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Sistema de análise do fenômeno visual e de seus processos expressivos e cognitivos. Cláudio C. Babenko Gonçalves é publicitário, designer, professor de Design, Publicidade & Propaganda, Crítica de arte, e Marketing. Sua formação passa por Graduação em Propaganda, Pós-Graduação em História da Arte, Pós-graduação em Artes plásticas, Mestrado em Teoria e Praxis da Arte, MBA em Gestão de Processos e Doutorado em Comunicação e Artes (Mediações). É sócio diretor da Babenko DeLima Consultores Provando que letras script devem ser usadas com muito critério. O Projeto do sistema 2 Norma Totalitária 3 Invariante 5 Intencionalidade 6 Iconografia 8 Resignificações E Prolongamentos 9 Temática 11 Possibilidade Imagética 12 Intensidade 14 Massas 16 Objeto Formal 18 Não Objeto (Vazio) 19 Tensão 21 Ritmo 20 Esgotamento 22 Amplitude 23 Distribuição 24 Fundo 25 Matiz 26 Contraste 32 Tipografia 34 Bidimensionalidade 40 Tridimensionalidade 41 Efeito 42 Enquadramento ou Campo Visual 43 Agrupamentos Formais 45 Um manual prático de análise, com um índice de inspiração Art Nouveau e Romântica Neo-gótica. Uma composição com elementos "Barroquiformistas" e "Etnoformistas". fonte: Basic ttnorm O sistema: São quatro aspectos gerais que agrupam suas sub classes: DE SIGNIFICÂNCIA• Que englobam as ferramentas que podem ajudar a indicar os valores e os possíveis significados do objeto de análise. DE PROBLEMAS FORMAIS• Apresentam os esquemas de avaliação da forma e suas percepções. DE APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS• Orientam quanto aos traços de tecnologia na criação do objeto, assim como apresenta a competência expressiva desses meios. DAS VARIAÇÕES CULTURAIS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA• Aqui se apresentam categorias para possíveis traços gerais do objeto agrupando grandes áres estéticas. Relativo à origem do objeto. Para que o modelo de avaliação funcione e preserve um valor científico, com o distanciamento desejável para aquele que analisa, torna-se fundamental avaliar se a análise construída não apresenta características tendenciosas. O que se propõe é que ao final da reflexão sobre o objeto visual ou fato imagético avalie-se o eventual texto resultante, considerando evitar aspectos de um discurso totalitário como os que Ângelo Masson organiza em seu curso de lingüística e reinterpretamos aqui como referência para construção do texto crítico: Norma lingüística totalitária 2 Propagandismo triunfalista Evite ”levantar bandeiras” ou “vende” uma impressão a respeito do objeto. 6 Oportunismo dialético Não apóie seu raciocínio sobre falhas da discussão de outros avaliadores. 9 Pretensão de verdade absoluta Jamais feche questão em torno de qualquer fato da realidade visível. 7 Prevalecimento do super-ego Tenha extremo cuidado na construção de uma avaliação onde a primeira pessoa seja mais importante que o próprio objeto. 8 Formulismo partidarista Não construa e apresente sua opinião como sendo algo característico de determinado grupo. 1 Predomínio da oratória. Evite uma eloqüência que dificulte o entendimento de um possível leitor. Não use muitos elementos abstratos para qualificar coisas e nem faça contas complexas para explicar pontos de vista. 4 Exagerada abstração e desmedida pretensão científica. Não faça do seu apreço e gosto pelo objeto analisado o ponto fraco da análise. 5 Obsessão estimativa e apaixonada Não construa argumentos sobre estruturas deformadas e/ou de lógica infundada. de conceitos e ausência de lógica 3 Falseamento ou deformação dialética ASPECTOS DE SIGNIFICÂNCIA Englobam as ferramentas que podem ajudar a indicar valores e os possíveis significados do objeto de análise. Propõe-se aqui criar alguns mecanismos com os quais se possam localizar eventuais funções sociais, valores e funções culturais, sua validade como instrumento de comunicação, bem como sua amplitude e repercussões. Parte-se de uma determinação de significados básicos apoiados no repertório de um receptor para considerar vínculos e impressões que chegam a questões de resignficações. Invariante: Existe um objeto ou idéia associada instantaneamente ao material analisado, sempre a partir de um repertório social ou consenso mínimo? Apoiado em Merleau-Ponty surge a noção de invariante. O invariante está relacionado a essência das coisas, sua representação mental ou física, guardadas as considerações sobre a noção de repertório de grupo. São os elementos que constituem um conjunto mínimo de informações sobre o fato ou fenômeno visual, mas que ainda definem a idéia fundamental. O homem pode ser distinguido do cavalo em uma análise superficial? Os hominídeos pré-históricos usavam elementos simplificadores para definir uns e outros. Sabemos que se refiriam a homens, touros, cavalos por quais dados? Distinguimos um caminhão de um pequeno automóvel sem reconhecer marcas. Reconhecemos invariantes. Lascaux - França Altamira - Espanha Intencionalidade ou Significação de Base: O objeto da análise se relaciona a algum valor anterior? Existem relações de vínculo por significado ou intenção da estruturação, focado no autor ou no público. 1 - Uso: Construído em termos reais com vínculo de significado. Modesty Blase, o filme, é um relato sobre a estética dos anos 60, assim como o anúncio de Leite Moça faz menção a Matrix, e a tecnologia virtual. b - Indevida: Usurpação esvaziada de sentido. Faz uma tentativa de uso que se transforma em mau gosto ou disfunção cômica. Veja a modelo Joana Prado, a "feiticeira" como modelo grego, uma coluna greco-romana como perna de pia, na matéria da revista "Banheiros & Lavabos", e o gótico como rótulo de refrigerante azul de framboesa (sim, framboesa!). 3 - Apropriação: O vínculo estético pode existir, mas sob suspeita. Apropriar-se de uma orientação estética pode ser um recurso útil mas deve ser qualificado em duas modalidades: a - Devida: Usurpação lúdica e despretensiosa. Usa elementos formais que podem até ser reconhecidos mas o vínculo é mais formal que conceitual. Pode surgir como uma brincadeira visual que resulta algo plasticamente viável. Observe o anúncio de Wella com um Picasso no subtexto visual e o anúncio da Cultura Inglesa com um Pop anos 60. 2 - Releitura: pesquisa de linguagem, com base sólida de conhecimento. Repare no anúncio de Charm, resgatando a Op Art, a revista Super Interessante relembrando Arcimboldo e O laboratório de Dexter, mostrando o bem com linhas retas e "modernas" e o mau com traços de inspiração gótica. 6 O Laboratório de Dexter. Cartoon Network Resignificações e Prolongamentos: O objeto de análise sofreu um processo de mudança de sentido ou valor? Houve a assunção de um novo significado ou sentido para o componente ou obra, em função de posicionamento específico do conteúdo, da situação ou da situabilidade do objeto? Um exemplo perfeito é a Mãe Preta de Júlio Guerra, no Largo do Paissandú em SP que de obra decorativa pública é transformada, segunda a pesquisadora Paula Belfort, em símbolo de adoração e louvor popular. Repare nas fotos em detalhes as marcas das velas derretidas e as flores jogadas no colo da personagem. Na simplificação do traço percebe-se apenas o importante ato da amamentação, sem um discurso político carregado. 9 Iconografia: A imagem faz parte de algum conjunto iconográfico, repertório de imagens ou símbolos associados a um tema por tradição ou popularidade? A imagem é carregada de sentido compreendido por algum agrupamento social? Observe a máscara africana: com alguma informação visual o continente africano é associado fortemente ao objeto. A foice e o martelo se transformam na essência do socialismo com uma carga negativa estimulada pelos anos da ditadura militar brasileira. A imagem da virgem bizantina é a alma da tradição ortodoxa. Segundo essa tradição, inclusive, a imagem não é mera representação, mas a própria materialização da santa. Tambémé um ícone o boi em argila do canto superior esquerdo que, em havendo repertório, será entendido como artefato símbolo do nordeste brasileiro. Fotos: Babenko 8 Temática: Existem temas ou aspectos temáticos que sejam recorrentes, inéditos, mais importantes, menos importantes? Como são os temas, ordens ou os moldes que caracterizam uma obra. Se avaliarmos a capa de 'Índia' de Gal Costa percebemos elementos que reportam a um tema indígena brasileiro (agressão e contundência do tema surge pela visibilidade da vagina da cantora em primeiro plano). Da mesma maneira observamos outro tema, o ”Natal”, quando percebemos a mais famosa imagem de Papai Noel criada pela Cocal Cola, e o anúncio de Charm, veiculado nos anos 80 quando o politicamente incorreto do uso não seria um problema. Finalmente, um exemplo mais complexo: uma capa de livro da literatura modernista brasileira, representando um assunto recorrente dos modernos, a condição humana. 11 Resignificações e Prolongamentos: A linha sinuosa à esquerda tem algum sentido? Se algum observador disser ´uma garrafa de Coca-Cola´ estará tendo a impressão que a maioria das pessoas tem. O mais interessante talvez seja a possibilidade da interpretação: A garrafa está vazia ou cheia? E a garrafa no canto inferior direito, estará deitada, vazia, sem tampinha? É possível que esse seja o sentimento. Partindo do fato de que a interpretação da realidade visível depende de vivências pessoais, e considerando a idéia de Rudolf Arnheim que diz que várias impressões podem advir de um mesmo estímulo, esses prolongamentos ou resignificações de sentido podem acontecer também em formas simples como o impressionante caso do losango. Deste mesmo quadrilátero podemos extrair idéias extremas como: Baralho, naipe de ouros; se o leitor for um jogador de truco, talvez pense primeiro em "Sete- de-ouro"; se estiver em uma sala de desenho será um losango; em literatura será a capa de Paulicéia Desvairada, grande obra modernista de Mário de Andrade ou a capa do Pau Brasil de Oswald de Andrade; para uma criança talvez um balão, um doce de amendoim; poderá lembrar a bandeira da república. O mais importante é que se observe a imprecisão da percepção a respeito dos fatos visuais. 10 12 Possibilidade imagética - Imagens Possíveis: Possibilidade imagética - Imagens Impossíveis: B- Abstrações formais A- Figurativismos fantásticosA- Figurativismo naturalista realista B- Figurativismo A imagem é de um figurativismo naturalista realista? Há uma sensação de registro instantâneo? Talvez a fotografia tenha assumido o papel de registrar a realidade da maneira "mais real". O fato visual transforma-se em registro informacional e eu percebo o velho, a criança, o local, a época, a situação. Da fotografia surge uma informação histórica até mais forte que aquela possível com a pintura. A sociedade contemporânea acostumou-se a verdade factual que a fotografia oferece. Desconsidere aqui as possibilidades tecnológicas modernas de adulteração das imagens em geral. A imagem é compreensível? Pode-se reconhecer algum fato visual? No exemplo de Picasso podemos reconhecer mulheres, os objetos, a mesa, e até mesmo que estão nuas. Existe uma compreensão do fato mesmo que em eventual deformação. O fato visual pode parecer estranho mas a compreensão de um objeto real faz relevar esse estranhamento. O caipira de Almeida Junior é um retrato fiel e de tendência naturalista e um bom registro, mas nunca saberemos quais ajustes foram feitos na interpretação. A imagem é reconhecida e compreendida? É um conjunto de objetos cujas naturezas independentes fazem sentido mas em um conjunto seriam improváveis. Uma montanha de vidro não existe, mas reconheço e aproximo conceitos reais de montanha e do vidro criando uma nova realidade. A computação gráfica acelera essas possibilidades como nos exemplos gerados em softwares 3D. Dalí provoca o mesmo sentimento com suas formas estranhas e quase reconhecíveis. A imagem conforma algo compreensível? Elas tem algum aspecto figurativista? As abstrações são talvez as imagens de aproximações mais difíceis, exatamente porque estão distanciadas das representações da realidade. Algumas qualificações para o abstracionismo são importantes: Lírico (Kandinsky), Geométrico (Mondrian), Expressionista etc, mas o fato continua sendo a incompreensão dessas representações em função de sua expresssvidade estar apoiada "apenas"na forma e na cor. Picasso A lm e id a J u n io r Sa lv a d o r D a lí P ix m o ti o n P ix m o ti o n 13 K a n d in sk y M o n d ri a n k a n d in sk y_ w w w .c h o o se a rt .n e t Fo to s: B a b e n k o e a rq u iv o f a m il ia r 14 Intensidade: Como são os aspectos de força de significado do objeto, intensos ou atenuados? Quais os níveis de influência do sentimento surgido na primeira aproximação do objeto no processo do entendimento? Dentro de certo contexto a imagem pode ser mais ou menos agressiva, como no exemplo do disco de Tom Zé 'Todos os olhos', extraordinariamente intenso e agressivo quando se percebe que a bolinha de gude está colocada sobre um ânus humano. Assim como Picasso, novamente, sem apelar à sexualidade neste caso, demonstra uma intensidade de sentimentos em Guernica. Surgem sentimentos como dor, raiva, medo, aflição entre outros quando se começa a avaliar a expressividade da peça. Seja pelos membros humanos decepados ou pelos rostos em desespero Guernica sempre gerará alguma reação. Em oposição temos uma intensidade atenuada na natureza morta onde a discussão social não surge como aspecto principal. Pedro Alexandrino ASPECTOS DE PROBLEMAS FORMAIS Nestes aspectos agrupam-se as ferramentas indicadas para localizar os problemas da forma, dos componentes e funções estruturais, de sintaxe visual e cromática. Avaliando-se as estruturas pode-se delimitar os objetos constitutivos chegando a conclusões sobre os sentidos e significados dos elementos básicos e complementares. 4 Massas: Qual o desenho geral das massas de todos os elementos envolvidos? Substituir os elementos componentes por objetos geométricos simplificados pode ajudar a compreender a disposição espacial das massas e sua relações mais gerais. Surge dessa interpretação a possibilidade de valoração dos componentes formados por objetos e não objetos, explícitos e implícitos. Nos exemplos, o disco de Gal Costa, FA-TAL, demonstra atribuição de destaque para o nome da artista e para o subtítulo do disco. O valor do rosto em uma estrutura tringular determina intensidade ao elemento. Na pagina seguinte em "O Beijo" de Gustav Klimt percebemos a verticalidade da estrutura e o equilíbrio castanho da paleta. A interpretação das massas pode ser mais ou menos detalhada e dessa opção surgem diferentes níveis de leitura, em outras palavras, quanto mais geral e pouco detalhado mais se percebem as macro estruturas, quanto mais detalhada a interpretação mais se verticaliza a análise das relações dos objetos constitutivos. 16 K li m t k li m t_ w w w .m u se u m o n li n e .a t Objeto formal: Qual é a natureza da estrutura formal básica do objeto? O que e como ele é em termos de linhas, campos, orientações espaciais. Pode-se descrever as estruturas em termos de linhas verticais, horizontais, oblíquas e curvilíneas, considerando que as obliíquas são mais tensas que as horizontais e verticais. Assim como as curvlíneas são mais delicadas que as retas. Existem impressões visuais que podem ser registradas na determinação do objeto que auxiliam em uma análise posterior : • Posição espacial por camadas: determinando hierarquia das formas em profundidade. Observe os dois quadrados e perceba que o vermelho parece em primeiro plano e este fato se deve à proximidade do obervador como parâmetro. • Posição espacial por localizaçãono campo visual: determinação no plano cartesiano, onde em ‘ ’ termos de vertical X horizontal. Podemos determinar que o círculo amarelo está no canto superior esquerdo da página esquerda do livro. • Posição espacial por interpretação sígnica: O objeto parece visto por cima ou por baixo? Aí deve-se ter cuidado: observe o desenho dos livros ao lado. Apesar de ser o mesmo objeto, em função da localização espacial e sua rotação temos uma leitura diferente (o livro de cima parece ser visto de baixo e o debaixo para ser visto de cima) Os objetos guardam relações entre si, dadas por tamanho, cor, forma, deformação etc. Repare nos 3 círculos. Se perguntássemos apenas "Qual?" para um observador e forçássemos apenas essa pergunta a resposta seria o primeiro da esquerda para a direita em função da diferença da forma. Qual? 18 Não objeto (Vazio): Como é e qual o valor da área não utilizada pelo objeto? É mais ou menos impactante que o objeto? Para esta avaliação deve-se perceber o entorno do objeto, aquilo entre o que é e o que recebe. Esta é a área costumeiramente não percebida. Este ‘não objeto’ preenche o espaço com o descanso visual necessário para a compreensão, como no exemplo do texto ao lado demonstrando de maneira simplificada o valor dos vazios. Essa preocupação talvez seja mais comum no oriente e pode ser observada no sumi-ê do mestre Massao Okinaka à direita na página. Um outro exemplo famoso do valor e da leveza que a composição do vazio pode oferecer é o logotipo do supermercado Carrefour, onde o "C" se forma pelo não preenchido dos objetos azul e vermelho. E talvez o mais antigo e famoso exemplo do necessário e recorrente equilíbrio entre o objeto e a ausência seja o símbolo Yin e Yang e seu perfeito equilíbrio entre o preenchido e o vazio. Se o colocarmos em um fundo escuro a dualidade se acentua. 19 Ritmo: Há ritmo conceitual perceptivo, portanto movimento, e como é a intensidade dinâmica do fluxo lexical visual na obra estática? Como são as características desse ritmo, sugerem constância, variação, truncamento, episodicidade etc? Donis A. Dondis e Rudolf Arnheim listam outras várias possibilidades para esse atributo em seus livros. Existe ou não um ritmo compreensível no conjunto ou em partes do objeto de análise? Como se relacionam os objetos constitutivos do conjunto, eles geram interpretações de ordem dinâmica? Essas perguntas podem ser feitas para os objetos estáticos e também para objetos em movimento real, assim é possível que se avaliem os movimentos em uma peça teatral, em um número de dança, em um filme. Nos exemplos identificamos algumas idéias: Na caixa Os objetos verde: pequenos parecem movimentar-se mais rápido. Na caixa o elemento vermelha deformado atrai a atenção e em contraste à solidez do objeto íntegro, assume o movimento. Na caixa o objeto menor lilás dispara em movimento de rotação e se ancora ao objeto maior. Na caixa , o objeto mais azul claro e luminoso, o círculo amarelo, torna-se mais vibrante e por decorrência gera a noção de movimento. Na caixa o objeto amarela, vermelho, mais complexo, assumirá o movimento pela impressão de leveza. Tensão: Partindo de Rudolf Arnheim que afirma que a tensão surge da deformação, há aspectos de tensão na estrutura analisada? Objetos ou formas se agridem ou se complementam harmonicamente? Como é a intesidade desses acontecimentos? No exemplo ao lado, as linhas amarelas que formam a seta (forma de cunha com tensão dirigida) observamos a agressão na linha vertical e a definição de um ponto de convergência extremamente atrativo, o próprio ponto de encontro dos dois elementos. Não há lado positivo ou negativo neste dado, apenas o fato de que esse encontro formal ancora a atenção visual. De fato, o limite da página deste livro também é atingida pela linha vertical amarela e cria outro ponto de tensão. No exemplo do retângulo vertical o ritmo é quebrado pela deformação e a tensão surge da mesma maneira. Observe-se que, apesar de "discreta", ainda assim a interferência atrai todo o raciocínio gerando interesse específico. A história do fato visual tende a se intensificar com a deformação. Observe os dois retângulos abaixo. Há tensão no objeto deformado e ele seria, provavelmente o início de uma eventual explicação do conjunto. Apenas como curiosidade, a tesoura é inequivocamente um instrumento agressivo e sua estrutura formal está baseada em linhas oblíquas. 21 20 Esgotamento: A idéia está completa, fechada no conjunto e não se amplia para além do limite? É a conclusão do discurso inserido e limitado ao visível. Esse esgotamento pode ser formal e conceitual, isto é, um objeto ou conjunto podem estar contidos em um certo limite e nenhum siginificado se amplia nas formas não incluída. Idéias podem surgir e vários significados podem ser depreendidas mas não se projetam para fora dos limites. Da Vinci demonstra em seu quadro sobre Santa Ana, Maria e o menino Jesus esse conceito: Literalmente milhares de interpretações podem surgir do quadro, mas é pouco provável que alguém localize um lançamento do olhar para além de seus limites. O Nascimento da vênus de Boticelli é tão conclusivo quanto o DaVinci. Conta uma história linear e se encerra nisso. Voltando à natureza morta, no exemplo de Pedro Alexandrino, o mesmo esgotamento se observa em um conjunto fechado resolvido temática e formalmente. Amplitude: O conjunto ou algum elemento lança o olhar para além do limite do objeto? Existem projeções de forma para além do limite do objeto visível? Em Monet, de maneira contundente, o corte no motivo determina a realidade visível mas permite que o observador perceba um complemento da realidade representada e que esta, por sua vez, vai muito além do limite do quadro. Esse aspecto propicia uma leitura mais lúdica, mesmo que tematicamente neste exemplo seja mais simplificado. Essa abordagem da imagem remonta, em essência, ao barroco europeu. Finalmente, o Batman de Frank Miller atualiza para os quadrinhos do final do século XX essa amplitude, só que neste exemplo carregando de sentido e ampliando sua dramaticidade como no caso do prédio cuja altura se percebe pelo olhar do personagem de amarelo. 23 22 B o ti ce ll i P e d ro A le xa n d ri n o D a V in ci Monet Fr a n k M il le r - C a va le ir o d a s Tr e va s w w w .g iv e rn y. o rg Fundo: Como é a relação do objeto com seus anteparos e suportes, inclusive os que não recebem tratamento artístico? Como se podem definir as relações, limitações e funções do suporte? Os fundos e anteparos não devem ser negligenciados ou entendidos como meros suportes do projeto. De fato as escolhas para a obra começam na escolha do suporte e em alguns casos até mesmo antes do próprio projeto visual. Os fundos são objetos compositivos e requerem as mesmas ponderações dos objetos. Por exemplo, a cor preta do fundo desta página foi escolhida propositalmente e colocada ao lado da página marrom a esquerda, que por sua vez também foi planejada. Outros exemplos importantes desta relação figura-fundo ou da componibilidade do objeto estão em Klimt com sua "Judith" e Malevich com seu "Branco sobre branco"ou a composição em preto e vermelho a direita. A moldura de Klimt, um complemento do fundo, é entalhada e parte da obra. E o branco de Malevitch que se parece com um simples fundo é, na verdade, a massa compositiva principal. 25 entrada saída 24 K li m t M a le vi ch M a le vi ch Distribuição: Como é a ordenação espacial dos elementos? São equilibrados ou não? Quais são as razões espaciais, incluindo equilíbrio, quantidade de elementos, padrões etc? A distribuição simétrica como modelo de equilíbrio é um fato incontornável se considerarmos que a medida das coisas para o homem é o homem. Da Vinci demonstra isso em seu Homem de Vitrúvio, como um projeto completo.É necessária a compreensão de mais alguns exemplos desses fatos perceptivos (aqui focado na visão ocidental): • Se pensarmos em entrada e saída teremos a esquerda como entrada e a direita como saída. Em termos de progressão, esquerda será entendida como começo (menos) e direita como final (mais). • Simplicidade formal se consegue pela simplicidade da estrutura, como no exemplo ao lado, um conjunto com 32 objetos, mas simples. • A distribuição espacial pode determinar, ritmo, intensidade, padrão, sistema, e provocar inferência conceitual destes aspectos assim como da estrutura. No exemplo dos círculos azuis é bastante provável que o círculo do canto superior esquerdo da página não seja entendido como participante do conjunto abaixo, simplesmente por que está "distante". • O equilíbrio na distribuição pode ser conseguido por cor, forma, ou massa: Da Vinci Menos Mais Cor e forma Massa Forma Forma A percepção da matiz é decorrência da reflexão da luz sobre os objetos e da capacidade físico-química das substâncias de refletir determinadas amplitudes de onda que dão as sensações das cores. Os dois sistemas mais comuns de definição da matiz são o RGB (para luzes) e CMYK (para tintas gráficas). No caso das tintas, a matiz vai sofrer variação de tom a medida que está exposta a mais ou menos iluminação. No caso das luzes a matiz vai variar de tom em função da intensidade de cada uma das luzes RGB. Abaixo observam-se algumas situações que causam variações nos tons. Não se pode esquecer que em termos de tridimensionalidade é a luz, e por decorrência a sombra, que definem a posição espacial de um objeto. Matiz: Quais cores que predominam, quais seus valores intrínsecos e culturais e o porque disso? A compreensão das relações cromáticas deve ser pensada sempre em dois aspectos: sentido puro, cujos valores atribuídos podem variar pouco ou não variar culturalmente e sentido relativo cultural, que atribui a cor sentido específico ou diferenciado. A primeira aproximação deve ser sempre em termos de localização das grandezas cromáticas. 27 26 Fonte de luz primária Luz refletida na sombra Sombra projetada Ângulos iguais A matiz ou cor é uma experiência pessoal e depende de formação, etnia, crenças, gostos, competência física, mas independentemente de tudo isso é uma experiência emocional. Apesar disso o modelo ocidental de aprendizado racionaliza a interpretação da cor e torna essa necessidade um processo matemático. O melhor exemplo dessa deformação na competência em relação a cor está na brincadeira antiga, usada até como merchandising de lanchonetes: Primeiro LEIA as palavras da seqüência abaixo: Agora DIGA as cores que você VÊ. É bastante provável que a primeira alternativa tenha sido mais rápida. Isso porque a experiência da cor não é tão mecânica como a leitura. Esse distanciamento está no próprio convívio com a cor. Vejamos algumas impressões sobre as cores, esbarrando propositalmente em uma visão poética: V a n G o g h M o n e t w w w .k yre n e .k 1 2 .a z.u s M o n e t RGB: Soma gerando branco CMYK: Soma gerando preto Para o vermelho as primeiras impressões normalmente são sangue, fogo, tensão. Muito intenso, se relaciona à mulher, e num desdobramento muito antigo, muito complexo, talvez tenha se transformado também em vulgaridade porque está relacionado a sexo. Sexo e mulher são idéias próximas. Menstruação, mamilo, lábio, ponta dos dedos, gravidez, todas essas coisas estão relacionadas com o vermelho de uma maneira ou de outra. Essa sexualidade, na cultura ocidental se transformou em um objeto de vergonha, e o vermelho acaba, por decorrência, sendo poluído em termos de expressividade. Mas se tivermos que afirmar algo será que vermelho é sangue em todos os lugares do mundo. O amarelo é absolutamente brilhante, está relacionado ao que nós temos como vida. É o sol, é o campo do trigo, é a luz. Em termos de cor é a mais luminosa. É intenso, mas em uma intensidade que flerta com o estado emocional. Para o momento nervoso, talvez o amarelo seja intensamente nervoso. Se você estiver alegre, talvez o amarelo seja intensamente alegre. Um amarelo sempre poderá ser de extrema vibração. O azul é a calma. O azul é o céu para o ser humano desde o momento em que ele o percebeu. O céu será grandiosidade, eventualmente o infinito. Ele é frio, porque o céu azul é o frescor da manhã. É a placidez relativa à maturidade, estável e Sólida. É a constância do que contempla e do que é contemplado. Se for azul escuro talvez seja um pouco mais preocupado. S e tiv e sse q u e se r u m sa b o r ta lv e z fo sse m o ra n g o . S e tiv e sse q u e se r u m sa b o r ta lv e z fo sse b a n a n a o u a b a ca x i. S e tiv e sse q u e se r u m sa b o r ta lv e z fo sse a n iz. V a n G o g h M a ti ss e V a n G o g h Profundamente relacionado ao mundo natural e às plantas. Se uma planta estiver verde, está viva. Se vejo verde vejo vida, vejo a mata, a floresta. Vicejante, forte, talvez perene. É agradável e pulsa. É refrescante. O mundo natural dá a pista para o entendimento da cor: Pense em uma floresta verde, extremamente fresca, não fria, mas tropical. Pense em uma bala de hortelã. Pense no menino e na menina correndo pela grama verdinha, são todos iguais, cheios de energia e radiantes. O preto é morte no mundo ocidental, é tristeza, mas também é o inesperado, é o que não se conhece, é o misterioso. É oculto. Pense nas cavernas. Pense no homem que se abrigava da noite, com medo daquilo que o fogo não iluminava. Com medo do que não conhecia. Então, o que é o escuro, o que é preto? É aquilo que não se conhece? O que não sabe como é? Talvez uma comparação bastante divertida, seja a vida noturna atual: pessoas se divertindo em casas noturnas, vestindo-se de preto - talvez seja a memória bastante distante do inesperado, do mágico, do oculto. Um jogo: "Eu estou aqui, você me quer e você não sabe sobre mim. Você não me conhece porque eu não sou tão óbvio assim." Há uma implacável sobriedade no preto, mas há também a carga negativa da perda e da ausência. É a não reflexão da luz, é a absorção da intensidade da vida. S e tiv e sse q u e se r u m sa b o r ta lv e z fo sse lim ã o . Se tive sse q u e se r u m sa b o r ta lve z fo sse m e n ta . M o n e t Kandinsky O laranja é jovial por natureza, talvez porque ele seja o melhor de dois mundo, do mundo vermelho e do mundo amarelo. Toda a força e agressividade do vermelho, com a luminosidade, clareza e a intensidade do amarelo. O laranja dilui as tensões do vermelho e do amarelo reconstruindo uma nova realidade de alegria, de vibração, de brilho e luz. Talvez seja a cor mais peralta. Talvez seja uma eterna brincadeira. Talvez seja a fruta, com uma leve acidez que dá tom e novo sabor a vida. Se o ser humano gosta de ser a medida e a referência para as coisas, o roxo será antes de tudo um hematoma. É engraçado, mas verdadeiro. O roxo se refere ao místico, se refere à nobreza. Há uma certa impressão de fantástico no roxo, daí ser clerical e imperial. O roxo deve incorporar aspectos graves de dois mundos: Do azul, a frieza e do vermelho, a tensão agressiva. Não se pode ignorar o roxo, sua presença é definitiva. O branco é para o ocidente (e em grande medida para o oriente também) a paz, a calma, a limpeza. É a pureza, é a luminosidade absoluta, é a reflexão total. Uma certa falta de presença do branco gera a noção de clareza. O ocidente tem a noção de vazio. O vazio é limpo. Talvez acreditemos mais no médico se estiver vestido de branco. Talvez achemos o pão mais gostoso se o padeiro estiver de branco (talvez achemos a padaria mais limpa também). O branco é intensidade e serenidade. Uma calma nula e ausente. Sem idade, sem crença, sem medida. O branco é a ausência da medida. S e tiv e sse q u e se r u m sa b o r ta lv e z fo sse la ran ja . Se tive sse q u e se r u m sa b o r ta lve z fo sse le ite o u co co . Se tive sse q u e se r u m sa b o r ta lve z fo sse u va . M o n d ri a n R e n o ir K le e O marrom talvez seja a mais complexa de todas as cores em termos de sentimento, porque ao mesmo tempo que é vida, é morte. Marrom é terra, e terra está relacionada ao sagrado. O que nasce do solo. A plantação que cresce da terra pura. Forte. Verdadeira. Entretanto, depois do advento do cristianismo e da noção de ressurreição a terra, e por decorrência o marrom, passam a representar também a morte, a perda. O marrom pode ser uma paradoxo nesse sentido: Pode ser vida e morte. Pode ser perda e esperança. É verdadeiro é natural cheio de personalidade. O cinza sempre será um problema e uma solução em função de sua extrema neutralidade. Ele será sempre um grande parceiro para qualquer outra cor, porque ele vai ser o anteparo neutro ideal para a ocorrência dessa outra cor. Em contrapartida a neutralidade gera também falta de personalidade. Gera falta de vibração e provavelmente não acrescentará. Se uma composição estiver toda baseada em cinzas talvez venha a carecer de personalidade. É provável que a sobriedade do cinza esteja em sua falta de brilho e expressividade. Se tive sse q u e se r u m sa b o r ta lve z fo sse ch o co la te . Se tive sse q u e se r u m sa b o r ta lve z fo sse se m g ra ça . Turner O que é bege? O bege é uma variação do cinza, que passará necessariamente por uma questão cultural. Pode ser uma entendido como uma reinterpretação do marrom ou do amarelo. Possui a neutralidade do cinza, mas com alma de alguma outra cor. O bege faz parte de um conjunto de cores que dependem muito mais das crenças pessoais do que da impressão do grupo. Contraste: Há constrastes entre os elementos da composição, sejam eles temáticos formais cromáticos, ou ? Para localizar melhor as possibilidades das contraposições observe os quadrados coloridos. Algumas cores geram contrastes mais fortes e marcantes outros menos determinados. No fragmento de foto temos cores verdes em linhas sinuosas constrastando com o elemento esférico vermelho, surge aí um contraste formal reforçado pelo contraste cromático. Finalmente existe uma definição importante para os problemas visuais de composições multifatoriais e que talvez até não passem pela questão cromática, é o contraste temático. Trata-se, nesta abordagem, da utilização de elementos distantes entre si em conceito e que fazem saltar aos olhos distinções sintáticas que podem até gerar equívocos de interpretação. Em nosso exemplo do anúncio de cigarros surge uma improvável combinação visual entre o produto e elementos que remetem à pintura cubista de Picasso. Parece claro que a intenção dos criadores da peça era associar o produto à elegância e sofisticação da pintura, entretanto o estranhamento resultante da coexistência dos objetos torna o conjunto tematicamente contrastante e sintaticamente instável. Podemos remeter a análise, a partir daqui, a uma avaliação de uso devido ou indevido, como visto no ítem 'Intencionalidade ou significação de base'. 32 Fo to : B a b e n k o Fo to s: B a b e n k o ASPECTOS DE APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS Tecnologias contemporâneas criam novas possibilidades tanto de representação como expressão. Alguns conceitos surgem por decorrência do surgimento de softwares, equipamentos, computadores, e estes associados a meios de repodução mais antigos devem ser contemplados como elementos expressivos de linguagem, muitas vezes, bastante peculiares. Estas ferramentas visam orientar quanto aos traços de tecnologia na criação do objeto visível, assim como apresenta a competência expressiva desses meios. C00M15Y100K00 C100M20Y00K00 C40M00Y100K00 C00M60Y100K00 C00M100Y100K00 C60M80Y00K00C00M00Y00K00 R250G207B000 R000G124B195R255G255B255 R132G194B037 R231G120B023 R218G037B029 R111G068B138 Tipografia: Caso ocorram letras no objeto de análise, como se podem avaliar as cargas expressivas? O que dizem ou podem querer dizer os caracteres? Os caracteres tipográficos são peças importantes na construção da informação visual e carregam carga expressiva tanto sub-textual (informação embutido no formal) quanto textual (a idéia do verbal propriamente ). Em um nível sub-textual e basicamente expressivo como é a mensagem ou idéia da forma da letra? É masculina, feminina, alegre, triste, agressivo, pueril, antiga, moderna etc ? Os adjetivos mais variados podem ser usados para definir a carga expressiva do desenho do tipo. Alguns exemplos são mostrados ao lado e podem servir como subsídios iniciais para a avaliação da função do desenho da letra dentro do conjunto informacional. Focaremos a análise no aspecto sub-textual formal, já que em nível textual entraríamos nos domínios da literatura onde outras regras se impõem para o entendimento do objeto de análise. 35 34 Tipografia Sub-textual: Estrutura. O tipo é composto por elementos básicos cuja manipulação pode levar a variações das cargas expressivas. Além dos aspectos nomeados no esquema acima, definem mudanças: • A razão entre a altura da caixa baixa (nome técnico para minúsculas) e a altura da caixa alta (nome para maiúsculas) - essa diferença cria mais ou menos áreas de vazio e por decorrência escurecimento ou clareamento da mancha em geral (veja os blocos abaixo, com os nomes dos tipo e os tons das manchas), em conjunto com a espessura das paredes ou hastes da letra que definem o peso do tipo. • Tracking: entreletras para a palavra completa. • Kerning: entreletras para duas letras. • Deformações: Condensação, Extensão. • Alinhamentos: Esquerda = Maior leiturabilidade (veja abaixo). pA lt u ra d a c a ix a Ta m a n h o e m p o n to s q u e i n cl u i o o m b ro , o u l e a d in g , o u a in d a , e n tr e li n h a s. Entrelinha, ombro ou Leading Linha-base Olho Descendente Ascendente A lt u ra Largura, que inclui o espaço entreletras Ajustes visuais para estruturas curvas AB vh Paredes ou hastes Tipografia Sub-textual: Serifas O tipo serifado funciona muito bem para os textos longos em função de suas terminações (serifas) que promovem as conexões entre as letras das palavras. Mesmo dentro das serifadas de estruturas mais comportadas, ainda podemos perceber dfirenças Tipografia Sub-textual: Grotescas, Lapidárias ou Sanserif Esses tipos carregam a noção de modernidade em seu desenho. Talvez seja pela limpeza estrutural característica do século XX, século das formas rápidas e ágeis. São menos complexas que as serifadas (com exceção da Zapf que tem todas as hastes apoiadas em arcos) causando certo problema para textos longos, mas ótimas para títulos. Se o leitor aprofundar sua avaliação crítica dos tipos poderá atribuir adjetivos como se fez nas serifadas. 37 Transicional Romana moderna seccionada Moderna Romana Fantasia Por alargamento Egípcia Old style Clássica Forte Direta Elegante Monárquica Leve Mecânica Legível Impessoal Pesada Agressiva Masculina Feminina Suave Curvilínea Inconsistente Plástica Indefinida Tipografia Sub-textual: Fantasias Os tipos "Fantasia"são, basicamente, caracteres desenhados com as mais diversas temáticas, orientações estéticas, finalidades e estruturas. Algumas letras podem resolver apenas títulos, outras podem funcionar até mesmo em textos corridos. Algumas vezes extravagantes, outras delicadas e comedidas as "Fantasias" são praticamente um discurso a parte na questão da expressividade. Elas podem, entre outras possibilidades : • Complementar um determinado conteúdo ou idéia. • Reforçar um sentido. • Negar um significado. • Elucidar algum aspecto, • Sugerir ou insinuar idéias. Podemos chamá-las de ferramentas expresssivas. Na página ao lado temos alguns exemplos das possibilidades e das competências comunicacionaissub- textuais de alguns tipos, sempre orientados a reforçar o sentido textual da palavra. É possível que o leitor não concorde com todas as escolhas das palavras e suas associaçõs visuais, mas essa impressão realmente dependerá de vários fatores que vão desde o contexto até repertório do recipiente. Ao lado temos três exemplos de negação do sentido pela forma. As próprias soluções gráficas chamadas "all type" são os melhores exemplos da competência dos tipos em funcionar como meio da mensagem e como ilustração com carga expressiva. Nos exemplos, Klaxon - revista da semana de 22 - um de seus anúncios e uma peça de Alphonse Mucha, de orientação estética art nouveau. 38 M u ch a w w w .b ir th d a y. w z. cz Tridimensionalidade: Como é conseguida a impressão de tridimensionalidade? Como são os aspectos de gradiente aplicados ao objeto e da simulação de profundidade não simbólica. É digital ou analógica a construção da impressão de tridimensionalidade. Como se dá a relação de planos? A simulação da realidade tridimensional é uma ocorrência bastante comum nas artes visuais e elas podem apresentar sistemas de representações bastante diversos. Na ilustração da bailarina Eva Yerbabuena, o volume é simplificado ao máximo assumindo que a importância do fato visual está no conceito de movimento da dança. O desenho a lápis registra minimamente a sombra e o volume já que a preocupação maior era a captura do momento, trata-se de um desenho com modelo vivo. Idem para o ursinho, só que ao invés de captar o momento o foco é registrar o simbólico. As esferas são geradas por computador e buscam uma realidade extrema. O que ocorre é que por vezes essa realidade é tão perfeita que pode causar estranhamento. Finalmente, os bonecos tridimensionais (brinquedos) da Turma da Mônica, demonstram os problemas possíveis na transposição do desenho bidimensional bem desenvolvido para a peça tridimensional. Algumas características como leveza e soltura do traço se perdem nesse processo. w w w .i m a g e s. so u th p a rk st u d io s. co m Bidimensionalidade: Os elementos são chapados, isto é, sem a simulação da tridimensionalidade, em termos de matiz ou efeito? Essa bidimensionalidade tem função ou não? Como são os aspectos da composição por camadas não gradientes. Como se dá a relação de planos? O objeto tira proveito dessa bidimensionalidade? No desenho em traço do gato não existe simulação de profundidade, o entendimento se dá pelo reconhecimento da forma de contorno. O boneco criado no site da animação "South Park", demonstra a simplificação total da bidimensionalidade, e o sucesso do desenho norte- americano só confirma que o conteúdo ainda tem maior responsabilidade na eficácia da informação que eventualmente a forma, em termos de processo de comunicação. Para uma comparação de linguagem é bastante conveniente as duas páginas de histórias em quadrinhos abaixo. A página do Pernalonga, apesar de bidimensional, usa uma coleção profusa de elementos formais complexos. Faz parte de uma linguagem mais dinâmica e tensa. A página de Mônica apresenta uma simplificação formal e cromática que não a desmerece, em absoluto, ao contrário aponta a orientação da produção focada no público alvo (crianças por volta de 7 a 12 anos, prioritariamente) e na sua forma de explorar a informação visual.. Il u st ra çã o B a b e n k o Pi xm ot io n B a b e n k o E va Y e rb a b u e n a p o r B a b e n k o Babenko 40 A t u rm a d o P e rn a lo n g a , Lo o n e y To o n e s, W a rn e r. Tu rm a d a M ô n ic a d e M a u rí ci o d e S o u za . 41 Turma da Mônica Maurício de Souza Efeito: Existem efeitos gráficos analógicos e/ou digitais no objeto de análise? Padronagens, texturas e simulações computadorizadas ou semelhantes? Como estão e qual sua função expressiva? As texturas e padronagens sempre fizeram parte do ferramental expressivo gráfico, entretanto o advento da computação gráfica deu um novo impulso a estes recursos. Algumas das formas tradicionais de tratamento da imagem foram incorporadas aos softwares gráficos, alguns outros vieram dos domínios da fotografia como solarização e desfoque. Surgem também efeitos que são produtos das potencialidades de processamento e recombinações desses softs, como por exemplo a pixelização (transformação da imagem em mosaico de quadrados interpretando a imagem inicial - são definidos por sua quantidade, quanto mais e menores mais definida a imagem), posterizazção, metalização, liquefação. Entre centenas dessas possibilidades é importante que durante a análise se observe a proveniência desses efeitos e o quão úteis ou determinantes eles podem ter sido à composição. Van Gogh ruído desfoque pixelização liquefação cromo cristalização 43 4242 Enquadramento ou campo visual: Como é o enquadramento do objeto visual a partir de uma notação técnica ou cinematográfica? Como são a distribuição e o ritmo da imagem nos momentos iniciais, intermediários e finais do fluxo do movimento real? Pensando em cinema, teatro ou dança, o enquadramento da imagem tem responsabilidade expressiva e pode determinar a significação, assim como o movimento da câmera descreve ambientes, objetos ou situações e conduz a interpretação do fato visual. A escolha de um certo ponto de vista reforça a significação no processo da explicação visual. Os campos cinematográficos demonstrados à direita, representam, de maneira simplificada, os níveis de discurso desde o plano mais geral, ou vista panorâmica, que estabelece o entendimento inicial da imagem, até o plano de detalhe ou close-up, cuja maior competência está em especificar o objeto ou intensificar sua participação. O movimento físico da câmera também descreve uma situação e pode, em função das variações e complexidades do movimento, gerar mais ou menos tensão e significado na idéia representada. Alguns movimentos de câmera importantes: Pan (varredura no eixo horizontal - veja o modelo laranja ao lado); Tilt ou pan vertical (varredura vertical); Grua (mini guindaste); Dolly ou Traveling (câmera em movimento sobre carrinho); Steadicam - hand held (aparato de câmera em movimento livre acoplada ao corpo do operador, sem trepidação); Zoom. Em relação ponto de vista: Superior, Inferior, Aéreo, Nível dos olhos, Subjetiva (ver através dos olhos do personagem), ou Direto (observador vê a cena "de fora", o mais comum. Outro elemento expressivo é o tipo do corte, seco ou com transição. Finalmente a iluminação: Geral (Todos objetos igualmente iluminados), Dramática (Intensidades variáveis sobre os objetos ), Esculpida (Pontual e discursiva). Plano Geral ou Panorâmica Plano de conjunto Plano de americano Plano de médio Plano de médio fechado Close-up liquefação 38 ASPECTOS DAS VARIAÇÕES CULTURAIS DE APRECIAÇÃO ESTÉTICA OU AGRUPAMENTOS FORMAIS. Aqui se apresentam categorias para possíveis traços gerais formais do objeto agrupando grandes áres estéticas. As categorias qualificam detalhes do conjunto estrutural do objeto visual, já que todo fenômeno visual guarda relações mais ou menos evidentes com referências e registros anteriores ou paralelos. Evitando ao máximo a tipificação das escolas estéticas da história da arte podemos localizar nove categorias, que em sentido mais amplo e genérico são usadas para descrever uma primeira impressão sobre as referências do objeto. 4 � Europeísmo formal: Remete ao conjunto de elementos do bloco cultural europeu? Existem elementos como castelos, por exemplo, que são fortemente associados a países como França, Itália e outros, ou mesmo um período como idade média, renascimento, cavaleiros, cruzadas etc. Repare o resgate do tema no videogame "Legion". w w w 2 .c o m u n e .r o m a .i t/ m u se o n a p ole o n ic o � 45 Imperioformismo Celebrativo: A produção tem a marca indelével do poder imperial e de seus tradicionais exageros formais, estruturais e matéricos? São exemplos o neoclássico norte-americano e a estética napoleônica. Há sempre uma grandiloqüência no discurso visual. Repare na recorrência dos vermelhos que remetem a veludos finos. Ingres � Orientalismo formal O conjunto pode ser abordado como uma experiência oriental? Englobamos aqui manifestações do Japão, China, Índia, Países Árabes. Mesmo que existam diferenças entre os países - por exemplo a profusão decorativa da Índia e a busca pelo Wabi (prazer da tranqüilidade) e Sabi (simplicidade elegante) do Japão - permanece uma postura voltada à espiritualidade nas estruturas visuais. Moderniformismo: Remete ou baseia-se em uma condução estética de linhas retas simples ou excessivamente simples, destituída ao máximo de adornos complexos na forma e na quantidade? A modernidade, principalmente o período pós guerras, instituiu linhas retas e simples que atenderam às necessidades de reconstrução urgente, abandonando os elementos decorativos de produção demorada. Outros aspectos bastante associados ao esteticamente moderno são as modulações e a simplificação cromática que pretendem levar o objeto ao extremo da simplicidade e funcionalidade. Repare nas calculadoras Braun, nos móveis moduláveis e no mapa do Metro de Londres. w w w .d e n ta k u -m u se u m .c o m www.pashahome.com www.arredamentitosini.it Latinoformismo: Elementos latinos podem ser reconhecidos? Em que nível a obra apropria-se de um conjunto de “tropicalidade”? Existem alguns elementos visuais recorrentemente associados ao tema latino, entre eles: vegetações exuberantes; composições frugais com cores vivas, e nesse aspecto certamente Carmem Miranda fez grandes contribuições; cores puras bastantes saturadas e principalmente quentes; e, é claro, a estereotipada sensualidade latina em clima de eterna festa, que mesmo que não seja um traço formal não pode ser deixado de lado. w w w .e n e x .n e t www.latinamericanwomen-latinamericanbrides.com w w w .p e a b o d y. ya le .e d u / A n it a M a lf a ti ti Classiformismo: O objeto remete ou baseia-se em uma tradição greco-egipto-romana, ou em alguma idéia de “clássico”? O termo clássico não se refere ao período histórico mas a uma idéia generalista que coloca na mesma perspectiva tanto os padrões gregos helenísticos como um capitel do interior de uma clínica médica. Da mesma maneira surgem os ornamentos egípcios dos quais o maior símbolo, eternizado em réplicas de gesso, é a máscara de Tuntancamom, ou mesmo os arcos romanos para entradas de prédios. Talvez o maior problema dessa "necessidade estética" freqüentemente reincidente seja a apropriação indevida, mas o irresistível charme do clássico é sempre uma saída compreensível e eficaz para o entendimento de uma idéia de elegância. Religioformismo: A obra atende necessidades de sistemas religiosos? Os objetos visuais podem ser reconhecidos como ferramentais de culto ou adoração? As religiões e as doutrinas de fé podem determinar ordens estéticas e formas que indicam inclusive sua origem. A diferença importante entre a qualificação "religiosismo"e "iconografia" é que um ícone pode ter valor individual, mas o elemento religioso será uma peça de conjunto que segue regras, seja em termos de forma ou temática, e o vínculo à idéia de religião é maior que o próprio objeto. Alguns exemplos desses conjuntos são os elementos islâmicos, católicos, ortodoxos, camdomblecistas etc. w w w .a ca ia b a .v il a b o l. u o l. co m .b r Barroquiformismo: Remete ou baseia-se em uma tradição de rebuscamento e exagero decorativo com traços barrocos, cuja estética é retomada fortemente pelo Art Nouvea, entre outras estéticas. De certa maneira podemos atribuir o conceito barroquismo aos elementos florais, femininos, curvilíneos, adornados, botânicos, carregados de expressividade. O Barroco propriamente dito se refere a uma postura antes até mesmo da questão formal. Barroquiformismo não sugere a necessidade de uma intenção barroca, mas apenas o uso dos elementos. Há um requinte formal e normalmente objetos com essa orientação tem processo produtivo detalhado e complexo. O q u in to e le m e n to M u ch a Etnoformismo: Elementos inspirados em construções aborígenes de várias partes do mundo podem ser reconhecidas na obra? São bastante características dessa orientação as obras do continente africano, mas todas as manifestações tribais podem receber esta qualificação, aproximando-se, inclusive, em alguns momentos, da produção compreendida como ‘artesanato’. Caracteriza- se por elementos decorativos com padronagens construídas a partir de repetições formais, no uso de materias rústicos e por estilizações. Alguns exemplos: tatuagens "tribais", estátuas e máscaras africanas, tecidos, os moais chilenos e os objetos na ilustração do cartaz de Parintins. reveja tudo