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TEORIA DAS ESTRUTURAS II AULA 1 Profª Patricia Fontana 2 CONVERSA INICIAL Na disciplina de Teoria das Estruturas I, foram analisadas as estruturas isostáticas, que são aquelas que possuem a quantidade de incógnitas igual à quantidade de equações do equilíbrio da estática. Para essas estruturas, a determinação das reações de apoio ocorre de maneira simples, com a aplicação direta das equações do equilíbrio da estática. Nas estruturas hiperestáticas há uma redundância de vínculos, ou seja, a estrutura possui mais apoios do que a quantidade necessária para garantia do equilíbrio. Dessa forma, não é possível solucionar o problema com o uso apenas das equações do equilíbrio. Portanto, neste estudo, estudaremos os procedimentos de cálculo necessários para serem aplicados no estudo dessas estruturas. Além disso, serão apresentados conceitos da análise e projeto estrutural, a fim de introduzir os alunos no estudo das estruturas e prepará-los para as próximas disciplinas que abordarão sobre as construções e seus comportamentos do ponto de vista estrutural. TEMA 1 – INTRODUÇÃO AO PROJETO DE ESTRUTURAS O desenvolvimento de um projeto de estruturas, assim como a compreensão do comportamento dos sistemas estruturais depende do bom entendimento sobre o fluxo de desenvolvimento de um projeto e dos conceitos envolvidos em cada uma das etapas, como já visto no capítulo I da Disciplina de Teoria das Estruturas I. Figura 1 – Fluxo de desenvolvimento de um projeto estrutural Fonte: Fontana, 2023. 3 Aprofundando mais sobre o assunto, são apresentados a seguir os conceitos relacionados a cada uma das etapas descritas na Figura 1 e como eles se vinculam com os temas que serão abordados neste estudo. 1.1 Concepção estrutural A concepção estrutural consiste em uma das etapas mais importantes e que exige maior conhecimento do profissional de engenharia. Ela deve prever a posição e a dimensão dos elementos estruturais, quais os materiais a serem utilizados, o esquema resistente para cargas horizontais e verticais, quais são as fases construtivas, a compatibilidade com os demais projetos, além da análise financeira. O entendimento sobre o comportamento estrutural de pórticos, grelhas, vigas contínuas e isostáticas, que envolve conhecimento sobre os tipos de vinculação, rigidez dos elementos, fluxo de cargas e desenvolvimento dos esforços solicitantes, é essencial para que seja possível realizar uma concepção estrutural (ou lançamento estrutural) eficiente e que atenda tanto aos parâmetros de segurança e desempenho necessários quanto às necessidades do cliente. É importante comentar que o domínio desses conhecimentos não deve ser exclusividade do profissional que desenvolve o projeto estrutural, mas que também o profissional responsável pela execução deve ser capaz de compreender sobre os conceitos associados a essa etapa para garantir que a estrutura executada possua a capacidade resistente necessária. Após a definição da geometria dos elementos estruturas e o esquema resistente para as cargas, a estrutura deve ser modelada para posterior estudo dos esforços solicitantes. 1.2 Modelos estruturais Maiores informações sobre os tipos de modelos estruturais já foram apresentadas no tema 1.2 da Aula 1 de Teoria das Estruturas I. 1.3 Análise estrutural A determinação dos esforços solicitantes faz parte da etapa 3 descrita na Figura 1, que consiste na análise estrutural. É importante destacar que essa etapa envolve o desenvolvimento de muitos cálculos, os quais podem ser 4 realizados com o auxílio de softwares, mas cuja interpretação dos resultados sempre será dependente do(a) engenheiro(a) civil. Na disciplina de Teoria das Estruturas I foi realizada a análise estrutural de diversos sistemas estruturais e de elementos estruturais isolados, como vigas, pórticos e treliças, todos isostáticos, ou seja, que poderiam ser analisados com os cálculos e conceitos associados às condições de equilíbrio dos corpos rígidos (∑FH = 0 ; ∑FV = 0 ; ∑M = 0). Já neste estudo, que iniciamos com esta etapa, serão estudadas as estruturas hiperestáticas (ou estruturas estaticamente indeterminadas), ou seja, aquelas que possuem mais incógnitas de forças que a quantidade de equações do equilíbrio da estática, sendo necessários outros conhecimentos para permitir o cálculo das reações de apoio e, consequentemente, dos esforços solicitantes. 1.4 Dimensionamento e detalhamento Para finalizar o desenvolvimento de um projeto estrutural, temos as etapas de dimensionamento e de detalhamento, as quais dependem do conhecimento sobre as particularidades de cada um dos materiais estruturais disponíveis no mercado (concreto, metálica, madeira, bambu etc.), assim como dos critérios normativos relacionados com cada um dos sistemas estruturais possíveis. Os conceitos relacionados a essas últimas duas etapas serão abordados nas disciplinas específicas que serão vistas nos próximos semestres, quais sejam: estruturas de concreto, metálicas e madeiras. Saiba mais Quer saber mais sobre os sistemas estruturais em concreto armado, metálicas ou madeiras? A seguir, há uma listagem das principais normas técnicas vigentes que abordam as estruturas executadas com esses materiais: 5 • ABNT NBR 6118/2014 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento; • ABNT NBR 7190/2022 – Projeto de estruturas de madeira; • ABNT NBR 8800 – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. TEMA 2 – RELEMBRANDO CONCEITOS IMPORTANTES DA ANÁLISE ESTRUTURAL A análise estrutural é a fase do projeto estrutural em que é feita a idealização do comportamento da estrutura e que tem como objetivo a determinação de esforços internos e externos (ações e reações de apoio), assim como o cálculo dos deslocamentos da estrutura em estudo (Martha, 2010). Para permitir que sejam realizados os estudos descritos, torna-se necessário o entendimento sobre os tipos de elementos estruturais e sobre a forma que tais elementos podem ser vinculados a fim de resultar em um sistema estrutural. Para a análise de uma estrutura, é necessário que tenha sido elaborado um modelo estrutural, que pode ser um modelo composto por elementos de barras, de placas ou de sólidos. Na Figura 2 é apresentado um exemplo de uma estrutura de pórtico que pode ser modelada com elementos de barras. Figura 2 – Exemplo de modelo estrutural composto por elementos de barras 6 Figura 3 – Exemplo de modelo estrutural composto por elementos de barras Crédito: Jefferson Schnaider. Nos itens que seguem são apresentados os conceitos relacionados aos tipos de elementos e de sistemas estruturais, para melhor compreensão sobre o assunto. 2.1 Elementos estruturais A elaboração de um modelo estrutural consiste na idealização do comportamento de uma estrutura real, em que se adota uma série de hipóteses simplificadoras (Martha, 2010). As hipóteses simplificadoras citadas são necessárias pelo fato de que as estruturas reais apresentam um elevado grau de complexidade, ou seja, o cálculo do comportamento real, sem simplificações, exigiria cálculos complexos que demandariam grande tempo de trabalho para se obterem informações sobre os esforços e tensões atuantes nos elementos estruturais. Assim, para viabilizar a análise das estruturas, foram desenvolvidas as hipóteses simplificadoras e teorias correspondentes aos diferentes tipos de elementos estruturais, sendo 3 os tipos: elementos lineares, de superfície e sólidos, os quais são descritos nos itens que seguem. O entendimento sobre o comportamento estrutural desses tipos de elementos estruturais (ou seja, entendimento sobre o desenvolvimento das tensões internas nas peças) é essencial para garantir que as estruturais reais7 sejam representadas nos modelos de maneira adequada e, então, que a análise estrutural baseada nas teorias e hipóteses simplificadora contribua para a determinação dos esforços solicitantes corretos na estrutura em estudo. Os 3 tipos de elementos estruturais básicos são definidos com base nas dimensões relativas de cada parte de uma estrutura, sendo descritos nos itens que seguem os conceitos que orientam a forma de classificação desses elementos. 2.1.1 Elementos lineares Segundo apresentado na norma ABNT NBR 6118:2014, elementos lineares “são aqueles em que o comprimento longitudinal supera pelo menos 3 vezes a maior dimensão da seção transversal” (ABNT, 2014) Como exemplo de elementos de barras, tem-se os seguintes: • Vigas: peças que tem como esforço de flexão preponderante, além da atuação de esforços de cisalhamento e de torção. Em vigas protendidas ainda pode ser observada a atuação de esforços normais em decorrência da introdução desses esforços por conta da força de protensão. • Pilares: elemento estrutural com forças normais de compressão preponderantes, podendo ser solicitados, ainda, por esforços de flexão e de cisalhamento; • Tirantes: elemento submetido a uma força normal de tração preponderante; • Quando um tirante é flexível, pode ser nomeado também como cabo. • Arcos: elementos curvos que possuem uma solicitação preponderante por forças normais de compressão. São elementos que possuem as teorias e hipóteses simplificadoras demonstradas pela resistência dos materiais. 2.1.2 Elementos de superfície Trata-se dos “elementos em que uma dimensão, usualmente chamada espessura, é relativamente pequena em face das demais” (ABNT, 2014). 8 Os elementos de superfície podem ser classificados conforme o sentido das ações atuantes: • Chapas e lâminas: estruturas bidimensionais formadas por dois planos paralelos e próximos, estando as forças situadas no plano médio. Como exemplo tem-se os pilares paredes e as vigas paredes; • Placas: estruturas superficiais onde as cargas agem em plano perpendicular ao plano médio, como, por exemplo, as lajes; • Cascas: estruturas formadas por superfícies curvas, com cargas atuando em qualquer plano. Na Figura 3 são apresentadas as representações dos elementos de superfície. Figura 4 – Tipos de elementos de superfície Trata-se de elementos que possuem teorias específicas para estudo, sendo que apenas os conceitos vistos na resistência dos materiais não são suficientes para estudos das solicitações atuantes. São necessários conceitos complementares, como a teoria das placas, teoria das chapas e teoria da elasticidade. 2.1.3 Elementos sólidos Elementos em que todas as dimensões são relevantes e possuem como teoria principal a mecânica dos sólidos. Blocos e sapatas de fundações são exemplos de elementos sólidos. Nas figuras que seguem são apresentadas imagens do bloco de fundação de um viaduto para o qual foi necessária a modelagem com uso de modelo de elementos sólidos. 9 Figura 5 – Indicação do bloco de fundação de um viaduto Crédito: Patrícia Fontana. Figura 6 – Exemplo de modelagem de um bloco de fundação como um elemento sólido – Modelo elaborado no Programa SAP 2000 Fonte: Fontana, 2023. 10 2.2 Sistemas estruturais Sistema estrutural é toda a combinação de elementos estruturais, sendo 3 os tipos básicos de estruturas que podem ser combinados formando as construções, quais sejam: a. Treliças: sistema estrutural composto por elementos de barras dispostos de maneira triangular. Nesse sistema as peças são submetidas exclusivamente a esforços normais de tração e de compressão. Por conta desse comportamento estrutural e da elevação rigidez a flexão, trata-se de um sistema estrutural que possui como principal vantagem a possibilidade de vencer grandes vãos; b. Pórticos: sistema estrutural composto por vigas e pilares vinculados por ligações flexíveis, rígidas ou semirrígidas. Estendem-se em duas ou três dimensões (Hibbeler, 2013); c. Grelhas: sistema estrutural composto por elementos de barras submetidos a ações verticais, geralmente usado para o estudo dos pavimentos das estruturas compostas por lajes. Figura 7 – Exemplo de uma estrutura de um pavimento que pode ser representado como uma grelha Crédito: Elias Aleixo. 11 Figura 8 – Exemplo de modelagem de um pavimento de um edifício como uma grelha Fonte: Fontana, 2023. Um sistema estrutural pode ser constituído por diferentes tipos de materiais: concreto, aço, madeira, entre outros. TEMA 3 – CARGAS EM ESTRUTURAS No Tema 3 da aula 1 da Disciplina de Teoria das Estruturas I foram apresentados os tipos de cargas em estruturas, sendo abordadas as diferenças entre cargas pontuais e cargas distribuídas linearmente e uniformemente variável. Essas são as cargas que atuam nos elementos ditos lineares, que são aqueles que possuem uma medida (usualmente o comprimento) preponderante em relação à seção transversal da peça. 12 Figura 9 – Representação de carga pontual e carga distribuída linearmente que atuam em elementos lineares Figura 10 – Exemplo de cargas distribuídas linearmente e cargas pontuais em estruturas Além desse tipo de carga, em elementos estruturais superficiais são observadas as cargas distribuídas superficialmente. Como o nome já informa, a carga é distribuída em uma superfície, ou seja, em uma área. Portanto, a unidade 13 desse tipo de carga será uma medida de força dividida por uma medida de área (por exemplo: kN/m²). Figura 11 – Carga distribuída superficialmente em uma laje As cargas que atuam nas superfícies das lajes das edificações são divididas em cargas permanentes e acidentais, segundo a norma ANBT NBR 6120:2019, Ações para o cálculo de estruturas de edificações (ABNT, 2019). Ações permanentes são aquelas que “ocorrem com valores constantes ou de pequena variação em torno de sua média, durante praticamente toda a vida da construção. A variabilidade das ações permanentes é medida num conjunto de construções análogas” (ABNT NBR 8681) (ABNT, 2003, p. 2). Nas edificações, as principais ações permanentes atuantes se referem ao peso próprio da estrutura e ao peso próprio dos demais materiais da construção, como paredes de vedação, forros, revestimentos, entre outros. Essas ações são definidas levando em consideração o peso específico dos materiais, os quais podem ser vistos nas tabelas apresentadas no capítulo 5 da norma ANBT NBR 6120:2019 (ABNT, 2019). As cargas acidentais (ou variáveis) são “ações que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno de sua média, durante a vida da construção” (ABNT, 2003, p. 2). As principais cargas acidentais em estruturas consistem no uso da edificação e seus valores são definidos na Tabela 10 da norma ANBT NBR 6120:2019 de acordo com o tipo de uso da edificação (ABNT, 2019). 14 Na Figura 12 é transposta uma parte da Tabela 10 citada a fim de demonstrar a forma de apresentação dos valores das cargas acidentais de uso que atuam nas construções. Figura 12 – Trecho da Tabela 10 da ABNT NBR 6120:2019 Fonte: ABNT, 2019. Observa-se que ambientes que tendem a ter maior densidade de pessoas possuem cargas acidentais de maior intensidade. A situação pode ser melhor compreendida com a imagem apresentada na Figura 13. 15 Figura 13 – Representação de sobrecargas em estruturas Crédito: Jefferson Schnaider. 3.1 Distribuição de cargas de pisos em vigas A forma como as cargas que atuam em piso de uma estrutura de distribuem até as vigas de suporte desse piso (laje) depende do tipo de sistema estrutural adotado (disposição dos elementos estruturais e tipo de material). Durante as disciplinas específicas de estruturas de concreto, metálicase madeiras serão apresentados conceitos mais aprofundados sobre o comportamento dos elementos estruturais para cada um desses materiais, no entanto, para já permitir o melhor entendimento sobre o encaminhamento das cargas em estruturas, são apresentados a seguir dois exemplos de distribuição de cargas em vigas. 3.1.1 Exemplo 1.1 Considere a estrutura apresentada na Figura 14, que consiste em uma laje do tipo steel deck que se apoia em vigas metálicas com seção transversal I. Na laje indicada atua uma carga distribuída superficialmente de 4,8 kN/m². 16 Figura 14 – Estrutura de análise Crédito: Elias Aleixo. O piso da estrutura indicada é composto por dois panos de laje, uma vez que são observadas 3 vigas de apoio. Figura 15 – Exemplo de uma estrutura metálica composta por lajes do tipo steel deck que se apoiam em vigas metálicas seção I Crédito: Patrícia Fontana. 17 As lajes steek deck consistem em um sistema de piso que tem um comportamento unidirecional, ou seja, a transmissão das cargas do piso para as vigas ocorre em apenas um sentido. Outros exemplos de lajes que têm o mesmo comportamento são as lajes pré-moldadas e as lajes alveolares. Quando a laje possui comportamento de distribuição de ações unidirecional, sabe-se que metade da carga da laje é distribuída para uma viga e a outra metade para a outra viga. Dessa forma, surge o conceito de largura de influência do tamanho da laje que distribui cargas para uma determinada viga. No caso em estudo, para a viga central, que é a mais solicitada da estrutura indicada, a largura de influência é dada por: ℓinf = 0,75 + 0,75 = 1,50 metros (ver região hachurada na Figura 16). Figura 16 – Indicação da largura de influência da laje para a viga central Fonte: Hibbeler, 2013. Então, a carga que se distribui da laje para a viga central é dada pela multiplicação da carga distribuída na laje pela largura de influência: 18 gviga central = 4,8 x 1,50 = 7,2 kN/m kN/m² ℓinf Observe que, com a multiplicação das unidades da fórmula indicada tem como resultado a medida 7,2 em kN/m, o que era de se esperar, uma vez que a viga consiste em um elemento de barra e que, então, a carga atuante nesse elemento deve ser linear. O modelo de análise da viga central fica, então, conforme indicado na Figura 17. Figura 17 – Modelo de análise da viga metálica central de suporte das lajes Como as vigas do piso, chamadas também como vigas secundárias, se apoiam em outra viga, nomeada como viga principal, torna-se necessário também modelar essa viga, a qual recebe pontualmente as cargas que advêm das vigas do piso. O modelo de análise da viga principal é apresentado na Figura 18. 19 Figura 18 – Modelo de análise da viga principal (viga mestra) que recebe as cargas das vigas do piso (vigas secundárias) 3.1.2 Exemplo 1.2 A próxima estrutura de análise consiste em um piso composto por lajes e vigas de concreto armado convencional. Figura 19 – Estrutura de concreto armado de análise Crédito: Elias Aleixo. 20 As lajes de concreto armado possuem um comportamento particular de distribuição das cargas. Lajes que possuam relação de vão L2 / L1 > 2, com L2 e L1 (medida dos lados de uma laje retangular) possuem um comportamento unidirecional, por isso a solução de distribuição das cargas das lajes para as vigas se dá como indicado no exemplo 1. Já lajes que possuam relação de vão L2 / L1 ≤ 2 possuem um comportamento bidirecional, ou seja, as cargas são distribuídas nas duas direções principais da laje. Nesse segundo caso, para o cálculo das reações de apoio das lajes maciças nas vigas pode ser realizada uma aproximação que é descrita no item 14.7.6 da norma ABNT NBR 6118:2014, que consiste em traçar retas inclinadas a partir dos vértices da laje com ângulos de 60º ou 45º (ABNT, 2014). Detalhes sobre a indicação de cada ângulo serão vistos com mais profundidade na disciplina de concreto armado. Por ora, adotaremos o ângulo de 45º, o qual é utilizado quando as condições de vinculação entre as lajes e as vigas são as mesmas para todas as vigas que compõem o sistema estrutural, que é o caso do exemplo de estudo. Dessa forma, tem-se que cada área indicada na Figura 20 tem uma contribuição para a viga de borda adjacente. Figura 20 – Indicação da área de distribuição das cargas das lajes nas vigas de apoio 21 Considerando a distribuição indicada na Figura 20, a carga na viga apresentaria um formato triangular, como indicado na Figura 21, com máxima intensidade igual a 4,8 kN/m² x 3 metros = 7,2 kN/m e valor nulo nos extremos da viga. Figura 21 – Modelo de análise da viga de apoio da laje em estudo No entanto, segundo apresentado no item 14.7.6.1 da ABNT NBR 6118:2014, as reações das lajes nas vigas “podem ser, de maneira aproximada, consideradas uniformemente distribuídas sobre os elementos estruturais que lhes servem de apoio” (ABNT, 2014). Ou seja, o modelo de análise pode ser simplificado para o modelo indicado na imagem que segue: Figura 22 – Modelo de análise simplificado da viga de apoio da laje em estudo 22 A carga indicada no modelo foi obtida por meio da informação da carga total que atua na área hachurada da Figura 20: gtotal = 4,8 x ( 3 x 1,5/2 ) = 10,8 kN kN/m² A Para obter a carga distribuída na viga esse valor deve ser dividido pelo comprimento da viga: gviga = 10,8 / 3 = 3,6 kN/m TEMA 4 – CONCEITOS DE COMPATIBILIDADE E DE EQUILÍBRIO Conforme já apresentado anteriormente, a análise estrutural ocorre com a idealização do comportamento de uma estrutura real em que se adota uma série de hipóteses simplificadoras. No caso de estruturas de barras, hipóteses baseadas nos conceitos apresentados na resistência dos materiais. Neste estudo, serão analisados apenas sistemas estruturais compostos por elementos de barras, dessa forma, os modelos estruturais elaborados devem atender às seguintes condições matemáticas: • Condições de equilíbrio; • Condições de compatibilidade entre deslocamentos e deformações. • Condições sobre o comportamento dos materiais que compõem a estrutura (leis constitutivas dos materiais). Segundo apresentado por Martha (2010, p. 21), “as condições de compatibilidade entre deslocamentos e deformações são condições geométricas que devem ser satisfeitas para garantir que a estrutura, ao se deformar, permaneça contínua (sem vazios ou sobreposição de pontos) e compatível com seus vínculos externos”. Ou seja, é garantir, por exemplo, que as reações de apoio vertical e horizontal em um apoio articulado fixo sejam nulas, como prevê a definição de tal tipo de apoio. Já as leis constitutivas são aquelas estudas na resistência dos materiais e consistem em um “conjunto de relações matemáticas entre tensões e deformações [...] que contêm parâmetros que definem o comportamento dos materiais.” (Martha, 2010, p. 23). Um exemplo de uma lei constitutiva é a Lei de Hooke, que relaciona tensões normais e deformações normais. 23 Por fim, para relembrar, condições de equilíbrio são condições que garantem o equilíbrio estático de qualquer porção isolada da estrutura ou da estrutura como um todo. No caso de uma estrutura no plano, temos: ∑FH = 0 ∑FV = 0 ∑M = 0 TEMA 5 – ESTRUTURAS INDETERMINADAS ESTATICAMENTE Estruturas estaticamente indeterminadas são aquelas que possuem uma quantidade de reações desconhecidas ou forças internas que excedem o número de equações do equilíbrio da estática. A definição se uma estrutura é determinada ou indeterminada estaticamente dependem do grau de hiperestaticidade, que pode ser obtido através da seguinte equação. gh = (n. de incógnitas do problema estático) – (n. de equaçõesde equilíbrio). onde • gh 0 condição necessária para o modelo hiperestático e estável. Segundo apresentado por Hibbeler (2013), apesar de uma estrutura hiperestática ser mais complicada de ser analisada do ponto de vista de cálculo do que uma estrutura isostática, existem diversas vantagens na escolha por projetar estruturas com esse tipo de sistema indeterminado estaticamente. Em geral, para uma mesma determinada carga, as tensões solicitantes e a deflexão (deslocamento) máximas são menores em estruturas hiperestáticas, uma vez que, a vinculação das barras que compõem esse tipo de estrutura permite a distribuição dos esforços entre as barras que compõem a estrutura ou para os vínculos existentes. Por exemplo, a viga hiperestática da Figura 23a, que possui dois engastes de apoio, ou seja, uma redundância de 3 vínculos, será solicitada por um momento máximo no meio do vão no valor de Mmáx = PL/8. Já a viga da Figura 23b, que possui um apoio fixo e um apoio móvel, sendo, portanto, uma estrutura isostática, será solicitada na mesma seção por um momento de Mmáx = PL/4, ou seja, um momento duas vezes maior que no caso da estrutura hiperestática. 24 Segundo Hibbeler (2013), como resultado, a viga com apoios articulados (viga isostática) tem uma deflexão quatro vezes maior e uma tensão no centro do vão duas vezes maior, quando comparada à viga hiperestática. Figura 23 – Viga hiperestática, à esquerda (a), e viga isostática à direita (b) (a) (b) Fonte: elaborada por Fontana, 2023, com uso do software Ftool. Nesse caso, a existência dos engaste permite que a viga distribua parte dos momentos que seriam gerados nela nesses apoios, fazendo uma redistribuição dos esforços por meio da mudança do tipo de vínculo. Ainda, as estruturas hiperestáticas tendem a ser mais seguras, uma vez que da eventual ruptura total ou parcial de um elemento estrutural, a estrutura terá uma tendência de redistribuir sua carga para os apoios ou elementos redundantes e que se apresentem íntegros, sem danos. Por outro lado, como as estruturas hiperestáticas possuem redundância de vínculos e, portanto, maior impedimento de movimentos, a existência de recalques de apoio ou a tendência de deslocamentos na estrutura devido aos efeitos da temperatura introduzirão tensões internas na estrutura, gerando esforços adicionais. Nas estruturas isostáticas isso não acontece porque nesse tipo de sistema qualquer assentamento associado a um deslocamento externo não gera deformações forçadas na estrutura, sendo que esse tipo de estrutura tende a acomodar os eventuais movimentos que possam acontecer nela devido a mudanças de comprimentos dos membros por efeitos de temperatura, recalques ou erros de fabricação. 25 Como dito anteriormente, as estruturas hiperestáticas apresentam suas vantagens, mas o procedimento de cálculo é mais complexo quando comparado ao cálculo de estruturas isostáticas. São dois os métodos clássicos de análise das estruturas indeterminadas estaticamente, os quais serão descritos brevemente nos itens que seguem e estudados de maneira mais aprofundada nas próximas etapas. 5.1 Métodos de análise O primeiro método a ser estudado é o método das forças ou método da compatibilidade. Nesse método, as incógnitas principais do problema são forças e momentos, que podem ser reações de apoio ou esforços internos. O conceito base consiste em buscar dentro do conjunto de soluções forças que satisfazem as condições de equilíbrio, como a solução que faz com que as condições de compatibilidade também sejam satisfeitas. O segundo método se chama método dos deslocamentos, também chamado de método do equilíbrio. As incógnitas principais do problema são os deslocamentos, e o conceito base consiste em procurar, dentre todas as configurações deformadas que satisfazem a compatibilidade, aquela que também faz com que o equilíbrio fique satisfeito. FINALIZANDO Nesta etapa, foram apresentados os conceitos relacionados ao desenvolvimento dos projetos de estruturas. Foi possível identificar que o estudo das estruturas, com a determinação dos esforços solicitantes e deslocamentos existente, consiste em apenas uma etapa de todo o procedimento de desenvolvimento de um projeto estrutural, mas que consiste em uma etapa que exige muita atenção e conhecimento para garantir a construção de edificações saudáveis, seguras e duráveis. Além disso, foram apresentadas informações sobre as cargas atuantes em estruturas e como estas se desenvolvem em uma estrutura. Por fim, foram retomados os conceitos sobre a classificação das estruturas do ponto de vista da estaticidade, sendo apresentadas as definições, vantagens e desvantagens das estruturas hiperestáticas e isostáticas. 26 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. _____. NBR 6120: Ações para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019. _____. NBR 8681: Ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. HIBBELER, R. C. Análise de estruturas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. LORIGGIO, D. D. Apostila de análise estrutural – Modelagem computacional. QISat, 201?. MARINGONI, H. M. Princípios de arquitetura em aço. 2. ed. Belo Horizonte: Perfis Gerdau Açominas, 2004. MARTHA, L. F. Análise de estruturas – Conceitos e métodos básicos. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2010. REBELLO, Y. C.P. Sistemas estruturais em aço na arquitetura. Rio de Janeiro: IBS/CBCA, 2009. Conversa inicial 1.1 Concepção estrutural 1.2 Modelos estruturais 1.3 Análise estrutural 1.4 Dimensionamento e detalhamento TEMA 2 – RELEMBRANDO CONCEITOS IMPORTANTES DA ANÁLISE ESTRUTURAL 2.1 Elementos estruturais 2.1.1 Elementos lineares 2.1.2 Elementos de superfície 2.1.3 Elementos sólidos TEMA 3 – CARGAS EM ESTRUTURAS 3.1.1 Exemplo 1.1 3.1.2 Exemplo 1.2 FINALIZANDO REFERÊNCIAS