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Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião A INFLUÊNCIA RELIGIOSA NA VIDA DE ADOLESCENTES UNIVERSITÁRIOS DA GRANDE SÃO PAULO: UM ESTUDO À LUZ DO MÉTODO DE RORSCHACH Armando Rocha Júnior São Bernardo do Campo 2004 Universidade Metodista de São Paulo Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião A INFLUÊNCIA RELIGIOSA NA VIDA DE ADOLESCENTES UNIVERSITÁRIOS DA GRANDE SÃO PAULO: UM ESTUDO À LUZ DO MÉTODO DE RORSCHACH Armando Rocha Júnior Orientador: Professor Doutor James Reaves Farris Tese apresentada em cumprimento às exigências do programa de pós-graduação em Ciências da Religião para a obtenção do grau de doutor. São Bernardo do Campo 2004 Banca Examinadora: ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ À memória de minha mãe Constantina Bertotti Rocha, exemplo de tolerância e firmeza, com amor e eterna gratidão. Ao meu pai Armando Rocha e à minha tia Santina Bertotti, sem os quais eu não teria forças para empreender esta jornada. AGRADECIMENTOS No momento em que chego ao fim desta jornada, é com muita emoção e gratidão que registro as personalidades que me deram apoio e coragem para que em nenhum momento eu fraquejasse na busca deste objetivo. Assim é que agradeço, especialmente: & a Deus, pela vida e saúde; & ao Prof. Dr. James Reaves Farris, meu orientador, pela competência e segurança que me emprestou nos momentos de ansiedade, que acredito fazem parte do processo de estudo; & aos Professores Doutor Eda Marconi Custódio e Ronaldo Sathler Rosa, pelas sugestões e incentivo que me ofereceram com base no exame de qualificação e defesa da tese; & aos Professores Doutor Dinorah Gioia Martins e Maria Lúcia Marques, componentes da banca examinadora que muito me honraram por aceitar avaliar este trabalho; & à minha família, principalmente meus primos, que sempre demonstraram interesse pelos meus estudos e deram-me forças para que este momento chegasse; & ao meu querido amigo Paulo Francisco de Castro, psicólogo e professor como eu, que acompanhou e incentivou não só este trabalho, mas também a idéia de minha inscrição ao doutorado. Posso dizer que Paulo conheceu cada passo que dei quando cursava as disciplinas do curso. Com ele debatia as idéias da pesquisa final e discutia os tópicos do método e os resultados antes de apresentar os esboços ao meu orientador. Nesses quase 4 anos de estudos e pesquisas, Paulo Francisco foi o amigo sensível e o incentivador que, com certeza todos nós precisamos. & aos amigos e colegas professores, Alvino Augusto de Sá, Tânia Maria Justo de Almeida, Silvia Sueli de Souza Maia, Augusto Rodrigues Dias, Luis Sergio Sardinha, Silvana Rossi Sptzcovski, pelo encorajamento em todos os momentos desta caminhada e, especialmente, à Sonia Maria da Silva, também amiga e colega, pelas indicações e várias sugestões que me fez no decorrer da pesquisa; & à Universidade Guarulhos onde cursei a graduação e leciono há mais de 20 anos e que me deu espaço para realizar esta pesquisa; & ao Prof. Augusto J. C. B. Prado Fiedler, Diretor do Centro Único de Graduação, e ao Prof. Dr. José Cândido Cheque de Moraes, Coordenador do Curso de Psicologia da Universidade Guarulhos, que sempre me incentivaram profissionalmente e apoiaram está pesquisa no âmbito da Universidade; & aos colegas professores, técnicos e funcionários da Clínica Psicológica da Universidade Guarulhos que acompanharam constantemente este estudo, em especial à Maria Gisele que me ajudou na organização das tabelas e discussão dos resultados, fato que contribuiu para agilizar o término deste estudo; & às instituições que se colocaram à minha disposição para a efetiva realização desta pesquisa, bem como a todos os jovens universitários que, de bom grado, aceitaram participar de todas as etapas de coleta de dados necessários para que este trabalho chegasse ao seu final; & ao Marcos Menezes, meu mais jovem colaborador que, pontualmente, digitou cada linha aqui escrita; & aos professores e funcionários do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, pelo acolhimento e apoio durante minha trajetória no doutorado; & à todas as pessoas que estiveram a meu lado nestes últimos quatro anos, incluindo àquelas que, por lapso, não citei nominalmente aqui, mas que facilitaram de alguma forma, a conclusão de mais uma etapa de minha vida acadêmica e profissional. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17 1.1. Justificativa ................................................................................................... 20 1.2. Revisão bibliográfica.................................................................................... 23 1.3. Referencial teórico ....................................................................................... 28 1.4. Hipóteses ..................................................................................................... 33 1.5. Objetivos ...................................................................................................... 33 1.6. Método ......................................................................................................... 34 1.7. Instrumento de avaliação da personalidade................................................ 37 1.8. Procedimentos ............................................................................................. 43 1.9. Previsão de análise de dados...................................................................... 48 1.10. Organização geral do trabalho ................................................................... 49 2. ADOLESCÊNCIA ................................................................................................. 50 2.1. Características e fatores do desenvolvimento físico e intelectual do adolescente ................................................................................................ 60 2.2. Desenvolvimento psico-social ..................................................................... 63 2.3. O adolescente no contexto da família ......................................................... 68 2.4. O adolescente e a escola ............................................................................ 72 2.5. Característica da cultura adolescente – alguns comportamentos adolescentes ................................................................................................ 74 2.6. A concepção sócio-histórica da adolescência............................................. 76 2.7. O conceito de adolescência sob o enfoque sócio-histórico........................ 77 3. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REFERENCIAL TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON............................................................................................ 81 3.1. Estrutura psicanalítica da personalidade ................................................... 87 3.2. Sigmund Freud e a teoria do desenvolvimento psicossexual.....................90 3.3. A teoria de Erik Erikson para o desenvolvimento humano ......................... 99 3.4. Estágios psicossociais do desenvolvimento e forças básicas ................. 100 4. FÉ E RELIGIÃO NA PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER............ 112 4.1. Fé e identidade .......................................................................................... 120 4.2. Os estágios da fé ....................................................................................... 122 5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................. 136 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 224 7. REFERÊNCIAS................................................................................................... 233 ANEXOS RESUMO ROCHA JÚNIOR, Armando. A influência da religião na vida dos adolescentes universitários da grande São Paulo: à luz do Método de Rorschach. Tese de Doutorado. Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2004. 244p. O objetivo desta pesquisa foi verificar a influência da religião na dinâmica da personalidade de adolescentes universitários da grande São Paulo. A amostra do estudo foi realizada com 60 universitários de escolas do ensino privado com idades entre 18 e 23 anos, igualmente divididos entre os sexos. Os universitários foram alocados em dois grupos, 30 adolescentes que, notadamente, possuíam vínculos com alguma religião e outros 30 totalmente desvinculados de qualquer orientação religiosa. Na pesquisa, foram levantados os dados sócio-demográficos que fazem parte do Questionário de Constatação Qualitativa, que foi aplicado com o objetivo de verificar, qual a possível influência sofrida pelo adolescente religioso ao longo de sua vida, se mais da família, da sociedade ou da religião. Por fim, os adolescentes religiosos e menos religiosos foram submetidos ao Método de Rorschach, instrumento psicológico para a investigação da estrutura de personalidade dos indivíduos. A análise baseou-se na comparação das variáveis categóricas entre os grupos, utilizando-se tratamentos estatísticos compatíveis com os dados. As conclusões a que se chegou foram: a religião influencia significativamente o comportamento dos adolescentes universitários, implicando uma conduta de vida mais adequada e controlada. Os jovens religiosos demonstraram uma forma de agir diferente dos jovens não religiosos, portanto, a interação do adolescente com o ambiente religioso provoca alterações no comportamento do indivíduo ou na dinâmica de sua personalidade; dependendo das relações do adolescente com o ambiente religioso durante seu desenvolvimento, sua personalidade poderá ser mais sensível às religiões e ensinamentos. Os adolescentes religiosos possuem posições morais mais rígidas, acentuado temor a Deus, submissão ao pai, obediência às figuras de autoridade e família mais rigorosa no tocante à educação. Estas características demonstram funcionar, como mecanismos de controle do indivíduo, oriundos de influência religiosa, não se mostrando danosas à organização e integração da personalidade em si e desta com o ambiente, pelo contrário, esses mecanismos tornam, a pessoa mais prudente e equilibrada no cotidiano. Não existem diferenças significativas em relação à flexibilidade dos jovens universitários, bem como não há diferenças significativas na organização estrutural da personalidade quando se comparam adolescentes universitários religiosos e não religiosos. Em síntese, às vezes a religião é um evento social com inegável capacidade de controle que pode ou não ser excessivo às vezes, contudo mostra-se construtiva e organizadora, portanto, positiva para o adolescente. Palavras-chave: religião; adolescentes universitários, Método de Rorschach ABSTRACT ROCHA JÚNIOR, Armando. The influence of religion in the life of young adult university students from the Great São Paulo: in the light of the Rorschach Method. Dissertation. Universidade Metodista de São Paulo (São Paulo Methodist University), São Bernardo do Campo, 2004. 244p. The objective of this study was to assess the influence of religion in the personality dynamics of young adult university students from the Great São Paulo. The study comprised 60 students from private universities aged 18 to 23, equally divided between the sexes. The students were divided into two groups: 30 young adults who notably presented a special connection with a certain religion, and another 30 totally disconnected with any religious orientation. The research raised the social and demographic data taken from the Qualitative Assessment Questionnaire, which was used aiming to assess what most influences the religious young adult along his/her life: family, society or religion. Finally, both religious and nonreligious young adults were submitted to the Rorschach Method, a psychological tool used to investigate the individuals' personality structure. The analysis was based on the comparison of category variables between the groups, and used statistical approaches compatible with the data. The conclusions were: religion significantly influences the young adult university students’ behavior, fostering a more appropriate and controlled lifestyle. The religious young students showed a different behavior as compared to the nonreligious ones. Therefore, the young adult’s interaction with the religious environment causes changes in his/her behavior or personality dynamics. Depending on the young adult's relationship with the religious environment during his/her development, his/her personality can be more sensitive to religions and teachings. Religious young adults have stricter moral standpoints, high level of fear from God, submission to their father, obedience to authorities, and a family that is stricter concerning education. These characteristics, originated from religious influence, showed they work as control mechanisms for the individual and did not prove harmful to the organization and integration of the personality and to its integration with the environment. On the contrary, these mechanisms make the person more careful and balanced in his/her daily life. When comparing religious to nonreligious young adult university students, there are no significant differences as to their flexibility level, and no significant differences in the structural organization of their personality. In conclusion, religion is a social event with undeniable control ability, which can or not be excessive sometimes, but proves to be constructive and organizing, being therefore positive for the young adult. Keywords: religion; young adult university students, Rorschach Method RESUMEN ROCHA JUNIOR, Armando. La influencia de la Religión en la vida de los Adolescentes Universitarios de la Gran ciudad de San Pablo: A la luz del Método de Rorschach. Tesis de Doctorado. Universidad Metodista de San Pablo, San Bernardo do Campo, 2004. 244p. El objetivo de esta investigación fue verificar la influencia de la religión en la dinámica de la personalidad de los adolescentes universitarios de la gran ciudad de San Pablo. La muestra del estudio fue realizada con 60 universitarios de escuelas de enseñanza particular con edades entre 18 a 23 años, igualmente divididas entre ambos sexos. Los universitarios fueron consignados en dos grupos, 30 adolescentes que poseían notables vínculos con alguna religión y otros 30 totalmente desvinculados de cualquier orientación religiosa. En la investigación fueron levantados los datos socio-demográficos que hacen parte del cuestionario de Constatación Cualitativa que fue aplicado con el objetivo de verificar cual es la posible influencia sufrida por el adolescente religiosoa lo largo de su vida, y si ésta es mayor de la familia, de la sociedad o de la religión. Al final los adolescentes religiosos y menos religiosos fueron sometidos al Método de Rorschach instrumento psicológico para la investigación de la estructura de la personalidad de los individuos. El análisis se basó en la comparación de las variables categóricas entre los grupos, utilizándose tratamientos estadísticos compatibles con los datos. Las conclusiones a las que se llegó fueron: la religión influye significativamente el comportamiento de los adolescentes universitarios, implicando una conducta de vida mas adecuada y controlada. Los jóvenes religiosos reaccionan de forma diferente a los adolescentes no religiosos, por lo tanto la interacción del adolescente con el ambiente religioso provoca alteraciones en el comportamiento del individuo o en la dinámica de su personalidad, dependiendo de las relaciones del adolescente con el ambiente religioso durante su desarrollo, su personalidad podrá ser más sensible a las religiones y enseñanzas. Los adolescentes religiosos poseen posiciones morales más rígidas acentuado temor a Dios, sumisión a los padres, obediencia a las figuras de autoridad y familia más rigorosa en lo que se refiere a la educación. Estas características nos demuestran que funcionan como mecanismos de control del individuo, oriundos de la influencia religiosa, y no se muestran dañinas a la organización e integración de la personalidad en sí y de ésta con el ambiente, por lo contrario estos mecanismos convierten a la persona más prudente y equilibrada en lo cotidiano. No existen diferencias significativas con relación a la flexibilidad de los jóvenes universitarios, así como no hay diferencias significativas en la organización estructural de la personalidad cuando se comparan adolescentes universitarios religiosos y no religiosos. En síntesis, la religión es un evento social con innegable capacidad de control que a veces puede o no ser excesivo, Sin embargo se muestra más constructiva y organizadora, por lo tanto positiva para el adolescente. Palabras-clave: religión, adolescentes universitarios, Método Rorschach. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS DP Desvio-padrão F-NR Feminino não-religioso F-R Feminino religioso Máx Máximo Med Mediana Min Mínima M-NR Masculino não-religioso M-R Masculino religioso SM Salário-mínimo LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição da idade dos sujeitos pesquisados. São Paulo, 2004................................................................................. 138 Tabela 2 – Distribuição dos sujeitos pesquisados por semestre nos cursos em que se encontram matriculados....................................... 139 Tabela 3 – Distribuição dos turnos em que os sujeitos da pesquisa estudam.............................................................................. 141 Tabela 4 – Distribuição da renda familiar dos sujeitos do estudo ....................... 142 Tabela 5 – Distribuição da origem domiciliar dos componentes da amostra...... 143 Tabela 6 – Distribuição da proveniência familiar dos sujeitos da pesquisa: se religiosa ou não. ................................................................................. 143 Tabela 7 – Distribuição da possibilidade de os sujeitos da pesquisa desenvolverem ou não trabalho profissional concomitantemente aos estudos ........................................................................................ 145 Tabela 8 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a crença que possuem em Deus e em sua existência............................................ 146 Tabela 9 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se a relação entre moral e religião são intimas ...................................................... 147 Tabela 10 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a possibilidade dos propósitos divinos implicarem a adequação de suas respectivas condutas ............................................................................................. 148 Tabela 11 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre como entendem suas famílias: se muito afetiva e que gosta de diálogo ou não ........ 150 Tabela 12 – Distribuição dos sujeitos quanto ao posicionamento que se deve ter em relação à literatura que critica as tradições................... 151 Tabela 13 – Distribuição de como os sujeitos entendem suas famílias: rígidas ou não em relação à moral .................................................... 152 Tabela 14 – Distribuição da posição dos sujeitos sobre a família ser a base do indivíduo ............................................................................ 153 Tabela 15 – Distribuição da posição dos sujeitos sobre suas famílias: se estas são ou não flexíveis e de muito diálogo................................... 154 Tabela 16 – Distribuição dos sujeitos sobre como entender suas respectivas famílias como se mais rígida de forma geral..................................... 155 Tabela 17 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de adesão à religião que possuem......................................................................... 156 Tabela 18 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que as crenças religiosas influenciam seus comportamentos...................... 158 Tabela 19 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência que pensam em Deus ............................................................................... 159 Tabela 20 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que experimentam a religião, como obrigação moral .............................. 160 Tabela 21 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a intensidade da crença que dirigem a Deus ........................................................... 161 Tabela 22 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que comparecem a atos religiosos ............................................ 162 Tabela 23 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que rezam para louvar a Deus................................................... 163 Tabela 24 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que rezam para pedir auxílio ..................................................... 165 Tabela 25 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que louvam a Deus com músicas, cânticos, entre outras formas............ 166 Tabela 26 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o esforço para não fazer mal às pessoas .................................................................. 168 Tabela 27 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de honestidade que sentem possuir....................................................... 169 Tabela 28 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação ao sentimento de dever de honestidade que possuem à família........... 170 Tabela 29 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação a lembrarem-se da família como a que lhes educou bem, quando recebem elogios quanto à sua educação............................. 171 Tabela 30 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à freqüência com que meditam nas Escrituras Sagradas...................................... 172 Tabela 31 – Distribuição das respostas dos sujeitos a respeito da importância que atribuem aos atos religiosos ....................................................... 173 Tabela 32 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra quanto à intensidade das experiências de sentimentos religiosos ............... 174 Tabela 33 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de consciência a respeito do divino ........................................................176 Tabela 34 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra sobre o grau de temor a Deus que possuem .............................................. 177 Tabela 35 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se possuem pai muito rígido e que impõe forma de pensar aos familiares ................ 178 Tabela 36 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que os sentimentos religiosos incluem um componente de temor ou medo em relação ao que lhes acontecerá após a morte.................. 179 Tabela 37 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se obedecem aos pais para evitar discussões......................................................... 180 Tabela 38 – Distribuição das respostas dos sujeitos a respeito da importância que dispensam ao auxílio divino, quando se deparam com sentimentos de culpa.................................................. 182 Tabela 39 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação ao entendimento que possuem do comportamento irrepreensível ........ 183 Tabela 40 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra que julgam ou não que seus pais são grandes modelos de conduta...... 184 Tabela 41 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a importância da família em relação ao comportamento que possuem.................. 186 Tabela 42 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de rigor que a família empregou em sua educação ....................................... 187 Tabela 43 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à freqüência com que colocam sua raiva diante de Deus...................................... 188 Tabela 44 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de conhecimento que possuem a respeito dos dogmas religiosos ....... 190 Tabela 45 – DEPI – Distribuição do Índice de depressão.................................... 191 Tabela 46 – EB – Distribuição do Comportamento Emocional e da Cognição .... 192 Tabela 47 – C – Distribuição das respostas de cor pura....................................... 192 Tabela 48 – EbPer – Distribuição do índice do predomínio da experiência de base...................................................................... 193 Tabela 49 – Sum T – Distribuição do somatório de respostas de sombreado com textura ................................................................ 194 Tabela 50 – Sum Y – Distribuição do somatório as respostas de sombreado difuso......................................................... 194 Tabela 51 – FC – Distribuição das respostas de forma-cor (existe o elemento cromático, porem a forma é predominante) ....... 195 Tabela 52 – CF – Distribuição das respostas de cor-forma (o aspecto formal é secundário diante do elemento cromático)....... 196 Tabela 53 – Afr – Distribuição de índice de reação afetiva ................................... 196 Tabela 54 – S – Distribuição das respostas com uso do espaço em branco.................................................................. 197 Tabela 55 – Egocent – Distribuição de índice de Egocentrismo........................... 197 Tabela 56 – H – Distribuição das respostas de conteúdo humano inteiro............ 198 Tabela 57 – H% – Distribuição da porcentagem de respostas de conteúdo humano inteiro ................................................................... 198 Tabela 58 – Hd – Distribuição das respostas de conteúdo de parte de humano........................................................................... 198 Tabela 59 – HD% – Distribuição das porcentagens de respostas de conteúdo de parte de humano........................................................... 199 Tabela 60 – Hx – Distribuição das respostas de conteúdo de experiência humana........................................................................... 199 Tabela 61 – An-Xy – Distribuição das respostas de conteúdo sobre anatomia e radiografia ....................................................................... 200 Tabela 62 – Ideação – a:p – Distribuição proporção dos tipos de movimento (ativo para passivo)............................................................................ 200 Tabela 63 – Ideação – Ma:Mp – Distribuição da proporção dos tipos de respostas de movimento humano (ativo:passivo) ............................. 201 Tabela 64 – FM – Distribuição das respostas, cuja determinante seja movimento animal .............................................................................. 202 Tabela 65 – M – Distribuição das respostas com determinantes de movimento humano............................................................................................... 203 Tabela 66 – Intelect – Distribuição do índice de intelectualização........................ 203 Tabela 67 – – CDI – Distribuição do índice de déficit relacional ........................... 204 Tabela 68 – HVI – Distribuição do índice de Hipervigilância................................. 205 Tabela 69 – GHR – Distribuição da proposição das resposta de conteúdo humano com boa qualidade............................................................... 205 Tabela 70 – PHR – Distribuição da proporção das respostas de conteúdo humano com baixa qualidade............................................................ 206 Tabela 71 – Sum H – Distribuição do somatório das respostas de conteúdo humano............................................................................... 206 Tabela 72 – Per – Distribuição das respostas com características pessoais....... 207 Tabela 73 – COP – Distribuição das respostas com movimentos do tipo cooperativo ......................................................................................... 207 Tabela 74 – AG – Distribuição das respostas com movimento do tipo agressivo 208 Tabela 75 – Isolam - Distribuição do índice de isolamento dos componentes do estudo..................................................................... 208 Tabela 76 – Par – Distribuição das respostas com características de par........... 209 Tabela 77 – OBS – Distribuição do índice de obsessividade................................ 209 Tabela 78 – L – Distribuição do índice Lambda .................................................... 209 Tabela 79 – P – Distribuição das respostas populares ......................................... 210 Tabela 80 – X+% – Distribuição da porcentagem das respostas de forma convencional ...................................................................................... 210 Tabela 81 – F+% – Distribuição de porcentagem das respostas de forma pura convencional .............................................................................. 211 Tabela 82 – XU+% – Distribuição da porcentagem das respostas incomuns ........................................................................... 211 Tabela 83 – X-% – Distribuição da porcentagem das respostas com forma distorcida ............................................................................................ 212 Tabela 84 – S-% – Distribuição da porcentagem das respostas com distorção e uso do espaço em branco............................................................... 212 Tabela 85 – W:M – Distribuição da proporção de respostas globais para respostas de movimento (índice de criatividade) .............................. 213 Tabela 86 – Distribuição da seqüência das localizações das respostas .............. 214 Tabela 87 – Zf – Distribuição da freqüência das respostas com valor de elaboração............................................................................ 214 Tabela 88 – PSV – Distribuição das respostas com características de perseveração...................................................................................... 215Tabela 89 – eb – Distribuição da experiência de base.......................................... 215 Tabela 90 – PTI – Distribuição do índice de distorção perceptual ........................ 216 Tabela 91 – S-CON – Distribuição do índice de suicídio ...................................... 217 Tabela 92 – R – Distribuição do número de respostas do protocolo .................... 217 Tabela 93 – EA – Distribuição da experiência afetiva ........................................... 218 Tabela 94 – Nota D – Distribuição do índice de tolerância ao stresse................. 218 INTRODUÇÃO 17 1. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO 18 Atualmente, as universidades recebem em seus cursos alunos cada vez mais jovens, em plena fase da adolescência, acadêmicos com recém- completados 17 anos, visivelmente, imaturos. Estes jovens talvez sejam oriundos de famílias funcionais, mas pouco podem contar com o apoio familiar, pelos mais variados motivos: excesso de trabalho dos pais, dedicação quase exclusiva pela vida profissional; diversificação excessiva de interesses que originam prejuízo no acompanhamento dos filhos, estresses causados pelo cotidiano das grandes cidades, etc. Além dessas situações, são inúmeros os acadêmicos que deixam as pacatas cidades do interior onde viveram, até então, e migram às grandes capitais para dar prosseguimento aos estudos e despreparados, emocionalmente, são obrigados a conviver com uma realidade que jamais enfrentaram. Se estas situações apontadas já são geradoras de dificuldades para os adolescentes universitários, muito mais difícil será a situação daqueles que provêm de famílias disfuncionais pela separação dos pais ou morte de um ou de ambos progenitores, pelo alcoolismo em família, etc. Além disso, a entrada em um ambiente novo, no caso o universitário, por si só já pode ser geradora de problemas. Muitos convivem bem com todas as novidades da nova vida, ou seja, com a maior liberdade do dia-a-dia, a possibilidade de escolhas mais pessoais e a necessidade de tomar decisões de forma individualizada, enfim, com uma vida mais independente em relação àquela experimentada no seio familiar. INTRODUÇÃO 19 Dentre esses muitos jovens, que se adaptam à nova realidade, existe, porém, um número representativo que se não sucumbe frente a essa experiência, acaba apresentando uma série de problemas existenciais, emocionais, afetivos, entre outros, que facilita, muitas vezes, vivências de difícil retorno ao adolescente, como o uso de drogas, por exemplo. Entre os adolescentes universitários que conseguem resistir aos estímulos do meio passíveis de levá-los a desajustes, é possível verificar que muitos possuem uma base calcada em alguma religião, o que pode significar que, aparentemente, o indivíduo com algum tipo de formação religiosa seja capaz de conduzir melhor as dificuldades do cotidiano, desde as mais corriqueiras e superficiais até as menos comuns e mais profundas. Diante desta conjuntura, pretende-se pesquisar a influência da religião na vida de adolescentes universitários da Grande São Paulo, com vistas a investigar sua interferência na dinâmica da personalidade dessa população. Além disso, pretende-se avaliar as características de rigidez, moralidade, dogmatismo ou flexibilidade, capacidades de reflexão e adaptação, bem como a estrutura geral da personalidade, tanto de adolescentes universitários religiosos como de não religiosos, identificando possíveis diferenças significativas nessa estrutura. Finalmente, buscar-se-á identificar e analisar como se verifica esta influência no funcionamento da personalidade desses jovens universitários com base nas características de maior rigidez, moralidade e dogmatismo ou de maior flexibilidade e capacidades de reflexão e adaptação. Em síntese, pretende-se identificar e analisar se existe e como ocorre a influência da religião na vida desses jovens. INTRODUÇÃO 20 1.1. Justificativa A convivência com adolescentes é fascinante e desafiadora, segundo a experiência do pesquisador baseada em vinte anos como professor de adolescentes universitários. Nesse período, foi possível perceber que o jovem ora se sente embevecido pelo mundo e traça planos fantásticos para seu futuro, ora mostra-se inseguro e amedrontado quanto à vida e a tudo o que imagina que deverá enfrentar, ou seja, estudos, trabalho, constituição famíliar, manutenção ou melhora de seu status. Frente a esta situação ambivalente, é comum muitos jovens buscarem o apoio de terceiros, sobretudo, amigos, professor, familiares e, também, instituições, como as igrejas. Para Hurlock (1975), por exemplo, a adolescência é a fase da vida em que ocorre o despertar religioso. Para quem convive com adolescentes, parece não ser muito difícil perceber, que eles reagem ao apoio solicitado de acordo com a bagagem que lhe é própria, talvez conseguida de experiências vividas no passado com outros amigos e com a própria família, especialmente, os pais. Dessa forma, alguns jovens mostram-se mais abertos e flexíveis ao apoio solicitado e outros parecem mais rígidos, impenetráveis e até reticentes com o amparo que, em última análise, pediram. É visível que o contato mantido pelo adolescente, quer seja simplesmente para ter companhia ou para receber algum apoio, depende de como este teve sua personalidade organizada, como os valores éticos e morais lhes foram passados, que tipo de abertura teve para, pelo menos, iniciar a formação de conceitos, como os religiosos, sexuais, entre outros que irão contribuir para a formação de sua identidade hoje e nortearão sua velhice amanhã. Pautado nessas observações e pela proximidade diária mantida com adolescentes universitários é, que este investigador resolveu estudar a possível influência da religião sobre esses jovens, especificamente, INTRODUÇÃO 21 entendendo que estão passando por um momento em que se encontram, como todos os jovens, sensíveis a todo tipo de influência. Além disso, autores como: Sigmund Freud (1904, 1917, 1927, 1930), Carl Gustav Jung (1999) e Finkler (1971), consideram a religião como algo de suma importância para estabelecimento do comportamento humano. Freud em alguns trabalhos sugere que se preste atenção aos vínculos entre religião e comportamento humano. Jung é um autor relevante para esta pesquisa, por sua abordagem a respeito das questões religiosas, considera que a atividade religiosa é essencial à vida e à saúde, sendo a neurose resultante de conflitos religiosos não solucionados. Para Miranda (1988), Jung afirma que o aspecto religioso é natural da escala de valores humanos, ativando aspectos éticos que integram os relacionamentos interpessoais. Finkler (1971) entende como salutar que o psicólogo, especialmente, o clínico considere as condições e os sentimentos religiosos do paciente, conforme a religião, que constitui uma dimensão importante da personalidade do indivíduo. De acordo com Finkler (1971), a religião e a religiosidade são fenômenos, mediante os quais o homem expressa o núcleo do que ele é, como ser pensante; pois representam vivências humanas, abrangem idéias, opções, atitudes e comportamentos. Enfim, um conjunto de elementos que podem ser observados e até mensurados por algumas técnicas próprias da Psicologia. Em última análise, são manifestações da própria estrutura nuclear da personalidade do indivíduo que auxiliam na organização de sua vida espiritual, na satisfação de suas necessidades de segurança e na afirmação de sua liberdade criadora, expressas poruma religiosidade tranqüila, colaborando para que ele resista melhor às pressões da sociedade moderna, mantendo o equilíbrio necessário à sua existência e adaptabilidade ao meio. INTRODUÇÃO 22 Assim, estes autores podem auxiliar no desenvolvimento desta pesquisa e com base nela e em seus resultados, a função da religião na vida dos adolescentes poderá ser melhor definida. Será ainda possível aquilatar se a religiosidade e a aspiração do Eterno e Absoluto, ou seja, a fé consegue melhorar pontos como: flexibilidade, reflexão e adaptabilidade, que podem ser vistos como aspectos positivos na estrutura da personalidade do indivíduo, pois contribuem para a organização e integração da própria personalidade ou se interferem no sentido de tornar a personalidade do indivíduo mais rígida, moralista e dogmática, dificultando a adaptação da pessoa a seu meio social. Esta pesquisa poderá ainda oferecer alguma contribuição às comunidades de fé, pois ao conhecerem sua influência sobre o adolescente, poderão se preparar para melhor orientá-lo, recebê-lo e até atraí-lo a seus ensinamentos e causas. Igualmente, as Ciências da Religião poderão tirar proveito dos resultados aqui obtidos, sobretudo porque terão em mãos importantes dados a respeito da integração e dinamismo da personalidade que passou pela influência ou está sendo influenciada pela religião. Outra área que poderá vir a ser beneficiada com esta pesquisa será a Educação, ao verificar como a religião é capaz de facilitar a presença de elementos organizadores, adaptativos e integradores na personalidade, poder-se-á esclarecer o binômio ensino-aprendizagem, que ocorre melhor em um indivíduo mais flexível, reflexivo, menos rígido e dogmático, além de visualizar a possível contribuição da religião para com os processos educativos. Por fim, ainda é possível citar as contribuições à Psicologia, visto que terá um material consistente para avaliar a importância da religião na estruturação da personalidade do indivíduo, em especial, de adolescentes que, baseados na influência dos centros de valores próprios da fé religiosa poderão ter facilitada sua tarefa de se integrarem a seu meio ambiente, INTRODUÇÃO 23 desenvolvendo sua identidade de maneira mais consistente e ajustada aos padrões socialmente aceitos (ERIKSON,1968). Pela obtenção de novos conhecimentos sobre o assunto, acredita-se que muito se poderá fazer para colaborar com as famílias, escolas, professores, psicólogos, enfim, com todos aqueles que, de alguma maneira, lidam com adolescentes. A intenção é que estes possam ser melhor compreendidos, para que sejam minimizadas as angústias que, eventualmente, venham a sofrer. Este estudo dará especial atenção a possível influência da religião na vida dos adolescentes universitários, no caso das universidades mantidas por igrejas, estas e seus responsáveis poderão com estes novos conhecimentos, aprimorar, se necessário, a metodologia utilizada com os jovens que integram seu campo de ação. 1.2. Revisão bibliográfica A adolescência é um dos principais momentos da formação da identidade do indivíduo, sendo uma rica etapa em conflitos que caracterizam a passagem da infância à vida adulta. Por isso, é objeto de inúmeras discussões, pesquisas e teorias. Erik Erikson preocupou-se em estudar a adolescência, reconheceu que, nessa fase, o indivíduo experimenta o novo e dá os primeiros passos para o descortino da vida madura e da velhice. Para Erikson (1968), ao chegar a essa etapa da vida, o jovem busca ampliar seus relacionamentos com ambientes variados que ultrapassam o âmbito familiar. Os pais, protetores e de importância suprema, até então, perdem um pouco de seu status para amigos e colegas do adolescente, que passa a mostrar preferência pelos seus pares, adultos externos à sua casa e colegas de escola e trabalho, enfim, por pessoas pelas quais se sinta em igualdade de condições, sem uma hierarquia culturalmente estabelecida. INTRODUÇÃO 24 Maurício Knobel dedicou-se ao estudo da adolescência, destacava que essa etapa evolutiva é marcada por desequilíbrios e instabilidades, que denomina de Síndrome Normal da Adolescência (KNOBEL, 1981). Dessa síndrome, faz parte uma sintomatologia que se caracteriza como a crise religiosa do adolescente, que pode ser vivenciada com maior ou menor intensidade e manifestar-se como um ateísmo exagerado ou um misticismo radical ou como qualquer dos matizes intermediários desses dois pólos. Segundo Knobel (1981), não se chega a uma personalidade equilibrada sem um certo grau de condutas, consideradas patológicas, quando comparadas aos padrões adultos, embora adequadas ao momento evolutivo da adolescência e, portanto, normais no período. Assim como Knobel, Arminda Aberastury, também, preocupou-se com o jovem, confirmando idéias de outros autores que valorizam a adolescência, como etapa definidora do futuro do indivíduo. Segundo Aberastury (apud ABERASTURY e KNOBEL, 1981), três grandes perdas fundamentais devem ser elaboradas por meio da vivência de luto, antes que se defina o período da infância e o adolescente mostre-se pronto a entrar e participar da vida adulta. Estes lutos são: 1. Luto pelo corpo infantil; 2. Luto pela identidade; 3. Luto pelos pais de infância. Para Knobel (1981), estes lutos indicam perdas da personalidade e se fazem acompanhar pelo psicodinamismo do luto normal, podendo, em ocasiões transitórias, adquirir todas as características do luto patológico. De acordo com Miranda (2003), outra pesquisadora do tema, o luto pelo corpo infantil perdido, que é a base biológica da adolescência, impõe ao indivíduo experienciar um conjunto de transformações em sua estrutura física, que se reflete em seu esquema corporal. A partir daí, surge um INTRODUÇÃO 25 sentimento de impotência frente à realidade que, por não poder se manifestar contra o próprio corpo, se modifica e transfere-se às esferas do pensamento. Ainda conforme Miranda (2003), a perda que o adolescente deve aceitar ao fazer o luto pelo corpo é dupla: a de seu corpo de criança, diante das novas características sexuais e da própria determinação sexual e do novo papel que deverá assumir na união com o parceiro e na procriação. No adolescente, o início das mudanças físicas faz com que perca, além do corpo, sua identidade de criança. A conseqüência desse luto pelo papel e identidade infantis é a confusão de papéis: o adolescente não consegue nem manter sua dependência infantil, nem assumir uma independência adulta, o que o leva a recorrer a mecanismos esquizóides, dividindo seu contexto entre família e grupos de seus pares. Atribui à família a maioria das obrigações e responsabilidades e, ao grupo, todos os seus atributos e direitos. Em função disso, o adolescente é levado a representar várias personagens, o que lhe é permitido pela flutuação da identidade, traduzida em mudanças comportamentais bruscas. Em outras palavras, verifica-se o comportamento tão conhecido e comentado por muitas pessoas caracterizado pela volúpia, impulsividade, teimosia, etc. A relação de dependência infantil é abandonada aos poucos e com bastante dificuldade. O luto pelos pais de infância adquire uma característica difícil, pois se junta aos dois outros lutos, consistindo em um momento de grandes perdas. O adolescente tenta manter em sua personalidade os pais infantis, buscando o abrigo e a proteção que eles significam. A situação acaba por se complicar em razão da atitude dos pais, que, também, sentem dificuldade para aceitar a perda do filho criança, pois isso significaria aceitaremseu envelhecimento, fato que os aproxima da própria finitude. Os lutos são acompanhados pelo luto da bissexualidade infantil que se perde pela imposição social, pois é um momento para decidir-se por um sexo, visto que o próprio corpo já o fez. A definição sexual obriga ao INTRODUÇÃO 26 abandono das fantasias primitivas de indiferenciação sexual ou do duplo sexo. O jovem procura com insucesso recobrar o sexo perdido, tanto na fantasia da bissexualidade como, muitas vezes, em comportamentos masturbatórios que constituem uma tentativa de negação dessa perda. A esse respeito, vale a pena ressaltar que, nessa fase evolutiva, marcada por desequilíbrios e instabilidades, é muito difícil visualizar o limite entre normal e patológico. A situação torna-se ímpar quando, além do interesse em estudar questões relativas à adolescência, dá-se papel de destaque à religião e à possível influência que esta exerce sobre o jovem, como ocorre nesta pesquisa. De acordo com Knobel (1981), é na adolescência que o jovem decide quem ele é, tanto na esfera sexual e pessoal como na profissional, necessitando, por isso, organizar sua identidade. Nesse processo, a religião, as experiências religiosas e a fé passam a exercer profunda importância. Ao escrever sobre os estágios desenvolvimentais da fé, Fowler (1992) baseou-se nos conceitos teológicos de Paul Tillich e nas teorias psicológicas do desenvolvimento de Jean Piaget, Erik Erikson e Lawrence Kohlberg. Em sua obra, explicou que, na adolescência, a fé precisa sintetizar informações e valores, mais precisamente, os morais, fornecendo uma base para a organização da identidade e da própria perspectiva individual do ser. Nesse prisma, a fé não é necessariamente um fenômeno de cunho religioso em seu sentido mais amplo, podendo até ser entendida como a maneira pela qual a pessoa entra no campo vital. É a forma como a pessoa se percebe e como se sente notada pelos outros, sob a perspectiva de significados e propósitos compartilhados. Como se vê pela abordagem de Freud, Jung, Erikson e de outros autores aqui mencionados, as relações entre religião e adolescência são bastante pertinentes e relevantes. Zagury (1997) em estudo realizado no Brasil, verifica que o adolescente brasileiro, em sua maioria, apresenta vinculação com algum tipo de religião (87,1%) e frisa ser este um país de fé. Em que pese a INTRODUÇÃO 27 importância que, reconhecidamente, a religião exerce nessa fase da vida, a literatura disponível aponta, sobretudo, para as diversas teorias que se desenvolvem com o objetivo de explicar ou entender a adolescência isoladamente. Estas teorias localizam-se nos seguintes campos: biogenética – Teoria Biogenética de Stanley Hall – 1846-1924; desenvolvimento – Teoria do Desenvolvimento do Adolescente de Arnold Gesell – 1880-1961; descritivo – Teoria Descritiva de Charlote Buher – 1893; antropológico – Teoria Antropológica de Margaret Mead – 1901; psicanalítico – Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud – 1856-1939, além de outros. No entanto, poucos autores propuseram-se a estudar a adolescência, enfocando a importância que a religião tem para esse período evolutivo da vida. Existem inúmeros trabalhos destacando a adolescência em relação às drogas, sexualidade, educação, ensino-aprendizagem, suicídio, vida e morte que se encontram disponíveis. No entanto, em relação à religião, as disponibilidades são menores. Nesse campo, é possível citar o trabalho de Miranda (1988), intitulado Adolescência Final e Religião, um estudo de algumas características da experiência e do comportamento religioso de estudantes universitários de São Paulo, que aborda a religiosidade entre acadêmicos de cursos de Ciências Humanas e acadêmicos de Ciências Exatas, apoiados nas experiências concretas que tiveram com Deus. Outro trabalho é o de Freitas (2002), cujo título é Crença Religiosa e Personalidade em Estudantes de Psicologia, um estudo por meio do questionário Pratt e do Método de Rorschach, cujo objetivo é investigar as possíveis relações entre crenças religiosas e características de personalidade em estudantes de Psicologia da Universidade Católica de Brasília. Existe um estudo que envolve questões religiosas, embora sem destaque específico para a relação com adolescentes, é o de Araújo (2003) - Auto-Exame das Mamas Entre Freiras: o toque que falta. Esta pesquisa discute a influência da moral religiosa cristã a respeito de tudo que envolve o INTRODUÇÃO 28 corpo, visto que a prática do auto-exame e de outros procedimentos de detecção precoce do câncer de mama envolvem o tocar e ser tocada. Outra pesquisa, recentemente publicada, é o trabalho de Vieira de Miranda (2003) que se ancorando na perspectiva de Maurício Knobel e James Fowler, estuda a crise religiosa na adolescência. Como o interesse desta pesquisa é trabalhar diretamente com a adolescência e a religião, enfocando as possíveis influências da religião na estruturação da personalidade do adolescente, serão basilares as perspectivas teóricas de Erik Erikson (1989), Sigmund Freud (1927/1974) e James Fowler (1992). 1.3. Referencial teórico Em comparação às demais fases do desenvolvimento humano, a adolescência é a que gera mais tensões e conflitos. Trata-se de um período de mudanças na vida do indivíduo, sendo, inclusive, responsável por preparar, de certa forma, seu futuro como adulto e idoso. É um momento da evolução humana que liga a infância, fase de menor responsabilidade, a uma tomada de decisões e responsabilidade total. Quanto às práticas religiosas, sob uma perspectiva psicológica, podem ser entendidas sob dois enfoques clássicos: o fenomenológico e o explicativo. O enfoque fenomenológico volta -se para à descrição dos comportamentos religiosos, seus significados e importância para o cotidiano do indivíduo e do grupo social. Este enfoque foi bastante influenciado pelo sociólogo Émile Durkheim, para quem a religião poderia ser entendida como um fato eminentemente social. As representações religiosas seriam, a seu ver, coletivas, pois exprimem realidades coletivas e surgem, unicamente, no INTRODUÇÃO 29 seio dos grupos reunidos, destinando-se a suscitar, manter ou refazer certos estados mentais desses grupos (DURKHEIM, 1912). O fundador do estudo fenomenológico da religião, sob a ótica psicológica, foi Granville Stanley Hall (1904), que se preocupou em descrever os comportamentos religiosos sem qualquer atenção à função ou sentido da religião, em oposição àquilo que se faz hoje. Já a perspectiva explicativa interessa-se pela personalidade e deseja compreender a religião em relação ao que esta oferece de contribuições à organização e dinamismo da personalidade. Esta perspectiva surgiu com Freud e Jung e suas teorias sobre as influências ou relações entre personalidade e religião ou práticas religiosas. Erikson estudou o desenvolvimento da personalidade, inclusive, organizando estágios para melhor explicar as idades do desenvolvimento humano, sendo a adolescência uma delas. Assim, em Erikson, a personalidade humana organiza-se mais pela influência dos conteúdos aprendidos, das vivências psicossociais e menos por fatores hereditários ou forças instintivas. O contato do indivíduo com os pais, com o grupo de amigos, com os freqüentadores de instituições, como escola, igreja, clube, tornam-se fundamentais à estruturação de sua personalidade (ERIKSON, 1968). Segundo o autor citado, o indivíduo, desde a infância até o final da adolescência, tem como sua principal meta o desenvolvimento ou estabelecimento de uma identidade de Ego, que incorpore todasas forças básicas que o cercam. Este desenvolvimento da identidade que ocorre em sua grande parte na adolescência ditará a forma de ser do adulto e idoso. De acordo com Marcia (1966,1980), Erikson deu tamanha importância à adolescência em sua teoria da personalidade que, para esse período, foram identificados cinco tipos psicológicos: realização da identidade, moratória, forclusão ou dissociação, difusão da identidade e realização alienada, conforme a ordem que o indivíduo introjeta esses tipos INTRODUÇÃO 30 psicológicos, estarão mais, ou menos, resolvidos seus problemas de identidade. Além disso, Erikson (1968) afirma que o adolescente, ao entrar nesse novo ciclo vital (adolescência), busca relacionamentos com um conjunto de ambientes que ultrapassa a esfera familiar. Assim é que se aproxima de seus pares, dos adultos, colegas de escola, trabalho, comunidade, incluindo- se, aí a religião. Este conjunto de “novas amizades” irá contribuir para a formação de sua identidade e, por que não dizer, de uma fé, que precisa sintetizar valores e informações. Deus pode figurar entre estas “novas amizades”; quando isso acontece, o comprometimento do jovem com Ele e Sua influência sobre ele exercem um forte efeito ordenador sobre sua identidade e seus futuros valores. Outro autor, cuja teoria embasará esta pesquisa, é Sigmund Freud, que escreveu diversas vezes sobre a influência que a religião exerce sobre o indivíduo. Em 1904, em sua obra Psicopatologia da vida cotidiana, Freud aponta uma questão, em função do ambiente religioso em que cresceu, sobre a psicanálise ser suficientemente capaz de esclarecer fenômenos religiosos, como o mito do paraíso. Em 1907, em um artigo escrito sobre atos obsessivos e práticas religiosas, coloca a religião como neurose obsessiva universal. Esta analogia feita pelo pai da Psicanálise entre neurose obsessiva e religiosidade ressalta as semelhanças, do mesmo modo que as diferencia, a primeira (a neurose) constituindo-se, segundo ele, como expressão do instinto sexual e a segunda (a religiosidade), como expressão do instinto anti-social e egoísta. Em 1913-1914, ao publicar Totem e Tabu, Freud analisa a origem da religião em sociedades primitivas. Em 1927, conclui que a religião é uma ilusão e publica outra obra O Futuro de uma Ilusão. Em 1930, retoma o assunto em O Mal-estar na Civilização. Já no fim de sua vida, publica Moisés e o Monoteísmo, em que, novamente, levanta a questão da relação entre impulsos reprimidos e vida religiosa. Cabe ressaltar que Freud foi sempre muito cuidadoso com questões relativas à religião, tanto é que fez INTRODUÇÃO 31 autocrítica sobre as possíveis conclusões incertas elaboradas sobre o tema, sobretudo, no que se refere ao refutar a imagem viva, concreta e onipresente de Deus. Em 1948, Martin Buber formulou crítica a Moisés e o Monoteísmo. Conforme assinala Finkler (1973, apud MIRANDA, 1988), Buber considera esta obra acientífica e afirma que Freud está, na realidade, mais próximo do Cristianismo do que ele próprio supõe: quando comenta a necessidade do homem conviver em uma comunidade, baseada no amor e quando descobre a energia criadora desse amor dos homens entre si, sua linguagem aproxima-se da linguagem evangélica (MIRANDA, 1988). Freud (1927/1974) considera que a religião é a causa da neurose, pois a experiência religiosa tem seu ponto de partida na vivência edípica e o surgimento de mitos é um mecanismo de defesa que visa compensar a frustração afetiva, o desapontamento pela pobreza de amor dos pais, o que levaria o indivíduo a buscar um outro amor, imutável, eterno, criando, então, o herói, o mito, que o auxiliasse a encarar a incomensurável solidão, o sentimento oceânico que, vez por outra, o invade. Para Thouless, o mecanismo da projeção é uma realidade, mas Freud foi infeliz ao limitar Deus a este. Seu argumento baseia-se no fato de que, se o indivíduo projeta suas emoções em alguma pessoa, isso não significa que ele não tenha personalidade própria. Thouless (1971) apontou, como exemplo, que se é realidade que os ingleses criem uma projeção perfeita de sua rainha, isto não significa que esta não possua existência particular, com características pessoais únicas. Sintetizando, em Freud a religião ou as experiências religiosas são manifestações de conteúdos inconscientes ou a manifestação, na vida consciente, de conflitos inconscientes que se iniciaram nas relações entre criança e pais. Assim, a religião pode ser entendida como uma projeção de conflitos não resolvidos e sua posição sobre experiências religiosas tende a um certo reducionismo e a um naturalismo que procuram explicar a religião apenas em termos de dinâmicas psicológicas. INTRODUÇÃO 32 James Fowler (1992) estuda o desenvolvimento cognitivo e psicossocial da pessoa e suas relações com tipos ou estágios de fé ou construções religiosas. Para ele, a fé faz parte da consciência humana. A fé e a personalidade desenvolvem-se juntas; não são a mesma coisa, porém caminham entrelaçadas. Para Farris (2002), Fowler entende a fé como experiência humana de lealdade e confiança, constituindo-se, essencialmente, como um processo universal humano de construção do significado, que é uma parte integrante do desenvolvimento do Ego ou da personalidade. A fé é a disposição total da pessoa a um referencial definitivo ou a um centro de valor, que dá poder, apoio, orientação, coragem e esperança à vida e pode unir os indivíduos em comunidades de fé. Por ligar-se ao desenvolvimento cognitivo do indivíduo, dependendo da intensidade dessa disposição espiritual, este pode vir a enfrentar a realidade da vida de formas específicas. Estas especificidades poderão vir a revelar, por exemplo, o tipo de influência da religião sobre o adolescente universitário, a população desta pesquisa. O referencial teórico focaliza também os estágios de fé de James Fowler (1992), sobretudo o terceiro estágio, que trata da fé sintética e ou convencional, que ocorre no período da adolescência, quando o indivíduo começa a valorizar e a participar mais do mundo e menos do cotidiano familiar. As novas experiências passam a fasciná-lo, tornando-se um atrativo muito forte em sua vida. Nesse período, a fé precisa mostrar-se, oferecer uma base sólida para a identidade do indivíduo, que começa, então, a se perceber em sua singularidade de pessoa. Este trabalho buscou sustentação nas teorias de Erikson (1968), ao afirmar que a personalidade é uma espécie de resultante dos conteúdos aprendidos; de Freud (1927) que considera a religião como projeção de conflitos não resolvidos e Fowler (1922) entende que a fé ou a religião desenvolve-se com a personalidade, não sendo a mesma coisa, mas, INTRODUÇÃO 33 caminhando, como já foi dito, entrelaçadas. Algumas hipóteses são possíveis de serem lançadas com o objetivo de bali zar a presente pesquisa. 1.4. Hipóteses · Na interação entre adolescente e ambiente religioso, este afeta a personalidade do adolescente; · Dependendo das relações do adolescente com o ambiente durante seu desenvolvimento, a personalidade mostrar-se-á mais, ou menos, sensível às religiões e às influências destas, e estas influências agirão sobre o dinamismo da personalidade, tornando-a mais flexível e adaptável, ou mais rígida, repressora e dogmática; · Adolescentes comprovadamente mais religiosos apresentam tendências para que sejam mais rígidos, moralistas e dogmáticos, características que contribuem negativamente para a organização e integração da personalidade em si e desta com o ambiente. · Adolescentes, reconhecidamente,menos religiosos mostram-se mais flexíveis, com maior condição de reflexão e adaptabilidade ao ambiente, possuindo maior espontaneidade em suas inter-relações sociais. 1.5. Objetivos No sentido de verificar as hipóteses anteriormente levantadas, serão trabalhados os seguintes objetivos: INTRODUÇÃO 34 Objetivo Geral · Verificar a influência da religião na dinâmica da personalidade dos adolescentes universitários constitui-se no objetivo geral da presente pesquisa. Para se atingir o objetivo geral, foram levantados outros mais específicos e particulares, no sentido de alicerçar a compreensão global da influência da religião em adolescentes que alcançaram a universidade. Estes objetivos são: Objetivos Específicos · Avaliar as possíveis características de rigidez, moralidade e dogmatismo ou flexibilidade, reflexão e adaptabilidade da estrutura da personalidade de adolescentes universitários religiosos e não religiosos; · Identificar se existem em adolescentes universitários religiosos e não religiosos, diferenças significativas na organização estrutural da personalidade; · Identificar e analisar se ocorre, de forma mais construtiva e organizadora ou mais dominadora e repressora, a influência da religião no funcionamento da personalidade de adolescentes universitários religiosos. 1.6. Método Esta investigação contou com uma amostra total de sessenta universitários de escolas públicas ou privadas da Grande São Paulo. Os INTRODUÇÃO 35 componentes da amostra situam-se na faixa etária compreendida entre 18 e 23 anos, pois, nas culturas ocidentais, a adolescência estende-se dos 12 ou 13 anos até aproximadamente, 22 e 24 anos de idade, admitindo-se variações, tanto de ordem individual como na ordem cultural, conforme afirma Rosa (1996). Além disso, trata-se da faixa etária, na qual o jovem pode, perfeitamente, alcançar os estudos universitários, uma vez que os alunos do segundo grau são admitidos nas universidades cada vez mais precocemente. A amostra total foi dividida em dois grupos, trinta acadêmicos com vínculos com alguma religião e outros trinta, totalmente, desvinculados de qualquer orientação religiosa. Os dois grupos, de alunos religiosos e não religiosos, foram ainda subdivididos igualitariamente entre os sexos masculino e feminino. Antes de se dar continuidade, cabe uma observação sobre o termo “não religioso” usado para o grupo de jovens pouco vinculados à religião. A expressão não significa que os adolescentes pertencentes a esse grupo não tenham religião, indica apenas que eles pertencem ao grupo “não religioso” desta pesquisa, que não se encaixa entre os jovens religiosos. Em hipótese alguma, trata-se de um julgamento moral ou existencial dos indivíduos pertencentes a um grupo menos religioso, apenas refere-se a uma categoria de pesquisa que necessita ser diferenciada de uma outra, no caso denominada pelo termo “religioso”. Nesta pesquisa, adolescentes são os universitários regularmente matriculados e freqüentando cursos de graduação na Grande São Paulo. As variáveis controladas foram: renda familiar (número de salários mínimos auferidos); turno em que freqüenta a universidade; existência de trabalho profissional concomitante aos estudos: origem domiciliar (capital ou interior) e procedência religiosa da família. O controle foi feito pelas questões de identificação que constam da parte inicial do Questionário de Verificação de Presença de Religião (Anexo II). INTRODUÇÃO 36 Para a organização da amostra, especialmente, em relação à sua divisão entre universitários religiosos e não religiosos, foi aplicado um “Questionário de Verificação de Presença de Religião”, composto de dez perguntas (Anexo II). Os universitários que responderam de modo afirmativo, no mínimo, a 70% das questões e, entre estas, obrigatoriamente, às de número 1, 8 e 10 foram considerados religiosos. Os não religiosos responderam afirmativamente até 30% das questões. A definição destas porcentagens baseou-se no fato de desejar-se que os jovens universitários considerados religiosos possuíssem condutas marcadamente religiosas. Quanto aos não religiosos, admitiu-se a opção por alguma religião, devendo ser claro, contudo, seu distanciamento das práticas presentes em sua religião, bem como seu conhecimento acentuado dos costumes inerentes a ela. Os universitários, cujas respostas ao “Questionário de Verificação de Presença de Religião” atingiram escore entre 40 e 60% de respostas afirmativas, não compuseram o grupo de universitários religiosos nem o de não religiosos, visto que se pretendeu ter como componentes dos grupos aqueles que se posicionaram de forma mais extremada. INTRODUÇÃO 37 1.7. Instrumento de avaliação da personalidade para o levantamento de dados Atualmente, existe uma constância cada vez maior das técnicas projetivas na investigação psicodiagnóstica, apoiadas em pesquisas ou levantamentos clínicos. Verifica-se a contribuição que os métodos projetivos de investigação psicodiagnóstica oferecem à compreensão dos aspectos psicodinâmicos dos indivíduos, proporcionando um rico material a ser usado na análise de casos, tanto para fins clínicos como de pesquisa. 1.7.1. Caracterização das Técnicas Projetivas - Psicodiagnóstico de Rorschach As técnicas projetivas ocupam um lugar de destaque no processo psicodiagnóstico, pois constituem um material ambíguo apresentado ao examinando, possibilitando-lhe ampla liberdade nas respostas ao instrumento oferecido e proporcionando um rico material para análise e interpretação (CARNEIRO et al, 1993). Esta ambigüidade do material pode gerar uma infinidade de conteúdos a serem interpretados (respostas, histórias, desenhos, etc.), que surgem muito mais em função das experiências do paciente que das características do material. Nas técnicas projetivas, o material serve como “estímulo” para expressão dos conteúdos. Segundo Anderson e Anderson (1978), os testes projetivos não fornecem apenas aspectos de projeção, mas, praticamente, todos os mecanismos mentais, tanto expressivos como de defesa. Para eles, esses constituem um rico material de análise sobre o paciente. O termo método projetivo foi introduzido por Franck, em 1939, que logo se mostrou com ampla difusão e emprego; pois designa um conjunto de procedimentos técnicos que visam ao estudo da personalidade dos indivíduos por meio de estímulos pouco estruturados, o que permite ao INTRODUÇÃO 38 indivíduo expressar livremente um sentido particular, produzindo respostas sempre projetivas e passíveis de interpretação de seus processos internos (VAN KOLCK, 1981). Para Anzieu (1984), o sujeito, ao submeter-se ao teste de Rorschach, relaxa o controle consciente de seus conteúdos, podendo expô-los por meio de suas respostas, baseadas em uma conduta oscilante entre concentração e descontração, o que permite a avaliação de suas características mais intrínsecas, bem como o conjunto de defesas que utiliza para poder lidar com elas. As propriedades das técnicas projetivas são caracterizadas por vários aspectos, que lhes são comuns: estímulos pouco ou nada estruturados, respostas bastante ou totalmente livres, abordagem indireta de aplicação, origem teórica fundamentada na psicanálise ou na psicometria, sobretudo aplicação individual, avaliação e interpretação baseadas em pressupostos psicanalíticos ou psicométricos, objetivo como a exploração da personalidade em plano mais profundo e abrangente do que as técnicas objetivas e a exploração de dados globaise integrados da personalidade (BELL, 1982; VAN KOLCK, 1981). Entretanto, qualquer técnica, projetiva ou não, só terá real validade quando planejada com precisão e critérios técnicos e teóricos bem definidos. Desta forma, o processo psicodiagnóstico ou a pesquisa poderá ter maior definição dos conteúdos psicodinâmicos e psicométricos do quadro (ADRADOS, 1982). Em outros termos, após a interpretação de todos os dados e da integração com o conteúdo obtido, pode-se concluir, de forma consistente e segura sobre a personalidade dos indivíduos. É importante ressaltar que o uso de uma técnica projetiva pressupõe um amplo conhecimento do instrumento, alicerçado em uma prática constante e na atualização permanente quanto a esse tipo de técnica. INTRODUÇÃO 39 1.7.2. O Rorschach como Técnica Projetiva O Rorschach é um instrumento psicodiagnóstico de reconhecida validade e profundidade de investigação. Seu material de interpretação possibilita uma análise da personalidade dos indivíduos em termos estruturais, garantindo uma contextualização ímpar do quadro que está sendo investigado. Pelos itens de codificação que permitem um trabalho quantitativo, é possível uma averiguação empírica e estatística de qualquer aspecto da personalidade dos indivíduos sob o enfoque estrutural. Pontuado na análise simbólica das verbalizações, podem-se analisar os aspectos psicodinâmicos da personalidade dos sujeitos podem ser analisados, compreendendo seu funcionamento e relação consigo e com o mundo. 1.7.3. Breve Histórico Em distintas culturas e épocas, foi comum o uso da imaginação nas brincadeiras populares para interpretar nuvens ou manchas de tinta. O primeiro registro do uso de borrões com significado clínico é de 1857 (Souza, 1982; Vaz, 1987). O médico alemão Kerner usava borrões de tinta para caracterizar aspectos de personalidade das pessoas que os faziam, embora importante em termos históricos, seu trabalho mostrou-se limitado, pois não estudou as diferenças individuais dos sujeitos. Em 1895, Binet e Henri desenvolveram uma aplicação de forma mais metodológica no campo da Psicologia Experimental, associando processos de imaginação e fantasias dos indivíduos, mediante a confecção de borrões de tinta. Depois deles, outros autores também desenvolveram estudos com manchas de tinta em várias localidades (SOUSA, 1982; VAZ, 1987). INTRODUÇÃO 40 Hermann Rorschach foi o responsável por uma sistematização a respeito do trabalho com manchas de tinta, focalizando, tanto aspectos normais como outros que envolviam as manchas. Iniciou os estudos com os borrões em 1910. Em 1918, o próprio Rorschach confeccionou e elaborou as pranchas do teste e passou a aplicá-las experimentalmente no Hospital de Herisan (VAZ, 1987). A primeira edição completa do trabalho de Rorschach data de 1921 e está no livro Psychodiagnostik, denominado pelo autor, como métodos e resultados de uma experiência diagnóstica de percepção por meio da interpretação de formas fortuitas. O livro ainda é considerado um clássico do gênero (CABRAL e NICK, 1997). Desde 1921, quando foi publicado o Psicodiagnóstico (RORSCHACH, 1978), que, mais tarde, recebeu o nome de seu idealizador, inúmeros trabalhos foram desenvolvidos e vários autores destacaram-se em um movimento constante de pesquisas e aprimoramento com o instrumento. A maioria dos trabalhos foi de natureza empírica e marcou a técnica com importantes descobertas. Podem ser destacados Beck, Klopfer, Hertz, Piotrowski, Rapaport, Trautenberg, Silveira, dentre outros. Cada pesquisador acrescentou um aspecto próprio à técnica e à codificação dos escores, desenvolvendo o que se chama de Sistema de Classificação. Os sistemas de classificação identificam uma determinada forma de trabalhar com o Método de Rorschach e diferenciam-se entre si, no que tange aos aspectos de análise das respostas e compreensão das vicissitudes do sujeito no momento do teste. A escolha de um sistema de classificação depende da afinidade e identificação do clínico ou do pesquisador. Todos os sistemas possuem seus importantes pontos para a história do desenvolvimento do Método de Rorschach, sem supremacia de um sobre o outro. É possível citar que todos os sistemas de classificação estão corretos, tratando-se apenas de uma escolha técnico-metodológica do uso do instrumento. Neste estudo, utilizar-se-á o sistema de classificação proposto por Exner, em 1994, será utilizado. No Brasil, a primeira utilização do Rorschach data de 1927 e sua primeira publicação científica-brasileira é de 1934 (PEREIRA, 1987). INTRODUÇÃO 41 Observa-se que, em relação ao Rorschach, o Brasil sempre acompanhou o desenvolvimento e estudos sobre essa técnica, tanto é que existem inúmeras sociedades científicas brasileiras com o intuito de agregar profissionais interessados no instrumento. Em 1952, Aníbal Silveira fundou a Sociedade de Rorschach de São Paulo que reúne profissionais que utilizam o sistema de classificação desenvolvido pelo seu fundador. Em 1993, André Jaquemin fundou a Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos, reunindo profissionais e pesquisadores de todos os sistemas de classificação do Rorschach, bem como profissionais e pesquisadores que usam outros instrumentos projetivos de investigação. Dentre um grande conjunto de instrumentos projetivos, cabe ressaltar que o Psicodiagnóstico de Rorschach ocupa, indubitavelmente, uma posição de grande destaque, enfatizada quer pela prática clínica dos profissionais dessa área, quer pela bibliografia e eventos científicos da área (PEREIRA, 1987). 1.7.4. Aspectos Projetivos do Método de Rorschach De acordo com Van Kolck (1981) e com os critérios de classificação das provas projetivas, com base na proposta de vários autores que as designam, segundo suas propriedades e características o Rorschach pode ser enquadrado como uma prova: - constitutiva, quanto ao uso funcional do material, pois o sujeito organiza suas respostas, apoiado em um material não-estruturado; - perceptivo-estrutural, quanto aos processos e aspectos de personalidade envolvidos, pois o sujeito utiliza recursos de percepção para a projeção de suas características apoiado na organização de suas respostas; - visual, quanto à natureza do material usado para estímulo, pois o sujeito entra visualmente em contato com os borrões-estímulo. Em razão das características do Rorschach, o indivíduo utiliza, predominantemente, as sensações visuais, embora possa também recorrer INTRODUÇÃO 42 a outras modalidades sensoriais durante a aplicação, como as táteis (movimentos, tensões, etc.), dependendo dos aspectos personalógicos envolvidos. A organização dos perceptos é resultante do dinamismo psíquico e da projeção, baseada em imagens subjetivas observadas em um contexto concreto (identificação e descrição do que foi percebido) e abstrato (apreensão dos elementos abstratos e essenciais). Assim, o sujeito seleciona aspectos da prancha, segundo referenciais de atenção e afetivos, manifestando-os ao examinador por intermédio de respostas verbais e comportamentos produzidos, oferecendo um rico material de análise, com base no qual é possível avaliar todo esse mecanismo e as características que foram envolvidas (COELHO, 1980). Diante do contato visual com os estímulos articulados nas dez pranchas, utilizando-se dos recursos perceptivos, os sujeitos organizam suas respostas, revelando aspectos estruturais e inconscientes da personalidade extremamente úteis à pesquisa e oferecendo, rico material para encaminhamentos e ao trabalho psicoterapêutico.O material de interpretação mostra-se bastante eficiente, pois os dados obtidos de forma sistematizada e controlada pelas propriedades da técnica, organizados na codificação e análise das respostas dadas, podem ser medidos e quantificados, permitindo um trabalho estatístico e objetivo (ADRADOS, 1982). Assim, obtêm-se resultados claros de comparação que, além de possibilitarem uma análise simbólica dos dados psicodinâmicos das respostas, informam, de forma profunda e contextualizada, a respeito da dinâmica da personalidade do paciente, oferecendo subsídios psicodiagnósticos e prognósticos ao trabalho clínico. Cabe salientar que o instrumento oferece dados por meio de índices de adaptação e psicopatológicos, fornecendo um parâmetro de comparação frente à realidade externa e suas vivências. Estes dados, proporcionam ao psicólogo, possibilidades de diagnóstico diferencial, adaptativo, prognóstico, entre outros. Por essa razão, as técnicas de exame psicológico constituem INTRODUÇÃO 43 um rico instrumento para pesquisas e objetos de pesquisas, demonstrando o crescente interesse dos profissionais e pesquisadores no desenvolvimento de investigações na área (JAQUEMIN, 1997). O Método de Rorschach, dentre outros atributos, é sistematicamente utilizado em pesquisas científicas, seus dados viabilizam importantes perspectivas no desenvolvimento de investigações psicológicas (WEINER, 1986). Há muito tempo, graças a intensas pesquisas nos mais diferentes níveis, o teste garantiu seu caráter científico, configurando-se como um importante objeto e instrumento para a investigação da personalidade dos indivíduos (YAZIGI, 1997). 1.8. Procedimentos Para a organização da amostra que fez parte desta pesquisa, foram contatadas universidades privadas da Grande São Paulo, nas figuras de seus Diretores ou Coordenadores dos diversos cursos de graduação, no sentido de obter autorização para explicar aos alunos desses cursos os objetivos do trabalho em tela. Aos alunos que concordaram ser um possível componente da amostra, foram entregues, por escrito, informações gerais sobre a pesquisa (Anexo I). Além disso, todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I). Não fizeram parte da amostra, universitários com menos de 18 anos, por não terem alcançado o índice de respostas para participar dos grupos de adolescentes religiosos nem não religiosos. Decorrido esse momento de esclarecimentos e autorizações, os participantes responderam ao “Questionário de Verificação de Presença de Religião”, desenvolvido pelo autor desta pesquisa, para, possivelmente, integrarem o grupo de trinta universitários religiosos ou o grupo de trinta INTRODUÇÃO 44 universitários não religiosos, de acordo com os critérios estabelecidos anteriormente (vide amostra). O “Questionário de Verificação de Presença de Religião” é composto por dez questões relacionadas à religião, Deus e práticas religiosas, nos quais os participantes deveriam assinalar como resposta uma das alternativas, sim ou não. O impresso do questionário, na sua parte inicial, comporta dados de identificação e aspectos sociodemográficos dos jovens universitários que serão apresentados e discutidos nas Tabelas 1 a 7. O “Questionário de Verificação de Presença de Religião” foi aplicado em vários cursos de graduação, entre eles, os de Direito, Economia, Administração de Empresas, História, Psicologia, Fisioterapia, Pedagogia, Odontologia, Nutrição, Engenharia e Matemática de Universidades privadas da Grande São Paulo, visando a diversificar os componentes da amostra, inclusive, em termos de formação superior pretendida. Nessa primeira fase (seleção dos componentes da amostra) não se limitou o número de participantes, sobretudo para se garantir a formação de um grupo de trinta universitários não religiosos. Caso um, ou ambos os grupos, apresentasse excesso de participantes, após o emprego dos critérios de formação dos mesmos, fato que não ocorreu, o pesquisador escolheria aleatoriamente os participantes da amostra. A primeira fase de organização da amostra, as informações gerais sobre a pesquisa, a assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a aplicação do “Questionário de Verificação de Presença de Religião”, verificaram-se no primeiro encontro com os alunos. Ainda, nesse mesmo encontro, foi também aplicado, o “Questionário de Constatação Qualitativa”, apenas aos alunos considerados religiosos. Este questionário é uma reprodução parcial daquele preparado no Instituto de Psicologia da USP, para um estudo sobre religião e religiosidade na juventude, tese apresentada em 1988 por Raquiel Andrade Miranda, sob orientação do Professor Doutor Samuel Fromm Netto. INTRODUÇÃO 45 Dessa forma, estas atividades, consideradas brandas e não desgastantes, foram realizadas em um único momento. A aplicação dos questionários foi coletiva em sala de aula destinada pela própria Universidade, foram impressos, distribuídos pelo pesquisador e por mais três colaboradores, todos com formação universitária. Para que fossem respondidos, suas instruções eram simples e objetivas: os alunos preencheram as lacunas de identificação pessoal e assinalaram apenas uma das alternativas, sim ou não, para cada pergunta, conforme sua forma de pensar. Todas as instruções ou respostas das dúvidas foram dadas apenas pelo pesquisador. Os alunos, conforme foram terminando de responder o “Questionário de Verificação de Presença de Religião”, devolveram ao pesquisador ou a seus colaboradores e voltaram a seus lugares. À medida que receberam os questionários respondidos, os aplicadores estabeleceram a porcentagem de respostas “sim” e “não”. Os alunos que assinalaram 70% ou mais de respostas afirmativas e, entre elas, as questões um, oito e dez foram considerados religiosos, assim, estes aguardaram em sala de aula a aplicação do “Questionário de Constatação Qualitativa”. Os que responderam “sim” a até 30% das questões foram considerados não religiosos e agendaram com os aplicadores uma data e horário para se submeterem ao teste de Rorschach e, somente, nessa data voltaram a ter contato com o pesquisador. Foi organizado um caderno-agenda para marcação do horário de testes. Vale ressaltar que os colaboradores foram prévia e uniformemente treinados para o levantamento das porcentagens de respostas das questões do “Questionário de Verificação de Presença de Religião” e suas participações visaram a agilizar a identificação de alunos religiosos e não religiosos. Os alunos, cujas respostas “sim” somaram mais de 30% de todas as questões e menos que 70% foram dispensados de outras atividades, visto que não eram considerados religiosos (70% ou mais de respostas “sim”) e INTRODUÇÃO 46 não religiosos (30% de respostas “sim”, no máximo), portanto, não fizeram parte da amostra. Os alunos considerados religiosos (com 70% ou mais de respostas “sim”, incluindo as questões 1, 8 e 10) passaram, então, a responder ao “Questionário de Constatação Qualitativa”. A esses alunos, solicitou-se que preenchessem a lacuna de identificação e que lessem a instrução impressa no próprio caderno de questões (Anexo III). Conforme foram terminando, entregaram o questionário ao aplicador ou a seus auxiliares e marcaram a data e horário para se submeterem ao teste de Rorschach. No caso desta pesquisa, para verificar as condições gerais da personalidade do adolescente, bem como o possível predomínio de características menos organizadoras e maduras da personalidade, como rigidez, moralidade e dogmatismo ou características mais estruturantes emenos radicais, como a flexibilidade, capacidade de reflexão e capacidade de adaptação à sociedade. O teste de personalidade foi aplicado em todos os componentes da amostra e tanto a aplicação como a interpretação do material seguiu o sistema proposto por Exner. A aplicação do teste aconteceu de forma individual, em local apropriado para esse tipo de trabalho, em espaço cedido pelas universidades envolvidas. O “Questionário de Constatação Qualitativa” (Anexo III) foi aplicado no primeiro encontro e teve como objetivo verificar qual a possível influência sofrida pelo adolescente religioso ao longo de sua vida - se foi mais da família ou da religião. Em sendo desta última, procurou-se verificar o tipo de influência recebida, se mais repressora e restritiva ou mais construtiva e organizadora. Responderam a este questionário apenas os componentes da amostra que fizeram parte do grupo composto por universitários considerados religiosos. O referido questionário compõe-se de duas partes: parte A, um questionário mais pessoal e a parte B, uma escala de julgamento pessoal, INTRODUÇÃO 47 ambos voltados à avaliação qualitativa da religiosidade dos sujeitos universitários, bem como o posicionamento que possuem a respeito de suas respectivas famílias. Especificamente, a parte B colabora para que se tenha uma noção, qualitativa sobre as influências externas que atingem o comportamento do jovem, religioso e não religioso, se estas forem mais oriundas da religião ou da família, notadamente, dos pais. A parte A inclui nove questões afirmativas que versam sobre aspectos religiosos e familiares, devendo cada componente da amostra responder se concorda com ela, discorda ou é neutro / não sei. A parte B, com 28 questões, sete de cunho afirmativo, sete voltadas para a freqüência e outras 14 indicando graus, em relação aos comportamentos pessoais dos jovens, seus posicionamentos sobre a família e religião, solicitando aos componentes da amostra que indiquem escores que variam de zero a quatro, ou seja, de muito pouco a muitíssimo e que melhor traduzam seus pensamentos. O fato de o presente questionário ser uma reprodução parcial do instrumento preparado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo não restringe sua eficiência no presente estudo. Em relação a este aspecto, em particular, vale destacar que o “Questionário de Constatação Qualitativa” teve a função de levantar conteúdos de natureza mais dinâmica da personalidade para complementar os aspectos mais estruturais dessa mesma personalidade obtidos por meio do Método de Rorschach. Torna-se importante esclarecer que, ao se fazer referência aos conteúdos de natureza dinâmica da personalidade, pretende-se apontar a parte mais influenciável desta, ou seja, a mais propensa a mudanças com base nos estímulos externos. INTRODUÇÃO 48 1.9. Previsão de análise de dados O “Questionário de Verificação de Presença de Religião” teve como função exclusiva a seleção dos componentes da amostra, os dados gerais não foram analisados nesta pesquisa. Quanto ao teste de personalidade (Método de Rorschach), que foi aplicado em toda a amostra, as respostas obtidas foram codificadas considerando-se os aspectos propostos por Exner. A codificação das respostas foi realizada por dois juízes, ambos professores de Rorschach e membros da Sociedade Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos, a saber: professor Paulo Francisco de Castro, psicólogo, Mestre em Educação, lecionando o Método de Rorschach há mais de 12 anos e professor Augusto Rodrigues Dias, psicólogo, Mestre em Avaliação Psicológica, lecionando o Método de Rorschach há mais de oito anos. Ambos os professores utilizam o sistema Exner de codificação das respostas. A codificação de cada um dos protocolos foi feita de forma independente pelos juízes. Caso tivesse havido discordância nas codificações, um terceiro juiz, com a mesma qualificação dos anteriores, seria convidado a opinar, fato que não ocorreu. Os dados quantitativos obtidos nos testes (Método de Rorschach) foram tratados, segundo critérios estatísticos dos testes de hipóteses relacionados às possíveis diferenças encontradas entre o grupo de universitários religiosos e universitários não religiosos. Iniciou-se pela análise das médias dos índices encontrados entre os grupos da amostra por meio da hipótese nula/hipótese experimental, passou-se a uma análise de significância não-paramétrica pelo cálculo do Qui-quadrado (LEVIN, 1987). Os dados obtidos nos testes dos adolescentes universitários não religiosos, além de servirem como parâmetro de comparação, para destacar INTRODUÇÃO 49 o predomínio de características típicas dos universitários religiosos, também, descrevem a personalidade dos jovens não religiosos. Após a identificação dos aspectos mais significativos que caracterizam o grupo de adolescentes religiosos, os dados obtidos no teste, apoiados nessas informações, foram relacionados com informações, interpretações psicológicas da personalidade dos adolescentes religiosos, buscando-se delinear o perfil dos mesmos. 1.10. Organização geral do trabalho Conforme já explicitado, esta pesquisa versa sobre a influência da religião em adolescentes universitários, pois seu referencial teórico está calcado nas teorias de Erik Erikson, Sigmund Freud e James Fowler que abordam, respectivamente, a adolescência, a religião e a importância desta para o comportamento das pessoas. Para facilitar o entendimento do leitor, a pesquisa constitui-se das seguintes partes: 1. INTRODUÇÂO 2. ADOLESCÊNCIA 3. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REFERENCIAL TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 4. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 2. ADOLESCÊNCIA ADOLESCÊNCIA 51 Este estudo tem como objetivo discutir a adolescência, uma das etapas mais importantes na vida do homem. Nesse período, o jovem busca, já com a estrutura de personalidade definida organizar sua identidade e, para isso, precisa ter contato com tudo o que faz parte de sua existência. Dessa forma, até o que parece pouco importante contribuirá para o estabelecimento de sua identidade pessoal. Na adolescência, o indivíduo capta as influências de tudo que o cerca. Nesse sentido, pessoas, instituições, coisas ou instâncias como a religião, a moral, o desejo, entre outras, influenciam, indubitavelmente, o adolescente, colaborando para que ele se transforme em uma pessoa que espelhe seu meio e seus entes mais íntimos conforme a estrutura de personalidade que possui, sem perder a própria essência. Esta pesquisa enfoca o adolescente, portanto, é importante destacar a diferença entre os termos adolescência, puberdade e pubescência, para que não haja qualquer confusão entre eles no desenrolar do trabalho, visto que a diferença é bastante sutil. Etimologicamente, o termo “adolescência” deriva do verbo latino “adolescere”, que significa crescer ou desenvolver-se até a maturidade. Durante muitos séculos, foi usado para definir quase, exclusivamente, o desenvolvimento do indivíduo de acordo com seus aspectos biológicos, assim, os termos “adolescência” e “puberdade” funcionavam como sinônimos. Muus (1962) baseou-se em conceitos não só biológicos, mas também psicossociais para definir a adolescência em termos sociológicos, psicológicos e cronológicos. ADOLESCÊNCIA 52 Cronologicamente, nas culturas ocidentais,adolescência abrange o período vital do indivíduo que se inicia em torno de 12 anos e encerra por volta de 24 anos. Estas idades são consideradas como uma aproximação do real de cada pessoa, visto que é necessário considerar as variações individuais e, as culturais, que, interferem diretamente no processo de maturação do indivíduo. Sociologicamente, é o período de transição, no qual o indivíduo passa do estado de dependência de seu mundo proximal ou nuclear, para uma condição de independência, mormente, quando começa a assumir certas funções e responsabilidades próprias do mundo adulto. Por esse prisma, observa-se que a adolescência ou juventude é uma categoria social, ou seja, é algo mais do que uma faixa etária ou uma “classe de idade”, no sentido dos limites etários restritos, conforme Groppo (2000), sem constituir uma classe social. Até porque não existe uma classe social formada, ao mesmo tempo, por todos os indivíduos de uma faixa etária única. Em síntese, a juventude ou adolescência é uma concepção ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelas pessoas tidas como jovens para justificar certos comportamentos, marcas, atitudes e crenças a elas atribuídos. Assim as faixas etárias admitidas ou reconhecidas pela sociedade moderna têm passado por uma série de alterações lingüísticas ao longo do tempo, mais precisamente, nos dois últimos séculos, quando foram registrados numerosos abandonos, retornos, supressões e acréscimos de termos. Apoiadas nessas alterações, as categorias sociais cuja origem eram baseadas em faixas etárias, também, sofreram mudanças e até supressões, passando a ser classificadas pelos termos como “infância”, “adolescência”, “juventude”, “adolescente final”, “jovem-adulto”, “adulto”, “maturidade”, “idoso”, “velho” e, mais recentemente, “terceira idade”, entre outros. Para Groppo (2000), a vida social transcorre ao longo de três momentos básicos: o nascimento, que seria o ingresso do indivíduo na ADOLESCÊNCIA 53 sociedade, um período de transição e a maturidade. Em torno desses três momentos axiais, muitas divisões ou subdivisões foram criadas, recriadas e suprimidas, de acordo com as mudanças sociais, culturais e a mentalidade que acompanham o processo da vida cotidiana. Para Groppo, o período de transição entre a fase de ingresso na sociedade e a maturidade, em que três termos passaram a ser comumente citados: juventude, adolescência e puberdade. Em uma análise inicial, pode-se afirmar que, cada um dos termos se refere ao tipo de transformação que o indivíduo sofre nessas fases da vida, a saber: · A puberdade é um termo criado pelas ciências médicas para referir-se à fase de transformações corpóreas do indivíduo, que era criança e que está amadurecendo. · A adolescência é uma concepção criada pela psicologia e pela pedagogia, para indicar as mudanças, tanto na personalidade como na mente e ou no comportamento do indivíduo em vias de tornar-se adulto. · A juventude é um termo concebido pela sociologia para designar o indivíduo em transição entre as funções sociais da infância e as do homem adulto. Groppo cita que: Em uma análise sociológica mais próxima ao uso cotidiano dos termos e considerando outras utilizações feitas pelas ciências sociais, adolescência e juventude aparecem como fases sucessivas do desenvolvimento individual, a adolescência mais próxima da infância, a juventude mais próxima da maturidade (GROPPO, 2000, p.14). Marialice Foracchi explica bem a distinção entre adolescência e juventude, assim, adolescência é um período de crises e turbulências restritas ao conflito de gerações. Abrange impacto entre indivíduos e grupos específicos de idades diferentes como, por exemplo, entre pais e filhos. Estas crises sofrem uma evolução e, posteriormente, tornam-se uma crise ADOLESCÊNCIA 54 da juventude, transformando-se os “conflitos de gerações” em conflitos sociais (FORACCHI, 1972). Ainda sob o enfoque sociológico, Hollingshead e Groppo (1998, p.10) afirmam que a adolescência é um período da vida de uma pessoa que se define quando a sociedade na qual ela funciona cessa de considerá-la uma criança e não lhe atribui o status, os desempenhos e funções do adulto. Acredita-se que o comportamento adolescente é um tipo de comportamento de transição que depende exclusivamente da sociedade, e mais ainda, da posição que o indivíduo ocupa dentro da estrutura social, e não dos fenômenos biopsicológicos relacionados a essa idade. A adolescência, sob o enfoque psicológico, caracteriza -se como o período da definição da identidade do “eu”, com conseqüências que podem ser tanto sérias ao indivíduo como à sociedade, de acordo com a teoria de Erik Erikson (1998). Quanto à puberdade, tratando-se do estágio evolutivo em que o indivíduo atinge sua maturidade sexual, pode variar, de acordo com Muus (1962), conforme as condições socioeconômicas e geográficas desse indivíduo. Por exemplo, a maturidade sexual tende a ocorrer mais cedo em pessoas que vivem em climas temperados e que pertencem às classes sócioeconômicas mais elevadas. Já o termo “pubescência” refere-se ao período de desenvolvimento fisiológico, no qual as funções reprodutivas como os órgãos sexuais primários amadurecem. Modernamente, a adolescência é um conceito amplo, que abrange mudanças importantes, tanto nas estruturas da personalidade como nas funções que o indivíduo desempenha na sociedade. Não se confunde com a puberdade, na qual a questão biológica aflora; nem com a pubescência, cujas mudanças fisiológicas tornam-se exacerbadas. A adolescência, então, pode ser compreendida como um conceito psicossocial, representando um período difícil no processo de evolução do ADOLESCÊNCIA 55 indivíduo que, então, se ajusta em termos pessoais e sociais, conforme será discutido mais adiante. Assim, a adolescência, como conceito psicossocial, não está limitada aos fatores cronológicos, mas existem sociedades mais primitivas nas quais é considerada como um período bastante curto, que culmina com os chamados ritos de passagem, por meio dos quais o homem é admitido no mundo adulto. Para Muus (1962), nas culturas ocidentais, a adolescência é um período bastante prolongado, cujo término não se pode estabelecer com base em parâmetros etários, mas, de acordo com o contexto sociocultural do indivíduo. Os fatos que, significativamente, marcam o final da adolescência dos ocidentais, são os ajustes empreendidos pelos indivíduos aos padrões de expectativa da sociedade na qual estão inseridos e conforme as perspectivas das populações adultas. Para Hurlock (1975), a adolescência sob o conceito psicossocial é um estágio de transição na vida humana em que o adolescente deixa de ser criança, sem ser considerado adulto, tendendo, em virtude dessa ambigüidade a confundir seu papel social, o que começará a desaparecer a partir do momento em que ficar mais definida sua identidade psicológica. Hurlock (1975), considera que nessa etapa da vida, o indivíduo passa por alterações significativas, caracterizada como um período de relevantes mudanças que o tornam sensível aos acontecimentos mais cotidianos. Assim, algo aparentemente simples e comum poderá lhe parecer difícil e angustiante. Conhecer estas mudanças é um ponto importante para compreensão dos possíveis comportamentos dos jovens. Algumas dessas mudanças serão discutidas a seguir. A primeira grande mudança é o aumento de seu tônus emocional, cuja intensidade está diretamente relacionada à velocidade com que as mudanças físicas e psicológicas ocorrem nele. A segunda grande mudança está relacionadaà sexualidade e ao amadurecimento do adolescente nessa área. É comum que ele se sinta inseguro, tanto em relação a si mesmo ADOLESCÊNCIA 56 como em relação às suas habilidades e interesses, o que gera uma instabilidade amplamente relacionada com o tratamento ambíguo recebido de seu mundo proximal, visto que as pessoas de seu meio passam a vê-lo como adulto, porém tratam-no como criança (ou vice-versa). Como terceira mudança, é possível citar as alterações experimentadas em seu próprio corpo, interesses e funções sociais. No âmbito social, muitas vezes, é difícil discernir com clareza, o que a sociedade deseja ou espera dele. Como quarta mudança, e não por isso menos importante, surgem as mudanças em seu sistema de valores. Nesta fase, certos aspectos que lhe pareciam importantes, perdem status e tornam-se secundários, pois sua capacidade intelectual proporciona-lhe, então, mais condições de analisar criticamente o sistema de valores com o qual convive, ao qual, até então, obedecera de forma quase automática. Agora, porém, o adolescente busca posicionar-se, assumir não apenas responsabilidades, como também a própria posição que lhe é requerida pela sociedade. Apoiado nessa fase, portanto, o indivíduo passa a buscar seus próprios valores, os padrões pessoais de comportamento ético e moral, além de iniciar uma batalha, não só contra posicionamentos sociais radicais que lhe desagradam, como também contra uma possível auto-imagem distorcida, fruto dos posicionamentos sociais a que, até então, esteve submetido, até por questões culturais. Nesse sentido, cabe ressaltar que sua reação volta- se contra certos rótulos culturais que lhe são conferidos, como o “desajeitado”, o “irresponsável”, o “anti-social”, entre outros estereótipos. Por outro lado, o adolescente, talvez por essa implacável crítica social a que é submetido, acaba com freqüência por introjetar e refletir certos estereótipos da sociedade, desenvolvendo comportamentos que acabam por lhe criar vários conflitos com a sociedade em geral. Pensando em termos psicológicos e sensível a esta situação, Aberastury (1981), ao discutir as questões relativas ao adolescente e pelo impacto que estas produzem na sociedade adulta, conclui que a sociedade ADOLESCÊNCIA 57 em si é muito difícil, pouco compreensiva e até hostil no que se refere àquele que, em face de suas próprias transformações internas, quer transformá-la. Para Aberastury e Knobel (1981), o adolescente sente necessidade de fazer parte do mundo adulto e os conflitos que emergem de sua relação com esse mundo, originam-se das dificuldades para integrar-se nele e das inseguranças do adulto em aceitar essa nova geração, que deseja conduzi- lo à autocrítica e à revisão de seus valores. Para Knobel (1981), o problema da adolescência é universal e baseia- se no processo de troca e desprendimento, com forte influência de conotações externas próprias de cada cultura, que facilitarão ou dificultarão seu acesso à sociedade. Aberastury (1981), considera que a palavra adolescência aplica–se especificamente, ao período de vida compreendido entre puberdade e desenvolvimento completo do corpo, ou seja, entre 12 e 23 anos de idade nas adolescentes e entre 14 e 25 anos nos rapazes. De acordo com a autora, as mudanças físicas próprias da puberdade impõem ao adolescente uma mudança de papel frente ao mundo. Caso não ocorram espontaneamente, o mundo, com certeza, exigirá tais mudanças no âmbito psicológico. Assim, esta imposição será interpretada como uma invasão à personalidade do jovem. O adolescente que apresenta mudanças repentinas na transição do mundo infantil para o adulto poderá como defesa conservar suas atitudes infantis. Assim, a grande característica da adolescência é, mesmo involuntariamente, a criança se vendo obrigada a entrar no mundo do adulto primeiramente pelo crescimento e mudanças físicas e, depois, por suas capacidades e afetos. Assim, Aberastury destaca que, com freqüência, os jovens entre 16 e 18 anos mostram-se muito maduros em alguns pontos e imaturos em outros, e este paradoxo ocorre como se fosse um jogo: este jogo de defesas frente ao novo papel e frente à mudança corporal que lhe modifica a posição frente ao mundo externo e o obriga a procurar novas pautas de convivência. O que aprendeu ADOLESCÊNCIA 58 como criança em aprendizagem e adaptação social, não lhe serve mais. O mundo externo e ele mesmo exigem uma mudança em toda sua personalidade frente a esta invasão, a primeira reação afetiva do indivíduo é um refúgio em seu mundo interno; é como se ele quisesse reencontrar-se com os aspectos de seu passado para poder enfrentar depois o futuro. (ABERASTURY, KNOBEL, 1981, p. 89). Este comportamento ocorre para lhe garantir a sensação de segurança diante do desconhecido – afinal, este é sempre gerador de medo e, por conseqüência, de insegurança. Por sua vez, a infância, sendo sua velha conhecida, é concebida como um porto seguro contra todos seus temores e angústias. Assim sendo, não é raro nem patológico que o jovem, vez ou outra, comporte-se infantilmente em seu novo ambiente, na escola ou entre os grupos de companheiros. Estes comportamentos infantis ocorrerão até que o aprendizado, pelo qual passou em toda sua infância com os pais, professores ou outros modelos os vincule novamente ao mundo externo, seu próximo ancoradouro. De acordo com Aberastury e Knobel (1981), “o luto que a criança tem pela infância e por seus pais da infância aproxima o Ego e o mundo exterior”, ou seja, aproxima o indivíduo da nova realidade de adulto, na qual se deve comportar como tal, obedecendo a seu novo corpo, à sua mente e às regras vigentes na sociedade. Toda essa luta em busca de adaptação pode provocar nele forte instabilidade, gerando, conforme destacou Anna Freud (1958 apud ABERASTURY; KNOBEL, 1981), um tênue limite entre normal e patológico. Conforme os autores citados, toda emoção desse período da vida deve ser considerada como normal. Anormal seria a presença de um equilíbrio estável no processo adolescente. Frente à complexidade do exposto, a busca de identidade torna-se mais um desafio ao adolescente, como explica Erik Erikson (1968). Atualmente, todos esses problemas de comportamento são mais graves, como bem destacam Aberastury e Knobel (1981), visto que o mundo está repleto de tensões e ansiedades geradas pelo excesso de ameaças a ADOLESCÊNCIA 59 que as pessoas estão submetidas, sejam elas ameaças originadas na economia, na política, na segurança etc. O indivíduo para bem desenvolver-se necessita de estabilidade, e isso deve ser buscado, empregando todo o conhecimento já existente sobre o homem. Especificamente, quando o alvo é o adolescente, em razão da adolescência ter um caráter universal, são necessários ajustes de acordo com as características dos indivíduos, dos meios sociais, nos quais estão inseridos e das sociedades que os influenciam, mormente, se estas são as latino-americanas que passam por profundas transformações em busca de modernização, industrialização e urbanização. Tratando-se ainda do tema adolescência, também, não se pode esquecer de destacar que é o período dos grandes devaneios, das grandes aspirações, pois, conforme a intensidade da fantasia empregada pelos jovens, pode gerar mais um problema a ser contornado: o distanciamento da realidade. ADOLESCÊNCIA 60 2.1 Características e fatores do desenvolvimento físico e intelectual do adolescente Uma vez que esta pesquisa envolve diretamente o adolescente e seu comportamento, é importante conhecer alguns aspectos de seu desenvolvimento,até como forma para melhor entender suas atitudes perante algumas situações e, até mesmo, sua necessidade de agir de um determinado modo frente às condições que a vida lhe oferece. No processo do desenvolvimento físico da adolescência, há uma acentuada diferença entre os sexos masculino e feminino. Na menina, esse desenvolvimento físico começa e termina mais cedo. Normalmente, entre os dez e 13 anos, passa por um período de intenso crescimento; a partir dessa idade ou período, a evolução tende a ser mais lenta. Já no menino, a fase de maior crescimento começa três ou quatro anos mais tarde e estende-se quase pelo mesmo período da menina. O rapaz tende a desenvolver mais os pulmões e o coração, privilegiando a região torácica, e a moça, a região pélvica. É o desenvolvimento de cada uma dessas regiões que definirá o corpo do homem e da mulher. Em todo o processo de desenvolvimento físico do ser humano, vários fatores estão presentes, entre eles, os genéticos e, sem dúvida, o nutricional, que colaborará para o perfil físico do indivíduo, influenciando a sua auto-imagem, também, na fase do desenvolvimento na adolescência. Este aspecto está sendo abordado porque, pelo menos, em termos de crença generalizada, indivíduos, cujos portes físicos são avantajados, mostram-se mais dominadores, autoconfiantes e dotados de marcantes características de liderança. Por outro lado, as pessoas com formas mais arredondadas são tidas como mais passivas, ternas, afetuosas. Enfim, estes estereótipos não podem ser negados e estão presentes em muitas culturas. Kurtz (1969) afirma que o homem, pelas características de seu porte, (mais alto e peitoral destacado) e como mais ativo em termos físicos, bem de acordo com o que a cultura ocidental espera dele: pois, comparado à ADOLESCÊNCIA 61 mulher, seja mais forte, mais afirmativo e independente. Quanto a ela, que seja mais fraca e passiva. À luz da posição de Kurtz, é possível entender que a imagem que o adolescente tem de seu corpo é resultado das próprias experiências concretas que veio vivendo, bem como de suas fantasias que se originam em parte de seu próprio desenvolvimento físico, em parte da influência do meio, bem como da consciência crescente em relação às expectativas impostas pela sua própria cultura. Nesse sentido, é comum que o adolescente tenha preocupação com o que os outros esperam dele e que assuma uma postura de cobrança pessoal advinda da avaliação sobre sua importância e status adquiridos à luz dos olhos dos demais. Grinder (1973) argumenta que o adolescente percebe seu corpo dependendo diretamente das relações que mantém com outras pessoas, da capacidade de assimilação de novas funções, de sua auto-estima, de sua segurança e de sua capacidade de compreender suas limitações e conviver com as frustrações cotidianas. Todos estes itens, em grande parte, são desenvolvidos no seio familiar, o que confere aos pais fundamental importância nessa fase da vida dos filhos. As observações, muitas vezes sarcásticas, que fazem sobre as características, mormente as físicas dos filhos adolescentes podem deixar neles marcas profundas e desnecessárias. De acordo com Rosa (1996), existem dados de pesquisa que demonstram que a relação do adolescente com seu próprio corpo influencia o conceito que ele forma de si mesmo. Além disso, a opinião de outras pessoas também ajuda na formação desse autoconceito. Quanto a esse aspecto, Cortes e Gatti observaram que rapazes admirados pelas suas condições físicas mostram elevada disposição e motivação para a realização, esforçam-se para fazer o melhor e tentam tarefas mais ousadas e arriscadas, ao passo que, segundo constatações de Broverman e colaboradores (1964), jovens sem grande destaque físico, mas mais ADOLESCÊNCIA 62 amadurecidos, são mais persistentes. Pelos estudos de Kurtz (1969), a menina, independentemente de suas características físicas, é mais atenta aos detalhes do corpo, não demonstrando esse nível de detalhismo diante da profissão. Em síntese, a influência do desenvolvimento físico no comportamento do adolescente, um tópico relevante para este trabalho, indica que o ritmo desse desenvolvimento pode exercer importante efeito sobre o autoconceito do adolescente e seu ajustamento social. Além disso, o adolescente cujo desenvolvimento físico mostra-se mais precoce, tende a receber do mundo adulto e dos próprios colegas de faixa etária determinadas tarefas e responsabilidades que, normalmente, seriam dadas apenas a pessoas cronologicamente mais maduras. Pelas pesquisas de Jones e Bayley (1950), os resultados de testes projetivos realizados em jovens de 17 anos mostram rapazes que amadurecem fisicamente de forma mais precoce, são mais confiantes em si mesmos, mais independentes e capazes de satisfazer às expectativas do mundo a seu redor. Já aqueles, cujo desenvolvimento físico é mais tardio, apresentam forte sentimento de rejeição, grande necessidade afiliativa de ordem heterossexual, são dependentes e acabam por desenvolver posturas rebeldes, sobretudo em relação aos pais. Ainda de acordo com Jones e Bayley (1950), os resultados gerais da pesquisa sugerem que estas características da personalidade, em ambos os casos, tendem a acompanhar o indivíduo durante toda a sua vida. No que se refere ao desenvolvimento intelectual do adolescente, de acordo com Peel (1965), o mesmo ocorre com base em sua necessidade de manter o equilíbrio cognitivo em relação ao meio, ou seja, são as experiências concretas vividas por ele que fomentam esse desenvolvimento, em particular. Pela teoria do desenvolvimento cognitivo (PIAGET, 1969 apud RAPPAPORT; FIORI; DAVES, 1981), o amadurecimento biológico do adolescente torna possível a aquisição das operações formais que ADOLESCÊNCIA 63 representa o auge do processo do desenvolvimento cognitivo e depende da interação do organismo com o meio. A aquisição das operações formais é necessária, de acordo com Piaget para todo o processo de ajustamento social do adolescente. 2.2. Desenvolvimento psicossocial Para Rosa (1996), a definição da identidade de cada indivíduo, é de grande importância na adolescência e, para tanto, são considerados não só os fatores biológicos, mas também os fatores sociais. Neste período específico da vida, o corpo do adolescente passa por consideráveis mudanças físicas e é tomado por impulsos sexuais. Nessa fase da vida, o jovem percebe-se próximo ao comportamento íntimo com a pessoa do sexo oposto e com um mundo rico de possibilidades conflitantes. (ERIKSON, 1968). Assim, é importante que conviva com seus atributos físicos e sexuais (novo corpo e desejos) e adquira uma nova noção de unidade pessoal, de modo a poder estabelecer um novo conceito de si mesmo. Quando a sociedade facilita-lhe essa tarefa, reconhecendo a universalidade das alterações pessoais próprias dessa fase de vida, torna-se mais simples a reorganização desse autoconceito. Para os antropólogos, as culturas que procuram facilitar a aquisição do autoconceito por parte dos adolescentes, são aquelas em que existe o chamado “processo de continuidade”, bem diferente das sociedades pluralistas, caracterizadas pela descontinuidade com prolongamento da adolescência e grande variedade de escolhas, que tornam bastante difícil a tarefa de reorganização do autoconceito. O conceito de identidade de Erikson possui duas pilastras importantes: a primeira, diz respeito à avaliação que o indivíduo faz de si ADOLESCÊNCIA 64 mesmo; a segunda, à relação existente entre seu autoconceito e a imagem que dele fazem as pessoas quelhe são relevantes, ou seja, a imagem que pessoas especiais fazem dos papéis ou funções que o indivíduo assume perante a sociedade. Ao atingir a adolescência, o indivíduo já terá desempenhado uma série de funções ou papéis perante os grupos sociais, pelos quais regularmente já passou: família, grupo de amigos ou parceiros, escola, igreja, clube. Em cada um desses grupos, deparou-se com pessoas que lhes apontaram seus papéis e as expectativas a seu respeito, recebendo dessas mesmas pessoas o reforço que exibia o comportamento esperado. Dessa forma, os padrões de comportamento desejados são estabelecidos, geralmente, pelos pais, companheiros e professores, possibilitando que, a partir daí, o próprio jovem avalie seu desempenho. No período de infância, o autoconceito revela basicamente o que os pais, irmãos, professores avaliam sobre a criança. Como afirma Rosa (1996, p.86-7), “o eu da criança reflete, de modo relativamente simples, o mundo imediato das pessoas importantes de suas relações e é baseado, essencialmente, na identificação da criança com estas pessoas significativas”. Por sua vez, o adolescente, tendo em vista seu amadurecimento biológico e seu desenvolvimento cognitivo, consegue rever seu autoconceito infantil, adaptando-o à sua nova visão de mundo, seus valores de cunho moral e até suas perspectivas de interação social futura. Cabe destacar, contudo, que existem inúmeras formas de o adolescente estruturar sua personalidade, visto que existem muitos fatores que organizam o processo de identidade. Por exemplo, alguns jovens tentam modificar a sociedade, de acordo com seus interesses e necessidades. Estes, geralmente, se frustram quando se deparam com a realidade e verificam que nem tudo ocorre, como desejam. Outros buscam mudanças pessoais como forma de se adaptarem à sociedade, demonstrando um certo ADOLESCÊNCIA 65 grau de conformismo ou resignação. Nestes casos, geralmente, há uma menor tensão e ansiedade, mas sem problemas à sociedade. Outra forma de organização da personalidade é aquela que o indivíduo entende poder desenvolver suas qualidades pessoais, assim como suas potencialidades, o que pode conduzi-lo a atitudes radicais, ou melhor, ao fenômeno que Erikson chamou de totalismo na formação da personalidade. De acordo com Erikson, esse fenômeno pode fazer do adolescente um seguidor de movimentos totalitários ou de ideologias direitistas ou esquerdistas. Nestes casos, mudanças decorrentes do processo evolutivo ameaçam a integração do autoconceito do adolescente e ele estrutura seu Ego com características de rigidez, fanatismo e atitudes extremistas. O autor citado percebe que a identidade, em processo de definição, está sob ameaças externas ligadas ao desenvolvimento histórico, ou mesmo, tecnológico, podendo apoiar-se em qualquer tipo de doutrina que lhe permita desenvolver-se. Entre essas tem-se o nacionalismo patológico, o racismo, os preconceitos de classe, que lhe darão condições de conviver com os supostos inimigos da recém-adquirida identidade. A definição da personalidade também pode apoiar-se nos grupos de parceiros, com o adolescente aceitando as propostas destes, bem como as normas do grupo de parceria. A partir desse apoio, há o afastamento do seio familiar e o jovem deixa de ser dependente da família em um momento no qual ainda necessita do amparo, controle e até de autoridade externa. Pode-se ver que a necessidade de ajuda externa foi apenas substituída. Por um lado, saiu a família e, por outro, entrou o grupo de parceria. Apesar da troca, o indivíduo continua a necessitar das formas externas de controle. Para Erikson (1968), a partir do momento que o indivíduo definir sua identidade, passará a sentir uma sensação de bem-estar pessoal, vontade para reconhecer o que deseja e quando quer, ganhará segurança e lidará bem com o que os outros pensam a seu respeito. Revelará, portanto, ADOLESCÊNCIA 66 adequado nível de auto-estima, que possui uma correlação com a definição da identidade. Em geral, adolescentes de baixa auto-estima sentem-se rebaixados, apresentam personalidade instável, sem um ponto de referência consistente que lhes possibilite avaliar realisticamente suas experiências e as alheias. Geralmente, são vítimas de alguma ansiedade e para se protegerem, buscam certo isolamento. Esta condição interna faz com que se tornem frágeis a qualquer tipo de crítica, preocupados com as opiniões alheias e sujeitos a se ofenderem com facilidade. Mostram-se também submissos e com sentimentos de menos valia, sendo desajeitados na relação com outras pessoas. Como conseqüência, muitas vezes, não despertam no outro o respeito e a admiração que esperariam. No âmbito escolar, esse tipo de adolescente é impopular, não participa de programas sociais próprios desse contexto nem de grupos ou discussões formais ou informais com os colegas. A definição da personalidade, especificamente, do adolescente pode obter subsídios nos grupos de parceiros ou em seu pensamento moral, que é um outro fator social. Como os conceitos morais não seguem padrões determinados pela idade do indivíduo, existem adolescentes em distintos estágios desse processo evolutivo (sobretudo em razão das diferenças individuais). No entanto, não se conheceu com exatidão os motivos pelos quais alguns desenvolvem mais que outros o raciocínio moral. A hipótese mais viável para explicar a razão de um indivíduo atingir um nível mais elevado de raciocínio moral está ligada ao desenvolvimento mais consistente do pensamento formal no processo de desenvolvimento cognitivo. A definição de personalidade é o resultado de uma série de fatores, ou seja, tudo o que se disser sobre o processo de ser ou tornar-se é de caráter probabilístico, embora seja válido e importante teorizar-se a respeito dessa questão. Por isso, entende-se como necessária a apresentação de ADOLESCÊNCIA 67 algumas posições teóricas sobre o desenvolvimento da personalidade do adolescente. Sigmund Freud (1958) concebe a adolescência como o último estágio do desenvolvimento psicossexual, ou seja, como a fase genital. Para ele, é o período responsável pela forma final da identidade, no qual o indivíduo passa do amor narcisista das primeiras fases do desenvolvimento ao amor por outras pessoas. Nessa fase, os pais, embora com uma influência menor, continuam a exercer um papel importante na provisão do amor, na orientação consciente e realista do indivíduo. Harry Stack Sullivan (apud FOWLER, 1992), considera que a adolescência é a fase final de estabilização da identidade do indivíduo, que começa com as relações de companheirismo entre os adolescentes, que os capacita a refletir e alterar seu autoconceito. De acordo com a teoria, nesta fase, o indivíduo conquista a capacidade de se envolver em uma relação interpessoal, adquirir conhecimento vocacional e contribuir favoravelmente ao bem-estar da comunidade, na qual se encontra inserido. Erik Erikson (1968) observa que a adolescência é o estágio em que a identidade e a auto-estima constituem o núcleo central do indivíduo; nesse estágio, o adolescente enfrenta a crise de identidade, centrada no conflito entre o que ele espera de si mesmo e como sente que os outros pensam dele. Nesse período, precisa realizar uma série de eventos que, além de serem complexos, ocorrem juntos em um pequeno espaço de tempo, assim, ele necessita incorporar à sua identidade seu novo físico e atributos sexuais, estabelecendo objetivos mais definitivos de vida e conseguindo encaminhar- se, naturalmente, para a escolha profissional adequada à sua auto-imagem, além de, simultaneamente,introjetar as expectativas e percepções dos outros a seu respeito. Como se pode observar, na visão de Erikson, a adolescência é um estágio bastante complexo, durante o qual praticamente um novo ser deve ser incorporado por um ser, até então, quase que inteiramente infantil. ADOLESCÊNCIA 68 Fromm (1950) afirma que a adolescência é a fase em que o indivíduo luta em busca do estabelecimento de sua identidade, e essa luta é a continuação de um dilema para expressar-se como indivíduo e fazer-se ouvir baseando-se em suas peculiaridades, pois é grande sua necessidade de relacionar-se com pessoas que lhe são importantes, afetivamente ou como modelos. Nessa fase, a sexualidade emerge, como a grande possibilidade de expressão de sentimentos de ternura, amor e até compaixão. A escolha profissional que, rotineiramente, acontece aí, é vista como um passo importante, já que propicia ao adolescente o senso de criatividade e realização. (FROMM, 1950). 2.3. O adolescente no contexto da família Na busca de conhecer com detalhes a adolescência e o adolescente, é importante, nesta fase da pesquisa, conhecer o adolescente, inclusive, sua dinâmica no contexto familiar. Como se pode ver, ele está em um período da vida, no qual já conquistou alguma autonomia em relação à infância, mas ainda não é tão livre como um adulto, sobretudo, no que se refere ao processo de socialização. Esta autonomia ainda restrita deve-se ao não total desenvolvimento de certas atitudes e habilidades facilitadoras de seu trânsito na sociedade. A família pode contribuir com o oferecimento dos padrões culturais acumulados ao longo dos anos, bem como com o preenchimento de suas necessidades fundamentais, preparando-o de modo eficiente para a vida em sociedade. Desde o século XIX, é inegável que a família vem passando por inúmeras transformações, desde a divisão do trabalho até sua administração emocional. Entretanto, cabe ressaltar que a família nuclear continua ADOLESCÊNCIA 69 prevalecendo na maioria das culturas ocidentais, ou seja, determinados princípios éticos e morais estabelecidos nesse ambiente continuam funcionando, como estabilizadores ou instrumentos de equilíbrio da sociedade. Recentemente, com a maior participação da mulher no mercado de trabalho e, como conseqüencia, no sustento da família, algumas mudanças começam a ser traçadas sobretudo no que tangem às relações afetivas familiares. Em que pese tal participação, ainda é notório que, em termos educacionais, os padrões tradicionais continuem presentes, ou melhor, a menina passa a ser preparada para ser eficiente nas relações interpessoais ou, como afirma Merval Rosa (1996, p. 94), “preparada para ser boa filha, boa esposa, boa mãe. Deve ter o equilíbrio emocional para proporcionar o bem-estar da família”. Quanto ao menino (alvo da educação), deve ser orientado para a realização pessoal e profissional, prover a família, ser eficiente e competente, além de adquirir o controle racional do meio em que vive. Hurlock (1975) discute a importância da família na formação da personalidade do adolescente, afirmando que as relações entre adolescentes e demais membros da família estão fadadas a degenerar, conforme os primeiros chegam à adolescência. Os motivos para esta degeneração relacionam-se ao fato de que certos pais não conseguem admitir o crescimento de seus filhos, tratando-os como crianças, fato que os irrita profundamente. Além disso, alguns desses adolescentes não assumem seu crescimento e negam-se a adotar determinadas responsabilidades próprias da nova fase de vida em que se encontram, irritando, dessa forma, os familiares que enxergam neles um adulto com comportamentos infantis. Quando se escreve sobre o adolescente, é impossível fazê-lo sem tocar na relação entre ele e sua família ou, mais especificamente, no conflito entre gerações. De acordo com Rosa (1996), este conflito constitui uma fissura entre as gerações, resultado de profundas mudanças nas escalas de valores e padrões de comportamento que ocorrem em qualquer cultura em ADOLESCÊNCIA 70 transformação como a do mundo moderno, atingindo, portanto, as gerações de pais e filhos, cada uma colocando em confronto os valores que vivenciaram ou estão vivendo. Assim, é comum que adolescentes e pais verbalizem queixas recíprocas; no entanto, há de se reconhecer que, por um lado, estes se queixam de não serem compreendidos, por outro, também, são difíceis de aceitar deveres e responsabilidades. As relações entre pais e adolescentes, geralmente, começam a melhorar a partir do momento em que os pais são capazes de reconhecer que seus filhos cresceram ou, pelo menos, deixaram de ser crianças como eram durante as primeiras fases do desenvolvimento. Este reconhecimento, por si só, altera a postura de ambos. Os primeiros começam a conceder alguns privilégios e dos últimos é esperada a incorporação de certas responsabilidades e participação. Observa-se que outra possibilidade de alteração comportamental que melhora a relação entre pais e filhos ocorre quando os pais conseguem compreender os novos valores culturais da geração de seus filhos, entendendo que estes pertencem a um mundo e a uma realidade distinta daqueles em que eles, pais, viveram quando eram adolescentes. Além dessas relações tensas entre pais e filhos, motivadas por questões culturais, os métodos disciplinares ou primitivos implantados no ambiente familiar podem ser outro fator gerador de tensões. Disciplina bastante rígida ou do tipo mais infantil, geralmente, provoca a rebeldia do adolescente como forma de posicionar-se contra tais métodos, o que pode trazer sérios transtornos à família, em geral, e às relações interpessoais, conforme afirma Hurlock (1975). Vale ressaltar que o adolescente carece vivenciar a adolescência, bem como a infância da forma mais tranqüila possível, ou seja, com a presença constante da família, quer em termos afetivos e morais, quer em termos presenciais, ou melhor, com o contato próximo entre pais e filhos acontecendo de forma rica. Dessa maneira, espera-se que a escola e, mais ADOLESCÊNCIA 71 precisamente, a Universidade não sejam encaradas como o local de fuga do adolescente em relação à vida, à família e às normas disciplinares, etc. As normas disciplinares, fatores tão importantes como a família na formação do indivíduo, tornam-se ainda mais essenciais e eficientes, conforme a magnitude moral da fonte de que se originam. Entretanto, como muitos pais e professores não possuem autoridade moral para determinar comportamentos a seus filhos e alunos, deixam de ter sobre eles o poder do modelo positivo. Esta questão pode ser melhor explicitada, observando-se as discrepâncias que o adolescente, muitas vezes, verifica em termos de valores, entre algumas verbalizações de seus pais e professores e aquilo que é praticado por eles. Como conseqüência perante o adolescente, eles perdem a credibilidade e, ao mesmo tempo, tendem a se enfraquecer ou até a anular os valores do jovem. A esse respeito, para Hurlock (1975), a ambigüidade e a inconsistência do comportamento dos pais e educadores são as principais causas da confusão e da indisciplina na família e na sociedade, em geral, podendo-se inferir daí que a desestruturação ou fragilidade de muitos adolescentes tem seu berço no lar, correndo o risco de prolongar-se na escola e em outros grupos sociais menos restritos. Outro elemento gerador de tensão entre pais e filhos é a atitude crítica, geralmente, adotada pelo adolescente no ambiente familiar, sobretudo, nesse período em que sua capacidade intelectualmostra-se bastante ativa, embora nem sempre acompanhada de maturidade. A situação de alta capacidade intelectual e baixa maturidade, geradora de rígidas posições críticas em relação aos pais, vai-se amenizando, segundo Hurlock (1975) conforme o adolescente amplia seu processo de amadurecimento. A partir daí, torna-se capaz de empreender novas interpretações do comportamento peculiar ao mundo adulto. ADOLESCÊNCIA 72 Outro fator capaz de desestabilizar as relações entre pais e filhos é o ressentimento do jovem quanto às possíveis injustiças cometidas em relação a ele pelos pais ou pela própria sociedade. A mídia muito colabora para o despertar de tais sentimentos, com base nas diversas propagandas que veicula em relação a roupas de marcas e outros bens materiais que inebriam os jovens em formação, em especial, os mais influenciáveis e com mais dificuldades de conviver com os atrativos do meio e as frustrações inerentes ao cotidiano. Neste aspecto, o papel estruturador da família, mormente dos pais, é fundamental ao desenvolvimento do adolescente e da estrutura de personalidade que dele será cobrada no decorrer da vida. Cabe a ela, portanto, a apresentação de limites e a compreensão de críticas imaturas que ele, muitas vezes, manifesta como resultado da pressão do ambiente a que está exposto. 2.4. O adolescente e a escola Este estudo, ao voltar-se ao adolescente e de modo mais preciso, às influências que a religião pode exercer sobre ele, não poderia deixar de considerar também o papel formador da escola, uma vez que nela passará grande parte de seu tempo de vida. Realmente, considerando-se uma pessoa que segue uma trajetória comum de vida, que cumpre com normalidade sua vida escolar desde, aproximadamente, o período entre cinco e sete anos de idade, na qual a instituição escolar passa a integrar sua estrutura mental e contribuir para a formação de sua identidade. Assim, como a igreja, o clube, os vizinhos, amigos, colegas, também, a escola faz parte do sistema social do indivíduo comum e este tem plena consciência disso. ADOLESCÊNCIA 73 Jersild (1961, p. 321) apresenta, a relevância da escola na vida do adolescente: A escola exerce uma poderosa influência ao modelar o conceito que o adolescente tem de si próprio e da pessoa que virá a ser no futuro. Durante os vários anos que já viveu na escola, ele teve muitas oportunidades para pôr à prova as suas forças e descobrir as suas capacidades e limites. Já teve oportunidade para sentir o sabor da vitória e do fracasso, o que significa ser aceito, ignorado e rejeitado. A escola oferece incontáveis oportunidades para que o jovem se sinta altamente orgulhoso de si mesmo, à medida que ele cresce em entendimento, em habilidade e em capacidade para pôr-se em contato com os outros. Por outro lado, a escola é também um lugar em que muitos adolescentes têm oportunidade para aprender o significado da expressão ‘sentir-se envergonhado por si próprio’, porque a escola, além de ajudar os jovens a vencer na vida, também oferece inúmeras oportunidades de fracasso. O autor citado concebe a escola não apenas como facilitadora de vitórias, mas também como lugar de possíveis fracassos, evidencia a importância dessa instituição no processo de desenvolvimento social do adolescente, oferecendo-lhe possibilidades constantes de interação social com grupos de parceria e professores. Assim, a escola é o espaço, em que ele aprende a lidar com regras que representam os limites encontrados ao longo da vida, com frustrações, bem como com figuras de autoridade. Sua importância pode chegar até uma instância nem sempre pensada pelos estudiosos. Além disso, como indica Rosa (1996), essa instituição é importante na própria definição da identidade sexual do adolescente, visto que é, em especial, nesse ambiente que ele começa a relacionar-se de forma mais intensa com elementos do sexo oposto. Ainda com base no pensamento de Jersild (1961), o ambiente escolar contribui não só para formação do autoconceito do adolescente, mas também de sua autocrítica em relação às habilidades, potencialidades e objetivos revelados ao longo de seu desempenho como discente. Embora em algumas oportunidades, em razão de seu baixo rendimento escolar, esta ADOLESCÊNCIA 74 autocrítica possa ser negativa, na maioria das vezes, apoiada em sua relação e experiências na vida escolar, que lhe serão úteis em suas decisões da vida adulta, ele será capaz de ser realista consigo mesmo e com as coisas que o cercam. 2.5. Características da cultura adolescente: alguns comportamentos adolescentes Na sociedade contemporânea, particularmente, no Brasil, o número de adolescentes é bastante grande, em que pese o já anunciado “envelhecimento“ brasileiro. Assim, é cabível que se fale da “cultura adolescente”, considerada como o conjunto de elementos sociais como a linguagem, a moda, a música, os ídolos, típicos dessa fase específica da vida do indivíduo. Para Eisenstadt (1962), a adolescência é um período no qual são promovidas reações coletivas peculiares a interesses e problemas comuns. Assim, pode-se dizer que a cultura adolescente fundamenta-se no seguinte tripé: a) a pouca importância atribuída à idade como critério de distribuição de funções; no mundo moderno, significa que não mais existe a concepção de que o aumento de idade é condição básica para aumento das responsabilidades; b) união dos adolescentes em busca de apoio mútuo, com tendência para busca de apoio emocional maior no grupo de parceria do que na própria família. Dessa forma, cabe mais aos companheiros ajudar na definição da identidade, na consecução da autonomia pessoal e na transição definitiva para o mundo adulto. ADOLESCÊNCIA 75 c) concepção secular de tempo, favorece a idéia de viver-se o presente e a realidade social vigente, com o abandono do planejamento a longo prazo que é, aliás, característica pouco comum entre os adolescentes em geral. Cabe ressaltar que a adolescência, por si só ou por influência da cultura adolescente, que acaba de ser apontada, é uma fase da vida que expõe o jovem a certos comportamentos que tanto podem aproximá-lo de alguns valores como afastá-lo de rumos mais tradicionais e talvez até legais da vida cotidiana. De acordo com Parsons (apud GRINDER, 1973), estes comportamentos baseiam-se na busca do prazer e da negligência às responsabilidades supostamente já incorporadas à sua vida. Outro comportamento ligado à cultura adolescente é a passividade, que pode levar o indivíduo a aceitar tudo o que lhe é imposto sem o menor indício de relutância. Nesse caso, os valores morais, econômicos e até políticos da sociedade são assimilados sem o estabelecimento de qualquer crítica ou posição. Finalmente, existe a atitude de alienação e protesto manifestada, geralmente, por comportamentos rígidos que expressam a desilusão e o descontentamento do adolescente em relação à sociedade – geralmente, são atitudes de afastamento social ou de tentativas nem sempre bem planejadas de mudanças sociais, como as dos grupos hippies da década dos sessenta, bem como o crescente apelo às drogas que expressam bem esta situação. Todos estes comportamentos que sofrem a influência da “cultura adolescente”, podem ser implantados no jovem com maior ou menor facilidade; possivelmente, a família, a escola, a religião e os grupos de parceria são quem determinam esse ritmo de implantação. Particularmente, os grupos de parceria, tão presentes e influentes na vida do j adolescente, possibilitam-lhe iniciar sua caminhada em busca da definição de suaidentidade, podendo, inclusive, levá-lo a renunciar aos valores, até então, adotados sobretudo nos casos em que, rejeitado pela família, o adolescente ADOLESCÊNCIA 76 tem necessidade de ser aceito por algum grupo que lhe seja psicologicamente importante. 2.6. A concepção sócio-histórica de adolescência A discussão do termo “adolescência”, assunto deste capítulo, foi desenvolvida de acordo com a postura mais positivista e idealista que tem caracterizado a Psicologia como ciência. Segundo ela, os fenômenos humanos e sociais são regulados por leis naturais que independem da ação do homem e orientam-se pelo modelo da objetividade científica. Bock, Gonçalves e Furtado (2001) afirmam estar buscando uma saída teórica que supra as visões naturalizantes da adolescência (tudo é típico da idade), que são dominantes na Psicologia e tornam irrelevantes as circunstâncias sociais de fenômenos como a adolescência. Sob esta perspectiva, a realidade social é imutável e na Psicologia não são valorizados aspectos que até podem ser fundamentalmente sociais. Nesse sentido, a visão sócio-histórica entende o indivíduo como um ser histórico, formado ao longo do tempo que leva em consideração suas experiências, relações sociais e condições socioculturais promovidas pela própria humanidade. Esta concepção coloca a adolescência em uma posição de vanguarda em relação à concepção vigente, conforme deixa de ser vista como algo abstrato, natural em si para ser analisada como uma fase que se desenvolve na sociedade e que faz parte da história da humanidade. Para os autores acima citados, a visão sócio-histórica, “despatologiza o desenvolvimento humano na medida em que o torna histórico” (2001, p.167). A adolescência, como tal, passa a ser vista em seu próprio ritmo e suas peculiaridades são compreendidas a partir do processo histórico que constitui, até então, o indivíduo. ADOLESCÊNCIA 77 Dessa forma, as características de cada adolescente terão explicações e fundamentos em seu próprio desenvolvimento, aliado, logicamente, às suas características mais pessoais. Em síntese e de forma mais importante, esta fase da vida não seria mais analisada apoiada no em si, como se características brotassem, naturalmente, conforme ele fosse atingindo determinada idade, mas teria explicações nas relações sociais e na cultura (não simplesmente no indivíduo). 2.7. O conceito de adolescência sob o enfoque sócio-histórico Antes de explicitar o conceito sócio-histórico de adolescência, Bock, Gonçalves e Furtado (2001) procuram responder às seguintes questões: 1. A adolescência existe? 2. Há características naturais na adolescência? 3. O que é a adolescência? Em relação à primeira questão, a Psicologia Sócio-Histórica acredita na existência da adolescência, contudo não como uma fase natural do desenvolvimento humano, entende que é criada historicamente nas relações sociais, em forma de um fato passando a fazer parte da cultura e tendo seu significado determinado. Quanto à existência de possíveis características naturais na adolescência, os autores respondem que elas não existem, visto que esse não é considerado um período natural do desenvolvimento, mas, um momento interpretado pelos homens. Explicam que mesmo as marcas do desenvolvimento físico associadas à adolescência não devem fazer dela um ADOLESCÊNCIA 78 fato natural, pois até elas possuem significados sociais, atribuídos no e pelo contexto espaço-temporal vivido pelos jovens. O surgimento dos seios nas meninas e da musculatura nos meninos, por exemplo, eram vistos, no primeiro caso, como preparação para amamentar e, no segundo caso, como força de trabalho. Atualmente, em ambos os casos, este desenvolvimento está ligado à sensualidade e sedução. Assim, o jovem não é algo por natureza, mas a força social está muito presente, construindo significações para a formação da identidade e do próprio indivíduo. No que se refere à terceira questão (“O que é adolescência?”), a abordagem sócio-histórica concebe que, para responder é preciso se buscar compreender que a totalidade social implica a formação de uma determinada adolescência (não de um conjunto de características do jovem). Neste momento, cabe discutir rapidamente a posição de Clímaco (1991) sobre o surgimento da adolescência. A autora entende que fatores dos âmbitos social, econômico e cultural foram os grandes partícipes desse surgimento. Na sociedade moderna, a sofisticação tecnológica, exigindo mais estudo dos indivíduos levou, conseqüentemente, um grupo de jovens a passar mais tempo na escola, retardando o início da vida produtiva (profissional). A própria sociedade capitalista, sempre com déficit de empregos, exige maior aperfeiçoamento do indivíduo, impondo-lhe mais estudos e também, por conseqüência, um tempo maior até iniciar-se profissionalmente. Na sociedade moderna, aumentou-se o tempo de vida das pessoas, fato que as tornou produtivas por um período maior, exigindo- se mais do mercado de trabalho. Apenas com esses dados gerais já é possível concluir que as crianças e jovens estão permanecendo mais dependentes da família, sem ingressar no mercado de trabalho. Em conseqüência desse novo formato social, o indivíduo acabou permanecendo mais tempo em preparação na escola, portanto, mais longe da família e mais próximo de “um grupo de iguais”, conforme identifica a autora. Dessa forma, a sociedade ganhou um novo ADOLESCÊNCIA 79 grupo social, a adolescência, com padrões específicos de comportamento. Como diz Adélia Clímaco (1991, p.169): A adolescência se refere, assim, a esse período de latência social constituída a partir da sociedade capitalista, gerada por questões do ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico. A partir dessa nova situação, assiste-se a uma grande contradição que constitui e caracteriza a adolescência: o jovem apresenta toda condição de fazer parte do mundo adulto, possuindo força e capacidade para tal, em termos cognitivos, afetivos, produtivos e de reprodução. No entanto, a sociedade o impede de concretizar essa ação, o que implicará um retardo na obtenção da autonomia, na aquisição de condições de auto-sustento e, até mesmo, de amadurecimento pessoal, mantendo-o mais tempo sob a tutela adulta. A visão sócio-histórica indica essa experiência rica em contradições, como geradora das características próprias da fase adolescente: rebeldia, insegurança, instabilidade, busca da identidade e conflito das mais variadas espécies, além de onipotência, por falta de oportunidades para testar os próprios limites e impossibilidades. Como se pode perceber, todas estas características não são naturais do indivíduo e, sim, históricas, ou seja, foram geradas pelo processo histórico da sociedade, que pode, ou não, se transformar, dependendo das condições materiais da vida de um grupo social específico. Por tudo isso, é que para a posição sócio-histórica da Psicologia, a Psicologia tradicional deve entender a adolescência não como algo natural, mas como aquilo que foi oferecido aos jovens pelas relações sociais, pela família, pelas mídias, pela literatura e pela própria Psicologia. Ainda sob o enfoque psicológico, mais precisamente de acordo com a teoria de Erik Erikson, a adolescência é o período decisivo na formação do indivíduo e, em particular, de sua identidade. É quando existe o desenvolvimento fisiológico dos pré-requisitos, para que o indivíduo atinja a ADOLESCÊNCIA 80 maturidade mental e a responsabilidade social, que o prepara paraexperimentar, conviver e ultrapassar a crise de identidade própria desse momento da vida (ERIKSON, 1968). O homem é resultado de diversas relações complexas vividas ao longo dos diversos estágios do desenvolvimento humano. A adolescência encontra-se a “meio caminho”, pois sintetiza conflitos já experienciados e é também capaz de antecipar os conflitos que se desenrolarão na idade adulta. Em outras palavras, o que ocorre precisamente durante a adolescência “é, em muitos aspectos, determinado por aquilo que ocorreu antes”, mas também “determina muito o que se seguirá” (ERIKSON 1968, p.23). Esta frase de Erikson demonstra a importância da adolescência para a vida madura e a velhice do indivíduo. A próxima seção deverá tratar do desenvolvimento humano que, como a adolescência, oferece significativa contribuição para o entendimento da personalidade e do comportamento da pessoa. 3. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REFERENCIAL TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 82 A presente pesquisa busca estudar a influência da religião no comportamento de jovens universitários. É importante lembrar que influências, quer sejam elas de que natureza for, atingirão o indivíduo de forma mais ou menos intensa, de acordo com sua personalidade. A personalidade humana, conforme Sigmund Freud (1927), Erik Erikson (1968), Jean Piaget (1976), Carl Gustav Jung (1999), entre outros, é formada a partir do nascimento do indivíduo, invadindo boa parte de seu desenvolvimento. Assim é importante estudar o desenvolvimento humano, para dar consistência à pesquisa em foco, oportunizando uma melhor compreensão das possíveis influências da religião na vida do adolescente. Para tanto, optou-se por contemplar como referenciais, as teorias de Sigmund Freud e Erik Erikson. Para Freud, o desenvolvimento humano exerce influência na questão sexual, começando a partir do nascimento e sendo concluído, após a adolescência. Ao longo da vida, Freud não focalizou suas pesquisas no desenvolvimento humano ou no trabalho com crianças, pelo contrário, sempre se dedicou aos adultos, evocando suas lembranças e analisando seus sonhos e fantasias. Entretanto, para conduzir seu trabalho de forma ampla e profunda, viu-se obrigado a reconstruir a infância de quase todos os adultos que atendia pois, desde muito cedo, compreendeu que o homem é, em muito, resultado da infância que teve. Pode-se afirmar que os estudos de Freud sobre a infância e adolescência foram simples decorrência de seu trabalho com adultos. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 83 De acordo com Schultz e Schultz (2002), Freud acreditava que todos os comportamentos provêm das fases iniciais da vida, são defensivos, mas nem todas as pessoas utilizam os mesmos tipos ou formas de defesa, visto que cada um tem uma estrutura peculiar de personalidade. Ao contrário de Freud, Erikson desde cedo manteve um interesse muito grande pela vida infantil e, aos 25 anos, foi convidado a lecionar em uma pequena escola infantil. Baseando-se em seu trabalho e no convívio com crianças percebeu a importância da sociedade sobre a personalidade, fato que o fez se aprofundar no desenvolvimento infantil e, por conseqüência, elaborar sua abordagem sobre a personalidade. Erikson (1968) ampliou as idéias de Freud, assim, o desenvolvimento humano acontece durante a vida inteira, apesar da importância do sexo, do peso da sociedade e das instituições, em geral, e do ambiente como um todo, pois são forças poderosas que influenciam o desenvolvimento do indivíduo. Observa-se que Erikson não se afastou da teoria de Freud, pelo contrário, a partir dela desenvolveu a sua e as posições de Freud facilitaram a compreensão do ponto de vista de Erikson e seu caminhar pelo lado social. A teoria freudiana sobre o desenvolvimento, conhecida como “Estágios Psicossexuais do Desenvolvimento da Personalidade”, foi construída paralelamente a seus estudos sobre o processo de estruturação da personalidade. Já a teoria de Erikson tornou-se de domínio mais geral, denominada “Estágios Psicossociais do Desenvolvimento e Forças Básicas”. Convém destacar, que estas teorias apresentam um ponto em comum: os dois autores entendem que a pessoa humana para se desenvolver passa, obrigatoriamente, por conflitos que precisam ser “resolvidos”, conforme Freud ou “adaptados”, segundo Erikson. Freud descobriu os conflitos neuróticos não são muito diferentes dos conteúdos dos conflitos normais, pelos quais todas as crianças acabam passando em sua infância, assim, colaborou para o melhor entendimento do desenvolvimento humano (ERIKSON, 1968). O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 84 Conforme Erikson (1968), o homem para manter algum equilíbrio psicológico, resolve, constantemente, seus conflitos, ressurgindo de cada crise com um sentimento mais consistente de sua unidade interior, que capacita o indivíduo a agir de acordo com seus próprios padrões e aqueles das pessoas que lhe são significativas. Pela psicanálise de Freud, a personalidade distinta que cada indivíduo possui, provêm dos conflitos e das experiências mais pessoais vividas. Assim, Erikson (1968, p.92) afirma que: a personalidade se desenvolve de acordo com uma escala pré-determinada na prontidão do organismo humano para ser impelido na direção de um círculo cada vez mais amplo de indivíduos e instituições significantes, ao mesmo tempo que está cônscio da existência desse círculo e pronto para a interação com ele O autor citado procura fazer ligações entre a teoria da sexualidade infantil de Freud e o conhecimento da importante junção do crescimento físico e social da criança. Desde seu início, a psicanálise procurou caminhar no sentido de bem-delinear os processos de desenvolvimento, visto dar a eles grande importância. A psicanálise acabou por atribuir a origem da vida mental dos adultos à vida deles quando crianças e precisou levar a sério o velho ditado que afirma que “a criança é o pai do homem”. Freud (1923-1925), delineou a continuidade entre mentes infantis e adultas, bem como observou as transformações que ocorriam com o indivíduo durante esse período passando, logicamente, pela adolescência. De acordo com Wolman (1979, p.82): A adolescência é conhecida por ser um período de transição, embora não o seja mais do que qualquer outro período do desenvolvimento. As mudanças somáticas que ocorrem na adolescência, tais como o crescimento, o desenvolvimento endócrino e o aparecimento dos O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 85 caracteres sexuais secundários não são mais revolucionários do que a passagem do zigoto a embrião, do feto a recém-nascido, do balbucio à fala. Segundo Wolman (1979), todas as mudanças que ocorrem na vida do indivíduo, são importantes para seu desenvolvimento, mas, não se deve creditar a esta ou àquela fase uma importância fundamental ou singular. A posição de Wolman (1979) parece identificar-se, sobremaneira, com a forma de pensar de Freud, visto que este sublinhou em sua obra o desenvolvimento humano sob a ótica psicossexual, pelo menos, enquanto entendeu a importância dos períodos de desenvolvimento, ou seja, até o final da adolescência ou início da vida adulta. Algumas descobertas importantes aconteceram durante os estudos de Freud sobre o desenvolvimento, sobretudo no que se refere à mente infantil. Propôs a importante influência exercida pelas impressões da infância,particularmente, pelos seus primeiros anos sobre toda a evolução posterior. A psicanálise introduziu de forma decisiva a relevância dessas primeiras impressões, por exemplo, no caso da vida sexual. Ainda de acordo com Freud (1923-1924): os muitos enigmas da vida sexual dos adultos só podem ser solucionados se forem ressaltados os fatores infantis existentes no amor. Na psicanálise de Freud, outro aspecto importante sobre o desenvolvimento humano é a despeito de todo o processo pelo qual passa o homem, nenhuma de suas formações mentais infantis desaparece. Para Freud (1923-1925), parte dos desejos, impulsos instintivos, modalidades de reação e comportamentos da infância acham-se presentes na vida madura e podem mais uma vez surgir. Quando se observa o comportamento humano, não se pode deixar de notar, pelo menos, dois padrões de conduta importantes: o primeiro, todos lutam pela sobrevivência em algum grau, uns demonstrando muita força e outros certa fraqueza e até desamparo. O segundo, alguns indivíduos canalizam todo o poder que possuem para ajudar, cooperar e demonstrar O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 86 amizade para com o próximo, ao passo que outros agem de forma hostil, competitiva, falsa e destrutiva, assim, trata-se de duas dimensões do comportamento humano, a de poder relacionada à vitalidade e habilidade para sobreviver e a do modo pela qual a pessoa pode usar seu poder para satisfazer suas necessidades e a dos outros, se de forma mais afável ou hostil. O comportamento humano é resultado do desenvolvimento humano como um todo, e este é o resultado de uma série de fatores, alguns relacionados a tendências genéticas, outros à interação da pessoa com seu meio físico e social. Estes fatores não são excludentes e, sim, interativos. No homem, o nascimento é o início de um processo maturativo prolongado, conforme afirma Wolman (1979). Muitos fatores devem ser levados em consideração durante esse processo: os hereditários que determinam a base do crescimento da infância, adolescência, até a maturidade ou vida adulta, o social, o psicológico. Os estágios de desenvolvimento descritos por Freud podem ser entendidos sob este prisma, ou seja, toda a criança deve passar pelos estágios oral,anal, fálico, latência e genital, que são determinados biologicamente, mas, sofrem influências sociais e geram reações psicológicas. Gardiner (1993) apontou inúmeras diferenças de personalidade relacionadas às diversas formas de educação da criança (influências sociais e culturais), assim como esclareceu inúmeras nuanças em relação à condição sociocultural, impactando o desenvolvimento infantil. Atravessar os estágios de desenvolvimento é universal, conforme afirmou Freud (1923-1925) e confirmou Piaget (1976). Paralelamente aos estágios de desenvolvimento e servindo-se desses, a personalidade passa pelo processo de estruturação, que lhe é próprio. A seguir, os estágios de desenvolvimento e estruturação da personalidade serão apresentados. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 87 3.1. Estrutura psicanalítica da personalidade Os significados atribuídos ao termo “Personalidade” são inúmeros e todos são influenciados pela particularidade que se pretende estudar da pessoa que possui propriedades que a distinguem individualmente. Para Freud (1923-1925), é a integração entre Id, Ego e Superego que organiza e estrutura a personalidade do indivíduo. A descrição freudiana da personalidade envolve três níveis de estrutura mental: o inconsciente, o subconsciente e o consciente. O inconsciente acomoda a energia psicofísica e sexual, além dos conteúdos reprimidos próprios de cada ser humano. Segundo Freud (1923- 1925), a personalidade desenvolve-se com base no Id primitivo que caracteriza o recém-nascido. A partir do Id desenvolve-se o Ego ou a parte da personalidade voltada à realidade, à razão e que busca administrar os impulsos do Id. O Ego sofre constante pressão do Superego, cuja origem funda-se na internalização de padrões, valores e em figuras de autoridades, que fizeram parte da vida do indivíduo nos primeiros anos de sua existência. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 88 ID Segundo o conceito freudiano o Id é o componente arcaico e totalmente inconsciente da estrutura da personalidade. É a fonte de energia mental que dinamiza o comportamento humano. Do Id partem os impulsos pessoais voltados à gratificação do instinto sexual; o próprio inconsciente que ignora o mundo externo e tem como objetivo principal o corpo, portanto, suas relações com este podem ser chamadas de princípio do prazer. Freud (1923-1925) destacou a hegemonia total dos instintos do prazer nas primeiras fases do desenvolvimento mental, em virtude do fato de as duas atividades básicas da criança recém-nascida, mamar e evacuar, terem despertado a sexualização da boca e do ânus, ditas zonas erógenas nesse primeiro estágio da vida. Ego De conformidade com o conceito psicanalítico da estrutura da personalidade escrito por Freud (1923-1925), o Ego é o componente intermediário das energias mentais, ou seja, entre Id – inconsciente e Superego. Regula as ações entre indivíduo e seu meio, sendo ponto de referência a todas as ações psicológicas. O Ego é partidário do princípio de realidade e é com ele que se aprende tudo sobre a realidade externa e orienta-se o comportamento no sentido de se evitar sofrimentos, ansiedades e punições. Os mecanismos de defesa utilizados pelo indivíduo para salvaguardá-lo de situações dolorosas estão intimamente relacionados com o Ego. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 89 Superego Na estrutura da personalidade apresentada por Freud, o Superego é o mais novo componente do sistema de energias mentais e foi associado ao declínio e dissolução do Complexo de Édipo, pois atua no sentido de evitar punições por transgressões morais ou de incentivar a realização de idéias moralmente aceitas. Pode-se voltar, tanto no sentido de criticar as idéias ou impulsos inconscientes que afetam o comportamento moral como apoiar a realização de uma natureza superior. Os três elementos clássicos, que estruturam a personalidade de acordo com Freud, o Id, o Ego e o Superego, vivem em constante luta: o Id buscando sua satisfação irracional; o Ego procurando acomodar as exigências e impulsos do Id ao mundo da realidade, que é seu próprio mundo e o Superego tentando reprimir ou apoiar o impulso que for moral e, socialmente, reprovável ou louvável. As três instâncias que estruturam a personalidade, Id, Ego e Superego acabam por espelhar o processo de formação e desenvolvimento, pelo qual passou o indivíduo, as relações e vivências que teve com seu meio, sobretudo, aquele organizado pelos seus familiares mais próximos ou responsáveis por sua formação. Assim sendo, para que o indivíduo tenha esta ou aquela estrutura de personalidade que, em última análise, é a responsável por suas reações, esta estrutura apresentará maior relevância deste ou daquele elemento que a forma, e isso ocorrerá com base no que experienciou até os seis ou sete anos de vida, momento em que estará formada a personalidade básica do indivíduo, segundo a Psicanálise de Freud. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 90 3.2. Sigmund Freud e a teoria do desenvolvimento psicossexual 3.2.1. O estágio oral ou fase oral Segundo Freud (1958), na criança, a atividade sexual caminha em consonância com a atividade de alimentação,assim sendo, o objeto de uma atividade é também o da outra: A partir do nascimento a boca é o primeiro órgão que aparece como zona erógena e que propõe exigências libidinais ao psiquismo. A princípio, toda atividade psíquica está concentrada na satisfação das necessidades desta zona. Naturalmente, a boca serve em primeiro lugar à autoconstrução por meio da nutrição, mas não se deve confundir a filosofia com a psicologia. O movimento de sugar no bebê, ato no qual persiste com obstinação, é a manifestação mais precoce de impulso à satisfação, que embora seja originado na ingestão de alimentos e estimulados por esta, tende a alcançar o prazer independente da nutrição, de modo que podemos considerá-lo como sexual. (FREUD, 1938.p.28) De acordo com Wolman (1979), pais normais costumam relacionarem-se com seus filhos alimentando-os e protegendo-os carinhosamente. No estágio oral, a criança, leva tudo o que lhes oferecem à boca, daí a denominação “estágio oral”, que se caracteriza por uma espécie de afeição devoradora em relação aos objetos de amor que se fazem presentes em sua vida. De acordo com a Psicanálise, o estágio oral pode ser visto como uma forma de relacionamento bastante individual, no qual o desejo de ser ajudado, amparado está combinado com os sentimentos de medo e hostilidade (fome). A criança frágil e fraca carece de alimentos e deve recebê-los, recorrendo, caso não os tenha às varias formas de hostilidade (agressividade, defesa, pânico, horror), Wolman (1979). No estágio oral, existem dois tipos de comportamento: o incorporativo (ingerir) e o comportamento oral agressivo ou sádico (morder ou cuspir). O O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 91 comportamento incorporativo acontece primeiro e tem sua base na estimulação prazerosa da boca por objetos ou comida. De acordo com Schultz e Schultz (2002), os adultos com fixação na fase oral incorporativa preocupam-se com atividades orais, como comer, fumar, falar, beijar. Ainda de acordo com os autores citados, se os adultos, quando crianças foram demasiadamente saciados, suas personalidades tenderão ao otimismo e dependência de terceiros, além de serem bastante crédulos, ou seja, como foram plenamente atendidos na infância, continuam dependentes para sanarem suas necessidades. São pessoas, cuja personalidade é classificada como oral passiva. Os comportamentos orais agressivos ou sádicos ocorrem em um segundo momento durante o surgimento doloroso dos dentes. Como resultado dessa experiência desagradável, as crianças experimentam amor e ódio pela mãe. Os adultos fixados, nesse segundo momento, tendem a ser pessimistas, agressivos, hostis, além de invejosos e manipuladores com vistas a dominar os outros. A fase ou estágio oral termina quando ocorre o desmame, embora alguma libido (energia psicofísica e sexual) permaneça nesse estágio, caso tenha ocorrido a fixação. 3.2.2 O estágio anal ou fase anal Pela teoria psicanalítica de Freud (1923-1925), o estágio anal acontece logo após a passagem da criança pelo estágio oral, caracterizado não apenas pelo treinamento do asseio, mas também pela aprendizagem da locomoção e da fala. Neste estágio, a criança começa a explorar lugares mais distantes, afasta-se da mãe e consegue atingir áreas, até então, proibidas. Tudo isso ocorre pela liberdade de ação que começa a adquirir com o andar e os movimentos mais ágeis de braços e mãos. Para Freud (1923-1925), este novo repertório implica um aumento da sensação de poder para a criança. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 92 Além disso, a aquisição da linguagem, ou seja, a capacidade de compreender e ser compreendida, somada ao treinamento dos hábitos de limpeza, próprios do estágio anal, oferece à criança um acentuado aumento de poder e esta percebe isso. Neste estágio, a mãe está muito mais à mercê da criança no sentido de precisar-se submeter à vontade desta, visto que o pequeno ser já pede e recusa comida, é colocado no vaso sanitário ou similar, mas se nega a evacuar, inicia a evacuação e interrompe-a de acordo com sua vontade. Neste estágio, segundo Freud (1923-1925), as fezes podem ser retidas para a regulação do prazer, pode se dar generosamente o amor (produto próprio) ou mantê-lo consigo. A habilidade para adiar o prazer conquistado com base na retenção ou expulsão das fezes, será de suma importância no tocante ao sexo e às sublimações posteriores. O próprio controle esfincteriano ou dos intestinos pode vir a representar um mecanismo futuro de regulação do ódio. As atitudes ditatoriais, por exemplo, são interpretadas na psicanálise como derivadas de comportamentos anal-retentivos da criança. No futuro relacionamento interpessoal, a retentividade anal poderá ser expressa por meio de comportamentos vingativos, frios, de dominação, bem como de bloqueio da afetividade e rejeição (WOLMAN, 1979). O estágio fálico descrito por Freud (1923-1925) foi ressaltado como responsável pela organização da energia psicofísica e de cunho sexual ou libido: O prazer é derivado da região genital não só por meio de comportamentos como a masturbação, mas também por meio de fantasias. A criança fica curiosa sobre o nascimento e por que os meninos têm pênis e as meninas não e pode falar em querer se casar com o pai ou a mãe. De acordo com Wolman (1979), na fase fálica o amor objetal da criança é direcionado aos desejos genitais em relação ao genitor do sexo O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 93 oposto, transformando-se em força dominante, mais forte que outros desejos até mais valorizados. Os sentimentos de ciúme e possessividade surgem na fase fálica. De acordo com o núcleo familiar, a segurança da criança baseia-se no relacionamento a dois, sendo um possível terceiro, pai ou irmão, visto como um competidor, cuja presença põe em cheque a posse do objeto amado. Nesta fase, o amor edípico pela mãe, no caso dos meninos, que será explicado mais adiante, gera, de acordo com Freud (1923-1925), sentimentos ambivalentes do menino em relação a seu competidor primeiro, o pai. Durante a esta fase, a criança recebe prazer e segurança do genitor amado (desejado) e vontade de destruir e competir. Para Freud (1923-1925), o conflito edípico é o início da futura competição entre adultos do mesmo sexo. Em situação de normalidade, estes conflitos provocam uma repressão do amor e do ódio, podendo este último ser inibido pelo temor, medo ou pelo amor ou, ainda, pela combinação de ambos (temor e amor). O pai que demonstra força, mas é amigável desperta, no menino, medo pela força que possui e amor por ser bondoso. Esta possível fusão de sentimentos, amor-ódio gerará um sentimento de respeito que, em última análise, é o próprio núcleo formador do Superego, ou seja, núcleo formador da capacidade que o indivíduo adquire de respeitar as figuras de autoridade ou celeiro de moralidade. A partir do momento que adquire maior capacidade de controle, conforme WOLMAN (1979) o indivíduo aprende a canalizar seus sentimentos, inclusive, o de hostilidade de forma mais controlada e melhor dirigida, utilizando-os mais adequadamente aos propósitos que lhe são próprios de sobrevivência, tanto hoje como futuramente. O estágio ou fase fálica é a última das fases pré-genitais e os conflitos de ordem fálica são os mais complexos de resolver. Muitas pessoas resistem aceitá-los, porque envolvem o conceito de incesto, um tabu em inúmeras culturas. Fundamentado nos desejos incestuosos e de O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 94 masturbação,típicos da fase fálica, pode-se verificar mais intensamente as nuances de conflito e raiva surgem no adulto, visto que não foram bem resolvidas em sua infância, ou seja, no período fálico. Da mesma forma que ocorrem nas fases anteriores, os conflitos, de natureza fálica, devem ser resolvidos adequadamente. Conflitos fálicos mal resolvidos determinarão comportamentos adultos específicos em relação ao sexo oposto, entre eles, a ansiedade de castração e a inveja do pênis que se prolonga indefinidamente. Além disso, pode haver dificuldade para o estabelecimento das relações heterossexuais maduras. Freud (1923-1925) descreveu a personalidade fálica masculina, como pueril, frágil e autoconfiante e a feminina, como aquela que necessita usar seus talentos e charme para subjugar e conquistar o homem. O homem com esse tipo de personalidade, para confirmar sua masculinidade, necessita de repetidas conquistas sexuais. Antes de passar para a próxima fase ou estágio, cabe explicar o significado do Complexo de Édipo para Freud. O conflito básico do estágio fálico centra-se no desejo inconsciente de uma criança pelo pai ou pela mãe, além do anseio de destruir o pai (no caso dos meninos) ou a mãe (em se tratando de meninas). Ao identificar esse conflito, Freud apresentou o conceito de “Complexo de Édipo”. Este nome originou-se do mito grego descrito na tragédia Édipo rei, escrita por Sófocles no século V a.C, na qual o jovem Édipo mata seu pai e casa-se com sua mãe, sem saber quem eram ambos. De acordo com Freud (1923-1925), o complexo de Édipo mostra-se diferente nos meninos e meninas. No caso do menino, a mãe torna-se seu objeto de amor. Por intermédio de fantasias, ele demonstra seus desejos sexuais por ela; entretanto, a figura do pai representa não só um rival, mas também uma ameaça. O menino é capaz de perceber o relacionamento entre pai e mãe, do qual ele não faz parte. De acordo com Schultz e Schultz (2002), isso o deixa enciumado e propicia comportamentos hostis para com o pai. Frente a essa situação, no O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 95 menino surge um imenso desejo de se colocar na situação do pai; no entanto o temor da vingança e a agressão por parte do pai se faz presente, sendo interpretada como uma ação que ocorrerá em termos genitais, ou seja, poderá ocasionar a perda do pênis, sendo seu pai responsável em cortá-lo. Nessa época, para o menino, o pênis representa sua fonte de prazer e desejos sexuais, sua importância é enorme, bem como o medo de sua perda. Assim, surge a ansiedade de castração, como foi nomeada por Freud (1923-1925). O menino é atormentado de tal forma pelo medo de castração que passa a reprimir o desejo sexual pela mãe, substituindo-o por uma afeição, ao mesmo tempo, em que se identifica com o pai. A complexa reação causa- lhe certa satisfação sexual, momento que Freud (1923-1925) considera ter se resolvido o Complexo de Édipo no menino. Cabe destacar que, para aumentar a identificação do menino com seu pai, ele tenta se parecer ainda mais com o pai, adotando certos comportamentos, inclusive, imitativos, atitudes estas visíveis a qualquer observador. Nesse momento, para Freud (1923-1925), surge a instalação do Superego ou moralidade. Na menina, como no menino, a mãe é seu primeiro objeto de amor, visto que ela é quem os alimenta e oferece-lhes afeto e segurança na infância, até pela proximidade física que, costumeiramente, existe, diferente do pai que se mostra mais distante por ser o provedor da família e precisar sair para o trabalho além de, habitualmente, não cuidar diretamente da criança. Na fase fálica, o pai configura-se no objeto de amor da menina. Para Freud (1923-1925), esta reação é decorrência, por parte das meninas, de que os meninos têm pênis e elas, não. As meninas, ainda segundo Freud, culpam inconscientemente a mãe pela sua suposta condição inferior e, conseqüentemente, passam a amá-la menos ou até odiá-la, imaginando que ela é responsável pela sua anatomia. A partir daí, passam a invejar o pai, transferindo-lhe seu amor. Para Freud (1923-1925): O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 96 as meninas sentem profundamente a falta de um órgão sexual que tenha o mesmo valor do órgão masculino. Elas se consideram inferiores e essa inveja do pênis é a origem de uma série de reações femininas características. Schultz e Schultz (2002) consideram que a menina desenvolve a tal ponto a inveja do pênis que esta equivale à ansiedade da castração do menino. Em última análise, a menina acha que perdeu o pênis e o menino tem medo de perder o seu. Freud (1923-1925) sugeriu que o Complexo de Édipo, na menina, nunca é bem resolvido, entendendo que a mulher possui um Superego mais frágil do que o homem em decorrência dessa situação. Assim, o amor de uma mulher adulta por um homem é sempre carregado de inveja do pênis, geralmente, compensado em parte quando ela tem um filho. Quanto à resolução do Complexo de Édipo na menina com identificação comprovada com a mãe, por intermédio das imitações que esta faz e a repressão do amor pelo pai, esta não resolve tal Complexo durante toda a sua existência. 3.2.3. O período de latência De acordo com Wolman (1979), na época em que Freud viveu, o período de latência era visto como a fase em que forças inibidoras atuavam sobre a libido. Naqueles dias, as famílias eram rígidas e hierarquicamente organizadas. As informações sobre a vida sexual inexistiam, havia forte repressão da sexualidade, as pessoas eram inibidas em relação a essa questão. Os pais eram bastante autoritários e conservadores e facilitavam a introjeção do Superego pela criança que renunciava ao genitor do sexo oposto, resolvendo com facilidade o Complexo de Édipo. Atualmente, embora os conceitos básicos do período de latência permaneçam, as sociedades contemporâneas mudaram muito. Hoje, o nível de inibição é O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 97 menor e quase não existem restrições sobre informações de cunho sexual, comparativamente, ao tempo de Freud. A própria figura paterna de hoje, aparentemente, não inspira medo aos filhos e seu patamar de autoridade em inúmeras situações é decrescente, sendo a mãe a mais forte e impositiva do casal. Dessa forma, a resolução do Complexo de Édipo fica menos facilitada para o menino, visto que a identificação deste com a figura paterna torna-se mais difícil ou nem ocorre. No caso da menina, ainda segundo Wolman (1979), a situação repete-se, contudo a causa é o aparente declínio da feminilidade da mãe que conduz a menina a uma identificação com o pai-fraco, ao invés de identificar-se com a mãe-forte. Frente à nova situação apresentada em razão do atual perfil da sociedade, a fase de latência ocasiona comportamentos atuais e futuros que se modificam de acordo com os movimentos socioculturais a que todas as pessoas estão expostas. Em que pesem estas considerações, para Freud (1923-1925), o período de latência é aquele no qual o instinto sexual mostra-se adormecido, sublimado em atividades que agradam sobremaneira aos pais proporcionando-lhes uma espécie de trégua ou descanso. Estas atividades caracterizam-se pela vida escolar marcante, pelas práticas esportivas e desenvolvimento de amizades com pessoas do mesmo sexo, entre outras. Freud entende que o período de latência não é um período ou fase psicossexual do desenvolvimento justamente porque o instinto sexual, como já foi dito, encontra-se em estado latente, estado este que acabou por dar nome ao período, pelo qual passa a criança doscinco anos de vida até a puberdade. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 98 3.2.4. O período ou fase genital É entendida como a última fase psicossexual do desenvolvimento e inicia-se na puberdade. Nesse período, o corpo está amadurecendo rapidamente em termos fisiológicos, causando perplexidade ao próprio indivíduo, assim como nas pessoas que cercam. Nesta fase, os agora adolescentes precisam se adequar às sanções e tabus da sociedade, sobretudo, em relação às expressões de cunho sexual. Esta adaptação não deixa de gerar conflitos, mas Freud (1923-1925) entendia que estes conflitos poderiam ser minimizados pela sublimação. A energia sexual em ebulição durante a adolescência pode ser em parte satisfeita por intermédio de substitutos socialmente aceitos, como os inúmeros namoricos juvenis, hoje, substituídos pelo “ficar” e, posteriormente, por uma relação mais adulta de compromisso com o sexo oposto. Além disso, o tipo de personalidade genital é capaz de encontrar prazer, tanto no amor como no trabalho ou estudos, e os dois últimos mostram-se como uma saída aceitável para a sublimação dos impulsos mais instintivos. Assim sendo, para Freud o conflito gerado pela fase genital é menos intenso do que o das fases anteriores, e mais fácil de ser transposto. Entretanto, caso o jovem não consiga resolvê-lo, poderá apresentar dificuldades de adaptação às regras sociais, notadamente, àquelas que tratam do comportamento sexual, bem como na vida madura poderá buscar viver momentos juvenis não experienciados na puberdade e ou adolescência. Freud valorizou mais o desenvolvimento do indivíduo nos primeiros anos de sua infância até a adolescência, mostrou-se pouco preocupado com o desenvolvimento de sua personalidade na fase adulta, pois tinha claro que a maneira que a pessoa deve se comportar, pensar e sentir é originada pelos conflitos vivenciados nos primeiros anos de vida, apesar de ter ficado restrito a uma faixa inicial da vida da pessoa humana, pois Freud O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 99 demonstrou que a personalidade adulta tem grande parte de sua base nos primeiros anos de vida e na qualidade das experiências desse período. Assim, dependendo das características pessoais e das necessidades psíquicas de cada um, o ser humano recebe as influências do meio e reage de uma forma bem particular expressando, em última análise, a personalidade que tem. O ato de receber influências, assimilá-las e reagir a estas é em grande parte o que se pretende analisar na presente pesquisa. Dessa forma, o referencial teórico sobre o desenvolvimento humano apresentado por Freud oferece importantes subsídios para análise do comportamento ou da personalidade dos sujeitos deste estudo. 3.3. A teoria de Erik Erikson para o desenvolvimento humano A teoria de Erik Erikson é considerada tão importante como a teoria de Freud para o desenvolvimento da pessoa, na vião do autor desta pesquisa. O primeiro, como já foi visto, valorizou e apontou o sexo como fonte poderosa que guia o indivíduo por toda a vida. Por sua vez, a teoria de Erikson, baseada na formação psicossocial da pessoa, enfatiza que seu ambiente como um todo e as relações que fazem parte de sua vida ditam o comportamento que terá ao longo de sua existência. Assim, a teoria de Erikson tem como ponto nuclear a relevância das relações e as crises pessoais e interpessoais, que são próprias do ciclo natural de desenvolvimento. Erikson (1968) assinalada que o contexto da vida do indivíduo é muito forte e influente, portanto, o Id não é a única fonte de energia que sustenta o ser humano. Esta posição não é a única que contrasta com a de Freud, também, em relação ao Ego existem divergências. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 100 Para Erikson (1968) o Ego é mais autônomo e poderoso em relação ao Id do que na teoria de Freud. Assim, em sua teoria, sintetiza os processos de adaptação, integração e criação que são próprios da pessoa possuindo habilidades para sentir e integrar esperança, vontade, propósito, competência, sabedoria e amor. Portanto, o Ego conduz o Id, bem ao contrário do que afirmava Freud. Assim sendo, o processo de desenvolvimento é muito mais intencional e consciente, dirigido pela pessoa e não por seus instintos. Dessa forma, as crises, próprias das relações do indivíduo com seu ambiente, são mais conscientes e baseadas em inter- relações em vez de inconscientes e apoiadas em impulsos próprios do Id. Como se pode verificar, não há uma ligação direta entre as teorias de Freud e Erikson; no entanto, como já foi explicitado, Erikson tomou por base inúmeros conceitos de Freud, além de seus estágios de desenvolvimento, ampliando-os e nomeando-os “Estágios Psicossociais do Desenvolvimento e Forças Básicas”, conforme são apresentados a seguir. 3.4. Estágios psicossociais do desenvolvimento e forças básicas A segunda teoria do desenvolvimento a ser enfocada neste capítulo é a de Erik Erikson ou os “Estágios Psicossociais do Desenvolvimento e Forças Básicas”, que foram divididos em oito estágios sucessivos, os quatro estágios são semelhantes aos estágios oral, anal, fálico e de latência de Freud, embora este concentrasse sua teoria nos fatores biológicos e Erikson nos psicossociais, como já discutido no início deste capítulo. Para Erikson (1968), o processo de evolução da pessoa é gerido pelo chamado princípio epigenético da maturação, ou seja, as forças herdadas são as características que determinam os estágios de evolução do indivíduo, ou ainda, o desenvolvimento depende de fatores genéticos. As forças sociais e ambientais, por sua vez, influenciam a forma pela qual as fases O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 101 predeterminadas geneticamente irão se realizar. Assim sendo, conforme destaca Schultz e Schultz (2002 p. 206), o desenvolvimento da personalidade é afetado por fatores biológicos e sociais ou por variáveis pessoais e situacionais. Erikson (1968) propôs que cada um dos oito estágios psicossociais ofereça oportunidades para que a pessoa desenvolva suas forças básicas ou virtudes que emergem quando a crise é resolvida adequadamente. Além disso, afirmou que uma força básica não pode se desenvolver enquanto a força básica da fase anterior não for confirmada. Fazem parte dos “Estágios Psicossociais do Desenvolvimento” de Erik Erikson os seguintes momentos da vida do indivíduo: 3.4.1. Confiança versus desconfiança É a fase oral-sensorial do desenvolvimento psicossocial que corresponde ao período oral do desenvolvimento psicossexual de Freud que ocorre durante o primeiro ano de vida. De acordo com Schultz e Schultz (2002), é o momento em que a criança depende integralmente dos cuidados da mãe para sobreviver, ter segurança e afeto. Nesse período, a boca é vital, tanto é, que Erikson (1959, p. 57) escreveu: “A criança vive por meio da boca e ama com ela”. Apesar disso, o relacionamento da criança com seu mundo não é puramente biológico, é altamente social, tanto que, dependendo das relações que o bebê mantiver com sua mãe, sua personalidade incorporará uma atitude de confiança ou desconfiança em seu futuro relacionamento com o ambiente. Segundo Schultz e Schultz (2002, p. 207): “Se a mãe responder adequadamente às necessidades físicas do bebê e lhe proporcionar muito afeto, amor e segurança, a criança desenvolverá um senso de confiança, uma atitude que caracterizará sua visão crescente de si mesma e dos outros”. O DESENVOLVIMENTOHUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 102 Por outro lado, os autores afirmam baseados em Erikson que: se a mãe rejeitar, não prestar atenção ou for inconsistente em seu comportamento, a criança tornar-se-á desconfiada, temerosa e ansiosa (p. 208). Segundo Erikson (1968), a desconfiança também poderá ocorrer se a mãe não se concentrar exclusivamente na criança. Seguindo-se essa afirmação, pode-se dizer que a mãe que volta a trabalhar, após o nascimento de seu filho, deixando-o aos cuidados de terceiros, está arriscando o surgimento e desenvolvimento de desconfiança na criança. Para Erikson (1968), embora o padrão de confiança e desconfiança da personalidade se estabeleça na infância, é passível de mudanças. Assim, uma criança com adequado padrão de confiança pode estabelecer a desconfiança com base na morte da mãe ou de sua saída de casa. Assim, uma criança cuja desconfiança esteja estabelecida, pode ser alterada com o surgimento na vida da pessoa de um professor com espírito de companheirismo, um amigo carinhoso e paciente, entre outras possibilidades. A resolução adequada da crise de confiança versus desconfiança durante a fase oral-sensorial faz surgir a força básica da esperança que foi descrita por Erikson (1968) como “a crença de que nossos desejos serão satisfeitos”, gerando no homem um sentimento de persistência e confiança que será mantido mesmo frente aos reveses temporários da vida. 3.4.2. Autonomia versus dúvida e vergonha Trata-se da fase muscular-anal que ocorre durante os segundo e terceiro anos de vida da criança, correspondendo à fase anal de Freud. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 103 Nesta fase, as crianças desenvolvem uma série considerável de habilidades físicas e mentais, passando a ter mais independência, fazendo inúmeras coisas por conta própria. Comunicam-se com maior facilidade e locomovem-se rapidamente. Aprendem a puxar, pegar, empurrar e largar objetos. Erikson (1968) considerava que as habilidades de segurar e largar algo eram as mais importantes no repertório da criança, pois refletiam os primeiros passos para reagir a conflitos posteriores. Assim, o mais importante nessa etapa da vida era a condição de que a criança estava fazendo algo por sua livre escolha, estava experimentando o poder de sua vontade. A crise mais relevante desse período é entre pais e filhos e envolve o treinamento para utilizar o banheiro. De acordo com Erikson (1968), trata- se do controle da sociedade sobre uma necessidade instintiva. Assim, pode haver pais que são mais permissíveis, ou seja, o treinamento da criança ocorre, de acordo com o ritmo desta ou pais mais irritadiços, que querem resolver todo o treino ao banheiro, conforme a sua vontade, interferindo na liberdade da criança, demonstrando impaciência e raiva quando não forem obedecidos. Desse modo, quando uma criança é frustrada em sua tentativa de independência, desenvolve sentimentos de dúvida e vergonha para lidar com as outras; ao passo que se ela for estimulada a agir por sua vontade, ganhará certa autonomia, emergirá a força básica, que é a vontade envolvendo, conforme afirmam Schultz e Schultz (2002), a determinação de exercer a liberdade de escolha e a autolimitação perante os costumes da sociedade. 3.4.3. Iniciativa versus culpa Trata-se do estágio locomotor-genital que ocorre entre os três e cinco anos de idade e assemelha-se à fase fálica de Freud. Há continuidade no O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 104 desenvolvimento das capacidades motora e mental da criança, fazendo com que esta demonstre a cada dia mais iniciativa. Nesta etapa da vida, apresentam-se também as fantasias que são próprias da infância, além de muito saudáveis. Em relação às fantasias, manifesta-se o desejo de possuir a mãe, no caso dos meninos e o pai, no caso das meninas (ERIKSON, 1968). De acordo com as reações dos pais frente a essas fantasias infantis, haverá o desenvolvimento de sensações que acompanharão a pessoa por toda a vida. Assim, se os pais inibirem ou punirem a criança perante suas iniciativas, estas introjetarão sentimentos de culpa. Caso os pais mostrem-se compreensivos e com capacidade de orientar, organizar e alinhar tais fantasias, a criança terá a capacidade de perceber o quanto lhe é permitido ou não, adquirindo limites para conviver no dia-a-dia da sociedade. Nesta fase, a criança poderá canalizar sua iniciativa para situações aceitas socialmente e preparar-se para as futuras responsabilidades e desenvolvimento da moral adulta, o que na Psicanálise de Freud seria chamado de instalação do Superego. A força básica desta fase provêm da iniciativa e é chamada de iniciativa, ou seja, a coragem e capacidade de conceber e buscar metas (SCHULTZ e SCHULTZ, 2002). 3.4.4. Diligência versus inferioridade Esta é a fase de latência do desenvolvimento psicossocial de Erikson que ocorre entre os seis e 11 anos de idade da criança e corresponde à fase de mesmo nome de Freud. É caracterizada pelo ir à escola e submeter-se às novas influências sociais. Nesta etapa, a criança mostra-se aberta para aprender bons hábitos de trabalho e estudo. A essa condição da criança, Erikson (1968) deu nome de “diligência” que, nada mais é, do que uma forma de obter elogios e prazer da execução adequada de uma tarefa. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 105 Nesse período da vida, a pessoa continua a desenvolver e demonstrar o raciocínio dedutivo e a capacidade de adaptar-se às regras que a levam a uma convivência mais refinada com a sociedade, bem como as capacita a manusear utensílios típicos dos adultos com maior desenvoltura. Uma vez mais a atitude dos adultos perante as ações da criança irá ditar a introjeção de sentimentos para a vida toda. De forma geral, pais, professores e adultos poderão desencadear sentimentos de inferioridade e inadequação se repreenderem ou ridicularizarem a criança ou gerarão sensações de competência e de luta constante se souberem compreender e elogiar o comportamento empreendedor infantil. A força básica que a diligência evoca na etapa de latência, é a competência, envolvendo ensaios da habilidade e de inteligência na busca e finalização de tarefas (SCHULTZ e SCHULTZ, 2002). Pode-se apreender dessas quatro fases, conforme Schultz e Schultz (2002), é que o resultado de cada crise vivida e a possível evolução da criança dependem de terceiros, notoriamente, pais e professores. A resolução das crises mostra-se, portanto, mais dependente do que é feito à criança da aquilo que ela pode fazer sozinha. Daqui em diante, serão tratadas as quatro últimas fases do desenvolvimento psicossocial e poderá ser verificado que o indivíduo terá muito mais controle de seu ambiente. Conforme Schultz e Schultz (2002), terá condição de escolher por vontade própria muito mais do que fazia antes. Escolherá amigos, tipos de estudo, escola, carreira profissional, hobby, cônjuge. No entanto, cabe ressaltar que estas escolhas ocorrerão à luz das características da personalidade que a pessoa desenvolveu até o presente momento, ou seja, se desenvolveu confiança escolherá autonomia, iniciativa e diligência; caso tenha desenvolvido desconfiança, escolherá a dúvida, culpa e inferioridade. O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 106 3.4.5. Coesão da identidade versus confusão de papéis: a crise de identidade Este é período da adolescência, propriamente dito, configura-se a partir dos 11, 12 anos de idade e encerra-se em tornodos 23 anos de idade, uma vez que os progressos tecnológicos prolongam de modo acentuado o intervalo de tempo entre parte inicial da vida escolar e acesso definitivo do jovem ao mercado de trabalho. Para Erikson (1968, p. 128): a fase de adolescência torna-se um período ainda mais acentuado e consciente; e, como sempre aconteceu em algumas culturas , em certos períodos, passou a ser quase um modo de vida entre a infância e a idade adulta. Talvez pelo atual tamanho da fase da adolescência, é possível reparar que o jovem mostra-se preocupado com aquilo que se possa pensar dele. Preocupa-se com a opinião alheia e com o próprio sentido da vida, agora pessoa com certa maturidade ou capacidade sexual. Pode-se perceber também que o rapaz ou a moça buscam um denominador comum para assentar, talvez definitivamente, a união daquilo que aprenderam, até então, com o que a sociedade espera deles a partir de agora. Frente a essa situação, o jovem, conforme Erikson (1968, p. 129), “procura mais fervorosamente homens e idéias em que possa ter fé, o que significa também, homens e idéias em cujo serviço pareça valer a pena provar que seria digno de confiança”. Assim sendo, este trabalho enfoca de maneira impar a adolescência e as possíveis influências que o adolescente pode vir a receber da religião, sem desprezar outras fontes que possam alterar o comportamento de alguma maneira. É o estágio do “Quem sou eu”, que é dominado pela O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 107 identificação com outras pessoas e grupos que têm, por exemplo, a mesma fé, havendo a tendência de identificar a fé com as necessidades e imagens pessoais. Cabe ainda ressaltar que, durante a adolescência, a pessoa estabelece sua auto-imagem e integra as idéias quanto ao que é e ao que realmente deseja ser. É o período em que pode ocorrer a crise de identidade, ou seja, o fracasso em descobrir quem é, saber qual seu lugar na sociedade e ter claro o que deseja se tornar. Para Erikson (1968), a adolescência é um hiato entre infância e idade adulta, uma espécie de moratória psicológica útil para oferecer ao indivíduo tempo e energia para assumir e representar diferentes papéis, bem como viver com auto-imagem diferente. Para Erikson (1968, p. 134): A adolescência é, pois, um regenerador vital no processo de evolução social, pois a juventude pode oferecer suas lealdades e energias tanto à conservação daquilo que continua achando verdadeiro como à correção revolucionária do que perdeu o seu significado regenerador. Como se pode verificar, a adolescência é um período da vida causador de crises e, ao mesmo tempo um bálsamo para certas crises, inclusive, para a crise de identidade que deve ser enfrentada e resolvida. Para Schultz e Schultz (2002), moldar uma identidade e assumi-la são tarefas complexas, geralmente causadoras de ansiedade. Aqueles que conseguem sair dessa fase ou momento da vida com um certo senso de auto-identidade, estão prontos para enfrentar a vida e a idade adulta com certeza e confiança, os que passam por crises de identidade serão mais confusos em relação a seus verdadeiros papéis. Erikson (1968) observa que pessoas que vivem essas confusões de papéis, podem se afastar do curso natural da vida (educação, trabalho, família), buscando uma identidade negativa no crime ou nas drogas. Ainda, segundo o mesmo autor, a aproximação do jovem a grupos radicais ou O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 108 fanáticos, também, pode ocasionar danos à definição da identidade, pois os grupos de colegas possuem forte influência na formação do indivíduo. A força básica esperada para ser desenvolvida durante a adolescência, de acordo com a teoria de Erikson, é a fidelidade que emerge de uma identidade coesa e abrange sinceridade, autenticidade e um sentimento de responsabilidade e dever no relacionamento com os outros. Para Schultz e Schultz (2002), o conceito de identidade de Erikson, aparentemente, foi extraído dos trabalhos iniciais de Erich Fromm, embora Erikson nunca tenha reconhecido formalmente essa possibilidade. Fromm (1956), como Erikson acredita que o Ego exerce papel ativo e decisivo, age em vez de reagir no tocante ao comportamento humano. Dessa forma, Fromm diverge frontalmente de Freud por rejeitar as idéias de que a personalidade baseia-se em pulsões biológicas de cunho sexual, e que a personalidade desenvolve-se por etapas invariáveis nos primeiros anos de vida, pois acredita na capacidade humana de escolher e agir, de acordo com sua própria vontade, contrastando, portanto, dos princípios Freud. 3.4.6. Intimidade versus isolamento Diferente de Freud, Erikson estendeu suas fases de desenvolvimento para além da adolescência, mantendo seu entendimento de que estes períodos obedecem a um plano hierárquico determinado, de tal forma que a passagem adequada por uma fase anterior colabora para uma passagem satisfatória em uma fase futura e que, na velhice, a pessoa é o resultado do que foi em todas as fases anteriores, sobretudo, na adolescência, uma vez que nesse período da vida, como já foi explicado, há a organização da identidade. O início da fase adulta para Erikson (1968), é uma etapa mais prolongada que as anteriores, estendendo-se do final da adolescência até O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 109 por volta dos 35 anos. É um período de independência dos pais e das instituições, em geral, é o momento em que a pessoa passa a agir de forma mais adulta, madura, define sua vida produtiva, estabelece relacionamentos mais íntimos e uniões sexuais. O conjunto de relações mais pessoais e íntimas, de acordo com Erikson (1968), faz com que o indivíduo molde sua identidade com a de outra pessoa, estando bem definido quanto à sua identidade, não sofrendo ameaça de perdê-la ou desequilibrá-la nesse o processo de fusão. No início da fase adulta, existem pessoas que não conseguem ligar- se intimamente, Erikson (1968) entende que tais pessoas desenvolvem uma sensação de isolamento, passando a evitar contatos sociais, distanciando-se de grupos e podendo se tornar até agressivas para com os outros. Isolam- se, ficam só e, desta forma, defendem-se de uma ameaça imaginária à sua identidade. A força básica que deve surgir apoiada na intimidade do início da fase adulta é o amor que, segundo Schultz e Schultz (2002), Erikson considerava a maior virtude do homem. 3.4.7. Preocupação com as próximas gerações (“Generatividade”) versus estagnação Trata-se da idade adulta em si, que se configura, aproximadamente, entre 35 e 55 anos de idade, e é a fase da maturidade, na qual as pessoas trabalham ativamente no sentido de orientar a próxima geração. Esta é uma necessidade do indivíduo, independentemente, se ele é pai ou mãe, visto que o ato de ter filhos não provoca essa necessidade. Para Erikson (1968), esta fase é própria do homem, pois que todas as instituições que, de alguma forma, envolvem os seres humanos possibilitam, que eles expressem preocupação com as próximas gerações, bem como de alguma forma facilitam seu relacionamento a fim de torná-los um guia, um O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 110 professor ou um mentor dos mais jovens com o objetivo de aperfeiçoar a sociedade como um todo. Quando as pessoas de meia idade não procuram ou não conseguem dar vazão a essa necessidade (de orientar gerações futuras), “elas podem estagnar, ter sensações de tédio e empobrecimento interpessoal” (ERIKSON, 1968, p. 138). A força básica própria da preocupaçãocom as próximas gerações é o cuidar, assim, esse procedimento nada mais é do que uma preocupação com o próximo que se manifesta com base na necessidade de ensinar, não só para ajudar terceiros, mas também para ajustar a própria identidade. (ERIKSON, 1968). 3.4.8. Integridade do Ego versus desespero De acordo com Erikson (1968), é a fase derradeira do desenvolvimento psicossocial ou maturidade e velhice, pois trás a opção entre integridade do indivíduo ou desespero. Estas opções ocorrem baseadas na avaliação que a pessoa faz de toda a sua vida, mormente, a forma com que lidou com as vitórias ou falhas ao longo de sua existência. Se a avaliação for positiva, a tendência será o sentimento de integridade do eu ou do Ego que nada mais é do que a pessoa conscientizar-se e aceitar seu lugar, sua condição atual e o passado. O sentimento de desespero poderá surgir se a pessoa, ao olhar sua vida, perceber que perdeu oportunidades, aborrecer-se por aquilo que não fez, arrepender-se do que fez, sentindo que não pode corrigir as falhas passadas. Erikson (1986) apoiado no estudo que fez em parceria com Kivnick (1986) indicou uma receita aos idosos para minimizar o possível desespero e iniciar ou reforçar a integridade do Ego. Esta receita baseia-se no envolvimento de idosos em atividades novas, participar da vida O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB O REF. TEÓRICO DE FREUD E ERIKSON 111 intensamente, desenvolver novas habilidades, buscar desafios e até voltar a estudar, se possível. A força básica associada a essa última fase do desenvolvimento é a sabedoria que surge fundamentada na integridade do Ego e é expressa na preocupação que a pessoa demonstra com o todo de sua vida. Esta sabedoria é transmitida a outras gerações em uma integração de experiências, é melhor expressa pelo termo “herança” (SCHULTZ e SCHULTZ, 2002). Assim, pode-se afirmar que os caminhos percorridos para a estruturação da personalidade foram apresentados, pelo menos, em li nhas gerais, sendo possível para o leitor entender como é importante o processo de desenvolvimento humano para estabelecimento da personalidade que sofrerá, ao longo da existência da pessoa, todo tipo de influência oriunda do meio social ou de seus próprios instintos. Quanto às teorias explicitadas de Freud e Erikson sobre o desenvolvimento, são praticamente complementares, ou seja, a de Freud oferece uma base que facilita a compreensão dos pontos de vista de Erikson e, ambas, contribuem, como pode ser apreendido do capítulo para o entendimento das possíveis influências da religião na vida dos adolescentes. A próxima seção tratará da fé e da religião. Inicialmente, ambos os termos, fé e religião, serão apresentados ao leitor à guisa de promover um melhor entendimento de ambos à luz de diversos autores, sobretudo, as idéias de James. Conhecer a fé e a religião, pelo menos, no que se refere às suas questões básicas, é sumamente importante neste trabalho, já que nele será enfocada a influência que a religião poderá exercer nos jovens universitários. 4. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 113 Esta seção tem como objetivo discutir a questão da fé e da religião sob a perspectiva teórica de James Fowler sem, contudo, ter a pretensão de esgotar o significado de ambas as palavras, apenas situá-las como aspectos importantes na definição social das crenças. O Brasil é um país que possui importante diversidade religiosa e, nesse âmbito, a adolescência é um período da vida receptivo a muitas influências, conforme já foi explicitado anteriormente. Assim, a questão religiosa, geralmente significativa ao indivíduo em todo o seu processo evolutivo, assume um papel especial na adolescência. Pode-se basear no pressuposto de que a contestação típica do jovem, assim como recai sobre tudo o que envolve valores, crenças, posicionamentos sociais, formas de viver e encarar a vida, também, recaia sobre a religião e a fé. Considerando-se esse pressuposto de torna-se importante a apresentação de algumas considerações sobre tais termos, até como forma de compreender as diferentes formas sociais de abordar as crenças sobre um ser supremo transcendental. Em relação à fé cristã, esta é compreendida por Fowler como um dom de Deus. Este entendimento surgiu desde o início da Igreja primitiva. A fé foi vista como dada por Deus ao crente. A personalidade do indivíduo torna-se envolvida só depois de receber a fé como um dom divino, e essa fé é, constantemente, compreendida em termos de comportamento moral e ético, além de maturidade espiritual e emocional. A personalidade pode ser também percebida como geradora de equilíbrio e controle ao indivíduo, unificando os campos de força que permeiam a existência humana. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 114 Para Thomas Groome (1985) a fé envolve crescimento sobre as respostas adequadas ao dom da fé, ou seja, aos comportamentos morais, éticos, religiosos, entre outros. Por sua vez, Fowler (1992), entende a fé como as experiências humanas de lealdade e confiança. A fé é o processo universal humano de construir significado, que é uma parte integrante do desenvolvimento do “eu”, ou seja, do Ego. Ainda de acordo com o mesmo autor, tem-se que a fé: - é uma disposição da pessoa inteira (cognição, emoção e vontade); - é a confiança e lealdade, investidas em um centro ou centros de valor e poder; - é quem dá ordem e coerência à totalidade da vida; - é quem destina apoio aos compromissos cotidianos da pessoa, bem como a seus comportamentos e ações; - é quem oferece orientação, coragem, esperança e significado à vida ou é o modo pelo qual uma pessoa vê a si mesma em relação às outras, sob um pano de fundo de significados e propósitos compartilhados (FOWLER, 1992, p. 15). Como se pode notar, a fé não está limitada à fé cristã, é parte importante da consciência humana. A fé cristã envolve, primordialmente, a fé em Deus e indica que se trata de: - um dom de Deus; - um tipo específico de conhecimento; - envolve a resposta adequada da pessoa à auto -revelação de Deus; - uma verdade não construída pelo ser humano, ela vem de Deus, portanto, só se aprende a verdade por meio de Deus. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 115 Com base nas considerações acima sobre a fé, é possível apreender que a pessoa pode ter dois tipos de fé, ou seja, a fé como investimento em centros de valor e poder que oferece ordem, coerência, significado e esperança à vida cotidiana e a fé em Deus ou fé cristã que dá valor, segurança e significado existencial, definitivo e ontológico a cada ser. No que se refere à religião, antes de maiores considerações seria importante a definição de Émile Durkheim (1912, p. 79): Uma religião é um sistema unificado de convicções e práticas relativo às coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas; convicções e práticas que unem em uma comunidade chamada Igreja todos os que se aderem a elas. Quanto à religião, Tillich (1974) identifica-a como sendo de dois tipos: a religião revelada, cujo sentido é mais restrito e estreito e a religião cujo sentido é mais amplo, pois diz respeito ao do espírito humano. Em suma, Tillich, define a religião não como uma função específica da vida espiritual do indivíduo, mas o quanto de profundidade há em todas as funções do homem. A religião é uma dimensão da vida humana com capacidade de transformar todaessa vida, é o próprio aspecto de profundidade presente na totalidade do espírito humano. Ainda de acordo com Tillich (1974), é o sustentáculo da vida espiritual do homem, o perfil religioso do espírito humano. Dessa forma, é a dimensão de profundidade de toda a existência humana. As religiões podem ser entendidas como facilitadoras da missão humana, uma vez que são capazes de oferecer equilíbrio, razão e estética à vida humana, portanto, é inquestionável que a religião pode influenciar o ser humano, sobretudo o adolescente, conforme já foi explicitado no início deste capítulo, que se encontra em um período da vida receptivo a muitas influências. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 116 Encerrando esta apresentação dos termos fé e religião, convém, destacar as posições de Smith e Fowler sobre religião, sobretudo porque Smith inspirou consideravelmente Fowler em suas investigações sobre a fé. Para Smith (1963), nas investigações sobre a fé, as religiões são “tradições cumulativas”, ou seja, são as várias expressões de fé das pessoas no passado que influenciam e alteram a fé no presente. Smith afirma que a fé é despertada e alimentada cumulativamente pelos elementos da tradição, portanto, pela religião, pois a religião em sua concepção pode ser estruturada por ritos, profecias, textos de escrituras, mitos que denomina “tradições cumulativas”. A religião de acordo com o entender de Fowler (1992, p. 35): “é constituída pelas formas que a fé molda para que sua expressão, celebração e vivência em relação ao ambiente último como a fé a imaginou no passado e imagina agora” Para bem se entender a abrangência e profundidade da religião, é importante a compreensão da dinâmica da fé que, neste trabalho, terá como pano de fundo as concepções de James Fowler. Para se compreender a dinâmica da fé, é importante entender que os conteúdos específicos dela são irrelevantes para sua definição final. A fé pode apresentar ou não sua expressão em formas religiosas, institucionais ou cúlticas (MIRANDA, 2003). Cabe ressaltar que, antes mesmo de o indivíduo definir-se como religioso ou não, ele já está sedimentado por questões de fé. Ainda em relação à fé, Droguett (2000, p. 116) explicita que a fé recolhe ícones do ser mais perfeito – significante último - , construído em horizontes de esperança na qual os seres humanos depositam seus desejos, suas utopias de um mundo melhor, mais justo, onde o presente é magia e milagre transformador da realidade alienante e sem sentido. Unem-se assim o amor, o desejo, o imaginário, o simbólico e os signos que o ser humano cria para fazer sentido. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 117 Segundo Droguett (2000, p. 118), para um indivíduo de fé “tudo o que há de sagrado, de transcendente, de divino, está contido nas profundidades da vida”. Quando os temas religião e fé estão presentes, inúmeras manifestações podem ser colhidas de diversos autores. Por exemplo, James Fowler (1992), organizou e sistematizou a dinâmica de desenvolvimento da fé, por meio dos denominados estágios da fé. Fowler observa que a fé é entendida como fé humana, ou seja, o viver humano que é direcionado por questões sobre a fé que surgem do pensar, questionar, vivenciar, refletir e buscar na vida respostas sobre o significado de estar vivo. Assim, as perguntas de fé, na ótica de Fowler (1992, p. 15), têm como objetivo: “ajudar-nos a entrar em contato com o processo dinâmico e padronizado pelo qual achamos a vida significativa”. Para Fowler (1992), as primeiras noções de fé do ser humano surgem com o nascimento, visto que, normalmente, o ser humano é recebido, pós- natal, de forma acolhedora e com certo grau de fidelidade por parte daquele que cuidará dele. Assim, o relacionamento entre cuidador e cuidado, entre pais e filhos começará a desenvolver vínculos de confiança e lealdade mútuas, tornando o ambiente confiável e providente, estabelecendo um padrão pactual de fé. A teoria estrutural – desenvolvimental da fé, apresentada por Fowler (1992), possui sua base no conhecer e agir das pessoas apoiadas na contribuição que a Psicologia do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget e Psicologia do Desenvolvimento Moral de Kohlberg ofereceram ao entendimento da fé como forma de conhecer e interpretar. Para Piaget (1976), o ser humano inicia seu processo de conhecimento e interpretação apoiado nos estágios cognitivos que possuem seqüência e são invariáveis. Pode-se dizer que um estágio é um conjunto integrado de estruturas operacionais que fazem parte do processo de pensamento da pessoa em certo momento. Um estágio representa um relacionamento equilibrado entre indivíduo e seu ambiente, e esse equilíbrio FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 118 provém da assimilação feita nas estruturas de pensamento da pessoa daquilo que deve ser conhecido ou compreendido no ambiente. Quando aparecem novidades na vida da pessoa ou desafios que não podem ser assimilados nas estruturas já existentes, estas, se possível, gerarão novas estruturas de conhecimento, havendo, então, a transição de um estágio para outro, ou seja, um amadurecimento que causa uma transformação para melhor, no padrão operacional das operações intelectuais (PIAGET, 1976). Por meio desses amadurecimentos, os reflexos serão sentidos no conhecer e agir do indivíduo, ou seja, em sua forma de conhecer e interpretar as coisas, resultando em capacidade para o entendimento da fé. A concepção de Kohlberg (1968), bastante semelhante à de Piaget (1976), afirma que o julgamento e a ação, notadamente, as de cunho moral possuem um núcleo racional, portanto, as escolhas pessoais não são apenas uma questão de valores e sentimentos são resultados, sobretudo de conteúdos, racionais que em última análise, são atos cognitivos. Kohlberg (1968), assim como Piaget (1976) entende que, cada estágio de desenvolvimento, inclusive, o moral, é caracterizado por uma forma específica de raciocínio que obedece hierarquias ou a seqüências, vindos um após o outro de forma invariável e universal. Dessa forma, pelas posições de Piaget e Kohlberg pode-se entender que ambos compreendem os estágios de desenvolvimento baseados nas estruturas de pensamento e raciocínio que são típicas em cada uma das fases da vida, possibilitando à pessoa desenvolver sua fé, de acordo com os conhecimentos e modo de agir que vai organizando por meio de suas experiências pessoais. Pode-se afirmar que a compreensão que se busca do ser humano, como ser total só será alcançada se forem considerados os diferentes instantes da vida do homem, ou seja, para se compreender o todo é minimamente necessário conhecimento de suas várias partes componentes físicas, emocionais e de relação social. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 119 Como já foi mencionado, Fowler (1992, p.40), entende a fé como um “fenômeno humano”. Considera que a pessoa possui peopensões para a fé e que o desenvolvimento delas depende do ambiente em que o indivíduo cresce e a forma como é acolhido no mundo. Assim sendo, as primeiras experiências de fé e fidelidade surgem com o nascimento e o desenvolvimento da pessoa, valorizando-s,e assim, as relações mãe-filho, criança-família, criança-sociedade. Para Fowler (1992), a importância dos relacionamentos infantis e dos vínculos familiares comprometem o homem com o mundo e, no mundo, em termos de confiança, lealdade e fé. Assim é que afirma: Por sua consistência em suprir as nossas necessidades, por nos criarem um espaço valioso em suas vidas, aqueles que nos recebem providenciamuma experiência inicial de lealdade e confiabilidade. E antes que possamos usar a linguagem, formar conceitos ou mesmo ser considerados conscientes, começamos a formar nossas primeiras intuições rudimentares acerca de como é o mundo, de como ele nos considera, e se podemos nos ‘sentir em casa’ aqui. (FOWLER, 1992 p. 25). Ainda para o mesmo autor, a expressão de confiança, fidelidade e fé em relação ao próximo, às instituições, às religiões que o indivíduo tem, estão intimamente ligadas ao processo dinâmico das relações pais e filhos pois, quando for de confiança e lealdade Fowler (1992, p.25) chama de “Padrão Pactual de Relacionamento”. Com base nessa posição, é possível entender que a personalidade está diretamente vinculada na relação de um indivíduo com o outro de uma maneira bastante particular, com um significado específico para cada indivíduo e situação. Considerando a fé como uma forma de ser da pessoa total, como modo de organizar as experiências da vida pode-se falar da inter-relação existente entre fé e identidade, uma vez que nossos comprometimentos e confianças moldam nossa identidade e fé. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 120 4.1. Fé e Identidade A busca da identidade constitui-se em um processo dinâmico e turbulento, visto constituir-se na busca de si mesmo, de sua autonomia, de seu posicionar-se no mundo desde os primeiros momentos da relação mãe e filho e com maior ênfase na adolescência. Erikson (1968), considera que a amamentação é o mais simples e indiferenciado sentimento de encontro da criança com sua mãe, e esse encontro deve ser de confiança e reconhecimento mútuos, cuja necessidade permanece no homem ao longo de sua vida. De acordo com Miranda (2003), se as primeiras relações ligarem a criança a uma necessidade de confiança em si e nos outros, na adolescência esta retornará e será revelada em uma procura mais obstinada de relação autêntica. Para o adolescente, acreditar no outro durante o processo de estruturação de sua identidade é importante. A identidade surge com a confiança de que igualdade e continuidade interiores coincidem com a igualdade e continuidade do significado que tem para os outros, seus pares e para si mesmo. Tillich (1974) nessa linha de raciocínio cita que a, fé é um ato da pessoa como um todo, é o ato mais íntimo e global do ser humano. A fé é uma síntese entre função cognitiva, sentimento e desejos da pessoa, não é uma simples opinião, mas, um estado. Quem tem fé, tem coragem para se auto-afirmar, para ser em si mesmo. Nesse processo de busca de identidade, precisa-se considerar que o que está dando orientação e sentido às lutas e esperanças aos pensamentos e ações da pessoa é a fé. Esta é uma orientação da pessoa total, não é uma dimensão separada da vida, é uma orientação da personalidade em relação a si mesmo, ao próximo e ao universo. Constitui- FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 121 se em uma maneira de crer e ou criar as coisas em uma relação e ou relacionamento de lealdade e confiança à outras pessoas, causas, instituições e centros transcendentes de valor e poder que constituem o sentido de suas vidas. (TILLICH, 1974). Em seus escritos, Fowler (1992) destaca a inter-relação entre fé e identidade no padrão triádico da fé que na base, o eu e o outro, estariam em uma relação de amor, confiança e lealdade mútuos, o que torna possível a identidade. Ainda, que em cada relacionamento significativo que se tem, em cada instituição da qual se faz parte, se está ligado a outros em confiança e lealdade para com o centro de valor e poder. Reunir esses inúmeros papéis e significados em uma unidade integrada e operacional é função de nossa identidade e nossa fé. A fé como instância imaginativa permite vislumbrar as condições últimas da existência humana, à luz da qual se organizam não só nossas ações que irão dar coerência à vida, mas também nosso próprio Ego que nada mais é do que a síntese dos processos de adaptação, integração e criação de significado em busca da resposta para à pergunta: quem sou eu? Para Fowler (1992), o padrão da fé humana forma-se apoiado nas pessoas e instituições e nos investimentos que estas fazem em relação a seus pares, familiares, enfim, seu ambiente social. A fé, assim entendida, não é sempre religiosa em seu contexto ou conteúdo, para Fowler (1992 p. 15) é “o modo pela qual uma pessoa vê a si mesma em relação aos outros, sobre um pano de fundo de significados e propósitos compartilhados”. Para o autor, a fé é o surgimento, a criação de um sentido, um significado e um valor às coisas cotidianas; é um processo que envolve a capacidade do ser humano sob o prisma cognitivo, emocional e vontade pessoal. A fé dá origem à identidade da pessoa humana, uma vez que ela faz parte da experiência humana e não se limita à fé religiosa, cristã, ela é integradora da consciência humana, do eu do indivíduo e do Ego do ser. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 122 4.2. Os estágios da fé Fowler (1992) propôs a teoria desenvolvimental, na qual concebe a proposição, organização e sistematização dos Estágios da Fé, assim, os estágios da fé, apresentam uma inter-relação dinâmica das estruturas formais e do poder estruturador dos conteúdos específicos da fé. Miranda (2003) observa que o modelo estrutural dos estágios da fé, é representado por uma espiral que sugere um movimento ascendente, cujos aspectos dos estágios anteriores são resgatados, ampliados, reestruturados e incorporados aos estágios posteriores. Dessa forma, cada estágio delimita o surgimento de um novo conjunto de potencialidades ou forças na fé, trata-se de um processo dinâmico que está sempre mudando, evoluindo, proporcionando uma crescente diferenciação no desenvolvimento do indivíduo, à medida que possibilita maior liberdade reflexiva do uso da razão na fé, na perspectiva de se assumir papéis em uma nova lógica de raciocínio moral, formando a unidade e a coerência do mundo da própria pessoa. Assim, os estágios da fé possibilitam a expressão dos símbolos (imagens, valores e histórias) que evocam e renovam a fé da pessoa. Os estágios da fé relacionados desenvolvimentalmente são identificados por: Estágio 1 – Fé Intuitivo-Projetiva; Estágio 2 – Fé Mítico-Literal; Estágio 3 – Fé Sintético-Convencional; Estágio 4 – Fé Individuativo-Reflexiva; Estágio 5 – Fé Conjuntiva. Estágio 6 – Fé Universalizante Cada estágio de fé, proposto por Fowler (1992, p. 238), tem sua força correspondente relacionada e identificada por: FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 123 Primeira Infância (Fé Intuitivo-Projetiva) – surgimento da imaginação, formação de imagens em um ambiente último; Infância (Fé Mítico-Literal) – surgimento de narrativa e formação de histórias da fé; Adolescência (Fé Sintético-Convencional) – formação de Identidade e moldagem de uma fé pessoal; Início da Idade Adulta (Fé Individuativo-Reflexiva) – construção reflexiva de ideologia, formação de um sonho vocacional; Idade adulta (Fé Conjuntiva) – paradoxo, profundidade e responsabilidade intergeracional pelo mundo; Idade adulta (Fé Universalizante) – estágio bastante raro. As pessoas que dele fazem parte, podem ser consideradas, como se refere Fowler (1992), libertadoras dos grilhões sociais, políticos, econômicos e ideológicos que aprisionam o ser humano. Dentre esses estágios, será destacado, no presente estudo, o estágio 3, Fé Sintético-Convencional, por oferecer conteúdo teórico que permite uma análise da fé como sentidoda vida na adolescência, objeto desta pesquisa. É preciso que se conheça cada um dos estágios propostos por Fowler (1992), pois a adolescência dá importância ao desenvolvimento humano como um todo, e os primeiros passos do desenvolvimento humano conduzem o indivíduo à adolescência e, em última análise, esta dirige a pessoa à vida madura e à velhice. Os estágios da fé propostos por Fowler (1992) possuem, como sustentáculo a teoria do desenvolvimento de Piaget e moral de Kohlberg. A teoria de Piaget (1976), conforme explicado anteriormente, afirma que todas as pessoas passam por estágios de desenvolvimento, que são lineares, não variáveis e universais, definidos pelas capacidades biológicas ou genéticas de cada ser. Os estágios acontecem em uma seqüência fixa e a passagem de um estágio a outro pode acontecer em idades diferentes, dependendo dos seguintes fatores de superação: FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 124 · a maturação pessoal interior (está ligada à hereditariedade); · a questão educativa (transmitida socialmente); · a equilibração (a interação entre os fatores anteriores). De acordo com Piaget (1976), todos os estágios representam uma estrutura de conjunto e possuem uma condição de preparação específica, assim como de acabamento. A teoria piagetiana não destaca diretamente fatores emocionais ou comportamentais na organização da cognição do conhecimento, pois estes fatores são incluídos de forma indireta, por meio de suas interações com o ambiente, sempre no que tange à construção das estruturas cognitivas. Nesse ponto, em particular, as construções cognitivas entendem a fé como uma construção cognitiva que acontece na vida da pessoa, passo a passo, conforme ela se desenvolve e adquire complexidade em seu desenvolvimento de fé (FOWLER, 1992). Cabe destacar que a teoria de Piaget, ao explicar o desenvolvimento cognitivo do ser, facilita a compreensão do modo em que são construídas as relações do indivíduo com as idéias de Deus, ética, dogmas, rituais, símbolos e a própria Igreja, destacando a relevância das relações entre organismo e ambiente, as idéias e os objetos na construção de um sentido no que se referem às estruturas cognitivas. A idéia da Epistemologia Genética, ou seja, como a gênese humana influencia no desenvolvimento do conhecimento das estruturas cognitivas é a base para o entendimento do ser humano como um ser religioso ou apenas utópico, no que se refere a entender a fé como algo universal. Isto posto, passar-se-á a uma breve apresentação do pré-estágio e dos estágios propriamente ditos da fé, conforme proposta de Fowler (1992). FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 125 4.2.1. Lactância e fé indiferenciada: pré-estágio Fowler (1992) denominou como pré-estágio o período de lactância e fé indiferenciada, momento que tem no relacionamento mãe e filho a qualidade de mutualidade, que facilitará ou dificultará a urgência da fé que se forma nesse estágio na organização da confiança, autonomia, esperança e coragem ou seus contrários. Esta vivência permeará de forma decisiva aquilo que virá, posteriormente, no desenvolvimento da fé. Nas relações mãe e filho, nesse período, as crises geram um narcisismo no filho, cuja experiência de ser o centro perpetuar-se-á a dominar na vida do indivíduo. (ERIKSON, 1968). A transição para o estágio 1 será possibilitada pelo no uso mais expressivo dos símbolos da fala e jogos rituais, que acontece com a convergência do pensamento e da linguagem, além de um contato maior e mais expressivo com o mundo a seu redor. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 126 4.2.2. Estágio 1: fé intuitivo-projetiva O estágio 1, próprio de crianças entre três e sete anos, refere-se à fé intuitivo-projetiva, cuja característica principal é o recurso utilizado pela criança para se relacionar com os outros, rotineiramente, por meio de fantasias e imaginação. Isso lhe possibilita entender o mundo da experiência por meio de imagens que registram as compreensões e sentimentos intuitivos da criança em relação às condições últimas da vida (FOWLER, 1992). O autor destaca (p.117), que o estágio da “primeira autoconsciência”, do egocentrismo (pensamento centrado em si próprio), do surgimento da primeira consciência da morte e do sexo, de acordo com o que é transmitido de forma mais explícita pela família ou cultura, da qual faz parte a criança. Nesse processo, quando ocorrem inadequações, surgem os tabus e a rigidez moral, aliás, um dos pontos que se procurará verificar no presente estudo. A transição ao estágio 2, verifica-se com o surgimento do pensamento operacional - concreto, resolução dos conflitos edípicos e com a preocupação de esclarecer o que é real e imaginário. 4.2.3. Estágio 2: fé mítico-literal Este estágio é marcado pelo surgimento das operações concretas que capacitam a criança, em fase escolar, a destacar a realidade do “faz de conta”, a narrar as próprias vivências, ordenar a perspectiva própria com a dos outros, experienciar um mundo mais previsível, assumindo para si as histórias, crenças, normas, comportamentos morais que simbolizam vivências de seu meio (FOWLER,1992). Para isso, o caminho que utiliza para dar unidade e valor às experiências, é a história repleta de conteúdos simbólicos e dramáticos, rica FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 127 em detalhes, contudo, pobre em reflexão sobre os significados. Neste estágio, o ponto inadequado que emerge, consiste no exagero de conteúdos simbólicos destrutivos, maldosos fazendo com que a dinâmica do estágio fique cerceada em sua riqueza e criatividade. A percepção das contradições encontradas nas fantasias, possibilita uma reflexão a respeito dos significados, facilitando a passagem ao estágio três, que conduz a criança ao pensamento operacional-formal. As vivências típicas desse estágio propiciam o assumir de uma perspectiva interpessoal mútua, criando o que Fowler (1992, p. 129) denomina “necessidade de um relacionamento mais pessoal com o poder unificador do ambiente último”. 4.2.4. Estágio 3: fé sintético-convencional O estágio 3, fé sintético convencional será, especialmente, considerado no presente trabalho, visto fornecer uma compreensão do desenvolvimento da fé e da religião que corriqueiramente ocorre no período evolutivo da “adolescência”, um dos focos desta pesquisa. Durante o desenvolvimento é comum que algumas crises importantes se façam presentes. A adolescência é uma etapa do desenvolvimento típica e rica em crises marcantes e decisivas no processo de evolução do ser humano. Surge da necessidade de se concluir uma etapa, dar consciência a uma parte da existência para ingressar em outra, assim, estruturar o indivíduo como um ser total. É um período marcado pela desorientação geral, pelas modificações físicas, emocionais e psicossociais, um momento de alguma reflexão e síntese além de orientação dos objetivos futuros. Nesse período, o indivíduo necessita de “espelhos” que, muitas vezes, são seus pares, tanto para controlar seu crescimento, notadamente, físico como para dividir suas vivências e angústias, prazeres e, sobretudo, FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 128 desprazeres, visto que o egocentrismo ainda é muito forte no adolescente (FOWLER, 1992). Para Knobel (1981), essa é a fase do desenvolvimento no qual o adolescente recorre “a espelhos” que nada mais são do que um comportamento defensivo em busca de uniformidade e até equilíbrio, assim o grupo, nesse momentoevolutivo, é a ponte que possibilita ao adolescente a transição apropriada no mundo externo rumo à individualização própria do adulto. A questão grupal ocupa uma posição de destaque para o adolescente e, rotineiramente, é motivo de queixa ou ciúme dos pais que se sentem preteridos nesse momento. Assim o adolescente pode ser visto como em constante crise, seu mundo é um contínuo desestruturar e reestruturar e o grupo ajuda a solucionar grande parte de seus conflitos ou, pelo menos, é capaz de minimizá-los, apoiado nas comparações desencadeadas entre os pares. No momento que o adolescente vê em seu grupo, nos pares um núcleo de apoio e de referenciais, está se instalando o período das operações formais que viabiliza os conteúdos lógicos do pensamento. Segundo Miranda (2003), o adolescente de posse dessa capacidade de raciocínio, organiza sua realidade de forma mais precisa, utilizando-se de hipóteses para preencher os espaços, as lacunas, as possíveis falhas de compreensão de suas construções mais infantis. Freitas (1983) enfatiza que a vida intelectual surge depois da vida emocional, cujo desenvolvimento é mais precoce, mais acelerado e faz parte ativa do desenvolvimento cognitivo. A cognição possibilita ao adolescente distanciar-se conscientemente da realidade, formular hipóteses a respeito desta e apresentar o perfil de uma hipótese mais aceitável ou mais amadurecida, logicamente, tendo sempre como pano de fundo a realidade, as experiências, as influências e as culturas que cercaram e cercam o jovem. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 129 Em que pese tais influências, a condição adquirida para enfocar a realidade capacita o adolescente a estabelecer valores às coisas que, até então, lhe pareciam pouco importantes. Em suas conquistas, enfatiza e aperfeiçoa procedimentos para estabelecer graus de importância a cada uma dessas conquistas, como se fossem medalhas auferidas. Para Freitas (1983, p. 77), esse comportamento adolescente torna-o cada vez mais “onipotente”, já que passa a formar a realidade com seus ”idealismos”, pois torna-se apto a raciocinar de maneira mais abstrata. Como síntese do pensamento modelado por essa onipotência, surge o que Freitas (1983, p. 77) chama de “plano de reformas”. Este “plano” para ser implementado carece de apoio social que coloca o adolescente em confronto com a sociedade que vai ditar parâmetros da realidade, fazendo surgir o amadurecimento do “estado de reformador idealista” para o “realizador objetivo”. Este processo qualifica o adolescente para agir como adulto inserido na realidade da qual faz parte. Para Miranda (2003), inserir-se no mundo social do adulto, com suas modificações internas e seu plano de reforma é o que vai definindo sua personalidade, ideologia, ou seja, a identidade. A busca da identidade constitui-se em um processo dinâmico e profundo que obriga o adolescente a encarar sua realidade e seu eu baseados em experiências, além das constantes reestruturações externas e internas que se manifestam como instabilidade da identidade. É um período marcado por contradições, ambivalências, consigo mesmo, com o meio social e familiar, destacando-se este último que, geralmente, funciona como ativador e pacificador das incongruências típicas pelas quais o adolescente passa. Apoiado nesse processo quase convulsivo, o indivíduo adquire condições de projetar-se ou projetar o eu para papéis e relacionamentos futuros. Fowler (1992 p. 131) destaca que “Esta projeção representa fé no eu que a pessoa está se tornando e confiança de que esse eu será recebido e ratificado pelo futuro”. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 130 Em outras palavras, o adolescente vai descobrindo o que Fowler (1992, p. 132) denomina de “outros significativos”, ou seja, são aquelas pessoas significativas, importantes para o adolescente que têm o poder de contribuir de forma positiva ou negativa para a organização das imagens do próprio eu, da identidade e da fé em formação que restauram uma ordem de sentido e valor. No presente trabalho, os “outros significativos” serão avaliados sobretudo em relação à família e à interferência desta na formação do indivíduo, se mais positiva, ou seja, mais construtiva e organizadora ou mais negativa voltada à repressão ou restrição dos comportamentos, como o próprio Fowler (1992) se refere, pois preconiza que, nesse primeiro período da vida, o adolescente aprende a contar ou não com as outras pessoas. Assim, Fowler (1992), Erikson (1968) são alguns entre os diversos autores que entendem que o meio social interfere decisivamente na estruturação da personalidade do indivíduo. Freud (1923-25), quando definiu as Fases do Desenvolvimento Psicossexual, embora se pautasse em conteúdos sexuais para organizá-las, reconhecia a importância do meio social na formação do indivíduo. Desse modo, é importante ressaltar que a dimensão interpessoal possui valor singular na vida da pessoa. Para Erikson (1968) as raízes da futura capacidade ou não do ser humano relacionar-se de forma interpessoal estão localizadas na primeira idade do homem, que possui como conflito nuclear a relação entre confiança e desconfiança. Segundo o autor, nesse primeiro período da vida o adolescente aprende a contar ou não com as outras pessoas (confiar ou não no outro). Estas interações ou relações irão proporcionar, em grande parte, a base para a identidade da pessoa. Pautando-se nesses contatos interpessoais ou não, surge a necessidade de confiança em um ser superior, necessidade essa quase que universal entre os adultos, e a instituição cultural desse primeiro estágio é a FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 131 religião. O autor afirma que o sentido de confiança do bebê, também, é um precursor de fé no adulto e destaca: Quando superamos a nossa amnésia universal dos aspectos terrificantes da infância, também, podemos reconhecer, agradecidos, o fato de que, em princípio, a glória da infância sobrevive também na vida adulta. A confiança torna-se pois a capacidade de se ter fé – uma necessidade vital para a qual o homem tem de encontrar alguma confirmação institucional. Ao que parece, a religião é a mais antiga e tem sido a instituição mais duradoura a serviço de um ritual de restauração de um sentimento do mal, contra o qual promete armar e defender o homem, Erikson (1976, p. 106). O sentimento de confiança básica constitui a pedra angular da personalidade, e o adolescente busca, em sua relação consigo mesmo, com seus pares, com os demais e com o mundo consolidar o sentido de confiança que foi ou deveria ter sido conferido na infância (ERIKSON, 1968). Para que ocorra a entrada do jovem no mundo adulto, é preciso que todo seu passado integre-se com os aspectos rejeitados e os internalizados, bem como as novas exigências do meio e as estabelecidas no universo das relações interpessoais. Na concepção de Fowler (1992), no estágio três – fé sintético- convencional, cujas relações sociais começam a ser construídas, as pessoas são vistas e avaliadas em função de suas qualidades e formas interpessoais de relacionamento, desvinculadas dos contextos sociossistêmicos nos quais estão inseridas. Estas formas interpessoais de relacionamento são um dos pontos que se procurará identificar na presente pesquisa. Na visão de Fowler (1992, p. 138), “são esses movimentos que ajudam o adolescente recriar seu eu interior e o espaço necessário para uma consciência de si mesmo, formando um conjunto de imagens e valores que o identificam”. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICADE JAMES FOWLER 132 O autor explica que a identidade e a fé começam a emergir no adolescente, quando este for capaz de aceitar, concomitantemente, seus aspectos infantis e de adulto, assimilando as transformações pelas quais está passando, situação que ocupa grande parte de sua energia, visto que envolve não só suas capacidades cognitivas e emocionais, mas também sua vontade. Pode-se dizer que se trata de uma certa criação da identidade e da estruturação mais intensa do próprio Ego. Na realidade, esse momento só vai ocorrer quando a maturidade biológica estiver pareada pela maturidade afetiva e intelectual, possibilitando a entrada do adolescente no mundo do adulto, com valores e ideologias próprias. O grande responsável pelo surgimento de valores e ideologias pessoais é, se não outro, o próprio processo de desenvolvimento pelo qual passa todo o indivíduo. Assim, se os valores e as ideologias auxiliam na resolução da crise adolescente, quanto mais vivenciado e adequado for o desenvolvimento da pessoa, menos intensa será sua experiência das atribulações adolescentes. Além disso, o campo de força do jovem formado pelos seus valores e ideologias dará sentido, em última análise, a seu mundo e à sua própria vida, criando e desenvolvendo a fé em si e nos outros, estruturando seu ambiente no que se refere à interpessoalidade. Neste estágio é possível destacar o que Fowler (1992, p. 147) denominou como “o mito do próprio devir da pessoa em identidade e fé”, que significa introjetar o passado e o futuro possível em uma imagem do ambiente último, referenciado por características da personalidade individual. Quanto à formação da identidade e organização da fé pessoal, Fowler (1992, p. 142) destaca: O sistema de fé do indivíduo que se encontra no estágio 3 é convencional no sentido de ser visto como o sistema de fé de todo mundo ou da comunidade toda. E é sintético no sentido de FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 133 ser não-analítico, existe como uma espécie de totalidade unificada, global. 4.2.5. Estágio 4: fé individuativo-reflexiva O estágio 4 fé individuativo-reflexiva caracteriza-se pela transição desenvolvimental da adolescência para a fase adulta. Fowler (1992, p. 154), considera esse estágio, particularmente, crítico e o denomina de estágio “desmitologizador”, suas características consistem na visibilidade de reflexão, questionamentos e opções. No processo dinâmico, o questionamento no que diz respeito à responsabilidade por si próprio, estilo de vida, crenças, atitudes, comprometimentos será inevitável. Na realidade, estão sendo questionadas a própria identidade e composições de fé definidas, até então, pelo conjunto de papéis e vivências interpessoais nos centros significativos. Surge a busca por uma alternativa nova de vida e de identidade. O núcleo do estágio 4 é a busca pela autenticidade que consiste em procurar uma individualidade coerente com a identidade real ou identidade verdadeira, não estereotipada da pessoa. 4.2.6. Estágio 5: fé conjuntiva Atingir este estágio é próprio de quem está vivenciando a meia idade. O estágio 5 pertence a quem amadurece com a vida, viu e sentiu a realidade, não vive em devaneios ou fantasias nem necessita defender posições inflexíveis no dia-a-dia. São pessoas que se conscientizaram e dominaram as ilusões juvenis, tanto pelas experiências internas como externas, buscando hoje compreender as contradições da vida, integrando- as com vistas ao aprimoramento pessoal e das relações sociais. FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 134 Livres dos esforços próprios dos primeiros anos, a meia idade desenvolve o que Fowler (1992, p. 166) chama de “imaginação irônica”, que significa capacidade de ver e estar nos conteúdos mais profundos da pessoa ou de seu grupo. Poucos são aqueles que caminham para o estágio 6 – Fé universalizante, mobilizados pela vivência e ação entre um mundo não transformado e uma visão e lealdade transformadas. 4.2.7. Estágio 6: fé universalizante Raros são os que congregam a fé universalizante, estágio 6. Desse grupo, fazem parte as pessoas que gestaram e geraram composições de fé, nas quais a percepção do ambiente último inclui todo ser. Fowler (1992 p. 170) menciona “Gandhi, Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá”, como representantes desta perspectiva do estágio 6. As apreensões universalizantes e a necessidade de preservar o próprio ser e bem-estar referenciam os paradoxos próprios do estágio 5, cuja superação implica a transição ao estágio 6, que acontece quando ocorre um direcionamento da vida, dos sonhos, dos ideais aos imperativos do amor e da justiça a despeito das ameaças à própria pessoa, integridade, aos grupos e instituições, que abrem mão e abdicam em direção de uma realidade transcendente. Fowler (1992, p. 168,177) destaca que “a pessoa engaja-se em gastar e se gasta para a transformação da realidade atual na direção de uma realidade transcendente”. Nesse processo, é “elaborada”, a identidade da pessoa e a busca do ideal da transformação. A própria luta, a própria causa, o próprio caminho tornam-se ideais da pessoa, daí, entende-se porque esses expoentes do estágio 6 angariam tantos adeptos, “eles corporificam a promessa e a fascinação de nossa futuridade compartilhada”. Fowler (1992, p. 177). FÉ E RELIGIÃO SOB A PERSPECTIVA TEÓRICA DE JAMES FOWLER 135 Em resumo, pode-se entender que a Fé para James Fowler surge de acordo com o próprio desenvolvimento do homem, interligando-se às suas vivências, conforme as etapas evolutivas que vão se apresentando ao longo dos contextos socialmente apresentados ao indivíduo, com base em suas ações, comportamento do grupo a que pertencem e das instituições sociais e religiosas com as quais mantêm algum tipo de vínculo. Assim sendo, Miranda (2003) considera que percorrer a trajetória da fé, bem como angariar a experiência humana é viver um estado de busca permanente, com altos e baixos inerentes à sua natureza e dinamismo. Como se pode apreender das idéias de James Fowler, Jean Piaget, Freud, Erikson, Fromm a respeito do desenvolvimento humano é que este é absolutamente complexo e só acontece baseado em uma trajetória de experiências individuais que cada ser busca passar e depende, ao final, de como foi essa passagem ou essas experiências, o mesmo ocorrendo com a Fé que, como já foi explicitado, tem seu desenvolvimento entrelaçado ao próprio desenvolvimento do homem. Assim, este estudo teve a competência de oferecer ao leitor uma visão ampla sobre a fé e a religião, tópicos explorados na pesquisa aqui desenvolvida. Partir-se-á, a seguir, para a apresentação e discussão dos resultados obtidos à luz do referencial teórico que embasou o presente trabalho. 5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 137 Esta seção apresenta e discute os resultados obtidos na pesquisa que teve a participação de sessenta universitários, divididos em quatro grupos: 15 adolescentes universitários religiosos do sexo masculino; 15 do sexo feminino; 15 não religiosos do sexo masculino e 15 não religiosos do sexo feminino. Em relação aos resultados, serão enfocados os sociodemográficos, de religiosidade, de posicionamento religioso e os diversos itens obtidos no método de Rorschach: afeto, autopercepção, ideação, relação interpessoal, mediação e seção principal. Este método avalia os aspectos estruturais da personalidade.Para descrever o perfil da amostra, segundo as variáveis em estudo, foram elaboradas tabelas de freqüência das variáveis categóricas como, por exemplo, sexo e classificação dos parâmetros de personalidade e tabelas estatísticas descritivas com as respectivas medidas de posição e dispersão: média, desvio-padrão, valores mínimo, máximo e mediana. Também foram construídas tabelas de freqüência das variáveis contínuas como, por exemplo: idade e escores dos parâmetros da avaliação de personalidade. Para comparar as variáveis categóricas entre os grupos foram usados: o teste Qui-Quadrado ou se os valores esperados eram menores do que cinco, o teste Exato de Fisher. Estes testes compararam a proporção de uma determinada característica entre os quatro grupos estudados. Para comparar os quatro escores dos parâmetros entre os quatro grupos foi usado o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, que se mostra mais adequado para tamanhos de amostras reduzidas ou variáveis que não APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 138 têm distribuição normal ou valores assimétricos. Quando houve diferença significativa, foi usado o teste de comparação múltipla. O nível de significância adotado aos testes estatísticos foi de 5% (p<0,05), Análise Descritiva e comparativa das variáveis sociodemográficas entre os quatro grupos pesquisados: masculino religioso M-R; feminino religioso F-R; masculino não-religioso M-NR; feminino não- religioso F-NR. Os dados das Tabelas 1 a 7, a seguir, apresentam as contingências e as estatísticas descritivas das variáveis de perfil e as respectivas comparações entre os quatro grupos de jovens: masculino religioso M-R; feminino religioso F-R; masculino não-religioso M-NR; feminino não-religioso F-NR. Doravante, para melhor entendimento, sempre que houver referência aos grupos de jovens pesquisados, as denominações acima serão empregadas. Tabela 1 – Distribuição da idade dos sujeitos pesquisados. São Paulo, 2004. Grupo N Média DP Máx Mediana Min M-R 15 21,27 1,53 23 22 18 F-R 15 21,07 1,28 23 21 19 M-NR 15 21,47 1,19 23 22 19 F-NR 15 21,27 1,16 23 21 19 Os dados da Tabela 1 comparam as idades dos sujeitos dos grupos de pesquisa, apresentando para uma amostra composta de 15 adolescentes por grupo os seguintes dados: o Grupo Masculino Religioso M-R possui APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 139 como média etária 21,27 anos, desvio-padrão de 1,53 e mediana de 22 anos. O Grupo Feminino Religioso F-R possui a média etária de 21,07 anos, desvio-padrão de 1,28 e mediana de 21 anos. Já o Grupo Masculino Não-Religioso M-NR possui média etária de 21,47 anos, desvio-padrão de 1,19 e mediana de 22 anos. Por sua vez, o Grupo Feminino Não-Religioso F-NR apresenta média de idade de 21,27 anos, desvio-padrão de 1,16 e mediana de 21 anos. Assim, a partir dos dados obtidos por meio do Teste de Kruskal- Wallis: p= 0,8199, verifica-se não existir diferença significativa de idade entre os grupos pesquisados, fato que pode ser considerado positivo, visto que a experiência de vida e a própria evolução dentro da adolescência como conseqüência dessa experiência e poderia interferir nos resultados não foi significante. Tabela 2 – Distribuição dos sujeitos pesquisados por semestre nos cursos em que se encontram matriculados M-R F-R M-NR F-NR Grupo Semestre N % N % N % N % Total 1 - 2 4 26,67 3 20,00 3 20,00 5 33,33 15 3 - 4 5 33,33 4 26,67 5 33,33 4 26,67 18 5 - 6 5 33,33 6 40,00 6 40,00 6 40,00 23 = 7 1 6,67 2 13,33 1 6,67 0 0,00 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 140 Os dados da Tabela 2 apresentam o semestre letivo dos cursos em que se encontram matriculados os sujeitos pesquisados entre grupos. O grupo M-R possui 26,67% dos sujeitos matriculados nos 1º e 2º semestres; 33,33% nos 3º e 4º semestres; 33,33% nos 5º e 6º semestres e apenas 6,67 com matrícula no 7º semestre. Por sua vez, o grupo F-R possui 20% dos sujeitos matriculados nos 1º e 2º semestres; 26,67% nos 3º e 4º semestres; 40% nos 5º e 6º semestres e 13,33% matriculados no 7º semestre. O grupo M-NR apresenta 20% dos sujeitos matriculados nos 1º e 2º semestres; 33,33% nos 3º e 4º semestres; 40% nos 5º e 6º semestres e 6,67% com matrícula no 7º semestre. Já o grupo F-NR indica que 33,33% dos sujeitos encontram-se matriculados nos 1º e 2º semestres; 26,67% nos 3º e 4º semestres e os restantes 40% nos 5º e 6º semestres. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p= 0,368, nota-se que não houve diferença significativa entre os semestres dos cursos freqüentados pelos sujeitos que compõem cada um desses grupos. O contexto parece ser favorável à presente pesquisa, pois, grandes diferenças de tempo de estudo podem trazer experiências importantes aos indivíduos, novas amizades, novos conhecimentos, novas relações com seus pares de estudo, etc., não sendo significativa a diferença ora avaliada, mais próximos estarão os sujeitos da amostra em termos da presente pesquisa. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 141 Tabela 3 – Distribuição dos turnos em que os sujeitos da pesquisa estudam M-R F-R M-NR F-NR Grupo Turno N % N % N % N % Total Integral 2 13,33 1 6,67 6 40,00 2 12,50 11 Diurno 5 33,33 4 26,67 4 26,67 6 37,50 19 Noturno 8 53,33 10 66,67 5 33,33 8 50,00 31 Total 15 100 15 100 15 100 16 100 61 Os dados da Tabela 3 apresentam o turno que os sujeitos da amostra estudam, no período diurno (manhã ou tarde), noturno ou integral. O grupo M-R possui 53,33% dos sujeitos estudando no período noturno; 33,33% no diurno que tanto pode ser manhã como tarde e 13,33% em período integral. Quanto ao grupo F-R, 66,67% de seus integrantes estudam no período noturno, 26,67% no período diurno (manhã ou tarde) e 6,67% em período integral. Já os componentes do grupo M-NR, estão subdivididos em 33,33% no período noturno, 26,67% no diurno (manhã ou tarde) e 40% em período integral. O grupo F-NR possui 50% dos seus componentes estudando no período noturno, 37,50% no diurno (manhã e tarde) e 12,50% em tempo integral. À luz do Teste Exato de Fisher: p= 0,368, não houve diferença significativa de turno de estudo entre os adolescentes universitários dos grupos pesquisados. Este resultado, assim como os das tabelas anteriores, por si só, indicam certa uniformidade da amostra em termos de variáveis secundárias que poderiam interferir nos resultados. No caso desta Tabela 3, por exemplo, a simples observação no contato com alunos, pode-se perceber que alunos do período noturno mostram-se mais maduros em comparação com os de outros turnos. Assim sendo, não havendo diferença significativa de turno de estudo, esta variável terá menor influência nos resultados finais da pesquisa. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 142 Tabela 4 – Distribuição da renda familiar dos sujeitos do estudo M-R F-R M-NR F-NR Grupo Renda N % N % N % N % Total =10 2 13,33 5 33,33 1 6,67 4 26,67 12 11 - 15 5 33,33 3 20,00 2 13,33 1 6,67 11 16 - 20 1 6,67 6 40,00 4 26,67 4 26,67 15 > 20 7 46,67 1 6,67 8 53,33 6 40,00 22 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Pelos dados da Tabela 4, pode-se observar a renda familiar dos sujeitos da pesquisa, tendo como base o salário mínimo, que, à época da coleta de dados, era em R$240,00. O grupo M-R possui 13,33% dos sujeitos com renda familiar até dez salários-mínimos (SM), 33,33% entre 11 e 15 (SM), 6,67 entre 16 e 20 (SM) e 46,67 cuja renda ultrapassou a casa dos 20 (SM). O grupo F-R indicou que 33,33% dos sujeitos possuemrenda familiar até dez (SM), 20% entre 11 e 15 (SM), 40% situam-se na faixa entre 16 e 20 (SM) e 6,67% acima dos 20 (SM). Quanto ao grupo M-NR, 6,67% dos sujeitos possuem renda familiar até dez (SM); 13,33% entre 11 e 15 (SM); 26,67% entre 16 e 20 (SM). Já o grupo F-NR apresenta os seguintes dados: 26,67% possuem renda familiar até dez (SM); 6,67% entre 11 e 15 (SM), 26,67 entre 16 e 20 (SM) e 40% acima de 20 (SM). De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,055, não existiu diferença significativa de renda familiar entre os grupos pesquisados, fato que não diferencia, de forma exagerada, os sujeitos da pesquisa em termos de classe social, conseqüentemente, as experiências cotidianas podem não ser tão distantes. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 143 Tabela 5 – Distribuição da origem domiciliar dos componentes da amostra M-R F-R M-NR F-NR Grupo Origem N % N % N % N % Total Capital 10 66,67 13 86,67 10 66,67 10 66,67 43 Interior 5 33,33 2 13,33 5 33,33 5 33,33 17 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 5 referem-se à origem domiciliar dos sujeitos da amostra, ou seja, se oriundos da capital ou interior. Em relação a esse item, o grupo M-R possui 66,67% dos sujeitos com origem na capital e 33,33% no interior. O grupo F-R possui 86,67% dos sujeitos com origem na capital e 13,33 no interior. O grupo M-NR possui 66,67% de seus integrantes oriundos da capital e 33,33% do interior. Quanto ao grupo F-NR, 66,67% são originários da capital e 33,33% do interior. Conforme análise baseada no Teste Exato de Fisher: p=0,520, não houve diferença significativa quanto à origem domiciliar dos sujeitos entre os grupos, fato que torna menos discrepante a relação do indivíduo com sua origem, família, amizades que, como já visto no capítulo I, são fatores que interferem na forma de ser do individuo. Tabela 6 – Distribuição da proveniência familiar dos sujeitos da pesquisa: se religiosa ou não. M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Sim 13 86,67 15 100 5 33,33 4 26,67 37 Não 2 13,33 0 0 10 66,67 11 73,33 23 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 144 Os dados da Tabela 6 demonstram a porcentagem dos sujeitos que provêm de família religiosa. Assim, no grupo M-R, 86,67% de seus componentes provêm de família religiosa e 13,33%, não. No grupo F-R, 100% são originários de famílias religiosas. Quanto ao grupo M-NR, 33,33% dos sujeitos provêm de família religiosa e 66,67%, não. Os componentes do grupo F-NR estão subdivididos da seguinte maneira: 26,67% têm origem em família religiosa e 73,33%, não. Cabe destacar que o julgamento de possuir uma família religiosa ou não coube ao próprio sujeito sem qualquer sugestão ou participação do pesquisador. Com base no Teste Qui-Quadrado: X2= 2,16; GL= 3; p=0,001, pode-se afirmar que existe associação significativa entre grupos e família religiosa: os sujeitos religiosos provêm em sua maioria de famílias religiosas, ao passo que os não religiosos, provêm de família não-religiosa. O fato corrobora com Rosa (1996), quando afirma que a família possui importância significativa na formação básica do indivíduo, em especial, até o início da puberdade, momento em que esta família começa a perder espaço aos amigos dos jovens que assumem primordial importância em suas vidas. Entretanto, o resultado aqui apresentado indica que não só o provável ensinamento familiar, mas também os exemplos em relação à religião colaboram de forma significativa na opção do indivíduo em ser ou não religioso, o que revela que as orientações e a postura familiar são significativas na formação do indivíduo, seja neste ou naquele assunto, conforme foi desenvolvido do longo Seção 2. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 145 Tabela 7 – Distribuição da possibilidade de os sujeitos da pesquisa desenvolverem ou não trabalho profissional concomitantemente aos estudos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Sim 8 53,33 10 66,67 5 33,33 6 40,00 29 Não 7 46,67 5 33,33 10 66,67 9 60,00 31 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 7 indicam a porcentagem dos sujeitos pesquisados que desenvolvem ou não trabalho profissional concomitantemente aos estudos. O grupo M-R possui 53,33% desenvolvendo atividades profissionais, ao mesmo tempo, em que estão matriculados em algum curso de graduação e 46,67% não desenvolvem atividades profissionais concomitantes aos estudos. No grupo F-R, 66,67% desenvolvem atividades profissionais e 33,33% não. No grupo M-NR, 33,33% trabalham e estudam, concomitante, ao passo que 66,67% não. Quanto aos integrantes do grupo F-NR, 40% desenvolvem atividades profissionais concomitantes aos estudos e 60% não. Pelo Teste Qui-Quadrado: X2=3,94; GL=3; p=0,268, não houve diferença significativa em termos de trabalho concomitante aos estudos entre os grupos, condição que não distância os componentes da amostra, também em relação a essa questão. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 146 ANÁLISE DESCRITIVA E COMPARATIVA A RESPEITO DO POSICIONAMENTO RELIGIOSO Os dados das Tabelas 8 a 44, a seguir, apresentam as relações de contingência e as estatísticas descritivas das variáveis de posicionamento religioso e religiosidade (partes A e B do questionário de constatação qualitativa) e as respectivas comparações entre os quatro grupos. Tabela 8 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a crença que possuem em Deus e em sua existência M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 15 100 15 100 9 60,00 12 80,00 51 Discordo 0 0,00 0 0,00 2 13,33 0 0,00 2 Neutro 0 0,00 0 0,00 4 26,67 3 20,00 7 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 8 demonstram quantitativamente os sujeitos que crêem em Deus, os que não possuem essa crença, além dos que se posicionaram de forma neutra, ou seja, não conseguem explicitar sua posição. No grupo M-R, 100% dos sujeitos concordam com a existência de Deus e crêem nele. O mesmo resultado verifica-se no grupo F-R; já no grupo M-NR, 60% dos sujeitos concordam com a existência de Deus e crêem nele; 13,33% discordam, portanto, não crêem nele e 26,67% posicionam-se de forma neutra, não explicitando claramente o que pensam. Já no grupo F-NR, 80% de seus componentes concordam com a existência de Deus e crêem nele e 20% posicionam-se de forma neutra, não explicitando opinião clara. Nesse grupo, nenhum dos componentes afirmou objetivamente discordar da existência de Deus e, portanto, não acreditar nele. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 147 Pelo Teste Exato de Fisher: p= 0,006 existe uma associação significativa entre os grupos e a existência de Deus e a crença neste. O grupo M-NR apresentou menor índice de crença em Deus e em sua existência. A presente tabela chama atenção para o fato de que nos grupos M- NR e F-NR o índice de respostas neutras é de 26,67% e 20%, respectivamente. Frente a esse fato, por inferência, pode-se pensar que existe uma porcentagem maior de sujeitos da amostra que não acredita na existência de Deus, contudo, por questões diversas (culturais, morais, sociais, entre outras) não se sentem confortáveis em explicitar este posicionamento. O próprio fato de o Brasil ser considerado o país mais religioso do mundo pode pressionar as pessoas a não assumirem uma posição contraria à massa da população. Tabela 9 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se a relação entre moral e religião são intimas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 14 93,3312 80,00 5 33,33 8 53,33 39 Discordo 0 0,00 2 13,33 10 66,67 5 33,33 17 Neutro 1 6,67 1 6,67 0 0,00 2 13,33 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 9 apontam a relação existente entre moral e religião na opinião dos grupos pesquisados. Os resultados, expressos porcentualmente indicam que, no grupo M-R, 93,33% dos sujeitos concordam haver relação íntima entre moral e religião e 6,67% colocam-se de forma neutra, ou seja, não deixam claro o que pensam a respeito, ou ainda, não possuem opinião formada sobre o assunto. Nesse grupo, nenhum componente discordou da possível relação entre moral e religião. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 148 No grupo F-R, 80% de seus componentes entendem que a moral e a religião são íntimas, 13,33% discordam da existência de relação entre moral e religião e 6,67% posicionam-se de forma neutra, ou seja, não definiram suas posições. Já o grupo M-NR indicou que 33,33% concordam que moral e religião possuem uma relação íntima; 66,67% discordam que haja relação entre moral e religião e nenhum componente do grupo posicionou-se de forma neutra. Quanto ao grupo F-NR, 53,33% concordam que existe relação íntima entre moral e religião; 33,33% posicionam-se claramente sobre alguma proximidade entre moral e religião. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p<0,001, há associação significativa entre grupos e a religião possuir relação com a moral, essa visão é menor entre os sujeitos do grupo M-NR. Nesta tabela, há de se destacar que os grupos M-R e F-R, compostos por sujeitos que, de forma geral, conhecem mais aspectos religiosos que os grupos compostos por sujeitos não religiosos, oferecem um porcentual significativo de concordância sobre religião e moral possuírem uma relação muito próxima, até mesmo intimista. Assim, pode-se inferir aquele que tem contato próximo com a religião, percebe que esta guarda, além de outras características, um considerável caráter moral. Tabela 10 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a possibilidade dos propósitos divinos implicarem a adequação de suas respectivas condutas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 13 86,67 13 86,67 0 0,00 4 26,67 30 Discordo 1 6,67 1 6,67 14 93,33 8 53,33 24 Neutro 1 6,67 1 6,67 1 6,67 3 20,00 6 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 149 Os dados da Tabela 10 demonstram o porcentual de sujeitos que entendem que os propósitos divinos sobre si mesmos implicam uma conduta de vida mais adequada, mais controlada. No grupo M-R, 86,67% dos sujeitos concordam com esse fato, e 6,67% discordam e outros 6,67% mostram-se neutros em relação a essa afirmação. O grupo F-R apresenta o mesmo porcentual de concordância sobre os propósitos divinos implicarem uma melhor conduta que o grupo M- R. Já o grupo M-NR, apresenta um índice de discordância de 93,33%, havendo 6,67% de sujeitos, que se posicionam de forma neutra e nenhum dos componentes do grupo concorda com a possibilidade de o indivíduo ter uma conduta adequada em razão aos propósitos divinos estarem agindo sobre ele. O grupo F-NR apresenta 26,67% de seus componentes, concordando com a afirmação, 53,33% discordam e 20% indicam neutralidade, ou melhor, indefinição sobre a questão. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p<0,001, existe associação significativa entre os grupos e a conduta do indivíduo. No caso em tela, é possível observar que nos grupos compostos por sujeitos religiosos o índice de concordância é de 86,67%, tanto ao grupo M-R como ao F-R, o que pode demonstrar que o indivíduo, ao ter um relacionamento mais próximo com a religião, a fé ou a vida religiosa adapta seus princípios comportamentais à luz daquilo que é indicado pela sua religião, portanto, pode-se inferir que a religião interfere significativamente no comportamento do indivíduo. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 150 Tabela 11 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre como entendem suas famílias: se muito afetiva e que gosta de diálogo ou não M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 15 100 10 66,67 14 93,33 13 86,67 52 Discordo 0 0,00 3 20,00 1 6,67 2 13,33 6 Neutro 0 0,00 2 13,33 0 0,00 0 0,00 2 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 11 apresentam um perfil da família dos sujeitos, sobretudo, no tocante à afetividade e no prazer pelo diálogo. Quanto aos aspectos familiares, os componentes do grupo M-R foram unânimes em concordar (100%) que possuem uma família afetiva que gosta de diálogo. No grupo F-R, 66,67% concordam que suas famílias são afetivas e gostam de diálogo, 20% discordam que suas famílias possuem essas características e 13,33% posicionam-se de forma neutra. Já no grupo M-NR, 93,33% de seus componentes concordam que suas famílias são afetivas e gostam de diálogo e 6,67% discordam, e nenhum componente desse grupo colocou-se de forma neutra. Quanto ao grupo F-NR, 86,67% dos sujeitos concordam que possuem família com essas características, afetividade e prazer pelo diálogo e 13,33% discordam. Não houve sujeitos que se posicionaram de forma neutra nesse grupo. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,120, não houve diferença significativa de afetividade e prazer pelo diálogo por parte das famílias entre os grupos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 151 Tabela 12 – Distribuição dos sujeitos quanto ao posicionamento que se deve ter em relação à literatura que critica as tradições M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 9 60,00 11 73,33 13 86,67 12 80,00 45 Discordo 4 26,67 4 26,67 1 6,67 2 13,33 11 Neutro 2 13,33 0 0,00 1 6,67 1 6,67 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 12 verificam o porcentual de sujeitos da amostra que concorda, discorda ou se coloca de forma neutra em relação à literatura que critica as tradições religiosas. No grupo M-R, 60% de seus componentes concordam com a posição de as pessoas abrirem-se para a literatura que critica as tradições religiosas, 26,67% discordam e 13,33% posicionam-se de forma neutra. No grupo F-R, 73,33% concordam com a afirmação de que deve haver abertura para a literatura que critica as tradições religiosas, 26,67% discordam, não havendo elementos que se posicionam de forma neutra. No grupo M-NR, 86,67% concordam com a referida afirmação, 6,67% discordam e 6,67% colocam-se de forma neutra. Os componentes do grupo F-NR posicionam-se com o seguinte porcentual: 80% concordam com a afirmação; 13,33% discordam e 6,67% mostram-se de forma neutra. Conforme o Teste Exato de Fisher: p=0,524, não houve diferença significativa de opinião entre os grupos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 152 Tabela 13 – Distribuição de como os sujeitos entendem suas famílias: rígidas ou não em relação à moral M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 10 66,67 8 53,33 2 13,33 3 20,00 23 Discordo 4 26,67 7 46,67 13 86,67 11 73,33 35 Neutro 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 6,67 2 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 13 apresentam o porcentual que os sujeitos dos diferentes grupos possuem uma família que é rígida em relação à moral. No grupo M-R, 66,67% dos sujeitos concordam possuir família rígida em relação aos aspectos morais; 26,67% discordam e 6,67% posicionam-se de forma neutra, portanto, sem se definir sobre esta postura familiar. No grupo F-R, 53,33% concordam possuir família rígida quanto à moral; 46,67% discordam, não havendo posicionamentos neutros. Já o grupo M-NR, 13,33%confirmam possuir família rígida em relação à moral; 86,67% discordam de possuir família com esse perfil, não havendo posicionamentos neutros. No grupo F- NR, 20% possui família rígida no tocante à moral; 73,33% discordam e 6,67% posicionam-se de forma neutra. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,005, existe associação significativa entre os grupos e rigidez da família em questões morais. Com base nos resultados, é possível observar que os adolescentes universitários religiosos, possivelmente oriundos de famílias religiosas, são os que mais identificam suas famílias como rígidas no tocante aos aspectos morais da vida. Parece haver uma relação próxima entre rigidez e moralismo familiar, com os possíveis vínculos religiosos das famílias. Esta relação corrobora com os resultados observados na tabela que versa sobre a possibilidade de as relações entre moral e religião serem íntimas. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 153 Tabela 14 – Distribuição da posição dos sujeitos sobre a família ser a base do indivíduo M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 14 93,33 13 86,67 13 86,67 14 93,33 54 Discordo 1 6,67 2 13,33 0 0,00 0 0,00 3 Neutro 0 0,00 0 0,00 2 13,33 1 6,67 3 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 14 apresentam a opinião dos sujeitos pesquisados sobre a afirmação de que “a família á a base do indivíduo”. No grupo M-R, 93,33% concordam com tal afirmação; 6,67% discordam e nenhum se manifestou de forma neutra. No grupo F-R, 86,67% concordam com a afirmação; 13,33% discordam e não houve posicionamento neutro. O grupo M-NR indica que seus componentes concordam com a afirmação, atingindo um porcentual de 86,67%; 13,33% posicionam-se de forma neutra e não havendo discordância da afirmação de que a família é a base do indivíduo. No grupo F-NR, 93,33% concordam com a afirmação e 6,67% posicionam-se de forma neutra, não havendo sujeitos discordantes, objetivamente da afirmação. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,409, não houve diferença significativa de opinião sobre a família ser a base do indivíduo entre os grupos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 154 Tabela 15 – Distribuição da posição dos sujeitos sobre suas famílias: se estas são ou não flexíveis e de muito diálogo M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 6 40,00 9 60,00 15 100 12 80,00 42 Discordo 8 53,33 4 26,67 0 0,00 3 20,00 15 Neutro 1 6,67 2 13,33 0 0,00 0 0,00 3 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 15 apresentam o posicionamento dos sujeitos em relação à visão que estes possuem sobre suas famílias, ou seja, se entendem que estas são mais flexíveis e de muito diálogo ou pouco flexíveis e pouco diálogo. No grupo M-R, 40% dos componentes concordam que suas famílias possuem um perfil flexível e de muito diálogo; 53,33% discordam do perfil e 6,67% posicionam-se de forma neutra, ou seja, não explicitam uma opinião objetiva sobre suas famílias. No grupo F-R, 60% concordam que possuem família flexível e de muito diálogo; 26,67% discordam e 13,33% posicionam- se de forma neutra. No grupo M-NR, 100% de seus componentes concordam ter uma família flexível e de muito diálogo, e no grupo F-NR, 80% concordam que possuem família flexível que gosta de diálogo e 20% discordam que sua família apresente esse perfil. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,003, há associação significativa entre grupos e o perfil de flexibilidade e diálogo familiar, e o grupo composto por sujeitos M-R apresenta, porcentualmente, o menor índice de concordância em relação a esse perfil familiar. Por inferência, pode-se supor que o grupo de sujeitos (M-R) possui porcentual maior de discordância quanto a possuir uma família flexível e de diálogo pelo fato de as famílias de jovens religiosos serem religiosas e, APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 155 portanto, mais rígidas e moralistas, conforme sugerem os resultados das Tabelas 9 e 13. Além disso, os grupos masculinos amadurecem, de forma geral, mais tardiamente que os grupos de jovens femininos (ABERASTURY, 1981). Assim, os adolescentes universitários masculinos mais imaturos, ao se depararem com famílias mais rígidas e moralistas não conseguem concordar com a inflexibilidade e menor gosto pelo diálogo por parte dessas famílias. Uma outra possibilidade é pela imaturidade desses adolescentes, as famílias assumem uma postura mais radical como forma de estabelecer limites ao jovem, em que pese este já estar em plena adolescência, caminhando proximamente do final desta. Tabela 16 – Distribuição dos sujeitos sobre como entender suas respectivas famílias como se mais rígida de forma geral M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Concordo 6 40,00 5 33,33 0 0,00 0 0,00 11 Discordo 9 60,00 8 53,33 15 100 14 93,33 46 Neutro 0 0,00 2 13,33 0 0,00 1 6,67 3 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 16 informam o porcentual de sujeitos, por grupo, que consideram possuir famílias rígidas de forma geral. No grupo M-R, por exemplo, 40% de seus componentes entendem possuir famílias rígidas, 60% discordam, não havendo posicionamentos neutros. No grupo F-R, 33,33% dos sujeitos afirmam que suas famílias são rígidas, 53,33% discordam dessa característica presente em suas famílias e 13,33% posicionam-se de forma neutra, ou seja, não explicitam de forma objetiva suas opiniões. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 156 Já no grupo M-NR, nenhum de seus componentes entende possuir família rígida e no grupo F-NR; 93,33% discordam possuir famílias rígidas e 6,67% posicionam-se de forma neutra. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p<0,001, há associação significativa entre grupos e a característica de rigidez presente no perfil da família. O grupo M-R registrou maior concordância de seus componentes quanto a possuírem uma família rígida. Com base nos resultados, é possível verificar que, apenas os grupos religiosos, masculinos e femininos, entendem possuir famílias rígidas, pode- se inferir que estas famílias, na maioria, também religiosas (vide Tabela 6), possuem um grau de moralismo mais acentuado. Conforme os dados da Tabela 13 e, portanto, esse moralismo externalizado pela família atinge o jovem, limitando suas ações e fazendo-o interpretar esses limites como rigidez familiar, ou seja, não caracterizam suas famílias como rígidas. Assim, famílias não vinculadas nitidamente com alguma religião, indicam maior flexibilidade, fato que corrobora com as Tabelas 9, 13 e 15. Tabela 17 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de adesão à religião que possuem M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 11 73,33 5 33,33 16 1 0 0,00 0 0,00 4 26,67 8 53,33 12 2 6 40,00 5 33,33 0 0,00 2 13,33 13 3 7 46,67 5 33,33 0 0,00 0 0,00 12 4 2 13,33 5 33,33 0 0,00 0 0,00 7 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 157 De acordo com os dados da Tabela 17, que verificam o grau de adesão à religião por parte dos componentes de cada grupo, observa-se que 40% dos sujeitos do grupo M-R possuem grau médio de adesão à religião; 46,67% possuem um grau elevado de adesão e 13,33% um grau muito elevado, ou seja, possuem adesão total à religião. No grupo F-R, há um equilíbrio entre os índices de adesão à religião, ou seja, 33,33% possuem grau regular de adesão, a mesma porcentagem apresenta grau elevado e, também, 33,33% dos componentes do grupo possuem adesão total à religião. No grupo M-NR, 73,33% dos sujeitos possuem ausência totalde apego à religião e 26,67% não têm apego à religião, embora sem indicarem ênfase à resposta com termos como “jamais”, “ausência total”, etc. Já no grupo F-NR, 86,66% não possuem apego à religião e, apenas, 13,33% têm um apego regular. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,001, verifica-se uma associação significativa entre os grupos e o grau de adesão à religião, sendo esta maior entre os grupos, cujos componentes são religiosos. Pode-se inferir que a adesão dos jovens religiosos à religião em graus moderados, alto e muito alto, é resultado do engajamento destes às ações que promovem o comportamento religioso do indivíduo e organizam nele a religiosidade e, portanto, o próprio apego à religião. Assim, pode-se afirmar ainda que o apego a uma determinada religião influencia, consideravelmente, o comportamento do individuo. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 158 Tabela 18 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que as crenças religiosas influenciam seus comportamentos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 1 6,67 8 53,33 6 40,00 15 1 0 0,00 1 6,67 7 46,67 7 46,67 15 2 4 26,67 2 13,33 0 0,00 2 13,33 8 3 7 46,67 7 46,67 0 0,00 0 0,00 14 4 4 26,67 4 26,67 0 0,00 0 0,00 8 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 18 apresentam a porcentagem que os sujeitos da pesquisa sentem a influencia das crenças religiosas em seus comportamentos. No grupo M-R, 46,67% são bastante influenciados em seus comportamentos pelas crenças religiosas, 26,67%, que sofrem regular influência das crenças religiosas em seus comportamentos. No grupo F-R, 46,67% são ser bastante influenciados pelas crenças religiosas em relação a seus comportamentos e 26,67%, totalmente influenciados. Apenas 13,34% dos componentes do grupo F-R não recebem influências da religião em suas formas de ser e agir, e, destes, 6,67% mostram-se categóricos ao afirmar que não sofrem influências de forma alguma. No grupo M-NR, a totalidade dos componentes da amostra afirma que não sofre influências das crenças religiosas em seus comportamentos. Desses, 53,33% fazem esta afirmação de forma absolutamente categórica. Em relação ao grupo F-NR, 86,67% citam que as crenças religiosas não influem em seus comportamentos e, destes, 40% são categóricos a fazer tal afirmação. Os 13,33% dos sujeitos restantes referem que as crenças APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 159 religiosas podem influenciar seus comportamentos, contudo, em um grau médio de influência. Conforme o Teste Exato de Fisher: p<0,001, existe associação significativa entre grupos e o grau que as crenças religiosas influenciam no comportamento com maior influência nos grupos religiosos. Os resultados verificados nesta tabela demonstram que as crenças religiosas, a fé e a religião influenciam significativamente no comportamento dos indivíduos, conforme também mostraram os dados da Tabela 17. Tabela 19 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência que pensam em Deus M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 7 46,67 2 14,29 9 1 1 6,67 0 0,00 6 40,00 7 50,00 14 2 2 13,33 0 0,00 2 13,33 2 14,29 6 3 6 40,00 5 33,33 0 0,00 0 0,00 11 4 6 40,00 10 66,67 0 0,00 3 21,43 19 Total 15 100 15 100 15 100 14 100 59 Os dados da Tabela 19 indicam a freqüência com que os componentes da amostra, subdivididos nos quatro grupos pesquisados pensam em Deus ou em assuntos de natureza religiosa. No grupo M-R, 40% apresentam uma freqüência muito alta de pensamentos voltados a Deus ou a algo ligado à religião; 40% pensam bastante; 13,33% pensam regularmente e apenas 6,67% não possuem esse tipo de pensamento. No grupo F-R, o 66,67% de seus componentes pensam sempre em Deus ou em assuntos relativos à religião e 33,33% pensam bastante, mas não sempre, nesse tipo de assunto. Já no grupo M-NR, 86,67% não possuem este tipo de pensamento, em particular, e 46,67% que nunca APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 160 pensam em Deus ou em outros temas religiosos. Já 13,33% possuiem esse tipo de pensamento vez por outra, ou seja, às vezes. Por sua vez, o grupo F-NR apresentou os seguintes porcentuais: 64,29% não pensam em Deus ou em assuntos voltados ã religião. Desses, 14,29% que não possuem estes pensamentos em momento nenhum; 14,29% admitem que, às vezes, pensam em Deus e em temas relacionados à religião e, finalmente, 21,43% estão sempre pensando em Deus ou em temas voltados à questão religiosa. Conforme o Teste Exato de Fisher: p<0,001, pode-se afirmar que existiu associação significativa entre grupos e pensamentos em Deus, e estes foram mais freqüentes entre grupos de sujeitos religiosos. Os resultados aqui expressos indicam que o indivíduo religioso possui engajamento, de forma geral, com a fé e a religião, conforme pode ser observado nas tabelas que descrevem a religiosidade dos indivíduos (Tabelas 8, 17 e 18). Tabela 20 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que experimentam a religião, como obrigação moral M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 1 6,67 13 86,67 10 66,67 24 1 2 13,33 1 6,67 2 13,33 3 20,00 8 2 3 20,00 4 26,67 0 0,00 1 6,67 8 3 5 33,33 5 33,33 0 0,00 0 0,00 10 4 5 33,33 4 26,67 0 0,00 1 6,67 10 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 20 apresentam os índices que os componentes da amostra experimentam suas religiões, como obrigações morais, considerando os distintos grupos estudados. No grupo M-R, para 36,66% a APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 161 religião é experimentada como uma obrigação moral e para 33,33% é rigorosa; e para 20% que, vez por outra, experimentam suas religiões, como uma obrigação moral e 13,33% que isso não acontece. No grupo F-R, 60% consideram experimentar a religião como obrigação moral. Desses, 26,67% fazem-no de forma rígida e inequívoca. Já 26,67%, algumas vezes, experimentam a religião como uma obrigação moral e para 13,34% isso não acontece. À luz do Teste Exato de Fisher: p< 0,001, existiu associação entre grupos e a forma moral de experimentar a própria religião, e isto ocorreu de maneira mais significativa nos grupos de sujeitos religiosos. Como também é possível notar nos dados da Tabela 9 que a religião e a moral possuem relação bastante íntima, nesta tabela, os sujeitos apenas estão explicitando o quanto sentem a relação de proximidade. Tabela 21 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a intensidade da crença que dirigem a Deus M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 6,67 1 1 0 0,00 0 0,00 5 3,33 1 6,67 6 2 0 0,00 0 0,00 6 40,00 8 53,33 14 3 4 26,67 2 13,33 3 20,00 3 20,00 12 4 11 73,33 13 86,67 1 6,67 2 13,33 27 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 21 apresentam os porcentuais das respostas dos sujeitos que compõem os diversos grupos sobre a intensidade da crença em Deus. O grupo M-R, por exemplo, indica que 100% de seus participantes crêem em Deus de forma bastante intensa, contudo, 73,33% relatam uma intensidade total, quase indescritível. Praticamente, o mesmo APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 162 ocorre com o grupo F-R, onde 100% afirmam crer em Deus de maneira intensa, e 86,67% creêm em Deus de forma muito intensa. O grupo M-NR, por sua vez, indica que 40% possuem uma crença de intensidade regular em Deus; 3,33% não crêem em Deus; 26,67% acreditam intensamente em Deus e 6,67% possuem uma crença de intensidade fortíssima. Conforme demonstra o Teste Exatode Fisher: p<0,001, houve associação significativa entre grupos e a intensidade com que seus componentes acreditam em Deus, e essa intensidade foi maior entre os religiosos. Pode-se observar à luz dos resultados que os sujeitos dos grupos religiosos, portanto, pessoas religiosas, na grande maioria das vezes envolvem-se, consideravelmente, com a religião e a fé, desenvolvendo uma crença intensa em Deus, conforme também é explicitado pela Tabela 17. Tabela 22 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que comparecem a atos religiosos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 2 13,33 0 0,00 12 80,00 9 60,00 23 1 3 20,00 0 0,00 3 20,00 5 3,33 11 2 7 46,67 5 33,33 0 0,00 1 6,67 13 3 1 6,67 8 53,33 0 0,00 0 0,00 9 4 2 13,33 2 13,33 0 0,00 0 0,00 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 22 apresentam porcentualmente, a freqüência com que os jovens universitários, componentes da amostra, comparecem a atos próprios de sua religião, considerando-se o grupo a que pertencem. Assim, no grupo M-R, cerca de 33,33% não comparecem a atos religiosos e 13,33% desses, não comparecem nunca à qualquer ato APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 163 religioso. Entre os sujeitos do grupo, 46,67% freqüentam vez ou outra, aos atos próprios de sua religião; 20% possuem freqüência alta aos atos religiosos e 13,33% freqüência altíssima a tais atos. No grupo F-R, 66,66% dos sujeitos freqüentam bastante os atos religiosos próprios de suas religiões, e 13,33% desses sujeitos apresentam freqüência total a tais atos. Cerca de 33,33% dos sujeitos do grupo F-R freqüentam aos atos religiosos de sua religião de forma regular, ou seja, de forma moderada. Nesse grupo, nenhum sujeito afirmou não freqüentar aos atos religiosos próprios de sua religião. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p< 0,001, existe associação significativa entre grupos e a freqüência com que comparecem aos atos ou serviços religiosos próprios de sua religião. Pelos dados obtidos, pode-se afirmar que os sujeitos religiosos freqüentam mais e de forma mais intensa aos atos religiosos. o fato pode ser explicado pelo maior envolvimento desses jovens com questões ligadas à religião (Tabela 17), além de entenderem a religião como uma obrigação moral (Tabela 20), portanto, moralmente atos religiosos precisam ser freqüentados. Tabela 23 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que rezam para louvar a Deus M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 10 66,67 5 33,33 15 1 1 6,67 0 0,00 5 33,33 6 40,00 12 2 5 33,33 0 0,00 0 0,00 2 13,33 7 3 5 33,33 9 60,00 0 0,00 1 6,67 15 4 4 26,67 6 40,00 0 0,00 1 6,67 11 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 164 Os dados da Tabela 23 expressam a freqüência com que os adolescentes universitários componentes da amostra desta pesquisa rezam ou oram para louvar a Deus, de acordo com o grupo a que pertencem. No grupo M-R, 60% dos sujeitos afirmam que rezam ou oram para louvar a Deus de forma freqüente, 26,67% desse porcentual destacam que o fazem de forma muito intensa. Nesse mesmo grupo, verifica-se que 33,33% dos sujeitos adotam o comportamento de louvar a Deus de forma regular, menos intensa e 6,67% não rezam ou oram com vistas a louvar a Deus. Em relação ao grupo F-R, 100% das componentes desse grupo rezam ou oram bastante para louvar a Deus, e 40% desse porcentual fazem- no de forma muitíssimo intensa. Entre as componentes do grupo F-R, nenhuma manifestou-se afirmando que não possui o comportamento de rezar ou orar a Deus como forma de louvá-lo. No grupo M-NR, 100% não possuem o comportamento de louvar a Deus por meio de rezas ou orações, e 66,67% afirmaram que não cumprem esse ritual em momento algum, nunca. Já o grupo F-NR expressou-se, porcentualmente, sobre o assunto da seguinte maneira: 73,33% não possuem o comportamento de rezar ou orar como forma de louvar a Deus, 13,33% faz-no de forma regular e 13,34% rezam e oram para louvar a Deus de forma bastante intensa. À luz do Teste Exato de Fisher: p< 0,001, houve associação significativa entre os grupos e a freqüência com que seus componentes rezam ou oram como forma de louvar a Deus; esse comportamento de louvar foi maior no grupo F-R. De acordo com os resultados, pode-se afirmar que os indivíduos religiosos foram mais engajados nos preceitos próprios de suas religiões (Tabela 17), e que o gênero feminino, possivelmente, em razão da cultura brasileira expressa mais seus sentimentos e é menos discreto, em relação a expressar comportamentos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 165 Tabela 24 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que rezam para pedir auxílio M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 1 6,67 0 0,00 12 80,00 7 46,67 20 1 0 0,00 0 0,00 3 20,00 4 26,67 7 2 4 26,67 1 6,67 0 0,00 1 6,67 6 3 4 26,67 6 40,00 0 0,00 2 13,33 12 4 6 40,00 8 53,33 0 0,00 1 6,67 15 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 24 ilustram, quantitativamente, a freqüência com que os sujeitos da amostra rezam ou oram para pedir auxílio a Deus, de acordo com os grupos M-R, F-R, M-NR, F-NR, a que pertencem. Assim, no grupo M-R, 66,67% demonstram possuir rotineiramente o comportamento de pedir auxílio a Deus por meio de orações e 40% fazem- no com uma freqüência altíssima. Ainda no grupo M-R, 26,67% possuem o comportamento acima expresso, contudo, este ocorre, vez por outra, sendo sua freqüência regular. No grupo M-R, 6,67% jamais rezam para pedir auxílio a Deus. No grupo F-R, 93,33% rezam com altíssima freqüência em busca de auxílio divino, e 53,33% de forma bastante intensa. Apenas 6,67% possuem o comportamento de orar para pedir auxílio dentro de um patamar que pode ser considerado regular, ou seja, rezam vez por outra em busca de auxílio. O grupo M-NR expressou-se indicando um índice de 100% para negar qualquer comportamento de rezar ou orar a Deus com a finalidade de obter algum auxílio, e 80% nunca possuem tal comportamento. No grupo F-NR, obteve-se o seguinte porcentual em relação à freqüência com que seus membros rezam ou oram a Deus em busca de auxílio: 73,34% não possuem APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 166 esse comportamento, 6,67% fazem-no com certa regularidade e 20% possuem tal comportamento sempre, sobretudo, 6,67% dos sujeitos. Conforme o Teste Exato de Fisher: p<0,001, foi possível fazer associação significativa entre grupos e a freqüência com que seus componentes rezam para pedir auxílio a Deus, sendo esse comportamento maior entre os sujeitos dos grupos religiosos. Além disso, os resultados indicaram, mais uma vez, que os indivíduos religiosos envolvem-se mais com preceitos religiosos e com comportamentos próprios de pessoas religiosas (Tabela 17). Tabela 25 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a freqüência com que louvam a Deus com músicas, cânticos, entre outras formas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 4 26,67 1 6,67 15 100 14 93,33 34 1 5 33,33 0 0,00 0 0,00 0 0,00 5 2 3 20,00 5 33,33 0 0,00 1 6,67 9 3 2 13,33 6 40,00 0 0,00 0 0,00 8 4 1 6,67 3 20,00 0 0,00 0 0,00 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 25 mostram o porcentual dos sujeitos da pesquisa, por grupo, e a freqüência com que louvam a Deus por meio de cânticos ou tocando instrumentos musicais. Por exemplo, no grupo M-R, 60% não possuem esse comportamento para louvar a Deus, e 26,67% que não cantam outocam instrumentos em louvor a Deus de forma alguma. Nesse mesmo grupo, 20% dos sujeitos possuem tais comportamentos com APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 167 uma freqüência regular e cerca de outros 20% sempre se utilizam de cânticos ou instrumentos musicais para louvar a Deus. No grupo F-R, apenas 6,67% de seus componentes afirmam que nunca se utilizaram de meios musicais para louvar a Deus; já 33,33% afirmam que, vez por outra, cantam e ou tocam instrumentos em louvor a Deus e 60% que fazem isso com uma freqüência altíssima. Nos grupos M- NR e F-NR, 100% e 93,33% de seus componentes, respectivamente, afirmam, categoricamente, que jamais se utilizaram de estratégias musicais para louvar a Deus, e apenas 6,67% dos sujeitos do grupo F-NR afirmaram, com uma freqüência regular louvam a Deus por meio da música. À luz do Teste Exato de Fisher: p< 0,001, pôde-se perceber que existiu associação significativa entre grupos que louvam a Deus por intermédio de cânticos ou instrumentos musicais, com destaque para o grupo F-R. Com base nesses resultados, é possível afirmar que os jovens voltados à fé e à religião louvam com grande freqüência a Deus por meio da música, sobretudo, as jovens do sexo feminino que demonstram maior desprendimento e, talvez, maior espontaneidade para explicitar comportamentos de louvar e ou agradecer a Deus, conforme já identificado anteriormente (Tabela 23). Outra hipótese para esse maior desprendimento feminino para louvar a Deus, a cultura brasileira, de certa forma, não incentiva e até reprime o homem a ter esse comportamento mais sensível, e o mesmo é até bemvisto na mulher. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 168 Tabela 26 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o esforço para não fazer mal às pessoas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 1 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 2 0 0,00 0 0,00 1 6,67 0 0,00 1 3 5 33,33 5 33,33 10 66,67 7 46,67 27 4 10 66,67 9 60,00 4 26,67 8 53,33 31 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 26 apresentam o porcentual, no qual os sujeitos dos diversos grupos pesquisados afirmam esforçarem-se para não fazer mal às pessoas. No grupo M-R, 100% esforçam-se para não fazer mal ao próximo, desses, 66,67% esforçam-se demais no sentido de não causar danos ao outro. No grupo F-R, 93,33% garantiram que se esforçam para não fazer mal às pessoas, apenas um pequeno porcentual de 6,67% dos sujeitos do grupo F-R afirmam que nunca fizeram esse tipo de esforço. Em relação ao grupo M-NR, 93,34% esforçam-se para não prejudicar o próximo e 26,67% reforçaram que se esforçam muito para não provocar danos a terceiros. Nesse grupo, apenas 6,67% dos sujeitos afirmaram que dispendem um esforço regular para não prejudicar ao próximo. No grupo F-NR, 100% dos componentes afirmaram que se esforçam para não trazer prejuízo ao próximo e destes, 53,33% garantiram que se esforçam demasiadamente para não prejudicar outras pessoas. Para o Teste Exato de Fisher: p= 0,172, não houve diferença significativa de opinião e ação entre os grupos, no tocante aos sujeitos da pesquisa não fazerem mal às pessoas. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 169 Tabela 27 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de honestidade que sentem possuir M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 1 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 2 0 0,00 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 3 5 33,33 5 33,33 12 80,00 8 53,33 30 4 10 66,67 9 60,00 3 20,00 7 46,67 29 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 27 apresentam o grau de honestidade que os sujeitos da amostra afirmam que possuem, lembrando que estão subdivididos em quatro grupos: M-R; F-R; M-NR; F-NR. No grupo M-R, 100% sentem que são muito honestos e 66,67% possuem um grau bastante alto de honestidade. No grupo F-R, 93,33% são muito honestos com destaque para 60% que possuem um enorme grau de honestidade. Apenas 6,67% são possuidores de moderado grau de honestidade. Em relação aos grupos M-NR e F-NR, 100% dos sujeitos de ambos os grupos dizem sentir alto grau de honestidade, e 20% dos componentes do grupo M-NR e 46,67% do grupo F-NR sentem possuir um altíssimo grau de honestidade. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p= 0,042, houve associação significativa entre grupos e grau de honestidade que seus componentes dizem possuir, e no grupo M-NR, ocorre o menor índice de sentimento de extrema honestidade entre os quatro grupos. Além disso, observa-se que esse grau altíssimo de honestidade é sentido, sobretudo, pelos grupos religiosos, fato que corrobora com a moral vinculada à religião (Tabela 9). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 170 Tabela 28 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação ao sentimento de dever de honestidade que possuem à família M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 1 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 6,67 1 2 0 0,00 1 6,67 1 6,67 1 6,67 3 3 2 13,33 2 13,33 10 66,67 5 33,33 19 4 13 86,67 12 80,00 4 26,67 8 53,33 37 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 28 indicam em cada grupo pesquisado qual o porcentual de adolescentes que entende dever a honestidade que possuem à família. No grupo M-R, 100 devem à própria família a honestidade que possuem e 86,67% desses fazem tal afirmação enfaticamente. No grupo F-R, 93,33% creditam à própria família sua honestidade e 80% fazem-no de forma contundente. Apenas 6,67% do grupo F-R afirmam, de forma regular, sem muita ênfase, que devem a honestidade conquistada à família. O grupo M-NR, 26,67% creditam fortemente à família sua honestidade, 66,67% assim o fazem, contudo, de forma menos enfática, e 6,67% confirmam essa mesma posição de forma bem regular, sem qualquer ênfase. Já no grupo F-NR, 6,67% não crêem que sua honestidade seja oriunda da própria família, essa mesma porcentagem 6,67% consideram de forma regular, 33,33% creditam à família a honestidade que possuem e 53,33% creditam fortemente à família sua forma honesta de ser. Conforme o Teste Exato de Fisher: p= 0,006, houve significativa associação entre grupos e o fato de os sujeitos entenderem que a APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 171 honestidade que possuem, é originária de suas famílias. Os grupos religiosos são os que mais enfatizam a família, como originária de honestidade, portanto, um valor moral. Assim, mais uma vez existiu uma proximidade relevante em relação à religião e à moral (Tabela 9). Tabela 29 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação a lembrarem-se da família como a que lhes educou bem, quando recebem elogios quanto à sua educação M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 1 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 6,67 2 2 2 13,33 0 0,00 4 25,00 3 20,00 9 3 5 33,33 2 13,33 7 43,75 7 46,67 21 4 7 46,67 13 86,67 5 31,25 4 26,67 29 Total 15 100 15 100 15 100 16 100 61 Os dados da Tabela 29 apresentam o porcentual de jovens, componentes da amostra, que se lembram da família, como responsável pela sua educação quando esta é elogiada. No grupo M-R, 80% lembram sempre da família como responsável pela sua educação, sobretudo, nos momentos em que sua forma de ser é elogiada; 13,33% lembram-se da família como a responsável pela sua educação, apenas uma vez ou outra, e 6,67% do grupo M-R nunca lembram da família como responsável pela sua educação. No grupo F-R, 100% afirmam lembrar da família como aquela que lhes educou bem, mormente, quando a educaçãoque possuem é elogiada. Já no grupo M-NR, 25% lembram de forma regular da família, como a responsável educação que possuem e 75% lembram sempre, e 31,25% desses lembram muitíssimo que sua família foi a grande responsável pela sua forma educada de ser. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 172 No grupo F-NR, apenas 6,67% de seus componentes nunca lembram da família como aquela que lhes educou bem; 20% com certa regularidade; 46,67% corriqueiramente e 26,67% lembram muito que não seriam tão educados se não fosse sua família. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p= 0,032, houve associação significativa entre grupos e lembrança em relação à família, toda vez que o sujeito foi elogiado, valorizando a família como aquela que o educou bem. O grupo F-R é aquele cujos componentes mais se mobilizam para reconhecer a família, como responsável pela sua boa educação, demonstrando acentuada ligação afetiva da mulher com a família, situação que continua a acontecer mesmo com maior participação do sexo feminino no mercado de trabalho. (seção 2,p ) Tabela 30 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à freqüência com que meditam nas Escrituras Sagradas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 4 26,67 0 0,00 14 93,33 12 80,00 30 1 2 13,33 4 26,67 1 6,67 1 6,67 8 2 5 33,33 4 26,67 0 0,00 2 13,33 11 3 2 13,33 6 40,00 0 0,00 0 0,00 8 4 2 13,33 1 6,67 0 0,00 0 0,00 3 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 30 apresentam a freqüência com que os componentes da amostra meditam sobre as Escrituras Sagradas, considerando-se os grupos dos quais fazem parte. Assim, no grupo M-R, 40% afirmam não meditarem sobre as Escrituras Sagradas e 26,67% que nunca o fizeram. Cerca de 33,33% relatam que vez por outra meditam sobre as Sagradas Escrituras e 26,66% fazem-no com bastante freqüência. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 173 No grupo F-R, 26,67% dos sujeitos não possuem o costume de meditar sobre as Sagradas Escrituras, 26,67% fazem-no com regularidade e 46,67% sempre. Quanto aos grupos M-NR e F-NR verifica-se que 100% e 86,67% dos sujeitos, respectivamente, não meditam sobre as Escrituras Sagradas; 13,33% dos componentes do grupo F-NR fazem-no com freqüência regular. Conforme o Teste Exato de Fisher: p<0,001, houve associação significativa entre grupos e a freqüência com que seus componentes meditam sobre as Escrituras Sagradas, e os índices maiores encontram-se no grupo F-R. Pode-se observar, pelos resultados acima, que os jovens do sexo masculino, em que pese serem religiosos, indicam um índice expressivo de não reflexão ou meditação a respeito das Escrituras Sagradas, fato que diminui quando se trata de adolescentes do sexo feminino por ser mais sensível e interessado ao aprofundar seus pensamentos em Deus ou, pelo menos, sente-se mais à vontade para divulgar esse comportamento que não é muito valorizado na cultura brasileira. Tabela 31 – Distribuição das respostas dos sujeitos a respeito da importância que atribuem aos atos religiosos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 1 6,67 0 0,00 15 100 10 66,67 26 1 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 6,67 2 2 7 46,67 2 13,33 0 0,00 2 13,33 11 3 1 6,67 7 46,67 0 0,00 0 0,00 8 4 5 33,33 6 40,00 0 0,00 2 13,33 13 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 174 Os dados da Tabela 31 demonstram, porcentualmente, a importância dos atos religiosos na opinião dos sujeitos da amostra. No grupo M-R, 40% percebem que os atos religiosos são bastante importantes; 46,67% vêem importância regular nos atos religiosos e 13,34% não atribuem qualquer importância aos atos próprios de uma religião. No grupo F-R, 86,67% percebem que os atos religiosos são bastante importantes e 13,33% creditam regular importância aos menos. Quanto ao grupo M-NR, 100% dos seus componentes não atribuem importância aos atos religiosos e no grupo F-NR 73,37% também não dão importância aos atos religiosos; 13,33% consideram regular importância e essa mesma porcentagem (13,33%) credita enorme importância. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p< 0,001, houve associação significativa entre grupos e a posição destes a respeito da importância atribuída aos atos religiosos, e a importância maior é creditada pelos grupos religiosos, especialmente. O F-R. o que se pode apreender, a partir dos resultados é que os jovens religiosos demonstram forte aderência aos princípios que norteiam sua fé (Tabela 17) e que a religião possui importante controle sobre o comportamento e sentimento dos indivíduos (Tabela 18 e 22). Tabela 32 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra quanto à intensidade das experiências de sentimentos religiosos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 14 93,37 10 66,67 24 1 1 6,67 0 0,00 1 6,67 3 20,00 5 2 7 46,67 2 13,33 0 0,00 2 13,33 11 3 4 26,67 4 26,67 0 0,00 0 0,00 8 4 3 20,00 9 60,00 0 0,00 0 0,00 12 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 175 Os dados da Tabela 32 expressam o grau de intensidade que os adolescentes componentes da amostra da presente pesquisa experimentam em relação a possíveis experiências que tiveram sobre sentimentos de natureza religiosa. No grupo M-R, 20% de seus componentes afirmam ter tido experiências bastante intensas; 26,67% experiências intensas e 46,67% experiências de intensidade regular. Apenas 6,67% não relatam experiências de qualquer intensidade. No grupo F-R, 60% de seus componentes explicam que suas experiências com sentimentos religiosos foram de extrema intensidade; 26,67% foram intensas e 13,33% foi em grau moderado. Quanto ao grupo M-NR, seus componentes não relatam terem sentido qualquer grau de intensidade em possíveis experiências de sentimentos religiosos. Já no grupo F-NR, 13,33% relatam que suas experiências com sentimentos religiosos apresentaram grau médio ou regular em termos de intensidade e os 86,67% dos sujeitos restantes desse grupo não sentiram qualquer intensidade de sentimentos voltados à religião. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p<0,001, houve associação significativa entre os grupos e a intensidade com que vivenciam experiências religiosas, havendo destaque para o grupo F-R como aquele que mais intensamente sente tais experiências. É possível afirmar, ainda, que os homens mostram-se mais resistentes ou menos sensíveis no que se refere a sentir e expressar a intensidade de experiências quanto a seus sentimentos religiosos, característica que se acentua drasticamente em pessoas não religiosas. Mais uma vez é possível notar que o sexo feminino comunica com mais facilidade suas experiências religiosas e é mais sensível a estas. Possivelmente, o grupo M-R mostre-se mais tímido em razão da cultura que experimentam no Brasil, na qual o homem deve se mostrar mais frio e independente. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 176 Tabela 33 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de consciência a respeito do divino M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 10 66,67 8 53,33 18 1 0 0,00 0 0,00 2 13,33 4 26,67 6 2 4 26,67 0 0,00 3 20,00 2 13,33 9 3 3 20,00 3 20,00 0 0,00 0 0,00 6 4 8 53,33 12 80,00 0 0,00 1 6,67 21 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 33 apresentam, porcentualmente, o grau de consciência que o sujeito possui sobre o divino. Dessa forma, no grupo M-R, 73,33% indicam enorme consciência do divino e 26,67% apenas regular consciência. No grupoF-R, 100% apresentam muita consciência sobre o divino. O grupo M-NR possui 80% com grande consciência do divino e 20% com consciência apenas regular, não sendo registrado nenhum adolescente feminino que afirme não ter essa consciência. No grupo F-NR, 13,33% possuem consciência do divino em grau regular, 80% enorme consciência e 6,67% não possuem qualquer consciência a respeito do divino. De conformidade com o Teste Exato de Fisher: p< 0,001, houve uma associação significativa entre os grupos pesquisados e a consciência destes em relação ao divino, e esta consciência é, marcadamente, maior em ambos os grupos religiosos, masculino e feminino, com ênfase ao grupo F-R. Mais uma vez pode-se afirmar que as respostas femininas foram mais viáveis em termos culturais; as mulheres podem demonstrar com maior espontaneidade suas crenças que o homem, especificamente, os que estão passando pela adolescência, período da vida em que a auto-afirmação e a virilidade são importantes ao jovem e à sociedade. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 177 Tabela 34 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra sobre o grau de temor a Deus que possuem M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 3 20,00 3 20,00 12 80,00 11 73,33 29 1 2 13,33 2 13,33 2 13,33 2 13,33 8 2 2 13,33 2 13,33 1 6,67 2 13,33 7 3 1 6,67 2 13,33 0 0,00 0 0,00 3 4 7 46,67 6 40,00 0 0,00 0 0,00 13 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 34 indicam o grau de temor a Deus que os componentes dos quatro grupos pesquisados apresentam. Assim, no grupo M-R, 53,33% de seus componentes possuem enorme temor em relação a Deus; 13,33% temor em grau regular e 33,33% não mostraram qualquer temor a Deus. No grupo F-R, também 33,33% des seus componentes não demonstraram temor a Deus; em 13,33% esse temor era de grau médio e 53,33% mostraram um enorme temor a Deus. Em relação aos grupos de sujeitos não religiosos o temor a Deus praticamente não é observado, ou seja, 93,33% dos componentes do grupo M-NR não demonstram qualquer temor a Deus, apenas 6,67% um temor regular à figura de Deus. No grupo F-NR, 86,66% dos seus componentes não possuem qualquer temor a Deus, e 13,33% temor regular. Conforme o Teste Exato de Fisher: p<0,001, existe associação significativa entre os grupos pesquisados e a questão referente ao possível temor a Deus; nos grupos de sujeitos religiosos, verifica-se significativo índice de temor a Deus, fato que pode colaborar para comportamentos mais rígidos ou, pelo menos, de maior atenção no que se refere a questões éticas e morais. Além disso, é possível inferir-se que as religiões incutem em seus seguidores um sentimento considerável de medo em relação a Deus. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 178 Tabela 35 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se possuem pai muito rígido e que impõe forma de pensar aos familiares M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 4 26,67 6 40,00 6 40,00 6 40,00 22 1 2 13,33 2 13,33 5 33,33 8 53,33 17 2 2 13,33 1 6,67 4 46,67 0 0,00 7 3 3 30,00 2 13,33 0 0,00 0 0,00 5 4 4 26,67 4 26,67 0 0,00 1 6,67 9 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 35 apresentam, porcentualmente, quanto os jovens universitários percebem a figura paterna como muito rígida e impositora no tocante à sua própria forma de pensar. O grupo M-R, na sua maioria, percebe o pai como um indivíduo rígido e impositor na forma de pensar, ou seja, 56,67% de seus componentes. Já 13,33% vêem o pai com essas características não muito fortes, apenas, moderadas. Cerca de 40% não percebem na figura paterna qualquer sinal de rigidez impositiva na sua forma de pensar. No F-R, 40% de seus componentes sentem que o pai é rígido e impõe sua forma de pensar, 6,67% que o pai possui esse comportamento de forma moderada e 53,33% que o pai não possui qualquer comportamento do tipo rígido e, tão pouco, tenta impor sua própria forma de pensar. No grupo M-NR, 73,33% não vêem qualquer rigidez no pai e ou tentativa de impor sua forma de pensar, apenas 46,67% percebem estes comportamentos de forma moderada. No grupo F-NR, 93,33% de seus componentes não sentem o pai como rígido ou impositor de sua forma de pensar, contudo, 6,67% desses jovens têm uma imagem do pai APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 179 completamente diferente, ou seja, sentem que ele é rígido e impõe bastante sua forma de pensar. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p= 0,028, pode-se afirmar que existiu uma associação significativa entre grupos e a possibilidade de seus componentes percebem o pai como rígido e impositor da forma de pensar, e essa visão de pai é mais significativa no grupo M-R. Este grupo interpreta as atitudes do pai, quaisquer que sejam elas, como mais cerceadora e impositiva ou os pais para imporem limites aos filhos do sexo masculino, ainda imaturos, pela própria idade que possuem, mostram-se mais rígidos e menos democráticos. Tabela 36 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau em que os sentimentos religiosos incluem um componente de temor ou medo em relação ao que lhes acontecerá após a morte M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 4 28,57 2 14,29 12 80,00 7 46,67 25 1 2 14,29 2 14,29 3 20,00 2 13,33 9 2 0 0,00 1 7,14 0 0,00 3 20,00 4 3 4 28,57 4 28,57 0 0,00 3 20,00 11 4 4 28,57 5 35,71 0 0,00 0 0,00 9 Total 14 100 14 100 15 100 15 100 58 Os dados da Tabela 36 apresentam o grau de temor ou medo que os sentimentos religiosos imprimem nos indivíduos em relação àquilo que lhes acontecerá, após a morte, de acordo com os sujeitos da amostra, considerando-se os grupos a que pertencem. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 180 No grupo M-R, 42,86% afirmam não sentir qualquer temor ou medo oriundos de sentimentos religiosos no que se refere ao pós-morte; já 57,14% possuem um temor bastante acentuado do que acontecerá consigo após a morte, tendo esse temor se originado nos sentimentos religiosos que possuem. Em relação ao F-R, 28,58% dos componentes não sentem qualquer temor em relação ao pós-morte. Cerca de 7,14% possuem temor regular e 64,28% garantem que possuem bastante medo em relação ao pós-morte. Em relação ao M-NR, 100% não apresentam qualquer temor em relação ao pós-morte; já no grupo F-NR, 60% não demonstram temores no que se refere ao pós-morte, 20% apresentam um temor regular e 20% um temor considerável. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p=0,001, houve uma associação significativa entre grupos e temor pós-morte, e este temor foi maior entre os grupos de adolescentes religiosos, demonstrando que a religião possui conteúdos que, de certa forma, intimidam ou assustam seus seguidores, tornando-os ansiosos em relação a algumas questões. Um exemplo disso é o alto índice de temor que os jovens expressam em relação a Deus (Tabela 34). Tabela 37 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre se obedecem aos pais para evitar discussões M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 4 26,67 1 6,67 1 6,67 2 13,33 8 1 1 6,67 2 13,33 6 40,00 5 33,33 14 2 2 13,33 2 13,33 8 53,33 7 46,67 19 3 7 46,67 3 20,00 0 0,00 0 0,00 10 4 1 6,67 7 46,67 0 0,00 1 6,67 9 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 181 Os dados da Tabela 37 mostram, porcentualmente, o número de sujeitos que obedecem a seus pais para evitar discussões, considerando-se o grupo a que pertencem. O grupo M-R indica que 53,34% obedecem sempre a seus pais para evitar discussões; 13,33% regularmente e 33,33%nunca o fazem. Em relação ao grupo F-R, percebe-se uma obediência aos pais bastante acentuada, ou seja, 66,67% sempre são obedientes para evitar discussões, 13,33% comportam-se com obediência regularmente e 20% não se preocupam muito em obedecer aos pais para evitar discussões. Em relação aos grupos não religiosos, pode-se afirmar que não existe, praticamente, uma obediência em relação aos pais, ou seja, no grupo M-NR, 53,33% obedecem a seus pais com alguma regularidade com vistas a não provocar discussões e 46,67% não o fazem em nenhum momento, nem se preocupam em ser obedientes com a finalidade de evitar discussões. Nesse grupo, nenhum sujeito procura obedecer aos pais buscando evitar problemas. Em relação ao grupo F-NR, 20% obedecem sempre seus pais com o objetivo de evitar discussões; 13,33% com alguma regularidade e 66,66% nunca se comportam dessa forma. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p>0,001, pode-se afirmar que houve associações significativas entre grupos, e maior obediência aos pais para evitar discussões, e os grupos religiosos, com algum destaque para o grupo F-R, se mostrou mais obediente às figuras de autoridade. Assim, pode-se aprender desses resultados que os grupos religiosos valorizam mais as questões morais e que a obediência aos pais pode ser encarada como um aspecto moral (Tabela 9). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 182 Tabela 38 – Distribuição das respostas dos sujeitos a respeito da importância que dispensam ao auxílio divino, quando se deparam com sentimentos de culpa M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 3 20,00 0 0,00 14 93,33 8 53,33 25 1 1 6,67 0 0,00 1 6,67 2 13,33 4 2 7 46,67 3 20,00 0 0,00 2 13,33 12 3 2 13,33 6 40,00 0 0,00 2 13,33 10 4 2 13,33 6 40,00 0 0,00 1 6,67 9 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 De acordo com os dados da Tabela 38, que apreentam a porcentagem de sujeitos dos diferentes grupos pesquisados sobre a importância, que dão ao auxílio divino, quando se defrontam com sentimentos de culpa, tem-se que no grupo M-R, 26,66% dão enorme importância ao auxílio divino no que se refere aos momentos que sentem culpa, 46,67% indicam que dão importância regular e 26,67% não dão qualquer importância ao auxílio divino. No grupo F-R, vê-se que 20% dão regular importância ao auxílio divino frente aos sentimentos de culpa que, por ventura, venham a ter e 80% dão enorme importância ao auxílio divino. No grupo M-NR, 100% não dão qualquer valor ao auxílio divino quando apresentam algum sentimento de culpa. Já no grupo F-NR, apenas 20% de seus componentes valorizam acentuadamente o auxílio divino, 13,33% valorizam de forma regular e 66,66% não valorizam o auxílio divino frente a seus possíveis sentimentos de culpa. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p<0,001, houve uma associação entre grupos e a importância do auxílio divino nos momentos em APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 183 que há sentimentos de culpa nos indivíduos; o grupo F-R é o que mais valoriza tal auxílio e o que não dá qualquer valor à ajuda divina é o grupo M- NR. Pode-se mencionar que as adolescentes religiosas mostraram-se mais sensíveis ao apoio divino ou possuiam mais facilidade para comunicar ou exteriorizar o valor que dispensam ao auxílio divino e os adolescentes masculinos não religiosos são menos sensíveis às questões relacionadas ao divino. Esta característica do grupo M-NR pode estar ligada à formação não religiosa de cada um, possivelmente, adquirida no âmbito familiar, sendo este o papel que esperam dele, ou seja, pessoa mais racional e menos sensível ou como afirma Rosa (1996, p. 86-7), “o jovem reflete o mundo imediato das pessoas importantes de suas relações que é baseado na identificação da pessoa com aquelas que lhe são significativas”. Tabela 39 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação ao entendimento que possuem do comportamento irrepreensível M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 1 6,67 0 0,00 0 0,00 1 1 3 20,00 1 6,67 1 6,67 2 13,33 7 2 3 20,00 6 40,00 7 46,67 4 46,67 20 3 6 40,00 6 40,00 7 46,67 8 53,33 27 4 3 20,00 1 6,67 0 0,00 1 6,67 5 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 39 indicam o porcentual de sujeitos da amostra, que entendem possuir comportamento pessoal irrepreensível, considerando- se o grupo do qual fazem parte. Assim, no grupo M-R, 20% de seus componentes não possuem comportamento irrepreensível em nenhum APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 184 momento. Já outros 20% que, vez por outra, apresentam esse tipo de comportamento e 60% garantem possuir comportamento irrepreensível sempre. No grupo F-R, 13,34% de seus componentes não possuem comportamento irrepreensível, 40% possuem esse comportamento regularmente e 46,67% dizem possuir sempre essa forma de se comportar. Em relação ao grupo M-NR, 6,67% quase nunca se comportam de forma irrepreensível, 46,67% possuem esse comportamento regularmente e 46,67% comportam-se de forma irrepreensível sempre. Por sua vez, o grupo F-NR indica que 13,33% de seus sujeitos afirmam que quase nunca se comportam de forma irrepreensível. Em conformidade com o Teste Exato de Fisher: p= 0,664, pode-se mencionar que não houve diferença significativa quanto ao possível comportamento irrepreensível apresentado pelos sujeitos nos diversos grupos da pesquisa. Tabela 40 – Distribuição das respostas dos componentes da amostra que julgam ou não que seus pais são grandes modelos de conduta M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 1 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 6,67 1 2 2 13,33 3 20,00 4 26,67 2 13,33 11 3 3 20,00 4 26,67 10 66,67 7 46,67 24 4 10 66,67 8 53,33 1 6,67 5 3,33 24 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados desta Tabela 40 apresentam o porcentual de sujeitos que entende seus pais como seus principais modelos de conduta. No grupo M-R, 66,67% percebem ter em seus pais esse modelo específico. Já para 20% dos sujeitos do grupo M-R, esse entendimento é menos ríg ido, ou seja, regularmente são os pais seus grandes modelos de conduta. Quanto aos 13,33% dos sujeitos restantes, seus pais não são seus modelos de conduta. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 185 Em relação ao grupo F-R, 53,33% têm nos pais os modelos de conduta que precisam; 26,67% regularmente seus pais são seus modelos de conduta e 20% que seus modelos de conduta não estão, de forma alguma, focalizados em seus pais. No grupo M-NR, 66,67% entendem que, vez por outra, seus pais podem ser vistos como modelos de conduta; 26,67% que de forma alguma, seus pais são seus modelos de conduta e, apenas, 6,67% crêem que seus pais são seus grandes modelos de comportamento. No grupo F-NR, 46,67% possuem uma posição intermediária em relação a seus pais serem grandes modelos de conduta, ou seja, regularmente esses modelos são seus pais, 20% afirmam que seus pais não são, de forma alguma, seus modelos de conduta e 3,33% consideram seus pais como esse modelo específico. Conforme o Teste Exato de Fisher: p= 0,021, pode-se afirmar que houve uma associação significativa entre grupos e a questão de ver nos pais o principal modelo de conduta. Esta percepção específica ocorreu, sobretudo, nos grupos compostos por adolescentes considerados religiosos. É possível verificar que os adolescentes religiosos são mais voltados à família e a seus ensinamentos, reservando para o círculo de amizades outras funções que não a educativa. Nota-se que os adolescentes religiosos atribuem à família a responsabilidade dos ensinamentos comportamentais, sobretudo, oséticos e morais (Tabelas 13, 14 e 18). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 186 Tabela 41 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre a importância da família em relação ao comportamento que possuem M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 2 2 13,33 2 13,33 1 6,67 2 13,33 7 3 3 20,00 2 13,33 11 73,33 5 33,33 21 4 10 66,67 11 73,33 3 20,00 8 53,33 32 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 41 apresentam, porcentualmente, se os adolescentes universitários pesquisados vêem suas respectivas famílias como importantes em relação ao comportamento que possuem. No grupo M-R, 86,67% afirmam elas exercem enorme importância sobre seus comportamentos, 13,33% que a família exerce regular importância em relação a seus comportamentos. No grupo F-R, 86,66% atribuem enorme importância à família pelo comportamento que possuem e 13,33%, regular importância. Já no grupo M- NR, 93,33% entendem que suas famílias possuem relevante importância em relação ao comportamento que apresentam e para 6,67% as famílias têm regular importância em seus comportamentos. No grupo F-NR, 86,66% dos sujeitos apontam extrema importância às suas famílias em relação ao comportamento que possuem; 13,33% que essa importância é apenas regular. De acordo com o Teste Exato de Fisher: p= 0,017, houve uma associação significativa entre os grupos e a importância da família em relação ao comportamentos dos jovens pesquisados. O grupo M-NR expressou menor importância da família quanto ao papel que esta desempenha em relação ao comportamento do indivíduo. Como já foi demonstrado na Tabela 14, sobre a família ser a base do indivíduo, todos os APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 187 grupos pesquisados, inclusive, o M-NR, concordam com a premissa, mas, outras tabelas refletem certo agradecimento à família pelo que são hoje. Os grupos não religiosos, em especial, o M-NR é o que menos entende sua família como responsável por seus comportamentos ou de sua forma de ser (Tabelas 28 e 29). O grupo F-NR também se aproxima bastante do grupo M-NR em relação a essa posição em relação à família, o que se pode inferir é que a forma de criação mais dialogada, menos severa, sem sinais de rigidez (Tabela 13), faz do indivíduo um ser mais independente, menos apegado à família, menos sensível em relação aos laços familiares, portanto, menos devedor. Tabela 42 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de rigor que a família empregou em sua educação M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 1 6,67 0 0,00 1 6,67 1 6,67 3 1 0 0,00 0 0,00 2 13,33 3 20,00 5 2 1 6,67 3 20,00 11 73,33 8 53,33 23 3 5 33,33 5 33,33 1 6,67 2 13,33 13 4 8 53,33 7 46,67 0 0,00 1 6,67 16 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 42 apresentam a porcentagem do grau de rigor que os sujeitos entendem que foi usado, por sua família, em sua educação. Assim, no grupo M-R, 86,66% a família foi extremamente rigorosa em sua educação; 6,67% que a família utilizou de regular rigor e outras 6,67% acreditam que nenhum rigor foi usado. Já no grupo F-R, 80% entendem que seus familiares utilizaram de extremo rigor em suas respectivas educação e 20% destacam que o rigor APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 188 utilizado foi apenas regular. Em relação ao grupo M-NR, 6,67% de seus componentes indicaram que foram educados com extremo rigor por suas famílias, 73,33% entendem que houve um rigor regular e 20% afirmam que nenhum rigor foi empregado por suas famílias em seus processos educacionais. No grupo F-NR, 20% entendem que a família utilizou enorme rigor no processo educativo, 53,33% que o rigor foi regular e 26,67% que não houve rigor algum. Pelo Teste Exato de Fisher: p<0,001, houve uma associação significativa entre grupos e rigor empregado na educação, dos sujeitos. Esse rigor ocorre sobretudo entre grupos religiosos, o fato demonstra que entre os religiosos existe maior rigidez no que se refere à moral e educação dos filhos (Tabelas 13, 35 e 37). Tabela 43 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à freqüência com que colocam sua raiva diante de Deus M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 2 13,33 2 13,33 14 93,33 7 46,67 25 1 2 13,33 0 0,00 1 13,33 4 26,67 7 2 6 40,00 5 33,33 0 0,00 3 20,00 14 3 3 20,00 6 40,00 0 0,00 1 6,67 10 4 2 13,33 2 13,33 0 0,00 0 0,00 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 43 explicitam as freqüências nas quais os sujeitos de pesquisa colocam o sentimento de raiva que, por ventura, venham a sentir, perante a figura de Deus. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 189 No grupo M-R, 33,33% sempre colocam esse tipo de sentimento diante de Deus; 40% que o fazem vez por outra e 26,66% que jamais agem dessa forma. No grupo F-R, 53,33% colocam suas possíveis raivas cotidianas diante de Deus; 33,33% vez por outra e 13,33% nunca colocam diante de Deus sua raiva. Quanto ao grupo M-NR, a totalidade de seus componentes afirma que nunca colocou sua raiva diante de Deus. Já no grupo F-NR, 73,34% também em momento algum colocam sua raiva diante de Deus, 20% fazem-no vez por outra e 6,67% possuem sempre esse comportamento. Frente ao Teste Exato de Fisher: p<0,001, houve uma associação significativa entre os grupos e o comportamento de colocar diante de Deus a possível raiva que sentem, sendo maior essa forma de agir no grupo F-R. Pode-se verificar que o grupo F-R foi mais sensível a Deus, compartilhando com este seus momentos de adversidade. É possível inferir que os grupos religiosos dividem com Deus suas adversidades, buscando proteção e alívio como se pode fazer junto a um pai (Tabelas 19, 21, 23, 24 e 33), muito embora, esse Pai possa ser temido muitas vezes (Tabela 34). No entanto, oferece segurança, alívio e proteção, além de ser um ente da família, célula entendida pelos sujeitos, de forma geral, como a base do indivíduo (Tabela 14). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 190 Tabela 44 – Distribuição das respostas dos sujeitos sobre o grau de conhecimento que possuem a respeito dos dogmas religiosos M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total 0 0 0,00 0 0,00 11 73,33 8 53,33 19 1 3 20,00 2 13,33 3 20,00 5 33,33 13 2 4 26,67 2 13,33 0 0,00 1 6,67 7 3 6 40,00 8 53,33 1 6,67 1 6,67 16 4 2 13,33 3 20,00 0 0,00 0 0,00 5 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 44 apresentam, porcentualmente, o grau de conhecimentos que os adolescentes universitários, sujeitos desta pesquisa, afirmam possuir sobre os dogmas da religião que confessam de acordo com os grupos dos quais fazem parte. No grupo M-R, 53,33% conhecem muito sobre a questão; já 26,67% conhecem em um grau regular os dogmas de suas religiões e 20% que nada conhecem. No grupo F-R, 73,33% conhecem muito os dogmas de suas religiões, 13,33%, conhecem razoavelmente e 13,33% nada conhecem. No grupo M-NR, 93,33% nada conhecem sobre dogmas e 6,67% conhecem bem os dogmas religiosos. No grupo F-NR, 86,66% nada conhecem, 6,67% conhecem de forma regular e os outros 6,67% nada conhecem sobre a questão. Conforme o Teste Exato de Fisher: p>0,001, houve uma associação significativa entre grupos e conhecimento sobre dogmas religiosos, e os grupos religiosos destacaram-se em relação a esse tipo de conhecimento específico. Destes resultados, pode-se aprender que os jovens universitários religiosos, independente de comparecer com maior ou menor freqüência aos APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 191 atos religiosos,próprios da sua religião, possuem maior conhecimentos sobre suas especificidades, comparando-se com os jovens não religiosos. Estes resultados parecem naturais, visto que os jovens religiosos, independente, se masculinos ou femininos, possuem um grau de adesão à religião muito maior que os não religiosos (Tabela 17). ANÁLISE DESCRITIVA E COMPARATIVA – MÉTODO DE RORSCHACH De acordo com os dados das Tabelas 45 a 94, a seguir, são apresentadas as relações de contingência e as estatísticas descritivas dos itens do Método de Rorschach e suas respectivas comparações entre os quatro grupos, M-R; F-R; M-NR; F-NR. As diferenças que podem ser consideradas mais relevantes, ocorreram nas Tabelas 50, 62, 67, 83, 85 e 89, isto não significa que as demais não sejam importantes para a presente pesquisa. Tabela 45 – DEPI – Distribuição do Índice de depressão M-R F-R M-NR F-NR Grupo DPI N % N % N % N % Total Sim 9 60,00 11 73,33 10 66,67 12 80,00 42 Não 6 40,00 4 26,67 5 33,33 3 20,00 18 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Pelos dados da Tabela 45 a maior parte dos participantes da amostra apresentou índice de depressão positivo, ou seja, os adolescentes possuem um determinado tipo de organização psicológica que os torna mais vulneráveis a desenvolverem sintomas ou quadro depressivo. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 192 Tabela 46 – EB – Distribuição do Comportamento Emocional e da Cognição M-R F-R M-NR F-NR Grupo EB N % N % N % N % Total a 9 60,00 5 33,33 7 46,67 7 46,67 28 e 2 13,33 3 20,00 3 20,00 3 20,00 11 i 4 26,67 7 46,67 5 33,33 5 33,33 21 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 46 demonstram que os componentes dos grupos M-R, M-NR e F-R, em sua maioria, apresentam como característica geral de ser, considerável inconstância, alterando seus respectivos comportamentos entre o predomínio de emoções e o da cognição, ou seja, a forma de elaborar as idéias. Os componentes do grupo F-R, por sua vez, mostram-se mais introversivos, ou melhor, os processos ideativos ou cognitivos influenciam de forma predominantemente a atividade psicológica dos participantes, embora entre os sujeitos desse grupo, também, exista uma parcela considerável de pessoas que se comportam como os componentes dos grupos M-R, M-NR e F-NR. Pode-se apreender dos resultados desta tabela que o grupo F-R mostra-se ligeiramente mais maduro que os demais, embora sem apresentar diferença estatisticamente significativa. Tabela 47 – C – Distribuição das respostas de cor pura M-R F-R M-NR F-NR Grupo C N % N % N % N % Total o 12 80,00 13 86,67 14 93,33 13 86,67 52 l 3 20,00 2 13,33 1 6,67 2 13,33 8 Total 15 100 15 100 15 100 16 100 60 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 193 Pelos dados da Tabela 47 a maior parte dos adolescentes que compõe a amostra, não indica vivência afetiva de cunho impulsivo, demonstrando possuir certo controle diante de sua afetividade. Tabela 48 – EbPer – Distribuição do índice do predomínio da experiência de base Grupo N Média DP Min Máx M-R 5 2,86 0,74 2,00 4,00 F-R 9 3,84 1,07 2,50 5,00 M-NR 4 4,13 0,63 3,50 5,00 F-NR 7 2,57 0,78 2,00 4,00 Os dados da Tabela 48 apresentam o índice de predomínio da experiência de base, ou seja, se existe ou não flexibilidade nos sujeitos para enfrentar as situações, se age ou não da mesma maneira, independente da situação que lhe seja apresentada, podendo ter ou não mais facilidade de obtenção de condutas adaptativas. Assim, percebe-se que os adolescentes universitários, seja de qual grupo for, M-R, F-R, M-NR e F-NR possuem certa rigidez e inflexibilidade em sua forma de ser, ou melhor, em sua conduta cotidiana. No entanto, é importante destacar que essa inflexibilidade torna-se bastante acentuada nos componentes do grupo M-NR, de acordo com o Teste de Kruskal – Wallis para p= 0,021, ou seja, os indivíduos do sexo masculino, sem qualquer vínculo religioso não possuem em seu dia-a-dia qualquer regra de cunho religioso, mostram-se muito mais rígidos, inflexíveis e com maior dificuldade para se adaptar aos acontecimentos do cotidiano, em comparação aos outros jovens. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 194 Tabela 49 – Sum T – Distribuição do somatório de respostas de sombreado com textura Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,27 0,59 0,00 2,00 F-R 15 0,40 0,51 0,00 1,00 M-NR 15 0,53 0,64 0,00 2,00 F-NR 15 0,60 0,74 0,00 2,00 Os dados da Tabela 49 indicam a necessidade de contato e proximidade emocional em relação aos adolescentes universitários componentes da amostra, considerando-se os grupos a que pertencem. Assim, pode-se verificar que, independente do grupo, os jovens mostram-se igualmente reservados e com capacidade de envolvimento com pessoas de acordo com suas necessidades de momento, sem qualquer sinal de carência ou busca de contato desmedida. Tabela 50 – Sum Y – Distribuição do somatório as respostas de sombreado difuso Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 3,07 3,26 0,00 10,00 F-R 15 3,00 3,23 0,00 12,00 M-NR 15 0,87 1,36 0,00 5,00 F-NR 15 1,40 0,99 0,00 3,00 Pelos dados da Tabela 50, são demonstrados que os adolescentes universitários pertencentes aos grupos religiosos M-R e F-R possuem alta vulnerabilidade às questões emocionais, que criam tensão e mal-estar, diretamente relacionadas a um desconforto emocional por vivências de situações ansiógenas, de acordo com o teste de Kruskal-Wallis para p= 0,048. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 195 Esses jovens apresentam sentimentos de desamparo, pois não conseguem lidar de forma direta e objeti va, causando-lhes sofrimento por tensões internas de natureza estressante. Talvez isto ocorra com os jovens religiosos por estarem participando mais do mundo e menos do ambiente familiar. As novas experiências passam a fasciná-los, conforme afirma Fowler (1992), ao mesmo tempo, em que o distanciamento familiar provoca os sentimentos de desamparo, tensão e ansiedade. É nesse momento, que a fé deveria se mostrar como base sólida para o indivíduo que começa a se perceber como pessoa. Em relação aos jovens pertencentes aos grupos não religiosos M-NR e F-NR, estes demonstram maior adequação em relação às questões emocionais, maior conforto interno e equilíbrio no que se refere ao trato com as tensões próprias das fases da vida, visto que, pela menor rigidez, inclusive moral, com que são criados, aparentemente, amadurecem e tornam-se independentes um pouco mais cedo, passando por menos tensões quando se distanciam da família em razão de maior contato com o mundo nessa fase da vida, que é a adolescência. Tabela 51 – FC – Distribuição das respostas de forma-cor (existe o elemento cromático, porem a forma é predominante) Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,80 1,08 0,00 4,00 F-R 15 0,60 0,74 0,00 2,00 M-NR 15 1,80 1,01 0,00 3,00 F-NR 15 1,07 0,88 0,00 3,00 Pelos dados da Tabela 51, observa-se que os adolescentes universitários pertencentes aos grupos M-R, F-R, M-NR e F-NR possuem controle racional equilibrado dos aspectos relacionados à afetividade, à APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 196 organização de afetos e de seus contatos de natureza afetiva, sem qualquer sinal de rigidez e ou frieza. Tabela 52 – CF – Distribuição das respostas de cor-forma (o aspecto formal é secundário diante do elemento cromático) Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,53 0,74 0,00 2,00 F-R 15 0,60 0,83 0,00 2,00 M-NR 15 0,53 0,64 0,00 2,00 F-NR 15 0,73 1,28 0,00 4,00 Os dados daTabela 52 demonstram que os sujeitos da presente pesquisa, participantes dos grupos M-R, F-R, M-NR e F-NR possuem equilíbrio em suas vivências afetivas, mesmos as mais intensas e carregadas de componentes emocionais com menor filtro de elementos racionais. Tabela 53 – Afr – Distribuição de índice de reação afetiva Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,58 0,20 0,20 0,92 F-R 15 0,52 0,17 0,25 0,79 M-NR 15 0,55 0,21 0,33 1,18 F-NR 15 0,56 0,16 0,36 0,88 Pelos dados da Tabela 53, os sujeitos de pesquisa pertencentes a qualquer um dos grupos, M-R, F-R, M-NR e F-NR possuem equilíbrio pleno em relação à responsabilidade aos estímulos emocionais, bem como à predisposição ao processamento de elementos emocionais oriundos do meio social. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 197 Tabela 54 – S – Distribuição das respostas com uso do espaço em branco Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,47 1,41 0,00 5,00 F-R 15 0,93 0,88 0,00 3,00 M-NR 15 0,13 1,06 0,00 3,00 F-NR 15 1,07 1,10 0,00 3,00 Os dados da Tabela 54 indicam que os adolescentes componentes da amostra possuem equilíbrio em relação à busca de independência e auto- afirmação, ou seja, mostram equilíbrio quanto aos componentes pessoais que oferecem um estilo de maior oposição diante das demandas provindas do meio a que pertencem. Tabela 55 – Egocent – Distribuição de índice de Egocentrismo Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,33 0,14 0,11 0,59 F-R 15 0,35 0,19 0,05 0,67 M-NR 15 0,30 0,13 0,11 0,60 F-NR 15 0,26 0,13 0,07 0,50 Os dados da Tabela 56 demonstram que os componentes da pesquisa possuem equilíbrio marcante no tocante à sua autopreocupação, ou seja, equilíbrio em relação à atenção que dirigem a si mesmo, ao autocentramento e auto-estima, independente do grupo do qual fazem parte. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 198 Tabela 56 – H – Distribuição das respostas de conteúdo humano inteiro Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,53 1,06 0,00 4,00 F-R 15 2,67 2,16 0,00 7,00 M-NR 15 2,33 1,68 0,00 6,00 F-NR 15 1,93 1,22 0,00 4,00 Tabela 57 – H% – Distribuição da porcentagem de respostas de conteúdo humano inteiro Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,40 1,45 0,00 5,00 F-R 15 1,87 1,77 0,00 5,00 M-NR 15 0,67 0,90 0,00 2,00 F-NR 15 1,20 1,47 0,00 6,00 Os dados das Tabelas 56 e 57 são similares em si, demonstram que em relação à percepção que possuem de si mesmo e dos outros, baseados em critérios de realidade, os componentes da pesquisa possuem equilíbrio marcante, ou seja, o interesse que apresentam no relacionamento humano e no contato com os outros indivíduos é equilibrado, independente, de pertencer a qualquer um dos grupos: M-R, F-R, M-NR, F-NR. Tabela 58 – Hd – Distribuição das respostas de conteúdo de parte de humano Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,27 1,58 0,00 6,00 F-R 15 0,87 1,13 0,00 4,00 M-NR 15 0,53 0,83 0,00 2,00 F-NR 15 0,40 0,51 0,00 1,00 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 199 Tabela 59 – HD% – Distribuição das porcentagens de respostas de conteúdo de parte de humano Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,67 1,05 0,00 4,00 F-R 15 0,53 0,64 0,00 2,00 M-NR 15 0,33 0,62 0,00 2,00 F-NR 15 0,20 0,41 0,00 1,00 Os dados das Tabelas 58 e 59, similares entre si, mostram o equilíbrio que os componentes da amostra demonstram quanto à visão parcial que possuem de si mesmo e dos outros, caracterizando-os como pessoas que mantêm contatos interpessoais mais cautelosos e reservados, independente do grupo do qual fazem parte, M-R, F-R, M-NR ou F-NR. Tabela 60 – Hx – Distribuição das respostas de conteúdo de experiência humana Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,13 0,35 0,00 1,00 F-R 15 0,33 0,62 0,00 2,00 M-NR 15 0,33 1,05 0,00 4,00 F-NR 15 0,13 0,35 0,00 1,00 Pelos dados da Tabela 60, os componentes da amostra possuem um autoconceito do tipo intelectualizado, buscando negar a realidade e neutralizar os sentimentos mais dolorosos por meio da razão, sempre que necessário, independente do grupo do qual fazem parte, ou seja, M-R, F-R, M-NR ou F-NR. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 200 Tabela 61 – An-Xy – Distribuição das respostas de conteúdo sobre anatomia e radiografia Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,53 1,60 0,00 6,00 F-R 15 1,60 1,35 0,00 4,00 M-NR 15 1,00 1,20 0,00 4,00 F-NR 15 1,00 1,36 0,00 5,00 Pelos dados da Tabela 61, observa-se que o equilíbrio que os componentes da amostra possuem quanto à preocupação com aspectos físicos pode ou não ser relacionado às questões de auto-imagem e nas atitudes voltadas para si mesmo, independente do grupo em que estão inseridos, M-R, F-R, M-NR ou F-NR. Tabela 62 – Ideação – a:p – Distribuição proporção dos tipos de movimento (ativo para passivo) M-R F-R M-NR F-NR Grupo a:p N % N % N % N % Total a 7 46,67 8 53,33 10 66,67 11 73,33 36 ap 2 13,33 1 6,67 1 6,67 1 6,67 5 p 6 40,00 6 40,00 4 26,67 3 20,00 19 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 62 indicam a forma com que os componentes da amostra comportam-se diante dos acontecimentos próprios do dia-a-dia. Os grupos, cujos sujeitos são religiosos, M-R e F-R, possuem certo equilíbrio entre adotar uma atitude mais ativa, mais efetiva diante da realidade e demonstrar um movimento de submissão diante da realidade, sujeitando-se mais passivamente aos acontecimentos cotidianos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 201 Pode-se verificar com estes comportamentos que o jovem religioso mostra-se mais prudente e equilibrado. Portanto, a afirmação de Freud (1927) de que a religião é uma forma de controle do indivíduo, apresenta-se coerente com as ações dos sujeitos pesquisados. Já os grupos cujos componentes não são religiosos, M-NR e F-NR, indicam que, corriqueiramente, possuem atitudes mais ativas frente aos acontecimentos, agem de forma mais efetiva, são mais objetivos perante à própria realidade. Uma parcela diminuta dos sujeitos dos grupos M-R, F-R, M-NR e F-NR demonstra instabilidade diante das ocorrências típicas do dia- a-dia, ou seja, ora são mais atuantes, ora mais submissos, indicando que esta não é uma característica comportamental do jovem universitário, quer seja ele religioso ou não religioso. Tabela 63 – Ideação – Ma:Mp – Distribuição da proporção dos tipos de respostas de movimento humano (ativo:passivo) M-R F-R M-NR F-NR Grupo Ma:Mp N % N % N % N % Total Ma 8 53,33 9 60,00 9 60,00 10 66,67 36 MaMp 2 13,33 1 6,67 4 26,67 3 20,00 10 Mp 5 33,33 5 33,33 2 13,33 2 13,33 14 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 63 demonstram o grau de maturidade e equilíbrio dos adolescentes componentes da amostra, frente aos elementos da realidade, independente do grupo a que pertencem, ou seja, M-R, F-R, M- NR e F-NR. Pode-se perceber que os adolescentes universitários possuem uma elaboração mais organizada, considerando os elementos da realidade nos momentos de reflexão, que indicam maturidade e equilíbrio. No entanto, grupos religiosos também possuem uma razoável porcentagem de jovens com tendências a uma elaboração mais fantástica APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 202 sobre a realidade, não conseguindo organizar seus conteúdos de forma coerente, buscando recursos de elaboração indefesos e frágeis. Já os grupos não religiosos, por sua vez, possuem uma porcentagem razoável de jovens que se dividem em ser mais fantasiosos e imaturos ou ter uma inconstância de elaboração, ora sendo mais consistentes e maduros, ora maisfantasiosos e imaturos, condição que revela também certa imaturidade por parte dos sujeitos. Pode-se concluir, portanto, que embora os adolescentes universitários possuam na maioria comportamentos de maturidade e equilíbrio em relação à realidade, existe uma minoria ainda com muita fantasia e imaturidade, independente do grupo de pesquisa a que pertence. Tabela 64 – FM – Distribuição das respostas, cuja determinante seja movimento animal Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 2,80 1,47 1,00 5,00 F-R 15 2,40 1,24 0,00 5,00 M-NR 15 2,27 1,33 1,00 5,00 F-NR 15 2,27 1,53 0,00 6,00 Os dados da Tabela 64 indicam o tipo de pensamento do indivíduo, mais fantástico, solto, sem considerar elementos próprios de maturidade, pensamentos descompromissados e primitivos, associados às necessidades básicas. Nesse particular, ou seja, tipo de pensamento, pode-se verificar que os componentes da amostra mostram-se equilibrados, apresentam algumas características mais imaturas, contudo, em níveis absolutamente adequados para a faixa etária, sem acarretar qualquer prejuízo às relações interpessoais da pessoa ou a seu dia-a-dia, de forma geral, independente do grupo a que pertencem. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 203 Tabela 65 – M – Distribuição das respostas com determinantes de movimento humano Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,60 0,99 0,00 3,00 F-R 15 0,13 0,35 0,00 1,00 M-NR 15 0,33 0,49 0,00 1,00 F-NR 15 0,20 0,41 0,00 1,00 Pelos dados da Tabela 65, observa-se que os sujeitos da pesquisa, independente do grupo a que pertençam, não apresentam maturidade na elaboração interna dos conteúdos pessoais associada à atividade ideacional deliberada, ou seja, não demonstram capacidade em articular, adequadamente seus conteúdos internos, no sentido de poder elaborá-los de forma equilibrada e madura. Tabela 66 – Intelect – Distribuição do índice de intelectualização Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 1,47 1,46 0,00 5,00 F-R 15 2,20 1,86 0,00 5,00 M-NR 15 2,73 3,49 0,00 13,00 F-NR 15 1,47 1,30 0,00 4,00 Os dados da Tabela 66 demonstram que os componentes da amostra apresentam equilibrada utilização do processo de intectualização, como mecanismo defensivo, preferindo de forma moderada o uso de recursos intelectuais, como estratégias de enfrentamento de suas dificuldades pessoais. Isso ocorre independente do grupo a que pertencem os sujeitos, ou seja, grupo M-R, F-R, M-NR, F-NR. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 204 Tabela 67 – CDI – Distribuição do índice de déficit relacional M-R F-R M-NR F-NR Grupo CDI N % N % N % N % Total Sim 5 33,33 11 73,33 9 60,00 8 53,33 33 Não 10 66,67 4 26,67 6 40,00 7 46,67 27 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Pelos dados da Tabela 67, são observadas questões relativas ao relacionamento interpessoal. Assim, verifica-se que os componentes do grupo M-R não mostram dificuldades para enfrentar, com eficiência, as demandas comuns de seu meio social, possuindo aptidão para o relacionamento interpessoal, o mesmo ocorrendo com os grupos M-NR e F- NR. Quanto ao grupo F-R, este apresenta dificuldades para enfrentar com eficiência as demandas comuns de seu meio social, indicando falta de aptidão ou déficit nas questões de relacionamento, demonstrando dificuldades de relacionamento interpessoal. É possível afirmar que estas dificuldades verificam-se em razão do fato dos componentes desse grupo sofrerem forte influência da família e da religião em relação à moral e àquilo que a sociedade ainda espera da mulher, uma pessoa mais familiar, maternal e introspectiva, situação que pode vir a comprometer sua relações inter-pessoais, sobretudo, nos dias atuais em que a comunicação é fator prioritário na sociedade moderna. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 205 Tabela 68 – HVI – Distribuição do índice de Hipervigilância M-R F-R M-NR F-NR Grupo HVI N % N % N % N % Total Sim 15 100 15 100 14 93,33 15 100 59 Não 0 0,00 0 0,00 1 6,67 0 0,00 1 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 68 indicam a condição de hipervigilância dos componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem. Nesse particular, todos os sujeitos apresentam estados contínuos de alerta, ocasionando condutas persecutórias de supervalorização da atenção do ambiente sobre seus atos. Este estado de alerta funciona no sentido de evitar perigos, mas, cria um espaço pessoal restrito e altamente seletivo por parte das pessoas, fato que pode vir a comprometer os relacionamentos interpessoais. Tabela 69 – GHR – Distribuição da proposição das resposta de conteúdo humano com boa qualidade Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 2,93 1,83 1,00 7,00 F-R 15 3,87 2,39 1,00 9,00 M-NR 15 2,67 1,35 0,00 5,00 F-NR 15 2,93 1,39 0,00 5,00 Os dados da Tabela 69 revelam que os componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem, indicam boa percepção do fenômeno humano, ou seja, o contato humano é visto de forma integrada e benéfica. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 206 Tabela 70 – PHR – Distribuição da proporção das respostas de conteúdo humano com baixa qualidade Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 2,53 2,17 0,00 7,00 F-R 15 2,87 3,36 0,00 10,00 M-NR 15 1,67 1,68 0,00 6,00 F-NR 15 1,33 1,18 0,00 4,00 Os dados da Tabela 70 indicam que os componentes da amostra, quer sejam dos grupos M-R, F-R, M-NR e F-NR apresentam percepções particularizadas e equilibradas sobre o contato humano, tendendo a atitudes de fragmentação nas relações,fato que pode vir a provocar algum aumento da seletividade nas relações interpessoais. Essa ligeira tendência à fragmentação nas relações interpessoais ocorre, sobretudo, nos grupos M-R e F-R, de forma não muito significativa ou prejudicial. O fato talvez aconteça pela preferência dos integrantes de ambos os grupos a se manterem próximos de pessoas que comunguem de sua fé, havendo certo distanciamento das demais. Tabela 71 – Sum H – Distribuição do somatório das respostas de conteúdo humano Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 4,87 3,66 1,00 12,00 F-R 15 5,87 4,09 1,00 14,00 M-NR 15 3,87 2,23 1,00 9,00 F-NR 15 3,73 2,12 0,00 8,00 Os dados da Tabela 71 demonstram que os componentes da amostra, quer sejam dos grupos M-R, F-R, M-NR ou F-NR indicam possuir APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 207 interesse geral nos contatos e relacionamentos humanos, havendo equilibrada valorização do elemento humano em suas vivências cotidianas. Tabela 72 – Per – Distribuição das respostas com características pessoais Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,13 0,35 0,00 1,00 F-R 15 0,27 0,59 0,00 2,00 M-NR 15 0,27 0,70 0,00 2,00 F-NR 15 0,00 0,00 0,00 0,00 Os dados da Tabela 72 mostram quanto os componentes da amostra reagem aos estímulos do meio com respostas de características meramente pessoais. Em relação a esse particular, os índices numéricos alcançados pelos sujeitos não possuem valor interpretativo. Tabela 73 – COP – Distribuição das respostas com movimentos do tipo cooperativo Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,67 0,62 0,00 2,00 F-R 15 0,27 0,46 0,00 1,00 M-NR 15 0,40 0,63 0,00 2,00 F-NR 15 0,40 0,63 0,00 2,00 Os dados da Tabela 73 apresentam o nível de cooperação dos componentes da amostra nas relações humanas. Assim, pode-se afirmar que os sujeitos pesquisados têm equilibrada capacidade para estabelecer vínculos positivos e produtivos com o outro, com adequada cooperação nas relações com o próximo, independentedo grupo a que pertencem os componentes da amostra. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 208 Tabela 74 – AG – Distribuição das respostas com movimento do tipo agressivo Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,87 1,13 0,00 4,00 F-R 15 0,80 1,26 0,00 3,00 M-NR 15 0,27 0,59 0,00 2,00 F-NR 15 0,13 0,35 0,00 1,00 Os dados da Tabela 74 demonstram que os sujeitos da amostra, independente do grupo a que pertencem, possuem algumas atitudes hostis em relação às demais pessoas, se bem que se verifique de forma moderada, havendo algumas vivências agressivas e negativas em direção ao meio ambiente. Em que pese tais atitudes, estas não comprometem as relações interpessoais, visto serem comuns entre as pessoas de forma geral. Tabela 75 – Isolam - Distribuição do índice de isolamento dos componentes do estudo Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,22 0,13 0,00 0,47 F-R 15 0,16 0,12 0,03 0,38 M-NR 15 0,23 0,09 0,06 0,39 F-NR 15 0,26 0,13 0,07 0,55 Os dados da Tabela 75 demonstram o índice de isolamento presente nos componentes da amostra. Independente dos sujeitos pertencerem a este ou àquele grupo, dentre os grupos, M-R, F-R, M-NR ou F-NR. Estes possuem comportamentos de isolamento ou retraimento social, absolutamente equilibrado, ou seja, dentro daquilo que pode ser considerado comum ao ser humano, não ocasionando qualquer comprometimento pessoal dos integrantes da amostra. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 209 Tabela 76 – Par – Distribuição das respostas com características de par Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 7,00 5,92 1,00 23,00 F-R 15 7,80 4,80 3,00 18,00 M-NR 15 4,60 1,99 2,00 9,00 F-NR 15 4,20 1,78 1,00 7,00 Os dados da Tabela 76 indicam que todos os componentes da amostra, independente de fazerem parte dos grupos M-R, F-R, M-NR ou F- NR, revelam possuir capacidade para estabelecer vínculos relacionais. Tabela 77 – OBS – Distribuição do índice de obsessividade M-R F-R M-NR F-NR Grupo OBS N % N % N % N % Total Não 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 77 demonstram os índices de obsessividade presentes nos sujeitos, visto que para os índices negativos não existe o que interpretar, sugerindo não haver comportamentos obsessivos entre os componentes da amostra. Tabela 78 – L – Distribuição do índice Lambda Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,81 0,49 0,14 2,20 F-R 15 0,57 0,37 0,00 1,18 M-NR 15 0,62 0,39 0,15 1,50 F-NR 15 0,54 0,27 0,06 1,14 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 210 Os dados da Tabela 78 demonstram que os componentes da amostra possuem capacidade adequada para utilizar o controle intelectual no sentido de evitar o processamento (elaboração) das emoções, minimizando a complexidade de suas percepções, oferecendo mais sentimentos e menos intelectualização nas relações interpessoais. Tabela 79 – P – Distribuição das respostas populares Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 2,87 1,25 1,00 5,00 F-R 15 2,67 1,23 0,00 5,00 M-NR 15 3,87 1,85 0,00 7,00 F-NR 15 3,67 2,13 0,00 8,00 Os dados da Tabela 79 demonstram que os componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem, possuem adequado grau de adaptação ao grupo em que estão inseridos. Tabela 80 – X+% – Distribuição da porcentagem das respostas de forma convencional Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,54 0,16 0,29 0,80 F-R 15 0,56 0,15 0,33 0,93 M-NR 15 0,64 0,14 0,42 0,87 F-NR 15 0,57 0,11 0,35 0,75 Os dados da Tabela 80 revelam que os adolescentes componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem, esforçam-se na busca da exatidão de suas percepções e no processamento das informações e APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 211 sentimentos. Além disso, possuem a necessidade de compreender as vivências de forma mais exata, clara, evitando dificuldades de compreensão. Tabela 81 – F+% – Distribuição de porcentagem das respostas de forma pura convencional Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,00 0,00 0,00 0,00 F-R 15 0,00 0,00 0,00 0,00 M-NR 15 0,00 0,00 0,00 0,00 F-NR 15 0,00 0,00 0,00 0,00 Os dados da Tabela 81 indica que os componentes da amostra, quer pertençam a este ou àquele grupo dentro dos conjuntos M-R, F-R, M-NR ou F-NR, apresentam dificuldades para simplificar suas percepções, ou seja, possuem tendência a exagerar as dificuldades encontradas no dia-a-dia, afastando-se, na maioria das vezes, de elementos convencionais. Tabela 82 – XU+% – Distribuição da porcentagem das respostas incomuns Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,30 0,11 0,11 0,53 F-R 15 0,25 0,11 0,07 0,56 M-NR 15 0,24 0,13 0,06 0,45 F-NR 15 0,31 0,08 0,19 0,47 Os dados da Tabela 82 indicam traços equilibrados de busca da individualidade, sem distorções perceptivas. Indica, ainda, capacidade moderada de observar e incorporar a realidade por parte dos sujeitos APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 212 componentes da amostra, sejam eles pertencentes aos grupos M-R, F-R, M- NR ou F-NR. Tabela 83 – X-% – Distribuição da porcentagem das respostas com forma distorcida Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,15 0,11 0,00 0,34 F-R 15 0,18 0,13 0,00 0,39 M-NR 15 0,11 0,04 0,06 0,20 F-NR 15 0,11 0,10 0,00 0,31 Os dados da Tabela 83 demonstram que os adolescentes universitários componentes da amostra apresentam afastamento equilibrado dos elementos convencionais da realidade, ou seja, são capazes de lidar adequadamente com as situações que lhes são apresentadas no dia-a-dia. Pode-se afirmar, ainda, de forma mais qualitativa que os jovens não religiosos possuem levíssima tendência a serem mais conservadores ou convencionais no trato com a realidade, embora sem comprometer significativamente suas relações com o meio a que pertencem. Talvez esse ligeiro conservadorismo dos jovens não religiosos seja o mecanismo encontrado por eles para se manterem equilibrados e adequados à realidade da qual fazem parte. Tabela 84 – S-% – Distribuição da porcentagem das respostas com distorção e uso do espaço em branco Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,40 0,63 0,00 2,00 F-R 15 0,07 0,26 0,00 1,00 M-NR 15 0,13 0,35 0,00 1,00 F-NR 15 0,13 0,35 0,00 1,00 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 213 Os dados da Tabela 84 indicam quanto o contato com o ambiente pode ser distorcido por fatores emocionais. Assim, com base nos dados apresentados é possível verificar que os componentes da amostra não sofrem interferências emocionais no contato com o ambiente, independente, de os sujeitos pertencerem a grupos religiosos ou não religiosos. Tabela 85 – W:M – Distribuição da proporção de respostas globais para respostas de movimento (índice de criatividade) M-R F-R M-NR F-NR Grupo W:M N % N % N % N % Total Equil 0 0,00 2 13,33 4 26,67 3 20,00 9 M 6 40,00 8 53,33 1 6,67 2 13,33 17 W 9 60,00 5 33,33 10 66,67 10 66,67 34 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 85 expressam o índice de criatividade, interferindo nas aspirações do indivíduo. Assim, no grupo M-R, há preponderância do nível de aspiração em relação às reais capacidades do indivíduo em criar e agir, fato que também é verdadeiro no que se refere aos grupos M-NR e F-NR. Em relação ao grupo F-R, a característica de possuir alto nível de aspiração e pouca capacidade de criação e ação é bem significativa. Os grupos M-R e F-R demonstram que seus componentes são pessoas mais conservadoras e que estabelecem normas aquém de suas reais capacidades; possuempouca ambição e pouca energia para a ação criativa, dando uma idéia de certa frouxidão pessoal. Estas características, praticamente, inexistem ou, pelo menos, são pouco significativas nos grupos formados por jovens não religiosos, ou seja, os grupos M-NR e F-NR. Ainda em relação aos grupos M-NR e F-NR, pode-se dizer que seus componentes, comparativamente, aos componentes dos grupos M-R e F-R APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 214 possuem maior capacidade de organização, buscando uma conduta de abrangência com base na ambição intelectual associada à capacidade criadora, visto que têm recursos para iniciar condutas deliberadas. Tabela 86 – Distribuição da seqüência das localizações das respostas M-R F-R M-NR F-NR Grupo N % N % N % N % Total Ord 60 15 100 15 100 15 100 15 100 50 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 86 demonstram que os sujeitos da amostra possuem capacidade para organizar adequadamente seus pensamentos, facilitando a comunicação entre indivíduo e ambiente, independente do grupo de pesquisa a que pertencem. Tabela 87 – Zf – Distribuição da freqüência das respostas com valor de elaboração Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 8,00 2,56 3,00 12,00 F-R 15 8,07 3,33 3,00 16,00 M-NR 15 10,73 3,33 6,00 18,00 F-NR 15 9,80 3,49 6,00 18,00 Pelos dados da Tabela 87, observa-se que os componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem, têm capacidade de iniciativa e uma tendência a buscar a compreensão de fenômenos mais complexos, utilizando-se de um maior esforço para articular conteúdos mais complexos. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 215 Tabela 88 – PSV – Distribuição das respostas com características de perseveração Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 0,27 0,46 0,00 1,00 F-R 15 0,27 0,46 0,00 1,00 M-NR 15 0,47 0,64 0,00 2,00 F-NR 15 0,13 0,35 0,00 1,00 Os dados da Tabela 88 que se referem às características de perseveração dos componentes da amostra, demonstram que todos os sujeitos, indistintamente, possuem capacidade para processar as informações. Este procedimento ocorre, no geral, de forma flexível, indicando adaptabilidade na articulação dos conceitos apreendidos, portanto, estes sujeitos não demonstram qualquer indício de rigidez no processamento das informações que surgem no cotidiano de cada um. Tabela 89 – eb – Distribuição da experiência de base M-R F-R M-NR F-NR Grupo eb N % N % N % N % Total Igual 3 20,00 0 0,00 3 20,00 2 13,33 8 Mov 4 26,67 6 40,00 7 46,67 9 60,00 26 Somb 8 53,33 9 60,00 5 33,33 4 26,67 26 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 De acordo com os dados da Tabela 89, que representam as características relacionadas à experiência de base dos sujeitos. Pode-se constatar que, embora não haja diferenças estatisticamente significativas, os grupos dos adolescentes religiosos M-R e F-R apresentaram predomínio das respostas de sombreado, indicando uma sobrecarga interna, ocasionada por APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 216 um aumento de sofrimento intrapsíquico, causando estresse e vivências de maior ansiedade. Em relação ao grupo de não religiosos M-NR e F-NR, observou-se o predomínio das respostas de movimento, revelando estados intensos de insatisfação pessoal, pois tendem a perder o controle interno e podem ocasionar vivências de tensão psíquica. Outro aspecto observado é a presença associada de movimentos e sombreado, que pode ser mais observada no grupo masculino M-R e M-NR que indica elementos de tensão, associados a um sofrimento intrapsíquico. Este quadro geral da ansiedade e estresse presente nos grupos religiosos e de tensão e insatisfação pessoal, nos grupos não religiosos demonstra o perfil do próprio adolescente que, ao encarar novos desafios à luz da nova vida de independência que começam a se descortinar, se sente distante da segurança e equilíbrio, até então, experimentados. Tabela 90 – PTI – Distribuição do índice de distorção perceptual M-R F-R M-NR F-NR Grupo PTI N % N % N % N % Total Não 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 90 demonstram que os adolescentes componentes da amostra, independente do grupo a que pertencem, possuem capacidade para contatar com a realidade, indicando possuir percepção que não é de modo exagerado afetada por seus conteúdos pessoais. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 217 Tabela 91 – S-CON – Distribuição do índice de suicídio M-R F-R M-NR F-NR Grupo S-CON N % N % N % N % Total Sim 14 93,33 13 86,67 15 100 14 93,33 56 Não 1 6,67 2 13,33 0 0,00 1 6,67 4 Total 15 100 15 100 15 100 15 100 60 Os dados da Tabela 91 tratam de índice do suicídio e revelam que a grande maioria dos componentes da amostra, independente do grupo, no qual estão inseridos, possui características de condutas autodestrutivas ou perigosas, vivências de conteúdos ameaçadores, falta de cuidado na valorização do ser, necessidade de correr perigos intensos. A respeito desses altos índices, pode-se afirmar que os adolescentes, independente de seu grau de instrução, procedência familiar e ou religiosa possuem uma necessidade marcante de chamar a atenção e buscar certa evidência, e os comportamentos perigosos parecem ser um caminho para atingir estes objetivos. Tabela 92 – R – Distribuição do número de respostas do protocolo Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 22,07 8,90 15,00 41,00 F-R 15 22,47 7,81 15,00 36,00 M-NR 15 17,73 3,97 15,00 29,00 F-NR 15 16,87 3,09 15,00 26,00 Pelos dados da Tabela 92, pode-se observar que os componentes da amostra possuem capacidade para produção pessoal, tanto cognitiva como ideativa, além de adequados índices de produtividade, conseqüentemente, APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 218 têm condições pessoais para se desenvolverem em termos acadêmicos e profissionais, independente do grupo a que estão vinculados, ou seja, M-R, F-R, M-NR ou F-NR. Tabela 93 – EA – Distribuição da experiência afetiva Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 4,50 2,34 1,00 9,00 F-R 15 6,40 2,58 2,50 11,00 M-NR 15 5,20 2,40 1,50 12,00 F-NR 15 5,37 1,89 2,00 8,50 Pelos dados da Tabela 93, características do tipo de vivência dos sujeitos, ou seja, intratensivo, ambigual ou extratensivo revelam que os componentes da amostra possuem perfil ou capacidade para iniciar um conjunto de procedimentos pessoais na tomada decisões, ou melhor, têm fatores pessoais que desencadeiam e mobilizam o indivíduo para que utilize seus recursos no sentido de agir e tomar uma decisão ou resolver uma situação. Estas características, ou melhor, tipo de vivência, verificada entre os sujeitos, independem do grupo em que estão inseridos, ou seja, M-R, F- R, M-NR ou F-NR. Tabela 94 – Nota D – Distribuição do índice de tolerância ao stresse Grupo N Média DP Min Máx M-R 15 -1,27 1,16 -3,00 0,00 F-R 15 -0,93 1,53 -6,00 0,00 M-NR 15 -0,47 0,83 -2,00 0,00 F-NR 15 -0,53 0,92 -3,00 0,00 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 219 Os dados da Tabela 94 que lidam com o índice de tolerância ao estresse, demonstram que os sujeitos da pesquisa, pertencentes aos grupos religiosos ou não religiosos mostram susceptibilidade à descargas emocionais, portanto, são vulneráveis às situações de estresse situacional que poderão, dependendo de suas vivências, cronificar, ocasionando-lhes alterações físicas e ou psíquicas, caso essa cronificação venha a ocorrer. Síntese dos Resultados Ao término desta análise, percebe-se como importanteapresentar, sinteticamente, um perfil dos componentes da amostra, ou seja, dos adolescentes masculinos e femininos religiosos e não religiosos. As primeiras sete questões que fazem parte do “Questionário de Verificação de Presença de Religião”, oportunizaram a descrição e comparação das variáveis sociodemográficas. Assim, características como idade dos sujeitos, semestres e turno em que estão estudando, renda familiar, origem domiciliar se capital ou interior, proveniência familiar, se religiosa ou não, e, finalmente, se os componentes da amostra trabalham e estudam, concomitantemente, foram levantados. Apoiando-se nos resultados obtidos, observou-se que não existem diferenças significativas entre os grupos pesquisados, fato positivo para a pesquisa em si visto que não houve variáveis significativas entre os sujeitos que pudessem interferir no núcleo da presente pesquisa, ou seja, a influência da religião na vida dos adolescentes universitários. As demais questões, presentes no mesmo questionário, versavam sobre o posicionamento religioso e família dos componentes da amostra. Sobre o posicionamento religioso, pode-se destacar, de forma maciça, que os participantes da amostra acreditam em Deus, independentemente, de pertencerem aos grupos religiosos ou não religiosos. Muitos se posicionaram de forma neutra, ou melhor, não se situaram. Talvez entre esses sujeitos, APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 220 muitos não acreditem em Deus, mas também não conseguiram lidar abertamente com a situação, possibilitando que se conclua que a força da religião no Brasil, entre outras variáveis, por exemplo, culturais, impeça posicionamentos mais polêmicos como o de declarar a não crença em Deus. Além desse aspecto, outros podem ser refletidos a respeito da influência dos posicionamentos religiosos. A religião, por exemplo, é vista como muito ligada às questões morais, sobretudo, por aqueles que conhecem melhor os aspectos religiosos, ou seja, teoricamente os jovens considerados religiosos. Os jovens deixam claro que adaptam seus comportamentos à luz dos preceitos religiosos, portanto, pode-se afirmar que a religião interfere de forma significativa no comportamento do indivíduo, podendo, inclusive, controlá-lo (Freud, 1927). Em relação às formas de controle, que podem ser promovidas pela religião, estas demonstram possuir uma base moral muito acentuada, possivelmente, tratando-se de controle rígido, porém, frágil, apesar da rigidez. Estes controles são emanados do Superego, elemento que obedece ao princípio da moralidade e faz parte da personalidade do indivíduo (Freud, 1923/1925). No que se refere às questões voltadas a explorar a posição dos sujeitos em relação à família, percebe-se que, de forma quase unânime, os sujeitos da pesquisa entendem que a família é a base do indivíduo, resultado que corrobora com a teoria de Rosa (1996) sobre o quanto a família é importante ao indivíduo e para sua formação. Ainda enfocando a família, foi possível observar que os sujeitos dos grupos religiosos, cujas famílias, também, possuem uma base religiosa, são os mais rígidos e inflexíveis em termos morais, possivelmente, por terem adquirido estas características, tanto da religião como da própria família. Embora sejam considerados rígidos, os sujeitos de grupos religiosos são os que se mostram mais equilibrados diante das situações tipicamente desconcertantes, próprias do cotidiano ou não das pessoas. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 221 Quanto aos pontos mais relevantes da presente pesquisa surgidos com base no uso de um segundo instrumento, desta feita, o Método de Rorschach, observa-se que, de forma geral, os adolescentes possuem uma organização psicológica que os torna mais vulneráveis a desenvolverem sintomas depressivos, além de possuírem considerável inconstância no predomínio das emoções e da cognição, fato que pode ser percebido normal para a faixa etária, conforme afirma Erikson (1968). Um outro ponto que pode ser considerado importante que envolve o tema deste trabalho, ou seja, a influência da religião na vida dos jovens universitários é, se esta influência favorece aos comportamentos mais rígidos ou mais flexíveis por parte dos jovens. Pelos resultados, pode-se afirmar que o jovem contemporâneo, independentemente de ser religioso ou não, apresenta um perfil de certa rigidez e inflexibilidade em sua conduta cotidiana, contudo os componentes da amostra pertencentes ao grupo M-NR mostram-se muito rígidos, inflexíveis e com maior dificuldade para se adaptarem aos acontecimentos do cotidiano. Além disso, são mais conservadores e convencionais, no que tange aos comportamentos mais usuais, comparando-se os sujeitos pertencentes aos grupos religiosos. Hipoteticamente, a falta de orientação religiosa e um controle externo podem ser compensadas pelo adolescente pela rigidez, como modo de se manter adequado em relação ao meio social. O Método de Rorschach indica que os adolescentes universitários pertencentes aos grupos religiosos, M-R e F-R possuem alta vulnerabilidade às questões emocionais, que criam tensão e mal-estar. Estes jovens demonstram sentimentos de desamparo, com os quais não conseguem lidar de forma objetiva. Acabam por sofrer com tensões internas de natureza estressante. Pode-se inferir que isto ocorra com os jovens religiosos pelo fato destes participarem mais do mundo e menos da família de forma tardia, ou seja, apenas quando se encontram na parte final da adolescência. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 222 Conforme as idéias de Fowler (1992), as novas experiências passam a fasciná-los, enquanto os distanciam da família. Dessa forma, os sentimentos de desamparo, tensão e ansiedade são quase inevitáveis. No que se refere aos jovens não religiosos, M-NR e F-NR, estes parecem amadurecer mais cedo, tornam-se independentes precocemente e enfrentam melhor as novas experiências do mundo, suportando com mais facilidade o distanciamento familiar, resistindo às tensões e ao estresse. Embora o adolescente religioso mostre-se vulnerável às questões emocionais, este é mais prudente e equilibrado em suas reações quando se depara com os acontecimentos do dia-a-dia. Às vezes, mostra-se até mais submisso ao mundo, contudo acaba se defrontando menos com situações desagradáveis que atingem as pessoas impulsivas, por exemplo. Por outro lado, o adolescente não religioso é dotado de maior impulsividade, possui atitudes mais efetivas e objetivas perante a realidade, portanto, está mais sujeito a atitudes sobre as quais venha a se arrepender pelo imediatismo da ação praticada. Como se pode verificar, a religião, realmente, controla o indivíduo, sendo essa uma afirmação de Freud (1927) que continua válida até os dias atuais. O Método de Rorschach aplicado nos componentes da amostra da presente pesquisa demonstra que os adolescentes universitários pertencentes ao grupo masculino religioso (M-R) possuem adequada condição de relacionamento interpessoal, o mesmo ocorrendo com os grupos masculinos não religiosos M-NR e femininos não religiosos F-NR. O grupo feminino religioso F-R apresenta dificuldades quanto ao relacionamento interpessoal, indicando falta de aptidão ou déficit nas questões relativas a relacionamentos. Hipoteticamente, pode-se afirmar que estas dificuldades acontecem em lugar da acentuada influência da família e da religião em relação à moral e sobre o próprio comportamento esperado para a mulher, ou seja, ser uma pessoa mais familiar, maternal e introspectiva, fato que compromete suas relações com as demais pessoas. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃODOS RESULTADOS 223 Nos dias atuais, esta situação acaba chamando atenção de forma negativa, visto que a comunicação é uma das prioridades da sociedade moderna e o jovem, via de regra, busca se comunicar para se manter integrado a seus pares (Rosa, 1996). Finalmente, o Método de Rorschach oferece, de forma panorâmica, uma visão sobre os adolescentes universitários, independente da variável gênero. Pode-se afirmar, então, que os adolescentes religiosos são jovens ansiosos e estressados e os adolescentes não religiosos mostram-se tensos e insatisfeitos. Dessa forma, tanto os jovens próximos a alguma religião como os menos próximos dos ensinamentos religiosos apresentam sinais de que nem tudo vai bem em relação às suas emoções. Estes sinais talvez nunca tenham deixado de existir nos jovens e, provavelmente, resultam da própria condição de adolescente de cada um, ou seja, do momento em que os novos desafios surgem para serem encarados e, preferencialmente, vencidos. Entre os desafios, conforme já foi explicado na seção 2 deste trabalho, está a busca pela profissionalização, independência financeira, status na sociedade, formação da própria família entre outras questões. Além disso, essa busca tende a acontecer um pouco mais distante da segurança e do equilíbrio representados pelos pais, família como um todo, escola, religião e quem sabe Deus, visto ser na adolescência o período da vida em que a busca pelo novo mais ocorre, comparativamente às demais fases da vida da pessoa. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS 225 Este estudo apresentou como objetivo geral verificar a influência da religião na dinâmica da personalidade de adolescentes universitários da Grande São Paulo. Em relação a esta proposição, observou-se que a religião influencia significativamente o comportamento dos adolescentes universitários, que confirmam, que os propósitos divinos e as crenças religiosas influenciam seus comportamentos, tanto é que a Tabela 10, por exemplo, demonstra o porcentual de sujeitos que entendem que os propósitos divinos sobre si mesmos levam a uma conduta de vida mais adequada, mais controlada. A Tabela 18, mostra a porcentagem, na qual os sujeitos da pesquisa percebem a influência das crenças religiosas em seus comportamentos. Com base no objetivo geral acima, surgiu a primeira hipótese do estudo: na interação entre adolescentes e ambiente religioso, este afeta a personalidade dos adolescentes. Quanto a esta hipótese, pode-se afirmar o seguinte: · em sua maioria, os jovens religiosos, provêm de família religiosa, assim, convivem com mais questões religiosas, comparativamente, com os não religiosos; · os jovens religiosos pensam mais em Deus, têm maior adesão à religião e louvam mais a Deus. Desse modo, esforçam-se para não fazer mal às pessoas, comportando-se diferentemente dos jovens não religiosos, que não apresentam essas preocupações. CONSIDERAÇÕES FINAIS 226 Pelo exposto, considera-se que a convivência ou interação do adolescente com o ambiente religioso provoca uma mudança na forma de agir do adolescente religioso, comparativamente, ao adolescente não religioso, ou seja, existem alterações nos comportamentos dos jovens ou na dinâmica de sua personalidade, ou melhor, no funcionamento desta, apoiada na introjeção dos conhecimentos religiosos. Entretanto, quando se fala em alteração da dinâmica da personalidade, não se está fazendo referência obrigatória à estrutura da personalidade. Assim, a hipótese levantada está confirmada, ou seja, na interação entre adolescente e ambiente religioso, este último afeta a dinâmica da personalidade do adolescente, seu comportamento, sua forma de encarar os valores éticos e morais, as normas, porém, sem interferir na estrutura da personalidade. Uma segunda hipótese foi apresentada: dependendo das relações do adolescente com o ambiente durante seu desenvolvimento, a personalidade mostrar-se-á, mais ou menos, sensível às religiões e às suas influências, e estas agirão sobre o dinamismo da personalidade, tornando-a mais flexível e adaptável ou, mais rígida, repressora e dogmática. Fundamentando-se na presente pesquisa esta hipótese está confirmada inteiramente, podendo-se afirmar que os jovens que convivem em ambientes religiosos, conforme já foi explicitado, pensam mais em Deus, aderem com mais facilidade às religiões e louvam mais a Deus, entre outras coisas. Dessa forma, preocupam-se com seus comportamentos, valorizam mais os aspectos ético - morais e os valores sociais que, em última análise, são reflexos dos ensinamentos e influência das religiões sobre os indivíduos. Portanto, dependendo das relações do adolescente com o ambiente religioso, durante seu desenvolvimento, a personalidade tornar-se-á mais ou menos sensível às religiões, às suas influências e estas agindo sobre a dinâmica da personalidade que nada mais é que o comportamento da pessoa expresso, após ser influenciado pelas questões religiosas. CONSIDERAÇÕES FINAIS 227 As terceira e quarta hipóteses desta pesquisa, assim como seus objetivos específicos versam sobre a estrutura da personalidade e suas características, portanto, as observações que serão apresentadas, a seguir, baseiam-se não só no Questionário de Constatação Qualitativa (Anexo III), mas também nos resultados obtidos apoiados no Método de Rorschach, instrumento que avalia a estrutura da personalidade do indivíduo. A terceira hipótese afirma: adolescentes, comprovadamente, mais religiosos com tendências a serem mais rígidos, moralistas e dogmáticos, características estas que contribuem negativamente para a organização e integração da personalidade em si e desta com o ambiente. À luz dos resultados obtidos, baseados no Questionário de Constatação Qualitativa (Anexo III) e Método de Rorschach, os adolescentes considerados religiosos indicam possuir posições morais mais rígidas, acentuado temor a Deus, submissão ao pai, obediência às figuras de autoridade e família mais rigorosa no tocante à educação. Estas posições, isoladamente, funcionam como mecanismos de controle do indivíduo; quando presentes, de forma conjunta, indicam mecanismos controladores mais rígidos, baseados mais no Superego, ou seja, mais em bases morais e menos nas racionais, podendo não ser totalmente confiáveis. Em que pese tais resultados, o Método de Rorschach não indicou sinais de que esses mecanismos de controle contribuam negativamente para a organização e integração da personalidade em si e desta com o ambiente, pelo contrário, o adolescente religioso, embora pareça mais tenso ao conviver com situações ansiógenas, mostra-se mais prudente e equilibrado diante dos acontecimentos próprios do dia-a-dia, não demostrando grandes dificuldades para enfrentar, eficientemente, as demandas comuns de seu meio social. Assim, pode-se afirmar que a hipótese terceira está confirmada parcialmente, pois observa-se que os adolescentes universitários religiosos expressam maior rigidez, moralismo e dogmatismo; contudo, estas características demonstram ser reprodução do que lhes é ensinado pautado CONSIDERAÇÕES FINAIS 228 nos preceitos religiosos que não interferem na estrutura da personalidade em si, bem como não indicam prejudicar nem a organização desta, nem a integração do indivíduo com seu ambiente. Quanto à quarta hipótese: adolescentes reconhecidamente menos religiosos mostram-se mais flexíveis, com maior condição de reflexão e adaptabilidade ao ambiente e possuem maior espontaneidade em suas inter-