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REGULAMENTAÇÃO PARA DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA Sumário Unidade 1: Mercado de Energia Elétrica ................................................................. 5 Seção 1.1: Como funciona o mercado de energia elétrica no Brasil ........................... 5 Seção 1.2: Principais números do mercado ................................................................ 6 Seção 1.3: Situação atual com relação à produção e distribuição de energia elétrica 7 Seção 1.4: Como é gerada a energia elétrica ............................................................. 8 Seção 1.5: De que forma a energia elétrica é transmitida ........................................... 9 Seção 1.6: Quem é responsável pela distribuição da energia elétrica ...................... 10 Seção 1.7: Como a energia elétrica é comercializada .............................................. 11 Seção 1.8: Como esse mercado é fiscalizado e regulamentado ............................... 13 Unidade 2: Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica - Regulação da Qualidade ................................................................................................................. 15 Seção 2.1: Regulamentação vigente ......................................................................... 15 Seção 2.2: Indicadores de qualidade utilizados ........................................................ 19 Seção 2.3: Evolução dos indicadores de qualidade no Brasil ................................... 22 Unidade 3: Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica - Perspectivas e Importância da Evolução da Qualidade................................................................. 23 Seção 3.1: Introdução ............................................................................................... 23 Seção 3.2: Evolução da tecnologia ........................................................................... 27 Seção 3.3: Evolução das tecnologias de informação e comunicação ....................... 34 Seção 3.4: Considerações ........................................................................................ 35 Unidade 4: Consolidação das Leis do Setor dfe Energia Elétrica Brasileiro ..... 39 Seção 4.1: Introdução ............................................................................................... 39 Seção 4.2: Histórico .................................................................................................. 41 Seção 4.3: Novas leis regulamentam o setor elétrico ............................................... 44 Seção 4.4: A regulamentação da qualidade de energia elétrica no Brasil ................ 50 Seção 4.5: Projeto de lei para regular distribuição de energia atende a mercado em expansão, mas não ajuda a resolver crise energética .............................................. 52 Referências .............................................................................................................. 56 Unidade 1: Mercado de Energia Elétrica Seção 1.1: Como funciona o mercado de energia elétrica no Brasil O mercado de energia elétrica é um dos mais importantes do país, pois o recurso é necessário para a maioria das atividades que o homem realiza hoje em dia, seja para trabalhar, seja na sua moradia. A energia é utilizada para aquecer os lares ou esquentá-los, abastece os eletrodomésticos, as máquinas nas indústrias, os equipamentos nos hospitais, as escolas etc. Para que você fique por dentro do assunto, criamos este post completo, em que trataremos as principais informações sobre o mercado de energia elétrica no Brasil. Esse mercado surgiu no Brasil em 1879, quando Dom Pedro II contratou Thomas Alvas Edison para introduzir a tecnologia de lâmpadas incandescentes na iluminação pública. No ano de 1883, entrou em funcionamento a primeira usina hidrelétrica do país, localizada na cidade de Diamantina e até hoje, os rios são as principais fontes de energia. Ao longo dos séculos XX e XXI, vários outros tipos de produção de energia foram sendo adotados pelo governo brasileiro, como termoelétricas, usinas nucleares, energia solar e eólica, além do maior investimento em hidrelétricas, com destaque para Itaipu, a maior usina hidrelétrica do mundo até os dias atuais. O aumento da demanda e a consolidação da energia elétrica trouxe a necessidade da criação do mercado de energia no Brasil, de responsabilidade tanto do próprio governo quanto do setor privado. O primeiro atua por meio da construção para a geração de energia elétrica, por exemplo, assim como por meio da regulamentação do setor, que, atualmente, se encontra sob responsabilidade da ANEEL. Entre as ações do setor privado, destacamos a gestão da energia elétrica, auxiliando empresas para que consigam gerir de forma eficiente esse recurso tão importante. Para que isso seja possível, é importante que os gestores das indústrias e empresas tenham um amplo conhecimento sobre esse mercado. O caminho percorrido pela energia elétrica O mercado de energia começa nas usinas geradoras de energia. No Brasil, a maior parte da energia gerada provém das hidrelétricas. Elas correspondem a, praticamente, 70% da capacidade de geração instalada no país. A segunda fonte que mais gera energia para o país são as termelétricas, com 14%, em terceiro lugar e com 8%, está a energia eólica. Na cadeia produtiva do mercado de energia elétrica, podemos destacar as distribuidoras de energia e seus agentes comercializadores, que não produzem energia, mas que podem atuar no mercado livre, comprando ou vendendo energia. Dessa forma, os investidores que atuam no mercado de energia elétrica operam por meio de licenças, concessões ou autorizações. Vale ressaltar que essas autorizações são temporárias, com possibilidade de renovação. Para operar, as empresas do setor estão submetidas a uma série de regras de várias instituições, sendo a ANEEL a principal. Além disso, o Operador Nacional do Sistema Elétrico tem importante papel, pois controla o estoque nas usinas hidrelétricas e faz a previsão da vazão dos rios, além de liberar maior uso das fontes de geração térmica para suprir a demanda, caso a produção nas hidrelétricas esteja abaixo do necessário. Outros órgãos que devemos destacar são a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e o Sistema Interligado Nacional (SIN). Seção 1.2: Principais números do mercado Ao longo desta unidade, apresentamos alguns dados para os quais você deve ficar atento se quiser se inteirar no mercado de energia elétrica, como: a participação de 60% da geração de energia elétrica pelas hidrelétricas; 85% das unidades de consumo são residências; 35% do consumo de energia é feito por indústrias. Entretanto, melhor do que decorar dados, é importante que você saiba como eles são compostos e quais são os meios de divulgação. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) coleta e classifica a carga e número de consumidores, utilizando dois sistemas para tal: o Sistema de Acompanhamento de Mercado (SAM) e o SIMPLES (Sistema de Informações de Mercado para o Planejamento do Setor Elétrico). O Anuário Estatístico de Energia Elétrica dispõe de dados relacionados ao consumo de energia elétrica na rede de distribuição. O documento é feito a partir da análise de dados coletados e consolidados pela EPE. Esses dados são coletados todos os anos, pois a empresa tem o objetivo de manter os dados sobre o assunto sempre atualizados. As estatísticas consolidam as informações públicas da Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica. O trabalho é resultado da cooperação entre os agentes do mercado de energia, sejam eles os fornecedores, sejam eles os consumidores. Outro órgão que auxilia nessa construção é a Comissão Permanente de Análise e Acompanhamento do Mercado de Energia Elétrica (COPAM), masDesde a edição da Constituição Federal de 1998 até a data de elaboração do presente trabalho, nenhuma consolidação de leis federais foi editada. Seção 4.2: Histórico Com o objetivo de consolidar a legislação federal, foi criado o Grupo de Trabalho de Consolidação das Leis – GTCL, por Ato da Presidência, de 25 de março de 1997, na Câmara dos Deputados. A estrutura do GTCL foi constituída pelo Ato da Mesa nº 68, de 1997, e seu funcionamento foi disciplinado pela Resolução nº 33, de 1999, que introduziu os arts. 212 e 213 no Regimento da Casa. No âmbito do GTCL, foi proposto o Projeto de Lei nº 4.035, de 2008, de autoria do Deputado Arnaldo Jardim, que objetiva consolidar as leis do setor de energia elétrico brasileiro. O PL foi concebido a partir de material preparado pelo Dr. Vilson Daniel Christofari, engenheiro eletricista e advogado, e encaminhado ao relator por solicitação da ABCE – Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica. Nos trabalhos de elaboração do PL, foram analisadas cerca de 250 normas, das quais 178 foram abrangidas pela proposta de consolidação então apresentada. À época, a aprovação dessa consolidação possibilitaria a revogação integral de 162 normas federais e a revogação parcial de outras dezesseis. Submetido durante cerca de dois anos às análises dos parlamentares integrantes do GTCL, em 12 de maio de 2010, o PL foi aprovado por unanimidade, com emendas, conforme parecer do Deputado Bruno Araújo. Em 26 de maio de 2010, a proposição foi encaminhada para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC, onde sua apreciação permanece pendente até a data de conclusão do presente trabalho. A Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, mais especificamente os consultores da Área XII – Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos, vem acompanhando a tramitação do PL desde a sua concepção. Objetivando possibilitar a apreciação de um texto pertinente e atualizado do Projeto de Lei nº 4.035, de 2008, desde sua aprovação no GT de Consolidação de Leis, em 2010, quando fosse do interesse dos integrantes da CCJC, foi dedicado, anualmente, tempo significativo de trabalho na Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, a fim de atualizar o texto dessa proposição à luz das novas normas setoriais editadas a cada ano. Nessa linha de atuação, no início dos trabalhos, observou-se que, no período de tempo entre a apresentação do PL, a elaboração do parecer do relator e sua votação no GTCL, transcorreram cerca de dois anos, durante os quais foram estabelecidas novas políticas públicas no setor elétrico nacional, através da emissão das leis relacionadas a seguir, que não haviam sido consideradas no parecer do relator aprovado no GTCL. Lei nº 11.943, de 28 de maio de 2009; Lei nº 12.111, de 9 de dezembro de 2009; Lei nº 12.212, de 20 de janeiro de 2010. Inicialmente, para considerar as modificações normativas que se sucederam ao PL nº 4.035/2008, aprovado pelo GTCL com as emendas oferecidas pelo relator, foi necessário produzir um texto do projeto de consolidação que incluísse as citadas emendas aprovadas no GTCL. Esse texto é a base do trabalho de atualização objeto do presente trabalho. Nesse trabalho de atualização da consolidação das leis do setor de energia elétrico, a partir do PL nº 4.035, de 2008, foram consideradas as 20 normas relacionadas a seguir: Lei nº 11.943, de 28 de maio de 2009 (MP 450/2008); Lei nº 12.111, de 9 de dezembro de 2009 (MP 466/2009); Lei nº 12.212, de 20 de janeiro de 2010; Lei nº 12.375, de 30 de dezembro de 2010 (MP 499/2010); Lei nº 12.385, de 3 de março de 2011 (MP 501/2010); Lei nº 12.431, de 24 de junho de 2011 (MP 517/2010); Lei nº 12.688, de 18 de julho de 2012 (MP 559/2012); Lei nº 12.783, de 11 de janeiro de 2013 (MP 579/2012); Lei nº 12.839, de 9 de julho de 2013 (MP 609/2013); Lei nº 12.858, de 9 de setembro de 2013; Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013 (MP 619/2013); Lei nº 13.097, de 19 de janeiro de 2015 (MP 656/2014); Lei nº 13.169, de 6 de outubro de 2015 (MP 675/2015); Lei nº 13.173, de 21 de outubro de 2015 (MP 679/2015); Lei nº 13.182, de 3 de novembro de 2015 (MP 677/2015); Lei nº 13.203, de 8 de dezembro de 2015 (MP 688/2015); Lei nº 13.280, de 3 de maio de 2016; Lei nº 13.299, de 21 de junho de 2016 (MP 706/2015); Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016; e Lei nº 13.360, de 17 de novembro de 2016 (MP 735/2016). Impende observar, na lista acima, o elevado número de alterações na legislação do setor elétrico brasileiro realizadas por meio da edição de medidas provisórias, que têm reduzido prazo de tramitação, o que certamente dificulta o adequado exame das alterações legais pelo Congresso Nacional. A Lei nº 13.081, de 2 de janeiro de 2015, que dispõe sobre a construção e a operação de eclusas ou de outros dispositivos de transposição hidroviária de níveis em vias navegáveis e potencialmente navegáveis, altera as Leis nos 9.074, de 7 de julho de 1995, 9.984, de 17 de julho de 2000, 10.233, de 5 de junho de 2001, e 12.712, de 30 de agosto de 2012, e dá outras providências, foi considerada para fins da elaboração do presente trabalho, porém nenhum de seus dispositivos foi incluído no PL de consolidação das leis do setor de energia elétrica nacional, por considerarmos que a construção de eclusas é tema afeto ao setor de transportes e não ao setor de energia elétrica. No desenvolvimento da atualização da consolidação das leis do setor de energia elétrica objeto do presente trabalho, para cada uma das vinte normas utilizadas, produziu-se uma planilha, que se encontra anexa, com o texto da lei e a especificação de quais dispositivos foram considerados na consolidação e em que dispositivos da consolidação eles foram considerados. Seção 4.3: Novas leis regulamentam o setor elétrico Principais tópicos da Lei n° 10.848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica. A citada Lei estabelece as regras para a comercialização de energia elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados de serviços e instalações de energia elétrica, bem como destes com seus consumidores e altera Leis anteriores pertinentes a área. As concessionárias, as permissionárias e as autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional - SIN deverão garantir o atendimento à totalidade de seu mercado, mediante contratação regulada, por meio de licitação, conforme regulamento. O Poder Concedente homologará a quantidade de energia elétrica a ser contratada para o atendimento de todas as necessidades do mercado nacional, bem como a relação dos novos empreendimentos de geração que integrarão, a título de referência, o processo licitatório de contratação de energia. Fica autorizada a criação da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CCEE, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, sob autorização do Poder Concedente e regulação e fiscalização pela Agência Nacional de Energia Elétrica -ANEEL, com a finalidade de viabilizar a comercialização de energia elétrica de que trata esta Lei. A CCEE sucederá ao Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE, criado na forma da Lei nº 10.433, de 24 de abril de 2002, cabendo-lhe adotar todas as medidas necessárias para dar cumprimento ao disposto nesta Lei. Fica autorizada a constituição, no âmbito do Poder Executivo e sob sua coordenação direta, do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico - CMSE, com a função precípua de acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança dosuprimento eletro-energético em todo o território nacional. Conforme disciplina a ser emitida pela ANEEL, as concessionárias de distribuição deverão incorporar a seus patrimônios as redes particulares que não dispuseremde ato autorizativo do Poder Concedente até 31 de dezembro de 2005 ou, mesmo dispondo, desde que exista interesse das partes em que sejam transferidas. As concessionárias e autorizadas de geração poderão, mediante autorização e regulamentação do Poder Concedente, realizar operações de compra e venda de energia elétrica para entrega futura. Os atuais contratos de comercialização de energia elétrica celebrados pelas concessionárias, permissionárias e autorizadas de distribuição já registrados, homologados ou aprovados pela ANEEL não poderão ser objeto de aditamento para prorrogação de prazo ou aumento das quantidades ou preços contratados após a publicação desta Lei, ressalvado o disposto no art. 27 da Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002. Ocorrendo a decretação de racionamento de energia elétrica pelo Poder Concedente em uma região, todos os contratos por quantidade de energia do ambiente de contratação regulada, registrados na CCEE, cujos compradores estejam localizados nessa região, deverão ter seus volumes ajustados na mesma proporção da redução de consumo verificado. Os contratos de fornecimento de energia elétrica de concessionárias geradoras de serviço público, inclusive as sob controle federal, com consumidores finais, vigentes em 26 de agosto de 2002, poderão ser aditados para vigorarem até 31 de dezembro de 2010, observado o disposto no art. 3º da Lei n o 10.604, de 17 de dezembro de 2002. As concessionárias ou autorizadas de geração sob controle federal ou estadual poderão, mediante oferta pública, celebrar contratos de compra e venda de energia elétrica pelo prazo de 10 (dez) anos, prorrogáveis 1 (uma) única vez, por igual período, para atendimento à expansão da demanda de consumidores existentes e o atendimento a novos consumidores, ambos com carga individual igual ou superior a 50.000 kW (cinquenta mil quilowatts). Principais alterações da Lei nº 5.655, de 20 de maio de 1971 Ao Ministério de Minas e Energia MME serão destinados 3% (três por cento) dos recursos da Reserva Global de Reversão - RGR para custear os estudos e pesquisas de planejamento da expansão do sistema energético, bem como os de inventário e de viabilidade necessários ao aproveitamento dos potenciais hidroelétricos. Fica estendido a todos os concessionários distribuidores o rateio do custo de consumo de combustíveis, incluindo o de biodiesel, para geração de energia elétrica nos sistemas isolados. Principais alterações da Lei nº 8.631, de 4 de março de 1993 As concessões de geração de energia elétrica anteriores a 11 de dezembro de 2003 terão o prazo necessário à amortização dos investimentos, limitado a 35 (trinta e cinco) anos, contado da data de assinatura do imprescindível contrato, podendo ser prorrogado por até 20 (vinte) anos, a critério do Poder Concedente, observadas as condições estabelecidas nos contratos. As concessionárias, as permissionárias e as autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica que atuem no Sistema Interligado Nacional - SIN não poderão desenvolver atividades de geração e de transmissão de energia elétrica, de geração de energia elétrica, exceto às unidades consumidoras localizadas na área de concessão ou permissão da empresa distribuidora, de participação em outras sociedades de forma direta ou indireta. Não se aplica o disposto acima às concessionárias, permissionárias e autorizadas de distribuição no atendimento a sistemas elétricos isolados, no atendimento ao seu mercado próprio, na captação, aplicação ou empréstimo de recursos financeiros destinados ao próprio agente ou a sociedade coligada, controlada, controladora ou vinculada à controladora comum, desde que destinados ao serviço público de energia elétrica, mediante anuência prévia da ANEEL. As concessionárias e as autorizadas de geração de energia elétrica que atuem no Sistema Interligado Nacional - SIN não poderão ser coligadas ou controladoras de sociedades que desenvolvam atividades de distribuição de energia elétrica no SIN. As concessões de geração de energia elétrica, contratadas a partir da Medida Provisória nº 144, de 11 de dezembro de 2003, terão o prazo necessário à amortização dos investimentos, limitado a 35 (trinta e cinco) anos, contado da data de assinatura do imprescindível contrato. O produtor independente de energia elétrica estará sujeito às regras de comercialização regulada ou livre, atendido ao disposto nesta Lei, na legislação em vigor e no contrato de concessão ou no ato de autorização. Os consumidores que não tiverem cláusulas de tempo determinado em seus contratos de fornecimento só poderão exercer a opção de que trata este artigo de acordo com prazos, formas e condições fixados em regulamentação específica, sendo que nenhum prazo poderá exceder a 36 (trinta e seis) meses, contado a partir da data de manifestação. O consumidor que exercer a opção prevista neste artigo e no art. 16 desta Lei deverá garantir o atendimento à totalidade de sua carga, mediante contratação, com um ou mais fornecedores, sujeito a penalidade pelo descumprimento dessa obrigação, observado o disposto no art. 3º, inciso X, da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996. Os consumidores que exercerem a opção prevista neste artigo e no art. 16 desta Lei poderão retornar à condição de consumidor atendido mediante tarifa regulada, garantidaa continuidade da prestação dos serviços, nos termos da lei e da regulamentação, desde que informem à concessionária, à permissionária ou à autorizada de distribuição local, com antecedência mínima de 5 (cinco) anos. Até 31 de dezembro de 2009, respeitados os contratos vigentes, será facultada aos consumidores que pretendam utilizar, em suas unidades industriais, energia elétrica produzida por geração própria, em regime de autoprodução ou produção independente, a redução da demanda e da energia contratadas ou a substituição dos contratos de fornecimento por contratos de uso dos sistemas elétricos, mediante notificação à concessionária de distribuição ou geração, com antecedência mínima de 180 (cento e oitenta) dias. As instalações de transmissão componentes da rede básica do Sistema Interligado Nacional - SIN serão objeto de concessão mediante licitação e funcionarão na modalidade de instalações integradas aos sistemas com regras operativas aprovadas pela ANEEL, de forma a assegurar a otimização dos recursos eletroenergéticos existentes ou futuros. Principais alterações da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996 Além das atribuições previstas e de outras incumbências expressamente previstas em lei, compete à ANEEL: promover, mediante delegação, com base no plano de outorgas e diretrizes aprovadas pelo Poder Concedente, os procedimentos licitatórios para a contratação de concessionárias e permissionárias de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos; gerir os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso de bem público, bem como fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões, as permissões e a prestação dos serviços de energia elétrica; estabelecer tarifas para o suprimento de energia elétrica realizado às concessionárias e permissionárias de distribuição, inclusive às Cooperativas de Eletrificação Rural enquadradas como permissionárias, cujos mercados próprios sejam inferiores a 500 quinhentos) GWh/ano, e tarifas de fornecimento às Cooperativas autorizadas,considerando parâmetros técnicos, econômicos, operacionais e a estrutura dos mercados atendidos; aprovar as regras e os procedimentos de comercialização de energia elétrica contratada de formas regulada e livre; promover processos licitatórios para atendimento às necessidades domercado; homologar as receitas dos agentes de geração na contratação regulada e tarifas a serem pagas pelas concessionárias, permissionárias ou autorizadas de distribuição de energia elétrica, observados os resultados dos processos licitatórios referidos no inciso XV do caput deste artigo; estabelecer mecanismos de regulação e fiscalização para garantir o atendimento à totalidade do mercado de cada agente de distribuição e de comercialização de energia elétrica, bem como à carga dos consumidores que tenham exercido a opção prevista nos arts. 15 e 16 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995; definir as tarifas de uso dos sistemas de transmissão e distribuição; regular o serviço concedido, permitido e autorizado e fiscalizar permanentemente sua prestação. Além das competências previstas, aplicáveis aos serviços de energia elétrica, compete ao Poder Concedente: elaborar o plano de outorgas, definir as diretrizes para os procedimentos licitatórios e promover as licitações destinadas à contratação de concessionários de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos; celebrar os contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso de bem público e expedir atos autorizativos. Principais alterações da Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998 As atividades de coordenação e controle da operação da geração e da transmissão de energia elétrica, integrantes do Sistema Interligado Nacional - SIN, serão executadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, mediante autorização do Poder Concedente, fiscalizado e regulado pela ANEEL, a ser integrado por titulares de concessão, permissão ou autorização e consumidores que tenham exercido a opção prevista nos arts. 15 e 16 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, e que sejam conectados à rede básica. Sem prejuízo de outras funções que lhe forem atribuídas pelo Poder Concedente, constituirão atribuições do ONS: propor ao Poder Concedente as ampliações das instalações da rede básica, bem como os reforços dos sistemas existentes, a serem considerados no planejamento da expansão dos sistemas de transmissão; propor regras para a operação das instalações de transmissão da rede básica do SIN, a serem aprovadas pela ANEEL. Principais alterações da Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002 As concessionárias e autorizadas de geração sob controle federal, estadual e municipal poderão comercializar energia elétrica na forma prevista nos arts. 1º e 2º da Medida Provisória nº 144, de 11 de dezembro de 2003. Seção 4.4: A regulamentação da qualidade de energia elétrica no Brasil A qualidade de energia elétrica (QEE) de um sistema pode ser definida como ter uma tensão similar a uma forma de onda de uma senoide pura com a amplitude definida. O conceito de qualidade de energia se estendeu em aplicações industriais devido ao crescimento do número de equipamentos eletrônicos altamente sensíveis. Atualmente, os problemas de qualidade de energia estão crescendo devido a fatores como a poluição das redes com o tempo [Agalar and Kaplan, 2018]. Com o crescimento dos problemas com qualidade de energia, principalmente no meio industrial, os limites dos indicadores de qualidade devem ser regulamentados. No Brasil, estes indicadores e seus limites são padronizados pelo PRODIST. PRODIST Os Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional são documentos elaborados pela ANEEL, com a participação dos agentes de distribuição e de outras entidades e associações do Setor Elétrico Nacional, que normatizam e padronizam as atividades técnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de distribuição de energia elétrica. Os principais objetivos do PRODIST são: Garantir que os sistemas de distribuição operem com segurança, eficiência, qualidade e confiabilidade; Propiciar o acesso aos sistemas de distribuição, assegurando tratamento não discriminatório entre agentes; Disciplinar os procedimentos técnicos para as atividades relacionadas ao planejamento da expansão, à operação dos sistemas de distribuição, à medição e à qualidade da energia elétrica; Estabelecer requisitos para os intercâmbios de informações entre os agentes setoriais; Assegurar o fluxo de informações adequadas à ANEEL; Disciplinar os requisitos técnicos na interface com a Rede Básica, complementando de forma harmônica os Procedimentos de Rede. Em relação à qualidade de energia, o módulo 8 define a terminologia e os indicadores, caracteriza os fenômenos, estabelece os limites ou valores de referência, a metodologia de medição, a gestão das reclamações relativas à conformidade de tensão em regime permanente e às perturbações na forma de onda de tensão e os estudos específicos de qualidade da energia elétrica para fins de acesso aos sistemas de distribuição [ANEEL, 2016]. Estes indicadores podem ser melhor entendidos da forma abaixo: Variação de tensão em regime permanente – DRP e DRC Este indicador é definido pela variação percentual da amplitude da senoide da tensão por um tempo maior que três minutos. O documento estabelece os limites percentuais adequados, precários e críticos para os níveis de tensão em regime permanente, os critérios de medição e de registro e os prazos. Qualidade de energia – DRP e DRC Para compensação ao consumidor, caso as medições de tensão excedam os limites dos indicadores, estes sendo DRP – índice de duração relativa da transgressão para tensão precária igual a 3% e DRC – índice de duração relativa da transgressão para tensão crítica igual 0,5% [ANEEL, 2018]. Desequilíbrio de tensão – FD O desequilíbrio de tensão é o fenômeno caracterizado por qualquer diferença verificada nas amplitudes entre as três tensões de fase de um determinado sistema trifásico, e/ou na defasagem elétrica de 120° entre as tensões de fase do mesmo sistema. O indicador levado em conta para a regulamentação é o percentil 95% do Fator de Desequilíbrio de Tensão, FD95%, que tem como limites 3%, para tensão nominal menor ou igual a 1kV e 2% para tensões nominais entre 1kV e 230kV [ANEEL, 2018]. O percentil é uma medida usada em estatística que indica o valor em que a porcentagem em questão dos dados avaliados se encaixa. No caso dos indicadores de qualidade de energia, o percentil 95% do indicador define o valor em que 95% dos indicadores calculados estarão abaixo. Flutuação de tensão – PST e PLT A flutuação de tensão é um fenômeno caracterizado pela variação aleatória, repetitiva ou esporádica do valor eficaz ou de pico da tensão instantânea. A determinação da qualidade da tensão do sistema de distribuição quanto à flutuação de tensão tem por objetivo avaliar o incômodo provocado pelo efeito da cintilação luminosa no consumidor, que tenha em sua unidade consumidora pontos de iluminação alimentados em baixa tensão. Os indicadores levados em conta para a regulamentação são os percentis 95% do PST – Severidade de Flutuação de Tensão de Curta Duração e PLT – Severidade de Flutuação de Tensão de Longa Duração. Os limites destes indicadores também variam com a tensão nominal da subestação medida, indo de 1 a 2pu [ANEEL, 2018]. Variações de tensão de curta duração – FI Variações de tensão de curta duração (VTCD) são desvios significativos na amplitude do valor eficaz da tensão durante um intervalo de tempo inferior a três minutos. Para se obter o indicador FI – Fator de Impacto, levado em conta para a regulamentação, estes eventos de VTCD são segregados por tempo e magnitude, sendo que cada segregação tem seu fator de ponderação de sensibilidade(multiplicador), depois é feita uma média ponderado destes dados, que dácomo resultado o indicador FI, que tem como limite o valor 1pu [ANEEL, 2018]. Distorções Harmônicas – DTT As distorções harmônicas são fenômenos associados a deformações nas formas de onda das tensões e correntes em relação à onda senoidal da frequência fundamental. Os indicadores levados em conta para a regulamentação são os percentis 95% das Distorções Harmônicas Totais para os harmônicos de ordem par não múltiplos de 3, ímpar não múltiplos de 3 e harmônicos múltiplos de 3, respectivamente DTTP 95%, DTTi 95% e DTT3 95%. Seus limites dependem da faixa de tensão nominal referente [ANEEL, 2018]. Seção 4.5: Projeto de lei para regular distribuição de energia atende a mercado em expansão, mas não ajuda a resolver crise energética Está em discussão na Câmara dos Deputados, e pode ser votado a qualquer momento, o Projeto de Lei 5829/19, (PL 5829/29) também conhecido como marco legal da geração distribuída. O texto, de autoria do Deputado Silas Câmara (Republicanos – AM), tem como objetivo regulamentar a geração de energia elétrica por mini e micro produtores, que no Brasil é feita majoritariamente através do uso da energia solar. Para Dionízio Paschoareli, que pesquisa as áreas de geração distribuída e fontes renováveis de energia, a discussão sobre o projeto de lei é importante para chamar a atenção sobre uma modalidade de geração de energia emergente e limpa, mas sua eventual aprovação não irá promover a diversificação da matriz energética brasileira em um curto prazo. A principal serventia da nova legislação será a de orientar um mercado em franca expansão. A geração distribuída é aquela energia gerada junto ou próximo ao consumidor, independentemente do tipo de tecnologia aplicada. A mais conhecida é a energia solar, comumente gerada a partir de placas fotovoltaicas. Essas modalidades de geração de energia vem ganhando espaço entre consumidores, com destaque para os micro (até 75 kW) e minigeradores (5 MW). Eles são chamados de “prosumidores”, e estão no centro do debate em Brasília. Atualmente, este setor é regulado apenas por uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em seu parecer, o relator do projeto de lei, o deputado Lafayette de Andrada, destaca que o texto deve trazer segurança jurídica, clareza e previsibilidade para um setor em crescimento e responsável pela criação de 74 mil empregos em 2020, e que deve promover investimentos da ordem de R$ 16,7 bilhões em 2021. O relator ressalta ainda a capacidade da geração distribuída em “ajuda a aliviar a operação da matriz elétrica nacional com economia da água dos reservatórios das hidrelétricas, com a redução do uso das termelétricas, (mais caras e poluentes)”. Pasquarelli, que é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de Engenharia do câmpus da Unesp em Ilha Solteira, enxerga como positivo o debate sobre o PL 5829/29, pois joga luz no tema do uso de fontes de energia limpas e na diversificação da matriz energética. Essa discussão ganha especial importância em um momento em que a crise hídrica e a redução da vazão dos reservatórios irão obrigar o Brasil a acionar usinas termelétricas, que em geral funcionam a base de combustíveis fósseis e produzem uma energia mais cara do que a hidráulica. “Infelizmente, a geração distribuída não vai ajudar a resolver o problema energético em um curto prazo. Ele é o marco regulatório de mercado, e discute principalmente incentivos para que concessionárias e pequenos produtores de energia tenham algum estímulo para investir no setor”, explica. Mercado em rápido crescimento De fato, este mercado vem crescendo substancialmente ano a ano. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2017 a geração distribuída por energia solar tinha 197 MW de potência instalada no país. Em 2021, este número cresceu para 6.024 MW. Ainda segundo a entidade, a fonte solar fotovoltaica representa 99,9% das instalações de micro e minigeração distribuída, englobando desde painéis instalados nos tetos de residências e galpões até usinas de médio porte. Entre os estímulos citados pelo docente de Ilha Solteira está o sistema de compensação, atualmente em uso, em que a energia gerada por uma residência é devolvida ao sistema e pode ser distribuída através deste para outros usuários. O sistema elétrico centralizado funciona como uma caixa d’água em que mangueiras abastecem o sistema e torneiras drenam a água. Neste sentido, estes pequenos geradores, além da torneira em que recebem a energia, possuem também uma mangueira em que abastecem o sistema com a energias produzida pelos seus painéis solares. Hoje, os pequenos produtores têm direito a um crédito, com validade de cinco anos, relativo à energia que devolveram para o sistema, que pode ser abatido na fatura da conta. Este instrumento é polêmico, e tornou-se um dos principais temas em debate na Câmara porque, embora represente um importante incentivo à micro e minigeração distribuída, não considera o custo da estrutura de transmissão instalada. O texto em vias de ser colocado em votação na Câmara pretende mudar este benefício. Sistemas que já estejam em funcionamento ou que solicitarem acesso na rede de distribuição de energia elétrica a partir de 12 meses após a data de publicação da lei, irão manter esse benefício por 26 anos, dentro do conceito de direito adquirido. Os demais prosumidores terão essa taxa cobrada progressivamente ao longo dos dez anos seguintes. “Mesmo que a pessoa tenha um sistema fotovoltaico na sua casa, ela sempre estará conectada à rede. Quando não há Sol, e o usuário não puder gerar a própria eletricidade, o sistema oferece energia necessária, e o usuário não está pagando à concessionária por essa conexão. O ônus dessa infraestrutura vai acabar sendo repassado aos demais consumidores, principalmente os mais pobres que não podem pagar um sistema fotovoltaico”, aponta o professor da Unesp. “A gente não pode esquecer que o imposto é um bem comum. Se o Estado abre mão de impostos, ele abre mão de recursos e vai precisar compensar de alguma forma”. O argumento da sustentabilidade Um argumento a favor da manutenção do sistema de compensação é que a própria economia proporcionada pelo consumo de uma energia cuja geração é mais barata do que o acionamento das usinas termelétricas, somada aos benefícios ambientais inerentes da matriz solar, que não gera gases de efeito estufa, compensariam os recursos “perdidos” com a renúncia a taxar o uso da rede. Segundo o professor da Unesp, é fato que a geração distribuída fotovoltaica pode promover benefícios ambientais, mas é necessário fazer uma análise mais detalhada de seus impactos ambientais e econômicos para afirmar com precisão que eles compensariam as cobranças. Quanto à vantagem em relação ao custo das usinas termelétricas, Dionízio lembra que o preço da energia para o consumidor depende de vários fatores, entre eles a oferta no leilão de energia. Embora possa haver um menor custo na produção, isto não necessariamente se materializa no preço final ao consumidor, que vai depender das condições de mercado. Ainda assim, o aumento na participação das fontes fotovoltaicas na matriz energética pode fazer com que esses valores sejam reduzidos, à medida que elas passarem a ser importantes na matriz energética. Outro ponto do PL 5829/29 que merece atenção é a diferença de grandezas que estão sendo incluídas sob um mesmo texto de lei. Se a microgeração contempla “prosumidores” de até 75 kW, a definição de minigeradores abarca sistemas de até 5 MW, uma escala quase mil vezes maior. Para as distribuidoras, um cenário com maior número de minigeradores (até 5 MW) pode ser interessante para as distribuidoras, uma vez que a geração estável e mais próxima do consumidor tende a gerar economia com a perda no transporte deenergia e com a redução de investimentos em transmissão. Já em um ambiente em que prevaleçam microgeradores de 5 a 10kW a distribuidora não teria a mesma previsibilidade e estabilidade no fornecimento de energia, o que pode afetar a operacionalidade do sistema. “Quando a geração pequena se dissemina muito, os proprietários podem falhar na manutenção por diversos motivos, e o sistema não irá contar com aquela energia. Já no caso de um consumidor grande, a empresa irá firma um contrato e cobrar a operacionalidade com geração consistente”, explica. Retomando a analogia da caixa d’água, o receio é que as “micromangueiras” não ofereçam a mesma previsibilidade e estabilidade, o que pode prejudicar o sistema como um todo. Por hora, esta possibilidade mais problemática parece ainda distante da realidade brasileira. Em setembro de 2020 o país bateu o recorde de oferta de energia elétrica a partir de fontes solares fotovoltaicas (seja centralizada ou distribuída). Porém, apesar da marca histórica, esta matriz ainda representa apenas 1,4% de toda a energia ofertada no Brasil. Para Paschoareli, qualquer que venha a ser a decisão final em Brasília quanto ao PL 5829/29, o debate provavelmente será retomado quando a energia gerada pelos prosumidores atingir um montante significativo na matriz brasileira. “Nesse momento, a geração distribuída solar ainda é muito incipiente no país. As resoluções da Aneel têm menos de 10 anos, o que não é nada para o sistema elétrico. Ainda estamos colocando o sistema em funcionamento e este debate é parte do processo”. Referências ANEEL, 2010. Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010. Disponível em: http:// www2.ANEEL .gov.br/cedoc/ren2010414comp.pdf. ANEEL, 2017a. Relatórios de Consumo e Receita da Distribuição. Disponível em: http://www. ANEEL .gov.br/relatorios-de-consumo-e-receita ANEEL 2015. Relatórios de Consumo e Receita da Distribuição. Disponível em: http://www. ANEEL .gov.br/relatorios-de-consumo-e-receita ANEEL, 2016. Estimativa de Capacidade da Geração Distribuída no Horário de Ponta. Disponível em: http://www.epe.gov.br/mercado/Documents/S%C3%A9rie%20Estudos%20de%20 Energia/DEA%2001%20- %20Gera%C3%A7%C3%A3o%20Distribu%C3%ADda%20no%20 Hor%C3%A1rio%20de%20Ponta.pdf Aneke, M.; Wang, M. (2016). Energy storage technologies and real life applications – a state of the art review. Applied Energy, 179, 350-377. Anuta, O. H.; Taylor, P.; Jones, D.; McEntee, T.; Wade, N. 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Esse aplicativo tem como objetivo realizar o registro das medições anemométricas e climatológicas fornecidas pelos parques eólicos que ganham os leilões de energia elétrica, tanto os de compra quanto os de venda. Esses leilões são promovidos, de forma geral, pelo Governo Federal, por meio do Ministério de Minas e Energia. As medições consistem em uma grande fonte de dados para estudos sobre a energia eólica. Entretanto, não se resumem a isso. O Anuário Estatístico de Energia Elétrica e a Resenha Mensal de Energia Elétrica fornecem subsídios completos para o estudo do mercado. Seção 1.3: Situação atual com relação à produção e distribuição de energia elétrica Como vimos, a energia produzida no Brasil tem diversas fontes: hidrelétricas, termelétricas, usinas nucleares, usinas eólicas e solares etc. Entretanto, a principal fonte ainda é a energia obtida por meio das hidrelétricas, principalmente, devido à capacidade dessas usinas em gerar energia, além da quantidade de rios caudalosos que o Brasil apresenta. Além disso, esse tipo de usina geradora de energia dispõe de um amplo incentivo governamental, desde o Império, quando foi criado o primeiro complexo desse tipo. Impacto ambiental e geração de energia sustentável Maior usina do mundo em geração de energia, a Itaipu foi construída durante o regime militar e deixou milhares de ribeirinhos desabrigados, além de causar vários impactos à flora e fauna local. Dessa forma, urge que sejam debatidas novas soluções para a questão energética no Brasil, pois, apesar de a hidrelétrica produzir energia renovável, não pode ser considerada sustentável, porque ela afeta severamente o meio ambiente no qual é instalada. Nos últimos anos, o setor de energia elétrica tem se diversificado quanto à produção, sobretudo, em razão do avanço da tecnologia das fontes de energia renováveis, como a solar e eólica. Além do mais, a preocupação da sociedade em relação à sustentabilidade impulsionou esse começo de mudança de paradigma no nosso mercado de energia elétrico. As recentes mudanças nesse mercado Outro ponto que devemos destacar como protagonista da mudança no cenário elétrico nacional são as empresas e a política de energia elétrica nacional a partir da década de 1990. Com as mudanças estruturantes que ocorreram no mercado de energia elétrica, como a criação do Mercado Livre, aumentou-se a competitividade e eficiência do setor. Levantamentos recentes apontam que o Mercado Livre já corresponde a 30% da energia consumida no Brasil, por exemplo. A geração de energia é realizada nas usinas hidrelétricas e termelétricas de forma majoritária. Após isso, a energia é enviada até as distribuidoras, que têm autorização para realizar a intermediação dela até o consumidor final, cobrando uma taxa pelo serviço acrescido das condicionantes externas do mercado. Essas empresas podem ser públicas ou privadas, e costumam variar de acordo com cada estado. Seção 1.4: Como é gerada a energia elétrica Várias são as fontes que podem gerar energia para o nosso consumo. Entre elas, podemos citar a água, a lenha, o carvão, o petróleo, o ar e o sol. Dessa forma, as usinas geradoras de energia têm o papel de transformar a energia desses elementos em eletricidade, o que varia de acordo com cada fonte. Como a maior parte da energia no Brasil é produzida por hidrelétricas, usaremos esse exemplo. Nas hidrelétricas, a força da água do rio é utilizada no processo de geração. A usina é construída em um rio e, assim, quanto maior a sua vazão, mais eficiente será a usina. Após a construção do complexo, forma-se um lago, que, junto com a barragem, casa de força, subestação elevadora e linhas de transmissão, forma a estrutura da hidrelétrica. A formação do lago, também chamada de reservatório, é uma das principais causas do alagamentos e danos ambientais, citados anteriormente como uma das críticas a esse tipo de geração de energia. Entretanto, falando de forma prática sobre o tema, esse lago é criado após a construção da barragem, que serve para reter a água do rio. Nessa barragem, é construído o desaguadouro da usina, que funciona como uma pequena abertura pela qual deve sair o excesso da água do reservatório em tempos de chuva. Para produzir energia, a água sai do reservatório e é conduzida com muita pressão para os tubos até as turbinas e geradores, que ficam localizados na casa de força. A pressão da água movimenta as pás, responsáveis por criar um campo magnético que produz eletricidade. Logo em seguida, para que a energia chegue às cidades, indústrias e ao campo, é necessário que seja aumentada a voltagem. Para isso, são utilizados os transformadores elevadores das subestações. A energia elétrica é transportada, então, por meio de linhas de transmissão. Contudo, para chegar até as residências, a tensão é rebaixada novamente nas subestações localizadas na cidade e chega até as residências por meio de redes de distribuições locais, com postes, cabos e transformadores. Seção 1.5: De que forma a energia elétrica é transmitida Estação geradora Como já falamos neste texto, a energia elétrica pode ser produzida a partir de diversas fontes, sendo as hidrelétricas as principais geradoras no Brasil. Dessa forma, o primeiro passo e protagonista da transmissão de energia elétrica são as hidrelétricas. Subestações de transmissão A energia produzida nas usinas sai direto para as estações de transmissão, em que passa por transformadores para aumentar a voltagem, operação necessária para que consiga chegar até a sociedade civil. Depois disso, a energia é conduzida para as cidades e indústrias por meio de linhas de alta tensão, que podem ser avistadas comumente nas estradas, por exemplo. Linhas de transmissão São torres altas de tensão que levam a energia elétrica por longas distâncias. Para reduzir as perdas de energia durante o caminho, ela é transmitida com uma grande voltagem. Por conta disso, as linhas de transmissão são áreas em que não é possível construir nenhum elemento, desde casas, comércios, indústrias ou praças. Subestações de distribuição A eletricidade passa pelos transformadores de tensão nas subestações para que tenha a sua potência diminuída e, assim, possa ser transmitida para as residências, comércios, escritórios e indústrias de pequeno porte. Só após esse procedimento, ela é enviada para a rede de distribuição. Fiação dos postes Após essa etapa, a energia passa para a fiação dos postes, em que é novamente submetida a uma diminuição da voltagem. Após o procedimento, passa pela fiação (subterrânea ou aérea), até chegar às residências, escritórios e comércios. Consumidor final Nos interruptores e tomadas de nossas casas, escritórios, ou comércios, a energia fica disponível para utilização no mesmo momento em que é acionada, tornando possível a utilização de equipamentos eletrônicos, iluminação, carregamento de aparelhos como celulares e notebook etc. Seção 1.6: Quem é responsável pela distribuição da energia elétrica A distribuição é realizada pelas empresas distribuidoras de energia elétrica, e elas podem ser públicas ou privadas. Assim como ocorre com a transmissão, a distribuição de energia é realizada por fios condutores, equipamentos de mediação, controle e proteção, além dos transformadores. O sistema de distribuição é bastante ramificado, amplo, dinâmico e complexo, pois precisa chegar a toda a população, que se encontra espalhada por todos os cantos desse país. Podemos destacar a composição da rede de destruição por meio das linhas de alta, média e baixa tensão. Dessa forma, a energia distribuída varia de acordo com a potênciaadequada. Podemos dividi-las em redes elétricas primárias e secundárias. Redes elétricas primárias Essas redes são de média tensão. Têm como objetivo distribuir a energia e também abastecer as grandes e médias empresas, além das indústrias, que, por demandarem maior quantidade de energia, têm prioridade no acesso à rede. Redes elétricas secundárias Essas redes de baixa tensão atendem principalmente os consumidores residenciais, escritórios, iluminação pública, e pequenos estabelecimentos comerciais. No país, existem cerca de 80 milhões de Unidades Consumidoras (UC), que nada mais são do que pontos de entrega de energia com medição individualizada, o que corresponde a um único usuário). A maior parte dessas unidades consumidoras, cerca de 85%, consiste em residências. Apesar disso, as indústrias são responsáveis por 35% por consumo de energia, o que se explica em razão do consumo de energia das máquinas industriais, como as caldeiras. O processo histórico de urbanização e industrialização norteou as redes de transmissão e distribuição do país, de forma que os maiores centros urbanos e regiões mais industrializadas apresentam maior consumo de energia elétrica. Seção 1.7: Como a energia elétrica é comercializada O comércio de energia elétrica se divide, basicamente, em dois setores: o Ambiente de Contratação Regulada e o Mercado de Curto Prazo. Falaremos brevemente sobre cada um deles a seguir. Ambiente de Contratação Regulada Os leilões são regulamentados e efetuados pela CCEE, cumprindo uma norma da ANEEL. Dessa forma, ocupa um papel fundamental no Ambiente de Contratação Regulada — ACR. Os compradores e investidores do ramo de energia, que participam dos leilões, formalizam a sua participação por meio de contratos registrados e acompanhados do ACR. Nos leilões definidos pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), os leilões são realizados de forma direta pela ANEEL. Os contratos estabelecidos têm uma regulação específica para aspectos como submercado de registro de contrato, vigência de suprimento e preço da energia. Eles são passiveis de alterações bilaterais dos agentes envolvidos, desde que isso seja feito de comum acordo. Entre os principais contatos existentes no mercado de energia elétrica, podemos citar: Contratos de Geração Distribuída; Contratos de Ajuste; Contratos do Proinfa Contratos de Itaipu; CER; Conuer; CCEAR. Mercado de Curto Prazo Todos os contratos de compra e venda devem ser registrados no CCEE, independentemente se eles forem celebrados com aval do ACR ou CL. Esse órgão realiza a fiscalização constante da quantidade de energia consumida e produzida pelos agentes do setor. As diferenças encontradas, sejam elas negativas, sejam positivas, são contabilizadas para que, posteriormente, seja feita a liquidação financeira no Mercado de Curto Prazo. Além disso, ocorre a valorização no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). Desse modo, o Mercado de Curto Prazo pode ser definido como uma seção do CCEE, em que são contabilizadas as divergências entre os montantes de energia elétrica encontrados no setor pelos agentes e consumidores. Tendo isso em vista, a fiscalização serve para regular e verificar os valores atribuídos a cada um dos agentes. Vale ressaltar que, nesse mercado, não há contratos, mas contratação multilateral. Seção 1.8: Como esse mercado é fiscalizado e regulamentado Como falado anteriormente, o comércio de energia elétrico é regulamentado no país, ainda que no sistema de mercado livre. Em especial, as diretrizes são estabelecidas pelos órgãos regulamentadores, como a ANEEL e CCEE. Destacamos abaixo os principais itens que você deve conhecer sobre a regulação do setor: Convenção de Comercialização de Energia Elétrica — Resolução Normativa nº 109/2004; Regras de Comercialização; Procedimentos de Comercialização; Liquidação das operações de compra e venda — Resolução nº 552/2002; Garantias financeiras e a efetivação de registros de contratos de compra e venda de energia elétrica — Resolução Normativa nº 622/2014; Desligamento de agentes e impugnação de atos praticados na CCEE — Resolução Normativa nº 545/2013; Controle dos contratos de comercialização de energia elétrica — Resolução Normativa nº 783/2017. Além disso, é importante que você compreenda o conceito de mercado livre de energia. Como o próprio nome sugere, é um setor da iniciativa privada, criado e regulamentado durante a década de 1990, que permite que investidores e consumidores participem ativamente da compra e venda de energia elétrica de forma direta, no Ambiente de Contratação Livre. O Ambiente de Contratação Regulada, também existente no nosso mercado de energia, ocorre quando os consumidores estão presos à compra de energia das concessionárias e distribuidoras, sem que haja a liberdade e concorrência entre empresas distintas. Dessa forma, quem opta pelo mercado livre de energia tem a possibilidade de comprar energia diretamente de empresas ou geradores comercializadores. Sendo assim, o mercado de energia elétrica é bastante complexo e dinâmico, com diversas variáveis interferindo em seu funcionamento. Entre elas, destacamos aqui no texto que a política, clima e até mesmo a economia interferem de alguma forma no comércio e produção da energia elétrica. O Brasil tem mais de 100 anos nesse mercado e a produção de energia acompanhou o processo de urbanização e industrialização no país, tendo se consolidado primeiro nos grandes centros urbanos do litoral e sudeste. Atualmente, a energia se faz presente em quase todo o território nacional, e é um importante instrumento de cidadania e inclusão social. Para participar do mercado de energia elétrica, seja na condição de investidor, seja como um consumidor, especialmente, para o caso de grandes empresas e indústrias, é necessário se inteirar sobre o assunto. Você viu ao longo deste texto as principais informações relevantes que deve levar em consideração para se tornar um especialista no mercado. Além disso, vale a pena entrar em contato com empresas renomadas e com experiência no setor do mercado de energia elétrica, caso queira gerir e organizar melhor os gastos dessa natureza na sua empresa ou indústria. Unidade 2: Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica - Regulação da Qualidade Seção 2.1: Regulamentação vigente As condições gerais de fornecimento de energia elétrica são definidas pela ANEEL através da Resolução Normativa nº 414/2010 (ANEEL, 2010). Esta resolução define que a tarifa deve ser a mesma entre consumidores que se enquadrem na mesma categoria. Ou seja, consumidores da mesma classe de consumo, subgrupo de tensão, modalidade tarifária e modalidade de faturamento não podem ter tarifas diferentes entre si. Também de acordo com esta regulamentação, os investimentos em melhoria na qualidade do atendimento podem ser repassados à tarifa. Entretanto, esse repasse é limitado apenas aos investimentos necessários para atingir as metas de qualidade estabelecidas nas Revisões Tarifárias Periódicas, denominados por “investimentos prudentes”. Para o Regulador, os investimentos para melhoria nos indicadores de qualidade da energia acima das metas não podem ser repassados à tarifa. Esta resolução (ANEEL, 2010) estabelece, em seu artigo 42, a possibilidade de participação financeira dos consumidores no caso de solicitações de aumento de carga, por meio de um contrato específico, celebrado previamente entre a distribuidora e os consumidores interessados. Ressalta-se que a participação financeira do consumidor nas obras é a diferença positiva entre o seu custo e o encargo de responsabilidade da distribuidora, observando critérios de mínimo dimensionamentotécnico possível e menor custo global. O art. 43, §2º estabelece que: “Caso a distribuidora ou o interessado opte por realizar obras com dimensões maiores do que as necessárias para o atendimento ou que garantam níveis de qualidade de fornecimento superiores aos especificados na respectiva regulamentação, o custo adicional deverá ser arcado integralmente pelo optante, devendo ser discriminados e justificados os custos adicionais.” Dada a importância deste posicionamento regulatório, há a necessidade de um exame mais detalhado e minucioso do art. 43, desenvolvido em seguida. O art. 43 define que o encargo de responsabilidade da distribuidora, denominado ERD, é determinado pela seguinte equação: onde: MUSDERD é o montante de uso do sistema de distribuição a ser atendido ou acrescido para o cálculo do ERD, em quilowatt (kW); K é o fator de cálculo do ERD, definido pela seguinte equação: onde: TUSD Fio BFP é a parcela da TUSD no posto tarifário fora de ponta, composta pelos custos regulatórios decorrentes do uso dos ativos de propriedade da própria distribuidora, que remunera o investimento, o custo de operação e manutenção e a depreciação dos ativos, em Reais por quilowatt (R$/kW); α é a relação entre os custos de operação e manutenção, vinculados diretamente à prestação do serviço de distribuição de energia elétrica, como pessoal, material, serviços de terceiros e outras despesas, e os custos gerenciáveis totais da distribuidora (Parcela B), definidos na última Revisão Tarifária Periódica; e FRC é o fator de recuperação do capital que traz a valor presente a receita uniforme prevista, sendo obtido pela equação: onde: i = a taxa de retorno adequada de investimentos, definida pelo Custo Médio Ponderado do Capital (WACC), estabelecido na última Revisão Tarifária, acrescido da carga tributária, sendo obtido pela equação: n é o período de vida útil, em anos, associado à taxa de depreciação percentual anual “d” definida na última Revisão Tarifária, sendo obtido pela equação: Além disso, conforme o art. 44, II: “Art. 44. O interessado, individualmente ou em conjunto, e a Administração Pública Direta ou Indireta, são responsáveis pelo custeio das obras realizadas a seu pedido nos seguintes casos: (...) II – melhoria de qualidade ou continuidade do fornecimento em níveis superiores aos fixados pela ANEEL, ou em condições especiais não exigidas pelas disposições regulamentares vigentes, na mesma tensão do fornecimento ou com mudança de tensão, exceto nos casos de que trata o § 1º do art. 13;” (ANEEL, 2010) Portanto, de acordo com a regulamentação em vigor, é da responsabilidade do consumidor, interessado em uma melhor qualidade de fornecimento da energia distribuída do que a estabelecida nas Resoluções Autorizativas da ANEEL, o custeio das obras de melhoria de qualidade ou continuidade do fornecimento em níveis superiores aos fixados, a partir de um prévio acordo com a distribuidora. Além disso, o art. 46 estabelece que: “Art. 46. A distribuidora, por solicitação expressa do consumidor, pode realizar obras com vistas a disponibilizar-lhe o remanejamento automático de sua carga em casos de contingência, proporcionando padrões de continuidade do fornecimento de energia elétrica superiores aos estabelecidos pela ANEEL, observando-se que: I – o uso adicional e imediato do sistema deve ser disponibilizado por meio da automatização de manobras em redes de distribuição ou ainda pela instalação de dispositivos de manobra da distribuidora dentro da propriedade do consumidor, desde que por este expressamente autorizado; II – o custo pelo uso adicional contratado, em montantes equivalentes aos valores contratados de demanda ou uso do sistema de distribuição, deve ser remunerado pelo consumidor mediante a aplicação, respectivamente, da tarifa de demanda ou TUSD nos postos tarifários correspondentes; III – é vedada a utilização exclusiva da rede, à exceção do trecho onde esteja conectada a carga a ser transferida IV – o investimento necessário à implementação do descrito no caput deve ser custeado integralmente pelo consumidor; V – a implementação condiciona-se ao atendimento dos padrões técnicos estabelecidos pela distribuidora e à viabilidade do sistema elétrico onde se localizar a unidade consumidora, sendo vedada quando incorrer em prejuízo ao fornecimento de outras unidades consumidoras; e VI – quando da implementação das condições previstas neste artigo, estas devem constar do contrato de uso do sistema de distribuição” (ANEEL, 2010) Desta forma, como se pode observar com base nos artigos acima citados, o Regulador determina uma atribuição clara de responsabilidades quanto aos custos associados a investimentos na rede, inclusive os que visam o aumento da qualidade para um consumidor específico. Portanto, a posição da ANEEL é a de que, para além dos limites de qualidade estabelecidos, a responsabilidade é do consumidor, podendo este efetuar acordos com a distribuidora para realização de investimentos que permitam melhores patamares de qualidade do que aqueles estabelecidos pela regulamentação em vigor. Caso contrário, os investimentos para atender interesses específicos seriam, posteriormente, repartidos entre diferentes usuários do sistema e muitos consumidores poderiam não estar de acordo com um maior pagamento ou não iriam se beneficiar pelo aumento da qualidade de fornecimento. Essa delimitação da responsabilidade da distribuidora faz-se necessária pela regulação para mitigar a existências de distorções nos preços pagos entre os usuários da rede. Trata-se, assim, da aplicação do Princípio da Isonomia. Seção 2.2: Indicadores de qualidade utilizados O conceito de qualidade do fornecimento de energia elétrica varia de acordo com o agente envolvido e com o uso que ele faz da eletricidade. De modo geral, e de acordo com Delgado (2002, p. 29), há duas categorias principais: i. Qualidade da onda (Power Quality): referente mais propriamente à qualidade do produto, dentro das especificações de frequência, tensão e ausência de distorções; e ii. Qualidade do serviço ou confiabilidade (Power Reliability): referente à disponibilidade do produto. No Brasil, os principais indicadores coletivos para determinação da qualidade do serviço de fornecimento de energia elétrica são: i. DEC: Duração Equivalente da Interrupção por Unidade Consumidora; e ii. FEC: Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora. Estes indicadores medem, respectivamente, o tempo e a frequência médias de interrupção de um grupo de consumidores em um dado período de tempo. Em geral, critérios são utilizados para excluir dos cálculos certos tipos de interrupções, tais como: i. Interrupção causada por motivo de força maior, como desastres naturais; e ii. Duração da interrupção menor do que três minutos. Uma outra forma de o Regulador atuar, essa menos comum, é através de exigências nos critérios de planejamento. Por exemplo, exigindo-se que determinado circuito tenha redundância N-2 ou N-3. Os indicadores DEC e FEC são de caráter coletivo, relacionando-se a toda uma região elétrica. Há, também, indicadores específicos para o consumidor individual, que devem ter um patamar mínimo atingido pela distribuidora, sob pena de ressarcimento ao consumidor atingido por insuficiência de qualidade. Os principais indicadores individuais, análogos ao DEC e ao FEC, são: i. DIC: Duração de Interrupção Individual por Unidade Consumidora ou ponto de conexão; e ii. FIC: Frequência de Interrupção Individual por Unidade Consumidora ou por ponto de conexão. Outros indicadores utilizados no Brasil são: i. DMIC: Duração Máxima de Interrupção Contínua por Unidade Consumidora ou por ponto de conexão; e ii. DICRI: Duração da Interrupção Individual em Dia Crítico por UnidadeConsumidora ou ponto de conexão. Os limites dos parâmetros de qualidade no qual as distribuidoras devem operar são definidos pelo Regulador nas Revisões Tarifárias Periódicas. Como resultado da Audiência Pública n° 33/2009 (ANEEL, 2009), a ANEEL promoveu uma redefinição dos indicadores individuais de qualidade, revogando resoluções específicas que estabeleciam limites diferenciados desses indicadores para diferentes áreas de concessão, passando a considerar um único limite para cada faixa estabelecida pela Agência, conforme pode ser observado no Anexo I, da Seção 8.2 do PRODIST (ANEEL, 2016). Caso as metas individuais sejam ultrapassadas, a distribuidora incorre em penalizações. Elas serão derivadas das eventuais transgressões das metas individuais das unidades consumidoras, definidas pelo percentual de ultrapassagem da meta multiplicado pelo encargo do uso do sistema de distribuição e por uma variável que se diferencia em relação ao nível de tensão no qual o consumidor se encontra. Os critérios adotados pelo Regulador para a definição desses limites passam também pela definição dos conjuntos de unidades consumidoras. Para tanto, são utilizadas informações sobre extensão das redes, energia consumida por classe, potência dos transformadores, quantidade de consumidores, entre outras informações. A partir da definição desses atributos físico-elétricos dos conjuntos de unidades consumidoras, são definidos limites de qualidade que apresentam uma trajetória decrescente com base nos valores estabelecidos pelas Resoluções Autorizativas da ANEEL. O propósito do estabelecimento de metas por conjuntos é possibilitar uma maior compatibilidade entre os limites de qualidade estabelecidos e os atributos físico-elétricos da localidade. Com base nos índices DEC e FEC, é publicado anualmente o “Indicador de Desempenho Global”, o qual permite a comparação entre o desempenho das diferentes distribuidoras do país. No âmbito internacional, observa-se a necessidade, em alguns países, de contabilizar as interrupções de curta duração que não são consideradas no cálculo do FEC. Um exemplo bastante elucidativo pode ser observado na Austrália, onde se adota o indicador MAIFI (Momentary Average Interruption Duration Index), mesmo que nem todos os estados possuam equipamentos capazes de aferi-lo (HESMONDHALGH et al., 2012). Esse indicador é particularmente importante para os consumidores industriais, pois interrupções de curta duração, as quais trazem poucos prejuízos aos consumidores residenciais, prejudicam os processos produtivos mais sensíveis, causando grandes transtornos e prejuízos às indústrias. No âmbito nacional, para a definição da meta de qualidade a ser alcançada pelas distribuidoras, utiliza-se um mecanismo de Regulação por Comparação, denominado yardstick competition, em que são selecionados conjuntos elétricos com características físico-elétricos semelhantes, tais como área, extensão da rede, energia consumida, número de unidades consumidoras, dentre outras que são definidas como relevantes pelo Regulador, no momento da determinação dos limites. A partir da delimitação dos conjuntos elétricos semelhantes, são estabelecidos patamares a serem alcançados, que consideram como meta os melhores índices observados dentre os conjuntos selecionados (ANEEL, 2016). As interrupções no fornecimento são eventos aleatórios que podem ter diversas causas, como curtos gerados por galhos, animais, vandalismo ou acidentes. A distribuidora deve investir para diminuir a probabilidade dessas ocorrências, questão essa ligada ao indicador FEC. Dada a ocorrência, a distribuidora deve realizar esforços para que a interrupção dure o menor tempo possível, o que se relaciona ao indicador DEC. Com o seu caráter estocástico, os custos associados à melhora desses índices são de difícil estimação. Além disso, esses custos não são passíveis de generalização, posto que estão ligados às especificidades de cada rede elétrica (i.e., fatores conjunturais ou estruturais, que muitas vezes não são capturados pela regulação, podem tornar determinada área inacessível para entrada das equipes de manutenção). Dessa forma, há uma dificuldade para saber se o investimento terá o resultado esperado em termos de diminuição de DEC e FEC. Por isso, mais do que definir os investimentos necessários ou metas ideais de qualidade, é importante que o Regulador defina trajetórias factíveis de melhora, que promovam um incentivo real para que as distribuidoras persigam, e nisso a ANEEL tem sido bem-sucedida, como será apresentado na próxima seção. Seção 2.3: Evolução dos indicadores de qualidade no Brasil Conforme pode ser observado nos Gráficos 1 e 2, o marco regulatório estabelecido para a questão da qualidade de fornecimento de energia elétrica tem obtido relativo êxito. Gráfico 1 – Evolução do Índice FEC: 1996-2016 (Em n° de interrupções) Fonte: elaboração própria com base em dados da ANEEL (2017). Gráfico 2 – Evolução do Índice DEC: 1996-2016 (Em horas) Fonte: elaboração própria com base em dados da ANEEL (2017). Nestes termos, os Gráficos 1 e 2 atestam que, entre 1996 e 2016, os índices FEC e DEC caíram, respectivamente, 60% e 39%, indicando que a regulação aplicada promoveu incentivos para as distribuidoras perseguirem as metas estabelecidas, o que está certamente ligado à sensibilidade dos modelos utilizados pela Agência quanto às diferentes características das redes de cada distribuidora. Unidade 3: Qualidade do Fornecimento de Energia Elétrica - Perspectivas e Importância da Evolução da Qualidade Seção 3.1: Introdução O Setor Elétrico Brasileiro (SEB) atende a mais de 80 milhões de unidades consumidores, dos mais diversos tipos e perfis, através de 98 concessionárias e permissionárias de distribuição de energia elétrica (ANEEL, 2017a). Por ser um serviço essencial e cada vez mais fundamental na sociedade brasileira, é importante a contínua e permanente averiguação e controle de parâmetros técnicos da imensa e complexa rede de distribuição, que cobre a dimensão continental do Brasil. Assim, por se tratar de uma concessão pública em um segmento que apresenta uma estrutura de mercado de monopólio natural, o contrato de concessão das distribuidoras garante, por um lado, o equilíbrio econômico-financeiro, definindo, inclusive, as taxas de remuneração do capital regulatoriamente investido. Mas, por outro lado, exige como contrapartida níveis crescentes de qualidade e confiabilidade do serviço de distribuição da energia elétrica. A responsabilidade pelo controle da qualidade do serviço na distribuição é da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a qual possui como uma de suas atribuições, segundo o art. 3º, XIX da Lei nº 9.427/1996, “regular o serviço concedido, permitido e autorizado, e fiscalizar permanentemente sua prestação” (BRASIL, 1996). Considerando o planejamento da expansão do sistema de distribuição, existe e persiste uma escolha entre o custo e a confiabilidade do serviço (Hesmondhalgh et al., 2012). Um sistema elétrico de distribuição com alto grau de confiabilidade requer níveis bastante elevados de investimento e manutenção, o que resulta em tarifas mais elevadas. Por outro lado, um sistema com poucos investimentos tenderá a ter menor qualidade, como, por exemplo, mais interrupções no fornecimento de energia, contudo com tarifas menores. Deste modo, o Regulador tem como função a estruturação de mecanismos que incentivem as distribuidoras a manterem a confiabilidade em um nível adequado e que, ao mesmo tempo, não onerem excessivamente o consumidor. Trata-se, assim, de um complexo e sensível desafio que afeta a totalidade das Agências Reguladoras no mundo, em especial as que atuam em paísesem desenvolvimento, com níveis de renda e de consumo de energia per capita baixos, como é o caso do Brasil. No entorno desta definição, merece ser destacado que o nível da qualidade da energia elétrica fornecida é uma questão importante e mesmo estratégica em termos de competitividade notadamente para a classe de consumidores industriais, a qual geralmente opera com processos produtivos contínuos. Esses processos são cada vez mais sensíveis a interrupções no fornecimento, mesmo que de curtas durações, e a variações de frequência e de tensão. Com a dinâmica evolutiva das atividades produtivas, em particular com o conceito de “Indústria 4.0” e “Internet das Coisas”, é cada vez mais comum que o consumidor industrial seja mais impactado do que as outras classes de consumidores frente à qualidade do fornecimento de energia elétrica. Para as indústrias, há uma tendência crescente de considerem e mesmo exigirem que a distribuidora aumente o nível de investimentos, de modo a diminuir a taxa de interrupções, para atender às suas necessidades de qualidade de fornecimento, independente do fato dos índices correntes de qualidade estarem de acordo com a regulamentação. Segundo a regulamentação atual vigente no Brasil, no caso dos níveis de tensão mais elevados, os limites dos indicadores de qualidade são mais rigorosos e as multas aplicadas às concessionárias são maiores. Portanto, as distribuidoras possuem um incentivo adicional para manter os índices de qualidade dessas unidades consumidoras atendidas em tensões elevadas dentro dos limites estabelecidos. Entretanto, não existem metas diferenciadas pelas classes de consumidores, mas sim pelas características físico-elétricas dos conjuntos elétricos sob os quais recaem esses índices. As responsabilidades da distribuidora com relação à manutenção de indicadores técnicos estão bem definidas pelas metas de qualidade atribuídas pelo Regulador, conforme a Resolução Normativa nº 414/2010. É importante ressaltar que a regulamentação vigente veda a discriminação de tarifas entre unidades consumidoras que se enquadram dentro da mesma classe de consumo, subgrupo de tensão, modalidade tarifária e modalidade de tarifação (ANEEL, 2010). Portanto, a regulamentação atual não permite que a distribuidora forneça, e cobre, por um serviço diferenciado para seus clientes. Prevalece, assim, o princípio da isonomia no marco regulatório. Nesse contexto, os parâmetros de qualidade estabelecidos buscam atender a critérios que consideram o custo-benefício dos consumidores em geral, como um todo. Caso determinados consumidores desejem uma maior qualidade na prestação do serviço, a regulamentação permite arranjos que garantem a melhoria da qualidade, através de acordos realizados entre as distribuidoras e estes consumidores, mas tais custos não poderão ser socializados. O presente texto de discussão constitui-se em um esforço do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL) para analisar a atual regulamentação sobre a qualidade do fornecimento de energia elétrica, em especial no que se refere à repartição de custos, relativos ao aumento da qualidade, entre a distribuidora e as diferentes classes de consumidores. Ênfase será dada às oportunidades de inovações regulatórias que podem alterar a forma de tratar o problema da qualidade do fornecimento, especificamente para o segmento de consumidores a ela mais sensível, examinando, assim, as perspectivas futuras para a qualidade no setor, tanto pela ótica da tecnologia quanto pela ótica da possibilidade de novos arranjos regulatórios. A qualidade da energia é um tema importante, especialmente para consumidores industriais, tendo em vista que, de modo geral, as unidades produtivas da indústria necessitam, cada vez mais, que o fornecimento de energia elétrica tenha um alto nível de qualidade para que não ocorram quebras no processo produtivo, provocando prejuízos na quantidade ou qualidade produzida. Entre os prejuízos passíveis de ocorrer no processo produtivo, podem ser citados (DELGADO, 2002): i. Interrupção da produção; ii. Perdas de informação; iii. Perda de matéria-prima; iv. Substituição e manutenção de equipamentos; v. Custos de religamento dos equipamentos; vi. Perda de credibilidade junto aos clientes; vii. Riscos à segurança dos trabalhadores; e viii. Riscos e impactos ambientais. Frente a este conjunto de problemas que a qualidade do fornecimento de energia pode causar, emergem perspectivas favoráveis no curto e médio prazo, vinculadas ao contexto de inovações tecnológicas possibilitadas pela nova configuração que o SEB vem verificando, destacando-se, entre outros: i. Difusão de Recursos Energéticos Distribuídos; ii. Desenvolvimento de Redes Inteligentes; iii. Sistemas de armazenamento de eletricidade; e iv. Difusão do uso das telecomunicações. Esses drives tecnológicos abrem a possibilidade de aferição, em tempo real, do consumo de energia elétrica dentro das unidades produtivas, o que tende gradativamente a permitir a melhoria do serviço e a criação de melhores sinais de preço. Seção 3.2: Evolução da tecnologia Há uma revolução tecnológica em curso impactando o Setor Elétrico. Nesse processo dinâmico e irreversível, merece ser destacada a consolidação de equipamentos que podem contribuir para melhorar os parâmetros de qualidade da energia fornecida às unidades consumidoras industriais, as quais necessitam, cada vez mais, de um maior nível de qualidade. Uma vertente está relacionada aos equipamentos complementares que podem ser instalados nas unidades consumidores, sendo de responsabilidade das mesmas o custo do investimento, destacando-se: i. Supressor de surto: Um dos equipamentos mais simples. Este sistema de proteção evita que um pico de tensão chegue ao equipamento sensível a uma variação de tensão desse tipo. ii. Filtros: Com o uso de filtros é possível evitar ruídos e harmônicos, tornando o formato da onda o mais próximo possível de uma onda senoidal pura, como desejado. iii. UPS (Uninterruptible Power Supply)/no-break: São sistemas de proteção que mantém o fornecimento de energia por alguns minutos em caso de interrupção pela rede. Em geral, estão associados ao uso de baterias, embora também possam ser utilizados com outras formas de armazenamento, como supercapacitores ou flywheels. Além de proteção contra blecautes interrupção do fornecimento, podem fornecer proteção contra sobretensão, subtensão, ruídos e distorção harmônica, dependendo da tipologia do equipamento. Eles são classificados em três tipos: off-line, line-interactive e on-line. Os UPS do tipo off-line entregam a energia como vem da rede e entram em ação apenas no momento da interrupção do fornecimento. Dessa forma, há um pequeno intervalo (da ordem de 25 milissegundos) entre a interrupção e o fornecimento de energia pelo UPS. Os UPS line-interactive funcionam de forma semelhante aos off-line, porém atuam no sentido de corrigir pequenas variações de tensão, sem o uso do sistema de armazenamento. Por fim, os UPS on-line isolam completamente o equipamento ligado a eles das alterações de fornecimento da rede. O seu funcionamento consiste em retificar a energia para o carregamento das baterias e, em seguida, transforma-la em corrente alternada novamente. Como vantagem está o fato de, em caso de interrupção de fornecimento, não haver nenhuma interrupção no suprimento de energia do equipamento, nem mesmo da ordem de milissegundos. Outra vantagem é o isolamento do sistema das oscilações da rede, mantendo-se, assim, a qualidade da eletricidade, independente dos problemas na rede. No entanto, esse equipamento é mais caro e o processo de retificação e inversão ocasiona uma perda de eficiência; e iv. Grupo motor-gerador: Podem ser utilizados em conjunto com o UPS para manter o suprimento de energia no casode a interrupção se prolongar para além da autonomia da bateria. Merece ser destacado o uso de baterias para garantir ainda mais a qualidade do fornecimento de energia elétrica e a redução de custos em relação às tarifas. Elas podem contribuir expressivamente para o aumento do nível de qualidade da energia que chega aos equipamentos de uma unidade consumidora industrial, especialmente se considerada a integração com a geração local, a qual será examinada posteriormente. Os custos dos investimentos em sistemas de armazenamento têm apresentado uma trajetória de queda significativa semelhante à que se observa nos sistemas fotovoltaicos. De 2010 a 2016, houve uma redução de 77% no custo médio das baterias (MCKINSEY, 2017), conforme pode ser constatado no Gráfico 1. Gráfico 1 - Preço Médio de Baterias: 2010 - 2016 (US$ por kWh). Fonte: MCKINSEY (2017). Com relação às perspectivas futuras de redução do preço dos sistemas de estocagem, estima-se que os preços médios por kWh cairão para valores abaixo de US$ 200, até 2020, e de US$ 100, até 2030. Isso representa um grande potencial de ganhos para o sistema elétrico, pois os sistemas de estocagem podem ser utilizados como meios para o atendimento de necessidades de diversos agentes do Setor Elétrico e podem contribuir para a manutenção do bom funcionamento e da qualidade da oferta de energia (IEA, 2014). Sob a perspectiva do suporte técnico às distribuidoras, existe uma ampla gama de potenciais usos para os sistemas de armazenamento. Grande parte deles é relacionada e direcionada à melhoria da qualidade e à manutenção da operação da rede, por meio de serviços ancilares. Por outro lado, esses serviços podem ser utilizados como substituição, ou pelo menos postergação, de alguns outros investimentos das redes de transmissão e distribuição (RMI, 2015). Um elemento importante a ser considerado pela distribuidora é o controle de tensão, o qual deve permanecer em níveis aceitáveis. Esse controle se relaciona com o nível de energia reativa. Variações no volume de energia injetado na rede alteram a quantidade de energia reativa, que, por sua vez, afetam a tensão da rede. O controle de tensão ocorre por meio do balanço da quantidade de energia reativa na rede. Como a energia reativa não pode ser transferida ou transportada por longas distâncias, é necessária uma dispersão de fontes de controle e suporte pela rede. Nesse caso, o armazenamento de eletricidade pode ser empregado efetivamente para o controle de tensão (IBE & ONEYAMA, 2013). A qualidade da energia elétrica na rede pode ser afetada por diversos eventos, como bruscas mudanças de oferta e demanda. Alguns fatores que estão relacionados à qualidade da energia são o nível de harmônicos e as variações de tensão transitórias, como flutuações e tremulação. Geralmente, para que se tenha um melhor nível de qualidade da rede, esses eventos são compensados com o uso de geradores com a função de back up. No entanto, os serviços de armazenamento também podem realizar estas funções, mas ainda são soluções relativamente caras, ficando-se assim na dependência da evolução tecnológica e dos ganhos de escala. (ANUTA et al., 2014). Além dos serviços ancilares examinados, as tecnologias de armazenamento podem atuar enquanto substitutos de investimentos nas redes de transmissão e distribuição, as quais devem ser capazes de atender ao maior pico de demanda anual. O investimento nessas redes é dependente do crescimento da demanda e, geralmente, é realizado de maneira a atender o crescimento da demanda de pico para um número de anos subsequentes, quando então deverá haver reinvestimento. No entanto, caso parte da demanda adicional possa ser atendida localmente, evitando a transmissão e distribuição de grandes montantes de energia elétrica, o período para reinvestimento nas redes pode ser estendido, adiando os investimentos. É nesse sentido que o armazenamento de eletricidade pode atuar, atendendo localmente a demanda em momentos de pico e reduzindo, assim, a necessidade ou o volume de investimentos necessários nas redes elétricas. Isso se torna ainda mais importante quando existem volumes consideráveis de geração distribuída, que podem implicar em elevados fluxos em direção oposta, exercendo pressão sobre transformadores e alimentadores elétricos (RMI, 2015; KPMG, 2016). Por fim, a difusão da geração distribuída está determinando mudanças significativas na operação e topologia das redes elétricas. Nesse contexto, cada vez mais, o conceito de micro rede ou microgrid9 ganha relevância. Destaca-se que a operação de microgrids, devido à elevada incidência de geração distribuída variável, apresenta desafios de operação. Os desequilíbrios causados por geração variável podem, entretanto, ser minimizados com o auxílio de sistemas de armazenamento atuando de maneira compensatória, gerando quando há quedas bruscas de geração, armazenando quando há excessos, aumentando drasticamente a qualidade do fornecimento para áreas estratégicas (KPMG, 2016). Atualmente, a Resolução Normativa nº 687/2015 permite a conexão de projetos de micro e mini geração distribuída na rede, inclusive obrigando as distribuidoras a viabilizarem essas conexões. O ganho em termos de custo da energia beneficiaria especialmente os consumidores industriais vinculados ao mercado cativo, onde as tarifas de energia elétrica são mais altas e com viés de aumento, pois parte do consumo passa a ser atendido pela própria geração. Merece ser destacado que, em 2019, esta resolução será revista, possivelmente acompanhando a tendência mundial de reduzir os benefícios financeiros da micro e mini geração distribuída. Além disso, segundo SALLAM & MALIK (2011), a micro e mini geração distribuída fotovoltaica também possui a vantagem de melhorar a qualidade do fornecimento de energia elétrica, já que reduz a necessidade de consumo da rede de distribuição, em especial durante o período em que a incidência solar é maior e normalmente vinculada aos horários de pico de demanda, quando a fragilidade das redes de distribuição é mais sensível e visível. No contexto nacional, uma possibilidade latente é o aproveitamento do potencial de integração da micro e mini geração distribuída de fonte solar fotovoltaica com a geração distribuída de fonte a diesel. Um estudo realizado pela ANEEL (2015) estimou que a geração distribuída, formada principalmente de geradores a diesel, representava 10% da demanda máxima do Sistema Interligado Nacional (SIN), ou cerca de 8,8 GW (ANEEL, 2015). Ao passo que a micro e mini geração solar fotovoltaica se tornar mais atrativa em termos de custo, é natural que muitas indústrias passem a adotá-la para reduzir sua fatura de energia elétrica. A integração entre os dois tipos de geração permitiria que a geração a diesel pudesse ser utilizada apenas para complementar a solar, caso a mesma não seja suficiente para suprir a unidade consumidora em determinado momento. Isso atenderia aos objetivos de manutenção do fornecimento, além de reduzir custos e a necessidade do uso de combustíveis fósseis. Os dados da difusão da micro e mini geração distribuída no mundo são expressivos e refletem a redução dos custos de investimentos, conforme atestam os dados do Gráfico 2. Gráfico 2 - Redução dos Custos de Sistemas de Geração Fotovoltaica: 2009- 2025 (em U$/kWp de 2015) Fonte: IRENA (2016.a). Esta redução explica em grande medida a difusão expressiva da micro e mini geração distribuída no Brasil, bem como as perspectivas de expansão segundo os dados da ANEEL. O Gráfico 3 apresenta dados do número físico de instalações, ou seja, o número dos prosumers (produtores e consumidores) para o período de 2013 a 2017. Gráfico 3 – Evolução no Número de Instalações com Micro e Mini Geração Distribuída: 2013-2017Fonte: ANEEL (2017.j). Por fim, os Gráficos 4 e 5 apresentam, respectivamente, as estimativas de expansão do número de consumidores e da capacidade instalada para um cenário de 2017 a 2024 Gráfico 4 – Número de Micro Geradores Estimados: 2017-2024 Fonte: ANEEL. Gráfico 5 – Projeção da Potência Instalada dos Micro Geradores: 2017-2024 Fonte: ANEEL. Esses dados e estimativas indicam que a micro e mini geração distribuída é uma tecnologia que irá se impor no cenário elétrico brasileiro, implicando em reduções de custos dos equipamentos pelos ganhos de escala Seção 3.3: Evolução das tecnologias de informação e comunicação Burguer et al. (2016) procuram demonstrar que no contexto de mudança de paradigma que estão ocorrendo no Setor Elétrico, como resultado do desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação, eletrônica de potência e recursos energéticos distribuídos, surgem diversas possibilidades de arranjo para o provimento de serviços que tradicionalmente eram realizados de forma centralizadas e também outros que são permitidos pelas características dos Recursos Energéticos Distribuídos. A evolução, principalmente dos sistemas de informação, permite a superação de algumas limitações do Setor Elétrico ligadas a problemas de informação e de coordenação. Nesse contexto, avanços ligados à granularidade espacial e temporal permitidos pela introdução de redes inteligentes permitirá uma melhor sinalização de preços com respeito ao tempo e o espaço, viabilizando uma atribuição mais correta dos custos em relação aos consumidores beneficiados. Esta forma de precificação possui um potencial para aumentar a possibilidade de metas diferenciadas de qualidade em áreas mais sensíveis aos parâmetros de qualidade da rede. Nesse sentido, investimentos mais ambiciosos para atender às necessidades de qualidade de fornecimento elétrico de determinados consumidores poderiam ser realizados de forma mais eficiente quanto à alocação de custos e distribuição de benefícios, superando-se, assim, as limitações impostas pela política de isonomia de qualidade entre os consumidores. Uma política de gerenciamento pelo lado da demanda que merece ser examinada é a experiência francesa, na qual fornecedores de energia elétrica e agregadores de rede oferecem serviços para os clientes, em especial os industriais, cortarem a demanda em momentos de pico de consumo, reduzindo a fatura de energia elétrica das unidades que se submetem a esses cortes. A entrada dos agregadores de rede tem sido favorecida pelo advento das redes inteligentes, as quais permitem a rápida resposta às necessidades dos operadores de rede. O decreto francês de 27 de outubro de 2016 previa objetivos de cortes de 6 GW para 2016 (FRANÇA, 2016). Um outro exemplo de mercado onde existe a figura de agregadores que atuam em cortes de demanda é o estado americano de New England, o qual, desde 2007, oferece a possibilidade de retirar determinadas unidades consumidoras da rede em momentos de pico, dentro de um mercado de compra e venda de requisitos de capacidade, o que proporciona maior flexibilidade para o operador do sistema (PEREZ & STAROPOLI, 2007). Além de permitir estratégias de gerenciamento pelo lado da demanda, a possibilidade de uma melhor aferição dos custos associados ao fornecimento da energia elétrica para cada conjunto de clientes, com maior desagregação temporal e locacional, contribuirá também para internalizar custos ligados ao atendimento da demanda da unidade consumidora. Dessa forma, o custo de se realizar novas instalações, e até mesmo aumentos futuros da carga da unidade, passa a ser atribuídos a essas unidades e não repassados, total ou parcialmente, a outros consumidores. Portanto, a internalização desses custos na decisão da empresa é positiva sob a ótica da eficiência econômica. Seção 3.4: Considerações Neste estudo, buscou-se sistematizar conceitos, experiências e análises para fundamentar a problemática da questão cada vez mais estratégica para os consumidores industriais sobre a qualidade do fornecimento de energia elétrica, deparando-se com o dilema existente entre custo e qualidade. Dentro deste objetivo central foi examinada a questão da isonomia da qualidade entre consumidores de diferentes tipos, em especial os consumidores industrias que, por força do desenvolvimento tecnológico, necessitam cada vez mais de altos níveis de qualidade no fornecimento de energia elétrica. Nestes termos, em função do papel fundamental e estratégico que o fornecimento de energia elétrica detém na qualidade de vida e em especial nos processos produtivos, deve-se partir do fato concreto de que há um conjunto significativo de consumidores industriais no Brasil que demandam uma elevada qualidade no fornecimento. No entanto, é necessário considerar a questão crucial da repartição dos custos associados a um serviço de superior qualidade diferenciado, em função da regulamentação vigente, e também a questão da factibilidade das trajetórias de melhoria no serviço de distribuição apresentadas. A regulamentação atual possui restrições que tornam a definição das metas dos parâmetros de qualidade da rede de distribuição um tema especialmente controverso e paradoxal. Mesmo que um determinado grupo de consumidores considere necessário que os níveis de qualidade da rede sejam superiores, a regulamentação não permite aplicar uma cobrança a todos os consumidores por um serviço adicional de qualidade para um grupo restrito de consumidores. A razão para que isso ocorra está vinculada aos próprios fatores que influenciam a dificuldade associada ao aprimoramento do serviço, o qual está ligado principalmente às características físico-elétricas da área sob a qual a meta de qualidade é estabelecida. Em suma, a regulamentação em vigor, sob a responsabilidade da ANEEL, não aceita como “investimento prudente”, ou seja, aquele que compõe a base de remuneração de ativos, os investimentos para melhorar a qualidade do fornecimento que só venha a beneficiar um grupo específico de consumidores, dado que, como não vai beneficiar a todos os consumidores, estes custos marginais não podem ser repartidos entre todos os consumidores da área de concessão da distribuidora. A fim de superar, em parte, esta limitação, o marco regulatório vigente permite acordos entre distribuidoras e consumidores para o aumento da qualidade do serviço prestado, mas restringindo e direcionando os custos dos investimentos necessários a estes consumidores, os quais serão os beneficiários deste ganho de qualidade. A tarifa geral não será afetada por estes investimentos que terão que ser arcados diretamente pelos consumidores interessados, não entrando na base de remuneração dos ativos das distribuidoras e, consequentemente, no cálculo tarifário. Uma tendência positiva para os consumidores, especialmente os que operam processos produtivos mais sensíveis à qualidade do fornecimento, está no desenvolvimento e difusão de novas tecnologias que permitem novos arranjos que propiciam maiores níveis de qualidade a menores custos. Um bom exemplo desta tendência é o armazenamento de eletricidade, que tende a diminuir os custos associados à manutenção de maiores níveis de qualidade, gerando maior atratividade para sua adoção por parte dos consumidores e mesmo pelas distribuidoras de energia elétrica. Além disso, existe uma grande sinergia entre o uso de sistemas de armazenamento, a micro e mini geração distribuída solar fotovoltaica e mesmo a geração distribuída à diesel, onde no Brasil chega a atingir 10% da demanda máxima do SIN (ANEEL, 2015). A operação coordenada desses recursos apresenta um grande potencial para redução de custos com energia e para a melhoria da qualidade, ainda contribuindo para redução do uso de fontes fósseis. Esses benefícios poderiamser, ainda, elevados pela introdução da figura de agregadores que explorassem o potencial dos recursos energéticos distribuídos, como já ocorre n a França e no estado americano de New England. Além disso, verifica-se também uma evolução dos sistemas de comunicação e de informação que tornam possível uma maior granularidade espacial na fixação de tarifas e mitiga problemas de distribuição de custos e benefícios derivados de investimentos na rede. Uma proposta recente na discussão sobre o consumo industrial foi a de que diferentes grupos de consumidores tivessem parâmetros diferenciados de duração e de frequência de interrupção no fornecimento, os quais deveriam ser atendidos pelas respectivas distribuidoras. A regulamentação atual, embora atribua penalidades mais pesadas pela violação dos parâmetros de qualidade para os consumidores industriais, não considera as necessidades dos grupos de consumo isoladamente para a definição das metas a serem atendidas. Com relação a esse ponto, é importante enfatizar que essa proposta desconsidera fatores que são determinantes para a factibilidade do atendimento às metas, as quais estão, em grande parte, ligadas às características físico-elétricas da rede na qual estes consumidores estão conectados. Portanto, essa visão não considera um aspecto importante que é a factibilidade do cumprimento da meta estabelecida e não está em sintonia com a visão que o Regulador adota, a qual tem apresentado resultados exitosos. É importante ressaltar também que, seguindo a prescrição de repartição proporcional de custos e benefícios, os custos deverão recair tanto quanto o possível sobre aqueles que se beneficiarão dessa maior qualidade de fornecimento. Portanto, seguindo esse direcionamento, mesmo que o Regulador conseguisse superar as dificuldades que ainda se impõem no cenário atual, adaptasse a regulamentação e estimasse os custos associados à melhoria para classes específicas de consumidores, os benefícios poderiam não diferir significativamente da situação já passível de ser alcançada via acordos entre consumidores e distribuidoras. É natural que, com o avanço do desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação no setor, inovações regulatórias possam ser desenvolvidas, em razão da maior capacidade de captação e processamento de dados. Entretanto, deve-se considerar que o Setor Elétrico Brasileiro possui características particulares quanto à formação de tarifas e de distribuição de custos, que precisam ser consideradas para garantir a atratividade e a viabilidade econômica de uma alteração regulatória. Por fim, vale acrescentar que, quando se trata de manutenção da segurança e da qualidade do fornecimento de energia elétrica, é sempre importante adotar uma visão de longo prazo que permita que problemas futuros sejam identificados precocemente e estratégias mais efetivas e de menor custo possam ser adotadas para superá-los. Sendo assim, no caso brasileiro, a elaboração de planejamentos estratégicos de maior horizonte temporal que contemplem as particularidades dos sistemas elétricos estaduais poderiam contribuir para que a expansão da demanda de energia nessas áreas ocorresse sem prejuízo da qualidade de prestação do serviço. Da a complexidade do problema e sua importância para o desenvolvimento industrial moderno, para o Rio de Janeiro, o Governo Estadual poderia ficar com a responsabilidade de elaboração de Plano Decenal de Energia Estadual através da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, e com o apoio dos agentes do setor industrial fluminense. Este Plano daria uma visão mais estruturada e cenários de expansão para as redes de distribuição, como por exemplo, poder determinar previamente áreas de expansão industrial, orientando-se assim a melhoria da base técnica de redes de distribuição, tornando-as mais eficientes em termos de qualidade do atendimento. Unidade 4: Consolidação das Leis do Setor dfe Energia Elétrica Brasileiro Seção 4.1: Introdução Em 5 de outubro de 2015, a Constituição Federal completou 27 anos. Segundo informações1 do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação – IBPT, ao longo desse período, foram editados mais de 5,2 milhões de normas, entre leis, medidas provisórias, emendas constitucionais, decretos, portarias, instruções normativas, atos declaratórios etc., o que resulta em uma média de 764 regras novas por dia útil. Apenas nesses 27 anos, no âmbito federal, foram editadas 161.582 normas, o que representa cerca de 16,39 normas federais por dia ou 23,55 por dia útil. Já os estados foram responsáveis por publicar 1.363.073 normas e os municípios, 3.717.259. Acrescenta-se aos 5,2 milhões de normas editadas após a Constituição de 1988 o grande número que foi editado anteriormente no País. Apesar de algumas normas editadas sob a égide da Constituição de 1967 não terem sido acolhidas pela nova Carta Magna, muitas foram editadas décadas atrás e, apesar de terem se tornado absolutamente anacrônicas, nunca foram formalmente revogadas. Portanto, não seria absurdo considerar que temos em vigor no Brasil pelo menos o dobro de normas que foram editadas após a promulgação da nossa Constituição Cidadã. Em outras palavras, estimamos que, atualmente, existam cerca de 10 milhões de normas em vigor, sendo que, apenas no âmbito federal, 320 mil normas devem ser observadas pelas pessoas. O excesso de normas legais acarreta os seguintes efeitos negativos para a sociedade: 1. As pessoas ficam submetidas a um estado permanente de insegurança jurídica. Havendo muitas normas legais aplicáveis a um fato da vida real, quando a ocorrência desse fato produz alguma controvérsia entre duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas e essa divergência é levada ao Judiciário, a decisão final sobre a controvérsia é incerta e dependerá da competência dos advogados das partes e das diferentes interpretações judiciais prolatadas nas diversas instâncias. 2. Demora na prestação jurisdicional. Um exagerado número de normas legais obstaculiza a aplicação do direito aos fatos da vida real, atrasa a solução de conflitos de interesses e dificulta o cumprimento da missão estatal de resguardar a ordem jurídica e a autoridade da lei. 3. Elevação dos custos associados à conformidade legal e à solução de controvérsias. O elevado número de normas legais onera as pessoas físicas e jurídicas, que se veem obrigadas a contratar dispendiosos serviços advocatícios e consultorias jurídicas, sem que tais providências garantam a legalidade das condutas adotadas. Caso essas condutas gerem controvérsias judiciais, a demora e os custos associados ao processo judicial elevarão sobremaneira a percepção de risco do País, afastando investimentos. Consequentemente, tanto pelo enfoque social quanto pelo econômico, é missão básica do Estado combater o excesso de normas. Ciente da problemática associada a um exagerado número de normas legais, o Constituinte originário estabeleceu, na Constituição Federal de 1988, art. 59, parágrafo único, que lei complementar disporia sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. Contudo, somente após transcorridos quase dez anos da promulgação da Constituição Cidadã, foi editada a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que definiu: “Art. 13. As leis federais serão reunidas em codificações e consolidações, integradas por volumes contendo matérias conexas ou afins, constituindo em seu todo a Consolidação da Legislação Federal. § 1º A consolidação consistirá na integração de todas as leis pertinentes a determinada matéria num único diploma legal, revogando-se formalmente as leis incorporadas à consolidação, sem modificação do alcance nem interrupção da força normativa dos dispositivos consolidados.