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CARTOGRAFIA E TOPOGRAFIA Unidade 1 – Elementos e Processos Fundamentais para a Comunicação Cartográfica 1. A ciência cartográfica · A prática de mapear antecede a escrita. · A Cartografia enquanto ciência autônoma surge após a 2ª Guerra Mundial. · Dois enfoques: · Prática humana para compreender/explorar o espaço. · Ciência sistematizada, com paradigmas e linhas de pesquisa próprias. · O mapa é mais do que registro estático: é sistema de signos que expressa visões de mundo. 2. O mapa na história da humanidade · Pré-história: registros gráficos em rochas; mapas como signos para sobrevivência (caça, pesca, moradia). · Evolução técnica: agricultura, navegação e industrialização exigiram novos mapas. · Povos antigos (chineses, indianos, gregos, indígenas) criaram cartografias próprias. · Séculos XVI e XVII: avanço europeu (portugueses, espanhóis, italianos, holandeses). · Mercator (1512–1594): projeção de Mercator; criação do termo “atlas”. · Problemas: mapas com dados fictícios ou exagerados para fins comerciais. · Século XX: guerras estimularam cartografia estratégica. · Arthur Robinson (1952): livro The Look of Maps → foco no usuário, integração Cartografia–Psicologia, surgimento do paradigma da comunicação cartográfica. 3. O paradigma da comunicação cartográfica · Mapa visto como canal de comunicação entre cartógrafo e usuário. · Modelo de Kolačny (1969): · Origem → mente do cartógrafo. · Meio → mapa (linguagem cartográfica). · Destino → usuário (interpretação). · Ruídos: símbolos pequenos, cores mal escolhidas, excesso de informações → prejudicam a leitura. · Limitações: usuários eram tratados como “caixas-pretas”, sem considerar cultura, subjetividade ou contexto social. 4. Visualização cartográfica · Anos 1980–1990: popularização dos computadores → qualquer pessoa pode produzir mapas. · Visualização: processo cognitivo de gerar imagens mentais a partir dos mapas. · Geovisualização: uso da visualização em pesquisa científica e análise espacial. · Interatividade: softwares (ex.: Google Maps, SIGs) permitem alterar camadas, escalas e símbolos em tempo real. · Modelos teóricos: · DiBiase (1990): quatro momentos do uso do mapa → exploração, confirmação, síntese e apresentação. · MacEachren (1995): “cartografia ao cubo” → três parâmetros: público, interatividade e função do mapa. 📌 Pontos-chave para estudo da avaliação · Definição de signo e mapa como sistema de signos. · Contribuição de Mercator (projeção e atlas). · Impacto da Segunda Guerra Mundial e de Arthur Robinson na sistematização da Cartografia. · Características do paradigma da comunicação cartográfica. · Conceito de ruídos cartográficos. · Diferença entre pensamento visual (pesquisadores) e comunicação visual (usuários comuns). · Conceito e importância da visualização cartográfica e da interatividade. · Os quatro momentos de uso do mapa: exploração, confirmação, síntese e apresentação. · Modelo do “cubo cartográfico” de MacEachren. Unidade 2 – Os Desafios da Cartografia na Representação da Forma da Terra 1. A forma da Terra · Desde a Antiguidade, vários povos buscavam compreender a forma do planeta. · Indícios da esfericidade: · Observação do horizonte e do desaparecimento de embarcações no mar. · Diferentes constelações visíveis em distintas latitudes. · Sombra da Terra sobre a Lua nos eclipses. · Pensadores gregos (Pitágoras, Aristóteles, Eratóstenes) já defendiam a ideia da Terra esférica. · Com o tempo, surgiram medições mais precisas do raio e circunferência terrestre, que embasaram navegações e o avanço da geografia. 2. Estratégias de orientação no espaço · O ser humano sempre precisou se localizar: da observação de astros até instrumentos sofisticados. · Instrumentos principais: · Bússola: orientação magnética baseada no campo terrestre. · Astrolábio: utilizado em navegações para medir ângulos dos astros. · Rumo e Azimute: · Azimute → ângulo medido no sentido horário a partir do Norte. · Rumo → ângulo em relação ao Norte ou Sul, limitado a 90°. · Podem ser transformados entre si. 3. Coordenadas geográficas · Sistema que permite localizar qualquer ponto na superfície da Terra. · Baseado em duas grandezas fundamentais: · Latitude → distância angular em relação à linha do Equador (Norte ou Sul). · Longitude → distância angular em relação ao Meridiano de Greenwich (Leste ou Oeste). · Permite precisão na navegação, cartografia e geoprocessamento. · Base para sistemas globais de localização, como o GPS. 4. Projeções cartográficas · Representar a Terra (superfície curva) em um plano exige projeções. · Principais tipos de projeção: · Cilíndrica: paralelos e meridianos em linhas retas; usada em cartas de navegação (ex.: Mercator). · Cônica: meridianos convergentes e paralelos em círculos concêntricos; adequada para médias latitudes. · Azimutal: projeção sobre plano tangente; usada em regiões polares. · Toda projeção implica distorções: área, forma, distância ou direção. 5. Representação e leitura do relevo · O relevo é representado em mapas por diferentes métodos: · Curvas de nível: linhas que ligam pontos de mesma altitude. · Hipsometria: uso de cores para representar altitudes. · Sombreamento (hillshade): simulação de iluminação para dar aspecto tridimensional. · Perfis topográficos: cortes que mostram a variação da altitude ao longo de uma linha. 6. Fusos horários · A Terra foi dividida em 24 fusos horários de 15° cada. · Meridiano de Greenwich é a referência (GMT/UTC). · Diferença de tempo é calculada em relação ao deslocamento longitudinal. · Ajustes políticos podem modificar o uso prático dos fusos em países ou regiões. 7. Sistemas de Informação Geográfica (SIG) · Revolução na cartografia moderna. · Permite coletar, armazenar, analisar e representar dados georreferenciados. · Principais modelos de dados espaciais: · Temáticos: ligados a fenômenos (ex.: uso do solo). · Cadastrais: dados administrativos, limites de lotes etc. · Redes: fluxos e conexões (ex.: transporte, energia). · Imagem: dados de sensoriamento remoto. · Modelos Numéricos de Terreno (MNT): representação 3D da superfície. 📌 Pontos-chave para estudo da avaliação · Indícios históricos da esfericidade da Terra. · Principais pensadores que contribuíram para essa compreensão. · Diferença entre Azimute e Rumo (e como transformá-los). · Definições de Latitude e Longitude. · Tipos de projeções cartográficas (cilíndrica, cônica e azimutal) e suas distorções. · Métodos de representação do relevo (curvas de nível, hipsometria, perfis, sombreamento). · Estrutura e funcionamento dos fusos horários. · Importância e aplicações dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). · Tipos de dados espaciais utilizados em SIG (temáticos, cadastrais, redes, imagem, MNT). Unidade 3 – A Visão Topográfica 1. Introdução à Topografia · Topografia: ciência aplicada que descreve e representa graficamente os acidentes naturais e artificiais de uma porção da superfície terrestre. · Baseia-se em medições diretas no terreno, sem considerar a curvatura da Terra (escala local). · Importância: obras de engenharia civil, levantamentos urbanos, rurais e ambientais. 2. Unidades de medida · Medidas lineares: metros, quilômetros. · Medidas angulares: graus, minutos e segundos (sexagesimais) ou gons (centesimais). · Diferença entre: · Precisão: grau de concordância entre medições repetidas. · Exatidão: proximidade em relação ao valor real. 3. Equipamentos e dispositivos · Tradicionais: trenas, bússolas, níveis. · Modernos: teodolitos, estações totais, receptores GPS/GNSS. · Avanços tecnológicos aumentaram a rapidez e a confiabilidade das medições. 4. Sistemas de referência · Definem a posição dos pontos na superfície da Terra. · Datum geodésico: modelo matemático que representa a forma da Terra. · Projeções cartográficas: · Cilíndrica, cônica, azimutal. · UTM (Universal Transversa de Mercator): amplamente usada em engenharia, divide o globo em fusos de 6°. 5. Trabalho topográfico · Conjunto de operações de campo e gabinete para representar o relevo. · Altimetria ou hipsometria: técnicas que medem diferençasde altura entre pontos. · Nivelamento: · Geométrico: mais preciso, usa níveis e miras. · Trigonométrico: utiliza ângulos e distâncias para calcular alturas. · Taqueométrico: método rápido, com menor precisão. · Perfis transversais e longitudinais: cortes que mostram variação de altitude ao longo de um eixo (estradas, canais, redes). · Curvas de nível: linhas que unem pontos de mesma altitude, fundamentais para leitura do relevo e projetos de engenharia. 📌 Pontos-chave para estudo da avaliação · Conceito de topografia e sua diferença em relação à cartografia. · Diferença entre precisão e exatidão. · Principais instrumentos topográficos (do tradicional ao moderno). · Conceito de datum geodésico e projeção UTM. · Tipos de nivelamento (geométrico, trigonométrico, taqueométrico) e suas aplicações. · Definição e aplicação de curvas de nível e perfis topográficos. · Importância da topografia em projetos de engenharia, planejamento urbano e meio ambiente. Questões de Revisão – Cartografia e Topografia Questões Objetivas (Múltipla Escolha) 1. Embora a cartografia seja uma prática milenar, sua sistematização como ciência autônoma ocorreu após a Segunda Guerra Mundial devido: a) Ao surgimento dos mapas digitais. b) Ao desenvolvimento de novos instrumentos de navegação. c) À adoção do paradigma da comunicação cartográfica. d) Ao uso da fotografia aérea na agricultura. e) À popularização do GPS. COMENTÁRIO: A partir da obra de Arthur Robinson (1952), a cartografia passou a ser compreendida como ciência, com base em testes empíricos e no modelo de comunicação entre autor–mapa–usuário. 2. Qual dos produtos cartográficos abaixo apresenta maior nível de detalhamento e é utilizado para edificações? a) Croqui b) Planta c) Carta-imagem d) Mosaico e) Globo COMENTÁRIO:A planta representa áreas muito pequenas em escalas grandes (detalhadas), como edificações e lotes urbanos. 3. Na cartografia, a escala ordinal permite: a) Diferenciar fenômenos sem hierarquia. b) Estabelecer medidas absolutas. c) Ordenar fenômenos em uma sequência hierárquica. d) Determinar proporções exatas entre valores. e) Representar apenas fenômenos qualitativos. COMENTÁRIO: A escala ordinal estabelece hierarquias (maior/menor, mais/menos suscetível), sem indicar valores numéricos absolutos 4. O globo terrestre é considerado uma das representações mais fiéis da Terra, mas seu uso é limitado por: a) Elevado grau de distorção. b) Dificuldade de transporte e acondicionamento. c) Falta de precisão em representar paralelos e meridianos. d) Baixo detalhamento das áreas urbanas. e) Escala sempre pequena. COMENTÁRIO: O globo é fiel à forma da Terra, mas pouco prático para manuseio cotidiano, diferente dos mapas planos 5. Sobre os Sistemas de Informação Geográfica (SIG), é correto afirmar que: a) São limitados apenas a análises estatísticas. b) Substituem completamente o levantamento topográfico de campo. c) Permitem integrar, manipular e analisar dados georreferenciados. d) São usados apenas para confecção de cartas militares. e) Não possuem relação com o geoprocessamento. COMENTÁRIO: Os SIGs reúnem dados de diferentes fontes, permitem análises espaciais complexas e automatizam a elaboração de mapas Questões Discursivas 6. Explique o papel do paradigma da comunicação cartográfica e como ele mudou a forma de compreender os mapas no século XX. O paradigma da comunicação cartográfica entende o mapa como meio de comunicação entre o autor e o usuário. Ele trouxe a noção de que a eficácia de um mapa depende da clareza da mensagem transmitida, da eliminação de ruídos e da consideração do repertório do usuário. Esse paradigma foi essencial para consolidar a cartografia como ciência no pós-guerra, aproximando-a da psicologia cognitiva e da comunicação visual. 7. Diferencie os seguintes produtos cartográficos: mapa, carta e planta, apresentando exemplos de uso para cada um. · Mapa: representação plana de grandes áreas da superfície terrestre (ex.: mapa político do Brasil). · Carta: geralmente em escalas maiores, com maior detalhamento técnico e precisão (ex.: carta topográfica do IBGE). · Planta: representa áreas muito pequenas com nível máximo de detalhe (ex.: planta de um edifício ou lote). Assim, pode-se dizer que “todo croqui, carta ou planta é um mapa, mas nem todo mapa é carta ou planta” 8. O que é a semiologia gráfica e qual sua importância na construção da linguagem dos mapas? A semiologia gráfica é a teoria desenvolvida por Jacques Bertin que define as variáveis visuais (cor, forma, valor, tamanho, orientação etc.) usadas para transmitir informações em mapas. Sua importância está em padronizar a linguagem cartográfica, garantindo que os mapas sejam compreendidos de forma clara, evitando ambiguidades e erros de interpretação. 9. Descreva as principais diferenças entre rumo e azimute como métodos de orientação no espaço. · Azimute: ângulo medido em relação ao norte, variando de 0° a 360°. · Rumo: ângulo medido em relação ao norte ou sul, limitado a 0° a 90°, devendo indicar também o quadrante (NE, SE, SO, NO). Ambos servem para orientação em levantamentos e navegação, mas o azimute é absoluto, enquanto o rumo é relativo a quadrantes. · 10. Cite e explique duas aplicações práticas da topografia na engenharia e em outras áreas do conhecimento. · Engenharia Civil: definição de perfis topográficos e curvas de nível para projetar estradas, drenagem e obras de infraestrutura. · Agronomia: delimitação de áreas para cultivo, análise de relevo e irrigação. · Medicina (exemplo adicional): uso do termo “topografia” para representar órgãos e estruturas anatômicas em exames de imagem