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Três textos de Psicodiagnóstico. 1. O diagnóstico na abordagem fenomenológica-existencial Autora: Ariana Maria Leite Araújo (Revista IGT na Rede, 2010) Resumo: O artigo discute como o diagnóstico é entendido na visão fenomenológico-existencial, contrapondo-se ao modelo tradicional que rotula o sujeito dentro de uma categoria patológica. Baseado em autores como Husserl, Heidegger, Yontef e Martin Buber, o texto explica que: · O diagnóstico é construído no encontro entre terapeuta e cliente, a partir do discurso e da vivência da pessoa. · O terapeuta precisa “colocar entre parênteses” seus preconceitos e teorias (redução fenomenológica) para realmente compreender o fenômeno vivido pelo cliente. · O existencialismo entende o ser humano como livre e responsável por suas escolhas, sempre em processo de construção de si mesmo. · A relação EU-TU de Buber é essencial: uma relação de reciprocidade, presença e diálogo autêntico, em que o cliente é reconhecido como sujeito singular. ➡️ Em síntese: o diagnóstico fenomenológico-existencial identifica o modo de ser e o ponto de existência do sujeito, e não apenas sua patologia. 🟣 2. O psicodiagnóstico fenomenológico e a (re)constituição de si Autoras: Gisella Mouta Fadda e Vera Engler Cury (Revista Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 2024) Resumo: O estudo apresenta uma experiência clínica com adultos que buscavam diagnóstico de autismo (TEA), refletindo sobre como o psicodiagnóstico fenomenológico pode favorecer a reconstrução do sentido de si. Principais ideias: · O diagnóstico tradicional, centrado em testes e manuais (DSM/CID), é insuficiente para compreender a complexidade da experiência humana. · A avaliação deve ser compreensiva, colaborativa e interventiva, valorizando a singularidade e o diálogo entre psicólogo e cliente. · Baseado em Husserl e Carl Rogers, o processo se dá pela intersubjetividade e pela redução fenomenológica, buscando o sentido e a estrutura da experiência vivida. · O objetivo não é rotular, mas ampliar o autoconhecimento e promover transformação. · O psicólogo torna-se o principal instrumento de investigação, utilizando narrativas compreensivas e empatia como formas de aproximação. ➡️ Em síntese: mais do que dar um diagnóstico, o psicodiagnóstico fenomenológico busca revelar o sentido existencial da experiência, permitindo que a pessoa se (re)constitua além dos rótulos clínicos. 🟣 3. O enfoque centrado na pessoa no tratamento de um caso de esquizofrenia Autora: Virgínia Moreira Leitão (Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1987) Resumo: O artigo relata um caso clínico de esquizofrenia tratado sob a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), inspirada em Carl Rogers e na fenomenologia-existencial. Principais pontos: · A autora discute o diagnóstico como reconhecimento e compreensão do cliente, e não como categorização de doença. · Os sintomas psicóticos são entendidos como formas de expressão de si, uma linguagem do cliente, e não algo a ser combatido. · O foco está na relação intersubjetiva autêntica entre terapeuta e cliente, onde o terapeuta assume sua própria subjetividade para compreender o outro. · A autenticidade, empatia e aceitação incondicional são condições terapêuticas fundamentais. · O caso clínico mostra uma paciente (“Bia”) em sofrimento psicótico, cuja melhora veio da relação genuína e não julgadora com a terapeuta — que possibilitou o resgate da autonomia e da presença no mundo. ➡️ Em síntese: o tratamento fenomenológico e centrado na pessoa entende a psicose como uma forma singular de existir e se comunicar, e a cura como um processo relacional e humano, não apenas técnico. 🧩 Quadro comparativo – Teorias Fenomenológicas Aspectos 1. O diagnóstico na abordagem fenomenológica-existencial (Ariana Araújo) 2. O psicodiagnóstico fenomenológico e a (re)constituição de si (Fadda & Cury) 3. O enfoque centrado na pessoa no tratamento de um caso de esquizofrenia (Virgínia Moreira Leitão) Perspectiva teórica Fenomenologia, Existencialismo e Filosofia Dialógica de Martin Buber Fenomenologia de Husserl e Abordagem Centrada na Pessoa (Rogers) Abordagem Centrada na Pessoa e Fenomenologia-Existencial Concepção de diagnóstico Não é rótulo, mas compreensão do modo de ser do sujeito no mundo Processo compreensivo, colaborativo e interventivo, que busca o sentido da experiência Diagnóstico como reconhecimento e compreensão do cliente, não categorização Método Redução fenomenológica e intencionalidade da consciência Método fenomenológico com narrativas compreensivas e empatia Escuta autêntica e suspensão de julgamentos; foco na intersubjetividade Relação terapeuta–cliente Horizontal, dialógica, baseada no encontro EU–TU Intersubjetiva e colaborativa, com diálogo e co-construção de sentido Autêntica, empática e genuína; o terapeuta se envolve como pessoa Papel do terapeuta Acompanhar o cliente na descoberta de si, sem impor interpretações Ser o instrumento de investigação, aberto à subjetividade do outro Ser autêntico e empático; reconhecer a subjetividade própria e do cliente Objetivo terapêutico Levar o cliente à consciência de seu projeto de ser e de suas escolhas Promover autoconhecimento e ressignificação de si, além do rótulo diagnóstico Possibilitar contato humano real e autonomia; compreender a linguagem da psicose Visão de saúde/doença O homem é um projeto em construção, livre e responsável Diagnóstico não define o ser — o foco é o crescimento psicológico A psicose é uma forma de expressão e não apenas um sintoma Contribuição principal O diagnóstico é um processo relacional e compreensivo, não classificatório A avaliação psicológica pode ser transformadora e ética, centrada na pessoa A relação autêntica pode restaurar o contato com a realidade e consigo mesmo ✨ Síntese geral: Os três textos convergem ao mostrar que, na fenomenologia e na abordagem centrada na pessoa, o foco do psicólogo deve estar na experiência vivida e no encontro humano, e não apenas no diagnóstico técnico. O diálogo autêntico e a empatia são os caminhos de compreensão e transformação.