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Diarreia 
A diarreia, na verdade, não é uma doença, mas sim uma manifestação clínica comum 
de várias doenças diferentes que afetam o trato gastrointestinal. E para ser considerada 
diarreia, precisa ocorrer 3 ou mais evacuações amolecidas em 24 horas. 
Tecnicamente, chamamos de diarreia quando o paciente evacua mais de 200 g de 
fezes ao longo do dia. Uma definição mais palpável é aquela que diz que diarreia é a 
evacuação de fezes pastosas ou liquidas efetuada com mais frequência que o habitual. 
A consistência das fezes está diretamente relacionada com a relação entre água fecal 
e a capacidade de retenção de água e solutos. 
Na maioria dos casos, os quadros de diarreia são de origem infecciosa, provocadas 
por uma bactéria, vírus ou parasito. Há, porém, outras causas para diarreia, conforme 
veremos ao longo deste artigo. 
Como funciona a digestão? 
Para entender como surge a diarreia é preciso primeiro saber como funciona o 
processo de digestão e absorção dos alimentos. 
Digestão é diferente de absorção. Digerir é o processo de quebrar compostos grandes 
em moléculas pequenas os suficientes para serem absorvidas. Primeiro se digere os 
alimentos para depois podermos absorvê-los. Se os alimentos não forem digeridos, os 
intestinos não conseguem absorvê-los, sendo os mesmos eliminados nas fezes. 
Sistema digestivo 
Após ingerirmos um alimento qualquer, ele desce pelo esôfago até o estômago. O estômago 
tem três funções básicas: matar germes presentes nos alimentos através do seu pH baixo 
(muito ácido), quebrar moléculas grandes em moléculas pequenas para posterior absorção 
 
em outros segmentos do trato digestivo e armazenar comida, liberando para o duodeno os 
alimentos processados em velocidade constante. 
Ao sair do estômago, o alimento chega ao duodeno, a primeira porção do intestino delgado. 
O duodeno recebe as secreções do pâncreas e da vesícula biliar. 
O pâncreas libera o suco pancreático, um líquido rico em bicarbonato que ajuda a diminuir a 
acidez dos alimentos vindos do estômago. O suco pancreático também é rico em enzimas 
que fazem parte do processo de digestão de proteínas, carboidratos e gorduras. 
A vesícula biliar produz a bile, que é a responsável pela coloração das fezes e pela digestão 
de gorduras, colesterol e pelas vitaminas A, D, E e K. 
Após o duodeno, temos o jejuno e o íleo, respectivamente 2ª e 3ª porções do intestino 
delgado. Jejuno e íleo formam a maior parte do nosso sistema digestivo, podendo chegar a 6 
metros de comprimento. Essa é a região onde ocorre a maior parte da absorção dos 
alimentos digeridos. O intestino delgado é responsável pela absorção de mais ou menos 1 
litro de água. 
Ao sair do intestino delgado, todo material que não foi absorvido chega ao cólon (intestino 
grosso). O cólon tem aproximadamente 1,5 metro e é colonizado por mais de 700 espécies 
de bactérias que participam da digestão dos elementos ainda não digeridos, pr incipalmente 
fibras e polissacarídeos (carboidratos com moléculas complexas). 
Essa digestão realizada pelas bactérias do cólon é que causa os gases intestinais. Porém, a 
função básica do intestino grosso é reabsorver a água presente no conteúdo alimentar e 
eliminada nas secreções ao longo do trato digestivo, formando fezes sólidas ao final deste 
processo. O cólon reabsorve até 19 litros de água por dia. 
Portanto, para resumir, podemos dizer que: 
1. Estômago e o duodeno, com o auxílio do pâncreas e da vesícula, digerem os 
alimentos. 
2. O intestino delgado (jejuno e íleo) absorvem grande parte dos nutrientes digeridos 
e um pouco de água. 
3. O cólon absorve uma grande quantidade de água e um pouco de nutrientes 
digeridos. 
Tudo o que não foi digerido ou absorvido ao final do cólon sai em forma de fezes. 
Tipos de diarreia 
A diarreia pode ser definida como a passagem de fezes moles ou aquosas, geralmente pelo 
menos três vezes em um período de 24 horas. A diarreia reflete o aumento do conteúdo de 
água nas fezes, seja devido à absorção prejudicada de água e por ou secreção ativa de água 
pelo intestino. 
As seguintes definições foram sugeridas de acordo com a duração dos sintomas: 
• Diarreia aguda: 14 dias ou menos de duração. 
• Diarreia persistente: entre 14 e 30 dias de duração. 
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/gases-intestinais/
 
• Diarreia crônica: mais de 30 dias de duração. 
A diarreia invasiva, ou disenteria, é definida como diarreia com sangue visível e é 
comumente associada a febre e dor abdominal. 
Diarreia aguda 
Mais de 200 tipos de germes, entre vírus, bactérias e parasitas podem causar quadros 
de diarreia aguda. A diarreia pode ser causada pelo próprio germe ou por toxinas produzidas 
pelo mesmo. 
Quanto maior for a concentração de toxinas ou micróbios ingeridos, maior é a chance 
destes vencerem a acidez do estômago e alcançarem os intestinos. Algumas toxinas após 
sua produção não são destruídas no cozimento, por isso, o armazenamento de alimentos 
deve ser feito de modo correto antes e depois da preparação. 
A intoxicação alimentar se apresenta de três maneiras diferentes: 
1- Vômitos como principal manifestação 
O início súbito de náuseas e vômitos, podendo ou não ser acompanhado de diarreia, menos 
de 12 horas após ingestão de alimentos contaminados (em geral menos de 6 horas), costuma 
indicar intoxicação alimentar por enzimas pré-formadas. 
Não é bactéria em si que causa a intoxicação, mas sim enzimas que elas produziram e 
ficaram depositadas nos alimentos. As toxinas agem principalmente no estômago, irritando 
sua mucosa e causando os vômitos. 
Este tipo de intoxicação alimentar é normalmente causado por toxinas das 
bactérias Staphylococcus aureus ou Bacillus cereus. 
Outra causa comum de intoxicação alimentar com vômitos é um vírus 
chamado Norovírus. Esse vírus pode ser transmitido através de alimentos contaminados ou 
de pessoa para pessoa através de aerossóis, como um resfriado comum. Outros vírus 
também podem estar relacionados coma diarreia: rotavirus, astrovirus, corona; bactérias: 
salmonella, E. coli, Campilobacter, clostridium difficille; e também parasitas: amebiase, giardíase; 
e fungos: Candida albicans. 
 
Nos três casos acima, a doença é autolimitada com 3 a 4 dias de duração e não necessita de 
tratamento específico além da hidratação e medicamentos para aliviar os sintomas, caso o 
paciente ache necessário. 
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/estafilococos-aureus-mrsa/
 
 
 
⬆Mecanismos patogênicos de diarréia aguda dos principais enteropatógenos 
2- Diarreia aquosa como principal manifestação 
A diarreia aquosa causada por intoxicação alimentar é normalmente provocada pela 
lesão da mucosa do intestino delgado pela própria bactéria ou por toxinas produzidas 
somente após a ingestão do germe. 
Neste caso, os sintomas surgem somente 24 a 48 horas após a ingestão do alimento. 
Vários germes como Cyclospora cayetanensis, Escherichia coli e Clostridium podem ser a 
causa. Infecções virais também são causas de diarreia aquosa. Além da diarreia, pode haver 
também febre baixa, geralmente menor que 38ºC. 
Quando várias pessoas com contato social (trabalho, escola, etc.) desenvolvem 
diarreia, mas não apresentam ingestão de nenhum alimento suspeito em comum, costuma 
 
tratar-se de infecções virais, que se transmite do mesmo modo que os vírus da gripe e do 
resfriado. 
As bactérias e toxinas agem na mucosa do intestino delgado, aumentado suas 
secreções e acelerando a velocidade com que os alimentos passam. O intestino delgado não 
consegue digerir e absorver os alimentos, que, deste modo, chegam em grande quantidade 
ao cólon. O volume de líquidos e nutrientes que chega ao intestino grosso é muito grande, 
impedindo sua absorção. 
O quadro também costuma ser autolimitado com duração de 3 a 4 dias. Não é 
necessário nenhum tipo de tratamento específico. O próprio corpo se encarrega de controlar 
a bactéria e sarar a mucosa do intestino. 
A cólera é uma exceção aos quadros brandos de diarreiaaquosa. Ela é uma infecção 
por uma bactéria chamada Vibrio cholerae, que causa uma severa diarreia aquosa. Os 
pacientes podem ter mais de 20 evacuações por dia e chegam a perder até 1 litro de água 
por hora. Nos casos mais graves, o paciente fica tão desidratado que é necessário internação 
para hidratação por via venosa. 
3- Diarreia sanguinolenta ou com pus e muco 
A diarreia que apresenta sangue, pus, muco ou febre alta associada deve ser sempre 
avaliada por um médico. Esse quadro é chamado de diarreia inflamatória ou disenteria e 
pode levar à sepse ou outras complicações grave. 
A diarreia inflamatória é causada por bactérias como Salmonella, Shigella, 
Campylobacter e Escherichia coli enterohemorrágica, que acometem a mucosa do 
intestino grosso. Pode ser necessário o tratamento com antibióticos para controlar a infecção. 
Todavia, é importante salientar que em casos de infecção por Escherichia coli, o uso de 
antibióticos pode piorar a diarreia e favorecer o aparecimento de uma grave doença chamada 
síndrome hemolítica urêmica, que leva à anemia e insuficiência renal grave. 
Por isso, deve-se sempre realizar cultura das fezes para identificar o agente causador e 
indicar a necessidade ou não de antibióticos. Nunca se auto medique com antibióticos em 
caso de diarreias sanguinolentas. 
O uso mal indicado de antibióticos além de causar complicações, pode perpetuar a 
diarreia por impedir que a flora bacteriana original do intestino volte a crescer. Sem a flora 
natural não há digestão de alimentos no cólon e a diarreia não cessa. 
Outro perigo dos antibióticos é a infecção pelo Clostridium difficile, uma bactéria que se 
aproveita da ausência da flora bacteriana normal para causar um diarreia inflamatória grave 
chamada colite pseudomembranosa. A infecção pelo Clostridium difficile é a principal causa 
de diarreia em pacientes internados e em uso de antibióticos. 
Diarreias causadas pela bactéria Campylobacter estão associadas ao surgimento 
da síndrome de Guillain-Barré. 
Além das gastroenterites bacterianas, diarreia sanguinolenta também pode ocorrer nos 
casos de infecção pela ameba Entamoeba histolytica. 
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/diferencas-gripe-resfriado/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/diferencas-gripe-resfriado/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/febre/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/sepse/
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/diarreia-escherichia-coli/
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/colite-pseudomembranosa/
https://www.mdsaude.com/neurologia/sindrome-de-guillain-barre/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/parasitoses/ameba-entamoeba-histolytica/
 
A amebíase intestinal provoca um quadro um pouco mais arrastado, com semanas de 
evolução, provocando perda de peso, cólicas e diarreia aquosa, que muitas vezes se 
transforma em disenteria. 
O quadro abaixo é da Organização Mundial de Saúde e resume as características clínicas 
das principais diarreias infecciosas de acordo com o micróbio causador. 
 
Causas de diarreia persistente ou crônica 
Toda diarreia com mais de duas semanas de evolução deve levantar suspeitas sobre 
alguma doença do trato intestinal que não tenha origem em uma intoxicação alimentar. 
Diarreias com mais de um mês de evolução são considerada diarreias crônicas e 
devem sempre ser investigadas. 
As principias causas de diarreia crônica são as doenças inflamatórias intestinais, como 
a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, AIDS, infecção por amebas e 
outros parasitos, tumores e hipertireoidismo. 
Síndrome do intestino irritável 
A síndrome do intestino irritável é uma causa comum de diarreia intermitente e dor 
abdominal. Não existe nenhuma doença orgânica que justifique o quadro. Normalmente, o 
paciente se apresenta com diarreia e cólicas relacionadas a períodos de estresse emocional. 
Alguns pacientes alternam diarreia com constipação intestinal, outros apresentam 
pequenas quantidade de muco nas fezes. Excesso de gases intestinais também é frequente. 
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/doenca-de-crohn/
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/retocolite-ulcerativa/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/dst/sintomas-hiv-aids/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/parasitoses/verminose-exame-parasitologico-de-fezes/
https://www.mdsaude.com/endocrinologia/hipertireoidismo/
 
A síndrome do intestino irritável é uma doença benigna e pode apresentar melhora 
com algumas mudanças na dieta e no estilo de vida. 
A presença de diarreia com sangue não ocorre na síndrome do intestino irritável. A sua 
presença indica a existência de outra causa para a diarreia. 
Síndrome de má absorção 
Existem algumas doenças dos intestinos que impedem a absorção de determinados 
nutrientes, levando à diarreia. 
Um exemplo comum é a intolerância à lactose (derivados de leite), que ocorre devido 
a uma deficiência na produção da lactase, enzima que digere a lactose no intestino delgado. 
Outro exemplo é a pancreatite crônica, onde a ausência do suco pancreático impede a 
digestão de vários nutrientes ingeridos. 
A doença celíaca ocorre por incapacidade de absorver glúten, uma proteína presente 
no trigo e em vários outros cereais. 
A síndrome de má absorção também pode ocorrer em algumas parasitoses, como 
na giardíase. 
Como se pode ver, existem dezenas de causas para diarreia. A maioria dos casos é 
autolimitado, causado por infecções virais ou intoxicação alimentar. 
Constipação 
Constipação intestinal é definida como a eliminação de fezes endurecidas com dor, dificuldade ou 
esforço, podendo ser acompanhada por comportamento de retenção para evitar a evacuação. 
Além disso, é demarcada com o aumento do intervalo das evacuações, sendo menor que 3x na 
semana e incontinência fecal secundária a retenção de fezes. Associado aos sintomas fecais, 
pode ocorrer a diminuição do apetite, dor abdominal crônica e sangue na superfície das vezes, 
devido a fissura anal. 
É classificada como constipação crônica quando os sintomas permanecem por mais de 30 dias. A 
constipação pode ser causada por mudanças no hábito alimentar, uso de drogas, redução da 
atividade física, mudanças de ambiente. Com isso, ela ainda pode ser classificada como funcional 
simples, idiopática e orgânica. Além disso, pode ser devido à baixa ingestão de água e líquidos, 
fibra alimentar, uso de fórmula infantil preparada de forma inadequada ou uso de leite de vaca, 
entre outros fatores que podem estar associados aos fatores de risco para constipação. 
Devido à falta de uniformidade no diagnóstico dos distúrbios funcionais gastrointestinais, foram 
desenvolvidos os critérios de Roma. Esses critérios, representam uma iniciativa para padronizar o 
diagnóstico, com base nas manifestações clínicas e na ausência de sinais de gravidade que 
sugerem outras doenças. 
Critérios de Roma IV 
Lactentes e crianças menores de 4 anos devem apresentar duas ou mais das manifestações 
abaixo por mais de 1 mês: 
• Duas ou menos evacuações por semana; 
• Histórico de retenção excessiva das fezes; 
• Histórico de evacuação com dor ou dificuldade; 
• Histórico de fezes de grande calibre; 
• Presença de grande massa fecal no reto. 
 
No caso das crianças que já possuem o controle do esfíncter, deve-se considerar também se: 
• Pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana após a aquisição do controle 
do esfíncter; 
• Histórico de eliminação de fezes de grande calibre para entupir o vaso. 
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/intolerancia-a-lactose/
https://www.mdsaude.com/gastroenterologia/doenca-celiaca-gluten/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/parasitoses/giardiase/
 
Crianças com mais de 4 anos e adolescentes devem apresentar duas ou mais das características 
abaixo, por pelo menos 1x na semana durante no mínimo 1 mês. 
• Duas ou menos evacuações no vaso sanitário por semana, quando o desenvolvimento for 
compatível com idade de 4 anos; 
• Pelo menos umepisódio de incontinência fecal por semana; 
• Histórico de evacuações dolorosas ou difíceis; 
• Presença de grande massa fecal no reto; 
• Histórico de eliminação de fezes de grande calibre que podem entupir o vaso. 
Uma das características mais importantes da constipação funcional é o comportamento de 
retenção, podendo chegar à exaustão do esfíncter anal externo e da musculatura glútea para 
evitar a evacuação. Existe um conceito que se torna importante, a incontinência fecal, que é 
caracterizada pela perda involuntária do conteúdo fecal no reto ou fezes amolecidas, devido a 
presença de fezes impactadas no reto e/ou cólon. 
 
As informações sobre o funcionamento intestinal devem incluir: frequência de evacuações, 
formato e consistência das fezes, dor, dificuldade e esforço excessivo para evacuar, ocorrência 
de incontinência fecal, relação temporal entre evacuações e períodos de piora da incontinência 
fecal e dor abdominal. Nos últimos anos, com frequência, vem sendo utilizada a escala de Bristol 
(desenvolvida originalmente para adultos) para avaliar o formato e a consistência das fezes. 
 
Escala de bristol 
 
Nos lactentes, geralmente as fezes serão em cíbalos, sendo eliminadas com dor, esforço e 
dificuldade. Nessa fase, é importante avaliar para realizar diagnóstico diferencial, como a doença 
de Hirschprung e a alergia a proteína do leite da vaca. 
Avaliação 
A avaliação é feita com a anamnese bem detalhada, incluindo o hábito intestinal e as 
manifestações associadas. Além dos critérios de Roma, as manifestações podem estar 
 
associadas a dor abdominal, enurese noturna, falta de apetite, sintomas de incontinência urinária 
ou infecção urinária atual ou pregressa. No exame físico, pode ter a presença de massa fecal 
palpável no abdome, na maioria das vezes na região do hipogástrio e no toque retal, pode ter a 
presença do preenchimento da ampola retal com fezes endurecidas. É importante analisar se há 
a presença de impactação fecal ou fecaloma, porém em alguns casos a palpação abdominal se 
torna difícil. Além da anamnese e exame físico, deve avaliar todas as repercussões que a doença 
provoca na criança dentro do contexto familiar e social, principalmente na escola. 
Tratamento 
O tratamento é realizado por meio da educação e orientação em relação ao treinamento 
esfincteriano e ao uso do vaso sanitário sempre que houver desejo de evacuação. Importante 
também que quando há a presença de incontinência fecal, é de forma involuntária, não devendo 
punir ou incriminar. Nos pacientes que possuem o controle do esfíncter, quando não ocorre 
evacuação espontânea, deve sugerir permanecer no vaso durante alguns minutos após as 
refeições. 
 
Caso tenha a impactação fecal, é necessário realizar a desimpactação, e por isso é tão 
importante a busca na avaliação inicial e nas consultas de acompanhamento. As mudanças na 
alimentação são importantes, aumentando o consumo de fibra alimentar e de líquidos, como 
cereais integrais, farelo de trigo, grãos e frutas (preferencialmente as ingeridas com casca), milho 
cozido, pipoca, azeitonas, trigo para quibe, sementes (linhaça, girassol, gergelim), goiabada 
cascão, doce de abóbora, arroz doce com uva-passa e chocolate com coco. 
 
No tratamento de manutenção, tem o objetivo principal de prevenir a recorrência de fecaloma, 
podendo durar por meses e a interrupção desse tratamento deverá ser feita de forma gradual, 
com o acompanhamento clínico. Atualmente, o PEG 3350 ou 4000 é considerando a melhor 
opção para o tratamento da constipação intestinal. O laxante que for prescrito deverá gerar 
evacuação amolecida, sem dor ou dificuldade, uma vez ao dia. 
Quando procurar um médico devido à diarreia? 
Quando a diarreia apresentar algum sinal de gravidade é necessário procurar atendimento 
médico, pois há risco de evolução para um quadro mais grave. 
São sinais de gravidade da diarreia: 
• Febre alta, normalmente maior que 38,5ºC. 
• Diarreia severa que não melhora após 48-72h. 
• Desidratação. 
• Diarreia com sangue. 
• Diarreia por mais de duas semanas. 
• Diarreia em pacientes idosos e/ou imunossuprimidos. 
• Crianças que recusam hidratação ou alimentação durante a diarreia. 
Fisiopatologia 
Ocorre uma alteração do transporte de líquidos e eletrólitos 
 
A diarreia não depende somente da musculatura lida do TGI 
*os mecanismos fisiológicos incluem- osmótica, secretora, inflamatória, disabsortiva (diarreias 
orgânicas) e funcional (diarreia não orgânica) 
 
Um agente agressor vende os mecanismos de defesa do TGI; adesão na mucosa; 
liberação de enterotoxinas e citocinas; lesão da mucosa; alteração da motilidade intestinal 
mecanismos de defesa do TGI- oH gástrico, flora local, lisozimas, lactoferrina, sistema entérico 
 
 
Diarreia osmótica 
 
 
− Lesões nas células vilositárias 
− Ocorre devido a um acúmulo de solutos osmoticamente ativos e não absorvíveis 
− Como ocorre por exemplo na intolerância à lactose 
− Esse mecanismo de ação é o mesmo que ocorre nos laxativos 
− Ocorre redução da absorção de nutrientes 
− Possui gap osmolar alto, ocorre um afluxo de líquido 
− Diarreia, vômito e febre caracteriza uma diarreia de origem viral (rotavírus em adultos e 
norovirus em crianças) 
 
 
Diarreia secretora 
 
− Ocorre uma alta liberação de enterotoxinas e mediadores seletivos, como: ampc e gmpc 
− Distúrbio eletrolítico da mucosa intestinal, onde ocorre um aumento na secreção de íons e 
água para o lúmen ou ocorre a inibição da absorção 
− Esse processo pode ocorrer em casos de uso de drogas ou toxinas, as principais bactérias 
são, E. Coli, enterotoxigênica, vibrio cholarae, Salmonella sp 
− Possui gap osmolar baixo 
− Não melhora com o jejum e leva a fezes aquosas 
− Causa uma grande desidratação e pouca febre 
 
 
 
 
Diarreia inflamatória 
• Causada por uma ação inflamatória 
• Aumenta a produção de muco e pus ou até sangue nas fezes 
• As principais causas são retocolite ulcerativa e doença de Crohn 
• Pode estar relacionada com doenças bacterianas 
 
 
 
 
Diarreia funcional 
• A absorção e secreção ficam comprometidos, todavia não há tempo para ocorrer a 
absorção 
• Normalmente está relacionado com uma hipomotilidade intestinal, ocorre em eventos como 
por exemplo síndrome do intestino irritável e diarreia diabética (neuropatia autonômica). 
 
Diarreia desabsortiva 
• Chamado também de esteatorreia 
• Ocasionado pela baixa absorção de lipídeos no intestino delgado 
• Pode ocorrer concomitantemente com doenças como: doença celíaca, Crohn, doença de 
Whipple, giárdiase, estrongiloidíase e linfoma intestinal 
 
Diarreia crônica 
3 pontos básicos na anamnese: 
1- Época de aparecimento dos sintomas 
• Idade 
• Circunstâncias 
• Modificação Alimentares 
2- Tipo de fezes 
• Líquidas, volumosas, ácidas/rançoso, muco e sangue 
3- Prejuízo do estado nutricional (má absorção) 
 
CONDIÇÕES ASSOCIADAS 
• Passado de infecções graves e frequentes 
• Afecções respiratórias de repetição 
• Manifestações de doença autoimune 
• Dor abdominal 
• Diarreia Crônica 
• Dietas hiper osmolares 
ANTECEDENTES FAMILIARES 
• Diarreia Crônica 
• Síndrome do Intestino Irritável 
• Consanguinidade 
• Atopias/Alergias 
AMBIENTE FÍSICO/PSICOLÓGICO 
• Condições ambientais desfavoráveis 
• Ansiedade, insegurança, estresse 
 
 
 
Diagnóstico 
• Quadro clínico 
• Avaliação da desidratação 
• HDA (tempo de evolução, episódios, sangue nas fezes, ocorrência de vômitos, febre a 
quanto tempo e características, presença de diurese, uso de medicamentos, ingesta de 
alimentos diferentes, estado de ingesta de líquidos ou sólido) 
• Exame físico 
• Exame de fezes 
• Hemograma 
• Eletrólitos sanguíneos 
• Gasometria 
• Ureia e creatinina 
• Ph fecal menor que 5,5 e substâncias redutoras 
Sinais de alerta 
• Menores de 2 meses 
• Idosos 
• Doenças de base: diabetes e insuficiência renal 
• Condições de vida precárias 
• Vômitos persistentes 
• *observar: olhos fundos, boca seca sinal da prega;nível de consciência; pulso e 
enchimento capilar; palidez nas extremidades; extremidades frias; hipotensão arterial; 
padrão respiratório (taquipneia, acidose metabólica) 
 
OBSERVAÇÃO: caso haja dúvida quanto à classificação (variáveis de desidratação ou de 
desidratação grave), deve-se estabelecer o plano de tratamento considerado no pior 
cenário. 
Tratamento 
 
 
 
 
 
 
 
A grande maioria dos casos de diarreia é autolimitada e de curta duração. Portanto, 
em geral, não é preciso nenhum remédio específico para a diarreia. Basta ingerir líquidos 
para compensar a perda de água nas fezes. 
Se não houver os sinais de gravidade descritos acima, a diarreia deve ser tratada 
apenas com ingestão generosa de líquidos. Quanto mais intensa for a diarreia, maior deverá 
ser a reposição de água. Já existem soluções prontas para hidratação à venda nas 
farmácias, como o Pedialyte®. Nas farmácias populares este soro é distribuído 
gratuitamente. 
Uma opção para quem não pode sair de casa imediatamente é o soro caseiro, que 
pode ser feito com 3,5 gramas de sal e 20 gramas de açúcar diluídos em 1 litro de água 
filtrada ou fervida. 
Se você não tiver uma balança para medir a quantidade de sal e açúcar, o soro pode 
ser feito a partir da adição de uma colher de chá de sal mais uma colher de sobremesa de 
açúcar em um recipiente com 1 litro de água. Essa forma de preparação, porém, é a menos 
desejada, dado o risco de haver erros na dosagem. 
Em geral, o soro pronto adquirido nas farmácias é a melhor solução. Uma vez pronto, o 
soro deve ser consumido em no máximo 24 horas. 
Deve-se evitar a todo custo o uso de medicamentos para interromper a diarreia . 
Se há uma bactéria ou toxina no trato intestinal, ela deve ser expulsa do corpo. A suspensão 
da evacuação em doentes infectados pode levar à sepse grave. 
Remédios que inibem a motilidade intestinal, como o famoso Imosec® 
(Loperamida), só devem ser usados sob prescrição médica. Na maioria dos casos, ele não 
está indicado, pois pode agravar a infecção. 
Zinco: deve ser administrado, uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias: 
• Até seis (6) meses de idade: 10mg/dia. 
• Maiores de seis (6) meses de idade: 20mg/dia. 
Em caso positivo e com comprometimento do estado geral: Reidratar o paciente de acordo 
com os planos A, B ou C. 
 
Medicamentos probióticos, como o Floratil® (Saccharomyces boulardii) podem 
ajudar a reduzir o tempo de diarreia em alguns casos, mas o seu benefício é bastante 
questionado. 
 
 
 
Para giardíase: 
• Secnidazol 2g VO em dose única para adultos, e 30mg/kg ou 1ml/kg para crianças, em 
dose única, após refeição 
• Tinidazol 2g VO, em dose única 
• Metronidazol 250mg duas vezes ao dia, por cinco dias, para adultos; em crianças, 
15mg/kg/dia, VO, divididos em duas tomadas, por cinco dias, não ultrapassando 250mg 
 
O paciente não precisa ficar em jejum quando tem diarreia. Na verdade, a alimentação 
ajuda a controlar a diarreia. Deve-se apenas evitar alimentos gordurosos ou à base de leite, 
pois durante uma infecção intestinal a mucosa do intestino delgado está muito inflamada e 
não consegue absorver nutrientes complexos. Refrigerantes não são bons para diarreia, pois 
contêm grande quantidade de açúcar. 
Para diminuir a contaminação, deve-se sempre lavar as mãos antes de preparar 
alimentos ou iniciar refeições. Pacientes com diarreia não devem preparar alimentos para 
outras pessoas até que estejam curados. 
 
 
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/lavar-as-maos/
https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/lavar-as-maos/

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