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Conteudista: Prof.ª M.ª Mônica Hoehne Mendes Revisão Textual: Prof.a Dra. Selma Aparecida Cesarin Objetivos da Unidade: Conhecer os elementos constituintes do nosso cérebro; Identificar as funções corticais superiores; Perceber as habilidades a serem estimuladas no sujeito que apresenta dificuldade de aprendizagem. 📄 Contextualização 📄 Material Teórico 📄 Material Complementar 📄 Referências Sistema Nervoso: Aspectos Anatômicos e Funcionais Para compreender o fenômeno humano, nenhuma Ciência basta por si, não obstante todas serem necessárias e, por essa razão, ao estudarmos os conteúdos das bases neurobiológicas, vamos perceber que elas estão articuladas com toda a Área da Neurologia, da Neuropsicologia, da Neurofisiologia, enfim, faz parte de Teoria Sistêmica, isto é, a parte faz parte do todo e vice-versa. 1 / 4 📄 Contextualização Introdução Pesquisadores interessados na função do cérebro têm tido novas oportunidades, sem precedentes, de examinar a correlação neurobiológica do comportamento humano, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da Neurociência Cognitiva, um campo de pesquisa que combina as estratégias experimentais da Psicologia, com várias técnicas, que examinam como a função cerebral sustenta as atividades mentais. Neurobiologia é a habilidade de relacionar os trabalhos em Neurociência Cognitiva e Neuroimagem com aqueles em outras Áreas de Neurociências. Entre as questões mais importantes, está como relacionar a Neuroimagem Funcional à Biologia Celular e à Neurofisiologia das células cerebrais e sua microvasculatura. Portanto, para entender o desenvolvimento humano, precisamos ter compreensão circular da maneira pela qual as experiências ambientais, sociais e fatores neurobiológicos interferem e modificam o perfil maturacional do sujeito (MUSZKAT, 2008). Esse pensamento nos leva a perceber a complementaridade dos vários subsistemas: físico, anatômico, mental, genética, pois é com a integração deles que o cérebro processa o mundo, os sentidos, a memória e pode levar a criar a identidade do sujeito. Para que possamos entender o neurodesenvolvimento, é essencial levarmos em conta as interfaces constituintes do sujeito, tais como determinantes sociais, ambientais, psicolinguísticos, do desenvolvimento e da aprendizagem. Portanto, objetivamente é necessário compreender como o cérebro aprende, isto é, como as redes neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem. 2 / 4 📄 Material Teórico Sistema Nervoso Central Para iniciarmos nosso estudo sobre o Sistema Nervoso, acreditamos essencial descrever o ponto de partida: o neurônio! O neurônio é a principal célula do SNC. É constituído pelo corpo celular, pelo axônio e pelos dendritos, sendo suas principais funções: receber, processar e enviar mensagens, por meio dos impulsos nervosos. A corrente elétrica por onde passam as informações que vão de um neurônio a outro se irradia ao longo do axônio, em processo de despolarização e repolarização da membrana, geralmente, revestida pela mielina. Para iniciarmos nosso estudo sobre o Sistema Nervoso, acreditamos essencial descrever o ponto de partida: o neurônio. Glossário Mielina: invólucro de gordura que isola o axônio do corpo extracelular e potencializa a transmissão sináptica que percorre todo o axônio até as extremidades (os terminais). Nos terminais dos axônios, as vesículas concentram neurotransmissores (NT) para membranas pré- sinápticas, que vão para a fenda sináptica, com o objetivo de enviarem neurotransmissores para membranas pós-sinápticas, as quais irão excitar ou inibir, dependendo dos receptores ali estimulados. É na fenda sináptica que ocorre a comunicação. Figura 1 – Sinapses de células nervosas ativas, com os pontos de articulação entre elas Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: imagem mostrando as sinapses de células nervosas ativas em cor branca, com os pontos de articulação entre elas, em rosa, sobre um fundo preto. Fim da descrição. Então, vamos organizar melhor essas informações! Quais são os elementos constituintes dos neurônios? Segundo, Ferreira (2005) temos o seguinte quadro: Corpo celular: parte principal da célula nervosa, local onde está situado o núcleo e as organelas (complexo de Golgi, lisossomos, ribossomos, corpúsculos de Nissl, mitocôndrias e retículo endoplasmático). Esses elementos permitem a elaboração do estímulo elétrico ou impulso nervoso em resposta às sensações recebidas por sua membrana citoplasmática e seus prolongamentos. No retículo endoplasmático rugoso e nos ribossomos (que adquirem a cor azul com o corante de Nissl) são produzidas substâncias químicas, os neurotransmissores (NT), elemento ativo nas sinapses; Dendritos: são prolongamentos citoplasmáticos curtos, ricamente ramificados, que desempenham a função de ampliar a área de captação da membrana neuronal dos estímulos nervosos externos à célula, para que sejam avaliados no corpo celular. Quanto maior a quantidade de dendritos, maior será a coleta de informações, permitindo ao corpo celular a elaboração de uma resposta mais completa e complexa. Podemos dizer que a inteligência de um neurônio é proporcional às ramificações que tem, pois quanto mais informações forem colhidas, mais precisas serão as respostas motoras; Axônio: esta é a via de resposta, de expressão da célula nervosa, servindo como fio condutor para que o estímulo criado no corpo celular como resposta aos estímulos recebidos chegue ao órgão efetor. Mas, para que possa desempenhar essa função de condutibilidade, deve ser recoberto por uma camada variável de substância gordurosa denominada bainha de mielina, produzida pelas células de Schwann; Figura 2 – Neurônio com seu corpo celular, o núcleo instalado no meio do corpo celular, com seu axônio recoberto de mielina amarela e o final do axônio. Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: imagem de um neurônio com seu corpo celular em lilás, o núcleo instalado no meio do corpo celular, em verde, com seu axônio recoberto de mielina amarela e o final do axônio em lilás. Fim da descrição. Neurotransmissores (NT): pequenas moléculas responsáveis pela comunicação das células no Sistema Nervoso. Produzidos e transmitidos pelos neurônios, a maioria dos neurotransmissores surgem de precursores de proteínas encontrados nos terminais sinápticos. Sinapse: local onde ocorre a transformação do estímulo, gerado no corpo celular, mediada pelos NT. Exemplos de NT: adrenalina, acetilcolina (com ação excitadora), dopamina, ácido gama aminobutírico (GABA) (com ação inibidora) e outros. Segundo Cosenza e Guerra (2011), o cérebro é a parte mais importante do nosso Sistema Nervoso. É por meio dele que tomamos consciência das informações que nos chegam pelos órgãos do sentido e é nele que processamos essas informações. Portanto, é dele que emanam respostas voluntárias ou involuntárias, possibilitando que o organismo reaja sobre o ambiente. Segundo Muszkat: Atenção! Para Entendermos Melhor... Em uma imagem de cérebro seccionado, identificaremos uma substância branca, onde se localizam fibras mielinizadas, constituídas, em grande parte, por uma substância gordurosa. Já a porção externa do cérebro é constituída por uma camada de substância cinzenta, chamada de córtex cerebral, onde há bilhões de neurônios organizados em circuitos muito complexos, responsáveis pela linguagem, memória, planejamento de ações, raciocínio crítico etc. Essas funções características da espécie humana são geralmente chamadas de funções nervosas superiores. A parte mais externa dos hemisférios, de fina espessura, é chamada de córtex cerebral, composta de substância cinzenta. - MUSZKAT, 2008, p. 26 “[...] o Sistema Nervoso tem como função garantir a integração das informações recebidas do meio externo e do meio interno, para então poder dirigir de maneira organizada aos órgãos efetores as mensagens necessárias à vida do indivíduo (respiração, digestão, motricidade, circulação sanguínea...)” Uma das propostas na Área da Neurociência é nos ajudar a compreender o funcionamento do cérebro em relação à aprendizagem, ou seja, precisamos entender como a informação circula para que o conhecimento se constitua! Organização Funcional das Funções Corticais Superiores Com base nos estudos de Alexandre Luria (1981), neurologista e neuropsicólogo russo, sabemos que há três unidades funcionais do cérebro, as quais atuam em toda atividade mental. A primeira unidade regula o tônus e a vigília está relacionada às estruturas subcorticais da formação reticular. Um bom tônus de vigília é essencial para que possamos ter desempenho satisfatório das funções mentais: - MUSZKAT, p. 30, 2008 “Rede nervosa de células conectadas por axônios curtos, cujos impulsos nervosos sofrem uma modulação gradual de excitabilidade que se propaga para todo o córtex cerebral de maneira vertical e ascendente. Formação Reticular Ascendente (estimuladora) – tálamo, hipocampo, núcleo caudado e Formação Reticular Descendente (inibidora) – mesencéfalo e tronco cerebral.” Figura 3 – Cérebro Fonte: Reprodução Na imagem, vemos a área auditiva primária na região temporal média próxima da área de associação auditiva. A área visual no lobo occipital e a área sensorial ou somestésica no giro parietal ascendente. #ParaTodosVerem: a Figura apresenta os dois hemisférios, com a região frontal em verde, os temporais em amarelo, o cerebelo em vermelho e a ponte que liga à medula em bege. A imagem à direita desta é um corte seccionado do cérebro, em amarelo dourado, evidenciando, na parte frontal, o córtex pré-frontal e, na parte posterior, o córtex visual. Abaixo dele, está o cerebelo, mas, voltando para a parte dianteira da figura, visualizamos, ainda, a amígdala e o hipocampo, na cor marrom e, abaixo da figura, vemos a ponte, que é a parte que liga à medula espinhal mais duas imagens em corte seccionado, mostrando as partes do cérebro. Fim da descrição. A segunda unidade é responsável pela obtenção da atenção, processamento e armazenamento da informação que chega do mundo exterior. Localiza-se, principalmente, nos hemisférios cerebrais (particularmente na porção médio-posterior). Os sistemas desta Unidade recebem os estímulos dos receptores periféricos (tato, dor, calor, órgãos de Corti para estímulos auditivos e células da retina para os estímulos visuais) e os conduzem até o cérebro para a análise e a síntese. É uma unidade adaptada para a recepção da informação visual (córtex occipital), auditiva (córtex temporal) e sensorial geral (córtex parietal). Figura 4 – Cérebro dividido em cinco lobos Fonte: Reprodução Na imagem, vemos a área auditiva primária na região temporal média próxima da área de associação auditiva. A área visual no lobo occipital e a área sensorial ou somestésica no giro parietal ascendente. #ParaTodosVerem: imagem do cérebro dividido em cinco lobos: o frontal está em cor rosa, o parietal em azul, os temporais em verde, o occiptal em amarelo e o cerebelo em marrom. Nessa imagem, pretendemos dar destaque à área auditiva primária na região temporal média próxima à área de associação auditiva, com a área visual no lobo occipital e a área sensorial ou somestésica no giro parietal ascendente. Fim da descrição. O Papel dos Hemisférios Embora os dois hemisférios pareçam simétricos, há diferenças funcionais entre eles. Por exemplo, o hemisfério esquerdo responde. Principalmente. pelas funções relativas à linguagem (fala, leitura e escrita), e o hemisfério direito é responsável, principalmente, pelas funções ligadas ao esquema corporal (localização e orientação no espaço de si e dos objetos do mundo) e ao reconhecimento dos sons, prosódia e pragmática, além de outras funções (MUSZKAT, 2008). Figura 5 – Cérebro dividido em dois hemisférios Fonte: Adaptada de Getty Images Nesta imagem, vemos a lateralização ou assimetria das funções hemisféricas, estudadas por meio de técnicas que utilizam a organização neuroanatômica das vias auditivas e visuais. #ParaTodosVerem: na imagem, vemos o cérebro dividido em dois hemisférios. O topo da imagem está na cor laranja e a parte abaixo está na cor verde. Ao lado de cada hemisfério estão listadas as funções exercidas por elas. Fim da descrição. A especialização funcional hemisférica, explica, por exemplo, as afasias em lesões do hemisfério cerebral esquerdo, e os distúrbios da comunicação não verbal nas lesões do hemisfério direito. A lateralização objetiva das funções nas áreas associativas só se evidenciam depois do 5º ano de vida e nos permite entender também a recuperação rápida dos distúrbios da linguagem nas crianças da Educação Infantil (MUSZKAT, 2008). A terceira unidade é responsável por programar, regular e verificar a atividade mental e está localizada nas porções anteriores do cérebro (região frontal), na região anteposta ao giro pré-central ou área motora primária. A área motora primária está sob influência do sistema extrapiramidal ou núcleos de base, e não trabalha isoladamente. O planejamento motor é realizado, principalmente, nas áreas motoras associativas, especialmente, na área pré-motora da região frontal. Essas regiões só atingirão sua maturidade entre os 4 e 7 anos e, por essa razão, as crianças até essa idade ainda não estão preparadas para uma ação organizada e autorregulada. Outro aspecto importante é o fato de que a região pré frontal tem circuitos de ida e volta com todas as outras regiões, além de ser a região relacionada com a atividade psíquica do homem. Sequelas ou lesões nessa área, podem produzir alterações significativas na conduta, desatenção e perseveração de programas motores, pois o sujeito não será capaz de inibir estímulos irrelevantes. Cosenza e Guerra (2011) afirmam que, na metade posterior do córtex cerebral, encontramos regiões que recebem as informações sensoriais e as vão processando de forma cada vez mais complexa, tornando-se funções mais sofisticadas, como a simbolização, a comunicação pela linguagem ou o raciocínio espacial. Esses autores nos mostram, ainda, que uma unidade funcional na porção anterior do cérebro destinada ao planejamento e à execução do comportamento motor, que é constituída por uma região terciária pré-frontal, uma área secundária motora e, logicamente, a área motora primária. Retomando O encéfalo é constituído pelo cérebro, pela medula e pelo cerebelo. O cérebro é formado por dois hemisférios, e cada um deles é dividido por quatro lobos: occipital, temporal, parietal e frontal. O córtex cerebral é constituído por seis camadas de corpos celulares, formados por giros e sulcos e tem um corpo caloso que interliga os dois hemisférios. Entretanto, é importante que se entenda que o funcionamento cerebral é integrado por conexões complexas, que possibilitam funções muito elaboradas como a linguagem, o raciocínio e a consciência. A medula espinhal, embora se mostre com uma forma aparentemente simples, tem funcionamento complexo, pois recebe grande parte da informação sensorial sobre o meio ambiente e faz o processamento inicial desses inputs. A partir daí, diversos receptores atuam como tradutores que convertem estímulos físicos e químicos em impulsos nervosos para serem enviados para a medula espinhal, para que o cérebro possa interpretar e dar sentido a esse input. O passo seguinte é a medula espinhal transportar a informação Importante! A área terciária é relevante para o planejamento, a regulação e o monitoramento das estratégias comportamentais e envia informações para a área secundária, cuja função é planejar a execução. motora que se encontra nos músculos voluntários, participando do controle do movimento corporal. Desempenha um papel direto na regulação das funções viscerais e atua conduzindo o fluxo longitudinal de informação do encéfalo ou para o encéfalo (KREBS et al., 2013) Como se Articulam Funções Cognitivas e Motoras? Respaldados em Piaget, podemos entender que a maturação do Sistema Nervoso permite ao sujeitoresponder ao meio, o que demonstra a possibilidade para assimilar e estruturar novas informações a partir dele. Para Piaget, os estágios: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal surgem de forma complementar ao anterior. Do ponto de vista neurológico, as camadas mais profundas do córtex se mielinizam antes e por serem vias eferentes. O que se vê são as respostas motoras precederem o desenvolvimento da capacidade de percepção. Entretanto, segundo o mesmo autor, são os atos motores que possibilitam o desenvolvimento da percepção. A maturação cerebral depende de precisas interconexões formadas por milhões de neurônios. Segundo Muszkat, essa maturação é um processo gradativo que parte de neurônios imaturos que migram para zonas germinativas, emitindo axônios que se projetam para a vizinhança, formam conexões sinápticas com células-alvo selecionadas. No momento seguinte, ocorre a eliminação de algumas conexões formadas inicialmente e a transformação de alguns contatos sinápticos que irão gerar o padrão maduro das conexões neurais. Figura 6– linha evolutiva do córtex #ParaTodosVerem: mostra uma linha evolutiva do córtex, desde o primeiro mês de vida. Os meses estão marcados em círculos de coloridos, a área em evolução aparece em círculos, cada um em uma cor diferente. Então temos: tronco cerebral em verde, o córtex primário em amarelo, o córtex associativo específico em laranja, o córtex associativo inespecífico em magenta e, mais uma vez, o córtex associativo inespecífico em cinza. A evolução é indicada por meio de setas coloridas ao redor de cada círculo, dando ideia de seguimento e em baixo de cada, está assinalada a evolução cognitiva. No primeiro, aparecem engramas reflexos. No segundo, engrama sensório-motor, no terceiro, pensamento representativo, no quarto, pensamento operacional e no quinto, pensamento formal. Fim da descrição. Alguns Marcos do Desenvolvimento Aquisições como a preensão voluntária se dão a partir do 3º mês, como consequência da maior mielinização das áreas pré-centrais do lobo frontal. Por outro lado, observa-se o início da intencionalidade do gesto, que requer movimentos a objetos do meio externo, baseados no desenvolvimento funcional de áreas associativas do córtex frontal. A partir do 6º mês de vida, há grande desenvolvimento das áreas motoras corticais, com ênfase nas relacionadas à apreensão manual e equilíbrio estático, além de maior integração associativa entre os estímulos visuais, auditivos e somestésicos. Dos 3 aos 10 meses, as áreas de maior desenvolvimento são áreas subcorticais e as relacionadas com o cerebelo. Glossário Engrama: traço permanente deixado no tecido nervoso por um estímulo muito forte. A partir dos 10 meses de idade, os circuitos subcorticais ainda predominam e as demais áreas revelam maior consolidação. Entre os 2/4 anos, há o desenvolvimento rápido das áreas cerebrais relacionadas a circuitos associativos nas regiões de confluência cerebral e do lobo parietal. A partir do 2º ano, o desenvolvimento da fala passa a organizar as sequências motoras. A partir do 4º ano, a criança é capaz de programar as atividades com maior precisão, graças à maturação da região pré-frontal. A partir do 3º ano de vida, ela já consegue imitar movimentos das mãos do observador (abrir e fechar), mas ainda não consegue fazer tais movimentos de maneira alternada ou simultânea, reproduz um traço e um círculo, porém não identifica ângulos (confunde círculo com quadrado); A partir dos 4 anos, diferencia formas geométricas abstratas, mas o equívoco com ângulos pode permanecer até os 7 anos. A partir do 5º ano, reproduz canções e ritmos com as mãos (coordenação áudio-motora). A partir do 6º e 7º anos, a criança já tem noções de lateralidade, orientação direita e esquerda, consegue reproduzir movimentos alternados e simultâneos. Nesse período, detectamos maior desenvolvimento das áreas associativas específicas e das conexões inter-hemisféricas do córtex motor e sensorial. Depois dos 10 anos, observamos maior desenvolvimento nas regiões mais anteriores, como as pré-frontais e, além disso, há predomínio das funções simbólicas sobre as motoras e o pensamento abstrato torna-se independente de uma referência física ou concreta da experiência. Aos 14 anos, ocorre maior associação entre as regiões pré-frontais e as áreas límbicas. Atenção – Base Conceitual e Neurobiológica Para melhor compreender os fundamentos neurobiológicos vamos trabalhar com a função neuropsicológica Atenção. Segundo Muszkat (2008), a atenção envolve um retraimento do meu foco atencional de algumas coisas, para poder dirigi-lo a outras. Estamos falando de atenção sustentada e atenção seletiva (ou alternada): desde que consigamos manipular nossas distrações, está tudo bem! Como explicado anteriormente, sobre a primeira unidade funcional do cérebro: “A atenção está inserida num continuum biológico que dispõe de diferentes graus de excitabilidade e de receptividade à informação sensorial e que varia da vigília ao sono, do estado de alerta ao coma. Enquanto contínuo biológico a atenção pode ser definida como um processo cognitivo interno por meio do qual são selecionadas e processadas tanto as informações do ambiente quanto de fontes internas (sensações, pistas viscerais e pensamentos). Engloba toda atividade cognitiva organizada que possui algum grau de direção, dando um caráter mais focalizado aos processos cognitivos e psíquicos, base sobre a qual os processos mentais se organizam, se alinham e se articulam. Assim, a atenção atua como um controlador semi-independente da ação e da percepção e refere-se aos vários processos neurais relacionados ao modo pelo qual o organismo se torna Neurobiologia da atenção – Vejamos como se dá seu percurso: Seu tônus relaciona-se ao grau de excitabilidade → sua receptividade mostra a motivação do organismo pela informação para a sobrevivência ou afetividade → a seletividade detecta a prioridade da informação por discriminar estímulos relevantes e irrelevantes → concentração revela a manutenção do foco atencional por períodos de tempo maior → simultaneidade (ou atenção dividida) discrimina informações concomitantes, sejam elas de fontes semelhantes ou diversas → flexibilidade seleciona os estímulos segundo as diferentes demandas cognitivas. Segundo Cosenza e Guerra (2011), os estudos sobre a atenção revelam a existência de dois circuitos: o circuito orientador, localizado no córtex do lobo parietal, permite o desligamento de um foco atencional e se deslocar para outro foco (Figura 5). O circuito executivo, por sua vez, possibilita a manutenção da atenção por tempo prolongado, ao mesmo tempo em que são inibidos os estímulos distratores. Está localizado em uma área do córtex frontal conhecida como giro do cíngulo (Figura 6). - MUSZKAT, 2008, p. 102-3 receptivo aos estímulos e a partir do qual ele inicia o processamento de excitações sejam estas internas ou externas.” Figura 7 – Imagem seccionada do cérebro Fonte: Adaptada de Getty Images As fibras nervosas que se distribuem ao longo do córtex cerebral (a partir do locus coerelus) são importantes para manter e regular o estado de alerta ou vigilância do sujeito. #ParaTodosVerem: imagem seccionada do cérebro, em cor amarela, em tom mais escuro. O objetivo dessa foto é destacar o locus coerelus (que está posicionado em uma região, em tom amarelo mais claro) como região essencial para manter e regular o estado de alerta ou vigilância do sujeito. Fim da descrição. Figura 8– Cérebro seccionado com destaque para a região do Giro do Cíngulo Fonte: Adaptada de Wikimedia commons Aqui, temos uma imagem do cérebro seccionado, em fundo branco, com as marcações dos sulcos. Entretanto, a região do Giro do Cíngulo está em amarelo. Aí é onde se localiza o circuito envolvido na manutenção da atenção. Fim da descrição. #ParaTodosVerem: aqui, temos uma imagem do cérebro seccionado, em fundo branco, com asmarcações dos sulcos. Entretanto, a região do Giro do Cíngulo está em amarelo. Aí é onde se localiza o circuito envolvido na manutenção da atenção. Fim da descrição. Além dessas estruturas, há outros centros nervosos importantes para realizar as diversas funções do Sistema Nervoso. - COSENZA; GUERRA, 2011, p. 24-5 Importante! O funcionamento de todas as funções do sistema nervoso depende do funcionamento de suas células, os neurônios, os quais se organizam em cadeias ou circuitos que interagem para dar origem a todas as funções nervosas, incluindo as que dão suporte aos processos mentais (COSENZA; GUERRA,2011, p. 25). Em Síntese Aspectos analisados nesta Unidade que permitirão a compreensão do funcionamento básico do Sistema Nervoso. “Algumas delas se localizam no próprio cérebro, como o tálamo, o hipotálamo e o corpo estriado. Outras fazem parte de outras regiões do encéfalo, como o cerebelo e o tronco encefálico. Por exemplo, os neurônios do tronco encefálico são importantes para a regulação do ciclo do sono e da vigília, da respiração e do funcionamento cardiovascular, dentre outras funções. Os circuitos neuronais do cerebelo e do corpo estriado, por sua vez, regulam vários aspectos do planejamento e da coordenação da motricidade.” Nesta Unidade, vimos que o Sistema Nervoso é o elemento essencial para a interação do organismo com o meio externo e coordena suas funções internas. Além disso, vimos: As vias sensoriais chegam ao cérebro por meio de cadeias neuronais que levam a informação até uma região do córtex, que é específica para aquela demanda do organismo; O córtex cerebral se organiza em unidades funcionais distribuídas em regiões primárias, secundárias e terciárias, que atuam de forma hierárquica, possibilitando a interação com o meio ambiente e o processamento das funções nervosas superiores; Alguns marcos do desenvolvimento da Neurobiologia; Compreensão da base conceitual da Neurobiologia por meio da rota atencional como função neuropsicológica; Os circuitos responsáveis pelos estágios atencionais; Estudos experimentais dos mecanismos cerebrais com base em dados neurofisiológicos, neurobiológicos e de neuroimagem têm possibilitado melhor compreensão das funções e dos processos cognitivos de um sujeito. Esse processo inicia-se desde a fecundação e evolui até a adolescência, ainda que possa sofrer algumas interferências. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Site Sociedade Brasileira de Neuropsicologia SBNp A SBNp é a Instituição multidisciplinar fomentadora da atuação em Neuropsicologia do país. Divulga continuamente suas pesquisas e divulga novas produções. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Livros Como de Estuda? Como se Aprende? Um Guia para Pais, Professores e Alunos, Considerando os Princípios das Neurociências 3 / 4 📄 Material Complementar https://sbnpbrasil.com.br/sbnp/ PANTANO T.; ROCCA, C. C. A. Como de estuda? Como se aprende? um guia para pais, professores e alunos, considerando os princípios das Neurociências. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2015. Uma Viagem Pelo Cérebro TIEPPO, C. Uma Viagem Pelo Cérebro. São Paulo: Conectomus, 2019 Vídeo Neurociência na Aprendizagem Escolar Marta Relvas explica a importância de conhecermos a biologia do cérebro, principalmente, para os profissionais da educação, o que permitirá a compreensão do processo de aprendizagem de seus alunos. Neurociência na aprendizagem escolar (Completo)Neurociência na aprendizagem escolar (Completo) https://www.youtube.com/watch?v=M5F2S5D5CDE BARROS, C. et al. O organismo como referência fundamental para a compreensão do desenvolvimento cognitivo. Revista Neurociências, [s.l.], v. 12, n. 4, p. 212-216. out/dez, 2004. Disponível em: . Acesso em: 17/02/2023. COSENZA, R.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação – Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. FERREIRA, J. A. O que todo professor precisa saber sobre Neurologia. São José dos Campos: Pulso, 2005. KREBS, C. Neurociência ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013. MUSZKAT, M.; MELLO, C. B. Neuropsicologia do desenvolvimento e suas interfaces. v. 1: conceitos. São Paulo: All Print, 2008. PIAGET, J.; INHELDER, B. A Psicologia da criança. São Paulo: Fidel, 1980 4 / 4 📄 Referências