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Reflexão Teórica - Limites na Psicanálise
Ideias conceituais que você pode usar na reflexão teórica
Função do “não”: na psicanálise, o “não” é importante para marcar fronteira entre sujeito e outro,
entre o que pode e o que não pode, entre desejo interno e realidade externa/social. Sem esse
“não”, há uma fusão identitária, uma dificuldade de afirmação do eu. O “não” contribui ao
desenvolvimento do superego, da consciência moral.
Castração simbólica: não necessariamente no sentido literal, mas como limitação do desejo.
Reconhecer que não se pode ter tudo, que não se pode agradar sempre, que há exigências
externas (morais, sociais, simbólicas) que impõem limites.
Fronteiras psíquicas / integridade do self: quando os limites são frágeis, há confusão entre o self e
o outro, dificuldade em distinguir desejos próprios dos desejados pelos outros, tendência a agradar
exageradamente, medo de rejeição ou de abandono. Autores como Winnicott falam de “holding”,
contenção, da importância das funções do ambiente que sustentam a separação segura.
Transferência e contratransferência: na clínica, os limites são também postos pelo analista. É
função do analista sustentar os limites do setting, da frequência, dos acordos terapêuticos, do que
é e não é permitido na relação analítica. A paciente que tem dificuldade de dizer “não” a outros
pode também ter dificuldades de dizer “não” no setting terapêutico; talvez dependa muito do
analista pôr limites de forma clara, consistente, sem cair em complacência.
Mecanismos de defesa relacionados: idealização, introjeção, identidade narcisista deformada,
submissão, medo da crítica, culpa, identificação excessiva com expectativas alheias. Esses
mecanismos ajudam a manter a dinâmica de agradar compulsivamente, de excesso em presentes,
de não conseguir impor limites a si mesma.
Desenvolvimento do ego / maturidade emocional: impor limites, tolerar frustrações, dizer “não”, são
aspectos do amadurecimento psíquico, que implicam “renunciar” a gratificações imediatas, aceitar
a castração simbólica, diferenciar o self.
Relação com o objeto e vínculo objetal: pensar como o sujeito vê o outro (o que eu preciso dar
para ser amado? O que o outro espera de mim?) e o vínculo emocional, que muitas vezes é
pautado por expectativas e exigências inconscientes. Isso pode gerar uma repetição de agradar,
do “dar”, do excesso, para garantir vínculo ou amor.
Trechos e ideias aplicáveis
Freud — Superego, princípio de realidade e instâncias psíquicas: Freud argumenta que, no
processo edipiano, há internalização de proibições parentais / normas externas — essas
proibições vão se tornar parte do superego. A paciente que não consegue dizer “não” pode estar
submetida a um superego muito rígido ou idealizado, que internalizou expectativas de agradar, de
“fazer tudo certo”, e ao mesmo tempo sente culpa ou medo de desagradar.
O superego, em sua face punitiva, funciona impondo “nãos” internos — exige, critica, julga, pode
levar o ego a se submeter às expectativas externas em vez de escolher autonomamente.
Freud também enfatiza o conflito entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. O princípio
do prazer busca gratificação, evitar dor; o princípio da realidade impõe limites — adiar satisfação,
restringir comportamentos para se ajustar ao mundo externo. A paciente pode estar
excessivamente guiada pelo princípio do prazer de agradar, evitando o desprazer da rejeição ou
do conflito.
Winnicott — Verdadeiro Self, Falso Self, Fronteiras entre self e ambiente: Winnicott introduz os
conceitos de Verdadeiro Self e Falso Self: o Verdadeiro Self é a expressão autêntica das
experiências internas do sujeito, sua espontaneidade, sua identidade; o Falso Self é uma máscara,
uma adaptação às expectativas do ambiente que pode suprimir ou esconder o Verdadeiro Self.
Uma paciente que agrada demais, dá presentes, se molda aos desejos alheios talvez está atuando
de Falso Self para manter vínculo, evitar abandono ou rejeição, sacrificando necessidades
autênticas.
Fronteiras entre self e outro: Winnicott fala da importância de um ambiente suficientemente bom na
infância, que permita ao sujeito gradualmente diferenciar suas necessidades, seus desejos, de
modo que possa desenvolver autonomia e limites claros. Pode haver uma história de cuidado onde
o limite não foi bem estabelecido, de modo que ela nunca aprendeu a dizer não transitoriamente ou
estruturalmente.
Lacan — Castração simbólica, Lei do Outro, ordem simbólica: A castração simbólica, para Lacan,
significa aceitar que há uma falta, que não se pode ter tudo, que há limites que não se podem
transpor. Ela é fundamental para entrar na ordem simbólica, para que o sujeito tenha uma posição
de sujeito desejante, e não apenas de satisfazer o desejo do Outro. Dizer “não” pode implicar
tolerar essa falta, assumir que nem sempre o outro ficará contente, que o vínculo pode sofrer
tensão — mas isso é necessário para a autonomia subjetiva.
A Lei simbólica / Nome■do■Pai funciona como limite externo que permite ao sujeito internalizar
normas, diferenciar entre eu/outro, realidade imaginária/simbólica. Se essa função estiver
fragilizada, o sujeito pode depender fortemente do olhar do Outro, ter dificuldade para estabelecer
fronteiras.
Também o conceito de “contornos” ou “fronteiras psíquicas” aparece em textos que discutem o que
acontece quando faltam os contornos — há uma dificuldade de delimitar onde acaba o sujeito e
começa o Outro, o que gera uma sensação de invasão ou de ausência de privacidade psíquica.
Presentear em demasia / agradar pode funcionar como uma maneira de manter proximidade, de
evitar a angústia causada por separação ou limitação.
Como integrar esses trechos à sua reflexão
Faça uma comparação entre o ideal de superego internalizado da paciente e a dificuldade prática
de dizer “não” — como o superego rígido, ou o medo de desagradar, podem conduzir ao
auto-sacrifício e à dificuldade de autoafirmação.
Relacione Winnicott ao desenvolvimento do self autêntico: como os cuidados, limites, ambiente de
suporte permitiram ou não à paciente desenvolver um Verdadeiro Self capaz de expressar limites.
Use Lacan para pensar a dimensão simbólica do “não”: dizer não não é só recusar, é posicionar-se
no simbólico, reconhecer que há lei, que há falta, que nem tudo depende da vontade ou do gozo.
Pode gerar angústia mas é necessário para autêntico vínculo consigo mesma.
Discuta mecanismos de defesa: idealização, submissão, culpa. Estes ajudam a manter o excesso
de doação como um modo de evitar o sofrimento psíquico (ex: medo de rejeição).
Pense a técnica clínica: como o analista / terapeuta pode sustentar limites dentro da terapia
(setting, horário, responsabilidades, às vezes dizer “não” a pedidos exagerados) para que o
paciente experimente limites seguros.

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