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Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Unidade 1 Educação, Diversidade E Desigualdade Aula 1 Diversidade Social E Cultural Diversidade social e cultural Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nesta aula, você vai estudar a diversidade cultural humana e as relações com a educação. Inicialmente, você vai re�etir sobre o conceito de cultura, seja ele em seu signi�cado antropológico, ou na forma com que diversos indivíduos e agrupamentos humanos representam a realidade ao longo do tempo. Em seguida, você verá, com uma abordagem introdutória, as diferentes perspectivas antropológicas sobre o conceito de cultura: multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo. A ideia é que você perceba, em linhas gerais, o caráter (e as características) de algumas das principais correntes antropológicas e suas distintas abordagens em relação ao conceito de cultura. Por �m, você vai estudar expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes dos mais diversos indivíduos e agrupamentos humanos, abordados de modo a reconhecer a diversidade étnico-cultural com que somos constituídos enquanto humanidade plural. A ideia é que possamos estabelecer conexões entre diversidade cultural e educação. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para iniciar os estudos desta aula, vamos apresentar algumas problematizações: à luz dos objetivos propostos na disciplina de educação e diversidade, é possível de�nir um conceito de cultura? Como o conceito de cultura pode ser de�nido a partir das diferentes perspectivas antropológicas? Quais as relações entre educação, diversidade e as representações culturais? Com esses questionamentos iniciais, damos as boas-vindas, estudante, recomendando que você aprofunde seus estudos a partir das referências indicadas neste material. Vamos Começar! Iniciando as re�exões sobre educação e diversidade, a partir de agora, você vai estudar as culturas humanas e suas relações sociais, elemento fundamental para que possamos re�etir e analisar o conceito de diversidade na educação. Como apresentado, o exercício proposto para os estudos desta aula consiste em uma problematização sobre o conceito de cultura a partir das correntes antropológicas, para que se possa analisá-las mediante o estudo e aprofundamento dos conceitos elencados com a realidade social em que estamos inseridos. Cultura: um conceito antropológico plural A disciplina de educação e diversidade toma como premissa o conceito de cultura pertencente ao conjunto de perspectivas antropológicas que partem do entendimento de que nós, seres humanos, vivemos em uma sociedade plural e diversa. A educação está diretamente relacionada à cultura e às diversas possibilidades com que se realiza nas diferentes sociedades. Assim, nessa perspectiva, devemos reconhecer as diferenças culturais como fundamento da diversidade com que a vida social se realiza. Perceber as diferenças humanas como algo normal, nada mais é do que o contínuo exercício de visar o bem viver em sociedade. Partindo da concepção antropológica do conceito de cultura para a compreensão da diversidade e da educação, ou seja, daquelas correntes signatárias da ideia de que o ser humano é um ser cultural, e que, portanto, convive social e culturalmente com outros povos. Para os propósitos desses estudos, devemos renunciar à concepção de cultura no senso comum, ao menos daquelas abordagens que compreendem a cultura como um termo classi�catório de indivíduos e grupos sociais inteiros, de forma generalizante e/ou até mesmo preconceituosa. Em educação e diversidade, leva-se em consideração as culturas, no plural, bem como as diversas possibilidades com que a educação se realiza. Uma das características do ser humano é a sua capacidade cultural, e isso o distingue de outros seres vivos. Nesse sentido, podemos a�rmar que todos os seres humanos produzem cultura, seja vivenciando o cotidiano da vida, seja representando a realidade em que se inserem. Na antropologia, sabemos que existem muitas de�nições e correntes teórico-metodológicas em torno do conceito de cultura. Visando contemplar os propósitos desta disciplina, podemos de�nir, de modo geral, o conceito de cultura como a capacidade da humanidade como um todo e a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la (Santos, 1994). Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A cultura, vista sob esse ângulo, caracteriza-se como a possibilidade do indivíduo, inserido em seu agrupamento social, de viver o seu dia a dia, compreender a realidade e atribuir signi�cados a ela, planejar, calcular e transformar a natureza, além de re�etir sobre todas as coisas que estão ao nosso redor. A abordagem antropológica é uma das maneiras de de�nir cultura a partir de um conjunto de pressupostos metodológicos e regras determinados por essa ciência. A antropologia, portanto, é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano e suas relações, é um termo de origem grega, formado por anthropos (homem, ser humano) e logos (conhecimento). Sendo uma das ciências sociais, a antropologia nasceu e se desenvolveu ao longo do século XIX, tendo o objetivo de estudar e conhecer a cultura e a diversidade das manifestações culturais dos diferentes povos no tempo e no espaço. A Antropologia é a ciência que busca entender como o ser humano pode levar vidas tão diferentes [...]. Essa diversidade estonteante da experiência humana é o objeto principal da Antropologia. Podemos dizer que a Antropologia se dedica ao estudo da diferença, usando como exemplos as várias formas que as sociedades escolheram para viver e organizar sua coletividade [...] (Machado, 2016, p. 14). Para a antropologia, o autoconhecimento da própria cultura passa necessariamente pelo conhecimento de outras culturas. Nesse sentido, “devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única” (Oliveira; Costa, 2016, p. 58). Esse é, portanto, o “espírito” que se deve adotar nos estudos sobre educação e diversidade, tendo em vista as múltiplas possibilidades e pontos de vista com que as culturas podem (e devem) ser analisadas e compreendidas. Multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo cultural Ao longo da história e desenvolvimento da antropologia, há diferentes abordagens em relação ao entendimento do conceito de cultura, que varia de acordo com a perspectiva metodológica adotada. Evolucionismo social, relativismo cultural, funcionalismo, estruturalismo, entre outras, são exemplos de algumas das correntes da antropologia. Para os propósitos desses estudos em educação e diversidade, as noções relacionadas ao conceito de cultura serão realizadas a partir das diferentes perspectivas: multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo. O multiculturalismo parte da premissa da existência de sociedades multiculturais, ou seja, de que diferentes culturas coexistem no interior de um mesmo espaço social, e suas relações podem se dar por aceitação, podendo ser até híbridos quanto à inclusão do outro na condução política e econômica de uma determinada sociedade; de tolerância, como o próprio termo de�ne, ou seja, quando as culturas se toleram em uma mesma sociedade, mesmo que os interesses da cultura dominante prevaleça, mas sem que ocorra a aceitação; ou de con�itos, quando se percebem manifestações de diversas formas de violência, por meio de ações preconceituosas e/ou discriminatórias praticadas por indivíduos e grupos. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | Diversidade cultural - Pure Diversity, Mirta Toledo (1993). Fonte: Wikimedia Commons. Multiculturalismo é um termo que indica a existência decorpo docente contribuem com a representatividade? Sempre que possível, aprofunde os seus conhecimentos, explore a Biblioteca Virtual e faça a leitura das referências indicadas neste material, entre outros. Organize um planejamento e desenvolva o autoestudo. Desejamos a você excelentes estudos! Vamos Começar! Você vai estudar nesta aula a educação humanista e inclusiva, um dos eixos para re�etir sobre as relações entre educação, diversidade e desigualdade. Nesses estudos, é importante relembrar da concepção de Paulo Freire sobre a educação popular e relacioná-la a escopo dos objetivos propostos para a disciplina, de pensar as diversidades a partir da perspectiva do respeito e da inclusão, bem como de compreender a importância das políticas públicas voltadas para a inclusão social, o respeito à diversidade e as ações a�rmativas. Políticas públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas A Declaração Universal dos Direitos Humanos explicita que “toda pessoa tem direito à educação”. O Brasil é signatário dos valores universais dos direitos humanos, constituídos mediante lutas sociais históricas. Na Constituição “Cidadã” de 1988, documento que marca o processo de redemocratização do país, após anos de regime ditatorial, há um entendimento claro a respeito da compreensão e da importância de valorizar e reconhecer os direitos humanos. A construção dos direitos humanos relaciona-se com a perspectiva dos direitos de cidadania: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais (Marshall, 1967 apud Machado, Amorim, Barros, 2016). Cidadania é uma condição que permite àquele que é cidadão participar como igual da discussão política, com uma reivindicação de que todos participem da “herança comum” da sociedade, da riqueza que ela produz e da discussão sobre os valores que a sustentam. Observe as características dos direitos de cidadania: Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Direitos civis: aqueles que permitem ao cidadão exercer sua liberdade individual. Por exemplo, o direito de cada um dizer o que pensa (liberdade de expressão), o direito de acreditar na religião que quiser (ou não acreditar em nenhuma), o direito de fazer acordos e contratos com outros cidadãos e o direito à propriedade. Os direitos civis foram os primeiros a surgir na Inglaterra, se consolidando a partir do século XVII. Direitos políticos: são aqueles que permitem ao cidadão participar do exercício do poder político. São exemplos de direitos políticos o direito ao voto, o direito de se organizar com outros cidadãos para defender propostas (incluindo aí o direito a formar partidos políticos) e o direito de ser eleito para cargos políticos. Os direitos políticos se consolidaram na Inglaterra entre o �nal do século XIX e o começo do século XX, primeiro com a ampliação do direito ao voto para todos os homens e depois com o reconhecimento dos direitos políticos das mulheres. Direitos sociais: são aqueles que garantem ao cidadão um mínimo de bem-estar econômico e uma vida digna, de acordo com o padrão do país e da época. São exemplos de direitos sociais o direito à educação, à saúde, a uma aposentadoria na velhice ou em caso de invalidez. Os direitos sociais ganharam força no século XX, quando os movimentos operários europeus conseguiram obrigar o Estado a prover a todos os cidadãos saúde e educação públicas, entre outros direitos (Machado, Amorim, Barros, 2016, p. 291-292). T. Marshall identi�cou três tipos de direitos que formaram a cidadania moderna na Inglaterra (Marshall, 1967 apud Machado, Amorim, Barros, 2016). Obviamente que devemos analisar o conceito de cidadania e perceber as particularidades e condições histórico-sociais de cada país, levando em consideração os avanços e retrocessos em relação à conquista desses direitos, quando se analisa a formação do Brasil, por exemplo. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (1979 apud Oliveira; Costa, 2016) a�rma que, no Brasil, vivemos uma cidadania regulada, ou seja, esses direitos não são previstos em sua totalidade para toda a população brasileira, especialmente para a população pertencente às classes menos abastadas social e economicamente. De forma diferente dos países desenvolvidos, “no Brasil, os direitos sociais foram implementados antes dos direitos civis, que continuavam totalmente precários, e dos direitos políticos que praticamente deixaram de existir durante o regime autoritário de 1937 a 1945” (Oliveira; Costa, 2016, p. 187). Em meio à construção desses direitos, é preciso levar em consideração as mudanças sociais e políticas de nosso país ao longo do século XX. O Art. 6º da Constituição Federal diz que: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (Brasil, 1988). Perceba que a educação é entendida como um dos direitos sociais garantidos pela nossa Constituição e, nesse sentido, o Estado brasileiro deve reunir esforços junto à sociedade civil para a garantia e manutenção desse direito básico. A Constituição Federal, em seu Art. 6º, diz que, além de outros direitos elementares, todos os cidadãos têm direito à educação, e sabemos que a educação transforma realidades. As políticas Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE públicas voltadas à educação, como a Carta Magna, são ferramentas indispensáveis, que ajudam a construir sociedades mais justas, igualitárias e inclusivas. É por meio das políticas públicas educacionais que os instrumentos possíveis de correção (e/ou mitigação) de partes dessas distorções sociais históricas, promovidas pelas contradições entre as classes sociais, remontando o contexto de formação histórica, social e política brasileira, podem acontecer. A ideia é que, em conjunto, essas políticas sirvam para o combate de formas de discriminação, de desigualdades diversas em sociedades como nossa. As políticas públicas educacionais caracterizam-se por programas, estratégias e iniciativas implementadas por governos, com vistas a melhorar o sistema educacional de modo geral, bem como garantir o acesso equitativo à educação de qualidade. Essas políticas são essenciais para garantias de acesso universal à educação e cultura, a todas as pessoas, de modo que possam receber uma ação de qualidade, de melhora na qualidade de ensino, ou de redução (ou mitigação) das formas diversas de desigualdade, e a inclusão de pessoas com de�ciência, por exemplo. As políticas de inclusão visam garantir que todos os indivíduos sejam incluídos na sociedade e tem como objetivos buscar a acessibilidade, o respeito, a diversidade, o combate à discriminação e desenvolver a participação cidadã. As ações a�rmativas são políticas ou práticas que se objetivam por corrigir desigualdades históricas e promover a inclusão de grupos que foram historicamente marginalizados. As cotas para o acesso a universidades e concursos públicos são exemplos de políticas de ações a�rmativas, pois buscam justiça social, redução de disparidades, desa�os e controvérsias. Siga em Frente... A escola como preparação para uma cidadania global A escola, como meio de educação formal, é uma instituição que, a partir de seus valores e princípios orientadores, contribuiu para moldar e preparar os indivíduos para o exercício da cidadania, do ponto de vista global. Sabemos que muitos problemas enfrentados atualmente pela humanidade em escala global dependem de ações coordenadas e integradas, envolvendo a participação de pessoas que habitam os quatro cantos do planeta. Os desa�os para pensar nas possibilidades da cidadania em âmbito global, e na perspectiva dos povos habitantes do eixo sul do globo, constituídos historicamente através de relações de dominação, são ainda maiores quando tomamos como referência as epistemologias do Sul, segundo Boaventura de Sousa Santos. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A turbulência hoje vivida pela constelação dos direitos humanos também permite entreverhorizontes promissores para as agendas emancipatórias apostadas em superar os entendimentos convencionais dos direitos humanos. Estes horizontes, que vão se desenhando em várias regiões do mundo, apontam para um efetivo reconhecimento da inesgotável experiência do mundo à luz das epistemologias do Sul, na persuasão de que a compreensão do mundo excede em muito a compreensão ocidental do mundo. [...] Identi�co três tensões que, ao mesmo tempo, são constitutivas da presente turbulência e representam um desa�o para uma ressigni�cação emancipatória dos direitos humanos à luz das epistemologias do Sul. A primeira diz respeito à tensão entre o direito ao desenvolvimento e a incessante devastação ambiental do planeta. A segunda refere-se à tensão entre as aspirações coletivas de povos indígenas, afrodescendentes e camponeses e o individualismo que marca o cânone originário dos direitos humanos. A terceira refere-se à tensão que resulta da inadequação da linguagem de direitos, e em particular dos direitos humanos, para reconhecer a existência de sujeitos não humanos (Santos, 2019, p. 39-40). Figura 1 | Estudantes indígenas, Sergio Amaral/MDS. Fonte: Wikimedia Commons. Com isso, pertencendo à realidade dos países do sul global, obviamente que cada país com as suas particularidades, pode-se perceber a importância da escola na problematização dessas questões que colocam em xeque a lógica do modelo de produção e de sociabilidade adotados no capitalismo, que se realiza essencialmente pela exploração (extração) de recursos da Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE natureza e mediante a exploração da classe trabalhadora, além do estabelecimento de uma relação assimétrica e de dominação com os países colonizados. No Brasil, com as reformas educacionais vigentes advindas com a BNCC, houve a reorganização dos conteúdos por competências e habilidades distribuídas nas áreas de conhecimentos: linguagens e interpretação de textos, matemática e questões relacionadas ao raciocínio lógico, ciências da natureza e ciências humanas. No entanto, sabemos que a escola, em perspectiva voltada aos valores da educação popular, deve trabalhar as dimensões do conceito de cidadania, proporcionando aos estudantes re�exões e estudos críticos acerca dos problemas sociais, políticos e ambientais da sociedade em que estão inseridos. Pensar a sociedade na qual estamos inseridos leva-nos a re�etir sobre aspectos múltiplos, determinados em âmbitos local, nacional e global, ou seja, essas dimensões estão interligadas para uma cidadania geral. Parte-se da premissa de que as escolas podem contribuir para formar cidadãos conscientes em torno das questões globais, possibilitando re�exões e situações que inserem o indivíduo no mundo. Por ser a escola o lugar por onde o indivíduo, inserido em uma coletividade diversa, pode conhecer questões relacionadas à cidadania, essa instituição deve se fazer presente na vida de todos os indivíduos, pois todos devem ter esse direito garantido. Além disso, a criança e o adolescente não podem ter esse direito cerceado eventualmente pelos seus responsáveis. Escola, educação e diversidade, portanto, são conceitos inter-relacionados. A escola prepara os cidadãos para a vida em sociedade em um contexto de globalização das relações econômicas. Sob o manto da educação e da diversidade, é preciso o estabelecimento de uma proposta multicultural e intercultural de ensino, que parta do princípio do reconhecimento da coexistência de múltiplas culturas em nossa sociedade. Ainda sobre educação e diversidade, devemos nos lembrar sempre da proposta da educação em direitos humanos, direitos inalienáveis a qualquer cidadão. Com isso, espera-se que possa haver o reconhecimento da diversidade cultural, mediante o exercício da alteridade, da empatia e da tolerância. Ademais, a escola, como preparação para a cidadania global, deve estar também preocupada com a questão da sustentabilidade e da conscientização ambiental. Representatividade: materiais didáticos, currículos, corpo docente Você pode perceber que todas essas questões para as quais a escola deve estar preparada na construção e exercício de uma cidadania em âmbito global, leva-nos a pensar em todos os elementos que envolvem o processo de ensino e aprendizagem no dia a dia. Isto é, do currículo ao livro didático, do corpo docente aos componentes curriculares, dos órgãos colegiados da escola às instâncias deliberativas da comunidade escolar, todos estão envolvidos. A diversidade presente no conjunto de elementos da escola, que nada mais é que o re�exo da sociedade em que estamos inseridos, deve ser contemplada pela questão da representatividade diversa e plural da sociedade brasileira. Isso contribui com a promoção da igualdade de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE oportunidades na educação, de forma equitativa e igualitária. Quando os currículos, os materiais didáticos e o corpo docente agem de forma articulada com a representatividade, a escola torna- se mais inclusiva e democrática. Com isso, contribui para formar cidadãos conscientes e engajados para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania global. Os materiais didáticos são ferramentas indispensáveis, que auxiliam o trabalho do professor na mediação com os alunos no processo de ensino e aprendizagem. Livros, apostilas, textos, plataformas, aplicativos e outras ferramentas na web, entre outros, são exemplos de materiais didáticos. Desses materiais, especialmente os livros didáticos devem estar atualizados com a legislação vigente, como, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei 10.639/03, que torna o ensino da história e cultura afro-brasileira obrigatório, e a Lei 11.645/08, que torna o ensino da história e cultura dos povos indígenas também obrigatório. Essas legislações reforçam as identidades sociais e culturais, suas histórias e perspectivas diversas, essenciais por abordar a diversidade cultural e a diferença com que se constitui a população brasileira. Nesse sentido, devem abarcar situações e exemplos de diferentes abordagens socioeconômicas, culturais, étnico-raciais, de gênero etc., tendo suas histórias de vida mostradas e valorizadas. A matriz curricular deve estar alinhada aos documentos e legislação norteadores da educação básica promulgados desde a Constituição Cidadã de 1988: a Lei de Diretrizes e Bases (1996), que introduz as áreas de sociologia e de �loso�a, indispensáveis para a formação cidadã, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (2013), que orientam as instituições de ensino a organizarem seus currículos de acordo com a região e contexto em que se insere, e a Base Nacional Comum Curricular (2017), exemplos de alguns dos documentos norteadores para trabalhar a questão da diversidade, da diferença e das identidades em nossas escolas. O currículo e as matrizes curriculares devem se preocupar em contemplar a diversidade cultural e as identidades, bem como a legislação e os documentos orientadores para a educação básica. Assim, devem ser incorporados no currículo e matrizes autores, cientistas, líderes e pensadores de diferentes origens e abordagens interdisciplinares que tratem das questões sociais e culturais. Nessa mesma perspectiva, o corpo docente das unidades educacionais deve ser diversi�cado do ponto de vista social e cultural. Deve contemplar, ao máximo possível, as características da diversidade cultural e das identidades, ou seja, as identidades étnico-raciais e culturais nas escolas devem re�etir a nossa sociedade. É interessante que os estudantes se sintam representados pelo corpo docente, bem como em outras situações de liderança, coordenação ou direção na escola. Isso pode representar uma variedade da diversidade humana, que contribui para o desenvolvimento de formas e práticas de eliminação do preconceito, da intolerância e da discriminação. Podemos perceber, en�m, a necessidade de evidenciar a questão da cidadania e o papel da escola nesse processo, para que seja possível re�etir sobre a necessidade de retomarconstantemente as condições e determinações de nossa formação social e histórica. Para isso, é necessário apontar as contradições e os con�itos. Veja a importância de um modelo de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE educação inclusiva a ser adotado pela escola, para que as formas diversas de desigualdades possam assim ser reduzidas! A�nal, como apontou Wanderley Guilherme dos Santos, a cidadania no Brasil é uma corrida de obstáculos (Oliveira; Costa, 2016, p. 186). Por isso, a educação inclusiva é fundamental, para que possamos superar esses obstáculos e, algum dia, conquistar todas as dimensões do conceito de cidadania de forma plena para toda a população brasileira e mundial. Vamos Exercitar? Chegamos ao �nal desta aula e, para isso, devemos nos lembrar dos questionamentos iniciais: qual a importância das políticas públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas em uma sociedade como a brasileira, constituída historicamente pelas formas diversas de desigualdades? Você estudou que, no Brasil, a construção dos direitos de cidadania se dá de forma diferenciada em relação aos países desenvolvidos. De acordo com o que aprendemos, “no Brasil, os direitos sociais foram implementados antes dos direitos civis, que continuavam totalmente precários, e dos direitos políticos que praticamente deixaram de existir durante o regime autoritário de 1937 a 1945” (Oliveira; Costa, 2016, p. 187) e, se acrescentarmos, durante a ditadura militar. Você estudou que as políticas públicas educacionais se caracterizam por programas, estratégias e iniciativas desenvolvidas por governos para a melhoria do sistema educacional de modo geral. A ideia consiste em garantir o acesso equitativo à educação de qualidade. Já as políticas de inclusão visam garantir que todos os indivíduos sejam incluídos na sociedade e têm como objetivos trazer a acessibilidade, o respeito, a diversidade, o combate à discriminação e desenvolver a participação cidadã. As ações a�rmativas, por sua vez, são políticas ou práticas que objetivam corrigir desigualdades históricas e promover a inclusão de grupos que foram historicamente marginalizados. Como as escolas podem contribuir para uma cidadania global? Você aprendeu que a escola, pertencente ao sul global, é uma instituição bastante importante que contribui com a problematização de questões que colocam em xeque a lógica do modelo de produção e de sociabilidade adotados no capitalismo. Você percebeu que pensar a sociedade envolve-nos a re�etir sobre aspectos múltiplos determinados em seus âmbitos local, nacional e global, pois são dimensões interligadas em uma cidadania geral. Você estudou que a escola prepara os cidadãos para a vida em sociedade e em meio a um contexto de globalização das relações econômicas. A �m de preparar a escola para a cidadania global, é preciso o estabelecimento de uma proposta multicultural e intercultural de ensino, de uma educação em direitos humanos, além de a escola estar também preocupada com a questão da sustentabilidade e da conscientização ambiental. De que maneira a escola, seus materiais didáticos, currículos e corpo docente contribuem com a representatividade? Você estudou que, quando currículos, materiais didáticos e corpo docente estão articulados com a representatividade, a escola torna-se mais inclusiva e democrática. A Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE diversidade presente no conjunto de elementos da escola deve ser contemplada pela questão da representatividade diversa e plural de nosso povo, a�nal, a escola é re�exo da sociedade. A escola, nessa perspectiva, pode contribuir para a formação de cidadãos conscientes e engajados para a vida em sociedade e para o exercício da cidadania global, promovendo oportunidades na educação, de forma equitativa e igualitária. Saiba mais Políticas Públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas Saiba mais! Para aprofundar os seus conhecimentos sobre as políticas públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas, sugerimos a leitura do artigo Políticas a�rmativas e inclusão: formação continuada e direitos, de Cristina Miyuki Hashizume e Maria Dolores Fortes Alves. Nesse ensaio, as autoras discutem as políticas a�rmativas e os direitos dos estudantes com de�ciência e abordam o histórico das políticas a�rmativas no Brasil, tecendo re�exões a partir da educação inclusiva. A escola como preparação para uma cidadania global Para o aprofundamento dos estudos acerca da cidadania em sua dimensão global, recomendamos a leitura do Capítulo 1 – Direitos Humanos, democracia e desenvolvimento, do livro O pluriverso dos Direitos Humanos: a diversidade das lutas pela dignidade, do livro de Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins (orgs.). Nesse capítulo, Boaventura de Sousa Santos analisa as tensões e assimetrias que os direitos humanos terão de considerar para se constituírem enquanto uma efetiva gramática de contra-hegemonia. O sociólogo analisa a necessidade de uma tradução intercultural entre valores da matriz ocidental e princípios não- ocidentais da dignidade humana. Representatividade: materiais didáticos, currículos, corpo docente Para o aprofundamento dos estudos sobre a questão da representatividade em materiais didáticos, currículo e corpo docente, indicamos a leitura do Capítulo 4 – O relativismo cultural, o respeito à diversidade e a Lei n. 10.639, do livro Relações étnico-raciais para o ensino da identidade e da diversidade cultural brasileira, de Mario Sergio Michaliszyn. Nesse capítulo, o autor apresenta algumas possibilidades de intervenção na escola para que se contemple a identidade e diversidade cultural brasileira. Referências https://www.scielo.br/j/delta/a/8j7NS7XTVMDTyHstDmRTxJs/# https://www.scielo.br/j/delta/a/8j7NS7XTVMDTyHstDmRTxJs/# https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194737/epub/8?code=SOuW7mQhJq31ut5AwOiJssCVjHaLRz+ZEsEsjCS1obaPzUKAu9Kn9h63m85VsZH/F7rR47XGzneF86lCDK2ShQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194737/epub/8?code=SOuW7mQhJq31ut5AwOiJssCVjHaLRz+ZEsEsjCS1obaPzUKAu9Kn9h63m85VsZH/F7rR47XGzneF86lCDK2ShQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194737/epub/8?code=SOuW7mQhJq31ut5AwOiJssCVjHaLRz+ZEsEsjCS1obaPzUKAu9Kn9h63m85VsZH/F7rR47XGzneF86lCDK2ShQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194737/epub/8?code=SOuW7mQhJq31ut5AwOiJssCVjHaLRz+ZEsEsjCS1obaPzUKAu9Kn9h63m85VsZH/F7rR47XGzneF86lCDK2ShQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194737/epub/8?code=SOuW7mQhJq31ut5AwOiJssCVjHaLRz+ZEsEsjCS1obaPzUKAu9Kn9h63m85VsZH/F7rR47XGzneF86lCDK2ShQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/14889/pdf/0?code=sWy1WKcTFVxhBSKWPmw2tGNblsMK39IIlT8eTit8dlIfIcwP6KT6TWgqc61InywoM7Ljj6wHW2NiP1nVGf07eQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/14889/pdf/0?code=sWy1WKcTFVxhBSKWPmw2tGNblsMK39IIlT8eTit8dlIfIcwP6KT6TWgqc61InywoM7Ljj6wHW2NiP1nVGf07eQ== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE BARBOSA, A. C. A. et al. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidente da República, 1988. MACHADO, I. J. de R.; AMORIM, H.; BARROS, C. R. de. Sociologia hoje: ensino médio. São Paulo: Ática, 2016. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. SANTOS, B. de S. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento. In: SANTOS, B. de S.; MARTINS, B. S. O pluriverso dos direitos humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. p. 39-61. Aula 5 Encerramento da Unidade Videoaula de Encerramento Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional.Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Chegada Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta unidade, que é reconhecer um arcabouço teórico-conceitual sobre a formação das identidades socioculturais e o papel da educação, cooperando com a a�rmação dos direitos humanos, com o reconhecimento e com valorização Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE da diversidade, você deve ter em mente alguns conceitos socioantropológicos fundamentais para os estudos sobre educação, diversidade e desigualdade. Diversidade social e cultural Reconhecer a formação da diversidade sociocultural e valorizar essa diversidade em nosso meio social está compreendido na competência desta unidade. O conceito de cultura deve ser entendido a partir de uma perspectiva plural e diversa, ou seja, partindo da concepção de que todo ser humano é um ser cultural e convive social e culturalmente com outros povos. Ele depende de outros seres humanos para a realização da sua vida social. Seres humanos possuem diferenças, assim, em educação e diversidade, a diferença e a diversidade devem ser respeitadas e preservadas. Nos estudos sobre cultura, existem diferentes de�nições acerca da forma de abordar essa qualidade humana. O multiculturalismo parte da ideia de que diferentes culturas coexistem no interior de um mesmo espaço social. No campo da antropologia, há diferentes correntes teórico-metodológicas: o etnocentrismo parte do ponto de vista do observador, levando em consideração a sua própria etnia no centro de tudo; e o relativismo cultural parte da perspectiva de que cada cultura deve ser analisada de acordo com os seus próprios termos e prede�nições. Identidade e diferenças A identidade é um conceito-chave para os estudos das diferenças socioculturais. Reconhecer as identidades sociais e culturais corresponde à demarcação e estabelecimento das diferenças. A disciplina de educação e diversidade toma como premissa o reconhecimento das características socioculturais dos povos diversos que habitam um mesmo lugar. A sociologia e a antropologia, por sua vez, contribuíram com os estudos sobre identidade. Entre eles, podemos elencar Stuart Hall (2006) e Zygmunt Bauman (2001): o primeiro indica diferentes características da identidade a partir do advento da modernidade – sujeito do iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. O sujeito pós-moderno, atrelado às mudanças sociais advindas a partir da década de 1970 e também sob a in�uência das novas tecnologias de informação e comunicação, estaria sendo in�uenciado pelas múltiplas identidades que constituem o per�l dos indivíduos. Isto é, acreditava-se que o sujeito até possuía um núcleo “cultural”, mas �xo, imutável, pois mantinha um diálogo contínuo com as culturas com as quais entrava em contato. Para Bauman (2001), a identidade na modernidade torna-se algo líquido, os indivíduos incorporam outros elementos culturais, de forma mais �uida e �exível, se comparada ao contexto histórico anterior, marcado pela rigidez. A modernidade líquida, portanto, não consegue preservar a sua forma por muito tempo. A identidade possui algumas características: circunstancial, referindo-se às características atribuídas a um indivíduo inserido em uma sociedade com base em fatores externos, muitas vezes fora de seu controle; dinâmica, pois está sujeita a mudanças ao longo do tempo, como algo �uido, que se adapta segundo as condicionantes da vida; e contrastiva, algo motivado pelo Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE próprio indivíduo, ou seja, é a forma como as pessoas se de�nem em relação aos outros. Em suma, podemos perceber a importância da alteridade e do reconhecimento do outro, conceito elementar nos estudos em educação e diversidade. O exercício da alteridade é signi�cativo para a construção de nossa própria identidade. Preconceito, discriminação e desigualdades As relações entre educação, diversidade e desigualdades devem ser analisadas de forma crítica, a tomar como base a formação histórica e social do Brasil. Uma das expressões das diversas formas de desigualdades são as discriminações praticadas pela não aceitação da diferença. Nesse caso, enquanto estudiosos da disciplina de educação e diversidade, precisamos de�nir corretamente os signi�cados de preconceito e discriminação: preconceitos são julgamentos ou percepções antecipadas sobre as pessoas, crenças ou sentimentos; e discriminação é o tratamento diferenciado e/ou exclusão diante de características especí�cas da pessoa ou grupo social e corresponde à materialização de atos preconceituosos que se conectam a processos culturais de identidade e alteridade, e à maneira com que lidamos com a diferença. As práticas discriminatórias surgem, na maioria das vezes, motivadas por formas de desigualdades ocasionadas pela distribuição desigual de recursos, gerando o fenômeno da pobreza. Essas questões são importantes de serem analisadas e relacionadas com a educação, o que nos leva a entender as características do modo de produção capitalista em que estamos inseridos, como procurou fazer Karl Marx. Nesse sentido, faz-se necessário re�etir sobre as possibilidades de inclusão que a educação proporciona e, com isso, alcançar a mudança social para uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática. Educação inclusiva e humanista Diante das condições e determinações sociais, econômicas e culturais com que nos constituímos enquanto população brasileira ao longo de nossa formação, caracterizadas pelas desigualdades sociais e a distribuição desigual de renda, poder e oportunidades, é preciso pensar na redução das formas diversas de desigualdades: econômica, social, política, étnico- racial, gênero, educacional, regional, entre outras. Sobretudo quando nos inserimos em um país marcado historicamente pelas desigualdades, as políticas públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas são fundamentais para que seja possível a construção de uma sociedade justa e igualitária. Essas políticas caracterizam-se por programas, estratégias e iniciativas desenvolvidas por governos para a melhoria da educação e da sociedade. As políticas de inclusão visam à garantia da inclusão de todos a partir da acessibilidade, do respeito, da diversidade, do combate à discriminação e do desenvolvimento da participação cidadã. Já as ações a�rmativas são políticas ou práticas com o objetivo de corrigir desigualdades históricas e promover a inclusão de grupos historicamente marginalizados. Mediante o conjunto de políticas públicas educacionais, de inclusão e de ações a�rmativas, a escola busca se preparar para a cidadania global, mediante uma proposta multicultural e intercultural de ensino, preocupada com os direitos humanos, a sustentabilidade e a conscientização ambiental. Para auxiliar esse processo, você pode perceber a importância da representatividade nos currículos, materiais didáticos e corpo docente, no qual deve atuar de forma articulada, contemplando a diversidade plural de nosso povo, e entendendo a escola como re�exo da sociedade. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No estudo de caso desta unidade, imagine-se como um educador de uma escola localizada em uma cidade de médio porte, constituída pela integração de múltiplas etnias ao longo de sua formação histórica. Nesse sentido, a escola atende uma população diversi�cada social e culturalmente, composta por alunos de diferentes origens étnicas, culturais e socioeconômicas. A escola vem enfrentando muitos desa�os relacionados à questão da diversidade social e cultural, especialmente nos últimos anos, diante do agravamento de con�itos relacionados à discriminação e à intolerância. Entre os principais desa�os enfrentados pela escola nas questões relacionadas à diversidade social e cultural, tem-se percebido que a diversidade não é totalmente re�etida nos currículos,nas práticas pedagógicas e na organização dos órgãos colegiados. A escola acaba priorizando a história da cultura da Europa ocidental em seu currículo, em detrimento de outras formas de saberes e conhecimentos. Quanto às questões relacionadas à identidade e às diferenças, os estudantes dessa escola têm enfrentado desa�os relacionados à expressão de sua identidade, seja ela étnica, cultural, de gênero ou de orientação sexual. Além disso, houve o aumento do número de casos de preconceito e/ou discriminação em decorrência da falta de compreensão e respeito pela diversidade de identidades na comunidade escolar, registrados com maior frequência recentemente na escola. Outro desa�o para a escola é fazer uma abordagem inclusiva e humanista em educação, a �m de minimizar a marginalização de certos grupos sociais. Por �m, tem-se veri�cado a falta de recursos no apoio a alunos com necessidades especiais. Como vimos, são muitos os desa�os relacionados à educação e à diversidade. Diante dessa situação, em que medida você, na condição de educador dessa escola, poderia contribuir com a resolução de alguns desses desa�os colocados, tendo em vista um modelo de educação mais inclusivo, democrático e pautado na diversidade e na valorização das identidades sociais e culturais? Quais as suas sugestões para a diminuição (ou erradicação) de casos de preconceito, discriminação e violência que têm acontecido na escola? De que modo você acredita ser possível desenvolver, articulado com a direção, educadores, órgãos colegiados e comunidade escolar, um modelo de educação representativa na escola, re�etindo a diversidade social e cultural daquela sociedade? Você pode aprofundar suas re�exões sobre o caso apresentado por meio das seguintes questões: 1. Qual a importância dos conceitos de diversidade sociocultural e de identidade para os estudos em educação? Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 2. Quais as relações entre preconceitos e discriminações com a distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades? 3. Com quais ações é possível desenvolver uma educação mais inclusiva e humanista na escola? Prossiga com a leitura para saber como o desa�o exposto pode ser solucionado! Para a resolução desse estudo de caso sobre as relações entre educação, diversidade e desigualdade, em que nos compete reconhecer a formação das identidades socioculturais e o papel da educação com o reconhecimento da valorização da diversidade, é preciso retomar a importância de compreender a diversidade sociocultural e os processos de formação das desigualdades em nosso país. Retomando a atividade proposta para esta unidade, em que medida você, na condição de educador da �ctícia escola, poderia contribuir com a resolução de alguns dos desa�os apresentados, tendo em vista um modelo de educação mais inclusivo, democrático e pautado na diversidade e na valorização das identidades sociais e culturais? Quais as suas sugestões para a diminuição (ou erradicação) de casos de preconceito, discriminação e violência que têm acontecido na escola? De que modo você acredita ser possível desenvolver, articulado com a direção, educadores, órgãos colegiados e comunidade escolar, um modelo de educação representativa na escola, re�etindo a diversidade social e cultural daquela sociedade? Primeiramente, você deve ter em mente que, em educação, não se faz nada sozinho, mas com parcerias e apoio, envolvendo o maior número de atores sociais na realização de múltiplos projetos. Você pode contribuir, ajudando a revisar e adaptar os currículos e as matrizes curriculares de acordo com a diversidade cultural e social dos estudantes demonstrados naquela sociedade. A ideia é que a diversidade seja re�etida nesses documentos orientadores, demonstrando saberes e conhecimentos das mais diversas origens, como a história e cultura africana, afro-brasileira e indígena. Você também pode contribuir propondo atividades integradoras em todos os componentes curriculares a partir da abordagem de temáticas relacionadas à diversidade, à igualdade e à justiça social, de modo a contemplar os aspectos da formação social e histórica de nosso país, em perspectiva crítica. Além disso, você pode propor o desenvolvimento de ações e programas de sensibilização que promovam a compreensão, o respeito e a empatia entre os estudantes, professores e comunidade escolar. Em conjunto com a direção da escola, os órgãos colegiados e outros educadores, você pode sugerir o desenvolvimento de ações e atividades formativas sobre práticas pedagógicas inclusivas, enfatizando a sensibilidade cultural e social. Além disso, você pode sugerir que se aplique a diversidade no corpo docente da escola, promovendo uma representação mais ampla das diferentes origens e experiências sociais e culturais. Para os estudantes em situação de vulnerabilidade, você pode sugerir que haja meios de acolhimento e de orientação educacional, além de recursos pedagógicos que possibilitem a inclusão dos estudantes em situação de vulnerabilidade. Com isso, espera-se que o conjunto de ações propostas, envolvendo as colaborações dos demais atores da escola, promovam uma cultura mais inclusiva e humanista, fazendo com que todos os estudantes se sintam incluídos naquela realidade educacional. A educação focada em diversidade e igualdade tem o potencial de promover um ambiente mais justo e igualitário, mediante a perspectiva humanista, por meio de práticas e políticas que promovam a inclusão e a igualdade entre todos os estudantes. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para que você assimile os conteúdos trabalhados durante a jornada desta unidade, inserimos um mapa mental que retoma os elementos essenciais e suas correlações para trabalhar educação e diversidade na escola. Fonte: elaborada pelo autor. BARBOSA, A. C. A. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2014. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidente da República, 1988. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MACHADO, I. J. de R.; AMORIM, H.; BARROS, C. R. de. Sociologia hoje: ensino médio. São Paulo: Ática, 2016. MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. M. (orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PAULA, C. R. de. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidades. Curitiba: InterSaberes, 2013. PRADO JUNIOR, C. História Econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SANCHES, W.; ALENCAR, M. G. de; FERREIRA, L. A. S. Sociologia crítica. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2016. SANTOS, B. de S.; MARTINS, B. S. O pluriverso dos direitos humanos: a diversidade das lutas pela dignidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE SANTOS, J. L. O que é cultura. 14. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. , Unidade 2 Educação E Políticas Da Diferença Aula 1 Educação e Violências Educação e violências Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Você vai estudar nesta aula as relações entre educação, as políticas da diferença e as formas de violência cotidianamente reproduzidas em nossa sociedade, pautada pelo modo de produção capitalista. Você conhecerá,de forma introdutória, a perspectiva crítica do sociólogo Pierre Bourdieu, sobretudo em suas análises sobre a reprodução da violência simbólica. Em seguida, você vai estudar o fenômeno do epistemicídio, que se dá em meio ao contexto de disputa de narrativas de conhecimento e das relações de poder. Com isso espera-se que você possa compreender o papel da ideologia burguesa e como ela opera na escola e em nossa sociedade nos dias atuais. Por �m, você vai estudar a intolerância na educação: produto e produtor da sociedade, e as formas com que ocorre esse tipo de violência. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para começar, vamos propor alguns questionamentos que nos ajudarão a conduzir a problematização proposta para esta aula: quem é Pierre Bourdieu e qual a sua importância para os estudos em educação e diversidade? Segundo Bourdieu, qual o signi�cado da teoria da reprodução da violência simbólica? O que é epistemicídio? De que forma é possível perceber o fenômeno do epistemicídio, ou seja, a morte da construção de conhecimento? O que signi�ca a intolerância na educação? Quem produz e como se manifesta? Abrindo os estudos da unidade sobre educação e políticas da diferença, convidamos você a estudar e re�etir conosco acerca das problematizações, perspectivas, avanços e retrocessos em relação à educação e suas correlações com as formas de violência na escola e na sociedade. Bons estudos! Vamos Começar! A partir de agora, você vai estudar as características das desigualdades oriundas das relações presentes nas sociedades capitalistas modernas ocidentais, a partir da segunda metade do século XX. Conhecerá um pouco mais da sociologia de Pierre Bourdieu e sua teoria da reprodução simbólica. Você vai estudar as disputas de narrativas no campo da episteme e do conhecimento cientí�co e o signi�cado do conceito de epistemicídio. Por �m, você vai retomar essas discussões relacionando-as ao campo da educação e o fenômeno da intolerância. Pierre Bourdieu e a teoria da reprodução da violência simbólica A educação envolve muitos elementos para pensar a vida de uma sociedade. Quando se fala em educação nos dias atuais, é fundamental acrescentar nesses estudos a perspectiva do sociólogo Pierre Bourdieu, fundamental para re�etir sobre educação e diversidade. Pierre Bourdieu nasceu em 1930, em Béarn, região rural de uma província periférica da França, �lho de operários, pequenos comerciantes e camponeses. Ou seja, pode-se perceber a origem humilde e simples do sociólogo francês. As contribuições de Pierre Bourdieu para a sociologia são muitas, e inovadoras, especialmente nas áreas do pensamento cientí�co, no qual o sociólogo articula aspectos objetivos e subjetivos no campo metodológico da pesquisa social. É uma contribuição também do ponto de vista político, pois Bourdieu desenvolve uma sociologia engajada, ou seja, ele toma a questão das desigualdades presentes na sociedade capitalista como o elemento central de suas análises. A sociologia engajada de Pierre Bourdieu in�uenciou diversos estudos posteriormente, bem como a ação de diversos cidadãos envolvidos nos movimentos sociais. Como você estudou na unidade anterior, os novos movimentos sociais, que surgiram no �nal dos anos de 1960 e década de 1970, lutavam por pautas ambientais, raciais, ambientais, de gênero, entre outras, que emergiram naquele contexto cultural e político. A teoria da reprodução da violência simbólica está presente na educação e seus sistemas de ensino transmitidos pelas escolas e pelos centros educacionais, ou seja, está embrenhada na Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE estrutura da sociedade capitalista. Os tipos de conhecimentos, o sistema de avaliação, a estrutura de ensino, entre outros, presentes no sistema educacional de uma escola, re�etem a estrutura de dominação na sociedade capitalista hegemônica. Figura 1 | Homem e conhecimento - Homem Vitruviano, Leonardo Da Vinci. Fonte: Wikimedia Commons. É justamente nesse sentido que se percebe a importância do pensamento de Pierre Bourdieu para pensar nas características das escolas e seus sistemas, modelos e métodos de ensino, a�nal, eles reproduzem as desigualdades sociais e educacionais. Esses métodos de ensino são tradicionais, segundo o sociólogo, do ponto de vista da manutenção do status quo vigente, e sua estrutura de reprodução, que preserva os interesses da classe dominante. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE As premissas teórico-metodológicas trazidas na sociologia de Bourdieu mostram que o cientista social (e o educador) deve descobrir as motivações pelas quais ocorre esse fenômeno social. No entanto, deve-se descobrir: i) as causas objetivas, ou seja, a estrutura social e o cotidiano vivenciado pelas pessoas; e ii) as razões subjetivas, isto é, as orientações/motivações individuais, que estavam “em alta”, diga-se de passagem, sobretudo naquele contexto de maior protagonismo por estudos em identidade e dos (novos) movimentos sociais. Para Bourdieu o papel da ciência é compreender a articulação entre agência, ou seja, a ação do indivíduo, com a estrutura, a realidade objetiva propriamente dita, que condiciona as ações dos indivíduos. Pierre Bourdieu desenvolve conceitos e problematizações importantes da estrutura social e sua reprodução em seu livro A economia das trocas simbólicas. O conceito de capital em Bourdieu corresponde à unidade de medida que determina a posição social de cada indivíduo no interior de uma sociedade, a partir das relações e trocas simbólicas que ocorrem em diversos “campos” da vida social. Capital, segundo Bourdieu, corresponde à quantidade e à qualidade de capital de um agente, e de�ne a sua posição social, seu prestígio e seu poder. Capital político, capital econômico, capital social, capital cultural, portanto, são exemplos de tipos de capital que os seres humanos possuem como riqueza, fatores diferenciadores na estrutura social. O campo social, para Bourdieu, corresponde à socialização dos indivíduos em meio à estrutura social. Cada um dos campos se constitui por relações de força entre agentes e instituições, que lutam entre si pelo domínio e hegemonia. O mundo social, segundo Bourdieu, se explica sendo formado por campos, que nada mais são do que espaços, microcosmos, em que possuem uma lógica própria de dinamicidade e organização. Para Pierre Bourdieu, o habitus (hábito), ou seja, a maneira como estamos habituados a ser e viver no convívio social, é a produção e reprodução das condutas individuais na vida em sociedade. Esse conceito tem a ver com os sistemas simbólicos subjetivos, internalizados nos indivíduos, tendo as instituições sociais papel importante nesse processo. A reprodução das desigualdades signi�ca a distribuição desigual de recursos, oportunidades e poder, gerando a pobreza e suas diversas expressões. A reprodução das desigualdades se realiza, nesse sentido, de forma sistemática e historicamente constituída e engendrada em nossa sociedade. A distribuição desigual de recursos e a estrutura social estabelecida contribui para determinar a posição social que cada indivíduo ocupa. En�m, você pode perceber a importância das contribuições trazidas pela sociologia de Bourdieu que enfatiza a articulação dos aspectos objetivo e subjetivo na análise cientí�ca do fenômeno da reprodução da violência simbólica. No livro A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron analisam a educação, os sistemas de ensino e a violência simbólica como fenômeno que se reproduz nessa estrutura social. A violência simbólica corresponde à existência de um con�ito, uma luta pelo poder, entre os agentes no interior de um mesmo campo, e com outros agentes e demais campos. A violência simbólica, segundo Bourdieu, é considerada legítima no interior de cada campo porque é vista pelos agentes como própria do sistema. E esse tipo de violência se reproduz a partir da convivência de suas vítimas. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Epistemicídio A educação, os sistemas de ensino e a reproduçãoda violência simbólica são conceitos entrelaçados com o conceito de epistemicídio: episteme, que signi�ca conhecimento; cídio, do latim cide, é um elemento que exprime a ação que provoca a morte ou o extermínio de algo. Epistemicídio, termo cunhado pelo sociólogo Boaventura Sousa Santos, que, aliás, você conheceu na unidade anterior, corresponde à morte da construção do conhecimento. A escola, em conjunto com universidades, centros técnicos e/ou outras áreas de conhecimento formativo estabelecidos na sociedade, são instituições ligadas ao conhecimento humano. Nessas instituições, ensina-se o saber cientí�co construído ao longo da história sob in�uência do pensamento ocidental. Como você já deve ter visto, existem diversos tipos de conhecimento: cientí�co, �losó�co, religioso e popular (ou vulgar), que é o senso comum. Nesse sentido, o conceito de cultura nos ajuda a re�etir sobre os diferentes tipos de conhecimento que são produzidos e sua relevância, a partir de uma perspectiva multicultural. No entanto, à luz da compreensão da educação e dos sistemas de ensino tradicionais, como os que se veri�cam nos dias atuais, é preciso trazer à tona a teoria da reprodução da violência simbólica, de Pierre Bourdieu, internalizada nas escolas e seus sistemas de ensino. Na instituição de ensino transmite-se o conhecimento cientí�co, portanto, saberes interligados aos conhecimentos, cultura e visão de mundo das classes dominantes. É a classe dominante quem determina os tipos de conhecimentos a serem apreendidos na escola, bem como a moldagem de seus currículos a serviço da reprodução das desigualdades sociais. A reprodução da violência simbólica nas escolas acaba sendo, nesse sentido, uma forma de violência constituída nas relações sociais e de poder que, por sua vez, relaciona-se ao epistemicídio. Os estudos em educação e diversidade nos ajudam a pensar como a escola lida (e tem lidado) com a questão das diferenças culturais nos sistemas de ensino, currículos e matrizes curriculares. Quando pensamos na história da educação brasileira e as relações entre a diversidade e as políticas da diferença, é preciso reconhecer os avanços, as rupturas e os retrocessos ao longo do tempo. As políticas públicas de educação inclusiva e as ações a�rmativas são exemplos de aspectos positivos para a construção de um modelo de educação mais inclusivo e democrático, que valorize a diversidade cultural nas últimas décadas. No entanto, é preciso avançar ainda mais e reunir esforços para a construção de uma escola mais inclusiva, que não reproduza as desigualdades sociais, mediante o constante pensar dos papéis dos educadores e de todos os atores da escola, bem como o combate ao epistemicídio e em defesa da construção de conhecimentos mais plurais e multiculturais. A cultura escolar, segundo Bourdieu, é dominada pela cultura burguesa. O sistema educacional e a estrutura social do modo de produção capitalista reproduzem as desigualdades sociais. É a continuidade da reprodução de uma estrutura de dominação que preserva e mantém privilégios historicamente constituídos em detrimento da exclusão de parcela signi�cativa da sociedade, oriundos das classes populares (classe trabalhadora). Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Bourdieu e Passeron (1975) chamam a atenção para essa atitude da escola, isto é, o ato de ignorar as diferenças culturais perante a educação, uma “violência simbólica”. Isso quer dizer que a ação pedagógica envolve tanto a reprodução cultural quanto social. Assim, ela tem uma atitude “arbitrária”, isto é, coercitiva, pois, apresenta a cultura dominante (das classes mais abastadas) como uma cultura geral, concebida como uma “violência simbólica” (Previtalli; Vieira, 2017). [...] o sistema escolar cumpre uma função de legitimação cada vez mais necessária à perpetuação da “ordem social” uma vez que a evolução das relações de força entre as classes tende a excluir de modo mais completo a imposição de uma hierarquia fundada na a�rmação bruta e brutal das relações de força (Bourdieu, 2001, p. 311). Pode-se perceber que o sistema escolar reproduz a ordem social vigente e o status quo dominante, portanto, a violência simbólica, aquela produzida pela cultura dominante como uma cultura geral, que todos devem seguir. E isso se demonstra com relação à construção do conhecimento, no qual se priorizam os saberes das elites e culturas dominantes. A violência simbólica praticada nas escolas e nos sistemas educacionais, nesse sentido, relaciona-se ao epistemicídio. A morte da construção do conhecimento, ou seja, quando não se prioriza a diversidade e variedade de formas de pensamento e de conhecimentos, ainda que de modo imperceptível, do ponto de vista da criticidade dos atores sociais, sinaliza para o fenômeno do epistemicídio. As epistemologias (formas de conhecimento) transmitidas pelas instituições de ensino e a educação reproduzem as formas de ver e de conhecer das culturas dominantes, e está presente nos currículos e matrizes das escolas. O Sul é, neste caso, um conceito epistêmico não geográ�co, uma metáfora dos conhecimentos nascidos na luta. A diversidade de lutas é uma fonte de abundante de saberes, de conhecimentos produzidos pelas classes e grupos sociais em sua resistência contra as injustiças estruturais e as múltiplas opressões causadas pela dominação moderna (Santos, 2022, p. 16). As epistemologias do sul, portanto, são as epistemologias (saberes e formas de conhecimento) nascidos da luta (Santos, 2022), advindas das classes sociais oprimidas no âmbito das relações sociais. A teoria social da burguesia é a teoria dos vencedores, e é o conhecimento geral que se produz e que é ministrado na maioria das universidades modernas e nas escolas. Nesse sentido, os atores sociais reproduzem as relações de dominação e a violência simbólica. Siga em Frente... Intolerância na educação: produto e produtor na sociedade Compreende-se a intolerância na educação como uma das formas de violência física e simbólica que se realiza nas relações de poder entre os atores (agentes) sociais de uma escola ou de uma sociedade. Como se pode perceber, a intolerância está relacionada às práticas de violência, como as de gênero, étnico-raciais, entre outras, como as que acontecem no cotidiano de uma Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE escola. No entanto, as formas de violência, como a intolerância na educação, está subliminarmente presente na escola desde as escolhas (currículos) com que os conhecimentos são selecionados, contribuindo para a reprodução da violência simbólica e o epistemicídio. O produto da intolerância em nossa sociedade, portanto, aquilo que é produzido por essa prática, ou seja, os seus resultados, correspondem em formas diversas de violência simbólica e material que se manifesta nas práticas de preconceito, discriminação e intolerância. O produto é, portanto, a perpetuação da estrutura de desigualdades sociais, econômicas, educacionais, culturais e de gênero, historicamente estabelecidas em nosso meio social. Os produtores na sociedade são a estrutura social em que a escola está inserida, a classe dominante que mantém o status quo vigente, e as escolas, bem como a reprodução da violência (os agentes), de acordo com o que você estudou em Bourdieu. Produto e produtores são, nesse sentido, elementos entrelaçados, um não existe sem o outro. Eles são reproduzidos no dia a dia, conforme as relações e as estruturas de dominação são preservadas, especialmente na educação. Cabe-nos, portanto, pensar em um modelo de educação que contribua para a superação do modelo de exclusão com que vivemos em nossa sociedade. O epistemicídio é abordado por Boaventura de Sousa Santos em seus estudos sobre as epistemologias do Sul, ou seja, as narrativas e formas de apreensão da realidade que nascem das massas, classes subalternas no processo histórico de dominação. Santos destaca que os conhecimentos não hegemônicos são sistematicamente desconsiderados ou excluídos pela ciência dominante e os sistemas de poder globais. FrantzFanon, um dos importantes �lósofos e psiquiatras (pós) coloniais, discute o fenômeno do colonialismo e seus efeitos psicológicos e sociais. Os estudos de Franz Fanon, assim como o de Léopold Senghor, que tem maior representatividade depois da consolidação das independências das colônias africanas e asiáticas em relação às grandes potências mundiais, são percebidos como bases importantes do pensamento das ciências humanas e sociais contemporâneas (Durão, 2022). Segundo Fanon, para além da opressão física e calcada no âmbito das questões políticas e econômicas nas relações de poder, as relações de colonização também atuaram (e atuam) para destruir modos de vida, culturas e sistemas de conhecimento de povos e comunidades colonizadas, portanto, pertencentes às epistemologias do sul. Isso indica a forma com que ocorre o epistemicídio e a reprodução de práticas de intolerância na educação. É preciso, dessa forma, analisar de que modo a intolerância na educação é um prisma que deve ser compreendido como fruto da sociedade, isto é, como consequência das relações socioeconômicas previamente estruturadas para uma distribuição desigual das relações de poder e de oportunidades. Desse modo, a estrutura social (sociedade capitalista) e as relações de poder in�uenciam a sociedade, a educação e a cultura. Contudo, é preciso reconhecer os esforços e os avanços que ocorreram (e ocorrem) na educação, sobretudo a partir das políticas públicas de educação, inclusão e as ações a�rmativas. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Vamos Exercitar? Você se lembra das problematizações propostas no começo desta aula. Para os estudos das relações entre educação e as políticas da diferença, você conheceu Pierre Bourdieu, um sociólogo de origem humilde, bastante importante nos estudos sobre educação e diversidade. Como você percebeu, são signi�cativas as contribuições de Bourdieu para os estudos em educação e diversidade, sobretudo pela capacidade de articulação entre a ação do indivíduo com a realidade objetiva que está presente em sua perspectiva teórico-metodológica. Segundo Bourdieu, qual o signi�cado da teoria da reprodução da violência simbólica? As escolas e seus sistemas de ensino reproduzem a violência simbólica e toda a estrutura de dominação da sociedade capitalista. A teoria da violência simbólica de Pierre Bourdieu demonstra que as escolas, mediante seus métodos de ensino, reproduzem as desigualdades educacionais e sociais. Essa teoria contribui para entender que os métodos de ensino das escolas são tradicionais, contribuindo assim com a manutenção do status quo vigente, além de preservar os interesses da classe dominante. Retomemos outros questionamentos do início desta aula: O que é epistemicídio? De que forma é possível perceber o fenômeno do epistemicídio, ou seja, a morte da construção de conhecimento? Como você estudou, epistemicídio é um termo cunhado pelo sociólogo Boaventura Sousa Santos que corresponde à morte da construção do conhecimento. Para pensar no conceito de epistemicídio e as relações com a educação e os sistemas de ensino tradicionais, a teoria da reprodução da violência simbólica de Pierre Bourdieu nos ajuda ao demonstrar que o conhecimento cientí�co transmitidos nas escolas reporta-se aos saberes, cultura e visão de mundo das classes dominantes, como mencionado. Nesse sentido, veri�ca-se uma forma de violência praticada pela (e na) escola, que é constituída a partir das relações sociais e de poder, o que por sua vez se relaciona ao epistemicídio. Por �m, questionamos o signi�cado da intolerância na educação. Quem a produz e como se manifesta? Você viu que o produto da intolerância corresponde a formas diversas de violência simbólica e material reproduzida pela sociedade e que se manifesta nas práticas de preconceito, discriminação e intolerância. O produto, ou seja, o resultado, corresponde às formas diversas de desigualdades historicamente estabelecidas em nossa sociedade. E os produtores são a classe dominante e a estrutura social, que mantém o status quo vigente. Estes dois elementos, produto e produtores, não vivem em separado, ou seja, eles se retroalimentam e são reproduzidos em nosso cotidiano, preservando assim as relações sociais e as estruturas de dominação, sobretudo no âmbito da educação e da escola. Saiba mais Pierre Bourdieu e a teoria da reprodução da violência simbólica Para saber mais sobre a teoria da reprodução da violência simbólica em Pierre Bourdieu, leia o livro Escritos da educação, do próprio autor. Leia o capítulo II – A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. Depois que você terminar a leitura desse capítulo, organize-se em sua agenda para fazer a leitura de outros capítulos dessa obra. Você encontra https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/210534/epub/0?code=iNPQw50oN4KkhkWM1hh+KMCCNpWhwGYwXM+LcYiqCP5f0AwUHQQ55eP2SVKJZLpSpTtKoLLuGLwWEAd/GqqFUA== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE este material em nossa Biblioteca Virtual, além de outros títulos de Bourdieu e de outros autores que comentam os conceitos desenvolvidos pelo sociólogo. Epistemicídio Para aprofundar seus estudos sobre o tema do epistemicídio, indicamos a leitura do Capítulo 1 – Pós-colonialismo, descolonialidade e epistemologias do Sul, do livro Descolonizar: abrindo a história do presente, do sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Você encontra esse material acessando a nossa Biblioteca Virtual. Intolerância na educação: produto e produtor na sociedade Visando o aprofundamento dos estudos sobre o tema da intolerância na educação, indicamos a leitura da introdução do livro Léopold Senghor e Frantz Fanon: Intelectuais (pós) coloniais entre o político e o cultural, de Gustavo de Andrade Durão. A ideia é que você possa se inteirar nos debates sobre a questão do colonial e pós-colonial, fundamental para o pensamento das ciências humanas e sociais contemporâneas. Referências BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023. DURÃO, G. de A. Léopold Senghor e Frantz Fanon: Intelectuais (pós) coloniais entre o político e o cultural. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2022. PREVITALLI, I. M; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. RODRIGUES, R. Sociologia Contemporânea. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2018. SANTOS, B. de S. Descolonizar: abrindo a história do presente. Belo Horizonte: Autêntica Editora; São Paulo: Boitempo, 2022. Aula 2 Educação E Aspectos Legais Da Diversidade Educação e aspectos legais da diversidade https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/208632/epub/0?code=l2CuQAs9nq/DL+N9e+B1aJJzMUu5apfpZPM8yqHmRH3hGKGra6MNRuE03siUylZ2WQSvanQrgIBe1447hrfk9Q== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/208632/epub/0?code=l2CuQAs9nq/DL+N9e+B1aJJzMUu5apfpZPM8yqHmRH3hGKGra6MNRuE03siUylZ2WQSvanQrgIBe1447hrfk9Q== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/208632/epub/0?code=l2CuQAs9nq/DL+N9e+B1aJJzMUu5apfpZPM8yqHmRH3hGKGra6MNRuE03siUylZ2WQSvanQrgIBe1447hrfk9Q== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/208632/epub/0?code=l2CuQAs9nq/DL+N9e+B1aJJzMUu5apfpZPM8yqHmRH3hGKGra6MNRuE03siUylZ2WQSvanQrgIBe1447hrfk9Q== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206312/epub/0?code=4tTKfs1n4rNb22WpfFAe8PRmmikng5Y/2R+eu9dreA+RwlEXzGlk32Y4dx3okHVpukvQjzPnAK0aOKiAPGkRAA== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206312/epub/0?code=4tTKfs1n4rNb22WpfFAe8PRmmikng5Y/2R+eu9dreA+RwlEXzGlk32Y4dx3okHVpukvQjzPnAK0aOKiAPGkRAA== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la?Bons estudos! Ponto de Partida Nesta aula, veremos os avanços obtidos na educação e na sociedade de modo geral no que se refere à diversidade, políticas da diferença e políticas públicas educacionais de inclusão, fundamentais para os mecanismos de justiça social, educação e diversidade. Para a problematização vamos re�etir sobre os questionamentos: do que trata a Lei 10.639/03? Qual a sua importância para a educação e diversidade? E a Lei 11.645/08, do que trata? Qual a sua importância para a educação e diversidade? Por que as Leis 10.639/03 e 11.645/08 são essenciais para o estabelecimento de uma educação democrática, inclusiva e diversa? Qual o objetivo e a importância da Lei de Cotas nas Universidades e da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência? Perceba que são muitas as problematizações possíveis para esses estudos, e que já temos questionamentos su�cientes para o começo de uma boa conversa sobre o tema. Então, estudante, �ca a dica para que você possa aprofundar suas leituras e conhecimentos sobre essa temática. Bons estudos. Vamos Começar! Agora, você vai estudar algumas leis que contribuem para a inclusão, a democracia e a pluralidade na educação e para a redução das desigualdades sociais e raciais: serão objetos de nossos estudos a Lei 10.639/03, que trata do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, a Lei 11.645/08, sobre o ensino da história e cultura dos povos indígenas, a Lei 12.711/12, sobre as cotas nas Universidades e a Lei Brasileira de Inclusão, Lei 13.146/15, conhecida como o Estatuto da Pessoa com De�ciência. Lei 10.639/03: ensino da história e cultura afro-brasileira e africana Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Em diversidade, educação e políticas da diferença, é preciso destacar os avanços sociais trazidos com o advento das políticas educacionais de ações a�rmativas no Brasil. Essas políticas que emergem especialmente no contexto da década de 2000, foram resultado de pressões e lutas históricas de movimentos sociais e grupos engajados por melhores condições e oportunidades mais justas e equitativas para as minorias sociais. A Lei 10.639/03, que completou duas décadas no ano de 2023, aborda a questão da história e cultura afro-brasileira e africana, tornando esses conteúdos obrigatórios em todos os componentes curriculares das matrizes dos sistemas educacionais de ensino no país. Isso quer dizer que não é somente em História, Arte ou Língua Portuguesa que essas questões devem ser abordadas, mas em todas as disciplinas e por toda a escola. Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, o�ciais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras (Brasil, 2003, [s. p.]). A Lei 10.639/03 torna o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana obrigatório nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, o�ciais e particulares de todo o país. Como se pode perceber, de acordo com a Lei, incluem-se nos conteúdos e currículos, e de forma obrigatória, os estudos da História da África e dos africanos, a luta dos negros, a cultura negra e as contribuições da população negra de modo geral na formação da sociedade brasileira, ou seja, seus saberes e conhecimentos. É importante contextualizar que a Lei 10.639/03 foi aprovada em meio a um conjunto de mudanças importantes no currículo da educação básica e de avanços de pautas progressistas na política brasileira. Essa Lei foi implementada no mesmo contexto em que se aprovou a obrigatoriedade da oferta do espanhol como língua estrangeira, em 2005, a obrigatoriedade dos conteúdos relativos à história e à cultura indígena, em 2008, e a introdução das disciplinas de sociologia e �loso�a no currículo da educação básica, em 2008. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | Arte indígena - Curumim, Guardador de Memórias, Rafaela Campos Alves (2020). Fonte: Wikimedia Commons. No entanto, como você estudou na aula anterior, há uma hegemonia do que se ensina na escola, e nessa correlação de forças os conhecimentos pertencentes às classes dominantes acabam prevalecendo, de acordo com o conceito de violência simbólica de Bourdieu. Temos um paradoxo, pois as políticas públicas educacionais de ação a�rmativa e de inclusão vão na contramão dessa perspectiva. Este é o exercício re�exivo que você deve fazer, ou seja, reconhecer os avanços e os retrocessos da educação e da sociedade brasileira. Entendemos que a educação e a conscientização caminham juntas, por isso a importância das políticas educacionais de ação a�rmativa e de inclusão em nosso país. Entretanto, sabemos que a conscientização das classes populares não é de interesse das classes dominantes, uma vez que o interesse é que o pobre pense que é pobre por falta de oportunidades, de esforço individual ou, ainda, que não atingiu melhores condições de vida porque não tem mérito para isso (Previtalli; Vieira, 2017, p. 27). Por isso a necessidade de a escola repensar constantemente seus sistemas educacionais, de modo a proporcionar um ensino mais acessível a todas as classes sociais. Do ponto de vista das elites, a questão se apresenta de modo claro: trata-se de acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema de poder ao gosto das classes Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE dominantes. Se já não é possível a mesma docilidade tradicional, se já não é possível contar com sua ausência, torna-se indispensável manipulá-las de modo a que sirvam aos interesses dominantes e não passem dos limites (Freire, 2006, p. 25). Há, portanto, retrocessos que ainda perduram nas atitudes pedagógicas tradicionais na educação formal. A�nal, Paulo Freire, patrono da educação brasileira, apontava para a necessidade de uma educação popular, de modo que a classe trabalhadora possa se emancipar cultural e socialmente. Como contraponto positivo a essa realidade, temos a proposta da multiculturalidade presente nos currículos por meio das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que veremos mais adiante. Trata-se da adoção de práticas de diversidade e pluralidade para a educação das relações étnico-raciais, bem como a superação de formas de discriminação e de violência. As diferenças culturais entre as classes burguesas e as classes trabalhadoras existem na realidade educacional e social em que estamos inseridos. Como podemos perceber, as produções culturais das classes trabalhadoras são desvalorizadas por serem consideradas inferiores às das classes dominantes. Nessas re�exões, devemos nos lembrar de Marx e suas explicações sobre as contradições da sociedade capitalista e o fenômeno de pauperização da classe trabalhadora, a classe dominada. En�m, sabemos do nosso papel de educadores, no sentido de buscar superar qualquer forma de desigualdade e de injustiça social que ainda persiste em nossa sociedade. Por isso reconhecemos a importância da Lei 10.639/03, que busca o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural, como o ensino das contribuições diversas da formação da população brasileira: cultura e saberes dos povos indígenas, da população negra e dos europeus, assim como de outras etnias que contribuíram com o desenvolvimento do país ao longo da formação multicultural de nossa sociedade. Com isso, espera-se que as instituições de ensino contribuam signi�cativamente para desconstruir estereótipos e preconceitos, historicamente constituídosem nosso meio social, e promova o respeito e a valorização da multiculturalidade, para que se possa pensar uma educação mais inclusiva e democrática, re�etindo as características múltiplas da população brasileira. Essas políticas educacionais contribuem com o fortalecimento da identidade e o desenvolvimento da autoestima da população negra, além de proporcionar meios de inclusão e de ajuda no combate ao racismo estrutural, culminando com a educação para a igualdade racial. Assim, é possível estabelecer mecanismos educacionais para a cidadania e o respeito à diversidade cultural e social. Lei 11.645/08: ensino da história e cultura dos povos indígenas A Lei 11.645/08 vai na esteira das políticas educacionais voltadas à inclusão e a valorização da diversidade sociocultural. Sabemos da importância da contribuição dos povos indígenas, seus modos de vida e cosmovisão, saberes e conhecimentos, cultura, arte, economia, entre outros Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE elementos, fundamentais para a formação social e cultural do Brasil. A Lei 11.645/08 trata da questão da diversidade cultural dos povos indígenas e a forma de apreensão da realidade. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena (Brasil, 2008, [s. p.]). A Lei 11.645/08, como se percebe, inclui a abordagem sobre a cultura indígena, tornando-a obrigatória na educação básica em todas as modalidades de ensino, bem como em todos os componentes curriculares. Você pode perceber que a obrigatoriedade do ensino das culturas indígenas e negras contribui signi�cativamente para retratar todos os aspectos da população brasileira, a�nal estamos falando de duas populações que correspondem à base de nosso povo, que tiveram seus saberes ignorados durante séculos. Ao pensarmos a formação do povo brasileiro, na qual aparecem o negro, o indígena e o europeu, não se pode esquecer da exploração do negro e do indígena pelo sistema de trabalho compulsório durante séculos. Essas duas populações foram vítimas, e existe um trabalho árduo para a educação no sentido de descolonizar conteúdos e matrizes curriculares, sendo necessário reforçar essas contradições históricas junto aos agentes sociais envolvidos no processo educacional. Nesse sentido, da mesma forma que os negros encontram di�culdades para serem incluídos dignamente na sociedade, também os indígenas vivem uma situação problemática desde o período da colonização do Brasil, e isso reverbera na forma de preconceitos e discriminações (Previtalli; Vieira, 2017, p. 106). Em conjunto com a Lei 10.639/03, a Lei 11.645/08 contribui signi�cativamente para promover mudanças que ampliam a perspectiva de uma escola inclusiva do ponto de vista social, plural e democrática, sobretudo porque promove o reconhecimento da diversidade cultural. A população brasileira tem como característica a miscigenação, a mistura de povos que contribuíram para formar a nossa identidade. Apesar de ter havido muito extermínio de grupos indígenas, eles ainda resistem no Brasil. Segundo o Instituto Socioambiental Os povos indígenas contemporâneos estão espalhados por todo território brasileiro. Vários desses povos também habitam países vizinhos. No Brasil, a grande maioria das comunidades indígenas vive em terras coletivas, declaradas pelo governo federal para seu usufruto exclusivo. As chamadas Terras Indígenas (TIs) somam, hoje, 703. (ISA, 2016, p. 1) Muitas dessas populações passaram a exigir seus direitos a partir dos anos 1970, considerando que deveriam não somente contar com os cuidados do Estado, mas reivindicarem seus direitos Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE por si sós. Uma das conquistas foi a Lei 11.645, promulgada em 2008, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e culturas indígenas na educação básica. Essa lei tem a intenção de perpetrar o conhecimento da história e da diversidade étnica indígena e reconhecer a importância do índio na constituição do povo e da cultura brasileira. (Previtalli; Vieira, 2017, p. 90) A Lei 11.645/08, que trata do ensino da cultura dos povos indígenas, contribui com a desconstrução de estereótipos e preconceitos do senso comum e em muitos outros segmentos de nossa sociedade. É preciso destacar a concepção ecológica e a economia de subsistência com que os povos indígenas estabelecem nas mediações entre homem e natureza. Com isso, o conjunto dessas legislações contribui para promover o respeito e a valorização, bem como uma educação para a cidadania e respeito à diversidade. Siga em Frente... Lei de Cotas nas Universidades e Lei Brasileira de Inclusão A Lei de Cotas e a Lei Brasileira de Inclusão são expressões da ampliação da diversidade nas escolas e instituições de ensino, de modo a garantir as vagas e as condições para todos os estudantes. Elas estabelecem conexões com a abordagem das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que trazem a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena e são essenciais para o estabelecimento de uma educação democrática, inclusiva e diversa. Para que se possa entender a Lei de Cotas nas Universidades, devemos nos lembrar que a palavra cota signi�ca parte. As cotas descrevem um dos aspectos mais importantes das políticas de ações a�rmativas, pois correspondem a uma reserva de vagas na universidade ou em qualquer outro espaço social no qual o acesso de algum grupo étnico, religioso, de gênero ou qualquer outro não tenha acesso garantido com uma base de oportunidades realmente equivalentes. A igualdade de oportunidades deve estar baseada em uma igualdade real e concreta de condições sociais, econômicas e educativas. Quando a igualdade de oportunidades não acontece por motivos diversos, são construídas as ações a�rmativas que forem necessárias para a reparação desse problema social. Ações a�rmativas, portanto, correspondem a um conjunto de ações temporárias construídas pela sociedade para resolver algum problema que afeta de forma negativa um grupo social. São a�rmativas, pois a�rmam a necessidade de encontrar soluções para problemas sociais. A Lei 12.711/12, conhecida como a Lei de Cotas nas Universidades, foi sancionada em agosto de 2012 e garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos (Previtalli; Vieira, 2017, p. 105). Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas da instituição) serão subdivididas − metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio, per capita, e metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será levado em conta percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográ�co do Instituto Brasileiro de Geogra�a e Estatística (IBGE) (Previtalli; Vieira, 2017, p. 105). A Lei de Cotas, por meio da reserva de vagas, das cotas raciais e dos critérios socioeconômicos têm como objetivo promover a democratização do acesso ao ensino superior, buscando estimular a inclusão nas universidades federais brasileiras e, assim, diminuir as desigualdades sociais e raciais no país, promovendo a inclusão no ensino superior. Essa Lei é importantíssima, pois contribui para a diminuição das desigualdades sociais e educacionais veri�cadas historicamente no Brasil. A Lei 13.146/15, ou seja, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência, tem como objetivo garantir e promovermuitas culturas em uma determinada sociedade. O Brasil, por exemplo, é um país multicultural, o que se evidencia claramente quando re�etimos sobre as particularidades de nossa formação social, política e econômica, marcadas pela inclusão de diversas etnias e culturas ao longo da história, e pelo estabelecimento de relações culturais com os povos originários e autóctones aqui estabelecidos. O contato entre os diferentes povos caracteriza-se por relações de dominação e de exploração. Na América Latina e, particularmente, no Brasil a questão multicultural apresenta uma con�guração própria. Nosso continente é um continente construído com uma base multicultural muito forte, onde as relações interétnicas têm sido uma constante através de toda sua história, uma história dolorosa e trágica principalmente no que diz respeito aos grupos indígenas e afrodescendentes (Moreira; Candau, 2013, p. 18). A formação histórica de nosso país está marcada na eliminação física do “outro” ou por sua escravização ou no plano das representações e no imaginário social (Moreira; Candau, 2013). É justamente nesse sentido que o debate multicultural e sobre a constituição sociocultural do Brasil se fazem relevantes. No Brasil, as políticas públicas promulgadas nas últimas décadas vêm tendo o entendimento de que a democracia e a pluralidade cultural são elementos importantes a serem preservados e valorizados em nosso país, de acordo com os princípios e os valores humanos. Essa é também a visão que outros países do mundo têm do Brasil. A educação, em suas diferentes formas, deve caminhar no sentido de oportunizar meios a�rmativos de reconhecimento e valorização da Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE diversidade cultural e, nessa perspectiva, a educação deve valorizar e reconhecer as várias culturas diferentes que coexistem no interior de uma mesma sociedade, como um fator positivo, pois a mistura dessas diferentes culturas, gerou a especi�cidade e a particularidade da cultura brasileira. O etnocentrismo parte da ideia, do ponto de vista de quem observa, em considerar a sua própria etnia no centro de tudo, ou seja, é a base (conjunto de princípios e valores) pela qual o observador deve olhar as demais culturas existentes no mundo. Nesse sentido, a própria etnia (povo) e todos os atributos culturais que lhes são peculiares devem estar no centro de referência do sujeito observador, especialmente quando se relaciona a culturas diferentes. Trata-se de um instrumento comparativo de diferentes culturas. Na antropologia, o etnocentrismo está presente nas narrativas da evolução, denominadas evolucionismo social. O inglês Edward Tylor, o norte-americano Lewis Morgan e o escocês James Frazer são autores que apoiam suas teorias nas narrativas de evolução. Essas perspectivas são, portanto, etnocêntricas, pois entendem que a cultura dos povos “civilizados” dos quais fazem parte, incluindo seus modelos de desenvolvimento, correspondem à etapa mais evoluída da humanidade, além de ser tomada como centro de referência nas comparações entre as diferentes culturas. A perspectiva etnocêntrica foi responsável por proporcionar formações sociais desiguais desde o advento da modernidade. A “postura” etnocêntrica foi a base para o colonialismo, contribuindo com o desenvolvimento do mercantilismo e da economia de mercado, além do avanço do imperialismo e do fenômeno do neocolonialismo, pelo qual diversos países da África, Ásia e Oceania foram dominados pelas potências imperialistas que se desenvolviam no contexto da Segunda Revolução Industrial, tendo suas riquezas exploradas e expropriadas. As teorias do evolucionismo social serviam de “justi�cativa” para a dominação exercida pelos europeus no contexto do imperialismo. O encontro entre os europeus e as diferentes populações não europeias resultou no fenômeno do etnocentrismo. Uma postura etnocêntrica, portanto, possibilita um entendimento equivocado e preconceituoso do outro, uma vez que não se reconhece a diferença e todas as dimensões culturais. Em perspectiva inversa ao evolucionismo, o relativismo cultural toma como referência a ideia de que cada cultura deve ser analisada a partir dos seus próprios termos. Os olhares, as observações e todas as possibilidades de percepções de uma cultura diferente devem ser relativas. Esse exame depende fundamentalmente da forma com que o indivíduo e seu grupo compreendem e enxergam as diferentes culturas do mundo ao seu redor. O antropólogo alemão Franz Boas foi quem inaugurou a perspectiva do relativismo cultural e, ao criticar a postura etnocêntrica do evolucionismo cultural, compreendia o conceito de cultura semelhante a um todo integrado e ordenado em determinado agrupamento social, movido a partir de princípios vivenciados e compartilhados pelos indivíduos de uma sociedade especí�ca. En�m, como você pode perceber, existem diferentes concepções em torno do conceito de cultura, a partir de uma abordagem socioantropológica e das relações com a educação. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Siga em Frente... Expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes As bases do conceito de cultura que estamos adotando nos estudos sobre a sociedade, a educação e a diversidade, tomam como referência o reconhecimento da própria diversidade cultural humana como fator indispensável nesse exercício re�exivo. Expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes são formas de representações culturais da realidade praticadas por diferentes etnias e culturas ao longo do tempo e do espaço. A educação, mecanismo pelo qual a assimilação das práticas culturais é possível, corresponde a um processo de socialização dos indivíduos, assumindo um papel importante para a vida em sociedade. O sociólogo francês Émile Durkheim aponta a educação (e a escola) como uma das instituições sociais responsáveis por “moldar” os indivíduos para a vida em sociedade, de acordo com os pressupostos estabelecidos pela consciência coletiva de determinada sociedade. Como podemos perceber, a educação serve para a socialização das pessoas, pois ela re�ete o papel social que cada indivíduo deve representar naquela sociedade, sendo que, assim, todos aprendem que para serem adultos, alguns para se tornarem homens, mulheres ou mesmo para se tornarem chefes, feiticeiros, músicos, de acordo com a posição que vão ocupar no grupo (Previtalli; Vieira, 2017). Segundo a perspectiva de Durkheim, a educação, assim como outras instituições sociais, promove a coesão social. Para o sociólogo, a sociedade prevalece e se impõe sobre os indivíduos, a �m de integrá-los à sociedade. As diversas práticas e representações culturais dos indivíduos e grupos sociais coexistem com os diversos tipos de educação: educação informal, educação formal, educação não formal e educação popular – exemplos de como a educação pode ser realizada em determinada sociedade. A �m de buscar uma de�nição para as relações entre cultura e diversidade, os estudos do antropólogo norte-americano Clifford Geertz e sua perspectiva interpretativa de cultura são importantes para este estudo. Geertz procurou mostrar como os homens se relacionam entre si tendo por base um comportamento pré-determinado, sendo que o objetivo da antropologia consiste na compreensão dos signi�cados produzidos pelo homem. O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico. Acreditado, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de signi�cados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de signi�cado (Geertz, 1989, p. 15). Segundo Geertz, é necessário compreender o signi�cado de cultura, assumindo-o como uma produção humana que tem sentido. O conceito de cultura deve ser preciso, não muito amplo, relacionado a uma dimensão justa (Geertz, 1989). A�nal, cultura, para Geertz, sob a in�uência de Weber, corresponde a teias de signi�cado por meio das quais o homem estabelece as relaçõesos direitos e a inclusão das pessoas com de�ciência em diferentes aspectos da vida social, cultural, econômica e política (Brasil, 2015). Isso representou um avanço signi�cativo na garantia dos direitos das pessoas com de�ciência, pois se baseia nos princípios da dignidade, igualdade, autonomia e inclusão e participação na sociedade. São garantias proporcionadas com essa legislação: o acesso à educação mediante a oferta de recursos e estratégias que busquem promover a educação escolar em todas as modalidades de ensino, a acessibilidade e mobilidade urbana, cujo objetivo consiste na facilitação de locomoção e acesso das pessoas com de�ciência, trabalho e emprego, para a inclusão no mercado de trabalho, o atendimento à saúde e a assistência social, sendo assegurado o atendimento e a garantia de condições dignas de vida (Brasil, 2015). Os direitos civis e políticos são também contemplados às pessoas com de�ciência com a garantia de participação política e de proteção contra qualquer forma de discriminação. Vamos Exercitar? Vamos retomar as problematizações propostas no início desta aula: do que trata a Lei 10.639/03? Qual a sua importância para a educação e diversidade? E a Lei 11.645/08, do que trata? Qual a sua importância para a educação e diversidade? Por que as Leis 10.639/03 e 11.645/08 são essenciais para o estabelecimento de uma educação democrática, inclusiva e diversa? Qual o objetivo e importância da Lei de Cotas nas Universidades e da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência? Você estudou que a Lei 10.639/03 torna o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana obrigatório em todas as escolas do Brasil. Estudos sobre a história da África e dos africanos, a luta dos negros, a cultura negra e as contribuições da população negra, de modo geral, na formação da sociedade brasileira devem ser realizados nas escolas e previstos em conteúdos multidisciplinares e currículos de todo o país. Por sua vez, a Lei 11.645/08 tornou igualmente obrigatório o ensino da história e cultura indígena na educação básica, em todas as modalidades Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE de ensino e em todas as disciplinas. Essa Lei contribui com a desconstrução de estereótipos e preconceitos em relação aos povos originários do país. Você compreendeu que o ensino das culturas indígenas e negras contribuem signi�cativamente para retratar aspectos importantes de nossa sociedade, a�nal estamos falando de populações que são a base do povo brasileiro, tidas como irrelevantes durante um bom tempo ao longo da história da educação. Em conjunto, as Leis 10.639/03 e 11.645/08 buscam o reconhecimento da diversidade cultural, mediante o estabelecimento de políticas públicas e de ações que contribuam para a promoção de mudanças rumo a uma escola inclusiva, democrática e igualitária. Você pode perceber a importância do papel de educador, no sentido de buscar superar qualquer forma de desigualdades e injustiças sociais que ainda persistem em nossa sociedade. Também de acordo com o que aprendemos, a Lei 12.711/12, conhecida como a Lei de Cotas nas Universidades garante a reserva de metade das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Essa Lei visa à promoção da democratização do acesso ao ensino superior e, consequentemente, à diminuição das desigualdades sociais e raciais no Brasil, a partir da reserva de vagas com as cotas raciais e os critérios socioeconômicos preestabelecidos nessa legislação. Por �m, você viu a importância da Lei 13.146/15, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência. Como discutimos, essa política pública promove direitos e inclusão de pessoas com de�ciência, o que signi�ca avanços importantes na garantia dos direitos de pessoas com de�ciência a partir de princípios universais pautados na participação social de todas as pessoas. Saiba mais Lei 10.639/03: ensino da história e cultura afro-brasileira e africana Para aprofundar os estudos sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, sugerimos a leitura do Capítulo 1 – O Estado contemporâneo e as ações a�rmativas como efetivação do princípio da igualdade, do livro Cotas para negros em universidades: função social do estado contemporâneo e o princípio da proporcionalidade, de Everaldo Medeiros Dias. Você encontra esse material em nossa Biblioteca Virtual. Lei 11.645/08: ensino da história e cultura dos povos indígenas Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a história e cultura dos povos indígenas, sugerimos que você conheça a página do Instituto Socioambiental. Ali você encontra muitos materiais interessantes para trabalhar nas escolas a cultura dos povos indígenas. Lei de Cotas nas Universidades e Lei Brasileira de Inclusão https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/207184/epub/0?code=g0h9togMVe5eLAj4ciZCHwbF1/FKr/DffesozqofQCEzeSlYY+ypFVvUwrgpYCIpKUBreGSU+AN3l8E6zD53iQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/207184/epub/0?code=g0h9togMVe5eLAj4ciZCHwbF1/FKr/DffesozqofQCEzeSlYY+ypFVvUwrgpYCIpKUBreGSU+AN3l8E6zD53iQ== https://www.socioambiental.org/ Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para o aprofundamento dos estudos sobre a questão da inclusão, recomendamos a leitura do Capítulo 2 – A inclusão e as mudanças por ela requeridas, do livro Inclusão de pessoas com de�ciência e/ou necessidades especí�cas: avanços e desa�os, de Margareth Diniz. Nesse capítulo, a autora discute a inclusão como um processo de mudança e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os estudantes tenham acesso a todas as oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola. Referências BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo o�cial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, 10 jan. 2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=LEI%20No%2010.639%2C% 20DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%2 0d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modi�cada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo o�cial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário O�cial da União, Brasília, 11 mar. 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, 30 ago. 2012. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência (Estatuto da Pessoa com De�ciência). Diário O�cial da União, Brasília, 7 jul. 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 30 jan. 2024. DIAS, E. M. Cotas para negros em universidades: função social do estado contemporâneo e o princípio da proporcionalidade. 1. ed. Jundiaí: Paco e Littera, 2017. DINIZ, M. Inclusão de pessoas com de�ciência e/ou necessidades especí�cas: avanços e desa�os. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2012. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 29. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192572/epub/0?code=2M1PNUIkJ4SyvgBtgcBngl4aPs8QRQcfXw07D6giRkYsIOLd+A5gnVp6myaZbMPnd1T/JAav8IrDxlHWZm960w==https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192572/epub/0?code=2M1PNUIkJ4SyvgBtgcBngl4aPs8QRQcfXw07D6giRkYsIOLd+A5gnVp6myaZbMPnd1T/JAav8IrDxlHWZm960w== https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=LEI%20No%2010.639%2C%20DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=LEI%20No%2010.639%2C%20DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=LEI%20No%2010.639%2C%20DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). População indígena no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/populacao-indigena-no-brasil. Acesso em: 30 nov. 2023. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. Aula 3 Educação e Movimento Negro Educação e movimento negro Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nesta aula, você vai estudar a importância do movimento negro e as relações com a educação, sobretudo a partir de suas contribuições que culminam com o advento das políticas públicas de ações a�rmativas, de inclusão e de redução das desigualdades sociais, e sua relação com o desenvolvimento da diversidade na educação. A questão das discriminações raciais, especialmente no contexto pós-abolicionista, será retomada nos estudos desta aula. O acesso igualitário, a permanência na educação e o combate ao racismo estrutural serão aprofundados de forma dialógica em perspectiva crítica. Alguns questionamentos se fazem necessários para iniciarmos nossas re�exões: de que modo as formas diversas de discriminações raciais estão presentes no contexto pós-abolicionista? No atual contexto, é possível garantir a permanência e o acesso igualitário para todas as pessoas na educação, independentemente de sua identidade sociocultural? De que forma isso é possível? O https://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/populacao-indigena-no-brasil Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE que é racismo estrutural? Quais as ações mais e�cazes para combater o racismo estrutural em nosso país? Qual o papel da educação nesse processo? Veja que esses são questionamentos interessantes para uma abordagem inicial, nos permitindo traçar um percurso de estudos sobre educação e movimento negro. Desejamos que você tenha uma excelente leitura. Bons estudos. Vamos Começar! Nesta aula, que aborda um dos eixos da unidade sobre educação e políticas da diferença, como já anunciado, você vai estudar o movimento negro e sua importância para a educação. Primeiramente, você compreenderá a reatualização das discriminações raciais no contexto pós- abolicionista e o seu necessário combate. Em seguida, você vai compreender a importância de lutar e preservar o acesso igualitário e a permanência na educação por todos os povos que constituem a identidade brasileira. Por �m, você vai acompanhar os estudos sobre o racismo estrutural e o papel da educação nesse processo. A reatualização das discriminações raciais pós-abolição Inicialmente, precisamos lembrar que discriminação, preconceito e racismo estão relacionados a formas de violência simbólica que infelizmente acompanham a história da humanidade. E, no Brasil, não é diferente. Como já estudamos, preconceito corresponde a um pré-julgamento, ou seja, conceito ou opinião formado por alguém antecipadamente, sem algum �ltro ponderativo. É um julgamento ou opinião formada sem levar em conta os fatos que o contestem. Eles ocorrem na sociedade, mas não necessariamente segregam ou discriminam as diferenças. A discriminação, por sua vez, promove a separação, a distinção, a segregação e o estabelecimento de diferenças de grupos ou pessoas, consideradas racialmente diferentes, partindo da perspectiva de que existem raças superiores e inferiores. No entanto, como vimos, “raça” é um termo equivocado, pois a raça que estamos adotando em nossa perspectiva é a de “raça humana”. O que existem são diferenças na aparência dos indivíduos, não relacionadas a inteligência ou capacidade. Essas diferenças e a diversidade devem ser valorizadas e, inclusive, ressaltadas. O racismo, termo que se relaciona ao conceito de discriminação, nesse sentido, produz ódio e morte entre grupos e indivíduos, ou seja, parte da perspectiva de que existe superioridade de “raças”, que propõe a segregação racial ou, até mesmo, a extinção de determinadas minorias. Sabemos que o racismo deve ser combatido, como o que se conquistou com o advento das políticas públicas de ação a�rmativa, in�uenciado pelo movimento negro, e a escola tem um papel preponderante nesse processo. A partir desse breve resgate conceitual, você compreenderá a correlação entre discriminação e racismo na sociedade brasileira. A abolição da escravatura no Brasil ocorreu em 1888 e determinou o �m da escravização dos negros no país. No entanto, o período que sucede a abolição da escravatura não representou o Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE �m das desigualdades e das discriminações raciais, mas foi uma espécie de reatualização de práticas discriminatórias em formas mais sutis e estruturais, como as políticas de branqueamento e de eugenia desenvolvidas no país no �nal do século XIX e começo do século XX. No contexto pós-abolição da escravatura, o negro foi largado à própria sorte e não houve no Brasil medidas efetivas de reparação social ou inclusão da população negra. O que se observou ao longo do tempo foram mecanismos de discriminações raciais, que impediram a inclusão e integração da população negra no desenvolvimento da sociedade brasileira. Figura 1 | Retrato de Negro, Artur Timóteo da Costa (1906). Fonte: Wikimedia Commons. A falta de medidas de reparação, de políticas públicas voltadas à integração do negro na sociedade brasileira e/ou de formas de inclusão que pudessem amenizar as di�culdades encontradas pela população negra naquelas condições provocou o fenômeno de marginalização social e exclusão desses povos. É o que explica, por exemplo, o processo de favelização no Brasil, pois as faltas de condições econômicas e oportunidades levaram os negros a buscar regiões mais afastadas das cidades, muitas vezes desamparadas pelo Estado, como com o que se deu com o processo de formação e desenvolvimento dos grandes centros no Brasil. Parte das explicações que contribuíram para o processo de desigualdades étnico-raciais no Brasil, desde o contexto pós-abolicionista, se sustentam no conceito de democracia racial Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE desenvolvida por Gilberto Freyre (Previtalli; Vieira, 2017). O mito da democracia é uma concepção que explica a inexistência de con�itos raciais no Brasil, partindo da perspectiva de que existe uma harmonia étnico-racial, ou seja, a ideia de que diferentes povos convivem paci�camente. Com isso, mesmo que não se possa a�rmar, essa perspectiva indica que nessa situação deixaria de existir preconceitos, formas de intolerância e discriminações de natureza étnico-racial. Essa concepção se baseou no conceito de miscigenação da população brasileira, segundo Gilberto Freyre, no seu livro Casa Grande e Senzala, desde a formação histórica. Freyre construiu a visãode que, no Brasil, se vivia uma democracia racial, caracterizado pela miscigenação, da mistura étnica que se faz presente na cultura brasileira. Essa concepção parte da ideia de que a mistura étnico-racial em nosso país contribuiu para superar as diferenças e estabelecer uma convivência harmônica, proporcionando uma democracia homogênea e inclusiva. Por isso, quando analisamos e comparamos as relações étnico-raciais com os Estados Unidos, por exemplo, percebe-se que, naquele país, os con�itos são mais segregados e explícitos. Para isso, temos que partir de uma diferença fundamental que é o “mito da democracia racial” que considerava que no Brasil não havia discriminação racial ou racismo. A expressão “democracia racial” parte da interpretação dos livros do antropólogo pernambucano Gilberto Freyre, “Casa Grande & Senzala” e “Sobrados e Mocambos”, em que o autor argumenta sobre a originalidade da miscigenação do povo brasileiro em que todos os antagonismos haviam sido dissolvidos na miscigenação cultural (Previtalli; Vieira, 2017, p. 101). O sociólogo Florestan Fernandes critica a perspectiva do mito da democracia racial. Diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, o racismo e a violência étnico-racial presente no Brasil ocorrem de forma velada, escamoteada, embrenhada nas relações sociais que historicamente apresentam uma estrutura desigual, em que a população negra foi considerada inferior. A perspectiva de que as diferentes culturas étnico-raciais convivem paci�camente, serviria para encobrir as contradições e con�itos que a segregação racial na sociedade brasileira provocou historicamente. Florestan Fernandes, em seu livro A integração do negro na sociedade de classes, destaca as di�culdades encontradas pela população negra para se inserir em um mundo cuja lógica é a da dominação capitalista e de uma reprodução desigual de dominação, que não oferece condições para o desenvolvimento e o acesso às riquezas produzidas socialmente. No Brasil, isso se veri�ca a partir das in�uências das históricas desigualdades sociais e econômicas, que provocaram formas de discriminação e uma estrutura racial de exclusão. Siga em Frente... Acesso igualitário e permanência na educação Como você está percebendo, a igualdade de condições de uma sociedade e o que ela representa do ponto de vista do desenvolvimento social em que se deve contemplar a utilização de várias ideias, saberes e conhecimentos advindos da diversidade dos diversos povos que compõem a Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE sociedade brasileira, são primordiais para os estudos em educação e diversidade. A educação é muito importante, pois através dela pode-se garantir os conhecimentos diversos da humanidade. O movimento negro uni�cado, fundado em 1978, foi o grande responsável pelas mudanças mais recentes e que signi�cam conquistas de direitos para negros e negras (Oliveira, 2016, p. 332). Nesse sentido, a política de cotas é um exemplo de política de ações a�rmativas, uma das medidas importantes que contribuem para a superação do racismo no Brasil, proporcionando a inclusão e a permanência dessa população nas instituições de ensino. Para que possamos pensar nas possibilidades e garantias para a permanência e o acesso igualitário na educação, precisamos nos lembrar de algumas das políticas públicas, voltadas à educação, desde o advento da Constituição de 1988. A própria Constituição Cidadã já apontava para os avanços sociais na área da educação, consolidando a transição de um regime autoritário vivenciado na ditadura militar para o regime democrático. A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 foi importante na década de 1990, pois ofereceu as bases para a implementação de ações e políticas educacionais para a valorização da diversidade étnico-racial e o combate às formas de discriminação. Na esteira dessas políticas públicas, a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro- brasileira no ensino fundamental e médio veio com a Lei 10.639/03, sendo uma importante conquista do movimento negro. Trabalhar nas escolas a luta da população negra no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, nos currículos, de forma sistemática contribui para o desenvolvimento de uma educação não racista (Previtalli; Vieira, 2017, p. 105-106). Nessa perspectiva do acesso igualitário e a permanência na educação, você percebeu que a Lei 11.645/08, que trata da obrigatoriedade do ensino da cultura dos povos indígenas, população autóctone que habitava o Brasil, a Lei de Cotas nas universidades brasileiras, e a Lei brasileira da inclusão, também conhecida como o Estatuto Nacional da pessoa com de�ciência, são políticas públicas, oriundas das lutas e reivindicações de movimentos sociais e da sociedade civil organizada de extrema importância para a democratização e inclusão nas instituições de ensino, além da valorização da diversidade cultural. Outra política pública igualmente importante para a inclusão e a democratização da educação foi a Lei 12.288/10, conhecida como o Estatuto da Igualdade Racial, que se destina a garantir “à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica” (Brasil, 2010). Essas políticas públicas, em conjunto, contribuem com o acesso igualitário à educação. Mas isso não basta. É preciso que a educação contribua signi�cativamente com a eliminação de narrativas antidemocráticas e racistas, mas, para isso, é preciso que haja cada vez mais pessoas com entendimento dessas políticas, para que se estenda para a sociedade de modo geral. Que os estudantes e atores da escola (professores, funcionários, comunidade escolar) possam obter os conhecimentos sobre a importância dessas políticas públicas, para tornar a nossa sociedade mais justa e igualitária. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Como você pode perceber, o mito da democracia racial oculta as desigualdades étnico-raciais históricas. Podemos perceber a existência do racismo estrutural, que se reverbera até os dias de hoje com a segregação racial, que se contrasta com a realidade de discriminação e de desigualdade racial vivenciada por muitos grupos excluídos social e economicamente. A abolição da escravatura e a Proclamação da República não trouxeram ganhos para o negro no Brasil. Sem um programa que o introduzisse social e economicamente em nossa sociedade, o negro �cou marginalizado, foram negligenciados seus direitos de várias maneiras, seja pela questão da cidadania, pois não tinham direito a voto, seja por problemas com a moradia, saúde e trabalho, uma vez que competiam com a migração europeia. Além disso, havia o desprestígio relacionado às teorias eugênicas, em voga na época, que consideravam o negro uma raça inferior (Previtalli; Vieira, 2017, p. 102). Os ex-escravizados brasileiros foram privados de condições materiais de existência e sobrevivência, tendo que se adaptar às condições precárias, resultando em altos índices de pobreza e marginalização. O racismo estrutural está presente na formação histórica brasileira, a partir de uma hierarquização rígida da estrutura social brasileira reverberando em condições precárias da população negra no Brasil, que se veri�ca no acesso a serviços públicos, na representação política e/ou no mercado de trabalho. A estigmatização e o preconceito levaram a formas de discriminação, preconceitos e intolerância, que agravam as desigualdades sociais e econômicas. Durante muito tempo, não houve no país políticas públicas de inclusão que buscassem a reparação histórica que o racismo estrutural aqui provocou. Isso tem começado a mudar nas últimas décadas, mas há muito trabalho a ser feito do ponto de vista da educação e da conscientização. O combate ao racismo estrutural e o papel da educação Infelizmente, ainda ocorrem muitos casos de racismo em nossa sociedade. Diversos tipos de violência vitimizam a população negra em nosso cotidiano. O racismo estrutural é outracaracterística de como se veri�cam as discriminações étnico-raciais no contexto pós-abolicionista do Brasil, re�exo de nossa formação histórica e que ecoa até os dias atuais. O conceito explica o fenômeno da hierarquização da cor da pele desde o período da colonização, fazendo com que se estabeleça um sistema em que pessoas negras ocupem a base da estrati�cação social, com menor acesso a condições e oportunidades. Pode-se perceber que a educação tem papel fundamental no combate ao racismo estrutural e as formas de violência associadas às questões étnico-raciais. A educação e suas ações, para além dos muros da escola, são fundamentais no combate do preconceito, discriminação e intolerância. Das muitas funções sociais, as políticas públicas servem para proporcionar maior conscientização e sensibilização dos estudantes e da sociedade brasileira. A conscientização e a desconstrução de estereótipos, portanto, contribuem para a valorização de conteúdos e competências da história e da cultura negra, africana, afro-brasileira e indígena, que Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE devem estar presentes nos currículos de todos níveis da educação básica, de modo a contemplar e valorizar a diversidade étnico-racial. Com isso, espera-se promover o respeito e a compreensão das diferentes culturas, sendo todas elas importantes para o desenvolvimento do país. A promoção da igualdade e da equidade social por meio da educação e da cultura, bem como de outras áreas importantes e estratégicas na sociedade brasileira, contribui para que seja possível alcançar a igualdade de oportunidades e a equidade para toda a população brasileira, independentemente da identidade sociocultural e da origem étnico-racial. A�nal, somos um país multicultural e as diversas culturas aqui existentes devem ser respeitadas e valorizadas. A formação de professores, funcionários e comunidade escolar, além da adoção de práticas pedagógicas inclusivas, contribui para o combate ao racismo estrutural. A formação e a capacitação adequada, com mecanismos que valorizem a diversidade sociocultural, são, nesse sentido, amplamente importantes para o que estamos tratando nesta aula. As o�cinas temáticas e culturais para professores da educação básica, a ação das equipes multidisciplinares para a educação das relações étnico-raciais e o desenvolvimento de um plano de ação conjunto na escola corroboram amplamente para o estímulo e re�exão crítica acerca da inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena nos currículos e no cotidiano da escola. Vamos Exercitar? Vamos rever as questões levantadas no início desta aula: de que modo as formas diversas de discriminações raciais estão presentes no contexto pós-abolicionista? A abolição da escravatura no Brasil se deu em 1888 e determinou o �m da escravização dos negros no Brasil. O período que sucede a abolição da escravatura reatualizou práticas discriminatórias de formas mais sutis e estruturais, como as políticas de branqueamento e de eugenia. Isso esteve longe de indicar o �m das desigualdades e das discriminações raciais. No atual contexto, é possível garantir a permanência e o acesso igualitário para todas as pessoas na educação, independentemente de sua identidade sociocultural? De que forma isso é possível? Você compreendeu a importância do movimento negro uni�cado, movimento social responsável pelas mudanças mais recentes e que signi�cam conquistas de direitos para negros e negras. A política de cotas é um exemplo de política de ação a�rmativa, uma medida que contribui com a garantia de acesso igualitário para todas as pessoas. É também importante, pois contribui para a superação do racismo no Brasil, proporcionando a inclusão e a permanência da população negra nas instituições de ensino. O que é racismo estrutural? Quais as ações mais e�cazes para combater o racismo estrutural em nosso país? Qual o papel da educação nesse processo? Você estudou o conceito do mito da democracia racial e percebeu que essa perspectiva oculta as desigualdades étnico-raciais Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE existentes historicamente em nosso país. A existência do racismo estrutural, que se reverbera até os dias de hoje com a segregação racial, escancara as formas de discriminação e as desigualdades raciais aqui vivenciadas por muitos grupos excluídos social e economicamente. Segundo o que aprendemos, o racismo estrutural está presente na formação histórica brasileira, desde o advento de uma hierarquização rígida da estrutura social brasileira, trazida com os portugueses, que resultou em condições precárias da população negra no Brasil. Isso se veri�ca no acesso a serviços públicos, na representação política e/ou no mercado de trabalho. Nesse sentido, a educação tem um papel preponderante no combate ao racismo estrutural e às formas de violência associadas às questões étnico-raciais. A educação precisa estender suas ações para além dos muros da escola, fundamentais no combate ao preconceito, à discriminação e à intolerância. Como discutimos, das muitas funções sociais, as políticas públicas servem para proporcionar maior conscientização e sensibilização dos estudantes e da sociedade brasileira. Saiba mais A reatualização das discriminações raciais pós-abolição Para aprofundar seus estudos sobre as discriminações raciais no Brasil no contexto pós- abolicionista, recomendamos a leitura do capítulo intitulado Como o racismo afeta o desenvolvimento das crianças negras do livro Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil, de Luana Tolentino. Você encontra esse material disponibilizado em nossa Biblioteca Virtual. Acesso igualitário e permanência na educação Para pensar a questão do acesso e permanência na educação, sugerimos que você assista ao �lme Que horas ela volta?, dirigido por Anna Muylaert. O �lme revela e explicita as múltiplas contradições da sociedade de classes no Brasil e nos leva a re�etir sobre a importância das políticas públicas de ações a�rmativas e de inclusão. O combate ao racismo estrutural e o papel da educação Para o aprofundamento dos estudos sobre o combate ao racismo estrutural e o papel da educação recomendamos a leitura do Capítulo 1: Combate ao racismo – obrigação ética e moral dos afro-brasileiros no pós-escravismo do livro Educação: um pensamento negro contemporâneo, de Sales Augusto dos Santos. O livro demonstra mais de cem anos de luta de movimentos contra o racismo e por educação no Brasil. O livro está disponível em nossa Biblioteca Virtual. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211229/pdf/0?code=CKrQ6+mRBNWDwCYp8djkP34cVhv8bLHoSMsiyTaMCiy1XoJYksWVwWKNBeXNezZ/cWlQrG59QMeA8vL4OKIEcg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/211229/pdf/0?code=CKrQ6+mRBNWDwCYp8djkP34cVhv8bLHoSMsiyTaMCiy1XoJYksWVwWKNBeXNezZ/cWlQrG59QMeA8vL4OKIEcg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/207692/epub/0?code=OIc03IjpzCmxAOjhFH8xP3o1wWDZYvOub96SMlvMyQ2PutVTQWFrkx/8YyuGZGqdudy1fJh9gTmyFCN1846LkA== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/207692/epub/0?code=OIc03IjpzCmxAOjhFH8xP3o1wWDZYvOub96SMlvMyQ2PutVTQWFrkx/8YyuGZGqdudy1fJh9gTmyFCN1846LkA== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Referências BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Diário O�cial da União, Brasília, 21 jul. 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 31 jan. 2024. FELINTO, R. Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: saberes para professores, fazeres para os alunos: religiosidade, musicalidade, identidade e artes visuais. Belo Horizonte: Editora Fino Traço, 2012. OLIVEIRA, L. F. de. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade.Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SANTOS, S. A. dos. Educação: um pensamento negro contemporâneo. Jundiaí, SP: Paco e Littera, 2014. TOLENTINO, L. Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil. 1. ed. Campinas: 7 Mares, 2023. Aula 4 Educação e Povos indígenas Educação e povos indígenas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Bons estudos! Ponto de Partida Nesta aula, você vai estudar sobre educação e políticas da diferença, a partir da perspectiva dos povos indígenas. Estamos completando o percurso desta unidade, que se objetivou em aprofundar os conhecimentos oriundos das populações originárias que compuseram a formação da sociedade brasileira. Buscamos destacar as políticas públicas de valorização e de reconhecimento das identidades socioculturais das populações negra e indígena e a diversidade brasileira. Para esta aula sobre educação e povos indígenas, alguns questionamentos se fazem necessários para iniciarmos as nossas re�exões: Qual a importância da preservação cultural dos povos indígenas? Quais as principais reivindicações do movimento indígena brasileiro? No atual contexto em que estamos inseridos, de que modo é possível estabelecer justiça social para os povos indígenas? Qual a importância da educação intercultural e bilíngue nas escolas de educação indígena? Por que se devem valorizar nas escolas e na sociedade, de modo geral, os conhecimentos tradicionais? Você pode perceber que esses são alguns questionamentos que nos levam a re�etir sobre as relações entre educação e os povos indígenas. Sabemos que precisamos contextualizar essa discussão com as questões que envolvem a formação histórica da sociedade, marcada pela desigualdade e por formas diversas de discriminação e de violência. Você é o nosso convidado especial. Aprofunde, sempre que possível, os seus conhecimentos sobre o tema. Bons estudos! Vamos Começar! A partir de agora, você vai estudar os embaraços e desembaraços envolvendo os povos indígenas, a questão da preservação cultural e a justiça social. Em seguida, você vai estudar a educação intercultural e bilíngue nas escolas. Por �m, vai analisar a importância de valorizar os conhecimentos dos povos tradicionais, transmitidos de geração em geração ao longo do tempo. Povos indígenas, preservação cultural e justiça social Sabemos da importância dos povos indígenas e suas contribuições para a cultura brasileira, aliás, os povos indígenas são as bases da identidade sociocultural de nosso povo. A preservação cultural dos povos indígenas, bem como o direito à terra, diante de todo o contexto que envolve a nossa formação histórica, se faz mais do que necessário e se justi�ca por si só, de modo que possa haver justiça social. Somente assim seria possível corrigir minimamente as distorções, violências e atrocidades cometidas pelo homem branco. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Tratar sobre educação e diversidade cultural dos povos indígenas consiste em reconhecer a importância das políticas da diferença presentes na educação e sociedade brasileira. Preservar a cultura dos povos originários do Brasil, que é dever de todos os brasileiros, não bene�cia apenas os povos indígenas, mas a sociedade brasileira de modo geral e a diversidade cultural com que nos constituímos ao longo da história. O resgate cultural dos povos indígenas está presente em nossas memórias quando nos lembramos das maneiras tradicionais estabelecidas no manuseio das relações com a natureza, que contribuem amplamente para a preservação do meio ambiente, pauta essencial no contexto da contemporaneidade. A defesa por esses direitos, a autodeterminação, a terra e a cultura dos povos indígenas são bandeiras próprias do movimento indígena brasileiro, órgão que se constituiu visando à preservação cultural dos povos originários do Brasil e à conquista de direitos. Não à toa, é fundamental que seja promovida a justiça social para os povos indígenas e para a população negra, historicamente explorados pelo trabalho compulsório realizado no Brasil. Ou seja, da mesma forma que os negros encontram di�culdades para serem incluídos, os povos indígenas também sofrem por causa da formação desigual e excludente da sociedade brasileira. Durante o século XX, pensou-se na construção de algumas instituições que buscassem promover a justiça social para os indígenas. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) nasce do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão criado no contexto da ditadura militar. A SPI, por sua vez, nasceu do projeto do Marechal Cândido Rondon, que tinha como objetivo a assimilação do indígena junto à sociedade brasileira de forma inclusiva, sem violência. No contexto da ditadura, esses projetos buscavam a integração dos povos indígenas na sociedade brasileira, no sentido de que os indígenas fossem “adaptados” à cultura brasileira, deixando de lado suas percepções e cosmovisões de mundo, no contexto de nacionalismo exacerbado proposto pelos militares (Previtalli; Vieira, 2017, p. 105-106). A questão da demarcação de terras para os povos indígenas é uma maneira de se fazer a justiça social, restaurativa, a�nal eram eles que aqui estavam antes da chegada dos europeus colonizadores. Por isso, é direito dos povos indígenas acessar as terras que foram retiradas de suas posses em favor de uma política de colonização. O Art. 231 da Constituição de 1988 assegura os direitos à cultura, direitos legais e direito à terra para os povos indígenas, e o Estado terá a obrigação de zelar por esses direitos. É dever de todo o cidadão contribuir para que esse direito seja preservado, ajudando a desconstruir qualquer estereótipo ou preconceito contra a população indígena. Somente em 2002 foi declarado no código civil a competência dos indígenas em gestar suas vidas, pois, até então, eram considerados incapazes (Previtalli; Vieira, 2017, p. 107), o que nos faz lembrar, por exemplo, de órgãos como o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Conscientizados, os líderes indígenas centraram sua luta em função da terra, porém com abordagens diversas. Algumas questões abordadas são: a regularização do processo de demarcação das terras indígenas; inspeção das áreas demarcadas para que não sejam descaracterizadas; ampliação das terras demarcadas, que muitas vezes são insu�cientes para o Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE sistema de vida do grupo indígena ali estabilizado; combate às empresas que possam se instalar próximos ou até invadir as terras indígenas e que causam impacto ambiental prejudicando a vida nas aldeias etc. (Previtalli; Vieira, 2017, p. 108). Ao encontro dessas políticas de valorização da cultura indígena, a Lei 11.645/08, como você estudou em aulas anteriores, foi extremamente importante para a preservação cultural dos povos indígenas, assegurando a obrigatoriedade dos seus conteúdos nas escolas. Você pode perceber a importância de preservar a cultura dos povos indígenas, pois ela é fundamental para um mecanismo de inclusão na sociedade de modo geral. A cultura indígena é bastante vasta, rica e diversa, além de amplamente valiosa, especialmente quando se re�ete sobre os problemas ambientais sofridos pela humanidade. A biodiversidade, a conservação e a sustentabilidade ambiental propostas pelos povos indígenas, considerados os guardiões das terras e dos recursos naturais, é algo extremamente importante para a preservação do meio ambiente e de suas terras no contexto de crise socioambiental vivenciada no capitalismo contemporâneo. Os conhecimentos tradicionais sobre medicina, agricultura, religião,arte, entre outros, devem assim ser apreendidos e trabalhados nas escolas, para que todos os estudantes tenham a oportunidade de conhecer aspectos da cultura dos povos originários. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | Instrumentos musicais indígenas - fotogra�a de Álvaro Eugénio Neves da Fontoura e António de Almeida. Fonte: Wikimedia Commons. Munidos de conhecimentos sobre os con�itos que envolvem a demarcação de terras em território nacional, os povos indígenas têm lutado para preservar as poucas terras que possuem, algo em torno de 13% do território nacional, em detrimento das severas ameaças e pressões sofridas por ruralistas e grandes latifundiários (ISA, 2021). Recentemente, como retrocesso dessa perspectiva da diversidade e da educação, a aprovação do Marco Temporal fez com que os povos indígenas tivessem direito de ocupar apenas as terras que ocupavam em 1988, ano da promulgação da Constituição Cidadã. Como se pode perceber, é preciso que haja justiça social e o reconhecimento de direitos, das terras indígenas, de modo que essa população tenha autonomia e autodeterminação. Estabelecer meios de diálogo intercultural e de valorização da diversidade nos espaços da escola contribui para uma maior conscientização social e para o estreitamento da convivência entre diferentes culturas promovido pelos povos indígenas, levando ao enriquecimento da cultura. É preciso que os povos indígenas estejam juntos no processo de tomada de decisões de nossa sociedade. Isto é, deve-se reconhecer a diversidade cultural, ambiental e a luta por justiça social e inclusão. A preservação cultural dos povos indígenas, portanto, é fundamental para a construção de uma sociedade plural, democrática e mais justa. Siga em Frente... Educação intercultural e bilíngue A educação intercultural e bilíngue é primordial para que os povos indígenas possam ser incluídos na sociedade de modo mais efetivo, pois assim se contribui para a promoção da igualdade e da valorização da diversidade cultural. Como se pode perceber, somos uma sociedade multicultural e, por isso, não devemos economizar esforços para a construção de sociedades mais inclusivas e respeitosas em relação às diferentes culturas. O foco dos estudos em educação e diversidade consiste na construção de uma identidade coletiva, mais plural e democrática. Apesar de todo um processo histórico marcado pelo genocídio e tentativas do Estado brasileiro de integração da população indígena e suas culturas, muitos povos indígenas resistem na luta pela sua a�rmação. No Brasil, existem catalogadas 274 línguas, entre os 305 povos indígenas (IBGE, 2010 apud Oliveira; Costa, 2016, p. 382). Tronco linguístico corresponde às a�nidades linguísticas que costumam ser organizadas em famílias de línguas, de modo a identi�car origens comuns ou semelhanças. As escolas de educação indígena, e não apenas elas, devem proporcionar em seus currículos um modelo de educação intercultural e bilíngue que contribua com a preservação das línguas e das culturas Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE indígenas, uma vez que possibilita aos povos indígenas o acesso à língua materna e que a trabalhem ao longo de sua formação. A língua, nesse sentido, possibilita o reconhecimento e a valorização das tradições, cosmovisões e conhecimentos próprios dos povos indígenas, estreita diálogos entre saberes tradicionais e acadêmicos, empodera e dá autonomia em uma relação bilateral. A valorização da diversidade cultural e o reconhecimento das diferentes culturas e a linguagem é muito importante nesse processo, facilita as condições da população indígena em se desenvolver e melhorar a capacidade comunicativa, a partir dos conhecimentos da língua materna e da língua portuguesa, entre outras línguas que porventura aprenderem. Esses conhecimentos são fundamentais para que a população indígena possa se comunicar com outros povos. Em educação e diversidade, estima-se que esses diálogos sejam acompanhados do respeito entre as diferentes culturas. A educação intercultural e bilíngue preserva e fortalece a identidade cultural de grupos étnicos minoritários, permitindo que os estudantes se reconheçam e se identi�quem na própria cultura. A aprendizagem multicultural e multilíngue, portanto, estimula a aprendizagem de diferentes línguas e culturas. Os povos indígenas têm direito a uma educação escolar especí�ca, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária, conforme de�ne a legislação nacional que fundamenta a Educação Escolar Indígena. Seguindo o regime de colaboração, posto pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das políticas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (MEC), cabendo aos Estados e Municípios a execução para a garantia deste direito dos povos indígenas (Educação..., 2013, [s. p.]). Com isso, esses modelos educacionais buscam reduzir as desigualdades e os preconceitos, favorecendo a inclusão e o acesso igualitário na educação escolar indígena, a partir do fortalecimento de mecanismos que incentivem o desenvolvimento da língua e cultura indígenas. Essas medidas, ou seja, a educação intercultural e bilíngue contribui para a promoção da justiça social e a equidade. Valorização de conhecimentos tradicionais Os povos indígenas produziram (e produzem) conhecimentos milenares, essenciais para a preservação cultural. Infelizmente, em muitas situações, esses saberes são ignorados e/ou recusados pela cultura dominante e hegemônica. Você deve se lembrar do conceito de epistemicídio que estudamos no começo desta unidade, e perceber que esse fenômeno tem um propósito nas escolas e demais instituições de ensino. No entanto, sabemos que as escolas são espaços necessários para a desconstrução de estereótipos, discriminações e qualquer forma de violência e para a construção de espaços democráticos e inclusivos. A ideia é a de que as escolas possam valorizar os diversos saberes e os conhecimentos tradicionais proporcionados pelos povos originários. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A�nal, sabemos da riqueza dos saberes acumulados pelos povos indígenas, comunidades quilombolas, povos tradicionais e/ou minoritários ao longo do tempo e por diferentes comunidades. Os saberes e conhecimentos dos povos originários são transmitidos ao longo do tempo e abrangem agricultura, medicina tradicional, técnicas de preservação ambiental (rotação de culturas), artes, mitologia, cosmologia, entre outros conhecimentos. Valorizar os conhecimentos tradicionais signi�ca respeitar a diversidade de saberes e conhecimentos existentes nas diferentes culturas que coabitam um mesmo meio social. Como se pode perceber até aqui, em educação e diversidade, não existem conhecimentos melhores ou piores, eles são apenas formas de conhecimento diferentes entre si. Os conhecimentos tradicionais são elementos essenciais para a preservação da identidade cultural e para a transmissão de valores e tradições de um grupo étnico. Por isso, é importante que as equipes multidisciplinares para a educação das relações étnico raciais nas escolas trabalhem conteúdos e saberes das populações tradicionais junto a seus estudantes. Os afro-brasileiros, embora pela diáspora, tenham tido uma história diversa quanto à separação em grupos étnicos, também têm uma identidade que os identi�ca como tal. De alguma forma foram preservadas suas culturas, seus modos de falar, de viver sua religião, de presenciar a vida e a morte, de contar suas histórias. É por meio da cosmovisão dessas populações, das histórias orais, que suas memórias podem ser mantidas. Stuart Hall (2004, p. 29) escreve que: “Possuir uma identidade cultural [...] é estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando o passado, o futuro e o presente numa linha ininterrupta. Esse cordão umbilical é o que chamamos de ‘tradição’ [...]” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 109-110). É preciso dar o devido empoderamento e autonomia para os saberesdas comunidades indígenas, especialmente quando esses saberes se tornam cada vez mais relevantes no enfrentamento dos desa�os vivenciados pela humanidade no contexto atual, marcado por problemas como o aquecimento global, a poluição, o desmatamento, entre outros. Nesse sentido, como se pode perceber, os povos indígenas contribuem a partir dos saberes tradicionais para o conhecimento global. A sustentabilidade ambiental, na qual muitos saberes/conhecimentos estão diretamente ligados à preservação e manejo sustentável dos recursos naturais, é igualmente importante nesse processo e deve ser disseminada nas escolas. Vamos Exercitar? Você estudou nesta aula sobre educação e povos indígenas, tomando como percurso um breve roteiro de questionamentos que referenciaram a problematização. Vamos a eles: qual a importância da preservação cultural dos povos indígenas? Você estudou sobre a preservação Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE cultural dos povos indígenas, bem como o direito à terra, diante de todo o contexto que envolve a nossa formação histórica, algo que se faz mais do que necessário e se justi�ca por si só, de modo que possa haver o mínimo de justiça social. Os ensinamentos e as relações estabelecidas nessa mediação com a natureza contribuem amplamente para a preservação do meio ambiente, pauta essencial no contexto da contemporaneidade. Quais as principais reivindicações do movimento indígena brasileiro? É um órgão que se constituiu visando à preservação cultural dos povos originários do Brasil e à conquista de direitos. Assim, tem como objetivo a defesa de direitos como a autodeterminação, a terra e a cultura dos povos indígenas. No atual contexto em que estamos inseridos, de que modo é possível estabelecer justiça social para os povos indígenas? A justiça social é fundamental para os povos indígenas e para a população negra, historicamente explorados pelo trabalho compulsório realizado no Brasil. Como você estudou, da mesma forma que os negros encontram di�culdades para serem incluídos, os povos indígenas também sofrem por causa da formação desigual e excludente da sociedade brasileira. A questão da demarcação de terras para os povos indígenas é uma maneira de se fazer a justiça social, restaurativa, a�nal eram eles que aqui estavam antes da chegada dos europeus colonizadores. Você percebeu a necessidade da justiça social e o reconhecimento de direitos das terras indígenas, de modo que essa população tenha autonomia e autodeterminação. Outro questionamento proposto foi: qual a importância da educação intercultural e bilíngue nas escolas de educação indígena? Como você estudou, a educação intercultural e bilíngue é primordial para que os povos indígenas possam ser incluídos na sociedade de modo mais efetivo, pois assim se contribui para a promoção da igualdade e da valorização da diversidade cultural. As escolas de educação indígena, e não apenas elas, devem proporcionar em seus currículos um modelo de educação intercultural e bilíngue, pois contribui para preservar e fortalecer a identidade cultural de grupos étnicos minoritários, permitindo que os estudantes se reconheçam e se identi�quem na própria cultura. En�m, por que se devem valorizar nas escolas e na sociedade de modo geral os conhecimentos tradicionais? Como você estudou, as escolas são espaços necessários para a desconstrução de estereótipos, discriminações e qualquer forma de violência e para a construção de espaços democráticos e inclusivos. Nessas instituições, é possível valorizar os diversos saberes e os conhecimentos tradicionais proporcionados pelos povos originários. Você estudou que valorizar os conhecimentos tradicionais signi�ca respeitar a diversidade de saberes e conhecimentos das diferentes culturas que coabitam um mesmo meio social, sendo elementos essenciais para a preservação da identidade cultural e para a transmissão de valores e tradições de um grupo étnico. Saiba mais Povos indígenas, preservação cultural e justiça social Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para aprofundar os seus conhecimentos sobre os povos indígenas, recomendamos a leitura da Introdução do livro Povos indígenas e direitos territoriais, de Leandro Ferreira Bernardo. Leia depois outro capítulo de sua escolha relacionado a períodos históricos como: pré-colombiano, colonial, Império e República. Anote a referência para posteriormente realizar a leitura de toda a obra. Você encontra esse material em nossa Biblioteca Virtual. Educação intercultural e bilíngue Para o aprofundamento dos estudos sobre os saberes e conhecimentos dos povos indígenas, recomendamos que você assista à animação Ga vī: a voz do barro. A animação foi criada através das memórias narradas por Gilda Wankyly Kuita e Iracema Gãh Té Nascimento, com imagens e sons captados na Terra Indígena Kaingang Apucaraninha (PR) durante o encontro de mulheres Ga vī: a voz do barro, conversando com a terra. Você pode encontrar essa animação, pesquisando na internet. Valorização de conhecimentos tradicionais Para que você possa conhecer mais e valorizar os conhecimentos tradicionais, sugerimos que explore a página Cartas Indígenas ao Brasil. Conheça as perspectivas apresentadas pelos povos indígenas no Brasil. Referências BERNARDO, L. F. Povos indígenas e direitos territoriais. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2021. EDUCAÇÃO escolar indígena. Gov.br, 18 nov. 2013. Disponível em: https://www.gov.br/funai/pt- br/atuacao/povos-indigenas/cidadania/educacao-escolar-indigena. Acesso em: 31 jan. 2024. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Marco temporal não: entenda por que não tem “muita terra para pouco índio” no Brasil. Disponível em: https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias- socioambientais/marcotemporalnao-entenda-por-que-nao-tem-muita-terra-para-pouco-indio-no- brasil Acesso em: 30 nov. 2023. OLIVEIRA, L. F. de. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=tOjRUZYv2uXW+eE7qSb/tKGiCrqaqtJ8dnCH/P2GXvP/cxPwoYOIcJwdKOpypcjhYopMJ2j6PB12Pk2bB/XHPg== https://cartasindigenasaobrasil.com.br/ https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/marcotemporalnao-entenda-por-que-nao-tem-muita-terra-para-pouco-indio-no-brasil https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/marcotemporalnao-entenda-por-que-nao-tem-muita-terra-para-pouco-indio-no-brasil https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/marcotemporalnao-entenda-por-que-nao-tem-muita-terra-para-pouco-indio-no-brasil Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Aula 5 Encerramento da Unidade Videoaula de Encerramento Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Chegada Sabemos que são muitos os desa�os para que a educação e a diversidade sejam promovidas em nossa sociedade. Como educadores, é de nossa competência encontrar os meios para que possamos viabilizar os direitos, o reconhecimento, a autodeclaração e a autonomia dos povos negros e indígenas do nosso país, contribuindo assim para valorizar a diversidade cultural brasileira. Educação e violências Nos estudos sobre as relações entre educação e as políticas da diferença, você conheceu Pierre Bourdieu e sua importância nos estudos sobre educação e diversidade. O sociólogo desenvolveu a teoria da reprodução da violência simbólica que está presente na educação e seus sistemas de ensino transmitidos pelas escolas e pelos centros educacionais. Esse conceito nos ajuda a pensar nas característicasdas escolas e seus sistemas, modelos e métodos de ensino, a�nal, segundo Bourdieu, eles reproduzem as desigualdades sociais e educacionais. Relacionado a essas discussões, o conceito de epistemicídio ilustra a maneira com que as formas de violência simbólica ocorrem nas escolas. O epistemicídio é um termo cunhado pelo sociólogo Boaventura Sousa Santos que explica a morte da construção do conhecimento. Na instituição de ensino, na qual se transmite o conhecimento cientí�co, portanto, saberes interligados aos conhecimentos, cultura e visão de mundo das classes dominantes, veri�ca-se uma forma de violência praticada pela (e na) escola, que é constituída a partir das relações sociais e de poder, o que, por sua vez, se relaciona ao epistemicídio. O produto da intolerância corresponde a formas diversas de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE violência simbólica e material reproduzida pela sociedade e que se manifesta nas práticas de preconceito, discriminação e intolerância. O produto é, portanto, a perpetuação da estrutura de desigualdades sociais, econômicas, educacionais, culturais e de gênero, historicamente estabelecidas em nosso meio social. E o(s) produtor(es) da violência na sociedade são a estrutura social em que a escola está inserida, a classe dominante que mantém o status quo vigente e as escolas, bem como a reprodução da violência (os agentes), segundo Bourdieu. Educação e aspectos legais da diversidade Nas últimas décadas, foram promulgadas políticas públicas educacionais que reconhecem a importância da diversidade social e cultural do Brasil. Cabe-nos destacar essas políticas como avanços para a sociedade brasileira como resultado das reivindicações dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada. A Lei 10.639/03 torna o ensino da história e cultura afro-brasileira [RSL1] e africana obrigatório nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, o�ciais e particulares de todo o país. A Lei 11.645/08 inclui a abordagem sobre a cultura indígena, tornando-a igualmente obrigatória na educação básica em todas as modalidades de ensino e em todos os componentes curriculares (disciplinas). Ambas as legislações contribuem signi�cativamente para promover mudanças que ampliam a perspectiva de uma escola inclusiva do ponto de vista social, plural e democrática, sobretudo porque promove o reconhecimento da diversidade cultural. A Lei nº 12.711/12, conhecida como a Lei de Cotas nas Universidades garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. E a Lei 13.146/15, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência tem como objetivo garantir e promover os direitos e a inclusão das pessoas com de�ciência em diferentes aspectos da vida social, cultural, econômica e política. Isso representou um avanço signi�cativo na garantia dos direitos das pessoas com de�ciência, pois se baseia nos princípios da dignidade, igualdade, autonomia e inclusão e participação na sociedade. Educação e movimento negro As questões relacionadas à educação e ao movimento negro são importantes para a conquista de direitos da população negra, relegada historicamente a condições desiguais para a reprodução da vida. Mesmo com a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, que determinou o �m da escravização dos negros no Brasil, isso não representou condições igualitárias de acesso a oportunidades e direitos para essa população, como o que se veri�cou com as políticas de branqueamento e de eugenia. É preciso compreender a importância do Movimento negro uni�cado na conquista de direitos pela população negra. A política de cotas é um exemplo de políticas de ações a�rmativas, uma medida que contribui para garantir o acesso igualitário para todas as pessoas. Outro conceito importante que estudamos nesta aula foi o mito da democracia racial, que oculta as desigualdades étnico-raciais existentes historicamente em nosso país. A existência do racismo estrutural, que se reverbera até os dias de hoje com a segregação racial, escancara as formas de discriminação e as desigualdades raciais aqui vivenciadas por muitos grupos excluídos social e economicamente. En�m, a educação tem um papel importante no combate ao racismo estrutural e às formas de violência associadas às Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE questões étnico-raciais. Deve-se promover suas ações para além dos muros da escola, no combate ao preconceito, à discriminação e à intolerância. Educação e povos indígenas Nos estudos sobre educação e povos indígenas, devemos nos lembrar da importância da preservação cultural dos povos indígenas, o direito à terra, diante de todo o contexto que envolve a nossa formação histórica. A educação é uma instituição que promove justiça social nesse contexto. O movimento indígena brasileiro defende a preservação cultural dos povos originários do Brasil e a conquista de direitos, tendo como objetivo a defesa desses direitos, a autodeterminação, a terra e a cultura dos povos indígenas. A educação intercultural e bilíngue é primordial para que os povos indígenas possam ser incluídos na sociedade de modo mais efetivo, contribuindo para a promoção da igualdade e da valorização da diversidade cultural. Nesse sentido, as escolas são espaços necessários para a desconstrução de estereótipos, discriminações e qualquer forma de violência e para a construção de espaços democráticos e inclusivos, onde seja possível valorizar os diversos saberes e os conhecimentos tradicionais proporcionados pelos povos originários. Isso signi�ca respeitar à diversidade de saberes e conhecimentos existentes nas diferentes culturas, elementos essenciais para a preservação da identidade cultural brasileira. É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Para o estudo de caso desta unidade, imagine-se como um educador que integra a Equipe Multidisciplinar para a Educação das Relações Étnico-Raciais de uma escola brasileira. Para o encaminhamento deste estudo de caso, você deve se lembrar que a escola é re�exo da sociedade brasileira, ou seja, um país multicultural e caracterizado pela diversidade com que se constitui a população brasileira. Além disso, você também deve levar em consideração as reformas educacionais da educação básica no atual contexto proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que levou à reformulação da organização curricular das escolas brasileiras, sob a perspectiva da emergência de novas possibilidades na abordagem dos Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE conteúdos por competências e habilidades, de forma interdisciplinar, entre as áreas do conhecimento. Sabemos que a educação para as relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro- brasileira, africana e indígena têm sido um grande desa�o para os educadores, diante das contradições sociais presentes historicamente em nossa sociedade, e das formas de violência simbólica que são reproduzidas na escola. No entanto, sabemos que a temática do ensino da história e da cultura afro-brasileira, africana e indígena tem oportunizado momentos signi�cativos para os educadores implementarem as Leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08 no espaço escolar, sobretudo por meio das ações da Equipe Multidisciplinar para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Como vimos, a escola é o lócus, por excelência, de estudos, re�exões, diálogos, debates e mobilizações diversas sobre a diversidade cultural em suas matrizes étnicas que compõem a nossa população, bem como as especi�cidades da pluralidade cultural da população brasileira. Sabendo das possibilidades múltiplas da Equipe Multidisciplinar para a Educação das Relações Étnico-Raciais, de que modo você pode contribuir para uma educação mais inclusivavisando a diversidade étnico-racial? Como você poderia contribuir para a erradicação de manifestações de discriminação, estereótipos e de desconhecimento da história e cultura dos grupos étnicos representados na comunidade escolar? Aprofunde sua re�exão sobre o caso apresentado por meio das questões a seguir: 1. Quais os aspectos legais da diversidade na educação? 2. Quais são as estratégias para trabalhar a história e cultura negra e indígena nas escolas? 3. De que forma a violência simbólica está presente na escola e nas instituições de ensino em nossa sociedade? Para saber como o desa�o proposto pode ser solucionado, prossiga com a sua leitura. Para a resolução desse estudo de caso sobre as relações entre educação e políticas da diferença, você deve se lembrar que nos estudos em educação e diversidade, devemos reconhecer a formação das identidades socioculturais e o papel da educação com o reconhecimento da valorização da diversidade, compreendendo os aspectos formadores das desigualdades, que se manifesta de diversas formas em nosso país. Nesse estudo de caso, lembre-se de que se encontra na condição de um educador que integra a Equipe Multidisciplinar para a Educação das Relações Étnico-Raciais de uma escola brasileira. Quando pensamos no papel das equipes multidisciplinares, percebemos a necessidade de integrar um movimento coletivo no ambiente escolar, envolvendo todos os agentes educacionais de uma escola. Não devemos supor que essa tarefa é de um ou de outro componente curricular, mas deve haver um movimento que envolva toda a comunidade escolar, trabalhando a interdisciplinaridade de maneira pedagógica, com questões latentes no cotidiano escolar, como a discriminação racial e também o ocultamento da diversidade étnico-racial presente em nossa sociedade. Lembre-se sempre de que a instituição escolar se propõe a valorizar e respeitar a diversidade étnica e cultural da história dos povos africanos, indígenas e da cultura afro-brasileira e suas contribuições na constituição da identidade do povo brasileiro. Assim, retomamos os questionamentos propostos em nosso estudo de caso: de que modo você, na condição de integrante da equipe multidisciplinar da escola, poderia contribuir para uma educação mais inclusiva para a diversidade étnico-racial? Como você poderia contribuir para a erradicação de manifestações de discriminação, estereótipos e de desconhecimento da história Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE e cultura dos grupos étnicos representados na comunidade escolar? Perceba que, o seu papel, é justamente contribuir para uma mudança de comportamento de maneira positiva, em relação à posição ocupada pelos negros e indígenas na sociedade. Trata-se de promover atividades que incentivem as ações culturais indígenas e afro-brasileiras na escola e de práticas pedagógicas, que se objetivam pelo respeito entre os seres humanos e a valorização das contribuições de todas as culturas que ajudaram a enriquecer a cultura brasileira. A�nal, desejamos uma sociedade com justiça social e, para isso, não devemos poupar esforços para que as escolas se tornem territórios de equidade e respeito, espaço adequado à formação de todos os cidadãos. Devemos ter sempre em mente que a sociedade brasileira é plural, e mais do que compreender essa pluralidade, torna-se importante o conhecimento, o respeito e a valorização de todas elas, especialmente a presença negra e indígena, que muitas vezes são invisibilizadas no currículo escolar. Devemos conectar essas experiências ao cotidiano escolar, para torná-las reconhecidas por todos os atores envolvidos com o processo pedagógico, em especial professores, agentes educacionais, pais, mães, responsáveis e estudantes. Portanto, é necessário que haja essa re�exão coletiva dos agentes educadores para que a escola não seja um espaço excludente, mas que seja um local integrador, no qual as diferenças não sejam apagadas ou escondidas, mas reconhecidas. Dessa forma, você pode contribuir com a equipe multidisciplinar de sua escola, participando, conduzindo e mobilizando toda a escola em ações das equipes multidisciplinares, com a oportunidade de estender o desenvolvimento dos estudos sobre as questões indígenas e étnico- raciais em todos os componentes curriculares. Isso pode se dar mediante a inclusão de conteúdos e atividades que abordem a história e cultura afro-brasileira e indígena nos materiais didáticos e nas metodologias pedagógicas, além de outras atividades extracurriculares que envolvam estudantes, professores e comunidade escolar para a discussão de questões étnico- raciais e a promoção da diversidade no combate a práticas discriminatórias. Por �m, você deve considerar sempre nesse trabalho as Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tratam da necessidade de trabalhar a cultura indígena, africana e afro-brasileira em todos os componentes da escola, bem como as ações desenvolvidas no plano de ação da equipe multidisciplinar da escola que você ajudou a construir. E essas atividades devem ser trabalhadas ao longo de todo o ano letivo. O mapa mental a seguir mostra as principais políticas públicas de ações a�rmativas e de inclusão no Brasil promulgadas nas últimas décadas. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Fonte: elaborada pelo autor. BERNARDO, L. F. Povos indígenas e direitos territoriais. 1. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2021. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. BOURDIEU, P. Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023. BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo o�cial da Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, 10 jan. 2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm#:~:text=LEI%20No%2010.639%2C% 20DE%209%20DE%20JANEIRO%20DE%202003.&text=Altera%20a%20Lei%20no,%22%2C%20e%2 0d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modi�cada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo o�cial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário O�cial da União, Brasília, 11 mar. 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Diário O�cial da União, Brasília, 21 jul. 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 31 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário O�cial da União, Brasília, 30 ago. 2012. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 30 jan. 2024. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. 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Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: saberes para professores, fazeres para os alunos: religiosidade, musicalidade, identidade e artes visuais. Belo Horizonte: Editora Fino Traço, 2012. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 29. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). População indígena no Brasil. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/c/0/1/2/populacao-indigena-no-brasil Acesso em: 30 nov. 2023. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Marco Temporal Não: entenda por que não tem “muita terra para pouco índio” no Brasil. Disponível em:Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE com a natureza e com outros homens. E isso forma um conjunto de representações simbólicas que dão signi�cado à vida social, e o modo de viver, de estar e de interpretar e dar sentido ao mundo nos conduz à cultura (Previtalli; Vieira, 2017). Para pensarmos a cultura, temos que interpretar os signi�cados atribuídos aos diversos elementos da sociedade, percebendo o que é do outro e o que é nosso. Pelo fato de o homem estar sempre construindo novas relações com o mundo e interpretando a realidade, isto é, tecendo as teias de signi�cados, a cultura é viva e dinâmica. A cultura é essa construção na qual nada se perde, isto é, em que as coisas novas vão se misturando com as antigas. Assim, é a partir da lente da cultura que nos vemos e vemos os outros. Cada cultura tem especi�cidades, características próprias que as tornam diferentes entre si, mas nunca superiores/inferiores se comparadas. (Previtalli; Vieira, 2017, p. 18) Compreender a diversidade é entender que cada um de nós pertence a uma cultura. O estranhamento àquilo a que não estamos acostumados não signi�ca que o outro esteja errado ou que seja ruim (Previtalli; Vieira, 2017), mas nos permite a�rmar que ele (o outro) é apenas diferente. Em suma, essa deve ser a postura a ser adotada nos estudos de educação e diversidade, de modo a reconhecer as diferenças culturais existentes e valorizá-las. Vamos Exercitar? É chegado o momento de encerramento desta aula em que você estudou sobre cultura: um conceito antropológico plural; as diferentes perspectivas em torno do conceito de cultura: multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo cultural; e as formas diversas de representação cultural: expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes. Essas abordagens estão interrelacionadas com educação, diversidade e desigualdade. Você deve se lembrar de nossos questionamentos e problematizações para esta aula: à luz dos objetivos propostos na disciplina de educação e diversidade, é possível de�nir um conceito de cultura? Como você pôde perceber, existem muitas de�nições sobre o conceito de cultura. Para os propósitos deste estudo, podemos de�nir cultura como a capacidade da humanidade como um todo e a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. De acordo com o que você estudou, cultura se caracteriza como a possibilidade do indivíduo, inserido em seu agrupamento social, de viver o seu dia a dia, compreender a realidade e atribuir signi�cados a ela, planejar, calcular e transformar a natureza, além de re�etir sobre todas as coisas que estão ao nosso redor. Outro questionamento colocado em nossas problematizações é: como o conceito de cultura pode ser de�nido a partir das diferentes perspectivas antropológicas? Você estudou que o multiculturalismo parte da premissa da existência de sociedades multiculturais, pois culturas coexistem no interior de um mesmo espaço social. Você conheceu diferentes abordagens no entendimento sobre cultura: etnocentrismo e relativismo. O etnocentrismo, presente nas chamadas narrativas da evolução, denominadas de evolucionismo social, parte do ponto de vista Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE de quem observa, em considerar a sua própria etnia no centro de tudo, ou seja, é a base (conjunto de princípios e valores) pela qual o observador deve olhar as demais culturas existentes no mundo. Por outro lado, o relativismo cultural toma como referência a perspectiva de que cada cultura deve ser analisada a partir dos seus próprios termos, ou seja, os olhares, as observações e todas as possibilidades de percepções de uma cultura diferente devem ser relativas para o observador. Por �m, quais as relações entre educação, diversidade e as representações culturais? Para responder a esse questionamento, você deve se lembrar de que todo ser humano é um ser cultural e que, portanto, convive social e culturalmente com outros povos. No entanto, é preciso reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. Em outras palavras, devemos reconhecer e valorizar a diversidade social cultural e as diversas maneiras de representações culturais existentes em nossa sociedade, ou seja, valorizar a nossa pluralidade cultural. Em suma, compreender a diversidade signi�ca aceitar que cada um de nós pertencemos a uma cultura, independentemente de qualquer estranhamento que uma cultura divergente possa produzir. Saiba mais Cultura: um conceito antropológico plural Sobre o tema da cultura na abordagem antropológica, você pode ler a Aula 5 – Evolucionismo: perspectivas e considerações e a Aula 7 – Boas e o conceito de cultura do livro Introdução à Antropologia, de Igor José de Renó Machado, disponível em nossa Biblioteca Virtual. A ideia é que você possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a historiogra�a do pensamento antropológico. Multiculturalismo, etnocentrismo e relativismo cultural Sobre o tema do multiculturalismo, você pode aprofundar os seus conhecimentos a partir da leitura do Capítulo 1 – Multiculturalismo e educação: desa�os para a prática pedagógica, escrito por Vera Maria Candau, no livro Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas, de Antonio Flávio Moreira e Vera Maria Candau (orgs.). Esse capítulo oferece elementos para o aprofundamento da compreensão das relações entre educação e cultura(s), particularmente nas sociedades multiculturais em que vivemos. Aproveite e faça a leitura dos demais capítulos do livro, também importantes para os estudos em educação e diversidade. Você encontra esse material acessando a nossa Biblioteca Virtual. Expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes Para pensar nas formas de representações culturais da realidade e as relações com a educação, especialmente nas relações que envolvem a escola, recomendamos o �lme Entre os muros da https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/208550/pdf/0?code=enrO7PAT4zzoJedfLsf3lsVWB+BBT+ELCydztYNuk36wVBTq6zCETmV+5brdMWmV5Arq17d8+mZtIw5VLJHQXA== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/38430/epub/0?code=GzS7ZrcLePU93FPlSZQdBiE0E5ClgkFWGOvflacZ3uh9o+5AB9Vlablc4FuEfvQf35p8dbKwllP+yJIZzHvghg== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE escola (Entre les Murs), dirigido por Laurent Cantent. O �lme mostra o choque cultural entre um professor de francês e seus estudantes pertencentes a diversas culturas. Referências GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. MACHADO, I. J. de R.; AMORIM, H.; BARROS, C. R. de. Sociologia hoje: ensino médio. São Paulo: Ática, 2016. MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. M. (orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SANTOS, J. L. O que é cultura. 14. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. Aula 2 Identidades e Diferenças Identidades e diferenças Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Ponto de Partida Você vai estudar, nesta aula, as identidades e as diferenças. Em um primeiro momento, à luz das re�exões trazidas sobre a diversidade social e cultural, cujas re�exões foram abordadas na aula anterior, você vai explorar os conhecimentos sobre as identidades, do ponto de vista de como elas se constroem, sobretudo a partir das diferenças que caracterizam os indivíduos em relação aos outros; em meiotrabalhar ou querer viver a vida. Já que tudo está determinado mesmo, caberia apenas �car esperando acontecer (Previtalli; Vieira, 2017, p. 125). Pode-se perceber que gênero corresponde à construção social que demarca identidades, como de homens, mulheres e de outros, como elaborações do contexto histórico e social, não decorrentes simplesmente da diferença anatômica dos corpos (Oliveira; Rocha, 2016, p. 339). Além disso, precisa-se destacar as articulações com as lutas sociais em torno da construção de gênero, que se reverbera na produção de conhecimento. Isso auxilia na articulação de uma proposta para o conceito de gênero. A historiadora norte- americana Joan Scott indica que foram nesses ambientes, onde emergiram as contradições de gênero, que começou a ser pensada uma produção historiográ�ca em que as mulheres protagonizassem tanto quanto os homens o papel de sujeito histórico e pudessem, além de �gurar nas páginas dos livros, rever várias abordagens cientí�cas sobre a produção do conhecimento (Burke apud Previtalli; Vieira, 2017). Os questionamentos acerca das contradições e dos con�itos gerados pela inferiorização e a discussão sobre o que era o feminino no espaço acadêmico, possibilitaram desconstruir nesses campos de saberes os limites de pensar o homem e a mulher como contraposição de relações, como se fossem validados pela oposição entre os sexos (Previtalli; Vieira, 2017). Nesse sentido, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE pode-se perceber que a construção do conceito de gênero perpassa a discussão acerca da sexualidade. O �lósofo Michel Foucault aponta em seus estudos sobre a sexualidade, investigada a partir da sujeição, que ela se con�gura como um processo no qual nos tornamos o que somos a partir de algo produzido para dizer quem somos e como devemos nos manter para ser o que está de�nido. Segundo Foucault, nos tornamos quem somos, fazemos ou nomeamos as coisas de uma forma e não de outra e isso gera efeitos ao tomarmos determinadas atitudes sobre nós e sobre os outros e o que se produz a partir disso no espaço em que vivemos. Foucault re�etiu acerca da sexualidade em seus estudos sobre os processos de sujeição na modernidade, procurando criar uma história pela qual diferentes modos tornariam seres humanos em sujeitos. O �lósofo propõe no sentido investigativo um olhar sob a norma e o poder, uma força social múltipla que pode assimilar ou excluir alguém, inquirir da repreensão à punição, do discriminar até a exclusão. Os movimentos feministas tiveram origem desde �ns do século XIX. Ali se encontra a raiz da problematização que culminou com a elaboração do conceito de gênero (Previtalli; Vieira, 2017). Esses movimentos lutam por equidade e igualdade de condições entre homens e mulheres, apontando as desigualdades de gênero existentes em nossa sociedade. O movimento feminista foi muito importante, pois contribuiu com a construção de uma sociedade mais justa, a partir do questionamento da cultura do patriarcado e das relações de dominação a partir do gênero. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | As lutas feministas - Pôster We can do it!, J. Howard Miller (1942). Fonte: Wikimedia Commons. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Como se pode ver, não se tolera mais qualquer forma de injustiça e desigualdades que possa haver em meio a nossas relações, inclusive entre homens e mulheres. A escola deve transmitir esses conhecimentos relacionados aos direitos humanos e reproduzir práticas que demonstrem relações e condições de igualdade, não se pode tolerar qualquer forma de violência e de hierarquia nas relações de gênero, e isso deve ser trabalhado desde cedo, sobretudo com a ajuda das famílias. Cabe dizer se é necessário estabelecer uma hierarquia para que uns vivam em detrimento de outros, pois só assim podemos perceber o quanto essas lutas, conhecidas como lutas feministas, que lutaram por direitos e em busca do reconhecimento dessas desigualdades, trouxeram expressivos ganhos e conquistas para a ampliação da participação da mulher em todos os espaços da sociedade. En�m, esses são estudos sobre o conceito de gênero, abordagem preliminar, especialmente para se pensar nas relações com a realidade escolar. Como se viu, o gênero deve ser pensado em sua concepção social e cultural e deve-se levar em conta a diversidade de identidades de gênero e o seu reconhecimento. Siga em Frente... Luta contra estereótipos e representatividade O processo de educação escolar deve ser uma experiência de ensinamentos contra quaisquer estereótipos que envolvam a questão das diferenças, como as de gênero, de acordo com o que estamos examinando nesta aula. Mediante o entendimento dialético para a compreensão do fenômeno em si, o nosso ponto de partida é o ponto de chegada. É preciso conhecer e combater os diversos estereótipos existentes no convívio social de uma escola, por exemplo. As pessoas precisam desnaturalizar as formas de vida que as colocam em condição de inferioridade, por isso precisamos exercer um papel crítico e construtivo no que diz respeito à questão de gênero. Deve-se reconhecer a importância da representatividade. A instituição escolar é positivamente fértil para promover a justiça e a igualdade de condições de gênero, e isso deve se estender para outros arranjos sociais, visando à construção de uma rede de apoio. Nesse sentido, como se pode perceber, gênero é algo construído a partir das relações sociais e culturais que moldam os indivíduos e seus corpos, sobretudo a mulher e as expectativas criadas em relação ao seu comportamento. Estudar sobre gênero é também pensar na sexualidade humana sob a ótica da natureza social do fenômeno, ou seja, como algo que a desvincule de um discurso somente biológico: gravidez, métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis, cuidados e higiene com o corpo. É preciso pensar a construção do gênero na perspectiva sociocultural. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A principal crítica de Joan Scott se deu justamente pelo caráter descritivo de gênero, sem ir além de questões envolvendo homens e mulheres, ou seja, gênero é uma forma relacional de saber a respeito das diferenças sexuais, permeado por relações de poder que dão sentido a um espaço estabelecido, segundo a historiadora. A pouco vimos o conceito de poder, que engloba as relações de gênero, para Foucault. Como exemplo, a representação do feminino para a tradição cristã ocidental é algo que remonta os aspectos históricos e culturais e que estão relacionados às diferenças de gênero. Essa discussão e outras que envolvem a desigualdade de gênero devem ser sempre incentivadas, de modo que seja possível encontrar os caminhos para o enfrentamento de estereótipos. Os estereótipos são clichês, uma imagem preconcebida e padronizada. É preciso desconstruir certos padrões de comportamento que estão embrenhados em nossa cultura social, nos quais se relega, muitas vezes, um papel de inferioridade à mulher. Isso tem impactos negativos, pois reforça as formas de discriminação, aprofundando as desigualdades de gênero. Visando uma ampliação da educação e da conscientização em relação à igualdade de gênero, família, escola e sociedade, todos devem saber da importância do seu papel para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária no que diz respeito às questões de gênero. A escola é uma instituição fundamental nesse processo de conscientização. A busca pela representatividade signi�ca garantir que diferentes grupos sociais sejam representados de forma justa, seja na mídia, na cultura, nas artes e em quaisquer outros espaços de relações sociais de todos os setores da sociedade. A diversidade de representações, nesse sentido, contribui com a ampliação de narrativas e a quebra de monopólios de histórias únicas e estereotipadas. Com isso, observa-se a importância da luta conjunta no enfrentamento dessas di�culdades, de justiça social e de gênero. Para a construção de uma forma mais justa em relação às questões de gênero, deve-se envolver diferentes vozes, perspectivase experiências e em mais espaços na escola. A construção (e valorização) desses espaços é essencial para que se desenvolvam e se realizem políticas inclusivas, equiparação salarial, cargos de liderança e che�a ocupados por mulheres em toda a sociedade. As diferenças entre os sexos não podem gerar violência, exclusão e intolerância. O feminismo foi um movimento de caráter sociopolítico na defesa dos direitos humanos das mulheres ao questionar o tripé da exploração, discriminação e violência. Com essas ações, buscou-se combater enfaticamente o tratamento biológico. A �lósofa francesa Simone de Beauvoir já dizia que não se nasce mulher, mas torna-se mulher. Nos estudos sobre a condição das mulheres e as relações entre os sexos, Simone de Beauvoir trouxe uma contribuição signi�cativa para pensar sobre as questões relacionadas ao gênero. Simone de Beauvoir procurou mostrar que o termo feminilidade foi inventado pelos homens e tinha como intenção limitar o papel social das mulheres. [...] uma palavra não é somente uma Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE representação de fonemas, mas carrega consigo valores, modos de pensar e visões de mundo. A �lósofa questionava a ideia de que as mulheres são inferiores e também questionava a sua posição de subordinação. Para Beauvoir, as mulheres tinham que superar o ‘eterno feminino’, que as amarrava e formava seu próprio ser, além de escolher seu próprio destino, libertando-se das ideias pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos (Oliveira; Rocha, 2016, p. 339). Simone de Beauvoir colocava em questão estruturas de dominação relacionadas às questões de gênero, ou seja, algo que sempre se relegou à posição de subordinação. Discutir essas questões impacta signi�cativamente a vida em sociedade, pois é preciso ampliar o debate, de modo que todos possam encontrar meios para a desconstrução de estereótipos relacionados às questões de gênero. Como se pode perceber, o feminismo não pretende subverter a ordem de poder, trocando mulheres por homens no comando, mas estabelecer uma luta por equidade social, política, cultural e econômica entre as pessoas (Previtalli; Vieira, 2017). Esses debates contribuíram decisivamente para repensar e recriar o que se dizia sobre a identidade do ser homem e ser mulher. Debater essa questão contribuiu para desestabilizar uma lógica de pensamento binária, que posiciona de um lado mulheres com características atribuídas como mais próximas da natureza em razão da reprodução e gravidez, da passividade, do cuidado com o corpo e da paramentação, entre outros (Previtalli; Vieira, 2017). A luta feminista procura remover para o campo político todo esse discurso ligado à natureza e trabalhar com o conceito de cultura, argumentando uma construção social dos indivíduos que se dá a partir das relações sociais. Problematizando ideologia de gênero À luz desses estudos e questionamentos para pensar em educação, gênero e lutas feministas, precisa-se problematizar a ideologia de gênero. Na verdade, pode-se dizer que há estudos de gênero, como uma esfera presente nas relações sociais, assim como o trabalho, a educação, a religião, entre outros. Essas instituições sociais apresentam formas e estruturas de dominação e relações de poder. As relações de gênero se estabelecem em nossa sociedade a partir das questões culturais de acordo com a sexualidade das pessoas. No �nal da década de 1960, os estudos de gênero e sexualidade ligados à educação no Brasil estiveram presentes em universidades e escolas através das militantes feministas (Louro apud Previtalli; Vieira, 2017). Naquele contexto, os estudos das mulheres serviram como forma de visibilizar e combater a segregação social e política a que as mulheres historicamente estiveram condicionadas. Nos últimos anos, esse termo tem gerado muitos questionamentos por parte da sociedade, sendo que, na maioria das vezes, são acompanhados de muitos equívocos. É preciso contextualizar este termo que tem sido pejorativamente usado para desacreditar os movimentos sociais de luta por direitos e igualdade. São, no entanto, bastante controversas as polêmicas em torno do conceito de ideologia de gênero, sobretudo na última década, na realidade brasileira, marcada pela ascensão e consolidação das redes sociais e um período bastante conturbado na política. São muitos os desa�os da educação e das políticas públicas no combate à desinformação e o uso pejorativo do conceito de gênero. Ao contrário, como se pode observar, o conceito de gênero se constrói a Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE partir de arranjos sociais arquitetados ao longo da história, também nas condições de acesso ao que a sociedade necessitava para funcionar e o que usava como representação (Louro apud Previtalli; Vieira, 2017). Um dos principais aspectos de problematizar ideologia de gênero diz respeito à desconstrução de estereótipos de gênero que reforçam os padrões binários masculino e feminino. Outro aspecto diz respeito à diversidade de identidades as quais se pode problematizar nos estudos de gênero. Isso quer dizer que a diversidade de identidades de gênero deve ser valorizada e ressaltada na escola. Para se pensar na diversidade de identidades de gênero, deve-se lembrar que gênero é uma construção social e cultural. Nesse sentido, gênero corresponde a algo em processo de elaboração em meio a nossas trajetórias de vida. Não existe apenas as identidades de gênero masculino e feminino, mas outras possibilidades que podem ser reveladas pelas identidades de gênero. Por �m, espera-se que a educação e a discussão de gênero estejam presentes e vivas nas escolas, sendo problematizadas junto aos estudantes e comunidade escolar, de modo a tornar a sociedade mais justa e equitativa. É preciso que haja liberdade de gênero, ou seja, de livre manifestação de identidades e expressões culturais. En�m, como se pode perceber, faz-se necessário problematizar os estudos de gênero nas escolas e envolver ao máximo toda a comunidade escolar, de modo a combater e desconstruir estereótipos e qualquer outro tipo de violência de gênero que possa haver em nosso meio social. Vamos Exercitar? Em nosso processo de aprendizagem, buscamos nos pautar em uma compreensão lógica e racional da diversidade. As questões relacionadas a gênero e lutas feministas fazem parte desses estudos. Nesse sentido, você deve se lembrar dos questionamentos iniciais que se fazem necessários para problematizarmos essas questões: o que é gênero? Qual a contribuição dos movimentos feministas na construção de uma sociedade mais justa? Quais as formas mais e�cazes de luta contra os estereótipos? Qual a importância da representatividade? Qual a importância de se problematizar a ideologia de gênero? Você estudou que pensar na construção de gênero nos leva a re�etir sobre nossas relações sociais e a forma como a sociedade constrói essas relações. Você aprendeu que gênero tem a ver com papéis, comportamentos, expectativas e identidades sociais atribuídas aos indivíduos, diferentemente de sexo, relacionado às características biológicas. Nesse sentido, o conceito de gênero destaca que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas biológicas, mas socialmente construídas, in�uenciadas por normas, expectativas e valores culturais. O gênero, portanto, corresponde à construção social que demarca identidades. Os movimentos feministas são importantíssimos na luta por equidade e igualdade de condições entre homens e mulheres, pois as relações sociais que apontam as desigualdades de gênero existentes em nossa sociedade tiveram origem no movimento iniciado por mulheres desde �ns do século XIX. A problematização dessas questões pelo movimento feminista culminou com a elaboração do conceito de gênero e contribuiu com a construção de uma sociedade mais justa, a Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE partir do questionamento da cultura do patriarcado e das relações de dominação a partir do gênero. O feminismo foi um movimento de caráter sociopolítico na defesa dos direitos humanos das mulheres ao questionaro tripé da exploração, discriminação e violência. Isso contribuiu na luta contra quaisquer estereótipos existentes no convívio social de uma escola, por exemplo. Vimos que as pessoas precisam desnaturalizar as formas de vida que as colocam em condição de inferioridade, por isso precisamos exercer um papel crítico e construtivo no que diz respeito à questão de gênero. A questão da desigualdade de gênero deve sempre vir à tona de modo que seja possível encontrar os caminhos para o enfrentamento de estereótipos. Por isso a necessidade de discutir as questões das desigualdades de gênero que impactam signi�cativamente a vida em sociedade. É preciso ainda que se amplie a promoção de políticas públicas voltadas à questão da igualdade de condições de gênero. Você estudou que a escola é positivamente fértil para promover a justiça e a igualdade de condições de gênero, sendo um espaço importante também na questão da representatividade, crucial para promover a diversi�cação de narrativas e a ruptura de monopólios de histórias singulares e estereotipadas. E isso deve se estender para outros arranjos sociais, visando à construção de uma rede de apoio. Você pode perceber que os estudos de gênero são fundamentais, e que essas relações pertencem a uma esfera presente em nossas relações sociais na vida cotidiana, assim como o trabalho, a educação, a religião, entre outros. No entanto, como discutimos, são controversas as polêmicas em torno do conceito de ideologia de gênero, sobretudo na última década da realidade brasileira, marcada pela ascensão e consolidação das redes sociais e de um período bastante conturbado em nosso país do ponto de vista da política. Como vimos, não se trata de promover determinada ideologia de gênero nas escolas, mas sim de destacar que a disciplina de educação e diversidade objetiva contribuir com o desenvolvimento dos estudos relacionados à gênero, ou seja, trata-se de estudos de gênero. Você percebeu que é preciso problematizar ideologia de gênero, para que se possa desconstruir os padrões binários de gênero, masculino e feminino, demonstrando o aspecto social e cultural presente na construção de gênero. Saiba mais Construção do conceito de gênero e movimentos feministas Para o aprofundamento dos estudos sobre as relações entre gênero e o seu contexto, recomendamos a leitura do Capítulo: Um olhar para a socialização na construção das desigualdades de gênero no contexto escolar, de Sandra Unbehaum, Thais Gava e Elisabete Regina B. Oliveira (in memoriam), do livro Gênero e educação: 20 anos construindo o conhecimento, de Cláudia Vianna e Marília Carvalho (orgs.). Leia também outros capítulos desse livro, disponibilizado em nossa Biblioteca Virtual. Luta contra estereótipos e representatividade Para o aprofundamento dos estudos sobre a luta contra estereótipos e representatividade, recomendamos a leitura do capítulo As assimetrias da intersecção entre cidadania e igualdade https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/191764/epub/0?code=VzxnJi1eQEji5JnIZtnYuW+9zuduAGlGzpbhCRIz9tgLVVw9XpOHkQ3E0zVSKHkLvET4y6ZQuUr7Bs3if2oQog== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/191764/epub/0?code=VzxnJi1eQEji5JnIZtnYuW+9zuduAGlGzpbhCRIz9tgLVVw9XpOHkQ3E0zVSKHkLvET4y6ZQuUr7Bs3if2oQog== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE para as mulheres do livro Teorias de Gênero: feminismos e transgressão, de Marlene Neves Strey e Sabrina Daiana Cúnico. O livro está disponibilizado em nossa Biblioteca Virtual. Problematizando ideologia de gênero Para o aprofundamento dos estudos sobre educação e gênero, recomendamos a leitura do Capítulo 1 – Lutas por educação: gênero, identidade coletiva e organização de mães de alunas/os, do livro Políticas de educação, gênero e diversidade sexual, de Cláudia Vianna. O livro está disponibilizado em Minha Biblioteca. Referências OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. STREY, M. N.; CÚNICO, S. D. Teorias de gênero: feminismos e transgressão. 1. ed. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2016. VIANNA, C.; CARVALHO, M. Gênero e educação: 20 anos construindo o conhecimento. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2020. VIANNA, C. Políticas de educação, gênero e diversidade sexual. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. Aula 2 Educação, Diversidade e as Pessoas LGBTQIAPN+ Educação, diversidade e as pessoas LGBTQIAPN+ Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/54563/epub/0?code=RIv8RF/BspEtMnyI2XHxvMLEeg/pMOh5WyJ5WMNl9OWV3yjyp5D8tTOPA+FStuv08VhJKIRBdp9TWI0VfswY6A== https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788551304006/pageid/0 Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nos estudos em educação e interseccionalidades entre marcadores sociais da diferença, a questão da diversidade e dos direitos das pessoas LGBTQIAPN+ são fundamentais para se pensar no exercício de uma educação plural e inclusiva. Isso nos leva a problematizar as formas de dominação que se re�etem no cotidiano da escola. Pensar nessa questão leva-nos ao reconhecimento da diversidade de identidades e de sexualidades com que se apresentam em nossa sociedade. Nesse sentido, é preciso que sejam reconhecidos os direitos das pessoas LGBTQIAPN+, ou seja, direitos de lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binárias e mais. Ademais, deve-se dar visibilidade a conquistas de espaços importantes na construção de uma sociedade mais justa. Dessa forma, você vai re�etir nesta aula sobre as possibilidades, avanços e retrocessos em relação ao combate ao bullying e à LGBTfobia nas escolas e na sociedade. Nesses estudos sobre as relações entre educação, diversidade e pessoas LGBTQIAPN+, alguns questionamentos se fazem necessários: quais os avanços e retrocessos em relação ao reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+? Quais as práticas e�cazes para combater o bullying relacionado às questões de gênero e a LGBTfobia? Qual o papel da escola nesse processo? O que é representatividade e visibilidade das pessoas LGBTQIAPN+? Perceba que essas são algumas das problematizações acerca das questões relacionadas à educação e interseccionalidades como marcadores sociais das diferenças. Nosso recorte desta aula consiste em analisar essas questões sob o espectro dos direitos das pessoas LGBTQIAPN+. Aprofunde seus conhecimentos sobre o tema a partir da leitura das referências bibliográ�cas e de outros materiais. Desejamos excelentes estudos. Vamos Começar! Nesta aula sobre diversidade e os direitos das pessoas LGBTQIAPN+, fundamentais para pensar no exercício de uma educação plural e inclusiva, como se observa nos estudos em educação e diversidade, você vai estudar primeiramente o respeito e reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+. Em seguida, vai estudar as formas de combate ao bullying e à LGBTfobia. Por �m, vai estudar a questão da representatividade e visibilidade. Respeito e reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+ Quando você ler LGBT+, entenda que estamos falando de LGBTQIAPN+. Esses elementos são fundamentais para a garantia de uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária, sem Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE discriminações ou quaisquer outras formas de violência. Em educação e diversidade, o respeito é um fator indispensável para o desenvolvimento dos estudos, para que não haja a discriminação, seja a forma como ela se manifestar. Com isso, busca-se desconstruir estigmas, ou seja, a desaprovação de características ede preconceitos no ambiente escolar e na sociedade, de modo que ambientes mais seguros e inclusivos sejam criados. É sempre bom lembrar que o Brasil é um dos países nos quais se comete mais violência contra homossexuais em todo o mundo, muitas vezes na forma de homicídio. Isso revela claramente as di�culdades em aceitar a diversidade de gênero em nosso país. Dessa forma, faz-se necessário o reconhecimento de direitos da população LGBT+, para que essas pessoas tenham a garantia de direitos legais. Perceba que são direitos básicos e elementares para o exercício e desenvolvimento da cidadania, como o direito de acesso à saúde, à educação e à adoção de crianças, e que são considerados avanços para a sociedade brasileira. O direito ao casamento gay, por exemplo, também corresponde a um dos avanços para que a população LGBT+ possa ter garantidos alguns dos direitos fundamentais. É preciso continuar trabalhando nas escolas e junto à comunidade escolar, para que as práticas discriminatórias e o bullying sejam extintos de nosso convívio social. Um avanço conquistado pela população LGBT+ é com relação às políticas de proteção e inclusão. A questão da representatividade das pessoas LGBT+ na política e em demais centros tomadores de decisão deve ser consolidada e ampliada em nossa sociedade. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | Registros da Parada do Orgulho LGBT, Mídia Ninja (2017). Fonte: Wikimedia Commons. Como você estudou na aula anterior, a sexualidade é uma construção sexual mediada por relações sociais que determinam o que pode ou não existir. Essa construção está intimamente ligada às relações de poder que se estabelecem na constituição de cada indivíduo em nossa sociedade. A ideia dos estudos em educação e diversidade é justamente lançar olhar acerca da sexualidade, entendendo-a como uma construção social (Previtalli; Vieira, 2017), o que vai na contramão do senso comum ou do julgamento de valor de muitas pessoas. A consolidação dos estudos de gênero se dá principalmente a partir da década de 1990, no contexto em que se denunciaram falsas oposições entre natureza/cultura e real/construído. Os estudos de gênero ganham impulso a partir da vertente do Queer Studie’s, estudos oriundos dos movimentos de gays e lésbicas nos EUA, outro campo emergente que começou a discutir a construção do corpo travesti/transgênero, entendendo gênero como forma de poder social, que produz um campo de inteligibilidade dos sujeitos, em um dispositivo pelo qual se produz o saber sobre ser masculino e também feminino (Toneli apud Previtalli; Vieira, 2017). Devemos pensar a questão de gênero como forma de poder social que se estabelece historicamente no campo das relações sociais e de dominação política e cultural. É preciso que haja o respeito e o reconhecimento e direitos para todas as pessoas. Para tanto, precisamos desconstruir as normatizações, muitas delas representando formas de violência de gênero que estão naturalizadas em nossa sociedade. Como se viu, não existem apenas as identidades masculino e feminino. A criação dessas distinções funciona como mecanismos que retiram direitos e di�cultam acessos aos espaços públicos para lésbicas, gays, transgêneros, transexuais, indivíduos não binários, drag queens e tantas outras que possam se classi�car atualmente, inclusive assexuais (Previtalli; Vieira, 2017). É preciso retomar a teoria queer para lançar algumas re�exões. Segundo Judith Butler, é preciso desconstruir a identidade de gênero (aquilo que somos direcionados a nos identi�car, cujas opções transitam entre “ser feminino” ou “ser masculino”), justamente por esse fenômeno ser pensado ainda de forma binária e linear (Previtalli; Vieira, 2017). Nesse sentido, precisamos caminhar e avançar no âmbito do respeito e do reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+, fundamental para construir uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e justa. Isso envolve ações que vão desde a promoção da igualdade legal até a desconstrução de estigmas e preconceitos, visando a criação de ambientes seguros e acolhedores para todas as pessoas, independentemente da orientação sexual dos indivíduos pertencentes a uma sociedade. Siga em Frente... Combate ao bullying e à LGBTfobia Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Sabemos que o conhecimento proporciona imensuráveis conquistas à humanidade e que conhecer e entender o outro em suas próprias condições é uma forma bastante interessante de praticar a tolerância em relação às questões de gênero. Figura 1 | Biscoito de gênero. Fonte: adaptada de Guia da Diversidade LGBT: saúde, atendimento e legislação (Rio de Janeiro, 2019 apud Campos; Magalhães; Veras, 2022, p. 3). A escola é um espaço muito importante para o desenvolvimento de uma pedagogia da sexualidade (Louro apud Previtalli; Vieira, 2017), e isso envolve todos os atores da escola para que seja possível estabelecer uma cultura mais acessível e mais inclusiva em relação às questões de gênero, sobretudo aos professores que, em parte, apresentam uma grande resistência em discutir temas e tabus como a questão de gênero e sexualidade nas escolas. A escola, como se viu, é re�exo das relações da sociedade. Isso não quer dizer que deva ser ela a estar na vanguarda no processo de lutas políticas em relação à questão de gênero, mas ela é importantíssima, podendo a escola ser o motor para o estabelecimento de algumas pautas e demandas para que se diminua a prática do bullying e da violência de gênero. As noções de gênero, sexualidade e educação, nesse sentido, são entendidas como construtos sociais que se fundamentam por meio da historicidade e do caráter provisório das culturas. E as Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE culturas estão em constante processo de mudança e de adaptação. Classi�car alguém como masculino ou feminino, homossexual, heterossexual ou bissexual está intimamente ligado a o que o gênero e a sexualidade produzem como saberes e verdades na sociedade como um todo (Previtalli; Vieira, 2017). O combate ao bullying é dever da escola, para que se estenda ao entorno da comunidade escolar e de toda a sociedade. Quando falamos em combater o bullying, inclui-se também o combate à LGBTfobia, ou seja, as discriminações oriundas das relações sociais de convivência com identidades diversas de gênero. Uma das formas de eliminar esses tipos de violência consiste na inclusão, no acolhimento e no apoio à população LGBT+ e a qualquer outra minoria sociológica, de modo que se possa compreender os seus anseios e angústias. A escola é uma instituição que tem por �nalidade educar para a cidadania, igualdade e ampliação dos direitos. Presenciamos muitas escolas reproduzindo práticas sexistas, que, através de normas, formas de avaliação, livros didáticos, currículos, disciplinas, etc., não problematizam e/ou não abordam as questões de gênero assim como outras produções discursivas e linguísticas que hierarquizam as diferenças produzindo as desigualdades no ambiente escolar. Os estudos de gênero contribuem para a educação na medida em que oferecem proposições políticas implicadas por relações de poder que produzem outro olhar e possibilitam inúmeras articulações entre masculinidades e feminilidades (Teixeira; Magnabosco, 2010, p. 5). As práticas sexistas relacionadas a alguma forma de violência devem ser evitadas e cotidianamente desconstruídas nas escolas, de modo que sejam construídos ambientes mais plurais. As escolas precisam acompanhar tais mudanças. As relações de gênero são oriundas das relações de poder em nossa sociedade, e elas produzem hierarquias, hegemonias e exclusões a partir dos dispositivos de gênero e sexualidade. Isso ocorre porque esses dois dispositivos de poder são atravessados pela noção da diferença, e a diferença que existe, quer queiramos ou não, mas o que a sociedade faz com ela é justamente o ponto a re�etir (Previtalli; Vieira, 2017). O que nos leva a dizer, por exemplo, que a homossexualidade sempre é vista como diferente, anormal? Partimos do entendimento de que as relações de gênero sãoconstruídas cultural e socialmente. É o contexto cultural quem de�ne a classi�cação binária, a partir de um mecanismo sociocultural entendido como um processo de distinção e do estabelecimento de privilégios para alguns. Os marcadores de gênero atuam nesse sentido, não apenas no campo simbólico, mas também no campo material e social. A diferença conduz a normatização em regulamentar quem seriam esses normais, ou seja, há disciplinamento de comportamentos, códigos culturais, controle do corpo, consensos que vão dizendo reiteradamente quem eles são os normais (Previtalli; Vieira, 2017). Historicamente, esses processos têm produzido formas de violência por meio de práticas de discriminação e de violência simbólica com LGBT+, mesmo na escola, que reproduz a estrutura de dominação e padronização normativa em relação a questão de gênero. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A con�guração do que é ser homem e ser mulher passa pela socialização de códigos de roupas, comportamentos, movimentos do corpo, voz, presença/ausência de pelos, postura, sentimentos e outros, que fazem um quadro de tramas sobre o qual vai se dizendo quem é quem e o que pode ou não fazer para ser considerado esse alguém (Previtalli; Vieira, 2017). Não se trata dizer das cores das roupas que meninos e meninas devam usar, mas problematizar essa questão a partir de uma perspectiva mais abrangente sobre a forma com o gênero é construído. O combate ao bullying em relação às questões de gênero e a outras expressões de minorias sociais, portanto, é necessário na escola e em toda a sociedade. Sabemos que existe um longo caminho a ser trilhado em busca da igualdade de gênero, o que leva à necessidade de um árduo processo de conscientização e de políticas públicas que reduzam as formas de preconceito e de discriminação para reconhecer a dignidade e o direito de todas as pessoas. Representatividade e visibilidade Diante do que estamos estudando, vimos a importância do reconhecimento da população LGBT+ e a eliminação de toda forma de preconceito e discriminação que possa haver na escola e em todo o meio social, ou seja, é inaceitável a LGBTfobia. Para isso, a questão da representatividade e da visibilidade das pessoas LGBT+ torna-se um instrumento importante para a inclusão dessa população e para o desenvolvimento de uma sociedade mais democrática, tendo a escola um papel fundamental nesse processo. A questão da representatividade e da identi�cação se veri�ca no empoderamento de personalidades LGBT+ que ocupam espaço na representação política ou na cultura de massa (mídia), assim como em outros espaços importantes. Com isso, se exacerba a diversidade, validando a construção social e cultural múltipla de gênero, representando uma variedade de identidades e experiências. A visibilidade da população LGBT+ promove a conscientização e a empatia, de modo que as pessoas aceitem e possam vivenciar as diferenças, contribuindo com a luta contra a LGBTfobia. A necessidade de representação e inclusão em diferentes espaços, o que leva à criação de oportunidades, corresponde aos desa�os e avanços dessa pauta, ainda mais quando se percebe que as relações sociais que se estabelecem são permeadas por diferentes poderes, tanto investidos como processos de normatização da escola quanto criados pela subjetividade do sujeito (Previtalli; Vieira, 2017). A escola acredita que pode determinar a representação de quem somos, e pode-se perceber a existência de uma correlação entre a produção de saberes de modo geral com a própria construção do sujeito, a partir dos saberes da escola (Previtalli; Vieira, 2017, p. 164). Trata-se de relações que são construídas na escola a partir da troca entre os indivíduos. A escola exercita suas pedagogias a partir de um referencial cultural e histórico e, dependendo das relações estabelecidas na escola, exercitamos diferentes pedagogias no que se refere à sexualidade e também ao gênero (Louro apud Previtalli; Vieira, 2017). Nesse sentido, tanto gênero quanto sexualidade são dispositivos que constituem o sujeito dentro de determinadas relações sociais em contextos especí�cos, e o mesmo ocorre com o tempo histórico nas diferentes sociedades, que atribuem características especí�cas a esse fenômeno em épocas diferentes (Previtalli; Vieira, 2017). Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Podemos perceber que a questão da representatividade na cultura e na política é muito importante para a desconstrução de estereótipos e de formas de discriminação em relação à heteronormatividade. Mesmo com a complexidade das questões relacionadas ao gênero e à sexualidade, podemos identi�car caminhos que possibilitem a mudança social. Por isso, é necessário evitar que a escola e outros ambientes continuem a excluir, segregar e diferenciar homossexuais, lésbicas, travestis, transexuais e todas outras pessoas que não se adequam às normas de gênero e sexualidade (Previtalli; Vieira, 2017). Com isso, entendemos que a escola pode e deve ocupar um papel importante na atualidade, desmisti�cando e desconstruindo as diferenças sexuais, combatendo a segregação, a violência e a exclusão, especialmente no que tange às questões de gênero. Nesse sentido, é necessário demarcar a diferença, de modo a incentivar o reconhecimento das diferenças sociais e culturais com que nos constituímos enquanto população brasileira. Em suma, é preciso que haja mais mecanismos de representatividade e de visibilidade de pessoas LGBTQIAPN+, ajudando na desconstrução de estigmas e preconceitos, elementos fundamentais para a construção de sociedades mais justas, respeitosas e inclusivas. Vamos Exercitar? É chegado o momento de exercitarmos as questões relacionadas à questão da educação, diversidade e direitos de pessoas LGBT+. Nesse sentido, devemos pensar na educação a partir de categorias teóricas e analíticas sobre a questão da diversidade. Vamos então retomar os questionamentos propostos no começo da aula: quais os avanços e retrocessos em relação ao reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+? Quais as práticas e�cazes para se combater o bullying relacionado às questões de gênero e a LGBTfobia? Qual o papel da escola nesse processo? O que é representatividade e visibilidade das pessoas LGBTQIAPN+? Você estudou que se faz necessário o reconhecimento de direitos da população LGBT+, para que essas pessoas possam ter a garantia de direitos legais, ou seja, direitos básicos e elementares para o exercício e desenvolvimento da cidadania. Como exemplo, você pode perceber que o casamento gay corresponde a um dos avanços para que a população LGBT+ possa ter garantidos alguns dos direitos fundamentais. As políticas de proteção e de inclusão são conquistas importantes para a garantia de direitos. Reconhecemos a importância de avançar em relação ao reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+, fundamental para que se possa construir uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e justa. No entanto, você percebeu que o Brasil é um dos países mais preconceituosos em relação à população LGBT+, culminando, muitas vezes, numa elevada quantidade de formas de violência física e simbólica. Por isso, é necessário o estabelecimento de práticas culturais respeitosas entre todas as pessoas. Você estudou que a escola é muito importante nesse processo, pois dali saem pautas e demandas fundamentais para que sejam discutidas as questões de gênero e sua construção Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE social, para que se diminua a prática do bullying, que deve ser combatido, assim como a LGBTfobia e todas as formas de violência de gênero em nossa sociedade. O respeito, a aceitação do outro e o diálogo nos ambientes escolares são práticas e�cazes para o combate ao bullying e às formas diversas de violência. É interessante reforçar que o combate ao bullying é também dever da escola, para que se estenda para toda a comunidade e a sociedade. Você estudou sobre a importância do reconhecimento da população LGBT+ e a eliminação de qualquer forma de preconceito e de discriminação. A questão da representatividadee da visibilidade de pessoas LGBT+ é um instrumento importante na construção de uma sociedade mais democrática. En�m, você percebeu que a visibilidade da população LGBT+ promove a conscientização e a empatia, contribuindo com a luta contra a LGBTfobia. Saiba mais Respeito e reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+ Para o aprofundamento de seus estudos sobre os direitos das pessoas LGBT+ e as relações com a educação, recomendamos a leitura do Capítulo – Um breve histórico do conceito de gênero, do livro Gênero e diversidade: formação de educadoras/es, de Cíntia Maria Teixeira e Maria Madalena Magnabosco. Combate ao bullying e à LGBTfobia Para o aprofundamento dos estudos sobre a questão da diversidade sexual e o reconhecimento dos direitos das pessoas LGBT+, recomendamos a leitura do Capítulo – As sexualidades, o preconceito contra LGBT e a escola, do livro A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na escola, de Marco Antonio Torres. O livro está disponível em nossa biblioteca virtual. Representatividade e visibilidade Para que você possa aprofundar seus estudos sobre a questão da representatividade e visibilidade e as relações com as questões de gênero, recomendamos a leitura do Capítulo – A compreensão da sexualidade por meio da diversidade sexual, também do livro A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na escola, de Marco Antonio Torres. Como você sabe, o livro está disponível em nossa biblioteca virtual. Referências https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192546/epub/0?code=U3yEBrai1o6nAVx6UvyXJ/148wtouMkL2Pm/1LvoPRyZcnhSmyzfuDvgv6dWGdSQAjKuE+ToToTW17B62T6RBw== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192387/epub/0?code=1hSH/wQVEVoKg4UzwUAw5ebdKjDn6Nn3j41sgf/ZM0aOwby2blauI+rAkmQU7JJu6Jg/eJINC7WWN/aEAIC3sg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192387/epub/0?code=1hSH/wQVEVoKg4UzwUAw5ebdKjDn6Nn3j41sgf/ZM0aOwby2blauI+rAkmQU7JJu6Jg/eJINC7WWN/aEAIC3sg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192387/epub/0?code=1hSH/wQVEVoKg4UzwUAw5ebdKjDn6Nn3j41sgf/ZM0aOwby2blauI+rAkmQU7JJu6Jg/eJINC7WWN/aEAIC3sg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192387/epub/0?code=rM6p/Ykka7Hm653X8Gom4qKgPUW7elHHTmLI6NQcOru/IDRmbd5cNO53KipcpcTM8fGvY66o2rsubn+i72pEsw== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192387/epub/0?code=rM6p/Ykka7Hm653X8Gom4qKgPUW7elHHTmLI6NQcOru/IDRmbd5cNO53KipcpcTM8fGvY66o2rsubn+i72pEsw== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE AQUINO, J. G. et al. Família e educação: quatro olhares. 1. ed. Campinas: Papirus, 2013. CAMPOS, M.; MAGALHÃES, P. A. M.; VERAS, L. F. S. Gênero e sexualidade na dança do Coco do Grupo Oré Anacã: uma análise coreográ�ca. ARJ – Art Research Journal: Revista de Pesquisa em Artes, v. 9, n. 2, 2022. Disponível em: https://www.researchgate.net/�gure/Figura-1-Biscoito-de- Genero-Fonte-Guia-da-Diversidade-LGBT-saude-atendimento-e_�g1_365925035. Acesso em: 19 set. 2024. GIL, A. C. Sociologia Geral. São Paulo: Grupo GEN, 2011. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SILVA, A. I. da. Relações familiares intergeracionais. 1. ed. São Paulo: Contentus, 2020. TEIXEIRA, C. M.; MAGNABOSCO, M. M. Gênero e Diversidade: formação de educadoras/es. Belo Horizonte: Autêntica Editora; Ouro Preto, MG: UFOP, 2010. (Série Cadernos da Diversidade). TEIXEIRA, C. M; MAGNABOSCO, M. M. Gênero e diversidade: formação de educadoras/es. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2011. TORRES, M. A. A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na escola. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2010. VIANNA, C. Políticas de educação, gênero e diversidade sexual. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2018. Aula 3 Educação e Arranjos Familiares Educação e arranjos familiares https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Biscoito-de-Genero-Fonte-Guia-da-Diversidade-LGBT-saude-atendimento-e_fig1_365925035 https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Biscoito-de-Genero-Fonte-Guia-da-Diversidade-LGBT-saude-atendimento-e_fig1_365925035 Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nos estudos em educação e diversidade, estamos percebendo a questão das interseccionalidades como marcadores sociais da diferença. Nesse exercício re�exivo, estamos examinando o modo como as interseccionalidades sobrepõem formas de dominação que são re�etidas no cotidiano do contexto escolar. Dando continuidade aos estudos sobre educação e interseccionalidades entre marcadores sociais da diferença, precisamos reconhecer a importância da família no entendimento dessas questões. Por isso, é preciso compreender as características dos arranjos familiares e o processo de socialização, primário e secundário, que ocorrem nas relações sociais. Sabemos que, quanto mais estreitas forem as relações entre família e escola, mais construtivo é para o estudante e seu desenvolvimento socioemocional e acadêmico. A rede de apoio e bem-estar proporcionada pela escola e a família é, portanto, objeto de estudos e re�exões desta aula. Você também vai analisar a família moderna, sua classi�cação e mudanças ocasionadas ao longo do tempo. As relações entre educação e arranjos familiares possibilitam-nos tecer algumas questões para começarmos as discussões: o que é socialização primária? O que é socialização secundária? Quais as relações com educação e diversidade? De que modo é possível de�nir a construção da família moderna? Quais as mudanças? O que elas implicam? Qual a importância da escola e da família na construção de uma rede de apoio e bem-estar? Veja que essas são algumas de muitas das problematizações das questões relacionadas à educação e arranjos familiares, o que demonstra a abrangência dos estudos sobre educação e interseccionalidades entre marcadores sociais da diferença. Ajeite a sua poltrona, organize sua mesa e aprofunde os seus conhecimentos sobre as relações entre educação e arranjos familiares. Bons estudos. Vamos Começar! Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Nesta aula sobre educação e arranjos familiares, você vai examinar alguns aspectos importantes que envolvem as relações familiares. Primeiramente, você vai conhecer as características (e as diferenças) da socialização primária e da socialização secundária. Em seguida, você vai estudar a construção da família moderna, classi�cação e mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Por �m, você vai estudar as relações entre escola e família para a construção de uma rede de apoio e bem-estar. Socialização primária e socialização secundária A socialização é um aspecto fundamental para pensarmos no processo de formação e desenvolvimento das pessoas. É algo que prepara (forma) o indivíduo, ou seja, molda-o para a vida em sociedade, em outras palavras, é o que a sociedade espera dele. Nesse sentido, entendemos que re�etir a respeito da socialização dos indivíduos na disciplina de educação e diversidade é fundamental para compreender o papel dos indivíduos e das instituições sociais. A socialização ocorre em diversas situações de nossa vida, a partir do momento em que nos relacionamos com outras pessoas. Quando falamos em socialização dos indivíduos, estamos dizendo que somos resultados de um processo de convivência com outros seres humanos a partir de fazeres diversos e comuns, ideias, valores, isto é, a realização da cultura em nosso cotidiano. Podemos de�nir o processo de socialização dos indivíduos em primária e secundária.A socialização primária, como o próprio termo sugere, é aquela que acontece nas famílias, ou seja, é aquela que está presente na quase totalidade do tempo do indivíduo, desde o seu nascimento. Tem como objetivo o ensinamento de normas e regras de comportamento para a vida em sociedade. No entanto, um aspecto interessante que precisamos levar em consideração, conforme você vai estudar mais adiante, tem a ver com o fenômeno da modernização da família, especialmente quando o pai e, sobretudo, a mãe precisam trabalhar para complementar os rendimentos da família, “cada vez mais, no entanto, na medida em que o pai e a mãe trabalham fora, a socialização primária pode ocorrer também nas creches, onde nós, quando crianças, passamos a maior parte do dia” (Oliveira; Costa, 2016, p. 20-21). A socialização secundária acontece na etapa seguinte, ou seja, quando o indivíduo ingressa e passa a conviver com outros grupos sociais e em outros ambientes que não a própria família. Ou seja, estamos falando da socialização que ocorre fora da família, aquela que se realiza com os amigos da rua, do clube, grupo de jovens da igreja e na escola, quando os indivíduos ingressam nas séries iniciais do ensino fundamental. Perceba que, para uma parcela signi�cativa da população, a socialização primária ocorre mediante instituições sociais públicas e/ou �lantrópicas, o que revela aspectos das desigualdades sociais e econômicas com que nos constituímos. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | A socialização dos indivíduos – Happy Days, Edward Henry Potthast (1910). Fonte: Wikimedia Commons. Quando a assistimos aos canais de TV, também estamos falando do processo de socialização. Isso ocorre também com os celulares, tablets e computadores, mediante o advento das tecnologias de informação e comunicação, a partir da interação com vídeos, redes sociais e outros aplicativos. Os dois tipos de socialização condicionam nossas relações com outros indivíduos e, dependendo da forma, do ambiente social e da educação que recebemos, adotamos ou abandonamos uma série de papéis sociais. Um papel social é um comportamento esperado de um indivíduo que ocupa uma determinada posição na sociedade. Há relações entre o processo de socialização e o que estamos estudando em educação e diversidade, pois o processo de socialização implica também os ensinamentos sobre valores justos, democráticos e inclusivos em nosso meio social, para que os indivíduos possam chegar mais preparados nas escolas. Como temos estudado, a socialização primária e secundária não são processos isolados, ou seja, estão interligados. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A base estabelecida na socialização primária in�uencia e interage com a socialização secundária ao longo da vida do indivíduo, por isso é importante que as famílias e a escola caminhem juntas no processo de socialização. En�m, a socialização primária e secundária desempenham papéis signi�cativos na formação da identidade, valores, crenças e comportamentos de um indivíduo, moldando sua integração na sociedade e seu entendimento das dinâmicas sociais ao longo do tempo. Siga em Frente... A família moderna: classi�cação e mudanças Nos estudos em educação e interseccionalidades, a respeito das relações entre educação e os arranjos familiares, precisamos falar sobre a construção da família moderna. Como já foi dito nos estudos sobre o processo de socialização, muitas crianças têm sido inseridas (e socializadas) inicialmente em creches e/ou centros de educação infantil, pois muitas mães precisam trabalhar e estão cada vez mais atuantes no mercado de trabalho. Isso revela outro problema, o das desigualdades de gênero, pois ocorre a sobrecarga de trabalho da mulher (mãe), que assume uma dupla jornada de trabalho quando acumula as tarefas domésticas em conjunto ao trabalho externo. Diferentemente de algumas décadas atrás, quando se observava uma cultura do patriarcado mais predominante na sociedade (pois é verdade também que muitos pais têm assumido um papel importante no processo de educação dos �lhos em casa) esse fenômeno revela mudanças nas atitudes em relação às funções de gênero, como a maior participação da mulher no mercado de trabalho, que tem in�uenciado as dinâmicas familiares da contemporaneidade. As diferenças que ocorrem com o passar do tempo são muitas, pois se recon�gurou a normatividade de que famílias são constituídas apenas por pai, mãe e �lhos. Diante das mudanças e dos avanços sociais relacionados à inclusão e ao respeito às diferenças, percebem- se mudanças na composição das famílias modernas, como por exemplo, o aceite de casais homoafetivos e adoção de �lhos nessas famílias. Obviamente que muitas coisas ainda precisam mudar para melhorar o nosso meio social, tornando-o mais justo, inclusivo e democrático, no qual as práticas de discriminação e de intolerância sejam eliminadas. O que se sabe é que a família dos tempos atuais vem passando por muitas adaptações em relação à dinâmica cultural em que estamos inseridos. Além da questão de gênero e de uma recomposição para se pensar no quadro da família, existem outros aspectos importantes a serem considerados. Como vimos, a televisão e a internet são fatores que explicam aspectos de novas relações na atualidade, que têm nosso comportamento nos dias atuais. O principal aspecto que se deve levar em consideração para pensar na família moderna é com relação aos novos arranjos familiares que se veri�cam mais frequentemente em nossa sociedade. Atualmente, as famílias modernas podem ser classi�cadas da seguinte forma: família nuclear ou conjugal, composta por pais e �lhos, geralmente considerada a unidade básica da Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE sociedade moderna; monoparental, quando há uma única �gura parental com responsabilidade pelos �lhos, ou seja, um pai, uma mãe ou uma avó, por exemplo; reconstituída, como aquela família que surge a partir do divórcio ou da separação; ou homoparental, composta por casais do mesmo sexo que optam por ter �lhos, seja por adoção ou outros métodos de reprodução assistida. Outro aspecto que deve ser considerado para se pensar na construção da família moderna é com relação às menores restrições sociais quando comparadas às das famílias tradicionais. Isso ocorre, por exemplo, com relação à decisão de não ter �lhos ou da adoção de um estilo de vida não convencional. Contudo, percebe-se que são muitos os elementos e desa�os quando falamos na composição das famílias modernas e, um deles, certamente, é o de conciliar as demandas pro�ssionais e familiares e lidar com as novas con�gurações, bem como seus papéis e expectativas. A constante evolução da sociedade demanda uma re�exão contínua sobre as necessidades, valores e estruturas que de�nem uma família nos tempos modernos. Por isso é importante compreender, reconhecer e valorizar a diversidade de arranjos familiares presentes na realidade contemporânea. Escola e família: rede de apoio e bem-estar Como vimos, é importante compreender, reconhecer e valorizar a diversidade de arranjos familiares e os diferentes modelos de organização familiar que re�etem a nossa realidade na contemporaneidade. Para que se possa pensar em uma sociedade mais inclusiva e solidária, a família, nesse sentido, precisa estender os braços e acolher os indivíduos, independentemente de sua orientação e/ou escolhas para a vida. Obviamente que isso não exime a família de cobrar certas responsabilidades de seus �lhos para com a relação dinâmica em casa. A escola é igualmente importante para acolher os estudantes e suas famílias, independentemente da maneira como se constituem, pois é nesse espaço onde mais se deve valorizar e reconhecer a diversidade cultural. Sabemos que as famílias modernas apresentam arranjos socioculturais diversos, não existindo julgamentos ou juízos de valores. Estudou-se em aulas anteriores que é preciso desconstruir estereótipos e práticas discriminatórias, para que se possa vivenciar uma sociedade melhor e mais justa. Nesse sentido, sabemos da importânciada família e da escola para a construção de uma rede de apoio e de bem-estar para os indivíduos e para toda a sociedade. Isso se torna ainda mais importante, especialmente quando escola e família atuam em parceria na educação dos �lhos/estudantes. Com isso, estima-se que as responsabilidades sejam compartilhadas, de modo que a educação seja mais efetiva e completa para os alunos e comunidade escolar. Outro aspecto importante na solidi�cação de uma rede de apoio é com relação à comunicação constante que deve ser proposta entre família e escola, sobretudo no acompanhamento e desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes. Nos dias atuais, mediante o advento das tecnologias da informação e comunicação, isso pode se dar de maneira mais efetiva e dinâmica, com o uso das redes sociais e dos meios de interação presentes na contemporaneidade. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A escola continua sendo uma instituição importante para trazer as re�exões sobre a constituição da família moderna e deve atuar no sentido de promover a construção de uma rede de apoio e bem-estar, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes e se adaptando constantemente para atender às necessidades emocionais, sociais e educacionais. A parceria entre escola e família, a partir de uma boa comunicação e do estreitamento das relações, promove inúmeros benefícios para o bem-estar dos estudantes, da escola e da comunidade de modo geral, pois gera segurança e estabilidade para todos, os alunos se sentem acolhidos e apoiados. Maior motivação certamente vai resultar em melhoria do desempenho acadêmico e satisfatório dos alunos, ou seja, é preciso que escola e família, na construção de uma rede de apoio, ofereçam o bem-estar emocional e social dos alunos, além do aprendizado formal. Superar os desa�os é essencial para o sucesso educacional das crianças. Como se viu, a parceria escola-família é essencial para promover um ambiente de aprendizagem acolhedor, inclusivo, no qual o aluno é o centro. Vamos Exercitar? As intersecções entre marcadores sociais da diferença e a abordagem inclusiva da educação nos levam a pensar na família e nos arranjos familiares. As relações entre educação e arranjos familiares possibilitam-nos tecer algumas questões para problematizar o estudo em questão: o que é socialização primária? O que é socialização secundária? Quais as relações com educação e diversidade? De que modo é possível de�nir a construção da família moderna? Quais as mudanças? O que elas implicam? Qual a importância da escola e da família na construção de uma rede de apoio e de bem-estar? Você aprendeu que a socialização primária é aquela que acontece nas famílias, ou seja, está presente na quase totalidade do tempo de vida do indivíduo, desde o seu nascimento, e tem como objetivo o ensinamento de normas e regras de comportamento para a vida em sociedade. Por sua vez, a socialização secundária acontece quando o indivíduo ingressa e passa a conviver com outros grupos sociais e em outros ambientes que não a própria família. Você também estudou sobre as relações entre o processo de socialização, educação e diversidade. A�nal, o processo de socialização implica também os ensinamentos sobre valores justos, democráticos e inclusivos em nosso meio social, para que os indivíduos possam chegar mais preparados nas escolas. Você estudou sobre a construção da família moderna e pôde perceber que essa instituição vem passando por muitas, rápidas e dinâmicas mudanças no contexto em que estamos inseridos. Isso implica um constante repensar sobre o papel do educador nas instituições de ensino. Além disso, em educação e diversidade, deve-se levar em consideração a cultura, a sociabilidade e o papel das novas tecnologias de comunicação para pensar nos novos arranjos familiares da contemporaneidade. Você estudou que as famílias podem ser classi�cadas da seguinte forma: família nuclear ou Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE conjugal, monoparental, reconstituída ou homoparental. Outro aspecto que você percebeu e que deve ser considerado para se pensar na construção da família moderna é que esta apresenta menores restrições sociais quando comparada às famílias tradicionais. Por �m, você estudou a importância da família e da escola para a construção de uma rede de apoio e de bem-estar para os indivíduos e toda a sociedade. Por isso a importância de uma comunicação e�ciente e constante no acompanhamento e desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes. Como discutimos, a escola deve promover a construção de uma rede de apoio e de bem-estar, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes e se adaptando constantemente para atender as necessidades emocionais, sociais e educacionais do aluno. Saiba mais Socialização primária e socialização secundária Para o aprofundamento dos estudos sobre o processo de socialização, recomendamos a leitura do Capítulo 6 – Socialização do livro Sociologia Geral, de Antonio C. Gil. O livro está disponível na plataforma Minha Biblioteca. A família moderna: classi�cação e mudanças Para que você possa aprofundar os seus estudos sobre família e as relações com educação e diversidade, recomendamos a leitura do Capítulo 2 – Família do livro Relações familiares intergeracionais , de Andressa Ignácio da Silva. Você encontra o livro em nossa Biblioteca Virtual. Escola e família: rede de apoio e bem-estar Para o aprofundamento dos estudos sobre escola, família e �lhos/estudantes, recomendamos a leitura do capítulo Crise, acosso e reinvenção da experiência educativa contemporânea, de Julio Groppa Aquino, do livro Família e educação: quatro olhares, de Julio Groppa Aquino, Rosely Sayão, Sérgio Rizzo e Yves De La Taille. O livro encontra-se disponível em nossa Biblioteca Virtual. Referências https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788522489930/pageid/0 https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/186850/pdf/0?code=x0mIsIf1myylfF21eCieWx0w9DGUuD6XQuWt7g7gG/ONVU4ByyOWNlAo7WAmU33z5Or/yY/YNzb0jkusBi5+7w== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/186850/pdf/0?code=x0mIsIf1myylfF21eCieWx0w9DGUuD6XQuWt7g7gG/ONVU4ByyOWNlAo7WAmU33z5Or/yY/YNzb0jkusBi5+7w== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/4161/pdf/0?code=YT+1b2QnCocIlB5AViDe/Peg0DfSHluryvjYUdQqyslZ5XIYpYpkyrMkDmN0tiZ9+m0kZiew2sR7gSlrsRV7dw== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE AQUINO, J. G. et al. Família e educação: quatro olhares. 1. ed. Campinas: Papirus, 2013. GIL, A. C. Sociologia Geral. São Paulo: Grupo GEN, 2011. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SILVA, A. I. da. Relações familiares intergeracionais. 1. ed. São Paulo: Contentus, 2020. Aula 4 Educação e as Lutas Anticapacitistas Educação e as lutas anticapacitistas Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nossa competência de estudos consiste em examinar o modo como as interseccionalidades sobrepõem formas de dominação e se re�etem sobre o cotidiano do contexto escolar, o que nos leva a pensar nas condições das pessoas com de�ciência. As lutas anticapacitistas são, nesse sentido, essenciais para darmos continuidade aos estudos sobre educação e diversidade, pois elas são também consideradas marcadores sociais da diferença. Nesta aula, vamos analisar a importância dos estudos da temática marcador social da diferença, para pensar a escola como meio para o exercício de práticas de acessibilidade e a criação de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ambientesinclusivos, seguros e acolhedores, de modo a envolver toda a escola, a família e a comunidade escolar. Por isso, a sensibilização, a conscientização e o apoio de uma rede articulada em prol desses objetivos se fazem necessários. Vejamos alguns questionamentos iniciais necessários: como devemos buscar entender (no sentido de se colocar no lugar do outro) a necessidade de acessibilidade e de recursos para as pessoas com de�ciência? De que modo podemos contribuir para a criação de ambientes inclusivos voltados à população com de�ciência? Qual a importância da sensibilização e da conscientização e apoio para uma educação anticapacitista? De que modo a escola pode ser a protagonista para a sensibilização e a conscientização da comunidade escolar e da sociedade? Você pode perceber a importância das lutas anticapacitistas visando uma educação mais inclusiva e democrática nas escolas e em nossa sociedade. Nesse sentido, convidamos você para que aprofunde os seus estudos e leituras sobre o tema e que tenha uma excelente aula. Bons estudos. Vamos Começar! Nesta aula sobre a educação e as lutas anticapacitistas, você vai compreender e perceber a importância da inclusão das pessoas com de�ciência no processo educacional e no desenvolvimento da sociedade como um todo. Você vai estudar primeiramente sobre a acessibilidade e recursos e, em seguida, sobre a criação de ambientes inclusivos, seguros e acolhedores, envolvendo a parceria entre escola, família e comunidade escolar. Por �m, você vai estudar sobre a necessidade de uma maior sensibilização, conscientização e apoio para essas causas fundamentais no exercício do desenvolvimento da diversidade e da inclusão. Acessibilidade e recursos Em educação e diversidade, como temos visto até aqui, prioriza-se a perspectiva da inclusão e de uma sociedade (e escola) plural, que valorize o reconhecimento, a diferença, e a multiplicidade sociocultural com que nos constituímos historicamente. Com isso, tem-se como um dos objetivos desta aula, a desconstrução de qualquer forma de preconceito, discriminação e de intolerância contra quaisquer pessoas e povos, suas especi�cidades e diferenças que demarcam a sua identidade. Pode-se perceber que, em nosso percurso, estamos reconhecendo e valorizando a diversidade sociocultural, étnico-racial, de gênero, entre outras. As pessoas com de�ciência, da mesma forma, precisam de reconhecimento e de inclusão em nosso meio, e mais que isso, é necessário um mínimo de empatia para compreender as necessidades especí�cas para a inclusão no convívio social. Em todos os espaços, seja em casa, na escola, espaço público ou privado, a liberdade de ir e vir não pode ser cerceada. Mais que reconhecimento e inclusão, falar em educação e lutas anticapacitistas é falar nos direitos das pessoas com de�ciência que devem ser exercidos por todos. São os direitos relacionados à saúde, educação, transporte, trabalho, entre outros. A educação é fundamental Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE para que a pessoa com de�ciência supere barreiras e consiga exercer seus direitos e liberdades individuais em condições de igualdade com as demais pessoas (Muzy, 2022, p. 97). A escola, nesse sentido, é um espaço importantíssimo de criação de uma cultura de mudanças para uma sociedade mais inclusiva e acessível a todas as pessoas que nela frequentam, independentemente das suas condições físicas, psicológicas ou sociais. Um dos eixos fundamentais da disciplina de educação e diversidade consiste, portanto, na educação e conscientização das lutas anticapacitistas. Esse é, sem dúvida, um marcador social da diferença, portanto deve ser pauta de todos nós. Sendo a educação um direito da pessoa com de�ciência, é implícito, mas mesmo assim, foi determinado no Estatuto da Pessoa com De�ciência a garantia de sistema educacional inclusivo. Além disso, a discussão se a regra é a pessoa com de�ciência frequentar o ensino regular ou não, já poderia estar reduzida pela disposição do artigo 27 do citado diploma legal, pois ao assegurar sistema educacional inclusivo, subtende-se que será dentro do sistema regular de ensino (Muzy, 2022, p. 97). Temos como premissa fundamental nesses estudos buscar entender, colocando-se no lugar do outro, das pessoas com alguma de�ciência, a importância da acessibilidade e recursos em quaisquer espaços em que se convive socialmente. Você deve se lembrar do conceito de alteridade, ou seja, que o eu se constrói também em contato com o outro, e isso é importante ser tomado como premissa elementar em nossos estudos sobre educação anticapacitista. Acresce- se a isso o exercício da empatia, colocando-se no lugar do outro, no sentido de procurar enxergar de que modo é possível se inserir na convivência social. A escola serve, portanto, para construção de mecanismos e dispositivos de acessibilidade e de inclusão das pessoas com de�ciência, por um lado, e para desconstrução do preconceito e da discriminação ou de qualquer outra forma de violência contra as pessoas com de�ciência, ou seja, em uma cultura de luta anticapacitista. Uma pesquisa realizada em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com 501 escolas públicas do país, apontou as formas de preconceito no ambiente escolar brasileiro. Das 18,5 mil pessoas entrevistadas, entre alunos, educadores, funcionários e pais, 99,3% demonstram algum tipo de preconceito: etnorracial, socioeconômico, de gênero, geracional, orientação sexual ou territorial ou em relação às pessoas com algum tipo de necessidade especial. A discriminação relacionada aos portadores de de�ciências é a mais frequente (96,5% dos entrevistados), seguido pelo preconceito etnorracial (94,2%), de gênero (93,5%), de geração (91%), socioeconômico (87,5%), com relação à orientação sexual (87,3%) e 75,95% têm preconceito territorial (Piacentini, 2015 apud Previtalli; Vieira, 2017, 49). Perceba que as práticas de discriminação estão mais relacionadas às pessoas com de�ciência, e ela está presente também na escola. Por isso a importância de uma educação inclusiva para as pessoas com de�ciência, considerando que a escola pode contribuir para uma educação inclusiva de modo a proporcionar um acesso equitativo e a valorização das diferenças. Criação de ambientes inclusivos, seguros e acolhedores Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A educação anticapacitista transforma realidades fazendo com que escolas e outros espaços sejam modi�cados e adaptados para o atendimento de necessidades múltiplas de pessoas com de�ciência. Sabe-se que a escola precisa ter acessibilidade e recursos disponíveis para que tais ações sejam implementadas, não apenas no que tange à ordem física ou de acessibilidade, mas é preciso que haja meios para a inclusão sociocultural, de modo que todos possam participar em condições de igualdade no espaço escolar. A ideia é que isso seja espraiado para toda a comunidade, sendo a escola a instituição de referência. A utilização de recursos tecnológicos é igualmente fundamental nesse processo, oferecendo tecnologias mais acessíveis para as pessoas com necessidades diversas. A criação de ambientes inclusivos e acolhedores é importante para que se possa incluir a diversidade de populações e suas necessidades múltiplas. O estudante com de�ciência precisa se sentir acolhido na escola. O ambiente que tem estrutura para receber essa pessoa já representa parte do acolhimento necessário, assim, quando falamos na adequação da infraestrutura para o atendimento das pessoas com de�ciência referimo-nos à adaptação da estrutura física das escolas, como rampas, banheiros, sala com recursos especí�cos e sinalização adequada, para que seja garantida a participação de todos. Os recursos e as tecnologias assistivas são igualmente importantes no desenvolvimento de uma educação anticapacitista, por isso a escola precisa aprimorar e disponibilizar recursos didáticos e tecnológicos de modo a atender às necessidades individuais dos alunos com de�ciência. A formação docente e pro�ssional é um pilar importante para contemplaressa demanda da diversidade sociocultural. Por isso, deve-se preparar o pessoal, oferecer formação contínua para professores e pro�ssionais da educação, capacitando-os a trabalhar de maneira inclusiva e atendendo às necessidades variadas dos alunos. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | Parte da obra de Stephen Wiltshire do desenho de uma paisagem da Cidade do México (2016). Fonte : Wikimedia Commons. Com isso, permite-se que pessoas com de�ciência sejam incluídas nas relações sociais, espaços de construção, tomadas de decisão e de desenvolvimento na escola, na comunidade e na sociedade. Espera-se, com o tempo, que seja eliminadas as diversas formas de discriminação em relação às pessoas com de�ciência. Siga em Frente... Sensibilização, conscientização e apoio A criação de ambientes inclusivos, seguros e acolhedores têm levado à construção de espaços mais acessíveis, plurais e democráticos, portanto, com mais diversidade. A sensibilização e a conscientização de toda a sociedade nas lutas anticapacitistas tende a promover uma educação que se propõe a superar os preconceitos, estereótipos e barreiras que limitam a participação plena e igualitária de pessoas com de�ciência. A conscientização promove a inclusão, o respeito à diversidade e a igualdade de oportunidades para todos, independentemente de suas condições ou habilidades físicas ou psicológicas. A escola pode ser a protagonista na sensibilização e conscientização da comunidade escolar e da Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE sociedade, por isso é importante que a comunidade escolar se organize e se envolva em programas educacionais de sensibilização, articulando ao máximo a família e a comunidade escolar (uma espécie de prática extensionista). Todos os estudantes são muito importantes nesse processo, e podem exercer o protagonismo estudantil no desenvolvimento de projetos (confecção de cartazes, por exemplo). Esse tipo de atividade pode garantir a construção de uma rede de apoio, buscando envolver todos os atores da escola, órgãos colegiados, como equipes multidisciplinares, grêmio estudantil, a escola e a comunidade escolar, além de buscar parcerias com ONG e outros institutos e instituições de apoio. Promover ambientes inclusivos, seguros e acolhedores acompanhados de uma educação anticapacitista requer um esforço contínuo, colaborativo e multifacetado, visando criar espaços nos quais todas as pessoas sintam-se valorizadas, respeitadas e plenamente integradas à sociedade. Isso faz com que todos nós saiamos da zona de conforto, para tentar entender o outro, colocando-nos em seu lugar, a �m de lutar e trabalhar em conjunto. Vamos Exercitar? Em nosso percurso de estudos sobre as relações entre marcadores sociais da diferença e uma abordagem inclusiva da educação, especi�camente nas questões voltadas a uma educação anticapacitista, vamos retomar alguns questionamentos realizados no começo da aula: como devemos buscar entender (no sentido de se colocar no lugar do outro) a necessidade de acessibilidade e de recursos para as pessoas com de�ciência? De que modo podemos contribuir para a criação de ambientes inclusivos voltados à população com de�ciência? Qual a importância da sensibilização e da conscientização e apoio para uma educação anticapacitista? De que modo a escola pode ser a protagonista para a sensibilização e a conscientização da comunidade escolar e sociedade? Você estudou que as pessoas com de�ciência precisam de reconhecimento e de inclusão em nosso meio. Aliás, mais que isso, é necessário um mínimo de empatia para que se compreendam as necessidades especí�cas para a inclusão no convívio social, e isso em todos os espaços, sem que a liberdade de ir e vir seja cerceada. Nesse sentido, você percebeu a importância de se colocar no lugar dessas pessoas. Por sua vez, a escola deve promover espaços mais acessíveis, inclusivos e acolhedores que atendam às especi�cidades da população com de�ciência. Nesse contexto, você estudou que a escola é importante na construção de mecanismos e dispositivos de acessibilidade e de inclusão das pessoas com de�ciência e na desconstrução do preconceito e da discriminação, ou de qualquer outra forma de violência. Como você estudou, a conscientização e a sensibilização acerca dessas questões na escola contribuem para promover o respeito à diversidade e à igualdade de oportunidades para todos, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE especialmente para as pessoas com alguma de�ciência. Esses fatores são fundamentais para a continuidade das lutas anticapacitistas nas instituições de ensino, contribuindo para a superação de preconceitos, estereótipos e barreiras estruturais limitadoras para essas pessoas. É preciso a participação plena e igualitária de todos, o que inclui as pessoas com de�ciência nas instituições de ensino. En�m, de acordo com o que se estudou, a inclusão de pessoas com de�ciência na convivência social é muito importante e a escola pode ser uma instituição protagonista na sensibilização e conscientização da comunidade escolar e da sociedade, promovendo meios de inclusão e de incentivo de participação em que as pessoas com de�ciência sejam protagonistas em ações, práticas e projetos educativos realizados pela escola. Isso contribui signi�cativamente para promover a inclusão de pessoas com de�ciência e o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária e inclusiva. Saiba mais Acessibilidade e recursos Para o aprofundamento dos estudos sobre as pessoas com de�ciência e as relações com educação e diversidade, recomendamos a leitura do Capítulo 3 do livro Direito das pessoas com de�ciência, de Evandro Muzy. A obra está disponível em nossa Biblioteca Virtual e pode ser acessada por você. Criação de ambientes inclusivos, seguros e acolhedores Para o aprofundamento dos estudos sobre os direitos das pessoas com de�ciência, recomendamos a leitura do Capítulo 9 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De�ciência: modi�cações substanciais, de Luciana Fernandes Berlini, no livro Direito das pessoas com de�ciência psíquica e intelectual nas relações privadas, de Joyceane Bezerra de Menezes. A obra está disponível em nossa Biblioteca Virtual. Sensibilização, conscientização e apoio Para que você re�ita sobre a questão da sensibilização, conscientização e apoio à pessoa com de�ciência, recomendamos dois �lmes bastante interessantes. Um deles é O oitavo dia. O �lme aborda temas relacionados à diferença, aceitação e beleza da diversidade humana. É uma obra que nos toca profundamente ao explorar a jornada emocional e espiritual dos personagens principais em direção à compreensão e ao respeito mútuo. Outro �lme é Uma aula de harmonia, que traz a história de um boxeador problemático que vai morar com a mãe e o irmão autista, mas precisa se encaixar em uma família com a qual não convive há anos. Muito próprio para pensarmos na sensibilização de nossa sociedade. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/200214/pdf/0?code=o8GNKPLOFySW7oS2OetfJlcvQneLhdNZV62vGrmMUc3dJkAwFPYQgiV6YK4gv2nn8AIsrWVVU8KVNVg6EfsD6w== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/200214/pdf/0?code=o8GNKPLOFySW7oS2OetfJlcvQneLhdNZV62vGrmMUc3dJkAwFPYQgiV6YK4gv2nn8AIsrWVVU8KVNVg6EfsD6w== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185341/pdf/0?code=NbBqOVlSe2Q4xi2KNaQvchq4Wl8Kng+bt/5dw6NdHivrtACLa+MXLoW5T9uqh8xyXiBmophwdQMaYadYFMUa2w== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185341/pdf/0?code=NbBqOVlSe2Q4xi2KNaQvchq4Wl8Kng+bt/5dw6NdHivrtACLa+MXLoW5T9uqh8xyXiBmophwdQMaYadYFMUa2w== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Referências MENEZES, J. B. de. Direito das pessoas com de�ciência psíquica e intelectual. 2. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2020. MUZY, E. Direito das pessoas com de�ciência. 1. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2022. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. Aula 5 Encerramento da Unidade Videoaula de Encerramento Este conteúdo é um vídeo! Para assistira esse exercício re�exivo, o conceito de identidade será contextualizado e apresentado de forma introdutória, bem como algumas das categorias sociais de análise do seu entorno. Em seguida, você vai estudar as diferentes possibilidades com que se torna possível compreender o conceito de identidade, ou seja, em suas perspectivas circunstancial, dinâmica e contrastiva. Por �m, você vai analisar as identidades e as diferenças sob a perspectiva do conceito de alteridade e sua importância para o constante exercício de reconhecimento do outro, ou seja, do mosaico cultural que é a vida em sociedade. Com isso, será realizada uma mediação em torno dessas questões sobre diversidade, diferenças e identidades, que envolvem o constante repensar do eu e as relações com a sociedade e a educação. Nos estudos desta aula, trazemos algumas problematizações para pensar na educação e na diversidade: qual a importância do conceito de identidade para pensar a diferença? Quais os tipos de identidade? O que signi�ca identidade contrastiva? Pensando em educação e diversidade, qual a validade do conceito de alteridade? São nesses e outros questionamentos que esta aula será conduzida. A ideia é que você possa aprimorar os seus estudos e aprofundar suas leituras e conhecimentos acerca do tema. Desejamos excelentes estudos! Vamos Começar! Em nosso percurso de estudos sobre educação, diversidade e desigualdade, temos buscado oportunizar re�exões a respeito das diversidades e das relações com a educação. A ideia é proporcionar uma formação crítica acerca dos conhecimentos em torno da diversidade, das diferenças e das identidades mediante uma narrativa dialógica, a partir das problematizações propostas para essas re�exões. Os múltiplos aspectos que envolvem o conceito de identidade serão abordados. No entanto, é preciso ter o entendimento de que o conceito de identidade é amplamente complexo, assim como a sua abordagem, o que nos exige fazê-la de forma interdisciplinar. Identidade e diferença: categorias sociais de análise Quando falamos em identidade, estamos também falando em diferenças socioculturais. As relações entre identidade e diferença nos permitem lembrar os aspectos de�nidores que cada pessoa tem em uma determinada sociedade. Isso tudo, de forma bastante sucinta, está presente em um documento de identidade, por exemplo, pois é lá que encontramos o nome e o sobrenome, o ano de nascimento, a �liação e a naturalidade da pessoa. É claro que essas Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE informações não são su�cientes para falar de nossas identidades, mas esses elementos mais formais dizem algo a respeito de nós, embora de forma bastante super�cial. Os estudos sobre identidade são mais profundos e abrangentes do que se pensa, a�nal as preocupações em torno da relevância da identidade social e cultural ganhou maior destaque a partir de con�itos políticos e culturais que emergiram no mundo no contexto da década de 1960, sobretudo em países como França e Estados Unidos, por exemplo. Esses movimentos foram protagonizados pela juventude da época. Em maio de 1968, na França, os jovens estudantes tomaram as ruas de Paris e protagonizaram as lutas por melhores condições de vida, de forma crítica em relação aos rumos tomados na política pelo Estado. Antes dessa experiência, as manifestações e lutas sociais eram organizadas pelos sindicatos, ou seja, pela classe trabalhadora, sendo também inédito nessas lutas o aspecto político e cultural com que as manifestações se apresentaram. Além disso, o movimento foi liderado por estudantes naquela ocasião. Diante desses fenômenos, as ciências sociais passaram a se debruçar de forma mais intensa sobre a questão das identidades. Certamente, essa é a área do conhecimento que contribuiu para examinar de forma mais aprofundada esse conceito ante as mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais o mundo estava passando naquele contexto da segunda metade do século XX, fornecendo instrumentos e ferramentas explicativas para a questão das identidades e das diferenças. O conceito de identidade, nesse sentido, reacende o debate paradigmático na sociologia em torno das questões relacionadas a teoria e método, sobretudo quando se enfatiza o papel do indivíduo e suas relações, em detrimento das classes sociais, e das metanarrativas, na compreensão das mudanças da sociedade. No âmbito da sociologia clássica, o método compreensivo de Max Weber toma como ponto de partida o indivíduo e suas ações sociais. Essa orientação teórico-metodológica de caráter ideográ�co aproxima-se dos interesses do indivíduo, portanto, dos estudos acerca do conceito de identidade. Por outro lado, as perspectivas metodológicas de Émile Durkheim, cujo objetivo busca o entendimento e a gênese do funcionamento das instituições sociais e da sociedade, sendo determinante sobre o conjunto de indivíduos a partir dos fatos sociais, e de Karl Marx, e seus estudos sobre os con�itos e lutas entre as classes sociais sob as orientações do materialismo histórico dialético, denominadas de metanarrativas, colocavam-se do ponto de vista das in�uências da estrutura social sobre os indivíduos. Alguns autores sinalizavam a passagem da modernidade para a pós-modernidade que a humanidade estaria vivenciando naquele contexto. Esse período caracteriza-se como uma crítica às metanarrativas nas explicações sociológicas. O sociólogo francês Alain Touraine a�rmou que as lutas sociais que estouravam no contexto da década de 1970 estavam mais ligadas ao campo político-cultural, em detrimento do material e econômico que, até então, pautavam os movimentos sociais. Esses movimentos derivam fundamentalmente dos con�itos em torno do controle dos modelos culturais. Touraine contribuiu para o pensamento sobre o papel dos novos movimentos sociais, ligados às questões ecológicas, étnico-raciais, de gênero, entre outras. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE O conceito de identidade é, então, bastante debatido nas ciências sociais a partir da década de 1970. O termo identidade ganha maior destaque por causa da fragmentação social e dos con�itos produzidos pelo avanço do capitalismo e com o aprofundamento de formas diversas de desigualdades, bem como diante da ascensão das novas tecnologias de informação e comunicação, características do fenômeno da globalização. Diante desse contexto social, a identidade torna-se, portanto, um conceito importante para se pensar nas diferenças. Identidade e suas características: circunstancial, dinâmica e contrastiva A identidade tem como uma de suas características fundamentais ser compreendida como algo relacionado a um processo em construção, que se realiza transitoriamente, mas nunca como algo acabado e determinado. É possível amalgamar várias identidades no sujeito moderno. A�nal, é a vivência social que contribui com a construção das identidades das pessoas e dos grupos sociais. Além do mais, precisa-se pensar a identidade e suas características sob as perspectivas circunstancial, dinâmica e contrastiva. Figura 1 | Identidade cultural e a in�uência da cultura indígena. Fonte: Wikimedia Commons. Nas ciências sociais, diversos autores contribuíram com os estudos do conceito de identidade. Para os estudos desta aula, você vai conhecer, em caráter introdutório, as contribuições de Stuart Hall, Zygmunt Bauman, Anthony Giddens e Erving Goffman a respeito das identidades e diferenças. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Em seu livro A identidade cultural na pós-modernidade, o sociólogo jamaicano Stuart Hall sintetiza três concepções distintas de identidades que se constituíram em torno do sujeito no Ocidente, ao longo do desenvolvimento da modernidade: iluminismo, sociológico e pós-moderno. O sujeito do iluminismo está relacionado ao contexto do Renascimento Cultural com o advento do antropocentrismo, que se consolida com o processo de valorização da razão humana. Tem origem a partir de uma “concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, uni�cado, dotado de capacidades de razão, de consciência e deeste conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Chegada Nesta etapa dos estudos em educação e diversidade, na qual buscamos examinar a maneira como as interseccionalidades sobrepõem formas de dominação e se re�etem sobre o cotidiano no contexto escolar, traçamos a nossa abordagem sob uma perspectiva inclusiva da educação. Acompanhe a seguir! Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Educação, gênero e lutas feministas Os estudos em educação e gênero são importantes porque possibilitam uma re�exão e desconstrução de hábitos e práticas historicamente construídos em nossa formação social. Isso nos leva a pensar na construção de gênero e em nossas relações sociais, bem como na forma com que são construídas as bases de nossa sociedade. O conceito de gênero destaca que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas biológicas, mas socialmente construídas, in�uenciadas por normas, expectativas e valores culturais. Como estudamos, os movimentos feministas foram importantes para as lutas das mulheres, pois problematizaram essas questões que culminaram com a elaboração do conceito de gênero. O feminismo objetiva a construção de uma sociedade mais justa, contribuindo signi�cativamente para a desconstrução de quaisquer formas de estereótipos existentes em nosso convívio social. Por isso a questão da desigualdade de gênero deve sempre vir à tona de modo que seja possível encontrar os caminhos para o enfrentamento de estereótipos. A escola é, nesse sentido, um espaço fértil para que se possa promover a justiça e a igualdade de gênero. Em suma, os estudos de gênero são fundamentais para a construção de condições mais igualitárias Educação, diversidade e pessoas LGBTQIAPN+ Nos estudos em educação e diversidade, é importante lembrarmos da importância das conquistas de direitos das pessoas LGBTQIAPN+, para uma educação plural e inclusiva e essenciais para o exercício da cidadania. Nesse sentido, as políticas de proteção e de inclusão são conquistas importantes, resultados de lutas contra a discriminação que demarcam avanços legais e culturais para a comunidade LGBT+. Também deve-se combater e�cazmente toda forma de bullying qualquer forma de preconceito e de discriminação na escola, como um exercício diário de todos nós. A questão da representatividade e da visibilidade de pessoas LGBT+ se torna, nesse sentido, um instrumento importante para a construção de uma sociedade mais democrática e inclusiva nas questões relacionadas ao gênero. En�m, a visibilidade da população LGBT+ promove a conscientização e a empatia de modo mais efetivo, para que as pessoas aceitem e vivenciem as diferenças. Educação e arranjos familiares Quando falamos em socialização, precisamos diferenciar a primária da secundária. A socialização primária é aquela que acontece nas famílias e tem como objetivo o ensinamento de normas e regras de comportamento para a vida em sociedade. A socialização secundária acontece quando o indivíduo passa a conviver com outros grupos sociais e em outros ambientes que não a própria família. O processo de socialização é fundamental para os estudos em educação e diversidade, a�nal, isso implica os ensinamentos sobre valores justos, democráticos e inclusivos em nosso meio social, para que os indivíduos possam chegar mais preparados nas escolas. A construção da família moderna vem passando por muitas, rápidas e dinâmicas mudanças. Deve-se levar em consideração a cultura, a sociabilidade e o papel das novas tecnologias de comunicação para pensar nos novos arranjos familiares da contemporaneidade. Nesse sentido, as famílias podem ser classi�cadas da seguinte forma: nuclear ou conjugal, monoparental, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE reconstituída ou homoparental. A família moderna também oferece menos restrições sociais se comparadas às famílias tradicionais. A família e a escola são importantes para a construção de uma rede de apoio e de bem-estar para os indivíduos e toda a sociedade. Isso contribui por promover o desenvolvimento integral dos estudantes. Educação e as lutas anticapacitistas Nos estudos sobre as pessoas com de�ciência e as relações com a educação, é válido sabermos que essas pessoas precisam de reconhecimento e de inclusão em nosso meio. Além disso, é preciso um mínimo de empatia, colocar-se no lugar das pessoas com alguma de�ciência, auxiliando na luta por acessibilidade e recursos em quaisquer espaços em que se convive socialmente. A escola é importante na construção de mecanismos e dispositivos de acessibilidade e de inclusão das pessoas com de�ciência e de desconstrução do preconceito e da discriminação ou de qualquer outra forma de violência contra as pessoas com de�ciência. A sensibilização e a conscientização de toda a sociedade para a questão anticapacitista são importantes para que se possa superar os preconceitos, estereótipos e barreiras que limitam a participação plena e igualitária de pessoas com de�ciência. A conscientização promove a inclusão, o respeito à diversidade e a igualdade de oportunidades para todos, independentemente das condições ou habilidades físicas ou psicológicas. É Hora de Praticar! Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Para o estudo de caso desta unidade, imagine-se trabalhando como educador que recentemente assumiu o cargo de coordenação de uma escola que atende uma população diversi�cada social e culturalmente, composta por alunos de diferentes origens étnicas, culturais e socioeconômicas. A escola vem tendo muitos desa�os relacionados à questão da diversidade social e cultural, especialmente nos últimos anos, diante do agravamento de con�itos relacionados ao preconceito, discriminação e intolerância. Nos últimos meses, houve aumento de relatos de ocorrência e até de evasão, por parte de alunos que se sentiram discriminados pela forma como se expressam a partir de suas identidades. Além disso, tem-se observado a prática do bullying na escola contra essas pessoas. Sabemos da importância do reconhecimento das diferenças de gênero, da população LGBT+, das pessoas com de�ciência, entre outras interseccionalidades como marcadores sociais da diferença, que estudamos ao longo desta unidade, e que é preciso dialogar e propor uma educação nas escolas mostrando os marcadores sociais da diferença. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Diante de tal contexto, a diretoria da escola pediu-lhe a elaboração de uma atividade no sentido de promover a inclusão e o combate à discriminação na escola. Nesse caso, de que modo você atuaria para melhorar a questão da inclusão e da aceitação da diversidade e da diferença na escola? Quais seriam as suas propostas e ações, buscando envolver toda a equipe da escola e comunidade escolar? Antes de solucionarmos o desa�o proposto, que tal resgatarmos alguns pontos do que estudamos? Para isso, convidamos você para re�etir sobre as seguintes questões: 1. De que modo podemos proporcionar uma abordagem inclusiva na educação a partir das intersecções entre marcadores sociais da diferença? 2. Por que a aproximação entre família e escola é tão importante para o desempenho acadêmico e inteligência emocional do estudante? 3. Qual a importância da conscientização e da sensibilização de toda a sociedade nas lutas anticapacitistas? Agora sim, vamos à resolução do caso apresentado! Para a resolução deste estudo de caso, lembre-se sempre de que os estudos em educação e diversidade promovem um olhar para a compreensão das identidades socioculturais e sua diversidade, e a educação tem aí um papel fundamental. Para a ação na escola, inicialmente,você pode fazer um diagnóstico participativo, a partir da realização de conversas e grupos focais com alunos, professores, funcionários e família, buscando identi�car os desa�os e as demandas para uma atuação mais e�caz no combate ao bullying e a outras práticas discriminatórias contra a população marginalizada. Em meio a esses trabalhos, você pode promover campanhas e atividades interdisciplinares diversas em toda a escola, de modo que se contemple a questão de gênero, de pessoas com de�ciência, entre outras. Para uma ação e�ciente, você pode articular com o grêmio estudantil da escola e toda equipe de professores e funcionários, de modo que a re�exão e o diálogo entre os estudantes sejam incentivados. Nessa ação, é importante que se faça o uso de uma rede de apoio e�caz para o atendimento especializado com os estudantes da escola mediante palestras, o�cinas e workshops. Você pode propor ações que efetivem a adaptação curricular e as práticas pedagógicas, para que se inclua nos materiais didáticos, bem como em matrizes curriculares, experiências e contribuições das mulheres, da população LGBT+ ou de pessoas com de�ciência para a sociedade como um todo, reconhecendo a importância da diferença e da diversidade social e cultural. Com isso, espera-se melhorar o ambiente escolar, de modo que diminua as formas de preconceito, de discriminação e de intolerância contra essas pessoas, diminuindo assim as ocorrências da escola e os casos de evasão como se tem percebido nos últimos meses. Além disso, espera-se que a escola, tornando-se um ambiente ainda mais acolhedor, possa contribuir para a melhora dos rendimentos dos alunos e o desenvolvimento da inteligência socioemocional de todos. En�m, é muito importante levar em consideração as interseccionalidades entre marcadores sociais da diferença, para que seja possível promover ações especí�cas no sentido de buscar a inclusão e a desconstrução de práticas de dominação na escola, criando um ambiente mais Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE justo, igualitário e acolhedor para todos os alunos, independentemente de suas condições ou vivências. O infográ�co proposto tem como objetivo ilustrar as interseccionalidades entre marcadores sociais da diferença e a educação. Fonte: elaborada pelo autor. MENEZES, J. B. de. Direito das pessoas com de�ciência psíquica e intelectual. 2. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2020. MUZY, E. Direito das pessoas com de�ciência. 1. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2022. OLIVEIRA, L.F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE STREY, M. N.; CÚNICO, S. D. Teorias de gênero: feminismos e transgressão. 1. ed. Porto Alegre: ediPUCRS, 2016. TEIXEIRA, C. M.; MAGNABOSCO, M. M.. Gênero e diversidade: formação de educadoras/es. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2011. TORRES, M. A. A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na escola. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2010. VIANNA, C.; CARVALHO, M. Gênero e educação: 20 anos construindo o conhecimento. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2020. VIANNA, C. Políticas de educação, gênero e diversidade sexual. Belo: Horizone: Grupo Autêntica, 2018. , Unidade 4 Educar Para A Diversidade Aula 1 Educação E A Liberdade Religiosa Educação e a liberdade religiosa Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Nesta jornada de estudos em educação e diversidade, temos analisado e re�etido até aqui sobre o contexto em que estamos inseridos, para que possamos repensar nossos hábitos de vida e práticas educacionais vivenciadas nas escolas. Pretende-se desenvolver a competência de conjecturar práticas educativas signi�cativas, relevantes e contextualizadas, pautadas na compreensão lógica e racional da diversidade sociocultural. Com isso, espera-se que se desenvolva uma abordagem holística para a educação a partir de categorias teóricas e analíticas sobre a diversidade. Nesta aula sobre educação e liberdade religiosa, especi�camente, você vai estudar sobre as questões legais do respeito à liberdade religiosa e as relações com a escola e a sociedade na qual estamos inseridos. Em seguida, você está convidado a re�etir sobre o direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade, percebendo a importância da laicidade nas práticas educativas. Por �m, você vai estudar a educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias. Para que possamos iniciar os estudos desta aula, propomos algumas questões para problematização: quais as relações entre educação, diversidade e religiosidades? Como trabalhar a questão da religiosidade na escola? Qual o papel da educação e da escola no combate às intolerâncias religiosas? O que é laicidade na educação? Veja que essas são algumas de muitas das problematizações relacionadas à educação e liberdade religiosa. Você pode perceber que já temos um bom começo com essas problematizações propostas, mas recomendamos que você aprofunde suas leituras a partir das referências indicadas neste material, entre outras que você pode pesquisar e julgar interessante. Pesquise por outros materiais na Biblioteca Virtual ou na Minha Biblioteca que você tem acesso. Bons estudos! Vamos Começar! Os estudos em educação e liberdades religiosas, cujo escopo dos estudos consiste num modelo de educação para a diversidade, é importante para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Como anunciado, nesta aula, você vai estudar primeiramente as questões legais do respeito à liberdade religiosa. Em seguida, você vai re�etir sobre o direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade. Finalmente, veremos a educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias. Questões legais do respeito à liberdade religiosa Vamos veri�car como trabalhar a questão da religião e compreender os aspectos legais do respeito à liberdade religiosa. Em educação e diversidade, é preciso reconhecer o exercício da religião como um direito, que determina que todas as práticas devem ser respeitadas e incentivadas. Isso deve ser compreendido em meio ao contexto democrático e do direito à diferença, garantidos em nossa sociedade. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para entender as questões legais do respeito à diversidade religiosa, é preciso de�nir religião e liberdade religiosa, e perceber que “discorrer sobre a liberdade religiosa exige uma de�nição de religião, algo que, como se verá, não é tarefa fácil e pela etimologia, a palavra religião de origem latina teria por signi�cado religar, reeleger, no sentido de religar o homem a sua divindade” (Coutinho, 2012, p. 176 apud Tenório, 2023, p. 33). Trata-se de questões ligadas ao sagrado, a uma dimensão que liga o ser humano à sua divindade. Pensar nas religiões brasileiras é considerar a miscigenação da população e da diversidade sociocultural com que nos constituímos historicamente. A religião e as religiosidades, são aspectos culturais que precisam ser observados a partir de nossa formação social e cultural. Com isso, é preciso analisar essas características quando pensamos nas relações entre educação, diversidade e religiosidade no Brasil. O Brasil é considerado um dos países mais religiosos do mundo. Entretanto, é necessário perceber que nossa formação nacional se caracteriza pela in�uência de vários matizes religiosos, como o catolicismo o�cial e o popular, as religiões de matrizes africanas – como o candomblé e a umbanda –, o protestantismo, ospentecostais, os espíritas kardecistas, a teologia da libertação e os católicos carismáticos (Oliveira; Costa, 2016, p. 307). Perceba a singularidade de nosso país, ou seja, a diversidade sociocultural existente em relação às religiões da população brasileira, marcada por uma vasta e diversa mistura étnico-racial e cultural. Ademais, precisamos reconhecer que o Brasil é um dos países mais religiosos do mundo. Essas especi�cidades da cultura proporcionam ao mundo um fenômeno interessante, o do sincretismo religioso. O termo sincretismo se origina na Grécia Antiga e tem a ver com as fusões culturais e religiosas de diferentes povos a partir das relações sociais. O sincretismo está associado à cultura da religião em nosso país. Um fenômeno social bastante interessante no Brasil é o chamado sincretismo religioso. Este é o resultado do contato social entre povos e grupos, resultando numa espécie de “fusão” ou “amálgama” de determinadas características distintas desses grupos, referentes a elementos religiosos e culturais. É, portanto, a existência comum de traços culturais e religiosos, originalmente diferentes, que poderiam ser interpretados até como incompatíveis ou antagônicos, mas que acabam se apresentando como um só elemento novo e único (Oliveira; Costa, 2016, p. 307). O sincretismo religioso no Brasil tem relação com a formação social e econômica do colonialismo brasileiro e as relações com os povos originários e a população escravizada em nosso país. Como exemplos do sincretismo no Brasil, podemos mencionar a Umbanda, religião de matriz africana e afro-brasileira, que se utiliza da mistura de elementos do catolicismo, do espiritismo e do candomblé. O catolicismo popular é também um exemplo de sincretismo, como por exemplo, o culto à Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá. O fenômeno da religião e das relações culturais em nosso país é um rico objeto de estudos para o desenvolvimento de uma perspectiva que integre as relações entre educação, diversidade e Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE religiosidades. O sincretismo, por exemplo, pode ser trabalhado nas escolas na forma de uma interessante experiência didática que contemple essas relações sociais e culturais. Direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade Estudar sobre religião e religiosidades é falar no direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade, que pode ser feito na escola, de modo que o reconhecimento, a valorização e o respeito à diferença social e cultural possam ser amplamente disseminados na comunidade escolar e na sociedade como um todo. No entanto, para se pensar no papel das escolas, sobretudo as escolas públicas, é preciso ter o cuidado para que uma determinada religião não se torne hegemônica (dominante) perante as demais religiões, manifestações e expressões culturais das religiosidades na convivência escolar. O exercício da laicidade do Estado e da escola indica que não se deve apoiar nenhuma religião; no entanto, diante da pluralidade religiosa com que se constitui a sociedade brasileira, considerando a religião é algo extremamente importante para a maioria dos brasileiros, a escola pode oportunizar os estudos sobre religião de modo a valorizar as identidades sociais e culturais – em que pode-se aproveitar para trabalhar a questão do respeito e da tolerância religiosa e cultural. Nos estudos sobre o direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade, pode-se ressaltar a legislação que garante a liberdade religiosa para todos, na forma de direito de culto, de proteção aos locais de culto e liturgias, assim como a garantia à assistência religiosa. Na passagem a seguir, estão descritos os direitos à liberdade religiosa, garantidos pela Constituição Cidadã de 1988. A Constituição Federal brasileira consagrou uma ampla proteção à liberdade religiosa, prevendo em diversos momentos garantias e direitos relativos à manifestação da religião, seja em âmbito individual, coletivo, institucional, público e privado. A primeira referência à religião está no preâmbulo da Constituição Federal brasileira, que faz expressa menção a Deus, como protetor da promulgação da nova ordem constitucional. Em seguida, no artigo 5a, incisos VI, VII e VIII tutelam a liberdade religiosa, o direito de culto, a proteção aos locais de culto e às liturgias; bem como garantem a assistência religiosa, nas entidades civis e militares de internação coletiva, além de estabelecerem o dever fundamental do Estado de não privar de direitos uma pessoa por motivos religiosos (Tenório, 2023, p. 40). Perceba que a Constituição Federal brasileira proporciona a ampla proteção à liberdade religiosa. No entanto, na perspectiva dos estudos em educação e diversidade, cabe ressaltar a importância do exercício do diálogo. O diálogo é uma conversa entre duas ou mais pessoas, que trocam ideias, com vistas a um entendimento e uma concordância para conviverem uma com as outras, inclusive no campo religioso. Diante disso, o diálogo busca a paz, o amor e a fraternidade. Em um mundo marcado pelo advento das novas tecnologias, comunicações, migrações e trocas culturais, o diálogo entre culturas diferentes se faz cada vez mais necessário para uma Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE convivência saudável e a sobrevivência de todas elas. O diálogo entre as culturas, como se pode perceber, faz parte da responsabilidade de um projeto de vida pela paz mundial. Dessa maneira, o diálogo inter-religioso é fundamental para a construção da paz e de um mundo melhor. Figura 1 | Cultura e diversidade religiosa – Registro de bandeiras de oração budistas hasteadas no planalto tibetano penduradas por budistas locais como forma de enviar suas orações aos céus. Fonte: Wikimedia Commons. Quando tratamos das religiões, o diálogo inter-religioso é extremamente importante e bené�co para toda a sociedade, de modo que a religião seja compreendida sob a perspectiva da diversidade cultural. Por isso, a escola pode ser uma instituição fundamental nesse processo. Como se percebe, em religião não existe verdade absoluta, pois, se assim for, ocorrerão práticas e formas de intolerância e de discriminação de uma perspectiva religiosa em detrimento de outra. O direito à liberdade religiosa, portanto, não impede o exercício da liberdade individual das pessoas que são diferentes. Isso tudo deve ser adotado do ponto de vista da religião. Siga em Frente... A educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias Para trabalhar a educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias nas escolas, pode- se pensar no componente curricular de Ensino Religioso. Pode-se perceber que “as intolerâncias se manifestam de diversas maneiras e pode ser imputada em relação a: religião, diferentes etnias, raças, nacionalidades, times de futebol, partidos políticos, estrangeiros e discriminações correlatas” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 185-186). Essa área do conhecimento, que se pauta na escola sob o âmbito cientí�co, aprofunda os conhecimentos sobre cultura e diversidade para os estudantes, e investiga a manifestação de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE fenômenos religiosos em diferentes culturas e sociedades enquanto um dos bens simbólicos resultantes da busca humana por respostas aos enigmas do mundo, da vida e da morte (Brasil, 2018). Os fenômenos ligados ao campo da religião envolvem distintos sentidos e signi�cados de vida, “em torno dos quais se organizaram cosmovisões, linguagens, saberes, crenças, mitologias, narrativas, textos, símbolos, ritos, doutrinas, tradições, movimentos, práticas e princípios éticos e morais” (Brasil, 2018) e são, portanto, parte integrante do substrato cultural da humanidade. A intolerância religiosa no Brasil tem uma leitura peculiar. Mesmo que a legislação nacional assegure a liberdade de crença e de culto, a intolerância religiosa é uma realidade. Embora haja denúncias de intolerância e discriminação religiosa em relação às inúmeras religiões que se apresentam no panorama nacional, são as religiõesafro-brasileiras os alvos mais comuns desse fenômeno. A intolerância às religiões afro-brasileiras não é uma novidade. Elas foram, durante toda sua história, estigmatizadas como baixo espiritismo, feitiçaria, magia negra e essas marcas ainda estão presentes no imaginário brasileiro (Previtalli; Vieira, 2017, p. 185-186). Perceba que estabelecer uma cultura da paz no âmbito do aceite da diversidade das religiões é fator indispensável e contribui com o combate às intolerâncias culturais e religiosas. Nesse sentido, sob o viés da laicidade da educação escolar, compete às escolas contribuírem com a erradicação das intolerâncias religiosas e de quaisquer formas de discriminação ou de violência que possa haver com qualquer religião e sua expressividade. A disciplina de ensino religioso, nesse sentido, é muito importante nesse processo, e isso se percebe nas competências dessa área do conhecimento segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Cabe ao Ensino Religioso tratar os conhecimentos religiosos a partir de pressupostos éticos e cientí�cos, sem privilégio de nenhuma crença ou convicção. Isso implica abordar esses conhecimentos com base nas diversas culturas e tradições religiosas, sem desconsiderar a existência de �loso�as seculares de vida. [...] Por isso, a interculturalidade e a ética da alteridade constituem fundamentos teóricos e pedagógicos do Ensino Religioso, porque favorecem o reconhecimento e respeito às histórias, memórias, crenças, convicções e valores de diferentes culturas, tradições religiosas e �loso�as de vida. O Ensino Religioso busca construir, por meio do estudo dos conhecimentos religiosos e das �loso�as de vida, atitudes de reconhecimento e respeito às alteridades. Trata-se de um espaço de aprendizagens, experiências pedagógicas, intercâmbios e diálogos permanentes, que visam o acolhimento das identidades culturais, religiosas ou não, na perspectiva da interculturalidade, direitos humanos e cultura da paz. Tais �nalidades se articulam aos elementos da formação integral dos estudantes, na medida em que fomentam a aprendizagem da convivência democrática e cidadã, princípio básico à vida em sociedade. Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da Educação Básica, a área de Ensino Religioso – e, por consequência, o componente curricular de Ensino Religioso –, devem garantir aos alunos o desenvolvimento de competências especí�cas (Brasil, 2018, p. 436-437). Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Perceba a importância da área do ensino religioso para os estudos em educação e diversidade e do diálogo como exercício que deve prevalecer em todos os espaços educativos, para que se conheça as diferentes culturas, tradições religiosas e �loso�as da vida. Assim como o conceito de cultura, pode-se dizer que as religiões são múltiplas e devem ser valorizadas e reconhecidas em sua diferença. Os projetos culturais e interdisciplinares e as relações com o componente cultural de ensino religioso e a abordagem interdisciplinar, envolvendo outros atores da escola, são fundamentais nesse processo educacional. A convivência harmoniosa e a tolerância tornam-se, nesse sentido, essenciais na construção da paz, pois é graças a ela que muitos con�itos e crimes motivados pelo ódio ao diferente podem ser evitados. Vamos Exercitar? Em nossos resultados de aprendizagem, buscamos desenvolver uma abordagem holística para a educação a partir de categorias teóricas e analíticas sobre a diversidade. As questões relacionadas à religiosidade e diversidade religiosa são fundamentais nos estudos em educação e diversidade. Nesse sentido, vamos retomar algumas questões realizadas em nossa problematização: quais as relações entre educação, diversidade e religiosidades? Como trabalhar a questão da religiosidade na escola? Qual o papel da educação e da escola no combate às intolerâncias religiosas? O que é laicidade na educação? Em educação e diversidade, é preciso reconhecer o exercício da religião como um direito a ser respeitado e praticado. Para entender essa questão, você estudou a importância de analisar as características da composição cultural religiosa no Brasil, que é extremamente plural e sincrética. Você pôde perceber que o fenômeno da religião e das relações culturais em nosso país é um valioso objeto de estudos para o desenvolvimento de uma perspectiva que integre as relações entre educação, diversidade e religiosidades. O sincretismo, dessa forma, é interessante de ser trabalhado e ressaltado nas escolas, de modo que as relações sociais e culturais em nosso país sejam abordadas e preservadas. A escola, nesse sentido, é o lugar propício para que o reconhecimento, a valorização e o respeito à diferença social e cultural sejam amplamente disseminados, na escola e para além dela, ou seja, na comunidade escolar e na sociedade como um todo. Assim, a escola deve oportunizar os estudos sobre religião, de modo a valorizar as identidades sociais e culturais, aproveitando-se disso para trabalhar a questão do respeito e da tolerância religiosa. Isso contribui para a eliminação de práticas de intolerância e de discriminação religiosa. O componente curricular de Ensino Religioso, nesse sentido, é um meio importante para trabalhar a educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias nas escolas, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE estabelecer uma cultura da paz no âmbito do aceite da diversidade das religiões, fator indispensável para a promoção da diversidade social e cultural. O exercício da laicidade do Estado e da escola promove a imparcialidade da instituição em relação às questões religiosas e pode-se aproveitar da discussão legal para trabalhar a questão do respeito e da tolerância religiosa. É competência de todas as escolas contribuir com a erradicação das intolerâncias religiosas e de quaisquer outras formas de discriminação ou de violência que possa haver com qualquer religião e sua expressividade. Saiba mais Questões legais do respeito à liberdade religiosa Para o aprofundamento dos estudos sobre as questões legais do respeito à liberdade religiosa, recomendamos a leitura do Capítulo 2 – Liberdade e discurso religioso na Constituição Federal brasileira de 1988, do livro Liberdade religiosa e discurso de ódio, de Ricardo Jorge Medeiros Tenório. O livro está disponível em nossa Biblioteca Virtual. Direito à liberdade, escolha, prática e expressão da religiosidade Para o aprofundamento dos estudos sobre os dados relativos ao pertencimento religioso dos brasileiros, recomendamos a leitura do texto As religiões no Brasil, de Matheus Pestana. Os dados são resultados do Censo de 2010 do IBGE (2010) de 2009 e da pesquisa Datafolha realizada em 2019. Você pode explorar outras informações sobre religião que estão disponíveis na página Religião e Poder. Para ilustrar e ampliar suas re�exões, ouça a música Procissão, de Gilberto Gil, na qual se apresenta uma re�exão política sobre a condição social do nordestino e sua religiosidade. A educação e o papel da prevenção e combate às intolerâncias Para o aprofundamento dos estudos sobre a educação e o componente de ensino religioso, recomendamos a leitura dos Capítulos 1 – Ensino religioso e 2 – O ensino religioso na escola pública, do livro História e legislação do ensino religioso, de Karin Willms. O livro está disponível em nossa Biblioteca Virtual. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788563920287/pageid/0 https://religiaoepoder.org.br/artigo/a-influencia-das-religioes-no-brasil/ https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/191664/pdf/0?code=WWiynTtf8Y3XlLo+J4TemEBrOsMFKjUqE8CRFYwqE/ewLI+ZhfszkJIgDB9xQhzIeURWmi2vw4K3bA7jkzOpSA== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina:Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. TENÓRIO, R. J. M. Liberdade religiosa e discurso de ódio. Portugal: Grupo Almedina, 2023. WILLMS, K. História e legislação do ensino religioso. 1. ed. São Paulo: Contentus, 2020. E-book. Aula 2 Educação Intergeracional Educação intergeracional Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Você está percebendo que educar para a diversidade envolve primeiramente compreender a diversidade sociocultural. Isso contribui para a sua valorização e reconhecimento. Vamos adotar a mesma perspectiva para tratar dos aspectos que envolvem a educação intergeracional, ou seja, analisar o etarismo como marcador social da diferença. Em seguida, você vai estudar sobre a importância do acolhimento e da valorização de estudantes de diferentes faixas etárias. Por �m, vai estudar os programas sociais de educação de adultos. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para os estudos sobre educação intergeracional, alguns questionamentos iniciais se fazem necessários: etarismo é um marcador social da diferença? De que modo podemos acolher e valorizar estudantes de diferentes faixas etárias? Qual o papel do Estado e das políticas públicas na educação de jovens e adultos? O que é a modalidade de ensino EJA? Pensar nessas questões, sob a ótica das desigualdades sociais, é fundamental para o exercício re�exivo em educação e diversidade. Aprofunde suas leituras e conhecimentos a partir dos livros disponibilizados na Minha Biblioteca e na Biblioteca Virtual. Bons estudos! Vamos Começar! Nos estudos em educação intergeracional e diversidade vamos analisar práticas e�cazes de promoção da diversidade social e cultural. Como anunciado, primeiramente, você vai estudar o etarismo como marcador social da diferença. Em seguida, você vai estudar as questões relacionadas à educação e às diferentes faixas etárias e pensar no acolhimento, valorização e incentivo à continuidade dos estudos, essenciais para o escopo do que estamos tratando nesta aula. Por �m, você vai conhecer os programas sociais de educação de adultos e veri�car a sua importância para uma educação igualitária e inclusiva. Etarismo como marcador social da diferença Um dos aspectos importantes nos estudos em educação e diversidade tem a ver com a questão intergeracional. O etarismo, nesse sentido, é compreendido como marcador social da diferença, pois se baseia na discriminação, estereótipos e preconceitos relacionados à idade. Esses aspectos negativos relacionados às questões intergeracionais ocorrem tanto com pessoas mais idosas quanto com pessoas mais jovens, sobretudo quando se analisam os aspectos relacionados ao mercado de trabalho ou ao atendimento em serviços públicos, por exemplo. Nos estudos em educação e diversidade, parte-se do entendimento de que a educação deve se estender a toda a população brasileira, independentemente das características das identidades socioculturais e/ou da faixa etária em que o indivíduo se insere. Ou seja, trata-se de garantir a educação, o ensino e a aprendizagem de conteúdos elementares para a reprodução de uma vida social mais humanizada nas diferentes etapas da vida. Sabe-se que o fator geracional corresponde à diminuição da quantidade de �lhos por família, o que acarreta, a médio e longo prazo, o envelhecimento da população. Isso levanta a preocupação de se contemplar a oportunidade de estudos para todos, mesmo para as pessoas que se encontram na distorção da idade/série escolar. Essa área do conhecimento, educação e diversidade, defende a constante busca pelo aprender, independente da faixa etária, desde a infância até a velhice, pois compreende-se que nunca é tarde para isso. É justamente nesse sentido que a garantia do direito à educação deve ser preservada pelo Estado e a sociedade brasileira, como na oferta de modalidades geracionais de ensino: educação básica, cursos técnicos, ensino superior, entre outros. Deve-se também promover políticas Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE públicas educacionais e geracionais que incentivem a permanência dos jovens na escola, de modo que essa dimensão tão importante da vida não seja tolhida por circunstâncias diversas. É justamente nesse sentido que todos temos como necessidade a conscientização a respeito das consequências prejudiciais dos preconceitos e estereótipos baseados na idade, para que se promova uma cultura que valorize as contribuições diversas e se respeite as diferentes fases da vida. Sabemos que é essencial desa�ar as noções negativas associadas à idade para criar uma sociedade mais inclusiva e equitativa para todas as faixas etárias no âmbito da educação. Siga em Frente... Acolhimento e valorização de estudantes de diferentes faixas etárias Nas questões relacionadas à educação intergeracional, sabe-se da importância do acolhimento e da valorização de estudantes de diferentes faixas etárias, para que a educação contemple a todos, o que resulta na ampliação de políticas públicas educacionais e de desenvolvimento, contribuindo com a diminuição das desigualdades educacionais e sociais veri�cadas em nosso país. Percebe-se a importância do papel do Estado no sentido de promover políticas públicas educacionais que acolham jovens e adultos, como, por exemplo, a partir da modalidade da educação de jovens e adultos (EJA). Perceba que, para além das instituições e relações sociais, é preciso que todos contribuam para uma cultura de que a educação e a constante formação pessoal e pro�ssional, mediante a educação, seja alcançada e contemple estudantes de diferentes faixas etárias. Analisando do ponto de vista das interseccionalidades, pode-se perceber que essas re�exões contribuem com o combate à discriminação etária e o preconceito à idade. A escola, a família e a sociedade têm, nesse sentido, um papel primordial na promoção da educação, no acolhimento e na valorização de diferentes faixas etárias, no sentido de criar meios e oportunidades para dar continuidade aos estudos, o que corrobora com a multiplicação (fruti�cação) do conhecimento em larga escala. Embora o preconceito etário e a discriminação por idade costumem ser considerados como sinônimos, o fato é que o primeiro remete essencialmente ao sistema de atitudes, muitas vezes atribuídas por indivíduos e pela sociedade a outros em função da idade, enquanto a discriminação por idade descreve comportamentos que favorecem pessoas de determinada idade (Goldani, 2010, p. 428 apud Previtalli; Vieira, 2017, 191). Pode-se perceber nos estudos sobre o etarismo a maneira com que estão presentes o preconceito etário e discriminação por idade em nossa convivência social. É preciso desnaturalizar essas práticas e perceber que a educação é um direito de todos. Quando falamos das relações intergeracionais nas famílias, Goldani chama a atenção para o aumento da esperança de vida humana e “a subsequente transferência de recursos materiais e simbólicos Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE entre avós, pais e �lhos/netos, dos mais velhos aos mais novos e dos mais novos aos mais velhos” (Goldani, 2010, p. 415 apud Previtalli; Vieira, 2017, p. 193). Com isso, percebe-se que as trocas entre gerações são relevantes para as relações interpessoais e contribui com o desenvolvimento de todas as pessoas. O senso comum, muitas vezes, associa as pessoas idosas (mais velhas) a valores negativos, o que se justi�ca em parte pela valorização do jovem no mercado de trabalho e, consequentemente, à desvalorização do idoso por ser considerado menos produtivo, fora da idade do trabalho e de menos consumidor. Isso se evidencia nas práticas discriminatórias por idade observadas na sociedade. Trata-se do preconceitosupremo, da última discriminação, da mais cruel rejeição e do terceiro maior “-ismo”, após o racismo e o sexismo (Palmore, 2004). Como o racismo, o preconceito etário depende da estereotipagem. Sente-se o seu impacto destruidor em três áreas principais: preconceito social, discriminação nos locais de trabalho e tendenciosidade no sistema de saúde (Butler, 1980 apud Previtalli; Vieira, 2017, p. 195). O preconceito etário está relacionado aos estereótipos construídos do ponto de vista social, no mercado de trabalho e no sistema de saúde. Os estudos relacionados ao etarismo em educação e diversidade, nesse sentido, nos levam à construção de um novo modelo de identidade do velho em nossa sociedade. Isso pode culminar com a construção de uma sociedade mais desenvolvida e inclusiva do ponto de vista do etarismo. Essa identidade vem sendo construída pelo idoso, não em contraste com a do jovem, mas em contraste à identidade estereotipada do velho. Assim, esse “novo” idoso procura se desvincular de antigos estereótipos. A esperança é que uma nova visão do idoso seja construída na educação, por meio da revisão das imagens estereotipadas anteriores, possibilitando um olhar sobre o idoso pautado na realidade e em suas necessidades, não em preconceitos (Previtalli; Vieira, 2017). A nova visão sobre o idoso que os estudos sobre educação intergeracional têm apontado trazem as possibilidades de um sujeito que ainda é capaz e atuante na construção de sua história pessoal, social e familiar. Essa postura permite a elaboração de uma nova identidade, também atrelada à constante busca pelo saber, pois, como vimos, da infância até a velhice, sempre temos a possibilidade de aprender, de conhecer algo novo. Programas sociais de educação de adultos Como vimos, é preciso criar espaços de convivência e de inclusão para todas as pessoas da sociedade, e isso nos leva a priorizar a questão etária, de modo a re�etir sobre o papel da escola. A educação é compreendida, nesse sentido, como um exercício de inclusão, de modo a proporcionar a inclusão de pessoas nas diversas faixas etárias. No âmbito do desenvolvimento social e político, entendemos que o Estado tem um papel importante e necessário nesse processo de educação de jovens e adultos, e por isso se deve analisar o contexto histórico das políticas voltadas ao etarismo no Brasil. Além disso, sabe-se Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE que “os ‘benefícios’ e pensões obtidos por meio das políticas públicas para o idoso vão ter um forte impacto na vida econômica das famílias” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 193). O Estado tem o dever de promover políticas públicas para a educação de jovens e adultos em todos os níveis de ensino da educação básica: alfabetização, ensino fundamental e médio. Deve- se ofertar um currículo e metodologias de ensino especial adaptado às condições dos estudantes que estão nessa condição, e que muitas vezes pararam de estudar por causa das necessidades do trabalho ou de outras questões. Figura 1 | Educação de jovens e adultos. Fonte: Wikimedia Commons. Com isso, parte-se da perspectiva de que os educadores e a escola, de modo geral, possam ter um olhar diferenciado que contribua com o acolhimento de todos no espaço escolar. A educação de jovens e adultos (EJA) corresponde aos programas sociais de educação de adultos e procura oferecer oportunidades educacionais para jovens, adultos e idosos retomarem seus estudos e concluir a etapa da educação básica. Nesse sentido, deve-se proporcionar que a EJA ofereça �exibilidade de horários e modalidades de ensino, além da inclusão de temáticas relevantes para que o jovem, adulto ou idoso se interessem pelo que está sendo proposto a estudar. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), criado em 2005 pelo Governo Federal, é um programa do governo brasileiro voltado à inclusão educacional, social e pro�ssional dos jovens entre 18 e 29 anos. O programa se realiza por meio de parcerias entre prefeituras, governos estaduais e instituições de ensino, tendo como objetivo oferecer uma oportunidade de retomada dos estudos para os jovens dessa faixa etária concluírem os estudos. A EJA tem como características principais garantir a educação básica, a quali�cação pro�ssional e as ações de cidadania. A reprodução de uma sociedade mais inclusiva na questão etária, de modo a incluir todas as pessoas, independentemente da idade, perpassa questões relacionadas à educação intergeracional. As políticas públicas e os programas sociais governamentais previstos para a EJA são essenciais na garantia e permanência da educação, sendo compreendida como um direito de todas as pessoas e contemplando todas as faixas etárias. No entanto, ainda são muitos os desa�os signi�cativos que requerem políticas públicas e esforços contínuos para sua melhoria. Por isso, o Estado tem um papel fundamental no exercício dessa demanda. Trata-se, portanto, de medidas de conscientização social sobre a importância da continuidade dos estudos. Sabe-se dos desa�os importantes para que as políticas públicas aloquem os estudantes formados na EJA no mercado de trabalho. Por isso, é necessário continuar lutando para a transformação de uma sociedade mais justa e inclusiva. En�m, podemos perceber que a EJA desempenha um papel fundamental na democratização do acesso à educação básica para jovens e adultos, permitindo que pessoas dessa faixa etária concluam seus estudos e possam, posteriormente, buscar melhores oportunidades no mercado de trabalho e na sociedade de modo geral. Vamos Exercitar? Com o intuito de dar continuidade no desenvolvimento de uma abordagem holística para a educação a partir de categorias teóricas e analíticas sobre a diversidade, vimos que questões relacionadas à educação intergeracional são de suma importância nos estudos em educação e diversidade. Para tanto, vamos retomar alguns dos questionamentos iniciais: o etarismo é marcador social da diferença? De que modo podemos acolher e valorizar estudantes de diferentes faixas etárias? Qual o papel do Estado e das políticas públicas na educação de jovens e adultos? O que é a modalidade de ensino EJA? Você viu que o etarismo é compreendido como um marcador social da diferença, pois se baseia na discriminação, estereótipos e preconceitos no que diz respeito à idade, direcionados tanto a pessoas idosas quanto a jovens, principalmente no contexto do mercado de trabalho ou do atendimento em serviços públicos. Você estudou sobre a importância do acolhimento e da valorização de estudantes de diferentes faixas etárias, para que a educação possa contemplar a todos, em uma abordagem relacionada à Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE educação intergeracional. Isso resulta, como você viu, na ampliação de políticas públicas educacionais e de desenvolvimento, contribuindo com a diminuição das desigualdades educacionais e sociais historicamente veri�cadas em nosso país. Além disso, você compreendeu a importância da escola, da família e da sociedade na promoção da educação, no acolhimento e na valorização de diferentes faixas etárias. Isso pode contribuir com a criação de meios e oportunidades para dar continuidade aos estudos, o que corrobora com a multiplicação do conhecimento em larga escala. Exige-nos, dessa forma, um olhar diferenciado que contribua com o acolhimento de todos no espaço escolar, que deve ser praticado pelos educadores e pela escola, de modo geral. Você compreendeu a importância do papel do Estado no sentido de promover políticas públicas educacionais que acolham jovens e adultos, como por exemplo, a partir da modalidade EJA. A educação de jovens e adultos consiste numa categoria de ensino voltada ao público que não teve acesso à educação formal ou não completou, ou abandonou, por razões diversas, a escola na idade adequada. O Estado tem o dever de promover políticas públicas para a educação de jovens e adultos em todos os níveis de ensino da educação básica: alfabetização, ensino fundamental e médio. Para tanto, você acompanhouque deve ser proporcionada a oferta de um currículo e metodologias de ensino especial, adaptado às condições dos estudantes que estão nessa condição e que muitas vezes pararam de estudar por conta do trabalho ou outras questões. Assim, são necessárias medidas de conscientização social sobre a importância da continuidade dos estudos para todas as faixas etárias. Por isso, as políticas públicas voltadas ao atendimento educacional a diferentes faixas etárias devem acompanhar essas mudanças. A educação é um direito de todas as pessoas, contemplando todas as faixas etárias. Saiba mais Etarismo como marcador social da diferença Para o aprofundamento dos estudos sobre o etarismo como marcador social da diferença, recomendamos a leitura do Capítulo 6: A ampliação do horizonte de vida do livro Vivemos mais! vivemos bem?: por uma vida plena, de Mario Sergio Cortella e Terezinha Azerêdo Rios. Sugerimos que você leia também os demais capítulos da obra. O livro está disponibilizado em nossa Biblioteca Virtual. Acolhimento e valorização de estudantes de diferentes faixas etárias https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/212527/epub/0?code=OWAj6NThn9svEbOd166xc/ZLEOTz1tre14kMaSoPEN5hMswQIqcD0/u0Bi1WWuRU9W0gZZUoNO8fI4GHl23MRg== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/212527/epub/0?code=OWAj6NThn9svEbOd166xc/ZLEOTz1tre14kMaSoPEN5hMswQIqcD0/u0Bi1WWuRU9W0gZZUoNO8fI4GHl23MRg== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Para aprofundar os seus estudos sobre o acolhimento e a valorização de estudantes de diferentes faixas etárias, recomendamos a leitura do Capítulo – Alfabetização de jovens e adultos: uma abordagem do problema, do livro A construção do letramento na educação de jovens e adultos, de Marina Lúcia Pereira. O livro está disponibilizado em Nossa Biblioteca Virtual. Programas sociais de educação de adultos Para aprofundar os seus estudos sobre os programas sociais de educação de adultos, recomendamos a leitura do Capítulo – A juvenilização na EJA: um exercício ético de compreender a juventude que habita uma escola do EJA, de Priscila de Andrade Oliveira Leal, que está no livro Conhecimento e docência: caminhos cruzados na educação de jovens e adultos, de Alessandra Nicodemos Oliveira Silva (org.). Referências CORTELLA, M. S.; RIOS, A. A. Vivemos mais! vivemos bem?: por uma vida plena. 2. ed. Campinas, SP: 7 Mares, 2023. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. PEREIRA, M. L. A construção do letramento na educação de jovens e adultos. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2007. SILVA, A. N. O. (org.). Conhecimento e docência: caminhos cruzados na educação de jovens e adultos. 1. ed. Jundiaí, SP: Paco e Littera, 2021. Aula 3 Uma Educação Contextualizada, Relevante E Signi�cativa Uma educação contextualizada, relevante e signi�cativa https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192385/epub/0?code=6k8jetErN4bF+DLQwMUW08pn2TVHC01rZgDYj4D8VFw/9sa5YUeT1g58gNzAiQ7LgcEXQFInf/AF9QAH+R2sFQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192385/epub/0?code=6k8jetErN4bF+DLQwMUW08pn2TVHC01rZgDYj4D8VFw/9sa5YUeT1g58gNzAiQ7LgcEXQFInf/AF9QAH+R2sFQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/206963/epub/0?code=ITWZWO3N35GguW8j+f/qCBwUhZzUVbWZ6SLjM8HIk0MS8wctjH6LAzqDIfKxwvawsHFZin46ZRGRITD2waERNQ== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Olá, estudante! Nesta aula sobre a educação para a diversidade, você vai se debruçar nos estudos para uma educação contextualizada, relevante e signi�cativa. Dessa maneira, você vai re�etir sobre a diversidade regional e linguística e a importância de se aprofundarem essas re�exões com todos os estudantes das escolas. Você vai estudar nesta aula sobre educação do campo e educação quilombola. Diante disso, alguns questionamentos são necessários: qual a importância da preservação da diversidade regional e linguística? Por que se faz necessário trabalhar educação e diversidade social e cultural brasileira a partir da região e da língua das pessoas? O que é educação do campo? Como podemos trabalhar a educação no campo? O que é educação quilombola? Quais os desa�os para a inclusão da diversidade sociocultural em nosso país? Perceba que essas são algumas de muitas das problematizações pertinentes a uma educação contextualizada, relevante e signi�cativa. Isso nos leva a buscar compreender a maneira como as populações do campo e originárias se inserem na atual realidade socioeconômica, que nos leva a pensar e trabalhar políticas públicas educacionais de inclusão. Você pode aprofundar os seus estudos a partir da leitura dos livros e de outros materiais disponibilizados em nossa Biblioteca. Bons estudos! Vamos Começar! Como apresentado anteriormente, nesta aula que aborda uma educação contextualizada, relevante e signi�cativa, você vai estudar primeiramente a diversidade regional e linguística. Em seguida, você vai estudar a educação do campo e, por �m, a educação quilombola. Perceba a Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE necessidade desses estudos para a promoção da diversidade e da inclusão da população moradora do campo e em áreas de preservação ambiental. Diversidade regional e linguística Nesta aula, você vai estudar a diversidade regional e linguística e a importância de sua valorização nas escolas de todas as unidades federativas do país, sejam elas públicas ou privadas, do campo ou da cidade. A diversidade sociocultural e regional brasileira é fundamental no exercício de compreensão da nossa identidade e isso deve ser trabalhado com os estudantes de todas as séries e modalidades de ensino. Conhecer as culturas, as diferentes formas de vida, de trabalho e de crença, entre outros elementos, é primordial e muito contribui com o desenvolvimento de uma perspectiva mais plural e diversi�cada. Portanto, os educadores devem proporcionar o conhecimento das diferenças regionais, os aspectos de sua comunicação e suas características, de modo inclusivo e respeitoso em relação às diversidades do povo brasileiro. A valorização da cultura local é fundamental para que as identidades sociais e culturais sejam reforçadas em nosso meio e convivência social, e a educação escolar tem esse papel bastante importante no processo de conscientização de todos, evitando-se, assim, formas discriminatórias e preconceituosas relacionadas ao lugar onde as pessoas moram. Por isso a comunicação e as formas de diálogo acessível, e que contemplam as especi�cidades da diversidade regional e linguística, devem ser exploradas em sala de aula e na escola como um todo. Trata-se, por exemplo, de trabalhar os conhecimentos em literatura, ciência, arte, entre outros campos do saber, de modo que esses conhecimentos sejam atrelados às realidades regionais e culturais. Isso ajuda bastante e aproxima ainda mais os estudantes das formas diversas do conhecimento humano. Os educadores e a escola podem abordar os temas de estudos a partir do contexto e das condições da realidade em que as pessoas se inserem. A criticidade das ciências humanas e sociais, para que se possa enxergar as contradições e os con�itos que permeiam a vida das pessoas, é imprescindível no processo educacional. Lembre- se da necessidade do constante exercício de desnaturalização dos fenômenos sociais, e da forma como eles se apresentam na realidade em que nos inserimos. O desenvolvimento de uma sociologia enraizada, de acordo com a perspectiva do sociólogo José deSouza Martins, é muito importante e se faz necessária nesse processo, ou seja, um tipo de conhecimento que esteja voltado ao contexto do lugar em que as pessoas se inserem e suas características. Esses estudos apontam para a importância das análises da vida social e rural brasileira a partir do cotidiano, da maneira com que as relações sociais e de produção são realizadas. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Como se pode perceber, um modelo de educação centrado na contextualização e na relevância leva-nos a re�etir sobre as condições existenciais de vida da população moradora no campo. Esse é o exercício imprescindível que deve acompanhar a disciplina de educação e diversidade, que busca compreender as condições plurais com que nos constituímos enquanto povo brasileiro. Siga em Frente... Educação do campo A educação do campo corresponde a uma modalidade de estudos adaptada às especi�cidades e características da população do campo. Sabemos que são muitos os desa�os a serem enfrentados pelas populações moradoras dessas regiões, e a necessidade de implementação de políticas educacionais que contribuam e fomentem a inclusão responsiva e contextualizada da população moradora do campo. Perceba a importância de trabalhar em todos os componentes curriculares os cotidianos da vida rural junto aos estudantes. Sabe-se da importância e da contribuição da vida rural brasileira, para que se compreenda a cultura local, a agricultura e as relações com a natureza e as práticas de sustentabilidade. A cultura do campo tem as suas especi�cidades em relação aos modos de vida, por isso, as práticas culturais devem ser preservadas e valorizadas no processo educacional. As vivências e práticas de atividades no campo correspondem à efetivação de metodologias ativas. Nesse sentido, é importante trabalhar de forma prática a educação do campo. A título de exemplo, gostaria de compartilhar a atividade interdisciplinar de ciências, desenvolvida por uma professora de uma escola do campo. Ela trabalhou com os seus alunos do ensino fundamental II a semeadura, o plantio e a germinação de crotalárea juncea em um canteiro no quintal da escola. Essa prática de iniciação cientí�ca teve o intuito de atrair libélulas, animais predadores naturais do mosquito da dengue, sendo, portanto, uma interessante ação de saúde pública realizada pela escola. Perceba que as metodologias ativas correspondem às práticas experimentais que podem se realizar no próprio campo. A realização da vida é o próprio cotidiano do campo em si. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A vida no campo tem as suas especi�cidades, que podem ser mais bem aproveitadas nas escolas que ofertam essa modalidade educacional. A permanência dos estudantes nas escolas do campo deve ser incentivada e respeitada por todos e garantida pelo Estado. A formação da sociedade brasileira e as determinações históricas que se desenvolveram a partir das relações de classe, desde os tempos do Brasil colonial, caracterizadas por uma relação de exploração, deve ser contemplada no processo educacional. É preciso problematizar essas questões a partir da crescente concentração de riquezas pelas classes dominantes, consequência dessas determinações históricas. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Figura 1 | O Lavrador de Café, Cândido Portinari (1934). Fonte: Wikimedia Commons. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A questão de terras e sua distribuição desigual mostram as di�culdades de se estabelecerem condições sociais e econômicas de igualdade em nosso país, especialmente para a população do campo. Por isso, se faz necessária a preservação de direitos e garantias aos povos originários, as populações do campo, quilombolas, ribeirinhas, assentadas, entre outras. A educação no campo, portanto, demonstra mais uma faceta das formas da diversidade educacional re�etida pela diversidade sociocultural com que nos constituímos enquanto povo brasileiro, uma riqueza social. Diante das contradições da realidade social que reproduzem formas de desigualdades econômicas e que afetam frontalmente as condições dos trabalhadores do campo, os movimentos sociais são importantes nesse processo. No campo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST) é resultado da organização dos trabalhadores do campo em defesa da reforma agrária e por melhores condições de vida. O surgimento do MST é consequência de uma estrutura agrária concentradora de terra que perpassa cinco séculos da chegada dos portugueses, desde quando perceberam que estavam em uma terra sem cercas e imaginaram que tudo estivesse a seu dispor. A concentração de terra no Brasil e a manutenção do latifúndio começam aí, e a terra vai �car na mão da grande burguesia agrária. Esta concentração da terra no Brasil se dá inicialmente através das capitanias hereditárias, em seguida pelo roubo das terras indígenas pelos brancos e consolidando através das sesmarias, em seguida pelo roubo das terras indígenas pelos brancos e se consolidando através das sesmarias com o ciclo da cana e do café, que mesmo em épocas diferentes [...] (Stival, 2022, [s. p.]). Mesmo em épocas diferentes, o ciclo da cana e do café tinham as mesmas características, no âmbito de uma estrutura de poder e de divisão do trabalho. Posteriormente, com a Lei de Terras, em 1850, diante do declínio do escravismo, surge um “novo” modelo agrário exportador estabelecendo o modelo de desenvolvimento do capital no Brasil. Esse modelo se assemelha ao que Marx denominou modelo de colonização sistemática. O êxodo rural que ocorreu em nosso país nas décadas de 1960 e 1970 demonstrou as consequências das desigualdades do campo, evidenciando a concentração de poder econômico e político das classes dominantes. E o Brasil chegou assim ao século XXI e aos dias de hoje, com uma estrutura fundiária concentrada, caracterizada pela coexistência de latifúndios e minifúndios, como aponta o Censo Agropecuário do IBGE de 2017 (Stival, 2022). Os movimentos sociais contribuem na pressão do Estado para desenvolver políticas públicas voltadas ao atendimento da população do campo. A garantia de recursos pelo Estado para a manutenção da educação do campo é importante para que se possa promover a educação, a inclusão e o acesso ao conhecimento. O acesso à educação é para todos, por isso a necessidade de se ampliarem as políticas públicas educacionais para a população do campo. Além disso, cabe ao Estado e aos Conselhos municipais de�nirem políticas importantes para o desenvolvimento e a distribuição de renda, em que a articulação com outros programas e o incentivo à população do campo sejam meios importantes de desenvolvimento social e Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE econômico. O Programa de Agricultura Familiar, por exemplo, é um programa de apoio destinado à população do campo, que traz renda e melhores condições de vida para a população. Educação quilombola Sabe-se que são muitos os desa�os para o incentivo e inclusão da diversidade sociocultural em nosso país por meio da educação, para que se ampliem as condições de desenvolvimento social e econômico para a população pertencente às comunidades quilombolas, resistentes e remanescentes históricos da formação do Brasil. Enquanto durou a escravidão no Brasil, os escravizados nunca deixaram de resistir à privação da liberdade e à violência. Entre as formas de resistência coletiva mais organizadas e bem- sucedidas, estão a formação de quilombos ou mocambos. Os quilombos eram agrupamentos de escravizados que fugiam da dominação colonial e seus membros eram chamados quilombolas. Para as autoridades, os quilombos representavam uma afronta e um mau exemplo. Por isso, deveriam ser encontrados e destruídos, e seus líderes executados. Entre todos os que existiram, o mais famoso foi Quilombo dos Palmares, que chegou a ter uma população aproximada de 30 mil pessoas e teve como um dos líderes, Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra (Dutra, 2022, [s. p.]). A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, o termo quilombopassou por um processo de ressigni�cação, isto é, se antes era visto como estigma relacionado à herança do cativeiro, aos escravizados e aos grupos de cativos fugidos, o termo foi ressigni�cado positivamente no âmbito das políticas públicas de ação a�rmativa destinadas aos afrodescendentes no Brasil e relacionadas ao campo da luta política para garantir a permanência e a conquista do direito étnico sobre a terra (Oliveira apud Dutra, 2022). A educação quilombola é fundamental para que memórias das pessoas descendentes de negros e indígenas escravizados, que resistiram, fugiram (e se constituíram nos quilombos) no contexto da colonização, lutando por direitos fundamentais do ser humano, como o da liberdade, sejam preservadas. É preciso que haja a valorização das histórias dos povos quilombolas, e que não haja o apagamento das memórias coletivas. As diversas técnicas de manufaturas como as cestarias, as artes, as pinturas corporais, também expressam a cultura indígena e afro-brasileira. As reservas indígenas e os territórios quilombolas têm suas composições arquitetônicas próprias e possuem lugares que são sagrados na cosmovisão do grupo. Da mesma forma os índios e afro-brasileiros urbanos possuem, na cidade, seus jeitos de ser que exprimem a vivência e identidades dessas populações nos seus meios (Previtalli; Vieira, 2017, p. 110). As artes, diversas técnicas e outros saberes importantes devem estar previstos na educação quilombola. É preciso respeitar e reconhecer a sua história, a cultura e as tradições das comunidades como uma forma de conhecimento importante e construtor da identidade brasileira. Os conhecimentos tradicionais das comunidades quilombolas devem ser reconhecidos e repassados a outras formas de saberes, o que contribui por reforçar a identidade positiva. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE En�m, perceba a importância de compreender as relações entre educação e diversidade em uma abordagem contextualizada, relevante e signi�cativa para a população do campo e da comunidade quilombola. Apesar de serem muitos os desa�os para a continuidade no avanço das demandas da população quilombola, é preciso desenvolver um olhar que inclua e acolha o outro, suas condições e a todas as formas de vida social. Vamos Exercitar? Em nossos resultados de aprendizagem, buscamos desenvolver uma abordagem holística para a educação a partir de categorias teóricas e analíticas sobre a diversidade. As questões relacionadas à educação para a diversidade exigem uma educação contextualizada, relevante e signi�cativa. Isso tudo faz parte dos estudos em educação e diversidade. Agora, vamos retormar os questionamentos apresentados no início da aula: qual a importância da preservação da diversidade regional e linguística? Por que se faz necessário trabalhar educação e diversidade social e cultural brasileira a partir da região e da língua das pessoas? O que é educação do campo? Como podemos trabalhar a educação no campo? O que é educação quilombola? Que comentários podemos fazer a respeito dos desa�os para a inclusão da diversidade sociocultural em nosso país? Vimos que os educadores devem proporcionar o conhecimento das diferenças regionais, dos aspectos de sua comunicação e suas características, fazendo esse trabalho de modo inclusivo e respeitoso em relação às diversidades do povo brasileiro. Conhecer a diversidade cultural, as diferentes formas de vida, de trabalho e de crença, entre outros, contribui com o desenvolvimento de uma perspectiva mais plural e diversi�cada. Você percebeu a necessidade de valorizar a cultura local, fundamental para que as identidades sociais e culturais sejam reforçadas em nosso meio e convivência social. Nesse sentido, você compreendeu que a educação escolar tem esse papel bastante importante no processo de conscientização de todos. A comunicação e as formas de diálogo acessível, contemplando as especi�cidades da diversidade regional e linguística, devem ser bem exploradas em sala de aula e na escola. Esses conhecimentos devem ser trabalhados relacionados às realidades regionais e culturais, sendo que o objeto de estudos toma como ponto de partida conhecimentos atrelados às especi�cidades locais, valorizando a diversidade social e cultural da população brasileira. Você compreendeu a importância das análises da vida social e rural brasileira a partir do cotidiano das pessoas, da maneira como as relações sociais e de produção são realizadas no dia a dia. Como aprendemos, a educação do campo corresponde a uma modalidade de estudos adaptada às especi�cidades e características da população rural. Em muitas situações cotidianas da escola, a educação do campo pode ser trabalhada de maneira prática, de modo que experiências e atividades diversas sejam aplicadas no dia a dia do processo de ensino-aprendizagem. Esta modalidade de estudos tem as suas especi�cidades em relação aos modos de vida e demonstra mais uma faceta das formas da diversidade educacional, que é re�etida pela diversidade Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE sociocultural com que nos constituímos enquanto povo brasileiro. Você estudou sobre a educação quilombola e viu que é fundamental que as memórias das pessoas descendentes de negros e indígenas escravizados sejam preservadas. A educação quilombola busca compreender as singularidades do contexto da população brasileira remanescente das comunidades dos quilombos, destacando as especi�cidades de seus conhecimentos. Nesse sentido, você percebeu a necessidade de valorizar as histórias dos povos quilombolas e de não apagar as memórias coletivas. Também notou que são muitos os desa�os para a valorização da educação quilombola em todas as regiões do país, de modo a destacar e a reconhecer a nossa diversidade social e cultural, a partir de uma perspectiva local. En�m, você pôde perceber a importância das vivências práticas e atividades na educação do campo e quilombola, como a efetivação de metodologias ativas, usando suas especi�cidades para melhorar o aprendizado e o desenvolvimento intelectual dentro do contexto social e comunitário do aluno. Saiba mais Diversidade regional e linguística Para aprofundar os seus estudos sobre a diversidade regional e linguística e a educação do campo, recomendamos a leitura do Capítulo – Formação de professores para a educação do campo: projetos sociais em disputa, do livro Educação do campo: desa�os para a formação de professores, de Maria Isabel Antunes Rocha e Aracy Alves Martins. Se possível, leia os demais capítulos desse livro também. Você pode acessá-lo na Biblioteca Virtual. Educação do campo Para o aprofundamento dos estudos sobre a educação do campo e o MST, recomendamos a leitura do Capítulo 1 – A história da luta pela terra, uma tradição dos movimentos sociais, do livro A educação do campo e o MST: trabalho e práticas sociais com assentados da reforma agrária, de David Stival. Você encontra esse livro em nossa Biblioteca Virtual. Educação quilombola Para o aprofundamento dos estudos sobre a educação quilombola, recomendamos a leitura do Capítulo – O olhar do Estado sobre as comunidades quilombolas: reconhecer ou integrar?, do livro Comunidades quilombolas: as lutas por reconhecimento de direitos na esfera pública brasileira, de Simone Ritta dos Santos. Você encontra esse livro na Biblioteca Virtual. Referências https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192517/epub/0?code=Y3sjQPC6G9DyC5bL0gmQGXpUB+4AY1A01EPo6D5MtS2rgMpKXHkENAAwLW+I1DzIbyK8AiwbLqhbWrAKf6XyTA== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192517/epub/0?code=Y3sjQPC6G9DyC5bL0gmQGXpUB+4AY1A01EPo6D5MtS2rgMpKXHkENAAwLW+I1DzIbyK8AiwbLqhbWrAKf6XyTA== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/205223/epub/0?code=7m69ztECLDiA/wJnoJ5p7v3/SQw/gLY5rk+NKXcsnZJd0FNaAOGxHat53l0HwFiD31tMrtwuJ5hAFVUP8RNs5Q== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/52827/epub/0?code=nZ++LK2CdzgSKsiQnk6wrR/qIMKH14moIdJcPjiHQxAQu+WR6PhyAER6WoWcEa68ibZtJvPsXV+230fVHzZXYQ== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/52827/epub/0?code=nZ++LK2CdzgSKsiQnk6wrR/qIMKH14moIdJcPjiHQxAQu+WR6PhyAER6WoWcEa68ibZtJvPsXV+230fVHzZXYQ==Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE DUTRA, T. B. Em busca de autonomia: quilombolas e políticas públicas. 1. ed. Jundiaí, SP: Paco e Littera, 2022. E-book. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. da. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. ROCHA, M. I. A.; MARTINS, A. A. Educação do campo: desa�os para a formação de professores. 1. ed. São Paulo: Autêntica, 2013. SANTOS, S. R. dos. Comunidades quilombolas: as lutas por reconhecimento de direitos na esfera pública brasileira. 1. ed. Porto Alegre: ediPUCRS, 2014. STIVAL, D. A educação do campo e o MST: trabalho e práticas sociais com assentados da reforma agrária. 1. ed. São Paulo: Vozes, 2022. E-book. Aula 4 Práticas Educativas e Diversidade Práticas educativas e diversidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Esta aula é uma espécie de culminância de tudo o que se viu sobre a diversidade sociocultural e a identidade populacional brasileira, com todas as suas características, formas, especi�cidades, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE e que deve ser contemplada na educação e nos processos de ensino. Falar em educação e diversidade é falar em educar para a diversidade. Com isso, vamos �nalizar esta trajetória comentando sobre as práticas educativas e a diversidade. No entanto, como você já deve ter se acostumado, vamos propor alguns questionamentos e outras referências para a continuidade e o aprofundamento dos estudos e re�exões (Saiba Mais). Para pensar nas práticas educativas e diversidade, deve-se re�etir sobre um modelo de educação centrada no amor e na empatia. Além disso, cabe uma re�exão sobre a revisão e a correção de narrativas dominantes em nossa comunicação e, por �m, pensar sobre as possibilidades de um currículo inclusivo, responsivo e com epistemologias plurais. Re�ita: de que modo é possível proporcionar uma educação centrada no amor e na empatia? Quais narrativas dominantes estão presentes nas escolas e nas relações sociais? Por que a revisão e a correção de narrativas dominantes, especialmente nas escolas, são necessárias? De que modo é possível desenvolver nas escolas um currículo inclusivo, responsivo e com epistemologias plurais? Qual a importância disso? Essas são algumas de muitas das problematizações relacionadas às práticas educativas e à diversidade, o que leva à constante necessidade de aprofundamento de estudos e de conhecimento de outras re�exões na perspectiva de outros pensadores sobre o tema da educação e diversidade. Certamente, você deve estar lendo e assistindo as referências que estamos indicando ao longo da disciplina de educação e diversidade, entre outras, e deve ter anotado uma série de referências bibliográ�cas para ler posteriormente. Esperamos que você tenha bons estudos e que os conhecimentos nos tornem pessoas melhores para viver em sociedade. Desejamos felicidades e sucesso em sua trajetória na vida. Vamos Começar! A aula de práticas educativas e diversidade aborda conhecimentos e temas importantes para pensar e realizar um exercício de autoconhecimento sobre os valores socioemocionais e afetivos. Como anunciado, vamos começar essas re�exões sobre a educação centrada no amor e na empatia. Em seguida, você vai compreender a necessidade da revisão e correção de narrativas dominantes presentes em nossa convivência em sociedade. Por �m, você vai estudar uma proposta de currículo inclusivo, responsivo que contempla as epistemologias plurais. A educação centrada no amor e na empatia Falar em educar para a diversidade e suas práticas diversas, inclusivas e democráticas é falar em educação centrada no amor e na empatia. Nessas questões, parte-se da premissa de que a educação se volta para o outro e, como sabemos, suas identidades são também construídas a partir das relações sociais. Educar é se envolver com o outro, no âmbito de uma relação entre Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE educador e estudante, ou seja, é se envolver do ponto de vista de assumir um compromisso voltado à educação e formação para o conhecimento. No mundo existem e existiram muitas pessoas dedicadas a um modelo de educação centrado no amor e na empatia. Pode-se dizer que, ao longo de toda a disciplina, você se deparou com muitos deles: Karl Marx, Simone de Beauvoir, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Pierre Bourdieu, entre diversos outros autores e pensadores preocupados com a educação e a mudança social. Bell Hooks, pseudônimo de Gloria Jean Watkins, foi uma professora, escritora e ativista norte- americana bastante in�uente na participação pública em debates envolvendo as questões relativas às pautas das mulheres e das interseccionalidades de identidades. Defendia a educação como ferramenta de transformação, para a compreensão e igualdade do ponto de vista das relações étnico-raciais e a desconstrução da cultura do patriarcado. Preocupava-se com o diálogo e o empoderamento das mulheres, que poderia ser realizado mediante o diálogo e através da educação. Perceba o quanto a atribuição de sentido e signi�cado nas práticas educativas é importante para o trabalho do educador. As questões e contradições, e qualquer forma de desigualdade e de injustiça que estão presentes em nossa realidade social, devem ser problematizadas nos diálogos nas salas de aula, na escola, na comunidade e em qualquer outra possibilidade em que se realizam as relações sociais. Compreender (e valorizar) a diversidade sociocultural com que nos constituímos historicamente a partir das relações sociais aqui estabelecidas é uma premissa essencial para o desempenho do trabalho docente. A educação, nesse sentido, é uma prática de transformação de pessoas que, munidas de conhecimento, podem mudar o mundo, segundo Paulo Freire, no sentido de mudar para melhor. A imaginação sociológica, que você conheceu em aulas anteriores, pode ser um interessante exercício para os estudos em educação e diversidade, para a desnaturalização de todos os aspectos que constituem as relações sociais. Isso deve ser aprofundado às voltas de um modelo de educação para a diversidade e requer o comprometimento, a empatia e a solidariedade social dos educadores e de todos os atores sociais envolvidos no cotidiano das práticas educacionais. Quando se pensa a educação como condição de possibilidade de constituição crítica dos sujeitos, parece se estabelecer um clássico paradoxo entre os objetivos da educação e a liberdade subjetiva. O fato é que não se trata de buscar a extinção desse paradoxo, pois o objetivo é estabelecer a educação como condição de possibilidade de desenvolvimento subjetivo. Ou seja, a educação poderá ter como horizonte os parâmetros para viabilizar a formação subjetiva sob uma perspectiva múltipla e diversa, que lhe permita maior autonomia. Para fazê-lo é preciso problematizar as possibilidades de constituição subjetiva, como fenômeno dinâmico, concatenando os objetivos da educação com o desenvolvimento subjetivo (Erthal et. al., 2019, p. 110). Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A educação, nesse sentido, é entendida como o estabelecimento de condições para a possibilidade do desenvolvimento subjetivo, sob uma perspectiva múltipla e diversa, que lhe permita maior autonomia. Dito isso e reconhecendo a importância da educação, passemos a pensar no processo educacional e o seu desenvolvimento. Lembrando que devemos sempre trabalhar a educação na perspectiva da diversidade, da inclusão e da integração. Figura 1 | Há sempre esperança – Girl with ballon, Banksy Girl and Heart Baloon. Fonte: Wikimediaação” (Hall, 2004, p. 12). O sujeito sociológico, surgiu “quando o mundo moderno passou a ser observado como um turbilhão complexo, associado à corrosão da intimidade, à ditadura do tempo e todas outras alegorias que nos lega a cultura capitalista, o entendimento da identidade muda de feição” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 32). Ou seja, esse tipo de sujeito ocidental emerge no contexto de desenvolvimento do modo de produção capitalista, vinculado a uma perspectiva de determinação de classe, sendo que as outras identidades estariam subordinadas a essa estrutura de mundo do qual o sujeito fazia parte. Nesse sentido, segundo Hall, o sujeito não era independente, ao invés disso, a identidade era formada em relação às “pessoas que lhe atribuíam valores, sentidos e símbolos ou a cultura do mundo em que vivia” (Hall, 2004, p. 11). No sujeito pós-moderno, para Hall, as identidades culturais coexistem nos indivíduos, diante das mudanças sociais e culturais que o mundo ocidental vivenciava no contexto da década de 1970. Isto é, o sujeito pós-moderno seria marcado pelas múltiplas identidades pelas quais esses sujeitos são acometidos, ainda que, muitas vezes, se apresentassem de modo contraditório. Nessa conceituação, acreditava-se que o sujeito tinha um núcleo, mas também admitia que não era �xo, imutável, pois mantinha um diálogo contínuo com as culturas com as quais entrava em contato (Previtalli; Vieira, 2017, p. 32). Essa concepção de identidade ressaltava as constantes mudanças, contribuindo por tornar o sujeito mais fragmentado, que se constitui de várias identidades assumidas em momentos diferentes de sua vida social. O sociólogo canadense Erving Goffman parte do entendimento de que a vida social do indivíduo, por consequência de sua identidade, pode ser entendida como uma representação teatral. Isso quer dizer que a ação de um indivíduo em relação a outros não tem somente uma �nalidade instrumental, ou seja, não tem somente o objetivo de fazer algo, mas também é condicionada pelo modo como esse sujeito quer aparecer diante dos outros (Oliveira; Costa, 2016). Como você pode perceber, pensar em identidade nada menos é do que um exercício bastante complexo. Identidade pode ser compreendida sob diversas perspectivas, e possui características importantes a serem consideradas em torno de sua análise. Nesses termos, a identidade pode ser circunstancial, dinâmica e contrastiva. A identidade circunstancial está relacionada às circunstâncias da vida, assim como o próprio termo de�ne. A identidade circunstancial refere-se às características atribuídas a um indivíduo inserido em sociedade com base em fatores externos muitas vezes fora de seu controle. Os fatores externos independem da vontade do indivíduo, ou seja, correspondem à exterioridade, elemento característico dos fatos sociais, segundo Émile Durkheim. As identidades circunstanciais incluem elementos, como gênero, etnia, nacionalidade, idade e classe social. Elas são frequentemente usadas para categorizar e rotular as pessoas, algo semelhante à casca de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE um indivíduo, aquilo que se vê em primeiro plano a partir da percepção das outras pessoas. Essas categorias podem in�uenciar a forma como somos percebidos pelos outros e como interagimos com os diferentes grupos sociais. A identidade dinâmica está sujeita a mudanças ao longo do tempo, é algo �uido, que se adapta segundo as condicionantes da vida. São mudanças que passamos pela vida e que in�uenciam a construção de nossa identidade, como algo dinâmico, em constante mudança. A identidade dinâmica realiza-se em meio às nossas experiências e interações estabelecidas entre indivíduo e sociedade a partir das condições sociais de existência, e pode ser moldada por suas re�exões, relações interpessoais, educação e eventos signi�cativos. A identidade contrastiva está relacionada a algo que diferencia, motivado pelo próprio indivíduo. A identidade contrastiva é a forma como as pessoas se de�nem em relação aos outros. É o indivíduo de�nindo a si mesmo. Esse conceito tem a ver com a conquista de espaços pela juventude no contexto da década de 1960. A nossa identidade é construída considerando quem somos em comparação a quem não somos, sendo ressaltadas as diferenças. Trata-se de perceber as diferenças culturais e sociais, o que pode levar à criação e organização de grupos de pertencimento e ao estabelecimento de fronteiras identitárias. Siga em Frente... Reconhecimento do outro e alteridade Para entender e reconhecer o outro, em suas diferenças, deve-se sempre considerar os elementos constituintes das identidades sociais e culturais. No entanto, isso tudo deve estar relacionado ao contexto social no qual os indivíduos se inserem, além de levar em consideração as especi�cidades das diversas realidades sociais. Por isso se faz importante e fundamental para os estudos das diferenças e das identidades o exercício de reconhecimento do outro em suas múltiplas determinações e condições sociais a que os indivíduos de uma sociedade são acometidos. Em suma, você pode constatar que o reconhecimento do outro refere-se à capacidade do indivíduo ou seu grupo em reconhecer a identidade cultural do outro, daquele que é diferente do indivíduo que observa, em termos identitários, culturais e/ou experienciais. Tem a ver com a aceitação e a valorização da humanidade dos outros, independentemente de suas diferenças. Para o sociólogo britânico Anthony Giddens, as in�uências globalizantes e a simples sensação de ser presa das maciças ondas de transformação global é perturbadora. Mas importante é o fato de que tal mudança é também intensa – cada vez mais, atinge as bases da atividade individual e da constituição do eu (Previtalli; Vieira, 2017, p. 33). O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001) analisa a questão da identidade na modernidade, denominando-a líquida. Nessa fase, os indivíduos incorporam outros e novos elementos de forma mais �uida, líquida e �exível se comparado ao contexto histórico anterior, no qual se Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE observava a identidade de forma mais rígida. A modernidade líquida pauta-se pela liquidez em que nada consegue manter sua forma por muito tempo. A modernidade líquida é o que caracteriza a sociedade contemporânea, uma época em que tudo o que é sólido desmancha-se no ar. Nesse contexto em que se observam as identidades, veri�cam-se mudanças na concepção de Estado nação no capitalismo, em sua fase globalizada. As mudanças advindas com a modernidade, de sua fase sólida para a fase líquida, apontam para o fenômeno de não haver mais a necessidade de pertencimento em comum por toda a população, segundo Bauman (2001). As categorias e aspectos sociológicos analisados e desenvolvidos pelos autores em torno do conceito de identidade, estudados nesta aula, certamente são importantes e fundamentais, pois nos ajudam a compreender as características dos sujeitos e suas identidades no contexto da contemporaneidade. Você percebeu que os autores �zeram uma contextualização histórica em torno do conceito de identidade para a compreensão das mudanças individuais e sociais ocasionadas ao longo do tempo. Mesmo com as mudanças advindas com o passar do tempo, que incidem sobre as identidades sociais e culturais, você pode perceber que as interações sociais são fundamentais para a construção das identidades. Somos sujeitos sociais e dependemos uns dos outros para a realização da vida em sociedade. A�nal, pode-se a�rmar que há um estado de interdependência entre os seres humanos, uma dependência mútua, que se realiza de forma recíproca (Barbosa, 2014). Essa interação realizada pelos seres humanos pode ser denominada alteridade. [...] eu aprendo, mudo e me transformo com base nas transformações, nas mudanças e na interação com o outro, e é nesse processo consciente de interação verbal ou dialógica que construímos a nossa identidade e a identidade do outro. Geralmente essa interação é baseada na nossa percepção e nossa ideia de valor, ideia essa que tem suaCommons. Amor e empatia, nesse sentido, devem ser o “carro chefe” de uma prática educativa voltada à diversidade sociocultural em que nos inserimos. Isso leva a uma educação mais humanizada, contextualizada e abrangente, além de orientada para o atendimento das diferenças e interseccionalidades múltiplas de nossa sociedade. A escola, portanto, na perspectiva da educação para a diversidade e acompanhada de amor e de empatia, deve proporcionar ambientes mais inclusivos, sensíveis e responsivos às necessidades diversas de todos os estudantes, buscando abranger a comunidade escolar e a sociedade como um todo. O acolhimento, a escuta e quaisquer formas de entendimento mais humanizado do outro, é importante no exercício cotidiano da escola. Você deve se lembrar da importância de articular a família no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. O conjunto dessas práticas proporciona o aprimoramento social e emocional (inteligência socioemocional). Certamente, essas ações contribuem no combate às discriminações e às formas de intolerância, levando a uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, para que isso seja possível, é necessário revisar e corrigir narrativas dominantes postas historicamente em nossa sociedade a partir das relações de poder. Revisão e correção de narrativas dominantes Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Como se pôde perceber até aqui, o constante exercício do pensamento crítico e as possibilidades da imaginação sociológica contribuem para um pensar sobre todas as estruturas e características com que está organizada a estrutura da educação em nosso país. Essa forma de conhecer possui um elemento importante na forma que se realiza no exame dos fenômenos sociais: o estranhamento e a desnaturalização. Essa é uma contribuição do conhecimento sociológico, bastante importante de ser utilizado nas práticas em educação e diversidade. A mudança deve começar na postura e na qualidade de espírito, de modo que nos ajude a usar a informação e a desenvolver a razão com vistas a perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro de nós mesmos (Mills, 1975). A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu signi�cado para a vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua existência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transforma em participação nas questões públicas (Mills, 1975, p. 11-12). A imaginação sociológica, ou seja, a desnaturalização da forma com que o conhecimento se constrói e se apresenta na escola é um exercício que deve ser feito para se pensar nos currículos, nos materiais didáticos e nos conteúdos que devem ser trabalhados na escola. É justamente essa capacidade que torna importante a presença da sociologia no contexto da educação escolar, uma vez que essa ciência estuda os comportamentos dos indivíduos e grupos sociais, desnaturalizando, inclusive, suas relações e os papéis sociais de instituições diversas, como a família, a escola e a sociedade. Sabe-se que as narrativas presentes em boa parte do nosso cotidiano são pertencentes aos interesses das classes dominantes. E isso se veri�ca nas matrizes e nos currículos escolares, ou seja, as narrativas dominantes estão presentes a todo momento na escola. Você deve se lembrar do que estudamos nas aulas anteriores, sobre Pierre Bourdieu e o seu conceito de violência simbólica. A correção de narrativas dominantes, especialmente nas escolas, deve promover uma educação inclusa, sensível e democrática. A educação para a diversidade, portanto, vai na contramão de um modelo de reprodução da violência simbólica, na qual estamos inseridos. Vimos em estudos anteriores que devemos revisar os conteúdos e as estruturas para que não se reproduzam as relações sociais de dominação e de poder que, por sua vez, se relacionam ao epistemicídio. Os estudos em educação e diversidade nos ajudam a pensar como a escola lida com a questão das diferenças culturais nos sistemas de ensino, currículos e matrizes curriculares. Quando pensamos na história da educação brasileira e nas relações entre a diversidade e as políticas da diferença, é preciso reconhecer os avanços, as rupturas e os retrocessos ao longo do tempo. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE A educação e a diversidade ajudam nesse processo. Para que seja promovida uma educação crítica, na qual o questionamento constante é o motor do conhecimento, as bases normativas constituídas nas escolas e na sociedade devem ser examinadas. Um exemplo é o questionamento de gênero nas narrativas dos livros didáticos de história (Meyrer; Karawejczyk, 2021). Sabe-se que é preciso, diante dos estudantes, uma proposta de re�exão sobre a realidade em que nos inserimos em suas múltiplas dimensões, sejam elas culturais, políticas, sociais, econômicas, entre outras. O processo de re�exão realiza-se na capacidade de problematização das diversas formas de desigualdades, a partir de ações efetivas para a correção de narrativas dominantes. A escola é, nesse sentido, a instituição pioneira nesse processo, e deve partir dela a necessidade do exercício re�exivo e crítico em todos os aspectos. É preciso repensar a escola, em todas as suas dimensões, de modo a contribuir com a desconstrução de estereótipos e preconceitos e a inclusão de múltiplas perspectivas. Com isso, valoriza-se na escola a diversidade cultural e identitária. Siga em Frente... Currículo inclusivo, responsivo e epistemologias plurais Para pensar um modelo de sociedade mais inclusivo, democrático e justo, sabe-se da importância de desenvolver nas escolas um currículo inclusivo, responsivo e com epistemologias plurais, no qual sejam contempladas todas as formas de diversidade e inclusão, as questões étnico-raciais, de gênero, de pessoas com de�ciência etc. É muito importante o desenvolvimento de um currículo responsivo na escola, que contemple a pluralidade das epistemologias existentes, de modo a abarcar conhecimentos e saberes de todos os povos que fazem parte da identidade sociocultural brasileira. É preciso descolonizar o currículo da educação básica para que sejam incluídas as diversidades de saberes e formas de conhecimento que se originam a partir da cultura dos estudantes. Perceba que repensar a escola envolve reestruturar e reorganizar a instituição em seus aspectos estruturais, formais e organizacionais. Falamos em acessibilidade, em matrizes curriculares, organização do currículo e disciplinas, entre outros elementos importantes, para um ensino mais inclusivo, de modo que se estabeleça a cultura da não violência. A construção de um currículo inclusivo e responsivo, no qual se veri�ca a �exibilidade curricular, leva à necessidade de re�etir sobre as mudanças nas políticas educacionais e a relação destas com a educação inclusiva. [...] A ação pedagógica conduz o indivíduo para a vida em sociedade, produzindo cultura e usufruindo dela. É certo que as modi�cações em todos os âmbitos da sociedade a�oram as desigualdades, de modo a impulsionar discussões sobre as exclusões e suas consequências e Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE lançar a semente do descontentamento e da discriminação social, evidenciando-se pela necessidade de mudanças nas políticas públicas (Minetto, 2021, p. 18). Trabalhar as diversas epistemologias, formas de conhecimento e outros saberes presentes na escola a partir da in�uência cultural dos estudantes, e não valorizar apenas uma perspectiva de conhecimento. É preciso respeitar toda a diversidade epistemológica e a contribuição de vários povos no processo de construção do conhecimento. Veri�camos, assim, oorigem na infância e nos acompanha pelo resto de nossas vidas (Barbosa, 2014, p. 21). Perceba a importância das interações na construção das identidades sociais e culturais, independentemente do contexto histórico em que se analisa a formação das identidades dos indivíduos. Como se pode perceber “a identidade de cada indivíduo é consequência da alteridade do outro, sendo assim, se a identidade é um processo dinâmico de transformação, isso signi�ca que quando o outro muda a sua performance naturalmente estará mudando a minha” (Barbosa, 2014, p. 21). Você pode compreender que, para pensar nas relações sociais, é preciso ter a sensibilidade para o reconhecimento do outro, de qualquer forma e em quaisquer das dimensões da vida social e cultural. O conceito de alteridade, nesse sentido, relaciona-se à ideia de reconhecimento do outro, com as suas diferenças e particularidades. Isso quer dizer que o exercício da alteridade é signi�cativo para a construção de nossa própria identidade, ou seja, aquele que pratica a alteridade tem a identidade construída na sua relação com a de outros. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Vamos Exercitar? Nos estudos desta aula, trouxemos algumas problematizações para pensar nas relações entre educação e diversidade: qual a importância do conceito de identidade para se pensar a diferença? Você viu que identidade é relevante e fundamental para pensar nas diferenças socioculturais. É preciso considerar as características socioculturais de todos os povos que convivem em nossa realidade, assim como pensar nos povos originários e autóctones, como a população afrodescendente e indígena. Esses são povos originários, autóctones, que aqui habitavam antes mesmo da chegada dos europeus, realizando o seu próprio modelo de desenvolvimento e organização social. Quais são os tipos de identidades? O que signi�ca identidade contrastiva? Como você estudou, a identidade pode ser circunstancial, dinâmica e contrastiva. A identidade circunstancial está relacionada às circunstâncias da vida, como o próprio termo de�ne. Ela se refere às características atribuídas a um indivíduo inserido em sociedade com base em fatores externos, muitas vezes, fora de seu controle. Já a identidade dinâmica está sujeita a mudanças ao longo do tempo, é algo �uido, que se adapta segundo as condicionantes da vida. E a identidade contrastiva está relacionada a algo que difere, como o próprio termo sugere, motivado pelo próprio indivíduo, ou seja, é a forma como as pessoas se de�nem em relação aos outros. Outro questionamento aborda as relações entre educação e diversidade, questionando o conceito de alteridade. Como você estudou, o conceito de alteridade relaciona-se à ideia de reconhecimento do outro, com as suas diferenças e particularidades. Isso signi�ca dizer que o exercício da alteridade é signi�cativo para a construção de nossa própria identidade, ou seja, aquele que pratica a alteridade tem a identidade construída na sua relação com a de outros. Esse conceito é muito importante para pensar nas relações sociais, sendo que, para isso, é preciso ter a sensibilidade para o reconhecimento do outro, uma vez que somos sujeitos sociais e dependemos uns dos outros para a realização da vida em sociedade. Há, portanto, um estado de interdependência entre os seres humanos, uma dependência mútua, que se realiza de forma recíproca. Saiba mais Identidade e diferença: categorias sociais de análise Para o aprofundamento dos seus conhecimentos sobre identidade e as relações com a formação da sociedade brasileira, sugerimos que você assista ao documentário O povo brasileiro de Darcy Ribeiro. Nesse documentário, o antropólogo apresenta aspectos interessantes e sua visão sobre a formação do povo brasileiro e suas identidades. Identidade e suas características: circunstancial, dinâmica e contrastiva Para que você possa saber mais e aprofundar seus conhecimentos sobre o tema da identidade, indicamos a leitura da Introdução e do Capítulo 1 – Dialética da modernidade: entre a ordem Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE como tarefa e a ambivalência como refugo, do livro Bauman e a educação, de Felipe Quintão de Almeida, Ivan Marcelo Gomes e Valter Bracht. Nesses textos, os autores apresentam a crítica de Bauman à sociedade moderna e o desenvolvimento de um tipo novo de identidade. Reconhecimento do outro e alteridade Para pensar a questão da alteridade e do reconhecimento do outro, indicamos o �lme Central do Brasil, dirigido por Walter Salles. Esse excelente �lme nacional aborda a questão do autoconhecimento, do reconhecimento do outro e da humanidade, mediante a interessante interação dos personagens Dora e Josué. O �lme também retrata a questão das diferenças sociais, econômicas e culturais do Brasil. Referências BARBOSA, A. C. A. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2014. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. OLIVEIRA, L. F. de; COSTA, R. C. R. Sociologia para jovens do século XXI: manual do professor. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. Aula 3 Preconceito, Discriminação E Desigualdades Preconceito, discriminação e desigualdades Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/192512/epub/0?code=HmrXiRVAxEoBg50KCHCNAg3CKVbc6Hj6b2trp/WDszNYvKDUobfF10knJPBhiUYTfbdiyNFuZlflh/VwN+DItA== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida Nesta aula, você vai estudar os conceitos de preconceito e discriminação, vai entender as diferenças e as semelhanças entre eles e as relações com o fenômeno das desigualdades. Em seguida, você vai analisar as determinações norteadoras da vida em sociedade no contexto da contemporaneidade e estudar a respeito da distribuição desigual de recursos, as relações de poder, as oportunidades e as situações diversas que se apresentam aos indivíduos. Por �m, você vai estudar sobre exclusão e inclusão, e a necessidade de buscar a justiça social. Para os estudos desta aula, algumas questões serão problematizadas: quais as diferenças conceituais entre preconceito e discriminação? Tomando como base a distribuição desigual de recursos em uma determinada sociedade, quais as implicações desse fenômeno social? Qual é o papel da educação no combate às formas diversas de desigualdades? Qual a importância da inclusão, em uma sociedade historicamente marcada pela exclusão, como a brasileira, para a construção de justiça social? De modo geral, esses são alguns dos questionamentos que nos ajudam a pensar nas relações entre educação, diversidade e desigualdade. Nesta aula, você está convidado a estudar sobre a formação histórica da sociedade brasileira e as relações com a educação. Seja bem-vindo! Vamos Começar! Para que possamos re�etir sobre as diversidades e as desigualdades, devemos sempre nos lembrar de um dos objetivos propostos para a disciplina de Educação e Diversidade: discutir questões relacionadas à desigualdade, ao preconceito, à discriminação e às diferentes formas de estereótipos. Obviamente o centro desse debate parte da relação entre as diversidades e a educação, de modo a contribuir com uma formação crítica, inclusiva, humana e cidadã. Preconceito e discriminação: conceitos interligados, porém diferentes Sabemos que as diversidades e as diferenças que se apresentam na vida em sociedade são múltiplas, e se manifestam de diversas formas. Em um regime democrático e preocupado com a justiça social,como o Brasil, a educação (e a escola) deve ter um olhar atencioso para a questão das diversidades e das diferenças. A educação, dessa forma, precisa reconhecer e valorizar as diferenças, bem como as diversidades que in�uenciam a forma com que somos construímos cotidianamente, enquanto povo brasileiro. Isso nos exige um constante repensar dos porquês e das razões pelas quais se dão as condições (e contradições) sociais de onde estamos inseridos papel também da educação, ou seja, Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE constantemente provocar e problematizar no sentido de fornecer conhecimentos históricos sobre os processos de luta de classes para que possamos compreender o nosso meio, e agir, no sentido de buscar a igualdade das condições materiais de existência para toda a sociedade. Podemos a�rmar que preconceito e discriminação são também expressões das formas diversas de desigualdades. Apesar de serem conceitos próximos e interligados nas explicações de determinado fenômeno social, são diferentes, e cada um tem o seu signi�cado particular. Em comum, podemos perceber que ambos os conceitos representam uma manifestação negativa das relações sociais, podendo desencadear em formas de violência. Os preconceitos são julgamentos ou percepções antecipadas acerca de pessoas, crenças ou sentimentos; já a discriminação se re�ete em tratamento diferenciado e/ou exclusão diante de características especí�cas da pessoa ou grupo social. Como você pode perceber, preconceitos e discriminações sociais são fenômenos diferentes, mas estão relacionados. Ideias preconcebidas são comuns, entretanto, quando utilizamos essas noções para tratamentos diferenciados fazemos discriminação. Re�etindo as experiências dos seres humanos ao longo do tempo, pode-se a�rmar que o preconceito geralmente se manifesta de forma discriminatória. Preconceito e discriminação conectam-se a processos culturais de identidade e alteridade, e a maneira com que lidamos com a diferença. A discriminação, portanto, corresponde à materialização de atos preconceituosos praticados pelos indivíduos, muitas vezes organizados em coletividade. De certo modo, tanto os preconceitos quanto as formas de discriminação revelam a maneira com que ocorrem as manifestações das desigualdades em uma determinada sociedade. Nesse sentido, “entre humanos também impera a lei do mais forte, permeada por hierarquias, castas, ou divisões, como queiram denominar”, e os mais aptos nessas relações ganham na luta pela sobrevivência, à custa da vida e do sofrimento dos semelhantes (Paula, 2013, p. 26). É fato que cada grupo social acumula experiências de êxitos e fracassos e constrói um conhecimento prático (mesmo inconsciente) do que está ao alcance da sua realidade social – o que Bourdieu (2002) denomina causalidade do provável, que é o que acontece quando os indivíduos internalizam suas chances/probabilidades de acesso. Se considerarmos que, para as classes populares, as possibilidades de sucesso escolar se reduzem não só em razão da falta de recursos econômicos, mas de capital cultural, a distribuição desigual desse capital in�uencia as trajetórias escolares e a mobilidade social desses grupos (Paula, 2013, p. 26). A estrati�cação social e as condições materiais de existência no contexto do capitalismo, pautadas nas relações de produção e de mercado, tornam as estruturas de apropriação econômica e de dominação política bastante nítidas. Isso revela uma estrutura social desigual e o antagonismo entre as classes sociais, segundo Marx. A escola que deveria ser a instituição alinhada às mudanças sociais, inserida no contexto do modo de produção capitalista pautado na lógica do mercado, reproduz as desigualdades e a manutenção do status quo, de modo que a distribuição desigual de recursos econômicos e de capital cultural, segundo Bourdieu (2002), faz com que di�cilmente as classes populares ascendam, do ponto de vista socioeconômico. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE O próximo passo de nossos estudos consiste em buscar compreender e agir, quando dotados de uma mínima consciência de classe, diante dos porquês desses fenômenos, ou seja, entender as razões e as motivações das desigualdades. Isso nos leva a problematizar e a re�etir sobre a formação de nossa sociedade e a distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades. A distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades Você analisou as diferenças (e semelhanças) entre preconceito e discriminação, e suas relações com a questão das desigualdades. Preconceito e discriminação, nesse sentido, também estão relacionados à distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades, que desencadeiam em formas diversas de desigualdades e injustiças sociais. Essas desigualdades estão relacionadas à distribuição desigual de recursos, e podem se manifestar em suas formas econômica, social, política, étnico-racial, de gênero, educacionais, regionais, entre outras. Re�etir sobre a distribuição desigual de riquezas, poder e oportunidades e as relações com a educação nos leva a buscar entender que a sociedade capitalista da qual fazemos parte, na sua essência, divide-se em classes sociais. As desigualdades são características das sociedades modernas e pertencem a esse modo de produção. Marx toma como central em suas análises a questão das classes sociais e as relações entre capital e trabalho assalariado, para pensar a forma com que as sociedades são regidas. Nesse sentido, a educação assume um importante papel no preparo da classe trabalhadora para a reprodução do modo de produção capitalista e do conjunto de valores da sociabilidade burguesa hegemônica, baseado no consumo, produção e circulação de mercadorias. Figura 1 | As faces das desigualdades, por Wilfredo Hernandez. Fonte: Wikimedia Commons. Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE Marx explicou as contradições sociais produzidas pelas relações materiais de produção e o fenômeno que dá origem às desigualdades no capitalismo, utilizando o materialismo histórico dialético como método cientí�co. A sociedade capitalista apresenta-se de modo contraditório, portanto transitório no curso da humanidade. A classe trabalhadora (classes populares), oprimida no contexto do capitalismo, deveria se organizar e realizar a revolução social, visando a construção de uma sociedade mais justa entre as classes. As forças produtivas de uma sociedade são os meios de produção necessários para a realização da vida material dos homens e, nesse sentido, a relação de produção se con�gura, no curso da história, pela exploração de uma classe sobre a outra. A�nal, segundo Marx e Engels, no livro O Manifesto do Partido Comunista, a “história das sociedades é a história da luta de classes”. A organização social pautada na exploração do homem pelo homem se perpetua em um contexto de ascensão do capitalismo e da hegemonia burguesa, classe detentora dos meios de produção (Sanches; Alencar; Ferreira, 2016, p. 90-91). Essa sociedade apresenta-se de forma con�ituosa para Marx, revelando as desigualdades sociais, pois a classe dominante detém maiores privilégios e oportunidades, ao passo que a classe trabalhadora, ou seja, as classes populares, não obtêm as mesmas condições. Nesse contexto em que o trabalhador aparece como vendedor da sua própria força de trabalho, tornando o trabalho assalariado e a divisão do trabalho característicos desse período, houve o processo de subordinação do trabalho ao capital. O modo de produção que compõe a realidade social é regido por leis dialéticas objetivas, como as derivadas das contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, determinada em última instância pela infraestrutura e movida concretamente pela luta de classes (Marx, 1983). O capitalismo em sua gênese histórica, se objetiva por ampliar e promover a acumulação de riquezas (Sanches; Alencar; Ferreira, 2016, p. 91). É justamente nesse sentido que há uma estrutura de poder e de dominação do Estado que se articula internamente para promover os seus interesses econômicos e o statusquo vigente. O Estado, na Modernidade, está a serviço dos interesses da burguesia, a classe dominante, e isso acentua as desigualdades sociais e as contradições econômicas. A escola, muitas vezes, contribui por manter e reproduzir essa lógica de dominação presente em nossa sociedade. As desigualdades e a distribuição desigual de riquezas ocasionam a pobreza em uma sociedade. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2004), a pobreza é a negação das escolhas e de oportunidades básicas e necessárias ao desenvolvimento da vida humana, re�etida em: vida curta, falta de educação, falta de meios materiais, exclusão e falta de liberdade e dignidade (Paula, 2013, p. 27). O Brasil e sua formação histórica não pode ser entendido como algo isolado do contexto do capitalismo internacional. Para Caio Prado Junior, é preciso utilizar a categoria marxista de totalidade, de modo que seja possível entender as contradições, a distribuição desigual de riquezas que aqui se desenvolveu historicamente, desde a colonização até os dias atuais (Prado Junior, 2012). No capitalismo global, o Brasil é parte integrante do processo de dominação capitalista e as contradições entre as classes remontam a formação histórica e social brasileira. É justamente Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE nesse sentido que a educação tem um papel fundamental, no exercício de repensar a estrutura educacional e propor mudanças, para caminharmos para uma sociedade em que as desigualdades e quaisquer formas de injustiça sejam erradicadas. A�nal, pode-se a�rmar que a pobreza se apresenta de forma multidimensional. Siga em Frente... Exclusão e inclusão: em busca de justiça social É sabido, a partir da perspectiva das ciências humanas e sociais no Brasil, que, ao longo de nossa formação histórico-social, promoveu-se formas de desigualdades, consequentemente, de exclusão da maioria da população brasileira no acesso a condições dignas de vida. Nos constituímos ao longo do período colonial, caracterizado pelo patriarcalismo, como uma sociedade marcada pela escravidão e dominação racial, que repercute signi�cativamente até os dias atuais. As desigualdades provocaram profundas formas de exclusão do povo brasileiro, sendo necessário re�etir as possibilidades de inclusão e de mudança social por meio da educação, de modo a promover a justiça social. Sabemos que os desa�os são enormes para a sociedade brasileira e, além do mais, é preciso considerar que o fenômeno da globalização capitalista acentuou as múltiplas identidades, as diferenças e as formas de desigualdades. Trabalhar com as diferenças, a multiculturalidade e a fragmentação da identidade na contemporaneidade nos leva, por conseguinte, a pensar os processos de exclusão que estão presentes na nossa sociedade. O empobrecimento e as carências vividas por parte da população os destituem de condições mínimas de vida e os afastam do acesso aos direitos humanos universais. Esse processo fez com que essa questão social tomasse dimensão nas discussões políticas e teóricas do mundo. (Previtalli; Vieira, 2017, p. 42) Para que possamos trabalhar as diferenças e os processos de exclusão, é preciso analisar as determinações com que se estrutura a sociedade brasileira. No entanto, a exclusão pode também ser consequência do fenômeno da pobreza. O excluído é aquele que está à margem da sociedade. Como se pode perceber em nosso meio social, especialmente no contexto da globalização, existem outras motivações que contribuem para o processo de exclusão social, “como a perda de emprego, sujeitos pertencentes às minorias sociais como as de gênero, raciais, religiosas, geracionais, de�cientes físicos, pessoas com di�culdades �nanceiras, favelados, desapropriados da moradia etc.” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 43-44). Atualmente, existem muitos refugiados em terras brasileiras que são considerados marginalizados, portanto, excluídos. Há outras categorias para análise que consideramos atravessadores nesse debate: pertencimentos étnicos, sociais, culturais, religiosos, geracional, de gênero, de orientação sexual, espacial, temporal. Por exemplo: embora tenha havido um crescente ingresso das mulheres no mercado de trabalho, sua participação na renda familiar não signi�cou maior autonomia, mas sobrecarga. A segunda (ou terceira) jornada de trabalho feminina permanece. Aumentou a Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE vulnerabilidade da mulher, vítima de assédio sexual e de violência doméstica (o aumento nos casos se explica também pela possibilidade de denúncia e o estímulo a esta). [...] Sobre a mulher negra de baixa renda paira, pelo menos, uma tríplice discriminação, em que podemos estimar as violências e preconceitos derivadas desse pertencer: sexismo, racismo e classe social. Se analisarmos ainda aspectos relativos à orientação sexual e religião, acentuam-se os contornos da discriminação, se esses não corresponderem aos padrões legitimados [...]. (Paula, 2013, p. 28- 29) Há, portanto, outras variáveis que agregam elementos para a compreensão da desigualdade social (Paula, 2005; Candau, 2013 apud Paula, 2013). No decorrer da formação histórico-social brasileira, povos indígenas foram expropriados de suas terras diante da investida de grandes latifundiários, com o amparo do Estado brasileiro. Para que seja possível pensar em justiça social, é preciso reestruturar os modelos educacionais, de modo que a educação seja um meio possível para a transformação social. Ou seja, é preciso também pensar o Brasil, o mundo e suas condições à luz dessas questões sociais, de modo a proporcionar a inclusão desses povos e proporcionar uma sociedade mais equitativa e com justiça social. Mesmo que se reconheça a existência do multiculturalismo, as oportunidades não são distribuídas de forma equitativa. Basta pensarmos na educação formal, ou seja, na educação proporcionada pela escola, na qual se demonstra a reprodução dos interesses da classe dominante, segundo Pierre Bourdieu (2002). Em todo caso, “a escola é um lugar de convivência com a diversidade, por isso ela deveria ser inclusiva, sustentável e plural” (Previtalli; Vieira, 2017, p. 47). A escola vivencia diariamente a questão da diversidade. É justamente nesse sentido, que entendemos que a educação é um importante instrumento para a transformação da realidade social, de modo a proporcionar o engajamento e o consequente empoderamento dos excluídos e dos grupos minoritários, por meio da conscientização crítica da realidade como nos constituímos enquanto povo brasileiro. Essa conscientização que a educação pode proporcionar baseia-se na concepção de educação popular, de acordo com Paulo Freire. A ideia consiste em desenvolver a proposta da pedagogia da autonomia na educação, de modo que o conhecimento possa libertar a classe oprimida da exploração e da situação de desigualdade. A educação popular, proposta por Paulo Freire nos anos de 1960 [...] é baseada na “conscientização”. Ainda hoje, a “educação popular” é uma grande alternativa em relação à monoculturalidade da educação formal. Com o passar do tempo e do acúmulo de experiências educativas nesse campo, a educação popular passou por transformações. Hoje ela está dentro do aparato do Estado aproveitando-se das políticas públicas. (Previtalli; Vieira, 2017, p. 47-48) En�m, você pode perceber que é preciso pensar em meios de inclusão para o desenvolvimento humano e democrático, e a escola tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A educação popular, na perspectiva de Paulo Freire, leva à conscientização e libertação das classes populares. O reconhecimento do outro e a consideração pela alteridade são valores centrais, e isso representa a promoção de igualdade de Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE direitos, a luta contra o preconceito e a discriminação, e a criação de espaços para que todas as identidades e vozes possam ser valorizadas. Vamos Exercitar? Você estudou nesta aula as relações entre educação, diversidade e desigualdade, e pôde compreenderque exclusão e discriminação são também ocasionadas pelas desigualdades e suas formas diversas de manifestações: econômica, social, política, étnico-racial, gênero, educacionais, regionais, entre outras. Algumas problematizações foram colocadas para que você pudesse analisar e re�etir nesses estudos. Quais as diferenças conceituais entre preconceito e discriminação? Você estudou que os preconceitos se referem a julgamentos ou percepções antecipadas acerca de pessoas, crenças ou sentimentos, já a discriminação se refere em tratamento diferenciado e/ou exclusão diante de características especí�cas da pessoa ou grupo social. Nesse sentido, você viu que as ideias preconcebidas são comuns entre os seres humanos. Entretanto, quando utilizamos essas noções para tratamentos diferenciados, estamos falando em discriminação. A discriminação corresponde à materialização de atos preconceituosos praticados pelos indivíduos, muitas vezes organizados em coletividade. O preconceito geralmente se manifesta de forma discriminatória e, nesse sentido, os conceitos de preconceito e discriminação conectam-se a processos culturais de identidade e alteridade e à maneira com que lidamos com a diferença. Tomando como base a distribuição desigual de recursos numa determinada sociedade, quais as implicações desse fenômeno social? Qual é o papel da educação no combate às formas diversas de desigualdades? Você pode perceber que as desigualdades e a distribuição desigual de riquezas ocasionam a pobreza em uma sociedade, pois correspondem à negação das escolhas e de oportunidades básicas e necessárias ao desenvolvimento da vida humana, re�etida em: vida curta, falta de educação, falta de meios materiais, exclusão e falta de liberdade e dignidade (PNUD, 2004). Em contrapartida, a educação proporciona um maior entendimento e compreensão de todas as coisas que fazem parte da nossa realidade. Conhecer as características da maneira com que as condições materiais de existência se apresentam em nossa vida social e material certamente será bastante útil para que possamos pensar e agir no sentido de encontrar meios para que haja maior dignidade, longevidade, acesso aos meios materiais, inclusão, entre outros, conforme os estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento apontaram sobre os fatores que ocasionam a pobreza. A educação, portanto, tem um papel fundamental no combate às diversas formas de desigualdades. Nesse sentido, você pode perceber a importância de analisar e re�etir sobre a distribuição desigual de riquezas, poder e oportunidades, e as relações com a educação. Isso nos leva a buscar entender as características da sociedade capitalista da qual fazemos parte. Primeiramente, você estudou que esse modelo de sociedade se divide em classes sociais. Você Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE deve se lembrar das contribuições de Marx para pensar nas relações entre capital e trabalho assalariado, características da sociedade moderna, e a forma com que as sociedades são regidas. No atual contexto em que estamos inseridos, você também estudou que essas desigualdades também estão relacionadas à distribuição desigual de recursos e podem se manifestar em suas formas econômica, social, política, étnico-racial, de gênero, educacional, regional, entre outras. Por �m, qual a importância da inclusão, em uma sociedade historicamente marcada pela exclusão, como a brasileira, para a construção de justiça social? Você estudou que a inclusão é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, por isso se faz necessário re�etir sobre as possibilidades de inclusão e mudança social através da educação. Nesse sentido, é preciso reestruturar os modelos educacionais de modo que a educação seja um meio possível para a transformação social. Em meio a isso, devemos também pensar o Brasil e o mundo, suas condições à luz dessas questões sociais, para proporcionar a inclusão desses povos desejando uma sociedade mais equitativa e com justiça social. Saiba mais Preconceito e discriminação: conceitos interligados, porém distintos Para que você aprofunde os conhecimentos sobre racismo, preconceito e discriminação, recomendamos a leitura dos capítulos Educação infantil – socialização: família, escola e sociedade e Relações étnicas no Brasil, do livro Do silêncio do lar ao silêncio escolar: Racismo, preconceito e discriminação na educação infantil, de Eliane Cavalleiro. O livro re�ete as experiências vivenciadas pela autora, ao longo de oito meses, no cotidiano da realidade de uma escola de educação infantil. Você encontra esse material em nossa Biblioteca Virtual. A distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades Para pensar na distribuição desigual de recursos, poder e oportunidades, características principais do modo de produção capitalista, sugerimos que você assista ao �lme Daens, um grito de justiça, dirigido por Stijn Coninx. O �lme aborda as condições miseráveis e degradantes dos trabalhadores de uma indústria têxtil no contexto da segunda metade do século XIX. Exclusão e inclusão: em busca de justiça social Re�etindo sobre as alternativas de inclusão e de justiça social, podemos trazer como exemplo, as ações e os programas da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. A SNDPI tem como missão formular e coordenar políticas públicas voltadas para a promoção e defesa dos direitos da https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2195/pdf/0?code=f2acDc1WaRuGm+4TGajOcy4rqSyWIMdHNnx57NMnAbhJmec54Nz6Pk6aH8gZl3fHD03EkWIjIM1FH3X406f77A== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2195/pdf/0?code=f2acDc1WaRuGm+4TGajOcy4rqSyWIMdHNnx57NMnAbhJmec54Nz6Pk6aH8gZl3fHD03EkWIjIM1FH3X406f77A== Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE pessoa idosa no Brasil. Para que você possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a inclusão, recomendamos que acesse a página da SNPDI e conheça suas ações e programas. Referências PAULA, C. R. de. Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidades. Curitiba: InterSaberes, 2013. PRADO JUNIOR, C. História Econômica do Brasil. 43 ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. PREVITALLI, I. M.; VIEIRA, H. E. S. Educação e diversidade. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2017. SANCHES, W.; ALENCAR, M. G. de; FERREIRA, L. A. S. Sociologia crítica. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2016. Aula 4 Educação Humanista e Inclusiva Educação humanista e inclusiva Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação pro�ssional. Vamos assisti-la? Bons estudos! Ponto de Partida https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/pessoa-idosa Disciplina EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE As políticas públicas educacionais voltadas à inclusão e às ações a�rmativas são fundamentais no combate às desigualdades sociais historicamente constituídas em nossa sociedade, portanto é o que você vai estudar na primeira parte desta aula. Em seguida, você vai estudar e perceber a importância do papel da escola nesse processo de preparação para uma cidadania global. Por �m, você vai compreender a ideia de representatividade para uma educação humanista e inclusiva, no constante exercício de repensar a escola, assim como os materiais didáticos, os currículos e o preparo do corpo docente. Para introduzir as re�exões propostas para esta aula, apresentamos alguns questionamentos: qual a importância das políticas públicas de educação, inclusão e ações a�rmativas em uma sociedade como a brasileira, constituída historicamente pelas formas diversas de desigualdades? Como as escolas podem contribuir para uma cidadania global? De que maneira a escola, seus materiais didáticos, currículos e