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UNEC – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA BACHARELADO EM MEDICINA – 5° PERÍODO MEDICINA LEGAL ASPECTOS JURÍDICOS DO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL DISCENTE: Karoline Teixeira Jaques DOCENTE: Dr Nestor Nurdan Soares Caratinga MG, Abril de 2025 QUESTÕES 1. O que é estupro? O homem pode ser estuprado? Constranger alguém, homem ou mulher, a praticar uma relação anal caracteriza um estupro? O que é violência sexual? O estupro é definido pelo Código Penal Brasileiro como o ato de "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso". Desde a reforma de 2009, o estupro deixou de ser um crime exclusivamente contra a mulher, podendo vitimar qualquer pessoa, independentemente do gênero. Constranger alguém a praticar qualquer ato sexual, incluindo relação anal, sem consentimento, configura estupro. A violência sexual é um conceito mais amplo, incluindo qualquer forma de abuso, assédio ou agressão sexual, envolvendo contato físico ou não, e pode abranger desde carícias forçadas até a violência sexual propriamente dita. 2. Qual é o conceito jurídico-penal de aborto? Interrupção intencional da gravidez. Ele pode ser classificado como: Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – crime com pena de 1 a 3 anos de detenção. Aborto provocado por terceiro com ou sem o consentimento da gestante Aborto legal – permitido em casos de gravidez resultante de estupro ou risco de vida para a gestante. 3. O que dispõe a lei sobre o aborto pós-estupro? O aborto em caso de gravidez resultante de estupro é permitido, sem a exigência de autorização judicial. O procedimento deve ser realizado por um médico em um serviço de saúde legalmente habilitado. 4. É preciso confirmar que houve estupro para que a mulher possa praticar o abortamento? Não. A legislação brasileira não exige prova do crime de estupro para a realização do aborto legal. A mulher deve assinar um termo de consentimento e um termo de relato circunstanciado, sem a necessidade de boletim de ocorrência ou exame pericial. 5. Em que condições o médico poderá ser processado por realizar um abortamento? O médico poderá ser responsabilizado criminalmente se realizar um aborto fora das condições legais, ou seja, se o procedimento ocorrer sem que haja risco de vida para a gestante ou sem que a gravidez seja decorrente de estupro. Além disso, se o aborto for feito sem consentimento da mulher, o profissional pode ser acusado de crime contra a vida e contra a dignidade sexual. 6. Se o(a) médico(a) faz um aborto numa vítima de estupro e, depois, é descoberto que a mulher não falou a verdade, quais são as consequências para a mulher e para o profissional que a atendeu? O médico não pode ser penalizado se seguiu os protocolos legais, pois a lei não exige comprovação do estupro. Já a mulher pode responder pelo crime de aborto ilegal, caso tenha mentido propositalmente, mas essa é uma situação rara e de difícil comprovação. 7. Há necessidade de verificação pelo médico do IML nos casos em que a vítima é atendida por ginecologista na emergência e, posteriormente, constata-se a gravidez, ou apenas o Boletim de Ocorrência garante a realização do aborto legal? O Boletim de Ocorrência não é obrigatório para a realização do aborto legal. A palavra da mulher e seu relato circunstanciado são suficientes, conforme as normas do Ministério da Saúde. 8. O BO tem que ser feito no momento em que a violência aconteceu ou pode ser feito posteriormente? O Boletim de Ocorrência pode ser feito a qualquer momento. No entanto, quanto antes for realizado, maiores são as chances de coleta de provas para uma eventual investigação criminal. 9. É possível atender a uma demanda de aborto de uma mulher ou adolescente que foi estuprada, não contou nada a ninguém e posteriormente descobriu que estava grávida? Sim. A legislação permite o aborto legal nesses casos, sem necessidade de boletim de ocorrência ou autorização judicial. 10. É possível realizar o aborto sentimental quando a mulher se recusa a lavrar o BO ou a oferecer representação contra o autor da violência? Sim, pois a lei não exige a formalização da denúncia para a realização do aborto legal. 11.Para a realização do aborto legal, quando há a obrigatoriedade do exame pelo perito? O exame pericial só é necessário quando há suspeita de que a gravidez coloca a vida da gestante em risco (aborto terapêutico). Para o aborto em casos de estupro, o relato da vítima é suficiente. 12.O que é violência presumida? O que é pessoa vulnerável? A violência presumida ocorre quando a vítima é considerada incapaz de consentir, como no caso de menores de 14 anos, pessoas com deficiência mental ou que não têm condições de oferecer resistência (por embriaguez, por exemplo).Pessoa vulnerável é aquela que, devido à idade, deficiência ou outro fator, não pode se defender ou consentir de maneira válida em uma relação sexual. 13.Uma adolescente com 13 anos de idade, que engravida e não aceita a gravidez, pode pleitear a realização do aborto num serviço de referência, mesmo que não tenha sido forçada pelo namorado? Sim. Relação sexual com menor de 14 anos é considerada estupro de vulnerável pelo Código Penal (art. 217-A), independentemente de consentimento. Assim, a gravidez pode ser interrompida legalmente. 14.Uma adolescente é vítima de violência sexual. Ela fica grávida em razão desse crime e deseja interromper a gravidez. Mas, ela não tem o apoio dos pais, que não consentem com o aborto. Como o profissional de saúde deverá proceder para atender à demanda dessa adolescente? O direito ao aborto não depende do consentimento dos pais. A equipe médica pode realizar o procedimento e, caso necessário, acionar o Conselho Tutelar para garantir a proteção da adolescente. 15.É possível atender e garantir o sigilo a uma adolescente que não quer comunicar aos pais ou responsáveis que foi agredida sexualmente, estando ou não gestante? O sigilo médico deve ser preservado, exceto se houver risco à vida da adolescente. No entanto, em casos de estupro, há obrigação de notificação às autoridades, mesmo que a identidade da vítima seja mantida em sigilo. 16.O que fazer diante de uma situação em que o responsável pela criança ou adolescente se recusa a notificar ao Conselho Tutelar a ocorrência de crime sexual contra essa criança ou adolescente ? O profissional de saúde deve fazer a notificação compulsória ao Conselho Tutelar ou ao Ministério Público, pois a omissão pode configurar crime. 17.Qual a diferença entre notificação e denúncia? Em que situação se aplica uma e outra? Nos serviços de saúde quem é o responsável por essas providências? Notificação: comunicação obrigatória a órgãos de saúde sobre casos de violência. Denúncia: comunicação a autoridades policiais ou ao Ministério Público para investigação criminal. Nos serviços de saúde, a equipe médica é responsável pela notificação. 18.Um médico pode recusar-se a fazer um aborto alegando razões de consciência? Como garantir o direito do profissional de saúde, regulado no Código de Ética Médica, e, ao mesmo tempo, garantir o direito da mulher, estabelecido pelo Código Penal? Sim, conforme o Código de Ética Médica. No entanto, o profissional deve encaminhar a paciente para outro serviço ou colega que possa realizar o procedimento, garantindo seu direito legal. 19.Uma mulher dá entrada num serviço de saúde em processo de abortamento, afirmando que levou um choque elétrico. Um profissional de saúde ou funcionário informa a uma ONG antiaborto o ocorrido. O presidente da ONG vai até o serviço, fotografa o feto e publica a foto em jornal, reivindicando que toda mulher que aborta deve ser investigada para que se saiba se é verdade ou não o que ela diz. Analisando essa situação, quais são os direitos da mulhere como deve proceder o diretor do serviço e o secretário de saúde do município? A mulher tem direito à privacidade e à dignidade. O diretor do serviço e o secretário de saúde devem tomar medidas contra a violação do sigilo médico e acionar a Justiça para responsabilizar os envolvidos. 20.A Lei Maria da Penha é aplicável aos casos de violência sexual? Sim. A Lei Maria da Penha protege mulheres contra qualquer tipo de violência doméstica e familiar, incluindo violência sexual.