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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
CAMPUS DE LARANJEIRAS 
ARQUEOLOGIA BACHARELADO 
 
 
SHEILA ELIZABETE DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ORIGEM E O PODER DA ARQUEOLOGIA 
HISTÓRICA NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Laranjeiras 
Núcleo de Arqueologia/UFS 
2010 
 
1 
 
SHEILA ELIZABETE DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ORIGEM E O PODER DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA 
NO BRASIL 
 
 
 
Monografia apresentada a Universidade Federal 
de Sergipe, como um dos pré-requisitos para a 
obtenção do grau de Bacharel em Arqueologia. 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Gilson Rambelli 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Laranjeiras 
Núcleo de Arqueologia/UFS 
2010 
2 
 
SHEILA ELIZABETE DA SILVA 
 
A ORIGEM E O PODER DA ARQUEOLOGIA HISTORICA NO BRASIL 
 
 
 
 
Monografia apresentada como exigência parcial 
para obtenção do grau de Bacharel em 
Arqueologia, na área de concentração de ciências 
humanas, à comissão julgadora da Universidade 
Federal de Sergipe. 
 
 
 
 
 
 
 Aprovada em ___/___/___ 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
___________________________________________________________________ 
Orientador: Prof. Dr. Gilson Rambelli 
Universidade Federal de Sergipe 
 
 
____________________________________________________________________ 
Me. Ademir Ribeiro Junior 
IPHAN 
 
 
____________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Márcia Barbosa da Costa Guimarães 
Universidade Federal de Sergipe 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois 
sem Ele nada seria possível. E a minha mãe 
Maria Elizabete a quem amo muito e devo a 
minha vida. 
 
 
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço ao Deus do meu coração e da minha compreensão pelas inúmeras bênçãos em 
minha vida; 
 
A minha mãe Maria Elizabete pelo amor, carinho, compreensão, confiança e por possibilitar 
que os meus sonhos tornem-se realidade; 
 
Ao meu orientador professor Dr. Gilson Rambelli, pela paciência na orientação e incentivo 
que tornaram possível a execução e conclusão desta monografia; 
 
Agradeço a Universidade Federal de Sergipe, todos os professores do curso de Arqueologia e 
funcionários; 
 
Ao Me. Ademir Ribeiro Junior e a professora Dra. Márcia Barbosa da Costa Guimarães por 
terem aceitado gentilmente fazer parte da minha banca examinadora, muito obrigada; 
 
A minha avó Maria e meu tio Afonso Lídio pela generosidade, carinho, apoio, conselhos e 
sinceridade; 
 
A minhas tias Estelita da Silva e Lizete da Silva pelo apoio, generosidade, carinho, 
preocupação, amor e incentivo; 
 
A Bárbara Dinamene, pela ajuda nos momentos difíceis, amizade, sinceridade, aonde vimos 
que a distância não é suficiente para separar os amigos; 
 
A Alexsandra Passos, Rejane Santos e Vanessa Braz pela amizade, companheirismo, lealdade, 
conselhos, carinho, paciência e por sempre me apoiar em tudo; 
 
A Anderson Rodrigues, Elaine Alves, Clara Fernanda, Jaciara Andrade, Jacy Christina e 
Thiago Silva pela amizade, carinho, sinceridade, companheirismo, risos e brincadeiras; 
 
A todos, meu muito obrigada!!! 
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“Conhecer o Passado é uma Façanha tão 
Assombrosa Quanto Conhecer as Estrelas”. 
 
 
George Kubler, The Shape of Time (1962) p.19. 
 
 
6 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho pretende abordar a origem e o poder da arqueologia histórica brasileira, 
mostrando os primeiros trabalhos realizados, quem foram os pioneiros a trabalhar com essa 
nova abordagem de estudos e as dificuldades encontradas por eles. Procura mostrar como essa 
disciplina vem se desenvolvendo ao longo dos anos e as várias possibilidades de pesquisas 
que podem ser realizadas. Procura mostrar também que a arqueologia é uma poderosa 
ferramenta política que pode ser usada em beneficio da sociedade, e o importante papel que 
ela exerce construindo e reconstruindo as memórias da nossa sociedade. 
 
Palavras Chave: Arqueologia histórica, história da arqueologia, arqueologia e poder, história 
da ciência. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study addresses the origin and power of the Brazilian historical archeology. Showing the 
first work performed, who pioneered the work with this new approach to studies and the 
difficulties encountered by them. I show how this discipline has evolved over the years and 
the many possibilities for research that can be performed. Also seeks to show that archeology 
is a powerful political tool that can be used to benefit society and the important role that 
building and rebuilding it carries the memories of our society. 
 
Key Words: Historical Archeology, archeology and power, history of science. 
 
 
7 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
 
 
 
FIGURA 1: Castelo Garcia D'Ávila, Bahia. ............................................................................. 23 
FIGURA 2: Ruínas do Forte Tapirandu em Morro de São Paulo-BA. .................................... 24 
FIGURA 3: Muralhas do Forte Orange, Pernambuco. ............................................................. 26 
FIGURA 4: Escavações feitas na Praça das Armas, Fortaleza de Santa Cruz-PE .................. 27 
FIGURA 5: Restauração na Praça das Armas na Fortaleza de Santa Cruz-PE. ..................... 28 
FIGURA 6: Inicio das escavações arqueológicas feitas na Fortaleza de Santa Cruz-PE. ........ 29 
FIGURA 7: Novas escavações feitas na praça das armas ........................................................ 30 
FIGURA 8: Sepultamento de um oficial português no interior da capela da Fortaleza de Santa 
Cruz-PE .................................................................................................................................... 31 
FIGURA 9: Vestígios de uma parede de amarração do antigo Forte Orange-PE .................... 31 
FIGURA 10: Fachada da sinagoga Kahal Zur Israel em Recife-PE ........................................ 32 
FIGURA 11: Interior da Sinagoga Kahal Zur Israel em Recife-PE. ....................................... 33 
FIGURA 12: Ruínas São Miguel, RS ....................................................................................... 34 
FIGURA 13: Missões Jesuíticas, Rio Grande do Sul. .............................................................. 34 
FIGURA 14: Senhor e seus escravos, foto de Militão de Azevedo. ....................................... 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SÚMARIO 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9 
1.1 A ARQUEOLOGIA HISTÓRICA ..................................................................................... 10 
1.2 O PODER ........................................................................................................................... 11 
1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13 
1.4 QUESTÕES NORTEADORAS ......................................................................................... 14 
1.5 PROCEDIMENTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS ..................................................... 15 
1.6 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 15 
2. ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NO MUNDO ................................................................ 16 
3. A ORIGEM DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NO BRASIL: A ORIGEM ............ 18 
3.1 Primeiros Trabalhos Realizados em Arqueologia Histórica .............................................. 23 
3.2 Primeiros Arqueólogos Históricos ..................................................................................... 35 
4. AS NOVAS PERSPECTIVAS DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICAse chegou à fase de tão pouca produção teórica, que era 
desprezada, pouco divulgada e discutida na década de 1990, e mesmo ainda hoje. 
Barreto (1999) diz que na década de 1990 houve um importante trabalho de avaliação da 
influencia de arqueólogos brasileiros ou instituições ligadas a arqueologia que produziram 
trabalhos científicos nessa área. Alguns trabalhos chegaram a caracterizar escolas ou correntes 
dentro da arqueologia brasileira, (BARRETO 1992; MENDONÇA DE SOUZA 1991; 
PROUS 1980, 1992; PROUS e RIBEIRO 1985; DIAS 1995; SCHMITZ 1994). Barreto 
(1999) diz ainda que as produções científicas realizadas por esses arqueólogos não permitem 
uma análise especifica e precisa dos princípios teóricos que serviram de inspiração e 
organizaram a arqueologia brasileira ao longo dos anos. 
Os trabalhos de Funari reconhecem a importância da teoria na arqueologia, ele admite sua 
dificuldade em delimitar os contornos do contexto brasileiro, o mesmo mostra em seus 
trabalhos uma preocupação em identificar fatos políticos e ideológicos ocorridos em 
40 
 
determinados grupos históricos da arqueologia brasileira. Segundo Barreto (1999), ele não 
explora a fundo as teorias usadas por esses grupos para a produção cientifica dos mesmos e 
também analisa muito pouco os efeitos desta para a construção do passado arqueológico 
nacional. 
O desenvolvimento da arqueologia brasileira em comparação com o de outros países, 
principalmente os da America Latina já que o Brasil faz parte da America, deve tornar 
evidentes os contextos e o processo de organização da produção científica que temos iguais as 
de outros países, também tornando evidentes os processos que deixaram a arqueologia 
estagnada, e o motivo que acabou tornando-a isolada das demais arqueologias no mundo. 
A comparação da arqueologia histórica brasileira com outros países da America Latina é 
benéfica, pois busca novas resoluções para problemas que podem ser mais ou menos 
semelhantes. Barreto (1999) fala-nos que apesar das especificidades desenvolvidas pela 
arqueologia histórica em cada país, são claras as semelhanças e diferenças dessa disciplina 
nos processos históricos compartilhados entre esses países ou não. A exemplo dessas 
semelhanças históricas entre as Américas tem-se a dizimação das populações indígenas e a 
inclusão dos mesmos nos processos de formação da identidade nacional, outra semelhança é 
como a colonização influenciou culturalmente no desenvolvimento do passado da sociedade 
nacional, e o uso dessa herança cultural por movimentos sociais e políticos nacionais. 
Barreto (1999) propõe a análise comparativa com outros países que ela classifica como 
“marginais”, como a Austrália e alguns países africanos, pois este recurso de análise 
comparativa do desenvolvimento da arqueologia no Brasil com a de outros países foi pouco 
explorado e poderia levar a reflexões críticas comparativas com o objetivo de contribuir para 
uma perspectiva histórica da arqueologia brasileira mais consolidada com as inspirações 
teóricas que organizaram sua prática, portanto mais consciente do seu papel social e mais 
responsável em resgatar a sua cultura nacional. 
O rápido desenvolvimento da arqueologia histórica no Brasil nas ultimas décadas é 
amplamente divulgado, o aumento da produção cientifica e o rápido crescimento de 
instituições de pesquisas a partir da década de 1950 é divulgado em textos de alguns autores 
(PROUS,1992). Mas, o desenvolvimento da arqueologia histórica brasileira, como mostram 
outros autores (BARRETO,1999 apud BARRETO 1998, FUNARI, 1989), também é marcado 
pelo isolamento em relação a arqueologia do restante da America latina e também de forma 
internacional. Nas ultimas décadas foram publicadas em revistas internacionais e 
especializadas, tanto os trabalhos empíricos da arqueologia ocorrida em outros países da 
America Latina, quanto foram realizados debates teóricos entre as diversas correntes 
41 
 
contemporâneas da arqueologia americana, a arqueologia brasileira quase não foi vista neste 
contexto internacional. Segundo Barreto (1999), o pouco da arqueologia brasileira que foi 
apresentado tem relação com a pré-história como as polêmicas sobre a antiguidade de alguns 
sítios isolados e debates sobre a possibilidade de sociedades complexas terem se desenvolvido 
na Amazônia. Muitas pesquisas e muita produção cientifica foi feita por boa parte dos 
territórios brasileiros, mesmo assim os territórios e os períodos do passado do Brasil são 
desconhecidos internacionalmente. 
Esse isolamento por parte da arqueologia histórica brasileira tem vários fatores, a língua é um 
desses fatores, pois as produções científicas brasileiras têm que ser publicadas em outras 
línguas para facilitar a sua expansão no território internacional. Outro fator, é o fato do Brasil 
não possuir um patrimônio monumental arquitetônico, como é o caso de outros países como o 
Egito que por causa dos seus monumentos faraônicos, desperta o interesse de arqueólogos do 
mundo todo, ao contrario do Brasil. Por ser considerada “nova” a arqueologia histórica no 
Brasil possuindo apenas cerca de 50 anos, o Brasil foi considerado um território não muito 
atrativo para as pesquisas arqueológicas. Alguns autores (FUNARI 1998) falam sobre a 
formação de “feudos acadêmicos” que dificultaram a vinda de projetos estrangeiros e a 
cooperação internacional que poderiam possibilitar a produção cientifica brasileira 
internacionalmente. 
Muitos são os fatores que contribuíram para o isolamento da arqueologia histórica brasileira 
do contexto internacional, mas o fator mais decisivo para que isso acontecesse foi o caráter 
descritivo mantido por muitos anos e a falta da produção teórica cientifica brasileira, que a 
afastou dos debates teóricos internacionais, diminuindo o interesse da comunidade 
internacional a respeito da arqueologia histórica brasileira. 
A arqueologia histórica no Brasil vem passando por grandes mudanças, desde o seu 
surgimento até os dias de hoje, suas pesquisas e trabalhos cresceram muito. As participações 
em seminários e congressos nacionais e internacionais, a publicação de livros, revistas e 
comunicações científicas só tem aumentado. 
Há um número cada vez maior de interessados nessa nova vertente da arqueologia, os cursos 
de graduação, pós-graduação e pesquisas nessa área tem aumentado. As perspectivas para o 
desenvolvimento da arqueologia histórica brasileira são cada vez melhores, nunca houve antes 
tantas pesquisas e trabalhos realizados, muito ainda se tem para estudar e múltiplas são as 
abordagens, diversidades e possibilidades de estudos. 
 
42 
 
5. O uso da arqueologia histórica como forma de poder 
 
A arqueologia por estudar as sociedades através da sua cultura material, acaba tendo um 
grande poder nas mãos. A própria palavra “arqueologia” vem do grego arkhé e significa 
antigo e poder ao mesmo tempo, como dizem M. Shanks e C. Tilley (1987), a arqueologia é o 
estudo do poder. 
Segundo Funari (2007), analisando as relações de poder e exploração material das sociedades, 
a arqueologia acaba se transformando numa ferramenta política muito poderosa. 
A arqueologia produz conhecimento sobre o passado, através da cultura material a 
arqueologia histórica pode reescrever a historia das sociedades, regatando suas memórias 
esquecidas, culturas perdidas, transformações importantes ocorridas para a evolução de 
determinadas sociedades, assim como opressões e injustiças sofridas por alguns povos, ela 
possui o poder de produzir material escrito sobre os acontecimentos do passado que pode 
influenciar no presente e no futuro. 
Segundo Schiavetto “Tal abertura desencadeou no fazer arqueológico a possibilidade de levar 
em conta aspectos do poder refletidos na cultura material estudadas, sejam artefatos 
encontrados em um sitio, monumentos e coleções expostos em museus temáticos” (2003, 
p.57). Funari (1995) fala sobre a culturamaterial e identidade nacional avaliando o papel dos 
museus na construção da nacionalidade brasileira .Ele analisou o Museu Paulista estudando o 
aspecto sutil da relação entre museu e publico que continuou sua função educativa depois da 
ditadura militar. Ele fala que o museu exercia uma função disciplinadora tanto nas 
dependências quanto pelos objetos ali expostos tendo o objetivo de “fazer um imenso elogio a 
elite paulista e como um discurso material justificando as pretensões de dominação por parte 
da elite deste estado em relação ao país como um todo” (FUNARI, 1995). Segundo ele, o 
Museu Paulista tinha como função apresentar a pessoas comuns um passado heróico e os 
feitos dos desbravadores das terras brasileiras, os bandeirantes, com isso o museu ressaltava a 
elite poderosa paulistana, conferindo-lhes poder. 
Dessa forma, ao invés do poder ser exercido de forma a reunir um centro comum, ele penetra 
em todos os espaços da sociedade e origina-se em cada individuo. 
Segundo Schiavetto (2003), as relações de poder no estudo da cultura material vem se 
destacando muito explicitamente ou não nos trabalhos arqueológicos que encaram a disciplina 
como um discurso e nos trabalhos dos que mostram os poderes desempenhados através da 
cultura material (FUNARI, 1995; ZARANKIN, 1999). 
43 
 
Funari (2006) fez referencia em seu livro arqueologia histórica de um texto de Goeth 
relatando os sentimentos que ele experimentou quando visitou Roma pela primeira vez. A 
grandiosidade dos monumentos romanos provocam impressões e sentimentos que ele nunca 
experimentou, Goeth fica tão maravilhado que conta que na sua ida a Roma ele conta como 
um verdadeiro renascimento. 
Segundo Funari, “A constituição de uma identidade depende da preservação de lugares com 
suas evocações a nossa memória” (2006, p.99). Um exemplo disso são as Ruínas de São 
Miguel, uma das mais antigas missões dos Sete Povos no Rio Grande do Sul, é considerado 
um dos mais belos sítios históricos do Brasil por sua construção grandiosa, foi tombado pelo 
SPHAN (1937), atual IPHAN e é um símbolo de identidade e orgulho do povo gaúcho. 
Funari cita uma frase do arqueólogo Joachim Herrman que: ”não há sociedade ou homem sem 
consciência histórica A humanidade não pode compreender-se, nem delinear seu futuro, sem 
apreciar e acolher seu passado” (2006, p.99). Nos livros podemos ler sobre a história da 
sociedade, mas a cultura material causa um impacto muito maior, fazendo com que 
sentimentos de admiração e orgulho pelos grandes feitos dos nossos antepassados sejam 
despertados. Estudando os grandes monumentos do colonialismo e imperialismo, a 
arqueologia estuda a elite que detinha o poder. Estudos arqueológicos em Fortalezas militares 
mostram a grandiosidade da arquitetura do Brasil colonial e o poder que possuíam. O 
destaque dado ao estudo da cultura material da corte e da família real no Brasil império 
mostram o estilo de vida dos poderosos da época. 
A valorização de cidades com monumentos arqueológicos, atraindo o turismo e gerando o 
desenvolvimento econômico são provas do poder que a arqueologia possui e sua importância 
como uma ferramenta política muito poderosa. Um exemplo disso é o estado da Bahia, as 
pesquisas arqueologias em fortalezas como Castelo Garcia D‟ Ávila considerado a primeira 
edificação militar portuguesa construída no Brasil, as igrejas e casarões antigos, os sítios 
históricos encontrados em escavações no Pelourinho e a valorização da mesma como sendo a 
cidade mais antiga, sendo o “berço do Brasil”, só contribuíram para o desenvolvimento do 
turismo e da economia, além de um sentimento nacionalista por parte dos Baianos. 
Segundo Funari, “A arqueologia é sempre política, responde as necessidades político 
ideológicas dos grupos em conflito nas sociedades contemporâneas (2006, p.100). 
A arqueologia histórica não resgata só a historia dos que detém o poder na sociedade, mas 
também os verdadeiros formadores da nossa sociedade, índios, negros, imigrantes e as 
mulheres, os grupos chamados de subalternos. 
44 
 
A arqueologia de gênero procura estudar através da cultura material, qual o verdadeiro papel 
da mulher na sociedade e a sua contribuição para formação da mesma, o que confere poder a 
ela. Os estudos mostram como a cultura material ligada as mulheres foi usada para a 
libertação feminina, já que os produtos industrializados ligados as mulheres como maquinas 
de lavar, batedeiras e outras, possibilitaram a elas a entrada no mercado de trabalho e 
conseqüentemente a sua independência financeira. Funari (2006) diz também que a relação 
entre homens e mulheres se tornou mais igualitária em parte, resultante da cultura material 
voltada para a satisfação das mulheres. 
Um exemplo do bom uso político da arqueologia histórica é o estudo da cultura material 
relacionada à luta contra a opressão étnica e o racismo. Um exemplo disso foram as pesquisas 
arqueológicas realizadas no Quilombo de Palmares, onde foi constatado que houve varias 
ocupações sucessivas não só por negros mas por outros grupos étnicos, brancos e índios, isso 
foi constatado graças a sua cultura material diversificada. 
 
 
 FIGURA 14: Senhor e seus escravos, foto de Militão de Azevedo. 
 Referência: www.outromundopossivel.blogspot.com/2007/02/escravos.html 
 
Na Figura 14, escravos africanos trazidos pelos portugueses para o Brasil, nota-se que apesar 
de “bem vestidos” eles não usavam sapatos, só os seus senhores os usavam, era considerado 
falta de respeito o escravo permanecer de pés calçados diante de pessoas tidas como 
45 
 
superiores, os pés descalços era considerado um símbolo da escravidão. Esse é um exemplo 
de como através do estudo da cultura material pode-se obter informações sobre as opressões e 
discriminações sofridas pelos negros no Brasil. 
A arqueologia esta mais preocupada com a valorização desses grupos, com seus estudos ela 
pode mostrar a verdadeira importância desses grupos na formação da sociedade e dar a eles a 
devida importância e seu lugar na historia. 
Segundo Funari (1996), sendo a arqueologia uma disciplina cientifica agregada a uma 
instituição acadêmica, ela tem uma ligação com fatores político ideológicos. Existe uma “elite 
intelectualizada” que são as instituições de pesquisa na qual a arqueologia esta inserida e 
controlam o que deve ser pesquisado, o acesso aos sítios estudados, o material armazenado 
para as pesquisas. Também é controlado por essas instituições o quanto será destinado para as 
verbas dessas pesquisas, e que meios serão usados para a informação dos resultados dos 
trabalhos realizados. Há uma tradição na manutenção de meios de pesquisa já estabelecidos 
pelas universidades, controlando as relações sociais e políticas com outros meios de pesquisa 
e com outras universidades e as verbas empregadas. As universidades e centros de pesquisas 
têm um grande poder nas mãos, empregando critérios políticos ideológicos e controlando 
assim o andamento de pesquisas ou mesmo quando elas devem cessar. Os poderosos 
intelectualizados são detentores de um poder muito grande na arqueologia controlando e 
dando legitimidade às pesquisas cientificas de forma a serem incontestáveis. 
Há muitas divergências e disputas entre a ciência praticada pelas instituições academias e os 
pesquisadores que defendem metodologias e práticas que discordam ou mesmos são 
contrarias a essas instituições. Segundo Funari (1996), todas as sociedades são compostas por 
grupos em conflitos e em todas elas a arqueologia esta inserida, portanto sempre haverá 
diferentes pontos de vista e divergências. 
Todas essas divergências, conflitos, posicionamentos diferentes, todo esse embate acadêmico 
é benéfico no sentido de saber o comprometimento e posicionamento dos arqueólogos com a 
sociedade, assim como a sua responsabilidade com ela. 
Sendo o objeto da Arqueologia o passado e tendo emvista que a Arqueologia Histórica estuda 
o nosso passado recente, resgatando pedaços da nossa história, nossas memórias e o 
conhecimento sobre os nossos antepassados, ela valoriza a nossa cultura e ajuda a criar uma 
identidade nacional. Levando em consideração tudo isso, ela pode ser usada como uma 
importante ferramenta política em beneficio da sociedade. 
Grande é o poder da arqueologia, em particular o da arqueologia histórica por estar tão próxima ao 
passado recente da nossa sociedade despertando um sentimento nacionalista em relação aos grandes 
46 
 
feitos dos nossos antepassados. Este trabalho mostra como são vastas as oportunidades e 
possibilidades de pesquisa no campo da arqueologia histórica e também como são grandes as 
responsabilidades e comprometimento do arqueólogo para com a mesma. 
 
 
5.1 O papel social da arqueologia e os usos políticos do seu patrimônio 
 
“A história da arqueologia brasileira é a historia do confronto do brasileiro com seu passado 
cultural”. Segundo Barreto (1999), a arqueologia brasileira é ambígua, pois ela fica entre a 
arqueologia do „outro‟ é a „de nós mesmos‟ como se tivéssemos duas arqueologias distintas, 
uma arqueologia que estuda os índios como sendo “outras pessoas” e uma arqueologia que 
estuda o nosso passado colonial e com o qual nos identificamos. Essa percepção errônea da 
arqueologia foi trazida da arqueologia colonial européia do século XVIII e seguida por 
europeus e brasileiros que praticavam a pesquisa da arqueológica no Brasil. Os objetos 
arqueológicos encontrados e que pertenciam aos indígenas brasileiros, são estudados por 
serem exóticos e diferentes, sendo interpretados segundo a mentalidade colonial como sendo 
objetos usados por outros povos sem relação com o nosso passado. Segundo Barreto (1999), 
com a vinda da corte ao Brasil no século XIX,o estudo das antigas populações indígenas é 
praticado e incentivado pelas elites com o intuito de passar uma imagem do Brasil como 
sendo um grande pais, cheio de riquezas naturais. Por causa deste pensamento Barreto diz 
que: 
A arqueologia nasce no Brasil esvaziada de sentido político quanto à 
identificação da sociedade com o passado estudado, contrastando fortemente 
com uma outra tradição latino americana, tanto em países andinos quanto no 
México, na qual a preservação e o estudo do patrimônio arqueológico 
tornou-se, ao longo da história,instrumento quer de resistência política ao 
colonialismo europeu, quer de afirmação de ideologias nacionalistas, anti-
coloniais e revolucionarias.(BARRETO, 1999, 204) 
 
Contrário a esses países, no Brasil a arqueologia é uma prática voltada a colecionar objetos 
para serem expostos nos museus, é praticada uma arqueologia sem qualquer uso social ou 
político, é tida como classificatória com grandes coleções arqueológicas. 
A arqueologia brasileira é inspirada a ter um compromisso mais social com a vinda da 
arqueologia européia do século XX, mas a arqueologia européia é marcada pelas 
preocupações nacionalistas, preocupada em investigar as origens e diferenciações étnicas do 
47 
 
seu próprio povo. Mesmo assim, da arqueologia européia a arqueologia incorporou apenas a 
sua orientação histórica e difusionista, sem as inspirações ideológicas e teóricas. Mesmo no 
uso político da arqueologia histórica para a reconstrução da historia nacional, ela é usada para 
revelar o passado do Brasil segundo um modelo histórico europeu. Segundo Barreto (1999), 
na proclamação da republica, a arqueologia ao invés de valorizar o indígena brasileiro e o 
patrimônio que possuem, é incentivada a buscar vestígios das colônias européias perdidas no 
Brasil, e a valorizar essa cultura. 
O movimento modernista nas décadas de 1920 e 1930, revalorizando nosso passado nacional 
e consciente da ambigüidade da nossa cultura, busca o resgate de nossas raízes e acaba com o 
modelo de cultura nacional criado pelos europeus. O patrimônio arqueológico brasileiro passa 
a ser revalorizado dentro de um novo contexto, o de patrimônio cultural nacional. 
Em 1936, Mario de Andrade elabora uma lei para a preservação do patrimônio cultural 
nacional. Segundo Lima (1993), essa lei acaba sendo aprovada pelo Estado Novo, porém, 
sofre algumas modificações e acaba sendo ineficiente e pouco adequada à realidade do 
patrimônio arqueológico brasileiro. 
O uso político da arqueologia brasileira se dá através das questões de proteção e preservação 
do patrimônio arqueológico nacional. Segundo Barreto (1999), em 1950 são feitas 
campanhas de preservação desse patrimônio, lideradas por Paulo Duarte em São Paulo, José 
Loureiro Fernandes no Paraná e Luis de Castro Faria no Rio de Janeiro, essas campanhas 
tiveram novos e bons resultados, pois favoreceram a institucionalização acadêmica da 
arqueologia que resultou na formação de arqueólogos brasileiros e o início de pesquisas 
dentro das universidades. 
Luis de Castro Faria é um dos mais atuantes na defesa do patrimônio arqueológico e funda em 
1935 o Centro de Estudos Arqueológicos que mais tarde passa a fazer parte do Museu 
Nacional, sendo a primeira instituição a conferir nível acadêmico à arqueologia no Brasil, e 
passa a servir de modelo a outras instituições de pesquisa arqueológica no país. Já em São 
Paulo, é criada por decreto em 1952 a comissão de pré-história, que é fruto da luta política de 
Paulo Duarte para a preservação do patrimônio arqueológico nacional e acaba se tornando o 
núcleo do instituto de pré historia junto a Universidade de São Paulo (USP). Esse mesmo 
processo também ocorre no Paraná, onde a preservação do patrimônio arqueológico dá origem 
à criação de um centro acadêmico com a ação de José Loureiro Fernandes, essas ações 
resultam na criação do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA) junto a 
Universidade Federal do Paraná em 1956. 
48 
 
Sendo assim, a ação de preservação do patrimônio arqueológico brasileiro acaba gerando 
conseqüências muito positivas. Resultando na criação dos primeiros centros acadêmicas de 
arqueologia, frutos do uso político da arqueologia preocupada em preservar um patrimônio 
que se encontra em destruição e em garantir os seus direitos na pesquisa científica. 
Segundo Barreto (1999) os movimentos de preservação do patrimônio arqueológico não 
estavam ligados a usos políticos ou ideológicos e muito menos nacionalistas, nem a idéias de 
reafirmação de uma arqueologia nacional. Ela diz que: 
 
Os centros acadêmicos criados nesta época eram frutos de esforços 
concertados de determinados indivíduos, todos de certa forma representantes 
de uma elite intelectual empenhada no desenvolvimento da disciplina no 
Brasil como sempre seguindo a risca os modelos europeus. Assim as 
conseqüências do preservacionismo no Brasil, ao invés de reforçar uma 
arqueologia nacional, vêm apenas ampliar a ambigüidade de sua identidade 
cultural acadêmica. (BARRETO, 1999, p.206) 
 
No Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, enquanto a arqueologia social se desenvolve em 
alguns países da America latina, a arqueologia encontra-se um pouco isolada das ciências 
sociais. Na visão de Barreto (1999), esse isolamento é ocasionado por algumas razões, uma 
delas é que enquanto nas ciências sociais, grupos que representam a intelectualidade brasileira 
se posicionam abertamente contra o regime militar, os arqueólogos brasileiros ficam a 
margem dos eventos tanto do engajamento político como da censura e repressão política 
sentidas pelas universidades brasileiras. Ela também diz que a arqueologia foi um pouco 
rejeitada pelas ciências sociais por não contar com um quadro teórico compatível com as 
teorias e ideologias e não participar do engajamento político dos intelectuais brasileiros. 
Barreto (1999) ainda afirma que “não há registro de qualquer uso político do patrimônio 
arqueológico nacional por parte do regime militar, o qual não deixou de explorar 
determinados símbolos da culturanacional para a sua propaganda política (1999, p.206)”. 
Contrariamente a opinião de Barreto (1999), Funari diz que “A arqueologia possui, 
inevitavelmente, um forte caráter político como potente instrumento de análise das relações de 
poder e de exploração material no interior das sociedades de classe” (apud Orser 1992, p.8). 
Segundo Funari (1992), a intervenção militar de 1964 atingiu a arqueologia de maneira 
particularmente dura e Paulo Duarte diz que por causa da indiferença das universidades 
brasileiras que se encontravam sem verbas e desprezadas pelo poder público, os arqueólogos 
49 
 
brasileiros não tinham esperanças de realizarem bons trabalhos e que essa fase acabou 
comprometendo muito a qualidade dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos. 
Sabe-se que a arqueologia histórica, durante a intervenção militar, foi usada como uma 
ferramenta política que evidenciava o poder da elite brasileira onde eram estudados somente 
os grandes patrimônios arquitetônicos como fortificações, igrejas, palácios fazendas, o 
chamado patrimônio de pedra e cal. A arqueologia passa a ser uma ferramenta de restauração 
e evidenciação do poder das elites que colonizaram o Brasil. Só com o término da intervenção 
militar em 1985 é que a arqueologia histórica passa a ter liberdade para se dirigir para outros 
estudos visando contribuir decisivamente para a compreensão da sociedade brasileira com 
pesquisas que tratam da diversidade étnica e cultural do Brasil. 
A arqueologia histórica possui um vasto campo de estudos, as pesquisas realizadas na 
arqueologia de gênero que procuram saber o real papel da mulher na sociedade, a arqueologia 
da repressão que estuda os quilombos mostrando a luta dos negros pela liberdade, a 
arqueologia da resistência estudando desde os sertanejos em canudos aos cemitérios 
clandestinos dos presos políticos da ditadura, todas essas pesquisas são muito importantes 
para a reconstrução do nosso passado, das nossas memórias reforçando o caráter social que a 
arqueologia histórica vem construindo ao longo dos anos. 
Assim como o destaque aos monumentos dos colonizadores da nossa sociedade, as fortalezas, 
igrejas e cidades mais antigas que são usadas para atrair o turismo e conseqüentemente o 
desenvolvimento econômico, são exemplos de uso político da arqueologia histórica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este presente trabalho mostra como foi o inicio da arqueologia histórica no Brasil e a 
importância da mesma para a construção e reconstrução das memórias da nossa sociedade. 
Mostra também quem foram os pioneiros nessa nova vertente da arqueologia qual a sua 
formação acadêmica e quais os primeiros trabalhos realizados. Aborda as dificuldades que 
foram enfrentadas nas pesquisas e na realização dos seus trabalhos, como a dificuldade de 
delimitação do seu campo de pesquisas e o reconhecimento do que venha a ser um sítio 
arqueológico histórico. Mostra também as dificuldades na preservação e proteção desses 
espaços e a importância da proteção dos mesmos através de projetos de conscientização e 
educação patrimonial. 
Enfatiza que a arqueologia histórica é uma ferramenta política muito importante e mostra os 
usos políticos da mesma expondo suas vantagens e desvantagens. 
Esse trabalho oferece uma contribuição para a construção da história da arqueologia 
fornecendo dados bibliográficos e históricos. 
Mostra também as transformações ocorridas ao longo dos anos e a diversidade de pesquisas e 
trabalhos que podem ser realizados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
7. REFERÊNCIAS 
 
ALBUQUERQUE, Marcos. Arqueologia do Forte Orange. Revista da Cultura. Rio de Janeiro, 
n. 15, ano IX, p 37-4, Jun./2009. 
 
 
 LIMA, T. Andrade. “Arqueologia histórica do Brasil: balanço bibliográfico (1969/1993”. 
Anais do Museu Paulista. Nova série, nº 1. São Paulo, 1993, p.225-262. 
 
 
BARRETO, C. Arqueologia brasileira: uma perspectiva histórica e comparada. Rev. do 
Museu de arqueologia e Etnologia, São Paulo 3: 201-212, 1999 
 
 
FUNARI, Pedro P.A.; ZARANKIN, Andrés. Cultura Material Escolar: o Papel da 
Arquitetura, Pro-Posições, 16, 1, 2005, 135-144, ISSN 0103-7307, Campinas, Unicamp. 
 
FUNARI, P. P. A. ; CARVALHO, A. V. . O patrimônio em uma perspectiva crítica: o caso do 
Quilombo dos Palmares. Diálogos, Maringá, PR, v. 9, n. 1, p. 33-48, 2005. 
 
FUNARI, Pedro P.A.. Arqueologia e Patrimônio, Erechim, Habilis, 2007. 
 
______. “Arqueologia e Poder”. IN. Arqueologia, 2. Ed.-São Paulo, contexto, 2006. 
 
______. Conflicto e interpretación en Palmares, Pedro Paulo A Funari & Andrés Zarankin 
(eds), Arqueologia Histórica em América del Sur: los desafios del siglo XXI, Bogotá, 
Uniandes, 2004, 11-29, ISBN 9586951324 
 
 
______. Heterogeneidade e conflito na interpretação do Quilombo dos Palmares, Revista de 
História Regional, 6,1, 2001, 11-38, ISSN 1414-0055. 
 
______. A cultura material e a construção da mitologia bandeirante: problemas da identidade 
nacional brasileira, Idéias, 2,1, 29-48, 1995. 
 
______.“República de Palmares” e a Arqueologia da Serra da Barriga, Revista USP, 28, 6-13, 
1996. 
 
52 
 
______. Arqueología e Historia: Arqueología histórica mundial y américa del sur 
 Anales de Arqueología y Etnología, vol. 50/51, 1995/1996. 
 
ORSER, C.. Introdução à Arqueologia Histórica. Belo Horizonte: Oficina de. Livros, 1992. 
 
SCHIAVETTO, S. N.O. . A Arqueologia Guarani: construção e desconstrução da identidade 
indígena. São Paulo: Annablume, 2003. 
 
TRIGGER, Bruce. G.. História do Pensamento Arqueológico, 1 Ed.- São Paulo, Odysseus 
Editora, 2004. 
 
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/oq_arqueologia/historica00.htm. Acessado em 
02/12/2009 às 14:15 hrs. 
 
http://www.magmarqueologia.pro.br/arqueologia_historica/popup_unddef.asp?page=fort_ora
nge_estrut.asp. Acessado em 16/11/2010 as 20:58 hrs.NO BRASIL ..... 36 
4.1 Perspectivas e Importância do Desenvolvimento Teórico ................................................. 37 
5. O USO DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA COMO FORMA DE PODER ................ 42 
5.1 O Papel Social da Arqueologia e os Usos Políticos do Seu Patrimônio ............................ 46 
6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 50 
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Esse presente trabalho aborda a origem da arqueologia histórica no Brasil enfatizando os 
trabalhos desenvolvidos por essa área de estudo, mostrando as contribuições que ela 
possibilita a arqueologia, além de proporcionar uma reflexão acerca do assunto que será 
tratado. Para tanto, serão utilizadas diversas fontes secundárias para a realização do mesmo. 
A Arqueologia Histórica no Brasil estuda desde o início da colonização com a chegada dos 
europeus e africanos, até os dias de hoje. É o estudo da formação da nossa sociedade e está 
relacionada a noções de identidade. Ela estuda os documentos escritos e a cultura material 
deixada pelas sociedades colonizadoras e procura extrair da cultura material informações que 
não estão disponíveis nos documentos para complementar ou confrontar tais informações. 
Durante muito tempo a Arqueologia Histórica teve um papel quase ilustrativo, visto que os 
trabalhos limitavam-se a comprovar o que as fontes escritas já haviam confirmado. Mais 
tarde, observa-se que da cultura material é possível extrair idéias e fatos que não se 
encontravam nos documentos escritos. Dessa forma, a Arqueologia Histórica passa a assumir 
um novo objetivo e se consolida como uma nova linha de pesquisa em Arqueologia. 
Algumas pesquisas em documentos históricos relatam a vida e o cotidiano em 1500, são 
relatos do Brasil colonial, mostram os hábitos, costumes e a cultura material de portugueses e 
os povos que formaram a nova sociedade, índios, negros e europeus, mostrando assim o nosso 
passado recente. 
No site do Itaú Cultural
1
 há uma descrição muito interessante sobre os hábitos e a cultura 
material encontrada no inicio do século XIX, sendo o resultado de uma sociedade que começa 
a se formar em 1500: 
No início do século XIX um estrangeiro, ao chegar em São Paulo, iria se 
deparar com um inconveniente: não havia camas disponíveis. Aliás, a vila 
dispunha de umas 4 ou 5, somente. Comer com garfo e faca, por incrível que 
pareça, constitui um hábito recente nos lares brasileiros. Os escravos, que 
não podiam adquirí-las, produziam lâminas cortantes lascando o vidro de 
garrafas. Comportamentos de uma sociedade nova, que começou a se formar 
a partir de 1500. 
 
 
1
 www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/oq_arqueologia/historica00.htm. 
10 
 
Dispondo dessas informações através dos documentos escritos, a Arqueologia Histórica busca 
nos vestígios materiais evidências que acrescentem mais informações sobre a história dos 
nossos antepassados, ou dados que confirmem ou confrontem essas informações. 
Segundo Orser, a partir da década de 1960 a Arqueologia Histórica começa seus trabalhos no 
Brasil com a realização dos primeiros estudos sistemáticos de ruínas do século XVI de aldeias 
espanholas e missões Jesuíticas. 
A Arqueologia é o estudo do passado, ela resgata pedaços do nosso passado, é uma forma 
importante para a reconstrução e construção das nossas memórias, a Arqueologia nos ajuda a 
sabermos mais sobre nós mesmos. 
 
 
1.1 A Arqueologia Histórica 
 
Segundo Funari
2
, a Arqueologia Histórica veio dos Estados Unidos para o Brasil durante a 
ditadura militar e no início seguiu os passos da corrente Histórico culturalista. 
A origem da arqueologia histórica no Brasil na década de 1960 foi muito conturbada, pois 
devido à ditadura e o poder que os militares possuíam eram estudados somente os grandes 
monumentos dos colonizadores principalmente os fortes, com isso a arqueologia era usada 
como uma ferramenta política que ressaltava apenas aquilo que os militares queriam mostrar e 
que dava evidência ao seu próprio poder. 
Com o final da ditadura em 1985 e a liberdade que os civis tiveram a Arqueologia Histórica 
foi se desenvolvendo cada vez mais no Brasil. De 1985 até hoje, os estudos, as pesquisas e as 
diversas formas de fazer arqueologia histórica cresceram bastante. O interesse e curiosidade 
pelos povos que formaram a nossa sociedade, seus costumes, crenças, culturas, habitações, 
comportamentos, cresce cada vez mais, pois o arqueólogo pode complementar ou confrontar 
os documentos escritos através da cultura material resultante desses povos, e dispõe de 
liberdade para fazer as suas pesquisas. 
Com a liberdade de pesquisa e novas formas de se abordar a arqueologia histórica, os 
arqueólogos buscaram estudar não só as fortificações, mas procuraram novas formas de 
estudo. Em 1980 a arqueologia histórica volta seu interesse para as missões Jesuíticas, que 
 
2
Arqueólogo brasileiro, doutor em arqueologia, mestre em antropologia e bacharel em historia, é 
professor da Universidade Estadual de Campinas e líder de grupo de pesquisa do CNPq. 
 
11 
 
estudava os vestígios da convivência entre índios e europeus. Em 1990 o foco é a Arqueologia 
da repressão, destacando-se o estudo dos Quilombos. Foram e ainda são estudados diversos 
Quilombos em Minas Gerais, Goiás e outros. O mais famoso deles é o Quilombo de Palmares 
onde foram feitos diversos estudos, esse quilombo teve várias ocupações em diversos 
períodos e possui uma cultura material bem diversificada, o estudo dessa cultura material deu 
aos arqueólogos a informação de que o quilombo foi habitado não só por negros, mas também 
por brancos e índios, ou seja, por diferentes etnias e culturas. 
A Arqueologia da Resistência é muito abrangente, e estuda os vestígios dos sertanejos em 
Canudos, os cemitérios clandestinos dos presos políticos desaparecidos no regime militar e 
outros. Esse novo ramo de estudo da Arqueologia Histórica se tornou muito complicado, pois 
mexe com o passado recente do Brasil, um passado que muitos querem esconder e esquecer 
porque está ligado diretamente com os que detêm o poder. 
Segundo Rambelli
3
, a Arqueologia Histórica no Brasil tem crescido cada vez mais, o número 
de estudiosos interessados na arqueologia histórica e os cursos de graduação tem aumentado, 
há cada vez mais pesquisas nessa área e livros têm sido publicados. 
As diversas abordagens que a arqueologia histórica proporciona, dando aos arqueólogos 
diferentes pontos de vista, só contribuem para o seu crescimento e amadurecimento, além de 
possibilitar diversas formas de se fazer arqueologia enriquecendo desta forma a História do 
Brasil. 
 Segundo Funari, “O estudo da cultura material histórica permite, assim, conhecer as tensões 
sociais e a variedade de situações sociais e vivenciadas” (2002, p. 109). 
 
 
1.2 O Poder 
 
A Arqueologia teve e tem um grande poder, pois na época da ditadura a cultura material em 
destaque eram os grandes monumentos imperialistas, principalmente as fortificações que eram 
exploradas para uso dos militares, dando-lhes poder. No livro “Arqueologia” Funari descreve 
bem isto: 
A exploração e a valorização dos territórios nacionais implicam, também, 
um relacionamento particular entre a arqueologia, a sociedade e os grupos no 
poder. Trata-se em geral, da incorporação de monumentos e objetos numa 
 
3
 RAMBELLI, 2009, com. pess 
12 
 
prática de valorização e transformação econômica da paisagem. (FUNARI, 
2006, p.102) 
 
Estudando a cultura material dos povos que colonizaram o Brasil, a Arqueologiavalorizava 
somente os objetos que pertenciam às classes dominantes, o que dava um caráter elitista a 
esses povos, conferindo-lhes poder e deixando de lado a cultura material produzida por negros 
e índios, que foram os povos formadores da nossa sociedade. 
A valorização do que é mais antigo por parte da Arqueologia também é uma forma de poder. 
Valoriza-se a cultura material encontrada em sítios históricos mais antigos e damos pouca 
importância aos sítios históricos de períodos mais recentes. Um exemplo disso é quando 
falamos do Egito e lembramo-nos dos monumentos faraônicos, na Grécia as ruínas de Atenas 
e em Roma lembramos imediatamente do Coliseu, mas quando se trata dos sítios Históricos 
no Brasil muitos não conseguem citar apenas um. Evidencia-se que a arqueologia nesses 
países é uma ferramenta política muito poderosa, pois está fortemente ligada ao 
desenvolvimento do turismo, conseqüentemente gerando um grande desenvolvimento 
econômico. 
No Brasil, a arqueologia histórica ainda está em desenvolvimento e seus projetos de educação 
patrimonial não são priorizados, e sim desvalorizados pelos órgãos competentes que não 
conseguem ver a arqueologia como uma forma de desenvolvimento turístico e econômico. 
Funari diz que a Arqueologia pode ser usada como uma importante ferramenta em defesa dos 
injustiçados e oprimidos sociais e dá dois exemplos: a arqueologia de gênero e a que trata das 
relações étnicas e raciais. Na arqueologia de gênero procura-se através da cultura material, 
saber qual o real papel da mulher na sociedade e assim dar seu devido lugar e importância na 
mesma, conferindo-lhe poder. 
Segundo Funari, em se tratando de relações étnicas e raciais a arqueologia vem contribuindo 
para a valorização desses grupos, através do estudo da cultura material que mostra a luta 
contra o racismo e a opressão. Estudando o passado das sociedades a arqueologia demonstra 
que elas foram o resultado de uma fusão de culturas, uma mistura de costumes e etnias, 
tirando o conceito tão usado por Kossinna
4
 de que existe uma “raça pura”. A arqueologia 
 
4
 Filólogo e historiador alemão que de 1895 e 1931desenvolveu um paradigma ético que ficaria conhecido como 
Arqueologia dos Assentamentos. Foi o responsável pela arqueologia nacionalista. 
13 
 
humanista tem uma grande força política, pois beneficia a sociedade visando combater as 
opressões e o racismo. 
Segundo Funari, por ser a arqueologia uma disciplina cientifica onde há uma ligação de 
fatores político ideológicos, há uma concentração de poder por parte da comunidade 
acadêmica institucionalizada. A comunidade acadêmica tem um grande poder nas mãos, ela é 
quem decide o que deve ou não ser pesquisado, o acesso aos sítios arqueológicos, o material 
armazenado e as verbas de pesquisa. São responsáveis pelos cargos acadêmicos e ainda são 
encarregados de divulgar os resultados da pesquisa e estudo arqueológico. Funari diz também 
que há uma rígida hierarquia no interior das instituições acadêmicas, pois são elas que 
estabelecem a legitimidade cientifica dos projetos de pesquisa, Funari os classifica como os 
detentores do poder, estando por trás de cada avanço ou parada nas pesquisas e sempre 
estabelecendo critérios científicos incontestáveis, “quase um dogma”, sem se preocupar com 
os verdadeiros conflitos sociais. Como podemos notar nessa citação: “As discordâncias de 
fundo sócio-político apresentam-se muitas vezes, como uma disputa entre a ciência, apanágio 
dos que detém o poder institucional, e a suposta incompetência de quem defende certas 
opções práticas e metodológicas que lhes são contrárias” (Funari, 2006, p.107).
5
 
É inevitável ressaltarmos o fato de que a arqueologia está propensa as interferências e ações 
do poder vigente, visto que geralmente as suas pesquisas são oriundas de projetos financiados 
por instituições públicas e empresas privadas. Entretanto, cabe ao arqueólogo discernir quais 
ações devem ser tomadas no âmbito da pesquisa, sem, contudo deixar de lado seu real papel 
perante a sociedade como agente conscientizador e disseminador do conhecimento. 
 
1.1 Objetivos 
 
Este trabalho pretende tratar do surgimento da arqueologia histórica no Brasil, abordando 
quem foram os pioneiros dessa nova vertente da arqueologia, os primeiros trabalhos, as 
dificuldades encontradas e como ela se encontra atualmente. 
 Aborda também, a arqueologia como forma de poder e expõe as vantagens e desvantagens da 
mesma como ferramenta política. 
 
5
 Funari, Pedro Paulo. “O Poder na Arqueologia”. IN. Arqueologia, 2. Ed.-São Paulo, contexto, 2006. 
 
14 
 
1.2 Questões Norteadoras 
 
 
A Arqueologia Histórica veio dos Estados Unidos para o Brasil na década de 1960, durante a 
ditadura militar, sendo assim, como foi o início da Arqueologia Histórica no Brasil? 
 
A Arqueologia Histórica no Brasil estuda desde o início da colonização com a chagada dos 
Europeus e Africanos, até os dias de hoje. Mas quem são os verdadeiros formadores da nossa 
sociedade? 
 
Com o começo dos trabalhos em Arqueologia Histórica no Brasil na década de 60, quem 
foram os primeiros arqueólogos históricos no Brasil, qual a sua formação e que correntes 
teóricas seguiam? 
 
Iniciando-se os trabalhos de Arqueologia Historica no Brasil na década de 60, quais foram os 
primeiros trabalhos de Arqueologia histórica no Brasil? 
 
Partindo-se do pressuposto de que a Arqueologia histórica inicia-se durante a fase da ditadura 
militar onde os militares é que detinham o poder, quais as principais dificuldades encontradas 
pelos arqueólogos históricos? 
 
Tendo em vista que a Arqueologia Histórica no Brasil tem crescido cada vez mais, o crescente 
número de estudiosos interessados no assunto e o aumento dos cursos de graduação, qual a 
importância da arqueologia histórica no Brasil? 
 
Sendo o objeto da Arqueologia o passado e tendo em vista que a Arqueologia Histórica estuda 
o nosso passado recente, resgatando pedaços da nossa historia, nossas memórias e o 
conhecimento sobre os nossos antepassados, ela valoriza a nossa cultura e ajuda a criar uma 
identidade nacional. Levando em consideração tudo isso, qual o real poder da arqueologia 
histórica no Brasil? Ela pode ser usada como uma ferramenta política e como pode ser usada 
em beneficio da sociedade? 
 
 
15 
 
1.5 Procedimentos Teórico-Metodológicos 
 
 
Os procedimentos teórico-metodológicos utilizados para o desenvolvimento do presente 
trabalho foram os seguintes: 
 Levantamento de dados históricos, arqueológicos e antropológicos. 
 Extensa análise bibliográfica. 
 
 
 
1.6 Justificativa 
 
A Arqueologia histórica no Brasil ainda está em desenvolvimento, sendo assim, esse projeto 
de pesquisa procura mostrar a grande abrangência de estudos e vastas possibilidades 
oferecidas ao arqueólogo. Procura mostrar também que o crescimento da Arqueologia 
Histórica no Brasil pode ser usado como uma importante ferramenta política, pois seus 
resultados podem ser aproveitados para o desenvolvimento do turismo e da economia. 
Na arqueologia histórica encontram-se muitas dificuldades, como o reconhecimento do que 
venha a ser um sítio arqueológico histórico e a proteção e preservação destes espaços. 
Principalmente em áreas urbanizadas que por causa da falta de instrução e conscientização 
nessa área por parte da sociedade, a falta de conhecimento sobre a sua própria história e de 
uma consciência e educação patrimonial, os sítios históricos são depredados e não é dado a 
eles o seu devido valor. 
Este trabalho permitirá uma maior reflexão a respeito da formação sócio-cultural e 
socioeconômica do país, resultante de um longo processo de colonização e, como esse mesmo 
processo resultou no desenvolvimento da sociedade atual. 
Este trabalho também procura mostrar que deve ser degrande interesse do arqueólogo ter uma 
maior integração com a sociedade, trazendo-a para mais perto dos trabalhos arqueológicos e 
fazendo com que participem e tenham um maior interesse e conhecimento sobre a história do 
seu passado. 
 
 
16 
 
2. ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NO MUNDO 
 
Assim como no Brasil, em outros lugares do mundo a arqueologia histórica passou por 
problemas no início de sua formação, ou por ter sido considerada como uma ferramenta 
auxiliar de outras áreas de estudo ou na dificuldade de delimitação do seu campo de estudos. 
Na Europa a arqueologia histórica é chamada de pós-medieval, surgiu no século XIX e estava 
mais preocupada com os vestígios materiais das sociedades consideradas como base de 
sustentação para as outras como a Grécia antiga e Roma. Trigger (2004) diz que o interesse 
pela história da Grécia e Roma espalhou-se aos poucos pela Europa, onde os nobres passaram 
a ser grandes colecionadores dos vestígios materiais dessas grandes civilizações. A 
arqueologia histórica nesses lugares era considerada como uma continuação da pré-história, 
pois há uma relação entre os povos pré-históricos e os povos modernos que são considerados 
da mesma ascendência. Segundo Trigger os registros escritos eram tidos como uma narrativa 
fiel do pensamento grego e romano. A arqueologia histórica nesses países é muito ligada a 
história sendo o estudo das raízes dos próprios europeus, Orser (1992) diz que os próprios 
arqueólogos e pesquisadores são os descendentes dos indivíduos pesquisados através da 
cultura material, gerando assim um sentimento nacionalista. 
Na Inglaterra a arqueologia histórica também é chamada de pós medieval, os povos pré-
históricos são considerados os antepassados dos indígenas e apesar da Inglaterra ter sofrido 
sucessivas invasões por outros povos, ainda sim seus antepassados são relacionados à 
sociedade atual. Tanto na Inglaterra quanto na Europa a delimitação do campo de estudo entre 
Arqueologia pré-história e arqueologia histórica se constitui num campo difícil de estabelecer. 
Trigger (2004) nos diz em seu livro “História do Pensamento Arqueológico” que os estudos 
clássicos foram importantes para o desenvolvimento do estudo da arqueologia histórica 
egípcia e da assíria. No final do século XVIII tudo que se conhecia sobre os povos do Egito 
era o que estava escrito na bíblia, a maior parte ainda permanecia enterrada. Os manuscritos 
egípcios eram indecifráveis e por isso não podiam ser estudados. Segundo Trigger (2004), as 
pesquisas do Egito antigo iniciaram-se durante a invasão de Napoleão Bonaparte ao Egito em 
1798 a 1799, essas pesquisas foram feitas pelos franceses e resultou em uma obra de vários 
volumes que descrevia o Egito
6
. Essa invasão militar foi sucedida de um fato histórico muito 
 
6
Description de l'Egypte ( Descrição do Egito) foi uma série de publicações, aparecendo primeiro em 1809 e 
continuando até o último volume em 1829, ofereceu uma descrição científica detalhada do Egito antigo e 
moderno , assim como da sua história natural. 
17 
 
importante para o Egito, que foi a descoberta da pedra de Roseta que continha inscrições em 
duas línguas possibilitando a decifração da escrita egípcia por Jean François Champollion
7
. 
Com as inscrições decifradas foi possível estabelecer a delimitação de tempo e história do 
Egito, muito da cultura material dos antigos egípcios foi roubada e vendida para 
colecionadores no mundo todo. A arqueologia histórica egípcia teve muitos problemas por 
causa das escavações descontroladas e desorganizadas onde o único interesse era a obtenção 
de objetos valiosos sem a preocupação com o contexto em que estavam inseridas e desse 
modo, valiosas informações que poderiam contribuir para se saber mais sobre a arqueologia 
histórica nesse país foram perdidas. 
No “Novo Mundo” o campo de estudos da arqueologia histórica parece fácil de definir, mas 
não é primeiro porque as Américas não podem ser estudas igualmente, pois cada uma possui 
sua especificidade. Nos Estados Unidos em 1960 dá-se inicio a arqueologia histórica 
americana, ela estudava os anglos saxões brancos e protestantes que eram considerados 
fundadores da pátria americana, ou seja, era o estudo dos que detinham o poder, da elite 
americana. Depois eles se preocuparam em incluir em seus estudos a colonização de grandes 
partes dos Estados Unidos por espanhóis e franceses, a arqueologia histórica americana 
também passa a estudar os escravos africanos e indígenas americanos em contato com os 
anglo-americanos. Passa-se a dar mais atenção aos conflitos e a diversidade étnica e cultural 
dos estados Unidos. A arqueologia histórica norte americana é chamada de arqueologia do 
capitalismo, das relações estabelecidas entre os indivíduos depois do mercantilismo nas 
Américas, porém seu estudo não pode ser feito de maneira generalizada. Pois, a formação da 
sociedade latina americana é muito diversa e apresenta valores e características próprias e 
muito diferentes das sociedades formadas na America do Sul onde se inclui o Brasil. Orser 
(1992) diz que o início de um período histórico só pode ser estabelecido a nível regional e de 
maneira imprecisa. 
O estudo em questão nos mostra as diferenças e dificuldades do início da arqueologia 
histórica em alguns países apenas para demonstrar que tanto no Brasil como em outros 
lugares do mundo, essa nova abordagem da arqueologia enfrentou problemas no começo de 
sua formação e delimitação do seu campo de estudos, trabalhos e pesquisas, bem como em se 
definir o início do período histórico a ser estudado. Não se pretende neste trabalho 
aprofundar-se em tais questões no momento. 
 
7
Jean-François Champollion era um erudito francês e arqueólogo clássico, foi responsável por decifrar os 
hieróglifos egípcios. Ele é considerado o fundador da egiptologia. 
 
18 
 
3. A Origem da Arqueologia Histórica no Brasil: O Início 
 
O estudo da Arqueologia Histórica no Brasil tem seu início a partir das décadas de 1950 e 
1960 e no começo seguiu os passos da corrente histórico culturalista ou seja, preocupava-se 
apenas em descrever e catalogar objetos, dando a idéia de que todo grupo humano 
compartilha os mesmos traços culturais e que as tradições são passadas de forma hereditária 
para as futuras gerações, como se todo grupo humano compartilhasse as mesmas idéias e a 
mesma cultura material. Ela era tida como uma ferramenta auxiliar da historia com a 
finalidade de comprovar o que os documentos escritos diziam, portanto não tinha nenhuma 
autonomia. 
No final da década de 1970, contrapondo-se ao modelo histórico cultural europeu a 
arqueologia histórica brasileira passa a ser fortemente influenciada pela arqueologia 
antropológica norte americana, surge a New Archaelogy ou Arqueologia processual, seu 
principal defensor era Lewis Binford que defendia que “a arqueologia é antropologia ou não é 
nada”. Nessa nova corrente teórica a ênfase é estudar as regularidades no comportamento 
humano buscando elementos que comprovem o mesmo comportamento humano em todas as 
sociedades em qualquer época e lugar do mundo, ou seja, que todos os homens agem 
universalmente da mesma maneira, pouca ou nenhuma importância se dá a parte histórica. 
Durante as pesquisas deste trabalho não foi possível estabelecer precisamente a data em que 
se iniciaram os estudos em Arqueologia Histórica brasileira, sabe-se que com a intervenção 
militar de 1964 a 1985, essa nova vertente da Arqueologia sofreu um grande impacto, pois 
devido ao grande poder que os militares passaram a exercer na sociedade e dentro das 
Universidades brasileiras a arqueologia passa a sofrer sérias restrições. Os trabalhos 
desenvolvidos em Arqueologia Histórica passam a evidenciar somente aquilo que os militares 
tinham interesse e aprovavam, os estudose trabalhos realizados passam a dar importância 
somente aos grandes monumentos imperialistas como, por exemplo, as fortificações. 
Segundo Funari, (2006) com o final da intervenção militar em 1985 e a restauração da 
liberdade civil, os estudos e trabalhos em arqueologia histórica no Brasil crescem 
gradativamente. 
Começa uma nova fase onde a Arqueologia processual dá lugar a Arqueologia Pós-
processual. Funari (1992) diz também que em 1987 a publicação de Re-constructing 
19 
 
Archeology
8
 de Michael Shanks e Cristopher Tilley marca o processo de reconstrução da 
arqueologia. 
A arqueologia pós-processual também é chamada de arqueologia contextual por se preocupar 
com o contexto histórico e social da produção do conhecimento. O arqueólogo passa a não só 
descrever e classificar os objetos, mas também passa a tentar extrair informações de como tal 
objeto esta inserido naquela sociedade, métodos de uso, por quem era usado etc., o 
arqueólogo também passa a ter o compromisso de a partir da sua pesquisa, produzir 
conhecimento e comunicá-lo a sociedade. É crescente o numero de pesquisas e estudiosos 
interessados nessa nova forma de se “fazer” Arqueologia. Destacam-se as pesquisas sobre a 
diversidade de etnias e culturas no Brasil com o estudo das Missões Jesuíticas e dos 
Quilombos. Dessa forma, os estudos vêm contribuindo para a valorização desses grupos e 
mostrando através da sua cultura material a sua luta contra as opressões e discriminações que 
passavam, surge também a arqueologia de gênero preocupada em dar a mulher seu devido 
lugar e importância na sociedade. 
Com a elaboração deste trabalho monográfico, verificou-se que o inicio dos estudos em 
arqueologia histórica no Brasil passou por diversas dificuldades e problemas políticos, 
ideológicas e até discriminatórios por parte dos historiadores que viam a arqueologia apenas 
como uma ferramenta que os auxiliava a comprovação da veracidade dos documentos 
escritos. Os próprios arqueólogos não viam com bons olhos esse novo braço da arqueologia e 
só se interessavam e valorizavam estudar o nosso passado longínquo (pré-história) dando 
pouca ou nenhuma atenção ao nosso passado recente (arqueologia histórica), nossas 
memórias, a formação da sociedade da qual hoje fazemos parte. 
Muito apropriadamente, Funari na apresentação do livro de Orser (1992) fala sobre a 
importância da arqueologia histórica e as inúmeras contribuições que ela pode fornecer a 
sociedade: 
A arqueologia histórica pode, portanto, contribuir significativamente para 
uma mais completa compreensão da sociedade brasileira, reconstituindo, 
através dos artefatos, vozes abafadas, práticas esquecidas, culturas 
reprimidas. Numa sociedade brasileira cujos registros escritos restringem-se 
a uma reduzida elite iletrada, a massa, seus sofrimentos e alegrias, as 
culturas populares, enfim, podem ressurgir graças ao seu trabalho, aos seus 
artefatos. (FUNARI,1992, p.11) 
 
 
8
 Shanks, Michael; Tilley, Christopher. Re-Constructing Archaeology: theory and practice. 2ª edition, Routledge, 
1992. 
20 
 
Segundo Orser (1992), a arqueologia histórica é um campo de pesquisas novo, sendo 
organizada oficialmente em 1960 com a Conferência sobre Arqueologia de sítios Históricos. 
Em 1967 a Sociedade de Arqueologia Histórica foi fundada e passa a ser a maior organização 
profissional dessa área, ela tem apenas cerca de 50 anos e ainda esta em fase de 
desenvolvimento. 
Inúmeros foram os problemas enfrentados no inicio dessa nova forma de se estudar 
arqueologia, a definição do que é Arqueologia Histórica no Brasil e a delimitação do seu 
campo de estudo se constitui num problema até os dias de hoje, pois existem divergências 
sobre o que ela seja e questionamentos quanto à abrangência do seu campo de estudo. 
Sabe-se que a arqueologia pré-histórica estuda o período mais antigo da História da 
humanidade, estudando desenvolvimento do homem antes do aparecimento da escrita. E 
Segundo Orser (1992), a arqueologia histórica é o estudo arqueológico dos aspectos materiais, 
em termos históricos, culturais e sociais concretos, dos efeitos do mercantilismo e do 
capitalismo que foi trazido da Europa em fins do século XV e que continua em ação ainda 
hoje. Mas, não é tão simples delimitar esses dois campos de estudo, um dos grandes 
problemas é determinar quando começa o estudo do período Histórico. 
Segundo Orser (1992) essa dificuldade existe porque a presença dos europeus no Brasil é 
difícil de documentar, pois os antigos exploradores que aqui chegaram deixaram poucos 
vestígios de suas visitas e não se tem a localização exata dos lugares que eles exploraram e 
quando encontrados, o estudo desses sítios é muito complexo. Outro problema seria a 
existência de artefatos desses exploradores em sítios indígenas, o que causa diversas dúvidas e 
questionamentos sobre como esses índios tiveram acesso a esses objetos. Eles teriam recebido 
esses artefatos diretamente desses exploradores? Ou outros índios tiveram contatos com os 
exploradores e depois repassaram para outros indígenas como forma de presente ou moeda de 
troca? 
Verificou-se que é quase impossível determinar a data precisa do contato entre índios e 
exploradores por causa da imprecisão e mesmo ausência de documentos escritos que 
comprovem tal fato. E também da contradição entre cultura material versus documentos 
escritos já que a presença de artefatos dos exploradores em sítios considerados pré-históricos 
levanta duvidas contundentes sobre quando se deu o contato direto com os índios, sendo esse 
contato uma importante ferramenta para a delimitação do inicio do período histórico no 
Brasil. Na tentativa de resolver o problema de delimitação entre sítios históricos e pré-
históricos, alguns arqueólogos classificaram os sítios em período pré-histórico, período proto-
histórico e período histórico. Em 1965 é criada uma classificação de sítios Históricos, Orser 
21 
 
(1992), em seu livro
9
 fala claramente sobre a classificação desses sítios feita meio 
confusamente por Fontana: 
Em 1965, Bernard L. Fontana criou uma classificação de sítios históricos 
com vistas a ajudar a definir o domínio da arqueologia histórica. Estes tipos 
de sítios seriam: “proto Históricos”, nos quais sítios indígenas, não 
contactados diretamente por europeus, contem objetos europeus: “de 
contato”, habitados por índios durante a época de assentamento europeu: 
“pós-contato”, ocupados por índios depois, e não antes, do contato direto 
com os europeus: de “fronteira”, nos quais ocorriam contatos recorrentes 
entre índios e europeus: e “não aborígenes”, que envolviam apenas 
marginalmente os índios, ou nos quais estavam completamente ausentes. 
(ORSER, 1992, P. 20) 
 
Muitos arqueólogos definem a arqueologia histórica como o estudo dos povos colonizadores 
do Brasil, estudando apenas as grandes edificações históricas e o modo de vida dos que 
detinham o poder na época. Orser (1992) os chama de “a elite da sociedade letrada”, já que os 
reais formadores da nossa sociedade como os índios, negros e mulheres são desprezados, pois 
não sabiam escrever e por isso não deixaram documentos que comprovem sua importante 
participação na formação da sociedade brasileira, eles só deixaram como testemunho sua 
cultura material e não devem ser desprezados ou mesmo colocados como fazendo parte da 
pré-história. As definições do que é a arqueologia histórica brasileira giram em torno de duas 
definições estabelecidas, o estudo das relações com os povos indígenas ou a dos 
colonizadores. 
Uma resposta muito aceitável e esclarecedora é dada por Funari no livro “Introdução a 
Arqueologia Histórica” de Orser: 
 
A arqueologia histórica, tal como proposta por Charles E. Orser Jr., trata da 
parceria na sociedade moderna, capitalista ou proto-capitalista. Refere-se, 
portanto,a nossa sociedade, ao mundo do qual somos integrantes e diretos 
herdeiros. Abrange o que se designa por arqueologia colonial (ou do período 
escravista) e arqueologia pós-colonial (ou do período capitalista) e toca em 
problemas candentes, como a cultura material associada aos grupos 
subalternos, sejam indígenas, negros, imigrantes ou outros trabalhadores em 
sociedade de classe. (FUNARI, 1992, P.10) 
 
Sendo assim, a arqueologia histórica no Brasil abrange uma grande área de pesquisas, são 
estudados não só os grandes monumentos arquitetônicos e a vida cotidiana dos poderosos, 
 
9
 ORSER, C. Introdução à Arqueologia Histórica. Belo Horizonte: Oficina de. Livros, 1992. 
22 
 
mas também a parte esquecida e menosprezada e que tem a maior importância para a 
formação da sociedade de hoje em dia. A Arqueologia histórica possibilita estudar desde o 
impacto causado pelos colonizadores na sociedade indígena, a incorporação de objetos 
trazidos por eles nessa mesma sociedade, estuda a cultura africana e de outros imigrantes 
trazida para o Brasil, as opressões sociais vividas por negros, índios, mulheres, ou mesmo as 
diversas formas de resistência dos mesmos contra o poder vigente na época. Estuda também 
as transformações ocorridas na sociedade brasileira com a chegada do capitalismo e 
mercantilismo europeu. 
Por ser a arqueologia histórica multidisciplinar, abrangendo áreas como a história, 
antropologia, arquitetura e outras, ela possui amplas fontes de informação e pesquisa. As 
pesquisas e trabalhos em arqueologia histórica são infinitos e só tendem a se desenvolver e 
crescer cada vez mais. 
A arqueologia histórica já foi considerada e ainda é por alguns historiadores como uma 
ferramenta auxiliar da história, e por outro lado era considerada por muitos antropólogos 
como uma ferramenta da antropologia. Isso se deve a falta de profissionais formados em 
arqueologia e especializados em arqueologia histórica, pois no inicio a maioria dos 
profissionais que trabalhavam em arqueologia histórica no Brasil vinham de formações em 
história, antropologia, arquitetura e outros. Por ser multidisciplinar, ela utiliza-se de elementos 
da História em suas pesquisas, como os documentos escritos que fornecem dados sobre o 
passado, dando uma importância histórica aos trabalhos realizados. Ela também usa 
elementos da antropologia a fim de compreender tradições, culturas e etapas de 
desenvolvimento de uma sociedade. 
Segundo Orser (1992), no início da formação e do desenvolvimento dessa disciplina, houve 
muitas discussões entre as décadas de 1960 e 1970, sobre se a arqueologia histórica pertencia 
à história ou à antropologia, até os dias de hoje esse problema persiste, pois a arqueologia 
histórica continua se utilizando tanto de ferramentas históricas quanto antropológicas para a 
realização de suas pesquisas. 
E como dizia Orser: 
A arqueologia histórica não é nem apenas história nem antropologia, ou nem 
mesmo uma junção da historia e da antropologia, mas, simplesmente, a 
arqueologia histórica, um campo muito diverso de investigação que combina 
um grande número de abordagens. (ORSER, 1992, p. 27) 
 
 
23 
 
3.1 Primeiros trabalhos realizados em Arqueologia histórica no Brasil 
 
No inicio deste trabalho foi dito que, no começo, a arqueologia histórica foi trazida dos 
Estados Unidos durante a ditadura militar para o Brasil na década de 1960 e seguiu nos seus 
primeiros passos os caminhos da sua origem preocupando-se em estudar os vestígios dos 
grandes monumentos dos colonizadores, no caso do Brasil as fortificações, igrejas, palácios e 
outros. 
 
 
FIGURA 1: Castelo Garcia D'Avila, Bahia 
Referência: 
www.trekearth.com/gallery/South_America/Brazil/Northeast/Bahia/Praia_do_Foe/photo522098.htm 
 
Na figura 1, foto da primeira edificação militar portuguesa construída no Brasil, o Castelo Garcia d 
Ávila construído em 1549, na Praia do Forte-BA. 
A arqueologia brasileira era fortemente influenciada pela arqueologia histórica norte 
americana capitalista, que buscava estudar apenas a cultura material das elites coloniais. 
 
24 
 
 
FIGURA 2: Ruínas do forte Tapirandu em Morro de São Paulo-BA. 
Referência: www.flickr.com/photos/paolomendesveras/2356300022/lightbox/ 
 
A figura 2 mostra a fortaleza de Tapirandu, hoje conhecido como o forte do morro de São 
Paulo-BA, construído em 1630 e ampliado de 1728 a 1730 onde foi acrescentada a cortina de 
muralhas ao conjunto defensivo possuindo 678 metros de extensão. Conforme o Inventário do 
IPAC-BA
10
 (1988) a Fortaleza de Morro de São Paulo foi o mais extenso sistema defensivo 
do Estado e, provavelmente do País, é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. 
Tânia Andrade Lima (1993) fala que nessa época a arqueologia estava comprometida em 
restaurar monumentos para a preservação do patrimônio histórico e cultural da nação, foi 
também chamada de arqueologia de restauro e essas atividades acabavam tornando o 
arqueólogo histórico em um simples auxiliar da história e da arquitetura, a arqueologia 
histórica passa a ser uma simples técnica. 
No final da década de 1930, têm-se alguns fracos registros de que houve a primeira pesquisa 
em arqueologia histórica, ocorrida no interior do sertão da Bahia. Segundo Andrade Lima 
(1993), Herman Kruse localizou fortins construídos no século XVI com finalidades 
defensivas contra os índios da região, realizando escavações em dois deles. Existem apenas 
relatórios dessa pesquisa no arquivo do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), os 
resultados dessas pesquisas nunca foram publicados. Segundo Andrade Lima (1993), nessa 
 
10
 Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia 
25 
 
mesma época, no Paraná, Loureiro Fernandes encontrou nichos em paredões íngremes da 
Serra Negra em Guaraqueçaba, nesses nichos foram encontrados ossos humanos e vestígios 
de selo de argila que tinha a finalidade de vedar as aberturas nas rochas. Esses locais Foram 
interpretados como sendo túmulos pertencentes a negros quilombolas, porém não foi 
encontrado nenhum vestígio de que existissem quilombos nas proximidades. Também não 
foram publicados os resultados dessa pesquisa que foi registrada em 1985 em um 
levantamento sobre arqueologia histórica no estado do Paraná feito por Igor Chmyz
11
. 
Na década de 1940 foi feita uma abordagem arqueo-histórica na cidade do Guaíra no Paraná, 
onde existia uma antiga vila espanhola em 1500, esse trabalho foi feito pela arqueóloga norte-
americana Virginia Drew Watson. Segundo Andrade Lima (1993), os resultados dessa 
pesquisa foram publicados na America Antiquity (1947 13(2):163) e abriu espaço para futuros 
trabalhos e novas pesquisas nessa região. 
Na década de 1950, Loureiro Fernandes fez escavações na capela do antigo colégio dos 
Jesuítas em Paranaguá, onde hoje é o Museu de Arqueologia e Artes Populares, visando 
fornecer bons argumentos para que o prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico Artístico 
Nacional, fosse restaurado. Mais um trabalho em que os resultados das pesquisas não foram 
publicados e apenas registrados no levantamento sobre arqueologia histórica no estado do 
Paraná. Andrade Lima (1993) fala que no Rio Grande do Sul em 1959, o padre Luis Gonzaga 
Jaeger abriu trincheiras de forma assistemática nas missões de São Nicolau, São Luiz 
Gonzaga e São Borja e nunca publicou os resultados de suas pesquisas. 
Só na década de 1960 é que a arqueologia histórica é reconhecida como um campo de 
pesquisas e começam as pesquisas e trabalhos focados nos grandes monumentos 
arquitetônicos dos colonizadores do Brasil, muitas igrejas, conventos, missões e fortificações 
são estudadas. 
A Fortaleza de Santa Cruz é um dos primeiros trabalhos de arqueologia histórica realizados 
no Brasil. Tombada em 1937, permaneceu abandonada até 1960, quandoo IPHAN 
representado por Dr. Ayrton Carvalho empreendeu uma ação para a recuperação desse grande 
monumento histórico, com a participação do comandante da 7ª/RM, General Muricy. 
Segundo Marcos Albuquerque (2009), no final da década de 1960 e começo da década de 70 
o forte encontrava-se em ruínas num verdadeiro processo de degradação, nessa época houve 
 
11
 CHMYZ, I. . Pesquisas de arqueologia histórica no Paraná. Dédalo. Revista do Museu de Arqueologia e 
Etnologia, São Paulo - SP, v. 24, p. 171-197, 1985. 
26 
 
uma grande junção de esforços para o seu Salvamento. Na figura 3, as muralhas do Forte 
Orange, atualmente chamado de Forte de Santa Cruz, construídas em pedras de calcário. 
 
FIGURA 3: Muralhas do “Forte Orange”, Pernambuco. 
Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
Marcos Albuquerque diz que: 
A conjugação dos esforços do General Muricy, que considerava a 
importância de preservar-se os monumentos militares, com a diligência do 
Dr. Ayrton Carvalho, fornecendo o apoio técnico para a restauração, e do 
coronel do Exército Gabriel Duarte Ribeiro, então Comandante Geral da 
Policia Militar de Pernambuco, que colocou 150 homens da PM à disposição 
do Laboratório de Arqueologia da UFPE para a realização da primeira 
campanha arqueológica no "Forte Orange". Desta forma foi realizada uma 
pesquisa arqueológica que subsidiou parte da restauração realizada na 
ocasião. Posteriormente o Sistema Penitenciário do Estado disponibilizou 
vários detentos para colaborarem com a restauração do Forte, sob a 
orientação do IPHAN. (ALBUQUERQUE, 2009, p.42) 
 
As palavras de Marcos Albuquerque deixam claramente explicito a grande influência militar 
sobre os trabalhos arqueológicos históricos realizados durante a ditadura, onde só se 
preocupavam com os grandes monumentos dos colonizadores, por terem interesses 
particulares neles. 
27 
 
 
 FIGURA 4: Escavações feitas na Praça das Armas, Forte de Santa Cruz-PE. 
 Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
 
Antes a Fortaleza de Santa Cruz era chamada de Forte Orange e servia como uma unidade de 
defesa durante o período colonial do Brasil. O Forte Orange foi construído por holandeses e 
recebeu esse nome em homenagem a família real holandesa. Foi construído logo após a 
invasão da Ilha de Itamaracá em Pernambuco pelos holandeses em 1631, o engenheiro 
responsável por sua construção foi o holandês Pieter Van Bueren. 
Segundo Marcos Albuquerque (2009), com os trabalhos arqueológicos verificou-se que o 
Forte Orange esta abaixo da Fortaleza de Santa Cruz de construção portuguesa, a estrutura 
original do Forte Orange foi descoberta durante a escavação arqueológica realizada no local. 
A importância estratégica do ponto onde estava o Forte Orange para a segurança da capitania 
fez com que os portugueses erguessem um forte no mesmo local abandonado pelos 
holandeses. Escavações arqueológicas realizadas neste local mostraram que tropas 
portuguesas ocuparam as instalações desse forte, e que ele foi ocupado várias vezes ao longo 
dos séculos, como mostram as escavações feitas na praça das armas na Figura 4, contrastando 
períodos de intensa atividade construtiva da nova fortaleza com períodos de abandono. Na 
Figura 5, restaurações internas da praça das armas, nesta restauração trabalharam técnicos do 
IPHAN e presidiários. 
 
 
28 
 
 
FIGURA 5: Restauração na Praça das Armas na Fortaleza de Santa Cruz-PE 
Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
Marcos Albuquerque (2009) diz que a Fortaleza de Santa Cruz era considerada uma ruína em 
bom estado de conservação, com o princípio das escavações foi possível observar que as 
ruínas passaram por sucessivas interferências. Foi constatado através de documentos da época 
que durante o período de ocupação portuguesa, muitas cartas foram enviadas a corte 
solicitando recursos para a recuperação de partes danificadas pelo tempo. Verificou-se 
também que com a evolução das armas e estratégias as fortalezas foram readaptadas, 
desativadas e algumas foram abandonadas. 
 
29 
 
 
 FIGURA 6: Início das escavações arqueológicas na Fortaleza de Santa Cruz-PE 
 Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
 
Acima na figura 6, escavações na praça das armas onde foram constatadas várias ocupações 
ao longo dos séculos, buscava-se resgatar o cotidiano dos habitantes do forte. 
Segundo Marcos Albuquerque (2009), esse trabalho arqueológico teve uma grande 
repercussão tanto local como nacional e internacional. Uma revista de grande circulação 
dedicou varias páginas a essa pesquisa, emissoras de televisão noticiaram quase todos os dias 
essa pesquisa, jornais de outros países divulgaram as escavações que estavam sendo 
realizadas e várias pessoas foram ver os trabalhos arqueológicos de perto. Albuquerque 
(2009) diz que esses fatos denotavam o interesse das pessoas pela arqueologia que ele chama 
de militar, mas levando em consideração que esse trabalho arqueológico ocorreu durante a 
ditadura, onde os militares detinham um poder muito grande e decidiam que pesquisas 
deveriam ser feitas, o que deveria ser estudado e o rumo que as escavações deveriam tomar, 
controlavam as faculdades e todos os órgãos ligados ao governo, bem como a televisão, rádio, 
jornal e etc. Entenderemos o porquê esse trabalho arqueológico recebeu tanto destaque e 
atenção na época. 
Em 2002 foi organizada uma nova pesquisa arqueológica na Fortaleza de Santa Cruz, muito 
mais abrangente do que a pesquisa feita em 1970, toda a área interna e externa do forte foi 
estudada. O Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 
30 
 
esteve a frente dessas pesquisas, em parceria com Mowic Foundation
12
, e contando com o 
apoio da Embaixada dos Países Baixos no Brasil, e com o Governo do Estado. O apoio 
financeiro foi propiciado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino dos Países 
Baixos e pelo Governo do Estado de Pernambuco. Contou ainda, nesta parceria, com o apoio 
técnico da 5ª Superintendência Regional do IPHAN. A figura 7 mostra as novas escavações 
feitas em 2002 na praça das armas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 7: Novas escavações feitas na praça das armas, Fortaleza de Santa Cruz-PE 
Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
A nova pesquisa arqueológica foi dividida em duas etapas, a primeira realizada em 2002 e a 
segunda em 2003, com os resultados obtidos foram esclarecidos muitos aspectos a respeito da 
construção inicial pelos holandeses o Forte Orange, e depois sobre a nova construção feita 
pelos portugueses a Fortaleza de Santa Cruz. 
Durante os trabalhos de escavação arqueológica foi encontrado um sepultamento de um 
oficial português no interior da capela (Figura 8). 
 
 
12
A Mowic Foundation é uma Ong fundada no ano de 2000 em Amsterdã na Holanda, seus objetivos 
são as pesquisa e conservação do patrimônio cultural de Monumentos da Companhia das Índias 
Ocidentais holandesa. 
 
31 
 
 
FIGURA 8: Sepultamento de um oficial português no interior da capela, Fortaleza se Santa Cruz-PE. 
Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
 
Também foi encontrada uma parede de amarração destruída que corresponde ao período da 
construção do forte Orange, onde essa capela não existia (Figura 9). 
 
 
FIGURA 9: Vestígios de uma parede de amarração do antigo Forte Orange, PE. 
Referência: Revista da cultura, Junho 2009 
 
32 
 
Durante as pesquisas arqueológicas foram resgatados o material da construção do forte que 
posteriormente foi utilizado na sua restauração. 
Marcos Albuquerque fala da importância desse trabalho para a história do Brasil, ele diz que: 
A restauração deste monumento, com a apresentação do farto material 
arqueológico encontradonas pesquisas, contribuirá para o entendimento de 
mais uma pagina da história militar brasileira. Entendimento que deverá 
elevar a auto-estima do povo e permitir ainda resgatar a herança comum 
entre Portugal, Brasil e Holanda. (ALBUQUERQUE, 2009, p.47) 
 
Durante o período holandês também foi construída a primeira sinagoga das Américas, a Kahal 
Zur Israel, em 1636 em Recife. Durante esse período emigraram vários judeus portugueses 
refugiados e judeus holandeses, logo após a expulsão dos holandeses do Brasil em 1654, a 
sinagoga foi abandonada. Em 1997 o programa Monumenta realizou um importante trabalho 
arqueológico de restauração no centro histórico de Recife. Nos estudos históricos de José 
Antonio Gonçalves de Mello ressurgem dados sobre a mesquita, e com as pesquisas 
cartográficas e documentais do arquiteto José Luiz Mota Menezes, inicia-se as pesquisas 
arqueológicas do professor arqueólogo Marcos Albuquerque. Ele faz a identificação do 
edifício onde existia a sinagoga que é tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
por sua importância para a memória do país, sendo a evidência da presença judaica no Brasil 
(Figura 10). A fachada atual da sinagoga é data do século XIX. 
 
 
FIGURA 10: Fachada da sinagoga Kahal Zur Israel em Recife-PE. 
Referência: www.pt.wikipedia.org/wiki/Sinagoga_Kahal_Zur_Israel 
33 
 
 
 
FIGURA 11: Interior da Sinagoga Kahal Zur Israel em Recife-PE. 
Referência: www.pt.wikipedia.org/wiki/Sinagoga_Kahal_Zur_Israel 
 
Dentro do prédio podem ser vistos os restos do piso e paredes da época, assim como um poço, 
“o mikve” utilizado como banho ritual (Figura.11). O acervo conta também com informações 
sobre a história do povo judeu em Pernambuco e a exposição dos vestígios materiais 
recuperados durante a prospecção arqueológica da sinagoga. a fachada atual data do século 
XIX. 
Sabe-se que com o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), Iniciam-se 
na década de 1960 as pesquisas no Rio Grande do Sul de missões jesuíticas dando inicio aos 
trabalhos de arqueologia da fase cultural histórica chamada de “fase missões”. Logo depois, 
na década de 70 , por causa dos trabalhos nas missões jesuíticas inicia-se o estudo dos 
contatos inter-étnicos em decorrência da colonização e como isso se refletiu na cultura 
material. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mikve
34 
 
 
 
FIGURA 12: Ruínas São Miguel, RS. FIGURA 13: Missões Jesuíticas, Rio Grande do Sul. 
Referência: http://www.twuturismo.com.br/patrimonio_missoes_guarani.htm 
 
As Ruínas de São Miguel, uma das mais antigas missões dos Sete Povos no Rio Grande do 
Sul, foi o primeiro sítio tombado pelo então criado SPHAN (1937), atual IPHAN. Nas Figuras 
12 e 13, ruínas das missões jesuíticas do sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo no Rio 
Grande do Sul construída de 1735 a 1774, hoje considerado símbolo de identidade do povo 
gaúcho. 
Logo depois, na década de 1970, por causa dos trabalhos nas missões jesuíticas inicia-se o 
estudo dos contatos interétnicos em decorrência da colonização e como isso se refletiu na 
cultura material. 
No nordeste brasileiro começam os estudos na década de 1980 de igrejas coloniais e 
fortificações em Pernambuco. 
Com o final da ditadura em 1985 e o restabelecimento das liberdades civis, a arqueologia 
histórica brasileira passa a ter mais autonomia, seus estudos são mais criteriosos e 
comprometidos com o social. 
No Rio de Janeiro em 1985 é organizado pelo Núcleo de Arqueologia da Secretaria do 
Patrimônio Histórico e Nacional (SPHAN) e Fundação Nacional Pró Memória (FNPM), o 
primeiro Seminário de Arqueologia Histórica do país. Esse evento mostrou que os trabalhos 
realizados em arqueologia Histórica resumiam-se a estudos dos patrimônios arquitetônicos do 
http://www.twuturismo.com.br/patrimonio_missoes_guarani.htm
35 
 
nordeste, a arqueologia histórica das missões jesuíticas, contatos inter-étnicos no sul do país e 
algumas exceções de trabalhos isolados. 
Com esse seminário verificou-se também que grande parte dos trabalhos apresentava 
problemas metodológicos e técnicos e as soluções vinham da improvisação dos arqueólogos e 
surgiam de uma grande série de tentativas e erros tentando chegar ao acerto. Detectadas essas 
deficiências a partir da apresentação desses trabalhos, buscou-se uma maior integração entre 
os pesquisadores, na tentativa de tornar a arqueologia mais unida e firme, com um maior rigor 
científico e metodológico. A arqueologia histórica, antes desprezada e usada apenas como 
uma ferramenta auxiliar a outras áreas da ciência passa a ser respeitada depois desta data 
realmente como ciência, e a partir de 1987 passa a fazer parte da Sociedade de Arqueologia 
Brasileira (SAB), com a apresentação de vários trabalhos. 
A arqueologia histórica, mesmo ainda hoje fortemente ligada aos monumentos históricos, se 
abriu para novas possibilidades com perspectivas mais cientificas e comprometida com 
objetivos sociais. 
 
 
3.2 Primeiros arqueólogos históricos no Brasil 
 
Com as pesquisas para a elaboração desse trabalho, contatou-se que o primeiro a trabalhar 
com arqueologia histórica no Brasil foi Herman Kruse, ele é um pesquisador uruguaio 
formado em ciências pela Escola de Serviço Social Alejandro Del Rio, fez pesquisas e 
escavações arqueológicas no sertão da Bahia onde encontrou as ruínas dos fortins construídos 
no século XVI, os resultados de suas pesquisas não foram publicados. 
Em seguida temos José Loureiro Fernandes, pesquisador português que era formado em 
medicina, antropologia e história, ele desenvolveu trabalhos arqueológicos no estado do 
Paraná onde encontrou túmulos que pertencem a negros quilombolas localizados em nichos 
nos paredões da Serra Negra em Guaraqueçaba, os resultados de sua pesquisas não foram 
publicados. 
A pioneira Margarida Davina Andreatta foi outra pesquisadora que trabalhou com arqueologia 
histórica no Brasil. Foi a primeira pesquisadora brasileira a trabalhar com arqueologia 
histórica, é formada em geografia e história e em 1979 fez prospecções e escavações em casas 
bandeiristicas (casas onde moravam os bandeirantes) em São Paulo, os resultados dos seus 
trabalhos foram publicados e contribuíram no resgate das memórias de São Paulo. 
36 
 
Outro pioneiro em arqueologia histórica brasileira é Marcos Antonio Gomes de Mattos de 
Albuquerque, é formado em ciências sociais. Junto ao Laboratório de Arqueologia do 
Departamento de História da UFPE, desenvolveu vários trabalhos em arqueologia histórica, o 
primeiro trabalho realizado foi a arqueologia do forte Orange em 1960, os resultados dessa 
pesquisa foram publicados e contribuíram para o entendimento da historia militar brasileira. 
No âmbito deste trabalho não foi possível saber a que correntes teóricas cada um desses 
profissionais seguia. Eles foram os pioneiros a trabalhar com arqueologia histórica no Brasil e 
contribuíram para a construção e reconstrução das memórias da nossa sociedade. 
 
 
4. AS NOVAS PERSPECTIVAS DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA NO 
BRASIL. 
 
Os modelos interpretativos históricos norte americanos continuam sendo utilizado até os dias 
de hoje por muitos arqueólogos históricos brasileiros e como todos os modelos interpretativos 
importados, não atendem totalmente as necessidades brasileiras. Como diz Andrade lima 
(1993), a arqueologia brasileira possui suas especificidades, os modelos importados não 
abrangem a grande diversidade social brasileira. Há cada vez mais um crescente interesse pelo 
estudo das particularidades da realidade brasileira. 
Segundo Funari (2005), na década de 1990, a área de interesse da arqueologia histórica se 
expandiu e com isso, ganharam destaque os estudos dos grupos excluídos e oprimidos da 
nossa história. O estudo dos Quilombos ganha um grande destaque, são estudados diversos 
quilombos em Minas Gerais, Goiás e no Nordeste e até hoje são estudadas suas diversascaracterísticas. O Quilombo de Palmares é o mais famoso entre eles, os estudos arqueológicos 
constataram sucessivas ocupações neste quilombo, não só por negros, mas também por 
brancos e índios e sua cultura material é muito diversificada, ou seja, foi habitado por diversas 
etnias e culturas. Os quilombos mineiros ao contrário do Quilombo de Palmares não possuíam 
essa diversidade étnica, os estudos feitos pelos arqueólogos mostram que os indivíduos que 
habitaram os quilombos mineiros eram com freqüência os fugitivos das cidades mineradores. 
A arqueologia histórica também vem estudando as injustiças sociais, como as opressões 
sofridas pelos indivíduos cometidas pelo poder vigente em cada época. Um estudo que tem 
ganhado muito destaque são os cemitérios clandestinos de presos políticos desaparecidos 
durante a ditadura militar, com isso a arqueologia histórica presta um grande serviço a 
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sociedade, pois foi possível identificar, com a ajuda da antropologia física, as agressões 
sofridas por essas pessoas, a causa da morte e também pode ser feito o reconhecimento dos 
esqueletos através do DNA e dar uma satisfação às famílias dessas vitimas, também se pode 
dar a devida importância a essas pessoas que contribuíram para a construção desta sociedade. 
Os lugares onde esses presos políticos ficavam também estão sendo estudados, pois o estudo 
da sua cultura material mostra muito sobre os indivíduos que ali permaneceram. O estudo 
arqueológico dessa triste fase histórica serve para a construção da identidade da sociedade 
brasileira e também para que as injustiças e atrocidades cometidas no passado, não voltem a 
se repetir no futuro. 
Funari (2007) fala que o estudo arqueológico sobre os lugares habitados por escravos como 
esconderijos estão sendo estudados em outros países latinos americanos. Vem se destacando 
os estudos arqueológicos históricos em Cuba, com a preocupação na recuperação da cultura 
de negros, índios e europeus que formaram novas comunidades fugindo da opressão nesse 
país. 
A arqueologia histórica brasileira também vem estudando outras formas de resistência, como 
o estudo dos sertanejos em Canudos. As moradias e objetos de uso cotidiano têm sido 
evidenciados pela arqueologia revelando o modo de vida desses sertanejos, com esses 
estudos, a arqueologia histórica resgata a memória dos indivíduos que se opuseram ao poder 
lutando por uma sociedade mais justa e igualitária e valorizando a diversidade étnica e 
cultural brasileira. 
Não podemos esquecer a arqueologia de gênero ou arqueologia feminista, as mulheres vêm 
contribuindo muito, desde o início, para a formação da sociedade. Elas também sofreram 
muitas injustiças e preconceitos e tem o direito de ter o seu devido lugar e importância 
reconhecidos na formação desta sociedade. 
 
 
4.1 Perspectivas e importância do desenvolvimento teórico 
 
Apesar do progresso feito pela arqueologia histórica na década de 1990 com o 
desenvolvimento e expansão de novas pesquisas e a diversidade e possibilidades de estudos, a 
arqueologia histórica brasileira é tida como pouco teórica e isolada do contexto internacional. 
Segundo Barreto (1999), há uma necessidade e preocupação de uma arqueologia que se 
desenvolva com contextos e uma abordagem especificamente brasileira. Ela também diz que 
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as interpretações arqueológicas são cheias de conceitos e pré-conceitos estabelecidos pelo 
presente e por isso acabam não sendo muito flexíveis, e a própria natureza do registro 
arqueológico e seu contexto especifico fornecem as mais variadas interpretações. Surge a 
necessidade de desenvolver uma arqueologia com bases teóricas e práticas metodológicas 
próprias e que considere as especificidades do registro arqueológico histórico brasileiro, dessa 
forma, espera-se ter uma produção de conhecimentos mais sólida e a construção de modelos 
interpretativos mais responsáveis, oferecendo a sociedade um bom conhecimento sobre o seu 
passado pré-colonial. 
Desde a década de 1990, a arqueologia histórica vem passando por um processo de revisão de 
suas linhas teóricas dominantes, muitas foram as críticas, debates e revisões feitas, resultando 
em vastas metodologias e teorias diversas, nunca vista na historia da arqueologia ocidental. 
Segundo Barreto (1999) isso aconteceu por causa das criticas feitas por Cambridge a 
arqueologia processual anglo-saxônica e depois continuou com o surgimento de várias 
perspectivas teóricas. Foi ressaltada a importância de uma arqueologia mais consciente e 
comprometida com o seu papel social. 
Muitos filósofos, historiadores e arqueólogos se comprometeram a estudar o passado da 
arqueologia para construir sua historiografia e entender seu funcionamento, suas idéias, 
compromissos e rumos que a disciplina deveria tomar. 
Barreto diz que: 
Trabalhos como os de Thigger (1989), Patterson (1986, 1991), Leone (1986) 
e ainda aqueles editados por Pinsky e Wylie (1989),Hodder (1991) e Ucko 
(1995), entre outros, demonstram como os arqueólogos, a partir de uma 
perspectiva interna da disciplina, ao analisar criticamente a sua historia, 
podem fornecer instrumentos fundamentais para expor a estrutura e 
organização interna da arqueologia, entender os vários processos de seu 
desenvolvimento e, o mais importante,para se avaliar e reformular dilemas 
teóricos e metodológicos contemporâneos. (BARRETO, 1999, p.202) 
A arqueologia na America Latina também tem se desenvolvido com a ajuda de historiografias 
críticas, que demonstram uma constante preocupação social, política e cultural nas análises do 
trabalho arqueológico, destacando-se a importância decisiva que as teorias e métodos 
adequados tiveram na definição de questões como identidade, cultura, preservação do 
patrimônio e outras. 
O papel da arqueologia histórica no Brasil é cada vez mais importante para a sociedade, 
apesar disso, só a partir de alguns anos isso passou a ser discutido pelos arqueólogos. A 
profissão de arqueólogo e o respeito aos trabalhos de arqueologia, estão se firmando cada vez 
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mais, e a prática da arqueologia de contrato vem crescendo muito e dando ao arqueólogo o 
poder de avaliar a importância do patrimônio arqueológico estudado para a sociedade, e a 
tomada de difíceis e grandes decisões sobre a parte do patrimônio a ser preservada. Barreto 
(1999) diz que apesar da integridade moral dos arqueólogos, do conhecimento científico que 
possuem e uma lei que reconheça que patrimônio deve ser preservado e oriente o arqueólogo 
na preservação desse patrimônio, haverá sempre a possibilidade do arqueólogo ser 
influenciado por grupos poderosos como o governo, grandes empresas, empreiteiras e vários 
outros, pois o patrimônio arqueológico faz parte de um conjunto de interesses atuais. 
Por ser a arqueologia uma ciência interpretativa, a partir dos seus trabalhos ela pode gerar 
reconstruções do nosso passado, nossas memórias, evocando na sociedade um sentimento 
nacionalista. Esses fatores só aumentam as possibilidades de ocorrerem interferências desses 
grupos nos trabalhos do arqueólogo. Pra que isso não aconteça, uma forma de proteção contra 
essas interferências seria a explicação e descrição por parte do arqueólogo, dos princípios e 
objetos que guiam o seu trabalho, as suas teorias e hipóteses, as interpretações que irá 
apresentar a sociedade. Apesar da grande importância da teoria por ser a base de produção do 
conhecimento do arqueólogo, no Brasil, “as discussões sobre a atuação do arqueólogo na 
sociedade não visam explicitar as tradições teóricas em uso na arqueologia brasileira, as quais, 
no entanto, necessariamente permeiam a relação entre o arqueólogo e a sociedade” 
(BARRETO,1999, p.202). 
Uma perspectiva histórica da arqueologia brasileira permitiria o conhecimento por parte de 
todos, das correntes teóricas que influenciaram a produção de pesquisas e trabalhos ate hoje, e 
também ajudariam a entender como

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