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OS 7 PILARES DO
APRENDIZADO
Usando a ciência para aprender mais e melhor
PAULO RIBEIRO
A meus pais, que me criaram para amar a
educação e respeitar ao próximo. Sem eles não
seria quem eu sou.
A Sebastian Marshall, um mentor, que com um
exemplo de vida, me fez acreditar na construção de
um mundo melhor e de uma vida significativa.
sumário
Introdução 07
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15
24
25
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29
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33
35
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38
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42
45
50
52
Capítulo 1
1. A Arquitetura da Mente: Como o conhecimento é armazenado
1.1 A teoria do multiarmazenamento
1.2 Conhecimento Declarativo
1.2.1 Reconhecimento Sensorial
1.2.2 Strings: associações simples como a base
1.2.3 Ideias
1.2.4 Schemas: como as ideias se relacionam
1.2.5 Modelos Mentais: executando realidades virtuais
1.3 Conhecimento Procedural
Para Relembrar e por em prática
2.1 O Poder de Uma Base Sólida
-
2.1.1 Como Ativar e Acelerar o Aprendizado
2.1.2 O Perigo de Saber Sem Saber
2.2 O Impacto de Organizar o Conhecimento da Maneira Correta
2.2.1 O Que Fazemos (de errado) No Automático
Capítulo 2
2. Os Principais Fatores que Influenciam o Aprendizado
sumário
2.2.2 Diferenças Entre O Modo de Um Expert e de Um Principiante
2.3 A Motivação e o Aprendizado
2.3.1 Como Desativar o Modo Automático de Enrolação
2.3.2 Alinhando os Valores de Sua Jornada
2.3.3 Criando Confiança de Modo Saudável
Para relembrar e por em prática
Capítulo 3
3. A Caixa de Ferramentas do Autodidata
3.1 O Que é Possível Fazer Sozinho?
3.2 Desenvolvendo Hábitos e Rotinas de Sucesso
3.2.1 Força de Vontade Não É Infinita
3.2.2 Os 4 Passos Para Criar Qualquer Hábito
3.2.2.1 Identifique a Rotina
3.2.2.2 Experimente com as Recompensas
3.2.2.3 Isole a deixa e possíveis barreiras
3.2.2.4 Tenha um plano
3.2.3 Desenvolvendo os sistemas ideias
3.3 A mentalidade certa importa. E muito
3.
56
59
61
62
67
72
75
80
81
84
87
89
90
91
93
95
71
sumário
4.2 Modulando Seu Objetivo
4.2.1 Duas Técnicas Para Modular Seus Objetivos
4.2.1.1 Referências
4.2.1.2 Entrevistas
4.3 A Regra de Pareto Acelerando o Aprendizado
4.3.1 Selecionando para Acelerar
4.3.2 Utilizando Os Critérios Certos
4.4 A Ordem Importa?
4.4.1 Aprendendo a falar antes de escrever
4.4.2 Dominando as finalizações antes das aberturas
Para relembrar e por em prática
Capítulo 4
4. A Arte de Estudar o Problema Certo
4.1 Trazendo a Eficiência Para O Mundo do Aprendizado
3.4 O Que Fazer Quando For Demais:
Um Guia Para Superar a Sobrecarga Cognitiva
Para relembrar e por em prática
99
107
139
141
142
108
110
113
116
116
119
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122
125
132
133
135
138
Capítulo 5
5. A Captura Eficiente do Conhecimento
5.1 Tomando notas de maneira eficiente
5.1.1 Erro comum ao fazer anotações
sumário
Capítulo 6
6. Como Processar o Conhecimento
6.1 Flip Learning ou "Indo de Fora Para Dentro"
6.2 Transferência e A Busca Por Conexões
6.3 Técnicas Mnemônicas
6.3.1 Técnicas para Processar Conceitos
6.3.1.1 Metáforas
6.3.1.2 Técnica Goldfish
6.3.1.3 Mapas Mentais
6.3.2 Técnicas Para Processar Informações
6.3.2.1 Sistema Link
6.3.2.2 Sistema Peg
145
150
152
155
162
163
165
171
177
178
179
182
185
196
198
196
5.1.2 Duas Técnicas Para Melhorar Suas Anotações
5.2 Como Extrair o Máximo de Um Livro
5.2.1 Os Quatro Tipos de Leitura
5.3 Um Guia Para Extrair o Máximo da Leitura
Para relembrar e por em prática
2.1 O Poder de Uma Base Sólida
-
2.1.1 Como Ativar e Acelerar o Aprendizado
2.1.2 O Perigo de Saber Sem Saber
2.2 O Impacto de Organizar o Conhecimento da Maneira Correta
2.2.1 O Que Fazemos (de errado) No Automático
sumário
200
204
205
208
212
213
213
214
215
216
219
220
223
228
229
240
241
6.3.2.3 Palácios de Memória
Para relembrar e por em prática
Capítulo 7
7. Desenvolva a Maestria e Crie a Memória Perfeita
7.1 O significado da maestria
7.2 A mente de um expert
7.2.1 Conhecimento em chunks
7.2.2 Padrões significativos
7.2.3 Automatismo por causa da experiência
7.2.4 Schemas e modelos mentais
7.3 As 3 Características da Prática Deliberada
7.4 Repetição Espaçada e a Memória Perfeita
7.4.1 Como Esquecemos das Coisas
7.4.2 Usando Um Sistema Para Maximizar Lembranças
Para relembrar e por em prática
Conclusão
Agradecimentos
Referências
3.1 O Que é Possível Fazer Sozinho?
3.2 Desenvolvendo Hábitos e Rotinas de Sucesso
3.2.1 Força de Vontade Não É Infinita
3.2.2 Os 4 Passos Para Criar Qualquer Hábito
3.2.2.1 Identifique a Rotina
3.2.2.2 Experimente com as Recompensas
3.2.2.3 Isole a deixa e possíveis barreiras
3.2.2.4 Tenha um plano
3.2.3 Desenvolvendo os sistemas ideias
3.3 A mentalidade certa importa. E muito
3.
introdução
“Grande parte dos
resultados vem
dos métodos e
das técnicas de
estudo. ”
Todo mundo quer aprender melhor e mais
rápido. Seja para melhorar o desempenho em
escolas e faculdades, passar em concursos e
certificações, aprender novas línguas ou dominar
hobbies: aprender melhor traz resultado direto
em nossas vidas.
O problema é que parecemos estar fadados a
depender de escolas, cursos e materiais cada vez
mais caros a fim de aprender melhor. Afinal de
contas, todo mundo estuda da mesma maneira e
o que vai diferenciar os resultados é a qualidade
dos materiais de sua preparação, certo?
Errado. Aprender é uma habilidade como outra
qualquer e depende muito pouco de sua
capacidade original; grande parte dos resultados
vem dos métodos e das técnicas de estudo. Não é
conhecimento comum, mas há um corpo inteiro
de pesquisas científicas em torno do aprendizado,
em busca de entender como o processo acontece
e como podemos fazê-lo melhor.
“Grande parte dos
resultados vem
dos métodos e
das técnicas de
estudo.”
07
Comecei, então, numa jornada pesada de
estudos. E não apenas de conteúdo do
colégio, mas também um tema incomum:
aprendizado. Eu comecei a ativamente
experimentar com técnicas diferentes de
aprendizado em busca dos melhores
resultados, para que eu pudesse absorver e
aplicar na minha jornada de preparação.
Experimentei bastante, principalmente com
meus (então) calcanhares de Aquiles: história
e redação.
Hoje, olhando para trás, eu vejo como essa
fase de experimentação com o aprendizado
foi importante. Usei o conhecimento que
adquiri para ser aprovado em 1º lugar nas
duas maiores universidades do meu estado, o
que me permitiu cursar engenharia.
Meu interesse pelo aprendizado começou há mais de seis anos e tem permeado minha vida
desde então. Na época, eu era um estudante prestes a entrar no terceiro ano do ensino médio e em
um ponto-chave da vida: a preparação para entrar na universidade. Como eu venho de uma família
humilde, não tinha escolha: ou aprendia da melhor maneira possível para entrar numa
(concorrida) faculdade pública, ou não faria ensino superior. Não teríamos dinheiro para uma
faculdade particular.
08
E tem sido assim desde então. De lá para cá,
já usei essas técnicas para: aprender inglês por
conta própria ao nível de fluência, estudar
negócios e marketing, tendo trabalhado com
empreendedores de sucesso ao redor do mundo
em startups e organizações filantrópicas,
melhorar minha escrita a um nível profissional,
aprender programação, dança de salão e tudo
aquilo que me interessa. Até que chegou o
momento de ensinar o que aprendi às outras
pessoas, de modo que elas pudessem ficar mais
perto de seus sonhos como eu fiquei. Sempre
tivesse essa vontade de causar impacto, o que se
traduziu em alguns projetos e blogs que se
acabaram com o tempo.
Os resultados obtidos depois de eu ter refinado as melhores técnicasde estudo que
encontrei não teriam existido se eu não tivesse investido tempo nesse garimpo. Aprender a
aprender mostrou-se essencial naquele momento da minha vida.
Exceto um, desde 2011, escrevo em um portal sobre estilo de vida e sucesso chamado
Estrategistas, onde compartilho o conhecimento que tem funcionado na minha vida e na vida de
mentores. No final de 2012, em uma conversa com Eduardo, com quem eu fundei o Estrategistas,
durante o evento TEDxRecifeAntigo, algo clicou na minha cabeça.
09
A partir dali, mergulhei na ciência do
aprendizado. Minha ideia foi refinar todos os
conceitos e técnicas que eu tinha adquirido ao
longo dos anos com o conhecimento científico,
atual, a respeito do processo. Fiz cursos, li vários
livros, dezenas de artigos científicos, sites na
internet, vi palestras, enfim, mergulhei de cabeça
na área.
Oficialmente, o Aprendizado Acelerado nasceu
no segundo semestre de 2013. Desde então, tem
sido uma jornada fantástica. Tenho conhecido
muita gente, levado esse conhecimento sobre
aprendizado para dezenas de milhares de pessoas
pelo Brasil e pelo mundo e impactado muitas
vidas no processo.
Eu já tinha um projeto sobre desenvolvimento pessoal para causar impacto na forma como as
pessoas vivem suas vidas. Eu poderia fundar um projeto sobre aprendizado, agora para
compartilhar conhecimento e técnicas a fim de ajudá-las a aprender melhor, um passo essencial
na busca de qualquer objetivo.
Nossa comunidade não para de crescer e as pessoas estão aplicando as técnicas do Aprendizado
Acelerado nas mais diversas áreas e obtendo resultados reais. Desde faculdades, escolas,
concursos até aprendizado de línguas, de música e hobbies como o pôquer. Essa semana até
recebi a excelente notícia que Fábio, um de nossos leitores assíduos, foi aprovado em engenharia
na terceira melhor faculdade do país! Um email que fez meu dia.
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7.1 O significado da maestria
7.2 A mente de um expert
7.2.1 Conhecimento em chunks
7.2.2 Padrões significativos
7.2.3 Automatismo por causa da experiência
7.2.4 Schemas e modelos mentais
7.3 As 3 Características da Prática Deliberada
7.4 Repetição Espaçada e a Memória Perfeita
7.4.1 Como Esquecemos das Coisas
7.4.2 Usando Um Sistema Para Maximizar Lembranças
Para relembrar e por em prática
Conclusão
Agradecimentos
Referências
Se eu fosse escrever um livro recheado sobre
aprendizado, ele precisaria ter:
- Uma linguagem acessível. Afinal de contas, uma
barreira grande para o acesso ao conhecimento
científico atual sobre o aprendizado é o fato dele
ser, bem, científico. Há muitas pesquisas e
resultados interessantes na área, mas eles estão
espalhados e escritos em artigos acadêmicos pela
internet. Se fosse para escrever um livro, eu teria
que reunir essas informações em um só lugar e
fazer uso de uma linguagem acessível.
- Fundamentação científica. A área do
aprendizado é vastamente povoada por mitos e
confusões a respeito de conceitos importantes,
ocorridos principalmente quando eles vão para a
mídia pelas mãos de jornalistas sem uma
background científico. Não adiantaria escrever
um livro com base em "achismo", por isso fui
refinar minhas técnicas com uma pesquisa
profunda na área.
No final de 2013, as pessoas começaram a me pedir por um livro. Um livro sobre aprendizado,
que falasse da ciência por trás do processo e contivesse as técnicas de melhor resultado em um
lugar só, praticamente um manual. Comecei, então, a trabalhar na pesquisa e na escrita desse
projeto.
11
- Uma abordagem prática. Conhecimento teórico
é importante para entendermos como as coisas
funcionam, mas a pegada de um livro útil sobre
aprendizado é a parte prática. Esse livro teria que
ter sido preparado, desde a concepção, com a
ideia de que o leitor, ao concluí-lo, tivesse uma
compreensão geral e fosse capaz de aplicar na
hora o que aprendeu.
Este é exatamente o e-book que você está lendo
agora. Espero que ele seja útil, lhe ajude a
aprender melhor e mais rápido, te deixando mais
perto de seus sonhos.
Um grande abraço,
Paulo Ribeiro
12
OS PRINCIPAIS FATORES QUE
INFLUENCIAM O APRENDIZADO
CAPÍTULO 02
Para aprender melhor, é essencial saber o
que você pode fazer para melhorar o processo.
Ao entender como o sistema funciona e quais
são suas partes principais, você pode fazer um
esforço consciente nas atividades que trarão
os melhores resultados no estudo.
E, como Aristóteles colocou de modo
perspicaz, o esforço separado em melhorar
cada um dos fatores, já que eles interagem
positivamente entre si, vai dar em retorno mais
do que a soma de suas partes. Um
investimento e tanto.
Neste capítulo, estudaremos os principais
fatores que influenciam no aprendizado de
modo aprofundado e o que você pode fazer de
melhor em cada ponto.
“O todo é mais do que a soma de suas partes” Aristóteles
Os Principais Fatores que Influenciam o Aprendizado
São eles: a influência do conhecimento de base, a forma de organizar as informações
enquanto as aprende e a relação da motivação com o aprendizado.
“Para aprender
melhor, é essencial
saber o que você
pode fazer para
melhorar o processo.”
39
Um grande determinante da velocidade do
aprendizado é o conhecimento prévio, o que a
mente já sabe. É muito mais fácil trazer novas
informações para um conhecimento bem
organizado e já construído do que começar do
zero. O conhecimento prévio é mais
importante do que QI ou estilos de
aprendizado em termos de efeitos sobre o
aprendizado.
Um estudo focado em memória, feito por
Peter Morris e sua equipe em 1981, contou
com estudantes com vários níveis de
conhecimento sobre futebol. Ao serem
pedidos para memorizar placares de jogos, os
estudantes com mais conhecimento prévio
sobre o jogo tiveram maiores taxas de sucesso.
"Se eu tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a apenas um princípio, eu diria que
o fator mais importante influenciando o aprendizado é o que o aprendiz já sabe. Averigue
isso e ensine de acordo." David Ausubel
Em outra pesquisa, por Alice Healy e James Cole em 2007, estudantes de universidade
mostraram uma taxa de memorização 100% maior quando pedidos para memorizar a
mesma quantidade de fatos sobre pessoas conhecidas do que sobre pessoas desconhecidas.
O Poder de Uma Base Sólida
40
Digamos, por exemplo, que eu pergunte a
alguém o que é preciso saber para resolver
uma equação do 2º grau. A resposta é algo
como "ah, essa é fácil, é só saber fazer conta e
usar a fórmula de Bháskara". Bem, não é só
isso. Você precisa estar confortável com
expressões numéricas, potenciação, sistemas
de equações, fatoração de expressões e
operações básicas. Uma pessoa com todas
essas áreas cobertas se torna muito mais
eficiente ao resolver equações do 2º grau,
possuindo um schema mais acurado do
processo.
Isso é só um exemplo de como as pessoas
não pensam até o final quando se trata de
conhecimento de base. Além de servir como
terreno sobre o qual as ideias futuras serão
sedimentadas, ele serve, ao mesmo tempo,
como filtro de informações importantes.
As pessoas entendem a importância de ter uma base bem feita, mas parecem ser
incapazes de determinar o quão importante é. Normalmente só levam em consideração
quando a ausência da base está incapacitando o aprendizado; não conseguem imaginar o
41
Afinal de contas, com base no que sabemos, realizamos julgamentos a respeito da
relevância de novos fatores durante o momento do estudo. No entanto, não ter o
conhecimento necessário, ou tê-lo de modo deficiente, pode se provar desastroso.
Estudaremos como contornar esses casos a seguir, começando por como ativar o
conhecimento prévio caso você já o tenha.
Como Ativare
Acelerar o Aprendizado
Mesmo que tenhamos o adequado
conhecimento de base, nem sempre o
ativamos como deveríamos ou quando
precisamos. Por exemplo, em um famoso
estudo feito por Gyck e Holoyakem 1980,
estudantes de faculdade foram apresentados a
dois conjuntos de problemas para serem
resolvidos aplicando o conceito de
convergência. Mesmo sabendo a solução para
o primeiro problema, os estudantes não
aplicavam o princípio automaticamente para a
segunda situação. Contudo, quando foram
solicitados para pensar como o segundo
problema se relacionava com o primeiro, 80%
dos estudantes foram capazes de resolvê-lo.
42
Durante o processo do estudo, se perguntar o porquê de algo ser verdadeiro ou
inesperado, se for o caso, foi o modo como os experimentadores conseguiram que adultos
lembrassem mais fatos de parágrafos estudados.
Esse procedimento auxiliou estudantes a
gerar conhecimento prévio condizente com o
material, melhorando a performance em
comparação com os demais.
Não apenas basear-se em conhecimento
passado, mas também em prévias experiências
pessoais trouxe resultados interessantes ao
processo do aprendizado, como mostra o
estudo feito por Joan Garfield e sua equipe em
2007. Perguntar-se como aquele conceito se
aplica a situações pelas quais você passou ou
que são próximas a você também ajuda gerar
conhecimento prévio relevante, acelerando o
processo do aprendizado.
43
Esse efeito ocorreu mesmo com os estudantes sendo apresentados às situações no
mesmo dia, com menos de uma hora de diferença. O modo de resolver estava ali, só não
havia sido ativado. É algo que faz você se perguntar: "Quantos problemas eu conseguiria
resolver se ativasse o conhecimento que já tenho? Obtido dois anos atrás, ou em outra
disciplina, ou em um livro perdido que li em algum lugar?". Seu conhecimento está ali, só
precisa ser usado. A pergunta é: como ativá-lo?
Uma quantidade grande de pesquisas
mostra como pequenos empurrões, lembretes
simples (como a feita por Bransford & Johnson,
1972), ou perguntas elaboradas (estudo feito
por Woloshyn, Paivio, e Pressleyem 1994)
ajudam a ativar o conhecimento prévio do
estudante. Interessante, sem dúvida, quando
estamos na posição de estudante, com alguém
competente para nos guiar no processo.
Todavia, o que fazer quando estamos
estudando sozinhos para obter efeitos
parecidos?
Adaptamos essa estratégia, chamada
elaboração interrogativa, e aplicamo-na a nós
mesmos.
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A situação é a seguinte: você está fazendo uma prova importante e, no meio dos
questionamentos, se depara com uma pergunta sobre um assunto que você estudou, mas
não sabe como responder. É aquela sensação familiar de "eu sei isso, estudei dia tal e tal",
mas por algum motivo, você não consegue lembrar exatamente o ponto perguntado.
Sensação bastante frustrante.
O Perigo de Saber Sem Saber
O que não é conhecimento geral é que
'competência' em determinado tópico varia
numa escala que vai além da binária (sabe/não
sabe). Varia de familiaridade superficial ("Eu já
ouvi falar sobre isso"), a conhecimento factual
("Eu poderia definir esse ponto"), a
conhecimento conceitual ("Eu poderia explicar
a alguém"), a aplicação("Eu consigo usar para
resolver problemas").
No caso do exemplo anterior, apenas
familiaridade não é suficiente para resolver
questões objetivas, aquelas de marcar X -
exceto as mais triviais, claro. “Ter visto algo
sobre aquilo em algum lugar” não é domínio
suficiente para acertar uma pergunta.
45
No caso de provas discursivas, quando você estará respondendo por extenso aos
questionamentos, o requerimento é ainda maior: é preciso um domínio no nível conceitual
e, caso sejam contextualizadas, no de aplicação.
É essencial saber qual o seu nível de
conhecimento nos tópicos de base para julgar
se será preciso reforçá-lo ou não. Ter um tipo
de conhecimento e precisa de outro pode ser
igualmente um problema. É o perigo de achar
que sabe sem saber.
É comum, por exemplo, estudantes
possuírem conhecimento declarativo, mas não
saber executar (procedural). Estudos na
ciência do aprendizado, como o realizado por
John Clement, em 1982, mostram que mesmo
se estudantes dominam fatos, por exemplo,
sendo capaz de afirmar "Força é igual a massa
vezes aceleração", normalmente são fracos em
aplicá-los. Esses estudantes ao seguirem para
outro assunto, como o estudo de polias, serão
incapazes de aprender. Insistência,nesse caso,
não vai ajudar, mesmo que eles "saibam" a
segunda lei de newton, pois eles possuem o
conhecimento no nível errado.
46
Para lidar com isso, uma boa estratégia:
1
2
3
4
Faça uma pesquisa bem feita do conhecimento necessário para abordar o
tópico que você está tentando aprender. Conversar com professores e
pessoas que já aprenderam o que você deseja ajuda.
Faça uma lista de tudo o que é preciso saber junto com o respectivo nível
requerido (Conceitual? Factual? Procedural?).
Para cada tópico necessário, faça uma avaliação correspondente. Se for
preciso um nível factual, basta checar as informações mais importantes. Se
uma compreensão conceitual é requerida, monte explicações como se
estivesse ensinando o conteúdo a alguém; daí em diante. Desse modo, você
poderá julgar se detém o nível necessário para estudar o que deseja.
Dê um passo atrás, corrija o que encontrou de deficiência para então começar
o assunto alvo.
47
Claro, você não precisa realizar o procedimento acima de modo detalhado para tudo que
quiser aprender (embora esse seja cenário ideal). Se você está na faculdade estudando
Fisiologia 3 é porque foi aprovado nos pré-requisitos existentes, então se assume que você
tem tem o estudo prévio preciso. Você encontrará o método acima mais útil quando sair de
sua área direta. Por exemplo, um estudante de serviço social que precisa estudar uma
disciplina de estatística (e há anos não estuda matemática).
Outra problema em potencial com o
conhecimento que você já possui é utilizá-lo
de modo errado. O raciocínio análogo
(comparação com o que você já sabe) é útil e
uma ferramenta poderosa, mas precisa ser
acompanhado de limites; caso contrário,
torna-se contraproducente.
Por exemplo, músculos esqueléticos e
cardíacos são parecidos em sua constituição;
logo, extrair analogias entre eles faz sentido
até certo ponto. Contudo, as diferenças no
funcionamento deles são sensíveis e vitais
para entender melhor suas respectivas
operações e isso precisa ser destacado; o que
normalmente não é.
48
Tanto que a equipe de pesquisa RandSpiro em 1989 descobriu que muitos estudantes de
medicina possuem uma informação incorreta sobre uma potencial causa de falha cardíaca
que pode ser rastreada à distinção deficiente entre esses dois tipos de músculos.
A boa notícia é que, mesmo sendo um erro
comum que passa despercebido, a solução é
simples. Os estudos, como o trabalho do
próprio Spiro, mostram que garantir que os
estudantes conheçam os limites para as
analogias, sabendo onde falham e quando não
podem ser utilizadas, ajuda a evitar o erro.
49
Se o conhecimento prévio é um fator relevante ao aprendizado pois determina a base sobre
a qual se absorve novos conteúdos, a maneira como organizamos esse conhecimento
prévio e o novo está relacionada à facilidade com que aprendemos. O cérebro humano
anseia por padrões e sentidos em todo tipo de informação que encontra; ele evoluiu para
isso.
O Impacto de Organizar o Conhecimento da Maneira Correta
Quer um exemplo simples? Olhe para cima
em um dia ensolarado e observe o céu por
alguns instantes. Não vai levar um minuto para
observar alguma nuvem com formato
conhecido passando. A parte curiosa? Nuvens
não possuem forma intrínseca, elas nãoforam
desenhadas; ao olhar para uma configuração
aleatória, nosso cérebro automaticamente
imprime algum tipo de sentido naquilo que
vemos. Daí surgem as nuvens com formato de
sorvete, de passarinho e afins.
Como vimos no capítulo passado, a unidade
básica de organização das informações no
cérebro são os schemas, estruturas de
abstração que contém fatos e ideias para
representar pedaços da realidade.
“O cérebro humano
anseia por padrões e
sentidos em todo tipo
de informação que
encontra; ele evolui
para isso.”
50
Se manipulamos a informação de modo a ficar mais similar ao nosso "formato padrão",
temos muito mais chance de lembrar o que desejamos. Ou seja, a forma como organizamos,
caracterizamos e conectamos os fatos entre si influencia diretamente nossa taxa de
aprendizado e memorização.
Por exemplo, em 1982, Gary Bradshaw e
Jonh Anderson pediram para um grupo de
estudantes memorizar vários fatos sobre
algumas figuras históricas. Metade do grupo
recebeu fatos históricos não-relacionados,
como "Newton se tornou emocionalmente
inseguro e instável quando criança","Newton
foi nomeado diretor do London Mint" e
"Newton participou da Trinity College em
Cambridge".A outra metade recebeu fatos
relacionados entre si de alguma forma, como
"Newton se tornou emocionalmente inseguro
e instável quando criança", "O pai de Newton
morreu quando ele nasceu" e "a mãe de
Newton se casou novamente e deixou-o com a
avó".
51
Resultado? O grupo que recebeu as informações que possuíam alguma relação
significativa entre si teve uma taxa de memorização muito maior. Olhando mais de perto,
vemos o resultado como a diferença entre tentar memorizar fatos como strings, e fatos
relacionados, como schemas.
O Que Fazemos (de errado)
No Automático.
Durante o aprendizado no dia a dia, não
prestamos muita atenção consciente a
questões como "organização do
conhecimento". No modo automático,
assumimos que a maneira apresentada pelo
livro que escolhemos é a única e pronto;
lemos, tentamos memorizar, fazemos
exercícios e seguimos em frente sem entender
porque esquecemos a informação tão
facilmente.
O fato é que organização não só ajuda, mas
organização deficiente ou inadequada
atrapalha.
52
No modo automático, terminamos por juntar os fatos em contiguidade temporal (uma
coisa depois da outra em termos de quando aconteceram) porque, de algum modo, isso é
intuitivo para gerar relações de causa e consequência (apertou o interruptor, a luz apagou).
Contudo, isso nos causa bastante dor de cabeça quando fazemos de modo impensado.
Digamos, por exemplo, que você quer
estudar os pensadores iluministas. A lista é
enorme (várias dezenas) e cada um possui um
período associado, um país de origem, ideias
principais e obras importantes. A pior maneira
de fazer isso seria sem organização alguma,
simplesmente memorizando a lista completa e
os atributos relacionados (um punhado de
strings). Separar os pensadores por países seria
menos ruim, mas só isso não ajuda tanto.
Já categorizar pelo foco das ideias - separar o
grupo que se concentrou em refutar religiões,
do grupo que questionou os valores sociais,
daquele preocupado com o avanço científico -
é bem mais útil para entender a relação entre
os participantes e conectar o conhecimento
aprendido (alguns schemas bem ricos).
53
Um estudo clássico feito pelo conhecido Anders Ericsson e sua equipe em 1980
(falaremos mais dele no capítulo 7) demonstra isso, ainda que numa escala menor. Ele
documentou como alguns estudantes de faculdade com memórias normais puderam
desenvolver a habilidade incríveis de memorizar longas sequências de dígitos ao organizar
o que estavam aprendendo em uma estrutura hierárquica de vários níveis.
Os estudantes eram também competidores
de atletismo, então ao se deparar com uma
sequência de números, eles quebravam em
pedaços e davam sentido a eles (uma técnica
chamada chunking, falamos dela no capítulo
1), organizando-os depois disso. Por exemplo,
"....3432..." podia ser lembrado como "34:32, o
recorde mundial para ..." e "...12456..." como
"1:24:56, o recorde olímpico feminino de ...".
A seguir, eles organizavam isso em grupos,
como "recordes olímpicos", "recordes
nacionais para a prova z", etc.. Esse
procedimento empoderou estudantes normais
a lembrar sequências de até 100 dígitos sem
auxílio externo algum!
54
Outro estudo com resultados impressionantes sobre o poder da organização adequada
foi feito por Gordon Bower e sua equipe em 1969. Ao receberem uma lista de minerais a ser
memorizada, os estudantes aos quais os itens foram fornecidos em hierarquia (metais versus
pedras como categorias, e subcategorias dentro delas) tiveram resultados de 60 a 350%
melhores do que aqueles com apenas a lista de minerais.
A pergunta, então, fica no ar: como podemos
replicar esse tipo de resultado quando
estudamos por conta própria, sem ter quem
nos forneça diretamente esse tipo de
organização?
A resposta para isso está em entender as
diferenças entre as mentes de experts e de
principiantes, replicando técnicas úteis desde
o princípio.
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Os quadros A e B são exemplo
de organizações mentais que
provavelmente utilizamos quando
começamos a estudar um assunto.
Ou não integramos os conceitos,
fatos e exemplos o suficiente, como
no quadro A, ou utilizamos
categorizações simples, lineares
(como a separação temporal de
nosso exemplo sobre iluminismo),
que são insuficientes para nos dar
uma compreensão aprofundada do
assunto.
Já os quadros C e D são exemplos
de como experts organizam o
conhecimento (ainda que
inconscientemente).
Diferenças Entre O Modo de Um Expert e de Um Principiante
A figura acima representa alguns exemplos de
organizações do conhecimento em nossa mente.
DC
A B
56
Dois grandes fatores chamam
atenção: a quantidade e a densidade
de conexões. Na hora de estudar,
podemos conscientemente fazer
uso de procedimentos que nos
permitam, como iniciantes na área,
desenvolver mais rapidamente esse
tipo de organização e, por
conseguinte, obter resultados mais
rápidos no aprendizado.
Como fazer isso? O procedimento
é: focar primeiro no cenário geral e
só então buscar absorver detalhes.
Vejamos a aplicação disso em nosso
exemplo. Um grupo de estudantes,
como vimos, está estudando os
pensadores iluministas.
Na figura C, vemos uma hierarquia clara, de modo que é fácil entender como os pontos
se relacionam. Já a figura D, embora possa parecer o mais aleatório de todos os quadros, é
na realidade o mais poderoso: o fato de tudo estar conectado fornece ao expert a
possibilidade de usar múltiplas organizações, adequando-se à situação e usando o
conteúdo de modo mais eficiente.
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Eles já descobriram que certos modos de agrupar os pensadores são melhores do que
outros (que são melhores do que estudar sem organização). O que eles podem fazer para
abordar o tema como experts e acelerar o aprendizado? Eles poderiam começar analisando
fatores históricos e geopolíticos dos países envolvidos durante o período do Iluminismo.
Como estavam economicamente? Qual era o
estado geral da população, havia guerras
externas, guerras civis? O que levou certos
pensadores a se revoltarem especificamente
contra religiões, as crenças predominantes
eram opressoras? Os pensadores focados em
ciência viviam em países com mais recursos a
serem destinados a pesquisas?
Ao investir um pouco de energia estudando o
cenário no qual os iluministas estavam
imersos ao invés de pular direto para a
memorização, os estudantes terão uma visão
muito mais rica dos pensadores e a
necessidade de memorização direta vai cair
porque haverá compreensão. "Quais osprincipais ícones do Iluminismo na
Alemanha?".
58
"Motivação faz referência ao investimento pessoal que um indivíduo tem em buscar um
estado ou objetivo desejado" Martin Maehre Heather Meyer, 1997. No contexto do
aprendizado, a motivação influencia a direção, a intensidade, a persistência e a qualidade
dos comportamentos de aprendizado nos quais os estudantes se engajam.
A Motivação e o Aprendizado
Não é necessário espressar o quão importante
alinhar a motivação do estudante é, pois no
final das contas, ela controla o grau de esforço
(consciente e inconsciente) é investido no
processo.
Para quem está estudando por conta própria, a
motivação assume uma importante dimensão.
Enquanto quem está usando escolas, cursos e
treinamentos também precisa ajustar a
motivação para melhorar o processo de
aprendizado, quem estuda sozinho precisa
estar motivado até mesmo para sentar e
estudar, já que não há pressão externa para
isso.
Portanto, trataremos da motivação
cuidadosamente.
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Como estavam economicamente? Qual era o estado geral da população, havia guerras
externas, guerras civis? O que levou certos pensadores a se revoltarem especificamente
contra religiões, as crenças predominantes eram opressoras? Os pensadores focados em
ciência viviam em países com mais recursos a serem destinados a pesquisas?
Ao investir um pouco de energia estudando
o cenário no qual os iluministas estavam
imersos ao invés de pular direto para a
memorização, os estudantes terão uma visão
muito mais rica dos pensadores e a
necessidade de memorização direta vai cair
porque haverá compreensão. "Quais os
principais ícones do Iluminismo na
Alemanha?". "Deixa me ver, Alemanha, século
XVIII; estavam assim e assado, por isso os
pensadores principais, tal e tal, tinham essas e
aquelas características"
60
"Uma das maneiras mais comuns (e desconhecidas) de autossabotagem é a sinalização. A
pior parte é que ela está tão enraizada em nosso cérebro primitivo que é difícil julgar quando
está acontecendo, afetando a vida de muita gente sem nem que elas saibam.”
Como Desativar o Modo Automático de Enrolação
Sinalizar, como a palavra sugere, é dar
alguma forma de indicação que você está
realizando determinada atividade, para si
mesmo e para os outros. Por exemplo, um
adolescente pode passar a tarde inteira na
internet, navegando a esmo e se distraindo nas
redes sociais, mas quando os pais passam pelo
corredor para checar seu quarto, ele fecha
tudo e abre os livros. Desse modo, ele sinaliza
para os pais que está estudando sem
realmente fazê-lo.
O modo como isso afeta nossas vidas é que
normalmente engajamos em atividades que
sinalizam características desejadas, que nos
fazem parecer fazer algo, sem ser
necessariamente o melhor caminho para
alcançar o objetivo.
61
Esse fenômeno pode, inclusive, assumir o
formato de autossinalização, quando
inconscientemente sinalizamos para nós
mesmos alguma característica desejada, sem
persegui-la de verdade.
NinaMazar e Chen-boZhong, em 2009,
trouxeram à tona um caso interessante de
autossinalização. Eles mostraram que pessoas
que compram produtos "verdes"
(ambientalmente saudáveis) são mais
propensas a trapacear e roubar depois da
compra, o que supostamente ocorre porque
elas já fizeram a "boa ação moral" do dia.
Richard Beck, um teologista experimental,
encontrou um fenômeno similar entre os
religiosos: eles são menos propensos a
fazerem boas ações depois de irem à igreja,
por exemplo, pelo mesmo motivo.
No fundo, é a necessidade de nosso cérebro social em busca de validação externa. O
adolescente precisa que os pais pensem que ele está estudando, por isso ele engaja em
atividades que envolvem mais sinalizar do que realmente estudar.
62
Outra é quando as pessoas preferem
vídeo-aulas a livros, já que elas são mais
'fáceis' de consumir e passam a impressão de
que o aprendizado está ocorrendo.
Para corrigir esse problema, não há um
antídoto óbvio. É necessário que você esteja
analisando constantemente as tarefas nas
quais se engaja em busca do melhor método
para fazer aquilo. Não o mais tradicional, não o
que é esperado de você no processo, mas o
melhor método para fazer a coisa acontecer.
O curioso é que as evidências apontam que
nosso estado natural seja essa enrolação.
No aprendizado, isso se manifesta de diversas formas. Ir para aulas em escolas, faculdades
ou cursos é uma delas: a maioria das pessoas não aprende tanto quanto poderia nesses
contextos, mas continua frequentando pois é o "papel" esperado pela sociedade de um
estudante.
63
O objetivo final, o aprendizado, passa a ser
coadjuvante no processo de sinalizar
aprendizado, dar a entender que está fazendo
o que se espera, o que é um problema
considerável para quem está de fato
interessado em alcançar o que se propôs.
Felizmente, a correção para o problema é
fácil. Ao invés de focar apenas no objetivo,
valorize a jornada. Claro, isso não quer dizer
“deixar de querer passar naquele concurso de
seus sonhos”. Não! Isso quer dizer entender
que para passar no concurso, você precisa
aprender bem o que for necessário estudar,
seja português, direito ou matemática. Você
passa a cultivar um interesse real pelo que
estuda, a nutrir a vontade de ficar bom
naquilo, não apenas se concentrar aonde quer
chegar.
Em um estudo feito por Carol Dweck e Ellen Leggett em 1988, foi observado que que
quando guiados por objetivos de performance (foco em tirar boas notas ou ser aprovado em
concursos), que é o caso mais comum, estudantes se preocupam com padrões normativos
e tentam fazer o que é necessário para demonstrar competência a fim de parecer inteligente,
ganhar status e adquirir reconhecimento.
“Ao invés de focar
apenas no objetivo,
valorize a jornada”
64
Alinhando os Valores de Sua
Jornada
Se fôssemos desconstruir a motivação para o
processo de aprendizado, o que
encontraríamos como espinha dorsal? Embora
haja várias teorias para tratar disso, boa parte
delas contêm dois fatores principais: o valor
subjetivo da meta e as expectativas de ter
sucesso no objetivo (como apontado por John
Atkinson em 1964 e outros pesquisadores).
Comecemos, então, discutindo o valor
subjetivo de uma meta. A importância de um
objetivo, frequentemente referida como seu
valor subjetivo, influencia a motivação, já que
só perseguimos metas com alto valor
percebido.
E isso funciona. As evidência são amplas de como usar objetivos de aprendizado, ao invés
de objetivos de performance, melhora o rendimento do estudante. É mais provável que eles
usem estratégias de estudo que levem a uma compreensão profunda do tópico, que
busquem ajuda quando precisam e que se sintam confortáveis com tarefas desafiadoras,
como mostram os estudos de Carter e Elliot em 2000 e de Mcgregor e Elliot em 2002.
“A importância de um
objetivo, frequentemente
referida como seu valor
subjetivo, influencia a
motivação.”
65
'Valor' em si pode ser derivado de várias
fontes diferentes. Allan Wigfielde Jacquelynne
Eccles sugerem três categorias amplas: de
obtenção, intrínseco e instrumental.
Estudemos cada uma separadamente e
vejamos como alinhá-las para maximizar
nossa motivação durante os estudos.
Primeiro, o valor de obtenção representa a
satisfação que a pessoa obtém da maestria e
do alcance do objetivo ou da tarefa. É aquela
sensação boa que temos quando concluímos
algo difícil, seja passar de nível no jogo do
computador ou a resolução de um problema
complicado de física.
A segunda fonte é o valor intrínseco, que
representa a satisfação que obtemos em
realizar a tarefa em si, independente do
resultado final do processo.
Por exemplo, você estará bem mais motivado paraestudar inglês, se for requisito para ser
promovido, do que para estudar uma língua aleatória, como o esperanto, sem razão alguma.
66
Ele aparece quando estamos fazendo algo que gostamos, como gastar horas para aprender
aquela música na bateria ou quebrar a cabeça estudando astronomia.
A fonte final é o valor instrumental, que
representa o quanto uma atividade ou um
objetivo ajuda a alcançar outros objetivos
importantes, levando ao recebimento de
recompensas extrínsecas. Reconhecimento,
dinheiro, bens materiais, carreiras
interessantes ou bons salário são todos
objetivos de longo prazo que podem fornecer
valor instrumental para objetivos de curto
prazo (esudar inglês – curto prazo a fim de se
mudar para Londres – longo prazo).
Vejamos um exemplo para classificar o
alinhamento dos três valores. Digamos que eu
objetive ser aprovado em uma prova de
certificação, a fim de aplicar para uma nova
posição na empresa em que trabalho. Para
tanto, preciso estudar várias disciplinas,
algumas das quais não me interessam nem um
pouco. Como alinhar meus valores para me
manter motivado ao máximo enquanto
estudo?
67
Para tanto, eu vou atrás das "frutas mais
baixas da árvore"; em outras palavras, persigo
as vitórias fáceis.
Começando debaixo, com os conceitos mais
simples, eu inicio um ciclo de vitórias para me
manter motivado. Eu ataco o tópico mais
simples da disciplina, domino-o, e uso a
sensação boa de estar progredindo para
alimentar meu avanço a tópicos um pouco
mais complicados. Aos poucos, eu vou
cobrindo o assunto inteiro, mantendo o moral
alto.
Quanto ao valor intrínseco, parece não haver
muito o que fazer. Afinal de contas, ou você
sente prazer executando uma tarefa ou não,
certo?
Em primeiro lugar, eu preciso extrair o máximo de valor de obtenção possível (o prazer
que temos ao alcançar coisas), principalmente no que toca às disciplinas que não gosto.
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Os resultados de alguns estudos dizem que
não. Suzanne Hidi e Ann HIDI &Renninger, em
2006, mostraram que uma tarefa que
inicialmente só possui valor instrumental para
o estudante (aprender para passar na
certificação e obter aumento) pode vir a
desenvolver valor intrínseco (prazer em
praticar) com o tempo, conforme ele absorve
conhecimento e fica melhor naquilo. Em
palavras simples, não gostar não é desculpa
para não começar; você vai começar a
aproveitar a atividade uma vez que comece a
ficar bom naquilo. Então comece!
Resta-nos cobrir o conjunto de valores
instrumentais. Por que você quer essa
certificação? Pense até o final. Seu objetivo de
vida, qual é? Se você deseja melhorar sua
renda pois está se preparando para ter um
filho, tirar a certificação faz todo sentido.
Você está fadado a gostar de estudar as matérias que te agradam e não apreciar as
matérias que não te interessam?
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Porém, se seu interesse é apenas financeiro, já que você nem gosta mais da carreira que
persegue e quer apenas aumentar a renda, por mais que você se force a estudar, é bem
provável que sua motivação quebre ao longo do caminho. Afinal de contas, as motivações
não estão muito bem alinhadas, você precisa pensar num objetivo que conecte tudo de
modo a se manter motivado a vencer as adversidades naturais de aprender uma grande
quantidade de conteúdo para obter uma certificação.
Criando Confiança de Modo
Saudável
“Confiança genuína é uma maneira de pensar
sobre si mesmo e suas habilidades.É sua
percepção de seu próprio potencial; é um tipo
de pensamento de longo prazo que te
empodera através de obstáculos e momentos
difíceis, te ajudando a resolver problemas e te
colocando no caminho do sucesso.” John Eliot
John Eliot é um expert mundial da área de
performance de alto nível. Ele trabalha com
atletas campeões, homens de negócio de
grandes empresas, médicos respeitados e
músicos famosos. Dentro de minhas
pesquisas, ele é uma das poucas pessoas que
realmente entendem o que é confiança.
70
Confiança se trata de olhar objetivamente
para o que você quer alcançar, reconhecer a
dificuldade real do caminho e acreditar que, se
você colocar o esforço necessário, é possível.
Não tem nada de esotérico ou surreal a
respeito; é algo bem conectado com a
realidade.
Todo esse conceito de confiança se conecta
bem com a ideia de expectativas em torno de
sua meta de aprendizado. Como vimos,
motivação pode ser resumida a alto valor
esperado (que aprendemos como alinhar os
vários tipos de modo a maximizá-lo) mais
expectativas ajustadas em relação à linha de
chegada.
Não se tratar de repetir para si mesmo que é possível ou que aquilo vai dar certo. Não,
você não é bobo o suficiente para acreditar em algo só porque é repetido várias vezes.
71
“Só acreditar que
é possível não é
suficiente para
manter a
motivação de pé.”
Aquela tática de "encorajamento reverso",
quando você diz à pessoa que ela está
tentando algo difícil demais para o potencial
dela não funciona se a pessoa realmente
acreditar no que você está dizendo.Ela não se
sentirá extramotivada por ser julgada incapaz
como nos filmes.
Por outro lado, só acreditar que é possível não
é suficiente para manter a motivação de
pé.Albert Bandura, em seu livro “Self-e�cacy:
The exercise of control” confirma isso, que o
estudante precisa desenvolver o que
chamamos de expectativa de eficácia; em
outras palavras, ele precisa se sentircapaz de
identificar, organizar, iniciar e executar um
plano que vai trazer o resultado esperado.
Se você não acredita ser possível, vai
desenvolver comportamento 'vitimista' na
situação.
O ponto é que a motivação para aprender não acontece se o estudante não possui uma
expectativa de resultado positivo, ou seja, se ele não acredita que é possível conseguir o que
deseja, como explicado por Charles Carvere Michael Scheierem 1998.
72
“Se acredita que é
possível mas não
confia na sua
capacidade de
executar, vai
atrapalhar com
sua autoestima.”
Se acredita que é possível mas não confia na sua capacidade de executar, vai atrapalhar
com sua autoestima. Novamente, esse não é um tipo de situação com antídoto claro, mas
boas práticas incluem (1) procurar pessoas que já alcançaram algo parecido com o que você
almeja e (2) buscar entender a eficácia das estratégias delas para montar a sua de modo
adequado.
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PARA RELEMBRAR E
POR EM PRÁTICA
- No final do dia, todas as pessoas aprendem
por conta própria. Mesmo com professores e
escolas, o ambiente não pode forçar o
conhecimento na cabeça de ninguém.
- Uma vez que você olha para além dos
estigmas sociais enxerga que é possível fazer
muita coisa sozinho e que o autodidatismo
está ao alcance de qualquer um.
- A ciência aponta para a descoberta que força
de vontade não é algo infinito; você não pode
ser forçar a realizar atividades para sempre.
- Para o autodidata, formar hábitos é uma das
principais base para o sucesso. Afinal de
contas, não há pressão externa para que ele
faça o que é necessário para alcançar o que
deseja.
- O processo de criação de hábitos é simples,
composto de identificação da rotina,
experimentação com as recompensas,
isolamento de deixas e possíveis barreiras e
criação de um plano.
- Além de formar hábitos, que uma vez criados
requerem pouco esforço cerebral, criação de
sistemas é outra maneira de contornar nosso
limite natural da força de vontade.
- Ter a mentalidade certa importa bastante e
causa impactos reais no aprendizado. O cultivo
do mindset de crescimento ajuda no
aprendizado a partir de erros.
- A sobrecarga cognitiva é um problema real e
uma das grandes barreiras a ser superada no
aprendizado de qualidade. A boa notícia é que
é possível adotar um sistema para tratá-la.
- Na ordem de fatoresexternos a fatores
internos, o checklist a verificar ao se encontrar
"travado" em um assunto: condições do
ambiente de estudo, qualidade da instrução e
do material,foco excessivo na avaliação,
desenvolvimento de expectativas irreais, uso
de estratégias mentais deficientes e baixos
níveis de conhecimento de base.
74
Essa é uma amostra do livro Os 7 Pilares do Aprendizado - Usando
a ciência para aprender mais e melhor.
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amostra1
amostra2
amostra3