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Antidepressivos Aula 13 - Antidepressivos - Conceitos (Parte I) Esta parte introduz os conceitos fundamentais de humor, transtornos de humor e depressão, além de explorar a teoria monoaminérgica e as bases do tratamento antidepressivo. ● Definição de Humor e Transtorno de Humor ○ Humor pode ser definido como uma emoção pervasiva e mantida que "dá colorido" às percepções do mundo. É a somatória de todas as emoções e sentimentos presentes na consciência de um indivíduo em um determinado momento, ou o estado de exposição básica, difusa e prolongada da afetividade. ○ Transtorno de Humor são condições clínicas onde há uma perturbação do humor, podendo ser do tipo depressão ou mania. ● Classificação dos Transtornos de Humor ○ Transtorno Depressivo (maior e distímico) ○ Transtorno Bipolar (tipo 1 ou mania plena, tipo 2 ou hipomania) ○ Transtorno Ciclotímico ○ No transtorno bipolar tipo 1, há mania plena e estados depressivos plenos. No tipo 2 (hipomania), a intensidade da mania e da depressão é menor. Na depressão, há apenas estados de humor negativo. Na distimia, os níveis depressivos são menores, mas mais prolongados, presentes na maior parte do tempo. ● Etiologia da Depressão (Causas) A depressão é multifatorial, com vários fatores contribuindo para seu desenvolvimento. ○ Fatores Psicológicos: Incapacidade de lidar com o estresse, abuso/negligência na infância, traumas de infância, ausência da figura materna, perdas (emprego, entes queridos, separações). ○ Fatores Ambientais: Uso de substâncias psicoativas, alteração de ritmos biológicos, estilo de vida errático, eventos adversos precoces (como a morte de alguém). ○ Fatores Biológicos: Alteração no sistema límbico, desequilíbrio das aminas biogênicas, alterações endócrinas (hormonais), anormalidades do sono (insônia/hipersonia), alterações de ritmos circadianos. ○ Fatores Genéticos: Herança genética pode ser um fator importante. ● Transtorno Depressivo Maior ○ Caracteriza-se por humor deprimido (abaixo do humor normal) ou perda de interesse em praticamente todas as atividades, por pelo menos duas semanas. ○ Além disso, é acompanhado por pelo menos quatro dos seguintes sintomas: ■ Insônia ou hipersonia ■ Sentimento de desvalorização ou excesso de culpa ■ Fadiga ou falta de energia ■ Redução da capacidade de pensar ou se concentrar ■ Alteração significativa no apetite ou peso (ganho ou perda) ■ Retardo ou agitação psicomotora ■ Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio ● Subdiagnóstico e Subtratamento da Depressão ○ A depressão é frequentemente subdiagnosticada e, consequentemente, subtratada, o que é um problema sério. ○ A falta de tratamento adequado aumenta drasticamente a chance de recorrências: quem enfrenta uma primeira manifestação tem 50% de chance de uma segunda; uma segunda tem 70% de chance de uma terceira; uma terceira tem 80% de chance de uma quarta; e uma quarta tem 90% de chance de uma quinta. O diagnóstico e tratamento precoces são cruciais. ● Teoria Monoaminérgica da Depressão ○ As emoções são controladas por neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina. Reduções na produção desses neurotransmissores são associadas a estados depressivos. ○ A teoria surgiu da observação de fármacos que, apesar de não serem antidepressivos, afetavam o humor: ■ Imipramina: Um antipsicótico que bloqueia o transportador de serotonina, aumentando seu tempo de ação na fenda sináptica e melhorando a depressão. ■ Iproniazida: Um antituberculoso que inibe a monoamina oxidase (MAO), degradando serotonina, dopamina e noradrenalina, o que também melhorava a depressão. ■ Reserpina: Um anti-hipertensivo que impede o armazenamento e liberação de noradrenalina, diminuindo seus níveis e induzindo depressão. ○ Isso levou à conclusão de que o déficit de noradrenalina e serotonina está envolvido nos estados depressivos, enquanto o excesso está envolvido nos estados de mania. ○ Funções dos Neurotransmissores: ■ Noradrenalina: Atenção, motivação, prazer e recompensa. Sua diminuição leva à falta de concentração e motivação. ■ Dopamina: Estado de alerta, concentração, estado obsessivo-compulsivo. ■ Serotonina: Regulação do humor, cognição, função endócrina, percepção da dor, regulação visceral e controle motor. ● Metabolismo dos Neurotransmissores ○ Serotonina: Formada a partir do triptofano, armazenada em vesículas e liberada na fenda sináptica. Pode ser recapturada por transportadores (SERT) ou degradada pela MAO. ○ Noradrenalina/Dopamina: Formadas a partir da tirosina (tirosina -> L-Dopa -> Dopamina; Dopamina -> Noradrenalina). Armazenadas e liberadas. Podem ser recapturadas por transportadores (NET para noradrenalina) ou degradadas pela MAO. ○ Receptores Pós-Sinápticos: ■ Noradrenalina: Receptores alfa-1 (excitatórios, ativam fosfolipases), beta-1/beta-2 (excitatórios, ativam adenilil ciclase), e alfa-2 (inibitórios, inibem adenilil ciclase, geralmente pré-sinápticos). ■ Serotonina: Diversos tipos (5HT1-7) com ações inibitórias ou excitatórias, e diferentes localizações envolvidas com emoções, sono, ansiedade, funções sexuais e centro do vômito. ● Transtorno Bipolar: Mania ou Hipomania ○ Caracterizado por otimismo exagerado, impulsividade, aumento acentuado de energia e atividades cerebrais, aceleração do pensamento, pensamentos de grandiosidade, distração, insônia, aumento do discurso e ações impulsivas. ● Evolução do Tratamento Antidepressivo ○ Início na década de 1950 com a Imipramina (primeiro antidepressivo clínico). ○ Inicialmente, fármacos de amplo espectro (múltiplas ações). ○ Década de 1980: Surgimento de agentes mais seletivos (agem em uma única via/neurotransmissor), como fluoxetina, sertralina, paroxetina. ○ Década de 1990: Novos agentes que afetam múltiplos sistemas monoaminérgicos, mas com maior seletividade para receptores específicos. ● Conceitos do Tratamento Antidepressivo ○ Resposta: Melhora de pelo menos 50% dos sintomas. ○ Remissão: Restauração completa do humor ao normal por 4-9 meses. ○ Recuperação: Humor restaurado por mais de um ano. ○ Recaída: Retorno da depressão em 4-9 meses após a restauração do humor. ○ Recorrência: Retorno da depressão após mais de um ano da restauração do humor. ○ Cerca de 67% dos pacientes respondem ao tratamento, e 90% dos que continuam têm recuperação completa. ● Defasagem Temporal dos Efeitos Terapêuticos ○ Existe um intervalo de tempo (3 a 4 semanas) entre o início do tratamento e a remissão dos sintomas. ○ Isso ocorre devido à adaptação metabólica do neurônio: inicialmente, a redução de neurotransmissores leva a um aumento de receptores (hipersensibilidade); o aumento dos neurotransmissores pelo fármaco não é suficiente para sensibilizar o excesso de receptores. Após 3-4 semanas, o neurônio volta a produzir uma quantidade normal de receptores, e os efeitos terapêuticos surgem. Aula 13 - Antidepressivos - IMAO (Parte II) Esta parte foca nos inibidores da monoamina oxidase, sua ação, tipos, efeitos adversos e interações importantes. ● Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO) ○ São uma classe de antidepressivos que inibem a enzima monoamina oxidase (MAO), responsável pela degradação das aminas biogênicas. ○ Podem inibir a MAO de forma irreversível (antigos) ou reversível (mais recentes). ○ Existem duas isoformas da MAO: ■ MAO-A: Preferência pela degradação de serotonina (também noradrenalina e dopamina). Encontrada no tecido nervoso (SNC), fígado, trato gastrointestinal e placenta. Os inibidores da MAO-A são os mais eficazes no controle da depressão, mas causam mais reações adversas. ■ MAO-B: Metaboliza principalmente feniletilamina (também dopamina). Encontrada principalmente no SNC e plaquetas. ○ Representantes Principais: ■ Não seletivos (MAO-A e MAO-B), irreversíveis e de longa duração: Fenelzina, Isocarboxazida, Tranilcipromina. ■ Seletivos para MAO-A, reversíveis e de curta duração: Moclobemida.■ Seletivos para MAO-B, reversíveis: Selegilina (usado na doença de Parkinson). ○ Mecanismo e Consequências: Ao inibir a MAO, impedem a degradação das aminas biogênicas (dopamina, noradrenalina, serotonina), que se acumulam nas vesículas sinápticas e são liberadas em maior quantidade na fenda, prolongando sua ação e propagando o impulso nervoso. Isso pode levar a euforia e excitação, resolvendo os sintomas da depressão. ● Reações Adversas (IMAO) ○ Tremor, excitação, insônia, hiperidrose (aumento da secreção de suor). ○ Agitação, comportamento hipomaníaco (IMAO não devem ser usados exclusivamente em bipolares, pois podem aumentar a mania). ○ Alucinações, confusão mental, convulsões. ○ Neuropatia periférica (principalmente com hidrazinas), lesão hepática (compostos hidrazínicos). ○ Ganho de peso (associado ao aumento do apetite), tonturas, vertigens, fala, inibição da ejaculação, fraqueza, fadiga, boca seca, visão turva, retenção urinária, rash cutâneo, constipação. ● Interações Medicamentosas Críticas (IMAO) ○ Alimentos Ricos em Tiramina (Reação do Queijo): A tiramina (presente em queijos, vinhos tintos, cervejas, alimentos fermentados) é uma amina pressora metabolizada pela MAO-A no intestino. Quando a MAO-A está inibida pelos IMAO, a tiramina não é degradada, cai na corrente sanguínea, é captada por neurônios noradrenérgicos, aumentando a liberação de noradrenalina. Isso causa uma crise hipertensiva (aumento súbito da pressão arterial, com aumento da frequência e força de contração cardíaca, e vasoconstrição). ○ Outros Antidepressivos: ■ Com Antidepressivos Tricíclicos (ADTs): Potencializa os efeitos. ■ Com Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Causa a Síndrome da Serotonina, uma condição perigosa e fatal, devido ao aumento excessivo dos níveis de serotonina na fenda sináptica. Sintomas incluem hipertermia, aumento do tônus muscular (rigidez), e colapso cardiovascular. ○ Outros Fármacos: ■ Levodopa: Precursor de aminas biogênicas, pode levar a um aumento excessivo de neurotransmissores. ■ Agentes Depressores Centrais: Anestésicos gerais, sedativos, anti-histamínicos, álcool, analgésicos potentes. Os IMAO, ao aumentar a excitabilidade neuronal, diminuem os efeitos desses depressores. ■ Agentes Anticolinérgicos: Potencialização dos efeitos. ■ Aminas Simpatomiméticas de ação direta: Efedrina, anfetamina, pseudoefedrina. Potencializam os efeitos dos IMAO. Aula 13 - Antidepressivos - ADT (Parte III) Esta parte aborda os antidepressivos tricíclicos, seus mecanismos, representantes, efeitos adversos e usos além da depressão. ● Antidepressivos Tricíclicos (ADTs) ○ Nome se deve à sua estrutura com três anéis (dois aromáticos e um com heteroátomo de nitrogênio). ○ Mecanismo de Ação: Principalmente inibem a recaptação de serotonina e noradrenalina da fenda sináptica, através de transportadores de membrana. Isso potencializa a neurotransmissão serotoninérgica e noradrenérgica, aumentando os níveis desses neurotransmissores na fenda sináptica. ○ Indicações: Principalmente para depressões graves ou depressões resistentes. ○ Representantes: Imipramina, Desipramina, Amitriptilina, Nortriptilina, Clomipramina. ● Seletividade dos ADTs: ○ Não seletivos: Inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina. Exemplos: Imipramina, Amitriptilina, Clomipramina. ○ Seletivos: Inibem apenas a recaptação de noradrenalina. Exemplos: Desipramina, Nortriptilina. ○ Quanto menos seletivo, maior a chance de causar reações adversas. ● Efeitos Indesejáveis (Reações Adversas) dos ADTs Devido à sua falta de seletividade, os ADTs também se ligam a outros receptores, causando efeitos indesejáveis. ○ Antagonismo de Receptores Histaminérgicos H1: Aumento do peso corporal e sonolência. ○ Antagonismo de Receptores Alfa-1 Adrenérgicos: Tontura, hipotensão (principalmente ortostática) e sonolência. ○ Antagonismo de Receptores Colinérgicos (Muscarínicos) M1: Constipação, visão turva, boca seca e sonolência (bloqueio do sistema nervoso parassimpático). ○ Outros Efeitos Adversos Comuns: ■ Ganho de Peso: Amitriptilina, Clomipramina, Doxepina, Imipramina, Trimipramina. ■ Convulsões: Clomipramina, Maprotilina. ■ Sedação: Amitriptilina, Doxepina, Trimipramina. ■ Efeitos Anticolinérgicos: Imipramina, Clomipramina, Trimipramina. ■ Hipotensão: Amitriptilina. ■ Efeitos Cardíacos: Amitriptilina, Clomipramina, Doxepina, Imipramina, Trimipramina, Protriptilina. ■ Efeitos Sexuais: Clomipramina. ○ Amitriptilina e Clomipramina, sendo não seletivos, apresentam a maior parte dos efeitos adversos da classe. A Nortriptilina, sendo mais seletiva, tem um potencial menor para causar esses efeitos. ● Usos Não Antidepressivos (Off-Label) dos ADTs ○ Podem ser usados para: ansiedade, pânico, bulimia, cataplexia, narcolepsia (excesso de sono), enurese (dificuldade de eliminação da urina), enxaqueca, náuseas (quimioterapia), neuralgia e úlcera. ○ A Amitriptilina é o principal ADT com esses usos, sendo utilizada para úlcera péptica, neuralgia, enxaqueca, enurese e bulimia. Aula 13 - Antidepressivos - ISRS (Parte IV) Esta parte discute os inibidores seletivos da recaptação de monoaminas, incluindo os ISRS, ISRSN e antidepressivos atípicos, comparando-os e detalhando seus mecanismos e efeitos. ● Inibidores Seletivos da Recaptação de Noradrenalina ○ Exemplos: Desipramina (o mais potente para inibir a recaptação de noradrenalina). ● Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) ○ Indicações: Depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), ansiedade, distúrbios alimentares, fobias sociais, síndrome do pânico e ejaculação precoce. ○ Vantagens em Relação aos ADTs: Apresentam dose tóxica muito mais alta (mais seguros), menos efeitos colaterais e maior seletividade (inibem a recaptação apenas de serotonina). ○ Tempo para Efeitos Relevantes: Os efeitos só começam a ser relevantes a partir de duas a quatro semanas, devido a alterações no número e na sensibilidade dos transportadores de serotonina. ○ Representantes: Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Citalopram e Sertralina. ○ Mecanismo de Ação: Inibem apenas a recaptação de serotonina, levando ao acúmulo desse neurotransmissor na fenda sináptica por mais tempo. Não interferem na recaptação de noradrenalina, o que resulta em menos efeitos adversos. Os efeitos antidepressivos se dão pelo aumento da serotonina no córtex cerebral, agindo em receptores 5HT1. ● Reações Adversas dos ISRS Ocorrem devido ao aumento da serotonina em outras regiões ou receptores que não os 5HT1a no córtex. ○ Aumento da Ansiedade: Relacionado ao aumento da serotonina no hipocampo e área límbica, ativando receptores 5HT2. ○ Despertar Noturno e Sonolência Diurna: Aumento da serotonina no centro do sono, ativando receptores 5HT2. ○ Agitação e Ação Motora: Aumento da serotonina nos gânglios da base, ativando receptores 5HT2. ○ Disfunção Sexual (Retardo do Orgasmo e Ejaculação): Aumento da serotonina na medula espinhal, ativando receptores 5HT2. ○ Perda de Apetite, Náuseas e Vômitos: Aumento da serotonina no centro do vômito, ativando receptores 5HT3. ○ Os principais efeitos adversos dos ISRS são no trato gastrointestinal e efeitos sexuais. ● Características Particulares de Alguns ISRS: ○ Paroxetina: Ação anticolinérgica (receptores M1) e inibe a recaptação de noradrenalina (efeito sedativo). Também inibe a óxido nítrico sintase e citocromo P450 2D6, resultando em disfunções sexuais. ○ Fluoxetina: Estimula a liberação de noradrenalina e dopamina por ação em receptores 5HT2C. ○ Sertralina: Inibe a recaptação de dopamina, proporcionando maior energia, motivação e concentração. ● Comparativo ISRS vs. ADTs: ○ ISRS apresentam significativamente menos ganho ponderal, convulsões, sedação, efeitos anticolinérgicos, hipotensão e efeitos cardíacos em comparação com os ADTs. ● Inibidores da Recaptação de Serotonina e Norepinefrina (IRSN)○ Embora os ADTs também inibam a recaptação de serotonina e noradrenalina, os IRSN são mais seletivos e apresentam menos efeitos adversos. ○ Indicações: Pacientes que não respondem aos ISRS, comorbidades médicas ou psiquiátricas, dor neuropática. ○ Representantes: Venlafaxina e Duloxetina. ○ Mecanismo de Ação: Em baixas doses, inibem a recaptação de serotonina; em doses elevadas, inibem também a recaptação de noradrenalina. ○ Vantagens: Eficácia e tolerabilidade melhores que os ISRS, e menor afinidade por receptores H1, muscarínicos e alfa-1 adrenérgicos do que os ADTs, resultando em efeitos adversos menores. ● Reações Adversas dos IRSN Ocorrem principalmente por ações no sistema adrenérgico, devido ao aumento da noradrenalina na fenda sináptica. ○ Aumento da Agitação: Ação da noradrenalina na amígdala e córtex límbico. ○ Aumento da Pressão Arterial e Taquicardia: Ação nos centros cardiovasculares no tronco cerebral e em receptores beta-1 no coração. ○ Boca Seca, Constipação, Retenção Urinária: Diminuição do tônus parassimpático. ○ Ativação Motora e Tremor: Aumento da noradrenalina no cerebelo e sistema nervoso simpático, ativando receptores beta-1 e beta-2. ● Antidepressivos Atípicos ○ São inibidores discretos da recaptação de dopamina e noradrenalina, e possuem outros mecanismos de ação. ○ Representantes: Bupropiona, Trazodona, Nefazodona e Mirtazapina. ○ Indicações: Depressão associada à ansiedade. A bupropiona de liberação lenta também é usada para tratar a dependência nicotínica. ○ Vantagens: Menores efeitos adversos sexuais e menor indução de mania. ○ Mecanismos e Efeitos: ■ Antagonismo de Receptores Histaminérgicos H1: Causa ganho de peso e sonolência (efeito indesejável, mas comum). ■ Antagonismo de Autorreceptores (5HT1D, Alfa-2): Aumentam os níveis de serotonina (bloqueando receptores que inibem sua liberação) e noradrenalina (bloqueando receptores alfa-2 inibitórios). Também aumentam a dopamina por inibição da recaptação. ■ Bloqueio de Receptores Serotoninérgicos 5HT2: Diminuem ansiedade, agitação, distúrbios do sono e disfunções sexuais (principais efeitos adversos dos ISRS). ■ Bloqueio de Receptores Serotoninérgicos 5HT3: Diminuem náuseas e distúrbios gastrointestinais (principal efeito adverso dos ISRS). ○ Esses fármacos buscam resolver uma grande gama de efeitos adversos de outros antidepressivos, aumentando as três aminas biogênicas principais (serotonina, noradrenalina e dopamina) e reduzindo efeitos indesejados. ● Seletividade dos Antidepressivos em Outros Sistemas Neuronais: ○ Maior Atividade Anticolinérgica: Amitriptilina. ○ Maior Bloqueio de Receptores H1 Histaminérgicos: Mirtazapina. ○ Maior Bloqueio de Receptores Alfa-1 Adrenérgicos: Trimipramina. ○ A Venlafaxina (um IRSN) apresenta as menores capacidades de bloquear esses receptores, resultando em menos efeitos adversos. ● Critérios para Escolha do Antidepressivo: ○ Resposta ou Tolerância a Antidepressivos Anteriores: Histórico do paciente é importante. ○ Gravidade dos Sintomas: Sintomas muito graves podem exigir antidepressivos mais potentes. ○ Problemas Médicos (Comorbidades Físicas): ■ Cardiopatias: Excluir ADTs. ■ Disfunções Sexuais: Evitar ISRS; favorecer trazodona, nefazodona, mirtazapina e bupropiona. ■ Epilepsia: Excluir maprotilina, clomipramina e bupropiona. ■ Obesidade: Não usar ADTs nem mirtazapina (maior ganho de peso). ○ Idade: ■ Idosos: Evitar antidepressivos com efeitos anticolinérgicos; considerar citalopram, reboxetina e nortriptilina. ■ Crianças: Citalopram e Fluoxetina são as mais seguras. ○ Sintomas Associados ao Quadro Depressivo: ■ Com insônia e ansiedade: Preferir amitriptilina e mirtazapina. ○ Gravidez ou Aleitamento Materno: Alguns antidepressivos atravessam a barreira placentária e aparecem no leite. ○ Comorbidades Psiquiátricas: ■ Transtorno do Pânico: Clomipramina, imipramina, paroxetina, sertralina. ■ Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): ISRS são os de escolha. ■ Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Venlafaxina, paroxetina, sertralina e imipramina. ○ Interações Medicamentosas com Outras Drogas em Uso. ○ Preço. Aula 13 - Antidepressivos - Estabilizadores do Humor (Parte V) Esta última parte aborda o tratamento do transtorno bipolar e as perspectivas futuras para o tratamento da depressão. ● Tratamento do Transtorno Bipolar ○ Os pacientes apresentam sintomas depressivos e maníacos alternadamente. ○ Principal Fármaco Estabilizador de Humor: Sais de Lítio. ■ Formas: Carbonato de Lítio (mais usado) e Cloreto de Lítio (irritação gástrica). ■ Mecanismo de Ação: Interfere na formação do inositol trifosfato (principal mecanismo) e na formação do AMP cíclico. ■ Usos: Tratamento e profilaxia das fases de mania e depressão no transtorno bipolar. ■ Farmacocinética: Meia-vida longa e janela terapêutica pequena (fármaco tóxico, alto risco de intoxicação). ■ Principais Efeitos Colaterais: Acne, aumento do apetite e peso corporal, edema, gosto metálico, polidipsia (aumento da sede), poliúria (aumento do volume/frequência urinária), tremores finos, alterações no eletrocardiograma (ECG), diabetes insípido (por redução do hormônio antidiurético), fadiga, fraqueza muscular, lesões glomerulares (glomerulonefrite) e hipotireoidismo. ■ Contraindicações: Insuficiência renal grave (nefrotóxico), bradicardia sinusal, arritmias ventriculares graves, insuficiência cardíaca congestiva, gravidez (Categoria D - pode causar malformação congênita) e amamentação. ■ Precauções: Necessidade de exames clínicos e laboratoriais antes e durante o tratamento (creatinina, ureia, eletrólitos, T4 livre, TSH, hemograma, teste de gravidez, ECG). A retirada deve ser gradual (cerca de 25% da dose por mês) para evitar síndrome de rebote. O uso de anti-inflamatórios (AINEs) ou diuréticos pode aumentar os níveis de lítio e produzir toxicidade. Recomenda-se uso de métodos contraceptivos em mulheres e cuidados com a higiene bucal. É fundamental fazer a dosagem sanguínea do lítio para ajuste da dose, coletando a amostra 12 horas após a última dose. ● Perspectivas Futuras no Tratamento da Depressão ○ As estratégias atuais com antidepressivos não são perfeitas, com muitos sintomas residuais significativos. ○ Perguntas levantadas: Os antidepressivos não agem em todos os alvos da depressão? Existem outros alvos além das monoaminas? Os fármacos não são específicos o suficiente?. ○ Próxima Geração de Antidepressivos: ■ Serão inibidores da recaptação de dopamina, serotonina e noradrenalina (aumentando os níveis das três aminas biogênicas). ■ Combinarão inibição da recaptação de serotonina com bloqueio de receptores pós-sinápticos envolvidos em reações adversas (ex: 5HT2 e 5HT3), visando aumentar a serotonina e, ao mesmo tempo, reduzir seus efeitos colaterais. ○ Novos Alvos de Pesquisa: ■ Agonistas de peptídeos do sistema nervoso central (diminuindo corticotropina e neurocinina-1). ■ Moduladores de sinalização de nucleotídeos cíclicos (receptores Sigma 1 e 2). ■ Agonistas de receptores de melatonina. ■ Antagonistas de receptores de glutamato (excitatórios). ■ Modulação de sinalização de endocanabinoides. ■ Produtos de ocorrência natural como S-adenosilmetionina, N-acetilcisteína e ácido graxo ômega-3. ○ A depressão é vista como um complexo de interações entre diversos mecanismos, o que explica seus sintomas complexos e a busca por abordagens mais abrangentes. Aula 13 - Antidepressivos - Conceitos (Parte I) Aula 13 - Antidepressivos - IMAO (Parte II) Aula 13 - Antidepressivos - ADT (Parte III) Aula 13 - Antidepressivos - ISRS (Parte IV) Aula 13 - Antidepressivos - Estabilizadores do Humor (Parte V)