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RESUMO ESTRATÉGICO DIREITOS HUMANOS

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Este documento apresenta uma revisão dos principais temas e ideias sobre direitos humanos, baseando-se nos materiais fornecidos. Serão abordadas as teorias, definições, características, dimensões (ou gerações), e a aplicação e proteção dos direitos humanos, com foco especial no contexto brasileiro.
1. Fundamentos e Definições de Direitos Humanos
Os direitos humanos são um conjunto de prerrogativas e garantias inerentes a cada ser humano, visando proteger sua dignidade e permitir o desenvolvimento de seu potencial. Eles são universais e se aplicam a todos, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, condição econômica, social ou qualquer outra distinção.
· Teorias sobre a Criação de Direitos Humanos:
· Teoria Jusnaturalista: Fundamenta-se na ideia de que os direitos humanos são inerentes ao ser humano, existindo por si só, mesmo sem leis que os protejam. São considerados universais e imutáveis, decorrendo da própria condição humana e sua dignidade, como o direito à vida e à liberdade.
· Teoria Positivista: Entende que os direitos humanos são aqueles positivados em leis por decisão do povo e de seus governantes, sendo fundamentais para a vida humana e a sociedade.
· Definição de Direitos Humanos e Dignidade da Pessoa Humana:
· Os direitos humanos são "um conjunto de direitos que permite a cada ser humano, independentemente de seu gênero, masculino ou feminino, desenvolver todas as suas potencialidades e buscar todos os recursos necessários para viver em uma situação de bem-estar e segurança." Eles visam "vida com dignidade, qualidade, e, principalmente, com perspectivas de que em cada momento poderemos ter acesso a tudo o que for necessário para viver plenamente."
· A dignidade da pessoa humana é um conceito central. O Ministro Luis Roberto Barroso afirma que ela se assenta "sobre o pressuposto de que cada ser humano possui um valor intrínseco e desfruta de uma posição especial no universo" (Barroso, 2016, p. 14). No Brasil, a dignidade da pessoa humana é um fundamento republicano (Art. 1º, III da Constituição Federal de 1988), significando que toda a ordem republicana, incluindo os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, deve respeitar e agir em conformidade com esse princípio. Mesmo indivíduos que praticaram atos criminosos têm direito a tratamento digno, pois "violência não nos levará a uma sociedade melhor e a vingança não é ato digno de seres civilizados."
2. Características Essenciais dos Direitos Humanos
Os direitos humanos possuem características intrínsecas que os distinguem e reforçam sua importância:
· Indivisibilidade: Não podem ser divididos, e um Estado não pode escolher quais proteger e quais ignorar.
· Interdependência: São inter-relacionados, reforçando que todos são importantes sem uma escala de relevância.
· Imprescritibilidade: Nenhuma pessoa perde o direito ao seu exercício pelo decurso do tempo.
· Inalienabilidade: Não podem ser transferidos, negociados ou cedidos, seja onerosamente ou gratuitamente.
· Irrenunciabilidade: Ninguém pode renunciar a esses direitos (e.g., direito à vida, à liberdade).
· Efetividade: O Estado (através dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário) deve atuar para garantir que todas as pessoas possam exercê-los livremente.
· Inviolabilidade: Ninguém, seja Estado ou pessoa (física ou jurídica), está legitimado a desrespeitá-los.
· Complementaridade: Devem ser interpretados conjuntamente para proteger a dignidade humana da forma mais abrangente possível.
· Vedação de Retrocesso: Uma vez reconhecido como direito humano, não pode ser retirado ou ter sua aplicabilidade diminuída.
3. Dimensões ou Gerações de Direitos Humanos
A classificação dos direitos humanos por "gerações" pode dar a falsa ideia de que uma nova geração substitui a anterior. A expressão mais adequada é "dimensões", pois ela "se traduz na ideia de interação e interconectividade entre os direitos, não havendo encerramento de umas ou de outras, mas, sim, uma relação interativa entre os direitos" (Nestor Sampaio Penteado Filho, 2009, p. 21). As dimensões se somam e se complementam.
· Primeira Dimensão/Geração (Direitos Civis e Políticos):
· Surgiram simbolicamente no século XIII com a Magna Carta (1215) na Inglaterra, que limitou o poder do rei João Sem-Terra, comprometendo-o a governar conforme as leis e respeitar a propriedade, vida e segurança de seus súditos.
· Foco na limitação do poder estatal e na proteção das liberdades individuais.
· Exemplos: direito ao voto, direito a um processo justo, direito de não ser molestado física ou psicologicamente, direito à liberdade, segurança e propriedade. A Declaração de Independência dos EUA (Thomas Jefferson) é um marco importante na limitação do poder estatal.
· Segunda Dimensão/Geração (Direitos Econômicos, Sociais e Culturais):
· Surgem a partir das transformações sociais, econômicas e políticas da Revolução Industrial (século XVIII) e da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
· Têm caráter coletivo e buscam garantir condições dignas de vida e desenvolvimento para toda a sociedade.
· Exemplos: direito à saúde, à educação, ao trabalho, à segurança social, à proteção da família, das mães e gestantes, vedação da mão de obra infantil, direito à alimentação, vestuário, moradia e participação na vida cultural.
· Terceira Dimensão/Geração (Direitos de Fraternidade e Solidariedade):
· Decorrem de profundas alterações sociais na comunidade internacional, como a globalização da economia, avanços tecnológicos e científicos (viagens espaciais, robótica, internet).
· Foco na preservação da qualidade de vida, tutelando o meio ambiente, a paz e a autodeterminação dos povos.
· São "interesses metaindividuais (difusos), que transcendem o indivíduo ou grupos de indivíduos," e se traduzem no valor da fraternidade (Nestor Sampaio Penteado Filho, 2009, p. 23).
· Exemplos: direito ao meio ambiente saudável e equilibrado, direito do consumidor (especialmente em produtos farmacêuticos e alimentos), direito à paz. O consumo exagerado e a produção em massa globalizada exigem preocupações com a saúde e bem-estar das pessoas.
· Quarta Dimensão/Geração (Direitos da Humanidade e Tecnologia):
· Estão relacionados aos avanços tecnológicos, especialmente na biotecnologia e nanotecnologia, e aos direitos da humanidade sobre seu patrimônio genético.
· Abordam questões como a não redução dos indivíduos às suas características genéticas e o respeito à sua singularidade e diversidade (Art. 2º da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e Direitos Humanos - UNESCO).
· O genoma humano não deve ser objeto de transações financeiras (Art. 4º da mesma Declaração).
· Exemplos: direito à informação sobre riscos de nanotecnologias em produtos (e.g., nanocosméticos).
· Quinta Dimensão/Geração (Direito à Paz Permanente):
· O professor Paulo Bonavides (2006) considera a paz um direito fundamental que deve estar em todas as constituições, como um dever de governo e um princípio do Estado.
· Reflete a preocupação com os conflitos globais (territoriais, religiosos, políticos, econômicos, ideológicos) e a insegurança mundial.
· O Tribunal de Nuremberg, criado pelo Acordo de Londres, julgou crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
· A ONU tem como objetivo central "manter a paz e a segurança internacional", investigando situações de conflito, recomendando diálogo e aplicando sanções econômicas para impedir agressões.
4. Proteção dos Direitos Humanos no Brasil
No Brasil, a proteção dos direitos humanos é um sistema integrado nacional e internacional.
· Constituição Federal de 1988:
· Considerada um marco após o regime militar (1964-1985), que restringiu duramente os direitos.
· O Art. 1º, III, estabelece a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil, impondo a todos os poderes e agentes públicos o dever de respeitá-la.
· O Art. 5º garante a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e assegura a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade, listando 78 incisosde direitos fundamentais.
· Exemplos de direitos do Art. 5º:Inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem (X): Protege contra exposição não autorizada de fatos pessoais.
· Inviolabilidade do domicílio (XI): A casa é asilo inviolável, com exceções para flagrante delito, desastre, socorro ou determinação judicial (durante o dia).
· Livre locomoção (XV): Liberdade de entrar, permanecer ou sair do território nacional em tempo de paz, incluindo a saída com bens. (Observa-se que alguns regimes totalitários e certas políticas de imigração restringem essa liberdade).
· Direito de Propriedade (XXII e XXIII): Garantido, mas com a imposição da função social da propriedade. Isso significa que a propriedade deve ser utilizada de forma a não prejudicar a sociedade e, se possível, contribuir para sua harmonia e equilíbrio, alinhando-se aos objetivos da República de construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e reduzir desigualdades.
· Direitos dos Acusados e Condenados: A CF/88 estabelece direitos para acusados e presos, visando garantir tratamento digno e evitar tortura ou tratamento desumano. A pena é individualizada (XLVI, XLVIII) e os presos têm direito à integridade física e moral (XLIX).
· Devido Processo Legal (LIV): Ninguém será privado da liberdade ou bens sem o devido processo legal.
· Inadmissibilidade de provas ilícitas (LVI): Provas obtidas por meios ilegais (e.g., escutas sem autorização judicial) são inadmissíveis no processo.
· Presunção de Inocência (LVII): Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, garantindo que o processo judicial seja integralmente finalizado antes da prisão.
· Responsabilidade Civil Objetiva do Estado (LXXV): O Estado brasileiro é responsável por indenizar em caso de erro judicial (e.g., prisão da pessoa errada) ou aplicação de pena superior à prevista em lei.
· Federalização de Crimes contra Direitos Humanos:
· A Emenda Constitucional n° 45, de 2004, possibilitou a federalização de crimes com grave violação dos direitos humanos. Isso ocorre em casos excepcionais onde há "risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro" (STJ, 2005).
· Programas Nacionais de Direitos Humanos (PNDHs):
· PNDH I (1996): Foco nos direitos civis e políticos (primeira dimensão).
· PNDH II (2002): Ênfase nos direitos econômicos, sociais e culturais, e ambientais (segunda dimensão), promovendo a concepção de direitos humanos como universais, indivisíveis e interdependentes.
· PNDH III (2009): Concebe a efetivação dos direitos humanos como política de Estado, centrada na dignidade da pessoa humana e no desenvolvimento do potencial de todos. Abrange uma ampla gama de temas, como diálogo Estado-sociedade civil, transparência, primazia dos direitos humanos nas políticas internas e internacionais, laicidade do Estado, desenvolvimento sustentável, respeito à diversidade, combate às desigualdades, erradicação da fome e da extrema pobreza. Um Comitê de Acompanhamento e Monitoramento, composto por diversos ministérios, monitora sua implementação.
5. Direitos Humanos Específicos e Proteção Internacional
· Organizações Internacionais e Tratados:
· A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) é um documento fundamental, dividindo os direitos em civis e políticos, e econômicos, sociais e culturais, buscando conjugar liberdade e igualdade.
· Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966): Cuida da liberdade individual, proteção contra ingerência estatal e participação popular. Inclui um "núcleo inderrogável" de direitos mesmo em situações excepcionais, como direito à vida, proibição de tortura e escravidão.
· Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966): Visa estabelecer condições sociais, econômicas e culturais para uma vida digna, abrangendo trabalho, segurança social, família, alimentação, educação, moradia e progresso científico.
· Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (Convenção de Genebra, 1951): Define refugiado e estabelece seus direitos, incluindo o direito de asilo.
· Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança: Garante direitos como a não interferência arbitrária na vida privada da criança e apoio material para moradia, nutrição e vestuário.
· Direito à Saúde:
· A OMS (Organização Mundial da Saúde), fundada em 1948, estabelece a saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade." É um direito fundamental universal.
· No Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) busca garantir acesso universal, integral e igualitário à saúde, conforme previsto na Constituição Federal e leis como a Lei nº 8.080/1990 e Lei nº 8.142/1990.
· Direito à Moradia:
· Mais que um teto e quatro paredes, a moradia adequada significa "o direito de toda pessoa ter acesso a um lar e a uma comunidade seguros para viver em paz, dignidade e saúde física e mental." Inclui segurança da posse.
· É reconhecido em documentos internacionais como o Pacto de Direitos Civis e Políticos (Artigo 17, §1º) e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Artigo 11, §1º).
· Direitos de Grupos Específicos:
· Mulheres: A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) garante às mulheres direitos fundamentais, assegurando oportunidades para viver sem violência e preservar sua saúde e desenvolvimento integral. A ONU Mulheres, criada em 2010, atua globalmente pela igualdade de gênero e empoderamento feminino.
· Pessoas com Deficiência: O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) define a deficiência considerando fatores socioambientais, psicológicos e pessoais, bem como a limitação no desempenho de atividades e restrição de participação. Promove a acessibilidade e o direito à participação plena na sociedade.
· Pessoa Idosa: O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) garante direitos como acesso à alimentação, moradia, saúde, trabalho, educação permanente e vida em ambientes seguros e adaptáveis. Conselhos de defesa dos direitos do idoso zelam pelo cumprimento desses direitos.
· População LGBTQIA+: A ONU e o direito internacional dos direitos humanos proíbem a discriminação baseada na orientação sexual e identidade de gênero. A sigla abrange lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outras identidades que divergem da heteronormatividade. A intersexualidade se refere a variações nas características genéticas e/ou somáticas que não se encaixam nas definições típicas de masculino ou feminino.
6. Considerações Finais
A compreensão dos direitos humanos envolve a percepção de sua evolução histórica (dimensões), suas características intrínsecas (universalidade, indivisibilidade, etc.) e sua aplicação prática em contextos nacionais e internacionais. No Brasil, apesar dos avanços constitucionais e institucionais, a efetivação plena desses direitos ainda enfrenta desafios, como a prática de tortura em penitenciárias, a necessidade de fortalecer a função social da propriedade e garantir a igualdade para todos os grupos, incluindo a população LGBTQIA+. A busca por uma sociedade justa, solidária e que erradique a pobreza continua sendo o objetivo central da proteção dos direitos humanos.

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