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Pediatria- HA Alimentação saudável no primeiro ano de vida A alimentação saudável da criança deve começar com a alimentação materna, antes, durante a gestação e durante a fase de lactação a fim de possibilitar crescimento e desenvolvimento adequados, otimizar o funcionamento de órgãos, sistemas e aparelhos e atuar na prevenção de doenças em curto e longo prazo (p. ex., anemia, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis). Para planejar a alimentação da criança é necessário considerar as limitações fisiológicas do organismo dos lactentes. Durante os primeiros meses de vida, os tratos digestório, renal e o sistema imunológico encontram-se em fase de maturação. Fatores nutricionais e metabólicos, em fases iniciais do desenvolvimento humano, têm efeito em longo prazo, na programação (programming) da saúde na vida adulta. Programming = indução, deleção ou prejuízo do desenvolvimento de uma estrutura somática permanente ou ajuste de um sistema fisiológico por um estímulo ou agressão que ocorre num período suscetível (p. ex., fases precoces da vida), resultando em consequências em longo prazo para as funções fisiológicas. A epigenética representa um conjunto emergente de mecanismos, revelando como o ambiente, incluindo alimentação e nutrição, estão constantemente influenciando o genoma. A longevidade associada às mudanças de estilo de vida nas últimas décadas corrobora para a gênese das doenças crônicas não transmissíveis, que consistem em fator de risco para maior risco de doenças cardiovasculares e oncológicas. O conceito dos primeiros mil dias de vida, período que começa após concepção, como uma janela de oportunidades para melhorar a saúde dos indivíduos, além de um conjunto de intervenções altamente efetivas para a redução da desnutrição, e propõe que haja prioridade na alocação de recursos em um grupo de países afetados. Viviane Alves- XVII Aleitamento Materno Recomenda-se o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. A partir desse período, está indicada a introdução da alimentação complementar, e deve-se estimular a manutenção do aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais, de acordo com a vontade da criança e da mãe, desde que essa continuidade seja nutritiva. O bebê deve mamar sob livre demanda. Depois de ele esvaziar o primeiro peito, a mãe deve oferecer-lhe o segundo; o completo esvaziamento da mama assegura a manutenção do estímulo de produção do leite. O tempo de esvaziamento da mama é variável para cada criança; alguns conseguem fazê-lo em poucos minutos e outros, em até 30 minutos. O ritmo intestinal no primeiro ano de vida, sobretudo nos primeiros meses, é diferenciado. Nos primeiros meses, a criança pode evacuar todas as vezes que mamar, devido à presença do reflexo gastrocólico, ou evacuar com intervalo muito longo, até de dias; isso é considerado normal, desde que as fezes estejam amolecidas, não apresentem raias de sangue e o aumento de peso seja adequado. 1. Vantagens do aleitamento materno: proteção contra infecções e alergias, estimula o desenvolvimento do sistema imunológico, a maturação dos sistemas digestório e neurológico e desenvolve o vínculo mãe-filho. 2. Tipos de aleitamento materno: a. Aleitamento materno exclusivo: somente leite materno, diretamente da mama, ou leite humano ordenhado, e nenhum outro alimento líquido ou sólido, (possível exceção para medicamentos). b. Aleitamento materno predominante: além do leite materno, recebe água ou bebidas à base de água, como sucos de frutas ou chás, mas não recebe outro leite. c. Aleitamento materno: recebe leite materno, diretamente do seio ou dele extraído, independentemente de estar recebendo qualquer alimento, incluindo leite não-humano. d. Aleitamento materno complementado: além do leite materno, recebe qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. A criança pode receber, além do leite materno, outro tipo de leite (não é considerado alimento complementar). e. Aleitamento materno misto: recebe leite materno e outros tipos de leite. Viviane Alves- XVII 3. Técnica: 4. Contraindicação absoluta para o aleitamento materno: Infecção pelo HIV→ Se a alimentação substituta é aceitável, factível, acessível, sustentável e segura. Aleitamento Materno Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar uma fórmula infantil que satisfaça as necessidades do lactente. Antes do sexto mês, deverá ser utilizada uma fórmula infantil para lactentes (primeiro semestre); a partir do sexto mês, recomenda-se uma fórmula infantil de seguimento para lactentes (segundo semestre). Para as crianças que utilizam fórmulas infantis, a introdução de alimentos não- lácteos deverá seguir o mesmo preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos 6 meses). 1. De partida: preenchem adequadamente as necessidades de nutrientes de crianças saudáveis, quando utilizadas de forma exclusiva até 6 meses de idade. 2. De seguimento: utilizado como substituto do leite materno a partir do 6° mês, quando indicado, e para crianças na primeira infância (12 meses a 3 anos). 3. Semi -elementares: Formulações a base de hidrolisado protéico - proteína submetida a processo de hidrólise, que resulta em oligopeptídeos (incapazes de desencadear resposta imunológica). Indicadas em casos de alergia ao leite de vaca e soja, condições de má absorção (doença gastrointestinal, hepatobiliar, fibrose cística, Síndrome do Intestino Curto, colestase). 4. Elementares: Formulações à base de hidrolisado protéico - proteína submetida a processo de hidrólise, que resulta em aminoácidos livres (100%). Indicadas nos casos nos quais não se obteve sucesso no tratamento com fórmulas semi-elementares (quanto mais extensa a hidrólise, menor a antigenicidade). Viviane Alves- XVII Característica do leite de vaca “in natura” Não contemplas as características da fórmula infantil, não sendo apropriado para criançasda causa. Manifestações clínicas: se caracteriza por prurido intenso, xerodermia e hiper-reatividade cutânea. Exame físico- A localização das lesões varia em cada faixa etária e divide-se em: Viviane Alves- XVII 1. Lactente: as lesões ocorrem na face, poupando a região central (triângulo nasolabial) (Figura 1), no couro cabeludo, no tronco e na região extensora dos membros. 2. Pré-puberal (2 a 10 anos): predomina o eczema subagudo e crônico. A pele é seca e áspera, o prurido ocorre nas pregas antecubitais e poplíteas (Figura 2), resultando na liquenificação (espessamento) e no aparecimento de placas circunscritas (Figura 3). A exsudação pode causar formação de crostas hemáticas e a infecção secundária por Staphylococcus é comum, determinando lesões mais úmidas e crostas melicéricas (Figura 4). 3. Puberal: as lesões são liquenificadas e mais frequentes nas pregas flexoras dos braços, pescoço e pernas. Pode haver acometimento isolado da face, do dorso das mãos e dos pés, punhos e tornozelos (Figura 5). Diagnóstico: A maioria dos autores permanece utilizando critérios clínicos para o diagnóstico da DA. Deve haver prurido ou referência a ele nos últimos 12 meses, associado a pelo menos 3 dos seguintes critérios: 1. Pele seca ou história de xerose no último ano. 2. História pessoal de rinite ou asma ou familiar de rinite, asma ou dermatite nos menores de 4 anos. 3. Idade de início precoce, em geral antes do segundo ano de vida. Viviane Alves- XVII 4. Presença de eczema com envolvimento das pregas cubital e poplítea e região anterior dos tornozelos, e nos menores de 4 anos, região malar e frontal e face extensora de membros. Outros sinais menores podem estar associados à DA e ajudam na suspeita de seu diagnóstico. São eles: xerose, palidez centro facial, fissura infralobular, prega infrapalpebral dupla ou prega de Dennie-Morgan, pigmentação periorbitária, dermografismo branco, ceratose pilar, hiperlinearidade palmar, eczema de mamilo, infecções de pele, influência emocional, IgE sérica aumentada e reação ao teste cutâneo de leitura imediata. Fatores desencadeantes • Clima: em extremos de temperatura, as exacerbações da DA são frequentes. Há pouca tolerância ao calor e o clima seco piora a xerose. A exposição solar tende a melhorar as lesões, mas há prurido nos locais de maior sudorese; • antígenos alimentares: o seu papel na patogênese da DA é controverso e a maioria dos trabalhos tem alguma limitação metodológica que impede conclusões definitivas sobre o tema. A pesquisa de alergia alimentar deve ser criteriosa, dependente de uma anamnese completa e sem investigações desnecessárias; focada nos alérgenos mais comuns dependendo da faixa etária e dirigidos pela história clínica. Em torno de 30% dos pacientes com DA grave apresentam exacerbação da doença decorrente de alérgenos alimentares. Alimentos como ovo, leite de vaca, trigo, soja e amendoim são os principais responsáveis pela agudização do quadro cutâneo; • aeroalérgenos: os pacientes com DA são mais sensíveis à exposição a alérgenos do meio ambiente e o ácaro da poeira doméstica é o principal exacerbador da DA, dentre os alérgenos ambientais; • fatores psicológicos: a participação de fatores emocionais é cada vez mais observada na exacerbação da DA. Em torno de 55% dos pacientes com DA referem que o fator emocional é um desencadeante da crise. Complicações -Infecção secundária por Staphylococcus aureus é muito frequente. A pele do atópico é colonizada com S. aureus, o que não implica infecção clínica e somente devem ser tratadas crianças com infecção clínica evidente. Tratamento: Pode-se embasar o tratamento em 4 pilares principais. Educação do paciente e de seus familiares: A abordagem multidisciplinar é um fator que agrega qualidade de vida ao paciente, melhora o controle da doença e a aderência ao tratamento. Informar sobre o caráter crônico e recidivante evita a busca pela cura em consultas a múltiplos especialistas. Ensinar sobre os fatores desencadeantes ajuda a diminuir ou evitar as crises da doença. Viviane Alves- XVII Hidratação e higienização da pele: No banho, a pele deve ser limpa com suavidade e cuidado para não irritar, no intuito de remover crostas e eliminar bactérias. Os agentes utilizados para limpeza devem ser suaves, são preferíveis os syndets (sabonetes sintéticos) e os com pH levemente ácido e semelhante ao da pele (entre 5 e 5,5). Os sabonetes líquidos tendem a ter pH mais ácido (fisiológico) do que os em barra, e são menos agressivos à função de barreira da pele. Os hidratantes devem ser aplicados com a pele ainda úmida, nos primeiros 3 minutos após o banho. Essas medidas evitam a desidratação da epiderme. Os emolientes representam a base da terapia de manutenção da DA. A pele ficará hidratada com no mínimo 2 aplicações ao dia de hidratantes com base hidrofílica. Passar 2 ou 3 x/ dia Fatores desencadeantes: Os principais fatores agravantes para a pele do atópico são: detergentes, alvejantes, sabões, amaciantes, roupas sintéticas, sabonetes, etiquetas de roupas, cloro de piscinas, materiais abrasivos, fumaça de cigarro, poluentes, produtos químicos, condições extremas de temperatura e umidade, uso de emolientes inadequados, fricção e estresse. Identificar os fatores desencadeantes em cada paciente é fundamental para o controle da doença. Na máquina de lavar, usar sabão líquido com pH neutro. Roupas novas devem ser lavadas previamente ao uso, para reduzir a concentração de formaldeído e outros irritantes. O vestuário deve ser leve, evitando-se atrito e, assim, ressecamento da pele. Recomenda-se que as roupas não sejam sintéticas. A temperatura ambiente do domicílio e ocupacional não deve ocasionar sudorese. A natação, quando praticada, deve ser em piscinas ionizadas ou sistema misto, com menor quantidade de cloro. Alérgenos ambientais Os aeroalérgenos como Dermatophagoides pteronyssinus e farinae são desencadeantes de surtos na DA, principalmente nas crianças com teste cutâneo alérgico positivo. A fumaça de cigarro e a poluição ambiental também são descritos como desencadeantes de crise na DA. Recomendam-se medidas antiácaros no quarto de dormir do paciente, utilizando colchões, edredons e travesseiros de espuma e com capas impermeáveis. Alérgenos alimentares: Na realização da anamnese é fundamental averiguar se há envolvimento de alérgenos alimentares na exacerbação da DA, embora existam poucas evidências sobre o efeito de intervenção dietética no curso da DA. Controle das crises Os surtos inflamatórios da DA podem ser controlados pelo uso correto dos medicamentos tópicos. A primeira escolha são os corticoides tópicos. Os inibidores tópicos da calcineurina (ITC), pimecrolimus e tacrolimus, são a segunda escolha, exceto na face e pregas quando os ITC são preferidos. Os medicamentos tópicos podem ser utilizados de duas formas: tratamento reativo e proativo: 1. Tratamento reativo: o controle do processo inflamatório é obtido pelo uso de medicamentos tópicos apenas nas lesões e nos períodos de crises, durante 7 a 10 dias. O mesmo processo é repetido na recidiva das lesões e pelo tempo que elas durarem; → indicado na maioria dos pacientes, como os que apresentam dermatite leve e de fácil controle. Viviane Alves- XVII 2. Tratamento proativo: após o uso da medicação tópica durante 7 a 10 dias na crise, a medicação é mantida em duas aplicações na semana durante um período de até 3 meses. → indicado nos pacientes com dermatite moderada e grave. Medicamentos tópicos: Corticosteroides tópicos (CTC) são aplicados uma vez ao dia e apenas nas áreas com lesões em atividade. Os classificados com baixa potência, como a hidrocortisona, estão indicados para lesões na face, períneo e para dermatite leve. Os corticosteroides tópicos de média potência, como a mometasona, estão indicados paralesões no corpo e nos pacientes com dermatite moderada. Os cremes determinam menor potência que as pomadas. As áreas de pele mais fina (face) têm maior risco de atrofia. Ao escolher o corticosteroide tópico, deve-se considerar a fase da doença. No eczema agudo, aplicar veículo em creme ou loção e no eczema crônico com liquenificação, a pomada é preferível. A idade também influi na escolha da potência do corticosteroide. Nos lactentes, os corticosteroides menos potentes são os mais indicados (Tabela 2). Inibidores tópicos da calcineurina- inibição seletiva dos canais de cálcio dos linfócitos T e mastócitos, impedindo a apresentação de antígenos, e inibem a produção de citocinas pró-inflamatórias, controlando a inflamação e o prurido. Promovem menor número de crises agudas, diminuem o prurido rapidamente e não apresentam os efeitos colaterais locais dos corticosteroides. São aplicados 2 vezes ao dia nas áreas com lesão ativa e devem ser sempre associados aos hidratantes. O pimecrolimus creme 1% é indicado a partir do 2º ano de vida, e é efetivo para os casos de dermatite leve. O tacrolimus pomada a 0,03% está indicado para crianças acima de 2 até 12 anos e para os casos de dermatite moderada e grave. Tacrolimus pomada a 0,1% está indicado acima de 12 anos. O pimecrolimus pode ser utilizado como droga de primeira escolha nos casos de doença leve, diante dos primeiros sinais da doença, como tratamento de Viviane Alves- XVII manutenção nos casos de doença moderada e, sobretudo, nas áreas da pele em que os corticosteroides apresentam maior risco de absorção, como a face. A presença de infecções virais é contraindicação relativa para o uso dessas medicações. Sua vantagem sobre os corticosteroides tópicos é o fato de não provocar atrofia da pele, telangiectasias e pilificação. Por esse motivo, são preferidos nas áreas de pele mais fina, como pálpebra, região perioral, axila e região inguinal. Anti-histamínicos: na DA O prurido é um sintoma determinado pela liberação de histamina e outros mediadores como neuropeptídeos e citocinas. Nos pacientes que apresentam prurido noturno de difícil controle, podem ser indicados os anti-histamínicos de primeira geração- sedante (dexclorfeniramina e hidroxizina) para melhorar o padrão do sono. Devem ser usados por períodos curtos, pois prejudicam o ganho cognitivo das crianças. 7 a 14 dia, pode ser por mais tempo, é muito variável Tratamento anti-inflamatório sistêmico: O tratamento tópico possibilita o controle adequado da DA na maioria dos pacientes e a maior causa de fracasso é a não adesão a ele. Os corticosteroides sistêmicos devem ser evitados pela possibilidade de rebote após sua suspensão e efeitos colaterais. Utilizar somente nas exacerbações com lesões disseminadas e por curtos períodos. Quando uma nova utilização for necessária em curto espaço de tempo, outras modalidades terapêuticas estão indicadas, em razão do risco de supressão do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. A escolha é a prednisona ou prednisolona, na dose de 1 mg/ kg/dia, por 5 a 15 dias, com diminuição gradativa na segunda semana. Na retirada, o efeito rebote é frequente, com piora rápida dos sintomas. O ideal é reavaliar o paciente no início da redução da dose e indicar o uso do corticosteroide tópico logo que iniciem as lesões. Opções terapêuticas para DA grave: Nos pacientes com formas graves e não controladas com medicamentos tópicos, a primeira escolha é a ciclosporina e o metotrexato seria uma medicação alternativa. A fototerapia deve ser considerada, principalmente para adolescentes, em razão dos riscos decorrentes das doses acumulativas de radiação em crianças. Viviane Alves- XVII Referências 1. Semiologia pediátrica 2. Tratado SPB 3. Tratado Nelson 4. https://www.portalped.com.br/outras-especialidades/dermatologia/pitiriase-alba-o-que-e-e-como-tr atar/ Pediculose (piolho) Etiologia: Pediculus humanus, variedade capitis Epidemiologia: mais frequente em crianças de três a 11 anos, principalmente no período escolar, mais comum nas meninas pelo hábito destas terem cabelos longos e contato mais próximo umas com as outras. A transmissão ocorre pelo contato direto com pessoas, e são diagnosticados milhões de casos anualmente. Apesar do mito de estar associado a cabelos malcuidados, afeta todas as classes econômicas e preferencialmente hospedeiros saudáveis com cabelos limpos. Acredita-se que as populações de menor nível econômico apresentam maiores prevalências devido à dificuldade em adquirir e realizar adequadamente o tratamento. Manifestações clínicas: prurido, , que de tão intensa, pode provocar pequenos ferimentos na cabeça, atrás das orelhas e nuca. Ainda é possível visualizar o parasita e seus ovos (lêndeas) no couro cabeludo do paciente acometido. Na pediculose do corpo são encontradas escoriações, pápulas (“bolinhas”), pequenas manchas hemorrágicas e pigmentação, principalmente no tronco, na região glútea e abdome. Na pediculose pubiana (chamada de chato, pois o parasita responsável tem forma achatada) há prurido e são encontradas manchas violáceas, escoriações e crostas hemorrágicas na região. Pode ocorrer também infecção secundária em qualquer região. Na pediculose do couro cabeludo é comum o aparecimento de ínguas atrás das orelhas e nuca. Critérios diagnósticos: presença dos ovos (lêndeas) do parasita Viviane Alves- XVII Tratamento 1. Roupas e utensílios pessoais de pano usados nas últimas 48 horas devem ser lavados com água em temperatura acima de 50 graus Celsius e/ou secados em máquinas de secar roupas nas mais altas configurações de calor 2. Pediculicidas tópicos constituem o método mais efetivo, sendo a permetrina a mais usada (LOÇÃO A 5% durante 10 min, com enxágue em seguida. repetir uma semana depois) 3. Pentear o cabelo molhado com pente fino 4. Medicação oral (ivermectina)- 200 mg/ kg, dose única, repetida 7 dias depois. No mínimo 15 kg e maior de 5 anos. * É fundamental o tratamento dos familiares ou comunicantes do doente. Raramente é necessário o corte de cabelos de crianças acometidas. Escabiose (sarna) Etiologia: ácaro Sarcoptes scabiei variante hominis. É um parasita obrigatório humano que se localiza na epiderme. Os ácaros cavam túneis na pele e depositam suas fezes nestes caminhos. Epidemiologia: ocorre em qualquer área geográfica, idade, raça ou grupo social. É um problema de saúde mundial e afeta mais de 300 milhões de indivíduos todos os anos, com prevalência alta em menores que dois anos de idade. A principal forma de transmissão da escabiose – popularmente conhecida como sarna – é o contato direto por meio da pele entre as pessoas infestadas. Entre 15 e 20 minutos são suficientes para a transmissão da doença de uma pessoa para a outra. O contágio se dá somente entre humanos, por contato direto com pessoa ou roupas e outros objetos contaminados. O contato deve ser prolongado para que ocorra a contaminação. Fisiopatologia: A fecundação do ácaro ocorre na superfície da pele. Logo após o macho morrer, a fêmea penetra na pele humana, cavando um túnel, por um período aproximado de 30 dias. Depois, deposita seus ovos. Quando eles eclodem, liberam as larvas que retornam à superfície da pele para completar seu ciclo evolutivo. Este processo de maturação é de 21 dias. Importante: animais como gato e cachorro não transmitem a sarna humana. Viviane Alves- XVII Manifestações: são decorrentes da ação direta do ácaro, quando este se movimenta nos túneis. E, também, em grande parte pela hipersensibilidade desenvolvida pelo paciente contaminado. O principal sintoma da escabiose é a coceira ou prurido, que é sentido principalmente à noite. As principais lesões na pele são os túneis e, nas suas extremidades, pequenas vesículas. Estas lesões aparecem principalmente entre os dedos das mãos, nas axilas, na parte do punho que segue a palma da mão, auréolas e genitais. A cabeça sempre époupada. Escoriações na pele são frequentes, por causa da coceira intensa. No bebe acomete o corpo todo, pois a pele toda é fina e favorece Diagnóstico: clínico, pelo achado dos túneis e pelas áreas características do aparecimento das lesões de escabiose. Pacientes idosos, ou já tratados com corticoides, podem ser Viviane Alves- XVII difíceis de ser diagnosticados. Neste caso é preciso fazer uma pesquisa do parasita na pele, coletando o material nas lesões dos sulcos. Tratamento: usar medicamentos tópicos em todo o tegumento (pele, pelos e cabelo) ou uso de medicamentos orais. A escolha vai depender das características da doença em cada paciente e também das suas condições gerais de saúde. Portanto, o tratamento é individualizado pelo médico para cada paciente. Larva Migrans (bicho geográfico) Também denominada de dermatite serpiginosa e helmintíase migrante ou ainda é popularmente conhecida como “bicho geográfico” ou “bicho de praia”. Etiologia: parasitas do gênero Ancylostoma. Epidemiologia: É uma doença helmíntica negligenciada e paradoxalmente subnotificada nos países de baixa e média renda. Acredita-se que seja uma das dermatoses mais comuns em países tropicais e subtropicais. Comumente caixas de areias de parques infantis ou outros locais arenosos, que foram previamente frequentados por cães e gatos, também infestados, porém no tubo digestivo, por vermes adultos, que liberam ovos que vêm a ser depositados na areia. Fisiopatologia: A contaminação do homem ocorre pelo contato da pele com o solo contaminado por larvas, habitualmente, ao andar descalço sobre terreno arenoso. Praias, principalmente aquelas onde há fezes de cães e gatos na areia, são locais propícios para conter larvas de helmintos. A larva progride sob a pele por trajetos sinuosos, pois não consegue alcançar as camadas mais profundas e desta forma não atingem a corrente sanguínea, mas pode ocorrer aumento de IgE sérica e eosinofilia. Manifestações: Estes parasitas, ao penetrarem na pele, provocam lesão avermelhada semelhante à picada de insetos, vermelhas e com coceiras. E, nos dias seguintes, a larva faz trajetos sinuosos, pois não consegue alcançar as camadas mais profundas da pele. Essa lesão, tipicamente reconhecida pelo padrão visual das curvas, que formam mapas, ganhou o nome popular de bicho geográfico. Na região glútea, a forma pode ser mais papulosa, e não tanto sinuosa, tornando o diagnóstico mais difícil. Viviane Alves- XVII Tratamento: A melhora espontânea da larva migrans é incerta, embora possível. Por isso os médicos recomendam que não se espere que ela desapareça. Assim, a forma preferível de se tratar o problema é por meio de consulta médica na qual será apresentada a melhor terapia medicamentosa. Impetigo É uma infecção bacteriana superficial da pele muito comum, altamente contagiosa, vista mais frequentemente na face ou extremidades da pele de crianças. Etiologia: Epidemiologia: Fisiopatologia: Acontece após um pequeno trauma da pele ou mesmo após a picada de insetos. Pode ocorrer sobre outras doenças prévias da pele, como a dermatite atópica, que sofrem a contaminação secundária pela bactéria. Manifestações: A pele fica danificada e se formam crostas, chamadas milicérias, por ter coloração parecida com à do mel. Por vezes, pode formar bolhas que se rompem, quando, então, se torna o impetigo bolhoso. Não há sintomas locais, mas a lesão vai se disseminando para áreas contíguas. Viviane Alves- XVII Tratamento: Limpeza das feridas com água e sabão e remoção das crostas. Para infecções mais localizadas, cremes ou pomadas de antibióticos topicamente são utilizados e, em casos mais intensos e difusos, antibióticos orais. Celulite São infecções de caráter agudo que atingem os tecidos mais profundos da pele, especialmente o subcutâneo. Embora o estreptococo beta-hemolítico do grupo A e S.aureus sejam os agentes etiológicos mais comuns, ocasionalmente outras bactérias podem estar envolvidas. Em crianças mais novas, principalmente abaixo de 2 anos de idade, Haemophilus influenzae deve ser considerado entre os agentes etiológicos. Com a imunização contra H. influenzae do tipo B está havendo diminuição da celulite provocada por este microorganismo. Streptococcus pneumoniae também pode causar celulite em crianças mais novas, mais comumente na face, e com lesões eritematopurpúricas. Bactérias entéricas, Pasteurella multicoda, Erisipelothrix sp, Cryptococcus neoformans e micobactérias atípicas podem produzir o quadro em crianças imunossuprimidas, inclusive as portadoras de AIDS. Manifestações: As celulites são acompanhadas por febre, linfadenopatia regional e dor e representam uma complicação comum de ferimentos e úlceras. Na pele manifestam-se com edema e eritema difusos e dor à palpação. O limite nítido entre a pele lesada e a pele sã é impreciso. Se não tratadas a tempo, tendem à disseminação rápida. Viviane Alves- XVII Tratamento: O tratamento da celulite requer antibioticoterapia sistêmica. Em pacientes saudáveis, ambulatoriais, a terapia de primeira escolha tem como objetivo fazer a cobertura contra estafilococos e estreptococos beta-hemolíticos do grupo A. Assim, pode-se iniciar com uma penicilina semi-sintética penicilinase resistente ou uma cefalosporina de primeira geração. Nos pacientes imunossuprimidos, seriam prudentes a hospitalização, o uso de antibióticos intravenosos e de largo espectro, com cobertura também para germes Gram-negativos. Hemoculturas e culturas do tecido infectado devem ser realizadas na tentativa da identificação do agente. Estrófulo (picada de inseto) Manifestações: A apresentação mais comum é o surgimento de pápulas eritematosas com distribuição linear e aos pares, demonstrando o hábito do inseto que provocou a reação. (figura 1). O número de lesões é bastante variável podendo ser disseminadas. As urticas podem desaparecer em algumas horas, permanecendo as lesões características que são as papulovesículas (seropapula de Tomazoli – Figura 2) ou pápulas com tamanho variando entre 3 e 10 mm, recobertas ou não por crostas hemáticas. Viviane Alves- XVII Algumas crianças podem apresentar formas vesiculosas e bolhosas (Figura 3) as quais são menos frequentes e ocorrem, sobretudo, nas extremidades e mantem o padrão de distribuição aos pares e lineares [1]. O tronco é acometido principalmente quando os agentes são “andadores” como pulgas ou percevejos. A presença de pápulas em grupos de 2 ou 3, com disposição linear e próxima aos elásticos de roupas e fraldas sugerem estes agentes como desencadeantes (Figura 4). Viviane Alves- XVII Infecção de vias aéreas superiores Viviane Alves- XVII Parasitoses Perfazem o conjunto de doenças mais comuns do globo terrestre. A ascaridíase é a segunda infecção mais comum do planeta. Etiologia Protozoários patogênicos: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia (Giardia intestinalis), Cryptosporidium parvum, Cystoisospora belli, Balantidium coli, Microsporidia, Blastocystis hominis, Sarcocystis sp., Dientamoeba fragilis, Cyclospora cayetanensis. Protozoários comensais: Endolimax nana e Entamoeba coli. Helmintos: Viviane Alves- XVII ● Nematelmintos: tem seu ciclo de vida e sua contagiosidade pelo solo e ambiente: Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura, Necator americanus, Ancylostoma duodenale e Strongyloides stercoralis. ● Platelmintos: ciclo de vida e contagiosidade pelos animais – Taenia solium, Taenia saginata, Hymenolepis nana (hospedeiro intermediário são artrópodes), Diphylobothrium latum (hospedeiro intermediário são os peixes); e os trematódeos, como Schistosoma mansoni (hospedeiro intermediário é o caramujo). Ciclo de vida ● Helmintos:ovo → larva → adulto. ● Protozoários: cistos → oocistos → trofozoítos. Quadro clínico: na grande maioria dos casos, é oligossintomático ou assintomático. Os sintomas geralmente são inespecíficos, como diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal inespecífica, distensão abdominal, má absorção e desnutrição. Manifestações que sugerem uma helmintíase: 1. Infestação com tendência à suboclusão e até obstrução intestinal na ascaridíase; 2. Prurido anal na oxiuríase, que ocorre porque as fêmeas depositam seus ovos na borda Anal, gerando uma reação extremamente pruriginosa; 3. Prolapso retal na tricuríase; Viviane Alves- XVII 4. Anemias importantes por expoliação na ancilostomíase e necatoríase; 5. Disseminação séptica na estrongiloidíase em paciente imunossuprimido; 6. Convulsões no adolescente decorrentes da neurocisticercose nas teníases por Taenia solium; 7. Tenesmo nas teníases em geral; 8. Hepatoesplenomegalia na esquistossomose; 9. Síndrome de Loeffler (migração errática para via respiratória) na necatoríase, ascaridíase, estrongiloidíase e ancilostomíase. Nas protozooses: 1. Síndrome disabsortiva na giardíase; 2. Disenteria sanguinolenta e abscessos hepáticos na amebíase; 3. Diarreia do imunossuprimido na criptosporidíase e cistoisosporíase. Diagnóstico: clínico, pode ser complementado pelo laboratorial (coproparasitológicos, radiografia- suboclusão por áscaris e também na síndrome de Loeffler (pneumonite eosinofílica), ecografia abdominal- migração errática de áscaris para colédoco e abscesso amebiano). Algumas parasitoses podem ser diagnosticadas por meio de sorologias, como estrongiloidíase, esquistossomose e amebíase. Tratamento Benzimidazólicos- drogas anti-helmínticas ● Mebendazol- polivalência na maioria das helmintíases; porém, sem ação na estrongiloidíase. Tem baixíssima absorção sistêmica, por isso, acima de 1 ano, pode ser utilizado na mesma dose, a cada 12 horas, por 3 dias, na maioria das parasitoses. O tempo de repetição do uso do mebendazol deve ser de 21 a 30 dias, combinando com o tempo de maturação da maioria dos helmintos, pois sua ação em ovos e larvas é bem menor que no verme adulto. ● Albendazol- polivalente. Apresenta ação contra os principais helmintos em dose única (Ascaris lumbricoides, Enterobius vermiculares, ancilostomídeos) até 3 dias seguidos (Taenia sp., Trichuris trichiura, Strongyloides stercoralis). Se utilizado por 5 dias, atua também em Giardia lamblia. Tem ação sobre o ovo, a larva e o verme adulto, por isso, não é necessário repetir o ciclo, como ocorre Viviane Alves- XVII com o mebendazol. Não deve ser usado em menores de 2 anos, por falta de estudos, e deve-se evitar em encefalopatas e hepatopatas, pelos seus eventos adversos. ● Tiabendazol- é utilizado por sua ótima ação na estrongiloidíase; porém, é um antiparasitário considerado dos mais tóxicos, sobretudo em neurotoxicidade, sendo recomendado somente para pacientes maiores de 5 anos de idade. Nitroimidazólicos- drogas anti- protozoários→ metronidazol, tinidazol e secnidazol. ● Metronidazol- pode ser utilizado 3 a 4 vezes/dia por um período de 7 a 10 dias, quando há envolvimento de Giardia intestinalis ou Entamoeba histolytica. Os eventos adversos principais são vômitos, náuseas, intolerância medicamentosa, gosto metálico e boca seca. ● Secnidazol e tinidazol, têm a vantagem de serem dose única e apresentarem menos eventos adversos. Outros: ● Pamoato de pirvínio- específico para oxiuríase (enterobíase), utilizado em dose única, com repetição em 14 dias. ● Praziquantel- específico para as teníases, ocasionando a expulsão do platelminto, uso em dose única. Outro antiparasitário que vem sendo prescrito pela pediatria é a ivermectina, que, além de ótima ação em ectoparasitas (pediculose e escabiose), também tem excelente ação em ascaridíase. Na estrongiloidíase, pode atingir ótima eficácia, tornando-se uma alternativa menos tóxica que o tiabendazol. Age também na enterobíase e na tricuríase. PROTOZOÁRIOS Giardíase Localização no hospedeiro: Duodeno e jejuno. Epidemiologia: mais prevalente em países subdesenvolvidos. Grupo etário mais acometido situado entre 8 meses e 10 a 12 anos. Causa a “diarréia dos viajantes” em zonas endêmicas. Os cistos podem resistir até 2 meses no meio exterior Viviane Alves- XVII e são resistentes ao processo de cloração da água. Ag. etiológico: Giardia lamblia, protozoário flagelado que existe sob as formas de cisto e trofozoíto. O cisto é a forma infectante encontrada no ambiente. Reservatório: homem e alguns animais domésticos ou selvagens, como cães, gatos e castores. Modo de transmissão: Fecal-oral ou por meio da ingestão de água ou alimento contaminado. Período de incubação: De 1 a 4 semanas, com média de 7 a 10 dias. Período de transmissibilidade: Enquanto persistir a infecção. Manifestações: a maioria é assintomática. A infecção sintomática pode apresentar-se de forma aguda com diarreia, acompanhada de dor abdominal (enterite aguda) ou de natureza crônica, caracterizada por fezes amolecidas, com aspecto gorduroso, fadiga, anorexia, flatulência e distensão abdominal. Anorexia, associada com má absorção, pode ocasionar perda de peso e anemia. Não há invasão intestinal. Complicações: Síndrome de má absorção. Diagnóstico: Identificação de cistos ou trofozoítos, no exame direto de fezes, pelo método de Faust; ou identificação de trofozoítos no fluido duodenal, obtido através de aspiração. A detecção de antígenos pode ser realizada pelo Elisa, com confirmação diagnóstica. Em raras ocasiões, poderá ser realizada biópsia duodenal, com identificação de trofozoítos. Diagnóstico diferencial: Enterites causadas por protozoários, bactérias ou outros agentes infecciosos. Tratamento Obs.: Não usar bebidas alcoólicas durante 4 dias após o tratamento (efeito antabuse). Medicamentos contra-indicados em gestantes. Amebíase Infecção causada por protozoário que se apresenta em duas formas: cisto e trofozoíto. Esse parasito pode atuar como comensal ou provocar a invasão de tecidos, originando as formas intestinal e extra-intestinal da doença. Epidemiologia: mais de 10% da população mundial estão infectados por E. dispar e E. histolytica, que são espécies morfologicamente idênticas, mas só a última é patogênica. Em países em desenvolvimento, a prevalência da infecção é alta, sendo que 90% dos infectados podem eliminar o parasito durante 12 meses. Viviane Alves- XVII Ag. etiológico: Entamoeba histolytica. Reservatório: homem. Modo de transmissão: Infecções são transmitidas por cistos amebianos maduros através da via fecal-oral. Os cistos, no interior do hospedeiro humano, liberam os trofozoítos. Os cistos permanecem viáveis no meio ambiente, ao abrigo de luz solar e em condições de umidade favoráveis, durante cerca de 20 dias. Período de incubação: Entre 2 a 4 semanas, podendo variar dias, meses ou anos. Período de transmissibilidade: Quando não tratada, pode durar anos. Manifestações: O quadro clínico varia de uma forma branda, caracterizada por desconforto abdominal leve ou moderado, com sangue e/ou muco nas dejeções, até uma diarreia aguda e fulminante, de caráter sanguinolento ou mucóide, acompanhada de febre e calafrios. Podem ou não ocorrer períodos de remissão. Em casos graves, as formas trofozoíticas se disseminam pela corrente sanguínea, provocando abcesso no fígado (com maior frequência), nos pulmões ou cérebro. Quando não diagnosticadas a tempo, podem levar o paciente a óbito. Colite entérica. Complicações: Granulomas amebianos na parede do intestino grosso, abscesso hepático (sinal de Thomes Hommes), pulmonar ou cerebral, empiema, pericardite, colite fulminante com perfuração. Diagnóstico: Presença de trofozoítos ou cistos do parasitoencontrados nas fezes; em aspirados ou raspados, obtidos através de endoscopia ou proctoscopia; ou em aspirados de abscesso ou cortes de tecido. Os anticorpos séricos podem ser dosados e são de grande auxílio no diagnóstico de abscesso hepático amebiano. A ultra-sonografia e tomografia axial computadorizada são úteis no diagnóstico de abscessos amebianos. Tratamento 1ª opção: Formas intestinais: Secnidazol - Adultos: 2g, em dose única. Crianças: 30mg/kg/dia, VO, não ultrapassando o máximo de 2g/dia, dose única. Deve ser evitado no 1º trimestre da gravidez e durante a amamentação. 2ª opção: Metronidazol- 500mg, 3 vezes/dia, durante 5 dias, para adultos. Crianças: 35mg/kg/dia, divididas em 3 tomadas, durante 5 dias. Formas graves: amebíase intestinal sintomática ou Amebíase extra-intestinal: Metronidazol, 750mg, VO, 3 vezes/dia, durante 10 dias. Crianças: 50mg/kg/dia, durante 10 dias. 3ª opção: Tinidazol, 2g, VO, para adultos, após uma das refeições, durante 2 dias, para formas intestinais. Formas extra-intestinais: 50mg/kg/dia, durante 2 ou 3 dias, a depender da forma clínica. Em formas graves, utilizar a mesma dosagem das formas leves, por 3 dias. Crianças: 50mg/kg/dia. 4ª opção: Somente para formas leves ou assintomáticas: Teclozam, 1.500mg/dia, divididas em 3 tomadas de 500mg, dose única para adultos. Crianças: 15mg/kg/dia, durante 5 dias. Viviane Alves- XVII outra opção: nitazoxanida (anita) → avisar que a urina fica fluorescente HELMINTOS ANCILOSTOMÍASE OU NECATOR Infecção intestinal causada por nematódeos. Epidemiologia: Distribuição mundial. Ocorre, preferencialmente, em crianças com mais de 6 anos, adolescentes e em indivíduos mais velhos, independente da idade. No Brasil, predomina nas áreas rurais, estando muito associada a áreas sem saneamento e cujas populações têm o hábito de andar descalças. Ag. etiológico: Nematóides da família Ancylostomidae: A. duodenale e Necator americanus. Reservatório: homem. Modo de transmissão: Os ovos contidos nas fezes são depositados no solo, onde se tornam embrionados. Em condições favoráveis de umidade e temperatura, as larvas se desenvolvem até chegar ao 3º estágio, tornando-se infectantes em um prazo de 7 a 10 dias. A infecção nos homens ocorre quando essas larvas infectantes penetram na pele, geralmente pelos pés, causando dermatite característica. As larvas dos ancilóstomos, após penetrarem pela pele, passam pelos vasos linfáticos, ganham a corrente sanguínea e, nos pulmões, penetram nos alvéolos. Daí migram para a traqueia e faringe, são deglutidas e chegam ao intestino delgado, onde se fixam, atingindo a maturidade ao final de 6 a 7 semanas, passando a produzir milhares de ovos por dia. Período de incubação: Semanas ou meses após a infecção inicial. Período de transmissibilidade: Não se transmite de pessoa a pessoa, porém os indivíduos infectados contaminam o solo durante vários anos, quando não adequadamente tratados. Em condições favoráveis, as larvas permanecem infectantes no solo durante várias semanas. Manifestações: casos de infecções leves: pode apresentar-se assintomática. Apresentações clínicas importantes, como um quadro gastrointestinal agudo caracterizado por náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e flatulência, também podem ocorrer. Em crianças com parasitismo intenso, pode ocorrer hipoproteinemia e atraso no desenvolvimento físico e mental. Com frequência, dependendo da intensidade da infecção, acarreta anemia ferropriva (GEOFAGIA). Complicações: Anemia, hipoproteinemia, podendo ocorrer insuficiência cardíaca e anasarca. A migração da larva através dos pulmões Viviane Alves- XVII pode causar hemorragia e pneumonite. Diagnóstico: Em geral clínico, devido ao prurido característico. O diagnóstico laboratorial→ achado de ovos no EPF, por meio dos métodos de Lutz, Willis ou Faust, realizando-se, também, a contagem de ovos pelo Kato-Katz. Diagnóstico diferencial: Anemia por outras etiologias, outras parasitoses. Tratamento: Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Não é recomendado seu uso em gestantes. Essa dose independe do peso corporal e da idade. Pode ser usado Albendazol, 2 comprimidos, VO, em dose única (1 comprimido=200mg), ou 10ml de suspensão (5ml=200mg). O Pamoato de Pirantel pode ser usado na dose de 20-30mg/kg/dia, durante 3 dias. O controle de cura é realizado no 7º, 14º e 21º dias após o tratamento, mediante exame parasitológico de fezes. ASCARIDÍASE Doença parasitária causada por um helminto. Ag. etiológico: Ascaris lumbricoides. Reservatório: homem. Modo de transmissão: Ingestão dos ovos infectantes do parasita, procedentes do solo, água ou alimentos contaminados com fezes humanas. Período de incubação: O período de incubação dos ovos férteis até o desenvolvimento da larva infectante (L3), no meio exterior e em condições favoráveis, é de aproximadamente 20 dias. O período pré-patente da infecção (desde a infecção com ovos embrionados até a presença de ovos nas fezes do hospedeiro) é de 60 a 75 dias. Período de transmissibilidade: Durante todo o período em que o indivíduo portar o parasita e estiver eliminando ovos pelas fezes. As fêmeas fecundadas no aparelho digestivo podem produzir cerca de 200.000 ovos por dia. A duração média de vida dos parasitas adultos é de 12 meses. Quando os ovos embrionados encontram um meio favorável, podem permanecer viáveis e infectantes durante anos. Manifestação: Habitualmente, assintomática, mas pode manifestar-se por dor abdominal, diarreia, náuseas e anorexia. Quando há grande número de parasitas, pode ocorrer quadro de obstrução intestinal. Em virtude do ciclo pulmonar da larva, alguns pacientes apresentam manifestações pulmonares, com broncoespasmo, hemoptise e pneumonite, caracterizando a síndrome de Löefler, que cursa com eosinofilia importante. Complicações: Obstrução intestinal, volvo, perfuração intestinal, colecistite, colelitíase, pancreatite aguda e abscesso hepático. Diagnóstico: O quadro clínico apenas não a distingue de outras verminoses, havendo, Viviane Alves- XVII portanto, necessidade de confirmação do achado de ovos no EPF. Tem que ter 3 amostras. Diagnóstico diferencial: Estrongiloidíase, amebíase, apendicite, pneumonias bacterianas, outras parasitoses. Tratamento: Albendazol (ovocida, larvicida e vermicida), 400mg/ dia, em dose única para adultos; em crianças, 10mg/kg, dose única; ou ivermectina (não dar para gestante >5 anos > 15kg); Mebendazol, 100mg, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Não é recomendado seu uso em gestantes. Essa dose independe do peso corporal e da idade. Levamizol, 150mg, VO, em dose única para adultos; crianças abaixo de 8 anos, 40mg; acima de 8 anos, 80mg, também em dose única. Tratamento da obstrução intestinal: Piperazina (está proibida desde 2009), 100mg/kg/ dia + óleo mineral, 40 a 60ml/dia + antiespasmódicos + hidratação. Nesse caso, estão indicados sonda nasogástrica e jejum + Mebendazol, 200mg ao dia, dividido em 2 tomadas, por 3 dias. ENTEROBÍASE OU OXIURÍASE Infestação intestinal causada por helminto. Epidemiologia: É uma das helmintíases mais frequentes na infância, inclusive em países desenvolvidos, sendo mais incidente na idade escolar. É importante ressaltar que, em geral, afeta mais de um membro na família, o que tem implicações no seu controle, que deve ser dirigido a pessoas que vivem no mesmo domicílio. Ag. etiológico: Enterobius vermicularis, nematódeo intestinal. Reservatório: homem. Modo de transmissão: Predominantemente fecal-oral. São diversos os modos de transmissão: ● Auto Infecção externa ou direta- Do ânus para a cavidade oral, por meio dos dedos, principalmente nas crianças, doentes mentais e adultos com precários hábitos de higiene. ● Auto infecção indireta- Ovos presentes na poeira ou alimentos atingemo mesmo hospedeiro que os eliminou. ● Heteroinfecção- Os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem um novo hospedeiro. ● Retroinfecção- Migração das larvas da região anal para as regiões superiores do intestino grosso, chegando até o ceco, onde se tornam adultas. ● Auto infecção interna- Processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migram até o ceco, transformando-se em vermes adultos. Período de incubação: O ciclo de vida do parasito dura de 2 a 6 semanas. A sintomatologia aparece quando existe um número de vermes resultante de infestações sucessivas, que ocorre alguns meses após a infestação inicial. Viviane Alves- XVII Período de transmissibilidade: Dura enquanto as fêmeas grávidas expulsam ovos na pele perianal, que permanecem infectantes por 1 ou 2 semanas fora do hospedeiro. Manifestação: Pode cursar assintomática ou apresentar, como característica principal, o prurido perianal, frequentemente noturno, que causa irritabilidade, desassossego, desconforto e sono intranquilo. As escoriações provocadas pelo ato de coçar podem resultar em infecções secundárias em torno do ânus, com congestão na região anal, ocasionando inflamação com pontos hemorrágicos, onde se encontram, frequentemente, fêmeas adultas e ovos. Sintomas inespecíficos do aparelho digestivo são registrados, como vômitos, dores abdominais, tenesmo, puxo e, raramente, fezes sanguinolentas. Outras manifestações, como vulvovaginites, salpingites, ooforite e granulomas pelvianos ou hepáticos, têm sido registradas, esporadicamente. Complicações: Salpingites, vulvovaginites, granulomas pelvianos. Infecções secundárias às escoriações. Diagnóstico diferencial: Moléstias do aparelho digestivo, vulvovaginites. Diagnóstico: Em geral, clínico, devido ao prurido característico. O diagnóstico laboratorial reside no encontro do parasito e de seus ovos. Como dificilmente é conseguido nos parasitológicos de fezes de rotina, sendo achado casual quando o parasitismo é muito intenso, deve-se pesquisar diretamente na região perianal, o que deve ser feito pelos métodos de Hall (swab anal) ou de Graham (fita gomada), cuja colheita é feita na região anal, seguida de leitura em microscópio. Também podem ser pesquisados em material retirado de unhas de crianças infectadas, que oferecem alto índice de positividade. Tratamento: Pamoato de Pirvínio, 10mg/kg/VO, dose única; Pamoato de Pirantel, 10mg/kg/VO, dose única. Mebendazol, 100mg, VO, 2 vezes ao dia, durante 3 dias consecutivos. Essa dose independe do peso corporal e da idade. Albendazol, 10mg/kg, VO, dose única, até o máximo de 400mg. Todas essas drogas são contra-indicadas em gestantes. TRICURÍASE Ag. etiológico:Trichuris trichiura, um nematódeo de aproximadamente 4 cm de comprimento, que habita o intestino grosso dos indivíduos infectados. Epidemiologia: muito comum em países subdesenvolvidos, onde as condições de saneamento básico são precárias. Ocorre em regiões tropicais. Devido ao fato do Trichuris trichiura viver em ambientes com características semelhantes aos do parasito Ascaris lumbricoides, é muito comum a co-infecção por ambos nematódeos. Viviane Alves- XVII Transmissão: fecal-oral, ingere acidentalmente ovos do parasito contidos em alimentos, água ou no solo. Ciclo de vida: um indivíduo infectado libera milhares de ovos do parasito a cada evacuação. Se as fezes entrarem em contato com o solo, os ovos encontram um local propício para amadurecer. Após cerca de 2 ou 3 semanas, os ovos passam a conter um embrião do verme capaz de infectar quem o consumir. Uma vez ingeridos, os ovos do parasito conseguem atravessar incólumes o estômago e eclodem ao chegar ao intestino delgado, liberando as larvas do verme.Após cerca de 3 meses, as larvas se tornam vermes adultos e migram para o intestino grosso, onde irão habitar definitivamente. No intestino grosso, o Trichuris trichiura pode viver por até 5 anos. A fêmea do parasito é capaz de colocar mais de 20 mil ovos por dia, que serão eliminados pelas fezes, dando início a um novo ciclo. Manifestação: costuma ser assintomática na maioria dos indivíduos, somente os indivíduos com os intestinos infestados com centenas de parasitos é que desenvolvem sintomas, como diarreia crônica que pode ou não vir acompanhada de muco ou sangue. Distensão abdominal, enjoos, perda de peso, flatulência e anemia são outros sinais e sintomas possíveis. Um sinal físico comum é o baqueteamento digital. Outro sinal típico, geralmente presente em crianças com contaminação maciça, é o prolapso retal, uma protusão de parte do reto através do ânus. Nestes casos, é comum conseguirmos ver vermes aderidos à mucosa do reto que está exteriorizada. Diagnóstico: EPF, no qual é possível identificar a presença de ovos do Trichuris trichiura. Em alguns casos, o diagnóstico pode ser feito durante a realização de uma colonoscopia, pois os vermes são facilmente encontrados aderidos à mucosa do intestino grosso. Tratamento: As opções de tratamento para tricuríase são: ● Mebendazol 100 mg, 2 vezes por dia por 3 dias. ● Albendazol 400 mg, 1 vez por dia por 3 dias. ● Nitazoxanida, 500 mg 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral. Em pacientes com infecção maciça, o tratamento pode ser prolongado por 5 a 7 dias. ESTRONGILOIDÍASE Epidemiologia: A doença ocorre mais em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, há variação regional em função da idade, diferenças geográficas e socioeconômicas. Os estados que mais frequentemente diagnosticam são: Minas Gerais, Amapá, Goiás e Rondônia. Ag. etiológico: O helminto Strongyloides stercolaris. Reservatório: homem. Gatos, cães e primatas têm sido encontrados infectados. Modo de transmissão: As larvas infectantes (filarióides), presentes no meio externo, Viviane Alves- XVII https://www.mdsaude.com/bulas/albendazol/ penetram através da pele, no homem, chegando aos pulmões, traqueia e epiglote, atingindo o trato digestivo, via descendente, onde se desenvolve o verme adulto. A fêmea parasita é ovovivípara e libera ovos larvados que eclodem ainda no intestino, liberando larvas rabditóides (não-infectantes), que saem pelas fezes e podem evoluir, no meio externo, para a forma infectante ou para adultos de vida livre, que, ao se acasalarem, geram novas formas infectantes. Pode ocorrer, também, auto-endoinfecção, quando as larvas passam a ser filarióides, no interior do próprio hospedeiro, sem passar por fase evolutiva no meio externo. Auto-exoinfecção ocorre quando as larvas filarióides se localizam na região anal ou perianal, onde novamente penetram no organismo do hospedeiro. Período de incubação: Ocorre no prazo de 2 a 4 semanas entre a penetração através da pele e o aparecimento de larvas rabditóides nas fezes. O período para a manifestação dos primeiros sintomas é variado. Período de transmissibilidade: Enquanto o homem portar larvas. Manifestação: frequentemente assintomática. As formas sintomáticas apresentam inicialmente alterações cutâneas, secundárias à penetração das larvas na pele e caracterizadas por lesões urticariformes ou maculopapulares ou por lesão serpiginosa ou linear pruriginosa migratória (larva currens). A migração da larva pode causar manifestações pulmonares, como tosse seca, dispneia ou broncoespasmo e edema pulmonar (síndrome de Löefler). As manifestações intestinais podem ser de média ou grande intensidade, com diarreia, dor abdominal e flatulência, acompanhadas ou não de anorexia, náusea, vômitos e dor epigástrica, que pode simular quadro de úlcera péptica (dor epigástrica). Os quadros de Estrongiloidíase grave (hiperinfecção) se caracterizam por febre, dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos, diarreias profusas, manifestações pulmonares (tosse, dispneia e broncoespasmos e, raramente, hemoptise e angústia respiratória). Na radiografia de tórax, pode-se observar até cavitação. Podem, ainda, ocorrerinfecções secundárias, como meningite, endocardite, sepse e peritonite, mais frequentemente por enterobactérias e fungos. Esses quadros, quando não tratados conveniente e precocemente, podem atingir letalidade de 85%. Complicações: Síndrome de hiperinfecção; síndrome de Löefler; edema pulmonar, no paciente imunocomprometido, em uso de corticóides ou desnutridos, podendo haver superinfestação ou infecção oportunística; síndrome de má absorção. Nas formas sistêmicas, pode ocorrer sepse, com evolução letal. Diagnóstico: Parasitológico de fezes, escarro ou lavado gástrico, por meio do Baermann-Moraes. Em casos graves, podem ser utilizados testes imunológicos, como Elisa, hemaglutinação indireta, imuno-fluorescência indireta. O estudo radiológico do intestino delgado auxilia o diagnóstico. Diagnóstico diferencial: Ascaridíase, giardíase, ancilostomíase, pneumonia, urticária, colecistite, pancreatite, eosinofilia pulmonar tropical. A larva currens deve ser diferenciada da larva migrans, causada pela larva do Ancylostoma brasiliensis e caninum. Viviane Alves- XVII Tratamento: Cambendazol, 5mg/kg, em dose única, via oral; Tiabendazol, via oral, em vários esquemas terapêuticos: a) 25mg/kg/dia, durante 5 a 7 dias, esquema muito utilizado; b) 50mg/kg/dia, em dose única, à noite. A dose máxima recomendada é de 0,3g; c) 10mg/dia, durante 30 dias. Esse esquema é recomendado para situações de autoendoinfecção e deficiência da imunidade celular; Albendazol, 40mg/ dia, durante 3 dias, não recomendado em gestantes; Ivermectina, dose única, VO, obedecendo a escala de peso corporal (15 a 24kg: 1/2 comprimido; 25 a 35kg: 1 comprimido; 36 a 50kg: 1 ½ comprimidos; 51 a 65kg: 2 comprimidos; 65 a 79kg: 21/2 comprimidos; 80kg: 3 comprimidos ou 200mg/kg). Antes suprir um paciente, tem que dar albendazol por causa do estrondilaide Controle de cura: Três exames parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. TENÍASE/ CISTICERCOSE O complexo Teníase/Cisticercose é constituído por duas entidades mórbidas distintas, causadas pela mesma espécie de cestódio, em fases diferentes do seu ciclo de vida. A Teníase é provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, no intestino delgado do homem. A Cisticercose é causada pela larva da Taenia solium nos tecidos, ou seja, é uma enfermidade somática. Epidemiologia: A América Latina, área de prevalência elevada de neurocisticercose,. A situação da Cisticercose suína nas Américas não está bem documentada. O abate clandestino de animais, sem inspeção e controle sanitário, é muito elevado na maioria dos países da América Latina e Caribe, sendo a causa fundamental da falta de notificação. No Brasil, a Cisticercose tem sido cada vez mais diagnosticada, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Agente etiológico: A Taenia solium é a tênia da carne de porco e a Taenia saginata é a da carne bovina. Esses dois cestódeos causam doença intestinal (Teníase) e os ovos da T. solium desenvolvem infecções somáticas (Cisticercose). Reservatório: O homem é o único hospedeiro definitivo da forma adulta da T. solium e da T. saginata. O suíno doméstico ou javali é o hospedeiro intermediário da T. solium e o bovino é o hospedeiro intermediário da T. saginata, por apresentarem a forma larvária (Cysticercus cellulosae e C. bovis, respectivamente) nos seus tecidos. Modo de transmissão: A Teníase é adquirida pela ingesta de carne de boi ou de porco mal cozida, que contém as larvas. Quando o homem acidentalmente ingere os ovos de T. solium, adquire a Cisticercose. A Cisticercose humana por ingestão de ovos de T. saginata não ocorre ou é extremamente rara. Período de incubação ● Cisticercose humana - Varia de 15 dias a anos após a infecção. Viviane Alves- XVII ● Teníase - Cerca de 3 meses após a ingesta da larva, o parasita adulto já é encontrado no intestino delgado humano. Período de transmissibilidade: Os ovos das tênias permanecem viáveis por vários meses no meio ambiente, contaminado pelas fezes de humanos portadores de Teníase. Manifestação: A Teníase pode causar dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarreia ou constipação. Quando o parasita permanece na luz intestinal, o parasitismo pode ser considerado benigno e só, excepcionalmente, requer intervenção cirúrgica por penetração em apêndice, colédoco ou ducto pancreático, devido ao crescimento exagerado do parasita. A infestação pode ser percebida pela eliminação espontânea de proglotes do verme, nas fezes. Em alguns casos, podem causar retardo no crescimento e desenvolvimento das crianças, e baixa produtividade no adulto. As manifestações clínicas da Cisticercose dependem da localização, do tipo morfológico, do número de larvas que infectaram o indivíduo, da fase de desenvolvimento dos cisticercos e da resposta imunológica do hospedeiro. As formas graves estão localizadas no sistema nervoso central e apresentam sintomas neuropsiquiátricos (convulsões, distúrbio de comportamento, hipertensão intracraniana) e oftálmicos. Complicações ● Teníase - Obstrução do apêndice, colédoco, ducto pancreático. ● Cisticercose - Deficiência visual, loucura, epilepsia, entre outras. Diagnóstico: Clínico, epidemiológico e laboratorial. Como a maioria dos casos de Teníase é oligossintomático, o diagnóstico comumente é feito pela observação do paciente ou, quando crianças, pelos familiares. Isso ocorre porque os proglotes são eliminados espontaneamente e nem sempre são detectados nos exames parasitológicos de fezes. Em geral, para se fazer o diagnóstico da espécie, coleta-se material da região anal e, através do microscópio, diferencia-se morfologicamente os ovos da tênia dos demais parasitas. Os estudos sorológicos específicos (fixação do complemento, imunofluorescência e hemaglutinação) no soro e líquido cefalorraquidiano confirmam o diagnóstico da neurocisticercose, cuja suspeita decorre de exames de imagem: raios X (identifica apenas cisticercos calcificados), tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética (identificam cisticercos em várias fases de desenvolvimento). A biópsia de tecidos, quando realizada, possibilita a identificação microscópica da larva. Diagnóstico diferencial: Na neurocisticercose, deve-se fazer o diagnóstico diferencial com distúrbios psiquiátricos e neurológicos (principalmente epilepsia por outras causas). Tratamento ● Teníase- Mebendazol: 200mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias, VO; Niclosamida ou Clorossalicilamida: adulto e criança com 8 anos ou mais, 2g, e crianças de 2 a 8 anos, 1g, VO, dividida em 2 tomadas; Praziquantel, VO, dose única, 5 a 10mg/kg de peso corporal; Albendazol, 400mg/dia, durante 3 dias. Viviane Alves- XVII ● Neurocisticercose- Praziquantel, na dose de 50mg/kg/dia, durante 21 dias, associado à Dexametasona, para reduzir a resposta inflamatória, consequente à morte dos cisticercos. Pode-se, também, usar Albendazol, 15mg/dia, durante 30 dias, dividida em 3 tomadas diárias, associado a 100mg de Metilpredinisolona, no primeiro dia de tratamento, a partir do qual se mantém 20mg/dia, durante 30 dias. O uso de anticonvulsivantes, às vezes, se impõe, pois cerca de 62% dos pacientes desenvolvem epilepsia secundária ao parasitismo do SNC. HIMENOLEPÍASE É uma infecção intestinal causada por uma taenia (Hymenolepis nana) que varia de 3 a 4 cm. As infecções leves podem ser assintomáticas. Se a infecção for severa pode causar enterites como diarréia, dor abdominal e outros sintomas, como palidez, perda de peso e debilidade. Epidemiologia: Hymenolepis nana é uma das causas mais comuns de infecção por cestódios, sendo encontrado em todo o mundo (cosmopolita). Em regiões de clima temperado a incidência de infecção é maior em crianças e em grupos fechados. Agente etiológico - Hymenolepis nana é a única taenia do homem sem um hospedeiro intermediário obrigatório. Reservatório: os seres humanos são o reservatóriocomum da doença e possivelmente os ratos. Período de incubação - o inicio dos sintomas é variável, porém o desenvolvimento da taenia adulta leva cerca de duas semanas. Modo de transmissão - Hymenolepis nana é disseminado através da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes infectadas. Pode ocorrer também através da mão contaminada pelas fezes (transmissão pessoa-a-pessoa). Os insetos, carunchos de cereais infectados podem ser ingeridos acidentalmente, resultando na transmissão do agente. Ciclo de vida: Os ovos infectantes de Hymenolepis nana são liberados com as fezes; os ovos infectantes podem sobreviver mais de 10 dias no ambiente. Quando esses ovos são ingeridos (através de alimento ou água contaminada, ou através da mão contaminada pelas fezes), há semidigestão dos embrióforos, a oncosfera é liberada no intestino que penetra na vilosidade da mucosa intestinal e se transforma em larva cisticercóide. Após ruptura da vilosidade, o cisticercóide retorna ao lúmen e se fixa na mucosa intestinal pelo escólex, onde se desenvolve em uma taenia adulta. Pode ocorrer auto-infecção, quando o ovo retorna ao estômago por movimentos retroperistálticos, resultando na liberação de larva cisticercóide, que penetra na mucosa do íleo. O período de vida de uma larva adulta no intestino é de 4 a 6 semanas, porém a auto-infecção permite que a infecção persista por anos. Se os ovos de Hymenolepis nana forem ingeridos por carunchos de cereais, pulgas (principalmente de roedores) em seu estado larvar e outros insetos, a Viviane Alves- XVII oncosfera é liberada na cavidade geral do inseto e se transforma em larvas cisticercóides. Quando ingeridos acidentalmente, são infectantes para os seres humanos e também para os roedores. Tratamento - o tratamento deve ser feito com praziquantel ou niclosamida. Diagnóstico - o diagnóstico se faz pela identificação microscópica dos ovos nas fezes. Se necessário repetir o exame, para fechar diagnóstico. LARVA MIGRANS VISCERAL Toxocaríase (canis)é uma infecção humana causada por larvas de ascarídeos nematoideos que ordinariamente infectam animais. Os sintomas são febre, anorexia, hepatosplenomegalia, rash cutâneo, pneumonite, asma, ou distúrbio visual. O diagnóstico é feito por meio de imunoensaio enzimático. O tratamento é feito com albendazol 5 dias ou mebendazol 5 dias. Corticoides podem ser associados nos casos de sintomas intensos ou envolvimento ocular. No hemograma tem uma eosinofilia muito grande! Viviane Alves- XVII Viviane Alves- XVII Infecção do trato urinário- ITU A ITU é uma das infecções bacterianas mais frequentes em pediatria. É, provavelmente, a infecção bacteriana mais prevalente no lactente. Viviane Alves- XVII A importância do diagnóstico precoce da ITU é prevenir e minimizar a formação e progressão da cicatriz renal, principalmente no neonato e lactente mais suscetíveis à formação de cicatrizes que como consequência numa fase mais tardia poderão levar à hipertensão e/ou insuficiência renal crônica. Definição: A ITU consiste na multiplicação de um único germe patogênico em qualquer segmento do trato urinário, identificado por urocultura coletada por método confiável. Epidemiologia: Acomete principalmente o sexo feminino podendo chegar a 20:1 casos, embora, do período neonatal até os seis meses de idade pode haver predominância no sexo masculino. O aumento da incidência ocorre entre três e cinco anos de idade, havendo outro pico na adolescência, muito provavelmente devido às alterações hormonais (que favorecem a colonização bacteriana) e, em alguns casos, início precoce de atividade sexual. Tende à repetição podendo ocorrer novo episódio em cerca de 40% das pacientes. A recorrência é mais rara no sexo masculino. Fisiopatologia: A urina e o trato urinário são normalmente estéreis. O períneo e a zona uretral de neonatos e lactentes estão colonizados por: Escherichia coli, Enterobacteriaceae e Enterococus sp além de que o prepúcio de meninos não circuncidados é um reservatório para várias espécies de Proteus. Esta colonização diminui após o primeiro ano de vida sendo rara após os cinco anos. A ITU ocorre quando estas bactérias ascendem à zona periuretral. Oitenta por cento das infecções urinárias adquiridas na comunidade são causadas pela E. coli uropatogênica (UPEC). Outros agentes estão listados no quadro abaixo (Quadro 1): AS UPEC isoladas de pacientes com ITU febril (pielonefrite) apresentam fatores de virulência que aumentam sua sobrevivência no hospedeiro. São as Pili ou fimbrias (S, P e a tipo 1) que facilitam a sua ascensão ao trato urinário por mecanismo de contra-corrente Viviane Alves- XVII por aderirem ao epitélio tanto da bexiga como do trato urinário superior, e podem ficar quiescentes não se sabendo qual o estímulo que as reativam (Figura 1). Em relação aos fatores de resistência do hospedeiro estão o hábito miccional normal evitando a estase, urina de composição e osmolaridade adequadas apresentando efeito inibitório sobre a multiplicação bacteriana e, na presença destas bactérias patogênicas, o estímulo à reação inflamatória com consequente produção de citocinas tais como as interleucinas 6 e 8 em resposta à agressão (Figura 2). Quadro clínico: Crianças menores apresentam sinais e sintomas mais inespecíficos. Febre é o sintoma mais frequente no lactente. A incidência de pielonefrite é maior em crianças menores de um ano e diminui gradativamente quando se aproxima da idade escolar podendo, porém, ocorrer em qualquer idade. Outros sinais e sintomas que nesta faixa etária devem ser levados em conta são: irritabilidade, recusa alimentar, icterícia, distensão abdominal e baixo ganho ponderal. O diagnóstico e a terapêutica precoces são fatores principais para evitar a formação da cicatriz renal. Após os dois anos de idade aparecem sintomas mais relacionados ao trato urinário inferior tais como: disúria, polaciúria, urge-incontinência, enurese (em crianças que já apresentavam controle esfincteriano prévio) e tenesmo, quadros clínicos denominados, cistites. Importante observar que estes quadros podem evoluir para pielonefrite (Quadro 2). Avaliação laboratorial 1. Análise de urina: O exame de urina não substitui a urocultura no diagnóstico de ITU, mas pode apresentar alterações permitindo iniciar precocemente o tratamento, já que resultados da cultura demoram 24 a 72 horas para serem obtidos. Viviane Alves- XVII Alguns centros fazem inicialmente coleta de urina através de saco coletor e, na presença de alterações, fazem uma nova coleta através de método adequado para se realizar urocultura. 2. Urocultura: Colhida por método adequado é padrão ouro para confirmação de ITU. Nas crianças, ainda sem controle esfincteriano, realiza-se punção suprapúbica (PSP) ou sondagem vesical (SV). Sendo a bexiga estéril, o crescimento de qualquer patógeno, independentemente do número de colônias, confirma o diagnóstico quando a coleta é realizada por PSP. A obtenção de urina por cateterização vesical é uma opção segura e simples, e a presença de crescimento bacteriano maior ou igual a 1000ufc/ml, caracteriza a presença de ITU. Em relação à coleta de urina por saco coletor, vários estudos mostram resultados falsos positivos em até 80% dos casos e, portanto, os resultados só devem ser valorizados quando a cultura resultar negativa. Na criança que já apresenta controle esfincteriano deve-se coletar urina de jato médio, após assepsia prévia, sendo considerada positiva a contagem bacteriana maior ou igual a 100.000ufc/ml ou mais de 50.000ufc/ml associada com a análise de urina demonstrando evidência de piúria. Tratamento Otratamento inicial com antibióticos é empírico observando-se a idade e o estado geral do paciente. O tratamento parenteral deve ser reservado principalmente aos lactentes muito jovens e àqueles com acometimento do estado geral e com vômitos (Quadro 4). O fármaco deve ter sempre propriedades bactericidas e o tratamento nunca deve ser inferior a sete dias, e preferentemente por 10 dias contínuos. Quando a opção inicial é de tratamento parenteral não há obrigatoriedade em manter-se esta via por 10 dias. Sugere-se reavaliar o paciente em 48 a 72 horas e, havendo melhora, pode-se optar por completar o tratamento por via oral com antibiótico de espectro semelhante ao parenteral e/ou sabidamente sensível ao teste de sensibilidade antimicrobiana (Quadro 5). Viviane Alves- XVII Naquelas crianças que, concomitantemente, apresentem sintomas de disfunção das eliminações (vide tabela abaixo) deve-se fazer as orientações quanto ao hábito urinário adequado (urinar ao acordar, urinar a cada três horas, urinar com pés apoiados), importância da ingesta hídrica e correção da obstipação (Quadro 6). Estas medidas são fundamentais e devem ser estimuladas porque estão diretamente relacionadas ao sucesso terapêutico e à prevenção de infecções de repetição. Profilaxia: É tema bastante controverso ainda hoje, à luz do que existe, e alguns aspectos serão citados podendo ainda haver divergências quanto à conduta a ser seguida. Em crianças com trato urinário normal, a profilaxia deve ser avaliada com cautela devido à possibilidade de aparecimento de cepas mais resistentes aumentando o risco de infecção. No entanto, as crianças que têm infecção urinária de repetição com trato urinário normal e disfunção miccional são candidatas à quimioprofilaxia, por período de 3 a 6 meses, até que estas disfunções sejam corrigidas. Diversos trabalhos mostram a presença de refluxo vesicoureteral (RVU) em até 30% dos pacientes com infecção urinária. É sabido que 90% dos RUVs desaparecem espontaneamente (mesmo os de maiores graus) entre os segundo e terceiro anos de vida. A profilaxia deverá ficar reservada para pacientes portadores de refluxos maiores ou igual ao de terceiro grau e para aquelas crianças que já apresentam cicatriz renal. Pacientes com processos obstrutivos tais como: estenose de junção uretero pélvica e uretero vesical, devem ser colocados em profilaxia até que uma conduta para correção cirúrgica seja adotada. Investigação por imagem Toda criança, independentemente de idade e sexo, que tenha diagnóstico de certeza de ITU merece uma investigação por imagem. No entanto, não há definição de quais procedimentos diagnósticos devem ser realizados e também não há definição de qual seria o melhor momento para sua realização. O consenso vigente é de que deve-se administrar a menor quantidade de Viviane Alves- XVII radiação possível devido aos possíveis efeitos deletérios os quais podem persistir por muitos anos. Alergia e/ou nefrotoxicidade aos meios de contraste podem ocorrer e, portanto, medidas preventivas devem ser empregadas paralelamente à avaliação da função renal (anterior e, em alguns casos, posterior ao exame). ● Ultrassonografia (USG) do aparelho urinário e bexiga: Por ser exame não invasivo e não expor o paciente à radiação deve ser realizado em todos os que apresentaram ITU com o intuito de confirmar e/ou detectar má formações. No entanto, USG normal não exclui a existência de alterações e é necessário lembrar que este é um exame operador dependente, cujos resultados podem ser afetados pelo grau de expertise do profissional. ● Cintilografia renal com DMSA: É exame padrão ouro na detecção da cicatriz renal e deve ser realizado em todos os lactentes com ITU febril, crianças que apresentaram quadro clínico de pielonefrite (mesmo naquelas crianças com USG normal de rins e vias urinárias) e pacientes com RVU. Deverá ser realizado após quatro a seis meses do episódio inicial de ITU. ● Uretrocistografia miccional (UCM): Exame radiológico realizado com administração de contraste iodado intravesical, portanto, sem possibilidade de alergia e ou nefrotoxidade. Nele procura-se observar alterações da coluna, visualização da uretra, alteração da bexiga como, por exemplo, a presença de divertículo e a demonstração de RVU. A princípio, a UCM está reservada àqueles pacientes que apresentam USG de rins e vias urinárias e/ou cintilografia com DMSA alterada e/ou quadros repetitivos de infecção urinária associados à disfunção miccional. Prognóstico: O prognóstico está relacionado a uma série de fatores como: idade de apresentação, presença ou não de cicatrizes renais, malformações e atraso no diagnóstico e na instituição de terapêutica (Quadro 8). O diagnóstico e a instituição precoce da terapêutica além de correção de malformações associadas melhoraram em muito o prognóstico destas crianças. Viviane Alves- XVII Referência: SPB. Infecção de trato urinário. Diarréia aguda e desidratação Viviane Alves- XVII A diarreia pode ser definida pela ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas. A diminuição da consistência habitual das fezes é um dos parâmetros mais considerados. Na diarreia aguda ocorre desequilíbrio entre a absorção e a secreção de líquidos e eletrólitos e é um quadro autolimitado. Classificação 1. Diarreia aguda aquosa: diarreia que pode durar até 14 dias e determina perda de grande volume de fluidos e pode causar desidratação. Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem. 2. Diarreia aguda com sangue (disenteria): é caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar-se com infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras de disenteria. 3. Diarreia persistente: quando a diarreia aguda se estende por 14 dias ou mais. Pode provocar desnutrição e desidratação. Pacientes que evoluem para diarreia persistente constituem um grupo com alto risco de complicações e elevada letalidade. Assim, doença diarreica aguda pode ser entendida como um episódio diarréico com as seguintes características: início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, com duração inferior a 14 dias, aumento no volume e/ou na frequência de evacuações com consequente aumento das perdas de água e eletrólitos. Apesar da definição de diarreia aguda considerar o limite máximo de duração de 14 dias, a maioria dos casos resolve- se em até 7 dias. A doença diarreica na maior parte das vezes representa uma infecção do tubo digestivo por vírus, bactérias ou protozoários e tem evolução autolimitada, mas pode ter consequências graves como desidratação, desnutrição energético-proteica e óbito. Nem sempre é possível identificar o agente causador do episódio diarreico. Etiologia: Vírus - rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus (em especial o norovírus) e astrovírus. Bactérias - E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia Parasitos - Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora Fungos – Candida albicans. Viviane Alves- XVII Pacientes imunocomprometidos ou em antibioticoterapia prolongada, podem ter diarreia causada por: Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, Isosopora, VIH, e outros agentes. Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro como diarreia tais como: alergia ao leite de vaca,deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados. A invaginação intestinal tem que ser considerada no diagnóstico diferencial da disenteria aguda, principalmente, no lactente. A investigação da etiologia da diarreia aguda não é obrigatória em todos os casos. Deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados. Avaliação clínica De acordo com a OMS, a anamnese da criança com doença diarreica deve contemplar os seguintes dados: duração da diarreia, número diário de evacuações, presença de sangue nas fezes, número de episódios de vômitos, presença de febre ou outra manifestação clínica, práticas alimentares prévias e vigentes, outros casos de diarreia em casa ou na escola. Deve ser avaliado, também, a oferta e o consumo de líquidos, além do uso de medicamentos e o histórico de imunizações. É importante, também, obter informação sobre a diurese e peso recente, se conhecido. A história e o exame físico são indispensáveis para uma conduta adequada. Não se deve esquecer que alguns pacientes têm maior risco de complicações, tais como: idade inferior a dois meses; doença de base grave como o diabete melito, a insuficiência renal ou hepática e outras doenças crônicas; presença de vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes (mais de oito episódios diários) e a percepção dos pais de que há sinais de desidratação. Ao exame físico é importante avaliar o estado de hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta (ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. O percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da desidratação. Mesmo quando o peso anterior recente não é disponível, é fundamental que seja mensurado o peso exato na avaliação inicial do paciente. Considera-se que perda de peso de até 5% represente a desidratação leve; entre 5% e 10% a desidratação é moderada; e perda de mais de 10% traduz desidratação grave. Essa classificação proporciona uma estimativa do volume necessário para correção do déficit corporal de fluído em consequência da doença diarreica: perda de 5%, ou seja, 50 mL/Kg; de 5 a 10%, ou seja, 50 a 100 mL/Kg e mais do que 10%, ou seja, mais de 100 mL/Kg. Viviane Alves- XVII Tratamento Se o paciente está com diarreia e está hidratado deverá ser tratado com o Plano A. Se está com diarreia e tem algum grau de desidratação, deve ser tratado com o Plano B. Se tem diarreia e está com desidratação grave, deve ser tratado com o Plano C. Viviane Alves- XVII Plano c: * As indicações para reidratação venosa são: desidratação grave, contra indicação de hidratação oral (íleo paralítico, abdômen agudo, alteração do estado de consciência ou convulsões), choque hipovolêmico. * AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE. SE NÃO HOUVER MELHORA DA DESIDRATAÇÃO, AUMENTAR A VELOCIDADE DE INFUSÃO • Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa. • Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade sufi ciente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações. • Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida deve ser maior nas primeiras 24 horas de tratamento. • Observar o paciente por pelo menos seis (6) horas Viviane Alves- XVII Alimentação na doença diarreica A manutenção da alimentação com oferta energética apropriada é um dos pilares mais importantes no tratamento da diarreia aguda. Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento materno deve ser mantido e incentivado durante o episódio diarreico. Quando necessário, deve-se recomendar jejum durante o período de reversão da desidratação (etapa de expansão ou reparação). A alimentação deve ser reiniciada logo que essa etapa for concluída (em geral, no máximo, 4 a 6 horas). A alimentação deve ser reiniciada de acordo com o esquema habitual do paciente, sendo uma oportunidade para a correção de erros alimentares. A fórmula infantil ou preparação láctea oferecidas para crianças não devem ser diluídas. Deve-se cuidar para que as necessidades energéticas sejam plenamente atendidas. Na diarreia aguda, não há recomendação de fórmula sem lactose para lactentes tratados ambulatorialmente com diarreia aguda. Entretanto, para os pacientes hospitalizados com diarreia aguda e nos com diarreia persistente tratados no hospital ou ambulatorialmente, há vantagens na prescrição de fórmula sem lactose. Os pacientes hospitalizados com diarreia persistente devem receber, de acordo com a OMS, 110 calorias/kg/dia. São critérios fundamentais para avaliar a evolução clínica: a redução das perdas diarreicas e a recuperação nutricional ou retomada do ganho de peso esperado para a idade. Ainda, de acordo com a OMS deve-se cuidar para que o paciente com diarreia persistente receba diariamente as quantidades de micronutrientes: 50ug de folato, 10mg de zinco, 400µg de vitamina A, 1mg de cobre e 80mg de magnésio. Viviane Alves- XVII Terapia de reidratação oral A TRO é considerada uma das modalidades terapêuticas que mais salvou vidas a partir do século XX. O princípio fisiológico da eficácia vincula-se ao fato de que a via de transporte ativo, acoplada de sódio-glicose-água pelo enterócito está preservada na diarreia aguda, independentemente da etiologia. Vale lembrar que são outras vias que explicam o aumento da secreção e diminuição da absorção de água e eletrólitos na diarreia aguda. Para a reversão da desidratação com o emprego da TRO, deve ser utilizada a solução de reidratação oral com 75 a 90 mmol de sódio por litro. Exceto para os lactentes em aleitamento materno, o soro deve ser oferecido sem outros alimentos. O volume de 50 a 100 mL/kg de peso, dependendo da gravidade, deve ser administrado em 4 a 6 horas. O paciente deve ser pesado antes de iniciar a TRO e, depois, a cada 2 horas (Plano B). Zinco: O zinco faz parte da estrutura de várias enzimas. Tem importante papel na função e no crescimento celular. Atua também no sistema imunológico. Pode reduzir a duração do quadro de diarreia, a probabilidade da diarreia persistir por mais de sete dias e a ocorrência de novos episódios de diarreia aguda nos três meses subsequentes. O racional para seu emprego é a prevalência elevada de deficiência de zinco nos países não desenvolvidos. De acordo com a OMS, deve ser usado em menores de cinco anos, durante 10 a 14 dias, sendo iniciado a partir do momento da caracterização da diarreia. A dose para maiores de seis meses é de 20mg por dia e 10mg para os primeiros 6 meses de vida. Vitamina A: Deve ser administrada a populações com risco de deficiência desta vitamina. O uso da vitamina A reduz o risco de hospitalização e mortalidade por diarreia e tem sido administrada nas zonas mais carentes do norte e nordeste. Antibiótico: Na grande maioria das vezes os antibióticos não são empregados no tratamento da diarreia aguda, pois os episódios são autolimitados e grande parte se deve a agentes virais. O uso de antibióticos na diarreia aguda está restrito aos pacientes que apresentam diarreia com sangue nas fezes (disenteria), na cólera, na infecção aguda comprovada por Giardia lamblia ou Entamoeba hystolitica, em imunossuprimidos, nos pacientes com anemia falciforme, nos portadores de prótese e nas crianças com Viviane Alves- XVII sinais de disseminação bacteriana extraintestinal. Nos casos de disenteria, a antibioticoterapia está indicada, especialmente quando o paciente apresenta febre e comprometimento do estado geral. Se possível, deve ser coletada amostra de fezes para realização de coprocultura e antibiograma. Inicialmente, mesmo que não comprovadapara eliminar altas concentrações de solutos provenientes de alguns alimentos. Aos 4-6 meses a criança encontra-se num estágio de maturidade fisiológica e neurológica, com atenuação do reflexo de protrusão da língua, que facilita a ingestão de alimentos semi-sólidos. As enzimas digestivas são produzidas em quantidades suficientes, razão que as habilitam a receber outros alimentos além do leite materno. É necessário lembrar que a introdução da alimentação complementar deve ser gradual, sob a forma de papas (alimentação de transição), oferecida com colher. A colher deverá ter o tamanho adequado ao diâmetro da boca do lactente e deve ser preferivelmente de silicone, plástico ou de metal emborrachado para evitar o contato metálico direto com a língua. A transição do seio materno, ou mesmo da mamadeira, coincide com a transição do colo para uma posição supina, sem apoio. Esta transição para colher deve ocorrer no colo, antes de se levar a criança para a cadeira ou carrinho. É importante oferecer água potável, a partir da introdução da alimentação complementar, ou em uso de fórmula infantil, porque os alimentos dados ao lactente apresentam maior quantidade de proteínas por grama e maior quantidade de sais o que causa sobrecarga de solutos para os rins, que deve ser compensada pela maior oferta de água. ➢ A quantidade de iodo dos alimentos, do leite materno ou das fórmulas infantis é suficiente para as necessidades do lactente, não sendo necessária a adição do sal iodado nem suplementação medicamentosa. A necessidade recomendada para crianças de 0 a 7 anos de idade é de 90 µg. ➢ Alimentos que contêm glúten podem ser introduzidos após os 6 meses de vida. ➢ A introdução de certos alimentos, potencialmente alergênicos, como ovo e peixe, pode ser realizada a partir do sexto mês de vida, mesmo em crianças com história familiar de atopia. ➢ Os sucos (naturais e artificiais) devem ser evitados pelo risco de predispor à obesidade devido ao maior consumo de calorias e não ingestão das fibras das frutas que contribuem para diminuir a absorção do açúcar. Viviane Alves- XVII ➢ No primeiro ano de vida não se recomenda o consumo de mel. Nessa faixa etária, os esporos do Clostridium botulinum, capazes de produzir toxinas na luz intestinal, podem causar botulismo. A primeira papa principal de misturas múltiplas, deve ser oferecida a partir dos 6 meses de vida, no horário de almoço ou jantar. Nas primeiras semanas pode ser completa com o leite materno, até que a criança se mostre saciada apenas com a papa. A segunda papa de misturas múltiplas será oferecida a partir do sétimo mês de vida. ➢ Carne: 50-70 g (para duas papas), picada, tamisada (cozida e amassada com as mãos) ou desfiada. É importante para garantir a oferta adequada de ferro e zinco. As carnes com maior qtd de ferro são as de segunda (músculo dianteiro, acém, paleta, fraldinha ou coxão duro). As carnes de primeira podem ser moídas ou picadas, pois são mais macias (coxão mole, filé mignon, alcatra, patinho, contrafilé). As vísceras quando utilizadas devem ser bem cozidas. Ovo deve ser oferecido inteiro (ovo e gema) e cozido. ➢ Óleo vegetal: (de preferência o de soja ou canola devido à qtd de ômega 3) deve ser usada 3- 3,5 ml (1 colher de chá) para cada 100 ml ou 100 g de preparação. Viviane Alves- XVII Nos primeiros dias, é normal a criança derramar ou cuspir o alimento; portanto, tal fato não deve ser interpretado como rejeição ao alimento. Recomenda-se iniciar com pequenas quantidades do alimento, entre uma e 2 colheres de chá, colocando o alimento na ponta da colher e aumentando o volume conforme a aceitação da criança. Em média, são necessárias de 8 a 10 exposições ao alimento para que ele seja plenamente aceito pela criança. Dez passos para uma alimentação saudável 1. Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. 2. A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os 2 anos de idade ou mais. 3. Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada. 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança. 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida. 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. ● Cuidados com a higiene: É importante orientar as mães sobre a higiene adequada das mãos, dos alimentos e dos utensílios, em especial das mamadeiras, quando utilizadas (Ex: imersão da mamadeira e utensílios do lactente em água com hipoclorito de sódio 2,5% por 15 minutos - 20 gotas de hipoclorito para um litro de água), pode ser utilizado o vinagre, mas a eficácia do hipoclorito é maior. Deve-se preconizar a utilização de bicarbonato de sódio a 1% para reduzir a contaminação com os agrotóxicos (uma colher de sopa para um litro de água) por 20 minutos. Os alimentos devem ser preparados em local limpo, em pequena quantidade, de preferência para uma refeição, e oferecidos à criança logo após o preparo. Os restos devem ser descartados. Os alimentos precisam ser mantidos cobertos e na geladeira, quando necessitarem de refrigeração. A água para beber deve ser filtrada e fervida ou clorada (2 gotas de hipoclorito de sódio 2,5% por litro de água, aguardando por 15 minutos). 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. Viviane Alves- XVII Suplementação de Ferro e Vitaminas D e A Vitamina D: o leite materno contém cerca de 25 UI por litro, dependendo do status materno desta vitamina. A necessidade diária da criança no primeiro ano de vida é de 400 UI de vitamina D. O Departamento de Nutrologia da SBP preconiza suplementação de vitamina D para recém-nascido a termo, desde a primeira semana de vida, mesmo que em aleitamento materno exclusivo ou fórmula infantil. Vitamina A: A concentração de vitamina A no leite materno varia de acordo com a dieta da mãe. Em regiões com alta prevalência de deficiência de vitamina A, a OMS, o MS e a SBP preconizam o esquema para suplementação medicamentosa de vitamina A, na forma de megadoses por via oral, que devem ser administradas a cada 4 a 6 meses: ● Crianças de 6-12 meses: 100.000 UI; ● Crianças de 12- 72 meses: 200.000UI. Ferro: início da suplementação de ferro aos 3 meses de idade. Referência: SBP. Manual de alimentação: da infância à adolescência. 4ed Viviane Alves- XVII Crescimento e desenvolvimento CRESCIMENTO O crescimento é um processo biológico, de multiplicação e aumento do tamanho celular, expresso pelo aumento do tamanho corporal. Todo indivíduo nasce com um potencial genético de crescimento, que poderá ou não ser atingido, dependendo das condições de vida a que esteja submetido desde a concepção até a idade adulta. Portanto, pode- se dizer que o crescimento sofre influências de fatores intrínsecos (genéticos, metabólicos e malformações, muitas vezes correlacionados, ou seja, podem ser geneticamente determinadas) e de fatores extrínsecos, dentre os quais destacam-se a alimentação,laboratorialmente, prevalece a hipótese de infecção por Shigella. Outros agentes que podem necessitar antibióticos quando causam casos graves: E.coli enteroinvasiva, Yersinia, V. chorelae, C. difficille, Salmonela não tifoide. De acordo com o MS9 e a OMS1,2,7 devem ser prescritos, nos quadros disentéricos, os seguintes antibióticos, considerando a possibilidade de infecção por Shigella: 1. ciprofloxacino (primeira escolha): crianças, 15mg/kg, duas vezes ao dia, por 3 dias; adultos, 500mg duas vezes por dia por 3 dias. 2. como segunda escolha, pode ser adotada a recomendação da ESPGHAN11 (azitromicina, 10 a 12mg/kg no primeiro dia e 5 a 6mg/kg por mais 4 dias, via oral) para o tratamento dos casos de diarreia por Shigella (casos suspeitos ou comprovados). 3. ceftriaxona, 50-100mg/kg EV por dia por 3 a 5 dias nos casos graves que requerem hospitalização. Outra opção é a cefotaxima, 100mg/kg dividida em quatro doses. Até recentemente, era recomendado no Brasil o uso de sulfametoxazol-trimetropim ou ácido nalidíxico. Levantamento da literatura mostrou que, no Brasil, as amostras de Shigella testadas apresentam alta taxa de resistência ao sulfametoxazol-trimetropim. Por sua vez, apresentam boa sensibilidade ao ciprofloxacino e ao ceftriaxone. Os estudos realizados no Brasil não testaram a sensibilidade à azitromicina23. Deve ser lembrado que no Brasil não existe ciprofloxacino na apresentação em suspensão ou solução para uso oral. Quando a diarreia aguda é causada por giardíase ou amebíase comprovada, o tratamento deve ser feito com metronidazol, ou análogos. Antiemético: Segundo a OMS, os antieméticos não devem ser utilizados no tratamento da diarreia aguda. Considera-se que os vômitos tendem a desaparecer concomitantemente à correção da desidratação. O MS não faz menção ao emprego de antieméticos. No entanto, há algumas situações onde são necessários. A Viviane Alves- XVII ESPGHAN11 considera que a ondansetrona pode proporcionar redução na frequência de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar. A diretriz Íbero- -Latinoamericana recomenda o emprego da ondansetrona para os pacientes com diarreia aguda com vômitos frequentes. A dose de ondasentrona é de 0,1mg/kg (0,15-0,3/kg), até o máximo de 4 mg por via oral ou intravenosa. Pode ser encontrada em duas apresentações: comprimidos com 4 mg e ampola com 4mg/2 mL. Probióticos: Os probióticos são microorganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, proporcionam efeito benéfico para a saúde do indivíduo. Os probióticos interagem com a microbiota intestinal. A microbiota intestinal exerce várias ações no intestino, que repercutem em vários órgãos do indivíduo. O emprego de probióticos no tratamento e na prevenção da diarreia aguda tem sido ultimamente bem estudado. A OMS e o MS não mencionam a possibilidade de uso de probióticos no tratamento da diarreia aguda. Racecadotrila: A racecadotrila é um inibidor da encefalinase, enzima responsável pela degradação das encefalinas produzidas pelo sistema nervoso entérico. As encefalinas com ação mais duradoura, em função da menor atividade da encefalinase, reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se encontra aumentada nos quadros de diarreia aguda. Não é uma recomendação do MS! Referência: SBP. Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento Viviane Alves- XVII Alimentação saudável no primeiro ano de vida Aleitamento Materno Aleitamento Materno Característica do leite de vaca “in natura” Alimentação complementar É conjunto de todos os alimentos, além do leite materno, oferecidos durante o período em que a criança continuará a ser amamentada ao seio sem exclusividade deste. A partir dos 6 meses de vida, deve-se introduzir a alimentação complementar, mantendo-se o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais. Os sistemas digestório e renal do lactente são imaturos, o que limita a sua habilidade em manejar alguns componentes de alimentos diferentes do leite humano. Devido à alta permeabilidade do tubo digestivo, o lactente corre o risco de apresentar reações de hipersensibilidade a proteínas estranhas à espécie humana. O rim imaturo, por sua vez, não redução a capacidade necessária de concentrar a urina para eliminar altas concentrações de solutos provenientes de alguns alimentos. Aos 4-6 meses a criança encontra-se num estágio de maturidade fisiológica e neurológica, com atenuação do reflexo de protrusão da língua, que facilita a ingestão de alimentos semi-sólidos. As enzimas digestivas são produzidas em quantidades suficientes, razão que as habilitam a receber outros alimentos além do leite materno. Dez passos para uma alimentação saudável Suplementação de Ferro e Vitaminas D e A Crescimento e desenvolvimento Anemias Imunizações Dermatoses Fatores de risco Infecção de vias aéreas superiores Parasitoses PROTOZOÁRIOS Giardíase Localização no hospedeiro: Duodeno e jejuno. Amebíase Infecção do trato urinário- ITU Diarréia aguda e desidrataçãoa saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança. O acompanhamento do peso, da altura (comprimento) e do perímetro craniano (este nos 3 primeiros anos de vida) pode orientar o pediatra sobre as condições de saúde de seu paciente, do mesmo modo quando a mãe (ou cuidador) apresenta alguma queixa ou não. A partir da década de 1980, o Unicef e a OMS propuseram a monitoração do crescimento como uma das ações básicas de saúde. Embora inicialmente proposta para detectar precocemente a desnutrição, vários autores, envolvidos em pesquisas de crescimento, recomendaram que a monitoração teria um papel mais amplo, não só na detecção antecipada da desnutrição, mas como um alerta para suspeitar de que outros agravos poderiam estar afetando o crescimento das crianças. Dessa forma, a avaliação do crescimento na rotina de atenção à criança visa a três aspectos fundamentais: ● detectar precocemente o que está afetando o crescimento do paciente para inferir e obter a sua recuperação; ● identificar as variações da normalidade, tranquilizar a criança e a família, evitando possíveis intervenções prejudiciais; ● identificar problemas que não podem ser curados, mas que possam ser minimizados, e prover apoio ao paciente e à família ao lidar com as dificuldades. Viviane Alves- XVII Determinantes do crescimento Fatores extrínsecos 1. Alimentação: Crescer significa consumo de energia. A dieta deve ter frequência, qualidade, quantidade e consistência adequada para cada idade. 2. Infecções: Nos processos febris (acima de 38 oC, estima-se aumento de 20% das necessidades calóricas e protéicas da criança. 3. Higiene: Do ambiente, da criança, dos alimentos e de todos os que trabalham com a criança. 4. Cuidados gerais com a criança: Relações afetivas positivas com o mundo que a cerca. Crescimento nas diversas fases da vida (intrauterina/ lactente/ pré- escolar/ escolar/ adolescência e situações especiais- PIG, Prematuro) O crescimento humano se caracteriza por 4 fases nitidamente distintas: Fase 1: Crescimento intra-uterino, inicia-se na concepção e vai até o nascimento. Fase 2: Primeira infância, vai do nascimento aos dois anos de idade, aproximadamente, caracterizando-se por um crescimento incremental, que se inicia no nascimento e estende-se até um mínimo marco inicial da fase seguinte. Fase 3: Segunda infância ou intermediária, período de equilíbrio e crescimento uniforme em que o acréscimo anual de peso se mantém no mesmo nível, desde o mínimo limítrofe, anteriormente citado, até o início de uma nova fase de crescimento acelerado. Fase 4: Adolescência, fase final de crescimento, que se estende mais ou menos dos dez aos vinte anos de idade. O crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máximo em torno dos 15 anos e, depois, declina rapidamente até os 20 anos. Ao nascer, o menino mede em torno de 50 cm, e a menina, 49 cm de comprimento, com variação de +/- 2 cm. O peso é, em média, de 3.300 g. Crianças nascidas com peso menor que 2.500 g são denominadas de baixo peso, e entre 2.500 g e 3.000 g, de peso insuficiente. O tamanho ao nascer pode indicar se um comprometimento ocorreu no final da gestação ou durante um período mais prolongado. O pico da velocidade de crescimento em comprimento durante o período intrauterino acontece no 2º trimestre da gravidez, e o do peso, no último trimestre. Assim, se o recém-nascido (RN) apresenta um comprometimento só do peso, é maior a probabilidade de o agravo ter ocorrido nos meses finais da gestação, mas se houver uma diminuição do comprimento, é bem mais provável que o agravo tenha ocorrido há mais tempo. Isso tem implicações no crescimento, pois uma lesão crônica pode comprometer de forma bem mais acentuada e levar à baixa estatura. Viviane Alves- XVII A correlação do tamanho ao nascer é baixa em relação à estatura final. O crescimento intrauterino é mais dependente das condições nutricionais, de saúde e do tamanho da mãe do que do seu potencial genético. Durante os dois primeiros anos de vida, a curva de crescimento pode mudar de canal mudando de percentis, em um fenômeno denominado canalização. Assim, lactentes que se encontram em percentis mais baixos da curva, mas que têm um potencial genético para serem mais altos, fazem uma recuperação logo a partir das primeiras semanas de vida em direção a percentis mais altos, e os com potencial genético para serem mais baixos iniciam a mudança de canal a partir dos 6 meses. O crescimento pós-natal pode ser dividido em três fases: uma fase de crescimento rápido, mas também de desaceleração rápida que vai dos 2,5 anos até os 3 anos; uma fase de crescimento mais estável com uma desaceleração lenta, que vai até o início da puberdade; e a fase puberal com o estirão caracterizado por um crescimento rápido até atingir o pico, com desaceleração posterior até atingir a altura adulta. Em algumas crianças, é observado um pequeno estirão entre 7 e 8 anos de idade, denominado estirão do meio da infância. A criança cresce em torno de 25 cm no primeiro ano, sendo 15 cm no primeiro semestre e 10 cm no segundo. No segundo ano, cresce de 10 a 12 cm. A partir do terceiro ano, o crescimento é entre 5 e 7 cm por ano, de forma oscilante, mas com ligeiro decréscimo. Como as medidas são feitas de forma espaçada durante muito tempo, considerou-se que o crescimento ocorresse de forma contínua, mas atualmente está bem demonstrado que ele ocorre com paradas e saltos (em inglês, saltation and stasis). Essa observação pode parecer acadêmica, mas com frequência o pediatra pode se deparar com períodos em que a criança não cresce e gerar alguma preocupação, tanto na família quanto no pediatra. Durante toda a infância, tanto a menina como o menino crescem de forma bastante semelhante, mas, durante a puberdade, as meninas apresentam o estirão em média 2 anos antes que os meninos, e com isso param de crescer mais cedo. Durante o estirão puberal, o pico de velocidade de crescimento das meninas é de 8,5 cm/ano, e o dos meninos de 9,5 cm/ano. Essa diferença no pico de velocidade, mais o aspecto de que os meninos crescem por pelo menos mais 2 anos, explicam a diferença média das alturas entre os homens e as mulheres em 13 cm. Esse é o valor utilizado para se calcular o alvo parental. Ao se avaliar se uma criança está crescendo bem ou não, é mais importante considerar a velocidade de crescimento do que a altura atual. Como as curvas são construídas e delimitadas com percentis 3 e 97 ou +/- dois desvios padrão, existe um percentual de crianças normais que terão valores abaixo de 3% no caso dos percentis, ou 2,5% no caso do desvio padrão. Dessa forma, é muito mais importante avaliar a velocidade de crescimento. Os dois conjuntos de gráficos mencionados neste capítulo não têm curvas de velocidade de crescimento, mas uma forma indireta de se inferir a velocidade é pela disposição de mais de uma medida na curva com algum intervalo que se exclua o erro de medida. Se as medidas registradas no gráfico acompanharem a inclinação das curvas do gráfico, é sugestivo de que a criança está crescendo bem. Se a criança é paciente do pediatra e ele rotineiramente registra os dados no gráfico, poderá detectar que o crescimento não está se dando de forma adequada. Antropometria Viviane Alves- XVII Curvas de crescimento- OMS Foi elaborada dentro de um projeto envolvendo 6 cidades de 6 países: Brasil (Pelotas), Gana (Accra), Índia (Nova Déli), Noruega (Oslo), Omã (Muscat) e Estados Unidos (Davis). O MS do Brasil adotou as curvas da OMS, e são elas que fazem parte da caderneta de saúde de cada criança. São apresentadas curvas do nascimento até 2 anos, dos 3 aos 5 e dos 5 aos 20, para comprimento/altura, e índice de massa corporal (IMC), e para o peso até os 10 anos, para os sexos masculino e feminino. As curvas dos dois primeiros anos de vida têm sido adotadas por diferentes países, pois foram construídas acompanhando o crescimento de formalongitudinal, desde o nascimento até os 2 anos de idade, de crianças de bom nível social, cujas mães não fumaram durante a gravidez e que foram amamentadas de forma exclusiva ou predominante até 4 a 6 meses de idade. ● Peso: É um excelente indicador das condições das condições de saúde e de nutrição da criança. As informações mais ricas são com a evolução do peso no tempo( curva de peso). O método de pesagem deve ser preciso para não oferecer dados incorretos. Indicações da curva de peso É indicada para: ❏ Avaliação da defasagem da situação de má nutrição bem antes dos outros fatores clínicos. ❏ Vigilância da situação de desidratação e de sua gravidade. ❏ Implementação de ações preventivas educativas e sanitárias(nível individual e coletivo). Diferença entre percentil e desvio padrão Percentil: situa a posição do indivíduo em relação ao grupo de referência. Desvio padrão (escore Z): número de desvios padrão abaixo ou acima da mediana da população de referência em que se encontra o índice antropométrico da criança. NOrmal= entre -2 e + 2 DP Estadiamento de Tanner e seu uso/ Marcos puberais de referência Na avaliação da puberdade, costuma-se utilizar a avaliação das características das mamas e dos pelos púbicos nas meninas e das características dos genitais e dos pelos púbicos nos meninos. Viviane Alves- XVII Mamas Estágio 1: pré-adolescente, apenas elevação do mamilo. Estágio 2: estágio do botão mamário, elevação da mama e do mamilo, como um pequeno monte. O diâmetro da aréola apresenta-se um pouco maior que no estágio 1. Estágio 3: tanto a mama quanto a aréola estão maiores e mais elevadas que no estágio 2, mas sem distinção. Estágio 4: a aréola e a papila formam um contorno secundário, destacando-se do resto da mama. Estágio 5: estágio maduro, apenas o mamilo se projetando, com a aréola seguindo o contorno da mama. Genitais Estágio 1: pré-adolescente, testículos, escroto e pênis de tamanho e forma infantis. Estágio 2: escroto apresenta-se levemente aumentado, com pele mais escura e mudança de textura. Pênis sem aumento ou pouco aumentado. Estágio 3: pênis apresenta aumento, principalmente em comprimento. Escroto maior que no estágio anterior. Estágio 4: pênis aumentado em comprimento e largura, e desenvolvimento da glande. Escroto maior que no estágio 3; pele do escroto mais escura e enrugada que nos estágios anteriores. Estágio 5: genitália adulta em tamanho e forma. Pelos púbicos nas meninas e nos meninos Estágio 1: pré-adolescente, sem pelos púbicos. Estágio 2: pelos finos, longos, lisos ou curvos, esparsos, mas com maior concentração próximo à base do pênis ou ao longo dos lábios. Estágio 3: mais escuros, espessos e curvos, os pelos espalham-se pelo púbis. Estágio 4: pelos do tipo adulto, mas em menor quantidade. Não atingem as coxas. Estágio 5: pelos do tipo adulto em quantidade e tipo. Curva de crescimento linfóide O crescimento, analisado globalmente, é a somatória de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e morfogenéticos, cuja integração é feita segundo um plano pré-determinado pela herança, modificado pelo ambiente. Em condições normais, cada célula, cada tecido e cada órgão crescem em graus, padrões e velocidades próprias. Há 4 tipos fundamentais de crescimento das estruturas do corpo: ● Crescimento geral somático: Corpo como um todo, dimensões externas (com exceção da cabeça e pescoço), tecido muscular e ósseo, volume sangüíneo, órgãos dos aparelhos respiratório, circulatório e digestivo, rim e baço. Este tipo de crescimento pode ser representado pela curva de peso e estatura, que apresentam aspecto geral de um S, com dois períodos de maior velocidade (zero a dois anos e por ocasião da puberdade). ● Crescimento neural: Cérebro, cerebelo e estruturas afins, aparelho ocular, perímetro cefálico. Este tipo caracteriza-se por uma intensa velocidade nos dois primeiros anos de vida. ● Crescimento linfóide: Timo, gânglios linfáticos, amídalas, adenóides, folículos linfóides intestinais. O desenvolvimento máximo das estruturas linfóides ocorre entre os oito e dez anos de idade. Viviane Alves- XVII ● Crescimento genital: Testículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais, próstata, útero e anexos. Estas estruturas permanecem quiescentes durante os primeiros oito a dez anos de vida, para então apresentar um crescimento acelerado, dentro das transformações físicas que correspondem à puberdade. DESENVOLVIMENTO Aquisições no primeiro e segundo ano de vida/ Reflexos primitivos Controle dos esfíncteres Observa-se também que o início precoce, sem respeitar a maturação da criança, aumenta o risco para o aparecimento de disfunções, como enurese, encoprese, constipação e recusa em ir ao banheiro. Conforme estudo de coorte realizado em Pelotas (RS) (2004), a maioria dos pais apresenta expectativas irreais relacionadas à idade ideal para treinamento, não levando em consideração o estágio do desenvolvimento e as habilidades necessárias para o controle dos esfíncteres. A idade ideal para iniciar o processo educativo varia de criança para criança: algumas entre 18 e 24 meses já mostram sinais de que estão prontas; outras não se mostram prontas antes dos dois anos e meio (MOTA; BARROS, 2008) [D]. Considera-se um início precoce o processo educativo realizado a partir de idade em torno dos 18 meses. Por sua vez, é tido como um treinamento tardio o processo realizado após os 36 meses. O importante é identificar quando a criança está pronta para esta etapa e, então, auxiliála sem cobrança de resultados, isto é, sem Viviane Alves- XVII estresse. O treinamento vai exigir muita paciência e determinação dos pais e de quem mais cuidar da criança. Para as crianças que estão na escola, é importante orientar os pais para que repitam em casa a mesma rotina escolar. Aquisição da Linguagem Durante os primeiros meses de vida, o bebê expressa-se por meio de sua mímica facial e, principalmente, pelo choro. Entre o 2o e o 3o mês, a criança inicia a emissão de arrulhos e, por volta do 6o mês, de balbucio ou sons bilabiais, cujas repetições são realizadas pelo simples prazer de se escutar. Entre 9 e 10 meses, emite balbucios com padrão de entonação semelhantes à linguagem de seu meio cultural. A primeira palavra, na maioria dos idiomas, corresponde a um encontro silábico reconhecido que se inicia com sons de m, n, p, d ou t, como “mama”, “papa” e “dada”.1 A linguagem gestual também aparece no 2º semestre de vida e é fruto da significação dada pelos adultos do seu meio. Nessa fase, é comum a criança apontar e obedecer aos comandos verbais como bater palmas, acenar e jogar beijinhos. Por volta dos 12 meses de idade, surgem as primeiras palavras denominadas palavras-frase. Aos 18 meses, a criança inicia frases simples e, a partir daí, ocorre um grande aumento em seu repertório de palavras. Nessa fase, também começa o diálogo com troca de turnos, isto é, a criança fala e depois aguarda a resposta do outro para nova interferência.1 Referências: - MOREIRA, LMA. Desenvolvimento e crescimento humano: da concepção à puberdade. In: Algumas abordagens da educação sexual na deficiência intelectual [online]. 3rd ed. Salvador: EDUFBA, 2011, pp. 113-123. Bahia de todos collection. ISBN 978-85-232-1157-8. Available from SciELO Books . - Tratado de pediatria. SBP. 4ed. vol 1 - Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil / Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Viviane Alves- XVII Anemias j Viviane Alves- XVII Imunizações Viviane Alves- XVIIViviane Alves- XVII Viviane Alves- XVII Viviane Alves- XVII Viviane Alves- XVII Dermatoses Distúrbios Eczematosos Dermatite Seborreica A dermatite seborreica na infância é uma doença inflamatória crônica da pele, autolimitada. Não coça!!! Epidemiologia: acomete os extremos da idade pediátrica (lactentes e adolescentes). Frequência de 2 a 5% na população geral e de até 10% em crianças menores de 1 ano. Ocorre entre 3 semanas e 12 meses de vida, com pico de prevalência aos 3 meses, diminuindo nos meses seguintes, acometendo 7% das crianças de 1 a 2 anos. É mais frequente no gênero masculino. Etiologia: patologia inflamatória com predileção por áreas seborréicas (couro cabeludo, sobrancelhas, retroauricular, sulco nasolabial e região pré-esternal). A causa é desconhecida, mas a erupção parece ser exacerbada por ressecamento e costuma ser vista como forma leve de eczema. A Malassezia furfur tem sido implicada como agente causador, mas não está claro seu papel. Fisiopatologia: é desconhecida, e alguns autores questionam se ela é uma entidade isolada ou se poderia ser precursora da dermatite atópica (dermatite seboatópica) ou uma forma de psoríase. Acredita-se que, no lactente, o estímulo hormonal androgênico (testosterona) transplacentário e gonadal do bebê seja o desencadeante das lesões. Na dermatite seborreica, a Malassezia parece ter importância na fisiopatologia da doença. Este fungo está presente na flora cutânea e prolifera em meio gorduroso, característica da pele do adolescente e adulto jovem. A Malassezia sp parece ativar o sistema complemento favorecendo a liberação de IL-10, gerando intensa resposta imune irritativa não alérgica com alteração na imunidade celular. Nos pré-adolescentes e adolescentes, o estímulo gonadal próprio da idade, associado a uma base genética, parecem ser os desencadeantes, e as lesões podem ser crônicas e recorrentes. Manifestações clínicas: No RN e no lactente, a manifestação mais comum é a “crosta láctea” (crostas amareladas e oleosas aderidas ao couro cabeludo e sobrancelhas, principalmente na região do vértice e da fronte). Compromete o T do rosto! Placas eritematodescamativas arredondadas, localizadas ou confluentes, ocorrem em áreas de maior concentração de glândulas sebáceas, como o sulco nasolabial, as pregas retroauriculares, cervicais, axilares, região umbilical e períneo. Viviane Alves- XVII As lesões nessa faixa etária tendem a se resolver espontaneamente em semanas ou alguns meses. Lesões persistentes além dos 12 meses podem indicar outros diagnósticos diferenciais. O RN ou lactente geralmente dorme e se alimenta bem, e o prurido está ausente ou é discreto, o que facilita sua diferenciação com a dermatite atópica. Em alguns casos, o processo inflamatório é extenso, podendo ocorrer eritrodermia. No pré-adolescente e adolescente, as lesões são mais localizadas em face, sulco nasolabial e região retroauricular. No couro cabeludo, pode haver descamação fina, até crostas espessas e amareladas aderidas, com perda de cabelos (tinea amiantacea) e discreto prurido. Diagnóstico diferencial: quando o eritema e as lesões tornam-se generalizadas e esfoliativas→ sd. de Leiner (não tem sintomas constitucionais (febre, diarréia, anemia, vômitos), alopecia e a não-associação a infecções; ocorre deficiência do C5). Dermatite atópica (apresenta muito prurido e descamação mais seca e esbranquiçada). Psoríase (apresenta placas espessas com escamas grossas branco-prateadas- sebopsoríase). No couro cabeludo, a tinea capitis ( prurido e área de alopecia com tonsuras). No períneo, a candidíase perineal, que também acomete pregas, podendo ter concomitância de dermatite seborreica com candidíase. O diagnóstico diferencial da dermatite seborreica inclui psoríase, dermatite atópica, dermatofitose, distúrbios histiocíticos e candidíase. São comuns as infecções bacterianas e a candidíase superposta. Tratamento: As lesões do couro cabeludo devem ser controladas com podem ser úteis para controle da descamação e do processo inflamatório, com cuidado pela absorção percutânea dessas substâncias (principalmente o ácido salicílico). Nas lesões em outros locais, a aplicação antifúngicos tópicos (cetoconazol, ciclopirox, bifonazol) eficazes contra a Malassezia foram preconizados, cetoconazol a 2% em creme, 1 vez/dia por 1 a 2 semanas, ou hidrocortisona creme a 1% pode ser utilizada para controlar o processo inflamatório de casos mais resistentes. As lesões inflamadas geralmente respondem prontamente à terapia com corticosteroide tópico de baixa a média potência. Outra opção terapêutica são os imunomoduladores tópicos(tacrolimo e pimecrolimo) para casos mais persistentes ≥2 anos de idade ou para uso em adolescentes, de forma a evitar o uso prolongado dos corticosteroides. O corticosteroide sistêmico (dexametasona 1 mg/kg/dia via oral, por 5 a 7 dias) é utilizado nos casos de eritrodermia. Devem ser aplicadas compressas úmidas nas lesões úmidas ou fissuradas antes da aplicação da pomada de esteroide. Viviane Alves- XVII Dermatite seborreica como marcador cutâneo de doenças graves na infância: Uma erupção eritematodescamativa similar à dermatite seborreica (dermatite seborreica like) pode ocorrer em algumas doenças sistêmicas graves na idade pediátrica. No HIV, na deficiência de biotinidase associada a infecções de repetição, acidose metabólica e convulsões, sendo quadro grave que pode levar a criança ao óbito nos primeiros 3 meses de vida. Na doença de Leiner (imunodeficiência múltipla e deficiência de C5), ocorre a dermatite seborreica crônica associada a diarreia, infecções por Gram-negativos e óbito no 5o mês de vida. A histiocitose cursa com lesões de dermatite seborreica e pápulas castanho-eritematosas, crostas e lesões purpúricas que infiltram a pele do couro cabeludo (Figura 4), períneo, pregas cutâneas, regiões palmoplantares e mucosas. Também há presença de linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia e infecções de repetição. Pitiríase alba Pitiríase (presença das escamas finas) e alba (coloração branca-hipopigmentação). Epidemiologia: mais comum entre 3 a 16 anos, com 90% dos casos ocorrendo em criançasbem definidas, mas não possuem borda nitidamente demarcada. As lesões ocorrem na face, no pescoço, na parte superior do tronco e nas partes proximais dos membros superiores. O prurido é mínimo ou ausente. Áreas de hipopigmentação com bordas mal definidas, irregulares e descamação fina, que surgem após uma fase inflamatória, caracterizada por lesões eritematosas e que evoluem para clareamento gradativo. Variantes 1.Pitiríase alba clássica As lesões na pele ocorrem com maior frequência nas regiões expostas ao sol, sendo a face o local mais acometido, principalmente as bochechas. Na pitiríase alba, inicialmente encontramos a presença de manchas mal definidas, levemente eritematosas e que podem apresentar escamas. Posteriormente, essas lesões acabam diminuindo, deixando áreas hipopigmentadas que retornam lentamente à pigmentação normal. As lesões podem progredir através dos três estágios clínicos: lesão papular eritematosa, lesão papular hipocrômica e lesão hipocrômica suave. Geralmente, nas fases iniciais, com lesão papular eritematosa, a doença não é diagnosticada. A apresentação mais comum é a assintomática (ou levemente pruriginosa), com lesões hipopigmentadas. Ao exame, encontramos múltiplas máculas hipopigmentadas redondas ou ovais (ou pápulas e placas finas) com margens indistintas, podendo haver eritema e/ou descamação leves. O número de lesões varia de 4 a 20, medindo de 0,5 cm a 2 cm, podendo chegar a dimensões de até 5 cm. Elas são distribuídas predominantemente na face, no pescoço, na parte superior dos braços e no tronco superior. As lesões da pitiríase alba regridem espontaneamente em um período de 1 mês a 10 anos, sendo mais frequente a sua resolução nos primeiros 12 meses. As lesões podem recorrer. Esta forma clínica tem o curso clínico mais curto e a melhor resposta ao tratamento. Viviane Alves- XVII 2. Pitiríase alba extensa É menos frequente que a anterior e acomete mais adolescentes e adultos jovens do sexo feminino. Apresenta-se como lesões mais disseminadas e simétricas, ausência de uma fase inflamatória precedente e com dimensões > 2 cm (maior que as outras formas), geralmente acometendo outros locais além da face. O período de tratamento costuma ser maior que o da variante clássica. 3. Pitiríase alba pigmentar É a menos frequente das três formas, e não há relato de acometimento de populações caucasianas. Acomete crianças e adolescentes do sexo feminino mais frequentemente. Caracteriza-se por lesões azuladas, devido ao depósito de melanina, circundadas por um halo de pele despigmentada. As lesões são numerosas, tipicamente com 1,5 cm de diâmetro, frequentemente nas bochechas e na testa. Diagnóstico diferencial: A pitiríase alba é frequentemente mal diagnosticada como vitiligo, tinha versicolor ou tinha do corpo; Hipomelanose progressiva; Hanseníase; Psoríase; Micose fungóide hipopigmentada (linfoma cutânea de células T); Eczema numular; Tinea corporis; Eczema discóide; Nevus anemicus; Pitiríase rósea; Dermatite atópica; Dermatite de contato. Tratamento: A aplicação de um lubrificante pode abrandar a condição. Se o prurido incomodar muito, um esteroide tópico que tenha baixa potência poderá ser usado. A pigmentação normal costuma levar meses para retornar. NÃO MARCAR RETORNO EM UM MES, POIS AS MANCHAS DEMORAM A DESAPARECER!! Medidas gerais preventivas: ● hidratação da pele, ● evitar banhos demorados e frequentes, ● utilizar protetor solar e ● evitar exposição ao sol exagerada. Como a pitiríase alba é geralmente autolimitada e assintomática, o tratamento farmacológico é frequentemente desnecessário. A terapia também pode incluir o seguinte: ● Creme emoliente: usado para reduzir a descamação das lesões, especialmente na face. Viviane Alves- XVII ● Esteróides tópicos de baixa potência (hidrocortisona 0,5% ou 1%, desonida a 0,05%): têm eficácia limitada, podendo, ajudar com eritema e prurido associados às lesões iniciais e podem acelerar a repigmentação das lesões existentes. Todavia, o uso deve ser limitado, para evitar atrofia da pele a longo prazo. ● Tacrolimus pomada 0,1% e pimecrolimus creme 1%: ambos são seguros e devem ser preferidos em relação aos corticoides. Podem ser usados durante 3 meses, principalmente no tratamento das lesões de longa duração e que acometem a face. ● Calcitriol (análogo tópico da vitamina D): em alguns trabalhos, mostrou eficácia comparável ao tacrolimus. ● Laserterapia: alguns trabalhos mostram que o tratamento com excimer laser de 308 nm, duas vezes por semana, durante 12 semanas, mostrou-se eficaz contra a pitiríase alba. Distúrbios das glândulas sudoríparas Miliária Epidemiologia: Ocorre com maior frequência nas crianças que habitam em regiões de clima quente, nos estados febris, nos RN colocados em incubadoras e com o uso excessivo de agasalhos. Pode usar calamina e pasta D’água, para aliviar! Etiologia/ Patogênese: miliária é resultado da retenção do suor nos ductos sudoríparos écrinos ocluídos. O tampão ceratinoso não se forma até as fases tardias da doença e, por essa razão, não parece ser a causa primária de obstrução do ducto sudoríparo. Está postulado que a obstrução inicial é devida à tumefação das células epidérmicas ductais, talvez por embebição de água. Uma pressão retrógrada pode importar na ruptura do ducto e no vazamento de suor para dentro da epiderme e/ou derme. A erupção é mais frequentemente induzida por clima quente, úmido, mas também pode ser causada por febre alta. Os Viviane Alves- XVII https://www.portalped.com.br/blog/outras-especialidades/nutrologia/vitamina-d-quando-suplementar/ lactentes que são vestidos excessivamente podem desenvolver essa erupção dentro de casa, mesmo durante o inverno. Manifestações clínicas Miliária cristalina, vesículas claras do tamanho da ponta de um alfinete, assintomáticas, não inflamatórias, podem subitamente aparecer em grandes áreas da superfície corporal deixando descamação ao regredir (Fig. 653-1). Este tipo de miliária acontece com mais frequência em recém-nascidos por causa da relativa imaturidade e desobstrução retardada do ducto sudoríparo e a tendência dos lactentes serem cuidados em condições relativamente quentes, úmidas. Ela também tem possibilidade de ocorrer em pacientes mais velhos com hiperpirexia. Na miliária cristalina ou sudâmina, a obstrução é produzida pelos detritos de queratinócitos, resultando em vesículas superficiais de 1 a 2 mm de diâmetro, sem presença de eritema ao redor. Localiza-se na face, na cabeça, no colo e no tronco superior e ocorre nos primeiros dias de vida. Miliária rubra é uma erupção menos superficial, caracterizada por diminutas pápulas e vesículas eritematosas que podem produzir sensação de picadas. As lesões são geralmente localizadas em locais de oclusão ou em áreas flexurais, como pescoço, virilha e axilas, onde o atrito pode ter um papel na sua patogênese. É possível que a pele comprometida se torne macerada e erodida. As lesões de miliária rubra, no entanto, são extrafoliculares. Na miliária rubra, a obstrução é mais profunda, na derme, resultando em pápulas avermelhadas pelo processo inflamatório. Tem início em geral depois da 1ª semana de vida. Para melhora, deve-se evitar o aquecimento excessivo que promove a sudorese, utilizar roupas adequadas ao clima e manter a criança em local fresco. Ataques repetidos de miliária rubra podem levar à miliária profunda, que é causada pela ruptura do ducto sudoríparo mais profundamente na pele no nível da junção dérmico-epidérmica. A miliária rubra grave, extensa, ou a miliária profunda pode resultar em desequilíbrio da regulação térmica. As lesões da miliária rubra apresentam a possibilidade de se tornarem infectadas, particularmente em lactentes desnutridos ou debilitados, levando ao desenvolvimento de periporitis staphylogenes, que envolve a extensão do processo do ducto sudoríparo para a glândula sudorípara. Diagnósticodiferencial: A transparência do líquido, a superficialidade das vesículas e a ausência de inflamação permitem a diferenciação de outras doenças bolhosas. A miliária rubra pode ser confundida ou superposta a outras erupções da área da fralda, incluindo candidíase e foliculite. Tratamento: Todas as formas de miliária respondem enfaticamente ao resfriamento do paciente pela regulação das temperaturas ambientais e pela remoção do excesso de roupas; administração de Viviane Alves- XVII antipiréticos também é benéfica para pacientes com febre. Agentes tópicos usualmente são ineficazes e podem exacerbar a erupção. Infecções fúngicas cutâneas As infecções fúngicas que afetam os humanos podem ser superficiais, profundas ou sistêmicas. Na população pediátrica, podem ser responsáveis por mais de 15% das consultas médicas, sendo as superficiais as mais frequentes. As micoses superficiais dividem-se em dermatofitoses ou tinhas, ceratofitoses (cujo principal exemplo é a pitiríase versicolor) e candidíase ou candidose. → Dermatofitoses Dermatófitos são fungos que vivem no solo, nos animais ou nos humanos. Pertencem a três gêneros: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton. Eles digerem a queratina invadindo a pele, os cabelos e as unhas. Tinea Capitis Epidemiologia: ? Etiologia: Vários tipos de dermatófitos podem causar tinea capitis. Os antropofílicos são transmitidos pelos humanos (p.ex., Trichophyton tonsurans), os zoofílicos são transmitidos por animais (p.ex., Microsporum canis) e os geofílicos são transmitidos pelo solo. No Brasil, o fungo mais envolvido nos casos de tinha da cabeça e tinha do corpo em crianças é o Microsporum canis, comumente encontrado em cães e gatos e cuja infecção do humano determina processo inflamatório importante. Fisiopatologia: Os fungos dermatófitos têm um período de incubação curto (geralmente 1 a 3 semanas) e acometem mais meninos que meninas. Fatores predisponentes incluem famílias numerosas, casas superpovoadas e baixa classe socioeconômica. Além da transmissão por humanos e animais, a transmissão dos dermatófitos via fômites (escova de cabelos, pentes, bonés e instrumentos contaminados) está bem documentada. Manifestações clínicas: acomete o couro cabeludo e caracteriza-se por alopecia descamativa distribuída em placas bem delimitadas e com cabelos “tonsurados”, ou seja, quebrados logo após a sua emergência do folículo piloso (Figura 1) e facilmente destacáveis. A apresentação pode ser semelhante à dermatite seborreica, com descamação difusa e pouca inflamação (Figura 2). Uma ou várias áreas de alopecia podem estar presentes, assemelhando-se à alopecia areata (Figura 3). Pústulas no couro cabeludo podem estar presentes e devem ser distinguidas de foliculite estéril ou bacteriana, em que não há perda de cabelos. Viviane Alves- XVII Quérion (Kerion celsi) é uma apresentação inflamatória da tinea capitis com placas infiltradas, alopecia, pústulas e frequentemente drenagem de secreção purulenta (Figura 4). Geralmente, a inflamação é causada pela resposta imunológica do hospedeiro ao fungo e frequentemente são tratados com antibiótico sistêmico, pela semelhança com infecções bacterianas. No entanto, não há resposta ao antibiótico e, às vezes, a cultura e o exame micológico podem ser negativos, pela maciça destruição dos elementos fúngicos pelo próprio processo inflamatório. Essa manifestação representa uma resposta inflamatória intensa ao dermatófito e, em geral, está associada ao M. canis. Embora possa involuir espontaneamente e não costume causar alopecia definitiva, o diagnóstico precoce e o tratamento agressivo estão indicados, uma vez que a reação inflamatória grave e prolongada pode levar a uma alopecia cicatricial (Figura 5). A linfadenopatia, especialmente cervical ou suboccipital, é muito comum em pacientes sintomáticos com tinea capitis. Figura Viviane Alves- XVII Diagnóstico diferencial: dermatite seborreica, psoríase, alopecia areata, tricotilomania (hábito de arrancar os cabelos), foliculite, impetigo, lúpus eritematoso e outras dermatoses do couro cabeludo menos comuns. Tratamento: tinea capitis requer tratamento sistêmico, uma vez que a medicação deve penetrar no folículo piloso. Por muitas décadas, a droga de escolha foi a griseofulvina e ela permanece como único agente aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento dessa doença na infância. A griseofulvina é bem tolerada e segura, sendo recomendado o uso de 20 a 25 mg/kg/dose, 1 vez/dia (após refeição gordurosa para aumentar sua absorção) por 6 a 8 semanas. A não adesão ao tratamento ou o contato repetido com indivíduos infectados são provavelmente as principais causas para falha no tratamento. O tratamento concomitante com xampu antifúngico, como o cetoconazol e o sulfeto de selênio, 2 a 3 vezes/semana, é recomendado, uma vez que esses agentes, ao removerem as placas, erradicam esporos viáveis e ajudam a diminuir o potencial de extensão da infecção. Administração oral de griseofulvina microcristalina (20 mg/kg/24 horas) constitui o tratamento recomendado para todas as formas de tinea capitis. Ela pode ser necessária durante 8-12 semanas e só deve ser interrompida depois que os resultados de cultura fúngica forem negativos. Tratamento por um mês após resultado negativo da cultura minimiza o risco de recorrência. Reações adversas à griseofulvina são raras, mas incluem náusea, vômito, cefaleia, discrasias sanguíneas, fototoxicidade e hepatotoxicidade. Itraconazol oral é útil em casos de resistência, intolerância ou alergia à griseofulvina. Itraconazol é administrado durante 4-6 semanas em posologia de 3-5 mg/kg/24 horas com alimento. Tinea Corporis Os locais de predileção incluem tronco e extremidades. Contato com animais domésticos, principalmente filhotes de cães e gatos, ocorre de forma frequente na infância, determinando a tinea pelo Microsporum canis. A tinea corporis tende a uma distribuição assimétrica e é caracterizada por uma ou mais placas anulares descamativas, circunscritas, com um centro claro e limites descamativos, vesiculares, papulares ou pustulares. Etiologia: Tinea corporis, definida como uma infecção da pele glabra, excluindo palmas, plantas e virilha, pode ser causada pela maioria das espécies de dermatófitos, embora T . rubrum e Trichophyton mentagrophytes sejam os organismos etiológicos mais prevalentes. Em crianças, infecções por M. canis também são comuns. Tinea corporis pode ser adquirida pelo contato direto com pessoas infectadas ou pelo contato com escamas ou pelos infectados depositados sobre superfícies do ambiente. Infecções por M. canis são usualmente adquiridas de animais de estimação infectados. Manifestações clínicas: A lesão clínica mais típica começa como pápula ou placa seca, levemente eritematosa, elevada, descamativa, que se alastra centrifugamente e regride centralmente para formar a lesão anular característica (Fig. 658-7). Às vezes, placas com bordas de avanço podem se espalhar sobre grandes áreas. Pústulas agrupadas são outra variedade. A maioria das lesões regride espontaneamente Viviane Alves- XVII dentro de vários meses, mas algumas podem se tornar crônicas. Regressão central nem sempre ocorre (Fig. 658-8), e diferenças na resposta do hospedeiro podem resultar em ampla variabilidade na aparência clínica, por exemplo, de lesões granulomatosas chamadas granuloma de Majocchi em função da penetração de organismos ao longo do folículo piloso até o nível da derme, produzindo foliculite e perifoliculite fúngica (Fig. 658-9), e as lesões semelhantes a kerion denominadas tinea profunda. O granuloma de Majocchi é mais comum após tratamento inapropriado com corticosteroides tópicos, especialmente da classe dos superpotentes. Diagnóstico diferencial: granuloma anular, eczema numular, pitiríase rósea (aparece o medalhão e depoisvai aparecendo as outras lesões), psoríase, dermatite seborreica, eritema crônico migrans e tinea versicolor. Tratamento: geralmente responde ao tratamento com um dos agentes antifúngicos tópicos (p. ex., imidazois, terbinafina, naftifina- são hepatotóxico) duas vezes por dia durante 2-4 semanas. Em doença inusitadamente grave ou extensa, um ciclo de terapia com griseofulvina microcristalina oral pode ser necessária durante quatro semanas. Itraconazol produziu excelentes resultados em muitos casos com um curso de 1-2 semanas de terapia oral. A terapia tópica é efetiva para os casos de tinea corporis superficial ou localizada. Esses agentes são aplicados 1 a 2 vezes/ dia (dependendo do princípio ativo), são bem tolerados e têm poucos efeitos adversos, exceto irritação local ou dermatite de contato alérgica. São eles: ciclopirox, clotrimazol, cetoconazol, miconazol, oxiconazol, fenticonazol, entre outros. Apesar de haver melhora clínica e alívio do prurido na 1ª semana, o tratamento deve ser mantido por 2 a 3 semanas para assegurar a completa resolução. → Ceratofitoses Pitiríase versicolor Uma infecção fúngica crônica comum e inofensiva do estrato córneo, a tinea versicolor é causada pela levedura dimórfica Malassezia globosa. Os sinônimos Pityrosporum ovale e Pityrosporum orbiculare foram usados previamente para identificar o organismo causal. Epidemiologia: e a maioria dos casos acontece em adolescentes e bebe (peles oleosas), possivelmente pela natureza lipofílica do microrganismo e a característica das áreas afetadas serem ricas em lipídios. Mais de 90% dos adultos são portadores do fungo no couro cabeludo e no tronco, e 100% das crianças Viviane Alves- XVII acima dos 40 dias de vida já apresentam colonização pelo fungo. Altas temperaturas e umidade predispõem à infecção, além de hiperidrose, aumento da produção sebácea, uso de corticosteroides, imunodeficiências e predisposição familiar. Etiologia: infecção fúngica muito comum, causada pelas formas fermentadoras do fungo dimorfo Malassezia furfur, que são Pityrosporum orbiculare e Pityrosporum ovale. Esse microrganismo faz parte da flora normal da pele e, sob condições apropriadas, a levedura transforma-se em hifa invasiva. M. globosa faz parte da flora endógena, predominantemente na forma leveduriforme, e é encontrada particularmente nas áreas da pele que são ricas em produção de sebo. Fatores predisponentes incluem ambiente quente, úmido, sudorese excessiva, oclusão, altas concentrações plasmáticas de cortisol, imunossupressão, desnutrição e suscetibilidade geneticamente determinada. A doença é mais prevalente em adolescentes e adultos jovens. Manifestações clínicas: As lesões da tinea versicolor variam amplamente em cor. Em indivíduos brancos, elas são tipicamente eritêmato-acastanhadas, enquanto em indivíduos negros podem ser hipopigmentadas ou hiperpigmentadas. As máculas características são cobertas com uma escama fina. Muitas vezes, começam em uma localização perifolicular, aumentam e coalescem para formar áreas confluentes, mais comumente no pescoço, tórax superior, dorso e braços. Lesões faciais são comuns em adolescentes; as lesões ocasionalmente aparecem nos antebraços, dorso das mãos e púbis. Pode haver pouco ou nenhum prurido. As áreas comprometidas não se bronzeiam após exposição ao sol. Uma variedade papulopustulosa perifolicular pode ocorrer no dorso, no tórax e, às vezes, nas extremidades. Descrição da lesão: manchas e placas com descamação furfurácea distribuídas no tronco, na face e no pescoço. A denominação versicolor provém da variedade de cores que as lesões podem assumir, desde hipopigmentadas, eritematosas até acastanhadas ou marrons. Sinal de Zileri positivo é que a doença está em atividade. Diagnóstico diferencial: tinea versicolor deve ser distinguida de infecções por dermatófitos, dermatite seborreica, pitiríase alba e sífilis secundária. A tinea versicolor pode imitar distúrbios pigmentares não escalantes, como mudança pigmentar pós-inflamatória, se o paciente tiver removido as escamas ao esfregar. Foliculite M. globosa deve ser distinguida de outras formas de foliculite. Tratamento: O agente causador, no entanto, um saprófita humano normal, não é erradicado da pele, e o transtorno recidiva nos indivíduos predispostos. Terapia tópica adequada pode incluir um dos seguintes: suspensão de sulfito de selênio (XAMPU) aplicada durante a noite por uma semana, seguida de uma noite Viviane Alves- XVII por semana, por quatro semanas; um creme de imidazol ou terbinafina pode ser usado duas vezes diariamente por 2-4 semanas. Terapia oral pode ser mais conveniente e realizada com sucesso com cetoconazol ou fluconazol, 400 mg, repetida em uma semana, ou itraconazol, 200 mg/24 horas durante 5-7 duas a quatro semanas Episódios recorrentes continuam a responder prontamente a esses agentes. Terapia de manutenção com sulfeto de selênio, aplicado de um dia para o outro, uma vez por semana, pode ser usada. A pitiríase versicolor responde a uma variedade de agentes tópicos. Entretanto, uma vez que o curso da doença é crônico, recorrências são comuns e as alterações pigmentares demoram meses a anos para serem resolvidas. O xampu de sulfeto de selênio 2,5% ou cetoconazol a 2% é conveniente, barato, seguro e uma forma relativamente efetiva de terapia, especialmente em pacientes mais jovens. Deve ser aplicada uma fina camada sobre as lesões por 10 minutos antes de enxaguar, por 1 a 2 semanas, utilizando aplicações intermitentes como manutenção. O tratamento também pode ser realizado com medicamentos tópicos, como os azólicos, a terbinafina, entre outros, sob a forma de loção cremosa ou spray. O tratamento sistêmico é indicado nas formas extensas, utilizando, por via oral, cetoconazol por 10 dias, itraconazol por 5 dias ou fluconazol em doses semanais por 2 a 4 semanas.10 É importante lembrar que a hipocromia residual é comum e demora a desaparecer, e não deve ser confundida com recidiva. Em caso de dúvida, pode-se lançar mão do “sinal de Zileri”, que é o “craquelamento” ou descamação da lesão após a distensão rápida da pele. → Outras Monilíase Candidíase (monilíase) é uma infecção aguda ou crônica da pele, das membranas mucosas e, raramente, dos órgãos internos, causada por uma levedura do gênero Candida. Apesar de várias espécies estarem associadas a infecções em humanos, a Candida albicans é a causa mais frequente na grande maioria dos casos. Essa espécie de fungo não é um saprófita da pele, mas existe na microflora da cavidade oral, no trato gastrointestinal e na vagina. Torna-se um patógeno quando há alterações na defesa do hospedeiro, sejam localizadas ou generalizadas, permitindo a infecção invasiva. Recém-nascidos e lactentes são fisiologicamente suscetíveis à infecção por Candida, podendo manifestar-se como candidíase oral, candidíase relacionada a fraldas ou intertrigos. Candidíase oral- Trata-se de uma infecção da língua, palatos duro e mole, mucosas oral e gengival, podendo ser dolorosa ou não. É caracterizada por manchas ou placas pseudomembranosas, friáveis e que variam de cor branca a cinza sobre uma mucosa avermelhada (Figura 14). A candidíase oral pode ser adquirida durante a passagem pelo canal de parto infectado, durante o contato com a pele da mama ou da mão materna, ou por meio da esterilização inadequada das mamadeiras. O diagnóstico é frequentemente clínico e pode ser confirmado pela remoção cuidadosa das placas semelhantes a “leite coalhado” que, ao contrário do leite materno ou das fórmulas, Viviane Alves- XVII aderem-se à mucosa oral. A abordagem comum e, em geral, efetiva é a administração de 1 mL de nistatina em suspensão oral, nos cantos da boca, 4 vezes/dia, por 14 dias. Intertrigo candidiásico- Intertrigo é uma condição marcada por intenso eritema das dobras, incluindo a região axilar, face anterior do pescoço e região inguinal (Figura 16). O ambiente úmido e aquecidodas áreas intertriginosas favorece o desenvolvimento da infecção por Candida. O tratamento com antifúngicos tópicos (clotrimazol, miconazol, cetoconazol, entre outros), aplicados 2 a 3 vezes/dia, é suficiente. O uso de antibiótico por via oral deve ser feito apenas quando ocorrer infecção bacteriana secundária. Tanto na candidíase perineal quanto no intertrigo por Candida, o uso de associações está contraindicado, pois esses compostos geralmente contêm corticosteroides de média ou alta potência e antibióticos que podem ser absorvidos, causando efeitos colaterais indesejáveis. Viviane Alves- XVII DERMATITE DE CONTATO Dermatite de contato A dermatite de contato (DC) é uma resposta inflamatória da pele a estímulos externos (com ou sem a participação da luz), que se manifesta por um quadro de eczema agudo, subagudo ou crônico. Pode ter origem em um dano físico ou químico direto sobre a pele ou ser mediada por uma reação imunológica. De acordo com a etiopatogenia, a dermatite de contato é classificada em: dermatite de contato por irritante primário (DCIP), dermatite de contato alérgica (DCA), dermatite de contato fototóxica e dermatite de contato fotoalérgica. A DCIP é mais prevalente que a DCA tanto em crianças quanto nos adultos. Alguns autores assumem que, na infância, a pele é particularmente suscetível aos irritantes e que, por volta dos 8 anos de idade, a capacidade de irritação se igualaria à dos adultos. → Dermatite de contato por irritante primário É a dermatite causada pelo dano direto do agente irritante. A inflamação pode ser ocasionada por estímulos físicos ou químicos e é restrita ao local de contato. É o tipo mais prevalente, sendo responsável por 80% dos casos de DC. Os seguintes fatores são relevantes na fisiopatogenia da DCIP: • a concentração da substância (quanto maior a concentração, maior será o potencial irritante); • o tempo de exposição (quanto maior for o tempo de exposição, maior será o potencial irritante); • a espessura da camada córnea (quanto menor a espessura da camada córnea, maior será o potencial irritante); • a presença de dermatoses preexistentes (como a dermatite atópica, pois a quebra da barreira cutânea facilita a penetração e a ação de substâncias irritantes). Os irritantes podem ser divididos em absolutos e relativos: os primeiros são aqueles irritantes que danificam a pele ao primeiro contato, causando dermatite de contato irritativa aguda. Surge eritema com formação de vesículas e/ou bolhas, ardor e calor local com prurido discreto ou ausente. Nesse tipo de DC, a dor costuma ser mais importante que o prurido. São ocasionadas por ácidos ou álcalis fortes. Os irritantes relativos danificam a pele após contatos repetidos ou prolongados, causando lesões eritematosas, descamativas, com tendência à liquenificação e caracterizam-se por prurido intenso. Sabões, detergentes, toxinas bacterianas, urina e fezes são os principais agentes irritantes relativos. São exemplos frequentes a dermatite perioral do lactente, pela ação da saliva, e a dermatite de fraldas, causadas pela ação da urina e das fezes. Viviane Alves- XVII Dermatite de fraldas A dermatite de fraldas é o tipo de DCIP mais frequente na infância. A DCA na região da fralda, embora menos frequente, tem ganhado importância com a identificação dos corantes, dos mercaptocompostos e dos aditivos da borracha como potenciais alérgenos encontrados nas fraldas descartáveis. Epidemiologia: 7 a 50% dos lactentes, com pico entre 9 e 12 meses de idade. Etiologia: etiopatogenia é complexa e envolve múltiplos fatores, como a oclusão, a maceração, o dano friccional e os microrganismos, associados aos irritantes presentes na urina e nas fezes. Fisiopatologia: A oclusão produz aumento da umidade local e da permeabilidade cutânea e propicia a proliferação de microrganismos. Além disso, a oclusão também provoca um aumento do pH cutâneo, da atividade de enzimas como ureases bacterianas, proteases fecais, lipases e sais biliares, que potencializam o poder de irritação dessas substâncias. Do ponto de vista clínico, a dermatite de fraldas pode ser dividida em estágios. No início, poupa as dobras e afeta mais as superfícies convexas, como glúteos, grandes lábios e coxas. Manifestações clínicas: As lesões podem iniciar com eritema e progredir com maceração, escoriações, pápulas, erosões e ulcerações (dermatite papuloulcerativa de Jacquet) na sua forma mais grave. Tratamento: O principal objetivo do tratamento da DC é a identificação do agente causador e o seu afastamento. Na dermatite de fraldas, a limpeza suave, evitando lenços umedecidos e produtos perfumados, e o uso frequente de cremes de barreira podem minimizar a dermatite, assim como a troca frequente da fralda. Os corticosteroides tópicos são a primeira linha de tratamento para a DC. Os corticosteroides de baixa potência (como a hidrocortisona) são recomendados para áreas de pele fina, particularmente face, períneo e dobras, preferencialmente em aplicação única diária. Cuidado ao utilizar corticosteroides na região das fraldas, pois a área extensa e a oclusão são fatores importantes na absorção dessas substâncias. As associações de corticosteroides com outros medicamentos (antifúngicos, antibióticos) também devem ser evitadas nessa localização, pois podem sensibilizar ainda mais a região. Por outro lado, os corticosteroides de alta potência em pomadas são úteis para áreas de pele espessa e liquenificada, como mãos e pés. Viviane Alves- XVII Atopia Dermatite atópica- eczema atópico A DA é uma dermatose inflamatória de curso crônico e recidivante, de etiologia desconhecida e início precoce, caracterizada por prurido, xerose e lesões eczematosas. Epidemiologia: doença cutânea mais prevalente na infância. No Brasil, o estudo ISAAC (fase III) apontou prevalência de 8,2% em crianças entre 6 e 7 anos e de 5% entre adolescentes. Etiologia: A DA é um distúrbio genético complexo que resulta em defeito na barreira da pele, redução das respostas imunológicas inatas da pele e de respostas exageradas dos linfócitos T a alérgenos ambientais e micro-organismos que levam à inflamação crônica da pele. Fisiopatologia: Na fisiopatologia da DA ocorre uma complexa interdependência entre anormalidades das funções da barreira cutânea, mecanismos de resposta imunológica e alterações genéticas. Esses fatores determinam uma resposta de hipersensibilidade a elementos encontrados no meio ambiente. A fisiopatologia da DA inclui: 1. Deficiência na função de barreira cutânea em decorrência do metabolismo anormal de lipídeos, o que determina a pele seca. 2. Disfunção da imunidade cutânea inata (queratinócitos e células de Langerhans), com geração de sinais de ativação linfocitária para um desvio Th2 e consequente produção de IgE. 3. Alteração na microbiota cutânea – colonização por Staphylococcus aureus e Malassezia furfur. 4. Influência psicossomática que resulta na alteração do sistema nervoso autônomo, com aumento de mediadores de diversas células inflamatórias, como eosinófilos e leucócitos. Na DA, as células dendríticas apresentadoras de antígenos (APCs) da epiderme, como as células de Langerhans (CLs), exibem moléculas de imunoglobulina (Ig) E ligadas à superfície. Essas APCs desempenham um importante papel na apresentação cutânea de alérgenos às células T auxiliares do tipo 2 (Th2). Há acentuado infiltrado perivascular de linfócitos T, com monócitos-macrófagos ocasionais, em lesões agudas de DA. Encontram-se mastócitos em número normal, mas em diferentes estágios de degranulação. História clínica: Os critérios para diagnosticar DA são clínicos. A presença de prurido é essencial nessa doença. Deve-se realizar uma anamnese minuciosa, incluindo alergopatias associadas, história familiar de atopia e fatores desencadeantes. O curso da doença é em surtos, muitas vezes sem detecção