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Energia nuclear: Passado, presente e futuro Discente: Docente: Malonganhe, Gimo Luis Prof. Alberto J. Tsamba Maputo, Junho de 2024 FACULDADE DE ENGENHARIA Departamento de Engenharia Química Licenciatura em Engenharia do Ambiente- Laboral (IV Nível) Energia e Ambiente Introdução A energia nuclear é fruto de décadas de pesquisa e desenvolvimento, tendo sido impulsionada inicialmente pela descoberta dos processos de fissão nuclear no início do século XX. A primeira aplicação prática da energia nuclear como fonte de energia ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, com a criação da bomba atómica. Posteriormente, a tecnologia nuclear foi adaptada para fins pacíficos, dando origem à geração de energia eléctrica por meio de reactores nucleares. Esse avanço tecnológico trouxe tanto benefícios quanto desafios, levando a debates acalorados sobre as vantagens e desvantagens do uso da energia nuclear como fonte de energia. Neste contexto, torna-se fundamental explorar a evolução da energia nuclear, seus impactos ao longo da história e o papel que desempenha na matriz energética global. Objectivos gerais: Avaliar o papel da energia nuclear como alternativa energética. Objectivos específicos: Descrever a tecnologia de energia nuclear; Avaliar as vantagens e desvantagens do uso de energia nuclear físsil; Discutir a relevância da energia nuclear na matriz energética global; Avaliar os impactos positivos e negativos da energia nuclear ao longo da história; Avaliar o papel da energia nuclear no contexto de transição energética global. Fissão nuclear como tecnologia de energia nuclear Fissao nuclear Os protões têm a tendência de repelirem-se pelo facto de terem a mesma carga (positiva). Como eles encontram-se dentro do núcleo, prova-se assim a existência de uma energia nos núcleos dos átomos com mais de uma partícula para manter essa estrutura. A energia que mantém os protões e neutrões juntos no núcleo é a energia nuclear,ou seja,é a energia responsavel pela ligação das particulas do núcleo. [Cardoso,Eliezer,2010] Uma vez constatada a existência da energia nuclear, restava saber como utilizá-la. A forma descoberta para sua utilização baseou-se na possibilidade de cindir-se ou dividir-se o núcleo do átomo geralmente pesado em dois núcleos menores através da indução ao impacto por um neutrão, ou seja, a fissão do núcleo raramente ocorre de forma espontânea na natureza, mas sim é induzida através do bombardeamento de núcleos pesados com um neutrão, que, ao ser absorvido, torna o núcleo instável e pronto para cindir-se. [Ferguson,Charles,2011] Como exemplo de núcleos de átomos que sofrem cisão temos o U,Th e Pu. Mas devido a factores como acessibilidade e facilidade de enriquecimento (aumento de concentração necessária para a fissão nuclear), o isótopo de U-235 é o principal utilizado em reactores nucleares. A energia que mantinha os núcleos menores formados da cisão do maior, seria libertada maioritariamente em forma de calor (Energia térnica). A este processo deu-se o nome de fissão nuclear. Fissão nuclear Fonte: CNEN,Brasil Os elementos mais pesados que o urânio são muito instáveis (radioactivos) e por essa razão não existem na natureza. Assim sendo, são formados. O que já é possível de o fazer. E hoje temos os elementos que partem de Neptúnio até o Laurêncio, denominados Trans-urânicos. Da mesma forma que um rearranjo de átomos pode libertar energia, como na queima de um combustível (madeira, gás ou petróleo), um rearranjo do núcleo dos átomos pode também libertar energia, mas em quantidades maiores do que nas reacções químicas. [Goldemberg,José,2005] Condição para ocorrência da fissão Além do U-235, existe na natureza o U-238, que é o que se encontra em maior quantidade. Mas este último só sofre fissão ao capturar um neutrão com uma energia cinética grande, da ordem de 1 MeV (neutrão rápido) enquanto o U-235 pode sofrer fissão com neutrão de qualquer energia cinética, ou seja, sofre fissão mesmo que capture um neutrão que tenha uma energia cinética muito baixa, da ordem de 0,025 eV (chamado também de neutrão lento ou térmico).[Gallas,Márcia,2008] Reacção em cadeia Iniciada pelo cientista nuclear Leo Szilard que vinha tentando sua efectivação desde a década de 1930, mas a sua realidade só seria feita por Enrico Fermi em 1943. Também conhecida como reacção de fissão nuclear em cadeia, nada mais é que a continuação da reacção de fissao nuclear que além de formar dois nucleos menores e libertar outros dois ou três neutrões, torna-se possivel que esses neutrões colidam com outros nucleos (U-235,por exemplo) garantindo assim que a reaccao acontenca sucessivamente. Ou por outra, é uma sequencia de reaccoes de fissao nuclear provocadas por um neutrao ou grupo de neutroes que gera novas reaccoes entre os nucleos envolvidos. Reacção em cadeia Fonte: OECD Enriquecimento de urânio O urânio natural contém apenas 0,71% de U-235, contra os restantes 99,29% do U-238, que não é fissil, excepto com neutrões que contenham alta energia cinética, que neste caso estao indisponíveis para o processo de fissão. Como a quantidade de U-235 na natureza é muito pequena, para que seja possível a ocorrência de uma reacção de fissão nuclear em cadeia, é necessário haver uma quantidade suficiente de U-235. [Cardoso,Eliezer,2010] Verificou-se no inicio da era atómica, por volta em 1940, que o isotopo de U-235 é muito conveniente para aplicações militares, isto é, para fabricar armas nucleares. Desta forma, desenvolveram-se métodos de enriquecimento do Urânio natural neste isótopo alterando-se as suas proporções (concentrações) na mistura que se encontra na natureza. Com Urânio enriquecido, em que a percentagem de U-235 é superior a 20%, já era possível construir armas nucleares. [Cerconi, Claudinei,2009] Estudos relacionados com pesquisas nucleares eram de objectivos totalmente bélicos a princípio, e só mais tarde a questão de produção de energia eléctrica através do aproveitamento do calor produzindo pelo processo de fissão, veio a pesar ou sendo considerada. Já na produção de electricidade, os reactores somente usam cerca de 3% de Urânio enriquecido, ou seja, 3% de U-235 e 97% de U-238. Isto porque para cada grupo de 1000 atmotos de Uranio, existe uma proporcao de 32 atomos de U-235 para 968 de U- 238. [Cardoso,Eliezer,2010] É possível construir reactores que funcionam com urânio natural (sem enriquecimento), mas seu resfriamento não pode ser feito com água comum, mas sim com água pesada onde no lugar de enriquecer-se o urânio, enriquecer-se a água, substituindo hidrogénio por deutério, o que é mais fácil (um átomo de deutério pesa o dobro de um átomo de hidrogénio). As duas linhas de reactores (Urânio natural e urânio enriquecido) estão em uso em diversos países, havendo contudo uma predominância de reactores de urânio enriquecido; isto deve-se a razões comerciais e não indica de forma nenhuma superioridade técnica de uma linha sobre outra. [Goldemberg,José,2005] O processo de enriquecimento do urânio passa por algumas etapas desde sua extraçcão até sua forma enriquecível. O urânio é extraido sob um forma de um sal amarelo (Yelllow cake) que posteriormente é purificado e dissolvido obtendo-se o urânio nuclearmente puro. Este por sua é convertido ao estado gasoso tornando-se em hexafluoreto de urânio (UF6), que é a única forma em que o urânio pode ser enriquecido. O hexafluoreto de urânio (UF6) enriquecido é transformado em dioxido de urânio(UO2). Sua reconversão de gás a sólido sob forma de pó é que se utiliza como combustível nos reactores. Tecnologia da fissão nuclear A descoberta do processo da fissão em 1939 pelos cientistas alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann trouxe como resultado uma longa sequência de estudos de fisicos nucleares. Entre eles destaca-se a criação do primeiro reactor nuclear por um grupo dirigido pelo cientista Enrico Fermi na universidade de Chicago em 1942. [Cerconi, Claudinei,2009] A tecnologia nuclear foi empregada pela primeira vez durante a II Guerra Mundial e, assim como outras tecnologias utilizadas na guerra, recebeu um uso após o seu término. Dessa forma, deu origem ao uso da geração termonuclear, com o surgimento das primeiras usinas núcleo-elétricas na década de 1950 onde em 1954 a união soviética teve a sua primeira em funcionamento. [MARCIAL,2006; HINRICHS et al.,2015] Para [Goldemberg,José,2005], o uso do processo de fissão nuclear em reactores nucleares, é em si a tecnologia de energia nuclear. Como definição, a energia eléctrica gerada pelas usinas termonucleares é originada através da aplicação do átomo de urânio (átomo de referência). O núcleo do átomo passa por um processo de cisão para que possa ser gerada a energia, gerando assim calor que aquece a água existente no interior dos reactores produzindo deste modo vapor que movimenta as turbinas gerando energia eléctrica. [HINRICHS et al., 2010] Assim, um reactor nuclear é um equipamento onde se processa uma reacção de fissão nuclear em cadeia, enquanto uma usina nuclear é uma instalação Industrial empregada para produzir electricidade a partir da energia gerada pelo reactor, uma central nuclear pode abrigar um ou mais reactores [HINRICHS et al., 2010; CALIJURI e CUNHA, 2013] Reactor de Água pressurizada (PWR) Fonte: CNEN,Brasil Vantagens e desvantagens da energia nuclear fissil Apesar da energia nuclear físsil ser considerada como uma das opcoes de fontes de energia, preocupaçoes constantes ainda são levantadas em meio aos desafios que ela apresenta.Isso deve-se mais ao seu passado que de certa forma, tras poucos encantos, Seja por ocorrencia de acidentes ou mesmo pelo facto de ainda haver riscos associados ao seu uso para fins bélicos. Questoes que envolvem gestao de resíduos radioactivos tambem acompanha a indiferenca em relacao a energia nuclear fissil. [International Atomic Energy Agency, 2020] Vantagens 1. Baixas emissões de gases de efeito estufa: A energia nuclear nuclear físsil é uma fonte de energia limpa, que não emite gases de efeito estufa durante a geração de electricidade; 2. Alta eficiência energética: A geração de grande quantidade de electricidade com baixo consumo de combustível faz da energia nuclear físsil uma opção económica e eficiente; 3. Independência energética: Reduz a dependência de combustíveis fósseis importados, garantindo a segurança energética de um país; 4. Longa vida útil das usinas nucleares: As usinas nucleares possuem uma vida útil muito longa de 40 a 60 anos, contribuindo para a estabilidade e presivibilidade do fornecimento de electricidade; 5. Energia base: Energia nuclear físsil pode fornecer uma base de energia constante, sem depender de factores climáticos variáveis, como ocorre com fontes renováveis; 6. Fonte abundante na natureza (urânio); 7. Alta produtividade, isto é, uma pequena quantidade de combustível é capaz de gerar um montante alto de energia; 8. Produz baixa quantidade de resíduos e dejectos; 9. Demanda pequena área para instalação da planta; 10. Baixo custo de operação. Desvantagens 1) Riscos de acidentes nucleares: o principal problema da energia nuclear físsil são os riscos de acidentes graves, como o ocorrido em Chernobyl e Fukushima, que podem causar impactos ambientais e à saúde humana. [Lovins, 2008] 2) Problemas de gestao de resíduos nucleares: a gestão dos resíduos nucleares gerados pelas usinas é um grande desafio, uma vez que são altamente radioactivos e requerem cuidados especiais para o seu armazenamento e disposição final. [Schneider, 2012] 3) Altos custos de construção e operação: as usinas nucleares possuem altos custos de construção e operação, o que pode tornar a energia nuclear físsil menos competitiva em relação a outras fontes de energia. [Sovacool, 2011] 4) Polémicas em relação à segurança e saúde: a energia nuclear físsil gera controvérsias quanto aos seus impactos na saúde e segurança das populações próximas às usinas, principalmente devido aos riscos associados à radiação. [Tsongas, 2015 ] 5) Preocupação com o impacto ambiental e social do uso de água para refrigeração das usinas nucleares. 6) Tempo de construção: As usinas nucleares têm um tempo de construção bastante longo, o que pode dificultar a expansão rápida dessa fonte de energia; 7) Desativação e descomissionamento: O processo de desativação das usinas e o descomissionamento dos reactores nucleares podem ser complexos e caros; 8) Contaminação ambiental: Acidentes nucleares e vazamentos radioactivos podem causar danos ao meio ambiente e à saúde das populações locais. 9) Dependência de matérias-primas, como urânio e plutónio, que são recursos finitos e sujeitos a questões geopolíticas. 10) Geração de resíduos radioactivos de longa vida útil, que requerem cuidados especiais de armazenamento e gerenciamento por milhares de anos. Relevância da energia nuclear na matriz energética global A energia nuclear desempenha um papel muito importante na matriz energética global devido a diversas razões, como a capacidade de geração de electricidade em larga escala utilizando poucos recursos, baixa emissão de gases de efeito estufa, segurança energética e diversificação da oferta de energia. [Hansen,2009] Vários especialistas e organizações reconhecem a relevância da energia nuclear no contexto da transição energética e das mudanças climáticas. A partir dai, pontos que caracterizam a relevância da energia nuclear na matriz energética global são destacados. 1. Geração de energia limpa: A energia nuclear é uma fonte de energia limpa pois não emite dióxido de carbono durante a geração de electricidade, sendo uma alternativa atractiva para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. 2. Estabilidade e continuidade na geração de electricidade: As usinas nucleares são capazes de fornecer electricidade de forma contínua e estável, tornando-se uma fonte confiável para atender à demanda crescente por energia. A energia nuclear é uma fonte vital de electricidade e é fundamental na transição energética. 3. Contribuição para a segurança energética: A energia nuclear contribui para a diversificação da matriz energética e reduz a dependência de combustíveis importados, promovendo a segurança energética a nível global. 4. Potencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas: A energia nuclear tem sido apontada como uma ferramenta importante para ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas ajudando assim na melhor transição para um futuro de baixo carbono. Apesar do alto nível de relevância que a energia nuclear apresenta, ela ainda é vista de certa forma como uma fonte de energia polémica na matriz energética global devido às suas vantagens e desafios. [Hansen,2009] afirma que a energia nuclear é fundamental para o combate das mudanças climáticas, devido à sua baixa emissão de gases de efeito estufa e capacidade de fornecer uma base de energia constante. [Lovins,2011] defende a substituição da energia nuclear por outras fontes renováveis mais seguras. No entanto, reconhece que em algumas regiões, a energia nuclear ainda desempenha um papel importante na transição energética devido à sua confiabilidade. [Vaclav,2017], destaca a importância da energia nuclear como uma fonte eficiente e de baixo impacto ambiental em termo de emissoes assim como sua capacidade de fornecer uma base de energia estável em um mundo cada vez mais dependente de electricidade. [Lynas, 2014], argumenta que a energia nuclear é essencial para atingir as metas de redução de emissões de carbono globalmente estabelecidas, ressaltando a importância da superação dos desafios associados à sua expansão. [Muller,2012] destaca a necessidade de incorporar-se a energia nuclear na matriz energética global devido à sua baixa emissão de gases de efeito estufa e à sua confiabilidade. [Lacy,2007] afirma que a energia nuclear desempenha um papel crucial na diversificação da matriz energética, especialmente em países que buscam reduzir sua dependencia de combustiveis fosseis. Nota-se assim que apesar da energia nuclear conseguir fornecer uma base de energia constante, baixas emissões de gases de efeito estufa e contribuição para a segurança energética, trás consigo enormes desafios associados, como segurança, custos e gestão de resíduos nucleares, que precisam ser superados para garantir a sua adopção como matriz energética global. O reconhecimento da adopção da energia nuclear como matriz energética deve variar de acordo com o contexto de cada país. É essencial averiguar e estudar-se todos os impactos que a energia nuclear proporciona. Por exemplo, em termos económicos, a energia nuclear contribui para a diversificação da matriz energética, reduzindo deste modo a dependência de combustíveis fósseis e fortalecendo a segurança energética. Porém, os altos custos de construção e manutenção de usinas nucleares podem representar um desafio financeiro para certos governos. E apesar da discussão que se tem propalado em torno sua aceitação ou não, claramente reconhece-se a energia nuclear como uma fonte de energia relevante na matriz energética global devido aos seus benefícios em termos de sustentabilidade, segurança energética e mitigação das mudanças climáticas. Impactos da energia nuclear ao longo da historia A energia nuclear, desde sua descoberta em 1939, tem desempenhado um papel significativo no desenvolvimento da sociedade e da tecnologia. Com o uso de reacções nucleares para geração de electricidade, a energia nuclear trouxe consigo uma série de impactos ao longo da história quer positivos ou negativos. Impactos Positivos da energia nuclear 1. Como sendo uma energia que não emite carbono, a energia nuclear contribui na redução de emissões de gases de efeito estufa. [International Atomic Energy Agency, 2018]; 2. A energia nuclear fornece uma fonte de energia base, que pode operar de forma constante e confiável, independentemente das condições climáticas, favorecendo a estabilidade do fornecimento de electricidade. [World Nuclear Association, 2020]; 3. A energia nuclear possibilita a diversificação da oferta energética de um país, reduzindo a dependência de fontes de energia fósseis, como o petróleo e carvão. 4. A indústria nuclear, através da construção de reactores e operação de usinas nucleares, contribuiu bastante para o desenvolvimento de tecnologias nucleares que acabaram impulsionando o desenvolvimento de outras áreas, a medicina por exemplo. 5. A energia nuclear contribui para a segurança energética de um país ao garantir uma fonte de energia interna e independente de importações de combustíveis fósseis. 6. Aplicações médicas e científicas da tecnologia nuclear: A tecnologia nuclear é amplamente utilizada em aplicações médicas, como radioterapia e diagnóstico por imagem, bem como em pesquisa científica, trazendo benefícios significativos para a saúde e o avanço do conhecimento científico. Impactos negativos da energia nuclear 1. Acidentes nucleares: O uso da energia nuclear está associado a diversos acidentes catastróficos ao longo da história. Um dos mais conhecidos foi o acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, que libertou grandes quantidades de material radioactivo na atmosfera causando impactos irreparáveis que se sentem aos dias de hoje. Registaram-se outros casos de acidentes mais tarde mas não de mesmo nível de impacto que a de Chernobyl. Temos o acidente da usina nuclear de Three mile Island (Pensilvânia, Estados unidos) de 1979 e o mais recente, da usina nuclear de Fukushima (Japão) em 2011. 2. Contaminação radioactiva: O manuseio e armazenamento de resíduos nucleares representam um sério risco de contaminação radioactiva do meio ambiente. Vazamentos e descartes inadequados podem resultar em contaminação de solos, águas subterrâneas e até mesmo alimentos consumidos pela população. 3. Disposição de resíduos nucleares: A gestão dos resíduos nucleares é um problema complexo e de longo prazo. A maioria dos resíduos nucleares permanece perigosa por milhares de anos, sendo necessário encontrar soluções seguras e duradouras para seu armazenamento e descarte. 4. Impactos na saúde humana: A exposição à radiação proveniente de acidentes nucleares ou operações de usinas nucleares pode causar diversos danos à saúde humana, incluindo câncer, mutações genéticas e problemas de saúde mental, afectando não apenas os indivíduos expostos directamente, mas também as gerações futuras. 5. Impactos ambientais: Além dos impactos directos dos acidentes nucleares, a energia nuclear também tem impactos ambientais negativos decorrentes da mineração de urânio, construção de usinas e do uso de água para resfriamento, o que acaba afectando a biodiversidade. Papel da energia nuclear na transicao energetica global Transição energética Transição energética é o processo pelo qual uma sociedade muda sua principal fonte de energia, passando de uma fonte primária para outra. Esse processo envolve mudanças na produção, distribuição e consumo de energia e geralmente é impulsionado por factores como escassez de recursos, preocupações ambientais e avanços tecnológicos. [Hinrichs et al.,2015] Durante a transição energética, a sociedade pode passar de uma dependência de fontes de energia como carvão e petróleo para fontes mais limpas e sustentáveis, como energia solar, eólica e hidroeléctrica e até mesmo nuclear. No contexto da transição energética global, a energia nuclear desempenha um papel significativo por diversos motivos, entre eles a capacidade de fornecer electricidade de forma contínua e estável contribuindo tambem na redução das emissões de gases de efeito estufa, diversificação da matriz energética e segurança energética. Contribuições da energia nuclear no contexto de transição energética 1. Descarbonização da matriz energética: A energia nuclear é uma fonte de energia de baixo carbono, pois não emite CO2 durante a geração de electricidade. Desta forma, ela desempenha um papel importante na redução das emissões de gases de efeito estufa, ajudando no alcance das metas de redução de carbono estabelecidas no Acordo de Paris. Além disso, a estabilidade e a confiabilidade que advêm da energia nuclear possibilitam a desactivação ou desuso de energias de fontes fósseis, reduzindo ainda mais as emissões de CO2. 2. Estabilidade na geração de electricidade: A energia nuclear é uma fonte de electricidade que funciona de forma contínua e estável, torna-a numa alternativa viável para complementar as fontes intermitentes de energias renováveis, como a solar e eólica. Isso é crucial para garantir a segurança do fornecimento de electricidade e evitar oscilações na rede eléctrica. 3. Diversificação da matriz energética: A energia nuclear contribui na diversificação da matriz energética, reduzindo a dependência por combustíveis fósseis. Ao complementar as energias renováveis, a energia nuclear ajuda na regulação dos preços da electricidade que podem ser altos devido à dependência de fonte única de energia. 4. Contribuição para uma economia de baixo carbono: A energia nuclear pode desempenhar um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono, fornecendo uma fonte de energia limpa e de alta capacidade para atender à demanda crescente por electricidade. Apesar das contribuições que a energia nuclear dá no contexto de transicao energetica rumo ao ‘’carbono zero’’, discussões de opiniões e aceitação ainda dividem não somente a sociedade mas também especialistas. Isto deve-se ao facto da energia nuclear desempenhar um papel ambíguo e complexo no contexto da transição energética global onde por um lado, benefícios significativos podem ser notados em termos de redução de emissões de CO2 e segurança energética mas por outro, desafios relacionados à segurança e proliferação de material radioactivo ainda retraem a sua plena aceitação. [Delucchi,2010] destaca que a energia nuclear pode desempenhar um papel crucial na transição energética global, fornecendo uma fonte de energia limpa e de baixas emissões de carbono. E [Mearns,2014], ainda sustenta que a energia nuclear contribui para a descarbonização da matriz energética, sendo parte integrante das estratégias de combate às mudanças climáticas. Mas [Perrow,2011] ressalta os desafios relacionados à segurança e proliferação de material radioactivo que podem advir da energia nuclear durante a transição energética. Ele destaca também a importância de políticas e regulamentações rigorosas para mitigar esses riscos. [Barreto et al.,2015] abordam a necessidade de investimentos em tecnologias nucleares avançadas e inovadoras para impulsionar a transição energética de forma eficaz. [Rosenbaum et al.,2011] vêm os impactos sociais e a aceitação pública da energia nuclear como parte da transição energética, destacando a importância da comunicação e participação pública transparente. [Hinrichs et al.,2015] abordam a importância de considerar a interacção entre energia e ambiente na formulação de políticas energéticas sustentáveis. Eles discutem a necessidade de transição para fontes de energia mais limpas e renováveis, incluindo a energia nuclear, como parte integrante da solução para reduzir as emissões de carbono e mitigar as mudanças climáticas. [Sovacool,2008;2011] foca-se em questões como equidade e justiça socioeconómica na implementação de projectos nucleares durante a transição energética, enfatizando a importância de políticas que abordem as desigualdades. Claramente nota-se que a energia nuclear é sim necessária no contexto de transição energética global. Mas também é essencial considerar uma abordagem completa e integrada para melhor análise, onde questões como tecnologia melhorada, regulamentações rígidas sobre funcionamento de usinas nucleares, participação pública e equidade são pilares na garantia de sua efectivação. O posicionamento em relação à energia nuclear leva também em consideração outros factores como o equilíbrio entre benefícios e desafios de sua adopção como matriz energética, avaliando as necessidades e potenciais energéticas de cada país assim como os impactos ambientais e sociais. Uma vez avaliado o equilíbrio entre os desafios e benefícios de sua adopção como matriz energética, a energia nuclear pode desempenhar um papel importante na transição energética global, desde que seja desenvolvida e gerida de forma responsável e sustentável. Conclusão Diante dos avanços tecnológicos e das preocupações ambientais crescentes, a energia nuclear continua sendo objecto de debates e discussões acaloradas. Seus benefícios em termos de geração de energia limpa e segura são inegáveis, porém, os riscos associados à sua utilização não podem ser ignorados. Ainda assim, a energia nuclear desempenha um papel crucial na matriz energética global, principalmente no contexto da transição energética necessária para combater as mudanças climáticas. Portanto, é essencial investir em tecnologias mais seguras e sustentáveis, a fim de garantir que a energia nuclear possa contribuir de forma positiva para o futuro energético do mundo.