva neste volume), outro incluindo todas 
as pteridófitas ocorrentes em um hectare de Floresta Ombrófila Densa Submontana 
localizado entre o Morro Bento Alves e o Morro do Miguel (Dittrich 1999) e o 
terceiro em uma área de Floresta Ombrófila Densa Submontana situada no Morro 
Bento Alves (Kozera 2001).
Visando a ampliar os conhecimentos da composição florística da vegeta-
ção da Ilha do Mel, este trabalho teve como objetivo listar as espécies de pteridófitas, 
bem como apresentar sua distribuição nas diversas formações vegetacionais da Ilha, 
contribuindo para o conhecimento da flora pteridofítica das formações vegetacionais 
da planície litorânea e da Floresta Ombrófila Densa do Paraná.
Material e Métodos
As coletas foram realizadas em toda a Ilha do Mel (planície e morros), em 
todos os tipos vegetacionais (campos, fruticetos e florestas, segundo Silva & Britez, 
neste volume), sendo iniciadas em 1985 e intensificadas a partir de 1992. As amostras 
foram preparadas segundo as técnicas usuais de herborização (Silva 1984). 
Meio Biológico - Flora PteridoFítica
87
As identificações foram feitas com base na literatura especializada, por 
comparação com material determinado e por meio de consultas a especialistas. O 
material coletado encontra-se depositado principalmente nos seguintes herbários: 
Herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais 
(BHCB), Universidade Estadualde Londrina (FUEL), Herbário do Departamento 
de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ICN), Herbário do 
Museu Botânico Municipal de Curitiba (MBM), Herbário Perl Karl Dusén (PKDC) – 
incorporado ao MBM −, Herbário do Departamento de Botânica da Universidade 
Estadual de Campinas (UEC) e Herbário do Departamento de Botânica da 
Universidade Federal do Paraná (UPCB). Além das amostras coletadas pelos 
autores, também foi analisado material adicional depositado nesses herbários. 
São citados apenas espécimens testemunhos para cada espécie. 
Os táxons foram listados em ordem alfabética e o sistema de classificação 
usado foi o de Moran (1995b), exceto para as famílias Vittariaceae e Gleicheniaceae, 
nas quais utilizou-se a classificação genérica de Crane (1997) e foi aceito o gênero 
Gleichenella, respectivamente. Para as abreviações dos nomes dos autores das 
espécies adotou-se o trabalho de Pichi-Sermolli (1996). As siglas dos herbários 
estão citadas segundo Holmgren et al. (1990).
Resultados
Foram identificadas 114 espécies, distribuídas em 21 famílias e 51 
gêneros, que são listadas na Tabela 1, com indicação das suas respectivas formas 
de crescimento e ambientes preferenciais de ocorrência. 
Tabela 1 - Relação das famílias e espécies de pteridófitas ocorrentes na Ilha do Mel, Paranaguá, PR, com 
as respectivas formas de crescimento e formações preferenciais de ocorrência. Forma de Crescimento: 
terrestre – TR; rupícola – RP; holoepífita – EP; hemiepífita – HE, trepadeira – TP. Ocorrência: Campos 
− C; Fruticetos − R; Florestas − F; Formações secundárias − FS. 
Alexandre Salino et al.
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Meio Biológico - Flora PteridoFítica
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Alexandre Salino et al.
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Meio Biológico - Flora PteridoFítica
91
Alexandre Salino et al.
92
As famílias mais representativas em número de espécies foram 
Polypodiaceae (16 espécies), Thelypteridaceae (14), Pteridaceae (12), 
Hymenophyllaceae (12), Lomariopsidaceae (oito), Aspleniaceae (seis) e 
Schizaeaceae (seis). Essas sete famílias abrigam 63% das espécies de pteridófitas 
ocorrentes na Ilha. 
Os gêneros mais representativos foram Thelypteris, com 13 espécies, 
Asplenium e Trichomanes, com sete, Elaphoglossum, com seis, Hymenophyllum 
e Adiantum, com cinco espécies cada, Blechnum, Campyloneurum e Polypodium, 
com quatro espécies cada, Cyathea, Lindsaea, Lycopodiella, Microgramma 
e Pteris, com três espécies cada, Nephrolepis, Huperzia, Pecluma, Pleopeltis, 
Actinostachys, Schizaea, Tectaria e Diplazium, com duas espécies cada. Esses 22 
gêneros congregam 74% das espécies ocorrentes na Ilha. Os outros 29 gêneros 
estão representados por uma espécie cada, totalizando 26% do total de espécies. 
As espécies com distribuição mais ampla na ilha foram Blechnum 
serrulatum e Rumohra adiantiformis, que ocorrem em todos os ambientes (Tabela 
1). Já Cyathea leucofolis, Dicranoglossum furcatum, Polytaenium cajenense, 
Huperzia flexibilis e Thelypteris decussata var. brasiliensis são espécies de rara 
ocorrência na Ilha do Mel.
Nas florestas da encosta (Floresta Ombrófila Densa Submontana) foram 
encontradas 57 espécies, das quais 43 restritas a esse ambiente. Já nas florestas da 
planície (Florestas não inundável e inundável) foram registradas 44 espécies, destas 
29 exclusivas. Nos campos (praias, dunas e costões) e nas formações pioneiras 
com influência flúvio-marinha (manguezais) foram registradas quatro espécies. 
Nos fruticetos, incluindo brejos herbáceos, foram encontradas 13 espécies e nos 
ambientes antrópicos (formações secundárias) foram registradas nove espécies, 
das quais sete exclusivas (Tabela 1).
A grande maioria das espécies (95%) era herbácea, quatro eram 
arborescentes (Alsophila setosa, Cyathea atrovirens, C. corcovadensis e C. 
leucofolis) e uma subarborescente (Blechnum brasiliense). Das 114 espécies, 
84 eram exclusivas quanto à forma de crescimento, sendo 53 terrestres, 22 
holoepífitas, três rupícolas, quatro hemiepífitas e duas trepadeiras. As outras 30 
espécies apresentaram forma de crescimento variada, sendo 17 espécies terrestres/
holoepífitas, seis espécies terrestres/rupícolas, quatro espécies terrestres/rupícolas/
epífitas e três espécies rupícolas/epífitas.
Meio Biológico - Flora PteridoFítica
93
Discussão
Considerando as 54 espécies registradas na planície litorânea da Ilha do 
Mel e comparando com as listagens apresentadas por Reitz (1961), Dombrowski 
(1972), Pontual (1972), Lindeman et al. (1975), Araujo & Henriques (1984), 
Citadini-Zanette (1984), Waechter (1986) e Behar & Viégas (1992, 1994), 
nota-se que 34 espécies são freqüentemente encontradas em áreas da planície 
litorânea do Brasil: Asplenium serra, Blechnum brasiliense, B. serrulatum, Cyathea 
atrovirens, Nephrolepis biserrata, Lindsaea lancea, L. quadrangularis, Pteridium 
arachnoideum, Polybotrya cylindrica, Rumohra adiantiformis, Tectaria incisa, 
Trichomanes cristatum, Huperzia mandiocana, Lycopodiella alopecuroides, L. 
camporum, L. caroliniana, Osmunda cinnamomea, Campyloneurum minus, 
Microgramma geminata, M. vacciniifolia, Pecluma paradiseae, Pleopeltis angusta, 
P. astrolepis, Polypodium chnoophorum, P. latipes, Acrostichum danaeifolium, 
Pityrogramma calomelanos, Anemia phyllitidis, Lygodium volubile, Schizaea 
elegans, Actinostachys pennula, Thelypteris interrupta, T. opposita e T. serrata. 
Merece destaque a ocorrência na planície litorânea da Ilha do Mel dos gêneros 
Actinostachys e Schizaea, ambos com duas espécies cada.
Aproximadamente 58% das espécies registradas por Behar & Viégas 
(1992) para a restinga de Setiba, no Espírito Santo, também foram encontradas 
na Ilha do Mel, sendo a maioria de formações florestais. Esses autores registraram 
Polypodium brasiliense (= Polypodium triseriale Sw.) como uma das espécies mais 
comuns. Já na Ilha do Mel, P. triseriale não foi encontrada. Polypodium brasiliense 
parece ser comum a partir das restingas do litoral norte do estado de São Paulo, 
sendo bastante rara nas restingas do Sul do Brasil. 
As 57 espécies ocorrentes na vegetação arbórea da encosta dos morros 
da Ilha do Mel são freqüentemente encontradas em áreas de Floresta Ombrófila 
Densa (A. Salino, dados não publicados). 
Nos brejos herbáceos foram registradas sete espécies: Lycopodiella 
alopecuroides, L. camporum, L. caroliniana, Osmunda cinnamomea, Pityrogramma 
calomelanos, Thelypteris interrupta e T. opposita.
Polypodiaceae e Thelypteridaceae, as famílias de maior riqueza dentre 
as 17 presentes na Ilha do Mel, também foram comuns em outros levantamentos 
realizados na região costeira do Brasil (Reitz 1961, Araujo & Henriques 1984, Behar 
& Viégas 1992, 1994, Labiak & Prado 1998). Na ilha, as espécies de Polypodiaceae 
geralmente são epífitas, obrigatórias ou facultativas, quase sempre rizomatosas; 
Alexandre Salino et al.
94
Microgramma vacciniifolia é a mais comum e ocorre em praticamente todos os 
tipos vegetacionais estudados. Trata-se de uma espécie bastante freqüente, e até 
mesmo abundante no ambiente epifítico, e ocorre desde as formações arbustivas 
próximas ao mar, muitas vezes ainda como terrestre, até as partes mais altas das 
árvores nas formações florestais, sendo muitas vezes a espécie dominante, conforme 
demonstrado em Kersten & Silva (neste volume). Outras espécies dessa família 
que também se destacaram no ambiente epifítico foram Polypodium catharinae 
e Polypodium hirsutissimum. 
Estudos abordando epífitas vasculares no sul do Brasil ainda são 
escassos, mas mostram que algumas espécies de pteridófitas ocorrentes na 
Ilha, notadamente representantes de Polypodiaceae, podem ocorrer em outras 
formações vegetais com relativa importância. Microgramma vacciniifolia, por 
exemplo, foi uma das espécies mais freqüentes em levantamento realizado no Rio 
Grande do Sul, em Floresta Estacional Decidual (Aguiar et al.1981). Na região 
litorânea de Santa Catarina, Labiak & Prado (1998) também destacaram essa 
espécie como uma das mais comuns em área de floresta sobre a planície costeira. 
Ainda nessa família, como espécies herbáceas características dos estratos inferiores 
dos Fruticetos e da Floresta não inundável da planície litorânea da Ilha, podem 
ser salientadas Pecluma paradiseae e Polypodium latipes. Na Floresta inundável, 
as espécies que se destacaram foram Campyloneurum acrocarpon e Polypodium 
chnoophorum. No levantamento das espécies herbáceas terrestres de uma área 
de planície costeira no Rio Grande do Sul, realizado por Citadini-Zanette (1984), 
P. latipes e P. chnoophorum também foram registradas, sendo que a primeira era 
mais rara na área e a segunda destacou-se em áreas encharcadas.
Thelypteris foi o gênero com maior riqueza específica entre as pteridófitas 
ocorrentes na planície da Ilha do Mel. Na sua maioria são espécies herbáceas 
terrestres características dos ambientes florestais, sendo Macrothelypteris torresiana 
e Thelypteris dentata (ambas espécies introduzidas no Brasil) típicas de áreas 
alteradas, e Thelypteris serrata preferencial de áreas mais abertas e úmidas, como 
os campos inundáveis.
Em Lomariopsidaceae, com oito espécies, a maior parte terrestres e/
ou holoepífitas facultativas, destacou-se Elaphoglossum com maior número de 
espécies (seis), características das formações florestais fechadas, onde ocorrem 
como espécies terrestres ou epífitas nas partes inferiores das árvores. Rumohra 
adiantiformis é uma herbácea abundante nas áreas abertas, tanto situadas 
próximas ao mar como em locais mais interiores da planície costeira; em formações 
Meio Biológico - Flora PteridoFítica
95
fechadas e úmidas, a espécie tem ocorrência rara ou então é ausente. Polybotrya 
cylindrica é uma espécie comum no estrato inferior das florestas altas e úmidas, 
onde freqüentemente ocorre como hemiepífita. 
Em Blechnaceae, representada por cinco espécies, destacou-se 
Blechnum serrulatum, espécie terrestre de Pteridophyta mais freqüente na Ilha, 
chegando mesmo a ser abundante nos Fruticetos e na Floresta não inundável, 
onde caracteriza o estrato inferior; na Floresta fechada inundável não chega a ser 
abundante. Essa espécie já foi registrada por Araujo & Henriques (1984) no Rio 
de Janeiro e por Behar & Viegas (1992, 1994) para o Espírito Santo, sendo sem 
dúvida um elemento característico da vegetação nas planícies costeiras do sudeste 
brasileiro. Em Barros et al. (1991), a espécie é citada com destaque nas descrições 
florístico-fisionômicas das formações apresentadas, embora neste trabalho não 
seja apresentada uma listagem das espécies de pteridófitas.
Na família Dennstaedtiaceae destacou-se o gênero Lindsaea, representado 
por três espécies, das quais L. quadrangularis e L. portoricensis são características 
das Florestas fechadas inundáveis. Pteridium arachnoideum é característica de 
áreas abertas e degradadas e, embora tenha sido registrada no levantamento, 
não foi abundante; sua ocorrência é restrita a áreas de planície próximas aos 
morros, anteriormente cultivadas em sistema de “roças” temporárias. Algumas 
áreas degradadas nos morros, hoje em adiantado processo de recomposição da 
vegetação, ainda apresentam alguns agrupamentos pouco densos e extensos dessa 
espécie. Hymenophyllaceae, com 12 espécies, está representada principalmente 
por epífitas características das formações florestais, enquanto Dennstaedtiaceae, 
Schizaeaceae e Thelypteridaceae são todas tipicamente terrestres, com boa 
representatividade específica neste levantamento (cinco, seis e 14 espécies, 
respectivamente). 
As filicíneas arborescentes, comuns nos estratos inferiores de florestas 
úmidas da região leste do Brasil, foram representadas na planície costeira da Ilha 
do Mel somente por Cyathea atrovirens (Cyatheaceae), embora nas áreas de morro 
tenham sido registradas outras espécies. Trata-se de uma espécie muito típica dos 
estratos inferiores das formações florestais, inundáveis ou não. Silva et al. (1994), 
em levantamento realizado em floresta acompanhando o curso de um pequeno 
rio na Estação Ecológica da Ilha do Mel, verificaram que a espécie figurou entre as 
mais importantes, principalmente em locais de transição entre os sítios inundáveis 
e os mais bem drenados.
Alexandre Salino et al.
96
Behar & Viégas (1992) listaram nove espécies de pteridófitas como 
características das formações vegetais costeiras, a saber: Blechnum serrulatum, 
Thelypteris interrupta, Osmunda cinnamomea, Actinostachys pennula, 
Microgramma vacciniifolia, Pteridium arachnoideum, Polybotrya cylindrica, 
Lycopodiella alopecurioides e Osmunda regalis. Destas, somente a última não foi 
registrada na Ilha até o momento.
Os morros da Ilha do Mel têm maior heterogeneidade ambiental e 
aparentemente são mais ricos em espécies de pteridófitas, tanto terrestres como 
rupícolas e epífitas. No morro Bento Alves, poucas espécies de pteridófitas têm 
freqüência elevada como, p. ex., Lindsaea lancea var. lancea e Thelypteris paranaensis, 
bastante comuns em área sombreada no interior da floresta. Thelypteris paranaensis 
é uma espécie que foi recentemente descrita (Salino 2002), cujo holótipo é da Ilha do 
Mel. Essa espécie é endêmica da Floresta Ombrófila Densa do Paraná, com registros 
para a Ilha do Mel e áreas da porção norte do litoral do Paraná. A maioria das espécies 
é muito pouco freqüente, como, p. ex., Rumohra adiantiformis, Campyloneurum 
nitidum, Polytaenium cajenense, Hymenophyllum asplenioides, Thelypteris dentata, 
Asplenium serratum, Blechnum serrulatum e Trichomanes cristatum (um indivíduo 
ou alguns crescendo em área contígua numa área de pouco mais de um hectare 
em cada espécie). É interessante notar que algumas dessas espécies, sobretudo R. 
adiantiformis e B. serrulatum, são muito abundantes nas áreas de planície da Ilha, 
o que deve estar ligado às grandes diferenças de tipos de solo. Outras têm uma 
freqüência intermediária, contando com alguns indivíduos mais uniformemente 
distribuídos nesse mesmo hectare: Blechnum binervatum subsp. acutum, Cyathea 
corcovadensis e Trichomanes rigidum.
A preferência por substrato é bastante diversificada, com espécies 
preferencialmente rupícolas (e. g. Asplenium triquetrum – só observada em rochas 
de rio –, Hymenophyllum caudiculatum e Campyloneurum minus), terrestres (e. g. 
Cyathea corcovadensis – arborescente –, Lindsaea lancea var. lancea, Thelypteris 
paranaensis, Trichomanes rigidum, T. cristatum, Schizaea elegans e Salpichlaena 
volubilis – trepadeira volúvel), holoepífitas preferenciais (e. g. Hymenophyllum 
asplenioides, Microgramma percussa, M. vacciniifolia, Asplenium serratum, 
Trichomanes polypodioides e Polytaenium cajenense), hemiepífita secundária 
(Blechnum binervatum subsp. acutum) e sem preferência clara por substrato (e. 
g. Elaphoglossum ornatum, comportando-se como epífita, terrestre ou rupícola, 
sem aparente preferência por um dos dois tipos). É interessante notar que algumas 
espécies epifíticas aparentemente têm preferência por forófito, como é o caso 
Meio Biológico - Flora PteridoFítica
97
de Trichomanes polypodioides, que só foi observado crescendo sobre caules de 
Cyathea corcovadensis e de Blechnum binervatum subsp. acutum. Asplenium 
mucronatum também cresce preferencialmente sobre caules de Cyatheaceae, 
ocorrendo, esporadicamente, sobre espécies de Magnoliophyta. Ambrósio 
& Barros (1997) também constataram a preferência de pteridófitas epifíticas 
por determinados forófitos num remanescente de Floresta Atlântica na região 
Nordeste do Brasil. Outro fato digno de menção é o comportamento de Rumohra 
adiantiformis, que é espécie tipicamente terrestre nas planícies da Ilha, e teve 
como único exemplar constatado no Morro Bento Alves um indivíduo de hábito 
epifítico. Essa espécie possui comportamentovariado, podendo ser encontrada 
como epífita, terrestre ou ainda rupícola (Sehnem 1979, Tryon & Stolze 1991, 
Senna & Waechter 1997, Labiak & Prado 1998, Dittrich et al. 1999). 
Numa análise rápida na floresta, é notório que algumas espécies 
necessitam de bastante luz para crescer, como é o caso de Blechnum brasiliense e 
de Salpichlaena volubilis, só encontradas em clareiras (observações pessoais). Outra 
espécie que parece requerer bastante luz é a epífita Microgramma vacciniifolia, 
como verificado por Labiak & Prado (1998) em Santa Catarina. A maioria das 
espécies, entretanto, parece ter preferência por locais úmidos e sombreados no 
interior da floresta, como constatado por Salino (1996) no estado de São Paulo 
e por Ambrósio & Barros (1997) em Pernambuco. As Hymenophyllaceae, por 
exemplo, ocorrem quase que exclusivamente nesse tipo de ambiente, assim como 
as espécies de Elaphoglossum. 
Dittrich (1999), comparando a composição florística de pteridófitas 
epifíticas de um hectare de Floresta Ombrófila Densa Submontana da Ilha do 
Mel com outros levantamentos de pteridófitas das regiões Sudeste e Sul do Brasil, 
concluiu que a Ilha apresenta maior similaridade florística com a Reserva Volta 
Velha, no extremo litoral norte de Santa Catarina (Labiak & Prado 1998), coberta 
por Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas. Quando apenas espécies terrestres 
são consideradas, a similaridade é maior com uma área, também de um hectare, 
do Parque Estadual Pico do Marumbi, no município de Morretes, estado do Paraná 
(Dittrich 1999), coberta por Floresta Ombrófila Densa Montana (espécies terrestres 
não foram inventariadas por Labiak & Prado 1998). Dittrich (1999) ressalta que 
a proximidade geográfica é um fator importante no aumento da similaridade 
florística, mas que há outros fatores a serem considerados, como similaridade de 
precipitação e de temperatura e, sobretudo para as espécies terrestres, a composição 
mineral dos solos.
Alexandre Salino et al.
98
Considerando-se a distribuição geográfica, a maior parte das espécies 
enquadra-se em três padrões: 1) Espécies de ampla distribuição na região 
Neotropical − aproximadamente 49%; 2) Espécies com distribuição restrita às 
regiões Sudeste e Sul do Brasil − 19% das espécies; 3) Espécies que ocorrem 
nas regiões Sudeste e Sul do Brasil e nos países da porção sul da América do 
Sul − 15% das espécies. Alguns estudos realizados nas regiões Sudeste e Sul do 
Brasil, como os de Sylvestre (1997a), Labiak & Prado (1998) e Salino (dados não 
publicados), obtiveram porcentagens de espécies levemente superiores para os 
mesmos padrões de distribuição. 
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103
Floresta Ombrófila Densa Submontana: 
florística e estrutura do estrato inferior
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
Introdução
Estudos detalhados sobre a vegetação herbácea e arbustiva em áreas 
de floresta tropical são escassos e heterogêneos quanto à metodologia amostral, 
tanto no Brasil como em outros países, principalmente quando se referem a dados 
quantitativos. Trabalhos dessa natureza, em geral, tratam quase que exclusivamente 
do estrato arbóreo, apresentando algumas vezes listas incompletas das espécies 
herbáceas e arbustivas (Mantovani 1987).
Entre os motivos apontados para a escassez desses estudos está a 
dificuldade em se estudar conjuntamente toda a vegetação e à maior importância 
estrutural e econômica que é atribuída às árvores nessas formações (Cestaro et 
al. 1986). Além disso, existe a dificuldade de identificação taxonômica, já que 
se trata de uma sinúsia mais complexa do que a arbórea. Conseqüentemente, 
comparações entre a diversidade específica de diferentes tipos vegetacionais 
podem gerar interpretações duvidosas, pois os dados disponíveis, na maioria dos 
trabalhos, acabam sendo restritos ao componente arbóreo, especialmente em áreas 
de floresta tropical (Gentry & Dodson 1987, Mantovani 1987). 
Entre os trabalhos desenvolvidos em áreas florestais brasileiras 
que abordaram especificamente o componente herbáceo e/ou subarbustivo, 
caracterizando-o florística e/ou fitossociologicamente, citam-se o de Citadini-
Zanette (1984), Cestaro et al. (1986), Cervi et al. (1987, 1988), Citadini-Zanette 
& Baptista (1989), Diesel & Siqueira (1991) e Müller (1999). Além desses, Knob 
(1978), Klein (1979, 1980), Andrade (1992), Bernacci (1992), Britez et al. (1995), 
Citadini-Zanette (1995), Torezan (1995), Zickel (1995), Meira-Neto (1997), Silva 
(1998), Dorneles & Negrelle (2000) e Negrelle (2002) também incluíram dados 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
104
sobre a sinúsia herbácea em estudos direcionados aos demais estratos florestais 
e/ou à regeneração natural. 
Dentro desse contexto, e por causa da escassez de trabalhos realizados 
com o estrato herbáceo-arbustivo em áreas de Floresta Ombrófila Densa, em 
especial no Paraná, realizou-se o presente trabalho. Teve como objetivos listar 
as espécies de Magnoliophyta e Pteridophyta e levantar dados sobre a estrutura 
da comunidade herbácea-arbustiva em uma área de Floresta Ombrófila Densa 
Submontana localizada na Ilha do Mel. 
Material e métodos
O estudo florístico e fitossociológico do estrato herbáceo-arbustivo foi 
realizado na parte superior do morro Bento Alves (25o33’38” S, 48o18’39” W), 
a cerca de 140 m s.n.m. (Britez & Marquez, neste volume). Na área nasce o rio 
Grande, um riacho perene utilizado para o abastecimento da população que vive 
na Ilha do Mel (Paraná 1996).
A cobertura vegetal predominante, segundo o sistema de classificação de 
Veloso et al. (1991), é a Floresta Ombrófila Densa Submontana. Ocorre no local 
associada a estádios de desenvolvimento secundário da floresta, representados 
pela fases intermediária a avançada, originados da atividade agrícola praticada 
durante a década de 1950 na encosta do morro. 
Para o estudo florístico foram feitas coletas quinzenais no período entre 
janeiro de 1999 e fevereiro de 2000. Foram coletadas as espécies herbáceas 
terrícolas e arbustivas pertencentes a Magnoliophyta e Pteridophyta. Para isso 
percorria-se a área ao longo de um dia em caminhadas que se iniciavam a 
partir das margens direita e esquerda do riacho Grande e seguiam em direção 
às encostas, num trecho de cerca de 2 ha. Os procedimentos adotados para a 
coleta e herborização seguiram as recomendações básicas para trabalhos dessa 
natureza, descritas em IBGE (1992). 
Em campo foram anotadasinformações referentes ao hábitat da 
espécie (rupícola - cresce sobre rochas; terrícola - cresce enraizada no solo), 
formas biológicas segundo Silva (1998), com modificações (acrescentou-se a 
forma biológica herbácea trepadeira), coloração das peças florais e/ou frutos e 
informações sobre o ambiente no qual a espécie foi encontrada. 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
105
Posteriormente os materiais foram submetidos a determinação de família, 
gênero e espécie, utilizando-se para isso bibliografia específica e comparações com 
exsicatas dos Herbários UPCB (Departamento de Botânica, Setor de Ciências 
Biológicas, Universidade Federal do Paraná) e MBM (Museu Botânico Municipal de 
Curitiba). Algumas coletas foram enviadas para determinação por especialistas. Os 
materiais determinados foram registrados e incorporados na coleção do Herbário 
UEC (Universidade Estadual de Campinas). Duplicatas foram distribuídas para 
os Herbários ESA (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 
SP), UPCB e MBM.
Para o nome dos autores das espécies foram adotadas as abreviaturas de 
Brummitt & Powell (1992). O sistema de classificação adotado para as famílias de 
Magnoliophyta foi o de Cronquist (1988) e para as Pteridophyta, o sistema de Tryon 
& Tryon (1982) com modificações. Incluíram-se os gêneros Megalastrum e Olfersia, 
descrito por Holltum (1986) e monografado por Moran (1986), respectivamente, 
na família Dryopteridaceae. 
Para o levantamento fitossociológico foi empregado o método de parcelas 
(Mueller-Dombois & Ellenberg 1974), que tem sido o mais utilizado em trabalhos 
abordando o estrato herbáceo-arbustivo. Para a instalação das parcelas foram 
selecionados trechos da floresta com características similares quanto à fisionomia 
da vegetação e declividade do terreno. Posteriormente foram delimitadas três faixas 
com 8 m de largura e comprimento variável, dispostas numa mesma orientação e 
paralelas entre si. Dentro dessas faixas foram sorteadas e alocadas parcelas de 4 x 
8 m de comprimento, subdivididas em parcelas menores e contíguas de 2 x 2 m. 
Em cada uma das parcelas de 2 x 2 m foram amostradas as espécies herbáceas, 
arbustivas, trepadeiras e hemiepífitas secundárias com altura igual ou maior que 1 
cm e igual ou menor que 1,5 m. Durante a amostragem foram anotados o porcentual 
de cobertura (%) e a altura máxima e mínima de cada uma das espécies presentes 
nas parcelas. O número mínimo de parcelas alocadas foi determinado pela curva de 
esforço amostral (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974; Matteucci & Colma 1982).
Todos os dados coletados foram analisados considerando-se a sua 
totalidade nas parcelas de 4 x 8 m e separadamente nas parcelas de 2 x 2 m. 
Para cada espécie amostrada foram estimadas a freqüência absoluta e a relativa, 
a cobertura relativa (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974), a cobertura média e a 
importância relativa (Boldrini & Miotto 1987). 
Além desses parâmetros, calculou-se o índice de diversidade de Shannon 
(H’) (Magurran 1989) para o estrato analisado. Para o cálculo do índice utilizaram-
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
106
se os valores de cobertura, parâmetro utilizado na amostragem para estimar a 
abundância da comunidade. Esse procedimento tem sido utilizado especialmente 
quando a estimativa da densidade é difícil de ser determinada por causa da 
ausência de limites nítidos visíveis entre os indivíduos (Matteucci & Colma 1982). 
Os parâmetros foram calculados da seguinte forma:
• Freqüência absoluta (FA): parâmetro que indica a relação entre o número de 
parcelas em que ocorre determinada espécie e o número total de parcelas alocadas.
FAi = (pi / P) x 100, onde: FAi = freqüência absoluta da espécie “i” (%)
pi = número de unidades amostrais onde ocorre a espécie “i” 
P = número total de unidades amostrais 
• Freqüência relativa (FR): parâmetro que indica a relação entre a freqüência 
absoluta de uma determinada espécie com as freqüências absolutas de todas as 
demais espécies. 
FRi = (FAi / ∑FA) x 100, onde: FRi = freqüência relativa da espécie “i” (%)
∑FA= somatório das FA de todas as espécies amostradas (%) 
• Cobertura relativa (CR): parâmetro que indica a relação entre a cobertura total 
de uma espécie com relação à cobertura total de todas as demais espécies. 
CRi = (Ci/ ∑C) x 100, onde: CRi = cobertura relativa da espécie “i”(%)
Ci = cobertura total da espécie “i” 
∑C = somatório da cobertura total de todas as espécies 
• Cobertura média (CM): parâmetro que indica a relação entre a cobertura total 
de uma espécie e o número total de parcelas alocadas na área de estudo 
CMi = Ci / P, onde: CMi = cobertura média da espécie “i”(%)
• Importância relativa (IR): soma da freqüência e da cobertura relativa de 
determinada espécie
IRi = FRi + CRi , onde: IRi = índice de valor de importância relativa da 
espécie “i” 
• Índice de diversidade de Shannon (H’): expressa a heterogeneidade florística 
da área 
H’ = - ∑CRi x ln CRi, onde: ln = logaritimo natural 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
107
Resultados
No estudo florístico foram registradas 99 espécies, 71 gêneros e 36 famílias. 
Desse total pertencem a Magnoliophyta 67 espécies, 46 gêneros e 25 famílias 
(Tabela 1) e a Pteridophyta 32 espécies, 25 gêneros e 11 famílias (Tabela 2). 
Dentre as Magnoliophyta destacaram-se com os maiores números 
de espécies Orchidaceae, Piperaceae (8), Araceae, Poaceae (7), Acanthaceae 
e Rubiaceae (5), e dentre as Pteridophyta, Dryopteridaceae (9), Blechnaceae, 
Cyatheaceae, Schizaeaceae (4) e Hymenophyllaceae (3).
Foram listadas seis espécies rupícolas: Asplenium triquetrum 
(Aspleniaceae), Elaphoglossum ornatum (Dryopteridaceae), Hymenophyllum 
caudiculatum, Trichomanes cristatum (Hymenophyllaceae), Peperomia 
corcovadensis e Peperomia urocarpa (Piperaceae); três espécies rupícolas e/
ou terrícolas: Bertolonia mosenii (Melastomataceae), Campyloneurum minus 
(Polypodiaceae) e Olfersia cervina (Dryopteridaceae); e 90 espécies terrícolas.
As Magnoliophyta foram representadas por 12 formas biológicas, enquanto 
as Pteridophyta, por seis (Figura 1). No cômputo geral destacaram-se as formas 
biológicas herbácea rizomatosa (18), herbácea ereta (14) e arbustiva ereta (13).
No interior da Floresta Ombrófila Densa Submontana do morro Bento 
Alves (MBA) foram observados indivíduos de algumas espécies distribuídos de 
forma aparentemente regular (Aphelandra ornata, Lepidagathis diffusa), enquanto 
outros formavam grandes agrupamentos em determinados locais, como Calathea 
sp. Esta espécie, em especial, foi observada ao longo do córrego, principalmente 
próxima às margens e nas superfícies aluvionares.
Além de Calathea sp., também foram observadas nesses ambientes, 
com freqüência mas não formando agrupamentos, Dichorisandra thyrsiflora, 
Thelypteris sp., Aphelandra ornata, Megalastrum connexum, Piper caldense, 
Erythrodes arietina, Psychotria birotula, Psychotria brachypoda, Lomagramma 
guianensis, Monstera adansonii, Anthurium pentaphyllum e Polybotrya cylindrica. 
Sobre as rochas próximas ao riacho foram encontradas Peperomia 
corcovadensis, Peperomia urocarpa, Lommagrama guianensis, Campyloneurum 
minus, Olfersia cervina, Elaphoglossum ornatum e Asplenium triquetrum, além 
de espécies de musgos. Texto da nascente foram encontradas Macrothelypteris 
torresiana, Diplazium plantaginifolium, Megalastrum connexum, Ctenitis falciculata, 
Piper amplum e jovens de Alsophila setosa, espécies que não foram observadas 
no restante da área. 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
108
Tabela 1 - Espécies de Magnoliophyta presentes no estrato herbáceo-arbustivo da Floresta Ombrófila 
Densa Submontanado morro Bento Alves, com seus respectivos hábitat (TE-terrícola, RU-rupícola), 
forma biológica observada em campo (HBBU-herbácea bulbosa, HBCE-herbácea cespitosa, HBER-
herbácea ereta, HBES-herbácea escandente, HBRE-herbácea reptante, HBRI-herbácea rizomatosa, 
HBRO-herbácea rosulada, HBSA-herbácea saprófita, HBTR-herbácea trepadeira, ABER-arbustiva 
ereta, ABRO-arbustiva rosulada, HESE-hemiepífita secundária), mês(es) em que a espécie foi coletada 
fértil (01-jan, 02-fev,...12-dez) e número de registro no herbário UEC (Unicamp). 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
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Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
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TABELA 2 - Espécies de Pteridophyta presentes no estrato herbáceo-arbustivo da Floresta Ombrófila 
Densa Submontana do morro Bento Alves, com seus respectivos hábitat (TE-terrícola, RU-rupícola), 
forma biológica observada em campo (HBRE-herbácea reptante, HBRI-herbácea rizomatosa, 
HBRO-herbácea rosulada, HBTR-herbácea trepadeira, ABRO-arbustiva rosulada, HESE-hemiepífita 
secundária), mês(es) em que a espécie foi coletada fértil (01-jan, 02-fev,...12-dez) e número de registro 
no herbário UEC (Unicamp). 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
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Figura 1 - Número de espécies registradas para cada uma das formas biológicas observadas na 
área de Floresta Ombrófila Densa Submontana do morro Bento Alves (HBRI-herbácea rizomatosa, 
HBER-herbácea ereta, ABER-arbustiva ereta, HBRO-herbácea rosulada, HBTR-herbácea trepadeira, 
HBRE-herbácea reptante, HBCE-herbácea cespitosa, HESE-hemiepífita secundária, ABRO-arbustiva 
rosulada, HBES-herbácea escandente, HBBU-herbácea bulbosa, HBSA-herbácea saprófita). 
Nos trechos de encosta, a fisionomia da floresta apresentou mudanças. 
Sofreu alterações em virtude das diferentes estruturas e composições específicas 
dos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo. Alternavam-se trechos da vegetação 
em estádios sucessionais intermediários a mais avançados. Nestes últimos locais 
foram observados indivíduos arbóreos de grande porte e diâmetro do caule, 
caracterizados pela riqueza de espécies epifíticas, elevada altura do ponto de 
inversão morfológica e por encontrarem-se ocupando o dossel florestal. Dentre 
as espécies herbáceas e arbustivas coletadas nessas áreas citam-se Cyathea 
corcovadensis, Anemia phyllitidis, Aphelandra ornata, Chusquea discolor, 
Dendropanax monogynum, Dorstenia hirta, Erythrodes picta, Lepidagathis diffusa, 
Lindsaea lancea, Parodiolyra micrantha, Prescottia colorans, Pseuderanthemum 
riedelianum, Psychotria birotula, Psychotria brachypoda, Spigelia dusenii, 
Lomagramma guianensis, Monstera adansonii, Polybotrya cylindrica, Salpichlaena 
volubilis e Conchocarpus gaudichaudianus (Figuras 2, 3 e 4). 
Os trechos da floresta em estádio inicial a intermediário caracterizaram-
se pelo predomínio de herbáceas e arbustivas com altura até 2 m (Parodiolyra 
micrantha, Piper solmsianum, Scleria panicoides e Scleria secans) e elevada 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
112
densidade de indivíduos arbóreos com perímetro à altura do peito próximo a 
30 cm, constituindo um a dois estratos. Nesses locais foram observadas poucas 
epífitas e as espécies herbáceas encontravam-se distribuídas de forma esparsa. 
Dentre estas citam-se Coccocypselum cordifolium, Coccocypselum lanceolatum, 
Blechnum brasiliensis, Philodendron bipinnatifidum, Cyathea atrovirens, Tectaria 
cf. pilosa e Dictyostega orobanchoides.
Além dos trechos da floresta em diferentes estádios sucessionais, 
foram observadas no MBA clareiras naturais com tamanhos variados. Nesses 
locais constatou-se que espécies do sub-bosque, principalmente jovens dos estratos 
superiores, desenvolviam-se com grande rapidez, favorecidos pelo aumento da 
temperatura e quantidade de luz incidente no estrato inferior da floresta. Espécies 
trepadeiras lenhosas de Magnoliophyta e a trepadeira Salpichlaena volubilis 
(Pteridophyta) também foram observadas crescendo nas clareiras, entrelaçadas 
com os fustes das árvores e em direção aos locais com maior incidência de luz.
 Quanto ao estudo fitossociológico, os dados analisados, 
considerando a sua totalidade nas 15 parcelas alocadas de 4 x 8 m e separadamente 
nas 120 parcelas de 2 x 2 m, não mostraram diferenças significativas entre si 
quanto à distribuição e cobertura das espécies na área estudada. Por esse motivo 
são apresentados somente os resultados da análise das parcelas menores de 2 x 
2 m. Optou-se por apresentar os resultados das parcelas menores, pois a maioria 
dos trabalhos realizados com o estrato herbáceo e/ou arbustivo utilizou tamanhos 
de parcelas iguais ou próximos a este. 
 Foram amostradas 59 espécies, 48 gêneros e 29 famílias. Destes 
totais, 42 espécies, 34 gêneros e 21 famílias pertencentes a Magnoliophyta e 17 
espécies, 14 gêneros e 8 famílias a Pteridophyta (Tabela 3).
A cobertura média registrada foi 7,6%, o número médio de espécies 
13, o percentual médio de cobertura registrado nas parcelas 30,6% e o índice de 
diversidade de Shannon 3,04. 
Dentre as famílias amostradas, destacaram-se com os maiores números 
de espécies Acanthaceae, Araceae, Dryopteridaceae, Piperaceae, Schizaeaceae (4), 
Orchidaceae, Poaceae e Rubiaceae (3). Juntas acumulam 50% do total de espécies 
amostradas. Cyatheaceae, Marantaceae e Poaceae, apesar de representadas na área 
por poucas espécies, destacaram-se juntamente com Dryopteridaceae e Araceae 
pelos maiores valores de cobertura relativa. Representam as famílias mais importantes 
na fisionomia do estrato herbáceo-arbustivo.
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
113
Dentre as espécies levantadas no estudo fitossociológico, seis são 
hemiepífitas secundárias e 10 são trepadeiras.
Destacaram-se no levantamento com os maiores valores de importância 
relativa Cyathea corcovadensis, Monstera adansonii, Parodiolyra micrantha, 
Calathea sp., Anthurium pentaphyllum, Aphelandra ornata, Pseuderanthemum 
riedelianum, Dichorisandra thyrsiflora, Polybotrya cylindrica e Lepidagathis diffusa 
(Figura 5). Monstera adansonii foi a única espécie que ocorreu nas 120 parcelas 
alocadas. 
Com relação à cobertura relativa, Cyathea corcovadensis, Monstera 
adansonii, Calathea sp., Parodiolyra micrantha, Salpichlaena volubilis, 
Dychorisandra thyrsiflora, Polybotrya cylindrica, Lomagramma guianensis, 
Psychotria birotula e Aphelandra ornata destacaram-se no levantamento, 
perfazendo juntas 70% do total desse parâmetro registrado na área.
Figura 2 - Inflorescência de Aphelandra ornata (Acanthaceae), espécie herbácea ereta. Foto: Carina 
Kozera
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
114
Figura 3 - Inflorescência de Dorstenia hirta (Moraceae), espécie herbácea ereta. Foto: Carina Kozera
Figura 4 - Psychotria birotula (Rubiaceae) em frutificação, espécie arbustiva ereta. Foto: Carina Kozera
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
115
Tabela 3 - Parâmetros fitossociológicos estimados para o estrato herbáceo-arbustivo amostrado na 
Floresta Ombrófila Densa Submontana do morro Bento Alves (na = número de parcelas de 2 x 2 m 
em que as espécies ocorreram, FA = freqüência absoluta, FR = freqüência relativa, ∑C = somatório 
dos valores de cobertura, CR = cobertura relativa, CM = cobertura média e IR = importância relativa) 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
116
Figura 5 - Valores de importância relativa (IR) das dez primeiras espécies que se destacaram na 
amostragem fitossociológica da Floresta Ombrófila Densa do Morro Bento Alves (FR-freqüência 
relativa, CR-cobertura relativa). 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estratoinFerior
117
Discussão
O elevado número de espécies registradas no levantamento florístico 
demonstra a importância do estrato herbáceo-arbustivo na diversidade de áreas 
de Floresta Ombrófila Densa. As espécies contribuem significativamente para a 
riqueza específica dessas florestas. 
Na área estudada, o número total de espécies registradas no levantamento 
florístico foi aproximadamente duas vezes maior do que aquele registrado no 
levantamento fitossociológico. Isso ocorreu por causa da diversidade de ambientes 
presentes na área (rochas expostas no interior e nas margens do córrego rio Grande, 
encostas mais ou menos íngremes expostas a diferentes taxas de incidência luminosa, 
clareiras naturais, barrancos com declives moderados a acentuados e áreas próximas 
a nascentes), que foram explorados durante o período em que foi realizado o 
estudo florístico. Para a análise da estrutura fitossociológica foram selecionados 
apenas alguns trechos dentro da área com características similares, relacionadas 
principalmente a declividade e a fisionomia da vegetação, e aí instaladas as parcelas. 
Essa seleção limitou a inclusão de espécies, o que resultou na diferença entre o 
número de espécies registradas no estudo florístico e no fitossociológico.
A riqueza registrada na área do MBA demonstra a capacidade das 
espécies herbáceas em ocupar e se adaptar à heterogeneidade de ambientes 
observados nos sub-bosques de áreas de Floresta Ombrófila Densa. As espécies 
herbáceas e arbustivas apresentam adaptações de sobrevivência que refletem 
as condições ambientais em que ocorrem, atuando dessa forma como agentes 
indicadores da qualidade desse meio (Richards 1952). As 12 formas biológicas 
registradas neste trabalho podem ser citadas como um exemplo para ilustrar como 
essas espécies buscam otimizar o sub-bosque florestal, ocupando os diferentes 
ambientes e adaptando-se às condições físicas do meio. 
Quanto aos diferentes estádios serais da vegetação presentes no MBA, 
são resultantes da suspensão da atividade agrícola que foi praticada nas suas 
encostas em décadas passadas (cerca de 50 anos) (Figueiredo 1954, Paraná 
1996). O sistema de cultivo da época utilizava o fogo para a abertura das clareiras, 
nas quais posteriormente instalavam-se os cultivos. Com isso, os estádios serais 
intermediários a avançados que puderam ser observados no morro provavelmente 
são resultantes da recuperação dos trechos da floresta que foram utilizados para 
os plantios, ou podem ter surgido da ação indireta da prática agrícola. 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
118
Em áreas com Sistemas Secundários de vegetação, a esparsa cobertura 
dos estratos superiores permite a entrada de maior luminosidade, favorecendo o 
desenvolvimento de espécies herbáceas e arbustivas (Diesel & Siqueira 1991), 
bem como arbóreas dos estratos superiores em processo de regeneração natural. 
Estas, em especial, durante a fase inicial de crescimento, na qual encontram-
se presentes no compartimento inferior, ocupam um espaço entre as espécies 
do estrato herbáceo, competindo temporariamente com elas pelos recursos 
do meio (Dorneles 1996). Nessas situações, por exemplo, se a competição for 
acirrada, poderão ocorrer alterações na composição do estrato inferior, como o 
empobrecimento de espécies da sinúsia herbácea (Janzen 1977). 
Além disso, a maior entrada de luminosidade na floresta pode interferir na 
distribuição de uma espécie ou conjunto destas (Bernacci 1992), ou no seu processo 
de crescimento (Poulsen & Pendry 1995). No MBA, essa característica pôde ser 
observada em indivíduos de Parodiolyra micrantha (Poaceae). A espécie apresentava 
morfologia das estruturas vegetativas diferente em locais sombreados e mais 
iluminados. Em locais sombreados, como o interior da floresta, apresentava altura 
igual ou inferior a 1 m, folhas estreitas e distribuía-se de forma esparsa. Já em 
locais mais iluminados, bordas e clareiras da floresta, encontrava-se presente em 
elevado número de indivíduos com altura superior a 1 m e com folhas mais largas 
e compridas, quando comparadas àquelas de indivíduos de locais sombreados. 
Outro aspecto relacionado à luminosidade em áreas florestais refere-se 
à chegada de luz nas diferentes alturas do estrato inferior, indicando com isso a 
existência de um gradiente luminoso no estrato herbáceo em virtude das inúmeras 
barreiras que são transpostas pelos raios luminosos e que aumentam a difusão 
e a reflexão (Zickel 1995). Provavelmente representa outro fator de alteração da 
diversidade nesse estrato. 
Situação contrária a esta representam as clareiras naturais. Nesses 
locais não existem barreiras a serem transpostas pelos raios luminosos, que 
incidem diretamente sobre o estrato inferior. A colonização das clareiras reflete 
a heterogeneidade florística da comunidade associada às condições fisiográficas 
locais. Sua contribuição à riqueza da comunidade está relacionada, entre outros 
aspectos, ao número de espécies que dependem desses sítios para obter uma 
regeneração satisfatória (Tabarelli & Mantovani 1997). Na área foram observadas 
clareiras naturais formadas pela queda de indivíduos arbóreos do estrato superior, 
encontrando-se algumas destas em processo de colonização enquanto outras foram 
formadas recentemente. 
Meio Biológico - Floresta oMBróFila Densa suBMontana: Florística e estrutura Do estrato inFerior
119
Além das clareiras, fatores bióticos como competição, predação 
e parasitismo e abióticos, como tipos de solo e grau de umidade, também 
representam fatores que podem contribuir para a diversidade da comunidade 
herbácea do estrato inferior de florestas tropicais (Dirzo et al. 1992).
Quanto ao estudo fitossociológico, no MBA a maioria das espécies 
amostradas foram representadas por indivíduos com pequena altura e geralmente 
em estádio juvenil. Dentre os indivíduos amostrados destacaram-se aqueles 
pertencentes às espécies de trepadeiras e hemiepífitas secundárias. Apesar 
de ocuparem, quando adultos, os estratos médio e superiores da floresta, 
contribuíram de maneira significativa para a cobertura vegetal do estrato 
herbáceo-arbustivo. Durante o estádio inicial de desenvolvimento em que se 
encontram sobre o solo, juntamente com as espécies herbáceas e arbustivas, 
características desse estrato, os indivíduos jovens das espécies arbóreas em 
regeneração natural crescem em várias direções até encontrar um forófito. A partir 
daí, passam a ocupar os demais estratos da floresta, podendo, posteriormente, 
florescer (Magnoliophyta) ou produzir folhas férteis (Pteridophyta). Na área 
amostrada, três espécies hemiepífitas secundárias destacaram-se entre as dez 
mais importantes (Monstera adansonii, Anthurium pentaphyllum e Polybotrya 
cylindrica), contribuindo juntas com cerca de 19% do valor total de importância 
relativa. A inclusão dessas formas biológicas em amostragens fitossociológicas 
também foi opção de Poulsen & Balslev (1991), Poulsen & Pendry (1995) e 
Poulsen (1996), em trabalhos realizados com o estrato herbáceo em áreas de 
floresta tropical. Esses autores registraram 96, 121 e 92 espécies de plantas 
vasculares, respectivamente, em áreas amostrais com cerca de 1 ha.
Quanto às pteridófitas, com exceção de Cyathea corcovadensis, espécie 
mais importante da amostragem, as demais amostradas tiveram pouco destaque 
em termos fisionômicos no sub-bosque florestal. Esse compartimento encontrou-se 
representado principalmente por espécies herbáceas e arbustivas de Magnoliophyta 
e plântulas e indivíduos jovens das espécies arbustivas e arbóreas dos estratos 
superiores da floresta. Em outra área de Floresta Ombrófila Densa localizada no 
estado do Paraná, na qual o estrato herbáceo-arbustivo foi estudado (Kozera 
2001), os resultados obtidos com relação à participação de Pteridophytae demais 
espécies na estrutura e fisionomia da floresta foram diferentes. Nessa localidade, as 
espécies de Pteridophyta apresentaram 62,26% de cobertura relativa, o dobro do 
valor registrado na área do MBA. Dentre as dez espécies mais importantes nessa 
área, oito foram Pteridophyta. Provavelmente as diferentes condições ambientais 
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
120
representam um dos fatores condicionantes das diferenças florísticas observadas 
entre as áreas citadas. 
É importante destacar que as espécies herbáceas e as arbustivas, 
características do interior da floresta, constituem apenas uma parte da 
comunidade, que é, na verdade, formada por um conjunto de espécies com 
diferentes formas biológicas que dela participam e que contribuem para a 
cobertura com diferentes proporções (Gentry & Emmons 1987, Citadini-Zanette 
1989, Poulsen & Balslev 1991).
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Florística e estrutura de comunidades de 
epífitas vasculares da planície litorânea
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
Introdução
Epífitas são plantas que, ao menos em parte de seu ciclo de vida, são 
fisicamente independentes do solo, utilizando-se das árvores como suporte, mas 
não como fonte de nutrientes. Definições semelhantes foram feitas por outros 
autores (Madison 1977, Wallace 1989, Kress 1986, Nadkarni 1994). Bennett (1986) 
preferiu definí-las em termos de suas relações ecológicas, dizendo que o epifitismo 
é a interação comensal entre plantas na qual uma espécie dependente beneficia-
se apenas do substrato proporcionado por uma espécie hospedeira (forófito), 
retirando nutrientes da umidade atmosférica. São, no entanto, indubitavelmente 
responsáveis por grande parte da diversidade das florestas tropicais, chegando 
a representar mais de 50% de suas espécies vegetais (Madison 1977, Gentry & 
Dodson 1987, Kersten & Silva no prelo). 
A estratificação vertical em florestas tropicais está intimamente 
relacionada à grande variação ambiental na coluna vegetal. Essa variação é de tal 
forma significante que influencia a distribuição vertical de espécies de pássaros, 
mamíferos e insetos, sendo algumas espécies exclusivas do dossel (Nadkarni 
1981, Longino & Nadkarni 1990, Mestre et al. 2001). Possivelmente, boa parte da 
estratificação existente pode ser atribuída às variações microclimáticas existentes 
na floresta (Parker 1995). Fatores como temperatura, umidade, incidência de 
luz, composição do espectro e polarização dos raios, além dos ventos, são 
importantes para a flora epifítica (Benzing 1995). Além disso, Hietz & Hietz-Seifert 
(1995) e Yeaton & Gladstone (1982) relataram interações intra e interespecíficas 
que desviaram as freqüências de ocorrências das epífitas do esperado. Muitas 
características dos troncos e das copas, incluindo forma, textura e tamanho das 
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
126
folhas, ramificação dos galhos, altura, rugosidade do caule e densidade do dossel, 
afetam a retenção e redistribuição do total da precipitação (Parker 1995).
Poucos estudos sobre epífitas vasculares foram realizados no Brasil, 
sendo a grande maioria no sul e sudeste do país. A exceção é o estudo realizado 
na região amazônica (Gottsberger & Morawetz 1993), que incluiu liquens e 
briófitas. Paraná e Rio Grande do Sul são, sem dúvida, os estados mais bem 
descritos segundo o componente epifítico vascular, acomodando cerca de 70% dos 
trabalhos considerados. Na Floresta Ombrófila Mista destacam-se os levantamentos 
qualitativos executados por Cervi & Dombrowski (1985), Cervi et al. (1988), 
Dittrich et al. (1999) e Borgo (2002), todos na região de Curitiba, PR, e Kersten 
& Silva (2002), em uma área do município de Araucária. Em floresta estacional 
podem ser mencionados os trabalhos de Pinto et al. (1995) e Dislich & Mantovani 
(1998) no estado de São Paulo, Waechter (1998) e Aguiar et al. (1981) no Rio 
Grande do Sul, e Borgo et al. (2002) no Paraná.
Na Floresta Ombrófila Densa e formações associadas podem ser 
mencionados os trabalhos de Fontoura (1995) e Fontoura et al. (1997) no Rio de 
Janeiro; Fischer & Araújo (1995), Piliackas et al. (2000) e Mamede et al. (2001) 
no estado de São Paulo; Waechter (1980, 1986, 1992) e Gonsalves & Waechter 
(2002) na planície costeira do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina foi realizado 
apenas o levantamento de Labiak & Prado (1998) com pteridófitas epífitas. No 
Paraná, fora da Ilha do Mel são observados os estudos, ainda não publicados, de 
Schütz-Gatti (2000) e Petean (2002). Na Ilha podem ser citados os trabalhos de 
Dittrich (1999), Kersten (2001) e Kersten & Silva (2001).
Este estudo teve por objetivo analisar comparativamente o componente 
epifítico vascular de diferentes formações florestais e arbustivas da planície litorânea 
da Ilha do Mel nos aspectos florístico e estrutural.
Material e métodos
Áreas de estudo: Das diferentes formações florestais e arbustivas 
existentes na planície litorânea (Silva & Britez, neste volume), foram escolhidas 
duas formações florestais (florestas) localizadas na Estação Ecológica da Ilha 
do Mel e duas arbustivas (fruticetos) no Parque Estadual da Ilha do Mel para o 
estudo das epífitas (ver localizações das áreas em Britez & Marques e Athayde 
& Britez, neste volume), assim denominadas: Floresta não inundável (FL.N), 
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
127
Floresta periodicamente inundável (FL.P), Fruticeto fechado não inundável (FR.F) 
e Fruticeto aberto não inundável (FR.A). Nesses locais, Silva realizou estudo 
fitossociológico do estrato arbustivo-arbóreo, em áreas de 0,3 ha e 0,2 ha, nas 
florestas e fruticetos, respectivamente. Partes das informações das epífitas dessas 
áreas aqui apresentadas foram retiradas de Kersten & Silva (2001) e Kersten 
(2001). Foram também utilizadas informações dos trabalhos de iniciação científica 
de Cláudia Giongo e Miriam Kaehler, que trabalharam, respectivamente, com as 
famílias Orchidaceae e Bromeliaceae em uma área de Floresta permanentemente 
inundada (caxetal-guanandizal).
Levantamento florístico: O levantamento de espécies de hábito 
epifítico foi realizado por meio de coletas sistematizadas e intensivas nas diferentes 
áreas de estudo acima citadas, bem como por incursões periódicas entre 1986 e 
2002, sendo coletadas todas as espécies observadas em diversas áreas da planície 
e ao longo de trilhas. Foram ainda levantadas informações dos herbários MBM e 
UPCB. O material coletado foi herborizado conforme os procedimentos usuais em 
trabalhos de levantamento florístico, e depositado no Herbário do Departamento de 
Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB). Espécies não reconhecidas 
em campo foram coletadas quando férteis ou identificadas como morfoespécies, 
até que fosse possível sua coleta e determinação específica. Os nomes e autores 
das espécies foram verificados no W3TROPICOS (http://www.mobot.org) ou no 
International Plant Name Index - IPNI - (http://www.ipni.org), quando o nome não 
era encontrado no primeiro. 
As espécies amostradas foram classificadas em seis categorias ecológicas, 
de acordo com sua relação com o forófito, a saber: 1) holoepífito obrigatório: sempre 
nasce e cresce sobre outros vegetais; 2) holoepífito preferencial: preferencialmente 
cresce sobre outros vegetais, mas casualmente é encontrado como terrícola ou 
rupícola; 3) holoepífito facultativo: em uma mesma comunidade pode crescer tanto 
como epífito quanto como terrícola; 4) holoepífito acidental: geralmente terrícola 
ou rupícola, mas casualmente pode desenvolver-se como epífito; 5) hemiepífito 
primário: nasce sobre outros vegetais e posteriormente estabelece contato com o 
solo; 6) hemiepífito secundário: germina no solo e, ao estabelecer contato com 
um forófito, degenera a porção basal do sistema radicial/caulinar.
Levantamento Quantitativo: Em cada floresta (FL.N e FL.P) foram 
sorteados 100 indivíduos arbóreos, com no mínimo 30 cm de perímetro a 1,3 m 
de altura do solo. Foi utilizado o sistema proposto por Waechter (1992) de divisão 
vertical do forófito em intervalos (2 m), a partir da superfície do solo, denominados 
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
128
“estratos”, nos quais foram registradas todas as espécies epifíticasocorrentes. 
Indivíduos epifíticos muito jovens, cuja identificação é praticamente impossível, 
não foram considerados. Foram calculadas as freqüências absoluta e relativa nos 
estratos (FAe e FRe), sobre os forófitos (FAf e FRf), e sobre as espécies forofíticas 
(FAs e FRs) segundo as fórmulas: FAe = 100(ne/na) e FRe = 100(ne/∑ne), onde 
ne = número de estratos com ocorrência da espécie epifítica; na = número total 
de estratos amostrados; FAf = 100(nf/af) e FRf = 100(nf/∑nf), onde nf = número 
de forófitos com ocorrência da espécie epifítica; af = número total de forófitos 
amostrados; FAs = 100(ns/as) e FRs = 100(ns/∑ns), onde ns = número de espécies 
forofíticas com ocorrência da espécie epifítica, e as= número total de espécies 
forofíticas. No cálculo do valor de importância epifítica (VIE) foi utilizada a média 
aritmética das três freqüências relativas estimadas. A partir dos dados de ocorrência 
das espécies sobre os indivíduos forofíticos foi calculado o índice de diversidade 
de Shannon (H’), também com base em Waechter (1998). 
Nos fruticetos (FR.F e FR.A), foram amostrados todos os indivíduos 
arbustivos e arbóreos com perímetro na base (PB) igual ou superior a 30cm, sendo 
anotados para cada um a sua altura total e espécie. Foram estimadas apenas as 
freqüências sobre os forófitos, e sobre as espécies forofíticas, não sendo considerada 
a estratificação. 
Tanto nas florestas quanto nos fruticetos o valor de importância epifítica 
(VIE) foi calculado utilizando-se a média aritmética das freqüências relativas. A 
partir dos dados de ocorrência das espécies sobre os indivíduos forofíticos, foi 
calculado o índice de diversidade de Shannon (H’), com base nas freqüências 
sobre os indivíduos forofíticos, como estabelecido por Waechter (1992).
Resultados
Florística: Foram observadas ao todo 188 espécies epifíticas, 
distribuídas em 26 famílias e 75 gêneros em toda a planície litorânea da Ilha 
do Mel. As pteridófitas contribuíram com 11 famílias, 20 gêneros e 49 espécies. 
Entre as magnoliófitas ocorreram quatro famílias, 42 gêneros e 112 espécies de 
Liliopsida e 11 famílias, 13 gêneros e 27 espécies de Magnoliopsida (Tabela 1). 
Nas florestas foram observadas 119 espécies, sendo 77 na Floresta não inundável 
(FL.N) e 103 na Floresta periodicamente inundável (FL.P). Nos fruticetos foram 
levantadas 34 espécies, sendo 31 no Fruticeto fechado não inundável (FR.F) e 15 
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
129
no Fruticeto aberto não inundável (FR.A), além de 65 espécies coletadas em locais 
diversos. Onze espécies foram observadas em todas as 4 formações analisadas: 
Aechmea nudicaulis, Anthurium itanhense, Cattleya forbesii, Codonanthe gracilis, 
Epidendrum latilabre, Epidendrum rigidum, Microgramma vacciniifolia, Peperomia 
glabella, Polypodium catharinae, Rumohra adiantiformis e Vriesea procera.
Em termos de riqueza florística, destacaram-se as famílias Orchidaceae 
(74 espécies e 28 gêneros), Bromeliaceae (30 espécies e oito gêneros), 
Polypodiaceae (15 espécies e seis gêneros,), Hymenophyllaceae (11 espécies e 
dois gêneros) e Araceae e Piperaceae (ambas com sete espécies). Orchidaceae e 
Bromeliaceae são a duas mais ricas também em todas as formações.
Vriesea (Bromeliaceae) foi o gênero mais rico, com 17 espécies, seguido 
por Maxillaria (Orchidaceae), com 12 espécies, Pleurothallis (Orchidaceae), 
com oito espécies, Peperomia (Piperaceae) e Trichomanes (Hymenophyllaceae), 
com sete espécies, e Elaphoglossum (Lomariopsidaceae), Epidendrum e Stelis 
(Orchidaceae), com seis espécies. Nas florestas, Vriesea e Maxillaria aparecem 
novamente como os gêneros mais ricos, destacando-se ainda Prostechea e 
Epidendrum. Nos Fruticetos destacaram-se Vriesea e Epidendrum.
A distribuição das espécies epifíticas registradas na área, de acordo com 
as categorias ecológicas de relação com o forófito, evidenciou o predomínio de 
holoepífitas características (72% do total de espécies), seguidas pelas holoepífitas 
facultativas (11%), acidentais (10%), e as hemiepífitas (8%), sendo 3% hemiepífitas 
facultativas.
Nas formações florestais (total de 119 espécies), 72% são epífitas 
características, 10% são facultativas, 10% são hemiepífitas e 8% são acidentais. Nas 
formações arbustivas (34 espécies), 53% das espécies são epífitas características, 
26% são facultativas, 12% hemiepífitas e 9% acidentais.
A análise de similaridade (IJ) entre as áreas mostrou que as florestas são 
mais similares entre si e os fruticetos são mais similares entre si. Entre o fruticeto 
fechado e as florestas, os índices ficaram próximos a IJ= 0,25, e entre o fruticeto 
aberto e as florestas os índices ficaram abaixo de IJ= 0,18; nos dois casos os 
fruticetos foram um pouco mais semelhantes à Floresta não inundável do que à 
periodicamente inundável (Tabela 2).
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
130
Tabela 1 - Relação de espécies epifíticas vasculares registradas no levantamento florístico, com 
respectivas categorias ecológicas e local de ocorrência. Cat. (categorias de relação com o forófito): HLA: 
holoepífito acidental; HLC: holoepífito característico; HLF: holoepífito facultativo; HMP: hemiepífito 
primário; HMS: hemiepífito secundário. Local de ocorrência: FL.N: Floresta não inundável; FL.P: 
Floresta periodicamente inundável; FR.F: Fruticeto fechado não inundável; FR.A: Fruticeto aberto não 
inundável. Número de espécies na família não indicado quando igual a um.
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
131
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
132
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
133
Tabela 2 - Comparação (índice de Jaccard) entre as quatro áreas analisadas na Ilha do Mel. (N= 
Número de espécies, FL.N= Foresta não inundável, FL.P= Floresta periodicamente inundável, FR.A= 
Fruticeto aberto não inundável, FR.F= Fruticeto fechado no inundável)
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
134
Quantificação: No levantamento quantitativo foram amostradas 414 
árvores, dentre as quais foram observadas 108 espécies, 51 gêneros e 20 famílias. 
Microgramma vacciniifolia (Polypodiaceae) destacou-se como a espécie mais 
importante em todas as formações (Tabela 3), obtendo valores de importância 
epifítica (VIE) 15,2 e 18 nos fruticetos (FR.F e FR.A, respectivamente) e 11,1 e 
12,5 nas florestas (FL.N e FL.P, respectivamente). Ocorreu em 92% dos forófitos 
nos fruticetos e na floresta não inundável, e em 74% na floresta periodicamente 
inundável. Como segunda em importância, as formações apresentaram espécies 
diferentes, sendo Vriesea procera na FL.P, Aechmea nudicaulis na FL.N e no FR.A 
e Codonanthe gracilis na FL.N. 
Fora M. vacciniifolia, três outras espécies enquadraram-se entre as 10 
mais importantes nas quatro formações: Codonanthe gracilis, Epidendrum latilabre 
e Aechmea nudicaulis. Duas outras espécies estiveram entre as mais importantes 
em três formações: Vriesea procera (FL.N, FL.P e FR.A) e Epidendrum rigidum 
(FL.N, FR.F e FR.A). Três espécies estiveram ainda entre as 10 principais nos 
fruticetos: Peperomia glabela, Anthurium itanhense e Vanilla chamissonis. Todas as 
outras espécies apareceram entre as mais importantes em apenas uma localidade. 
O número de espécies abundantes (observadas em mais de 50% dos forófitos) 
variou bastante entre as formações, sendo maior nos fruticetos (27% no FR.A e 
13% no FR.F) e menor nas florestas (6% na FL.N), sendo que na FL.P apenas uma 
espécie (M. vacciniifolia) apresentou esse grau de colonização. No outro extremo, 
68% das espécies (em média) ocorreram em menos de 10% dos forófitos, podendo 
ser consideradas raras. O Fruticeto aberto não inundável apresentou a menor 
proporção de espécies raras (46%), seguido pela Floresta não inundável(62%) e 
pelo Fruticeto fechado não inundável (67). A Floresta não inundável apresentou 
a maior proporção de espécies raras (76%).
Considerando os 10 gêneros mais importantes de cada formação (Tabela 
4), quatro aparecem nas quatro florestas: Aechmea, Codonanthe, Pleurothallis 
e Microgramma. Quanto às famílias, Orchidaceae destacou-se como a mais 
importante em todas as formações, apresentando VIEt de 50% na FR.F e VIEt 
próximo de 27% nas demais formações. Polypodiaceae e Bromeliaceae alternam-
se como segunda e terceira mais importantes. Destacam-se ainda Gesneriaceae, 
Piperaceae e Aracea entre as cinco mais importantes das formações. 
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
135
Tabela 3 - Principais espécies encontradas nos levantamentos quantitativos das formações estudadas, 
classificadas segundo o VIE (FL.P= Floresta periodicamente inundável, FL.N= Floresta não inundável, 
FR.F= Fruticeto fechado não inundável, FR.A= Fruticeto aberto não inundável, ne= número absoluto 
de ocorrências, FAe= freqüência absoluta nos estratos, FRe= freqüência relativa nos estratos, FAf= 
freqüência absoluta nos indivíduos forofíticos, FRf= freqüência relativa nos indivíduos forofíticos, FAs= 
freqüência absoluta nas espécies forofíticas, FRs= freqüência relativa nas espécies forofíticas, VIE= 
valor de importância epifítico – FL.N: dados completos publicados em Kersten & Silva 2001; FL.P: 
dados completos publicados em Kersten 2001)
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
136
Discussão
A riqueza florística da Ilha do Mel, quando comparada com outras do 
Brasil, é bastante elevada (Tabela 5), sendo menor somente em relação à de 
Macaé, no Rio de Janeiro (Fontoura 1997). Tal estudo, no entanto, considerou 
a área integral da Reserva Ecológica de Macaé de Cima, com área equivalente 
a 7.200 ha e inserida em um trecho da Serra-do-Mar com altitude variando 
Tabela 4 - Principais gêneros amostrados e sua importância nas formações estudada, classificados 
segundo o valor de importância (FL.P= Floresta periodicamente inundável, FL.N= Floresta não 
inundável, FR.F= Fruticeto fechado, FR.A = Fruticeto aberto, VIE = valor de importância epifítico).
entre 900 e 1700 m. Dessa forma, o clima mais quente e a maior pluviosidade 
proporcionam ambiente mais próximo do ideal para a flora epifítica; a variação 
altitudinal proporciona uma variedade de nichos e ambientes que justificam o 
enorme número de espécies observado (306). É necessário, no entanto, frisar 
que nem todas as formações florestais da Ilha do Mel foram metodicamente 
analisadas. A Floresta permanentemente inundada e os morros não receberam 
tratamento compatível com a flora epifítica. Além disso, as quatro áreas com 
levantamento quantitativo consideradas somam apenas 1 ha (0,6 de florestas e 
0,4 de fruticetos). A existência de 63 espécies encontradas em outras localidades 
sem que nenhum levantamento sistemático tivesse sido realizado é um indício 
de que ainda existe muito trabalho a ser realizado. Assim, o número de espécies 
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
137
existentes deve superar o número aqui apresentado em pelo menos 20 ou 30%, 
atingindo possivelmente a marca de 250 espécies. 
O número de famílias epifíticas é também bastante elevado, igualando-
se ao observado em Guaraqueçaba e superando Macaé de Cima, que apresenta 
65% mais espécies que essas duas localidades. O número de gêneros é também 
bastante elevado, sendo bem maior que em áreas similares (Torres).
A dominância florística das famílias Orchidaceae, Bromeliaceae e 
Polypodiaceae (60% das espécies) vem sendo observada em diversos estudos dessa 
natureza, tanto no Brasil (Cervi & Dombrowski 1985, Cervi et al. 1988, Waechter 
1986, 1992, 1998, Dislich & Mantovani 1998, Dittrich et al. 1999) como na região 
neotropical (Sudgen & Robins 1979, Kelly 1985, Freiberg 1996, Olmsted & Juárez 
1996, Fontoura et al. 1997, Engwald et al. 2000). Sínteses sobre a composição 
taxonômica de epífitas vasculares nos trópicos (Madison 1977, Kress 1986, Gentry 
& Dodson 1987, Benzing 1990) também apontam essas famílias como as mais 
importantes. Somadas a elas, ainda outras famílias são freqüentemente observadas 
como importantes em trabalhos nessa região, como Araceae (Fontoura et al. 1997, 
Engwald et al. 2000) ou Piperaceae (Nadkarni 1986). Essas seis famílias podem 
ser consideradas como características das comunidades epifíticas neotropicais, 
Tabela 5 - Características florísticas em estudos de epífitas vasculares realizados em região litorânea 
no Brasil, classificadas segundo latitude norte-sul (FAM= número de famílias, GEN= número de 
gêneros, SPP= número de espécies observadas, FORM= formação em que o estudo foi realizado: 
FOD= Floresta Ombrófila Densa, MGE= Manguezal, RES= Restinga)
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
138
figurando sempre entre as mais abundantes, embora nem sempre na ordem aqui 
estabelecida. A exceção é feita por Hymenophyllaceae, que, apesar de estar entre 
as mais representativas em termos de número de espécies na Ilha do Mel, não tem 
se destacado em estudos dessa natureza. 
A presença de Vriesea (Bromeliaceae, 17 espécies) como gênero mais rico 
não deixa de ser esperada, pois esse gênero figurou entre os dois mais numerosos 
em todas as formações analisadas na Ilha do Mel, além de figurar entre os quatro 
mais ricos em todas as formações sob influência atlântica no Brasil (Waechter 
1986, 1992, 1998, Fontoura et al. 1997, Schutz-Gatti 2000, Piliakas et al. 2000, 
Kersten & Silva 2001), à exceção de Taim (Waechter 1992), a área mais setentrional 
dentre as analisadas. No entanto, surpreende por apresentar o mesmo número de 
espécies de Macaé (Fontoura et al. 1997), pois o Rio de Janeiro, estado no qual o 
parque se localiza, é considerado (Smith 1962) centro de dispersão desse gênero. 
Dessa forma, deveria ser a área clímax com maior número de espécies, ocorrendo 
diminuição da riqueza com o aumento da distância. De qualquer forma, o grande 
número de espécies desse gênero é apenas mais um indicativo da importância 
ecológica da comunidade epifítica, pois sabidamente apresentam grande interação 
com animais, servindo como alimento para pássaros e contribuindo para a 
manutenção da biodiversidade deste grupo (Nadkarni & Matelson 1989), como 
criadouro de larvas de insetos (Reitz 1983) e girinos, e como abrigo para diversos 
taxa de invertebrados (Mestre et al. 2001).
Na amostragem quantitativa, foram representadas cerca de 58% do total 
de espécies, 68% dos gêneros e 74% das famílias, em relação ao levantamento 
qualitativo da área como um todo. Se consideradas apenas as espécies observadas 
nas áreas onde foram realizados levantamentos quantitativos (descontadas as 
espécies observadas em “outros” Tabela 1), essas porcentagens sobem para 85% 
das espécies e 91% dos gêneros e famílias. Ao associarmos isso com o alto número 
de espécies raras e ao fato de que apenas quatro das 11 espécies observadas em 
todas as localidades estiveram também entre as mais importantes, verificamos que 
muitas das espécies, apesar de apresentarem distribuição ampla (alta diversidade 
beta), nem sempre são abundantes, ocorrendo pouco em cada local (baixa 
diversidade alfa). Observações semelhantes já haviam sido feitas por Kersten 
& Silva (2001, 2002) ao discorrerem sobre a importância das espécies “raras”, 
afirman-do serem elas parte importante do ecossistema. Além disso, a qualidade 
ambiental de um ecossistema é demonstrada pelo número de espécies (epifíticas) 
raras existentes e não pela dominância de poucas muito freqüentes.
Meio Biológico - Florística e estrutura de coMunidades de epíFitas vasculares...
139
A espécie Microgramma vacciniifolia, mais importante nos quatro 
levantamentos quantitativos realizados,foi também registrada como a de maior 
VIE em Torres (Waechter 1992), em Tramandaí (Waechter 1998), em Terra do 
Areia (Gonsalves & Waechter 2002) destacando-se, ainda, (segunda espécie 
em VIE) em levantamento realizado na região do Taim (Waechter 1992), todas 
áreas da planície costeira do Rio Grande do Sul, além de figurar como terrícola 
no fruticeto fechado (Salino et al. neste volume). Ainda outra espécie do mesmo 
gênero (M. squamulosa) foi a mais importante em um levantamento em floresta 
ombrófila mista (Kersten & Silva 2002). Essa ampla e densa distribuição da espécie 
(ou do gênero Microgramma) mostra a grande maleabilidade da espécie e sua 
capacidade de se adaptar a diferentes condições ambientais, sejam elas causadas 
pela variação latitudinal entre Paraná e Rio Grande do Sul, pela variação de 
saturação hídrica existente entre as florestas e os fruticetos ou entre o chão e o 
dossel de uma mesma floresta. 
Dentre as demais espécies classificadas entre as mais importantes 
nas quatro localidades, Aechmea nudicaulis foi também observada (Salino et 
al. neste volume) como terrícola, ocorrendo deste as beiradas das praias até as 
florestas úmidas, sendo, como M. vacciniifolia, bastante plástica. Epidendrum 
latilabre é uma das Orchidaceae mais coletadas nos Herbários UPCB e MBM, e 
já foi encontrada (obs. pessoal) em diversas localidades do litoral bem como da 
Serra do Mar, nas formações montana e submontana, e Codonanthe gracilis é 
uma espécie ornitocórica, o que facilita sua dispersão em todos os ambientes da 
Ilha. A grande maioria das espécies listadas entre as mais importantes (60%), no 
entanto, foi observada em apenas uma localidade. Isso reforça a afirmação já feita 
de que nem sempre as espécies mais freqüentes têm também distribuição ampla.
O ambiente dos fruticetos é, por suas características, mais inóspito para as 
epífitas. Pode-se considerar, portanto, que as espécies dominantes (Microgramma 
vacciniifolia, Aechmea nudicaulis, Peperomia glabella, Codonanthe gracilis, 
Epidendrum latilabre) em ambos comportam-se como pioneiras, colonizando 
ambientes impróprios para a maioria da flora epifítica. Observações pessoais e de 
outros pesquisadores (Gonsalves & Waechter 2002) indicam que, ao menos para 
três delas (M. vacciniifolia, A. nudicaulis e E. latilabre), isso pode ser considerado 
como fato.
Quanto aos índices de similaridade entre as áreas da Ilha do Mel, foi 
observado exatamente o esperado: os fruticetos foram mais similares entre si, 
assim como as florestas. No entanto, a similaridade entre os fruticetos e entre estes 
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
140
e as florestas foi relativamente baixa, fato que pode ser explicado pelo pequeno 
número de espécies nos primeiros. É interessante notar a maior similaridade de 
ambos os fruticetos com a floresta não inundável. Apesar de pequena, a diferença 
pode indicar que a disponibilidade de água nos ambientes é um fator importante 
no estabelecimento da comunidade epifítica. 
A comunidade de epífitas vasculares da Ilha do Mel é bastante rica, 
apresentando comunidades diferenciadas ao longo de sua planície, o que 
contribui para a grande diversidade observada. As orquídeas, como observado 
em diversos trabalhos, são a família mais rica, seguida de perto pelas bromélias. 
As Vriesea, gênero mais rico, desempenha também importante função ecológica 
na manutenção da biodiversidade da fauna. Como em quase a unanimidade dos 
trabalhos sobre epífitas vasculares, uma espécie do gênero Microgramma aparece 
como mais importante quantitativamente e as Orchidacecae são responsáveis 
pela maior parte do valor de importância total. Esses resultados demonstram a 
importância da existência das unidades de conservação e devem servir como 
estímulo tanto à criação de novas reservas como ao aprofundamento dos estudos 
nas já existentes. Além disso, mostram a grande contribuição das epífitas vasculares 
para as comunidades vegetais e a manutenção da biodiversidade em ecossistemas 
tropicais.
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145
Ciclagem de nutrientes na planície costeira
Ricardo Miranda de Britez, Luciana A. Pires, Carlos Bruno Reissmann, Sergio 
Nereu Pagano, Sandro Menezes Silva, Simone Ferreira de Athayde & Roberto 
Xavier de Lima 
Introdução
Atualmente, o incremento dos investimentos em políticas de consumo, 
visando a atender a demanda da população e o crescimento econômico, tem 
como conseqüência imediata o aumento na exploração e utilização dos recursos 
naturais em todo o planeta. A manutenção desses recursos por meio de um uso 
racional depende do planejamento ambiental, enfocando aspectos de conservação 
e de sustentabilidade, embasados no conhecimento científico dos ecossistemas 
(Britez 1994).
Para o manejo adequado de qualquer ecossistema, dados sobre sua 
produtividade são de grande valia para o planejamento das ações a serem 
executadas. Para a ecologia vegetal é importante a produtividade primária, ou seja, 
a quantidade de matéria orgânica produzida pela cobertura vegetal por unidades 
de área e tempo (Odum 1988). Os fatores mais importantes para o controle da 
produtividade são energia, água e nutrientes, sendo o último o mais limitante nos 
trópicos úmidos (Jordan 1985).
Os nutrientes são os elementos químicos a partir dos quais a matéria viva 
é formada, sendo obtidos do solo, da água e da atmosfera. A planta verde absorve 
esses elementos, principalmente, do solo pela raiz, e eles são então translocados 
através da planta e incorporados em seus tecidos. Quando a planta ou parte dela 
morre, inicia-se a decomposição do material orgânico e os elementos minerais 
nelas contidos são devolvidos ao solo, tornando-se novamente disponíveis (Golley 
et al. 1978).
Na floresta tropical, contribuindo para a redução da perda de nutrientes, 
grande parte dos minerais está fixada na madeira (troncos, galhos e raízes) e 
Ricardo Miranda de Britez et al.
146
move-se lentamente pelo sistema. A outra parte, com uma massa menor, recicla-
se rapidamente pela deposição de material vegetal no solo (serapilheira). Esse 
material, ao decompor-se, ao mesmo tempo em que disponibiliza nutrientes para 
o crescimento das plantas, também é suscetível a perdas pela lixiviação no solo, 
principalmente quando há um desequilíbrio no ecossistema por causas antrópicas 
ou naturais (Golley et al. 1978). 
Este trabalho é uma síntese de pesquisas relativas à ciclagem de 
nutrientes na planície litorânea da Ilha do Mel, realizadas no período entre 1991 
e 2000. Os principais aspectos estudados são relativos à deposição e composição 
química da serapilheira e à entrada de nutrientes via água da chuva. Os estudos 
foram realizados em áreas de planície com diferentes características ambientais.
Metodologia
Foram analisados três sítios amostrais, representando situações distintas 
da ocorrência da floresta dos cordões litorâneos da planície da Ilha do Mel. O 
primeiro situa-se na planície arenosa na Praia Grande (sítio 1), porção sul da 
Ilha, paralelo à linha da praia, na vertente interna das dunas eólicas do primeirocordão, denominado como “Fruticeto fechado não inundável”, influenciado 
diretamente pelos ventos predominantes, na direção mar-terra (Silva & Britez, 
neste volume). O segundo e o terceiro estão localizados na Estação Ecológica da 
Ilha do Mel, na porção central da ilha, sendo denominados de “Floresta fechada 
não inundável” (sítio 2), localizada na parte mais elevada, e portanto mais seca, 
dos cordões litorâneos, e “Floresta fechada periodicamente inundável” (sítio 3), 
desenvolvendo-se nas depressões dos cordões litorâneos, onde freqüentemente há 
o afloramento do lençol freático, sendo estas duas fisionomias das mais expressivas 
na planície litorânea da Ilha (Silva & Britez, neste volume). 
Para a estimativa da quantidade de serapilheira produzida foram 
realizadas coletas mensais, no sítio 1, durante o período de agosto de 1996 a julho 
de 1997 (12 coletas), utilizando-se 40 caixas de fibra de vidro com tela de náilon de 
2 mm2, medindo 50 X 50 cm, com altura de 15 cm. Nos sítios 2 e 3, a amostragem 
foi de junho de 1991 a julho de 1993 (25 coletas), com 15 coletores circulares 
com 1 m2 de recepção, em cada formação estudada. Estes foram amarrados às 
árvores a uma altura de 1 m do solo. Nos três sítios, os coletores foram alocados 
nas parcelas amostrais do estudo fitossociológico realizado por Silva (1998).
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
147
A serapilheira recolhida mensalmente foi triada em quatro frações: folhas, 
ramos (a qual inclui todos os fragmentos lenhosos com eixo central de diâmetro 
até 2 cm), órgãos reprodutivos (flores, frutos e sementes) e miscelânea (todo o 
material que não se enquadrava nas demais frações). O material foi colocado em 
sacos de papel e levado à estufa 70°C (até a obtenção de peso constante), pesados 
em balança eletrônica com precisão de 0,01g, sendo os valores transformados 
em kg.ha-1.
Nos sítios 2 e 3 também foi avaliada a entrada de nutrientes por meio 
da chuva. A água de precipitação que atravessa o dossel e goteja na superfície 
do solo (precipitação interna) foi captada quinzenalmente, por meio de 10 
pluviômetros de polietileno em cada sítio de estudo. A amostragem foi feita durante 
o período de junho de 1991 a julho de 1993 (25 amostras). Os pluviômetros 
foram distribuídos aleatoriamente, por sorteio, nas parcelas em que estavam os 
coletores de serapilheira. A água de precipitação livre ou total foi coletada por 
cinco pluviômetros localizados em uma clareira próxima às áreas de amostragem. 
Todos os pluviômetros foram construídos com funil plástico com 
área de recepção de 120,7 cm2 (com tela na base), conectados a um recipiente 
plástico (5 litros) por uma mangueira fina. As leituras eram feitas quinzenalmente, 
medindo-se o volume de água existente no reservatório com uma proveta. Na 
quantificação da perda por interceptação, empregou-se a equação definida por 
Helvey & Patric (1965), citados por Franken et al. (1982): I = Pt - (Pi + Et), onde 
I = perda por interceptação, Pt = precipitação total, Pi = precipitação interna e Et 
= escorrimento pelo tronco. O termo Et foi desprezado, tendo em vista seu valor 
ser pouco significativo na equação (Franken et al. 1982).
Para realização das análises químicas da serapilheira, amostras de dois 
meses (80 amostras) do sítio 1 foram agrupadas juntando-se um mesmo coletor de 
cada mês (40 amostras). Posteriormente sortearam-se oito coletores que também 
foram agrupados, totalizando 5 réplicas por bimestre para cada fração. Nos sítios 
2 e 3 fez-se o mesmo procedimento, mas em vez de agruparem-se 8 coletores, 
juntaram-se 3 coletores. Os números dos coletores foram sorteados para cada 
bimestre para obtenção de uma maior aleatoriedade. As amostras foram moídas 
em moinho do tipo Willey e homogeneizadas, para serem realizadas as análises 
químicas.
As análises de N, P, K, Ca, Mg, Fe, Mn, Cu, B e Zn, na serapilheira do 
sítio 1, foram realizadas de acordo com o método descrito por Malavolta et al. 
(1989), no laboratório de análise química de solo e planta da Universidade Federal 
Ricardo Miranda de Britez et al.
148
de São Carlos, em Araras, SP. Nos sítios 2 e 3, a metodologia de determinação 
foi a de Hildebrand (1976), sendo realizada no laboratório de nutrição de plantas 
do Departamento de Solos da Universidade Federal do Paraná. 
Os resultados obtidos foram expressos em g.100g-1 do peso seco para 
os macronutrientes, e µg.g-1 do peso seco para os micronutrientes e Al.
Foram calculadas as quantidades de nutrientes depositados, resultado da 
multiplicação da quantidade de serapilheira depositada pelos teores de nutrientes 
de cada fração, expressos em kg.ha-1 (macronutrientes) e g. ha-1 (micronutrientes). 
Para a análise química de amostras de água foram feitas coletas 
quinzenais durante o ano de 1992. Em todos os recipientes foram colocados 
cristais de timol para impedir o desenvolvimento de microrganismos. Logo após 
a medida do volume de água captado em cada pluviômetro, a água dos dez 
pluviômetros de cada sítio foi misturada em um galão e retirada uma alíquota 
de 2 litros, à qual foi adicionado 1 ml de ácido clorídrico. Estas amostras foram 
reunidas para compor uma amostra mensal. O mesmo procedimento foi feito 
para os pluviômetros localizados fora da floresta. A água foi levada a laboratório 
e congelada. As análises foram realizadas pelos mesmos procedimentos descritos 
acima, segundo recomendações da APHA (1990). 
Resultados
Nos sítios 2 e 3, nos quais realizou-se a amostragem durante 2 anos, 
a produção da serapilheira total foi maior cerca de 2,2% para a sítio 2, e 0,8% 
no sítio 3 no primeiro ano em relação ao segundo ano. A deposição anual de 
serapilheira foi maior no sítio 3, seguida do 2 e do 1 (Tabela 1).
Tabela 1 - Deposição de serapilheira total e fracionada, e seus porcentuais em relação ao total de 
serapilheira depositada, nos três sítios estudados na Ilha do Mel, PR.
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
149
Figura 1 - Deposição sazonal da serapilheira total e suas frações nos três sítios 
estudados na Ilha do Mel, PR.
Ricardo Miranda de Britez et al.
150
Figura 2 - Teores médios de macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg) da serapilheira nos três sítios estudados 
na Ilha do Mel, PR.
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
151
Figura 3 - Teores médios anuais de micronutrientes (Fe, Mn, Cu, Zn, B) nas frações da serapilheira 
dos três sítios estudados na Ilha do Mel, PR. 
Ricardo Miranda de Britez et al.
152
Figura 4 - Deposição anual de macronutrientes (N, P. K, Ca, Mg) pelas frações da serapilheira nos 
três sítios estudados na Ilha do Mel, PR. 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
153
Figura 5 - Deposição anual de micronutrientes (Fe, Mn, Cu, Zn, B) pelas frações da serapilheira nos 
três sítios estudados na Ilha do Mel, PR.
Ricardo Miranda de Britez et al.
154
A sazonalidade da deposição de serapilheira é evidenciada na Figura 1. 
A serapilheira total, a de folhas e a miscelânea apresentaram os maiores picos de 
deposição no final da primavera e verão, diminuindo drasticamente no inverno. 
A fração ramos apresentou uma deposição bastante irregular, mas com uma 
tendência de diminuição nos meses de inverno. A fração reprodutiva deposita 
menores quantidades nos meses de julho, agosto, setembro e outubro.
As médias anuais dos teores de nutrientes no sítio 3 diferiram apenas 
para o Mn, maior na fração folhas, e para o Zn, maior na fração miscelânea. Nos 
sítios 2 e 3, as folhas, seguidas pela fração miscelânea, apresentaram as maiores 
concentrações de Mg. Os elementos reprodutivos apresentaram os maiores valores 
de N, P e K, seguidos também pela fração miscelânea. A fração ramos apresentou 
os menores teores de macronutrientes, com exceção do Ca, que teveseu maior 
valor nesta fração (Figuras 2 e 3). Destacaram-se os teores mais elevados em todas 
as frações de P, Ca, Fe, Zn e B no sítio 1, quando comparados aos demais sítios.
Em termos de quantidades anuais de nutrientes depositados (Figuras 4 
e 5), observou-se a grande importância da fração folhas. A fração ramos, embora 
com uma biomassa depositada maior que as frações reprodutiva e miscelânea, 
apresentou uma maior representatividade nas quantidades depositadas de 
micronutrientes. Embora o sítio 1 tenha depositado uma quantidade menor de 
serapilheira, apresentou uma maior deposição de P, Ca, Fe, Zn e B.
Na soma dos macronutrientes foram depositados, por hectare, 154,53 
kg, 106,1 kg e 181,3 kg, e na dos micronutrientes, 2.216,4 g, 1.456,9 g e 2.267,7 
g, nos sítios 1, 2 e 3, respectivamente. A deposição sazonal de macronutrientes foi 
mais intensa no verão para todos os sítios, acompanhando a curva de produção 
da serapilheira.
Nos dois sítios estudados na Estação Ecológica quantificou-se uma 
precipitação de 1.802 mm e 2.262 mm durante o primeiro e segundo ano de 
amostragem, respectivamente. Os valores de precipitação para esse mesmo período, 
obtidos pela estação meteorológica de Paranaguá, foram de 2.260 mm e 2.232 
mm (Britez 1994). A precipitação interna totalizou no primeiro ano 1.389,53 mm 
e 1.150,72 mm, e no segundo ano, 1.784,57 mm e 1.716,65 mm, nos sítios 2 e 
3, respectivamente.
Os porcentuais mensais de interceptação apontam valores maiores para 
o sítio 3, principalmente no primeiro ano, quando a média anual chegou a 36%, 
enquanto no sítio 2 esse porcentual foi de 23%. Já no segundo ano, a diferença 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
155
Figura 6 - Quantidade de nutrientes transportados via precipitação total e precipitação interna, para 
o ano de 1992, nos sítios 2 e 3 da Estação Ecológica, Ilha do Mel, PR.
Figura 7 - Porcentual de contribuição dos nutrientes da precipitação e serapilheira para o ano de 
1992, nos sítios 2 e 3 da Estação Ecológica, Ilha do Mel, PR. 
Ricardo Miranda de Britez et al.
156
entre as áreas foi menor, com médias anuais de 24% e 21% para os sítios 3 e 2, 
respectivamente.
Na avaliação da quantidade de nutrientes depositada (em kg.ha-1) via 
precipitação total, o Mg foi o elemento depositado em maiores quantidades, seguido 
do Ca e do K, enquanto na precipitação interna, o K é o mais representativo, 
seguido do Mg e Ca (Figura 6).
A contribuição porcentual da água da chuva (precipitação total) no 
total de nutrientes que chega ao solo (precipitação interna + P, K, Ca, Mg e Zn da 
serapilheira) foi, no ano de 1992, de 11,9% e 9,3% para os sítios 2 e 3, respectiva-
mente. Comparando as quantidades depositadas pela precipitação interna e pela 
deposição de serapilheira, verifica-se que, nos sítios 2 e 3, respectivamente, a primeira 
contribuiu com 52,5% e 43,8% do total de nutrientes depositados no solo.
Alguns elementos entram no sistema principalmente via precipitação, 
como o K e o Zn. O P recicla principalmente via serapilheira, bem como Ca e 
Fe. Já o Mg recicla em quantidades próximas a partir das duas fontes (Figura 7).
Discussão
Os resultados obtidos de deposição de serapilheira para o sítio 3 
encontram-se dentro da faixa prevista por Bray & Gorham (1964), entre 7 e 8 t.ha-1.
ano-1 (latitude de 25o), e Brown (1980), citado por Haag et al. (1985), de 8,82 t.ha-1.
ano-1 para as florestas pluviais tropicais. Os sítios 1 e 2 situam-se no limite inferior 
da faixa de variação relatada por esses autores. A maior produção de serapilheira 
do sítio 3 em relação aos demais sítios está relacionada a diferenças na estrutura 
da vegetação. Esta é de maior altura com indivíduos de maior diâmetro, maior 
área basal por hectare e a ocorrência de dois estratos bem definidos (Silva 1998). 
Os estudos realizados nas planícies litorâneas são escassos, e os existentes 
apresentam situações ambientais diversas, sendo muitas vezes difícil a comparação. 
O fruticeto estudado por Moraes (1993) na Ilha do Cardoso, SP, apresenta estrutura 
e composição florística (Sugiyama 1998) similar aos sítios 1 e 2, diferindo na altura 
(mais alta no sítio 2 da Ilha do Mel) e na densidade da vegetação (maior na Ilha 
do Cardoso), apresentando áreas basais por hectare bastante próximas, o que 
representa uma biomassa aérea similar entre essas áreas. O sítio 1 apresenta uma 
altura mais baixa, entretanto com área basal maior que as demais formações (Silva 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
157
1998). Comparando-se os dados relativos às produções anuais de serapilheira 
dessas áreas, estes foram um pouco maiores na Ilha do Mel, sendo a produção 
da fração foliar bem próxima.
A contribuição porcentual das frações da serapilheira está dentro da 
faixa encontrada na maior parte dos estudos realizados no Brasil, situados para a 
fração foliar entre 55 e 75 % (dados de literatura compilados em Britez 1994). A 
maior produção de folhas no sítio 1 em relação aos demais pode estar relacionada 
ao fator de estresse, provocado pelo constante impacto da areia e do sal trazidos 
pelo vento na vegetação da área de estudo, já que esta encontra-se próxima à 
praia e as demais formações estudadas são mais interiores. Tanner (1980) sugeriu 
que, em ambientes estressados, a produção de folhas é mantida preferencialmente 
à produção lenhosa. 
A fração reprodutiva no sítio 1 foi inferior aos demais sítios, apresentando 
um porcentual baixo em relação ao total (5%). Esse porcentual é inferior aos 
estimados em ecossistemas semelhantes por Moraes (1993), de 6,3%, e Ramos & 
Pellens (1993), de 9,7%. Nesse caso também a abrasão marinha deve influenciar 
na produção dos elementos reprodutivos. Os sítios 2 e 3, com percentual de 8,1 e 
7,6, respectivamente, estão dentro da média encontrada para esses ecossistemas.
A fração miscelânea obteve um porcentual duas vezes maior no sítio 3, 
supostamente em função da estrutura da floresta mais desenvolvida, com maior 
área de recepção de epífitas e outros animais, sendo constatada uma alta atividade 
de herbivoria (Britez 1994). 
A deposição sazonal do total da serapilheira e suas frações foi mais 
intensa durante os meses mais quentes e úmidos. No sítio 1, Pires (2001), realizando 
análises estatísticas, encontrou uma relação significativa da velocidade do vento e 
temperatura média com os dados de deposição total e das frações da serapilheira. 
Nos sítios 2 e 3, Britez (1994) encontrou valores significativos em análises de 
correlação somente para a temperatura média. 
Conforme Morellato (1992), a sazonalidade da produção de serapilheira 
pode ser evidenciada pelo valor da razão entre o mês de maior e menor queda. 
Nas florestas semideciduais do sudeste é de 1,9 a 4,6, e nas florestas Amazônicas de 
1,6 a 6,3. Quanto aos estudos realizados em restinga, esse quociente varia de 5,2 a 
10, sendo obtidos valores neste estudo de 6,6 para o sítio 1, de 7,9 e 8,4 no sítio 2 
(primeiro e segundo ano) e 5,2 e 10 no sítio 3, o que indica uma alta sazonalidade. 
Em relação ao clima, observa-se que as formações de restinga do sul e sudeste 
Ricardo Miranda de Britez et al.
158
brasileiro, como é o caso da Ilha do Mel (Britez & Marques, neste volume), situam-se 
em regiões onde a sazonalidade é moderada se comparada às regiões de ocorrência 
das florestas semideciduais, o que sugere a influência de outros fatores, além da 
condição climática, na sazonalidade da deposição de serapilheira. 
A maior deposição total de serapilheira ocorreu na mesma época nas 
diferentes fitofisionomias de restinga deste estudo, em novembro e dezembro, no 
início da estação mais úmida e quente. É nesse período que o lençol freático é 
mais superficial em todos os sítios (Britez & Marques, neste volume). Em relaçãoà sazonalidade da queda das diferentes frações, as frações folhas e miscelânea 
acompanharam a deposição total mensal de serapilheira. Já a fração ramos não 
apresentou um padrão definido.
Tal como verificado por diversos autores (Pagano 1989a, César 1993a), 
não foi encontrada nenhuma correlação da deposição da serapilheira com a 
precipitação, exceto para a fração ramos no sítio 1 (Pires 2001). A ausência de 
correlação direta entre a deposição de serapilheira e a precipitação deve-se, 
como sugerido por Oliveira & Lacerda (1993), ao regime de chuvas, que se 
apresenta bastante irregular durante o ano, tanto no que diz respeito aos eventos 
quanto em relação à sazonalidade anual. Segundo Jackson (1978), o pico de 
queda foliar na estação de maior precipitação ocorre em regiões com moderada 
sazonalidade de temperatura e regime hídrico, sendo um processo simultâneo à 
produção de folhas novas. Esse padrão, observado também em vegetação de 
restinga por Moraes (1993), e em outros trabalhos realizados em Floresta Atlântica 
(Jackson 1978, Delitti 1987, Leitão Filho et al. 1993), parece ser vantajoso para 
a comunidade vegetal, pois nessa época, com o aumento de água e radiação, 
aumenta a atividade biológica no solo e, conseqüentemente, a velocidade de 
decomposição, promovendo maior disponibilidade de nutrientes, que podem ser 
mais bem aproveitados antes da saída do sistema por meio da lixiviação (Jackson 
1978, Delitti 1987), especialmente quando se considera a rápida drenagem do 
solo das restingas. Além disso, a sincronização dessas fenofases, conforme Jackson 
(1978), permite uma economia energética na transferência de algumas substâncias 
das folhas senescentes para aquelas em desenvolvimento. Esse padrão sazonal 
diverge da maioria dos resultados obtidos em florestas tropicais que apresentam 
períodos secos bem definidos, com deposição maior nesse período (Tanner 1980, 
Pagano 1989a, Morellato 1992, Cesar 1993a, Franken et al. 1979). Em vegetação 
de restinga pode ser citado o trabalho de Ramos & Pellens (1993), em Maricá, RJ, 
onde ocorre um déficit hídrico no inverno e média anual de precipitação menor 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
159
que nas demais áreas de Floresta Atlântica. Esses autores também estimaram as 
maiores deposições nos meses de julho a novembro, após o déficit hídrico. 
No sítio 1, a produção da fração reprodutiva é antecipada e concentrada 
no inicio do período mais quente e chuvoso, comparada às florestas da Estação 
Ecológica, onde a deposição dessa fração é mais prolongada, até o outono. 
Os teores encontrados para os macronutrientes da fração folhas neste 
estudo estão dentro dos teores médios encontrados na literatura para as florestas 
tropicais, compilados em Britez (1994) e Pires (2001), que estão em uma faixa de 
0,5 a 3,0 para o N; 0,02 a 0,41 para o P; 0,16 a 1,00 para o K; 0,22 a 3,10 para 
o Ca; e 0,20 a 0,54 para o Mg (valores em g.100g-1 M.S.), com exceção do N e 
do P nas florestas da Estação Ecológica, que encontram-se dentro de uma faixa 
inferior de concentração.
A entrada do N no sistema é proveniente de duas fontes, a primeira pela 
água das chuvas (amônia, óxidos de nitrogênio), e a segunda, e mais importante, 
pela fixação de nitrogênio por microrganismos de vida livre e simbiótica. As 
perdas desse elemento pela lixiviação são pequenas se a vegetação e o solo não 
forem perturbados (Larcher 1986). Com o desenvolvimento da vegetação e o 
conseqüente aumento de biomassa, ocorre o acúmulo de N, aumentando as 
quantidades desse elemento no sistema (Bormann & Likens 1981), o que pode 
explicar os teores mais elevados no sítio 3, que apresenta uma fitomassa maior. 
Na fração foliar das florestas da Estação Ecológica, o N apresentou a maior 
concentração dentre os macronutrientes, seguido do Ca, K, Mg e P. Essa é uma 
tendência comumente citada na literatura, uma vez que o N é um elemento 
altamente redistribuído.
Da mesma forma que o N, o P é armazenado e reciclado na biomassa 
vegetal. A principal fonte de entrada de P na ciclagem de nutrientes é por meio 
da intemperização do material de origem do solo, sendo a entrada via água de 
chuva muito pequena. Como não foi constatada a presença de P no material de 
origem dos solos (Britez 1994), provavelmente parte do P encontrado no solo é de 
origem marinha, oriundo de carapaças de animais, e da ação de micorrizas, as quais 
desempenham um importante papel na absorção desse elemento (Bolan 1991).
O Ca acumula-se nos tecidos mais velhos, como conseqüência de sua 
absorção ser altamente influenciada pelo fluxo de massa. Entretanto, em alguns 
casos, tal como observado no sítio 1, o Ca apresenta maior concentração nas 
folhas, relacionado, possivelmente, a sua maior disponibilidade no solo (Pires 
2001). O Ca acumula-se nas folhas mais velhas das plantas e nos tecidos lenhosos; 
Ricardo Miranda de Britez et al.
160
por sua baixa mobilidade, ele não é redistribuído quando ocorre a abscisão foliar, 
justificando suas altas concentrações nas frações folhas e ramos. 
O Mg apresenta maiores teores nas folhas, graças a sua ocorrência no 
centro da estrutura molecular da clorofila, além de sua participação no metabolismo 
basal (Larcher 1986).
Os teores de P, Mg e Ca da fração foliar foram maiores no sítio 1, quando 
comparados aos sítios da Estação Ecológica. Os valores de N e P foram maiores 
no sítio 3 em relação ao sítio 2, possivelmente por causa da maior produção 
de serapilheira, menor insolação e maior umidade no piso florestal, condições 
que propiciam uma maior atividade microbiana, sendo que a própria massa 
microbiana incorporada à serapilheira pode contribuir para aumentar os níveis 
desses elementos. Na vegetação de restinga da Ilha do Cardoso estudada por 
Moraes (1993), os teores de P e N foram próximos aos obtidos para o sítio 2, 
indicando uma similaridade na ciclagem desses elementos nas duas áreas.
Os valores mais elevados dos macronutrientes, com exceção do K, no sítio 
1, comparado às comunidades mais distantes do oceano, ocorre provavelmente 
por causa da entrada mais significativa desses nutrientes via aerossóis marinhos, 
os quais podem ser incorporados a partir da absorção direta pelas folhas (Boyce 
1954), ou pela maior deposição desses sais no solo. Cabe ressaltar que o horizonte 
superior do solo do sítio 1 apresentou maiores valores de pH e cátions trocáveis 
(Pires 2001) em comparação com os demais sítios, principalmente em relação 
ao elemento Ca, o que pode sugerir que a abundância deste elemento atua 
favoravelmente na disponibilização dos demais macronutrientes. 
Em relação às variações sazonais nos teores de macronutrientes das 
frações da serapilheira, no sítio 1 os teores de N e P, na fração reprodutiva, e do 
N, em miscelânea, apresentaram variações significativas, sendo maiores durante 
a estação úmida, provavelmente por causa da intensa atividade fisiológica das 
plantas nesse período e maior disponilidade de nutrientes no solo; do mesmo 
modo, nas florestas da Estação Ecológica, apenas N e K apresentaram algum 
indício de sazonalidade. 
Padrões de sazonalidade de nutrientes são de difícil entendimento, pois 
vários fatores podem influenciar os teores contidos nas frações da serapilheira, tais 
como: diferentes concentrações tanto para as espécies quanto para os indivíduos 
do material que a compõe; diferentes períodos de deposição; local da árvore de 
onde é proveniente o material (posição na copa); lavagem das folhas, entre outros. 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
161
Os teores de micronutrientes são mais variáveis que os dos macro-
nutrientes, tanto de local para local como em relação às diversas frações da 
serapilheira, sendo ainda escassos os dados em ecossistemas tropicais.
Comparando as quantidades de deposição de macronutrientes deste 
estudocom outras florestas brasileiras, observa-se que os valores obtidos para K, 
Ca e Mg, embora menores no sítio 2, estão dentro da faixa inferior, comparáveis 
ao cerrado (Peres et al. 1983) e algumas florestas amazônicas (Klinge & Rodrigues 
1968, Klinge 1977, Franken et al. 1979) e floresta atlântica sujeita a poluentes 
(Domingos et al. 1990) e floresta atlântica secundária (Leitão-Filho et al. 1993). 
Os valores de N, maior no sítio 1, e P estão bem abaixo dos encontrados para 
outras formações, sendo similares apenas a outras formações de restinga (Moraes 
1993) e de ecossistema de cerrado (Peres et al. 1983, Delitti 1984). A quantidade 
de micronutrientes depositada durante o ano nas formações estudadas é inferior 
à da maioria dos trabalhos, sendo comparável apenas às estimadas em outras 
vegetações sobre restinga (Britez 1994, Pires 2001). 
No Brasil, vários autores consideraram a soma das quantidades 
de macronutrientes da serapilheira como um bom índice para comparação 
entre ecossistemas (Pagano 1989b, Delitti 1984, Moraes 1983). Observa-se 
a partir destes valores que as formações de restinga, juntamente com as de 
cerrado, apresentam as menores deposições quando comparadas com outros 
ecossistemas, principalmente em relação às florestas estacionais (Pagano 
1989b, César 1993b, Diniz et al. 1997). O solo de baixa fertilidade encontrado 
na restinga, aliado ao possível déficit hídrico decorrente da alta drenagem do 
solo, limita a produtividade do sistema. O mesmo processo foi constatado por 
Sobrado & Medina (1980), citados por Jordan (1985), nos espodossolos das 
caatingas amazônicas. O sítio 3 é suprido de água pelo lençol freático mais 
superficial, o que lhe proporciona uma vegetação mais desenvolvida e uma 
maior produtividade primária líquida. Já a situação do sítio 1 é similar à do sítio 
2 em termos de profundidade do lençol freático, mas difere por uma possível 
maior entrada de aerossóis marinhos. 
A diferença na interceptação de chuvas entre os dois sítios, 22% no sítio 
2 e 30% no sítio 3 (média dos 2 anos), está relacionada à estrutura da vegetação, 
pois no sítio 3 ocorre um dossel mais contínuo e fechado, apresentando dois 
estratos arbóreos, o que propicia uma maior interceptação, graças à maior área 
de contato da água antes de chegar ao solo. Os valores de interceptação podem 
Ricardo Miranda de Britez et al.
162
ser acrescidos de aproximadamente 1 a 2% (Meguro et al. 1979b, Anderson & 
Spencer 1991), referentes ao escorrimento pelo tronco, que não foi avaliado 
neste estudo.
Apesar da alta precipitação, a rápida drenagem dos solos arenosos pode 
proporcionar deficiência hídrica no período entre as precipitações, tendo sido 
observadas manifestações de murcha na vegetação do sub-bosque no sítio 2, em 
períodos de baixa pluviosidade. 
A entrada de P via precipitação nos sítios 2 e 3 está abaixo da encontrada 
em outros ecossistemas, conforme a compilação de dados de literatura realizada 
por Britez (1994), com o valor máximo de 0,006 µg.g-1 e média anual de 0,002 
µg.g-1; valores menores foram encontrados somente por Flinn et al. (1979) na 
Austrália. A presença do P na água da chuva pode ser proveniente da poeira 
produzida por atividades de uso do solo (Lima 1986). Como a área estudada está 
longe de qualquer atividade agrícola, esse elemento apresenta baixos teores na 
água da chuva. A baixa lixiviação sofrida por esse elemento nas plantas (Tukey 
1970) pode explicar os baixos teores também na precipitação interna. 
A variação nos teores anuais de K na água da chuva em vários 
ecossistemas está entre 0,16 e 0,87 µg.g-1, sendo que em ecossistemas costeiros 
sua origem é atribuída a salsugem marinha (Britez 1994). O valor médio anual 
do K para a água da chuva foi medido em 0,30 µg.g-1, não sendo detectado 
em alguns meses e alcançando um valor máximo de 1,2 µg.g-1 durante o ano, 
estando dentro da faixa inferior dos teores encontrados em outros ecossistemas 
(Britez 1994). Já na precipitação interna, os valores durante o ano amostrado 
variaram de 0,46 até 7,77 µg.g-1. O K dentre os nutrientes minerais é o de maior 
mobilidade, apresentando concentrações bem maiores na água que atravessou 
o dossel da floresta, fato este bastante documentado na literatura (Britez 1994). 
Desta forma, o K que atravessa o dossel da floresta é proveniente da lavagem da 
deposição seca e da solubilização desse elemento nas folhas. O teor médio na 
precipitação interna mais elevado no sítio 3 pode estar relacionado à estrutura 
mais desenvolvida dessa floresta, onde a água, para chegar ao solo, tem de passar 
por dois estratos, além de atravessar copas mais densas, propiciando, desta forma, 
uma maior lixiviação desse elemento.
A presença de Ca na chuva pode ser proveniente da poeira terrestre ou 
do mar. A faixa de concentração encontrada na literatura está entre 0,10 e 1,67 
µg.g-1. O teor médio anual na precipitação total e precipitação interna nos dois 
sítios está em uma faixa intermediária inferior, tendo sido medidos 0,31 µg.g-1 
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
163
para a precipitação total e 1,03 e 1,1 µg.g-1 na precipitação interna dos sítios 2 e 
3, respectivamente. O Ca é imobilizado nas plantas, sendo considerado por Tukey 
(1970) como moderadamente lixiviado (1 a 10 %), o que indica que a contribuição 
na concentração da lavagem desse elemento é maior pela deposição seca na copa 
da floresta.
Os teores de Mg na água de chuva (0,5 µg.g-1) e na precipitação interna 
(1,2 e 1,4 µg.g-1) podem ser considerados elevados se comparados aos demais 
ecossistemas. A razão Ca/Mg encontrada para este estudo foi de 0,62, indicando 
uma forte influência do oceano na composição da água da chuva. A origem 
do Mg na chuva em regiões costeiras é principalmente marinha (Mello & Motta 
1987, Clayton 1972, Van der Valk 1974), portanto a área amostrada é bastante 
influenciada pela entrada desse elemento via precipitação atmosférica. Santos et 
al. (1981) sugeriram que ácidos orgânicos solubilizem o Mg presente na superfície 
das folhas e caules, indicando que, provavelmente, os teores de Mg contidos na 
precipitação interna estão relacionados à lavagem tanto da deposição seca como 
de metabólitos da planta. 
Dos micronutrientes analisados, somente o Zn foi detectado na água da 
chuva, com um teor médio anual de 0,03 µg.g-1. Na água de precipitação interna, o 
Zn apresentou teores de 0,04 e 0,05 µg.g-1, e o Fe, 0,02 e 0,01 µg.g-1 nos sítios 2 e 
3, respectivamente. Estes elementos, segundo Tukey (1970), são pouco lixiviados, 
sendo que os teores contidos na precipitação interna provavelmente são oriundos 
da deposição seca ou da contaminação por animais.
Comparando-se as quantidades de nutrientes contidas na precipitação 
total e interna com os demais ecossistemas (Britez 1994), o P apresenta valores 
bem mais baixos, o K e o Ca estão numa faixa intermediária e o Mg apresenta 
valores elevados. 
Do total de nutrientes depositados no solo florestal (serapilheira 
mais precipitação interna), a quantidade de nutrientes contida na água da 
chuva (precipitação externa) contribui com 11,9% e 9,3%, nos sítios 2 e 3, 
respectivamente. Esses resultados estão de acordo com Anderson & Spencer 
(1991), que indicam uma faixa de 7 a 11% de deposição de elementos minerais 
via atmosfera. Esses porcentuais representam apenas a contribuição da deposição 
úmida, e não o total de nutrientes que entram via atmosfera, já que os pluviômetros 
totais não quantificam a deposição seca.
Os valores encontrados para a contribuição porcentual da precipitação 
interna em relação ao total de nutrientes que chega ao solo foram subestimados 
por causa da ausência do N, não medido nas precipitações.
Ricardo Miranda de Britez et al.
164
Conclusão
A ciclagem de nutrientes diverge entre as formações vegetais estudadas, 
principalmente noque diz respeito à matéria orgânica reciclada, ou seja, quanto 
maior a biomassa viva, maior a biomassa reciclada, refletida por uma maior queda 
de serapilheira e ciclagem de quantidades maiores de nutrientes.
Visto que os solos são extremamente inférteis, essas formações vegetais 
são dependentes da ciclagem de nutrientes, ou seja, da reciclagem autóctone da 
biomassa vegetal. Além disso, papel importante tem a entrada de nutrientes via 
salsugem marinha. Mais de 50% da quantidade de nutrientes que entra no sistema 
têm essa origem, principalmente em função da deposição seca sobre a folhagem, 
a qual posteriormente chega ao solo pela lixiviação. O fruticeto da Praia Grande 
sofre influência direta da salsugem marinha, o que lhe propicia uma maior entrada 
de alguns nutrientes, influenciando, inclusive, nas características químicas do solo.
O clima desenvolve papel importante por meio da chuva, que condiciona 
a altura do lençol freático nas formações da planície litorânea. A temperatura 
influencia na atividade biológica dos microrganismos do solo, permitindo uma 
decomposição mais rápida da serapilheira e conseqüentemente uma maior 
liberação de nutrientes, fazendo com que a ciclagem de nutrientes seja mais intensa 
no final da primavera e no verão (Pires 2001, Britez et al. 1998).
O poder de recuperação (resiliência) na vegetação da planície litorânea 
da Ilha do Mel é dificultado pela baixa fertilidade dos solos (Britez, neste volume). 
Ao promover a retirada drástica da vegetação pelo corte ou a extração seletiva de 
madeira, retira-se a maior fonte de nutrientes do sistema, que é a vegetação viva 
acima do solo. Isso propicia a quebra do ciclo dos nutrientes, não permitindo que 
haja uma entrada de nutrientes no solo via queda da serapilheira, diminuindo 
a fertilidade do solo e a possibilidade de sustentação de uma vegetação mais 
desenvolvida. Portanto, para qualquer atividade a ser realizada na vegetação 
da planície litorânea da Ilha do Mel, devem-se compreender os aspectos que 
influenciam a ciclagem de nutrientes nessas áreas.
Meio Biológico - ciclageM de nutrientes na planície costeira
165
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vegetais da planície costeira
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
Introdução
A planície litorânea encontrada na costa sul-sudeste do Brasil é ocupada 
por uma variedade de tipos vegetacionais, normalmente contíguos entre si, cujos 
limites nem sempre são bem definidos (Suguio & Martin 1990, Araujo 1992). O 
gradiente ambiental estabelecido pelas diferenças na saturação hídrica do solo 
(por causa do grau e da duração da inundação, promovidos pela elevação do 
lençol freático) e na salinidade (de acordo com a distância do mar) determina a 
ocorrência das espécies e imprime diferenças fisionômicas, florísticas e estruturais 
na vegetação (Silva & Britez, neste volume). Como essas formações estão 
intimamente relacionadas, porém condicionadas por fatores físicos atuando em 
níveis distintos, espera-se que, assim como as formas de crescimento (ervas, 
arbustos e árvores), o processo reprodutivo das plantas deva ser diferenciado, 
influenciando a regeneração e a ocorrência das espécies.
A diferenciação na composição florística e diversidade da vegetação, 
bem como as variações nas formas de crescimento, reprodução e estabelecimento 
das plantas podem ser determinadas pelas diferenças hídricas do solo (Bullock 
1995, Medina 1995). Especificamente no aspecto reprodutivo, o conjunto de 
características morfológicas dos propágulos tem sido interpretado como um 
reflexo da adequação entre a planta e os vetores de dispersão (Van der Pijl 
1972, Janson 1983). Quanto mais eficiente for esse ajuste, mais otimizada será 
a dispersão e, conseqüentemente, as condições para a germinação da semente e 
o estabelecimento da planta serão melhores (Janzen 1970, Howe & Smallwood 
1982, Wenny & Levey 1998). Como as particularidades bióticas e abióticas 
variam entre os ambientes, espera-se que os modos de dispersão também variem 
nas comunidades vegetais (Frankie et al. 1974, Wikander 1984, Knight 1986) 
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
170
e tais ajustes poderiam explicar os processos de colonização e regeneração das 
espécies vegetais. 
O sucesso reprodutivo de uma espécie pode também ser resultado da 
adequação morfológica da plântula às condições ambientais (Garwood 1996). 
A morfologia da plântula tem sido classicamente considerada em função das 
variações dos cotilédones em suas posições (epigeal e hipogeal), exposições 
(fanerocotiledonar e criptocotiledonar) e funções (fotossíntese e reserva), as quais 
definem diferentes condições na absorção de luz, proteção de tecidos nutritivos e 
funcionalidade, influenciando o crescimento e estabelecimento da planta (Duke 
1965, Ng 1978, Garwood 1983, Kitajima 1992, 1996). As abundâncias dos 
tipos morfológicos de plântulas diferem em comunidades tropicais (Miquel 1987, 
Hladik & Miquel 1990, Garwood 1996, Moreira & Moreira 1996, Ressel 2000) 
e a medição dessas variações pode ser instrumento importante para entender a 
regeneração da comunidade. 
Neste trabalho foram descritos os modos de dispersão, tamanho das 
sementes e morfologia de plântulas das espécies vegetais encontradas no gradiente 
ecológico formado por três tipos vegetacionais da planície litorânea da Ilha do Mel 
(campo, frutíceto e floresta), procurando entender a forma com que essas formações 
estão relacionadas com respeito aos modelos de reprodução e regeneração. 
Especificamente, procurou-se responder às seguintes questões: 1) Existe diferença 
nas proporções de zoocoria, anemocoria e autocoria no gradiente? 2) Os tamanhos 
médios das sementes variam entre as formações vegetacionais? 3) A distribuição 
dos tipos morfológicos das plântulas difere entre os locais? 
Métodos
Foram analisadas 238 espécies de Angiospermas listadas por Silva (1998) 
em estudo fitossociológico realizado nos campos, frutícetos e florestas da planície 
litorânea da Ilha do Mel. 
Modos de dispersão e tamanho da semente: Avaliaram-se as 
características morfológicas dos frutos e sementes e tomaram-se as medidas das 
sementes (comprimento do eixo maior) de material coletado nos locais (Marques 
2002) ou depositado no herbário da Universidade Federal do Paraná (UPCB). 
Quando necessário, houve a confirmação por informações da literatura (Reitz 
1965-1997, Barroso et al. 1999). As espécies foram classificadas de acordo com o 
Meio Biológico - características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira
171
modo de dispersão, baseando-se nos critérios citados por Van der Pijl (1972), em 
zoocóricas, anemocóricas ou autocóricas (esta última incluindo as barocóricas). 
Espécies listadas no estudo fitossociológico que não apresentaram um conjunto 
de características que pudesse indicar a provável forma de dispersão (8 espécies) 
e as que não puderam ter as sementes medidas (7 espécies) foram apresentadas 
nos resultados, porém excluídas das análises. 
Morfologia das plântulas: Em duas florestas da planície (Florestas 
não inundável e inundável), foram realizadas coletas mensais de plântulas (plantas 
com a primeira folha verdadeira atingindo 3/4 do tamanho final), durante 2 
anos. As plântulas foram identificadas, comparando-se com material vegetativo 
proveniente de indivíduos adultos presentes na área, com plantas cultivadas em 
placas gerbox a partir de sementes ou com dados de literatura. Posteriormente 
foram classificadas nos tipos morfofuncionais, com base nos critérios propostos 
inicialmente por Miquel (1987) e as abreviações utilizadas por Garwood (1996): 
PEF (fanerocotiledonar-epigeal-foliáceo), PER (fanerocotiledonar-epigeal-de 
reserva), CHR (criptocotiledonar-hipogeal-de reserva), CER (criptocotiledonar-
epigeal-de reserva) ou PHR (fanerocotiledonar-hipogeal-de reserva). As espécies 
que não foram observadas no levantamento em campo, mas que ocorrem nas 
áreas de acordo com o levantamento de Silva (1998), foram classificadas nas 
síndromes de germinação, com base em dados disponíveis na literatura (Duke 
1965, 1969, Ng 1978, Kuniyoshi1983, Miquel 1987, Hladik & Miquel 1990, 
Moreira & Moreira 1996, Ressel 2000). Quando não havia informações para a 
espécie ou gênero, utilizaram-se dados disponíveis para a família, se a variação 
dentro desta não fosse reconhecidamente grande. Consideraram-se neste estudo 
apenas as espécies terrestres (árvores, arbustos, lianas e ervas) e excluíram-se (total 
de 30 espécies) as que apresentavam forma de reprodução preferencialmente 
vegetativa, método peculiar de alocação de reserva na plântula (Orchidaceae) ou 
que não puderam ser classificadas. 
Análise dos dados: Foram avaliadas as distribuições das formas de 
crescimento, mecanismos de dispersão, tamanho da semente e morfologia das 
plântulas de acordo com o local de ocorrência. Como espécies de uma mesma 
família podem apresentar características morfológicas semelhantes por causa de 
suas relações filogenéticas, compararam-se também as distribuições das síndromes 
de dispersão e germinação entre famílias. Em todos os casos, as diferenças nas 
proporções foram analisadas por teste qui-quadrado (Zar 1999). A comparação das 
médias do tamanho das sementes nas diferentes situações foi feita por análise de 
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
172
variância (Anova) e a existência de diferença entre os pares de médias verificada 
por teste Tukey-Kramer (Zar 1999).
Resultados 
As formações da planície litorânea da Ilha do Mel são marcadas por 
diferenças nas proporções das formas de crescimento (χ2=74,5; p<0,001, GL=8). 
Enquanto nas florestas (n=144 espécies) predominam árvores (60%) e ervas 
(15%), nos frutícetos (n=136 espécies) predominam ervas (50%) e árvores (29%) 
e nos campos (n=24 espécies), ervas (75%) e lianas (17%).
Modos de dispersão: Das 232 espécies avaliadas (Anexo 1), 56% eram 
zoocóricas, 26% anemocóricas e 18% autocóricas (Tabela 1 e exemplos na Figura 
1). A distribuição das formas de dispersão diferiu entre as formas de crescimento 
(χ2=92,5; p<0,001, GL=4), com predomínio de zoocoria em árvores e arbustos 
(>80%) e anemocoria e autocoria em epífitas, ervas e lianas (28 a 75%, Tabela 1). 
A distribuição das síndromes de dispersão também variou de acordo 
com o tipo de vegetação (χ2=58,6; p<0,001, GL=4; Figura 2). Enquanto nos 
campos as espécies eram principalmente autocóricas (50%) e anemocóricas 
(25%), a zoocoria passou a ser mais freqüente nos frutícetos (58%) e nas florestas 
(71%). Esta mesma diferença nas proporções foi observada quando avaliaram-se 
as famílias (χ2=8,9; p=0,01, GL=2). 
Tamanho das sementes: A maior parte das espécies (70%) da Ilha 
do Mel apresentou sementes variando entre 0,40 e 6,00 mm (classes 1 e 2). As 
demais (classes 3, 4 e 5) mediam entre 6,01 e 30,00 mm (Anexo 1). O tamanho 
das sementes diferiu entre modos de dispersão (F=21,4; p<0,001), sendo as 
sementes de espécies zoocóricas maiores (média ± erro padrão = 5,97±0,37) 
que as de anemocóricas (3,52±0,54) e de autocóricas (3,18±0,67), as quais não 
diferiram entre si. Já entre os tipos morfológicos de plântula, o tamanho médio 
da semente foi o mesmo (F=1,2; p=0,31). Existiu diferença no tamanho médio 
das sementes de espécies dos locais estudados na Ilha do Mel (F=10,6; p<0,001). 
Nas florestas as sementes eram maiores (média ± erro padrão = 6,03±0,36) que 
nos demais locais (frutícetos = 4,03±0,38; campos = 2,93±0,87), nos quais os 
tamanhos não diferiram entre si.
Morfologia das plântulas: Nas 195 espécies de plântulas 
estudadas (Anexo 1), o tipo mais freqüente foi o fanerocotiledonar-epigeal-
Meio Biológico - características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira
173
Figura 1 - Frutos zoocóricos (a e b), anemocórico (c), autocórico (d) e diásporos dispersos na praia da 
planície litorânea da Ilha do Mel, PR (e). a: Ternstroemia brasiliense, b: Ilex pseudobuxus, c: Dalbergia 
ecastophylla, d: Abarema brachystachya (semente considerada mimética), e: Rhizophora mangle, 
Laguncularia racemosa, Avicennia schaueriana, Calophyllum brasiliense, Annona glabra.
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
174
Figura 2 - Perfil esquemático e distribuição dos modos de dispersão e tipos de plântula nas diferentes 
formações vegetacionais da Planície Litorânea da Ilha do Mel. Modos de Dispersão: ZOO=zoocoria, 
ANE=anemocoria, AUTO=autocoria (número de espécies: Campo n=25, Fruticeto n=136, Floresta 
n=147). Tipo de plântula: FOTO=cotilédone fotossintetizante, RESE=cotilédone de reserva (número 
de espécies: Campo n=21, Fruticeto n=117, Floresta n=123).
foliáceo (PEF, 57% das espécies), seguido por criptocotiledonar-hipogeal-
de reserva (CHR, 39%), fanerocotiledonar-epigeal-de reserva (PER, 3%), 
criptocotiledonar-epigeal-de reserva (CER, 0,5%) e fanerocotiledonar-hipogeal-
de reserva (PHR, 0,5%) (Tabela 1). Considerando somente a função dos 
cotilédones, o fotossintetizante (PEF=57%) ainda sobrepôs os de reserva 
(CHR+CER+PER+PHR = 43%). Entre as espécies mais representativas de 
cada tipo de plântula, pela freqüência com que são encontradas principalmente 
nas florestas, destacaram-se Ilex pseudobuxus, Gomidesia schaueriana e Myrcia 
multiflora no tipo PEF, Ocotea pulchella, Geonoma schottiana e Calophyllum 
brasiliense no tipo CHR, Tapirira guianensis, no tipo PER e Faramea marginata 
no CER (exemplos na Figura 3).
Meio Biológico - características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira
175
Figura 3 - Exemplos dos tipos morfofuncionais de plântulas mais comuns na Ilha do Mel. A: CHR 
(Ocotea pulchella), B: CER (Faramea marginata), C: PEF (Ilex pseudobuxus), D: PER (Tapirira 
guianensis).
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
176
As proporções dos tipos morfológicos de plântula variaram de acordo 
com a forma de crescimento (χ2=37,0; p<0,001, GL=3), com predomínio do 
tipo PEF nas árvores (69%), arbustos (88%) e lianas (75%) e o tipo CHR (70%) 
nas ervas (Tabela 1). As freqüências de plântulas de cotilédones fotossintetizante 
e de reserva não diferiram entre espécies de distintos modos de dispersão 
(χ2=5,1; p>0,05, GL=2). Plântulas de cotilédones de reserva e fotossintetizantes 
mantiveram as mesmas proporções em todas as formações da planície litorânea 
(Figura 2), quando a análise foi feita para famílias (χ2=0,5; p>0,05, GL=2).
Discussão
As diferenças ambientais e na freqüência de formas de crescimento 
existentes no gradiente da planície litorânea da Ilha do Mel se refletem na 
distribuição de atributos reprodutivos das espécies. Considerando que a adequação 
Tabela 1 - Variação na freqüência dos modos de dispersão e dos tipos de plântulas das espécies 
analisadas na Ilha do Mel, de acordo com a forma de crescimento. ZO=zoocoria, AN=anemocoria, 
AU=autocoria; PEF=fanerocotiledonar-epigeal-foliáceo, PER=fanerocotiledonar-epigeal-de 
reserva, CHR=criptocotiledonar-hipogeal-de reserva, CER=criptocotiledonar-epigeal-de reserva, 
PHR=fanerocotiledonar-hipogeal-de reserva.
Meio Biológico - características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira
177
morfológica de sementes e plântulas implicam no sucesso no estabelecimento da 
planta, é possível sugerir que os modelos de regeneração, ou seja, as variações 
espaço-temporais envolvendo a dispersão da semente e a emergência da plântula, 
devam ser diferenciados em cada local. 
O predomínio de determinado mecanismo de dispersão em um hábitat 
é uma forte indicação de que as pressões proporcionadas pelas condições físicas 
do ambiente e pelos agentes dispersores tenham afetado a ocorrência das espécies 
(Howe & Smallwood 1982). Na Ilha do Mel é possível observar um aumento na 
proporção de espécies dispersas por animais a partir do campo até as florestas, ou 
seja, à medida que o ambiente torna-se mais fechado e complexo. O predomínio 
de zoocoria é um fato comum nas regiões tropicais (Frankie et al. 1974, Willson 
et al.1987, Morellato & Leitão-Filho 1992). Como as florestas distribuem-se 
mais internamente na Ilha do Mel e nestes locais a atividade de alguns grupos 
de vertebrados é maior (Moraes, neste volume), é provável que o forrageamento 
feito por aves e morcegos, principais grupos de animais dispersores (observação 
pessoal), seja maior nessa região. 
De maneira oposta, a anemocoria é proporcionalmente mais importante 
em tipos vegetacionais abertos, ou seja, no campo e no frutíceto, onde ventos são 
constantes e o transporte pode ser facilitado. Esse modo de dispersão, normalmente 
freqüente em locais em estádios iniciais da sucessão, sazonais ou secos (Keay 1957, 
Wikander 1984, Oliveira & Moreira 1992), diminui em importância nas florestas, 
nas quais, mesmo com a presença de espécies de hábito lianescente e epifítico (na 
maioria anemocóricas), a síndrome é ainda pouco representada. 
A autocoria é a forma de dispersão mais freqüente no campo e a segunda 
no frutíceto, locais onde as plantas estão sujeitas à insolação direta e aos borrifos 
e ventos fortes vindos do mar. É freqüente essa forma de dispersão em regiões 
áridas e com limitações ambientais (Van der Pijl 1972). No caso do campo, onde 
a capacidade de sobrevivência está restrita a poucas espécies, investir em um 
mecanismo de dispersão próprio da planta, sem depender de outro vetor, parece 
ser necessário. Espécies autocóricas normalmente apresentam dispersabilidade 
baixa quando se avalia a distância a que os diásporos são lançados. Mas, para as 
espécies do campo, o sombreamento promovido pela planta-mãe pode ser fator 
positivo para o estabelecimento da plântula, pois atenua o efeito do dessecamento 
(Maun 1994). Nas regiões próximas ao mar e aos pequenos corpos de água da 
Ilha do Mel, a dispersão secundária pela água ocorre (observação pessoal, Figura 
1e) em muitas espécies autocóricas (Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa, 
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
178
Avicennia schaueriana) ou mesmo em espécies primariamente zoocóricas 
(Calophyllum brasiliense, Annona glabra) e anemocóricas (Dalbergia ecastophylla). 
Esse tipo de dispersão secundária pode ter papel importante na regeneração de 
outras áreas costeiras (Huiskes et al. 1995). 
Associado aos modos de dispersão, o tamanho das semente diferencia-
se nas formações vegetacionais da Ilha do Mel, sendo que nas florestas, onde há 
mais espécies zoocóricas, as sementes são maiores que nos demais locais, onde 
anemocoria e autocoria são importantes. Essa relação deve influenciar na eficiência 
da dispersão, pois espera-se que os mecanismos anemocóricos e autocóricos devam 
ser beneficiados por sementes pequenas e leves. 
Sementes grandes normalmente estão associadas a plântulas mais 
vigorosas ou com mais tecidos fotossintetizantes que permitiriam a sobrevivência 
em ambientes de baixa luminosidade (Harper et al. 1970, Fenner 1985, Foster 
1986, Primack 1987), o que explica as diferenças encontradas entre as espécies 
das florestas e das demais formações da Ilha do Mel. Nos campos, apesar de as 
sementes serem preferencialmente pequenas, deve haver um tamanho mínimo 
limite para elas, já que ainda estão sujeitas ao soterramento pela areia, o que 
dificulta a germinação e o estabelecimento posteriores (Cordazzo 1998, Fáveri & 
Castellani 1998). 
A freqüência relativa dos diferentes tipos de plântulas da Ilha do Mel, com 
predomínio de PEF sobre os demais tipos, segue a mesma ordem de grandeza de 
outras florestas tropicais (Ng 1978, Rousteau 1986, Miquel 1987, Ressel 2000). 
A alta proporção de plântulas do tipo PEF pode se relacionar com a eficiência 
dos cotilédones em assimilar rapidamente a luz, antecipando o estabelecimento 
da plântula (Marshall & Kozlowski 1976). Já as espécies CHR, segundo tipo mais 
freqüente na Ilha do Mel, embora utilizem lentamente as reservas acumuladas nos 
cotilédones ou endosperma (Miquel 1987), podem produzir folhas verdadeiras com 
superfícies de assimilação fotossinteticamente mais eficientes que os cotilédones 
foliáceos (Rousteau 1986). Outros tipos morfofuncionais de plântulas, escassos 
na Ilha do Mel assim como em outros locais de clima tropical, podem ainda 
apresentar alguma vantagem em situações específicas. A dupla função de reserva 
e fotossíntese dos cotilédones de plântula PER, associada a sua posição epigeal, 
permite à plântula rebrotar no caso de o epicótilo sofrer lesão (Lovell & Moore 1971, 
Miquel 1987). Esse fato é comumente verificado na Ilha do Mel, onde plântulas de 
Tapirira guianensis (Figura 3), freqüentemente atacadas por fungos, são capazes 
de produzir um novo caule e retomar o crescimento rapidamente (observação 
Meio Biológico - características reprodutivas das espécies vegetais da planície costeira
179
pessoal). Plântulas tipo CER, que na Ilha do Mel somente ocorrem em Faramea 
marginata, uma espécie importante das florestas, evitam a dessecação do tecido 
nutritivo ao encerrá-lo no tegumento (Ng 1978).
Apesar de aparentemente os tipos morfofuncionais de plântulas implicarem 
em estratégias distintas na regeneração, tais diferenças não foram confirmadas na 
Ilha do Mel. As variações ambientais no gradiente da planície não foram suficientes 
para proporcionar diferenças nos tipos de plântulas. Há apenas uma tendência 
ao tipo de cotilédones fotossintetizantes (PEF) no campo, com diminuição no 
frutíceto e na floresta, em detrimento de um aumento dos tipos com cotilédones de 
reserva (CHR+CER+PHR+PER). Ambientes como as praias e, de certa forma, 
também o frutíceto, onde os estresses hídrico e salino, a deficiência de nutrientes e 
o soterramento limitam a sobrevivência de muitas espécies, os cotilédones foliáceos 
poderiam promover um eficiente mecanismo fotossintetizante, permitindo um 
rápido crescimento da plântula. Se as folhas cotiledonares forem espessas, terão a 
vantagem adicional de evitar o dessecamento (Maun 1994). No outro extremo, nas 
florestas, onde grande parte das espécies tolera o sombreamento e a competição 
interespecífica é alta, o investimento em cotilédones de reserva poderia assegurar 
a sobrevivência da plântula até o surgimento de uma clareira, dando condições de 
estabelecimento. Também nesses locais, a diferença na duração da dormência da 
semente entre alguns tipos de plântulas (Marques 2002) poderia temporalmente 
representar vantagem para algumas espécies. 
A semelhança nas distribuições dos tipos de plântulas ao longo do 
gradiente pode ser explicada também pelo fato de que a fisiologia da plântula 
pode não estar necessariamente ligada a sua morfologia. Como a diversidade 
de mecanismos fisiológicos é grande nesses tipos vegetacionais (Scarano et al. 
2001), prever a ocorrência de espécies requer, além do estudo morfológico, uma 
avaliação da eficiência fotossintética das plantas. Além disso, deve-se também 
considerar que, embora a adequação de sementes e plântulas seja requisito para o 
sucesso reprodutivo das espécies, a provável ocorrência de propagação vegetativa, 
principalmente nos frutícetos e campos, pode de certa forma ofuscar diferenças 
previstas em termos de características relacionadas à reprodução sexuada. 
Em conclusão, seria possível dizer que, mesmo considerando-se a breve 
história de ocupação da vegetação das planícies quaternárias (aproximadamente 
5.000 anos no caso da Ilha do Mel, Angulo & Souza, neste volume), o que pode 
ser insignificante do ponto de vista evolutivo, ainda é possível associar atributos 
reprodutivos com os tipos vegetacionais do gradiente da planície litorânea da Ilha 
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
180
do Mel. Isso sugere que os diferentes níveis de estresse ambiental encontrados 
em cada fitofisionomia devam restringir a permanência de espécies, que, pelos 
resultados aqui apresentados, é manifestada principalmente em termos de 
adequação do propágulo.Agradecimentos
A José Augusto Cunha e Larissa Lopes Mellinger, pelo auxílio no trabalho de laboratório; 
Sandro Menezes Silva, pela determinação de parte do material; Capes (Coordenação de 
Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior - MEC), pela bolsa PICDT à primeira autora.
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Anexo 1 - Relação das espécies da Planície Litorânea da Ilha do Mel examinadas neste estudo, 
com as respectivas caracterizações. MODO DE DISPERSÃO: ZO = zoocoria, AN = anemocoria, 
AU = autocoria; SEMENTE = tamanho da semente e classe de tamanho (1 = 0,01 - 3,00 mm, 2 = 
3,01-6,00 mm, 3 = 6,01 - 9,00 mm, 4 = 9,01 - 12,00 mm, 5 = >12,01 mm); PLÂNTULA = tipo 
de plântula (PEF = fanerocotiledonar-epigeal-foliáceo, PER = fanerocotiledonar-epigeal-de reserva, 
CHR = criptocotiledonar-hipogeal-de reserva, CER = criptocotiledonar-epigeal-de reserva, PHR = 
fanerocotiledonar-hipogeal-de reserva); FORMA DE CRESCIMENTO: H = erva; B = arbusto; A = 
árvore; E = epífita; L = liana; LOCAL: C = campos; R = fruticetos; F = florestas; s.i. = característica 
sem informação para a espécie.
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189
Abelhas da Ilha do Mel: estrutura da 
comunidade, relações biogeográficas 
e variação sazonal
Fernando César Vieira Zanella
Introdução
As comunidades bióticas insulares são notáveis pela reduzida diversidade de 
espécies e pela diferenciação das populações que se encontram isoladas (Berry 1983) 
e, por causa da exclusão preferencial de alguns grupos e da elevada abundância de 
grupos que são raros no continente, também são consideradas “desarmônicas” em 
relação às comunidades continentais (Simberloff 1974, Brown 1981). O estudo da 
fauna de ilhas, com suas diferentes combinações de espécies, pode assim fornecer 
elementos para se compreender o papel das interações entre as espécies na estruturação 
das comunidades, especialmente no caso das abelhas, por se tratar de um grupo com 
elevada diversidade de espécies e com grande variedade de tamanho, de capacidade 
de dispersão atravessando barreiras geográficas, de especificidade/generalidade na 
relação com as fontes de recursos florais, de níveis de comportamento social e de 
hábitos de nidificação (Michener 2000). 
No litoral paranaense foram estudadas, além da Ilha do Mel (Zanella 
1991, Zanella et al. 1998), as comunidades de abelhas de Alexandra, localizada no 
continente (Laroca 1974), e da Ilha das Cobras (Schwartz & Laroca 2000). Neste 
capítulo é apresentada uma síntese dos principais resultados obtidos no estudo da 
fauna de abelhas de ilhas do litoral paranaense: a composição das comunidades 
e as diferenças na riqueza e abundância de espécies em relação ao observado no 
continente e os aspectos biogeográficos envolvidos. São ainda apresentados dados 
originais acerca da variação sazonal na diversidade e abundância de abelhas e 
nos ciclos de atividade das espécies presentes na Ilha do Mel. 
Fernando César Vieira Zanella
190
Segundo a Teoria da Biogeografia de Ilhas, estabelecida por MacArthur & 
Wilson (1967), a diversidade de espécies presentes em uma ilha é determinada por 
dois fatores principais: a área e o isolamento em relação à área fonte de espécies. 
A área define a capacidade que a ilha tem de manter populações estáveis das 
espécies e a distância da área fonte implica em uma menor ou maior freqüência 
de colonizações. Desse modo, as três localidades estudadas no litoral paranaense 
formam um gradiente de insularidade, conforme ressaltado por Schwartz & Laroca 
(2000), com Alexandra representando a área fonte de espécies, onde a diversidade 
de espécies é maior, e a Ilha das Cobras representando o outro extremo do 
gradiente, onde as restrições determinadas pela insularidade devem ser maiores, 
resultando em uma menor diversidade de espécies. 
A Ilha do Mel, por representar uma condição intermediária em termos 
de insularidade, deve apresentar características intermediárias em relação aos 
aspectos da estrutura da comunidade de abelhas afetados pelo isolamento e pela 
limitação da área.
Material e Métodos
O levantamento de abelhas silvestres e plantas apícolas foi realizado na 
parte norte da Ilha do Mel, próximo ao Morro da Fortaleza (ver Britez & Marques, 
neste volume). Foram realizadas coletas a cada 14 dias durante o ano de 1988, 
quatro horas por dia, perfazendo 26 dias e um total de 104 horas. As abelhas 
foram coletadas nas flores ou em vôo, utilizando-se rede entomológica, de modo 
a representar a sua abundância na área, conforme metodologia proposta por 
Sakagami et al. (1967). Não foram capturadas abelhas africanizadas (Apis mellifera 
L.), para não prejudicar a coleta de abelha nativas. 
Foi utilizada uma rede de cabo curto, com cerca de 1,5 m de compri-
mento, conforme tem sido usual nesse tipo de levantamento (Sakagami et al. 1967, 
Silveira & Godinez 1996). Esse procedimento limita a amostragem das abelhas 
que visitam árvores com flores a mais de 4 m de altura, entretanto não foi ainda 
observada a existência de espécies que visitem exclusivamente flores no dossel da 
floresta (Roubik 1993, Wilms et al. 1997), e Roubik (1993) observou que apenas 
abelhas de hábitos noturnos apresentaram uma evidente maior preferência em ter 
atividade nos estratos superiores das florestas. Desse modo, a coleta com rede de 
cabo curto deve proporcionar uma estimativa razoável da diversidade de espécies 
e de sua abundância nas comunidades. 
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
191
Durante a coleta foram registradas as espécies de plantas visitadas pelas 
abelhas. Ao término de cada hora de coleta foram tomados dados meteorológicos, 
como temperatura e umidade relativa do ar, com o auxílio de um termômetro e 
um psicômetro, dispostos em abrigo meteorológico. Para se ter uma avaliação da 
disponibilidade de recursos florais, mesmo na ausência de atividade das abelhas, 
a área amostrada foi percorrida no dia anterior ou posterior ao das coletas, sendo 
registrado o número de espécies de plantas potencialmente visitadas com flores. 
A área de coleta compreendia diferentes tipos de florestas da planície, 
além de Frutícetos e Campos (vegetação de restinga e de beira da praia, 
respectivamente; ver Silva & Britez neste volume), com altitude entre 1 e 4 m 
acima do nível do mar. Mais informações sobre a metodologia, a área e as variáveis 
meteorológicas durante o período do levantamento estão disponíveis em Zanella 
(1991).
Os resultados obtidos são apresentados comparando-os com os de outros 
levantamentos que utilizaram metodologia semelhante, realizados na planície 
litorânea paranaense: Alexandra, localizada no continente, a cerca de 13 km de 
Paranaguá (dados de Laroca 1974), e Ilha das Cobras, uma pequena ilha situada 
na parte central da Baía de Paranaguá, cerca de 100 vezes menor que a Ilha do Mel, 
com apenas 26,5 ha e um isolamento, em relação a outras ilhas e ao continente, 
semelhante ao observado para a Ilha do Mel (dados de Schwartz & Laroca 2000).
Resultados
Foram coletadas na Ilha do Mel 75 espécies de abelhas, uma diversidade 
menor que a observada em Alexandra, onde foram coletadas 122 espécies, e maior 
que a da Ilha das Cobras, com 57 espécies. 
Em relaçãoà similaridade na composição de espécies, as comunidades 
insulares foram muito mais semelhantes entre si do que em relação à comunidade 
de Alexandra. O índice de similaridade de Renkonnen (cujo valor máximo possível 
é de 100%) foi de 51,28% entre a comunidade da Ilha do Mel e a da Ilha das 
Cobras. Quando essas duas comunidades foram comparadas à de Alexandra, o 
índice foi bem mais baixo: 19,12% e 16,93%, respectivamente (Zanella et al. 1998; 
ver relação de espécies em Schwartz & Laroca 2000). 
A maior similaridade entre as comunidades de abelhas da Ilha do Mel e 
da Ilha das Cobras também foi observada ao se considerar a riqueza de espécies 
Fernando César Vieira Zanella
192
por família (Figura 1). Essas comunidades apresentaram, em comparação à 
de Alexandra, uma maior riqueza relativa de espécies das famílias Colletidae e 
Halictidae. A maior representatividade de Colletidae deve-se à presença nas Ilhas 
de várias espécies de Hylaeus, gênero ausente na amostra de Alexandra. Para 
os Halictidae, trata-se apenas de um aumento relativo, pois foram coletadas 28 
espécies.
Figura 1 - Abundância relativa em número de espécies por família de abelha em Alexandra, Ilha do 
Mel e Ilha da Cobras. Os Apidae estão separados em corbiculados e não-corbiculados. Fonte: Zanella 
et al. (1998).
As famílias Andrenidae, Megachilidae e os Apidae corbiculados 
apresentaram uma redução no número de espécies nas ilhas maior do que a 
observada para o conjunto das abelhas (a família Apidae foi separada em dois 
grupos: corbiculados, que inclui neste estudo os Bombini, Euglossini e Meliponini, 
e os não-corbiculados, que inclui abelhas predominantemente solitárias, de várias 
tribos anteriormente consideradas como uma família distinta, Anthophoridae) 
(Michener 2000). 
A comparação das abundâncias relativas em número de indivíduos 
coletados por família mostrou um contraste ainda mais evidente entre as 
comunidades, ressaltando-se a aparente “substituição” dos Apidae corbiculados 
pelos Halictidae, como grupo predominante (Figura 2). A grande redução na 
abundância dos Apidae corbiculados nas Ilhas deveu-se aos Meliponini, uma vez 
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
193
que em Alexandra as espécies dessa tribo correponderam a mais de 50% de 
todas as abelhas coletadas (899 indivíduos de 13 espécies). Na Ilha do Mel foram 
coletados apenas 301 indivíduos de três espécies (14,1%), Plebeia droryana 
(Friese 1900), Plebeia remota (Holmberg 1903) e Tetragonisca angustula (Latreille 
1811). Na Ilha das Cobras foram registrados somente oito indivíduos de Plebeia 
droryana (0,004 %). 
Os Apidae não-corbiculados também apresentaram uma redução no 
número de espécies de acordo com o gradiente de insularidade, mas a sua contribuição 
relativa à diversidade total das comunidades se manteve por volta dos 30%. 
Quase todas as espécies de Meliponini de Alexandra, que estão entre as 
mais abundantes na amostra, não foram coletadas nas Ilhas. Entre elas: Trigona 
fuscipennis (Friese 1900); Trigona spinipes (Fabricius 1793); Partamona helleri 
(Friese 1900); Trigona fulviventris guianae (Cockerell 1910) e Scaptotrigona 
xanthotricha (Moure 1950). 
Dialictus opacus (Moure 1940) (Halictidae) foi a espécie mais abundante 
na Ilha do Mel, com 42,49% do total de abelhas coletadas. Outras espécies 
abundantes foram: Ceratinula sp. 3 (Apidae não-corbiculado), Plebeia remota, 
Plebeia droryana, Bombus morio (Swederus 1787) (Apidae corbiculados), Ceratina 
sp. 1 (Apidae não-corbiculado), Augochloropsis cupreola (Cockerell 1900) e 
Augochlora sp. 1 (Halictidae).
A variação no número de espécies e indivíduos de abelhas e de plantas 
visitadas durante o ano está representada na Figura 3. As depressões acentuadas 
Figura 2 - Abundância relativa em número de indivíduos por família de abelha em Alexandra, Ilha 
do Mel e Ilha das Cobras. Legenda como na figura 1. Fonte: Zanella et al. (1998).
Fernando César Vieira Zanella
194
nos meses de fevereiro, julho e agosto representam dias de coleta com clima 
adverso (por exemplo, chuva ou elevada umidade relativa do ar associada a baixas 
temperaturas), não sendo uma característica estacional. 
De modo geral, houve uma elevada correlação entre a temperatura 
durante a coleta e o número de espécies de plantas visitadas e de espécies e de 
indivíduos de abelhas coletados (Figura 4). Em relação à precipitação mensal, o 
coeficiente de correlação foi menor, sendo somente significativo em relação ao 
número total de indivíduos coletados (Figura 5). 
O período com maior abundância e diversidade de espécies de 
abelhas se estendeu de janeiro a abril, com um pico nesse último mês (Figura 
Figura 3 - Variação sazonal no número de espécies e de indivíduos por família de abelhas; no número 
de espécies de plantas visitadas pelas abelhas e de espécies de plantas com flores, que tenham sido 
visitadas pelo menos uma vez durante o ano na Ilha do Mel e dados meteorológicos do ano de 1988 
(Médias mensais da Estação Meteorológica de Paranaguá).
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
195
Figura 4 - Correlação entre a temperatura média durante as horas de coleta e o número de espécies 
de abelhas coletadas (a), o número total de indivíduos coletados (b) e o número de espécies de 
plantas visitadas em cada dia de coleta (c). Todos os coeficientes de correlação são significativos a 
uma probabilidade de 99% e 24 GL.
Figura 5 - Correlação entre a precipitação média mensal e o número total de indivíduos de abelhas 
coletados. Coeficiente de correlação significativo somente a uma probabilidade de 95% e 11 GL.
Fernando César Vieira Zanella
196
3). Durante o inverno houve uma redução acentuada no número de espécies de 
abelhas coletadas, bem como no de plantas com flores. As famílias Colletidae e 
Megachilidae não apresentaram espécies coletadas nessa estação. Não foram feitas 
quantificações da abundância de flores por espécie de planta, mas, de modo geral, 
mesmo para aquelas que apresentaram flores durante o inverno, a quantidade era 
muito menor do que a que ocorria durante outras épocas do ano (obs. pessoal). 
Diferentemente do observado em Alexandra, algumas das espécies de abelhas 
não-eussociais mais abundantes apresentaram atividade de vôo durante praticamente o 
ano todo, como Dialictus opacus, Ceratinula sp. 3, Ceratina sp. 1, Augochloropsis 
cupreola, Augochlora sp. 1 e Augochloropsis multiplex (Vachal 1903) (Figura 6). 
Outras espécies, como Augochlora amphitrite (Schrottky 1909), Xylocopa 
brasilianorum (Linne 1767) e Hypanthidium flavomarginatum (Smith 1879), não 
ocorreram em alguns meses. No entanto, não há coincidência com os períodos de 
ausência de atividade observados em Alexandra e na Ilha do Mel, de modo que, 
quando os dados das três localidades (que representam também anos diferentes) 
são agrupados, cobrem-se todos os meses do ano. 
Bombus morio esteve ausente durante todo o inverno (Figura 6), mas 
em Alexandra só não foi coletado em julho (Laroca 1974). Augochlora caerulior 
(Cockerell 1900), Megachile aetheria (Mitchell 1930) e Bombus atratus (Franklin 
1913) estiveram ausentes durante parte do inverno e o período de maior 
abundância foi nos primeiros meses do ano.
As espécies que aparentemente apresentam curtos períodos de vôo 
restringiram suas atividades entre o final da primavera e o início do outono, 
principalmente durante o verão. Epicharis dejeani (Lepeletier 1841) foi coletada 
somente em novembro, dezembro e janeiro, mesmo período em que foi coletada 
na Ilha das Cobras (Schwartz & Laroca 2000) e em Alexandra (Laroca 1974). Na 
Ilha do Mel foram observados ninhos ativos dessa espécie também somente nessa 
época. Entre março e maio apareceram Neocorynurapseudobaccha (Cockerell 
1901), Augochlora aff. pyrgo (Schrottky 1910) e Hylaeus sp. 1 e 3. Mesoplia 
rufipes (Perty 1833), espécie parasita de Centris, foi coletada somente em janeiro. 
Centris tarsata (Smith 1903), foi coletada em janeiro e dezembro e Agapostemom 
semimelleus (Cockerell 1900), teve sua atividade de vôo concentrada nos quatro 
primeiros meses do ano, mas não se restringiu a esse período, pois uma fêmea foi 
coletada em setembro (Figura 6).
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
197
Figura 6 - Períodos de coleta das espécies de abelhas predominantemente coletadas na Ilha do Mel, 
em ordem de abundância. ( ...... = 1 a 3 indivíduos; = 4 a 10; = + de 10).
Fernando César Vieira Zanella
198
Discussão
A fauna de abelhas silvestres que ocorre na planície litorânea paranaense 
apresenta uma característica eminentemente tropical, dada pela grande abundância 
e diversidade de abelhas sociais sem ferrão da tribo Meliponini (família Apidae), 
além da presença de vários gêneros e espécies de distribuição tropical, ausentes 
no planalto de Curitiba e áreas mais frias, ou ocorrendo apenas de maneira 
marginal. Podem ser citados como exemplos: Partamona helleri (Friese 1900); 
Epicharis dejeani (Lepeletier 1841); Oxytrigona tataira cagafogo (Mueller 1874); 
Scaura latitarsis (Friese 1900); Cephalotrigona capitata (Smith 1854); Niltonia 
virgilii (Moure 1964); Xylocopa brasilianorum (Linne 1767); X. macrops (Lepeletier 
1841) e Plebeia droryana (Friese 1900) (cf. Barbola & Laroca 1993, Bortoli & 
Laroca 1990, 1997, Pedro & Camargo 1999, Silveira et al. 2002, e referências 
citadas por esses autores). 
O Primeiro Planalto paranaense, onde se encontra Curitiba, a cerca de 
900 metros de altitude, apresenta, por sua vez, uma elevada riqueza e abundância 
de espécies de Halictidae (Laroca 1974, Bortoli & Laroca 1990) e vários elementos 
faunísticos aparentemente ausentes na planície litorânea, como muitos gêneros das 
famílias Colletidae e Andrenidae e espécies de Dialictus, Gaesischia (Urban 1968, 
1989) e Pseudagapostemon (Cure 1989). Ocorrem também somente no planalto 
espécies que apresentam um padrão distribucional semelhante ao do Pinheiro do 
Paraná (Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kutze), aparecendo no Sudeste do Brasil 
principalmente em áreas de altitude elevada, como o Pico do Itatiaia, no Rio de 
Janeiro e Campos do Jordão, em São Paulo (ver Silveira & Cure 1993). São exemplos 
desse padrão de distribuição: Thygater paranaensis (Urban 1967), T. seabrai (Urban 
1967) e Habralictus canaliculatus (Moure 1941, Moure & Hurd 1987).
Nesse contexto biogeográfico, é particularmente interessante que a 
comunidade de abelhas da Ilha do Mel se diferencie da que ocorre na porção 
continental da planície litorânea por apresentar uma menor riqueza de espécies 
e uma baixa diversidade e abundância de Meliponini, associada a uma maior 
abundância e riqueza relativa de espécies da família Halictidae. Dessa forma, o 
padrão geral de composição da fauna de abelhas da Ilha do Mel (Figuras 1 e 2) 
é mais semelhante ao que ocorre nas terras altas do Primeiro Planalto do que ao 
observado em Alexandra. 
A comunidade da Ilha das Cobras também pode ser caracterizada de 
forma semelhante, o que permite supor que se trata de um padrão generalizado 
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
199
para as comunidades insulares da região. É interessante notar ainda que, de acordo 
com o esperado pela teoria da biogeografia de ilhas, a comunidade da Ilha do Mel 
apresenta uma condição intermediária em relação à de Alexandra e à da Ilha das 
Cobras no que se refere a estas três características: riqueza de espécies, abundância 
e diversidade de Meliponini e de Halictidae (Schwartz & Laroca 2000). 
Apesar das limitações naturais a um processo de amostragem, é 
praticamente certa a ausência, nas comunidades insulares estudadas, de grande 
parte das espécie de Meliponini encontradas em relativa abundância em Alexandra. 
Na Ilha das Cobras, porque boa parte da sua pequena área foi amostrada (Schwartz 
& Laroca 2000), e na Ilha do Mel, por terem sido feitas várias coletas esporádicas 
em outras partes da ilha, incluindo áreas de floresta fechada, sem nunca ter sido 
registrada outra espécie de Meliponini, além de Plebeia droryana, P. remota e 
Tetragonisca angustula.
Zanella et al. (1998) sugeriram que a aparente substituição de Meliponini 
pelos Halictidae, como grupo predominante nas comunidades insulares tropicais, 
deve-se a um processo de compensação de densidade determinado pela ausência 
de competidores (conforme definido por MacArthur et al. 1972). No caso, os 
Meliponini seriam os competidores principais dos Halictidae e a sua ausência ou 
escassez nas ilhas aumentaria a disponibilidade de recursos alimentares para as 
outras espécies. Roubik (1989) também mencionou um caso de compensação de 
densidade em ilhas, mas se referindo a uma espécie endêmica de Melipona que 
apresenta uma grande abundância na Ilha de Coiba, na costa oeste da Costa Rica, 
onde existem apenas 15-20% do número de espécies de Meliponini que ocorrem 
em áreas adjacentes no continente. 
Já era reconhecida a importância dos Meliponini na estruturação das 
comunidades tropicais de abelhas, por causa da grande abundância, do hábito 
generalista de visita às flores, da capacidade de monopolizar recursos e da elevada 
sobreposição no uso das fontes de recursos florais com outros grupos de abelhas 
(Roubik 1979), entretanto, o que o estudo da estrutura das comunidades de abelhas 
da Ilha do Mel e Ilha das Cobras permite sugerir é que os Halictidae são o principal 
grupo favorecido pela ausência de várias espécies de Meliponini. 
É evidente que são ainda necessários outros levantamentos para 
caracterizar melhor como essa compensação de densidade se dá nos vários 
hábitats e guildas de visitantes florais que ocorrem nas ilhas e no continente mas, 
como muitos Halictidae apresentam também um comportamento generalista de 
visita às flores, é razoável supor que o aumento da abundância de Halictidae seja 
Fernando César Vieira Zanella
200
possivelmente um caráter geral das comunidades insulares. O comportamento 
generalista nos Halictidae é determinado, em parte, pela existência de vários 
grupos com modo de vida social, apresentando colônias que, não sendo perenes, 
se mantêm ativas durante um período extenso. Uma vez que essas espécies não 
armazenam mel e pólen, necessitam obrigatoriamente de um fluxo quase que 
contínuo de recursos florais, tendo que apresentar a capacidade de utilizar diferentes 
fontes de alimento (Michener 2000).
A pobreza de espécies de Meliponini nas ilhas tropicais decorre de dois 
fatores, que podem ter atuado dependendo de cada caso: a sua limitada capacidade 
de colonização e a maior probabilidade de extinção em áreas isoladas. As abelhas dessa 
tribo constituem um caso especial dentro da biogeografia, pela reduzida capacidade 
de dispersão por meio do processo de enxameagem, sendo incapazes de colonizar 
novas áreas se tiverem que ultrapassar pequenas barreiras, como uma lâmina d’água 
de algumas centenas de metros (Kerr & Maule 1964, Michener 1979). Segundo 
Nogueira-Neto (1954), por um certo tempo, durante a formação de novos enxames, 
é mantida uma relação entre a colônia-mãe e a colônia-filha e, nos casos observados, 
a distância máxima entre as colônias não ultrapassou 365 m.
A maior probabilidade de extinção em ilhas decorre do pequeno número 
de indivíduos férteis nas populações graças ao comportamento altamente eussocial, 
com a presença de um grande número de operárias para usualmente uma rainha 
geneticamente ativa (Carvalho et al. 1995, Kerr & Vencovsky 1982). Se pensarmos 
que cada colônia de Meliponinié equivalente geneticamente a um “indivíduo” 
de grande biomassa, a eliminação seletiva desse grupo corresponde à extinção 
preferencial de organismos maiores, que foi observada em comunidades insulares 
de mamíferos e aves e comunidades experimentais de microrganismos (Wilson & 
Willis 1975, Dickerson & Robinson 1986, Patterson & Atmar 1986). 
Zanella et al. (1998) apresentaram duas hipóteses, não necessariamente 
excludentes, para explicar a ausência de várias espécies de meliponínis na Ilha 
do Mel e Ilha das Cobras e argumentaram não haver elementos seguros para 
suportar somente uma: 
1. Populações dessas espécies ficaram isoladas nas ilhas após a 
sua formação pela elevação do nível do mar depois do último evento glacial, 
aproximadamente 7 mil anos atrás (Martin et al. 1996, ver Angulo & Souza neste 
volume), e se extinguiram;
2. Por causa das alterações climáticas que ocorreram nos períodos 
glaciais, concomitantemente ao rebaixamento do nível do mar, a distribuição das 
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
201
formações florestais na planície litorânea era mais restrita que a atual (Ab’Saber 
1977, Bigarella et al. 1975). No momento da ingressão marinha que deu origem à 
Baía de Paranaguá, os Meliponini não estavam presentes na área que atualmente 
corresponde às ilhas. Após a sua formação, houve uma expansão das florestas às 
quais os Meliponini estão usualmente associados, mas eles não puderam colonizá-
las, por causa da barreira existente, correspondente ao braço de mar que separava 
as ilhas do continente. 
Também é possível que as espécies de Meliponini que atualmente 
ocorrem nas ilhas tenham sido introduzidas pelo homem. Essa hipótese não 
pode ser descartada, uma vez que se tratam de espécies de pequeno tamanho, 
que fazem ninhos em ocos de árvores relativamente pequenos e não apresentam 
comportamento agressivo, como o observado nas Trigona e Scaptotrigona, e 
também não produzem uma secreção cáustica que causa irritação na pele, como 
a Oxytrigona (Nogueira-Neto 1970, Wille 1983). Desse modo, poderiam ser 
facilmente transportadas do continente para as ilhas. Cabe aqui a observação 
de que, durante o levantamento realizado na Ilha do Mel, um morador da ilha 
mantinha em uma pequena caixa de sapato uma colônia de Plebeia droryana, 
espécie que ocorre na Ilha do Mel e na Ilha das Cobras (observação pessoal).
Schwartz & Laroca (2000) afirmaram que a segunda hipótese é 
improvável, argumentando que, segundo Bigarella et al. (1975), na época do 
isolamento possivelmente estaria ocorrendo o “ótimo climático”, com a máxima 
expansão florestal. No entanto, essa afirmação é equivocada pois, pela variação 
do nível do mar no litoral paranaense, o “ótimo climático” ocorreu cerca de 5 a 
5,4 mil anos atrás, quando o mar chegou a estar 3,5 ± 1,0 m acima do nível atual 
(Angulo & Souza neste volume, Martin et al. 1996). 
Como a profundidade atual dos canais entre as ilhas e o continente é de 
5 a 9 metros, o início da sua separação deve ter ocorrido há mais de 7500 anos. 
Mesmo que tenha havido uma concomitante elevação do nível do mar e expansão 
das formações florestais, de modo que, quando o nível do mar fosse semelhante 
ao atual, aproximadamente 6500 anos atrás, a distribuição das florestas fosse 
também semelhante à que ocorria na região antes da colonização pelo Homem 
europeu, teríamos que admitir que, no momento do isolamento das ilhas, o 
nível do mar deveria ser alguns metros mais baixo que o atual e a distribuição 
das florestas úmidas deveria ser mais restrita. Mas a simultânea alteração nessas 
duas variáveis não é segura e, para Klein (1975), há indícios de que houve uma 
resposta tardia nas alterações da distribuição das formações florestais em relação à 
Fernando César Vieira Zanella
202
flutuação de um clima seco para um clima úmido que ocorreu a partir do final do 
Quaternário, pois mesmo hoje as florestas de folhas largas do sul do Brasil ainda 
estão em processo de expansão.
A análise da origem das populações de Meliponini das ilhas é ainda 
dificultada pelo fato de que, mesmo que sejam relictos da época da ligação com 
o continente, não é possível afirmar que estejam geneticamente isoladas desde 
a formação das ilhas, uma vez que machos poderiam se deslocar do continente 
para as ilhas, ou vice-versa, ainda que de maneira ocasional e não ativa. A 
possibilidade de dispersão de machos por barreiras como rios foi sugerida por 
Camargo (1994), a partir da observação de colônias de Melipona seminigra (Friese 
1903) na Amazônia. Segundo ele, à esquerda do rio Purus ocorre uma forma de 
cor negra e, à direita, uma forma com o abdômen amarelado, e próximo à foz do 
rio, na margem direita, havia uma colônia que apresentava machos e operárias 
de ambas as formas.
 Outro aspecto importante das comunidades insulares é a pobreza de 
espécies e baixa abundância de Megachilidae. Essa família de abelhas solitárias 
foi a que apresentou o maior número de espécies em Alexandra, mas apenas 
uma reduzida representação nas comunidades insulares. Zanella et al. (1998) 
relacionaram esse processo de eliminação seletiva não a uma característica 
específica da biologia dessas abelhas, mas a uma tendência à exclusão de espécies 
raras ou com baixa densidade em ilhas (MacArthur 1972). 
Essa exclusão preferencial é observada na Figura 7, na qual estão 
representadas as espécies coletadas em Alexandra, classificadas em predominantes 
e raras de acordo com o método de Kato (1952 in Laroca 1995), e a representação 
dessas espécies nas comunidades da Ilha do Mel e da Ilha das Cobras. As 
diferenças observadas na proporção dos dois grupos de espécies são diferentes 
entre Alexandra e Ilha do Mel (x2=13,69, G.L.=1, P<0,01), e entre Alexandra 
e Ilha da Cobras, nesse caso somente quando os Meliponini são eliminados da 
análise (x2=4,66, G.L.=1, P<0,05).
A baixa representatividade de abelhas da família Megachilidae nas 
comunidades insulares provavelmente se deve, assim, ao fato de serem espécies 
usualmente com baixa densidade populacional, característica que também deve 
determinar a pequena abundância dessas espécies nos levantamentos realizados. 
Em Alexandra foram coletados apenas 119 indivíduos para 29 espécies do gênero 
Megachile, resultando em uma média de 4,1 indivíduos por espécie (Laroca 1974). 
Em levantamentos realizados em outras regiões do país, a abundância relativa 
dentre os Megachilidae também é baixa, variando entre 1,6 e 4,6 indivíduos por 
espécie (ver Bortoli & Laroca 1990, Silveira & Campos 1996 e referências citadas).
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
203
 Quanto à variação sazonal na abundância das abelhas, ocorreu uma 
redução acentuada nas atividades de visita às flores durante o inverno, sendo que 
Colletidae, Megachilidae e vários Apidae não-corbiculados apresentaram uma 
interrupção na atividade durante esse período. Essa redução não foi observada 
de forma tão intensa nos levantamentos realizados em Alexandra e na Ilha das 
Cobras, e em Alexandra foram coletadas espécies de Megachilidae também durante 
o inverno (Laroca 1974, Schwartz & Laroca 2000).
A depressão mais acentuada na abundância e diversidade de abelhas 
durante o inverno na amostra da Ilha do Mel deve-se certamente ao fato de 
o inverno ter sido mais rigoroso no ano em que foram realizadas as coletas, 
apresentando temperaturas mais baixas e precipitações menores do que o normal 
(Britez & Marques neste volume, Zanella 1991). 
O inverno na planície litorânea paranaense corresponde ao período 
que, além das baixas temperaturas, apresenta as mais baixas precipitações 
pluviométricas, e essa concomitante ocorrência no período desfavorável de escassas 
chuvas com baixas temperaturas certamente contribuiu paraa correlação positiva 
entre a precipitação mensal e o número de abelhas coletadas.
O período de maior diversidade de espécies foi semelhante ao observado 
no levantamento realizado na Ilha das Cobras, de janeiro a abril. Em Alexandra, 
exceto por uma pequena redução no número de espécies durante o inverno, houve 
uma maior uniformidade na riqueza de espécies coletadas em cada dia, com picos 
em março, outubro e abril (Laroca 1974). 
Em relação aos registros dos ciclos de atividade de cada espécie, os 
dados obtidos não permitem uma discussão mais aprofundada, uma vez que 
a coleta de abelhas nas flores não fornece informações seguras a respeito dos 
Figura 7 - Espécies coletadas em Alexandra classificadas em predominantes e raras, e sua ocorrência 
na Ilha do Mel e Ilha das Cobras (Fonte: Zanella 1991, Schwartz & Laroca 2000).
Fernando César Vieira Zanella
204
períodos em que as espécies não apresentam indivíduos adultos em atividade de 
vôo. Isso acontece porque a sua ausência em um dia de coleta pode representar 
apenas a ausência de plantas com flores atrativas dentro da área restrita em que foi 
realizado o levantamento. A coleta de indivíduos ativos, entretanto, especialmente 
de fêmeas, permite confirmar a ocorrência de atividade de coleta de recursos e 
aprovisionamento de ninhos.
Nesse sentido, o fato de algumas espécies, como Dialictus opacus, 
Augochloropsis cupreola e Augochloropsis multiplex, terem sido coletadas ao 
longo de praticamente todo o ano indica que não deve haver uma restrição 
climatológica às suas atividades, mesmo durante o inverno. E a ausência de 
registros dessas espécies em vários meses do ano em Alexandra (Laroca 1974) 
deve representar apenas o resultado da sua baixa abundância local e conseqüente 
baixa probabilidade de captura.
As espécies que devem apresentar períodos mais restritos de atividade 
de vôo concentram suas atividades entre o final da primavera e o início do outono, 
o que resulta nesse período ser o de maior diversidade de espécies, especialmente 
entre janeiro e abril.
 Para concluir esta contribuição, é interessante fazer uma reflexão sobre 
a importância da preservação das comunidades de plantas e animais da Ilha do 
Mel e de outras ilhas, em particular das comunidades de abelhas. Se analisarmos 
o valor da conservação da fauna de abelhas da Ilha do Mel apenas em termos 
do número de espécies a ser preservado, ele certamente será menor do que o de 
áreas semelhantes no continente, tendo em vista a menor diversidade de espécies. 
Entretanto, como ressaltado por Janzen (1997), o que devemos preservar não 
são somente as espécies, mas as interações ecológicas entre elas. Nesse sentido, 
as comunidades insulares oferecem uma oportunidade única de se estudar a 
diferenciação de populações isoladas e as interações entre as espécies de abelhas, 
e entre estas e a flora visitada, em uma condição de ausência de várias espécies 
abundantes no continente. Essas comunidades podem ser consideradas, assim, o 
resultado de um “experimento natural” que se estende por cerca de 7 mil anos, e 
que não poderá ser reproduzido pelo Homem. E a sua preservação e estudo é de 
grande importância para se conhecer a história natural da região. 
Meio Biológico - ABelhAs dA ilhA do Mel: estruturA dA coMunidAde, relAções BiográficAs e vAriAção sAzonAl
205
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209
Aves 
Valéria dos Santos Moraes
Introdução
O estudo de aves de ilhas foi fundamental para o desenvolvimento de 
inúmeras linhas de pesquisa da Ecologia. Darwin (1859), pesquisando a radiação 
adaptativa de tentilhões (Geospizinae) nas Ilhas Galápagos, formulou parte de 
suas teorias sobre a Evolução das Espécies. Posteriormente, muitas análises 
demonstraram a relação da riqueza e abundância de animais com diversos 
parâmetros físicos, químicos e biológicos, a partir de estudos de avifaunas insulares 
(Mayr 1942, Preston 1962, Hamilton & Rubinoff 1963, 1964, Carlquist 1965, 
Hamilton & Armstrong 1965, Thornton 1967, McArthur & Wilson 1963, 1967, 
Whitehead & Jones 1969, Haila 1983, Simberloff 1983, Boecklen & Nocedal 1991, 
Peltonen & Hanski 1991, Holt 1992, Bush & Whittaker 1993), acrescentando 
novos parâmetros à investigação da Ecologia de campo e às suas aplicações, 
bem como revelando a complexidade das relações das espécies animais com o 
seu meio e entre si.
Mais recentemente, outros trabalhos foram desenvolvidos em torno de 
aspectos biogeográficos insulares, como a colonização de ilhas por aves (Schipper 
et al. 2001) e a aplicação de princípios teóricos na conservação e no manejo da 
avifauna (Curio 2002) e no planejamento ambiental (Helmer 2004). Algumas 
variações estão nos estudos da dinâmica de fragmentos florestais, que investigam 
o efeito do isolamento sobre diversidade de espécies e processos ecológicos 
(Cosson et al. 1999, Krauss et al. 2004). E, ainda, em pesquisas da adaptabilidade 
de diferentes espécies de aves a ambientes peridomiciliares recentemente criados 
em ilhas (Catry et al. 2000, Murphy et al. 2001). Esses estudos integram um 
eixo de análises da relação do homem com a natureza, que vem sendo bastante 
pesquisado no mundo todo. Entretanto, análises qualitativas continuam sendo 
Valéria dos Santos Moraes
210
realizadas (Runciman et al. 1998, Filardi et al. 1999, Lee et al. 1999, Holdaway 
2001, Kratter et al. 2001, Saguindang et al. 2002). 
No Brasil, mais especificamente, as aves de ilhas têm sido objeto de estudo 
como componentes da avifauna marinha, como nas descrições das comunidades 
de aves do Atol das Rocas (Schulz Neto 1998), litoral do Paraná (Moraes & Krul 
1995a) e de Santa Catarina (Branco 2003). E, ainda, como elementos de estudos 
da distribuição espacial de aves em fragmentos de florestas (Pimm 1998, Gimenes 
& Anjos 2000) e discussões dos efeitos de perturbações antropogênicas (Moraes 
& Krul 1999), não havendo muito aprofundamento em torno da compreensão da 
dinâmica estrutural e funcional das comunidades avifaunísticas do expressivo número 
de ilhas costeiras situadas em território nacional.
Considerando-se essa ausência temática literária, que se contrapõe 
à importância dos ambientes insulares como fontes de diferenciação ecológica 
de espécies e comunidades faunísticas e florísticas, procurou-se aqui organizar 
informações sobre a estrutura da avifauna da Ilha do Mel, que já havia sido 
enfocada em uma listagem preliminar de espécies (Moraes 1991) e em uma 
comparação com outras cinco ilhas costeiras e faixa continental de Pontal do 
Sul (Moraes 1998). No presente manuscrito, discute-se a divisão das espécies 
de aves em diferentes espaços que caracterizam hábitats, intervalos anuais e 
classes alimentares disponíveis na ilha. A presente interpretação complementa as 
argumentações anteriores apresentadas nos trabalhos antecedentes, na medida em 
que reflete, de uma maneira inédita, sobre aspectos básicos de um padrão espaço-
temporal que está tão fortemente vinculado ao tipo de conformação paisagística 
da planície costeira paranaense.
Material e Métodos
Entre abril de 1989 e janeiro de 1997 efetuaram-se pesquisas sobre a 
avifauna da Ilha do Mel, em excursões quinzenais, quando procurou-se dividir 
o número total de horas de observação de forma igualitária entre os diferentes 
hábitats mencionados na Tabela 1. Foi possível, dessa forma, compreender aspectos 
da configuração das diferentes comunidades que se segregam de acordo com 
as necessidades ecológicas das espécies que as compõem. Não houve nenhum 
tipo de preocupação com a homogeneidade das amostras no que se refere a 
acidentes geográficos e/ou áreas domiciliares. Isso porque a pesquisa relatada nesteMeio Biológico - Aves
211
manuscrito não teve o objetivo de analisar áreas de vida, territórios e extensão de 
deslocamento de indivíduos dentro da ilha. 
Durante as amostragens, alternaram-se caminhadas ininterruptas 
e paradas, sempre com uso de binóculos. Em alguns casos, foram efetuadas 
gravações de cantos e chamados para posterior identificação por comparação 
com o Arquivo Sonoro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O 
número total de horas de observação foi definido a partir da estabilização da curva 
cumulativa de descoberta de espécies. As unidades amostrais corresponderam a 
um dia integral de trabalho, ou seja, a 10 horas de observação. E, para evitar o 
efeito da atividade diária diferencial das aves, os períodos da manhã, entre seis e 
11 horas, e tarde, entre 14 e 19 horas, foram amostrados de forma homogênea. 
Guildas foram obtidas de Moraes (1998) e formas de permanência 
designadas conforme Sick (1997), como indica a Tabela 1. Esses parâmetros 
foram adotados tendo em vista a construção de um esboço de perfil da estrutura 
da avifauna local, o que foi mais bem visualizado a partir do cálculo também da 
freqüência de ocorrência das espécies, dividindo-se o número de registros de cada 
uma delas pelo número total de unidades amostrais efetuadas (ft) e pelo número 
total de unidades amostrais efetuadas em cada hábitat das áreas de estudo. As 
espécies foram classificadas nas seguintes classes de freqüência: (1) até 25%; (2) 
25,1 a 50%; (3) 50,1 a 75%; e (4) 75,1 a 100%, o que indica o quão comuns ou 
raras são as formas verificáveis na localidade pesquisada.
Resultados
Foram levantadas 119 espécies de aves na Ilha do Mel (Tabela 1). 
Elementos com freqüência de ocorrência menor ou igual a 25% predominaram, 
representando 55% do total verificado. Setenta e quatro espécies nidificaram no local, 
das quais 56 permaneceram ao longo de todos os meses do ano e 18 migraram, 
estando presentes entre setembro e abril. As aves que compuseram as comunidades 
em questão ocuparam 28 guildas, sendo mais freqüentes as consumidoras de frutos, 
sementes e insetos (23,5% do total), que ocuparam em maior proporção os estratos 
arbustivo (12 espécies) e arbóreo (11). Foi também significativa a ocorrência de 
insetívoras (22,7% do total), presentes principalmente no espaço aéreo (10 espécies) 
e estratos arbustivo (cinco) e arbóreo (quatro). Predadoras de invertebrados em geral 
e generalistas representaram 16,8% das espécies.
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212
Nas formações campestres em contato com a praia arenosa foram 
verificadas 31 espécies, das quais a grande maioria, ou seja, 48,4%, apresentou 
freqüência de ocorrência menor ou igual a 25%. Os Charadriiformes representaram 
32,2% do número total de espécies presentes, enquanto Passeriformes e 
Ciconiiformes perfizeram, respectivamente, 25,8 e 19,3% da avifauna.
A floresta inundável halófita comportou a permanência de 60 espécies 
de aves. Destas, 37 mostraram-se presentes em todos os meses do ano. Houve 
predomínio de Passeriformes (32 espécies ou 53,3% do total) sobre os demais 
grupos taxonômicos. A maioria das espécies, ou seja, 45% da avifauna, apresentou 
freqüência de ocorrência menor ou igual a 25%, enquanto apenas 3,3% 
dos componentes da comunidade estiveram presentes entre 75,1 e 100% das 
amostragens. Entre os meses de setembro e abril, a avifauna se compôs de 37 
nidificantes residentes e 16 nidificantes migratórias e uma migratória setentrional. 
Entre abril e setembro permaneceram as residentes e acresceu-se a elas uma 
migratória meridional, Lurocalis nattereri.
Nas florestas não inundáveis e inundáveis foram registradas 68 espécies, 
das quais 47 nidificantes residentes. Os Passeriformes representaram 64,2% 
desse total, tendo sido mais ricas em formas as famílias Tyrannidae (17 espécies) 
e Emberizidae (11). Trinta espécies apresentaram freqüência de ocorrência menor 
ou igual a 25%, e 12 entre 75,1 e 100%. Apenas uma migratória meridional 
(Pyrocephalus rubinus) esteve presente entre abril e setembro, em substituição às 
migratórias setentrionais.
Um total de 58 espécies compôs a comunidade avifaunística associada 
à floresta ombrófila densa. Houve maior número de nidificantes residentes (38 
espécies) e nidificantes migratórias (11). 
Os Passeriformes representaram o grupo mais rico (39 espécies ou 
67,2% do total), estando bem representadas as famílias Tyrannidae (13 espécies) 
e Emberizidae (11), que juntas comportaram 41,4% de toda a avifauna. Vinte 
e duas espécies obtiveram freqüência de ocorrência menor ou igual a 25%, e 12 
entre 75,1 e 100%. Entre setembro e abril, ocorreram esporadicamente outras 
nove espécies.
As áreas peridomiciliares foram freqüentadas por 71 espécies, das quais 
64,3% pertencentes à ordem Passeriformes. As famílias mais bem representadas 
em termos de riqueza específica foram Emberizidae (15 espécies), Tyrannidae (14) 
e Columbidae (cinco). Encontraram-se 32 espécies com freqüência de ocorrência 
igual ou inferior a 25%. As demais se dividiram homogeneamente entre as outras 
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classes de freqüência. Quarenta e cinco elementos mostraram-se presentes ao 
longo do ano, com 11 espécies registradas em até 25% das amostragens nessas 
áreas. Outras 12 formas apresentaram freqüência de ocorrência entre 50,1 e 75%. 
Entre setembro e abril, acresceram-se a estas mais 10 espécies, dentre as quais 
70% apareceram em apenas no máximo 25% das amostragens. 
Discussão
A listagem de aves sugerida pode ser considerada uma amostra 
confiável da comunidade ornitofaunística da Ilha do Mel, pois a pesquisa 
de campo somente foi concluída quando a curva cumulativa de número de 
espécies em função do tempo de amostragem atingiu uma assíntota. Além disso, 
diferentes períodos diários e anuais e os distintos hábitats foram amostrados de 
forma homogênea, e esforço e métodos de coleta de dados foram padronizados 
e submetidos a condições meteorológicas semelhantes. Cabe acrescentar, no 
entanto, à avifauna descrita, outras 12 espécies que haviam sido registradas 
por Moraes (1991) e, dentre as quais, Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758), 
Calidris melanotos (Vieillot 1819) e Progne tapera (Linnaeus, 1766), parecem 
representar presenças acidentais naquele espaço insulado. Já Tyto alba (Scopoli, 
1769) e Macropsalis creagra (Bonaparte 1850) são nidificantes, o que pôde ser 
observado circunstancialmente em visitas informais à ilha. E as demais sete 
espécies adicionadas do referido manuscrito, apesar de ser difícil precisar sua 
forma de permanência e/ou freqüência de ocorrência na região, são possivelmente 
residentes na Ilha do Mel, pois tratam-se de elementos que, em geral, não 
demonstram hábitos migratórios muito acentuados. São elas: Rynchops niger 
(Linnaeus, 1758), Tapera naevia (Linnaeus, 1766), Otus choliba (Vieillot, 1817), 
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788), C. aenea (Pallas, 1764), Piprites chloris 
(Temminck, 1822) e Oxyruncus cristatus (Swainsoni, 1821).
Todas essas formas avifaunísticas participam da comunidade animal 
insular em questão em diferentes proporções, e sua importância na manutenção 
da estrutura dos seus hábitats pode, até certo ponto, ser inferida das freqüências 
de ocorrência calculadas. Espécies notificadas com freqüência de ocorrência 
menor ou igual a 25% ou são naturalmente raras no local (como é sugerido para 
Leucopternis lacernulata) ou talvez tenham sido subestimadas durante as sessões de 
observação por causa de hábitos crípticos ou falhas de amostragem. Aspectos como 
conspicuidade visual (por causa do hábito de freqüentar ambientes abertos, onde 
Meio Biológico - Aves
221
o campo de visão dos observadores se alarga, facilitando a obtenção de registros) 
e/ou sonora podem causar falsas interpretações. Mas não se deve descartar a 
possibilidade de que esses indivíduos, quando registrados na Ilha do Mel, estivessem 
se movimentando entre ilhas próximas e/ou entre estas e o continente, o que, em 
alguns casos, pode acabar resultando na efetiva colonização de novas áreas. Essa 
possibilidade se estende também a espécies notificadas apenas a partir de registros 
isolados, como Bubulcus ibis, Buteo brachyurus, Geotrygon montana, Nyctibius 
griseus, Knipolegus cyanirostris e Tyrannus savanna. 
Espécies que apareceram com freqüência de ocorrência superior a 
50%, por sua vez, devem ser residentes naturalmente abundantes, com ampla 
distribuição ambiental e largo espectro alimentar. É o caso de Coragyps atratus, 
Milvago chimachima e Pitangus sulphuratus, cuja maior abundância populacional 
se explica pela grande flexibilidade de seleção e uso de hábitats que apresentam, 
característica considerada uma das principais propriedades de espécies biológicas 
hábeis para a colonização de ilhas. Trabalhos de décadas antecedentes enfatizavam 
essa peculiaridade que, quando pertencente à natureza de algumas espécies antes 
da colonização, garante-lhes sucesso no processo de chegada em ilhas (Mayr 1965a, 
b, Simberloff 1981, Parsons 1982, Haila et al. 1983). Recentemente, Maron et al. 
(2004), ao investigar a dispersão de plantas, notificaram a importância de processos 
evolutivos que acontecem depois da invasão de ilhas, o que significa dizer que uma 
forma animal ou vegetal pode se transformar em uma boa colonizadora quando 
em contato com o ambiente recém-colonizado, caso as circunstâncias do novo 
ambiente assim o permitam. E tanto os processos ecológicos e evolutivos anteriores 
à colonização quanto os que ocorrem após a chegada de um novo integrante 
de uma fauna ou flora insular causarão flutuações periódicas e constantes da 
abundância das espécies.
A abundância de indivíduos também varia de acordo com os períodos 
de migração sazonal das aves, o que faz com que a composição e a estrutura das 
comunidades se modifiquem ao longo de ciclos anuais, seguindo padrões que 
se repetem com alguma variação própria às peculiares de cada período. Na Ilha 
do Mel, entre os meses de setembro e abril, as formas migratórias provenientes 
do hemisfério norte e as nidificantes migratórias compartilharam dos ambientes 
naturais ao lado das nidificantes residentes. Esse acréscimo de elementos migratórios 
à avifauna residente ocasionou a obtenção de maior riqueza de espécies entre os 
meses de setembro e abril, o que pode estar associado à frutificação e floração 
sazonal de muitos vegetais, que garante uma provisão adequada de alimento 
Valéria dos Santos Moraes
222
para algumas aves frugívoras e/ou nectarívoras. Moraes & Krul (1997) apresentam 
evidências de forte relação entre a disponibilidade de frutos e a presença de Tangara 
peruviana, que, contrariando os seus reconhecidos hábitos migratórios, parece 
permanecer ao longo das quatro estações do ano na planície costeira paranaense. 
De forma semelhante, taxas de recrutamento de invertebrados e vertebrados, que 
servem de presas para predadoras, devem influenciar na estrutura sazonal da 
avifauna local. Ylönen et al. (2003) demonstram que a relação predador-presa 
afeta a dinâmica das populações envolvidas, a partir de seqüências de extinção e 
recolonização causadas por esse tipo de interação.
A seleção diferencial de hábitats indica, portanto, a disponibilidade 
de alimentos e a possibilidade de sobrevivência das espécies de acordo com as 
adaptações morfofisiológicas que lhes permitem a exploração de recursos sob 
condições ambientais específicas. Algumas aves, por causa de rigorosas necessidades 
ecológicas, podem ser inclusive consideradas boas indicadoras da qualidade 
ambiental. Na Ilha do Mel, algumas aves apareceram restritas a determinados 
hábitats, como é o caso de Ardea cocoi e C. americana nas florestas inundáveis 
halófitas, N. griseus e Poecilotriccus plumbeiceps nas florestas não inundáveis e 
inundáveis e de B. brachyurus, L. lacernulata, Asio stygius, Trogon surrucura, 
Automolus leucophthalmus, Syristes sibilator e Pachyramphus polychopterus em 
floresta ombrófila densa. No entanto, para afirmar sua condição de bioindicadoras 
da boa qualidade desses ambientes, seriam necessárias informações mais detalhadas 
a respeito da saúde e viabilidade de suas populações locais.
Situadas em outro extremo, algumas oportunistas têm alta capacidade de 
resistir a alterações ambientais e sobrevivem regularmente em áreas antropizadas, 
como C. atratus, Furnarius rufus e Thraupis sayaca. Mas o fato é que tanto essas 
generalistas quanto as formas mais exigentes dependem da complexidade estrutural 
do ambiente (Gilbert 1980), a fim de obter recursos para sua proliferação. A 
seletividade de ambientes manifestada pelas aves, associada à variabilidade 
quese expressa na existência de diferentes constituições do espaço e do tempo, 
ocasiona o aparecimento de comunidades avifaunísticas que têm composições e 
estruturas que variam ao longo de diferentes ciclos anuais, havendo necessidade 
de um alargamento máximo possível no esforço amostral de qualquer comunidade 
que se queira conhecer com exatidão. Burton et al. (2004) verificaram que, no 
caso de aves de praia, só é possível obter estimativas precisas da ocupação do 
espaço por diferentes espécies quando se efetuam contagens populacionais de 
hora em hora, de modo a se amostrarem todos os ciclos de marés. Em ambientes 
Meio Biológico - Aves
223
terrestres, as variáveis são outras, mas a variabilidade das situações ambientais 
também influencia fortemente a distribuição qualitativa e quantitativa das aves e 
outros animais.
Por causa da complexidade dos processos que estruturam as 
comunidades animais e vegetais, sugere-se o desenvolvimento de estudos mais 
detalhados sobre as espécies de aves que habitam os diferentes ambientes da Ilha 
do Mel, e também comparações entre as freqüências de ocorrência das formas 
consideradas especialistas e as generalistas, a fim de se conhecer com mais exatidão 
a estrutura da avifauna dessa ilha. É importante ainda que se divulgue a relevância 
ecológica da fauna ornitológica para a manutenção dos ecossistemas locais, haja 
vista a grande intensidade das atividades turísticas e do processo de ocupação 
da paisagem por construções domiciliares e comerciais que vem se sobrepondo à 
natureza original do lugar. Cabe ressaltar que a Ilha do Mel representa importante 
refúgio para populações de aves vulneráveis e ameaçadas de extinção, como 
Amazona brasiliensis e outras formas raras (L. lacernulata, Dryocopus lineatus, 
Campephilus robustus, T. peruviana, dentre outras). Moraes & Krul (1995b) relatam 
a reprodução de M. creagra na Ilha do Mel, espécie considerada rara, cujos ninho, 
ovo e filhote nunca haviam sido descobertos e descritos. Certamente outras novas 
descobertas de relevante interesse científico poderão vir a ser reveladas por estudos 
que possam, inclusive, esclarecer ainda mais a situação de vulnerabilidade da 
avifauna aos padrões paisagísticos atrativos da área e sua localização em rota 
turística. Espera-se que os dados apresentados possam ser, de alguma forma, 
úteis para o embasamento de pesquisas mais detalhadas e/ou de planos de uso e 
ocupação de espaços da Ilha do Mel.
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consErvação
229
As unidades de conservação
Simone Ferreira de Athayde & Ricardo Miranda de Britez
Introdução
Distribuída ao longo da costa leste do país, a Floresta Atlântica ocupava 
originalmente 1.350.000 km² do território brasileiro. Seus limites originais 
contemplavam áreas em 17 Estados (PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, 
GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS), o que correspondia a aproximadamente 15% do 
Brasil (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE 2002).
A Floresta Atlântica é considerada o ecossistema mais ameaçado do Brasil 
e a segunda floresta tropical mais ameaçada do mundo, depois de Madagascar, 
na África (IUCN 1990). A vegetação natural foi reduzida drasticamente com o 
processo de urbanização e industrialização decorrente da colonização européia 
próxima à região costeira. 
Pelo levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica/ INPE (2002), entre 
1995 e 2000, a Floresta Atlântica passou de 16,6% de sua extensão original para 
16,4%, incluindo floresta em estágio médio de sucessão. Se forem consideradas 
apenas as áreas mapeadas anteriormente (florestas bem preservadas e de grandes 
extensões), esse índice passou de 7,3%, em 1995, para 7,1%, em 2000. 
Atualmente a floresta encontra-se fortemente ameaçada por desma-
tamentos, caça, extração de palmito, madeira e outros, além da atividade 
agropecuária, queimadas, descargas de lixo, esgotos e expansão urbana. Esses 
danos são geralmente causados por fazendeiros, empresários, turistas (que, nas 
temporadas, triplicam a população das cidades litorâneas), e pela população local 
na procura da melhoria de sua condição de vida, que na maior parte das vezes 
é precária. 
Apesar da devastação acentuada, a Floresta Atlântica ainda abriga 
uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, com altos níveis de 
endemismo. A densidade de ocorrência de espécies por unidade de área para 
Simone Ferreira de Athayde & Ricardo Miranda de Britez
230
alguns grupos indicadores, como por exemplo os roedores, pode ser superior à 
da Amazônia. A riqueza pontual é tão significativa que os dois maiores recordes 
mundiais de diversidade botânica para plantas lenhosas foram registrados nessa 
região (454 espécies em um único hectare do sul da Bahia e 476 espécies em 
amostra de mesmo tamanho no norte do Espírito Santo). Apesar dessa grande 
biodiversidade, a situação é extremamente grave, pois das 202 espécies animais 
ameaçadas de extinção no Brasil, 171 são da Floresta Atlântica (Ibama, Portaria 
no 1.522 de 19/12/89).
A Floresta Atlântica, além da alta biodiversidade, exerce influência direta 
na vida de mais de 60% da população brasileira (aproximadamente 108 milhões 
de habitantes), que vivem em seu domínio. Ali circulam 80% do produto interno 
bruto nacional (PIB). Nas cidades, áreas rurais, comunidades caiçaras e indígenas, 
ela regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo, controla 
o clima e protege escarpas e encostas das serras, além de preservar um patrimônio 
histórico e cultural imenso ISA (2002).
Além da diversidade de espécies, o bioma Floresta Atlântica é composto 
por vários tipos de ecossistemas, ambientes e paisagens com históricos, dinâmicas 
e composição florística diferenciados de norte a sul do país, desde a vegetação 
litorânea de praias e dunas até as florestas nas montanhas da Serra do Mar e os 
campos rupestres em altitudes próximas a 2.000 m s.n.m. 
O litoral do Paraná representa a maior área contínua de Floresta Atlântica 
ainda preservada no país. Nessa região existe hoje um conjunto de diferentes 
unidades de conservação destinadas a proteger os ameaçados ecossistemas 
costeiros (SPVS 1992). 
A Ilha do Mel, um dos mais importantes centros turísticos do litoral 
do Estado, possui 93,4% de sua área total protegida por lei. Existe uma Estação 
Ecológica, criada em 1982, com 2.240 ha, e um Parque Estadual, criado em 
2002, com 338 ha. Além dessas Unidades de Conservação (Uc’s), existem as 
áreas consideradas de preservação permanente pela legislação (dunas, restingas 
e praias). A Ilha foi indicada por MMA/SBF (2002) na classe mais importante no 
que diz respeito à priorização de áreas para conservação da biodiversidade na 
região da Floresta Atlântica. 
Em 1996 foi realizado o Plano de Manejo da Estação Ecológica da 
Ilha do Mel (Sema/IAP 1996), documento que contém os objetivos, atividades 
e programas necessários à efetiva implantação da Unidade de Conservação, 
incluindo a participação da comunidade local, turistas e diferentes instituições na 
Conservação - as unidades de Conservação
231
sua gestão. Foi nesse documento que se propôs a criação do Parque na área sul 
da Ilha, que foi decretado seis anos depois. 
Desde então, nada foi feito para a definição de uma política de 
implantação da Estação e do Parque. O potencial das áreas protegidas da Ilha para 
a educação ambiental e o ecoturismo tem sido pouco aproveitado, e a pressão 
turística aumenta a cada ano. 
Neste capítulo, apresentamos uma caracterização das áreas protegidas da 
Ilha do Mel em termos legais, ambientais e conservacionistas. Conciliar as regras 
e objetivos que norteiam essas áreas especiais com as atividades econômicas 
presentes é um dos principais desafios para a conservação ambiental desse 
importante pólo turístico do litoral do Paraná. 
A ocupação da Ilha
No início do século XX (década de 1930), a Ilha era bastante procurada 
por famílias de classe alta provenientes de Curitiba que iam veranear no litoral. 
Os locais mais freqüentados na ocasião eram as proximidades da Fortaleza ou do 
Farol de Conchas (Kraemer 1978). 
Por volta de 1945, com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial, 
acaba-se o apogeu da Ilha, que passou a ser considerada como zona de guerra. 
Muitas casas foram então desapropriadas para dar lugar aos soldados que faziam 
plantão no local, já que a Ilha do Mel representava um ponto estratégico de defesa 
do patrimônio nacional (Kraemer 1978).
A influência urbana na Ilha no final da década de 1970 ainda

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