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SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DE PONTE NOVA DIRETORIA EDUCACIONAL EQUIPE DE APOIO À INCLUSÃO Considerações acerca da elaboração de Relatórios Pedagógicos Considerando a necessidade da elaboração de relatórios pedagógicos de qualidade pelas escolas públicas com matrículas de estudantes público-alvo da Educação Especial; levando em conta a justificativa pedagógica para o pedido para a solicitação de AEE (Atendimento Educacional Especializado) no SIMADE e tendo em vista a necessidade de obtenção de relatórios que retratem fidedignamente o desenvolvimento de tais estudantes, orientamos sobre pontos relevantes que devem compor os relatórios. O relatório pedagógico é um instrumento que possibilita reunir informações importantes acerca do desenvolvimento do estudante. Quando bem elaborado, pode subsidiar inclusive os profissionais da saúde na tomada de decisões e nos diagnósticos. É imprescindível conhecer bem o estudante e, se ele apresentar um laudo, ter acesso ao documento e pesquisar sobre o diagnóstico, mas o laudo deve ser explorado como mais uma fonte de informações que pode colaborar com os educadores na busca por recursos de apoio que propiciem igualdade de oportunidades no ambiente escolar. No entanto, o laudo pode tornar-se altamente destrutivo quando for visto como principal ponto de partida para o planejamento pedagógico, pois, induz a uma visão de que podemos criar receitas por tipo de deficiência, servindo de justificativa para a redução do conteúdo curricular, disparando um encaminhamento automático para o AEE e, ainda mais grave, quando resultar em baixas expectativas em relação ao estudante: “A identificação de limitações de uma pessoa justifica-se, quando utilizada para indicar os apoios de que necessita, bem como seu provimento. Se assim não for; essa indicação pode resultar apenas em rotulagem e exclusão.”(AADID-2010). A produção de um relatório pedagógico é o momento de organizar todas as observações, materiais e produções do estudante a fim de tecer uma narrativa que mostre sua trajetória, individualidades, dificuldades, suas conquistas e aprendizagens. Cada estudante é único. O relatório também. E cada estudante tem o direito de ter o seu: pessoal e intransferível. Escrever é um exercício importante para a reflexão da própria prática. Relatórios são ótimos instrumentos para acompanhamento do desenvolvimento dos estudantes, além disso pode auxiliar no planejamento das ações e intervenções para que cada um possa alcançar os objetivos propostos. É indispensável ser didático, coerente, coeso, e acima de tudo, colocar apenas fatos passíveis de serem comprovados sem realizar juízo de valor, baseado num ponto de vista pessoal. Não utilizar, em hipótese alguma, expressões pejorativas ou que denigram de alguma forma aquele estudante avaliado. Aspectos a serem observados na escrita do relatório: Linguagem escrita: O relatório deve usar uma linguagem clara, objetiva e precisa e não deve ser digitado em caixa alta. Termos técnicos podem e devem ser citados, mas lembre-se que este documento não é um artigo científico, e sim, algo que objetiva retratar informações, detalhar procedimentos, resultados de avaliações e principalmente ser acessível a quem o lê. Pense primeiramente a quem se destina o relatório; será para os pais, para os arquivos da escola ou para um psicopedagogo, psicólogo, neurologista, pediatra por exemplo? Isso pode mudar a forma de escrevê-lo. Outra questão ainda no item linguagem escrita é sobre a colocação das palavras. Às vezes escrevemos uma coisa com uma intenção, mas para quem lê quer dizer outra e estas são armadilhas da escrita; não estaremos lá para nos justificar ou explicar o que gostaríamos de dizer, por isso, leia, releia, e preocupe-se com o seu leitor. O texto não pode estar claro só para quem escreve, mas especialmente para quem o lê. Utilize termos adequados: As palavras que usamos são importantes para promover uma escola inclusiva e amorosa. Pessoa com deficiência é mais adequado que deficiente. A expressão é mais adequada, pois não disfarça a existência de uma diferença. É também o termo utilizado pela ONU. Não se refira a uma pessoa com deficiência como deficiente, portador de deficiência ou pessoa com necessidades especiais. A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra “portadora” (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou o adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. Por exemplo, não dizemos e nem escrevemos que uma certa pessoa é portadora de olhos verdes ou pele morena. Jamais use termos pejorativos, como defeituoso ou inválido. Falar “ele é deficiente, mas é ótimo aluno” denota o preconceito. Desde 2004, a partir da Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, a expressão é considerada mais adequada do que deficiência mental. Não é preciso especificar o nível de comprometimento da pessoa (leve, severo etc.). Não use: Deficiente mental, doente mental. São também considerados inadequados e ofensivos termos como retardado ou mongoloide. Em relação a pessoa surda lembre-se que nem todo surdo é mudo, portanto, é inadequado referir-se ao surdo como surdo-mudo, ao menos que ele tenha um diagnóstico de surdo-mudez. O mesmo cuidado vale para o uso das expressões: ceguinho, mudinho, cadeirante etc. Cuidado com as afirmações e com a quantidade de “nãos” do relatório: Um relatório jamais pode parecer algo estático. Na verdade, o grande desafio é apresentar este documento como um processo ativo, dinâmico e mutável, da mesma forma que é o comportamento e o desenvolvimento humano. Os relatórios ilustram o retrato de um momento, mas mesmo assim, não devem ser imóveis, por isso, palavras como: demonstra, mostra, parece, manifesta ou indica, nos ajudam a dar este movimento que o nosso relatório precisa. Mesmo com o fato de algumas questões estarem claras para o profissional, não afirmar ou deixar de negativar o seu relatório não mostra falta de conhecimento ou insegurança, mas sim, ética e respeito por quem está sendo avaliado considerando o desenvolvimento humano como algo dinâmico. O modo como deve ser escrito é diferente do modo como é pensado. Exemplos: Você pensa: O estudante não sabe ... / você escreve: O estudante não adquiriu os conceitos, está em fase de aprendizado... Você pensa: Não tem limites... / você escreve: apresenta dificuldade de autorregulação, pois... Você pensa: É nervoso.../ você escreve: Ainda não desenvolveu habilidades para convívio no ambiente escolar, pois... Você pensa: É agressivo.../ você escreve: Demonstra agressividade em situações de conflito; usa meios físicos para alcançar o que deseja... Você pensa: é bagunceiro, relaxado.../ você escreve: Ainda não desenvolveu hábitos próprios de higiene e de cuidado com seus pertences... Você pensa: Não sabe nada.../ você escreve: Aprendeu algumas noções, mas necessita desenvolver ... Você pensa: É desobediente.../ você escreve: costuma não aceitar e compreender as solicitações dos adultos. Tem dificuldade em cumprir regras. Responsabilidade do(s) profissional(ais) que faz(em) o relatório: Quem elabora o relatório tem uma grande responsabilidade, pois está documentando informações relevantes sobre o estudante e que podem ser determinantes na procura por recursos ou mesmo para novas formas de intervenção com aquele sujeito. O profissional deve se preocupar com o impacto das informações para quem lê o relatório e no que isto pode interferir para o sujeito avaliado. Outra questão importante é informar a data de elaboração e o(s) responsável(is) pelo relatório. Os relatórios devem obrigatoriamente abordar os aspectos cognitivos (atenção, concentração,percepção, memória, raciocínio lógico, pensamento, linguagem e metacognição), aspectos motores e psicomotores (coordenação motora, lateralidade, equilíbrio, esquema corporal, condições físicas para realizar atividades na escola de modo independente ou não), habilidades interpessoais/afetivas, comunicacionais e os aspectos pedagógicos (habilidades e competências adquiridas, relacionadas a todos os conteúdos curriculares, de acordo com avaliação de todos os professores e de cada conteúdo) e outras informações que a escola julgar importante para fundamentar o pedido de AEE/ Sala de Recursos – Professor de Apoio e Intérprete de Libras (quando for o caso) conforme as atribuições desses profissionais descritas no Guia de Orientação da Educação Especial na Rede Estadual de Ensino. Organização: Equipe de Apoio à Inclusão – SRE/Ponte Nova - MG Fonte: AAIDD. Intellectual disability: definition, classification, and systems of supports. 11ª edition of the AAIDD. EUA, 2010. Dicas de Como Elaborar Um Relatório Pedagógico. Disponível em https://www.jundiaionline.com.br/colunistas/dicas-de-como-elaborar-um-relatorio-pedagogico-1727 Acesso em 11/06/19. Com adaptações. Dicionário da inclusão: Aprenda quais são os termos corretos e ensine seus alunos. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/15182/dicionario-da-inclusao-aprenda-quais-sao-os-termos-corretos-e- ensine-seus-alunos . Acesso em 12/06/19. Laudo médico: clássico entrave para apostas em altas expectativas. Disponível em https://diversa.org.br/artigos/laudo-medico-classico-entrave-para-apostas-em-altas-expectativas . Acesso em 12/06/19. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Disponível em https://acessibilidade.ufg.br/up/211/o/TERMINOLOGIA_SOBRE_DEFICIENCIA_NA_ERA_DA.pdf?1473203540 Acesso em 12/06/19. https://www.soescola.com/2016/11/sugestoes-de-palavras-e-expressoes-para.html Acesso em 17/06/19 https://www.jundiaionline.com.br/colunistas/dicas-de-como-elaborar-um-relatorio-pedagogico-1727 https://novaescola.org.br/conteudo/15182/dicionario-da-inclusao-aprenda-quais-sao-os-termos-corretos-e-ensine-seus-alunos https://novaescola.org.br/conteudo/15182/dicionario-da-inclusao-aprenda-quais-sao-os-termos-corretos-e-ensine-seus-alunos https://diversa.org.br/artigos/laudo-medico-classico-entrave-para-apostas-em-altas-expectativas https://acessibilidade.ufg.br/up/211/o/TERMINOLOGIA_SOBRE_DEFICIENCIA_NA_ERA_DA.pdf?1473203540