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A História da Histeria 
 
Freud, no fim do século XIX e início do século XX, inovou a perspectiva da 
psicopatologia, trazendo um corpo de conceitos precisos para reconhecer a histeria e a 
conversão histérica, além de trazer à luz a diferenciação clara da neurose obsessiva e da 
angústia. Ao desenvolver a metapsicologia, contribuiu para a atual classificação das 
psicopatologias a partir da perspectiva estrutural, a saber: 
 
(a) neuroses de defesa ou transferenciais, nas quais se encontram as 
histéricas conversivas e fóbicas, as neuroses obsessivas e as neuroses de 
ansiedade; 
(b) as psicoses; 
(c) as perversões; e 
(d) as afecções psicossomáticas. 
 
Tais estruturas são determinadas a partir das fixações em fases do desenvolvimento 
psicossexual desde os primeiros anos de vida. 
 
A psicopatologia começou a se estruturar como clínica pelos médicos alienistas a partir 
do final do século XVIII. Constituiu-se por meio de um discurso científico, utilizando um 
método de observação e de organização da loucura, numa visão racionalista. Dessa forma, 
os médicos procuraram se apropriar da loucura como foco da clínica, numa tentativa de 
dominá-la. 
 
Os discípulos seguiam ao lado do mestre, aprendendo com ele, numa observação direta, 
o manejo dos distúrbios mentais. Esse modelo de clínica permaneceu no século XIX. No 
final do século XIX, com as pesquisas de Charcot, a clínica do olhar ganhou força quando 
ele passou a demonstrar para seus discípulos que podia introduzir e retirar sintomas 
utilizando o método hipnótico. Tais demonstrações tinham o intuito de mostrar que, no 
caso das histéricas, as paralisias de membros não provocavam lesões, ao contrário do que 
os médicos pensavam. Com essa descoberta, Charcot se consagrou como o mestre das 
histéricas. 
Pensar a psicopatologia a partir da psicanálise é um desafio, uma vez que a 
“psicopatologização” da subjetividade humana está cada vez mais presente no discurso 
hegemônico na área da saúde mental. 
 
 
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Psicopatologia contém a palavra grega pathos, que, em sua origem, possui vários 
significados. Dois conceitos, bastante diferentes, interessam-nos sobremaneira: o 
passional, a paixão, a passividade; e o patológico, a doença, presente no diagnóstico 
médico. A fronteira que separa estas duas perspectivas é frágil e varia de acordo com as 
épocas e as civilizações (MARTINS apud CECCARELLI, 2003, p. 13-25). 
Nessa perspectiva, o homem não é responsável por suas paixões, pois não as escolhe. 
Contudo, torna-se responsável pela influência delas nas suas ações, sendo possível julgar 
o aspecto ético do sujeito. Essa era a ideia defendida por Aristóteles. Assim, a virtude 
estaria naquele que age em harmonia com suas paixões, alcançando o 
equilíbrio logos/paixão. Estaria nessa balança o “crime passional”, assim como as 
grandes obras, tendo a paixão como impulsionadora desses dois opostos. 
Ao se tratar de psicopatologia na psicanálise, tem-se como implicação o desejo recalcado, 
impregnado de culpa que se inscreve na interação relacional, reflexo do imperativo 
original do sujeito. Por outro lado, a psicopatologia cunhada como doença tende a reduzir 
o mesmo como sendo o portador de um mal, ainda que possa ser apenas temporário. 
Em ambas as situações, o ‘apaixonado’ é depositário das mazelas que o envolvem no 
sentido social e cultural, um ser que denuncia a falta. Isso aconteceu nos manicômios de 
outrora, e agora, nas ruas, a céu aberto, na vida dos que estão marcados numa sociedade 
que não os vê. 
Ao esboçar os pilares da psicanálise, Freud desvelou a existência do inconsciente que se 
constrói a partir da realidade externa e abastece a realidade interna. As vicissitudes 
humanas ao longo dos séculos mostram o enfrentamento do sujeito diante da castração 
que remete à diferença, à capacidade de superar as frustrações e ressignificar o desejo. 
Um exemplo disso pode ser visto nos adolescentes que gritam pela falta do simbólico, 
buscam, na ficção violenta, inscrever-se em um laço social. Talvez estejam num 
movimento como o das histéricas de outrora, exibindo a paixão à flor da pele. Cabe ainda 
ressaltar que o imprevisto da paixão, acima descrito, explica-se pelo estranho 
(Unheimliche), ou seja, o estranho que é familiar e também pela alteridade intrínseca na 
estrutura subjetiva do sujeito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A família e a subjetivação na contemporaneidade 
Se, de um lado, a Ética a Nicômaco, de Aristóteles (a ética das virtudes) é uma ética para 
todos e questiona o que é bom ou o bem e, por outro lado, a ética de Kant é uma ética do 
imperativo categórico universal (a ética dos deveres), a ética da psicanálise ocupa-se da 
singularidade da experiência humana, em um imperativo original. Nesse sentido, trata-se 
de uma ética do bem dizer gerada na clínica psicanalítica, relativa ao campo da 
linguagem. É uma prática que envolve o discurso do analista, do suposto saber, no qual o 
desejo se implica eticamente, não como desejo de fazer o bem, mas como um operador 
de um discurso e, pelo lado do analisante, há uma relação da ação do sujeito com o desejo 
que o habita. Assim sendo, o inconsciente, objeto de estudo da psicanálise, implica-o em 
seus atos ao revelar as inscrições do desejo nos sintomas, atos falhos, chistes, sonhos, 
lapsos e esquecimento (AZENHA, 2011). É o desejo recalcado que se representa nessas 
facetas. 
Para a psicanálise, o agente da castração simbólica é o pai e, nesse sentido, fica mais 
acentuada do que revelada a verdadeira função do pai que é, essencialmente, unir (e não 
opor) um desejo à Lei (AZENHA, 2011, p. 67). 
O enfraquecimento da figura paterna nas novas configurações familiares coloca em 
xeque, de forma inadvertida, a psicanálise, atribuindo-lhe um caráter ultrapassado. Na 
contemporaneidade, os novos modos de relações familiares são apontados como 
indicadores do declínio da função paterna, todavia é a introdução do terceiro na relação 
dual mãe-bebê que barra o gozo do sujeito e o coloca diante da realidade e da cultura. 
Retomada por Lacan, em 1938, a hipótese freudiana da mudança de relações do homem 
com o pai, nas representações da função paterna e no lugar de filiação como núcleo do 
sintoma social em nossa cultura tem gerado discussões em torno do enfraquecimento do 
significante pai e de seus efeitos nas formas de subjetivação dos sujeitos modernos 
(AZENHA, 2011, p. 67). 
É necessário distinguir claramente os conceitos de “função paterna”, na psicanálise, e de 
“imago social do pai”, na cultura. Para Roudinesco (apud AZENHA, 2011), a imago 
encontra-se relacionada à imagem internalizada da figura paterna, ao passo que a função 
diz respeito à ordem simbólica e independe da presença ou ausência do pai. Por função, 
compreende-se o exercício de uma nomeação que permite à criança ter acesso a uma 
identidade. No entendimento de Rodulfo (apud VITORELLO, 2011), as funções 
nomeiam os implicados no advir do sujeito, ou seja, aqueles que no processo de 
constituição psíquica cumprem a função materna, a função paterna e a função de irmãos. 
 
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Não restam dúvidas das grandes transformações da figura paterna no transcorrer da 
história. O declínio do sistema patriarcal na modernidade acelerou o enfraquecimento da 
autoridade do pai e, com isso, as relações sociais e subjetivas sofreram grandes 
transformações. 
Há no sujeito formas de subjetivar de acordo com o meio, familiar e social, em que ele se 
constitui. De outro modo, a cultura e a época em que o sujeito vive também definem nele 
as formas de subjetivação. Na Antiguidade, o poder era prerrogativa do homem, o qual 
ocupou o papel central na família. O direito era muito limitado para as mulheres e as 
crianças. Durante a Idade Média, a vida das crianças piorou e as mulheres estavam sob o 
domínio doshomens. Nesse período, a guerra era o principal modo de relação social. Em 
vista disso, a liberdade de expressão das pulsões e da gratificação dos impulsos se 
exacerbou nessa época em que as mulheres eram vistas como objeto sexual, sujeitas aos 
ímpetos dos homens. No período medieval, não havia restrição de circulação da criança 
no mundo adulto, pois não havia ainda uma diferenciação entre adultos e crianças, nem 
as famílias eram responsáveis pela educação delas. 
Importantes transformações passaram a ocorrer quanto à estrutura social e aos modos de 
estruturação da personalidade no final da Idade Média e início da Modernidade. A 
estrutura social monarquista, que se instaurou a partir do século XVII, elege o pai como 
“o lugar tenente de Deus” (BADINTER apud VITORELLO, 2011, p. 9), tornando-se o 
sucedâneo do rei na família. A família constituída no sistema patriarcal, com sua 
estruturação hierarquizada e vertical, não estava fundada nos laços afetivos, tampouco as 
crianças ocupavam o lugar afetivo que têm hoje para os adultos. De acordo com Arriès 
(1981), nesse século, surge, nas classes dominantes, a primeira concepção real da 
infância. O adulto passa, pouco a pouco, a se preocupar com a criança, porque ela é um 
ser dependente e fraco. A palavra “criança” passou a designar a primeira idade de vida, a 
idade da necessidade de proteção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O sintoma e o diagnóstico psicanalítico 
A psicanálise torna-se, desde sua descoberta por Freud, um balizamento de escuta para a 
cura dos sintomas do sofrimento. Sintomas que vêm expressar, por meio de uma metáfora, 
a verdade do sujeito. Há uma relação de afetos, que mantém a produção de sintomas com 
a verdade e que abarca um “saber” inconsciente sobre o sujeito. Desse modo, o sintoma 
evidencia algo que tem uma significação e que está relacionado à história de cada um. 
Assim, não se pode perder de vista as relações do sintoma com a estruturação subjetiva 
do sujeito (VITORELLO, 2011). 
Para Rodulfo (apud VITORELLO, 2011), o discurso familiar é para o sujeito o “tesouro 
de significantes”, lugar de onde retira as significações para sua inscrição no universo 
simbólico. Ao salientar a importância do “mito familiar”, o autor diferencia-o de história 
familiar. O mito diz respeito ao lugar ocupado pela criança na família, sua posição em 
relação ao campo desejante dos pais, incluindo tanto os processos ou tramas imaginárias 
(as fantasias e o brincar) como as funções parentais (materna, paterna, dos irmãos). Muito 
tem sido discutido sobre as funções parentais e as novas configurações familiares na 
contemporaneidade. Como identificar esses conflitos no sujeito? 
Na compreensão de Dor (1994, p. 9), “o diagnóstico psicanalítico remete à dimensão de 
um embaraço técnico no campo do inconsciente” ao se confrontar com a prática 
psicanalítica e sua investigação. Nessa perspectiva, há uma dificuldade de balizamento 
ao utilizar um método dependente de “ferramentas” subjetivas. O psicanalista trabalha 
com incertezas ao escutar a narrativa histórica do paciente. Uma narrativa que, por vezes, 
entra em ressonância com sua própria história. 
Segundo Dor (1994, p. 13), 
[..] diagnóstico psicanalítico difere do diagnóstico médico. Existe no diagnóstico 
psicanalítico um paradoxo: por um lado, a necessidade de estabelecer um diagnóstico que 
balize o tratamento e, por outro, a impossibilidade de fazê-lo precocemente, uma vez que 
ele só poderá se delinear no transcurso da análise. 
O diagnóstico médico visa, inicialmente, determinar a natureza de uma afecção ou uma 
doença, a partir de uma semiologia. A seguir, objetiva a classificação dos sintomas, que 
permite localizar um estado patológico no quadro de uma nosografia. Para o autor, o ato 
psicanalítico não pode se apoiar prontamente na identificação diagnóstica como tal. Uma 
interpretação psicanalítica não pode se constituir, em sua aplicação, como pura e simples 
consequência lógica de um diagnóstico, já que o sintoma tem múltiplas faces. 
 
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A técnica de investigação que o analista dispõe é a associação livre do paciente e a atenção 
flutuante, e é na dimensão do dizer e do dito que se definirá o campo de investigação 
psicanalítica. Como o espaço de palavra está saturado de “mentira” e tem o imaginário 
como parasita, a avaliação psicanalítica é essencialmente subjetiva e deve buscar desvelar 
a verdade do desejo. Ao considerar as incertezas encontradas no balizamento do 
diagnóstico psicanalítico, leva-se em conta a singularidade, a “composição” do mundo 
interno e do mundo externo, da realidade e da presença do outro. 
 
O estranho e a alteridade contemporânea 
Em suas descobertas analíticas, Freud interessou-se pelo tema do “estranho” no início do 
século XX, constatando que o estranho era um tema negligenciado no ramo da estética, 
uma vez que o enfoque, em seu tempo, era dado ao estudo da beleza. A temática do 
estranho, captada por Freud, constituiu-se como um assunto gerador de polêmica e de 
constrangimento, o qual a sociedade, em geral, evitava e ainda evita abordar. O tema do 
“estranho” foi aprofundado por Freud no texto intitulado Das Unheimliche, de 1919. 
Após pesquisa do sentido da palavra Unheimliche (estranho), em várias línguas, Freud o 
definiu como assustador e familiar, que se pode inferir também como lugar estranho (que 
pode se articular à ideia de uma pessoa desorientada no ambiente) estrangeiro, que pode 
dar a ideia de alguém vindo de outro lugar (THONES; PEREIRA, 2013). 
É importante ressaltar que ele buscou seu significado nos fenômenos que causam 
estranheza. Assim, constatou que entre os exemplos de coisas assustadoras existe uma 
classe em que o elemento que amedronta pode se mostrar como algo recalcado que 
retorna. Contudo, o estranho não é nada novo ou alheio ao sujeito, mas algo que é familiar 
e há muito nele instalado, sendo que somente teria se alienado de sua consciência por uma 
operação de recalcamento (THONES; PEREIRA, 2013). A partir disso se pensa na 
conexão do estranho com a alteridade, ou seja, há um enlaçamento do estranho com a 
diferença, com a alteridade, com o outro da relação. 
O sentimento do estranho no âmbito social se apresenta como pendular, relativo e 
relacional; oscila entre sentimentos amorosos e hostis, entre a representação de si mesmo 
e a representação dos outros. Portanto, o estranho se constitui como um território minado. 
Muitas são as definições e as relações que se fazem em torno dessa paradoxal categoria, 
na qual se busca compreender sobre um afeto e uma representação. O estranho mantém 
íntima relação com o que é próprio, aparecendo, assim, como o duplo do mesmo. 
 
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O duplo constitui, para Freud no seu ensaio sobre o estranho, um componente psíquico 
de fundamental importância. Rank (apud FREUD, 2006) constata que o duplo, como 
negação do poder da morte, se torna uma segurança para o sujeito contra a destruição do 
eu. As produções literárias de ficção da época, observadas por Rank, segundo Freud em 
1914, indicavam a correlação direta do escrito com o psiquismo do escritor. Freud 
aprofundou essa noção de relações contra a castração na linguagem dos sonhos e no 
narcisismo primário. A partir de Freud, a psicanálise vem desvendando a topologia do 
sujeito de tal forma que se pode afirmar hoje, com segurança, que toda forma de expressão 
do sujeito guarda relação intrínseca com o mesmo. Todas as representações se mostram 
por meio do enunciado do discurso e no discurso do enunciado, como afirma Lacan. 
Nesse sentido, o duplo ocuparia o espaço da sombra, dos fantasmas que retornam, dos 
reflexos perdidos, de sujeitos que na ficção procurariam persistir à morte. 
As mudanças na estrutura familiar da contemporaneidade, bem como a crise no 
conhecimento e o fim das certezas ou verdades absolutas surgem como possíveis causas 
de uma desorganização sociale violência sem precedentes. Tem-se a impressão de uma 
ruptura do laço social e o fim das referências simbólicas, o fim da função e também da 
imago paterna. Para Cecarelli (2010), cada época tem a sua própria leitura de mundo, não 
sendo uma melhor que a outra. Desse modo, uma verdade ou um comportamento dura até 
que outra verdade venha sobrepô-la. Em Totem e Tabu, Freud (1914) traz o conceito 
de Weltanschauung, como visões de mundo às quais o homem recorreu ao longo do 
processo evolutivo: animista, religiosa e científica. Tais visões de mundo acompanharam 
a necessidade de proteção através do amor para aliviar o sofrimento psíquico de cada 
época. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações finais 
Com os estudos freudianos, desvelou-se a falsa soberania da consciência marcada pelas 
forças pulsionais sob a determinação do inconsciente. Dessa forma, a psicanálise entende 
a psicopatologia a partir dos conflitos que se estabelecem entre o inconsciente e o 
consciente do sujeito, fruto de seu imperativo original. Por essa razão é chamado de 
psicopatologia psicanalítica. A variação ou o grau desse conflito indica o tipo de 
psicopatologia: as neuroses histéricas, fóbicas, obsessivas, de ansiedade; as psicoses; as 
perversões; as afecções psicossomáticas. 
Considera-se que o modo singular de subjetivação do sujeito responde ao meio familiar 
e social em que ele se constitui, bem como a implicação cultural de sua época. Na 
atualidade, no mundo globalizado, a busca de normatização de comportamentos vem 
gerando uma padronização da normalidade e transformando a singularidade em 
anormalidade. Em vista disso, são criadas regras de procedimentos a partir de parâmetros 
 
que não levam em conta a particularidade da dinâmica pulsional do sujeito. A tão falada 
globalização da atualidade, ao produzir a subjetividade que lhe é própria, arrasta consigo 
o padecimento psíquico na forma de mal-estar, fruto das marcas da sociedade e desse 
momento histórico. Assim sendo, acredita-se que o sofrimento psíquico impingido à 
humanidade atual culminará numa reorganização para uma nova visão de mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Histeria 
 
A psicanálise começou tratando do problema dos sofrimentos neuróticos histéricos que o 
médico tentava diminuir ou eliminar, e não pela construção de um sistema teórico — seja 
empírico seja especulativo — sobre a organização do psiquismo humano. Farei, aqui, um 
pequeno desenvolvimento histórico, que vai dos dados empíricos e das formulações da 
psiquiatria sobre a histeria, na época de Freud, até as principais formulações freudianas 
sobre esse problema. Será possível mostrar de que modo as formulações teóricas da 
psicanálise freudiana são exigências de solubilidade de problemas empíricos, apoiadas, 
no entanto, em concepções fundamentais especulativas que constituem a própria 
metapsicologia. Tratase, aqui, de buscar no texto de Freud a confirmação destas hipóteses, 
mostrando a presença e a inserção destes conceitos ficcionais que contribuíram para 
reformular o modo de compreensão das psicopatologias. Quando jovem, Freud desejava 
manter-se no laboratório de fisiologia de Brücke, a quem “venerava acima de tudo” 
(Freud, 1925d, p. 58), até que, em 1882, o próprio Brücke o “exortara de forma incisiva, 
visto [sua] péssima situação material, a abandonar a carreira teórica” (Ibid., p. 58). 
 
Freud abandonará o instituto de fisiologia em junho de 1882, ingressando no Hospital 
Geral de Viena como aspirante, e, vagarosamente, afastar-seá dos problemas aos quais se 
dedicara até então, a saber, os relacionados à constituição anátomo-fisiológica do sistema 
nervoso. Entrando no Hospital Geral de Viena, Freud encontra doentes dos mais variados 
tipos, entre eles os psiquiátricos, que estão no serviço sob a direção de Meynert, “cuja 
obra e personalidade, ainda enquanto estudante, o tinham já cativado” (Ibid., p. 58). 
 
A psiquiatria alemã considerava, grosso modo, que as doenças das quais se ocupava eram 
causadas por algum dano no sistema nervoso, constitucional ou devido a uma lesão ou a 
uma inflamação. É neste ambiente que Freud se forma e, como pesquisador, começa a se 
aproximar do problema das histerias. Nele encontra Breuer, que já era um médico 
extremamente bem-sucedido e de renome, que se torna para ele um amigo, conselheiro e 
protetor. 
 
Nesse momento, Freud, ainda residente de medicina, não tinha seu próprio consultório, 
mas Breuer tem pacientes histéricas, o que colaborou para aproximar Freud desse 
problema. Após dois anos de trabalho junto aos doentes dos nervos no Hospital Geral de 
Viena, Freud resolve pedir uma bolsa para seguir seus estudos em Paris, junto a Charcot, 
no ano acadêmico de 1885-86. Para ele, o aprendizado numa universidade alemã chegara 
já a seu termo, enquanto que “a escola francesa de neuropatologia oferecia muito de novo 
e singular em sua modalidade de trabalho” (Freud, 1956 [1886], p. 5); mais ainda, a falta 
de diálogo efetivo entre a psiquiatria alemã e a francesa resultava num julgamento 
negativo das propostas de Charcot, o que ele via com reservas. 
 
 
 
 
 
 
 
É com tal quadro em mente que Freud resolve ver de perto o que o psiquiatra francês 
estava realizando: “... aproveitei com entusiasmo a oportunidade [de uma bolsa de 
estudos] que me era oferecida para formar, com minha própria experiência, um juízo 
fundado sobre as mencionadas séries de fatos”. (Ibid., p. 5-6) A passagem de Freud por 
Paris marcou uma virada na história da psicanálise, pois o colocou na rota do método de 
tratamento psicanalítico. O próprio Freud comenta o impacto que Charcot teve na sua 
vida intelectual: Charcot, que é um dos maiores médicos cuja razão confirma o gênio, 
está simplesmente demolindo minhas concepções e meus planos. Aconteceu-me sair de 
seus cursos como se eu saísse de Notre-Dame, pleno de novas idéias sobre a perfeição. 
Mas ele me esgota e, quando eu o deixo, não tenho nenhuma vontade de trabalhar nos 
meus próprios trabalhos, tão insignificantes; eis três dias inteiros em que não tenho nada 
a fazer, e não sinto nenhum remorso. A semente produzirá seu fruto? Eu ignoro; mas o 
que sei é que nenhum homem teve tanta influência sobre mim. (Freud, 1960a, p. 197, 
carta de 24/11/1885). 
 
A história da medicina no século XIX concebe, inicialmente, a histeria não como um 
problema médico, mas moral. A histeria, com seus sintomas clássicos, não é propriamente 
uma doença, pois não há, nos exames, nenhum índice de lesão ou inflamação do sistema 
nervoso; trata-se, portanto, muito mais de um tipo de teatro ou fingimento, cujo objetivo 
é chamar a atenção, ou um pretexto para fugir das responsabilidades da vida, o que não 
constitui um problema médico, mas sim moral. 
 
No entanto, no correr desse século, algumas mudanças fundamentais tornam possível 
considerar a histeria como um problema médico. Em 1850, Paul Briquet (1796-1881) 
publica seu Traité clinique et thérapeutique de l’hystérie, em que define a histeria como 
“uma neurose do encéfalo cujos fenômenos aparentes consistem principalmente na 
perturbação dos atos vitais que servem à manifestação das sensações afetivas e das 
paixões” (Ellenberger, 1994 [1970], p. 174). Essa definição parece afastar aquilo que a 
história antiga da medicina vinha considerando como a base da histeria, ou seja, como 
sendo causada por desejos sexuais frustrados. Ao final do século XIX, encontramos 
também a defesa da hipótese de que a histeria é causada por uma cisão na personalidade 
do paciente. 
 
A teoria que afirma estar a histeria relacionada com desejos sexuais frustrados jamais 
chegou a ser totalmente abandonada. Charcot irá se apoiar, mais tarde, nessas concepções 
de Briquet, recusando-se a reduzir a histeria a uma neurose sexual, ainda que 
reconhecesse que o componentesexual tinha um grande papel na vida de seus pacientes 
histéricos (Ibid., p. 175). Quando Freud chega a Paris, a histeria já é um problema médico 
cuja gênese é atribuída à hereditariedade, às lesões ou inflamações do sistema nervoso 
que causam dano ou disfunção de seu funcionamento. 
 
 
 
 
 
Freud faça conjugar diversas concepções, a saber: 
 
1) o sintoma histérico pode ser explicado em função de sua origem psicoafetiva, 
ainda que não seja descartada a necessidade de que exista um organismo 
(biológico) predisposto a ser assim afetado, é aos fatores de ordem psíquica que a 
psicanálise credita a gênese desses sintomas; 
2) esses têm uma estrutura análoga às sugestões pós-hipnóticas, e devem, portanto, 
ser considerados como efeitos de representações psíquicas inconscientes; 
3) o tratamento por sugestão hipnótica está baseado na relação que o paciente tem 
com o médico e é este o fundamento que explica as curas obtidas por esse método, 
ou seja, o reconhecimento do fenômeno da transferência; 
4) o uso do método hipnótico, além de não ser lá muito eficaz, escamoteia o 
verdadeiro motor do processo de cura que se obtinha por meio da hipnose e do 
método catártico, a saber: a transferência. Podemos, assim, compreender o 
afastamento que Freud realiza face ao paradigma neuroanatômico, de localização 
estrita ou disfunção, para a explicação das histerias. 
 
Em vez de considerar a histeria como sendo fruto de uma degeneração do sistema 
nervoso, na qual a hereditariedade congênita tem papel central, e cujo resultado seria uma 
dissociação psíquica entre idéias conscientes e inconscientes, Freud dirá que a 
psicanálise. 
 
Em 1888, quando Freud escreve o verbete Histeria para um dicionário de medicina geral, 
ele ainda a apresenta muito mais como uma “anomalia constitucional do que como uma 
afecção produzida” (Freud, 1888b, p. 57). 
 
A terapia consiste, pelo lado profilático, em tentar evitar, num paciente com predisposição 
histérica, a manifestação da doença. Por isso, deve-se “desaconselhar que [o paciente com 
predisposição] submeta seu sistema nervoso a trabalhos excessivos, tratar a anemia [...] 
e, por último, reduzir o significado dos sintomas histéricos leves” (Ibid., p. 62). 
 
Por outro lado, o tratamento dos sintomas histéricos efetivos, para os quais o método 
catártico de Breuer é o mais eficaz, “consiste em reconduzir o enfermo, hipnotizado, à 
pré-história psíquica do padecer, levando-o a confessar, na ocasião psíquica, a raiz da 
qual se gerou a perturbação correspondente. Este método terapêutico é bem recente, mas 
tem mostrado êxitos terapêuticos que não se encontra de outro modo.” . 
 
A suposição da existência de forças psíquicas em conflito no interior de um mesmo 
psiquismo, responsáveis, na sua composição, pela produção dos sintomas, não deriva 
diretamente da observação. Que conflitos sejam reconhecíveis não significa que forças 
psíquicas sejam dados empíricos. 
 
 
 
 
 
 
A história da física já mostrou o caráter especulativo da noção de força. A concepção de 
forças psíquicas como sendo a causa dos fenômenos psíquicos é uma analogia cuja 
eficiência, para Freud, justifica o uso. A opção metodológica pela procura de forças para 
explicar os fenômenos da natureza, incluindo o homem, corresponde a uma especulação 
metodológica bem anterior a Freud. Sua formação junto a Brücke nos faz lembrar um 
princípio metodológico de pesquisa. 
 
É justamente nesse sentido que Freud postulará as pulsões:6 forças psíquicas, 
equivalentes em dignidade às forças físico-químicas. O percurso que vai da visibilidade 
empírica, proposta por Charcot, até a formulação do primeiro dualismo pulsional, 
proposto por Freud, pode ser aqui rapidamente esboçado. Freud observou, na escuta de 
seus pacientes em sugestão hipnótica, que o trauma procurado era invariavelmente de 
origem sexual e ocorrido na infância, o que o levou a elaborar sua teoria sobre as histerias 
baseado num acontecimento factual: a sedução. 
 
O decorrer de suas pesquisas mostraram-lhe duas coisas fundamentais: primeiro, que o 
abuso sexual factual lembrado remetia a momentos infantis remotos, fazendo-o supor a 
existência de uma sexualidade infantil, ou seja, levando-o a conceber a sexualidade num 
sentido muito mais amplo; segundo, ele percebeu que suas histéricas mentiam, que elas 
contavam fatos fantasiados como se fossem reais, o que o obrigou a abandonar a sua 
neurótica (sua teoria sobre as neuroses baseada na sedução real) e a propor a noção de 
fantasia. 
 
Como as fantasias dos pacientes se apresentavam como tendo o mesmo poder dos 
acontecimentos reais, tanto um como outro teriam a capacidade de produzir traumas 
psíquicos. Assim, Freud foi obrigado a conceber o conflito, causa do sintoma, como um 
problema produzido no interior do psiquismo. Se antes tínhamos um conflito sexual entre 
um desejo adulto e um sentimento infantil, agora temos, um interesse sexual interno que 
parece atacar o próprio paciente. 
 
No desenvolvimento futuro da psicanálise, Freud postulará a existência nos neuróticos 
(cujo modelo é a histeria) de duas pulsões que se colocam em conflito: a pulsão sexual e 
a de autoconservação. Ao supor um inconsciente movido por pulsões em conflito, Freud 
ultrapassou o nível puramente descritivo dos fatos, acrescentando-lhes especulações 
dinâmicas. Uma coisa é admitir a existência do inconsciente como uma instância diferente 
da consciência, fato comprovável empiricamente, por exemplo, pela análise dos atos 
falhos, outra, totalmente diferente, é supor que o inconsciente é animado por forças e 
energias psíquicas. 
 
 
 
 
 
 
 
Mas por que Freud especula? Ele diz claramente ter passado “da apresentação descritiva 
à concepção dinâmica” (Freud, 1916-17, p. 400), pois considera que a psicologia que se 
mantém apenas nesse nível descritivo – ou noutros termos, apenas no campo da 
consciência –, jamais obterá uma explicação completa da série de determinações causais 
que produzem os fenômenos psíquicos. 
 
No entanto, ao considerar um inconsciente movido por pulsões, enquanto causas últimas 
atrás das quais nada de anterior deve ser suposto, ele pode fornecer essa explicação: 
Enquanto a psicologia da consciência não pode jamais sair destas séries lacunares e 
depende manifestamente de outra coisa, a concepção a partir da qual o psíquico é em si 
inconsciente permitiu fazer da psicologia uma parte, semelhante a todas as outras, das 
ciências naturais. (Freud, 1940a, p. 20-1) 
 
A atitude especulativa de Freud está em função da procura da solução de problemas 
empíricos, ou, noutros termos, de problemas clínicos. Até mesmo o conceito mais 
especulativo da psicanálise freudiana, a pulsão de morte, foi elaborado na tentativa de 
explicar a produção de certos fenômenos psíquicos observáveis nos tratamentos 
psicanalíticos: ... não é por causa dos ensinamentos da história e da experiência da vida 
que nós preconizamos a hipótese de uma pulsão de agressão e de destruição particular no 
ser humano, mas isto se fez sobre a base de considerações gerais às quais nos conduz a 
apreciação dos fenômenos do sadismo e do masoquismo. (Freud, 1933a, p. 187). 
 
Para Freud, o ponto de vista dinâmico está fundado sobre uma mitologia das pulsões 
(Freud, 1933a, p. 178), quer dizer, sobre um conceito que é um mito e, como todo mito, 
indecidível empiricamente. O objetivo dessa ficção teórica não é oferecer uma hipótese 
que se espera verificável futuramente como verdadeira ou falsa – em função de sua 
correspondência com um referente na realidade objetiva dos fatos –, mas sim de ser útil 
para fornecer uma explicação e/ou resolução dos problemas aos quais se aplica e, nesse 
sentido, tornar possível agir sobre eles. Ou seja, essa especulação tem, para Freud, um 
valor apenas heurístico e não um valor objetivo (empírico). Isso não constitui uma 
inovação na história da ciência,mas a reiteração de uma determinada metodologia de 
pesquisa, claramente reconhecível em diversos cientistas do século XIX, importantes para 
a formação de Freud. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Histeria 
 
O que é histeria e quais os principais sintomas? 
 
Segundo a psicanálise, a histeria é uma manifestação sintomática que faz parte da neurose. 
Neste artigo trataremos da conceitualização do sintoma e suas principais causas e 
manifestações. 
 
Problemas psicológicos 
 
A psicologia estuda o comportamento humano e seus processos mentais, assim como o 
que os motivou. Parte do preceito de um mundo subjetivo de cada um, respeitando a 
existència do outro como única. 
A histeria começou a ser percebida e estudada por Freud entre 1895 e 1969. Naquela 
época, não existia uma explicação plausível ou alterações orgânicas que a justificassem. 
Ela foi, então, encaixada no grupo das neuroses. Neste artigo falaremos sobre sua 
definição e de como ela se manifesta. 
O que é a histeria? 
Segundo a definição de Freud, que conformou a teoria da psicanálise, a histeria é uma 
variante anormal do comportamento, com origem totalmente psíquica. É marcada 
por uma atitude exagerada e escandalosa. 
 
 As pessoa tem reações emocionais que beiram o teatral e é capaz de converter 
conflitos psíquicos em problemas físicos. Normalmente, a histeria está associada a 
mulheres, mas também pode se manifestar em homens. 
 
O histérico finge doenças inexistentes, sabe que seu sofrimento não é real, mas o 
utiliza para escapar de uma situação que para ele é insuperável ou apenas para 
satisfazer uma necessidade. Ao longo de suas observações e estudos voltados 
principalmente para o famosos caso "Ana O.", Freud identificou que as manigestações 
físicas eram conversão de lembranças reprimidas de grande intensidade emocional. Nos 
dias atuais, este mecanismo de conversão facilmente seria entendido através do conceito 
de psicossomática. 
 
 
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Vale ressaltar que as manifestações histéricas de alguém, embora demonstrem muita 
teatralidade, não são voluntárias e nem controláveis. Aquele que sofre de uma crise de 
histeria pode enfrentar inúmeros prejuízos físicos, psíquicos e sociais, até que seja 
possível, no processo da psicoterapia, a elaboração de seus conteúdos reprimidos, 
sentidos como perturbadores. 
Quais são os sintomas da histeria? 
Uma das características da histeria é a capacidade de imitar os sintomas de praticamente 
qualquer doença. Em estágios mais avançados pode até resultar em quadros de paralisia, 
surdez ou cegueira. 
Os sintomas da histeria podem ser divididos em dois grandes grupos: 
 dissociativos: quando acontece uma espécie de rompimento com a consciência, 
causando desmaios, amnésias, automatismos, entre outros. 
 conversivos: são as manifestações físicas dos conflitos psíquicos. Podem aparecer 
sob a forma de contraturas, perda da fala, tremores, espasmos, tiques, entre 
outros. 
 
Há algo em comum a todos os histéricos: procuram sempre chamar a atenção para si, 
seja provocando ciúmes, compaixão ou enaltecendo sua superioridade. Para tratar um 
histérico é preciso recorrer a um psicólogo especializado. E, dependendo da gravidade 
do caso, será necessário ainda o acompanhamento com um psiquiatra, para aliar o uso de 
medicamentos antidepressivos e ansiolíticos à terapia. 
 
 
Sugestão de Filme: Histeria (2011) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Psicopatologia: o estudo da natureza das doenças mentais 
 
A psicopatologia é o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser 
humano, o estudo da natureza das doenças mentais. Tem o objetivo de compreender 
profundamente as alterações mentais, identificar suas possíveis causas e, assim, formular 
estratégias de tratamento e proteção da saúde mental. 
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de 
doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Essa definição, 
até avançada para a época em que foi realizada, é, no momento, irreal, ultrapassada e 
unilateral. 
Procurar-se-á, no presente artigo, fundamentar objeções à definição de Saúde da OMS. 
Trata-se de definição irreal por que, aludindo ao "perfeito bem-estar", coloca uma utopia. 
O que é "perfeito bem-estar?" É por acaso possível caracterizar-se a "perfeição"? 
Não se deseja, enfocar o subjetivismo que tanto a expressão "perfeição", como "bem-
estar" trazem em seu bojo. Mas, ainda que se recorra a conceitos "externos" de avaliação 
(é assim que se trabalha em Saúde Coletiva), a "perfeição" não é definível. Se se trabalhar 
com um referencial "objetivista", isto é, com uma avaliação do grau de perfeição, bem-
estar ou felicidade de um sujeito externa a ele próprio, estar-se-á automaticamente 
elevando os termos perfeição, bem-estar ou felicidade a categorias que existem por si 
mesmas e não estão sujeitas a uma descrição dentro de um contexto que lhes empreste 
sentido, a partir da linguagem e da experiência íntima do sujeito. Só poder-se-ia, assim 
falar de bem-estar, felicidade ou perfeição para um sujeito que, dentro de suas crenças e 
valores, desse sentido de tal uso semântico e, portanto, o legitimasse. 
Por outro lado, a angústia (com oscilações), tendo essa angústia repercussão somática 
maior ou menor (por exemplo, um cólon irritativo ou uma gastrite), configura situação 
habitual, inerente às próprias condições do ser humano. Divergir de posturas da 
sociedade, e até marginalizar-se ou de ser marginalizado frente a essa mesma sociedade, 
não obstante o sofrimento que essas situações trazem, é comum e até desejável para o 
homem sintonizado com o ambiente em que vive 
Nesse sentido, apresentam um esquema simplificado de temas e temores básicos e 
universais do ser humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Temas existenciais básicos que com frequência se expressam no conteúdo dos 
sintomas psicopatológicos 
 
TEMAS E INTERESSES CENTRAIS PARA O SER HUMANO 
Alimentação 
Sexo 
Conforto físico 
Poder (econômico, político, social, etc.) 
Prestígio 
Relacionar-se com os outros 
 
O QUE BUSCA E DESEJA 
Sobrevivência 
Prazer 
Segurança 
Controle sobre si e sobre os outros 
Ser reconhecido pelos demais 
 
 
As doenças mentais podem ter causas orgânicas, quando têm causas físicas evidentes 
(como na doença de Alzheimer), ou causas não orgânicas, quando não é possível 
identificar claramente alterações orgânicas cerebrais. 
 
A psicopatologia é desenvolvida de acordo com diferentes perspectivas, que baseiam a 
atuação do psiquiatra e do terapeuta. 
 
Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais buscando oferecer a estudantes e 
profissionais, além de conceitos descritivos da rica tradição da psicopatologia, os 
conhecimentos científicos contemporâneos mais relevantes sobre a mente humana e seus 
transtornos. Assim, considerando os sistemas diagnósticos de transtornos mentais da 
atualidade (DSM e CID), são apresentados conceitos psicopatológicos, diretrizes e 
critérios diagnósticos, sempre que possível, correspondentes às versões mais recentes 
desses sistemas. 
 
Foi consultada a recém-publicada classificação da Organização Mundial da Saúde, CID-
11, além das publicações sobre tal classificação. Buscou-se, ainda, integrar conceitos e 
definições da nova linha de pesquisa em transtornos mentais, o chamado Research 
Domain Criteria (RDoC), do National Institute of Mental Health (NIMH), dos Estados 
Unidos. 
 
 
 
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A semiologia psicopatológica, portanto, cuida especificamente do estudo dos sinais e 
sintomas produzidos pelos transtornos mentais, signos que sempre contêm essa dupla 
dimensão. 
 Asemiologia, tomada em um sentido geral, é a ciência dos signos, não se 
restringindo, obviamente, à medicina, à psiquiatria ou à psicologia. É campo de 
grande importância para o estudo da linguagem (semiótica linguística), 
 da música (semiologia musical), 
 das artes em geral e de todos os campos de conhecimento e de atividades humanas 
que incluam a interação e a comunicação entre dois interlocutores por meio de 
sistemas de signos. 
 
Já a semiologia psicopatológica, por sua vez, é o estudo dos sinais e sintomas dos 
transtornos mentais. 
 
Entende-se por semiologia médica o estudo dos sintomas e dos sinais das doenças, o qual 
permite ao profissional da saúde identificar alterações físicas e mentais, ordenar os 
fenômenos observados, formular diagnósticos e empreender terapêuticas. 
 
Embora esteja intimamente relacionada à linguística, a semiologia geral não se limita a 
esta, uma vez que o signo transcende a esfera da língua. São também signos os gestos, as 
atitudes e os comportamentos não verbais, os sinais matemáticos, os signos musicais, etc. 
 
De fato, a semiologia geral como ciência dos signos foi postulada pelo linguista suíço 
Ferdinand de Saussure. 
 
Charles Morris (1946) discrimina três campos distintos no interior da semiologia: 
 
 a semântica, responsável pelo estudo das relações entre os signos e os objetos a 
que se referem; 
 a sintaxe, que compreende as regras e leis que regem as relações entre os vários 
signos de um sistema; e, por fim, 
 a pragmática, que se ocupa das relações entre os signos e seus usuários, os 
sujeitos que os utilizam concretamente, em situações e contextos sociais e 
históricos do dia a dia. 
 
O signo é o elemento nuclear da semiologia; ele está para a semiologia assim como a 
célula está para a biologia e o átomo para a física. O signo é um tipo de sinal. Define-se 
sinal como qualquer estímulo emitido pelos objetos do mundo. Assim, por exemplo, a 
fumaça é um sinal do fogo, a cor vermelha, do sangue, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
O signo é um sinal especial, sempre provido de significação. Dessa forma, na semiologia 
médica, sabe-se que a febre pode ser um sinal/signo de uma infecção, ou a fala 
extremamente rápida e fluente pode ser um sinal/signo de uma síndrome maníaca. A 
semiologia médica e a psicopatológica tratam particularmente dos signos que indicam a 
existência de transtornos e patologias. 
 
Os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais 
objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente, e os sintomas, isto é, as 
vivências subjetivas relatadas pelos indivíduos, suas queixas e narrativas, aquilo que o 
sujeito experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém. 
 
Uma definição de sintoma e sinal um pouco diferente. Ele discrimina os sintomas 
objetivos (observados pelo examinador) dos sintomas subjetivos (percebidos apenas 
pelo paciente). 
 
Os sinais, por sua vez, são definidos como dados elementares das doenças que são 
provocados (ativamente evocados) pelo examinador (sinal de Romberg, sinal de 
Babinski, etc.). Segundo o linguista russo Roman Jakobson (1896-1982), já os antigos 
filósofos estoicos desmembraram o signo em dois elementos básicos: signans (o 
significante) e signatum (o significado) (Jakobson, 1962; 1975). Assim, todo signo é 
constituído por estes dois elementos: 
 
o significante, que é o suporte material, o veículo do signo; e o significado, isto é, aquilo 
que é designado e que está ausente, o conteúdo do veículo. 
 
De acordo com o filósofo norte-americano Charles S. Peirce (1839-1914), segundo as 
relações entre o significado (conteúdo) e o significante (suporte material) de um signo, 
há três tipos de signos: 
 
 o ícone, 
 o indicador e 
 o símbolo 
 
O ícone é um tipo de signo no qual o elemento significante evoca imediatamente o 
significado, graças a uma grande semelhança entre eles, como se o significante fosse uma 
“fotografia” do significado. O desenho esquemático no papel de uma casa pode ser 
considerado um ícone do objeto casa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os sintomas médicos e psicopatológicos têm, como signos, uma dimensão dupla. Eles 
são tanto um índice (indicador) como um símbolo. O sintoma como índice sugere uma 
disfunção que está em outro ponto do organismo ou do aparelho psíquico; porém, aqui, a 
relação do sintoma com a disfunção de base é, em certo sentido, de contiguidade. 
 
No momento em que recebe um nome, o sintoma adquire o status de símbolo, de signo 
linguístico arbitrário, que só pode ser compreendido dentro de um sistema simbólico 
dado, em determinado universo cultural. Dessa forma, a angústia manifesta-se (e realiza-
se) ao mesmo tempo como mãos geladas, tremores e aperto na garganta (que indicam, 
p. ex., uma disfunção no sistema nervoso autônomo - SNA), e, ao ser tal estado designado 
como nervosismo, neurose, ansiedade ou gastura, passa a receber certo significado 
simbólico e cultural (por isso, convencional e arbitrário), que só pode ser adequadamente 
compreendido e interpretado tendo-se como referência um universo cultural específico, 
um sistema de símbolos determinado. 
 
Campbell (1986) define a psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza 
essencial da doença ou transtorno mental – suas causas, as mudanças estruturais e 
funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação. 
 
Entretanto, nem todo estudo psicopatológico segue a rigor os ditames de uma “ciência 
dura”, “ciência sensu strictu”. A psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser 
definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser 
humano. É um conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e 
desmistificante. 
 
Como conhecimento que visa ser científico, a psicopatologia não inclui critérios de valor, 
nem aceita dogmas ou verdades a priori. Ao se estudar e praticar a psicopatologia, não se 
julga moralmente aquilo que se estuda; busca-se apenas observar, identificar e 
compreender os diversos elementos do transtorno mental. Além disso, em psicopatologia, 
deve-se rejeitar qualquer tipo de dogma, qualquer verdade pronta e intocável, seja ela 
religiosa, seja ela filosófica, psicológica ou biológica; o conhecimento que se busca está 
permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações. Ou seja, a psicopatologia 
como ciência dos transtornos mentais requer um debate científico e público constante de 
todos os seus postulados, noções e verdades encontradas. 
 
O campo da psicopatologia inclui uma variedade de fenômenos humanos especiais, 
associados ao que se denominou historicamente de doença mental. São vivências, estados 
mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade 
psicológica (as vivências das pessoas com doenças mentais apresentam dimensão própria, 
genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com 
a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é totalmente estranho ao mundo 
das experiências psicológicas “normais”). 
 
 
 
 
A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na tradição médica com a observação 
prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de pessoas com transtornos 
mentais. Em outra vertente, a psicopatologia nutre-se de uma tradição humanística e 
universitária (filosofia, literatura, artes, psicologia, psicanálise), a qual sempre viu na 
“alienação mental”, no pathos do sofrimento mental extremo, uma possibilidade 
excepcionalmente rica de reconhecimento de dimensões humanas que, sem o fenômeno 
“doença mental”, permaneceriam desconhecidas. 
 
Na prática clínica, os sinais e os sintomas não ocorrem de forma aleatória; surgem em 
certas associações, certos clusters (agrupamentos) mais ou menos frequentes. Definem-
se, portanto, as síndromes como agrupamentos relativamente constantes e estáveis de 
determinados sinais e sintomas. 
 
Aose delimitar uma síndrome (como síndrome depressiva, demencial, paranoide, etc.), 
não se trata ainda da definição e da identificação de causas específicas, de um curso e 
evolução relativamente homogêneos e de uma estrutura básica do processo patológico. 
A síndrome é puramente uma definição descritiva de um conjunto momentâneo e 
recorrente de sinais e sintomas. 
 
Na prática clínica, os sinais e os sintomas não ocorrem de forma aleatória; surgem em 
certas associações, certos clusters (agrupamentos) mais ou menos frequentes. Definem-
se, portanto, as síndromes como agrupamentos relativamente constantes e estáveis de 
determinados sinais e sintomas. 
 
Ao se delimitar uma síndrome (como síndrome depressiva, demencial, paranoide, etc.), 
não se trata ainda da definição e da identificação de causas específicas, de um curso e 
evolução relativamente homogêneos e de uma estrutura básica do processo patológico. 
A síndrome é puramente uma definição descritiva de um conjunto momentâneo e 
recorrente de sinais e sintomas. 
 
Denominam-se, em medicina e psiquiatria, entidades nosológicas, doenças ou 
transtornos específicos (como esquizofrenia, doença de Alzheimer, anorexia nervosa, 
etc.). São os fenômenos mórbidos nos quais podem-se identificar (ou pelo menos 
presumir com certa consistência) certas causas ou fatores causais (etiologia), o curso 
relativamente homogêneo, certos padrões evolutivos e estados terminais típicos. 
 
Nas entidades nosológicas ou transtornos, busca-se identificar mecanismos psicológicos 
e psicopatológicos característicos, antecedentes genético-familiares algo específicos e 
respostas a tratamentos e intervenções mais ou menos previsíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
Em geral, quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos devem 
ser enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica, relativamente 
semelhante nos diversos pacientes e nas diversas sociedades (a forma “alucinação”, 
“delírio”, “ideia obsessiva”, “fobia”, etc.), e seu conteúdo, ou seja, aquilo que preenche 
a alteração estrutural (o conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, de um delírio, de 
uma alucinação ou de uma ideia obsessiva, por exemplo). 
 
Patogênese, representa o processo de como os diferentes sintomas da psicopatologia se 
formam e se estruturam. 
 
Patoplastia e a configuração e preenchimento dos conteúdos dos sintomas, ou seja, como 
a forma é preenchida pelos temas específicos dos sintomas, os temas e histórias que 
preenchem essas manifestações, dependentes da história de vida singular do paciente e da 
cultura em que vive 
 
A forma (patogênese) seria mais geral e universal, comum a todos os pacientes, em todas 
ou quase todas as culturas, enquanto o conteúdo (patoplastia) seria algo bem mais 
pessoal, dependendo da história de vida singular do indivíduo, de seu universo cultural 
específico e da personalidade e cognição prévias ao adoecimento. 
 
De modo geral, embora sejam pessoais, singulares, os conteúdos dos sintomas são 
extraídos ou constituídos pelos temas centrais da existência humana, como sobrevivência 
e segurança, sexualidade, ameaças e temores básicos (morte, doença, miséria, abandono, 
desamparo, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de 
substrato que participa como ingrediente fundamental na constituição da experiência 
psicopatológica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Biomédica 
 
A perspectiva biomédica da psicopatologia classifica os distúrbios mentais como 
qualquer outra doença, pois considera que as alterações psicopatológicas surgem devido 
a anormalidades biológicas. Essas anormalidades podem ser genéticas, bioquímicas ou 
neurológicas. 
Desta forma, o tratamento é focado na correção das anormalidades orgânicas, não levando 
em consideração as variáveis psíquicas e sociais da pessoa. 
O profissional psiquiatra deve identificar a alteração anatômica (regiões cerebrais fora do 
padrão de normalidade) ou bioquímica (função alterada dos elementos bioquímicos) e 
procurar uma terapia específica, geralmente baseada em medicações. 
 
• É preciso de um hospício para que as pessoas que estão fora entendam que não 
são loucas” 
• A Psicopatologia é geralmente entendida como um campo específico do 
conhecimento: Psico-Pathos-Logos – o estudo do sofrimento psíquico. 
 
 psique - alma ou mente 
 pathos - sofrimento ou doença 
 logo - lógica ou o conhecimento 
 
• Nesse sentido é uma área da Psiquiatria, em especial, mas não só da Psiquiatria 
e que envolve a definição, concepções do que seja doença mental, descrição do 
que são as doenças mentais, delimitação das categorias, montagens de 
qualificação etc 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Mais um pouco de Histeria 
 
A histeria é uma psiconeurose cujos conflitos emocionais inconscientes surgem na forma 
de uma severa dissociação mental ou como sintomas físicos (conversão), 
independentemente de qualquer patologia orgânica ou estrutural conhecida, quando a 
ansiedade subjacente é 'convertida' num sintoma físico. O termo origina-se do grego, 
hystéra, que significa útero. Uma antiga teoria sugeria que o útero vagava pelo corpo e a 
histeria era considerada uma moléstia especificamente feminina, atribuída a uma 
disfunção uterina. 
 
Na verdade, os sintomas histéricos podem se manifestar em homens e mulheres e são 
mais comumente observados na adolescência. No final do século XIX, Jean Martin 
Charcot (1825-1893), um eminente neurologista francês, que empregava a hipnose para 
estudar a histeria, demonstrou que idéias mórbidas podiam produzir manifestações 
físicas. Seu aluno, o psicólogo francês Pierre Janet (1859-1947), considerou como 
prioritárias, para o desencadeamento do quadro histérico, muito mais as causas 
psicológicas do que as físicas. 
 
Posteriormente, Sigmund Freud (1856-1939), em colaboração com Breuer, começou a 
pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa neurose 
era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional. Casos clássicos 
de histeria, como aqueles frequentemente descritos pelos médicos do século XIX, 
atualmente são raros e a maioria das psiconeuroses são formas mistas, nas quais os 
sintomas histéricos podem estar mesclados com outros tipos de distúrbios neuróticos. 
 
Os sintomas sensoriais e motores da histeria são denominados conversão pois geralmente 
não seguem as costumeiras inervações do sistema nervoso. 
 
Os distúrbios sensoriais podem: 
 
Abranger os sentidos da visão, audição, paladar e olfato; variar desde sensações 
peculiares até a hipersensibilidade ou anestesia total; causar grande sofrimento com 
dores agudas, para as quais nenhuma causa orgânica pode ser determinada. 
Os distúrbios motores podem incluir uma gama de manifestações, como paralisia total, 
tremores, tiques, contrações ou convulsões. Afonia, tosse, náusea, vômito, soluços são 
muitas vezes de origem histérica. 
 
Episódios de amnésia e sonambulismo são considerados reações de 
dissociação histérica. 
 
 
 
 
 
 
Teoria Psicanalítica Clássica (PRIMEIRA TÓPICA) 
 
1. Inconsciente, Pré-consciente, Consciente 
Freud distinguiu três níveis de consciência, em sua inicial divisão topográfica da 
mente: 
Consciente - diz respeito à capacidade de ter percepção dos sentimentos, 
pensamentos, lembranças e fantasias do momento; 
2. Pré-consciente- relaciona-se aos conteúdos que podem facilmente 
chegar à consciência; 
3. Inconsciente- refere-se ao material não disponível à consciência ou ao 
escrutínio do indivíduo. Freud : O Inconsciente (1915*) capítulo VI 
percebemos alguns pontos que se referem, assim como o título do artigo, à 
comunicação entre os dois sistemas (Cs. e Ics). Neste capítulo Freud nos traz uma 
nova etapaque poderá interferir ou não na passagem da representação do Ics. para 
o Cs, passando pelo Pcs. Dessa forma, chega-se primeiro ao Inconsciente, (o 
primeiro traço depois da percepção e dos traços mnêmicos), depois passa-se pelo 
Pré-consciente e só depois se chega à consciência. Entre o Ics. e o Pcs. fica a 
barreira do recalque. 
 
O que Freud trás de novo agora é que entre o Pcs. e o Cs. existe mais uma barreira, que 
ele chama de Censura. Temos então três barreiras. Uma primeira entre o Ics e o Pcs que 
se chama recalque (Verdrängung); uma segunda entre o Pcs e o Cs que é a censura 
(Zensur); e uma outra externa ao sujeito, muito mais próxima de questões sociais e 
culturais – a repressão (Unterdrückt). Cada uma delas parece cumprir um papel diferente. 
“Constitui fato marcante que o Ics. de um ser humano possa reagir ao de outro, sem passar 
através do Cs.” (Freud, 1915/1974, p.219-220). Aqui e em outros pontos de sua obra ele 
nos traz sua concepção de que o Ics., está dentro de cada sujeito, é individual, e esse Ics. 
pode afetar o de outra pessoa. 
 
Jacques Lacan, no que se refere ao Inconsciente constrói outra conceituação, e um dos 
atributos do Inconsciente em Lacan é que ele é estruturado como uma linguagem, e tem 
um caráter transindividual, mas isso é assunto para outro momento. 
 
Inconsciente – Ics 
 
SIGISMUND SCHLOMO FREUD 
 
É constituído na primeira infância. Somente do desprazer vai para o Ics. O que é do Ics 
não se lembra, se repete. O Ics NÃO tem palavra, tem outra linguagem (que o analista 
precisa conhecer). O Psicanalista te como trabalho ver e ouvir o que não se mostra e não 
se diz. O Ics faz cadeias associativas entre ideias por meio do processo de representação, 
por isso, pode ser acessado por meio da ASSCIAÇÃO LIVRE DE IDEIAS. 
 
 
 
 
O Ics é um modo de funcionamento, NÃO uma estrutura física. 
 
 
 
 
Freud desenvolveu a teoria psicanalítica, baseado em sua experiência clínica. 
O ponto nuclear dessa teoria é o postulado da existência do inconsciente 
como: 
 
a) um receptáculo de lembranças traumáticas reprimidas; 
b) um reservatório de impulsos que constituem fonte de ansiedade, por serem 
socialmente ou eticamente inaceitáveis para o indivíduo. 
 
As motivações inconscientes estão disponíveis para a consciência, apenas de forma 
disfarçada. Sonhos e lapsos de linguagem, por exemplo, são exemplos dissimulados de 
conteúdos inconscientes não confrontados diretamente. Muitos experimentos da 
Psicobiologia vêm corroborando a validade das idéias psicanalíticas sobre o inconsciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ID, EGO, SUPEREGO 
 
De acordo com a teoria estrutural da mente, o id, o ego e o superego funcionam em 
diferentes níveis de consciência. Há um constante movimento de lembranças e impulsos 
de um nível para o outro. 
 
O id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo 
princípio do prazer, o id exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta 
a possibilidade de conseqüências indesejáveis. 
 
 
O ego funciona principalmente a nível consciente e pré-consciente, embora também 
contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id. Regido pelo princípio da 
realidade, o ego cuida dos impulsos do id, tão logo encontre a circunstância adequada. 
Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos. Apenas parcialmente 
consciente, o superego serve como um censor das funções do ego (contendo os ideais do 
indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de 
culpa e medo de punição. 
 
 
Psicanálise – O que é?? 
Psicanálise é: 
 
1. o nome de um procedimento para investigação de processos mentais, 
praticamente inacessíveis de outra forma, especialmente vivências internas e 
profundas como pensamentos, sentimentos, emoções, fantasias e sonhos; 
2. um método (baseado nessa investigação) para o tratamento as neuroses; 
3. um acúmulo sistemático de conhecimentos sobre a mente, obtidos através desse 
procedimento, que gradualmente está se tornando uma nova ciência. 
 
 
Como Freud chegou a METAPSICOLOGIA? 
 
Primeira tópica 
Estrutura: Consciente e Inconsciente 
Teoria: Ab-reação* 
Método: Hipnose 
Técnica: Catarse e superação do trauma. 
Depois acontece a descoberta do Pré-consciente e as repressões 
 
 
 
 
 
 
 
Estrutura: Consciente (Cs), Pré-Consciente (PCs) e Inconsciente (Ics) 
Segunda Tópica: 
Estrutura: ID, EGO e SUPEREGO 
Método: Associação Livre de ideias 
Técnica Interpretação e ressignificação de representações; transferência; resistência 
*substantivo feminino psic descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto 
que acompanha a recordação de um acontecimento traumático [Pode ser provocada, por 
exemplo, por hipnose, ou ocorrer de forma espontânea no decorrer do processo 
psicoterápico.]. 
 
 
Representações: 
 
Pcpt = Perceptivo 
Mnem= Traços de Memória 
Ics= Inconsciente 
Pcs = Pré Consciente 
M= Motor.

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