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Definição e propriedades mecânicas das rochas Apresentação A identificação das propriedades geomecânicas das rochas tem uma grande importância para a mineração, pois o conhecimento dessas propriedades pela medição em laboratório ou no campo possibilita a classificação das rochas e dos maciços rochosos de acordo com vários critérios técnicos. Ademais, o conhecimento dessas propriedades pelos profissionais da mineração possibilita uma atuação assertiva no projeto e no controle de operações que envolvam questões de estabilidade, permitindo maior segurança e previsibilidade na condução das atividades. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá estudar algumas das propriedades físicas e mecânicas importantes para o estudo dos solos e das rochas e entenderá como essas propriedades influenciam na resistência e na estabilidade das rochas, sejam elas intactas ou alteradas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as propriedades de identificação das rochas em geotecnia.• Identificar as propriedades mecânicas das rochas.• Comparar as propriedades mecânicas das rochas intactas e das rochas alteradas. • Desafio A determinação das propriedades físicas dos solos e das rochas é fundamental para a área de mineração, e entender a maneira como elas são calculadas é um conhecimento indispensável a qualquer profissional da área. Veja a situação a seguir: Utilizando seus conhecimentos sobre o assunto, determine o índice de vazios, a porosidade, o teor de umidade e o grau de saturação. Infográfico As propriedades físicas das rochas são índices que possibilitam a previsão do comportamento e auxiliam no projeto das atividades de mineração, sendo o seu conhecimento imprescindível para os profissionais da área. Suas medições permitem inferir e tirar diversas conclusões acerca das áreas de interesse, dando suporte ao desenvolvimento assertivo da atividade. Neste Infográfico, você irá revisar algumas das principais propriedades físicas das rochas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/a5fca161-6fff-44c3-bd81-a5245eafb979/985ba042-4c5b-4796-8ccd-2263783e4608.jpg Conteúdo do livro As propriedades geomecânicas das rochas, que podem ser medidas em campo ou no laboratório, são fundamentais para a mineração. O conhecimento dessas propriedades pelos profissionais da área sustenta a elaboração de um projeto adequado e a prevenção de acidentes devido a instabilidades, permitindo mais segurança e previsibilidade nas atividades. No capítulo Definição e propriedades mecânicas das rochas, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você irá se aprofundar sobre as propriedades geomecânicas das rochas, entendendo a importância desses parâmetros, e conhecer um pouco mais sobre os métodos de medição em laboratório. Boa leitura. MECÂNICA DAS ROCHAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer as propriedades de identificação das rochas em geotecnia. > Identificar as propriedades mecânicas das rochas. > Comparar as propriedades mecânicas das rochas intactas e das rochas alteradas. Introdução A identificação das propriedades-índice e mecânicas das rochas tem uma grande importância no projeto de diversas atividades civis nas quais estão envolvidas modificações do estado in situ de maciços rochosos. O conhecimento dessas propriedades-índice — possíveis de serem avaliadas em laboratório ou no campo — possibilita a classificação das rochas e dos maciços rochosos de acordo com vários critérios técnicos. A classificação dos maciços rochosos depende naturalmente do estado da matriz rochosa (rocha intacta) e das superfícies de descontinuidades que intersectam esse maciço (VALLEJO et al., 2002). O profissional de geotecnia deve ter em mente que as propriedades físicas podem ser medidas com relativa facilidade em laboratório e que uma pequena variação de seus valores não implica uma mudança substancial no comportamento e no equilíbrio dos solos e rochas. Entretanto, as propriedades físicas podem Definição e propriedades mecânicas das rochas Lanna Caroline Normando variar muito em função de condições externas, como precipitação pluviométrica, ocupação anisotrópica, entre outras (FIORI, 2013). Neste capítulo, você estudará sobre as propriedades-índice e mecânicas das rochas, identificando-as nas rochas intactas e nas alteradas. Além disso, conhecerá a divisão do estudo geotécnico das rochas, sob o ponto de vista didático, em: a) propriedades ou índices físicos inerentes da rocha e b) parâmetros de resistência da rocha às solicitações mecânicas resultantes de esforços aplicados à rocha. Por fim, você conhecerá as principais propriedades físicas e geomecânicas que influenciam o comportamento geotécnico das rochas. Propriedades de identificação das rochas: índices físicos A identificação precisa das rochas é um dos primeiros passos na avaliação do terreno a ser utilizado em obras de engenharia, a qual pode ser obtida por estudos petrográficos macroscópicos e/ou microscópicos. As rochas intactas são constituídas por um aglomerado mais ou menos compacto de grãos cristalinos e, em alguns casos, matéria amorfa. A Figura 1, a seguir, apresenta alguns exemplos de rochas com diferentes tipos de texturas rela- cionadas com os processos genéticos que as formaram, isto é, magmatismo, sedimentação e metamorfismo. Figura 1. Texturas de diferentes tipos de rochas. Fonte: Oliveira ([2006], documento on-line). As rochas são constituídas por minerais interligados, entre os quais existem descontinuidades ou vazios. Dessa maneira, as propriedades da matriz rochosa dependem das características dos grãos minerais, tais como o tamanho e o arranjo espacial dos grãos. As propriedades — tanto físicas quanto químicas Definição e propriedades mecânicas das rochas2 — atuam diretamente na resistência das rochas às solicitações das tensões decorrentes de obras de engenharia e dos esforços naturais (p. ex. força da gravidade, tensões tectônicas etc.). A forma, a quantidade e a distribuição das descontinuidades ou vazios também afetam a resistência das rochas às solicitações mecânicas. Confira, a seguir, como as rochas podem ser identificadas por suas pro- priedades físicas. Porosidade As descontinuidades representam os vazios existentes no aglomerado de minerais constituintes da matriz rochosa. A presença e o desenvolvimento desses vazios se relacionam com a deformação e a rotura das rochas. A quantidade de vazios ou índice de vazios é avaliada pela porosidade (𝜙) que é a razão entre o volume de vazios de uma amostra de rocha (Vv) e o seu volume total (Vt), conforme Equação 1. Equação 1. Expressão para o cálculo da porosidade (percentual) Os vazios são constituídos pelos poros e pelas fissuras da rocha e não estão necessariamente todos interligados. Dessa maneira, a porosidade total de uma rocha resulta da porosidade correspondente aos poros e da porosidade das fissuras. Por isso, é conveniente definir dois tipos de poro- sidade para as rochas: a total e a efetiva. Esta última sempre menor que a primeira, por considerar apenas os poros interconectados e que permitem a passagem de fluidos. Outro tipo de classificação da porosidade se refere à presença de alte- rações nas rochas: enquanto a porosidade primária se refere apenas aos vazios dos poros originalmente presentes nas rochas, a secundária engloba os vazios resultantes de fraturamento e alterações (p. ex., dissolução) que ocorrem posteriormente ao processo diagenético. Além disso, enquanto a primeira classificação é característica de toda a massa rochosa, a segunda depende da história de alteração da rocha, podendo variar muito no mesmo maciço rochoso (ROCHA, 1981; TIAB; DONALDSON, 2015). Assim como o índice de vazios, a porosidade é uma medida da densidade do solo. Entretanto, o índice de vazios, que se relacionacom o volume de sólidos, representa uma medida mais adequada dos estudos de variações Definição e propriedades mecânicas das rochas 3 volumétricas de solos do que a porosidade, pois, ainda que a variação do volume do terreno envolva a variação do volume total, o volume da parte sólida permanece constante (FIORI, 2013). Peso específico dos grãos O peso específico (γ) é uma medida do peso por unidade de volume da rocha, ou, ainda, a relação entre o peso da amostra seca (Ps) e o volume total da rocha (Vt), conforme descrito na Equação 2. Essa é uma propriedade que se relaciona diretamente com a composição mineralógica da rocha. Equação 2. Expressão para o cálculo do peso específico O Quadro 1, a seguir, apresenta os valores de peso específico para alguns tipos de rochas. Quadro 1. Peso específico de algumas rochas Rocha γ (kN/m³) Granito 26,0 Diorito 27,9 Basalto 27,1 Gesso 22,5 Argilito 22,1 Mármore 27,0 Micaxisto 27,6 Fonte: Adaptado de Vallejo et al. (2002). Permeabilidade A permeabilidade é uma medida da facilidade de escoamento da água atra- vés de um meio contínuo, podendo ser avaliada por meio do coeficiente de Definição e propriedades mecânicas das rochas4 permeabilidade (k). A permeabilidade das rochas, em comparação com a dos solos, é geralmente muito baixa, em razão da agregação mais fraca dos grãos no solo. Em contrapartida, fatores como a presença de fissuras e alterações aumentam os valores de permeabilidade (TIAB; DONALDSON, 2015). O estado de tensão na rocha é outro fator que influencia a permeabilidade, pois o aumento das tensões compressivas tende a fechar as fissuras e a diminuir a permeabilidade. Contudo, a partir de um certo ponto, o aumento das tensões pode levar ao aparecimento de novas fraturas, provocando o aumento da permeabilidade. O aumento da pressão da água também tende a abrir as fissuras, aumentando a permeabilidade (VALLEJO et al., 2002). Descontinuidades naturais De modo geral, as descontinuidades mais comumente encontradas nos maci- ços rochosos são falhas, juntas, foliações metamórficas e contatos litológicos, situações que geram alterações como formas geométricas irregulares, zonas intemperizadas com graus diferentes, propriedades físicas diferentes, entre outras. Assim, as descontinuidades constituem o principal fator de controle de resistência mecânica e deformabilidade, bem como de alteração por processos magmáticos, intempéricos ou metamórficos (FIORI, 2013). Portanto, a avaliação das propriedades geotécnicas dos maciços rochosos pressupõe o conhecimento das propriedades da rocha intacta, bem como da ocorrência, do tipo, da extensão, do grau de alteração e da posição espacial das descontinuidades. Além disso, fatores como mineralogia, granulometria, textura e material cimentante afetam a resistência e a deformabilidade. As rochas ígneas, por exemplo, são mais resistentes que as sedimentares, devido ao arranjo textural da rocha. O intemperismo químico também afeta as propriedades geotécnicas das rochas, em maior ou menor intensidade, dependendo do tipo de rocha, do clima e do tempo. Por fim, o movimento de água através das descontinuidades gera pressões hidrostáticas e neutras, diminuindo a resistência mecânica do maciço. Propriedades geomecânicas das rochas As obras de engenharia, tais como taludes e fundações, exercem tensões nas rochas, as quais respondem às solicitações dos esforços em função de suas propriedades geomecânicas, isto é, resistência aos esforços. Há pro- cedimentos regulamentados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que permitem avaliar a resistência das rochas quanto à compressão Definição e propriedades mecânicas das rochas 5 e ao cisalhamento. Outra propriedade muito útil na caracterização geome- cânica das rochas é a impedância acústica, a qual fornece informações sobre a propagação das vibrações que podem afetar a estabilidade de taludes e cavas mineiras (open pit). Confira, a seguir, como as rochas respondem às solicitações mecânicas impostas pelas obras de engenharia. Resistência à compressão simples (uniaxial) Em geral, as rochas constituintes dos maciços rochosos se encontram subme- tidas a estados de tensão triaxiais. No entanto, o estudo do comportamento das rochas quando submetidas à compressão simples é importante, pois permite pôr em evidência fenômenos com interesse fundamental na mecânica dos maciços rochosos. Um exemplo prático em que os maciços rochosos se encontram submetidos a um estado de compressão simples é o dos pilares de minas (HOEK, 2000). O ensaio de compressão simples (Figura 2) é corrente na determinação das características mecânicas das rochas. A resistência à compressão simples ou uniaxial é determinada em um corpo de prova cilíndrico, submetido a uma tensão normal (σ) nas bases igual à razão da força normal (N) pela área da base (A). A preparação da amostra deve ter um cuidado especial quanto à retificação da superfície das bases que irão sofrer compressão, para garantir uma forma cilíndrica perfeita. Figura 2. Ensaio de resistência à compressão uniaxial. Fonte: Jacinto (2011, p. 9). Definição e propriedades mecânicas das rochas6 O comportamento da rocha é normalmente irreversível, ou seja, a de- formação sofrida pela amostra nunca poderá ser recuperada na totalidade se houver uma descarga. Isso se deve ao fato de que as fissuras iniciais presentes em qualquer rocha se fecham no início da compressão, levando a uma diminuição da compressibilidade da amostra. Resistência ao cisalhamento Diversos materiais sólidos empregados em construção normalmente resistem bem a tensões de compressão, porém têm uma capacidade bastante limitada de suportar tensões de tração e de cisalhamento. Como exemplo, pode-se citar o concreto (HOEK, 2000). Para entender a resistência ao cisalhamento, faz-se necessário compreender que as descontinuidades presentes nas ro- chas não são lisas. As asperezas presentes influenciam o comportamento cisalhante e, em geral, aumentam a resistência ao cisalhamento, aumentando a estabilidade do maciço. A resistência da rocha na qual ocorrem as descontinuidades tem uma relação direta com as características de resistência das descontinuidades, particularmente onde as paredes estão em contato direto com a própria rocha, como no caso das juntas não preenchidas. A natureza das asperezas, sobretudo a rugosidade e a dureza, são dependentes da composição mine- ralógica e da natureza litológica da rocha. As características da superfície da rocha afetarão a resistência ao cisalhamento das descontinuidades em grau acentuado se as paredes forem planares e lisas (PITEAU, 1970). A distância entre duas paredes de juntas correspondentes controla a extensão a que elas podem se conectar. Na ausência de interconexão, a resistência ao cisalhamento da junta será dada pelo material de preenchi- mento. À medida que a separação diminui, as asperezas da parede de rocha tornam-se gradualmente mais interligadas, e ambos, preenchimento e rocha, contribuem para a resistência ao cisalhamento. A resistência por atrito depende da força normal, pois, quando esta au- menta, aumenta também a área real de contato e, consequentemente, a resistência. Em contrapartida, a rugosidade e a adsorção da superfície da partícula controlam as áreas de contato, de modo que os contatos podem ser de natureza plástica e/ou elástica (FIORI, 2013). A resistência de uma amostra de rocha pode ser determinada em labora- tório ou por meio de ensaios in situ, sendo os dois tipos principais de ensaios em laboratório o de cisalhamento direto (Figura 3) e o de compressão triaxial. Definição e propriedades mecânicas das rochas 7 Figura 3. Ensaio de cisalhamento direto. Fonte: Os equipamentos (2019, documento on-line). Impedância acústica Em geral, os pacotes de rochas sedimentares consistem em sucessivas ca- madas com diferentes litologias e parâmetros elásticos, em que, em cada interface, uma parte da energia incidentepor uma fonte sísmica é refletida de volta em direção ao detector. Essa fração é determinada pelo contraste de impedância acústica entre as duas camadas. O detector recebe uma série de pulsos refletidos, cuja modulação de amplitude é a função da distância percorrida e dos coeficientes de reflexão das várias interfaces. Os pulsos chegam segundo tempos determinados pelas profundidades das interfaces e pelas velocidades de propagação entre elas. A impedância acústica (Z) depende da velocidade compressional de propagação (Vp) e da densidade (ρ) da rocha, sendo definida pela seguinte equação: Z = ρ . Vp A variação de impedância, que depende dos módulos de compressão e de rigidez, e densidade (k, μ e ρ, respectivamente) rege o fenômeno de reflexão e transmissão da onda elástica na interface entre dois meios. Essa é a propriedade que o método sísmico identifica, a fim de indivi- dualizar as diferentes camadas que constituem a subsuperfície, sendo o Definição e propriedades mecânicas das rochas8 meio elástico. As constantes k, μ e ρ são, principalmente, influenciadas pela composição mineralógica do subsolo, pelos níveis de compactação e consolidação da camada, pelo fluido que preenche os poros e pela estrutura da rocha. Comparação das propriedades das rochas intactas e alteradas Um dos aspectos mais importantes relacionados com os estudos de terrenos para fins de engenharia é o da respectiva classificação, nomeadamente no que se refere à definição dos parâmetros que melhor caracterizam cada material do ponto de vista da geologia de engenharia. Embora a importância desses parâmetros varie de caso para caso, consoante o tipo de estrutura a projetar, há de basear a classificação, para ser universal, sempre nos mesmos parâmetros e procurar quantificar as designações respectivas a partir de observações e ensaios simples expeditos. Uma primeira classificação dos materiais geológicos do ponto de vista da geologia de engenharia possibilita a caracterização e a diferenciação de solos e rochas. Outra vantagem de uma classificação precisa consiste no fato de que permite a comparação de diferentes materiais, tais como rochas intactas e rochas com diferentes graus de alteração. Na geotecnia, os solos são denominados maciços terrosos, ao passo que as rochas são denominadas maciços rochosos. No primeiro grupo, cabem os terrenos que se desagregam facilmente quando agitados dentro de água. No que se refere às rochas, não há ainda nenhuma classificação universal, embora existam propostas de vários autores com muitos pontos semelhantes. Confira, a seguir, algumas dessas propostas. Classificação pelo estado de alteração das rochas e pela estrutura geológica de maciços rochosos As características de qualidade de maciços rochosos são fundamentalmente consequência do seu estado de alteração e de fraturação. A ocorrência de água percolando nos maciços atua, com frequência, na respectiva estabilidade. É importante identificar os dois primeiros parâmetros considerados — estado de alteração e grau de fraturação— e fazer considerações sobre os critérios de classificação de maciços neles baseados. Em solos, por exemplo, é de grande utilidade a indicação da facilidade com que se desmonta o material Definição e propriedades mecânicas das rochas 9 com determinados tipos de ferramentas. Em rochas, é costume referir-se a uma maior ou menor facilidade com que se parte o material, utilizando um martelo de mão, ou a sua coloração e seu brilho, como consequência da alteração de certos minerais com os feldspatos e minerais ferromagnesianos. O número de graus a se considerar em relação ao estado de alteração de uma dada formação varia necessariamente com o tipo de problema e, conse- quentemente, com a necessidade de pormenorizar a informação respectiva. Uma classificação desse tipo é demonstrada no Quadro 2. Quadro 2. Classificação pelo estado de alteração das rochas e pela estrutura geológica de maciços rochosos Símbolo Designação Característica W1 Sã Sem sinais de alteração W2 Pouco alterada Sinais de alteração apenas nas imediações de descontinuidades W3 Medianamente alterada Alteração visível em todo o maciço rochoso, porém a rocha não é friável W4 Muito alterada Alteração visível em todo o maciço, e a rocha é parcialmente friável W5 Decomposta Maciço completamente friável com comportamento de solo Fonte: Adaptado de Fiori (2013). Em relação aos estados de alteração e fraturação, Deere (1967) desenvolveu um sistema de classificação baseado em um índice que ele designou por RQD (Rock Quilite Designativo), indicativo da qualidade de maciços rochosos, definido a partir dos testemunhos de sondagens realizadas com recuperação contínua de amostra. Esse índice, que tem sido muito utilizado internacional- mente, é definido como a percentagem determinada pelo quociente entre o somatório dos pedaços de amostra com comprimento superior a 10 cm e o comprimento total furado em cada manobra. Em função dos valores do RQD, são apresentadas no Quadro 3 as designações propostas por Deere para classificar a qualidade dos maciços rochosos. Em princípio, a determinação do RQD deve ser feita apenas em sondagens com diâmetro superior a 55 mm, cuidadosamente realizadas, em que sejam utilizados amostradores de parede dupla ou tripla. Definição e propriedades mecânicas das rochas10 Quadro 3. Classificação da qualidade dos maciços rochosos RQD Qualidade do maciço rochoso 0–25% Muito fraco 25–50% Fraco 50–75% Razoável 75–90% Bom 90–100% Excelente Fonte: Adaptado de Deere (1967) apud Fiori (2013). Classificações geomecânicas As classificações geomecânicas são utilizadas para caracterizar os maciços rochosos por meio de um conjunto de propriedades identificadas por ob- servação direta e ensaios realizados in situ ou em amostras recolhidas em sondagens. O interesse dessas classificações consiste, também, em sistema- tizar o conjunto de elementos geotécnicos que interessa caracterizar em um determinado maciço rochoso. Entre as várias classificações geomecânicas, tem-se as de Bieniawski (Sistema RMR) e a de Barton (Sistema Q). Classificação de Bieniawski (Sistema RMR) Bieniawski publicou essa classificação em 1976, tendo por base uma vasta experiência colhida em obras subterrâneas. A classificação de Bieniawski ou Sistema RMR (do inglês rock mass rating) é, atualmente, muito divulgada e tem sido sucessivamente refinada à medida que são incluídos os resultados de análises de um maior número de casos práticos. A classificação geomecânica é baseada no princípio da atribuição de pesos aos seis parâmetros que Bienia- wski considerou contribuírem mais significativamente para o comportamento dos maciços rochosos, particularmente o caso das obras subterrâneas. O somatório dos pesos atribuídos a cada um desses parâmetros constitui um índice, designado por RMR, ao qual corresponde uma das seis classes de qualidade de maciços consideradas pelo autor. Os parâmetros utilizados são os seguintes: Definição e propriedades mecânicas das rochas 11 1. resistência à compressão uniaxial da rocha intacta; 2. RQD; 3. espaçamento das descontinuidades; 4. condição das descontinuidades; 5. influência da água; 6. orientação das descontinuidades. A aplicação da classificação a um maciço rochoso implica a divisão deste em várias regiões estruturais (zonas), a serem classificadas separadamente. As fronteiras dessas regiões coincidem geralmente com as estruturas ge- ológicas principais, tais com as falhas ou mudanças do tipo de rocha. Em alguns casos, dentro do mesmo tipo de rocha, as mudanças significativas no espaçamento das descontinuidades, ou das características destas, podem obrigar à subdivisão do maciço rochoso em um maior número de regiões estruturais de menor dimensão. Classificação de Barton (Sistema Q) Com fundamento na observação de muitas escavações subterrâneas, Barton, Liem e Lund, do Norwegian Geotechnical Institute, propuseram, em 1974,uma classificação que assenta na definição de um índice de qualidade Q, baseado na análise de seis fatores considerados relevantes para a caracterização do comportamento dos maciços rochosos, conforme a seguinte equação: Os três quocientes que compõem a expressão para o cálculo do índice Q correspondem a três aspectos relativos ao maciço rochoso: 1. RQD / Jr: caracteriza a estrutura do maciço rochoso e constitui uma medida do bloco unitário deste. O seu valor, variável entre 200 e 0,5, dá uma ideia genérica da dimensão dos blocos. 2. Jr / Ja: caracteriza as descontinuidades e/ou o seu enchimento sob o aspecto da rugosidade e do grau de alteração. Esse quociente é crescente com o incremento da rugosidade e diminui com o grau de alteração das paredes em contato direto, situações a que correspondem aumentos da resistência ao corte. O quociente diminui, tal como a resistência ao corte, quando as descontinuidades têm preenchimentos argilosos ou quando se encontram abertas. Definição e propriedades mecânicas das rochas12 3. Jw / SRF: representa o estado de tensão no maciço rochoso. O fator SRF caracteriza o estado de tensão no maciço rochoso, em profundi- dade, ou as tensões de expansibilidade em formações incompetentes de comportamento plástico, sendo a sua avaliação realizada quer a partir de evidências de libertação de tensões (explosões de rocha etc.), quer a partir da ocorrência de zonas de escorregamento ou de alteração localizada. Já o fator Jw representa a medida da pressão da água, que tem um efeito adverso na resistência ao escorregamento das descontinuidades. O sistema Q considera os parâmetros Jw, Jr e Ja como tendo uma im- portância relativa superior ao papel desempenhado pela orientação das descontinuidades. Contudo, o parâmetro de orientação não é totalmente ignorado, pois está implícita a sua contribuição nos fatores Jr e Ja, dado que, na ponderação destes, deverão ser consideradas as descontinuidades mais desfavoráveis. Com base no sistema de classificação Q, são propostas reco- mendações quanto ao tipo de suporte necessário à estabilidade de maciços rochosos interessados na construção de túneis. Referências FIORI, A. P. Fundamentos de mecânica dos solos e das rochas: aplicações na estabilidade de taludes. 2. Ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. HOEK, E. Practical rock engineering. [S.l.: s.n.], 2000. JACINTO, G. C. Determinação da resistência a compressão simples do maciço rochoso granito imarui: estudo de caso. 2011. 15 f. Monografia (Graduação em Engenharia Ci- vil) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2011. Disponível em: http:// repositorio.unesc.net/bitstream/1/175/1/Giovan%20Caciatori%20Jacinto.pdf. Acesso em: 18 jan. 2021. OLIVEIRA, R. Geologia de engenharia. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, [2006]. Disponível em: https://paginas.fe.up.pt/~geng/ge/apontamentos/Cap_3_GE.pdf. Acesso em: 18 jan. 2021. OS EQUIPAMENTOS para o ensaio de cisalhamento direto. São José da Lapa: Contenco, 2019. Disponível em: https://contenco.com.br/equipamentos-para-ensaio-de-cisalha- mento-direto/. Acesso em: 18 jan. 2021. PITEAU, D. R. Geological factors significant ot the stability of slopes cut in rock. Proc. Symp. Planning Open Pit Mines. Johannesburg. 33–53. A. A. Balkema, Amsterdam, 1970. ROCHA, M. Mecânica das rochas. Lisboa: LNEC, 1981. TIAB, D.; DONALDSON, E. C. Petrophysics: theory and practice of measuring reservoir rock and fluid transport properties. 4. ed. [S.l.]: Elsevier, 2015. VALLEJO, L. G. et al. Engenharia geológica. Madrid: Prentice Hall, 2002. Definição e propriedades mecânicas das rochas 13 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Definição e propriedades mecânicas das rochas14 Dica do professor A velocidade de propagação das ondas sísmicas ao longo de um meio rochoso, especialmente as ondas de corpo, é uma propriedade muito importante na medida em que se relaciona diretamente com o comportamento elástico, bem como com outras propriedades físicas. Nesta Dica do professor, você aprenderá sobre a relação entre a velocidade de propagação das ondas de corpo e algumas propriedades físicas das rochas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/3ac8b24eeee4795ce2cf9c9f8d8d91eb Exercícios 1) Considere uma amostra saturada de rocha com peso de 70kg, volume de 30dm3 e peso específico de 2,79g/cm3. Assinale a alternativa que representa corretamente o índice de vazios aproximados dessa amostra. A) 0,31. B) 0,51. C) 0,34. D) 0,37. E) 0,49. 2) Considere uma amostra de rocha de peso específico 1,6g/cm3, com teor de umidade igual a 33% de densidade de grão de 2,65. Qual é a porosidade dessa amostra? A) 50%. B) 45%. C) 35%. D) 55%. E) 60%. A impedância acústica é uma propriedade que se relaciona com a velocidade de propagação da onda compressional (P) ao longo do meio rochoso. Sobre essa propriedade, considere as afirmativas: I - A impedância acústica aumenta quanto mais densa for a rocha. II - A impedância acústica diminui quanto maior for a porosidade da rocha. III - A variação de impedância depende dos módulos de compressão elástica e de rigidez e da densidade da rocha. 3) Está(ão) correta(s): A) Apenas a alternativa I. B) As alternativas I e II. C) Apenas a alternativa II. D) Apenas a alternativa III. E) As alternativas I, II e III. 4) O peso específico dos grãos diz respeito ao peso da rocha seca por unidade de volume de rocha e se relaciona diretamente com a composição mineral. Com base nisso, assinale a afirmativa que representa a rocha com maior peso específico (considere composições minerais genéricas). A) Gesso. B) Granito. C) Basalto. D) Mármore. E) Diorito. 5) No estudo das propriedades mecânicas dos solos e das rochas, diversas medições em laboratório são necessárias para a medição delas. Com base nisso, assinale a alternativa que apresenta ensaios utilizados nessas medições. A) Ensaio de resistência à compressão uniaxial e ensaio de cisalhamento direto. B) Ensaio de resistência à compressão uniaxial e ensaio de cisalhamento reverso. C) Ensaio de raio X e ensaio de resistência à compressão uniaxial. D) Ensaio de cisalhamento direto e de medição da umidade. E) Medição da umidade e da porosidade. Na prática O ensaio de resistência à compressão uniaxial avalia a tensão de ruptura de rochas quando submetidas a esforços físicos; mais especificamente, visa a determinar a tensão que provoca a ruptura da rocha quando submetida a esforços compressivos. Veja, em Na Prática, um pouco mais sobre o ensaio (equipamento, características do corpo de prova, etc.) Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/c05a1695-7147-4f63-94ea-583dd08a1bfb/d04ad758-1ad2-496f-9c7f-24e85f3ff208.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Estudo do comportamento geomecânico e químico das fraturas de rochas carbonáticas Neste material, você verá a aplicação do estudo das propriedades geomecânicas das rochas em fraturas de rochas carbonáticas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Alterabilidade e comportamento geomecânico de rochas no AHE simplício Este artigo apresenta o efeito das alterações nas propriedades mecânicas de maciços rochosos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.Avaliação das propriedades químicas e geomecânicas de agregados oriundos de jazidas de rochas de diferentes litologias do Estado do RS Confira, neste artigo, a aplicação prática de um estudo de propriedades das rochas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/36167/1/TESE%20Shirley%20Minnell%20Ferreira%20de%20Oliveira.pdf http://www.coc.ufrj.br/pt/documents2/mestrado/2019-1/3370-lopes-pm-19 https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/14059/DIS_PPGEC_2018_BACK_ANA.pdf?sequence=1&isAllowed=y