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1
Organizadores
Delmo Mattos e Nilda Oliveira
Autores
Adriana Iop Bellintani – Cristiane Pessôa da Cunha – Delmo Mattos 
Edgar Lyra – Fábio Luiz Tezini Crocco – Leonardo Ribeiro da Cruz 
Hiure Anderson Alves da Silva Queiroz – Luciana Araújo Lima Machado 
Natália Jodas – Nilda Oliveira – Sandra Rufino – Silvia Pimentel 
Solange Maria dos Santos – Sueli Sampaio Damin Custódio 
Tatiane Luciano Balliano – Vera Maria Sabóia
Araraquara
Letraria
2025
Ficha catalográfica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Engenharia e Sociedade [livro eletrônico]:
Humanidades em Debate : Volume 2 / organizadores 
Delmo Mattos, Nilda Oliveira. - Araraquara, SP: Letraria, 
2025.
PDF.
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-5434-126-4
1. Ciência e tecnologia 2. Engenharia 3. Humanidades 
4. Sociedade I. Mattos, Delmo. II. Oliveira, Nilda.
25-264768 CDD-620
Índices para catálogo sistemático:
1. Engenharia 620
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
DOI: doi.org/10.5281/zenodo.15197807
https://doi.org/10.5281/zenodo.15197807
Conselho editorial
Diego Vicentin (Unicamp)
Maria Regina Momesso (Unesp) 
O conteúdo da educação — tal como a forma —, tem 
caráter eminentemente social e, portanto, histórico. 
É definido para cada fase e para cada situação da 
evolução de uma comunidade. Por conseguinte, deve 
atender primordialmente aos interesses da sociedade. 
Se esta é democrática, os interesses dominantes têm que 
ser os do povo, e se consideramos um país em esforço 
de crescimento, tem que ser o de suas populações que 
anseiam por modificar sua existência. 
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de 
adultos. São Paulo: Cortez, 2010. p. 46.
| Sumário
7 Apresentação
Delmo Mattos e Nilda Oliveira
11 1. Feminismo e igualdade de gênero no século XXI: reflexões de uma acadêmica e 
ativista dos direitos humanos
Silvia Pimentel
18 2. Desafios éticos da hegemonia da tecnologia e do desenvolvimento das IA’s
Edgar Lyra e Delmo Mattos
35 3. Desafios da gestão editorial no contexto da Ciência Aberta
Solange Maria dos Santos
48 4. Transferência de Tecnologia para a inovação: rotas de desenvolvimento ligadas 
às cadeias de bioeconomia
Adriana Iop Bellintani, Sueli Sampaio Damin Custódio, Tatiane Luciano Balliano
72 5. Soberania digital no Brasil: panorama e desafios
Fábio Luiz Tezini Crocco, Hiure Anderson da Silva Queiroz, 
Leonardo Ribeiro da Cruz, Natália Jodas
91 6. Construção de PPCs em Engenharias com extensão curricularizada
Sandra Rufino
109 7. Promoção da saúde na formação no ensino superior: experiências exitosas e 
aprendizados para o ITA
Cristiane Pessôa da Cunha, Luciana Araújo Lima Machado, Vera Maria Sabóia
132 Quem somos?
7
| Apresentação
Delmo Mattos e Nilda Oliveira
Este livro é parte dos resultados do projeto intitulado “Ciclo de Debates Engenharia e 
Sociedade”, do Departamento de Humanidades, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica 
(ITA), desenvolvido coletivamente por todos(as) os(as) docentes do Departamento e 
financiado pela Associação Ex-alunos Apoiando o ITA (ITAEx), projeto este iniciado em 
2023, sendo que todas as palestras foram gravadas e estão disponíveis, na íntegra, no 
canal do Departamento no YouTube1.
Tal como em 2023, no ano de 2024 realizamos encontros de palestras e debates 
presenciais no ITA, com convidados externos que abordaram temas atuais e relacionados a 
questões tecnológicas, de formação em Engenharia e correlacionados às ciências humanas 
e sociais. Sendo que no II Ciclo, em 2024, também contamos com a participação de duas 
profissionais do próprio Instituto, como veremos a seguir.
Como no I Ciclo de Debates Engenharia e Sociedade, o II Ciclo também
[...] buscou fortalecer o Ensino, a Pesquisa e a Extensão, por meio da discussão 
de temáticas teóricas e práticas articuladas com disciplinas obrigatórias e eletivas 
ofertadas pelo Departamento de Humanidades (Ensino); do envolvimento e 
participação, em todos os encontros promovidos, da comunidade externa ao 
ITA (Extensão), bem como pela compilação e (re) construção do conhecimento 
gerado e difundido nos eventos acadêmicos, os quais estão registrados no 
presente e-book (Pesquisa) (Crocco; Jodas, 2024).
As palestras foram realizadas na seguinte ordem e dias:
Data Título Convidado(a) Professores(as) 
Organizadores(as)
06/05/2024 Desafios éticos da 
hegemonia da tecnologia 
e do desenvolvimento das 
IA’s
Edgar Lyra (PUC-Rio) Delmo Mattos
06/06/2024 Desafios da gestão editorial 
no contexto da Ciência 
Aberta
Solange Maria dos Santos 
(SciELO)
Nilda Oliveira
1 Mais detalhes ver: https://www.youtube.com/@DeptoHumanidadesITA. 
https://www.youtube.com/@DeptoHumanidadesITA
8
07/08/2024 Propriedade intelectual e 
transferência de tecnologia 
para a inovação: modelos 
de transferência de 
tecnologia para as rotas de 
desenvolvimento ligadas 
às cadeias produtivas da 
BIOeconomia
Tatiane Balliano (UFAL) Adriana Iop 
Bellintani 
e Sueli Sampaio 
Damin Custódio
05/09/2024 Desafios da soberania 
digital e a importância da 
Engenharia
Leonardo Ribeiro da Cruz (UFPA) 
e Hiure Anderson Alves da Silva 
Queiroz (Unifesp e Sítio do 
Astronauta)
Fábio Crocco 
e Natália Jodas
12/09/2024 Construção de PPCs em 
Engenharias com extensão 
curricularizada
Sandra Rufino (UFRN) John Kleba 
e Nilda Oliveira
09/10/2024 Os Direitos Humanos 
das mulheres: avanços e 
obstáculos
Silvia Pimentel (PUC-SP) Cassiano Terra
25/11/2024 Instituições promotoras 
de saúde: experiências 
exitosas e aprendizados 
para o ITA
Cristiane Pessôa da Cunha e 
Luciana Araújo Lima Machado
Cristiane Pessôa 
da Cunha e Nilda 
Oliveira
Ainda sobre as palestras, registramos um agradecimento especial a Brutus Abel Fratuce 
Pimentel, Professor de Filosofia do nosso Departamento, que foi responsável pela emissão 
dos Certificados de cada uma das palestras.
Este livro reúne sete capítulos de reflexões teóricas e debates que representam os 
encontros ocorridos no “II Ciclo de Debates Engenharia e Sociedade”, do Departamento 
de Humanidades. Essas contribuições temáticas variadas destacam a importância de 
um diálogo interdisciplinar entre áreas que tradicionalmente não se cruzam, mas que se 
tornam cada vez mais essenciais para a construção de um conhecimento mais completo 
e responsável.
O primeiro capítulo aborda a questão do Feminismo e da Igualdade de Gênero no 
século XXI da perspectiva de Silvia Pimentel. Ela enfatiza a importância do feminismo 
na superação do patriarcado, na desconstrução de estereótipos e na promoção de uma 
sociedade inclusiva e equitativa.
O segundo capítulo, que transcreve a palestra de Edgar Lyra, discute os desafios éticos, 
sociais e regulatórios dos modelos de linguagem avançados, como o GPT, destacando 
seu impacto na produção cultural, privacidade e manipulação de informações. Enfatiza a 
urgência de políticas públicas, educação digital e acessibilidade para reduzir desigualdades, 
promovendo um uso ético e inclusivo da tecnologia.
9
O terceiro capítulo, que transcreve a palestra de Solange Maria dos Santos, explora 
os princípios fundamentais da Ciência Aberta, com foco nos periódicos científicos e nos 
desafios relacionados à gestão editorial. Foram destacadas práticas editoriais abertas, 
como o uso de preprints, dados abertos, artigos de dados e periódicos de dados, além da 
adoção gradual de métodos mais transparentes de avaliação por pares.
O quarto capítulo é uma transcrição da palestra que aborda a temática da “Propriedade 
Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação”, destacando os resultados 
preliminares da pesquisa da professora Tatiane Luciano Balliano (UFAL) sobre o 
desenvolvimento de produtos a partir da alga Kappaphycus alvarezii. São apresentadas 
estratégias tecnológicas aplicadas à indústria farmacêutica, conectando bioeconomia, 
inovação e impacto social. 
O quinto capítulo analisa o “colonialismo de dados”, no qual as big techs dominam o 
desenvolvimento tecnológicoautônomos, de alto valor 
intrínseco, logo, passíveis de publicação (Santo; Calò, 2020).
A comunicação científica deve integrar todo o ciclo de pesquisa em vez de limitá-la à 
publicação final em periódicos. Se permeada por toda a pesquisa, a comunicação assegura a 
consistência da pesquisa, permite o reuso, contribui para a preservação dos dados (quando 
depositados em repositórios confiáveis evitando sua perda progressiva, facilita avaliações 
promovendo a transparência. A exposição contínua do processo investigativo contribui 
para minimizar erros e más práticas à medida que incentiva maior rigor metodológico e 
alinhamento com padrões éticos (Packer; Santos, 2019a).
38
| Preprints 
A publicação científica é um processo complexo e demorado. Enviar um artigo para 
um periódico e aguardar as distintas etapas de revisão pode levar meses ou até anos. 
Os autores podem acelerar partes desse processo disponibilizando rapidamente versões 
iniciais de seus artigos em servidores de preprints. Um preprint é um manuscrito postado 
pelo(s) autor(es) em um repositório ou plataforma para facilitar o compartilhamento aberto 
e amplo de trabalhos iniciais, sem quaisquer limitações de acesso (Puebla; Polka; Rieger, 
2021; Rodríguez, 2019; Higgins; Steiner, 2021).
A importância da abertura e rapidez na publicação tornaram-se ainda mais evidentes na 
pandemia de COVID-19. Durante a pandemia, os pesquisadores começaram a compartilhar 
informações e análises preliminares sobre a doença um mês após o primeiro caso oficial 
de infecção pelo SARS-CoV-2 ser noticiado. Esses compartilhamentos incluíram o genoma 
completo do vírus, como ocorreu a infecção das células de humanos e outros animais e a 
sua provável origem nos morcegos. 
Como exemplo, em 23 de janeiro 2020 pesquisadores de Wuhan depositaram e 
compartilham um preprint acerca da similaridade na estrutura do SARS-CoV e do surto do 
coronavírus no repositório bioRxiv, que foi instantaneamente acessado por pesquisadores 
de todo o mundo (Zhou et al., 2020). Entre a data de publicação e 03 de fevereiro de 
2020, o preprint teve mais de 290.000 downloads e foi citado em mais de 300 estudos, 
evidenciando o impacto global do formato. 
O preprint foi posteriormente formalmente publicado na revista Nature e possui 
agora mais 6.200 citações de cientistas de todo o mundo (Debruin, 2020). Sem o rápido 
compartilhamento desse tipo de resultados, não teria sido possível o desenvolvimento, em 
tempo recorde, das diferentes vacinas hoje disponíveis. 
Preprint é um manuscrito completo que é depositado pelos autores em um servidor 
público destinado a preprints antes do envio a um periódico para avaliação por pares, 
resultando ou não em publicação formal no periódico. Sua principal característica é 
permitir que o pesquisador divulgue seus resultados de pesquisa com celeridade e de 
forma independente, permitindo acesso rápido aos resultados à comunidade científica, ao 
mesmo tempo em que solicita e oferece feedback mais amplo do que o obtido durante o 
processo tradicional de revisão por pares. 
Os preprints não passam por avaliação por pares, porém recebem uma moderação 
inicial e verificação de plágio, que leva cerca de 24 horas, são passíveis de citação por 
possuírem DOI (Digital Object Identifier). Uma vez publicados, preprints podem receber 
39
comentários abertos os quais os autores podem responder e então criar novas versões 
com base nas sugestões e comentários recebidos e demais edições (Santos; Calò, 2020).
Os preprints desempenharam um papel crucial ao permitir que estudos fossem 
compartilhados antes da revisão por pares, ilustrando como o compartilhamento rápido 
de dados pode salvar vidas (Koerth, 2021).
Figura 1. Preprints sobre COVID-19 de janeiro de 2020 a maio de 2023
 
Fonte: Fraser e Krammer (2023)
Durante a pandemia, repositórios de preprints como o bioRxiv e o medRxiv adicionaram 
novas políticas e observações de advertência para enfatizar que os preprints são relatórios 
preliminares de trabalho que não foram certificados pela revisão por pares e não devem ser 
relatados pela mídia como informações estabelecidas, e sim como resultados preliminares 
que requerem análise cautelosa. Dessa forma, filtros automáticos, políticas e práticas de 
moderação/curadoria de preprints e conteúdo como indicadores de qualidade possuem são 
indispensáveis a fim de estabelecer os preprints como um formato acadêmico confiável.
A publicação de preprints em servidores confiáveis não apenas acelera a comunicação 
dos resultados das investigações como também assegura aos autores precedência de 
descobrimentos e permite o melhoramento dos manuscritos ao permitir geração de versões 
aprimoradas a partir dos comentários recebidos. Preprints são documentos citáveis aos 
quais podem ser atribuídos DOIs e permitem registro para os pesquisadores, como inserção 
no ORCID, por exemplo. Quando aprovado para publicação em periódico, o preprint é 
40
atualizado com um link para o artigo proveniente, aumentando então a exposição da pesquisa 
(Packer; Santos, 2019b).
| Gestão de dados de pesquisa
A discussão sobre preprints evidencia a importância de mecanismos que promovam 
a confiança e a integridade no compartilhamento de informações científicas. Da mesma 
forma, a gestão de dados de pesquisa desempenha um papel crucial na Ciência Aberta, 
ao lidar com a criação ou coleta, estruturação, controle de qualidade, armazenamento e 
disponibilização dos dados presentes nas pesquisas científicas, garantindo que os dados 
sejam organizados, acessíveis e reutilizáveis. 
Não há consenso quanto a uma definição para dados de pesquisa, no entanto, de modo 
geral, dados de pesquisa são registros gerados, obtidos, coletados, ou usados durante o 
processo de pesquisa que possibilitam avaliar, validar, reanalisar, reinterpretar, replicar e 
reproduzir a pesquisa que podem ser usados como evidência de fenômenos para fins de 
pesquisa. 
Dados podem ser criados a partir de observações, experiências e simulações, por 
exemplo. Seus tipos mais descritos na literatura são de natureza numérica (medidas, fórmulas, 
equações e algoritmos), multimídia (imagem, vídeo, áudio e animação), software (base de 
dados, simulações, códigos), textual (entrevista, transcrição, questionário, cadernos de 
laboratório ou de campo e diários), artefato (espécime, amostra ou maquete) e processo 
(Procedimentos operacionais padronizados, workflows, protocolos e testes) (Veiga, 
2017). Dentre seus formatos possíveis estão documentos textuais, tabulares, cadernos 
de laboratórios, questionários, arquivos de áudio, fotografia, coleções de objetos digitais 
adquiridos durante o processo de pesquisa, dados estatísticos, bancos de dados, modelos, 
scripts, softwares, workflows e protocolos.
Dados de pesquisa livremente acessados, reusados, recalculados e redistribuídos para 
fins pedagógicos ou de pesquisa científica são considerados dados abertos de pesquisa. 
Idealmente, eles são disponibilizados em repositórios específicos para que não se percam, 
sejam corrompidos e desapareçam, e são associados a uma licença de atribuição pouco 
ou nada restritiva, como a Creative Commons Attribution (CC-BY). 
Devido à complexidade de lidar e disponibilizar dados de pesquisa que possam ser 
reaproveitados, em 2014, foi criado um conjunto de princípios, denominado FAIR Principles 
visando boas práticas para a gestão e depósito de dados em repositórios confiáveis 
(Wilkinson et al., 2016). A adoção dos princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, 
41
Reusable) é crucial para garantir a qualidade e a longevidade dos dados (Vidotti; Torino; 
Coneglian, 2021). Para garantir que os dados sejam “encontrados”, é fundamental a criação 
de metadados ricos e precisos, como sugerido pelo guia do Acesso Aberto USP (Acesso 
Aberto USP, s.d.). Além disso, a interoperabilidade dos dados é essencial para sua reutilização 
em diferentes contextos e ferramentas.
A publicação em acesso aberto dos dados de pesquisa é fortementeincentivada desde 
que a máxima “Tão Aberto Quanto Possível, Tão Fechado Quanto Necessário” seja obedecida. 
Dados que são compostos por materiais sob copyright de terceiros, ou que possuam 
termos ou condições que não permitam compartilhamento não devem ser compartilhados. 
O mesmo se aplica para dados que possuam informações pessoais, informações que 
ultrapassem o direito de privacidade ou coloquem pessoas em risco, conforme explicitado 
pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), coordenadas de áreas protegidas, 
sob ameaça de extinção ou informações que infrinjam acordos comerciais, patentes ou 
pertençam a terceiros.
O gerenciamento de dados de pesquisa, fundamental para a reprodutibilidade e a 
transparência na Ciência Aberta, exige a criação de metadados detalhados e bem 
estruturados. Como apontam Torino, Coneglian e Vidotti (2020), estruturas de representação 
adequadas, como os CRIS institucionais, são essenciais para o reuso de dados. Em busca 
de facilitar e promover a interação com sistemas computacionais, foi definido um conjunto 
de princípios que expressam os comportamentos esperados para os arquivos digitais dos 
dados de pesquisa (Santos, 2021).
A gestão de dados de pesquisa é uma prioridade na Ciência Aberta, mas enfrenta 
desafios como infraestrutura, preservação e citabilidade. Estudos mostram que muitos 
pesquisadores não cumprem integralmente os compromissos de compartilhamento de 
dados, evidenciando a necessidade de políticas mais claras e suporte institucional (Gabelica 
et al., 2022). Em contrapartida, há ferramentas de acesso aberto disponíveis, como o 
FioDMP que auxiliam na criação de planos de gestão de dados, promovendo transparência 
e eficiência no ciclo de vida dos dados (Fiocruz, 2020), assim como guias e manuais, são 
cruciais para capacitar pesquisadores em práticas adequadas de gestão e compartilhamento. 
Investir no compartilhamento de dados em acesso aberto é fundamental para ampliar a 
acessibilidade e reuso dos dados (Curty; Aventurier, 2017). 
42
| Revisão por pares
De acordo com Velterop (2018), a avaliação por pares possui duas funções principais: 
identificar erros e omissões, podendo ocorrer antes da publicação e de forma anônima; 
e promover o debate, sendo melhor conduzido abertamente e podendo ocorrer após a 
publicação.
A quantidade de periódicos que oferecem opções de abertura progressiva das revisões 
por pares é baixa, ainda que crescente (Packer; Santos, 2019b), no entanto, o apelo por maior 
transparência tem ganhado ritmo nos últimos anos diante do interesse de financiadores 
e do apoio crescente para que a publicação dos pareceres os torne facilmente citáveis 
por meio de DOIs. Há, no entanto, muito mais divergência sobre a questão de os revisores 
revelarem suas identidades abertamente.
A adoção de revisão por pares transparente permite ao menos vinte e duas variações 
e combinações diferentes que consideram a abertura: das identidades, dos pareceres, das 
interações, das participações e dos comentários (Ross-Hellauer, 2017). Em particular, a 
abertura das identidades é vantajosa para que interesses conflitantes em potencial possam 
ser mais facilmente percebidos e para que as responsabilidades dos envolvidos estejam 
publicamente disponíveis, conferindo o devido crédito aos revisores, sendo um passo para 
elevar a revisão por pares a uma atividade acadêmica voluntária que merece reconhecimento 
e valorização. 
Atualmente, está em curso a denominada “crise da avaliação por pares”, envolvendo 
a saturação da demanda por pareceres, consequente baixa qualidade das avaliações e 
notícias de fraude e má conduta ética, deu origem a uma ampla discussão sobre formas 
alternativas de avaliação, tendo em vista as críticas ao modelo vigente. Dentre as críticas 
ao modelo atual destacam-se:
Quadro 1. Críticas ao modelo atual de avaliação por pares
1. Pouco fidedigno e 
inconsistente
Nem sempre detecta erros ou pode haver inconsistências entre os 
informes dos pareceristas. Atribui um selo de qualidade que muitas 
vezes não se justifica.
2. É muito demorado e oneroso Dificuldade em encontrar bons pareceristas e obter pareceres no tempo 
preconizado pelo processo editorial dos periódicos.
3. Falta de responsabilidades 
(accontability), com risco de vieses
Anonimato permite vieses sociais e de publicação. Falta treinamento 
adequado de pareceristas.
4. Sem incentivo aos 
pareceristas
Os pareceristas raramente recebem créditos por seu esforço. Plataformas 
como Publons e ReviewerCredits buscam preencher esta lacuna.
5. Desperdício de esforços O mesmo manuscrito pode ser revisado muitas vezes, à medida 
que passa por ciclos de envio e aprovação. O trabalho minucioso é 
descartado após a aprovação do manuscrito.
Fonte: Elaboração própria
43
A abertura das identidades pode contribuir para a qualidade das avaliações, incentivando 
os revisores a serem mais meticulosos em suas avaliações. A pesquisa sugere que revisões 
por pares assinadas e publicadas são no mínimo tão boas quanto modelos cegos, e pesquisas 
identificaram melhorias em áreas específicas, como feedback construtivo, comentários 
sobre métodos, tamanho da revisão e evidências substanciais para apoiar os comentários 
(Van Rooyen et al., 2010).
A avaliação por pares aberta é um processo ainda experimental, que, embora conte com 
o apoio de parte da comunidade científica, levará tempo para ser amplamente implementada, 
e pode vir a não substituir completamente o modelo tradicional em todas as áreas. Cada 
periódico deve avaliar o modelo mais adequado, considerando as necessidades de sua 
comunidade de pesquisadores e sua estrutura de gestão (Santos; Calò, 2020).
| Desafios e oportunidades na implementação da 
Ciência Aberta
Apesar de seu potencial transformador, a implementação dos princípios da Ciência 
Aberta enfrenta diversos desafios, principalmente na gestão editorial, entre eles:
• Resistência à mudança: a transição para práticas abertas requer a reestruturação 
de políticas editoriais e a capacitação de editores e revisores para que atualizem as 
políticas editoriais dos periódicos, incentivando e incorporando as principais práticas 
de Ciência Aberta;
• Infraestrutura e sustentabilidade: a necessidade de repositórios interoperáveis, como 
o SciELO Data para dados de pesquisa, evidencia o papel das plataformas para 
promover dados FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, Reusable);
• Reconhecimento e incentivo: sem a implementação de mecanismos de reconhecimento 
para práticas como pareceres abertos e compartilhamento de dados, a adesão a 
esses valores tende a ser limitada. Atualmente, há dificuldade de reconhecer as 
distintas formas de contribuição que ocorrem em todo o processo científico que 
ainda são negligenciadas por conta do foco na publicação de artigo ou capítulo 
de livro como o produto final da pesquisa, em vez de reconhecer toda a gama de 
contribuições relevantes, como dados, metadados e preprints.
A transição para um modelo mais aberto exige uma reestruturação das políticas editoriais, 
além da capacitação de profissionais para lidar com essas novas formas de comunicação 
científica. Em levantamento realizado pela Equipe SciELO Data, em 2023, foi verificado 
44
que a grande maioria dos periódicos da Coleção SciELO Brasil ainda não incluem políticas 
claras sobre preprints, dados abertos ou revisão por pares transparente. Especificamente, 
apenas 41,2% dos periódicos da área de Engenharia da coleção SciELO, por exemplo, 
encoraja explicitamente o compartilhamento de dados.
Paradoxalmente, enquanto a América Latina lidera no acesso aberto, regiões como 
a Europa e os Estados Unidos ainda enfrentam entraves significativos na adoção de tais 
práticas, evidenciando a necessidade de esforços globais. O Brasil é um dos maiores 
produtores de literatura científica em acesso aberto, ainda que enfrente diversos desafios 
para implementar práticas de Ciência Aberta. Não há, até o momento, infraestruturas 
nacionais para compartilhamentode dados ou capacitação da comunidade científica sobre 
como prepará-los e publicá-los, ou uma postura definida das agências de fomento e sistemas 
de avaliação sobre preprints e citações de artigos de dados (Santos; Calò, 2020). Nesse 
contexto, iniciativas como o SciELO, ao adotar boas práticas de comunicação científica, 
continuam a liderar o avanço da pesquisa no Brasil e nos países da Rede SciELO (Packer 
et al., 2018).
| Considerações finais
A Ciência Aberta apresenta um horizonte promissor para transformar a comunicação 
científica em uma prática mais inclusiva, eficiente e responsiva às necessidades da 
sociedade. Embora os desafios sejam significativos, a integração de seus valores no sistema 
editorial é crucial para a evolução do conhecimento e para enfrentar crises globais, como 
as vivenciadas recentemente.
Persuadir a comunidade científica sobre a importância de adotar práticas de Ciência 
Aberta envolve não apenas destacar seus benefícios éticos, sociais e acadêmicos, mas 
também demonstrar como essas práticas podem, de fato, favorecer o êxito profissional e 
fortalecer as redes de colaboração.
A transição para um modelo aberto exige não apenas infraestrutura tecnológica, mas 
também um esforço coordenado que demanda disposição para mudanças, alocação de 
recursos financeiros e humanos, bem como tempo e esforço para adotar novos processos, 
metodologias e tecnologias para capacitar pesquisadores, equipes editoriais e publishers. 
Ao abraçar a Ciência Aberta, a gestão editorial pode liderar o caminho para uma ciência 
mais colaborativa, impactante e acessível a todos.
45
| Referências
Acesso Aberto USP. Dados científicos: como construir metadados, descrição, readme, 
dicionário-de-dados e mais. Disponível em: https://www.acessoaberto.usp.br/dados-
cientificos-como-construir-metadados-descricao-readme-dicionario-de-dados-e-mais. 
Acesso em: 20 fev. 2025.
CURTY, R. G.; AVENTURIER, P. O paradigma da publicação de dados e suas 
diferentes abordagens. In: ENANCIB, 18., 2017, Marília. Anais [...]. Marília: Unesp, 2017. 
Disponível em: http://enancib.marilia.unesp.br/index.php/xviiienancib/ENANCIB/paper/
viewFile/468/820. Acesso em: 20 fev. 2025.
Debruin. Guest Post — The Covid Infodemic and the Future of the Communication 
of Science. The Scholarly Kitchen, 2020. Disponível em: https://scholarlykitchen.
sspnet.org/2020/07/08/guest-post-the-covid-infodemic-and-the-future-of-the-
communication-of-science/. Acesso em: 20 fev. 2025.
European Commission. Study on Open Science. Impact, Implications and Policy 
Options. 2015. Disponível em: https://op.europa.eu/publication-detail/-/publication/
b0906f2d-8907-11e5-b8b7-01aa75ed71a1. Acesso em: 20 fev. 2025. 
Fiocruz. 2020. Sobre o FioDMP. Disponível em: https://fiodmp.fiocruz.br/sobre. Acesso 
em: 20 fev. 2025.
FRASER, N.; KRAMMER, B. covid19_preprints. Software. 2023. Disponível em: https://
github.com/nicholasmfraser/covid19_preprints. Acesso em: 20 fev. 2025.
GABELICA, M.; BOJČIĆ, R.; PULJAKL, E. Many researchers were not compliant with 
their published data sharing statement: a mixed-methods study. 2022. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.jclinepi.2022.05.019. 
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https://doi.org/10.1101/2020.01.22.914952
4. Transferência de Tecnologia 
para a inovação: rotas de 
desenvolvimento ligadas às 
cadeias de bioeconomia
Adriana Iop Bellintani11
Sueli Sampaio Damin Custódio12
Tatiane Luciano Balliano13
doi.org/10.5281/zenodo.15198379
11 Professora Doutora do Departamento de Humanidades e Coordenadora do Programa de Formação Complementar 
de Inovação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Professora do Programa de Pós-Graduação do Mestrado 
Profissional de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT/ITA). Professora 
colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS. 
E-mail: adriana.bellintani@gp.ita.br. 
12 Professora Doutora do Departamento de Humanidades. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação do Mestrado 
Profissional de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT/ITA) e Chefe do 
Laboratório de Inovação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). 
E-mail: sueli.damin@gp.ita.br
13 Professora Doutora do Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e presidente 
da Comissão Acadêmica Nacional da rede PROFNIT. 
E-mail: tlb@qui.ufal.br. 
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198379
mailto:adriana.bellintani%40gp.ita.br?subject=
mailto:sueli.damin%40gp.ita.br?subject=
mailto:tlb%40qui.ufal.br?subject=
49
Resumo: Este capítulo expõe o tema “Propriedade intelectual e transferência de tecnologia 
para a inovação: modelos de transferência de tecnologia para as rotas de desenvolvimento 
ligadas às cadeias da bioeconomia”, e tem como referência a palestra da professora 
Tatiane Luciano Balliano, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que apresentou 
os resultados preliminares de sua pesquisa sobre o desenvolvimento tecnológico de 
produtos a partir da utilização do extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas 
da espécie kappaphycus alvarezii. A partir das noções conceituais sobre bioeconomia, 
propriedade intelectual e inovação, apresentou-se os resultados obtidos do projeto do CNPq 
contemplando as algas kappaphicus alvarezzi. Buscou-se, com isso, expor estratégias de 
desenvolvimento de produtos tecnológicos e de sua aplicação na indústria farmacêutica 
oriundos do processamento de algas da espécie kappaphycus alvarezii. O trabalho tem 
por objetivo expor pesquisas científicas de impacto na sociedade.
Palavras-chave: Inovação; Jurema preta; Algas kappaphicus alvarezzi.
| Introdução
Este capítulo trata sobre a importância do estudo da bioeconomia, centrado nas pesquisas 
da professora do Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas, 
Tatiane Luciano Balliano. Ela trabalha com projetos para obtenção de materiais relevantes 
na indústria de Química fina a partir de recursos naturais da biodiversidade de Alagoas e do 
Brasil. Atualmente, a docente é presidente da Comissão Acadêmica Nacional da rede PROFNIT 
e desempenha atividades ligadas à propriedade intelectual, transferência de tecnologia e 
empreendedorismo inovador, sendo coordenadora da sede do PROFNIT – UFAL.
O estudo das algas está inserido na cadeia produtiva de bioeconomia que respeita o 
ecossistema e gera desenvolvimento sustentável. O objetivo deste trabalho é apresentar 
os conceitos sobre propriedade intelectual, inovação, ecossistema e bioeconomia a partir 
da apresentação realizada pela professora Tatiane Balliano no II Ciclo de Debates sobre 
Engenharia e Sociedade, da pesquisa bibliográfica e documental em instituições que se 
destinam ao estudo e fomento de pesquisas no campo da inovação e bioeconomia, dando 
destaque à legislação brasileira pertinente à área de propriedade intelectual. 
Atualmente, o maior desafio tem sido conciliar a produtividade com cuidados com a 
conservação do meio ambiente e com a preservação dos recursos naturais para as futuras 
gerações. Nesse contexto, saberes e práticas tradicionais das comunidades, que exploram 
os recursos naturais, podem auxiliar na identificação e construção de novos parâmetros 
que favoreçam o desenvolvimento econômico e social aliado ao uso racional dos recursos 
50
ambientais. O histórico regulatório internacional sobre propriedade intelectual e seus direitos 
conexos evidenciam bem o contexto de mudanças tanto no sistema produtivo quanto na 
forma de regularo uso de exploração dos recursos naturais.
A Revolução Industrial impôs muitas modificações no sistema produtivo e no modo 
de vida do homem. No período anterior à primeira Revolução Industrial, 1750, a Inglaterra 
despontou entre os outros estados, em relação à preocupação e à regulamentação dos 
direitos sobre bens. Em 1624, foi redigido o Statute of Monopolies, também conhecido 
como Lei de Patentes, que tinha a clara intenção de quebrar os monopólios e, a partir de 
sua normatização, aumentou o número de acordos bilaterais realizados entre a Inglaterra 
e outros países.
Em 1883, foi criado o Bureaux Internationaux réunis pour la protection de la propriété 
intellectuelle (BIRPI), com sede em Berna. O primeiro acordo internacional relativo à 
propriedade intelectual foi realizado na Convenção de Paris e entre as importantes decisões 
desse documento destacamos o Art. 1º, que afirma: “Os países a que se aplica a presente 
Convenção constituem-se em União para a proteção da propriedade industrial.” 
Os países signatários e que se mantiveram em união foram: Bélgica, Brasil, França, 
Guatemala, Itália, Holanda, Portugal, El Salvador, Sérvia, Espanha e Suíça. Posteriormente, 
aderiram ao acordo Equador, Tunísia, Reino Unido e Estados Unidos. O seu Art. 2º pugnava 
sobre a proteção dos países signatários com a propriedade industrial: 
Os nacionais de cada um dos países da União gozarão em todos os outros países 
da União, no que se refere à proteção da propriedade industrial, das vantagens 
que as leis respectivas concedem atualmente ou venham a conceder no futuro 
aos nacionais, sem prejuízo dos direitos especialmente previstos na presente 
Convenção. Em consequência, terão a mesma proteção que estes e os mesmos 
recursos legais contra qualquer atentado dos seus direitos, desde que observem 
as condições e formalidades impostas aos nacionais.
O resguardo de autoria era muito ligado à preocupação da produção intelectual, como 
obras literárias, por exemplo. Mas, com o avanço industrial, a rápida mudança no modo de 
vida dos indivíduos e a criação de novos inventos fez com que a maior preocupação se 
concentrasse em assegurar o direito de propriedade sobre os novos aparelhos e invenções. 
A partir do avanço da tecnologia e dos produtos derivados dela, surgiu a Organização 
Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), na década de sessenta do século XX, com 
intuito de cooperar na formulação de uma série de tratados no campo internacional. Ela 
entrou em vigor em 1970 e, segundo o Art. 3° da Convenção de 1967, a OMPI possui como 
51
principais objetivos: “i) promover a proteção da propriedade intelectual em todo o mundo, 
pela cooperação dos Estados, em colaboração, se for caso disso, com qualquer outra 
organização internacional; ii) assegurar a cooperação administrativa entre as Uniões.” 
A OMPI se tornou um braço forte da Organização das Nações Unidas (ONU) na defesa 
da propriedade intelectual entre os estados. A Organização, segundo seu artigo 4°, por 
meio dos seus órgãos competentes e sob reserva da competência de cada União:
i) promoverá a adoção de medidas destinadas a melhorar a proteção da 
propriedade intelectual em todo o mundo e a harmonizar as legislações nacionais 
neste domínio; ii) assegurará os serviços administrativos da União de Paris, 
das Uniões particulares instituídas em relação com esta e da União de Berna; 
iii) poderá aceitar encarregar-se das tarefas administrativas que forem exigidas 
pela efectivação de qualquer outro acordo internacional destinado a promover 
a protecção da propriedade intelectual, ou participar nessa administração; 
iv) encorajará a conclusão de acordos internacionais destinados a promover 
a protecção da propriedade intelectual; v) oferecerá a sua cooperação aos 
Estados que lhe solicitem assistência técnico-jurídica no domínio da propriedade 
intelectual; vi) reunirá e difundirá todas as informações relativas à protecção 
da propriedade intelectual, efectuará e encorajará estudos neste domínio e 
publicará os respectivos resultados; vii) assegurará os serviços que facilitem a 
protecção internacional da propriedade intelectual e, sendo caso disso, lavrará 
registos referentes a esta matéria e publicará os dados relativos a estes registos; 
viii) tomará quaisquer outras medidas apropriadas. 
Evidenciou-se, nesse período, a criação de legislações nacionais, considerando que 
os inventos ficavam resguardados dentro de cada Estado. Entretanto, o desafio foi fazer 
com que outros países respeitassem o direito estabelecido nacionalmente com a criação 
de mecanismos protetivos de impedir que estrangeiros copiassem a ideia e reproduzissem 
em outros territórios os mesmos bens já registrados nacionalmente. Dessa forma, ficou 
muito claro entender que era necessária uma legislação além-fronteiras, que congregasse 
os países internacionalmente, uma normativa que fosse supranacional. 
A propriedade intelectual é compreendida a partir da sua subdivisão em: propriedade 
industrial, direito autoral e produção sui generis. Segundo a análise de Roger Schechter e 
John Thomas (2003, p. 1), a propriedade intelectual pode ser definida da seguinte maneira:
52
[...] é uma descrição adequada para o assunto das leis que dão origem a 
interesses proprietários nas criações intelectuais. As principais disciplinas 
jurídicas da propriedade intelectual são os direitos autorais, que dizem respeito 
a obras artísticas e literárias; patente, referente a inovações pragmáticas; e marca 
registrada, relativa a símbolos comerciais. 
A produção sui generis é uma forma de garantir a proteção para ativos como conhecimentos 
tradicionais, cultivares e topografia de circuitos integrados. Esse tipo de proteção surgiu em 
1961 durante a Convenção Internacional para a Proteção das Novas Variedades Vegetais, 
quando foi criada a União Internacional para Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV). A 
UPOV encoraja o melhoramento genético vegetal.
Quadro 1. Quadro Normativo nacional e Internacional
Quadro Normativo
Nacional Lei nº 9.456 de 1997 – Lei de Proteção de Cultivares – Cultivares: proteção conferida 
a novas variedades de plantas que são distintas, homogêneas e estáveis. Os direitos 
são garantidos por 15 a 20 anos, conforme a espécie.
Lei nº 13.123 de 2015 – Patrimônio genético e conhecimento tradicional associado – 
conhecimentos tradicionais: referem-se aos saberes acumulados por comunidades 
tradicionais, protegendo esses conhecimentos contra a exploração indevida e garantindo 
uma repartição justa dos benefícios provenientes de seu uso.
Internacional Convenção da UPOV (União Internacional para Proteção das Espécies Vegetais). 
Promulgada no Brasil pelo Decreto no 3.109/1999.
Fonte: Elaboração própria
O Brasil aderiu à UPOV e passou a defender esse direito em território nacional. Para 
ser considerado cultivares, precisa ter ocorrido uma modificação por interferência de 
pesquisadores, como assegura o Art. 4° da Lei Brasileira nº 9.456, de 25 de abril de 1997, 
que institui a Lei de Proteção de Cultivares e dá outras providências: “É passível de proteção 
a nova cultivar ou a cultivar essencialmente derivada, de qualquer gênero ou espécie 
vegetal.” O certificado da cultivares sui generis é conferido, no Brasil, pelo Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio do Serviço Nacional de Proteção 
de Cultivares (SNPC), órgão competente que trata das solicitações e deliberações dos 
pedidos.
Dessa forma, o portador do certificado tem o direito de comercializar o seu produto pelo 
prazo de até vinte anos. Podemos destacar como exemplo a batata-doce de polpa roxa 
produzida pela Embrapa, que obteve seu registro em 2021 (Cultivares – Portal Embrapa): 
https://planalto.gov.br/CCivil_03/LEIS/L9456.htm
53
a batata-doce BRS Cotinga é uma cultivar de casca e polpa de coloração arroxeada 
intensa com ampla adaptabilidade a ambientes de cultivo e alta estabilidade de produção. 
Foi desenvolvida com a finalidade de oferecer ao mercado uma cultivarespecífica para 
industrialização na forma de chips, mas também pode ser recomendada para processamento 
industrial como farinha, fécula, tapioca, xarope de amido e outros produtos derivados.
A concessão de direito de topografia de circuitos integrados é conferida pelo Instituto 
Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), de acordo com a Lei nº 11.484, de 31 de maio 
de 2007, e a Instrução Normativa INPI nº 109, de 30 de setembro de 2019. O responsável 
pelo projeto terá o direito de utilizar por até dez anos essa concessão. O Art. nº 26 da Lei 
nº 11.484 de 2007 define circuito integrado e topografia de circuito integrado como:
I – Circuito integrado significa um produto, em forma final ou intermediária, com 
elementos dos quais pelo menos um seja ativo e com algumas ou todas as 
interconexões integralmente formadas sobre uma peça de material ou em seu 
interior e cuja finalidade seja desempenhar uma função eletrônica; II – Topografia 
de circuitos integrados significa uma série de imagens relacionadas, construídas 
ou codificadas sob qualquer meio ou forma, que represente a configuração 
tridimensional das camadas que compõem um circuito integrado, e na qual cada 
imagem represente, no todo ou em parte, a disposição geométrica ou arranjos 
da superfície do circuito integrado em qualquer estágio de sua concepção ou 
manufatura (Brasil, 2022). 
Denis Borges Barbosa (2010, p. 2144) conceitua o circuito integrado como:
Um circuito integrado (o microship) é um pequeno aparelho com circuito 
eletroeletrônico completo (funcionando como transistores, resistências e suas 
interconexões) fabricado em peça de material semicondutor, como o silício, 
germânio ou arsenídio de gálio, folheados em wafers de 8 ou 12 camadas. Alguns 
circuitos integrados são usados como memória (as RAMs, ROMs, EPROMs); outros 
são utilizados como processadores, realizando funções lógicas e matemáticas 
em computadores. 
E ainda dentro da seção produção sui generis, temos os conhecimentos tradicionais, 
que possuem toda base teórica internacional baseada na Convenção sobre Diversidade 
Biológica (CDB), realizada em 1992. Esse primeiro acordo multilateral contou com a adesão 
de cerca de 150 países e regulamentou a conservação e o acesso aos recursos genéticos 
das comunidades tradicionais. Tal documento passou a inspirar a regulamentação em 
outros países e defendem em seu Art. 8º, alínea J (2000, p. 12):
54
Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter 
o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações 
indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à utilização 
sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com 
a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e 
práticas; e encorajar a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização 
desse conhecimento, inovações e práticas.
O que define o conhecimento tradicional é a cultura e, para atender as necessidades de 
defesa dos conhecimentos tradicionais, o Brasil estabelece, por meio da Lei nº 13.123, de 
20 de maio de 2015, em seu Art. 20, que de acordo com a Convenção sobre Diversidade 
Biológica, possui as seguintes considerações e conceituações sobre os conhecimentos 
tradicionais:
I – Patrimônio genético – informação de origem genética de espécies vegetais, 
animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias 
oriundas do metabolismo destes seres vivos; 
II – Conhecimento tradicional associado – informação ou prática de população 
indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades 
ou usos diretos ou indiretos associada ao patrimônio genético;
III – Conhecimento tradicional associado de origem não identificável – conhecimento 
tradicional associado em que não há a possibilidade de vincular a sua origem 
a, pelo menos, uma população indígena, comunidade tradicional ou agricultor 
tradicional; 
IV – Comunidade tradicional – grupo culturalmente diferenciado que se reconhece 
como tal, possui forma própria de organização social e ocupa e usa territórios e 
recursos naturais como condição para a sua reprodução cultural, social, religiosa, 
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas 
e transmitidas pela tradição; 
V – Provedor de conhecimento tradicional associado – população indígena, 
comunidade tradicional ou agricultor tradicional que detém e fornece a informação 
sobre conhecimento tradicional associado para o acesso;
VI – Consentimento prévio informado – consentimento formal, previamente 
concedido por população indígena ou comunidade tradicional segundo os seus 
usos, costumes e tradições ou protocolos comunitários; 
55
VII – Protocolo comunitário – norma procedimental das populações indígenas, 
comunidades tradicionais ou agricultores tradicionais que estabelece, segundo 
seus usos, costumes e tradições, os mecanismos para o acesso ao conhecimento 
tradicional associado e a repartição de benefícios de que trata esta Lei; 
VIII – Acesso ao patrimônio genético – pesquisa ou desenvolvimento tecnológico 
realizado sobre amostra de patrimônio genético;
IX – Acesso ao conhecimento tradicional associado – pesquisa ou desenvolvimento 
tecnológico realizado sobre conhecimento tradicional associado ao patrimônio 
genético que possibilite ou facilite o acesso ao patrimônio genético, ainda que 
obtido de fontes secundárias, tais como feiras, publicações, inventários, filmes, 
artigos científicos, cadastros e outras formas de sistematização e registro de 
conhecimentos tradicionais associados;
X – Pesquisa – atividade, experimental ou teórica, realizada sobre o patrimônio 
genético ou conhecimento tradicional associado, com o objetivo de produzir 
novos conhecimentos, por meio de um processo sistemático de construção do 
conhecimento que gera e testa hipóteses e teorias, descreve e interpreta os 
fundamentos de fenômenos e fatos observáveis; 
XI – Desenvolvimento tecnológico – trabalho sistemático sobre o patrimônio genético 
ou sobre o conhecimento tradicional associado, baseado nos procedimentos 
existentes, obtidos pela pesquisa ou pela experiência prática, realizado com o 
objetivo de desenvolver novos materiais, produtos ou dispositivos, aperfeiçoar 
ou desenvolver novos processos para exploração econômica; 
Quanto aos direitos autorais, o tema está subdividido em direitos autorais que compreendem 
as obras literárias, artísticas e científicas; e registro de programa de computador, ambos 
protegidos pela Lei de Direitos Autorais (LDA), que, em seu Art. 7º, estipula: são obras 
intelectuais protegidas pelas criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas 
em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais 
como:
I — Os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; 
II — As conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;
III — As obras dramáticas e dramático-musicais;
IV — As obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por 
escrito ou por outra qualquer forma; 
56
V — As composições musicais, tenham ou não letra;
VI — As obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas;
VII — As obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao 
da fotografia; 
VIII — As obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; 
IX — As ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X — Os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia, 
topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; 
XI — As adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, 
apresentadas como criação intelectual nova;
XII — Os programas de computador; 
XIII — As coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, 
bases de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição 
de seu conteúdo, constituam uma criaçãointelectual.
A propriedade industrial está subdividida em Patente, Marca, Desenho Industrial, 
Indicação Geográfica e Contratos e Franquias. A propriedade industrial, em todas suas 
categorias, é regulamentada pela Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, que em seu Art. 2º 
estipula: 
A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu 
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-
se mediante: I – concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade; 
II – concessão de registro de desenho industrial; III – concessão de registro 
de marca; IV – repressão às falsas indicações geográficas; e V – repressão à 
concorrência desleal; VI – concessão de registro para jogos eletrônicos. 
As franquias são caracterizadas pela concessão de licença por parte da franqueadora 
às suas franqueadas. Essa licença permite a um terceiro a entrada no mercado com o direito 
de usar a Marca e, dependendo da empresa, conforme esclarece Fonseca e Rocha (2018), 
poderá também utilizar a infraestrutura, materiais, preparo e instrução de pessoal, entre 
outros. Exemplos bem conhecidos de empresas franqueadoras no Brasil são a Hering e a 
Arezzo. O desenho industrial cria vários produtos nas mais diversas áreas, podendo ser 
um carro, uma garrafa ou uma máquina. Segundo o Art. 95 da LPI: “desenho industrial é a 
forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que 
57
possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua 
configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial”.
As indicações geográficas estão ligadas ao tipo de produção e ao local de produção. 
Os produtos vinculados ao meio geográfico são chamados de “produtos territoriais 
georreferenciados”, garantindo a valorização dos produtos e sua direta relação com a 
qualidade. Para além da valorização, podemos ainda destacar que a estreita relação entre 
o produto e o território oferecem credibilidade ao produto em virtude de sua forma de 
produção. Dentre alguns produtos brasileiros que possuem o selo de indicação geográfica, 
temos o café no estado de Minas Gerais, o vinho no Rio Grande do Sul e a farinha no 
Amazonas.
| Inovação: conceituações e noções preliminares
Ao pensarmos em propriedade industrial e intelectual nas suas mais diferentes formas 
e apresentações, levamos em consideração que produtos, de maneira geral, oferecem um 
diferencial. Seja no seu processo de obtenção, na ideia que provocou a ação ou na própria 
combinação de uso do conhecimento. Essa significativa diferenciação conduz nossa análise 
para o campo da inovação.
Para falar sobre inovação, destacamos dois importantes estudiosos sobre o tema que 
são Drucker e Schumpeter. Na visão de Drucker (1987, p. 40), a Inovação está associada 
à capacidade do homem de transformar matéria em produto comercializável, em algo que 
potencialmente movimente o mercado: “[...] Qualquer mudança no potencial produtor de 
riqueza de recursos já inexistentes constitui inovação”. Enquanto para Schumpeter (1988), é 
essencial um modus operandi que, ao modificar o material primário, gere desenvolvimento 
econômico e se utilize do conhecimento. Esses fatores conjugados conduzem a novas 
combinações e esse processo em franca operacionalidade gera o fator inovador.
Segundo Schumpeter (1985), a inovação está diretamente relacionada ao mercado e 
ao valor de negociação do produto. Ocorre a transformação de algo existente em um novo 
produto, que necessita ser aceito comercialmente. Nesse contexto, podemos considerar 
inovação um produto novo, um processo, novas matérias-primas ou uma nova organização. 
Daí demandamos: qual a importância de uma ideia ou um produto que economicamente 
não tiveram notoriedade? É preciso considerar que um produto para se transformar em 
inovação passa por determinados momentos, sendo eles a fase gestacional, na qual são 
exigidos graus de compreensão e conhecimento tecnológico, e a fase em que o melhoramento 
operado em algo existente adquire aceitação no mercado. Como bem lembra Schumpeter 
58
(1985, p. 62): “Embora os empresários possam naturalmente ser inventores exatamente 
como podem ser capitalistas, não são inventores pela natureza de sua função, mas por 
coincidência e vice-versa”. 
Atingir a inovação demanda vencer uma série de esforços e de um ambiente apropriado. 
Maciel (1997, p. 109) chama a atenção para as dificuldades e imposições de mercado cada 
vez mais exigente: “[...] procura dar conta do conjunto de condições – limites, obstáculos, 
possibilidades, estímulos – da inovação em uma determinada formação social. Ambiente 
de inovação refere-se, portanto, ao conjunto de fatores políticos, econômicos, sociais e 
culturais que estimulam ou dificultam a inovação [...]”.
Esse conjunto de fatores, como destaca Maciel, atua para obter acesso ao mercado e 
destaque pela diferenciação do produto. A inovação está diretamente ligada ao mercado, 
pois de nada resolve ter um produto com alta operacionalidade sem atingir um patamar de 
vendas que permita um custeio acessível para a indústria, como destaca Coutinho (1992, 
p. 76):
[...] a possibilidade de montar redes internas computadorizadas para centralizar a 
gestão, vendas, compras, estoques, finanças, produção, se necessário em tempo 
real; a possibilidade de estabelecer novas relações proveitosas com fornecedores, 
clientes, prestadores de serviços, institutos de pesquisa, universidades, ou 
mesmo com concorrentes tradicionais, em certas áreas – tudo isso vem induzindo 
modificações relevantes nas estruturas e nas estratégias empresariais. 
Para além dos pesquisadores e cientistas que se debruçam sobre a temática, temos 
um importante documento internacional que congrega e normatiza o entendimento sobre 
inovação no sistema internacional, o Manual de Oslo. Ele foi organizado em cooperação 
entre o Nordic Industrial Fund e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 
Econômico (OCDE) no início dos anos 90 e tratava de conceitos, definições e metodologia 
sobre inovação. O Manual foi escrito por vários especialistas e técnicos, congregando 
mais de trinta países, e em 2018 foi lançada a sua quarta edição atualizada. Segundo o 
Manual de Oslo (2018, tradução própria14), inovação é “um produto ou processo novo ou 
melhorado (ou combinação dos mesmos) que difere significativamente dos produtos ou 
processos anteriores da unidade e que foi disponibilizado a potenciais usuários (produto) 
ou colocado em uso pela unidade (processo)”. 
14 No original: “a new or improved product or process (or combination thereof) that differs significantly from the unit’s previous products 
or processes and that has been made available to potential users (product) or brought into use by the unit (process).”
59
De acordo com o Manual (2005), a inovação é classificada da seguinte maneira: a) a 
inovação de produtos ou serviços: consiste no desenvolvimento e comercialização criativa 
de novas tecnologias, acopladas a necessidades insatisfeitas de clientes; b) a inovação de 
processos: consiste em desenvolver novas formas de fabricação de produtos ou prestação 
de serviços; c) a inovação de gestão: consiste na introdução de novas maneiras de conduzir 
negócios que providenciem uma vantagem competitiva; d) a inovação de negócios ou de 
mercados: consiste na relação do desenvolvimento de novos negócios, que permitam a 
consolidação de vantagem competitiva.
A inovação tecnológica em produto, segundo o mesmo Manual (2005), corresponde a 
produtos tecnologicamente novos, em que as características ou os usos pretendidos diferem 
dos produzidos anteriormente, e em produtos tecnologicamente aprimorados, em que 
um produto existente tem seu desempenho melhorado significativamente ou aprimorado. 
Ou seja, a inovação tecnológica pode utilizar processos novos ou melhorados, tanto no 
equipamento quanto simplesmente na organização da produção. E afirma (Manual de Oslo, 
2005, p. 21):
Uma inovaçãotecnológica de produto é a implantação/comercialização de um 
produto com características de desempenho aprimoradas de modo a fornecer 
objetivamente ao consumidor serviços novos ou aprimorados. Uma inovação 
de processo tecnológico é a implantação/adoção de métodos de produção ou 
comercialização novos ou significativamente aprimorados. Ela pode envolver 
mudanças de equipamento, recursos humanos, métodos de trabalho ou uma 
combinação destes.
De acordo com o Manual (2005, p. 41-42), as ações para se obter uma inovação passam 
pelo campo estratégico e P&D, como explicitado abaixo:
Estratégias: como condição prévia necessária à atividade de inovação, as 
empresas têm de tomar — explicitamente ou não — decisões sobre os tipos de 
mercados que servem ou tentam criar, e os tipos de inovações que neles tentarão 
introduzir. 
P&D: algumas das opções referem-se a P&D (no sentido do Manual Frascati, 
incluindo desenvolvimento experimental que vá além da pesquisa básica e da 
pesquisa aplicada): 
— A empresa pode engajar-se em pesquisa básica para ampliar seu conhecimento 
dos processos fundamentais relacionados com o que produz;
60
— Pode engajar-se em pesquisa estratégica (no sentido de pesquisa de relevância 
para a indústria, mas sem aplicações específicas) para ampliar a gama de projetos 
aplicados que tem à sua disposição, e pesquisa aplicada para produzir invenções 
específicas ou modificações de técnicas existentes;
— Pode desenvolver conceitos de produtos para julgar se são factíveis e viáveis; 
um estágio que envolve: (i) desenho do protótipo; (ii) desenvolvimento e ensaios; 
e (iii) pesquisas adicionais para modificação do desenho ou de suas funções 
técnicas; 
De Não P&D: a empresa pode engajar-se em muitas outras atividades que não têm 
nenhuma relação direta com P&D e que não são definidas como P&D, mas que, 
ainda assim, desempenham um papel importante na inovação e no desempenho 
corporativos; 
— Pode identificar novos conceitos e tecnologias de produção: (i) através de 
sua área de marketing e relações com os usuários; (ii) através da identificação 
de oportunidades de comercialização decorrentes de pesquisa básica, própria 
ou de terceiros, ou de pesquisa estratégica, (iii) através de suas capacidades 
de projeto e engenharia, (iv) monitorando os concorrentes, e (v) valendo-se de 
consultores;
— Pode desenvolver unidades pilotos e, depois, instalações de produção em 
larga escala; 
— Pode adquirir informações técnicas, pagando taxas ou royalties por invenções 
patenteadas (que geralmente requerem trabalho de pesquisa e engenharia para 
serem adaptadas e modificadas), ou adquirir know-how e competências através 
de vários tipos de consultorias de engenharia e projeto; 
— Competências humanas importantes para a produção podem ser desenvolvidas 
(através de treinamento interno) ou adquiridas (por contratação). Pode também 
haver aprendizado tácito e informal (aprender “fazendo”) envolvido;
— Pode investir em equipamentos de processo ou insumos intermediários que 
incorporem o trabalho inovador de outros. Isto pode compreender componentes, 
máquinas ou toda uma fábrica; — pode reorganizar sistemas de gerenciamento e o 
sistema geral de produção e seus métodos, incluindo novos tipos de administração 
de estoques e controle de qualidade e a melhoria contínua de qualidade;
A busca pela inovação ocorre nos mais diversos setores de produção e, acompanhando 
a preocupação internacional do século XXI pela preservação do meio ambiente, passou 
61
a atuar fortemente em busca da sustentabilidade do ecossistema. E daí surge a grande 
e pertinente questão: como inovar, gerar desenvolvimento econômico e respeitar o meio 
ambiente?
| Inovação e ecossistema
De acordo com os estudos de Jackson (2011), a inovação no campo da economia 
sustentável é de grande importância para a preservação do meio ambiente. Os processos 
tecnológicos e criativos aceleram o ritmo de crescimento da economia e captam mais 
investimentos para aprimorar um produtor ou iniciar novos projetos que contemplem a 
defesa da natureza. 
O modelo de hélice tripla de inovação, universidade-indústria-governo, desempenha 
um papel importante também na promoção da ecoinovação, desde que as hélices estejam 
interconectadas, uma vez contribuindo para o desenvolvimento regional e criação de 
oportunidades de renda e emprego. A qualidade de vida depende do uso racional dos 
recursos naturais, visto que esses são finitos, e é possível atingir o impacto sobre o meio 
ambiente sem ferir o ecossistema (Severo; Dorion; Guimarães, 2020). Na análise de Jackson 
(2011), o ecossistema de inovação é um ambiente formado por muitos fatores e atores que 
se debruçam em busca da inovação e do desenvolvimento socioeconômico.
O dinamismo econômico é sustentado pela inovação que, quando aplicada em equilíbrio 
com o meio ambiente, confere vantagem competitiva sustentável tanto para as empresas 
quanto para os países, melhorando o mundo onde vivemos. Furlan (2010) destaca que 
existem categorias de valoração dos serviços e produtos que se originam no ecossistema, 
que podem ser classificados como um valor de uso direto, ou seja, produtos que usam 
a maneira artesanal de obtenção como o extrativismo, a caça ou a pesca; produtos de 
uso indireto, que são obtidos respeitando a natureza e a biodiversidade, como proteção 
de bacias hidrográficas, preservação de habitat para espécies migratórias, estabilização 
climática e redução na produção de carbono. 
Ao expressar a preocupação com o meio ambiente e, principalmente, entendendo que 
os recursos naturais são finitos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2013) destaca 
que a bioeconomia é uma inovação imprescindível para a sociedade: “A bioeconomia surge 
como resultado de uma revolução de inovações na área das ciências biológicas. Está 
relacionada à invenção, desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas 
áreas da biotecnologia industrial, da saúde humana e da produtividade agrícola e pecuária”. 
62
A bioeconomia passou a fazer parte de muitas pesquisas ao se utilizar de conhecimentos 
biológicos voltados para o bem-estar do homem e fomento do mercado. A biotecnologia 
se utiliza de conhecimentos sustentáveis para gerar produção consciente. De acordo com 
a Associação Brasileira de Bioeconomia (ABBI, 2022): “somente com a inovabilidade — 
intersecção entre inovação e sustentabilidade — horizontes do Estado, das organizações 
e dos clientes será possível o alinhamento de cadeias produtivas regenerativas focadas 
em inovações disruptivas e no bem-estar econômico, social e ambiental”. 
Para que fossem atendidas a preservação ambiental e a economia sustentável, sem 
perder a inovação, foi promulgada a Lei nº 9.985 de 2000, que estabelece, em seu Art. 2o, 
as bases conceituais sobre o meio ambiente e a preservação:
VII – conservação in situ: conservação de ecossistemas e habitats naturais e a 
manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em seus meios 
naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde 
tenham desenvolvido suas propriedades características;
VIII – manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar a conservação 
da diversidade biológica e dos ecossistemas;
IX – uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição 
dos recursos naturais;
X – uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos 
naturais;
XI – uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade 
dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a 
biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e 
economicamente viável;
XII – extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo 
sustentável, de recursos naturais renováveis;
XVII – plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com fundamento nos 
objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento 
e as normas que devem presidiro uso da área e o manejo dos recursos naturais, 
inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade;
Respeitando as condições para o desenvolvimento industrial e atendendo a preservação 
do ecossistema por meio de desenvolvimento sustentável e, ainda, atendendo as condições 
de obter inovação a partir das pesquisas no campo da bioeconomia, desenvolveu-se o 
63
projeto com as algas kappaphicus alvarezzi. Conforme se observa na Figura 1, há diversas 
oportunidades de cultivo e aplicação de uso das algas kappaphicus alvarezzi.
Figura 1. Possibilidades de cultivo e aplicação de macroalgas
Fonte: Apresentação de Tatiane Balliano
| Extrato aquoso algas kappaphicus alvarezzi
A indústria de algas no Brasil tem se baseado historicamente na colheita de algas dos 
bancos naturais. Desde a década de 1960, diversas espécies de macroalgas vêm sendo 
coletadas no litoral do nordeste para extração de ágar e carragenana. Atualmente, o cultivo 
de macroalgas tem mostrado um grande potencial em relação ao desenvolvimento da 
comunidade e passou a ser considerado uma alternativa viável para garantir a sustentabilidade 
da atividade na região costeira, sobretudo porque a relação sociedade-natureza vivenciada 
pelas comunidades tradicionais é considerada de baixo impacto ambiental e dessa forma 
pode contribuir para a conservação da biodiversidade (Pereira; Diegues, 2010). Na Figura 
2, é apresentada a imagem da alga kappaphicus alvarezzi.
64
Figura 2. Alga kappaphicus alvarezzi
Fonte: Instituto ProAlgas
Cabe destacar que novas linhas de pesquisa buscam avaliar o potencial para o uso de 
algas em diversos setores da economia. O uso desses bioprodutos pode estimular, ainda, 
a economia no país, auxiliando na geração de renda e sustentabilidade ambiental. 
As plantas têm desenvolvido um importante papel na captura de gás carbônico e 
produção de oxigênio, por meio da fotossíntese. Conforme expõe o Instituto ProAlgas 
Brasil, a atividade de absorção de CO2 pode ser considerada um dos processos biológicos 
mais importantes do planeta. Além disso, as macroalgas marinhas são consideradas uma 
fonte valiosa, de importante valor ecológico e econômico, e em função disso, promotora 
de múltiplos serviços ecossistêmicos.
As pesquisas envolvendo as macroalgas são ações conjuntas e articuladas e buscam 
evidenciar a capacidade que os ecossistemas naturais e seminaturais têm de regular 
os processos e sistemas de apoio à vida, por meio de processos biológicos e de ciclos 
biogeoquímicos. 
Nesse contexto, a pesquisa da Profª Tatiane Balliano está integrada ao plano aquícola da 
cidade de Maceió, no estado de Alagoas. A Figura 3 localiza a região onde estão localizados 
os núcleos de cultivo das algas na cidade de Maceió/AL.
https://www.proalgabrasil.org.br/novidades-1
https://www.proalgabrasil.org.br/novidades-1
65
Figura 3. Área do Porto de Maceió onde vai ser implantado o cultivo para estabelecimento do plano 
aquícola, pesquisa e banco de germoplasma e expansão dos Núcleos de Cultivo
Fonte: Google Maps
Os pesquisadores associados ao laboratório coordenado pela Profª Tatiane Balliano têm 
desenvolvido produtos tecnológicos para aplicação na indústria farmacêutica oriundos do 
processamento de algas da espécie kappaphycus alvarezii. As figuras de 4 a 6 mostram 
as imagens de algumas das etapas da pesquisa.
Figuras 4, 5 e 6. Etapas da pesquisa do extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie 
kappaphycus alvarezii
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024”
As pesquisas desenvolvidas ao longo de 2024 estiveram associadas a aplicações 
terapêuticas da jurema preta (mimosa tenuiflora (willd.) poir.) e às perspectivas existentes 
para produção de novos medicamentos fitoterápicos com o extrato aquoso e da carragena 
obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii. Dentre os estudos, destacam-se a 
aplicação de ficoeritrina com a planta de jurema preta conforme Figura 7 abaixo e da 
produção de óvulos intravaginais decorrentes dos resultados obtidos com a ficoeritrina, 
jurema preta e gelatina glicerinada conforme Figura 10. 
66
Figura 7. Ficoeritrina (PE)
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024”
A ficoeritrina (PE) é uma proteína da família das ficobiliproteínas, presente nas 
cianobactérias, algas vermelhas e nas criptofíceas. A pesquisa tem utilizado a ficoeritrina 
com a planta jurema preta. No conhecimento tradicional, o pó obtido a partir da trituração 
da casca é muito eficiente no tratamento de queimaduras, acne, problema de pele, pois 
tem efeito antimicrobiano, analgésico e regenerador de células.
Figura 8. Imagem da planta e casca da jurema preta
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024”
A pesquisa tem alcançado resultados satisfatórios quanto à melhora na cicatrização 
de pequenos ferimentos, conforme se evidencia nas imagens retratadas na Figura 9.
67
Figura 9. Imagens dos estudos clínicos do uso da ficoeritrina (PE) com a planta jurema preta
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024
Os efeitos terapêuticos foram preliminarmente evidenciados e a pesquisa está na fase 
de estudos clínicos para acompanhamento de tratamento de cicatrização de lesões. Outro 
estudo apresentado foi a produção de óvulos intravaginais para tratamento de câncer do 
colo do útero conforme imagem ilustrado na Figura 10.
Figura 10. Imagem dos óvulos intravaginais
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024
A pesquisa da aplicação da ficoeritrina com jurema preta e gelatina glicerinada, financiado 
pelo CNPq, já realizou estudo clínico de fase 1 e 2 para cicatrização de lesões e combate 
a leucorreias com duplo cego randomizado.
68
Quadro 2. Descrição das fases do estudo clínico
Aplicação da ficoeritrina com jurema preta e gelatina glicerinada 
1ª Fase 24 mulheres
2ª Fase 120 mulheres
Fonte: Arquivo de pesquisa do projeto “Desenvolvimento Tecnológico de produtos a partir da utilização do 
extrato aquoso e da carragena kappa obtida de algas da espécie kappaphycus alvarezii, 2024”
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o 
terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres. Para o ano de 2023, foram estimados 
17.010 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 13,25 casos a 
cada 100 mil mulheres (INCA, 2022).
| Considerações finais
O presente capítulo apresentou a importância da interação entre academia e indústria 
a partir das pesquisas desenvolvidas na área de propriedade intelectual e transferência 
de tecnologia, dando destaque a produtos tecnológicos para aplicação na indústria 
farmacêutica oriundos do processamento de algas da espécie kappaphycus alvarezii 
e da planta jurema preta. Essa planta apresenta vários efeitos terapêuticos como ação 
antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória e cicatrizante.
Este trabalho apresentou os resultados de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal 
de Alagoas, pela Profª Tatiane Balliano e sua equipe. Dentre os resultados apresentados 
pela palestrante, destacam-se dois estudos específicos com algas da espécie kappaphycus 
alvarezii e a planta jurema preta. Esses estudos estão associados a uma gestão ambiental 
embasada na conservação da biodiversidade e às políticas de desenvolvimentosustentável. 
Por fim, pesquisas como as apresentadas acima podem atender a múltiplos propósitos, 
desde a conscientização da população até a tomada de decisões sobre questões específicas, 
como o desenvolvimento costeiro.
| Agradecimentos
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), 
ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), aos integrantes 
do projeto Educação Empreendedora: servidoras, alunas e alunos de graduação e pós-
graduação do PROFNIT/ITA pela contribuição nas atividades desenvolvidas e agradecemos, 
de forma especial, à ITAEx pelo suporte financeiro para a realização do projeto. 
69
| Referências
ABBI. ABBI – Associação Brasileira de Bioinovação. Bioinovação no setor florestal: 
oportunidades e desafios. 
BRASIL. Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares e 
dá outras providências. 
BRASIL. Lei nº 11.484/2007. Dispõe sobre os incentivos às indústrias de equipamentos 
para TV Digital e de componentes eletrônicos semicondutores e sobre a proteção à 
propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados, instituindo o Programa 
de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores – PADIS e o 
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para 
a TV Digital – PATVD; altera a Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993; e revoga o art. 26 da 
Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005.
BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III 
e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
da Natureza e dá outras providências. 
BRASIL. Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015. Regulamenta o inciso II do § 1º e o § 4º 
do art. 225 da Constituição Federal, o Artigo 1, a alínea j do Artigo 8, a alínea c do Artigo 
10, o Artigo 15 e os §§ 3º e 4º do Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica, 
promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe sobre o acesso 
ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional 
associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da 
biodiversidade; revoga a Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001; e dá 
outras providências.
BRASIL. Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016. Dispõe sobre estímulos ao 
desenvolvimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à 
inovação e altera a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a Lei nº 6.815, de 19 de 
agosto de 1980, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei nº 12.462, de 4 de agosto 
de 2011, a Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993, a Lei nº 8.958, de 20 de dezembro 
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https://www.wipo.int/portal/en/index.html ABPI
https://www.wipo.int/portal/en/index.html ABPI
5. Soberania digital no Brasil: 
panorama e desafios
Fábio Luiz Tezini Crocco15
Hiure Anderson da Silva Queiroz16
Leonardo Ribeiro da Cruz17
Natália Jodas18
doi.org/10.5281/zenodo.15198494
15 Professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Departamento de Humanidades. São José dos 
Campos – SP – Brasil. CEP: 12228-900. E-mail: fabiofltc@gmail.com. 
16 Doutorando no Programa de Inovação e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo. São José dos 
Campos – SP – Brasil. CEP 12231-280. E-mail: hiure@riseup.net
17 Professor da Faculdade de Ciências Sociais e da Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal 
do Pará. Coordenador do Observatório Educação Vigiada. Belém – PA – Brasil. CEP: 66077-110. E-mail: leocruz@ufpa.br
18 Professora de Direito do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Departamento de Humanidades. São 
José dos Campos – SP – Brasil. CEP: 12228-900. E-mail: najodas@ita.br
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198494
mailto:fabiofltc%40gmail.com?subject=
mailto:hiure%40riseup.net?subject=
mailto:leocruz%40ufpa.br?subject=
mailto:najodas%40ita.br?subject=
73
Resumo: No bojo do capitalismo financeiro global nasceram novas relações de submissão 
dos estados do Sul Global em relação às grandes empresas de tecnologia (big techs), o 
que vem sendo denominado de “colonialismo de dados”. Nessa perspectiva, as grandes 
corporações controlam os dados e todo o processo de desenvolvimentoe o mercado digital, limitando a autonomia dos países do Sul 
Global. Explora a soberania digital, os marcos regulatórios brasileiros e os desafios políticos, 
econômicos e culturais, propondo tecnologias autônomas alinhadas aos interesses locais 
e comunitários.
O sexto capítulo transcreve a palestra de Sandra Rufino sobre a relevância e as 
tendências dos projetos pedagógicos de curso que incorporam a extensão curricularizada e 
a extensão tecnológica como estratégias pedagógicas. Essas iniciativas foram apresentadas 
como ferramentas para promover metodologias ativas e projetos integradores, visando ao 
desenvolvimento de competências profissionais e sociais (hard e soft skills). Além disso, 
foram discutidas experiências nacionais, desafios enfrentados e os resultados alcançados.
O sétimo capítulo destaca as ações de promoção da saúde no ensino superior, enfatizando 
sua crescente relevância em organizações de saúde e universidades. Aborda as iniciativas 
do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para integrar saúde e educação, visando 
formar cidadãos críticos e conscientes, além de explorar futuras possibilidades no contexto 
acadêmico.
O livro Engenharia e Sociedade: Humanidades em Debate, resultante do I Ciclo de 
Debates Engenharia e Sociedade, organizado por Fábio Crocco e Natália Jodas pode ser 
acessado através do seguinte link: https://www.letraria.net/engenharia-e-sociedade/
Sublinhamos, por fim, que Engenharia e Sociedade: Humanidades em Debate (Volume 
II) é um livro elaborado de forma colaborativa, mediante um processo de análise e discussão 
de temáticas selecionadas pelo Departamento de Humanidades do Instituto Tecnológico 
de Aeronáutica (IEF-H/ITA), para valorizar o diálogo entre distintas áreas do conhecimento 
e materializar uma produção teórica que trilha o caminho da inter e transdisciplinaridade.
https://www.letraria.net/engenharia-e-sociedade/
10
Este livro reflete o esforço coletivo para integrar as humanidades no contexto da 
engenharia, uma prática cada vez mais necessária diante dos desafios e complexidades 
do mundo contemporâneo. A engenharia, tradicionalmente voltada para a solução de 
problemas técnicos e concretos, está cada vez mais envolvida em questões que demandam 
reflexão ética, social e política. Em um mundo globalizado e tecnologicamente avançado, 
as decisões tomadas por engenheiros têm repercussões amplas, não apenas no plano 
técnico, mas também nas esferas sociais, culturais e ambientais. 
A proposta de incluir as humanidades no processo formativo da engenharia é um 
reconhecimento de que as soluções tecnológicas não podem ser desassociadas das 
implicações que elas têm para as pessoas e o meio ambiente. A interseção entre engenharia e 
humanidades não só contribui para a formação de profissionais mais críticos e responsáveis, 
mas também promove uma visão mais holística e humanizada da tecnologia.
A transdisciplinaridade se apresenta como uma chave importante para a construção 
de soluções inovadoras e sustentáveis, pois ela propõe uma abordagem que ultrapassa 
as fronteiras tradicionais entre disciplinas. Em vez de buscar respostas isoladas em um 
único campo do saber, a transdisciplinaridade foca na integração de diferentes áreas de 
conhecimento para enfrentar problemas complexos que exigem múltiplas perspectivas. 
Essa abordagem permite que se compreenda melhor as interconexões entre a técnica, a 
sociedade e o meio ambiente, oferecendo novas formas de pensar e agir em um contexto 
de rápida evolução científica e tecnológica.
Boa leitura!
Os organizadores
| Referências
CROCCO, F. L. T.; JODAS, N. (org.). Engenharia e Sociedade: Humanidades em 
Debate. 1. ed. Araraquara: Letraria, 2024. v. 1. Disponível em: https://www.letraria.net/
engenharia-e-sociedade/. Acesso em: 15 abr. 2025. 
https://www.letraria.net/engenharia-e-sociedade/
https://www.letraria.net/engenharia-e-sociedade/
1. Feminismo e igualdade 
de gênero no século 
XXI: reflexões de uma 
acadêmica e ativista dos 
direitos humanos2 
Silvia Pimentel3
doi.org/10.5281/zenodo.15198001
2 Palestra realizada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, em São José dos Campos – 
SP, em 09 de outubro de 2024.
3 Professora doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde ocupa o cargo de 
Coordenadora do Núcleo de Direito Constitucional da Pós-Graduação em Direito da PUC/SP e 
representante docente da Faculdade de Direito da PUC/São Paulo no CEPE – Conselho de Ensino 
e Pesquisa.
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198001
12
Inicio agradecendo, com muito gosto, o convite para conversar com professoras, 
professores, alunas e alunos da graduação e pós-graduação e servidores do Instituto de 
Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Agradeço a apresentação que fizeram da minha trajetória acadêmica e militante pelos 
Direitos Humanos das Mulheres, na perspectiva da interseccionalidade de gênero, raça, 
classe e sexualidade. E, se me permitem observar: sou uma acadêmica feminista histórica, 
desde meados da década de 70, e meu legado está gravado em artigos e livros, inclusive, 
na Constituição Federal de 1988, no Código Civil de 2002 e na Lei Maria da Penha (Lei 
nº 11.340/2006). Também, no Título IV “Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual” do Código 
Penal vigente. Vale frisar que, até 2009, era redigido como “Crimes Contra os Costumes”.
Em nosso Brasil, tão belo, tão grande, tão rico, mas tão desigual, importa se queremos 
contribuir a um mundo melhor e mais justo que consideremos a grande diversidade da 
nossa população. Se queremos o bem comum, isto é, o bem de todas as pessoas, importa 
reconhecer as imensas disparidades raciais, socioeconômicas, culturais e políticas que 
impactam, desigualmente, as vidas de cada brasileira e brasileiro.
Importante dizer que a grande maioria da plateia de minha fala é masculina, talvez 
90%. Assim, quero cumprimentar as jovens e corajosas mulheres por estarem cursando 
o ITA, em forte minoria. Ao mesmo tempo, quero desejar que sejam muito sábias e firmes 
em suas atitudes, pois, sem dúvida, nem todos os jovens estudantes foram educados para 
reconhecer o valor de colegas do sexo feminino, nem para saber interagir com vocês, com 
o máximo de respeito, amizade e coleguice.
Aos jovens rapazes, eu os cumprimento convidando-os, de coração, a serem críticos 
a uma série de bobagens, ignorâncias e estereótipos que existem em nossa sociedade 
e que não os reproduzam. Como por exemplo: “os meninos são mais racionais, portanto 
mais inteligentes, e as meninas são mais emocionais e menos inteligentes”.
Desejo a vocês moças e rapazes que saibam viver o século XXI, experienciando os seus 
avanços, ao mesmo tempo em que lutem contra suas injustiças, estereótipos, preconceitos 
e violências.
Face à complexidade dos desafios enfrentados pela humanidade, aqueles que se 
comprometem com uma existência mais digna a todas as pessoas percebem-se eticamente 
compelidos a AGIR nesse sentido. Espero que minha presença e fala, hoje, sejam recebidas 
como um convite ao pensar crítico e ao agir consciente, indo além de nossas individualidades, 
sabendo respeitar o OUTRO.
13
O feminismo é, muitas vezes, mal compreendido como um movimento contra os homens. 
Na verdade, a luta feminista propõe-se a desafiar a estrutura patriarcal de opressão, ainda 
vigente, que perpetua as desigualdades de gênero, prejudicando tanto mulheres quanto 
homens, embora as mulheres de forma brutal. Nesse sentido, a luta feminista fundamenta-
se na busca pela estruturação de uma sociedade mais isonômica e inclusiva.
O patriarcado “na definição feminista, [...] [é] o sistema de dominação-exploração das 
mulheres, que as subordina aos homens, e que se sustenta na ideologia de supremacia 
masculina, a qual chamamos de machismo” (Pimental; Di Giorgi; Mendes, 2024, p. 49). O 
patriarcado tem se remodelado historicamente, respondendo às exigências das diferentes 
formas de produção e da política. Vale ressaltar o salto ocorrido entre a fase do pré-
mercantilismo, do final da Idadetecnológico, sem 
abrir espaço para que outros sujeitos ou instituições possam definir outros padrões ou 
soluções tecnológicas. Dentro desse contexto, o presente trabalho discute as formas de 
modulação da chamada soberania digital, isto é, a autonomia que um Estado possui sobre os 
seus dados, informações e infraestrutura digitais, bem como a sua capacidade de garantir que 
suas políticas e regulamentações sobre o tema sejam aplicadas em seu território. Partindo-
se de uma revisão bibliográfica e de um levantamento documental legislativo, este capítulo 
perpassa importantes conceitos atrelados à temática para desembocar propriamente na 
análise do cenário brasileiro e, assim, apresentar os principais marcos regulatórios nacionais 
tocantes às tecnologias digitais e refletir sobre os desafios de ordem econômica, política, 
cultural e laboral a serem enfrentados pelo Brasil. Ao final, foram retratados caminhos 
para a construção de tecnologias digitais territorializadas aos interesses de comunidades 
e povos. 
Palavras-chave: Soberania digital; Brasil; Marcos regulatórios; Redes comunitárias.
| Introdução
Neste início de século XXI, o caráter estrutural e ubíquo da digitalização e da automatização 
de processos decisórios resulta na transformação de todos os âmbitos da vida. A produção, 
o trabalho, o consumo, a política, a cultura, a geração de conhecimento, a educação e a 
sociabilidade, por exemplo, são elementos basilares da sociedade que passam a operar 
com base nessa nova infraestrutura sociotécnica. Longe de questionar o capitalismo, a nova 
lógica instaura uma reestruturação político-econômica enquanto nova forma de acumulação 
de capital baseada em dados, que se entranha em todas as atividades econômicas, políticas 
e culturais e remodela seus modus operandi e, consequentemente, a base da tomada de 
decisões individuais e sociais. Portanto, a importância das tecnologias digitais e as disputas 
político-econômicas globais relacionadas ao desenvolvimento de meios produtivos com 
base em ciência e tecnologia, na atualidade, nos impõe a reflexão das condições e dos 
desafios relacionados à soberania digital no Brasil.
Por esse motivo, este capítulo tem o propósito de discutir os principais aspectos 
relacionados à noção de soberania digital a fim de investigar a sua aplicação no contexto 
brasileiro. Para tanto, são estudados os principais marcos regulatórios nacionais atrelados às 
74
tecnologias digitais e, conjuntamente, os desafios relacionados à soberania digital no território 
brasileiro. E, ainda, debatidas algumas iniciativas que visam construir tecnologias autônomas 
e livres do colonialismo digital, com o intuito de demonstrar caminhos convergentes e 
frutíferos sobre o tema.
A metodologia de pesquisa adotada consiste na revisão bibliográfica nacional e 
internacional, localizada em obras literárias e periódicos, com vistas a delimitar os conceitos 
relacionados à soberania, à soberania digital e às redes comunitárias. Em complemento, 
realiza-se levantamento documental para a análise e discussão do arcabouço jurídico 
nacional relacionado à regulação das tecnologias digitais. Nesse ponto, os bancos públicos 
oficiais, responsáveis por abrigar as leis e os projetos de leis federais (Câmara dos Deputados 
e Senado Federal) e por compilar informações e dados históricos sobre órgãos e entidades 
públicas (documentos publicados pelo governo federal) são fontes primárias de consulta. E, 
ainda, para compor a abordagem das iniciativas voltadas à criação de tecnologias autônomas, 
são coletadas informações situadas em páginas de organizações não governamentais e 
entidades privadas pertinentes. 
Este capítulo está organizado em três partes. Na primeira parte são traçadas as principais 
características vinculadas à soberania, partindo de definições oriundas da Ciência Política e 
do Direito para chegar ao conceito de soberania digital, termo de origem mais recente, uma 
vez que decorrente de toda a transformação vivenciada pela digitalização da sociedade 
no século XXI. 
Coube à segunda seção esboçar um panorama das principais normas jurídicas 
relacionadas ao uso e à aplicação das tecnologias digitais no cenário brasileiro, quais 
sejam, da Lei Carolina Dieckmann, do Marco Civil da Internet, da Lei Geral de Proteção dos 
Dados Pessoais (LGPD) e dos projetos de lei que almejam regrar a Inteligência Artificial 
no Brasil. Ainda nesse tópico, comentam-se os desafios ligados ao fortalecimento da 
soberania digital no contexto brasileiro, em vista dos dilemas relacionados às perdas e 
às desigualdades econômicas; a não raros casos de espionagem e influência política e 
legislativa; à fragilidade a que estão sujeitas as pesquisas desenvolvidas pelas universidades 
e órgãos ligados à ciência e tecnologia; e à afetação da capacidade produtiva e da oferta 
de empregos industriais e tecnológicos. 
Na última parte são expostos movimentos e as experiências que vêm se mostrando 
resistentes à hegemonia digital do Norte Global, sobretudo por ansiar desenvolver tecnologias 
voltadas às particularidades e interesses de uma determinada coletividade, tendo por 
base a participação ativa e colaborativa das comunidades e atores sociais comprometidos 
nessas ações. 
75
1 Soberania digital: breves contornos
Soberania é um conceito da ciência política que surge com o Estado moderno e está 
umbilicalmente ligado às características elementares do Estado.
Em sentido lato, o conceito político-jurídico de Soberania indica o poder de 
mando de última instância, numa sociedade política e, consequentemente, a 
diferença entre esta e as demais associações humanas em cuja organização 
não se encontra este poder supremo, exclusivo e não derivado. Este conceito 
está, pois, intimamente ligado ao de poder político: de fato a Soberania pretende 
ser a racionalização jurídica do poder, no sentido da transformação da força em 
poder legítimo, do poder de fato em poder de direito. Obviamente, são diferentes 
as formas de caracterização da Soberania, de acordo com as diferentes formas 
de organização do poder que ocorreram na história humana: em todas elas é 
possível sempre identificar uma autoridade suprema, mesmo que, na prática, esta 
autoridade se explicite ou venha a ser exercida de modos bastante diferentes 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998, p. 1179).
Na perspectiva do Direito, a soberania exprime o mais alto poder do Estado, a qualidade 
de este poder supremo impor-se nos âmbitos interno e externo (Bonavides, 2018, p. 119). 
Sob o ângulo interno, corresponde ao controle que o Estado tem sobre o território e a 
população, bem como a superioridade do poder político frente aos demais poderes sociais 
que lhe ficam sujeitos, de forma mediata ou imediata. Sob o prisma externo, é a manifestação 
independente do poder estatal perante outros Estados. 
Ainda dentro de uma concepção puramente jurídica, a soberania seria o poder de 
decidir em última instância sobre a atributividade das normas, sobre a eficácia do direito, 
sendo ela um poder jurídico utilizado para fins jurídicos (Dallari, 1998, p. 32). A soberania 
pode ser compreendida, em linhas gerais, como a capacidade de o Estado criar e executar 
a sua própria legislação.
O debate em torno deste conceito não deve ser feito de forma isolada, à medida que 
a soberania pode estar presente nas mais diversas formas de atuação do Estado, sejam 
elas autocráticas ou mesmo autoritárias. Por isso, a construção da soberania fundada nas 
teorias democráticas, base da qual partimos, está alinhada à doutrina da soberania popular, 
na qual o povo participa do Estado e é o elemento formador da vontade deste, sendo que 
a atribuição da titularidade da soberania ao Estado deve atender às exigências jurídicas, 
ao mesmo tempo em que preserva o fundamento democrático (Dallari, 1998, p. 33).
76
A temática da soberania digital nasce da necessidade de discutir se os Estados estão, de 
fato, impondo o seu poder político em relação à influência crescente dos agentes econômicosdetentores das tecnologias digitais. Mas, é preciso dizer, já na segunda metade do século 
XX, isto é, bem antes da ingerência exercida propriamente pelas big techs, os Estados 
passaram a ser impactados em suas soberanias pelos efeitos da globalização. Nesse ponto, 
ao passo que o livre comércio se generalizou, as disputas pelo mercado se tornaram mais 
acirradas e as empresas transnacionais passaram a atuar como sistemas integrados, os 
processos decisórios nacionais foram submetidos a pressões desregulamentadoras, sob a 
forma de privatização de serviços essenciais, alienação de empresas públicas, flexibilização 
da legislação trabalhista, redução dos encargos sociais, entre outros (Faria, 2008, p. 31). É 
claro que o impacto dessas mudanças não foi homogêneo, mas variável de acordo com as 
condições culturais, lutas sociais internas e estratégias adotadas pelos governos. Contudo, 
é possível afirmar que os Estados, em graus distintos, passaram a sofrer interferência 
cruzada dos mais variados atores transnacionais que, diante do progressivo domínio da 
lógica financeira, tornaram as fronteiras territoriais mais porosas e atenuaram a autonomia 
estatal para o “mercado” (Faria, 2008, p. 32). 
Acompanhamos, desde as décadas finais do século XX, a revolução microeletrônica 
e o avanço das tecnologias digitais, mas, nos últimos anos, presenciamos o avanço dos 
sistemas algorítmicos e de inteligência artificial (IA) baseadas em machine learning, com 
destaque para o modelo de aprendizado de máquina Large Language Model (LLM). Esse 
modelo, treinado para aprender a partir de enormes bases de dados, gera, por exemplo, 
linguagem de conversação com humanos e contexto para a obtenção de respostas em 
plataformas de IA generativas. 
As tecnologias de IA de conversação ou as que criam imagens, como ChatGPT, Gemini, 
Copilot, DALL-E e Midjourney, dependem de um LLM para funcionar. Essa rede neural torna 
os sistemas de IA capazes de analisar informações em bases de dados e convertê-las em 
respostas de texto, imagem, vídeo, código de programação e outras.
O avanço das inúmeras tecnologias digitais tem promovido transformações significativas 
na produção, no trabalho, na política, na cultura, na pesquisa científica e nas relações 
sociais como um todo. Na atualidade, elas estruturam os pilares político-econômicos da 
nossa sociedade, pois remodelam a infraestrutura da tomada de decisões (individuais e 
coletivas) e criam uma nova forma de acumulação de capital baseado em dados, que se 
entranha em todas as atividades econômicas e remodela seus modus operandi. 
Apesar de sua capacidade socialmente reestruturadora, o controle do seu desenvolvimento 
está concentrado em países desenvolvidos e, mais especificamente, é guiado direta e 
77
indiretamente pelas chamadas big techs19. Estas são grandes empresas de tecnologia 
que atuam globalmente, que dominam o mercado digital e que estruturam o capitalismo 
de vigilância a partir da extração, predição e venda de dados (Zuboff, 2021, p. 13). Estes 
processos estão relacionados aos modelos de negócio pautados em previsões estatísticas 
de ações e consumo futuro, o que Zuboff (2021) denomina de mercados de comportamentos 
futuros.
Nessa direção, conforme destacado no Manifesto pela Soberania Digital nas Universidades 
Públicas Brasileiras,
Quem controla o software, o hardware e a conexão de rede controla o mundo 
digital. O controle sobre as interfaces digitais também modula as possibilidades 
de interação entre todos, porque as linhas dos códigos funcionam como leis que 
estipulam regras para a relação entre indivíduos. Quem controla o armazenamento 
e a troca de informações dispõe de meios para extrair valor e gerar lucro com 
o uso delas. Assim, aquele que detém e vende essas tecnologias possui mais 
poder do que quem as compra, pois o usuário não tem poder de alterar o modo 
como o código está escrito ou como o serviço será executado (Moraes; Silveira, 
2023).
Esse poder concentrado nessas grandes empresas monopolistas e em seus países de 
origem, orientado para a captura massiva de dados e prestação de serviços tecnológicos, 
implica em dependência tecnológica dos países em desenvolvimento, como é o caso do 
Brasil. Essa dependência nos impõe sérios desafios, pois impacta em nossa lógica produtiva, 
econômica, laboral e na autonomia, autodeterminação e controle de nossos próprios dados 
e processos informacionais. Soma-se a isso a influência das plataformas, a partir de suas 
infraestruturas e interesses, nas nossas decisões a partir de vários níveis de influência e 
manipulação (Zuboff, 2021; Rouvroy; Berns, 2015).
Os níveis de influência e manipulação são diversos e se fundamentam indiretamente na 
estrutura técnica de funcionamento das plataformas e de serviços digitais e diretamente 
em posicionamentos e ações políticas das próprias empresas. Dos algoritmos de interesse, 
que criam bolhas, polarizações e radicalizações políticas, do impulsionamento de conteúdo 
induzido externamente e da lógica sensacionalista de impulsionamento de mensagens 
mais clicadas, relacionados à economia da atenção e ao impulsionamento de fake news, 
ao lobby político das big techs utilizando as próprias redes de suas plataformas e ao 
19 GAFAM é o acrônimo de gigantes da Web, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, que são cinco grandes empresas dos EUA, 
nascidas nos últimos anos do século XX ou início do século XXI, que dominam o desenvolvimento e o mercado digital.
78
lobby tradicional no Congresso para a formulação de leis favoráveis aos seus interesses 
econômicos.
O aumento da conexão digital, sobretudo por meio dos smartphones e das plataformas 
privadas de redes e mídias sociais, ampliou o uso cotidiano das TDICs nas mais variadas 
práticas individuais e coletivas, abrindo espaço para a emergência de modelos de negócios 
baseados na coleta e tratamento da imensa quantidade de dados digitais, popularmente 
denominados de Big Data (Penteado; Pellegrini; Silveira, 2023, p. 22).
Os dados extraídos e minerados nas plataformas digitais constituem ativos do capitalismo 
financeiro global, os quais são controlados por grandes corporações sediadas no Norte 
Global, conforme detalham Claudio Penteado, Jerônimo Pellegrini e Sérgio Amadeu Silveira 
(2023, p. 23), a saber:
O colonialismo de dados produz novas relações de subjugação dos Estados 
nacionais e do mundo ao poderio das grandes empresas. O Estado é capturado 
pela lógica das grandes empresas de tecnologia. Além de controlar os dados, 
essas corporações dominam o processo de desenvolvimento tecnológico, 
definindo os padrões e os modelos de soluções tecnológicas. 
A soberania digital diz respeito à autonomia e ao controle que um país possui sobre 
seus próprios dados, informações e infraestrutura digital, garantindo que suas políticas, 
leis e regulamentações sejam aplicadas sem interferências de outras nações, de empresas 
estrangeiras ou de infraestruturas externas. Isso envolve o domínio e a gestão de 
recursos tecnológicos e humanos essenciais, bem como a capacidade de definir normas, 
regulamentações e políticas relacionadas às tecnologias digitais.
Em outras palavras, soberania digital tem a ver com a capacidade de o Estado conseguir 
atuar estrategicamente e legislar sobre a atuação das empresas de tecnologia em seu 
território, ou seja, regular as relações técnicas e tecnológicas que começam a surgir a 
partir de usos de novas tecnologias e, ao mesmo tempo, de ter autonomia acerca da sua 
própria infraestrutura digital. 
2 Soberania digital no Brasil
Em vista das duas perspectivas relacionadas à noção de soberania digital, isto é, à 
capacidade de o Estado criar normas jurídicas sobre o desenvolvimento, uso e aplicação 
das tecnologias digitais em seu território e da sua habilidade estratégica de edificar uma 
infraestrutura digital própria, o presente tópico tem o objetivo de discutir os principais 
79
marcos regulatórios brasileiros relacionados às tecnologias digitais e discutir osdesafios 
brasileiros relacionados à imposição da soberania digital em seu território. Sem pretender 
esgotar o esquadrinhamento jurídico e a análise crítica, a ideia é traçar um panorama 
preliminar sobre a temática da soberania digital com enfoque no contexto brasileiro.
2.1 Legislação brasileira sobre tecnologias digitais20
A emergência da era Digital, aqui compreendida como o período histórico em que a 
vida social, as relações de trabalho e boa parte das interações humanas passam a ser 
determinadas por algoritmos e operações digitais, acarreta novos desafios ao Direito (Bittar, 
2019, p. 938). Diversos são os desdobramentos ocasionados da relação entre o Direito e a 
Tecnologia, sendo um deles a própria criação de novas especialidades jurídicas, como é o 
caso do surgimento do Direito Digital, ou mesmo a ressignificação trazida para a Teoria do 
Direito, especialmente nos capítulos mais sensíveis às novas fronteiras das transformações 
sociais (Bittar, 2019, p. 940). 
Somado a isso, visualizamos também a reconfiguração de diplomas normativos em face 
das mutações sociais provocadas direta e indiretamente pela difusão tecnológica, a exemplo 
da legislação trabalhista, fortemente modificada em 201721, para acomodar novos formatos 
de contratação (e precarização) do trabalho; ou mesmo o Código de Defesa do Consumidor 
(CDC), alvo de constantes mudanças no intuito de abrigar as novas figuras trazidas pelo 
comércio digital22. Digno de nota assinalar também o quanto as TICs expandiram-se no 
âmbito do direito processual, alavancados pela pandemia da covid-19, estabelecendo um 
novo paradigma para a realização de audiências, sessões e comunicações processuais 
pelo meio eletrônico23. Concomitantemente, brotam ainda situações não regulamentadas 
pelo ordenamento jurídico brasileiro e que deixam desprotegida uma miríade de sujeitos e 
grupos, a citar os efeitos do uso da Inteligência Artificial (IA) no âmbito dos direitos autorais; 
assim como os impactos provocados pelas infraestruturas de IA na natureza.
20 O presente tópico não pretende esgotar a análise de todos os marcos regulatórios brasileiros que tangenciam o uso e a aplicação 
da tecnologia no território nacional, mas visa comentar algumas das normas jurídicas mais importantes sobre a temática.
21 Cf. Lei nº 13.467/2017 – responsável por alterar consideravelmente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Somado a isso, a 
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2018, reconhecendo a licitude da terceirização do trabalho para as atividades-fim. Cf. 
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388429. Acesso em: 01 nov. 2024. 
22 Cf. Projeto de Lei nº 3514/2015 (apensado ao PL nº 104/2011), situado na Câmara dos Deputados, que visa aperfeiçoar as disposições 
gerais do CDC e dispor sobre o comércio eletrônico, entre outras mudanças. Cf. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=2052488. Acesso em: 01 nov. 2024.
23 Sobre esse assunto: Resolução CNJ (Conselho Nacional de Justiça) nº 354/2020, que regulamenta a realização de audiências e 
sessões por videoconferência e telepresenciais e a comunicação de atos processuais por meio eletrônico nas unidades jurisdicionais 
de primeira e segunda instâncias da Justiça dos Estados, Federal, Trabalhista, Militar e Eleitoral, bem como nos Tribunais Superiores, 
à exceção do Supremo Tribunal Federal. Cf. https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3579. Acesso em: 01 nov. 2024.
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388429
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2052488
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2052488
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3579
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É notável a complexidade das repercussões jurídicas acarretadas pelo uso das tecnologias. 
Nesse sentido, sublinha-se que as variadas formas de violação aos direitos fundamentais 
impulsionaram, de modo mais contundente, a construção de marcos regulatórios específicos 
para lidar apropriadamente com essa temática. Isso porque, o desrespeito recorrente aos 
direitos de personalidade (art. 5º, X, Constituição Federal24), como os direitos de intimidade, 
vida privada, honra e imagem, nome, à semelhança dos direitos de liberdade dos cidadãos 
(art. 5º, IV e IX, CF25), sobretudo a liberdade de expressão, levaram à necessidade de 
discussão e publicação de leis federais para tutelar o uso e a aplicação das diversas 
tecnologias digitais no território nacional.
Um dos primeiros passos nesse caminho ocorreu com a publicação da Lei Carolina 
Dieckmann (Lei nº 12.737/2012), a qual inseriu dispositivos no Código Penal brasileiro26 
com a intenção de imputar crimes e delitos informáticos a fatos até então desprovidos 
de qualquer respaldo jurídico. A atriz, que deu nome à lei, teve seu computador pessoal 
invadido, comportamento que levou à divulgação de diversas fotografias íntimas da artista 
nas redes sociais. A repercussão do caso foi determinante para a criação de tipologia 
penal que pudesse garantir maior segurança virtual, mediante a criminalização da invasão 
de celulares, computadores ou sistemas informáticos para a aquisição, adulteração ou 
destruição de dados com finalidades ilícitas.
Com uma década de existência, o marco civil da internet, regrado pela Lei nº 12.965/2014, 
foi pioneiro no propósito de estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da 
internet no Brasil. Diferentemente de outros países, cuja trilha natural foi tratar da regulação 
da internet criminalmente, o debate brasileiro despontou com a ideia de pavimentar uma 
moldura de direitos e liberdades civis, traduzindo os princípios fundamentais da Constituição 
Federal para o território da internet (Lemos, 2014, p. 4). A construção da norma jurídica 
passou pela discussão no âmbito de uma plataforma colaborativa, a qual envolveu indivíduos, 
usuários, bibliotecários, tradutores, empresas de tecnologia, provedores de serviços de 
internet, empresas de telecomunicações, radiodifusores, associações de classe, entre 
24 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] X – são 
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou 
moral decorrente de sua violação.
25 Art. 5º [...] IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, 
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; 
26 Foi incluído o artigo 154-A no Código Penal, o qual preceitua o seguinte: “Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à 
rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou 
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena 
– detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa [...]. 
81
outros, sendo que, após tal processo, o Projeto de Lei (PL)27 ficou paralisado na Câmara 
dos Deputados até o advento do caso Snowden, em 2013 (Lemos, 2014, p. 6-7).
Em linhas gerais, o marco civil da internet cuidou de disciplinar o uso da internet calcado 
nos direitos fundamentais, especialmente na liberdade de expressão, na privacidade, na 
igualdade e na livre iniciativa, além de enfatizar a neutralidade da rede como uma de 
suas diretrizes (art. 3º, IV) e dever dos responsáveis pela transmissão, comutação ou 
roteamento (art. 9º). Ademais, previu a responsabilidade civil subjetiva28 dos provedores 
de aplicações da internet a partir da publicação de conteúdos de terceiros (art. 19). A lei 
exige decisão judicial para impor a retirada de teor considerado ofensivo e não a meranotificação, com vistas a preservar a liberdade de expressão e evitar a censura prévia de 
conteúdo supostamente violador, sendo o Poder Judiciário a instância legitimada para 
definir eventual ilicitude do conteúdo questionado (Brega, 2023, p. 8). Por outro lado, 
pondera-se que tal previsão abre brechas para que, muitas vezes, diante da ocorrência 
de fatos graves, como a disseminação de conteúdo falso, não haja medidas preventivas 
eficazes e possibilita, não raras vezes, a perpetuação de crimes no tempo (Meireles, 2023, 
p. 19). Essa e outras razões fundamentam a discussão da constitucionalidade do artigo 19 
da lei comentada no Supremo Tribunal Federal (STF)29.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), instituída pela Lei nº 13.709/2018, 
inspirou-se no marco civil da internet em relação ao processo de construção normativo ter 
sido também permeado pela consulta pública. Além disso, com a publicação do Regulamento 
Geral Europeu sobre a Proteção de Dados (General Data Protection Regulation – RGPD), 
houve uma maior mobilização legislativa nacional para acelerar a sua aprovação (Meireles, 
2023, p. 16). Pode-se afirmar que a LGPD regulamentou as formas de proteção dos dados 
pessoais da pessoa natural e, também, induziu o reconhecimento do direito fundamental 
à proteção dos dados pessoais no meio digital, por meio da introdução desse direito no 
rol do catálogo dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988 (art. 
5º, LXXIX, CF/8830). 
27 A lei teve origem no PL nº 2.126/2011 e converteu-se em lei em 23 de abril de 2014. Mas o debate em torno do Marco Civil teve suas 
origens em 2007, sendo que, em 2009, foi encabeçado pelo governo federal, por meio da atuação do Ministério da Justiça. Cf. Brega 
(2023, p. 7).
28 A responsabilidade civil subjetiva é aquela que exige a demonstração de culpa do agente causador do dano alegado. Tomando por 
base a teoria do Direito Civil majoritariamente aceita no Brasil, os pressupostos exigidos para a verificação dessa responsabilidade são: 
conduta culposa, nexo causal e dano. Cf. Cavalieri Filho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2023. 
29 Até o fechamento deste trabalho, o Supremo Tribunal Federal ainda não tinha finalizado o julgamento dos Recursos Extraordinários 
1037396 e 1057258, os quais discutem, entre outros pontos, a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Cf. 
https://noticias.stf.jus.br/postsnoticias/marco-civil-da-internet-relator-considera-inconstitucional-exigencia-de-ordem-judicial-para-
retirada-de-conteudo/. Acesso em: 13 dez. 2024. 
30 Esse direito foi introduzido por meio da Emenda Constitucional nº 119/2022. Nesse sentido, prevê o art. 5º, LXXIX – “é assegurado, 
nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais”.
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5160549
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5217273
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O dado pessoal pode ser compreendido como qualquer informação relacionada à 
pessoa natural que seja identificada ou identificável (art. 5º, I, LGPD). Na prática, isso quer 
dizer que são informações que podem identificar diretamente uma pessoa (dados diretos) 
ou informações que, quando associadas a determinado contexto, possam identificar uma 
pessoa (dados indiretos). Destaca-se que a LGPD é uma norma jurídica que visa proteger 
os dados (diretos e indiretos) das pessoas naturais, e não das pessoas jurídicas, em meios 
físicos ou digitais (Teixeira, 2024, p. 108). 
A LGPD criou a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), autarquia de natureza 
especial, responsável por zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento da norma em 
todo o território nacional (art. 5º, XIX). Inicialmente, a ANPD estava vinculada diretamente 
à Presidência da República, contudo, a Lei nº 14.460/2022 retirou tal vinculação, com o 
propósito de trazer maior autonomia para a instituição31. 
Nesse sentido, relevante pontuar que há políticas públicas que são formuladas, 
implementadas, fiscalizadas e avaliadas pela própria Administração, de forma mais ou 
menos descentralizada, como ocorre, em muitos aspectos, nas searas da educação e da 
saúde; e outras, como é o caso da LGPD que, pela necessidade de alta especialização 
técnica, proteção diante de eventuais inflexões políticas, rápida mutação ou mesmo pela 
exigência de atuação mais ágil, recomendam arranjos institucionais próprios, distintos, tal 
como se estabeleceu com a ANPD (Vasconcelos; De Paula; 2023, p. 701). Outrossim, a 
ANPD é composta pelo Conselho Diretor32; pelo Conselho Nacional de Proteção dos Dados 
Pessoais e da Privacidade – CNPD33; pela Corregedoria34; pela Ouvidoria35; pela Procuradoria 
31 Importante dizer que, embora a concepção original sobre a Autoridade Nacional estivesse ligada à ideia de um órgão centralizado, 
independente e autônomo para gerir o assunto, na prática, pouco antes do final da gestão do então presidente Michel Temer, foi editada 
uma Medida Provisória (MP nº 869/2018), cujo conteúdo original alterou dispositivos da LGPD, a fim de criar uma Autoridade vinculada à 
Administração Pública Direta e integrante da Presidência da República. Ou seja, o modelo proposto originalmente pela referida MP trazia 
uma Autoridade com baixa independência e autonomia. Em meio às críticas recebidas, após amplo processo legislativo no Congresso 
Nacional, o desenho legal da ANPD manteve sua vinculação à Presidência da República, mas apontou para uma natureza transitória, 
a qual pudesse a ANPD ser transformada em autarquia após dois anos. Assim, com a edição da Medida Provisória nº 11.124/2022, 
posteriormente convertida na Lei nº 14.460/2022, concretizou-se a independência técnica, administrativa e orçamentária da ANPD, 
conferindo a ela a natureza jurídica de autarquia em regime especial (Vasconcelos; De Paula; 2023, p. 712 e ss). 
32 É o órgão máximo da entidade, integrado por cinco diretores, os quais são escolhidos pelo Presidente da República e sabatinados 
pelo Senado Federal, com mandato de quatro anos.
33 O CNPD é integrado por membros da sociedade civil e do Poder Público, sendo um órgão consultivo da ANPD, composto por 23 
membros, sendo que, em 2023, o conselho estabeleceu a sua 2ª formação. Nesse mesmo ano, o Conselho Diretor da ANPD deu início 
ao processo de seleção de conselheiros representantes da sociedade civil. Cf. 2ª formação CNPD: https://www.gov.br/anpd/pt-br/
cnpd-2/segunda-formacao-cnpd-2023/selecao-de-conselheiros-do-cnpd-2023. Acesso em: 10 nov. 2024.
34 A corregedoria é composta por um membro nomeado(a) pelo(a) Diretor Presidente da ANPDA. A atual corregedora da ANPD foi 
reconduzida ao seu cargo por meio da Portaria nº 39 de 27 de março de 2024. Disponível em: https://www.gov.br/anpd/pt-br/acesso-
a-informacao/institucional/quem-e-quem/anexo-1-portaria-de-reconducao.pdf. Acesso em: 10 nov. 2024. 
35 A ouvidoria é composta por um membro nomeado(a) pelo Diretor Presidente da ANPD. A atual ouvidora da ANPD foi designada ao 
seu cargo por meio da Portaria nº 27, de 15 de março de 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-27-de-15-
de-marco-de-2023-470784623. Acesso em: 10 nov. 2024. 
https://www.gov.br/anpd/pt-br/cnpd-2/segunda-formacao-cnpd-2023/selecao-de-conselheiros-do-cnpd-2023
https://www.gov.br/anpd/pt-br/cnpd-2/segunda-formacao-cnpd-2023/selecao-de-conselheiros-do-cnpd-2023
https://www.gov.br/anpd/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/quem-e-quem/anexo-1-portaria-de-reco
https://www.gov.br/anpd/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/quem-e-quem/anexo-1-portaria-de-reco
https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-27-de-15-de-marco-de-2023-470784623
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Federal Especializada36 e outras unidades administrativas e especializadas. Ainda é cedo 
para apontar como a ANPD tem desempenhado suas múltiplas funções, todavia, o olhar 
crítico da sociedade quanto à sua atuação é fundamentalpara que sua estrutura e ações 
possam ser constantemente discutidas, reformuladas e melhoradas.
É válido comentar pontualmente alguns aspectos referentes à regulamentação do uso da 
Inteligência Artificial (IA) no Brasil. O Projeto de Lei (PL) nº 2.338/2023 teve sua aprovação 
recente no Senado Federal e agora tramita na Câmara dos Deputados37 para que possa se 
tornar lei. Destacamos alguns dos pontos trazidos na sua redação, como a necessidade de 
as empresas informarem, já no treinamento de sistemas de IA, quais conteúdos protegidos 
pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998) foram utilizados; a possibilidade de os 
autores vetarem o uso de suas obras por tais sistemas; e a permissão do uso de obras 
protegidas para fins de pesquisa, educação, jornalismo e preservação cultural, desde que 
não haja a finalidade comercial ou a concorrência com a comercialização da obra original. 
O texto também prevê a criação do Sistema Nacional de Regulação e Governança de 
Inteligência Artificial (SIA), o qual terá caráter autorizativo e com atribuições do Executivo, 
dependente de regulamentação após a aprovação da norma. 
2.2 Desafios nacionais para a soberania digital 
Além do arcabouço jurídico, a soberania digital leva em conta a autonomia estatal para 
munir-se de infraestrutura digital. Nesse quesito, apresentamos alguns aspectos relevantes 
e dilemas pelos quais o Estado brasileiro vem enfrentando no presente. Movimentos 
acadêmicos e políticos38, preocupados com a soberania digital do Brasil, alertam sobre 
várias implicações do tema. Dentre elas, podemos citar as faces econômica, política, cultural 
e laboral: 
I – Face econômica: a ausência de soberania digital implica em perda de dados que 
são hoje insumos importantes e a base para a edificação de nossas próprias empresas e 
nossas próprias soluções tecnológicas. Ou seja, a concentração das ofertas de tecnologia 
por empresas transnacionais cria uma relação de dependência que reduz a diversidade 
do mercado e limita as ofertas produzidas no Brasil. De acordo com VanLear et al. (2020), 
a extração de dados do país gera perdas econômicas que poderiam ser evitadas e, além 
36 A Procuradoria Federal Especializada é composta por um titular, cuja função principal é representar judicial e extrajudicialmente a 
ANPD, bem como de a assessorar juridicamente.
37 Cf. https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/12/10/senado-aprova-regras-para-inteligencia-artificial-no-brasil-com-identificacao-
biometrica-para-auxiliar-em-prisoes.ghtml. Acesso em: 13 dez. 2024.
38 Alguns exemplos são a Carta ao Lula para criação do Programa de Emergência para a soberania digital, a Rede Pela Soberania 
Digital e o Manifesto pela soberania digital nas universidades públicas brasileiras.
https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/12/10/senado-aprova-regras-para-inteligencia-artificial-n
https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/12/10/senado-aprova-regras-para-inteligencia-artificial-n
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disso, as tecnologias digitais e as soluções ofertadas pelas big techs não deveriam causar 
a excessiva evasão de divisas nem o agravamento das desigualdades socioeconômicas. 
II – Face política: a vigilância e a coleta de dados sensíveis da nossa população de 
agentes externos estão relacionadas a casos de espionagem e de influência e manipulação 
política/legislativa39. Dois casos exemplificam essa questão e articulam elementos políticos 
e econômicos: 1. a entrega de dados dos servidores públicos federais, civis e militares, que 
utilizam o chat do aplicativo do governo federal chamado SouGov para a IBM WATSON 
com o objetivo de prover o aprendizado de máquina da ferramenta de chat denominada 
‘Watson’ (Silveira, 2023); 2. o contrato do Serviço Federal de Processamento de Dados 
(Serpro) (estatal de tecnologia responsável por 90% dos sistemas digitais do governo, como 
Fazenda, Tribunal Superior Eleitoral, Receita Federal, Tesouro Nacional e portal Gov.Br), 
com a Google para a criação de uma nuvem do governo. Esse stack de nuvem do Google, 
uma espécie de mini datacenter batizada como Google Distributed Cloud (GDC), é chamada 
de “nuvem soberana” por manter os dados no território nacional, porém continua sendo 
uma nuvem privada estruturada em soluções tecnológicas da big tech americana. 
III – Face cultural (educação, ciência e tecnologia): a partir das pesquisas realizadas 
pelo Observatório Educação Vigiada40, 83% das Instituições Públicas de Ensino Superior 
do país – locus de produção da maior parte da ciência e da tecnologia do país – têm 
seus e-mails institucionais alocados em servidores privados, localizados no exterior, e 
que são gerenciados por empresas envolvidas no lucrativo mercado de coleta, análise, 
comercialização de dados pessoais e prestação de serviços e oferta de ferramentas digitais. 
A Google (Alphabet, Inc.), o maior player desse mercado, armazena 74% dos e-mails 
institucionais das universidades públicas do país (Cruz et al., 2024).
IV – Face laboral (trabalho, emprego e renda): o acirramento da competição e da 
desigualdade na produção tecnológica gera a ampliação da dependência tecnológica dos 
países em desenvolvimento e isso afeta tanto sua capacidade produtiva quanto a geração 
e a oferta de empregos industriais e tecnológicos, que são dotados de maior qualidade de 
renda e seguridade. A atuação das big techs se generaliza globalmente, mas hoje com maior 
ênfase nos países do Sul Global, que não possuem tecnologias digitais próprias, nem capital 
de risco para investimento no setor e, por isso, demandam esses serviços mais baratos 
39 Essa questão foi exposta pelo ex-agente da CIA Edward Snowden, em 2013, e provocou um escândalo global ao evidenciar as ações 
de vigilância e espionagem que os EUA realizavam em sua própria população e em países da Europa e da América Latina utilizando 
servidores de empresas como Google, Apple e Facebook. No caso brasileiro, os dados trazidos à tona por Snowden demonstraram 
o monitoramento de conversas da própria presidente Dilma Rousseff na época com seus principais assessores. Importante destacar 
que, nos EUA, empresas americanas são submetidas ao Cloud Act e a outras leis que exigem sua fidelidade aos interesses do Estado 
norte-americano.
40 Mais detalhes ver: https://educacaovigiada.org.br/. 
https://educacaovigiada.org.br/
85
das gigantes do mercado digital. Ao tornarem-se locus de consumo e não de produção 
tecnológica, os países do Sul Global assumem posição subalterna na Divisão Internacional 
do Trabalho (DIT) e concentram atividades laborais secundárias e menos qualificadas no 
setor digital, enquanto os países desenvolvidos, sede das grandes empresas, “concentram 
as atividades de comando e elaboração com tecnologias mais avançadas, demandando 
crescentemente mão-de-obra mais qualificada, que recebe maior salário e com condições 
mais favoráveis de trabalho” (Pochmann, 2007, p. 32). Dentre as atividades produtivas de 
comando e elaboração concentradas nos países desenvolvidos estão aquelas “vinculadas 
aos processos de concepção do produto, definição do design, marketing, comercialização, 
administração, pesquisa e tecnologia e aplicação das finanças empresariais” (Pochmann, 
2007, p. 32). São, portanto, estas atividades e oportunidades que concentram os melhores 
empregos e estimulam a fuga de cérebros dos países periféricos em direção aos países 
do centro capitalista. 
3 Projetos de soberania digital territorializadas e 
contextualizadas: caminhos 
O objetivo desta seção é apresentar algumas iniciativas e articulações que têm procurado 
criar ferramentas e tecnologias autônomas, isto é, voltadas a fortalecer a autodeterminação 
das comunidades e moldadas a partir das peculiaridades dos territórios envolvidos. Essa 
outra forma de construir a tecnologia, ou seja, em um movimento de dentro pra fora, exige 
conhecimentos acerca do seu ferramental, o que é possibilitado por meio da educação, a 
fim de que o processo de interação e criação de novas tecnologias não aconteça de forma 
passiva.Sob esse prisma, o uso da tecnologia ocorre em respeito às diferentes culturas e 
identidades e, por que não, como um instrumento de resistência ao próprio colonialismo 
digital.
Uma das formas de se desenhar a tecnologia dentro de uma perspectiva independente 
é por meio das redes comunitárias, aqui definidas como aquelas inspiradas, construídas 
e geridas por cidadãos e organizações sem fins lucrativos, os quais combinam esforços e 
recursos para instanciar coletivamente infraestruturas de redes de comunicação (Micholia 
et al., 2018). Pessoas que residem em locais sem acesso à internet, telefone ou outro tipo de 
comunicação podem se unir com o propósito de pensar soluções para problemas comuns, 
como a concepção de uma infraestrutura de comunicação comunitária. A rede comunitária 
vai além da edificação de uma estrutura de tecnologia digital, pois ela tem como base, 
inclusive para reconhecimento do seu êxito, a participação ativa e o comprometimento das 
86
pessoas encarregadas da manutenção dos equipamentos e da gestão da rede (Queiroz; 
Yadav; 2024, p. 2). Ressalta-se, nessa direção, a existência de documento orientador para 
auxiliar na construção de redes comunitárias (“Guide: Community Networks”41); instituições 
situadas nos continentes da América42, Ásia43 e África44, bem como entidades de natureza 
internacional45 que trabalham para promover e dar suporte a essas ações.
Dentro dessa lógica, no Brasil, a COOLAB – Laboratório Cooperativo de Redes Livres – 
é uma iniciativa que fomenta infraestruturas autônomas de telecomunicação comunitária, 
por meio da capacitação técnica e da articulação coletiva do território. A COOLAB já 
desenvolveu projetos dessa tipologia em Monteiro Lobato/SP (Rede Comunitária Portal 
Sem Porteiras); Resende/RJ (Rede Comunitária de Fumaça); Campos/RJ (Provedores 
Comunitários); na Amazônia (transmissão de rádio digital) e na comunidade quilombola 
Kalungas (rede comunitária Kalunga)46.
Um bom exemplo de iniciativa voltada à soberania dos dados é o trabalho realizado 
pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), em parceria com povos indígenas 
da Amazônia. Nesse contexto, está sendo desenvolvida uma plataforma SIG (Sistema de 
Informação Geográfica) para a coleta e o armazenamento de dados georreferenciados, 
referentes tanto às atividades do instituto quanto das organizações indígenas parceiras. 
No modelo tradicional de serviços digitais, é necessário recorrer a um servidor centralizado 
para hospedar esses conteúdos, o que envolve questões de oferta e demanda desse tipo 
de infraestrutura. Com frequência, as melhores opções de servidores encontram-se fora 
do Brasil, e, por razões econômicas, acaba-se optando por armazenar os dados em outro 
território. Assim, essas iniciativas se conectam com a ideia de tecnologia autônoma e a 
possibilidade de se repensar os protocolos de comunicação mediante a sua descentralização, 
já que a forma comumente estabelecida é centralizada em um único servidor. 
O Movimento DWeb47, por exemplo, reúne um conjunto de princípios, elaborado por 
comunidades de todo o mundo, para guiar a proposta de web descentralizada, sendo 
eles: i. tecnologia para agência humana; ii. distribuição dos benefícios; iii. respeito mútuo; 
41 https://www.earthdefenderstoolkit.com/wp-content/uploads/2024/02/Guide-Community-Networks-3-PT-BR.pdf.
42 Citam-se Alter Mundi (Argentina); Colnodo (Colômbia); Coolab (Brasil); Nupef (Brasil); Instituto de Bem-Estar (Brasil); Comunidade 
de Telecomunicações Indígenas, AC (ICT AC) (México); Projeto Saúde e Alegria (Brasil). Cf. Queiroz e Yadav (2024). 
43 Citam-se Soluções Alternativas para Comunidades Rural (ASORCOM) (Myanmar); BAIF em 2020 (Gram Marg Rural Broadband em 
2019) (Índia); Fundação de Redes Comuns (Indonésia); Servelots (Índia). Cf. Queiroz e Yadav (2024).
44 Citam-se BOSCO, Uganda (Uganda); Centro de Tecnologia e Desenvolvimento da Informação (CITAD) (Nigeria); Centro de Juventude 
e Desenvolvimento (CYD) (Malawi); Juntos pela Diferença (República Democrática do Congo); Estamos indo para o Instituto (Quênia); 
Do it yourself (África do Sul). Cf. Queiroz e Yadav (2024).
45 Citam-se a Association for Progressive Communications; Rhizomatica; Internet Society e International Telecommunication Union. 
Cf. Queiroz e Yadav (2024).
46 Cf. https://www.coolab.org/quem-somos/.
47 Cf. https://getdweb.net/principles/. 
https://www.earthdefenderstoolkit.com/wp-content/uploads/2024/02/Guide-Community-Networks-3-PT-BR.pd
https://www.coolab.org/quem-somos/
https://getdweb.net/principles/
87
iv. humanidade; v. consciência ecológica. Conjuntamente, podem ser mencionados os 
seguintes protocolos descentralizados: O IPFS (InterPlanetary File System), por exemplo, 
permite o armazenamento de informações baseado no conteúdo, em vez de locais 
específicos, dificultando a censura e aumentando a resiliência da rede. O Hypercore/
Hyperdrive (anteriormente associado ao navegador Beaker) e o Dat Protocol (agora integrado 
ao Hypercore) proporcionam sincronização de dados ponto a ponto (P2P), facilitando a 
criação de aplicações colaborativas sem um intermediário central. O Matrix oferece um 
protocolo aberto para comunicação em tempo real e mensagens seguras entre diversos 
clientes, enquanto o Solid (Social Linked Data) permite que as pessoas controlem seus 
próprios dados, armazenando-os em “pods” pessoais. Por fim, o SSB (Secure Scuttlebutt) 
cria redes sociais descentralizadas, nas quais cada usuário armazena e compartilha seu 
próprio histórico, garantindo privacidade, autonomia e resistência à manipulação externa.
| Considerações finais
Em meio à ubiquidade da digitalização e da automatização na sociedade, este capítulo 
problematizou a forma como as big techs podem interferir na soberania dos Estados das 
comunidades e dos povos ao forjarem, muitas vezes, a regulamentação e a autodeterminação 
das nações sobre o uso das tecnologias digitais em seus territórios. Destacou-se, nesse 
contexto, os conceitos de colonialismo e soberania digitais como pano de fundo teórico 
para subsidiar uma discussão mais concreta sobre como o Brasil tem construído a sua 
legislação e se deparado com desafios de diferentes ordens sobre o tema.
A revisão bibliográfica constituiu a base para entender os conceitos trabalhados ao longo 
das três seções, enquanto o levantamento documental foi o principal aporte metodológico 
utilizado para sistematizar os marcos regulatórios nacionais atrelados ao assunto. 
O estudo do contexto atrelado à noção de soberania digital permitiu averiguar que o 
desenvolvimento das tecnologias digitais está concentrado em países do Norte Global, onde 
se encontram as maiores empresas do mundo nesse campo, as quais, por sua vez, são 
responsáveis por dominar o mercado digital e impor, no âmbito dos países do Sul Global, 
seu modo de operar, vigiar, tratar e negociar dados e outros ferramentais tecnológicos. O 
grau de influência é amplo e diversificado, pois engloba desde algoritmos de interesse e 
impulsionamento de conteúdos externos variados até o lobby político endereçado em suas 
próprias plataformas e nas instâncias parlamentares. 
O Brasil, na condição de país em desenvolvimento, tem buscado estabelecer uma 
legislação que regule com maior ênfase os impactos gerados pelo uso das tecnologias 
88
digitais em seu território, como é o caso do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) e da 
Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais – LGPD (Lei nº 13.709/2018). Nessa conjuntura, 
o amadurecimento da jurisprudência dos Tribunais brasileiros poderá trazer respostas 
mais precisas sobre como esses dispositivos legais vêm sendo aplicados, ao passo que 
o PL da Inteligência Artificial, que agora será discutida na Câmara dos Deputados, deixa 
um caminho ainda bastante vago para dimensionar qual o teor da regulamentação que a 
sociedade brasileira terá nos próximos anos. 
As iniciativas espalhadas em vários continentes sobre como discutir e criar formas de 
garantir uma maior autonomiatecnológica para diferentes grupos e povos reforça a existência 
de direções possíveis e factíveis frente à passividade com a qual as tecnologias digitais 
vêm sendo assimiladas pelo Brasil e outras nações não hegemônicas. Essas experiências 
atestam que o uso das tecnologias digitais pode ser feito em respeito às diferentes culturas, 
identidades e comunidades, tendo como horizonte a melhora das condições de comunicação 
e de vida humanas, à luz da reflexão crítica sobre as implicações do seu uso desmedido 
e desregrado. 
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https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/nao-havera-soberania-digital-sem-o-estado/
6. Construção de PPCs em 
Engenharias com extensão 
curricularizada
Sandra Rufino48
doi.org/10.5281/zenodo.15198542
48 Professora da UFRN, no Departamento de Engenharia de Produção na área de gerência da produção. 
Doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP).
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198542
92
“Educação não transforma o mundo. 
Educação muda as pessoas. 
Pessoas transformam o mundo”
Paulo Freire
Resumo: a palestra apresentou e debateu a importância e tendência de os projetos 
pedagógicos de curso usarem a extensão curricularizada e a extensão tecnológica como 
estratégias pedagógicas, vinculadas às metodologias ativas com projetos integradores, 
para o desenvolvimento de habilidades e competências profissionais e sociais (hard e soft 
skills). Apresentou, ainda, algumas experiências nacionais, dificuldades e resultados.
Palavras-chave: Projeto Pedagógico do Curso; Ensino de Engenharia; Curricularização da 
extensão; Extensão universitária tecnológica.
A construção de Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) nas áreas de Engenharia deve 
considerar a complexidade dos problemas globais, reconhecendo que muitos deles são 
questões intrínsecas à engenharia. Cada vez mais, as instituições de ensino superior são 
desafiadas a desenvolver currículos que não apenas preparem os alunos para as tradicionais 
competências técnicas, mas que também os formem a lidar com as necessidades sociais, 
ambientais e éticas contemporâneas. Neste capítulo, exploraremos a importância de 
integrar a extensão universitária tecnológica e também nomodelo curricularizada aos PPCs 
em Engenharia, enfatizando a necessidade de soluções e a responsabilidade que os(as) 
futuros(as) engenheiros(as) têm no desenvolvimento sustentável. O texto foi elaborado a 
partir da palestra de mesmo nome realizada no dia 12 setembro de 2024 no ciclo II Ciclo 
de Debates de Engenharia e Sociedade.
1. Que profissionais de engenharia formamos?
Quando pensamos nos problemas globais – tais como mudanças climáticas, escassez 
de recursos naturais ou perda da biodiversidade, falta de habitação, saneamento, inclusão 
digital, soberania alimentar e nutricional etc. – que estão ligadas às desigualdades sociais e 
à destruição dos ecossistemas, observamos que todos têm implicações diretas no campo 
da engenharia, seja porque, em parte, foi a geradora com impactos negativos e reforçou 
injustiça social e ambiental, seja porque a engenharia pode contribuir para mitigar as 
problemáticas existentes ou mesmo criar um novo fazer de engenharia que busque gerar 
impactos positivos.
93
Percebemos que a formação do(a) engenheiro(a) contemporâneo(a) no Brasil tem se 
mostrado insuficiente para enfrentar os desafios globais que permeiam a sociedade atual. A 
crescente complexidade dos problemas ambientais, sociais e econômicos exige profissionais 
não apenas tecnicamente capacitados(as), mas também críticos(as), reflexivos(as) e 
engajados(as). No entanto, a realidade do currículo escolar e o perfil do(a) egresso(a) 
muitas vezes se afastam dessa necessidade premente.
Os currículos fragmentados, a baixa carga horária de disciplinas humanísticas, a 
desvalorização da extensão universitária e o enfoque em avaliações tradicionais são alguns 
elementos que fragilizam a formação de profissionais de engenharia. Uma educação 
deficitária que não forma profissionais humanistas, críticos(as) e reflexivos(as), como 
orientam as diretrizes curriculares nacionais de engenharia – DCNs (Brasil, 2019), acarreta 
na formação profissional: 1) tecnicista, que prioriza a excelência técnica e o domínio de 
disciplinas específicas, sem uma visão ampla e integrada das questões sociais e ambientais; 
2) desconectado com a realidade social, que não têm uma compreensão adequada do 
contexto em que suas soluções serão aplicadas e pode levar a projetos que, embora 
tecnicamente viáveis, falham em atender às necessidades reais das comunidades e da 
sociedade como um todo; 3) sem sensibilidade ética e social, pois tem uma formação que 
muitas vezes negligencia o desenvolvimento de competências éticas e a compreensão 
do impacto social de suas ações, que gera profissionais que podem priorizar o lucro e a 
eficiência em detrimento do bem-estar social e ambiental.
A educação atual na engenharia precisa ser reavaliada e reformulada para que os(as) 
futuros(as) profissionais sejam capazes de contribuir efetivamente para a solução dos 
problemas globais. Isso implica em uma revisão dos currículos com olhar nas críticas e 
tendência de ensino em âmbito internacional (NAE, 2005; Spinks; Silburn; Birchall, 2006; 
Rauhut, 2007; CBI, 2009) e no que o Brasil tem apontado nas DCNs (Brasil, 2019), Ministério 
do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Brasil, 2024a) e Ministério da Ciência, 
Tecnologia e Inovações (Brasil, 2024b).
2. Engenharia e sustentabilidade
As tendências internacionais no ensino de engenharia estão se direcionando para uma 
formação mais integrada e multidisciplinar, visando atender às demandas de um mundo em 
constante evolução. Stieb (2007) ressalta que os(as) engenheiros(as) do futuro precisam 
ter uma formação holística e devem assumir um papel proativo na sociedade, utilizando seu 
conhecimento para resolver problemas sociais e ambientais, e não apenas para desenvolver 
produtos e serviços.
94
Autores como Cameron et al. (2019) e Soares (2018) destacam que as universidades 
estão sob pressão para integrar novos métodos de ensino e tecnologias que atendam às 
necessidades emergentes do mercado. A educação deve ir além da simples transmissão 
de conteúdos técnicos, incorporando habilidades de comunicação, trabalho em equipe e 
resolução de problemas (Almeida, 2018; Bastos; Boscarioli, 2021). Há uma crescente demanda 
por profissionais de engenharia que não apenas compreenda as tecnologias, mas também 
suas implicações sociais e éticas, por essa razão a importância da interdisciplinaridade na 
formação na área. 
A formação deve incluir uma compreensão profunda dos impactos sociais e ambientais 
das soluções tecnológicas, incentivando compromisso com a sustentabilidade e ética na 
tomada de decisões em projetos de engenharia (Kleba, 2017; Klochkova; Bolsunovskaya; 
Shirokova, 2018). A integração de ciências humanas é essencial para desenvolver uma visão 
crítica e reflexiva no futuro profissional, assim os(as) discentes de engenharia poderão 
ser mais conscientes de seu impacto na sociedade (Kleba; Reina-Rozo, 2021). Isso implica 
que o profissional não apenas possua habilidades técnicas, mas também uma consciência 
social que o capacite a desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis.
Além das DCNs de engenharia no Brasil, alinhadas aos objetivos de desenvolvimento 
sustentável (ODS) da ONU, o MDIC lançou em 2024 a Política Industrial que coloca a 
indústria no centro da estratégia de desenvolvimento (Brasil, 2024a). O MCTI a partir dos 
resultados das conferências prévias e da V Conferência Nacional (V CNCTI) elabora a 
Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – ENCTI (Brasil, 2024b).
A política de industrialização “Nova Indústria Brasil” é um marco para o setor e para 
o país suas ações foram pensadas para dez anos (2024-2034). É organizada em seis 
missões: 1) Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, 
nutricional e energética; 2) Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir 
as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde; 3) Infraestrutura, saneamento, 
moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e bem-estar nas cidades; 
4) Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade; 5) Bioeconomia, 
descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as 
futuras gerações; e 6) Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais. Os 
programas incluídos nas missões de política industrial têm o potencial de permitir que o 
Brasil aproveite as oportunidades trazidas pela necessária descarbonização da economia, 
isso possibilitará que o setor industrial brasileiro atue como protagonista no desenvolvimento 
sustentável, promovendo a inclusão social e a diminuição das desigualdades.
95
O plano de ação do MDIC tem 5 dos 8 princípios da Nova Indústria Brasil voltados 
para as questões sociais e sustentabilidade: 1) inclusão socioeconômica; 2) equidade, em 
particular de gênero, cor e etnia; 3) promoção do trabalho decente e melhoria da renda; 
4) desenvolvimento produtivo e tecnológico e inovação; 5) incremento da produtividade e da 
competitividade; 6) redução das desigualdades, incluindo as regionais; 7) sustentabilidade; 
e 8) inserção internacional qualificada.
A construção ENCTI 2024-2030 agrega resultados das 221 conferências prévias 
(reuniões temáticas, conferências regionais, conferências estaduais, municipais e distrital 
e livres) e a nacional. A V CNCTI teve como tema “Ciência, Tecnologia e Inovação para 
um Brasil Justo, Sustentável e Desenvolvido”. Organizada em quatro eixos estruturantes: 
1) Recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia 
e Inovação; 2) Reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas; 
3) Ciência, tecnologia e inovação para programas e projetos estratégicos nacionais; e 
4) Ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social.
Analisando os documentos sínteses (e-books) das conferências prévias, temos que 
as questões sociais, ambientais e de sustentabilidade aparecem de forma recorrente, 
mostrando sua importância nos debates e recomendaçõesda 5ª CNCTI e consequentemente 
na construção da ENCTI. Tem-se como recomendações: importância de alinhar pesquisa 
e inovação com as necessidades ecológicas e sociais; incentivar o desenvolvimento de 
tecnologias verdes, tecnologias sociais e a descarbonização da economia; garantir que os 
avanços em energias renováveis contribuam para uma sociedade mais justa e equitativa; 
desenvolver soluções tecnológicas para a preservação de recursos hídricos e biodiversidade; 
promover equidade de gênero e raça; reduzir desigualdades regionais; promover a Ciência 
Aberta e a democratização do conhecimento; incentivar a inovação social, dentre outros.
No e-book das conferências livres, para o eixo 4, a extensão universitária foi destacada 
e é vista como uma ferramenta fundamental para integrar o conhecimento acadêmico e 
as necessidades sociais, promovendo a inclusão de comunidades marginalizadas (Brasil, 
2024c).
Apesar de apresentadas as políticas e estratégias de ministérios, ambos estão alinhados 
e com participação de vários outros em âmbito federal, alinhados aos compromissos do 
país com os 17 ODS. 
Diante do cenário e das tendências apresentadas, a mudança nos currículos de 
engenharia e suas estratégias pedagógicas são emergentes. Logo, a extensão universitária 
se apresenta como oportunidade inovadora para essa mudança.
96
3. As DCNs2019 e a curricularização da extensão
As DCNs para os cursos de graduação em engenharia de 2002 foram as primeiras 
legislações específicas após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 
(Brasil, 1996) e houve sua revisão para 2019 (Brasil, 2019). Ambas as versões das DCNs 
estabelecem que os cursos de engenharia devem incluir três núcleos curriculares: básico, 
profissionalizante e específico.
As DCNs de 2019 introduzem mudanças significativas, enfatizando a adoção de 
metodologias ativas e o desenvolvimento de competências tanto hard quanto soft skills. 
Dentre as soft skills, destacam-se a visão holística, a capacidade de inovação, a resolução 
criativa de problemas, a multidisciplinaridade, a consideração de aspectos sociais e 
ambientais e o compromisso com a responsabilidade social (Brasil, 2019, p. 1-2).
Em 1968, a promulgação da Lei 5540/1968 (Brasil, 1968) estabeleceu a indissociabilidade 
entre ensino, pesquisa e extensão nas universidades brasileiras, mas a extensão não foi 
priorizada até a Resolução nº 7, de 2018, que tornou obrigatória a inserção de 10% da carga 
horária de extensão nos cursos de graduação (Kleba; Rufino et al., 2021). Essa ideia já estava 
presente na meta 23 do Plano Nacional de Educação de 2001, que buscava implantar o 
Programa de Desenvolvimento da Extensão Universitária em todas as Instituições Federais 
(Brasil, 2001).
O conceito de extensão universitária, definido pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão 
(ForProex), em 1987, é um processo educativo que articula ensino e pesquisa, promovendo 
uma relação transformadora entre a universidade e a sociedade. A extensão é vista como 
um fluxo de saberes, no qual a comunidade acadêmica aprende com a sociedade e vice-
versa, resultando em produção de conhecimento e democratização do saber (ForProex, 
1987; ForProex, 2012).
Diversos autores, como Fraga (2012), Paula (2013) e Silva (2020), destacam que 
o conceito de extensão está em construção e é influenciado por fatores históricos e 
institucionais. Fraga (2012) e Cristofoletti e Serafim (2020) elencam cinco concepções de 
extensão: 1) assistencialista (universidades repassam conhecimentos a populações ou fazem 
atuações técnicas pontuais); 2) comunitária (interação entre a universidade e comunidades/
populações marginalizadas, de forma dialógica e buscando uma transformação social); 
3) prestação de serviços (intenção com empresas e governos para resolver problemas 
e demandas específicas); 4) divulgação científica e formação técnica (oferta de cursos, 
palestras e eventos); 5) transferências e/ou desenvolvimento de inovações tecnológicas. 
Uma sexta concepção considera a extensão como suporte a políticas públicas (Incrocci; 
Andrade, 2018).
97
Essas concepções refletem a diversidade de percepções sobre o papel da universidade 
na sociedade e as demandas de populações marginalizadas. Cristofoletti e Serafim (2020) 
observam a falta de clareza sobre os objetivos da extensão nas instituições de ensino 
superior, sugerindo que pode haver tanto uma falta de consenso quanto um direcionamento 
político visando um público específico. Assim, a extensão universitária continua a ser um 
campo de debate e construção coletiva.
Embora a implementação de atividades de extensão nos currículos de engenharia 
ainda esteja em fase inicial, as competências gerais delineadas nas DCNs de 2019 refletem 
a necessidade de formar profissionais mais conscientes de seu papel transformador na 
sociedade, promovendo uma interação dialógica entre a academia e a comunidade para 
a identificação e solução de problemas (Brasil, 2019).
A extensão universitária, historicamente vista como uma atividade secundária em relação 
à pesquisa e ao ensino, passa a ganhar destaque, ou ao menos uma preocupação, nas 
Instituições de Ensino Superior (IES) nesse novo cenário. A extensão é entendida como uma 
atividade que não só retorna conhecimento à sociedade, mas também provoca reflexões 
sobre a prática educativa e a produção de conhecimento na universidade (Isaac et al., 
2012).
4. Os currículos de Engenharia no Brasil
Uma pesquisa brasileira (Alvear et al., 2023; Rufino, et al., 2023), realizada em 2022, 
apresenta o panorama nacional brasileiro sobre a implantação das Diretrizes Curriculares 
Nacionais (DCNs), de 2019, e a curricularização da extensão nos cursos de engenharia revela 
um cenário complexo e multifacetado, marcado por desafios significativos e oportunidades 
promissoras. Este panorama se insere em um contexto de reformulação das práticas de 
ensino nas IES, com ênfase na formação integral dos(as) estudantes, alinhando-se a 
demandas sociais contemporâneas.
As DCNs de 2019 introduziram mudanças substanciais em relação às diretrizes anteriores 
de 2002, destacando a importância do desenvolvimento de competências, incluindo as 
chamadas soft skills, como capacidade crítica, reflexiva e criativa. Essas diretrizes visam 
não apenas preparar engenheiros(as) tecnicamente proficientes, mas também cidadãos 
conscientes das realidades sociais e ambientais. Apesar das intenções expressas nas DCNs, 
a implementação efetiva dessas diretrizes tem sido problemática. A pesquisa realizada 
por instituições como a UFRJ, UFRN, UFOP e ITA, que coletou dados de 128 cursos de 
engenharia – com 22 tipos engenharias sendo 9 estaduais e 109 federais localizadas nas 5 
98
regiões brasileiras – revelou que apenas 25,8% dos cursos haviam finalizado a implantação 
das novas DCNs até o prazo estipulado, que expirou em abril de 2023.
Um dos principais desafios identificados na implementação das DCNs de 2019 é a 
resistência de parte do corpo docente em modificar currículos que tradicionalmente priorizam 
a formação técnica voltada para o mercado. A maioria dos cursos ainda mantém uma 
abordagem centrada em competências técnicas, relegando as disciplinas de humanidades 
e a extensão a um papel secundário. Há uma percepção de que a extensão, embora 
reconhecida como importante, frequentemente é vista como um ônus adicional, em vez 
de uma oportunidade para integrar teoria e prática de forma significativa.
A curricularização da extensão, que tornou obrigatório um mínimo de 10% da carga 
horária total dos cursos para atividades de extensão, é um aspecto crucial da nova legislação 
educacional. A pesquisa indicou que apenas 28,1% dos cursos havia atingido essa meta até 
o momento da coleta de dados. A maior parte dos cursos ainda está em estágios iniciais 
de discussão sobre como implementar efetivamente essa curricularização, refletindo um 
panorama de incerteza e hesitação.
As estratégias utilizadas para a curricularização da extensão variam amplamente entreas 
instituições. A maioria dos cursos optou por incluir atividades de extensão como disciplinas 
extensionistas ou parcialmente extensionistas, enquanto outros buscam integrar essas 
atividades em projetos existentes. Contudo, a falta de clareza quanto à definição e à função 
da extensão dentro do currículo tem gerado confusão e resistência, limitando a efetividade 
das ações.
Além disso, a pesquisa qualitativa revelou que a extensão muitas vezes é encarada como 
uma atividade assistencialista, centrada em atender demandas específicas de empresas ou 
comunidades, mas sem um foco claro em transformação social ou no desenvolvimento de 
soluções tecnológicas que considerem as necessidades das populações mais vulneráveis. 
Essa visão restrita da extensão contrasta com as possibilidades oferecidas pelos novos 
paradigmas educacionais, que buscam uma formação mais crítica e comprometida com 
a justiça social.
Outro ponto importante a ser destacado é a relação entre a extensão e as metodologias 
ativas de ensino. Embora a curricularização da extensão tenha o potencial de promover 
metodologias de aprendizagem mais dinâmicas e centradas no aluno, a realidade observada 
nas entrevistas aponta que, na prática, a implementação dessas metodologias ainda é 
limitada. Muitos docentes, especialmente os mais experientes, demonstram resistência 
a adotar novas abordagens pedagógicas, o que dificulta a transformação do ensino e a 
integração efetiva da extensão no processo formativo.
99
A relação entre a extensão e o desenvolvimento de competências também foi um 
tema recorrente nas entrevistas. Os cursos entrevistados expressaram a expectativa de 
que a extensão contribua para o desenvolvimento de habilidades sociais e de gestão de 
projetos. No entanto, a falta de uma articulação clara entre as atividades extensionistas e 
as competências exigidas pelas DCNs pode levar a uma implementação superficial, que 
não atinge os objetivos desejados de formação integral.
Algumas instituições têm buscado promover a formação de docentes em práticas de 
extensão e metodologias ativas, destacando a importância do envolvimento de estudantes 
e da comunidade na construção de projetos extensionistas. A participação ativa de alunos 
em projetos de extensão não apenas enriquece a formação acadêmica, mas também 
contribui para a construção de uma cultura extensionista dentro das IES.
Em suma, o panorama da implantação das DCNs de 2019 e da curricularização da 
extensão nos cursos de engenharia no Brasil é caracterizado por uma tensão entre a 
necessidade de adaptação às novas exigências legais e a resistência a mudanças enraizadas 
em tradições acadêmicas. Embora haja reconhecimentos da importância da extensão 
e das competências sociais, a prática ainda não reflete completamente essa visão. O 
sucesso da implementação das DCNs e da curricularização da extensão dependerá de um 
compromisso coletivo de todos os atores envolvidos – docentes, estudantes e instituições – 
em promover uma formação que realmente dialogue com as demandas sociais e contribua 
para o desenvolvimento sustentável do país.
5. O papel da extensão tecnológica na formação de 
estudantes na engenharia
A relação entre tecnologia e sociedade é complexa e frequentemente marcada por 
desigualdades. A crítica à engenharia tradicional, que tende a ver a tecnologia como neutra, 
é central para a discussão contemporânea sobre o papel da tecnologia no desenvolvimento 
social. 
Quando 90% do desenvolvimento tecnológico se concentra em atender aos 10% 
mais ricos, exemplos como o uso de tecnologias de reconhecimento facial pela polícia, 
que falham para pessoas negras, evidenciam a necessidade de um olhar crítico para a 
produção tecnológica. Além disso, tragédias como as de Brumadinho e Mariana ressaltam as 
consequências sociais e ambientais de uma abordagem tecnocrática, onde engenheiros(as) 
não consideram as realidades das populações impactadas por suas práticas (Rufino; Cruz; 
Kleba, 2023). 
100
A formação na engenharia deve, portanto, ir além da técnica, integrando uma perspectiva 
humanista e voltada para a sustentabilidade, conforme as diretrizes curriculares nacionais 
(Brasil, 2002, 2019). 
A tecnologia, definida como um conjunto de soluções que aumentam a eficácia e 
eficiência em diversas atividades, é também um reflexo de valores sociais (Agazzi, 1998). O 
desenvolvimento tecnológico não ocorre em um vácuo, sendo moldado por ideais e visões de 
mundo dos grupos que o produzem. Por exemplo, enquanto povos ameríndios desenvolvem 
tecnologias que respeitam e preservam seu ambiente, sociedades ocidentais frequentemente 
utilizam a tecnologia para exploração e consumismo (Cruz, 2021). A tecnologia, portanto, 
não é neutra e pode reforçar ou contestar estruturas de poder existentes. 
A extensão tecnológica engajada, uma vertente das engenharias e outras práticas 
técnicas, busca romper com as abordagens tradicionais e se fundamenta em princípios 
como a não neutralidade da tecnologia e a rejeição do status quo (Kleba; Cruz; Alvear, 2022). 
Essa abordagem enfatiza a necessidade de um diálogo de saberes, onde os conhecimentos 
acadêmicos são integrados aos saberes populares e comunitários, promovendo um processo 
de empoderamento e co-construção de soluções (Kleba; Cruz, 2022).
Através da extensão tecnológica engajada, é possível transformar a educação em 
um espaço de diálogo e inovação, onde as práticas de engenharia são repensadas à luz 
das necessidades e realidades das populações atendidas. Essa abordagem não apenas 
contribui para a formação de engenheiros(as) mais conscientes de seu papel social, mas 
também promove um desenvolvimento mais equitativo e sustentável.
Um exemplo prático dessa abordagem é o Engenheiros Sem Fronteiras (ESF) núcleo 
Natal, que atua em parceria com comunidades vulneráveis, promovendo projetos que 
visam o desenvolvimento humano e sustentável. A organização busca não apenas fornecer 
soluções, mas também formar as comunidades e fomentar uma reflexão crítica sobre o 
papel da engenharia na sociedade. A estrutura interna do ESF-Natal é organizada em 
diretorias para cuidar da gestão interna e projetos para realização dos projetos de extensão 
tecnológica.
As diretorias, divididas em geral, finanças, gestão de pessoas, comunicação e 
desenvolvimento, garantem o funcionamento administrativo e estratégico. A diretoria geral 
acompanha o desempenho organizacional e estabelece parcerias conforme o alinhamento 
com os objetivos da incubadora. A diretoria de finanças é responsável pela gestão financeira, 
incluindo fluxo de caixa e aquisição de materiais. A gestão de pessoas acompanha o 
engajamento dos membros, gerencia realocações e processos seletivos, promovendo um 
101
ambiente organizacional funcional. A comunicação atua na divulgação externa das ações 
realizadas e na circulação interna de informações para manter os membros informados. A 
diretoria de desenvolvimento se concentra no mapeamento de processos e documentos, 
promovendo uma gestão do conhecimento e organizando formações para o aprimoramento 
das equipes.
No âmbito dos projetos, o ESF-Natal, em 2024, se estruturava em seis ações 
extensionistas tecnológicas49, organizadas em três eixos temáticos. No eixo Educação, o 
projeto Robótica desenvolve atividades em escolas públicas com crianças, adolescentes 
e professores, utilizando robótica e física para estimular o interesse pela engenharia. No 
eixo Sustentabilidade, destacam-se três projetos: Biodigestor, que instala sistemas para 
geração de biogás e biofertilizante em comunidades rurais; Floema, que implementa sistemas 
agroflorestais e oferece suporte técnico para agricultores familiares, promovendo segurança 
alimentar e nutricional; e Saneamento Fértil, que desenvolve fossas sépticas biodigestoras 
e sistemas de reuso de água para irrigação agrícola. No eixo Empreendedorismo e Gestão, 
o projeto Lean promove a inovação social com eliminação de desperdícios e agregação de 
valor para melhorar a capacidadeMédia, para a fase da propriamente mercantilização, na 
Idade Moderna. Hoje, em nossa contemporaneidade neoliberal e pós-moderna, embora 
tenham ocorrido significativas mudanças, o patriarcado permanece entre nós.
A historiadora e feminista Gerda Lerner, em sua obra A criação do patriarcado: história 
da opressão das mulheres pelos homens, elucida que o patriarcado é um sistema social 
profundamente arraigado, cuja origem remonta a tempos anteriores à formação do Estado 
Moderno e à delimitação da propriedade privada. Este sistema se sustenta na naturalização 
de diferenças biológicas para justificar desigualdades de status e de papéis sociais entre 
homens e mulheres.
Tais papéis socialmente são melhor compreendidos à luz do conceito de gênero, o 
qual permite transcender a existência de diferenças sexuais entre homens e mulheres. O 
gênero traduz-se em “um aparelho semiótico, um sistema de representação que atribui 
significado aos indivíduos no interior da sociedade”4.
Nesse sentido, o sexo é biológico, enquanto gênero corresponde a uma construção 
cultural e uma forma primária de dar significado às relações de poder.
A assimetria de poder entre homens e mulheres, quando entrelaçada com aspectos 
sócio-raciais, econômicos, culturais, políticos, jurídicos e educacionais, oprime as mulheres 
pelo simples fato de serem mulheres.
4 Idem.
14
No contexto Universitário, vale destacar a presença do assédio moral5 e sexual6 
vivenciado por alunas, professoras e servidoras que, apenas por serem mulheres, sofrem 
constrangimentos diários no exercício de suas funções. Pare um momento para pensar se 
já observou ou enfrentou uma situação de constrangimento pela qual um homem jamais 
seria submetido. É bem provável que uma situação concreta tenha vindo à sua mente.
Os estereótipos de gênero são responsáveis por essa opressão, pois, de maneira 
automática e acrítica, perpetuam preconceitos e limitam possibilidades, ao promoverem 
uma visão reducionista das potencialidades de meninas e mulheres.
Em outras palavras, os estereótipos de gênero limitam comportamentos, gostos, escolhas, 
vestimentas, profissões, com base no que foi socialmente pré-determinado a cada sexo 
biológico. Levando ao equívoco de que: “Existem coisas para mulheres”/ “Existem coisas 
para homem”.
O Comitê CEDAW/ONU (Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher) 
– órgão de monitoramento do cumprimento das obrigações dos Estados-Parte ao firmarem 
a Convenção CEDAW, em suas Recomendações, expressa a obrigação dos países de 
promoverem um sistema educacional que estimule meninas e meninos ao aprendizado em 
todas as áreas do conhecimento, inclusive as exatas. O que podemos observar nos artigos 
2, 5 e 10, da Convenção CEDAW/ONU de 1979:
 Art. 2º. Os Estados Partes condenam a discriminação contra a mulher em todas 
as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem 
dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher [...].
Art. 5º. Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas para:
a) Modificar os padrões socioculturais de conduta de homens e mulheres, com 
vistas a alcançar a eliminação dos preconceitos e práticas consuetudinárias 
e de qualquer outra índole que estejam baseados na ideia da inferioridade ou 
superioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens 
e mulheres.
5 Assédio moral corresponde à exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras, no ambiente de trabalho ou educacional, 
de forma repetitiva e prolongada, no exercício de suas atividades. Enquadra-se em assédio moral toda e qualquer conduta abusiva 
manifestada por comportamento, palavras, atos, gestos ou texto que possam trazer danos à personalidade, dignidade ou à integridade 
física e psíquica de uma pessoa, tornando o ambiente de trabalho ou estudo degradante.
6 Assédio sexual corresponde ao comportamento sexual indevido, em um contexto de relação hierárquica entre autor e vítima, pelo 
abuso da posição privilegiada para constranger a vítima a conceder favores ou fazer concessões de cunho sexual. Produzindo danos 
à personalidade, dignidade ou à integridade física e psíquica de uma pessoa, tornando o ambiente de trabalho ou estudo degradante.
15
b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão adequada da 
maternidade como função social e o reconhecimento da responsabilidade comum 
de homens e mulheres no que diz respeito à educação e ao desenvolvimento de 
seus filhos, entendendo-se que o interesse dos filhos constituirá a consideração 
primordial em todos os casos.
Art. 10. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a 
discriminação contra a mulher, a fim de assegurar-lhe a igualdade de direitos com 
o homem na esfera da educação e em particular para assegurarem condições 
de igualdade entre homens e mulheres.
No Brasil, assim como em diversos países, essas dinâmicas ainda existem, perpetuando 
desigualdades. A crítica feminista, no entanto, propõe desconstruir narrativas, reconhecendo 
a igualdade entre os gêneros e reivindicando uma participação equitativa nos espaços de 
poder e decisão.
Embora o gênero seja um eixo central de análise, é essencial abordar as questões de 
gênero de forma interseccional, considerando raça, classe, orientação sexual, identidade 
de gênero e outros marcadores sociais que se entrelaçam e naturalizam as discriminações, 
os preconceitos, os estereótipos e as violências contra as mulheres.
No contexto brasileiro, onde a maioria da população é não branca, é impossível falar 
sobre os direitos das mulheres sem considerar a intersecção de gênero com raça. Mulheres 
negras enfrentam vulnerabilidades únicas, resultantes da confluência entre essas opressões, 
sendo frequentemente sub-representadas em espaços de poder e mais expostas à violência.
A respeito do preconceito e desigualdades oriundas da raça, Frantz Fanon, em Pele 
Negra, Máscaras Brancas, e Achille Mbembe, em Necropolítica, destacam como raça e 
classe estruturam opressões em sociedades pós-coloniais.
Na mesma linha, a pobreza é um fator que atinge desproporcionalmente as mulheres, 
expondo-as a desafios adicionais. “A pobreza e o classismo atingem, em muito, as mulheres, 
que frequentemente enfrentam desafios adicionais e têm maior dificuldade em acessar 
recursos de apoio, além de serem mais estigmatizadas”7.
Em contrapartida, o feminismo brasileiro destaca-se por seu caráter inclusivo e 
democrático. Enquanto ativista e professora feminista histórica desde meados da década 
de 1970, tenho legitimidade para afirmar que o movimento feminista em nosso país é 
7 Idem.
16
composto por mulheres magníficas que se organizaram e se organizam de uma maneira 
muito orgânica e articulada.
A Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes é exemplo emblemático de articulação 
nacional em prol dos direitos das mulheres, unindo diferentes vozes – urbanas, rurais, 
negras, brancas, analfabetas, acadêmicas – em torno de um objetivo comum, sempre de 
forma plural e crítica a todas as formas de autoritarismo, discriminação e desigualdade.
Pelas mãos de mais de 1.000 mulheres, em agosto de 1996, deu-se a elaboração 
da Carta da Mulher Brasileira aos Constituintes – a mais ampla e profunda articulação 
reivindicatória feminista brasileira que visou incluir na Constituição Federal de 1988 os 
direitos e as garantias fundamentais das mulheres e a isonomia entre mulheres e homens.
Tanto a mulher urbana, quanto a mulher rural, a mulher dos meios acadêmicos, a 
semianalfabeta e a analfabeta, a mulher branca e a mulher negra, a mulher jovem, a mulher 
madura, a mulher idosa, a mulher trabalhadora, a mulher doméstica, a patroa, a empregada, 
a mulher casada, a mulher companheira, a mulher mãe solteira, a mulher bem assalariada, 
a mulher explorada e a despossuída, todas elas participaram no conjunto de propostas, 
sob o lema “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”.
Essa abordagem, que alia teoria e prática, evidenciagovernativa das atividades de apoio em escolas públicas, 
enquanto o projeto Rede fortalece mulheres em empreendimentos econômicos solidários 
por meio da articulação de uma rede de confecção.
Em 2022, a diretoria do ESF-Natal conduziu uma pesquisa (Rufino; Andrade; Moura, 
2022) para avaliar se as ações de extensão realizadas por bolsistas e voluntários contribuíram 
para o desenvolvimento de habilidades e competências. O questionário foi enviado a 
aproximadamente 250 ex-participantes, recebendo 90 respostas: 47,8% de membros 
ativos, 16,7% de membros afastados e 35,6% de ex-membros, oriundos de 23 cursos, 
principalmente de engenharia (83,4%). A permanência média no ESF é de 2,8 anos. Os 
participantes escolheram até quatro competências gerais das DCNs de engenharia (Quadro 1) 
e até três habilidades (Quadro 2) desenvolvidas nas atividades extensionistas.
Quadro 1. Competências desenvolvidas no ESF-Natal
Competências Gerais DCNs de engenharia n.
trabalhar e liderar equipes multidisciplinares 66
aprender de forma autônoma e lidar com situações e contextos complexos, atualizando-se em 
relação aos avanços da ciência, da tecnologia e aos desafios da inovação 64
comunicar-se eficazmente nas formas escrita, oral e gráfica 60
49 O ESF-Natal tem projetos dinâmicos, a depender da demanda da sociedade, da entrada ou saída de docentes, estudantes ou 
profissionais podem criar novas ou encerrar ações de extensão tecnológica.
102
conceber, projetar e analisar sistemas, produtos (bens e serviços), componentes ou processos 51
formular e conceber soluções desejáveis de engenharia, analisando e compreendendo os usuários 
dessas soluções e seu contexto 48
implantar, supervisionar e controlar as soluções de Engenharia 33
conhecer e aplicar com ética a legislação e os atos normativos no âmbito do exercício da profissão 30
analisar e compreender os fenômenos físicos e químicos por meio de modelos simbólicos, físicos 
e outros, verificados e validados por experimentação 8
Fonte: Rufino, Andrade e Moura (2022)
Quadro 2. Habilidades desenvolvidas
Habilidades Gerais DCNs de engenharia n.
ter visão holística e humanista, ser crítico, reflexivo, criativo, cooperativo e ético e com forte 
formação técnica. 66
adotar perspectivas multidisciplinares e transdisciplinares em sua prática. 54
ser capaz de reconhecer as necessidades dos usuários, formular, analisar e resolver, de forma 
criativa, os problemas de Engenharia. 47
atuar com isenção e comprometimento com a responsabilidade social e com o desenvolvimento 
sustentável. 42
considerar os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e de segurança 
e saúde no trabalho. 32
estar apto a pesquisar, desenvolver, adaptar e utilizar novas tecnologias, com atuação inovadora 
e empreendedora. 29
Fonte: Rufino, Andrade e Moura (2022)
Todas as competências e habilidades disponíveis foram citadas, indicando que 
o desenvolvimento varia conforme o tempo de participação, as ações realizadas e as 
responsabilidades assumidas. Esse resultado ocorre porque, dependendo do tempo que 
o(a) participante está na organização, das ações extensionistas que realiza, da comunidade 
com a qual interage e das responsabilidades que assume (como diretorias ou projetos), 
ele(a) desenvolverá habilidades e competências variadas, que podem ser mais ou menos 
diversificadas. A dinâmica autogestionária do ESF-Natal possibilita uma formação que 
abrange os seguintes aspectos: atuação em equipes interdisciplinares e multiprofissionais; 
formações teóricas oferecidas aos participantes (como economia solidária, tecnologia 
103
social, estudos de ciência, tecnologia e sociedade, e semiárido, entre outros); promoção 
da autonomia; e integração com outras organizações de diversos setores da sociedade.
6. Considerações finais
A construção de Projetos Pedagógicos de Curso nas engenharias, com ênfase na 
curricularização da extensão universitária, se revela uma estratégia essencial para preparar 
profissionais capazes de enfrentar os desafios contemporâneos. Este capítulo ressaltou 
a importância de uma formação que transcenda a mera excelência técnica, integrando 
aspectos sociais, ambientais e éticos, fundamentais para o desenvolvimento sustentável.
A análise das Diretrizes Curriculares Nacionais de 2019 evidenciou uma mudança 
significativa na abordagem educativa, promovendo a inclusão de competências e habilidades 
que favorecem uma formação mais holística. No entanto, a implementação efetiva dessas 
diretrizes ainda enfrenta barreiras, como a resistência de alguns(mas) docentes e a 
persistência de currículos tradicionalmente voltados para a técnica. A curricularização da 
extensão, ao exigir um mínimo de 10% da carga horária total para atividades extensionistas, 
oferece uma oportunidade valiosa para integrar teoria e prática, promovendo uma formação 
que dialogue com as realidades sociais.
Os dados apresentados demonstram que, apesar das intenções das DCNs, a realidade 
da implementação da extensão nos cursos de engenharia ainda é incipiente. A busca por 
uma formação que desenvolva profissionais críticos(as), reflexivos(as) e comprometidos(as) 
com a transformação social é um desafio premente. A resistência a mudanças pedagógicas 
e a visão assistencialista da extensão, que muitas vezes a limita a um papel secundário, 
precisam ser superadas.
A experiência do Engenheiros Sem Fronteiras (ESF) exemplifica como a extensão 
tecnológica engajada pode fomentar uma formação mais consciente e alinhada às 
necessidades das comunidades. Projetos que integram saberes acadêmicos e populares 
demonstram que a extensão não apenas contribui para o desenvolvimento de habilidades 
e de competências técnicas, mas também para a formação de cidadãos comprometidos 
com a justiça social e a sustentabilidade.
Em conclusão, a formação do(a) engenheiro(a) contemporâneo deve ser reavaliada e 
reformulada para atender à complexidade dos problemas globais. Ao integrar a teoria e a 
prática, e ao buscar uma formação que valorize a diversidade de saberes, é possível criar 
soluções tecnológicas que realmente atendam às necessidades da sociedade, promovendo 
a inclusão social, a melhoria das condições de vida, contribuindo para a transformação 
104
social e o desenvolvimento sustentável. A extensão universitária, nesse contexto, se torna 
uma ferramenta poderosa para a transformação social, contribuindo para a formação 
de profissionais comprometidos(as) com a construção de um mundo mais solidário e 
sustentável. Assim, a construção de um novo perfil de engenheiro(a) deve ser uma prioridade 
nas instituições de ensino superior, refletindo um compromisso com uma formação integral.
| Referências
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8. Promoção da saúde na 
formação no ensino superior: 
experiências exitosas e 
aprendizados para o ITA
Cristiane Pessôa da Cunha50
Luciana Araújo Lima Machado51
Vera Maria Sabóia52
doi.org/10.5281/zenodo.15198562
50 Professora Associada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, Departamento de Humanidades. Chefe 
da Divisão de Assuntos Estudantis do ITA. Doutora em Educação – Unicamp. 
51 Mestre em Ciências em Saúde da Mulher e da Criança no Instituto Fernandes Figueira (IFF-FioCruz; 2012). 
Atua com “Educação em saúde”, “Promoção em saúde” e “Prevenção de doenças” dentro do contexto do ensino 
superior no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
52 Professora Titular da Disciplina de Fundamentos de Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso 
Costa da Universidade Federal Fluminense/RJ. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. 
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198562
110
Resumo: Este capítulo tem como objetivo dar visibilidade às ações promotoras da saúde na 
formação dos jovens que cursam o ensino superior. Trata-se de um tema que tem ganhado 
espaço nas organizações nacionais e internacionais de saúde, nas discussões científicas 
e nos campi universitários. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) tem acompanhado 
essa pauta e vem somando esforços para que a instituição conquiste mais um campo de 
reconhecimento na qualidade de ensino desenvolvido e na formação de cidadãos críticos 
e conscientes. Esta obra versa sobre a concepção de promoção de saúde e a importância 
de implementar essas ações no espaço universitário, de que maneira isso vem sendo 
realizado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica e quais as possibilidades futuras para o 
contexto acadêmico em que vivemos. 
Palavras-chave: Promoção da saúde; Ensino superior; Bem-viver.
| Introdução
A promoção da saúde (PS) vem sendo discutida desde meados da década de 70, durante 
o processo de redemocratização do Brasil. Com a instituição do Sistema Único de Saúde 
(SUS), na Constituição Federal de 1988, fica assegurado que todos os cidadãos possuem 
acesso universal às ações e serviços de saúde nos campos da promoção, prevenção, 
proteção e recuperação da saúde, conforme as necessidades das pessoas (PNPS, 2024).
Em 1990, o SUS definiu o conceito de saúde dentro de uma perspectiva ampliada, 
resultante dos modos de vida, da organização e da produção de um determinado contexto 
histórico, social e cultural. A atualização desse conceito tem trazido avanços nas discussões 
de políticas e estratégias de promoção da saúde da população, pois suscita a crítica ao 
modelo biomédico que restringe a atenção à saúde dentro do binômio saúde-doença, 
centrado nos fatores biológicos do corpo e da patologia, impactando na adoção de ações 
preventivas durante o processo de adoecimento do indivíduo e da análise dos múltiplos e 
complexos aspectos da saúde (PNPS, 2024).
O conceito de PS também evoluiu com análise crítica sobre o desequilíbrio dos gastos 
com a assistência médica curativa e a qualidade de vida do cidadão. A revisão das Políticas 
Nacionais de Promoção da Saúde (PNPS) aponta para a necessidade de descentralização 
na produção da saúde e do seu cuidado, considerando que os demais setores e instituições, 
a participação social e os movimentos populares são essenciais ao enfrentamento dos 
determinantes e condicionantes da saúde junto ao setor Sanitário. Assim, o olhar sobre 
a proteção da saúde surge com ênfase na relação entre a biologia humana, os fatores 
ambientais e as condições de saúde dos indivíduos, dentro da dinâmica inter e intrasetoriais, 
que buscam a equidade e a qualidade de vida (Damasceno; Pimentel, 2022; PNPS, 2024).
111
Dessa forma, a promoção da saúde se constitui como um conjunto de estratégias e formas 
de produzir saúde, tanto na esfera individual como na coletiva. Essas ações se caracterizam 
pela articulação e cooperação entre os diferentes setores e redes de atenção à saúde e de 
proteção social, com ampla participação e controle social. Essa diretriz abre espaço para a 
capacitação da comunidade na atuação da qualidade de vida e saúde, assim como maior 
participação no controle de melhorias (Damasceno; Pimentel, 2022; PNPS, 2024).
As ações de promoção da saúde (PS) devem ser realizadas com foco em soluções para 
a melhoria do bem-viver das pessoas e diminuição das desigualdades sociais (WHO, 1998), 
considerando as especificidades dos contextos sociais, econômico, político e cultural nos 
quais os sujeitos estão inseridos (PNPS, 2004).
No contexto das instituições de ensino superior (IES), o ciclo de vida do jovem é 
marcado por experiências multifacetárias, que se estendem desde a demanda de adaptação 
vivenciada pelos estudantes ingressantes ao aluno que já se encontra no mercado de 
trabalho. O impacto na qualidade de vida dos estudantes pode ser justificado pela fragilidade 
dos vínculos sociais, exigências e frustrações educacionais, bem como pela incerteza e 
busca da identidade profissional e outros fatores de risco associados a essa fase de vida 
(ANVERSA, 2018).
A partir dos anos 1990, o ensino superior brasileiro passou por profundas transformações, 
com destaque para: o aumento do número de estudantes e a alteração do perfil socioeconômico 
e psicossocial destes; o estabelecimento de um Sistema Nacional de Avaliação do Ensino 
Superior (SINAES), com o objetivo de proporcionar regulação desse nível de ensino; o 
avanço de outras modalidades de ensino, principalmente da educação a distância; e a 
implantação de políticas públicas com vistas a ampliar o acesso e melhorar as condições 
de permanência dos estudantes. Nesse contexto, também pode ser incluída a preocupação 
crescente das instituições em oferecer aos estudantes ambientes que propiciem a promoção 
da saúde.
Assim, refletir sobre ações de promoção de saúde contribui para a compreensão da 
saúde como um processo dinâmico e socialmente produzido, abandonando o conceito de 
simplesmente a ausência de doença e depositando sobre os fatores sociais e econômicos 
que interferem diretamente na saúde da população o foco das intervenções. 
A promoção da saúde é entendida em oposição direta ao modelo focado estritamente 
na cura ou mesmo na prevenção específica de uma doença. Cabe destacar que a promoção 
da saúde difere da prevenção em saúde, em alguns aspectos, conforme apontam diversos 
estudiosos no assunto. Enquanto a promoção procura intervir sobre as condições de vida, 
112
a fim de garantir qualidade de vida para a população, a prevenção é a ciência que se ocupa 
com uma doença específica, procurando suas causas, a fim de evitar sua ocorrência 
(Czeresnia, 2003; Buss, 2003).
O movimento global sobre as ações de promoção da saúde no ensino superior baseia-
se a partir da Carta de Ottawa (1986) como referência de documento para se pensar na 
criação de ambientes favoráveis à saúde, enfatizando a interconexão entre indivíduos 
e o seu ambiente (Okanagan Charter, 2015). Essa perspectiva coloca a saúde como um 
recurso para a vida, e não como objetivo de viver, conduzindo o seu conceito para algo 
que deve ser criado e vivenciado no cotidiano das pessoas. A interconectividade entre 
fatores ambientais, culturais, políticos, comportamentais, a qualidade das relações sociais, 
afazeres e lazer devem ser vistos de forma integrada aos aspectos orgânicos do corpo 
humano na equação da saúde (Carta de Ottawa, 1986).
Nesse contexto, as IES são ambientesfavoráveis para a promoção da saúde no momento 
em que podem se dedicar em difundir esse conceito nos espaços sociais ocupados pelo 
público majoritariamente jovem, somando habilidades no desenvolvimento de toda a 
comunidade para uma educação que atue na transformação. Pensar nesses espaços para 
estimular a “reflexão interdisciplinar e diálogos plurais para a produção de uma cultura 
organizacional de promoção da saúde em todos os ciclos e curso da vida humana, bem 
como de implementar as políticas institucionais de valorização da vida e da sustentabilidade 
planetária”, deve ser parte fundamental da missão de uma IES (Moura, 2024, p. 16). 
Olhar para o ambiente universitário como um espaço dinâmico, em constante 
desenvolvimento e aberto à participação de todas as esferas na construção de um local 
que preze pela facilitação da saúde e bem-viver é, como colocado por Damasceno e 
Pimentel (2022), incentivar o potencial das IES em atuar como protetores de vida. Para tanto, 
é indispensável o compromisso dos diferentes níveis de gestão e atores que compõem 
a comunidade acadêmica, como dirigentes, reitores, conselheiros, alunos, professores, 
trabalhadores, comunidade e demais setores, cujas ações trarão benefícios para toda a 
sociedade (Damasceno; Pimentel, 2022; Moura, 2024). 
A mobilização sobre o desenvolvimento de ações de promoção da saúde no âmbito 
universitário teve seu início na década de 70, na França, por meio de iniciativas como o 
programa “Universidades pela Saúde”, com a finalidade de outorgar às universidades os 
cuidados pertinentes à saúde da comunidade inserida em seu contexto. O movimento foi 
crescendo e ganhou força, quando em 1996 foi oficializado o movimento de Universidades 
Promotoras em Saúde (UPS) na Universidade de Lancaster, no Reino Unido, durante a 1ª 
Conferência Internacional de UPS. A partir dele, a promoção da saúde passou a ocupar os 
113
espaços das instituições de ensino superior, alinhado à descentralização da saúde defendida 
pelas políticas públicas e caminhando na direção do bem-estar global (Ottawa, 1986).
A partir daí, as universidades se organizaram em redes, exercendo um importante 
papel na promoção de convênios, na atuação como agentes facilitadores do diálogo sobre 
promoção da saúde, capacitação de profissionais, auxílio no diagnóstico de saúde dos 
integrantes da comunidade universitária, trocas de experiências na implementação da UPS 
entre outras estratégias de cooperação (Damasceno; Pimentel, 2022). Em 2003, foi originada 
a Rede Iberoamericana de Universidades Promotoras da Saúde (RIUPS) como parte dos 
esforços regionais da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para impulsionar 
o enfoque dos ambientes saudáveis (Arroyo-Acevedo, 2024). A abrangência da RIUPS 
proporcionou para as universidades brasileiras o ingresso nessa rede, trazendo a discussão 
do tema em um contexto próximo ao que vivenciamos no país.
Uma Universidade Promotora da Saúde atribui a si como um espaço de formação e 
desenvolvimento humano, garantindo informações além do conhecimento técnico-científico, 
mas também de promover uma cultura de saúde e bem-viver entre seus estudantes, 
professores, funcionários e com a comunidade em seu entorno. A integração dessas ações 
pode contribuir para a formação de indivíduos conscientes e capacitados a orientar e 
reorientar comportamentos saudáveis, repercutindo positivamente em suas comunidades 
e na sociedade em geral (Cortez; Sabóia, 2024).
| Saúde e Engenharia na Agenda 2030: interfaces e 
possibilidades para o ensino superior
A promoção da saúde abrange todas as esferas da sociedade, pois para que se possa 
viver bem é preciso relacionar todos os aspectos que fazem parte da vida.
A Agenda 2030, legitimada pelos chefes de Estado na Assembleia Geral da Organização 
das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2015, estabeleceu um conjunto de 17 Objetivos do 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas. Essas metas são monitoradas e avaliadas 
por meio de 232 indicadores que passaram por um processo de harmonização para permitir 
a comparação entre diferentes níveis territoriais e grupos de pessoas em todo o planeta.
A construção da Agenda 2030 teve a participação de governos em diversos níveis, 
além de instituições multilaterais, academia, empresas e outras organizações da sociedade 
civil, destacando que esses atores têm cada um seu papel na implementação das políticas 
para alcance dos objetivos, além do monitoramento do progresso em seu território e sua 
população.
114
A saúde está explicitamente representada no ODS 3, que se propõe a “assegurar uma 
vida saudável e promover o bem-estar em todas as idades”, a partir de 13 metas e 28 
indicadores únicos. Porém, ainda que representada de maneira explícita no ODS 3, a saúde 
está direta e/ou indiretamente relacionada a um conjunto de outros ODS. A divisão em temas 
para alcançar a paz e o desenvolvimento sustentável do planeta e da humanidade não 
diminui a inter-relação entre os objetivos. Estes estão integrados e indivisíveis e mesclam, 
de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a 
social e a ambiental (Nações Unidas Brasil, 2015).
Atuando também de forma transversal, porém indispensável na resolução de problemas, 
estão os conhecimentos da engenharia. Os engenheiros são profissionais essenciais quando 
se pensa sobre a manutenção das necessidades humanas básicas como: o alívio da pobreza, 
a promoção de um desenvolvimento seguro e sustentável, respostas a emergências, a 
reconstrução de infraestruturas, a transposição da divisa do conhecimento e a cooperação 
intercultural, conectando necessidades sociais a inovações tecnológicas, bem como 
aplicações comerciais (UNESCO, 2022).
A engenharia tem o potencial de promover o desenvolvimento socioeconômico 
sustentável e necessário na contribuição da resiliência humana para enfrentar desastres e 
desafios de saúde pública, para a garantia de alimentos, água, comunicação e transporte, 
bem como a inovação e criação de novos produtos e serviços (UNESCO, 2022). Dentro do 
exposto, imagina-se que há informações suficientes para inspirar o alinhamento desses 
temas e pensar em mudanças para o nosso planeta, certo? Propõe-se o seguimento dessa 
discussão com alguns exemplos para facilitar a aproximação com essa ideia.
O relatório da UNESCO (2022) aponta para uma situação de forte conexão entre saúde 
e engenharia que está muito recente na memória da sociedade: a pandemia de COVID-19. A 
engenharia foi fundamental no combate à pandemia por implementar tecnologias avançadas 
como, por exemplo, a busca por uma vacina por meio de métodos de manufatura avançada, 
sistemas logísticos, de transporte e a impressão 3D de equipamentos de proteção individual.
A engenharia erradicou doenças como febre tifoide e cólera ao oferecer água limpa e 
saneamento básico; desenvolveu próteses e melhorias no tratamento de audição, saúde 
cardíaca e funcionamento cerebral. A robótica, a visão computacional e a inteligência 
artificial estão revolucionando diagnósticos, procedimentos cirúrgicos e acessibilidade 
dessas tecnologias em países de baixa renda. A cooperação entre essas ciências (entre 
outras também, mas o foco desse capítulo é o alinhamento dessas áreas) é crucial para o 
desenvolvimento sustentável.
115
A relação entre a cooperação dessas áreas com o alcance das metas e indicadores 
da ODS-3 estão intrinsecamente ligadas e a comunidade acadêmica pode contribuir para 
atingi-las. Partindo da premissa de que pessoas saudáveis são a base para economias 
igualmente saudáveis, ao iniciar com o autocuidado, as pessoas estarão fortalecendo 
os sistemas de saúde e promovendo a resiliência diante das adversidades de saúde. Ao 
estenderem esse cuidado às pessoas próximas e na contribuição da conscientização da 
comunidade sobre a importância da boa saúde, da adoção de estilos saudáveis, bem como 
do direito das pessoas ao acesso a serviços de saúde de qualidade, estarão atuando em 
redepara o fortalecimento da promoção da saúde ao seu redor. 
Os resultados dessas ações se tornam especialmente importantes na proteção de 
grupos populacionais vulneráveis e indivíduos que residem em regiões sobrecarregadas 
por alta prevalência de doenças, visto que os recursos públicos poderão ter um destino 
a essas situações com a melhoria da saúde populacional. Sabe-se que a opção por vidas 
saudáveis para todos requer bastante comprometimento, mas os benefícios superam o 
custo. O posicionamento junto ao governo e líderes locais por seus compromissos em 
melhorar o acesso das pessoas aos serviços de saúde e aos cuidados de saúde podem 
contribuir para o alcance amplo das políticas de saúde. O senso de responsabilidade coletiva 
e o exercício da abordagem de questões que acontecem no contexto diário, alinhado aos 
desafios globais, irão inspirar a mente do estudante (e profissional) de engenharia na busca 
de inovações necessárias.
Quando essas ações são levadas para o ambiente organizacional, institucionalizar 
rotinas de monitoramento baseadas nos indicadores é um importante caminho para se 
estabelecer capacidades que provoquem mudanças nos determinantes sociais e ambientais 
da saúde. Essas rotinas oferecem importantes subsídios aos agentes públicos e privados, 
nas diversas esferas, para decisão de alocação de recursos e de ações, de forma mais 
efetiva e equitativa. A mesma estratégia pode ser seguida pelas Instituições de Ensino 
Superior (IES), que buscam se tornar ambientes de promoção de saúde.
As universidades ocupam um lugar de destaque dentro da sociedade, com um 
inquestionável protagonismo na difusão do conhecimento e, consequentemente, na promoção 
do bem-estar social. Ou ainda, como explicado por Galvão, Cabral e Maurer (2020), os ODS 
podem atuar como diretrizes para implementar transformações que promovam segurança 
no cotidiano universitário, de forma sustentável, propiciando maior conforto e satisfação.
Assim, é de suma importância que as universidades, como instituições de ensino superior 
com caráter formador, comuniquem suas ações e práticas relacionadas aos ODS, se integrem 
às propostas mundiais de desenvolvimento sustentável e assumam sua responsabilidade 
na interdependência para uma sociedade melhor.
116
Figura 1. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela Organização das Nações Unidas
Fonte: Recursos de comunicação do site https://www.un.org/
| Desafios no ITA: um resgate histórico das ações de 
saúde coordenadas pela DAE e reflexões para o futuro
Esta seção tem o propósito de refletir sobre os desafios da promoção da saúde na 
esfera da graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Pelo motivo das autoras 
deste capítulo estarem envolvidas com os serviços oferecidos pela Divisão de Assuntos 
Estudantis (DAE), que se dedica ao apoio à vida acadêmica dos alunos da graduação, a 
discussão será mais centralizada nesse público, na esperança de que o tema possa se 
estender de maneira transversal entre os demais setores institucionais. 
O ITA é uma instituição de ensino superior (IES) que oferece, atualmente, seis cursos 
de graduação em engenharia (ITA, 2024). A partir de 2025, a graduação irá abranger mais 
dois cursos da área, no campus da cidade de Fortaleza, ampliando o número do corpo 
discente (CECOMSAER, 2024). Trata-se de uma escola com um total de aproximadamente 
730 alunos, entre o primeiro e quinto ano do curso de graduação, sendo apenas 8% deste 
total estudantes do gênero feminino. A expectativa para 2025 é o aumento de 50 vagas, 
25 para cada curso que será inaugurado no campus Fortaleza.
A graduação do ITA é caracterizada pelo currículo acadêmico de alta demanda, com 
alunos provenientes de um processo de entrada bastante competitivo e uma rotina acadêmica 
de dedicação exclusiva. A pressão contínua pela performance acadêmica e o regimento 
https://www.un.org/
117
singular de nossa escola são variáveis que se encontram no rol de fatores de risco para 
o desenvolvimento de sentimentos de estresse, desequilíbrios na saúde e ajustes que 
impactam em várias esferas da vida. Além disso, os conflitos na comunidade estudantil são 
comuns, visto que temos um público majoritariamente masculino, que reside no campus 
e precisa gerenciar questões de diferentes naturezas para o bem-estar comum, como 
diversidade, inclusão social, novos vínculos sociais, rede de apoio, senso de pertencimento, 
independência do núcleo familiar, dentre tantos outros desafios para o novo ciclo de vida.
O apoio institucional fornecido aos alunos referente às questões alheias ao currículo 
acadêmico fazem parte desta escola desde a sua fundação, em 1950. A Divisão de Alunos, 
primeiro setor destinado ao acompanhamento da vida acadêmica do aluno e pioneiro na 
implantação do Serviço de Orientação Educacional (SOE) no ensino superior brasileiro, 
e a Comissão de Orientação Educacional da Congregação53, que sempre contou com 
profissionais designados especificamente para o exercício da orientação educacional, 
precisam ser destacados na história das políticas institucionais do ITA sobre o olhar integral 
na formação do aluno (Lacaz; Mazariolli, 2020). Essa abordagem iniciou com o atendimento 
voltado à orientação educacional e conquistou um enfoque multidisciplinar em 2019, quando 
o assistente social54 passou a integrar efetivamente a equipe, até então composta apenas 
por psicólogos e professores, para tal finalidade. Em 2017, a Divisão de Alunos passou a 
ser denominada Divisão de Assuntos Estudantis55, herdando as responsabilidades da antiga 
Divisão de Alunos e ampliando sua abordagem no apoio à vida acadêmica do aluno.
No sentido de atuar nas esferas que impactam a vida e a saúde do aluno iteano, a DAE 
atua não só como facilitadora, mas também como a própria rede de apoio ao estudante 
de graduação, cujo papel de acolher, aconselhar e direcionar permitem auxiliar a vivência 
do aluno por situações estressoras para mitigar o impacto no desempenho acadêmico e 
desenvolvimento profissional. Essa intervenção possibilita que a equipe dessa divisão atue 
na prevenção de riscos psíquicos, emocionais, cognitivos e/ou físicos exigidos na vida 
acadêmica.
As ações no campo da saúde vêm ganhando força ao longo da história do ITA e felizmente 
não estão restritas à Divisão de Assuntos Estudantis. Contudo, essa pauta ainda não está 
contemplada nas prioridades da agenda institucional e as iniciativas que permitem estender 
o cuidado pela proteção de vidas, ou seja, por meio da promoção do bem-estar e equidade 
entre a comunidade acadêmica, se expressam como ações focais e ainda desconexos com 
a unidade institucional.
53 Não foram encontrados registros precisos sobre o ano em que foi descontinuado.
54 Vale registrar que o assistente social está presente na DAE desde 2012, a partir do apoio do SESO (Serviço Social do Departamento de 
Ciência e Tecnologia Aeroespacial), para entrevistas e acompanhamento dos alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que 
recebem bolsa permanência, patrocinada pela Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA). https://www.aeita.com.br/pages/bolsa-aluno
55 http://www.ita.br/sites/default/files/pages/DAE.pdf
https://www.aeita.com.br/pages/bolsa-aluno
http://www.ita.br/sites/default/files/pages/DAE.pdf
118
As Instituições de Ensino Superior (IES) são ambientes estratégicos para a promoção 
de saúde. Arroyo (2022) a considera como um “epicentro” para o paradigma. Além de 
ser capaz de promover a elevação dos níveis de saúde dentro de seu território, a IES é 
potencializadora dessas ações pela pesquisa, pela extensão e pela formação profissional. 
A Promoção da Saúde (PS) é um processo de capacitação da comunidade para atuar 
na melhoria de sua qualidade de vida e de saúde, atuando sobre os determinantes sociais 
de saúde56 e fomentando o compromisso em defesa dos direitos coletivos. Isso requer o 
movimento além do foco no comportamento individual e ao encontro de uma intervenção 
social e ambiental ampla (Sícoli;Nascimento, 2003; Carta de Okanagan, 2015). Segundo 
Rodrigues (2017), faz-se necessário cultivar uma cultura institucional promotora da saúde para 
que haja estímulo aos profissionais de uma comunidade universitária atuarem na promoção 
da saúde no campus. Os projetos e as atividades de PS no ambiente acadêmico devem ser 
sustentáveis por meio da colaboração e trabalho em rede, juntamente com o envolvimento 
de todos os aspectos institucionais – incluindo políticas, ambiente físico, organização 
curricular, serviços de saúde mental e transformação da cultura organizacional, a fim de 
obter progresso na incorporação da promoção de saúde nos planos de desenvolvimento 
institucional (Moura, 2024; Cortez, Sabóia, 2024).
Durante a última década, por meio da entrada de professores, servidores e colaboradores 
provenientes dos setores da saúde no quadro funcional do ITA, este tema tem ganhado 
visibilidade ao mitigar os problemas que ocorrem nessa esfera, principalmente durante a 
assistência ao corpo discente. Além da demanda assistencial existente, a DAE também 
tem se ocupado em pensar sobre estratégias do campo da saúde e educação a fim de 
proporcionar informações úteis para o bem-estar, a saúde e o desempenho acadêmico 
dos alunos. 
A idealização dos primeiros projetos da DAE foi feita com ênfase na prevenção de 
doenças, através de campanhas de saúde, coordenadas pela chefia da Divisão57. As ações 
foram se estendendo e, com o apoio de parcerias de outras organizações militares do 
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeronáutica (DCTA), a DAE foi capaz de organizar 
feiras de saúde, palestras sobre saúde mental e rodas de conversa. Outras propostas 
também se consolidaram na área da educação, como a reestruturação do programa 
Aconselhamento, que passou a ser nomeado de Novo Aconselhamento, em virtude das 
mudanças realizadas na estrutura do programa alinhado às experiências internacionais. 
56 Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, 
étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na 
população (Buss; Pellegrini Filho, 2007).
57 Uma das autoras, Cristiane Pessôa da Cunha, assumiu a chefia da DAE em 2016.
119
Optou-se por manter o nome “Aconselhamento”, pois trata-se de um patrimônio cultural 
da nossa instituição (Cunha; Silva, 2024). 
Desde então, as ações de saúde ganharam força na DAE de forma progressiva. Em 2023, 
as discussões sobre promoção da saúde foram se aprofundando e ganhando estrutura 
para novos avanços com a chegada de novos integrantes à equipe58. Em 2024, o Núcleo 
de Atenção à Saúde do Aluno (Núcleo ASA) foi inaugurado como um programa da DAE, 
cujo objetivo é buscar estratégias no campo da saúde para o bem-estar e a saúde dos 
alunos do ITA. As ações do ASA estão sendo consolidadas de forma transversal, planejadas 
intersetorialmente, inspiradas em diretrizes nacionais e internacionais, como o movimento 
de Universidades Promotoras da Saúde e da United Nations Academic Impact (UNAI) 
(Machado, 2024).
A título de esclarecimento, a DAE59 é composta por cinco setores atualmente, são eles: 
Secretaria, Seção de Coordenação e Controle, Seção de Orientação Educacional, Seção 
de Apoio Acadêmico e Social, Seção de Apoio ao Docente. Além disso, a DAE coordena 
três programas voltados para o corpo discente, são eles: Novo Aconselhamento, Mentoria 
e Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno. 
A Divisão de Assuntos Estudantis está organizada em três eixos de trabalho, são eles: 
1) Rotinas Administrativas relacionadas ao aluno, 2) Apoio no Processo Ensino-Aprendizagem 
e 3) Saúde e Bem-Viver do corpo discente. Estes eixos trabalham de forma interdisciplinar, 
fomentando a intersetorialidade e os diferentes olhares para a orientação e apoio na trajetória 
acadêmica do aluno.
Alinhado aos conceitos de PS trazidos ao longo deste texto, foram identificadas todas 
as iniciativas e projetos da DAE relacionados ao tema e que foram desenvolvidas de acordo 
com os eixos de trabalho Apoio no Processo Ensino-Aprendizagem e Saúde/Bem-Estar. A 
seguir, realizamos um levantamento das ações alinhadas ao campo da promoção da saúde 
realizadas pela DAE desde 2017. 
As atividades estão categorizadas de acordo com os cinco campos centrais de atuação 
na promoção da saúde, de acordo com a Carta de Ottawa (1986): criação de ambientes 
favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; desenvolvimento de habilidades pessoais, 
reorientação do sistema de saúde e elaboração e implementação de políticas públicas 
saudáveis. Lembramos que a DAE é uma divisão que atende ao público de alunos da 
graduação do ITA e, por isso, as atividades têm alcance restrito.
58 Luciana Araújo Lima Machado, servidora transferida para DAE, com formação na área de Saúde Coletiva e uma das autoras do 
presente capítulo.
59 Para maiores informações, acesse a página da Divisão de Assuntos Estudantis (DAE) no site do ITA: http://www.ita.br/ig/dae e o 
folder: http://www.ita.br/sites/default/files/pages/DAE.pdf 
http://www.ita.br/ig/dae
http://www.ita.br/sites/default/files/pages/DAE.pdf
120
Quadro 1. Categorização das atividades, projetos e iniciativas identificadas na DAE segundo eixos da Carta de Ottawa
Categoria 
– Carta de 
Ottawa
Atividades identificadas
Reforçar ações 
comunitárias
(ações e 
visibilidade)
• Comunidade Pertencer & Humanizar; apoio aos professores nas atividades em aulas 
relativas à campanha de equidade; Campanha de Equidade no ITA; Campanhas 
de doação de sangue; feiras de saúde: stands de informação e prevenção sobre 
infecções sexualmente transmissíveis (IST), prevenção de deficiências auditivas, 
prevenção ao fumo, campanha de vacinação, impacto das telas na organização 
postural, orientação nutricional, testes rápidos de glicemia, colesterol e pressão 
arterial, orientações sobre nível de estresse, entre outros temas de saúde; Manual 
do Aluno; ReflITA; organização de palestras e aulas sobre saúde mental, valorização 
da vida e prevenção ao suicídio, dependência química; Ciclo de Palestras sobre 
temas de saúde ao aluno ingressante; Disciplina Colóquio60 no ano Fundamental 1; 
DAE talks61.
Desenvolver 
habilidades 
pessoais 
(estruturas e 
apoio)
• Programa Novo Aconselhamento62: apresentação do professor-conselheiro ao aluno, 
roteiros de acompanhamento do aluno, Curso Bizu da Saúde, capacitação e apoio ao 
professor-conselheiro; Programa Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno: atividades 
relacionadas ao autocuidado e estilo de vida saudáveis (oficinas, rodas de conversa); 
plantão de acolhimento; atendimento de orientação educacional; oficina de gestão 
do tempo; ciclo de oficinas de preparação do professor-conselheiro; Programa de 
Mentoria (por empresa e individual).
Criar 
ambientes 
favoráveis 
(condições 
de trabalho e 
estudo)
• Projeto Geladeiroteca; ações de integração dos alunos ingressantes; acompanhamento 
social e projeto de permanência estudantil; Semana Criativa (arte, música e 
autocuidado), evento de recepção dos pais e responsáveis na apresentação do 
estudante para o início do curso, apoio a eventos sociais organizados pelos alunos; 
Rancho Festivo; Projeto Respira; Orientar e apoiar o Centro Acadêmico Santos Dumont 
(representação estudantil).
Reorientar os 
serviços de 
saúde
• Atendimento domiciliar emergencial a alunos que residem no campus, acompanhamento 
de internação psiquiátrica, acompanhamento em consultas de saúde em atendimentos 
emergenciais; Direito de uso do plano de saúde da Aeronáutica por alunos em 
vulnerabilidade social; Protocolo de apoio ao aluno em crise; Pesquisa na área de 
saúde mental; Atendimento individual e coletivo aos alunos interessados na adoção 
de hábitos saudáveis; Assistência ao aluno em vulnerabilidade-social.
Elaboração e 
implementação 
de políticas 
públicas 
saudáveis
• Registro do Novo Aconselhamento no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 
do ITA, elaboraçãode textos acadêmicos, artigos de revista e capítulos de livro para 
a visibilidade interna e externa sobre promoção da saúde no contexto universitário; 
produção de trabalhos científicos; aproximação com parcerias para a rede de 
assistência em saúde e conscientização sobre a promoção da saúde; workshop 
“Ouvindo quem ouve”; 1º Encontro Internacional sobre experiências em acolhimento 
e acompanhamento de alunos ingressantes no ensino superior63
Fonte: Elaboração própria
60 A disciplina Colóquio é coordenada pela Professora Dra. Cristiane Pessôa da Cunha que defende a curricularização da promoção 
da saúde na trajetória do aluno no ITA.
61 Para maior aproximação com esse projeto, sugerimos a leitura do livro Saúde e humanização na transversalidade da formação do 
engenheiro. https://www.doi.org/10.5281/zenodo.14111787
62 Incentivamos a leitura do artigo de Cunha e Silva (2024) para mais detalhes sobre o programa Novo Aconselhamento. 
https://doi.org/10.5281/zenodo.14112362
63 Acesse a página http://www.ita.br/noticias446, para mais informações sobre o evento.
https://www.doi.org/10.5281/zenodo.14111787
https://doi.org/10.5281/zenodo.14112362
http://www.ita.br/noticias446
121
As ações de saúde elaboradas pela DAE procuram desenvolver o tema por meio de 
diversas abordagens disponíveis em uma instituição de ensino, como pesquisa, aulas 
expositivas, palestras, eventos, práticas com os alunos e a literacia, assim como se faz 
presente nas esferas acadêmica, social, assistencial e institucional. Muitas delas podem 
ser inseridas em mais de uma categoria apontada pela Carta de Ottawa, em virtude de sua 
transversalidade entre os temas.
Muitos projetos desenvolvidos já alcançaram seu amadurecimento e estão inseridos 
de forma permanente no calendário acadêmico, outros encontram-se em fase piloto e são 
atualizados à medida que a interação no campo demonstra a necessidade de reajustes. 
Novas estratégias são pensadas e planejadas a cada ano para que a promoção da saúde 
direcionada aos alunos possa ser cada vez mais coerente com o contexto acadêmico que 
vivenciam, mas também contribua para o bem-viver durante sua trajetória na instituição 
e construção de uma vida consciente sobre a sua saúde e o impacto no meio em que 
vivenciam.
| O Programa Novo Aconselhamento como microambiente 
alinhado à promoção de saúde universitária
Nas décadas iniciais do ITA, o professor-conselheiro era designado para acompanhar 
o desempenho acadêmico do aluno e também, caso necessário, substituir a família do 
jovem discente, pois na época os contatos próximos com familiares eram dificultados 
pelas distâncias, que não eram facilmente vencidas, devido à ausência de transportes 
mais acessíveis, que viabilizassem visitas periódicas à rede de apoio anterior ao ingresso 
no Instituto. 
Com o passar dos anos, ainda que a comunidade iteana reconhecesse a importância 
do aconselhamento, naturalmente houve a necessidade de modernização da referida 
estratégia, que não se mostrava mais alinhada às necessidades e desafios enfrentados 
pelo alunado.
Refletindo em retrospectiva, podemos afirmar que a reformulação do aconselhamento 
praticado no ITA teve início em 2018, através da participação no 8º Fórum de Gestão do 
Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (FORGES), sediado em Lisboa. 
Na oportunidade, houve uma aproximação com o modelo de tutoria utilizado pelo Instituto 
Superior Técnico de Lisboa – IST, além de outras experiências exitosas no contexto europeu, 
que ofertavam diversas estratégias de apoio ao estudante. 
122
Após essa primeira aproximação com o IST e, particularmente, com o Núcleo de 
Desenvolvimento Acadêmico (NDA), foi possível convidar a Psicóloga Isabel Gonçalves, 
responsável pelo NDA, para ministrar curso e palestra sobre a experiência em tutoria, no 
evento Engineering Education for the Future – EEF64, que aconteceu no ITA, em maio de 2019.
Com 34 docentes (na época, cerca de 19% do quadro total de docentes do ITA) 
inscritos, iniciamos, em fevereiro de 2020, o I Ciclo de Oficinas Preparatórias do Novo 
Aconselhamento65 com programação que se estendeu por dois dias. Contamos com 
Especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade de São 
Paulo (USP), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Poder Judiciário de São 
José dos Campos e do ITA, que ministraram palestras sobre os seguintes temas: “A promoção 
do aprender autorregulado no ensino superior”; “Habilidades Sociais”; “Vulnerabilidade 
social e impactos na vida acadêmica”, “Normas do ITA e cotidiano escolar”; “Saúde mental – 
Preocupações com os estudantes do ensino superior”; “Mesa-redonda com egressos sobre 
Disciplina Consciente e outros aspectos do modelo do ITA”; e “Mediação e Conciliação na 
condução de conflitos no espaço acadêmico”. 
Após capacitação dos Conselheiros, foi realizada em março de 2020 a implantação oficial 
do Novo Aconselhamento. Alunos e professores foram apresentados ao programa totalmente 
reformulado, que inclui, resumidamente, apoio e formação do professor-conselheiro, além 
de roteiros que guiam os encontros bimestrais obrigatórios, que o conselheiro realiza 
com os seus aconselhados. O roteiro preenchido e devolvido ao setor que coordena o 
aconselhamento servirá como feedback, indicando como o aluno-aconselhado está se 
adaptando e enfrentando as rotinas acadêmicas. O roteiro é construído para facilitar o 
contato entre conselheiro e aconselhado, privilegiando aspectos que devem ser observados.
Outra importante implementação na operacionalização do aconselhamento diz respeito às 
designações que resguardam o número de, no máximo, um professor para até cinco alunos. 
No modelo de aconselhamento praticado até então, chegamos a encontrar professores 
atribuídos a quarenta alunos, o que certamente não permitia um efetivo acompanhamento 
do aluno e, consequentemente, contribuía para o descrédito instalado em relação ao 
aconselhamento.
64 http://www.ita.br/noticias230
65 http://www.ita.br/grad/oficinas_acons
http://www.ita.br/noticias230
http://www.ita.br/grad/oficinas_acons
123
Figura 2. Diagrama representativo dos pilares do Programa Novo Aconselhamento
Fonte: Arquivo das autoras
Logo após a implantação do Novo Aconselhamento, enfrentamos o início da pandemia 
do COVID-19 e, consequentemente, o afastamento social. Os conselheiros que inauguraram 
a estratégia reformulada já enfrentaram um difícil desafio, pois foram estimulados a adaptar 
o contato com os aconselhados, utilizando todos os recursos possíveis e disponíveis 
de tecnologia. O Aconselhamento tornou-se um importante aliado no enfrentamento às 
mudanças trazidas pela pandemia e na manutenção de vínculos efetivos do alunado com 
a Instituição. 
Com base nos roteiros de reuniões elaborados pela coordenação do Novo Aconselhamento, 
os professores iniciaram o agendamento dos encontros com os devidos registros a fim 
de garantir a efetividade do acompanhamento. A capacitação dos conselheiros continuou 
através das ferramentas disponíveis no Google Classroom, a partir de reuniões síncronas 
e conteúdos gravados. 
A formação dos conselheiros continuou no segundo semestre de 2020, sendo 
ofertados conteúdos gravados sobre os seguintes temas66: “Adulto Jovem: contribuições da 
psicologia do desenvolvimento”; Projeto de vida”; Saúde Mental no contexto universitário”; 
“Acompanhamento pedagógico no ensino superior”; “Acolhimento e adaptação do aluno 
ingressante”; e “Mediação de conflitos e conciliação”.
A coordenação do Novo Aconselhamento sempre teve a preocupação de preparar a 
formação do professor-conselheiro, com temas para além de aspectos didáticos pedagógicos. 
Temos continuamente convidado palestrantes de diversas áreas, que abordam nas formações 
conteúdos que dialogam com a promoção da saúde, principalmente no que diz respeito à 
criação de hábitos e ambientes saudáveis, dentro e fora do espaço acadêmico.
66 http://www.ita.br/noticias/iiciclodeoficinaspreparatriasdonovoaconselhamentohttp://www.ita.br/noticias/iiciclodeoficinaspreparatriasdonovoaconselhamento
124
Figura 3. Diagrama representativo das ações do Novo Aconselhamento
Fonte: Arquivo das autoras 
Recentemente, o Novo Aconselhamento praticado no ITA passou a despertar o interesse 
de outras Instituições de Ensino Superior (IES), para o compartilhamento de experiências 
e boas práticas.
O Novo Aconselhamento segue avançando em suas atividades, mantendo o pilar da 
capacitação constante dos conselheiros, o contato regular com os alunos e o diálogo constante 
com os diversos atores institucionais, sempre em alinhamento com o desenvolvimento de 
habilidades individuais e coletivas, em busca do bem viver.
| O Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno (ASA) como 
incubadora da reflexão sobre a promoção da saúde 
no ITA
O termo “promoção da saúde” e a aproximação com as discussões nessa área surgiram 
na DAE a partir da sensibilidade do olhar relacionada à demanda de trabalho sobre o 
professor do ITA. A proposta de olhar para o processo de adoecimento e para a importância 
do investimento na saúde iniciou dentro do Programa Novo Aconselhamento, em 2023, 
com a elaboração de um curso de autocuidado voltado aos professores-conselheiros. O 
curso, nomeado como “Bizu67 da Saúde”, consistiu em treze aulas gravadas e o objetivo foi 
desenvolver o tema sobre a construção da saúde a partir das escolhas cotidianas e hábitos 
de vida, assim como o seu impacto na qualidade de vida e bem-estar. Os professores-
conselheiros receberam relatórios sobre o mapeamento de sua saúde, pela abordagem 
67 Bizu é um termo utilizado pela comunidade iteana que significa “atalho”, “dica”.
125
integrativa e de acordo com as respostas fornecidas em questionário, e também puderam 
agendar o atendimento individual com a especialista da DAE para adoção de novos hábitos. 
Alguns desfechos dessa iniciativa surpreenderam a equipe, ao observar nos relatórios 
regulares no Novo Aconselhamento que o conteúdo das aulas estava sendo propagado 
nos diálogos com os alunos, de maneira informal e durante os encontros agendados entre 
aluno e conselheiro. Esse trabalho foi apresentado no XI Congresso Iberoamericano de 
Universidades Promotoras em Saúde, em outubro de 2024, e concedeu à equipe da DAE 
muitas trocas de experiências com outras Instituições de Ensino Superior. 
Seguindo essa linha de ação e com base nos dados de saúde coletados pelo Programa 
Novo Aconselhamento, decidiu-se por estender o tema de autocuidado e hábitos saudáveis 
aos alunos. Foi nesse contexto que se inaugurou o Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno 
(ASA), em janeiro de 2024, cuja atuação consiste na busca por estratégias da área de 
saúde que visam contribuir para o desenvolvimento pessoal do aluno, saúde e bem-estar. 
O ASA baseia-se em três eixos para atuar institucionalmente na área de saúde:
1. Promoção da saúde – Buscar estratégias do setor de saúde para as ações coletivas e 
individuais que contribuam para o sucesso acadêmico, o desenvolvimento pessoal, a 
saúde e o bem-estar. Incentivar o protagonismo do aluno e da comunidade discente 
na busca pela equidade e a qualidade de vida. 
2. Intersetorialidade – Atuar em sinergia com outros setores, integrando diferentes 
saberes e ambientes organizacionais para a ampliação das redes de proteção social 
e promoção da saúde. 
3. Pesquisa na área de saúde no contexto do ensino superior – Ampliar a interface e 
discussão com as universidades que investigam o tema da promoção da saúde.
Figura 4. Diagrama representativo dos pilares de atuação do ASA
Fonte: Arquivo das autoras
126
Em seu primeiro ano de inauguração, o ASA desenvolveu parcerias internas com outras 
Organizações Militares (OM) do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). 
Obtivemos dois avanços por meio das cooperações entre as OMs envolvidas: 1) Atuação da 
DAE no aquartelamento dos alunos aptos ao serviço militar durante o Curso de Formação 
no Centro Preparatório de Oficiais da Reserva de São José dos Campos (CPOR-SJ); 
2) Participação de profissionais especialistas na área de saúde para proferir palestras, realizar 
oficinas práticas e, também, a possibilidade de aproximar os alunos dos palestrantes, que, 
por pertencerem ao quadro de funcionários do DCTA, estão acessíveis para o agendamento 
de consultas clínicas pelo plano de assistência de saúde da Aeronáutica68. Essas iniciativas 
também auxiliaram na aproximação da equipe de profissionais da Divisão de Assuntos 
Estudantis com os alunos do primeiro ano antes de iniciar o período letivo, facilitando o 
diálogo com os estudantes.
A proposta das palestras foi continuada na disciplina Colóquio (FND-01)69, porém, 
planejada em um novo formato, com duração máxima de vinte minutos, nomeado DAE 
talks. O objetivo desse espaço é conscientizar os alunos sobre atitudes saudáveis e o seu 
impacto no sucesso acadêmico. O projeto teve boa aceitação pelos alunos, com avaliação 
média de “boa-muito boa” no feedback de satisfação utilizando a escala likert (Machado, 
2024). Algumas das aulas foram levadas para o campo prático, como a oficina de corrida 
e de alimentação, e estiveram entre os temas preferidos dos alunos. Incentivamos a leitura 
do livro Saúde e Humanização na transversalidade da formação do engenheiro, a fim de 
se aproximar do trabalho que foi desenvolvido durante esta disciplina. 
Figura 5. Logo criado para o projeto DAE talks
Fonte: Arquivo das autoras
68 Os alunos do primeiro ano do curso de engenharia do ITA, enquanto estiverem no período de serviço militar, possuem o benefício 
do plano de saúde da Aeronáutica.
69 A disciplina Colóquio é obrigatória e compõe a grade curricular do primeiro ano do curso de engenharia do ITA.
127
As estratégias dos serviços de atenção à saúde do aluno foram pensadas na atuação 
coletiva e individual. As abordagens coletivas consistiram em palestras, aulas expositivas, 
oficinas, rodas de conversas e feira de saúde. As duas últimas com a participação e o 
protagonismo dos alunos na organização do evento e na escolha do tema de maior interesse 
entre a comunidade de alunos. Foi uma experiência exitosa a aproximação do tema de 
promoção da saúde com o incentivo ao protagonismo estudantil, onde o ASA provê o olhar 
técnico da saúde e a rede de cooperação entre profissionais, OMs e universidades desta 
área e os alunos organizam os eventos, fazem a pesquisa de interesse e as estratégias de 
divulgação. Os eventos em cooperação com os alunos permitiram a abordagem do tema 
com a jovialidade dos estudantes, tornando esses encontros informativos e num ambiente 
de socialização e bem-estar. Nomeamos essas ações como Conscientização, que se refere 
às palestras e aulas inseridas no tempo regular da grade de aula dos alunos, onde o alcance 
são os estudantes do primeiro ano, e Ação, que diz respeito às atividades organizadas em 
parceria com os alunos em que o público-alvo é todo o corpo discente.
Figura 6. Fluxo das ações de promoção da saúde desenvolvidas pelo ASA
Fonte: Arquivo das autoras
O fluxo das atividades segue para o Gerenciamento de Promoção da Saúde (GPS) que, 
de forma intencional, nomeamos com a ideia de fornecer rotas de cuidado para o aluno 
durante o atendimento individual. Os alunos podem solicitar o atendimento individual por 
procura espontânea, ou encaminhado por outro profissional da rede de apoio do aluno, 
como profissionais da DAE, professor-conselheiro, diretores das Iniciativas acadêmicas70 
(ou colegas próximos) e professores. Em seguida, caso seja necessário, o profissional da 
DAE responsável pelo atendimento poderá encaminhá-lo ou orientá-lo na procura de outros 
especialistas.
70 “É uma forma de trabalho em rede, em que diversos grupos de estudantes do ITA, denominados “Iniciativas”, trabalham em parceria. As 
Iniciativas têm diversos propósitos, como a Prática de Engenharia, Ação Social, bem-estar da Comunidade Iteana e Empreendedorismo” 
(Ribeiro, 2024). Cada Iniciativa é composta pelo diretor, vice-diretor e membrose estão sob a gerência do Centro Acadêmico Santos 
Dumont (CASD), órgão oficial de representação dos alunos de graduação do ITA.
128
O Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno tem se consolidado de forma transversal entre 
os setores, contando com a cooperação e as competências de diferentes profissionais. 
Todavia, é preciso avançar em muitas direções, entre as mais importantes estão a inserção 
da promoção da saúde nas discussões da política e cultura institucional.
Contudo, a partir de toda a trajetória construída pela Divisão de Assuntos Estudantis 
na área de atenção ao aluno, seja nas esferas de prevenção, promoção e atenção à saúde, 
acreditamos que o caminho para ampliar o alcance da promoção da saúde pode ser fluido 
e consistente.
| Considerações finais
A promoção da saúde (PS) não deve estar no campo abstrato das ideias tampouco 
com metas utópicas planejadas. É preciso se apropriar do tema como um projeto essencial 
na formação do cidadão e nas ações comunitárias. As Instituições de Ensino Superior 
(IES) são locais privilegiados de discussão, desenvolvimento e pesquisa e, como qualquer 
conhecimento respaldado na ciência, deve ser retornado para a comunidade dentro de 
uma interação para o benefício coletivo.
Na esfera educacional, todos os integrantes da comunidade acadêmica podem se 
beneficiar de um âmbito que promova a saúde e o bem-viver. Além do direito de todo cidadão 
ter acesso ao conhecimento sobre os processos de saúde-doença, são incontestáveis 
as vantagens que as ações institucionais nessa área podem trazer para as pessoas e 
coletividades. 
Ao incorporar os princípios da promoção de saúde em suas atividades de gestão, ensino, 
pesquisa e extensão, a universidade se compromete a construir uma espécie de nova 
cultura universitária, na qual todas as atividades realizadas deveriam não buscar apenas 
atingir seus objetivos evidentes, mas também zelar pela saúde das pessoas envolvidas.
A saúde no contexto acadêmico permite o desenvolvimento de habilidades como 
autoconhecimento, maior consciência do ambiente e nas relações interpessoais e a liderança, 
pelo exemplo, e aqui, provocamos principalmente gestores, professores e colaboradores, que 
formam aqueles que irão protagonizar o futuro e influenciar os ambientes a que pertencem. 
Cuidar de si é o primeiro passo para interagir com compaixão de forma sustentável e 
permanente, certamente somando às ações necessárias para um mundo melhor.
Nesse sentido, é imperativa a união e colaboração dos atores envolvidos na esfera 
educacional, a fim de envolver todos os aspectos institucionais no fortalecimento da 
comunidade e contribuir para o bem-viver das pessoas, lugares e do planeta. 
129
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de Brasília, Brasília, 2017.
http://www.ita.br/info
http://www.ita.br/noticias462
http://www.ita.br/noticias462
https://www.doi.org/10.5281/zenodo.14111787
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Agenda2030.pdf
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Agenda2030.pdf
https://doi.org/10.5281/zenodo.14112467
131
SÍCOLI, J. L.; NASCIMENTO, P. R. Health promotion: concepts, principles and practice, 
Interface – Comunic, Saúde, Educ, v. 7, n. 12, p. 91-112, 2003. 
UNESCO. Engenharia para o desenvolvimento sustentável: cumprir com os objetivos de 
desenvolvimento sustentável. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375634_por. Acesso em: 15 nov. 2024.
UNITED NATIONS. Goal 3: Ensure healthy lives and promote well-being for all at all ages. 
Disponível em: https://www.un.org/sustainabledevelopment/health/. Acesso em: 15 nov. 2024.
WHO. World Health Organization. Health promoting universities: concept, experience 
and framework for action. Copenhagen: WHO, 1998.
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375634_por
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375634_por
https://www.un.org/sustainabledevelopment/health/
Quem somos? 
133
Adriana Iop Bellintani
Possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria (1998), graduação 
em Estudos Sociais pelo Centro Universitário Franciscano (1992), mestrado em História Ibero-
Americana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2002), doutorado em 
História Social pela Universidade de Brasília (2009), Pós-Doutorado pela Universidade de 
Brasília (2011) e Pós-Doutorado pela Universidade de Essex na Inglaterra. Tem experiência 
na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente 
nos seguintes temas: Amazônia, exército, ditadura, subversão e democracia, e na área de 
relações Internacionais, principalmente em História das Relações Internacionais e Política 
Internacional. Atualmente, é professora efetiva do Instituto de Tecnológico de Aeronáutica 
(ITA) e professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação e Estudos Estratégicos 
Internacionais da UFRGS.
CV: http://lattes.cnpq.br/3216738054719684
Cristiane Pessôa da Cunha
Doutorado em Educação (2010) na área de concentração: Ensino, Avaliação e Formação 
de Professores – Unicamp. Especialização em Gestão Escolar (2018) pela ESALQ/USP. 
Professora Associada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, Departamento de 
Humanidades. Chefe da Divisão de Assuntos Estudantis do ITA. Membro da Associação 
Nacional de Política e Administração da Educação/ANPAE. Membro associado da Rede 
de Apoio Psicológico no Ensino Superior/RESAPES – Portugal. Membro da Associação 
FORGES – Fórum da Gestão do Ensino Superior. Pesquisadora colaboradora no Laboratório 
de Saúde Mental Multimétodos (Labsamm) do Instituto de Psicologia da USP. Experiência 
na área de administração escolar. Avaliadora institucional e de cursos do Sistema Nacional 
de Avaliação do Ensino Superior – SINAES/MEC.
CV: http://lattes.cnpq.br/2430375748076749
Delmo Mattos
Professor de Filosofia do Departamento de Humanidades (IEFH), Divisão de Ciências 
Fundamentais, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Professor Permanente do 
Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia 
para a Inovação (PROFNIT/ITA). Líder do Grupo de Pesquisa Inovação e dilemas éticos 
da inteligência artificial (IDEIA/CNPq 2024). Membro do Laboratório de Filosofia, Lógica e 
Epistemologia da Tecno-Ciência (LabFILOETEC/ITA). Em 2017, concluiu o estágio de Pós-
Doutorado em Teoria da Justiça no PPGDIR na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). 
Realizou Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008), 
http://lattes.cnpq.br/3216738054719684
http://lattes.cnpq.br/2430375748076749
134
Mestrado em Filosofia, com Bolsa CAPES, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(2003) e Bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). 
Atualmente coordena o GT Hobbes, da ANPOF. Desde 2019, constituiu-se como membro 
da Asociación Latinoamericana de Estudios Hobbesianos e da European Hobbes Society 
(desde 2020). Desenvolve pesquisa na área de Ética na inteligência artificial e filosofia 
política e da tecnologia, com atual interesse nos seguintes temas: Contratualismo Moderno: 
Thomas Hobbes; Ética: Ética e Inteligência Artificial, Ética das Máquinas, Inteligência Artificial 
e Atribuição de Responsabilidade, Possibilidade de Agentes Morais Artificiais.
CV: http://lattes.cnpq.br/7268737133400216
Edgar Lyra
Graduado em Engenharia Química pela UERJ (1981), com mestrado (1999) e doutorado 
(2003) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde atua como 
professor e pesquisador associado. Coordenou o curso de graduação em Filosofia, entre 
setembro de 2013 e março de 2020, e exerceu o cargo de diretor do departamento entre 
2020 e março de 2024. Tem experiência na área de Filosofia Contemporânea, especialmente 
em problemas éticos, políticos e pedagógicos vinculados à atual hegemonia tecnológica. 
Coordenou, entre 2014 e 2016, o Grupo de Trabalho Heidegger da ANPOF (Associação 
Nacional de Pós-Graduação em Filosofia), ao qual continua filiado. Criou e lidera, desde 
2016, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Tecnologia, certificado pelo CNPq. 
Ingressou em junho de 2019 no Laboratório de Humanidades Digitais da PUC-Rio, e em 
setembro do mesmo ano filiou-se ao EMAPS (Grupo de Ética e Mediação Algorítmica de 
Processos Sociais).
CV: http://lattes.cnpq.br/3641926552572579
Fábio Luiz Tezini Crocco
É professor do Departamento de Humanidades (IEFH) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica 
(ITA) e membro do Laboratório de Cidadania e Tecnologias Sociais (LabCTS). É doutor em 
Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), na 
linha de pesquisa “Determinações do mundo do trabalho”, com estágio doutoral no Centro 
de Estudos Sociais (CES), vinculado à Universidade de Coimbra em Portugal (2014). Possui 
graduação em Ciências Sociais – Bacharelado (2005) e Licenciatura (2006) – e mestrado 
em Filosofia pela Unesp (2008). Atua com foco na Sociologia do Trabalho, nos estudos de 
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e na Teoria Crítica. 
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/5950052772377300
http://lattes.cnpq.br/7268737133400216
http://lattes.cnpq.br/3641926552572579
http://lattes.cnpq.br/5950052772377300
135
Hiure Anderson da Silva Queiroz
É graduado em Física e mestre em Ciência dos Materiais pelo Instituto Tecnológico de 
Aeronáutica (ITA). Atualmente, está iniciando um doutorado em Inovação e Tecnologia pela 
Unifesp, com o objetivo de desenvolver tecnologias sociais voltadas para o bem-viver. É 
membro da Coolab – Laboratório Cooperativo de Redes Livres – e sócio-fundador do Sítio 
do Astronauta, iniciativas que promovem a apropriação da ciência e da tecnologia por meio 
da cultura hacker. Também atua na Associação Portal Sem Porteiras, que gerencia uma rede 
comunitária e trabalha na interface entre a sociedade e as tecnologias de comunicação e 
informação, fortalecendo a autonomia digital e a soberania tecnológica em comunidades.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3937647124092137
Leonardo Ribeiro da Cruz
Cientista Social. Professor adjunto de teoria sociológica no Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas e no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade 
Federal do Pará. Pesquisador do Observatório Educação Vigiada (educacaovigiada.org.br) e 
coordenador do Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos Sociotécnicos da Universidade 
Federal do Pará (LAES-UFPA).
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/7288675449844086
Luciana Araújo Lima Machado
Fisioterapeuta com Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher (2012) na área de concentração: 
Saúde Coletiva – FIOCRUZ. Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Manipulativa Articular 
pela Escuela de Osteopatia de Madrid, Espanha (2005) e Instrutora de Medical Qigong pela 
Japan Chinese Medical Qigong Association, Japão (2022). Coordenadora do Programa 
Núcleo de Atenção à Saúde do Aluno (ASA), da Divisão de Assuntos Estudantis, vinculada 
à Pró-Reitoria de Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Experiência na 
área de adoecimento crônico e dor crônica, atua na área de promoção da saúde no ensino 
superior – principalmente voltado aos estudantes de graduação. 
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1425168161713718
Natália Jodas
É Professora Adjunta de Direito do Departamento de Humanidades do ITA (Instituto 
Tecnológico de Aeronáutica). É Doutora na subárea Direito Ambientalque o feminismo brasileiro não é 
uma luta individualista. É um movimento solidário, que busca transformar não apenas as 
condições de vida das mulheres, mas também da sociedade como um todo.
Nesse contexto, há de se reconhecer a importância da educação para a desconstrução 
de estereótipos de gênero. Nana Queiroz, em Os meninos são a cura do machismo, enfatiza 
que transformar mentalidades requer um trabalho educacional desde a infância, incentivando 
meninos e meninas a explorar áreas como ciências e matemática, sem limitações impostas 
por papéis de gênero. A autora demonstra que a desconstrução da desigualdade de gênero 
e dos impactos do patriarcado partem de uma luta conjunta entre homens e mulheres, 
em um contexto de uma educação libertadora em que todos compreendem o impacto da 
opressão machista.
Os desafios contemporâneos exigem novas reflexões: a era da globalização e das altas 
tecnologias traz benefícios inegáveis, mas também reforça desigualdades. A transformação 
que nós feministas estamos empenhadas em realizar demanda diálogo, educação e políticas 
públicas comprometidas com a igualdade de gênero e justiça social.
17
| Referências
PIMENTEL, S. A mulher e a Constituinte. Uma contribuição ao debate. 2. ed. Cortez: 
Educ, 1985.
PIMENTEL, S.; DI GIORGI, B.; MENDES, M. Estereótipos de gênero II: semente de 
repertório: dos corredores e gabinetes aos processos judiciais. São Paulo: Matrioska 
Editora, 2024.
QUEIROZ, N. Os meninos são a cura do machismo. São Paulo: Record, 2021.
2. Desafios éticos da 
hegemonia da tecnologia e 
do desenvolvimento das IA’s 
Edgar Lyra8
Delmo Mattos9
doi.org/10.5281/zenodo.15198078
8 Professor e pesquisador associado da PUC-Rio. Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica 
do Rio de Janeiro 
9 Professor de Filosofia do Departamento de Humanidades do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). 
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198078
19
Resumo: A apresentação discute os desafios éticos, sociais e regulatórios trazidos pela 
ascensão de modelos de linguagem avançados, como o GPT, que revolucionaram a interação 
com IA desde 2022. A análise explora questões como o impacto dessas tecnologias na 
produção cultural, privacidade e manipulação de informações, além da urgência de políticas 
públicas eficazes. Ressalta-se a necessidade de um debate multidisciplinar que promova 
uma utilização responsável e inclusiva, equilibrando inovação tecnológica e responsabilidade 
ética. Por fim, propõe caminhos para regulamentação, destacando a importância da educação 
digital e da acessibilidade para reduzir desigualdades e fortalecer a confiança pública.
Palavras-chave: Inteligência Artificial; Ética; Tecnologia; Inovação; Responsabilidade. 
A introdução dessa discussão é necessária e surge da satisfação em encontrar um 
grupo tão empenhado no tema. O objetivo é expor um problema e compartilhar a dificuldade 
de solução, buscando comprometer todos com o desafio que temos à frente. Não se trata 
de demonizar novas tecnologias, mas sim de deslocar a discussão do imaginário de ficção 
científica para algo mais concreto, porém igualmente desafiador quanto ao impacto em 
nossas existências pessoais e coletivas.
O contexto atual destaca os grandes modelos de linguagem, como o GPT, que ganharam 
proeminência em 2022, quando a OpenAI, ao incorporar aprendizado por reforço com 
feedback humano, lançou sua ferramenta ao público, quebrando recordes de cadastros e 
acessos. Desde então, a qualidade das respostas vem surpreendendo, abrangendo temas 
como literatura, matemática, engenharia, programação, política e religião.
Há uma discussão crescente sobre a possibilidade dessas LLMs (Large Language 
Models) se configurarem como Inteligência Artificial Geral, ou seja, inteligências capazes 
de atender a demandas variadas e não apenas problemas específicos. Esse fenômeno 
revisitou preocupações éticas e estratégicas que remontam às décadas de 1940 e 1950, 
nos Estados Unidos e na Europa, relacionadas à hegemonia tecnológica e ao poder de 
condicionamento da vida.
Esse cenário se intensifica com a rápida proliferação de ferramentas semelhantes 
aplicadas à criação de texto, imagem, vídeo e outros conteúdos digitais, o que transforma a IA 
em uma força poderosa na produção cultural, educacional e até mesmo nas interações sociais 
cotidianas. Essa expansão exige uma compreensão profunda e detalhada dos impactos, 
não apenas técnicos, mas também éticos e sociais, que tais tecnologias representam. O uso 
massivo dessas ferramentas levanta questões urgentes sobre autenticidade, privacidade 
e a manipulação de informações, tornando imprescindível a criação de políticas públicas 
e estratégias regulatórias capazes de acompanhar esse avanço tecnológico e proteger os 
interesses individuais e coletivos.
20
A falta de regulação apropriada pode gerar consequências graves, como a proliferação 
de fake news, deepfakes e a erosão da confiança pública nas mídias digitais. É vital que 
legisladores e reguladores estejam bem informados e atentos à rapidez com que essas 
ferramentas evoluem, a fim de formular diretrizes que promovam uma utilização responsável 
e ética da tecnologia. Para isso, é fundamental envolver especialistas de áreas diversas, 
como ética, direito, ciência da computação e comunicação, buscando um consenso que 
equilibre inovação com responsabilidade.
Além disso, a questão da acessibilidade e inclusão deve ser central nesse debate. Muitas 
vezes, tecnologias avançadas permanecem acessíveis apenas a um público específico, o 
que pode ampliar desigualdades ao criar barreiras para aqueles que não têm os mesmos 
recursos. Portanto, é necessário promover uma educação digital que capacite todas as 
camadas da população a entender e utilizar essas tecnologias de forma consciente e crítica.
Sem um entendimento mínimo, qualquer debate sobre legislação corre o risco de ser 
vazio. Este seminário pretende abordar as várias facetas dessa questão, possibilitando 
uma discussão produtiva sobre o desafio. A apresentação será dividida em três partes: 
uma análise do estado da arte, deslocando a questão de narrativas apocalípticas para 
problemas concretos; uma discussão sobre ética e o verdadeiro problema da regulação; 
e, por fim, uma análise de questões relevantes.
Os objetivos principais são esclarecer o contexto atual para quem ainda não se aprofundou 
no assunto e discutir caminhos para a regulamentação dessa tecnologia. A humanidade 
tem tentado regular as diferenças e resolver conflitos desde os tempos dos gregos, mas 
o desafio se agrava à medida que as mudanças tecnológicas se tornam cada vez mais 
rápidas e onipresentes.
O fenômeno em questão possui uma dimensão atmosférica, ultrapassando a ideia de um 
simples instrumento que se pode optar por usar ou não. São tecnologias que condicionam 
as existências de maneira ubíqua, ao ponto de considerar que essas máquinas possam agir 
com “vontade própria” e questionar a ideia de controle completo sobre essas ferramentas.
Pergunta-se se é realmente possível abdicar desse paradigma e renunciar à busca por 
vantagens estratégicas. Na prática, parece que as influências externas moldam as ações de 
forma profunda e o poder de condicionamento resultante é extraordinário. Adicionalmente, 
há o fator da aceleração exponencial da capacidade de processamento, que gera a sensação 
constante de novidade e de urgência em entender uma inovação antes que outra a substitua. 
Como lidar com essa velocidade?
21
| Ubiquidade tecnológica
Não se pode agir como se existisse um “lado de fora” desse cenário. Todos estão 
imersos, e se há intenção de manter protagonismo e controle sobre o futuro, essa discussão 
deve partir de dentro, seja nas universidades, seja em centros de inovação. O fenômeno 
atual se manifesta em aspectos diversos da vida cotidiana: no sono, no ritmo de vida, nas 
interações sociais e na educação. A tecnologia tornou-se tão pervasivado Departamento 
de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito da USP (2019). É 
Mestre em Direito Ambiental e Ecologia Política, na área de concentração Direito, Estado 
e Sociedade, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (2015). É especialista em 
http://lattes.cnpq.br/3937647124092137
http://lattes.cnpq.br/7288675449844086
http://lattes.cnpq.br/1425168161713718
136
Direito Constitucional pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) (2010). É graduada em 
Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) (2009). É Coordenadora de Atividades 
Científicas da Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil (APRODAB). 
Foi Secretária-Geral (2017-2019) e Diretora de Comunicação (2020-2023) do Instituto O 
Direito por um Planeta Verde (IDPV). Desenvolve pesquisa na área de Direito Ambiental, 
Direito e Mudanças Climáticas, Espaços Protegidos, Pagamento por Serviços Ambientais, 
Inovações Sustentáveis e Direitos fundamentais.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1837664238865270
Nilda Oliveira
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, Professora Titular do Departamento 
de Humanidades do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA e membro do Laboratório 
de Cidadania e Tecnologias Sociais. Atua com foco nos estudos de Ciência, Tecnologia e 
Sociedade (CTS), História da Ciência e Tecnologia no Brasil e Ensino de Engenharia, com 
ênfase na Curricularização da Extensão. Atualmente, é Secretária Geral da Associação 
Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias – Esocite.BR.
CV: http://lattes.cnpq.br/4767741185493374
Sandra Rufino
Bolsista de Produtividade Desen. Tec. e Extensão Inovadora do CNPq. Atua há 31 anos 
no ensino superior. Professora da UFRN no Departamento de Engenharia de Produção 
(DEP/CT) na área de gerência da produção e no Programa Regional de Pós-Graduação 
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA). Professora no Programa de Pós-
Graduação de Tecnologia para o Desenvolvimento Social (NIDES/UFRJ). Formada em 
Tecnologia Civil (1994) pela FATEC/SP, possui mestrado e doutorado (1999, 2005) em 
Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/
USP), pós-doutorado em Tecnologias Sociais (2009) pela Université Catholique de Louvain 
(UCL) e pós-doutorado em Extensão Universitária e Engenharia Engajada (2022) pelo 
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). É membro: do Comitê Estadual de Investimentos 
e Negócios de Impacto Social (CENIS) do RN; do Laboratório de Cidadania e Tecnologia 
Social (LabCTS-ITA); da Rede de Professores do Instituto de Cidadania Empresarial 
(Academia ICE); da Rede de Engenharia Popular Osvaldo Sevá (REPOS). Integra a Associação 
Brasileira de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social (ABEPETS) e é também 
conselheira dos Engenheiros Sem Fronteiras – ESF Brasil e orientadora ESF Natal. Compõe 
o grupo de pesquisa interinstitucional (UFRJ/UFRN/ITA/UFOP) que estuda Engenharias 
Engajadas. Na Pesquisa e Extensão, atua nas áreas de Extensão Universitária e Engenharias 
http://lattes.cnpq.br/1837664238865270
http://lattes.cnpq.br/4767741185493374
137
Engajadas; Educação em Engenharia; Tecnologia e Inovação Social, Negócios de Impacto 
Socioambiental; Gestão da Produção e Pensamento Enxuto.
CV: http://lattes.cnpq.br/7918356337724287
Silvia Pimentel
Possui Graduação e Pós-Graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo (1970) e Pós-Graduação em Psicologia da Educação na mesma Universidade. Concluiu 
Doutorado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1977). Atualmente, 
é professora doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo onde ocupa o cargo 
de Coordenadora do Núcleo de Direito Constitucional da Pós-Graduação em Direito da 
PUC/SP e representante docente da Faculdade de Direito da PUC/São Paulo no CEPE – 
Conselho de Ensino e Pesquisa. Dentre as disciplinas que leciona: Introdução ao Estudo 
do Direito, Filosofia do Direito e a Optativa Direito, Gênero e Igualdade, a qual introduziu, 
em uma perspectiva interdisciplinar, no currículo das Optativas da Faculdade, desde 2015, 
sendo que está desde o segundo semestre de 2017 aberta a alunos de todas as Faculdades 
da PUC. Fundadora e membro do Comitê Latino-Americano e do Caribe Para a Defesa dos 
Direitos da Mulher (CLADEM-1987), e membro de seu Conselho Honorário Consultivo(desde 
2005), fundadora e membro do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução 
(CCR-desde 1992) e “Expert” (2005-2016) e em 2011/2012, Presidente do Comitê sobre 
a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, da Organização das Nações Unidas 
(CEDAW/ONU). É coordenadora do Grupo de Pesquisa de Direito, Discriminação de Gênero 
e Igualdade da PUC-SP. Integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP. Autora de 
vários livros, textos e artigos. Conferencista.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/6439432014660596
Solange Maria dos Santos
Professora credenciada do Departamento de Biblioteconomia e Ciência da Informação do 
PPGCI da Escola de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). 
Possui graduação, mestrado e doutorado em Ciências da Informação pela Universidade 
de São Paulo (USP). Desde 2002, é coordenadora de Produção editorial e publicação do 
Programa SciELO onde também é representante do Comitê Consultivo da Rede SciELO. 
É pesquisadora do grupo CiMetrias da Escola de Comunicações e Artes da Universidade 
de São Paulo e membro do Advisory Board Council do Directory of Open Access Journals 
(DOAJ).
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1490307259359399
http://lattes.cnpq.br/7918356337724287
http://lattes.cnpq.br/6439432014660596
http://lattes.cnpq.br/1490307259359399
138
Sueli Sampaio Damin Custódio
Professora de Direito, Inovação e Ética dos cursos de graduação e pós-graduação do Instituto 
Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Coordenadora do Programa de Mestrado Profissional em 
Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT/ITA). Chefe 
do Laboratório de Inovação do ITA (InovaLab). Desenvolve pesquisa na área de Inovação, 
Ética e Direitos Especiais, com atual interesse nos seguintes temas: Inovação, Propriedade 
Intelectual, Novas Tecnologias e seus impactos. Política e Direito Espacial.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9219753372630977
Tatiane Luciano Balliano
Possui graduação em Licenciatura em Química pela Universidade Federal de Alagoas 
(UFAL, 2005), mestrado em Química e Biotecnologia, área de concentração Físico-química 
(cristalografia de raios X) pela Universidade Federal de Alagoas (2006) e doutorado em 
Física Aplicada (Biomolecular) pela Universidade de São Paulo (2010), onde trabalhou 
com planejamento de inibidores da enzima GAPDH de T. cruzi. Atualmente, é professora 
adjunta IV na Universidade Federal de Alagoas no Instituto de Química e Biotecnologia e 
tem experiência em Cristalografia de Raios X (pequenas e macromoléculas e materiais 
policristalinos), Química de Produtos Naturais, desenvolvimento de produtos e materiais para 
aplicação em saúde humana e veterinária. Desenvolve projetos para obtenção de materiais 
relevantes na indústria de Química fina a partir de recursos naturais da biodiversidade 
brasileira e de Alagoas. Na área de gestão em ciência, tecnologia e inovação, desempenha 
atualmente a função de presidente da Comissão Acadêmica Nacional da rede PROFNIT. 
Desempenha atividades ligadas à propriedade intelectual, transferência de tecnologia e 
empreendedorismo inovador. É Coordenadora da sede do PROFNIT – UFAL.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/6891155976666166
Vera Maria Sabóia
Formada em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal Fluminense (1982), 
Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995) e Doutorado em 
Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999). Concluiu pós-doutoramento 
no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do 
Rio de Janeiro (2015). É professora Titular daDisciplina de Fundamentos de Enfermagem da 
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense desde 
2005. Possui conhecimentos na área de Saúde Coletiva, Promoção da Saúde, Educação 
em Saúde, Formação em Enfermagem, Metodologias Participativas de Ensino e Pesquisa. 
Docente permanente do Programa Acadêmico de Ciências e Cuidado em Saúde (mestrado, 
http://lattes.cnpq.br/9219753372630977
http://lattes.cnpq.br/6891155976666166
139
doutorado e Pós-doutorado). Líder do Núcleo de Estudos em Fundamentos de Enfermagem 
(NEFE). Membro pesquisador do International Collaboration Health Research (ICPHR), do 
Programa de Enfermería del Grupo Tordesillas e do Programa Doutoral do Grupo Tordesillas 
de Enfermeria. Representante da Universidade Federal Fluminense na Rede Iberoamericana 
de Universidades Promotoras da Saúde. Coordenadora da parceria entre a UFF e a Escola 
Superior de Saúde Norte da Cruz Vermelha Portuguesa (COIL-2023).
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2886146961212444
http://lattes.cnpq.br/2886146961212444
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	_heading=h.lnxbz9
	_heading=h.35nkun2
	_heading=h.1ksv4uvque a dependência 
e a interdependência com esses sistemas são realidades.
Essa ubiquidade tecnológica dissolve limites entre o real e o mediado por telas e interfaces. 
Cada inovação aumenta a dependência e reduz a sensação de controle. Assim, não cabe 
mais a postura de uma observação neutra ou distante. Cabe a todos — pesquisadores, 
legisladores e sociedade civil — buscar garantir que o desenvolvimento tecnológico respeite 
valores éticos fundamentais e preserve um mínimo de autonomia humana.
O uso constante de dispositivos móveis e a crescente dependência de tecnologias 
digitais têm levantado questões profundas sobre os impactos na atenção, na percepção 
espacial e temporal e nas interações sociais. Em grandes centros urbanos, como o Rio 
de Janeiro, observa-se com frequência pessoas caminhando distraídas com o celular, 
motociclistas e ciclistas navegando pelo trânsito enquanto olham para a tela, expondo-se 
a riscos. Esse fenômeno, abordado em um estudo de Roberto Siman sobre “Smartphone 
Zombies”, indica como a economia da atenção influencia o cotidiano e como se configura 
uma nova forma de percepção de espaço e tempo.
Outro ponto de preocupação é a imersão proporcionada pelos jogos eletrônicos, que 
criam um ambiente espacial não natural. Jogos populares, como Free Fire e Fortnite, 
estruturam-se em molduras retangulares onde o movimento do cenário predomina sobre 
o movimento do personagem, criando uma sensação assimétrica de espaço e tempo. Essa 
nova forma de experiência espacial, que exige análise crítica, afeta a maneira como se 
percebe a realidade. Embora seja uma questão moral, também se trata de como a tecnologia 
redefine a atenção e as interações.
Na educação, o uso de ferramentas digitais apresenta desafios adicionais. Durante 
a pandemia, as aulas remotas gravadas permitiam aos estudantes assistir ao conteúdo 
em velocidade aumentada, o que levanta questionamentos sobre o processamento da 
informação e o impacto na aprendizagem. Esse contexto reflete mudanças na discursividade 
e nos processos de absorção de conhecimento, adaptando-se a um ritmo acelerado, mas 
talvez em detrimento da profundidade de compreensão.
22
Esse crescimento acelerado trouxe à tona preocupações sobre a privacidade, a 
transparência e o uso ético da inteligência artificial. Grandes modelos de linguagem, como 
o GPT, possuem a capacidade de gerar texto de forma incrivelmente realista, o que levanta 
questões sobre a autenticidade e a autoria do conteúdo produzido. Em alguns casos, os 
usuários podem não distinguir entre o que foi escrito por um ser humano e o que foi gerado 
por uma máquina, criando desafios para a detecção de desinformação e a confiança nas 
informações disseminadas on-line. Esse cenário exige que desenvolvedores e legisladores 
considerem diretrizes que promovam a clareza e a responsabilidade na utilização desses 
sistemas.
Outro aspecto relevante é a questão do viés algorítmico. Assim como outros modelos de 
IA, os grandes modelos de linguagem são treinados em vastas quantidades de dados, que 
podem refletir preconceitos existentes na sociedade. Isso significa que, sem uma análise 
crítica e uma calibragem cuidadosa, esses sistemas podem reproduzir e até amplificar 
preconceitos de gênero, raça e outras desigualdades estruturais. Empresas e pesquisadores 
da área de IA têm buscado mecanismos para mitigar esses vieses, mas ainda há um 
longo caminho para garantir que a tecnologia seja desenvolvida de forma justa e inclusiva. 
Esse esforço depende de um trabalho colaborativo entre programadores, cientistas de 
dados, filósofos e representantes de minorias para revisar e melhorar continuamente esses 
sistemas.
| Automação, eficiência e produtividade 
A proliferação desses modelos também introduz desafios em termos de emprego 
e mercado de trabalho. Ferramentas como o GPT podem automatizar tarefas antes 
desempenhadas por humanos, gerando preocupações sobre o futuro de diversas profissões, 
especialmente em áreas de criação de conteúdo, atendimento ao cliente e análise de dados. 
Embora a automação ofereça o potencial de aumentar a eficiência e a produtividade, ela 
também demanda que trabalhadores e empresas se adaptem rapidamente às mudanças. 
Políticas públicas focadas em educação e requalificação profissional serão fundamentais 
para ajudar a força de trabalho a se adaptar ao cenário emergente e a desenvolver novas 
habilidades que complementem as capacidades da IA.
Finalmente, o impacto social e psicológico da interação com IA também é uma 
preocupação crescente. Com a presença cada vez maior desses modelos em aplicativos de 
bate-papo, assistentes virtuais e redes sociais, é essencial refletir sobre como essa interação 
pode influenciar nossa comunicação, nossos relacionamentos e até nossa percepção da 
23
realidade. Em uma sociedade cada vez mais digital, as interações mediadas por IA podem 
alterar a maneira como os indivíduos se conectam uns com os outros, afetando a empatia 
e o sentido de comunidade. Uma abordagem ética ao desenvolvimento e implementação 
desses sistemas deve, portanto, priorizar o bem-estar emocional e social das pessoas, 
buscando promover uma convivência tecnológica que fortaleça laços humanos em vez de 
enfraquecê-los.
O uso de ferramentas de inteligência artificial, como o Midjourney, que possibilita criar 
imagens hiper-realistas, e softwares de “deepfake” que alteram vozes e rostos em tempo 
real, desafiam a noção de autenticidade. Esses recursos já estão amplamente disponíveis e 
acessíveis, criando riscos significativos para a privacidade e a integridade das informações. 
A manipulação de imagens e áudios de forma tão acessível pode impactar a confiabilidade 
das informações e facilitar a disseminação de conteúdo falso.
A questão ética em torno dessas tecnologias é complexa, pois envolve a mediação entre 
os avanços tecnológicos e a preservação de valores fundamentais, como a integridade das 
narrativas e a privacidade individual. O uso excessivo e pouco regulado de inteligências 
artificiais coloca em evidência a necessidade de políticas de regulação e reflexão ética, 
especialmente em um ambiente onde os dados e as informações se transformam rapidamente.
Finalmente, no ambiente acadêmico, essas tecnologias apresentam dilemas sobre 
a originalidade e autenticidade do trabalho intelectual. A proliferação de ferramentas de 
inteligência artificial que auxiliam na produção de textos e artigos acadêmicos gerou 
preocupações com o uso ético desses recursos, levando a uma revisão mais rigorosa dos 
trabalhos. Em última análise, esses fenômenos indicam a importância de uma regulação 
que considere o impacto dessas inovações no ambiente educacional e social, preservando 
um mínimo de autonomia humana e ética.
A pesquisadora leu os 230 títulos ou foi uma ferramenta que localizou as palavras-
chave e gerou resumos que a auxiliaram a decidir se os incorporaria em sua tese? Existe 
uma mudança profunda na economia do conhecimento, mesmo em áreas consideradas 
“hardcore”. Hoje, as máquinas já programam muitas dessas atividades. No meu grupo 
interdisciplinar, por exemplo, temos especialistas em diversas áreas. Como filósofo, eu 
preciso do apoio de profissionais de Computação, Engenharia Elétrica, Direito e Neurociência 
para compreender o fenômeno em sua totalidade. Sem isso, há o risco de interpretações 
equivocadas.
Estamos estudando ferramentas de processamento de texto. Esta tecnologia ainda não 
é uma LLM (Large Language Model), mas um motor que identifica regularidades e organiza 
24
dados em gráficos, o que reduz significativamente o esforço de leitura de textos completos, 
promovendo o chamado “distant reading” em contraste com a leitura próxima (“close 
reading”). Precisamos analisar a qualidade do conhecimento gerado e refletir criticamente 
sobre ele.
Um exemplo interessante é o artigo de Emily Bender e outros, “On the Dangers of 
Stochastic Parrots: Can Language Models Be Too Big?”, que discute a ideia dos “papagaios 
estocásticos”.Muitos já tentaram entender como as LLMs funcionam e como elas, embora 
respondam de forma convincente, apenas mimetizam associações de palavras sem 
compreensão real. Essas LLMs podem se tornar tão complexas que, em algum ponto, é 
difícil distingui-las de seres conscientes, à luz de testes como o de Turing.
Trouxemos recentemente ao Brasil a pesquisadora Erin Glass, da Universidade de San 
Diego. Ela estudou como o processo de escrita mudou com a introdução dos computadores, 
inspirando-se em Paulo Freire para analisar o impacto nos novos pesquisadores norte-
americanos. Sua tese de doutorado, The Software of the Oppressed, investiga o aprendizado 
crítico em ambientes digitais.
| Tecnologias, realidade digital e opinião pública
Outro ponto importante são as normas éticas e regulatórias em tecnologia. A Associação 
de Computação propôs prioridades para a pesquisa que se alinham com os valores de 
equidade, confiabilidade, segurança, impacto social e responsabilidade. A legislação 
brasileira, como o Projeto de Lei nº 2338, busca regular o uso de IA e já adota alguns desses 
princípios, categorizando os riscos em diferentes níveis e estipulando responsabilidades 
proporcionais a cada um.
Estamos em um momento crucial, no qual o caráter (individual e coletivo) deve ser 
fortalecido para uma sociedade habitável. Ética, moral, direito e política precisam caminhar 
juntos para regular práticas que impactam o bem-estar coletivo.
Vamos analisar o conteúdo do artigo TR para explorar valores como justiça, equidade, 
inclusão, transparência, explicabilidade, inteligibilidade e auditabilidade. Embora esses 
princípios estejam bem estabelecidos, o problema parece residir menos em sua definição e 
mais em sua implementação prática. Existe um consenso na comunidade internacional de que 
uma sociedade sustentável, diante das novas tecnologias, precisa cultivar a transparência 
e os parâmetros de inclusão, justiça e equidade. No entanto, é fundamental refletir sobre 
algumas questões para concluir essa discussão e abrir espaço para o diálogo.
25
Primeiro, até que ponto esses princípios são realmente universais e imperativos? 
Como um princípio se concretiza, por exemplo, no Vale do Silício em comparação com 
uma comunidade religiosa ou um grupo de fãs? Supondo que haja um consenso mínimo 
sobre esses princípios, como podemos garantir que eles sejam acolhidos e aplicados de 
maneira uniforme? Como disseminamos esses valores, para que se tornem parte da vida 
de programadores, usuários iniciantes e avançados, crianças e idosos?
Será que apenas a legislação é suficiente para que esses valores sejam respeitados? 
A exemplo da Lei nº 2338, muitos de seus dispositivos já são considerados ultrapassados 
antes mesmo de sua implementação. Ela menciona o termo “educação” apenas duas vezes, 
o que demonstra uma lacuna significativa. É necessário investir em letramento digital desde 
cedo, preparando a população para interagir criticamente com a tecnologia, uma vez que 
essas crianças e jovens já fazem parte de uma nova realidade digital.
Um projeto que desenvolvo na Rocinha, por exemplo, tenta compreender como jovens 
da comunidade acessam e utilizam a internet, considerando suas limitações. Esses alunos 
estão imersos no universo digital, o que desafia o formato de atenção tradicional das 
escolas. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) fala sobre letramento digital, mas 
ainda há muito a ser feito para qualificar a opinião pública e desmistificar essas novas 
tecnologias.
Outro aspecto crucial é a inserção cultural desses valores. Isso requer a colaboração 
da mídia e de comunicadores para criar uma ponte entre a educação formal e a informal, 
garantindo que todos compreendam o impacto da tecnologia em suas vidas. Na PUC, 
estamos estudando formas de incorporar mecanismos reguladores nos próprios sistemas 
tecnológicos, como limitadores “by design”, que ajudem legisladores e educadores a 
promover esses valores éticos. Ética não se limita a um conjunto de princípios; envolve 
uma atenção aos hábitos, valores, normas e leis que estruturam a sociedade high-tech 
em que vivemos. Em termos filosóficos, trata-se de uma reflexão constante sobre o modo 
como estamos lidando com tudo isso. Como diria Aristóteles, precisamos da “phronesis”, 
ou seja, uma sabedoria prática que nos ajude a agir de maneira mais sensata e humana.
É importante notar que, para avançar nessas questões, é necessário promover um diálogo 
interdisciplinar e holístico, no qual engenheiros, cientistas, filósofos, juristas e educadores 
estejam envolvidos. No evento “Legal T”, por exemplo, conversei com um representante 
da Meta que afirmou que a empresa segue os melhores princípios de transparência e 
responsabilidade. No entanto, precisamos reconhecer as limitações e a complexidade 
dessas promessas e envolver ainda mais atores sociais no debate.
26
Na educação, por exemplo, as escolas enfrentam dilemas sobre o uso de celulares 
em sala de aula, uma questão que desafia até mesmo os princípios mais liberais. O uso 
excessivo de dispositivos inviabiliza a interação e a atenção dos alunos. Assim, algumas 
medidas restritivas temporárias podem ser necessárias, até que se reintroduza o uso de 
maneira mais consciente. Para enfrentar o problema, precisamos que todos os setores 
da sociedade — técnicos, desenvolvedores, filósofos, sociólogos, juristas, teólogos e a 
mídia — participem do diálogo. É hora de pararmos de fingir que essas questões possuem 
respostas simples e de reconhecer que precisamos de uma abordagem que una a legislação, 
a cultura e a educação para que possamos desenvolver uma regulação ética e viável para 
as novas tecnologias.
| Sociedade e engajamento multidisciplinar 
A discussão sobre a interação entre novas tecnologias e sociedade é complexa e 
requer um engajamento multidisciplinar profundo. Essa introdução busca contextualizar 
as problemáticas atuais e fomentar um diálogo crítico e colaborativo sobre os desafios 
que as inovações tecnológicas, como os grandes modelos de linguagem (Large Language 
Models – LLMs), representam para o tecido social e ético.
O interesse crescente nesses sistemas de inteligência artificial começou com o lançamento 
do GPT pela OpenAI, em 2022, uma tecnologia avançada que incorpora aprendizado 
por reforço e feedback humano, conquistando rapidamente milhões de usuários. Desde 
então, modelos como o GPT têm se expandido, abordando temas de diversas áreas do 
conhecimento, como literatura, matemática, engenharia e até questões mais subjetivas, como 
ética e religião. Esse avanço coloca uma questão central: será que estamos observando o 
surgimento de uma inteligência artificial geral (AGI), capaz de resolver problemas amplos 
e complexos e de se adaptar a contextos variados? Essa questão, longe de ser um debate 
restrito à ficção científica, é hoje uma preocupação tangível e imediata, que evoca o contexto 
histórico das décadas de 1940 e 1950, quando surgiram as primeiras preocupações sobre 
a hegemonia tecnológica e o poder de condicionamento da vida humana.
À medida que essas ferramentas avançam, questões éticas e estratégicas se intensificam, 
exigindo uma abordagem fundamentada para orientar políticas públicas e regulações que 
se adaptem ao contexto atual. Sem um entendimento mínimo sobre o funcionamento e 
o impacto dessas tecnologias, os debates sobre regulamentação correm o risco de ser 
meramente superficiais. Esse seminário, portanto, busca explorar as várias dimensões 
dessa discussão. A proposta é dividir a apresentação em três partes fundamentais: análise 
27
do estado da arte, no qual as questões tecnológicas e éticas serão discutidas sem recorrer 
a narrativas apocalípticas; uma reflexão sobre o dilema ético-regulatório; e, por fim, uma 
análise prática das questões mais relevantes para a sociedade.
A amplitude do impacto dessas tecnologias é evidente. Elas não são mais apenas 
instrumentos opcionais: tornaram-se parte integrante e onipresente do cotidiano, afetandodesde interações interpessoais até a maneira como compreendemos nossa própria identidade 
e o espaço ao nosso redor. Em grandes centros urbanos, observamos pessoas andando 
distraídas com seus celulares ou motociclistas utilizando dispositivos durante o trânsito, 
expondo-se a perigos. Esse fenômeno da “economia da atenção” nos faz questionar o 
quanto a tecnologia reconfigura a percepção do tempo e do espaço.
No campo da educação, o uso de ferramentas digitais durante a pandemia trouxe à tona 
desafios que vão além da sala de aula física. Estudantes que assistiam a aulas gravadas em 
velocidade acelerada, por exemplo, levantaram questionamentos sobre o impacto desse 
ritmo acelerado na absorção e profundidade do conhecimento. O ambiente acadêmico 
também foi transformado, com ferramentas de IA facilitando a produção de textos e artigos, 
o que gerou preocupações sobre a autenticidade e originalidade do trabalho intelectual.
A capacidade de gerar imagens, vídeos e áudios com alto grau de realismo tem 
implicações sérias para a sociedade, especialmente no que diz respeito à confiança pública. 
Ferramentas como o Midjourney e os “deepfakes” colocam em risco a credibilidade de 
registros audiovisuais, tradicionalmente vistos como provas fiáveis de eventos e declarações. 
Esse fenômeno desafia a habilidade das pessoas de distinguir entre o real e o fabricado, 
o que pode levar a uma crescente desconfiança em informações compartilhadas em 
redes sociais, na mídia e em processos judiciais. Em resposta, empresas de tecnologia e 
legisladores estão explorando métodos de verificação digital e mecanismos de autenticação, 
mas ainda há muito a ser feito para estabelecer padrões globais que garantam a integridade 
das mídias.
Outro aspecto preocupante é o impacto sobre a privacidade e o consentimento individual. 
Com a facilidade de manipulação digital, é possível criar representações de qualquer pessoa 
sem sua autorização, o que levanta questões sobre o direito à imagem e ao controle 
de sua identidade digital. A falta de regulamentação clara permite que esses conteúdos 
sejam usados de maneira prejudicial, como em casos de pornografia não consensual ou 
difamação, afetando gravemente a vida das pessoas envolvidas. Para enfrentar esses 
desafios, políticas que protejam os direitos das pessoas sobre sua própria imagem e voz 
tornam-se urgentes, exigindo que as plataformas digitais, os governos e as organizações 
civis colaborem na criação de mecanismos de proteção e denúncia eficazes.
28
| Dilemas, educação e bem-estar social
Além disso, a manipulação de conteúdo visual e sonoro contribui para a propagação de 
desinformação e pode ser usada como ferramenta de manipulação política. Em períodos 
eleitorais, por exemplo, o uso de deepfakes e outros tipos de conteúdo forjado pode distorcer 
declarações de candidatos, induzir eleitores ao erro e desestabilizar democracias. Em um 
contexto em que a informação digital circula rapidamente e com grande impacto, torna-se 
fundamental que os sistemas de IA contem com barreiras contra a criação de conteúdo 
enganoso. Iniciativas para aumentar a literacia digital e a conscientização da população 
sobre os riscos dessas tecnologias também desempenham um papel crucial na proteção 
contra manipulações.
Por fim, a questão da responsabilidade se destaca no uso de tecnologias de manipulação 
digital. Quando um conteúdo falsificado causa danos, torna-se difícil determinar a quem cabe 
a responsabilidade: ao desenvolvedor do software, ao usuário que manipulou o conteúdo, 
ou à plataforma que permitiu sua disseminação? Esse dilema expõe a necessidade de 
desenvolver um quadro ético e jurídico claro que defina os limites de uso e a responsabilidade 
de cada agente no ecossistema digital. Construir um futuro tecnológico mais ético e seguro 
exige uma postura proativa em relação à responsabilidade, envolvendo tanto empresas de 
tecnologia quanto governos e a sociedade civil para criar um ambiente em que a inovação 
sirva ao bem comum e respeite os direitos fundamentais de todos.
Esses desafios ressaltam a necessidade de uma regulamentação que considere não 
apenas a proteção de dados, mas também a integridade da informação e o bem-estar 
social. No entanto, cabe questionar se a legislação, por si só, é capaz de promover a adesão 
aos valores éticos necessários. A Lei Brasileira de IA (PL 2338) destaca alguns desses 
princípios, mas menciona “educação” apenas duas vezes, subestimando o papel crítico 
do letramento digital na formação de cidadãos preparados para a era digital.
Os dilemas que emergem não podem ser resolvidos apenas com respostas técnicas; 
exigem também uma abordagem cultural e educacional que prepare a sociedade para 
enfrentar os impactos de uma convivência cada vez mais próxima com sistemas autônomos 
e avançados. No Brasil, um exemplo dessa realidade pode ser observado em projetos 
educacionais em comunidades como a Rocinha, onde jovens imersos no universo digital 
desafiam os formatos educacionais tradicionais.
Nesse contexto, as escolas e as famílias precisam entender que o desenvolvimento 
de uma convivência saudável com a tecnologia deve começar desde cedo, promovendo a 
criação de limites e o incentivo ao pensamento crítico. É fundamental a construção de uma 
29
ética compartilhada que guie o desenvolvimento tecnológico em direção à transparência, 
inclusão e justiça.
Ao mesmo tempo, a sociedade precisa cultivar uma sabedoria prática, ou phronesis, 
como propôs Aristóteles, para que possamos desenvolver uma convivência sensata e 
consciente com essas inovações. Ética, direito e política precisam avançar juntos para 
enfrentar o impacto que o uso das novas tecnologias tem sobre o bem-estar individual e 
coletivo.
Portanto, estamos diante de um momento crucial em que o caráter, tanto individual 
quanto coletivo, deve ser fortalecido e moldado para que a sociedade possa coexistir 
com as tecnologias emergentes de maneira ética e sustentável. As discussões devem 
envolver engenheiros, cientistas, filósofos, juristas, educadores e a sociedade em geral 
para construir um caminho que garanta a segurança e a integridade da nossa convivência 
com a inteligência artificial e as tecnologias digitais.
Essa reflexão compartilhada visa criar um ambiente de colaboração, no qual o 
desenvolvimento tecnológico esteja sempre a serviço dos valores humanos e da autonomia. 
A partir dessa abordagem, poderemos criar políticas e práticas que protejam e valorizem 
a diversidade humana, promovendo um progresso que respeite as especificidades e 
necessidades de todos.
A convivência ética com a inteligência artificial (IA) é um desafio que exige a participação 
de toda a sociedade, incluindo escolas, famílias, desenvolvedores e formuladores de políticas. 
À medida que a IA se torna parte essencial de nosso cotidiano, torna-se crucial promover, 
desde cedo, uma relação consciente e crítica com essas tecnologias. Isso implica não 
apenas a criação de limites de uso, mas também o incentivo ao pensamento crítico, para 
que as gerações mais jovens desenvolvam habilidades que lhes permitam compreender 
e questionar os impactos da tecnologia em suas vidas.
Para orientar o desenvolvimento tecnológico de maneira ética e sustentável, é essencial 
construir uma ética compartilhada, baseada em valores como transparência, inclusão e 
justiça. Essa ética deve não apenas regulamentar o uso da IA, mas também guiar as práticas 
de design e implementação dessas tecnologias, assegurando que elas promovam o bem-
estar coletivo e individual. Em outras palavras, a IA deve servir aos valores humanos e à 
autonomia, e não o contrário.
30
| Uso responsável das tecnologias
Aristóteles introduziu o conceito de phronesis, ou sabedoria prática, como uma virtude 
essencial para a convivência sensata e consciente com inovações e desafios. Hoje, mais 
do que nunca, precisamos dessa sabedoria para lidar com os impactos das tecnologias 
emergentes. Ética, direito e política devem caminhar juntos,promovendo uma regulação 
que respeite as necessidades e especificidades humanas, protegendo a integridade de 
nossa convivência com a IA e outras tecnologias digitais.
Nesse contexto, estamos em um momento crítico: o fortalecimento do caráter individual 
e coletivo é necessário para que possamos navegar as mudanças com responsabilidade 
e resiliência. As discussões sobre ética em IA precisam envolver engenheiros, cientistas, 
filósofos, juristas, educadores e o público em geral, numa perspectiva interdisciplinar e 
colaborativa, para que possamos construir uma convivência que equilibre progresso e 
responsabilidade. Esse diálogo colaborativo não apenas promoverá a segurança, mas 
também valorizará a diversidade humana, garantindo que o avanço tecnológico respeite 
e atenda às necessidades de todos.
A construção de políticas e práticas éticas na IA é um caminho para um futuro em que a 
tecnologia esteja verdadeiramente a serviço da humanidade. Por meio de uma abordagem 
ética e inclusiva, podemos desenvolver uma relação com a tecnologia que valorize a 
diversidade, proteja a autonomia e promova um progresso que beneficie e respeite cada 
indivíduo e a sociedade como um todo.
O crescente uso da inteligência artificial (IA) e outras tecnologias digitais tem gerado 
um impacto profundo na sociedade, alterando desde as formas de comunicação até as 
estruturas de poder político e social. Nesse cenário, a questão da ética no desenvolvimento 
e na aplicação dessas tecnologias se torna central. À medida que ferramentas como 
deepfakes, manipulação de conteúdo visual e áudio, e algoritmos de recomendação se 
tornam mais acessíveis e sofisticadas, as implicações para a privacidade, a veracidade das 
informações e a segurança das democracias são alarmantes. Em particular, a capacidade 
de criar conteúdos falsificados ou manipulados de forma tão realista coloca em risco a 
confiança pública, especialmente em momentos críticos como períodos eleitorais, nos quais 
a desinformação pode influenciar resultados e desestabilizar instituições democráticas.
Porém, o impacto dessas tecnologias não se limita à esfera política. As questões 
éticas relacionadas à manipulação de conteúdo também envolvem os direitos individuais, 
como o direito à privacidade e à própria imagem. A facilidade com que é possível criar 
representações de uma pessoa sem seu consentimento levanta preocupações sobre abusos, 
31
como a difamação ou a exploração indevida da imagem pessoal. O uso irresponsável dessas 
tecnologias pode resultar em danos irreparáveis às vítimas, especialmente em um mundo 
onde a informação se espalha rapidamente e pode ser consumida sem a devida verificação 
de sua autenticidade. Para enfrentar essas ameaças, é urgente que governos, empresas 
de tecnologia e organizações civis desenvolvam políticas públicas robustas que protejam 
os indivíduos contra o uso indevido de suas imagens e dados pessoais, e que promovam 
um uso ético e transparente dessas tecnologias.
Outro ponto crucial é o papel da educação e do letramento digital na formação de 
uma sociedade capaz de lidar de forma ética com as tecnologias emergentes. Não basta 
que as leis existam; é necessário que a população esteja preparada para compreender os 
impactos dessas tecnologias no cotidiano. A Lei Brasileira de IA, por exemplo, já se preocupa 
com a regulamentação dessas tecnologias, mas ainda precisa avançar na inclusão de 
temas como educação digital. A conscientização e o treinamento contínuo, principalmente 
entre jovens e comunidades mais vulneráveis, são fundamentais para que os cidadãos 
se tornem participantes críticos e informados no uso das novas tecnologias. No Brasil, 
iniciativas educacionais como aquelas observadas na Rocinha, onde jovens são introduzidos 
ao universo digital de forma participativa e crítica, podem servir como modelos para a 
construção de uma sociedade mais engajada e preparada para o futuro digital.
É imprescindível que esse processo de conscientização e regulamentação envolva 
todos os setores da sociedade. Engenheiros, cientistas, filósofos, educadores, juristas e 
a população em geral devem trabalhar juntos para criar um consenso ético que oriente o 
desenvolvimento da IA de maneira inclusiva, justa e sustentável. A criação de uma ética 
compartilhada não deve se limitar ao âmbito da legislação, mas também englobar práticas 
sociais e culturais que incentivem a transparência, a inclusão e a justiça. A tecnologia deve 
ser um meio para promover o bem-estar coletivo, sem prejudicar os direitos individuais. 
Nesse sentido, Aristóteles, com seu conceito de phronesis ou sabedoria prática, oferece 
uma perspectiva fundamental para que possamos equilibrar as inovações tecnológicas com 
os valores humanos, agindo com sensatez e responsabilidade diante dos novos desafios 
que surgem.
Assim, o futuro das tecnologias emergentes e da inteligência artificial depende da 
capacidade da sociedade de criar e adotar uma abordagem ética e colaborativa. Precisamos 
entender que a inovação tecnológica, quando não acompanhada de uma reflexão ética 
profunda, pode gerar mais problemas do que soluções. Portanto, é vital que continuemos 
a promover o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, incentivando a criação de 
políticas públicas, práticas empresariais e comportamentos sociais que respeitem os direitos 
32
humanos e promovam o bem-estar coletivo. Apenas dessa forma, poderemos garantir que 
as tecnologias emergentes realmente sirvam à humanidade, respeitando as necessidades 
e os direitos de todos os indivíduos e promovendo um progresso verdadeiramente inclusivo 
e sustentável.
| Perguntas do público ao Prof. Edgar Lyra
Pergunta
Na filosofia, há uma resistência inicial à ideia de regulamentação. Por que, então, você 
passou a defender a regulamentação da Inteligência Artificial (IA)?
Resposta
Inicialmente, minha perspectiva era de que a IA deveria se autorregulamentar, sem a 
necessidade de normas externas. Porém, ao me aprofundar em estudos e artigos sobre o 
tema, percebi que o próprio desenvolvimento da IA exige um acompanhamento regulatório. 
É impossível imaginar a evolução dessa tecnologia sem um marco regulatório que a 
acompanhe, dada sua complexidade e impacto.
Por exemplo, temos carros autônomos já em operação em alguns países, e um dos 
grandes desafios é a questão da responsabilidade moral e ética. As máquinas não possuem 
inteligência natural, mas sim uma inteligência artificial, criada por humanos e carregada 
com valores, vieses e princípios das pessoas que a programam. Esses vieses podem ser 
racistas, religiosos ou outros, e já vimos casos concretos disso.
Um exemplo foi o incidente no Google, onde uma busca pelo termo “macaco” retornava 
imagens de pessoas negras. Mais recentemente, um homem foi identificado erroneamente 
como criminoso por uma IA durante um jogo de futebol. Esses exemplos evidenciam a 
necessidade de uma regulamentação que impeça vieses prejudiciais.
Sem regulamentação, corremos o risco de chegarmos a extremos, como carros 
autônomos que tomam decisões enviesadas ou tecnologias militares que atacam alvos 
indevidamente. Assim, defendo que o desenvolvimento da IA esteja necessariamente 
acompanhado de regulamentações claras e éticas.
Pergunta
Como você vê o papel de outras áreas do conhecimento nesse debate sobre 
regulamentação da IA?
33
Resposta
A regulamentação da IA não pode ser tratada de forma isolada ou puramente técnica. 
É essencial envolver diversas áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia, direito, 
psicologia, e até mesmo teologia. Essa abordagem interdisciplinar enriquece o debate e 
evita soluções unilaterais e ineficazes.
Tive a oportunidade de participar de debates com representantes de grandes empresas, 
como a Meta. Embora o discurso seja muitas vezes de que estão alinhados com transparência 
e responsabilidade, há uma desconexão entre a narrativa apresentada e a realidade dos 
impactos da IA. Por isso, é crucial trazer mais pessoas para essaconversa.
Além disso, precisamos repensar nossos próprios paradigmas. Às vezes, medidas mais 
rígidas são necessárias para controlar o uso inadequado da tecnologia e abrir espaço para 
reflexões mais profundas. Um exemplo simples: em escolas construtivistas, a proibição 
temporária de celulares foi necessária para recuperar o ambiente de aprendizagem.
Pergunta
A regulamentação é importante, mas como lidar com externalidades, como a exploração 
de trabalhadores que treinam IA ou os impactos ambientais das tecnologias?
Resposta
As externalidades são um aspecto essencial nesse debate. Muitas vezes, focamos nos 
problemas mais visíveis da IA, como vieses e decisões erradas, mas ignoramos questões 
estruturais, como a exploração de trabalhadores terceirizados que etiquetam dados para 
treinar modelos de IA. Empresas contratam mão de obra barata de países como Namíbia e 
Zâmbia para identificar conteúdos problemáticos. Esses trabalhadores são invisíveis, mas 
essenciais para o funcionamento das IAs modernas.
Outro ponto crítico é o impacto ambiental. A energia necessária para treinar modelos 
de IA, como o GPT, é imensa, e precisamos questionar se estamos priorizando as coisas 
certas em meio a uma crise climática global. A regulamentação deve considerar não apenas 
o uso da IA, mas também as condições em que essas tecnologias são produzidas.
Pergunta
Como você enxerga a influência econômica e política sobre a regulamentação da IA?
Resposta
A economia e a política têm papel central nesse processo. As grandes corporações 
de tecnologia, as chamadas “Big Techs”, possuem recursos e influência desproporcionais, 
34
moldando o desenvolvimento e a regulamentação da IA em benefício próprio. Por outro 
lado, os Estados enfrentam o desafio de equilibrar interesses econômicos e a proteção da 
população.
A disputa entre esses dois lados define o terreno da regulamentação. Enquanto os Estados 
buscam proteger direitos e estabelecer normas coletivas, as corporações frequentemente 
priorizam lucratividade e competitividade. Por isso, a regulamentação da IA precisa ser 
pensada considerando as dinâmicas de poder e os interesses econômicos que influenciam 
tanto o desenvolvimento quanto o uso dessas tecnologias.
| Referências
ASSOCIAÇÃO DE COMPUTAÇÃO. Proposta de prioridades de pesquisa alinhadas com 
equidade, confiabilidade, segurança, impacto social e responsabilidade. Disponível em: 
https://acm.org/research-priorities. Acesso em: 19 nov. 2024.
BENDER, E. et al. On the dangers of stochastic parrots: can language models be 
too big? Proceedings of the 2021 ACM Conference on Fairness, Accountability, 
and Transparency (FAccT). New York: ACM, 2021. Disponível em: https://doi.
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BRASIL. Projeto de Lei nº 2338, de 2023. Regulamentação do uso de inteligência 
artificial no Brasil. Disponível em: https://www.camara.leg.br/projetos/2338. Acesso em: 
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GLASS, E. The software of the oppressed. 2021. Tese (Doutorado em Educação) – 
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SIMAN, R. Estudo sobre “Smartphone Zombies”. Disponível em: https://exemplo.com/
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https://doi.org/10.1145/3442188.3445922
https://doi.org/10.1145/3442188.3445922
https://www.camara.leg.br/projetos/2338
https://exemplo.com/smartphonezombies
https://exemplo.com/smartphonezombies
3. Desafios da gestão 
editorial no contexto 
da Ciência Aberta 
Solange Maria dos Santos10
doi.org/10.5281/zenodo.15198104
10 Doutora em Ciências da Informação pela Universidade de São Paulo. Coordenadora 
de Produção editorial e publicação do Programa SciELO. Professora credenciada 
do Departamento de Biblioteconomia e Ciência da Informação do PPGCI da Escola 
de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). 
https://doi.org/10.5281/zenodo.15198104
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Resumo: A palestra abordou os princípios que norteiam a Ciência Aberta, principalmente no 
que se refere aos periódicos científicos e aos desafios da gestão editorial, com destaque 
para práticas editoriais abertas que englobam: preprints, dados abertos, artigo de dados, 
periódicos de dados, além da adoção progressiva de formas mais transparentes da avaliação 
por pares.
Palavras-chave: Ciência Aberta; Preprints; Dados abertos; Revisão por pares aberta.
A Ciência Aberta (open science) é frequentemente apresentada como um termo “guarda-
chuva” que engloba um conjunto de práticas e princípios que visam tornar a pesquisa mais 
transparente, acessível e colaborativa. 
A UNESCO (2022) define a Ciência Aberta como:
[...] um construto inclusivo que combina vários movimentos e práticas com o 
objetivo de tornar o conhecimento científico multilíngue disponível abertamente, 
acessível e reutilizável para todos, para aumentar as colaborações científicas e o 
compartilhamento de informações para os benefícios da ciência e da sociedade, 
e para abrir os processos de criação de conhecimento científico, avaliação e 
comunicação aos atores sociais além da comunidade científica tradicional.
Fundamentada em valores como qualidade, integridade, equidade e benefício coletivo, 
justiça e diversidade, a Ciência Aberta reconfigura a produção e disseminação do 
conhecimento, incentivando a participação de diversos atores no processo científico e 
promovendo a comunicação científica transparente. Esses valores permeiam não apenas 
o ato de publicar, mas todo o ciclo de pesquisa – desde a concepção até a disseminação 
dos resultados. Assim, embora não seja um conceito novo, a Ciência Aberta é um fenômeno 
disruptivo que propõe mudanças significativas na forma de produção, organização e 
disseminação do conhecimento científico, visando que ele possa ser reutilizado de forma 
colaborativa, sustentável, democrática, livre, transparente e ética. 
| Transformações na produção e gestão editorial dos 
periódicos
O movimento em favor da Ciência Aberta ganhou força principalmente a partir de 
2013, quando a Comissão Europeia, alinhada a seus princípios, definiu diretrizes para o 
financiamento e a divulgação dos resultados de projetos de pesquisa. Desde então, tem 
se espalhado rapidamente, conquistando apoio global (European Comission, 2015). 
37
A ascensão da Ciência Aberta demanda uma reestruturação dos modelos tradicionais 
de publicação científica, impactando diretamente o ambiente de edição e gestão dos 
periódicos científicos. Packer e Santos (2019b) destacam que essa mudança desafia os 
modelos de negócio existentes, exigindo novas formas de financiamento e plataformas de 
publicação mais eficientes e transparentes, dentre elas:
• A disponibilização em repositórios de acesso aberto dos dados, métodos de análise 
e códigos de programas e demais materiais utilizados na pesquisa, assim como 
dos resultados obtidos a fim de viabilizar a preservação, a reprodutibilidade e a 
reusabilidade dos dados. A disponibilização dos artigos científicos deve ser realizada 
sem barreiras financeiras para a publicação e leitura;
• Maior rapidez na comunicação dos artigos como fator chave no avanço do 
conhecimento científico, mediante a adoção de preprints antes da avaliação por 
pares e publicação de artigos em fluxo contínuo;
• Transparência e abertura progressiva nos processos de avaliação de manuscritos 
por pares envolvendo relações e interações entre autores, editores e pareceristas. 
(Packer; Santos, 2019a).
A gestão editorial também precisa se adaptar para lidar com os novos tipos de objetos 
digitais de comunicação das pesquisas (outputs), como dados, softwares e códigos-
fonte. Como exemplo é válido destacar o crescimento do fenômeno dos data journals, 
especializados em publicar artigos de dados (data papers), que descrevem e contextualizam 
conjuntos de dados para ampliar sua reutilização, e refletem essa mudança nas práticas 
editoriais. Seu surgimento se deu em razão do crescente protagonismo dos dados de 
pesquisa passando a ser valorizados como ativos de pesquisa

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